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A QUIMERA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


PARA SUPRESSÃO DA POBREZA E DA CRISE ECOLÓGICA

Raquel Mota Mascarenhas1

RESUMO: Esse artigo, sob o suporte da teoria marxista, visa contribuir para a análise das
particularidades contemporâneas do modo de produção capitalista e das possibilidades de sua
superação. Para isso, reflete acerca da relação entre “pobreza e crise ecológica” e apresenta
elementos assertivos da hipótese de que países norteados por projetos societários divergentes
– Brasil e Cuba, capitalista e socialista, respectivamente – apresentam distintas programáticas
de gestão socioambiental em território latino-americano. Portanto, a questão geradora desse
artigo é analisar o processo de enfrentamento da pobreza e da crise ecológica em Brasil e
Cuba, considerando o paradigma da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
Para isso, utiliza o método comparado e a pesquisa bibliográfica e documental, apresentando
um conjunto de considerações em três momentos: a relação entre crise ecológica e pobreza na
contemporaneidade; o processo de construção da Agenda 2030 da ONU; desenvolvimento
sustentável na América Latina, similitudes e particularidades em Brasil e Cuba.
Palavras-chaves: capitalismo contemporâneo; crise ecológica; pobreza.

1 INTRODUÇÃO
Este projeto visa refletir acerca da relação entre pobreza e crise ecológica, a partir da teoria
social marxista, que apreende o conhecimento científico como elemento para entender a
realidade e, também, transformá-la com vista à emancipação humana (MARX, 1977).
Portanto, o empenho pela temática parte do entendimento de que o atual modo de produção
está fundado na lei geral de acumulação capitalista, em que há proporção direta entre
produção de riqueza e ampliação da pobreza (MARX, 1989); sendo a sobrevida do capital
centrada na superexploração da força de trabalho e degradação da natureza, principalmente
via extrativismo e produção de commodities, ocorrida nos países de desenvolvimento
dependente, como os latino-americanos (MARINI, 2011). Desse modo, busca-se analisar o
processo de enfrentamento da pobreza e da crise ecológica em Brasil e Cuba, considerando o
paradigma da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas2 (ONU).
Compreende-se que esse estudo apresenta notável relevância social, pois a Agenda 2030,
inscrita no documento “Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável”, trata-se de “[...] um plano de ação para as pessoas, para o

1
Docente efetiva do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto, no Brasil. Mestre em
Política Social e graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail:
rmmascarenhas.ufop@gmail.com
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A Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 1945, tem o objetivo de atuar em termos segurança
internacional, desenvolvimento econômico e direitos humanos, em que se consolida o conselho de segurança,
inicialmente, formado por cinco membros permanentes (Estados Unidos, Grã-Bretanha, União Soviética,
China e, posteriormente, França), dentre os cinquenta e um estados-membros fundadores. Atualmente o
conselho de segurança, além dos cinco membros permanentes, abarca 10 membros não permanentes, com o
total de estados membros de 192 países (GARCIA, 2011).
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planeta e para a prosperidade” (ONU, 2017, p.1); ou seja, “[...] é uma Agenda para a ação
global para os próximos quinze anos – é uma carta para as pessoas e o planeta no século XXI”
(ONU, 2017, p.16). Portanto, trata-se de uma estratégia hegemônica de desenvolvimento
sustentável, considerada “[...] aceita por todos os países e [logo] é aplicável a todos” (ONU,
2017). Isso, porque essa é construída no marco do encerramento dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), que foram baseados pela Declaração do Milênio,
adotada pelos estados membros da ONU, em 2000 (ONU, 2017). Ela, portanto, pretende
basear-se no “legado dos ODM” e ir além, “[...] estabelecendo uma visão extremamente
ambiciosa e transformadora”, fundada na visão de “[...] um mundo livre da pobreza, fome,
doença e penúria, onde toda a vida pode prosperar” (ONU, 2017, p. 4). Sendo assim, e, em
especial, reconhece que “[...] a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões,
incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o
desenvolvimento sustentável” (ONU, 2017, p.1). Ou seja, o estudo da Agenda 2030 está
diretamente relacionado ao futuro do planeta, pois ela se insere no marco do
“desenvolvimento sustentável”, exposto enquanto uma alternativa conservadora para o
enfrentamento da degradação socioambiental do sistema capitalista (SILVA, 2010).
Acerca dessa estratégia, entendemos que “qualquer medida efetiva de conservação [...] deve
ser bem-vinda [...] Mas é importante não ver em tais formas um repúdio por parte do capital
de sua necessidade ecológica e socialmente devastadora de expansão, acumulação e lucro”
(WALLIS, 2009, p. 59-60). Isto é, esse artigo expressa a inquietação diante a catástrofe
ambiental decorrente da permanência do modo de produção capitalista (FOSTER, 2012) e,
em particular, da necessidade de contribuir para minimizar a cortina de fumaça sobre as
manobras desenvolvidas para mantê-lo de pé e, também, para explicitar alternativas possíveis.
Diante o exposto, trata-se de interesse social, principalmente à classe trabalhadora, entender
essa proposta de “cooperação global” (ONU, 2017) tanto no que tange o marco ideo-político
quanto o teórico-metodológico. Pois, a Agenda 2030, apesar de colocar-se enquanto um
consenso entre nações do mundo, está inserida em um contexto geopolítico de conflitos e será
construída em instâncias com disputas de interesses diversos, porque preconiza “[...] envolver
governos, bem como os parlamentos, o Sistema das Nações Unidas e outras instituições
internacionais, autoridades locais, povos indígenas, sociedade civil, os negócios e o setor
privado, a comunidade científica e acadêmica – e todas as pessoas” (ONU, 2017, p. 16).
Tendo em vista esses elementos, a reflexão aqui apresentada é dotada de destacável relevância
científica, pois, a Agenda 2030 – apesar de ser uma expressão do processo contínuo de
tentativas de produzir consensos conservadores do modo de produção capitalista – expõe um
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marco recente na totalidade do concreto, que carece de reflexão e sistematização (NETTO,


2011). Ou seja, pretende-se contribuir com algumas reflexões acerca da agenda pactuada, em
setembro de 2015, pelos líderes nacionais reunidos na sede da ONU em Nova York, nos
Estados Unidos, que entrou em vigor em primeiro de janeiro de 2016. Essa está expressa,
além do preâmbulo, em princípios, objetivos e metas consideradas “integradas e indivisíveis”,
baseadas na promoção, durante quinze anos, de ações em cinco áreas cruciais: pessoas,
planeta, prosperidade, paz e parceria. Essas áreas integram as “três dimensões do
desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental” (ONU, 2017, p.1).
Destarte, reflete-se acerca das ações de dois países latino-americano, Brasil e Cuba, cujos
projetos societários divergentes, capitalista e socialista, respectivamente, em que se
apresentam duas estratégias ímpares à construção do “desenvolvimento sustentável”. Ou seja,
há distinção acadêmica no debate sobre projetos societários; pois, apesar do norteamento pró-
capitalismo da Agenda 2030, essa sinaliza que “[...] cada país é o responsável primário pelo
seu próprio desenvolvimento econômico e social”, logo “[...] para implementar políticas de
erradicação da pobreza e do desenvolvimento sustentável” (ONU, 2017, p. 40).
Assim, essa discussão abrange a gestão dos recursos naturais e sua relação com a reprodução
(ou não) da vida humana. Logo, “a problemática ambiental torna-se, então, uma das grandes
questões do tempo presente”, sendo útil à compreensão da realidade “apreender a dinâmica
atual da sociedade capitalista, que, historicamente, engendra o agravamento das desigualdades
sociais geradoras de situações de pauperismo tanto no campo quanto na cidade e que promove
o uso predatório dos recursos ambientais” (ABEPSS, 2012, p. 463).
Entretanto, ainda que reconhecida a sua importância, “[...] a emergência do debate em torno
da questão ambiental é um processo que remonta à década de 1960” (SILVEIRA, 2015),
portanto, recente. Além disso, no campo da teoria social marxista, há um atraso das
contribuições a esse debate, como reconhece Chesnais e Serfati3 (2003). Isto é, o que tange “a
análise e a discussão das questões relativas ao meio ambiente e as ameaças ecológicas [...] se
fizeram – e continuam ainda a se fazer – muito largamente fora de uma referência forte a uma
problemática marxiana e/ou marxista” (CHESNAIS; SERFATI, 2003, p. 45). Portanto, a
bibliografia utilizada visa integrar esse artigo as contribuições dos autores de referência com
trabalhos sólidos no campo marxista do debate acerca da questão ambiental – que se inicia

3
Chesnais e Serfati (2003, p. 45) declaram que “o atraso é aquele que nós (os autores deste texto) reconhecemos
a título pessoal, [...] Mas nos parece que, de uma forma geral, esse mesmo atraso também é o da mais ampla
maioria daqueles que se reclamam do marxismo”.
4

desde os primeiros inscritos de Marx e Engel4 e se amplia diante a alteração ambiental gerada
pelo estágio monopolista do capital, como expõe Foster (2012).
Nesse campo, ademais, a reflexão aqui apresentada ainda possui o diferencial de abordar a
pobreza em território latino-americano, importante devido tanto a amplitude da pobreza e
quanto a internacionalização do seu combate, pois a analisar a parir da mediação da “questão
ambiental” e do “capitalismo dependente” e suas particularidades no capitalismo
contemporâneo (AZEVEDO; BURLANDY, 2010; LEITE, 2008; NETTO, 2001). Nessa
abordagem, corrobora-se o entendimento da pobreza como uma das expressões da “questão
social” (NETTO, 2001), retificando a redução da “questão social” à pobreza – conforme
adotado pelos organismos multilaterais (MAURIEL, 2008; SOARES, 2003; UGÁ, 2004).
Em ambos aspetos, essa discussão visa contribuir para o intercâmbio interinstitucional e
político, colaborando ao adensamento das produções marxistas sobre o tema e à organização
da classe trabalhora em suas lutas, visto que “el internacionalismo proletario es un deber, pero
también es una necesidad revolucionaria” (GUEVARRA, 2016, p. 8).
Diante o exposto, para construir essa reflexão, utiliza-se procedimentos metodológicos,
visando articular reflexão teórica com técnicas de pesquisa (CAMPENHOUDT; QUIVY,
2008). No que tange a reflexão teórica5, considerando a impossibilidade de neutralidade
científica (LOWY, 1994), ratificamos o vínculo com o marxismo. Portanto, no processo de
ideação do objeto articula-se três categorias nucleares do método histórico-dialético: i)
totalidade – estruturas que constituem historicamente a realidade em diferentes graus de
complexidade e estão articuladas entre si; ii) contradição - movimento entre e das totalidades
que compõem a realidade social; iii) mediação – articulação das totalidades, tornando a
realidade um bloco dinâmico e diferenciado (NETTO, 2011).
Acerca das técnicas para a coleta de dados6, utiliza-se a pesquisa bibliográfica7 afim de
abarcar autores marxista que contribuem de forma central para os temas: capitalismo
contemporâneo; questão ambiental; desenvolvimento sustentável; política social; questão

4
“É reconhecido que o primeiro ensaio político-econômico de Marx, ‘Debates acerca da lei do furto da madeira’,
escrito em 1842 durante seu período como editor da Rheinische Zeitung – era focado em questões ecológicas”
(FOSTER, 2012, p. 88). Além disso, “[...] vale a pena notar que sua análise, ao lado de Engels, também toca
em questões críticas como o ‘esbanjamento’ de combustíveis fósseis e outros recursos naturais; desertificação,
desflorestamento; e mudanças climáticas regionais – já entendidas por cientistas da época de Marx como um
resultado, em parte, da degradação humana do meio-ambiente” (FOSTER, 2012, p. 91).
5
A reflexão teórica compreende “[...] o conhecimento do objeto – de sua estrutura e dinâmica – tal como ele é
em si mesmo, na sua existência real e efetiva [...]” (NETTO, 2011, p.20).
6
É um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência (LAKATOS; MARCONI, 2009).
7
É “[...] um conjunto ordenado de procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo” que deve
ser “[...] sempre realizada para fundamentar teoricamente o objeto de estudo, contribuindo com elementos que
subsidiem a análise futura dos dados obtidos” (LIMA; MIOTO, 2007, p. 44)
5

social; pobreza; formação histórico-social da América Latina, do Brasil e de Cuba; etc. Além
disso, faz-se uso da pesquisa documental8 de fontes públicas9 dos dois países, a partir da
observação dos seguintes documentos: i) ONU: Transformando Nosso Mundo: Agenda 2030
para o desenvolvimento Sustentável; ii) Brasil: Negociações da Agenda de Desenvolvimento
Pós-2015: Elementos Orientadores da Posição Brasileira; Decreto nº 8.892/16, que cria a
Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; iii) Cuba: Ley n.81
del Medio Ambiente; Proyecto de Conceptualización del Modelo Económico y Social Cubano
de Desarrollo Socialista; e Proyecto Plan Nacional de Desarrollo y Económico y Social hasta
2030: Propuesta de Visión de la Nación, Ejes y Sectores Estratégicos.
Diante a essa coleta, serão apresentadas algumas análises a partir do método comparado10
(ZEMELMAN, 2003), visto que se propõe a estudar dois países, que apresentam
características similares – são submersos na relação de desenvolvimento dependente,
alcançaram redução da pobreza e desigualdade no marco do ODM da ONU – e diferentes –
ordenamento de sociedade capitalista, no Brasil, e socialista, em Cuba, com consequências
para o enfrentamento da pobreza e da crise ecológica.
Destarte, a partir do desenvolvimento desses procedimentos metodológicos, abordaremos a
seguir um conjunto de contribuições, sem a pretensão de esgotar a analise, que se estruturam
em três momentos: a relação entre crise ecológica e pobreza na contemporaneidade; o
processo de construção da Agenda 2030 da ONU; desenvolvimento sustentável na América
Latina, similitudes e particularidades em Brasil e Cuba.

2 A RELAÇÃO ENTRE CRISE ECOLÓGICA E POBREZA NA


CONTEMPORANEIDADE CAPITALISTA
Society, you're a crazy breed
Hope you're not angry if I disagree
(Society, Eddie Vedder)

A problematização do enfrentamento da pobreza e da crise ecológica requer situá-la no


movimento da realidade concreta, onde estão em disputas diferentes explicações, e,
consequentemente, programáticas para erradica-la. Portanto, somente a partir da análise da
totalidade, considerando contradições e mediações, pode-se ratificar a hipótese de que países
norteados por projetos societários divergentes, capitalista e socialista, apresentam distintas
experiências de gestão da vida coletiva no que tange a construção do equilíbrio entre a

8
É um meio de apreender a realidade via dados documentais, logo, fonte primária (SAMARA; TUPY, 2007)
9
As fontes públicas tem caráter oficial, isto é, são documentos que “eticamente estão abertos para análise por
pertencerem ao espaço público, por terem sido tornados públicos” (SPINK, 2004, p. 136).
10
Zemelman (2003, p. 102) explicita que o método comparado, aplicado ao estudo da América Latina, não se
trata de pesquisar variáveis isoladamente, e sim analisá-las inseridas na totalidade concreta do território latino-
americano e caribenho, considerando as particularidades de cada país.
6

sociedade e a natureza. Portanto, a fim de corroborar essa proposição, buscar-se-á situá-la no


centro do debate teórico acerca do tema “pobreza e crise ecológica” a partir de algumas
contribuições marxistas.
Nesse sentido, parte-se do entendimento, portanto que, o capitalismo constitui-se com o
objetivo central de produzir valor de troca, em detrimento da emancipação humana, através da
lei geral de acumulação capitalista (MARX, 1989), que funda a “questão social”, expressa,
dentre tantas formas, na pauperização da classe trabalhadora (NETTO, 2001). Ou seja, “[...]
produzir mais valia é a lei absoluta desse modo de produção” (MARX, 1989, p. 719), sendo
que esse processo está expresso na reprodução do capital, via movimento D – M (...P...) – D’.
Acerca disso, Marx (1989) elucida que, o capital inicialmente investido [D], após transcorrer
o processo de produção e de circulação de mercadorias [M (...P...)], é acrescido de valor novo
(D’- D) (MARX, 1989). Entretanto, parte do valor novo produzido será novamente investida,
dando partida a um novo ciclo de reprodução do capital. Esse processo dar-se-á
ininterruptamente, reorganizando a reprodução em estrutura de espiral (MARX, 1989).
Essa lei, portanto, fundamenta a luta de classes diante o processo de reprodução, acumulação
e centralização de capital11, tangenciado pela autocontradição expressa na lei da queda
tendencial da taxa de lucro (MANDEL, 1990). Essa lei expõe a tendência no capitalismo de
“[..] melhorar incessantemente o equipamento e a produtividade do trabalho, a desenvolver as
forças produtivas. Mas essa tendência – pelas contradições que veicula – expressa-se em outra
tendência, ou seja, naquela à queda da taxa de lucro” (VALIER; SALAMA, 1975, p.107).
Assim, desde a fundação ao imperialismo (LENIN, 1985), o capitalismo12 é tangido por crise,
que atinge sua dimensão global mais profunda a partir da década de 1970, particularizada pelo
aumento da composição orgânica do capital13, devido a terceira revolução tecnológica14
(MANDEL, 1990). Ou seja, “[...] a crise é uma manifestação da queda da taxa de lucros, ao
mesmo tempo em que revela a superprodução de mercadorias” (MANDEL, 1990, p. 213).
Diante a isso, tem-se a “restauração do capital” (BRAGA, 2001), isto é, ajustamentos para
restaurar a taxa de lucro, em três eixos: i) ofensiva a organização de trabalhadores, via

11
Centralização de capitais é seu agrupamento e concentração o acúmulo através da reprodução (MARX, 1989).
12
De acordo com Netto e Braz (2006), o capitalismo percorreu três fases: comercial, do século XVI até meados
do século XVIII, com centralidade do capital comercial; concorrencial, do final do século XVIII até o último
terço do século XIX, com centralidade do capital industrial; imperialista, do final do século XIX até a
contemporaneidade, com centralidade do capital financeiro. Os autores subdividem esta última fase em três
períodos: clássico, entre 1880 e 1940; “anos dourados”, entre o fim da segunda guerra mundial e o início dos
anos 1970; e capitalismo contemporâneo, de meados da década de 1970 ao tempo atual.
13
O aumento da composição orgânica do capital diz respeito a redução do capital variável, força de trabalho, em
termos proporcionais, a o capital constante, meio de produção (MARX, 1989).
14
A terceira revolução tecnológica, entre 1940 e 1970, é financiada pela alta rentabilidade do capital e fundada
na microeletrônica e na nanotecnologia (MANDEL, 1990).
7

restrição e redução da intervenção do Estado, norteadas pelo neoliberalismo15 (HARVEY,


2008, 2011), ii) desterritorialização e reestruturação da produção, baseada na acumulação
flexível16 (HARVEY, 2011); e iii) reordenamento da economia mundial, ocasionando a
consolidação mundialização do capital17 (CHESNAIS, 1996). Essas transformações
acarretaram na crise ecológica (CHESNAIS; SERFATI, 2003) e na globalização da pobreza
(CHOSSUDOVSKY, 1999; GOLDSTEIN, 2008), processos que problematizaremos a seguir

2.1 CAPITALISMO E CRISE ECOLÓGICA


O processo de desenvolvimento do modo de produção capitalista emerge a partir do profundo
distanciamento entre ser humano e natureza, nos marcos do capitalismo agrário, característico
pela separação entre produtores e meios de produção e pela expropriação da produção desses
pelos apropriadores, proprietários dos meios de produção. O que possibilita a geração de uma
massa de trabalhadores cujo meio de sobrevivência se dará via a venda da força de trabalho,
para obtenção de salário e, consequente, aquisição de produtos via mercado, ocasionando o
processo de urbanização e industrialização subsequentes (WOOD, 2000).
Todas essas transformações tratam acerca da ruptura do metabolismo entre humanidade e
natureza, cuja discussão confere “a contribuição ecológica mais apontada de Marx, [...] sua
teoria de fenda metabólica” (FOSTER, 2002). Entende-se aqui que o metabolismo consiste no
“[...] retorno dos componentes da terra consumidos pelo homem, sob forma de alimentos e
vestuários, à terra, portanto, a eterna condição natural de fertilidade permanente do solo”
(MARX, 1996, p. 132). Por outro lado, a ruptura se dá no marco das relações de produção
capitalistas que imperam via a propriedade privada dos meios de produção, sendo o
desenvolvimento das forças produtivas tangenciado pelo objetivo central de obtenção de
valor. O que inviabiliza a renovação da biosfera e “[...] destrói simultaneamente a saúde física
dos trabalhadores urbanos e a vida espiritual dos trabalhadores rurais” (MARX, 1996, p. 132).
Isto é, como expõe Foster (2002, p. 91), “para Marx, esse Raubbau capitalista tomou a forma
de ‘uma fenda irreparável’ no interior da sociedade capitalista no metabolismo entre a
humanidade e a terra – ‘um metabolismo prescrito pelas próprias leis naturais’”.

15
O neoliberalismo ratifica “que o bem-estar humano pode ser mais bem promovido liberando-se as liberdades e
capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos
direitos à propriedade privada, livres mercados e livre comércio” (HARVEY, 2011, p.12).
16
A “[...] acumulação flexível, [...] se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de
trabalho, dos produtos e padrões de consumo. [...] (HARVEY, 2011, p. 140).
17
A mundialização trata-se do duplo processo, em que “O primeiro pode ser caracterizado como a mais longa
fase de acumulação ininterrupta do capital que o capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às
políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento de conquistas sociais e
democráticas, que foram aplicadas desde o início da década de 1980” (CHESNAIS, 1996, p. 34).
8

Sendo a “fenda metabólica” uma particularidade fundante do modo de produção capitalista,


Chesnais e Serfati (2003, p. 42) afirmam, a partir da observação da contemporaneidade, “[...]
a crise ecológica como resultante dos esforços do capital em transferir para o meio geopolítico
e ambiental as consequências das contradições do sistema, derivadas das relações de
propriedade burguesa”. Desse modo, entende-se a crise ecológica como particularidade
contemporânea da “questão ambiental”, cuja gênese está na ruptura do metabolismo entre
humanidade e natureza, isto é, na “fenda metabólica”. Isso porque, as ações para retomar o
aumento da taxa de lucro, via “restauração do capital”, promove a aceleração da rotatividade
do capital – ancorada, por exemplo, na obsolescência programada, no consumismo descolado
do valor de uso, na destruição militarista, etc. – ocasionando alterações climáticas, extinção de
espécies na fauna e na flora, aumento da poluição do ar, solo e água, entre outros.
Apesar disso, cabe destacar que “a crise ecológica planetária [...], cujos efeitos se repartem de
forma muito desigual, são produtos do capitalismo, mas nem por isso são fator central de crise
para este” (CHESNAIS; SERFATI, 2003, p. 42). Ou seja, a contradição do modo de produção
capitalista está no seu próprio processo de reprodução da mais-valia18 e não no limite
ecológico. Logo, o capitalismo é que é um limite para a sobrevivência da vida, tendo visto que
alcançou soluções à escassez de determinados recursos naturais, testemunhando a capacidade
do capital de transferir à biosfera as consequências da sua autocontradição. Exemplos dessas
saídas se dão no plano político, via transferência do peso da degradação para os países mais
fracos, com os latino-americanos, além de acionar o imperialismo bélico para os territórios
com levantes populares às más condições de vida devido às degradações ambientais; e,
também, no plano econômico, com a transformação das degradações em novos espaços de
acumulação, principalmente via processo de “capitalização da natureza”19, e em mercadorias,
via reciclagem, organismos geneticamente modificados, etc. (CHESNAIS; SERFATI, 2003).
Desse modo, diferenciando-se dos demais paradigmas20, e se negando ao teoricismo idealista
e ao praticismo ativista, assume-se o entendimento marxista que visa uma “[...] apreensão da

18
Expressa na lei da queda tendencial da taxa de lucro (MANDEL, 1990).
19
A capitalização refere-se ao processo no qual “a natureza adquire um estatuto de ‘fator de produção’ e se torna
um capital natural. [...] a existência desse capital repousa sobre a determinação de uma taxa de atualização [...]
Ela cria para os proprietários desse capital um novo campo de acumulação de riqueza que se alimenta da
destruição acelerada dos recursos naturais” (CHESNAIS; SERFATI, 2003, p. 57).
20
Silva (2010) apresenta dois paradigmas progressista de interpretação da “questão ambiental”: i) ético da
modernidade - permeado por pluralidade teórica, cujas características comuns são: visão romântica da
natureza, crítica ao produtivismo, superação da “questão ambiental” via ética biocêntrica e inovação técnica,
etc.; ii) paradigma ambientalista - campo teórico marxista, concebe a “questão ambiental” como consequência
da ruptura metabólica entre ser humano e natureza, porém apresentam variações: tese da velocidade de
utilização, de reprodução do capital e dos limites físicos, na qual se ancora esse texto.
9

“questão ambiental”21 enquanto consequência da acentuação das contradições entre o


desenvolvimento das forças produtivas e relações sociais de produção” (SILVA, 2010, p. 31).
Isso porque, conforme afirma Katz (1996) “bajo el capitalismo las normas que definen cómo,
cuándo, y para qué se innova son las leyes de acumulación”. Ou seja, o modo de produção
capitalista, como o anteriores, são tanto uma forma de organização da produção social, quanto
um modo de dominação social, logo, o desenvolvimento das forças produtivas (meios de
produção, objetos de trabalho e força de trabalho) não se dá de forma neutra, e sim, norteada
pelo objetivo central de manutenção das relações sociais capitalistas (KATZ, 1996).
Diante o exposto, a “questão ambiental” tem sua gênese no processo de “fenda metabólica” e.
sua configuração atual caracterizada pela crise ecológica. Logo, concordando com Silva
(2010), a “questão ambiental” se expressa como “[...] o aumento da poluição do ar e da água,
a destruição da camada de ozônio, o acúmulo de lixo, o esgotamento dos recursos naturais não
renováveis, o avanço da desertificação etc.” (SILVA, 2010, p. 162). Apesar disso, essa se
impõe como uma questão a ser enfrentada somente no final do século XX, quando a “[...] a
dimensão política da “questão ambiental” foi provocada pelas organizações da sociedade”
(SILVA, 2010, p. 227), que é alvejada pela programática do “desenvolvimento sustentável”,
cujos “[...] os principais sujeito da construção [...] são os organismos internacionais” (SILVA,
2010, p. 177). Ou seja, afirma Silva (2010, p. 33), para acessar a essência, é imprescindível
“[...] vincular a gênese da “questão ambiental” à ordem burguesa e o discurso de
sustentabilidade ao amplo movimento engendrado pelas classes sociais e pelo Estado para dar
conta de seus efeitos catastróficos na etapa do capitalismo tardio”.
Nessa conjuntura, “embora o ideário do desenvolvimento sustentável tenha surgido em
meados dos anos 1970 é só nos anos 1990 do século último que este passa a ganhar espaço na
agenda pública como esteio às ações voltadas à preservação da natureza” (SILVA, 2010, p.
232). Esse norteamento irá se materializar de duas formas centrais, diretamente articuladas,
para o enfrentamento da “questão ambiental”: o discurso ideopolítico e a programática
teórico-metodológica.
A primeira compreende “um discurso que vem a público como consensual (sem sê-lo de fato)
e que indica o domínio ideológico de agentes do capital” (LOUREIRO, 2010, p. 19), além de
requerer para si o status de única alternativa possível para reestabelecer o equilíbrio no
metabolismo entre humanidade e natureza, em contraponto ao socialismo real e ao estado de

21
“Entre aspas, posto que no nosso entendimento a problemática ambiental não se constitui num fenômeno
natural ou numa mera consequência do desenvolvimento das sociedades; trata-se de uma ‘questão’ em função
da natureza socialmente determinada da sua existência” (MOTA, SILVA, 2009, p. 47).
10

bem-estar social. Portanto, o desenvolvimento sustentável trata-se, em parte, de ser “[...] um


ideário supraclassista, capaz de aglutinar amplos segmentos dos movimentos sociais, ONGs,
governos, entidades classistas e órgãos governamentais empenhados em sedimentar novos
referenciais políticos e ideológicos que ofereçam respostas à crise societária” (SILVA, 2010,
p. 176-177). Em suma, tem-se um receituário moral, que centra a superação da “questão
ambiental” em uma perspectiva individual, mediante a assimilação do comportamento
sustentável, “[...] criando-se no plano ideológico o fetiche da humanização do capital, a partir
das mudanças atitudinais” (SILVA, 2010, p. 238).
A segunda forma de materialização refere-se a “[...] premissa que norteiam as formulações
das agências internacionais sobre a temática ambiental dos anos 1970 até o tempo presente, na
qual o binômio ‘pobreza e meio ambiente’ comparece no centro” (SILVA, 2010, p. 34). Isso
é, a programática de organismos multilaterais, como ONU, FMI e Banco Mundial, são
norteadas por uma discussão teórico-metodológica acerca da causa da degradação ambiental,
que a todo tempo envolveu a relação direta entre pobreza e meio ambiente, sendo tangenciada
por “[...] duas concepções distintas: a tese do “circulo vicioso”, que se fez hegemônica até
início dos anos 1990 e a do “duplo caminho”, que ganha centralidade no debate ambiental daí
em diante” (SILVA, 2010, p. 34). Acerca dessas, cabe destacar que, “em ambas as hipóteses,
a pobreza ocupa um lugar determinado como fator elucidativo da degradação ambiental”
(SILVA, 2010, p. 34)
A “tese do circulo vicioso”, de origem neomalthusiana, expressa pelo Clube de Roma no
relatório “Limits to growth” de 1972, entende que a degradação ambiental advém de um
desequilíbrio entre população e quantidade de recursos naturais, responsabilizando os países
pobres devido a maior taxa de natalidade. Assim, considera-se que “os pobres são sujeitos e
vítimas do processo de dilapidação da natureza”, pois demandam maior quantidade de
recursos ao mesmo tempo em que vivenciam áreas de maior degradação. Nesse sentido,
propõem-se políticas para redução de natalidade, por entender que para reduzir a pobreza é
necessário reduzir o quantitativo de pessoas pobres (SILVA, 2010).
A tese do “duplo caminho”, que emerge do desenvolvimentismo, centrado no crescimento
econômico imperante até a década de 1980, se solidifica no Relatório Brundthland “Nosso
Futuro Comum”, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD), em 1987. Nesse a pobreza é vista como consequência possível da falta de acesso
ou de direitos sobre os recursos naturais, que pode, ou não, ocasionar a destruição desses.
Assim, tem-se uma abordagem dual em que o caminho para a estabilização ecológica dar-se-á
pela sustentabilidade ambiental e social, alcançada através do “combate a pobreza”.
11

Essa tese, consolidada como hegemônica desde a década de 1990 até os dias atuais, embasa a
concepção de “questão ambiental” como consequência do subdesenvolvimento, que deve ser
superado a partir do aparato técnico, impulsionado pela concessão de auxílio financeiro e
tecnológico dos países ricos aos pobres, de forma complementar aos esforços desses últimos.
Logo, a partir de uma visão tridimensional - eficiência econômica, justiça social e prudência
ecológica – conceitua-se: “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias
necessidades” (ONU, 1991, p. 46).
Entende-se, em contraponto, a essa conceituação que a sustentabilidade significa que há
relações interdependentes de cooperação entre os seres vivos para manutenção da vida e da
biodiversidade (BOOF, 2017). Isto é, como ratifica Foster (2002, p. 1991) “[...] ao invés de
fendas abertas desenvolvidas sob o capitalismo, que sejam necessários ciclos metabólicos
fechados entre a humanidade e a natureza”. Logo, nega-se essa perspectiva hegemônica, em
que o desenvolvimento, na verdade, diz respeito à defesa das condições de reprodução do
sistema capitalista; assim quando há certo ganho de sustentabilidade, se faz a partir do
aprisionamento à técnica, proporcionando que “[...] a sustentabilidade ambiental (ou a
existência de algumas iniciativas nesta direção) se faz em detrimento da sustentabilidade
social” (SILVA, 2010, p. 201).
Isso porque, o desenvolvimento sustentável figura como alternativa ao limite da natureza
(recursos como água, ar, solo, fauna, flora, etc.) à reprodução do capital, buscando novas
matérias primas e técnicas para superar a baixa produtividade do solo, as intempéries, a
incapacidade de absorver dejetos e poluentes, etc., decorrentes da insuficiente recomposição
da biosfera. Isso via o uso de “tecnologias limpas e de baixo desperdício” e o “combate à
pobreza”, que são insuficientes para cessar a baixa qualidade de vida das populações e
“exigem cada vez mais sacrifícios humanos em nome do progresso técnico” (SILVA, 2010, p.
235). Ou seja, concorda-se com Silva (2010, p. 186) quando afirma que, em particular, “[...]
“a sustentabilidade ambiental” vem sendo, progressivamente, subordinada aos imperativos do
mercado e atrelada à competitividade empresarial: mercantilização dos recursos naturais, a
gestão ambiental empresarial e a reciclagem dos resíduos sólidos”. Por outro lado, “[...] a
“sustentabilidade social” vem sendo tratada a partir do desenvolvimento de políticas
compensatórias – sobretudo através dos programas de transferência de renda” (SILVA, 2010,
p. 187). Portanto, “[...] a questão da pobreza, agora incorporada ao debate ambiental, é
progressivamente, remetida à esfera das políticas compensatórias, na proporção em que se
agravam os indicadores sociais em todos os quadrantes do planeta” (SILVA, 2010, p.165).
12

Essa programática hegemônica acerca do desenvolvimento sustentável, que associa


diretamente a erradicação da pobreza à sustentabilidade, irá compor o processo de construção
da estratégia hegemônica de enfrentamento da pobreza a partir da década de 1980, somando-
se a outras contribuições teórico-metodológicas, como veremos à seguir.

2.2 ENFRENTAMENTO DA POBREZA NA CONTEMPORANEIDADE


O processo de “restauração do capital” (BRAGA, 2001), a partir da crise de 1970, acarreta na
globalização da pobreza (CHOSSUDOVSKY, 1999) que caracteriza o desastre social22
(SOARES, 2003). Trata-se, portanto, do processo de acirramento da “questão social”, uma
vez que essa emerge a partir da lei geral da acumulação capitalista, tendo sua gênese na
dimensão infraestrutural e se expressa na dimensão superestrutural, ganhando materialidade
na ação política das classes (NETTO, 2001, IAMAMOTO, 2001). Isto é, tem-se a ampliação
dos levantes populares23 diante o aumento do empobrecimento da classe trabalhadora em
âmbito mundial, principalmente nos países periféricos, como os latino-americanos, em que há
a redução da qualidade de vida devido, por exemplo, ao desemprego em massa e ao mercado
de trabalho mundializado, que levam a redução dos salários e, consequentemente, ao acesso a
bens de consumo CHOSSUDOVSKY, 1999; GOLDSTEIN, 2008; MARANHÃO, 2009).
Além disso, esse contexto é acirrado pela implementação dos ajustes estruturais24 pelos
governos nacionais, que são norteadas pelas ideias neoliberais acerca das funções do Estado25.
Desse modo, o Estado deve ofertar apenas serviços não disponíveis no mercado e ações
sociais aos extremamente pobres – aqueles elegidos como incapazes de alcançar a liberdade26
através das relações de mercado (FRIEDMAN, 1985). Logo, têm-se o desmonte do Estado de

22
O desastre social conforma o processo de empobrecimento e do aprofundamento das desigualdades sociais
oriundas do extermínio de inúmeros postos de trabalho, consequências da crise do capital na década de 1970,
potencializadas, principalmente, pelos programas de ajuste estrutural neoliberais (SOARES, 2003).
23
Manifestações que eclodiram em Caracas (1989) após 200% de aumento no preço do pão; em Tunis (1984)
após o aumento dos preços dos alimentos; na Nigèria (1989), com fechamento de seis universidades, contra as
reformas de ajuste estrutural, etc. (CHOSSUDOVSKY, 1999).
24
A expressão “ajuste estrutural”, do economista norte-americano John Williamson, cunhada no Consenso de
Washington, refere-se a um conjunto de “políticas recessivas de estabilização” (redução do gasto público;
reestruturação dos sistemas de previdência pública para obtenção de superávits fiscais primários) e de
“reformas estruturais” (liberalização financeira, abertura comercial, desregulação dos mercados e privatização
das empresas estatais), que foram infligidas pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial a
diversos governos nacionais. Esses programas padronizaram as economias e as políticas nacionais, o que
garantiu a dissolução das barreiras nacionais, políticas e econômicas que obstruíam a circulação de capitais,
imprescindível para a “restauração do capital” (SOARES, 2003).
25
As funções são i) determinar, arbitrar e implementar regras para as relações comerciais, ii) atuar em ramos de
produção e serviços quando os custos são elevados para o capital privado e, por fim, iii) prover “medidas
paternalistas” a indivíduos impossibilitados de alcançar a liberdade via mercado (FRIEDMAN, 1985).
26
O pensamento liberal define a liberdade como relação interdependente entre liberdade econômica, (recursos
para adquirir produtos no mercado visando o bem-estar individual), e liberdade política (ausência de coerção
possibilitando trocas voluntárias e, consequente, promoção do bem-estar coletivo (FRIEDMAN, 1985).
13

Bem-Estar Social, em que a política social (BEHRING; BOSCHETTI, 2006) passa a ser
norteada pela privatização, descentralização e focalização27 (BEHRING, 2011).
Tal interpretação é possível, por entender que a política social é constituída de múltiplas
causalidades – histórica, econômica, política e cultural – e de múltiplas funcionalidades –
favorecer o capital ou a classe trabalhadora, a depender da correlação de forças estabelecida
em cada situação concreta (BEHRING; BOSCHETTI, 2006). Isso é, a política social ira se
configurar de forma distinta nos diversos tempos históricos, logo, as mudanças em seu
delineamento não se trata de uma extinção dessa, e sim, da ressignificação dos direitos
sociais, cabendo a política social o papel de plataforma mínima (FERRAZ, 2014).
Assim, considerando essa conjuntura de aprofundamento da “questão social”, em particular da
generalização do empobrecimento – tem-se a construção da internacionalização do combate à
pobreza. Essa é definido por Mauriel (2009, p. 64) como o processo que “[...] expressa mais
um conjunto de iniciativas orquestradas internacionalmente pelas organizações econômicas
multilaterais do que um grupo de mecanismos pontuais de enfrentamento da questão social
concebidos separadamente em escala nacional” (MAURIEL, 2009, p. 64).
Esse processo se proclama, por exemplo, nos documentos do Banco Mundial: World
Development Reports dos anos de 1990 (A pobreza) e de 2000-2001 (Luta contra a pobreza).
Acerca disso, Uga (2008) contextualiza que anteriormente a esses documentos, até os anos
1980, o enfrentamento da pobreza, era problematizado a partir da “teoria da marginalidade”28,
quando então passa a ser norteado pelo discurso predominante do “combate à pobreza”29. O
que pode-se inferir como consequência da consolidação do conceito hegemônico de
“desenvolvimento sustentável”, fundado na tese do “duplo caminho”, em que a erradicação da
pobreza apresenta relação direta com a obtenção de sustentabilidade. O “combate a pobreza”,
portanto, é centrado nos territórios considerados subdesenvolvidos, como o latino-americano,
e passa a ser construído a partir da fundamentação teórica-metodológica norteada pela
tradição liberal, principalmente a partir das teorias de capital humano de Schultz (1973),
capital social de Coleman (2000) e desenvolvimento como liberdade de Sen (2000).

27
Isto é, políticas sociais focalizada nos mais pobres, com ênfase no microcrédito e no microempreendedorismo,
na valorização da assistência social e na privatização de serviços, em especial a saúde, a previdência social, a
educação e a habitação (MAURIEL, 2008; COLODETI; LEITE, 2012; UGÁ, 2008).
28
A teoria da marginalidade consiste na ideia de que determinado território estaria desajustado/subdesenvolvido
somente até alcançar seu desenvolvimento, em termos de urbanização e industrialização (UGÁ, 2008).
29
“Embora o discurso do ‘combate à pobreza’ seja voltado muitas vezes para o ‘mundo inteiro’, seus principais
receptores são os países periféricos” (UGÁ, 2008, p. 119).
14

A “teoria do capital humano”, de Theodore Schultz (1973), elenca o ser humano como um
obstáculo ao desenvolvimento caso esse não possua capital humano30. Isto é, entende-se que
“[...] os trabalhadores se transformaram em capitalistas [...] pela aquisição de conhecimento e
de capacidades que possuem valor econômico” (SHULTZ, 1973, p. 35). Logo, propõe a
superação da pobreza se dá via investimento em capital humano, entendido como meio para
obtenção de renda e elemento determinante para promover boas condições de vida do
indivíduo, responsabilizado pelo seu próprio bem-estar.
Acerca do conceito de capital social31, James Coleman (2000) delimita que se trata de um
conjunto de recursos presentes nas relações sociais de que o indivíduo participa e que
possibilitam a ampliação de suas oportunidades – principalmente, a de auferir renda. O capital
social, portanto, é visto como meio para reduzir a vulnerabilidade, pois pode possibilitar a
mobilidade social do pobre (COLEMAN, 2000).
Amartya Sen (2000), por sua vez, considera o ser humano como agente responsável por sua
situação social e por seu bem-estar32. Afirmando que “responsabilidade requer liberdade”, o
autor elenca a liberdade como um conceito central, pois “[...] a expansão da liberdade é
considerada (1) o fim primordial33 e (2) o principal meio34 do desenvolvimento” (SEN, 2000,
p. 52). Isso porque, por meio dessa é que o indivíduo pode ampliar seus funcionamentos
através da aquisição de capacidades35.
Sendo definida pelos organismos multilaterais, a partir da colaboração desses teóricos, a
estratégia hegemônica de enfrentamento da pobreza está organizada em três eixos: a)
conceitos de pobreza e de pobre; b) entendimento das causas da pobreza; c) recomendações
de políticas para combate à pobreza. Nesse sentido, Ugá (2008) esclarece que são imperativos
os entendimentos de que a pobreza deve ser auferida pela definição de uma “linha de

30
Os investimentos considerados pelo autor estão dispostos em cinco categorias de maior importância: i) saúde e
serviços (dentre eles, habitação e alimentação), ii) treinamento realizado no local do emprego, iii) educação
formal, iv) estudo para adultos e v) migração em busca de oportunidade de emprego (SHULTZ, 1973).
31
São três tipos de capital social: unificador (fortes vínculos entre familiares, vizinhos, amigos e parceiros nos
negócios); conectivo (fracos vínculos entre indivíduos de diferentes étnias e profissões cujo poder econômico e
político é semelhante; vinculador (relações verticais entre pobres e indivíduos influentes (COLEMAN, 2000).
32
Para Sen (2000), o bem-estar consiste nas capacidades do indivíduo para acessar o estilo de vida valorizado.
33
O fim primordial do desenvolvimento é “[...] à importância da liberdade substantiva no enriquecimento da vida
humana” (SEN, 2000, p. 52), ou seja, “[...] ter condições de evitar privações como a fome, a subnutrição, a
morbidez evitável e a morte prematura, bem como as liberdades associadas a saber ler e fazer cálculos
aritméticos, ter participação política e liberdade de expressão etc.” (SEN, 2000, p. 52).
34
O principal meio do desenvolvimento é o papel instrumental da liberdade, que “[...] concerne ao modo como
diferentes tipos de direitos, oportunidades e intitulamentos [entitlements] contribuem para a expansão da
liberdade humana em geral” (SEN, 2000, p. 53-54).
35
As capacidades humanas são entendidas a partir de três elementos: “1) sua relevância direta para o bem-estar
e a liberdade das pessoas; 2) seu papel indireto, influenciando a mudança social, e 3) seu papel indireto,
influenciando a produção econômica” (SEN, 2000, p. 335).
15

pobreza”36, pois é entendida como a “incapacidade de atingir um padrão de vida mínimo”,


que consiste em suprimento nutricional mais um conjunto de necessidades básicas, que
provem a participação na vida social. As causas da pobreza, portanto, é falta de ativos -
“capital humano”, capital social e capacidades – que leva à insuficiência de renda. Nesse
sentido, o indivíduo pobre é aquele que não possui ativos, logo, não possui rendimentos e,
sendo visto como um não sujeito, sem recurso, sem influência, sem voz, sem poder. Isto é, o
indivíduo é responsabilizado pelo seu bem-estar, que deve ser obtido via mercado, portanto, a
situação de pobreza é entendida como produto de decisões individuais que culminam na não
obtenção de recursos e rendimento suficientes
Concorda-se, como expõe Mauriel (2008, p. 2015), que esse entendimento ratifica o modelo
de uma intervenção estatal restringida a “[...] estratégia dual para alívio da pobreza [...]”,
combinando “[...] focalização nos pobres e empréstimos para promoção de bem-estar com
uma ênfase na importância do crescimento e reforço dos mecanismos de mercado”
(MAURIEL, 2008, p. 215). O processo de internacionalização do combate a pobreza trata-se,
portanto, de uma orientação teórico-metodológica e ideo-política da gestão de recursos, que
exerce norteamento na agenda dos governos nacionais, bem como no pensamento coletivo
(MAURIEL, 2009; UGÁ, 2008). Desse modo, essa estratégia corrobora o modelo dominante
de “desenvolvimento sustentável”, uma vez que se coloca de forma hegemônica, como “única
estratégia possível”, em que as políticas sociais são o meio para a erradicação da pobreza,
entendida como responsabilidade individual.
Diante a isso, portanto, é vital observar que “[...] o equacionamento da relação entre meio
ambiente e pobreza, premido pela lógica da acumulação capitalista, far-se-á sempre limitado
ou não se fará” (SILVA, 2010, p. 204). Ou seja, a estratégia hegemônica de enfrentamento da
pobreza e da crise ecológica, “internacionalização do combate a pobreza” e “programática do
desenvolvimento sustentável”, respectivamente, não vislumbram a superação das relações
sociais capitalistas, ainda que essas sejam degradantes ambiental e socialmente.
Entende-se essas como estratégia, pois estão inseridas na disputa pela hegemonia, um conceito gramsciano
refemetente ao processo em que as classes lutam pelo consenso em relação a suas propostas de direção
intelectual e moral para a organização da vida social. Isto é, a hegemonia trata-se do consenso e domínio do
conjunto de ideias, pertencente a uma ou outra classe social (COUTINHO, 1994).

36
O Banco mundial propõe a “mensuração da pobreza” – total de indivíduos que não alcançam uma renda
mínima, que “[...] varia entre US$ 275 e US$ 370 por pessoa por ano, ou seja, em torno de um dólar por dia
por pessoa” (UGÁ, 2008, p. 132) –; e o “hiato de pobreza” – mensura quanto os pobres estão abaixo da linha
da pobreza, calculando quanto de riqueza é necessário para que supere a linha de pobreza (UGÁ, 2008, p. 132).
16

Ao contrário, a fim de garantir a manutenção dessas, os organismos multilaterais acordam o equacionamento


entre pobreza e crise ecológica a partir de pactos globais, sendo o mais recente a Agenda 2030 da Organização
das Nações Unidas, que apresenta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

3 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AGENDA 2030 DA ONU


Y encima de rebote soy la alternativa ecológica [...]
A esos señores les quiero gritar ¡Que es lo que esta pasando por acá!
(Cartonero, Ataque 77)

O processo de construção da atual programática hegemônica de “desenvolvimento


sustentável” tem início na década de 1950, quando a preocupação com o meio ambiente se
amplia diante aos crimes37 ambientais. Entretanto, somente na década de 1970, torna-se alvo
de discussão e intervenção da ONU, que protagoniza conferências, gerando recomendações e
soft law38, que figuram como marcos centrais para a programática do “desenvolvimento
sustentável”. Dentre esses destacamos como principais: Conferência sobre o Meio Ambiente
Humano (1972); Estratégia de Conservação Mundial (1980); Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (1987); Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (1992); Cúpula do Milênio (2000); Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável
(2002); Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável (2012); Cúpula sobre
Desenvolvimento Sustentável (2015) (PNUMA, 2004).
O primeiro marco se dá durante a década de 1970, caracterizada pela guerra fria oriunda da
bipolaridade mundial entre divergentes projetos societários, ocidente/capitalista e
oriente/socialista. Nessa conjuntura, a Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, em
Estocolmo, de 1972, tornou-se um marco na elevação do meio ambiente à relevância
internacional, em que países o colocam como prioridade em suas agendas, instaurando
ministérios do meio ambiente e dispositivos legais que expressam o direito humano ao meio
ambiente. Nesse sentido, essa conferencia dispõe a Declaração de Estocomo, que estabelece a
relação direta entre desenvolvimento e meio ambiente, ao enunciar que esses são dois lados da
mesma moeda, logo a “proteção ambiental não pode ser usada como pretexto para que se
desacelere o progresso econômico de países emergentes” (PNUMA, 2004, p.7). Além disso,
recomenda a criação de um núcleo para coordenar e agir em relação à “questão ambiental”,

37
Assume-se a palavra crime para se contrapor as expressões de “acidente”, “tragédia”, “desastre”, por defender
que tais fatos possuem responsáveis e não apresentam caráter eventual, seja de atribuição da natureza ou, tão
pouco, aos erros humanos.
38
As soft law são leis internacionais sem imperativo prático, ou seja, sem coerção jurídica objetiva, o que não
significa que não exerça influencia determinante na condução das ações que regimenta, inclusive por figurar
como critério para concessão de empréstimos e financiamentos dos organismos multilaterais, bem como
norteamentos das relações de cooperação internacional.
17

que se dá em 1972 com a concepção do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente39
(PNUMA, 2004).
A década de 1980 emerge em um contexto pós-crise do capital de 1970 e, consequente,
implementação e medidas de austeridade, além da crise do “socialismo real”. Nesse momento,
tem-se cerca de novecentos milhões de pessoas em situação de pobreza; constatação da
amplitude do buraco na camada de ozônio; extinção de inúmeras espécies; além dos crimes
ambientais40. Diante a essa conjuntura, é cada vez mais aceita a “interdependência entre o
meio ambiente e o desenvolvimento”. Logo temos o segundo marco41, a Estratégia de
Conservação Mundial, publicada em 1980, por PNUMA, União Internacional para a
Conservação da Natureza (UICN) e Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Essa reafirma a
Declaração de Cocoyoc42, de 1974, em que a degradação ambiental é vista como
consequência dos impactos destrutivos do uso exacerbado de recursos pelos ricos e da luta
pela sobrevivência dos pobres, indicando o enfrentamento a partir de esforços de longo prazo,
que considerem a integração entre meio ambiente e desenvolvimento (PNUMA, 2004). Além
disso, esse marco é sucedido pela adoção da World Charter for Nature (Carta Mundial da
Natureza) pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1982, que destaca a importância
central dos ecossistemas e de ações integradas entre países, com a participação de governos,
empresas e sociedade civil, para defesa do meio ambiente (PNUMA, 2004).
Posteriormente, temos o terceiro marco: a criação da Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), em 1983. Essa apresentou, em 1987, um relatório
após três anos de audiências em diversos países, ouvindo governos e a sociedade acerca do
meio ambiente e do desenvolvimento. Intitulado Our Common Future (Nosso Futuro Comum
ou Relatório Brundtland), o relatório apresenta o conceito de “desenvolvimento sustentável”,
baseado na tese do “duplo caminho”, que impera até os dias atuais (PNUMA, 2004).

39
Outros: 1971 - Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional especialmente como Habitat de
Aves Aquáticas; 1972 - Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural; 1973 -
Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção; e
1979 - Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres (PNUMA, 2017).
40
Vazamento de gases letais da fábrica Union Carbide em Bhopal, na Índia, em 1986; explosão na usina nuclear
de Chernobyl, na Ucrânia, república da União Soviética, em 1986; derramamento de petróleo do navio Exxon
Valdez no Canal Príncipe William, no Alasca, 1989.
41
Outros marcos dessa década são: 1982 - Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar;1984 -
Conferência Mundial da Indústria sobre a Gestão do Meio Ambiente; 1985 - Convenção de Viena para a
Proteção da Camada de Ozônio; 1987 - Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de
Ozônio 1987 - Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Económico (OCDE); 1989 - Convenção da Basiléia para Controle Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e
sua Eliminação; 1989 - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (PNUMA, 2017).
42
A Declaração de Cocoyoc é fruto do Simpósio de Especialistas, organizado pelo PNUMA e pela Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, no México (PNUMA, 2017)
18

A década de 1990, por sua vez, é marcada pela dissolução da URSS e Guerra do Golfo; crise
da maré negra, fuligem e dióxido de carbono devido ao derramamento de petróleo na Ásia
ocidental; terremotos na Turquia, enchentes na Venezuela e ciclones na Índia; aumento de
mortes por doenças infecciosas; cerca de 800 milhões de pessoas analfabetas e famélicas. Por
outro lado, apresenta um expressivo encerramento dos governos ditatoriais e relações de
colonização, que consolida o engajamento de diversos setores da sociedade, impulsionando a
busca pela qualificação do conceito de “desenvolvimento sustentável” (PNUMA, 2004).
Nesse contexto, temos a realização de grandes eventos e soft low, com destaque para o quarto
marco, em 1992: a Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Cúpula da Terra ou Rio-92 ou Eco-92)43. Essa é a maior conferência44 desde 1970,
promovendo o “desenvolvimento sustentável” a pacto global via diversas normativas45.
Dentre essas, destaca-se a Agenda 21 Global Caring for the Earth: a Stratey for Sustainable
Living (Cuidando do Planeta Terra: uma estratégia para o futuro da vida) – uma programática
de ações mundiais afim de que “se integrem as preocupações relativas a meio ambiente e
desenvolvimento” (ONU, 1992, p.1). Essa possibilitou a materialização do “desenvolvimento
sustentável” como programática central46 na agenda de governos, no ramo empresarial e na
sociedade civil. Isso porque, se constitui como um plano de ação afim de que “se integrem as
preocupações relativas a meio ambiente e desenvolvimento” para “satisfazer às necessidades
básicas, elevar o nível da vida de todos, obter ecossistemas melhor protegidos e gerenciados e
construir um futuro mais próspero e seguro” (ONU, 1992, p.1).
A década de 2000, por sua vez, marca a consolidação da crise climática, com previsão do
aumento da temperatura média de 1,4° C a 5,8°C no século XXI, avanços e informações
acerca do mapeamento do genoma humano e dos organismos geneticamente modificados;
rapidez de mutações em micróbios e vírus e disseminação de doenças humanas associadas a
transmissão por animais; disputa por água e barragens que fragmentam rios e desloca milhões

43
Outros marcos: 1990 - Conferência Ministerial sobre o meio ambiente; 1992 - Conferência das Nações Unidas
para Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cúpula da Terra ou Rio-92 ou Eco-92); 1994 – Convenção das
Nações Unidas de Combate à Desertificação; 1997 - Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas
(Rio + 5). Além da criação de: 1991 - Fundo Mundial para o Meio Ambiente; 1995 - Conselho Empresarial
Mundial para o Desenvolvimento Sustentável; 1996 - International Organization for Standardization (ISO
14.000); 1996 - Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (PNUMA, 2017).
44
Na Rio-92 estiveram 176 governos, 100 chefes de Estado, 10 mil delegados, 1.400 ONG’s (PNUMA, 2017).
45
Dentre essas normatizas temos: Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; Agenda 21
Global; Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima; Convenção sobre Diversidade
Biológica; Comissão de Desenvolvimento Sustentável; Acordo para negociar uma convenção mundial sobre a
desertificação; e Declaração de Princípios para o Manejo Sustentável de Florestas (PNUMA, 2017).
46
Exemplos: criação da Comissão de Desenvolvimento Sustentável; realização da Rio+5; ratificação dos
princípios dos desenvolvimento sustentável na década de 1990; ampla participação da sociedade civil, com a
elaboração da Carta da Terra; e manifestações pelo mundo contra a degradação ambiental (PNUMA, 2017).
19

de pessoas de seus territórios originários. Nesse contexto, se dá continuidade ao


estabelecimento de eventos e normativas47 no campo do desenvolvimento sustentável, dentre
os quais se destaca o quinto marco, a Cúpula do Milênio, em 2000, que produz o relatório
“Declaração do Milênio”. Esse relatório, baseada nos princípio de liberdade, igualdade,
solidariedade, tolerância, respeito pela natureza e responsabilidade comum, decide “promover
um desenvolvimento verdadeiramente sustentável”, no marco do “[...] apoio aos princípios do
desenvolvimento sustentável, enunciados na Agenda 21” (ONU, 2000, p. 10). Assim elenca
oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)48 a serem alcançados pelos países
signatários até 2015, que se trata de uma “visão [...] nos últimos 15 anos o quadro de
desenvolvimento dominante para o mundo” (ONU, 2015, p. 4). Posteriormente a realização
da Cúpula do Milênio, tem-se o sexto marco, em 2002, com a realização da Cúpula sobre
Desenvolvimento Sustentável, cujo principal objetivo foi discutir e avaliar o desenvolvimento
da Agenda 21, agora no marco também da Declaração do Milênio (PNUMA, 2004).
Encerrando o período de vigência de implementação do ODM, em seu relatório final, a ONU
(2015) avalia que mesmo diante de grande êxito, persistem desigualdades e o progresso não
foi regular entre os países, com destaque para a permanência de: milhões de pessoas em
situação de pobreza, fome e sem acesso a serviços básicos; alta desigualdade de renda entre
ricos e pobres e entre os territórios rurais e urbanos; desigualdade de gênero; grande
incidência de conflitos; incidência maior das alterações climáticas e da degradação ambiental
sob os mais aos pobres. Assim, com o encerramento dos ODM, temos o processo de
construção da Agenda 2030, anunciada pelo relatório como a sucessora de seus objetivos,
quando expressa que “no coração desta agenda está o desenvolvimento sustentável, que deve
tornar-se numa realidade concreta para todas as pessoas no planeta” (ONU, 2015. p. 9).
Desse modo, na segunda década do segundo milênio, temos o sétimo marco programático. A
realização, em 2012, da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20) que lança
o relatório “O Futuro que queremos”. Esse aponta lineamentos que darão forma, em 2015, na
Cúpula do Desenvolvimento Sustentável, oitavo marco, ao documento intitulado
“Transformando Nosso Mundo: Agenda 2030 para o desenvolvimento Sustentável”. Esse, em
síntese, estima a construção de

47
Tem-se a realização de: 2000- Pacto Global; 2000 - Cúpula do Milênio das Nações Unidas; 2000 - Protocolo
de Cartagena sobre Biossegurança; 2001 - Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes;
2002 - Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +10) (PNUMA, 2017).
48
ODM: 1. Erradicar a pobreza extrema e a fome; 2. Alcançar a educação primária universal; 3. Promover a
igualdade de gênero e capacitar as mulheres; 4. Reduzir a mortalidade infantil; 5. Melhorar a saúde materna; 6.
Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças; 7. Assegurar a sustentabilidade ambiental; e 8.
Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento (ONU, 2000).
20

um mundo em que a democracia, a boa governança e o Estado de Direito, bem como


um ambiente propício em níveis nacional e internacional, são essenciais para o
desenvolvimento sustentável, incluindo crescimento econômico inclusivo e
sustentado, desenvolvimento social, proteção ambiental e erradicação da pobreza e
da fome (ONU, 2017, p. 4).
Pra tanto, o documento estima dezessetes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável49
(ODS), sendo que, em suma, estabelece que
o desenvolvimento sustentável reconhece que a erradicação da pobreza em todas as
suas formas e dimensões, o combate às desigualdades dentro dos e entre os países, a
preservação do planeta, a criação do crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável e a promoção da inclusão social estão vinculados uns aos outros e são
interdependentes (ONU, 2017, p. 5)
Nesse sentido, dado a relação direta reafirmada entre pobreza e sustentabilidade, tem-se
destaque para a ODS 1: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares,
como expõe a tabela abaixo:

Tabela 1: Metas que compõe o primeiro objetivo da Agenda 2030


Objeto de Desenvolvimento Sustentável 1:
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
METAS
1.1 Até 2030, erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas em todos os lugares, atualmente medida como pessoas vivendo com
menos de US$ 1,25 por dia;
1.2 Até 2030, reduzir pelo menos à metade a proporção de homens, mulheres e crianças, de todas as idades, que vivem na pobreza, em
todas as suas dimensões, de acordo com as definições nacionais.
1.3 Implementar, em nível nacional, medidas e sistemas de proteção social adequados, para todos, incluindo pisos, e até 2030 atingir a
cobertura substancial dos pobres e vulneráveis.
Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os pobres e vulneráveis, tenham direitos iguais aos recursos
1.4 econômicos, bem como o acesso a serviços básicos, propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, herança,
recursos naturais, novas tecnologias apropriadas e serviços financeiros, incluindo microfinanças.
1.5 Até 2030, construir a resiliência dos pobres e daqueles em situação de vulnerabilidade, e reduzir a exposição e vulnerabilidade
destes a eventos extremos relacionados com o clima e outros choques e desastres econômicos, sociais e ambientais.
Garantir uma mobilização significativa de recursos a partir de uma variedade de fontes, inclusive por meio do reforço da cooperação
1.a para o desenvolvimento, para proporcionar meios adequados e previsíveis para que os países em desenvolvimento, em particular os
países menos desenvolvidos, implementem programas e políticas para acabar com a pobreza em todas as suas dimensões.
1.b Criar marcos políticos sólidos em níveis nacional, regional e internacional, com base em estratégias de desenvolvimento a favor dos
pobres e sensíveis a gênero, para apoiar investimentos acelerados nas ações de erradicação da pobreza.
Fonte: elaboração e grifo nosso, a partir de ONU (2017).
A Agenda 2030 visa o alcance dessas metas via a “Parceria Global para o Desenvolvimento
Sustentável”, com base na “solidariedade global reforçada, concentrada em especial nas
necessidades dos mais pobres e mais vulneráveis e com a participação de todos os países,
todas as partes interessadas e todas as pessoas” (ONU, 2017, p. 2). Para isso, propõe uma
programática “aplicável a todos”, respeitando as “realidades nacionais, capacidades e níveis
de desenvolvimento e [...] as políticas e prioridades nacionais”. Portanto, considera que os
ODS “envolvem todo o mundo, igualmente os países desenvolvidos e os em
desenvolvimento” (ONU, 2017, p. 3). Isto é, os países devem incorporar a Agenda 2030 aos

49
ODS: 1. Erradicação da pobreza; 2. Fome Zero; 3. Boa saúde e bem-estar; 4. Educação de qualidade; 5.
Igualdade de gênero; 6. Água limpa e saneamento; 7. Energia acessível e limpa; 8. Emprego digno e
crescimento econômico; 9. Indústria, inovação e infraestrutura; 10. Redução da desigualdade; 11. Cidades e
comunidades sustentáveis; 12. Consumo e produção responsáveis; 13. Combate as alterações climáticas; 14.
Vida de baixo d’água; 15. Vida sobre a terra; 16. Paz, justiça e instituições fortes; 17. Parcerias (ONU, 2017).
21

seus planejamentos nacionais a fim de alcançar os ODS até 2030, sendo os países membros da
ONU, todos seus signatários, dentre eles Brasil e Cuba.

4 POBREZA E CRISE ECOLÓGICA NA AMÉRICA LATINA


No puedes comprar mi vida [...]
Soy américa Latina, un pueblo sin piernas, pero que camina. ¡Oye!
(Latinoamerica, Calle 13)

O paradigma do “desenvolvimento sustentável” apresenta ao mundo a proposta de um novo


pacto global, que se pretende consensual e coloca os países “subdesenvolvidos” no centro de
intervenção mundial para o alcance da sustentabilidade ambiental e social.
Nesse contexto, mas em contramão, entendemos que esses países, em particular àqueles do
território latino-americano, são caracterizados pela estrutura colonial, traduzida na destruição
das comunidades autóctones, pela pluralidade entre as etnias indígenas, africanas e europeias,
e pela espoliação de riquezas. A isso soma-se, na contemporaneidade, à ratificação de
território para extrair matéria-prima, vender produtos industrializados e valorizar capital
financeiro; processos que ocorrem no bojo de uma modernização conservadora conduzida
pela elite nacional alinhada ao modelo estadunidense e europeu (MENDONÇA, 2003). Tudo
isso elucida que “a pobreza que caracteriza a América Latina é explicada pelo tipo de inserção
internacional determinado pelo capital, porém a desigualdade é ampliada principalmente por
razões internas ao corpo social” (MENDONÇA, 2003, p. 127).
Para entender essa inserção, é necessário olha-la a partir da relação de dependência em que se
inserem os países ditos subdesenvolvidos, conforme esclarece Marini (2011). Isso porque, a
dependência tem sua protoforma no processo de colonização desses territórios em torno do
século XVI a XVIII, mas se diferencia desse e se especifica durante a primeira metade do
século XIX, com o surgimento da grande indústria que consolida a divisão internacional do
trabalho. Desse modo, o autor afirma
[...] a dependência [...] como uma relação de subordinação entre nações formalmente
independentes, em cujo marco as relações de produção das nações subordinadas são
modificadas ou recriadas para assegurar a reprodução ampliada da dependência
(MARINI, 2011, p. 134-135).
Diante a esse entendimento, Marini (2011), ratifica que a relação de dependência é que
definirá os rumos do desenvolvimento do território latino-americano, que se forjará como
produtor de matérias-primas agropecuárias e minerais, via extrativismo e produção de
commodities. O que estabelece a contribuição central da America Latina para o
desenvolvimento do capitalismo, pois isso contribui para que “o eixo da acumulação na
economia industrial se desloque da produção de mais-valia absoluta para a de mais-valia
relativa” (MARINI, 2011, p. 139) através do aumento da capacidade produtiva do trabalho,
22

mas que se dará, em território latino-americano, marcado pela superexploração do


trabalhador. Nesse sentido, a consequência dessa relação é mais dependência e sua superação
pressupõe a supressão do modo de produção que a originou, o capitalismo (MARINI, 2011).
Diante a essa análise, a redução dos índices de pobreza e degradação ambiental, expostos, por
exemplo, no Relatório Final dos ODM (ONU, 2015) são, em geral, melhorias restritas e
efêmeras ligadas ao incremento técnico e a políticas sociais compensatórias. Isso porque,
coerente com a teoria marxista da dependência, a deteriorização da qualidade de vida humana
e do meio ambiente trata-se de um processo em curso, pois são consequências diretas da
relação de dependência desses países no capitalismo, levando-os a necessidade de
manutenção e constante atualização da estratégia de enfrentamento. Sendo assim, vários
países latino-americanos tornam-se signatários das programáticas dos organismos
multilaterais, dentre essas a Agenda 2030. Reconhecemos que essa aderência se dá também
por tantos outros motivos, dentre esses diplomáticos, por isso não se trata de uma aceitação
passiva, bem como seu desenvolvimento não se dá de forma homogeneizada. Por isso,
objetiva-se analisar dois países latino-americanos distintos, com projetos societários
divergentes, Brasil e Cuba, afim de refletir acerca dos limites e alternativas.

4.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL


No que tange ao Brasil trata-se de um país de território continental, sendo o maior da América
do Sul, da América Latina, e o quinto do mundo. É o único país latino americano cuja língua
oficial não é o espanhol, e sim o português. Apresenta mais de 207 milhões de habitantes,
com predominância urbana e maioria do sexo feminino. Em relação a sua formação histórico
social, destaca-se que se trata de um país com muitas pessoas pobres, pois apesar de
apresentar um dos maiores montantes de Produto Interno Bruto (PIB) e taxa de renda per
capita de nível médio, caracteriza-se pelo ausência da divisão equitativa da riqueza
coletivamente produzida que se manifesta na desigualdade e grande concentração de renda
(MOREIRA; BRAGA; TOYOSHIMA, 2017). Nesse sentido, apesar da redução a um sétimo
da pobreza e a metade da extrema pobreza na primeira década dos anos 2000, sob o marco do
ODM (ONU, 2014), essencialmente, não houve alteração no que tange
[...] a prioridade da política econômica que continua voltada para os interesses de
mercado em detrimento das reformas estruturais necessárias para a real superação do
grave fenômeno da pobreza e essenciais para engendrar um processo de
desenvolvimento sustentável (MOREIRA; BRAGA; TOYOSHIMA, 2017, p. 4).
O Brasil, portanto, com o fim da ditadura militar, promulgou a constituição federal em 1988,
indicando traços da socialdemocracia europeia e ratificando uma sociedade baseada na
propriedade privada, própria do capitalismo (MOTA, 1995). No entanto, em seguida na
23

década de 1990, no bojo da crise do capital de 1970 e da dissolução da URSS em 1991, têm-
se a adoção de medidas neoliberais, dando início ao processo de contra-reforma (BEHRING,
2008), e do alinhamento à programática do “desenvolvimento sustentável” (SILVA, 2010) e
do “combate a pobreza” (MAURIEL, 2009) expressa, por exemplo, na formulação da Agenda
21 brasileira (SILVA, 2010); na adesão ao horizonte dos ODM (BRASIL, 2014); na
elaboração do Plano Brasil Sem Miséria, do Programa Fome Zero e do Programa Bolsa
Família, entre outros. Especificamente, em relação à Agenda 2030, a adesão do governo
brasileiro50 ocorre desde o início de sua discussão e se desdobra nos momentos seguintes,
como se pode observar, por exemplo, em três documentos.
O primeiro, trata-se do documento “Negociações da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015:
Elementos Orientadores da Posição Brasileira” (GTA-ODS, 2014). Este foi cunhado em 2014,
com o objetivo de “[...] orientar os negociadores brasileiros nas discussões do Grupo de
Trabalho Aberto sobre Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (GTA-ODS), constituído
no âmbito da Assembleia-Geral das Nações Unidas (GTA-ODS, 2014, p. 9). O documento se
funda a partir da contribuição do Grupo de Trabalho Interministerial sobre a Agenda Pós-
201551, da sociedade civil52, e de entidades municipais53. Neste, defende-se que “convém
preservar o caráter transversal da dimensão ambiental, bem como a referência equilibrada às
três dimensões que integram o conceito de desenvolvimento sustentável, tal como consagrado
na Declaração do Rio e nos Acordos Multilaterais Ambientais” (GTA-ODS, 2014, p. 9). Por
sua vez, a declaração mencionada trata-se do Relatório da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO + 20), que assume o “[...] compromisso com o
desenvolvimento sustentável e com a promoção de um futuro econômico, social e
ambientalmente sustentável para o nosso planeta e para as atuais e futuras gerações” (ONU,
2012, p. 3) – conceituação que se ratifica no documento “Transformando Nosso Mundo: A
Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, que implementa a Agenda 2030.
Conseguinte, com a consolidação da Agenda 2030, o Governo Federal, por meio da Secretaria
de Governo, cria a Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, via
o Decreto nº 8.892, de 27 de outubro de 2016. Essa comissão tem sua constituição, de forma

50
Além do âmbito governamental, têm-se alinhamentos da sociedade civil brasileira, como por exemplo, a
Estratégia ODS e o Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para Agenda 2030. Ambas se constituem com uma
organização representativa que reúne representantes da sociedade civil, do setor privado, dos governos locais, e
da academia e tem o propósito de debater e propor ações para concretizar os ODS no Brasil.
51
Esse grupo é formado por vinte e sete ministérios e órgãos de governo (BRASIL, 2014).
52
Via a participação nos eventos "Diálogos Sociais: Desenvolvimento Sustentável na Agenda Pós-2015 –
Construindo a Perspectiva do Brasil” e "Arena da Participação Social", ambos em 2014 (BRASIL, 2017).
53
Através das oficinas organizadas pela Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República e pelo
Ministério das Cidades (BRASIL, 2017).
24

paritária, por 32 representantes, entre titulares e suplentes, da sociedade civil e do governo,


selecionado via edital público em 2017 (BRASIL, 2017b). Além disso, uma vez constituída,
passou a ser regulamentada pela Portaria nº 81, de 11 de outubro de 2017, que dispõe acerca
do Regimento Interno da Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (BRASIL, 2017a), sendo determinado que ela possui natureza consultiva e
finalidade de “[...] internalizar, difundir e dar transparência ao processo de implementação da
Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas”.
Diante a isso, o Brasil situa-se alinhado à estratégia hegemônica de desenvolvimento
sustentável cunhada pela ONU na Agenda 2030, visto que corrobora com seu conceito de
desenvolvimento sustentável e elenca a promoção de políticas públicas, a mudança no padrão
de consumo e a inovação tecnológica como meio de melhoria socioeconômica e ambiental,
sem mencionar a necessidade de transformação das relações sociais capitalistas.

4.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM CUBA


Em relação a Cuba, trata-se de um país de território insular, a maior em população no Caribe,
com mais de 11 milhões de habitantes, de predominância urbana e maioria do sexo masculino.
2017). Elementos importantes de diferenciação à formação social brasileira se dão,
principalmente, após 1959, com o triunfo da revolução e derrota da ditadura de Batista. Nesse
momento, o país declara-se socialista, tendo o apoio político e econômico da URSS, período
em que se deu “[...] su programa de medidas sociales iniciales de amplio alcance popular
como las de reforma agraria, alfabetización, eliminación del desahucio em vivienda, entre
otras” (GARCÍA, 2013, p. 165). Este visou enfrentar o conjunto de mazelas que predominava
em Cuba, como citou Fidel em seu discurso de defesa proferido na audiência de julgamento
pelo assalto ao quartel Moncada, em outubro de 1953 (CASTRO, 2011). Isto é “la
Constitución de la República de Cuba define el Estado cubano como un Estado socialista de
trabajadores para el disfrute del bienestar individual y colectivo, basado en la justicia social y
la solidaridad humana” (GARCÍA, 2013, p. 165). Porém, com o colapso do bloco soviético,
na década de 1990, há um recrudecimento do bloqueio econômico, orquestrado pelos Estados
Unidos desde 1967, ocasionando o período especial sendo necessários ajustes políticos e
econômicos, porém mantendo o caráter socialista e a planificação (GARCÍA, 2013).
Todos esse percurso, possibilitou a garantia de baixos índices de pobreza na atualidade, como
demonstra o Relatório Los Objetivos de Desarrollo del Milenio Cuba Edición 2015 elaborado
pela Oficina Nacional de Estadística e Infomación (ONE) (CUBA, 2015). Nesse documento,
tem-se que, em 2014, o país apresentava destacáveis índices sociais, como: taxa de emprego
25

de 97,3%, em que apenas 9,7% eram trabalhadores por conta própria; taxa de alfabetização de
100%; taxa de incidência de HIV na população de 15 a 24 anos de 0,09%; além de não
apresentar crianças menores de 5 anos em situação de desnutrição (CUBA, 2015).
Observado esses pontos, pode-se considerar que o modelo cubano, no que tange ao
desenvolvimento sustentável, passa a ter maior investimento54 a partir da Conferência das
Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, quando Fidel alerta que
“una importante especie biológica está en riesgo de desaparecer por la rápida y progresiva
liquidación de sus condiciones naturales de vida: el hombre” (CASTRO, 2017). Esse clamor
foi assimilado pelo mundo, e amplamente pelo povo cubano, que passa a construir sua
programática contra-hegemônica, que se expressa inicialmente em três documentos: i) Ley
n.81 del Medio Ambiente, de 1997; ii) Estrategia Ambiental Nacional 1997-2010; e iii)
Estratégia Nacional de Educacion Ambiental (EDITORIAL MONTEVERDIA, 2017).
A Ley n. 81, em vigor, define como objeto “establecer los principios que rigen la política
ambiental y las normas básicas para regular la gestión ambiental del Estado y las acciones de los
ciudadanos y la sociedad en general, a fin de proteger el medio ambiente y contribuir a alcanzar
los objetivos del desarrollo sostenible del país”. Essa define o desenvolvimento sustentável como
proceso de elevación sostenida y equitativa de la calidad de vida de las personas,
mediante el cual se procura el crecimiento económico y el mejoramiento social, en una
combinación armónica con la protección del medio ambiente, de modo que se
satisfacen las necesidades de las actuales generaciones, sin poner en riesgo la
satisfacción de las necesidades de las generaciones futuras (CUBA, 1997).
Acerca do segundo e terceiro marco, são inicialmente concebidos de forma separada, sendo
depois integrados pois “[...] su concepción como instrumentos independientes, durante mucho
tiempo ha propiciado una apreciación errónea de separar la educación ambiental del resto de
la gestión ambiental (EDITORIAL MONTEVERDIA, 2017, p. 55). Nesse sentido,
atualmente a educação ambiental trata-se de um dos projetos que compõe a Estrategia
Ambiental Nacional 2016-2020 (CUBA, 2016), que é a “expresión de la política ambiental
cubana, en la cual se plasman sus proyecciones y directrices principales” (CUBA, 1997).
Concernente com esse desenvolvimento histório, no 7º Congresso do Partido Comunista (PCC),
em 2016, foi aprovado dois documento centrais para o entendimento da estratégia cubana de
desenvolvimento sustentável. O primeiro compreende o “Proyecto de Conceptualización del

54
A preocupação cubana com meio ambiente inicia na década de 1970, por exemplo: 1976 - Inclusão na
Constitución de la República do Artículo 27. Modificación del mismo en 1992, para fortalecer la idea de la
integración del medio ambiente con el desarrollo económico y social sostenible; 1976 - Criação da Comisión
Nacional para la Protección del Medio Ambiente y Conservación de los Recursos Naturales; 1981 -
Promulgación de la Ley 33 de Protección del Medio Ambiente y del Uso Racional de los Recursos Naturales;
1993 - Aprobación del Programa Nacional de Medio Ambiente y Desarrollo, adecuación cubana de la Agenda
21; 1994 - Creación del Ministerio de Ciencia, Tecnología y Medio Ambiente (CITMA, 2017).
26

Modelo Económico y Social Cubano de Desarrollo Socialista”, em que “la conceptualización


aborda, como nunca antes para Cuba, la categoría de sostenibilidad como elemento sustancial
del fundamento del desarrollo del país” (DUQUE, 2016, p.1). Esse documento corrobora a
construção de uma sociedade próspera e sustentável, conforme definida pelo VI Congresso do
PCC, em 2011, no documento Lineamientos de la Política Económica y Social del Partido y
la Revolución55. Desse modo, define que o objetivo estratégico do modelo cubano
es impulsary consolidar la construcción de uma sociedad socialista próspera y
sostenible en lo económico, social y medioambiental, comprometido con el
fortalecimento de los valores éticos, culturales y políticos forjados por la
Revolución, en un país soberano, independiente, socialista, democrático, próspero y
sostenible (CUBA, 2017, p. 6)
Portanto, ratifica o projeto socialista, via sustentabilidade – entendendo que “está asociada al
desarrollo, y requiere ritmos y estructuras de crecimiento de la economia que aseguren la
prosperidad com justicia social, en armonía con el médio ambiente, la preservación de los
recursos naturales y el patrimonio de la nación (CUBA, 2017, p. 6) – e na prosperidade – que
“podrá alcanzarse a partir del trabajo, una profunda conciencia revolucionaria, el
cumplimiento del deber, alta motivación y productividad, el ahorro, la eficiencia, y en
especial, la aplicación de la ciencia, la tecnología y la innovación (CUBA, 2017, p. 6).
O segundo documento, o “Proyecto Plan Nacional de Desarrollo y Económico y Social hasta
2030: Propuesta de Visión de la Nación, Ejes y Sectores Estratégicos” define seis eixos
estratégicos de ação: governo eficaz e socialista; integração social, transformação produtiva e
inserção internacional; infraestrutura; potencial humano; ciência, tecnologia e inovação;
recursos naturais e meio ambiente; e desenvolvimento humano, justiça e equidade. Isto é, trata
de apresentar a sistematização do Sistema Nacional de Planificação56, incluindo as estratégias,
objetivos e ações econômicas, políticas e sociais, ou seja, “[...] constituirá la herramienta
principal para lograr los objetivos esenciales que se enuncian en la Conceptualización del
Modelo Económico y Social Cubano de Desarrollo Socialista” (CUBA, 2017, p. 16).

55
Esse documento “foi debatido sendo apoiado pela maioria dos cidadãos; reformulando-se a partir das
propostas realizadas por estes num processo democrático de ampla participação popular”; define que “o
sistema econômico que prevalecerá continuará se baseando na propriedade socialista de todo o povo sobre os
meios fundamentais de produção, onde deverá reger o princípio de distribuição socialista ¨ de cada qual
segundo sua capacidade a cada qual segundo seu trabalho”; sendo objetivo “garantir a continuidade e
irreversibilidade do Socialismo, o desenvolvimento econômico do país e a elevação do nível de vida da
população, conjugados com a necessária formação de valores éticos e políticos” (CUBA, 2011).
56
A planificação é “[...] la categoría rectora y definitoria del sistema de dirección de la economía, ampliando su
contenido y alcance con énfasis en la proyección estratégica, y garantizando una interrelación coerente entre
los diferentes horizontes de la planificación, es decir, el temporal y el territorial” (CUBA, 2017, p. 16)
27

Diante a isso, inferimos que o alinhamento de Cuba57 a Agenda 2030, portanto, se dá a partir
de uma programática ideo-política e teórica-metodológica referenciada na construção da
transição socialista para o comunismo. Por isso, logo, se constitui como uma estratégia revés
à hegemonia da programática do “desenvolvimento sustentável” preconizado pela ONU.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Agenda 2030, como visto, trata-se de uma construção da burguesia internacional que,
através dos organismos multilaterais, com destaque para a ONU, apresenta uma programática
hegemônica para o enfrentamento da pobreza e da crise ecológica.
Apesar disso, defende-se que a condição socioambiental de degradação advém da fenda
metabólica, ocasionada pelo modo de produção capitalista desde sua fundação no período
agrário. Desse modo, discorda-se do entendimento da tese de “duplo sentido” que norteia o
conceito conservador de “desenvolvimento sustentável”, pois não se trata de construir uma
sustentabilidade socioambiental baseada na inovação técnica e combate à pobreza, e sim,
superar o modo de produção capitalista, como forma de organização da produção e da vida.
Portanto, entende-se que a relação de dependência que estão imersos os países observados,
aprofunda a degradação ambiental e social, levando-os a serem signatários da Agenda 2030,
no entanto, a partir de seus projetos societários vigentes. Nesse sentido, é possível inferir,
diante os elementos apresentados, que países distintos, com projetos societários divergentes,
terão abordagem diversa, como Brasil e Cuba - sendo que, nesse último, a melhoria nos
índices sociais, diferentes do brasileiro, é produto de um projeto socialista que prioriza o
desenvolvimento humano, buscando restabelecer o equilíbrio entre ser humano e natureza.
Isso é, ratificamos a proposição de que há diferenças essenciais entre Brasil e Cuba, vistas que
exemplificam propostas diferentes para o futuro da América Latina, pois não se trata de
“conseguir um assento no conselho de segurança da ONU, ou ter recurso creditado no FMI,
como vem fazendo o Brasil” (MANCIO, MOREIRA, 2017, p. 20). Trata-se, sim, “de
modificar a inserção dos países latinos no mercado internacional, destruindo a dependência e
a vulnerabilidade externa, apontando para a soberania nacional dos países e regionalmente na
América Latina” (MANCIO, MOREIRA, 2017, p. 20), como aponta a proposta socialista
cubana, uma alternativa possível para a supressão da “fenda metabólica”.

57
Além dos documentos governamentais abordados, observa-se esse alinhamento nas publicações da ONE, do
Partido Comunista de Cuba e do Jornal Granma. Esse alinhamiento também se observa nas diretrizes e ações
no ámbito da sociedade civil, conforme publicações da Asociación Cubana de Naciones Unidas.
28

Entretanto, cabe destacar que a colaboração ao debate tecida nesse artigo não está findada,
pois pretende ser um ponto de partida para a problematização do processo de enfrentamento
da pobreza e da crise ecológica em Brasil e Cuba, considerando o paradigma da Agenda 2030
da ONU. Para tal, destacamos que é central aprofundar as reflexões aqui apresentadas, tanto
do ponto de vista teórico como de coleta de dados. Para isso, observamos ser importante
acrescentar à análise as publicações e relatórios da ONU, em particular da Comissão
Econômica para a América Latina (CEPAL), do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), tendo visto que compõem a sistematização e difusão de informações acerca da
agenda. Por outro lado, para alcançar o movimento real das forças sociais em Brasil e Cuba
acerca da Agenda 2030, consideramos ser necessário ir além do formalismo institucional
desses relatórios oficiais. Por isso, elenca-se como vital observar o desenvolvimento da
agenda nos países, sendo utilizadas como fontes as publicações e relatórios dos governos e a
ampliação dessa análise a sociedade civil organizada, nacional e regionalmente, a fim de
observar suas concordâncias e negações das políticas governamentais, bem como a
apresentação de alternativas as programáticas dos organismos multilaterais.
Desse modo, ratifica-se que a proposição aqui defendida se destaca por acreditar que é
necessário conhecer e, principalmente, divulgar estratégias alternativas à hegemônica de
“desenvolvimento sustentável”, pois “[...] defender de verdad en nuestros dificiles días el
internacionalismo socialista, es decir, de agrupar sus fuerzas y ‘disparar em respuesta’ contra
los gobiernos e las clases dirigentes de sus ‘patrias’ respectivas” (LENIN, 1973, p. 211).

REFERÊNCIAS
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