Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São Paulo
2021
MARIANA AGUIAR ESTEVES
São Paulo
2021
Esteves, Mariana Aguiar.
Tecnologia aplicada ao direito: os desafios na gestão de dados dos
processos eletrônicos e os impactos no desenvolvimento da jurimetria.
/ Mariana Aguiar Esteves. 2021.
139 f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Nove de Julho -
UNINOVE, São Paulo, 2021.
Orientador (a): Prof. Dr. Samantha Ribeiro Meyer-Pflug.
1. Eficiência. 2. Gestão de dados. 3. Jurimetria. 4. Processo
Eletrônico. 5. Tecnologia.
I. Meyer-Pflug, Samantha Ribeiro II. Titulo.
CDU 34
AGRADECIMENTOS
A relação entre o Direito e a Tecnologia tem sido um tema com crescente curiosidade e
recentemente difundido pelos debates envolvendo, principalmente, o processo eletrônico e a
Jurimetria no novo universo de dados do Poder Judiciário. Dentro dessa área, o foco conferido
ao tema deste trabalho são os impactos da informatização do Poder Judiciário quanto ao
Acesso à Justiça, quanto à eficiência e efetividade da prestação jurisdicional, bem como nas
profissões jurídicas e serviços prestados pelos operadores do Direito na ordem jurídica. O
presente trabalho tem por objetivo analisar a tecnologia aplicada ao Direito nessas frentes,
bem como na gestão da atividade jurisdicional e, assim, mapear os desafios que surgem e
ainda poderão surgir diante da evolução digital, principalmente quanto ao desenvolvimento da
Jurimetria e a massiva produção de dados eletrônicos advindos dos processos judiciais pelos
diversos sistemas utilizados nos Tribunais brasileiros. Para tanto, é discutido os principais
aspectos do acesso à Justiça e os reflexos da virtualização dos processos, sendo analisada
também a transição do processo eletrônico e suas particularidades no ordenamento jurídico
brasileiro. Na sequência, o enfoque é dado à aplicabilidade da Jurimetria e da Inteligência
Artificial na atualidade frente à produção exponencial de dados, discutindo o relevante papel
da Jurimetria no campo da uniformização da jurisprudência nacional e o desafio para uma
gestão de dados produzidos, coletados, estudados e armazenados pelo Poder Judiciário. A
metodologia consiste em revisão bibliográfica, além de consultas em mídias de comunicação
brasileiras e estrangeiras, a partir da utilização do Método Hipotético-Dedutivo para análise.
Percebeu-se que ainda há um distanciamento e ausência de instrumentos capazes de regular a
gestão dos dados dos processos judiciais eletrônicos que são de grande relevância para o
desenvolvimento da Jurimetria, e que os mesmos que devem ser devidamente tutelados e
geridos pelo Poder Judiciário frente aos riscos e possíveis conflitos éticos referentes à
publicidade, à privacidade e à segurança desses dados. Em suma, este trabalho aponta para a
importância de se acompanhar a utilização dessas ferramentas tecnológicas em vista da
problemática que envolve a segurança e publicidade dos dados judiciais eletrônicos em face
da realidade de intensa e massiva judicialização pela sociedade, além da produção
exponencial e constante de dados, ainda com poucos estudos sobre como isso impactará na
eficiência e na atuação jurisdicional ao se aperfeiçoar o gerenciamento desses dados dos
processos judiciais eletrônicos.
The relationship between law and technology has been a topic with growing curiosity and has
been disseminated by recent debates involving mainly the electronic process and the legal
system in this new universe of data in the Judiciary. Within this area, the focus given to the
theme in this work refers to the impacts of the computerization of the Judiciary on access to
Justice, on the efficiency and effectiveness of the judicial provision, as well as on the legal
professions and services provided by law operators in the order and falls within the research
line of the Justice and the Efficiency Paradigm. The objective of this dissertation work is to
analyze the technology applied to the Law in these fronts, as well as in the management of the
jurisdictional activity and thus to map the challenges that arise and may still arise in the face
of this digital evolution, mainly regarding the development of Jurimetry and the massive
production of electronic data arising from lawsuits by the various systems used by brazilian
courts. The main aspects of the access to Justice and the consequences of the virtualization of
processes in this right will be discussed and the transition of the electronic process and its
particularities in the Brazilian legal system will also be analyzed. Then, the focus will be on
the applicability of jurimetry and artificial intelligence today, facing an exponential
production of data, on the relevant role of jurimetry in the field of standardization of national
jurisprudence and the challenge for the management of all these data produced at collected,
studied and stored by the Judiciary. As the theme is recent, a bibliographic review about it
was carried out, using the hypothetical-deductive method, based on bibliographic research, in
addition to consulting literature also published in traditional Brazilian and foreign media. It
was noticed that there is still a distance and absence of an instrument capable of regulating the
management of the data of electronic judicial processes that are of great relevance for the
development of jurimetry, but that must be properly protected and managed by the Judiciary,
in view of the risks and possible ethical conflicts regarding advertising, privacy and security
of this data. In summary, this work points to the importance of monitoring the use of these
technological tools in view of the problem that involves the security and publicity of
electronic judicial data in the face of the reality of intense and massive judicialization by
society, the exponential production of constant and investigating how this will impact
efficiency in jurisdictional performance by improving the management of this data from
electronic court cases.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8
1 ACESSO DEMOCRÁTICO À JUSTIÇA E OS IMPACTOS DA VIRTUALIZAÇÃO
DOS PROCESSOS JUDICIAIS ............................................................................................ 12
1.1 EFICIÊNCIA E PROCESSO JUDICIAL .......................................................................... 23
1.2 OS REFLEXOS DA VIRTUALIZAÇÃO NOS PROCESSOS JUDICIAIS ..................... 29
2 OS CAMINHOS DA TECNOLOGIA APLICADA AO PODER JUDICIÁRIO
BRASILEIRO ......................................................................................................................... 37
2.1 O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO ....................................................................... 39
2.2 A TECNOLOGIA EM FAVOR DA JURIMETRIA ......................................................... 46
2.2.1 Conceitos e aplicabilidade nos Processos Eletrônicos .................................................... 53
2.3 O IMPACTO DO AUMENTO EXPONENCIAL DA PRODUÇÃO DE DADOS
ELETRÔNICOS NO PODER JUDICIÁRIO .......................................................................... 59
2.4 O PAPEL DA JURIMETRIA NA UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
PREVISTA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO ........................................ 68
3 OS DESAFIOS NA REGULAMENTAÇÃO DA GESTÃO DE DADOS PELO PODER
JUDICIÁRIO .......................................................................................................................... 75
3.1 A PRODUÇÃO DE DADOS NOS PROCESSOS ELETRÔNICOS E A POLÍTICA
INTERNA DE DADOS ABERTOS DO CNJ ......................................................................... 78
3.2 PRINCÍPIOS DA EFICIÊNCIA E PUBLICIDADE X PRIVACIDADE ......................... 84
3.3 O DESENVOLVIMENTO DA JURIMETRIA JUNTO ÀS FERRAMENTAS
TECNOLÓGICAS E OS SEUS LIMITES ÉTICOS: OS DADOS IDENTIFICADORES DOS
ENVOLVIDOS NOS PROCESSOS ELETRÔNICOS............................................................ 91
3.4 OS REFLEXOS DA TECNOLOGIA E DAS ANÁLISES JURIMÉTRICAS PARA A ROTINA
DO PODER JUDICIÁRIO E SEU PLANO INTERNO - POLÍTICA DE GESTÃO ........................ 97
3.5 OS RISCOS DE UMA “ANONIMIZAÇÃO” DE DADOS DE INTERESSE PÚBLICO
................................................................................................................................................ 107
3.6 O COMPROMISSO DO PODER JUDICIÁRIO COM A GESTÃO DE DADOS EM
PROCESSOS ELETRÔNICOS E O DESAFIO DO ACESSO À JUSTIÇA ........................ 111
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 120
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 127
8
INTRODUÇÃO
1
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela de direitos. 4 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.
2
PIGNANELI, Guilherme da Costa Ferreira; GONÇALVES, Oksandro. Análise econômica da gratuidade da
Justiça: do amplo acesso à Justiça à crise do Poder Judiciário. Revista Brasileira de Direito Processual, [s.l.],
v.23, n. 103, p. 125-154, jul./set. 2018.
10
quais exigem configurações muito diferentes uns dos outros para acesso, influenciando
também no direito de acesso à Justiça. Temas esses abordados na Seção 2.
Na seção 2 — Os caminhos da tecnologia aplicada ao Poder Judiciário brasileiro —
será abordado outros avanços referentes à aplicação da tecnologia ao universo jurídico do
Brasil e ainda sobre o processo eletrônico, visto que ele teria sofrido uma reformulação no
procedimento do meio físico para o digital e, portanto, deveria ser rompida a forma linear que
tramitam esses processos. Para esta seção, é seguido o raciocínio dos autores Luis Alberto
Reichelt e Paulo Roberto Pegoraro Júnior3, os quais apontam que esse meio eletrônico não
servirá como depósito de documentos, mas, sim, que produzirá um novo cenário com outra
dinâmica para o debate processual. Contudo aponta-se que a capacitação e o aperfeiçoamento
devem ser compromisso constante do Poder Judiciário a fim de se manter na sua finalidade de
efetividade.
Um tópico da Seção 2 será dedicado ao histórico, quanto ao surgimento da estatística e
da jurimetria, evidenciando-as como ferramentas que permitem a observação de todo o
funcionamento do sistema judiciário e os dados que ele produz e armazena, bem quanto a
como se dá a aplicação da jurimetria aos processos eletrônicos.
A Seção 2 terá ainda um tópico expondo o grande impacto da quantidade de dados
produzidos em meio eletrônico no Poder Judiciário, trazendo a definição do que são os dados
e destacando o questionamento central de como se poderá gerar informação e conhecimento
úteis a partir dos milhões de dados produzidos diariamente, mencionando o processamento
desses dados pelo judiciário brasileiro e o auxílio da inteligência artificial na coleta e análise
desses dados para a jurimetria. Quanto ao tema, já se evidencia a necessária e já existente
interdisciplinaridade com a Arquivologia e a Ciência da Informação citadas pelos autores
Kazuo Watanabe e Renato Tarciso Barbosa de Sousa.
Finalizando a Seção 2, seu último tópico destaca a importância da Jurimetria na
uniformização da jurisprudência prevista no Código de Processo Civil Brasileiro ao abordar
que o estudo estatístico de dados específicos coletados de processos judiciais eletrônicos
possibilita um caminho até o fundamento de uma solução que melhor se aplicaria a um caso
específico.
Na Seção 3 — Os desafios na regulamentação da Gestão de Dados pelo Poder
Judiciário — será desenvolvida as questões referentes à possibilidade de se criar um meio que
3
REICHELT, Luis Alberto; PEGORARO JUNIOR, Paulo Roberto. Processo Eletrônico, hipertexto e direito ao
processo justo. Revista Internacional Consinter de Direito, Porto/Portugal, ano V, n. VIII, p. 165-177, jan.
2019.
11
A teoria era a de que, embora o acesso à justiça pudesse ser um “direito natural”, os
direitos naturais não necessitavam de uma ação do Estado para sua proteção. Esses
direitos eram considerados anteriores ao Estado; sua preservação exigia apenas que
o Estado não permitisse que eles fossem infringidos por outros. O Estado, portanto,
permanecia passivo, com relação a problemas tais como a aptidão de uma pessoa
para reconhecer seus direitos e defendê-los adequadamente, na prática7.
4
RUZ, Ivan Aparecido; SENGIK, Kenza Borges. O acesso à Justiça como direito e garantia fundamental e sua
importância na Constituição da República Federativa de 1988 para a tutela dos Direitos da Personalidade.
Revista Jurídica Cesumar, Maringá, v. 13, n. 1, p. 209-235, 2013, p. 216.
5
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988.
6
SEIXAS, Bernardo Silva; SOUZA, Roberta Kelly Silva. Evolução histórica do acesso à justiça nas
constituições brasileiras. Direito e Democracia, Canoas, v. 14, n. 1, p. 68-85, jan./jun. 2013.
7
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 9.
13
No período moderno, nos estados liberais “burgueses” dos séculos XVII e XVI, os
procedimentos adotados para a solução dos litígios entre os cidadãos eram
essencialmente individualistas, o direito ao acesso à justiça era visto simplesmente
como o acesso ao Poder Judiciário ou como a oportunidade de contestar uma ação 8.
Ainda que, nos Estados Unidos, já na 5ª Emenda, a sua Constituição prevê que “[...]
Ninguém deverá ser […] privado da vida, liberdade ou propriedade sem o devido processo
legal [...] o processo devia ser justo e para além disso, havendo um procedimento que se
guiasse por uma noção de justiça, deveria também ser um processo equitativo9”. Alguns
autores também entendem que a 14ª Emenda da mesma Constituição estadunidense seja
“considerada como o embrião do princípio do acesso à Justiça10”, visto que nela era disposto
que “nenhum cidadão, dentro da sua jurisdição, podia ver ser-lhe negada à proteção das
leis11”.
Já a experiência alemã precedente, nesse sentido, se deu com a Lei Fundamental de
Bonn, promulgada em 1949 e na qual se previa acesso aos Tribunais, bem como ao direito e a
garantia de um processo justo. O autor português Paulo Joaquim Anacleto Costa assevera que
a atuação do “Tribunal Constitucional Alemão na delimitação do conteúdo de um processo
justo também se revelou importante para a evolução desta noção12” no país.
Com isso, conforme se caminhava para o final do século XIX, o acesso à Justiça e o
direito de ação ainda vinha sendo visto como uma liberdade diante do Estado, mas sem
considerar quando o Estado fosse o violador de algum direito e tivesse que se abster de
alguma ação específica. Tal contexto é bem exemplificado por Luiz Guilherme Marinoni:
8
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit.. p. 74.
9
COSTA, Paulo Joaquim Anacleto. O Acesso à Justiça como direito fundamental de todos os cidadãos.
2013. 47f. Dissertação (Mestrado em Direito, Especialidade em Ciências Juridico-Forenses) – Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal, 2013, p. 19.
10
Ibid.
11
Ibid.
12
Ibid., p. 20.
14
13
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela de direitos. 4 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013, p. 204-205.
14
MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria geral do processo. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
15
TEIXEIRA, Laís Santana da Rocha Salvetti; COUTO, Mônica Bonetti. O acesso à justiça e seu
enquadramento como direito fundamental: contexto atual e evolução. In: XXII ENCONTRO NACIONAL DO
CONPEDI/UNINOVE, 2013, São Paulo. [Anais...] São Paulo: FUNJAB, 2013, p. 32.
16
COSTA, 2013, op. cit., p. 29.
17
CAPPELLETTI; GARTH, 1988, op. cit., p. 74.
18
PIGNANELI, Guilherme da Costa Ferreira; GONÇALVES, Oksandro. Análise econômica da gratuidade da
Justiça: do amplo acesso à Justiça à crise do Poder Judiciário. Revista Brasileira de Direito Processual, [s.l.],
v.23, n. 103, p. 125-154, jul./set. 2018, p. 128.
15
A todos é assegurado o acesso aos tribunais para defesa dos seus direitos, não
podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos,
liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja
possível recorrer à autoridade pública21.
Esse direito aqui discutido nas constituições, quanto ao Brasil, cumpre destacar em
breve síntese histórica que, no período, na Constituição de 1824, não continha ainda nenhuma
19
OLIVEIRA, Simone Pereira. Razoável duração do processo e morosidade processual: a jurimetria como
subsídio para o gerenciamento de Processos Judiciais. 2017. 168 f. Dissertação (Mestrado em Direito) –
Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2017, p. 46.
20
COSTA, 2013, op. cit., p. 26.
21
CAPPELLETTI; GARTH. 1988, op. cit., p. 74.
22
COSTA, 2013, op. cit., p. 28.
16
referência ao direito de acesso à Justiça. Porém, durante a vigência da Carta Magna, dois
pontuais e relevantes acontecimentos ocorreram, quais sejam:
23
CAPPELLETTI; GARTH, 1988, op. cit., p. 77.
24
MARINONI, 2013, op. cit., p. 204-205.
25
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 77.
26
MATTOS, Fernando Pagani. Acesso à justiça: um princípio em busca de efetivação. Curitiba: Juruá, 2011, p.
53.
27
COSTA, 2013, op. cit., p. 20.
17
atual Constituição Brasileira trazendo em seu texto que “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito28”.
Ocorre que, quando se fala atualmente de Acesso à Justiça, não basta só ser apontada a
sua previsão como um direito fundamental, também não basta ter ciência disso, mas sim de se
obter a efetivação desse direito na prática. Esse pensamento sempre fora evidenciado por
Norberto Bobbio que adverte que o “problema grave de nosso tempo, em relação aos direitos
do homem, não era mais o de fundamentá-los, e sim o de protegê-los”, diz ainda que:
Proclamar o direito dos indivíduos, não importa em que parte do mundo se encontre
(os direitos do homem são por si mesmos universais), de viver num mundo não
poluído não significa mais do que expressar a aspiração a obter uma futura
legislação que imponha limites ao uso de substâncias poluentes. Mas uma coisa é
proclamar esse direito, outra é desfrutá-lo efetivamente29.
O acesso à Justiça tanto pode ser formal como material ou efetivo. É meramente
formal aquele que simplesmente possibilita a entrada em juízo do pedido formulado
pela parte. Isto não basta. É importante garantir o início e o fim do processo, em
tempo satisfatório, razoável, de tal maneira que a demora não sufoque o direito ou a
expectativa do direito. O acesso à justiça tem que ser efetivo. Por efetivo entenda-se
aquele que é eficaz31.
28
BRASIL. Constituição (1988), op. cit., online.
29
BOBBIO, Norberto. Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 25.
30
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 71.
31
VARGAS, Jorge de Oliveira. Responsabilidade Civil do Estado pela demora na prestação da tutela
jurisdicional. Curitiba: Juruá, 2009, p. 12.
32
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do processo civil.
7. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 156.
18
Justiça engloba toda a atuação e resposta do Poder Judiciário às partes e de que forma, além
de sua duração conforme a complexidade de cada caso. Nesse sentido, Mattos claramente
elucida que:
Sob esse ângulo, é forçoso reconhecer que deve ser adotada a segunda conceituação,
visto que essa ordem jurídica justa citada é o próprio fim a ser alcançado ao se consagrarem o
acesso à justiça e à razoável duração do processo como direitos fundamentais constitucionais
que possibilitam a efetividade de outros direitos pleiteados, e que devem ser declarados.
Portanto, atualmente é possível reconhecer o acesso à Justiça como “condição fundamental de
eficiência e validade de um sistema jurídico que vise a garantir direitos, uma vez que é
considerado o mais básico dos direitos fundamentais do ser humano34”.
O acesso à Justiça traduz o cenário do próprio acesso ao Poder Judiciário na busca da
solução de um conflito, e, por conseguinte, traz também em sua essência a ideia de que deve
ser facilitado ao cidadão que busca um direito individual ou coletivo a fim de que se atinja a
pacificação social. E esse “facilitar” não se restringe ao campo do acionamento do Judiciário,
mas sim no que diz respeito à atuação do mesmo e a forma que se dará, até a decisão final
sobre o direito pleiteado, incluindo todo o seu conteúdo.
Quanto ao acesso à Justiça pela população de baixa renda no mundo moderno, já
apontado na primeira onda por Cappelletti e Garth (1988), Magdalena Sepúlveda, quando
Relatora Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Pobreza Extrema e
Direitos Humanos em 2012, destacou e exigiu atenção especial por parte dos países e suas
responsabilidades quanto ao tema em questão:
33
MATTOS, 2011, op. cit., p. 60.
34
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 70.
19
Ainda sobre o tema, cabe citar outra relevante análise de Boaventura de Sousa Santos
quanto à importância desse direito à sociedade contemporânea e à democracia:
Desse modo, o acesso aos direitos por meio da Justiça, evidentemente, se constituiu
em um “direito natural da pessoa humana e um direito fundamental de todas as pessoas
(físicas ou jurídicas) 37
”, mas o qual, ainda se depara com alguns obstáculos, como citado,
para encontrar sua efetividade ao coletivo. Ademais, se faz importante destacar que não deve
ser comum se confundir o acesso à justiça com acesso ao Judiciário como se significassem a
mesma coisa. E acerca do tema, evidencia-se a explicação de Gelson Amaro de Souza e
Gelson Amaro de Souza Filho:
Sem a efetiva entrega do direito à parte que o merece, não se pode dizer que o
direito de ação, puro e simples já representa o acesso à justiça. Estas expressões não
devem ser confundidas, como não se devem confundir a tutela jurídica com a
jurisdicional e nem esta com a tutela do direito. São modalidades tutelares
diferentes, sendo que somente a última é que interessa ao jurisdicionado, porque é
esta que representa a concretização do direito. O acesso à justiça e a efetivação do
direito somente acontecem quando for concretamente empreendida a tutela do
direito, isto é, a proteção ou a efetivação do direito material. Com julgamento de
mérito e satisfação do direito reconhecido38.
Diante disso, resta clara a relevância em se analisar que o Acesso à Justiça é muito
mais abrangente do que só o fato de poder provocar o Judiciário em busca de reaver algum
35
ONU (Organização das Nações Unidas). Combater pobreza requer melhoria do acesso à Justiça para pobres,
afirma especialista da ONU. Portal ONU, 17 out. 2012, online.
36
SANTOS, Boaventura de Sousa. Acesso à Justiça. In: MARQUES, Maria Manuel Leitão; PEDROSO, João;
FERREIRA, Pedro Lopes. Os tribunais nas sociedades contemporâneas: o caso português. Porto: Edições
Afrontamento, 1996, p. 483.
37
BEZERRA, Paulo. O acesso aos direitos e à justiça: um direito fundamental. Separata de: Boletim da
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra, n. 81, 2005, p. 788.
38
SOUZA, Gelson Amaro de; SOUZA FILHO, Gelson Amaro de. Processo e acesso à justiça. In: SIQUEIRA,
Dirceu Pereira; OLIVEIRA, Flávio Luiz (Coord.). Acesso à justiça: uma perspectiva da democratização da
administração da justiça nas dimensões social, política e econômica. Birigui: Boreal, 2012, p. 233.
20
direito violado. Vale destacar que “[...] o direito de ação ou direito fundamental à tutela
jurisdicional efetiva, pode ser decomposto em três aspectos básicos: direito de acesso à
jurisdição, direito ao processo justo e direito à técnica processual adequada39”. A partir desses
três embasamentos se constata que sempre serão necessárias melhorias práticas para
possibilitar que o Direito continue acompanhando as transformações sofridas pela sociedade,
bem como o fenômeno da virtualização dos processos judiciais, que será comentado mais
adiante.
A partir desse pressuposto, é possível concluir que quando existe um panorama de
inadequada estrutura do Estado, se tem como consequência a sensação de insegurança jurídica
com consequente morosidade do Judiciário brasileiro, a qual resulta do acúmulo de processos
nos fóruns do país — “o Poder Judiciário, atualmente, está em crise em virtude da excessiva
quantidade de processos que é submetida a sua apreciação diariamente. Em decorrência disso,
há um abismo cada vez maior entre o Judiciário e a população40”. Isso porque se o Estado
trouxe para si a responsabilidade e o dever de atuar como solucionador de litígios, “em
contrapartida, deve fornecer um aparato adequado para o tratamento dos conflitos de
interesses41”.
Como salienta Kazuo Watanabe sobre essa problemática, a mesma “não pode ser
estudada nos acanhados limites do acesso aos órgãos judiciais já existentes. Não se trata de
apenas possibilitar o acesso à Justiça enquanto instituição estatal, e sim de viabilizar o acesso
à ordem jurídica justa42”. Assim, o significado de acesso à Justiça vai muito além do ingresso
no Judiciário, como por exemplo, aquele pelo qual se possibilita “a saída do jurisdicionado,
com a tutela jurisdicional adequadamente prestada, em tempo razoável43”.
Nesse cenário, com a abrangência do conceito do Acesso à Justiça na prática e quanto
ao combate à morosidade no Judiciário que se acessa, é imprescindível citar a Emenda
Constitucional 45/2004, pela qual foi inserido o inciso LXXVIII, ao artigo 5º, da Constituição
Federal de 198844, tornando o princípio da razoável duração do processo como direito
fundamental. O dispositivo demonstra o crescimento da preocupação e discussão quanto ao
tempo da entrega do direito justo através da Justiça, pela qual se teve acesso por ingresso de
39
MARINONI, 2008, op. cit., p. 211.
40
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 82.
41
TEIXEIRA; COUTO, 2013, op. cit., p. 32.
42
WATANABE, Kazuo. Acesso à Justiça e sociedade moderna. In: GRINOVER, Ada Pellegrini et al. (Coord.).
Participação e processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, p. 128.
43
TEIXEIRA; COUTO, 2013, op. cit., p. 39.
44
BRASIL. Constituição (1988), op. cit.
21
ação, sob a égide da eficiência do Poder Judiciário ao responder os anseios sociais e coletivos
em litígio.
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)
que fora incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro através do Decreto Federal n° 672, de
06 de novembro de 1992, também dispõe quanto a esse tema da duração de processos em seu
artigo 8º:
45
BRASIL. Decreto nº 678 de 06 de Novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Brasília, DF, 1992, online.
46
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF, 2015, online.
47
BRASIL. (Superior Tribunal de Justiça). Ementa no REsp 1736217. Relator: Min. Francisco Falcão. Brasília,
DF: STJ, online.
22
48
BRASIL. (Superior Tribunal de Justiça), 2018, op. cit., online. (Grifo nosso).
49
Ibid.
50
MARINONI, Luiz Guilherme. Direito Fundamental à razoável duração do processo. Estação Científica, Juiz
de Fora, v. 01, n. 04, p. 82-97, out./nov. 2009, p. 91.
51
COUTO, Mônica Bonetti; MEYER-PFLUG, Samantha Ribeiro. Poder Judiciário, justiça e eficiência:
caminhos e descaminhos rumo à justiça efetiva. Revista de Doutrina – TRF 4ª Região, Porto Alegre, n. 63,
dez. 2014, p. 03. (Grifo nosso).
52
CAPPELLETTI; GARTH, 1988, op. cit., p. 08.
53
TEIXEIRA; COUTO, 2013, op. cit., p. 39.
23
E.fi.ci.ên.ci.a
1. Qualidade do que é eficiente.
2. Capacidade para produzir realmente um efeito.
3. Qualidade de algo ou alguém que produz com o mínimo de erros ou de meios. =
COMPETÊNCIA ≠ INCOMPETÊNCIA54
[...] As normas jurídicas devem ser eficazes, quando de sua aplicação aos casos
concretos, devem solucionar os conflitos de forma a produzir um resultado
satisfatório, eficiente.
Eficiência é o que se busca em toda espécie de administração, seja ela privada ou
pública. O nosso sistema jurídico deve ser eficiente na aplicabilidade das
normas jurídicas aos casos fáticos, produzindo a verdadeira efetividade que
idealizamos no mundo das normas jurídicas, no mundo do “dever-ser”.
A eficiência é uma virtude, pois as ações humanas devem produzir um resultado
eficiente, eficaz e no meio social, político a eficiência é o bem, o interesse da
coletividade56.
54
EFICIÊNCIA. In: DPLP – Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Lisboa: Priberam Informática,
1998, online.
55
Ibid.
56
ALVIM, Marcia Cristina de Souza. Eficiência e direito. In: CAMPILONGO, Celso Fernandes; GONZAGA,
Alvaro de Azevedo; FREIRE, André Luiz. (Coords.). Enciclopédia jurídica da PUC-SP. [Tomo: Teoria Geral
e Filosofia do Direito]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017, online.
57
BRASIL. Constituição (1988), op. cit., online.
24
58
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. O Processo Civil na Perspectiva dos Direitos Fundamentais. Revista
da Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre, n. 22, p. 31-42, 2002, p. 32.
59
SCHWENGBER, Silvane Battaglin. Mensurando a eficiência no sistema judiciário: métodos paramétricos e
não-paramétricos. 2006. 165 f. Tese (Doutorado em Economia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2006, p. 24.
60
Ibid.
61
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit., p. 77.
25
[...] quando o Judiciário for eficiente e eficaz será alcançada a “efetividade”, que é
um conceito complexo e se relaciona, principalmente, com a avaliação acerca de
como, de maneira adequada, uma organização cumpre sua missão, alcança seus
objetivos previamente estabelecidos e se adapta a novas e constantes mudanças no
ambiente62.
Diante do que fora citado, pode-se dizer que a eficiência aplicada à atuação do
Judiciário no sentido de decidir em tempo razoável deve ser somada a sua forma eficaz, ou
seja, fundamentada e justa, para daí se obter a sua qualidade de efetividade. Isto porque, de
fato, “uma justiça célere não é necessariamente uma justiça melhor63”.
Vale destacar brevemente que a necessidade de uma devida fundamentação das
decisões judiciais ganhara especial relevância, principalmente após ser reiterada nos diversos
artigos do atual Código de Processo Civil Brasileiro, e bem delineada nos seu Art. 11 e Art.
489, parágrafo 1º e seus incisos.
Esse panorama reflete a preocupação para que o sistema, ainda devendo atender com
celeridade para ser eficiente, não deixe de equilibrar sua atuação nos procedimentos judiciais,
com a devida análise e instrumentalidade em seu processo decisório. Certo é que, atualmente,
a busca no cenário processual é por bons resultados tanto a partir dessas decisões solidamente
fundamentadas quanto na duração do processo até se chegar nelas.
Corroborando a esse pensamento de equilíbrio na prática, Marcelo José Magalhães
Bonício traduz que essa busca por resultados diz respeito:
[...] tanto no que diz respeito ao aprimoramento do conteúdo das decisões judiciais,
quanto no que diz respeito à necessidade de abreviar o tempo que os processos
levam para produzir resultados. [Esta fase] chamada de “instrumentalista”, está na
importância dada aos resultados que o processo produz na vida das pessoas e na
sociedade em geral, a partir de uma visão crítica de todo o sistema 64.
Ponciano também elucida que o “princípio da eficiência tem mais pertinência com a
junção dos termos ‘eficiência’ e ‘eficácia’, que resulta em ‘efetividade’, considerando as
noções trazidas da ciência da Administração65”. Para maior compreensão dessa afirmação,
deve-se partir do fato de que existem atualmente diversos entraves que o Judiciário se depara
e dentre eles então a morosidade, burocracia, estrutura ainda inadequada etc.
As questões referentes à morosidade, bastante evidenciadas nas discussões mais atuais
no tema, estão diretamente ligadas à ineficácia da Justiça, visto que gera obstáculo no acesso
62
PONCIANO, Vera Lúcia Feil. Eficiência, por si só, não basta para combater morosidade do Judiciário.
Revista Consultor Jurídico, 05 ago. 2015, online.
63
Ibid.
64
BONÍCIO, Marcelo José Magalhães. Introdução ao processo civil moderno. São Paulo: Lex, 2009, p. 22.
65
PONCIANO, 2015, op. cit., online. (Grifo nosso).
26
do indivíduo ao seu direito não só no momento de acionar um Tribunal, mas também de ter
seu direito analisado enquanto ainda se pode fazê-lo valer ou não. A justificativa bastante
comum de acúmulo de processos e ações por parte do Judiciário, “constitui verdadeira
confissão de que o Estado não está respondendo ao seu dever de prestar a tutela jurisdicional
de modo tempestivo66”.
Uma sequência de substituições de magistrados sem se atentar à demora causada por
isso nas lides sob a responsabilidade daquele setor, por exemplo, também são rotineiras em
diversas varas e Tribunais e deveriam ser rechaçadas, pois não se atentam ao atendimento do
“critério racional voltado à efetividade da distribuição da justiça67”.
Já sobre a definição da eficácia, Idalberto Chiavenato ilustra que a mesma:
[...] é uma medida normativa do alcance dos resultados, enquanto eficiência é uma
medida normativa da utilização dos recursos nesse processo. [...] A eficiência é uma
relação entre custos e benefícios. Assim, a eficiência está voltada para a melhor
maneira pela qual as coisas devem ser feitas ou executadas (métodos), a fim de que
os recursos sejam aplicados da forma mais racional possível [...]. À medida que o
administrador se preocupa em fazer corretamente as coisas, ele está se voltando para
a eficiência (melhor utilização dos recursos disponíveis). Porém, quando ele utiliza
estes instrumentos fornecidos por aqueles que executam para avaliar o alcance dos
resultados, isto é, para verificar se as coisas bem feitas são as que realmente
deveriam ser feitas, então ele está se voltando para a eficácia (alcance dos objetivos
através dos recursos disponíveis)68.
66
MARINONI, 2009, op. cit., p. 89.
67
MARINONI, 2009, op. cit., p. 89.
68
CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos na empresa: pessoas, organizações e sistemas. 3 ed. São
Paulo: Atlas, 1994, p. 70.
69
COUTO; MEYER-PFLUG, 2014, op. cit., p. 03.
27
complexidade com especificidades para aprovação dos fatos e provas, pode algumas vezes
desqualificar esse ponto da “razoabilidade” de sua duração e consequentemente, será ineficaz.
Nesse sentido também se faz importante ressaltar a importância da qualidade de
participação dos atores processuais durante todo o procedimento, além das ferramentas que
acelerem o mesmo, visto que “não há apenas direito aos meios que garantam a celeridade da
tramitação do processo, mas também direito aos meios que garantam a adequada participação
no processo70”.
Igualmente, ao legislador cabe como dever a publicação de normas objetivando a
regulação dos atos processuais na prática em um tempo razoável, e ainda, “deve estabelecer
prazos que realmente permitam a prática dos atos processuais71”, ou seja, o legislador “tem o
dever de dar ao juiz o poder de distribuir o ônus do tempo do processo 72”. Consiste em um
direito a uma decisão em tempo razoável: cada indivíduo da sociedade tem que presenciar o
Tribunal interno solucionar seu movimento processual de forma negativa ou positiva num
tempo razoável73.
Em verdade, um processo judicial deve priorizar a qualidade das manifestações das
partes na medida em que deve ser atento à duração daquela demanda até decisão final, e isso
se vislumbra a partir do princípio de que “a resolução de litígios com segurança e qualidade
não pode ser incompatível com a rapidez o tempo de entrega da prestação jurisdicional74”.
Nesse sentido e estabelecendo a proposta de um equilíbrio nessas prioridades, Monica
Couto e Samantha Meyer (2014) bem asseveram que “com a ponderação entre esses dois
valores (celeridade x segurança), encontre-se uma ‘fórmula’ intermediária, [...] e com isso se
alcance um novo e particular (porque atento às peculiaridades da Justiça) conceito de
eficiência75”.
O desafio do Poder Judiciário para agir de forma eficiente e eficaz se assemelha às
ponderações necessárias quando há um conflito entre direitos fundamentais em algum caso,
qual seja o de ponderar também os valores da celeridade e segurança (de conceder decisão
devidamente fundamentada e justa) para uma entrega efetiva da tutela jurisdicional às partes e
consequentemente, à sociedade.
70
MARINONI, 2009, op. cit., p. 86-87.
71
MARINONI, 2009, op. cit., p. 84-85.
72
Ibid.
73
COSTA, 2013, op. cit., p. 38.
74
TEIXEIRA, Laís Santana da Rocha Salvetti. A duração razoável do processo na perspectiva inovadora dos
direitos humanos. In: II SIMPÓSIO DE DIREITO E INOVAÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO DA UFJF,
jan. 2013, Juiz de Fora. [Anais...] Juiz de Fora: UFJF, p. 36-38, 2013, p. 37.
75
COUTO; MEYER-PFLUG, 2014, op. cit., p. 03.
28
Com isso e diante da crescente ênfase que a celeridade tem ganhado atualmente nas
discussões acerca da eficiência do Poder Judiciário, é necessária uma atenção mais ampla
sobre tudo que envolve um processo judicial, visto que o mesmo envolve não só o direito
pleiteado pelas partes, como também a observância de questões de ordem constitucional. E
76
SEIXAS; SOUZA, 2013, op. cit.
77
CANSI, Francine. Direito ao processo justo e à tutela jurisdicional adequada e efetiva. Revista Jus
Navigandi, Teresina, ano 21, n. 4633, 08 mar. 2016, n.p.
78
TEIXEIRA; COUTO, 2013, op. cit., p. 13. (Grifo nosso).
79
OLIVEIRA, 2002, op. cit., p. 32.
29
para que se vislumbre um Judiciário não só eficiente como também eficaz para os envolvidos
e à sociedade:
Diante do que fora delimitado até aqui, é possível se afirmar que o Estado para se
desincumbir do seu dever de prestar um bom serviço jurisdicional, a partir da utilização de
métodos eficientes e de forma justa (eficaz), necessita de uma adequada estrutura
administrativa, a qual inclui, além dos profissionais qualificados, “tecnologia e material de
expediente idôneos81”.
Sabendo, então, que o processo é como um elo que liga o Judiciário à sociedade82 e
requer essa efetividade reconhecida em sua atuação, quando o procedimento dele se torna
digital, todo o sistema jurisdicional deve garantir que esses processos se mantenham em
consonância com os valores constitucionais previstos, garantindo a todos os atores
processuais, um processo justo e acessível.
80
MARINONI, 2009, op. cit., p. 91. (Grifo nosso).
81
Ibid., p. 89.
82
RODRIGUES, Mateus de Moura; FLORES, Daniel. Processo Judicial Eletrônico: Análise da Lei nº
11.419/2006 sob a Ótica Arquivística. Revista Sociais e Humanas, Santa Maria, v. 27, n. 02, p. 58-71, mai./ago.
2014, p. 66.
83
ANSELMO, Debora. Transformação digital da Justiça brasileira é inspiração para países íbero-americanos.
Portal SAJ Digital, 24 abr. 2018, online.
30
84
CINTRA, Erickson Brener de Carvalho. A Informatização do Processo Judicial e seus reflexos no Superior
Tribunal de Justiça. 2009. 118f. Monografia (Especialização em Gestão Judiciária) – Universidade de Brasília,
Brasília, 2009, p. 29.
85
Ibid., p. 41.
86
SOARES, Tainy de Araújo. Processo judicial eletrônico e sua implantação no Poder Judiciário brasileiro.
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3307, 21 jul. 2012.
87
Ibid., n.p.
88
RODRIGUES; FLORES, 2014, op. cit., p. 62.
31
Vale ressaltar, em âmbito internacional, que apenas um ano antes, em 2000 na França,
a assinatura eletrônica foi introduzida na lei francesa, a qual passou a reconhecer sua validade
legal e ainda previu o estabelecimento da presunção de confiabilidade em favor dessas
assinaturas89.
Com o novo regramento no Brasil, as assinaturas nas peças e as manifestações de
vontade, as quais antes só eram aceitas manuscritas, puderam passar a serem realizadas de
forma digital e com a mesma validade jurídica. Tais assinaturas eletrônicas podem ser
diferenciadas em duas modalidades:
Sendo importante ressaltar que, visando cumprir com as exigências de segurança das
informações em peças e documentos inseridas em processos, os atos processuais pelo
advogado nos autos eletrônicos devem se dar por assinatura eletrônica com essa certificação
digital. E nesse cenário, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi uma das entidades que
passou a atuar como autoridade certificadora, podendo então fornecer certificação digital aos
advogados no país para que eles possam atuar nos Tribunais e fóruns nos quais já tramitam
processos eletrônicos.
Entretanto, ao passo que a assinatura por certificado digital é devidamente exigida
para prática de atos processuais, alguns sistemas dos Tribunais exigem certificado digital até
para o acesso de dados de processos públicos; inclusive, o sistema Processo Judicial
eletrônico (PJe) assim atua, enquanto no seu campo de consulta pública (direcionado
principalmente para as partes acessarem) que não exige o certificado, não é possível visualizar
peças e demais documentos do processo, como suas decisões.
Posteriormente, os passos legislativos mais significativos e recentes no Brasil foi a
edição da Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006 — Lei de Informatização do Processo
89
ASSOCIATION HENRI CAPITANT. Procédure et immatériel. La dématérialisation de la procédure civile.
In: ASSOCIATION HENRI CAPITANT. L’immatériel: Journées espagnoles. [Tome LXIV]. Paris: Bruylant,
2014, p. 01.
90
ATHENIENSE, Alexandre. Comentários à Lei 11.419/06 e as práticas processuais por meio eletrônico nos
tribunais brasileiros. Curitiba: Juruá, 2010, p. 110-111.
32
91
BRASIL. Lei nº 11.419, de 19 e dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização do processo judicial;
altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil; e dá outras providências. Brasília,
DF, 2006.
92
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 185 de 18/12/2013. Institui o Sistema Processo Judicial
Eletrônico - PJe como sistema de processamento de informações e prática de atos processuais e estabelece os
parâmetros para sua implementação e funcionamento. Brasília, DF: CNJ, 2013.
93
ATHENIENSE, 2010, op. cit., p. 25.
94
CANSI, 2016, op. cit., n.p.
95
SOARES, 2012, op. cit., n.p. (Grifo nosso).
96
MARINONI, Luiz Guilherme. O direito à tutela jurisdicional efetiva na perspectiva da teoria dos direitos
fundamentais. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 09, n. 378, 20 jul. 2004, n.p.
33
97
ROCHA NETO, Paulo. O Processo Judicial Eletrônico Brasileiro. 2015. 176 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Informática) – Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2015, p. 03.
34
98
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
99
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
35
Judiciário, visto que quem vai operá-los (partes e advogados) não estão incluídos em uma
devida educação digital para tal.
Dessa forma, os fatores abrangidos são bem mais amplos e tais dificuldades com a
tecnologia ou acesso exclusivo aos dados em tutela do Poder Judiciário, não podem se
configurar como obstáculos à efetividade de todo o sistema desse poder, como já bem
pontuara Thiago Carneiro Rabelo:
[...] o rito processual e a organização judiciária não podem ter obstáculos a efetiva
defesa dos direitos, tais como: morosidade, elevadas custas processuais e
inacessibilidade tecnológica ou informacional do processo, merecendo análise em
virtude do processo eletrônico100.
Além disso, o autor ainda destaca que a própria democracia só se reafirma quando
cada cidadão pode exercer plenamente seus direitos e que o direito ao Acesso à Justiça tem
como pressuposto “assegurar e concretizar a liberdade, a igualdade e os preceitos
fundamentais, de acordo com o reestabelecimento do direito pleiteado101”. E com isso,
havendo morosidade ou outros obstáculos, como esse relacionado às tecnologias, “devem ser
encarados como defeitos se não disponibilizados e universalizados a todas as partes102”.
Então, a proposta inicial quanto à implantação do processo eletrônico evidenciava a
vantagem sobre o jurisdicionado poder acompanhar o seu processo eletrônico na íntegra e em
tempo real devido à acessibilidade de consultas públicas. Todavia, na prática, a maioria dos
sistemas ainda não possibilita essa acessibilidade nas consultas públicas e de algumas
decisões sem o certificado digital do advogado, por exemplo. Diante de situações como esta,
constata-se a necessidade de garantir que os sistemas integrados que hospedam os processos
eletrônicos e os dados que armazenam sejam capazes de atender de forma padronizada o
acesso de processo público à sociedade e interessados. Assim:
[...] caso não haja deliberação judicial em sentido contrário, o acesso deve continuar
sendo público e disponível para a sociedade, respeitando as privações de sigilo e/ou
segredo de justiça. Nesse viés, os sistemas judiciais eletrônicos devem resguardar
tanto a publicidade dos atos quanto os direitos da personalidade, intimidade e vida
privada. Em reforço, confira-se o teor do art. 93, IX, da Constituição Federal103.
100
RABELO, Tiago Carneiro. O Processo Judicial Eletrônico e a experiência brasileira. In: ENCONTRO DE
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, 06 ago. 2019, Brasília. [Anais Eletrônicos...], Brasília: ENAJUS, 2019, p.
04. (Grifo nosso).
101
RABELO, 2019, op. cit., p. 04.
102
Ibid.
103
Ibid.
36
104
BRASIL. Lei nº 13.793, de 03 de janeiro de 2019. Altera as Leis n os 8.906, de 04 de julho de 1994, 11.419,
de 19 de dezembro de 2006, e 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), para assegurar a
advogados o exame e a obtenção de cópias de atos e documentos de processos e de procedimentos eletrônicos.
Brasília, DF, 2019.
37
Convém iniciar o tema que aqui será tratado citando a afirmação de Bobbio que traduz
as constantes e velozes mudanças que a sociedade e, consequentemente, o Judiciário,
vivenciam atualmente: “no regime democrático, o estar em transformação é seu estado
natural: a democracia é dinâmica, o despotismo é estático e sempre igual a si mesmo105”.
O Estado Democrático de Direito nos dias de hoje se configura em volta de uma
estrutura social que tende a se modificar de forma rápida e dinâmica, o que a torna cada vez
mais complexa para a Jurisdição Estatal acompanhar. Isso porque a partir do final do século
XX a tecnologia avançou e se tornou cada vez mais popular em diversas áreas da vida
humana e social, principalmente as que envolvem informação e comunicação.
Como Manoel Castells bem pontua sobre essa revolução tecnológica vivenciada, “no
final do século XX vivemos um desses raros intervalos na história. Um intervalo cuja
característica é a transformação de nossa cultura material pelos mecanismos de um novo
paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação106”.
O fenômeno tecnológico provoca constantes transformações e remodelagens em
diversas ferramentas e padrões nas ações humanas, na vida social e profissional, modificando
todos os relacionamentos dos indivíduos, comportamentos e linguagem, além de como estes
ocorrem de maneira dinâmica; é difícil prever exatamente os impactos futuros dessas
inovações na sociedade contemporânea. Fato é que as novas ferramentas trazidas pela
tecnologia se inserem cada vez mais “de tal maneira, que a convivência sem elas parece
improvável e, até mesmo, inevitável107”.
Esse progresso, principalmente no âmbito da informática, possibilitou a evolução de
ferramentas que se limitavam somente ao entretenimento, para instrumentos de formação
acadêmica e atuação profissional. Mas, como a sociedade já submergiu nesse universo e não
há mais qualquer intenção em retroceder, como bem pontuara José Renato Nalini: se não há
informática não será possível alcançar o devido padrão de Justiça108.
105
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra,
2011, p. 19.
106
CASTELLS, Manoel. A sociedade em rede. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000, p. 67.
107
ADORNO JÚNIOR, Hélcio Luiz; MUNIZ, Ramiro Vasconcelos. Os Reflexos da implantação do Processo
Judicial Eletrônico sobre a saúde de seus Sujeitos Processuais. Universitas, São Paulo, ano 09, n. 17, p. 77-98,
jan./jun. 2016, p. 78.
108
NALINI, José Renato. É urgente uma consciência virtual. Revista Justiça & Cidadania, Rio de Janeiro, n.
147, nov. 2012.
38
Diante deste cenário, “resta aos comandos inteligentes e responsáveis pelo Judiciário
de amanhã, promoverem esforços que removam resistências e obstáculos à integral imersão
no mundo novo. Mundo apto a produzir a justiça de verdade, anseio de todos os viventes109”.
Todavia, quando essa modernização e as transformações tecnológicas começam a ser
implantadas no trabalho e na rotina profissional dos indivíduos, se faz presente, em algumas
vezes, a necessidade de desacelerar esse processo em vista da resistência que geralmente
ocorre por parte daqueles, e isso tanto na área privada quanto na pública, incluindo os
operadores do direito. Sobre esse movimento por parte dos profissionais diante dessas
inovações, Candido Rangel Dinamarco pontua que:
Mas com o tempo e de forma gradual essas mudanças ocorrem na prática e o Poder
Judiciário continua se voltando para o seu constante desafio de garantir eficiência e
efetividade aos trâmites e processos judiciais utilizando as novas ferramentas tecnológicas
para tal.
Nesse ponto de somar a tecnologia a uma maior efetividade para o Judiciário e com
segurança, Hélcio Luiz Adorno Júnior e Ramiro Vasconcelos Muniz evidenciam que tal
questão se configura num enorme desafio que os órgãos do Judiciário terão que enfrentar “na
tarefa de elaborar um sistema inovador e confiável, que alcance a celeridade de tramitação dos
feitos sem afetar a saúde dos usuários que utilizam essa nova ferramenta no desempenho de
suas funções111”.
109
NALINI, 2012, op. cit., online.
110
DINAMARCO, Candido Rangel. Nova era do processo civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 303.
111
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit., p. 77.
39
112
RODRIGUES; FLORES, 2014, op. cit., p. 70.
113
Ibid.
114
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit., p. 88.
40
judicial, não há consenso acerca de qual seria a nomenclatura correta, visto que muitas vezes
são utilizados como sinônimos115. Ainda assim:
Pode ainda se afirmar que processo eletrônico é aquele em que todas as peças e atos
processuais são digitais e realizadas diretamente no meio eletrônico desde seu início. E que
um processo digitalizado é aquele que era físico e foi convertido para o eletrônico através da
digitalização (escaneamento) das suas peças e documentos físicos, os quais são digitalizados
em arquivos para visualização no meio eletrônico e, portanto, também é eletrônico. Desse
modo:
115
PEREIRA, Maria Neuma. Processo Digital: A tecnologia aplicada como garantia da celeridade processual.
Revista de Ciências Jurídicas e Sociais, Guarulhos, v. 1, n. 1, p. 74-80, 2011.
116
CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos). Perguntas mais frequentes. Portal CONARQ, 2020, online.
117
Ibid.
41
118
BRASIL, 2006, op. cit.
119
AL/SP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo). Frente do Judiciário visita Fórum da Freguesia do
Ó. Portal do cidadão da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, 27 nov. 2007.
120
BRASIL, 2006, op. cit.
121
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
42
E equivoca-se aquele que pensar que para ocorrer essa informatização do Poder
Judiciário basta adquirir e instalar computadores, ferramentas e softwares modernos, sem se
atentar para o treinamento, bem como capacitação de quem diretamente os operará ou terá
contato direto com eles. Além disso, quando se unem tantas funcionalidades tecnológicas para
compor a operação do processo eletrônico se deve ir “além da noção limitada de um meio
eletrônico meramente destinado a estocar documentos126”.
Faz-se necessário também pontuar que a ferramenta de digitalização dos processos é
de grande valor na melhoria da prestação jurisdicional, mas que não tem a capacidade de
122
RODRIGUES; FLORES, 2014, op. cit., p. 70.
123
Ibid.
124
DEZEM, Renata Mota Maciel Madeira. O poder judiciário e a sociedade da comunicação: do processo
eletrônico à inteligência artificial. In: PARENTONI, Leonardo (Coord.). Direito, Tecnologia e Informação.
Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018, p. 963.
125
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
126
REICHELT, Luis Alberto; PEGORARO JUNIOR, Paulo Roberto. Processo Eletrônico, hipertexto e direito
ao processo justo. Revista Internacional Consinter de Direito, Porto/Portugal, ano V, n. VIII, p. 165-177, jan.
2019, p. 166.
43
suprimir a presença dos atores judiciais, com, por exemplo, dos servidores e do próprio
magistrado.
É de suma importância, ainda, manter a sensação de proximidade do jurisdicionado
com o Poder Judiciário em relação ao acesso à Justiça, mesmo no âmbito digital e online,
visto que “virtual deve ser apenas o processo. A relação entre o Poder Judiciário e o
jurisdicionado, que acontece através do juiz e do servidor, ainda deve ser preservada, sem que
isso seja um entrave ao uso da tecnologia127”.
No meio eletrônico os processos ainda têm seguido a mesma linearidade nos autos,
como era anteriormente em forma física e escrita. Contudo, estudos recentes já apontam para
a necessidade de haver um rompimento com essa linearidade nos processos judiciais nesse
novo meio em que tramitam. Conforme Luis Alberto Reichelt e Paulo Roberto Pegoraro
Júnior128 comentam, o meio digital não deve ser apenas para estocar documentos
economizando o antigo papel, mas sim abrir espaço para uma nova dinâmica de debate
processual entre as partes, os advogados e o juiz. Os autores exemplificam essa inovação
destacando a utilização de hiperlinks e criação de uma comunidade virtual (groupware), tais
ferramentas já se mostram como uma futura e necessária aplicação.
Diante dessas peculiaridades e inovações, convém refletir e destacar a assertiva de
Carlos Henrique Abrão quanto à importância de um enriquecimento na visão e atuação nos
procedimentos processuais em meio eletrônico para se alcançar a efetividade deles:
127
CUNHA, Érica de Paula Rodrigues da. Home office: a flexibilização da jornada de trabalho nos tribunais. In:
AMAERJ (Org). Revista da Associação dos Magistrados do Estado de Rio de Janeiro, ano 13, n. 39, out./dez
2014, p. 45.
128
REICHELT; PEGORARO JUNIOR, 2019, op. cit.
129
ABRÃO, Carlos Henrique. Processo eletrônico. 3. ed., São Paulo: Atlas, 2011, p. 33.
130
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit. p. 82.
44
O Conselho Nacional de Justiça promoveu intensa campanha para divulgar o PJe a fim
de demonstrar para a comunidade jurídica os seus benefícios e segurança através da assinatura
digital. A referida campanha utilizava o slogan: “Melhor para você. Melhor para a Justiça.
Melhor para o Brasil132”.
Como aponta Oswaldo Moreira Costa Júnior133, se o aperfeiçoamento do sistema PJe
não for um compromisso contínuo, este pode perder a efetividade perante o Judiciário e sua
finalidade. Tal afirmação hoje se mostra válida não só para a Justiça do Trabalho, mas para
toda a área que o PJe abrange:
Ocorre que ainda que o instrumento criado para contribuir com a efetiva prestação
jurisdicional seja finalidade do Judiciário, com o processo eletrônico é o PJe, e que apesar de
apontarem para sua função de acesso ao conteúdo integral do processo, na prática hoje alguns
advogados e partes ainda não possuem esse acesso se não tiverem procuração ou o certificado
digital para consultar. Nas consultas públicas de alguns sistemas, incluindo o PJe, muitas
vezes não constam os documentos, peças e decisões de processos que não estão sob sigilo, por
exemplo.
A expectativa é que, conforme forem surgindo favoráveis — e possivelmente
eficientes no âmbito do processo eletrônico — novidades tecnológicas, paradigmas de
décadas no Direito Processual são rompidos e urge a necessidade de os Tribunais se
autorregularem para se conceder a devida autonomia a esse novo sistema eletrônico135. Caso
131
SOARES, 2012, op. cit., n.p.
132
Ibid.
133
COSTA JÚNIOR, Oswaldo Moreira. O processo judicial eletrônico na justiça do trabalho: as conquistas e os
desafios dessa nova ferramenta tecnológica. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, [s.l.],
v. 19, n. 20, p. 123-136, 27 abr. 2017.
134
Ibid., p. 135.
135
RABELO, 2019, op. cit., p. 05.
45
isso não seja buscado, essa informatização pode não resultar no que era positivamente
esperado após a edição da Lei 11.419/06. Dalmo Dallari adverte: “assim como o fato de se
adotar uma constituição escrita não é suficiente para transformar uma ditadura em
democracia, a informatização dos tribunais poderá significar apenas o advento de uma era de
injustiças informatizadas136”.
Nesse sentido, em relação à necessária estrutura e preparo do Judiciário quanto a essa
informatização e tratamento dos dados gerados nesses processos judiciais, convém ressaltar a
importância de se buscar o entendimento dos males que têm atrasado e sufocado o alcance da
Justiça sem a exclusão das importantes conquistas constitucionais para a sociedade. A chave
para tal questão deve ser observar três pontos: a lei processual, a estrutura do Poder Judiciário
e os sujeitos que atuam no processo, sendo este último o mais relevante137.
Aqui se faz importante destacar também a necessidade da constante presença da ética
nessa atuação por parte dos atores processuais, incluindo partes, advogados e julgadores.
Segundo a gestora do projeto de internacionalização da Unidade de Justiça na Softplan
(emprese de software), Débora Anselmo, todo o processo de transformação digital na Justiça
se dá em quatro fases:
136
DALARI, Dalmo. O poder dos juízes. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 167.
137
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit. p. 83.
138
ANSELMO, 2018, op. cit., online.
139
Ibid.
46
É nesse contexto que surge uma ferramenta inovadora, a qual conduz o Direito quanto
aos seus avanços e o leva a “definir seus limites como sistema autopoiético luhmanniano141”,
ou seja, um sistema que se autorreproduz. E essa moderna ferramenta citada, é a Jurimetria. E
o conceito de que “o Direito [...] produz a si mesmo142” é de extrema relevância, visto que ele
busca acompanhar as mudanças na sociedade, transformando a si mesmo enquanto provoca
mudanças exteriores na realidade daquela sociedade a que se aplica.
Não há como se falar e estudar sobre a Jurimetria e seus resultados (conhecimento
científico) sem discorrer sobre método. René Descartes definiu as bases do método científico,
pelas quais ele o definiria como um conjunto de regras a ser seguido objetivando dar
segurança a uma convicção, evitando complicações e que permitisse alcançar a maior
quantidade de conhecimento possível143. Sua teoria foi desenvolvida em sua obra O Discurso
do Método, que originalmente recebeu o título Discours de la Méthode pour Bien Conduire sa
Raison et Chercher la Vérité dans les Sciences, em tradução livre para o português: Discurso
do Método para Bem Conduzir a Razão e Procurar a Verdade nas Ciências144; evidenciando
a busca da verdade pelo autor, bastante influenciado pelas ciências exatas, e que pretendia
atingir um grau de precisão cada vez maior.
140
FERRO, Rodrigo Rage. Como a jurimetria e a Teoria dos Sistemas de Luhmann estão interligadas? In:
ALMEIDA, Renato Augusto. Justiça, Judiciário e a condição humana nas relações interpessoais: reflexões
contemporâneas. São Paulo: Paco Editorial, 2019, p. 110.
141
Ibid., p. 111.
142
ALMEIDA, Renato Augusto. Justiça, Judiciário e a condição humana nas relações interpessoais:
reflexões contemporâneas. São Paulo: Paco Editorial, 2019, p. 121.
143
DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
144
EVES, Howard. Introdução à história da matemática. Campinas: Unicamp, 2004, p. 383-384.
47
A ideia sustentada por Descartes em sua obra é a do método cartesiano, que destaca
um estudo fragmentado, reduzindo o todo em partes para que estas sejam aprofundadas145;
esse movimento reflexivo nos remete ao método e utilização da Jurimetria, porém
particularmente voltado e adaptado para as Ciências Sociais e suas incertezas. Contudo, para
melhor reflexão sobre a Jurimetria como ferramenta do Direito, convém discorrer acerca do
momento anterior a sua origem e do caminho da estatística que chegou à sua criação.
A estatística teria surgido por volta de 1700, quando muitos cientistas como físicos e
astrônomos vinham lidando com adversidades consideráveis de mensuração, ou seja, se viam
obtendo resultados que não respeitavam as antigas teorias deterministas, visto que aqueles
apresentavam variações. Assim, a finalidade principal da análise estatística seria a de
“oferecer soluções para combinar as medidas e analisar conjuntos ou série de informações
coletadas nos mais diversos campos do conhecimento146”.
Após a segunda metade do século XIX, os métodos estatísticos vinham sendo cada vez
mais utilizados em variados campos do conhecimento já sendo então, utilizada de forma
interdisciplinar. Contudo, até o final desse século, a área da ciência social ainda se baseava
em teorias de cunho determinista, ou seja, “os pesquisadores do comportamento humano [...]
demoraram a se conscientizar do valor que as técnicas estatísticas poderiam agregar às
pesquisas sociais147”. Somente no século XX que as ciências sociais, principalmente a
economia, reconheceram as vantagens de se quantificar os fatos sociais.
Nesse contexto, a estatística começou a influenciar as ciências sociais de forma
gradual, inicialmente por meio da criação de censos, como de mortalidade e de doenças
epidêmicas. Após isso, já se fazia especialmente presente tanto na Demografia quanto na
Economia148. Atualmente, a estatística é definida como um agrupamento de métodos
utilizados em praticamente todas as áreas de conhecimento da vida humana:
145
ARAÚJO, Fábio Roque da Silva; RABELLO, Fernando. A ruptura do paradigma cartesiano e alguns os seus
reflexos jurídicos filosofia do direito. Revista CEJ, Brasília, Ano XIII, n. 46, p. 78-86, jul./set. 2009.
146
NUNES, Marcelo Guedes. Jurimetria: como a Estatística pode reinventar o Direito. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016, p. 10.
147
NUNES, 2016, op. cit., p. 10.
148
Ibid.
149
Ibid.
48
E sobre essa estatística moderna, vale citar a definição dada pelo autor Stephen Stigler,
citada e traduzida por Marcelo Guedes Nunes (2016): “A estatística moderna oferece
tecnologia quantitativa para a ciência empírica; ela é uma lógica e uma metodologia para
medir a incerteza e para examinar as consequências dessa incerteza no planejamento e
interpretação da experimentação e observação150”.
Antes da evolução do pensamento estatístico, o conhecimento era visto
predominantemente como um resultado absoluto dotado de única verdade, demonstrado
através de teorias e enunciados originados em testes realizados por especialistas que o
transmitiam através de determinações, ou seja, era um pensamento dedutivo. A utilização da
metodologia estatística traduziu a fase de transição pela qual a ciência deixou “de ser a busca
de verdades absolutas e passa a ser um esforço de aproximação da verdade 151”. E, diante
disso, o objetivo principal para se atingir o conhecimento também sofreu alterações: “ao invés
de buscar a certeza, passamos a controlar a incerteza152”.
Esse movimento gera uma riqueza muito maior de resultados que consequentemente
fomenta o uso da estatística, e por isso, no âmbito jurídico deu-se origem à Jurimetria; esta
pode ser definida como uma “disciplina do Direito que utiliza a metodologia estatística para
estudar o funcionamento do ordenamento jurídico, de modo empírico153”.
Com isso, a Jurimetria enquanto disciplina e ferramenta, ao observar todo o
funcionamento do sistema judiciário e os dados que ele produz e armazena, possibilita
estabelecer a realidade do universo jurídico no dia a dia e rotina, investigando empiricamente
a influência entre Direito e sociedade154.
Os governos possuem o desafio de aprimorar seus indicadores sociais e de
disponibilizar dados atualizados para a sociedade, visto que a massa enxerga seu governo
através das estatísticas, assim acontece também com o Judiciário.
O sistema Judiciário atualmente se vê com essa nova necessidade de organizar
indicadores de sua atuação, principalmente quanto a sua jurisprudência, diante da intensa
produção de dados agora informatizados produzidos através das demandas judiciais em todo o
país. E assim como os Governos precisam educar a população para entender a função desses
150
NUNES, 2016, op. cit., p. 10.
151
BARBOZA, Ingrid Eduardo Macedo. A Jurimetria aplicada na criação de soluções de Inteligência Artificial,
desenvolvidas pelo CNJ, em busca do aprimoramento do Poder Judiciário. Revista Diálogo Jurídico, Fortaleza,
v. 18, n. 2, p. 9-23, jul./dez. 2019, p. 12.
152
NUNES, 2016, op. cit., p. 10.
153
GONZALES, Edoardo Eugenio Sigaud. Trade Dress: uma análise de Jurimetria com ferramentas de
inteligência artificial. 2019. 123 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Inovação) –
Instituto Nacional da Propriedade Industrial, Rio de Janeiro, 2019, p. 46.
154
Ibid.
49
indicadores, no Judiciário se faz necessária essa educação tanto internamente — entre seus
membros e atores processuais — quanto para a própria sociedade.
É nesse contexto que se vislumbra o ingresso da pesquisa empírica nesse mundo
jurídico, a qual busca conhecimento através de investigação e observação de dados, para
assim solucionar problemas. E isso no campo do Direito também acontece para se conhecer o
que de fato ocorre nesse universo além do que consta nas doutrinas. Portanto, é possível
afirmar que assim como a estatística está para a inclusão política no âmbito governamental,
ela está para inclusão de gestão e transparência sobre os fatos no mundo jurídico para o Poder
Judiciário e seus estudiosos.
A Jurimetria surgiu em 1949, após ser conceituada pelo advogado estadunidense Lee
Loevinger, em seu artigo The Next Step Forward, aprofundando-se posteriormente na obra:
Jurimetrics: The Methodology of Legal Inquiry, no início da década de 1960. Desde então, a
disciplina já se mostrava promissora em sua idealização e propósito:
155
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 111. (Grifo nosso).
156
HADDAD, Ricardo Nussrala. A motivação das decisões judiciais e a Jurimetria: contribuições possíveis. In:
XIX ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, jun. 2010, Fortaleza. [Anais...] Fortaleza: CONPEDI, p. 3927-
3935, 2010, p. 3.927.
50
aplicação do Direito correta, legítima e eficiente157”. Além disso, conforme o autor Ricardo
Medeiros de Castro esclarece: a utilização da estatística e quantificações não reduzirá o
Direito em seu complexo campo hermenêutico e tudo que ele envolve; uma vez que:
Além de, em seu estatuto, no Art. 2º, a Associação também prever como as suas
principais finalidades:
157
NUNES, Dierle; DUARTE, Fernanda Amaral. Jurimetria e Tecnologia: diálogos essenciais com o Direito
Processual. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 299, p. 405-448, 2020, p. 406.
158
CASTRO, Ricardo Medeiros de. Direito, Econometria e Estatística. 2017. 542 f. Tese (Doutorado em
Direito) – Universidade de Brasília, Brasília, 2017, p. 09.
159
ABJ (Associação Brasileira de Jurimetria). Propósitos e valores. Portal ABJ, 2018a, online.
51
[...] fornece ao Direito meios para se autogerir e se tornar eficaz sua administração,
seja mostrando tendências, apontando falhas, ou mesmo auxiliando no processo de
auto-observação, mantendo o Direito mais próximo possível da evolução da
sociedade, muito mais complexa do que o sistema jurídico162.
160
ABJ (Associação Brasileira de Jurimetria). Estatuto. Portal ABJ, 2018b, online.
161
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 124. (Grifo nosso).
162
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 121.
163
NUNES, Marcelo Guedes (Coord). Varas empresariais na comarca de São Paulo. Portal ABJ, dez. 2016.
52
Metodologia
[...] Nesse estudo, discutimos a criação de varas empresariais na Comarca de São
Paulo e desenvolvemos metodologias inovadoras para resolver três problemas. O
primeiro é a vinculação de normas para determinação de competências com assuntos
da Tabela Processual Unificada do CNJ (Res. 46). O segundo é o tratamento de
falhas na classificação dos assuntos na base de dados analisada. O terceiro é criar
uma métrica de mensuração e comparação dos esforços empreendidos por
magistrados em processos comuns e empresariais.
Nas análises realizadas, encontramos evidências de que um processo empresarial
demanda aproximadamente o dobro de esforço do que um processo comum. Ao
realizar correções no volume processual a partir de um modelo de tratamento dos
assuntos, concluímos que duas varas empresariais atendem adequadamente a
demanda existente nos termos da resolução Nº 02/2011 do TJSP.
Resultados
30% dos processos empresariais distribuídos entre 2013 e 2016 foram
subnotificados devido ao mau uso das Tabelas Processuais Unificadas do CNJ.
Processos de direito empresarial tomam o dobro do tempo dos magistrados até
serem concluídos.
Processos de recuperação judicial tomam o triplo do tempo dos magistrados até
serem concluídos164.
Diante disso, se mostra latente a necessidade de se olhar tanto para o presente quanto
para o futuro, já acolhendo essa tendência do uso e implantação de novas tecnologias que
chegam para aprimorar o trabalho do Poder Judiciário junto a tais mecanismos.
Imprescindível evidenciar ainda que esse aprimoramento no trabalho do Poder Judiciário
através das novas tecnologias não deve trazer apenas o sentido de celeridade no foco
principal, mas sim em conjunto com a devida observância da segurança jurídica, caso
contrário, todo esse processo se mostraria ineficiente.
Quanto a este impasse que ocorre, relacionado à nova realidade jurídica da sociedade
atual, de caráter imediatista, Luiz Roberto Barroso elucidara que “a segurança jurídica — e
seus conceitos essenciais, como o direito adquirido — sofre sobressalto da velocidade, do
imediatismo e das interpretações pragmáticas, embaladas pela ameaça do horror
econômico165”.
Desse modo, o comportamento jurisdicional deve atuar cada vez mais em observância
à manutenção da segurança jurídica para se garantir o pleno desenvolvimento do Poder
Judiciário, enquanto sofre esse processo da sua informatização e evolução tecnológica junto à
sociedade que atende.
Sobre a inteligência artificial, a qual passou a ser considerada formalmente uma
disciplina acadêmica em 1956 a partir da realização do Congresso Dartmouth Summer
164
NUNES, 2016, op. cit., online.
165
BARROSO, Luiz Roberto. A nova interpretação Constitucional. 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p.
55.
53
Research Project on Artificial Intelligence166, se deve evidenciar que essa forma de tecnologia
também tem se destacado nesse novo cenário tecnológico no mundo jurídico, bem como já
vem sendo utilizada por alguns tribunais.
Assim, as “técnicas ou métodos pelos quais um computador pode modelar os
processos normalmente associados à inteligência natural, tais como reconhecimento de
padrões, compreensão de linguagem, aprendizado e solução de problemas não
padronizados167” configuram o que se denomina Inteligência Artificial e passaram a ser
aplicáveis também ao Direito na prática. Por fim, a presença da inteligência artificial se
destaca ao ser aplicada a essa ferramenta denominada Jurimetria com objetivo de dinamizar e
conceber eficiência na coleta de dados para, assim, permitir aos estudiosos e profissionais do
Direito, um melhor estudo e análise do mundo Jurídico.
Como já mencionado, o homem não mais pode dispensar ou regredir na atual relação
que possui com os computadores, e isso reflete em seu âmbito individual e na sua forma de se
relacionar pessoalmente, uma vez que “o mundo atual se tornou cada vez mais dependente de
sistemas eletrônicos, a interação entre máquinas rege processos diários vitais para a
manutenção do nosso estilo de vida pós-moderno168”.
Desse modo, o uso da máquina e do mundo digital como instrumentos são essenciais
na convivência social e dos órgãos que compõem o Estado, reflete mais ainda e de forma mais
complexa, em todas as relações sociais. E apesar do processo da informatização dos processos
e tribunais ser recente no Brasil, “a discussão sobre informática aplicada ao direito já
preocupava juristas ao redor do mundo desde a década de 1970169”:
166
GONZALES, 2019, op. cit., p. 49.
167
Ibid.
168
TIMÓTEO, Gabrielle Louise Soares. Informática Jurídica: Uma discussão atual, mas não recente. Revista
dos Tribunais, São Paulo, v. 150, p. 215-224, 2013, p. 217.
169
Ibid., p. 216.
170
Ibid.
54
171
DE LUCCA, Newton. Títulos e contratos eletrônicos. In: DE LUCCA, Newton (Coord.). Direito & Internet:
aspectos jurídicos relevantes. São Paulo: Edipro, 2001, p. 70.
172
DEZEM, 2018, op. cit., p. 952.
173
DEZEM, 2018, op. cit., p. 957.
174
Ibid.
175
NUNES, 2016, op. cit., p. 103.
55
176
LOSANO, Mario Giuseppe. Lições de informática jurídica. São Paulo: Resenha Tributária, 1974.
177
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 217.
178
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 46.
56
Com isso, ainda deve haver preocupação por parte da gestão judiciária quanto ao
aspecto da informática e tecnologia, de possíveis falhas ou entraves criados
desnecessariamente nos sistemas eletrônicos, para então evitar que eles prejudiquem ou
alterem o acesso à Justiça ou mesmo provoquem desequilíbrio democrático em âmbito
tecnológico nesse sentido.
Isto porque pode se afirmar que ainda há uma ineficiência em relação ao acesso e
leitura dos dados criados e obtidos nos processos eletrônicos. Não há ainda, por exemplo,
dado correto em tempo real, e os sistemas dos Tribunais não leem dados que não sejam
estruturados e que foram armazenados de forma inconsistente (incompletos, com classificação
equivocada, etc.), ou seja, “dados sujos”180, que ainda são maioria:
Uma pesquisa realizada pela plataforma Kaggle apontou que o maior problema
encontrado por profissionais das áreas de aprendizado de máquina e ciência de
dados é o que eles chamam de “dirty data”. Em tradução literal para o português,
isso significa “dados sujos”, mas para você entender melhor o que isso significa e
como atrapalha o desenvolvimento de inteligência artificial, é bom pensar em “dirty
data” como “dados não coesos” ou “dados incompletos” 181.
179
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
180
MÜLLER, Léo. Entenda o que é “dirty data” e como isso atrapalha o desenvolvimento de IA. Portal
TecMundo, 08 nov. 2017.
181
Ibid., online.
57
Judiciário, visto que possibilita ampliar a visão geral nos mais variados setores e matérias
tratadas nos processos judiciais por cada Tribunal no país, conforme já reconhecido pelo
Conselho Nacional de Justiça.
Os incisos do Art. 3º da Resolução nº 332, de 21 de agosto de 2020, do CNJ, definem
um modelo de Inteligência Artificial como o agrupamento de “dados e algoritmos
computacionais, concebidos a partir de modelos matemáticos, cujo objetivo é oferecer
resultados inteligentes, associados ou comparáveis a determinados aspectos do pensamento,
do saber ou da atividade humana182”. Além disso, a referida Resolução também ressalta que
esses modelos de IA deverão se utilizar de softwares de código aberto, permitindo assim
maior transparência em seu uso.
É nesse cenário que entra o papel do sistema Sinapses que, configurado junto ao PJe,
servirá para armazenar, testar e distribuir os modelos de inteligência artificial desenvolvidos e
a serem aplicados pelos órgãos do Judiciário. A plataforma Sinapses funciona como um
centro de Inteligência Artificial, sendo resultado de um projeto do Tribunal de Justiça de
Rondônia (TJRO), incluído no portfólio de soluções do Conselho Nacional de Justiça através
do Termo de Cooperação nº 42/2018, com a finalidade de desenvolver soluções de
inteligência artificial (IA) que resultem no aprimoramento do serviço prestado pela Justiça aos
brasileiros183. Assim, todo órgão do Poder Judiciário envolvido num projeto de
desenvolvimento de inteligência artificial deverá informar tudo desse projeto ao CNJ bem
como depositar o seu modelo no Sinapses.
Faz-se importante citar também o sistema Codex, o qual operará em conjunto com o
sistema Sinapses, ao extrair todos os metadados (dados sobre outros dados) dos processos,
como por exemplo, as partes, seus dados, classe, valor da causa, nível de sigilo, origem,
jurisdição, movimentação, etc., além de consolidarem o formato de “texto puro” de todos
esses processos. Com essa atuação, se obterá a devida base de dados para o desenvolvimento
de modelos de inteligência artificial184.
Outro exemplo de utilização da Inteligência Artificial na otimização do desempenho
dos Tribunais em cadastro de processos fora o Projeto Hórus, do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios (TJDFT), o qual agilizou o cadastramento de processos
182
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 332, de 21 de agosto de 2020. Dispõe sobre a ética, a
transparência e a governança na produção e no uso de Inteligência Artificial no Poder Judiciário e dá outras
providências. Brasília, DF: CNJ, 2020a, online.
183
AGÊNCIA CNJ DE NOTÍCIAS. CNJ abre seleção de projetos para Centro de Inteligência Artificial. Agência
CNJ de Notícias, 07 mai. 2019.
184
ANDRADE, Paula. Workshop destaca inteligência artificial no Judiciário. Agência CNJ de Notícias, 14 jun.
2020.
58
digitalizados de execuções fiscais para o PJe. E também o sistema dos CEJUSC’s desse
mesmo Tribunal, que foram atualizados para serem capazes de classificar os novos
procedimentos por meio do processo de aprendizado da máquina — o denominado machine
learning185. Com isso, os servidores daqueles CEJUSC’s não precisaram mais se ocupar com
as complementações de dados nos processos, tendo ganhado tempo ao não precisar realizar
manualmente a triagem daqueles.
Segundo Edoardo Eugenio S. Gonzalez, técnicas como o machine learning trazem
benefícios em relação à eficiência e maior justeza em relação aos aprendizados dentro da
jurimetria, “abrindo até mesmo possibilidades antes impensáveis dentro da prática jurídica,
como a estimativa de chances de acolhimento de teses jurídicas específicas no bojo de uma
ação judicial186”.
Outros importantes exemplos como os do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
(TJRN) e o Superior Tribunal Federal (STF) também devem ser destacados quanto as suas
tecnologias:
Diante disso, pode se afirmar também que o estudo do que ocorre em diversos
processos, repetitivos ou não, através da Jurimetria contribuirá cada vez mais para o
desenvolvimento desses sistemas de Inteligência Artificial, os quais buscarão garantir maior
celeridade e efetividade aos processos a partir dos resultados que a jurimetria trouxer. E isso
porque “não é apenas para leitura de dados que a inteligência artificial pode ser aplicada ao
Direito, podendo-se pensar em ferramentas de elaboração de peças simples, pesquisa de
precedentes, entre outras possibilidades188”.
185
TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios). TJDFT usa inteligência artificial para aprimorar
sistemas. Portal TJDFT, 2019.
186
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 49.
187
BARBOZA, 2019, op. cit., p. 18. (Grifo nosso).
188
DEZEM, 2018, op. cit., p. 965.
59
189
HADDAD, 2010, op. cit., p. 3933.
190
RODRIGUES; FLORES, 2014, op. cit., p. 70.
191
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 46.
60
Conhecimento que se tem sobre algo, usado para solucionar uma questão, fazer
um julgamento, criar ou colocar em prática um pensamento, uma opinião;
informação: os dados indicam um aumento do desemprego.
Informação que identifica algo, alguém ou sobre si mesmo: dados pessoais.
[Informática] O que se consegue processar, decodificar a partir de um
computador.
Etimologia (origem da palavra dados). Plural de dado, do latim dátus.
Um “apresentado, entregue” 192.
192
DADOS. In: DICIONÁRIO Online de Português. Porto: 7Graus, 2020, online. (Grifo nosso).
193
GONZALEZ, 2019. p. 46.
194
Ibid.
195
NUNES, 2016, op. cit.
61
análise de dados produzidos dentro do Poder Judiciário na utilização e estudo pela Jurimetria
no Brasil196.
Um caminho possível, portanto, teria como primeira tarefa compreender que tipo de
informação os dados coletados nos sistemas judiciários trazem e para qual tipo de estudo e
análise servirão. O Judiciário brasileiro, que se encontra bastante informatizado, já possibilita
o processamento e acesso dos dados que produz diariamente, dados estes que se tornam objeto
de estudo da Jurimetria em diversos sentidos, e mesmo pertencendo a processos passados,
possibilitarão novos horizontes e uma visão mais orgânica de como o sistema tem funcionado
aos operadores do Direito.
Com a massiva produção e disponibilidade de dados, bem como o aperfeiçoamento de
modelos de sistemas voltados para o Judiciário, o campo da Inteligência Artificial nesse
universo também tem experimentado “uma renascença, recebendo muita atenção na mídia e
investimentos em pesquisa197”. Para tanto, é necessário possibilitar o estudo e a
“parametrização de uma grande quantidade de dados (big data) do passado pode ofertar
horizontes promissores, em especial quando utilizados com o auxílio de algoritmos, até
mesmo para induzir uma potencial predição de resultados198”.
O aprimoramento dos modelos de aprendizado pelas máquinas (machine learning
models) atualmente já permitem que os computadores, ao conhecerem de um ou mais
exemplos, posteriormente também “reconhecem padrões, e aprendem a executar tarefas,
predição de eventos futuros ou classificações similares, sem supervisão adicional199”.
Aqui cumpre evidenciar a diferença entre machine learning, Inteligência Artificial e
ainda o deep learning. O primeiro termo, machine learning, pode ser entendido como um
“subconjunto de técnicas de inteligência artificial que usam métodos estatísticos para permitir
que as máquinas melhorem com experiências200”; já a Inteligência Artificial configura
quaisquer técnicas que possibilitem um comportamento humano às máquinas, enquanto o
deep learning “é subconjunto de machine learning que viabilizam o cálculo de redes neurais
multicamadas201”.
Diante desses aperfeiçoamentos e da utilização do machine learning, se mostra
necessária à utilização da text mining (técnicas de mineração de textos) para recuperação e
tratamento das informações contidas em textos, sendo de grande utilidade para aquele que
196
NUNES, 2016, op. cit.
197
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 50.
198
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 406.
199
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 51.
200
DEZEM, 2018, op. cit., p. 964.
201
Ibid.
62
trabalhar com uma base de dados apenas nesse formato de linguagem escrita202. A finalidade
da text mining é a automatização nas análises de textos, as quais reconhecem qualquer
informação desejada e conhecimento específico pertencente a eles quando necessário.
Importante destacar também que quando se somam técnicas de Processamento de
Linguagem Natural (PLN) nas etapas dessa mineração de textos, se tem como resultado uma
qualidade maior na recuperação de informações. O PLN consiste num conjunto de técnicas
formais que são utilizadas para análises textuais com codificação das informações contidas
naquele texto, ou seja, através dele se possibilita que a máquina compreenda o significado do
referido texto203.
Segundo o autor Adriano Oliveira em apresentação de vídeo para a TV-CNJ em canal
no Youtube204, são seis as etapas que compõem o procedimento da mineração de dados, sendo
três delas, necessariamente, prévias à mineração (preparação inicial dos dados) e que
significam 60% a 90% do tempo gasto em todo o procedimento: 1) coleta de dados; 2)
processamento; 3) transformação. Somente depois desse preparo, inicia-se a mineração e nela
algoritmos são aplicados aos dados coletados para descobrir padrões e relações contidas
nesses dados, que antes eram desconhecidos. Finaliza-se o procedimento com a etapa de
interpretação e avaliação desses padrões reconhecidos, possibilitando um conhecimento útil
para tomada de decisões. Assim, o que se afirma acerca da mineração de dados é que ela
compõe uma parte do que se denomina Data Science — ambos trabalham pelo objetivo final
de proverem insights para auxiliar o usuário na tomada de decisões.
Nota-se que, para tudo isso ocorrer, e com a enorme quantidade de dados produzidos
por uma ciência social como o Direito, sendo, portanto, complexos, se torna um desafio tanto
o desenvolvimento da Inteligência Artificial, quanto em relação à supervisão também humana
dos mesmos, visto que o cenário dificulta a gestão dos dados:
202
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 52-53.
203
Ibid.
204
TV-CNJ. Webinar - Inova PJe apresenta o Laboratório de Mineração de Processos - 10 de julho de 2020
[01h35m45s]. Youtube, 10 jul. 2020.
205
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 53.
63
uma vez que “tal premissa se baseia no fato de que os julgados são dados não-estruturados e
desenvolvidos em linguagem natural, assim, a predição de julgados depende
impreterivelmente da capacidade de processamento de linguagem natural206” — a chamada
Extração de Informação.
A Extração de Informação consiste, então, na tarefa do PLN “usada para recuperar
automaticamente informações estruturadas de documentos textuais não estruturados e/ou
semiestruturados, tais como entidades, relações e atributos que descrevem as referidas
entidades207”.
Ainda sobre as dificuldades enfrentadas pela área de Processamento de Linguagem
Natural (PLN), um dos problemas:
206
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 12.
207
Ibid.
208
Ibid., p. 12-13. (Grifo nosso).
209
NUNES, 2016, op. cit.
210
Ibid., p. 10.
64
211
BARBOZA, 2019, op. cit., p. 16.
212
Ibid., p. 11.
213
CNJ. (Conselho Nacional de Justiça). Justiça em Números 2020: ano-base 2019. Brasília: CNJ, 2020b.
214
CNJ. (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 331, de 20 de agosto de 2020. Institui a Base Nacional
de Dados do Poder Judiciário – DataJud como fonte primária de dados do Sistema de Estatística do Poder
Judiciário – SIESPJ para os tribunais indicados nos incisos II a VII do art. 92 da Constituição Federal. Brasília,
DF: CNJ, 2020c.
215
WATANABE, Eduardo. A arquitetura de metadados de Processos Judiciais Cíveis. In: XV ENCONTRO
NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 2014, Belo Horizonte. [Anais...] Belo
Horizonte: UFMG, p. 1122-1128, 2014, p. 1.125.
65
Interoperabilidade (MNI) adotado pelo CNJ em compromisso firmado com todos os órgãos
do Judiciário, o qual “contém padrões para intercâmbio de informações de processos judiciais
por meio de sistemas processuais216”.
Pode se interpretar que a aplicação desse modelo imposto pelo CNJ objetiva
padronizar cadastramentos de dados pelos órgãos do Judiciário; e que todos os sistemas
utilizados por eles, possibilitem a troca de informações dos processos eletrônicos judiciais
entre todos, além de constituir uma base do sistema processual. Watanabe então analisara esse
modelo do CNJ evidenciando que nele foram criadas tabelas com códigos de identificação
para metadados como: os tipos de classe, assunto, tramitação e resultado de decisões judiciais
para os processos eletrônicos então serem cadastrados de forma padronizada217.
O que Eduardo Watanabe percebera em pesquisa de campo no sistema da Justiça
Federal no 1º grau que ainda existem lacunas nessas classificações, seja pela generalidade das
classes, se mostrando muitas vezes distintas dos pedidos do autor, seja pela complexidade e
amplitude, como nos assuntos, devido a extensa variedade de legislações no ordenamento
jurídico218.
É igualmente importante citar o destaque dado por Watanabe quanto aos metadados de
resultados de decisões judiciais, sobre estes o autor afirma que:
216
WATANABE, 2014, op. cit.
217
Ibid.
218
Ibid., p. 1.128.
219
WATANABE, 2014, op. cit., p. 1.128.
220
CNJ, 2020c, op. cit.
66
quanto à segurança desses dados armazenados e transmitidos pelos órgãos judiciais ao CNJ,
que os manterá armazenados e disponibilizados conforme sua classificação e publicidade.
Isto porque esse mundo das novas tecnologias e da internet é fonte de inúmeras
ferramentas eficientes e de celeridade, mas também de muitos riscos, como perdas e roubo de
dados, que já vem acontecendo de maneira significativa no Judiciário brasileiro cujas
consequências podem ser dramáticas. Em novembro de 2020, por exemplo, o Supremo
Tribunal de Justiça sofreu um ataque hacker de invasão de dados221; e, também em 2020, o
sistema e-proc do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul sofreu um ataque de
hackers que afetou a página de acesso aos processos eletrônicos222.
O Sistema de Estatística do Poder Judiciário (SIESPJ), regulamentado pela Resolução
nº 15/2006, cujos princípios de atuação estão na Resolução nº 76/2009, é um sistema interno
ao CNJ e possui o seguinte objetivo:
Assim, a base DataJud se tornara uma fonte primária de dados para o sistema SIESPJ,
bem como para todos os tribunais brasileiros. E, certamente, o DataJud influenciará ainda a
rotina e a atuação dos Tribunais, dos seus magistrados, desembargadores e ministros, visto
que suas presidências são incumbidas de fornecer todos os dados a essa base, sendo
responsáveis pela veracidade de todas as informações apresentadas224.
Contudo, conforme se dá o aumento na quantidade de dados provenientes dos
processos judiciais eletrônicos, também se dá o aumento do poder e o alcance da computação,
assim como “a capacidade que os computadores possuem de realizar tarefas jurídicas
complicadas tende a se sofisticar a cada ano, ampliando as vantagens de profissionais que
investirem nesses campos225”.
Ademais, nesse aspecto:
221
VIVAS, Márcio Falcão e Fernanda. STJ diz que sistema de informática do Tribunal foi alvo de ataque hacker
e pede investigação da PF. Portal G1, 04 nov. 2020.
222
G1-RS. Site do Tribunal de Justiça do RS sofre ataque hacker. Portal G1-RS, 11 nov. 2020.
223
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Sistema de Estatística do Poder Judiciário (SIESPJ). Portal CNJ,
2020d.
224
CNJ, 2020c, op. cit.
225
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 11.
67
A informática […] é uma técnica que desde o início deve ser desenvolvida de forma
coordenada em nível geral. Naturalmente, a realização do plano pode ser efetuada
em fases sucessivas, mas é indispensável que elas sejam coordenadas dentro de um
quadro geral. […] A quase totalidade dos insucessos na automação documentária ou
administrativa se deve a erros na organização226.
[...] “não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se
define o que não se entende e não há sucesso no que não se gerencia”. Em outras
palavras, somente com informações organizadas é que a Administração pode atuar,
daí porque consideramos a articulação com a Arquivologia e a Ciência da
Informação227.
226
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
227
WATANABE, Eduardo; SOUSA, Renato Tarciso Barbosa de. Processos Judiciais Eletrônicos: desafios para
a gestão a partir da Arquivologia e da Ciência da Informação. In: ENCONTRO DE ADMINISTRAÇÃO DA
JUSTIÇA, 2019, Brasília. [Anais...]. Brasília, DF: ENAJUS/UnB/IBEPES/CAPP, 2019, n.p. (Grifo nosso).
228
CNJ, 2020a, op. cit., online.
229
Ibid.
230
CNJ, 2020a, op. cit., online.
68
[...] recurso humano e de tempo que não estão disponíveis para a maioria dos
juristas, ante a necessidade de lidar com as tarefas cotidianas da profissão. Isso
tendo em vista além das horas para o estudo da estatística, em especial a inferencial,
os obstáculos da própria base de dados231.
Todavia, como esses dados produzidos no Poder Judiciário através dos processos
eletrônicos possuem alto valor, pois se traduzem em dados pessoais de milhares de pessoas
físicas e jurídicas, além de fatos específicos, decisões de cada julgador, etc., não há como
mantê-los apenas sob a gestão de um programa de Inteligência Artificial. Faz-se
absolutamente necessária a presença de supervisões que mantenham um tratamento
humanitário e ético ao armazenamento, disponibilização e gestão desses dados sob a
responsabilidade do Poder Judiciário.
Destarte, a sociedade atual se vê diante de um complexo desafio para encontrar uma
forma de gerir o mundo jurídico e seus dados em meio completamente eletrônico e sob a
atuação de softwares de Inteligência Artificial.
Ainda que se mostre complexa a missão de gerir os dados produzidos pelos processos
judiciais eletrônicos, conforme tratado anteriormente, a coleta desses dados para fins de
pesquisa empírica pela Jurimetria poderá impactar significativamente no comportamento dos
julgadores. Para tanto:
[...] deve haver uma mudança de forma no próprio estudo do Direito. Com a
utilização da pesquisa empírica, a partir da coleta de dados, tais como, as centenas
ações judiciais propostas, o resultado das decisões, é possível, além de garantir o
registro dessas informações por mais tempo, compreender, deduzir e fazer
inferências a partir dos resultados232.
231
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 11.
232
BARBOZA, 2019, op. cit., p. 10.
69
acerca dos “males que sufocam e atrasam a Justiça, sem que importantes conquistas
constitucionais dos cidadãos sejam suprimidas233”. Para tal questão, é preciso focar em três
pontos: “lei processual, estruturas judiciárias e, o mais importante, o sujeito que atua no
processo234”.
E neste contexto pode-se evidenciar o papel desempenhado pela Jurimetria, não
somente sob o aspecto do processamento eletrônico de dados, mas como ferramenta para
nortear o julgador, podendo conduzi-lo em busca da melhor solução para o caso (ou única
solução), impactando diretamente na estrutura judiciária235.
O estudo estatístico dos dados selecionados e extraídos dos processos eletrônicos
poderia ser capaz de prover o fundamento que possibilite às partes e ao sistema jurídico
encontrar a solução mais pertinente num caso específico, uma vez que a natureza da jurimetria
é predominantemente metodológica, instrumental, empírica, e divide sua finalidade em três:
233
ADORNO JÚNIOR; MUNIZ, 2016, op. cit. p. 83.
234
Ibid.
235
HADDAD, 2010, op. cit., p. 3933.
236
ALMEIDA, 2019, op. cit.,, p. 111-113. (Grifo nosso).
237
ALMEIDA, 2019, op. cit.,, p. 113. (Grifo nosso).
70
238
NUNES, 2016, op. cit., 10.
239
BRASIL, 2015, op. cit.
240
Ibid.
241
BRASIL, 2015, op. cit.
71
Uma ratio decidendi é uma decisão expressa ou implícita por um juiz a qual é
suficiente para resolver uma questão de direito posta em causa pelos argumentos das
partes em um caso, sendo um ponto em que uma decisão foi necessária para sua
justificação [/ela] (ou uma de suas [/ela] justificativas alternativas) da decisão no
caso242.
Com isso, a ratio decidendi pode ser interpretada como a “razão de decidir”, a qual
compõe os motivos determinantes para chegar à decisão que servirá de paradigma às situações
que aparecerem no Judiciário, contendo os fatores que ensejam decisão por aqueles mesmos
motivos, o que a justificaria.
A princípio talvez pareça contraditório afirmar que se deve buscar a uniformização e
estabilização para se atingir a evolução do Direito, visto que é necessário se atentar as
particularidades de cada caso. Todavia, a liberdade que é conferida ao Judiciário no modelo
constitucional atual, muitas vezes, leva a diversas decisões de casos similares, com a mesma
matéria, mas incoerentes entre si, causando assim maior insegurança jurídica243. O direito para
ser justo deve acompanhar a evolução das relações sociais, da cultura, das tradições, mas não
pode, num mesmo contexto jurídico e cronológico, permitir a desigualdade no tratamento de
casos semelhantes244.
E é nesse cenário que a jurimetria poderá desempenhar um papel importante na
prática, com possibilidade de contribuir cada vez mais com a finalidade do sistema de
precedentes trazido pelo Código de Processo Civil. A jurimetria aproxima o conhecimento
jurídico do conhecimento estatístico, visto que contribui com recursos que focam no
levantamento dos dados empíricos capazes de conduzirem à estruturação de uma política
pública jurídica melhor desenvolvida, tanto no âmbito de gestão quanto jurisprudencial.
Conforme explana Guedes Nunes, a estatística inferencial consiste em:
[...] área que estuda como certas conclusões podem ser logicamente induzidas a
partir da análise de um conjunto de dados sujeitos a uma variação aleatória. A
estatística referencial complementa a descritiva. Enquanto esta resume, explora e
descreve os dados, aquela faz afirmações que vão além da mera descrição dos
dados, como, por exemplo, (I) inferências sobre uma população (caso os dados
242
MACCORMICK, Neil; SUMMERS, Robert. (Org.). Interpreting Precedents: A comparative Study.
Vermont: Ashgate Publishing Company, 1997, p. 338. (Tradução nossa).
243
ALVIM, Arruda. Apontamentos sobre o papel do juiz e dos tribunais na ordem constitucional vigente:
enfoque comparativo entre a jurisprudência e os sistemas de precedentes. In: DE LUCCA, Newton; MEYER-
PFLUG, Samantha Ribeiro; NEVES, Mariana Barboza Baeta. (Coord). Direito Constitucional
Contemporâneo: estudo em homenagem ao professor Michel Temer. São Paulo: Quartier Latin, 2012, p. 683.
244
Ibid., p. 684.
72
diante desse cenário e ações: “[...] com uso da estatística inferencial, tem feito com que os
grandes litigantes forcem acordos que não são benéficos para a parte251”. Assim, as autoras
seguem explicando que:
O resultado de tal estratégia, de acordo com José Edgard Bueno, foi positivo para o
grande litigante: (i) ao receberem tais propostas de acordos, os Juízes empreendem
esforços para que a parte contrária faça o acordo; (ii) quando não era possível a
composição amigável, os juízes tendem a condenar o grande litigante naquele valor
que entendia correto, respaldado no laudo apresentado; (iii) foi diminuído o índice
de condenação do grande litigante; e (iv) nos casos em que o cliente não reconhecia
o pedido e não apresentava com essa postura agressiva de fazer acordo, o juiz
começou a ler a argumentação da empresa, retirando-o da vala comum252.
Com isso, conclui-se que ainda serão necessárias análises com visão mais ampla e a
partir de novas perspectivas por parte dos atores processuais nesses casos, principalmente
pelos julgadores, para que o uso da Jurimetria por operados do Direito não termine por refletir
de forma negativa na jurisprudência. Todavia, a utilização da jurimetria tende a continuar
crescendo e evoluindo na investigação científica dos problemas tratados pelo Poder Judiciário
em conjunto com softwares que extraem as informações dos dados produzidos pelos
processos eletrônicos, possibilitando cada vez mais estudos e verificações quanto às
tendências e posicionamentos de magistrados e Tribunais conforme a natureza de cada caso.
Vale ressaltar que durante muito tempo “o impacto social das decisões judiciais não
era analisado de forma sistemática por meio de processos estatísticos adequados de forma a se
prever como o Poder Judiciário decide e os impactos setoriais de tais decisões na
sociedade253”; por conseguinte, esse cenário inovador é recente e traz o Direito do universo
abstrato para um de mais concretude e ainda possibilita essa profundidade de análise de como
o Poder Judiciário funciona.
Portanto, esse é um território ainda sendo reconhecido e que deve em primeiro lugar
ser devidamente protegido; todas as informações que podem ser geradas a partir dos dados
produzidos, além de dados pessoais e dos mais diversos litigantes, tratam de conhecimento
relacionado a assuntos específicos em litígios, de diversas decisões de magistrados,
colegiados, turmas, etc.
A Jurimetria possibilita que seja descrito como o Poder Judiciário funciona e,
consequentemente, estimula essa metodologia e forma de estudo, tanto de forma mais geral e
ampla, quanto de forma específica. Em vista de ampliação dos horizontes ao se observar esse
251
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 20.
252
Ibid.
253
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 113.
74
Tem-se, então, que conhecer e de fato estudar a Jurimetria e seus métodos, que vêm se
tornando de caráter essencial para todos os operadores do Direito “de modo que, no mínimo,
consiga entender o novo cenário que se forma255”. Igualmente, não é possível desconsiderar a
relevância da ética além da segurança de todo esse mecanismo envolvendo a tecnologia e o
mundo jurídico e, em especial, quanto às ferramentas utilizadas por Tribunais para auxiliar na
tomada de decisão.
Conforme o próprio CNJ pontua, “a Inteligência Artificial aplicada nos processos de
tomada de decisão deve atender a critérios éticos de transparência, previsibilidade,
possibilidade de auditoria e garantia de imparcialidade e justiça substancial256” — grifo nosso.
O panorama envolvendo Direito, tecnologia, Jurimetria e Inteligência Artificial se
mostra, então, um panorama complexo, em constante movimento e desenvolvimento,
podendo colocar-se a serviço da uniformização jurisprudencial no país, e que se evidencia a
necessidade de estudo quanto à regulamentação da gestão de todos esses componentes
envolvendo o tratamento de dados, por parte do Poder Judiciário, bem como quanto aos
limites éticos da jurimetria e a influência do comportamento judicial para suas análises,
conforme se tratará na última seção deste trabalho a seguir.
254
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 11.
255
Ibid., p. 21.
256
CNJ, 2020a, op. cit., online. (Grifo nosso).
75
257
DEZEM, 2018, op. cit., p. 951.
258
ALMEIDA, 2019, op. cit.
259
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 11.
260
Ibid.
76
sistemas eletrônicos pelos órgãos do Poder Judiciário, mas que são insuficientes para atender
as necessidades dos usuários261”.
Sob essa perspectiva evidencia-se que se fará necessário ao Poder Judiciário “um
modelo de sistema jurídico que selecione em suas estruturas somente aquilo que for relevante
para suas operações internas262”. Mas para isso ocorrer, uma gestão adequada deverá ser
constituída e regulamentada, buscando abranger amplamente a coleta, armazenamento,
tratamento e proteção dos dados judiciais, desde a sua origem no sistema do Tribunal até o
seu envio ao Datajud e ao banco estatístico do CNJ.
Corroborando com tal reflexão e necessidade, deve ser novamente mencionada a
ausência de padronização dos sistemas utilizados pelos tribunais brasileiros, nos quais
tramitam os seus processos eletrônicos, visto que “embora 4/5 dos processos novos tramitem
em formato eletrônico, não há padronização no formato dos sistemas263”. Portanto:
261
WATANABE; SOUSA, 2019, op. cit., n.p.
262
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 113.
263
OLIVEIRA, Fabiana Luci de; CUNHA, Luciana Gross. Os indicadores sobre o Judiciário brasileiro:
limitações, desafios e o uso da tecnologia. Rev. Direito GV, São Paulo, v. 16, n. 1, e1948, 2020, p. 13.
264
Ibid., p. 12. (Grifo nosso).
265
Ibid., p. 14-15.
77
266
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 46 de 18 de dezembro de 2007. Cria as Tabelas
Processuais Unificadas do Poder Judiciário e dá outras providências. Brasília, DF: CNJ, 2007, online.
267
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 15.
268
Ibid., p. 16.
269
Ibid.
270
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
271
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 06.
78
demandas e acesso à Justiça, ainda não obtiveram significativo progresso após o início dessa
evolução tecnológica.
Isto também ocorre porque os dados gerados e a informação que contêm ainda não
vêm sendo utilizados da melhor forma a se possibilitar a criação de atuações e políticas de
gestão eficazes diante de todos esses desafios que surgem dessa interação recente do Direito
com a tecnologia.
Portanto, ante o que fora exposto até aqui, o que se vislumbra é a necessidade de
regulamentação específica e efetiva aplicável à prática jurídica relativa aos dados nesse novo
cenário de processos judiciais eletrônicos, dados judiciais e comportamento judicial na busca
de uma Justiça tecnológica acessível e eficaz perante a sociedade da comunicação digital, pois
“uma prática jurídica cada vez mais mediada por tecnologia implica também em maior
reflexão sobre ela no âmbito acadêmico272”.
272
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
273
BRASIL. Emenda Constitucional nº 45 de 30 de dezembro de 2004. Altera dispositivos dos Arts. 5º, 36,
52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da
Constituição Federal, e acrescenta os Arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Brasília, DF,
2004.
274
BARBOSA, Cassio Modenesi; MENEZES, Daniel Francisco Nagao. Jurimetria e Geranciamento Cartorial.
Revista de Política Judiciária, Gestão e Administração da Justiça, Brasília, v. 2, n. 1, p. 280-295, 2016, p.
281.
79
Além disso, sob o ponto de vista arquivístico, com a implantação dos processos
eletrônicos e seu crescimento devido intensa litigiosidade e certa permanência da morosidade
em alguns casos, se deu a geração de “massas documentais acumuladas (MDA) digitais cada
vez mais complexas e incompreensíveis277”. A MDA em meio digital define o agrupamento
de documentos desmedido “que foi constituído sem intervenções arquivística como a
classificação, a descrição e a avaliação278”.
Ou seja, apesar do CNJ ter instituído tabelas para padronizar algumas classificações,
cada Tribunal ainda age de forma própria para classificar assuntos, tipos e movimentações
processuais, gerando uma massa de dados não padronizados que se tornam difíceis de serem
275
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 03-04. (Grifo nosso).
276
LIMA, Renato Sérgio de. A produção da opacidade: estatísticas criminais e segurança pública no Brasil.
Novos estud. - CEBRAP, São Paulo, n. 80, p. 65-69, mar. 2008, p. 69.
277
WATANABE; SOUSA, 2019, op. cit., n.p.
278
WATANABE; SOUSA, 2019, op. cit., n.p.
80
analisados estatisticamente. Soma-se a grande produção de dados com o fato de que eles ainda
não são padronizados em sua classificação, ainda que se trate do mesmo tipo, assunto ou
andamento processual, porém denominados de formas distintas, dificultando a gestão dos
mesmos.
À vista da produção e má classificação dos dados dos processos judiciais eletrônicos,
vislumbra-se o impacto no desenvolvimento da própria Jurimetria e da sua utilidade para o
Poder Judiciário brasileiro, com isso “o distanciamento da utilização de padrões de
documentos afasta o Modelo CNJ dos modelos de documentos indicados pela Engenharia de
Documentos como importantes formas de servir como peças fundamentais na padronização
dos processos de negócio279”. Desse modo, fazer uso de modelos padronizados se mostra
como medida essencial para se enfrentar a crescente massa de dados dos processos
eletrônicos; “por meio do recurso às espécies e tipos documentais e representaria um
importante avanço para a capacidade do Modelo CNJ em representar informações mais
complexas280”.
Ademais, para Sebastião Tavares Pereira, os sistemas eletrônicos atuais, nos quais
tramitam os processos judiciais, tratam as suas peças como as que eram no papel, de
processos físicos, ou seja, ainda só é possível extrair e interpretar as informações que elas
trazem “de forma visual”, ao invés de dados já devidamente estruturados; assim, resta
impossibilitada, por exemplo, a atividade de extrair e entregar a devida informação para
embasar uma decisão judicial281.
A questão preocupante é como a ciência jurídica vai se comportar para regulamentar
esses dados, desde problemas iniciais, como sua classificação, até o seu tratamento,
armazenamento e segurança para uma devida e eficiente utilização. O autor Paulo Justiniano
Ribeiro Júnior, em palestra do CNJ em 2012 sobre “Justiça em Números”, ressaltara que
“vivemos num mundo de dados” e que a abertura dos mesmos foi à direção tomada para se
seguir. Além disso, já destaca importantes questionamentos como o que se fazer com as
informações obtidas desses dados, que às vezes ainda são complexas para se compreender282.
O doutrinador Ribeiro Junior apontara também que “não basta que saibamos ver os
resultados das estatísticas. É preciso também entender o que está por trás desses números,
279
WATANABE; SOUSA, 2019, op. cit., n.p.
280
Ibid.
281
PEREIRA, Sebastião Tavares. Processo eletrônico, máxima automação, extraoperabilidade, imaginalização
mínima e máximo apoio ao juiz: ciberprocesso. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3275, 19 jun. 2012.
282
ASSUNÇÃO, Luciana. Sigilo de informações a caminho da extinção. Agência CNJ de Notícias, 01 nov.
2012.
81
como eles foram gerados283”; e evidencia que várias revistas científicas começaram a
disponibilizar como se deu o estudo estatístico com dados que coletara, demonstrando ao final
como chegaram aos seus resultados.
Contudo, apesar do objetivo do relatório “Justiça em Números” ser de grande
importância para obter uma visão geral da atuação do judiciário, a eficiência do mesmo ainda
é mensurada com foco maior apenas sobre encerramentos de processos versus processos
pendentes de julgamento. Reflete-se que, num cenário de tratamento de dados eletrônicos
judiciais devidamente administrados e com a política de dados abertos, o potencial para se
medir aspectos que influenciam na eficiência e efetividade do Poder Judiciário e de seus
órgãos, poderia ser muito maior.
A Portaria nº 209 de 19 de dezembro de 2019 instituiu a política interna de dados
abertos do Conselho Nacional de Justiça e define que os dados abertos sejam formatados para
serem acessíveis ao público em meio eletrônico para utilização, consumo ou cruzamento:
Art. 2º. A política interna de dados abertos do Conselho Nacional de Justiça possui
os seguintes objetivos:
[...]
III – fomentar o controle social e o desenvolvimento de novas tecnologias destinadas
à construção de um ambiente de gestão pública participativa e democrática;
VI – promover o compartilhamento de soluções de tecnologia da informação no
CNJ, de maneira a evitar duplicidade de ações e o desperdício de recursos na
disseminação de dados e informações; e
[...]
Art. 3º Para os fins desta Portaria, entende-se por:
[...]
V – dados abertos: dados acessíveis ao público, representados em meio digital,
estruturados em formato aberto, processáveis por máquina, referenciados na
internet e disponibilizados sob licença aberta que permita sua livre utilização,
consumo ou cruzamento, limitando-se a creditar a autoria ou a fonte;
VI – formato aberto: formato de arquivo não proprietário, cuja especificação esteja
documentada publicamente e seja de livre conhecimento e implementação, livre de
patentes ou qualquer outra restrição legal quanto à sua utilização;
[...]
XVII – Governança: sistema pelo qual as organizações judiciárias são dirigidas,
monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre os seus diversos
patrocinadores, como a sociedade, conselho de administração (magistrados),
diretoria e órgãos de fiscalização e controle284.
283
ASSUNÇÃO, 2012, op. cit.
284
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Portaria nº 209 de 19 de dezembro de 2019. Institui a política interna
de dados abertos do Conselho Nacional de Justiça. Brasília, DF: CNJ, 2019, online. (Grifo nosso).
82
Separated Values (CSV) ou valores separados por vírgula, para armazenamento de dados
tabulares em texto285.
Na produção de estatísticas judiciais a orientação é a adoção do padrão de dados
abertos. O Open Data Handbook (manual de dados abertos, em tradução livre):
285
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). CNJ em Números. 2020e.
286
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 05. (Grifo nosso).
83
287
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 06.
288
Ibid., p. 13.
289
Ibid., p. 17.
290
Ibid., p. 14. (Grifo nosso).
84
Segundo José Joaquim Gomes Canotilho, os “princípios são normas que exigem a
realização de algo, da melhor forma possível, de acordo com as possibilidades fácticas e
jurídicas”. E ainda ressalta que eles “não proíbem, permitem ou exigem algo em termos de
‘tudo ou nada’; impõem a optimização de um direito ou de um bem jurídico, tendo em conta a
‘reserva do possível’, fáctica ou jurídica292”.
Os princípios, então, evidentemente auxiliam o ordenamento na harmonização do seu
sistema de normas e decisões diante das complexidades presentes no mundo fático e jurídico.
Os princípio da eficiência, assim como o da contraposição entre publicidade e privacidade,
protagonizam essa discussão.
A partir da eficiência, por exemplo, é imposto “ao agente público um modo de atuar
que produza resultados favoráveis à consecução dos fins que cabem ao Estado alcançar293”.
Contudo, tal atuação deve sempre ser pautada numa reunião de harmonia com os outros
princípios previstos no Art. 37 da Constituição de 1988 (incluído pela Emenda Constitucional
291
MELLO, Celso Antônio Bandeira. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1981, p. 230.
292
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6 ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. p.
1241.
293
MARCO, Cristhian Magnus de; MEDEIROS, Jeison Francisco de. O princípio da eficiência da administração
da Justiça como justificativa para implantação de uma jurisprudência precedentalista no Brasil: a disciplina
judiciária marcada por influência neoliberal. Revista Jurídica Unicuritiba, [s.l.], v. 3, n. 40, p. 358-376, jan.
2015, p. 363.
85
nº 19, em 1998 que alterou o Art. 37)294, os quais também regem a administração — conforme
abordado na primeira seção teórica desse trabalho: a União e seus poderes incluindo o
Judiciário, devem sempre se atentar e atender ao princípio da eficiência.
Esse movimento de maior destaque para a reforma administrativa refletiu uma
evolução do Estado Democrático de Direito ao voltar o olhar para uma administração pública
de maior qualidade:
A aplicação desse princípio dialoga com os seus reflexos nas funções do Poder
Judiciário, uma vez que por ser um poder independente e autônomo, se faz necessário praticar
também uma função administrativa (atípica, não prevista em suas funções), visto que ele
precisa gerir todo o seus sistemas e organização; tal função consequentemente se faz essencial
para a finalidade de conferir maior qualidade a sua função típica, a jurisdicional: “uma
prestação jurisdicional seja elaborada e entregue de forma justa, adéqua e célere296”.
Fundamentados pelo princípio da eficiência, diversos deveres-poderes são impostos ao
Poder Judiciário com o objetivo de que, de forma célere, ocorra a entrega de uma tutela
jurisdicional:
Diante disso, ressalta-se que é equivocado analisar a produtividade dos juízes em sua
função apenas de forma quantitativa, como por exemplo, pelo número de processos julgados,
pois uma coleta de dados de forma segura, de forma a se obter análises também qualitativas
dessa prestação jurisdicional através dos processos julgados, pode ser considerada mais
evoluída quando se pensa em eficiência atualmente.
294
BRASIL. Constituição (1988). op. cit.
295
BERWIG, Aldemir; JALIL, Laís Gasparotto. O princípio constitucional da eficiência na Administração
Pública. Revista Âmbito Jurídico, 31 dez. 2007, online.
296
MARCO; MEDEIROS, op. cit., 2015, p. 364.
297
Ibid., p. 372.
86
Difícil acesso aos seus serviços pelos setores menos favorecidos da população;
Número insuficiente de magistrados e servidores;
Ausência de vocação dos magistrados e servidores;
Falta de instalações físicas adequadas aos seus serviços e ao acesso dos usuários;
Informatização deficiente;
Inexistência de planejamento contínuo;
Inexperiência administrativa dos gestores;
Controle administrativo da carreira dos magistrados e servidores deficientes298.
Felizmente, a maioria dessas deficiências vem se mostrando cada vez mais combatidas
e o desenvolvimento, além da rápida informatização, do Judiciário como um todo também
protagoniza nessa evolução estrutural. Contudo, as dificuldades referentes ao planejamento e
gestão diante dessa informatização ainda se mostram mais evidentes nesse cenário de
inovação e modernização.
Igualmente, nessa reflexão de princípios, convém somar à busca pela eficiência frente
às novas tecnologias e produção de dados no universo jurídico, os elementos principiológicos
da publicidade versus privacidade.
Um dos traços mais singulares do princípio constitucional da publicidade é o direito de
acesso à informação. Um controle e prestação de contas exercido pelos indivíduos da
sociedade se tornam possíveis a partir do momento em que esse direito é reconhecido e
positivado, visto que “não há como vigiar os agentes públicos se não houver transparência e
informação299”.
Numa visão mais ampla e referente aos dados produzidos pelo Poder Judiciário,
justifica-se a necessidade da publicidade elencando os seguintes pontos:
298
COSTA, Raimundo Carlyle de Oliveira. A “reinvenção” do judiciário. São Paulo: Scortecci, 2014, p. 39-40.
299
SALGADO, Eneida Desiree. Princípio da publicidade. In: CAMPILONGO, Celso Fernandes; GONZAGA,
Alvaro de Azevedo; FREIRE, André Luiz (Coords.). Enciclopédia jurídica da PUC-SP. São Paulo: PUC-SP,
2017, online.
300
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 04.
87
301
BRASIL, 2004, op. cit., online.
302
SANTOS, Eduardo Rodrigues dos. Princípios processuais constitucionais. Salvador: JusPodivm, 2016. p.
161.
88
303
CAMARGO, 2019, op. cit., p. 55.
304
Ibid., p. 56.
305
TOALDO, Adriane Medianeira; RODRIGUES, Osmar. A publicidade dos atos processuais: uma questão
principiológica. Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 104, 01 set. 2012.
306
CAMARGO, 2019, op. cit., p. 58.
89
publicidade possibilita uma participação efetiva na fiscalização por parte da sociedade, das
decisões judiciais.
Nesse caso, a publicidade trata “de verdadeiro instrumento de eficácia da garantia da
motivação das decisões judiciais307” e, assim, se configura como a maneira dessas decisões
serem devidamente controladas, contribuindo na conquista de legitimidade na atuação do
Poder Judiciário perante a sociedade a que pertence308; uma vez que o princípio da
publicidade “existe para vedar o obstáculo ao conhecimento. Todos têm o direito aos atos do
processo, exatamente como meio de se dar transparência à atividade jurisdicional309”.
E quanto às possíveis exceções de aplicação desse princípio quando se falar de
informações processuais, há de se evidenciar que o previsto no inciso LX do artigo 5º da
CF/88, não elimina a disposição de que os atos processuais devam ser públicos, mas apenas
estipula a possibilidade de alguma restrição quanto aos mesmos em casos específicos. A
saber:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem310.
Sendo assim e diante de sua relevância, como asseveram Antonio Carlos de Araújo
Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, “toda precaução deve ser
tomada contra a exasperação do princípio da publicidade311”.
Partindo para a perspectiva da informatização dos processos judiciais eletrônicos, bem
como as tecnologias aplicadas ao universo jurídico, deve ser destacado o problema de que
ainda não são todos os Tribunais brasileiros que disponibilizam adequadamente os dados dos
processos, isto é, estão em situação na qual não estão públicos e, com isso, sequer entram nos
cálculos e indicadores do Justiça em Números do CNJ, por exemplo312.
Além disso, o Poder Judiciário “não dispõe de application programing interface (API)
para facilitar o acesso do público às informações processuais, mantendo e privilegiando o
307
TOALDO; RODRIGUES, 2012, op. cit., n.p.
308
CAMARGO, 2019, op. cit., p. 59.
309
TOALDO; RODRIGUES, 2012, op. cit., n.p.
310
BRASIL. Constituição (1988). op. cit., online.
311
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
Geral do Processo. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 76-77.
312
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 13.
90
acesso individual de cada processo por advogados, partes, magistrados ou pesquisadores 313”.
E, conforme já abordado anteriormente neste trabalho, o mesmo vale para a realidade prática
dos sistemas atuais e seus modos de login e acesso.
A informatização dos processos judiciais e todos os atos que o envolvem avançaram e
continuam avançando rapidamente, gerando milhões de dados por dia, porém, ainda persistem
a ausência de unificação de sistemas, bem como a não publicização de dados processuais que
não estão em segredo de justiça — “a expressão segredo de justiça é infeliz, porquanto não se
trata de segredo, visto que o julgamento não ocorre a portas fechadas 314” — em sistemas de
vários Tribunais, tornando muitas vezes inócua a opção consulta pública online.
Somado a isso, a questão do princípio da privacidade também ganha espaço, visto que
os processos judiciais eletrônicos carregam dados e documentos pessoais das partes, os quais
carecem da devida proteção na coleta e utilização em estudos jurimétricos sob pena de
violação ao princípio, bem como à vida privada dos indivíduos, uma vez que “nos termos do
artigo 5º, inciso X, da Constituição da República Federativa do Brasil, a intimidade e a vida
privada são amparadas pelo direito. A violação será reparada seja material ou moralmente,
após justo e regular processo315”. Além disso, a Lei nº 13.709/18, Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD), já em vigor no Brasil316, estabelece regras para a coleta, armazenamento,
tratamento e compartilhamento de dados pessoais, e o Poder Judiciário também deverá se
adaptar para atendê-la.
Então, assim como é imposta uma reestruturação de mindset por parte das empresas
privadas para atender à LGPD, algo semelhante deverá ser realizado dentro do Poder
Judiciário, o qual armazena e se utiliza de dados de quantidade exponencial e de extrema
relevância. O desafio então será o de balancear a publicização de dados em atendimento ao
princípio da publicidade para os atos processuais com a segurança e privacidade de todos os
dados e informações que se geram a partir dos processos judiciais e todos os seus atores
processuais, uma vez que o CNJ mantém a política de dados abertos (Portaria nº 209), mas
atualmente buscam adequar as questões que trata à LGPD a partir do Comitê da Resolução
nº334. Tal Resolução nº 334, de setembro de 2020, instituiu um Comitê Consultivo de Dados
Abertos e Proteção de Dados no âmbito do Poder Judiciário com o dever de:
313
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 18.
314
TOALDO; RODRIGUES, 2012, op. cit., n.p.
315
TOALDO; RODRIGUES, 2012, op. cit., n.p.
316
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº
12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet). Institui a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Brasília, DF, 2018.
91
Portanto, constata-se que “a publicidade dos atos processuais é fundamental para que a
sociedade possa acompanhar o dia a dia do Poder Judiciário318” e que tal objetivo coincide
com o da Jurimetria, a qual também tem como finalidade possibilitar uma visão de como tem
se dado a atuação de rotina do ordenamento jurídico. Sendo assim, será visto a seguir que esse
desenvolvimento tecnológico e da Jurimetria sob a égide desses princípios também envolvem
questões éticas, as quais merecem análise quanto a possíveis limitações que podem ser
encontradas em meio a esse caminho.
317
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 334, de 21 de setembro de 2020. Institui o Comitê
Consultivo de Dados Abertos e Proteção de Dados no âmbito do Poder Judiciário. Brasília, DF: CNJ, 2020f,
online.
318
MELLO, Marco Aurélio Mendes de Farias. A publicidade das decisões judiciais. Gazeta Mercantil, 03. jul.
2001, online.
319
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 286.
320
NUNES, 2016, op. cit., p. 115.
321
Ibid.
92
322
NUNES, 2016, op. cit., p. 115.
323
Ibid., p. 115-116.
324
Ibid., p. 116.
325
Ibid.
326
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 04.
327
NUNES, 2016, op. cit., p. 116.
93
identificar os casos de ocorrência de prevenção, litispendência e coisa julgada 328”. Com isso,
observa-se que os sistemas já deverão de certa forma indicar possíveis diagnósticos, para
depois serem encaminhados para análise do magistrado329.
Portanto, no atual estágio de desenvolvimento da Jurimetria várias informações
geradas de processos judiciais eletrônicos são analisadas, em especial as relacionadas e
exigidas para integrarem o resultado das metas estabelecidas pelo CNJ330. E, uma das maiores
dificuldades do CNJ nos últimos anos é a constituição de uma base de dados estatísticos
confiável pela qual se possibilite vislumbrar um planejamento de ações voltado ao
aperfeiçoamento e melhorias da prestação jurisdicional pelos Tribunais em todo o país331.
O Justiça em Números anual integra essa busca por melhoria e eficiência pelo Poder
Judiciário ao reunir uma base de dados estatísticos que contêm os dados identificadores dos
processos, as decisões e os processos finalizados, bem como despesas orçamentárias. Ocorre
que o foco é sempre maior na quantidade de processos já baixados, não havendo coleta de
dados e informações voltados para estudos que envolvam o perfil de litigiosidade das partes
nos processos, ou seja:
328
BRASIL, 2006, op. cit. online.
329
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 218.
330
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 289.
331
FREIRE. Tatiane. Em 10 anos, CNJ consolida sua atuação como órgão de controle do Judiciário. Agência
CNJ de Notícias, 14. jun. 2015.
332
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 16.
333
OLIVEIRA, 2016, op. cit., p. 77.
94
Todavia, esses aspectos poderiam perfazer como foco essencial dessa busca por
entender a prática diária do Direito em sua realidade, de forma empírica, uma vez que:
Dessa forma, analisar razões de demandas que chegam ao Judiciário e os padrões das
decisões é essencial para se compreender como a ordem jurídica tem funcionado e se os
resultados de fato estão a combater o problema ou refletindo de forma eficaz no meio social:
334
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 46.
335
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 289.
336
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 18.
95
Gerais se destacou quanto ao tempo gasto em vista de diversos erros apresentados nas
consultas, além disso, as autoras observaram várias classificações de sentenças equivocadas.
O estudo e coleta de informações nesse Tribunal demandaram mais tempo com a verificação
detalhada para conseguirem avaliar se enquadravam ao tema específico que escolheram para
aquela pesquisa337.
Ou seja, nos Tribunais os sistemas ainda variam muito em relação às devidas
classificações e informações quanto a cada movimentação e dados dos processos eletrônicos,
evidenciando mais uma vez a ausência de mínima de padronização nesses dados
identificadores e seu consequente impacto negativo para o desenvolvimento da jurimetria:
[...] alguns juízes colocavam uma espécie de cabeçalho para facilitar a identificação
do nome das partes, do número do processo, outros não só não o faziam, mas sequer
datavam o documento. Deste modo, para estruturar os dados era necessário o retorno
ao site do Tribunal e a pesquisa individual do processo para completar informações
como numeração única (usada como chave da tabela), nome do magistrado e até o
nome das partes. Pelo demonstrado, nota-se a dificuldade de fazer estudos empíricos
de modo manual338.
337
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 416.
338
Ibid.
339
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 219.
340
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 16.
96
segurança dos mesmos, além da segurança jurídica, mas que ao mesmo tempo o que deve se
manter como público seja de fato acessível em meio eletrônico, seja qual sistema o processo
esteja cadastrado, à qualquer pessoa e entidade.
Em uma avaliação de países latinos (entre eles: Brasil, Costa Rica, Chile, Argentina,
Peru, Uruguai e México) fora analisado a disponibilidade de dados sobre decisões judiciais,
assim como outros dados como andamento processual, estrutura administrava etc., para
conferir se o aspecto dos dados abertos é bem atendido nos ordenamentos jurídicos desses
países. Entre esses, o país com melhor resultado foi o Brasil341.
Contudo, apesar da qualidade e disponibilidade dos dados hoje serem melhores que já
foram anteriormente, na prática continuam se restringindo a permitir somente a avaliação no
quesito da “produtividade global do Judiciário, de tribunais e juízes, estando ainda distantes
do que é necessário para possibilitar a elaboração e a avaliação de políticas públicas de
melhoria da prestação dos serviços de Justiça342”.
Portanto, sabendo que essa tendência de tecnologias e acesso de dados, inclusive pela
utilização cada vez maior da Jurimetria, continuará evoluindo, um novo espaço para o
aperfeiçoamento institucional surge e deve ser observado. Convém destacar que softwares de
Inteligência Artificial, bem como estudos com a metodologia da Jurimetria, precisam de
acesso aos dados nos processos eletrônicos conforme o enfoque de sua pesquisa seja o perfil
dos litigantes ou as decisões judiciais e seus julgadores. Nesse sentido, discutir os limites
éticos no uso dessas ferramentas:
[...] envolve desde a definição básica de imperativo categórico para avaliação das
nossas ações — de acordo com a possibilidade de atingir e sentir de outrem — até
um valor definitivo que se insere nas práticas profissionais e na organização política
do Estado. Isso com a certeza de que seu conteúdo é perene e deve alcançar a todos,
concretizando-se em guia de conformidade para as ações de diversificados players,
nos negócios, na política, nas atividades profissionais e na vida pessoal, enquanto
instrumento para o aperfeiçoamento institucional e aprofundamento democrático 343.
O documento da União Europeia de 2018, Draft Ethics guidelines for trustworthy AI,
determina alguns padrões e reivindica o respeito aos direitos fundamentais junto ao objetivo
de demarcar discussões sobre os limites éticos dessas aplicações tecnológicas. O objetivo
ético do documento se traduz em atender padrões predeterminados, os quais deve se destacar
que ainda precisam ser definidos e determinados normativamente, bem como significam
341
OLIVEIRA; CUNHA, 2020. p. 07.
342
Ibid., p. 10.
343
BELCHIOR, Wilson Sales. Os limites éticos do uso da tecnologia nas áreas do Direito. Revista Consultor
Jurídico, 21 abr. 2019, online.
97
também manter a consonância com a justiça e explicabilidade. Além disso, todos esses
instrumentos tecnológicos devem sempre “respeitar a privacidade, transparência, segurança e
governança dos dados, não discriminação, rastreabilidade, auditabilidade e responsabilização,
entre outros aspectos344”.
Portanto, observa-se que a Jurimetria, bem como as ferramentas que se utilizarem para
coleta e acesso aos dados resguardados pelo Poder Judiciário ainda não possuem um
regulamento para a administração pelos Tribunais. E não se pode ignorar que há muitos dados
de caráter sigiloso ou estratégico que despertam o interesse de diversas entidades e
instituições externas ao Judiciário e que, apesar da vigência da LGPD, não há específico
regulamento quanto ao resguardo dos dados produzidos em meio eletrônico judicial, os quais
identificam as partes envolvidas.
A Jurimetria não se resume a computadores e Inteligência Artificial decifrando o
Direito, “afirmar que a jurimetria é uma disciplina que utiliza computadores para
compreender o Direito é o mesmo que definir engenharia civil como o uso de calculadoras
para a construção de edifícios345”; a Jurimetria é muito mais abrangente e relevante para uma
futura prestação jurisdicional mais eficiente a partir dos resultados dos seus estudos, mas para
continuar se desenvolvendo de forma orgânica e efetiva se faz necessário um ambiente de
dados sistematizado e padronizado, com a devida segurança dos dados identificadores dos
atores processuais e possivelmente estratégicos que se encontram inseridos em milhares de
demandas judiciais.
Além da sociedade que passa rapidamente por essa constante mutação através da
tecnologia e tem mudado de comportamento por isso, o impacto da tecnologia no Direito
reflete também no comportamento dos julgadores e Tribunais. A implantação dos processos
eletrônicos impactou diretamente nas atividades práticas profissionais do advogado, como o
simples atos de consultar processos e peticionar os mesmos, do próprio escritório, sem mais
ter que se deslocar aos fóruns.
344
BELCHIOR, 2019, op. cit., online.
345
NUNES, 2016, op. cit., p. 116.
98
Como o trabalho dos magistrados não se resume apenas a decisões e sentenças, pois
inclui também atendimentos a advogados, realização audiências, gestão do gabinete, da Vara
etc., essas inovações tecnológicas junto ao processo eletrônico não afastaram o dever de
comparecimento dos magistrados aos fóruns, sendo a possibilidade de acesso remoto dos
processos um auxílio adicional às suas atividades:
346
DEZEM, 2018, op. cit., p. 959.
347
Ibid.
348
NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 768.
349
DEZEM, 2018, op. cit., p. 960.
99
350
DEZEM, 2018, op. cit., p. 951.
351
GONZALEZ, 2019, op. cit., p. 46.
352
DEZEM, 2018, op. cit., p. 965.
353
NUNES, 2016. op. cit., p. 116.
354
Ibid.
100
355
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 16.
356
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 16.
357
ASSOCIATION HENRI CAPITANT, 2014, op. cit., p. 08. (Tradução nossa). (Grifo nosso).
101
Esse novo tipo de juiz possuirá cada vez mais enfoque na gestão do seu pessoal, bem
como nas demandas sob sua responsabilidade e o trabalho sobre elas. Havendo um sistema
seguro e padronizado de dados somados a essa nova atuação por parte dos julgadores, o
desenvolvimento da Jurimetria como instrumento de efetividade da prestação pelo Poder
Judiciário daria um grande salto em direção a esse objetivo.
Ademais, conforme já tratado neste trabalho, os índices de produtividade dos tribunais
são embasados no número de processos julgados e baixados, não considerando ainda outros
pontos específicos como o próprio julgamento e seu teor, se estão em consonância com os
precedentes ou provocando efetividade no cotidiano da própria coletividade. Então, seria por
esse caminho a forma adequada de se buscar aferir a produtividade e eficiência dos órgãos
jurisdicionais.
Faz-se importante destacar que essas reformas e metas que visam atacar a morosidade
sistêmica podem, de fato, apresentar resultados mais rápidos na Justiça, mas não
necessariamente os mais apropriados, isto é, não uma justiça cidadã:
358
MARCO; MEDEIROS, 2015, op. cit., p. 372-373.
359
DEZEM, 2018, op. cit., p. 967.
360
WATANABE, 2019, op. cit., n.p.
102
361
ASSOCIATION HENRI CAPITANT, 2014, op. cit., p. 17. (Tradução nossa).
362
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 345, de 09 de outubro de 2020. Dispõe sobre o “Juízo
100% Digital” e dá outras providências. Brasília, DF: CNJ, 2020a.
363
RODRIGUES, Alex. Plenário aprova proposta para varas atuarem de modo 100% digital. Agência CNJ de
Notícias, 06 out. 2020, online.
364
BRASIL. Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). Brasília, DF, 1994.
103
processuais, ainda mais relevantes após esse novo modelo de prestação jurisdicional em
procedimento 100% digital.
Partindo para o cenário no qual a Inteligência Artificial auxilia junto à Jurimetria
estatística nas tomadas de decisões nos processos judiciais, deve-se em primeiro lugar
compreender que a estatística buscará demonstrar, através da busca e análise de padrões,
apreender o modo como aquelas decisões objeto de seu estudo, e quando cada tipo de uma se
aplica. Portanto num primeiro momento a Jurimetria não explica por que aconteceu, mas sim
apura o que aconteceu.
A estatística associada à construção de decisões judiciais fora, inicialmente, duramente
criticada pela doutrina a partir do argumento de que “[...] o trabalho do juiz, ao decidir a
causa, não se assemelha ao do matemático quando resolve suas equações, já que o julgador
deve adentrar em determinadas circunstâncias presentes no caso in concreto, que são
invisíveis aos olhos das fórmulas estatísticas365”.
É certo que no momento de se proferir a sua decisão em determinado caso, o juiz deve
levar em conta diversos fatores, sendo um deles o de considerar que o caso em questão não é
puramente individual, ainda que tenha uma só pessoa como autora, mas sim que sua decisão
nesse caso e em todos os outros terá impacto para a sociedade. Além de partir sempre da
premissa de que julgar não apenas realiza a subsunção do fato à norma366.
De fato, é difícil conferir a tarefa de análise de provas e de julgamento a uma máquina,
contudo essas máquinas têm capacidade de desenvolver importantes funções auxiliares
daquelas, conferindo utilidade e praticidade em seleção e fornecimento de dados aos próprios
julgadores, os quais os auxiliariam na sua condução até a sua decisão final, como por
exemplo: classificação de provas, comparação de provas verificando possíveis divergências,
demonstração de legislações possivelmente aplicáveis ao caso em análise etc.367.
Portanto, apesar de não haver como essas ferramentas tecnológicas sobreporem-se à
experiência humana e profissional dos julgadores, há como elas potencializarem essa
experiência, contribuindo com os julgadores nessa otimização. Nesse sentido, vale destacar
que “dificilmente haverá a substituição total dos seres humanos na atividade de julgar, ao
menos enquanto os alicerces de convivência da humanidade forem valorativos e não apenas
normativos368”.
365
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 119.
366
BARBOZA, 2019, op. cit., p. 10.
367
TIMÓTEO, 2013, op. cit., p. 218.
368
DEZEM, 2018, op. cit., p. 967.
104
Como Marcelo Guedes Nunes bem definiu em sua obra, a partir “de uma perspectiva
metodológica, a Jurimetria usa a estatística para restabelecer um elemento de causalidade e
investigar os múltiplos fatores (sociais, econômicos, geográficos, éticos etc.) que influenciam
no comportamento dos agentes jurídicos369”.
Dessa forma, pode ser possível, através da metodologia jurimétrica, estudar como um
juiz ou tribunal tem julgado algumas demandas de temas específicos, identificando qual o
entendimento sobre aquele ou ainda se há divergências entre algumas decisões acerca da
mesma matéria, por exemplo. Além disso, a partir do uso da Jurimetria, é possível “prever as
teses aceitas com maior frequência em determinados tribunais, ou mesmo, o perfil decisório”
de uma determinada Vara ou turma julgadora370.
Assim, é possível demonstrar, inclusive para o próprio magistrado, como ele decide
nos processos judiciais eletrônicos, fazendo uso ou não já de softwares de Inteligência
Artificial em demandas repetitivas. E sobre esse ponto, pode ser que surja a indagação: quem
decidirá após o juiz se utilizar desse panorama demonstrado nas próximas decisões, ainda será
ele ou já é o sistema que utilizara? E aqui convém reiterar que, a deliberação, revisão e análise
dos valores envolvidos continuarão a cargo do magistrado, sendo os instrumentos
tecnológicos de estatística e automatização apenas um auxílio e potencializador desse
processo.
Esse cenário favorecerá a evolução do perfil do juiz para aquela forma anteriormente
citada, de empreendedor e de gestor, com o tempo otimizado; provocando também essa
mudança de comportamento frente à busca de prestações jurisdicionais pela sua Vara ou
turma, cada vez mais eficientes ao tomarem melhor controle e ciência do funcionamento de
sua rotina e equipe.
Diante disso, através da Jurimetria ainda será possível analisar e avaliar o desempenho
do Judiciário; como já abordado, isso ocorre ainda focado apenas no aspecto quantitativo,
avaliando celeridade e eficiência pelos processos julgados. Todavia, essa avaliação envolveria
diversas outras variáveis para obter uma percepção mais próxima da realidade quanto à
prestação jurisdicional analisada, tanto de variáveis de aspectos internos, quanto ao devido
processo legal nos processos eletrônicos, rompendo com a antiga linearidade na tramitação
dos mesmos até como se chegou à decisão final e quanto de variáveis externas em relação à
efetividade da prestação:
369
NUNES, 2016, op. cit., p. 116.
370
ALMEIDA, 2019, op. cit., p. 119.
105
Les données d'identité des magistrats et des membres du greffe ne peuvent faire
l'objet d'une réutilisation ayant pour objet ou pour effet d'évaluer, d'analyser, de
comparer ou de prédire leurs pratiques professionnelles réelles ou supposées. La
violation de cette interdiction est punie des peines prévues aux articles 226-18,226-
24 et 226-31 du code pénal, sans préjudice des mesures et sanctions prévues par la
loi 78-17 du 6 janvier 1978 relative à l'informatique, aux fichiers et aux libertés.
371
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 18.
372
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 288.
373
NUNES; DUARTE, 2020, op. cit., p. 425.
374
SILVEIRA, Pedro. Jurimetria - É proibido medir?. LinkedIn, 12 jun. 2019, online.
106
Os dados de identidade dos magistrados e dos membros do registro não podem ser
objeto de uma reutilização tendo como objeto ou efeito a avaliação, análise,
comparação ou predição de suas práticas profissionais reais ou supostas. A violação
desta proibição é punida com as penas previstas nos artigos 226-18, 226-24 e 226-31
do Código Penal, sem o prejuízo de medidas e sanções previstas pela Lei 78-17 de 6
de janeiro de 1978 relativa à informática, aos arquivos e as liberdades375.
Conforme apurado de forma bastante coerente por Dierle Nunes e Fernanda Amaral
Duarte, essa modificação legislativa na França possui ares de se traduzir numa certa “reação
protetiva à estatística inferencial [...]. Contudo, a opção legislativa parece contrariar a
primeira parte do mesmo artigo que afirma que os ‘Julgamentos são públicos. Eles
mencionam os nomes dos juízes que os retornaram’376”.
O que se evidenciara também foi sobre a motivação dessa iniciativa dos magistrados
relacionada ao incômodo dos mesmos frente à utilização da Inteligência Artificial que usa de
dados públicos processuais justamente com intuito de analisar as probabilidades dos
julgamentos quanto a determinadas matérias, além de realizar comparações de entendimento
quanto à matéria com os demais magistrados, Varas ou Tribunais:
jurisdicional, sendo isso atividade pública, “parece medida de quem tem algo a esconder 380”,
ou seja, a questão é essencialmente ética — ainda mais pelo fato de que um estudo jurimétrico
é capaz de constatar desajustes na jurisprudência em desacordo com o sistema de precedentes
no caso do Brasil e seu Código de Processo Civil, por exemplo.
Vale lembrar a valiosa lição trazida por Nunes: “o jurista do futuro terá o domínio da
estatística e será capaz de aproximar o estudo do Direito de uma verdadeira ‘ciência’ 381”. Em
contrapartida, o que se conclui é que a o Poder Judiciário francês agiu e se posicionou na
contramão da evolução tecnológica no campo da Jurimetria, que serviria para potencializar e
auxiliar tanto os operadores do Direito quanto os próprios magistrados na sua prestação
jurisdicional à sociedade. Caso anomalias ou disfunções fossem detectados em análises
jurimétricas, seria preferível averiguar e buscar soluções a fim de conferir maior segurança
jurídica e eficiência à coletividade de forma transparente do que restringir a possibilidade
dessas análises se realizarem e manterem-se num ordenamento jurídico sem o devido
progresso nesse sentido. Como já tratado neste trabalho, a coleta segura de dados e sua
utilização pela estatística é a chave para o desenvolvimento das novas tecnologias e estudos
direcionados à efetividade das ações e decisões do Poder Judiciário.
Assim, diante do ocorrido isolado na França, se evidencia a relevância do tema e a
existência de instrumento normativo com capacidade efetiva que disponha previamente sobre
a administração, proteção e publicidade dos dados produzidos pelo Poder Judiciário,
conferindo assim maior segurança e precaução quanto a ações similares a da França, de
anonimização de dados de interesse público.
380
RODAS, 2019, op. cit., n.p.
381
NUNES, 2016, op. cit., p. 116.
108
Decisões judiciais são de caráter público e se direcionam não só para as partes, mas
para toda a sociedade submetida ao seu ordenamento jurídico. A Jurimetria no caso serve para
otimizar e visualizar de forma mais prática e célere esse panorama de dados — frisando:
dados esses de interesse público.
Igualmente, a tecnologia aplicada ao direito e, mais especificamente, à tramitação de
processos, deve ser empregada de forma democrática não só no acesso pelos indivíduos,
empresas e entes do poder público como também de forma a vedar qualquer receio quanto às
análises preditivas, como se deu na França. Até por uma norma que se apresentasse restritiva
às análises e avaliações de decisões judiciais, iria de encontro ao princípio constitucional da
publicidade: “Uma legislação que limitasse a ‘avaliação’, a ‘comparação’ ou mesmo a
‘previsão’ de decisões judiciais iria atropelar violentamente o princípio constitucional da
publicidade, previsto no Artigo 37 da Constituição Federal382”.
A anonimização de dados é um processo que ocorre quando algum dado relativos a
alguém passa por um processo de desvinculação a essa pessoa, e só se considera efetiva se for
impossibilitado qualquer meio de se reconstituir um caminho para se identificar a pessoa
desses dados. Conforme a própria LGPD em seu Art. 5º, inciso XI, o dado quando
anonimizado “perde a possibilidade de associação, direta ou indireta, a um indivíduo383”.
Tal processo se faz importante para o crescimento do aprendizado das máquinas, de
cidades inteligentes, bem como para a Inteligência Artificial aprimorar a segurança da
informação. Contudo, em recente matéria no jornal The Guardian, um estudo aponta que o
êxito na anonimização de dados com efetiva desvinculação a quem eles pertençam é quase
impossível em vista das diversas ferramentas que existem e que conseguem reverter esses
processos:
“Anonymised” data lies at the core of everything from modern medical research to
personalised recommendations and modern AI techniques. Unfortunately, according
to a paper, successfully anonymising data is practically impossible for any complex
dataset.
382
SILVEIRA, 2019, op. cit., online.
383
BRASIL, 2018, op. cit., online.
384
HERN, Alex. “Anonymised” data can never be totally anonymous, says study. The Guardian, 23 jul. 2019,
online. (Tradução nossa).
109
Isto porque a Justiça não interessa apenas aos operadores do Direito, mas é um
serviço prestado pelo Estado aberto a uma coletividade difusa de destinatários, visto que a
sociedade possui direito de ter ciência de tudo o que acontece na ordem jurídica
brasileira386. A Jurimetria com acesso a uma plataforma de dados segura e de informações
padronizadas possibilitaria mais facilmente esse conhecimento e visão amplificada da rotina
e do funcionamento sobre o Poder Judiciário brasileiro atualmente.
Conforme a Resolução nº 215, de 16 de dezembro de 2015, do CNJ:
§4° Os sítios eletrônicos do Poder Judiciário deverão ser adaptados para que,
obrigatoriamente:
385
MELLO, 2001, op. cit. online. (Grifo nosso).
386
NALINI, 2012, op. cit.
110
Assim, fica determinado que todos os sites da Justiça brasileira deverão de forma
obrigatória permitir acesso à informação buscada de forma objetiva e em linguagem fácil,
deverão também permitir o acesso por sistemas externos em dados abertos; justamente
demonstrando a necessária interoperabilidade entre o sistema a fim de possibilitar e facilitar a
coleta e avaliações de dados dos processos judiciais eletrônicos em todo o Judiciário.
Atualmente já se encontram no mercado, diversos softwares capazes de lerem banco
de dados de decisões, sentenças e acórdãos, facilitando a localização e seleção delas por
tema388. Entretanto, essa coleta ainda não consegue se desenvolver ou ser mais efetiva visto
que ainda há obstáculos e dificuldades quanto a como se dá a organização e coleta de dados
judiciais, uma vez que há variedade de classificações e ausência de padronização por parte
dos tribunais brasileiros, evidenciando assim a necessidade da devida “qualificação das
estatísticas judiciais389”.
Diante do que já fora analisado anteriormente, conclui-se que o risco de se omitir ou
da possibilidade de se anonimizar dados em processos judiciais eletrônicos a partir do
pretexto e fundamento da proteção dos mesmos ou do próprio julgador que apresente receio
quanto a ser avaliado estatisticamente em sua atuação, merece atenção e ações preventivas
relacionadas ao tema, visto que ferem diretamente o dispositivo constitucional. Faz-se
necessário “harmonizar, equilibrar e proceder ao devido sopesamento da premissa da
publicidade, [...] com as excepcionalidades necessárias390” junto à da privacidade e proteção
de dados, de modo a se resguardar direitos com a mesma importância e cerne protetivo.
387
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Resolução nº 215, de 16 de dezembro de 2015. Dispõe, no âmbito do
Poder Judiciário, sobre o acesso à informação e a aplicação da Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011. Brasília,
DF: CNJ, 2015, online.
388
DEZEM, 2018, op. cit.
389
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 11.
390
CAMARGO, 2019, op. cit., p. 56.
111
391
DE LUCCA, 2001, op. cit., p. 70.
392
NALINI, 2012, op. cit., online.
392
DEZEM, 2018, op. cit., p. 951.
393
Ibid.
394
NALINI, 2012, op. cit., online.
112
395
TV-CNJ. Uso da Inteligência Artificial Nos Processos Judiciais - XII Encontro Nacional do Poder Judiciário
(56m03s). Youtube, 13 dez. 2018.
396
Ibid.
397
Ibid.
398
Ibid.
113
399
TV-CNJ, 2018, op. cit.
400
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 291.
401
TV-CNJ, 2018, op. cit.
402
Ibid.
403
BARBOSA; MENEZES, 2016, op. cit., p. 281.
404
ABRÃO, 2011, op. cit., p. 55.
114
accountability405”. E nesse sentido Silveira também aponta que “a jurimetria também pode
servir como um mecanismo de accountability para os membros do Poder Judiciário,
promovendo a transparência e facilitando a prestação de contas daqueles que exercem cargos
públicos406”.
Por enquanto a utilização de tecnologia na ordem jurídica brasileira ainda não atende
quesitos nem de coleta informações que sirvam como ferramenta eficiente para o
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, nem como da gestão dessas atividades; “[...] é
possível afirmar que o uso de tecnologia no Judiciário brasileiro não atende à demanda por
produção de informação sobre a atividade judiciária, tampouco favorece o uso dessa
informação como instrumento de gestão e melhoria da prestação jurisdicional407”.
Além da necessidade de compromisso advindo do Poder Judiciário, convém ressaltar
que em caráter colaborativo nessa busca pela eficiência, por melhorias e aprofundamento do
relacionamento dos operadores do Direito com a tecnologia, cabe também à Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) que fomentem e ofereçam ações auxiliares referentes ao ensino
jurídico com noções de informática e de prática em processos eletrônicos:
[...] a OAB [...] precisa incluir noções de informática e prática eletrônica nos futuros
exames de Ordem. Assim como os Tribunais — e notadamente o CNJ — não podem
descuidar de exigir o preparo dos futuros Magistrados nessa área. [...] Não é
modismo, nem sofisticação. É um reclamo legítimo desta humanidade que,
sequiosa de justiça, está a clamar por eficiência no âmbito do Judiciário 408.
Tais questões são fundamentais na atualidade para garantir que o futuro ou jovem
advogado, bacharel em Direito, ao iniciar sua atuação e se deparar com uma variedade de
sistemas, classificações e ausência de padronização tanto dos sistemas quando dos dados dos
processos judiciais eletrônicos, esteja mais bem preparado, podendo utilizar de ferramentas
como a metodologia jurimétrica.
Como já mencionado anteriormente, a variedade dos sistemas eletrônicos dos
Tribunais se apresenta como um obstáculo:
405
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 07.
406
SILVEIRA, 2019, op. cit., online.
407
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 14.
408
NALINI, 2012, op. cit., online. (Grifo nosso).
115
uma das plataformas dos diferentes tribunais e, muitas vezes, dispor de diferentes
softwares para poder acessar essas plataformas 409.
Além disso, com uma devida capacitação tanto dos magistrados quanto dos servidores
junto à tecnologia da informação na utilização das ferramentas dos processos eletrônicos e no
controle das adequadas classificações de dados e documentos nesses processos, se garantiria a
otimização do tempo daqueles, além de facilitar o processo de coleta e informações de dados
para análises e estudos jurimétricos de um objeto específico411.
Outra importantíssima informação é que o International Consortium For Court
Excellence (ICCE), surgido em 2018, desenvolveu uma metodologia para se avaliar o
desempenho judicial, o qual destaca claramente a atividade de se analisar dados que se
encontrem em uma base regular para fins de eficiência:
Court performance measurement and management (PMM) is the discipline and the
process of monitoring, analyzing, and using organizational performance data on a
regular (ideally in real or near-real time) and continuous basis for the purposes of
improvements in organizational efficiency and effectiveness, in transparency and
accountability, and in public trust and confidence in the courts and the justice
system.
409
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 14.
410
Ibid, p. 17.
411
DEZEM, 2018, op. cit., p. 962.
116
Desse modo, a gestão voltada aos dados dos processos eletrônicos deve ter como
objetivo tornar essa base de dados completa e regular para que se possibilite o gerenciamento
macro através da jurimetria, do desenvolvimento judicial e da prestação jurisdicional na
ordem jurídica brasileira.
A importância desse compromisso deve ser mais bem delimitada normativamente pelo
Poder Judiciário, uma vez que “[...] não parece adequado, e, sobretudo eficiente, pensar no
processo eletrônico como algo estático, sem a necessidade de constante aprimoramento e
conhecimento do perfil das demandas413”. Assim, remete a uma revisão da atual gestão
judiciária de forma geral, bem como do seu enfoque, para assim permitir o amplo
desenvolvimento da jurimetria na busca por atuações mais efetivas, desde que atendidos os
princípios da publicidade e privacidade devidamente equilibrados na sua utilização:
Com isso, a tecnologia se mostraria como ferramenta de melhoria de fato e não apenas
algo para se sustentar discursos de transparência e modernidade sem nada contribuírem para
uma efetiva transformação refletida na coletividade415.
Ademais, se faz importante destacar que essa gestão dos dados criados, incluídos e
armazenados no ordenamento jurídico aqui proposta enseja a inclusão de especificidades
quanto à proteção e publicidade dos dados judiciais para fins de Jurimetria nas
regulamentações que tratarem dessa gestão. Não se faz necessário apenas criar melhorias na
“produção de dados sobre o Judiciário, mas é também fundamental que haja debate e troca
entre as instituições do sistema de Justiça, a academia e os institutos de pesquisa a respeito do
uso dos dados, seu alcance e sua limitação416”.
412
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 04-05. (Tradução nossa). (Grifo nosso).
413
Ibid, p. 11.
414
Ibid, p. 19.
415
Ibid, p. 16.
416
OLIVEIRA; CUNHA, 2020, op. cit., p. 15.
117
Para tanto, “resta aos comandos inteligentes e responsáveis pelo Judiciário de amanhã,
promover esforços que removam resistências e obstáculos à integral imersão no mundo
novo418”. Portanto, a discussão quanto à nova realidade de dados que vem modificando a
práxis Judiciária através da sua intensa produção nos processos judiciais eletrônicos, e quanto
ao desenvolvimento da Jurimetria depender da organização e proteção desses dados, bem
como do comportamento dos próprios julgadores frente a essa nova dinâmica, se torna
imprescindível e reflete diretamente no âmbito do Acesso à Justiça.
Quanto mais próximo de uma boa gestão e administração dos dados produzidos em
meio eletrônico e tutelados pelo Poder Judiciário, mais propiciaria análises e estudos do
funcionamento de toda a ordem jurídica, identificando suas possíveis irregularidades internas
ou de consequências externas, e assim poderia se pensar e buscar políticas mais específicas
frente a tais problemas. Consequentemente, a partir disso o Judiciário se dotará de maior
eficiência e efetividade em âmbito interno, assim como para a coletividade.
Apesar de promovida a ideia de que a tecnologia fica a serviço do cidadão
(aprimorando o acesso à Justiça), além da maior praticidade que os processos judiciais
eletrônicos trazem, é urgente a revisão do mecanismo do Processo Judicial Eletrônico (PJe),
reconhecendo que ainda é um sistema no qual muitas vezes tanto o advogado quanto a parte
não acessam facilmente em seus computadores, pois apresenta: erros de acesso com
identificação do assinador, consulta pública sem todos os documentos do processo que é
público, e ainda as inúmeras configurações exigidas na máquina.
As preocupações e possíveis hipóteses diante dos novos desafios a serem enfrentados
no âmbito do acesso à Justiça, já analisadas até aqui, como: a variedade de sistemas
417
NALINI, José Renato. DDD: Desafio da Disrupção Digital. Justiça & Cidadania, 20 fev. 2018, online.
418
NALINI, 2012, op. cit., online.
118
419
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. O princípio da sustentabilidade como princípio estruturante do Direito
Constitucional. Tékhne, Barcelos, n. 13, p. 07-18, jun. 2010, p. 08. (Grifo nosso).
420
GARCIA; Heloise Siqueira; CRUZ, Paulo Márcio. A sustentabilidade em uma (necessária) visão
transnacional. Prisma Jurídico, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 201-224, jul./dez. 2016, p. 207.
421
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. 3ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016, p. 72.
422
GOMES, Magno Federici; FERREIRA, Leandro José. A dimensão jurídico-política da sustentabilidade e o
direito fundamental à razoável duração do procedimento. Revista do Direito, Santa Cruz do Sul, v. 2, n. 52, p.
93-111, out. 2017.
119
abordado neste trabalho, “é preciso refundar a Jurisdição e o processo, para que seja possível
responder às demandas contemporâneas desta sociedade complexa423”.
Conforme já abordado nos capítulos anteriores, o Acesso à Justiça deve ser analisado
desde como o Judiciário viabiliza o acesso por pessoas físicas ou jurídicas até seus
procedimentos administrativos e processuais, os instrumentos que são utilizados, e de que
maneira a tecnologia atual é aproveitada para aprimorar o funcionamento de seu sistema até
se chegar ao direito propriamente determinado em decisão final, e ainda averiguar como o
julgador chegara até ela e se é a mais adequada para o bem estar da parte e do coletivo social.
É sob esse viés também de sustentabilidade em âmbito jurídico-político que se propõe
essa adaptação da atuação pelo Judiciário como importante alternativa para se alcançar maior
efetividade e segurança não só jurídica, mas social aos indivíduos e ao coletivo, garantindo o
bem-estar e seus direitos fundamentais constitucionais.
Assim, o que não se pode ignorar é que com modelos de regulamentação analisados e
aperfeiçoados a serem construídos e aplicados à gestão de dados nos processos eletrônicos,
será possível vislumbrar maior e efetiva garantia do direito fundamental do Acesso à Justiça e,
desse modo, realizar a finalidade essencial do Estado de promover bem-estar da coletividade e
promover uma sustentabilidade social.
Portanto, diante do direito ao Acesso à Justiça relacionado aos aspectos da eficiência
e efetividade a partir da digitalização dos processos judiciais, a qual trouxe diversas
transformações nas movimentações processuais, e diante dos obstáculos apresentados para o
desenvolvimento da Jurimetria (que depende de uma base de dados preexistente), bem como
diante dos riscos quanto à segurança e à publicidade dos dados eletrônicos judiciais,
percebem-se os inúmeros desafios e especificidades para ter concretamente o acesso a uma
Justiça efetiva e sustentável que parta de uma gestão de dados eletrônicos regulada. É
latente a necessidade de um instrumento normativo ou de caráter principiológico que efetive
o compromisso do Poder Judiciário e, assim, trate da administração desses milhões de dados
de variados graus de sensibilidade e de valor estratégico, produzidos e armazenados no
ordenamento jurídico.
423
ESPINDOLA, Ângela Araújo da Silveira. A refundação da jurisdição e as multidimensões da
sustentabilidade. In: TYBUSCH, Jerônimo et al. (Org.). Direitos emergentes na sociedade global: anuário do
programa de pós-graduação em direito da UFSM. Ijuí: Unijuí, 2013, p. 64.
120
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo geral apresentar a nova e dinâmica realidade
que vem se alterando constantemente através do relacionamento cada vez mais próximo e
interdisciplinar entre o Direito e a Tecnologia, especialmente quanto à virtualização dos
processos judiciais e consequente produção massiva de dados, assim como os reflexos que
isso tem provocado no desenvolvimento da Jurimetria como instrumento na busca pela
eficiência e efetividade nas atividades e prestações jurisdicionais no Brasil.
A sociedade atual apresenta-se como tecnológica, de informação e, ainda,
intensamente de comportamento “judicante”; com essa larga litigiosidade, exige-se soluções
por parte do Poder Judiciário, uma vez que diante desse contexto surgem medidas referentes à
virtualização dos processos judiciais.
Na primeira seção teórica deste trabalho, que se segue à Introdução, foi realizado um
apanhado geral da construção histórica do conceito de direito fundamental de Acesso à Justiça
no mundo e no Brasil, bem como a evolução da profundidade desse conceito, que foi além do
direito de ação perante o Poder Judiciário, para todo o trâmite e qualidade dos atos
processuais até como chegou se chegou ao final daquele processo. Foram pontuados os
principais obstáculos ao Acesso à Justiça, sendo eles a morosidade na duração do processo, a
grande quantidade de demandas, custos processuais e atos protelatórios. Aqui se verificou a
questão de que essa morosidade por parte do Poder Judiciário tem por consequência acentuar
um abismo gerado entre o povo e o Direito.
Na referida seção buscou-se compreender que o Acesso à Justiça tem que ser efetivo,
envolvendo todo o correr do processo e não apenas considerando a entrada perante o juízo,
visto que esse direito abrange toda a atuação e resposta do Poder Judiciário às partes e de que
forma, além da sua duração, conforme a complexidade de cada caso.
Discorreu-se ainda na seção sobre o fato que o Estado Democrático de Direito trouxe
para si a responsabilidade e o dever de atuar como solucionador de litígios, devendo assim
fornecer os devidos mecanismos para tratar desses conflitos. Apresentou-se também o
entendimento que o significado de Acesso à Justiça vai muito além da provocação inicial do
Judiciário e que engloba o procedimento até seu final com a tutela jurisdicional prestada e em
tempo útil.
No segundo tópico dessa seção, buscou-se conceituar de forma didática o princípio da
eficiência no âmbito do Poder Judiciário, o qual nesse sentido deve ser visto como um bom
prestador do serviço jurisdicional. Nesse contexto, constatou-se que a eficiência aplicada à
121
atuação jurisdicional no sentido de decidir num tempo útil deve ser somada a sua forma
eficaz, ou seja, quando se dá de forma fundamentada e justa, concluindo-se que somente
assim é possível se alcançar o caráter de efetividade.
Foi traçado também que as questões referentes à morosidade estão diretamente ligadas
à ineficácia da Justiça, visto que dificulta o acesso do indivíduo a esse direito não só no
momento de acionar um Tribunal, mas de tê-lo analisado enquanto ainda se pode fazê-lo valer
ou não. Com a morosidade e busca pela eficiência o enfoque na celeridade fica cada vez
maior, aumentando também a ênfase na celeridade e com isso se concluiu que é
evidentemente necessário maior cautela e atenção acerca dos fatores que envolvem um
processo judicial, visto que o mesmo envolve não só o direito pleiteado pelas partes, como
também a observância de questões de ordem constitucional.
Verificou-se também que para o Estado Democrático de Direito cumprir o dever que
assumira — a saber: de prestar um bom serviço jurisdicional — se utilizando de métodos
eficientes e com resultado dotado de eficácia, precisará sempre de uma estrutura
administrativa adequada envolvendo os meios tecnológicos eficientes, bem como capacitação
dos seus operadores.
Ou seja, pontuou-se que com essa devida estrutura e enfoque na gestão da ordem
jurídica, objetivando aprimorar os recursos disponíveis e acessíveis para atender os processos
judicializados, vislumbra-se o cenário em que o Judiciário atingirá o resultado esperado como
um bom prestador jurisdicional, alcançando, portanto, seu caráter eficaz.
Ao final dessa seção foram estudados os reflexos da virtualização dos processos
judiciais, verificando que o seu início se deu antes da publicação da Lei n° 11.419/2006424,
quando da difusão de computadores por todos os setores públicos e sociais, especialmente no
Poder Judiciário. Discorreu-se brevemente sobre os passos legislativos mais significativos e
recentes no Brasil quanto à virtualização dos processos judiciais e a partir disso foi possível
constatar que não se criara um “processo eletrônico”, ainda que o legislador assim mencione,
mas o que se criou fora a normatização do procedimento eletrônico no meio digital pelo qual
os processos tramitam atualmente.
Com isso, fora analisado que a virtualização trouxe à luz a desburocratização e
previsão de maior celeridade processual, garantindo esse tempo razoável para obter uma
prestação jurisdicional. Todavia, alguns sistemas ainda dificultam e vão de encontro ao
princípio da publicidade ampla dos atos processuais quando restringem acesso eletrônico via
424
BRASIL, 2006, op. cit.
122
consultas públicas a vários atos e documentos de processos públicos. Além de muitos desses
sistemas exigirem configurações variadas e distintas umas das outras, dificultando de certa
forma o acesso tanto por operadores do Direito (advogados) quanto às partes.
Teceu-se também o cenário no qual os advogados e as partes, que desde a implantação
dos processos em meio eletrônico, se deparam ainda com diversas dificuldades de acesso em
processos tramitando nos sistemas de vários tribunais brasileiros. Essa primeira seção, então,
contextualizou a relevância em se priorizar o acesso amplo e efetivo à Justiça, abarcando todo
o processo até a prestação jurisdicional ser concluída. Assim como a importância de se
observar como papel do Estado prover uma estrutura e gestão administrativa focada na busca
pela efetividade.
Assim, é importante que os sistemas eletrônicos de Justiça se consolidem como
inclusivos, principalmente para as partes e seus advogados. E por inclusivo se entende como
aquele que provê o acesso à Justiça em seu conceito amplo, de forma mais facilitada, bem
como para a prática dos atos processuais pelas partes e advogados. Foi relatado que apesar da
democratização cada vez maior do acesso à internet e da informação jurídica disponível na
mesma, ainda existe uma parcela da população que não alcança esse acesso.
Também se pontuou nesse tópico que apesar do aspecto evolutivo para a Justiça a
partir da virtualização dos processos judiciais, em contrapartida ainda se observa a existência
de excluídos processuais, sendo aqueles que não possuem conhecimento na área da
informática ou que não possuem formação digital, distante ainda de suas realidades. Também
se comentou como nesse início de relação do Direito com a tecnologia através dos processos
judiciais eletrônicos, observa-se o surgimento de novos desafios para essa gestão e necessárias
melhorias envolvendo medidas eficientes, como o acesso efetivo aos processos públicos em
meio eletrônico.
A seção seguinte, de número 02, traçou os principais caminhos que a tecnologia
protagoniza no Poder Judiciário, sendo eles: a implantação do processo judicial eletrônico e a
utilização da jurimetria em conjunto no meio eletrônico, bem como a influência dela sobre a
uniformização jurisprudencial brasileira.
Quanto ao abordado sobre processo judicial eletrônico, constatou-se a ocorrência de
uma evidente reformulação no procedimento desses processos em consequência da sua
implantação no meio digital, bem como a necessidade de se abandonar a linearidade cabível
anteriormente aos processos físicos. Nesse sentido, percebeu-se uma amplitude de
possibilidades na utilização dos dados nos processos em atos cooperativos, com nova
123
dinâmica e que conferem também uma nova aparência ao debate entre todos os atores
processuais.
Além disso, também fora bem ressaltado o risco de outra causa acentuadora nesse
abismo entre a população e o Poder Judiciário no âmbito virtual, destacando a importância de
se manter a sensação de proximidade do jurisdicionado com o Poder Judiciário em relação ao
acesso à Justiça, ainda que no âmbito digital e on-line, não podendo a tecnologia servir de
entrave para isso. Ainda, coube advertir nesse ponto a necessária cautela diante da recente
Resolução do CNJ que instituiu a Justiça 100% Digital, pouco ainda observando essas
questões de risco de sentimento de distanciamento.
Além disso, aponta-se para a questão da variedade dos sistemas, podendo se comparar
as comarcas que se diferenciam pela variedade deles em vez de atender a padronização, como
“ilhas”, e assim acabam não se comunicando, ficando desvinculadas, e isso evidencia a
problemática da não padronização de dados e dificuldades para análises e estudos da
jurimetria se desenvolverem nesse ambiente, bem como obstaculizam também o
gerenciamento de processos425.
Fez-se possível compreender que falar de um Judiciário positivamente informatizado é
falar daquele que desenvolveu as devidas soluções sistêmicas, que envolvem mudança na
cultura, na atuação profissional e na capacitação constante.
Outro tópico da Seção 02 foi o delineamento do histórico de surgimento da estatística
em relação à Jurimetria, como ferramenta que possibilita observar como o sistema judiciário
tem funcionado e como com os dados produzidos pelos processos eletrônicos ela possa
delimitar a realidade do universo jurídico.
Fora evidenciada também a problemática do impacto do aumento exponencial da
produção de dados eletrônicos no Poder Judiciário, trazendo a definição do que são os dados,
evidenciando a importância da busca de ferramentas e gestão para poder gerar informação útil
e aproveitável a partir dos milhões de dados produzidos diariamente. Buscou-se estudar
também como se dá o processamento desses dados pelo judiciário brasileiro e a possibilidade
do auxílio da Inteligência Artificial na coleta e análise de dados para a Jurimetria,
identificando a dificuldade que existe para cientistas e especialistas da computação em
criarem um sistema que analise de forma confiável — e apontando a inegável existência da
interdisciplinaridade com a Arquivologia e a Ciência da Informação, e que nesse sentido a
gestão judiciária deve caminhar.
425
NALINI, 2012, op. cit.
124
426
BRASIL, 2019, op. cit.
125
Conselheiro do CNJ em 2019, Marcio Schiefler Fontes, quando aponta que “informação é
poder427” após questionar quanto valem todos esses dados obtidos pelo Poder Judiciário. A
discussão possibilitou concluir que os dados eletrônicos produzidos e existentes na ordem
jurídica brasileira são um tema delicado e que merece especial atenção.
Portanto, constata-se que há um compromisso que deve ser literalmente assumido pelo
Poder Judiciário com a gestão desses dados de forma ampla, visto que apenas a LGPD ainda
não alcançara nessa seara todas as especificidades que essa gestão envolve. Por isso que com
este trabalho, foi possível acreditar na possibilidade de uma gestão a ser constituída e
regulamentada que consiga abranger sobre a coleta, armazenamento, tratamento e proteção
dos dados judiciais eletrônicos, e que esta se mostraria de grande relevância ao estudo e
ordenamento jurídico. Com isso, a pesquisa sobre como regulamentar essa gestão de dados é
fundamental, tais diretrizes se harmonizam com ideias que já eram difundidas por Kazuo
Watanabe quanto à imprescindibilidade do gerenciamento dos processos judiciais.
Em relação às cláusulas abertas, os conceitos indeterminados, os princípios da
eficiência, publicidade e privacidade, a capacidade de administração e trabalho
interdisciplinar com a informática sobre os dados judiciais eletrônicos: a Jurimetria será capaz
de buscar uma análise caso a caso sem uma devida regulamentação desses dados e sua
proteção? Constata-se que a preocupação sintetizada nesse trabalho também traz à tona o
sentimento de promoção da sustentabilidade social.
Em face de todo o exposto, acredita-se ter composto satisfatoriamente o quadro que
sedimenta a confirmação da hipótese inicial, no sentido de que existe a necessidade de maior
debate quanto ao tema abordado e essa nova realidade tão veloz que transforma a rotina
judiciária, destacando o tratamento dos dados nos processos eletrônicos e como sua utilização
influencia no desenvolvimento da Jurimetria, sendo ela um instrumento tão relevante para a
análise desses dados, para contribuir com a celeridade e eficiência na atuação do Poder
Judiciário, visto e considerado como um bom prestador de serviços jurisdicionais, bem como
o acesso a uma Justiça que seja efetiva para a coletividade.
427
TV-CNJ, 2018, op. cit., online.
127
REFERÊNCIAS
ABJ (Associação Brasileira de Jurimetria). Estatuto. Portal ABJ, 2018b. Disponível em:
https://abj.org.br/estatuto/. Acesso em: 02 ago. 2020.
ABRÃO, Carlos Henrique. Processo eletrônico. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
AGÊNCIA CNJ DE NOTÍCIAS. CNJ abre seleção de projetos para Centro de Inteligência
Artificial. Agência CNJ de Notícias, 07 mai. 2019. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/cnj-abre-selecao-de-projetos-para-centro-de-inteligencia-artificial/.
Acesso em: 20 jun. 2020.
AL/SP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo). Frente do Judiciário visita Fórum da
Freguesia do Ó. Portal do Cidadão da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, 27
nov. 2007. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=317319. Acesso em: 21 out.
2020.
ALVIM, Arruda. Apontamentos sobre o papel do juiz e dos tribunais na ordem constitucional
vigente: enfoque comparativo entre a jurisprudência e os sistemas de precedentes. In: DE
LUCCA, Newton; MEYER-PFLUG, Samantha Ribeiro; NEVES, Mariana Barboza Baeta.
(Coord ). Direito Constitucional contemporâneo: estudo em homenagem ao professor
Michel Temer. São Paulo: Quartier Latin, 2012.
BELCHIOR, Wilson Sales. Os limites éticos do uso da tecnologia nas áreas do Direito.
Revista Consultor Jurídico, 21 abr. 2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-
abr-21/wilson-belchior-limites-eticos-uso-tecnologia-direito. Acesso em: 05 ago. 2020.
BEZERRA, Paulo. O acesso aos direitos e à justiça: um direito fundamental. Separata de:
Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra, n. 81, 2005.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 11. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2011.
BONÍCIO, Marcelo José Magalhães. Introdução ao processo civil moderno. São Paulo:
Lex, 2009.
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais
e altera a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet). Institui a Lei Geral
de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Brasília, DF, 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 15
jul. 2020.
BRASIL. (Superior Tribunal de Justiça). Ementa no REsp 1736217. Relator: Min. Francisco
Falcão. Brasília, DF: STJ, 2018. Disponível em: http://corpus927.enfam.jus.br/inteiro-
teor/wjqvpdg5wyvz#. Acesso em: 20 mar. 2020.
BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral
do processo civil. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988.
CASTELLS, Manoel. A sociedade em rede. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
CASTRO, Ricardo Medeiros de. Direito, Econometria e Estatística. 2017. 542 f. Tese
(Doutorado em Direito) – Universidade de Brasília, Brasília, 2017. Disponível em:
https://repositorio.unb.br/handle/10482/31504. Acesso em: 22 out. 2020.
CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Justiça em Números 2020: ano-base 2019. Brasília,
DF: CNJ, 2020b. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB-
V3-Justi%C3%A7a-em-N%C3%BAmeros-2020-atualizado-em-25-08-2020.pdf. Acesso em:
05 set. 2020.
COSTA, Paulo Joaquim Anacleto. O Acesso à Justiça como direito fundamental de todos
os cidadãos. 2013. 47f. Dissertação (Mestrado em Direito, Especialidade em Ciências
Juridico-Forenses) – Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal,
2013. Disponível em: https://eg.uc.pt/handle/10316/34956?locale=pt. Acesso em: 20 out.
2020.
CUNHA, Érica de Paula Rodrigues da. Home office: a flexibilização da jornada de trabalho
nos tribunais. In: AMAERJ (Org). Revista da Associação dos Magistrados do Estado de
Rio de Janeiro, ano 13, n. 39, out./dez 2014.
DADOS. In: DICIONÁRIO Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em:
https://www.dicio.com.br/dados/. Acesso em: 05 jul. 2020.
DALARI, Dalmo. O poder dos juízes. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
DINAMARCO, Candido Rangel. Nova era do processo civil. 2 ed. São Paulo: Malheiros,
2007.
FERRO, Rodrigo Rage. Como a jurimetria e a Teoria dos Sistemas de Luhmann estão
interligadas? In: ALMEIDA, Renato Augusto. Justiça, Judiciário e a condição humana nas
relações interpessoais: reflexões contemporâneas. São Paulo: Paco Editorial, 2019.
FREIRE, Tatiane. Em 10 anos, CNJ consolida sua atuação como órgão de controle do
Judiciário. Agência CNJ de Notícias, 14. jun. 2015. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/em-10-anos-cnj-consolida-sua-atuacao-como-orgao-de-controle-do-
judiciario/. Acesso em: 10 set. 2020.
FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016.
G1-RS. Site do Tribunal de Justiça do RS sofre ataque hacker. Portal G1-RS, 11 nov. 2020.
Disponível em: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2020/11/11/site-do-tribunal-
de-justica-do-rs-sofre-ataque-hacker.ghtml. Acesso em: 25 fev. 2021.
GONZALES, Edoardo Eugenio Sigaud. Trade Dress: uma análise de Jurimetria com
ferramentas de inteligência artificial. 2019. 123f. Dissertação (Mestrado Profissional em
Propriedade Intelectual e Inovação) – Instituto Nacional da Propriedade Industrial, Rio de
Janeiro, 2019. Disponível em: https://www.gedai.com.br/wp-
content/uploads/2019/10/DISSERTACAO-DE-MESTRADO-V.FINAL-Edoardo-Sigaud-
Gonzales.pdf. Acesso em: 22 out. 2020.
HERN, Alex. "Anonymised" data can never be totally anonymous, says study. The
Guardian, 23. jul. 2019. Disponível em:
https://www.theguardian.com/technology/2019/jul/23/anonymised-data-never-be-anonymous-
enough-study-finds. Acesso em: 02 ago. 2020.
LIMA, Renato Sérgio de. A produção da opacidade: estatísticas criminais e segurança pública
no Brasil. Novos estud. - CEBRAP, São Paulo, n. 80, p. 65-69, mar. 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
33002008000100005&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 23 out. 2020.
134
LOSANO, Mario Giuseppe. Lições de informática jurídica. São Paulo: Resenha Tributária,
1974.
MARCO, Cristhian Magnus de; MEDEIROS, Jeison Francisco de. O princípio da eficiência
da administração da Justiça como justificativa para implantação de uma jurisprudência
precedentalista no Brasil: a disciplina judiciária marcada por influência neoliberal. Revista
Jurídica Unicuritiba, [s.l.], v. 3, n. 40, p. 358-376, jan. 2015. Disponível em:
http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/1365/922. Acesso em: 13 set.
2020.
MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria geral do processo. 3. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008.
MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela de direitos. 4 ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013.
MELLO, Marco Aurélio Mendes de Farias. A publicidade das decisões judiciais. Gazeta
Mercantil, 03. jul. 2001. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=100047&sigServico=noti
ciaArtigoDiscurso&caixaBusca=N. Acesso em: 13 jul. 2020.
MENDES, Victoria. Online Dispute Resolution (ODR): entenda os benefícios. Instituto New
Law, 15 abr. 2020. Disponível em: https://newlaw.com.br/odr/. Acesso em: 28 ago. 2020.
MÜLLER, Léo. Entenda o que é “dirty data” e como isso atrapalha o desenvolvimento de IA.
Portal TecMundo, 08 nov. 2017. Disponível em:
https://www.tecmundo.com.br/software/123935-entenda-dirty-data-atrapalha-o-
desenvolvimento-ia.htm. Acesso em: 25 fev. 2021.
NALINI, José Renato. É urgente uma consciência virtual. Revista Justiça & Cidadania, Rio
de Janeiro, n. 147, 22 nov. 2012. Disponível em: https://www.editorajc.com.br/e-urgente-
uma-consciencia-virtual/. Acesso em: 28 jun. 2020.
135
NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
NALINI, José Renato. DDD: Desafio da Disrupção Digital. Justiça & Cidadania, 20. fev.
2018. Disponível em: https://www.editorajc.com.br/ddd-desafio-da-disrupcao-digital/.
Acesso em: 28 jun. 2020.
NUNES, Marcelo Guedes. Jurimetria: como a Estatística pode reinventar o Direito. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
NUNES, Marcelo Guedes (Coord). Varas empresariais na comarca de São Paulo. Portal
ABJ, dez. 2016. Disponível em: https://abj.org.br/cases/varas-empresariais/. Acesso em: 05
jan. 2021.
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. O Processo Civil na Perspectiva dos Direitos
Fundamentais. Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre, n. 22, p. 31-42,
2002. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/revfacdir/article/view/72635/41107. Acesso em: 20
mar. 2020.
OLIVEIRA, Fabiana Luci de; CUNHA, Luciana Gross. Os indicadores sobre o Judiciário
brasileiro: limitações, desafios e o uso da tecnologia. Rev. direito GV, São Paulo, v. 16, n. 1,
e1948, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
24322020000100401&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 23 out. 2020.
ONU (Organização das Nações Unidas). Combater pobreza requer melhoria do acesso à
Justiça para pobres, afirma especialista da ONU. Portal ONU, 17 out. 2012. Disponível em:
https://brasil.un.org/pt-br/60770-combater-pobreza-requer-melhoria-do-acesso-justica-para-
pobres-afirma-especialista-da-onu. Acesso em: 21 out. 2020.
em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/biblioteca/conteudo-revistas-juridicas/revista-
brasileira-de-direito-processual/2018-v-26-n-103-jul-set. Acesso em: 20 out. 2020.
PONCIANO, Vera Lúcia Feil. Eficiência, por si só, não basta para combater morosidade do
Judiciário. Revista Consultor Jurídico, 05 ago. 2015. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2015-ago-05/vera-ponciano-eficiencia-nao-basta-combater-
morosidade. Acesso em: 21 out. 2020.
ROCHA NETO, Paulo. O Processo Judicial Eletrônico Brasileiro. 2015. 176 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Informática) – Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2015.
Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/handle/10284/4724. Acesso em: 21 out. 2020.
RODAS, Sérgio. Golpe no juíz-robô: França proíbe divulgação de estatísticas sobre decisões
judiciais. Revista Consultor Jurídico, 05 jun. 2019. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2019-jun-05/franca-proibe-divulgacao-estatisticas-decisoes-
judiciais. Acesso em: 04 jun. 2020.
RODRIGUES, Alex. Plenário aprova proposta para varas atuarem de modo 100% digital.
Agência CNJ de Notícias, 06 out. 2020. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/plenario-
aprova-proposta-para-varas-atuarem-de-modo-100-digital/. Acesso em: 06 out. 2020.
RUZ, Ivan Aparecido; SENGIK, Kenza Borges. O acesso à Justiça como direito e garantia
fundamental e sua importância na Constituição da República Federativa de 1988 para a tutela
dos Direitos da Personalidade. Revista Jurídica Cesumar, Maringá, v. 13, n. 1, p. 209-235,
2013. Disponível em:
https://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/revjuridica/article/view/2887. Acesso em: 21
out. 2020.
137
SANTOS, Boaventura de Sousa. Acesso à Justiça. In: MARQUES, Maria Manuel Leitão;
PEDROSO, João; FERREIRA, Pedro Lopes. Os tribunais nas sociedades contemporâneas:
o caso português. Porto: Edições Afrontamento, 1996.
SANTOS, Eduardo Rodrigues dos. Princípios processuais constitucionais. Salvador:
JusPodivm, 2016.
SEIXAS, Bernardo Silva; SOUZA, Roberta Kelly Silva. Evolução histórica do acesso à
justiça nas constituições brasileiras. Direito e Democracia, Canoas, v. 14, n. 1, p. 68-85,
jan./jun. 2013. Disponível em:
http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/direito/article/view/2660/1883. Acesso em: 25 out.
2020.
SILVEIRA, Pedro. Jurimetria - É proibido medir?. LinkedIn, 12 jun. 2019. Disponível em:
https://www.linkedin.com/pulse/jurimetria-%C3%A9-proibido-medir-pedro-silveira/. Acesso
em: 03 jun. 2020.
SOUZA, Gelson Amaro de; SOUZA FILHO, Gelson Amaro de. Processo e acesso à justiça.
In: SIQUEIRA, Dirceu Pereira; OLIVEIRA, Flávio Luiz (Coord.). Acesso à justiça: uma
perspectiva da democratização da administração da justiça nas dimensões social, política e
econômica. Birigui: Boreal, 2012.
TEIXEIRA, Laís Santana da Rocha Salvetti; COUTO, Mônica Bonetti. O acesso à justiça e
seu enquadramento como direito fundamental: contexto atual e evolução. In: XXII
ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI/UNINOVE, 2013, São Paulo. [Anais...] São
Paulo: FUNJAB, 2013. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/publicacao/uninove/livro.php?gt=172. Acesso em: 25 mai.
2020.
138
TIMÓTEO, Gabrielle Louise Soares. Informática Jurídica: Uma discussão atual, mas não
recente. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 150, p. 215-224, 2013.
TV-CNJ. Uso da Inteligência Artificial Nos Processos Judiciais - XII Encontro Nacional do
Poder Judiciário [56m03s]. Youtube, 13 dez. 2018. Disponível em: https://youtu.be/WTGsX-
owLB8 . Acesso em: 05 jun. 2020.
VIVAS, Márcio Falcão e Fernanda. STJ diz que sistema de informática do tribunal foi alvo de
ataque hacker e pede investigação da PF. Portal G1, 04 nov. 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/11/04/stj-aciona-pf-para-apurar-possivel-ataque-
de-hackers-ao-sistema-do-tribunal.ghtml. Acesso em: 25 fev. 2021.