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Contratransferência em psicoterapia e psiquiatria – Zaslavsky & Santos

Artigo de revisão

Contratransferência em psicoterapia e
psiquiatria hoje

Jacó Zaslavsky*
Manuel J. Pires dos Santos**

INTRODUÇÃO informações, ou seja, comunicações, em nível


verbal e não-verbal, intencionais ou não.
Uma característica inegável da Refletir sobre a transferência
psicanálise contemporânea é a preocupação contemporaneamente significa preocupar-se
com seu aspecto relacional ou vincular, com o que é transmitido sobre o
consubstanciada pelo seu interesse pelo par funcionamento mental do paciente e,
analítico interagindo. O encontro analítico eventualmente, do analista, isto é, de sua
passou a ser observado e estudado como uma contratransferência, através do que ocorre na
relação que produz um impacto emocional relação paciente-analista, no nível consciente,
mútuo, no qual ocorrem trocas de m a s , p r i n c i p a l m e n t e , i n c o n s c i e n t e 1. O
interesse pela compreensão, utilização e
abordagem da contratransferência em
Versão modificada do trabalho apresentado na mesa-redonda psicanálise, psicoterapia e psiquiatria tem sido
“Psicoterapia e Psicanálise em Psiquiatria”, no XXII Congresso objeto de nosso interesse nos últimos anos1-7.
Brasileiro de Psiquiatria, realizado em outubro de 2004 na cidade de
Salvador, BA. A contratransferência permite que o
* Psiquiatra, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e analista escute, através de seus sentimentos,
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Psicanalista, Sociedade não só o que o paciente diz, mas, mais ainda,
Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA) e International Psychoanalytic o que ele não diz, por ignorá-lo no plano do
Association (IPA). Professor e supervisor colaborador, Departamento de
Psiquiatria e Medicina Legal, Faculdade de Medicina, UFRGS, e Centro consciente. Cruz Roche8 reafirma esta
de Estudos Luís Guedes, Porto Alegre, RS. Editor, Revista de Psiquiatria evolução do objeto psicanalítico dizendo que
do Rio Grande do Sul. Mestre em Psiquiatria, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Médicas, UFRGS, Porto Alegre, RS.
“o observador (analista) é agora um
** Psiquiatra, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
participante” (p. 20). Como destacou Alvarez 9,
(PUCRS) e ABP. Psicanalista, SPPA e IPA. Professor e supervisor os aspectos inconscientes do paciente
colaborador, Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, poderiam não estar somente em seu
Faculdade de Medicina, UFRGS, e Centro de Estudos Luís Guedes,
Porto Alegre, RS. Mestre em Psiquiatria, Programa de Pós-Graduação inconsciente reprimido: “essas partes ou
em Ciências Médicas, UFRGS, Porto Alegre, RS. sentimentos ausentes poderiam, algumas

Recebido em 03/10/2005. Revisado em 26/10/2005. Aceito em 01/11/2005. 293

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vezes, estar bem mais longe, nos sentimentos direta a e a identificação concordante e
de outra pessoa” (p. 12). complementar b do analista, enfatizando seu
A contratransferência “era a Cinderela uso como importante instrumento para a
da técnica psicanalítica, e suas outras compreensão das relações de objeto do
qualidades somente puderam ser vistas após paciente e para a formulação das
sua transformação em princesa” 10 (p. 96). interpretações.
Ela está incluída na técnica psicanalítica, Numa série de trabalhos, Grinberg 14-17
seja com a denominação original ocupa-se com uma reação específica
(contratransferência propriamente dita), seja provocada no analista, quando esse se coloca
em algum conceito correlato que a inclui como receptor passivo da projeção maciça que
como identificação projetiva, campo o paciente faz de seus próprios objetos internos.
analítico, role-responsiveness, enactment Este autor identificou um tipo específico de
(encenação), intersubjetividade e terceiro expressão da contratransferência, no qual o
analítico, personagem e histórias possíveis, analista pode ser levado, inconscientemente, a
etc. Tornou-se um conceito a partir do qual adotar um papel ativo, em que o paciente tenta
outros conceitos se constroem. Seu colocá-lo através do uso maciço de
significado não se prende apenas à técnica. identificações projetivas. Grinberg denominou-
A teoria psicanalítica muda a partir dele, a de contra-identificação projetiva. Esta
tornando-se uma teoria da dupla, ou do parece se aproximar qualitativamente da
vínculo, isto é, dos fenômenos que ocorrem descrição de contratransferência
no par analítico, e não mais apenas no complementar, proposta antes por Racker.
paciente. Há, nesse sentido, uma mudança Já em 1961, os Baranger, partindo dos
do próprio paradigma, na medida em que os pressupostos de Paula Heimann e Racker sobre
fatos agora se referem não mais a um a contratransferência, lançam um novo
indivíduo, mas a uma interação entre dois conceito, o de “campo psicanalítico”. O campo
indivíduos, só sendo compreendidos dinâmico é definido como “uma situação de
enquanto produto daqueles dois. O que era duas pessoas indefectivelmente ligadas e
uma psicologia de um torna-se uma complementares enquanto está durando a
psicologia do vínculo que une dois. situação e involucradas num mesmo processo
No centro desta questão, acha-se o dinâmico. Nenhum membro dessa dupla é
conceito kleiniano de identificação projetiva, inteligível dentro da situação sem o outro” 18 (p.
que serviu de fundamento para a ampliação da 129).
noção de contratransferência, a partir, Esses autores dizem que “tanto a
principalmente, das idéias de Bion. A partir dele, observação direta como os trabalhos que cada
diversos autores, em ambos os lados do vez mais aprofundam o estudo da
Atlântico, vêm se ocupando, no campo da contratransferência, os meios inconscientes de
observação clínica, do desenvolvimento e comunicação que se desenvolvem na situação
aprofundamento da compreensão das relações analítica e os significados latentes das
que se estabelecem entre paciente e analista comunicações verbais implicam um conceito
durante o encontro analítico. muito mais distinto e amplo da situação
analítica, onde o analista, apesar de sua
CONTRATRANSFERÊNCIA, PSICOTERAPIA neutralidade, intervém como parte integrante
E PSICANÁLISE do processo”. Salientam que a situação
bipessoal terapêutica, com a organização
Desde o artigo seminal de Paula Heimann11 básica do campo, desaparece em função do
sobre a contratransferência como uma criação “encobrimento de situações tri e multipessoais,
do paciente, isto é, que os sentimentos do
analista, na sessão, são determinados em
alguma medida por aquele, este conceito a Racker 12 (p. 109) define a contratransferência indireta como a
impôs-se, de forma gradual, ao arsenal técnico transferência do analista em relação à “totalidade” de objetos que, de modo
indireto, são transferidos ao paciente (por exemplo, familiares, amigos,
da psicanálise e das psicoterapias dela grupos). E a contratransferência direta se refere às respostas do analista
derivadas. em relação diretamente ao paciente (p. 113).
O enfoque de Racker 1 2 , 1 3 para a b Para Racker 13 (p. 126-27), a contratransferência direta se divide em:

contratransferência é mais sistemático, global e identificação concordante, que baseia-se na introjeção e projeção, na
ressonância do externo no interno, ou seja, quando o ego do analista
profundo. Este autor chamou a atenção para as identifica-se com o ego do paciente; e identificação complementar, em
manifestações conscientes e inconscientes e que o analista identifica-se com uma parte não desejada do self do paciente
294 caracterizou a contratransferência indireta e ou com o superego.

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de clivagens múltiplas em contínuo observação do par, pela formação de um


movimento” 18 (p. 130). terceiro analítico. O matiz individual, entretanto,
Neste contexto, a fantasia básica de uma não é suprimido, pois cada componente dessa
sessão não é o mero entendimento da fantasia dupla possui personalidade distinta e papel
do analisando pelo analista, mas algo que se diferente a ser exercido e vivenciado,
constitui em uma relação da dupla. Não basta inconscientemente, a partir da recriação do
reconhecer a existência desta fantasia do par; passado e do presente na mente de cada um,
devemos entender melhor sua natureza. Isto mantendo-se o foco sobre as vivências do
implica numa mudança de enfoque. Em primeiro paciente21,23.
lugar, não é suficiente ter um enfoque teórico Esse aspecto inter-relacional do campo é
adequado e estar livre de bloqueios intelectuais. enfatizado por Ferro24,28 não como algo que deva
Em segundo, trata-se de um contato profundo ser, necessariamente, sempre interpretado, mas
com uma pessoa de estrutura distinta. A que, invariavelmente, configura meio fértil de
estrutura de uma dupla se constitui pelo onde poderão emergir mudanças e
interjogo de identificações projetivas e transformações. Tal compreensão parece estar
introjetivas, com seu corolário de contra- apoiada no que tanto Bion31,32 quanto Ferro25-27
identificações. A situação analítica deve ser (baseado em Bion) entendem por transformação
administrada a fim de limitar o fenômeno da como objetivo terapêutico do campo, que
contra-identificação projetiva, para que o constitui o espaço no qual poderão ocorrer
processo não fracasse. transformações das fantasias transgeracionais
Alguns anos mais tarde, Baranger 19, ao do paciente e do analista, num movimento
abordar o que se passa na mente do analista contínuo de mútuo aprendizado. Seguindo essa
desde a escuta até a interpretação, enfatiza direção, Ferro26,29,30 propõe uma escuta baseada
que a escolha do momento de interpretar (ponto na noção de personagem e dos papéis
de urgência) deve levar em consideração o que assumidos por cada um na sessão, como meio
está se passando dentro do “campo de narrar todas as histórias possíveis de se
intersubjetivo”, que engloba ambos os desenvolverem no inconsciente do paciente e no
participantes. Chama a atenção para o fato de campo analítico e como um dos fatores de cura
que, algumas vezes, durante o processo, a na gênese do sofrimento.
intersubjetividade do diálogo analítico pode se A posição contratransferencial, como
tornar “invisível e inaudível”, formando-se uma salienta Faimberg, não depende apenas da
espécie de segunda estrutura. transferência do paciente, apesar deste
O conceito de “campo” amplia de modo representar um papel essencial. Esta autora
notável aquele da relação paciente-analista lembra que “o círculo vicioso resultante da
postulado por Freud e, posteriormente, por ausência psíquica”33 (p. 88) da dupla pode ser
Melanie Klein, pois é extensivo a toda a melhor compreendida a partir da posição
situação analítica, conseqüentemente ao contratransferencial do analista, quando este
setting e à técnica, possibilitando uma visão desenvolve a função de “escuta da escuta” da
mais ampla. As idéias de Baranger e Baranger 18 própria interpretação, conforme já interpretada
sobre a caracterização da situação analítica pelo paciente.
como “campo bipessoal” são bastante atuais, Embora ainda existam diferenças entre as
com muitos pontos de contato significativos com diversas escolas teóricas do pensamento
outros analistas da atualidade. psicanalítico, uma estreita área de
Autores norte-americanos, como Ogden20- convergência emergiu relativa à utilidade da
23
, e europeus, como Ferro 24-30, descrevem contratransferência como elemento técnico
fenômenos semelhantes, com nomenclaturas para compreender o paciente, conforme
variadas, quando levam em conta os salienta Gabbard34. Há um reconhecimento de
fenômenos do campo analítico. O que parecem que um aspecto inevitável da análise é que o
ter em comum é a idéia de um espaço subjetivo paciente tentará fazer do analista objeto de
construído pela dupla paciente/analista, onde transferência. Também a contratransferência do
se desenvolvem os fenômenos inconscientes e analista envolverá uma criação conjunta de
para onde são trazidos os fenômenos contribuições do paciente e do analista, que
conscientes, dando características próprias a pode refletir o mundo interno do paciente.
cada processo analítico. Entretanto, diferentes escolas discutem a forma
Delineia-se, assim, a intersubjetividade que de utilizá-la na prática clínica.
emerge da dupla e por ela poderá ser Recentemente, um número significativo de
transformada, a partir da capacidade própria de trabalhos 35-38 foi publicado, revisando a 295

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conceituação da contratransferência na memória explícita (consciente e verbal), não


América Latina, na América do Norte e na desenvolvida ainda no bebê. A memória
Europa. Esses trabalhos, mesmo examinando procedural é ausente de conteúdos, envolvida
o tema sob diferentes enfoques críticos, na aquisição de seqüência de ações 43.
corrobora a idéia de Gabbard34 sobre uma área Stern 44 (2000), baseando-se em
comum de convergência: sua importância observações e estudos da interação mãe/bebê,
clínica. A tendência de maior utilização da afirma que, nas psicoterapias dinâmicas, são
contratransferência também vem se verificando construídos e organizados dois tipos de
na supervisão psicanalítica, conforme pesquisa conhecimento, de representações e de
realizada recentemente5,7. memórias: o explícito (consciente, simbólico) e
Numa síntese, no que se refere à situação o (acima citado) procedural (inconsciente, não-
atual (anos 90 em diante) do estudo da simbólico, não-verbal), o qual é denominado de
contratransferência, Manfredi39 distingue cinco conhecimento relacional implícito. Tal
tendências de abordagens da questão: conhecimento, essencial na psicologia do
- a contratransferência não é mais desenvolvimento dos bebês antes da aquisição
considerada como uma criação unicamente do da linguagem, é a base da interação e da
paciente, por ignorar a transferência do comunicação do bebê com a mãe. “Uma vasta
analista; lista de conhecimentos implícitos a respeito das
- é problemático diferenciar a muitas maneiras de estar com os outros”, diz
contratransferência normal da patológica (os Stern, “continua ao longo da vida, inclusive
dados à disposição do analista não permitem, muitas das maneiras de estar com o
quase sempre, uma diferenciação); terapeuta, que chamamos de transferência”
- para alguns autores 40, só o tolerar a (p. 199, grifo nosso).
contratransferência já seria suficiente, dada, Tais conclusões, aqui apenas esboçadas,
aqui, a dificuldade da diferenciação dos confirmam o que a teoria psicanalítica (a partir
sentimentos envolvidos na dupla; de Melanie Klein e Bion) vem afirmando desde
- deveríamos, mais sábia e humildemente, as décadas de 40 e 50 sobre a comunicação
fazer também a rota inversa: procurarmo-nos pré-verbal, inconsciente e primitiva entre a
no paciente, e não só procurá-lo em nós; criança e sua mãe. Confirmam o que a técnica
- a questão do confessar ou não, ou psicanalítica pós-freudiana afirma sobre a forma
confessar/revelar até quando/quanto, os de melhor compreender a transferência: “Muito
sentimentos contratransferenciais despertados da nossa compreensão da transferência surge
(aqui, há tantos argumentos pró quanto contra). por intermédio da nossa compreensão de como
O que Manfredi enfatiza é que a questão nossos pacientes agem sobre nós, para que
segue em aberto e ocupando um papel central sintamos coisas pelos mais variados motivos
nos debates teórico-clínicos em psicanálise na (...), como atuam inconscientemente conosco
atualidade. na transferência, tentando fazer com que
atuemos com eles. (...) Se trabalhamos apenas
CONTRATRANSFERÊNCIA E PSIQUIATRIA com a parte que é verbalizada, nós não levamos
realmente em conta as relações objetais que
Por outro lado, e mais recentemente, vem estão sendo atuadas na transferência, por
se estabelecendo um movimento de exemplo, a relação entre a mãe não-
aproximação entre a psicanálise e a compreensiva e o bebê que se sente incapaz
neurociência41. Os estudos das bases cerebrais de ser compreendido, e é isso que forma a base
dos fenômenos inconscientes, realizados por de sua personalidade”45 (p. 164, grifo nosso). O
neurocientistas, vêm revelando os fundamentos que Joseph, uma analista kleiniana, está
neurais dos processos psíquicos descritos dizendo é que o adulto retém na (para a
desde o início da psicanálise. Dentre esses, a neurociência) memória procedural a relação de
relação estabelecida via comunicação objeto primária, e sua manifestação só é
inconsciente pré-verbal entre a mãe e o bebê apreensível pelo analista através da ação na
vem demonstrando que a regulação afetiva transferência, e não através da fala. O analista,
entre ambos é essencial para o pelo seu lado, só pode captar tal transferência
amadurecimento de estruturas cerebrais do pela sua contratransferência, isto é, pelo que
bebê42. Tal regulação/comunicação afetiva é é levado a sentir como ação do paciente sobre
armazenada como memória procedural ele. Ou seja, não há palavras nessa
(inconsciente), que segue e mantém vias comunicação, pois tratam-se de vivências
296 neurais diferentes daquelas utilizadas pela primitivas pré-verbais. Apenas ao tornar

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consciente – portanto, pensar – o que sentiu ambos para expressar uma emoção
(isto é, captar pelo pensamento, passando, inconsciente do paciente.
portanto, à memória explícita, verbal), pode
então o analista interpretar ao paciente o que MATERIAL CLÍNICO E DISCUSSÃO
está se passando entre os dois.
Assim, temos hoje não apenas o estudo Um interessante exemplo extraído de uma
psicanalítico da comunicação inconsciente feita experiência de supervisão6 poderá ilustrar a
pelo paciente ao analista (o fenômeno utilidade da contratransferência no andamento
transferência/contratransferência), tendo por de uma psicoterapia analiticamente orientada.
modelo básico a repetição em ato das relações Um jovem e dedicado psicoterapeuta, que
primitivas do bebê, como também um modelo residia numa cidade do interior do estado (RS)
novo, que se acrescenta àquele anterior, e se deslocava semanalmente para Porto
baseado nos estudos da neurociência (os tipos Alegre a fim de fazer sua especialização em
de memória – e de conhecimento – que surgem Psicoterapia de Orientação Analítica e atender
dessa interação inicial, não-verbal, e que se alguns de seus pacientes, apresentou o
mantêm por toda a vida). seguinte material clínico numa supervisão.
A própria psiquiatria, amplo senso, não A paciente em questão encontrava-se em
pode mais prescindir do conceito: o paciente psicoterapia há 1 ano e meio, com duas sessões
psiquiátrico é mais compreensível em suas semanais com duração de 45 minutos. Havia
reações e interações com seu médico e com a procurado tratamento por se sentir triste ao ver
equipe que o atende a partir das reações que sua vida paralisada. Concluíra seu curso
desperta em uns e outros. A utilização da superior, porém, sentia muita dificuldade em
medicação, sua aceitação ou não e a aderência iniciar sua carreira profissional e assumir
ao tratamento podem ser compreendidas de responsabilidades. Passava boa parte do tempo
forma mais completa se o psiquiatra usar de “ensaiando” como poderia trabalhar ou
seus sentimentos e buscar entender o vínculo conseguir fazer alguma atividade. Uma
que se estabeleceu entre ele e seu paciente, dificuldade semelhante se verificava em
seja ele psicótico, borderline ou neurótico. relacionamentos amorosos, que passaram a ser
Deste modo, contratransferência não se refere evitados após algumas iniciativas mal-
apenas aos sentimentos do analista na sessão, sucedidas, devido à sua conduta
mas significa a utilização, de forma ampla, da excessivamente controladora e agressiva.
subjetividade do próprio analista/terapeuta/ Havia um forte apego à mãe e uma hostilidade
clínico para a compreensão mais profunda do defensiva em relação ao pai, com quem evitava
seu paciente. De um modo mais completo, maior aproximação.
abarca não somente fenômenos visíveis à O psicoterapeuta vinha mostrando a forte
superfície, mas, principalmente, inclui ligação que a paciente tinha com os pais,
sentimentos e significados inconscientes de especialmente com a mãe, e seu medo de
cada indivíduo, ocultos, obscuros, mas crescer e separar-se dos mesmos. Interpretava
determinantes e definidores de seu os desejos transferenciais da paciente de obter
comportamento. respostas rápidas e diretas como forma de obter
Dessa forma, o psiquiatra contemporâneo gratificação infantil e, com isso, produzir pouca
não pode ignorar a importância da utilização e mudança no tratamento, evitando a separação
da consulta aos próprios sentimentos em do psicoterapeuta, que um dia iria ocorrer.
relação ao paciente. Alguns aspectos do Após 1 ano e meio, a paciente havia
paciente só poderão ser compreendidos a partir alcançado uma melhora considerável,
da consulta aos sentimentos mobilizados no conseguindo seu primeiro trabalho, o qual
psiquiatra. O mal-estar sentido por esse, ao levava muito a sério e com dedicação.
atender um deprimido que pouco fala, pode ser Paralelamente, iniciou um relacionamento com
uma forma (verbalmente) muda de expressão um namorado, com quem passou a ter uma
do medo que o paciente tem de não resistir ao convivência intensa e que, invariavelmente,
sofrimento depressivo e tentar suicidar-se. Ele fazia com que suas características
comunica esse medo ao seu terapeuta de forma controladoras e agressivas aflorassem, sendo
inconsciente, não-verbal. Também de forma freqüentemente objeto de exame na
inconsciente, esse medo é captado e sentido psicoterapia.
como mal-estar pelo psiquiatra, que o O psicoterapeuta, por sua vez, havia
compreenderá não como um sentimento apenas manifestado na supervisão certo cansaço com
seu, mas algo construído pela interação de os deslocamentos semanais (viagens à capital) 297

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para dar continuidade à sua formação, que se término do curso e em certo grau de insatisfação
encontrava em fase bastante adiantada, com sua qualidade de vida, que contrastava
próxima do final. Manifestava espontaneamente momentaneamente com a da paciente. Vimos
sua gratidão com a supervisão e o curso, que que se sentira pressionado a agir e dar algo
haviam influenciado seu crescimento e imediato à paciente. Lembramos, como hipótese
aprendizado. No entanto, lamentava-se em a ser investigada, de que a angústia da paciente
relação à perda temporária de sua qualidade de com sua “reduzida receita” pudesse representar
vida devido aos constantes deslocamentos, às a comunicação de sua percepção inconsciente
horas dedicadas ao estudo e às preocupações sobre sua incerteza quanto às condições
com seu futuro profissional. Simultaneamente, pessoais de prosseguir sozinha no caminho
passou a ficar preocupado com a proximidade iniciado por ambos, após a futura interrupção.
do término de sua formação, com o retorno em Por outro lado, também parece ter ocorrido, por
definitivo à sua cidade de origem e com a meio do uso de identificação projetiva da
interrupção ou encerramento da psicoterapia paciente, uma contra-identificação projetiva do
que realizava com a paciente na capital, já que psicoterapeuta (nos termos de Grinberg) com as
sentia que não conseguiriam atingir na angústias de separação daquela. Ou, de acordo
plenitude os objetivos propostos. O tema fora com Racker, poderíamos dizer que ocorreu, na
abordado na supervisão, e havíamos chegado contratransferência, uma identificação
a um consenso de que ele seguisse o trabalho complementar com partes do self da paciente
psicoterápico e ficasse atento para os (angústia de separação do objeto). O fato de a
constantes acionamentos que a paciente fazia redução das sessões ter partido da paciente
no sentido de acelerar o processo e de obter parece ter trazido um alívio ao psicoterapeuta
respostas e resultados rápidos, como já em ter que comunicá-la sobre a decisão de
ocorrera no passado. Combinamos que talvez o retornar para sua cidade de origem após a
momento mais indicado para comunicar à conclusão do curso e o conseqüente término do
paciente sobre a interrupção e suas razões para tratamento.
tal procedimento seria mais próximo do final do
ano, portanto, uns 2 ou 3 meses antes, a fim de CONSIDERAÇÕES FINAIS
que pudessem examinar o tema com a devida
antecedência. Não por casualidade, alguns autores 10,33,39,
A paciente, por sua vez, manifestava ao discutirem esse tema, referem-se a ele como
ansiedade em relação às consideráveis o problema da contratransferência; isto é, ao
mudanças que havia feito em sua vida, lado do reconhecimento do avanço imensurável
conseguindo trabalhar e namorar e passando a na técnica e na teoria psicanalíticas, a
referir fortes preocupações com sua ainda contratransferência segue com questões sem
reduzida receita para se manter. Além disso, resposta, sendo um campo instigante, embora
sua mãe, com quem mantinha uma conta difícil, de estudo. Manfredi, ao delinear as
bancária conjunta, por vezes exagerava nos tendências atuais de debate e estudo da
gastos, comprometendo parte dos seus ganhos. contratransferência, não se refere a autores
Numa determinada sessão, angustiada como Thomas Ogden ou Antonino Ferro,
com a questão financeira, a paciente propôs a autores atuais que contribuem, de forma
redução da freqüência das sessões, que o bastante criativa e consistente, ao estudo da
terapeuta não hesitou em aceitar. Na técnica que refere-se a esse tema. Por outro
supervisão, o terapeuta de imediato reconheceu lado, Manfredi ateve-se principalmente, em
que algo havia acontecido naquela sessão que seus comentários, às questões técnicas, sem
o deixara sentindo um mal-estar (frustração) e, referir-se às teóricas, como as (já citadas
logo, relacionou com o fato de ter aceitado a acima) contribuições atuais dos estudos
redução das sessões sem que tivesse sentido empíricos da relação mãe/bebê e da
que o tema havia sido suficientemente neurociência. Não aborda também as questões
examinado, como costumeiramente fazia. relativas às outras denominações da
A discussão do caso e da conduta adotada contratransferência nas diversas escolas
nos fez pensar que a paciente acionara-o a tomar (como, por exemplo, o enactment e a
decisões precipitadas (um enactment, conforme abordagem da perspectiva da
descrito por Jacobs46), como já havia tentado fazer intersubjetividade, ambas da psicologia do ego
no passado, mas, neste momento, encontrara americana) e as implicações de tais diferenças.
um respaldo no terapeuta, amparado no seu Como se vê, há ainda muito a pesquisar, discutir
298 cansaço pelo deslocamento, na proximidade do e aprender sobre a contratransferência.

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RESUMO
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23. Ogden TH. Analisando a matriz da transferência- Os autores procuram demonstrar que, embora
contratransferência. In: Os sujeitos da psicanálise. São ainda existam diferenças entre as diversas escolas
Paulo: Casa do Psicólogo; 1996. p. 133-62. teóricas da psicanálise, uma estreita área de
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Contratransferência em psicoterapia e psiquiatria – Zaslavsky & Santos

convergência emergiu relativa à utilidade da its meaning does not concern only to technique. The
contratransferência como elemento técnico para psychoanalytical theory has changed after such a
compreender o paciente. concept, becoming a double theory, or an attachment
A contratransferência está incluída na técnica theory, about phenomena that occur between patient
psicanalítica, seja com a denominação original and therapist, and not only with the patient. In this
(contratransferência propriamente dita), seja em sense, there is a paradigm change, as the facts are
algum conceito correlato que a inclui como not related to a single individual anymore but to an
identificação projetiva, campo analítico, role- interaction between two individuals, which is
responsiveness, enactment (encenação), understood only while a product built from both. The
intersubjetividade e terceiro analítico, personagem e psychology of one became the psychology of the
histórias possíveis, etc. attachment between two. The article emphasizes how
Tornou-se um conceito a partir do qual outros a technical element can be useful in psychiatry,
conceitos se constroem. Seu significado não se prende psychotherapy and psychoanalysis. The use of
apenas à técnica, no entanto. A teoria psicanalítica medication, its acceptance or not, and compliance
muda a partir dele, tornando-se uma teoria da dupla, with treatment or not can be better understood if the
ou do vínculo, isto é, dos fenômenos que ocorrem no psychiatrist uses his or her feelings and makes an
par analítico, e não mais apenas no paciente. Há, effort to understand the attachment between patient
nesse sentido, uma mudança do próprio paradigma, and therapist, either he or she is psychotic, borderline
na medida em que os fatos agora se referem não mais or neurotic.
a um indivíduo, mas a uma interação entre dois The authors conclude that countertransference
indivíduos, só sendo compreendida enquanto produto is not only about the therapist’s feelings during
daqueles dois. O que era uma psicologia de um torna- meetings, it means the wide use of the analyst’s/
se uma psicologia do vínculo que une dois. therapist’s/clinician’s subjectivity to fully understand
É enfatizado como este elemento da técnica patients, as not only visible shallow phenomena will
pode ser útil em psiquiatria, psicoterapia e be approached, but also hidden, obscure feelings and
psicanálise. A utilização da medicação, sua aceitação meanings that underlie the unconscious of each
ou não e a aderência ao tratamento podem ser individual, which determinates and defines the
compreendidas de forma mais completa se o patients’ behavior.
psiquiatra usar de seus sentimentos e buscar
entender o vínculo que se estabeleceu entre ele e seu Keywords: Countertransference, projective
paciente, seja ele psicótico, borderline ou neurótico. identification, psychoanalytic technique,
Os autores concluem que a contratransferência psychotherapy.
não se refere apenas aos sentimentos do terapeuta Title: Countertransference in psychotherapy and
na sessão, mas significa a utilização, de forma ampla, psychiatry today
da subjetividade do próprio analista/terapeuta/clínico
para a compreensão mais ampla e profunda do seu
paciente, de um modo mais completo, por abarcar RESUMEN
não somente fenômenos visíveis à superfície, mas,
principalmente, por incluir sentimentos e significados Los autores buscan demostrar que aunque
que jazem no âmago inconsciente de cada indivíduo, todavía haya diferencias entre las diversas escuelas
ocultos, obscuros, mas determinantes e definidores teóricas del psicoanálisis, una estrecha área de
de seu comportamento. convergencia ha emergido, relativa a la utilidad de la
contratransferencia como elemento técnico para
Descritores: Contratransferência, identificação comprender al paciente.
projetiva, técnica psicanalítica, psicoterapia. La contratransferencia está incluida en la técnica
psicoanalítica, sea con la denominación original
(contratransferencia propiamente dicha), sea en algún
ABSTRACT concepto correlato que la incluye como identificación
proyectiva, campo analítico, role-responsiveness,
The goal of this article is to demonstrate that enactment, intersubjetividad y tercero analítico,
even though there are differences between different personaje e historias posibles, etc.
theoretical schools in the field of psychoanalysis, a Se hizo un concepto a partir del que otros
narrow convergence area has emerged: the utility of conceptos se construyen. Sin embargo, su
countertransference as a technical element to significado no se agarra solamente a la técnica. La
understand the patient. Countertransference is teoría psicoanalítica cambia a partir de él,
included in the techniques of psychoanalysis, either haciéndose una teoría de la dupla, o del vínculo,
with its original denomination (countertransference eso es, de los fenómenos que ocurren en el par
per se), or with some correlate concept that comprises analítico y no solo en el paciente. Hay, en ese
it, such as projective identification, analytic field, role- sentido, un cambio del paradigma mismo, en la
responsiveness, enactment, intersubjectivity and medida en que los hechos ahora se refieren no más
analytic third, character and possible histories, etc. It a un individuo, pero a una interacción entre dos
is a concept upon which other concepts are built but individuos, solo siendo comprendida en tanto que
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Contratransferência em psicoterapia e psiquiatria – Zaslavsky & Santos

productos de aquellos dos. Lo que era una del inconciente de cada individuo, oculto, oscuro,
psicología de uno, se hace una psicología del pero determinante y definidor de su
vínculo que une a dos. comportamiento.
Se enfatiza como este elemento de la técnica
puede ser útil en psiquiatría, psicoterapia y Palabras clave: Contratransferencia, identificación
psicoanálisis. La utilización de las medicinas, su proyectiva, técnica psicoanalítica, psicoterapia.
aceptación o no, la adhesión al tratamiento, pueden Título: Contratransferencia en psicoterapia y
comprenderse de forma más completa si el psiquiatra psiquiatría hoy
usa de sus sentimientos y busca entender el vínculo
que se estableció entre él y su paciente, sea él Correspondência:
psicótico, limítrofe o neurótico. Jacó Zaslavsky
Concluyen que la contratransferencia no se Av. Taquara, 572/301
refiere sólo a los sentimientos del terapeuta en la CEP 90460-210
sesión, pero significa la utilización, en forma Porto Alegre – RS
amplia, de la subjetividad del propio analista/ Fone: (51) 3331-3898
terapeuta/clínico para la comprensión más amplia Fax: (51) 3321-1614
y profunda de su paciente, de un modo más E-mail: jacozas@terra.com.br
completo, por abarcar no sólo fenómenos visibles
a la superficie, pero, principalmente, por incluir Copyright © Revista de Psiquiatria
sentimientos y significados que yacen en el cerne do Rio Grande do Sul – SPRS

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