Curso de Bacharelado em Biblioteconomia Matutino – BIBM 2020.1
Maria Carolina Mattos Macêdo Disciplina: Introdução às Ciências Sociais – T.BIBM1 Profa. Teresinha Martins dos Santos Souza “O Homem das Cavernas & A guerra do fogo”
Na primeira versão, “O homem das cavernas”¹, de 1981, as características
básicas do homem da Era pré-histórica são idênticas às da segunda versão, esta indicada pela no Programa da Disciplina posteriormente, “O último Neanderthal”²; coletor, caçador, que vive em grupos nômades em que o chefe é sempre reconhecidamente o que se sobressai como o mais forte por sua capacidade de prover e defender o grupo contra outros para sobrevivência de todos ou dentro do próprio grupo. A relação de reconhecimento entre os da mesma tribo se faz por caracterizações comuns, como hábitos, tipo de armas, pinturas ou maior ou menor capacidade de sobrevivência, como estágios de adaptação ao meio como estratégias de formação de armadilhas, e a própria temática central de ambas as produções, a descoberta do fogo, grande passo para a mudança de status, dos povos, já que propicia, essencialmente, maior capacidade de defesa e variação da alimentação. No primeiro filme – O homem das cavernas – a descoberta do fogo é explicada com a queda de um raio sobre uma árvore e, posteriormente, com o atrito entre as pedras; no segundo essa origem não fica clara, embora o objetivo e a importância se mantenham. No entanto, em “O último Neanderthal” a característica nômade dos povos e a trajetória da África em direção à Europa Central, caminho mais provável pelos estudos feitos pelos pesquisadores que buscam respostas para a origem do precursor do Homo Sapiens, fica mais clara, inclusive com maior sofisticação e riqueza de detalhes que a produção anterior. O fio condutor da narrativa de “O último Neanderthal” aponta para o protagonista Ao e suas interações com os grupos aos quais vai pertencendo ao longo da narrativa. De início quando criança, quando passa pela separação de seu irmão gêmeo Oa, em uma transação natural daqueles grupos, que trocam alimentos e crianças para sua sobrevivência. A procura por esse irmão vai atravessar toda a trama, demonstrando que o afeto faz parte da natureza daquele elemento; o que se comprova também quando da importância na perpetuação do seu clã quando nasce
1 O homem das cavernas Acesso em https://youtu.be/2o80pF67-dE
2 O último Neanderthal Acesso em https://youtu.be/Ursf4fZLCJQ sua cria, Nea, ou quando adota como sua a filha de Aki, mulher que se junta a ele após abandonar seu grupo e parir à porta da caverna em que se encontra. Por ter tido todo o seu grupo morto por outro quando se encontrava na caça, vê em Aki e sua Wama uma substituição natural para a cria perdida, Nea. Embora cause estranhamento a Aki por ter seu rosto sem pintura, característica de sua tribo original, o que aparece na legenda como sendo sinônimo de “feio”, ela o acompanha, pois precisa de proteção, mas a ele só interessa a cria, e por isso se aproveita da noite para partir com ela. Mas logo percebe que precisa do “precioso líquido que sai do peito de Aki, e quando ela os alcança logo entrega a cria para que a alimente, pois a relação entre ambos é a de interdependência para prover e sobreviver. Quando Aki fica sem leite e Ao ver uma égua com seu potro, associa a alimentação animal à mesma da cria e assim também a alimenta. A convivência faz com que essa relação de confiança e cumplicidade forme uma nova célula, que, com a defesa contra outro grupo que os ataca, com o conhecimento de Aki em seu alojamento de inverno, o conduza por uma gruta cheia de passagens estreitas e lhes dê fuga em segurança, levando a um salão de pinturas rupestres, em que registram suas mãos em argila como as que aparecem nas paredes de pedra. A partir daí está selada um novo clã. Aki já deixa que Ao carregue Wama e parece compreender, por imitação, seus gestos e sons. A busca de Ao por seu irmão gêmeo persiste, e a musicalidade tem papel importante para o entendimento dessa relação. Antes de se separarem, explorando a planície em que viviam, encontram uma espécie de tótem religioso, um esqueleto com um osso perfurado do qual, ao soprar, conseguem extrair sons. Ao fica com o objeto, mas ao ser trocado por seu grupo, na separação dá o instrumento ao irmão, que vez por outra o sopra, como um instrumento sensível, mítico, de relação entre os dois, embora em suas visões do irmão sempre ele esteja tirando sons de uma percussão. Quando por fim Ao consegue chegar ao lugar onde está o grupo que ficou com seu irmão, parece que há pouco tempo este também foi atacado, e estão todos mortos, com remanescentes do grupo rival ainda na gruta, com os quais Ao ainda luta. À visão de seu irmão morto, Ao demonstra emoção. Os sentimentos aparecem em alguns momentos do filme, como quando Aki se compadece de Ao e cuida dele quando doente, ou quando Ao sofre pela morte de seu amigo Boor, personagem que no início da narrativa o acompanha e morre na luta
1 O homem das cavernas Acesso em https://youtu.be/2o80pF67-dE
2 O último Neanderthal Acesso em https://youtu.be/Ursf4fZLCJQ contra um urso polar, justamente quando os dois estão fora e, ao retornar, vê que todo seu grupo foi morto, e ele está completamente sozinho, ou quando tem a chance de matar um opositor durante uma luta e para, segundo legendado, pensando “que força me impede de tirar a vida de outro ser humano?”. Mas seria o sentimento de culpa um valor cultural, antagônicos, pois, à espécie, nesse estágio da civilização? O simbolismo da despedida atávica de Ao de seu irmão Oa acontece quando ele atira o instrumento de osso que guardava no precipício e parece que vai cair também; é o chamado de Aki que parece fazê-lo recuar e tentar se segurar na pedra e tentar sobreviver, em mais uma demonstração de alguma cumplicidade e sentimento de ambos. Se no primeiro filme ficam marcados os dados da evolução dos saberes acumulados por aquele homem – a planta que faz dormir e serve para enganar o marido da mulher desejada, a arte de fazer armas como a catapulta, lanças o uso de espinhos nas armas, porretes com ossos, além da estratégia para produzir o fogo a partir das pedras -, no segundo filme o sentimento, a luta entre os grupos, a forte marca para a característica nômade, a condução para um nicho sagrado por Aki um ritual característico de um tipo, ainda que insipiente, de fé são marcas bastante curiosas de um princípio de organização social. Não há pistas de como o Homem Neanderthal desapareceu da Terra, mas alguns indícios prováveis são as doenças, cruzamentos malsucedidos entre os grupos que impedissem a perpetuação da própria espécie, guerras, mas não há pesquisas conclusivas. De qualquer forma, ambas as versões, ainda que romantizadas, trazem dados interessantes sobre esse período da História e dessa formação social.
1 O homem das cavernas Acesso em https://youtu.be/2o80pF67-dE
2 O último Neanderthal Acesso em https://youtu.be/Ursf4fZLCJQ