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MARANHÃO, BRASIL: PROGRAMAS PAC RIO ANIL E MINHA CASA MINHA VIDA
Professores:
Fevereiro 2022
EXPERIÊNCIAS DE HABITAÇÃO E VULNERABILIDADE SOCIAL EM SÃO LUÍS DO
MARANHÃO, BRASIL: PROGRAMAS PAC RIO ANIL E MINHA CASA MINHA VIDA
ABSTRACT: One of the urban problems almost all countries have in common is affordable
housing. Portugal, Brazil, rich and poor countries have their shares of people not covered by one
of the main Human Rights rules: to own a house to live, a piece of land.
The reasons seem to be basically the same: families poor enough to own by themselves and the
government not able to organize themselves and provide to all due to real estate speculation in
their own cities.
In this article it is intended to analyze each one of the basic reasons and document how my
hometown São Luís is trying to solve this issue from the perspective of theoretical authors and
confirmed with my own experience as a state civil servant from 2015 to 2017.
KEYWORDS: housing policies, right to housing, social housing, social vulnerability, urban sprawl
RESUMO: Um dos problemas urbanos que quase todos os países têm em comum é o alojamento
acessível. Portugal, Brasil, países ricos e pobres têm a sua quota-parte de pessoas não
abrangidas por uma das principais regras dos Direitos Humanos: possuir uma casa para viver, um
pedaço de terra.
As razões parecem ser basicamente as mesmas: famílias pobres o suficiente para possuírem
sozinhas e o governo não ser capaz de organizar-se e fornecer a todos devido à especulação
imobiliária nas suas próprias cidades.
Neste artigo é analisada cada uma das razões básicas e documentar como a minha cidade natal
São Luís está a tentar resolver esta questão sob a ótica de autores teóricos e confirmado com
minha própria experiência como funcionária pública estadual entre os anos de 2015 a 2017.
O direito internacional dos direitos humanos das Nações Unidas reconhece o direito de todos a
um nível de vida adequado, incluindo habitação adequada, desde a Declaração Universal dos
Direitos do Homem de 1948.
Apesar de ser um direito básico e essencial, bem mais de mil milhões de pessoas não vivem em
uma habitação permanente ou adequada. Milhões em todo o mundo ainda vivem em perigo de
vida ou de saúde por não possuir uma habitação minimamente adequada às condições de vida,
como bairros de lata sobrelotados e assentamentos informais, ou em outras condições que não
respeitam os seus direitos humanos e sua dignidade. Outros milhões são expulsos à força, ou
ameaçados com despejo, de onde residem todos os anos (Nações Unidas).
A mesma OCDE constata que há diferenças significativas entre os países na definição, dimensão,
âmbito, população-alvo e tipo de fornecedor de habitação social. Por exemplo, a habitação social
para arrendamento representa menos de 10% do total de habitações na maioria dos países da
OCDE e da UE, mas mais de 20% do total na Áustria, Dinamarca e Holanda, onde representa um
"terceiro sector-chave” no mercado da habitação. Esta variação nos sistemas e definições torna a
comparação transacional da habitação social um desafio. Além disso, as limitações de dados na
medição sócio-económico e da habitação social entre países resultam numa cobertura limitada do
país para algumas dimensões do sector.
OCDE define a habitação social como alojamento de arrendamento residencial fornecido a preços
de sub-mercado, os quais são atribuídos de acordo com regras específicas, tais como
necessidades identificadas ou listas de espera (Salvi del Pero et al., 2016). Em alguns países, a
habitação social surge em múltiplas formas: na Áustria, Letónia e Lituânia, a habitação social é
fornecida juntamente com a habitação municipal (adicionalmente, na Lituânia, os municípios são
encorajados a arrendar habitação no mercado privado e a sub arrendá-la a famílias em lista de
espera para habitação social); No Reino Unido, a habitação social pode ser arrendada através do
concelhos (Council Housing); nos Estados Unidos, a habitação pública é fornecida pelas
autoridades locais de habitação, juntamente com programas específicos para idosos e pessoas
com deficiência, bem como habitação para arrendamento disponibilizada a taxas de sub-mercado
por promotores privados e sem fins lucrativos através do programa de Crédito Fiscal à Habitação
de Baixo Rendimento (LIHTC).
A definição de habitação social evoluiu ao longo do tempo, assim como as abordagens políticas
para a mudança das condições de mercado. A habitação social também é conhecida como
habitação acessível, que se refere ao arrendamento e às habitações ocupadas pelos proprietários
que se tornam mais acessíveis às famílias através de um vasto leque de apoios do lado da oferta
e da procura (incluindo subsídios, cupões de habitação ou reduções fiscais para os proprietários
de habitações de primeira habitação).
No entanto, em alguns países, pode ser difícil distinguir a habitação social de outros tipos de
habitação, podendo ser também de cedência pública. Na Irlanda, por exemplo, a habitação social
tradicional é complementada por habitações que são alugadas publicamente a proprietários
privados e atribuídas a beneficiários de subsídios de habitação (Norris e Byrne, 2017. A Colômbia
e a Noruega oferecem tanto o arrendamento social como habitações ocupadas pelos proprietários;
na Colômbia, o novo programa de habitação social de arrendamento, semillero de proprietários,
complementa o programa de habitação social “vivienda de interés mais antigo”, que continua a
proporcionar tanto unidades de arrendamento como de propriedade. No Brasil (país não
pertencente a OCDE), a habitação social está mais relacionada a programas governamentais para
melhorias e cedências de habitações em favelas e construções de arrendamento de habitação
para classe média para suprir o déficit habitacional com pouco vínculo ao mercado imobiliário
(Biderman, Hiromoto e Ramos).
Para o financiamento da habitação social, esta pode assumir diferentes formas e tende a envolver
uma variedade de fontes e contribuintes. Segundo Scanlon, Arrigoitia e Whitehead, três fontes
básicas principais podem ajudar a financiar a habitação social:
Os governos são de facto uma fonte chave e apoiam a oferta de habitação social através do
fornecimento directo de programas de habitação social, ou através da concessão de subsídios,
créditos fiscais, empréstimos e/ou garantias de empréstimo a fornecedores de habitação social.
Em muitos casos, os governos locais cedem terrenos para desenvolvimento de habitação social
ou arrendam a preços módicos. O nível das subvenções públicas directas e indirectas afecta o
montante a ser coberto através das rendas dos inquilinos e através de empréstimos (Scanlon,
Arrigoitia e Whitehead).
A mistura social vem a ser um objectivo-chave do sector da habitação social em muitos países.
No entanto, o sector tem registado uma concentração crescente de inquilinos com rendimentos
mais baixos e vulneráveis e uma secção transversal reduzida dos níveis de rendimento. Isto pode
colocar desafios à sustentabilidade económica do sector e levar a uma concentração espacial da
pobreza e desvantagem.
A dimensão relativa do sector da habitação social tem diminuído nos últimos anos em todos os
países para os quais existem dados disponíveis, excepto seis; ao mesmo tempo, o número
absoluto de unidades de habitação social diminuiu em apenas quatro países para os quais existem
dados disponíveis. Isto deve-se em parte a um declínio no investimento público do parque
habitacional (OCDE).
2. METODOLOGIA
No presente artigo foi praticado um exercício de análise das informações e dados estatísticos
disponíveis nas principais instituições envolvidas no planeamento e execução dos planos de
intervenção de Habitação Social no Brasil para os programas PAC - Programa de Aceleração do
Crescimento e MCMV - Minha Casa Minha Vida, entre os anos de 2009-2020, assim como
experiência própria ao trabalhar em um projeto PAC - Rio Anil, quando trabalhei como fiscal
arquitecta da Secretaria das Cidades do Estado do Maranhão entre 2015 e 2017.
Também foram investigadas bibliografias disponíveis de diversas autoridades teóricas e práticas
no assunto de modo a nortear a conclusão de resultados.
Uma característica importante do PAC foi a proposta clara, desde o início, de buscar resultados
rápidos, para impactar positivamente a economia. Assim, além de garantir que os recursos
alocados não seriam contingenciados e então imediatamente utilizados, buscou-se a viabilização
de projetos já existentes e que permaneciam no papel. A eficiência almejada foi atingida, pois os
dados revelam que 82% dos investimentos realizados até dezembro de 2010 (R$ 619 bilhões)
correspondiam a obras já concluídas. (Cardoso & Rosana, 2018).
Em linhas gerais, os programas de urbanização de assentamentos precários do PAC reproduziram
o desenho programático do programa Habitar Brasil-Bid (HBB), que já previa financiamentos
diversos afim de promover a “Urbanização Integrada” dos assentamentos precários e tratar a
dimensão social, urbana-ambiental e fundiária. Este planeamento reconhece a complexidade da
intervenção nesses territórios e possibilita financiar obras de urbanização, equipamentos sociais,
produção de novas moradias, requalificação habitacional, trabalho social e regularização fundiária.
(Cardoso & Rosana, 2018).
Vale lembrar que os assentamentos precários são territórios heterogêneos, apresentam diferentes
tecidos urbanos, desde palafitas até loteamentos com traçado regular e que, no programa recebeu
a denominação de “urbanização de favelas”, com iniciativas de características e ações muito
distintas entre si. Necessitam de ações que vão desde a simples execução de obras básicas de
saneamento ou obras complementares em áreas que já foram parcialmente urbanizadas, até
transformações estruturais no território, intervenções de grande complexidade, que envolvem a
reurbanização de grandes porções da cidade, recuperação de áreas de mananciais ou eliminação
de situações de risco geotécnico.
Essas ações, que envolvem investimentos volumosos, foram viabilizadas porque envolveram,
principalmente, recursos não onerosos, que corresponderam a 81% do total de recursos do
Governo Federal repassados aos Estados e Municípios, o que significa que se trata de recursos
que não tiveram impacto sobre a capacidade de endividamento dos Governos (Governo Federal).
Segundo os dados repassados pelo Ministério das Cidades (2018), o investimento total contratado
para Urbanização de Assentamentos Precários foi de 29,6 bilhões de reais e foi direcionado para
1.072 municípios, de todos os estados, em geral as cidades de maior porte, o que é natural,
considerada a problemática dos assentamentos precários, que tende a se concentrar nas grandes
cidades e metrópoles. (Cardoso & Rosana, 2018).
Os principais programas e ações do PAC voltados para a urbanização de favelas foram: Projetos
Prioritários de Investimentos (PPI); Programa Urbanização, Regularização e Integração de
Assentamentos Precários; Programa Moradia Digna; Saneamento Básico (Ação Orçamentária
2068); Programa de Atendimento Habitacional através do Poder Público (Pró-Moradia); e
Programa Saneamento Para Todos. (Cardoso & Rosana, 2018).
Entre 2007 a 2016 houve uma média anual de R$ 2,9 bilhões de investimento para urbanização
de assentamentos precários, maior do que o realizado pelo Fundo Nacional de Habitação de
Interesse Social (FNHIS) e muito maior do que qualquer programa.
Fig 1. Linha do Tempo de duração dos planos habitacionais federais de 2001 a 2019. Fonte: Ministério das Cidades-
Brasil
3.1.2 Resultados do PAC no Brasil entre 2007 a 2010, segundo a Casa Civil:
Foi implementado em três fases, a primeira fase teve início em 2009, a segunda em 2011 (Lei n.º
12.424), e a terceira fase teve início apenas em 2017. Segundo a CEF, o banco público federal
responsável pelo Programa, a PMCMV realizou investimentos totais estimados em 318 mil milhões
de reais (quase 100 mil milhões de dólares) e contratou cerca de 4,4 milhões de unidades
habitacionais (HU) até Setembro de 2016 em todos os vinte e seis estados brasileiros e no Distrito
Federal de Brasília (FD).
A PMCMV aceita famílias com rendimentos mensais até dez salários mínimos (considerando o
salário mínimo brasileiro em 2016 era de R$937 (US$288 considerando a taxa de câmbio de
dezembro de 2016 de R$3,2585).
Os subsídios são muito elevados, permitindo até há pouco tempo possuir habitação social para a
população com rendimentos mais baixos. São distribuídos em três níveis de rendimento (Faixas):
● Faixa 1 (Nível 1): o banco aceita famílias com rendimentos familiares até 3 salários
mínimos e na fase 2 do programa, o limite máximo de preços por unidade variou entre 54
a 76.000 Reais (US$17 a 23.000), dependendo da localização do desenvolvimento.
● Faixa 2 (Nível 2): aceita famílias com rendimentos totais entre três e seis rendimentos
mínimos mensais; e
● Faixa 3 (Nível 3): aceita famílias com rendimentos totais entre seis e dez salários mínimos.
● Os empreendedores acabam por decidir o local onde as unidades serão construídas, bem
como as suas características de construção. Como a receita dos promotores depende
apenas dos custos totais, eles maximizam os lucros com projectos de baixa qualidade,
minimizando os custos do terreno ao escolherem locais distantes e sem infra-estruturas
urbanas básicas. Este tipo de acordo funciona bem porque a parceria entre promotores e
governos locais traz benefícios para ambas as partes: os promotores têm uma procura
garantida de uma população que terá acesso a habitação formal barata através de
investimento público; e os governos locais beneficiam-se política e eleitoralmente da
visibilidade de um investimento deste porte (Rufino, 2015);
● Ferreira (2012) observa que os projectos MCMV não utilizam terrenos vazios dentro da
área urbana já servida com instalações públicas, trânsito público e comodidades em geral.
A retenção de terrenos vazios e ociosos em áreas com infra-estruturas pode agravar o
cenário económico, impondo custos ainda mais elevados ao acesso aos terrenos urbanos;
● O promotor das intervenções alega não suportar qualquer risco de crédito, uma vez que a
Caixa Económica assume o risco de crédito total. Considerando que a Administração Local
tem também um papel fundamental na "Faixa I", particularmente no cadastro e selecção
dos beneficiários, que são de preferência escolhidos através de um mecanismo de lotaria
entre as famílias registadas. (Cardoso, Aragão, e de Sousa Araujo 2011).
● Da mesma forma, Lima Neto, Krause e Furtado (2015) sublinham que, nas grandes
cidades e áreas metropolitanas, os desenvolvimentos seriam ainda mais problemáticos
devido ao elevado custo da terra. Estes autores também demonstraram que a distância do
centro da cidade dos empreendimentos PMCMV aumentou da primeira fase (2009) para a
segunda fase (2011) do programa, e;
Através deste salto de expansão, os projectos da PMCMV são também responsáveis por uma
expansão dos subúrbios em territórios com infra-estruturas deficientes. As consequências deste
desenvolvimento dentro da periferia podem exacerbar a segregação e o isolamento dos pobres
na cidade.
São Luís é a capital e o município mais populoso do Maranhão e o quarto da Região Nordeste. O
município é a principal cidade da Região de Planejamento da Ilha do Maranhão, composta pelos
4 municípios localizados dentro da ilha de "Upaon-Açu" (Ilha Grande em Tupi) e da Região
Metropolitana de São Luís adjacente à ilha, totalizando 13 municípios que somam até 1.633.117
habitantes (IBGE, 2010).
Sua costa estrategicamente localizada muito mais próxima da linha do Equador e grandes centros
importadores de produtos brasileiros como Europa e Estados Unidos, favorece a economia de
combustível, minerais e redução no tempo de entrega de mercadorias provenientes do Brasil pelo
Porto de Itaqui que é o segundo mais profundo do mundo e um dos mais movimentados e bem
estruturados para o comércio exterior do país (EMAP-MA).
A capital do Maranhão possui um forte setor industrial por conta das grandes corporações e
empresas que se estabeleceram na cidade por sua posição geográfica privilegiada entre as
regiões Norte e Nordeste do país e os incentivos fiscais do governo (SECID).
Com sua localização privilegiada, São Luís tem um produto interno bruto (PIB) de 33,7 bilhões de
reais, sendo a 24ª economia nacional entre os mais de 5.560 municípios brasileiros e ocupando a
12ª posição entre as capitais (IBGE, 2020). Seu PIB per capita (2018) é de 30.699 reais, ocupando
a segunda posição entre as capitais do Nordeste (G1, 2021).
De acordo com Ribeiro Junior (2001), no final dos anos 70, foram verificadas 07 áreas de pobreza
na cidade que agregavam 181.176 pessoas. Em 1969 o número de barracos sobre palafitas atingiu
aproximadamente 7.000, abrigando uma população estimada em 40.000 pessoas em condições
sub-humanas. Assim, entre 1950 e 1970, a população da Capital aumentou em aproximadamente
80%, vivendo principalmente na área suburbana (GOMES, 1992). O movimento migratório urbano
diminuiu com a paralisia das indústrias têxteis tradicionais, enfraquecendo o ritmo de migração e
industrialização e contribuindo para o aumento do desemprego (DINIZ, 2007).
Com a construção das 2 principais pontes em 1969 e 1970, muitos dos atuais bairros consolidados
foram desenvolvidos por programas sociais e cooperativos, além da ocupação espontânea das
áreas próximas à ponte por moradores de baixa renda (RIBEIRO JUNIOR 2001). 9.697 unidades
foram construídas entre 1971 e 1980 através destes programas habitacionais. (Luz, 2004).
Nos anos 80, o Governo do Estado e a Prefeitura desenvolveram programas para revitalizar o
Centro Histórico da cidade (Portela, 2011), a fim de fortalecer a indústria do turismo, que culminou
com o título em 1997 pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Desde então ainda existem vários programas de incentivo à habitação social, como o PAC (Rio
Anil, Ilhinha, Jomar Moraes, etc.), que neste segmento idealizou a organização de 3500 palafitas
e 10.000 melhorias no entorno (SILVA, 2010), além do programa MCMV que entregou edifícios
habitacionais nos bairros Amendoeira, Santo Antônio, Vila Kiola, entre outros, entregando
aproximadamente 4.467 unidades até o final de 2015 (SECID).
Os programas habitacionais implantados a partir dos anos 90 até o presente adotaram uma política
que acabam por contribuir para a concentração de renda no país, uma vez que hoje a maior parte
dos recursos são dirigidos para as faixas salariais acima de 4 salários mínimos, para além de
continuar a segregação socioespacial. Isto dificulta o acesso das famílias de baixa renda a esses
programas habitacionais e contribui para o aumento do déficit habitacional, a exemplo do
Programa Minha Casa Minha Vida. Esse quadro é revelador das diferenças, das desigualdades
sociais e do modelo concentrador de riquezas e poder que fazem parte da formação histórica do
País.(PORTELA, 2011).
Fig. 02 - Projecto de Implementação principal PAC Rio Anil, 2007 (Fonte: Secid-MA)
Fig. 03 - Vista aérea da Av. Jackson Lago com Projecto de Implementação PAC Rio Anil em conclusão, 2020
(Fonte: Secid-MA)
O PAC-Rio Anil, lançado em 2007 na cidade de São Luís, tem como objetivos principais (Secid):
Habitação:
● Remoção de famílias que habitam palafitas à margem esquerda do Rio Anil.
● Construção de 2.720 apartamentos de 42m2;
● Melhorias habitacionais nos bairros do entorno imediato afectado.
● Reforma do Teatro Padre Haroldo no bairro da Liberdade
Urbanização:
● Construção de 07 áreas de Equipamentos Urbanos e Recuperação Ambiental;
● Recuperação Ambiental: Consiste em obras de recuperação de quatro canais existentes
ao longo da Avenida IV Centenário, a construção de ancoradouros para pescadores e a
execução da barreira de proteção em pedra granítica. Segundo o relatório de 2013, a obra
estava em fase de levantamento e execução.
Sistema Viário:
Regularização Fundiária:
● Regularização de aproximadamente 8 mil imóveis;
● Compõem o escopo do projeto desapropriação/indenização de benfeitorias e a realização
de trabalho técnico-social em toda área de intervenção.
Habitação:
● 100% dos moradores de palafitas relocados. Dos 2.720 apartamentos previstos no projeto,
apenas 832 unidades foram executadas e 1.888 foram migradas para o aluguel social /
Programa Minha Casa e Minha Vida;
● Recuperação e melhorias Habitacionais: foram previstas 6.000 melhorias habitacionais,
onde em 2013 apenas 2.768 foram concluídas e pagas, 177 estavam em execução e 3.055
ainda faltavam ser licitadas e executadas.
Urbanização:
● Equipamentos Comunitários: Esta meta consiste na execução de equipamentos urbanos,
que são espaços de lazer e cultura, creches, postos policiais, postos de saúde, escolas,
ou qualquer outro identificado como necessidade da comunidade. Até meados de 2017
estes projetos estavam em execução, assim como a urbanização da área adjacente Vila
Gorete e Veleiros.
Sistema Viário:
● Construção da Avenida IV Centenário, espinha dorsal da área de intervenção. A avenida
foi inaugurada a 05 de Dezembro de 2014, entretanto as conexões com os bairros
adjacentes ainda não haviam sido concluídas até meados de 2017.
Regularização Fundiária:
● Até o presente, cerca de 70% dos imóveis em situação irregular na zona perimetral da
intervenção (bairros Liberdade, Fé em Deus, Camboa, Vilas Gorete e Veleiros receberam
suas respectivas documentações de propriedade. Outras estão em fase de conclusão ou
passam por processo de relocação por estar em zonas de risco ou vivem em construção
irregular. (SECID).
Fig. 03 - Últimas palafitas sobre o Rio Anil antes da intervenção final, 2015 (source: Secid-MA)
Figs 04 e 05: Antes e depois da Intervenção no Rio Anil: antes viviam sobre o rio mas junto ao centro (Fig 04) 2015. Os moradores
foram realocados sem custos para um condomínio residencial em um bairro distante (Fig.05), 2018 (source: Secid-MA).
Em São Luís, a média da renda do mutuário proveniente de situações diversas é de 692 reais.
Notadamente em São Luís verifica-se a origem dos contratos através de programas de baixa renda
do governo estadual e não financiamento espontâneo dos mutuários. (Conselho de Monitoramento
e avaliação de Políticas Públicas).
Tab.01- Número de mutuários do PMCMV/FAR considerado em déficit Habitacional em São Luís, conforme
ano de contratação
Fonte: Caixa Econômica Federal. Elaboração: IPEA , Relatório de Avaliação Minha Casa Minha Vida
Os mutuários que assinaram contrato em 2020 foram buscados entre as famílias no CadÚnico em
2019; os que assinaram contrato em 2019, buscados entre as famílias em 2018; e assim sucessivamente.
Faixa 01 4809
Faixa 02 1448
Tab.03- Frequência do número de ocupantes do Tab. 04- Distância do trabalho após mudança para
residencial Pitangueiras (2017) o residencial Pitangueiras (2017)
Fig. 05 - quarto utilizado como estendal por falta de varanda em Fig. 06 - fogão a ocupar acesso da cozinha (Fonte: Sousa,
período chuvoso (Fonte: Sousa, 2016) 2016)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No caso da experiência de São Luís nas políticas de PAC e MCMV, a falta de participação efetiva
dos beneficiários na elaboração e execução das intervenções propostas e aprovadas nos
programas, resultou em incompatibilidades nas concepções e usos. O estilo de moradia, muitas
vezes pequeno demais para algumas famílias grandes ou distante dos assentamentos originais,
demonstra como as habitações foram padronizadas sem considerar a população local e não
corresponde ao estilo de vida da população beneficiada, indo morar em novas habitações boas,
mas longe de suas raízes culturais. (Oliveira, Mayara)
Burnett (2014) ressalta que o problema do projeto PAC Rio Anil decorre da tomada de decisão na
concepção e preparação dos projetos, que foram social e tecnicamente equivocados,
considerando que o mesmo projeto passou por vários mandatos de governo e a gestão de várias
autarquias, o que aumentou o potencial de erros.
Os projetos PAC/MCMV em São Luis são considerados muito próximos aos tipos hierárquicos de
políticas, com pouca ou quase nenhuma participação de seus beneficiários. O projeto da habitação
foi alterado pelas empresas responsáveis pela sua construção com o consentimento dos
municípios e muitas vezes com isenção de impostos. (Oliveira, Mayara).
Em suma, de acordo com Cardoso e Denaldi, as políticas de PAC e MCMV marcaram um novo
momento para as políticas de modernização de favelas no Brasil se considerarmos que o Governo
Federal, pela primeira vez, aplicou recursos maciços para urbanizá-las. Portanto, é muito
importante que estes programas continuem a intervir em assentamentos precários e começar a
lidar com a diversidade regional, a complexidade da intervenção e a necessidade de financiar
diversos componentes, já que este problema ainda está longe de ser resolvido.
Embora a execução do programa tenha tido uma operacionalização limitada, o modelo regulatório
do PAC/MCMV é sem dúvida uma conquista e também reflete o acúmulo de experiências
municipais e estaduais. Na opinião dos autores, este modelo pode ser melhorado, mas deve ser
mantido.
LISTA DE SIGLAS
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