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Francisco Di Biase1
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Grand PhD, PhD e Full Professor, pela World Information Distributed University, da Bélgica; professor honorário
da Albert Schweitzer International University, Suíça; professor de pós-graduação do Centro Universitário Geraldo
Di Biase – UGB, em Volta Redonda, (Rio de J)aneiro; chefe do serviço de neurologia e neurocirurgia da Santa Casa
e do Departamento de EEG e Mapeamento Cerebral Computadorizado da Clínica Di Biase, em Barra do Piraí, (Rio
de J)aneiro, Brasil.
neurais. Este processo, que a seguir descreveremos de modo detalhado, é o fundamento da
memória e da interação cérebro-mente-consciência.
O processo se inicia quando o córtex cerebral, que faz a interface com o meio ambiente, é
estimulado pelas novidades do dia a dia, e envia os estímulos para o hipocampo (vejar Figura 1),
que é um sítio temporário de armazenamento de memórias, aprendizagem e comportamento.
Esta interação ocorre principalmente durante o sono, o sonho e o repouso, quando a mente
consciente não está ativa. Nestes períodos, o hipocampo estabelece um “diálogo atualizador”,
inconsciente, com o córtex, que é um processo de repetição, atualizando e consolidando as
memórias das novas experiências de vida de um modo adaptativo. Se extirparmos o hipocampo,
antes de o animal adormecer, após um processo de aprendizagem, a memória desaparece. Em
humanos, a retirada do hipocampo bilateralmente ocasiona um quadro grave de amnésia para
fatos recentes.
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Em um já clássico trabalho de 2001, Lisman & Morris descreveram assim o “diálogo” entre o
córtex e o hipocampo:
O hipocampo, faz parte do sistema límbico, que é a região do cérebro com os circuitos
responsáveis por grande parte de nossas respostas emocionais. Portanto, através do circuito
límbico, as novidades memorizadas no hipocampo irão provocar manifestações emocionais no
organismo. Este circuito límbico, atua através do hipotálamo, relacionado ao controle do sistema
neurovegetativo (simpático e parassimpático), e por meio da glândula hipófise ou pituitária, a
maestraresponsável por deregular todas as glândulas. Assim, por meio intermédio da estimulação
do chamado eixo hipotálamo-hipófisário, são liberadas na corrente sanguínea moléculas-
mensageiras, hormônios, que irão ativar todas as células do corpo e as glândulas endócrinas do
organismo, provocando a liberação de seus hormônios no organismosistema orgânico do
indivíduo. Esses hormônios, e os hormônios da hipófise, irão se ligar a receptores situados nas
membranas celulares das células corporais e dos neurônios, provocando a liberação de segundos
mensageiros de natureza proteica no interior do citoplasma das células. Estes segundos
mensageiros, por sua vez, migram para o núcleo das células, onde sinalizam aos genes
reguladores e efetores no DNA, para que iniciem a síntese proteica. Esta síntese de proteínas, é
realizada por meio da transmissão da informação genética do DNA, conduzida pelo RNA
mensageiro, até aos ribossomos no citoplasma, onde o código genético de quatro letras (adenina,
timina, guanina e citosina) é lido e transduzido no código de vinte 20 aminoácidos que, juntos,
irão formar as proteínas. A criação de novas sinapses (sinaptogênese) depende desta síntese
contínua de proteínas para a formação de novas redes neurais, e de novas memórias, facilitando a
geração da plasticidade cerebral. Sem o perfeito processamento deste diálogo mente-cérebro-
DNA, seria impossível a manifestação da vida inteligente e da consciência.
Lembramos ainda que o sistema imunológico também interage ativamente com este
circuito mente-cérebro-gene, influenciando a liberação de imunotransmissores, e a ativação de
células (linfócitos T e B, macrófagos etc.) produtoras de anticorpos, que são os responsáveis pelo
rastreamento e pela eliminação de bactérias, vírus e células anormais, ou seja, pelo
reconhecimento do self e do não- self imunológico. Experiências emocionais e vivências, como
alegria, felicidade, compaixão, criatividade, tristeza, depressão, ansiedade, e estresse,
especialmente quando se tornam crônicos, podem alterar a modulação informacional deste
sistema psiconeuroendócrino-imunogenético, e diminuir a produção de neurotransmissores,
como as endorfinas, a serotonina, a dopamina etc., influenciando a competência imunológica. A
depressão persistente da imunocompetência pode ocasionar uma diminuição da capacidade de os
anticorpos rastrearem células anormais, como as células cancerígenas, e levar ao
desenvolvimento de um câncer em nosso organismo.
É nesse contexto que iremos analisar o processo de percepção e/ou criação de novidades
que, ao estimularem a geração molecular de proteínas e de novas redes neurais e novas
memórias, geram uma espiral dinâmica de interações moleculares contínuas entre a consciência,
o cérebro, o sistema imunológico e o DNA.
Em 2006, Eric Kandel, laureado com o Prêemio Nobel de Medicina, em 2000, por seu
magnífico trabalho sobre os fundamentos da memória, e autor da surpreendente autobiografia
científica In search of memory (Em busca da memória), descreveu sua trajetória científica em
íntima relação com sua vida, de maneira humana e fascinante. No capítulo “Um diálogo entre as
sinapses e os genes” neste livro, Kandel detalhaou assim o processamento molecular da
memória:
Hoje, imagens de ressonância funcional de alto campo, como a que reproduzimos abaixo,
retirada da revista inglesa NewScientist, demonstram em tempo real, tal como profetizou Kandel
em 2001, a dinâmica entre o córtex e o hipocampo que ocorre durante atividades como a
psicoterapia.
Figura 32. – De sua localização central, o hipocampo (amarelo) conecta regiões distantes do córtex
(vermelho) envolvidas em uma lembrança particular. Nesta imagem, o cérebro foi tornado
semitransparente, e se superimpôs uma imagem de ressonância funcional da atividade cerebral com uma
imagem de ressonância magnética de sua estrutura.
Fonte: NewScientist
A psicoterapia e a hipnose terapêutica podem ser descritas por um modelo neurocientífico que
demonstra serem estas técnicas capazes de estimular a plasticidade cerebral, e gerar um dialogo
criativo com nossos genes.
Seu modelo nos fascina pela possibilidade de sua aplicabilidade em todos os campos do
conhecimento, por meio do que ele denominaou uma nova Bbioinformática, a ciência que
descreve os processos de transdução da informação durante a interação mente-corpo-gene.
Classicamente, o processo de criatividade, capaz de estimular a sinaptogênese gerando
novas redes neurais e novas memórias, é compreendido como um processo de quatro estágios:
Estes quatro estágios foram identificados tanto no campo das Humanidades quanto nas
Ciências e na Psicologia, o que mostra a existência dos mesmos processos psiconeuroendócrino-
imunogenéticos em jogo, em todas as atividades humanas.
Em seu livro The new neuroscience of psychotherapy, de livre acesso on-line, Rossi &
Rossi (2008b) nos mostraram que o processo criativo de quatro fases, tem sua correspondência
no processamento dos quatro níveis psicobiológicos da interação mente-corpo-gene durante a
expressão genética e o processo de plasticidade cerebral. Abaixo, ampliamos e especificamos
mais detalhadamente esse processamento molecular de quatro níveis, já descrito no início.
do núcleo. Estas tríades são letras do alfabeto genético, a linguagem da vida, formadas
pela sequência de três das quatro bases nitrogenadas – A adenina, T timina, G guanina e
C citosina. Cada tríade corresponde a um dos 20 aminoácidos essenciais encontrados na
natureza, que estão disponíveis no citoplasma da célula. Esses aminoácidos no
citoplasma da célula, são conduzidos ao ribossomo, durante a síntese protêeica, por um
outro tipo de RNA, o RNA transportador (RNAt). Uma sequência de, aproximadamente,
trinta 30 aminoácidos unidos em sequência linha sequencial já constitui uma proteína,
que pode conter até 400 aminoácidos. As proteínas assim sintetizadas são as estruturas
últimas de cura do corpo e irão atuar em nosso organismo, como:conforme explicitam
os itens seguintes.
a) Proteínas estruturais
São os componentes básicos da estrutura dos organismos. Qualquer forma de cura ou
regeneração orgânico-celular necessita de proteínas para se concretizar, pois as
membranas celulares são constituídas por proteínas e lipídios.
b) Proteínas funcionais
Representadas pelas eEnzimas e pelos aAnticorpos.
Enzimas são proteínas funcionais que facilitam (catalisam) as dinâmicas energéticas,
aumentando a velocidade das reações químicas celulares, sem aumento de
temperatura, através do reconhecimento estereoquímico, que é uma forma de
cognição molecular.
Anticorpos são proteínas funcionais denominadas imunoglobulinas, que possuem a
função de reconhecer e destruir células bacterianas, vírus invasores, e células
mutantes, como as células cancerígenas.
c) Proteínas receptoras
Funcionam como receptores e como canais transdutores de informação, nas
membranas celulares.
d) Proteínas- mensageiras
São moléculas transportadoras de informação como os hormônios.
4. As moléculas- mensageiras funcionam como uma espécie de “memória molecular”,
sendo capazes de evocar memória dependente de estado, aprendizagem e
comportamento nas redes neurais do cérebro.
Estimulamos a plasticidade cerebral por meio das novidades com que entramos em
contato. Portanto, qualquer forma de terapia, seja ela alopática, seja homeopática, complementar,
alternativa, noética ou integrativa – e isto é de importância fundamental para o entendimento dos
mecanismos de cura tanto dos tratamentos acadêmicos quanto dos tratamentos alternativos –
provocarãoá mudanças nas redes neurais, e na criação de novas memórias e geração de
neuroplasticidade. Este dado, torno a dizer, é de fundamental importância, para compreendermos
os mecanismos de ação das terapias alternativas e acadêmicas, e interpretarmos os processos de
cura em jogo. Neste contexto psiconeuroendócrino-imunogenético, todas as formas de terapias,
sejam elas acadêmicas, ou sejam alternativas, possuem seu valor, pois estimulam os genes a
expressarem um código-DNA para sintetizar proteínas, que são as estruturas últimas de cura do
organismo, “máquinas moleculares” promotoras da cura mente-corpo.
Ciclos ultradianos
Este ciclo completo de comunicação e cura mente-corpo-gene, assim como a maior parte
das atividades de nossa vida diária que levam comumente cerca de 90 - a 120 minutos para se
concretizar, se relaciona-se com a liberação na circulação de diversos hormônios ativadores e
inibidores da atividade celular. Esses hormônios, como o cortisol, a adrenalina, a testosterona, o
hormônio do crescimento, o DHEA (dehidroepiandrosterona), e inúmeros outros neuropeptídios e
neurotransmissores, possuem ciclos de liberação na circulação de mais ou menos 120 minutos,
conhecidos como “Cciclos Uultradianos”, em contraste com o “Cciclo Ccircadiano”, de 24horas.
Em Ccronobiologia, este ciclo é conhecido como “Cciclo Bbásico de Rrepouso-Aatividade” ou
BRAC, na sigla em inglês.
Kandel (2006) demonstrou, que o Cciclo Uultradiano Bbásico de Aatividade e Rrepouso
(BRAC), quando estimulado por sinais novos e estimulantes do meio ambiente, “liga” os genes
atividade–-dependentes, desencadeando a síntese de novas proteínas, e facilitando a
sinaptogênese e a plasticidade cerebral. Este processo de interação mente-cérebro, cérebro-corpo,
e célula-gene, leva cerca de 90 a 120 minutos para se concretizar, sendo que a última etapa,
célula-gene, gasta somente 20 minutos. Segundo Rossi, esta janela de tempo demonstra o tempo
ideal para a realização da psicoterapia. Com efeito, este “timing” permitiria ao paciente criar
novas redes neurais, estimulando a neuroplasticidade a partir dos insights surgidos durante a
psicoterapia ou a estimulação corporal, se estiver realizando uma terapia mente-corpo.
E, mais ainda, Rossi citaou autores que demonstraram que este processo, pode ser
representado por uma curva proteômica, que demonstra evidencia a energia para o dobramento
das proteínas nos neurônios, e por uma curva genômica, representando a expressão genética para
genes de expressão imediata, como o c-fos, e mais 10 dez outros genes.
Consolidando a memória
(...) a reverberação neuronal sustentada durante o sono de ondas lentas, é imediatamente seguida
por expressão de genes relacionados à plasticidade durante o sono REM, o que explica o benefício
do sono na consolidação de novas memórias.
Propomos que o estresse crônico induzido por ignorar e pular esta fase natural de repouso do Ciclo
Básico de Repouso-Atividade é uma fonte primária de desordens psicossomáticas que podem ser
resolvidas mediante terapia mente-corpo via hipnose terapêutica (LLOYD & ROSSI, 1992, 2008;
ROSSI & NIMMONS, 1991).
Podemos ou não, desfrutar a fase natural de repouso e cura do ciclo. Se optarmos, por esta
Rresposta de cCura, obedecendo à sabedoria sistêmica da interação mente-corpo, podemos
vivenciar, as seguintes etapas segundo Rossi, as etapas: delineadas a seguir.
Compreendendo o estresse
Selye, criador do termo “estresse”, definiue -o stress como “um estado de tensão do
organismo quando obrigado a utilizar suas defesas para enfrentar qualquer situação desafiadora”.
Quando No momento em que nos vemos estressados, mobilizamos energia por meio do
aumento da liberação da glicose, de oxigênio, de cortisol, e de adrenalina, aumentando o tônus
cardiovascular, e a frequência respiratória, melhorando a cognição e a memória- dependente do
hipocampo, aumentando ampliando a liberação de dopamina nas vias de prazer, e suprimindo a
reprodução, a imunidade, o crescimento, e a digestão.
Se a situação estressante se tornar-se crônica, os efeitos do estresse a longo- prazo no
organismo irão provocar uma resposta inversa, com diminuição da liberação de glicose, piora da
função hipocampal e da memória com atrofia neuronal, diminuição da plasticidade sináptica,
inibição da neurogênese, lesão e morte de neurônios, diminuição da liberação de dopamina, e
aumento da função da amiígdala (relacionada ao medo e à ansiedade), ocasionando mudanças
eletrofisiológicas e estruturais, além de piora da função do córtex frontal e de sua função
executiva, também desencadeando mudanças eletrofisiológicas e estruturais.
A não resolução da situação crônica de estresse irá desencadear o aparecimento das
chamadas Ddoenças de Aadaptação, que são desordens orgânicas relacionadas ao estresse, como
hipertensão induzida por circunstância estressante-induzida, doença cardíaca, derrames, diabetes,
miopatias, síndrome da fadiga crônica, fibromialgia, uúlceras, colite, amenorréeia, impotência e
diminuição da libido, nanismo psicogênico, aumento do risco de doenças, morte dos neurônios,
notadamente no hipocampo, levando à perda progressiva de memória e, até mesmo, ao
desenvolvimento de estados demenciais .
Quando alteramos o fluxo natural de informação, vivendo uma vida estressante,
modificamos as liberações hormonais ultradianas e interrompemos o fluxo de inteligência que
sustenta a vida (segundo a Mmedicina Aayurvédica, tradicional da Índia, a doença é a
interrupção do fluxo natural de inteligência).
Hoje, sabemos que manter, durante a vida, a atividade cerebral ativada continuamente por
estímulos renovadores, aumenta exponencialmente a densidade das conexões neuronais,
permitindo a superação do processo natural de envelhecimento e a atrofia cerebral,
desacelerando ou, até mesmo, impedindo o aparecimento dos processos de demenciação. Permite
ainda desenvolvermos uma melhor capacidade neuroendócrina e imunológica, que nos leva a
suportar melhor, e superar a maior parte das doenças do envelhecimento!
Eric Kandel, com toda sua vitalidade, alegria de vida e longevidade, que percebemos o
tempo todo assistindo ao DVD In Ssearch of Mmemory, nos parece-nos exatamente o tipo de
pessoa que conseguiu fazer de sua vida um estímulo à inteligência e à integridade mente-corpo!
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