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Fragilidade, fragilidade a quente

A figura1 apresenta uma curva esquemática de Dutilidade, medida como % de


redução da área sob estricção, em função de temperatura. Para ser
representativo da situação observada em LC este teste deveria ser realizado
sobre a estrutura bruta de fusão, possivelmente com esforços aplicados na
direção perpendicular aos cristais colunares, à temperatura do processo, com
taxas de deformação semelhantes.

Figura 1: Curva de dutilidade vs temperatura

A taxa de deformação é importante porque, em altas temperaturas, a fluência


ou “creeping” (deformação seguida de recristalização) pode ser importante. A
figura 2 mostra de forma esquemática o efeito combinado destes fatores.

Figura 2: Dutilidade como função de temperatura e taxa de deformação.

Ainda de acordo com a figura 1, próximo à temperatura teórica de liquidus do


aço a dutilidade cai bruscamente. Durante a solidificação como se verá em
seção posterior, solutos como C, P, S, Mn são segregados na frente de
solidificação, produzindo líquidos de baixo ponto de fusão, que se alojam nos
espaços interdendríticos. Então, a estrutura falha antes de se atingir a
temperatura de fusão em função da presença de filmes líquidos. A figura 3
apresenta uma foto-micrografia obtida por SEM, evidenciando a presença de
sulfetos na região de falha estrutural.

Figura 3: SEM da região de fratura

Alguns argumentam pela ligação da ocorrência de trincas internas com esta


zona de fragilização. Então, como a região de transição sólido-líquido (próxima
a esta zona de fragilização) pode ser identificada através de uma aproximação
empírica:
δ [mm] = k S t{min]
seria possível estimar em que posição z, abaixo do menisco se produziu o
esforço causador da trinca. Deste modo, conferir desalinhamento de rolos ou
outra causa mecânica.

As outras duas regiões de baixa dutilidade ou “poços de dutilidade” podem


ocorrer ou não de acordo com a composição do aço.

A poça de dutilidade em temperaturas altas é normalmente creditada à


precipitação de sulfetos de ferro ao redor dos grãos austeníticos.
Comparativamente, os sulfetos são mais dúteis que a matriz austenítica de
maneira que a concentração de tensões provoca o escoamento do material ao
longo dos contornos de grãos. Eventualmente, podem ser precipitadas fases
duras (de alta resistência) que se tornam pontos de acumulação de tensão e,
portanto, de fragilidade, figura 4.
Figura 4: Mecanismo de fragilização, 1º poço de dutilidade

Finalmente, a zona de fragilidade em baixas temperaturas ocorre na região de


equilíbrio bifásico, ferrita α + austenita. A ferrita, de maior dutilidade,
precipita-se como filmes ao redor dos grãos de austenita. Então, o escoamento
se dá em função da dutilidade comparativamente maior entre os filmes, figura
5.

Figura 5: Mecanismo de fragilização, 2º poço de dutilidade.

Este efeito não pode ser superado por ser inerente ao sistema Fe-C.
Entretanto, filmes de sulfetos (ou seus efeitos) podem ser suprimidos:
• Produzindo aço de baixo teor enxofre; figura 6.
• Produzindo aço com razão Mn/S acima de um certo valor crítico, por
exemplo 30.
Figura 6: Efeito da razão Mn/S sobre a tensão de ruptura e porcentagem de
estricção.

Sulfetos de Mn são menos maleáveis do que os sulfetos de ferro. Desta sorte,


quando o teor de S é baixo e/ou a razão de Mn/S é alta, o poço de dutilidade
em temperaturas altas pode não ser observado.

A figura 7 sugere o efeito do fósforo; é conhecida a capacidade deste elemento


de fragilizar o ferro.

Figura 7. Efeito do fósforo sobre a dutilidade.

Então, em princípio, curvas específicas de dutilidade devem ser levantadas


para cada composição em particular. O que está em questão não é o
comportamento mecânico do aço em temperatura ambiente, ou próxima dela,
situação de solicitação em serviço mais comum(exceção feita de aços
refratários). A curva de dutilidade deve ser levantada para que a temperatura
superficial nas regiões da máquina de LC onde são aplicados os esforços de
dobramento e desdobramento não coincida com aquelas dos poços de
dutilidade.

Nióbio apresenta alta afinidade por nitrogênio e carbono dissolvidos no aço,


formando carbetos e nitretos, acima de uma certa composição. Em geral o
nióbio se encontra completamente solubilizado na matriz austenítica nas
temperaturas de laminação e atua como inibidor do processo de recristalização
e crescimento de grãos. Aços com micro-adições de nióbio apresentam em
conseqüência granulação mais fina e resistência mecânica maior, vide figura 8.

Figura 8: Resistência mecânica de aços em função do tamanho de grão

Esta é a essência dos aços HSLA(High Strength Low Alloy; alta resistência e
baixa liga). No entanto este aspecto favorável de perfomance a baixas
temperaturas é contrabalançado pela maior fragilidade a quente. A adição de
nióbio aumenta o domínio de existência do poço de dutilidade, figura 9,
exigindo condições diferentes(comparado ao aço carbono) de lingotamento
contínuo.

“Hot charging” ou carga a quente é uma das opções apontadas para reduzir o
consumo energético global de siderúrgicas que operam com LC. De acordo
com esta proposta placas com alta qualidade superficial seriam carregadas
inicialmente no forno de reaquecimento – apenas para fins de encharque e
equalização de temperatura, seguindo então para o trem de laminação. Neste
circuito seriam evitados o resfriamento até a temperatura ambiente, inspeção e
operações de condicionamento, reaquecimento. Ganhos, portanto, em
produtividade e energia. A figura 10 mostra o aspecto superficial de uma placa
fina (~10cm), pós-laminação de desbaste, produzida de acordo com estes
princípios. A superfície se mostra cheia de trincas, tal qual um fundo seco de
um lago; portanto, a proposta se mostra inviável do ponto de vista de
qualidade. Observe que estas dificuldades não são apontadas na rota normal
de produção.

Figura 9: Poço de dutilidade em função do teor de nióbio. .

Figura 10 : Aspecto superficial de placa fina após laminação

Sugere-se então a explicação seguinte: No esquema com “hot charging”,


durante o resfriamento e encharque, à temperatura de laminação, ~1200oC,
ocorre a precipitação de AlN nos contornos de grãos da austenita. Este
precipitados, de baixa dutilidade, atuam como pontos de concentração de
tensões; então a estrutura falha devido à formação de trincas intercristalinas.
Na rota normal, ocorre uma série de transformações de fases. Inicialmente,
durante o resfriamento até temperaturas ambientes, a estrutura austenítica
transforma-se em estrutura típica de ferrita e perlita. Com o aquecimento
subseqüente, até a temperatura de encharque, perlita e ferrita são
retransformadas em austenita. A recristalização, ocorre tal que os precipitados
de AlN ficam embebidos na matriz de austenita. Deste modo, como um todo, a
estrutura é dútil. A figura 11 iilustra estas particularidades.

Figura 11 : Transformações de fase e precipitação de AlN

Para solucionar o problema apontado, de fragilidade na região superficial,


propôs-se adotar, na saída do LC, uma têmpera superficial. O reaquecimento
posterior, na região superficial, produziria a estrutura austenítica. Portanto, ao
menos a região superficial estaria sujeita ao ciclo de transformações de fases
capazes de garantir a dutilidade.

Maiores detalhes podem ser encontrados nas referências seguintes:


8- Relationship between hot ductility and cracking during the continuous casting
of steel; S. Yue et al, 13th PTD Conference Proceedings, 1995, 45-52
9- Quenching for improved direct hot charging quality; A. Carboni et al;
Steelmaking Conference Proceedings, 1999, 219-223

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