1) O documento discute a tensão entre técnica e ética na psicanálise, afirmando que a psicanálise se define pela sua ética e não por uma técnica exterior.
2) Defende que o dever do analista não é proporcionar cura ou felicidade, mas sim elucidar o desejo do paciente através da transferência.
3) Argumenta que a formação do analista deve envolver uma auto-análise profunda e contínua, rejeitando abordagens meramente técnicas ou utilitaristas.
1) O documento discute a tensão entre técnica e ética na psicanálise, afirmando que a psicanálise se define pela sua ética e não por uma técnica exterior.
2) Defende que o dever do analista não é proporcionar cura ou felicidade, mas sim elucidar o desejo do paciente através da transferência.
3) Argumenta que a formação do analista deve envolver uma auto-análise profunda e contínua, rejeitando abordagens meramente técnicas ou utilitaristas.
1) O documento discute a tensão entre técnica e ética na psicanálise, afirmando que a psicanálise se define pela sua ética e não por uma técnica exterior.
2) Defende que o dever do analista não é proporcionar cura ou felicidade, mas sim elucidar o desejo do paciente através da transferência.
3) Argumenta que a formação do analista deve envolver uma auto-análise profunda e contínua, rejeitando abordagens meramente técnicas ou utilitaristas.
Considerações sobre a formação do analista: requeremos que ele deva iniciar sua
ética, saber e transmissão atividade por uma auto-análise e levá-la, de
modo contínuo, cada vez mais As psicoterapias que são estranhas a profundamente, enquanto esteja realizando psicanálise, em linhas gerais, tomam um suas observações sobre seus pacientes. conceito de ciência como equivalente de Qualquer um que falhe em produzir resultados eficácia, e eficácia como sinônimo de numa autoanálise desse tipo deve desistir, utilidade. E mais, tomam o sujeito como algo imediatamente, de qualquer ideia de tornar- a ser objetivado cientificamente; se capaz de tratar pacientes pela análise; Somente em função de uma discussão sobre Freud afirma ser impossível a prática clínica os conceitos que sustentam e dão sentido a psicanalítica pautada em uma mecanização prática psicanalítica é que podemos pensar técnica. Essa impossibilidade acontece sobre a validade ou não da psicanálise e devido a consideração de que um sintoma é sobre a formação do analista, que produzido devido a uma condição psíquica contrariando esse modelo utilitarista, diz especifica, a qual implica, necessariamente, ‘não’ a uma vocação tecnicista; um posicionamento do sujeito. Portanto, se As recomendações freudianas: técnica versus Freud fala de recomendações e não de um ética critério fixado para uma boa condução de uma análise; existe uma preocupação com o • Discutir a tensão existentes entre os trabalho do inconsciente, cuja lógica de conceitos de técnica e ética, conhecimento e funcionamento não aponta – como um fato saber, ensino e transmissão em si. • A psicanálise define-se e orienta seu campo de ação em função de sua ética e não de uma Em relação as recomendações técnicas para técnica exterior ao seu discurso; a direção do tratamento psicanalítico, Freud diz ser o período de sondagem fundamental O reconhecimento internacional da no início, pois é através deste que se torna Psicanálise, intensificou a preocupação de possível aceitar ou não um paciente. A Freud em expor a técnica e em pensar a escolha de aceitar ou não aí indica, entre formação dos profissionais que iriam exercer outras funções admitidas no período das a psicanálise. No entanto, os esforços de entrevistas preliminares, que o analista deve fazer essa exposição foram acompanhados de levar em consideração o diagnostico, onde a uma precaução que se revela quando Freud “sondagem” proporcionaria a identificação diz ser prudente chamar suas advertências da estrutura clínica do sujeito. O cuidado e a técnicas de recomendações e a não escolha se devem à possibilidade de o reivindicar qualquer aceitação incondicional paciente apresentar sinais de um estágio delas. preliminar de psicose. Essa precaução revela um ceticismo freudiano Em relação a questão de quanto tempo teria em relação a um manual prático de o tratamento, Freud admite ser esta questão psicanálise e confirmam a hipótese dele de impossível de ser respondida, pois determinar que a psicanálise não pode ser transmitida um tempo de cura implicaria em especificar apenas com a leitura teórica. A questão da quais os resultados a serem obtidos. Se técnica psicanalítica esta intimamente ligada considerarmos, mais uma vez, que a cura se à análise do analista. Segundo Freud: encontra vinculada a uma mudança no posicionamento do sujeito frente ao sintoma, ‘’Nenhum psicanalista avança além do quanto não é pertinente a previsibilidade de um permitem seus próprios complexos e resultado e, consequentemente de um tempo resistências internas; e, em consequência, de cura. E mais, admitir um tempo para que o trabalho da associação-livre dê conta de quando fala de ética não se refere a uma fazer com que o sujeito se familiarize com o universalidade dos costumes, tão menos uma que condicionou sua neurose, contrasta com generalidade da ação. O que realmente o caráter atemporal do inconsciente. importa é a dimensão ética própria à psicanálise, aquela que se coloca segundo Freud condena qualquer linha de conduta do Lacan sob o prisma do desejo do analista. analista, que procure fornecer ao sujeito uma Portanto a postura ética da psicanálise seria tradução dos seus sintomas. Mesmo que as de não tomar o sujeito e seu sofrimento como resistências possam indicar algo a respeito uma categoria técnica. Na análise, as da estrutura do sujeito, o analista não possui questões técnicas se transformam em éticas, um saber sobre o que condicionou o pois é na ética que nos dirigimos ao sujeito. A aparecimento de tal estrutura. Em outras categoria do sujeito é ética e não técnica, o palavras, mesmo uma tentativa de fornecer estatuto do inconsciente é ético. ao sujeito, via interpretação, informações sobre o conteúdo recalcado, fracassa, pois o Então a psicanálise se define como clínica do analista não sabe o que condicionou o sujeito, o sujeito é a matéria única do aparecimento de tal estrutura no sujeito; trabalho analítico, significando que na formação do analista o que está em jogo não Como é possível a coexistência de um seria a aquisição de formações técnicas que conhecimento consciente do conteúdo impliquem sobre o sujeito, pois essa recalcado e uma insistência do sintoma? A perspectiva é contraria ao que a psicanálise psicanálise irá demonstrar que informar o se propõe que seria a saber, tratar cada caso sujeito de sua suposta experiencia recalcada como sendo único, e ainda, como se fosse o não é suficiente para admitirmos uma cura primeiro. da neurose. Portanto é injustificável o estabelecimento O desejo do analista, que não é o mesmo da de um critério de como chegar à cura de ordem do médico, que se dedica a curar se sintoma, uma vez que tal sintoma não se estabelece como ponto essencial da formação atem a um domínio orgânico. Ao contrário, a dos analistas, uma vez que, a via aberta por estrutura clínica não determina um valor Freud para que façamos de nos analistas para o sintoma do sujeito nem tenta cientes de sua causa, implica a subversão de padronizá-lo. todo edifício cultural ordenado pelos valores do bem, do belo, do verdadeiro; implica o Logo o problema de uma saúde psíquica para abandono da esperança, do controle e todos não deve ser objetivo do psicanalista. educação da libido em prol de uma saúde O desejo do analista deve ser aquele que não coletiva. busca a felicidade, cura como fim próprio de uma análise. Sua ética então visa ultrapassar A psicanálise quando fala de ética, é aquela o modelo tecnicista e utilitarista da clínica contraria à ilusão filosófica de ética para contemporânea. todos nos. Isso significa que a psicanálise O dever do analista: bem-estar versus elucidação de desejo Qual seria então o compromisso do analista análise pessoal; o segundo seria proporcionar se ele não deve se orientar pela cura ou os deveres analíticos de acordo com a felicidade? capacidade do sujeito de suportá-los, indo ao encontra com o papel da transferência e De acordo com Miller, o psicanalista possui manejo da transferência; e o terceiro seria três deveres: o primeiro seria que o indicar ao publico o que o psicanalista não psicanalista deve ser de fato um psicanalista sabe e o que ele não pode prometer. e isso só pode ser alcançado através de uma Para o Miller é um dever do psicanalista Então uma forma de entendermos o papel da saber que ele nada sabe sobre o que é melhor cura no contexto psicanalítico é semelhante para o seu paciente. A única atividade com o com o acréscimo. A cura não deve ser a meta qual ele pode se comprometer é com a alcançada, mas sim algo que pode ser elucidação de desejos inconscientes. esperado como acréscimo. Então temos uma direção pela qual a ética Intersecção entre Psicoterapia e Psicanálise da psicanálise deve se orientar que seria com Temos uma zona de intersecção entre a a verdade do desejo. Isso implica romper com psicanálise e a psicoterapia já que ambas toda abordagem que privilegia o bem-estar e apostam na fala para conseguir seus efeitos; a eficácia como objetivos clínicos. Então o que indica se como função primordial do desejo do psicanalista não se orienta pela psicanalista é algo que está em uma zona elevação do humor, mas pela busca do que exterior e contraria a psicoterapia. Então inconscientemente determinara a alteração existe um abismo entre essas duas formas de afetiva, logo, pela busca do que intervir. inconscientemente está influenciando a crise de ansiedade; Por isso o psicanalista se opõe Abismo que Freud destaca ao diferenciar a a grande parte das praticas medicamentosas, técnica sugestiva da técnica analítica em sua pois, acreditam que a química so pode mudar comparação com pinturas e esculturas; assim o comportamento humano ou o como na pintura, as psicoterapias que se funcionamento do corpo, provocando uma orientam pela técnica da sugestão trabalham mudança na posição do sujeito frente ao seu per via di porre, pois depositam sobre a tela sofrimento. as partículas coloridas que não estavam ali; sendo que a proposta freudiana é que a Sendo assim, relembra-se o furor sanandi, ao psicanálise siga o exemplo da arte cultural, fanatismo pela cura, em que o autor alerta funcionando per via di levare, retirando do que “acreditar que as neuroses podem ser objeto pedras que escondem a estátua já vencidas pela administração de existente; remendizinhos inócuos é subestimar grosseiramente esses distúrbios, tanto As técnicas sugestivas que promovem o bem quanto à sua origem quanto à sua estar se sustentam pelo que Lacan chamou importância prática”; (o sujeito deve ter uma de discurso do mestre; Sendo que o mestre posição frente ao sintoma, ser ativo, algo para a psicanalise não deveria existir, mas impossibilitado quando a química muda o esta presente em outras terapias como o comportamento do indivíduo) terapeuta que manda, fala o que o paciente deve fazer, suas estratégias, como se ele Então o principal dever do psicanalista é não tivesse todo o conhecimento; passando-o subestimar os distúrbios neuróticos; ao para o paciente fazer tais coisas, repetindo- psicanalista faz-se necessário um as, por isso usa-se o nome escravo e de tanto comprometimento com a elucidação do desejo praticar ele acaba não errando; mas o inconsciente, mais do que com o bem-estar problema é que o mestre não detém toda imediato, o qual explica a dificuldade em verdade e sim faz a ilusão de que tem; determinar um tempo para a análise ou em encurtá-la; As “recomendações” de Lacan: saber versus conhecimento Se a prática psicanalítica se orienta por uma qualquer manual técnico de psicanálise. Se a ética do não saber, como ensinar psicanálise? psicanálise possui algumas técnicas elas são raras e inseguras, tanto para utilização A insegurança de Freud quanto as quanto para avaliação; talvez não seja formulações técnicas de sua prática, deixa possível identificar mais que dois dispositivos claro que podemos esperar pouco de técnicos nas recomendações de Freud que transmitido na psicanalise é o saber do não seria a: associação livre e o uso do divã, saber, um saber que não se cristaliza em podendo ser classificadas como técnicas. Mas significação definida, o saber antagônico ao ambas necessitam de uma condução que esta conhecimento, então, o saber do não sabido é condicionada ao manejo da transferência e o que se busca em uma análise, por isso escuta, para qual não existe manual nem Lacan descrê do conhecimento como base meio de avaliação. Nos forçando a colocar a solida da formação do analista e aposta no formação do analista fora da lógica da saber enquanto resultado da análise; formação técnica. Então para elucidar a diferença entre o saber Para lidar com isso Lacan fundou sua própria e conhecimento Lacan irá utilizar a escola, desenvolvendo uma teoria que não publicação de uma biografia; As pessoas que trata o saber e o conhecimento como leem a biografia se interessam pelas mecanismos coincidentes e sim um informações recolhidas, os documentos que antagonismo do saber que se transmite e o provam por onde a pessoa passou. Uma conhecimento que se ensina; sendo assim o psicanálise nesse sentido, se difere da conhecimento pode muitas vezes representar biografia. É que a elucidação em uma análise uma barreira ao saber; não é da ordem do conhecimento comprovado, mas de um saber que, de Por isso, ao discutir sobre a transmissão da verdades verdadeiras, fez surgir tantos psicanálise, principalmente em seus desvios, ficções e erros; institutos, ele diz que: O desejável não é que os analisados sejam mais ‘introspectivos’, mas Logo se existe uma diferença entre os modos que compreendam o que fazem; e o remédio de saber é natural que existam diferentes não é que os institutos sejam menos formas de ensino; O inconsciente não é estruturados, mas que não se ensine neles um composto de um conhecimento sem saber, de saber pré-digerido, mesmo que resuma os um instinto, mas, pelo contrário, de um saber dados da experiência analítica; do qual o sujeito não tem o menor conhecimento (o que estaria mais próximo do Saber e Conhecimento conceito freudiano de pulsão). Então, é por O remédio segundo Lacan é que não se ensine essas vias que, à psicanálise, não interessa o um saber pré digerido, que na antítese entre conhecimento, o “acúmulo de informação”, saber e conhecimento deve estar do lado do mas um saber; conhecimento; o saber que deve ser
A formação do analista: aprendizagem versus transmissão
A psicanálise indica que o ensino nem sempre diversa do ensino tradicional, a partir de um é a transmissão de um saber; O ensino na sujeito insubstituível que chamamos de psicanálise coincide ou se aproxima ao mestre. Para o autor, o conceito de trabalho do psicanalista; ou seja; trata-se de transmissão esta diretamente ligado ao papel se colocar numa posição distinta do mestre importante da matemática. Pois é pelo que detém um saber e que transfere matema que é transmissão integral se mostra informações; capaz; Como então iremos tratar de uma modalidade A lógica matemática é encarada por Lacan de ensino que procura produzir um não saber como modelo de transmissão; Lacan irá que não se pode dominar, um saber que não buscar cada vez mais o matema como meio seja pré-digerido? de exercer o que chamou de transmissão integral. O matema é aquilo que não se tem A resposta encontrada por Lacan é o que ele necessidade de tradução num livro de logica, irá chamar de transmissão. O conceito de as fórmulas e letras; transmissão aponta-nos para uma direção O matema é capaz de uma transmissão Enquanto o ensino do mestre transfere integral devido a essa desnecessidade de conhecimento, o ensino do analista deve tradução. O que não é matema em um livro de buscar transferir trabalho. Por esse motivo, lógica, suas palavras (significantes) achamos justo fazer uma oposição entre necessitam de uma tradução, necessitam ensino (ou aprendizagem) e transmissão; serem sempre transferidos para um campo de Então temos uma antítese entre significação compatível com o leitor. Já as aprendizagem e transmissão; enquanto letras, os matemas, podem permanecer os mesmos, pois desproveem de sentido. aprendizagem recorre ao conhecimento a transmissão recorre ao saber como trabalho; A noção de letra embora sofra muitas para Lacan, o resultado de uma análise é modificações aponta sempre para algo fora sempre a formação de um novo analista, do significante, do que não comporta tenha ou não ele estudado psicanálise, significado. Dessa forma a letra estaria para ficamos tentados a dizer que o papel da a linguística da mesma forma que o matema transmissão, ou seja, da transferência de um para a matemática, ambos exercendo a trabalho, é de longe mais importante para o função de colocar o discurso fora do campo avanço da psicanálise que seu ensino simbólico; tradicional. Evidentemente, isso ocorre pelo fato, já citado, de que é inútil dizer ao Lacan matematiza a psicanálise, buscando paciente como o inconsciente funciona, se ele usar fórmulas e letras ao invés de uma mesmo não passar pela experiência de explicação exaustiva; revelando a descrença trabalhar e inventar um saber que diz do de Lacan para com a comunicação; se existe modo de funcionamento de seu próprio um ensino que transfere significantes, a inconsciente, o que exige posições éticas e psicanálise deve tentar ir para além desse subjetivas. ensino e alcançar um ensino que transfira um trabalho. É o próprio Lacan que diz que “o ensino da psicanálise só pode transmitir-se de um sujeito para outro pelas vias de uma transferência de trabalho;