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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

PROGRAMA DE MESTRADO EM DIREITO

MARIANA AGUIAR ESTEVES

TECNOLOGIA APLICADA AO DIREITO: OS DESAFIOS NA GESTÃO DE DADOS


DOS PROCESSOS ELETRÔNICOS E OS IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO
DA JURIMETRIA

São Paulo
2021
MARIANA AGUIAR ESTEVES

TECNOLOGIA APLICADA AO DIREITO: OS DESAFIOS NA GESTÃO DE DADOS


DOS PROCESSOS ELETRÔNICOS E OS IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO
DA JURIMETRIA

Dissertação apresentada à banca examinadora do


Programa de Pós-graduação Strictu Sensu em
Direito da Universidade Nove de Julho –
UNINOVE, como requisito parcial para a obtenção
do grau de Mestre em Direito.

Linha de pesquisa I: Justiça e o Paradigma da


Eficiência

Orientador(a): Professora Doutora Samantha


Ribeiro Meyer-Pflug

São Paulo
2021
Esteves, Mariana Aguiar.
Tecnologia aplicada ao direito: os desafios na gestão de dados dos
processos eletrônicos e os impactos no desenvolvimento da jurimetria.
/ Mariana Aguiar Esteves. 2021.
139 f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Nove de Julho -
UNINOVE, São Paulo, 2021.
Orientador (a): Prof. Dr. Samantha Ribeiro Meyer-Pflug.
1. Eficiência. 2. Gestão de dados. 3. Jurimetria. 4. Processo
Eletrônico. 5. Tecnologia.
I. Meyer-Pflug, Samantha Ribeiro II. Titulo.

CDU 34
AGRADECIMENTOS

A Deus por me proporcionar perseverança durante toda a minha vida e em todo o


caminho do início do mestrado até aqui.
A minha família: meus pais João Luiz Esteves e Silvana Aguiar Esteves, minha irmã
Juliana Aguiar Esteves e meu cunhado João Bosco Fagundes Júnior, pelo apoio e incentivo
que sempre serviram de alicerce para as minhas realizações.
Ao meu primeiro orientador André Lemos Jorge por todo apoio e paciência ao longo
da elaboração do meu projeto final e também a minha segunda orientadora, Samantha Ribeiro
Meyer-Pflug Marques pelas valiosas contribuições dadas na fase final deste processo.
Gostaria também de agradecer a banca examinadora na qualificação desta pesquisa, a
Prof. Dra. Renata Mota Maciel, pelas brilhantes considerações que guiaram a confecção final
deste trabalho, e ao Prof. Rodrigo de Grandis cujas observações e sugestões foram igualmente
relevantes para o resultado final deste trabalho.
A todos os meus amigos e colegas de sala na minha turma: Tassia Tavora, Suelen
Bianca, Heloisa Meneses, Hugo Caporal, Marcos Marinho, Claudiery, Jamili Simões e
Rodston, que compartilharam dos inúmeros desafios que enfrentamos, mas sempre com o
espírito colaborativo e de apoio, tornando mais leve e divertida essa jornada, além da troca de
experiências que me permitiram crescer não só como pessoa, mas também como profissional.
Às minhas amigas da vida, Barbara Vicentim, Fernanda Carvalho, Iasmine Messias,
Jessika Rodrigues, Mariana Lyra, Marina Trigueiro, Natalia Dias e Thayna S. R. Ribeiro, que
sempre estiveram ao meu lado, pela amizade incondicional e pelo apoio demonstrado ao
longo de todo o período de tempo em que me dediquei a este mestrado.
Aos meus queridos amigos e mestres: Bruno Gildo D. Morales, Luana Pagung e
Izabela Lemos, que me inspiraram e também me encorajaram a ingressar nessa jornada
acadêmica do mestrado, prestando sempre seu apoio e amizade.
Aos professores do programa de Mestrado em Direito pelas correções e
ensinamentos que me permitiram apresentar um melhor desempenho na minha formação que
demonstrou estar comprometido com a qualidade e excelência do ensino.
E agradeço também à Universidade 9 de Julho – UNINOVE, incluindo seu corpo
docente e funcionários administrativos (Camila e Viviani), pelos quais demonstrou estar
comprometida com a qualidade e excelência do ensino.
RESUMO

A relação entre o Direito e a Tecnologia tem sido um tema com crescente curiosidade e
recentemente difundido pelos debates envolvendo, principalmente, o processo eletrônico e a
Jurimetria no novo universo de dados do Poder Judiciário. Dentro dessa área, o foco conferido
ao tema deste trabalho são os impactos da informatização do Poder Judiciário quanto ao
Acesso à Justiça, quanto à eficiência e efetividade da prestação jurisdicional, bem como nas
profissões jurídicas e serviços prestados pelos operadores do Direito na ordem jurídica. O
presente trabalho tem por objetivo analisar a tecnologia aplicada ao Direito nessas frentes,
bem como na gestão da atividade jurisdicional e, assim, mapear os desafios que surgem e
ainda poderão surgir diante da evolução digital, principalmente quanto ao desenvolvimento da
Jurimetria e a massiva produção de dados eletrônicos advindos dos processos judiciais pelos
diversos sistemas utilizados nos Tribunais brasileiros. Para tanto, é discutido os principais
aspectos do acesso à Justiça e os reflexos da virtualização dos processos, sendo analisada
também a transição do processo eletrônico e suas particularidades no ordenamento jurídico
brasileiro. Na sequência, o enfoque é dado à aplicabilidade da Jurimetria e da Inteligência
Artificial na atualidade frente à produção exponencial de dados, discutindo o relevante papel
da Jurimetria no campo da uniformização da jurisprudência nacional e o desafio para uma
gestão de dados produzidos, coletados, estudados e armazenados pelo Poder Judiciário. A
metodologia consiste em revisão bibliográfica, além de consultas em mídias de comunicação
brasileiras e estrangeiras, a partir da utilização do Método Hipotético-Dedutivo para análise.
Percebeu-se que ainda há um distanciamento e ausência de instrumentos capazes de regular a
gestão dos dados dos processos judiciais eletrônicos que são de grande relevância para o
desenvolvimento da Jurimetria, e que os mesmos que devem ser devidamente tutelados e
geridos pelo Poder Judiciário frente aos riscos e possíveis conflitos éticos referentes à
publicidade, à privacidade e à segurança desses dados. Em suma, este trabalho aponta para a
importância de se acompanhar a utilização dessas ferramentas tecnológicas em vista da
problemática que envolve a segurança e publicidade dos dados judiciais eletrônicos em face
da realidade de intensa e massiva judicialização pela sociedade, além da produção
exponencial e constante de dados, ainda com poucos estudos sobre como isso impactará na
eficiência e na atuação jurisdicional ao se aperfeiçoar o gerenciamento desses dados dos
processos judiciais eletrônicos.

PALAVRAS-CHAVE: Eficiência. Gestão de dados. Jurimetria. Processo Eletrônico. Tecnologia.


ABSTRACT

The relationship between law and technology has been a topic with growing curiosity and has
been disseminated by recent debates involving mainly the electronic process and the legal
system in this new universe of data in the Judiciary. Within this area, the focus given to the
theme in this work refers to the impacts of the computerization of the Judiciary on access to
Justice, on the efficiency and effectiveness of the judicial provision, as well as on the legal
professions and services provided by law operators in the order and falls within the research
line of the Justice and the Efficiency Paradigm. The objective of this dissertation work is to
analyze the technology applied to the Law in these fronts, as well as in the management of the
jurisdictional activity and thus to map the challenges that arise and may still arise in the face
of this digital evolution, mainly regarding the development of Jurimetry and the massive
production of electronic data arising from lawsuits by the various systems used by brazilian
courts. The main aspects of the access to Justice and the consequences of the virtualization of
processes in this right will be discussed and the transition of the electronic process and its
particularities in the Brazilian legal system will also be analyzed. Then, the focus will be on
the applicability of jurimetry and artificial intelligence today, facing an exponential
production of data, on the relevant role of jurimetry in the field of standardization of national
jurisprudence and the challenge for the management of all these data produced at collected,
studied and stored by the Judiciary. As the theme is recent, a bibliographic review about it
was carried out, using the hypothetical-deductive method, based on bibliographic research, in
addition to consulting literature also published in traditional Brazilian and foreign media. It
was noticed that there is still a distance and absence of an instrument capable of regulating the
management of the data of electronic judicial processes that are of great relevance for the
development of jurimetry, but that must be properly protected and managed by the Judiciary,
in view of the risks and possible ethical conflicts regarding advertising, privacy and security
of this data. In summary, this work points to the importance of monitoring the use of these
technological tools in view of the problem that involves the security and publicity of
electronic judicial data in the face of the reality of intense and massive judicialization by
society, the exponential production of constant and investigating how this will impact
efficiency in jurisdictional performance by improving the management of this data from
electronic court cases.

KEYWORDS: Data management. Efficiency. Electronic process. Jurimetry. Technology.


LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ABJ Associação Brasileira de Jurimetria


API Application Programing Interface
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CSV Comma-Separated Values
DataJud Base Nacional de Dados do Poder Judiciário
IA Inteligência Artificial
ICCE International Consortium for Court Excellence
LGPD Lei Geral de Proteção de Dados
LOMAN Lei Orgânica da Magistratura Nacional
MDA Massas Documentais Acumuladas
MNI Modelo Nacional de Interoperabilidade
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
ODR Online Dispute Resolution
ONU Organização das Nações Unidas
PJe Processo Judicial eletrônico
PLN Processamento de Linguagem Natural
SIESPJ Sistema de Estatística do Poder Judiciário
STF Superior Tribunal Federal
TJ/DFT Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
TJ/RN Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte
TJ/RO Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8
1 ACESSO DEMOCRÁTICO À JUSTIÇA E OS IMPACTOS DA VIRTUALIZAÇÃO
DOS PROCESSOS JUDICIAIS ............................................................................................ 12
1.1 EFICIÊNCIA E PROCESSO JUDICIAL .......................................................................... 23
1.2 OS REFLEXOS DA VIRTUALIZAÇÃO NOS PROCESSOS JUDICIAIS ..................... 29
2 OS CAMINHOS DA TECNOLOGIA APLICADA AO PODER JUDICIÁRIO
BRASILEIRO ......................................................................................................................... 37
2.1 O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO ....................................................................... 39
2.2 A TECNOLOGIA EM FAVOR DA JURIMETRIA ......................................................... 46
2.2.1 Conceitos e aplicabilidade nos Processos Eletrônicos .................................................... 53
2.3 O IMPACTO DO AUMENTO EXPONENCIAL DA PRODUÇÃO DE DADOS
ELETRÔNICOS NO PODER JUDICIÁRIO .......................................................................... 59
2.4 O PAPEL DA JURIMETRIA NA UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
PREVISTA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO ........................................ 68
3 OS DESAFIOS NA REGULAMENTAÇÃO DA GESTÃO DE DADOS PELO PODER
JUDICIÁRIO .......................................................................................................................... 75
3.1 A PRODUÇÃO DE DADOS NOS PROCESSOS ELETRÔNICOS E A POLÍTICA
INTERNA DE DADOS ABERTOS DO CNJ ......................................................................... 78
3.2 PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E PUBLICIDADE X PRIVACIDADE ......................... 84
3.3 O DESENVOLVIMENTO DA JURIMETRIA JUNTO ÀS FERRAMENTAS
TECNOLÓGICAS E OS SEUS LIMITES ÉTICOS: OS DADOS IDENTIFICADORES DOS
ENVOLVIDOS NOS PROCESSOS ELETRÔNICOS............................................................ 91
3.4 OS REFLEXOS DA TECNOLOGIA E DAS ANÁLISES JURIMÉTRICAS PARA A ROTINA
DO PODER JUDICIÁRIO E SEU PLANO INTERNO - POLÍTICA DE GESTÃO ........................ 97
3.5 OS RISCOS DE UMA “ANONIMIZAÇÃO” DE DADOS DE INTERESSE PÚBLICO
................................................................................................................................................ 107
3.6 O COMPROMISSO DO PODER JUDICIÁRIO COM A GESTÃO DE DADOS EM
PROCESSOS ELETRÔNICOS E O DESAFIO DO ACESSO À JUSTIÇA ........................ 111
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 120
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 127
8

INTRODUÇÃO

A virtualização de incontáveis áreas da vida humana e sua rotina transforma


constantemente a sociedade moderna e, consequentemente, o Direito também sofre esse
impacto. Nas últimas duas décadas o desenvolvimento tecnológico se deu de forma veloz e
dinâmica e, por mais que o Direito tente acompanhar esse desenvolvimento, são inúmeras as
questões e crises que surgem nessa trajetória. Diante disso, ocorre um rápido avanço da
tecnologia também no Direito, com enfoque nos processos judiciais eletrônicos. Partindo
dessa justificativa inicial, este trabalho surgiu com o propósito de discutir um objeto
específico: a relação do Direito com a tecnologia, o tratamento e a proteção dos dados pelo
Poder Judiciário.
A pergunta-problema que ensejou esta pesquisa fora: quais são os desafios decorrentes
da aplicação da tecnologia e produção de dados ao Direito? Isto porque se presencia
atualmente um cenário de novos desafios e lacunas quanto à gestão de dados dos Processos
Eletrônicos e os impactos no desenvolvimento da jurimetria, ferramenta esta com capacidade
de subsidiar diversos estudos e criação de políticas públicas, de gestão e, consequentemente,
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional como um todo.
Ademais, percebe-se uma alteração no comportamento judicial nesse novo panorama
tecnológico envolvendo a jurimetria e, por isso, também se faz importante evidenciar quanto
aos riscos no ato de “anonimizar” e “publicizar” dados em processos eletrônicos,
principalmente os de decisões judiciais. Nesse contexto, percebe-se a necessidade de maiores
debates acerca do tratamento dos dados nos processos eletrônicos e como sua utilização
influencia no desenvolvimento da jurimetria, uma relevante ferramenta tecnológica que,
através da análise desses dados, contribui com a celeridade e eficiência na atuação do Poder
Judiciário.
O objetivo deste trabalho, portanto, e a partir de uma construção teórica e das práticas
que abarcam a situação da tecnologia e produção de dados nos processos eletrônicos
evoluindo dentro do Poder Judiciário, é discutir a atenção que ainda implicam esses fatores
sobre a análise do desenvolvimento da jurimetria, os seus limites éticos e os seus reflexos na
eficiência do Judiciário, especificamente no âmbito do processo civil, vislumbrando-se nesse
ínterim a necessidade de buscar melhorias.
Para tanto, a metodologia utilizada neste trabalho é assentada no método científico
hipotético-dedutivo fundado nas pesquisas bibliográficas, literaturas jurídica e de mídias
tradicionais, legislações e informações/resoluções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
9

A pesquisa realizada se mostra em consonância com a linha de pesquisa 01 deste


programa de mestrado: “Justiça e o Paradigma da Eficiência”, visto que estuda e discute
questões atinentes à eficiência e efetividade da prestação jurisdicional enfrentadas nesse novo
cenário multidisciplinar entre o Direito e a tecnologia, auxiliados pela metodologia da
jurimetria, bem como intenta a possíveis ações e alternativas visando melhorias e êxito nessa
busca, como uma gestão regulamentada e específica quanto aos dados judiciais eletrônicos.
Na primeira seção — Acesso democrático à Justiça e os impactos da virtualização dos
Processos Judiciais — deste trabalho, que se segue a essa Introdução, o estudo direciona-se a
um breve histórico quanto ao conceito de acesso à Justiça a partir das lições de Luiz
Guilherme Marinoni1, Mauro Cappelletti e Bryant Garth (“Projeto de Florença”) até o aspecto
da efetividade desse direito, e quais impactos da implantação do processo eletrônico refletem
no acesso à Justiça2.
Nesta primeira seção teórica, serão abordadas também questões atinentes à crise do
Poder Judiciário diante da excessiva quantidade de processos judiciais em trâmite e
consequente morosidade, realocando o conceito de eficiência para o Poder Judiciário ao se
evidenciar que ainda que o sistema deva atender com celeridade, não pode deixar de
equilibrar sua atuação nos procedimentos judiciais, demonstrando que nem sempre a
celeridade na Justiça corresponderá a uma Justiça melhor (considerada eficiente).
A referida seção terá ainda especial atenção à transição dos processos judiciais físicos
para os eletrônicos, a fim de demonstrar desde o início o terreno de inúmeras melhorias e
desburocratização junto de outros desafios que vem a surgir quando o Direito começa a se
somar cada vez mais com as novas ferramentas tecnológicas. Nesse tópico se evidenciará que
com a informatização processual poderia se prever maior efetividade, considerado o direito
fundamental mais importante, também por parte do Judiciário ao qual traduz um valor
constitucional englobado pelo acesso à Justiça.
Todavia, nesse cenário, alguns desafios são enfrentados pelos atores processuais
atualmente, tendo em vista a ausência de educação digital implantada, bem como ainda ser
comum o acesso à consulta pública de processos eletrônicos serem limitados e restritos em
alguns sistemas, além da variedade de sistemas dos tribunais para acesso de processos, os

1
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela de direitos. 4 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.
2
PIGNANELI, Guilherme da Costa Ferreira; GONÇALVES, Oksandro. Análise econômica da gratuidade da
Justiça: do amplo acesso à Justiça à crise do Poder Judiciário. Revista Brasileira de Direito Processual, [s.l.],
v.23, n. 103, p. 125-154, jul./set. 2018.
10

quais exigem configurações muito diferentes uns dos outros para acesso, influenciando
também no direito de acesso à Justiça. Temas esses abordados na Seção 2.
Na seção 2 — Os caminhos da tecnologia aplicada ao Poder Judiciário brasileiro —
será abordado outros avanços referentes à aplicação da tecnologia ao universo jurídico do
Brasil e ainda sobre o processo eletrônico, visto que ele teria sofrido uma reformulação no
procedimento do meio físico para o digital e, portanto, deveria ser rompida a forma linear que
tramitam esses processos. Para esta seção, é seguido o raciocínio dos autores Luis Alberto
Reichelt e Paulo Roberto Pegoraro Júnior3, os quais apontam que esse meio eletrônico não
servirá como depósito de documentos, mas, sim, que produzirá um novo cenário com outra
dinâmica para o debate processual. Contudo aponta-se que a capacitação e o aperfeiçoamento
devem ser compromisso constante do Poder Judiciário a fim de se manter na sua finalidade de
efetividade.
Um tópico da Seção 2 será dedicado ao histórico, quanto ao surgimento da estatística e
da jurimetria, evidenciando-as como ferramentas que permitem a observação de todo o
funcionamento do sistema judiciário e os dados que ele produz e armazena, bem quanto a
como se dá a aplicação da jurimetria aos processos eletrônicos.
A Seção 2 terá ainda um tópico expondo o grande impacto da quantidade de dados
produzidos em meio eletrônico no Poder Judiciário, trazendo a definição do que são os dados
e destacando o questionamento central de como se poderá gerar informação e conhecimento
úteis a partir dos milhões de dados produzidos diariamente, mencionando o processamento
desses dados pelo judiciário brasileiro e o auxílio da inteligência artificial na coleta e análise
desses dados para a jurimetria. Quanto ao tema, já se evidencia a necessária e já existente
interdisciplinaridade com a Arquivologia e a Ciência da Informação citadas pelos autores
Kazuo Watanabe e Renato Tarciso Barbosa de Sousa.
Finalizando a Seção 2, seu último tópico destaca a importância da Jurimetria na
uniformização da jurisprudência prevista no Código de Processo Civil Brasileiro ao abordar
que o estudo estatístico de dados específicos coletados de processos judiciais eletrônicos
possibilita um caminho até o fundamento de uma solução que melhor se aplicaria a um caso
específico.
Na Seção 3 — Os desafios na regulamentação da Gestão de Dados pelo Poder
Judiciário — será desenvolvida as questões referentes à possibilidade de se criar um meio que

3
REICHELT, Luis Alberto; PEGORARO JUNIOR, Paulo Roberto. Processo Eletrônico, hipertexto e direito ao
processo justo. Revista Internacional Consinter de Direito, Porto/Portugal, ano V, n. VIII, p. 165-177, jan.
2019.
11

aperfeiçoe a gestão e tratamento da grandiosa quantidade de dados judiciais em conjunto com


a utilização de ferramentas jurídicas e tecnológicas. Será estudada a política interna de dados
abertos do CNJ (Portaria nº 209 de 19 de dezembro de 2019) a partir da sua definição de
“dados abertos” e sua aderência à produção de estatísticas judiciais, com destaque ao que é
trazido como características.
Em outro tópico da Seção 3 se discutirá como o desenvolvimento da tecnologia no
Direito e a utilização pela jurimetria têm refletido na rotina jurídica prática em relação ao
princípio da publicidade e da privacidade, ressaltando-se a importância de se buscar equilíbrio
entre a proteção e a publicização dos dados judiciais em meio. Também se fará menção ao
desenvolvimento da Jurimetria na ordem jurídica brasileira e os seus possíveis limites éticos
em relação aos dados identificadores dos envolvidos nos processos eletrônicos, traçando-se
um paralelo dos princípios da publicidade e privacidade com algumas especificidades
atinentes à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Em tópico seguinte na Seção 3, se discutirá sobre a alteração do comportamento dos
julgadores nesse novo cenário do Poder Judiciário diante da atuação de gestão (novo tipo de
juiz) e as possibilidades de constantes avaliações de sua atuação como gestor e julgador, bem
como a maneira como esse comportamento pode influenciar no campo das análises e estudos
realizados pela jurimetria. Adverte-se, nesse sentido, quanto aos riscos diante da possibilidade
de se omitir dados em processos judiciais eletrônicos (públicos), em confronto com a política
aberta de dados bem como com o princípio constitucional da publicidade em oposição ao
desenvolvimento amplo da jurimetria.
E, por fim, se evidenciará ainda a problemática questão atinente a não existir nenhum
regulamento normativo que ampare a gestão dos tribunais quanto ao acesso aos dados dos
tribunais brasileiros, e o quanto essa regulamentação se faz necessária para enfrentar todos os
desafios desse relacionamento inevitável e necessário de evolução tecnológica dentro do
mundo jurídico.
O objetivo é apresentar esse novo cenário do Direito e tecnologia ao leitor, mapeando
alguns dos desafios mais relevantes que se vislumbra atualmente e que são decorrentes dos
desenfreados avanços digitais da sociedade em direção ao Poder Judiciário.
12

1 ACESSO DEMOCRÁTICO À JUSTIÇA E OS IMPACTOS DA


VIRTUALIZAÇÃO DOS PROCESSOS JUDICIAIS

A definição do termo “Acesso à Justiça” não é solidificada em uma única sentença,


isto porque o entendimento deste termo “muda no tempo e no espaço, conforme as ideologias,
os costumes e os valores de quem a conceitua4”. Assim, o desenvolvimento do conceito de
acesso à justiça, trazido no Art. 5º, inciso XXXV, da Constituição da República de 19885, foi
se dando com o passar dos séculos até à condição de direito humano e fundamental. Esse
direito, então, evoluiu conforme o avanço dos direitos fundamentais na sociedade, os quais já
visavam garantir efetivação de direitos aos cidadãos, além do acesso ao Poder Judiciário para
pleiteá-los quando necessário.
Apesar do Acesso à Justiça somente ser consolidado como direito fundamental nos
Estados Democráticos de Direito, verificam-se indicativos de sua origem já no Código de
Hamurabi (entre os séculos XXI e XVII a.C.), visto que no mesmo havia previsão quanto à
possibilidade de um indivíduo que pleiteia algum interesse ser ouvido pelo seu soberano com
poder de decisão, demonstrando, portanto, a existência do acesso a um julgador sobre
questões de direito. Posteriormente, no século VII a.C., na Grécia Antiga, sabe-se que teriam
iniciado, pela primeira vez, argumentações filosóficas sobre o direito, que incluía questões
possivelmente relacionadas ao acesso à Justiça6.
Com a ascensão das sociedades para o modelo de Estado Liberal, o acesso à Justiça
passou a ser garantido a quem pudesse custeá-lo, um modelo de pensamento individualista, e
exatamente por isso podendo chegar a ser inviabilizado em algumas situações, pois, nessa
conjuntura, como explicam Mauro Cappelletti e Bryant Garth:

A teoria era a de que, embora o acesso à justiça pudesse ser um “direito natural”, os
direitos naturais não necessitavam de uma ação do Estado para sua proteção. Esses
direitos eram considerados anteriores ao Estado; sua preservação exigia apenas que
o Estado não permitisse que eles fossem infringidos por outros. O Estado, portanto,
permanecia passivo, com relação a problemas tais como a aptidão de uma pessoa
para reconhecer seus direitos e defendê-los adequadamente, na prática7.

4
RUZ, Ivan Aparecido; SENGIK, Kenza Borges. O acesso à Justiça como direito e garantia fundamental e sua
importância na Constituição da República Federativa de 1988 para a tutela dos Direitos da Personalidade.
Revista Jurídica Cesumar, Maringá, v. 13, n. 1, p. 209-235, 2013, p. 216.
5
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988.
6
SEIXAS, Bernardo Silva; SOUZA, Roberta Kelly Silva. Evolução histórica do acesso à justiça nas
constituições brasileiras. Direito e Democracia, Canoas, v. 14, n. 1, p. 68-85, jan./jun. 2013.
7
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 9.
13

Nesse sentido, já se tratava de um direito formal de se acessar a Justiça, mas apenas


para quem pudesse custear o ato de peticionar ou contestar uma ação, uma vez que o Estado
era ainda indiferente a quem não possuía a mesma condição de arcar caso precisasse resolver
um litígio seu. Bernardo Silva Seixas e Roberta Kelly Souza exemplificam esse período de
caráter preponderantemente individualista ao comentar que:

No período moderno, nos estados liberais “burgueses” dos séculos XVII e XVI, os
procedimentos adotados para a solução dos litígios entre os cidadãos eram
essencialmente individualistas, o direito ao acesso à justiça era visto simplesmente
como o acesso ao Poder Judiciário ou como a oportunidade de contestar uma ação 8.

Ainda que, nos Estados Unidos, já na 5ª Emenda, a sua Constituição prevê que “[...]
Ninguém deverá ser […] privado da vida, liberdade ou propriedade sem o devido processo
legal [...] o processo devia ser justo e para além disso, havendo um procedimento que se
guiasse por uma noção de justiça, deveria também ser um processo equitativo9”. Alguns
autores também entendem que a 14ª Emenda da mesma Constituição estadunidense seja
“considerada como o embrião do princípio do acesso à Justiça10”, visto que nela era disposto
que “nenhum cidadão, dentro da sua jurisdição, podia ver ser-lhe negada à proteção das
leis11”.
Já a experiência alemã precedente, nesse sentido, se deu com a Lei Fundamental de
Bonn, promulgada em 1949 e na qual se previa acesso aos Tribunais, bem como ao direito e a
garantia de um processo justo. O autor português Paulo Joaquim Anacleto Costa assevera que
a atuação do “Tribunal Constitucional Alemão na delimitação do conteúdo de um processo
justo também se revelou importante para a evolução desta noção12” no país.
Com isso, conforme se caminhava para o final do século XIX, o acesso à Justiça e o
direito de ação ainda vinha sendo visto como uma liberdade diante do Estado, mas sem
considerar quando o Estado fosse o violador de algum direito e tivesse que se abster de
alguma ação específica. Tal contexto é bem exemplificado por Luiz Guilherme Marinoni:

No final do século XIX, quando foi identificada a autonomia da ação diante do


direito material, aceitou-se a ideia de que o cidadão tinha um direito de ação
contra o Estado, mas nesse momento ainda não se admitia que dos direitos
fundamentais decorressem direitos a prestações. Os direitos fundamentais

8
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit.. p. 74.
9
COSTA, Paulo Joaquim Anacleto. O Acesso à Justiça como direito fundamental de todos os cidadãos.
2013. 47f. Dissertação (Mestrado em Direito, Especialidade em Ciências Juridico-Forenses) – Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal, 2013, p. 19.
10
Ibid.
11
Ibid.
12
Ibid., p. 20.
14

continuavam sendo vistos como direitos de defesa ou de liberdade. Nessa fase,


portanto, o direito de ação, ainda que instrumentalizando um direito privado
qualquer, chegou a ser concebido como a expressão de um direito de liberdade
em face do Estado. Porém, não como um direito de liberdade contra um ato
violador do Estado, mas como um direito de liberdade que expressava o direito
do cidadão se socorrer do Estado diante da proibição da tutela privada. O direito
de defesa tem aí outro sentido, pois não constitui um direito a um não fazer, uma vez
que exige algo do Estado, ainda que seja uma sentença se limita a declarar o direito,
sem interferir, mediante o uso da força estatal, na esfera jurídica do réu. (Grifo
nosso) 13.

Seguindo essa linha histórica, nos Estados Modernos do século XX o conceito de


Acesso à Justiça adotado já trazia o sentido de algo conferido a todos os cidadãos em papel
protagonista, enfatizado também após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de
1948, como salienta Luiz Guilherme Marinoni14; o autor também ilustrou esse cenário de
forma bastante clara ao destacar que as Constituições daquele século integraram as liberdades
com os direitos sociais a fim de se possibilitar a participação do indivíduo da sociedade,
incluindo o direito de ação conferido a ele no sistema judiciário.
Nos Estados Democráticos de Direito já é possível observar o caráter de
essencialidade no direito de acesso à justiça, o qual deve se fazer sempre presente “em
qualquer ordenamento jurídico que se pretenda ou afirme democrático15”. Também nesse
sentido, e no cenário desses Estados Democráticos, Paulo Joaquim Anacleto Costa bem
pontua que se faz necessário lembrar “que o direito de acesso à Justiça só é possível de
concretizar se houver um verdadeiro Estado de Direito Democrático, com instituições dotadas
de independência que apliquem a justiça de forma imparcial16”.
Foi apenas a partir de 1965 que houve maior interesse no efetivo acesso à justiça,
principalmente no mundo ocidental17. Os doutrinadores Mauro Cappelletti e Bryant Garth
estudaram e coordenaram um trabalho denominado “Projeto de Florença” na década de
setenta em conjunto com diversos estudiosos das mais variadas áreas de pesquisa, o qual fora
publicado no Brasil com o título: “Acesso à Justiça” 18.

13
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela de direitos. 4 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013, p. 204-205.
14
MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria geral do processo. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
15
TEIXEIRA, Laís Santana da Rocha Salvetti; COUTO, Mônica Bonetti. O acesso à justiça e seu
enquadramento como direito fundamental: contexto atual e evolução. In: XXII ENCONTRO NACIONAL DO
CONPEDI/UNINOVE, 2013, São Paulo. [Anais...] São Paulo: FUNJAB, 2013, p. 32.
16
COSTA, 2013, op. cit., p. 29.
17
CAPPELLETTI; GARTH, 1988, op. cit., p. 74.
18
PIGNANELI, Guilherme da Costa Ferreira; GONÇALVES, Oksandro. Análise econômica da gratuidade da
Justiça: do amplo acesso à Justiça à crise do Poder Judiciário. Revista Brasileira de Direito Processual, [s.l.],
v.23, n. 103, p. 125-154, jul./set. 2018, p. 128.
15

Cappelletti e Garth dividiram o processo de efetivação do acesso à Justiça em “três


ondas” a serem aplicadas, de certa forma, em ordem cronológica, como explica Simone
Pereira Oliveira:

a) a primeira que objetivava garantir assistência judiciária para os pobres (mero


acesso ao Poder Judiciário); b) a segunda que teve por escopo criar mecanismos de
representação dos interesses difusos e coletivos (“class action” semelhante à nossa
ação civil pública) e acesso ao Poder Judiciário com resposta tempestiva e c) a
terceira onda que reflete o reconhecimento da incapacidade de o Estado resolver
todos os litígios e da necessidade do emprego de meios alternativos de resolução de
disputas – ADRs (acesso a uma solução efetiva para o conflito por meio da
participação adequada do Estado) 19.

Dessa forma já se conferia maior importância e preocupação em significar mais


concretamente o Acesso à Justiça, assim como melhor defini-lo também.
Em Portugal, desde 1976, consta em sua Constituição (considerada como uma das
mais progressistas da Europa20) o direito expresso de acesso à Justiça em seu Art. 20, o qual
após revisão em 1997 alterou a epígrafe para: “Acesso ao Direito e à tutela jurisdicional
efetiva”:

A todos é assegurado o acesso aos tribunais para defesa dos seus direitos, não
podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos,
liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja
possível recorrer à autoridade pública21.

Sobre o referido dispositivo e esse direito consagrado como fundamental no texto


constitucional português, é importante evidenciar que:

O direito de acesso ao direito e à tutela jurisdicional efetiva […] é, ele mesmo, um


direito fundamental constituindo uma garantia imprescindível da proteção de
direitos fundamentais, sendo, por isso inerente à ideia de Estado de Direito; reforça
ainda ninguém pode ser privado de levar a sua causa […] à apreciação de um
tribunal, pelo menos como último recurso. Por isso, o Art.20.º consagra um direito
fundamental independentemente da sua recondução a direito, liberdade e garantia,
ou direito análogo aos direitos, liberdades e garantias22.

Esse direito aqui discutido nas constituições, quanto ao Brasil, cumpre destacar em
breve síntese histórica que, no período, na Constituição de 1824, não continha ainda nenhuma

19
OLIVEIRA, Simone Pereira. Razoável duração do processo e morosidade processual: a jurimetria como
subsídio para o gerenciamento de Processos Judiciais. 2017. 168 f. Dissertação (Mestrado em Direito) –
Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2017, p. 46.
20
COSTA, 2013, op. cit., p. 26.
21
CAPPELLETTI; GARTH. 1988, op. cit., p. 74.
22
COSTA, 2013, op. cit., p. 28.
16

referência ao direito de acesso à Justiça. Porém, durante a vigência da Carta Magna, dois
pontuais e relevantes acontecimentos ocorreram, quais sejam:

O primeiro diz respeito às ratificações nas disposições das Ordenações Filipinas,


estabelecidas em 1603, as quais visavam garantir a assistência jurídica gratuita pelos
necessitados, por patrocínio gratuito de um advogado. O segundo, por sua vez, foi a
aprovação da proposta do então chamado Instituto da Ordem dos Advogados
Brasileiros, o qual possuía como obrigação disponibilizar alguns de seus membros
para atender às pessoas carentes e defendê-las23.

Tais eventos demonstram que o pensamento no Brasil já se dirigia ao caminho que


buscasse analisar instrumentos de acesso a quem precisava recorrer ao Judiciário, podendo ser
considerados os precursores relacionados a essa futura ferramenta de direito. Foi então que,
posteriormente, a Constituição de 1934 trouxe sutilmente a previsão de concorrência na
competência legislativa entre a União e os Estados quanto à “obrigatoriedade da prestação de
assistência jurídica gratuita por parte do Estado24”.
Já na Constituição de 1946, o direito de Acesso à Justiça foi previsto pela primeira vez
como um direito fundamental, em seu Art. 141, §4º, no qual era disposto in verbis:

Art. 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no


País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
§ 4º - A lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de
direito individual25.

Fernando Pagani Mattos comenta que essa Constituição já sofrera influências


“respectivamente pelas Constituições norte-americana, alemã de 1919, e francesa de 184826”.
Posteriormente a ela, o direito ao Acesso à Justiça continuou sendo garantido expressamente
no Art. 150, §4°, da Constituição de 1967, e no texto constitucional de 1969 passou a trazer
um extenso rol de direitos e garantias individuais — todavia, estes não chegaram a ser
efetivados por estar vigente à época o Ato Institucional nº 05, pelo Regime Militar.
O status de direito fundamental ao Acesso à Justiça se consolidou no Brasil na
Constituição de 1988, a qual teve também como uma de suas influências a Constituição
Portuguesa de 197627. Este referido direito vem então previsto no artigo 5º, inciso XXV, da

23
CAPPELLETTI; GARTH, 1988, op. cit., p. 77.
24
MARINONI, 2013, op. cit., p. 204-205.
25
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 77.
26
MATTOS, Fernando Pagani. Acesso à justiça: um princípio em busca de efetivação. Curitiba: Juruá, 2011, p.
53.
27
COSTA, 2013, op. cit., p. 20.
17

atual Constituição Brasileira trazendo em seu texto que “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito28”.
Ocorre que, quando se fala atualmente de Acesso à Justiça, não basta só ser apontada a
sua previsão como um direito fundamental, também não basta ter ciência disso, mas sim de se
obter a efetivação desse direito na prática. Esse pensamento sempre fora evidenciado por
Norberto Bobbio que adverte que o “problema grave de nosso tempo, em relação aos direitos
do homem, não era mais o de fundamentá-los, e sim o de protegê-los”, diz ainda que:

Proclamar o direito dos indivíduos, não importa em que parte do mundo se encontre
(os direitos do homem são por si mesmos universais), de viver num mundo não
poluído não significa mais do que expressar a aspiração a obter uma futura
legislação que imponha limites ao uso de substâncias poluentes. Mas uma coisa é
proclamar esse direito, outra é desfrutá-lo efetivamente29.

O Brasil, por ser um país de proporção continental, presencia o fato de não se


vislumbrar a efetivação do direito de acesso à Justiça, sendo de grande importância superar o
que a impede. Estes fatores que se apresentam como obstáculos podem ser exemplificados
citando: a morosidade na duração do processo, a grande quantidade de demandas, os custos
processuais, os atos protelatórios, etc.30.
E, ainda nesse âmbito da efetividade ao direito do acesso à Justiça, não se deve
considerar tal direito como aquele de se ingressar com um pleito perante o Judiciário, mas sim
de se obter também a garantia de um devido processo legal até o seu fim, com a resposta
eficaz daquele poder:

O acesso à Justiça tanto pode ser formal como material ou efetivo. É meramente
formal aquele que simplesmente possibilita a entrada em juízo do pedido formulado
pela parte. Isto não basta. É importante garantir o início e o fim do processo, em
tempo satisfatório, razoável, de tal maneira que a demora não sufoque o direito ou a
expectativa do direito. O acesso à justiça tem que ser efetivo. Por efetivo entenda-se
aquele que é eficaz31.

A partir desta compreensão e de afirmativas como a de Cássio Scarpinella Bueno, de


que “a atividade jurisdicional deve ser prestada sempre com vistas a produzir o máximo de
resultados com o mínimo de esforços32”, é importante se atentar que esse direito do acesso à

28
BRASIL. Constituição (1988), op. cit., online.
29
BOBBIO, Norberto. Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 25.
30
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 71.
31
VARGAS, Jorge de Oliveira. Responsabilidade Civil do Estado pela demora na prestação da tutela
jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2009, p. 12.
32
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do processo civil.
7. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 156.
18

Justiça engloba toda a atuação e resposta do Poder Judiciário às partes e de que forma, além
de sua duração conforme a complexidade de cada caso. Nesse sentido, Mattos claramente
elucida que:

A expressão “Acesso à Justiça” é objeto de várias conceituações, podendo significar


desde acesso aos aparelhos do poder judiciário, simplesmente, até o acesso aos
valores e direitos fundamentais do ser humano. A segunda, por ser mais completa e
abranger a primeira, sugere ser a mais adequada. Trata-se não obstante a importância
dos aspectos formais do processo, de um acesso à justiça que não se esgota no
judiciário, mas representa também e primordialmente, o acesso a uma ordem
jurídica justa33.

Sob esse ângulo, é forçoso reconhecer que deve ser adotada a segunda conceituação,
visto que essa ordem jurídica justa citada é o próprio fim a ser alcançado ao se consagrarem o
acesso à justiça e à razoável duração do processo como direitos fundamentais constitucionais
que possibilitam a efetividade de outros direitos pleiteados, e que devem ser declarados.
Portanto, atualmente é possível reconhecer o acesso à Justiça como “condição fundamental de
eficiência e validade de um sistema jurídico que vise a garantir direitos, uma vez que é
considerado o mais básico dos direitos fundamentais do ser humano34”.
O acesso à Justiça traduz o cenário do próprio acesso ao Poder Judiciário na busca da
solução de um conflito, e, por conseguinte, traz também em sua essência a ideia de que deve
ser facilitado ao cidadão que busca um direito individual ou coletivo a fim de que se atinja a
pacificação social. E esse “facilitar” não se restringe ao campo do acionamento do Judiciário,
mas sim no que diz respeito à atuação do mesmo e a forma que se dará, até a decisão final
sobre o direito pleiteado, incluindo todo o seu conteúdo.
Quanto ao acesso à Justiça pela população de baixa renda no mundo moderno, já
apontado na primeira onda por Cappelletti e Garth (1988), Magdalena Sepúlveda, quando
Relatora Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Pobreza Extrema e
Direitos Humanos em 2012, destacou e exigiu atenção especial por parte dos países e suas
responsabilidades quanto ao tema em questão:

O acesso à Justiça é um direito humano em si mesmo, e essencial para resolver as


causas profundas da pobreza; sem acesso à Justiça, as pessoas que vivem na pobreza
são incapazes de reivindicar e perceber toda uma gama de direitos humanos, ou
contestar crimes, abusos ou violações cometidas contra eles. [...] As pessoas que
vivem na pobreza enfrentam sérios obstáculos para acessar os sistemas de Justiça
[...] A falta de informação sobre os seus direitos, o analfabetismo ou as barreiras
linguísticas, juntamente com o estigma enraizado ligado à pobreza, também tornam

33
MATTOS, 2011, op. cit., p. 60.
34
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 70.
19

mais difícil para os pobres se envolverem com o sistema de justiça. [...] É


fundamental construir um sistema de justiça inclusivo que esteja próximo das
pessoas, tanto socialmente quanto geograficamente. [...] Garantir o acesso à Justiça
para os pobres exige sistemas judiciais funcionais e leis que não apenas refletem os
interesses dos grupos mais ricos e mais poderosos, mas também levem em conta a
renda e os desequilíbrios de poder35.

Ainda sobre o tema, cabe citar outra relevante análise de Boaventura de Sousa Santos
quanto à importância desse direito à sociedade contemporânea e à democracia:

O acesso ao direito e à justiça é a pedra de toque do regime democrático. Não há


democracia sem o respeito pela garantia dos direitos dos cidadãos. Estes, por sua
vez, não existem se o sistema jurídico e o sistema judicial não forem de livre e igual
acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua classe social, sexo, raça, etnia
e religião36.

Desse modo, o acesso aos direitos por meio da Justiça, evidentemente, se constituiu
em um “direito natural da pessoa humana e um direito fundamental de todas as pessoas
(físicas ou jurídicas) 37
”, mas o qual, ainda se depara com alguns obstáculos, como citado,
para encontrar sua efetividade ao coletivo. Ademais, se faz importante destacar que não deve
ser comum se confundir o acesso à justiça com acesso ao Judiciário como se significassem a
mesma coisa. E acerca do tema, evidencia-se a explicação de Gelson Amaro de Souza e
Gelson Amaro de Souza Filho:

Sem a efetiva entrega do direito à parte que o merece, não se pode dizer que o
direito de ação, puro e simples já representa o acesso à justiça. Estas expressões não
devem ser confundidas, como não se devem confundir a tutela jurídica com a
jurisdicional e nem esta com a tutela do direito. São modalidades tutelares
diferentes, sendo que somente a última é que interessa ao jurisdicionado, porque é
esta que representa a concretização do direito. O acesso à justiça e a efetivação do
direito somente acontecem quando for concretamente empreendida a tutela do
direito, isto é, a proteção ou a efetivação do direito material. Com julgamento de
mérito e satisfação do direito reconhecido38.

Diante disso, resta clara a relevância em se analisar que o Acesso à Justiça é muito
mais abrangente do que só o fato de poder provocar o Judiciário em busca de reaver algum

35
ONU (Organização das Nações Unidas). Combater pobreza requer melhoria do acesso à Justiça para pobres,
afirma especialista da ONU. Portal ONU, 17 out. 2012, online.
36
SANTOS, Boaventura de Sousa. Acesso à Justiça. In: MARQUES, Maria Manuel Leitão; PEDROSO, João;
FERREIRA, Pedro Lopes. Os tribunais nas sociedades contemporâneas: o caso português. Porto: Edições
Afrontamento, 1996, p. 483.
37
BEZERRA, Paulo. O acesso aos direitos e à justiça: um direito fundamental. Separata de: Boletim da
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra, n. 81, 2005, p. 788.
38
SOUZA, Gelson Amaro de; SOUZA FILHO, Gelson Amaro de. Processo e acesso à justiça. In: SIQUEIRA,
Dirceu Pereira; OLIVEIRA, Flávio Luiz (Coord.). Acesso à justiça: uma perspectiva da democratização da
administração da justiça nas dimensões social, política e econômica. Birigui: Boreal, 2012, p. 233.
20

direito violado. Vale destacar que “[...] o direito de ação ou direito fundamental à tutela
jurisdicional efetiva, pode ser decomposto em três aspectos básicos: direito de acesso à
jurisdição, direito ao processo justo e direito à técnica processual adequada39”. A partir desses
três embasamentos se constata que sempre serão necessárias melhorias práticas para
possibilitar que o Direito continue acompanhando as transformações sofridas pela sociedade,
bem como o fenômeno da virtualização dos processos judiciais, que será comentado mais
adiante.
A partir desse pressuposto, é possível concluir que quando existe um panorama de
inadequada estrutura do Estado, se tem como consequência a sensação de insegurança jurídica
com consequente morosidade do Judiciário brasileiro, a qual resulta do acúmulo de processos
nos fóruns do país — “o Poder Judiciário, atualmente, está em crise em virtude da excessiva
quantidade de processos que é submetida a sua apreciação diariamente. Em decorrência disso,
há um abismo cada vez maior entre o Judiciário e a população40”. Isso porque se o Estado
trouxe para si a responsabilidade e o dever de atuar como solucionador de litígios, “em
contrapartida, deve fornecer um aparato adequado para o tratamento dos conflitos de
interesses41”.
Como salienta Kazuo Watanabe sobre essa problemática, a mesma “não pode ser
estudada nos acanhados limites do acesso aos órgãos judiciais já existentes. Não se trata de
apenas possibilitar o acesso à Justiça enquanto instituição estatal, e sim de viabilizar o acesso
à ordem jurídica justa42”. Assim, o significado de acesso à Justiça vai muito além do ingresso
no Judiciário, como por exemplo, aquele pelo qual se possibilita “a saída do jurisdicionado,
com a tutela jurisdicional adequadamente prestada, em tempo razoável43”.
Nesse cenário, com a abrangência do conceito do Acesso à Justiça na prática e quanto
ao combate à morosidade no Judiciário que se acessa, é imprescindível citar a Emenda
Constitucional 45/2004, pela qual foi inserido o inciso LXXVIII, ao artigo 5º, da Constituição
Federal de 198844, tornando o princípio da razoável duração do processo como direito
fundamental. O dispositivo demonstra o crescimento da preocupação e discussão quanto ao
tempo da entrega do direito justo através da Justiça, pela qual se teve acesso por ingresso de

39
MARINONI, 2008, op. cit., p. 211.
40
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 82.
41
TEIXEIRA; COUTO, 2013, op. cit., p. 32.
42
WATANABE, Kazuo. Acesso à Justiça e sociedade moderna. In: GRINOVER, Ada Pellegrini et al. (Coord.).
Participação e processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, p. 128.
43
TEIXEIRA; COUTO, 2013, op. cit., p. 39.
44
BRASIL. Constituição (1988), op. cit.
21

ação, sob a égide da eficiência do Poder Judiciário ao responder os anseios sociais e coletivos
em litígio.
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)
que fora incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro através do Decreto Federal n° 672, de
06 de novembro de 1992, também dispõe quanto a esse tema da duração de processos em seu
artigo 8º:

Artigo 8º - Garantias judiciais


Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal
formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter
civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza45.

E além desse documento internacional citado e da Constituição Federal de 1988, o


Código de Processo Civil atual no ordenamento brasileiro, em relação ao tempo dos processos
judiciais, assegura em seu artigo 4º que “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a
solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa46”. A esse respeito, a jurisprudência
recente do Superior Tribunal de Justiça demonstra que o órgão tem fundamentado
consideráveis decisões pelo artigo citado, como se vê no exemplo:

REsp 1736217 – 01/03/2019


RECURSO ESPECIAL Nº 1.736.217 - SC (2018/0089058-0) RELATOR:
MINISTRO FRANCISCO FALCÃO RECORRENTE: INSTITUTO BRASILEIRO
DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS -
IBAMA RECORRIDO: ANDERSON PAULINO BORGES ADVOGADO: SEM
REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M EMENTA PROCESSUAL
CIVIL. INCLUSÃO DO NOME DO DEVEDOR EM CADASTRO RESTRITIVO
DE CRÉDITO. PLEITO JUDICIAL. POSSIBILIDADE.
I - O pedido de inclusão do nome do devedor em cadastros de inadimplentes, tais
como SERASAJUD ou SERASA, nos termos do artigo 782, § 3º, do CPC/2015, não
pode ser recusado pelo Poder Judiciário a pretexto de inexistência de convênio para
negativação pela via eletrônica, tendo em vista a possibilidade de expedição de
ofício para atendimento do pleito.
II - Tal entendimento vai de encontro com o objetivo de promover a razoável
duração do processo e a cooperação processual, além de impor medidas
necessárias para a solução satisfativa do feito, conforme interpretação dos artigos
4º, 6º e 139, IV, todos do CPC/2015.
III - Recurso especial provido. (Grifo nosso) 47.

45
BRASIL. Decreto nº 678 de 06 de Novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Brasília, DF, 1992, online.
46
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF, 2015, online.
47
BRASIL. (Superior Tribunal de Justiça). Ementa no REsp 1736217. Relator: Min. Francisco Falcão. Brasília,
DF: STJ, online.
22

Conforme o trecho do acórdão na decisão citada, aquela “medida concretiza o


princípio da efetividade do processo, possuindo respaldo basilar nas Normas Fundamentais
do Processo Civil48”, sendo uma delas, a do artigo 4º do Código de Processo Civil. Mas ainda
se faz importante uma atenta análise quanto à expressão “razoável duração do processo49”,
para não se confundir unicamente com a celeridade no andamento dos processos judiciais. E
corroborando com a importância de se atentar para essa diferenciação, Marinoni (2009, p. 91)
ressalta que “não há como confundir direito à duração razoável com direito à celeridade do
processo50”. Há que se observar que assim como excessiva demora na movimentação de um
processo, findá-lo de forma rápida sem a observância das devidas formalidades também não
resulta num efetivo acesso à Justiça.
As autoras Mônica Bonetti Couto e Samantha Ribeiro Meyer-Pelug (2014) apontaram
assertivamente, e em consonância com o pensamento anterior e ainda atual de Bobbio (1992),
que essa inclusão do prazo razoável para solução dos processos no rol de garantias
fundamentais “teve muito mais um efeito didático do que qualquer outro significado51”, ou
seja, efetivá-lo na prática ainda é um desafio. Nesse contexto, seguiremos pela linha de
raciocínio de Cappelletti e Garth (1988), na qual primeiro o sistema do Poder Judiciário deve
ser acessível de forma igualitária para todos e em segundo, “ele deve produzir resultados que
sejam individual e socialmente justos52”, ou seja, se mostrando enfim, eficiente e efetivo
perante a sociedade a que atende.
Com isso e após esse apanhado geral do conceito do Acesso à Justiça como direito
fundamental bem como a sua abrangência além do direito de ação perante o Poder Judiciário,
da sua relação com a duração dos processos e como se chega ao final deles, se faz oportuno
partir para uma análise da sua relação prática com o princípio da Eficiência nos processos
judiciais, afinal “uma atividade jurisdicional morosa e/ou ineficiente acaba, no mais das
vezes, por esvaziar o próprio significado e conteúdo do direito ao acesso à justiça53”.

48
BRASIL. (Superior Tribunal de Justiça), 2018, op. cit., online. (Grifo nosso).
49
Ibid.
50
MARINONI, Luiz Guilherme. Direito Fundamental à razoável duração do processo. Estação Científica, Juiz
de Fora, v. 01, n. 04, p. 82-97, out./nov. 2009, p. 91.
51
COUTO, Mônica Bonetti; MEYER-PFLUG, Samantha Ribeiro. Poder Judiciário, justiça e eficiência:
caminhos e descaminhos rumo à justiça efetiva. Revista de Doutrina – TRF 4ª Região, Porto Alegre, n. 63,
dez. 2014, p. 03. (Grifo nosso).
52
CAPPELLETTI; GARTH, 1988, op. cit., p. 08.
53
TEIXEIRA; COUTO, 2013, op. cit., p. 39.
23

1.1 EFICIÊNCIA E PROCESSO JUDICIAL

Segundo o dicionário de língua portuguesa, a palavra “eficiência” é definida como:

E.fi.ci.ên.ci.a
1. Qualidade do que é eficiente.
2. Capacidade para produzir realmente um efeito.
3. Qualidade de algo ou alguém que produz com o mínimo de erros ou de meios. =
COMPETÊNCIA ≠ INCOMPETÊNCIA54

Utilizando-se da definição bastante ampla acima, no que concerne ao Poder Judiciário,


essa “capacidade de produzir realmente um efeito55” pode ser entendida no universo dos
processos judiciais e para a sua efetividade, diante do que as partes esperam com o tramitar
daqueles até a sua conclusão.
Sendo assim, no âmbito jurídico é possível conceituar a “eficiência” através da breve
afirmação de Marcia Cristina de Souza Alvim, a qual ressalta que:

[...] As normas jurídicas devem ser eficazes, quando de sua aplicação aos casos
concretos, devem solucionar os conflitos de forma a produzir um resultado
satisfatório, eficiente.
Eficiência é o que se busca em toda espécie de administração, seja ela privada ou
pública. O nosso sistema jurídico deve ser eficiente na aplicabilidade das
normas jurídicas aos casos fáticos, produzindo a verdadeira efetividade que
idealizamos no mundo das normas jurídicas, no mundo do “dever-ser”.
A eficiência é uma virtude, pois as ações humanas devem produzir um resultado
eficiente, eficaz e no meio social, político a eficiência é o bem, o interesse da
coletividade56.

Já o Princípio da Eficiência na Administração Pública consagrou-se como direito


fundamental no texto constitucional brasileiro no ano de 1998, através da Emenda
Constitucional nº 19, conforme a sua previsão no Art. 37 da Carta Magna, in verbis: “A
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência [...]57”.

54
EFICIÊNCIA. In: DPLP – Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Lisboa: Priberam Informática,
1998, online.
55
Ibid.
56
ALVIM, Marcia Cristina de Souza. Eficiência e direito. In: CAMPILONGO, Celso Fernandes; GONZAGA,
Alvaro de Azevedo; FREIRE, André Luiz. (Coords.). Enciclopédia jurídica da PUC-SP. [Tomo: Teoria Geral
e Filosofia do Direito]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017, online.
57
BRASIL. Constituição (1988), op. cit., online.
24

Diante disso, tem-se que os órgãos e os componentes do Poder Judiciário também


devem atender a esse princípio. Mas, em primeiro lugar, faz-se necessário conceituar de
forma mais clara, o que seria essa eficiência voltada para o Judiciário.
Ressalte-se ainda que o acesso à justiça e a um processo justo são direitos
constitucionais elencados na Carta Magna, os quais levam a entender que um processo
judicial não se traduz apenas através de técnica processual legal e procedimental, mas ao
constante atendimento aos princípios e valores contidos na Constituição:

[...] o processo, na sua condição de autêntica ferramenta de natureza pública


indispensável para a realização da justiça e da pacificação social, não pode ser
compreendido como mera técnica, mas, sim, como instrumento de valores e
especialmente de valores constitucionais, impõe-se considerá-lo como direito
constitucional aplicado58.

Para se conceituar o termo “eficiência” no âmbito judicial e “partindo-se do


pressuposto que o principal objetivo deste Poder é julgar os processos recebidos59”, deve o
Poder Judiciário ser visto e considerado como um bom prestador de serviços jurisdicionais.
Além disso, outros aspectos envolvem essa questão: “[...] de um lado, os cidadãos têm o
direito de terem seus conflitos resolvidos com celeridade; de outro, as partes sempre esperam
um julgamento justo, o qual depende da avaliação em relação à qualidade dos julgamentos e,
portanto, dos serviços prestados60”.
Assim, pode se observar que o sistema Judiciário deve buscar agir com eficiência, ou
seja, na aplicabilidade de normas e na sua atuação pacificadora quanto aos litígios versados
nos processos judiciais pelos quais pessoas físicas ou jurídicas acionam esse sistema. Quando
isso se concretiza, além de se ter assegurado o acesso ao Poder Judiciário, pode-se dizer que a
forma como ele se deu foi efetiva, cumprindo assim, o Poder Judiciário, o seu dever. Por isso
que “O acesso à justiça e a efetividade do processo podem até se confundir, uma vez que o
Poder Judiciário não possui apenas o poder de pacificar os conflitos sociais, mas também o
poder de assegurar e tornar possível o acesso à justiça de forma breve e efetiva61”.
Vera Lúcia Ponciano, elucida o conceito de efetividade para além dos de eficiência e
eficácia aqui discutidos:

58
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. O Processo Civil na Perspectiva dos Direitos Fundamentais. Revista
da Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre, n. 22, p. 31-42, 2002, p. 32.
59
SCHWENGBER, Silvane Battaglin. Mensurando a eficiência no sistema judiciário: métodos paramétricos e
não-paramétricos. 2006. 165 f. Tese (Doutorado em Economia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2006, p. 24.
60
Ibid.
61
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 77.
25

[...] quando o Judiciário for eficiente e eficaz será alcançada a “efetividade”, que é
um conceito complexo e se relaciona, principalmente, com a avaliação acerca de
como, de maneira adequada, uma organização cumpre sua missão, alcança seus
objetivos previamente estabelecidos e se adapta a novas e constantes mudanças no
ambiente62.

Diante do que fora citado, pode-se dizer que a eficiência aplicada à atuação do
Judiciário no sentido de decidir em tempo razoável deve ser somada a sua forma eficaz, ou
seja, fundamentada e justa, para daí se obter a sua qualidade de efetividade. Isto porque, de
fato, “uma justiça célere não é necessariamente uma justiça melhor63”.
Vale destacar brevemente que a necessidade de uma devida fundamentação das
decisões judiciais ganhara especial relevância, principalmente após ser reiterada nos diversos
artigos do atual Código de Processo Civil Brasileiro, e bem delineada nos seu Art. 11 e Art.
489, parágrafo 1º e seus incisos.
Esse panorama reflete a preocupação para que o sistema, ainda devendo atender com
celeridade para ser eficiente, não deixe de equilibrar sua atuação nos procedimentos judiciais,
com a devida análise e instrumentalidade em seu processo decisório. Certo é que, atualmente,
a busca no cenário processual é por bons resultados tanto a partir dessas decisões solidamente
fundamentadas quanto na duração do processo até se chegar nelas.
Corroborando a esse pensamento de equilíbrio na prática, Marcelo José Magalhães
Bonício traduz que essa busca por resultados diz respeito:

[...] tanto no que diz respeito ao aprimoramento do conteúdo das decisões judiciais,
quanto no que diz respeito à necessidade de abreviar o tempo que os processos
levam para produzir resultados. [Esta fase] chamada de “instrumentalista”, está na
importância dada aos resultados que o processo produz na vida das pessoas e na
sociedade em geral, a partir de uma visão crítica de todo o sistema 64.

Ponciano também elucida que o “princípio da eficiência tem mais pertinência com a
junção dos termos ‘eficiência’ e ‘eficácia’, que resulta em ‘efetividade’, considerando as
noções trazidas da ciência da Administração65”. Para maior compreensão dessa afirmação,
deve-se partir do fato de que existem atualmente diversos entraves que o Judiciário se depara
e dentre eles então a morosidade, burocracia, estrutura ainda inadequada etc.
As questões referentes à morosidade, bastante evidenciadas nas discussões mais atuais
no tema, estão diretamente ligadas à ineficácia da Justiça, visto que gera obstáculo no acesso

62
PONCIANO, Vera Lúcia Feil. Eficiência, por si só, não basta para combater morosidade do Judiciário.
Revista Consultor Jurídico, 05 ago. 2015, online.
63
Ibid.
64
BONÍCIO, Marcelo José Magalhães. Introdução ao processo civil moderno. São Paulo: Lex, 2009, p. 22.
65
PONCIANO, 2015, op. cit., online. (Grifo nosso).
26

do indivíduo ao seu direito não só no momento de acionar um Tribunal, mas também de ter
seu direito analisado enquanto ainda se pode fazê-lo valer ou não. A justificativa bastante
comum de acúmulo de processos e ações por parte do Judiciário, “constitui verdadeira
confissão de que o Estado não está respondendo ao seu dever de prestar a tutela jurisdicional
de modo tempestivo66”.
Uma sequência de substituições de magistrados sem se atentar à demora causada por
isso nas lides sob a responsabilidade daquele setor, por exemplo, também são rotineiras em
diversas varas e Tribunais e deveriam ser rechaçadas, pois não se atentam ao atendimento do
“critério racional voltado à efetividade da distribuição da justiça67”.
Já sobre a definição da eficácia, Idalberto Chiavenato ilustra que a mesma:

[...] é uma medida normativa do alcance dos resultados, enquanto eficiência é uma
medida normativa da utilização dos recursos nesse processo. [...] A eficiência é uma
relação entre custos e benefícios. Assim, a eficiência está voltada para a melhor
maneira pela qual as coisas devem ser feitas ou executadas (métodos), a fim de que
os recursos sejam aplicados da forma mais racional possível [...]. À medida que o
administrador se preocupa em fazer corretamente as coisas, ele está se voltando para
a eficiência (melhor utilização dos recursos disponíveis). Porém, quando ele utiliza
estes instrumentos fornecidos por aqueles que executam para avaliar o alcance dos
resultados, isto é, para verificar se as coisas bem feitas são as que realmente
deveriam ser feitas, então ele está se voltando para a eficácia (alcance dos objetivos
através dos recursos disponíveis)68.

Por isso, preocupar-se em se utilizar dos melhores recursos disponíveis e acessíveis


para atender os processos judicializados é agir com eficiência e, se assim o Judiciário fizer,
atingirá o resultado esperado como um bom prestador jurisdicional, sendo, portanto, eficaz.
É possível interligar também os termos “eficiência”, “celeridade” e “razoável duração”
nos processos judiciais, sendo o fator “tempo”, crucial nesse cenário. O transcorrer
prolongado no tempo para a análise dos procedimentos judiciais e na sua duração afetam a
confiança no Poder Judiciário, além de evidenciar um descrédito em relação ao mesmo,
gerando o sentimento de completa insegurança jurídica na sociedade.
Quando se fala de tempo razoável de duração de um processo, “não é necessariamente
o tempo mais curto, mas justamente o mais adequado para que cumpra suas funções 69”
conforme os fatos e complexidade de cada lide. Isso porque, acelerar um processo dotado de

66
MARINONI, 2009, op. cit., p. 89.
67
MARINONI, 2009, op. cit., p. 89.
68
CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos na empresa: pessoas, organizações e sistemas. 3 ed. São
Paulo: Atlas, 1994, p. 70.
69
COUTO; MEYER-PFLUG, 2014, op. cit., p. 03.
27

complexidade com especificidades para aprovação dos fatos e provas, pode algumas vezes
desqualificar esse ponto da “razoabilidade” de sua duração e consequentemente, será ineficaz.
Nesse sentido também se faz importante ressaltar a importância da qualidade de
participação dos atores processuais durante todo o procedimento, além das ferramentas que
acelerem o mesmo, visto que “não há apenas direito aos meios que garantam a celeridade da
tramitação do processo, mas também direito aos meios que garantam a adequada participação
no processo70”.
Igualmente, ao legislador cabe como dever a publicação de normas objetivando a
regulação dos atos processuais na prática em um tempo razoável, e ainda, “deve estabelecer
prazos que realmente permitam a prática dos atos processuais71”, ou seja, o legislador “tem o
dever de dar ao juiz o poder de distribuir o ônus do tempo do processo 72”. Consiste em um
direito a uma decisão em tempo razoável: cada indivíduo da sociedade tem que presenciar o
Tribunal interno solucionar seu movimento processual de forma negativa ou positiva num
tempo razoável73.
Em verdade, um processo judicial deve priorizar a qualidade das manifestações das
partes na medida em que deve ser atento à duração daquela demanda até decisão final, e isso
se vislumbra a partir do princípio de que “a resolução de litígios com segurança e qualidade
não pode ser incompatível com a rapidez o tempo de entrega da prestação jurisdicional74”.
Nesse sentido e estabelecendo a proposta de um equilíbrio nessas prioridades, Monica
Couto e Samantha Meyer (2014) bem asseveram que “com a ponderação entre esses dois
valores (celeridade x segurança), encontre-se uma ‘fórmula’ intermediária, [...] e com isso se
alcance um novo e particular (porque atento às peculiaridades da Justiça) conceito de
eficiência75”.
O desafio do Poder Judiciário para agir de forma eficiente e eficaz se assemelha às
ponderações necessárias quando há um conflito entre direitos fundamentais em algum caso,
qual seja o de ponderar também os valores da celeridade e segurança (de conceder decisão
devidamente fundamentada e justa) para uma entrega efetiva da tutela jurisdicional às partes e
consequentemente, à sociedade.

70
MARINONI, 2009, op. cit., p. 86-87.
71
MARINONI, 2009, op. cit., p. 84-85.
72
Ibid.
73
COSTA, 2013, op. cit., p. 38.
74
TEIXEIRA, Laís Santana da Rocha Salvetti. A duração razoável do processo na perspectiva inovadora dos
direitos humanos. In: II SIMPÓSIO DE DIREITO E INOVAÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO DA UFJF,
jan. 2013, Juiz de Fora. [Anais...] Juiz de Fora: UFJF, p. 36-38, 2013, p. 37.
75
COUTO; MEYER-PFLUG, 2014, op. cit., p. 03.
28

Conforme já mencionado, o processo judicial tem a sua função social a partir de


diversas óticas, sendo uma delas a pacificadora. E para que possa cumprir essa tarefa, a
realidade precisa ser novamente observada para o processo se adaptar à sociedade a que
serve76.
Pode se compreender que para se definir um processo justo não seria apenas perquirir
qual fora aquele que, após sua conclusão, atendeu ao pedido da parte que a ele recorreu, mas
também a eficiência em seu trâmite desde seu início até a o final da lide, verificando, por
exemplo, os instrumentos jurisdicionais utilizados e acessados bem como a sua duração.
Importante ainda ressaltar que é através do processo judicial que o Estado se
desincumbe do seu débito com aquele cidadão de prestar a justiça, ou seja, “[...] a finalidade
do processo civil está, não só na vontade das partes em resolverem conflitos, mas, também, no
interesse do próprio Estado que tem como visto, o dever de prestar a jurisdição77”.
Além disso, quando também somado a esse estudo o princípio da economia processual
traz consigo a previsão de que “a função jurisdicional deve ser orientada pela eficiência do
sistema oficial de justiça e pela efetividade prática de seus provimentos78”. Sendo assim,
pode se concluir que um sistema que busque agir de forma cada vez mais eficiente e eficaz,
garantirá no mundo fático a efetividade quanto à resolução de cada demanda.
Portanto, ainda se deve evidenciar que o acesso à Justiça e a um processo justo são
direitos constitucionais elencados na Carta Magna, os quais levam ao entendimento de que
um processo judicial não se traduz apenas através de técnica processual legal e procedimental,
mas sim que deve sempre atender aos princípios e valores contidos na Constituição:

[...] o processo, na sua condição de autêntica ferramenta de natureza pública


indispensável para a realização da justiça e da pacificação social, não pode ser
compreendido como mera técnica, mas, sim, como instrumento de valores e
especialmente de valores constitucionais, impõe-se considerá-lo como direito
constitucional aplicado79.

Com isso e diante da crescente ênfase que a celeridade tem ganhado atualmente nas
discussões acerca da eficiência do Poder Judiciário, é necessária uma atenção mais ampla
sobre tudo que envolve um processo judicial, visto que o mesmo envolve não só o direito
pleiteado pelas partes, como também a observância de questões de ordem constitucional. E

76
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit.
77
CANSI, Francine. Direito ao processo justo e à tutela jurisdicional adequada e efetiva. Revista Jus
Navigandi, Teresina, ano 21, n. 4633, 08 mar. 2016, n.p.
78
TEIXEIRA; COUTO, 2013, op. cit., p. 13. (Grifo nosso).
79
OLIVEIRA, 2002, op. cit., p. 32.
29

para que se vislumbre um Judiciário não só eficiente como também eficaz para os envolvidos
e à sociedade:

[...] quando se fala em processo civil, na contraposição entre o direito ao devido


processo legal do qual o Estado é imbuído de garantir e o direito a uma justiça
célere, eficaz, garantida por um processo justo, alguns preceitos incluídos na
Constituição Federal ganham especiais contornos. A par dessa intimidade que o
processo civil tem com a matéria constitucional, diretrizes como a humanidade, a
legalidade, a igualdade, o juiz natural, o devido processo legal, a publicidade, o
contraditório e a ampla defesa, a proporcionalidade, a razoabilidade e a celeridade,
emanam da Constituição e sobrepõem-se nos procedimentos de ordem civil80.

Diante do que fora delimitado até aqui, é possível se afirmar que o Estado para se
desincumbir do seu dever de prestar um bom serviço jurisdicional, a partir da utilização de
métodos eficientes e de forma justa (eficaz), necessita de uma adequada estrutura
administrativa, a qual inclui, além dos profissionais qualificados, “tecnologia e material de
expediente idôneos81”.
Sabendo, então, que o processo é como um elo que liga o Judiciário à sociedade82 e
requer essa efetividade reconhecida em sua atuação, quando o procedimento dele se torna
digital, todo o sistema jurisdicional deve garantir que esses processos se mantenham em
consonância com os valores constitucionais previstos, garantindo a todos os atores
processuais, um processo justo e acessível.

1.2 OS REFLEXOS DA VIRTUALIZAÇÃO NOS PROCESSOS JUDICIAIS

Segundo a gestora do projeto de internacionalização da Unidade de Justiça na Softplan


(emprese de software), Débora Anselmo, o processo de transformação digital na Justiça
consiste em quatro fases:

1. Mudança de mídia zero papel, trocar o papel por bits;


2. Automatização de procedimentos eliminar tarefas burocráticas e investir em
automatização de rotinas e operações em bloco;
3. Integração entre instituições visa facilitar a comunicação para garantir agilidade a
tramitação de processos;
4. Apoio à tomada de decisão, por meio da aplicação da ciência de dados83.

80
MARINONI, 2009, op. cit., p. 91. (Grifo nosso).
81
Ibid., p. 89.
82
RODRIGUES, Mateus de Moura; FLORES, Daniel. Processo Judicial Eletrônico: Análise da Lei nº
11.419/2006 sob a Ótica Arquivística. Revista Sociais e Humanas, Santa Maria, v. 27, n. 02, p. 58-71, mai./ago.
2014, p. 66.
83
ANSELMO, Debora. Transformação digital da Justiça brasileira é inspiração para países íbero-americanos.
Portal SAJ Digital, 24 abr. 2018, online.
30

Devido à rápida amplificação da internet e seu uso no Brasil, os Poderes Executivo,


Legislativo e Judiciário puderam instaurar diversas ferramentas novas, bem como serviços no
sentido de desburocratizar várias de suas ações para o cidadão, com o fim de aperfeiçoar seu
atendimento como administração pública — e esse cenário é o que ilustra o denominado
“Governo Eletrônico84”.
Erickson Brener de Carvalho Cintra cita e traduz o pensamento de Benucci (2007, p.
90-110), sobre a virtualização dos processos judiciais, apontando que a mesma “teve seu
início não com o advento da Lei n° 11.419/2006, mas sim com a popularização e difusão dos
computadores e programas no mundo e especificamente no Poder Judiciário85”.
Em 2001 surgiu pela primeira vez uma legislação que previa a prática dos atos
processuais totalmente eletrônicos, sem exigência de apresentação de documento físico
original, tal previsão veio na Lei n° 10.259/01, dos Juizados Especiais Federais86. Assim,
diante da instituição dessa nova lei, a Justiça Federal desenvolveu um sistema eletrônico, o e-
Proc, o qual “eliminou completamente o uso do papel e dispensou o deslocamento dos
advogados à sede da unidade judiciária. Todos os atos processuais passaram a ser realizados
em meio digital, desde a petição inicial até o arquivamento87”.
Faz-se relevante ressaltar que, também no ano de 2001, foi a Medida Provisória n°
2.200-2 que legalizou a assinatura digital no Brasil ao dispor sobre a infraestrutura de Chaves
Públicas Brasileiras (ICP-Brasil). O objetivo da medida foi de garantir a autenticidade e a
validade jurídica de documentos em forma eletrônica por meio do uso de certificados digitais
por parte de servidores e de advogados representando as partes. Assim:

[...] desenvolveram-se três formas de proteção com um grau de complexidade


elevado: a criptografia, que consiste em um modo de escrever mensagens que
possam ser compreendidas apenas por quem o autor autoriza por meio de chaves
públicas ou privadas; a assinatura digital, que é um conjunto de procedimentos
matemáticos que permite a comprovação da autoria de um conjunto de dados; e o
certificado digital, obtido por meio de uma Autoridade Certificadora (AC) mediante
verificação da identidade de um usuário e associação de uma chave a este88.

84
CINTRA, Erickson Brener de Carvalho. A Informatização do Processo Judicial e seus reflexos no Superior
Tribunal de Justiça. 2009. 118f. Monografia (Especialização em Gestão Judiciária) – Universidade de Brasília,
Brasília, 2009, p. 29.
85
Ibid., p. 41.
86
SOARES, Tainy de Araújo. Processo judicial eletrônico e sua implantação no Poder Judiciário brasileiro.
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3307, 21 jul. 2012.
87
Ibid., n.p.
88
RODRIGUES; FLORES, 2014, op. cit., p. 62.
31

Vale ressaltar, em âmbito internacional, que apenas um ano antes, em 2000 na França,
a assinatura eletrônica foi introduzida na lei francesa, a qual passou a reconhecer sua validade
legal e ainda previu o estabelecimento da presunção de confiabilidade em favor dessas
assinaturas89.
Com o novo regramento no Brasil, as assinaturas nas peças e as manifestações de
vontade, as quais antes só eram aceitas manuscritas, puderam passar a serem realizadas de
forma digital e com a mesma validade jurídica. Tais assinaturas eletrônicas podem ser
diferenciadas em duas modalidades:

a) Assinatura eletrônica com certificação digital – É o método de identificação na


transmissão eletrônica com o emprego da certificação digital, que é uma tecnologia
que se vale dos recursos da criptografia para garantir a integridade e autoria dos
dados transmitidos por meio eletrônico [...].
b) Assinatura eletrônica sem certificação digital – Essa espécie de assinatura
eletrônica não possui a mesma credibilidade, justamente em razão da ausência das
características tecnológicas mencionadas do Certificado Digital90.

Sendo importante ressaltar que, visando cumprir com as exigências de segurança das
informações em peças e documentos inseridas em processos, os atos processuais pelo
advogado nos autos eletrônicos devem se dar por assinatura eletrônica com essa certificação
digital. E nesse cenário, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi uma das entidades que
passou a atuar como autoridade certificadora, podendo então fornecer certificação digital aos
advogados no país para que eles possam atuar nos Tribunais e fóruns nos quais já tramitam
processos eletrônicos.
Entretanto, ao passo que a assinatura por certificado digital é devidamente exigida
para prática de atos processuais, alguns sistemas dos Tribunais exigem certificado digital até
para o acesso de dados de processos públicos; inclusive, o sistema Processo Judicial
eletrônico (PJe) assim atua, enquanto no seu campo de consulta pública (direcionado
principalmente para as partes acessarem) que não exige o certificado, não é possível visualizar
peças e demais documentos do processo, como suas decisões.
Posteriormente, os passos legislativos mais significativos e recentes no Brasil foi a
edição da Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006 — Lei de Informatização do Processo

89
ASSOCIATION HENRI CAPITANT. Procédure et immatériel. La dématérialisation de la procédure civile.
In: ASSOCIATION HENRI CAPITANT. L’immatériel: Journées espagnoles. [Tome LXIV]. Paris: Bruylant,
2014, p. 01.
90
ATHENIENSE, Alexandre. Comentários à Lei 11.419/06 e as práticas processuais por meio eletrônico nos
tribunais brasileiros. Curitiba: Juruá, 2010, p. 110-111.
32

Judicial91 — regulamentada pela Resolução nº 185 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de


18 de dezembro de 201392. Antes de sua publicação e vigência, já se previa que o caminho da
Justiça brasileira em direção ao processo eletrônico em pouco tempo se tornaria obrigatório, e
que isso não seria apenas resultado dessa evolução tecnológica, mas também, voltando para o
aspecto do acesso à Justiça, pela latente “incapacidade de absorver a crescente demanda pela
prestação jurisdicional, que acarreta excessiva e danosa morosidade na resolução dos litígios
judiciais93”.
Assim, impõe-se afirmar que o processo digital e os sistemas em que ele tramita são de
fato instrumentos que marcam uma verdadeira e significativa evolução ao Judiciário
brasileiro, principalmente quanto à celeridade e, consequentemente, à eficiência. Desse modo,
“[...] percebe-se que as sucessivas reformas processuais efetuadas no ordenamento jurídico
brasileiro trouxeram maior efetividade aos atos processuais, simplificando seus
procedimentos e indo ao encontro às demais perspectivas apresentadas94”.
Ademais, cumpre ressaltar que não se deve confundir que: não foi o processo
eletrônico que fora criado, conforme o legislador designou, mas sim que se criou uma
“normatização de um procedimento eletrônico a desenvolver-se dentro do processo95”.
A partir da informatização processual se previu uma maior efetividade também por
parte do Judiciário de modo geral, e como já exposto, ela traduz um valor constitucional de
grande relevância englobado pelo acesso à Justiça: “[...] o direito fundamental à efetividade é
o mais importante dos direitos fundamentais, visto que é ele que garante a efetivação de todos
os outros96”.
Ainda acerca dessa efetividade a qual, conforme já se discorreu, resulta da soma e
equilíbrio entre eficiência e eficácia, e já incluindo o direito ao acesso amplo à Justiça nesse
novo cenário, vale novamente destacar a importância de se edificar um sistema de Justiça
inclusivo, principalmente para as partes e seus advogados. E por inclusivo, pode se entender
que inclui um acesso à Justiça cada vez mais facilitado, bem como para a prática dos atos
processuais pelas partes e advogados.

91
BRASIL. Lei nº 11.419, de 19 e dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização do processo judicial;
altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil; e dá outras providências. Brasília,
DF, 2006.
92
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 185 de 18/12/2013. Institui o Sistema Processo Judicial
Eletrônico - PJe como sistema de processamento de informações e prática de atos processuais e estabelece os
parâmetros para sua implementação e funcionamento. Brasília, DF: CNJ, 2013.
93
ATHENIENSE, 2010, op. cit., p. 25.
94
CANSI, 2016, op. cit., n.p.
95
SOARES, 2012, op. cit., n.p. (Grifo nosso).
96
MARINONI, Luiz Guilherme. O direito à tutela jurisdicional efetiva na perspectiva da teoria dos direitos
fundamentais. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 09, n. 378, 20 jul. 2004, n.p.
33

Além disso, apesar da democratização cada vez maior da internet e da facilidade de


acesso de informação jurídica disponível na mesma, tanto de leis como de decisões judiciais
em processos eletrônicos, o que se tem é que ainda existe uma parcela da população que não
tem esse fácil acesso. E mesmo quando essa população tem acesso, poucos sabem como
utilizar essas informações jurídicas e legais, visto que se faz pouco presente nas sociedades
atuais um efetivo incentivo para isso, para então saberem como reagir diante de um direito
que sabem que foi lesado.
Apesar desses desafios relacionados à internet e novas tecnologias, elas evoluem e
vem ocupando mais espaço na sociedade numa velocidade exponencial. E é nesse cenário no
qual surgem ferramentas para sanar alguns dos entraves do Judiciário já citados, contribuindo
com uma ação mais eficiente do mesmo, não restam dúvidas do destaque para o sistema
Processo Judicial Eletrônico (PJe).
Para se enunciar sobre os processos judiciais em meio eletrônico, novamente se faz
necessário advertir para que os olhares se voltem para além da provocação do Judiciário, qual
seja pelo aspecto do direito ao processo justo. Isto porque a estruturação e implantação do
processo judicial eletrônico é fruto do cenário em que se tem um Judiciário com grande
quantidade de demandas e moroso, numa busca que visa maior acessibilidade e efetividade ao
mesmo.
Em reflexões sobre a adoção do processo eletrônico e sua relação direta com o direito
ao acesso à Justiça, ampliando o mesmo, Paulo Rocha Neto destaca que “ao considerarmos a
premência de reformas procedimentais e processuais, chegamos à conclusão que implantar o
processo eletrônico se ajusta perfeitamente à ideia de ampliar o acesso à Justiça97”.
Diante dessa inovação no meio de tramitação dos processos judiciais ocorreram
diversas alterações nos atos processuais com a inclusão de recursos tecnológicos de
divulgação e prática daqueles, visando celeridade processual e maior eficiência. Tudo isso
implicou diretamente em relação à acessibilidade à Justiça. O novo procedimento para o
Processo Judicial Eletrônico passou então a traduzir a relação entre as partes e o juiz, e o
desenvolvimento da ampla defesa e do contraditório, na forma eletrônica, pelos meios de
armazenamento disponibilizados pela informática.
Com isso, conclui-se que esse procedimento possui características próprias e novas
peculiaridades que o diferenciam do processo físico tradicional. Dessa forma, significativos
impactos vêm ocorrendo na utilização do processo eletrônico previsto na nova legislação e,

97
ROCHA NETO, Paulo. O Processo Judicial Eletrônico Brasileiro. 2015. 176 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Informática) – Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2015, p. 03.
34

em consequência dele, impactos também nas atividades e na rotina de todos os profissionais


que lidam com o Judiciário:

A adoção da informatização, da comunicação dos atos processuais e do processo


eletrônico, previstos na nova legislação, introduz impactos significativos nos
processos, nas atribuições dos envolvidos, na carga de trabalho, nas atividades, no
funcionamento, na rotina, nas instalações físicas, no atendimento, entre outros, no
Poder Judiciário Brasileiro98.

Igualmente, no âmbito da virtualização dos procedimentos judiciais, conforme as


legislações do processo eletrônico, do CPC e da própria Constituição Federal, tem-se que o
processo eletrônico deveria estar sempre disponível na rede externa, tanto para as partes
quanto para o Ministério Público. No entanto nos dias de hoje, quando muitos (as partes)
tentam o acesso para apenas visualizar os autos, têm se deparado com sistemas que exigem
para tal o cadastro com certificado e assinatura digital do advogado ou magistrado, por
exemplo, para só assim poder acessar os documentos e decisões nos autos em consulta
pública. Ou ainda, se deparam sistemas que não são compatíveis com o navegador que está
sendo utilizado para acessá-lo. Além disso, nem todos da população em geral possuem fácil
acesso à internet e principalmente, não possuem o devido conhecimento para ingressar nesses
sistemas de consulta.
Com isso, pode-se afirmar que em contrapartida a esse conjunto da virtualização dos
processos judiciais e à evolução da Justiça brasileira, tem surgido também a seguinte
configuração:

[...] de uma nova categoria de excluídos processuais: A adoção de tecnologia no


acesso à justiça, apresentar-se-á, naturalmente, como mais um obstáculo àqueles que
não dispõem de conhecimentos em informática, os analfabetos digitais. Aqueles que
nem ler conseguem se sentirão ainda mais perdidos num ambiente de computadores
completamente distante da sua realidade99.

E a questão discutida não se debruça apenas sobre a dificuldade de acesso a


computadores ou internet, mas também quanto à ausência de formação digital acerca da forma
e a variedade dos instrumentos que quem precisa e busca acessar um processo eletrônico se
depara atualmente. Com isso, pode se concluir que digitalizar e virtualizar o procedimento e
processo judicial não, necessariamente, já efetiva totalmente a inclusão digital de todo o

98
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
99
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
35

Judiciário, visto que quem vai operá-los (partes e advogados) não estão incluídos em uma
devida educação digital para tal.
Dessa forma, os fatores abrangidos são bem mais amplos e tais dificuldades com a
tecnologia ou acesso exclusivo aos dados em tutela do Poder Judiciário, não podem se
configurar como obstáculos à efetividade de todo o sistema desse poder, como já bem
pontuara Thiago Carneiro Rabelo:

[...] o rito processual e a organização judiciária não podem ter obstáculos a efetiva
defesa dos direitos, tais como: morosidade, elevadas custas processuais e
inacessibilidade tecnológica ou informacional do processo, merecendo análise em
virtude do processo eletrônico100.

Além disso, o autor ainda destaca que a própria democracia só se reafirma quando
cada cidadão pode exercer plenamente seus direitos e que o direito ao Acesso à Justiça tem
como pressuposto “assegurar e concretizar a liberdade, a igualdade e os preceitos
fundamentais, de acordo com o reestabelecimento do direito pleiteado101”. E com isso,
havendo morosidade ou outros obstáculos, como esse relacionado às tecnologias, “devem ser
encarados como defeitos se não disponibilizados e universalizados a todas as partes102”.
Então, a proposta inicial quanto à implantação do processo eletrônico evidenciava a
vantagem sobre o jurisdicionado poder acompanhar o seu processo eletrônico na íntegra e em
tempo real devido à acessibilidade de consultas públicas. Todavia, na prática, a maioria dos
sistemas ainda não possibilita essa acessibilidade nas consultas públicas e de algumas
decisões sem o certificado digital do advogado, por exemplo. Diante de situações como esta,
constata-se a necessidade de garantir que os sistemas integrados que hospedam os processos
eletrônicos e os dados que armazenam sejam capazes de atender de forma padronizada o
acesso de processo público à sociedade e interessados. Assim:

[...] caso não haja deliberação judicial em sentido contrário, o acesso deve continuar
sendo público e disponível para a sociedade, respeitando as privações de sigilo e/ou
segredo de justiça. Nesse viés, os sistemas judiciais eletrônicos devem resguardar
tanto a publicidade dos atos quanto os direitos da personalidade, intimidade e vida
privada. Em reforço, confira-se o teor do art. 93, IX, da Constituição Federal103.

100
RABELO, Tiago Carneiro. O Processo Judicial Eletrônico e a experiência brasileira. In: ENCONTRO DE
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, 06 ago. 2019, Brasília. [Anais Eletrônicos...], Brasília: ENAJUS, 2019, p.
04. (Grifo nosso).
101
RABELO, 2019, op. cit., p. 04.
102
Ibid.
103
Ibid.
36

Não obstante, os advogados e as partes, desde o início da implantação do processo


eletrônico até o presente momento, convivem com inúmeras dificuldades para acessar os
autos em diversos tribunais brasileiros, cada qual com seu sistema e configurações. São
encontradas algumas barreiras também, como, por exemplo, a exigência de procuração e
habilitação para acessar um processo que não esteja com sigilo ou em segredo de justiça. E a
respeito da exigência de procuração para acesso de autos públicos por advogados, a recente
Lei nº 13.793/2019104 veio avigorar a prerrogativa do advogado de acessar qualquer processo
eletrônico, independente de procuração, mesmo sem estarem atuando naquele.

104
BRASIL. Lei nº 13.793, de 03 de janeiro de 2019. Altera as Leis n os 8.906, de 04 de julho de 1994, 11.419,
de 19 de dezembro de 2006, e 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), para assegurar a
advogados o exame e a obtenção de cópias de atos e documentos de processos e de procedimentos eletrônicos.
Brasília, DF, 2019.
37

2 OS CAMINHOS DA TECNOLOGIA APLICADA AO PODER JUDICIÁRIO


BRASILEIRO

Convém iniciar o tema que aqui será tratado citando a afirmação de Bobbio que traduz
as constantes e velozes mudanças que a sociedade e, consequentemente, o Judiciário,
vivenciam atualmente: “no regime democrático, o estar em transformação é seu estado
natural: a democracia é dinâmica, o despotismo é estático e sempre igual a si mesmo105”.
O Estado Democrático de Direito nos dias de hoje se configura em volta de uma
estrutura social que tende a se modificar de forma rápida e dinâmica, o que a torna cada vez
mais complexa para a Jurisdição Estatal acompanhar. Isso porque a partir do final do século
XX a tecnologia avançou e se tornou cada vez mais popular em diversas áreas da vida
humana e social, principalmente as que envolvem informação e comunicação.
Como Manoel Castells bem pontua sobre essa revolução tecnológica vivenciada, “no
final do século XX vivemos um desses raros intervalos na história. Um intervalo cuja
característica é a transformação de nossa cultura material pelos mecanismos de um novo
paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação106”.
O fenômeno tecnológico provoca constantes transformações e remodelagens em
diversas ferramentas e padrões nas ações humanas, na vida social e profissional, modificando
todos os relacionamentos dos indivíduos, comportamentos e linguagem, além de como estes
ocorrem de maneira dinâmica; é difícil prever exatamente os impactos futuros dessas
inovações na sociedade contemporânea. Fato é que as novas ferramentas trazidas pela
tecnologia se inserem cada vez mais “de tal maneira, que a convivência sem elas parece
improvável e, até mesmo, inevitável107”.
Esse progresso, principalmente no âmbito da informática, possibilitou a evolução de
ferramentas que se limitavam somente ao entretenimento, para instrumentos de formação
acadêmica e atuação profissional. Mas, como a sociedade já submergiu nesse universo e não
há mais qualquer intenção em retroceder, como bem pontuara José Renato Nalini: se não há
informática não será possível alcançar o devido padrão de Justiça108.

105
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra,
2011, p. 19.
106
CASTELLS, Manoel. A sociedade em rede. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 67.
107
ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz; MUNIZ, Ramiro Vasconcelos. Os Reflexos da implantação do Processo
Judicial Eletrônico sobre a saúde de seus Sujeitos Processuais. Universitas, São Paulo, ano 09, n. 17, p. 77-98,
jan./jun. 2016, p. 78.
108
NALINI, José Renato. É urgente uma consciência virtual. Revista Justiça & Cidadania, Rio de Janeiro, n.
147, nov. 2012.
38

Diante deste cenário, “resta aos comandos inteligentes e responsáveis pelo Judiciário
de amanhã, promoverem esforços que removam resistências e obstáculos à integral imersão
no mundo novo. Mundo apto a produzir a justiça de verdade, anseio de todos os viventes109”.
Todavia, quando essa modernização e as transformações tecnológicas começam a ser
implantadas no trabalho e na rotina profissional dos indivíduos, se faz presente, em algumas
vezes, a necessidade de desacelerar esse processo em vista da resistência que geralmente
ocorre por parte daqueles, e isso tanto na área privada quanto na pública, incluindo os
operadores do direito. Sobre esse movimento por parte dos profissionais diante dessas
inovações, Candido Rangel Dinamarco pontua que:

[...] É natural e sadia a resistência às propostas inovadoras, especialmente quando se


pensa em inovar substancialmente na ordem jurídica e no modo de ser das coisas da
Justiça. O direito positivado e praticado pelos tribunais, que vem sempre a reboque
das mudanças sociais, políticas econômicas, ou das diferentes exigências surgidas
em consequência dessas mudanças, não deve ser submetido ao açodamento de
transformações que logo depois podem revelar-se inconvenientes. Nem seria sensato
ou prudente lançar-se o legislador ou juiz por novos caminhos sugeridos por
propostas aparentemente luminosas e salvadores, antes de uma maturação que, sem
o decorrer do tempo, é impossível, e antes de se formar uma segura consciência da
conveniência de mudar. Como é de geral sabença, as grandes estruturas
movimentam-se lentamente, e convém que assim seja, porque movimentos bruscos
podem ser causa de rupturas ou fissuras em estruturas de grande porte, como é a
ordem jurídica e como é a máquina judiciária110.

Mas com o tempo e de forma gradual essas mudanças ocorrem na prática e o Poder
Judiciário continua se voltando para o seu constante desafio de garantir eficiência e
efetividade aos trâmites e processos judiciais utilizando as novas ferramentas tecnológicas
para tal.
Nesse ponto de somar a tecnologia a uma maior efetividade para o Judiciário e com
segurança, Hélcio Luiz Adorno Júnior e Ramiro Vasconcelos Muniz evidenciam que tal
questão se configura num enorme desafio que os órgãos do Judiciário terão que enfrentar “na
tarefa de elaborar um sistema inovador e confiável, que alcance a celeridade de tramitação dos
feitos sem afetar a saúde dos usuários que utilizam essa nova ferramenta no desempenho de
suas funções111”.

109
NALINI, 2012, op. cit., online.
110
DINAMARCO, Candido Rangel. Nova era do processo civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 303.
111
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit., p. 77.
39

2.1 O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO

Conforme já mencionado, a revolução tecnológica que a sociedade vivencia


atualmente vem rápida e constantemente transformando a cultura, o trabalho, bem como todas
as relações interpessoais. Diante disso, o Poder Judiciário não teria como permanecer
indiferente e imutável a esses reflexos, visto que o Direito busca sempre alcançar a realidade
social na qual se aplica.
A informática tem, então, papel protagonista na sociedade em meio a essa revolução
tecnológica, visto que “é tida como uma ferramenta de uso imprescindível em todos os
segmentos do trabalho, auxiliando em tarefas de organização, pesquisa e difusão de qualquer
tipo de informação112”.
A criação e desenvolvimento do processo judicial eletrônico no Brasil se deram pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com Tribunais e contando com a
participação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Tais tecnologias vêm trazendo
desafios, mas também vantagens na modernização do sistema judiciário em prol da
efetividade do acesso à justiça, “possibilitando o descongestionamento do Poder Judiciário e
permitindo uma revisão do modelo de processo tradicional, já obsoleto113”.
Há alguns anos, na fase anterior à digitalização de processos, a rotina do advogado e
de todos os operadores do Judiciário brasileiro era muito diferente da que se tem hoje, após a
implantação dos processos eletrônicos, digitalizados ou virtualizados em todo o país. É
evidente que tais avanços são benéficos para a sociedade e que grandes conquistas se deram
através dos mesmos. Primeiramente, com a implantação da informática, o papel foi eliminado,
bem como algumas ações burocráticas como, por exemplo, de juntada, numeração de páginas,
etc., foram reduzidas. Mas é considerável lembrar que esta evolução por si só não vem
unicamente como solução: “O processo eletrônico resolve velhos problemas do processo de
papel, mas também traz novos desafios, então é importante a discussão sobre as alternativas e
as melhores formas de conduzir nosso trabalho, de modo a que possamos viver e trabalhar
com saúde114”.
Também é de suma importância pontuar quanto às nomenclaturas utilizadas, quando
se denomina processo eletrônico ou processo digital, apesar de que em matéria de processo

112
RODRIGUES; FLORES, 2014, op. cit., p. 70.
113
Ibid.
114
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit., p. 88.
40

judicial, não há consenso acerca de qual seria a nomenclatura correta, visto que muitas vezes
são utilizados como sinônimos115. Ainda assim:

[...] Na literatura arquivística internacional, ainda é corrente o uso do termo


“documento eletrônico” como sinônimo de “documento digital”. Entretanto, do
ponto de vista tecnológico, existe uma diferença entre os termos “eletrônico” e
“digital”.
Um documento eletrônico é acessível e interpretável por meio de um equipamento
eletrônico (aparelho de videocassete, filmadora, computador), podendo ser
registrado e codificado em forma analógica ou em dígitos binários. Já um
documento digital é um documento eletrônico caracterizado pela codificação em
dígitos binários e acessado por meio de sistema computacional. Assim, todo
documento digital é eletrônico, mas nem todo documento eletrônico é digital.
Apesar de ter seu foco atualmente direcionado para os documentos digitais, a CTDE
(Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos) mantém seu nome, uma vez que este
escopo pode ser expandido ao longo do desenvolvimento de seus trabalhos.
Exemplos:
1) documento eletrônico: filme em VHS, música em fita cassete.
2) documento digital: texto em PDF, planilha de cálculo em Microsoft Excel, áudio
em MP3, filme em AVI116.

Pode ainda se afirmar que processo eletrônico é aquele em que todas as peças e atos
processuais são digitais e realizadas diretamente no meio eletrônico desde seu início. E que
um processo digitalizado é aquele que era físico e foi convertido para o eletrônico através da
digitalização (escaneamento) das suas peças e documentos físicos, os quais são digitalizados
em arquivos para visualização no meio eletrônico e, portanto, também é eletrônico. Desse
modo:

O documento digital e o documento digitalizado são a mesma coisa?


Resposta: O documento digitalizado é um tipo de documento digital. Os documentos
digitais têm duas origens distintas: os que já nascem digitais e os que são gerados a
partir de digitalização. Ambos são codificados em dígitos binários, acessíveis e
interpretáveis por meio de um sistema computacional.
O documento digitalizado é a representação digital de um documento produzido em
outro formato e que, por meio da digitalização, foi convertido para o formato digital.
Geralmente, esse representante digital visa a facilitar a disseminação e o acesso,
além de evitar o manuseio do original, contribuindo para a sua preservação. Todo
documento digitalizado é um documento digital, mas nem todo documento digital é
um documento digitalizado.
Exemplo:
1) Documento nato digital (born digital): Textos em Microsoft Word, fotografias
tiradas em câmeras digitais, plantas de arquitetura e urbanismo criadas em
AutoCAD, mensagens de correio eletrônico, planilhas eletrônicas.
2) Documento digitalizado: Cópia digitalizada da Lei Áurea; negativos e fotografias
escaneados117.

115
PEREIRA, Maria Neuma. Processo Digital: A tecnologia aplicada como garantia da celeridade processual.
Revista de Ciências Jurídicas e Sociais, Guarulhos, v. 1, n. 1, p. 74-80, 2011.
116
CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos). Perguntas mais frequentes. Portal CONARQ, 2020, online.
117
Ibid.
41

Sendo assim, na seara processual não há equívoco quanto à utilização de uma


nomenclatura ou outra, mas a que vem prevalecendo na utilização após ser reafirmada pela
Lei 11.419/06118 é processo eletrônico.
Os relevantes reflexos na rotina dos operadores do direito com a implantação dos
processos eletrônicos se deram pelo fato de que o peticionamento nos mesmos passou a poder
ser realizado em qualquer hora do dia independente do horário de funcionamento do tribunal,
inclusive aos finais de semana e feriados. Com isso, os prazos tiveram alteração — em vez de
só se poder protocolar naquele dia até o último horário de funcionamento do Tribunal, o
advogado, por exemplo, tem até às 23h59m daquele último dia de prazo para protocolar e
cumpri-lo tempestivamente.
Nesse novo cenário, todos os Tribunais brasileiros possuem a iniciativa de possuir um
sistema eletrônico de automação judicial. O Fórum da Freguesia do Ó em São Paulo,
inaugurado em 2007, foi o primeiro do Brasil a ser totalmente informatizado, no qual havia
varas cíveis, de família e sucessões119. No entanto, se teve notícia de que no seu início, com a
falta de informação e talvez uma devida educação digital sobre seu sistema aos advogados, a
maioria deles não se utilizava do fórum em questão e acabavam resistindo em aderir à
informatização.
Tal fato remete à já citada resistência natural que geralmente ocorre diante dessas
inovações tecnológicas por parte dos profissionais. Isto porque ainda que as mudanças que
ocorrem no Direito estejam relacionas à sociedade, sendo neste caso a imersão na informática,
ainda assim se faz necessário um período inicial para maior adaptação a essas mudanças; e os
reflexos e consequências dessas inovações com a informatização da atividade jurídica deverão
ser sempre analisados e avaliados no correr do tempo.
Ainda se faz importante destacar que os preceitos do processo eletrônico conforme
todas as disposições da Lei n° 11.419/2006120, “não encontram precedentes em qualquer país
do mundo121”. Tal Lei veio, então, regulamentar a informatização do Poder Judiciário
trazendo a implantação inicial do processo judicial eletrônico no cenário jurídico brasileiro e,
com isso, estreou uma nova sistemática nos trâmites processuais.
Mas o que não se deve confundir, reiterando o que fora abordado na primeira seção
teórica deste trabalho, é que “[...] não houve a criação de um processo eletrônico, como

118
BRASIL, 2006, op. cit.
119
AL/SP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo). Frente do Judiciário visita Fórum da Freguesia do
Ó. Portal do cidadão da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, 27 nov. 2007.
120
BRASIL, 2006, op. cit.
121
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
42

designou o legislador, mas a normatização de um procedimento eletrônico a desenvolver-se


dentro do processo122”. Um dos pontos cruciais na regulamentação dessa legislação é que não
deverá condizer com uma mera automação do processo judicial nos mesmos termos de seu
trâmite anterior, quando físico, mas sim considerar uma completa reformulação do
procedimento123.
O novo procedimento para o Processo Judicial Eletrônico passou então a traduzir a
relação entre as partes e o juiz, e o desenvolvimento da ampla defesa e do contraditório, na
forma eletrônica, pelos meios de armazenamento disponibilizados pela informática. E com
isso, possui características próprias e novas peculiaridades que o diferenciam do processo
físico tradicional. Ademais, “não parece adequado, e, sobretudo eficiente, pensar no processo
eletrônico como algo estático, sem a necessidade de constante aprimoramento e conhecimento
do perfil das demandas124”.
Dessa forma, significativos impactos vêm ocorrendo na utilização do processo
eletrônico previsto na nova legislação e em consequência dele, impactos estes também nas
atividades e na rotina de todos os profissionais que lidam com o Judiciário:

A adoção da informatização, da comunicação dos atos processuais e do processo


eletrônico, previsto na nova legislação, introduz impactos significativos nos
processos, nas atribuições dos envolvidos, na carga de trabalho, nas atividades, no
funcionamento, na rotina, nas instalações físicas, no atendimento, entre outros, no
Poder Judiciário Brasileiro125.

E equivoca-se aquele que pensar que para ocorrer essa informatização do Poder
Judiciário basta adquirir e instalar computadores, ferramentas e softwares modernos, sem se
atentar para o treinamento, bem como capacitação de quem diretamente os operará ou terá
contato direto com eles. Além disso, quando se unem tantas funcionalidades tecnológicas para
compor a operação do processo eletrônico se deve ir “além da noção limitada de um meio
eletrônico meramente destinado a estocar documentos126”.
Faz-se necessário também pontuar que a ferramenta de digitalização dos processos é
de grande valor na melhoria da prestação jurisdicional, mas que não tem a capacidade de

122
RODRIGUES; FLORES, 2014, op. cit., p. 70.
123
Ibid.
124
DEZEM, Renata Mota Maciel Madeira. O poder judiciário e a sociedade da comunicação: do processo
eletrônico à inteligência artificial. In: PARENTONI, Leonardo (Coord.). Direito, Tecnologia e Informação.
Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018, p. 963.
125
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
126
REICHELT, Luis Alberto; PEGORARO JUNIOR, Paulo Roberto. Processo Eletrônico, hipertexto e direito
ao processo justo. Revista Internacional Consinter de Direito, Porto/Portugal, ano V, n. VIII, p. 165-177, jan.
2019, p. 166.
43

suprimir a presença dos atores judiciais, com, por exemplo, dos servidores e do próprio
magistrado.
É de suma importância, ainda, manter a sensação de proximidade do jurisdicionado
com o Poder Judiciário em relação ao acesso à Justiça, mesmo no âmbito digital e online,
visto que “virtual deve ser apenas o processo. A relação entre o Poder Judiciário e o
jurisdicionado, que acontece através do juiz e do servidor, ainda deve ser preservada, sem que
isso seja um entrave ao uso da tecnologia127”.
No meio eletrônico os processos ainda têm seguido a mesma linearidade nos autos,
como era anteriormente em forma física e escrita. Contudo, estudos recentes já apontam para
a necessidade de haver um rompimento com essa linearidade nos processos judiciais nesse
novo meio em que tramitam. Conforme Luis Alberto Reichelt e Paulo Roberto Pegoraro
Júnior128 comentam, o meio digital não deve ser apenas para estocar documentos
economizando o antigo papel, mas sim abrir espaço para uma nova dinâmica de debate
processual entre as partes, os advogados e o juiz. Os autores exemplificam essa inovação
destacando a utilização de hiperlinks e criação de uma comunidade virtual (groupware), tais
ferramentas já se mostram como uma futura e necessária aplicação.
Diante dessas peculiaridades e inovações, convém refletir e destacar a assertiva de
Carlos Henrique Abrão quanto à importância de um enriquecimento na visão e atuação nos
procedimentos processuais em meio eletrônico para se alcançar a efetividade deles:

[...] O aperfeiçoamento do processo eletrônico é o ideal a ser conquistado, para a


realização do processo justo e eficaz, superando-se os entraves processuais e as
enormes dificuldades que existem pelo caminho, cuja solução preconiza a redução
da distância e a presença de maiores recursos de infraestrutura para que se mantenha
aprimorada a figura da máquina judiciária129.

Assim sendo, “a verdadeira informatização do Poder Judiciário exigirá o


desenvolvimento de soluções sistêmicas, envolvendo mudança de cultura, treinamento e
atualização constantes do pessoal130”.
O sistema PJe, por exemplo, tiveram a sua implantação iniciada no país pela Justiça do
Trabalho e posteriormente algumas Justiças Estaduais e Federais ingressaram na experiência
com essa ferramenta:

127
CUNHA, Érica de Paula Rodrigues da. Home office: a flexibilização da jornada de trabalho nos tribunais. In:
AMAERJ (Org). Revista da Associação dos Magistrados do Estado de Rio de Janeiro, ano 13, n. 39, out./dez
2014, p. 45.
128
REICHELT; PEGORARO JUNIOR, 2019, op. cit.
129
ABRÃO, Carlos Henrique. Processo eletrônico. 3. ed., São Paulo: Atlas, 2011, p. 33.
130
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit. p. 82.
44

Desde o dia 15 de junho de 2011, o Processo Judicial Eletrônico (PJe) é uma


realidade na Justiça Federal da 3ª Região. A princípio, o PJe foi implantado nas
Varas Previdenciárias da cidade de São Paulo e será gradativamente na 3ª Seção do
Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que julga processos previdenciários em
grau de recurso131.

O Conselho Nacional de Justiça promoveu intensa campanha para divulgar o PJe a fim
de demonstrar para a comunidade jurídica os seus benefícios e segurança através da assinatura
digital. A referida campanha utilizava o slogan: “Melhor para você. Melhor para a Justiça.
Melhor para o Brasil132”.
Como aponta Oswaldo Moreira Costa Júnior133, se o aperfeiçoamento do sistema PJe
não for um compromisso contínuo, este pode perder a efetividade perante o Judiciário e sua
finalidade. Tal afirmação hoje se mostra válida não só para a Justiça do Trabalho, mas para
toda a área que o PJe abrange:

Os benefícios que indubitavelmente a ferramenta do PJe-JT trouxe a sociedade só


poderão ser celebrados se o compromisso com a manutenção e aperfeiçoamento
dessas técnicas for realmente assumido e, mais ainda, associa-lo ao outro
compromisso de se buscar outros tantos meios que sejam capazes de garantir o
cumprimento de uma justa e efetiva prestação jurisdicional a todos, sem exceção,
especialmente aos mais pobres134.

Ocorre que ainda que o instrumento criado para contribuir com a efetiva prestação
jurisdicional seja finalidade do Judiciário, com o processo eletrônico é o PJe, e que apesar de
apontarem para sua função de acesso ao conteúdo integral do processo, na prática hoje alguns
advogados e partes ainda não possuem esse acesso se não tiverem procuração ou o certificado
digital para consultar. Nas consultas públicas de alguns sistemas, incluindo o PJe, muitas
vezes não constam os documentos, peças e decisões de processos que não estão sob sigilo, por
exemplo.
A expectativa é que, conforme forem surgindo favoráveis — e possivelmente
eficientes no âmbito do processo eletrônico — novidades tecnológicas, paradigmas de
décadas no Direito Processual são rompidos e urge a necessidade de os Tribunais se
autorregularem para se conceder a devida autonomia a esse novo sistema eletrônico135. Caso

131
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
132
Ibid.
133
COSTA JÚNIOR, Oswaldo Moreira. O processo judicial eletrônico na justiça do trabalho: as conquistas e os
desafios dessa nova ferramenta tecnológica. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, [s.l.],
v. 19, n. 20, p. 123-136, 27 abr. 2017.
134
Ibid., p. 135.
135
RABELO, 2019, op. cit., p. 05.
45

isso não seja buscado, essa informatização pode não resultar no que era positivamente
esperado após a edição da Lei 11.419/06. Dalmo Dallari adverte: “assim como o fato de se
adotar uma constituição escrita não é suficiente para transformar uma ditadura em
democracia, a informatização dos tribunais poderá significar apenas o advento de uma era de
injustiças informatizadas136”.
Nesse sentido, em relação à necessária estrutura e preparo do Judiciário quanto a essa
informatização e tratamento dos dados gerados nesses processos judiciais, convém ressaltar a
importância de se buscar o entendimento dos males que têm atrasado e sufocado o alcance da
Justiça sem a exclusão das importantes conquistas constitucionais para a sociedade. A chave
para tal questão deve ser observar três pontos: a lei processual, a estrutura do Poder Judiciário
e os sujeitos que atuam no processo, sendo este último o mais relevante137.
Aqui se faz importante destacar também a necessidade da constante presença da ética
nessa atuação por parte dos atores processuais, incluindo partes, advogados e julgadores.
Segundo a gestora do projeto de internacionalização da Unidade de Justiça na Softplan
(emprese de software), Débora Anselmo, todo o processo de transformação digital na Justiça
se dá em quatro fases:

1. Mudança de mídia zero papel, trocar o papel por bits;


2. Automatização de procedimentos eliminar tarefas burocráticas e investir em
automatização de rotinas e operações em bloco;
3. Integração entre instituições visa facilitar a comunicação para garantir agilidade a
tramitação de processos;
4. Apoio à tomada de decisão, por meio da aplicação da ciência de dados 138.

Quanto ao item número 04, um destaque, exemplo, é o Poder Judiciário da Costa


Rica, a qual possui “um sistema georreferenciado de dados administrativos, sociais e
demográficos da Justiça, permitindo um instrumento de consulta, fonte de informações e
transparência139”. Assim, é possível também relacionar este último item ao universo da
Jurimetria, que aplicada à Ciência de Dados no Judiciário, permite consultas das informações
jurisprudenciais e de dados processuais tendo a estatística como ferramenta.

136
DALARI, Dalmo. O poder dos juízes. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 167.
137
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit. p. 83.
138
ANSELMO, 2018, op. cit., online.
139
Ibid.
46

2.2 A TECNOLOGIA EM FAVOR DA JURIMETRIA

Enquanto ocorrem de forma veloz, as mudanças nas interações e relações entre os


indivíduos na sociedade estão perante forte e constante influência da tecnologia, com o
Direito não é diferente. Conforme já mencionado, o Direito busca acompanhar e se adequar à
dinâmica das relações interpessoais no seu tempo para manter-se efetivo, e tal desafio se
destaca no âmbito da informatização tanto da sociedade quanto internamente ao próprio Poder
Judiciário. Nesse arrimo, Rodrigo Rage Ferro bem apontara que:

[...] o Direito tem de frequentemente se valer de um feedback do mundo externo, do


mundo social, para se aperfeiçoar e evoluir como um sistema dinâmico, que busca se
adaptar à complexidade da realidade, regulando e controlando as situações e os
conflitos sociais da vida das pessoas140.

É nesse contexto que surge uma ferramenta inovadora, a qual conduz o Direito quanto
aos seus avanços e o leva a “definir seus limites como sistema autopoiético luhmanniano141”,
ou seja, um sistema que se autorreproduz. E essa moderna ferramenta citada, é a Jurimetria. E
o conceito de que “o Direito [...] produz a si mesmo142” é de extrema relevância, visto que ele
busca acompanhar as mudanças na sociedade, transformando a si mesmo enquanto provoca
mudanças exteriores na realidade daquela sociedade a que se aplica.
Não há como se falar e estudar sobre a Jurimetria e seus resultados (conhecimento
científico) sem discorrer sobre método. René Descartes definiu as bases do método científico,
pelas quais ele o definiria como um conjunto de regras a ser seguido objetivando dar
segurança a uma convicção, evitando complicações e que permitisse alcançar a maior
quantidade de conhecimento possível143. Sua teoria foi desenvolvida em sua obra O Discurso
do Método, que originalmente recebeu o título Discours de la Méthode pour Bien Conduire sa
Raison et Chercher la Vérité dans les Sciences, em tradução livre para o português: Discurso
do Método para Bem Conduzir a Razão e Procurar a Verdade nas Ciências144; evidenciando
a busca da verdade pelo autor, bastante influenciado pelas ciências exatas, e que pretendia
atingir um grau de precisão cada vez maior.

140
FERRO, Rodrigo Rage. Como a jurimetria e a Teoria dos Sistemas de Luhmann estão interligadas? In:
ALMEIDA, Renato Augusto. Justiça, Judiciário e a condição humana nas relações interpessoais: reflexões
contemporâneas. São Paulo: Paco Editorial, 2019, p. 110.
141
Ibid., p. 111.
142
ALMEIDA, Renato Augusto. Justiça, Judiciário e a condição humana nas relações interpessoais:
reflexões contemporâneas. São Paulo: Paco Editorial, 2019, p. 121.
143
DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
144
EVES, Howard. Introdução à história da matemática. Campinas: Unicamp, 2004, p. 383-384.
47

A ideia sustentada por Descartes em sua obra é a do método cartesiano, que destaca
um estudo fragmentado, reduzindo o todo em partes para que estas sejam aprofundadas145;
esse movimento reflexivo nos remete ao método e utilização da Jurimetria, porém
particularmente voltado e adaptado para as Ciências Sociais e suas incertezas. Contudo, para
melhor reflexão sobre a Jurimetria como ferramenta do Direito, convém discorrer acerca do
momento anterior a sua origem e do caminho da estatística que chegou à sua criação.
A estatística teria surgido por volta de 1700, quando muitos cientistas como físicos e
astrônomos vinham lidando com adversidades consideráveis de mensuração, ou seja, se viam
obtendo resultados que não respeitavam as antigas teorias deterministas, visto que aqueles
apresentavam variações. Assim, a finalidade principal da análise estatística seria a de
“oferecer soluções para combinar as medidas e analisar conjuntos ou série de informações
coletadas nos mais diversos campos do conhecimento146”.
Após a segunda metade do século XIX, os métodos estatísticos vinham sendo cada vez
mais utilizados em variados campos do conhecimento já sendo então, utilizada de forma
interdisciplinar. Contudo, até o final desse século, a área da ciência social ainda se baseava
em teorias de cunho determinista, ou seja, “os pesquisadores do comportamento humano [...]
demoraram a se conscientizar do valor que as técnicas estatísticas poderiam agregar às
pesquisas sociais147”. Somente no século XX que as ciências sociais, principalmente a
economia, reconheceram as vantagens de se quantificar os fatos sociais.
Nesse contexto, a estatística começou a influenciar as ciências sociais de forma
gradual, inicialmente por meio da criação de censos, como de mortalidade e de doenças
epidêmicas. Após isso, já se fazia especialmente presente tanto na Demografia quanto na
Economia148. Atualmente, a estatística é definida como um agrupamento de métodos
utilizados em praticamente todas as áreas de conhecimento da vida humana:

[...] do público (pesquisas de opinião) ao privado (exames de DNA); do


governamental (políticas públicas de vacinação) ao particular (desenvolvimento de
técnicas de administração de empresa); do profissional (modelos de investimento em
ações) ao recreativo (estatísticas desportivas) 149.

145
ARAÚJO, Fábio Roque da Silva; RABELLO, Fernando. A ruptura do paradigma cartesiano e alguns os seus
reflexos jurídicos filosofia do direito. Revista CEJ, Brasília, Ano XIII, n. 46, p. 78-86, jul./set. 2009.
146
NUNES, Marcelo Guedes. Jurimetria: como a Estatística pode reinventar o Direito. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016, p. 10.
147
NUNES, 2016, op. cit., p. 10.
148
Ibid.
149
Ibid.
48

E sobre essa estatística moderna, vale citar a definição dada pelo autor Stephen Stigler,
citada e traduzida por Marcelo Guedes Nunes (2016): “A estatística moderna oferece
tecnologia quantitativa para a ciência empírica; ela é uma lógica e uma metodologia para
medir a incerteza e para examinar as consequências dessa incerteza no planejamento e
interpretação da experimentação e observação150”.
Antes da evolução do pensamento estatístico, o conhecimento era visto
predominantemente como um resultado absoluto dotado de única verdade, demonstrado
através de teorias e enunciados originados em testes realizados por especialistas que o
transmitiam através de determinações, ou seja, era um pensamento dedutivo. A utilização da
metodologia estatística traduziu a fase de transição pela qual a ciência deixou “de ser a busca
de verdades absolutas e passa a ser um esforço de aproximação da verdade 151”. E, diante
disso, o objetivo principal para se atingir o conhecimento também sofreu alterações: “ao invés
de buscar a certeza, passamos a controlar a incerteza152”.
Esse movimento gera uma riqueza muito maior de resultados que consequentemente
fomenta o uso da estatística, e por isso, no âmbito jurídico deu-se origem à Jurimetria; esta
pode ser definida como uma “disciplina do Direito que utiliza a metodologia estatística para
estudar o funcionamento do ordenamento jurídico, de modo empírico153”.
Com isso, a Jurimetria enquanto disciplina e ferramenta, ao observar todo o
funcionamento do sistema judiciário e os dados que ele produz e armazena, possibilita
estabelecer a realidade do universo jurídico no dia a dia e rotina, investigando empiricamente
a influência entre Direito e sociedade154.
Os governos possuem o desafio de aprimorar seus indicadores sociais e de
disponibilizar dados atualizados para a sociedade, visto que a massa enxerga seu governo
através das estatísticas, assim acontece também com o Judiciário.
O sistema Judiciário atualmente se vê com essa nova necessidade de organizar
indicadores de sua atuação, principalmente quanto a sua jurisprudência, diante da intensa
produção de dados agora informatizados produzidos através das demandas judiciais em todo o
país. E assim como os Governos precisam educar a população para entender a função desses

150
NUNES, 2016, op. cit., p. 10.
151
BARBOZA, Ingrid Eduardo Macedo. A Jurimetria aplicada na criação de soluções de Inteligência Artificial,
desenvolvidas pelo CNJ, em busca do aprimoramento do Poder Judiciário. Revista Diálogo Jurídico, Fortaleza,
v. 18, n. 2, p. 9-23, jul./dez. 2019, p. 12.
152
NUNES, 2016, op. cit., p. 10.
153
GONZALES, Edoardo Eugenio Sigaud. Trade Dress: uma análise de Jurimetria com ferramentas de
inteligência artificial. 2019. 123 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Inovação) –
Instituto Nacional da Propriedade Industrial, Rio de Janeiro, 2019, p. 46.
154
Ibid.
49

indicadores, no Judiciário se faz necessária essa educação tanto internamente — entre seus
membros e atores processuais — quanto para a própria sociedade.
É nesse contexto que se vislumbra o ingresso da pesquisa empírica nesse mundo
jurídico, a qual busca conhecimento através de investigação e observação de dados, para
assim solucionar problemas. E isso no campo do Direito também acontece para se conhecer o
que de fato ocorre nesse universo além do que consta nas doutrinas. Portanto, é possível
afirmar que assim como a estatística está para a inclusão política no âmbito governamental,
ela está para inclusão de gestão e transparência sobre os fatos no mundo jurídico para o Poder
Judiciário e seus estudiosos.
A Jurimetria surgiu em 1949, após ser conceituada pelo advogado estadunidense Lee
Loevinger, em seu artigo The Next Step Forward, aprofundando-se posteriormente na obra:
Jurimetrics: The Methodology of Legal Inquiry, no início da década de 1960. Desde então, a
disciplina já se mostrava promissora em sua idealização e propósito:

[...] idealizada para possibilitar a mensuração de fatos típicos e jurídicos e


indicar as probabilidades de suas ocorrências e, a pari passu, por meio dessas
avaliações, planejar formas de atuação da advocacia e elaboração de leis na
administração do Poder Judiciário155.

Assim, a Jurimetria serviria “para tornar as decisões judiciais (jurisprudência)


experimentadas (como ocorre com os experimentos das ciências exatas) e não somente
comentadas156”.
Inicialmente houve uma imediata antipatia por parte da doutrina em relação à
Jurimetria, sob o argumento de que o juiz para decidir problemas advindos da sociedade em
um processo litigioso atua de forma completamente distinta de um matemático ao resolver
seus cálculos, problemas e equações. Todavia, a época em que a jurimetria foi conceituada era
muito distinta da atual, na qual já se busca maior efetividade jurisdicional através da
informatização dos processos e diversas tecnologias ao alcance dos órgãos do Poder
Judiciário.
Nesse sentido, “tornam-se imperativas novas abordagens embasadas em dados e
estudos empíricos metodologicamente rigorosos que permitam dar passos em prol de uma

155
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 111. (Grifo nosso).
156
HADDAD, Ricardo Nussrala. A motivação das decisões judiciais e a Jurimetria: contribuições possíveis. In:
XIX ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, jun. 2010, Fortaleza. [Anais...] Fortaleza: CONPEDI, p. 3927-
3935, 2010, p. 3.927.
50

aplicação do Direito correta, legítima e eficiente157”. Além disso, conforme o autor Ricardo
Medeiros de Castro esclarece: a utilização da estatística e quantificações não reduzirá o
Direito em seu complexo campo hermenêutico e tudo que ele envolve; uma vez que:

Quando se busca defender o uso do método quantitativo na Ciência do Direito, não


se pretende reduzir o papel de debates ou de técnicas tradicionais como o papel da
hermenêutica, da argumentação tópica ou da análise linguística e histórica. Tais são
ou podem ser metodologias relevantes ao estudo jurídico, que, se conversarem com
técnicas quantitativas, podem enriquecer os diferentes tipos de argumentação ou
melhorar a análise linguística e interpretativa158.

O cenário atual no sistema do Judiciário favorece e até necessita do uso da Jurimetria


como ferramenta para analisar e visualizar a grande massa de processos que existem hoje,
além de visualizar como o Poder Judiciário se comporta na resolução das mais variadas
situações que essas lides trazem.
No Brasil, apenas em 2016, Marcelo Guedes Nunes, que hoje é presidente da
Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ), começou a difundir o tema e o conceito de
Jurimetria em sua obra Jurimetria: como a estatística pode reinventar o Direito. Só a partir
daquele momento é que profissionais de todos os setores do Direito começaram a se
aprofundar e estudar melhor a novidade dessa ferramenta na prática para o Direito.
E, deve se mencionar também, o relevante papel que a ABJ já desempenha nessa
disciplina ainda novata no Direito, impondo-se três missões:

1. Reunir e incentivar pesquisadores com preocupação em investigar e descrever os


processos de decisão em que são criadas as normas individuais e concretas;
2. Disciplinar a jurimetria como um ramo do conhecimento jurídico, definindo suas
premissas, seus fundamentos, seus conceitos e relações essenciais;
3. Colaborar com entidades públicas e privadas no esforço estratégico de aperfeiçoar
os mecanismos de prestação jurisdicional através da elaboração de leis e da
administração dos tribunais159.

Além de, em seu estatuto, no Art. 2º, a Associação também prever como as suas
principais finalidades:

I) Incentivar e divulgar a jurimetria aos seus associados e ao público em geral.


II) Incentivar a utilização da jurimetria na elaboração e avaliação de políticas
públicas;

157
NUNES, Dierle; DUARTE, Fernanda Amaral. Jurimetria e Tecnologia: diálogos essenciais com o Direito
Processual. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 299, p. 405-448, 2020, p. 406.
158
CASTRO, Ricardo Medeiros de. Direito, Econometria e Estatística. 2017. 542 f. Tese (Doutorado em
Direito) – Universidade de Brasília, Brasília, 2017, p. 09.
159
ABJ (Associação Brasileira de Jurimetria). Propósitos e valores. Portal ABJ, 2018a, online.
51

III) Realizar, promover e participar de cursos, palestras, seminários,


conferências, workshops, congressos e qualquer forma de reunião que objetive a
difusão da jurimetria;
IV) Estimular e promover a produção, a publicação e a circulação de artigos,
boletins e livros que debatam ou façam o uso da jurimetria;
V) Promover a criação, organização e disponibilização de bases de dados jurídicas;
VI) Colaborar com entidades públicas e privadas para melhorar administração de
Tribunais160.

Desde então foram surgindo os primeiros softwares jurídicos para possibilitar a


realização de diversas análises jurimétricas de modo mais rápido, prático e eficiente, e muitos
ainda estão sendo desenvolvidos nesse sentido.
Como já citado anteriormente, se faz sempre necessário que o Direito se atualize para
continuar sendo compatível e adequado à sociedade, e é nessa conjuntura que a Jurimetria
passa a ser “vista como uma ferramenta que ele utiliza para essa atualização e adequação,
buscando padrões de aplicação do Direito em casos concretos a partir de estudos
empíricos e estatísticos161”.
Além disso, a Jurimetria também se mostra relevante no âmbito de gestão e
administração eficientes pelo Poder Judiciário, pois ela:

[...] fornece ao Direito meios para se autogerir e se tornar eficaz sua administração,
seja mostrando tendências, apontando falhas, ou mesmo auxiliando no processo de
auto-observação, mantendo o Direito mais próximo possível da evolução da
sociedade, muito mais complexa do que o sistema jurídico162.

Exemplo disso se dá pelo primeiro “case” de criação de novas varas a partir de


estudos com embasamento jurimétrico. Marcelo Guedes Nunes coordenou um estudo pela
Associação Brasileira de Jurimetria que resultou na criação das Varas empresariais em São
Paulo, com base em dados (todos os processos distribuídos nas Varas Cíveis do Foro Central
entre 2013 e 2015), através da metodologia de análises jurimétricas, tendo sido o primeiro
caso de criação de varas com esse formato163.
O estudo, cujo projeto foi finalizado em dezembro de 2016, trouxe enfoque para o
tema de especialização de Varas, o qual possui relação direta também com o da administração
do Judiciário, visto que designa julgadores e servidores através de análise de dados, e caminha
para uma possível melhora na distribuição de seus recursos:

160
ABJ (Associação Brasileira de Jurimetria). Estatuto. Portal ABJ, 2018b, online.
161
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 124. (Grifo nosso).
162
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 121.
163
NUNES, Marcelo Guedes (Coord). Varas empresariais na comarca de São Paulo. Portal ABJ, dez. 2016.
52

Metodologia
[...] Nesse estudo, discutimos a criação de varas empresariais na Comarca de São
Paulo e desenvolvemos metodologias inovadoras para resolver três problemas. O
primeiro é a vinculação de normas para determinação de competências com assuntos
da Tabela Processual Unificada do CNJ (Res. 46). O segundo é o tratamento de
falhas na classificação dos assuntos na base de dados analisada. O terceiro é criar
uma métrica de mensuração e comparação dos esforços empreendidos por
magistrados em processos comuns e empresariais.
Nas análises realizadas, encontramos evidências de que um processo empresarial
demanda aproximadamente o dobro de esforço do que um processo comum. Ao
realizar correções no volume processual a partir de um modelo de tratamento dos
assuntos, concluímos que duas varas empresariais atendem adequadamente a
demanda existente nos termos da resolução Nº 02/2011 do TJSP.

Resultados
30% dos processos empresariais distribuídos entre 2013 e 2016 foram
subnotificados devido ao mau uso das Tabelas Processuais Unificadas do CNJ.
Processos de direito empresarial tomam o dobro do tempo dos magistrados até
serem concluídos.
Processos de recuperação judicial tomam o triplo do tempo dos magistrados até
serem concluídos164.

Diante disso, se mostra latente a necessidade de se olhar tanto para o presente quanto
para o futuro, já acolhendo essa tendência do uso e implantação de novas tecnologias que
chegam para aprimorar o trabalho do Poder Judiciário junto a tais mecanismos.
Imprescindível evidenciar ainda que esse aprimoramento no trabalho do Poder Judiciário
através das novas tecnologias não deve trazer apenas o sentido de celeridade no foco
principal, mas sim em conjunto com a devida observância da segurança jurídica, caso
contrário, todo esse processo se mostraria ineficiente.
Quanto a este impasse que ocorre, relacionado à nova realidade jurídica da sociedade
atual, de caráter imediatista, Luiz Roberto Barroso elucidara que “a segurança jurídica — e
seus conceitos essenciais, como o direito adquirido — sofre sobressalto da velocidade, do
imediatismo e das interpretações pragmáticas, embaladas pela ameaça do horror
econômico165”.
Desse modo, o comportamento jurisdicional deve atuar cada vez mais em observância
à manutenção da segurança jurídica para se garantir o pleno desenvolvimento do Poder
Judiciário, enquanto sofre esse processo da sua informatização e evolução tecnológica junto à
sociedade que atende.
Sobre a inteligência artificial, a qual passou a ser considerada formalmente uma
disciplina acadêmica em 1956 a partir da realização do Congresso Dartmouth Summer

164
NUNES, 2016, op. cit., online.
165
BARROSO, Luiz Roberto. A nova interpretação Constitucional. 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.
55.
53

Research Project on Artificial Intelligence166, se deve evidenciar que essa forma de tecnologia
também tem se destacado nesse novo cenário tecnológico no mundo jurídico, bem como já
vem sendo utilizada por alguns tribunais.
Assim, as “técnicas ou métodos pelos quais um computador pode modelar os
processos normalmente associados à inteligência natural, tais como reconhecimento de
padrões, compreensão de linguagem, aprendizado e solução de problemas não
padronizados167” configuram o que se denomina Inteligência Artificial e passaram a ser
aplicáveis também ao Direito na prática. Por fim, a presença da inteligência artificial se
destaca ao ser aplicada a essa ferramenta denominada Jurimetria com objetivo de dinamizar e
conceber eficiência na coleta de dados para, assim, permitir aos estudiosos e profissionais do
Direito, um melhor estudo e análise do mundo Jurídico.

2.2.1 Conceitos e aplicabilidade nos Processos Eletrônicos

Como já mencionado, o homem não mais pode dispensar ou regredir na atual relação
que possui com os computadores, e isso reflete em seu âmbito individual e na sua forma de se
relacionar pessoalmente, uma vez que “o mundo atual se tornou cada vez mais dependente de
sistemas eletrônicos, a interação entre máquinas rege processos diários vitais para a
manutenção do nosso estilo de vida pós-moderno168”.
Desse modo, o uso da máquina e do mundo digital como instrumentos são essenciais
na convivência social e dos órgãos que compõem o Estado, reflete mais ainda e de forma mais
complexa, em todas as relações sociais. E apesar do processo da informatização dos processos
e tribunais ser recente no Brasil, “a discussão sobre informática aplicada ao direito já
preocupava juristas ao redor do mundo desde a década de 1970169”:

[...] o primeiro curso sobre informática jurídica ministrado no Brasil ocorreu em


1973 na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O Professor italiano Mario
G. Losano foi quem lecionou o citado curso a convite do Prof. Miguel Reale. Na
definição de Losano, “a informática jurídica estuda a aplicação dos computadores
eletrônicos ao direito, unida aos pressupostos e consequências desta aplicação” 170.

166
GONZALES, 2019, op. cit., p. 49.
167
Ibid.
168
TIMÓTEO, Gabrielle Louise Soares. Informática Jurídica: Uma discussão atual, mas não recente. Revista
dos Tribunais, São Paulo, v. 150, p. 215-224, 2013, p. 217.
169
Ibid., p. 216.
170
Ibid.
54

No atual contexto de ingresso no espaço virtual, percebe-se a necessidade da


interdisciplinaridade do Direito com outras áreas. Corroborando com essa percepção, o autor
Newton De Lucca comenta que “as principais características do Direito do Espaço Virtual
seriam a multidisciplinariedade, o cosmopolitismo e a tecnicalidade171”. Percebe-se também
significativa mudança no modelo processual conhecido até então, em relação ao
processamento, atos e quanto à dialética entre os atores processuais172.
Quanto a esse cenário de mudanças acompanhando a implantação dos processos
eletrônicos, convém citar a exemplificação da autora Renata Mota Maciel Dezem:

[...] o processo eletrônico estimula a interação dos sujeitos processuais, de modo


bidirecional e colaborativo, de forma imediata e ampla, para além das técnicas
processuais. Além disso, o acesso à informação processual e a publicidade dos atos
ganha espectro nunca visto, característica que demonstra a transparência do processo
eletrônico e o acesso por qualquer interessado, sem a necessidade de deslocar-se até
o ofício judicial173.

A autora também conclui que, enquanto de um lado o processo eletrônico reduz a


duração do trâmite de um processo, de outro acaba impondo uma significativa mudança de
mentalidade por parte de todos os componentes do universo jurídico bem como os indivíduos
da sociedade que o acessarem174.
Quanto à disciplina da Jurimetria, Guedes Nunes a definiu como aquela “do
conhecimento que utiliza a metodologia estatística para investigar o funcionamento de uma
ordem jurídica175”. Assim, a Jurimetria pode ser compreendida como o estudo científico do
Direito que se utiliza do método de pesquisa estatística no campo empírico e a qual poderá,
por exemplo, tanto descrever o que foi observado em uma decisão ou processo judicial,
quanto o que não fora observado. A referida disciplina, portanto, se volta mais para análises
quantitativas (por exemplo: do comportamento do Judiciário — decisões), fazendo uso da
lógica da estatística junto aos dados jurídicos produzidos em ambiente eletrônico, incluindo
ainda cálculos de previsibilidade no universo do Direito.
Todavia, Mario Giuseppe Losano em crítica ao termo, afirma que a denominação
“Jurimetria” deveria ser abandonada em vista da ideia de só a ligarem restritivamente às
possíveis previsões de sentenças com uso de lógica e aplicação por computador. A proposta

171
DE LUCCA, Newton. Títulos e contratos eletrônicos. In: DE LUCCA, Newton (Coord.). Direito & Internet:
aspectos jurídicos relevantes. São Paulo: Edipro, 2001, p. 70.
172
DEZEM, 2018, op. cit., p. 952.
173
DEZEM, 2018, op. cit., p. 957.
174
Ibid.
175
NUNES, 2016, op. cit., p. 103.
55

de Losano, então, era a de substituir o termo “Jurimetria” por “Juscibernética”, entendendo


que o termo seria mais adequado e indicaria todas as relações entre a cibernética e o mundo
do Direito176.
Fato é que, como bem observara Gabrielle Louise Soares Timóteo, se não tivesse
ocorrido essa evolução exponencial da área cibernética, “não seria possível se estar aqui
discutindo informática jurídica — a qual, como visto, pode ser definido como o estudo da
aplicação dos computadores ao direito bem como o estudo dos pressupostos e consequências
desta aplicação177”.
Percebe-se que tal ferramenta abre horizontes e amplia a visão de todos os
profissionais e estudiosos do Direito, ou melhor, do dinâmico e autopoiético universo
jurídico, sobre como o Poder Judiciário atua e tem se comportado numa dimensão muito mais
extensa e transparente.
A metodologia da Jurimetria traz uma nova linha de raciocínio a ser seguida, a
assertiva de que o procedimento para se decidir lides nos processos judiciais não deve mais
conter cunho determinista, mas sim, que se deve reconhecer expressamente que não há como
caberem afirmações absolutas no Direito, isto é, vale novamente citar que ela procura
“investigar como o Direito influencia a vida cotidiana das pessoas de modo empírico178”.
Tudo no mundo jurídico é considerado variável e com o uso da Jurimetria, os
resultados e análise não serão dotados de afirmações absolutas sobre esse mundo, serão, por
outro lado, descritas todas as suas variabilidades e se buscará controlar as suas incertezas.
Através de uma análise jurimétrica de um processo judicial eletrônico, ao coletar os
dados que ele carrega — tal como a classe ou tipo daquela ação, a comarca em que tramita e o
juiz da causa — se possibilita prever a resposta aproximada que aquele juízo se utilizará para
resolver aquele litígio. Além disso, possibilita não mais uma visão do processo eletrônico
isolado do mundo real, mas sim o cruzamento da análise de dados que aquele processo produz
até a sua decisão, com o que ocorre a partir dela, no mundo real, ou seja, o resultado do seu
impacto na sociedade.
Com isso, tem-se que o pesquisador do Direito bem como os responsáveis pela gestão
de Tribunais no Poder Judiciário, deixarão de serem aqueles que detêm apenas conhecimento
vasto sobre o que outros juristas já afirmaram acerca de tal norma, sem saber ainda quase
nada do mundo exterior e como aquela norma reflete nele. Além disso, com a tecnologia

176
LOSANO, Mario Giuseppe. Lições de informática jurídica. São Paulo: Resenha Tributária, 1974.
177
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 217.
178
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 46.
56

atuando nessas análises jurimétricas, ao terem acesso a esses resultados, os advogados


conseguem ampliar sua visão e conhecimento sobre aquele juízo, o que possibilita maior
assertividade na sua escolha quanto às estratégias que se utilizará nesses processos analisados.
É importante destacar que, quando se fala de novas tecnologias aplicadas ao processo
eletrônico, não se deve perder de vista o aspecto democrático:

A tecnologia aplicada ao direito e, mais especificamente, à tramitação de processos,


deve ser empregada de forma democrática. Com isto quero dizer que para que a
tecnologia exerça seu potencial construtivo é preciso que ela esteja pela Justiça e não
contra ela, ou seja, não se pode correr o risco de prejudicar direitos baseando-se em
um novo tipo de formalismo: o formalismo do sistema operacional informático 179.

Com isso, ainda deve haver preocupação por parte da gestão judiciária quanto ao
aspecto da informática e tecnologia, de possíveis falhas ou entraves criados
desnecessariamente nos sistemas eletrônicos, para então evitar que eles prejudiquem ou
alterem o acesso à Justiça ou mesmo provoquem desequilíbrio democrático em âmbito
tecnológico nesse sentido.
Isto porque pode se afirmar que ainda há uma ineficiência em relação ao acesso e
leitura dos dados criados e obtidos nos processos eletrônicos. Não há ainda, por exemplo,
dado correto em tempo real, e os sistemas dos Tribunais não leem dados que não sejam
estruturados e que foram armazenados de forma inconsistente (incompletos, com classificação
equivocada, etc.), ou seja, “dados sujos”180, que ainda são maioria:

Uma pesquisa realizada pela plataforma Kaggle apontou que o maior problema
encontrado por profissionais das áreas de aprendizado de máquina e ciência de
dados é o que eles chamam de “dirty data”. Em tradução literal para o português,
isso significa “dados sujos”, mas para você entender melhor o que isso significa e
como atrapalha o desenvolvimento de inteligência artificial, é bom pensar em “dirty
data” como “dados não coesos” ou “dados incompletos” 181.

A informatização dos Tribunais facilita o acesso aos dados e clareia como se dá


atualmente o funcionamento do Direito. Entretanto, ainda ocorre que quando questionados
sobre uma futura demanda por seu cliente, os advogados respondam embasados apenas na sua
experiência e percepção a partir de pesquisas jurisprudenciais online.
Mas não só na atuação dos advogados que a tecnologia pode apoiar a Jurimetria, sendo
ela de suma importância também no âmbito da gestão e organização interna do próprio Poder

179
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
180
MÜLLER, Léo. Entenda o que é “dirty data” e como isso atrapalha o desenvolvimento de IA. Portal
TecMundo, 08 nov. 2017.
181
Ibid., online.
57

Judiciário, visto que possibilita ampliar a visão geral nos mais variados setores e matérias
tratadas nos processos judiciais por cada Tribunal no país, conforme já reconhecido pelo
Conselho Nacional de Justiça.
Os incisos do Art. 3º da Resolução nº 332, de 21 de agosto de 2020, do CNJ, definem
um modelo de Inteligência Artificial como o agrupamento de “dados e algoritmos
computacionais, concebidos a partir de modelos matemáticos, cujo objetivo é oferecer
resultados inteligentes, associados ou comparáveis a determinados aspectos do pensamento,
do saber ou da atividade humana182”. Além disso, a referida Resolução também ressalta que
esses modelos de IA deverão se utilizar de softwares de código aberto, permitindo assim
maior transparência em seu uso.
É nesse cenário que entra o papel do sistema Sinapses que, configurado junto ao PJe,
servirá para armazenar, testar e distribuir os modelos de inteligência artificial desenvolvidos e
a serem aplicados pelos órgãos do Judiciário. A plataforma Sinapses funciona como um
centro de Inteligência Artificial, sendo resultado de um projeto do Tribunal de Justiça de
Rondônia (TJRO), incluído no portfólio de soluções do Conselho Nacional de Justiça através
do Termo de Cooperação nº 42/2018, com a finalidade de desenvolver soluções de
inteligência artificial (IA) que resultem no aprimoramento do serviço prestado pela Justiça aos
brasileiros183. Assim, todo órgão do Poder Judiciário envolvido num projeto de
desenvolvimento de inteligência artificial deverá informar tudo desse projeto ao CNJ bem
como depositar o seu modelo no Sinapses.
Faz-se importante citar também o sistema Codex, o qual operará em conjunto com o
sistema Sinapses, ao extrair todos os metadados (dados sobre outros dados) dos processos,
como por exemplo, as partes, seus dados, classe, valor da causa, nível de sigilo, origem,
jurisdição, movimentação, etc., além de consolidarem o formato de “texto puro” de todos
esses processos. Com essa atuação, se obterá a devida base de dados para o desenvolvimento
de modelos de inteligência artificial184.
Outro exemplo de utilização da Inteligência Artificial na otimização do desempenho
dos Tribunais em cadastro de processos fora o Projeto Hórus, do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios (TJDFT), o qual agilizou o cadastramento de processos

182
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 332, de 21 de agosto de 2020. Dispõe sobre a ética, a
transparência e a governança na produção e no uso de Inteligência Artificial no Poder Judiciário e dá outras
providências. Brasília, DF: CNJ, 2020a, online.
183
AGÊNCIA CNJ DE NOTÍCIAS. CNJ abre seleção de projetos para Centro de Inteligência Artificial. Agência
CNJ de Notícias, 07 mai. 2019.
184
ANDRADE, Paula. Workshop destaca inteligência artificial no Judiciário. Agência CNJ de Notícias, 14 jun.
2020.
58

digitalizados de execuções fiscais para o PJe. E também o sistema dos CEJUSC’s desse
mesmo Tribunal, que foram atualizados para serem capazes de classificar os novos
procedimentos por meio do processo de aprendizado da máquina — o denominado machine
learning185. Com isso, os servidores daqueles CEJUSC’s não precisaram mais se ocupar com
as complementações de dados nos processos, tendo ganhado tempo ao não precisar realizar
manualmente a triagem daqueles.
Segundo Edoardo Eugenio S. Gonzalez, técnicas como o machine learning trazem
benefícios em relação à eficiência e maior justeza em relação aos aprendizados dentro da
jurimetria, “abrindo até mesmo possibilidades antes impensáveis dentro da prática jurídica,
como a estimativa de chances de acolhimento de teses jurídicas específicas no bojo de uma
ação judicial186”.
Outros importantes exemplos como os do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
(TJRN) e o Superior Tribunal Federal (STF) também devem ser destacados quanto as suas
tecnologias:

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN), em parceria com a


Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), criou uma família inteira
de robôs: Poti, Clara e Jerimum. O primeiro está em plena atividade e executa
tarefas de bloqueio, desbloqueio de contas e emissão de certidões relacionadas ao
BACENJUD. Em fase de conclusão, Jerimum foi criado para classificar e rotular
processos, enquanto Clara lê documentos, sugere tarefas e recomenda decisões,
como a extinção.
[...]
O Supremo Tribunal Federal (STF) conta com um sistema que usa IA,
desenvolvido em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), o qual recebeu o
nome de Victor em homenagem ao ministro Victor Nunes Leal. A função do
referido sistema é elevar a eficiência e a velocidade da avaliação judicial que chega
à Corte187.

Diante disso, pode se afirmar também que o estudo do que ocorre em diversos
processos, repetitivos ou não, através da Jurimetria contribuirá cada vez mais para o
desenvolvimento desses sistemas de Inteligência Artificial, os quais buscarão garantir maior
celeridade e efetividade aos processos a partir dos resultados que a jurimetria trouxer. E isso
porque “não é apenas para leitura de dados que a inteligência artificial pode ser aplicada ao
Direito, podendo-se pensar em ferramentas de elaboração de peças simples, pesquisa de
precedentes, entre outras possibilidades188”.

185
TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios). TJDFT usa inteligência artificial para aprimorar
sistemas. Portal TJDFT, 2019.
186
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 49.
187
BARBOZA, 2019, op. cit., p. 18. (Grifo nosso).
188
DEZEM, 2018, op. cit., p. 965.
59

Assim, as análises estatísticas quantitativas e qualitativas utilizadas pela jurimetria ao


se voltarem para o estudo das decisões judiciais nos processos eletrônicos e ao serem cruzadas
com os comportamentos dos magistrados e dos jurisdicionados, possibilitarão analisar o
impacto social daquelas decisões, para, assim, poderem contribuir com o aperfeiçoamento da
estrutura do Poder Judiciário. Com isso, a inteligência artificial poderá ser desenvolvida a
partir dos resultados dessas análises em complemento à atuação da metodologia da Jurimetria.
Dessa forma, a Jurimetria, além de processar e organizar dados para possibilitar busca
de ferramentas de Inteligência Artificial com foco direto onde se necessita, poderá também
nesse contexto servir para nortear o julgador “em busca da melhor solução para o caso (ou
única solução) 189”.
Conclui-se, então, quanto à Jurimetria, que certamente “essa nova modalidade está
possibilitando o descongestionamento do Poder Judiciário e permitindo uma revisão do
modelo de processo tradicional, já obsoleto190”. Ocorre que, como se verá a seguir, se
vislumbra a urgência quanto a esse aprofundamento no Direito e ampliação da visão do seu
impacto atual na sociedade para aperfeiçoá-lo, visto que os processos eletrônicos nesse
cenário do Judiciário com alto número de demandas são responsáveis pela produção
exponencial de dados, os quais deverão ser suportados por esses sistemas de Inteligência
Artificial e, não só armazenados, mas tratados com a devida segurança.

2.3 O IMPACTO DO AUMENTO EXPONENCIAL DA PRODUÇÃO DE DADOS


ELETRÔNICOS NO PODER JUDICIÁRIO

Atualmente vive-se em uma época marcada pelo dilúvio de dados gerados


cotidianamente no meio social devido à informatização de diversos meios produtivos. E o
Poder Judiciário paralelamente vivencia o mesmo processo.
A Jurimetria objetiva determinar o Direito de forma realista ao analisar como os
órgãos jurídicos funcionam, assim como os processos e as decisões judiciais191, e tudo isso
produzindo dados diariamente no universo jurídico; desse modo, se faz necessário pensar que
nas condições necessárias para essa grande quantidade de dados serem devidamente
armazenadas, geridas e disponibilizadas para as consultas e análises.

189
HADDAD, 2010, op. cit., p. 3933.
190
RODRIGUES; FLORES, 2014, op. cit., p. 70.
191
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 46.
60

A estatística lida com a coleta, organização e análise de dados, tendo a finalidade de


descrevê-los em grupos e, a partir disso, gerar informação, resultando em conhecimento em
máximo nível possível. Além disso, a estatística inicial, denominada descritiva, ainda analisa
e processa o ato de visualizar, explorar e sumarizar os dados coletados em estudo. Em síntese,
a Jurimetria através das estatísticas objetiva trazer as soluções e, sem os devidos dados, não há
como se chegar a nenhum resultado potencial nesse campo empírico.
A palavra “dados”, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, significa:

Conhecimento que se tem sobre algo, usado para solucionar uma questão, fazer
um julgamento, criar ou colocar em prática um pensamento, uma opinião;
informação: os dados indicam um aumento do desemprego.
Informação que identifica algo, alguém ou sobre si mesmo: dados pessoais.
[Informática] O que se consegue processar, decodificar a partir de um
computador.
Etimologia (origem da palavra dados). Plural de dado, do latim dátus.
Um “apresentado, entregue” 192.

Assim, o termo “dado” gira em torno de um conhecimento a ser utilizado para se


possibilitar responder questionamentos e, posteriormente, gerar “informação”, a qual não se
define como um sinônimo daquele. Desse modo, o “dado” se traduz em um “fenômeno
desprovido de significado e contexto193”, se diferenciando, portanto, da informação, a qual
“resulta do processamento, manipulação e organização de dados, interpretados,
compreendidos e contextualizados, que adquirem assim um significado194”.
A questão, então, gira em torno de como gerar informação e conhecimento úteis a
partir dos milhões de dados produzidos diariamente. A citação do estatístico Willian Edwards
Deming já no título de seu livro In God we trust; all the others must bring data, em tradução
livre “Em Deus nós confiamos, todos os outros devem trazer dados” representa bem a
importância dos dados para de fato se conhecer algo ou alguém e, principalmente,
determinados fatos — sobretudo no universo jurídico195. Além disso, deve-se ressaltar o valor
de se dar o devido tratamento e segurança aos dados obtidos e armazenados nele.
No Brasil, o Poder Judiciário já possui uma base de dados de grande amplitude,
necessitando, por isso, de ferramentas de análise de big data, isto é, requer métodos mais
evoluídos de análise. Essa base também possui uma profundidade única, sendo, portanto, um
exemplo sem precedentes. O autor Marcelo Guedes Nunes é quem está na vanguarda da

192
DADOS. In: DICIONÁRIO Online de Português. Porto: 7Graus, 2020, online. (Grifo nosso).
193
GONZALEZ, 2019. p. 46.
194
Ibid.
195
NUNES, 2016, op. cit.
61

análise de dados produzidos dentro do Poder Judiciário na utilização e estudo pela Jurimetria
no Brasil196.
Um caminho possível, portanto, teria como primeira tarefa compreender que tipo de
informação os dados coletados nos sistemas judiciários trazem e para qual tipo de estudo e
análise servirão. O Judiciário brasileiro, que se encontra bastante informatizado, já possibilita
o processamento e acesso dos dados que produz diariamente, dados estes que se tornam objeto
de estudo da Jurimetria em diversos sentidos, e mesmo pertencendo a processos passados,
possibilitarão novos horizontes e uma visão mais orgânica de como o sistema tem funcionado
aos operadores do Direito.
Com a massiva produção e disponibilidade de dados, bem como o aperfeiçoamento de
modelos de sistemas voltados para o Judiciário, o campo da Inteligência Artificial nesse
universo também tem experimentado “uma renascença, recebendo muita atenção na mídia e
investimentos em pesquisa197”. Para tanto, é necessário possibilitar o estudo e a
“parametrização de uma grande quantidade de dados (big data) do passado pode ofertar
horizontes promissores, em especial quando utilizados com o auxílio de algoritmos, até
mesmo para induzir uma potencial predição de resultados198”.
O aprimoramento dos modelos de aprendizado pelas máquinas (machine learning
models) atualmente já permitem que os computadores, ao conhecerem de um ou mais
exemplos, posteriormente também “reconhecem padrões, e aprendem a executar tarefas,
predição de eventos futuros ou classificações similares, sem supervisão adicional199”.
Aqui cumpre evidenciar a diferença entre machine learning, Inteligência Artificial e
ainda o deep learning. O primeiro termo, machine learning, pode ser entendido como um
“subconjunto de técnicas de inteligência artificial que usam métodos estatísticos para permitir
que as máquinas melhorem com experiências200”; já a Inteligência Artificial configura
quaisquer técnicas que possibilitem um comportamento humano às máquinas, enquanto o
deep learning “é subconjunto de machine learning que viabilizam o cálculo de redes neurais
multicamadas201”.
Diante desses aperfeiçoamentos e da utilização do machine learning, se mostra
necessária à utilização da text mining (técnicas de mineração de textos) para recuperação e
tratamento das informações contidas em textos, sendo de grande utilidade para aquele que

196
NUNES, 2016, op. cit.
197
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 50.
198
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 406.
199
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 51.
200
DEZEM, 2018, op. cit., p. 964.
201
Ibid.
62

trabalhar com uma base de dados apenas nesse formato de linguagem escrita202. A finalidade
da text mining é a automatização nas análises de textos, as quais reconhecem qualquer
informação desejada e conhecimento específico pertencente a eles quando necessário.
Importante destacar também que quando se somam técnicas de Processamento de
Linguagem Natural (PLN) nas etapas dessa mineração de textos, se tem como resultado uma
qualidade maior na recuperação de informações. O PLN consiste num conjunto de técnicas
formais que são utilizadas para análises textuais com codificação das informações contidas
naquele texto, ou seja, através dele se possibilita que a máquina compreenda o significado do
referido texto203.
Segundo o autor Adriano Oliveira em apresentação de vídeo para a TV-CNJ em canal
no Youtube204, são seis as etapas que compõem o procedimento da mineração de dados, sendo
três delas, necessariamente, prévias à mineração (preparação inicial dos dados) e que
significam 60% a 90% do tempo gasto em todo o procedimento: 1) coleta de dados; 2)
processamento; 3) transformação. Somente depois desse preparo, inicia-se a mineração e nela
algoritmos são aplicados aos dados coletados para descobrir padrões e relações contidas
nesses dados, que antes eram desconhecidos. Finaliza-se o procedimento com a etapa de
interpretação e avaliação desses padrões reconhecidos, possibilitando um conhecimento útil
para tomada de decisões. Assim, o que se afirma acerca da mineração de dados é que ela
compõe uma parte do que se denomina Data Science — ambos trabalham pelo objetivo final
de proverem insights para auxiliar o usuário na tomada de decisões.
Nota-se que, para tudo isso ocorrer, e com a enorme quantidade de dados produzidos
por uma ciência social como o Direito, sendo, portanto, complexos, se torna um desafio tanto
o desenvolvimento da Inteligência Artificial, quanto em relação à supervisão também humana
dos mesmos, visto que o cenário dificulta a gestão dos dados:

A linguagem humana é extremamente complexa para a interpretação por


computadores, devido ao seu caráter simbólico, muitas vezes ambíguo e sujeito a
interpretações de contexto, de regras gramaticais, e de arcabouço cultural e abstrato
no qual se insere ou foi criada205.

Alguns cientistas e especialistas da computação se deparam com dificuldades para


criarem um sistema que analise de forma confiável decisões com linguagem humana (natural),

202
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 52-53.
203
Ibid.
204
TV-CNJ. Webinar - Inova PJe apresenta o Laboratório de Mineração de Processos - 10 de julho de 2020
[01h35m45s]. Youtube, 10 jul. 2020.
205
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 53.
63

uma vez que “tal premissa se baseia no fato de que os julgados são dados não-estruturados e
desenvolvidos em linguagem natural, assim, a predição de julgados depende
impreterivelmente da capacidade de processamento de linguagem natural206” — a chamada
Extração de Informação.
A Extração de Informação consiste, então, na tarefa do PLN “usada para recuperar
automaticamente informações estruturadas de documentos textuais não estruturados e/ou
semiestruturados, tais como entidades, relações e atributos que descrevem as referidas
entidades207”.
Ainda sobre as dificuldades enfrentadas pela área de Processamento de Linguagem
Natural (PLN), um dos problemas:

[...] é a extração de informações de modo a classificá-las como uma determinada


entidade, ou Named-Entity Recognition (NER). Em uma sentença, por exemplo, é
que a palavra ‘ação’ pode ser utilizada pelo magistrado tanto no seu sentido
processual quanto para se referir às partes do capital de uma empresa. Isso sem
contar com o significado comum, ou seja, derivado do verbo agir208.

Portanto, diante dessa evidente complexidade somada ao abarrotamento de causas no


Judiciário, que forma uma massa inviável de se administrar sem supervisão humana ou sem
socorro dos métodos empíricos, se destaca a metodologia trazida pela Jurimetria para
possibilitar melhor o desenvolvimento da Inteligência Artificial nesse campo de gestão de
dados e informações209.
Alguns pontos mais importantes da análise estatística acabam não sendo
essencialmente matemáticos, como a “identificação da fonte dos dados, a escolha de testes
capazes de robustecer as conclusões ou a forma de visualização dos resultados em gráficos e
tabelas210”. Para tais ações, são necessários sistemas operáveis entre si, capazes de
contribuírem com o tratamento dos dados produzidos pelo Poder Judiciário, principalmente as
decisões judiciais.
Diante desse cenário, se conclui que para se atingir maior eficiência e eficácia na
aplicação do Direito na prática, não há mais como esse caminho dispensar a Jurimetria nem os
softwares capazes de analisarem e apresentarem os dados judiciais com a devida agilidade. A
preocupação inicial então se dá diante da enorme quantidade de dados produzidos diariamente

206
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 12.
207
Ibid.
208
Ibid., p. 12-13. (Grifo nosso).
209
NUNES, 2016, op. cit.
210
Ibid., p. 10.
64

no Poder Judiciário em meio eletrônico e como se possibilitar a melhor gestão e proteção


desses dados para que possam ser utilizados com segurança pela Jurimetria.
Vale lembrar que em época anterior à criação do Conselho Nacional de Justiça, os
dados de processos judiciais existentes “sequer eram mapeados com métodos estatísticos
adequados, ficando a cargo de cada um dos inúmeros tribunais brasileiros organizarem, cada
um ao seu modo, as informações que julgavam adequadas211”. Como um divisor de águas,
após a criação do CNJ, o órgão passou a atuar na coleta e estudo, e atualmente busca realizar
uma gestão judiciária. Com ele se possibilitou a estipulação de metas para medir o
desempenho dos Tribunais, estimar e prever as necessidades de recursos de natureza
financeira e humana e, ainda, estipular “as áreas que demandam melhorias, inclusive, de
ordem operacional, como, por exemplo, a utilização da Inteligência Artificial212”.
O levantamento Justiça em Números 2020 do CNJ, atualizado em 25 de agosto de
2020, atesta que a justiça estadual contava com 61.209.295 (sessenta e um milhões, duzentos
e nove mil, duzentos e noventa e cinco) processos pendentes em 2019213, demonstrando que a
situação é de progressivo aumento de processos e, consequentemente, de dados eletrônicos
para serem efetivamente organizados e geridos.
Diante do aumento exponencial de dados produzidos eletronicamente pelo Poder
Judiciário, foi publicada pelo CNJ a Resolução nº 331, de 20 de agosto de 2020, a qual
instituiu a Base Nacional de Dados do Poder Judiciário (DataJud), objetivando aperfeiçoar o
sistema estatístico do Poder Judiciário. A resolução traz em seu Art. 2º a definição do que são
os denominados “metadados processuais”, dispondo que os mesmos são as “informações
estruturadas dos processos judiciais214”, ou seja, configuram o que identifica o conteúdo de
cada processo, como o assunto, a classe e a tramitação dele.
Ainda sobre os metadados dos processos eletrônicos, vale ressaltar o que fora
analisado por Eduardo Watanabe — o autor adota a definição de metadados de Anne J.
Gilliland, a qual o conceitua como “a soma total do que pode ser dito sobre algum objeto
informacional em algum nível de agregação215” — que destaca o Modelo Nacional de

211
BARBOZA, 2019, op. cit., p. 16.
212
Ibid., p. 11.
213
CNJ. (Conselho Nacional de Justiça). Justiça em Números 2020: ano-base 2019. Brasília: CNJ, 2020b.
214
CNJ. (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 331, de 20 de agosto de 2020. Institui a Base Nacional
de Dados do Poder Judiciário – DataJud como fonte primária de dados do Sistema de Estatística do Poder
Judiciário – SIESPJ para os tribunais indicados nos incisos II a VII do art. 92 da Constituição Federal. Brasília,
DF: CNJ, 2020c.
215
WATANABE, Eduardo. A arquitetura de metadados de Processos Judiciais Cíveis. In: XV ENCONTRO
NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 2014, Belo Horizonte. [Anais...] Belo
Horizonte: UFMG, p. 1122-1128, 2014, p. 1.125.
65

Interoperabilidade (MNI) adotado pelo CNJ em compromisso firmado com todos os órgãos
do Judiciário, o qual “contém padrões para intercâmbio de informações de processos judiciais
por meio de sistemas processuais216”.
Pode se interpretar que a aplicação desse modelo imposto pelo CNJ objetiva
padronizar cadastramentos de dados pelos órgãos do Judiciário; e que todos os sistemas
utilizados por eles, possibilitem a troca de informações dos processos eletrônicos judiciais
entre todos, além de constituir uma base do sistema processual. Watanabe então analisara esse
modelo do CNJ evidenciando que nele foram criadas tabelas com códigos de identificação
para metadados como: os tipos de classe, assunto, tramitação e resultado de decisões judiciais
para os processos eletrônicos então serem cadastrados de forma padronizada217.
O que Eduardo Watanabe percebera em pesquisa de campo no sistema da Justiça
Federal no 1º grau que ainda existem lacunas nessas classificações, seja pela generalidade das
classes, se mostrando muitas vezes distintas dos pedidos do autor, seja pela complexidade e
amplitude, como nos assuntos, devido a extensa variedade de legislações no ordenamento
jurídico218.
É igualmente importante citar o destaque dado por Watanabe quanto aos metadados de
resultados de decisões judiciais, sobre estes o autor afirma que:

[...] são de muita utilidade para a adequada gestão na advocacia pública e em


escritórios de advocacia [...]. Contudo é de se observar que os 229 códigos para
detalhar a informação dos resultados podem ser um número grande demais que
dificulte a classificação e fatalmente a inserção com qualidade de dados nos sistemas
de informação do Judiciário219.

A quantidade expressiva de processos existentes ainda diariamente intensifica a


produção de todos esses dados e metadados que, apesar de estarem num caminho de
padronização para facilitar seu acesso, ainda se mostram com lacunas tanto para o acesso
manual humano, quanto para a Inteligência Artificial, ainda que em menor dificuldade.
É previsto na Resolução nº 331 que a base DataJud deverá ser alimentada com todos
os dados e metadados de processos físicos e eletrônicos, sejam eles públicos ou sigilosos. E
que a segurança de todos eles e da informação que eles geram será de total responsabilidade
do CNJ220. Assim, nota-se um necessário auxílio e atenção quanto à utilização da tecnologia e

216
WATANABE, 2014, op. cit.
217
Ibid.
218
Ibid., p. 1.128.
219
WATANABE, 2014, op. cit., p. 1.128.
220
CNJ, 2020c, op. cit.
66

quanto à segurança desses dados armazenados e transmitidos pelos órgãos judiciais ao CNJ,
que os manterá armazenados e disponibilizados conforme sua classificação e publicidade.
Isto porque esse mundo das novas tecnologias e da internet é fonte de inúmeras
ferramentas eficientes e de celeridade, mas também de muitos riscos, como perdas e roubo de
dados, que já vem acontecendo de maneira significativa no Judiciário brasileiro cujas
consequências podem ser dramáticas. Em novembro de 2020, por exemplo, o Supremo
Tribunal de Justiça sofreu um ataque hacker de invasão de dados221; e, também em 2020, o
sistema e-proc do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul sofreu um ataque de
hackers que afetou a página de acesso aos processos eletrônicos222.
O Sistema de Estatística do Poder Judiciário (SIESPJ), regulamentado pela Resolução
nº 15/2006, cujos princípios de atuação estão na Resolução nº 76/2009, é um sistema interno
ao CNJ e possui o seguinte objetivo:

[...] a coleta de informações e indicadores estatísticos precisos, padronizados e


confiáveis que possibilitem comparações, diagnósticos, análises estatísticas,
mensurações e avaliações de desempenho ou produtividade de órgãos, unidades,
magistrados e servidores, para subsidiar a tomada de decisões no processo de
planejamento e gestão estratégica das instituições do Judiciário223.

Assim, a base DataJud se tornara uma fonte primária de dados para o sistema SIESPJ,
bem como para todos os tribunais brasileiros. E, certamente, o DataJud influenciará ainda a
rotina e a atuação dos Tribunais, dos seus magistrados, desembargadores e ministros, visto
que suas presidências são incumbidas de fornecer todos os dados a essa base, sendo
responsáveis pela veracidade de todas as informações apresentadas224.
Contudo, conforme se dá o aumento na quantidade de dados provenientes dos
processos judiciais eletrônicos, também se dá o aumento do poder e o alcance da computação,
assim como “a capacidade que os computadores possuem de realizar tarefas jurídicas
complicadas tende a se sofisticar a cada ano, ampliando as vantagens de profissionais que
investirem nesses campos225”.
Ademais, nesse aspecto:

221
VIVAS, Márcio Falcão e Fernanda. STJ diz que sistema de informática do Tribunal foi alvo de ataque hacker
e pede investigação da PF. Portal G1, 04 nov. 2020.
222
G1-RS. Site do Tribunal de Justiça do RS sofre ataque hacker. Portal G1-RS, 11 nov. 2020.
223
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Sistema de Estatística do Poder Judiciário (SIESPJ). Portal CNJ,
2020d.
224
CNJ, 2020c, op. cit.
225
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 11.
67

A informática […] é uma técnica que desde o início deve ser desenvolvida de forma
coordenada em nível geral. Naturalmente, a realização do plano pode ser efetuada
em fases sucessivas, mas é indispensável que elas sejam coordenadas dentro de um
quadro geral. […] A quase totalidade dos insucessos na automação documentária ou
administrativa se deve a erros na organização226.

Assim, a possibilidade de um devido tratamento dos dados produzidos em processos


eletrônico está na gestão e na organização por parte dos setores de administração do Poder
Judiciário, envolvendo inteligência artificial somada a uma supervisão humana. Cabe citar
que:

[...] “não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se
define o que não se entende e não há sucesso no que não se gerencia”. Em outras
palavras, somente com informações organizadas é que a Administração pode atuar,
daí porque consideramos a articulação com a Arquivologia e a Ciência da
Informação227.

Sob a ótica do Direito em interdisciplinaridade com a Arquivologia e a Ciência da


Informação, a tecnologia da Inteligência Artificial pode ser bem aproveitada.
Vale ainda destacar que, de acordo com a Resolução nº 332, “no seu processo de
tratamento, os dados utilizados devem ser eficazmente protegidos contra riscos de destruição,
modificação, extravio, acessos e transmissões não autorizadas228”. Nota-se a preocupação com
o tratamento e segurança dos dados em meio eletrônico, incluindo no uso da Inteligência
Artificial, determinando-se também que nele deverá sempre ser mantido o respeito à
privacidade dos usuários, “cabendo-lhes ciência e controle sobre o uso de dados pessoais229”.
O dispositivo evidencia o importante enfoque quanto à ausência ainda no cenário
brasileiro, de “normas específicas quanto à governança e aos parâmetros éticos para o
desenvolvimento e uso da Inteligência Artificial230” no âmbito da administração e utilização
pelo Poder Judiciário. E, portanto, devem ser observadas a proteção dos usuários além dos
dados armazenados na base DataJud; isto porque já se encontram em andamento diversas
iniciativas e projetos de Inteligência Artificial. Diante disso, se faz necessária essa
observância de parâmetros para sua gestão, bem como a utilização ética de todos os dados
acessados.

226
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
227
WATANABE, Eduardo; SOUSA, Renato Tarciso Barbosa de. Processos Judiciais Eletrônicos: desafios para
a gestão a partir da Arquivologia e da Ciência da Informação. In: ENCONTRO DE ADMINISTRAÇÃO DA
JUSTIÇA, 2019, Brasília. [Anais...]. Brasília, DF: ENAJUS/UnB/IBEPES/CAPP, 2019, n.p. (Grifo nosso).
228
CNJ, 2020a, op. cit., online.
229
Ibid.
230
CNJ, 2020a, op. cit., online.
68

A Inteligência Artificial se mostra essencial diante do cenário atual da produção


exponencial de dados dos milhões de processos judiciais em meio eletrônico, visto que até
para estudo estatístico de casos, se for realizado manualmente, demandará:

[...] recurso humano e de tempo que não estão disponíveis para a maioria dos
juristas, ante a necessidade de lidar com as tarefas cotidianas da profissão. Isso
tendo em vista além das horas para o estudo da estatística, em especial a inferencial,
os obstáculos da própria base de dados231.

Todavia, como esses dados produzidos no Poder Judiciário através dos processos
eletrônicos possuem alto valor, pois se traduzem em dados pessoais de milhares de pessoas
físicas e jurídicas, além de fatos específicos, decisões de cada julgador, etc., não há como
mantê-los apenas sob a gestão de um programa de Inteligência Artificial. Faz-se
absolutamente necessária a presença de supervisões que mantenham um tratamento
humanitário e ético ao armazenamento, disponibilização e gestão desses dados sob a
responsabilidade do Poder Judiciário.
Destarte, a sociedade atual se vê diante de um complexo desafio para encontrar uma
forma de gerir o mundo jurídico e seus dados em meio completamente eletrônico e sob a
atuação de softwares de Inteligência Artificial.

2.4 O PAPEL DA JURIMETRIA NA UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA


PREVISTA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Ainda que se mostre complexa a missão de gerir os dados produzidos pelos processos
judiciais eletrônicos, conforme tratado anteriormente, a coleta desses dados para fins de
pesquisa empírica pela Jurimetria poderá impactar significativamente no comportamento dos
julgadores. Para tanto:

[...] deve haver uma mudança de forma no próprio estudo do Direito. Com a
utilização da pesquisa empírica, a partir da coleta de dados, tais como, as centenas
ações judiciais propostas, o resultado das decisões, é possível, além de garantir o
registro dessas informações por mais tempo, compreender, deduzir e fazer
inferências a partir dos resultados232.

Quanto a esse panorama de milhões de processos judiciais atualmente pendentes de


decisão do Poder Judiciário brasileiro, se faz importante à busca pela maior compreensão

231
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 11.
232
BARBOZA, 2019, op. cit., p. 10.
69

acerca dos “males que sufocam e atrasam a Justiça, sem que importantes conquistas
constitucionais dos cidadãos sejam suprimidas233”. Para tal questão, é preciso focar em três
pontos: “lei processual, estruturas judiciárias e, o mais importante, o sujeito que atua no
processo234”.
E neste contexto pode-se evidenciar o papel desempenhado pela Jurimetria, não
somente sob o aspecto do processamento eletrônico de dados, mas como ferramenta para
nortear o julgador, podendo conduzi-lo em busca da melhor solução para o caso (ou única
solução), impactando diretamente na estrutura judiciária235.
O estudo estatístico dos dados selecionados e extraídos dos processos eletrônicos
poderia ser capaz de prover o fundamento que possibilite às partes e ao sistema jurídico
encontrar a solução mais pertinente num caso específico, uma vez que a natureza da jurimetria
é predominantemente metodológica, instrumental, empírica, e divide sua finalidade em três:

a) O armazenamento e a recuperação de dados jurídicos usando computadores


eletrônicos;
b) A análise behaviorista, ou quantitativa das decisões judiciais
c) O uso da lógica simbólica aplicada ao Direito236.

O foco neste trabalho é a análise e o questionamento sobre se há uma mudança de


comportamento dos julgadores e das decisões judiciais a partir da utilização mais significativa
da Jurimetria. Ainda se faz importante analisar a clara diferenciação entre Jurimetria e a
jurisprudência:

A jurisprudência preocupa-se com matérias como a natureza e as fontes do Direito,


as bases formais do Direito, a esfera de ação e a função do mesmo, os fins do Direito
e a análise dos conceitos jurídicos gerais. A Jurimetria está voltada para temas
como a análise quantitativa do comportamento judicial, a aplicação da teoria da
comunicação e da informação ao intercâmbio jurídico, o uso da lógica matemática
no Direito, a recuperação dos dados jurídicos por meios eletrônicos e mecânicos
e a formulação de um cálculo de previsibilidade no âmbito do Direito. A
jurisprudência é, antes de mais nada, uma tarefa do racionalismo; a jurimetria é
um esforço para utilização de métodos científicos na área do Direito. As conclusões
da jurisprudência apenas podem ser discutidas; as da Jurimetria podem ser
testadas. A jurisprudência cogita de essências, de fins, de valores. A jurimetria
examina métodos de pesquisa237.

233
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit. p. 83.
234
Ibid.
235
HADDAD, 2010, op. cit., p. 3933.
236
ALMEIDA, 2019, op. cit.,, p. 111-113. (Grifo nosso).
237
ALMEIDA, 2019, op. cit.,, p. 113. (Grifo nosso).
70

Conforme Marcelo Guedes Nunes alega, “os adeptos da jurisprudência mecânica


acreditam que a lei predetermina as decisões judiciais238”, como se o juiz então não tivesse
vontade própria. Sabe-se que tal premissa não se aplica, visto que no cotidiano jurídico
brasileiro se tornou cada vez mais constante as inúmeras decisões completamente diferentes e
conflitantes para situações idênticas de cada julgador, numa mesma comarca, ou de cada
Tribunal.
Neste cenário, cresce um ambiente de incerteza e, ainda, de morosidade, visto que
cada processo com as mesmas situações seria analisado por cada julgador fundamentadamente
como sendo a primeira vez que a questão é judicializada, ao invés de já se embasar em caso
idêntico com precedente já definido.
Contudo, um novo panorama se iniciou com Código de Processo Civil de 2015 através
dos seus artigos 926 e 927239, introduzindo o sistema de precedentes, o qual possui a
finalidade de concretizar a uniformização das decisões judiciais tornando estas mais
coerentes, possibilitando maior segurança jurídica, bem como o caráter de estabilidade para as
relações sociais após serem tratadas pelo Poder Judiciário.
Desde então, ocorre então uma crescente valorização da jurisprudência. Conforme
exposto no Art. 926 do Código de Processo Civil de 2015, se impõe expressamente aos
Tribunais o dever de uniformizar a sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente,
por meio de súmulas vinculadas a circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram a sua
criação240.
Assim, com o atual Código de Processo Civil é evidenciada a importância de um
modelo constitucional de processo que busque a eficiência através do sistema de precedentes.
Além disso, o contraditório e a devida fundamentação (motivação da decisão judicial)
permanecem estreitamente ligados a esse sistema, sendo expressamente considerados
necessários para que um julgado seja recepcionado como precedente, como indicado pelos
artigos 489, §1º, IV; 984, §2º e 1038, §3º, do CPC241.
Ademais, quanto a essa estabilidade e uniformização para as mesmas situações, se
destaca que as decisões poderão ser identificadas através da sua ratio decidendi. Para Neil
MacCormick e Robert Summers, o conceito de ratio decidendi é entendido como:

238
NUNES, 2016, op. cit., 10.
239
BRASIL, 2015, op. cit.
240
Ibid.
241
BRASIL, 2015, op. cit.
71

A ratio decidendi is a ruling expressly or impliedly given by a judge which is


sufficient to settle a point of law put in issue by the parties’ arguments in a case,
being a point on which a ruling was necessary to his[/her] justification (or one of
his[/her] alternative justifications) of the decision in the case.

Uma ratio decidendi é uma decisão expressa ou implícita por um juiz a qual é
suficiente para resolver uma questão de direito posta em causa pelos argumentos das
partes em um caso, sendo um ponto em que uma decisão foi necessária para sua
justificação [/ela] (ou uma de suas [/ela] justificativas alternativas) da decisão no
caso242.

Com isso, a ratio decidendi pode ser interpretada como a “razão de decidir”, a qual
compõe os motivos determinantes para chegar à decisão que servirá de paradigma às situações
que aparecerem no Judiciário, contendo os fatores que ensejam decisão por aqueles mesmos
motivos, o que a justificaria.
A princípio talvez pareça contraditório afirmar que se deve buscar a uniformização e
estabilização para se atingir a evolução do Direito, visto que é necessário se atentar as
particularidades de cada caso. Todavia, a liberdade que é conferida ao Judiciário no modelo
constitucional atual, muitas vezes, leva a diversas decisões de casos similares, com a mesma
matéria, mas incoerentes entre si, causando assim maior insegurança jurídica243. O direito para
ser justo deve acompanhar a evolução das relações sociais, da cultura, das tradições, mas não
pode, num mesmo contexto jurídico e cronológico, permitir a desigualdade no tratamento de
casos semelhantes244.
E é nesse cenário que a jurimetria poderá desempenhar um papel importante na
prática, com possibilidade de contribuir cada vez mais com a finalidade do sistema de
precedentes trazido pelo Código de Processo Civil. A jurimetria aproxima o conhecimento
jurídico do conhecimento estatístico, visto que contribui com recursos que focam no
levantamento dos dados empíricos capazes de conduzirem à estruturação de uma política
pública jurídica melhor desenvolvida, tanto no âmbito de gestão quanto jurisprudencial.
Conforme explana Guedes Nunes, a estatística inferencial consiste em:

[...] área que estuda como certas conclusões podem ser logicamente induzidas a
partir da análise de um conjunto de dados sujeitos a uma variação aleatória. A
estatística referencial complementa a descritiva. Enquanto esta resume, explora e
descreve os dados, aquela faz afirmações que vão além da mera descrição dos
dados, como, por exemplo, (I) inferências sobre uma população (caso os dados

242
MACCORMICK, Neil; SUMMERS, Robert. (Org.). Interpreting Precedents: A comparative Study.
Vermont: Ashgate Publishing Company, 1997, p. 338. (Tradução nossa).
243
ALVIM, Arruda. Apontamentos sobre o papel do juiz e dos tribunais na ordem constitucional vigente:
enfoque comparativo entre a jurisprudência e os sistemas de precedentes. In: DE LUCCA, Newton; MEYER-
PFLUG, Samantha Ribeiro; NEVES, Mariana Barboza Baeta. (Coord). Direito Constitucional
Contemporâneo: estudo em homenagem ao professor Michel Temer. São Paulo: Quartier Latin, 2012, p. 683.
244
Ibid., p. 684.
72

constituam uma amostra), (II) previsões sobre o comportamento futuro das


variáveis e (III) reconhecimento de tendências, associações e correlações nas
variáveis245.

A estatística inferencial, após a análise retrospectiva da descritiva, realizará


prospecções. Dierle Nunes e Fernanda Amaral Duarte elucidam essa sentença ao
exemplificarem que a descritiva poderia traduzir-se no “estudo do conjunto de sentenças
proferidas por um magistrado. Por sua vez, a inferência seria entender de quais maneiras o
magistrado julgará futuros casos similares tendo como base como já atuou em casos
análogos246”. Nesse contexto se relacionam a estatística inferencial associada à Inteligência
Artificial na previsão de uma decisão judicial — alvo das principais críticas247 apontando para
o cenário de substituição da análise e decisão do magistrado pelos computadores.
Algumas questões de fato requerem maior estudo e possível revisão, como, por
exemplo, as afirmações de que “a adoção de técnicas de Jurimetria, com uso da estatística
inferencial, tem feito com que os grandes litigantes forcem acordos que não são benéficos
para a parte248” no âmbito das medidas de resoluções de conflito.
Após análise de casos e um exemplo prático, Nunes e Duarte249 concluíram que
grandes litigantes e escritórios que os atendem se utilizam da Jurimetria para terem ciência
dos valores de sentenças futuras, conforme aquela Vara e Tribunal em que seus processos
tramitam, e após saberem essa média, programam uma Online Dispute Resolution (ODR) para
que ofereça 70% (setenta por cento) do valor dessa média, reduzindo suas despesas com ações
indenizatórias.
Vale explicar que ODR é:

É a tecnologia aplicada aos equivalentes jurisdicionais, também chamados de meios


alternativos ou adequados de resolução de conflitos. Sem que seja necessário o
deslocamento até determinado lugar, as partes podem se reunir em plataformas
digitais, até mesmo, por meio de seus celulares. [...] Algumas técnicas podem ser
realizadas dentro da estrutura estatal, a exemplo da mediação e da conciliação, sem
objeções quanto à sua realização, também, em âmbito privado, que é mais comum e
desejável250.

As autoras Nunes e Duarte demonstram, através da análise do caso de um grande


escritório, o motivo pelo qual a crítica sobre a análise preditiva pela jurimetria vem crescendo
245
NUNES, 2016. op. cit., p. 62. (Grifo nosso).
246
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 19.
247
Ibid., p. 20.
248
Ibid.
249
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 20.
250
MENDES, Victoria. Online Dispute Resolution (ODR): entenda os benefícios. Instituto New Law, 15 abr.
2020.
73

diante desse cenário e ações: “[...] com uso da estatística inferencial, tem feito com que os
grandes litigantes forcem acordos que não são benéficos para a parte251”. Assim, as autoras
seguem explicando que:

O resultado de tal estratégia, de acordo com José Edgard Bueno, foi positivo para o
grande litigante: (i) ao receberem tais propostas de acordos, os Juízes empreendem
esforços para que a parte contrária faça o acordo; (ii) quando não era possível a
composição amigável, os juízes tendem a condenar o grande litigante naquele valor
que entendia correto, respaldado no laudo apresentado; (iii) foi diminuído o índice
de condenação do grande litigante; e (iv) nos casos em que o cliente não reconhecia
o pedido e não apresentava com essa postura agressiva de fazer acordo, o juiz
começou a ler a argumentação da empresa, retirando-o da vala comum252.

Com isso, conclui-se que ainda serão necessárias análises com visão mais ampla e a
partir de novas perspectivas por parte dos atores processuais nesses casos, principalmente
pelos julgadores, para que o uso da Jurimetria por operados do Direito não termine por refletir
de forma negativa na jurisprudência. Todavia, a utilização da jurimetria tende a continuar
crescendo e evoluindo na investigação científica dos problemas tratados pelo Poder Judiciário
em conjunto com softwares que extraem as informações dos dados produzidos pelos
processos eletrônicos, possibilitando cada vez mais estudos e verificações quanto às
tendências e posicionamentos de magistrados e Tribunais conforme a natureza de cada caso.
Vale ressaltar que durante muito tempo “o impacto social das decisões judiciais não
era analisado de forma sistemática por meio de processos estatísticos adequados de forma a se
prever como o Poder Judiciário decide e os impactos setoriais de tais decisões na
sociedade253”; por conseguinte, esse cenário inovador é recente e traz o Direito do universo
abstrato para um de mais concretude e ainda possibilita essa profundidade de análise de como
o Poder Judiciário funciona.
Portanto, esse é um território ainda sendo reconhecido e que deve em primeiro lugar
ser devidamente protegido; todas as informações que podem ser geradas a partir dos dados
produzidos, além de dados pessoais e dos mais diversos litigantes, tratam de conhecimento
relacionado a assuntos específicos em litígios, de diversas decisões de magistrados,
colegiados, turmas, etc.
A Jurimetria possibilita que seja descrito como o Poder Judiciário funciona e,
consequentemente, estimula essa metodologia e forma de estudo, tanto de forma mais geral e
ampla, quanto de forma específica. Em vista de ampliação dos horizontes ao se observar esse

251
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 20.
252
Ibid.
253
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 113.
74

funcionamento da máquina do judiciário, se pode vislumbrar atuações e respostas por ela de


forma mais eficiente e dotada de maior segurança jurídica:

[...] com a evolução das ferramentas tecnológicas os horizontes do emprego da


jurimetria ganham novas perspectivas, pois o empreendimento aqui realizado,
mediante a utilização de algoritmos tecnológicos, devidamente treinados, pode
reduzir o tempo na obtenção de resultados de modo bastante sensível254.

Tem-se, então, que conhecer e de fato estudar a Jurimetria e seus métodos, que vêm se
tornando de caráter essencial para todos os operadores do Direito “de modo que, no mínimo,
consiga entender o novo cenário que se forma255”. Igualmente, não é possível desconsiderar a
relevância da ética além da segurança de todo esse mecanismo envolvendo a tecnologia e o
mundo jurídico e, em especial, quanto às ferramentas utilizadas por Tribunais para auxiliar na
tomada de decisão.
Conforme o próprio CNJ pontua, “a Inteligência Artificial aplicada nos processos de
tomada de decisão deve atender a critérios éticos de transparência, previsibilidade,
possibilidade de auditoria e garantia de imparcialidade e justiça substancial256” — grifo nosso.
O panorama envolvendo Direito, tecnologia, Jurimetria e Inteligência Artificial se
mostra, então, um panorama complexo, em constante movimento e desenvolvimento,
podendo colocar-se a serviço da uniformização jurisprudencial no país, e que se evidencia a
necessidade de estudo quanto à regulamentação da gestão de todos esses componentes
envolvendo o tratamento de dados, por parte do Poder Judiciário, bem como quanto aos
limites éticos da jurimetria e a influência do comportamento judicial para suas análises,
conforme se tratará na última seção deste trabalho a seguir.

254
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 11.
255
Ibid., p. 21.
256
CNJ, 2020a, op. cit., online. (Grifo nosso).
75

3 OS DESAFIOS NA REGULAMENTAÇÃO DA GESTÃO DE DADOS PELO


PODER JUDICIÁRIO

A sociedade atual é a da comunicação em meio virtual, presente em todas as áreas da


vida do indivíduo, isto é, das relações pessoais, familiares às de trabalho. Com isso, até
mesmo os conflitos sociais se modificam “em qualidade e em quantidade e, no plano do
Direito, a questão que se põe é compreender até que ponto o sistema jurídico está apto a fazer
a leitura dessa mudança257”. Nesse sentido, iniciou-se a evolução da tecnologia e a adaptação
do Judiciário a ela, transformando também todo o universo jurídico, buscando a consonância
com essa sociedade digital.
Os atos processuais ao longo dos últimos anos vêm sendo digitalizados ou já digitados
e armazenados em bancos de dados nesse processamento eletrônico. Diante desses avanços,
se vislumbra a presença e participação cada vez maior da informática aliada ao Direito para se
trilhar o caminho até uma jurisdição efetiva258.
O cenário que se forma soma a complexidade e o caráter dinâmico do Direito com as
tecnologias de informação, e provoca o surgimento de novos desafios nessa relação, como a
enorme quantidade de dados judiciais gerados, os quais deverão ser devidamente
administrados e protegidos. A tecnologia tem como uma de suas qualidades, a capacidade de
“de lidar com big data em bancos de dados desestruturados e deles extrair subsídios
decisórios259” enquanto “o Direito é área em que a todo momento surgem novas entidades e
classificações260”.
Tal panorama ressalta a necessidade de se criar meios que possibilitem a gestão e o
devido tratamento da quantidade exponencial de dados judiciais, para deles se conseguir obter
informações eficientes ao processo de estudo e análise do mundo jurídico atual, ainda que o
Direito se modifique dinamicamente. E tudo isso com o uso de ferramentas provenientes tanto
do Direito quanto da Ciência da Computação.
Watanabe destaca essa interdisciplinaridade pontuando um dos obstáculos a ser
explorado na presente seção deste trabalho, qual seja: que através do olhar da Ciência da
Informação, as informações obtidas pelos processos judiciais eletrônicos atualmente no
ordenamento jurídico brasileiro se limitam “aos metadados registrados manualmente em

257
DEZEM, 2018, op. cit., p. 951.
258
ALMEIDA, 2019, op. cit.
259
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 11.
260
Ibid.
76

sistemas eletrônicos pelos órgãos do Poder Judiciário, mas que são insuficientes para atender
as necessidades dos usuários261”.
Sob essa perspectiva evidencia-se que se fará necessário ao Poder Judiciário “um
modelo de sistema jurídico que selecione em suas estruturas somente aquilo que for relevante
para suas operações internas262”. Mas para isso ocorrer, uma gestão adequada deverá ser
constituída e regulamentada, buscando abranger amplamente a coleta, armazenamento,
tratamento e proteção dos dados judiciais, desde a sua origem no sistema do Tribunal até o
seu envio ao Datajud e ao banco estatístico do CNJ.
Corroborando com tal reflexão e necessidade, deve ser novamente mencionada a
ausência de padronização dos sistemas utilizados pelos tribunais brasileiros, nos quais
tramitam os seus processos eletrônicos, visto que “embora 4/5 dos processos novos tramitem
em formato eletrônico, não há padronização no formato dos sistemas263”. Portanto:

Os problemas se iniciam na arquitetura do sistema de informática dos tribunais –


tecnologia –, que foi planejado para gerar dados individuais sobre cada processo em
andamento, e não variáveis padronizadas sobre o conjunto dos processos. Essa
característica é um limitador do ponto de vista estatístico, pois não permite a
geração espontânea de dados globais – como o volume do contencioso no que diz
respeito à matéria, às partes, à duração média de cada feito e ao número de recursos
gerados por pedido. A maneira como os dados são gerados dificulta tanto o
acompanhamento do percurso de um processo dentro do Judiciário quanto o
conhecimento da solução que o tribunal confere para cada tipo de caso 264.

Além da variedade de sistemas, há ainda diversos “processos mal autuados,


classificados em categorias indevidas, que recebem movimentos e assuntos lançados de
maneira inadequada265” e isso acaba favorecendo o surgimento de mais obstáculos que
prejudicam a sistematização e a análise dos seus dados quando forem extraídos.
Ainda que o Judiciário brasileiro esteja sendo totalmente informatizado, o fato de não
ocorrer uma padronização de sistemas dificulta a gestão tanto pelos seus tribunais, quanto
pelo próprio CNJ em âmbito macro e estatístico — diante dos dados produzidos, classificados
e armazenados por cada uma das mais variadas formas, além do acesso público também ser
diferente em cada um.
Segundo a Resolução nº 46 de 18 de dezembro de 2007, do CNJ:

261
WATANABE; SOUSA, 2019, op. cit., n.p.
262
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 113.
263
OLIVEIRA, Fabiana Luci de; CUNHA, Luciana Gross. Os indicadores sobre o Judiciário brasileiro:
limitações, desafios e o uso da tecnologia. Rev. Direito GV, São Paulo, v. 16, n. 1, e1948, 2020, p. 13.
264
Ibid., p. 12. (Grifo nosso).
265
Ibid., p. 14-15.
77

CONSIDERANDO a necessidade de extração de dados estatísticos mais preciosos e


de melhoria do uso da informação processual, essenciais à gestão do Poder
Judiciário.
Art. 1º Ficam criadas as Tabelas Processuais Unificadas do Poder Judiciário,
objetivando a padronização e uniformização taxonômica e terminológica de classes,
assuntos, movimentação e documentos processuais no âmbito da Justiça Estadual,
Federal, do Trabalho, Eleitoral, Militar da União, Militar dos Estados, do Superior
Tribunal de Justiça e do Tribunal Superior do Trabalho, a serem empregadas em
sistemas processuais, cujo conteúdo, disponível no Portal do Conselho Nacional de
Justiça (www.cnj.jus.br), integra a presente Resolução266.

Contudo, apesar do CNJ ter desenvolvido as Tabelas Processuais Unificadas através


da Resolução nº 46 de 18 de dezembro de 2007 com o objetivo de conferir maior
uniformidade às classificações e tipos de assunto, bem como a nomenclatura das
movimentações nos processos, “seu uso ainda não é universal; e mesmo entre as unidades
judiciárias que utilizam as tabelas ainda há equívocos, com critérios empregados
indiscriminadamente para a classificação dos processos267”.
O que se percebe, então, é que ainda que o CNJ venha adotando e defendendo
políticas apontadas para uma padronização dos dados produzidos e, consequentemente, de
suas informações, a adoção dessas políticas pelos Tribunais ainda “tem se dado de modo e em
graus variados, com pouca capacidade de enforcement268”, permanecendo um cenário ainda
crítico de “descentralização e autonomia administrativa do Poder Judiciário269”.
Diante desse quadro, é salutar que essa tecnologia não deve ser freada, mas trazida
para a conformidade a fim de possibilitar uma visão ampla e melhor gestão dos dados dos
processos judiciais em meio eletrônico. Nesse sentido, cabe ressaltar que: “[...] a introdução
de novos ferramentais tecnológicos aplicados ao direito não deve ser condenada, mas é
preciso atenção em verificar se o emprego deles está em conformidade com os princípios e
garantias processuais consagrados em nosso ordenamento270”.
Além disso, é importante destacar que, apesar de relatório do Banco Mundial
publicado em 2017 ter ressaltado que no Brasil a tecnologia se configura ferramenta principal
“na modernização das instituições do sistema de Justiça e produz resultados em menor tempo
e com maior impacto na medição do desempenho dessas instituições271”, na prática, a questão
da enorme quantidade de processos e da ausência de efetividade quanto à essência das

266
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 46 de 18 de dezembro de 2007. Cria as Tabelas
Processuais Unificadas do Poder Judiciário e dá outras providências. Brasília, DF: CNJ, 2007, online.
267
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 15.
268
Ibid., p. 16.
269
Ibid.
270
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
271
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 06.
78

demandas e acesso à Justiça, ainda não obtiveram significativo progresso após o início dessa
evolução tecnológica.
Isto também ocorre porque os dados gerados e a informação que contêm ainda não
vêm sendo utilizados da melhor forma a se possibilitar a criação de atuações e políticas de
gestão eficazes diante de todos esses desafios que surgem dessa interação recente do Direito
com a tecnologia.
Portanto, ante o que fora exposto até aqui, o que se vislumbra é a necessidade de
regulamentação específica e efetiva aplicável à prática jurídica relativa aos dados nesse novo
cenário de processos judiciais eletrônicos, dados judiciais e comportamento judicial na busca
de uma Justiça tecnológica acessível e eficaz perante a sociedade da comunicação digital, pois
“uma prática jurídica cada vez mais mediada por tecnologia implica também em maior
reflexão sobre ela no âmbito acadêmico272”.

3.1 A PRODUÇÃO DE DADOS NOS PROCESSOS ELETRÔNICOS E A POLÍTICA


INTERNA DE DADOS ABERTOS DO CNJ

Apesar do rápido avanço da tecnologia no âmbito do Poder Judiciário brasileiro, o


problema da densa litigiosidade parece ainda estar longe de ser solucionado. Desde a criação
do CNJ na Emenda Constitucional nº 45273, que inaugurou a denominada Reforma do
Judiciário, os números continuam sem relevantes melhoras. A partir da criação do CNJ,
passou a se buscar índices e avaliações que indicassem a eficiência do Judiciário em visão
macro, mas também de cada um dos seus órgãos. Buscou-se então administrar e gerir o
Judiciário brasileiro a fim de se medir a eficiência na sua atuação.
Contudo, a “busca pela eficiência administrativa [...] no Poder Judiciário foi
compreendida (confundida) com aumento de produtividade e redução do tempo de duração do
processo274”, deixando de voltar sua visão para a hipótese da otimização dos recursos já
existentes, incluindo de pessoal. Com isso, por outro lado:

272
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
273
BRASIL. Emenda Constitucional nº 45 de 30 de dezembro de 2004. Altera dispositivos dos Arts. 5º, 36,
52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da
Constituição Federal, e acrescenta os Arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Brasília, DF,
2004.
274
BARBOSA, Cassio Modenesi; MENEZES, Daniel Francisco Nagao. Jurimetria e Geranciamento Cartorial.
Revista de Política Judiciária, Gestão e Administração da Justiça, Brasília, v. 2, n. 1, p. 280-295, 2016, p.
281.
79

Essa orientação para a mensuração de eficiência levou à necessidade de produção


de dados e sua transformação em informações confiáveis para identificar
problemas e alcançar soluções, sendo instrumento indispensável para concretizar
mudanças e melhorias na prestação jurisdicional275.

Por isso é importante que os dados produzidos atualmente em meio eletrônico


advindos dos processos judiciais, passem pelo procedimento de identificá-los e transformá-los
nas informações aproveitáveis e relevantes para, de fato, se vislumbrar soluções mais
eficientes em relação ao próprio paradigma da eficiência do Judiciário. A grande quantidade
de processos resulta numa produção de dados exponencial diariamente em meio eletrônico no
Judiciário e tal fato reflete em como eles são tratados e utilizados e, ainda quais informações
são buscadas a partir deles.
Apesar dessa evolução tecnológica, de modo geral, trazer maior praticidade, pois
diminui a burocracia de atos cartorários e aumenta transparência, a utilização atual dos dados
de processos judiciais ainda não mostrou resultados significativos em âmbito estatístico e de
políticas de melhoria na resposta do Judiciário perante a sociedade:

O aumento da quantidade de dados produzidos, advindo da modernização


tecnológica do Estado, provoca, por sua vez, a opacidade do excesso de exposição e
permite que discursos de transparência sejam assumidos, mas não provoquem
mudanças nas regras e práticas de governo […] a redefinição dos papéis de tais
estatísticas e a superação desse quadro têm menos relação com aspectos técnicos,
que são controláveis e dependem da tomada de decisões, e, mais, com aspectos
políticos que deem conta de atribuir responsabilidades, evitar conflitos de
competência e definir o significado e o sentido dos dados necessários às ações
democráticas no campo da justiça e da segurança pública no Brasil 276.

Além disso, sob o ponto de vista arquivístico, com a implantação dos processos
eletrônicos e seu crescimento devido intensa litigiosidade e certa permanência da morosidade
em alguns casos, se deu a geração de “massas documentais acumuladas (MDA) digitais cada
vez mais complexas e incompreensíveis277”. A MDA em meio digital define o agrupamento
de documentos desmedido “que foi constituído sem intervenções arquivística como a
classificação, a descrição e a avaliação278”.
Ou seja, apesar do CNJ ter instituído tabelas para padronizar algumas classificações,
cada Tribunal ainda age de forma própria para classificar assuntos, tipos e movimentações
processuais, gerando uma massa de dados não padronizados que se tornam difíceis de serem

275
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 03-04. (Grifo nosso).
276
LIMA, Renato Sérgio de. A produção da opacidade: estatísticas criminais e segurança pública no Brasil.
Novos estud. - CEBRAP, São Paulo, n. 80, p. 65-69, mar. 2008, p. 69.
277
WATANABE; SOUSA, 2019, op. cit., n.p.
278
WATANABE; SOUSA, 2019, op. cit., n.p.
80

analisados estatisticamente. Soma-se a grande produção de dados com o fato de que eles ainda
não são padronizados em sua classificação, ainda que se trate do mesmo tipo, assunto ou
andamento processual, porém denominados de formas distintas, dificultando a gestão dos
mesmos.
À vista da produção e má classificação dos dados dos processos judiciais eletrônicos,
vislumbra-se o impacto no desenvolvimento da própria Jurimetria e da sua utilidade para o
Poder Judiciário brasileiro, com isso “o distanciamento da utilização de padrões de
documentos afasta o Modelo CNJ dos modelos de documentos indicados pela Engenharia de
Documentos como importantes formas de servir como peças fundamentais na padronização
dos processos de negócio279”. Desse modo, fazer uso de modelos padronizados se mostra
como medida essencial para se enfrentar a crescente massa de dados dos processos
eletrônicos; “por meio do recurso às espécies e tipos documentais e representaria um
importante avanço para a capacidade do Modelo CNJ em representar informações mais
complexas280”.
Ademais, para Sebastião Tavares Pereira, os sistemas eletrônicos atuais, nos quais
tramitam os processos judiciais, tratam as suas peças como as que eram no papel, de
processos físicos, ou seja, ainda só é possível extrair e interpretar as informações que elas
trazem “de forma visual”, ao invés de dados já devidamente estruturados; assim, resta
impossibilitada, por exemplo, a atividade de extrair e entregar a devida informação para
embasar uma decisão judicial281.
A questão preocupante é como a ciência jurídica vai se comportar para regulamentar
esses dados, desde problemas iniciais, como sua classificação, até o seu tratamento,
armazenamento e segurança para uma devida e eficiente utilização. O autor Paulo Justiniano
Ribeiro Júnior, em palestra do CNJ em 2012 sobre “Justiça em Números”, ressaltara que
“vivemos num mundo de dados” e que a abertura dos mesmos foi à direção tomada para se
seguir. Além disso, já destaca importantes questionamentos como o que se fazer com as
informações obtidas desses dados, que às vezes ainda são complexas para se compreender282.
O doutrinador Ribeiro Junior apontara também que “não basta que saibamos ver os
resultados das estatísticas. É preciso também entender o que está por trás desses números,

279
WATANABE; SOUSA, 2019, op. cit., n.p.
280
Ibid.
281
PEREIRA, Sebastião Tavares. Processo eletrônico, máxima automação, extraoperabilidade, imaginalização
mínima e máximo apoio ao juiz: ciberprocesso. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3275, 19 jun. 2012.
282
ASSUNÇÃO, Luciana. Sigilo de informações a caminho da extinção. Agência CNJ de Notícias, 01 nov.
2012.
81

como eles foram gerados283”; e evidencia que várias revistas científicas começaram a
disponibilizar como se deu o estudo estatístico com dados que coletara, demonstrando ao final
como chegaram aos seus resultados.
Contudo, apesar do objetivo do relatório “Justiça em Números” ser de grande
importância para obter uma visão geral da atuação do judiciário, a eficiência do mesmo ainda
é mensurada com foco maior apenas sobre encerramentos de processos versus processos
pendentes de julgamento. Reflete-se que, num cenário de tratamento de dados eletrônicos
judiciais devidamente administrados e com a política de dados abertos, o potencial para se
medir aspectos que influenciam na eficiência e efetividade do Poder Judiciário e de seus
órgãos, poderia ser muito maior.
A Portaria nº 209 de 19 de dezembro de 2019 instituiu a política interna de dados
abertos do Conselho Nacional de Justiça e define que os dados abertos sejam formatados para
serem acessíveis ao público em meio eletrônico para utilização, consumo ou cruzamento:

Art. 2º. A política interna de dados abertos do Conselho Nacional de Justiça possui
os seguintes objetivos:
[...]
III – fomentar o controle social e o desenvolvimento de novas tecnologias destinadas
à construção de um ambiente de gestão pública participativa e democrática;
VI – promover o compartilhamento de soluções de tecnologia da informação no
CNJ, de maneira a evitar duplicidade de ações e o desperdício de recursos na
disseminação de dados e informações; e
[...]
Art. 3º Para os fins desta Portaria, entende-se por:
[...]
V – dados abertos: dados acessíveis ao público, representados em meio digital,
estruturados em formato aberto, processáveis por máquina, referenciados na
internet e disponibilizados sob licença aberta que permita sua livre utilização,
consumo ou cruzamento, limitando-se a creditar a autoria ou a fonte;
VI – formato aberto: formato de arquivo não proprietário, cuja especificação esteja
documentada publicamente e seja de livre conhecimento e implementação, livre de
patentes ou qualquer outra restrição legal quanto à sua utilização;
[...]
XVII – Governança: sistema pelo qual as organizações judiciárias são dirigidas,
monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre os seus diversos
patrocinadores, como a sociedade, conselho de administração (magistrados),
diretoria e órgãos de fiscalização e controle284.

O formato de armazenamento de dados utilizado pelo CNJ na “Justiça em Números”,


o qual é interligado à consulta pública do PJe, é um dos mais comuns — e o Comma-

283
ASSUNÇÃO, 2012, op. cit.
284
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Portaria nº 209 de 19 de dezembro de 2019. Institui a política interna
de dados abertos do Conselho Nacional de Justiça. Brasília, DF: CNJ, 2019, online. (Grifo nosso).
82

Separated Values (CSV) ou valores separados por vírgula, para armazenamento de dados
tabulares em texto285.
Na produção de estatísticas judiciais a orientação é a adoção do padrão de dados
abertos. O Open Data Handbook (manual de dados abertos, em tradução livre):

[...] especifica as características do formato aberto, que incluem: acessibilidade


(disponibilidade integral de dados, a um custo de reprodução razoável,
preferencialmente acessíveis para download on-line); sustentabilidade (dados
atualizados com frequência definida e processos padronizados para publicação);
reutilização (formato de dados que permite a reutilização, a redistribuição e a
combinação com outros conjuntos de dados - interoperabilidade); e não
discriminação (o acesso aos dados não deve ser restrito a determinados propósitos
ou sujeito a direitos autorais)286.

Portanto, destaca-se que além da acessibilidade que remete principalmente a esse


formato de dados abertos, as características “sustentabilidade” e “não discriminação” também
merecem destaque.
A sustentabilidade já é reconhecida como um valor constitucional e pode se efetivar a
partir da busca por meios de diminuir o tempo de duração das demandas judiciais, garantindo
a celeridade de tramitação (padronização dos dados), eliminando as etapas “mortas” do
processo (trâmite do processo eletrônico) e mantendo-se os princípios do contraditório e da
ampla defesa a fim de combater a morosidade na entrega da tutela jurisdicional.
A não discriminação reforça a acessibilidade, garantindo que dados de acesso não
sejam exclusivos a nenhum grupo de atores processuais, nem com objetivos limitados e pré-
determinados, ou seja, se mantém a garantia de acessar os dados produzidos nos processos
eletrônicos, permitindo-se organizá-los e extrair o tipo de informação conforme cada
necessidade que surja, seja para auxiliar tanto a gestão interna do funcionamento do Judiciário
quanto para uma fundamentação de decisões mais uniformes e em consonância com
jurisprudência nacional.
Além de demonstrar maior transparência e acesso ao público, o formato de dados
abertos também permite a sua disponibilidade e interoperabilidade para softwares de
Inteligência Artificial, a fim de tratá-los ou exibirem suas informações quando forem
desenvolvidos.
Sobre esse padrão de dados para a estatística e a evidente necessidade de ferramentas
tecnológicas eficientes e seguras para o seu desenvolvimento, vale destacar que:

285
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). CNJ em Números. 2020e.
286
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 05. (Grifo nosso).
83

As estatísticas judiciais e a adoção de um padrão de dados para que possam ser


acessados livremente somente é possível a partir da utilização de instrumentos de
tecnologia da informação e de sistemas integrados que sejam capazes de dar
robustez e confiabilidade às informações disponíveis287.

O formato de dados abertos no Judiciário evidencia o caráter da transparência, porém,


como ainda não são classificados de forma padronizada, viram uma massa de dados, sua
exposição e acessibilidade ainda não atendem nem auxiliam o desenvolvimento da Jurimetria.
Nesse cenário, “seria mais profícuo trabalhar com quantis, por agrupamento de processos
semelhantes, segundo classe, assunto e perfil das partes288” para que, assim, seja possível
produzir análises efetivas desses dados quanto coletados, independente do Tribunal ou Vara a
que pertença o processo que produziu aqueles dados.
Enquanto houver nessa grande quantidade de dados armazenados em formato aberto,
essa variedade na utilização e classificação dos documentos e movimentações nos processos
conforme cada Tribunal, mais crescerão os obstáculos para se possibilitar a parametrização e
análises importantes do universo jurídico, mesmo com toda a evolução tecnológica que já o
permeia. Tal conclusão evidencia que a atuação, tanto de magistrados quanto os que também
são gestores do CNJ, não teria ainda “captado o verdadeiro valor da análise de eficiência,
pois, embora defendam a agenda do aumento de eficiência, as ações e políticas parecem
adotadas por ‘tentativas e erros’, sem uma análise das causas da ineficiência disseminada289”.
A partir desse contexto, é necessário refletir sobre o processo de “transformar os
dados: dispersos em várias bases de dados, com códigos e regras de codificação diferentes, é
preciso padronizar, validar e consolidar tudo em uma base única para extração de
informações290”.
Em outras palavras: o formato de dados abertos e sua utilização ainda não puderam de
fato ser observados e efetivados no mundo jurídico em vista da grande quantidade de dados e
da ausência de padronização na tipificação dos mesmos. Além disso, como se verá adiante, o
desenvolvimento da Jurimetria e o comportamento judicial também dependem de importantes
e já conhecidos princípios nesse novo panorama da tecnologia sendo cada vez mais aplicada
ao Direito.

287
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 06.
288
Ibid., p. 13.
289
Ibid., p. 17.
290
Ibid., p. 14. (Grifo nosso).
84

3.2 PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E PUBLICIDADE X PRIVACIDADE

Alguns princípios constitucionais requerem maiores estudos quando o assunto é


tecnologia e Jurimetria se relacionando com o Direito atual, uma vez que tais princípios
possuem relevância e influência no ordenamento jurídico e em seu funcionamento nos mais
diversos níveis, inclusive na sua própria administração, a fim de aprimorar a aplicação do
Direito. Celso Antônio Bandeira de Mello definiu os princípios como:

[...] mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição


fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e
servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por
definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e
lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção
das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico
positivo291.

Segundo José Joaquim Gomes Canotilho, os “princípios são normas que exigem a
realização de algo, da melhor forma possível, de acordo com as possibilidades fácticas e
jurídicas”. E ainda ressalta que eles “não proíbem, permitem ou exigem algo em termos de
‘tudo ou nada’; impõem a optimização de um direito ou de um bem jurídico, tendo em conta a
‘reserva do possível’, fáctica ou jurídica292”.
Os princípios, então, evidentemente auxiliam o ordenamento na harmonização do seu
sistema de normas e decisões diante das complexidades presentes no mundo fático e jurídico.
Os princípio da eficiência, assim como o da contraposição entre publicidade e privacidade,
protagonizam essa discussão.
A partir da eficiência, por exemplo, é imposto “ao agente público um modo de atuar
que produza resultados favoráveis à consecução dos fins que cabem ao Estado alcançar293”.
Contudo, tal atuação deve sempre ser pautada numa reunião de harmonia com os outros
princípios previstos no Art. 37 da Constituição de 1988 (incluído pela Emenda Constitucional

291
MELLO, Celso Antônio Bandeira. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1981, p. 230.
292
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6 ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. p.
1241.
293
MARCO, Cristhian Magnus de; MEDEIROS, Jeison Francisco de. O princípio da eficiência da administração
da Justiça como justificativa para implantação de uma jurisprudência precedentalista no Brasil: a disciplina
judiciária marcada por influência neoliberal. Revista Jurídica Unicuritiba, [s.l.], v. 3, n. 40, p. 358-376, jan.
2015, p. 363.
85

nº 19, em 1998 que alterou o Art. 37)294, os quais também regem a administração — conforme
abordado na primeira seção teórica desse trabalho: a União e seus poderes incluindo o
Judiciário, devem sempre se atentar e atender ao princípio da eficiência.
Esse movimento de maior destaque para a reforma administrativa refletiu uma
evolução do Estado Democrático de Direito ao voltar o olhar para uma administração pública
de maior qualidade:

Diante da necessidade de adequação a essas mudanças rápidas, o Estado vem


mudando seu perfil. Tem-se visto nos agentes públicos uma preocupação muito
maior com a qualidade da Administração Pública. E estas adequações, têm que ser
estabelecidas no ordenamento jurídico, em face da própria submissão da
Administração e do Estado à legalidade. É este o quadro que se coloca para a
inserção da eficiência como princípio constitucional295.

A aplicação desse princípio dialoga com os seus reflexos nas funções do Poder
Judiciário, uma vez que por ser um poder independente e autônomo, se faz necessário praticar
também uma função administrativa (atípica, não prevista em suas funções), visto que ele
precisa gerir todo o seus sistemas e organização; tal função consequentemente se faz essencial
para a finalidade de conferir maior qualidade a sua função típica, a jurisdicional: “uma
prestação jurisdicional seja elaborada e entregue de forma justa, adéqua e célere296”.
Fundamentados pelo princípio da eficiência, diversos deveres-poderes são impostos ao
Poder Judiciário com o objetivo de que, de forma célere, ocorra a entrega de uma tutela
jurisdicional:

[...] o princípio da eficiência da administração da justiça tende a dar maior


celeridade aos processos, tendo em vista a previsibilidade das decisões judiciais, isso
consubstanciado na nova redação dada pela EC 45/2004 ao artigo 93 da Constituição
Federal, implantando a alínea “c”, que prevê como um dos requisitos para promoção
dos juízes o desempenho e critérios objetivos de produtividades no exercício da
função jurisdicional297.

Diante disso, ressalta-se que é equivocado analisar a produtividade dos juízes em sua
função apenas de forma quantitativa, como por exemplo, pelo número de processos julgados,
pois uma coleta de dados de forma segura, de forma a se obter análises também qualitativas
dessa prestação jurisdicional através dos processos julgados, pode ser considerada mais
evoluída quando se pensa em eficiência atualmente.

294
BRASIL. Constituição (1988). op. cit.
295
BERWIG, Aldemir; JALIL, Laís Gasparotto. O princípio constitucional da eficiência na Administração
Pública. Revista Âmbito Jurídico, 31 dez. 2007, online.
296
MARCO; MEDEIROS, op. cit., 2015, p. 364.
297
Ibid., p. 372.
86

O Poder Judiciário ainda possui alguns obstáculos estruturais em seu funcionamento,


que se encontram no caminho de uma atuação mais eficiente, sendo eles:

Difícil acesso aos seus serviços pelos setores menos favorecidos da população;
Número insuficiente de magistrados e servidores;
Ausência de vocação dos magistrados e servidores;
Falta de instalações físicas adequadas aos seus serviços e ao acesso dos usuários;
Informatização deficiente;
Inexistência de planejamento contínuo;
Inexperiência administrativa dos gestores;
Controle administrativo da carreira dos magistrados e servidores deficientes298.

Felizmente, a maioria dessas deficiências vem se mostrando cada vez mais combatidas
e o desenvolvimento, além da rápida informatização, do Judiciário como um todo também
protagoniza nessa evolução estrutural. Contudo, as dificuldades referentes ao planejamento e
gestão diante dessa informatização ainda se mostram mais evidentes nesse cenário de
inovação e modernização.
Igualmente, nessa reflexão de princípios, convém somar à busca pela eficiência frente
às novas tecnologias e produção de dados no universo jurídico, os elementos principiológicos
da publicidade versus privacidade.
Um dos traços mais singulares do princípio constitucional da publicidade é o direito de
acesso à informação. Um controle e prestação de contas exercido pelos indivíduos da
sociedade se tornam possíveis a partir do momento em que esse direito é reconhecido e
positivado, visto que “não há como vigiar os agentes públicos se não houver transparência e
informação299”.
Numa visão mais ampla e referente aos dados produzidos pelo Poder Judiciário,
justifica-se a necessidade da publicidade elencando os seguintes pontos:

A existência e a publicidade de dados são necessárias a fim de que: (i) o público


possa conhecer quais são as atividades desenvolvidas pelo Judiciário; (ii) os órgãos
de cúpula possam monitorar seu desempenho e planejar projetos futuros; (iii) os
governos possam elaborar e promover políticas públicas de reforma e melhoria
nessa área; (iv) os experts possam avaliar o funcionamento do sistema de Justiça
como um todo300.

Em âmbito processual, aplica-se o princípio da publicidade também para se atingir e


possibilitar o exercício da cidadania e da democracia. Ou seja, de forma legítima, é possível

298
COSTA, Raimundo Carlyle de Oliveira. A “reinvenção” do judiciário. São Paulo: Scortecci, 2014, p. 39-40.
299
SALGADO, Eneida Desiree. Princípio da publicidade. In: CAMPILONGO, Celso Fernandes; GONZAGA,
Alvaro de Azevedo; FREIRE, André Luiz (Coords.). Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: PUC-SP,
2017, online.
300
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 04.
87

que a sociedade acompanhe e possa controlar desempenho estatal, através da observação da


forma como se dá a publicidade dos atos processuais no ordenamento jurídico.
Em alguns momentos o princípio da publicidade também poderá ser colocado diante
de outros princípios constitucionais para um exame embasado em proporcionalidade e
razoabilidade em um caso, devendo ao final ceder ou se sobrepor aos demais, conforme cada
análise e cada caso concreto.
Todavia, se não for esse o cenário, não considerar atender a esse princípio poderá
acarretar nulidade processual — lembrando o texto da Emenda Constitucional nº 45, de 08 de
dezembro de 2004:

[...] todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação301.

Como Eduardo Rodrigues Santos adverte a partir de sua reflexão no tema, é


importante recordar a distinção entre a ampla publicidade aqui citada da “banalização da
publicidade promovida pelas grandes mídias sob a ótica de mercado, neste caso, um
verdadeiro ‘mercado de sangue, vida, liberdade e intimidade’302”.
A atualidade é conhecida como sociedade da comunicação, portanto não há como
ignorar esse novo modelo de mídia e publicidade acerca da vida pública e privada, bem como
das inúmeras informações das mais variadas fontes transmitidas e consumidas em enorme
quantidade por minuto na rede por indivíduos que na sua grande maioria não checam a sua
origem e ainda replicam todos esses dados.
Contudo, não deve nem de longe o panorama da publicidade dos atos dos processos
judiciais eletrônicos e seus dados se parecer com o cenário da vida em sociedade no mundo
digital retratado acima. Conforme bem advertira Daniel Camargo, se faz necessário ter
atenção quanto a uma utilização negativa e prejudicial da publicidade nas atividades
jurisdicionais:

Há que se cuidar da má utilização da publicidade que se tem emprestado a alguns


julgamentos (em especial do Supremo Tribunal Federal), ao se direcionar a uma
exposição que vise ressaltar suscetibilidades, vaidades e falta de serenidade dos
julgadores e demais profissionais do direito, além de conduzir à distorção do próprio

301
BRASIL, 2004, op. cit., online.
302
SANTOS, Eduardo Rodrigues dos. Princípios processuais constitucionais. Salvador: JusPodivm, 2016. p.
161.
88

funcionamento da Justiça através de pressões impostas a todos os figurantes do


drama judicial303.

O desenvolvimento da tecnologia no Direito tem refletido na rotina jurídica prática em


relação ao princípio da publicidade, podendo ser citado como simples exemplo o disposto no
Art. 367, §6º, do Código de Processo Civil, o qual permite que as partes independentemente
de autorização judicial, gravem as audiências em imagem e áudio em meio digital ou
analógico304. Tal exemplo demonstra uma rápida ampliação na publicidade de um dos atos
processuais de maior relevância assim que ele ocorre, envolvendo todos os fatos, diálogos e
comportamentos não só das partes e advogados, como também do próprio magistrado.
O que se poderá analisar em longo prazo é se inovações como essa, por mais simples
que pareçam ser, tem modificado significativamente o comportamento dos atores processuais
ou a fundamentação das decisões nesses processos dotados de ampla publicidade. Isto porque,
diante desse novo cenário que se constitui no universo jurídico, a publicidade é capaz de
garantir, por exemplo, maior imparcialidade e transparência nas atividades jurisdicionais,
além de servir, como já mencionado, como instrumento de controle popular da prestação
jurisdicional como um todo e sua efetividade prática305.
Além disso, o dever dos juízes de emanarem decisões devidamente motivadas também
se relaciona com esse controle do povo referente ao exercício da função jurisdicional e,
consequentemente, com a ideia de eficiência, pois as decisões judiciais que forem cada vez
mais consonantes com o sistema de precedentes e previsíveis nesse sentido poderão colaborar
com a jurimetria e com a busca de um Poder Judiciário que ofereça maior segurança jurídica a
partir das suas decisões, resultando em prestações jurisdicionais mais efetivas, visto que elas
não têm como destinatários apenas as partes e o magistrado, mas também a sociedade.
A sociedade também se beneficia no âmbito coletivo diante do quadro acima
explanado, uma vez que ocorre “o devido processo legal em sentido substancial, ou seja,
integra a esfera dos direitos fundamentais e apresenta significação jurídico-política306”.
Além disso, vislumbrando o princípio da publicidade em campo macro, ou seja, que
ela não deve se limitar apenas quanto ao acesso do público aos processos, mas sim englobar
também a comunicação geral, dos atos do processo, e em relação à atuação processual das
partes e seus patronos, bem como sobre os julgadores e seus atos, conclui-se que essa

303
CAMARGO, 2019, op. cit., p. 55.
304
Ibid., p. 56.
305
TOALDO, Adriane Medianeira; RODRIGUES, Osmar. A publicidade dos atos processuais: uma questão
principiológica. Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 104, 01 set. 2012.
306
CAMARGO, 2019, op. cit., p. 58.
89

publicidade possibilita uma participação efetiva na fiscalização por parte da sociedade, das
decisões judiciais.
Nesse caso, a publicidade trata “de verdadeiro instrumento de eficácia da garantia da
motivação das decisões judiciais307” e, assim, se configura como a maneira dessas decisões
serem devidamente controladas, contribuindo na conquista de legitimidade na atuação do
Poder Judiciário perante a sociedade a que pertence308; uma vez que o princípio da
publicidade “existe para vedar o obstáculo ao conhecimento. Todos têm o direito aos atos do
processo, exatamente como meio de se dar transparência à atividade jurisdicional309”.
E quanto às possíveis exceções de aplicação desse princípio quando se falar de
informações processuais, há de se evidenciar que o previsto no inciso LX do artigo 5º da
CF/88, não elimina a disposição de que os atos processuais devam ser públicos, mas apenas
estipula a possibilidade de alguma restrição quanto aos mesmos em casos específicos. A
saber:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem310.

Sendo assim e diante de sua relevância, como asseveram Antonio Carlos de Araújo
Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, “toda precaução deve ser
tomada contra a exasperação do princípio da publicidade311”.
Partindo para a perspectiva da informatização dos processos judiciais eletrônicos, bem
como as tecnologias aplicadas ao universo jurídico, deve ser destacado o problema de que
ainda não são todos os Tribunais brasileiros que disponibilizam adequadamente os dados dos
processos, isto é, estão em situação na qual não estão públicos e, com isso, sequer entram nos
cálculos e indicadores do Justiça em Números do CNJ, por exemplo312.
Além disso, o Poder Judiciário “não dispõe de application programing interface (API)
para facilitar o acesso do público às informações processuais, mantendo e privilegiando o

307
TOALDO; RODRIGUES, 2012, op. cit., n.p.
308
CAMARGO, 2019, op. cit., p. 59.
309
TOALDO; RODRIGUES, 2012, op. cit., n.p.
310
BRASIL. Constituição (1988). op. cit., online.
311
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
Geral do Processo. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 76-77.
312
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 13.
90

acesso individual de cada processo por advogados, partes, magistrados ou pesquisadores 313”.
E, conforme já abordado anteriormente neste trabalho, o mesmo vale para a realidade prática
dos sistemas atuais e seus modos de login e acesso.
A informatização dos processos judiciais e todos os atos que o envolvem avançaram e
continuam avançando rapidamente, gerando milhões de dados por dia, porém, ainda persistem
a ausência de unificação de sistemas, bem como a não publicização de dados processuais que
não estão em segredo de justiça — “a expressão segredo de justiça é infeliz, porquanto não se
trata de segredo, visto que o julgamento não ocorre a portas fechadas 314” — em sistemas de
vários Tribunais, tornando muitas vezes inócua a opção consulta pública online.
Somado a isso, a questão do princípio da privacidade também ganha espaço, visto que
os processos judiciais eletrônicos carregam dados e documentos pessoais das partes, os quais
carecem da devida proteção na coleta e utilização em estudos jurimétricos sob pena de
violação ao princípio, bem como à vida privada dos indivíduos, uma vez que “nos termos do
artigo 5º, inciso X, da Constituição da República Federativa do Brasil, a intimidade e a vida
privada são amparadas pelo direito. A violação será reparada seja material ou moralmente,
após justo e regular processo315”. Além disso, a Lei nº 13.709/18, Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD), já em vigor no Brasil316, estabelece regras para a coleta, armazenamento,
tratamento e compartilhamento de dados pessoais, e o Poder Judiciário também deverá se
adaptar para atendê-la.
Então, assim como é imposta uma reestruturação de mindset por parte das empresas
privadas para atender à LGPD, algo semelhante deverá ser realizado dentro do Poder
Judiciário, o qual armazena e se utiliza de dados de quantidade exponencial e de extrema
relevância. O desafio então será o de balancear a publicização de dados em atendimento ao
princípio da publicidade para os atos processuais com a segurança e privacidade de todos os
dados e informações que se geram a partir dos processos judiciais e todos os seus atores
processuais, uma vez que o CNJ mantém a política de dados abertos (Portaria nº 209), mas
atualmente buscam adequar as questões que trata à LGPD a partir do Comitê da Resolução
nº334. Tal Resolução nº 334, de setembro de 2020, instituiu um Comitê Consultivo de Dados
Abertos e Proteção de Dados no âmbito do Poder Judiciário com o dever de:

313
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 18.
314
TOALDO; RODRIGUES, 2012, op. cit., n.p.
315
TOALDO; RODRIGUES, 2012, op. cit., n.p.
316
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº
12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet). Institui a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Brasília, DF, 2018.
91

[...] avaliar e propor padrões de interoperabilidade e de disponibilização de dados de


processos judiciais por meio de APIs (Application Programming Interfaces)
e propor medidas para que, na execução da política de dados abertos, sejam
observados os direitos e as garantias previstos na LGPD317.

Portanto, constata-se que “a publicidade dos atos processuais é fundamental para que a
sociedade possa acompanhar o dia a dia do Poder Judiciário318” e que tal objetivo coincide
com o da Jurimetria, a qual também tem como finalidade possibilitar uma visão de como tem
se dado a atuação de rotina do ordenamento jurídico. Sendo assim, será visto a seguir que esse
desenvolvimento tecnológico e da Jurimetria sob a égide desses princípios também envolvem
questões éticas, as quais merecem análise quanto a possíveis limitações que podem ser
encontradas em meio a esse caminho.

3.3 O DESENVOLVIMENTO DA JURIMETRIA JUNTO ÀS FERRAMENTAS


TECNOLÓGICAS E OS SEUS LIMITES ÉTICOS: OS DADOS IDENTIFICADORES
DOS ENVOLVIDOS NOS PROCESSOS ELETRÔNICOS

Há 40 (quarenta) anos, no ensino nas graduações de Direito, se reproduziam os


ensinamentos jurídicos das doutrinas em livros que, conforme levantado por Cássio Modenesi
Barbosa e Daniel Francisco Nagao Menezes, “não passam da simplificação de conceitos
jurídicos pensados em outros países um século atrás”, ou seja, obras muitas vezes distantes da
realidade da ordem jurídica brasileira319.
Atualmente presencia-se um Direito cada vez mais jurisprudencial do que doutrinário
no Brasil e, com isso, essa pragmática está imersa de forma mais complexa em relação há
décadas atrás. “Tanto na vertente americana como na escandinava, o realismo jurídico
contribuiu para que, a partir da segunda metade do século XX, o Direito passasse a adotar
metodologia de pesquisa empírica nos seus processos de investigação320”; um entendimento
ainda da época do realismo jurídico e que pode ser reafirmando na a realidade atual é de que o
Direito não deve se manter compreendido como “um conjunto de princípios e valores
abstratos, mas como um fato cotidiano e concreto integrado à realidade social321”.

317
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 334, de 21 de setembro de 2020. Institui o Comitê
Consultivo de Dados Abertos e Proteção de Dados no âmbito do Poder Judiciário. Brasília, DF: CNJ, 2020f,
online.
318
MELLO, Marco Aurélio Mendes de Farias. A publicidade das decisões judiciais. Gazeta Mercantil, 03. jul.
2001, online.
319
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 286.
320
NUNES, 2016, op. cit., p. 115.
321
Ibid.
92

A metodologia traduzida pela Jurimetria vem quebrando o paradigma do ensino


jurídico dogmático do Direito, pois traz a luz do conhecimento científico no Direito de que
para conhecer a realidade do coordenamento e ordenamento jurídicos brasileiros a fim de
solucionar os seus problemas, deve haver pesquisa empírica. Vale destacar que Marcelo
Guedes Nunes diferencia ordenamento jurídico e coordenamento jurídico, sendo o primeiro,
mais abstrato, abrangendo o sistema legislativo e hierárquico e o segundo, mais concreto,
abrangendo o campo jurisdicional e autárquico:

Investigar a relação entre os planos do ordenamento e do coordenamento, conhecer a


realidade do Poder Judiciário e da prática jurídica, estudar os resultados da aplicação
do Direito pelos tribunais, analisar os diferentes graus de aderência das leis e
compreender as situações que elas deixam de ser aplicadas, são os objetivos da
Jurimetria. Em uma suma frase, a proposta da Jurimetria é entender como a ordem
jurídica funciona na prática322.

Sob essa perspectiva, a Jurimetria utiliza “a estatística para restabelecer um elemento


de causalidade e investigar os múltiplos fatores (sociais, econômicos, geográficos, éticos etc.)
que influenciam o comportamento dos agentes jurídicos323”.
Apesar do Direito ter a previsibilidade e concretude como seus ideais, embasando
inclusive o princípio de segurança jurídica, ele é sempre dotado de incertezas “oriundo da
complexidade do processo humano de decisão324” e, por isso, a “estatística é mais do que um
instrumento para um bom palpite325”, é o que possibilita certo controle sobre dessas
incertezas, bem como formas de geri-las e de entendê-las.
A estatística reduz a ignorância de todos, pois possibilita entender a ordem jurídica e
seu funcionamento, uma vez que “As estatísticas judiciais podem ter impacto benéfico para a
accountability e a responsabilização judicial, contribuindo para melhorar a capacidade do
Judiciário de fornecer respostas eficazes à sociedade e aos demais Poderes do Estado 326”. Já a
probabilidade tem relevância para a estatística por ser capaz de construir modelos aptos a
realizar estimativas de acontecimentos futuros. Isto é, a probabilidade possibilita a elaboração
de “juízos prospectivos a respeito de seu objeto de estudo327”.
Essa ideia de possíveis estimativas não é uma peculiar novidade, visto que o próprio
artigo 14, parágrafo único da Lei 11.419/2006 dispõe que “os sistemas devem buscar

322
NUNES, 2016, op. cit., p. 115.
323
Ibid., p. 115-116.
324
Ibid., p. 116.
325
Ibid.
326
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 04.
327
NUNES, 2016, op. cit., p. 116.
93

identificar os casos de ocorrência de prevenção, litispendência e coisa julgada 328”. Com isso,
observa-se que os sistemas já deverão de certa forma indicar possíveis diagnósticos, para
depois serem encaminhados para análise do magistrado329.
Portanto, no atual estágio de desenvolvimento da Jurimetria várias informações
geradas de processos judiciais eletrônicos são analisadas, em especial as relacionadas e
exigidas para integrarem o resultado das metas estabelecidas pelo CNJ330. E, uma das maiores
dificuldades do CNJ nos últimos anos é a constituição de uma base de dados estatísticos
confiável pela qual se possibilite vislumbrar um planejamento de ações voltado ao
aperfeiçoamento e melhorias da prestação jurisdicional pelos Tribunais em todo o país331.
O Justiça em Números anual integra essa busca por melhoria e eficiência pelo Poder
Judiciário ao reunir uma base de dados estatísticos que contêm os dados identificadores dos
processos, as decisões e os processos finalizados, bem como despesas orçamentárias. Ocorre
que o foco é sempre maior na quantidade de processos já baixados, não havendo coleta de
dados e informações voltados para estudos que envolvam o perfil de litigiosidade das partes
nos processos, ou seja:

[...] continuamos, em essência, produzindo dados agregados sobre o volume de


casos processados pelo Poder Judiciário, que buscam exclusivamente quantificar os
casos, não sendo possível identificar as partes ou o perfil dos tipos de casos mais
frequentes ou que causam maior impacto332.

Também não se voltam para o aspecto do nível de complexidade de demandas e do


comportamento judicial nas Varas e Tribunais frente a matérias específicas com
jurisprudência ainda muito diversificada, para citar apenas um exemplo. Nesse sentido:

A expectativa de que o aprimoramento da coleta dos dados pudesse espelhar um


aspecto mais qualitativo no seu tratamento, no concernente à consideração do
conteúdo das decisões como parâmetro para avaliar a produtividade dos
magistrados, não ocorreu, pois consoante o contido nos anexos do Provimento da
Corregedoria Nacional de Justiça de n° 49/2015, permanece o foco no elemento
quantidade dos atos e decisões proferidas, sem referência ao grau de dificuldade
contido em cada um deles333.

328
BRASIL, 2006, op. cit. online.
329
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 218.
330
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 289.
331
FREIRE. Tatiane. Em 10 anos, CNJ consolida sua atuação como órgão de controle do Judiciário. Agência
CNJ de Notícias, 14. jun. 2015.
332
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 16.
333
OLIVEIRA, 2016, op. cit., p. 77.
94

Todavia, esses aspectos poderiam perfazer como foco essencial dessa busca por
entender a prática diária do Direito em sua realidade, de forma empírica, uma vez que:

A jurimetria pretende determinar a realidade do Direito na sua prática diária,


observando o funcionamento das instituições jurídicas e das sentenças, autos,
contratos e demais populações de normas individuais produzidas pelo sistema
jurídico diariamente. A jurimetria busca investigar como o Direito influencia a vida
cotidiana das pessoas de modo empírico334.

Dessa forma, analisar razões de demandas que chegam ao Judiciário e os padrões das
decisões é essencial para se compreender como a ordem jurídica tem funcionado e se os
resultados de fato estão a combater o problema ou refletindo de forma eficaz no meio social:

Através do uso da Jurimetria pretende-se analisar quais as razões que levam o


demandante – autor da ação judicial (ou administrativa em alguns casos) – a
procurar o Poder Judiciário e, qual o padrão de decisão do Poder Judiciário diante
desta demanda em massa, pretendendo com a análise em questão, descobrir se o
Poder Judiciário é eficaz ou não no combate ao problema massificado representado
na demanda individual e quais os impactos reais e as possibilidades de mudança335.

A Jurimetria depende constantemente de dados, isto é, os dados produzidos e contidos


nos processos judiciais eletrônicos. Além disso, depende de como esses dados são coletados,
transferidos, armazenados e tratados, pois quanto mais detalhados e fragmentados forem às
informações resultantes deles, “mais próximas da realidade se tornam e mais instrumentais
para gestão de políticas públicas336”.
Um destaque recente de projeto envolvendo o desenvolvimento da Inteligência
Artificial referente à utilização dos dados de processos judiciais eletrônicos e que fora
escolhido para utilização em âmbito nacional fora o Sinapses, desenvolvido pelo Tribunal de
Justiça de Rondônia (TJ/RO). A ferramenta é própria para o sistema PJe e serve como ponto
de partida ao permitir em sua plataforma a criação, treinamento e disponibilização de modelos
de IA voltados para análises de dados de processos eletrônicos, o que contribuiria inclusive
para a Jurimetria nesse campo, servindo também para amparar às decisões e despachos em
demandas repetitivas.
Contudo, em alguns sistemas para coleta de dados e estudos jurimétricos ainda
ocorrem alguns entraves na prática. Em uma pesquisa de campo realizada por Dierle Nunes e
Fernanda Amaral Duarte, o campo de buscas do sistema do Tribunal de Justiça de Minas

334
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 46.
335
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 289.
336
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 18.
95

Gerais se destacou quanto ao tempo gasto em vista de diversos erros apresentados nas
consultas, além disso, as autoras observaram várias classificações de sentenças equivocadas.
O estudo e coleta de informações nesse Tribunal demandaram mais tempo com a verificação
detalhada para conseguirem avaliar se enquadravam ao tema específico que escolheram para
aquela pesquisa337.
Ou seja, nos Tribunais os sistemas ainda variam muito em relação às devidas
classificações e informações quanto a cada movimentação e dados dos processos eletrônicos,
evidenciando mais uma vez a ausência de mínima de padronização nesses dados
identificadores e seu consequente impacto negativo para o desenvolvimento da jurimetria:

[...] alguns juízes colocavam uma espécie de cabeçalho para facilitar a identificação
do nome das partes, do número do processo, outros não só não o faziam, mas sequer
datavam o documento. Deste modo, para estruturar os dados era necessário o retorno
ao site do Tribunal e a pesquisa individual do processo para completar informações
como numeração única (usada como chave da tabela), nome do magistrado e até o
nome das partes. Pelo demonstrado, nota-se a dificuldade de fazer estudos empíricos
de modo manual338.

É esperado que alguns problemas durante o uso de cada sistema apareçam e as


“soluções deverão ser racionais, porém humanas; lógicas e justas; inclusivas e cidadãs 339”;
bem como uma regulamentação efetiva quanto à padronização mínima a ser atendida se
mostra viável para ser seguida, além de acompanhar a rapidez com que a tecnologia tem se
expandido na ordem jurídica brasileira:

O objetivo da estatística judicial no Brasil parece continuar a ser o de acompanhar o


volume de trabalho dos juízes e dos tribunais, não tendo se transformado em um
instrumento importante no sentido de informar e organizar a elaboração de políticas
públicas na área, nem a avaliação de medidas adotadas. A integração dos sistemas e
sua capacidade de produzir informações de maneira automática e confiável são
essenciais para a evolução e a melhoria dos serviços públicos dentro do Judiciário
brasileiro340.

Para além dessas limitações, é imprescindível acautelar-se quanto a publicidade e


facilidade de acesso aos dados nos processo eletrônicos para utilização da Jurimetria tanto de
forma interna quanto por entidades externas ao Judiciário — de Inteligência Artificial, por
exemplo. Faz-se necessário, realocar os princípios da publicidade e privacidade em relação à
proteção de dados identificadores nos processos eletrônicos de modo que se mantenha a

337
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 416.
338
Ibid.
339
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
340
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 16.
96

segurança dos mesmos, além da segurança jurídica, mas que ao mesmo tempo o que deve se
manter como público seja de fato acessível em meio eletrônico, seja qual sistema o processo
esteja cadastrado, à qualquer pessoa e entidade.
Em uma avaliação de países latinos (entre eles: Brasil, Costa Rica, Chile, Argentina,
Peru, Uruguai e México) fora analisado a disponibilidade de dados sobre decisões judiciais,
assim como outros dados como andamento processual, estrutura administrava etc., para
conferir se o aspecto dos dados abertos é bem atendido nos ordenamentos jurídicos desses
países. Entre esses, o país com melhor resultado foi o Brasil341.
Contudo, apesar da qualidade e disponibilidade dos dados hoje serem melhores que já
foram anteriormente, na prática continuam se restringindo a permitir somente a avaliação no
quesito da “produtividade global do Judiciário, de tribunais e juízes, estando ainda distantes
do que é necessário para possibilitar a elaboração e a avaliação de políticas públicas de
melhoria da prestação dos serviços de Justiça342”.
Portanto, sabendo que essa tendência de tecnologias e acesso de dados, inclusive pela
utilização cada vez maior da Jurimetria, continuará evoluindo, um novo espaço para o
aperfeiçoamento institucional surge e deve ser observado. Convém destacar que softwares de
Inteligência Artificial, bem como estudos com a metodologia da Jurimetria, precisam de
acesso aos dados nos processos eletrônicos conforme o enfoque de sua pesquisa seja o perfil
dos litigantes ou as decisões judiciais e seus julgadores. Nesse sentido, discutir os limites
éticos no uso dessas ferramentas:

[...] envolve desde a definição básica de imperativo categórico para avaliação das
nossas ações — de acordo com a possibilidade de atingir e sentir de outrem — até
um valor definitivo que se insere nas práticas profissionais e na organização política
do Estado. Isso com a certeza de que seu conteúdo é perene e deve alcançar a todos,
concretizando-se em guia de conformidade para as ações de diversificados players,
nos negócios, na política, nas atividades profissionais e na vida pessoal, enquanto
instrumento para o aperfeiçoamento institucional e aprofundamento democrático 343.

O documento da União Europeia de 2018, Draft Ethics guidelines for trustworthy AI,
determina alguns padrões e reivindica o respeito aos direitos fundamentais junto ao objetivo
de demarcar discussões sobre os limites éticos dessas aplicações tecnológicas. O objetivo
ético do documento se traduz em atender padrões predeterminados, os quais deve se destacar
que ainda precisam ser definidos e determinados normativamente, bem como significam

341
OLIVEIRA; CUNHA, 2020. p. 07.
342
Ibid., p. 10.
343
BELCHIOR, Wilson Sales. Os limites éticos do uso da tecnologia nas áreas do Direito. Revista Consultor
Jurídico, 21 abr. 2019, online.
97

também manter a consonância com a justiça e explicabilidade. Além disso, todos esses
instrumentos tecnológicos devem sempre “respeitar a privacidade, transparência, segurança e
governança dos dados, não discriminação, rastreabilidade, auditabilidade e responsabilização,
entre outros aspectos344”.
Portanto, observa-se que a Jurimetria, bem como as ferramentas que se utilizarem para
coleta e acesso aos dados resguardados pelo Poder Judiciário ainda não possuem um
regulamento para a administração pelos Tribunais. E não se pode ignorar que há muitos dados
de caráter sigiloso ou estratégico que despertam o interesse de diversas entidades e
instituições externas ao Judiciário e que, apesar da vigência da LGPD, não há específico
regulamento quanto ao resguardo dos dados produzidos em meio eletrônico judicial, os quais
identificam as partes envolvidas.
A Jurimetria não se resume a computadores e Inteligência Artificial decifrando o
Direito, “afirmar que a jurimetria é uma disciplina que utiliza computadores para
compreender o Direito é o mesmo que definir engenharia civil como o uso de calculadoras
para a construção de edifícios345”; a Jurimetria é muito mais abrangente e relevante para uma
futura prestação jurisdicional mais eficiente a partir dos resultados dos seus estudos, mas para
continuar se desenvolvendo de forma orgânica e efetiva se faz necessário um ambiente de
dados sistematizado e padronizado, com a devida segurança dos dados identificadores dos
atores processuais e possivelmente estratégicos que se encontram inseridos em milhares de
demandas judiciais.

3.4 OS REFLEXOS DA TECNOLOGIA E DAS ANÁLISES JURIMÉTRICAS PARA


A ROTINA DO PODER JUDICIÁRIO E SEU PLANO INTERNO — POLÍTICA DE
GESTÃO

Além da sociedade que passa rapidamente por essa constante mutação através da
tecnologia e tem mudado de comportamento por isso, o impacto da tecnologia no Direito
reflete também no comportamento dos julgadores e Tribunais. A implantação dos processos
eletrônicos impactou diretamente nas atividades práticas profissionais do advogado, como o
simples atos de consultar processos e peticionar os mesmos, do próprio escritório, sem mais
ter que se deslocar aos fóruns.

344
BELCHIOR, 2019, op. cit., online.
345
NUNES, 2016, op. cit., p. 116.
98

Já em relação aos magistrados, manteve-se a necessidade de estarem no fórum no


horário de expediente. E em relação a tal comparação, Renata Mota Maciel M. Dezem
analiticamente evidencia que “essa mudança de paradigma apresenta conflitos éticos no
mínimo interessantes346”.
A Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN) dispõe em seu artigo 35, inciso
VI, sobre a presença obrigatória do juiz no fórum conforme o expediente do mesmo. Apesar
desse novo movimento que ocorre com a implantação dos processos eletrônicos, não se
vislumbra a possibilidade de flexibilização dessa exigência presencial aos magistrados347.
Sobre o tema, de acordo com as precisas lições de José Renato Nalini:

O juiz deve ser alguém disponível, a Constituição incumbe o juiz de examinar de


imediato algumas situações, e isso só será possível se ele estiver na unidade judicial.
Ou a justiça é serviço público essencial, e então precisa de agentes à disposição dos
destinatários de forma ininterrupta, ou então é serviço não essencial que pode ser
substituído por alternativas outras de resolução dos problemas humanos348.

Como o trabalho dos magistrados não se resume apenas a decisões e sentenças, pois
inclui também atendimentos a advogados, realização audiências, gestão do gabinete, da Vara
etc., essas inovações tecnológicas junto ao processo eletrônico não afastaram o dever de
comparecimento dos magistrados aos fóruns, sendo a possibilidade de acesso remoto dos
processos um auxílio adicional às suas atividades:

[...] os progressos tecnológicos não autorizam qualquer alteração nesse modo de


proceder, na medida em que o acesso remoto aos processos eletrônicos constitui
apenas uma ferramenta para implementar e facilitar a atividade jurisdicional, mas
que não substitui a presença pessoal do magistrado, durante o expediente forense 349.

Com a celeridade e alguns trâmites cartorários automatizados como resultados do


novo processamento dos processos judiciais eletrônicos, consequentemente cresceu nos
gabinetes a quantidade de processos conclusos aguardando decisões em menor espaço de
tempo. Assim isso provoca e exige por parte dos juízes, desembargadores e ministros a se
voltarem com mais cautela e atenção a sua gestão de equipe de trabalho, bem como abre a
possibilidade de se analisar melhor o perfil dos litígios sob sua análise e julgamento conforme
as classificações dos processos, se devidamente observadas e preenchidas no sistema
eletrônico.

346
DEZEM, 2018, op. cit., p. 959.
347
Ibid.
348
NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 768.
349
DEZEM, 2018, op. cit., p. 960.
99

Além disso, se faz importante analisar a evidência de que, em relação à evolução


tecnológica, há uma interdisciplinaridade entre o Direito Processual Civil (em conjunto das
mudanças trazidas pelo processo eletrônico) com a Teoria Geral do Direito, “especialmente na
análise das bases da prestação jurisdicional, entendida como atividade cognitiva do
magistrado, a partir dos fatos trazidos a julgamento, e as consequências da utilização de
ferramentas de inteligência artificial350”.
Entrando nesse tema que envolve tanto o auxílio de Inteligência Artificial nas decisões
judiciais quanto Jurimetria na análise macro de todas essas decisões, primeiramente deve se
mencionar que diversas produções científicas já vêm demonstrando resultados de pesquisa
através de softwares utilizados e a partir de seus métodos matemáticos capacitados a
sintetizarem o behavior de um Tribunal em relação a determinada matéria351.
Ainda citando as transformações que vêm refletindo diretamente na rotina dos
julgadores, já é possível vislumbrar modelos de pesquisa jurídica arquitetados com a
finalidade de se elaborar fundamentos jurídicos e decisões judiciais a serem aplicados com
auxílio de plataformas de Inteligência Artificial dos Tribunais. Vale a pena explorar a
possibilidade de computadores aprenderem esses modelos de raciocínio jurídico, pois essa
inicial cognição a ser desenvolvida nesses softwares de Inteligência Artificial já demonstram
que esses computadores serão capazes de aplicar a devida solução aos problemas de forma
semelhante ao desempenho dos servidores e operadores do direito352.
Como já mencionado neste trabalho, a estatística e a probabilidade são capazes de
estimar alguns eventos futuros e, com auxílio da celeridade de pesquisa e aprendizado
propostos pela Inteligência Artificial, poderão ser utilizadas tanto para aplicação de futuras
decisões sob a revisão do magistrado, pois se sabe que um “julgamento é um evento de alta
complexidade, que pode ter seu resultado afetado por mínimos detalhes aparentemente
irrelevantes353”, quanto ainda e não menos importante, nos estudos acerca do Poder Judiciário
de forma geral para auxiliar na busca das devidas iniciativas e de melhorias na sua prestação à
sociedade. Nesse cenário, “cientista seria o jurista que conseguisse antecipar a probabilidade
de certa decisão judicial” e o método para isso, seria “conhecer como os juízes estão
interpretando a norma354”.

350
DEZEM, 2018, op. cit., p. 951.
351
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 46.
352
DEZEM, 2018, op. cit., p. 965.
353
NUNES, 2016. op. cit., p. 116.
354
Ibid.
100

A Jurimetria, então, permite esse tipo de pesquisa científica em relação ao perfil e


correntes adotadas em decisões de cada Vara e Tribunal do Poder Judiciário, propiciando uma
visão muito além da que se tem atualmente nos estudos estatísticos quantitativos pela gestão
do CNJ.
Dando seguimento à discussão da transformação na rotina interna do Judiciário,
Oliveira e Cunha apontam que “o uso da tecnologia no Judiciário por meio da introdução de
computadores e sistemas digitais como instrumento de trabalho vem produzindo um novo tipo
de magistrado355”. Os autores ressaltam ainda o trabalho de Fernando Fontainha em 2012,
Juízes empreendedores, o qual compreendeu estudos relativos ao processo de informatização
dos Tribunais brasileiros, identificando o uso dos computadores dotados dessas novas
tecnologias implantadas nos sistemas judiciários que auxiliam e conferem maior praticidade
na rotina de trabalho de juízes, além de satisfazer os usuários e atender às demandas em
tempo menor, resultados que já refletem de forma relevante e positivamente na prestação
jurisdicional; nesse novo cenário surge um novo formato de magistrado denominado como
“juiz-empreendedor356”.
A França, em 2007, contava com uma lei que alterou o Código de Organização
Judiciário, generalizando a videoconferência no seu universo jurídico:

La loi du 20 décembre 2007 a généralisé le recours à la visioconférence en matière


judicaire et a introduit dans le Code de l’Organisation Judiciaire un article L 111-
12 (modifié ensuite par la loi du 5 juillet 2011) selon lequel : ‘Les audiences devant
les juridictions judiciaires […] peuvent, par décision du président de la formation
de jugement, d'office ou à la demande d'une partie, et avec le consentement de
l'ensemble des parties, se dérouler dans plusieurs salles d'audience reliées
directement par un moyen de télécommunication audiovisuelle garantissant la
confidentialité de la transmission’. Le rapport Delmas-Goyon sur ‘Le juge du 21ème
siècle’ préconise la possibilité de plaider par visioconférence même en dehors des
salles d’audience.

A lei de 20 de dezembro de 2007 generalizou o uso da videoconferência em


questões jurídicas e introduziu no Código de Organização Judiciária, um artigo L
111-12 (posteriormente alterado pela lei de 5 de julho de 2011) segundo a qual:
‘Audiências nos tribunais judiciais [...] podem, por decisão do presidente do
formação de julgamento, ex ofício ou a pedido de uma das partes, e com o
consentimento de todos partes, acontecem em diversos tribunais ligados diretamente
por meio de telecomunicações audiovisuais garantindo a confidencialidade da
transmissão’. O relatório Delmas-Goyon sobre ‘O juiz do século 21’ defende a
possibilidade de pleitos por videoconferência mesmo fora dos tribunais 357

355
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 16.
356
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 16.
357
ASSOCIATION HENRI CAPITANT, 2014, op. cit., p. 08. (Tradução nossa). (Grifo nosso).
101

Esse novo tipo de juiz possuirá cada vez mais enfoque na gestão do seu pessoal, bem
como nas demandas sob sua responsabilidade e o trabalho sobre elas. Havendo um sistema
seguro e padronizado de dados somados a essa nova atuação por parte dos julgadores, o
desenvolvimento da Jurimetria como instrumento de efetividade da prestação pelo Poder
Judiciário daria um grande salto em direção a esse objetivo.
Ademais, conforme já tratado neste trabalho, os índices de produtividade dos tribunais
são embasados no número de processos julgados e baixados, não considerando ainda outros
pontos específicos como o próprio julgamento e seu teor, se estão em consonância com os
precedentes ou provocando efetividade no cotidiano da própria coletividade. Então, seria por
esse caminho a forma adequada de se buscar aferir a produtividade e eficiência dos órgãos
jurisdicionais.
Faz-se importante destacar que essas reformas e metas que visam atacar a morosidade
sistêmica podem, de fato, apresentar resultados mais rápidos na Justiça, mas não
necessariamente os mais apropriados, isto é, não uma justiça cidadã:

[...] celeridade processual pode resultar em “decisões injustas”, na medida em que


princípios constitucionais podem ser inobservados, como o devido processo legal, o
contraditório, ampla defesa e até o “direito fundamental a uma decisão judicial
devidamente fundamentada” 358.

Quanto ao uso da tecnologia em auxílio às decisões judiciais, há “diversas reflexões


teóricas e éticas que merecem maior desenvolvimento359”. Uma vez que “a atividade de julgar
os processos judiciais no Brasil é um desafio cada vez mais complexo360” e isso não se dá só
pela enorme quantidade de processos, mas também frente as mudanças que ainda que
configurem evoluções tecnológicas, são implantadas de forma muito rápida e ainda sem
instrumento normativo próprio de gestão de dados.
Na Eslováquia, por exemplo, por não conseguirem cumprir e garantir a estrutura
adequada nos Tribunais frente às novas tecnologias, a Corte Europeia de Direitos Humanos
entendeu que o país violou o direito de acesso com tal omissão:

La CEDH a condamné la Slovaquie dont le code de procédure civile prévoyait


l’intégration de nouvelles technologies mais qui n’avait pas rempli son obligation
d’équiper les juridictions et avait donc porté atteinte au droit d’accès au juge.

358
MARCO; MEDEIROS, 2015, op. cit., p. 372-373.
359
DEZEM, 2018, op. cit., p. 967.
360
WATANABE, 2019, op. cit., n.p.
102

A CEDH condenou a Eslováquia, cujo código de processo civil previa a integração


de novas tecnologias, mas que não cumpriu a sua obrigação de equipar os tribunais
e, portanto, violou o direito de acesso a um juiz361.

Um exemplo recente no Brasil, de rápida implantação conforme mencionado na


primeira semana de outubro do ano de 2020, na 319ª Sessão Ordinária do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), foi aprovada em plenário por unanimidade uma resolução que implementa o
Juízo 100% digital362 de forma facultativa nos Tribunais brasileiro, a justificativa dada foi a
“celeridade ao Judiciário363”. Quando optado o Juízo 100% digital, todos os atos processuais
serão exclusivamente realizados de forma remota em meio eletrônico. De fato, a medida é
facilitadora quando se pensa em testemunhas e partes em cidades e estados diferentes, bem
como os próprios advogados podendo atuar nos autos independentemente do foro em que
tramitam.
Todavia, alguns pontos merecem a devida atenção, um deles relacionado às
testemunhas e audiências. Não se dispõe ainda sobre os meios e cautelas que devem ser
tomados frente aos riscos de manipulação de depoimentos de testemunhas, situação esta a ser
evitada, pois é de extrema gravidade e poderia influenciar positiva ou negativamente num
futuro julgamento que busca ser adequado para aquele caso.
Além disso, ao acionar o juiz, o advogado poderá esperar até 48 horas (quarenta e oito
horas) para ser atendido, também de forma eletrônica, e isso vai de encontro com o que já fora
exposto neste tópico acerca da impossibilidade do afastamento do juiz, justamente pelo
atendimento e disponibilidade em horário de expediente ser inerentes ao seu trabalho, bem
como estreita a prerrogativa do advogado, fato já rechaçado anteriormente pelo próprio CNJ,
previsto no Art. 7º, inciso VIII, da Lei 8.906/1994364, que dispõe sobre o Estatuto da
Advocacia e da OAB.
Com isso, percebe-se uma antecipação de uma evolução, mas com algumas lacunas
que podem afetar diretamente as decisões judiciais, bem como o acesso a uma Justiça efetiva
por esse novo modelo de procedimento enquanto não estiver devidamente ajustado. Tais
questões também poderão impactar nas análises realizadas pela Jurimetria, a qual poderá
ainda identificar as mudanças práticas na atuação do Judiciário como dos demais atores

361
ASSOCIATION HENRI CAPITANT, 2014, op. cit., p. 17. (Tradução nossa).
362
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 345, de 09 de outubro de 2020. Dispõe sobre o “Juízo
100% Digital” e dá outras providências. Brasília, DF: CNJ, 2020a.
363
RODRIGUES, Alex. Plenário aprova proposta para varas atuarem de modo 100% digital. Agência CNJ de
Notícias, 06 out. 2020, online.
364
BRASIL. Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). Brasília, DF, 1994.
103

processuais, ainda mais relevantes após esse novo modelo de prestação jurisdicional em
procedimento 100% digital.
Partindo para o cenário no qual a Inteligência Artificial auxilia junto à Jurimetria
estatística nas tomadas de decisões nos processos judiciais, deve-se em primeiro lugar
compreender que a estatística buscará demonstrar, através da busca e análise de padrões,
apreender o modo como aquelas decisões objeto de seu estudo, e quando cada tipo de uma se
aplica. Portanto num primeiro momento a Jurimetria não explica por que aconteceu, mas sim
apura o que aconteceu.
A estatística associada à construção de decisões judiciais fora, inicialmente, duramente
criticada pela doutrina a partir do argumento de que “[...] o trabalho do juiz, ao decidir a
causa, não se assemelha ao do matemático quando resolve suas equações, já que o julgador
deve adentrar em determinadas circunstâncias presentes no caso in concreto, que são
invisíveis aos olhos das fórmulas estatísticas365”.
É certo que no momento de se proferir a sua decisão em determinado caso, o juiz deve
levar em conta diversos fatores, sendo um deles o de considerar que o caso em questão não é
puramente individual, ainda que tenha uma só pessoa como autora, mas sim que sua decisão
nesse caso e em todos os outros terá impacto para a sociedade. Além de partir sempre da
premissa de que julgar não apenas realiza a subsunção do fato à norma366.
De fato, é difícil conferir a tarefa de análise de provas e de julgamento a uma máquina,
contudo essas máquinas têm capacidade de desenvolver importantes funções auxiliares
daquelas, conferindo utilidade e praticidade em seleção e fornecimento de dados aos próprios
julgadores, os quais os auxiliariam na sua condução até a sua decisão final, como por
exemplo: classificação de provas, comparação de provas verificando possíveis divergências,
demonstração de legislações possivelmente aplicáveis ao caso em análise etc.367.
Portanto, apesar de não haver como essas ferramentas tecnológicas sobreporem-se à
experiência humana e profissional dos julgadores, há como elas potencializarem essa
experiência, contribuindo com os julgadores nessa otimização. Nesse sentido, vale destacar
que “dificilmente haverá a substituição total dos seres humanos na atividade de julgar, ao
menos enquanto os alicerces de convivência da humanidade forem valorativos e não apenas
normativos368”.

365
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 119.
366
BARBOZA, 2019, op. cit., p. 10.
367
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 218.
368
DEZEM, 2018, op. cit., p. 967.
104

Como Marcelo Guedes Nunes bem definiu em sua obra, a partir “de uma perspectiva
metodológica, a Jurimetria usa a estatística para restabelecer um elemento de causalidade e
investigar os múltiplos fatores (sociais, econômicos, geográficos, éticos etc.) que influenciam
no comportamento dos agentes jurídicos369”.
Dessa forma, pode ser possível, através da metodologia jurimétrica, estudar como um
juiz ou tribunal tem julgado algumas demandas de temas específicos, identificando qual o
entendimento sobre aquele ou ainda se há divergências entre algumas decisões acerca da
mesma matéria, por exemplo. Além disso, a partir do uso da Jurimetria, é possível “prever as
teses aceitas com maior frequência em determinados tribunais, ou mesmo, o perfil decisório”
de uma determinada Vara ou turma julgadora370.
Assim, é possível demonstrar, inclusive para o próprio magistrado, como ele decide
nos processos judiciais eletrônicos, fazendo uso ou não já de softwares de Inteligência
Artificial em demandas repetitivas. E sobre esse ponto, pode ser que surja a indagação: quem
decidirá após o juiz se utilizar desse panorama demonstrado nas próximas decisões, ainda será
ele ou já é o sistema que utilizara? E aqui convém reiterar que, a deliberação, revisão e análise
dos valores envolvidos continuarão a cargo do magistrado, sendo os instrumentos
tecnológicos de estatística e automatização apenas um auxílio e potencializador desse
processo.
Esse cenário favorecerá a evolução do perfil do juiz para aquela forma anteriormente
citada, de empreendedor e de gestor, com o tempo otimizado; provocando também essa
mudança de comportamento frente à busca de prestações jurisdicionais pela sua Vara ou
turma, cada vez mais eficientes ao tomarem melhor controle e ciência do funcionamento de
sua rotina e equipe.
Diante disso, através da Jurimetria ainda será possível analisar e avaliar o desempenho
do Judiciário; como já abordado, isso ocorre ainda focado apenas no aspecto quantitativo,
avaliando celeridade e eficiência pelos processos julgados. Todavia, essa avaliação envolveria
diversas outras variáveis para obter uma percepção mais próxima da realidade quanto à
prestação jurisdicional analisada, tanto de variáveis de aspectos internos, quanto ao devido
processo legal nos processos eletrônicos, rompendo com a antiga linearidade na tramitação
dos mesmos até como se chegou à decisão final e quanto de variáveis externas em relação à
efetividade da prestação:

369
NUNES, 2016, op. cit., p. 116.
370
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 119.
105

A avaliação de desempenho judicial envolve variáveis internas e externas, objetivas


e subjetivas. A dimensão da percepção do desempenho do Poder Judiciário precisa
ser incorporada. Seja na perspectiva de mensuração de atributos judiciais [...] com
base nas opiniões daqueles diretamente envolvidos com o sistema legal —
advogados, servidores e partes — seja na perspectiva da satisfação com o
atendimento recebido e o serviço prestado371.

Até o momento atual, em relevante constatação por Barbosa e Menezes, “o impacto


social das decisões judiciais não é — nem nunca foi — analisado de forma sistemática,
através de processos estatísticos adequados que permitam chegar a conclusões científicas” de
como o poder Judiciário de fato julga e decide, nem se analisam quais os reflexos desses
julgamentos e decisões para a coletividade372.
Com isso, evidencia-se que os estudos embasados pela Jurimetria poderiam ser
utilizados a fim de identificar as mudanças de paradigmas e posicionamentos dos julgadores,
possibilitando maior transparência à sociedade, assim como a busca por parte do CNJ de
novas ações e melhorias quanto às questões de gestão Judiciária, de forma mais aprofundada.
Outra importante análise e de necessário enfoque se dá quanto a uma mudança no
comportamento e na ação judicial que impactou integralmente no da Jurimetria e que
surpreendera diversas ordens jurídicas a nível global. O fato mencionado se refere à
modificação realizada na França em 2019 do seu Código de Justiça Administrativa, por meio
da Lei 2019-22373.
O que ocorrera fora que pelo Art. 33 da Lei de Reforma do Judiciário francês fora
determinado em uma tradução literal, que “os dados de magistrados e membros do Judiciário
não podem ser reutilizados com a intenção de avaliar, analisar, comparar ou prever suas
práticas profissionais ou potenciais374”. Ou seja, de maneira inédita e até de certa forma,
inesperada, a França proibiu a Jurimetria através dessa recente alteração normativa em seu
ordenamento jurídico.
O texto do referido artigo, restou da seguinte forma:

Les données d'identité des magistrats et des membres du greffe ne peuvent faire
l'objet d'une réutilisation ayant pour objet ou pour effet d'évaluer, d'analyser, de
comparer ou de prédire leurs pratiques professionnelles réelles ou supposées. La
violation de cette interdiction est punie des peines prévues aux articles 226-18,226-
24 et 226-31 du code pénal, sans préjudice des mesures et sanctions prévues par la
loi 78-17 du 6 janvier 1978 relative à l'informatique, aux fichiers et aux libertés.

371
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 18.
372
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 288.
373
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 425.
374
SILVEIRA, Pedro. Jurimetria - É proibido medir?. LinkedIn, 12 jun. 2019, online.
106

Os dados de identidade dos magistrados e dos membros do registro não podem ser
objeto de uma reutilização tendo como objeto ou efeito a avaliação, análise,
comparação ou predição de suas práticas profissionais reais ou supostas. A violação
desta proibição é punida com as penas previstas nos artigos 226-18, 226-24 e 226-31
do Código Penal, sem o prejuízo de medidas e sanções previstas pela Lei 78-17 de 6
de janeiro de 1978 relativa à informática, aos arquivos e as liberdades375.

Conforme apurado de forma bastante coerente por Dierle Nunes e Fernanda Amaral
Duarte, essa modificação legislativa na França possui ares de se traduzir numa certa “reação
protetiva à estatística inferencial [...]. Contudo, a opção legislativa parece contrariar a
primeira parte do mesmo artigo que afirma que os ‘Julgamentos são públicos. Eles
mencionam os nomes dos juízes que os retornaram’376”.
O que se evidenciara também foi sobre a motivação dessa iniciativa dos magistrados
relacionada ao incômodo dos mesmos frente à utilização da Inteligência Artificial que usa de
dados públicos processuais justamente com intuito de analisar as probabilidades dos
julgamentos quanto a determinadas matérias, além de realizar comparações de entendimento
quanto à matéria com os demais magistrados, Varas ou Tribunais:

Segundo o site Artificial Lawyer, magistrados franceses estavam incomodados com


empresas que usam inteligência artificial para, com base em dados públicos, analisar
como eles costumam decidir e se comportar em determinados assuntos para tentar
prever o resultado de julgamentos e compará-los com colegas377.

Essa modificação legislativa foi chancelada pela Corte do Conselho Constitucional da


França, a qual entendeu que “os parlamentares franceses buscaram impedir que a coleta de
dados em massa fosse usada para pressionar juízes a decidir de determinada forma ou para
desenhar estratégias que possam prejudicar o funcionamento do Judiciário378”.
Sabe-se que diferente do Brasil com um ordenamento no qual vigora o princípio da
ampla publicidade, a publicização de decisões judiciais na Europa se mostra muito mais
restritiva, exemplo disso no fato de que em vários casos dados pessoais das partes em
processos judiciais que teoricamente seriam públicos são apagados dos documentos
acessados379.
Ademais, a crítica à nova regra francesa por constitucionalistas brasileiros claramente
destaca que proibir publicidade de dados estatísticos relacionados à atividade e prestação
375
RÉPUBLIQUE FRANÇAISE. (Légifrance). LOI n° 2019-222 du 23 mars 2019 de programmation 2018-
2022 et de réforme pour la justice (1). Paris: Légifrance, 21 mar. 2019, online. (Tradução nossa).
376
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 21. (Grifo nosso).
377
RODAS, Sérgio. Golpe no juiz-robô: França proíbe divulgação de estatísticas sobre decisões judiciais.
Revista Consultor Jurídico, 05 jun. 2019, online.
378
Ibid.
379
Ibid.
107

jurisdicional, sendo isso atividade pública, “parece medida de quem tem algo a esconder 380”,
ou seja, a questão é essencialmente ética — ainda mais pelo fato de que um estudo jurimétrico
é capaz de constatar desajustes na jurisprudência em desacordo com o sistema de precedentes
no caso do Brasil e seu Código de Processo Civil, por exemplo.
Vale lembrar a valiosa lição trazida por Nunes: “o jurista do futuro terá o domínio da
estatística e será capaz de aproximar o estudo do Direito de uma verdadeira ‘ciência’ 381”. Em
contrapartida, o que se conclui é que a o Poder Judiciário francês agiu e se posicionou na
contramão da evolução tecnológica no campo da Jurimetria, que serviria para potencializar e
auxiliar tanto os operadores do Direito quanto os próprios magistrados na sua prestação
jurisdicional à sociedade. Caso anomalias ou disfunções fossem detectados em análises
jurimétricas, seria preferível averiguar e buscar soluções a fim de conferir maior segurança
jurídica e eficiência à coletividade de forma transparente do que restringir a possibilidade
dessas análises se realizarem e manterem-se num ordenamento jurídico sem o devido
progresso nesse sentido. Como já tratado neste trabalho, a coleta segura de dados e sua
utilização pela estatística é a chave para o desenvolvimento das novas tecnologias e estudos
direcionados à efetividade das ações e decisões do Poder Judiciário.
Assim, diante do ocorrido isolado na França, se evidencia a relevância do tema e a
existência de instrumento normativo com capacidade efetiva que disponha previamente sobre
a administração, proteção e publicidade dos dados produzidos pelo Poder Judiciário,
conferindo assim maior segurança e precaução quanto a ações similares a da França, de
anonimização de dados de interesse público.

3.5 OS RISCOS DE UMA “ANONIMIZAÇÃO” DE DADOS DE INTERESSE


PÚBLICO

A partir do fato ocorrido na França, apesar de muito específico e ainda isolado,


remete-se à importância de se buscar consolidar o equilíbrio entre a proteção e a publicidade
dos dados judiciais em meio eletrônico. Os dados que o Poder Judiciário tutela e deve
administrar são das mais variadas naturezas e fontes; dados pessoais das partes e testemunhas
(nome, telefone, endereço, grau de escolaridade, local de trabalho, entre outros) sempre
carecerão da devida e apropriada proteção, de forma especial em atendimento à LGPD.

380
RODAS, 2019, op. cit., n.p.
381
NUNES, 2016, op. cit., p. 116.
108

Decisões judiciais são de caráter público e se direcionam não só para as partes, mas
para toda a sociedade submetida ao seu ordenamento jurídico. A Jurimetria no caso serve para
otimizar e visualizar de forma mais prática e célere esse panorama de dados — frisando:
dados esses de interesse público.
Igualmente, a tecnologia aplicada ao direito e, mais especificamente, à tramitação de
processos, deve ser empregada de forma democrática não só no acesso pelos indivíduos,
empresas e entes do poder público como também de forma a vedar qualquer receio quanto às
análises preditivas, como se deu na França. Até por uma norma que se apresentasse restritiva
às análises e avaliações de decisões judiciais, iria de encontro ao princípio constitucional da
publicidade: “Uma legislação que limitasse a ‘avaliação’, a ‘comparação’ ou mesmo a
‘previsão’ de decisões judiciais iria atropelar violentamente o princípio constitucional da
publicidade, previsto no Artigo 37 da Constituição Federal382”.
A anonimização de dados é um processo que ocorre quando algum dado relativos a
alguém passa por um processo de desvinculação a essa pessoa, e só se considera efetiva se for
impossibilitado qualquer meio de se reconstituir um caminho para se identificar a pessoa
desses dados. Conforme a própria LGPD em seu Art. 5º, inciso XI, o dado quando
anonimizado “perde a possibilidade de associação, direta ou indireta, a um indivíduo383”.
Tal processo se faz importante para o crescimento do aprendizado das máquinas, de
cidades inteligentes, bem como para a Inteligência Artificial aprimorar a segurança da
informação. Contudo, em recente matéria no jornal The Guardian, um estudo aponta que o
êxito na anonimização de dados com efetiva desvinculação a quem eles pertençam é quase
impossível em vista das diversas ferramentas que existem e que conseguem reverter esses
processos:

“Anonymised” data lies at the core of everything from modern medical research to
personalised recommendations and modern AI techniques. Unfortunately, according
to a paper, successfully anonymising data is practically impossible for any complex
dataset.

Os dados "anonimizados" estão no centro de tudo, desde a pesquisa médica moderna


até recomendações personalizadas e técnicas modernas de IA. Infelizmente, de
acordo com um artigo, anonimizar dados com sucesso é praticamente impossível
para qualquer conjunto de dados complexo384.

382
SILVEIRA, 2019, op. cit., online.
383
BRASIL, 2018, op. cit., online.
384
HERN, Alex. “Anonymised” data can never be totally anonymous, says study. The Guardian, 23 jul. 2019,
online. (Tradução nossa).
109

No Brasil, os dados “anonimizados” que permitam a “desanonimização” estarão


sujeitos à LGDP em vista de ser o caso da pseudoanonimização. Diante disso, claramente
pode se afirmar que o processo de anonimização de dados, que inclusive já ocorria na França
em alguns processos, se ocorresse no ordenamento jurídico brasileiro iria ferir diretamente o
princípio da publicidade ampla e de forma específica, à política implantada de dados aberto
para todos os processos judiciais eletrônicos.
Não deve ser mantida qualquer lacuna que se permita em algum momento se
considerar anonimizar dados de processos judiciais eletrônicos quando não for caso de
segredo de justiça e, já sabendo que ainda nesses processos, as suas decisões e os dados do
julgamento não podem ser omitidos. Cogitar tal cenário seria caminhar em direção oposta da
tendência de aproximação entre sociedade e Judiciário. O acesso do povo à atuação e posição
do Poder Judiciário é essencial, devendo, inclusive, os julgadores caminharem no sentido de
emitirem decisões e seus atos de forma simplificada a fim de que cada vez mais indivíduos
tenham maior conhecimento dessa prestação de contas a que todos eles têm direito:

[...] o acesso de toda a população brasileira aos trabalhos do Judiciário [...] é


imprescindível, para que esse objetivo seja atingido, que os operadores do Direito -
magistrados, membros do Ministério Público, defensores públicos e advogados -
coloquem-se como interlocutores privilegiados, já que dominam as matérias, muitas
vezes extremamente técnicas e por isso áridas ao leigo, com a finalidade de
explicitar, em verdadeira e impositiva prestação de contas, os acontecimentos
forenses, a valia dos atos que compõem a rotina da Justiça nacional. É tempo de
aproximar-se não o povo do Judiciário, mas este, daquele, o que só se
concretizará, efetivamente, com a total transparência do que vem sendo
realizado neste Poder385.

Isto porque a Justiça não interessa apenas aos operadores do Direito, mas é um
serviço prestado pelo Estado aberto a uma coletividade difusa de destinatários, visto que a
sociedade possui direito de ter ciência de tudo o que acontece na ordem jurídica
brasileira386. A Jurimetria com acesso a uma plataforma de dados segura e de informações
padronizadas possibilitaria mais facilmente esse conhecimento e visão amplificada da rotina
e do funcionamento sobre o Poder Judiciário brasileiro atualmente.
Conforme a Resolução nº 215, de 16 de dezembro de 2015, do CNJ:

§4° Os sítios eletrônicos do Poder Judiciário deverão ser adaptados para que,
obrigatoriamente:

385
MELLO, 2001, op. cit. online. (Grifo nosso).
386
NALINI, 2012, op. cit.
110

I – contenham ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à


informação de forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil
compreensão;
II – possibilitem a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos,
preferencialmente abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a
facilitar a análise das informações;
III – possibilitem o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos,
estruturados e legíveis por máquina387.

Assim, fica determinado que todos os sites da Justiça brasileira deverão de forma
obrigatória permitir acesso à informação buscada de forma objetiva e em linguagem fácil,
deverão também permitir o acesso por sistemas externos em dados abertos; justamente
demonstrando a necessária interoperabilidade entre o sistema a fim de possibilitar e facilitar a
coleta e avaliações de dados dos processos judiciais eletrônicos em todo o Judiciário.
Atualmente já se encontram no mercado, diversos softwares capazes de lerem banco
de dados de decisões, sentenças e acórdãos, facilitando a localização e seleção delas por
tema388. Entretanto, essa coleta ainda não consegue se desenvolver ou ser mais efetiva visto
que ainda há obstáculos e dificuldades quanto a como se dá a organização e coleta de dados
judiciais, uma vez que há variedade de classificações e ausência de padronização por parte
dos tribunais brasileiros, evidenciando assim a necessidade da devida “qualificação das
estatísticas judiciais389”.
Diante do que já fora analisado anteriormente, conclui-se que o risco de se omitir ou
da possibilidade de se anonimizar dados em processos judiciais eletrônicos a partir do
pretexto e fundamento da proteção dos mesmos ou do próprio julgador que apresente receio
quanto a ser avaliado estatisticamente em sua atuação, merece atenção e ações preventivas
relacionadas ao tema, visto que ferem diretamente o dispositivo constitucional. Faz-se
necessário “harmonizar, equilibrar e proceder ao devido sopesamento da premissa da
publicidade, [...] com as excepcionalidades necessárias390” junto à da privacidade e proteção
de dados, de modo a se resguardar direitos com a mesma importância e cerne protetivo.

387
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 215, de 16 de dezembro de 2015. Dispõe, no âmbito do
Poder Judiciário, sobre o acesso à informação e a aplicação da Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011. Brasília,
DF: CNJ, 2015, online.
388
DEZEM, 2018, op. cit.
389
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 11.
390
CAMARGO, 2019, op. cit., p. 56.
111

3.6 O COMPROMISSO DO PODER JUDICIÁRIO COM A GESTÃO DE DADOS


EM PROCESSOS ELETRÔNICOS E O DESAFIO DO ACESSO À JUSTIÇA

Diante das justificativas e questionamentos quanto à massiva produção de dados pelos


diversos sistemas nos quais tramitam os processos eletrônicos, os desafios da Gestão Pública
nesse âmbito se dão pela evidente necessidade de interdisciplinaridade entre esferas distintas
do conhecimento gerencial, sendo principalmente de matéria administrativa, jurídica e
tecnologia da informação. Corroborando com essa linha, Newton De Lucca, destaca que “as
principais características do Direito do Espaço Virtual seriam a multidisciplinariedade, o
cosmopolitismo e a tecnicalidade391”.
Contrapondo a sociedade cada vez mais informatizada na comunicação e a
informatização do Poder Judiciário, salienta-se que se faz necessária uma gestão
multidisciplinar presente nos órgãos e Tribunais do ordenamento jurídico brasileiro para que o
mesmo consiga continuar caminhando para ser apto a lidar com essa nova realidade social
digital, uma vez que “Realizar o justo concreto possível dependerá de um Judiciário que
acerte seus ponteiros com o tempo presente e tenha condições de se antecipar ao porvir,
encarando o desafio de penetrar na velocidade reclamada pelos destinatários de seus
préstimos392”.
Nesse sentido, “com a Sociedade da Comunicação, os litígios mudam em qualidade e
em quantidade e, no plano do Direito, a questão que se põe é compreender até que ponto o
sistema jurídico está apto a fazer a leitura dessa mudança393”. Por isso é urgente que o
Judiciário se ajuste à modernidade, caso contrário:

[...] tenderá a um declínio como ferramenta válida à resolução dos conflitos. O


tempo da Justiça não é mais o tempo da sociedade. Vive-se a era da rapidez, da
velocidade, do pós-tudo que torna obsoleto aquilo que não funciona. Todas as
atividades humanas se adequaram aos dias que correm. O Judiciário também tem
contas a acertar com a evolução tecnológica394.

Questão de especial relevância é o fato de que não há ainda regulamento normativo


que ampare a administração dos Tribunais no campo de acesso aos dados dos Tribunais
brasileiros. E conforme Marcio Schiefler Fontes, conselheiro do CNJ entre os anos de 2017 e

391
DE LUCCA, 2001, op. cit., p. 70.
392
NALINI, 2012, op. cit., online.
392
DEZEM, 2018, op. cit., p. 951.
393
Ibid.
394
NALINI, 2012, op. cit., online.
112

2019, assertivamente pontuara no XII Encontro Nacional do Poder Judiciário realizado em


dezembro de 2018 pelo CNJ395, “informação é poder”.
Isso possibilita constatar que os dados eletrônicos existentes no ordenamento jurídico
se traduzem num tema delicado e que merece especial atenção na sociedade atual, a qual é
intensamente judicializada, para então estar gerando e introduzindo tantos dados pessoais e
importantes através dos processos eletrônicos. Diante disso, insurge-se o questionamento:
quanto vale todos esses dados obtidos pelo Poder Judiciário?
Não é à toa que há uma grande oferta de empresas privadas de prestação de serviços
de informática gratuitos para o Poder Judiciário. E tal cenário pode ser comparado ao das
redes sociais “gratuitas”, as quais “são pagas” com os dados dos usuários, que fornecem e
produzem diariamente, podendo ser utilizado no âmbito para publicidade e consumo. Assim, é
possível concluir que por esse serviço oferecido ao Poder Judiciário, a contraprestação
almejada é o pleno acesso ao seu banco de dados396.
O juiz auxiliar da Presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Bráulio Gabriel
Gusmão, ressaltara também importantes questões nesse aspecto, como por exemplo, a
necessidade de se pensar em políticas públicas com o uso da tecnologia no Poder Judiciário,
lacuna que ainda existe, enquanto tudo isso já vem avançando rapidamente397.
O principal objetivo da Inteligência Artificial é executar atribuições que para o ser
humano poderiam ser consideradas inteligentes, ou seja, tendo capacidade de raciocínio e de
aplicar regras lógicas a um conjunto de dados disponíveis para se chegar a conclusões,
aprendendo com erros e acertos (o machine learning já explanado em tópico anterior) para
tornar mais eficaz reconhecer padrões visuais e comportamentais398.
O cenário atual é de muita informação armazenada e capacidade computacional para
tratar essa informação (Datajud), a existência e quantidade desses dados produzidos
contribuíram com o crescimento da Inteligência Artificial e, por isso, se faz necessário pensar
e analisar além do que é feito com os dados. Isto porque quanto maior a variedade de dados e
ausência nos padrões na sua produção e classificação, como ocorre atualmente nos diversos
sistemas eletrônicos dos Tribunais, maior é a dificuldade de aprender e obter deles as
informações necessárias (material de qualidade) que fariam a diferença nas políticas de
melhorias na administração pelo Judiciário.

395
TV-CNJ. Uso da Inteligência Artificial Nos Processos Judiciais - XII Encontro Nacional do Poder Judiciário
(56m03s). Youtube, 13 dez. 2018.
396
Ibid.
397
Ibid.
398
Ibid.
113

A Ciência de Dados e a Inteligência Artificial apresentam dados complementares e


possuem base de sustentação na pesquisa científica399 — e é aqui que entra a Jurimetria, uma
vez que “o levantamento estatístico-matemático permite lançar novas luzes sobre o problema
crônico da morosidade do Judiciário400”, apesar de ainda encontrar ameaças e obstáculos para
se desenvolver.
Com isso, se revela que as instituições do Poder Judiciário devem organizar os seus
dados e sua publicidade e acesso facilitado permitindo autonomia (velocidade em dar
respostas), mas como ensinara o juiz Bráulio Gusmão, para alcançar uma Ciência dos Dados
bem-sucedida, requer especialização e, por isso, a ordem jurídica precisa ser uma instituição
devidamente orientada a dados através de uma boa governança que abarque confiança e
cooperação, em vista de ser hoje uma grande protetora de todos os dados que armazena401.
O jurista advertiu ainda que as lawtechs têm mais informações do Judiciário que o
próprio Judiciário402, sendo mais um tópico que evidencia a necessidade de regulamento
normativo efetivo quanto à gestão e ao acesso de dados por terceiros; reforçando a ideia de
que são indispensáveis regulamentações mais específicas que tratem da gestão dos dados nos
processos judiciais eletrônicos, como um planejamento estratégico pelo Poder Judiciário para
se chegar a prestações jurisdicionais efetivas. Nesse sentido, “há que se empreender uma
análise do planejamento estratégico — dos Tribunais e das Varas Judiciais — como meio
indispensável para a consecução da missão do Poder Judiciário, qual seja a de distribuir
justiça efetiva, solucionando conflitos em tempo razoável403”.
Em vista dessa multidisciplinaridade de áreas e para ter capacidade de gerir o serviço
público, é comum a contratação de “terceiros para operacionalização do sistema, e nesse
aspecto as falhas se apresentam e muitas delas comprometem a própria eficiência do processo
eletrônico404”. Isso se traduz em mais um dos fatores que corroboram na relevância do Poder
Judiciário firmar um compromisso com uma clara e eficiente gestão de dados em processos
eletrônicos.
Outra questão que ressalta essa necessidade se dá pelo fato da quantidade de dados
judiciais que são disponibilizados publicamente terem ocorrido mais como consequência das
políticas de transparência “do que para melhorar a qualidade da prestação jurisdicional ou a

399
TV-CNJ, 2018, op. cit.
400
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 291.
401
TV-CNJ, 2018, op. cit.
402
Ibid.
403
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 281.
404
ABRÃO, 2011, op. cit., p. 55.
114

accountability405”. E nesse sentido Silveira também aponta que “a jurimetria também pode
servir como um mecanismo de accountability para os membros do Poder Judiciário,
promovendo a transparência e facilitando a prestação de contas daqueles que exercem cargos
públicos406”.
Por enquanto a utilização de tecnologia na ordem jurídica brasileira ainda não atende
quesitos nem de coleta informações que sirvam como ferramenta eficiente para o
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, nem como da gestão dessas atividades; “[...] é
possível afirmar que o uso de tecnologia no Judiciário brasileiro não atende à demanda por
produção de informação sobre a atividade judiciária, tampouco favorece o uso dessa
informação como instrumento de gestão e melhoria da prestação jurisdicional407”.
Além da necessidade de compromisso advindo do Poder Judiciário, convém ressaltar
que em caráter colaborativo nessa busca pela eficiência, por melhorias e aprofundamento do
relacionamento dos operadores do Direito com a tecnologia, cabe também à Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) que fomentem e ofereçam ações auxiliares referentes ao ensino
jurídico com noções de informática e de prática em processos eletrônicos:

[...] a OAB [...] precisa incluir noções de informática e prática eletrônica nos futuros
exames de Ordem. Assim como os Tribunais — e notadamente o CNJ — não podem
descuidar de exigir o preparo dos futuros Magistrados nessa área. [...] Não é
modismo, nem sofisticação. É um reclamo legítimo desta humanidade que,
sequiosa de justiça, está a clamar por eficiência no âmbito do Judiciário 408.

Tais questões são fundamentais na atualidade para garantir que o futuro ou jovem
advogado, bacharel em Direito, ao iniciar sua atuação e se deparar com uma variedade de
sistemas, classificações e ausência de padronização tanto dos sistemas quando dos dados dos
processos judiciais eletrônicos, esteja mais bem preparado, podendo utilizar de ferramentas
como a metodologia jurimétrica.
Como já mencionado anteriormente, a variedade dos sistemas eletrônicos dos
Tribunais se apresenta como um obstáculo:

[...] a diversidade de sistemas eletrônicos, em vez de contribuir para a


democratização do acesso à Justiça, tem produzido obstáculos até mesmo para os
usuários desses sistemas, que precisam criar cadastros distintos para acessar cada

405
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 07.
406
SILVEIRA, 2019, op. cit., online.
407
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 14.
408
NALINI, 2012, op. cit., online. (Grifo nosso).
115

uma das plataformas dos diferentes tribunais e, muitas vezes, dispor de diferentes
softwares para poder acessar essas plataformas 409.

Para o possível cumprimento do compromisso quanto à gestão de dados eletrônicos é


importante que se considerem e incluam políticas de treinamentos aos servidores quanto ao
uso de dados, bem como as técnicas que envolvem a coleta desses dados para análises por
softwares de Inteligência Artificial e para fins de jurimetria. Esse treinamento se voltaria para
o desenvolvimento das classificações automáticas dos dados e movimentações processuais
nos diversos sistemas em operação, e que carecem ainda de padronização. Tal movimento
pode resultar em um novo cenário no qual os servidores se juntem aos magistrados no serviço
da gestão dos tribunais:

[...] políticas de treinamento dos servidores, até mesmo do desenvolvimento e


emprego de técnicas de text mining para verificar a qualidade dos registros e
desenvolver classificadores automáticos. Para tanto, parece ser necessária uma nova
concepção no quadro de recursos humanos no Judiciário, incorporando os servidores
na gestão dos tribunais, tarefa que hoje é feita de maneira prioritária e que consome
a maior parte do tempo dos magistrados, mantendo a mesma situação diagnosticada
em pesquisas realizadas no início da década de 2000410.

Além disso, com uma devida capacitação tanto dos magistrados quanto dos servidores
junto à tecnologia da informação na utilização das ferramentas dos processos eletrônicos e no
controle das adequadas classificações de dados e documentos nesses processos, se garantiria a
otimização do tempo daqueles, além de facilitar o processo de coleta e informações de dados
para análises e estudos jurimétricos de um objeto específico411.
Outra importantíssima informação é que o International Consortium For Court
Excellence (ICCE), surgido em 2018, desenvolveu uma metodologia para se avaliar o
desempenho judicial, o qual destaca claramente a atividade de se analisar dados que se
encontrem em uma base regular para fins de eficiência:

Court performance measurement and management (PMM) is the discipline and the
process of monitoring, analyzing, and using organizational performance data on a
regular (ideally in real or near-real time) and continuous basis for the purposes of
improvements in organizational efficiency and effectiveness, in transparency and
accountability, and in public trust and confidence in the courts and the justice
system.

Mensuração e gerenciamento do desempenho de tribunais é a disciplina e o processo


de monitorar, analisar e usar dados de desempenho organizacional em uma
base regular (idealmente em tempo real ou quase real) e contínua para fins de

409
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 14.
410
Ibid, p. 17.
411
DEZEM, 2018, op. cit., p. 962.
116

melhorias na eficiência e eficácia organizacional, na transparência e prestação de


contas, e na confiança pública e confiança nos tribunais e no sistema de Justiça412.

Desse modo, a gestão voltada aos dados dos processos eletrônicos deve ter como
objetivo tornar essa base de dados completa e regular para que se possibilite o gerenciamento
macro através da jurimetria, do desenvolvimento judicial e da prestação jurisdicional na
ordem jurídica brasileira.
A importância desse compromisso deve ser mais bem delimitada normativamente pelo
Poder Judiciário, uma vez que “[...] não parece adequado, e, sobretudo eficiente, pensar no
processo eletrônico como algo estático, sem a necessidade de constante aprimoramento e
conhecimento do perfil das demandas413”. Assim, remete a uma revisão da atual gestão
judiciária de forma geral, bem como do seu enfoque, para assim permitir o amplo
desenvolvimento da jurimetria na busca por atuações mais efetivas, desde que atendidos os
princípios da publicidade e privacidade devidamente equilibrados na sua utilização:

É preciso [...] rever a gestão da administração da Justiça, não como um fim em si


mesma, mas como princípio norteador para maior segurança jurídica, previsibilidade
de decisões e resultados eficazes, discutindo, compartilhando e revendo as formas de
coleta, manipulação e publicização dos dados, que devem ser objeto de discussão e
análise por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, é essencial para que
possamos fazer que a tecnologia esteja a favor da melhoria da prestação
jurisdicional, e não o contrário414.

Com isso, a tecnologia se mostraria como ferramenta de melhoria de fato e não apenas
algo para se sustentar discursos de transparência e modernidade sem nada contribuírem para
uma efetiva transformação refletida na coletividade415.
Ademais, se faz importante destacar que essa gestão dos dados criados, incluídos e
armazenados no ordenamento jurídico aqui proposta enseja a inclusão de especificidades
quanto à proteção e publicidade dos dados judiciais para fins de Jurimetria nas
regulamentações que tratarem dessa gestão. Não se faz necessário apenas criar melhorias na
“produção de dados sobre o Judiciário, mas é também fundamental que haja debate e troca
entre as instituições do sistema de Justiça, a academia e os institutos de pesquisa a respeito do
uso dos dados, seu alcance e sua limitação416”.

412
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 04-05. (Tradução nossa). (Grifo nosso).
413
Ibid, p. 11.
414
Ibid, p. 19.
415
Ibid, p. 16.
416
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 15.
117

Evidencia-se, portanto, que se trata de matéria relevante, a qual precisa de maior


debate e análises por parte da pesquisa acerca dessa gestão de dados para, assim, poder ser
mais bem delimitada e o Poder Judiciário ter a capacidade de assumi-la como compromisso
de abrangência nacional. Quanto ao aspecto de envolvimento do próprio ensino jurídico e da
pesquisa quanto ao tema:

A Educação é o grande motor da transformação. Ela está sendo desafiada a propiciar


um futuro digno para gerações que enfrentarão os fantasmas da automação, do
processo acelerado do machine learning, do espaço crescente de ocupação da
inteligência artificial, que muitos acreditam competir e até vencer a faculdade
humana417.

Para tanto, “resta aos comandos inteligentes e responsáveis pelo Judiciário de amanhã,
promover esforços que removam resistências e obstáculos à integral imersão no mundo
novo418”. Portanto, a discussão quanto à nova realidade de dados que vem modificando a
práxis Judiciária através da sua intensa produção nos processos judiciais eletrônicos, e quanto
ao desenvolvimento da Jurimetria depender da organização e proteção desses dados, bem
como do comportamento dos próprios julgadores frente a essa nova dinâmica, se torna
imprescindível e reflete diretamente no âmbito do Acesso à Justiça.
Quanto mais próximo de uma boa gestão e administração dos dados produzidos em
meio eletrônico e tutelados pelo Poder Judiciário, mais propiciaria análises e estudos do
funcionamento de toda a ordem jurídica, identificando suas possíveis irregularidades internas
ou de consequências externas, e assim poderia se pensar e buscar políticas mais específicas
frente a tais problemas. Consequentemente, a partir disso o Judiciário se dotará de maior
eficiência e efetividade em âmbito interno, assim como para a coletividade.
Apesar de promovida a ideia de que a tecnologia fica a serviço do cidadão
(aprimorando o acesso à Justiça), além da maior praticidade que os processos judiciais
eletrônicos trazem, é urgente a revisão do mecanismo do Processo Judicial Eletrônico (PJe),
reconhecendo que ainda é um sistema no qual muitas vezes tanto o advogado quanto a parte
não acessam facilmente em seus computadores, pois apresenta: erros de acesso com
identificação do assinador, consulta pública sem todos os documentos do processo que é
público, e ainda as inúmeras configurações exigidas na máquina.
As preocupações e possíveis hipóteses diante dos novos desafios a serem enfrentados
no âmbito do acesso à Justiça, já analisadas até aqui, como: a variedade de sistemas

417
NALINI, José Renato. DDD: Desafio da Disrupção Digital. Justiça & Cidadania, 20 fev. 2018, online.
418
NALINI, 2012, op. cit., online.
118

eletrônicos de processos ainda não totalmente acessíveis em consulta pública, produção


massiva de dados e ausência de padronização, organização e sua devida proteção, bem como
os riscos e alterações no comportamento jurisdicional frente às novas tecnologias, remetem ao
que se pode chamar de sustentabilidade social:

Tal como outros princípios estruturantes do Estado Constitucional — democracia,


liberdade, juridicidade, igualdade — o princípio da sustentabilidade é um
princípio aberto carecido de concretização conformadora e que não transporta
soluções prontas, vivendo de ponderações e de decisões problemáticas 419.

A sustentabilidade possui um caráter pluridimensional e, apesar da divergência


existente na doutrina em relação à quantidade de dimensões que suportam a sustentabilidade,
majoritariamente pela doutrina tradicional consideram-se três dimensões: “a dimensão
ambiental, econômica e social420”. Contudo, mais duas dimensões mencionadas por Juarez
Freitas em sua obra Sustentabilidade: direito ao futuro, poderiam ser somadas a esse tripé da
sustentabilidade: dimensão ética e a jurídico-política — sendo esta última relevante à
discussão deste tópico:

Dimensão jurídico-política ecoa o sentido de que a sustentabilidade determina, com


eficácia direta e imediata, independentemente de regulamentação, a tutela jurídica
do direito ao futuro e, assim, apresenta-se como dever constitucional de proteger a
liberdade de cada cidadão (titular de cidadania ambiental ou ecológica), nesse status,
no processo de estipulação intersubjetiva do conteúdo intertemporal dos direitos e
deveres fundamentais das gerações presentes e futuras, sempre que viável
diretamente421.

A dimensão acima conceituada pelo autor se enquadraria à atuação do Poder Judiciário


e teria por objetivo essencial efetivar os direitos fundamentais (entre eles o acesso à Justiça e
à razoável duração do procedimento), bem como reforçar o desenvolvimento da sociedade422.
A morosidade na entrega da tutela jurisdicional que ainda persiste nos processos do
Poder Judiciário mesmo após a implantação e desburocratização dos processos eletrônicos
leva a uma situação de insustentabilidade do Estado. Nesse contexto e de todo o que fora

419
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. O princípio da sustentabilidade como princípio estruturante do Direito
Constitucional. Tékhne, Barcelos, n. 13, p. 07-18, jun. 2010, p. 08. (Grifo nosso).
420
GARCIA; Heloise Siqueira; CRUZ, Paulo Márcio. A sustentabilidade em uma (necessária) visão
transnacional. Prisma Jurídico, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 201-224, jul./dez. 2016, p. 207.
421
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. 3ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016, p. 72.
422
GOMES, Magno Federici; FERREIRA, Leandro José. A dimensão jurídico-política da sustentabilidade e o
direito fundamental à razoável duração do procedimento. Revista do Direito, Santa Cruz do Sul, v. 2, n. 52, p.
93-111, out. 2017.
119

abordado neste trabalho, “é preciso refundar a Jurisdição e o processo, para que seja possível
responder às demandas contemporâneas desta sociedade complexa423”.
Conforme já abordado nos capítulos anteriores, o Acesso à Justiça deve ser analisado
desde como o Judiciário viabiliza o acesso por pessoas físicas ou jurídicas até seus
procedimentos administrativos e processuais, os instrumentos que são utilizados, e de que
maneira a tecnologia atual é aproveitada para aprimorar o funcionamento de seu sistema até
se chegar ao direito propriamente determinado em decisão final, e ainda averiguar como o
julgador chegara até ela e se é a mais adequada para o bem estar da parte e do coletivo social.
É sob esse viés também de sustentabilidade em âmbito jurídico-político que se propõe
essa adaptação da atuação pelo Judiciário como importante alternativa para se alcançar maior
efetividade e segurança não só jurídica, mas social aos indivíduos e ao coletivo, garantindo o
bem-estar e seus direitos fundamentais constitucionais.
Assim, o que não se pode ignorar é que com modelos de regulamentação analisados e
aperfeiçoados a serem construídos e aplicados à gestão de dados nos processos eletrônicos,
será possível vislumbrar maior e efetiva garantia do direito fundamental do Acesso à Justiça e,
desse modo, realizar a finalidade essencial do Estado de promover bem-estar da coletividade e
promover uma sustentabilidade social.
Portanto, diante do direito ao Acesso à Justiça relacionado aos aspectos da eficiência
e efetividade a partir da digitalização dos processos judiciais, a qual trouxe diversas
transformações nas movimentações processuais, e diante dos obstáculos apresentados para o
desenvolvimento da Jurimetria (que depende de uma base de dados preexistente), bem como
diante dos riscos quanto à segurança e à publicidade dos dados eletrônicos judiciais,
percebem-se os inúmeros desafios e especificidades para ter concretamente o acesso a uma
Justiça efetiva e sustentável que parta de uma gestão de dados eletrônicos regulada. É
latente a necessidade de um instrumento normativo ou de caráter principiológico que efetive
o compromisso do Poder Judiciário e, assim, trate da administração desses milhões de dados
de variados graus de sensibilidade e de valor estratégico, produzidos e armazenados no
ordenamento jurídico.

423
ESPINDOLA, Ângela Araújo da Silveira. A refundação da jurisdição e as multidimensões da
sustentabilidade. In: TYBUSCH, Jerônimo et al. (Org.). Direitos emergentes na sociedade global: anuário do
programa de pós-graduação em direito da UFSM. Ijuí: Unijuí, 2013, p. 64.
120

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo geral apresentar a nova e dinâmica realidade
que vem se alterando constantemente através do relacionamento cada vez mais próximo e
interdisciplinar entre o Direito e a Tecnologia, especialmente quanto à virtualização dos
processos judiciais e consequente produção massiva de dados, assim como os reflexos que
isso tem provocado no desenvolvimento da Jurimetria como instrumento na busca pela
eficiência e efetividade nas atividades e prestações jurisdicionais no Brasil.
A sociedade atual apresenta-se como tecnológica, de informação e, ainda,
intensamente de comportamento “judicante”; com essa larga litigiosidade, exige-se soluções
por parte do Poder Judiciário, uma vez que diante desse contexto surgem medidas referentes à
virtualização dos processos judiciais.
Na primeira seção teórica deste trabalho, que se segue à Introdução, foi realizado um
apanhado geral da construção histórica do conceito de direito fundamental de Acesso à Justiça
no mundo e no Brasil, bem como a evolução da profundidade desse conceito, que foi além do
direito de ação perante o Poder Judiciário, para todo o trâmite e qualidade dos atos
processuais até como chegou se chegou ao final daquele processo. Foram pontuados os
principais obstáculos ao Acesso à Justiça, sendo eles a morosidade na duração do processo, a
grande quantidade de demandas, custos processuais e atos protelatórios. Aqui se verificou a
questão de que essa morosidade por parte do Poder Judiciário tem por consequência acentuar
um abismo gerado entre o povo e o Direito.
Na referida seção buscou-se compreender que o Acesso à Justiça tem que ser efetivo,
envolvendo todo o correr do processo e não apenas considerando a entrada perante o juízo,
visto que esse direito abrange toda a atuação e resposta do Poder Judiciário às partes e de que
forma, além da sua duração, conforme a complexidade de cada caso.
Discorreu-se ainda na seção sobre o fato que o Estado Democrático de Direito trouxe
para si a responsabilidade e o dever de atuar como solucionador de litígios, devendo assim
fornecer os devidos mecanismos para tratar desses conflitos. Apresentou-se também o
entendimento que o significado de Acesso à Justiça vai muito além da provocação inicial do
Judiciário e que engloba o procedimento até seu final com a tutela jurisdicional prestada e em
tempo útil.
No segundo tópico dessa seção, buscou-se conceituar de forma didática o princípio da
eficiência no âmbito do Poder Judiciário, o qual nesse sentido deve ser visto como um bom
prestador do serviço jurisdicional. Nesse contexto, constatou-se que a eficiência aplicada à
121

atuação jurisdicional no sentido de decidir num tempo útil deve ser somada a sua forma
eficaz, ou seja, quando se dá de forma fundamentada e justa, concluindo-se que somente
assim é possível se alcançar o caráter de efetividade.
Foi traçado também que as questões referentes à morosidade estão diretamente ligadas
à ineficácia da Justiça, visto que dificulta o acesso do indivíduo a esse direito não só no
momento de acionar um Tribunal, mas de tê-lo analisado enquanto ainda se pode fazê-lo valer
ou não. Com a morosidade e busca pela eficiência o enfoque na celeridade fica cada vez
maior, aumentando também a ênfase na celeridade e com isso se concluiu que é
evidentemente necessário maior cautela e atenção acerca dos fatores que envolvem um
processo judicial, visto que o mesmo envolve não só o direito pleiteado pelas partes, como
também a observância de questões de ordem constitucional.
Verificou-se também que para o Estado Democrático de Direito cumprir o dever que
assumira — a saber: de prestar um bom serviço jurisdicional — se utilizando de métodos
eficientes e com resultado dotado de eficácia, precisará sempre de uma estrutura
administrativa adequada envolvendo os meios tecnológicos eficientes, bem como capacitação
dos seus operadores.
Ou seja, pontuou-se que com essa devida estrutura e enfoque na gestão da ordem
jurídica, objetivando aprimorar os recursos disponíveis e acessíveis para atender os processos
judicializados, vislumbra-se o cenário em que o Judiciário atingirá o resultado esperado como
um bom prestador jurisdicional, alcançando, portanto, seu caráter eficaz.
Ao final dessa seção foram estudados os reflexos da virtualização dos processos
judiciais, verificando que o seu início se deu antes da publicação da Lei n° 11.419/2006424,
quando da difusão de computadores por todos os setores públicos e sociais, especialmente no
Poder Judiciário. Discorreu-se brevemente sobre os passos legislativos mais significativos e
recentes no Brasil quanto à virtualização dos processos judiciais e a partir disso foi possível
constatar que não se criara um “processo eletrônico”, ainda que o legislador assim mencione,
mas o que se criou fora a normatização do procedimento eletrônico no meio digital pelo qual
os processos tramitam atualmente.
Com isso, fora analisado que a virtualização trouxe à luz a desburocratização e
previsão de maior celeridade processual, garantindo esse tempo razoável para obter uma
prestação jurisdicional. Todavia, alguns sistemas ainda dificultam e vão de encontro ao
princípio da publicidade ampla dos atos processuais quando restringem acesso eletrônico via

424
BRASIL, 2006, op. cit.
122

consultas públicas a vários atos e documentos de processos públicos. Além de muitos desses
sistemas exigirem configurações variadas e distintas umas das outras, dificultando de certa
forma o acesso tanto por operadores do Direito (advogados) quanto às partes.
Teceu-se também o cenário no qual os advogados e as partes, que desde a implantação
dos processos em meio eletrônico, se deparam ainda com diversas dificuldades de acesso em
processos tramitando nos sistemas de vários tribunais brasileiros. Essa primeira seção, então,
contextualizou a relevância em se priorizar o acesso amplo e efetivo à Justiça, abarcando todo
o processo até a prestação jurisdicional ser concluída. Assim como a importância de se
observar como papel do Estado prover uma estrutura e gestão administrativa focada na busca
pela efetividade.
Assim, é importante que os sistemas eletrônicos de Justiça se consolidem como
inclusivos, principalmente para as partes e seus advogados. E por inclusivo se entende como
aquele que provê o acesso à Justiça em seu conceito amplo, de forma mais facilitada, bem
como para a prática dos atos processuais pelas partes e advogados. Foi relatado que apesar da
democratização cada vez maior do acesso à internet e da informação jurídica disponível na
mesma, ainda existe uma parcela da população que não alcança esse acesso.
Também se pontuou nesse tópico que apesar do aspecto evolutivo para a Justiça a
partir da virtualização dos processos judiciais, em contrapartida ainda se observa a existência
de excluídos processuais, sendo aqueles que não possuem conhecimento na área da
informática ou que não possuem formação digital, distante ainda de suas realidades. Também
se comentou como nesse início de relação do Direito com a tecnologia através dos processos
judiciais eletrônicos, observa-se o surgimento de novos desafios para essa gestão e necessárias
melhorias envolvendo medidas eficientes, como o acesso efetivo aos processos públicos em
meio eletrônico.
A seção seguinte, de número 02, traçou os principais caminhos que a tecnologia
protagoniza no Poder Judiciário, sendo eles: a implantação do processo judicial eletrônico e a
utilização da jurimetria em conjunto no meio eletrônico, bem como a influência dela sobre a
uniformização jurisprudencial brasileira.
Quanto ao abordado sobre processo judicial eletrônico, constatou-se a ocorrência de
uma evidente reformulação no procedimento desses processos em consequência da sua
implantação no meio digital, bem como a necessidade de se abandonar a linearidade cabível
anteriormente aos processos físicos. Nesse sentido, percebeu-se uma amplitude de
possibilidades na utilização dos dados nos processos em atos cooperativos, com nova
123

dinâmica e que conferem também uma nova aparência ao debate entre todos os atores
processuais.
Além disso, também fora bem ressaltado o risco de outra causa acentuadora nesse
abismo entre a população e o Poder Judiciário no âmbito virtual, destacando a importância de
se manter a sensação de proximidade do jurisdicionado com o Poder Judiciário em relação ao
acesso à Justiça, ainda que no âmbito digital e on-line, não podendo a tecnologia servir de
entrave para isso. Ainda, coube advertir nesse ponto a necessária cautela diante da recente
Resolução do CNJ que instituiu a Justiça 100% Digital, pouco ainda observando essas
questões de risco de sentimento de distanciamento.
Além disso, aponta-se para a questão da variedade dos sistemas, podendo se comparar
as comarcas que se diferenciam pela variedade deles em vez de atender a padronização, como
“ilhas”, e assim acabam não se comunicando, ficando desvinculadas, e isso evidencia a
problemática da não padronização de dados e dificuldades para análises e estudos da
jurimetria se desenvolverem nesse ambiente, bem como obstaculizam também o
gerenciamento de processos425.
Fez-se possível compreender que falar de um Judiciário positivamente informatizado é
falar daquele que desenvolveu as devidas soluções sistêmicas, que envolvem mudança na
cultura, na atuação profissional e na capacitação constante.
Outro tópico da Seção 02 foi o delineamento do histórico de surgimento da estatística
em relação à Jurimetria, como ferramenta que possibilita observar como o sistema judiciário
tem funcionado e como com os dados produzidos pelos processos eletrônicos ela possa
delimitar a realidade do universo jurídico.
Fora evidenciada também a problemática do impacto do aumento exponencial da
produção de dados eletrônicos no Poder Judiciário, trazendo a definição do que são os dados,
evidenciando a importância da busca de ferramentas e gestão para poder gerar informação útil
e aproveitável a partir dos milhões de dados produzidos diariamente. Buscou-se estudar
também como se dá o processamento desses dados pelo judiciário brasileiro e a possibilidade
do auxílio da Inteligência Artificial na coleta e análise de dados para a Jurimetria,
identificando a dificuldade que existe para cientistas e especialistas da computação em
criarem um sistema que analise de forma confiável — e apontando a inegável existência da
interdisciplinaridade com a Arquivologia e a Ciência da Informação, e que nesse sentido a
gestão judiciária deve caminhar.

425
NALINI, 2012, op. cit.
124

Não menos importante, o último tópico da Seção 02 cuidou de mapear o aspecto


contributivo da Jurimetria quanto à uniformização da jurisprudência, conforme prevista no
Código de Processo Civil Brasileiro, evidenciando que estudo estatístico dos dados coletados
em processos eletrônicos possibilita às partes e ao sistema jurídico encontrar a solução mais
pertinente num caso específico. Ou seja, evidencia-se a tarefa de dialogar sobre o Processo
Civil Comparado e os sistemas processuais modernos adotando como um dos critérios básicos
o sistema de precedentes, sendo bem contextualizada e aproveitável para enriquecer o debate.
Diante disso, a aplicação desse método refletiria numa jurisprudência mais harmônica e
positivamente previsível, no sentido da segurança jurídica.
Na terceira e última seção, analisou-se sobre a criação de meios facilitadores para uma
gestão administrativa no Poder Judiciário quanto ao tratamento de milhões de dados
eletrônicos judiciais, permitindo o desenvolvimento mais efetivo da Jurimetria a partir disso e
assim sendo possível obter informações eficientes ao processo de estudo e análise da ordem
jurídica, ainda que o Direito se modifique cada vez mais rápido ao tentar acompanhar os
avanços e transformações da sociedade.
Inicialmente na Seção 03 fora explanado o panorama da política interna de dados
abertos do CNJ (Portaria nº 209 de 19 de dezembro de 2019426), com a definição de dados
abertos na qual se evidenciara a acessibilidade dos processos ao público, bem como o cenário
da massiva produção e má classificação dos dados dos processos judiciais eletrônicos,
demonstrando como isso pode impactar no desenvolvimento da própria jurimetria, a qual
depende desses fatores bem definidos.
Foi possível verificar também nessa pesquisa que para a produção de estatísticas
judiciais a orientação é a adoção do padrão de dados abertos, os quais têm por característica: a
acessibilidade, a sustentabilidade, a reutilização e não discriminação. E assim, viu-se que com
maior transparência, o formato de dados abertos também permite a sua disponibilidade e
interoperabilidade para softwares de Inteligência Artificial para tratamento de dados e coleta
de informações.
Em tópico seguinte se mostrou de grande utilidade à reflexão sobre a evolução da
tecnologia no Direito estar refletindo na rotina jurídica prática em relação ao princípio da
publicidade de diversas formas, sendo uma já abordada ao se perceber o risco de sua violação
quando os sistemas não permitem o acesso integral ao conteúdo de processos em meio

426
BRASIL, 2019, op. cit.
125

eletrônico na opção “consulta pública”, e posteriormente, fora abordado o risco de violação de


este princípio ocorrer à omissão ou anonimização de dados das decisões judiciais.
A última seção ainda cuidou de tratar que princípio da privacidade também merece
maior análise, visto que todos os processos judiciais eletrônicos carregam dados e
documentos pessoais sensíveis dos envolvidos, devendo-se estes serem protegidos inclusive
para fins de Jurimetria.
Foi elaborado também, um tópico que abordou sobre o desenvolvimento da Jurimetria
paralelo às ferramentas tecnológicas, bem como se mencionou os possíveis limites éticos do
uso dessa metodologia e instrumentos quanto aos dados identificadores dos envolvidos nos
processos eletrônicos. Constatou-se que é de extrema importância se acautelar quanto à
publicidade e facilidade de acesso aos dados nos processo eletrônicos para utilização da
Jurimetria tanto de forma interna quanto por softwares de Inteligência Artificial externos ao
Judiciário. Com isso se pôde concluir pela necessidade de se realocar os princípios da
publicidade e privacidade em relação à proteção de dados identificadores nos processos
eletrônicos de modo que se mantenha a segurança dos mesmos, para com isso se precaver em
face de riscos evidentes e de ordem constitucional.
Também foram delineadas na última seção algumas mudanças percebidas na atuação
de todos os operadores do Direito e servidores do Poder Judiciário, em vista do novo modus
operandi frente às tecnologias aplicadas ao Direito, se destacando a figura de um novo tipo de
magistrado, com características mais voltadas a empreender dentro da sua jurisdição e a sua
gesta de trabalho e equipe. Diante dessas mudanças constatou-se haver reflexos e influências
desse novo comportamento judicial também para as análises da Jurimetria. Apresentou-se e
discutiu-se o exemplo da postura dos magistrados e parlamentares na França, os quais em
2019 promulgaram Lei vedando a Jurimetria e restringindo divulgação de seus dados como
julgadores em decisões judiciais, entendendo resultar em ações e resultados prejudiciais no
Poder Judiciário.
Com isso, buscou-se evidenciar os riscos e também o enfrentamento dessa hipótese
contrária a dispositivos constitucionais se houvesse alguma ação no sentido de se efetuar
uma “anonimização” desses dados jurisprudenciais que são de interesse público e sempre
vão ser.
Assim, diante desses riscos na dinâmica do uso e classificação dos dados contidos nos
processos judiciais, conferiu-se destaque ao tópico final da seção, evidenciando que ainda não
há regulamento normativo que ampare a administração dos Tribunais nesse campo referente
ao acesso aos dados dos Tribunais brasileiros. E comungou-se com a advertência do
126

Conselheiro do CNJ em 2019, Marcio Schiefler Fontes, quando aponta que “informação é
poder427” após questionar quanto valem todos esses dados obtidos pelo Poder Judiciário. A
discussão possibilitou concluir que os dados eletrônicos produzidos e existentes na ordem
jurídica brasileira são um tema delicado e que merece especial atenção.
Portanto, constata-se que há um compromisso que deve ser literalmente assumido pelo
Poder Judiciário com a gestão desses dados de forma ampla, visto que apenas a LGPD ainda
não alcançara nessa seara todas as especificidades que essa gestão envolve. Por isso que com
este trabalho, foi possível acreditar na possibilidade de uma gestão a ser constituída e
regulamentada que consiga abranger sobre a coleta, armazenamento, tratamento e proteção
dos dados judiciais eletrônicos, e que esta se mostraria de grande relevância ao estudo e
ordenamento jurídico. Com isso, a pesquisa sobre como regulamentar essa gestão de dados é
fundamental, tais diretrizes se harmonizam com ideias que já eram difundidas por Kazuo
Watanabe quanto à imprescindibilidade do gerenciamento dos processos judiciais.
Em relação às cláusulas abertas, os conceitos indeterminados, os princípios da
eficiência, publicidade e privacidade, a capacidade de administração e trabalho
interdisciplinar com a informática sobre os dados judiciais eletrônicos: a Jurimetria será capaz
de buscar uma análise caso a caso sem uma devida regulamentação desses dados e sua
proteção? Constata-se que a preocupação sintetizada nesse trabalho também traz à tona o
sentimento de promoção da sustentabilidade social.
Em face de todo o exposto, acredita-se ter composto satisfatoriamente o quadro que
sedimenta a confirmação da hipótese inicial, no sentido de que existe a necessidade de maior
debate quanto ao tema abordado e essa nova realidade tão veloz que transforma a rotina
judiciária, destacando o tratamento dos dados nos processos eletrônicos e como sua utilização
influencia no desenvolvimento da Jurimetria, sendo ela um instrumento tão relevante para a
análise desses dados, para contribuir com a celeridade e eficiência na atuação do Poder
Judiciário, visto e considerado como um bom prestador de serviços jurisdicionais, bem como
o acesso a uma Justiça que seja efetiva para a coletividade.

427
TV-CNJ, 2018, op. cit., online.
127

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