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Argumentação

Argumentamos quando sustentamos nossa opinião e tentamos convencer o outro de que


estamos certos. Quando fazemos isto, apresentamos argumentos, ou seja, os motivos que nos
levam a ter esta opinião, analisamos argumentos que sustentariam uma opinião contrária e
explicamos porque este argumento não nos convencem, ou porque os nossos são mais fortes.
Para fazer isto, é fundamental que consigamos analisar as idéias, sintetizá-las e estarmos atentos
às opiniões de nosso interlocutor.
A capacidade de argumentação é uma competência importante na defesa dos pontos de
vista; é usada para convencer, para persuadir. Para argumentar, o aluno deve saber compreender
opiniões, entender argumentos, aceitando-os ou recusando-os e, eventualmente, contra-
argumentando.
Uma boa argumentação pode, ainda, começar por algo anterior, o conhecimento do que
sustenta o posicionamento do "outro". Só sabe contra-argumentar quem sabe "ler nas
entrelinhas", quem sabe ver o que está sob o posicionamento do outro. Desta forma, para aquilo
que nos é colocado como verdade, é preciso saber mais do que simplesmente contrapor com uma
recusa.
Por exemplo, se o filho pede à mãe para ir a uma festa e ela nega, não basta que ele diga
que não concorda com ela para conseguir ir à festa. É necessário apresentar justificativas,
ARGUMENTOS para fazê-la mudar de opinião e deixá-lo ir. Se ele conseguir inferir os motivos
que ela tem para lhe negar o pedido, será mais fácil contra-argumentar. Se os motivos dela são,
por exemplo, "meu filho vai chegar tarde", "a festa não será um bom ambiente para ele", "ele tem
aula no dia seguinte", o filho, conhecendo tais motivos, pode apresentar contra-argumentos que
neutralizarão os argumentos de sua mãe.
Esta nova competência enfoca, mais uma vez, e com bastante ênfase, o "outro", o
destinatário do texto produzido. Podemos dizer que argumentar é sustentar uma opinião frente
aos outros, na tentativa de convencê-los de que você está correto. É preciso - sempre, mas ainda
mais nestas atividades que propomos agora - pensar que a opinião é dada em certas situações,
tendo em vista certas condições, e é dada para alguém. É preciso pensar que há um "alguém"
que deve ser persuadido de algo.
Como argumentar bem? Não basta apenas persuadir, ou seja, buscar convencer (o que faz
a retórica), mas apresentar uma sustentação lógica. Consegue-se persuadir, por vezes, pela
emoção e isso não é argumentar: para argumentar, é preciso justificar as afirmações.
O que importa num discurso argumentativo é saber justificar uma escolha e saber formular
objeções a essa mesma escolha; tomar a defesa ou acusar, desde a simples colocação até a
defesa mais organizada; formular uma hipótese (ou seja, buscar suas causas); em seguida,
colocar em dúvida o valor da hipótese e propor outra; relatar, criticando, a fala de um adversário.
Vamos tomar o exemplo que Adilson Citeli utiliza em seu livro "O texto argumentativo"
para nos mostrar o que é um texto argumentativo: o governo, quando está veiculando nos jornais,
revistas ou na TV uma campanha de prevenção contra a poliomielite, está agindo através da
linguagem, produzindo o efeito de sentido de que se evita a paralisia infantil pela vacinação das
crianças. Isto quer dizer que as palavras viram ações, que através das palavras conseguimos
produzir no outro, ao qual nos dirigimos, uma atitude, um posicionamento; no caso, a atitude de
vacinar crianças para diminuir a incidência da poliomielite. O que as campanhas fazem é
estabelecer mecanismos argumentativos capazes de convencer seus ouvintes/telespectadores/
leitores.
Cabe comentarmos, ainda, que esta competência não é dedicada à dissertação e sim à
ARGUMENTAÇÃO. Diferenciá-las é muito importante. Segundo Othon Garcia, a dissertação é
diferente da argumentação pois a 1a. serve para expor ou explanar, explicar ou interpretar idéias
ao passo que a 2a. serve para convencer, persuadir ou influenciar pessoas. Na dissertação
expressamos o que sabemos sobre um assunto, externamos nossa opinião. Na argumentação,
além de expressar uma opinião, procuramos formar a opinião do outro, tentando convencê-lo.
Argumentar, então, é convencer (ou tentar convencer) pela apresentação de razões, em face
da evidência das provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente.

Atividades:

1. Leia o texto abaixo:

Tecnologia e educação

Parece-me que existe uma crença entre os tecnólogos dos países do Terceiro Mundo que
investir prioritariamente em tecnologia é sinal de desenvolvimento. E a educação fica,
infelizmente, como ''mercadoria de segunda categoria''. Não é bem assim que pensam os países
onde os índices de acidentes no trânsito foram minimizados.
É fundamental que se entenda que a simples implantação de um sistema sofisticado de
semáforos ou de faixas de segurança para pedestres não irá resolver os problemas no trânsito. É
necessário que a implantação de tecnologia esteja acompanhada de um processo de
sensibilização da comunidade quanto à importância desse novo símbolo para a sua segurança.
Para que se tente reduzir os índices de acidentes no trânsito, é essencial que se trabalhe
com processos de conscientização para: os pedestres, discutindo com a comunidade local
soluções para diminuírem os acidentes; os motociclistas, orientando-os quanto aos procedimentos
adequados de segurança no trânsito; e os motoristas, no que se refere ao consumo de álcool e ao
ato de dirigir. A mudança de comportamento só ocorrerá se esses processos de conscientização
forem desenvolvidos de forma sistemática e contínua. É preciso muito mais do que campanhas
esporádicas em épocas de grandes feriados, como normalmente acontece.
A situação atual só irá mudar se tivermos com a educação da sociedade, a mesma
prioridade e o mesmo zelo que temos no investimento de novas tecnologias. Porque senão, a
cada carnaval e a cada passagem de ano, por mais sofisticada que seja a sinalização da cidade e
das rodovias, os meios de comunicação social estarão discutindo estatísticas de acidentes que
normalmente aumentam por ausência de projetos educativos que possam resolver a questão.
José Wagner de Paiva Queiroz é psicólogo e presidente da Associação de Psicólogos do Trânsito
do Ceará (texto adaptado)

A - Leia agora os seguintes argumentos, que tratam da mesma questão desenvolvida no texto
acima.
a) Os países ao redor do mundo que conseguiram diminuir os índices de acidentes de trânsito,
investiram muito mais em novas tecnologias do que em projetos educativos.
b) É preciso que haja um maior envolvimento dos vários segmentos da sociedade no combate à
imprudência no trânsito, procurando despertar a consciência de todos os cidadãos.
c) A educação pode começar pelo próprio motorista, quando ele planeja o seu tempo, levando em
conta a distância a percorrer, o caminho que terá que fazer e um possível congestionamento.
d) O governo brasileiro, em vez de gastar dinheiro com campanhas para diminuir o número de
acidentes nos grandes feriados, deveria se preocupar mais em melhorar a sinalização de trânsito
no Brasil, pois ela é muito ultrapassada

B - Diga quais dos argumentos o autor poderia incluir no texto “Tecnologia e Educação”.

2. Identifique nos textos a seguir os argumentos contrários e os favoráveis à


legalização do aborto.

a) O DIREITO AO ABORTO
Muitas mulheres não podem ou simplesmente não querem engravidar. Isso sim lhes é
direito. Entretanto, se isso ocorrer, um assassinato não pode ser cometido em razão disso. Por
mais que digam, abortar voluntariamente o desenvolvimento de uma criança é infanticídio, ou
melhor, assassinato. Não há, para isso, meias palavras; o que está havendo é um ardiloso
discurso para dizer essa verdade de outra forma.
Dizer que o aborto é um direito de escolha para se livrar de um "produto não desejado"
(como essas clínicas costumam se referir à vida uterina) me aguça a reflexões seríssimas. Posso,
então, quando e como quiser, me livrar de "produtos" que não me são queridos?
Existem normas que me impedem de fazer isso. E não se trata de normas impostas por
governo ou órgãos através do estabelecimento de suas leis. São normas intrínsecas ao ser
humano e a uma sociedade humana e civilizada, normas como o direito individual à vida e à
liberdade; rompê-las, ou não aplicá-las, é voltar ao estado primitivo ou animal, onde ninguém tem
direitos, só eu! (...)
O aborto ceifa uma vida. E isso, por mais que coloquem de forma diferente, é uma verdade
inconteste, portanto, alegar ou estabelecer razões para fazê-lo sempre será por índole puramente
pessoal, assim como as causas de tantos outros crimes e assassinatos que ocorrem.(...)
A mulher tem o direito de não querer engravidar, mas se acontecer, cabe-lhe também o
direito de não ser mãe. Só não deve possuir o direito a ser uma algoz; que ao menos gere o ser
que está crescendo em seu ventre e depois o dê. O ato de dar sempre foi e sempre será muito
mais humano e livre do que o de roubar (uma vida)...
(Federación Nacional para el Aborto Texto adaptado do site www.aborto.com.br, por Arnaldo
Andrade Santos.1-800-772-9100 Washington, DC)

b) TRECHOS DO TEXTO INTRODUTÓRIO DO SITE www.aborto.com.br


A idéia de fazer este web site não foi a de promover ou de qualquer forma incentivar que
mulheres façam o aborto. Nosso objetivo é o de informar e prevenir, contando que assim o mesmo
não seja necessário.
Há falta de mais educação sobre a sexualidade humana, acentuando que a prevenção,
juntamente com o apoio dos governos na área social de planejamento familiar poderia pelo menos
trazer mais luz em um assunto que se encontra envolto em grande controvérsia e há poucas
informações para os que procuram se informar sobre o aborto.
Espero que você encontre aqui informações em Português e Inglês, sem preconceitos ou
fanatismo religioso, obtidas em pesquisas sobre este assunto tão pessoal que, por direito,
pertence às mulheres de todo o mundo. Cabe a elas decidirem por si próprias, sem intervenção de
ninguém, fazendo somente o que ditar a sua própria consciência.
O simples fato de uma mulher estar contemplando o aborto reflete que a gravidez não foi
desejada ou planejada. Nos países em que o aborto é ilegal, não há impedimentos para que
milhões de mulheres recorram a abortos clandestinos. Veja as condições e riscos que correm
estas mulheres na América Latina que recorrem ao aborto ilegal. Mostramos, em muitos casos,
uma comparação de situações no Brasil e nos Estados Unidos, além de vários programas
desenhados para educar e prevenir a gravidez indesejada, eliminando assim a necessidade de se
fazer um aborto.
Porém, para as mulheres que não tiveram como prevenir e definitivamente querem ter um
aborto sem medir riscos e conseqüências, é imperativo que elas escolham ter um aborto em um
país onde o procedimento seja legal. Nos Estados Unidos, quando uma mulher procura pelos
serviços de aborto, ela simplesmente consulta as páginas amarelas e escolhe uma clínica que
oferece as melhores condições de serviços e preços. (...)

3. Leia o texto abaixo:

João — Este quadro é horrível! É só traços e cores! Até eu fazia isto!


Adriana — Concordo que não é muito bonito, mas nem toda a arte tem de ser bela.
João — Não sei… por que razão dizes isso?
Adriana — Porque nem tudo o que os artistas fazem é belo.
João — E depois? É claro que nem tudo o que os artistas fazem é belo, mas daí não se segue
nada.
Adriana — Claro que se segue! Dado que tudo o que os artistas fazem é arte segue-se que nem
toda a arte tem de ser bela.

a) Qual é o tema da discussão do diálogo acima?


b) João e Adriana não compartilham a mesma opinião sobre “arte”. O que pensa João sobre o
assunto?
c) Há um ponto de concordância entre João e Adriana. Qual é ele?
d) Adriana afirma que “nem toda a arte tem que ser bela”. Quais os argumentos de que ela se
utiliza para sustentar essa afirmação?

4. Leia o texto abaixo:


Como qualquer outro animal, o primeiro contato do homem com a realidade se dá pelos
cinco sentidos. Na verdade, as cores dos objetos por nós percebidos resultam do bombardeio que
partículas do objeto, “viajando” em ondas, fazem sobre nossa retina. O som que ouvimos são
ondas que deslocam o ar e impressionam nossos tímpanos. O calor e o frio dependem de
movimentos mais ou menos acelerados de moléculas em contato com a superfície do nosso
corpo. Isso equivale a dizer que visão, olfato, tato e paladar “sentem” as propriedades dos objetos.
Sentindo os objetos, conhecemos o verde da árvore, o ruído do avião, o cheiro da pipoca, o gosto
do café, a maciez do algodão.
O universo dos objetos físicos é, pois, conhecido pela sensação de suas características.
Cassiano CORDI et alli (1995). Para filosofar. São Paulo, Scipione

a) Qual é a idéia principal do texto?


b) Como se dá o desenvolvimento dessa idéia no decorrer do texto, ou seja, quais os fatos da
realidade apresentados pelo autor que ilustram a veracidade de sua idéia principal?
c) Este texto apresenta dados científicos para sustentar a argumentação. É possível discordar das
idéias apresentadas e formular outras hipóteses para reflexão? Justifique sua resposta.

5- Leia o texto abaixo:


A Formação da Cidadania

Em todas as manifestações de caráter social, político e econômico, da mais conseqüente


opção pessoal às mais sérias decisões do governo, o ser humano é guiado por dois
comportamentos básicos: pensar e agir, de acordo com os conhecimentos disponíveis. (...)
A interação contínua entre pensamento e ação permite ao homem tomar decisões, tanto as
de natureza particular – como a escolha de um curso ou profissão ou a compra de um par de
sapatos -, quanto as que terão conseqüências coletivas, como a eleição de governantes ou a
participação em manifestações públicas. Portanto, de modo geral, as decisões não são arbitrárias.
Não importa o grau de consciência política que o indivíduo possui, ou a massa de um
conhecimento de que ele dispõe sobre uma questão: há sempre uma dose de reflexão em cada
um dos seus atos.
É fácil constatar que as idéias, as opiniões, as atitudes e as ações não seguem um
esquema simples, mecanicista e uniforme, pois as diferentes preocupações que atormentam o
homem se embaralham e se cruzam a cada instante e às vezes se chocam. É como se todas as
provas automobilísticas do mundo fossem disputadas ao mesmo tempo no mesmo autódromo.
A formação do cidadão consiste em capacitá-lo a pôr ordem nesse processo, que se
desenvolve ao seu redor, mas sempre explode dentro dele. A principal contribuição formativa da
educação é a de atuar sobre esse mecanismo mental decisório e justá-lo o mais corretamente
possível, equilibrando os conhecimentos, as habilidades e as atitudes segundo padrões éticos,
morais e outros, válidos para todas, ou para a maioria das pessoas.
Não existe um método infalível para que alguém possa chegar, sempre, às melhores
decisões sobre todas as coisas, mas pode-se melhorar a capacidade de raciocínio com a prática,
o estudo, a crítica, a reflexão. O grande objetivo, que mais parece um ideal inatingível, é
conseguir que cada indivíduo se torne autônomo, isto é, que seja capaz de decidir por si mesmo,
não se sujeitando a interferências ou pressões externas. É o caminho que levará à formação de
cidadãos conscientes.
Paulo MARTINEZ (1996). Direitos de cidadania – um lugar ao sol. São Paulo, Scipione.

a) No segundo parágrafo do texto, o autor diz que as decisões tomadas pelas pessoas não são,
de modo geral, arbitrárias. Qual é o argumento do texto para tal afirmação?
b) Segundo as idéias do texto, qual é “o caminho que levará à formação de cidadãos
conscientes”?
c) De modo geral, quais são as características de um cidadão consciente segundo o texto? Você
concorda com esse ponto de vista? Escreva uma pequena reflexão justificando seu
posicionamento perante este tema

fonte - http://ead1.unicamp.br

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