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Livr Anual de Psicanálise (2008), XXII, 157-167

REFLEXÕES A RESPEITO DO SETTING


NO
TRATAMENTO DE ADOLESCENTES

SARA ZAC DE FILc, BUENOS AIRES, ARGENTINA

Neste artigo, propõe-se uma reflexão a respeito das peculiaridades do setting no tra-
tamento de adolescentes para
averiguar as condições que facilitarão o desenvolvimento do
processo analitico. Vale a pena notar que a literatura que discute o setting psicanalitico fo-
caliza patologias especificas ou o setting na análise de adultos ou de crianças, ao
não se tem estudado as peculiaridades do seu significado e construção na análise de ado-
passo que
lescentes. Na Argentina, Kalina aborda o
setting com adolescentes de uma 'perspectiva pre-
dominantemente prática, seguindo normas técnicas introduzidas por Melanie Klein e
modificadas e desenvolvidas por Arminda Aberasturi' (1967, p. 372).
Cada tratamento psicanalítico requer certas condiçðes para evoluir. Este conjunto de
condições determina o que designamos como situação analitica, uma idéia que inclui todos
os fenômenos que ocorrem durante a análise. Na situação analítica, o setting constitui o
conjunto de acordos estabelecidos entre paciente e analista que tornarão possível o apare-
cimento da estrutura de trabalho necessária ao desenvolvimento do processo analítico e,
conseqüentemente, do tratamento analítico. Essas regras constituem uma formulação cujo
objetivo é criar condições adequadas para facilitar um processo de duas faces: de um lado
OS pacientes poderão se expressar, escutar, incorporar e ter insight em sua busca de inte-
gração pessoal, por outro, os analistas poderão apreender, compreender e analisar, e assim
produzir as condiçðes que, por sua vez, darão surgimento ao processo analítico. O setting
condenatórias que delineiam os limites
abrange, então, tanto dimensões normativas quanto
contexto e significado às ações de cada
essenciais do trabalho psicanalitico, garantindo
deles. O setting precisa ser construído cuidadosa-
participante, bem como à inter-relação
desenvolver uma relação não estruturada entre os dois
mente, de tal modo que se possa mostrar e escla-
analitico. Essa relação permitirá aos pacientes
participantes do processo mundo emocional,
mundo interno, suas relaçoes objetais
e seu
recer progressivamente seu
interno do mundo externo em que os pacientes vivem
bem como o impacto nesse mundo
e se desenvolvem. da relação es-
Os analistas
sentir precisam se participes
Ao mesmo tempo, porém, constante entre trans-
pacientes e que produz um interjJogo
desenvolve com os
pecial que se

analIstas que estao começando seu trabalho com


cruciais para
tenta resolver questões tecnicas que geralmente estão au-
Kalina (1967) exaustivamente
todas as tacelas
adolescentes. Ele desenvolve
sentes da literatura psicanalitica.
158 SARA ZAC DE FILC

Tereneia e contratransferência, permnitindo a construção progresSiva do espaço em que a


analise ocorre. O seting é essencial para que a situação analitica se desenvolva e, por con-

lransterencia e da
estudar o desenrolar
SCguinte, torne o tratamento possível. Só se pode tanto ao paciente quanto a0 ana-
d contratransferéncia em certo setting. O setting permite
lista pensar e sentir sem interferencia externa.
obra de 'reud:
Etchegoyen (1991) se refere às origens do seting na

OS Tatores constantes do setting são, portanto, regras empiricas ditadas por

conduziram a Cstabelecer uma es-


Freud com base em sua experiência clinica que o
rutura detinida e estrita em sua relação com o paciente, de tal maneira que o trata

com a menor
mento pudesse se desenvolver do melhor modo possivel,
possibilidade de perturbação. (p. 511)
Entre o processo analítico e o setting, portanto, desenvolve-se uma relação continente
contido, no sentido que Bion (1962) dá aos termos. O setting constituirá a estrutura que
facilitará a emergência de conteúdos, ou seja, do processo analitico.

considera que selting por parte do


qualquer manipulação do
Laplanche (1982, p. 5)
analista o desestabiliza e impede que as interpretações adquiram seu significado verdadei-
ro. Ele prossegue dizendo que 'qualquer ação que afete o setting constitui uma atuação do
analista. Neste contexto, devemos pensar o que queremos dizer com 'uma ação que afe
te o setting-se referente à relação paciente-analista-e que tip0 de mudança nosetting
Constitui manipulação. Em minha experiência, os adolescentes precisam que o analista siga
entender a falta de submissão des-
as regras estabelecidas. Além disso, o analista precisa
a aceitá-las.
ses pacientes a essas regras e 'esperar' que eles estejam disponíveis
ensaio Psicanálise do setting psi-
Bleger (1967, p. 511), por sua vez, declara, em seu
facilita o desenvolvimento do processo
canalitico, que o setting é o 'não-processo' que
vez que o setting è o löcus em que as ansie-
na situação analítica. Bleger acredita que, uma
deveria permanecer imutável.
dades psicóticas do paciente geralmente são depositadas,
Concordando com Segal [internet], argumento que a receptividade
do analista a idéias no-
vas* deva ser considerado o aspecto mais importante do setting, receptividade essa que

abrirá caminho para que ocorram os fenômenos mentais caracteristicos do tratamento ana-
lítico. Refiro-me não só à atenção igualmente flutuante do analista e à ausência de atuações
com o paciente, mas também à capacidade de
oferecer uma mente
no contexto da relação
Essa atitude permitirá que os eventos ocor-
às
receptiva expressões e atuações do paciente.
rentes dentro do tempo e do espaço da anál1se gerem um espaço de crescimento constan-
te e que o par analitico progrida em busca do insight das verdades do paciente.

Especificidades do setting na análise de adolescentes

se refiram à psicanálise em geral, é no tra-


Ainda que os conceitos discutidos acima
fica mais evidente a necessidade de eritérios precisos relati-
tamento de adolescentes que
vos às condições necessårias para que o process0 analitico se desenvolva. Quando pensamos

em análise de adolescentes, precisamos levar


em conta o pacientes atra
processo que esses

vessaram para atingir esse estágio e as flutuações experimentadas por suas subjetividades
a la-
ao deixar latência para trås e avançar para esse periodo novo e convulsivo. Durante
a
uma clivagem firmemente estabelecida, que se romppe
tência, pode-se observar a presença de

No original, open-mindedness. (N. da T.)


REFLEXOES A RESPEITO DO
SETTING NO TRATAMENTO DE
ADOLESCEN IEd 159
e dá lugar ao
processo psíquico
típico da adolescência. A essência do fenômeno
adolescente pode ser descrita, puberal-
ciado (e projetado ou não), comportanto, como uma erise do instituído, do aceito
e aisso
ameaçam 0 narcisismo dos
a
reativação de dúvidas e questionamentos que abalam e
adolescentes. Enfrentando confusão causada pelas
a
que os perturbam gravemente, os
adolescentes sentem
flutuaçoes
necessidade de
siedade profunda que
oprime, recorrendo, na maior parte
os
se proteger da
an-
como o negativismo, a das vezes, a tai:

Os dissociação e a
formação reativa. meanb
problemas que aparecem no início da adolescência estão
jeto, enquanto do
final da adolescência estão
os ligados a relações de oD-
sOcial e de discriminação do associados a processos de diferenciaçao
meio familiar, processos que se estruturarão mais tarde.
maneiras de canalizar a rebeldia As
dependem do tipo de mecanismos de defesa que o
desenvolver para se proteger da egO
ansiedade que irrompe no início da adolescencia. 0spouc Jo-
vens
sofrem processo de diferenciação, entre a imagem atual e a de si
um
crianças. E um periodo critico, durante o próprios enquanto
qual há uma pressão para buscar e adquirir uma
Identidade nova. A passagem
para a adolescência põe os jovens diante de inúmeros
sos de luto (Aberasturi e proceS
Knobel, 1971), que provocam muita ansiedade e confusãoe po-
dem levar tanta
a
desorientação que todo o seu ser entra em crise. Para se diferenciar, os
adolescentes precisam pôr frente a frente tudo o que já esteja estabelecido, gerando insta-
bilidades que os mergulham num verdadeiro caos. Surge uma onda de desejos genitais in-
fantis, sem as modificações características do adulto. Essa crise pode estar combinada com
a falta de modelos de
identificação, no passado dos adolescentes, que lhes teria permitido
produzir um mundo interno em que a introjeção de objetos suficientemente continentes teria
proporcionado meios de enfrentar e dominar a ansiedade e gerar atitudes que moderassem
os impulsos.
Adolescentes que vêm para análise freqüentemente tendem a se defender projetando
no tratamento e no analista seus medos e ansiedades, recorrendo a mecanismos de defe-
sa, tais como a retaliação, contra as experiências que tiveram em criança. Esse tipo de ati-
tude desafia os analistas e os coloca à prova, buscando abalar qualquer estrutura sentida
como rígida e atacando a 'instituição'* do setting. A instabilidade e a confusão caracteris-
ticas da adolescencia derivam das dificuldades que os jovens experimentam em se diferenciar
e se discriminar em sua busca, como antes mencionado, devido à falta do senso de iden-
tidade. Os adolescentes podem viver sua aceitação da necessidade de crescer- isto é, de
se tornar outro- como o seu próprio desaparecimento ou o desaparecimento de seus ob
aumento da
jetos internos, que, na sua fantasia, estão sendo atacados. por isso que há o
E
necessidade de confiar no analista e de verificar várias vezes se este é capaz de conter as
suas identificações projetivas. Portanto, ao construirmos 0 setting, precisamos levar em
do narcisismo do adulto ou da eriança, o narcisismo
conta o fato de que, diferentemente
transferencias do paciente quanto o narcisismo do
do adolescente põe em ação tanto as
dos adolescentes como parte do seu selfe, acima de tudo,
analista. Precisamos ver os atos
uma vinculação melhor
como uma fonte de comunicação
que, por sua vez, nos permitirá
com eles.
e esse medo é devasta-
a temer as Suas proprias projeções,
Os adolescentes tendem de ansiedades persecutórias.
analitico, devido a prevalencia
dor no início do tratamento de continência
nesse momento
e preciso um tempo que o ana-
Como Bion (1970) sugere, os pacientes adolescentes põem defe-
da ansiedade paranoide,
lista deve fornecer. Diante analista aja c o m o continente. Esses pacientes
que o
Sas maníacas em jogo, exigindo

establishment. (N. da T.)


No original,
160 SARA ZAC DE FILC

PCCISam testar constantemente os seus objetos, para verilicar que na0 os destruíram.

que esses objetos continuam a existir e podem aceitá-los e conté-los. Esse tipo de atitud.
movimenta, nos analistas, as suas próprias experienciase lembranças, e e por isso que elec
devem conseguir entender tanto a sua própria transferéncia quanto a contratransferência

gerada durante o processo analítico. Nesse contexto, o analista deve evitar 0 risco de se

com o paciente, ou seja, de ver a sua própria


adolescencila ou a de seus filhos
Tcnnticar
Teiettaa nele. O aumento da necessidade de experimentar o analista não só como objcto
presente, mas também como pessoa que pode aceitar, metabolizar, permilir e garantir sig-
niticado às suas experiências, intensifica a necessidade de compreensão do analista. A ati-
ude do analista e sua capacidade de esperar passará a ser o receptaculo que lacilitará a
emergência de conteüdos que os pacientes exporão assim que possam incorporar o dese
jo do analista de entend-los e
compreendë-los.
Gostaria de ressaltar a necessidade da presença do analista e sua importáncia como
elemento essencial entre os diversos elementos necessários para que o tratamento se de
senvolva. Ao tratar pacientes adolescentes, vi freqüentemente que eles vivem grande ne-
cessidade de me ver e de confirmar que estou realmente ali. Lembro o caso de um jovem
de 15 anos que passou meses trazendo revistas para a sessão e quase não me olhava ou
falava comigo. Mas, assim que eu me mexia, ele me perguntava, com voz que expressava
grande perturbação, se eu estava indo embora (e abandonando-o). Passou um bom tempo
antes que ele pudesse aceitar qualquer outro tipo de intercâmbio. A experiência de esperar,
de interpretar sem resposta, de nåão achar o que dizer ou como dizer, levou-me não só a
supervisionar o caso, mas também a ficar muito alerta, tanto à minha contratransferência
quanto à frustração profunda sentida pelo paciente, que era evacuada quando ele projeta-
va em mim as suas ansiedades persecutórias. O seu comparecimento dedicado, a sua re-
lutância em sair e o seu monitoramento dos meus gestos e atitudes é que agiram como a
bússola que me orientou a perseverar.
Situações desse tipo nos colocam em risco, devido à frustração que provocam e, ao
mesmo tempo, nos contam a respeito do sentimento de perigo do próprio paciente. Meu
esforço de me manter à espera, de acalmar minha irritação, e às vezes de interpretar ou
compartilhar o silêncio do paciente, aos poucos fez surgir, a princípio, um monólogo ti-
mido e, mais tarde, um diálogo. Por meio desse diálogo, pudemos não só observar e re-
construir na transferência, mas também abrir canminho para novos elementos que
apareceram paulatinamente, graças à transferência e à contratransferência. O analista pode.
assim, facilitar o surgimento de identificações projetivas, de modo que o paciente possa se
livrar de todo o mal dentro de si. Se as identificações projetivas não surgiram, o paciente
sente queo seu único recurso é atacar e controlar o objeto, que ele então teme e conside-
ra perigoso. questionando sua capacidade de protegê-lo. Esse tipo de comportamento re
flete a inquietação do paciente e o medo da retaliação do analista, ainda que ao mesmo tempo
mostre o desejo de assegurar uma proximidade que Ihe permita confiar no analista.
Todos sabem que o tratamento psicanalitico já é complexo em si mesmo. Se acres-
centarmos a isso a complexidade inerente aos atributos da adolescêneia descritos acima,
a instituição do seting adquire especial importância, pois criará condiçdes adequadas para
dar inicio ao processo analitico.
Os adolescentes que buscam tratamento geralmente ndo
se ajustam ao setting analitico tipico, devido ao seu conjunto peeuliar de conflitos e å sua
instabilidade. Geralmente, Ihes é dificil eomunicar ou se encaixar no sistema de comun
estamosacostumados a contar, na análise. Essa dill-
cação simbólico-verbal com qual
o

culdade, que também aparece em pacientes muito graves, é tipica de pré-adolescentes


ou de adolescentes, e às vezes faz surgir um encontro falho entre o modo de comunica
analista. Essa falha no encontro pode ser vista quando o adolescente
cão do paciente e o do
cria significados por meios narcisicOs, perversos ou alucinatórios ou por meio de modall
REFLEXOES A RESPEITO
DO SETTING NO
TRATAMENTO DE ADOLESCENTES
dades associadas a
condição de
sasque eXIgem que geremos,
instabilidade
anteriormente mencionada, moaaiddu,
mento do processo analítico.
através do setting, o espaço necessário para o desenvoiv

ACredito que, para que possam se comprometer na relação analítica, oS adoiescencs


precisam, mais do
que as
crianças adultos. de
e do funC1onamento do
e os
esclarecimento a respeito da
naurcza
tratamento analitico, no momento do contrato analiticO (Me
1967). Ontar que é como é', do qual os
o
adolescentes falam, dá conta exatamente
ae
suapropria obscuridade e confusão. Mas se criarmos a estrutura
cesso analitico se adequada pard qucP
desenvolva, constituir-se-á um espaço em que o analista conseguira
a dor ao paciente. Estas con os
características especificas dos pacientes adolescentes
incitar COnsruir pontes
a
comunicativas
devC
que nem sempre são e nosfáceis de construir que
defrontam com a
necessidade tanto de achar como se comunicar quanto de reconsiderar
nossa ideia de setting, para conseguir focalizar corretamente o tratamento.
paciente que simplesmente não se encaixa no
Nesse momento, devemos
settingtipico representa um
desan
conjeturar se a atitude rejeitadora e desafiadora do paciente aev
ser realmente considerada um ataque ou uma rejeição ao tratamento. Acredito que certas
maneiras de agir, projetar ou comunicar, presentes em adolescentes (especialmente nos mais

perturbados), quase se configuram como a linguagem' singular- um modo de exprimir


o conflit0 e/ou desejo que precisamos aprender a decifrar. Por isso, seria arriscado consl-
derar esse comportamento necessariamente reação negativa ao tratamento. Às vezes, pelo
contrario, São o próprio meio de exprimir um desejo desesperado de ajuda que não encontra
outras maneiras de se manifestar.
Outro paciente, um jovem de 14 anos, foi trazido pelos pais por ter parado de falar
alguns meses antes primeiro só na escola, depois também com os amigos e a familia.
Durante Os primeiros meses de tratamento, o paciente comparecia às sessões pontualmente,
mas ficava me olhando fixamente, sem reagir a qualquer interpretação. Senti-me totalmente
inútil e frustrada, pois conseguia perceber o sofrimento que essa atitude transmitia. Em certo
momento, contei-lhe que eu não podia fazer nada, se ele não me ajudasse. Ele me olhou, e
perguntou: 'Scrabble?* Quando lhe perguntei se gostaria de jogar "Scrabble', ele acenou
afirmativamente. O que tornou esse caso especialmente interessante foi que, ainda que o
acaso tenha um papel significativo nesse jogo (em termos das letras que a pessoa pega),
todas as palavras que o paciente escreveu constituiram as 'associaçðes livres' que ele po-
dia ter as palavras que ele escreveu eram as que ele não conseguia pronunciar. Eram
expressão do seu 'terror e, em sua maioria, mOstravam conteúdo agressivo ou sexual, que
eu então usava para interpretar na transferência e na contratransferência. Antes do final da
tabuleiro numa folha de papel, para continuar o jogo no
sessão, ele copiava as palavras do
seis meses antes que ele pudesse falar, e outros seis an-
próximo encontro. Passaram-se
tes que pudesse usar, esporadicamente, o diva. Minha capacidade de esperar e de respei-
tar as regras dele- as unicas com as quais ele conseguia concordar- permitiu-nos

encontrar um jeito de ajudá-lo.


na analise de adolescentes? Baseada em diversos casos de
Então, o que é o setting,
o contexto
necessario para tornar nossa tarefa possível. A meu
adolescentes, eu diria que é
apresenta duas lacetas: uma fornecida pel0 analista, que deve ser
ver, esse tipo de contexto
estável em termos do compromisso do analista com a relação ana-
firme em constância e
mudando o menos possivel, a outra, a do adolescente, que
litica (para evitar manipulações),

cruzadas em
tabuleiro. (N. da T.)
Jogo de palavras
162 SARA ZAC DE FILC

mudará na medida em que o analista possa manter um contexto estavel que torneça o sen-
mento de continência e de aceitação necessários para que o processO anantico se desen-
volva.
setting é determinado na situação analitica, mas é construido em Conjunto com o
paciente, pois, ainda que os analistas devam assegurar constânciae estabilidade relativas
a0 lugar e ao tempo (em termos dos horários das consultas e da duração das sessões), é
preciso permitir o surgimento do sentimento de confiança no paciente, ou seja, a confian-
ça no analista. Os pacientes precisam sentir que os analistas podem realmente 'estar' láe
que, ao estar sempre lá, possibilitarão o início do tratamento e, dai, o desenvolVimento do

processo analítieo.
Portanto, nem todos os settings são iguais. Ainda que certas regras sejam recorren-
Tes, acredito que os analistas precisem propor regras condizentes com as condições, es
tado e possibilidades de cada paciente. A capacidade do analista de conter e aceitar cada
paciente desempenha um papel importante no tratamento de adolescentes e na capacidade
aele de reconhecer suas próprias mudanças, que ocorrem junto com as do paciente. En-
rentamos outro problema, ou seja, os próprios sentimentos emergentes do analista, que
Precisam passar por auto-análise para não obscurecer o tratamento. Todos os terapeutas
Tem as suas próprias constâncias, que dependem de seus traços pessoais, formação e teo-
rias (Zac de File, 1971), mas, ao mesmo tempo, surgirão novas constâncias em cada si-
Tuaçao analitica e em cada par analitico, em decorrência da interação paciente-analista.
Por todos esses motivos, e devido às mudanças pelas quais o paciente adolescente está
passando, é principalmente o analista quem deve manter o setting. Os analistas devem in-
corporar as mudanças que os pacientes adolescentes podem criar no setting, porque se eles
se aferarem rigidamente a um conjunto predeterminado de regras que não passaram pela
concordância do par analitico, o paciente pode ficar rígido e inacessível ao trabalho analí-
tico, e pode até impedi-lo. A capacidade de entender essa situação e de se ajustar às pos-
sibilidades do adolescente permitirá ao analista entender melhor a realidade interna do
paciente, bem como o jeito do paciente lidar com a realidade externa. Lembro-me de um
paciente de 15 anos que tive a chance de supervisionar. Diante da exigência de usar o div
o paciente adormecia e se retirava para dentro de si. Depois de um tempo, o analista su-
geriu que, se ele quisesse, poderia sentar. O paciente sentou e começou a desenhar e a di-
zer tudo o que não conseguira dizer antes. Levou muito tempo para que esse paciente
pudesse confiar no analista e usar o div.2
A construção, junto com o adolescente (especialmente os perturbados), de um setting
que forneça o espaço adequado para que o trabalho analitico evolua, é indispensável, e esse
setting se construirá na medida em que a análise progrida. Os atos e a presença do analis-
ta transformarão o seting aos poucos no holding ou continente descritos por Winnicott
(1965), que também tende a funcionar, de acordo com Bick (1968), comouma segunda
pele. Green, expondo as idéias de Winnicott a respeito do holding da mãe, descreve a trans-
formação do objeto matern0 primario, unido a um setting estruturante que serve de conti-
nente para o espaço representativo. Nas palavras de Green (1975):

. assim como o sono é contido dentro de certos limites (a abolição dos pólos
opostos de percepção e de atividade motora), a sessão também é contida pelas con-
dições das formalidades analiticas. Essa continéneia ajuda a manter o funcionamen-
to especilico dos diversos elementos da realidade psíquiea. 8)
(p.

2. o div se torna um instrumento que contribui para o desenvolvimento da situação analitica, mas so
pode cumprir essa função se os pacientes adolescentes se sentirem confiantes no tratamento. Neste
caso, deitar no div os ajudara a se expressar melhor, evitando as fantasias paranóides que gera
mente surgem.
ADOLESCENTES 163
REFLEXOES A RESPEITO DO SETTING NO TRATAMENTO DE

Frequentemente, existe certa distância entre o marco mental do paciente e o enqud

reconhecer e ll-
dramento mental simbólico-verbal do analista. Os analistas não só devem
teoricas,
dar com essa distância, como também retrabalhar as suas próprias pré-concepções
evitando projeta-las ao analisarem a transferênciae a contratransfer ncia, levando espe
Cialmente em conta que a contratransferência tende a ser muito estimulada, nesses cas

O setting, portanto, passa a ser indispensável para a eriação de um espaço em u


de "mnae
Cientes pOSsam projetar seus sentimentos. Podemos extrapolar a idéia de Winnicott
suficientemente boa' para a relação analitica e dizer que o paciente adolescente precisa ae
um anansta suficientemente bom' que o ajude a transpor as experiências caóticas da reat
vaçao edipica. Como já mencionado, os adolescentes reagem às regras do ambiente pela
desse
transgressao das normas impostas pelo meio familiar, numa tentativa de se diferenciar
incita iden-
meio e reforçar a sua própria identidade. Esse comportamento freqüentemente
tificaçoes ou contra-identificações, no analista, que tornam indispensável a análise perma-
nente da contratransferência. Os analistas devem poder tolerar as faltas dos pacientes
adolescentes, os testes a que eles os submetem, e as reações agressivas, a fim de ajuda
OS analistas
los a discriminar analitica da situação familiar. Por esses motivos,
a situação
devem se monitorar constantemente.
em mente que ela
Ainda que a contratransferência seja útil, também precisamos ter
Se as
pode passar aobstáculo, se não levarmos em conta essas complexidades.
ser um
ele precisa refletir a
experiencias do paciente se vinculam a pontos de conflito do analista,
no paciente. Money-Kyrle
respeito dos seus conflitos e entendê-los, evitando despejá-los
de definir uma contratransfe-
(1956) se refere a essa possibilidade, ressaltando a importância
para servir
rência 'normall que permita ao analista identificar suas mudanças corrigi-las,
e

ao processo analitico.

Um caso clínico

do tratamento de M., uma pa-


Gostaria de ilustrar estas idéias com umas passagens
entrevis-
à consulta há trs anos. Durante a primeira
ciente de 16 anos de idade que veio
é psicóloga e me
veio por indicação da espOsa do sócio do pai, que
ta, ela me conta que
provavelmente será inütil me consultar, pois já
es
indicou. Ao mesmo tempo, explica que terminaram porque o ana-
desde os tres anos de idade, que
teve em diversos tratamentos,
ou porque começaram a tratar suas
ou de clientes da sua loja,
lista ficou amigo da me dela Conta que tentou suicidio seis meses
ela acha que não voltara.
irms ou primos. Por isso, contra a vontade dela. Quan-
antes e que o médico
do hospital fez-Ihe lavagem estomacal,
Ihe deram um carro.
do teve alta, os pais Ela se sente abandonada, ainda que
se sentir amada.
M. vem me consultar por não
maior esforço para
nao grita, xinga,
ser a m a d a - e l a
chora e joga objetos
saiba que faz o
a rua. As vezes desaparece por
do apartamento para
nos membros da
família e da varanda
colocou
ou volta de
madrugada sem avisar os pais: 'Ninguém janmais
uma ou duas noites de da nãe e pega
e agora
decidiram laze-10, M. vai à loja roupas
quaisquer limites pra mim, e nao usa ou joga fora. Deve duas matérias do
grande quantidade de roupas
que ranca e não consegue fazer os exames
sente-se tolaimente bloqueada
ano anterior do secundário,
finais. oura mais Vena, A mais velha, de 20 anos, engra-
maiS nova,
Tem duas irmas, uma ter o bebë. A nais nova tem 14 anos. M.
a se casar e a
VIdou aos 18 e os pais a
forçaram três
bebe, os avos maternos, a avó paterna e
o cunhado e o
pais, as irmãs,
mora com os
maridoe tres ilhos
homens com idades próximas à de M.
materna, o
cachorros. Uma tia condições de total promis-
eles ate recentemente, em
também moravam com
e suas irms
FILC
164 SARA ZAC DE

E uma familia multinuclear, muito ind:


com respeito a banheiros, nudez etc.
de sabe exatamente quem cuida da casa
Clada, sem qualquer discriminação. Ninguém
Todos os papeis se misturam, todos m n
ou quem abastece a geladeira.
Odos gasta,
Se gritam, ainda que os avós maternos fiquem em casa enquanto os pais vão trahon"
Ca mae tente voltar para casa o mais tarde possivel. Toda essa permissividade e balhar
r
eficiente. Não há toleránPa
operativo
ostram a ausência, na familia, de um superego à
diferenciação, nem papéis parentais definidos.
A JOvem dessa primeira consulta tem os longos cabelos tingidos de loiro e masea.chi.

Cietes, olhando-me com desprezo. Senta-se rigidamente


e esta sempre em guarda. Oan
do Ihe pergunto o motivo da procura, mostra-se surpresa, como se estivesse ali a neu

pealdo, projetando toda a sua confusão em mim. (Esse tipo de identificação projetiva
in-
ensa seria uma característica constante e fundamental do tratamento dessa paciente.) M

disse que não sabe realmente por que está ali e reitera que veio porque , amigo da fami
lia, e a esposa do sócio do pai a encaminharam, acrescentando que só virá uma ou duas
vezes e não voltará mais. Essa fachada agressiva e arrogante esconde um verdadeiro ter-
ror de não ser aceita. Também tem medo de que eu só queira atendë-la uma ou duas ve.
zes e depois me dedique a outros membros da sua familia, como os demais terapeutas.
M. fica de pé, anda, senta, e conta que teve diversos tratamentos, desde os três anos
de idade, mas os terapeutas começaram tratando-a e depois atendendo suas irms e primos,
e ela fugia: 'Você também é assim?' Quando Ihe digo que, se chegarmoS a um acordo, pre-
tendo tratá-la, e que provavelmente terei de conversar com os pais, mas que ela pode es-
tar presente a esa entrevista, ela me conta que quer estar al1, 'mas meus pais não vão
querer, e você sabe por que? Por que vão ter de me escutar'. A paciente acusa não só os
analistas anteriores, mas também a família. Faz bolas de chiclete tentando dissipar a ansie-
dade e mostra toda a sua fragilidade com essas bolas, que são grandes e arrebentam rapi-
damente. Ela me avisa que ficará calada.
M. levanta-se de repente e começa a andar de maneira ritmada em volta da sala, olhan-
do-me vez ou outra, como se me avaliassee testasse a minha capacidade de aceitá-la e de
contë-la. Olha para o div e me avisa para não lhe pedir que o use, pois não pretende faze-
lo: 'porque todos te mandam para o diva, já sei disso, conheço os psicólogos'. Quando lhe
digo que é a primeira vez que ela me vê, então não me conhece, ela diz: 'Ha-ha! Muito en-
graçado!" Senta-se, repentinamente no divã e me conta que tem uma irm quatro anos mais
velha e outra dois anos mais nova. A entrevista ocorre entre estouros de bolas de chiclete,
levantadase sentadas, um relato entrecortado de que sua familiaé uma 'mistureba'" já que
moram todos juntos e devido ao fato de a avó paterna cuidar da sobrinha de M. Também
fui criada pela minha avó; minha måe sempre estava na loja, nunca conosco'. M.
centa que chora e grita muito, nunca está satisfeita. Antes de ela sair, marcamos um novo
acres
horário para ela e outro para a entrevista com os pais, da qual ela participará e que sera
na manh seguinte.
No dia seguinte, ao abrir a porta para receber M. e os pais, só encontro M., que n
forma que tinha trocado os horários. Digo-lhe que tinhamos combinado outra coisa e que
eu a esperaria no horário dela. M. grita furiOsa
que não vai voltar, que já combinara con

No original, mishmash. (N. da T.)


3. Geralmente tenho uma consulta com os
pais antes de encontrar dido de-
les. Dada a histôria dos fracassos teraputicos,
o paciente, geralmente a
peu o de
dos sentimentos
vazio, decidi ver os pais e a jovem juntos. Ainda persecutórios Sen e do
pais,
20
que não devamos aceitar a intrusao
tratarmos adolescentes, acredito que se deve ter um canal de a0 que
se considere necessário. comunicação com eles
REFLEXOES A RESPEITO DO SE:TTING NO TRATAMENTO DE ADOLESCENIES 165

os pais, e quem sou eu para querer mauter nosso combinado anterior? Acredito que essa
reação exCessiva tivesse a intenção de testar tanto a minha conliabilidade quanto a minna
capacidade de conté-la, absorvendo a grande ansiedade-raiva que M. sentiu sem icar des
truida pelas palavras que ela me atirou. Achei que devia me ater ao nosso acordo, SC
deixar amedrontar, para que ela pudesse sentir conliável.
Depois que ela saiu, o pai me telefonou para dizer que eu seria culpada se Cla nao vic
se mais. Quando eu disse que talvez fosse papel dele ajudá-la a voltar, cle se recusou a Co

tinuar a conversa. Senti-me realmente preocupada c ansiosa. Teria feito a coSa certa
Mostrar-he que eu respeitava nossos acordos daria realmente um sentimento de seguran
ea? Suponho que seja unm ponto dificil de determinar e, na verdade, discutivel. Ainda as
S I u d d naureza dos pontos de vista de M. a respeito de nossa relação, considere
prioritário manter o acordo.
No dia seguinte, M. voltou no horário marcado. Entra, senta no divã, e diz: "Nunca
sei se posso confiar em ninguém'. Esse modo de dizer, usando uma dupla negativa, ilus
tra a linguagem pessoal (Zac de Filc, 1992) que essa paciente iria desenvolver gradativa-
constituía realmente a reafirmação da sua dúvida. Era o
mente,em que a dupla negação
modo de M. quase assegurar que não podia confiar em ninguém. O que surgiu, no acesso

histrionico do dia anterior, foi a luta entre o terror da mudança e a busca de uma ordem

Ihe digo que ela


que Ihe fornecesse o arcabouço necessário para se reestruturar. Quando
não sabia se eu estaria lá depois da enorme raiva e dos gritos, ela me conta que voltou por-

era verdade que não tinha mesmo estado em consulta comigo; em outras palavras, pode
que
sentir que estava sendo tratada na sua singularidade.
sessões semanais e che-
Durante meses, M. faltava a duas e às vezes a três das cinco
do meu proprio
tal ponto que comecei a pensar acerca
gava atrasada na maioria delas, a e
contratransferencial, senti inquietude, cansaço
comportamento. De uma perspectiva em primei-
preocupação. Não era só resultado das projeções da paciente- estava ligado,
sentimento que M.
respeito tanto do meu papel (devido
ao
ro lugar, à minha inquietação a
de continuar qualquer tipo de tra-
transmitia de apenas ser aparência) e a possibilidade
uma

em segundo lugar, ao desamparo que


ela sentia e pro-
balho analitico com essa paciente; e,
eu me perguntava se
realmente estava cumprindo a minha
jetava em mim. Freqüentemente,

função. sobre clientes da loja, sua avó, sua


contava histórias intermináveis
M. freqüentemente braços
vezes eu sentia que eu estava literalmente abrindo os
cachorros. Muitas
mae, seus
ela mostrava um ego extremamente fragmen-
pedaços, na medida em que
para juntar seus
de si mesma e ficando vazia. Eu precisava fa-
outras pessoas partes
tado, projetando nas agressões e Ihe mostrar que podia enfrentar
resistir a todas as
zer um grande esforço para eu não estava ficando lou-
ansiedade e que, apesar
das proJeções intensas,
a sua profunda interpretação mas também à manei-
ca. Refiro-me não apenas
ao eu he
que dizia a As ações do analista,
meu tom de voz.
fazia, minha atitude e
em que o
ra e ao momento analitico. Acredito que há outra cons-
favorecer o processo
não só suas palavras, podem o paciente se sinta aceito, c essa constante
que
associada ao setlng para analista deva ter
tante essencial, alem das entrevistlas que o com os

é analista. Considero que


atitude do de se comunicar com
a com os pais e a pOssibilidade

participação do adolescente junto capacidade desses pacientes


pais, a
um papel importante
na

analista desempenham
eles diante do leva-iOS a sentir que
tem um lugar no qual expri-
consultório da casa e de
de dissociar o
mir seu mundo interno.
mundo e x t e r n 0 .
E um ser social que repetirá, no con-
e
mundo interno que terão de
analisa-
O indivíduo é no seu ambiente
e ser
aprendidos
Sultório, regras e
comportamento
I r u i l e r a . No caso que contei,
M. pôde falar com
a analise seja
dos e elaborados, para que cO1Sas neleS. De
certa maneira, ela me usou
nem Jogar
OS pais, na entrevista,
sem gritar ter consciência de que ela
es-
e eu precISava
transicional)

Como intermediária (um objeto


DE FILC
166 SARA ZAC

ao mesme
positiva e, ao
tava fazendo isso. A mediacão proporciona
uma
transierencia
mesmo tem-
negativa, quando
esta uindo a anál:
aparece. Seguindo
análise de
pO, Tacilita a análise da transferência M. puder discriminar
dizer que, se .
pode-se
Dn da relação original mãe-criança, é vivido c o m o catastrófico e Ihe dne
metaboliza o que evol
util, serei pessoa que
Puucr ser a
do que e Sinistro.
Sentimentos massivos e destrutivos despojados

Algumas reflexies finais

Como construimos o setting, com esse tipo de paciente? Em que medida ele contri.

para a criação de um espaço interno em que eles poSsam


interiorizar uma
figura ma
Du
Terna com réverie, um objeto bom que metabolize o mau e assim lacilite a identificacão?

Não se trata de um setting tradicional, mas de um setting que contemple as característi.


cas diferenciais da análise de adolescentes, em que a principal preocupação não seja as re-
gras a serem instituídas, mas, ao contrário, a certeza de que tanto o paciente quanto o
analista as sigam. Esse respeito às regras estabelecidas em conjunto com o paciente constitui
parte da função analítica, na análise de adolescentes.
Acredito que os analistas, com sua presença, atitude e funcionamento, fazem parte da
rede externa interiorizável que o adolescente constrói. A presença do analista, bem como
a sua voz, tom e interpretação são os elementos que tornam p0ssivel essa construção, ge-
rando e determinando, assim, o processo analitico. A oscilação dos adolescentes entre a
instabilidade produzida por suas próprias mudanças psicobiológicas e a insegurança do
mundo circundante determina a busca de um continente que os ampare na sua inseguran-
ça cambaleante. Em reação às ansiedades persecutórias, o ego do adolescente pode se dis-
sOCiar e se fragmentar, projetando suas partes nos seus objetos e, quando em análise, no
analista, o que torna o papel continente deste mais importante ainda.
A dificuldade de aceitar mudança - mudança relativa à necessidade de aceitar pas-

sar a ser outro f a z o crescimento ser vivido como desaparecimento ou morte. Quando
a ansiedade de separação reaparece, durante a adolescência, o analista precisa funcionar
como o marco metabolizador que criará as condições necessárias para que o adolescente
possa construir e criar. Aqui é que as identificaçöes serão vitais. Há uma revivência narci-
sica, durante a adolescéncia, que provoca grande sofrimento. Segundo Meltzer (1973).
ocorre uma grande cisão do self e de seus objetos, similar ao período pré-edipico e pre
genital da primeira infäncia. Essa cisão torna possível ao adolescente reagir diante da grande
invasão de desejos genitais (ainda pouco modificados pelo self adulto ou por identificação
introjetiva) nas suas formas infantis, polimorfas e perversas. (Esse processo dä margem
à procura de um grupo). Essas condições nos levam à busca de novas pontes de comuni-
cação, que nem sempre se estabelecem facilmente e que nos defrontam com a necessida-
de de encontrar outras vias de comunicação e novas maneiras de considerar noss0 setting
e de enfocar o tratamento analitico. Devemos buscar um modo de nos colocarmos pard
compreender a dificuldade especifica do adolescente e entender suas significaçöes pro
fundas.

Tradução: Tania Mara Zalcberg


Revisão Téenica: Haroldo Pedreira
REFLEXOES A RESPEITO DO
SETTING NO TRATAMENTO DE ADOLESCEN
ENTE 167

Resumo
A autora
aestaca importância
a
do setting
mente no Caso de
adolescentes desenvolvimento do
no

especificar: a) solieitam tratamento analitico. Os processo psicanau


que
esp
ara a
como configura o sefting com esse
se
principais
tipo de pacientes c b) em queobjetivos u a5
para
eriaçao de um
espaço interno em
que haja a poSsibilidade de
medida
esc
um objeto bom que interiorizar uma figura
metabolize o mau e assim
necessario para trabalho analítico, é
o permita a identificação. O setting, consideradode oreverie
constantee estavel, e o do adolescente, considerado a partir de dois aspectos: do analista, que o
contex
que se transforma provi
texto firme que contribua para
levar o adolescente a se progressivamente
se o analista
mantiver um
sentir contido e aceito. Este sentimento quc
mitirá desenvolvimento do
o
e
processo analitico. A autora ressalta
(sua voz, Seu jeito de falar
etc.), bem como a
a
importância da presença do
ana
lista
ceu conjuntamente com o paciente. necessidade de
analista cumpra
que o as regras que estabeI
Apresenta-se um caso clínico para ilustrar essa
conceituaça20

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Las Heras 3855 Piso 6 2006 lnstitute of Psychoanalysis
1425 Buenos Aires 87: 457-69
Int. J. Psychoanal. 2006;
Argentina
dfilc@fibertel.com.ar
LIVRO ANUAL DE PSICANALISE
Tomo XXII - 2008

oNAL URNAL
JOU OF P

PSYCHO

Publicado para
The British Psycho-Analytical Society
Comitê Editorial da América Latina do
International Journal of Psycho-Analysis
por
Editora Escuta Ltda.
São Paulo - Brasil

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