Você está na página 1de 13

Ílrigem e evolução histórica do

conceito de conttatransÍerêncial
Beatriz de león de Bernardi

CONCIITO DE CONTRATRAI'ISIIRINCIA
veis em seu contato com o paciente, de modo
que possam lhe ser úteis e não interfiram nos
A reflexão acerca da noção de contratransfe- fins primordiais da análise: a modificação da
rência sempre acompanhou a evolução do pen- realidade psíquica do Paciente'
samento psicanalítico, mas ganhou importân- Abordar uma definição da noção de con-
cia especial na segunda metade do século )C( tratransferência traz algumas dificuldades.
deüdo à progressiva importância outorgada à Sendo um conceito próximo da experiência cli
participação do analista nos processos de mu- nica, este se generalizou, sendo usado descriti-
ãança terapêutica. De fato, tanto desenvolvi- vamente com múltiplas acepções. E uma no-
mentos teórico-clínicos como avanços da inves- ção entendida de diferentes maneiras, segun-
tigação empírica em estudos de processo e re- do o aspecto teórico que se considere. Tal no-
sultados analíticos mostraram como caracte- ção, que, sem dúvida, pode causar confusão
rísticas da personalidade e modos de interven- no intercâmbio científico, permite, na medida
no en- em que se discriminam suas diferentes acep-
ção do analista incidem decisivamente
ções, compreender sua riqueza conceitual
e os
contro com o paciente e na evolução da análise.
O estudo da contratransferência oferece problemas clínicos abordados em diversas po-
novas perspectivas para compreender o alcan- lêmicas desenvolvidas sobre o tema duran-
ce das disposições e reações conscientes e in- te quase um século.
conscientes do analista quanto ao paciente. Elas
A evolução do conceito de contratrans-
podem funcionar como fator de mudança no ferência permite hierarquizar dois de seus sen-
üatamento ou interferir nele. Neste sentido, o tidos. Um sentido, restrito, com origem no de-
tema da contratransferência se relaciona com senvolvimento freudiano sobre o tema, consi-
os da neutralidade e da abstinência. A tomada
dera a contratransferência um fenômeno pon-
de consciência pelo analista de sua contribui- tual na análise e um obstáculo a ser superado:
"Um modo de participação inconsciente do
ção para o processo lhe permite manter uma
atitude alerta frente a envolvimentos inevitá- analista no processo transferencial-contratrans-

1As idéias desenvoÌvidas nesre capítulo foram discutidas com o Dr. Ricardo Bernardi. Algumas foram
(de León e Bernardi, 2000) e no
anteriormente publicadas de formaconjunta no livro Contratransferência
trabalho,,Contiatransferência e vuinerabilidade do anaÌista" (de León e Bernardi, 2005).
18 ZASLAVSKY, SANTOS E COLS

ferencial, cujos efeitos no tratamento necessl- Em nível observável ou manifesto, é mui-


tam ser esclarecidos para que o trabalho analí- to vasta a gama de fenômenos que surgem no
tico possa continuar se desenvolvendo adequa- analista e que podem ter uma raiz contratrans-
damente" (de León e Bernardi, 2000, p.14; de ferencial: sentimentos e vivências corporais
León e Bernardi, 2005, P.24). diferentes, de sensações somáticas a distintos
Há, contudo, um sentido amPlo, que tem tipos de gestos e movimentos, ocorrências, so-
entre as principais contribuições as de Racker e nhos, etc. Alguns autores localizam dentro da
Heimann e que considera a contratÍansferêncìa contraffansferência não apenas as reações dian-
uma resposta global do analista ao paciente, te do paciente durante o trabalho analítico, mas
uma dimensão constante da análise e um ins- também as predisposições do analista - circuns-
trumento imprescindível no processo interpre- tâncias vitais, crenças e convicções ideológicas,
tativo. Neste sentido, pode ser definida como: preferências teóricas, diferentes aspectos do
"a disposição ou reação consciente ou incons- diálogo com os colegas, instituição a que per-
ciente do analista diante do paciente em de- tence, entre outras. se estes aspectos podem
terminado período do tratamento" (de León e ter uma influência positiva para o processo de
Bernardi, 2000, p.14; de León e Bernardi, 2005, análise, também é certo que podem condicio-
p.24). nar disposições contratransferenciais pouco fl e-
Diferentes razões levaram a ampliar o xíveis, que se tornam egossintônicas no ana-
sentido estrito da noção de contratransferência. lista (preferências teóricas ou técnicas muito
De fato, a extensão da indicação da psicanáli- marcadas, por exemplo), dificultando sua es-
se para crianças, adolescentes, personalidades cuta do paciente.
narcisistas, limítrofes e psicóticos levou à mo- Estes aspectos múltiplos da participação
dificação da noção de neurose de transferên- do analista devem ser investigados, seja em um
cia no tratamento de patologias em que pre- processo interno reflexivo e de auto-análise
dominam defesas primitivas anteriores à re- (Bernardi e de León, 7993) - durante a sessão
pressão. Este ponto foi discutido no Simpósio ou depois - e/oujunto ao paciente, durante a
de Arden House, convocado pela Sociedade sessão. As vezes, no entanto, eles não são vis-
Psicanalítica de NovaYork (1954), do qual par- tos pelo analista e se torna necessário recorrer
ticiparam Leo Stone, Edith Jacobson e Ana à supervisão do caso, de modo a contar com
Freud, e no )O(V Congresso Internacional de um terceiro olhar sobre os movimentos ocorri-
Copenhague (1,967), com a presença de dos na relação analista-paciente.
Guttman, E. Zetzel. P C. Kuiper e R. Diatkine Destacamos anteriormente vantagens e
(Etchegoyen, 1986). AÌgo semelhante ocorreu desvantagens do uso amplo ou restrito do ter-
com a noção de contratransferência, que ad- mo (de León e Bernardi, 2000, 2005). Um uso
quiriu particularidades na abordagem de pa- amplo pode levar à diluição da noção e desta-
cientes de diferentes idades e patologias' No car a personalidade do analista, fomentando
entanto, além disso, o desenvolvimento do co- aspectos narcisistas de sua personalidade. Um
nhecimento psicanalítico levou a considerar di- uso restrito pode conduzir o analista a uma ati-
ferentes aspectos da personalidade do analis- tude de retração afetiva frente às próprias res-
ta que incidem em seu trabalho e, paulatina- postas emocionais e às do paciente, o que pode
mente, a noção de contratransferência se es- impedir o analisado de expressar com liberda-
tendeu a todo o funcionamento mental do ana- de suas vivências internas com relação ao ana-
lista. Contudo, parece-nos necessário distinguir lista, dificultando o avanço da análise. Em mi-
as manifestações observáveis da contratransfe- nha opinião, é útil conservar o uso de ambos os
rência de suas fontes, que muitas vezes per- sentidos, na medida em que sejam úteis para
manecem ocultas. As primeiras aparecem em descrever fenômenos que ocorrem em diferen-
nível consciente,/pré-consciente, enquanto a tes momentos do processo analítico e no trata-
origem da contratransferência é inconsciente. mento de diversos pacientes e patologias.
CONTRATRANSFERÊNCIA:TEORIAEPRÁTICACLíNICA 1g

ORIGIM tllsTÓBICA DO CONCIITO


pela análise. Na medida em que o analista re-
mul-
D, e
cupera sua liberdade frente a sua contratrans-
rSem no I PRINCIPAIS TINI|AS
ferência, poderá atender os aspectos vulnerá-
lratrans-
veis do paciente e defender o direito deste de
I)rporais Sigmund Íreud: as íontes da
ser tratado em um clima de verdade, Iiberda-
distintos contÍatÍansÍeÍência no analista
de e respeito. Freud estabelece a necessidade
[cias, so-
A noção de contratransferência surge secun- de auto-análise e de tratamento psicanalítico
lentro da
dariamente ao descobrimento freudiano da para o analista como forma de dominar a con-
Fes dian-
transferência e é compreendida como uma rea- tratransferência e evitar fracassos.
tico, mas
-circuns- ção inconsciente a esta. Para Freud, a contra-
nlógicas, transferência tem suas fontes inconscientes nos
conflitos neuróticos do analista, reativados pelo Paula Jleimann: as Íontes da
rcctos do
rque per- contato com os conflitos infantis do analisado. contÍatÍansíeÍência no paciente

rs podem Nesta visão, a contratransferência opera como


resistência do analista, que freia a associação Contemporâneos de Freud como Ferenczi (1919/
resso de
oondicio- Iiwe. A auto-análise ou psicanálise do analista 1952) e Deutsch (1926), entre outros, desen-
pouco fle- possibilita liwar-se deste obstáculo e retomar volveram pontos de üsta sobre a contratransfe-
3 no ana- o caminho da análise. rência, mas apenas na segunda metade do sé-
cas muito A perspectiva freudiana sobre a contra- culo )O( se produz uma mudança realmente
significativa. São as visões de Racker em Buenos
b sua es- transferência é compreendida no contexto do
descobrimento do amor transferencial (Freud, Aires (1948/1953) e Heimann (1950) em Lon-
rticipação 7970, 1912, 7914/7915). Freud mostra sua dres que provocaram, quase simultaneamente,
rja em um preocupação de que o analista, no processo uma mudança conceitual na visão da contra-
no-análise regressivo da análise, se perca em seus pró- transferência, o que representa, na opinião de
E a sessão prios "pontos cegos" (7912, p.115), de modo Horacio Etchegoyen, uma verdadeira mudança
durante a que atuem na relação presente com o pacien- de paradigma na psicanálise (Etchegoyen,
lo são vis- te seus próprios impulsos infantis amorosos 1986). De lugar secundário, a contratransfe-
b recorrer ou agressivos, respondendo contransferen- rência passa a ocupar lugar de destaque, o que
ÍaÌtar com cialmente à demanda de amor do analisado. leva Thomâ e Kâchele (1985/7989) a dizer que
los ocorri- Isto faria com que o paciente repetisse seus a contratransferência passa de borralheira à
conflitos neuróticos primitivos sem recordá- princesa. O analista passa de observador a in-
mtagens e los e elaborá-los como "material psíquico" tegrante do campo de trabalho.
(Freud, 7974/1975, p.169), o que causaria o De fato, Paula Heimann, em seü trabalho
tito do ter-
fracasso do tratamento. Ac er ca. dq c o ntr otr ansfer êncía, apresentado no
D. Um uso
io e desta- Nesta primeira visão da contratransferên- XVI Congresso da Associação Psicanalítica In-
cia, os aspectos éticos foram colocados em pri- ternacional de Zurique e publicado no Interno-
mentando
meiro plano. A condição para o estabelecimen- tional Journal of Psychoonolysis em 1950, mo-
Edade. Um
ìauma ati- to do método analítico e da associação livre é dificou radicalmente a noção freudiana de
que o analista, como um espelho (Freud, 7912), contratransferência como obstáculo. Heimann
lQrias res-
reflita e interprete naturalmente o paciente, destaca que, na situação analítica, se estabele-
o que pode
ce uma relação em que analista e analisado
h liberda- deixando de lado sua Personalidade, suas con-
sentem diferentes emoções. Ela entende a
Frc ao ana- vicções e seus desejos. As metáforas do espe-
be- Em mi- lho ou do cirurgião (Freud, 7912), usadas por contratransferência como a totalidade da res-
Freud para se referir à atitude que o analista posta emocional do analista e como um instru-
le ambos os
I úteis para deve ter diante do paciente, podem dar a im- mento privilegiado para a compreensão dos
cm diferen- pressão de frieza e distância, mas não se pode conflitos inconscientes do paciente: 'A resposta
) e no tïata- esquecer que surgem no momento em que emocional do analista a seu paciente na situa-
bgias. Freud descobre as fortes emoções mobilizadas ção analítica representa uma das ferramentas
2O ZASLAVSKY, SANTOS 8 COLS.

se. Nesta visão, a relação analítica e, em espe-


ïm
mais importantes para seu trabalho. A contra- Asú
transferência do analista é um instrumento de cial, os aspectos inconscientes, passam ao pri-
iil@
pesquisa dirigida ao inconsciente do paciente" meiro plano, determinando o andamento ou a
parada do processo. E interessante constatar dd
(Heimann, 7950/196I-62, P.130). tÊ-
Heimann defende que as respostas emo- que muitas das questões clínicas daqueles anos
cEs
cionais do analista durante a sessão podem ser reaparecem em diferentes correntes do pensa-
Iüm
determinadas por ansiedades e conflitos in- mento psicanalítico contemporâneo, que ten-
conscientes cuja fonte deve ser buscada no dem a hierarquizar os aspectos intersubjetivos
pTE
analisado. A contratransferência é entendida, da análise.
Entre os pensadores mais importantes Eril
então, como uma "criação do paciente", como w
uma "parte de sua personalidade" (Heimann, desse período, encontramos Heinrich Racker,
d0
7g5O/796I-62, p.134). Noções básicas do pen- Madeleine Baranger e Willy Baranger. Heinrich
asF
samento kleiniano estão na base desta concep- Racker, de origem polonesa e educado em Vie-
con- na, completou sua formação na Associação Psi-
tu
ção, na medida em que a transferência é fiÍn:
cebida como situação total, em que se reativam canalítica Argentina na década de 1940. Em
d'o
relações de objetos e fantasias inconscientes 1948, um ano antes de Paula Heimann, Racker
apresenta seu trabalho Aneurose de controtrans-
a5
primitivas. Ansiedades e defesas precoces do irl
paciente, como projeção, introjeção e identifi- ferência, publicado posteriormente no Interno--
tionoj Journol como Á contribution to the pri
cação projetiva determinam as características
19'
da contratransferência. p r oblemof co untertr ansfer ence (Racker, 1 948 ) .
ren
Melanie Klein discordou das idéias de Racker apresenta seu trabalho quase simulta-
en:
Heimann, desaconselhando o uso exagerado e neamente com Paula Heimann, sem que haja
es[
generalizado da contratransferência, que po- existido no começo um intercâmbio entre suas
c0l
deria atribuir, indiscriminadamente, aspectos respectivas idéias (Etchegoyen, 7986, p.247).
Racker manteve a idéia de que a contra- Pn
próprios do analista ao paciente, questiona-
mentos retomados por pensadores kleinianos transferência tem sua fonte nos conflitos neu-
m
contemporâneos. Klein manteve a idéia clássi- róticos do analista, mas também incorporou
idéias kleinianas sobre as posições e relações
el
ca da importância dos conflitos do analista rel
como fonte da contratransferência. A mesma precoces, a fantasia inconsciente, o Edipo pre-
lltit
Heimann se distanciou posteriormente de sua coce, as angústias e os mecanismos defensivos
primitivos (Racker, 1948). Sua contribuição da
primeira visão, ao assinalar a necessidade de :ìo
que o analista atenda seus próprios "pontos mais original foi destacar que a transferência
su
cegos", que podem leválo a estabelecer trans- e a contratransferência se co-determinam e se
c0
ferências com seu paciente (Thomâ e Kâchele, influem mutuamente: "Transferência e contra-
lar
79Bs/7989). transferência representam uma unidade, dan-
tis
do-se mutuamente vida e criação na relação
interpessoal da situação analítica". (Racker,
12(
0 enÍoque do Bio da Pnta, as íontes da 1953, p.95). Como Heimann, ele considera a
1e
contÍatransÍeÍència n0 paciente s n0 analista - contratransferência a resposta global do ana-
lista, mas diferencia seus distintos aspectos e.
lleindch Backer e lì/ladeleine e llllilly Baranget
do todo. B-u

A partir do fim dos anos de 1940 e durante as Racker concordou com Annie Reich SE

(1951) na necessidade de distinguir um uso so


décadas de 1950 e 1960, surgem no Rio da Pra-
co
ta contribuições sobre o tema da contratrans- restrito e um uso amplo da contratransferên-
2C
ferência que influirão no desenvolvimento do cia e, tornando central a noção de identifica-
a5
pensamento da época. Estas contribuições não ção, proveniente do segundo tópico freudiano
apenas vão hierarquizar a participação do ana- e do Édipo precoce de Klein, percebe dois ti- l-
tlc
lista, como fizera Heimann, como também con- pos de contratransferências: a concordante e
a complementar. A primeira é um fenômeno iil
ceber a contratransferência como parte de fe- pr
nômenos bipessoais surgidos durante a análi- de identificação e ressonância pelo qual o ana-
I

I
CONTRATRANSFERÊNCIA: TEORIA E PRÁTICA CLíNICA 2I
Ì

B em espe- lista pode experimentar o alheio como próprio. central de M. e W Baranger e Baranger (196I_
pm ao pri- Assim, diferentes aspectos do psiquiimã do 62) e de que a dinâmica inconscie.rt" do
hento ou a analista, ego, superego ou id, seus impulsos e "u-_
po é determinada por fantasias inconscientes
i constatar defesas podem ser equiparados aos dopacien_ compartilhadas, surgidas após a uoca de iden_
peles anos re. Estes mecanismos estão na base dos pro_ tificações projetivas de paciente e analista. A
I do pensa- cessos de compreensão e interpretação do àna_
noção de fantasia inconsciente de Susan Isaacs
b, que ten- lisra (Racker, 1977, p.235). (7948) é a base desta concepção.
tsubjetivos ,Para Racker, a contratransferência
com_ Esta primeira visão de W e M. Baranger
plementar mostra o aspecto neurótico da con_ (196I-62) coloca em primeiro plano a relação
DPOrtantes naransferência e interfere no processo analí_ transferencial-contratransferencial. A interpre_
kh Racker, tico. Racker mantém a acepção freudiana, dan_ tação procura verbalizar no momento a mo_
r, Heinrich do um toque de originalidade ao descrever os mento da sessão afetos que são indícios de fan_
do emVie- aspectos complementares do fenômeno. De tasias inconscientes e ansiedades precoces.
fato, o jogo de identificações faz com que o Es_
riação Psi- tas fantasias fogem das palawas è podem ser
'1940. Em analista passe a ocupar um lugar.o-o obl"to captadas, como assinala Heimann, através da
nn, Racker do mundo interno do analisado .o- qu. o contratransferência do analista. euando nelas
múaffans- "
analisado possa representar um objeto iniantil se condensam aspectos de resistências de pa-
trc Interna- do arralista. Reativam-se modos de tratamento
ciente e analista, constitui-se um baìuarte que
ion to the primitivos recíprocos entre ambos (Racker, detém imperceptivelmente a análise. Na medi_
teq 1948). 7977, p.235). A resposta contratransferencial da em que o analista toma consciência de suas
E simulta- tem, muitas vezes, sua origem na rejeição do incompatibilidades inconscientes, recupera-se
n que haja analista a seus próprios impulsos infãniis, em o movimento do processo (Baranger, Bãranger
entre suas especial os agressivos, que o impedem de con_ e Mom, 7982/1983).
6, p.247). cordar com o paciente, freando_se, assim, o Em 1979, Willy Baranger fez uma reü_
! a contra- processo de liwe associação e interpretação. são sobre a perspectiva bipessoal de seus pri_
üitos neu- Racker mostra como os fenômenos contra_ meiros trabalhos, ao destacar o papel do
hoorporou transferenciais se expressam em níveis verbais "nqìu_
dramento e assinalar que é neceisário ter, em
e relações e não-verbais da comunicação analítica e se seguida, uma segunda visão sobre o campo
Ëdipo pre- retroalimentam implicitamente, reforçando analítico, que ajude a manter ou recuperar a
üefensivos identificações patológicas. Desraca a nócessi_ assimetria analítica. Esta revisão foi parcial_
nribuição dade da análise da contratransferência, tanto mente motivada peÌa experiência, mas também
fferência no tratamento pessoal do analista como nas pelo contato com o pensamento de Lacan, que
fnam e se supervisões. A tendência a desconhecer a questionou a contratransferência
contratransferência se deve a sentimentos in_ o, urpè._
I e contra- " analíiica,
tos duais e bipessoais da experiência
hde, dan- fantis idealizados e não suficientemente ana_ na medida em que podiam levar a uma perda
la relação Iisados.
da assimetria e neutralidade, superdimensio_
I (Rackea Wiìly e Madeleine Baranger, psicanalis_ nando os sentimentos e os aspectos imaginá_
hsidera a tas franceses, hoje radicados na Argentina, vi_ rios da transferência. Madeleine Barange-r re_
hl do ana- veram em Montevidéu entre os anos de 1954 toma a perspectiva intersubjetiva ao resumir,
I aspectos e 1965 e fundaram o grupo psicanalítico uru_ no Congresso Internacional de Amsterdã de
guaio. Sua concepção da contratransferência 1993, sua teoria do campo analítico (Baranger,
Reich seinclui em uma visão mais ampla do proces_ 7992), que incorpora contribuições do p"nìu_
um uso so analítico concebido como campo dinâmico
mento de Lacan, mas mantém a influêniia de
constituído pela dupla analítica (de León,
rifica- 2000). O enquadramento em seus diferentes {. Xle! e de Bion quando reafirma a impor_
tância da fantasia inconsciente, os afeto^s, o
lano aspectos dá constância ao processo. ponto de urgência da sessão e o vínculo trans_
dois ti- A perspectiva destes autores alimenta_se ferencial:contratransferenciaÌ (Barange r, 7992).
ee de idéias provenientes da teoria da Gestqlt O enfoque de Willy e Madeleine Baranger foi
no introduzidas inicialmente na psicanálise rio_ desenvolvido por diferentes autores do meio
o ana- pratense por Enrique pichon Rìvière. A tese psicanalítico rio-pratense e internacional. Na
22 ZASLAVSKY, SANTOS & COLS

América Latina, retoma-se a perspectiva do ses, que hierarquizaram a comunicação emo-


campo analítico no )Cfl Congresso de Fepal de cional como central para a análise: coerente-
Monterrey: Problemas do compo da transferên- mente com sua concepção do inconsciente
cia- contratransferêncía, em 1 996. estruturado como linguagem, destacou a ne-
cessidade de atender, em primeiro lugar, às
características do discurso verbal do paciente.
Ell0ruçA0 ]lrsTúRrcA DA Também questionou duramente a concepção
N0ç40 Dr 00NTBATRANSTTRTNCIA da autonomia do ego, defendida pela psicolo-
gia do ego norte-americana, ao destacar que a
O tema da contratransferência tem marcos sig- tarefa essencial da análise não é integrar as-
nificativos na história das idéias psicanalíticas, pectos inconscientes ao ego e o ego à realida-
dando lugar a diferentes evoluções e desenvol- de e que a interpretação procura um efeito de
vimentos teóricos e técnicos em diferentes re- ruptura dos aspectos narcisistas defensivos, de
giões. No Rio da Prata, como já mencionei, a maneira que possa atingir o sujeito do incons-
noção adquiriu hierarquia durante as décadas ciente. Centrar a análise na contratransferên-
de 1950 e 1960, sendo peça importante no pen- cia poderia levar a uma pseudo-análise, em que
samento original de muitos psicanalistas da épo- o analisado procuraria se identificar com o ana-
ca, como Racker, Willy e Madeleine Barange4 lista. Lacan volta a dar destaque à transferên-
Pichon Rivière, Alvarez de Toledo, Arminda cia e, em especial, a sua dimensão simbólica.
Aberastury e, posteriormente, Libermann e François Duparc (2002), coincidindo com
Bleger, entre outros. Sem dúvida, a influência a tese desenvolvida por B. de León sobre o efei-
do marco teórico kleiniano, que colocou em to inibidor do pensamento de Lacan na abor-
primeiro plano a interpretação transferencial dagem do tema da contratransferência no Rio
no aqui-e-agora e os enfoques da época, que da Prata (de León, 2000), sustenta que a influên-
destacaram a incidência de fenômenos com- cia deste autor sobre o tema também fez com
partilhados na análise, levaram a que se consi- que esta reação adquirisse relevância, poste-
derasse a resposta contratransferencial do ana- riormente, na França. Destaca que Nacht se
lista um instrumento central no processo opôs ao pensamento de Lacan em 1962, no
interpretativo. Contudo, desde o começo da Congresso de Língua Francesa, hierarquizando
década de 7970, a importância concedida à a contratransferência e o caráter pré-verbal e
contratransferência diminui consideravelmente fusional da comunicação analítica, mas seu
em trabalhos e publicações psicanalíticas (de ponto de vista foi deixado de lado. Como vi-
León et al., 1998). Isto se deve, em minha opi- mos, no pensamento inglês a contratransfe-
nião, à introdução de novas idéias e, em espe- rência ganha relevância nos anos de 1950 com
cial, à influência do pensamento de Lacan Paula Heimann e se mantém até hoje como
(1958), que criticou violentamente esta noção tema de reflexão. Na França, as idéias de Lacan
e cujos desenvolvimentos se generalizaram no difundidas durante as décadas de 1950 e 1960
Rio da Prata a partir dos anos de 7970 (de León, contribuíram para frear o desenvolvimento do
2000a, 2000b), (Bernardi, 2004; Bernardi, tema até os anos de 1970, quando encontra-
2OO2a; Bernardi, 2002b). mos contribuições como as de Serge Viderman
Jacques Lacan criticou violentamente o e Michel Neyraut, que marcaram o rumo dos
papel da contratransferência por diferentes desenvolvimentos posteriores. Serge Viderman
razões. De seu ponto de vista, considerar de- (I97I), considerando uma perspectiva herme-
masiadamente a resposta afetiva do analista nêutica, ressituou o problema da contratrans-
ao paciente podia fazer com que se perdesse a ferência, ao concebê-la como parte do espaço
assimetria analítica, favorecendo o estabeleci- analítico construído por paciente e analista, e
mento de uma transferência imaginária fusio- Neyraut destacou a posição primordial da con-
nal que promovesse identificações duais de tratransferência, ao assinalar que esta precede
caráter narcisista. Neste aspecto, Lacan assu- como disposição para a transferência. Este au-
miu uma postura diferente de autores ingle- tor tem uma visão global da contratransferên-
CONTRATRANSFERÊNCIA: TEORIA E PRÁTICA CLíNICA 23

ação emo- cia, em que inclui fantasias, idéias, sentimen- pensamento de Lacan e as üsões psicanalíticas
: coerente- tos e teorias do analista. mais clássicas, expressas por Daniel Widlocher.
consciente I No pensamento francês contemporâneo, A polêmica mostra como os diferentes enfoques
acou a ne- Luisa de Urtubey (7994), citada por Duparc levam a diferenças nas concepções teóricas e
t (2002), diferencia distintas correntes com re-
o lugar, às abordagens técnicas. Assim, Miller (Widlõche4
D paciente. Iação ao tema da contratransferência: a) as 2003) assinala que "o manejo da contratrans-
mncepção t posturas clássicas, que "suspeitam,' da contra- ferência está ausente da prática analítica de
rh psicolo- I
transferência, entre as quais a autora situa o orientação lacaniana, não está discutido nela
Dacar que a I pensamento de Lacan; b) as posruras holísticas, e isto é coerente tanto com a prática na sessão
trteSrar as- que consideram a contratransferência um fe- quanto com a doutrina lacaniana do incons-
r à realida- nômeno global, como as de Nacht, Joyce ciente. (...) A contratransferência aparece ca-
m efeito de i
Dougall e Chasseguet-Smirgell; c) as posruras balmente na prática lacaniana, mas apenas em
insivos, de I que destacam o aspecto neurótico, mas útil, da seu aspecto negativo: não é um instrumento de
,do incons- t contratransferência, como a de pontalis; d) as investigação" (p. 1.060 e 1.064). Em conrra-
transferên- posturas em que se inclui a autora, que consi- posição, Daniel Widlôcher destaca que a capta-
be, em que deram a contratransferência parte do espaço ção do movimento afetivo da sessão por parte
com o ana- ou campo analítico. Luisa de Urtubey reconhe- do analista por meio de sua contratransferência
[ansferên- influência que teve em sua posição o pen-
ce a é um instrumento imprescindível para a for-
rfubóÌica. samento de W e M. Barange4 que se aproxima mulação da inrerpretação.
ilindo com ao de Serge Viderman, quando concebe a O pensamento inglês hierarquizou inin-
úre o efei- contratransferência como um fenômeno que se terruptamente os aspectos emocionais e não_
n na abor- gera no espaço analítico e que inclui transfe_ verbais da comunicação analítica de Heimann
rcia no Rio rências e identificações do analista com seus até hoje. Do meu ponto de vista, Betty Joseph
nainfluên- próprios analistas. é a autora mais representativa entre os kleinia-
h fez com Duparc considera que o contato de ana- nos contemporâneos, entre os quais também
Eia, poste- listas franceses com as idéias de Winnicott, em se incluem Hanna Segal, Elizabeth Bon Spillius,
e Nacht se especial a de espaço transicional, e com as de John Steiner, Ronald Britton, Michael Feldman
t 1962, no J. Bleger sobre o enquadramento e a simbiose e Irmã Brenman, entre outïos. Para BetryJoseph,
rquizando influíram no desenvolvimento da noção de na situação analítica repetem-se relações pri-
rêverbal e contratransferência, na França, em analistas mitivas de objeto e situações totais vividas na
L mas seu como Green, Laplanche e pontalis. Destaca a infância. Como Willy e Madeleine Baranger, ela
t Como vi- importância da reflexão sobre o enquadra- crê que a noção de fantasia inconsciente ofe-
tratransfe- mento, na medida em que permite manter dis- rece um marco teórico para a visão da conffa-
t 1950 com tância da relação transferência-contratrans- transferência. No pensamento kleiniano, as
hoje como ferência, colocando-se como um terceiro, o que fantasias inconscientes primitivas formam o
rde Lacan possibilita a assimetria e a neutralidade analí- núcleo do inconsciente, expressando impulsos,
95O e 1960 ticas. Do meu ponto de vista, influíram nesta defesas e modos de relacionamentos primiti-
rimento do perspectiva a visão de Lacan sobre a função vos vivenciados em sensações corporais e ima-
) encontra- paterna e o lugar do terceiro. Green (Ig7S) gens distantes das palawas. Neste aspecto, tal
l\fiderman incÌui na contratransferência o papel das teo- pensamento diferencia-se da postura freudiana
) rumo dos rias do analista e o diálogo com professores e clássica, em que a fantasia inconsciente é con-
l\liderman colegas. Teoriza sobre a contratransferência no cebida como formação de transação entre os
ürn herme- tratamento de personalidades limítrofes com sistemas.
imaüans- falhas nos processos de simbolização. Em um artigo-chave, de 1985, A transfe-
ido espaço Ainda hoje, na França, se mantém a dis- rência como situação forcl, Betty Joseph, reto-
iana11516, g cussão acerca do significado da contratransfe- mando a idéia de Sandler (7976) de role-
llal da con- rência. Uma polêmica recente entre Daniel responsiveness, assinala como modos de rela-
Itr precede Widlôcher e Jacques Alain Miller, publicada na cionamentos primitivos se repetem na situa-
lr- Este au- Revista Argentina de Psicanálise, mostÍa pontos
ção transferencial e são inferidos pelo analista
Fansferên- de vista contrastantes entre os seguidores do por meio da captação das pressões que sofre
24 ZASLAVSKY SANTOS e COLS.

pelo analisando. Estas pressões muitas vezes te podemos concordar com os modos de rela-
se expressam em enactmenfs, ou atuações do cionamento patológicos infantis experimentan- d
analista, das quais é necessário tomar consciên- do como o analisado se relaciona conosco na fr
cia para que a análise progrida. Na visão de transferência. L
Joseph, o analisando "usa o analista de forma Betty Joseph inicia, além disso, nos úÌti- F
paralela ou além do que manifestam suas pa- mos 10 anos, um diálogo fecundo com a psica- d
lawas" (1985, p.85). Para Joseph, "estas são nálise norte-americana, em especial por meio r
experiências que costumam ir dlém das pala- do vínculo estabelecido com Roy Schafer rì
vras e que, muitas vezes, somente consegui- (1998). Este autor, desde o começo da década p
mos compreender por meio dos sentimentos de 1970,junto com George Klein, Merton Gill f,
que despertam em nós, ou seja, por meio da e Donald Spence, contribuiu com idéias reno- p
contratransferência no sentido amplo da pala- vadoras, questionando a visão clássica da psi- g
vra" (1985, p.B5). cologia do ego. Influenciado por visões herme- q
Como vemos, Betty Joseph mantém o nêuticas sobre a interpretação, em especial a n
ponto de vista de Heimann sobre o papel rela- de Paul Ricoeur (de León e Bernardi, 2005), ÍT
cionado aos sentimentos do anaÌista e como Schaffer criticou, assim como George Klein e
esta fonte de experiência contratransferencial Donald Spence, o uso da metapsicologia na g
deve ser buscada no paciente. Contudo, a no- prática clínica e a relevância dada ao passado
ção contemporânea de enactmenf, presente no infantil. Hierarquizou a busca do sentido in- g
desenvolvimento de muitos autores, em espe- consciente das narrativas construídas por ana- a[
cial ingleses e norte-americanos, é uma noção lista e paciente no momento do diálogo analí- uË
mista entre o que provém de determinismos tico. Sua noção de linguagem de ação (Schafe4 @
inconscientes do analista e do paciente. Sandler 7976,7992), representada pelo paciente de "re
(7976), retomando em muitos aspectos o pen- forma repetitiva na sessão, e suas concepções iúm

samento de Racker, considerava o enactment da transferência o levam ao diálogo com cor- dÍ


"intermediário entre suas próprias tendências rentes kleinianas contemporâneas, que hierar- @
ou propensões e as relações de papel que o quizam a contratransferência. x
paciente estabelece inconscientemente (...) No atual pensamento norte-aÍnericano, D!
Parece que um complicado sistema de chaves encontramos uma ampla gama de enfoques 6
inconscientes, tanto dadas como recebidas, está se
sobre a contratransferência, que inclui freudia- i-
em jogo" (Sandler, 7976, p.47). Recentemen- nos como os de Arlow (1985), que respondem [J]Ë

te, Mclaughlin, (1991) definiu-o como "aque- à visão mais tradicional da psicologia do ego, ça
las interações regressivas e defensivas ocorri- sft
herdeira dos primeiros psicanalistas, que tive-
das na dupla analítica, experimentadas por tu
ram contato com Freud na Europa e que che-
ambos como a conseqüência do comportamen- p€
garam aos Estados Unidos no pós-guerra. Eles
to do outro" (p.595). t9
reafirmaram como fonte da contratransferên-
!,Ë-
Os desenvolvimentos de BettyJoseph, que cia a neurose infantil do analista. Enfoques
hierarquiza os aspeçtos não-verbais da comu- mais atuais desenvolvidos na Califórnia, como
ND
J.
nicação, têm grande influência não apenas tdri

entre os analistas de tradição kleiniana, mas


o de Ogden (1994) e o de Grorsrein (1981) :-
L,iË
tratam da influência de Klein e de Bion, vincu-
também na visão de analistas que procuram brt
lando a noção de contratransferência à fun-
estabelecer um diálogo interdisciplinar com as -40
ção continente da mente do analista. Ogden -.'is
neurociências e pesquisas empíricas de desen- revisa concepções kleinianas de uma perspec-
J
volvimento. Assim, Peter Fonagy (7999,2003) tiva intersubjetiva. Finalmente, encontramos )-

retoma a perspectiva de Joseph ao se aproxi- uma ampla gama de contribuições, das que
mar de descobertas das neurociências sobre as destacam aspectos da participação incons-
memórias procedurais. Fonagy (7999) questio-
na, como Joseph, o alcance dos processos
ciente do analista, como Theodore Jacobs, às tl
que hierarquizam o caráter intersubjetivo da
associativos verbais como fator de mudança psicanálise, como Owen Renik ou Stephen Or
psíquica do paciente, ao assinalar que somen- MitcheÌ1. dr
CONTRATRANSFERÊNCIA: TEORIA E PRÁÏCA CLíNICA 25

Ide rela- Jacobs (799I/ t993), desenvolvendo idéias co, que não transcorre apenas no paciente,
imentan- de Isakower (1963) sobre o instrumento ana- mesmo que ocorra em função deste. De
bosco na lítico, postulou que a mente do analista fun- Heimann e Racker a Willy e Madeleine Barangeq
ciona como um registro multicanal, ou seja, passando por Joseph, SandÌer, Schafer, Vider_
nos últi- pode receber as comunicações do paciente em
man, Jacobs, Renik e Mitchell, entre muitos
n a psica- diferentes canais: sensoriais, acústicos, üsuais, outros, vemos como se afirmou progressiva_
por meio sensações corporais, padrões de movimento e
mente, durante o século XX, a tendência a
Schafer respostas autônomas. Jacobs hierarquiza o pa_
hierarquizar a incidência de fenômenos rela-
a década pel do que chama empatia corporal. A regres_
cionais ocorridos durante a análise. Esta pers_
non Gill são analítica permite ao anaÌista se reconectaL
pectiva fez surgir pontos controversos sobre o
ias reno- por meio de sua própria experiência corporal,
tema da neutraÌidade e possível objetividade
a da psi- com imagens e recordações do paciente não_
do anaÌista com respeito ao paciente.
Sherme- conscientes naquele momento. Imagens, sen_
Destaquei (de León, 1993, 2005), rero_
special a sações e movimentos corporais do analista apa_
mando a perspectiva de W e M. Baranger, que
L 200s), recem, então, como chaves contratransferen_
momentos de inter-relação entre vivências do
e Klein e ciais, que iluminam aspectos de resistência e
paciente e do analista constituem o processo
ilogia na conflitos reprimidos.
de análise. Estes momentos têm as característi-
rpassado Owen Renik (1993) postulou o caráter
cas de ser verdadeiros "nós interativos" em que
mido in- eminentemente intersubjetivo da experiência
se ativam imagens, afetos e diferentes sensa_
rlx)r ana- analítica. Seus trabalhos provocaram diferen_
tes polêmicas ao questionar as noções de con_ ções corporais, como foi assinalado no meio
6o anali rio-pratense há 50 anos por Luísa Alvarez de
(Schafer, tïatransferência e neutralidade. para ele, a sub_
jetividade do anaÌista está necessariamente Toledo (1954). Neles, manifestam-se aspectos
iente de repetitivos inconscientes, transferenciais e con_
ncepções
implicada no processo analítico e, neste senti_
do, a noção de contratransferência é redundan- tratransferenciais e mecanismos defensivos de
GOm cor- identificação recíproca. Não é possível que
te. A participação do analista, as crenças, o pen-
rc hierar- haja um verdadeiro processo de análise sè o
samento e os sentimentos Ìevam a enoctments
na interação analítica. Somente se pode ter analista não se dedica a processos de identifi_
rericano, cação com o paciente, possibilitando identifi_
consciência da contratransferência depois desta
cnfoques cações concordantes ou complementares e
ser atuada. Para Renik, o ideal de neutralida_
ifreudia- momentos de fusão. Contudo, estes momen_
de tem um efeito restritivo sobre a aproxima-
qnndem tos de intensa intersubjetividade se alternam
t do ego, ção afetiva com o paciente e barra o pensar
sobre as múltiplas formas de incidência do dialeticamente com outros de maior discrimi-
que dve- nação entre paciente e analista. Estes últimos
analista no processo e sobre como o paciente
qtre che- permitem recuperar o movimento de livre as_
percebe esta participação. Sustenta (Renik,
rra. Eles
1999) que o anaÌista transmite, implicitamen_ sociação e a atividade interpretativa, a capa_
msferên- te, sentimentos, opiniões e pontos de vista mui_ cidade de auto-reflexão e elaboração de pa-
Enfoques to mais do que verbaliza. por isso, julga neces_ ciente e analista e, finalmente, a posição de
úa, como sário que se possa, às vezes, explicitãr ao pa- neutralidade do analista.
n (1981) ciente seus próprios julgamentos e opiniões io_ O tema da neutralidade se ligou ao da
n, vincu- bre diferentes aspectos conflitivos da sua vida. objetividade do analista. O analista pode ter
hàtun- Ao contrário do que possa parecer à primeira uma visão "objetiva" sobre os fatos clínicos dos
r- Ogden vista, isto dá mais autonomia ao paciente, na quais participa, sem que esta participação seja
.perspec- medida em que pode confrontar seus pontos contaminada por sua vivência subjetiva? Nes_
lnÍamos de vista com os de seu analista e analisã-los. se sentido, Glen Gabbard (1997) discutiu o
das que ponto de visra de Owen Renik (1993) sobre a
) incons- irredutível subjetividade do anaÌista. Concor_
acobs, às CONTRATBANSIIRÊNCN T IllJTIRSlJBJTTIll|DADI da com Green (1975) e Ogden (Igg4) em suas
ietivo da conceitualizações sobre o terceiro analítico _
Stephen O descobrimento da contratransferência inau- se o objeto analítico é construído por paciente
gura uma nova visão sobre o processo analíti_ e analista, os momentos de separação entre
26 ZASLAVSKY, SANTOS & COLS.

ambos permitem ao analista um olhar de fora outro" (Stern, 1985/799I) são ativadas na si-
sobre a realidade psíquica do paciente e a tuação analítica.
interação. Junto com fucardo Bernardi, desta- Os dois tipos de memória aparecem em
camos, retomando o ideal de Willy e Madeleine diferentes momentos do processo analítico'
Baranger, Baranger e Mom (7982), que é ne- Sem dúvida, as concepÇões sobre a contratrans-
cessário estabelecer um segundo olhar sobre o ferência mostraram como na análise se atuali-
campo da interação analítica, que abra espaço zam modos procedurais infantis de trato do
para a disposição à auto-análise do analista objeto, de caráter pré-verbal. Estas memórias
sobre os diferentes aspectos de sua participa- que se expressam como "esquemas de vivência
e condutas estereotipadas" (Baranger e Baran-
ção (Bernardi e de León, 7993). Este segundo
olhar também permite ao analista reconhecer 796I-62) ou matrizes relacionais (Mitchell,
ger,
o mundo interno do paciente como diferente 1988) condensam a experiência emocional
do próprio. Com o avanço do tratamento, o nuclear do paciente e atuam no campo analíti-
paciente, juntamente com o analista, aumenta co. As noções de baluarte e, mais recentemen-
sua capacidade reflexiva sobre o ocorrido na te, de enoctment procuram descrever estes
relação analítica, os aspectos transferenciais e momentos clínicos, e a contratransferência, na
contratransferenciais, suas emoções e estados medida em que o analista possa compreender
mentais em geral. Desta maneira, pode-se ir sua dinâmica, torna-se instrumento privilegia-
construindo um terceiro olhar conjunto de pa- do para a transformação dos modos patológi-
ciente e analista sobre o moümento do cam- cos de se vincular ao Paciente.
po. O progresso da análise leva ao crescimento A interpretação procura estabelecer uma
da capacidade reflexiva compartilhada, o que dialética entre memórias emocionais ativadas
permite ao paciente uma visão mais objetiva no encontro com o analista e memórias decla-
de si mesmo. Os desenvolvimentos de Mary rativas, lembranças do passado do paciente
Target e Peter Fonagy (1996) sobre a noção de surgidas e narradas no aqui-e-agora da sessão.
função reflexiva agregam uma nova perspecti- O trabalho de integração entre os dois tipos de
va para compreender os processos de cresci- memória permite ao paciente simbolizar aspec-
mento mental na análise. tos separados e narrá-los. Neste caso' o siste-
ma pré-consciente adquire maior estabilidade,
riqueza representacional, fluidez e permeabi-
CONTBATRANSIEIÊNCN T ASPICÏOS lidade. As representações "verbais" pré-cons-
cientes permitem sustentar a força de impul-
PRÉ.ìIIBBAIS DA C0M||NICAçA0
sos primários expressos em vivências emocio-
nais rompidas. Em pacientes com transtornos
A diferença entre a importância atribuída ao
severos de caráter ou limítrofes, a resposta con-
afeto ou à palawa por diferentes desenvolvi-
tratransferencial pode se tornar crônica, per-
mentos teóricos, aos quais me referi parcial-
petuando uma situação patológica (Kernberg,
mente neste capítulo, coincide com descober-
2005) e levando a actings severos do analista
tas das neurociências. Elas diferenciam siste-
(Gabbard, 2003). Nestes casos Sraves, torna-
mas heterogêneos da memória: a memória
se necessária a supervisão do caso.
procedural ou implícita e a memória declarati-
va ou explícita (ver Davis, 2001). A primeira é
de caráter emocional, antecede a possibilida-
c0NïRAT$ANSFilÊNCn, RttAçAo
de de verbalização e precede a segunda no de-
senvolvimento precoce. A memória declarati- ANAriïrCA E ]lllllDANçA ïIBAPÊIJÏ|CA
va se vincula à aquisição da linguagem e é de
aquisição mais tardia. Ambos os tipos de me- Pesquisas de processo e resultado demonstra-
mória correspondem a diferentes áreas cere- ram que as características do encontro terapêu-
brais (Squire e Kandel, 7999). Pesquisas sobre tico, como compromisso emocional e contato
o desenvolvimento primitivo também manifes- comunicativo (Jiménez, 2005), constituem os
taram como "formas implícitas de estar como principais preditores de êxito do tratamento
CONTRATRANSFERÊNCIA: TEORIA E PRÁTICA CLÍNICA 2t

ìdas na si- em diferentes formas de psicoterapia. Na psi- cunstâncias da análise com diferentes tipos de
canálise, foram destacados tradicionalmente os pacientes. Se é certo que a relação analítica
recem em aspectos repetitivos da uansferência e da con- pode atuar como primeiro fator de mudança
analítico. tratransferência. Contudo, a partir de diferen- terapêutica, também o analista deve estar aten-
f,ìtÍatrans- tes enfoques teóricos, mostrou-se a importân- to aos novos aspectos r,rrlneráveis que a vida e
È se atuali- cia da uma nova relação entre paciente e ana- seu trabalho geram, de modo que o vínculo
e trato do lista como fator de mudança. Autores como Roy analítico não o leve a exercer um afeto iatrogê-
imemórias Schafer, Donald Spence e Serge Vidermann, nico e traumático sobre o paciente e sobre si
hvivência entre outros, destacaram a importância do mesmo.
lr e Baran- surgimento de novos sentidos no contexto da
r(Mitchell, relação transferencial. Além disso, destacou-
cmocional se a importância da personalidade "real" do RffIRÊilCNS
po analíti- analista, das características do encontro com
Eentemen- seu paciente, em determinadas circunstâncias Alvarez de Toledo, L.G. de. (1954). EI análisis del
tever estes vitais e determinado meio cultural, social e "asociar", del "interpretar" y de las "palabras". Re.
brência, na de Psicoanálisis, 1i(3), 269-275.
econômico. Isidoro Berenstein (2001) referiu-
mpreender Arlow, J. (1985). Some technical problems on
se recentemente aos novos aspectos da trans-
countertransference. Psycho analytic Quarterly , 54,
rpriülegia- ferência ao assinalar que nela não apenas se 164-174.
r patológi- revivem de forma diferente fatos do passado Baranger, M. (1992). La mente del analista de la
infantil - seja como novas versões da história escucha a Ìa interpretación. In Luis Kancyper
ldecer uma ou versões com acréscimos (Comp.) Volviendo a pensar con WiIIy y Madeleine
como também se
-
rb ativadas instaura uma nova relação, proveniente da Baranger: Nuevos desarrollos. Argentina: Lumen,
órias decla- 1999.
interação com o alheio do outro, que, ao pro-
b paciente duzir novas inscrições, pode modificar os as- W (1961-62). La situación
Baranger, M., Baranger,
a da sessão. analítica como campo dinámico. Revista Uruguaya
pectos vinculares repetitivos patológicos.
de Psicoanálisis, 4 (I), 7961 -62: 3 -54.
his tipos de A concepção globaÌ da contratransfe- Baranger, M., Baranger, W, Mom, J. (1982). Proceso
úizar aspec- rência também incluiu não apenas os aspectos y no proceso en el trabajo anaiítico. Revrsta dePsico-
lso, o siste- repetitivos inconscientes do passado infantil do anóIisis, 39, 527-549. fTambién publicado como:
nabilidade, analista, mas diferentes aspectos de seu fun- Process and Non-Process in Anaiytic Work. Int. J.
c permeabi- cionamento mental que foram se desenvolven- Psycho-Anal., 64:1-15. (1983) l
f pré-cons- do em suas experiências pessoais de análise e Baranger, W. (1979) . "Proceso en espiral" y "Campo
p de impul- formação, em seu diálogo com teorias e cole- dinámico". Revis ra U ruguay a de Psico análisis, 5 9 : 17 -
das emocio- 32.
gas e, sobretudo, no contato com seus pacien-
LlrzìnstornoS Berenstein, I. (200 1 ). EI suj eto y el otro : D e la ausencia
tes. Estes aspectos integram fatores conscientes
rsposta con- a la presencia. Paidós Psicología Profunda, 2001
e pré-conscientes do psiquismo do anaÌista, mas
crrônica, per- Bernardi, B. (2004). El porvenir de un diálogo.
também o inconsciente presente (Sandler, Comentario al debate D. Widlôcher-J-A Miller. Re-
I (Kernberg, 1987). Neste sentido, a experiência contra- vísta de Psicoanálisìs, 61, 713-728.
I do analista transferencial oferece ao analista um caminho Bernardi, R. (2002a). Por qué Klein y por qué no
laves, torna- de crescimento emocional, mental e profissio- Klein. Revista de Psicoanólisis.Editada por Ia
D. nal. Contudo, destacamos (de León e Bernardi, Asociación Psicoanalítica Argentina, 59, 263-273.
2005) como novas situações vitais - doenças, Bernardi, R. (2002b). The need for true controver-
desilusões e tensões provenientes do trabalho sies in psychoanaìysis: the debates on Melanie Klein
analítico ou das condições em que seja exerci- and Jacques Lacan in the Rio de la Plata. Int. J.
Psychoanal., Be 851-873.
do - podem impactar traumaticamente o ana-
lista, gerando disposições contratransferenciais Bernardi, R., de León, B.(1993). Does our self-
analysis take into consideration our assumptions.
D demonstra- que distorcem sua tarefa. Neste sentido, consi-
En: James W Barron (Ed.), Self-Analysis: Critìcal
ino terapêu- deramos útil, como dissemos no começo deste Inquiries, Personal Visions. New Jersey: The Analytic
lal e contato capítulo, manter o sentido amplo e estrito da Press.
Dnstituem os contratransferência, considerando-a instrumen- Bion, WR. (7952). Group dynamics: a review. /nrer-
D tÍatamento to e obstáculo, segundo os momentos e as cir- national Journal of Psychoanalysis, 33, 235-247 .
28 ZASLAVSKY SANTOS 8 COLS.

Duparc, E (2002). The countertransference scene


Contratransferência e vulnerabilidade do analista'
in Ërunóe. In'. International J ournal of Psychoanalysis
En verdad, Realidad y el Psicoanalista: Contribucio-
Key Papers Series. Key Papers on Countertransference'
n., t utl.tournericanai al PsicoanáÌisis' 23-41' Bibli-
oteca Internacional de Psicanálise. Montevidéu-Lon-
London: Karnak, 717 -749.
dres 2005. Etchegoyen, R. H. (1986): Los fundomentos de^Ia
Davis, J. T. (2001). Revising psychoanalytic interpre- terntã isicóanatítica. Buenos Aires: Amorrortu Ed'
tations of rhe past: an examination of deciarative Ferenczi, S. (1919)' On the technique of psychoa.na'
and non-declãrative memory process' Int' J' lysís. Fuíther contributioru to thetheory andtechnique
Psychoanal., 82, P'449 -462. óf p sy cho analy sri. New York: Bas ic Books, 19 52:.
17 7'
de León de Bernardi, B., Frioni de Ortega, F, Gómez 189.
ãe Sprechmann, M.; Bernardi, R. (1998)' Cambios Fonagy, P (1999). Memory and therapeutic action'
en lafrecuencia del uso de la noción de contratrans- lnr. i. of Psychoanalisis,, B0(2),215-224'
i"i"".l^, y su relación con los cambios en las teorías Fonagy, P (2003). Complexities in the relationship
dominanies. (Trabajo presentado al 40 Encuentro
of ps!'úoanalytic theory to technique' Psychoanal'
ãel Capítulo Sudãmèricano de la Society for
lshychòtherapy Research (SPR): "Investigación Q. 72,73-48.
EÁpi.i.u en Piióoterapia"' Montevid eo, 25 a\ 27 de Freud, S. (1910). Las perspectivas futuras de la te-
setiembre de 1998. rapia psicoan alítica. Amorrortu 1 1,129 -742'
de León, B. (1993). El sustrato compartido de la Freud, S. (1972). Consejos al médico sobre la tera-
interpreÍa.ió.t. Imágenes, afectos y paiabras-en la pia psicoanalítica. Amorrortu 12, 107-119'
analítica. Revrsta de Psícoanólisìs y Boletin Freud, S. (Ig14). Puntuaiizaciones sobre el amor
"xpeiien.ia
de Ia A.PI. (3Bo Congreso de la A'PI', Amsterdam' de transferencia. (Nuevos consejos sobre el amor
1 993) : BO9 -826. Asociación Psicoanalítica Argentina' de transferertcia, III) Amotortu, 12, 759'176'
to*ó L, n" 4/5' También pubÌicado en: Revista
IJruguaya de Psícoanalisis, 81 , 727-740' Gabbard, O. G. (1997). A reconsideration of objec-
Latin tiviry in the anaiyst. Int. J. Psycho'Anal' 78' 75'
de León, B. (2000). The countertransference: a
American view. International Journol of Psyclrcana- Gabbard, O. G. (2003). Miscarriages of psychoana-
lvsis. 8l (2), 331-351. También publicado en' lyrl. ,r.ât..nt with suicidal patients' Int' J' of
ínterlnatìonol Journal of Psychoanalysís Key Papers Psychoanol, 249-262.
Series. Key Papers on Òountertransference' Karnak Green, A. (1975). The analyst, symbolization and
sooks Ltá. Lóndon. 2002. 81-116' Publicado en uUt".tá" in the analytic setting' Int' J' Psychoonal"
ãspafloÌ como: Contratransferencia: una perspecti- 56:7-22.
uu'a.ta. Latinoamérica en Revista uruguaya de Psí'
Grotstein, J.S. (1981). Splitting and proyective
cia.nátìsis,2OOO.92 77-104. En el Libro anual de
identification. New York: Jason fuonson
Psicoanálisis XVI 277-238' Editora Escuta LTDA' Sao
Paulo 2002. Traducido al portugllés en Livro Anual Heimann, P (1950). On countertransference' Inter-
(Tra-
de Psicanálise {V7: 215-234. Editora Escuta LTDA' national iournal of Psychoanalysis 31, 81-84'
ducción casteilana en: Revista t'Jruguayo de Psicoaná'
Sao Paulo 2002
lisis, 4, 1961-62137 -49)
de León, B.(1999). Un modo de pensar Ia clínica:
vieencia v perspectiva de W. y M' Baranger' In: Isaacs, L (1948)' The nature and function of
KJncyper,"L.-Vo liiendo a pensar conWilly y Madeleíne phantasy. Int. J. Psychoanal., 29,73-97'
Baranger : nuevos desarrollos. Argentina: Lumen' Isakower, O.(1963). Minutes of the New York
de León, B., Bernardi, R. (2000)' Contratransferen' Psychoanalytii Institute faculty meeting' Unpublish
cic. Buenos Aires: Ed. Polemos.
Jacobs, Th. (1991). The use of the Self: the analyst
de León, B., Bernardi, R. (2005)' Contratransfe- and the analytic instrument in the clinical situation'
i.n.lu y vuÍnerabilidad del analista' In: Verdad' Madison: International Universities, 1993'
Realidaã y el Psicoanalista: Contribuciones Latino-
Jiménez, J.P(2005). El paradigma emeígente en
americanas aÌ Psicoanálisis. 23-41. Biblioteca Inter-
psicoanálisis y Ìa técnica de tratamiento' Revisto
nacional de PsicoanáÌisis. Montevideo-London'
rJruguaya de Psícoanólisis. No prelo'
Deutsch, H. (7926). Occult processes occurring
ãuring píychoanalysis. IN: G' Debereux, ed', Psycho- Joseph, B.(1985). Transference: the total situation'
u.tutyãii ánd the occult. New York: Int' Univ' Press: Inteinationol Journal of Psychoanalysis' 66, 447 -454'
133-146. Kernberg, O. (2005). Comentario aÌ trabajo: Contra-
Duparc, E (1999). The countertransference scene transfeiéncia y vuÌnerabilidad del analista' En
in irance. International Journol of Psychoanalysis' Verdad, Reaiidád y el Psicoanalista: Contribuciones
82, 151-169. Latinoamericanas al Psicoanálisis' 43-48' Bibliote'
CONTRATRANSFERÊNCIA: TEORIA E PRÁTCA CLíNICA 29

lne scene ca Internacional de Psicoanáiisis. Montevideo- SandÌe4 J. (1987). The past unconscious, the present
hnalysis London-2005. unconscious, and the vicissitudes of guilt. 68: 331-
nsference. lacan, J. (1958). La dirección de la cura y los prin- 34r.
cipios de su poder. Escriros 1,2I7 -278. Buenos Aires: Schafel R. (1976). Emotio inthe language of action.
atos de la Siglo )üI, 1972. Psychol. Issues, 36, 106-1 33.
:rortu Ed. Mclaughlin, J. (1991). ClinicaÌ and theoretical as- Schafeq R. (1992). Retelling a life: narration and
sychoana- pects of enactment. J. Amer. Psychoanal. Assn., diaÌogue in psychoanalysis. Basic Books.
Itu.hnique 39:595-614. Schafe4 R. (1998). Entrevista con Roy Schafer. Re-
1952:777' Mitchell, S. ( 1 9 B B) . Relatio nal c oncept s in p sy cho ana- vista Uruguaya de Psicoanólisu, BB, 757-776.
lysis: on integratíon. London: Harvard University Squire, L., KandeÌ, E. (7999). Memory: From braìn
úic action. Ogden, T (7994). The analytic third- working with to molecules. New York: Scientific American Library.
intersubjective clinical facts. Inr. J. Psychoanal., 75: Stern, D. N.(1985). El mundo interpersonal del in-
3-19. fante una peÍspectiva desde e1 psicoanáÌisis y la
dationship
Racke4 H. (1948). Laneurosis de contratransferencia. psicoÌogía evolutiva. Buenos Aires: Paidós, 7997.
firchooncl.
(Trabajo presentado en la Asociación Psicoanalítica p.776-192.
Argentina en setiembre de 1948) Publicado em: Target, M., Fonagy, P (1996). Playing with realiry:Il
ls de la te- International Journal of Psychoanalysìs, 34, 1953.
t42. The deveÌopment of psychic realiry írom a theoretical
Racker, H. (1953). Los significados y usos de la con- perspective. Int. J. of Psychoanal.,77, 459 -479.
üre la tera- tratrasferencia. In: Racker, H. (1960). Esrudios so-
t9. Thomâ, H., Kâchele, H. (1985). Teoríay pró.cticadel
bre técnica psicoanalitica. Buenos Aires: Paidos,7977 .
psicoanálisis. I. Fundamentos. Barcelona: Herder,
re eÌ amor Reich, A. (1951). On countertransference. Interna- 1989.
te el amor tíonal Journal of Psychoanalysis, 32,25-3I. Urtubey, L. de (1994). Le travail du contre-rransfe-
9- 176. Renik, O. (1993): Anall'tic interacrion: conceptua- re. Rev. Franc. Psychanal., 58,7277-72.
m of objec- Ìizing technique in the light of the analyst irreducible Viderman, S. (1971). La Construction de IÌEspace
,78, rs. subjectivity. Psychoanal. Q., 64, 585-591. Analytique (The Construction of Space.) Paris:
'1rychoana- Renik, O. (7999). Los peligros de la neutralidad. Editions Denoel.
* Int. J. of Revisfc Uruguaya de PsicoanáIkís, 89,9-29. WidÌocher, D., Miller J.A., Granger B. (Coord.).
Sandler, J. (1976). Countertransference and role- (2003). El porvenir del psicoanálisis . Rev de Psicoaná-
Fzadon and responsiveness. Int. R. Psycho-Ana1., 3, 43-47. lísis, 60(4), 1051, 1070.
Psychoanal.,

t proyective
ll
ltnce. lnter-
81-84. (Tra-
t&Ricoanó.-

function of
I

e New York
g. Unpublish
f the anaÌyst
i:al situation.
t993.
mergente en
bnto. Revista

üal situation'
;66,447-454.
úajo: Contra-
I analista. En
bntribuciones
!48. BibÌiote-

Você também pode gostar