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Desenvolvimento moral na
adolescência

Psicologia do Desenvolvimento do Adolescente


MIP
2º ano, 1º semestre
2017-2018

Desenvolvimento moral
(Lehalle, 2006)

• Interesse progressivo do adolescente pelas normas e


valores sociais
• Duas dimensões:
• Concetual
– Representação de normas
– Julgamento moral
• Pragmática
– Ação moral
– Compromisso com a ação moral

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Porquê o maior interesse do adolescente pelas questões


morais (Lehalle, 2006)
• Aumento de experiência social (pares, adultos,…)
• O pensamento torna-se mais “pessoal”
• Tomadas de decisão associadas à construção da identidade (com
opções ideológicas)
• Desenvolvimento do pensamento lógico (abstrato e perspetivista)
e novas competências cognitivas

Mudanças desenvolvimentais e diferenças individuais no


domínio moral

Representação das normas


Convencional vs moral (in Lahalle, 2006)
• Diferença entre “convencional” e “moral”?
– Convenções: são arbitrárias, combinadas socialmente, mas a sua infração
não implica uma ação intrinsecamente errada.
– Obrigações morais: devem ser respeitadas, mesmo que não tenham
subjacente uma lei ou regra explicita

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Representação das normas


in Lahalle, 2006
1. Legais
2. Ascriptivas/normas características do contexto social (família, escola, …)
3. Convencionais
4. Interpessoais
5. Morais
Exemplos:
• O João não respeita o limite de velocidade
• A Joana copia no exame
• A família Costa não troca presentes no Natal
• A Teresa pergunta à Maria se pode almoçar com ela e com as amigas e a Maria
responde que não.
• O Sr. Silva é acusado de ter roubado um banco; o Sr. Mota (vizinho) sabe que não pode
ter sido ele porque o viu em casa na hora do assalto mas, como não gosta do Sr. Silva,
não o comunica à polícia.

Desenvolvimento moral na adolescência


(Lehalle, 2006)

• Que modelos e teorias na definição do desenvolvimento


moral?
• Como explicar as diferenças intra-individuais na
adolescência?
• Como explicar as diferenças inter-individuais na
adolescência?
• Quais os fatores de desenvolvimento moral?

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Desenvolvimento moral
• Teorias explicativas do desenvolvimento moral:
– Psicanálise
– Teorias da aprendizagem social
– Teoria socio-genética
– Teoria cognitivo-desenvolvimental

Teorias explicativas do desenvolvimento moral

1. Psicanálise
– Emergência do superego, como consciência moral
interiorizada, impondo a primazia do princípio da realidade
sobre o princípio do prazer.
– A pessoa moralmente mais desenvolvida é:
• a que mais se identificou e interiorizou os valores e padrões
parentais;
• a que mais resiste ao princípio do prazer;
• a que sente mais culpa após a transgressão.

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Teorias explicativas do
desenvolvimento moral
2. Teorias da aprendizagem
– O desenvolvimento da consciência e do comportamento moral
resultam da aprendizagem por condicionamento e observação de
modelos, sobretudo aqueles a que a criança reconhece autoridade e
prestígio
– A pessoa moralmente mais desenvolvida é aquela que exibe com
maior frequência e em maior quantidade aquelas condutas que são
classificadas como morais (não roubar, não mentir, não quebrar as
regras de um jogo…).

Teorias explicativas do
desenvolvimento moral
3. Teoria socio-genética
‒ O raciocínio moral é uma função psicológica superior, sendo mediado
pelas interações sociais com pares mais competentes.
‒ A comunicação “moral” estabelecida na interação com os outros é
transposta para o plano intraindividual determinando o diálogo
moral interno.
‒ O desenvolvimento moral é uma construção sociocultural e não um
processo de construção individual, dependente do processo de
desenvolvimento cognitivo.

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Teorias explicativas do desenvolvimento moral

4. Teoria cognitivo-desenvolvimental
– Existem formas qualitativamente diferentes de pensar e
raciocinar acerca dos assuntos morais básicos, tais como o valor
da vida, a verdade ou a justiça.
– O desenvolvimento moral ocorre segundo uma sequência
invariante de estádios, independentemente da cultura ou grupo
cultural (universalidade).
– O desenvolvimento do raciocínio moral deriva do
desenvolvimento do pensamento lógico.

Teoria cognitivo desenvolvimental


do desenvolvimento moral (Lourenço, 1992)
• Piaget (1932) foi pioneiro no estudo do desenvolvimento moral
– Moralidade heterónoma
• Respeito unilateral e obediência ao adulto
• As regras são absolutas, inflexíveis e não-modificáveis
• Um ato é julgado em função das consequências
– Moralidade autónoma
• Relativismo moral
• O julgamento de um ato é feito em função da sua conformidade às
normas, mas a intenção é tida em conta
• A não obediência às normas implica um castigo.
• Moralidade da cooperação, regras obtidas por consenso

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Teoria cognitivo desenvolvimental


do desenvolvimento moral
Procedimento - Contributos de Piaget

1. Cumprimento e consciência das regras : jogo de regras


2. Avaliação moral das transgressões: histórias
3. Entrevista clínica

Dimensões Heteronomia Moral Autonomia Moral


Conceção de regras e Fixas e imutáveis Modificáveis por acordo
normas
Diferenciação de Egocentrismo e centração Perspetivismo e descentração
perspetivas
Avaliação das Responsabilidade objetiva e Responsabilidade subjetiva e atenção às
transgressões realismo moral intenções
O que é imoral O que leva ao castigo ou o que é O que viola a cooperação e a igualdade
proibido.
Castigo para o transgressor Sanções expiatórias e arbitrárias Sanções baseadas na reciprocidade

Orientação moral Orientação para a obediência, Orientação para a cooperação e para o


castigo e respeito unilateral respeito mútuo.
Sentido de justiça: Autoridade e medo do castigo. Igualdade, cooperação e equidade.
distributiva e retributiva Retaliação e justiça imanente. Restituição e reciprocidade.

Conceção do dever Externo e obediência à autoridade Interno e preocupação com o bem-estar


dos outros
Fonte: Adaptado de Lickona, (1976), In Lourenço, (1992).

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Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral

Para Lawrence Kohlberg (1976):


• O desenvolvimento moral procede por uma sequência de 3 níveis, cada um
com 2 estádios
• Cada nível reflete uma determinada filosofia ou orientação moral
• Ao longo do desenvolvimento observa-se uma capacidade crescente para
distinguir, coordenar e hierarquizar as diversas perspetivas ou valores em
confronto
• Procedimento fundamental: discussão de dilemas, seguindo uma entrevista
clínica

Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral

O que é um dilema?
• Problema complexo face ao qual não existe uma resposta correta
única
• Não interessa tanto a resposta, mas os argumentos apresentados

Da análise das respostas é possível concluir em que nível e estádio de


desenvolvimento moral se encontra o indivíduo

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Teoria cognitivo desenvolvimental


Dilema do Sr. Heinz
Numa cidade da Europa, uma mulher estava a morrer de cancro. Um medicamento
descoberto recentemente por um farmacêutico dessa cidade podia salvar-lhe a vida.
A descoberta desse medicamento tinha custado muito dinheiro ao farmacêutico, que
agora pedia 10 vezes mais por uma pequena porção desse remédio. Heinz, o marido
da mulher que estava a morrer, foi ter com as pessoas suas conhecidas para lhe
emprestarem dinheiro e, assim poder comprar o medicamento. Apenas conseguiu
juntar metade do dinheiro pedido pelo farmacêutico. Foi ter então com ele, contou-
lhe que a sua mulher estava a morrer e pediu-lhe para lhe vender o medicamento
mais barato.
Em alternativa, pediu-lhe para o deixar levar o medicamento, pagando mais tarde a
metade do dinheiro que ainda lhe faltava. O farmacêutico respondeu que não, que
tinha descoberto o medicamento e que queria ganhar dinheiro com a sua descoberta.
Heinz, que tinha feito tudo ao seu alcance para comprar o medicamento, ficou
desesperado e estava a pensar assaltar a farmácia e roubar o medicamento para a
sua mulher.

Teoria cognitivo desenvolvimental


Dilema do Sr. Heinz
Exemplos de perguntas:
1. Deve ou não o Heinz assaltar a farmácia e roubar o medicamento? Porquê?
2. Se o Heinz não gostar da mulher devia roubar ou não o medicamento?
Porquê?
3. Se a pessoa que estava a morrer não fosse a mulher, mas um desconhecido,
devia ou não o Heinz roubar o medicamento? Porquê?
4. (Se defender que o Heinz deve roubar) Como deve o Heinz roubar o
medicamento, sabendo que por lei é proibido roubar?
5. É importante que as pessoas façam tudo o que podem para salvar a vida de
alguém? Porquê?

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Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral
Nível pré-convencional (até 9 anos)
• Corresponde à moralidade heterónoma de Piaget
• A justiça e a moralidade reduzem-se a um conjunto de regras externas, à que se
obedece para evitar o castigo ou para satisfazer os interesses e desejos concretos e
individualistas.
Nível convencional (após 9 anos, adolescentes e adultos)
• Corresponde à interiorização das normas e das expectativas sociais.
• O sujeito procura viver de acordo com o que é socialmente aceite e partilhado.
Nível pós-convencional (adultos)
• O valor moral das acções depende menos da sua conformidade às normas morais e
sociais vigentes e mais da sua conformidade a princípios éticos universais.

Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral
Nível pré-convencional
• O Heinz não deve roubar porque vai para a cadeia
• O Heinz deve roubar porque se não a mulher vai ficar zangada com ele
Nível convencional
• O Heinz não deve roubar porque vai contra a lei
• O Heinz deve roubar, a sociedade tem de cumprir as suas obrigações com as
pessoas, assim como ele já cumpriu as suas
Nível pós-convencional
• O direito à vida tem ascendente sobre o valor à propriedade
• O direito à propriedade pessoal/intelectual é um direito fundamental

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Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral
Nível pré-convencional
1.Moral do castigo
2.Moral do interesse
Nível convencional
3.Moral do coração
4.Moral da lei
Nível pós-convencional
5.Moral do relativismo da lei
6.Moral da razão universal

Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral
Nível pré-convencional: regras externas, à que se obedece para evitar o
castigo ou para satisfazer os interesses e desejos concretos e individualistas
1.Moral do castigo
– Orientação para a obediência e para a punição;
– Não distinção de perspectivas diferentes;
– Quando tentam coordenar perspectivas, não vão além de operações
de justiça por critérios externos, físicos e materiais.
2.Moral do interesse
– Orientação moral calculista, pragmática e individualista;
– Formulação de operações de justiça segundo critérios que andam à
volta dos interesses, desejos e necessidades individuais.

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Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral
Nível convencional: interiorização das normas e das expectativas
sociais
3.Moral do coração
– Moralidade interpessoal.
– Coordenação de perspectivas em confronto, segundo o ponto de vista de
uma pessoa altruísta e com bons motivos.
– Formulação de operações de justiça em termos ideais e não em termos
concretos.
4.Moral da lei
– Tendem a defender a manutenção da ordem, consistência e
imparcialidade do sistema social.
– Coordenam as várias perspectivas sociais (legais, morais, religiosas).

Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral
Nível pós-convencional: moral depende menos da conformidade às
normas morais e sociais vigentes e mais da conformidade a princípios
éticos universais
5.Moral do relativismo da lei
– Relatividade das normas
– As normas podem entrar em conflito com a moral
– Orientação para o contrato social e para o bem comum
6. Moral da razão universal
– Ideal supremo do desenvolvimento moral
– Os princípios morais aparecem defendidos sem considerações práticas de
utilidade social

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Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral
a)“O Heinz não devia roubar porque se o fizer vai para a cadeia”. Resposta de estádio 1-Orientação
para o castigo
b)“O Heinz deve roubar, porque a sua mulher é uma pessoa muito importante e com muito dinheiro”.
Resposta de estádio 1- Orientação para o realismo moral
c)“O Heinz deve roubar porque não quer que a sua mulher morra e estava atrapalhado”. Resposta de
estádio 2 – orientação pragmática e individualista
d)“O Heinz deve roubar o medicamento. Tratava-se da sua mulher. Não é natural que faça tudo para a
salvar?!” Resposta de estádio 3 - Orientação interpessoal
e)“Não deve roubar, porque deve estar preocupado em mostrar que é um cidadão honesto e cumpridor
da lei” Estádio 3 - Orientação interpessoal, imagem de “bom menino”
f)“O Heinz não deve roubar; se todos começam a roubar, então isso é tomar as leis nas nossas mãos,
começar a dar lugar à lei do mais forte e criar inúmeras injustiças. Não roubar é uma obrigação de
todos”. Estádio 4 – Orientação para a ordem, imparcialidade e consistência do sistema social
g)“O Heinz deve roubar o medicamento. Embora roubar seja ilegal, aqui não é imoral. A lei não foi
feita para estes casos. Mais, o Heinz não poderá ser condenado, porque agiu em nome da sua
consciência.” Estádio 5 – Orientação para o relativismo da lei
h)“O Heinz deve roubar o medicamento. Há um dever de salvar a vida de alguém. O direito à vida
transcende o direito à propriedade. O mesmo se poderia dizer se fosse um desconhecido;
considerações afectivas não tem aqui qualquer cabimento”. Resposta de estádio 6 - Subordinação
das normas aos princípios éticos.

Teoria cognitivo desenvolvimental


Atualidade do dilema do Sr. Heinz?

In revista E do Expresso de 18/7/2015

“O fármaco da hepatite C é vendido em Portugal com um lucro “abusivo” de


6600%, sustenta um estudo”

“O debate não é económico. É também ético. Quanto é que os estados estão
dispostos a pagar por uma vida? E será aceitável haver racionamento de
medicamentos que podem ser vitais? A propósito do episódio da hepatite C, o
ministro da saúde, PM, disse que o estado deve fazer tudo para salvar vidas
mas não “custe o que custar”. LC tem a mesma opinião. “Nenhuma vida
deve ser considerada demasiado cara, mas nem todas as medidas médicas
têm um custo aceitável para o benefício que proporcionam”, refere.”

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Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral

Manutenção
da Moralidade
Sociedade Convencional

Transformação
da Moralidade
Sociedade Pós Convencional

Categorias de dilemas
(Lahelle, 2006)

• Filosóficos (ex: aborto, eutanásia, pena de morte,…)


• Anti-sociais (transgressão de regras ou reação à
tentação; ex: sexo não protegido, batota, …)
• Pressão social (para ir contra os seus próprios valores ou
sentido de identidade pessoal; ex: aceitar uma religião
ou mudar a carreira ou estilo de vida)
• Pró-sociais (confronto com exigências conflituantes ou
ajuda a outros; ex: divórcio dos pais, ajudar amigo
criminoso)

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Fonte: Adaptado de Colby & Kohlberg, 1978, In Lourenço, 1992)


Nível Estádio Orientação Moral Perspectiva Sócio Moral

Pré- 1 Orientação para a punição e para Não distingue nem coordena perspectivas. Só
convencional Moral do a obediência há uma correcta, a da autoridade.
Castigo
2 Orientação calculista e Distingue perspectivas, coordena-as e
Moral do instrumental. hierarquiza-as do ponto de vista dos interesses
Interesse individuais (do “self” e dos outros)
Convencional 3 Orientação para o “bom menino” e Distingue perspectivas, coordena-as e
Moral do para uma moralidade de hierarquiza-as do ponto de vista de uma 3ª
Coração aprovação social e interpessoal. pessoa afectiva e relacional

4 Orientação para a manutenção da Distingue perspectivas coordena-as e


Moral da lei lei, da ordem e do progresso hierarquiza-as do ponto de vista de uma 3ª
social. pessoa imparcial, institucional e legal.

Pós- 5 Orientação para o contrato social, Distingue perspectivas, coordena-as e começa


Convencional Relativismo da para o relativismo da lei e para o a hierarquizá-las do ponto de vista de um 3ª
Lei maior bem para o maior número pessoa moral, racional e universal.
de pessoas.

6 Orientação para os princípios Distingue perspectivas, coordena-as de um


Razão éticos universais, prescritivos, ponto de vista ideal e hierarquiza-as segundo
Universal auto-escolhidos e generalizáveis. uma perspectiva moral, racional e universal.

Desenvolvimento Cognitivo Tomada de perspetiva Moral


social
Pré-operatório: irreversibilidade e Perspetiva egocêntrica Orientação para a obediência e
centração para o castigo

Operações concretas: reversibilidade Perspetiva de segunda pessoa Orientação para a troca entre
e compensação interesses e desejos

Operações formais emergentes: Perspetiva de terceira pessoa Orientação para a aprovação


início da lógica interproposicional social e para o “bom menino”

Primeiras operações formais: Perspetiva do sistema social e Orientação para a manutenção


raciocínio hipotético-dedutivo convencional da lei, ordem e imparcialidade

Operações formais elaboradas, Perspetiva do outro para Orientação para o contrato social
exaustivas e sistemáticas além da sociedade e para o ponto de vista moral
Adaptado de Walker, 1986, in Lourenço (1993)

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Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral - Kohlberg
• O processo desenvolvimental é caraterizado por uma sequência de
estádios
• Contudo, verifica-se que os adolescentes, quando confrontados com
um conjunto de dilemas, apresentam respostas características de mais
do que um estádio, podendo haver um estádio modal ou dominante
• A avaliação do desenvolvimento moral deve tomar em consideração a
gama de estádios que cada adolescente pode apresentar
• A variabilidade intra-individual é consistente com a sequência de
estádios

Teoria cognitivo desenvolvimental do


desenvolvimento moral
Associação entre estádios e idade

• Evidência empírica junto de participantes entre 10 e 16


anos em amostras de vários países
– Diminuição estádios 1 e 2
– Aumento estádio 3 entre 10 e 13 anos
– Aumento estádio 4
– Estádio 5 aparece aos 16 anos na amostra americana
– Estádio 6 é muito raro
• Rest et al., 1995
– Baixa frequência de pós-convencional mesmo na idade adulta
– Impacto do número de anos de escolaridade formal

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Contributos de Kohlberg à sua própria teoria

• Estádio 4 ½ (estádio de transição entre nível


convencional e pós-convencional)
• Estádio 7
– Se os princípios são pessoais e se existe o potencial para serem
preferidos às leis, como podemos saber se esses princípios são
mesmo “morais”?
– Os princípios estão baseados num pensamento filosófico geral
enfatizando as leis naturais de uma perspetiva cósmica

Como explicar a variabilidade intra-individual?


(Lahelle, 2006)

• Variabilidade contextual – situação apresentada no


dilema
• Diferenciação entre vários sistemas de regras

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Variabilidade intra-individual

• Alterações ao dilema de Heinz aplicados a estudantes universitários:


consequências negativas para Heinz (sim/não) e certeza de que a mulher se
salva (sim/não)
• Respostas de roubar
– Menos frequentes, quando há mais consequências negativas para Heinz (vai para prisão)
– Mais frequentes, quando a vida da mulher pode ser salva
• Quando as consequências negativas para o Heinz são baixas, as respostas
pós-convencionais são mais frequentes (há mais necessidade de justificar
um ato ilegal)
• Quando as consequências para a mulher são elevadas, as respostas pós-
convencionais são menos frequentes (não há necessidade de justificar um
ato ilegal)

Variabilidade intra-individual

• O dilema do Sr. Heinz coloca-se da mesma maneira com


o vizinho (em vez da mulher)?
– Adolescentes de 12 e 14 anos são sensíveis a esta questão,
atuam mais contra a norma no caso de interesses pessoais,
mas produzem mais respostas baseadas em princípios em
dilemas sem interesses pessoais, como se tivessem de
justificar mais um ato gratuito

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Variabilidade intra-individual

• Temas autoritários vs não autoritários (justiça, necessidades,


direitos das pessoas)
– Respostas relativas a estádios mais elevados são mais observadas
com temas não autoritários do que com temas autoritários, em
crianças de 10 anos e jovens de 13-14 anos, não havendo diferenças
nos grupos mais velhos
• Dilemas pessoais (conflitos interpessoais) vs transpessoais
(regras formais, funções sociais, instituições)
– Respostas relativas a estádios mais elevados são observadas com
dilemas transpessoais entre os 16 e os 30 anos

Críticas à teoria cognitivo-desenvolvimental do


desenvolvimento moral
Diferenças de género
• Gilligan (1977): homens mais focados na justiça e lei (estádio 4) e
mulheres mais focadas na ética dos cuidados (estádio 3)
• Contudo, não se verificou esta previsão e, pelo contrário, alguns
estudos apontam para a maior maturidade moral das mulheres
maturidade moral ≠ orientação moral

Posição na sequência de estádios Preocupações com sistema legal


ou relações interpessoais
• Pode haver diferenças de género na orientação mas não na
maturidade moral

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Raciocínio moral e conduta moral

• Os julgamentos morais (dilemas) está relacionado com as ações


morais?
• Que relação existe entre o raciocínio moral e o comportamento
moral?
• Apesar das limitações metodológicas apontadas à investigação
conduzida para encontrar resposta a esta questão, a conclusão
geral aponta para uma associação entre raciocínio e
comportamento moral.
• No entanto …

Raciocínio moral e conduta moral


• Quanto mais próximo o conteúdo dos raciocínios e a situação de vida real,
maior a associação entre raciocínio e conduta moral
Por ex., dilemas pró-sociais e comportamento pró-social.
• A relação é tanto maior quanto maior o custo implicado pelo
comportamento.
Por ex., partilhar uma sandwich quando se tem pouca fome e muito que
comer implica pouco custo e portanto está pouco associado com o nível de
raciocínio moral, mas partilhar uma sandwich quando se tem muita fome
e pouco que comer surge fortemente associado a altos níveis de raciocínio
moral pró-social

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Raciocínio moral e conduta moral

• A relação entre raciocínio moral e conduta moral parece ser modelada por:
– variáveis do contexto como a presença de testemunhas, características
da vítima, etc.
– variáveis pessoais como sensibilidade empática, adoção de perspetivas,
autoestima, competência social
• A integração de valores morais na estrutura da identidade, promove a
associação entre raciocínio e comportamento, o raciocínio moral
funcionando como força motivadora para promover condutas moralmente
corretas sobretudo em situações difíceis.

Fatores de desenvolvimento moral


• Pares
• Família
• Cultura

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Fatores de desenvolvimento moral


Grupo de pares
O conflito que caracteriza as relações entre pares pode
promover o desenvolvimento moral(Schonert-Reichl, 1999 in
Lahelle, 2006) de forma diferente em rapazes e raparigas:

– Nas raparigas o raciocínio moral está relacionado com o estatuto de


liderança e com o comportamento pró-social
– Nos rapazes o raciocínio moral está relacionado com o estatuto de
liderança e com o comportamento antissocial e (negativamente) com a
timidez/isolamento social
– O raciocínio moral está relacionado com o número de amigos íntimos
– Nos rapazes o raciocínio moral é mais baixo quando os conflitos são
resolvidos rápida e facilmente
– Nas raparigas o raciocínio moral está associado a indicadores do grau de
atividades realizadas com amigos

Fatores de desenvolvimento moral


Família
• Controlando os efeitos das variáveis de background, o
nível moral dos pais prediz o julgamento moral das
raparigas, mas não dos rapazes
• Importância do nível de escolaridade dos adolescentes
no seu desenvolvimento moral provavelmente explica o
baixo efeito do desenvolvimento moral dos pais (menos
escolarizados em geral)
• Estilo educativo dos pais: resultados inconsistentes

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Fatores de desenvolvimento moral


Cultura
• Evidência da sequência universal de estádios
• Os dilemas são um procedimento metodológico
relevante nas diversas culturas, se consideradas
adaptações de conteúdo
• Até que ponto as diferentes culturas promovem o
desenvolvimento moral?
• Necessária investigação cross-cultural

Fatores pessoais determinantes do


desenvolvimento moral
• Desenvolvimento cognitivo (perspetivismo, abstração)
• Participação efetiva na tomada de decisão e funcionamento
social no contexto dos grupos (família, pares, etc.) em que
os adolescentes estão inseridos
• Compreensão acerca de como a sociedade funciona
(intituições, leis, etc)
• Experiência pessoal (conhecer pessoas e culturas
diferentes, por ex.)
• Autorreflexão acerca da sua relação com o passado
(familiar, pessoal) e com o futuro (planeamento, carreira,
etc)

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TPC próxima aula


• Ler
Scholte, R. H. & Van Aken, M. A. G. (2006) Peer
relations in adolescence. In S. Jackson & L. Goossens
(Eds), Handbook of adolescente development (pp. 175-
199). Hove, East Sussex: Psychology Press.
• Qual a função dos amigos na adolescência?

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