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Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 455

U m g de h e m o g l o b i n a é capaz de ligar 1,39 m L ( 0 , 0 6 2 m m o L ) decorre do f a t o de que os valores destes parâmetros são m u i t o


de O 2 . Este valor refere-se à capacidade específica da hemoglo- semelhantes e m i n d i v í d u o s saudáveis c o m quantidades n o r m a i s
b i n a A ( H b A , o p r o d u c o gêmeo do a d u l t o n o r m a l ) de hgar-se ao de h e m o g l o b i n a n o r m a l . N o e n t a n t o , as suposições feitas para
0 2 , q u e liga reversivelmente o 0 2 ao seu g r u p a m e n t o heme. A i n d i v í d u o s n o r m a i s e saudáveis geram conclusões errôneas e m
m e t e m o g l o b i n a ( M e t H b ) , c a r b o x i e m o g l o b m a ( C O H b ) , sulfemo- pacientes seriamente doentes e naqueles c o m dísemoglobinas o u
g l o b i n a ( S u l f H b ) e ci ano m e t e m o g l o b i n a são formas da h e m o g l o - variantes de h e m o g l o b i n a q u a n d o estes valores são utilizados
b i n a q u e n ã o são capazes de ligação reversível ao 0 2 p o r causa p e r m u tavelmente.
das alterações químicas n o g r u p a m e n t o h e m e ( C a p í t u l o 28). Os m é t o d o s de espectrofotornetria são utilizados para deter-
Estas h e m o g l o b i n a s q u i m i c a m e n t e alteradas são coletivamente m i n a r 0 ? H b e h e m o g l o b i n a reduzida ( H H b ) c o m S 0 2 calculado
chamadas de dísemoglobinas. As h e m o g l o b i n a s c o m modificações de acordo c o m
geneticamente determinadas e m suas seqüências de a m i n o á c i d o s
que a k e t a m a ligação de O2 são coletivamente chamadas de cO,Hb
S02 -
variantes da h e m o g l o b i n a o u h e m o g l o b i n o p a t i a s . M a i s de 9 0 0 (cO,Hb+cHHb)
h e m o g l o b i n o p a t i a s f o r a m descritas ( h t t p : / / g l o b i n . c s e psu.edu),
sendo u m exemplo a h e m o g l o b i n a de célula f a l c i f o r m e (HbS).
A r e t i r a d a de 0 2 pelo sangue nos p u l m õ e s é p r i m a r i a m e n t e onde c 0 2 H b é a concentração de oxiemoglobina, c H H b é a con-
governada pela PG 2 d o at alveolar e pela capacidade do 0 2 de se centração de cieoxiemoglobina, e a soma de o x i e m o g l o b i n a e deo-
d i f u n d i r l i v r e m e n t e da m e m b r a n a alveolar para o sangue. M a i s x i e m o g l o b i n a representa t o d a a h e m o g l o b i n a capaz de ligar 0 2
de 9 5 % da h e m o g l o b i n a irão se ligar ao 0 2 à PO? n o r m a l m e n t e reversivelmente. A S 0 2 geralmente é expressa em porcentagem.
presente n o ar alveolar (~ 102 m m H g ) e c o m m e m b r a n a e hemo- A S 0 2 é f r e q ü e n t e m e n t e d e t e r m i n a d a p o r o x i m e t r i a de pulso.
g l o b i n a A n o r m a i s . E m u m a P 0 2 > 1 1 0 m m Hg, m a i s de 9 8 % Esta é u m a técnica não invasiva e m q u e u m sensor é colocado
de h e m o g l o b i n a A n o r m a l se ligar ao 0 2 . Q u a n d o toda hemo- e m u m a p a r t e r e l a t i v a m e n t e f i n a da a n a t o m i a d o paciente, geral-
g l o b i n a está saturada c o m 0 ? ., u m a u m e n t o a d i c i o n a l na P 0 2 d o m e n t e na p o n t a dos dedos o u n o l ó b u l o da orelha o u , em casos
ar alveolar a u m e n t a apenas a concentração de c d 0 2 n o sangue de neonatos, n o pé. Luz v e r m e l h a e i n f r a v e r m e l h a é d i r e c i o n a d a
arterial. A d i s t r i b u i ç ã o de 0 2 p e l o sangue para os tecidos é gover- através d o tecido, e a absorvancia cia luz t r a n s m i t i d a é mensu-
nada p e l o grande gradiente entre PO? do sangue a r t e r i a l e aquela rada. A o x i m e t r i a de pulso mede 0 2 H b e H H b , mas não C O H b ,
das células teciduais, e pela dissociação cie 0 2 H b n o s eritrócitos M e t H b o u S u l f H b . Estes dispositivos m e d e m absorvâncias a 6 6 0
em u m a P 0 2 m e n o r na interface sangue-célula tecidual. e 9 4 0 n m para as quais 0 2 H b e H H b apresentam padrões ú n i c o s
Três propriedades do sangue arterial são essenciais para de absorvância. Estes m o n i t o r e s geralmente são utilizados ao lado
garantir a d i s t r i b u i ç ã o adequada de 0 2 para os tecidos: do paciente acamado para m o n i t o r a r a saturação de 0 2 H b . N o
1. A P 0 2 arterial deve ser s u f i c i e n t e m e n t e alta ( - 9 0 m m H g ) e n t a n t o , o uso de S 0 2 na avaliação i n i c i a l de u m paciente c o m
p a r a criar u m gradiente de difusão d o sangue a r t e r i a l para as dísemoglobinas o u outras h e m o g l o b i n a s anormais gera interpre-
células teciduais. A baixa P 0 2 arterial ( h i p o x e m i a ) resulta em tações erradas. Por e x e m p l o , em u m paciente comatoso c o m 1 5 %
h i p o x i a t e c i d u a l (falta de 0 2 ) . de C O H b , a S 0 2 pela o x i m e t r i a de pulso simples p o d e ser de
2. A capacidade de ligação de O2 d o sangue deve ser n o r m a l . A 0,95, e n q u a n t o a fração de 0 2 H b pode ser na realidade de apenas
d i m i n u i ç ã o na concentração de H b p o d e causar a c o n h e c i d a 0,80. P o r t a n t o , deve-se d e t e r m i n a r a presença de dísemoglobinas
h i p o x i a anêmica. antes de utilizar S 0 2 c o m propósitos clínicos. O i n t e r v a l o de
3. A h e m o g l o b i n a deve ser capaz de ligar 0 2 nos p u l m õ e s e referência para S 0 2 em adultos saudáveis é de 9 4 % a 9 8 % .
liberá-lo nos tecidos (a a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a pelo 0 2 O u t r a expressão para "saturação" de oxigênio é F O ? H b , que
deve ser n o r m a l ) . U m a a f i n i d a d e m u i t o grande da hemoglo- é calculada da seguinte f o r m a :
b i n a pelo 0 2 p o d e causar h i p o x i a tecidual "baseada na afini-
d a d e " e m que o 0 2 não é libera cio na interface capilar-tecido
c 0 ; H b
(ver adiante). A PO? na extremidade venosa dos capilares deve F O , H b =
ser de a p r o x i m a d a m e n t e 38 m m H g , e, p o r t a n t o , a diferença ctHb
arteriovenosa n o r m a l na P 0 2 é de 5 0 a 60 m m H g .

o n d e a concentração da h e m o g l o b i n a t o t a l c t H b é igual a soma


Saturação de Oxigênio da Hemoglobina de 0 2 H b , H H b , C O H b , M e t H b e S u l f H b . Este valor requer a
A n t e s de d i s c u t i r os fatores q u e afetam a afinidade d a H b pelo
determinação de todas as espécies de h e m o g l o b i n a e geralmente
0 2 , é i m p o r t a n t e d e f i n i r o c o n c e i t o de saturação de o x i g ê n i o da
é realizado em u m co-oxí m e t r o . Estes i n s t r u m e n t o s são espectro-
hemoglobina (S02):
f o t ô m e t r o s que d e t e r m i n a m a q u a n t i d a d e t o t a l de h e m o g l o b i n a
e a porcentagem de cada u m a das espécies m e n c i o n a d a s acima
C o n t e ú d o de o x i g ê n i o
so2 = e m u m h e m o l i s a d o de sangue total. C o m isso, a absorvância é
Capacidade d o o x i g ê n i o m e n s u r a d a e m 6 a 128 c o m p r i m e n t o s de o n d a fixados entre 535
e 670 n m . A l g u n s co-oxí metros novos u t i l i z a m u m arranjo de
Esta é a fração (porcentagem) de h e m o g l o b i n a f u n c i o n a l que é diocio. C a d a espécie de h e m o g l o b i n a apresenta seu p r ó p r i o
saturada c o m o x i g ê n i o e é essencialmente u m a f o r m a i n d i r e t a de p a d r ã o de absorvância, p e r m i t i n d o q u e u m c o m p u t a d o r calcule
estimar a P 0 2 . N o e n t a n t o , existem pelos m e n o s crês abordagens a p o r c e n t a g e m de cada u m a . O i n t e r v a l o de referência para
diferentes para d e t e r m i n a r a "saturação" do oxigênio, e e m b o r a E 0 2 H b é 0,90 a 0,95.
cada u m a seja distinta, elas são f r e q ü e n t e m e n t e utilizadas ínter- O software utilizado pelos c o m p u t a d o r e s integrados aos ins-
cambiavelmente para d e t e r m i n a r a "saturação d o o x i g ê n i o " . Estes t r u m e n t o s de mensurar gases sanguíneos irá estimar a saturação
termos: (1) saturação de o x i g ê n i o da h e m o g l o b i n a ( S 0 2 ) , (2) d o oxigênio ( S 0 2 ) a p a r t i r d o p H , P 0 2 e h e m o g l o b i n a mensura-
o x i e m o g l o b m a fracionada ( F 0 2 H b ) e (3) saturação cio oxigênio dos c o m a utilização de equações empíricas. Se usado c o m o u m
estimada ( 0 2 S a t ) apresentam definições distintas estabelecidas t o d o , este valor refere-se c l a r a m e n t e à S 0 2 estimada, mas freqüen-
pelo C L S I (C46-A). f i A utilização ambígua destes três termos t e m e n t e é r e p o r t a d o c o m o " 0 2 S a t " . Valores calculados c o m o
456 PARTE IV Analitos

u
0 2 S a t " devem ser i n t e r p r e t a d o s c o m cautela p o r q u e esta abor-
dagem algorítmica assume: (1) a f i n i d a d e n o r m a l da h e m o g l o b i n a
pelo O i , (2) concentração de 2,3-difosfoglicerol (2,3-DPG) n o r m a l
e (3) ausência de disemoglobinas. Estas estimativas calculadas
v a r i a m 6 % e m relação aos valores mensurados. Conseqüente-
mente, a utilização dos valores estimados é desencorajada.'
A d i m i n u i ç ã o na F 0 2 H b i n d i c a baixa P 0 2 a r t e r i a l o u prejuízo
da capacidade da h e m o g l o b i n a de ligar-se ao 0 2 . A d i m i n u i ç ã o
na P 0 2 i n d i c a u m a capacidade reduzida do 0 2 de difundir-se do
ar alveolar para o sangue. Isto é decorrente de h i p o v e n t i l a ç ã o o u
desvio v e n o a r t e r i a l a u m e n t a d o , que é secundário à insuficiência
cardíaca o u p u l m o n a r . A h e m o g l o b i n a t o t a l baixa é considerada
c o m o resultante de u m a d i m i n u i ç ã o n o n ú m e r o de eritrócitos
c o n t e n d o concentrações n o r m a i s de h e m o g l o b i n a (anemia nor-
m o c r ô m i c a ) o u u m a d i m i n u i ç ã o na concentração m é d i a de
h e m o g l o b i n a nos eritrócitos (anemia h i p o c r ô m i c a ) . A d i m i n u i -
ção de F 0 2 H b t a m b é m ocorre c o m o resultado de intoxicações
que c o n v e r t e m parte da h e m o g l o b i n a nas espécies C O H b ,
M e t H b , S u l f H b o u c i a n o m e t e m o g l o b i n a que não irão ligar 0 2 Figura 24-2 C u r v a d e dissociação d o oxigênio paTa sangue h u m a n o

o u fazer trocas gasosas de f o i m a apropriada. C l i n i c a m e n t e , é c o m p H plasmático diferente, mas PCO2 constante de 4 0 m m H g ,

i m p o r t a n t e d i s t i n g u i r : (1) h i p o x e m i a arterial ( P 0 2 a r t e r i a l d i m i - concentração de 2,3-difosfoglicerol n o s eritrócitos de 5,0 m m o l / L e


n u í d a e d i m i n u i ç ã o em S 0 2 o u F 0 2 H b p o r causa da m e n o r t e m p e r a t u r a a 37°C.
d i s p o n i b i l i d a d e de 0 2 ) e (2) cianose ( d i m i n u i ç ã o de F 0 2 H b p o r
causa de altas concentrações anormais de h e m o g l o b i n a Teduzida
o u h e m o g l o b i n a q u i m i c a m e n t e alterada incapaz de carrear o 0 2 ) .
E i m p o r t a n t e n o t a r que, n o i n í c i o da cianose, a mensuração de
S O i o u S 0 2 estimada ( u 0 2 Sat T 1 ) p o d e ser n o r m a l se a cianose é valor de P 50 m e n s u r a d o difere d o valor-padrao da P 50 de a c o r d o
decorrente da presença de M e t H b o u C O H b . c o m a extensão e m que: ( I ) o p H difere de 7,40, (2) a P C 0 2 difere
A concentração de oxigênio n o sangue ( c t 0 2 ) é a soma de 0 2 de 40 m m H g , (3) a T difere de 37°C e (4) a concentração de
ligado à h e m o g l o b i n a e c d 0 2 - Os analisadores de gases sanguí- 2 , 3 - D P G difere de 5,0 m m o l / L P o r t a n t o , o valor de P50 torna-se
neos d e t e r m i n a m c t 0 2 p o r m e i o d o seguinte cálculo: u m a m e d i d a da alteração da a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a decor-
rente da i n f l u ê n c i a destes fatores. Q u a n d o o p H é ajustado e m
ct02 ( m L / d L ) = [FO,Hb X b O , x ctHb(g/dL)] + ( a 0 2 x P02) 7,40 e a P C 0 2 e m 4 0 m m Hg, esta P50 " p a d r ã o " é u m a mensu-
ração i n d i r e t a da concentração de 2 , 3 - D P G na ausência de H b
o n d e b 0 2 é igual a 1,39 m l V g e a , 0 2 , O coeficiente de solubili- variantes.
dade de 0 2 a 3 7 ° C , é igual a 0,0031 ( m L / d L ) / m m H g . Este
cálculo é baseado em F 0 2 H b e c t H b . Se for utilizada a S 0 2 l é Intervalos de Referência
necessário usar a concentração de h e m o g l o b i n a efetiva sub- Para adultos, 9 5 % dos limites são de 25 a 29 m m H g para a P50
t r a i n d o a concentração de q u a l q u e r d i s e m o g l o b i n a presente da m e d i d a a 37 U C e p H ( P ) c o r r i g i d o para 7,4. Para os recém-nasci-
concentração d e c t H b . A s s i m , n o exame i n i c i a l de u m paciente, dos, o i n t e r v a l o é de 18 a 24 m m H g p o r causa da presença de
pode ser necessário obter u m valor preciso de cíOt para ser uti- H b fetal (HbF).
lizado nos cálculos subseqüentes.
Importância Clínica'
Dissociação Hemogiobina-Oxigênio O s valores a u m e n t a d o s para P50 i n d i c a m deslocamento para a
O grau de associação o u dissociação entre o 0 2 e a h e m o g l o b i n a d i r e i t a da curva de dissociação d o 0 2 , i n d i c a n d o u m a a f i n i d a d e
é d e t e r m i n a d o pela P 0 2 e pela a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a pelo d i m i n u í d a da h e m o g l o b i n a pelo 0 2 . As p r i n c i p a i s causas são: (1)
0 2 . Q u a n d o a S 0 2 d o sangue é d e t e r m i n a d a e m u m i n t e r v a l o de h i p e r t e r m i a , (2) acidemia, (3) h i p e r c a p n i a , (4) altas concentra-
POT e representada graficamente c o n t r a a P 0 2 ) obtém-se u m a ções de 2 , 3 - D P G o u (5) presença de variantes da h e m o g l o b i n a
curva s i g m ó i d e conhecida c o m o c u r v a de dissociação d o oxigê- c o m a f i n i d a d e d i m i n u í d a pelo O?. AS concentrações de 2 , 3 - D P G
n i o . O forniu to da curva resulta da eficiência crescente da molé- t e n d e m a a u m e n t a r na alcalemia crônica, anemia e h i p o x e m i a
cula H H b de ligar-se ao 0 2 à m e d i d a que mais 0 2 é ligado crônica. A h e m o g l o b i n a Kansas é u m exemplo de h e m o g l o b i n a
( " c o o p e r a t i v i d a d e " ; ver t a m b é m C a p í t u l o 28). A posição da curva c o m afinidade d i m i n u í d a pelo 0 2 .
em relação à P 0 2 necessária para atingir u m a concentração par- Os efeitos fisiológicos da a f i n i d a d e d i m i n u í d a da h e m o g l o -
ticular de S 0 2 n o sangue é u m a função da a f i n i d a d e da hemo- b i n a são m í n i m o s . E m geral, a a f i n i d a d e ainda é suficiente para
g l o b i n a pelo 0 2 . p e r m i t i r que a h e m o g l o b i n a ligue quantidades adequadas de 0 2
A a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a pelo 0 2 depende de; (1) tempe- nos pulmões. A baixa afinidade facilita a dissociação da 0 2 H b
ratura, (2) p H , (3) P C 0 2 , (4) concentração de 2 , 3 - D P G e (5) nas células dos tecidos periféricos. A l é m disso, na anemia, a baixa
presença de h e m o g l o b i n a s m i n o r i t á r i a s , c o m o C O H b e M e t H b . a f i n i d a d e (como resultado d o a u m e n t o em 2 , 3 - D P G ) é u m meca-
A Figura 24-2 ilustra o efeito d o p H plasmático n a curva de n i s m o c o m p e n s a t ó r i o desejável. Os pacientes c o m h e m o g l o b i n a
dissociação (efeito B o h r ) . Gráficos semelhantes p o d e m ser feitos Kansas apresentam P5C de a p r o x i m a d a m e n t e 80 m m H g e baixa
para as variações de P C 0 2 , 2 , 3 - D P G e temperatura. c t H b , mas não são afetados.
Baixos valores para P50 s i g n i f i c a m deslocamento da curva de
Determinação da P50 dissociação do 0 2 para a esquerda, i n d i c a n d o u m a a f i n i d a d e
A P i 0 é d e f i n i d a c o m o a P 0 2 para u m a dada amostra de sangue a u m e n t a d a da h e m o g l o b i n a . As p r i n c i p a i s causas são: ( I ) h i p o -
em que a h e m o g l o b i n a d o sangue está 5 0 % saturada c o m 0 2 . O t e r m i a , (2) alcalemia aguda, (3) h i p o c a p n i a , (4) baixas concentra-
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 457

ções de 2 , 3 - D P G , (5) C O H b e M e t H b aumentadas o u (6) u m a t o c o l o aprovado pelo C L S I , H - 1 1 A 4 , descreve o p r o c e d i m e n t o


h e m o g l o b i n a variante. A d i m i n u i ç ã o de 2 , 3 - D P G é c o m u m e n t e apropriado.7
observada nos estados acidêmicos p e r s i s t i n d o p o r mais de O sangue venoso para mensurar gases sanguíneos e p H geral-
algumas horas; o a u m e n t o i n i c i a l na P 50 causado pela acidemia m e n t e é coletado c o m agulha e seringa, e m b o r a alguns laborató-
é gradualmente compensado por uma d i m i n u i ç ã o em 2,3-DPG, rios t a m b é m aceitem a coleta e m t u b o a vácuo c o n t e n d o h e p a r i n a
então a P 50 d i m i n u i para u m valor m e n o r q u e o n o r m a l . A con- sódica seca. N a coleta d o sangue venoso de u m a veia d o braço, a
seqüência fisiológica da a f i n i d a d e a u m e n t a d a da h e m o g l o b i n a amostra deve ser o b t i d a após a liberação d o t o r n i q u e t e , e n ã o se
pelo O? é a dissociação de 0 2 H b menos eficiente nos tecidos deve p e r m i t i r que o paciente f l e x i o n e os dedos o u cerre o p u n h o .
periféricos e m e n o r P 0 2 tecidual. A aplicação p r o l o n g a d a d o t o r n i q u e t e e / o u a atividade muscular
irá d i m i n u i r P 0 2 e p H venosos. Cateteres inseridos c o m p o r t a
Tonometria para injeção de heparina para terapias endovenosas são utilizados
A t o n o m e t r i a é o processo de exposição de u m l i q u i d o a u m a para coletar amostra após o cateter ser p r e e n c h i d o c o m p l e t a m e n t e
fase gasosa e m que cada gás da fase gasosa então se d i s t r i b u i e c o m u m jato de sangue (geralmente 5 vezes o v o l u m e d o cateter)
atinge u m e q u i l í b r i o entre o l i q u i d o e o gás. Esse e q u i l í b r i o antes da coleta da amostra. A falha em lavar c o m u m jato forte
p a r t i l h a a P C 0 2 e P 0 2 d o gás e m e q u i l í b r i o c o m o sangue, e este de sangue a p o r t a para injeção de f o r m a apropriada apresenta
é exposto ao t o n ô m e t r o . O e q u i l í b r i o p o r t o n o m e t r i a u t i l i z a gases efeitos imprevisíveis nas quantidades mensuradas e freqüente-
de composição conhecida, u m i d i f i c a d o s a 3 7 ° C para gerar u m a m e n t e gera resultados estranhos e não fisiológicos.
pressão de v a p o r d'água saturado de 47 m m H g . A P C 0 2 o u P 0 2 A s amostras arteriais o u venosas i d e a l m e n t e são coletadas
destes gases é calculada de acordo c o m a lei de D a l t o n (ver seção anaerobicamente c o m o anticoagulante h e p a r i n a liofilizada e m
a n t e r i o r , C o m p o r t a m e n t o dos Gases). A t o n o m e t r i a é utilizada seringas estéreis c o m capacidade de 1 a 5 m L . E m b o r a teorica-
para t r a t a r as amostras de sangue para vários estudos especiais m e n t e seja preferível a utilização de seringas de v i d r o para evitar
q u e são r a r a m e n t e requeridos na m a i o r i a dòs hospitais e para trocas gasosas através da parede da seringa, a m a i o r i a das seringas
preparar m a t e r i a l de c o n t r o l e de q u a l i d a d e e m t o d o o sangue. A para gases sanguíneos a t u a l m e n t e é de plástico e a troca de gás
d e t e r m i n a ç ã o direta da P50 e d o bicarbonato-padrão são duas que ocorre e m 1 h o r a é insignificante. A h e p a r i n a liofilizada é
aplicações da t o n o m e t r i a . As aplicações de garantia da q u a l i d a d e preferível à h e p a r i n a l í q u i d a . N o e n t a n t o , (1) o t a m a n h o da
i n c l u e m : (1) preparação de amostras de sangue total para o con- seringa, (2) a concentração e o v o l u m e da h e p a r i n a l í q u i d a e (3)
trole de q u a l i d a d e e (2) d e t e r m i n a ç ã o da linearidade dos eletro- o v o l u m e de sangue d r e n a d o para d e n t r o da seringa são i m p o r -
dos P 0 2 e P C 0 2 . tantes q u a n d o se utiliza a h e p a r i n a l í q u i d a . A anticoagulação
adequada ( - 0 , 0 5 m g h e p a r i n a / m L de sangue) é alcançada pela
Determinação de PC02, P02 e pH drenagem de solução de h e p a r i n a l í q u i d a suficiente para d e n t r o
Os i n s t r u m e n t o s utilizados para d e t e r m i n a r P C 0 2 , P 0 2 e p H são da seringa de f o r m a que.- (1) seja u m e d e c i d a u m a área m á x i m a
automatizados. A coleta e o m a n u s e i o apropriados da amostra da superfície i n t e r n a da seringa e (2) o ar e o excesso de h e p a r i n a
são essenciais para a d e t e r m i n a ç ã o precisa. sejam ejetados d e i x a n d o o espaço m o r t o da seringa p r e e n c h i d o
c o m heparina. U m a p r o p o r ç ã o alta entre h e p a r i n a e sangue gera
Amostras u m efeito cada vez mais notável na PCO? m e n s u r a d a e nos parâ-
O sangue t o t a l é a amostra escolhida para a análise de gases e metros calculados a p a r t i r desta PCOT.
p o d e ser o b t i d o de q u a l q u e r sítio acessível ao cateterismo vascular O b v i a m e n t e , a amostra coletada sob condições anaeróbicas deve
o u acessos venosos. Estes sítios c o m u m e n t e são os vasos sanguí- seT exposta o m í n i m o possível ao ar atmosférico. A P C 0 2 d o ar
neos das extremidades, mas estudos especiais p o d e m requerer seco é a p r o x i m a d a m e n t e 0,25 m m H g e é m e n o r que a d o sangue
acesso às câmaras cardíacas e aos vasos sanguíneos calibrosos d o ( ~ 4 0 m m Hg). E n t ã o o c o n t e ü d o de C 0 2 e P C 0 2 d o sangue
tórax. Os analistas devem estar cientes de q u e algumas amostras exposto ao ar irá d i m i n u i r e o p H d o sangue, q u e é u m a f u n ç ã o
são de d i f í c i l obtenção e devem ser m a n i p u l a d a s c o m o m á x i m o da P C 0 2 , irá aumentar. A P 0 2 d o ar atmosférico ( - 1 5 0 m m H g )
de c u i d a d o . A s diferenças entre os valores mensurados dos gases é a p r o x i m a d a m e n t e 6 0 m m H g m a i o r q u e a d o sangue arterial e
sanguíneos arteriais e venosos são mais p r o n u n c i a d a s para a P 0 2 . a p r o x i m a d a m e n t e 120 m m H g m a i o r que a d o sangue venoso.
N a verdade, a PO z é a ú n i c a razão clínica para a coleta mais d i f í c i l P o r t a n t o , o sangue dos pacientes r e s p i r a n d o o ar a m b i e n t e que
de sangue arterial. A P 0 7 geralmente é 6 0 a 70 m m H g m e n o r é exposto ao ar atmosférico recebe 0 2 . 1 5 E m contraste, o sangue
n o sangue venoso após a liberação de 0 2 nos capilares, e n q u a n t o c o m P 0 2 excedendo 150 m m H g , c o m o ocorre c o m os pacientes
a P C O j é 2 a 8 m m H g m a i o r n o sangue venoso. O p H geral- s u b m e t i d o s à terapia de 0 2 , perde 0 2 ao ser exposto ao ar.
m e n t e é apenas 0,02 a 0,05 unidades de p H m e n o r na amostra M e s m o q u a n d o a amostra é m a n i p u l a d a c o m c u i d a d o , o sangue
venosa. f r e q ü e n t e m e n t e é exposto ao ar presente n a agulha e n o espaço
A garantia da q u a l i d a d e das análises sanguíneas para os gases m o r t o da seringa. O erro será m í n i m o se a b o l h a resultante f o r
e p H é d e p e n d e n t e d o c o n t r o l e dos erros pré-analíticos ( C a p í t u l o ejetada i m e d i a t a m e n t e após a remoção da agulha d o sítio de
3) e d o c o n t r o l e dos i n s t r u m e n t o s analíticos e processamento dos p u n ç ã o . O efeito p o t e n c i a l de pequenas bolhas nos resultados de
testes. N e m sempre os profissionais d o l a b o r a t ó r i o c o n t r o l a m a gases sanguíneos f o i claramente d e m o n s t r a d o e m u m estudo em
coleta das amostras arterial e venosa, p o r isso eles devem traba- que u m a b o l h a de 100 f i L de ar a m b i e n t e f o i adicionada a 10
l h a r j u n t a m e n t e e de f o r m a cooperativa c o m médicos, enfermei- amostras de 2 m L de sangue c o m valores de P 0 2 entre 25 e 4 0
ras, terapeutas respiratórios e outros profissionais que o b t ê m m m H g . Nestas amostras, a P 0 2 a u m e n t o u 4 m m H g e m m é d i a
estas amostras. e m apenas 2 m i n u t o s , e n q u a n t o a P C 0 2 d i m i n u i u 4 m m Hg. 1 5
A p u n ç ã o arterial apresenta u m p e q u e n o risco m é d i c o e n ã o O sangue capilar arterializado algumas vezes é aceitável c o m o
deve ser realizada p o r pessoas que não f o r a m treinadas para este alternativa ao sangue arterial: (1) q u a n d o a perda de sangue
f i m . A p u n ç ã o arterial sempre é feita c o m seringa e agulha. O precisa ser m i n i m i z a d a , (2) q u a n d o u m a cânula arterial n ã o está
t o r n i q u e t e n ã o é utilizado, e n e n h u m a tração o u apenas u m a disponível o u (3) para evitar p u n ç ã o arterial repetida. O sangue
tração leve é aplicada ao ê m b o l o da seringa à m e d i d a que a cutâneo f l u i n d o l i v r e m e n t e origina-se das arteríolas e apresenta
pressão arterial e m p u r r a sangue para d e n t r o da seringa. O pro- composição semelhante a d o sangue arterial. Todavia, o sangue
458 PARTE IV Analitos

capitai arterializado não é aceitável: (1) q u a n d o a pressão sanguí- mudanças. E m u m sangue fresco d r e n a d o c o m P O j n o r m a l
nea sistólica é m e n o r que 95 m m H g , (2) e m casos de vasocons- m a n t i d o anaerobicamente, a respiração celular acarreta d i m i n u i -
trição, (3) de pacientes sob terapia de 0 2 , (4) de recém-nascidos ção na P 0 2 a u m a taxa de - 2 m m H g / h a t e m p e r a t u r a a m b i e n t e
d u r a n t e as p r i m e i r a s horas após o n a s c i m e n t o o u (5) de recém- e 5 a 10 m m H g / h a 37°C. O s efeitos adversos da glicólise e
nascidos c o m a s í n d r o m e do estresse respiratório. Estas situações respiração n o p H , c t C O ^ , PO2 e P C 0 2 do sangue são evitados
p r o p o r c i o n a m u m risco p a r t i c u l a r de misturar sangue capilar q u a n d o a análise é realizada em até 3 0 m i n u t o s após a coleta. Se
arterializado c o m sangue das vênulas, r e s u l t a n d o em valores a análise precisa ser adiada o u se as circunstâncias c r i a m u m risco
baixos de P O j errôneos. A p u n ç ã o capilar deve ser precedida de de atraso, a seringa o u o t u b o c o n t e n d o o sangue deve ser imerso
a q u e c i m e n t o d o sítio de p u n ç ã o na pele por 10 m i n u t o s para e m u m a m i s t u r a de gelo e água até ser possível realizar a análise.
alcançar a vasodilatação e f l u x o sanguíneo adequado nos capila- Sob estas condições, inibe-se a glicólise e as alterações são insig-
res locais. O a q u e c i m e n t o p o d e ser feito pela imersão d o braço nificantes.
o u da perna em água aquecida a 4 5 ° C para a coleta a p a r t i r dos As pequenas alterações esperadas nos valores c o m atrasos na
dedos de u m a criança o u de u m a d u l t o o u d o calcanhar de u m análise são reais apenas q u a n d o a c o n t a g e m de leucócitos ( W B C )
bebê. A p r i m e i r a gota de sangue deve ser enxugada, e as gotas é n o r m a l o u levemente elevada. A glicólise, e os efeitos resultan-
formadas subsequentemente devem ser recolhidas e m t u b o de tes n o p H , POT e P C 0 2 , a u m e n t a d r a m a t i c a m e n t e c o m a elevação
coleta capilar c o n t e n d o h e p a r i n a liofilizada. A p e n a s o sangue de acentuada na c o n t a g e m de leucócitos, c o m o ocorre na leucemia
f l u x o livre fornece amostra satisfatória, e a coleta das gotas assim q u a n d o a P 0 2 d i m i n u i r a p i d a m e n t e em vários minutos. 1 4 A ú n i c a
que estas são formadas m i n i m i z a m a exposição aeróbica. alternativa para o b t e r valores precisos dos gases sanguíneos destes
O transporte e a análise das amostras devem ser imediatos. pacientes é realizar a análise imediata u t i l i z a n d o dispositivos de
M é d i c o s que u t i l i z a m as mensurações dos gases sanguíneos e p H teste r á p i d o o u levando o analisador de gases sanguíneos até o
n o m a n e j o d o c u i d a d o c r i t i c o geralmente necessitam q u e o paciente.
t e m p o entre a aquisição da amostra e o resultado seja m u i t o
c u r t o . O ideal é q u e as amostras n u n c a sejam estocadas antes da
análise. E n t r e t a n t o , o atraso na análise em até 1 h o r a apresentará Instrumentação
efeitos m í n i m o s nos valores relatados para a m a i o r i a das amos- U m esquema característico de u m i n s t r u m e n t o típico é m o s t r a d o
tras. O p H do sangue fresco d r e n a d o e guardado d i m i n u i a u m a na Figura 24-3. Os p r i n c í p i o s e l e t r o q u í m i c o s e aspectos estrutu-
taxa de 0 , 0 4 a 0,08 p H U / h a 37°C, 0,02 a 0 , 0 3 / h a 2 2 ° C e rais dos eletrodos são discutidos n o C a p í t u l o 5. Desenvolvimen-
< 0 , 0 1 / h a 4 ° C . A d i m i n u i ç ã o n o p H é acompanhada p o r u m a tos recentes na i n s t r u m e n t a ç ã o i n c l u e m " p e r f i l de u r g ê n c i a " ,
d i m i n u i ç ã o c o r r e s p o n d e n t e na glicose e u m a u m e n t o equivalente e q u i p a m e n t o s para testes rápidos o u para serem utilizados ao
n o lactato. A P C O j a u m e n t a - 5 m m H g / h a 3 7 ° C , 1 m m H g / h lado d o paciente. V á r i a s empresas a t u a l m e n t e p r o d u z e m instru-
a 2 2 ° C e apenas - 0 , 5 m m H g / h a 2 ° C a 4 ° C . A glicólise pelos mentos: (1) pequenas, (2) portáteis, (3) a u t ô n o m o s e (4) fáceis de
leucócitos, plaquetas e reticulócitos é a causa p r i m á r i a destas setem operados, projetados para operações "satélites ao laborató-

O; alio
CO* baixn M
w
GasBs
calibradoras

O- baixo
CO. alto w

PH
alto

Tampôas-
pacrSo

PH
baixo

dtti
1 6
bomba

\
LOJ
T5
Sonda de
anostra J-AJV
w

Figura 24-3 Esquema de um equipamento de análise de gás sanguíneo. H, dispositivo de um ficaçãOj V, válvula;
C, câmara; B, banho de temperatura constante a 37°C; W, lixo; M, computador; D/P, mostrador/ mpressora. E
(eletrodos) onde Bj é POj, E2 PCOi, E^ pH e E^ Teferência para o pH..
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 459

r i o " e alguns e q u i p a m e n t o s de uso m a n u a l que u t i l i z a m eletrodos Diferença Líquido-Gás de um Eletrodo P02


descartáveis. U m a p r o p r i e d a d e p a r t i c u l a r do eletrodo P 0 2 deve ser considerada
A operação dos analisadores de gases sanguíneos tradicionais q u a n d o se calibra u m analisador de gás sanguíneo c o m u m gás.
começa c o m o o p e r a d o r e x p o n d o u m a amostra de sangue à Esta p r o p r i e d a d e é conhecida c o m o diferença sangue-gás ou líquido-
sonda de amostra. U m c o m a n d o através do teclado retira u m a gás. Os eletrodos P 0 2 e P C 0 2 são semelhantes na difusão do gás
amostra do sangue através da sonda p o r m e i o da b o m b a peristál- de u m a amostra l í q u i d a o u gasosa, passando através de u m a
tica q u e preenche a câmara c o m 6 0 a 150 p,L de amostra do m e m b r a n a permeável a gás, para u m a solução eletrolítica em
fluido. A b o m b a está sob o c o n t r o l e d o c o m p u t a d o r e pára após contato c o m os elementos de mensuração e referência. E m ambos
a admissão da amostra, p e r m i t i n d o que a amostra f i q u e na os eletrodos, a taxa de difusão de u m gás através das membranas
câmara para e q u i l í b r i o t é r m i c o e a mensuração seja completada. é m e n o r a p a r t i r de u m a fase l í q u i d a que a p a r t i r de u m a fase
A p ó s o t é r m i n o da mensuração, a b o m b a e m p u r r a a amostra para gasosa. N o entanto, os eletrodos P C 0 2 e P 0 2 u t i l i z a m princípios
o lixo, e n q u a n t o o resultado é d i s p o n i b i l i z a d o em u m m o s t r a d o r , diferentes de mensuração ( C a p i t u l o 5). C o m o o 0 2 , ao atravessar
em u m papel impresso e f r e q ü e n t e m e n t e em u m sistema de a m e m b r a n a do eletrodo P 0 2 i entra em u m a reação irreversível
i n f o r m a ç ã o do l a b o r a t ó r i o através de u m a interface. no cátodo polarizado, a corrente gerada pela reação é p r o p o r c i o -
n a l à quantidade de 0 2 reduzido. A q u a n t i d a d e de 0 2 disponível
Calibração para c o n s u m o depende da taxa de difusão do 0 2 através da m e m -
A m a i o r i a dos i n s t r u m e n t o s f o r a m ptojetados para autocalibra- brana U m estado de e q u i l í b r i o é alcançado q u a n d o a taxa de
ção. Sob o c o m a n d o do c o m p u t a d o r , gases calibradores e tampões difusão é igual à taxa de redução. Portanto, o eletrodo responde
são circulados em curtos intervalos através da câmara e respostas em m e l h o r grau ao 0 2 d i f u n d i n d o de u m a fase gasosa que de u m a
eletrônicas são c o n t i n u a m e n t e m o n i t o r a d a s e restauradas às suas fase l í q u i d a . A diferença líquido-gás para o eletrodo P 0 2 torna-se
constantes iniciais para P C 0 2 e P 0 2 altas e baixas e p H alto e significante q u a n d o u m eletrodo é calibrado c o m gás, mas é uti-
baixo dos materiais calibradores. N o s Estados U n i d o s , os regula- lizada para mensurar P 0 2 do sangue. A diferença geralmente é
mentos escritos para os C l i n i c a i L a b o r a t o r y I m p r o v e m e n t A m e n - expressa c o m o a razão entre a P 0 2 (amostra gasosa) e a P 0 2
d m e n t s de 1988 ( C L 1 A '88) estabelecem u m p o n t o de calibração (amostra líquida). Para a m a i o r i a dos eletrodos, a razão é c o m u -
a cada 3 0 m i n u t o s o u d e n t r o de 30 m i n u t o s de toda amostra de m e n t e de 1,02 a 1,06. Para a r o t i n a clínica, f r e q ü e n t e m e n t e se
paciente e dois p o n t o s de calibração a cada 8 horas. assume u m a razão de 1,04 e m vez de determiná-la.
E necessária a calibração f r e q ü e n t e dos eletrodos para p H ,
P C 0 2 e P 0 2 p o r q u e os eletrodos não são estáveis p o r longos Garantia de Qualidade
períodos de t e m p o . O sistema de mensuração do p H é calibrado Os elementos de garantia da qualidade ( Q A ) e controle da quali-
p r i m a r i a m e n t e c o n t r a tampões-padrão colocados m a n u a l o u dade ( Q C ) das mensuraçoes do p H e gases sanguíneos incluem: (1)
a u t o m a t i c a m e n t e d e n t r o da câmara de amostra. Os tampões são manutenção apropriada dos equipamentos, (2) utilização de mate-
soluções fosfato que devem satisfazer as especificações do N a t i o - riais de controle e (3) precisão na temperatura de mensuração.
n a l Inscitute o f Standards a n d Technology ( N I S T / h t t p : / / w w w .
n i s t . g o v / ) . Os tampões de calibração que satisfazem as especifica-
ções do N I S T são disponibilizados pelos fabricantes d o equipa- Manutenção da Instrumentação
m e n t o , geralmente em recipientes de t a m a n h o e f o r m a t o apro- A determinação confiável e precisa do p H e de gases sanguíneos
priados para encaixe c o m o u m reservatório n o e q u i p a m e n t o . Os necessita de m a n u t e n ç ã o meticulosa. Programas de software, dos
valores do p H dos tampões calibradores alto e baixo são estabe- c o m p u t a d o r e s dos e q u i p a m e n t o s f r e q ü e n t e m e n t e f o r n e c e m n o t i -
lecidos pelo fabricante, mas t i p i c a m e n t e encontram-se entre 6,8 ficações e rotinas de diagnósticos que alertam o o p e r a d o r e asses-
e 7,4 a 3 7 ° C . soram n o processo de solução dos problemas. A freqüência da
m a n u t e n ç ã o depende do n ú m e r o de análises realizado n o labo-
PC02 e P02 r a t ó r i o . A freqüência sugerida p e l o fabricante deve ser conside-
Gases de composição 0 2 e C O 2 conhecida são utilizados para rada c o m o m í n i m a , sendo q u e a experiência i n d i c a r á a freqüên-
calibrar os analisadores de gases. Gases c o m p r i m i d o s , c o m u m cia da m a n u t e n ç ã o .
certificado de análise f o r n e c i d o pelo fabricante, f r e q ü e n t e m e n t e A limpeza da câmara de amostra e dos canais é especialmente
são utilizados c o m o padrões p r i m á r i o s . A m i s t u r a " b a i x o gás" i m p o r t a n t e . A m a i o r i a dos i n s t r u m e n t o s c o m eletrodos perma-
para calibração geralmente apresenta composição f r a c i o n a d a de nentes apresenta u m dispositivo q u e a u t o m a t i c a m e n t e lava c o m
5 % de C O j , 0 % de 0 2 e 9 5 % de N 2 . A m i s t u r a " a l t o gás" apre- u m jato forte a câmara de amostra e os canais após cada mensu-
senta composição f r a c i o n a d a de 10% de C 0 2 , 2 0 % de 0 2 e 7 0 % ração de u m a amostra sanguínea. A lavagem m a n u a l deve ser feita
de N i . Estas composições c o r r e s p o n d e m a p r o x i m a d a m e n t e a u m q u a n d o r e c o m e n d a d a pelo fabricante. Pode ocorrer o e n t u p i -
i n t e r v a l o de calibração de 38 a 76 m m H g para P C O z e 0 a 150 m e n t o parcial o u c o m p l e t o da câmara e / o u dos canais m e s m o
m m H g para P 0 2 . q u a n d o a lavagem é feita de f o r m a correta. A freqüência de
O m o d o da calibração é d e t e r m i n a d o pelo m o d e l o d o equi- e n t u p i m e n t o s geralmente está relacionada ao n ú m e r o de amos-
p a m e n t o . A m a i o r i a dos e q u i p a m e n t o s c o n t é m u m b a r ó m e t r o tras de sangue capilar h e p a r i n i z a d o analisadas. Fios de f i b r i n a e
o u u m t r a n s d u t o r responsivo a P ( A m b ) de f o r m a que a pressão pequenos coágulos p o d e m estar presentes na amostra o u p o d e m
b a r o m é t r i c a sempre é conhecida. C o m estes equipamentos, é ser f o r m a d o s e n q u a n t o a amostra permanece n a câmara de aque-
necessário apenas registrar n o teclado a composição das frações cimento.
de O z e C 0 2 nas misturas de baixo e alto gases calibradores. A assistência imediata e confiável do fabricante o u de u m enge-
A t u a l m e n t e , a m a i o r i a dos analisadores se autocalibra sem a n h e i r o b i o m é d i c o i n t e r n o é essencial para que o laboratório realize
necessidade de interferência d o usuário. A l g u n s sistemas ainda várias análises diariamente. T a m b é m é i m p o r t a n t e que o fabricante
apresentam "pacotes" descartáveis de gases calibradores que são o u o almoxarifado d o laboratório t e n h a m disponíveis materiais
colocados d e n t r o dos analisadores. O c o m p u t a d o r calcula os auxiliares como: (1) materiais de calibração (tampões para p H e
valores para P O j e P C 0 2 (de acordo c o m a lei de D a l t o n ) para gases de qualidade certificada), (2) membranas para substituição e
os gases saturados c o m vapor d'água a 37°C. (3) pequenas peças para manutenção dos eletrodos.
460 PARTE IV Analitos

Testes de p r o f i c i ê n c i a estabelecidos pela l e i federal nos p o r ser o m a t e r i a l de c o n t r o l e que mais se a p r o x i m a das amostras
Estados U n i d o s ( C L 1 A '88) a d m i t i r a m nova i m p o r t â n c i a para o dos pacientes na suas interações c o m os eletrodos para gases.
c o n t r o l e de q u a l i d a d e n a análise de gases sanguíneos. Estas regras A i n d a , este material é mais sensível à deterioração das m e m b r a -
tornaram-se efetivas em j a n e i r o de 1991 e estabeleceram critérios nas permeáveis a gases dos eletrodos q u e os controles f l u i d o s
para o d e s e m p e n h o i n t e r l a b o r a t o r i a l satisfatório c o m o : (1) p H , aquosos. A s desvantagens substanciais são: (1) o t e m p o necessário
valor estipulado + 0,04; (2) P O í , valor estipulado ± 3 D P e (3) para a t o n o m e t r i a , p a r t i c u l a r m e n t e se f o r e m desejáveis duas o u
P C 0 2 , valor estipulado ± 8 % o u + 5 m m Hg, o que for maior. três concentrações d o c o n t r o l e ; (2) dificuldades para se o b t e r e m
V á r i o s analisadores novos apresentam " a u t o Q C " o u u t i l i z a m amostras de sangue frescas e n o r m a i s ; (3) necessidade de cálculos
" Q C e l e t r ô n i c o " . O a u t o Q C consiste em u m m a t e r i a l Q C on repetidos (e risco de erro de cálculo) de P C O i e P 0 2 dos gases
baard (na placa de c i r c u i t o ) que é a u t o m a t i c a m e n t e analisado pelo de e q u i l í b r i o ; (4) necessidade de m a n t e r misturas especiais de
e q u i p a m e n t o e m intervalos d e t e r m i n a d o s q u e p r e e n c h e m os gases e (5) i n a p l i c a b i l i d a d e n o c o n t r o l e da mensuração d o p H .
r e q u e r i m e n t o s reguladores. O Q C eletrônico é mais c o m u m e m
e q u i p a m e n t o s c o m cartuchos de eletrodos descartáveis e consiste Controle da Temperatura e Correção
em cartuchos q u e v e r i f i c a m a especificação eletrônica dos instru- A t e m p e r a t u r a exata de 3 7 ° C é essencial para a mensuração
mentos. Estes sistemas de Q C e l e t r ô n i c o devem fornecer u m acurada do p H e gases sanguíneos, a i n s t r u m e n t a ç ã o estado-da-
resultado q u a n t i t a t i v o , em vez de getai resultados qualitativos arte é f o r n e c i d a c o m sensores térmicos encaixados n o aquecedor
c o m o " O K " o u "não O K " , para serem aceitáveis para a m a i o r i a que c i r c u n d a a câmara de mensuração e se c o m u n i c a m c o m o
das agências reguladoras. Para discussão a d i c i o n a l deste tema, ver c o m p u t a d o r . A l a r m e s audíveis o u visíveis sinalizam o desvio da
testes rápidos n o C a p í t u l o 12. t e m p e r a t u r a além da tolerância estabelecida (geralmente 37 ±
0,1°C). T a m b é m são utilizados tampões sensíveis â temperatura,
Materiais de Controle c o m o o H E P E S (ácido N-[2-hidroxietil|-piperazina-N'-2-etanossul-
Os materiais de c o n t r o l e de qualidade v a r i a m de f l u i d o s comer- f ô n i c o ) o u T E S (ácido N - t r i s l h i d r o x i m e t i l ] m e t i l - 2 - a m i n o e t a n o s -
ciais c o m base e m sangue a f l u i d o s aquosos. A l t e r n a t i v a m e n t e , s u l f õ n i c o ) , nos p r o c e d i m e n t o s de garantia de qualidade do p H .
tampôes-padrão independ entes t ê m sido usados para c o n t r o l e do N a equação de Henderson-Hasselbalch, p K 1 e a são utilizados
p H e sangue t o t a l s u b m e t i d o à t o n o m e t r i a para c o n t r o l e P C 0 2 c o m o constantes para a t e m p e r a t u r a a 3 7 ° C . A câmara de amostra,
e POj. c o m t e m p e r a t u r a c o n t r o l a d a , de u m i n s t r u m e n t o apresenta 37 ±
0 , l a C , e é nesta t e m p e r a t u r a que são realizadas todas as mensu-
Materiais de Controle com Base em Sangue e com Base e m rações de p H e pressão parcial dos gases. A t e m p e r a t u r a c o r p o r a l
Fluorocarbono de u m paciente f e b r i l p o d e estar elevada, 4 0 C C a 4 1 ° C , o u u m
M a t e r i a l de c o n t r o l e comercial c o m base e m sangue t i p i c a m e n t e paciente p o d e estar h i p o t é r m i c o para u m a cirurgia de revascula-
consiste e m e r i t r ó c i t o s h u m a n o s usados e m teste de h e m a g l u t i - rização c a r d i o p u l m o n a r e apresentar temperatura de 2 3 ° C . A
nação (tflnned) suspensos e m u m a solução t a m p ã o e selados em m a i o r i a dos i n s t r u m e n t o s de gases sanguíneos, após o Tegistro no
recipientes c o m u m a m i s t u r a gasosa c o m c o n t e ú d o s de O? e C O j teclado da t e m p e r a t u r a real d o paciente, irá calcular e apresentar
conhecidos. M a t e r i a i s de f l u o r o c a r b o n o não-sanguineos c o m o p H e P C 0 2 corrigidos de acordo c o m a t e m p e r a t u r a e calcular
p r o p r i e d a d e carreadora de O2 semelhante àquela d o sangue os valores derivados dos dados p r i m á r i o s corrigidos de acordo
t a m b é m estão disponíveis. Estes p r o d u t o s geralmente são feitos c o m a temperatura.
em três concentrações de: (1) p H , (2) P C 0 2 e (3) PO?. Q u a n d o A correção do p H e P C 0 2 de acordo c o m a t e m p e r a t u r a real
lacrados, estes tipos de m a t e r i a l de c o n t r o l e apresentam a vanta- do paciente geralmente é o m i t i d a em estados de h i p e r t e r m i a . A
gem de t e m p o de validade extenso na geladeira: 20 a 28 dias para m a g n i t u d e da correção para 4 0 ° C (104°F) seria de + 0,045 para
os eritrócitos usados em teste de h e m a g l u t i n a ç ã o e u m t e m p o o p H e + 13% para a P C 0 2 . Existem discordâncias c o m relação
m a i o r para os outros. aos estados hipotérmicos. 1 9 U m a p o l í t i c a p r u d e n t e para o labora-
t ó r i o é gerar e relatar resultados corrigidos de acordo c o m a
Materiais de Controle Fluidos Aquosos t e m p e r a t u r a para o pH
e PCOT apenas q u a n d o h o u v e r requeri-
O s materiais de c o n t r o l e f l u i d o s aquosos disponíveis consistem m e n t o específico do m é d i c o . A l é m disso, c o m o recomendação
e m m e i o t a m p o n a d o selado em recipientes c o m misturas gasosas. do C L S I (C46-A) É , os resultados corrigidos de acordo c o m a
O f l u i d o é e q u i l i b r a d o c o m o gás p o r m e i o de agitação vigorosa t e m p e r a t u r a n u n c a devem seT relatados sem os resultados origi-
m a n u a l p o r u m p e r í o d o de t e m p o prescrito i m e d i a t a m e n t e antes nais m e d i d o s a 37 Q C.
de o operador abrir o recipiente e colocar o f l u i d o n o instru-
m e n t o . A desvantagem dos controles aquosos é a falta de seme-
lhança c o m o sangue. Viscosidade e tensão s u p e r f i c i a l baixas Intervalos de Referência
conferem diferentes características à lavagem e p r e j u d i c a m a capa- Os intervalos de referência para P O i , S O i , PCO-j e p H d o sangue
cidade de r e f l e t i r coagulação. A m a i o r c o n d u t i v i d a d e elétrica arterial estão listados n o C a p í t u l o 45. A P 0 3 d o sangue arterial,
d i m i n u i a sua eficiência na detecção de superfície inadequada, e baixa ao nascimento, a u m e n t a para u m a concentração n o a d u l t o
os coeficientes t é r m i c o s mais baixos os t o r n a m lentos na detecção de 83 a 108 m m H g . A fração de saturação, S 0 2 (aB), p o d e ser
de falhas n o c o n t r o l e da temperatura. Estas desvantagens são tão baixa q u a n t o 0 , 4 0 ao nascimento, mas depois sobe para 0,95
mais evidentes em relação a P 0 2 . E m alguns laboratórios, con- a 0,98. A F 0 2 é 0 , 9 0 a 0,95 e m adultos saudáveis. A P 50 corrigida
troles s u b m e t i d o s à t o n o m e t r i a são utilizados j u n t a m e n t e c o m os para o p H 7,40 é 18 a 24 m m H g para os recém-nascidos e 24 a
controles comerciais, mas isso está se t o r n a n d o raro c o m o resul- 29 m m H g para os adultos. Os intervalos de referência para
tado da c o n f i a b i l i d a d e e da facilidade de uso dos analisadores de P C 0 2 d o sangue arterial, n o nível do mar, das crianças é u m
gases sanguíneos m o d e r n o s . p o u c o m e n o r em relação aos adultos. O i n t e r v a l o de referência
para os adultos é de 35 a 45 m m H g . Os valores d i m i n u e m c o m
Sangue total Submetido à Tonometria a a l t i t u d e acima d o nível do m a r na taxa de 3 m m H g / k m (5 m m
A utilização de sangue s u b m e t i d o à t o n o m e t r i a para c o n t r o l e de H g / m i l h a ) . D u r a n t e a gravidez, a P C 0 2 cai g r a d u a l m e n t e para
qualidade de P 0 2 e P C 0 2 é considerada o m é t o d o preferencial u m a m é d i a de 28 m m H g i m e d i a t a m e n t e antes d o paTto.
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 461

O p H d o sangue arterial nas primeiras horas de v i d a pode 4 C l i n i c a i and Laboratory Standards I n s t i t u t e / N C C L S . Standardization of
variar n o intervalo de 7,09 a 7,50, mas depois varia entre 7,35 e sodium and potassium ion-selective electrode systems to thc flame
7,45. phoromecric reference method; A p p r o v e d Guideline, 2nd ed. C L S I /
N C C L S D o c u m e n t C29-A2. Wayne, FA: Clinicai and Laboratory
Standards Institute, 2000.
Monitoramento Contínuo e Não Invasivo d o s
5 C l i n i c a i and Laboratory Standards I n s t i t u t e / N C C L S . Sweat testing:
Gases Sanguíneos
Sample collection and quantitative analysis; A p p r o v e d Guideline, 2 n d
C o m o descrito anteriormente, os oxímetros de pulso são dispo-
ed. C L S I / N C C L S D o c u m e n t C34-A2. Wayne, PA: C l i n i c a i and
sitivos não invasivos que m o n i t o r a m S O j H b . Os oxímetros de
Laboratory Standards Institute, 2000.
pulso antigos eram suscetíveis a erros dependendo da colocação 6. C l i n i c a i and Laboratory Standards I n s t i t u r e / N C C L S . B l o o d gas and p H
e movimentação, mas novas tecnologias tornaram estes dispositi- analysis and related measurements. A p p r o v e d Guideline. C L S I / N C C L S
vos m u i t o confiáveis. D o c u m e n t C46-A. Wayne, PA: C l i n i c a i and Laboratory Standards
A monitoração transcutânea de P C 0 2 e PO2 apresenta u m Institute, 2001.
valor particular e sucesso geral n o cuidado neonatal e pediátrico. 3 7- Clinicai and Laboratory Standards I n s t i t u t e / N C C L S . Procedures for the
Estes dispositivos consistem em u m eletrodo adesivo envolto por collection of arterial b l o o d specimens; A p p r o v e d Guideline, 4 t h ed.
gel que aquece a pele de 4 3 ° C a 4 4 ° C para arterializar os capila- C L S I / N C C L S D o c u m e n t H11-A4. Wayne, PA: C l i n i c a i and Laboratory
res e facilitar a difusão do O2 através da pele. Embora os eletrodos Standards Institute, 2004-
sejam consideravelmente diferentes na aparência daqueles utili- 8. Creer M H , Ladenson J. Analytical errors due to lipidemia. Lab M e d
zados nos instrumentos analisadores de gases sanguíneos, eles 1983,14.351-5.
operam exatamente com o mesmo p r i n c í p i o eletroquimico. A 9, Cystic Fibrosis Foundation Center Committee: Sweat testing guidclines.
monitoração transcutânea de PO? varia amplamente dependendo Bethesda, M D . Cystic Fibrosis F o u n d a t i o n { h t t p : / / w w w . c f f org), 2005.

se o lado da aplicação reflete o f l u x o sanguíneo arterial, capilar 10. D o n BR, Sebastian A , C h e i t l i n M , Christiansen M , Schambelan M

o u venoso. Todavia, existe pouca diferença entre a P C O j arterial Pseudohyperkalemia caused by fist clenchíng d u r i n g phlebotomy. N Engl
J M e d 1990;322:1290-2.
e venosa; p o r isso, o m o n i t o r a m e n t o transcutâneo da P C 0 2 é
11. Eng W , LeGrys V A , Schechter M , Laughton M , Parker P M Sweat testing
menos problemático, e os oxímetros de pulso freqüentemente são
in preterm and f u l l t e r m infants less than 6 weeks of age. Pediatr
utilizados c o m o u m substituto para a P 0 2 . 3 N o entanto, é reco-
P u l m o n o l 2005;40:64-7-
mendado que os valores arteriais de base sejam obtidos antes de
12 Farrell PM, Lai HJ, L i Z, Kosorok M R , Lavoza A , Green C G , et al.
iniciar o m o n i t o r a m e n t o não invasivo.
Evidence o n improved outcomes w i t h early diagnosis of cystic fibrosis
A l é m do m o n i t o r a m e n t o de P 0 2 e P C 0 2 , estão disponíveis
through neonatal screening. enough is enough. J Pediatr 2005; 147:
dispositivos que t a m b é m m o n i t o r a m p H , eletrólitos e hemató- S30-S36
crito. U m deles é de uso ú n i c o , com cartucho alinhado consis- 13. H a m m o n d KB, Turcios N L , G i b s o n LE C l i n i c a i evaluation of the
t i n d o em seis eletrodos convencionais. 2 O cartucho é anexado a macroduct sweat collection system and conductivity analyzer i n the
uma l i n h a arterial e, c o m o comando do operador, drena " 1 , 5 diagnosis o f cystic fibrosis. J Pediatr 1994;124:255-60.
m L de sangue para dentro do cartucho o n d e acontece a análise. 14. Hess CE, Nichols AB, H u n t W B , Suratt PM. Pseudohypoxemia
A análise d u r a cerca de 60 segundos, e depois deste t e m p o o secondary to leukemia and thrombocytosis. Kl Engl J M e d 1979;301.
sangue retorna pela l i n h a arterial. Os cartuchos são submetidos 361-3.
à calibração de dois pontos antes de serem utilizados, e u m p o n t o 15. Mueller RG, Lang G E Blood gas analysis: effects o f air bubbles in
de calibração é usado para lavar os sensores após cada análise. syririge and delay i n estimation. Br M e d J C l i n Res 1982;285:1659.
16. Nijsten M W N , deSmet BJ, D o f f e r h o f f A S M . Pseudohyperkalemia and
platelet counts. 1SI Engl J M e d 1991 -,325:1107.
17. Parad RB, Comeau A M , D o r k i n H , Dovey M , Gerstle R, M a r t i n T,
R E F E R Ê N C I A S et al. Sweat testing infants decected by cystic fibrosis n c w b o i n screening.
J Pediatr 2005;147:S69-S72
1. A p p l e FS, Koch D D , Graves S, Ladenson JH. Relationship between
18. Rosenstein BJ, C u t t i n g GR. T h e diagnosis of cystic fibrosis: A consensus
direct-potentiometric and flame-photometiic measurement of s o d i u m in
statement. ] Pediatr 1998;132:589-95.
blood. C l i n C h e m 1982,28:1931-5.
19. Tallman R. Acid-base regulation, alpha-stat, and the E m p e r o r s new
2 B i l l m a n GF, Hughes A B , D u d a l l G G , W a l d m a n E, Adcock L M , H a l l
cio th es. J Cardiothorac Vasc A n e s t h 1997;11:282-8.
D M , et al C l i n i c a i performance of an in-line, ex-vivo point-of-care
20. Watson M A , Scott M G . C l i n i c a i u t i l i t y of biochemical analysis o f
m o n i t o r A multicenter study. C l i n C h e m 2002;48 2030-43
cerebrospinal f l u i d . C l i n C h e m 1995;41:343-60
3 Binder N , A t h e r t o n H , ThorkeLsson T, H o a t h SB Measurement of
transcuraneous carbon dioxide i n low birthweight infanta d u t i n g the
first two weeks o f l i f e . A m ] Perinatol 1994; 11 237-41
CAPÍTULO 2 5

Hormônios**
Michael Kleerekoper, M.D., F.A.C.B., M.A.C.E.

OBJETIVOS P a r á c r i n o : U m t i p o de função h o r m o n a l na qual o h o i m ô n i o


1. Deíinir os seguintes termos: sintetizado dentro de u m t i p o de célula e liberado por ela
Endocrinologia se liga a receptores h o r m o n a i s em células vizinhas, de t i p o
Hormônio esferoidal diferente, e afeta suas funções.
Receptor: U m a estrutura molecular, dentro de u m a célula ou
Hormônio peptídico
na sua superfície, caracterizada por (1) ligação seletiva de
Hormônio derivado de aminoácido
substâncias específicas e (2) efeito fisiológico específico que
Adeno-hipófise
acompanha a ligação; os exemplos são receptores na
Neuro-hipóiise
superfície celular para h o r m ô n i o s peptídicos,
Eixo hipotálamo hipófise
neurotransmissores, antígenos, fragmentos de complemento
Receptor hormonal
e i m u n o g l o b u l i n a s e receptores citoplasmáticos para
2. Listar três funções fisiológicas dos hormônios e discutir os h o r m ô n i o s esteroidais.
mecanismos envolvidos na regulação da secreção hormonal. Sistema C r o m a f i m : Células do corpo que se coram c o m sais
3. Discutir o significado de hormônio livre e ligado. de cromo.
4. Especificar os dois tipos de interação hormônio-receptor e o efeito Sistema E n d ó c r i n o : O sistema de glândulas que libera suas
específico que cada tipo produz na célula. secreções (hormônios) diretamente no sistema circulatório.
5. Listar os hormônios sintetizados no hipotálamo e na glândula Em adição ao sistema de glândulas endócrinas, estão
hipófise anterior e descrever suas principais ações fisiológicas. incluídos o sistema c r o m a f i m e o sistema neurossecretor.
6. Listar os hormônios armazenados na glândula hipófise posterior e Sistema H i p o t á l a m o - h i p o f i s á r i o : U m sistema de neurônios,
descrever suas principais ações fisiológicas. fibras, tecido endócrino e vasos sanguíneos responsável pela
7. Listar seis principais causas de desordens endócrinas. produção e liberação dos h o r m ô n i o s hipofisátios dentro da
8. Discutir três técnicas analíticas usadas para medir hormônios nos circulação sistêmica.
fluidos corporais.

PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES
A d e n o - h i p ó f i s e : L o b o glandular anterior da hipófise.
A u t ó c r i n o : U m m o d o de ação h o r m o n a l n o qual u m
h o r m ô n i o se liga aos receptores na superfície o u dentro da
U m h o r m ô n i o é u m a substância química produzida n o
corpo por u m órgão específico, células de u m órgão o u
células espalhadas que têm u m efeito regulatório especí-
fico na atividade de u m órgão ou órgãos. Eles são produzidos em
u m local n o corpo e exercem sua(s) ação(óes) em locais distantes
célula que o p r o d u z i u e, desse m o d o , afeta a função
através do que é chamado sistema e n d ó c r i n o . Tem havido cres-
daquela célula.
cente reconhecimento de que vários h o r m ô n i o s exercem ações
B i o r r i t m o : Ocorrência cíclica de eventos fisiológicos, como u m
localmente pelo chamado sistema parácrino. O u t r o s h o r m ô n i o s
r i t m o circadiano.
exercem suas ações nas células de origem, regulando sua própria
E n d o c r i n o l o g i a : O estudo científico da função e patologia das
síntese e secreção via sistema a u t ó c r i n o . Os h o r m ô n i o s endócri-
glândulas endócrinas.
nos clássicos i n c l u e m insulina, tiroxina e cortlsol. Neurotransmis-
Horaeostasia: O processo de manter o ambiente i n t e r n o d o
sores e neuro-hormônios são exemplos de sistema parácrino, e
c o r p o estável.
certos fatores de crescimento que estimulam a síntese e secreção
H o r m ô n i o : U m a substância química que tem u m efeito
de h o r m ô n i o s verdadeiros a partir da mesma célula são exemplos
regulatório na atividade de certo(s) órgão(s) o u tipos de
de sistemas autócrinos. A Figura 25-1 mostra a localização de
células.
várias glândulas endócrinas n o corpo, e a Tabela 25-1 resume os
H o r m ô n i o s H i p o t a l â m í c o s : H o r m ô n i o s do h i p o t á l a m o que
tipos de ações hormonais.
exercem controle sobre outros órgãos, principalmente a
glândula hipófise.
Meia-vida: E m endocrinologia, o tempo necessário para a
CLASSIFICAÇÃO
concentração de u m h o r m ô n i o cair ã metade n a circulação
Os h o r m ô n i o s são geralmente classificados como (1) p o l i p e p t í d i o
(sangue) ou em o u t r o f l u i d o corporal específico.
ou proteína, (2) esteróide o u (3) derivados de aminoácidos.

Hormônios Polipeptídicos ou Protéicos


* 0 autor agradecidamente reconhece as contribuições piévías do D r R o n a l d A insulina, o p a r a t o r m ô n i o ( P T H ) e a adrenocorticotrofina
) W h i t l e y , nas quais se baseiam partes deste capitulo.
+
( A C T H ) (Capítulos 22, 38 e 39, respectivamente) são exemplos
As Figuras 25*2 a 25-5 publicadas neste capítulo foram reproduzidas, com
de h o r m ô n i o s peptídicos ou protéicos. Esses h o r m ô n i o s são geral-
permissão, dos Capítulos 1 e 2 do Texibook of Endocrinaiogj, editado p o r M .
C o n n e S. M e l m e d , publicado pela H u m a n a Press em 1997. Somos m u i t o mente solúveis em água e circulam livremente n o plasma c o m o
gratos pela permissão de reprodução destes excelentes acréscimos ao nosso a molécula inteira ou c o m o fragmentos ativos ou inativos. A
texto. meia-vida destes h o r m ô n i o s no plasma é de 10 a 30 m i n u t o s ou
464 PARTE IV Analitos

Hipófise solúveis e m água, mas c i r c u l a m n o plasma l i v r e m e n t e (catecola-


Corpo pineal
minas) o u ligados a proteínas (tiroxina). Por exemplo, a t i r o x i n a
liga-se avidamente a três proteínas ligadoras e t e m u m a meia-vida
de cerca de 7 a 10 dias, e n q u a n t o as catecolaminas livres, c o m o a
epinefrina, t ê m u m a meia-vida m u i t o curta de 1 m i n u t o o u menos.
C o m o os h o r m ô n i o s p e p t í d i c o s e protéicos solúveis em água,
estes h o r m ô n i o s i n t e r a g e m c o m receptores associados á m e m -
Tlraòklo ParatírsúkleH brana e usam u m sistema de segundo mensageiro.
Timo
AÇÃO DOS HORMÔNIOS
As funções dos h o r m ô n i o s são classificadas, e m termos gerais,
c o m o (1) crescimento e d e s e n v o l v i m e n t o , (2) c o n t r o l e homeostá-
t i c o das vias metabólicas e (3) regulação da p r o d u ç ã o , uso e
Fígado estoque de energia.
Duodeno fcstõmaflo

Pârtcreas
Baço Crescimento e Desenvolvimento
Adronyí O crescimento e o d e s e n v o l v i m e n t o n o r m a i s de t o d o o orga-
Córtex renal
n i s m o h u m a n o é d e p e n d e n t e de u m a complexa f u n ç ã o integra-
tiva de muitos h o r m ô n i o s , i n c l u i n d o os esteróides go nada is
(estrógeno e andrógeno), h o r m ô n i o de crescimento, c o r t i s o l e
t i r o x i n a . O u t r o s h o r m ô n i o s são responsáveis especificamente
pelo crescimento e d e s e n v o l v i m e n t o das próprias glândulas endó-
crinas e, p o r t a n t o , responsáveis pelo c o n t r o l e da síntese e secre-
ção de outros h o r m ô n i o s . Estes são p r e d o m i n a n t e m e n t e os hor-
m ô n i o s da g l â n d u l a h i p ó f i s e a n t e r i o r e i n c l u e m :
• G o n a d o t r o f i n a s [ h o r m ô n i o luteinizante ( L H ) e h o r m ô n i o
f o l í c u l o estimulante ( F S H ) ] r e g u l a m o d e s e n v o l v i m e n t o , o
crescimento e a f u n ç ã o dos ovários e testículos. Estes
h o r m ô n i o s , p o r sua vez, regulam o crescimento puberal, o
desenvolvimento e a m a n u t e n ç ã o d o esqueleto e músculos
e a d i s t r i b u i ç ã o da g o r d u r a c o r p o r a l ( C a p í t u l o 42).
lusliculo Ovários
• A C T H regula o crescimento das glândulas adrenais e a
síntese e secreção de seus h o r m ô n i o s ( C a p í t u l o 39).
Figura 25-1 Localização das glândulas endócrinas em humanos.
• H o r m ô n i o e s t i m u l a n t e da t i r e ó i d e ( T S H ) regula o
(Modificada de Turner CD. General Endócrina lo gy, 4th ed,
crescimento da g l â n d u l a t i r e ó i d e e a i o d i n i n a ç ã o de
Philadelphia: W B Saunders, 1996)
a m i n o á c i d o s para p r o d u z i r os h o r m ô n i o s t i r e o i d i a n o s
t r i i o d o t i r o n i n a e t i r o x i n a ( C a p í t u l o 41). 1
A p r o d u ç ã o e liberação destes h o r m ô n i o s hipofisários são
controladas pelos h o r m ô n i o s h i p o t a l ã m i c o s do sistema h i p o -
tálamo-hipofisário.
menos, e amplas flutuações e m suas concentrações p o d e m ser
vistas e m várias circunstâncias fisiológicas e patológicas. Estes Controle Homeostático das Vias Metabólicas
h o r m ô n i o s i n i c i a m suas respostas ligando-se a receptores da As m ú l t i p l a s vias metabólicas estão sob c o n t r o l e h o r m o n a l .
m e m b r a n a celular (na superfície o u d e n t r o da m e m b r a n a ) e Exemplos i m p o r t a n t e s i n c l u e m a regulação da glicose sanguínea
( n o r m a l m e n t e ) e s t i m u l a n d o u m sistema celular de "segundo e a homeostasia d o m e t a b o l i s m o d o cálcio, água e eletrólitos.
mensageiro" { c o m o aqueles e n v o l v e n d o a adenosina m o n o f o s f a t o
cíclico [ A M P ] d e n t r o da célula) q u e levam às ações específicas Regulação da Glicose Sanguínea
destes h o r m ô n i o s na célula. E m resposta a u m aporte de glicose, há p r o n t a liberação de insu-
l i n a pelo pâncreas que regula a d i s t r i b u i ç ã o da glicose para d e n t r o
Hormônios Esteroidais das células (tecido adiposo, m ú s c u l o , fígado, cérebro) para o
O c o r t i s o l e o estrógeno são exemplos de h o r m ô n i o s esteroidais m e t a b o l i s m o necessário a f i m de p r o d u z i r energia a p a r t i r desta
( C a p í t u l o s 4 0 e 42, respectivamente). Eles são h i d r o f ó b i c o s e glicose. U m n ú m e r o de h o r m ô n i o s contra-reguladores e n t r a m e m
insolúveis e m água. N o plasma, estes h o r m ô n i o s c i r c u l a m ligados jogo para regular ainda este processo e assegurar que os níveis
reversivelmente às proteínas transportadoras (p. ex., g l o b u l i n a sanguíneos de glicose não se t o r n e m m u i t o baixos. Estes i n c l u e m
ligadora de c o r t i s o l e g l o b u l i n a ligadora de h o r m ô n i o sexual) glucagon, cortisol, e p i n e f r i n a e h o r m ô n i o de crescimento.
c o m somente u m pequena fração livre o u não ligada d i s p o n í v e l
para exercer a ação fisiológica.' 1,6,12 A meia-vida dos h o r m ô n i o s Regulação do Cálcio Séríco
esteroidais é de 30 a 9 0 m i n u t o s . Os h o r m ô n i o s esteroidais livres, U m receptor sensível a cálcio (CaSR) na g l â n d u l a p a r ó t i d a reco-
sendo h i d r o f ó b i c o s , e n t r a m na célula p o r difusão passiva e se nhece a concentração do cálcio i o n i z a d o n o a m b i e n t e e regula a
l i g a m a receptores intracelulares n o citoplasma o u no n ú c l e o . síntese e secreção d o p a r a t o r m ô n i o ( P T H ) . Q u a n d o a concentra-
ção d o cálcio i o n i z a d o cai (tão i m p e r c e p t i v e l m e n t e que a m a i o r i a
Hormônios Relacionados c o m Aminoácido dos métodos analíticos não é sensível o suficiente para detectar
Os h o r m ô n i o s que são derivados de a m i n o á c i d o s , c o m o as cate- a m u d a n ç a ) , a síntese e secreção d o P T H são estimuladas. Este
colaminas e a t i r o x i n a (Capítulos 2 6 e 41, respectivamente), são P T H a d i c i o n a l tentará restaurar o cálcio sérico (livre) aumen-
Hormônios CAPÍTULO 25 465

T A B E L A 2 5 - 1 I H o r m ô n i o s Freqüentemente Dosados e Precursores Hormonais


Natureza Química Principais
Órgãos Endócrinos e Hormônios dos Hormônios Sítios de Ação Principais Ações

HIPOTÁLAMO
Hormônio liberador de tireotrolina (TRH) Peptídio (3 aa, Glu-His-Pro)* Hipófise anterior Liberação de TSH e prolactina (PRL)
Hormônio liberador de gonadotrofina Peplídio {10 aa) Hipófise anterior Liberação de FSH e LH
(Gn-RH) ou hormônio liberador do
hormônio luteinizante (LIl-RII)
Hormônio liberador de corticotrofina (CRH) Peptídio (41 aa) Hipófise anterior Liberação de ACTH e hormônio p-lipotrópico
(LPH)
Hormônio liberador do hormônio Peptídios (40, 44 aa) Hipófise anterior Liberação do hormônio de crescimento (GH)
de crescimento (GH-RH)
Somatostatina1 (SS) ou hormônio inibidor Pepiídios (14 e 28 aa) Hipófise anterior Supressão da secreção de vários hormônios
do hormônio de crescimento (GH-IH) (p.ex., GH, TSH, gastrina, polipeptídio
intestinal vasoativo [VIP], polipeptídio
inibidor da gastrina [GIP], secretina,
motilina, glucagon e insulina)

LOBO ANTERIOR DA HIPÓFISE


Tireotrofina ou hormônio estimulante Glicoproteína, heterodímero* Glândula tireóide Estimulação da formação e secreção do
da tireóide (TSH) (a, 92 aa; p, 112 aa) hormônio da tireóide
Hormônio folículo estimulante (FSH) Glicoproteína, heterodímero* Ovários Crescimento de folículos com o LH,
(a, 92 aa; p, 117 aa) secreção de estrógeno e ovulação
Testículo Desenvolvimento dos túbulos seminíferos;
espermatogênese
Hormônio luteinizante (LH) Glicoproteína, heterodímero* Ovário Ovulação; formação do corpo lúteo;
(a, 92 aa; (3,121 aa) secreção de progesterona
Testículo Estimulação do tecido intersticial; secreção
de andrógenos
Prolactina (PRL) Peptídio (199 aa) Glândula mamária Proliferação da glândula mamária; promove
início da secreção de leite; antagonista da
ação da insulina
Hormônio de crescimento (GH) ou Peptídio (191 aa) Fígado Produção de IGF-I (promotor do
somatotrofina crescimento)
Fígado e tecidos periféricos Efeitos antiinsulina e anabólicos
Corticotrofina ou adrenocorticotrofina Peptídio (39 aa) Córtex adrenal Estimula a formação e secreção de
(ACTH) esteróide adrenocortical

LOBO POSTERIOR DA HIPÓFISE JRO-HIPÓF ISE)


Vasopressina ou hormônio antidiurético Peptídio (9 aa) Arteríolas Elevação da pressão sanguínea; reabsorção
(ADH) Túbulos renais de água

Oxitccina Peptídio (9 aa) Músculos lises (útero, Contração; ação no trabalho de parto e no
glândula mamária) transporte do esperma; ejeção de leite

GLÂNDULA PINEAL
Serotorina ou 5-hidroxitriptamina Indoleamina Sistemas cardiovascular, Ncurotransmisscr; estimulação ou inibição
(5-HT) respiratório e de vários músculos lisos e nervos
gastrointestinal; cérehro
Melatonina Indoleamina Hipotálamo Supressão da secreção de gonadetrofina e
GH; indução do sono

GLÂNDULA TIREÓIDE
Tiroxina (T,,) e triiodotironina (Ta) lodoamino ácidos Tecido corporal geral Estimulação do consumo de oxigênio e da
taxa metabólica do tecido
Calcitonína ou tirocalcitonina Peptídio (32 aa) Esqueleto Incerto nos humanos

GLÂNDULA PARATIREÓIDE
Paratormônio (PTH) ou paratirina Peptídio (84 aa) Rim Aumenta reabsorção de cálcio; inibe
reabsorção de fosfato; aumenta da
produção de 1,25-diidroxicolecalciferol
Esqueleto Aumenta da reabsorção óssea

Continua
466 PARTE IV Analitos

TABELA 25-1 H o r m ô n i o s Freqüentemente Dosados e Precursores H o r m o n a i s - Cont.

Natureza Química Principais


Órgãos Endócrinos e Hormônios dos Hormônios Sítios de Ação Principais Ações

CÓRTEX ADRENAL
Aldosterona Esferóide Rim Balanço de água e sal
Androstenedíona5 Esteróide Precursor hormonal Convertido para estrógeno e testosterana
Cortisol Este roide Vários Metabolismo dos carhoidratos, proteínas e
gorduras; efeitos antiinflamatórios; outros
Deidroepiandrosterona (DHEA) e Esteróides Precursores hormonais Convertidos para estrógeno e testosterona
sulfata de deidroepiandrostenediona
(SDHEA)
17-hidroxiprogestercna Esteróide Precursor hormonal Convertido para cortisol

MEDULA ADRENAL
Norepinefrina e epinefrina Aminas aromáticas Receptores simpáticos Estimulação do sistema nervoso simpático
Epinefrina Fígado e músculo, Glicogenólise
tecido adiposo Lipólise

OVÁRIO
DHEA e SDHEA Esteróides Precursores hormonais Convertidos para androstenediona
Estrógenos Esteróides fenólicos Órgãos sexuais femininos Desenvolvimento de características sexuais
secundárias
Gsso Controle da maturação esquelética
Inibiria A Peptídio (suburidade a Hipotálamo, tolículo Inibe a secreção de FSH; estimula a
e subunidade ovariano produção de ardrcgeno pelas células da
teca
Inibina B Peptídio (subunidade a e Ver Inibina A Ver Inibina A
subunidade pB)
Progesterana Esteróide Estruturas reprodutivas Preparação do útero para a implantação do
acessórias femininas óvulo fecundado, manutenção da gestação

TESTÍCULO
Inibina B Ver acima Hipófise anterior, hipotálamo Controle da secreção de LH e FSH
Testosterona Esteróide Órgãos sexuais masculinos Desenvolvimento das características sexuais
acessórios secundárias, maturação e função normal

PLACENTA
Estrógenos Ver acima Ver acima Ver acima
Progesterana Ver acima Ver acima Ver acima
Gonadotrofina coriônica (CG) ou Glicoproteína, heterodímero' Mesmos do LH Mesmas do LH; prolonga a função da corpo
coriogonadotrofina (a, 92 aa; p, 145 aa] lúteo

PÂNCREAS
Glucagon Peptídio {29 aa) Fígado Glicogenólise
insulina Peptídio" Fígado, gordura, músculo Regula o metabolismo dos carboidratos;
lipogênese

TRATO GASTROINTESTINAL
Gastrina Peptídio (17 aa) Estômago Secreção do ácido gástrico, crescimento da
mucosa gástrica
Grelina (GHRP) Peptídio {28 aa) Hipófise anterior Secreção de GH

RIM
1,25-(OH)2 colecalciferol Estero] Intestino Facilita a absorção de cálcio e fósforo;
Osso aumenta a reabsorção óssea
em conjugação com o PTH
Rim Aumenta a reabsorção de cálcio filtrado
Eritropoietina Peptídio (165 aa) Medula óssea Estimula a formação de células vermelhas
Sistema renina-angiotensina-aldosterona Peptídios (renina, 297 aa; Renina (renal) catalisa a Ang II aumenta a pressão sanguínea e
Ang 1,10 aa; Ang II, 8aa, hidrólise do estimula a secreção de aldosterona
produzida a partir da Ang 1 angiotensinogênio (hepático, (ver adrenal)
pela enzima conversora do 485 aa) em Ang 1 no
angiatensinagênio) espaço intravascular
Hormônios CAPÍTULO 25 467

TABELA 25-1 | H o r m ô n i o s Freqüentemente Dosados e Precursores Flormonaís - C o n t .


Natureza Química Principais
Úrgãos Endócrinos e Hormônios dos Hormônios Sítios de Ação Principais Ações

FÍGADO
IGF-I anteriormente denominada Peptídio (70 aa) Maicria das células Estimula o crescimento linear das células
somatomedina
IGF-II Peptídio (67 aa) Maioria das células Atividade semelhante à insulina

CORAÇÃO
Peptídio nairiurético tipo B Peptídio com uma ligação Tecidos vascular, renal Regula o volume sanguíneo e a pressão
dissulfídica dentro da e adrenal sanguínea
cadeia (32 aa)

TECIDO ADIPOSO
Adiponectina Peptídio oligòmero de Músculo Aumenta a oxidação de ácidos graxos
subunidades de 30 kD Fígado Suprime a formação de glicose
Leptina Peptídio (167 aa) Hipotálamo Inibe o apetite, estimula o metabolismo
Resistira Peptídio (94 aa) Fígado Resistência insulínica

VÁRIOS TIPOS CELULARES


Peptídio relacionado com o paratormônio Peptídios { 1 3 9 , 1 4 1 , 1 7 3 aa) Rim, osso Função fisiológica conjetural; ações
(PTH-RP) semelhantes ao PTH; criador de tumores

MONÓCITOS/LINFÓCITOS/MACRÓFAGOS
Ciiocinas (p. ex.: interleucinas 1-18, Peptídios Muitos Estimula ou inibe o crescimento celular;
fator de necrose tumoral, interferon) outro

*aa, resíduos aminoácidos.


^PTüdujiiio também pelo [rato gastrointestinal e pelo pâncreas.
^Hormônios glicofrrotêkos compostos de DOÚ peptídioi diferentes Aí cadeias A 5ÍÍO SEMEIHTÍNTES ÜTTI estrutura ou idênticas; AS cadeias (3 diferem entre os hormônios e conferem especificidade.
^Antlrostenciona lãmbém é produzida no ovário e no testículo.
"Dtms cadeias ligadas por dons ligações dismlfídicas' a , 21 aa; (3, 30 aa.

t a n d o a reabsorção t u b u l a r r e n a l de cálcio e t a m b é m o e f l u x o de afeta a m a i o r parte dos órgãos do c o r p o e m o d u l a , p o r exemplo,


cálcio do esqueleto. O P T H p o r sua vez catalisa a síntese do a freqüência cardíaca, o suor, a f e r t i l i d a d e e a reprodução.
h o r m ô n i o r e n a l c a l c i t r i o l ( 1 , 2 5 - d i i d r o x i v i t a m i n a D ) , o q u a l age
n o i n t e s t i n o para a u m e n t a r a absorção de cálcio. Esta resposta RECEPTORES HORMONAIS
m u i t o rápida do P T H e do c a l c i t r i o l r a p i d a m e n t e restaura o A ação " ú n i c a " o u específica de u m h o r m ô n i o e m seu tecido-alvo
cálcio livre para u m a concentração na q u a l o CaSR n ã o é mais é u m a f u n ç ã o da interação entre o h o r m ô n i o e o seu r e c e p t o r .
ativado e a síntese e secreção t a n t o do P T H c o m o d o c a l c i t r i o l C o m o discutido previamente, há vários tipos de interações hor-
v o l t a m aos níveis basais. mônio-receptor. 2 4 ' 6 ' 1 2 O c o m p l e x o h o r m ô n i o - r e c e p t o r p r o p o r -
ciona u m a especificidade m u i t o alta da ação do h o r m ô n i o , per-
m i t i n d o que o tecido-alvo reconheça o h o r m ô n i o a p r o p r i a d o
Regulação do Metabolismo dos Eletrólitos e de dentre as várias moléculas às quais ele é exposto. Isto é essencial
Água já que os h o r m ô n i o s geralmente c i r c u l a m e m concentrações pico-
Esta via é regulada peta aldosterona p r o d u z i d a pela glândula molares o u n a n o m o l a r e s (10~9 a 10~12 m o l / L ) . C o m o n o t a d o , os
adrenal, pela r e n i n a p r o d u z i d a pelos r i n s e pela vasopressina receptores h o r m o n a i s p o d e m estar na superfície celular o u n o
[ b o i m ô n i o a n t i d i u r é t i c o ( A D H ) ] pela h i p ó f i s e posterior. espaço intracelular d e n t r o d o citoplasma o u do núcleo.

Receptores de Superfície Celular


Regulação de Produção, Uso e Estoque de Os h o r m ô n i o s peptídicos ligam-se a receptores na superfície
Energia celular, e a m u d a n ç a c o n f o r m a c i o n a l que resulta desta ligação
E m condições n o r m a i s , estas funções de h o r m ô n i o s estão sob ativa u m sistema efetor, o qual, p o r sua vez, é responsável pelas
controle hormonal rigoroso. Em condições de mudança, normal- ações a jusante do h o r m ô n i o (Figura 25-2). 8 9 Para a m a i o r i a dos
m e n t e e m a u m e n t o da d e m a n d a d e energia, c o m o n o exercício, h o r m ô n i o s peptídicos, o efetor intracelular que é ativado pela
fome, infecção, t r a u m a o u estresse e m o c i o n a l , as concentrações interação h o r m ô n i o - r e c e p t o r é u m a proteína G específica (pro-
circulantes de m u i t o s h o r m ô n i o s estão aumentadas para contro- teína ligadora de g u a n i l - n u c l e o t í d i o ) , e os receptores são chama-
lar não s o m e n t e as concentrações circulantes de n u t r i e n t e s , mas dos de receptores ligados a proteína G ( G P C R s , Figura 25-3). 3,7,10,13
t a m b é m o m e t a b o l i s m o destes n u t r i e n t e s na direção da energia Os G P C R s são moléculas hepta-helicoidais c o m sete d o m í n i o s
necessária. E s t a atividade m u i t o complexa, a q u a l p o d e envolver que se estendem sobre a m e m b r a n a . O a m i n o t e r m i n a l é extrace-
h o r m ô n i o s de órgãos diferentes, t a m b é m está sob c o n t r o l e neu- lular e o c a r b o x i t e r m i n a l é intracelular. As p r i n c i p a i s classes
rológico c o m u m n ú m e r o de h o r m ô n i o s n e u r o e n d ó c r i n o s parti- estruturais de G C P R s f o r a m identificadas, cada u m a c o n t e n d o
c i p a n d o ativamente neste processo m e t a b ó l i c o i n t e g r a d o que receptores para s u b c o n j u n t o s específicos de h o r m ô n i o s (Figura
468 PARTE IV Analitos

Progesterona d o h o r m ô n i o n o estado livre ou não ligado. O h o r m ô n i o livre


5 entra na célula via difusão passiva e se liga aos receptores intra-
xá* celulares n o citoplasma ou n o n ú c l e o (Figura 25-2). Estes recep-
tores são caracterizados p o r u m d o m í n i o de ligação ao h o r m ô n i o ,
u m d o m í n i o de ligação ao D N A e u m d o m í n i o a m í n o t e r m i n a l
variável. A s s i m c o m o a interação dos h o r m ô n i o s protéicos o u
p o l i p e p t í d i c o s c o m os receptores na superfície celular m u d a a
c o n f o r m a ç ã o do Teceptor p r o t e i c o , a ligação de u m h o r m ô n i o
lipossolúvel ao d o m í n i o de seu receptor específico intracelular
m u d a a c o n f o r m a ç ã o m o l e c u l a r do receptor. Esta m u d a n ç a con-
f o r m a c i o n a l , chamada de ativação d o receptor, t o r n a o c o m p l e x o
h o r m ô n i o - r e c e p t o r capaz de se ligar a seqüências regulatórias
específicas n o D N A de u m gene-alvo, p e r m i t i n d o o c o n t r o l e da
expressão do gene específico. 3 Para que o receptor ligado ao
h o r m ô n i o se ligue ao D N A nuclear, ele deve se mover até o
núcleo se ele já não estiver lá.

AÇÕES HORMONAIS PÓS-RECEPTOR


Os receptores de superfície celular e i n t r a c e l u l a r t ê m diferentes
ações pós-receptor.

Receptores de Superfície Celular


U m a vez que os G P C R s estão ocupados p o r u m h o r m ô n i o , as
subunidades da p r o t e í n a G i n i c i a m u m a cascata de ativação de
enzimas específicas que g e i a m moléculas que servem c o m o
Respostas biológicas segundos mensageiros para efetuarem a resposta h o r m o n a l . Os
mais conhecidos deles são (1) adenilato ciclase, q u e gera o ade-
F i g u r a 2 5 - 2 Sinalização hormonal por receptores de superfície nosina m o n o f o s f a t o cíclico ( c A M P ) , e (2) fosfolípase C , a q u a l
celular e intracelulares. Os receptores para hormônios polipeptídicos gera o i n o s i t o l 1,4,5-trifosfato (IP3) e diacilglicerol. A p r o d u ç ã o
solúveis em água L H e fator de crescimento semelhante à insulina de segundos mensageiros, e a subseqüente m a g n i t u d e do efeito
OGF-I) são proteínas integrais da membrana localizadas na superfície d o h o r m ô n i o , é u m a f u n ç ã o da q u a n t i d a d e de h o r m ô n i o ligada
celular. Eles ligam os hormônios usando seqüências extracelulares e ao G P C R . A ligação de u m a pequena q u a n t i d a d e de moléculas
transduzem um sinal pela geração de segundos mensageiros, cAMP para de h o r m ô n i o na superfície celular leva à p r o d u ç ã o de m u i t a s
o receptor de LH e substratos fosforilados em tirosina para o receptor moléculas do segundo mensageiro, a m p l i f i c a n d o , então, o sinal
de IGF-I. Embora os efeitos na expressão de genes sejam indicados, enviado pelo h o r m ô n i o (o q u a l é e n t e n d i d o c o m o o p r i m e i r o
também são observados efeitos diretos nas proteínas celulares (p. ex., mensageiro).
canais iónicos). Por outro lado, o receptor para hormônio esteroidal As proteínas quinases dependentes de c A M P são u m a f a m í l i a
lipofilico progesterona está no núcleo celular. Ele se liga ao hormônio, de enzimas quej na presença de c A M P , fosforila u m n ú m e r o de
se torna ativo e capaz de modular diretamente a transcrição do gene enzimas e outras proteínas, r e g u l a n d o , p o r t a n t o , suas funções.
alvo. FT, fator de transcrição; R, molécula receptora. (De Conn PM, C o m o meios adicionais de regular as ações h o r m o n a i s , estas
Melmed S. Textbook of endocrinology. Totowa, NJ: Humana Press, quinases dependentes de c A M P consistem em duas subunidades
1997.) catalíticas e duas régulatórias. As subunidades regulatórias existem
c o m o u m d í m e r o que liga moléculas de c A M P , e a ligação de
c A M P libera as subunidades catalíticas, as quais são então ativas
c o m o enzimas fosforiíadas.
A fosfolípase C age n o f o s f o i n o s i t o l na m e m b r a n a celular
para p r o d u z i r IP3 e diacilglicerol. U m efeito do IP3 é abrir os
25-4). O g r u p o I é o m a i o r g r u p o , c o n t e n d o receptores para canais iónicos para f a c i l i t a i a entrada de cálcio n o citoplasma,
m u i t o s h o r m ô n i o s peptídicos e catecolaminas. O g r u p o I I c o n t é m o n d e ele parece agir c o m o u m segundo mensageiro.
receptores para a f a m í l i a dos h o r m ô n i o s gastrointestinais (secre- O s receptores de i n s u l i n a representam u m a classe de recep-
tina, glucagon, p o l i p e p t í d i o i n t e s t i n a l vasoativo). O g r u p o I I I tores de superfície celular q u e c o n t é m intrínseca atividade tiro-
c o n t é m o C a S R e o receptor de g l u t a m a t o . A estimulação de u m a sina quinase ativada p o t h o r m ô n i o , e acredita-se que não preci-
proteína G i n i c i a os processos intracelulares de transdução de sem de u m a pequena m o l é c u l a q u e f u n c i o n e c o m o u m segundo
sinal, os quais caracterizam a ação especifica do h o r m ô n i o . As mensageiro solúvel. 11 A estrutura do receptor de i n s u l i n a serve
proteínas G são compostas de subunidades a , P e y e são classi- c o m o o p r o t ó t i p o deste t i p o de receptor. Ela consiste em duas
ficadas de a c o r d o c o m a s u b u n i d a d e a , da q u a l 20 f o r a m iden- subunidades a e duas p ligadas p o r pontes dissulfídicas. Os
tificadas até o m o m e n t o (Figura 25-4). E n t r e as proteínas G , d o m í n i o s extracelulares ligadores de h o r m ô n i o são as subunida-
algumas e s t i m u l a m a a d e n i l a t o ciclase (proteínas G t i p o G J e des a , e n q u a n t o as subunidades P são intracelulares. Eles c o n t ê m
outras a i n i b e m ( t i p o G|). A l g u n s h o r m ô n i o s não peptídicos u m l o c a l para ligação de adenosina trifosfato (ATP) e u m d o m í n i o
t a m b é m usam receptores de superfície celular. quinase catalítico p o r i n t e r m é d i o do q u a l a t i r o s i n a quinase é
ativada i m e d i a t a m e n t e q u a n d o a i n s u l i n a se liga ao receptor. A
Receptores Intracelulares tirosina quinase m o d i f i c a as atividades das proteínas intracelula-
Os h o r m ô n i o s lipossolúveis são transportados n o plasma res por fosforilá-las, assim t r a n s m i t i n d o a "mensagem"da i n s u l i n a
ligados a proteínas carreadoras c o m somente u m a p e q u e n a fração para a célula.
Hormônios CAPÍTULO 25 469

NH 2 NH*

Estoque do retículo
endoplasrn ático

Cí*nodiJltri3 \
quin«S& ;

Figura 25-3 T r a n s d u ç ã o de sinal p o r receptores de superfície celular que estão acoplados c o m proteínas G .
São mostrados dois receptores sete de d o m í n i o s t r a n s m e m b r a n a , ligados a diferences proteínas G (G s e G J .
A ativação d o G J e v a à estimulação da e n z i m a efetora adenilato ciclase e à p r o d u ç ã o d o segundo mensageiro
c A M P , causando a ativação da p r o t e í n a quinase A ( P K A ) e a iniciação de potenciais cascatas de fosforilacão A
ativação da G q leva à estimulação da enzima efetora fosfolípase C-|3 e à p r o d u ç ã o dos segundos mensageiros IP3
e d i a c i l g l i c e r o l ( D A G ) , que a t i v a m a p r o t e í n a quinase C (PKC) e i n i c i a m u m a cascata p o t e n c i a l de fosforilacão.
{De C o n n P M , M e l m e d S, Eds. T e x t b o o k o f e n d o c n n o l o g y . T o t o w a , N ) : H u m a n a Press, 1997.)

C o m o os h o r m ô n i o s c u m p r e m u m a função reguladora, há Isto resulta n u m a mudança conformacional que permite que o


muitas etapas autolimitantes n o processo mencionado. Para o complexo hormônio-receptor se ligue a seqüências regulatórias
cAMP, isto envolve a mativação da estimulação da proteína G da específicas do D N A na terminação 5 ' do gene-alvo.5 A especifici-
adenilato ciclase pela guanosinatrifosfatase (GTPase). N a ausên- dade de ligação do receptor (ligado ao h o r m ô n i o ) para regiões
cia da interação do h o r m ô n i o com o G P C R (estado basal o u não específicas do D N A do gene-alvo é determinada por estruturas
estimulado), G s está ligado à guanosina difosfato (GDP) TJma chamadas dedos de zinco n o d o m í n i o de ligação do D N A do
vez que o h o r m ô n i o está ligado ao receptor, G D P é liberado de receptor. E a ligação do complexo hormônio-receptor a elementos
G s e substituído pelo G T P e o complexo G S -GTP ativa a adenilato regulatórios do D N A que aumenta ou reprime a transcrição
ciclase (Figura 25-5). O complexo G S -GTP é inativado pela gênica. O R N A mensageiro, o qual é aumentado ou reduzido
GTPase, restaurando o estado G S -GDP que não pode estimular pela ligação do hormônio-receptor ao gene-alvo, regula a síntese
a formação de c A M P até que mais h o r m ô n i o se ligue ao G P C R . de proteínas específicas que medeiam as ações fisiológicas do
Após poucos m i n u t o s (ou menos) da interação do h o r m ô n i o com h o r m ô n i o . O sistema é regulado ainda pela presença o u ausência
G P C R e do início da ação h o r m o n a l , o receptor é fosfcrilado de co-ativadores o u co-repressores da expressão gênica.
pela proteína quinase A e proteína quinase C Esta fosforilacão
do receptor h o r m o n a l permite a internalização do complexo a DESORDENS CLÍNICAS DOS HORMÔNIOS
partir da superfície celular para dentro da célula. Então, ocorre As doenças endócrinas resultam da deficiência ou do excesso de
a defcsforilação, p e r m i t i n d o a degradação do h o r m ô n i o e a reci- u m único h o r m ô n i o o u de vários h o r m ô n i o s , ou da resistência
clagem do G P C R para sua localização transmembrana original, à ação de h o r m ô n i o s , A deficiência h o r m o n a l pode ser congênita
aguardando a ligação com mais h o r m ô n i o . o u adquirida, enquanto o excesso h o r m o n a l pode ser decorrente
de uma superprodução endógena (de dentro do corpo) ou
Receptores Intracelulares exógeno por medicação em dose excessiva. A resistência h o r m o -
Fisiologicamente, os h o r m ô n i o s lipossolúveis se ligam ao d o m í n i o nal ocorre em vários níveis, mas é simplesmente caracterizada
de ligação h o r m o n a l de receptores citoplasmático ou nuclear. 8,9 como mediada por receptor, mediada por pós-receptor o u ao
470 PARTE IV Analitos

Superfamília do receptor acoplado à proteína G (GPCR)

Família A: Receptores relacionados com rodopsina e receptores


fi-adrenérgicos Família D: Receptores relacionados com o receptor de feromônio STE2

Grupa I: Receptores olfatário, adenosina, melanocortina Grupo I: Receptores de fator alfa feromônio
Grupo II: Receptores adrenérgico. muscarínico, de serotonina, de DA
Grupo 111: Receptores de rieurcpeptidio e opsinas de vertebrados
Grupo IV: Receptores de bradicinina e de opsinas de invertebrados
Grupo V: Receptores de hormônios peptídicos e glicoprotéicos, de Família E : Receptores relacionados com o receptor de feromônio
quimiocira STE3
Grupo VI: Receptores de melatonina e órfãos
Grupo I: Receptor de fator A feromônio

Família B: Receptares relacionados com receptores de calcitonína e


paratornnõnio Família F: Receptores relacionados com o receptor cAMP

Grupo I: Receptores de calcitonína, calcitonina-Wre e CRF


Grupo II: Receptores de PTH e PTHrP Grupo I: Receptor de Dictyostelium cAR1 -4
Grupo III: Receptores de glucagon, secretina, VIP e GHRH

Família C: Receptores relacionados com receptores de glutamato


metabotrópico

Grupo I: Receptores de glutamato metabotrópico


Grupo II: Receptores sensores do íon cálcio extracelular
A

GlicusiUi^ãu

Ligação agonista

Cisteínas conservadas
Ligação antagonista

T M D 1 - * TMD2/ ' TMD3-®TMD4 TMD5 TMD7


y
JZ • -
v y
a V j
%
•a!®
PdlmiT:

da PKA

Necessários para ligação da


catecolamina e ativação
k A s p 113 • Ser 204, 2 0 7
Proteína G acoplada

COOH

Fosforilação de |3ARK

Figura 2 5 - 4 Classificação e a r q u i t e t u r a básica dos receptores de superfície celular que se l i g a m às proteínas


G. O p a i n e l A lista as p r i n c i p a i s famílias e grupos de G P C R s . Os receptores m a m í f e r o s são restritos a famílias A ,
B e C . A f a m í l i a A é a m a i o r e i n c l u í os diversos receptores o d o r a n t e s e prototípicos G P C R s , c o m o o receptor
para r o d o p s i n a e o receptor |B-adrenérgico. O p a m e l B mostra u m a estrutura esquemática de u m dos mais
extensamente caracterizados G P C R s , o receptor (3-adrenérgico. A s p r i n c i p a i s características estruturais estão
indicadas e são expandidas n o texto. (De C o n n P M , M e l m e d S, Eds. T e x t b o o k o f e n d o c r i n o l o g y T o t o w a ,
NJ: H u m a n a Press, 1997 )
Hormônios CAPÍTULO 25 471

Ligante
ensaio, o h o r m ô n i o não marcado desloca quantidades rastreadas
de h o r m ô n i o marcado r a d i o a t i v a m e n t e dos sítios do receptor.
U m segundo c a m i n h o m e d e u m a resposta, c o m o a produção de
c A M P , q u a n d o u m a amostra testada é a d i c i o n a d a a u m a prepa-
ração que i n c l u i o receptor e os co-fatores necessários. E m geral,
os ensaios baseados em receptor são mais simples de se realizarem
que os bioensaios e t ê m m a i o r sensibilidade. O ensaio receptor
t a m b é m t e m u m a v a n t a g e m sobre os i m u n o e n s a i o s e m que eles
r e f l e t e m a f u n ç ã o biológica de u m h o r m ô n i o , chamada de capa-
cidade de se ligar a sítios específicos d o receptor. E m contraste,
os i m u n o e n s a i o s p o d e m m e d i r o h o r m ô n i o ativo e o p r ó - h o r m ô -
n i o i n a t i v o , o h o r m ô n i o p o l i m é r i c o e os m e t a b ó l i t o s q u a n d o
todos possuem u m d e t e r m i n a n t e a n t i g ê n i c o ou u m c o n j u n t o de
í «
N d e t e r m i n a n t e s em c o m u m . E m geral, os ensaios baseados em
|
GDP receptor não são tão sensíveis c o m o os i m u n o e n s a i o s , e enzimas
nas amostras biológicas p o d e m degradar o receptor o u destruir
o traçador marcado. A c o m p l e x i d a d e e l a b i l i d a d e adicionais das
preparações de receptores t a m b é m c o n t r i b u e m para a aplicação
Figura 2 5 - 5 C i c l o da p r o t e í n a G . ( D e C o n n P M , M e l r n e d S, l i m i t a d a destes ensaios na r o t i n a clínica dos laboratórios.
Eds. T e x t b o o k o f e n d o c r i n o l o g y . T o t o w a , N ] : H u m a n a Press,
1997.).) Técnicas de Imunoensaios
O s i m u n o e n s a i o s que empregam a n t i c o r p o s são a m p l a m e n t e
nível d o tecido-alvo. A s manifestações clínicas dependerão d o usados para q u a n t i f i c a r os h o r m ô n i o s ( C a p í t u l o 10). G e r a l m e n t e ,
sistema h o r m o n a l afetado e d o t i p o de a n o r m a l i d a d e ( C a p í t u l o s os ensaios de a n t i c o r p o marcado ( i m u n o r r é f r i m ) com marcado-
22, 26 e 38-42). A doença e n d ó c r i n a mais c o m u m nos Estados res n ã o isotópicos são o m é t o d o escolhido para m e d i r vários
U n i d o s é o diabetes mellitus ( D M ) . O D M t i p o 1 resulta da falên- h o r m ô n i o s , especialmente os maiores c o m o os h o r m ô n i o s pep-
cia do pâncreas em secretar a i n s u l i n a ainda que o pâncreas esteja tídicos e proteicos. Os ensaios i m u n o m é t r i c o s u s a m concentra-
de o u t r o m o d o n o r m a l ( C a p í t u l o 22). O D M t i p o 2 é o t i p o mais ções saturantes de dois o u mais a n t i c o r p o s (freqüentemente
c o m u m de D M e resulta da resistência do órgão-alvo à ação da m o n o c l o n a i s ) q u e são preparadas c o n t r a diferentes epítopos da
insulina, a q u a l é secretada p e l o pâncreas e m quantidades abun- m o l é c u l a de proteína. U m o u dois dos a n t i c o r p o s são n o r m a l -
dantes e circula e m altas concentrações. O D M secundário ocorre m e n t e ligados a u m sistema de separação de fase sólida e extraem
q u a n d o u m a doença não e n d ó c r i n a , c o m o a pancreatite, destrói o h o r m ô n i o da amostra de soro e o i m o b i l i z a m na superfície
o pâncreas, i n c l u i n d o as células secretoras de i n s u l i n a . A carac- sólida. O a n t i c o r p o remanescente é ligado a u m a m o l é c u l a sina-
terística b i o q u í m i c a do D M é a hiperglicemia. Por o u t r o lado, lizadora, a q u a l é m e d i d a depois q u e o a n t i c o r p o se liga ao hor-
existem tumores r a i o s do pâncreas p r o d u t o r e s de i n s u l i n a (insu- m ô n i o i m o b i l i z a d o . O sinal resultante é u t i l i z a d o para q u a n t i f i -
l i n o m a s ) nos quais a p r o d u ç ã o de i n s u l i n a não é regulada pela car o h o r m ô n i o ligado.
concentração sanguínea da glicose, e sua característica b i o q u í -
mica é a hipoglicemia. Técnicas Instrumentais
Os espectrómetros de massa ( C a p í t u l o 8) associados aos cromató-
FORMAS DE MEDIDA DOS HORMÔNIOS E grafos gasoso e l í q u i d o ( C a p í t u l o 7) são ferramentas analíticas
ANALITOS RELACIONADOS qualitativas e quantitativas poderosas que são amplamente usadas
Os h o r m ô n i o s são m e d i d o s p o r u m a variedade de técnicas ana- para m e d i r h o r m ô n i o s . Os avanços técnicos na espectrometria de
líticas, i n c l u i n d o biomarcadores, marcadores de receptores, i m u - massa resultaram n o desenvolvimento da técnica de ionização/
noensaio e técnicas i n s t r u m e n t a i s , c o m o a espectrometria de dessorção a laser assistida p o r m a t r i z ( M A L D i ) e de técnicas de
massa associada a cromatografia l í q u i d a o u gasosa. ionização p o r elmo spray que p e r m i t e m seqüenciamento de peptí-
dios e determinação de massa de quantidades de picomoles de
Técnicas de Bioensaio anahtos.
Os bioensaios são baseados nas observações de respostas fisioló-
gicas específicas para o h o r m ô n i o que esteja sendo dosado. Os
bioensaios i n vivo n o r m a l m e n t e envolvem a injeção do m a t e r i a l
REFERENCIAS
testado ( c o m o o sangue o u u r i n a de u m paciente) e m animais
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preparados adequadamente. As respostas da glândula-alvo, c o m o
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u m crescimento o u esteroidogênese, são então medidas. Os bio-
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ensaios i n vitro envolvem a incubação de tecido, membranas,
mechflnism of acti cm of s tero íd homwne rcceptoTS. J Mammary Gkmd Biol
células dispersas o u linhas celulares permanentes em u m m e i o
Neofiksia 2000,5 307-24
de c u l t u r a d e f i n i d o , c o m subseqüente m e d i d a da resposta apro-
3. Fdrfel 2, Bourne RR, liri T. The expanding spectrum of G protein dijeflse- N
priada de u m h o r m ô n i o . A m a i o r i a dos bioensaios in vitro mede
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as respostas p r o x i m a l o u distai a u m segundo mensageiro, c o m o 4. Funder JW. Mmerfllocorticoids, glwcocorticoiíis, receptors and response elements.
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472 PARTE IV Analitos

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CAPÍTULO 2 6

Catecolaminas e Serotonina
Graeme Eisenhofer, Ph.D., Thomas G. Rosano, Ph.D., D.A.B.F.T., D.A.B.C.C.,
e Ronald J. Whitley, Ph.D., F.A.C.B., D.A.B.C.C.

OBJETIVOS precursor da dopamina e u m p r o d u t o intermediário na


1. Listar os hormônios sintetizados pela medula adrenal, assim como biossíntese da norepinefrina, epinefrina e melanina.
Metabólitos das Catecolaminas: Produtos do metabolismo das
as ações fisiológicas, regulação da secreção e significância clínica
catecolaminas, tais como o ácido diidrofenilacético, a
de cada um; determinar um métcdo de análise.
metoxitiramina, o ácido homovanílico, o diidrofenilglicol, o
2. Definir feocromocitoma e os resultados laboratoriais obtidos na
metoxi-hidroxifenilglicol, a normetanefrma, a metanefrina e
avaliação dessa doença.
o ácido vanililmandélico.
3. Resumir a via metabólica das catecclaminas e determinar a
M e t a n e f r i n a : U m metabólito farmacológica e fisiologicamente
significância clínica dos metabólitos.
inativo das catecolaminas resultante da O-metilação da
4. Discutir a significância clínica da serotonina e do seu metabólito; epinefrina; formada principalmente n o interior das células
determinar um método de análise. cromafins da adrenal; excretada na urina como u m
metabólito conjugado a sulfato; as dosagens dos metabólitos
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES livres e conjugados fornecem testes diagnósticos úteis para o
3,4-DÍidroxifenilglicol ( D H P G ) : O metabólito produzido feocromocitoma.
dentro dos nervos noradrenérgicos do sistema simpático Metoxi-hidroxifenoglicol ( M H F G ) : U m metabólito da
periférico ou do sistema nervoso central através da epinefrina e da norepinefrina formado primariamente pela
desaminação da norepinefrina (também pode ser formado a O-me til ação do diidroxifenil glicol e, em menores
partir da epinefrina); é O-metilado para metoxi- quantidades, pela desaminação da notmetanefrina e da
hidroxifenilglicol nos tecidos extraneurais. metanefrina; encontrado n o cérebro, sangue, CSF e urina,
Á c i d o 5-Hidroxiindolacético ( 5 ' H I A A ) : U m metabólito da onde suas concentrações podem ser usadas para dosar a
serotonina (5-hidroxitriptamina) que é excretado em renovação das catecolaminas.
grandes quantidades por pacientes com tumores Neuroblastoma: U m sarcoma constituído por neuroblastos
carcinóides. malignos, surgindo geralmente no sistema nervoso
A c i d o H o m o v a n í l i c o ( H V A ) : U m produto do metabolismo da autônomo (simpaticoblastoma) ou na medula adrenal;
dopamina; concentrações urinárias elevadas são usadas para considerado u m tipo de t u m o r neuroepitelial que afeta
diagnosticar neuroblastomas. principalmente os lactentes e crianças até 10 anos de idade.
A c i d o V a n i l i l m a n d é l i c o ( V M A ) : O principal produto final do N o r e p i n e f r i n a (noradrenalina): U m importante
metabolismo da norepinefrina e da epinefrina excretado neurotransmissor produzido por alguns neurônios cerebrais
pela urina; formado primariamente n o fígado através da e nervos simpáticos periféricos que agem sobre receptores
oxidação do metoxi-hidroxifenilglicol. adrenérgicos alfaj e beta^ produzida pelas células cromafins
Catecoíamina: Pertence a u m grupo de aminas biogênicas que da adrenal como u m precursor da epinefrina.
possuem uma ação simpaticomimética, cuja porção N o r m e t a n e f r i n a : U m metabólito O-metilado da norepinefrina
aromática da molécula é o catecol e a porção alifática, uma produzido por células extraneuronais e pela medula
amina; os exemplos incluem a dopamina, a norepinefrina e adrenal; excretada pela urina como u m metabólito
a epinefrina. conjugado a sulfato; as dosagens dos metabólitos livres e
Célula C r o m a f i m : Células neuroendócrinas derivadas da crista conjugados fornecem testes úteis para o diagnóstico do
neural embrionária, encontradas na medula da glândula feocromocitoma.
adrenal e em outros gânglios do sistema nervoso simpático; Serotonina (5-hidroxitriptamina): U m vasoconstritor
assim denominadas devido à presença de grânulos monoamínico sintetizado pelas células enterocromafins
citoplasmáticos que produzem uma reação acastanhada com intestinais ou em neurônios centrais ou periféricos;
os sais de cromo. encontrada em altas concentrações em vários tecidos
D o p a m i n a : U m a catecoíamina formada n o corpo pela corporais, i n c l u i n d o a mucosa intestinal, o corpo pineal e o
descarboxilação da dopa; é u m produto intermediário na sistema nervoso central.
síntese da norepinefrina, age como u m neurotransmissor S í n d r o m e Carcinóide: U m complexo sistema associado aos
no sistema nervoso central; é produzido perifericamente e tumores carcinóides e caracterizado por crises de rubor
age sobre receptores periféricos. cianótico da pele — com duração de minutos a dias — e por
E p i n e f r i n a (adrenalina): U m h o r m ô n i o catecolamínico evacuações diarréicas aquosas, crises broncoconstritivas,
secretado pela medula adrenal. quedas abruptas da pressão sanguínea, edema e ascite. Os
Feocromocitoma: U m tumor geralmente benigno, bem sintomas são provocados pela secreção tumoral de
encapsulado, lobular e vascularizado de tecido cromafim da serotonina, prostaglandinas e outras substâncias
medula adrenal ou dos paragânglios simpáticos. biologicamente ativas.
L - D o p a : U m aminoácido, 3,4-diidroxifenilalanina, produzido T u m o r Carcinóide: U m tumor amarelado, circunscrito,
pela oxidação da tirosina pela tirosina hidroxilase; é o originado das células enterocromafins, geralmente no
474 PARTE IV Analitos

i n t e s t i n o delgado, apêndice, estômago o u c ó l o n , e menos OH


c o m u m e n t e n o b r ô n q u i o ; algumas vezes usado HO. .ri HO. .NH-,
isoladamente para se referir ao t u m o r gastrointestinal
( t a m b é m d e n o m i n a d o avgentafinoma).
^ N •
Nlli
HO'
YT
I

A
H Norepineírina
s catecolaminas e a s e r o t o n i n a são aminas biogênicas que Serotonina (Noradrenalina)
servem c o m o sinais neuronais o u h o r m o n a i s e m u m a (5-Hidroximptamina, 5-HT)
a m p l a gama de processos fisiológicos. As catecolaminas
de o c o r r ê n c i a n a t u r a l , d o p a m i n a e n o r e p i n e í r i n a ( n o r a d r e n a - HO H
l i n a ) , f u n c i o n a m c o m o neuTOtransmissores n o cérebro e nervos HO . NH-. HO.
simpáticos p e r i f é r i c o s , e n q u a n t o a e p i n e f r i n a ( a d r e n a l i n a ) age
c o m o u m h o r m ô n i o l i b e r a d o pela m e d u l a adrenal. 2 As cateco-
l a m i n a s são essenciais para a m a n u t e n ç ã o da homeostase cor-
HO'
I HO"
CHi

p o r a l e n a resposta ao estresse agudo e c r ô n i c o , através de u m a Dopamina Epinefrina


[p(3,4-Diiciroxifenil)etil amina) (Adrenalina)
orquestração de atividades cardiovasculares, metabólicas, glan-
dulares e viscerais. A s e r o t o n i n a ( 5 - h i d r o x i t r i p t a m i n a ) t a m b é m
serve c o m o u m neurotransmissor n o cérebro e c o m o u m m o d u - Figura 26-1 Estrutura química das catecolaminas e da serotonina.
l a d o r das funções vascular e g a s t r o i n t e s t i n a l n a periferia. A
p r o d u ç ã o a n o r m a l de c a t e c o l a m i n a s o u de s e r o t o n i n a p o d e
o c o r r e r e m u m a série d e t u m o r e s n e u T o e n d ó c r i n o s nos quais
Biossíntese da Biossíntese da serotonina e
os sinais e s i n t o m a s clínicos r e f l e t e m as p r o p r i e d a d e s farmaco-
catecolamina da melatonina
lógicas das a m i n a s secretadas. A dosagem c l í n i c a das aminas
biogênicas o u dos seus m e t a b ó l i t o s a u x i l i a n a detecção e m o n i -
t o r a m e n t o t u m o r a l , e os avanços analíticos p r o d u z i r a m m é t o d o s
l a b o r a t o r i a i s sensíveis e específicos que se e n c o n t r a m d i s p o n í -
veis para a p r á t i c a c l i n i c a .
r T NHí

COOH
HO
Tirosina
QUÍMICA, BIOSSÍNTESE, LIBERAÇÃO E I
METABOLISMO Tiroiirifl hidroxilase Triplo/uno judroxilisf
A q u í m i c a das aminas biogênicas será descrita e m p r i m e i r o lugar,
seguida pela sua biossíntese, liberação e metabolismo. Esses peque-
HO.. ^
1 „NH2 HO
V
I

s *
nos c o m p o n e n t e s eletricamente carregados d e s e m p e n h a m u m
papel v i t a l na homeostase. X . J COOH
Tr o o H
HO

Química Diidroxifenilalanina (dopa) 5-H idroxi triptofano


As catecolaminas, d o p a m i n a , n o r e p i n e í r i n a (noradrenalina) e
e p i n e f r i n a (adrenalina) são f e n i l e t i l a m i n a s c o m grupos h i d r o x i l Ldescarboxilase dos aminoácidos aromáticos

nas posições três e q u a t r o d o anel benzênico, e u m a e t i l a m i n a na

Ti
cadeia lateral na posição u m (Figura 26-1). As substituições h i d r o - HO NHi HO„ NHi
x i l e m e t i l n o lado e t i l a m i n a da cadeia d i s t i n g u e m as catecolami-
L
nas i n d i v i d u a i s tanto e m sua estrutura q u a n t o e m sua função. As
HO
catecolaminas d e m o n s t r a m graus variáveis de instabilidade alca- Dopamina
H
l i n a nos f l u i d o s biológicos, e a sua estrutura d i i d r o x i b e n z ê n i c a o u 5-HidroxitTÍ ptamina (Serotonina)
catecol é sensível à formação oxidativa de q u i n o n a s na presença I I
Dopíi mi rui (3-/iícÍT0X!Ídse Serotonina N-ucelikransfeTasí
de ar e luz. A serotonina, c o m a sua estrutura i n d o l e a m í n i c a , é
d i s t i n t a das catecolaminas, mas é t a m b é m u m a i m p o r t a n t e a m i n a
OH
l
biogênica de ocorrência natural. A m e l a t o n i n a é a p r i n c i p a l i n d o -
l e a m i n a p r o d u z i d a a p a r t i r da serotonina pela glândula pineal. HO ..NH; HO. v NH
Yi ^ I
Cr CHJ
Biossíntese llO
A etapa l i m i t a d o r a da velocidade na biossíntese das catecolaminas Norepineírina N-Ace ci l-5-h i d roxitrí ptamina
envolve a conversão d a t i r o s i n a para 3 , 4 - d i i d r o x i f e n i l a l a n i n a I
Feniletanoluminú H idTM lindo í •
(L-dopa) pela enzima tirosina-hidToxilase (Figura 26-2). U m a enzima
NtruriLtrans/frajf 0-m ê [ i I na ii afera se
correlata, a t r i p t o f a n o hidroxilase, catalisa a conversão d o tripto-
fano a 5-hidroxitripcofano n a p r i m e i r a etapa da síntese da seroto- k I
OH H
n i n a . As fontes teciduais de catecolaminas são p r i n c i p a l m e n t e
HO.. A .N_ H3C—0„ ^ NH
dependentes da presença da tirosina hidroxilase, que está, e m TH,
grande parte, c o n f i n a d a aos n e u r ô n i o s dopaminérgicos e noradre- O CHj
nérgicos d o sistema nervoso central e aos sistemas simpático e HO
H
m e d u l a r adrenal nos tecidos periféricos. Semelhantemente, as Epinefrina N - A c e t Ll'5-me toxi tri p t a m i n a
fontes de serotonina são bastante dependentes da presença da (Melatonina)

t r i p t o f a n o hidroxilase nos n e u r ô n i o s serotoninérgicos d o sistema Figura 26-2 Biossíntese das catecolaminas e serotonina e
nervoso central, na glândula p i n e a l e e m alguns tecidos endócrinos metabolismo da serotonina para melatonina.
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 475

Corrente sanguínea
periféricos, p a r t i c u l a r m e n t e as células enterocromafins do trato
digestivo. As plaquetas t a m b é m c o n t ê m grandes quantidades de sero- Terminação
tonina, mas esta é derivada da serotonina sintetizada pelas células nervosa simpática
enterocromafins do trato gastrointestinal. - * DHPG
T a n t o a conversão de L-dopa pata d o p a m i n a q u a n t o a d o 5-
L-DOPA
h i d r o x i t n p t o f a n o paTa serotonina são catalisadas pela L-descarbo-
xilase dos a m i n o á c i d o s aromáticos (Figura 26-2), u m a enzima
c o m u m a extensa d i s t r i b u i ç ã o t e c i d u a l e ampla especificidade de
substratos para a m i n o á c i d o s aromáticos. A d o p a m i n a e a seroto-
n i n a formadas n o citoplasma pela L-descarboxilase dos a m i n o á -
cidos aromáticos são então transportadas e m grânulos secretóiios
vesiculares o n d e as aminas são concentradas e armazenadas p r o n t a s
para a liberação exocítica c o m o os principais neurotransmissores
dos n e u r ô n i o s d o p a m i n é r g i c o s e serotoninérgicos do sistema
nervoso central. A d o p a m i n a f o r m a d a nos n e u r ô n i o s noradre- NE
nérgicos e nas células c r o m a f i n s é p o s t e r i o r m e n t e c o n v e r t i d a e m
n o r e p i n e f r i n a pela d o p a m i n a P-hidroxilase, uma enzima c o m
presença exclusiva nos grânulos secretórios. A presença a d i c i o n a l
da f e n i l e t a n o l a m i n a N-metiltransferase nas células c r o m a f i n s da
m e d u l a adrenal acarreta a conversão posterior de n o r e p i n e f r i n a NMN
em e p i n e f r i n a .
A m e l a t o n i n a é sintetizada a p a r t i r da serotonina na g l â n d u l a
- • m h p g
pineal, p o r duas enzimas a l t a m e n t e específicas, sendo a p r i m e i r a
etapa catalisada pela serotonina-N-acetiltransferase e a segunda,
pela h i d r o x m d o l - O - m e t i l t r a n s f e r a s e .
Célula extra neuronal

Armazenamento e Liberação Figura 26-3 D i a g r a m a esquemático i l u s t r a n d o a d i n â m i c a da


As m o n o a m i n a s armazenadas nos grânulos secretórios existem síntese, liberação exocítica (RJ, Te captação n e u r o n a l ( N U ) , captação
e m u m e q u i l í b r i o altamente d i n â m i c o c o m o citoplasma circun- e x t r a n e u r o n a l (EU), extravasamento vesicular (VL), seqüestro vesicular
dante, c o m o extravasamento passivo de m o n o a m i n a s para o (VS) e m e t a b o l i s m o da n o r e p i n e f r i n a ( N E ) nas terminações nervosas
citoplasma sendo c o n t r a b a l a n ç a d o pelo transporte i n t e r i o r ativo simpáticas em relação c o m o tecido e x t r a n e u r o n a l e a c o r r e n t e
sob o c o n t r o l e dos transportadores vesiculares de m o n o a m i n a s sanguínea. A s m a g n i t u d e s relativas dos diversos processos estão
(Figura 26-3)- 1 A s m o n o a m i n a s c o m p a r t i l h a m o a m b i e n t e ácido refletidas n o t a m a n h o das setas. T H , T i r o s i n a hidroxilase; M A O ,
da matriz dos grânulos secretórios c o m o trifcsfato de adenosina m o n o a m i n a oxidase; C O M T catecol-O-metiitrans/erase, TYR, t i r o s i n a , L -
(ATP), p e p t í d i o s e proteínas, sendo as c r o m o g r a n m a s as mais dopa, 3 , 4 - d i i d r o x i f e n i I a l a n i n a ; DA, d o p a m i n a ; D H P G , 3,4-
conhecidas. A s cromograninas são componentes c o m u n s dos grâ- diidroxifenilglicol; N M N , normetanefrma; M H P G ,
n u l o s secretores que c o n t ê m m o n o a m i n a s . Sua presença dissemi- 3 - m etox i-4-hi dr o x i fe n i Igli co 1.
nada entre os tecidos e n d ó c r i n o s t o r n o u a sua dosagem n o
plasma ú t i l , e m b o r a relativamente inespecífica, c o m o u m marca-
d o r de t u m o r e s n e u r o e n d ó c r i n o s ( C a p í t u l o 20). cão d o s i n a l da transmissão n e u r o n a l , e n q u a n t o os t r a n s p o r t a -
As m o n o a m i n a s são liberadas das vesículas secretórias p a r a o dores das localizações e x t r a n e u r o n a i s são mais i m p o r t a n t e s para
espaço extracelular pelo processo de exocitose, que é e s t i m u l a d o a l i m i t a ç ã o da disseminação d o s i n a l e pela d e p u r a ç ã o das
p o r u m i n f l u x o de cálcio, p r i m a r i a m e n t e c o n t r o l a d o nos n e u r ô - catecolaminas da c o r r e n t e sanguínea. Para a n o r e p i n e f r i n a libe-
nios pela despolarização de m e m b r a n a mediada pelo i m p u l s o rada pelos nervos simpáticos, cerca de 9 0 % são r e m o v i d o s de
nervoso e nas células da m e d u l a adrenal pela a c e t i l c o l i n a libe- v o l t a para os nervos pela captação n e u r o n a l , 5 % são r e m o v i d o s
rada pelos nervos da inervação esplâncmca. A liberação n e u r o n a l p o r captação e x t r a n e u r o n a l e 5% escapam desses processos para
t a m b é m p o d e ocorrer através de processos não-exocíticos inde- e n t r a r e m na c o r r e n t e sanguínea. A o c o n t r á r i o , para a epine-
pendentes de cálcio q u e envolvem u m a u m e n t o da perda de f r i n a l i b e r a d a d i r e t a m e n t e na c o r r e n t e sanguínea pelas adre-
m o n o a m i n a s pelas vesículas de armazenamento para o citoplasma nais, cerca de 9 0 % são r e m o v i d o s pela captação e x t r a n e u r o n a l
e a reversão d o t r a n s p o r t e n o r m a l , m e d i a d o p o r t r a n s p o r t a d o r , de m o n o a m i n a s .
de m o n o a m i n a s para o i n t e r i o r para u m transporte para o exte- A l é m da t e r m i n a ç ã o das ações das m o n o a m i n a s liberadas, os
r i o r , para o a m b i e n t e extracelular. Exemplos desse processo i n c l u e m transportadores de m o n o a m i n a s da m e m b r a n a plasmática fun-
a liberação de catecolaminas i n d u z i d a pela t i r a m i n a e pela anfe- c i o n a m e m seqüência c o m os transportadores vesiculares de
tamina. m o n o a m i n a s para reciclar as catecolaminas para u m a nova libe-
ração {Figura 26-3). Desse m o d o , a m a i o r parte da n o r e p i n e f r i n a
Captação e Metabolismo liberada e recapturada pelos nervos simpáticos é seqüestrada de
U m a vez que as enzimas responsáveis pelo m e t a b o l i s m o das cate- volta para o i n t e r i o r dos grânulos secretórios pelos t ransport ado-
colaminas 1 possuem localizações intracelulares, o m e c a n i s m o pri- res vesiculares de m o n o a m i n a s , r e d u z i n d o , assim, a necessidade
m á r i o l i m i t a d o r da duração da ação das catecolaminas n o espaço de síntese de novos transmissores. Os transportadores de m o n o -
i n t r a c e l u l a r é a captação p o r t r a n s p o r t e ativo (Figura 26-3). A aminas da m e m b r a n a plasmática t a m b é m f u n c i o n a m c o m o p a r t e
captação é f a c i l i t a d a p o r t r a n s p o r t a d o r e s q u e p e r t e n c e m a duas dos sistemas de metabolização, exigindo ações adicionais de enzimas
f a m í l i a s de pr oteínas c o m localizações p r i n c i p a l m e n t e n e u r o - para a inativação reversível das a m i n a s liberadas.
nais e e x t r a n e u r o n a i s . Os t r a n s p o r t a d o r e s n e u r o n a i s de m o n o - As catecolaminas s o f r e m metabolização através de m ú l t i p l a s
aminas o f e r e c e m o p r i n c i p a l m e c a n i s m o para a r á p i d a t e r m i n a - vias que e n v o l v e m séries diferenciadas de diversas enzimas, c o m
476 PARTE IV Analitos

expressões diferenciadas nas variadas células e tecidos (Figura NE E


2 6 4 ) . 1 A m a i o r parte d o m e t a b o l i s m o acontece d e n t r o das mesmas
células o n d e as catecolaminas são sintetizadas, sendo a sua
m a i o r i a d e p e n d e n t e do extravasamento de aminas dos grânulos
secretórios para o citoplasma. N o s nervos simpáticos, a presença
da m o n o a m i n a oxidase ( M A O ) acarreta a conversão de norepi-
Nen'os Tecidos Células
n e f r i n a a 3 , 4 - d i i d r o x i f e n i l g l i c o l ( D H P G ) . O D H P G é, e n t ã o , em extraneuronais cromafins adrenais
simpáticos
grande parte metabolizado pela catecol-O-metiltransferase ( C O M T ) ,
em tecidos extraneuronais, a 3-metoxi«4-hidroxifenílglicol ( M H P G ) . MAO COMT COMT
O ácido v a n i l i l m a n d é l i c o ( V M A ) , o p r i n c i p a l p r o d u t o f i n a l d o I t + *
m e t a b o l i s m o da e p i n e f r i n a e da n o r e p i n e f r i n a , é p r o d u z i d o quase DHPG MN
q u e exclusivamente n o fígado. Esta p r o d u ç ã o é d e p e n d e n t e da
localização hepática da álcool-desidrogenase, u m a enzima neces-
sária para a conversão de M H P G a V M A . COMT
Nas células c r o m a f i n s adrenais, a presença a d i c i o n a l de C O M T
acarreta a metabolização da n o r e p i n e f r i n a à m e t a n e f r i n a (Figura
26-4). 1 U m a vez que a via i n t r a n e u r o n a l de desaminação predo-
m i n a e m m u i t o sobre a via e x t r a n e u r o n a l de O-metilação, a
n o r m e t a n e f r i n a e a m e t a n e f r i n a representam p r o d u t o s relativa-
m e n t e secundários d o m e t a b o l i s m o das catecolaminas. E m con-
SULT1A3 SULT1A3
seqüência, a m e d u l a adrenal representa a ú n i c a grande f o n t e
ADH IntasUnos
tecidual de n o r m e t a n e f r i n a e m e t a n e f r i n a , sendo responsável p o r
2 4 % a 4 0 % da p r i m e i r a e 9 0 % da segunda. A m e t a n e f r i n a e a + *
n o r m e t a n e f r i n a produzidas pela m e d u l a adrenal o u p o r tecidos NMN-SO 4
VMA MHPG-SO, MN-S04
extraneuronais — a p r i m e i r a a p a r t i r das catecolaminas q u e extra-
vasam dos grânulos secretórios, e a segunda de catecolaminas
liberadas de fontes simpático-adrenais — p o d e m ser desaminadas
para M H P G e então convertidas para V M A no fígado o u p o d e
ser sulfato-conjugado p o r u m a enzima sulfotransferase p r i n c i p a l - Depuração circulatória pelos rins
m e n t e expressa pelos tecidos gastrointestinais.
A s e r o t o n i n a não é u m substrato para a C O M T e segue vias
mais simples de metabolização d o que aquelas das catecolaminas.
Excreção urinária
A s e r o t o n i n a é desaminada a ácido 5 - h i d r o x ü n d o lacético (5-
H 1 A A ) , o p r i n c i p a l p r o d u t o de excreção u r i n á r i a do metabo-
lismo da s e r o t o n i n a . F i g u r a 2 6 - 4 Diagrama esquemático exibindo as principais vias do
metabolismo da norepinefrina e epinefrina derivadas de fontes
FISIOLOGIA DOS SISTEMAS simpaticoneuronais e adrenomedulares. A desaminação nos nervos
CATECOLAMINÉRGICOS E simpáticos (rosa) é a principal via do metabolismo das catecolaminas e
SEROTONINÉRGICOS envolve a desaminação intraneuronal da norepinefrina que extravasa dos
As catecolaminas e a serotonina regulam eventos fisiológicos ao grânulos de armazenamento ou da norepinefrina recapturada após a
nível celular através da interação c o m famílias de receptores de super- liberação pelos nervos simpáticos. O metabolismo nas células cromafins
fície celular. A n o r e p i n e f r i n a e a epinefrina atuam sobre duas adrenais (preto) envolve a O-metilação das catecolaminas que extravasam
grandes classes de receptores adrenérgicos, as famílias de adreno- dos grânulos de armazenamento para o citoplasma das células da
ceptores a e f}. 4 A d o p a m i n a t r a n s m i t e sinais p r i m a r i a m e n t e medula adrenal. A v i a extraneuronal (vermelbodaro) constitui uma via
através da interação c o m u m a ampla f a m í l i a de receptores dopa- relativamente secundária do metabolismo das catecolaminas liberadas
minérgicos. U m a família a i n d a m a i o r de subtipos de receptores dos nervos simpáticos ou da medula adrenal, mas é importante para o
serotoninérgicos f o i i d e n t i f i c a d a através de técnicas histológicas e processamento ulterior dos metabólitos produzidos pelos nervos
moleculares. O s principais efeitos fisiológicos das catecolaminas e simpáticos e células cromafins. As três metanefrinas produzidas pelos
da serotonina são explicados, e m parte, p o r essas diversas intera- tecidos extraneuronais das células cromafins adrenais são, mais adiante,
ções c o m receptores q u e o c o r r e m e m localizações função-específi- metabolizadas por desaminação ou por conjugação a sulfatos. NE,
cas p o r toda vasculatura e sistemas orgânicos do c o r p o . Norepinefrina; E, epinefrina; DHPG, 3,4-díidroxifenilglicol; MN,
metanefrina; NMN, normetanefrina; MHPG, 3-metoxi-4-
Sistema Nervoso Central hidroxifenilglicol; VMA, ácido vanililmandélico, MHPG-SO^, sulfato de
N o r e p i n e f r i n a , d o p a m i n a e serotonina são produzidas, p r i m a r i a - 3-metoxi-4-hidroxifenilglicol, NMN-SO^, sulfato de normetanefrina; MN-
mente, e m regiões do t r o n c o encefálico p o r n e u r ó n i o s c o m pro- SO4, sulfato de metanefrina; MAO, monoamina oxidase; COMT, catecol-
jeções para outras áreas d o cérebro e da m e d u l a espinal. 14 Cerca O-metiltransferase, ADH, álcool desidrogenase, SL/LTIA3,
da metade da n o r e p i n e f r i n a d o cérebro é p r o d u z i d a e m neurô- fenolsulfotransferase tipo 1A3.
nios p r o d u t o r e s de n o r e p i n e f r i n a na porção i n f e r i o r do t r o n c o
encefálico, q u e e n v i a m projeções axonais difusas p o r t o d o o
cérebro, até o c ó r t e x cerebral. Eles t a m b é m env i am fibras descen-
dentes para a m e d u l a espinal, o n d e estas estabelecem sinapses
c o m n e u r ô n i o s simpáticos pré-ganglionares q u e se c o m u n i c a m
c o m o sistema nervoso simpático periférico. Os n e u r ô n i o s pro-
dutores de n o r e p i n e f r i n a d o t r o n c o encefálico p a r t i c i p a m da
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 477

regulação da atividade do sistema nervoso simpático e do estado Exercício, alimentação excessiva, baixa ingesta de sal, posição
geral de atenção e vigilância. ereta, estresse m e n t a l e o envelhecimento a u m e n t a m a descarga
A d o p a m i n a produzida nos neurônios dopaminérgicos, que simpática. Concentrações plasmáticas aumentadas de norepine-
são responsáveis p o r mais da metade de toda a p r o d u ç ã o de f r i n a t a m b é m são encontradas em distúrbios c o m o insuficiência
catecolaminas do cérebro, possui funções e exibe distribuições cardíaca, hipertensão e depressão.
que são notavelmente diferentes daquelas da n o r e p i n e f r i n a . A
d o p a m i n a n o cérebro i n f l u e n c i a o c o m p o r t a m e n t o de busca de
gratificação, sendo i m p o r t a n t e para a iniciação e m a n u t e n ç ã o do Sistema Medular Adrenal
m o v i m e n t o . Os distúrbios da produção e liberação de d o p a m i n a As glândulas adrenais humanas r e c o b r e m os pólos superiores dos
n o cérebro estão, p o r t a n t o , envolvidos em estados de dependên- rins. Cada glândula consiste em u m córtex externo e u m a f i n a
cia a drogas e são centrais n o distúrbio do m o v i m e n t o que carac- medula central interna c o n t e n d o células cromafins. U m traço
teriza a doença de Parkinson. A neurotransmissão da d o p a m i n a característico das células cromafins medulares adrenais é a pre-
t a m b é m está envolvida n o processamento dos sinais sensórios e sença de numerosos grânulos de armazenamento de catecolami-
na regulação da liberação h o r m o n a l . Os neurônios d o p a m i n é r - nas. Esses grânulos se t o r n a m acastanhados q u a n d o expostos às
gicos da retma e do b u l b o o l f a t ó r i o possuem projeções ultracur- soluções de b i c r o m a t o de potássio, n i t r a t o de prata amoniacal ou
tas que t r a n s m i t e m sinais d e n t r o desses centros neuronais para tetróxido de ósmio devido à oxidação e polimerização da epine-
a visão e o olfato. Os n e u r ô n i o s dopaminérgicos n o h i p o t á l a m o f r i n a e da n o r e p i n e f r i n a . Este processo é conhecido c o m o "reação
possuem influências regulatórias sobre a liberação de diversos c r o m a f i m " , de onde v ê m os termos células cromafins e grânulos
h o r m ô n i o s da hipófise. cromafins.
A serotonina, assim como a n o r e p i n e f r i n a , é p r o d u z i d a por C o n q u a n t o seja f r e q ü e n t e m e n t e considerada u m a parte d o
pequenos grupamentos de n e u r ô n i o s em regiões d o t r o n c o ence- sistema nervoso simpático, a m e d u l a adrenal produz e secreta
fálico, mas serve a u m a diferente gama de funções c o m p o r t a m e n - u m a catecolamina diferente, a e p i n e f r i n a , c o m funções diferen-
tais e fisiológicas. Os processos fisiológicos e comportamentais tes daquelas da n o r e p i n e f r i n a secretada pelos nervos simpáticos.
influenciados p o r esse sistema serotoninérgico incluem a m e m ó r i a , A m e d u l a adrenal e os nervos simpáticos t a m b é m são regulados
aprendizado, c o m p o r t a m e n t o alimentar, padrões de sono, ter- separadamente, f r e q ü e n t e m e n t e em direções divergentes, e m
moTregulação, modulação da dor, função cardiovascular e regu- resposta a diferentes formas de estresse. A epinef ri n a é secretada
lação h i p o t a l â m i c a dos h o r m ô n i o s hipofisários. pelas células cromafins adrenais d i r e t a m e n t e na corrente sanguí-
nea para agir sobre células distantes dos locais de liberação. A
Sistema Nervoso Simpático e p i n e f r i n a e a n o r e p i n e f r i n a p o s s u e m u m a p o t ê n c i a de efeito
A transmissão nervosa simpática opera abaixo do nível da cons- c o i n c i d e n t e , mas t a m b é m d i f e r e n t e sobre os adrenoceptores a
ciência n o controle da função fisiológica de vários órgãos e tecidos e |3. A p r o x i m i d a d e entre os locais de liberação da n o r e p i n e -
corporais (Figura 26-5). 4 O sistema nervoso simpático desempe- f r i n a e da e p i n e f r i n a e os adrenoceptores t a m b é m d e t e r m i n a
n h a u m papel p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e na regulação da diferenças nas respostas mediadas pelo a d r e n o c e p t o r às duas
função cardiovascular e m resposta ao estresse postural, ao d o exer- catecolaminas. D e v i d o a esses fatores, a e p i n e f r i n a exerce os
cício físico, ao térmico e ao mental. C o m a ativação simpática, a seus efeitos e m populações de adrenoceptores diferentes daque-
freqüência cardíaca é aumentada, as arteríolas periféricas sofrem las da n o r e p i n e f r i n a A e p i n e f r i n a liberada pelas glândulas
constrição, as arteríolas esqueléticas se d i l a t a m e a pressão san- adrenais é mais i m p o r t a n t e c o m o u m agente m e t a b ó l i c o do
guínea se eleva. Os sinais simpáticos trabalham e m e q u i l í b r i o que c o m o u m h o r m ô n i o r e g u l a d o r h e m o d i n â m i c o . E m parti-
c o m a porção parassimpática do sistema nervoso a u t ô n o m o a f i m cular, a e p i n e f r i n a estimula a lipólise, a cetogênese, a termogê-
de manter u m ambiente i n t e r n o estável. nese e a glicólise, elevando a glicose plasmática através d o estí-
Os sinais eferentes o u aferentes do sistema nervoso central m u l o à glicogenólise e à gliconeogênese. A e p i n e f r i n a t a m b é m
são transmitidos através de n e u r ô n i o s simpáticos colinérgicos possui potentes efeitos sobre a f u n ç ã o p u l m o n a r , p r o v o c a n d o a
pré-ganglionares, que saem da medula espinal e convergem para dilatação das vias aéreas.
gânglios simpáticos ao longo da coluna espinal ou para gânglios
viscerais (Figura 26-5). Os ramos terminais das fibras pós-ganglio- Sistema Dopaminérgico Periférico
nares que se p r o j e t a m desses gânglios para órgãos-alvo possuem A d o p a m i n a geralmente é encarada como u m neurotransmissor
varicosidades que f o r m a m u m rico terreno de plexos para o cerebral ou c o m o u m i n t e r m e d i á r i o na produção de norepinefrina
contato sináptico c o m u m grande n ú m e r o de células efetoras e m e epinefrina nos tecidos periféricos. A contribuição do cérebro para
glândulas e fibras musculares. A maioria dos nervos simpáticos as concentrações plasmáticas e excreção urinária de metabólitos
pós-ganglionares libera n o r e p i n e f r i n a c o m o o seu neurotransmis- da dopamina é, c o n t u d o , relativamente secundária, e a d o p a m i n a
sor. E m localizações limitadas, as terminações dos nervos simpá- produzida pelos nervos simpáticos e pela medula adrenal é prin-
ticos l i b e r a m acetilcolina. As fibras simpáticas que l i b e r a m ace- cipalmente convertida em norepinefrina. A m a i o r parte da dopa-
tilcolina i n e r v a m as glândulas sudoríparas e a medula adrenal, m i n a e dos metabólitos dopaminérgicos circulantes e urinários é,
esta ú l t i m a estimulando a liberação de epinefrina pelas células portanto, derivada de outras fontes (Figura 26-6)-1
cromafins. Nos rins, a d o p a m i n a f u n c i o n a como u m a substância efetora
A n o r e p i n e f r i n a plasmática e a u r i n á r i a são p r i n c i p a l m e n t e autócrma ou parácrina que c o n t r i b u i para a regulação da excreção
derivadas de n e u r ô n i o s simpáticos pós-ganglionares c o m pouca de sódio. A o contrário dos sistemas catecolaminérgicos neuronais,
c o n t r i b u i ç ã o d o sistema nervoso central o u da liberação h o r m o - a produção de d o p a m i n a nos rins é, em grande parte, indepen-
nal pela m e d u l a adrenal. D e v i d o a processos intervenientes neu- dente da síntese local de L-dopa pela tirosina hidroxilase. A pro-
ronais e extraneuronais de remoção, a quantidade de norepine- dução de d o p a m i n a nos rins depende, principalmente, da capta-
f r i n a que escapa para a corrente sanguínea representa menos de ção de L-dopa da circulação e da sua conversão em d o p a m i n a pela
10% da n o r e p i n e f r i n a total liberada pelos nervos simpáticos. descatboxila.se dos aminoácidos aromáticos (Figura 26-6). Por-
Alterações da liberação e da concentração plasmática da norepi- tanto, a maior parte da d o p a m i n a excretada na u r i n a deriva da
nefr ina o c o r r e m e m resposta a estados fisiológicos e patológicos. captação renal de descarboxilação da L-dopa circulante.
478 PARTE IV Analitos

Cérebro
Cabeça e pescoço,
p. ex., pupilas,
glândulas salivares,
vasos intracranianos ^
e faciais

Trato respiratório}'" ^ __ C1 -
e pulmões Porção

— 1
cervical da
medula
Coração <J espinal

Sangue periférico ..
vasos
————
f
Gânglio
/
/
Parçáo
torácica da
medula
- ^ celíaco
Estomago, v espinal
fígado, pâncreas '' —

Gân
Medula ?[io
mesenterico
adrenal
superior


Porção
Gânglio mesentérico
Rins e lombar da
superior
intestinos medula
espinal

Cólon
pélvico
Porção
sacra da
Gânglios medula
• \ yX hipogástricos espinal
Bexiga urinária e
órgãos genitais

Órgaos- Gânglios Medula


aivo simpáticos espinal

Fibras simpáticas pré-ganglionares


(neurotransmissor-acetilcolira)

Fibras simpáticas pós-ganglionares


(neurotransmissor-norepinefrina) / - •

Figura 26-5 Diagrama esquemático da divisão simpática d o sistema nervoso a u t ô n o m o . As fibras


colinérgicas pré-ganglionaras (linlizis sólidas) da medula espinal se projetam para a cadeia simpática paravertebral,
gânglios periféricos viscerais e medula adrenal, e n q u a n t o fibras noradrenérgicas pós-ganglionares (Imfws tracejadas)
se projetam das gânglios simpáticos para os órgãos-alvo inervados. Cerca de 5% a 10% da norepinefrina liberada
pelos nervos simpáticos que m e r v a m os órgãos-alvo escapam das captações neuronal e extraneuronal para
adentrai a corrente sanguínea. Isso está e m contraste c o m a epinefrina, que funciona c o m o u m h o r m ô n i o
circulante, sendo liberada diretamente pela me d u l a adrenal para a corrente sanguínea. A maior parte das
catecolaminas que entram na corrente sanguínea é removida pelo processo extraneuronal de captação, s e n d o
metabolizada (p. ex., n o fígado) de m o d o que s o m e n t e pequenas proporções sejam excretadas pela unna.
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 479

Traio gastrointestinal, ânus. Essas redes c o n t ê m mais de 100 m i l h õ e s de n e u r ó n i o s


fontes endógenas sensórios, i n t e r n e u r ô n i o s e n e u r ô n i o s motores. O plexo mesen-
e dieta
térico situa-se entre as camadas l o n g i t u d i n a l e circular do m ú s c u l o
Dieta, nervos intestinal liso e c o n t r o l a os m o v i m e n t o s propulsivos (peristalse).
.>75% simpáticos, outras O plexo s u b m u c o s o i n e r v a o e p i t é h o glandular, as células endó-

ir rente
nguínea
1
DOPA
crinas intestinais e os vasos sanguíneos submucosos. Esta rede
sente o a m b i e n t e n o i n t e r i o r d o l ú m e n , regula o f l u x o sanguíneo
local e c o n t r o l a a secreção das células epiteliais.
- y O E N S está conectado ao sistema nervoso central através de
f
i _ n e u r ó n i o s parassimpáticos extrínsecos e simpáticos motores, assim
DOPA c o m o por n e u r ó n i o s sensórios espinais e vagais. Através dessas
L-AADO | conexões b i d i r e c i o n a i s , o E N S p o d e ser m o n i t o r a d o e m o d i f i -
cado. 3 A despeito da presença dessas conexões nervosas extrín-
DA
secas, o E N S t a m b é m p o d e f u n c i o n a r de f o r m a a u t ó n o m a e m

V algumas regiões intestinais. A transmissão n e u r a l d e n t r o d o E N S


é c o n t r o l a d a p o r u m a g r a n d e v a r i e d a d e de n e u r o t r a n s m i s s o -
DA-SO4 DA res e de p e p t í d i o s n e u r o m o d u l a d o r e s , tais c o m o a s e r o t o n i n a ,
3 |xmol/24h 2 n o r e p i n e f r i n a , acetilcolina, A T P e ó x i d o n í t r i c o . A s e r o t o n i n a
atua c o m o u m a m o l é c u l a p a r á c r i n a local, p a r t i c i p a n d o da trans-
dução .sensória da mucosa. M a i s de 9 5 % da s e r o t o n i n a c o r p o r a l
Figura 26-6 D i a g r a m a esquemático i l u s t r a n d o as p r i n c i p a i s fontes
é p r o d u z i d a n o i n t e r i o r d o trato gastrointestinal, c o m a m a i o r
de d o p a m i n a ( D A ) e dos p r i n c i p a i s m e t a b ó l i t o s da d o p a m i n a — ácido
p a r t e sendo sintetizada e armazenada nas células enterocroma-
h o m o v a n í l i c o ( H V A ) , ácido d i i d r o f e n i l a c é t i c o ( D O P A C ) e sulfato de
fins da mucosa i n t e s t i n a l . N e u r ó n i o s sensórios intrínsecos, ati-
d o p a m i n a (DA-SO^) — n o plasma e na u r i n a . O cérebro t e m
vados pela s e r o t o n i n a , e s t i m u l a m o r e f l e x o peristáltico e a secre-
c o n t r i b u i ç ã o r e l a t i v a m e n t e secundária, e n q u a n t o a d o p a m i n a sintetizada
ção, e n q u a n t o os n e u r ô n i o s sensórios extrínsecos i n i c i a m sensa-
n o trato gastrointestinal o u derivada da dieta c o n t r i b u i s u b s t a n c i a l m e n t e
ções intestinais, tais c o m o náusea, v ô m i t o s , d o r e distensão
para f o r m a ç ã o dos m e t a b ó l i t o s da d o p a m i n a na corrente sanguinea e na
a b d o m i n a i s . A s ações parácrinas da s e r o t o n i n a são finalizadas
u r i n a . Isso contrasta c o m a d o p a m i n a livre excretada na UTina, q u e é
através da captação para o i n t e r i o r das células epiteliais p e l o
derivada quase i n t e i r a m e n t e da extração renal da diidTOxiíenilalanina
m e s m o t r a n s p o r t a d o r de s e r o t o n i n a u t i l i z a d o pelos n e u r ô n i o s
c i r c u l a n t e ( D O P A ) e da descarboxilação local para d o p a m i n a pela L -
serotoninérgicos.
descarboxilase dos a m i n o á c i d o s aromáticos ( L - A A D C )

APLICAÇÕES CLÍNICAS
A dosagem das catecolaminas, da s e r o t o n i n a e dos seus metabó-
litos é usada nas investigações de u m a variedade de processos
E m b o r a os rins representem a p r i n c i p a l f o n t e de d o p a m i n a fisiopatológicos, mas as dosagens laboratoriais clínicas das aminas
l i v r e u r i n á r i a , esta fonte não é responsável pelas quantidades e dos seus m e t a b ó l i t o s são direcionadas, p r i n c i p a l m e n t e , para o
m u i t o maiores de m e t a b ó l i t o s excretados d a d o p a m i n a , tais diagnóstico dos tumores n e u r o e n d ó c r i n o s . Os tumores n e u r o e n -
c o m o o ácido homovanílico (HVA.) e o sulfato de d o p a m i n a . Pro- d ó c r i n o s p r o d u t o r e s de catecolaminas i n c l u e m f e o c r o m o c i t o m a s ,
porções substanciais desses m e t a b ó l i t o s são produzidas n o trato paragangliomas e neuroblastomas, e n q u a n t o os tumores p r o d u -
gastrointestinal, o n d e a d o p a m i n a parece f u n c i o n a r c o m o u m tores de s e r o t o n i n a são t i p i c a m e n t e carcinóides.
n e u r o m o d u l a d o r entérico o u c o m o u m a substância p a r á c n n a o u
a u t ó c r i n a . Todavia, ao c o n t r á r i o dos rins, o n d e a d o p a m i n a é Feocromocitoma
p r o d u z i d a p r i n c i p a l m e n t e a p a r t i r da L-dopa circulante, a p r o d u - Os tumores p r o d u t o r e s de catecolaminas que d e r i v a m de células
ção de d o p a m i n a n o t r a t o gastrointestinal exige a presença da c r o m a f i n s p o d e m o c o r r e r t a n t o n o i n t e r i o r das glândulas adre-
tirosina hidroxilase o u de outras fontes de L-dopa. nais, o n d e são d e n o m i n a d o s f e o c r o m o c i t o r n a s , c o m o e m locais
O c o n s u m o de a l i m e n t o s eleva as concentrações de L-dopa, extra-adienais, o n d e são d e n o m i n a d o s paragangliomas.' Os para-
de d o p a m i n a e dos m e t a b ó l i t o s da d o p a m i n a , p a r t i c u l a r m e n t e o gangliomas derivados de tecidos c r o m a f i n s simpáticos extra-adre-
sulfato de d o p a m i n a , i n d i c a n d o q u e os constituintes dietéticos nais geralmente p r o d u z e m quantidades significativas de catecola-
t a m b é m p o d e m representar uma i m p o r t a n t e f o n t e de d o p a m i n a minas — e t a m b é m são c o m u m e n t e d e n o m i n a d o s feocromocito-
periférica (Figura 26-6). A t u a l m e n t e está claro que o sulfato de mas extra-adrenais.
d o p a m i n a é p r i n c i p a l m e n t e p r o d u z i d o p e l o trato gastrointestinal A presença de u m f e o c r o m o c i t o m a geralmente é suspeitada
a p a r t i r da d o p a m i n a dietética ou da l o c a l m e n t e sintetizada. Isso d e v i d o aos sinais e sintomas que r e f l e t e m os efeitos biológicos
c compatível c o m os achados de que o trato gastrointestinal c o n t é m das catecolaminas liberadas pelo t u m o r . A hipertensão é o sinal
elevadas concentrações da enzima suífotransferase específica res- mais c o m u m , p o d e n d o ser m a n t i d a o u paroxística. Os sintomas
ponsável pela conjugação das catecolaminas e dos m e t a b ó l i t o s i n c l u e m cefaléia, palpitações, diaforese (sudorese excessiva), palidez,
c a t e c o l a m í n i c o s c o m sulfatos. náusea, crises de ansiedade e fraqueza generalizada. 8
Os feocromocitomas são raros, o c o r r e n d o e m menos de 0 , 2 %
Sistema Nervoso Entérico dos pacientes c o m hipertensão. C o n t u d o , e m v i r t u d e da elevada
O sistema nervoso e n t é r i c o (ENS) é d e f i n i d o c o m o u m sistema prevalência da hipertensão e d o a m p l o espectro de sintomas pro-
i n d e p e n d e n t e e i n t e g r a d o de n e u r ó n i o s e células de s u p o r t e duzidos pelos f e o c r o m o c i t o m a s , m u i t o s dos quais o c o r r e m e m
localizado n o t i a t o gastrointestinal, vesícula b i l i a r e pâncreas. 3 O outras condições clínicas, os f e o c r o m o c i t o m a s deve ser conside-
E N S é c o m p o s t o p o r duas redes de plexos de n e u r ó n i o s i n t r í n - rados em m u i t o s pacientes c o m e sem hipertensão. Os pacientes
secos, o plexo mesentérico e o plexo submucoso. A m b o s estão c o m u m alto risco de f e o c r o m o c i t o m a , nos quais os exames
e m b u t i d o s na parede d o i n t e s t i n o e se estendem d o esôfago ao p o d e m ser realizados i n d e p e n d e n t e m e n t e da presença de sinais
480 PARTE IV Analitos

e sintomas, i n c l u e m aqueles c o m u m a história f a m i l i a r o u c o m E m b o r a p r e d o m i n a n t e m e n t e benignos, cerca de 10% a 15%


u m a h i s t ó r i a prévia de t u m o r , o u c o m o achado i n c i d e n t a l de dos f e o c r o m o c i t o m a s são m a l i g n o s . O risco de f e o c r o m o c i t o m a s
u m a massa a d r e n a l d u r a n t e p r o c e d i m e n t o s a b d o m i n a i s r o t i n e i - malignos é m a i o r e m pacientes c o m t u m o r e s extra-adrenais, par-
ros de imagem. C o n s u l t e o Q u a d r o 26-1 para u m r e s u m o dos t i c u l a r m e n t e nos pacientes c o m mutações S D H B . O diagnóstico
pontos-chave sobre os f e o c r o m o c i t o m a s . do f e o c r o m o c i t o m a m a l i g n o não é possível c o m base nas carac-
A m a i o r i a dos f e o c r o m o c i t o m a s é esporádica, mas até cerca terísticas histopatológicas; e m vez disso, depende da evidência de
de u m q u a r t o possui u m a base hereditária. 1 0 As formas hereditá- lesões metastáticas (p. ex., n o fígado, p u l m õ e s , n ó d u l o s linfáticos
rias dos t u m o r e s são devidas a mutações e m cinco genes causa- e ossos). Todos os pacientes c o m u m a h i s t ó r i a prévia d o t u m o r
dores i d e n t i f i c a d o s até o m o m e n t o . Os f e o c r o m o c i t o m a s na estão sob o risco de doença recorrente o u m a l i g n a e deveriam ser
neoplasia e n d ó c r i n a m ú l t i p l a d o t i p o 2 r e s u l t a m de mutações n o s u b m e t i d o s a u m a triagem p e r i ó d i c a para o t u m o r .
proto-oncogene ret. Essas mutações t a m b é m r e s u l t a m e m u m a M e s m o se benignos, os f e o c r o m o c i t o m a s e os paragangliomas
predisposição para o câncer m e d u l a r de tireóide e para diversos p r o d u t o r e s de catecolaminas são t u m o r e s traiçoeiros q u e quase
o u t r o s tumores o u condições hiperplásicas. N a s í n d r o m e de v o n invariavelmente provocarão complicações cardiovasculares devas-
H i p p e l - L i n d a u ( V H L ) , mutações familiares específicas n o gene tadoras e a m o r t e , se não i d e n t i f i c a d o s e adequadamente trata-
supressor de t u m o r e s V H L d e t e r m i n a m a variada apresentação dos. 0 Desse m o d o , u m a vez q u e se suspeite de u m t u m o r desses,
clínica dos t u m o r e s , i n c l u i n d o angiomas retinais, hemangioblas- é i m p e r a t i v o que exames b i o q u í m i c o s apropriados sejam empre-
tomas d o sistema nervoso central, f e o c r o m o c i t o m a s e t u m o r e s gados para u m diagnóstico preciso. O diagnóstico b i o q u í m i c o d o
dos rins, pâncreas e testículos. O s paragangliomas e os feocro- f e o c r o m o c i t o m a t e m , t r a d i c i o n a l m e n t e , se apoiado nas dosagens
m o c i t o m a s f a m i l i a i s t a m b é m o c o r r e m s e c u n d a r i a m e n t e a muta- das catecolaminas urinárias, metanefrinas e V M A . 1 2 A m a i o r i a
ções dos genes das s u b u n i d a d e s B e D da succinato desidroge- dos pacientes c o m h i p e r t e n s ã o e sintomas provocados p o r feo-
nase ( S D H B e S D H D ) . Os f e o c r o m o c i t o m a s t a m b é m o c o r r e m c r o m o c i t o m a s ativos apresenta grandes aumentos nas suas dosa-
em cerca de 1 % dos pacientes c o m n e u r o f i b r o m a t o s e d o t i p o 1. gens, t o r n a n d o o t u m o r r e l a t i v a m e n t e fácil de ser diagnosticado.
Os exames p e r i ó d i c o s para f e o c r o m o c i t o m a s em pacientes c o m Os problemas o c o r r e m naqueles pacientes nos quais a h i p e r t e n -
as três p r i m e i r a s das q u a t r o síndromes familiais acima são atual- são é paroxística e que p o d e m apresentar u m a secreção insignifi-
m e n t e r e c o m e n d a d o s c o m o parte da triagem de r o t i n a e d o p l a n o cante de catecolaminas entre os episódios. Os resultados falso-
de vigilância. negativos para os exames são mais c o m u m e n t e encontrados nos
pacientes c o m " f e o c r o m o c i t o m a s silenciosos" nos quais os exames
são realizados não d e v i d o aos sinais e sintomas, mas p o r c o n t a
I
Q U A D R O 2 6 - 1 | Pontos-Chave dos Feocromocitomas de u m t u m o r adrenal descoberto i n c i d e n t a l m e n t e ( u m inciden-
taloma), o u c o m o paTte de u m p l a n o de vigilância de r o t i n a para
BIOLOGIA f e o c r o m o c i t o m a s recorrentes o u hereditários.
• Tumores raros, principalmente de células adrenais crcmatins que U m a vez que a não-descoberta de u m f e o c r o m o c i t o m a p o d e
produzem, armazenam, metabolizam e secretam catecolaminas, ter conseqüências fatais, u m a das considerações mais i m p o r t a n -
geralmente com uma predominância da norepinefrina sobre a epinefrina. tes na escolha do exame i n i c i a l é u m alto grau de c o n f i a b i l i d a d e
• Aqueles que se desenvolvem a partir de tecidos cromafins simpáticos de q u e o teste venha a fornecer u m resultado p o s i t i v o naquele
extra-adrenais — denominados paragangliomas — geralmente produzem raro paciente c o m o t u m o r . C o n t r a r i a m e n t e , isso t a m b é m pro-
quase exclusivamente norepinefrina e, muito raramente, p o r c i o n a r á a confiança de q u e u m resultado negativo excluirá o
predominantemente dopamina. t u m o r , e v i t a n d o , assim, a necessidade de m ú l t i p l o s o u repetidos
exames b i o q u í m i c o s , o u m e s m o estudos de i m a g e m caros e des-
APRESENTAÇÃO
necessários para descartar o t u m o r . Portanto, exames b i o q u í m i c o s
• Geralmente se suspeita do tumor em virtude dos sinais e sintomas de
c o n v e n i e n t e m e n t e sensíveis p e r m a n e c e m a p r i m e i r a escolha na
excesso de catecolaminas (p. ex., hipertensão, palpitações, cefaláias ou
investigação de u m paciente suspeito de ser p o r t a d o r de u m feo-
sudorese excessiva) ou pelo achado incidental de uma massa adrenal
cromocitoma.
durante os procedimentos de imagem realizados devido a condições
C o m as considerações acima em m e n t e , o e n c o n t r o de u m
clínicas não-correlacionadas.
g r u p o de especialistas no P r i m e i r o S i m p ó s i o I n t e r n a c i o n a l sobre
• A maioria dos feocromocitomas é benigna; 10% a 15% são malignos.
• Cerca de um quarto dos feocromocitomas possui uma base hereditária, F e o c r o m o c i t o m a realizado e m o u t u b r o de 2 0 0 5 r e c o m e n d o u q u e
resultando de mutações de cinco genes. os exames b i o q u í m i c o s iniciais para o f e o c r o m o c i t o m a deveriam
• Meros de 1% dos pacientes testados por causa de sinais e sintomas i n c l u i r as dosagens da excreção u r i n á r i a o u das concentrações
possuem o tumor (baixa prevalência pré-teste), mas a prevalência á mais plasmáticas das metanefrinas fracionadas ( n o r m e t a n e f r i n a e meta-
elevada entre os pacientes com mutações identificadas dos genes nefrina). 1 0 A base para a elevada eficácia diagnostica das metane-
causadores da doença ou entre aqueles com uma massa adrenal frinas fracionadas plasmáticas livres e urinárias é explicada pela
incidental; portanto, o exame desses pacientes está recomendado presença nas células medulares adrenais e f e o c r o m o c i t o m a em
independentemente da presença de sinais e sintomas. células t u m o r a i s de catecol-O-metiltransferase, a enzima q u e
metaboliza as catecolaminas para metanefrinas. Isso contrasta
DIAGNÓSTICO BIOQUÍMICO c o m o n e r v o simpático, que c o n t é m M A O mas não catecol-O-
• 0 diagnóstico bioquímico é baseada na evidência de produção excessiva metiltransferase. U m a vez q u e as catecolaminas são metaboliza-
de catecolaminas, geralmente determinado a partir de dosagens de das p r i n c i p a l m e n t e n o i n t e r i o r dessas células o n d e são sintetiza-
catecolaminas e dos seus metabólitos na urina ou no plasma. das, a presença de u m f e o c r o m o c i t o m a leva a u m a u m e n t o des-
• Uma vez que a secreção das catecolaminas pelos tumores é episódica,
p r o p o r c i o n a l na p r o d u ç ã o de O m e t i l a d o s , em vez dos metabóli-
mas o seu metabolismo a metanefrinas no interior dos lumores é
tos desaminados. M a i s i m p o r t a n t e , as metanefrinas são produzi-
continuo, as dosagens plasmáticas ou urinárias das metanefrinas
das c o n t i n u a m e n t e c o m o resultado do c o n t í n u o extravasamento
fracionadas fornecem testes diagnósticos mais confiáveis para o tumor do
de catecolaminas dos grânulos c r o m a f i n s de armazenamento para
que as dosagens das catecolaminas (metanefrinas aumentadas em > 97%
o citoplasma celular; p o r o u t r o lado, as catecolaminas p o d e m ser
e catecolaminas em 69% a 92% dos pacientes com feocromocitomas).
liberadas esporadicamente.
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 481

A elevada sensibilidade diagnostica da dosagem plasmática o u desfavorável. 15 O s neuroblastomas são mais notáveis n o que diz
urinária fracionada de normetanefrina e metanefrma t o m a esses respeito a u m subgrupo de casos com completa regressão o u matu-
testes a escolha mais adequada para a avaliação inicial de u m ração para g a n g l í o n e u r o m a , u m a neoplasia benigna. A m a i o r i a
paciente c o m suspeita de feocromocitoma. Os resultados negativos dos t u m o r e s c l i n i c a m e n t e diagnosticados, c o n t u d o , é agressiva
desses exames praticamente excluem u m feocromocilorna. As exce- e apresenta u m resultado desfavorável. O estágio clínico da
ções i n c l u e m pequenos tumores (< 1 cm) encontrados durante doença (localizada versus disseminada) c o n s t i t u i u m i m p o r t a n t e
triagens de rotina de tumores que não sintetizam norepinefrina o u fator p r o g n ó s t i c o . O s pacientes c o m estágios precoces mais
epinefrina. Os tumores que produzem exclusivamente dopamina localizados da doença, o u os lactentes c o m m e n o s de 1 ano de
p o d e m não ser descobertos através das dosagens de normetane- idade c o m u m t u m o r p r i m á r i o localizado e disseminação l i m i -
frina, metanefrina e aminas precursoras. Tais tumores, contudo, tada à pele, fígado e / o u m e d u l a óssea, são considerados de
p o d e m ser detectados através da dosagem de metoxitiramina plas- m e l h o r p r o g n ó s t i c o do que os o u t r o s estágios. I n f e l i z m e n t e , a
mática o u urinária, o metabólico O-metilado da dopamma. As i n c i d ê n c i a global de n e u r o b l a s t o m a metastático n o m o m e n t o
dosagens da dopamina plasmática também podem ser úteis, consi- do diagnóstico é de, a p r o x i m a d a m e n t e , 6 0 % e a necessidade de
derando que a dopamina urinária é, em grande parte, derivada de detecção mais precoce de crianças c o m t u m o r e s de dissemina-
extração renal e descarboxilação da L-dopa e, conseqüentemente, ção progressiva permanece u m desafio diagnóstico. C o n s u l t e o
proporciona u m teste relativamente insensível e inespecífico para a Q u a d r o 26-2 para u m resumo dos pontos-chave sobre os neu-
detecção de u m t u m o r produtor de dopamina (Figura 26-6). roblastomas-
As elevações das metanefrinas fracionadas plasmáticas o u A hipertensão e os sinais e sintomas de excesso de catecola-
urinárias são geralmente altas o suficiente para estabelecer con- minas são raros e m u m neuroblastoma, u m resultado da armaze-
clusivamente a presença da m a i o r i a dos casos de feocromoci- nagem ineficiente de catecolaminas que acarreta a metabolização
toma. Todavia, se o paciente apresentar u m t u m o r que produza intracelular e liberação principalmente como metabólitos inativos.
u m a pequena quantidade de catecolaminas, os resultados falso- Os pacientes c o m u m e n t e se apresentam c o m uma massa t u m o r a l
posítivos p o d e m c o n t i n u a r difíceis de serem distinguidos dos e sinais clínicos dos efeitos compressivos sobre estruturas vizinhas
verdadeiros resultados positivos e exames b i o q u í m i c o s adicionais ou anomalias hematológicas decorrentes d o envolvimento da
são necessários. 10 Antes que os exames bioquímicos sejam inicia- medula óssea.
dos, deve-se considerar a eliminação das possíveis causas de resul- As evidências laboratoriais de u m t u m o r f u n c i o n a l p r o d u t o r
tados falso-posirivos, Estas p o d e m ser devidas a condições inade- de catecolaminas são importantes na avaliação clínica q u a n d o se
quadas de coleta das amostras (p. ex., coleta de sangue sem u m suspeita de u m neuroblastoma. Os padrões de secreção de cate-
período prévio de 20 m i n u t o s de repouso em decúbito dorsal), colaminas e de metabólitos, n o entanto, p o d e m diferir acentua-
o u a medicamentos damente entre os pacientes com o t u m o r . As células d o neuro-
Q u a n d o os exames bioquímicos c o n t i n u a m a produzir resulta- blastoma possuem a capacidade de sintetizar d o p a m i n a e norepi-
dos duvidosos, o teste de supressão pela clonidina pode ser ú t i l nefrina, dependendo do seu grau de m a t u r i d a d e metabólica,
para uma ulterior confirmação o u exclusão de u m feocromoci-
toma. C o n f o r m e originalmente apresentado, este teste foi conce-
b i d o para diferenciar os pacientes com elevações das catecolaminas I
provocadas por feocromocitomas daqueles com aumentos provo- QUADRO 26-2 Pontos-Chave dos Neuroblastomas
cados pela ativação simpática. Através da ativação dos adrenocep-
BIOLOGIA
totes alfa 2 n o cérebro e nas terminações nervosas simpáticas, a
• Tumores que ocorrem quase exclusivamente em crianças e que se
c l o n i d i n a suprime a liberação da norepinefrina pelos nervos sim-
desenvolvem a partir de células da crista neural primitiva do sistema
páticos. Conseqüentemente, reduções da norepinefrina plasmática
simpaticoadrenal, sendo cerca de 6G% derivados de tecido simpáiico
elevada após a clonidina sugerem ativação simpática, enquanto a
extra-adrenal e 40% das adrenais.
ausência de u m a diminuição sugere u m feocromocitoma. Subse- • 0 comportamento biológico dos tumores é altamente variável, com regressão
qüentemente, o teste também se revelou ú t i l na distinção entre espontânea de alguns tumores, mas a maioria (60%) apresenta um curso
aumentos da normetanefrina plasmática causados p o r u m feocro- agressivo com doença maligna disseminada e um resultado desfavorável.
m o c i t o m a e aqueles provocados por ativação simpática.'
APRESENTAÇÃO
Neuroblastoma • Os reuroblaslomas produzem quantidades variáveis de dopamina e
O s neuroblastomas são neoplasias que se o r i g i n a m das células norepineírina, mas demonstram uma capacidade precária de armazenamento
da crista neural p r i m o r d i a l do sistema nervoso simpático.'' 5 Os e liberação das catecolaminas. Conseqüentemente, os tumores raramente
neuroblastomas são quase exclusivamente u m câncer pediátrico, produzem sinais e sintomas de excesso de catecolaminas.
sendo responsáveis p o r aproximadamente 7 % dos cânceres da " A suspeita da doença geralmente se baseia na palpação de uma massa,

infância, e a malignidade mais c o m u m d o p r i m e i r o ano de vida. nas complicações geradas pela ocupação de espaços peio tumor, ou pelos

A incidência de neuroblastomas é de, aproximadamente, 10 casos efeitos do envolvimento da medula óssea.


• As causas hereditárias dos neuroblastomas são raras; a maioria dos
p o r m i l h ã o de crianças. E m b o r a casos familiais tenham sido des-
neuroblastomas ocorre esporadicamente.
critos, a maioria dos neuroblastomas se desenvolve esporadica-
mente. G r a n d e parte destes neuroblastomas é intra-abdominai,
DIAGNÓSTICO BIOQUÍMICO
o r i g i n ando-se da glândula adrenal o u do abdome superior. Loca-
• 0 diagnóstico bioquímico é baseado na superprodução de dopamina e
lizações menos freqüentes i n c l u e m as regiões do tórax, pescoço,
norepinefrina, mas uma vez que os tumores possuem um maquinário para
o u pelve. Cerca de 6 0 % são extra-adrenais. As metástases nos
armazenamento e liberação de catecolaminas insuficientemente
neuroblastomas disseminados p o d e m envolver a m e d u l a óssea, desenvolvido, o diagnóstiGO dependerá, principalmente, das dosagens dos
os ossos, l m f o n o d o s , fígado e, menos freqüentemente, a pele, metabólitos das catecolaminas.
testículos e estruturas intracranianas. • As dosagens do VMA e do HVA urinários representam os testes mais
O c o m p o r t a m e n t o b i o l ó g i c o de u m neuroblastoma varia da amplamente utilizados, mas em um grande estudo prospectivo de triagem
regressão e maturação a u m curso agressivo c o m u m resultado demonstraram detectar somente 73% dos tumores.
482 PARTE IV Analitos

mas, assim c o m o os n e u r ô n i o s simpáticos pós-ganglionares, extra- F i n a l m e n t e , a especificidade clínica da detecção de neuroblas-


vasam f e n i l e t a n o l a m i n a N-metiltransferase e não p r o d u z e m epi- tomas c o m as dosagens das catecolaminas e dos seus m e t a b ó l i t o s
n e f r i n a . D e v i d o à variabilidade da p r o d u ç ã o e metabolização de p o d e ser i n f l u e n c i a d a pela escolha dos métodos laboratoriais,
catecolaminas, n ã o há u m marcador confiável ú n i c o da superpro- interferências dietéticas e outras condições de s u p e r p r o d u ç ã o de
dução de catecolaminas; combinações de catecolaminas e meta- catecolaminas. Avanços significantes na especificidade analítica
b ó l i t o s são, p o r t a n t o , f r e q ü e n t e m e n t e dosadas na avaliação diag- dos m é t o d o s laboratoriais r e d u z i r a m m u i t a s das fontes exógenas
nostica do n e u r o b l a s t o m a . de interferência. A his to patologia permanece c o m o o c r i t é r i o
O V M A e o H V A são as determinações mais a m p l a m e n t e diagnóstico d e f i n i t i v o para a distinção entTe os neuroblastomas
utilizadas para o diagnóstico d o neuroblastoma. A excreção uri- e os f e o c r o m o c i t o m a s o u o u t r o s tumores neurogênicos p r o d u t o -
nária elevada de H V A e de V M A é o resultado da excessiva pro- res de catecolaminas, tais c o m o os ganglioneuromas e os ganglio-
dução t u m o r a l de d o p a m i n a e n o r e p i n e f r i n a , respectivamente. neuroblastomas.
U m a pequena variação d i u r n a da excreção de H V A e de V M A
e u m a correlação positiva entre os testes u r i n á r i o s aleatórios e Carcinóide
os de 24 horas p e r m i t e m o c o n v e n i e n t e emprego de amostras Os carcinóides são t u m o r e s p r o v e n i e n t e s d o sistema n e u r o e n d ó -
urinárias aleatórias, c o m resultados expressos c o m o a p r o p o r ç ã o c r i n o d i f u s o do t r a t o g a s t r o i n t e s t i n a l e pâncreas. 9 D e r i v a d o s
e n t r e os m e t a b ó l i t o s das catecolaminas e a excreção de creati- p r i n c i p a l m e n t e das células e n t e r o c r o m a f i n s , esses t u m o r e s são
n i n a . U m a s e n s i b i l i d a d e clínica n a faixa de 9 0 % foi descrita para a m p l a m e n t e distribuídos pelo c o r p o , mas encontrados c o m m a i o r
os exames u r i n á r i o s de H V A e de V M A p o r alguns centros. f r e q ü ê n c i a nos tratos gastrointestinal (74%) e r e s p i r a t ó r i o ( 2 5 % ) .
O u t r o s , p o r é m , r e l a t a r a m u m a taxa mais baixa de detecção de 0 t u m o r c a r c i n ó i d e c o m u m tem u m aspecto sólido e amarelo-
n e u r o b l a s t o m a s . E m u m a m p l o p r o g r a m a de triagem p a r a neu- bronzeado. As células t u m o r a i s e x i b e m u m a m o r f o l o g i a m o n ó -
roblastomas, n o q u a l a p o p u l a ç ã o c o m resultados negativos na t o n a , c o m u m citoplasma g r a n u l a r róseo e núcleos a r r e d o n d a d o s
triagem foi rastreada para a o c o r r ê n c i a de n e u r o b l a s t o m a s , u m a c o m mitoses raras. A m a i o r i a dos carcinóides p o d e ser i d e n t i f i -
elevação de V M A , H V A , o u ambos os m e t a b ó l i t o s ácidos, detec- cada pela sua reação às colorações c o m prata e aos marcadores
tou-se apenas 7 3 % dos tumores. 1 3 O s pacientes c o m d o e n ç a e m celulares n e u r o e n d ó c r i n o s , tais c o m o a c r o m o g r a n i n a e a enolase
estágio i n i c i a l apresentam taxa mais elevada de resultados falso- neurônio-específica.
negativos, e os pr ogr amas de rastreamento geralmente n ã o foram Os tumores carcinóides são t r a d i c i o n a l m e n t e classificados de
bem-sucedidos na redução da taxa de n e u r o b l a s t o m a s metastá- acordo c o m a sua p r e s u m i d a o r i g e m a p a r t i r do i n t e s t i n o a n t e r i o r
ticos na p o p u l a ç ã o . e m b r i o n á r i o ( b r ô n q u i o s , p u l m ã o , estômago, d u o d e n o e pâncreas),
Marcadores adicionais da s u p e r p r o d u ç ã o de catecolaminas i n t e s t i n o m é d i o (íleo, j e j u n o , apêndice e c ó l o n p r o x i m a l ) , o u
foram empregados para m e l h o r a r a detecção b i o q u í m i c a dos neu- i n t e s t i n o posterior (reto e c ó l o n distai). 6 Os locais mais c o m u n s
roblastomas. As dosagens plasmáticas de d o p a m i n a e L - d o p a , o desses tumores são os b r ô n q u i o s o u p u l m õ e s ( 3 3 % ) , íleo o u
a m i n o á c i d o p r e c u r s o r da d o p a m i n a , t a m b é m p o d e m ter v a l o r j e j u n o ( 2 0 % ) , reto ( 1 0 % ) e apêndice (8%). U m n o v o sistema de
c l i n i c o e p e r m i t i r o uso alternativo do plasma. A dosagem dos classificação t a m b é m f o i p r o p o s t o levando e m c o n t a as variações
metabólitos O-metilados, especialmente a n o r m e t a n e f r i n a , t a m b é m das características histopatológicas. 9 A i n c i d ê n c i a g l o b a l de carci-
foi estudada. Q u a n d o n o r m e t a n e f r i n a , m e t a n e f r i n a , meeoxitira- nóides c l i n i c a m e n t e significantes f o i estimada e m u m a dois casos
mina, dopamina, norepinefrina, V M A e H V A urinários foram p o r 100.000 pessoas. Os t u m o r e s carcinóides p o d e m se desenvol-
dosados, a sensibilidade clínica para a detecção de neuroblasto- ver em todos os grupos etários, mas surgem mais f r e q ü e n t e m e n t e
mas foi de 9 7 % a 100%. M e s m o c o m u m p a i n e l estendido de em adultos, c o m u m a m é d i a etária de 63 anos para os tumores
dosagens de catecolaminas e m e t a b ó l i t o s , u m a baixa i n c i d ê n c i a d o i n t e s t i n o delgado e do t r a t o respiratório. C l i n i c a m e n t e , a
de tumores não-secretores c o n t i n u a sendo i d e n t i f i c a d a e deveria m a i o r i a dos pacientes é assintomática até que as metástases estejam
ser considerada na interpretação do resultado negativo de u m presentes. A obstrução i n t e s t i n a l e a d o r a b d o m i n a l são os mais
exame. freqüentes sintomas de apresentação.
N o s n e u r o b l a s t o m a s , o padrão d o m e t a b o l i s m o das cateco- Os tumores carcinóides e x i b e m c o m p o r t a m e n t o m a l i g n o
laminas está associado a i m p o r t a n t e s fatores p r o g n ó s t i c o s b i o l ó - agressivo d e p e n d e n d o da sua o r i g e m , p r o f u n d i d a d e de penetra-
gicos e genéticos. Taxas mais baixas de excreção de V M A , H V A , ção e t a m a n h o d o t u m o r p r i m á r i o . A m a i o r i a dos carcinomas
d o p a m i n a e n o r e p i n e f r i n a são mais f r e q ü e n t e m e n t e e n c o n t r a - retais é e n c o n t r a d a i n c i d e n t a l m e n t e na endoscopia. Eles freqüen-
das em lactentes c o m estágios iniciais da doença, o q u e p o d e temente são menores do que 1 c m e apresentam u m a baixa taxa
explicar a s e n s i b i l i d a d e clínica i n i c i a l mais baixa às dosagens de de metástases, e m b o r a possam exibir u m a extensa disseminação
V M A e ao H V A descrita em pacientes c o m n e u r o b l a s t o m a s e m local. Os carcinóides d o apêndice são observados em cerca de
estágios iniciais. Q u a n t i d a d e s elevadas de catecolaminas e dos u m a e m cada 3 0 0 apendicectomias. Quase todos t ê m menos de
seus m e t a b ó l i t o s na u r i n a , p o r o u t r o lado, estão relacionadas a 1 c m , e as metástases a distância são raras. Por o u t r o lado, 9 0 %
u m c o m p o r t a m e n t o t u m o r a l agressivo. Nos n e u r o b l a s t o m a s , a dos carcinóides intestinais q u e p e n e t r a m até a metade da parede
excreção relativa das catecolaminas e dos seus metabólitos t a m b é m muscular terão se d i s s e m i n a d o para os l i n f o n o d o s e locais distan-
p o d e i n d i c a r u m resultado desfavorável. Padrões m e t a b ó l i c o s tes n o m o m e n t o d o diagnóstico. M a i s de 7 0 % dos carcinóides
imaturos f o r a m observados n o tecido t u m o r a l d o n e u r o b l a s t o m a , intestinais de 1 a 2 c m de d i â m e t r o metastatizam para o fígado.
baseados na relação entre a excreção de d o p a m i n a ou H V A e a Felizmente, a m a i o r parte dos tumores carcinóides cresce lenta-
de n o r e p i n e f r i n a o u V M A . U m a elevada p r o p o r ç ã o H V A / V M A , m e n t e e os pacientes p o d e m viver p o r m u i t o s anos. C o n s u l t e o
d o p a m i n a / V M A o u d o p a m i n a / n o r e p i n e f r i n a indica deficiência Q u a d r o 26-3 para u m r e s u m o dos pontos-chave sobre os tumores
relativa da b e t a - h i d r o x i l a ç ã o c o m u m a r e d u ç ã o da conversão carcinóides.
nas células t u m o r a i s da d o p a m i n a para a n o r e p i n e f r i n a . O A s s i m c o m o as células endócrinas intestinais n o r m a i s , os
p a d r ã o m e t a b ó l i c o i m a t u r o foi associado a u m c o m p o r t a m e n t o carcinóides sintetizam, armazenam e l i b e r a m u m a variedade de
t u m o r a l agressivo e a o u t r o s fatores p r o g n ó s t i c o s desfavoráveis, h o r m ô n i o s e de aminas biogênicas. U m a das mais b e m caracte-
mas a aplicação c l i n i c a dos padrões m e t a b ó l i c o s n ã o f o i esta- rizadas dessas substâncias é a serotonina. Os tumores carcinóides
belecida. t a m b é m p r o d u z e m e secrecam outras substâncias b i o l o g i c a m e n t e
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 483

QUADRO 26-3 Pontos-Chave dos Carcinõides aumentadas uma vez que o 5 - H T P é convertido em serotonina
nos rins; o 5 - H I A A pode estar levemente elevado.
BIOLOGIA Os pacientes c o m tumores carcinõides produtores de seroto-
" São tumores neuroendócrinos derivados das células enterocromafins dos nina geralmente apresentam impressionantes elevações da excre-
tratos gastrointestinal e respiratório.
ção urinária de 5 - H I A A (de pelo menos 10 vezes), mas ocasional-
• Geralmente se desenvolvem como tumores pequenos (< 2 cm) de
mente as elevações são menores. Elevações falso-positivas p o d e m
crescimento lento, mas com propensão a metastatizar.
ocorrer se o paciente ingerir alimentos ricos em serotonina o u
• Sintetizam, armazenam e liberam uma variedade de hormônios peptídicos
medicamentos, tais como banana, abacaxi, kiwi, ameixa e abacate,
e aminas biogênicas, incluindo a serotonina.
e medicamentos para tosse contendo guaifenesina. Inversamente,
álcool, aspirina e outras drogas p o d e m s u p r i m i r as concentrações
APRESENTAÇÃO
de 5 - H I A A . Os pacientes deveriam evitar esses agentes durante
• Obstrução intestinal e dor abdominal.
• Sintomas relacionados à secreção de aminas vasoativas e peptídios
as coletas de u r m a de 24 horas. As coletas incompletas o u em
resultando na síndrome carcinóide (rubor, diarréia, brancoconstrição e excesso de u r i n a de 24 horas p o d e m ser mais precisamente ava-
insuficiência cardíaca direita) relativamente rara e geralmente ocorrendo liadas em termos de taxa de creatinina. O 5 - H I A A plasmático de
após o desenvolvimento de metástases. jejum foi proposto como u m conveniente substituto para as
coletas urinárias.
DIAGNOSTICO BIOQUÍMICO A maioria dos médicos se vale da dosagem de 5 - H I A A para
• 0 diagnóstico bioquímico depende, principalmente, das dosagens de diagnosticar a síndrome carcinóide. Mas quando u m paciente
serotonina, de seus metabólitos (5-HIAA) e dos precursores da serotonina fortemente suspeito de síndrome carcinóide exibe elevações
(5-HTP) na urina, plasma, sangue total e plaquetas. normais ou limítrofes de 5 - H I A A u r i n á r i o , a documentação de
" Os resultados falso-positivos são comuns devido a intluências concentrações elevadas de serotonina nas plaquetas, plasma, sangue
dietéticas. total ou u r i n a pode ajudar a estabelecer o diagnóstico. A seroto-
n i n a plaquetária f o i descrita c o m o mais sensível do que o 5 - H I A A
u r i n á r i o para a detecção dos carcinõides que produzem pequenas
o u moderadas quantidades de serotonina, tais como os carcinõi-
des do intestino anterior e posterior e os carcinõides do intestino
médio com u m pequeno v o l u m e t u m o r a l . A l é m disso, as concen-
ativas, i n c l u i n d o histamina, calicreína, hradicininas, taquicini- trações plaquetárias de serotonina não são afetadas pela dieta do
nas, prostaglandinas, d o p a m i n a e norepinefrina. A produção paciente. N o entanto, as plaquetas p o d e m estar saturadas na
dessas substâncias varia em relação ao tecido de origem do t u m o r . presença de taxas elevadas de secreção de serotonina, sendo o
Os carcinõides do intestino m é d i o liberam grandes quantidades 5 - H I A A frequentemente preferido para o m o n i t o r a m e n t o da pro-
de serotonina, enquanto os tumores derivados do intestino ante- dução elevada de serotonina.
rior secretam primariamente 5-hidroxitriptofano (5-HTP) (um pre-
cursor serotoninérgico) e histamina, em vez de serotonina. Os METODOLOGIA ANALÍTICA
carcinõides primários do intestino posterior geralmente não N a prática clínica, as determinações laboratoriais das catecolami-
exibem atividade secretora. nas, serotonina e dos seus metabólitos nos líquidos corporais são
A secreção de substâncias na circulação sistêmica desempe- principalmente realizadas para diagnóstico e acompanhamento
n h a u m i m p o r t a n t e papel no desenvolvimento da s í n d r o m e car- de pacientes c o m tumores produtores de catecolaminas e seroto-
cinóide. A síndrome completamente desenvolvida associada às nina. A maioria dos laboratórios dosa as catecolaminas livres
manifestações humorais desses tumores é impressionante, mas urinárias, metanefrina, n o r m e t a n e f r i n a e V M A na avaliação dos
rara, geralmente só ocorrendo após as metástases hepáticas, c o m feocromocitomas n As dosagens plasmádcas das catecolaminas são
a liberação dessas substâncias diretamente na circulação sistê- usadas em alguns centros médicos, sendo as metanefrmas plas-
mica. A apresentação clínica clássica da síndrome carcinóide máticas cada vez mais dosadas (Figura 26-7). Para a detecção dos
i n c l u i u m r u b o r p r o n u n c i a d o (especialmente na face e no neuroblastomas, o H V A e o V M A urinários são mais c o m u m e n t e
pescoço), diarréia, broncoconstrição e eventual insuficiência val- solicitados na prática clínica, mas outros metabólitos das cateco-
vular cardíaca direita. A superprodução de serotonina é encon- laminas e da dopamina também são dosados. A avaliação diag-
trada em 9 0 % a 100% dos pacientes c o m síndrome carcinóide, nostica dos pacientes c o m tumores carcinõides envolve, rotinei-
e acredita-se que esta seja responsável pela diarréia por causa dos ramente, a dosagem de 5 - H I A A ; a dosagem de serotonina nas
seus conhecidos efeitos sobre a motilidade gástrica e secreção de plaquetas e u r i n a t a m b é m é determinada.
fluidos.
A avaliação laboratorial clínica da síndrome carcinóide conta Coleta e Armazenamento das Amostras
c o m as dosagens da serotonina e dos seus metabólitos nos f l u i d o s As condições sob as quais as amostras de plasma e de u r i n a são
e tecidos corporais. 5 Nos pacientes c o m a típica síndrome carci- coletadas p o d e m ser cruciais para a confiabilidade e interpreta-
nóide, a 5 - H T P é convertida em serotonina e armazenada nos ção dos resultados dos exames. N o passado, muitos clínicos pre-
grânulos secretorios tumorais e nas plaquetas. U m a pequena quan- feriam as coletas de urina de 2 4 horas à coleta de amostras san-
tidade de serotonina permanece no plasma, mas é convertida em guíneas, uma vez que as primeiras evitavam as rígidas condições
5-H1AA, que é excretado pela urina. Esses pacientes apresentam associadas à coleta de catecolaminas sanguíneas (p. ex., as amos-
concentrações de serotonina elevadas n o sangue e plaquetas e tras devem ser colhidas após 20 m i n u t o s ou mais de repouso em
uma excreção urinária de 5 - H I A A aumentada. Todavia, alguns decúbito dorsal) e são mais convenientemente implementadas
tumores carcinõides do intestino anterior carecem da L-descai- pela equipe clínica. N o entanto, os pacientes acham a coleta de
boxilase ácida dos aminoácidos aromáticos e secretam 5-HTP, em u r i n a de 24 horas difícil e inconveniente. A confiabilidade do
vez de serotonina, na corrente sanguínea. 9 Os pacientes c o m esses m o m e n t o da coleta freqüentemente é duvidosa. As metanefrinas
tumores apresentam concentrações normais de serotonina no plasmáticas não são p r o n t a m e n t e influenciadas pelo trauma da
sangue e nas plaquetas, mas as quantidades urinárias estão f l e b o t o m i a como as catecolaminas, mas as condições de coleta
484 PARTE IV Analitos

A - Padrão B — Mulher normal de 36 anos de idade C - Mulher de 31 anos de idade


com feocromocitoma

HMBA HMBA
NMN EHPEA HMBA
MN

MTY

NMN

MN
LA , /, , s
*wV\J --
1 r -r— 1 i i
10 20 30 0 10 20 30 10 20 30
Tempo (min) Tempo (min) Tempo (min)

Figura 26-7 Cromatogramas obtidos pela HPLC com detecção eletroquímica após a injeção de uma solução-
padrão (A) e após injeções de extratos purificados de amostras do plasma de uma paciente normal (B) e de uma
outra paciente com um feocromocitoma. A solução-padrão continha 500 pg de normetanefrina (NMN),
metanefrina (MN) e metoxiriramina (MTY], e 1.000 pg de dois padrões internos, 3-hidT0xi-4-met0xikenzilamina
(HMBA) e 3-etoxi-4-hidroxifeni 1 ecoxiamina (EHPEA). Os valores mostrados para as concentrações plasmáticas de
N M N e MN em indivíduos com e sem feocromocitoma foram calculados após a correção para recuperações dos
padrões internos a partir de 2 mL de amostras de plasma sujeitos à extração por troca catiõnica.

da amostra de sangue ainda exigem consideração q u a n d o existem As amostras de plasma ricas e m plaquetas são preparadas a
problemas na distinção e n t r e resultados verdadeiramente positi- p a r t i r d o sangue t o t a l através de centrifugação e m baixa veloci-
vos e os falso-positivos. O paciente deve jejuar p o r 12 boras antes dade. A f i m de prevenir a redução da concentração de serotonina,
da coleta. Para as coletas urinárias, as i n f l u ê n c i a s da d i e t a e da o plasma r i c o em plaquetas é preparado d e n t r o de u m a h o r a
ativação s i m p a t i c o a d r e n a l associadas à atividade física o u a alte- depois que o sangue tenha sido coletado e colocado no gelo. A
rações posturais t a m b é m não são tão facilmente controladas c o m o f i m de reduzir a p r o b a b i l i d a d e de r u p t u r a plaquetária, as amostras
o são para as coletas sanguíneas. Coletas p o n t u a i s o u n o t u r n a s de n u n c a devem ser congeladas antes que o plasma livre de células
u r i n a corrigindo-se as diferenças na duração da coleta c o m a seja o b t i d o . Plasma e pellets são armazenados congelados a - 2 0 C
utilização da excreção u r i n á r i a de c r e a t i n i n a f o r n e c e m alternati- e analisados d e n t r o de u m a a duas semanas após a coleta.
vas para as coletas de u r i n a de 24 horas que p o d e m superar alguns A s amostras de u r i n a de 24 horas para s e r o t o n i n a e 5 - H 1 A A
desses problemas. são coletadas em garrafas m a r r o n s de 2 L de p o l i p r o p i l e n o con-
As catecolaminas nas amostras u r i n á r i a s preservam-se m e l h o r tendo, cada u m a , 2 5 0 m g de m e t a b i s s u l f i t o de sódio e E D T A
c o m ácido c l o r í d r i c o , a f i m de q u e se m a n t e n h a a u r i n a ácida. c o m o conservantes. As amostras são acidificadas até o p H 4 c o m
Para armazenamento p o r períodos prolongados de t e m p o , as ácido acético antes do c o n g e l a m e n t o . M a i s i m p o r t a n t e , a amostra
deve ser refrigerada d u r a n t e a coleta.
alíquotas t ê m m e l h o r conservação congeladas a - 8 0 ° C para m i n i -
mizar a auto-oxidação e a desconjugação. As amostras sanguíneas
são mais b e m coletadas e m tubos c o n t e n d o h e p a r i n a o u ácido Interferências e Influências da Dieta e de
etilenodiaminotetTacético ( E D T A ) , c o m o anticoagulantes, e guar- Medicamentos
dadas em gelo antes da centrifugação a 4 ° C , c o m separação do Os constituintes dietéticos o u m e d i c a m e n t o s t a n t o p o d e m pro-
plasma para posterior a r m a z e n a m e n t o a - 8 0 ° C . vocar u m a interferência analítica direta nos ensaios q u a n t o i n f l u e n -
A dosagem da s e r o t o n i n a n o sangue t o t a l é p o p u l a r u m a vez ciar os processos fisiológicos q u e d e t e r m i n a m as concentrações
que o d e m o r a d o i s o l a m e n t o das plaquetas não é necessário. Para plasmáticas e urinárias das m o n o a m i n a s e seus metabólitos. N a
a s e r o t o n i n a n o sangue t o t a l , o sangue venoso é extraído para p r i m e i r a circunstância, a interferência pode ser altamente variá-
u m t u b o c o n t e n d o E D T A potássico c o m o anticoagulante, deli- vel, d e p e n d e n d o do m é t o d o de dosagem em particular. N a ú l t i m a
cadamente m i s t u r a d o , colocado n o gelo e transferido para u m circunstância, a i n t e r f e r ê n c i a geralmente é de natureza mais gené-
t u b o de armazenamento. U m a a l í q u o t a de sangue é então remo- rica, sendo i n d e p e n d e n t e do m é t o d o de mensuração.
vida para u m a c o n t a g e m plaquetária. As amostras de s e r o t o n i n a O desenvolvimento de novas drogas, variações nas técnicas de
sanguínea são armazenadas congeladas a - 2 0 ° C , preferencial- ensaio e as contínuas melhorias nos p r o c e d i m e n t o s analíticos
m e n t e e m u m i n t e r v a l o de duas horas após a coleta. freqüentemente t o m a m difícil identificar quais medicamentos c o m
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 485

interferência direta deveriam ser evitados para u m d e t e r m i n a d o usadas para detectar as metanefrinas na u r i n a , a m a i o r i a dos
teste analítico. Fontes mais p r o n t a m e n t e identificáveis e generali- p r o c e d i m e n t o s de c r o m a t o g r a f i a l í q u i d a de alta performance
zadas de interferência, que são independentes do m é t o d o de ( H P L C ) é baseada na detecção eletroquímica (Figura 26-7). As
ensaio e m particular, tendem a estar associadas a drogas que condições da c o l u n a e as fases estacionárias v a r i a m ; as aplicações
possuem ações primárias sobre os sistemas m o n o a m í n i c o s . D e v i d o típicas i n c l u e m a cromatografia de fase reversa c o m reagentes de
à i m p o r t â n c i a desses sistemas c o m o alvos terapêuticos, tais medi- pareamento i ô n i c o e c r o m a t o g r a f i a de troca catiônica baseada em
camentos representam u m a f o n t e relativamente c o m u m de resul- sílica. M é t o d o s novos e progressivamente populares envolvendo
tados falso-positivos. Os antidepressivos tricíclicos e m particular H P L C acoplados a u m espectrômetro de massa ( L C - M S / M S )
são u m a i m p o r t a n t e f o n t e de resultados falso-positivos para as oferecem as vantagens do c u r t o t e m p o de corrida c r o m ato gráfica,
dosagens de n o r e p i n e f r i n a e n o r m e t a n e f r i n a , u m resultado das elevado r e n d i m e n t o da amostra e e l i m i n a ç ã o da interferência
ações primárias desses agentes n a i n i b i ç ã o da recaptação das m o n o - medicamentosa.
aminas. O u t r o s medicamentos que p o d e m provocar u m a interfe-
rência significante, mas que são menos c o m u m e n t e encontrados Catecolaminas Urinárias e Plasmáticas
d u r a n t e os exames para f e o c r o m o c i t o m a , i n c l u e m L-dopa, Sinemetj Os m é t o d o s f l u o r i m é t r i c o s e radioenzimáticos para análise das
alfa-metildopa ( A l d o m e t ) e os i n i b i d o r e s da M A O . catecolaminas u r i n á r i a s o u plasmáticas f o r a m substituídos pelos
A i n t e r f e r ê n c i a dietética p o d e ser p a r t i c u l a r m e n t e preocu- m é t o d o s H P L C . Numerosas técnicas pré-analíticas de limpeza
pante para as dosagens dos m e t a b ó l i t o s da serotonina utilizados estão disponíveis para a extração das catecolaminas do plasma e
n o diagnóstico dos carcinõides, exigindo u m a instrução dietética da urina. O procedimento de extração mais c o m u m envolve a extra-
detalhada para esses pacientes. As fontes dietéticas de 5-hidro- ção c o m a l u m i n a (Figura 26-9). Paia as catecolaminas urinárias,
x i i n d ó i s (p. ex., nozes, bananas, abacate, berinjela, abacaxi, ameixa o p r o c e d i m e n t o de extração c o m a l u m i n a p o d e ser c o m b i n a d o
e tomate) deveriam ser restritas p o r três a q u a t r o dias antes e c o m o u sem a etapa de t r o c a c a t i ô n i c a . Géis de ácido b ó r i c o
d u r a n t e a coleta de u r i n a . Se possível, os pacientes devem se abster o f e r e c e m u m a a b o r d a g e m a l t e r n a t i v a para a absorção seletiva
de todas as medicações conhecidas que possam provocar u m a das catecolaminas. Solventes orgânicos, desprotemização ácida,
aparente elevação (guaiacolato de glicerol, mefesina, fenacetina e u l t r a f i l t r a ç ã o e o u t r o s p r o c e d i m e n t o s de extração da fase sólida
acetaminofen) o u redução ( m e t a n a m i n a , fenotiazina, t r a n q ü i l i - t a m b é m p o d e m ser usados n o pré-tratamento das amostras.
zantes, ácido h o m o g e n t í s i c o , ácido acético e levodopa) do 5- M u i t o s p r o c e d i m e n t o s H P L C analisam extratos u t i l i z a n d o a cro-
F I I A A . A o c o n t r á r i o do 5 - H I A A , as dosagens da serotonina não m a t o g r a f i a de fase reversa c o m reagentes de p a r e a m e n t o i ô n i c o ;
são significativamente i n f l u e n c i a d a s pela ingestão em c u r t o prazo o u t r o s p o d e m usar as colunas H P L C de troca catiônica para
de alimentos ricos e m s e r o t o n i n a . separar as a m i n a s extraídas. A detecção e l e t r o q u í m i c a u t i l i z a n d o
a mensuração a m p e r o m é t r i c a o u c o u l o m é t r i c a é c o m u m e n t e
Intervalos de Referência usada para q u a n t i f i c a r as catecolaminas. A separação H P L C
O uso de populações de referência adequadamente combinadas t a m b é m p o d e ser acoplada à detecção p o r fluorescência, mas
é i m p o r t a n t e para u m a triagem eficaz de tumores pr oduto res de técnicas de derivação pré o u pós-coluna são necessárias para
m o n o a m i n a s entre diferentes populações de pacientes. As cateco- a p r i m o r a r o l i m i t e de detecção mais b a i x o e a especificidade
laminas e m e t a n e f i i n a s urinárias e plasmáticas possuem diferentes q u í m i c a . F o r a m descritos p r o c e d i m e n t o s automatizados q u e
faixas em pacientes hipertensos o u hospitalizados, comparadas c o m são adequados para as aplicações clínicas de r o t i n a ; o pré-trata-
v o l u n t á r i o s saudáveis, crianças, comparadas c o m os adultos, e m e n t o m a n u a l p o d e o u não ser necessário. M a i s r e c e n t e m e n t e
h o m e n s , c o m mulheres (Figura 26-8). A l é m disso, as quantidades para as dosagens u r i n á r i a s , a m e t o d o l o g i a da espectrometria de
de catecolaminas e metanefrinas nas amostras de u r i n a de 24 horas massa f o i desenvolvida c o m alta capacidade e especificidade de
e n o plasma são altamente desviadas para a direita. A normaliza- rendimento.
ção das distribuições geralmente pode ser o b t i d a através da trans-
formação logarítmica, p e r m i t i n d o , desse m o d o , uma determina- Ácido Vanililmandélico Urinário e Ácido
ção paramétrica de intervalos de referência. Homovanílico
O ácido v a n i l i l m a n d é l i c o ( V M A ) é o p r i n c i p a l p r o d u t o f i n a l do
Metanefrinas Urinárias e Plasmáticas m e t a b o l i s m o da n o r e p i n e f r i n a e da e p i n e f r i n a , e n q u a n t o o ácido
Fracionadas homovanílico (HVA) é o principal produto final do metabolismo
Metanefrinas, normetanefrina e metanetanefrinaj e o metabólito da d o p a m i n a . A m b o s os m e t a b ó l i t o s são excretados na u r i n a em
O - m e t i l a d o da d o p a m i n a , a m e t o x i t i r a m i n a , estão presentes n o quantidades u m t a n t o elevadas, t o r n a n d o a sua análise relativa-
plasma e u r i n a nas formas livre e conjugada a sulfato o u glicuro- m e n t e simples. O V M A , ao c o n t r á r i o do H V A , não é significan-
n í d e o . A s concentrações plasmáticas de conjugados livres são 20 temente conjugado. N o e n t a n t o , u m a vez que grandes quantida-
a 3 0 vezes mais elevadas d o que aquelas dos metabólitos livres, des de H V A t a m b é m estão presentes na u r i n a sob a f o r m a livre,
u m a conseqüência da depuração circulatória mais r á p i d a dos ambos os m e t a b ó l i t o s são c o m u m e n t e dosados sem uma etapa
m e t a b ó l i t o s livres d o q u e a dos conjugados. A depuração dos de hidrólise. C o m p a r a d a s às metanefrinas e às catecolaminas, as
m e t a b ó l i t o s livres se dá através da captação ativa para os tecidos dosagens de V M A e de H V A possuem u m l i m i t a d o valor para o
e pela posterior metabolização pela desaminação o u conjugação. diagnóstico do f e o c r o m o c i t o m a , mas são c o m u m e n t e usadas para
Os m e t a b ó l i t o s conjugados e n t ã o produzidos são depurados de o diagnóstico do n e u r o b l a s t o m a . O s p r i m e i r o s m é t o d o s espectro-
m o d o relativamente l e n t o através da extração renal e efeminação f o t o m é t r i c ô s para a determinação d o V M A e do H V A foram, em
pela u r i n a . A s metanefrinas u r i n á r i a s são então r o t i n e i r a m e n t e grande m e d i d a , substituídos pela cromatografia gasosa ou, mais
dosadas após a h i d r ó l i s e ácida, representando, p r i n c i p a l m e n t e , c o m u m e n t e , pela H P L C . Os m é t o d o s de cromatografia gasosa
m e t a b ó l i t o s conjugados, e n q u a n t o as metanefrinas plasmáticas c o m ionização p o r chama o u detecção espectrométrica de massa
geralmente são dosadas sob a f o r m a livre. são altamente específicos e p o d e m , s i m u l t a n e a m e n t e , d e t e r m i n a r
O isolamento das metanefrinas a p a r t i r da u r i n a o u do plasma V M A e H V A . A H P L C geralmente retrata a separação isocrática
geralmente é realizado c o m a cromatografia de troca tônica. E m b o r a da fase reversa c o m detecção e l e t r o q u í m i c a , espectrofotométrica,
a fluorescência nativa e a absorção de u l t r a v i o l e t a possam ser f l u o r i m é t r i c a o u pós-colunar. A s aplicações de H P L C são relati-
486 PARTE IV Analitos

A Normotensos (n = 175)
90- 60 n 0,46 2,76
80-
50
70 -
60 40
50
30-1
40 H
30 20
20
10-1
10
1
0 I I ! I I I -1—i i
1 2 3 4 5 6 0,25 0,5 1,0 2,0 4,0 8,0

B H i p e r t e n s a s (n = 110)
35 30-1 0,60 4,21
30- 25-

25-
20
20
15
15-
10 ^
10 -
5-
5

0 •1 'i r 0 ~l l~l
0 6 7 0,25 0,5 1,0 2,0 4,0 8,0

Norepinefrina plasmática (nrroUL)

C Normotensos (n=175)

70 35 0,10 0,55

60- 30

50 25

Figura 2 6 - 8 Distribuições de 40 20
freqüência para a norepinefrina
30 15
plasmática ( A e B ) e paia a
normetanefrina plasmática livre (C e 20-] 10
D ) e m voluntários normotensos

rL
saudáveis (A e C) comparados a 10 5
pacientes c o m hipertensão essencial
0 0
(B e D). As distribuições exibidas o 0,2 0,4 0,6 0.8 1.0 0,063 0,125 0,25 0,5 1,0
nos painéis na direita foram
D Hipertensos (n = 110)
normalizadas por transformação
35 30 i 0,13 0,77
logarítmica. O s intervalos de
confiança de 9 5 % (indicados pelas 30- 25 -
linhas verticais tracejadas) foram
25
estimados c o m a utilização de 20
distribuições normalizadas. Observe 20
que as distribuições nos hipertensos 15 -j
exibem u m desvio para 15
concentrações plasmáticas mais 10
10-
elevadas, comparadas às distribuições
5 -I
e m n o r m o t e n s o s c o m limites 5
inferiores e superiores de referência C L _ ~L
0
correspondentemente mais altos. o 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,063 0,125 0,25 0,5 1,0
Norepinefrina plasmática (nmol/L)
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 2 6 487

1. Adicione um 1 mL de 2. Adicione Tris EDTA ao 3. Adicione 5 mg de


á c i d o perclórico o u ácido tricloroacético a n t e s d a injeção d a
plasma a um tubo padrão interno alumina
de Eppendorf _ a m o s t r a d i r e t a m e n t e sobre a c o l u n a d e H P L C .
A 9 6=3 A m a i o r p a r t e dos ensaios H P L C e m p r e g a c o l u n a s d e fase
reversa de octadecilsilil (C18), e m b o r a p o d e r o s a s c o l u n a s de troca
Tris EDTA catiônica t a m b é m t e n h a m sido empregadas. A cromatografia geral-
pH 0,6 e
padrão interno m e n t e é realizada c o m u m a fase isocrática m ó v e l e m u m p H ácido
Plasma

w w
q u e c o n t é m u m m o d i f i c a d o r o r g â n i c o e, possivelmente, u m rea-
Alumina
g e n t e d e p a r e a m e n t o iônico. A s e r o t o n i n a é p r o t o n a d a e m u m a
faixa d e p H d e 3 a 6 , e a adição de r e a g e n t e de p a r e a m e n t o i ô n i c o
cria u m c o n j u g a d o sem carga q u e a u m e n t a a a f i n i d a d e da sero-
t o n i n a pela fase b i d r o f ó b i c a estacionária, Para as dosagens d e
4. Misture bem por 5. Centrifugue para 6. Aspire o sobrenadante
20 min formar os pellets de q u a n t i d a d e s m u i t o p e q u e n a s de s e r o t o n i n a ou p a r a projetos espe-
de plasma e Tris
cializados, a H P L C c o m d e t e c ç ã o a m p e r o m é t r i c a ou d e t e c ç ã o

O £3
alumina .
coulométrica f r e q ü e n t e m e n t e é preferida à detecção fluorimé-
Catecóis s e
adsorvem à trica. Para a p r i m o r a r a sensibilidade analítica, alguns p r o c e d i m e n -
Catecóis
alumina em tos H P L C i n c o r p o r a m a derivação pré-colunar c o m reagentes
adsorvidos à
um pH f l u o r e s c e n t e s e q u i m i o l u m m e s c e n t e s , a l c a n ç a n d o , desse m o d o ,
alumina
básico
limites de detecção n a faixa de f e n t o m o l .
' 0
Ácido 5-Hidroxiindolacético
Assim c o m o a s e r o t o n i n a , o 5-HLAA é f o r t e m e n t e f l u o r e s c e n t e e
u m a série de p r o c e d i m e n t o s f l u o r i m é t r i c o s f o r a m desenvolvidos
p a t a a análise q u a n t i t a t i v a M é t o d o s m a i s seletivos e sensíveis para
7. Lave a alumina 8. Remava os catecóis 9. Transfira o eluente q u a n t i f i c a ç ã o d o 5-HLAA n a u r i n a e n o p l a s m a i n c l u e m a croma-
duas vezes com H,0 em ácida diluído ácido para o frasco tografia gasosa, i m u n o e n s a i o s , H P L C e L C - M S / M S . A t u a l m e n t e ,
(p. ex., acético a 0,2 M) para injeção na HPLC a H P L C é o m é t o d o mais d i f u n d i d o d e d o s a g e m d o 5 - H I A A n o
l a b o r a t ó r i o clínico, t e n d o s u b s t i t u í d o a m p l a m e n t e os m é t o d o s
Catecóis
Misturado removidos fotométricos e fluorimétricos. N u m e r o s o s m é t o d o s de H P L C f o r a m
com H 2 0, da alumina descritos para a d o s a g e m d o 5-HLAA, t a n t o s e p a r a d a m e n t e q u a n t o
centrifugado- com formação em c o m b i n a ç ã o c o m o u t r a s substâncias de interesse clínico. A
e aspirado de vórtice
m a i o r i a dos p r o c e d i m e n t o s emprega separações d e fase reversa e
em pH ácido • w
p a r e a m e n t o i ô n i c o sob c o n d i ç õ e s isocráticas otimizadas. A sílica
ligada ao alquil, tal c o m o o octadecilsilil (C18), muitas vezes é
Figura 2 6 - 9 P r o c e d i m e n t o de extração p o r a l u m i n a das
utilizada c o m o a fase estacionária h i d r o f ó b i c a , e u m a mistura-
c a t e c o l a m i n a s plasmáticas A l é m da extração das c a t e c o l a m i n a s
t a m p ã o aquosa orgânica e m u m p H ácido é f r e q ü e n t e m e n t e
( n o r e p i n e f r i n a , e p i n e f n n a e d o p a m i n a ) , este p r o c e d i m e n t o t a m h é m
empregada c o m o fase móvel polar.
p e r m i t e a extração de o u t r o s catecóis, i n c l u i n d o o 3,4-diidrofenilglicol
A dececção e l e t r o q u í m i c a u t i l i z a n d o a d o s a g e m c o u l o m é t r i c a
(o m e t a b ó l i t o d e s a m i n a d o d a n o r e p i n e f r i n a e d a epinefrína), o ácido
ou a m p e r o m é t r i c a é preferível para a d o s a g e m específica de p e q u e -
3,4-diidroxifenilacético (o m e t a b ó l i t o d e s a m i n a d o da d o p a m i n a ) e a
n a s q u a n t i d a d e s d e 5-HLAA. A l g u n s sistemas H P L C utilizam a
L-dopa, o p r e c u r s o r da d o p a m m a . d e t e c ç ã o f l u o r i m é t r i c a , c o m o u s e m derivação, p a r a u m a d o s a g e m
m e n o s rigorosa d e 5 - H I A A . A extração p r e l i m i n a r d o 5 - H I A A
p o d e ser u s a d a c o m o e t a p a inicial d e p u r i f i c a ç ã o antes da análise
p o r H P L C . Solventes o i g â n i c o s , resinas d e troca a n i ô n i c a e
o u t r o s p r o c e d i m e n t o s de extração da fase sólida f o r a m utilizados.
v ã m e n t e livres de i n t e r f e r ê n c i a e p o d e m f o r n e c e r d o s a g e n s simul- Para m u i t o s sistemas, a i n j e ç ã o direta d e u r i n a n a c o l u n a analítica
t â n e a s de V M A , H V A e o u t r o s m e t a b ó l i t o s . constitui prática c o m u m e as amostras m u i t a s vezes são mera-
m e n t e diluídas c o m u m t a m p ã o p a r a proteger o sistema H P L C
Serotonina de c o n t a m i n a ç ã o .
A s e r o t o n i n a p o d e ser d o s a d a n o s a n g u e total, soro, p l a s m a rico
e m p l a q u e t a s , p l a s m a p o b r e em p l a q u e t a s (isto é, p l a s m a livre d e
plaquetas), pelkts isolados de plaquetas, u r i n a e l í q u i d o cerebros-
p i n a l (CSF). A H P L C c o m dececção f l u o r i m é t r i c a o u eletroquí- REFERÊNCIAS
mtca constitui o m é t o d o cromatográfico mais f r e q ü e n t e m e n t e
1 Eisenhofer G, Kopin 1J, Goldstein DS. Catecholamine metabolism- a
u s a d o p a i a as d o s a g e n s de s e r o t o n i n a . A s técnicas de H P L C
contemporary view wíth imphcations for physiology and medicine.
f o r a m desenvolvidas p a r a a d o s a g e m d a s e r o t o n i n a separada-
Pharmacol Rev 2004;56:331-49.
m e n t e o u a d a p t a d a s p a r a a d o s a g e m s i m u l t â n e a d o s m d ó i s meta-
2. Goldstein DS, Eisenhofer G , McCarty R, eds. Carecholamines: Bridging
b o l i c a m e n t e r e l a c i o n a d o s , tais c o m o 5 - H T P e 5-H1AA. A extra- basic science with clinicai medicine. Advances in Pharmacology. San
ção p r e l i m i n a r e a desproteinização são necessárias a n t e s da Diego: Academic Press, 1998.
análise, e diversas escolhas estão disponíveis. A extração c o m sol- 3. Goyal RK, H i r a n o 1. T h e enteric nervous system N Engl J Med
v e n t e o r g â n i c o foi, e m g r a n d e m e d i d a , s u b s t i t u í d a p o r procedi- 1996;3 34.1106-15.
m e n t o s q u e e m p r e g a m resinas de troca catiônica. O u t r o s proce- 4. H o f f m a n BB, Taylor P. Neurotransmission: the a u t o n o m i c and somatic
d i m e n t o s d e extração da fase sólida i n c l u e m a c r o m a t o g r a f i a de motor nervous system. In: H a r d m a n JG, Limbird LE, Gilman AG, eds.
fase reversa u t i l i z a n d o c a r t u c h o s descartáveis de octadecilsilil- G o o d m a n and Gilman's the pharrnacological basis of therapeutics, 10th
sílica. U m a série de m é t o d o s s i m p l e s m e n t e d e s p r o t e i n i z a m , c o m ed. New York: McGraw-Hill, 2001:115-53.
488 PARTE IV Analitos

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Blackwell Science, 2006.
A

TUL
O 27
Vitaminas e Elementos-Traço*
Alan Shenkin, Ph.D., F.R.C.P., F.R.C.Path.,
e Malcolm Baines, F.R.S.C., F.R.C.Path.

OBJETIVOS N u t r i e n t e s Essenciais: Aqueles nutrientes (proteínas, minerais,


1. Definir vitamina e vitãmero. carboidratos, lipídios, vitaminas) necessários ao
2. Classificar as vitaminas de acordo com a solubilidade.
crescimento, às f u n ç õ e s n o r m a i s e à m a n u t e n ç ã o da vida;
esses devem ser supridos pelos alimentos p o r q u e n ã o
3. Listar as formas naturais de cada vitamina e as funções fisiológicas,
p o d e m ser sintetizados pelo corpo.
metabolismo, causas e sintomas de excesso e carência.
N u t r i ç ã o P a r e n t e r a l Total ( T P N ) : Prática de alimentar u m a
4. Descrever os métodos de análise para cada vitamina, os princípios
pessoa p o r via intravenosa, evitando o intestino.
das reações e as possíveis interferências.
V i t a m i n a : U m m i c r o n u t r i e n t e orgânico essencial que deve ser
5. Definir elemento-traço e elemento-ultratraço.
suprido exogenamente e em muitos casos é o precursor de
6. Listar as características dos elementos-traço.
u m a coenzima derivada m e t a b o l i c a m e n t e .
7. Listar os sete elementos-traço fisiologicamente essenciais e V i t ã m e r o : U m t e r m o utilizado para descrever qualquer u m dos
descrever o significado clínico de cada um. diversos compostos que p o s s u e m u m a d a d a atividade
8. Descrever as funções básicas dos sete elementos-traço vitamínica.
fisiologicamente essenciais.
9. Listar os métodos analíticos disponíveis para estimar os elementos-

S
traço.
u p r i m e n t o s a d e q u a d o s de v i t a m i n a s e elementos-traço são
10. Descrever as exigências da coleta de amostras para elementos-
f u n d a m e n t a i s para a m a n u t e n ç ã o da saúde e o desenvolvi-
traço.
m e n t o h u m a n o (http://www.iom.edu). 2 ' 6 A Tabela 27-1
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES resume a ingestão dietética r e c o m e n d a d a (RDA) estabelecida n o s
Estados U n i d o s da América e as recomendações para ingestão de
A p o e n z i m a : A porção protéica de u m a enzima que necessita de
nutrientes p o r populações (da c o m u n i d a d e européia) de vitami-
u m a coenzima.
nas e elementos-traço. As conseqüências de u m a ingestão inade-
A v i t a m i n o s e : U m a doença, descrita c o m o u m a s í n d r o m e da
quada de elementos-traço são mostradas na Figura 27-1.
deficiência, resultante da carência de v i t a m i n a .
C o e n z i m a : U m a substância difusível e termoestável o u
molécula orgânica (algumas vezes derivada de u m a
vitamina) de baixo peso molecular que, q u a n d o c o m b i n a d a VITAMINAS
c o m u m a proteína inativa d e n o m i n a d a apoenzima, f o r m a Vitaminas são compostos orgânicos necessários na dieta para a
u m c o m p o s t o ativo ou u m a enzima completa d e n o m i n a d a saúde, o crescimento e a reprodução. 1 ' Historicamente, os grupos
holoenzima com f u n ç ã o catalítica em u m sistema vitamínicos são representados por u m algarismo arábico subs-
enzimático. crito após u m a letra para designar similaridades estruturais ou
Co-fator: U m reagente natural, u s u a l m e n t e u m íon metálico ou funcionais (p. ex., A j [retinol] e A2 [3-diidrorretinol]) o u para
u m a coenzima, necessário a u m a reação catalítica. indicar a o r d e m aproximada em que são identificados c o m o
E l e m e n t o - t r a ç o : Molécula inorgânica e n c o n t r a d a em tecidos m e m b r o s d o c o n h e c i d o complexo B (p. ex., Bi [tiamina] e B 2
h u m a n o s o u animais em concentrações expressas e m [riboflavina]. N o m e s químicos usuais são utilizados. Esses fre-
miligrama por quilograma, ou inferior. q ü e n t e m e n t e refletem a presença de algum átomo específico
E l e m e n t o - u l t r a t r a ç o : Molécula inorgânica e n c o n t r a d a e m (tiamina), grupo f u n c i o n a l principal (piridoxamina), ou m e s m o
tecidos h u m a n o s o u animais em concentrações expressas u m a grande p a r t e da estrutura molecular (filo^uinorui). Partes de
e m micrograma p o r quilograma, ou inferior. alguns n o m e s refletem propriedades f u n c i o n a i s (colecalciferol).
E s t a d o N u t r i c i o n a l : A condição do corpo relacionada à U m a outra classificação está associada à solubilidade relativa
nutrição, geralmente, o u em referência a u m n u t r i e n t e das vitaminas. Aquelas do grupo li£>ossofúuEl (A, D, E e K) são
específico, c o m o u m elemento-traço. mais solúveis em solventes orgânicos, e n q u a n t o as d o complexo
H i p e r v i t a m i n o s e : U m a condição n ã o saudável resultante do B e a vitamina C são Ímirosíoiúwis. Esse f r a c i o n a m e n t o geral
excesso de vitamina. baseado n a solubilidade é útil n ã o apenas para registrar proprie-
H i p o v i t a m i n o s e : U m a condição n ã o saudável resultante da dades físicas gerais, mas t a m b é m c o m o u m lembrete de que as
carência de vitamina, intercambiável c o m a avitaminose. vitaminas hpossolúveis são (1) absorvidas, (2) transportadas e (3)
H o l o e n z i m a : O composto f u n c i o n a l (isto é, cataliticamente armazenadas por longos períodos. A maioria das vitaminas
ativo) f o r m a d o pela combinação de u m a apoenzima e u m a hidrossolúveis é m e n o s retida e mais excretada na urina. E m
coenzima apropriada. geral, as vitaminas hidrossolúveis f u n c i o n a m c o m o coenzimas
para diversas reações enzimáticas i m p o r t a n t e s de mamíferos e
microrganismos. E m contraste, as vitaminas lipossolúveis geral-
O autor agradecidamente reconhece as contribuições prévias de Donald B.
McCoTmíck, Harry L. Green, George G. Klee e David B. Milne, nas quais se m e n t e n ã o f u n c i o n a m c o m o coenzimas e são r a r a m e n t e utilizadas
baseiam partes deste capítulo. p o r microrganismos.
TABELA 27-1 Ingestões Oral e Intravenosa de Micro nutrientes por Adultos13

Nutrição parenteral
RDA (USA) PRI (Europa) Quantidade e m 2.000 kcal Ingestão IV

VITAMINAS
Apfl 900 700 1.000-2.160 1000
D ng 5-15 0-10 8,5-14,6 5
E mg 15 0,4/g PUFA 20-64 10
KMA 120 100-200 150
Tiamina mg 1,2 1,1 1,4-3,4 6
Riboílavina mg 1,3 1,6 2-6 3,6
Pirodoxina mg 1,3 1,5 2-13,8 6
Niacina mg 16 18 18-45 40
Folato jjg 400 200 340-880 600
B12 ng 2 1,4 3-15 5
Ácido panflotêriico ng 5* 2-12 1 7-20 15
Biotina fig 30* 15-100 100-660 60
Ácido ascórbico mg 00 45 100-300 200

ELEMENTOS-TRAÇO
Zinco mg 11 9,5 13-36 3,2-6,5
Cobre mg 0,9 1,1 2-3,4 0,3-1,3
Selênio pg 55 55 30-130 40-100
Cromo ng 25 30-200 10-20
Molibdênio pg 45* 74-240 19
Magnésio mg 2-3* 1-10 1 2,4-8 0,05-0,2

Referências de ingestão para recém-nascidos


e crianças são dependentes da idade e do peso.
RDA, ingestão Dietética Recomendada (Estados Unidos da América); PRI, Referência de Ingestão da População (EurofwjJ; PUFA, Aridoj giaics (raliinsa furados
'Ingestão aA^quntla.
' Faixa aceitável.

Funções teciduais
ótimas com estoque
corporal (se
existente) repleto

i
Mobilização de
estoques (se
existente]

Depleção inicial C o m p e n s a ç ã o (se possivel)


- absorção intestinal aumentada
- excreção renal reduzida
i
- velocidade de crescimento reduzida (zinco)

Conteúdo
intracelular reduzido

4,
Funções
bioquímicas Atividade enzimática intracelular reduzida
debilitadas - efeitos metabólicos
- sistemas antioxidantes
Expressão/regulação gènica

Efeitos funcionais
inespeclficos Curto prazo: Efeitos cognitivos
Fadiga/capacidade laboral
Funções imunológicas

Longo prazo: Danos ao DNA/membranas


celulares por radicais livres

Doenças Tipica para cada elemento-traço ou vitamina


clínicas - complicações em c a s o s de deficiências
múltiplas

X
Morte

Figura 27-1 Conseqüências de ingestões inadequadas de minerais e ele mentos-traço, (de S h e n k m A, A i l w o o d


MC. Trace elements and vitamina in adult intravenous nutiicion. In: Rombeau JL, Rolandelli R H , eds. Clinicai
nutrition: Parental nutrition. Philadelphia: W B Saunders, 2001:60-79).
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 491

TABELA 2 7 - 2 Necessidade de Vitaminas dos Seres H u m a n o s

Sintomas de
N o m e Químico Deficiência ou E n s a i o s Diretos e
Nome Comum Trivial Funções Gerais Doença Indiretos

LIP0SS0LÚVEIS
Vitamina A Retinol, retinal, ácido Visão, crescimento, reprodução Nictalopia, xeroftalmia, Fotométrico, HPLC,
retinóico queratomalácia fluorimétrico, RIA
Vitamina D2, D3 Ergocalciferol Modulação do metabolismo de Raquitismo (jovem), CPB, HPLC, RIA
Colecalciferol Ca2+, calcificação dos ossos osteomalácia (adulto)
e dentes
Vitamina E Tocaferóis, tocotrienóis Antioxidantes de lipídios Peroxidação lipídica, incluindo Fotométrico. HPLC, hemólise
insaturados, funções fragilidade das células de eritrócito
neurológicas e reprodutivas vermelhas, anemia hemolítica
(prematuros, recám-nascidos)
Vitamina K,, K2 Filoquinonas Coagulação sanguínea, Tempo de coagulação aumentada, HPLC, protrombina,
Menaquinonas osteocalcinas tempo de RIA, doença (pratrombina anormal, teste
hemorrágica (recém-nascido) de PIVKA)

HIDROSSOLÚVEIS
Vitamina B, Tiamina Metabolismo de carboidratos, Beribéri, Síndrome de Fluorimétrico, transcetolase,
funções nervosas, Wernicke-Korsakoff HPLC
Vitamina B2 Ribollavina Reações de oxidação-redução Estomatite angular, Fluorimétrico, HPLC, glutationa
dermatite, fotofobia redutase
Vitamina BE Pirodoxina, piridoxal, Metabolismo de aminoácidos, Convulsões epileptiformes, HPLC, aspartato transaminase,
piridoxamina fosfolipídios e glicogênio dermatite, anemia ácido piridóxico urinário
hipocrômica
Niacina Ácido nicotínico, Reações de oxidação-redução Pelagra Fluorimétrico, HPLC,
nicotinamida coenzimas niacinamida e
nicotinamida
Ácido folico Ácido Pteriolglutâmico Biossíntese de ácidos nucléicos Anemia megaloblástica, CPB, microbiológico,
e aminoácidos defeitos do tubo neural homocisteína
Vitamina B12 Cianocobalamina Metabolismo de aminoácido e Anemias megaloblástica e CPB, microbiológico, RIA,
cetoácido de cadeira perniciosa, neuropatia metiimalonato
ramificada
Biotina Reações de carboxilação Dermatite Microbiológico, CPB,
carboxilase, ligação de avidina
Ácido pantotênico Metabolismo geral, transferência Síndrome do ardor nos pés Microbiológico, RIA, CPB/HPLC
de grupas acetil e acil
Vitamina C Ácido ascórbico Formação do tecido conjuntivo, Escorbuto Fotométrico, HPLC, enzimático
antioxidante

HPLC, cromatografia Uquida de dito eficiência, RIA, radioímitinoensaia; CPB, ligação competiva de frateína, teste de PIVKA, frroietnós i-nduridas om enfoluídas no antagonismo ou
ausência de uituTTiírui K.

A Tabela 27-2 fornece u m a lista das 13 vitaminas conhecidas ésteres de retinil, p a r t i c u l a r m e n t e o palmitato. N a família da
e os grupos vitaméricos essenciais para os h u m a n o s . vitamina A estão incluídos alguns carotenóides da dieta (compos-
tos poliisoprenóides C40) q u e são classificados c o m o provita-
Vitamina A mina A, pois são clivados biologicamente para produzir retinol.
A vitamina A exerce muitas f u n ç õ e s importantes no c o r p o , t e n d o Exemplos são a-caroteno, p-caroteno e p-criptoxantina. O s com-
papel de particular significado n a visão. postos de vitamina A são óleos amarelados ou sólidos com baixo
p o n t o de fusão ( d e p e n d e n d o da pureza d o isômero), que são
Química praticamente insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgâ-
V i t a m i n a A é o t e r m o nutricional para o grupo de compostos nicos e óleo mineral.
c o m estrutura f o r m a d a de 20 carbonos c o n t e n d o u m anel de
cicloexenil (anel p-ionona) metil-substituido e u m a cadeia lateral Fontes Dietéticas
isoprenóide (Figura 27-2), com u m g r u p a m e n t o hidroxil (retinol), A vitamina A pré-formada é obtida de alimentos de origem
u m grupo aldeído (retinal), u m g r u p a m e n t o carboxílico (ácido animal, tais c o m o (1) fígado, (2) outros órgãos formados p o r
retinóico) ou u m g r u p a m e n t o éstei (éster de retinil) n o c a r b o n o músculos e (3) óleos de peixe. O u t r a s fontes são creme de leite
terminal C 1 5 . O retinol, o principal v i t ã m e r o da v i t a m i n a A, integral, manteiga e margarinas fortificadas. As pró-vitaminas A
será oxidado reversivelmente a retinal - que c o m p a r t i l h a todas carotenóides são obtidas de frutas e vegetais c o m pigmentos
as atividades biológicas d o retinol - ou sofrer posterior oxidação amarelo-alaranjados e de vegetais c o m folhas verdes. O U. S.
a ácido retinóico, q u e d e m o n s t r a parte de sua atividade biológica. N a t i o n a l H e a l t h a n d N u t r i t i o n E x a m i n a t i o n Survey ( N H A N E S -
As formas principais de a r m a z e n a m e n t o de vitamina A são os II) indicou que a p r o x i m a d a m e n t e 2 5 % das necessidades de vita-
492 PARTE IV Analitos

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Figura 2 7 - 2 Formas vitamínicas de A 1 ; A 2 e {3-caroteno
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m i n a A são fornecidos pelos carotenóides e cerca de 7 5 % , pelo Figura 2 7 - 3 Participaçao de vitâmeros A no ciclo visual.
retinol pré-formado.

Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção O u t r a s funções da v i t a m i n a A incluem seu papel na (1)


A vitamina A pré-formada, n a maioria das vezes e m forma de r e p r o d u ç ã o , (2) crescimento e desenvolvimento e m b r i o n á r i o e (3)
éster de retinil ou carotenóides, está sujeita a u m a emulsificação funções imunológicas. N o crescimento n o r m a l e n a m a n u t e n ç ã o
antes de ser transportada pata as células do intestino. Lá, os da integridade das células epiteliais, o ácido retinóico age pela
ésteres de retinil são t r a n s p o r t a d o s através d a m e m b r a n a da ativação dos receptores de ácido retinóico (RAR) e receptores
mucosa e hidrolisados a retinol d e n t r o da célula, para serem retinóides X (RXR) n o núcleo para regular vários genes q u e
reesterificados pela proteína II de ligação ao retinol celular e codificam (1) proteínas estruturais, (2) enzimas, (3) proteínas da
empacotados e m quilomícrons. Estes e n t r a m n o sistema linfático matriz extracelular e (4) R B P e receptores. O retinol, seus meta-
mesentérico passando para a circulação sistêmica. bólitos e retinóides sintéticos p o s s u e m efeitos protetores contra
O s carotenóides, t a m b é m na forma micelar, são absorvidos o desenvolvimento de certos tipos de câncer, (1) b l o q u e a n d o a
pelas células da mucosa d u o d e n a l p o r difusão passiva. A eficiên- p r o m o ç ã o do tumor, (2) i n i b i n d o a proliferação, (3) i n d u z i n d o a
cia da absorção de carotenóides é m u i t o inferior àquela da vita- apoptose, (4) i n d u z i n d o a diferenciação ou (5) pela c o m b i n a ç ã o
m i n a A. U m a vez n o interior das células da mucosa, o P-caroteno dessas ações. Algum cuidado é necessário, entretanto, c o m
é convertido, p r i n c i p a l m e n t e em retinal, pela enzima p-caroteno- relação à utilização de s u p l e m e n t o s de vitamina A ou p-caroteno,
15-15'-dioxigenase, e o retinal é convertido, pela retinal redutase, u m a vez que esses a p a r e n t a m n ã o reduzir a incidência de câncer
e m retinol e esterificado. O s ésteres de retinil recém-sintetizados gastrointestinal e, sem dúvida, p o d e m a u m e n t a r a incidência de
passam, então, c o m os quilomícrons para o fígado, via sistema câncer de p u l m ã o e a m o r t a l i d a d e em certos outros cânceres.
linfático, o n d e a captação pelas células p a t e n q u i m a i s n o v a m e n t e
envolve hidrólise. N o fígado, o retinol é ligado à proteína de Necessidades e Recomendações para ingestão de
ligação ao retinol (RPB, peso molecular ~ 21.000 Da) e transtir- Nutrientes
retina (pré-albumina ligada à tiroxina) (peso molecular 5 5 . 0 0 0 Estudos históricos em seres h u m a n o s adultos sugeriram q u e a
Da) na p r o p o r ç ã o de 1:1:1, f o r m a n d o u m complexo com t a m a n h o ingestão de retinol de 500 a 6 0 0 (ig/dia é necessária para a
suficiente para evitar a perda p o r filtração glomerular. A distri- m a n u t e n ç ã o adequada das concentrações sanguíneas e para pre-
buição do retinol para o tecido é controlada pela disponibilidade venir os sintomas da deficiência. Por exemplo, o Food a n d Nutri-
do complexo proteína-vitamina A n a circulação, embora esse tion Board of the U.S. Institute of Medicine r e c o m e n d a o Equi-
m e c a n i s m o de controle possa ser c o n t o r n a d o por altas doses de valente de Atividade de Retinol (RAE) c o m o base de cálculo para
retinol. A excreção de v i t a m i n a A ocorre via fezes e urina, usual- a ingestão de retinol. Nesse sistema, a razão de equivalência de
m e n t e após conjugação ou oxidação. 1:12:24 é r e c o m e n d a d a (12 pg de p-caroteno ou 24 da mistura
de carotenóides têm a mesma atividade biológica que 1 pg de
Funções retinol). Utilizando esse sistema, as RDAs atuais para a vitamina
A vitamina A possui u m a f u n ç ã o significativa n a visão. O retinol A são RAE de 9 0 0 pg para h o m e n s c o m idade de 19 anos ou
todo-tram é a forma de vitamina A p r e d o m i n a n t e na circulação, e mais e de 700 pg para mulheres, com valores superiores permi-
as células da retina o isomenzam ao álcool 11-eis que é reversiva- tidos na gravidez e n a lactação. ü
m e n t e desidrogenado a 11-cis-retinal. Esse isômero esférico do
aldeído combina-se como u m a base de Schiff ligada a u m radical Deficiência
lisil de u m a proteína apropriada (p. ex., opsma) para gerar pigmen- A deficiência de vitamina A afeta principalmente recém-nascidos
tos fotossensíveis, tais como rodopsina. A iluminação de tais pig- e crianças, e a sua prevalência é objeto de vigilância da Organi-
mentos causa fotoisomerização e a liberação de rednal todo-trans e zação M u n d i a l de Saúde (OMS). O s fatores de risco incluem (1)
a proteína, u m processo que acopla u m a ampla m u d a n ç a confor- pobreza, (2) baixo peso ao nascer, (3) condições sanitárias precá-
m a d o nal com u m influxo de íons e a transmissão pelo nervo ótico. rias, (4) má nutrição, (5) infecção e (6) parasitismo C o m o o
O retinal todo-trans é isometizado a isômero 11-cis, que novamente a c ú m u l o de vitamina A no fígado ocorre d u r a n t e o último tri-
se combina com a proteína liberada para reconstituir o fotopig- mestre de gravidez, os p r e m a t u r o s são relativamente deficientes
mento, n u m ciclo visual mostrado n a Figura 27-3. em vitamina A ao nascerem. Prover u m a ingestão diária de vita-
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 493

m i n a A que alcance u m a R D A de 4 0 0 pg RAE é, p o r t a n t o , produzidas n o fígado têm sido medidas c o m o u m indicador do


i m p o r t a n t e . Recém-nascidos c o m peso inferior a 1.500 g (aqueles estado de vitamina A. A RBP p o d e ser m e d i d a p o r nefelometria,
que nascem antes de 30 semanas de gestação) praticamente n ã o mas sua concentração circulante p o d e ser afetada p o r u m a dieta
possuem vitamina A hepática alguma e estão c o r r e n d o o risco da i n a d e q u a d a em proteínas, energia ou zinco, todos esses necessá-
deficiência de vitamina A . A má absorção de gorduras, particu- rios para a síntese de RBP. U m outro fator q u e causa a imprecisão
l a r m e n t e aquela causada por doença celíaca ou pancreatite da avaliação d o estado de vitamina A é o efeito da resposta de
crônica, e a n u t r i ç ã o p o b r e e m energia e proteína p r e d i s p õ e m à fase aguda. A m b a s R B P e transtiretina são proteínas ausentes n a
deficiência de vitamina A . Doenças do fígado d i m i n u e m a síntese fase aguda, e, assim, as alterações inflamatórias resultarão n a
de RBP, e o abuso de etanol leva a lesões hepáticas e à competi- queda da concentração de ambas as proteínas e n o retinol plas-
ção com o retinol pela álcool desidrogenase, que é necessária para mático. Para distinguir as causas inflamatórias e nutricionais n a
a oxidação do retinol a retinal e ácido retinóico. A deficiência de redução da concentração plasmática do retinol é necessário medir
vitamina A p o d e levar à anemia, embora o m e c a n i s m o exato q u e u m a proteína típica de fase aguda, c o m o a proteína C-reativa
leva à essa doença n ã o seja exatamente c o m p r e e n d i d o . (CRP).
As características clínicas da deficiência de vitamina A são
alterações degenerativas nos olhos e n a pele e dificuldade de Intervalos de Referência
adaptação ao escuro ou cegueira -noturna (nictalopia). Efeitos mais A orientação para intervalos de referência para a vitamina A
sérios da deficiência são xeroftalmia, n a qual a c o n j u n t i v a se plasmática é (1) 20 a 40 [lg/dL (0,70 a 1,40 jj,mol/L) para crian-
torna seca c o m p e q u e n a s placas cinza c o m suiperfície espumosa ças com idade entre 1 e 6 anos, (2) 26 a 49 p g / d L (0,91 a 1,71
(manchas de Bitot), e a queratomálacia, que causa ulceração e p m o l / L ) para crianças com idade entre 7 e 12 anos, (3) 26 a 72
necrose da córnea. U s u a l m e n t e , esses sintomas estão associados p g / d L (0,91 a 2,51 p m o l / L ) para adolescentes c o m idade entre
a alterações n a pele, que incluem (1) secura, (2) aspereza, (3) 13 e 19 anos e (4) 30 a 80 [ i g / d L (1,05 a 2,80 p m o l / L ) para
erupções de pápulas e (4) hiperqueratose folicular. adultos. Valores acima de 30 p g / d L (1,05 p m o l / L ) estão associa-
dos a reservas apreciáveis n o fígado e se correlacionam b e m c o m
Toxicidade a ingestão de vitamina A. D e n t r o d o intervalo de referência,
E m b o r a o metabolismo da vitamina A seja f o r t e m e n t e regulado, valores para h o m e n s são, geralmente, ceTca d e 2 0 % superiores
os efeitos tóxicos da h i p e r v i t a m i n o s e A têm ocorrido c o m o resul- àqueles para mulheres. O intervalo de referência para o p-caro-
tado do excesso de ingestão da vitamina ou como efeito colateral t e n o plasmático é de 10 a 85 [ i g / d L (0,19 a 1,58 p m o l / L ) . Con-
de terapia inapropriada. A hipervitaminose A ocorre (1) após o centrações elevadas são e n c o n t r a d a s em pacientes com hipotireoi-
estoque hepático de retinol ou se seus ésteres excederem 3.000 dismo, nos quais a conversão para vitamina A é d i m i n u í d a , e e m
(ig/g de tecido, (2) após ingestão superior a 30.000 jig/dia por pacientes com hiperlipemia associada ao diabetes meilitus. O inter-
meses ou anos ou (3) se as concentrações plasmáticas de viamina valo de referência para a R B P plasmática é de 3 a 6 m g / d L .
A excederem 140 j i g / d L (4,9 jjmol/L). A intoxicação aguda por
u m a alta dose única é rara. A intoxicação crônica por doses mode- Vitamina D
r a d a m e n t e altas e ingeridas por longos períodos é caracterizada A vitamina D exerce papel essencial, c o m o h o r m ô n i o , no con-
p o r (1) dores nos ossos e nas juntas, (2) perda de cabelos, (3) trole dos metabolismos de cálcio e fósforo. Esse papel é discutido
secura e fissuras nos lábios, (4) anorexia, (5) hipertensão intracra- em detalhes n o C a p í t u l o 38.
niana benigna, (6) perda de peso e (7) hepatomegalia.
Evidências epidemiológicas e experimentais indicam q u e a Vitamina E
ingestão elevada de vitamina A p o r seres h u m a n o s , agindo via A vitamina E é u m antioxidante que atua c o m o u m sequestrador
ácido 13-cis-retinóico, é terá to gê nica. O Food a n d Nutri tion de oxigênio molecular e de radicais livres. Ele t a m b é m tem u m
Board of the U.S. Institute of Medicine tem r e c o m e n d a d o que papel n a respiração muscular.
o limite m á x i m o tolerável de ingestão de vitamina A pré-formada
seja de 3.000 ]ug/dia para h o m e n s e concentrações inferiores para Química
(1) mulheres em idade fértil, (2) recém-nascidos, (3) crianças e (4) Vitamina E é o termo nutricional para o g r u p o de tocoferóis e
adolescentes. 6 A carotenemia resulta da ingestão crônica exces- tocotrienóis de ocorrência natural e que possuem atividade bioló-
siva de alimentos ricos em carotenóides, principalmente cenoura.
Essa condição, e m q u e a pele amarelada é observada, é benigna
u m a vez que o excesso de caroteno é depositado, e n ã o convertido
e m vitamina A.

Avaliação Laboratorial do Estado


A dosagem da concentração plasmática de vitamina A é larga-
m e n t e utilizada para avaliar o estado desta vitamina. Este, n o
e n t a n t o , não é u m indicador ideal p o r q u e n ã o decai até que os H CH
estoques d o fígado atinjam níveis críticos. Acredita-se que isso CT
JL ' „ 1
ocorra q u a n d o observadas concentrações de a p r o x i m a d a m e n t e
20 jig/g de tecido hepática. O s m é t o d o s químicos inicialmente
utilizados, tais como os métodos de Carr-Price e Neeld-Pearson,
p CH3 H
foram inteiramente substituídos p o r cromatografia liquida de TUÚJÇRTÇR.II' >. F
alta eficiência (HPLC). As técnicas de fase normal e de fase CH3 3 CHJ ç
y H
reversa têm sido utilizadas em c o n j u n t o c o m detectores fotomé- T 1 1
- Y 1 w A
tricos, eletroquímicos ou espectrômetro de massa. 5 H H
C o m o o retinol circula n o plasma e m forma de complexo
com R B P e transtirretina n a p r o p o r ç ã o 1:1:1, essas proteínas Figura 2 7 - 4 Formas vitamínicas da vitamina E.
494 PARTE IV Analitos

gica similar ao RRR-a-tocoferol (anteriormente D-a-tocoferol). É trado a associação entre a r e d u ç ã o na ingestão de vitamina E (e
i m p o r t a n t e t a m b é m notar que R R R se refere às posições 2, 4 e 8 outros fatores da dieta) e u m a u m e n t o n a incidência de doença
de R na cadeia de Tocoferol. O s prefixos gregos a , (3, y e 5 indicam crônica, p a r t i c u l a r m e n t e em doenças cardiovasculares e câncer.
a presença o u ausência de g r u p a m e n t o s metil nas posições 5 e 7 Entretanto, a maioria dos estudos que avaliam a s u p l e m e n t a ç ã o
(Figura 27-4). Tocoferóis e tocotrienóis são (1) óleos viscosos à tem f a l h a d o ao tentar d e m o n s t r a r q u a l q u e r benefício.
temperatura ambiente, (2) lipossolúveis e (1) insolúveis em solu-
ções aquosas. Na ausência de oxigênio, os tocoferóis e tocotrienóis Necessidades e Recomendações para a ingestão
t a m b é m são estáveis e m a m b i e n t e ácido e quente, mas sensíveis de Nutrientes
ao oxigênio em soluções alcalinas e n a luz ultravioleta. A q u a n t i d a d e diária necessária de vitamina E está relacionada
com o c o n t e ú d o celular de ácidos graxos poliinsaturados. Acre-
Fontes Dietéticas dita-se q u e a necessidade m í n i m a de v i t a m i n a E para adultos é
As principais fontes dietéticas de vitamina E são (1) óleos e gor- de 3 a 4 m g / d i a para aqueles que c o n s o m e m u m a q u a n t i d a d e
duras, particularmente óleos de germe de trigo e óleo de girassol, m í n i m a de ácidos graxos essenciais n a dieta. Entretanto, a R D A
(2) grãos e (3) nozes. Carnes, frutas e vegetais c o n t r i b u e m p o u c o de v i t a m i n a E para adultos foi a u m e n t a d a , n o ano 2000, pelo
para o f o r n e c i m e n t o de v i t a m i n a E. O gama-tocoferol é a princi- Food a n d N u t r i t i o n Board dos Estados U n i d o s de 10 para 15
pal f o i m a de vitamina E e n c o n t r a d a em diversas sementes utili- m g / d i a . 4 A maioria das recomendações para a ingestão européia
zadas n a dieta nos Estados U n i d o s , mas está presente em apenas está relacionada à ingestão de ácidos graxos poliinsaturados. U m a
u m q u a r t o a u m d é c i m o da concentração de a-tocoferol n o outra modificação nas novas recomendações é de que as necessi-
plasma h u m a n o . dades diárias devem ser alcançadas apenas pelo RRR-a-tocoferol,
u m a vez q u e as outras formas de v i t a m i n a E n ã o são convertidas
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção em a-tocoferol, s e n d o p o b r e m e n t e reconhecidas pela proteína
N a presença da bile, a vitamina E é absorvida n o intestino transportadora de a-tocoferol n o fígado.
delgado. A maioria das formas de vitamina E é absorvida de
maneira não seletiva e excretada nas partículas de quilomícrons. Deficiência
Essas são transportadas para os tecidos periféricos (principal- Recém-nascidos p r e m a t u r o s e c o m baixo peso são particular-
m e n t e o adiposo) com o auxílio da lipoproteína lípase. O fígado m e n t e suscetíveis ao desenvolvimento de deficiência de v i t a m i n a
absorve os quilomícrons remanescentes, o n d e o a-tocoferol é E, u m a vez que a transferência placentária é pobre e os recém-
i n c o r p o r a d o à lipoproteína de densidade m u i t o baixa (VLDL). A nascidos possuem q u a n t i d a d e s limitadas de tecido adiposo. O s
vitamina E é excretada pela bile e n a u r i n a c o m o ácido tecoferô- sinais da deficiência incluem (1) irritabilidade, (2) edema e (3)
nico e seu conjugado (3-glicuronídeo. anemia hemolítica. Apesar de os sintomas da deficiência de vita-
m i n a E serem raros e m crianças e adultos, a deficiência ocorre
em algumas condições. Estados de m á absorção de lipídios, c o m o
Funções na fibrose cística e n a colestase crônica em crianças, são conhe-
A v i t a m i n a E é considerada necessária para (1) funções neuroló- cidos causadores de n e u r o p a t i a e a n e m i a hemolítica, assim c o m o
gicas e reprodutivas, (2) proteção de célula vermelha c o n t r a hemó- da d e s o r d e m genética a b e t a l i p o p r o t e m e m i a (as (Mipoproteínas
lise, (3) prevenção de retinopatia em recém-nascidos p r e m a t u r o s são t r a n s p o r t a d o r a s de v i t a m i n a E).
e (4) inibição de reações e m cadeias de radicais livres da peroxi-
dação de lipídios. Essa última ocorre, principalmente, com os Toxicidade
ácidos graxos poliinsaturados dos fosfolipídios de m e m b r a n a . O s O excesso da ingestão de v i t a m i n a E é u s u a l m e n t e atingido
tocoferóis e tocotrienóis i n i b e m f o r t e m e n t e a peroxidação de apenas p o r suplementação n a dieta e p o d e causar deficiência das
lipídios p o r q u e eliminam radicais peroxil e m velocidades supe- vitaminas D c K, p o r competição pela absorção. U m a revisão
riores àquelas que esses radicais livres reagem com a cadeia de detalhada sobre a ; tolerância e a segurança da vitamina E sugeriu
ácido graxo adjacente o u com as proteínas de m e m b r a n a . O s que a ingestão de até 3 . 0 0 0 m g / d i a é segura Efeitos colaterais
radicais tocoferil e tocotrienil resultantes p o d e m e n t ã o reagir com reversíveis, c o m o (1) sintomas gastrointestinais, (2) creatinúria
outros radicais peroxil para produzir tocoferonas (não são radicais elevada e (3) inibição da coagulação sanguínea, têm sido obser-
livres) ou ser regenerados pela transferência de u m elétron para vados para ingestões entre 1.000 e 3.000 m g / d i a . O Food a n d
o ascorbato, f o r m a n d o o radical ascorbil. Assim, as vitaminas E N u t r i t i o n Board dos Estados U n i d o s t e m r e c o m e n d a d o q u e o
e C agem sinergisticamente para diminuiT a peroxidação de lipí- limite m á x i m o tolerável de ingestão de v i t a m i n a E seja de 1.000
dios (Figura 27-5). Muitas avaliações epidemiológicas têm mos- jig/dia para adultos com 19 anos ou mais. 4

COOH
© 0
/
Radical livre Radical livre Vitamina E
de ascorbato \ \ // TocH o Radical peroxil
de ascorbato
\ / o
(da peroxidação de lipídios)

Desidroascorbsco
/ \ ©
V-\=/'w'00H
Ascorbato Toe " Radical q H i d r o p e r ó x i d o de lipídio
tocoferil
OH

Figura 2 7 - 5 Ação sinérgica entre a v i t a m i n a E e o ácido ascórbico na quebra da reação em cadeia de radicais.
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 495

rrV* P. CA., tjaar.Jo n" 4


.CHJ
NADPH
Desidrogenase depen-

^ T T I
CH3
dente de mDPH

NADP
<£>

Tipo Ki (me n aqui nonas) Q u i n o na


p. ex., ÍCjos) quando n - 7
Ditiol Ditiol reduzido
oxidado Warfarina,
alguns anti-

Redutase bióticos Redutase


Ditiol Ditiol
Figura 2 7 - 6 Formas vitamínicas da vitamina K.
reduzido oxidado

Avaliação Laboratorial do Estado Caiboxilase


0^, CO?
A H P L C é a t u a l m e n t e o m é t o d o p r e f e r e n c i a l para q u a n t i f i c a r os
tocofcróis n o soro. Alfa e y-tocoferóis são principais v i t â m e i o s
o b s e r v a d o s , e m b o r a o u t r o s s e j a m detectáveis c o m p e q u e n a s "R
COOH COOH
m o d i f i c a ç õ e s das c o n d i ç õ e s analíticas. C r o m a t o g r a f i a s gás-líquido I ÒH
H—C—COOH CH :
e d e c a m a d a f i n a têm sido utilizadas p a r a separar tocoferóis e I Hidroquinona
Ep óxido
tocotrienóis. CH 2 CII;
I
Proteína Proteína
Intervalos de Referência Proteína Gla
A r e c o m e n d a ç ã o para intervalos de referência para a v i t a m i n a E
n o soro ou n o p l a s m a ( h e p a r i n a ) são (1) 0,1 a 0,5 m g / d L (2,3 a Figura 27- Ciclo metabólico da vitamina K, o efeito da warfarina
11,6 | i m o l / L ) para n e o n a t o s p r e m a t u r o s , (2) 0,3 a 0,9 m / d L (7 e a formação das proteínas Gla.
a 21 jj,mol/L) para crianças (1 a 12 anos), (3) 0,6 a 1,0 m g / d L
(14 a 23 p,mol/L) para a d o l e s c e n t e s e (4) 0 , 5 a 1,8 m g / d L (12 a
4 2 |J,mol/L) p a r a a d u k o s . fígado, a d i s t r i b u i ç ã o intracelular o c o r r e p r i n c i p a l m e n t e n a
fração m i c r o s s ô m i c a . A liberação d a v i t a m i n a K para a c o r r e n t e
Vitamina K s a n g u í n e a p e r m i t e a associação c o m as p 4 i p o p r o t e í n a s circulantes
A v i t a m i n a K p r o m o v e a c o a g u l a ç ã o s a n g u í n e a e é necessária p a r a v i s a n d o ao t r a n s p o r t e p a r a o u t r o s tecidos.
a conversão d e diversos fatores d a c o a g u l a ç ã o e da p r o r r o m b i n a , E m tecidos m e t a b o l i c a m e n t e ativos e q u e utilizam v i t a m i n a
e t e m s i d o d e interesse crescente n o m e t a b o l i s m o ósseo. K, e s p e c i a l m e n t e o fígado, existe u m ciclo d e v i t a m i n a K micros-
s ô m i c o (Figura 27-7). A v i t a m i n a ( q u i n o n a ) é n o r m a l m e n t e redu-
Química zida à h i d r o q u i n o n a p o r u m sistema d e f l a v o p r o t e í n a sensível ao
O s c o m p o s t o s da série da v i t a m i n a K são as 2-metil-l,4-nafitoqui- tiol, q u e se a c o p l a ao oxigênio e ao d i ó x i d o de c a r b o n o p a r a
n o n a s , q u e a p r e s e n t a m substituições n o C 3 das cadeias laterais. f o r m a r u m a p r o t e í n a c o m r e s í d u o s y-carboxiglutamil, G l a (p. ex.,
As d u a s classes n a t u r a i s p r i n c i p a i s d e v i t a m i n a K são as filoqumo- p r o t r o m b i n a ) . O 2,3-epóxido d e v i t a m i n a K, q u e é mais t a r d e
nas (tipo Ki), sintetizadas p o r p l a n t a s , e as menaquinonas (tipo K 2 ),f o r m a d o , é r e d u z i d o para a f o r m a de v i t a m i n a K inicial ( q u i n o n a ) ,
de o r i g e m b a c t e r i a n a (Figura 27-6). Diversos análogos sintéticos u m processo i n i b i d o p o r a n t a g o n i s t a s da v i t a m i n a K, c o m o , p o r
e derivados t ê m sido utilizados n a n u t r i ç ã o h u m a n a . A m a i o r i a exemplo, a w a r f a r i n a . A p e n a s traços d e m e t a b ó l i t o s u r i n á r i o s d e
está r e l a c i o n a d a à o u é d e r i v a d a d a menadiona (K3), a q u a l n ã o v i t a m i n a s Ki e K 2 a p a r e c e m n a u r i n a . U m a p o r ç ã o considerável
a p r e s e n t a u m a s u b s t i t u i ç ã o n a posição 3 d a cadeia lateral, mas é v i t a m i n a K 3 ( m e n a d i o n a ) é c o n j u g a d a p a r a f o r m a r fi-glicuroní-
c o n v e r t i d a à m e n a q u i n o n a (MK). Esses c o m p o s t o s são d e s t r u í d o s deos e ésteres d e sulfato, q u e são excretados.
p o r soluções alcalinas e agentes r e d u t o r e s e são sensíveis à luz
ultravioleta. Funções
O papel essencial e mais b e m d e f i n i d o d a v i t a m i n a K é o d e f a t o r
Fontes Dietéticas dietético a n t i - h e m o r r á g i c o . U m a carboxilase d e p e n d e n t e de vita-
As p r i n c i p a i s f o n t e s dietéticas d e f i l o q u i n o n a s são (1) vegetais m i n a K c o n v e r t e r e s í d u o s g l u t a m i l específicos e m proteínas-alvo
verdes, (2) m a r g a r i n a s e (3) óleos vegetais, e n q u a n t o as m e n a q u i - a r e s í d u o s y-carboxiglutamil (Gla). Essa y-caiboxilação a u m e n t a a
n o n a s são o b t i d a s d e (1) q u e i j o s , (2) o u t r o s p r o d u t o s lácteos e a f i n i d a d e dessas p r o t e í n a s pelo cálcio. A v i t a m i n a K t a m b é m é
(3) ovos. necessária para a f o r m a ç ã o das p r o t e í n a s Gla (1) p r o t r o m b i n a
(fator II), (2) p r o c o n v e r t i n a (fator VII), (3) c o m p o n e n t e plasmá-
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção tico d a t r o m b o p l a s t i n a (fator IX) e (4) f a t o r de S t u a r t (fator X).
A absorção de vitamina K natural n o intestino delgado para o Essas, e m c o n j u n t o c o m d u a s o u t r a s p r o t e í n a s h e m o s t á t i c a s
sistema linfático é facilitada pela bile. A eficiência d a absorção d e p e n d e n t e s d e v i t a m i n a K, p r o t e í n a s C e S e Ca 2 + , i n i c i a m u m
varia d e 1 5 % a 6 5 % . As v i t a m i n a s Ki e K? são ligadas aos quilo- processo para f o r m a r t r o m b i n a q u e , e n t ã o , catalisa a conversão
m í c r o n s p a r a serem t r a n s p o r t a d a s das células da m u c o s a p a r a o d o f i b r i n o g ê n i o e m u m coágulo de f i b r i n a .
fígado. A m e n a d i o n a (K 3 ) é m a i s r á p i d a e c o m p l e t a m e n t e absor- P r o t e í n a s q u e c o n t é m resíduos y-carboxiglutamil t a m b é m são
vida p e l o i n t e s t i n o antes d e e n t r a r n a c o r r e n t e s a n g u í n e a . N o a b u n d a n t e s n o t e c i d o ósseo, c o m a osteocalcina c o r r e s p o n d e n d o
496 PARTE IV Analitos

a até 8 0 % d o c o n t e ú d o total d e y-carboxiglu tamil d o osso m a d u r o . recalcificado e c o m p a r a n d o o t e m p o de coagulação c o m aquele


O u t r a p r o t e í n a G l a m a j o r i t á r i a , a p r o t e í n a Gla de matriz ( M G P ) d e u m a amostra-controle n o r m a l . N a deficiência d e v i t a m i n a K,
- c o n t e n d o cinco resíduos ycarboxiglutamil - é encontrada na o P T p o d e ser s u p e r i o r a 3 0 s e g u n d o s (normal: 10 até 14 segun-
m u s c u l a t u r a lisa vascular, n o osso e e m m u i t o s tecidos m o l e s dos). Tentativas de p a d r o n i z a ç ã o i n t e r l a b o r a t ó r i o s levou à intro-
(coração, rins e p u l m ã o ) . Actedita-se que a M G P se a c u m u l a e m d u ç ã o d a N o r m a t i z a ç ã o I n t e r n a c i o n a l d a Razão (INR), o n d e P T
sítios de calcificação, i n c l u i n d o as válvulas aórticas e ossos calci- é expresso c o m o u m a f r a ç ã o de t e m p o d a amostra-controle.
ficados, além d e ser u m p o t e n t e i n i b i d o r da calcificação. A dosagem direta de f i l o q u i n o n a plasmática é, provavel-
m e n t e , o m e l h o r i n d i c a d o r d o e s t a d o d a v i t a m i n a K e t e m sido
Necessidades e Recomendações para Ingestão de c o r r e l a c i o n a d o a d e q u a d a m e n t e c o m a ingestão. A avaliação p o r
Nutrientes H P L C t i p i c a m e n t e r e q u e r 0,5 a 2,0 m L de soro o u p l a s m a e
E m b o r a as bactérias residentes d o i n t e s t i n o h u m a n o sintetizem envolve (1) a p r e c i p i t a ç ã o d e p r o t e í n a s e a extração d e lipídios
g r a n d e s q u a n t i d a d e s de m e n a q u i n o n a s , a a b s o r ç ã o desses com- ( g e r a l m e n t e e m h e x a n o ) , (2) a evaporação d o solvente, (3) u m a
p o s t o s t e m s i d o d e difícil d e m o n s t r a ç ã o , e a restrição de v i t a m i n a H P L C preparativa (para isolar a v i t a m i n a K de o u t r o s lipídios),
K n a dieta c o r r o b o r a essa d i f i c u l d a d e . A r e c o m e n d a ç ã o para a (4) a reevaporação d a f r a ç ã o rica e m v i t a m i n a K, (5) diluição n a
ingestão d e v i t a m i n a K foi r e c e n t e m e n t e revisada pelo F o o d a n d fase móvel e (6) H P L C e q u i p a d o c o m detector e l e t r o q u í m i c o ou
N u t r i t i o n B o a r d of t h e U.S. I n s t i t u t e of M e d i c i n e e é de 120 f l u o r i m é t r i c o , f r e q ü e n t e m e n t e após a r e d u ç ã o pós-coluna. Tipi-
jj.g/dia p a r a h o m e n s c o m i d a d e s u p e r i o r a 18 anos e 9 0 |j,g/dia c a m e n t e , os valores de i m p r e c i s ã o e n t r e e x p e r i m e n t o s são de
para m u l h e r e s , i n c l u i n d o aquelas grávidas e lactantes. 6 A ingestão 11% a 18% (coeficiente de v a r i a ç ã o [CV]), c o m limites de detec-
de f i l o q u i n o n a n a dieta d e p o p u l a ç õ e s n o r t e - a m e r i c a n a s e n a ção inferiores a 5 0 p m o l / L .
m a i o r i a das p o p u l a ç õ e s e u r o p é i a s e s t u d a d a s foi e s t i m a d a e m
cerca de 150 j j g / d i a para pessoas acima de 5 5 anos e 8 0 (ig/dia Intervalos de Referência
p a r a i n d i v í d u o s mais jovens. O i n t e r v a l o de referência p a r a a v i t a m i n a K plasmática é 0,13 a
1,19 n g / m L (0,29 a 2 , 6 4 n m o l / L ) .
Deficiência
E m b o r a a deficiência de v i t a m i n a K e m a d u l t o s seja í n c o m u m , Vitamina B1 - Tiamina
o risco a u m e n t a e m estados d e m á absorção d e g o r d u r a s (obstru- V i t a m i n a B! - t a m b é m c o n h e c i d a c o m o t i a m i n a - f o r m a a coen-
ção de d u e t o s biliares, fibrose cística e p a n c r e a t i t e crônica) e zima t i a m i n a p i r o f o s f a t o (TPP). Essa ê necessária para reações
d o e n ç a s hepáticas. O risco t a m b é m a u m e n t a c o m o u s o d e drogas essenciais d e descarboxilação catalisadas pelos complexos piru-
q u e i n t e r f e r e m n o m e t a b o l i s m o d e v i t a m i n a K, tais c o m o os v a t o d e s i d r o g e n a s e e 2-oxoglutarato d e s i d r o g e n a s e .
a n t i c o a g u l a n t e s c u m a r í n i c o s (p. ex., w a r f a r i n a ) ' e alguns antibió-
ticos (p, ex., cefalosporina). A coagulação s a n g u í n e a d e f e i t u o s a e Química
a observação d e p r o t r o m b i n a a n o r m a l , n ã o carboxilada, são até A e s t r u t u r a da tiamina (3-[4-amino-2-metil-pirimidil-5-metil]-4-
o m o m e n t o os ú n i c o s sinais b e m estabelecidos de deficiência d e metil-5-[p-hidroxietil]tiazol) a p r e s e n t a u m anel p i r i m í d i c o , pos-
v i t a m i n a K. s u i n d o u m g r u p a m e n t o a m i n o , ligado a u m anel tiazol p o r u m a
A o c o r r ê n c i a de doença hemorrágica e m recém-nascidos t e m p o n t e m e t i l e n o (Figura 27-8). O tiazol tem u m a cadeia lateral d e
sido a t r i b u í d a à (1) t r a n s f e r ê n c i a i n s u f i c i e n t e de v i t a m i n a K pela álcool p r i m á r i o e m C 5 , q u e é fosforilada in vivo para p r o d u z i r
p l a c e n t a , (2) i m a t u r i d a d e h e p á t i c a , l e v a n d o à síntese i n a d e q u a d a ésteres d e tiamina fosfato, s e n d o o mais c o m u m a T P P ( t a m b é m
d e p r o t e í n a s d a coagulação s a n g u í n e a e (3) baixa c o n c e n t r a ç ã o c o n h e c i d a c o m o t i a m i n a d i f o s f a t o , co-carboxilase). Esteres m o n o -
d e v i t a m i n a K n o leite m a t e r n o n a fase inicial de a m a m e n t a ç ã o . fosfato e trifosfato t a m b é m o c o r r e m .
As c o n c e n t r a ç õ e s d e p r o t r o m b i n a d u r a n t e episódios d e h e m o r -
ragias e m n e o n a t o s são a p e n a s 2 5 % d a c o n c e n t r a ç ã o total e m Fontes Dietéticas
adultos. A d i a r r é i a i n t e n s a e a utilização de a n t i b i ó t i c o s p a r a P e q u e n a s q u a n t i d a d e s de t i a m i n a e seus fosfatos estão presentes
s u p r i m i r a d i a r r é i a e x a c e r b a m essa situação, d e tal f o r m a que n a m a i o r i a dos tecidos vegetais e animais, m a s as f o n t e s mais
q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o d e p r o t r o m b i n a se t o r n a i n f e r i o r a 5 % a b u n d a n t e s são os grãos d e cereais n ã o r e f i n a d o s . O enriqueci-
d a q u e l a d o s adultos, o c o r r e s a n g r a m e n t o . A a d m i n i s t r a ç ã o pro- m e n t o d e f a r i n h a s e de p r o d u t o s alimentícios derivados, sobre-
filática de 0,5 a 1,0 m g de f i l o q u i n o n a i n t r a m u s c u l a r o u d e 2,0 t u d o os cereais matinais, a u m e n t a r a m c o n s i d e r a v e l m e n t e a dis-
m g oral i m e d i a t a m e n t e após o n a s c i m e n t o evita essa c o n d i ç ã o . p o n i b i l i d a d e dessa v i t a m i n a .

Toxicidade Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção


A utilização d e altas doses das v i t a m i n a s K de o c o r r ê n c i a n a t u r a l A a b s o r ç ã o da t i a m i n a o c o r r e p r i m a r i a m e n t e n o i n t e s t i n o delgado
(Kj e K 2 ) n ã o a p a r e n t a causar efeitos nocivos; e n t r e t a n t o , o trata- p r o x i m a l p o r processo saturável ( t r a n s p o r t a d o r de t i a m i n a ) e m
m e n t o c o m m e n a d i o n a (K 3 ) leva à f o r m a ç ã o de inclusões cito- baixas c o n c e n t r a ç õ e s (1 ^ i m o l / L o u inferior) e p o r d i f u s ã o passiva
plasmáticas e m eritrócitos, c o n h e c i d a s c o m o c o r p o s d e H e i n z , e
à anemia hemolítica.

Mil
Avaliação Laboratorial do Estado (li
Por a p r e s e n t a r c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas r e l a t i v a m e n t e baixas
( a p r o x i m a d a m e n t e 5 0 vezes inferiores às de v i t a m i n a D e 10 3 vezes
o ei
mais baixas d o q u e as das v i t a m i n a s A e E), a v i t a m i n a K s e m p r e HjC >r -s
l l
r e p r e s e n t o u u m desafio d o p o n t o de vista analítico. C o n s e q ü e n -
t e m e n t e , a avaliação d a presença de vi t ami na K t r a d i c i o n a l m e n t e d)H ÍH
foi acessada d e m a n e i r a f u n c i o n a l , p r i m a r i a m e n t e pelo efeito da Tiamina pirofosfaco
v i t a m i n a n o t e m p o d e coagulação. O t e m p o de p r o t r o m b i n a (PT)
Figura 2 7 - 8 Tiamina e a coenzima pirofosfato.
é analisado pela adição de t r o m b o p l a s t i n a tecidual ao plasma
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 497

e m concentrações superiores. A tiamina absorvida é fosforilada oftalmoplegia, (7) edema (beribéri úmido), (8) desgaste muscular
n a célula, p r i n c i p a l m e n t e a pirofosfato, mas, d o lado seroso, 9 0 % (beribéri seco), (9) taquicardia e (10) coração a u m e n t a d o . E m
da tiamina transferida está na f o r m a livre. A tiamina é transpor- recém-nascidos, os s i n t o m a s aparecem r e p e n t i n a m e n t e e são
t a d a pelo sangue portal até o fígado. A vitamina livre ocorre n o graves, u s u a l m e n t e envolvendo falha cardíaca e cianose.
plasma, m a s a T P P é o c o m p o n e n t e celular primário. Aproxima- A deficiência de tiamina ocorre por (1) ingestão i n a d e q u a d a
d a m e n t e 3 0 m g são armazenados pelo corpo, sendo 8 0 % como decorrente de dietas d e p e n d e n t e s de grãos beneficiados e n ã o
pirofosfato, 10% c o m o trifosfato e o restante como t i a m i n a e seu enriquecidos, c o m o arroz e trigo, e (2) ingestão de peixes crus
m o n o f o s f a t o . As três enzimas teciduais conhecidas p o r participa- c o n t e n d o tiaminases microbianas. O alcoolismo crônico geral-
rem n a f o r m a ç ã o dos ésteres d e fosfato são (1) tiaminoquinase, m e n t e leva à deficiência de tiamina causada pela redução da
(2) TPP-adenosina trifosfato (ATP) fosforil transferase (5'-adeni- ingestão, d i m i n u i ç ã o na absorção e estoques reduzidos e, clinica-
lico q u i n a s e citossólica) e (3) tiamina trifosfatase. mente, p o d e levar à s í n d r o m e de Wernicke-Korsakoff. O u t r o s
Cerca da m e t a d e dos estoques corporais é e n c o n t r a d a nos grupos de risco incluem (1) aqueles que recebem nutrição paren-
músculos esqueléticos, sendo o restante em maior parte distribu- tal total (TPN) sem a s u p l e m e n t a ç ã o adequada de tiamina, (2)
ído entre coração, fígado, rins e tecidos nervosos (incluindo o pacientes idosos utilizando diuréticos e (3) pacientes que fazem
cérebro, q u e c o n t é m a maior parte do trifosfato). A meia-vida diálise por m u i t o tempo.
estimada d a tiamina é de 9,5 a 18,5 dias.
Toxicidade
Funções N ã o são conhecidos relatos de efeitos adversos por c o n s u m o
A tiamina é necessária ao organismo c o m o pirofosfato (TPP) para excessivo de tiamina de alimentos e s u p l e m e n t o s (suplementos
dois tipos gerais de reação: (1) descarboxilação oxidativa de 2- de 50 m g / d i a são a l t a m e n t e disponíveis sem prescrições).
oxiácidos catalisada p o r complexos de desidiogenases e (2) for-
mação de 2-cetóis (cetoses) catalisada pela transcetolase. A T P P Avaliação Laboratorial do Estado
f u n c i o n a c o m o u m a coenzima c o o r d e n a d a ao Mg2+ n a conhecida C o m o a f u n ç ã o biológica básica da tiamina é a de agir c o m o co-
transferência de "aldeído ativo" e m complexos múltiplos enzimá- f a t o r de pirofosfato e m vários sistemas enzimáticos, duas estraté-
ticos que afetam a conversão descarboxilativa dos ácidos 2-oxiá- gias diferentes de avaliação do estado são utilizadas. E m u m a , o
cidos para os derivados da acetil-coenzima A (acil-CoA), tal c o m o analito, livre ou fosforilado, é d o s a d o d i r e t a m e n t e e m u m f l u i d o
na piruvato desidrogenase e n a 2-oxoglutarato desidiogenase. corporal ou e m u m tecido apropriado. N a segunda, as proprie-
Essas geralmente estão localizadas na mitocôndria, o n d e são efi- dades de co-fator enzimático são exploradas n u m ensaio funcio-
c i e n t e m e n t e utilizadas n o ciclo de Krebs (ciclo dos ácidos tricar- nal. A m b a s as estratégias têm vantagens e desvantagens, mas u m
boxílicos). consenso sobre qual é a mais útil ainda n ã o foi alcançado; as duas
A transcetolase é u m a enzima d e p e n d e n t e de TPP e n c o n t r a d a são provavelmente complementares, cada u m a a p r e s e n t a n d o
n o citosol d e células d e diversos tecidos, especialmente fígado e alguma, mas n ã o todas, as informações necessárias para avaliar a
células do sangue, o n d e as principais vias metabólicas de carboi- tiamina a d e q u a d a m e n t e .
dratos o c o r r e m . N a via das pentoses fosfato, q u e a d i c i o n a l m e n t e A enzima mais c o m u m e n t e utilizada para o ensaio f u n c i o n a l
s u p r e m q u a n t i d a d e s de n i c o t i n a m i d a adenina dinucleotídeo é a transcetolase, e estão disponíveis variados m é t o d o s para a sua
fosfato reduzidas (NADPH), necessárias para as reações de bios- dosagem. N o p r o c e d i m e n t o de Brin, as atividades das formas
síntese, essa enzima catalisa a transferência reversível da porção holo e apo de transcetolase de eritrócitos h e m o h s a d o s são
glicoaldeídica dos dois primeiros carbonos de u m a cetose fosfato medidas antes e depois da adição de TPP. O teste de ativação da
d o a d o r a para u m c a r b o n o aldeídico de u m a aldose fosfato. transcetolase é feito em d u a s etapas: u m a m e d e a atividade basal,
e a outra, o grau e m que a atividade basal é a u m e n t a d a pela T T P
Necessidades e Recomendações para Ingestão de exógena, e cada u m a é i n f l u e n c i a d a p o r diferentes fatores. Existem
Nutrientes evidências de que, e m estados de deficiência crônica, a síntese de
C o m o a t i a m i n a é necessária para o metabolismo de carboidra- a p o e n z i m a p o d e diminuir. E m estudos comparativos das concen-
tos, gorduras e álcool, existe u m a correlação direta e n t r e a neces- trações de T P P em eritrócitos, as melhores correlações são obtidas
sidade e a q u a n t i d a d e de ingestão de alimento metabolizável. com a atividade basal, e n ã o com o coeficiente de ativação.
Existe u m a necessidade maior e m situações nas quais o metabo- A dosagem direta da c o n c e n t r a ç ã o de tiamina circulante p o d e
lismo está a u m e n t a d o (p. ex., e m condições normais de a u m e n t o ser feita n o plasma, nos eritrócitos ou n o sangue total. Acredita-
de atividade muscular, gravidez ou lactação, ou em casos anor- se que a concentração n o plasma ou n o soro reflete a ingestão
mais de febre prolongada, pós-trauma e hipertireoidismo). Sinais recente e é, principalmente, t i a m i n a n ã o fosforilada e e m baixas
clínicos da deficiência em adultos são evitados com ingestões de concentrações (em torno de 10 a 20 n m o l / L ) . C o m o o eritrócito
tiamina superiores a 0,15 a 0,2 m g / 1 . 0 0 0 kcal, m a s 0,35 a 0,4 c o n t é m a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 % d o total de tiamina do sangue
m g / 1 . 0 0 0 kcal p o d e m estar mais próximos da q u a n t i d a d e neces- total maioritariamente c o m o pirofosfato, e os estoques dos eri-
sária para m a n u t e n ç ã o da excreção urinária e para a atividade d e trócitos são depletados e m taxas similares a outros órgãos princi-
transcetolase de eritrócito d e p e n d e n t e de T P P d e n t r o dos inter- pais, a dosagem de T P P e m eritrócitos, por H P L C , é u m b o m
valos de referência normais. A R D A atual é 1,2 m g / d i a para indicador de estoques corporais. M é t o d o s típicos e m p r e g a n d o a
adultos d o sexo masculino e 1,1 m g / d i a para mulheres. Necessi- H P L C incluem (1) u m a etapa d e precipitação de proteínas, (2)
dades adicionais são r e c o m e n d a d a s na gravidez e lactação. 2 formação do f l u o r ó f o r o t i o c r o m o pré- ou pós-coluna, u s u a l m e n t e
com ferricianeto alcalino e (3) separação isocrática. Amostras de
Deficiência sangue total p o d e m ser analisadas de maneira similar para eritró-
Beribéri é a doença resultante da deficiência de t i a m i n a . Sinais citos lavados.
clínicos da deficiência de t i a m i n a envolvem, p r i m a r i a m e n t e , os
sistemas nervoso e cardiovascular. N o adulto, os s i n t o m a s mais Intervalos de Referência
f r e q ü e n t e m e n t e observados, são: (1) c o n f u s ã o m e n t a l , (2) anore- Algumas orientações de intervalos de referência para a atividade
xia, (3) fraqueza muscular, (4) ataxia, (5) paralisia periférica, (6) da transcetolase de eritrócito são de 0,75 a 1,30 U / g H b (48,4 a
498 PARTE IV Analitos

83,9 k U / m o l H b ) e, para o efeito n a p e r c e n t a g e m d e T P P (ativa- cífico e m c o n c e n t r a ç õ e s fisiológicas. E m altas c o n c e n t r a ç õ e s , a


ção), 0 % a 1 5 % c o n s i d e r a d o n o r m a l , 16% a 2 5 % m a r g i n a l m e n t e c a p t a ç ã o acontece p o r d i f u s ã o passiva.
d e f i c i e n t e e > 2 5 % g r a v e m e n t e d e f i c i e n t e c o m sinais clínicos. Para A conversão d e r i b o f l a v i n a a c o e n z i m a s o c o r r e n o c i t o p l a s m a
d o s a g e n s d i r e t a s d a c o n c e n t r a ç ã o de TPP, os intervalos típicos de células d a m a i o r i a d o s tecidos, mas, p a r t i c u l a r m e n t e , n o intes-
são 173 a 2 9 3 n m o l / L p a r a eritrócitos e 9 0 a 140 n m o l / L para tino delgado, fígado, c o r a ç ã o e r i m . O p r i m e i r o passo, t a m b é m
sangue total. obrigatório, é a fosforilação d e p e n d e n t e de A T P d a v i t a m i n a
catalisada pela f l a v i n o q u i n a s e . O p r o d u t o F M N é c o m p l e x a d o
Vitamina B2 - Riboflavina c o m a p o e n z i m a s específicas p a r a f o r m a r diversas f l a p r o t e í n a s
A v i t a m i n a B 2 , t a m b é m c o n h e c i d a c o m o riboflavina, é u m com- f u n c i o n a i s , mas a m a i o r p a r t e é p o s t e r i o r m e n t e c o n v e r t i d a e m
p o n e n t e essencial das coenzimas d e flavina a d e n i n a dinucleotí- F A D n u m a s e g u n d a reação d e p e n d e n t e d e A T P e catalisada pela
d e o (FAD) e flavina m o n o n u c l e o t í d e o (FMN), q u e estão envolvi- F A D sintase (pirofosfortlase). E m v i r t u d e d e o e s t o q u e de ribo-
das e m m u i t a s reações redox. flavina ser baixo, a excreção u r i n á r i a reflete a ingestão diária.

Química Funções
V i t a m i n a B z refere-se à r i b o f l a v i n a e seus m e t a b ó l i t o s relaciona- As coenzimas de r i b o f l a v i n a são aptas a participar d e processos
dos, q u e a t u a m c o m o co-fatores de diversas enzimas envolvidas de t r a n s p o r t e d e u m e d e dois e l é t r o n s e têm u m p a p e l central
e m reações d e redução-oxidação. O c o m p o s t o p a r e n t a l , ribofla- n o a c o p l a m e n t o da via d e o x i d a ç ã o d e dois elétrons da m a i o r i a
vina (7,8-dimetil-10-[r-D-ribitil]isoaloxazina) é u m c o m p o s t o dos substratos p a r a a t r a n s f e r ê n c i a d e u m e l é t r o n d a cadeia res-
a m a r e l o f l u o r e s c e n t e . Seu p a p e l fisiológico p r i n c i p a l é a t u a r piratória, e s t a n d o , assim, envolvidas n a p r o d u ç ã o d e energia.
c o m o p r e c u r s o r d e F M N (riboflavina-5'-fosfato) e FAD. A forma- A d i c i o n a l m e n t e , as f l a v o p r o t e í n a s catalisam reações d e (1) desi-
ção d o F M N , pela ação da f l a v i n o q u i n a s e , se d á pela fosforilação drogenações, (2) hidroxilações, (3) descarboxilações oxidativas,
d e r i b o f l a v i n a , e o F A D é f o r m a d o pela ação de F A D sintase, a (4) desoxigenações e (5) r e d u ç õ e s d e oxigênio a p e r ó x i d o d e
partir de F M N e A T P (Figura 27-9). As flavinas são termoestáveis, h i d r o g ê n i o . O u t r a s f u n ç õ e s i m p o r t a n t e s da r i b o f l a v i n a i n c l u e m
p o r é m são sensíveis à luz. o m e t a b o l i s m o d e drogas e m c o n j u n ç ã o c o m enzimas c i t o c r o m o
P-450 e o m e t a b o l i s m o d e lipídios.
Fontes Dietéticas As flavinas t a m b é m a p r e s e n t a m atividades pró-oxidativas e
F o n t e s ricas das f o r m a s da c o e n z i m a são o fígado, r i m e o c o r a ç ã o . antioxidativas. Acredita-se q u e essas c o n t r i b u e m p a r a a u m e n t a r o
M u i t o s vegetais t a m b é m c o n s t i t u e m boas fontes, assim c o m o o estresse oxidativo, peta c a p a c i d a d e de p r o d u z i r s u p e r ó x i d o e p o r
leite, mas os cereais a p r e s e n t a m baixo teor d e flavina. E n t r e t a n t o , catalisar a p r o d u ç ã o d e p e r ó x i d o d e h i d r o g ê n i o . C o m o anti-oxi-
as práticas a t u a i s d e f o r t a l e c i m e n t o e e n r i q u e c i m e n t o destes d a n t e , o F A D é u m a c o e n z i m a da g l u t a t i o n a Tedutase n a regene-
ú l t i m o s os fizeram c o n t r i b u i n t e s significantes d a d e m a n d a ração d e glutationa reduzida a p a r t i r de glutationa oxidada, neces-
diária. sária para a r e m o ç ã o de p e r ó x i d o s d e lipídios. A deficiência d e
riboflavina está associada ao a u m e n t o n a peroxidação d e lipídios.
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção As flavinas t a m b é m t ê m a h a b i l i d a d e de d i m i n u i r as concentra-
A m a i o r q u a n t i d a d e de r i b o f l a v i n a d a dieta é c o n s u m i d a c o m o ções de homocisteína, s e n d o o F A D u m co-fator d a metilenote-
u m c o m p l e x o d e p r o t e í n a s d o s a l i m e n t o s c o m as c o e n z i m a s F M N t r a i d r o f o l a t o r e d u t a s e n a remetilação da h o m o c i s t e í n a .
e FAD. Essas c o e n z i m a s são liberadas da associação n ã o c o v a l e n t e
a p r o t e í n a s pela acidificação gástrica. A v i t a m i n a é absorvida, Necessidades e Recomendações para Ingestão de
p r i m a r i a m e n t e , pelo i n t e s t i n o d e l g a d o p r o x i m a l p o r u m transpor- Nutrientes
t a d o r saturável, d e m a n e i r a r á p i d a e p r o p o r c i o n a l à ingestão, A avaliação da n e c e s s i d a d e d e r i b o f l a v i n a é f u n d a m e n t a d a n a
a n t e s d e atingir u m p l a t ô e m d o s e s p r ó x i m a s a 27 m g de ribofla- relação e n t r e a ingestão e os sinais óbvios de (1) h i p o r r i b o f l a v i -
vina p o r dia. O s sais biliares a p a r e n t e m e n t e facilitam a a b s o r ç ã o . nose, (2) excreção d a v i t a m i n a pela u r i n a , (3) c o n t e ú d o de ribo-
O t r a n s p o r t e de f l a v m a s pela c o r r e n t e s a n g u í n e a h u m a n a envolve flavina e m eritrócitos e (4) atividade d e g l u t a t i o n a r e d u t a s e e m
a ligação f r o u x a à a l b u m i n a e f o r t e a várias globulinas, particu- eritTÓcitos. C o m base e m c o n s i d e r a ç õ e s c o m o essas, a R D A atual
l a r m e n t e i m u n o g l o b u l i n a s . A c a p t a ç ã o de r i b o f l a v i n a pelas foi f i x a d a e m 1,3 m g / d i a p a r a h o m e n s a d u l t o s e 1,1 m g / d i a para
células d o s ó r g ã o s é u m processo q u e r e q u e r u m c a r r e a d o r espe- m u l h e r e s . Necessidades a d i c i o n a i s são sugeridas n a gravidez e
lactação.

Deficiência
A deficiência de r i b o f l a v i n a é caracterizada por (1) d o r de gar-
ganta, (2) hipeTemia, (3) e d e m a s de m e m b r a n a s d a f ar i nge e d a
m u c o s a oral, (4) queilose, (5) e s t o m a t i t e angular, (6) glossite
(língua c o m coloração m a g e n t a ) , (7) d e r m a t i t e seborréica e (8)
a n e m i a n o r m o c í t i c a e normocTÔmica. E n t r e t a n t o , alguns desses
s i n t o m a s , c o m o glossite e d e r m a t i t e , q u a n d o e n c o n t r a d o s nesse
cenário, p o d e m ser r e s u l t a n t e s de complicações associadas a
o u t r a s deficiências.
A p e s a r de a r i b o f l a v i n a ser a m p l a m e n t e e n c o n t r a d a e m ali-
m e n t o s , m u i t a s pessoas vivem l o n g o s p e r í o d o s d e baixa ingestão,
e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , sinais discretos d a deficiência são c o m u n s
e m m u i t a s partes d o m u n d o . E m adição à ingestão i n s u f i c i e n t e ,
FAD a deficiência f u n c i o n a l t e m s i d o i n d u z i d a p o r doenças, tais c o m o
h i p o t i r e o i d i s m o e insuficiência adrenal, q u e i n i b e m a conversão
Figura 2 7 - 9 Riboflavina e FMN como componentes do FAD, d e r i b o f l a v i n a às respectivas coenzimas. E m v i r t u d e da a m p l a
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 499

distribuição das coenzimas d e f l a v i n a rio m e t a b o l i s m o i n t e r m e - Vitamina B6 - Piridoxina, Piridoxamina e


d i á r i o e d o e n v o l v i m e n t o n o m e t a b o l i s m o d o ácido fólico, a Piridoxal
deficiência e m (1) p i r i d o x i n a , (2) v i t a m i n a K e (3) n i a c i n a afetará A piridoxina (piridoxal), a piridoxamina e o piridoxal são as três
sistemas enzimáticos adicionais àqueles q u e r e q u e r e m c o e n z i m a s f o r m a s n a t u r a i s de v i t a m i n a B 6 . Essas são convertidas e m pirido-
de f l a v m a . xal fostato, q u e é r e q u e r i d o p a r a a síntese, c a t a b o l i s m o e inter-
conversão de a m i n o á c i d o s .
Toxicidade
P r o v a v e l m e n t e c o m o r e s u l t a d o das limitações de s o l u b i l i d a d e e Química
a b s o r ç ã o gástrica, n e n h u m efeito adverso t e m sido associado As três f o r m a s naturais: (1) piridoxina (piridoxol) (PN), (2) pirido-
à ingestão d e riboflavina n o t a v e l m e n t e acima das c o n c e n t r a ç õ e s xamina (PM) e (3) piridoxal (PL) são p i r i d i n a s 2'metil-3-hidroxil-5-
da RDA. h i d r o x i m e t i l substituídas em C 4 (Figura 27-10). D u r a n t e as con-
versões metabólicas, cada v i t â m e r o é f o s f o r i l a d o n a p o s i ç ã o 5-
Avaliação Laboratorial do Estado hidroximetil. E m b o r a a p i r i d o x a m i n a 5' fosfato (PMP) e o piri-
O estado n u t r i c i o n a l da riboflavina é avaliado (1) pela d e t e r m i n a - doxal 5 ' fosfato (PLP, P-5'-P) s e j a m f o r m a s interconversíveis de
ção da excreção urinária d a riboflavina, (2) p o r u m ensaio funcio- coenzimas e m reações catalisadas p o r a m i n o t r a n s f e r a s e (transa-
nal utilizando o coeficiente de ativação d a estimulação da enzima minase), PLP é a f o r m a q u e p a r t i c i p a n a a m p l a m a i o r i a das
glutationa r e d u t a s e pelo F A D o u (3) p o r dosagens diretas d e ribo- reações d e p e n d e n t e s d e v i t a m i n a B^-
flavina, ou dos seus metabólitos n o plasma ou nos eritrócitos.
A r i b o f l a v i n a u r i n á r i a é d o s a d a p o r f l u o r i m e t r i a e procedi- Fontes Dietéticas
m e n t o s m i c r o b i o l ó g i c o s , mas, p a r a m e d i d a s especificas, a H P L C , A vitamina Bfi é a m p l a m e n t e distribuída e m tecidos animais e de
c o m b i n a d a c o m a detecção f l u o r i m é t r i c a , é o m é t o d o p r e f e r e n - plantas o n d e as f o r m a s fosforiladas, particular m e n t e o PLP, predo-
cial. E m c o n d i ç ã o de ingestão a d e q u a d a , a q u a n t i d a d e excretada m i n a m . Carnes, aves e peixes são boas fontes, assim c o m o levedu-
d i a r i a m e n t e é s u p e r i o r a 120 (J.g ou 8 0 p.g/g d e c r e a t i n i n a . C o n - ras, d e t e r m i n a d a s sementes, farelo e b a n a n a s . Cereais fortificados
dições q u e l e v a m a u m b a l a n ç o negativo de n i t r o g ê n i o e a admi- p r o n t o s para o c o n s u m o têm sido i m p o r t a n t e s f o n t e s dessa vita-
nistração d e a n t i b i ó t i c o s e d e t e r m i n a d o s psicotrópicos (derivados m i n a . A f o r m a comercial da v i t a m i n a mais c o m u m é o hidrocloreto
d a fenotiazina) elevam as c o n c e n t r a ç õ e s d e riboflavina n a u r i n a , de piridoxina, que é u m sólido hidrossolúvel, b r a n c o e cristalino.
c o m o c o n s e q ü ê n c i a d a d e p l e ç ã o tecidual e d e s l o c a m e n t o .
U m m é t o d o f u n c i o n a l u s u a l p a r a avaliar o estado d a ribofla-
vina é a d e t e r m i n a ç ã o da atividade de g l u t a t i o n a r e d u t a s e e m Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
eritrócitos e o a u m e n t o da atividade com a i n c u b a ç ã o n a p r e s e n ç a As f o n t e s de o r i g e m a n i m a l c o n t ê m p r i n c i p a l m e n t e PLP c o m
de F A D exógeno. 1 2 A maioria dos m é t o d o s avalia a velocidade de alguma PMP, e n q u a n t o as f o n t e s vegetais c o n t ê m t a m b é m piri-
variação d a absorvância, e m 3 4 0 n m , causada pela oxidação d o d o x i n a 5 ' glicosídio, q u e é a b s o r v i d a d e m a n e i r a d i f e r e n t e . As
N A D P H , e foi a u t o m a t i z a d a p a r a a o b t e n ç ã o rápida d e r e s u l t a d o s f o r m a s fosforiladas são h i d r o l i s a d a s pela ação i n t r a l u m i n a l da
e C V s inferiores a 2 % d e n t r o d e u m a avaliação, apesar d e alguns fosfatase alcalina intestinal, m a s o p i r i d o x i d i n a 5'glicosídio é
utilizarem a detecção de fluorescência. E m deficiência p r o l o n g a d a h i d r o l i s a d o p o r glicosidases inespecíficas n o i n t e r i o r das células
de riboflavina, a atividade d a a p o e n z i m a p o d e ser reduzida, de m a n e i r a m e n o s eficiente. O s v i t ã m e r o s não-fosforilados são
l e v a n d o a u m cálculo i n c o r r e t o d o coeficiente de atividade. p r o n t a m e n t e absorvidos pelas células da m u c o s a p o r d i f u s ã o
As d o s a g e n s diretas d e r i b o f l a v i n a , F M N e F A D e m eritróci- passiva. A q u i , c o m o e m o u t r a s células q u e n e c e s s i t a m de B 6 , os
tos ou n o p l a s m a p o d e m ser realizadas p o r H P L C , u s u a l m e n t e v i t ã m e r o s não-fosforilados p o d e m ser " a p r i s i o n a d o s " metabolica-
c o m a detecção p o r f l u o r e s c ê n c i a após a precipitação p r o t é i c a o u m e n t e nas f o r m a s fosforiladas pela f o r m a citoplasmática d a piri-
p o i eletroforese de z o n a de capilaridade, c o m a d e t e c ç ã o d a flu- doxal q u i n a s e , responsável p e l a catálise d e p e n d e n t e de A T P das
orescência i n d u z i d a p o r laser. três f o r m a s d e v i t a m i n a s . O s v i t ã m e r o s são d e f o s f o r i l a d o s a n t e s
de serem t r a n s p o r t a d o s para o fígado, via veia p o r t a l .
Intervalos de Referência A Figura 27-11 m o s t r a o m e t a b o l i s m o intracelular da vita-
O s intervalos d e referência p a r a a r i b o f l a v i n a de eritrócitos, uti- m i n a Bg. A m a i o r i a das células c o n t é m u m a p i r i d o x i n a (pirido-
lizando o m é t o d o f l u o r i m é t r i c o , é d e 10 a 5 0 |Ug/dL (266 a 1.330 x a m i n a ) ^ ' - f o s f a t o oxidase d e p e n d e n t e de F M N responsável p o r
n m o l / L ) e p a r a c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas é de 4 a 24 fJ.g/dL (106 catalisar a conversão d e p e n d e n t e d e oxigênio d a p i r i d o x i n a
a 6 3 8 n m o l / L ) . A o r i e n t a ç ã o p a r a intervalos de referência p a r a fosfato e d a p i r i d o x a m i n a f o s f a t o a P L P (e p e r ó x i d o de hidrogê-
o c o e f i c i e n t e d e ativação da g l u t a t i o n a r e d u t a s e p o r F A D , e m nio). A PLP e n t r a d i r e t a m e n t e n a s organelas celulares, c o m o
eritrócitos, é d e 1,20 (adequação), 1,21 a 1,40 (deficiência margi- m i t o c ô n d r i a s de h e p a t ó c i t o s se ligam a n u m e r o s a s a p o e n z i m a s
nal) e 1,41 o u s u p e r i o r (deficiência). 1 específicas p a r a realizar f u n ç õ e s catalíticas p o r t o d a a célula. E m
adição, os eritrócitos a p r i s i o n a m P L P c o m o u m a base d e Schiff
conjugada c o m hemoglobina. A vitamina B6 muscular representa
8 0 % d o s estoques c o r p o r a i s , m a i o r i t a r i a m e n t e c o m o PLP ligado
a glicogênio fosforilase. Acreditasse q u e o estoque total d e vita-
m i n a B 6 n o c o r p o seja cerca d e 1 m m o l .
R
A liberação d a v i t a m i n a livre, p r i n c i p a l m e n t e piridoxal,
ocorre q u a n d o c o n c e n t r a ç õ e s fisiológicas n ã o - s a t u r a n t e s são
absorvidas. O s fosfatos são e n t ã o h i d r o l i s a d o s pela fosfatase alca-
lina inespecífica localizada n a m e m b r a n a plasmática. A l g u m PLP
é t a m b é m liberado n a circulação p e l o fígado. E m b o r a a PLP seja
a p r i n c i p a l f o r m a tecidual d a v i t a m i n a B 6 e o piridoxal c o n s t i t u a
Figura 2 7 - 1 0 Formas livre e fosforilada da vitamina B^. R =
C H 2 O H para piridoxina, C H 2 N H 2 para piridoxamina e C H O para
m u i t o da v i t a m i n a circulante, o p r i n c i p a l c a t a b ó l i t o excretado n a
u r i n a é o ácido 4-piridóxico (4-PA).
piridoxal
500 PARTE IV Analitos

Difusão e/ou transporte para/do sangue

Aldeído
oxidíLse
Piíidoxamina Piridoxal *" Ácido pirídáxico Piridoxina
\ / \ /* Pi
/ \ /ATt>
lumasí
*.V
?r \ /"ATP
V
"A A-TA k
QuiruiSe Fosfatase uiitase
ADP ADP
Ja* ADP
H,0
Piridoxamina Piridoxal 5'- Piridoxina
5'-fosfaco fosfato 5 -fosfato
Obridose Oxida se

V- y

Figura 27-11 Metaholismo da vitamina

Funções q u e a a p o e n z i m a da g l u t a m a t o descarboxilase t e m a f i n i d a d e defi-


C o m o c o e n z i m a PLP, a v i t a m i n a B 6 f u n c i o n a e m mais d e u m a ciente pela coenzima, (2) acidúria x a n t u r ê n i c a , e m q u e a afini-
c e n t e n a d e reações e n v o l v e n d o o m e t a b o l i s m o d e m a c r o n u t r i e n - d a d e d a c i n u r e n i n a s e m u t a n t e pelo PLP é d i m i n u í d a e (3) h o m o -
tes. E s p e c i a l m e n t e , diversas são as enzimas d e p e n d e n t e s d e PLP cistinúria c a u s a d a p o r u m a c i s t a t i o n i n a P-sintase t a m b é m defei-
envolvidas n o m e t a b o l i s m o de a m i n o á c i d o s e q u e ligam esse tuosa. N e s t e s casos, q u a n t i d a d e s m a i o r e s (200 a 1.000 m g / d i a )
m e t a b o l i s m o às reações cetogênicas e glicogênicas. O u t r o s exem- d e v i t a m i n a a d m i n i s t r a d a são necessárias p o r t o d a a vida d o
plos d e enzimas d e p e n d e n t e s de PLP são (1) a m i n o á c i d o descar- paciente. O estado baixo da v i t a m i n a B 6 (em c o n j u n t o c o m a
boxilases, q u e levam à f o r m a ç ã o d e a m i n a s (p. ex., e p i n e f r i n a , v i t a m i n a B l 2 baixa e o estado d o folato) e m h u m a n o s foi relacio-
n o r e p i n e f r i n a , s e r o t o n i n a e y - a m i n o b u t i r a t o ) , (2) cistefna desulfi- n a d o à h i p e r - h o m o c i s t e i n e m i a , u m f a t o r d e risco i n d e p e n d e n t e
drase e s e r i n o hidroximetiltranfeTase, q u e utiliza PLP para inter- p a r a a d o e n ç a cardiovascular.
ferir n a p e r d a ou t r a n s f e r ê n c i a de cadeias laterais de a m i n o á c i d o s , C l i n i c a m e n t e , a n o r m a l i d a d e s eletroencefalográficas apare-
(3) fosforilase, q u e catalisa a fosforólise das ligações a - 1 , 4 d o c e m d e n t r o d e três s e m a n a s e as convulsões e p i l e p t i f o r m e s são
glicogênio, e (4) c i s t a t i o n i n a p-sintase, n a via d e t r a n s u l f u r a ç ã o c o m u n s e m i n d i v í d u o s jovens deficientes de v i t a m i n a B^. A l é m
d a h o m o c i s t e í n a . A d i c i o n a l m e n t e , a biossíntese d o g r u p a m e n t o disso, o c o r r e m m u d a n ç a s n a pele, i n c l u i n d o d e r m a t i t e c o m quei-
h e m e d e p e n d e d a f o r m a ç ã o inicial de 5 - a m i n o l e v u l i n a t o a p a r t i r tose e glossite. M a n i f e s t a ç õ e s hematológicas p o d e m incluir dimi-
da c o n d e n s a ç ã o d e glicina e succinil-CoA d e p e n d e n t e d e PLP, n u i ç ã o n o n ú m e r o de linfõcitos circulantes e, possivelmente,
seguida d a descaboxilação, e u m i m p o r t a n t e papel n o m e t a b o - a n e m i a n o r m o c í t i c a , microcítica o u sideroblástica.
lismo d e lipídios é a c o n d e n s a ç ã o d e p e n d e n t e de PLP d a L-serina
com o palmitoil-CoA para formar a 3-deidroesfinganina, u m Toxicidade
p r e c u r s o r de esfingomielinas. A p e s a r de n ã o serem c o n h e c i d o s relatos d e efeitos adversos p o r
c o n s u m o excessivo d e a l i m e n t o s c o n t e n d o a v i t a m i n a Bs, suple-
Necessidades e Recomendações para Ingestão de m e n t o oral c o n t e n d o altas doses p r o v o c a m efeitos n e u r o t ó x i c o s
Nutrientes e fotossensibilidade. C o m base n o p o n t o f i n a l d o desenvolvi-
A necessidade de v i t a m i n a Bg é a m p l a m e n t e relacionada c o m a m e n t o de n e u r o p a t i a sensorial, n o s E s t a d o s U n i d o s , as r e c o m e n -
ingestão de proteínas. 2 A p r o p o r ç ã o de 0,016 mg de vitamina dações atuais d e t e r i n i n a m u m a c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a tolerável
Bfc/g de p r o t e í n a ingerida é sugerida para adultos n o r m a i s e p o d e p a r a a ingestão de 100 m g / d i a p a r a adultos.
seT extrapolada para crianças e adolescentes. As RDAs propostas
são 1,3 m g / d i a para h o m e n s c o m até 5 0 anos e 1,7 m g / d i a para Avaliação Laboratorial do Estado
h o m e n s c o m idade superior; para m u l h e r e s entre 19 e 50 anos, 1,3 A s s i m c o m o para o u t r a s v i t a m i n a s d o c o m p l e x o B q u e funcio-
m g / d i a , e acima de 50 anos, 1,5 m g / d i a . U m a s u p l e m e n t a ç ã o de n a m c o m o coenzimas, a avaliação b i o q u í m i c a da v i t a m i n a B 6 é
0,6 m g / d i a é sugerida n a gravidez, e d e 0,5 m g / d i a , n a lactação. 2 realizada p o r análises q u í m i c a s diretas d o v i t ã m e r o o u d e seus
metabólitos, o u p o r testes f u n c i o n a i s . Por exemplo, técnicas ana-
Deficiência líticas são utilizadas para m e d i r (1) PLP n o plasma o u e m células
A deficiência d e v i t a m i n a B 6 isolada é i n c o m u m , s e n d o mais vermelhas, (2) seu m e t a b ó l i t o 4-PA n a u r i n a ou plasma, (3) a
u s u a l m e n t e associada a déficits de outras v i t a m i n a s d o c o m p l e x o atividade e o coeficiente de ativação das a m i n o t r a n s f e r a s e s (aspar-
B. A s s i m c o m o para outras v i t a m i n a s hidrossolúveis q u e f u n c i o - tato e alanina) das células v e r m e l h a s e (4) a excreção de m e t a b ó -
n a m c o m o coenzimas, a s i n t o m a t o l o g i a progressiva d a deficiência lito n o teste d e sobrecarga de t r i p t o f a n o 1 . C o m o n e n h u m analito
dessa v i t a m i n a é d e p e n d e n t e da a f i n i d a d e relativa d a c o e n z i m a Teflete a d e q u a d a m e n t e o estado, u m a c o m b i n a ç ã o desses marca-
para u m a d a d a a p o e n z i m a e d a e x t e n s ã o n a qual a reação catalisa dores oferece a m e l h o r a p r o x i m a ç ã o .
pela h o l o e n z i m a é essencial. A l g u m a s interações c o m drogas PLP plasmático e 4-PA u r i n á r i o o u plasmático são os mais
levam à h i p o v i t a m i n o s e (avitaminose) da v i t a m i n a B 6 . 2 Essas c o m u m e n t e d o s a d o s p o r H P L C . PLP é d o s a d o pela detecção da
i n c l u e m a droga a n t i t u b e r c o l o s e isoniazida (hidrazida d o ácido f l u o r e s c ê n c i a dos f l u o r ó f o r o s p r é - f o r m a d o s s e m i c a b a z o n e ou u m
isonicotínico), q u e forma h i d r a z o n a s c o m o piridoxal e c o m o ácido p i r i d ó x i d o f o s f a t o . E d o s a d a a f l u o r e s c ê n c i a n a t u r a l d e
PLP, a p e n i c i l a m i n a , as drogas c o n t r a o m a l de P a r k i n s o n , b e n - 4-PA. U m m é t o d o h o m o g é n e o e n ã o radioativo utilizando u m a
serazida, c a r b i d o p a e teofilina. e n z i m a r e c o m b i n a n t e para avaliar PLP foi descrito e e m p r e g a 5
Existem diversos erros i n a t o s d o m e t a b o l i s m o responsivos à |iL de plasma, t e m limite de detecção de 5 n m o l / L e p o d e ser
v i t a m i n a B^, q u e i n c l u e m (1) convulsões e m recém-nascidos, e m a d a p t a d o a u m analisador a u t o m a t i z a d o .
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 501

A avaliação f u n c i o n a l do estado da vitamina B 6 p o d e ser fisiológica p r e d o m i n a n t e de cobalamina sérica é a metilcobala-


realizada pela atividade e o coeficiente de ativação da aspartato m m a , e n q u a n t o a citossólica é a adenosilcobalamina. A cianoco-
(ou alanina) aminotransferase das células vermelhas incubadas balamina tem peso molecular d e 1.335 D a e é g r a d u a l m e n t e
c o m PLP. Esses testes são m e n o s robustos que aqueles emprega- destruída pela exposição à luz.
dos para as vitaminas Bi e B 2 e considerados m e n o s práticos. A
dosagem de metabólitos urinários de triptofano, particularmente Fontes Dietéticas
o ácido x a n t u r ê n i c o , após a carga oral de 2 a 5 g de L-triptofano, Toda a vitamina Bj 2 é, em última análise, u m p r o d u t o de síntese
é u m dos índices mais c o m u n s utilizados para estudar o estado microbiana, e, em v i r t u d e das plantas n ã o utilizarem essa vita-
n u t r i c i o n a l p o r q u e as m u d a n ç a s são conhecidas p r e c o c e m e n t e e mina, as principais fontes na dieta são (1) carnes e derivados, (2)
as dosagens são relativamente fáceis. laticínios, (3) peixes e mariscos e (4) cereais fortificados p r o n t o s
para a ingestão.
Intervalos de Referência
A orientação do intervalo de referência para o PLP plasmático é Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
de 5 a 30 n g / m L (20 a 121 n m o l / L ) . C o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas A captação de vitamina B n a partir d o intestino para a circulação
inferiores a 5 n g / m L (20 n m o l / L ) são consideradas deficientes. é u m m e c a n i s m o complexo q u e envolve cinco moléculas de
Coeficientes de ativação inferiores a cerca de 1,5 para aspartato ligação à vitamina B12, receptores e transportadores. A vitamina
aminotransferase e 1,2 para alanina aminotransferase são consi- B12 liberada do alimento n o estômago se liga à h a p t o c o r r i n a
derados normais, mas d e p e n d e m , em u m certo nível, do m é t o d o (proteína R, u m a proteína da saliva) e viaja associada até o intes-
utilizado. tino, o n d e a h a p t o c o r r i n a é hidrolisada por enzimas pancreáticas.
A vitamina B ] 2 liberada se liga, então, ao fator intrínseco (IF),
Vitamina B12 - Cianocobalamina u m a glicoproteína com peso molecular de 5 0 kDa, produzida
A vitamina B ) 2 t a m b é m é conhecida c o m o ; c i a n o c o b a l a m i n a . E pelas células da mucosa gástrica. Q u a n d o o complexo vitamina
u m a v i t a m i n a hidrossolúvel e hematopoiética, necessária à matu- B12-IF chega n o íleo distai, este se liga a receptores da superfície
ração dos eritrócitos. das células epiteliais da mucosa e em seguida é internalizado.
D e n t r o dessas células, o complexo vitamina B ]2 -IF se dissocia e a
Química vitamina B 12 se liga à transcobalamina II (TcII). O complexo
V i t a m i n a B ) 2 é u m t e r m o genérico que se refere ao grupo fisio- vitamina B12-TcII é t r a n s p o r t a d o através da m e m b r a n a ligado a
logicamente ativo de substâncias q u i m i c a m e n t e classificadas um receptor de TcII e, então, é liberado n o plasma dos capilares
como c o b a l a m m a s o u corrinóides. Estes são compostos de anéis da mucosa e, s u b s e q ü e n t e m e n t e , n o sangue da veia portal. Q u a s e
tetrapirólicos que circundam á t o m o s centrais de cobalto e de toda a vitamina B ] 2 é capturada pelos hepatócitos, à m e d i d a que
cadeias nucleotídicas laterais ligadas ao cobalto. O anel tetrapi- o sangue circulante na veia portal passa pelo fígado. Essa é arma-
rólico, composto exclusivamente de cobalto e outras cadeias late- zenada n o fígado e liberada n o plasma para suprir a d e m a n d a
rais, é d e n o m i n a d o c o m n a . Todos os compostos que apresentam fisiológica. Se a q u a n t i d a d e de vitamina B 12 excede a capacidade
esse núcleo de corrina são d e n o m i n a d o s corrinóides. O com- dos receptores hepáticos, a maior parte do excesso é excretada
plexo cobalto-corrma é d e n o m i n a d o c o b a m i d a (Figura 27-12). pelos rins. De maneira usual, a p r o x i m a d a m e n t e 1 mg de vita-
As cobalaminas diferem entre si pela natureza dos grupos mina B 12 é armazenado n o fígado, q u a n t i d a d e c o r r e s p o n d e n t e à
laterais adicionais ligados ao cobalto. Exemplos são metil (metil- necessidade metabólica de 2.000 dias. Assim, q u a n d o o supri-
cobalamina), 5'-desoxiadenosina ([desoxiadenosil ou adenosil] m e n t o dietético de vitamina B ] 2 é i n t e r r o m p i d o ou os mecanis-
cobalamina), hidroxil (hidroxocobalamina), H 2 0 (aquacobala- mos de absorção são comprometidos, a deficiência de vitamina
mina) e cianeto (cianocobalamina). A cianocobalamina é u m B12 não é n o t a d a antes de cinco anos ou mais.
composto estável que forma cristais vermelhos escuros em f o r m a A vitamina B 52 é c o n t i n u a m e n t e secretada c o m a bilej mas a
de agulha. Esse é o composto de referência utilizado como cali- maioria é reabsorvida e disponível para as f u n ç õ e s metabólicas.
b r a d o r em m é t o d o s de m e d i d a de cobalamina sérica. A forma Se as concentrações circulantes excederem a capacidade de
captura pelo fígado, o excesso será excretado n a urina, mas n a
NH:
maioria das circunstâncias, a excreção se dá pelas fezes.
N-( N 5 '-deoxiadenosil-
N=^
Funções
CHj-s p
| OH QRI
A vitamina B12 é exigida c o m o coenzima para mais de 12
diferentes sistemas enzimáticos. E m h u m a n o s , é necessária (1)
c o m o coenzima, na forma de adenosilcobalamina, para a L-metil-
cobamida
malonil-CoA m u t a s e na conversão do L-metilmalonil-CoA e m
succinil-CoA, e (2) metilcobalamina, a coenzima da m e t i o n i n a
sintase n a conversão da homocisteina e m m e t i o n i n a . Defeitos
congênitos n a síntese de m u t a s e ou a inabilidade de sintetizar a
5:6-dimetil adenosilcobalamina (adenosil-Cbl) resultam n a necessidade de
-benzim jdaiol tratamentos para toda a vida do paciente da acidúria metilmalô-
nica e da cetoacidose metabólica. Defeitos congênitos na metio-
nina sintase ou na metil-Cbl síntese resultam em hiper-homocís-
CH2OH
teinemia grave.

Necessidades e Recomendações para Ingestão de


Figura 2 7 - 1 2 Estrutura cia S^deoxiadenosil c o b a l a m i n a ( M o d i f i c a d o Nutrientes
d e C h a n a r i n I: T h e megaloblastic anemias, 2 n d ed, O x f o r d : Blackwell O s estoques totais de vitamina B, 2 estão estimados entre 2 e 5
Scientific, 1979 ) mg para u m h o m e m adulto, dos quais 1 m g está n o fígado e u m a
502 PARTE IV Analitos

q u a n t i d a d e m e n o r , n o r i m . Acredita-se q u e h a j a u m a p e r d a diária tação e (6) d e m ê n c i a . Esta d e s o r d e m r e c e b e u o n o m e d e degene-


obrigatória dessa v i t a m i n a , de cerca d e 0 , 1 % d o total c o r p o r a l , ração c o m b i n a d a s u b a g u d a d a m e d u l a espinal.
i n d e p e n d e n t e d o t a m a n h o , s u g e r i n d o q u e a reposição diária p a r a
m a n t e r o e s t o q u e é de 2 a 5 pg. A dieta diária d e p o p u l a ç õ e s Toxicidade
o c i d e n t a i s c o n t é m 5 a 3 0 jig d e v i t a m i n a B ^ , c o m u m a m é d i a N ã o são c o n h e c i d o s os efeitos adversos r e l a c i o n a d o s ao c o n s u m o
de ingestão diária de 7 a 8 jig p o r h o m e n s a d u l t o s e de 4 a 5 p g excessivo d e a l i m e n t o s o u s u p l e m e n t o s dietéticos c o n t e n d o a
p o r m u l h e r e s a d u l t a s . Q u a n t i d a d e s p e q u e n a s adicionais p o d e m v i t a m i n a e m pessoas saudáveis.
ser sintetizadas pela m i c r o b i o t a intestinal. D o total i n g e r i d o , 1 a
5 jig são absorvidos. Avaliação Laboratorial do Estado
A R D A p a r a a v i t a m i n a B12 é b a s e a d a n a q u a n t i d a d e neces- Testes f u n c i o n a i s diretos e indiretos p a r a avaliar o e s t a d o d e
sária p a r a a m a n u t e n ç ã o d o e s t a d o n u t r i c i o n a l h e m a t o l ó g i c o e v i t a m i n a B 1 2 estão disponíveis. O s testes indiretos i n c l u e m ensaios
c o n c e n t r a ç õ e s n o r m a i s n o soro, a s s u m i n d o 5 0 % de aproveita- paTa (1) c o n c e n t r a ç õ e s u r i n á r i a s e sorológicas d o ácido metilma-
m e n t o d a v i t a m i n a ingerida. A R D A para a d u l t o s (19 a 5 0 anos) lônico, (2) h o m o c i s t e í n a plasmática, (3) teste d a supressão de
foi estabelecida e m 2,4 p g / d i a , c o m a u m e n t o de 2,6 ( i g / d i a n a d e s o x i u r i d i n a e (4) teste d a a b s o r ç ã o de v i t a m i n a B ] 2 .
gravidez e 2,8 f l g / d i a n a lactação. 2 Ensaios microbiológicos, de ligação competitiva de proteína
(CPB) e imunológicos t ê m sido empregados para a quantificação
Deficiência direta d a vitamina n o soro. O s ensaios microbiológicos t ê m sido
A deficiência d e v i t a m i n a B 12 e m h u m a n o s está associada à a m p l a m e n t e substituídos p o r outros m é t o d o s mais convenientes e
a n e m i a megaloblástica e à n e u r o p a t i a . A causa mais c o m u m é a precisos, entretanto, p e r m a n e c e m c o m o referência para a determi-
anemia perniciosa, d o e n ç a a u t o - i m u n e c o m a t r o f i a gástrica crônica nação da vitamina B 12 biologicamente ativa. Kits comerciais estão
r e s u l t a n t e de a n t i c o r p o s c o n t r a células gástricas parietais e IF, disponíveis para ensaios de C P B . E m u m ensaio a m p l a m e n t e utili-
dirigidos c o n t r a a H ' / K - A T P a s e das células gástricas parietais zado, a vitamina B 12 (cobalamina) compete com cobalamina marcada
H + / K \ A a n e m i a p e r n ici os a t a m b é m p o d e ocorrer e m crianças com S 7 Co por u m n ú m e r o l i m i t a d o d e sítios de ligação ao IF.
p o r f a l h a n a secreção de IF o u n a secreção d e I F b i o l o g i c a m e n t e A maioria dos testes i m u n o l ó g i c o s utiliza s e p a r a ç ã o e m fase
sólida via imobilização de ligantes d e I F e m esferas ou partículas
inativo. O u t r o s g r u p o s d e risco de deficiência de v i t a m i n a B 12
magnéticas. A v i t a m i n a livre, e n t ã o , p e r m a n e c e n o s o b r e n a d a n t e ,
i n c l u e m aqueles (1) acima de 6 5 anos, (2) c o m q u a d r o d e m á
e os analitos ligados se t o r n a m p a r t e d a fase sólida d a s u s p e n s ã o .
absorção, (3) vegetarianos, (4) p o r t a d o r e s de d e s o r d e n s auto-
Para dosagens s i m u l t â n e a s d e f o l a t o / v i t a m i n a B t 2 , c o n t a d o r e s d e
i m u n e s , (5) e m t r a t a m e n t o c o m drogas q u e s a b i d a m e n t e interfe-
cintilação gama q u e p o s s a m distinguir e n t r e os e l e m e n t o s 5 7 C o
rem na absorção ou n o metabolismo da vitamina, incluindo
(para v i t a m i n a Bi 2 ) e 125I (para o folato) devem ser e m p r e g a d o s .
ó x i d o nitroso, f e n i t o í n a , i ni bi dores da d i i d r o f o l a t o r e d u t a s e ,
M ú l t i p l o s sistemas a u t o m a t i z a d o s e s e m i - a u t o m a t i z a d o s estão dis-
m e t f o r m i n a e i n i b i d o r e s de b o m b a s d e p r ó t o n s e (6) recém-nas-
poníveis p a r a a d o s a g e m d e v i t a m i n a Bi 2 e folato utilizando, p o r
cidos c o m suspeitas d e d e s o r d e n s metabólicas.
exemplo, q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a c o m o sinal.
A m á absorção intestinal da v i t a m i n a B] 2 p o d e ser causada p o r
Testes indiretos acessam a a d e q u a ç ã o f u n c i o n a l de v i t a m i n a
gastrectomia o u a m p u t a ç ã o do íleo, h a v e n d o u m a relação inversa
B n . A c o n c e n t r a ç ã o sérica d o ácido m e t i l m a l ô n i c o é a u m e n t a d a
e n t r e o c o m p r i m e n t o d o íleo a m p u t a d o e a absorção de v i t a m i n a
q u a n d o a carência de a d e n i l - C b l b l o q u e i a a conversão de metil-
B 12 . O u t r a s causas de m á absorção são (1) psilose (spru tropical),
m a l o n i l - C o A a succinil-CoA. A h o m o c i s t e í n a plasmática total é
(2) d o e n ç a s i n f l a m a t ó r i a s d o intestino delgado, (3) estase intesti-
u m i n d i c a d o r sensível d o e s t a d o d a v i t a m i n a B n p o r q u e a metil-
nal c o m c r e s c i m e n t o excessivo de bactérias q u e c o n s o m e m a vita-
C b l é necessária p a r a a r e m e t i l a ç ã o d a h o m o c i s t e í n a a m e t i o n i n a ,
m i n a B] 2 ingerida pelo h o s p e d e i r o e (4) infecção pelo vírus d a
mas n ã o é específica, e s t a n d o elevada n a deficiência d o folato e
i m u n o d e f i c i ê n c i a h u m a n a (HIV). Vegetarianos i n g e r e m m e n o s
das v i t a m i n a s B 6 e B 12 . As d o s a g e n s de h o l o t r a n s c o b a l a m i n a II
v i t a m i n a B 12 q u e os onívoros, e, e m b o r a os sinais clínicos sejam são p o t e n c i a l m e n t e úteis c o m o m a r c a d o r e s específicos da vita-
i n c o m u n s , m a r c a d o r e s b i o q u í m i c o s d o estado p o d e m i n d i c a r defi- m i n a B 12 b i o l o g i c a m e n t e disponível, p o r q u e a p e n a s a c o b a l a m i n a
ciência f u n c i o n a l de v i t a m i n a Bi 2 . U m a m p l o n ú m e r o d e d o e n ç a s ligada ao TcII está e s p e c i f a m e n t e disponível para a captação p o r
está associado à deficiência de c o b a l a m i n a e m recém-nascidos o u todas as células. A l g u n s m é t o d o s f o r a m descritos p a r a m e d i r a
n a infância. Dessas, a mais e n c o n t r a d a é a s í n d r o m e de I m e r s l u n d - h o l o t r a n s c o b a l a m i n a n o soro, u m deles utilizando u m a n t i c o r p o
Graesbeck, q u e é caracterizada p o r inabilidade de a b s o r ç ã o de m o n o c l o n a l para t r a n s c o b a l a m i n a h u m a n a imobilizada, e e m
v i t a m i n a B 12 c o m o u s e m IF e p r o t e i n ú r i a . A p a r e n t e m e n t e , essa seguida a dosagem d e c o b a l a m i n a liberada pela C P B . Esse m é t o d o
inabilidade é d e c o r r e n t e d a impossibilidade d o intestino d e absor- está disponível c o m o icit comercial.
ver o complexo B 12 -IF. O s e g u n d o motivo mais c o m u m é a defici- O teste de Schilling serve p r i n c i p a l m e n t e para avaliar a absor-
ência c o n g ê n i t a d e secreção gástrica de IF. ção de v i t a m i n a B 12 , e n ã o o e s t a d o n u t r i c i o n a l d a v i t a m i n a , m a s
O s efeitos h e m a t o l ó g i c o s d a deficiência d e v i t a m i n a B i 2 são p e r m i t e a diferenciação e n t r e as causas d a deficiência d e v i t a m i n a
indistinguíveis d a q u e l e s d e c o r r e n t e s d a deficiência d e f o l a t o . As Bi2 ( a n e m i a perniciosa e m á absorção intestinal). O procedi-
alterações m o r f o l ó g i c a s clássicas n o sangue são (1) h i p e r s e g m e n - m e n t o u s u a l m e d e a r a d i o a t i v i d a d e e m u m a a m o s t r a de u r i n a d e
tação d e n e u t r ó f i l o s , (2) macrocitose, (3) a n e m i a , (4) l e u c o p e n i a 24 horas, coletada após a a d m i n i s t r a ç ã o oral d e 0,5 [ig de vita-
e (5) t r o b o c i t o p e n i a , c o m as alterações megaloblásticas n a m e d u l a m i n a B 12 marcada c o m C o r a d i o a t i v o após o j e j u m de u m a n o i t e .
óssea a c o m p a n h a n d o as alterações n o sangue periférico. T o d a s as E m i n d i v í d u o s n o r m a i s , 8 % ou mais da dose a d m i n i s t r a d a é
lesões d a m e d u l a óssea são reversíveis c o m terapia à base d e excretada n a u r i n a , e n q u a n t o , n a a n e m i a perniciosa, m e n o s de
v i t a m i n a Bn- 1% (geralmente d e 0 % a 3 % ) é excretado. U m teste c o n f i r m a t ó -
E m adição às alterações h e m a t o l ó g i c a s , a deficiência dessa rio para a falta d e IF r e q u e r a ingestão d e v i t a m i n a B 1 2 e IF.
v i t a m i n a p o d e levar à d e s o r d e m d e s m i e l i n i z a n t e d o sistema
n e r v o s o central. Esta d e s o r d e m provoca o u t r a s c o n d i ç õ e s n e u r o - intervalos de Referência
lógicas sérias e f r e q ü e n t e m e n t e irreversíveis, tais c o m o (1) quei- A O M S d e f i n e c o n c e n t r a ç õ e s séricas de v i t a m i n a B 12 inferiores
m a ç ã o ou p e r d a da sensibilidade nas extremidades, (2) fraqueza, a 150 n g / L (110 p m o l / L ) c o m o deficiência e 201 n g / L (147
(3) espasticidade e paralisia, (4) e s t a d o de c o n f u s ã o , (5) d e s o r i e n - p m o l / L ) o u superiores c o m o aceitáveis. 14
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 503

C o n c e n t r a ç õ e s de ácido metilmalônico inferiores a 376 mática pela m a n u t e n ç ã o de íons metálicos n a forma reduzida
n m o l / L têm sido consideradas aceitáveis em populações de (particularmente ferro e cobre). Exemplos são (1) protocolágeno
idosos nos Estados U n i d o s , assim c o m o as inferiores a 320 n m o l / hidroxilase, que hidroxila resíduos prolil e lisil e m peptídeos
L em u m g r u p o de indivíduos idosos alemães. nascentes, e m proteínas d o tecido conectivo, tais c o m o o colá-
geno (2) biossíntese de carnitina, n a qual atua c o m o co-fator para
Vitamina C - Ácido Ascórbico a 6-N-trimetil-lisina hidrolase e y-butirobetaína hid rolas e, (3)
A vitamina C (ácido L-ascórbico) participa como agente redutor degradação da tirosina via 4 - O H fenilpiruvato dioxigenase, (4)
de muitas reações b i o q u í m i c a s de hidroxilação. síntese de h o r m ô n i o s adrenais via d o p a m i n a (3-hidroxilase, (5)
biossíntese de corticosteróides e aldosterona, (6) hidroxilação d o
Química colesterol n a formação de ácidos biliares e (7) metabolismo do
O t e r m o vitamina C refere-se a todas as moléculas que exibem folato e funções leucocitárias.
propriedades antiescorbúticas e m h u m a n o s e inclui o ácido O ácido ascórbico é u m dos mais efetivos antioxidantes
ascórbico e a sua forma oxidada, o ácido diidroascórbico ( D H A ) hidrossolúveis e m fluidos biológicos e é fisiologicamente impor-
(Figura 27-13). O ácido L-ascóibico é a f o r m a enólica da 2-oxo- tante n a depuração de espécies reativas de oxigênio e de nitrogê-
L-gulofuranolactona, e a hidroxila enólica d o C 3 do anel tem u m nio. O radical ascorbil é relativamente estável, graças à estabiliza-
pKa de 4,2, responsável pela sua natureza ácida. As plantas e a ção da ressonância dos elétrons n ã o pareados. O ascorbato rege-
maioria dos animais possuem a habilidade de sintetizar a vita- nera outras moléculas antioxidantes pequenas, i n c l u i n d o (1) a -
mina a partir de D-glicose via lactonas do ácido D-glicurônico e tocoferol, (2) glutationa reduzida, (3) urato e (4) P-caroteno, a
ácidos de L-gulônicos. O s h u m a n o s e outros mamíferos, entre- partir dos seus respectivos radicais, e p o d e p o r t a n t o prevenir
tanto, n ã o possuem a L-gulonolactona oxidase, a enzima que d a n o s oxidativos a macromoléculas biológicas, i n c l u i n d o D N A ,
catalisa a formação de 2-oxo-L-gulonolactona, que espontanea- lipídios e proteínas.
m e n t e tautomeriza a ácido L-ascórbico. Então, a sua ingestão
diária p o r h u m a n o s e alguns mamíferos é essencial. Necessidades e Recomendações para Ingestão de
Nutrientes
Fontes Dietéticas A q u a n t i d a d e necessária de v i t a m i n a C pata aliviar e curar os
Excelentes fontes de vitamina C são (1) frutas cítricas, (2) bagas, sinais clínicos do escorbuto é apenas de 10 m g / d i a , que é, pro-
(3) melões, (4) tomatesj (5) p i m e n t a s verdes, (6) brócolis, (7) vavelmente, p r ó x i m o da necessidade m í n i m a h u m a n a . Essa quan-
couve de Bruxelas e (8) vegetais de folhas verdes. tidade, entretanto, n ã o é a d e q u a d a para m a n t e r a concentração
próxima à saturação dos tecidos em h o m e n s adultos ou m a n t e r
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção o estado nutricional ótimo. A recomendações atuais do Institute
A absorção gastrointestinal d o ácido ascórbico ocorre, em baixas of M e d i c i n e dos Estados Unidos 11 são R D A de 90 m g / d i a para
concentrações, por transporte ativo d e p e n d e n t e de sódio e, em h o m e n s adultos e de 75 m g / d i a para mulheres, c o m o a u m e n t o
altas concentrações, p o r d i f u s ã o simples. O ácido ascórbico da dose d u r a n t e a gravidez e a lactação. Alguns grupos especiais,
absorvido move-se r a p i d a m e n t e das células intestinais para o c o m o os f u m a n t e s , devem tomar 3 5 m g / d i a adicionais.
sangue, por difusão facilitada. A captação de ascorbato é mediada
p o r transportadores d e p e n d e n t e s de sódio e do D H A p o r difusão Deficiência
facilitada por transportadores de glicose. A vitamina C é encon- A deficiência prolongada de vitamina C leva à doença clássica
trada na maioria dos tecidos, mas os tecidos glandulares, c o m o d e n o m i n a d a escorbuto, que ainda é observada em diversos
(1) pituitária, (2) córtex adrenal, (3) c o r p o lúteo e (4) timo, países. O s grupos de risco mais i m p o r t a n t e s incluem (1) h o m e n s
c o n t ê m altas quantidades. A retina possui concentrações de 20 idosos, particularmente os de vida solitária, (2) d e p e n d e n t e s de
a 30 vezes superiores à plasmática. A concentração corporal total álcool, (3) f u m a n t e s , (4) aqueles c o m dieta desbalanceada, (5)
de vitamina C é de 2 g, e a meia-vida biológica, de cerca de 16 alguns pacientes com doenças mentais, (6) pacientes com insufi-
dias. A excreção do ascorbato n ã o m o d i f i c a d o cresce com o ciência renal submetidos à diálise peritoneal ou hemodiálise e (7)
a u m e n t o da dosagem, e as doses ingeridas superiores a 5 0 0 mg alguns pacientes com câncer. A carência de vitamina C leva à
são excretatdas quase t o t a l m e n t e e m 24 horas. D H A que n ã o é inabilidade n a formação a d e q u a d a da substância intercelular do
reciclável p o d e ser delactonizado irreversivelmente para ácido tecido conjuntivo e traz conseqüências c o m o o inchaço, fragili-
2,3-dicetogulõnico e, em seguida, degradado a ácido oxálico para dade e f r e q ü e n t e m e n t e hemorragias ou injúrias das juntas e de
excreção urinária. outras áreas, o n d e o tecido e s t r u t u r a l m e n t e e n f r a q u e c i d o n ã o
suporta a tensão. Alguns pacientes c o m escorbuto p o d e m desen-
Funções volver anemia, alterações radiológicas características de osteopo-
O ácido ascórbico age c o m o co-fator de diversas oxidases de rose ou m o r t e súbita por falha cardíaca. As doenças causadas pela
f u n ç ã o mista em processos n o s quais promove a atividade enzi- deficiência de vitamina C q u e p o d e m refletir sua atuação c o m o
antioxidante incluem (1) risco a u m e n t a d o de doenças coronaria-
nas, c o m o d e m o n s t r a d o e m coorte de h o m e n s finlandeses, e (2)
HO O o o a u m e n t o d o risco de m o r t e p o r infarto, em coorte de pessoas
^1 idosas britânicas.
i '<

I
T ,%
on H,C
i ^OH
Toxicidade
A vitamina C geralmente é b e m tolerada por pessoas saudáveis,
e ingestões suplementares de 2 a 4 g / d i a - c o m o as feitas p o r
ÍH il-I
algumas pessoas para prevenir ou m e l h o r a r o resfriado - geral-
wiliu L-UrCL 1 IICU Ácidos desidroascórbic m e n t e n ã o são arriscadas, e m b o r a sejam relatadas irritações do
trato gastrointestinal. O u t r o s efeitos adversos potenciais, mas
Figura 2 7 - 1 3 Ácidos L-ascórbico e desidioascórbico raros, incluem (1) a u m e n t o n a excreção de oxalato e formação
504 PARTE IV Analitos

de cálculos renais, (2) a u m e n t o na excreção urinária de ácido está principalmente ligada a proteínas. E m adição, alguma biotina
úrico, (3) absorção excessiva de ferro, (4) d i m i n u i ç ã o nas concen- está associada n ã o covalentemente c o m o u m complexo c o m a
trações de vitamina B n , (5) c o n d i c i o n a m e n t o sistêmico e (6) avidina, u m a proteína d a clara d o ovo.
escorbuto recorrente. Ingestões de q u a n t i d a d e s superiores a 200
m g / d i a levam a u m p e q u e n o a u m e n t o de concentrações plasmá- Fontes Dietéticas
ticas n o estado de equilíbrio e sugerem que a sobrecarga de Boas fontes de biotina incluem (1) fígado, (2) rim, (3) pâncreas,
vitamina C seja improvável. O limite máximo tolerável em adultos (4) ovos, (5) levedura e (6) leite. Grãos de cereais, frutas, a maioria
foi estipulado em 2 g / d i a . dos vegecais e carnes são fontes pobres.

Avaliação Laboratorial do Estado Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção


Até o presente m o m e n t o n ã o existem testes funcionais para a A maioT p a r t e da biotina da dieta está associada a proteínas e é
adequação de vitamina C, assim a avaliação laboratorial do estado digerida p o r enzimas gastrointestinais para produzir peptídeos de
é realizada pela m e d i d a direta n o plasma, n a u r i n a ou e m tecidos biotinil, que p o d e m ser hidrolisados p o s t e r i o r m e n t e pela biotini-
das concentrações de ácido ascórbico, de vitamina C total ou, dase intestinal l i b e r a n d o a biotina. A avidina, u m a p i o t e i n a
raramente, de algum metabólito. A concentração plasmática de e n c o n t r a d a na clara do ovo crua, liga-se f o r t e m e n t e à biotina e
ascorbato é considerada u m indicador confiável da captação evita a sua absorção. O peptídeo biocitina (£-N-biotinil lisina) é
dessa molécula e tem sido avaliada f o t o m e t r i c a m e n t e pela oxida- resistente à hidrólise por enzimas proteolíticas n o trato intestinal,
ção c o m 2,4-dinitrofenilidrazina para formaT a bis-hidrazona ver- mas, j u n t a m e n t e c o m a biotina, é p r o n t a m e n t e absorvido. O
melha, ou c o m 2,4-dicloTofenol-indofenol, q u e é reduzido a u m a t r a n s p o r t a d o r multivitamina d e p e n d e n t e de sódio (SMVT) é u m
forma incolor. 13 U m a m a n e i r a mais especifica é utilizar a ascor- carreador de biotina, pelo qual o ácido p a n t o t ê n i c o e o lipoato
bato oxidase para converter ascorbato em desidroascorbato, que c o m p e t e m . O carreador está localizado nas microvilosidades da
é acoplado ao O-fenileno d i a m i n a para f o r m a r u m p r o d u t o que m e m b r a n a intestinal e transporta a biotina contra um gradiente
é m e d i d o p o r fluorimetria ou fotometria. Métodos utilizando de concentração do íon sódio. A enzima biocitinase plasmática
H P L C são mais específicos, mas geralmente c o n s o m e m mais e de eritrócitos catalisa a hidrólise de biocitina para liberar a
tempo. A detecção p o d e ser feita por u m a derivação pré-coluna biotina. A biotina é d e p u r a d a da corrente sanguínea mais rapi-
até quinoxalina fluorescente ou por m é t o d o s eletroquímicos ou d a m e n t e e m mamíferos deficientes do q u e nos normais. Essa é
colorimérricos. 1 O ácido ascórbico leucocitário é considerado u m captada por tecidos c o m o o fígado, músculo e rins e se localiza
indicador mais a d e q u a d o dos estoques corporais que a medida nas carboxilases citossólicas e mitocondriais.
de ascorbato plasmática, mas n ã o foi a d o t a d o a m p l a m e n t e em Cerca da metade da biotina absorvida é excretada c o m o os
virtude de problemas técnicos. Excreção urinária e concentrações metabólitos b i s n o r b i o t i n a e sulfóxido de biotina.
e m células vermelhas d o sangue (RBC) não são consideradas
índices específicos ou úteis do estado de vitamina C. A dosagem Funções
de concentrações urinárias de ácido ascórbico, especialmente A f u n ç ã o principal da biotina n o h o m e m é ser co-fator de reações
após o teste de sobrecarga, tem sido considerada útil n o diagnós- de carboxilação. C i n c o carboxilases são encontradas n o tecido
tico clínico d o escorbuto. 1 3 h u m a n o . U m a delas, u m a acetil-CoA carboxilase, é inativa e p o d e
agir c o m o veículo de a r m a z e n a m e n t o para a biotina. As demais
Intervalos de Referência carboxilases são para (1) acetil-CoA, (2) propionil-CoA, (3) [3-
C o m a ingestão a d e q u a d a de vitamina C, as concentrações plas- metilcrotonil-CoA e (4) piruvato. Essas enzimas o p e r a m p o r u m
máticas do total de vitamina (ácido ascórbico mais ácido desidro- m e c a n i s m o c o m u m , que envolve a fosforilação de b i c a r b o n a t o
ascórbico) são de 0,4 a 1,5 m g / d L (23 a 85 Jjmol/L). Valores pelo A T P para formar carbonil fosfato. Essa reação é seguida pela
inferiores a 0,2 m g / d L (11 (imol/L) são considerados deficiência. transferência de u m grupo carboxíl fosfato para o nitrogênio
A orientação para os intervalos de referência para as concentra- esteticamente m e n o s i m p e d i d o d a porção biotina. A enzima
ções de vitamina C nos leucócitos está entre 20 a 53 (ig/10 8 N(l)-carboxibiotinil resultante e n t ã o troca a f u n ç ã o carboxilato
leucócitos (1,14 a 3,01 fmol/leucócito), com concentrações infe- c o m u m centro reativo n u m substrato. C o m a acetil-CoA carbo-
riores a 10 | i g / 1 0 e leucócitos (0,57 f m o l / l e u c ó c i t o ) consideradas xilase citossólica, o p r o d u t o é malonil-CoA, utilizado na biossín-
deficientes. tese de ácidos graxos. N a m i t o c ô n d r i a , a piruvato carboxilase
catalisa a formação de oxaloacetato, que, e m c o n j u n t o com a
Biotina acetil-CoA, forma citrato. As demais carboxilases estão envolvidas
A biotina t a m b é m é conhecida c o m o vitamina H, o grupo pros- n o metabolismo de ácidos graxos ramificados e c o m n ú m e r o
tético de numerosas reações d e carboxilação. ímpar de átomos de carbono.

Química Necessidades e Recomendações para Ingestão de


A biotina é o ácido cis-tetraidro-2-oxotieno[3,4-ci]-imidazolina-4- Nutrientes
valérico (Figura 27-14). Ma maioria dos organismos, a vitamina C o r r e n t e m e n t e , não existe u m a R D A para biotina. A microbiota
intestinal contribui de maneira significativa para a biotina total
disponível n o corpo, d i f i c u l t a n d o determinação da necessidade
da dieta. C o n s e q ü e n t e m e n t e , f o r a m r e c o m e n d a d o s c o m o inges-
o j tão a d e q u a d a (AI) para adultos (acima de 19 anos) 30 jig/dia.
Biotina /——1—-N
s T y=o U m adicional de 5 [lg/dia é r e c o m e n d a d o e m lactantes. 2

Deficiência
A deficiência de biotina é tara, mas p o d e ser observada (1) com o
c o n s u m o prolongado de clara de ovo crua, (2) na T P N sem suple-
Figura 2 7 - 1 4 Biotina
mentação de biotina e (3) em pacientes com deficiência genética
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 505

d e biotinidase. As deficiências (1) e (2) p o d e m sofrer complicações f o r m a d o e é então reduzido a ácido diidrofólico (H2PteGlu ou
p o r efeitos n a microbiota intestinal q u e p r o d u z b i o t i n a . O s sinto- D H F / F H 2 ) o u a t e t r a i d r o f o l a t o ( H 4 P t e G l u ou T H F / F H 4 ) . A p e n a s
mas incluem (1) anorexia, (2) náusea, (3) vômito, (4) glossite, (5), as f o r m a s reduzidas são b i o l o g i c a m e n t e ativas. O s d e m a i s deriva-
palidez, (6) depressão e (7) d e r m a t i t e seca e escamosa. dos de folato a p r e s e n t a m m ú l t i p l o s resíduos d e ácido g l u t â m i c o
(H^PteGluj,). M ú l t i p l a s f o r m a s de ácido fólico são f o r m a d a s pela
Toxicidade substituição de g r u p o s f u n c i o n a i s , tais c o m o metil, formil, meti-
N ã o f o r a m r e l a t a d o s efeitos adversos da b i o t i n a q u a n d o ingerida l e n o , h i d r o x i m e t i l e o u t r o s n o s á t o m o s de n i t r o g ê n i o n o r e s í d u o
até 3 0 0 vezes o q u e se ingere n a dieta n o r m a l , c o m o o b s e r v a d o d e ácido pteróico, u s u a l m e n t e N 3 ou l i g a n d o N s c o m N l c . A
e m pacientes c o m deficiência d e b i o t i n i d a s e . forma principal é o 5-metiltetraidrofolato.

Avaliação Laboratorial do Estado Fontes Dietéticas


T r a d i c i o n a l m e n t e , a b i o t i n a tem sido d o s a d a em a m o s t r a s bioló- As f o n t e s principais d e a l i m e n t o s c o n t e n d o folato são (1) fígado,
gicas p o r ensaios microbiológicos, e m que o sangue total é pri- (2) e s p i n a f r e , (3) o u t r o s vegetais de folhas verde-escuras, (4)
m e i r a m e n t e digerido c o m p a p a í n a o u p o r hidrólise ácida p a r a l e g u m e s tais c o m o feijões d o s tipos r i m e lima e (5) suco de
liberar a b i o t i n a livre e as a m o s t r a s resultantes são a d i c i o n a d a s a laranja. E m adição, e m países o n d e o f o r t a l e c i m e n t o d e cereais
u m meio que não contém biotina, que é inoculado com u m c o m folato foi estabelecido, esses são f r e q ü e n t e m e n t e a f o n t e
m i c r o r g a n i s m o teste, c o m o , p o r exemplo, o Lãctahacillus planta- m a j o r i t á r i a d o folato d a dieta. D e s d e q u e o p r o g r a m a de fortifi-
rum. O u t r o s m é t o d o s para avaliar a b i o t i n a livre i n c l u e m os cação de t o d o s os grãos c o m ácido fólico (140 jlg p o r 100 g) foi
ensaios de ligação à a v i d m a , p o r ensaio de c o m p e t i ç ã o c o m a i n t r o d u z i d o pela F o o d a n d D r u g A d m i n i s t r a t i o n (FDA) n o s
b i o t i n a ligada ao r a d i o i s ó t o p o 3 H , o u u m ensaio n ã o radioativo E s t a d o s U n i d o s e m 1998, e s t u d o s de p o p u l a ç õ e s t ê m m o s t r a d o
d e a d s o r ç ã o utilizando a e s t r e p t a v i d i n a c o m agente ligante. A o d o b r o das c o n c e n t r a ç õ e s de f o l a t o plasmático. 8
excreção u r i n á r i a de b i o t i n a e d e ácido 3-hidToxiisovalérico p a r e c e
ser u m i n d i c a d o r mais a d e q u a d o d o e s t a d o de b i o t i n a q u e as Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
c o n c e n t r a ç õ e s na c m r e n r e s a n g u í n e a O folato é a b s o r v i d o das fontes, c o m o as listadas acima, princi-
p a l m e n t e c o m o metil- e formil-tetraidropteroilpoliglutamatos
Intervalo de Referência reduzidos. A b i o d i s p o n i b i l i d a d e d o folato d e a l i m e n t o s é variável.
Valores de intervalo d e r e f e r ê n c i a típicos para a b i o t i n a d o s a n g u e A b i o d i s p o n i b i l i d a d e d o ácido fólico c o m o s u p l e m e n t o p o d e ser
total estabelecidos p o r m é t o d o m i c r o b i o l ó g i c o estão e n t r e 0,5 e tão alta q u a n t o 1 0 0 % p a r a s u p l e m e n t o s c a p t u r a d o s pelo estômago
2,20 n m o l / L . vazio, c o m p a r a d a c o m cerca de 5 0 % para folato d e alimentos.
F o r m a s poliglutãmicas d o folato presentes e m a l i m e n t o s são pri-
Ácido Fólico m e i r a m e n t e convertidas e m m o n o g l u t a m a t o s pela piteroilpoliglu-
O ácido fólico é u m caTreador de grupamentos de u m carbono t a m a t o hidrolase n a m u c o s a intestinal. A absorção dos m o n o g l u -
e m muitas reações metabólicas. tamil folatos e m baixas c o n c e n t r a ç õ e s o c o n e p o r u m processo de
t r a n s p o r t e saturável c o m u m m e c a n i s m o adicional de absorção
Química a p a r e n t e m e n t e n ã o saturável q u a n d o as c o n c e n t r a ç õ e s de folato
Folato e ácido fólico são t e r m o s gerais p a r a u m a família d e com- intestinal excedem 5 a 10 [ I m o l / L . A p ó s a captação celular, a
postos q u e f u n c i o n a m c o m o c o e n z i m a s e m p r o c e s s a m e n t o de m a i o r p a r t e d o folato é r e d u z i d a e metilada e e n t r a na circulação
u n i d a d e s d e u m c a r b o n o . Esses são derivados d o ácido p t e r ó i c o c o m o 5-metiltetraidrofolato (5-MTHF), c i r c u l a n d o f r o u x a m e n t e
(Pte), n o q u a l u m a ou mais m o l é c u l a d e ácido g l u t â m i c o estão ligado à a l b u m i n a ou, e m u m grau inferior, à proteína de ligação
associadas. O ácido pteróico é c o m p o s t o por u m a n e l de pteri- ao folato de alta a f i n i d a d e . A captação por d e t e r m i n a d a s células
d i n a ligado a u m r e s í d u o de á c i d o p-aminobenzóico (Figura 27- (rim, placenta e plexo coróide) ocorre p o r m e i o de proteínas d e
15). Q u a n d o o ácido p t e r ó i c o é c o n j u g a d o com u m a m o l é c u l a ligação ao folato associadas à m e m b r a n a , q u e agem c o m o recep-
d e ácido L-glutâmico, o á c i d o pteroilglutâmico (PteGlu) é tores d e folato. U m a vez d e n t r o d a célula, o 5 - M T H F é desmeti-
l a d o e c o n v e r t i d o n a f o r m a p o l i g l u t a m i l pela folilpoliglulamalo
sintase, q u e a j u d a a reter o folato d e n t r o d a célula. Para a liberação
n a circulação, os poliglutamatos são reconvertidos e m m o n o g l u -
t a m a t o s pela p o l i g l u t a m a t o hidrolase.
h
o ° Y ° O ácido fólico e o m e t a b o l i s m o d a v i t a m i n a B ] 2 são ligados
pela reação q u e transfere u m g r u p a m e n t o metil d o 5 - M T H F para
a c o b a l a m i n a . E m casos de deficiência d e c o b a l a m i n a , o folato
é "aprisionado" como 5-MTHF e "metabolicamente morta", e
n ã o é reciclado c o m o t e t r a i d r o f o l a t o (THF).
O folato n o p l a s m a livre d e p r o t e í n a é f i l t r a d o n o glomérulo,
e a m a i o r p a r t e é r e a b s o r v i d a pelos t ú b u l o s renais proximais. O
folato é p r e d o m i n a n t e m e n t e excretado p e l o catabolismo, seguido
d a clivagem da ligação d o C 9 - N 1 0 p a r a p r o d u z i r p-aminobenzoil-
2-NHr4-OH Ácido p- Ácido L-glutâmico
pteridina a minob enzóico p o l i g l u t a m a t o s , os quais são, e n t ã o , h i d r o l i s a d o s a m o n o g l u t a m a -
tos e N-acetilado antes d a excreção. A excreção biliar d o folato
t e m sido e s t i m a d a e m cerca d e 100 \lg/dia, mas m u i t o dele é
Ácido pteróico r e a b s o r v i d o n a circulação ê n t e r o - h e p á t i c a .

Á c i d o fólico Funções
As coenzimas d o folato, e m c o n j u n t o c o m as coenzimas derivadas
Figura 2 7 - 1 5 Esmitura do ácido fólico.
das v i t a m i n a s B12, B 6 e B 2 , são essenciais para m e t a b o l i s m o d e
506 PARTE IV Analitos

u m c a r b o n o . B i o q u i m i c a m e n t e , u m a u n i d a d e de c a r b o n o da folato dietético (DFE) t e m sido utilizado para a j u s t a r p a r a apro-


serina o u glicina é transferida para o T H F p a r a f o r m a r o m e t i l e n o - x i m a d a m e n t e 5 0 % m e n o r a b i o d i s p o n i b i l i d a d e d e folato d e ali-
T H F , q u e é, e n t ã o , (1) utilizado n a síntese de t i m i d i n a (e incor- m e n t o s c o m p a r a d a c o m o á c i d o fólico s u p l e m e n t a r . A s R D A s
p o r a ç ã o ao D N A ) , (2) o x i d a d o a f o r m i l - T H F p a r a ser utilizado n a acuais d o I n s t i t u t e of M e d i c i n e d o s E s t a d o s U n i d o s são de 4 0 0
síntese d e p u r i n a s (precursores de R N A e D N A ) o u (3) r e d u z i d o p g / d i a d e D F E para a d u l t o s de 19 a n o s o u mais, de 6 0 0 p g / d i a
a metil-THF, q u e é necessário para a m e t i l a ç ã o da h o r n o c i s t e í n a de D F E n a gestação e de 5 0 0 p g / d i a de D F E para lactantes 1
à m e t i o n i n a . M u i t o dessa m e t i o n i n a é c o n v e r t i d a e m S-adenosil-
m e t i o n i n a , u m d o a d o r universal de g r u p o s m e t i l para D N A , Deficiência
R N A , h o r m ô n i o s , n e u r o t r a n s m i s s o r e s , lipídios de m e m b r a n a e A deficiência de folato p o d e resultar de (1) ausência de micror-
p r o t e í n a s . D i f e r e n t e s folatos estão envolvidos nessas reações, g a n i m o s intestinais (esterilização d o i n t e s t i n o ) , (2) absorção intes-
d e p e n d e n d o d o estado q u í m i c o dos f r a g m e n t o s de c a r b o n o trans- tinal i n a d e q u a d a (p. ex., a p ó s a m p u t a ç ã o cirúrgica o u d o e n ç a
feridos. celíaca o u spru), (3) ingestão dietética i n s u f i c i e n t e ( i n c l u i n d o
O á c i d o fólico t a m b é m está envolvido n o m e t a b o l i s m o de a l c o o l i s m o crônico), (4) d e m a n d a s excessivas ( c o m o na gravidez,
h o r n o c i s t e í n a . Elevações das c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas d e h o r n o - nas d o e n ç a s de f í g a d o e nas malignidades), (5) a d m i n i s t r a ç ã o d e
cisteína t ê m d e m o n s t r a d o ser fatores de risco i n d e p e n d e n t e s para drogas a n t i f o l a t o (p. ex., m e t o t r e x a t o ) e (6) terapia anticonvulsiva
d o e n ç a s c o r o n a r i a n a s e, p r o v a v e l m e n t e , d o e n ç a s cerebrovascula- (que a u m e n t a a d e m a n d a de folato, e s p e c i a l m e n t e d u r a n t e a
res. O e n v o l v i m e n t o d o f o l a t o e de suas f o r m a s coenzimáticas n o gravidez). A a n e m i a megaloblástica (caracterizada p o r g r a n d e s
m e t a b o l i s m o de hornocisteína e m e t i o n i n a está r e s u m i d o n a eritrócitos n u c l e a d o s d e m a n e i r a a n o r m a l n a m e d u l a óssea) é a
Figura 27-16. O folato é o p r i n c i p a l m i c r o n u t r i e n c e d e t e r m i n a n t e principal m a n i f e s t a ç ã o clínica d a deficiência do folato, e m b o r a
d o estado d e h o r n o c i s t e í n a , e a s u p l e m e n t a ç ã o c o m folato t e m perda sensorial e m u d a n ç a s n e u r o p s i q u i á t r i c a s t a m b é m p o s s a m
sido utilizada c o m o u m a m o d a l i d a d e d e t r a t a m e n t o paTa reduzir ocorrer.
as c o n c e n t r a ç õ e s de h o r n o c i s t e í n a circulante. A e x t e n s ã o dos A gravidez traz u m a d e m a n d a a u m e n t a d a d e estoques d e
b e n e f í c i o s clínicos associados a essa m o d a l i d a d e d e t r a t a m e n t o folato e m v i r t u d e d o a u m e n t o d a síntese de D N A c reações de
permanece desconhecida.9 t r a n s f e r ê n c i a s de u m c a r b o n o , e baixas c o n c e n t r a ç õ e s séricas de
folato na gravidez estão associadas a c o n s e q ü ê n c i a s adversas. Adi-
Necessidades e Recomendações para Ingestão de cionalmente, muitos estudos têm confirmado u m a redução nos
Nutrientes riscos de defeitos d o t u b o n e u r a l ( N T D s ) c o m a s u p l e m e n t a ç ã o
C o m b a s e e m c o n c e n t r a ç õ e s de folato e m a m o s t r a s d e b i ó p s i a de d e á c i d o fólico e m p e r í o d o s q u e a n t e c e d e m a c o n c e p ç ã o .
fígado, e a s s u m i n d o q u e o f í g a d o c o n t é m cerca da m e t a d e de Existem n u m e r o s o s p o l i m o r f i s m o s d e enzimas q u e a f e t a m o
t o d o s os estoques corporais, os e s t o q u e s c o r p o r a i s totais d o folato m e t a b o l i s m o de folato. Dessas, a m a i s e x t e n s i v a m e n t e e s t u d a d a
estão e s t i m a d o s e n t r e 12 e 2 8 m g . E s t u d o s s u g e r e m a n e c e s s i d a d e é a 5,10-metilenotetraidfofolato redutase (MTHFR), a enzima
diária m í n i m a e n t r e 60 e 2 8 0 p g p a r a r e p o r as perdas. 1 3 N o responsável pela r e d u ç ã o irreversível d e 5 , 1 0 - M T H F R a 5-metil-
cálculo da n e c e s s i d a d e n u t r i c i o n a l , o c o n c e i t o de equivalentes de t e t r a i d r o f o l a t o (5-MTF1F), o d o a d o r de m e t i l n a t r a n s f o r m a ç ã o

Dieta . H H NH2
I
Folato (F) . - H,C—S — C C—CH
| \
H H COOH
NADPH
©
+ H NADPH
© / Metionina
+ H ATP
Meti o ninei
Diidrofolato (FHi) -> Tetraidrofolato (FH4)
íideno.5ÍÍ
Dirncril
Serma PPi + Pi transferase
\ / "Ikiuü. ,
VitB6
S-Adenosil metionina
Glicina NP-Meril

N 5 ,N 10 -M etileno FH 4
FH4 transferose e ~ AceptoT
vitamina BJ2 Metil transferase
- Aceptor metilado
N5,N10-M etileno

/
FJHL redutase VitB,
S-Adenosil hornocisteína

N5-Metil FFI4
Adenosina

\ H H NHn
>.cl i IV. HS—C—C—CH
H2N h H,N H II II NH? -\
Cistationana \ I 1 1 /
H H V.OOH
H C — C — SH HC—Ç—S —C—C—CH Cistationina
Hornocisteína
Vit B * X
p-siriMiÊ
HOOC/ H HOOc/ h H H COOH
Vit Bfi
Cisteína Cistationina
+ NH? + a-Cetobutirato

Figura 2 7 - 1 6 Metabolismo de hornocisteína e metionina.


Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 507

d e h o m o c i s t e í n a e m m e t i o n m a . A variante h o m o z i g ó t í c a T T t e m
u m a i n c i d ê n c i a e m t o r n o d e 12% nas p o p u l a ç õ e s asiáticas e
OH "NH-,
caucasianas e u m a p e r d a de atividade enzimática d e cerca de t > 1
5 0 % , e n q u a n t o a v a r i a n t e heterozigótica C T tem u m a i n c i d ê n c i a ' I I xs-
' N''
d e até 5 0 % e m a l g u m a s p o p u l a ç õ e s . U m a o u t r a enzima envolvida
Ácido nicotínico (niacina) Nicotinamida (niacinamida)
n o m e t a b o l i s m o d e folato, a m e t i o n i n a sintase, t a m h é m apre-
senta dois p o l i m o r f i s m o s r e l a t i v a m e n t e prevalentes, apesar d e se
acreditar q u e esses sejam b e n i g n o s . Acredita-se q u e a a b s o r ç ã o NH,
d o folato, a p a r t i r de a l i m e n t o s c o n t e n d o p o l i g l u t a m i l folato, seja HO , 0 , OH N. , X -
r e d u z i d a p o r u m a v a r i a n t e da g l u t a m a t o c a r b o x i p e p t i d a s e II. A- " o o // "f
-o-H-o-H-o-, y - - s > '
r :

C
Toxicidade f y '\ <!>9 AH
N e n h u m efeito adverso tem sido r e l a t a d o pelo c o n s u m o d e ali-
m e n t o s f o r t i f i c a d o s c o m folato, assim, n e n h u m sinal d e toxici-
d a d e é associado à s u p l e m e n t a ç ã o de folato. Pelas l i m i t a d a s evi- a Coenzimas de pitidinas rmcleotídeos
)
V (1
i h

dências, u m a s u p l e m e n t a ç ã o excessiva t i p i c a m e n t e e m doses p—OH NADP


superiores a 10 m g / d i a irá p r e c i p i t a r ou exacerbar n e u r o p a t i a s C!)H
e m i n d i v í d u o s deficientes e m v i t a m i n a B ] 2 e é o f u n d a m e n t o
utilizado p a r a d e t e r m i n a r a c o n c e n t r a ç ã o s u p e r i o r tolerável de 1 Figura 2 7 - 1 7 Niacina, niacinamida e coenzima.
m g A l i a , a p a r t i r de a l i m e n t o s f o r t i f i c a d o s o u s u p l e m e n t o s p a r a
adultos. U m a c o m p l i c a ç ã o r e c o n h e c i d a d a s u p l e m e n t a ç ã o d e
folato é "mascarar" a deficiência de v i t a m i n a Bn, p o r q u e a a n e m i a v i t a m i n a s t e m q u e ser c o n s i d e r a d a , c o m relação ao m e t a b o l i s m o
associada a essa deficiência r e s p o n d e i s o l a d a m e n t e ao folato. Isso e, especialmente, às suas ações farmacológicas e m altas doses. A s
p o d e r e t a r d a r o t r a t a m e n t o da deficiência, p e r m i t i n d o q u e anor- e s t r u t u r a s d o s dois v i t â m e r o s e as duas f o r m a s coenzimáticas são
malidades neurológicas progridam. m o s t r a d a s n a Figura 27- 17-

Avaliação Laboratorial do Estado Fontes Dietéticas


O e s t a d o d o folato p o d e ser avaliado de m a n e i r a confiável p o r F o n t e s d e n i a c i n a i n c l u e m (1) levedura, (2) carnes magras, (3)
d o s a g e n s diretas das c o n c e n t r a ç õ e s n o soro, eritrócitos o u sangue fígado, (4) aves, (5) leite, (6) s a l m ã o e n l a t a d o e (7) diversos vege-
total, e suas f u n ç õ e s m e t a b ó l i c a s c o m o coenzimas pelas c o n c e n - tais de folhas verde-escuras. A d i c i o n a l m e n t e , alguns a l i m e n t o s
trações de m e t a b ó l i t o s , tal c o m o h o m o c i s t e í n a plasmática. As gêneros alimentícios, e s p e c i a l m e n t e cereais c o m o m i l h o e trigo,
c o n c e n t r a ç õ e s de folato séricas são c o n s i d e r a d a s indicativas d e c o n t ê m n i a c i n a ligada a diversos p e p t i d e o s e açúcares e m f o r m a s
ingestão r e c e n t e , e n ã o de e s t o q u e s teciduais, mas d o s a g e n s n u t r i c i o n a l m e n t e n ã o p r o n t a m e n t e disponíveis ( n i a c i n ó g e n o s ou
seriais t ê m sido utilizadas p a r a c o n f i r m a r a ingestão a d e q u a d a . n i a c i t m a ) . C o m o o t r i p t o f a n o é u m p r e c u r s o r d a n i a c i n a , as
A s c o n c e n t r a ç õ e s de folato e m sangue total o u e m eritrócitos são p r o t e i n a s f o r n e c e m u m a p o r ç ã o considerável d o equi val ent e de
indicativos mais a p r o p r i a d o s d e estoques teciduais, e t e m sido n i a c i n a (tão alto q u a n t o dois terços d a d e m a n d a d e niacina). E m
d e m o n s t r a d o q u e estão m o d e r a d a m e n t e c o r r e l a c i o n a d a s c o m as países o n d e a fortificação d e cereais processados é p r a t i c a d a , isso
c o n c e n t r a ç õ e s de folato d o fígado. significa até 2 0 % d a ingestão d e niacina.
E n s a i o s d e C P B a t u a l m e n t e s u b s t i t u e m a m p l a m e n t e procedi-
m e n t o s m i c r o b i o l ó g i c o s pelas dosagens de folato n o s o r o , sangue Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
total o u eritrócitos. O s N A D + e N A D P + da dieta são h i d r o l i s a d o s pelas enzimas da
m u c o s a intestinal para liberar n i c o t i n a m i d a q u e , e m c o n j u n t o
Intervalos de Referência c o m q u a l q u e r á c i d o n i c o t í n i c o , é r a p i d a m e n t e absorvida n o estô-
A coleta d e d a d o s d o N H A N E S d e 1988 a 1994 n o s Estados m a g o e n o i n t e s t i n o p o r d i f u s ã o facilitada d e p e n d e n t e de Na + e m
U n i d o s , n a qual q u a s e 3 . 0 0 0 a m o s t r a s d e sangue f o r a m analisa- baixas c o n c e n t r a ç õ e s e p o r d i f u s ã o passiva e m altas c o n c e n t r a -
das, p r o d u z i u intervalos de referências d e 2,6 a 12,2 Jig/L (6,0 a ções. N i c o t i n a m i d a é a p r i n c i p a l f o r m a circulante n o plasma,
2 8 n m o l / L ) p a r a o folato sérico e 103 a 411 f-lg/L (237 a 9 4 5 após absorção ou pela l i b e r a ç ã o d o N A D h e p á t i c o h i d r o l i s a d o ,
n m o l / L ) p a r a o folato e m eritrócitos; e n t r e t a n t o , essas amostras e depois se d i f u n d e na m a i o r i a d o s tecidos q u e r e q u e r e m N A D .
f o r a m coletadas a n t e s da o b r i g a t o r i e d a d e d e fortificação d e fari- U m a vez d e n t r o das células, o á c i d o n i c o t í n i c o e a n i c o t i n a m i d a
n h a s . A deficiência b i o q u í m i c a foi d e f i n i d a c o m o u m a concen- são convertidos n a s f o r m a s c o e n z i m á t i c a s N o s tecidos, a m a i o r
tração sética de f o l a t o <1,4 |Ug/L (<3,2 n m o l / L ) e <110 p.g/L p a r t e da v i t a m i n a está p r e s e n t e c o m o n i c o t i n a m i d a e m N A D e
(<253 n m o l / L ) p a r a o folato e m eritrócitos. N A D P , e m b o r a o f í g a d o possa c o n t e r u m a f r a ç ã o significativa d e
v i t a m i n a livre. Existe u m p e q u e n o estoque d a f o r m a ni aci na.
Niacina e Niacinamida O excesso d e n i a c i n a é excretado p r i n c i p a l m e n t e c o m o N-
Niflrina e niacinamida ( n i c o t i n a m i d a e a m i d a d o ácido nicotínico) m e t í l n i c o t i n a m i d a ( N M N ) , a p ó s metilação n o fígado.
são c o n v e r t i d a s nas coenzimas r e d o x u b í q u a s n i c o t i n a m i d a
a d e n i n a d i n u c l e o t í d e o (NAD) + e n i c o t i n a m i d a a d e n i n a dinucle- Funções
o t í d e o f o s f a t o (NADP) + . A n i a c i n a é essencial c o m o as c o e n z i m a s N A D e N A D P nas quais
a n i c o t i n a m i d a age c o m o u m a c e p t o r de elétrons ou d o a d o r de
Química h i d r o g ê n i o e m u m a m p l o n ú m e r o de reações redox. M u i t a s das
A niacina refere-se a (1) ácido n i c o t í n i c o (ácido piridína-3-carbo- enzimas f u n c i o n a m c o m o d e s i d r o g e n a s e s e catalisam u m a g r a n d e
xílico), (2) a respectiva a m i d a n i a c i n a m i d a ( n i c o t i n a m i d a ) e (3) diversidade d e reações, tais c o m o a conversão de álcoois e m
derivados q u e a p r e s e n t a m a m e s m a atividade biológica da nico- aldeídos o u cetonas, de h e m i a c e t a i s e m lactonas, aldeídos e m
t i n a m i d a . U m a d i s t i n ç ã o e n t r e as d u a s f o r m a s p r i m á r i a s das ácidos e certos a m i n o á c i d o s e m cetoácidos ( C a p í t u l o 19).
508 PARTE IV Analitos

A m a i o r i a das desidrogenases q u e utiliza N A D o u N A D P ções d o estado n u t r i c i o n a l d e niacina t e m sido baseada n a m e d i d a


f u n c i o n a reversível m e n t e . A g l u t a m a t o desidrogenase, p o r de dois metabólitos urinários, N ' - m e t i l n i c o t i n a m i d a e N'-metil-2-
exemplo, favorece a direção oxidativa, e n q u a n t o outras, c o m o a piridona-5-carboxamida. N o r m a l m e n t e , os adultos excretam 2 0 %
g l u t a t i o n a redutase, p r e f e r e n c i a l m e n t e catalisam r e d u ç ã o . O a 3 0 % de niacina n a f o r m a m e t i l n i c o t i n a m i d a e 4 0 % a 6 0 % c o m o
ácido n i c o t í n i c o , q u a n d o utilizado c o m o u m agente f a r m a c ê u - p i r i d o n a . A razão de excreção e n t r e p i r i d o n a e m e t i l n i c o t i n a m i d a
tico, t e m p r o p r i e d a d e s a n t i a t e r o g ê n i c a s i m p o r t a n t e s . Esse, efeti- de 1,3 a 4 é, p o r t a n t o , n o r m a l , m a s a deficiência latente d e niacina
v a m e n t e , (1) d i m i n u i as c o n c e n t r a ç õ e s d e triglicerídeos, (2) é indicada p o r valores inferiores a 1. A H P L C é o m é t o d o escolhido
a u m e n t a as de H D L colesterol e (3) m u d a as partículas L D L para a t u a l m e n t e , e m b o r a alguns m é t o d o s utilizando eletroforese de
u m f e n ó t i p o m e n o s aterogênico. capilaridade t e n h a m sido desenvolvidos.

Necessidades e Recomendações para Ingestão de Intervalos de Referência


Nutrientes U m a o r i e n t a ç ã o p a r a o i n t e r v a l o de referência para a taxa de
Necessidades de niacina são expressas c o m o equivalentes de excreção d e N ' - m e t i l n i c o t i n a m i d a é de 2,4 a 6,4 m g / d i a (17,5 a
n i a c i n a (NE), q u e levam e m c o n s i d e r a ç ã o a c o n t r i b u i ç ã o d o trip- 46,7 n m o l / d i a ) , o u 1,6 a 4,3 m g / g d e c r e a t i n i n a (11,7 a 31,4
t o f a n o d e r i v a d o d e p r o t e í n a . A ingestão m e d i a n a d e niacina pré- [ i m o l / g d e creatinina). 1 2
f o r m a d a a partir de alimentos, nos Estados U n i d o s , é d e 2 8 m g
p a r a h o m e n s e 18 mg para m u l h e r e s , e u m e s t u d o de d u a s p o p u - Ácido Pantotênico
lações c a n a d e n s e s m o s t r a r a m valores c o r r e s p o n d e n t e s de 41 m g e O á c i d o p a n t o t ê n i c o é u m c o m p o n e n t e d a coenzima ( C o A ) e é
2 8 m g / d i a . A d i c i o n a l m e n t e , a dieta m é d i a n o s Estados U n i d o s necessário para o m e t a b o l i s m o d e g o r d u r a , p r o t e í n a e carboi-
s u p r e e n t r e 0,7 e 1,1 g de t r i p t o f a n o p o r dia. C o m base e m d a d o s drato, via ciclo d o á c i d o cítrico.
d e excreção metabólica de niacina, as R D A s atuais são 16 m g / d i a
d e N E para h o m e n s e 14 m g / d i a para m u l h e r e s . U m a u m e n t o d e Química
4 N E pOT dia d u r a n t e a gravidei é r e c o m e n d a d o e u m a u m e n t o O á c i d o p a i u o i ê n i c u é d e o c o r r ê n c i a u b í q u a n a natureza, o n d e
d e 3 N E é r e c o m e n d a d o d i a r i a m e n t e para lactantes. 1 é sintetizado pela m a i o r i a d o s m i c r o r g a n i s m o s e p l a n t a s a p a r t i r
d o á c i d o p a n t ó i c o (ácido D-2,4-diidroxi-3,3-dimetilbutírico) e Ji-
Deficiência alanina. A adição de c i s t e a m i n a à e x t r e m i d a d e C - t e r m i n a l e a
A pelagra é a d o e n ç a h u m a n a clássica d e c o r r e n t e da deficiência e fosfoTilação f o r m a m a 4 ' - f o s f o p a n t e t e í n a , q u e atua c o m o u m
q u e t e m sido observada e n t r e aqueles q u e c o n s o m e m principal- g r u p o prostético associado c o v a l e n t e m e n t e às p r o t e í n a s carreado-
m e n t e u m a d i e t a baseada e m m i l h o , q u e é p o b r e e m n i a c i n a e ras d e acil e c o m o p a r t e da C o A (Figura 27-18). A f o r m a sintética
t r i p t o f a n o . E m b o r a sua p a t o g ê n e s e seja associada a u m a defici- comercial m a i s c o m u m é o sal de cálcio.
ência desses dois fatores, o u t r o s fatores c o m p l i c a d o r e s associados
são as carências d e PLP, F A D e ferro, q u e a t u a m n a c o n v e r s ã o d e Fontes Dietéticas
t r i p t o f a n o e m niacina. A pelagra t a m b é m é u m a m a n i f e s t a ç ã o O ácido pantotênico é a m p l a m e n t e distribuído e m alimentos,
ocasional e s e c u n d á r i a n a síndrome carcinóiãe, n a q u a l até 6 0 % d o m a j o r i t a r i a m e n t e e m c o m p o s t o s c o n t e n d o C o A , e é particular-
t r i p t o f a n o é catabolizado a 5 - O H t r i p t o f a n o e s e r o t o n i n a ; n a m e n t e a b u n d a n t e e m (1) a l i m e n t o s d e o r i g e m a n i m a l , (2) legumes,
doença de Hartnup u m a d e s o r d e m recessiva a u t o s s ô m i c a n a q u a l (3) grãos d e cereais n ã o - b e n e f i c i a d o s , (4) g e m a de ovo, (5) r i m ,
diversos a m i n o á c i d o s , i n c l u i n d o o t r i p t o f a n o , são p r e c a r i a m e n t e (6) f í g a d o e (7) levedura.
absorvidos; e e m t r a t a m e n t o s a n t i t u b e r c u l o s e c o m a droga iso-
niazida, q u e c o m p e t e c o m o PLP. A a p r e s e n t a ç ã o típica da pelagra Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
é d e u m a d o e n ç a c r ô n i c a d e g e n e r a t i v a associada a d e r m a t i t e , O ácido p a n t o t ê n i c o é o b t i d o n a dieta c o m o c o m p o s t o s de C o A
d e m ê n c i a e diarréia. e 4 ' - f c s f o p a n t e t e í n a , e é h i d r o l i s a d o pela pirofosfatase e pela
fosfatase f o r m a n d o d e f o s f o - C o A , f o s f o p a n t e t e í n a e p a n t e t e í n a n o
Toxicidade l ú m e n intestinal q u e , p o s t e r i o r m e n t e , são h i d r o l i s a d o s f o r m a n d o
E m b o r a n e n h u m efeito tóxico t e n h a sido associado à ingestão de o ácido p a n t o t ê n i c o . A v i t a m i n a é p r i m a r i a m e n t e a b s o r v i d a
n i a c i n a de a l i m e n t o s n a t u r a i s , o uso de s u p l e m e n t o s e doses c o m o ácido p a n t o t ê n i c o p o r u m processo saturável e m baixas
farmacológicas d e n i a c i n a p r o d u z i u efeitos adversos e m alguns
i n d i v í d u o s . E m d e s o r d e n s e m q u e h á d i s p o n i b i l i d a d e d e tripto-
f a n o reduzida, c o m o a d o e n ç a d o H a r t n u p e a s í n d r o m e carci-
4Fosfopa n te Ce inil
n ó i d e , doses diárias d e n i a c i n a d e 4 0 e 2 0 0 m g p o d e m ser
necessárias, e, n o t r a t a m e n t o d e dislipidemias, até 6 g diários W1-.
Pantotenil
p o d e m ser utilizados. Tais doses são c o m u m e n t e associadas à 1

^^ J
vasodilatação ou " r u b o r " , u m a q u e i m a ç ã o ou sensação de formi- OH CH, N
í O

\/
g a m e n t o da face ( q u e p o d e ficar ruborizada), d o b r a ç o e d o peito,
H L ! : — C H J — O — P — O — P — O-
e acredita-se q u e é m e d i a d a p o r p r o s t a g l a n d i n a s . O u t r o s efeitos

w
CH 3 AH AH
colaterais d e t r a t a m e n t o s c o m altas doses de n i a c i n a são (1) í HN
p r u r i d o , (2) n á u s e a , (3) v ô m i t o e (4) diarréia, e m b o r a esses sinto-
m a s f r e q u e n t e m e n t e d i m i n u a m c o m terapia c o n t í n u a . O s sinto- Ó ÒH

m a s d e ruboT t ê m sido i n t e r p r e t a d o s c o m o endpoint n a f o r m u l a - Coeniima A O OH


u».
ção d e u m a c o n c e n t r a ç ã o de ingestão m á x i m a tolerável para H N ^ O
AH
n i a c i n a , q u e foi estabelecida e m 3 5 m g / d i a para a d u l t o s .

l*
Avaliação Laboratorial do Estado
A t é o m o m e n t o , n e n h u m m a r c a d o r s a n g u í n e o é c o m u m e n t e uti- Figura 2 7 - 1 8 Pantotenato e 4'-fosfopanteteína como componente
lizado c o m o indicador d o e s t a d o de niacina. A maioria das avalia- de CoA.
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 509

c o n c e n t r a ç õ e s e p o r d i f u s ã o simples e m c o n c e n t r a ç õ e s altas. O Intervalos de Referência


processo saturável é facilitado p o r u m t r a n s p o r t a d o r multivita- A excreção u r i n á r i a d o ácido p a n t o t ê n i c o inferior a 1 m g / d i a é
m i n a d e p e n d e n t e de s ó d i o . A p ó s a absorção, o ácido p a n t o t ê n i c o c o n s i d e r a d a e x t r e m a m e n t e baixa. A suspeita de ingestão inade-
e n t r a n a circulação e é c a p t a d o pelas células de u m a m a n e i r a q u a d a é p o s t e r i o r m e n t e c o r r o b o r a d a se as c o n c e n t r a ç õ e s d o
similar à sua absorção intestinal. A síntese de C o A a p a r t i r d e s a n g u e f o r e m inferiores a 100 (J.g/L. A o r i e n t a ç ã o para i n t e r v a l o
p a n t o t e n a t o é regulada pela p a n t o t e n a t o q u m a s e . O ácido p a n - de referência p a r a o ácido p a n t o t ê n i c o n o sangue total ou n o
t o t ê n i c o é excretado n a u r i n a após a hidrólise d e c o m p o s t o s d e s o r o é de 3 4 4 a 5 8 3 H g / L (1,57 a 2,66 p m o l / L ) e p a r a a excreção
C o A pelas enzimas q u e clivam as porções fosfato e cisteamina. u r i n á r i a é de 1 a 5 m g / d i a (5 a 6 8 f i m o l / L ) .

Funções ELEMENTOS-TRAÇO
O ácido p a n t o t ê n i c o tem dois papéis m e t a b ó l i c o s p r i n c i p a i s (1) O t e r m o eíemento-traço era o r i g i n a l m e n t e utilizado para descrever
c o m o p a r t e da C o A e (2) c o m o g r u p o prostético d a p r o t e í n a a q u a n t i d a d e de analito i n o r g â n i c o residual d e t e r m i n a d o q u a n -
c a r r e a d o r a d e acil (ACP). N o p r i m e i r o papel, a C o A está p r i m a - t i t a t i v a m e n t e e m u m a a m o s t r a . M é t o d o s analíticos mais sensíveis
r i a m e n t e envolvida e m reações d e t rans ferênci a d e acetil e acil a t u a l m e n t e f o r n e c e m q u a n t i f i c a ç ã o mais a c u r a d a d a m a i o r i a d o s
e m processos catabóíicos de c a r b o i d r a t o s , lipídios e proteínas. m i c r o n u t r i e n t e s i n o r g â n i c o s presentes e m c o n c e n t r a ç õ e s m u i t o
E n q u a n t o p o r ç ã o 4 ' - f o s f o p a n t e t e í n a d a ACP, o g r u p o prostético, baixas e m f l u i d o s c o r p o r a i s e tecidos. A q u e l e s presentes e m
associado p o r ligação fosfodiéster, utiliza a e x t r e m i d a d e sulfidril f l u i d o s c o r p o r a i s ((.ig/dL) e e m tecido ( m g / k g ) são, e n t r e t a n t o ,
para trocar c o m m a l o n i l - C o A , para f o r m a r u m a ACP-S m a l o n i l a i n d a a m p l a m e n t e referidos c o m o "elementos-tiaço", e aqueles
tioéster, q u e tem a cadeia a l o n g a d a d u r a n t e a biossíntese d e e n c o n t r a d o s e m n g / d L o u |J.g/kg, c o m o " e l e m e n t o s - u l t r a t r a ç o " .
ácidos graxos. As necessidades dietéticas c o r r e s p o n d e n t e s são cotadas e m m g /
dia ou | i g / d i a , r e s p e c t i v a m e n t e . U m e l e m e n t o é c o n s i d e r a d o
Necessidades e Recomendações para Ingestão de essencial q u a n d o os sinais e s i n t o m a s i n d u z i d o s pela deficiência
Nutrientes dietética são u n i c a m e n t e revertidos p o r u m s u p r i m e n t o ade-
A AI foi estabelecida c o m o 5 m g / d i a p a r a i n d i v í d u o s acima de q u a d o de u m elemento-traço p a r t i c u l a r (Figura 27-19).
13 a n o s . D o s e s adicionais de 1 m g / d i a e 2 m g / d i a são sugeridas
p a r a m u l h e r e s grávidas e lactantes, respectivamente. 2 Considerações Analíticas
Fatores analíticos q u e devem ser c o n s i d e r a d o s nas dosagens d e
Deficiência elementos-traço i n c l u e m (1) a d e q u a ç ã o da a m o s t r a , (2) fatores
A extensa d i s p o n i b i l i d a d e d e á c i d o p a n t o t ê n i c o n o s a l i m e n t o s é pré-analíticos, (3) e q u i p a m e n t o p a r a coleta, (4) m e t o d o l o g i a e (5)
p r o p o r c i o n a l aos seus diversos papéis e faz com q u e a deficiência segurança na qualidade.
e m h u m a n o s seja improvável. O s s i n t o m a s p r o d u z i d o s e m volun-
tários a l i m e n t a d o s c o m a n t a g o n i s t a d e p a n t o t e n a t o o u c o m Adequação da Amostra
dietas semi-sintéticas p r a t i c a m e n t e livres d e p a n t o t e n a t o f o r a m A m o s t r a s de s a n g u e total, p l a s m a e s o r o são mais c o m u m e n t e
(1) irritabilidade, (2) h i p o t e n s ã o p o s t u r a l e b a t i m e n t o s cardíacos s u b m e t i d a s p a t a análises diretas d e elementos-traço. D e t e r m i n a -
acelerados n o exercício, (3) distresse epigástrico c o m anorexia e ção direta desses e l e m e n t o s , e n t r e t a n t o , t e m sido feita e m qual-
constipação, (4) d o r m ê n c i a e f o r m i g a m e n t o das m ã o s e d o s pés, q u e r f l u i d o c o r p o r a l ou tecido. Por exemplo, a m o s t r a s de t e c i d o s
(5) reflexos de t e n d õ e s p r o f u n d o s hiperativos e (6) fraqueza dos p a r a análise p o d e m ser obtidas p o r biópsia d e aspiração c o m
m ú s c u l o s extensores d o s d e d o s . H i s t o r i c a m e n t e , a deficiência de agulha (fígado ou osso) ou após u m a autopsia. A m o s t r a s d e
ácido p a n t o t ê n i c o t e m sido associada à s í n d r o m e d o " a r d o r n o s cabelo e u n h a s oferecem u m a m a n e i r a n ã o invasiva d e coletar
pés" vivenciada p o r p r i s i o n e i r o s da S e g u n d a G u e r r a M u n d i a l , n a a m o s t r a s teciduais e são utilizadas p a r a avaliar exposição a m e t a l
Ásia, aliviada a p e n a s c o m a s u p l e m e n t a ç ã o d e ácido p a n t o t ê n i c o , tóxico, mas p r o b l e m a s d e c o n t a m i n a ç ã o e x t e r n a q u e p o d e m
e n ã o pela s u p l e m e n t a ç ã o c o m o u t r a s v i t a m i n a s d o g r u p o B. surgir pela p o l u i ç ã o a m b i e n t a l , cosméticos o u x a m p u s são difíceis
de controlar.
Toxicidade
N ã o existem relatos de efeitos adversos, c o m exceção d e diarréia
m o d e r a d a ocasional, c o m d o s e s orais elevadas de ácido p a n t o t ê -
nico, c o m o , p o r exemplo, 20 g / d i a Ótir
100%

Avaliação Laboratorial do Estado


N ã o existem testes f u n c i o n a i s c o n v e n i e n t e s ou confiáveis p a r a o
estado d e ácido p a n t o t ê n i c o , assim a avaliação é feita p o i dosa-
gens diretas das c o n c e n t r a ç õ e s e m s a n g u e total o u u r i n a . Dosa-
gens n a u r i n a são, talvez, a m a n e i r a mais fácil d e c o n d u z i r e
i n t e r p r e t a r esses testes, e as c o n c e n t r a ç õ e s são i n t i m a m e n t e rela-
c i o n a d a s c o m a ingestão na dieta. 1 2 As dosagens e m sangue total
são preferíveis àquelas e m plasma, q u e c o n t é m a p e n a s ácido
p a n t o t ê n i c o livre e é insensível às variações d e ingestão d o ácido
p a n t o t ê n i c o . As c o n c e n t r a ç õ e s de ácido p a n t o t ê n i c o d e t o d o s os
f l u i d o s descritos a c i m a t ê m sido avaliadas por e n s a i o microbio-
lógico, mais c o m u m e n t e u t i l i z a n d o LdctobaciUus plantarum.
O u t r a s técnicas q u e t ê m s i d o utilizadas i n c l u e m (1) r a d i o i m u n o - Figura 2 7 - 1 9 Modelo da relação entre concentração tecidual e
ensaio, (2) c r o m a t o g r a f i a gasosa, (3) c r o m a t o g r a f i a gasosa-espec- ingestão de u m n u t r i e n t e essencial e a função biológica dependente.
t r o m e t r i a d e massa e (4) e n s a i o d e d i l u i ç ã o d o i s ó t o p o estável.
C o A e A C P t ê m sido d o s a d a s p o r m é t o d o s enzimáticos.
510 PARTE IV Analitos

A c o n c e n t r a ç ã o de elementos-traço essenciais e m células útil em situações nas quais o v o l u m e da amostra é limitado o u


nucleadas tem sido d e t e r m i n a d a em vários tipos de leucócitos e para elementos para os quais limites de detecção baixos são
e m plaquetas. E n t r e t a n t o , a separação de células brancas e pla- necessários, tais c o m o selênio e manganês. Sistemas ópticos c o m
quetas do sangue total está sujeita a sérios problemas de conta- correção d o b a r u l h o de f u n d o utilizando l â m p a d a de deutério
minação antes da análise d o elemento-traço. ou e m p r e g a n d o o efeito Z e e m a n são agora c o m p o n e n t e s de
padronização e m i n s t r u m e n t a ç ã o de ETA-AAS (Capítulo 4).
Fatores Pré-Analíticos AASs de chama e eletrotérmica são técnicas para avaliar elemen-
Existem n u m e r o s a s variáveis q u e afetam as determinações de tos isolados, e as análises d e diferentes elementos devem ser
elementos-traço antes de a realização da análise das amostras ser realizadas seqüencialmente, o que implica em desperdício de
realizada, e essas requerem controle cuidadoso. Por exemplo, (1) tempo e de amostra.
idade, (2) sexo, (3) origem étnica, (4) tempo de coleta e m relação
à ingestão de alimentos, (5) p e r í o d o do dia, (6) histórico de Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente
m e d i c a m e n t o s e (7) uso de tabaco devem ser relacionados q u a n d o Acoplado (ICP-OES)
se estabelecem intervalos de referência a partir de populações- A ICP-OES está s u b s t i t u i n d o a AAS e m alguns laboratórios. As
controle saudáveis. Para serem interpretados, os resultados principais variações para a i n s t r u m e n t a ç ã o de ICP-OES têm
t a m b é m r e q u e r e m o c o n h e c i m e n t o da extensão de q u a l q u e r levado à diminuição d o limite de detecção. Esta t a m b é m oferece
reação de fase aguda (APR). u m a ampla escala d i n â m i c a (p. ex., três ordens de m a g n i t u d e para
a maioria dos elementos) q u e permite análise simultânea obtida
Equipamento de Coleta a partir de u m a única alíquota diluída da amostra. A alta tempe-
A escolha d o recipiente paTa as amostras é i m p o r t a n t e p o r q u e a ratura d o plasma, 7.500 °C, t o r n a a técnica largamente livre de
c o n t a m i n a ç ã o p o r borracha, cortiça e plásticos coloridos tem sido interferências químicas, mas efeitos matriciais, b a r u l h o de f u n d o
u m problema. Para o plasma, tubos de h e p a r i n a lítica c o m o e interferências espectrais são superiores àquelas da AAS.
anticoagulante são apropriados para a maioria das análises. Para
o soro, tubos de vidro planos têm sido usados. Para metais-ultra- Espectrometria de Massa com Plasma Indutivamente Acoplado
traço (Mn, Cr), arranjos especiais devem ser feitos para coleta de (1CP-MS)
sangue via cânula plástica ou agulhas de aço siliconizadas, e, Essa técnica é mais sensível que ETA-AAS ou ICP-OES e é no
então, a a m o s t r a é colocada d e n t r o de u m recipiente pré-lavado m o m e n t o o m é t o d o preferencial pata elementos-ultratraço. Inter-
c o m ácido. T u b o s de coleta a vácuo para avaliar metal-traço estão ferências poliatômicas são mais prováveis para massas me n o r e s
disponíveis comercialmente. E u m a boa prática passar soluções que 80. ICP-MS t a m b é m tem sido usada para m e d i r isótopos
ácidas diluídas e m todos os recipientes e sistemas de coleta para estáveis e para a c o n d u ç ã o de m é t o d o s de traçador c o m isótopo
garantir que t o d o a material utilizado na coleta p e r m a n e ç a o estável e análise de diluição isotópica. O s princípios de espectro-
m á x i m o possível livre de c o n t a m i n a ç ã o . metria de massa são discutidos n o C a p í t u l o 8.
Para a coleta de u r i n a de 24 horas, é i m p o r t a n t e q u e essa n ã o
seja feita e m coletor de fibra descartável ou recipiente de aço Considerações da Garantia de Qualidade
inoxidável, e garrafas de polietileno devem ser utilizadas com U m esquema de garantia de qualidade efetiva p a i a as análises de
ácido acético glacial c o m o preservativo. elementos-traço e ultratraço requer a incorporação dos seguintes
itens e m cada grupo de amostras analisado: (1) brancos, (2)
Metodologia réplica das análises para obter precisão, (3) calibradores dos ele-
O s limites de detecção de métodos analíticos utilizados para deter- mentos-traço de interesse e m faixas de concentração esperadas
minação de elementos-traço e ultratraço e m amostras biológicas das amostras analisadas e (4) solução de referência ou controle
são importantes p o r q u e as concentrações desses elementos estão c o m concentrações conhecidas ou certificadas de elementos-traço
na faixa de n a n o g r a m a por grama ou micrograma por grama. N a para d e t e r m i n a r m e l h o r acuidade e precisão entre as réplicas. O
prática, a concentração dos elementos-traço e ultratraço devem material de referência deve ser do m e s m o tipo de matriz e conter
estar pelo m e n o s 10 vezes acima d o limite de detecção do m é t o d o , a p r o x i m a d a m e n t e as mesmas q u a n t i d a d e s de analito q u e as
assim assegurando acuidade suficiente e precisão. amostras. É t a m b é m essencial que os laboratórios que m e d e m
O s m é t o d o s analíticos c o m u m e n t e utilizados estão resumidos elementos-traço participem e m programas externos de avaliação
a seguir: de qualidade.

Espectrofotometria Elementos-Traço Individuais


Q u a n d o aplicados para análise de elementos-traço, os m é t o d o s O s elementos-traço discutidos a seguir incluem (1) cromo, (2)
de espectrofotometria são baseados n a utilização de u m reagente cobalto, (3) cobre, (4) flúor, (5) manganês, (6) molibdênio, (7)
f o r m a d o r de cor; entretanto, esses carecem de especificidade. selênio e (8) zinco.
Interferências t a m b é m acontecem e m amostras hemolisadas, lipê-
micas e ictéricas. N a prática, a técnica só é sensível para os ele- Cromo
mentos-traço mais a b u n d a n t e s c o m o ferro, zinco e cobre. O c r o m o é e n c o n t r a d o n a t u r a l m e n t e e m diversas materiais cris-
talinos. Este é u m e l e m e n t o de transição com m u i t o s interesses
Espectrofotometria de Absorção Atômica (AAS) industriais e é descartado n o a m b i e n t e c o m o rejeito industrial.
A AAS de c h a m a é a m p l a m e n t e utilizada para a d e t e r m i n a ç ã o de
zinco e cobre n o soro (Capítulo 4). Essa técnica não p e r m i t e Química
medir o cobre n a urina, que requer u m m é t o d o mais sensível e O c r o m o ( n ú m e r o atômico 24, massa atômica relativa 51,99) é
mais t e c n i c a m e n t e exigente, a espectrometria de absorção atômica u m metal de transição que se encontra nos seres vivos c o m as
c o m atomização eletrotérmica (ETA-AAS). Nessa técnica, volumes valências 3" ou 6 + , cada u m a p r e s e n t a n d o propriedades diferentes
das amostras tão p e q u e n o s q u a n t o 10 |jL são seqüencialmente e marcantes. O c r o m o trivalente (Cr3"1) é considerado elemento-
volatilizados e atomizados em um t u b o de grafite. Essa técnica é traço essencial que a u m e n t a a ação da insulina. O c r o m o hexa-
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 511

valente Cr 6 " é u m antioxidante forte e causa d a n o s em tecidos, Significado Clinico


embora seja r a p i d a m e n t e reduzido a Cr J * d u r a n t e o contato com Acredita-se q u e o c r o m o tenha u m papel na tolerância à glicose
alimentos e c o n t e ú d o gástrico. d i m i n u í d a , n o diabetes e e m d o e n ç a cardiovascular.
U m a forma biologicamente ativa do Cr 3 " é conhecida c o m o Tolerância à Glicose Diminuída e Diabetes. O estado nutricional
fator de tolerância A glicose (GTF) e é e n c o n t r a d o em leveduras deficiente de c r o m o p o d e ser u m fator q u e provoca a r e d u ç ã o de
de cervejarias, mas a sua f u n ç ã o ainda p e r m a n e c e incerta. Acre- tolerância à glicose em alguns pacientes. E n t r e t a n t o , a variabili-
dit a-se que sua estrutura seja u m complexo de c r o m o ern forma dade na ingestão dietética do c r o m o e a carência de u m m a r c a d o r
cie octaedro c o m duas moléculas de ácido nicotínico t e n d o laboratorial ou clínico útil para identificar facilmente aqueles
q u a t r o sítios de coordenação ligados ao ácido glutâmico, glicina pacientes com estado deficiente têm criado dificuldades. U m a
e cisteína. metanálise q u e investigou 15 experimentações c o m amostras
escolhidas ao acaso sobre o efeito do c r o m o na glicose, insulina
Fontes Dietéticas e h e m o g l o b i n a glicosilada (geralmente conhecida c o m o H b A ^ ) *
As estimativas de q u a n t i d a d e s de c r o m o em alimentos variam e m concluiu q u e n ã o havia efeitos d o c r o m o sobre a glicose ou insu-
virtude de dificuldades analíticas e c o n t a m i n a ç ã o pelo c o n t a t o lina em participantes não-diabéticos e q u e os dados para pessoas
c o m aço inoxidável d u r a n t e o processamento, estocagem e cozi- c o m diabetes eram inconclusivos. C o n s e q ü e n t e m e n t e , experi-
m e n t o do alimento. Boas fontes de c r o m o incluem (1) carnes mentações em grande escala são requeridas.
processadas, (2) grãos não-beneficiados, (3) feijões verdes, (4) Sugeriu-se que, a curto prazo, doses inferiores a 1.000 (J-g de
brócolis e (5) algumas especiarias. A estimativa de ingestão dieté- c r o m o por dia p o d e ser u m t r a t a m e n t o adicional útil para a
tica para adultos nos Estados U n i d o s varia de 20 a 30 [.ig/dia. diabetes tipo 2. A m o n i t o r a ç ã o da f u n ç ã o d o rim e a avaliação
S u p l e m e n t o s c o n t e n d o c r o m o são utilizados por cerca de 8 % dos clínica de qualquer m u d a n ç a dermatológica são r e c o m e n d a d a s .
adultos nos Estados U n i d o s . As dosagens utilizadas sugerem u m papel farmacológico para o
cromo, e u m a potencial toxicidade deve ser considerada. A
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção terapia com c r o m o n o controle e prevenção de diabetes é, con-
A absorção intestinal de Cr J + varia de 0 , 4 % a 2,5%, assim a s e q ü e n t e m e n t e , de interesse considerável e assunto de muita
excreção fecal é p r i n c i p a l m e n t e c r o m o dietético n ã o absorvido. controvérsia.
A p ó s a absorção, o c r o m o se liga à transferrina plasmática com Doença Cardiovascular. Acredita-se que a depleção de c r o m o
afinidade similar à do ferro. O cromo se concentra e m (1) fígado, possa estar associada a u m a u m e n t o n o risco cardiovascular.
(2) baço, (3) outros tecidos moles e (4) ossos h u m a n o s . A excreção Relatos de respostas favoráveis de lipídios ao s u p l e m e n t o de
urinária é cerca de 0,2 a 0,3 |j.g/dia, c o m a q u a n t i d a d e excretada c r o m o têm sido publicados.
d e p e n d e n t e da ingestão.
Toxicidade
Funções O cromo hexavalente é u m r e c o n h e c i d o carcinógeno, e a expo-
Acredita-se que u m octapeptídeo intracelular de baixo peso mole- sição a fumaças industriais e poeiras c o n t e n d o esse metal está
cular (LMWCr), t a m b é m c o n h e c i d o c o m o c r o m o d u l m a , se ligue associada à incidência a u m e n t a d a do câncer de p u l m ã o , derma-
ao C r ' 1 a u m e n t a n d o a resposta dos receptores de insulina. N o tite e ulcerações da pele (Capítulo 32).
m o d o de ação proposto, (l) os receptores inativos de insulina As espécies de C r + são relativamente atóxicas, em parte graças
localizados nas m e m b r a n a s plasmáticas são convertidos e m u m a à absorção intestinal deficiente e excreção rápida pela urina.
forma ativa pela ligação à insulina circulante, (2) essa ligação Entretanto, o picolinato de cromo é u m suplemento dietético
estimula o m o v i m e n t o do c r o m o ligado à transferrina plasmática extensamente utilizado, e foi relatado q u e este composto causa
d e n t r o da célula, (3) o cromo, então, se liga à a p o L M W C r , con- danos renais e hepáticos q u a n d o utilizado e m doses elevadas.
vertendo-a em sua forma inativa que então se liga a receptores de
insulina, p o t e n c i a n d o a atividade de quinase e (4) u m a vez que Avaliação Laboratorial do Estado
as concentrações de glicose e insulina plasmáticas a t i n j a m níveis U m a resposta benéfica à s u p l e m e n t a ç ã o de c r o m o em pacientes
n o r m a i s de glicemia, o fator L M W C r é liberado da célula para c o m intolerância à glicose é, atualmente, o ú n i c o meio de con-
t e r m i n a r seus efeitos. firmar a deficiência e m cromo. N e n h u m m é t o d o prático para
avaliar a depleção de c r o m o intracelular está disponível. A l é m
Necessidades e R e c o m e n d a ç õ e s para Ingestão de Nutrientes disso, sabe-se, a partir de experiências iniciais com animais, q u e
Por não haver evidência suficiente para estabelecer a necessidade o c r o m o circulante não está e m equilíbrio com as reservas fisio-
média estimada (EAR), a ingestão média, baseada em ingestões lógicas importantes.
estimadas, foi estabelecida e m 35 [ag de cromo por dia para A determinação direta do cromo n o plasma ou n o soro
h o m e n s e de 25 jag por dia para m u l h e r e s . N e n h u m limite supe- s o m e n t e é possível se for t o m a d o u m grande cuidado para impedir
rior tolerável foi estabelecido para a ingestão dietética de Cr 3 + . a contaminação antes e d u r a n t e a análise. O s p r o c e d i m e n t o s de
coleta de amostras devem evitar qualquer contato c o m aço inoxi-
dável, assim todos os sistemas para coleta de sangue de plástico
Deficiência
ou agulhas de aço siliconizadas devem ser utilizados, e as amostras
O s sinais clínicos da deficiência h u m a n a de cromo foram descri-
devem ser armazenadas e m recipientes lavados com ácido.
tos clara e p r i m e i r a m e n t e em pacientes que recebiam n u t r i ç ã o
A detecção de q u a n t i d a d e s a u m e n t a d a s de c r o m o na u r i n a é
parenteral por períodos prolongados. Todos os casos que têm
u m a confirmação da exposição ocupacional ou a m b i e n t a l recente
sido publicados apresentam histórias similares, c o m pacientes
a u m excesso de cromo.
previamente estáveis que desenvolveram (l) intolerância à glicose
e resistência à insulina, (2) perda de peso e em alguns casos (3)
déficits neurológicos. Adição de q u a n t i d a d e s substanciais de C r ' " *A Incemational Union of Pure Applied Chemistry (IUPAC) e a International
à dieta p o r via intravenosa (150 a 200 |ig/dia) reverte a intole- Federation of Clinicai Chemistry (IFCC) recomendam que o termo apropriado
rância à glicose, reduz a necessidade de insulina e leva à m e l h o r a para hemoglobina glicosilada seja hemoglobina beta-N-l-deoxi frutosil. Esta
eventual das desordens neurológicas. recomendação é controversa, e a aceitação global está sob debate.
512 PARTE IV Analitos

Intervalos de Referência m e n o r de cobre n o plasma (<10%) encontra-se ligada à a l b u m i n a .


A t u a l m e n t e , valores m u i t o baixos são considerados n o r m a i s para U m a visão geral d o m e t a b o l i s m o de cobre está ilustrada n a Figura
o soro (0,1 a 0,2 Hg/L [2 a 3 n m o l / L ] ) e, para urina, inferiores a 27-20.
0,2 (jg de c r o m o por L (<3 n m o l / L ) . E n t r e 0,5 e 2,0 m g de cobre p o r dia é excretado, via bile, pelas
fezes. O s pacientes com icterícia colestática o u outras f o r m a s de
Cobalto disfunção d o fígado estão, c o n s e q ü e n t e m e n t e , em risco de
O cobalto é essencial para seres h u m a n o s s o m e n t e c o m o parte a c ú m u l o de cobre causado p o r falha n a excreção. A presença de
integral da vitamina B ] 2 (cobalamina). N e n h u m a outra f u n ç ã o cobre n a urina é n o r m a l m e n t e inferior a 60 p g / d i a .
para o cobalto n o corpo h u m a n o é conhecida. Detalhes bioquí-
micos e f u n c i o n a i s da v i t a m i n a são discutidos a n t e r i o r m e n t e . Funções
A microbiota d o intestino h u m a n o n ã o pode utilizar cobalto para O cobre é u m c o m p o n e n t e catalítico de n u m e r o s a s enzimas e é
sintetizar cobalamina fisiologicamente ativa. A exigência h u m a n a t a m b é m c o m p o n e n t e estrutural de outras proteínas i m p o r t a n t e s
da vitamina Bn deve ser fornecida pela dieta. O cobalto livre (não em h u m a n o s , animais, plantas e microrganismos.
associado à vitamina B ]2 ) não interage com o c o n t e ú d o de vita- Produção de Energis. A citocromo c oxidase é u m complexo
m i n a B n do corpo. enzimático com múltiplas s u b u n i d a d e s c o n t e n d o cobre e ferro.
Localizada na face externa da m e m b r a n a mitocondtial, a enzima
Cobre catalisa a redução de q u a t r o elétrons do oxigênio molecular,
O cobre é u m elemento-traço i m p o r t a n t e que está associado a necessária pata a p r o d u ç ã o de ATP.
u m grande n ú m e r o de metaloproteínas. Está presente e m siste- Formação do Tecido Conjuntivo. A proteína lisina 6-oxidase (lisil
mas biológicos e m ambos os estados de valências 1* e 2*. oxidase) é u m a enzima d e p e n d e n t e de cobre essencial para a
estabilização de matrizes extracelulares, especificamente para a
Química ligação cruzada entre colágeno e elastina. A enzima está forte-
O cnhre ( n ú m e r o atômico 29, massa atômica relativa 63,54) apre- m e n t e associada ao tecido c o n j u n t i v o e está localizada (1) ria.
senta os estados de oxidação de Cu 1 + e Cu 2 + e m sistemas biológi- aorta, (2) n o tecido c o n j u n t i v o dérmico, (3) e m fibroblastos e (4)
cos. A fácil conversão entre estes íons proporciona ao e l e m e n t o no cítoesqueleto de m u i t a s outras células.
importantes propriedades de redox. E m virtude da elevada afini- Metabolismo do Ferro. Enzimas c o n t e n d o cobre, e d e n o m i n a -
d a d e por elétrons, estes são os íons de elementos-traço essenciais das (1) ferroxidase I (ceruloplasmina), (2) ferroxidase II e (3)
mais f o r t e m e n t e ligados às moléculas orgânicas. Por exemplo, o hefaestina n o enterócito, oxidam a f o r m a ferrosa à férrica. Isto
cobre e m material biológico é complexado c o m proteínas, peptí- permite a incorporação de Fe3* n a transferrina e, eventualmente,
deos e outros ligantes orgânicos. U m a série elaborada de proteínas na hemoglobina.
de ligação e transporte d e n t r o das células protege o g e n o m a contra Sistema Nervoso Centrai. A dopa m i n a monooxigenase (DM O)
ataques de radicais livres de cobre. Isto m a n t é m a concentração é u m a enzima que requer cobre c o m o co-fator e utiliza o ascor-
de cobre livre n o citoplasma m u i t o baixa (em t o r n o de 10"15 m o l / bato c o m o u m d o a d o r de elétrons. Esta enzima catalisa a conver-
L). A m e t a l o e m i m a c o n t e n d o cobre, superóxido dismutase (SOD), são de d o p a m i n a a n o r e p i n e f r i n a , u m neurotransmissor impor-
protege contra danos aleatórios causados por radicais livres n o tante. A m o n o a m i n a oxidase é u m a enzima c o n t e n d o cobre que
citoplasma e n o plasma. catalisa a degradação da serotonina n o cérebro.
Síntese de Melanina. A tirosinase é u m a enzima c o n t e n d o cobre,
Fontes Dietéticas localizada e m melanócitos e catalisa a síntese de melanina.
O c o n t e ú d o de cobre de alimentos é variável e é afetado p o r Funções Antioxidantes. A m b a s as S O D s , intracelular e extrace-
fertilizantes e fungicidas c o n t e n d o cobre aplicados em plantas lular, c o n t ê m cobre e zinco e são capazes de converter radicais
comestíveis e pela utilização dc utensílios de cozinha c o n t e n d o superóxidos em peróxido de hidrogênio, que é subseqüente-
cobre. O metal é o mais a b u n d a n t e e m carnes, tais c o m o o fígado m e n t e removido. A ceruloplasmina t a m b é m se liga a íons de
e o rim, c o m q u a n t i d a d e s relativamente elevadas t a m b é m encon- cobre e, assim, i m p e d e d a n o s oxidativos provocados p o r íons de
tradas e m mariscos, nozes, em grãos de cereais n ã o processados cobre livres, que geram radicais hidroxil.
e em produtos c o n t e n d o cacau. A ingestão m e d i a n a d o cobre nos Regulação da Expressão Gênica e da Manipulação de Cobre
Estados U n i d o s está ao redor de 1,0 a 1,6 m g / d i a . Intracelular. A síntese de m e t a l o t i o n e í n a é controlada p o r fatores
de transcrição que r e s p o n d e m ao cobre e é u m a proteína impor-
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção tante n a regulação da distribuição intracelular d o cobre. Proteí-
A extensão da absorção de cobre pelo intestino delgado varia c o m nas especializadas adicionais agem c o m o "chaperonas de cobre"
o c o n t e ú d o de cobre dietético e está ao redor de 5 0 % e m inges- para levar esse metal para espaços intracelulares e para prevenir
tões baixas (inferiores a 1 mg por dia), mas s o m e n t e 2 0 % em danos oxidativos causados por íons de cobre livres.
ingestões mais elevadas (>5 mg de cobre p o r dia). A absorção é Erros Inatos do Metabolismo de Cobre. A s í n d r o m e de M e n k e s
reduzida p o r outros c o m p o n e n t e s dietéticos, tais c o m o o zinco é causada por u m gene defeituoso que regula o metabolismo de
(via metalotioneína), m o l i b d a t o e ferro, e a u m e n t a d a por amino- cobre n o corpo. A doença de W i l s o n é h e r d a d a c o m o u m traço
ácidos. autossômico recessivo a p r e s e n t a n d o u m defeito n o metabolismo
O cobre absorvido é t r a n s p o r t a d o até o fígado pelo sangue do cobre e provoca a c ú m u l o do cobre (1) n o fígado, (2) n o
p o r t a l ligado à albumina, o n d e esse é i n c o r p o r a d o pelos hepató- cérebro, (3) no rim, (4) n a córnea e (5) e m outros tecidos. As
citos e m cuproenzimas e em outras proteínas c, então, e x p o r t a d o ATPases t r a n s p o r t a d o r a s de cobre do tipo P, conhecidas c o m o
pelo sangue periférico, p r i n c i p a l m e n t e c o m o ceruloplasmina A T P 7 A e ATP7B, são fatores essenciais para a m a n u t e n ç ã o do
para os tecidos e os órgãos. E m b o r a dois terços dos 80 a 100 m g balanço de cobre. O t r a n s p o r t e intestinal de cobre é p r e j u d i c a d o
do nível total do cobre n o c o i p o estejam situados no esqueleto por u m a m u t a ç ã o n o gene de A T P 7 A que leva à deficiência grave
e n o músculo, o fígado é o órgão-chave na homeostase de cobre. de cobre observada na s í n d r o m e de Menkes. O defeito n o gene
A ceruloplasmina é u m reagente positivo de fase aguda e a u m e n t a de A T P 7 B afeta a incorporação d o cobre na ceruloplasmina e a
d u r a n t e a infecção e após injúria de tecido. U m a q u a n t i d a d e excreção via bile, e esta é a base da doença de Wilson.
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 513

( Cobre \
• da dieta 1.2
Figaca
(-9,9 mg)
v
V
\

Plasma,
Cérebro, ceruloplasmina,
músculo, albumina, Sangue
coração, osso, aminoácidos (albumina,
pulmão, etc aminoácidos)
( - 9 0 mg)

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Figura 2 7 - 2 0 M e t a b o l i s m o d o cobre. ( M o d i f i c a d o d e H a i n s E D . C o p p e r . In: 0 ' D e ] ] BL, S u n d e R A , eds


H a n d b o o k of n u t r i t i o n a l l y essencial m i n e r a l e i e m e n t s . N e w York- Mareei Dekker, 1997:231-73.)

Necessidades e R e c o m e n d a ç õ e s para Ingestão de Nutrientes desenvolver as m u d a n ç a s típicas e m ossos, m e n c i o n a d a s anterior-


A ingestão dietética r e c o m e n d a d a para adultos é 0, 9 mg/dia. f i Ela mente.
está próxima d o limite inferior de 1,0 m g / d i a e n c o n t r a d o em Síndrome de Menkes. Esta s í n d r o m e ocorre tipicamente e m
levantamentos dietéticos, q u e sugeriram q u e a depleção marginal recém-nascidos d o sexo masculino com dois a três meses e q u e
de cobre poderia ser e n c o n t r a d a n a população dos Estados apresentam (1) perda n o desenvolvimento, antes normal, (2)
U n i d o s . O limite superior tolerável é de 10 mg/dia. hipotonia, (3) convulsões e (4) falha n o desenvolvimento. M u d a n -
ças físicas n o cabelo (pili torti/cabelo crespo), na aparência facial
e anormalidades neurológicas sugerem o diagnóstico. O s testes
Deficiência de primeira linha p o d e m e n c o n t r a r concentrações inferiores a 10
A deficiência de cobre tem sido observada e m numerosas condi- H m o l / L de cobre n o plasma, inferiores a 220 m g / L de cerulo-
ções: p l a s m i n a e d e m o n s t r a r pili torti por exames microscópicos.
Recém-nascidos Malnutrídos, Q u a n d o recém-nascidos malnu- Síndrome de Má Absorção. O s pacientes de risco incluem
tridos e c o m histórias de diarréia crônica foram reabilitados com aqueles com (1) doença celíaca, (2) spnt, (3) fibrose cística e (4)
f ó r m u l a baseada em leite de vaca, eles desenvolveram anemia s í n d r o m e do intestino curto. E m alguns casos, a ingestão excessiva
resistente ao ferro, n e u t r o p e n i a e outras desordens hematológi- de suplementos orais de zinco causa a deficiência de cobre pela
cas, além de lesões de ossos. A s u p l e m e n t a ç ã o de cobre n o leite indução da metalotioneína na mucosa intestinal pelo zinco, que,
reverteu essas anormalidades. então, seqüestra o cobre dietético, b l o q u e a n d o sua absorção.
Recém-nascidos Prematuros. A maior parte d o a c ú m u l o de Doença Cardiovascular. Estudos em animais mostraram que a
cobre n o fígado de fetos ocorre nos últimos três meses de gravi- deficiência grave de cobre causa d a n o s cardíacos, mas as anorma-
dez, e recém-nascidos p r e m a t u r o s com dieta n a qual o cobre não lidades diferem daquelas observadas e m doença cardiovascular
é suficiente estão em risco para doenças associadas à deficiência, h u m a n a . O s levantamentos epidemiológicos m o s t r a r a m t a m b é m
desde que os estoques de cobre do fígado são inadequados. q u e os valores a u m e n t a d o s de cobre do plasma são u m fator de
A n o r m a l i d a d e s hematológicas e ossos frágeis, facilmente fraturá- risco cardiovascular positivo. U m a u m e n t o na concentração plas-
veis, têm sido descritos. mática de ceruloplasmina, e p o r t a n t o de cobre, p o d e ser u m a
Apoio Nutricional. Adultos e crianças com nutrição intrave- resposta n ã o inespecífica à inflamação de artérias e n c o n t r a d a n a
nosa, sem adição de cobre suficiente, desenvolvem sintomas da arteriosclerose.
deficiência- As m u d a n ç a s hematológicas que ocorrem n a anemia
h i p o c t ô m i c a e n a n e u t r o p e n i a são revertidas pela suplementação Toxicidade
de cobre. Efeitos similares f o r a m relatados d u r a n t e a alimentação A doença de W i l s o n representa u m a d e s o r d e m genética d o meta-
enter al prolongada após jej u n o s tom ia. Crianças t a m b é m p o d e m bolismo de cobre q u e causa u m a u m e n t o de cobre até concen-
514 PARTE IV Analitos

trações tóxicas. A i n c i d ê n c i a d a d o e n ç a de W i l s o n é e s t i m a d a e m dias d e hoje, mais de 6 0 % d a p o p u l a ç ã o dos Estados U n i d o s


1 / 3 0 . 0 0 0 nascidos vivos. A a p r e s e n t a ç ã o é a l t a m e n t e variável; utiliza água f l u o r e t a d a . E m adição, diversas c o m p a n h i a s acrescen-
assim, adolescentes o u a d u l t o s jovens c o m d o e n ç a d e fígado t a m f l u o r e t o à água e n g a r r a f a d a ( h t t p : / / w w w . b o t t l e d w a t e r . o r g /
inexplicável ou c o m s i n t o m a s n e u r o l ó g i c o s são suspeitos de apre- public/ fluorida.htm).
s e n t a r essa s í n d r o m e , e m especial aqueles c o m histórico familiar
d a d o e n ç a . A s investigações locais iniciais i n c l u i r i a m o cobre e Função
c e r u l o p l a s m i n a d o plasma, q u e estarão, g e r a l m e n t e , e m níveis O íon f l u o r e t o é t r o c a d o p e l o radical hidroxil n a e s t r u t u r a cris-
inferiores (<50 [ig/dL, 8 f i m o l d e cobre p o r L e c e r u l o p l a s m i n a talina d a apatita, o c o m p o n e n t e p r i n c i p a l de ossos e d e n t e s . Isto
< 2 0 0 m g / L ) . E m b o t a o c o b r e total d o p l a s m a esteja d i m i n u í d o , estabiliza a superfície d o d e n t e e m regeneração. I n i c i a l m e n t e , o
a fração n ã o ligada à c e r u l o p l a s m i n a está a u m e n t a d a , p e r m i t i n d o b e n e f í c i o era c o n s i d e r a d o u n i c a m e n t e p a r a os d e n t e s de crianças
a d e p o s i ç ã o d o cobre n o cérebro, n o s olhos e n o s rins. e m e r u p ç ã o , mas os efeitos tópicos e m d e n t e s d e a d u l t o p a r a
O e x a m e o f t a l m o l ó g i c o c o m l â m p a d a de f e n d a p o d e detectar prevenir a cárie t a m b é m são r e c o n h e c i d o s .
d e p ó s i t o s de c o b r e n o o l h o (anéis de Kayser-Eleischer), e p o d e
haver a n o r m a l i d a d e s e m testes d e f u n ç ã o hepática, c o m a u m e n t o Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
n a excreção d e c o b r e u r i n á r i o (>500 p,g p o r L). A biópsia d e O s í o n s d e f l ú o r são e f i c i e n t e m e n t e a b s o r v i d o s n o e s t ô m a g o e
f í g a d o é útil e m casos suspeitos, e os resultados c o m mais d e 2 5 0 n o i n t e s t i n o d e l g a d o . Pelo m e n o s 9 5 % d o s 2,6 g d o fluoreto total
p g d e C u / g d e peso seco são u s u a l m e n t e e n c o n t r a d o s ( n o r m a l 8 d o c o r p o estão localizados n o s ossos e d e n t e s . Q u a s e 9 0 % d o
a 4 0 [ig d e cobre p o r g de p e s o seco). O r a s t r e a m e n t o d o gene e excesso d e f l ú o r são excretados n a u r i n a .
a detecção d a m u t a ç ã o são possíveis n o m o m e n t o . N a d o e n ç a de
W i l s o n o d i a g n ó s t i c o é f r e q ü e n t e m e n t e difícil n o s casos q u e Toxicidade
envolvem a f a l h a a g u d a d o fígado. U m a u m e n t o e x t r e m o de cobre A f l u o r o s e d e n t a l é a causa de m a n c h a s n o esmalte de dences e m
n o p l a s m a será e n c o n t r a d o ; e n t r e t a n t o , esse n ã o é a c o m p a n h a d o e r u p ç ã o , e estima-se q u e afeta, a t u a l m e n t e , cerca d e 2 0 % d a
d e a u m e n t o compatível n o s níveis d e c e r u l o p l a s m i n a . população.
A f o r m a c r ô n i c a d a d o e n ç a de W i l s o n é t r a t a d a p o r agentes A exposição o c u p a c i o n a l à p o e i r a c o n t e n d o f l ú o r inalada p o r
q u e l a n t e s de a d m i n i s t r a ç ã o oral, tais c o m o p e n i c i l a m i n a e trien- t r a b a l h a d o r e s q u e m a n i p u l a m a criolita d u r a n t e o r e f i n o d e
tina, q u e r e m o v e m o excesso d e c o b r e d o tecido e a u m e n t a m sua a l u m í n i o resultava e m a n o r m a l i d a d e s ósseas graves, m a s atual-
excreção pela u r i n a . m e n t e o e q u i p a m e n t o d e s e g u r a n ç a limita tal exposição.
A toxicidade t a m b é m p o d e acontecer d i r e t a m e n t e pela con-
t a m i n a ç ã o c o m cobre d e f o n t e s d a dieta e d e água.
Avaliação Laboratorial do Estado
A d e t e r m i n a ç ã o d o f l ú o r n a u r i n a é utilizada para avaliar a expo-
Avaliação Laboratorial do Estado sição às diferentes fontes de flúor. Para a água potável e a u r i n a , a
O s ensaios d e c o b r e e c e r u l o p l a s m i n a plasmáticos são convenien- d e t e r m i n a ç ã o direta emprega u m eletrodo específico para flúor.
tes e utilizados e x t e n s a m e n t e para c o n f i r m a r a deficiência grave
de cobre. E n t r e t a n t o , n ã o são i n d i c a d o r e s sensíveis n a d e p l e ç ã o
Intervalos de Referência
m a r g i n a l d e cobre.
As c o n c e n t r a ç õ e s d o f l u o r e t o e m f l u i d o s c o r p o r a i s e n o s tecidos
E m virtude de aproximadamente 9 0 % d o cobre d o plasma
v a r i a m e x t e n s a m e n t e d e p e n d e n d o d o c o n t e ú d o d o flúor n a água
estar associado à c e r u l o p l a s m i n a , fatores q u e a u m e n t a m a síntese
potável e d a ingestão pela dieta, pasta de d e n t e e e n x a g u a t ó r i o s
hepática de ceruloplasmina, c o m o u m A P R o u contraceptivos
bucais. Para a u r i n a , o intervalo estabelecido é de 0,2 a 3,2 m g /
orais, a u m e n t a m o c o b r e d o p l a s m a i n d e p e n d e n t e m e n t e d a inges-
tão de c o b i e n a dieta. E m recém-nascidos p r e m a t u r o s c o m ima- L (10,5 a 168 n m o l / L ) .
t u r i d a d e d o fígado e c o m baixa síntese d e c e r u l o p l a s m i n a , os
valores de c o b r e no p l a s m a inferiores a 3 0 | l g / L (<5 j i m o l de C u
p o r L) s u g e r e m a n e c e s s i d a d e d e a u m e n t o d a ingestão d e cobre.
Manganês
O m a n g a n ê s presente e m sistemas biológicos está ligado a proteínas
A relação entre as dosagens imunológica e enzimática de ceru-
e apresenta valências de 2* ou 3 + . Está associado p r i n c i p a l m e n t e à
loplasmina p o d e set u m índice útil d a depleção marginal de cobre.
f o r m a ç ã o d o tecido c o n j u n t i v o e ósseo, com f u n ç õ e s n o cresci-
A apoceruloplasmina n o soro a u m e n t a d u r a n t e a depleção de cobre
e irá contribuir para o ensaio de ceruloplasmina total, mas a ativi- m e n t o e r e p r o d u ç ã o e n o m e t a b o l i s m o de carboidrato e lipídios.
d a d e enzimática d i m i n u i m e s m o n a depleção marginal d o cobre.
Química
Intervalos de Referência O m a n g a n ê s ( n ú m e r o a t ô m i c o 25, massa a t ô m i c a relativa 5 4 , 9 4 )
Para adultos, o cobre p l a s m á t i c o está g e r a l m e n t e n o i n t e r v a l o d e é o p r i m e i r o m e t a l da série de transição ( 3 d V ) . D e n t r e os 11
7 0 a 140 [ i g / d L (10 a 22 ( i m o l / L ) . Valores para m u l h e r e s n a estados d e oxidação disponíveis para o m a n g a n ê s , a p e n a s o M n 2 +
i d a d e fértil e, e m especial, n a gravidez são mais elevados. A saída e Mn 3 * são e n c o n t r a d o s e m sistemas biológicos, a m a i o r p a r t e
de cobre n a u r i n a é n o r m a l m e n t e m e n o r q u e 6 0 H g / 2 4 h (< 1,0 ligada a proteínas.
j i m o l / 2 4 h), e valores s u p e r i o r e s a 200 Jig/24 h (3 [ i m o l / L ) são
e n c o n t r a d o s n a d o e n ç a de W i l s o n . Fontes Dietéticas
As f o n t e s ricas e m m a n g a n ê s i n c l u e m (1) grãos n ã o - b e n e f i c i a d o s ,
Flúor (2) nozes, (3) vegetais folhosos, (4) p r o d u t o s d a soja e (5) chás. A
O f l ú o r é o e l e m e n t o - t r a ç o m a i s e x t e n s a m e n t e utilizado dos cie- ingestão m é d i a n o s Estados U n i d o s é a p r o x i m a d a m e n t e 2 m g /
men tos-traço farmacologicamente benéficos graças à p r o p r i e d a d e de dia. As dietas vegetarianas q u e c o n t ê m q u a n t i d a d e s elevadas d e
prevenir cárie d e n t a l . grãos e d e nozes f o r n e c e m mais de 10 m g / d i a .

Fontes Dietéticas Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção


M u i t o s e s t u d o s n o s ú l t i m o s 5 0 anos estabeleceram q u e a adição O m a n g a n ê s dietético é a b s o r v i d o pelo i n t e s t i n o delgado p o r
d e f l ú o r à água potável reduz a incidência d a cárie d e n t a l , e, n o s m e c a n i s m o s q u e p o d e m ter u m a via c o m u m àquela d o ferro. A
Vitaminas e Elementas-Traço CAPÍTULO 2 7 515

absorção do manganês a u m e n t a e m baixas ingestões dietéticas e Pacientes c o m doença grave de fígado p o d e m apresentar
d i m i n u i e m ingestões elevadas, e estudos de rastreamento sugerem sinais neurológicos e c o m p o r t a m e n t a i s , decorrentes da neuroto-
eficiência n a absorção entre 2 % e 15%. U m a vez absorvido, o xicidade do manganês, induzidos p o r falha n a excreção de man-
m a n g a n ê s ligado à albumina é t r a n s p o r t a d o pelo sangue portal ganês n a bile. Deposição de m a n g a n ê s n o globus fpaüidws d u r a n t e
ao fígado e exportado, então, para outro tecido, ligado à trans- falha hepática resulta na hiperintensidade de sinal de ressonância
ferrina e, possivelmente, a ci2-macroglobulina. A excreção de magnética em T l .
manganês ocorre p r i n c i p a l m e n t e pelas fezes, via bile, s e n d o que O s pacientes que recebem o manganês intravenosamente
a excreção pela u r i n a é m u i t o baixa. d u r a n t e T P N t a m b é m m o s t r a r a m evidências de retenção e depo-
sição de m a n g a n ê s n o cérebro m é d i o e n o t r o n c o cerebral. O s
Funções sintomas típicos são tremor semelhante ao observado no mal de
O m a n g a n ê s é um constituinte de muitas metaloenzimas impor- Parkinson e anormalidades n a marcha.
tantes e t a m b é m age como u m ativador inespecífico de algumas Recomenda-se agora que s o m e n t e 1 (ig de m a n g a n ê s p o r
enzimas. O s íons Mn 2 + substituem os íons Mg 2 ' d u r a n t e a ativação quilograma (18 n m o l / k g ) seja a d m i n i s t r a d o d u r a n t e T P N em
dessas enzimas. recém-nascidos e q u a n t i d a d e s inferiores a 1 a 2 flg/dia (55 a 110
Superóxido Dismutase. A S O D d e p e n d e n t e de m a n g a n ê s é ^ m ó i / d i a ) em adultos. Todos os pacientes que requerem a nutri-
u m a enzima mitocondrial e constitui u m fator i m p o r t a n t e na ção intravenosa prolongada (IVN), especialmente aqueles porta-
limitação da toxicidade do oxigênio. A enzima catalisa a quebra dores de colestase, devem ser m o n i t o r a d o s q u a n t o à retenção de
do radical 02 a H2O2, que é, então, removido pela catalase e pela manganês.
glutationa peroxidase.
Piruvato Carboxiiase. Esta enzima atua em c o n j u n t o com a Avaliação Laboratorial do Estado
fosfoenol piruvato (PEP) carboxiquinase, u m a enzima ativada por C â n u l a s de plásticos devem ser utilizadas para a flebotomia, e a
íons manganês. Estas enzimas são necessárias para a formação do hemólise deve ser impedida d u r a n t e a separação da amostra. O
PEP a partir de piruvato, u m a reação-chave na síntese hepática sangue total tem a p r o x i m a d a m e n t e dez vezes mais manganês que
da glicose. o plasma ou o soro e n ã o é afetado pela c o n t a m i n a ç ã o por
Arginase. A arginase é a enzima terminal do ciclo da uréia, agulhas de aço utilizadas n a coleta da amostra. N a prática, isto
hidrolisando a L-arginina, a uréia e ornitina. A atividade da faz com que a m e d i d a de m a n g a n ê s d o sangue total seja o m é t o d o
arginase afeta a p r o d u ç ã o do óxido nítrico, por limitar a dispo- mais extensamente utilizado para m o n i t o r a r o estado d o manga-
nibilidade da L-argmina. nês e m laboratórios clínicos.
GliCOSil Transferases. Estas enzimas são responsáveis pela
adição seqüencial de moléculas de carboidratos nas proteínas Intervalos de Referência
para f o r m a r as proteoglicanas e, em última análise, o tecido O intervalo de referência para o manganês n o soro é de 0,5 a 1,3
conjuntivo e a cartilagem. São, c o n s e q ü e n t e m e n t e , i m p o r t a n t e s jag/L (9 a 24 nmol/L). O intervalo da referência p a T a o sangue total
para a integridade estrutural d o osso e da pele e para a cicatriza- é de 5 a 15 [ig/L (90 a 270 n m o l / L ) . Incrementos n o manganês
ção n o r m a l . sérico superiores a 5,4 M-g/L ( > 3 0 n m o l / L ) ou, sanguíneo, superio-
res a 20 |ig/L (> 360 n m o l / L ) indicam retenção de manganês.
Necessidades e RecomendaçõGs para Ingestão de Nutrientes
Em virtude da falta da i n f o r m a ç ã o de d e m a n d a s dietéticas de Molíbdênio
manganês, o Food a n d N u t r i t i o n Board estabeleceu c o m o ade- A necessidade essencial do m o l i b d ê n i o para animais e seres
q u a d a a ingestão para adultos do sexo masculino de 2,3 m g / d i a h u m a n o s é baseada e m sua incorporação às metaloenzimas.
e para os d o sexo f e m i n i n o de 1,8 m g / d i a . Há u m a preocupação
relativa à toxicidade potencial do manganês para recém-nascidos, Química
pois estes apresentam fígado i m a t u r o e reduzida excreção biliar M o l i b d ê n i o ( n ú m e r o atômico 42, massa atômica relativa 95,94)
do excesso de manganês. é u m metal da segunda série de transição. O elemento apresenta
diversos estados de oxidação, p o r é m o mais estável em sistemas
Deficiência biológicos é M o f i \ c o m o e n c o n t r a d o n o m o l i b d a t o (M0O4 2 ').
A deficiência visível do manganês não foi d o c u m e n t a d a em seres Existe u m a sobreposição entre a química do molibdênio, tungs-
h u m a n o s com dietas naturais. E n t r e t a n t o , em estudos com ténio e vanádio. As enzimas d e p e n d e n t e s de m o l i b d ê n i o são
animais, sinais de deficiência e x p e r i m e n t a l m e n t e induzida do ecologicamente vitais, facilitando os i m p o r t a n t e s ciclos do
manganês incluem (1) crescimento e f u n ç ã o r e p r o d u t o r a preju- carbono, nitrogênio e enxofre.
dicados, (2) anormalidades n o esqueleto, (3) tolerância à glicose
d i m i n u í d a e (4) d a n o s à síntese de colesterol. H o m e n s jovens Fontes Dietéticas
alimentados e x p e r i m e n t a l m e n t e c o m dietas de baixas concentra- Boas fontes d o m o l i b d ê n i o são (1) legumes, tais c o m o ervilhas,
ções de manganês desenvolveram lesões de pele e baixos níveis lentilhas e feijões, (2) grãos e (3) nozes. N o s Estados U n i d o s , a
de colesterol n o plasma. ingestão dietética média de adultos é 76 a 109 jlg M o p o r dia.
A deficiência de prolidase em recém-nascidos é u m a desor-
dem genética rara, que s a b i d a m e n t e é associada a anormalidades Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
na bioquímica d o manganês. O m o l i b d ê n i o é absorvido eficientemente e m formas dietéticas
b e m variadas, principalmente c o m o molibdato, e m b o r a a inibi-
Toxicidade ção competitiva da absorção pelo sulfato reduza a absorção intes-
O risco ocupacional à saúde de trabalhadores sujeitos à exposição tinal. Entre 8 0 % e 9 0 % do m o l i b d ê n i o n o sangue total encontra-
prolongada à poeira ou às emanações c o n t e n d o manganês é b e m se ligado às proteínas das células vermelhas. O transporte de
reconhecido (Capítulo 32). Sintomas neurológicos que se asse- q u a n t i d a d e s inferiores pelo plasma p o d e envolver a a 2 -macroglo-
m e l h a m à doença de Parkinson desenvolvem-se l e n t a m e n t e em bulina. A excreção urinária reflete d i r e t a m e n t e a ingestão dieté-
meses ou anos. tica do molibdênio.
516 PARTE IV Analitos

Funções a excreção urinária responde a a u m e n t o s ou d i m i n u i ç õ e s da


Diversas enzimas importantes de mamíferos, tais c o m o (1) sulfito ingestão. Medidas de urato ou sulfito na urina são os meios mais
oxidase, (2) x a n t i n a desidrogenase e (3) aldeído oxidase, reque- disponíveis de c o n f i r m a r desordens associadas a esse co-factor ou
rem m o l i b d ê n i o c o m o co-factoi. Este c o m p o n e n t e orgânico é u m a uma possível deficiência.
complexo de molibdopterina. A sulfito oxidase catalisa a última
etapa da degradação de aminoácidos que contêm enxofre, oxi- Intervalos de Referência
d a n d o o sulfito a sulfato e transferindo elétrons pata o citocromo H á a p r o x i m a d a m e n t e 0,5 p.g de M o por L (5 n m o l / L ) n o plasma
c. A xantina desidrogenase e a aldeído oxidase hidroxilam nume- ou n o soro e a p r o x i m a d a m e n t e 1 jig de M o por L (10 n m o l / L )
rosas substâncias heterocíclicas, tais como p u r i n a s e pteridinas. n o sangue total. O s valores de m o l i b d ê n i o n a urina, determina-
dos p o r ICP-MS, são de aproximadamente 40 a 60 n g / L .
Necessidades e Recomendações para Ingestão de Nutrientes
A R D A de M o para adultos foi estabelecida e m 4 5 jig p o r dia, Selênio
que está abaixo da ingestão dietética média estimada. O selênio (Se) é u m e l e m e n t o essencial para os h u m a n o s , s e n d o
u m constituinte da enzima glutationa peroxidase. Acredita-se q u e
Deficiência esteja relacionado i n t i m a m e n t e à vitamina E, d o p o n t o de vista
A deficiência d o molibdênio n ã o foi observada e m populações funcional.
saudáveis c o n s u m i d o r a s de dieta normal. H á um ú n i c o relaro de
paciente q u e recebeu nutrição intravenosa prolongada e que Química
desenvolveu intolerância clínica a aminoácidos intravenosos, O selênio (número a t ô m i c o 34, massa atômica relativa 78,96) é
especialmente à L-metionina. 1 3 Nesse caso, anormalidades bioquí- u m não-metal c o n t e n d o diversas valências e formas químicas. O
micas incluíram concentrações plasmáticas elevadas de metio- selênio está situado n o grupo VI da tabela periódica e, conse-
nina e baixas de ácido úrico. H o u v e u m a u m e n t o de sulfito q ü e n t e m e n t e , é u m elemento inorgânico com química relacio-
urinário, associado à baixa excreção do ácido úrico e de metabó- n a d a ao enxofre. N o s compostos biológicos ativos mais impor-
litos de xantina, sugerindo defeitos n a sulfito oxidase e na xanrina tantes c o n t e n d o selênio esse elemento encontra-se em forma de
oxidase. O t r a t a m e n t o com molibdato de a m ó n i a (300 p.g/dia) selenocisteína, o n d e o elemento enxofre da cisteína é substituído
aliviou as a n o r m a l i d a d e s clínicas e bioquímicas. por selênio. C o n s i d e r a d o o vigésimo primeiro aminoácido, a
H á também as doenças muito raras de herança recessiva que selenocisteína é i n c o r p o r a d a à cadeia nascente de proteínas
resultam de defeitos n a biossíntese do co-fator molibdênio; a maioria q u a n d o o códon específico U G A está presente n o mensageiro.
dos casos resulta em mortes prematuras ainda na infância. Inicialmente, esse c ó d o n era reconhecido, u n i c a m e n te , c o m o u m
c ó d o n de terminação (Capítulo 18).
Toxícidade C o m p o s t o s de selênio ingeridos (1) selenato, (2) selenita, (3)
O s compostos do molibdênio apresentam baixa toxicidade para selenocisteína e (4) s e i e n o m e t i o n i n a são metabolizados ampla-
seres h u m a n o s . A ingestão de m o l i b d ê n i o e m excesso induz a mente, via seleneto, q u e p o d e estar associado a u m a chaperona.
deficiência d e cobre em r u m i n a n t e s , ao obstruir a absorção de O seleneto é convertido, então, em selenofosfato, u m precursor
cobre pela f o i m a ç ã o de u m complexo insolúvel de t i o m o l i b d a t o i m p o r t a n t e na síntese de proteínas c o n t e n d o selenocisteína
de cobre. Esse d a d o levou à sugestão da utilização de molibdato (Figura 27-21).
de a m ó n i o n o t r a t a m e n t o da doença de W i l s o n .
Fontes Dietéticas
Avaliação Laboratorial do Estado O selênio entra na cadeia alimentar principalmente como seie-
As concentrações de molibdênio n o sangue total, soro c u plasma n o m e t i o n i n a , c o m p o n e n t e de plantas que fazem a captura d o
são muito baixas para serem detectadas deficiências. Entretanto, elemento a partir d o solo, mas a p a r e n t e m e n t e n ã o o utilizam. O

ProtEÍnas específicas para |Se]Cys

©Tl
[Se]Cys

Selenato Selenita Proteínas


[Se]Mec -i
(Se6') (Sen específicas para
[SejMet

Proteínas
Vias metabólicas do selênio Selenida
de [igação
(Adaptado de Suride.) A via 1 (Se3*)

1
ao selênio
usa a mserção traducional de
selenocisteína, mediada pelo
tRNA 5 ", enquanto a via 2 Selenofosfato
incorpora seíenocisteína Serina
usando tRNACT1.
[SelCys-tRNA

Selenoproteínas específicas para Se

Figura 27-21 Vias metabólicas do selênio.


Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 517

nível de selênio n o solo é altamente variável e é geralmente baixo Deficiência Grave


e m solos vulcânicos, o n d e os sais solúveis são lixiviados do solo D o e n ç a de K e s h a n . A evidência conclusiva para o papel d o
pela água. Nos Estados U n i d o s e n o C a n a d á , o trigo e outros selênio na nutrição h u m a n a veio com a publicação de resultados
cereais são boas fontes de selênio; as ingestões médias n a América de experimentações realizadas e m grande escala na C h i n a , q u e
d o N o r t e variam de 80 a 220 jig por dia, e n q u a n t o n o R e i n o m o s t r a r a m o efeito p r o t e t o r da s u p l e m e n t a ç ã o de selênio e m
U n i d o essas são de a p r o x i m a d a m e n t e 30 a 60 p g / d i a . Ingestões crianças e em adultos jovens s o f r e n d o de u m a cardiomiopatia
na C h i n a são tão baixas q u a n t o 11 p g / d i a e na Nova Zelândia, endêmica. 1 3 Esse q u a d r o foi observado em áreas d o país (região
28 pg/dia. 1 1 de Keshan) o n d e o solo apresenta baixas concentrações de
selênio.
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção D o e n ç a de Kashin-Beck. Este tipo de artrite grave é descrito
A absorção intestinal das diversas formas dietéticas c o n t e n d o em partes da C h i n a e em áreas vizinhas da Rússia, o n d e as con-
selênio é eficiente, mas não é regulada. O s sais inorgânicos sele- centrações de selênio d o solo são p a r t i c u l a r m e n t e baixas.
n i t o e selenato utilizados como s u p l e m e n t o s dietéticos e na for- N u t r i ç ã o Artificial. A provisão i n a d e q u a d a de selênio em
tificação alimentar são absorvidos quase c o m p l e t a m e n t e , mas a dietas especializadas utilizadas em t r a t a m e n t o de erros inatos e
maior parte d o íon selenato é r a p i d a m e n t e excretada n a urina. d u r a n t e a nutrição parenteral em longo prazo conduziu a casos
O selênio c o n t i d o em sais inorgânicos é mais r a p i d a m e n t e incor- da deficiência. Os sintomas da deficiência grave incluem a fra-
porado à glutationa peroxidase e a outras selenoproteínas do que queza muscular. Casos envolvendo cardiomiopatia, que geral-
o selênio das fontes orgânicas, que c o n t ê m a selenometi o n i n a . m e n t e são fatais e se assemelham à doença de Keshan, além de
E n t r e t a n t o , leveduras enriquecidas com formas orgânicas de macrocistose e o pseudo-albinismo em crianças, f o r a m descritos.
sclcnio são consideradas m e n o s tóxicas e utilizadas mais extensa- Deficiências Marginais
m e n t e c o m o s u p l e m e n t o dietético. F u n ç ã o d a T i r ó i d e . O selênio e outros elementos-traço são
A p r o x i m a d a m e n t e 5 0 % a 6 0 % do selênio total do plasma necessários para a f u n ç ã o n o r m a l da tiróide, u m a vez que as
escão presentes c o m o a selenoproteína P, u m a proteína a l t a m e n t e importantes enzimas deiodinases são selenoproteínas. As doenças
básica c o n t e n d o múltiplos resíduos de histidina e aproximada- endêmicas da tiróide n o Zaire p o d e m estar relacionadas à com-
m e n t e 10 átomos d o selênio p o r molécula. Cerca de 3 0 % d o binação da depleção de iodo e selênio. C u i d a d o s devem ser
selênio do plasma está presente c o m o glutationa peroxidase t o m a d o s p o r q u e o estímulo do m e t a b o l i s m o dos h o r m ô n i o s
(GSHPx-3),) e o restante é i n c o r p o r a d o à albumina, em f o r m a de tireoidianos p o d e induzir o hipotireoidismo.
s el e n o m e t ionina. A excreção urinária do selênio é a rota princi- F u n ç ã o I m u n e . A deficiência de selênio é a c o m p a n h a d a pela
pal de saída e reflete a ingestão dietética recente. perda de i m u n o c o m p e t ê n c i a e esta é relacionada à redução de
selenoproteínas n o fígado, n o baço, e nos l i n f o n o d o s . A resposta
Funções i m u n e celular e a f u n ç ã o das células B são prejudicadas.
Trinta o u mais proteínas biologicamente ativas c o n t e n d o seleno- D e s o r d e n s R e p r o d u t i v a s . Fonte a d e q u a d a de selênio é neces-
cisteína f o r a m identificadas até o m o m e n t o . Algumas das mais sária para a r e p r o d u ç ã o bem-sucedida e m u m a variedade de
i m p o r t a n t e s estão listadas a seguir. animais da pecuária. A fertilidade h u m a n a masculina pode ser
Glutationa Peroxidase. Esta enzima possui quatro isoformas, afetada pela depleção de selênio, desde q u e esse é necessário para
GSHPx-1 e m células vermelhas, GSHPx-2 na mucosa gastrointes- a síntese da testosterona e para a m a n u t e n ç ã o da viabilidade do
tinal, GSHPx-3 n o plasma e GSHPx-4 localizada e m m e m b r a n a s . esperma.
Estas enzimas utilizam a força redutora da glutationa para remover D e s o r d e n s d o H u m o r . A depleção marginal d o selênio tem
u m á t o m o de oxigênio d o peróxido de h i d r o g ê n i o e de hidrope- sido associada à ansiedade, à c o n f u s ã o m e n t a l e à hostilidade, e
róxidos de lipídios. melhoras têm sido observadas c o m a s u p l e m e n t a ç ã o .
lodotironina Deiodinase. As isoformas dos tipos 1, II e III são Estados Inflamatórios. Muitos estados inflamatórios e a eleva-
responsáveis pela conversão do h o r m ô n i o precursor T j na f o r m a ção do nível de estresse oxidativo p o d e m ser influenciados pelo
ativa T 3 . A enzima d o tipo I, a tiroxina-5-deiodinase, está locali- estado nutricional do selênio. Efeitos positivos do suplemento foram
zada n o fígado, n o rim e n o m ú s c u l o e é responsável p o r mais relatados em artrites, pancreatites e nos cuidados intensivos.
de 9 0 % da p r o d u ç ã o de T 3 do plasma. V i r u l ê n c i a V i r a i . U m a estirpe virulenta rara do vírus de
Tioredoxina Redutases. As três isoformas catalisam a r e d u ç ã o Coxsackie é provavelmente parte da causa de cardiomiopatia e m
d e p e n d e n t e de N A D P H da tiorredoxina e são i m p o r t a n t e s para regiões da C h i n a desprovidas de selênio. Isto é compatível com
a m a n u t e n ç ã o do estado redox intracelular. as variações sazonais da incidência da doença. E m estudos labo-
Selenoproteína P. Esta proteína é a principal enzima que ratoriais, u m a forma n ã o letal do vírus Coxsacitie B (CVB 3 / 0 )
c o n t é m selênio d o plasma, p o d e ser u m a proteína t r a n s p o r t a d o r a sofreu m u t a ç ã o p a t a u m a cepa virulenta q u a n d o inoculada em
desse e l e m e n t o e t e m f u n ç ã o antioxidante. c a m u n d o n g o s deficientes em selênio, provavelmente c o m o u m
resultado do estresse oxidativo. Estudos adicionais em animais
Necessidades e Recomendações para Ingestão de Nutrientes d e m o n s t r a r a m q u e u m a cepa do vírus influenza, a p r e s e n t a n d o
A R D A para o selênio está estabelecida em 55 (ig/dia para virulência m e d i a n a , exibe virulência a u m e n t a d a q u a n d o inocu-
adultos. E m diversos países da Europa, a ingestão é, atualmente, lada em c a m u n d o n g o s deficientes em selênio. A relevância destes
próxima o u quase inferior a 5 5 jlg/dia e a provisão de selênio estudos para os seres h u m a n o s ainda precisa ser avaliada.
p o d e n ã o estar s e n d o a ideal. 11 Q u i m i o p r e v e n ç ã o d o C â n c e r . Inquéritos epidemiológicos
e n c o n t r a r a m u m a ligação entre a incidência de câncer e o con-
Deficiência t e ú d o de selênio n o solo, sugerindo u m a incidência mais elevada
de d e t e r m i n a d o s cânceres e m indivíduos com baixa ingestão de
Existem doenças importantes de animais da pecuária causadas
selênio. Experimentos em grande escala e m populações chinesas
pela deficiência de selênio, tais c o m o a doença do m ú s c u l o
com risco elevado para desenvolver hepatite virai B e câncer
branco e m carneiros e gado e miopatia de músculos cardíaco e
hepático d e m o n s t r a r a m que o sal de cozinha e n r i q u e c i d o com
esquelético e m cordeiros e bezerros. E m h u m a n o s f o r a m identi-
selênio levou a u m a r e d u ç ã o de 3 5 % n a incidência de câncer n o
ficadas diversas faixas de deficiência.
518 PARTE IV Analitos

fígado. Parece provável que a suplementação de selênio acima da Zinco


necessidade dietética mínima previna câncer, em particular, o A descoberta de u m a variedade de desordens clínicas relaciona-
câncer prostático. das ao zinco demonstrou diretamente a importância desse ele-
m e n t o na nutrição h u m a n a . Trata-se d o segundo elemento-traço
mais a b u n d a n t e n o corpo, sendo superado apenas pelo ferro.
Toxicidade
Algumas áreas da C h i n a e dos Estados Unidos contêm quantida- Química
des elevadas de selênio n o solo, por isso os alimentos produzidos O zinco (número atômico 30, massa atômica relativa 65,39) é um
localmente apresentam excesso de selênio. O d o r de alho ria res- íon particularmente estável O zinco apresenta u m a rápida ciné-
piração, peida de cabelo e u n h a s danificadas são sinais clínicos tica de troca dos Iigantes e geometria de coordenação flexível e
de selenose. O limite superior tolerável foi estabelecido em 400 constitui u m bom aceptor de elétrons (ácido de Lewis forte), sem
|!g/dia para adultos, sendo m e n o r para crianças. reações redox. Há u m a hipótese de que 10*11 m o I / L de íons de
zinco estão presentes n o citoplasma e que, em equilíbrio com
Avaliação Laboratorial do Estado metaloenzimas de zinco e numerosos fatores de transcrição, eles
A espectrometria de absorção atômica em forno de grafite atuam como u m "hormônio mestre", particularmente, na divisão
(CFAAS) é, n o m o m e n t o , o procedimento mais extensamente e crescimento celulares.
utilizado para dosar o selênio plasmático e / o u o do soro. Os
componentes principais de selênio d o plasma são GSHPx-3 extra- Fontes Dietéticas
celular e selenoproteína P. O zinco é amplamente distribuído nos alimentos, principalmente
GSHPx-1 das células vermelhas e GSHPx-3 plasmática são ligado às proteínas. A biodisponibilidade de zinco dietético é
dosadas por métodos enzimáticos com o peróxido de butilo ter- d e p e n d e n t e da digestão destas proteínas para liberarem o zinco,
ciário como substrato usual, já que esse não é tão afetado pela p e r m itin d o que esse elemento se ligue a peptídeos, aminoácidos,
catalase q u a n t o o peróxido de hidrogênio. fosfato e outros Iigantes dentro do trato intestinal. As fontes
Após u m ano em T P N e sem suplementos de selênio, pacien- dietéticas mais disponíveis c o n t e n d o zinco são carne vermelha e
tes apresentam baixos níveis plasmáticos de selênio e de G S H P x peixe. O germe de trigo e o farelo integral são boas fontes, mas
em células vermelhas. C o m reposição de selênio na forma de o conteúdo de zinco é reduzido pela moagem e processamento
ácido selenoso, há u m a u m e n t o rápido de GSHPx-3 nas primei- desses alimentos. 10 A ingestão mediana para h o m e n s nos Estados
ras 24 horas, alcançando concentrações normais dentro de u m a U n i d o s é de aproximadamente 14 m g / d i a e para mulheres 9
a duas semanas. G S H P x de células vermelhas leva de três a quatro mg/dia.
meses para ser regenerada, o que é compatível com o necessário
para a formação dessas células na presença do selênio. Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
A principal proteína d o plasma contendo selênio, selenopro- A regulação da absorção intestinal liquida de zinco é controlada
teína P, é determinada por métodos imunológicos. A concentra- pela eficiência na absorção e varia geralmente de 2 0 % a 5 0 % do
ção de selenoproteína P n o plasma responde rapidamente à suple- conteúdo dietético. Para ingestão de 12,2 mg de Zn por dia, a
mentação. absorção fracional é 26%, mas para ingestões baixas, como 0,23
As concentrações plasmáticas de selenoproteína P, de GSHPx- mg de Zn por dia, foi demonstrado u m a u m e n t o para 100%. A
3 plasmática e de selênio total são diminuídas pela APR em lesões interação com outros constituintes dietéticos, tais como fitato,
ou em infecções. Este efeito deve ser considerado ao interpretar fibra, cálcio e ferro, reduz a absorção líquida de zinco.
valores d o selênio do plasma em pacientes em pós-operatórios ou Ferro em dosagens suplementares (até 65 mg/dia) pode dimi-
naqueles com infecção ou doença inflamatória. n u i r a absorção de zinco, de m o d o que mulheres grávidas e lac-
A excreção d o selênio pela urina é, principalmente, u m tantes em tratamento de reposição de ferro p o d e m requerer
reflexo da ingestão dietética recente e não é empregada extensi- suplementação de"zinco.
vamente em exames de populações. A análise do selênio d o O zinco absorvido é transportado para o fígado o n d e ocorre
cabelo e das unhas tem sido utilizada como medida da ingestão a incorporação ativa em metaloenzimas e em proteínas d o plasma.
dietética de selênio a longo prazo. Aproximadamente 8 0 % do zinco plasmático estão associados à
Na prática, as medidas plasmáticas de selênio ou G S H P x albumina, e o restante, em maior parte, está ligado fortemente a
fornecem u m a boa estimativa do estado e em particular da ade- u m a proteína de alto peso molecular, a aj-macroglobulina. O
quação da ingestão rcccntc, desde que essas medidas sejam inter- zinco associado à albumina está em equilíbrio com os aminoáci-
pretadas relativamente ao conhecimento sobre mudanças de dos do plasma (principalmente histidma e cisteina), e esta
APR, com a G S H P x de células vermelhas fornecendo o índice de pequena fração ultrafiltrável (<1 %) pode ser importante para os
ingestão a longo prazo. mecanismos celulares da absorção (Figura 27-22).
O conteúdo corporal total de zinco em adulto é de aproxi-
Intervalos de Referência m a d a m e n t e 2 a 2,5 g, e o metal está presente em células de todos
O intervalo da referência para o selênio n o sangue total, plasma os tecidos e órgãos metabolicamente ativos. Aproximadamente
ou soro, cabelo e u n h a deve ser estabelecido localmente, desde 5 5 % d o total são encontrados em músculos e aproximadamente
que esses índices são afetados pela ingestão dietética d o selênio. 3 0 % em ossos. A concentração de zinco das células vermelhas é
A orientação de valores de intervalo de referência de selênio para aproximadamente dez vezes superior à plasmática, em virtude de
o plasma de adulto é de 63 a 160 p g / L (0,8 a 2,0 |amol/L). grandes quantidades de anidrase carbônica.
Valores de Se inferiores a 40 pg por L (0,5 p,mol/L) indicam A ligação de zinco ao fator de transcrição 1 regulador de metal
provável depleção de selênio. (MTF1) ativa a expressão da metalotioneína (Mt). Esta proteína
A atividade de GSHPx-1 de células vermelhas para adultos multifuncional, d e b a i x o peso molecular (9.000 a 10.000 Da), tem
varia de 13 a 25 U / g Hb, sendo que os valores para crianças são u m elevado conteúdo de cisteina e liga-se reversivelmente ao
ligeiramente inferiores. Os intervalos de referência locais relacio- zinco. A M t é importante n o tráfico intracelular de zinco e auxilia
nados à idade são, mais u m a vez, necessários. na manutenção das concentrações intracelulares de zinco. A
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 519

Zn do
Fígado dieta -10
(1Uí>mg) mg/dia

205 m g / d \ \
\

Tecidos moles, 25 mg/d


Pool plasmático (2,4 mg)
músculos, ossos (albumina, alfa 3 -
etc (1.100 mg) macroglobulina,
5,7 mg/d
aminoácidos)

5,3 mg^d

Rim
f f^ih na. \
\ iransniraçSc ' w
Ffc7es
-9,6 mg/cto
Urína
0,4 mgidia
v y

Figura 2 7 - 2 2 Sumário do metabolismo de zinco.

síntese hepática da M t é induzida por inrerleucina-1, interleucina- Recém-nascidos e crianças e m fase inicial da infância necessitam
6 e glicocorticóides, e m resposta à infecção, ao t r a u m a e a outros de q u a n t i d a d e s inferiores. E m virtude de a u m e n t o de ácido fítico
fatores de estresse. e de fibras na dieta, os vegetarianos estritos p o d e m necessitar de
A excreção fecal inclui t a n t o o zinco dietético n ã o absorvido q u a n t i d a d e s até 5 0 % maiores d e zinco por dia. 6
q u a n t o o zinco secretado n o v a m e n t e n o intestino. A excreção
u r i n á r i a de zinco é n o r m a l m e n t e apenas cerca d e 0,5 m g / d i a , Deficiência Clinica
mas a u m e n t a e x t r e m a m e n t e d u r a n t e doença catabólica e cetose. C o m o p o d e se esperar, a partir das múltiplas funções bioquími-
A liberação d o c o n t e ú d o intracelular do músculo esquelético foi cas do zinco, a apresentação clínica das doenças de deficiência é
estabelecida c o m o fonte do excesso de zinco urinário. variada, não específica e está relacionada ao grau e à duração da
depleção. Sinais e sintomas i n c l u e m (1) crescimento reduzido
c o m n a n i s m o , (2) a u m e n t o da incidência de infecção, possivel-
Funções
m e n t e relacionado a alterações n a f u n ç ã o i m u n e , (3) diarréia, (4)
Mais d e 3 0 0 metaloenzimas d e zinco ocorrem e m todas as seis
lesões de pele e (5) alopecia.
categorias de sistemas enzimáticos. Exemplos i m p o r t a n t e s e m
EfeitOS no Crescimento. A deficiência dietética de zinco é pre-
tecidos h u m a n o s incluem (1) anidrase carbônica, (2) fosfatase
valente e m todos os países o n d e a dieta é baseada e m cereais ricos
alcalina, (3) D N A e R N A polimerases, (4) timidina quinase, (5)
e m fitato e fibra, mas p o b r e e m proteína animal. E m crianças, o
carboxipeptidases e (6) álcool desidrogenase. O s papéis-chave d o
crescimento reduzido e outras anormalidades n o desenvolvi-
zinco n a síntese de proteínas e de ácidos nucléicos explicam a
m e n t o são reversíveis pela s u p l e m e n t a ç ã o c o m zinco. O zinco d o
falha d e crescimento e de cicatrização de feridas observadas e m
leite h u m a n o é absorvido eficientemente, graças à presença de
indivíduos c o m deficiência d e zinco.
fatores c o m o o picolinato e o citrato.
Proteínas f o r m a m d o m í n i o s capazes de se ligarem a átomos
Acrodermatite Enteropática. A acrodermatite e n t e r o p ática (AE)
tetraédricos de zinco, p o r coordenação c o m histidina e cisteina,
é caracterizada pela d e r m a t i t e periorificial e acral, alopecia e
para formar estruturas dobradas conhecidas c o m o "dedos de
diarréia; os sintomas são reversíveis pela s u p l e m e n t a ç ã o oral de
zmco". Estas têm papéis importantes na expressão gênica, a t u a n d o
zinco. Esta condição, a n t e r i o r m e n t e fatal, é u m erro inato de
como fatores de transcrição q u e se ligam ao DNA, c o m o elemen-
caráter autossômico recessivo q u e afeta a absorção de zinco pela
tos-chave na biologia d o desenvolvimento e t a m b é m na regulação
mucosa intestinal.
da síntese de h o r m ô n i o s esteróides, tireoidianos, e outros.
Nutrição Parenteral. Alguns pacientes que requerem n u t r i ç ã o
intravenosa pós-cirúrgica são suscetíveis à depleção de zinco e m
Necessidades e Recomendações para Ingestão de Nutrientes v i r t u d e de baixos índices de ingestão oral antes e após u m a
N o s Estados U n i d o s , a ingestão dietética de referência (DRI) para cirurgia. Esses t a m b é m p o d e m apresentar a u m e n t o na perda de
o zinco é de 11 m g / d i a para h o m e n s e 8 m g / d i a para mulheres. zinco pela via intestinal e m conseqüência de diarréia e, via urina,
520 PARTE IV Analitos

a partir do catabolismo muscular durante períodos de balanço c o m zinco são utilizadas, c o n s e q u e n t e m e n t e , para p o s t u l a r u m
n i t r o g e n a d o negativo. O u t r o s p r o b l e m a s i n c l u e m (1) diarréia, (2) estado d e depleção marginal.
depressão m e n t a l , (3) d e r m a t i t e , (4) r e t a r d o n a cicatrização e (5) Zinco PlâSmátiCO. E m v i r t u d e da possível c o n t a m i n a ç ã o d e
alopecia, q u e p o d e m ser o b s e r v a d o s d u r a n t e o p e r í o d o a n a b ó l i c o zinco, originária d e eritrócitos, p l a q u e t a s e leucócitos d u r a n t e a
de g a n h o r e c o r r e n t e d e peso, q u a n d o há zinco i n s u f i c i e n t e n o coagulação e a c e n t r i f u g a ç ã o , a m o s t r a s d o p l a s m a são preferidas
regime n u t r i c i o n a l para a c o m p a n h a r o nível de r e p a r o n o tecido. às séricas para a análise de z m c o . As c o n c e n t r a ç õ e s de zinco d o
Provisão i n t r a v e n o s a a d e q u a d a de zinco para atingir u m b a l a n ç o p l a s m a são m e d i d a s g e r a l m e n t e p o r C F A A S .
positivo está associada à m e l h o r a d o b a l a n ç o d e n i t r o g ê n i o . C u i d a d o s devem ser t o m a d o s p a r a c o n t r o l a r fatores pré-ana-
Doença Infecciosa. A d e p l e ç ã o d e zinco d i m i n u i a i m u n i d a d e líticos q u e d i m i n u i r ã o o zinco d o plasma, i n d e p e n d e n t e m e n t e
e tem u m efeito d i r e t o n o trato gastrointestinal, q u e a u m e n t a a d a ingestão dietética. Estes i n c l u e m a coleta da a m o s t r a e m
gravidade d e infecções entéricas. U m a revisão de d a d o s o b t i d o s relação (1) às refeições, (2) à h o r a d o dia e (3) ao uso de esterói-
d e e x p e r i m e n t o s c o n t r o l a d o s m e d i n d o efeitos da s u p l e m e n t a ç ã o des, tais c o m o a pílula c o n t r a c e p t i v a . Q u a l q u e r causa de hipoal-
c o m zinco e m crianças de países d e baixa r e n d a e n c o n t r o u bene- b u m i n e m i a t a m b é m d i m i n u i o zinco plasmático. A a l b u m i n a d o
fícios clínicos significativos e m casos d e diarréia p e r s i s t e n t e e de p l a s m a é u m A P R negativo e, a p a r t i r d o pool plasmático, é redis-
d o e n ç a respiratória. A i n t e r a ç ã o c o m v i t a m i n a A é i m p o r t a n t e t r i b u í d a pelos espaços intersticiais d u r a n t e a infecção, após
p o r q u e , e m p o p u l a ç õ e s c o m risco d e deficiência de zinco e vita- t r a u m a e e m d o e n ç a crônica. A i n d u ç ã o d a síntese h e p á t i c a da
m i n a A, a provisão a p e n a s d e zinco a u m e n t a a i n c i d ê n c i a de M t d u r a n t e o A P R , e s u b s e q ü e n t e q u e l a ç ã o de zinco, d i m i n u i
i n f e c ç ã o respiratória, mas, q u a n d o a v i t a m i n a A t a m b é m é adi- a i n d a mais a c o n c e n t r a ç ã o n o p l a s m a . É, p o r t a n t o , essencial
c i o n a d a , as infecções respiratórias são d i m i n u í d a s . c o n s i d e r a r os resultados de zinco plasmáticos e m c o n j u n t o c o m
a a l b u m i n a e C R P plasmáticas o u u m o u t r o m a r c a d o r d e A P R .
Efeitos Subclínicos d a Deficiência Zinco em Células Sanguíneas. Foi sugerido q u e o c o n t e ú d o d e
M e s m o q u e a deficiência de zinco n ã o seja grave o b a s t a n t e para zinco e m células b r a n c a s e p l a q u e t a s reflete d e m a n e i r a m a i s
causar sinais e s i n t o m a s clínicos, ela p o d e provocar efeitos sub- a d e q u a d a o c o n t e ú d o de zinco tecidual. E m e s t u d o s de d e p l e ç ã o
clínicos (1) n a f u n ç ã o i m u n e , (2) n a síntese e n a ação de h o r m ô - d e zinco e m seres h u m a n o s , foi d e m o n s t r a d o q u e o c o n t e ú d o d e
nios e (3) na f u n ç ã o n e u r o l ó g i c a . zinco d e n e u t r ó f i l o s , linfócitos e p l a q u e t a s d i m i n u e m mais rapi-
Função imune. Pacientes d o O r i e n t e M é d i o c o m deficiência d a m e n t e q u e o zinco plasmático. E n t r e t a n t o , o v o l u m e relativa-
de zinco e r a m c o n h e c i d o s p o r m o r r e r a n t e s d o s 2 5 anos, e m m e n t e g r a n d e de s a n g u e r e q u e r i d o e os p r o b l e m a s c o m c o n t a m i -
v i r t u d e de diversas infecções e de d o e n ç a s parasíticas. N a defici- n a ç ã o t o r n a m difícil a aplicação desses ensaios e m pacientes
ência de zinco, h á u m a r e d u ç ã o n a atividade d e t i m u l i n a sérica, hospitalizados o u p a r a avaliação d e c o n c e n t r a ç õ e s de zinco n a
u m h o r m ô n i o específico d o t i m o envolvido n a f u n ç ã o d e células população.
T, q u e provoca u m d e s e q u i l í b r i o e n t r e células helper T h l e T b 2 . Zinco no Cabelo. Baixas c o n c e n t r a ç õ e s d e zinco n o cabelo t ê m
A atividade lítica de células naturai killer t a m b é m d i m i n u i . Estas sido associadas à deficiência d o c r e s c i m e n t o d e crianças. Entre-
m u d a n ç a s c o m p l e x a s r e s u l t a m e m falha d a resposta i m u n e t a n t o , variáveis c o m o a taxa d e c r e s c i m e n t o de cabelo e a conta-
celular. m i n a ç ã o externa p o r t i n t u r a s e c o s m é t i c o s levaram a resultados
Hormônios. O zinco t e m u m p a p e l i m p o r t a n t e n a síntese e n a s inconsistentes.
ações d e m u i t o s h o r m ô n i o s , p o r m e i o de fatores de transcrição Enzimas Dependentes de Zinco. A p e s a r d o g r a n d e n ú m e r o
c o n t e n d o zinco. A d e p l e ç ã o d e zmco é associada a c o n c e n t r a ç õ e s i d e n t i f i c a d o de m e t a l o e n z i m a s c o n t e n d o zmco, n e n h u m ensaio
circulantes baixas d e (1) testos ter o n a , (2) T 4 livre, (3) fator d o e n z i m á t i c o e m p a r t i c u l a r foi c o n s i d e r a d o a d e q u a d o c o m o indi-
c r e s c i m e n t o s e m e l h a n t e à i n s u l i n a (IGF)-I e (4) t i m u l i n a . As cador d o e s t a d o n u t r i c i o n a l de zinco.
c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas de IGF-I e a velocidade de c r e s c i m e n t o Zinco na Urina. H á u m a ligeira q u e d a n a excreção u r i n á r i a d e
a u m e n t a m e m crianças q u e estão r e c e b e n d o s u p l e m e n t o s c o m zinco d u r a n t e a deficiência dietética. As d i f i c u l d a d e s relacionadas
zinco. à c o n t a m i n a ç ã o d e a m o s t r a d u r a n t e a coleta fazem dessa estraté-
Efeitos Neurológicos. A deficiência grave d e zinco é c o n h e c i d a gia d e m e d i d a u m a o p ç ã o c o m valor prático l i m i t a d o .
p o r afetar o bem-estar m e n t a l , c o m graus vari ados d e c o n f u s ã o e
depressão, o q u e explica a i m p o r t â n c i a d e enzimas q u e c o n t ê m Intervalos de Referência
zinco n o d e s e n v o l v i m e n t o e n a f u n ç ã o cerebral. As c o n c e n t r a ç õ e s d e zinco n o s o r o são, g e r a l m e n t e , 5 % a 1 5 %
mais elevadas d o q u e as d o p l a s m a , e m v i r t u d e d e m u d a n ç a s n a
Toxicidade o s m o l a r i d a d e de f l u i d o s das células d o sangue, induzidas pela
O s efeitos clínicos d a ingestão de dieta c o n t a m i n a d a c o m zinco p r e s e n ç a d e anticoagulantes utilizados n a coleta d a a m o s t r a . As
são (1) d o r a b d o m i n a l , (2) diarréia, (3) n á u s e a e (4) v ô m i t o . c o n c e n t r a ç õ e s d i m i n u e m após a ingestão de a l i m e n t o s e são mais
Ingestões superiores a 6 0 m g d e Zn p o r dia são b l o q u e a d o r a s da elevadas pela m a n h ã d o q u e à n o i t e . A o r i e n t a ç ã o p a r a o inter-
absorção intestinal de cobre, l e v a n d o à deficiência desse ú l t i m o valo de referência é d e 8 0 a 120 p g / d L (12 a 18 p m o l / L ) .
elemento.

Avaliação Laboratorial do Estado Outros Possíveis Elementos Essenciais


E m b o r a a d e t e r m i n a ç ã o d e zinco n o p l a s m a seja insensível à Mais de 15 elementos-traço adicionais são c o n s i d e r a d o s p o t e n -
ingestão dietética e seja i n f l u e n c i á v e l p o r u m g r a n d e n ú m e r o de c i a l m e n t e i m p o r t a n t e s n a m e d i c i n a h u m a n a . E m u m a revisão
variáveis, ela c o n t i n u a s e n d o o teste de l a b o r a t ó r i o mais extensa- realizada p o r Nielsen, eles são e s t u d a d o s e m d e t a l h e s e se discu-
m e n t e utilizado para c o n f i r m a r a deficiência grave. T a m b é m é t e m os conceitos e m e r g e n t e s de "essencialidade". 1 C A l g u n s deles,
utilizada p a r a m o n i t o r a r a a d e q u a ç ã o d a provisão d e zinco, espe- c o m o (1) c h u m b o , (2) c á d m i o , (3) arsénio, (4) a l u m í n i o e (5)
c i a l m e n t e se i n t e r p r e t a d a e m c o n j u n t o c o m m u d a n ç a s nas con- n í q u e l , serão c o n s i d e r a d o s p o r l a b o r a t ó r i o s clínicos principal-
centrações d e a l b u m i n a sérica e d e A P R . N e n h u m p r o c e d i m e n t o m e n t e c o m o e l e m e n t o s tóxicos. O u t r o s , c o m o o lítio, são classi-
laboratorial identifica c l a r a m e n t e p o p u l a ç õ e s c o m d e p l e ç ã o mar- ficados c o m o f a r m a c o l o g i c a m e n t e b e n é f i c o s e o m o n i t o r a m e n t o
ginal d e zinco. Respostas clínicas e b i o q u í m i c a s à s u p l e m e n t a ç ã o d a dose p o d e ser necessário.
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 521

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CAPITULO 2 8

Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina*


Trefor Higgins, F.C.A.C.B., Ernest Beutler, M.D., e Basil T. Doumas, Ph.D.

OBJETIVOS B i l i r r u b i n a D i r e t a : A fração d e b i l i r r u b i n a q u e reage com o


1. Definir os seguintes termos:
reagente diazo n a ausência de álcool.
B i l i r r u b i n a I n d i r e t a : B i l i r r u b i n a livre q u e n ã o foi c o n j u g a d a
Hemoglobina
c o m o ácido glicurônico.
Ferritina
B i l i r r u b i n a N ã o - c o n j u g a d a : B i l i r r u b i n a livre q u e n ã o foi
Hemossiderina
c o n j u g a d a c o m o ácido glicurônico.
Transferrina
"Ferritina: O c o m p l e x o ferro-apoferritina, u m a das principais
Hemocromatose
f o r m a s n a s quais o ferro é a r m a z e n a d o n o c o r p o ; ela ocorre
Hemossiderose
(1) ria m u c o s a gastrointestinal, (2) n o fígado, (3) n o baço,
Bilirrubina (conjugada e não-conjugada) (4) n a m e d u l a óssea e (5) n a s células reticuloendoteliais.
Icterícia H e m e : Q u a l q u e r q u e l a t o d e f e r r o c o m os q u a t r o g r u p o s
2. Discutir a estrutura e a função da hemoglobina, inclusive a pirrólicos de u m a p o r f i r i n a , t a m b é m r e c o n h e c i d o c o m o
composição bioquímica, a fisiologia e a importância clínica. ferro-heme ou ferri-heme, q u e se refere aos q u e l a t o s do Fe(II)
3. Descrever a importância do heme ria fisiologia da hemoglobina. e Fe(III), r e s p e c t i v a m e n t e .
4. Listar quatro talassemias, citar as causas e descrever os achados H e m o c r o m a t o s e : U m a d o e n ç a genética rara causada p o r
laboratoriais associados a cada tipo. d e p o s i ç ã o d e h e m o s s i d e r i n a nas células p a r e n q u i m a i s ,
5. Definir "persistência hereditária de hemoglobina F". c a u s a n d o d a n o ao tecido e d i s f u n ç ã o d o fígado, d o pâncreas,
6. Explicar a nomenclatura usada para catalogar as várias hemoglobinas d o coração e da pituitária. T a m b é m c h a m a d a d o e n ç a de
e as classificações usadas para descrever as variantes de sobrecarga de ferro.
hemoglobina. H e m o g l o b i n a : O p i g m e n t o c a r r e a d o r de oxigênio dos eritrócitos,
7. Listar cinco métodos de avaliação de hemoglobina usados em um f o r m a d o p e l o eritrócito e m d e s e n v o l v i m e n t o n a m e d u l a
laboratório clínico e descrever o princípio de cada um. óssea. É u m a p r o t e í n a c o n j u g a d a c o n t e n d o q u a t r o g r u p o s
8. Citar as funções fisiológicas do ferro, da transferrina e da ferritina. h e m e e globina, c o m a p r o p r i e d a d e de oxigenação reversível.
9. Descrever a absorção, o transporte e o metabolismo do ferro.
H e m o g l o b i n o p a t i a : Q u a l q u e r doença herdada causada por
anormalidades da hemoglobina, resultando em condições
10. Listar e descrever os sintomas de três distúrbios do metabolismo do
c o m o a n e m i a falciforme, a n e m i a h e m o l í t i c a ou talassemia.
ferro.
HenfeSssiderina: U m a f o r m a d e a r m a z e n a m e n t o intracelular de
11. Listar cinco condições que afetam a concentração de ferro sérico e
ferro; os grânulos c o n s i s t e m e m u m c o m p l e x o m a l d e f i n i d o
explicar como ela é afetada em cada uma delas.
d e h i d r ó x i d o s férricos, polissacarídeos e p r o t e í n a s , c o m u m
12. Descrever os métodos de análise de ferro sérico, ferritina e
c o n t e ú d o férrico d e cerca d e 3 3 % d o seu peso.
capacidade total de ligação de ferro; citar a fórmula usada para
H e m o s s i d e r o s e ; U m a u m e n t o focal o u geral d o s estoques
calcular a saturação percentual de ferro. férricos n o tecido s e m d a n o t e c i d u a l associado. As
13. Descrever a via de biossíntese da bilirrubina, inclusive a conjugação h e m o s s i d e r o s e s h e p á t i c a e p u l m o n a r são caracterizadas p o r
no fígado. q u a n t i d a d e s a n o r m a i s d e h e m o s s i d e r i n a n o fígado e n o s
14. Citar a utilidade clínica da análise das concentrações de bilirrubina pulmões, respectivamente.
sérica, conjugada e não-conjugada, e do urobilinogênio. H i p e r b i l i r r u b i n e m í a : C o n c e n t r a ç õ e s excessivas d e b i l i r r u b i n a
15. Descrever os métodos de análise de bilirrubina; descrever os n o sangue, as quais p o d e m levar à icterícia; as
princípios e as possíveis interferências de cada um deles. b i p e r b i l i r r u b i n e m i a s são classificadas c o m o c o n j u g a d a s ou
n ã o - c o n j u g a d a s , d e a c o r d o c o m a f o r m a p r e d o m i n a n t e de
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES b i l i r r u b i n a n o sangue.
A n e m i a F a l c i f o r m e : U m t i p o a u t o s s ô m i c o d o m i n a n t e de a n e m i a Icterícia: U m a s í n d r o m e caracterizada p o r h i p e r b i l i r r u b i n e m i a e
h e m o l í t i c a c a u s a d a pela p r e s e n ç a de h e m o g l o b i n a S c o m d e p o s i ç ã o de p i g m e n t o biliar n a pele, n a s m e m b r a n a s
eritrócitos a n o r m a i s e m f o r m a de foice (células falciformes). m u c o s a s e n a esclera, c o m r e s u l t a n t e aparência a m a r e l a d a d o
B i l i r r u b i n a C o n j u g a d a : B i l i r r u b i n a q u e foi resgatada pelas paciente; t a m b é m c h a m a d a d e icterus.
células hepáticas e c o n j u g a d a p a r a f o r m a r o d i g l i c u r o n í d e o K e r n i c t e m s : U m a s í n d r o m e clínica d o n e o n a t o resultante de altas
de b i l i r r u b i n a hidtossolúvel. concentrações de bilirrubina não-conjugada, que passa pela
barreira h e m a t o e n c e f á l i c a i m a t u r a d o recém-nascido e causa
degeneração das células d a gânglia basal e d o h i p o c a m p o .
Mioglobina: U m a proteína contendo heme encontrada no
m ú s c u l o esquelético v e r m e l h o .
T a l a s s e m i a : U m g r u p o h e t e r o g ê n e o d e a n e m i a s hemolíticas
Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias dos Drs. Virgil
F. Fairbanks e George G. Klee (hemoglobina e feno) e dos Drs. Keith G Tolman hereditárias q u e a p r e s e n t a m u m a taxa d e síntese d i m i n u í d a
e Robeit Rej (bilirrubina), nas quais se baseiam partes deste capítulo. d e u m a o u mais cadeias p o l i p e p t í d i c a s d a h e m o g l o b i n a e q u e
524 PARTE IV Analitos

são classificadas de acordo com a cadeia envolvida (a, p, 8);


as duas principais categorias são as a e p-talassemias.
T r a n s f e t t i t i a : U m a betaglobulina que transporta ferro n o
sangue.
U r o b i l i n o g ê n i o : U m composto incolor formado n o intestino
pela r e d u ç ã o da bilirrubina.

H e m o g l o b i n a (Hb), ferro e bilirrubina são analitos que


p o d e m ser considerados coletivamente nos processos de
p r o d u ç ã o n o qual a matéria-prima (ferro) é incorporada
a outras matérias-primas, e m u m processo complexo de múltiplos
estágios, r e s u l t a n d o e m u m p r o d u t o final (Hb). M Este p r o d u t o
final tem u m t e m p o d e v i d a limitado, após o qual ocorre a degra-
dação em u m p r o d u t o de excreção (bilirrubina). Nesse processo,
são e n c o n t r a d o s muitos mecanismos bioquímicos requintados
de controle, conservação e síntese. Por exemplo, esse processo
p o d e ser i n t e r r o m p i d o p o r (1) u m a deficiência n o s u p r i m e n t o de
matéria-prima, (2) perda de controle dos mecanismos de síntese,
(3) perda excessiva d o p r o d u t o final ou (4) conversão excessiva
ou deficiência n a eliminação de p r o d u t o s de excreção. Essas
interrupções manifestam-se em distúrbios clínicos de (1) b e m o -
globinopatias, (2) talassemias, (3) anemias p o r deficiência de
ferro, (4) d o e n ç a s hepáticas e (5) várias doenças genéticas—inclu-
Figura 28-1 Estrutura da subunidade da Hb. Cadeias de
sive as s í n d r o m e s de Crigler-Najjar e de Gilbert.
aminoácidos em segmentos era espiral ou helicoidais são ligadas por
segmentos pequenos não-helicoidais. Os segmentos helicoidais são
HEMOGLOBINA denominados de A a H. Nesta ilustração, os aminoácidos são
H e m o g l o b i n a é o pigmento carreador de oxigênio dos eritrócitos, designados de acordo com o segmento helicoidal ou não-helicoidal no
o qual é f o r m a d o n o eritrócito em desenvolvimento na medula qual eles ocorrem. (De Dickerson RE. X-ray analysis and piotein
óssea. E u m a proteína conjugada que c o n t é m quatro grupos h e m e structure. In: Neurath H, ed. The proceins: ccmposition, structure and
e globina e tem a propriedade de oxigenação reversível. function, 2nd ed. Vol. 2. New York: Academic Press, 1964:603-778.
Direitos autorais, Elsevier 1964.)
Química
A h e m o g l o b i n a é u m a h e m o p r o t e í n a , de forma globular, com
diâmetro d e 6,4 n m e peso molecular de a p r o x i m a d a m e n t e p r o m e t e m a estabilidade estrutural e / o u a funcionalidade da
64.500 Da. A porção h e m e é u m quelato que c o n t é m ferro com hemoglobina. O m o n ó x i d o de carbono, por exemplo, substitui
a porção glohina consistindo e m dois pares de cadeias polipeptí- preferencialmente o oxigênio d o h e m e para formar carboxiemo-
dicas de globina, designadas a e n ã o - a . As q u a t r o cadeias de globina. Portanto, a capacidade de transporte de oxigênio da
globina f o r m a m u m a c o n c h a de parede espessa c i r c u n d a n d o u m a hemoglobina é c o m p r o m e t i d a e, e m casos extremos, resulta e m
cavidade central, n a qual a p o i ç ã o heme, ligada por interação dos morte, devida à privação de oxigênio ao tecido. A m e t e m o g l o b i n a
resíduos de histidina das cadeias de globina ao ferro do heme, é f o r m a d a como resultado de u m a m u d a n ç a n o estado de oxida-
está suspensa (Figura 28-1). O ferro h ê m i c o está n o r m a l m e n t e n o ção d o á t o m o de' ferro n o h e m e do estado de oxidação ferroso
estado de oxidação ferroso (2*). normal (2*) para o estado férrico (3*). Isso resulta e m u m a notável
O s dois pares de cadeias de globina n a h e m o g l o b i n a n o r m a l diminuição da capacidade de transporte de oxigênio. A presença
(HbA) são d e n o m i n a d o s a e p. A cadeia a c o n t é m 141 resíduos de nitrato e m água de poço tem sido descrita como causadora de
de aminoácidos e a cadeia P, 146 resíduos de aminoácidos. N a metemoglobinemia. A sulfaemoglobina, c o m u m e n t e resultante
h e m o g l o b i n a fetal, HbF, a cadeia a é a m e s m a que a encontrada da exposição a certas drogas, é formada q u a n d o u m ou mais
na H b A , mas a cadeia n ã o - a é a cadeia y, que t e m o m e s m o oxigênios dos anéis porfirínicos d o h e m e é substituído por
n ú m e r o de resíduos d e aminoácidos e homologia estrutural subs- enxofre. A remoção da fonte de compostos químicos leva à res-
tancial com a cadeia p. A H b A z tem a cadeia a habitual, mas a tauração da hemoglobina n o T m a l .
cadeia n ã o - a é a cadeia 8. Por convenção, a cadeia a é sempre A h e m o g l o b i n a t a m b é m f o r m a adutos pela ligação de u m a
escrita p r i m e i r o nas abreviações da estrutura da h e m o g l o b i n a . molécula às cadeias de globina. Embora a ligação seja mais
Por exemplo, H b A é escrita c o m o OL-fii, H b F c o m o CL-ifj e H b A : c o m u m n o residuo d e a m i n o á c i d o N terminal, ela p o d e ocorrer
c o m o a 2 82- E m adultos normais, a H b A f o r m a cerca de 8 5 % a e m q u a l q u e r lugar ao longo da cadeia de globina. Por exemplo,
9 5 % da h e m o g l o b i n a total, a H b F é m e n o s do que 1%, e a H b A 2
a h e m o g l o b i n a carbamilada é f o r m a d a pela ligação de uréia, e a
é m e n o s do q u e 3,5%. Variações n a seqüência de resíduos de
h e m o g l o b i n a glicada é f o r m a d a pela ligação de glicose ao N-
aminoácidos das cadeias de globina (uma variação qualitativa)
terminal da p-glohina. O a d u t o h e m o g l o b i n a glicada, HbAi c , é
leva a hemoglobinopatias, e n q u a n t o diminuições n a p r o d u ç ã o
clinicamente i m p o r t a n t e c o m o u m m o n i t o r de controle glicê-
de cadeias de globina (uma variação quantitativa) levam a talas-
mico para pacientes com diabetes. A h e m o g l o b i n a fetal (HbF,
semias.
a 2 y 2 ) é a única q u e p o d e f o r m a r u m a d u t o acetilado. O h e m e ,
Hemoglobinas Quimicamente Modificadas a p r o t o p o r f i r i n a IX ferrosa, consiste em q u a t r o anéis pirrólicos
A h e m o g l o b i n a p o d e ser modificada pela ligação de compostos ao redor de u m á t o m o de ferro com q u a t r o dos seus seis pares
químicos para formar hemoglobinas q u i m i c a m e n t e modificadas. de elétrons ligados aos átomos de nitrogênio dos anéis pirrólicos
Algumas dessas hemoglobinas modificadas q u i m i c a m e n t e com- (Capítulo 29).
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 525

A h e m i n a resulta da oxidação relativamente fácil d o ferro da H h A , pode ser feito u m diagnóstico presuntivo de a-talasse-
hêmico do estado ferroso para o estado férrico. Para permanecer mia. A confirmação pelo teste de D N A é necessária para o
eletricamente neutra, u m composto com halogênio, geralmente diagnóstico definitivo.
cloreto, liga-se à hemina. Em solução alcalina, a h e m a t i n a é U m a única deleção gênica, escrita como (aa/a-) é, em geral,
formada pela substituição do á t o m o de halogênio da h e m m a por clinicamente silenciosa e não tem característica hematológica
u m grupo hidroxila. significante além de u m volume corpuscular médio (MCV) leve-
mente d i m i n u í d o ocasionalmente.
Bioquímica A deleção de dois genes, algumas vezes chamada traço a-talas-
O h e m e é sintetizado principalmente na medula óssea e n o sêmico e escrita como (aa/- ou a-/a-), tem características clínica
fígado (Figura 29-2, Capítulo 29). e hematológica significantes. O MCV, a hemoglobina corpuscu-
Este é u m processo de oito etapas com cada uma delas envol- lar média (MCH) e o índice de Mentzer ( M C V / c o n t a g e m de
vendo u m a enzima diferente geneticamente controlada. A pri- eritrócitos) estão todos diminuídos. O esíregaço de sangue peri-
meira e as três últimas etapas ocorrem na mitocôndria dos eri- férico mostra uma anemia microcítica e hipocrômica. N ã o há
troblastos c reticulócitos na medula óssea. Os quatro estágios picos anormais na cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC)
intermediários ocorrem n o citossol. e n e n h u m a banda não usual na eletroforese. A deleção é dita
Em c o m u m c o m todos os genes, os genes de globina consis- u m a deleção eis q u a n d o as duas deleções são n o mesmo locus
tem em éxons (seqüências codificadoras) e íntrons (sequências gênico {aa/-) e u m a deleção trans q u a n d o elas estão em loa
não codificadoras intercaladas) com códons [triplet (trinca) de gênicos opostos (a-/a-)
nucleotídeos] codificando aminoácidos específicos. Os genes U m a deleção de três genes a ( - / a - ) resulta em doença de
de globina têm três éxons e dois íntrons com uma região promo- H b H . Entretanto, u m a doença de H b H não causada por deleção
tora (específica para a cadeia de globina) na extremidade 5' de é vista, a qual é mais grave na apresentação clínica do que a
cada gene Os processos de transcrição e tradução são os mesmos doença de H b H por deleção mais típica. Os pacientes com
que em qualquer outra síntese de cadeias de aminoácidos. doença de H b H têm (1) concentração de hemoglobina baixa,
(2) M C V e M C H diminuídos e (3) contagem de eritrócitos ligei-
Função Fisiológica ramente aumentada. Os resultados relativos ao ferro são normais.
O ferro d o h e m e está n o r m a l m e n t e n o estado ferroso (2+) e é O cromatograma do HPLC, mostrado na Figura 28-2, mostra a
capaz de agir c o m o a principal entidade de transporte de oxigênio presença de bandas nítidas próximas ao p o n t o de injeção.
pela combinação reversível com o oxigênio. Cooperatividade é o A deleção de quatro genes a ê geralmente incompatível com
termo usado para descrever a interação das cadeias de globina de a vida sem transfusão maciça intra-uterina e pós-natal. A doença
tal forma que a oxigenação de u m grupo h e m e a u m e n t a a pro- é n o r m a l m e n t e chamada hidropisia fetal H b de Bart. Tipica-
babilidade de oxigenação de outro ou de todos os grupos heme. mente, as mães carregando u m feto com H b de Bart se apresen-
O efeito Bohr refere-se à redução da afinidade do oxigênio pelo tam, cerca de 20 a 25 semanas de gestação, com a manifestação
h e m e com u m a diminuição n o pH. Este efeito é particularmente de poliidrâmnio. A concentração de hemoglobina n o sangue do
importante n o músculo em exercício, o n d e os produtos d o meta- cordão umbilical é grandemente a u m e n t a d a para a idade e há
bolismo aeróbico, C 0 2 e ácido carbônico, d i m i n u e m o pH a 6 hipoalbumjnemia. A análise por H P L C do sangue do cordão
e a liberação d o oxigênio ligado ao heme é facilitada. umbilical, mostrada na Figura 28-2, mostra uma única banda
nítida n o p o n t o de injeção d o cromatograma. A eletroforese em
Importância Clínica pH alcalino mostra u m a banda de migração rápida. Na Figura
As talassemias e as hemoglobinopatias formam dois grupos dife- 28-3, são mostradas a H P L C e a eletroforese em p H alcalino do
rentes de doenças de origem genética. 9 As talassemias originam-se sangue do cordão umbilical de u m feto normal de 26 semanas e
da produção insuficiente de cadeia de globma. O n o m e é deri- de u m feto de idade gestacional similar com H b de Bart. A H P L C
vado da palavra grega para mar, thalasa, porque todos os casos do feto com H b de Bart mostra um pico único característico n o
iniciais de (3-talassemia foram descritos em crianças de origem ponto de injeção, e n q u a n t o a H P L C do feto normal mostra H b F
mediterrânea. As hemoglobinopatias, coletivamente, são varian- (tanto a acetilada quanto a normal) com alguma HhA. Em
tes estruturais de hemoglobina geradas a partir de mutações nos algumas partes do m u n d o , o n d e duas deleções gêmeas eis são
genes de globinas. Isso resulta em substituições ou interrupções comuns, o rastreamento de todos os futuros pais é realizado com
na seqüência n o r m a l de resíduos de aminoácidos em u m a ou a c o m p a n h a m e n t o e aconselhamento apropriados.
mais cadeias de globina da hemoglobina. Elas são as doenças As beta (p)-talassemias resultam de uma diminuição na
monogênicas mais c o m u n s n o m u n d o . síntese da cadeia de p-globina. Elas são comuns em áreas próxi-
mas (1) ao Mediterrâneo, (2) a províncias ao sul da C h i n a e
Talassemias (3) ao subcontinente indiano.
As talassemias são identificadas de acordo com a cadeia de Os métodos de rastreamento da população estão, agora, em
globina que apresenta deficiência de produção. Portanto, as a - uso" em várias localidades d o m u n d o o n d e a p-talassemia é
talassemias surgem da produção defeituosa da p r o d u ç ã o de comum.
a-globina; as P-talassemias, da p r o d u ç ã o deficiente de p-globina.
e as Ôp-talassemias de deficiências na p r o d u ç ã o de 5 e P-globi- pD-Talassemia (p-Talassemia Major)
nas. As talassemias são, ainda, classificadas pela extensão da Algumas vezes chamada anemia de Cooley, os indivíduos com
redução da p r o d u ç ã o de globina e da anemia resultante. Q u a t r o p-talassemia major (1) têm infecções frequentes, (2) parecem
genes de globina controlam a p r o d u ç ã o de a-globina. Deleções pálidos, (3) são desnutridos e (4) exibem esplenomegalia com
ou mutações pontuais em qualquer u m desses genes resultam mudanças ósseas faciais. Essas manifestações refletem principal-
em a-talassemia. A gravidade da anemia é u m reflexo n o n ú m e r o mente o grau de expansão óssea associada à eritropoiese ineficaz.
de deleções gênicas. Frequentemente, o diagnóstico de a-talas- A p n -talassemia resulta de mutações que interferem na tradução
semia é por exclusão. Na presença de índices talassêmicos na ou estão envolvidas na iniciação, n o alongamento ou na termi-
contagem sanguínea completa (CBC) e na ausência de elevação nação da síntese da cadeia de globina.
526 PARTE IV Analitos

30%
0,090
AU (a) (b)

20%
0,060-

0,030-
10%

A
í
A2

0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 ( 5

30% 30%

(d) (o)

20*?; 20%- p

10% 10%- 10%--

I A2 I
I I
l AAJ VA2 ml a n
0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5

30% 30% 30% t

(9) (h) <i)

20% 20%- 20%

10%- 10% 10%-

A2 i
li. j A2
,L I . A . l i l w A W l
A2 i/\'|
H 1 1 h

Figura 2 8 - 2 C r o m a t o g r a m a s de H P L C o b t i d o s de diversas variantes a, H b de Bart; b, (3 0 -talassemia major; c,


h o m o z i g o t o H p a r a fJ 4 -tal as se mia; cJ, H b H ; e, h o m o z i g o t o S; /, t r a ç o S; g, h o m o z i g o t o C ; h, traço C ; i, H b S - H b
G P h i l a d e l p h i a . (De Clarke G M , Trefor Kl, Higgins T N . L a b o i a t o r y Invéstigation of h e m o g l o b i n o p a t h i e s a n d
thalassemias: review a n d u p d a t e . C l i n C h e m 2000;46:1284-90.)

A a p r e s e n t a ç ã o clínica o c o r r e g e r a l m e n t e e m m e n o s de 1 tos, (2) n u m e r o s a s células-alvo, q u e p o d e m teT u m a p o n t e ligando


a n o de idade, c o m características q u e i n c l u e m (1) t a m a n h o as zonas de p i g m e n t o central e periférica, (3) policromasia,
p e q u e n o para a idade, (2) expans ão da c i r c u n f e r ê n c i a a b d o m i - (4) esferócitos ocasionais, (5) esquistócitos e (6) eritrócitos nucle-
n a l e (3) falha n o d e s e n v o l v i m e n t o . O e x a m e físico d o i n d i v í d u o ados. A ferritina está d e n t r o d o seu intervalo de referência. U m
p o d e revelar p r o t u b e r â n c i a f r o n t a l ( u m a p r o t u b e r â n c i a a r r e d o n - e s t u d o familiar 1 deveria, sempre, ser realizado e m u m a família
d a d a n a f r o n t e ) c a u s a d a pelo e s p e s s a m e n t o d o s ossos craniais, c o m u m a criança c o m p-talassemia major. A H P L C d o s a n g u e de
palidez e p r o e m i n ê n c i a d o s ossos da face. Hm crianças mais crianças c o m p-talassemia major m o s t r a u m g r a n d e pico de H b F ,
velhas, isso obscurece a base d o nariz e e x p õ e os d e n t e s . c o m n e n h u m pico de H b A e p o u c o ou n e n h u m pico de H b A j
R e s u l t a d o s típicos d a C B C i n c l u e m a n e m i a grave c o m a (Figura 28-2). A l g u m a s vezes, u m a b a n d a p e q u e n a nítida é vista
c o n c e n t r a ç ã o d e h e m o g l o b i n a e n t r e 3 0 e 6 5 g / L , o M C V de 4 8 n o p o n t o d e i n j e ç ã o e t e m sido c h a m a d a p s e u d o - H b d e Bart, mas
a 72 f L e a c o n c e n t r a ç ã o de h e m o g l o b i n a c o r p u s c u l a r m é d i a é, de fato, b i l i r r u b i n a .
( M C H C ) de 230 a 3 2 0 g / L . N o esfregaço d e sangue periférico, T r a n s f u s õ e s p o r t o d a a vida j u n t a m e n t e c o m terapia de que-
nota-se m o r f o l o g i a a n o r m a l d a célula v e r m e l h a d o s a n g u e lação são as principais terapias. O t r a n s p l a n t e d e m e d u l a óssea
(RBC), característica q u e inclui (1) g r a n d e n ú m e r o d e micráci- t a m b é m tem-se m o s t r a d o eficaz.
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 527

C S A F
C S F A

+ (b)

I Hl
(a)

i
i
0,125-
0,125

0,100
0,100 (d)

0.075
0,075

5 0.050
0,050
1
1\
1
0.025 0.025

0.000 O.OOO-

0,00 0.75 1.50 2.25 3,00 3,75 4,50 5,25 0,00 1.50 2.25 3,00 3,75 4,50 5,25
T e m p o (mm) T e m p o (min)

Figura 2 8 - 3 Eletroforese de hemoglobina sm p H alcalino (a) e ácido (b) dc um feto n o r m a l de 26 semanas


de idade gestacional {linha 2) e um feto c o m Hb de Bart de idade gestacional similar {linha 3) O s
cromatogramas de H P L C dos mesmos fetos normal (c) e com H b de Bart (d).

p ! '-Talassemia mia, (.3) p o n t i l h a m e n t o basofílico, (4) células-alvo e (5) RBCs


A p~-talassemia é atribuída a uma grande variedade de genõtipos, nucleadas no esfregaço de sangue periférico.
mas todos têm em c o m u m uma redução significativa da produ-
ção da P-globina com redução subseqüente da quantidade de p-Talassemia Minor
H b A presente. A gravidade clínica em indivíduos com variações O s pacientes com p-talassemia minor são muito freqüentemente
nas duas cadeias de P-globina é muito m e n o r do que quando assintomáticos, exceto em ocasiões de estresse hematopoiético,
existe uma variação em u m único gene, uma condição algumas tais c o m o em infecções ou na gravidei, q u a n d o eles p o d e m
vezes denominada p-talassemia dominante. Há uma redução da necessitar de transfusões de sangue devido ao desenvolvimento
gravidade das características clínicas com a co-herança de a-talas- de anemia. A C B C cm pacientes c o m traço P-talassêmico mostra
semia. A P-talassemia á encontrada em países do Mediterrâneo, hemoglobina e hematócrito n o limite inferior ou diminuídos,
especialmente em países n o Mediterrâneo Oriental. M C V (< 72 fL) a M C H (< 27 pg) diminuídos e uma amplitude
A apresentação clínica varia de sintomas similares aos da de distribuição dos eritrócitos ( R D W ) normal. Entretanto, para
P°-talassemia até aqueles associados ao traço p-talassêmico. As pacientes com doenças hepáticas e p - t a l a s s e m i a , o M C V e a
transfusões normalmente não são necessárias, e a terapia c o m M C H p o d e m estar aumentados para o limite superior do inter-
hidroxiuréia é freqüentemente usada paia aumentar a produção valo de referência.
de hemoglobina F e abrandar os sintomas da doença. A C B C O esfregaço de sangue periférico mostra RBCs microcíticas
mostra hemoglobina diminuída com (1) anisocicose, (2) hipocTO- com hipocromia ocasional, pecilocitose c células-alvo. O achado
528 PARTE IV Analitos

de u m a H b A 2 a u m e n t a d a (>3,5%) com índices talassêmicos apro- c a n d o que a variante tem mobilidade eletroforética similar a
priados ( M C V baixo, alta contagem de R B C e R D W n o r m a l ou outras hemoglobinas Gs e q u e a variante foi originalmente
próximo do normal) na C B C é essencial para o diagnóstico de e n c o n t r a d a n a tribo indígena C o u s h a t t a n o Sul dos Estados
P-talassemia miíior. Indivíduos com deficiência de ferro devem U n i d o s . O termo traço A S (algumas vezes abreviado c o m o traço
fazer reposição de ferro antes que u m diagnóstico definitivo de S) é usado para descrever a heterozigose de HbS, e o t e r m o SS,
p - t a l a s s e m i a seja feito, já que a H b A ; p o d e estar falsamente para descrever a homozigose d e H b S A homozigose de H b S é
d i m i n u í d a c o m a depleção d e ferro. A H P L C é o m é t o d o prefe- conhecida como a n e m i a f a l c i f o r m e ou doença falciforme, por
rencial para essa quantificação. Em 3 0 % a 4 0 % de todos os casos causa das células e m forma de foice que aparecem n o sangue de
de P-talassemia minor, a H b F t a m b é m estará a u m e n t a d a (>1,0%). indivíduos afetados
Na p - t a l a s s e m i a minor, o t e m p o de vida da R B C pode estar redu- U m sistema de n o m e n c l a t u r a sistemática é agora usado para-
zida e pacientes com diabetes p o d e m mostrar u m a H b A l c mais lelamente ao n o m e da variante para descrever (I) a cadeia afetada,
baixa q u a n d o comparados com indivíduos n o r m a i s com controle (2) a localização da cadeia e (3) a substituição d o aminoácido.
glicêmico equivalente. A m u t a ç ã o da p - t a l a s s e m i a pode ser iden- C o m o exemplo, a H b Spanish T o w n (a27[B8] ulu_>Val ) é u m a
tificada por S o u t h e r n Blot, usando-se sondas específicas pata a variante de hemoglobina n o m e a d a com o n o m e de um distrito
mutação, ou u m a reação em cadeia da polimerase (PCR) seqüên- em Kingston, Jamaica, e e n c o n t r a d a e m jamaicanos de descen-
cia-específica dência africana. Origina-se de u m a substituição de ácido glutâ-
mico p o r valina n a posição 27 da cadeia de a-globina, que está
5p-Talassemia localizada na posição 8 da hélice B da cadeia a
A deleção dos genes 5 e p resulta em Ô p - t a l a s s e m i a com ambas
as condições, heterozigota e homozigota, descritas. A doença é Classificação das Variantes de Hemoglobina
encontrada em vários grupos étnicos, mas é mais prevalente em As variantes de h e m o g l o b i n a são classificadas de acordo com o
países d o M e d i t e r r â n e o Oriental, especialmente Grécia e Itália tipo de mutação. As m u t a ç õ e s p o n t u a i s em u m a cadeia de
A análise da C B C mostra h e m o g l o b i n a reduzida (80 a 13.5 g/L) globina causam a substituição d e u m resíduo de a m i n o á c i d o [p.
c o m M C V e M C H nos limites inferiores ou ligeiramente dimi- ex., H b San Diego ( p 109ÍG1 lJVal—>Met)l. A hemoglobina C
nuídos. A análise por H P L C mostra um pico de H b A com u m a H a r l e m é um exemplo de u m a variante de hemoglobina na qual
concentração de H b A i reduzida e concentração de HbF aumen- dois resíduos de aminoácidos são substituídos, ou seja, valina
tada. Entretanto, n o tipo Sardo da ÔP-talassemia, existem índices substituindo ácido glutâmico na posição 6 e asparagina substi-
talassêmicos na C B C ( M C V e M C H baixos, R D W normal) com t u i n d o ácido aspártico na posição 73 da cadeia p .
u m a concentração de H b A z n o r m a l e uma concentração de H b F As variantes delecionais de h e m o g l o b i n a surgem da deleção de
entre 15% e 2 0 % . 1 a 5 resíduos de aminoácidos na cadeia de globina. As hemoglo-
binas de inserção surgem de u m a inserção de 1 a 3 resíduos de
Persistência Hereditária de Hemoglobina Fetal aminoácidos na cadeia d e globina As hemoglobinas de deleção/
O t e r m o persistência hereditária de hemoglobina fetal (HPFH) é inserção surgem da deleção de u m a parte da seqüência normal de
u s a d o para descrever u m grupo de condições genéticas nas quais resíduos de aminoácidos e da inserção de outra seqüência, com
a concentração de H b F está a u m e n t a d a acima do intervalo de resultante alongamento ou e n c u r t a m e n t o da cadeia de globina.
referência com u m a redução da síntese de P-globina e um As hemoglobinas de alongamento resultam de u m a mutação da
a u m e n t o compensatório da síntese de y-globina. Duas classes único par de bases ou frameshift ( m u d a n ç a n o q u a d r o de leitura)
principais de H P F H têm sido descritas, heterocelular e delecional. na extremidade 3' do éxon 3 ou na extremidade 5' do éxon 1 da
Diversas variantes delecionais de H P F H têm sido descritas, cadeia de a L >- ou de p - g l o b i n a As hemoglobinas híbridas/de fusão/
incluindo as variantes (1) Grega, (2) Indiana, (3) Italiana, (4) Corfu cruzadas resultam da fusão da cadeia de a - ou p - g l o b i n a com u m a
e (5) Negra. Nessas variantes de HPFFÍ delecionais, a concentração porção de u m a outra cadeia de globina.
de H b F pode estar tão alta q u a n t o 36%.
A H P F H n ã o delecional, algumas vezes chamada H P F H hete- Metodologia Analítica
rocelular, descreve u m g r u p o de doenças nas quais o a u m e n t o de A hemoglobina e os compostos relacionados são dosados por
H b F é distribuído h e t e r o g e n e a m e n t e entre as células vermelhas vários tipos diferentes de métodos. A l é m disso, diversas tecnolo-
de indivíduos h e m a t o l o g i c a m e n t e normais. A concentração de gias f o r n e c e m informação que levam ao diagnóstico de talasse-
H b F varia entre 1% e 13% da hemoglobina total em heterozigo- mias e hemoglobínopatias. Os m é t o d o s usados para esse fim são
tos e entre 19% e 21% em homozigotos divididos naqueles que (1) f o r n e c e m u m a provável identificação
e (2) f o r n e c e m u m a identificação definitiva. Exemplos de testes
Hemoglobínopatias que f o r n e c e m provável identificação são C B C , H P L C e eletrofo-
Mais de 900 hemoglobínopatias têm sido descritas ( h t t p : / / rese, S e q ü e n c i a m e n t o de D N A ou espectroscopia de massa for-
globin.cse.psu edu); entretanto, s o m e n t e poucas têm importân- necem informação definitiva. A amostra preferível para a inves-
cia clínica A identificação de variantes de h e m o g l o b i n a em áreas tigação de hemoglobinas e talassemias é u m a amostra fresca ce
que a n t e r i o r m e n t e t i n h a m baixa incidência (Europa Setentrio- sangue em ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), u m antico-
nal, América d o Sul e C a n a d á ) tem a u m e n t a d o nos últimos anos agulante. O a r m a z e n a m e n t o p o r mais de 5 dias a 4 °C pode
devido à imigração a partir de áreas de alta incidência d e hemo- c o m p r o m e t e r a integridade da amostra.
globinopatias (Africa, Sudeste da Ásia).
Dosagem de Hemoglobina no Sangue Total
Nomenclatura A dosagem da concentração de hemoglobina n o sangue venoso
As variantes de h e m o g l o b i n a têm sido n o m e a d a s com o uso de ou capilar é n o r m a l m e n t e realizada usando-se o m é t o d o da cia-
letras (S, C, D, E), n o m e familiar do caso-índice (Hb Lepore), o n o m e t e m o g l o b i n a . O princípio do m é t o d o é baseado na oxida-
lugar de descoberta da variante, ou a cidade natal ou o rio que ção d o Fe2" da h e m o g l o b i n a a Fe 1+ da metemoglobina pelo ferri-
passa pela cidade do p r o b a n d o . Em alguns casos, são usados a cianeto, com a metemoglobina, então, convertida em cianomete-
letra e o n o m e secundário, por exemplo, H b G Cousha t t a , indi- moglobina estável pela adição de cianeto de potássio (KCN)-
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 529

H t F e 2 + + FeU(CN)t HbFeu + Fe 2+ (CN) 6 4 "

HbFe"+ + CN~ -> HbFeuCN


I l l
s m s
o n d e HbFe 2 + r e p r e s e n t a u m m o n ô m e r o de h e m o g l o b i n a , H b F e 1 - ,
1 1
u m m o n ô m e r o de m e t e m o g l o b i n a , e H b F e ^ 1 C N , u m m o n ô m e r o
de c i a n o m e t e m o g l o b i n a . A a b s o r v â n c i a d a c i a n o m e t e m o g l o b i n a 1 1
é m e d i d a a 540 n m e usada para calcular a c o n c e n t r a ç ã o de i
hemoglobina.
B I
N
»
Contagem Sanguínea Completa
A C B C p o d e f o r n e c e r a p r i m e i r a indicação de u m a talassemia I
o u h e m o g l o b i n o p a t i a , e é essencial realizar u m a C B C c o m o
p a r t e de q u a l q u e r investigação de h e m o g l o b i n o p a t i a s e talasse- M I t
mias. E m talassemias, o M C V e a M C H estão abaixo d o i n t e r v a l o I I I
de referência. A h e m o g l o b i n a p o d e estar abaixo ou d e n t r o d o
i n t e r v a l o de referência. A l g u m a s vezes, o M C V está m u i t o baixo,
c o m a c o n t a g e m de R B C na m e t a d e s u p e r i o r ou a c i m a d o inter- Figura 2 8 - 4 Eletroforese alcalina e ácida de várias
valo d e referência. O R D W está d e n t r o d o i n t e r v a l o d e referência hemoglobinopatias. Linha 1, H b S, H b FA controle; Linha 2, HB S, H b
o u l e v e m e n t e acima dele. O esfregaço d e s a n g u e p o d e m o s t r a r F, H b C A controle; Linha 3, doença S C transfundida; Linha 4, doença
u m p a d r ã o microcítico e h i p o c r ô m i c o . N a s h e m o g l o b i n o p a t i a s , SC; Linha 5, H b A (normal); Linha 6, H b Presbyterian; Linha 7, H b S;
a C B C m u i t o f r e q ü e n t e m e n t e está n o r m a l . N o esfregaço de Linha 8, H b Ai aumentada (traço p-talassêmico), Linha 9, Hb J
s a n g u e periférico, p o d e m ser o b s e r v a d a s variações q u e estão asso- Baltimore, Linha 10, H b C.
ciadas a u m a v a r i a n t e d e h e m o g l o b i n a e m particular, c o m o a
p r e s e n ç a de células falciformes n a d o e n ç a f a l c i f o r m e ( H b S e m
As variações d e técnicas eletroforéticas q u e t ê m sido u s a d a s
h o m o z i g o s e ) ou células-alvo n a h o m o z i g o s e de H b E .
n a identificação de v a r i a n t e s de h e m o g l o b i n a i n c l u e m eletrofo-
Várias f ó r m u l a s derivadas de p a r â m e t r o s na C B C têm sido
rese p o r focalização isoelétrica e p o r focalização isoelétnca capilar
r e c o m e n d a d a s para d e t e r m i n a r se o p a c i e n t e tem talassemia. U m
( C a p í t u l o 6).
e s t u d o p r o p õ e q u e u m M C V m e n o r d o q u e 72 fL (intervalo de
Essas técnicas, e m b o r a a p r e s e n t e m m e l h o r resolução d o q u e
referência ~ 8 0 - 1 0 0 fL) 1 ' é sugestivo de talassemia e q u e esse
eletroforese em gel e m d i f e r e n t e s p H s , são t e c n i c a m e n t e difíceis
p a r â m e t r o s o z i n h o é o m e l h o r d i s c r i m i n a d o r de talassemia. O
de se realizar e t ê m u m baixo r e n d i m e n t o . C o n s e q ü e n t e m e n t e ,
índice d e M e n t z e r (Ml) rem sido p r o p o s t o c o m o u m p a r â m e t r o
a H P L C é mais a m p l a m e n t e u s a d a já que é mais simples e f o r n e c e
d e r a s t r e a m e n t o para a p-talassemia 9 , c o m valores m e n o r e s ou
resultados equivalentes aos d a m a i o r i a das complexas técnicas
iguais a 1 4 , 6 9 indicativos de talassemia. O M I t a m b é m t e m sido
eletroforéticas.
u s a d o para o r a s t r e a m e n t o de a-talassemia. O f a t o r d i s c r i m i n a n t e
(DF) t e m sido sugerido c o m o u m cálculo de r a s t r e a m e n t o para
d i s c r i m i n a r deficiência de f e r r o e talassemia.
HPLC
A H P L C , u s a n d o u m a c o l u n a e m p a c o t a d a c o m resina t r o c a d o r a
de cátions, f o r n e c e e m u m a ú n i c a análise a q u a n t i f i c a ç ã o d e
RDW
H b A 2 e H b F , e u m a i d e n t i f i c a ç ã o micial de q u a l q u e r v a r i a n t e
Fator d i s c r i m i n a n t e (DF) = ( M C V x M C V ) x x 100
de h e m o g l o b i n a p r e s e n t e (Figura 28-2). T ê m sido p u b l i c a d a s
Hb
listas extensas d e t e m p o s de r e t e n ç ã o de variantes de hemoglo-
b i n a t a n t o e m m é t o d o s comerciais c o m o n o s desenvolvidos e m
U m D F < 65 está associado à talassemia, e valores > 7 5 estão
laboratório. 1 1 ' 1 9 As v a n t a g e n s da H P L C sobre a eletroforese são
associados à deficiência de ferro. Valores e n t r e 65 e 75 são clas-
(1) resolução s u p e r i o r de variantes de h e m o g l o b i n a , (2) t e m p o d e
sificados c o m o d u v i d o s o s e p o d e m indicar deficiência de ferro
ensaio r á p i d o e (3) q u a n t i f i c a ç ã o a c u r a d a de frações de hemoglo-
c o m b i n a d a com u m a talassemia s u b j a c e n t e
bina, incluindo H b A z e H b F
O s p a r â m e t r o s de C B C e cálculos associados o u o esfregaço
de s a n g u e periférico, e n t r e t a n t o , são incapazes de f o r n e c e r o diag-
nóstico definitivo de talassemia ou h e m o g l o b i n o p a t i a s . E t a m b é m Espectroscopia de Massa por Eletrospray
crucial c o n h e c e r o estado de ferro d o p a c i e n t e já q u e a deficiência (Ele tropulveríza ção)
de ferro mimetiza ou ameniza as características de u m a talassemia A espectroscopia de m a s s a p o r eletrospray t o r n o u - s e o m e l h o r
s u b j a c e n t e E m b o r a a ferritina seja o e x a m e mais p o p u l a r para a m é t o d o n a escolha para a caracterização de variantes de h e m o -
d e t e r m i n a ç ã o d o estado de ferro, ela tem limitações. globina e a d u t o s de h e m o g l o b i n a . Esta técnica estabelece m u i t o
r a p i d a m e n t e (1) se a v a r i a n t e é u m a v a r i a n t e de cadeia a ou fS,
Eletroforese (2) a localização e a i d e n t i d a d e da s u b s t i t u i ç ã o d o r e s í d u o d e
O teste inicial mais c o m u m para o r a s t r e a m e n t o d e h e m o g l o b i - a m i n o á c i d o e (3) a q u a n t i d a d e d e v a r i a n t e presente. Ela neces-
n o p a t i a o u talassemia é a eletroforese u s a n d o gel d e agarose e u m sita, e n t r e t a n t o , d e várias etapas preparativas e e s p e c t r ó m e t r o s d e
t a m p ã o barbital de p H 9,2. E m b o r a esse m é t o d o seja c o m u m e n t e massa caros.
u s a d o , ele t e m várias limitações. P r i m e i r o , a H b A 2 n ã o p o d e ser
q u a n t i f i c a d a com precisão, e, s e g u n d o , m u i t a s variantes de h e m o - Análise de DNA
g l o b i n a m i g r a m a lima m e s m a velocidade, d i f i c u l t a n d o a identi- A principal f u n ç ã o da análise de D N A n a investigação de h e m o -
ficação. A p ó s a eletroforese (Figura 28-4), as h e m o g l o b i n a s são g l o b i n o p a t i a s e talassemias é identificar, nas p o p u l a ç õ e s c o m
visualizadas usando-se P o n c e a u S (coloração a v e r m e l h a d a ) ou u m a alta incidência c o n h e c i d a da d o e n ç a , aqueles i n d i v í d u o s
p r e f e r e n c i a l m e n t e A m i d o Black (coloração azul-escura a preta). específicos s o b risco e q u e p o d e m beneficiaT-se de aconselha-
530 PARTE IV Analitos

m e n t o genético. O s usos de análises d e D N A para esse p r o p ó s i t o s ã m e n t e seu s u p r i m e n t o de ferro, de tal f o r m a q u e m e n o s de


estão listados n o Q u a d r o 28-1 0 , 1 % d o c o n t e ú d o d e ferro c o r p o r a l é p e r d i d o d i a r i a m e n t e , prin-
c i p a l m e n t e nas células d e s c a m a d a s .
Testes para Hemoglobinas Variantes Específicas
Distribuição do Ferro no Corpo
Teste de Solubilidade de HbS O ferro corporal é d i s t r i b u í d o e m vários c o m p a r t i m e n t o s dife-
A h e m o g l o b i n a S, q u a n d o desoxigenada, é insolúvel e m t a m p ã o rentes q u e i n c l u e m (1) h e m o g l o b i n a , (2) ferro a r m a z e n a d o ,
fosfato c o n c e n t r a d o e produz turbidez visível. Q u a s e todas as (3) ferro tecidual, (4) mioglobina e (5) pool lábil. A q u a n t i d a d e m é d i a
oiitras^hemoglobinas, incluindo as h e m o g l o b i n a s A, F, C , E e D, de ferro nesses compartimentos está resumida na Tabela 28-1.
são solúveis e m tais soluções. Portanto, esse teste r a p i d a m e n t e
identifica amostras de sangue que c o n t ê m H b S . TJma substância Hemoglobina
redutora, hidrossulfito de sódio (Na2S20 4 , ditionita de sódio), é U m mililitro de eritrócitos c o n t é m 1 mg d e ferro. E m u m h o m e m
usada para desoxigenar a h e m o g l o b i n a , e a s a p o n i n a é usada para de 70 kg, a massa d e R B C é cerca de 2 L, c o n t e n d o , p o r t a n t o ,
lisar as R B C s . A turbidez a u m e n t a d a e m u m a amostra com H b S cerca de 2 g de ferro da h e m o g l o b i n a .
é n o t a d a pela visualização de u m cartão impresso (Figura 28-5)
através da amostra tratada, com u m decréscimo n a clareza do Armazenamento de Ferro
cartão impresso i n d i c a n d o a presença de HbS. Resultados falso- O ferro é a r m a z e n a d o na f o r m a de ferritina e de h e m o s s i d e r i n a .
positivos são e n c o n t r a d o s e m amostras c o m (1) c o r p o s de Heinz,
(2) altas c o n c e n tr a ç õ e s de proteína m o n o c l o n a l ou (3) aglutininas Ferritina
frias. R e s u l t a d o s falso-negativos são obtidos e m pacientes anêmicos A f e r r i t i n a consiste e m u m a c o n c h a proteica c i r c u n d a n d o um
( h e m o g l o b i n a < 8 0 g/L) o u e m amostras c o m u m hematócrito núcleo d e ferro, e n q u a n t o a h e m o s s i d e r i n a é f o r m a d a q u a n d o a
m e n o r d o q u e 15%. O u t r a s variantes de h e m o g l o b i n a , i n c l u i n d o
H b C H a r l e m , H b M e m p h i s e H b C Ziguinchor, t a m b é m dão resul-
tados falso-positivos. A interpretação d o teste é m u i t o subjetiva.

Teste de HbH
A H b H , p 4 , é u m t e t r â m e r o insolúvel e n c o n t r a d o e m pacientes
com a-talassemia. Inclusões p o n t i l h a d a s de H b H , n o r m a l m e n t e
descritas c o m o s e m e l h a n t e s a "bolas de golfe", são e n c o n t r a d a s
nas R B C s dc u m esfregaço d e sangue periférico de u m paciente
c o m a-talassemia t r a t a d o c o m azul d e m e t i l e n o ou azul de cresil
b r i l h a n t e a 3 7 ° C . O m é t o d o é trabalhoso e m u i t o subjetivo.
M u i t a s dessas inclusões estão presentes e m i n d i v í d u o s c o m
d o e n ç a d e H b H , e n q u a n t o células c o n t e n d o inclusões são raras
entre i n d i v í d u o s com traço talassemico.

Testes para Hemoglobinas Instáveis


O t r a t a m e n t o da a m o s t r a d e sangue c o m a q u e c i m e n t o a 5 5 ° C a
6 0 ° C o u c o m i s o p r o p a n o l é u s a d o para detectar a presença de
h e m o g l o b i n a s instáveis. Por exemplo, as h e m o g l o b i n a s instáveis
precipitam sob essas condições e são detectadas p o r u m a u m e n t o
da turbidez o u pela precipitação incompleta da amostra após tra-
t a m e n t o . A H b A n o r m a l leva cerca de 4 0 m i n u t o s para precipitar,
mas as h e m o g l o b i n a s instáveis precipitam e m 3 a 4 m i n u t o s .

FERRO Figura 2 8 - 5 Teste de solubilidade da Hb S. A desoxiemoglobma S


N o r m a l m e n t e , q u a n t i d a d e s m u i t o p e q u e n a s de f e r r o estão pre-
(tubo da esquerda) é insolúvel em t a m p ã o fosfato 2,.3 m o l / L . A o
sentes na m a i o r i a das células do c o r p o , n o plasma e e m outros
contrário, o h e m o l i s a d o n o r m a l (iubo da direita) é t r a n s p a r e n t e o
f l u i d o s extracelulares. Fisiologicamente, o c o r p o c o n s e r v a rigoro-
suficiente para q u e o i m p r e s s o seja f a c i l m e n t e lido através dele.

QUADRO 28-1 Utilizaçao da Análise d e DNA p a r a Investigar


TABELA 2 8 - 1 | Conteúdo Médio de Ferro dos
Hemoglobínopatias e Talassemias
Compartimentos de um Homem Médio de 70 kg12
Diagnosticar e caracterizar adalassemias. Compartimento Conteúdo de Ferro Total de Ferro no Corpo
Investigar distúrbios potencialmente fatais da síntese de hemoglobina no teto;
é realizada antes de 10 semanas de gestação em amostras de vilcsidaties Ferro da hemoglobina 2.000 67
coricnicas. Ferro de armazenamento 1.000 27
Caracterizar o genótipo de p-talassemia. (ferritina, hemossiderina)
Rastrear populações em risco para variantes de hemoglobina clinicamente Ferro da mioglobina 130 3,5
significantes Poo! lábil 80 2,2
Distinguir condições que têm apresentações clínicas e laboratoriais similares, Outro ferro tecidual 8 0,2
mas são devidas a condições genéticas diferentes. Ferro de transporte 3 0,08
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubíria CAPÍTULO 2 8 531

f e r r i t i n a é q u e b r a d a n o s Iisossomos s e c u n d á r i o s . A hemosside- e m soluções aquosas. C o m o a ferritina, a h e m o s s i d e r i n a n o r m a l -


rina, p o r t a n t o , parece r e p r e s e n t a r o p o n t o final d a via d e arma- m e n t e é e n c o n t r a d a p r e d o m i n a n t e m e n t e e m células d o fígado,
z e n a m e n t o intracelular d o f e r r o A f e r r i t i n a consiste e m u m a b a ç o e m e d u l a óssea.
c o n c h a de a p o f e r r i t i n a c o m p o s t a de 24 s u b u n i d a d e s , as quais são
cadeias d e ferritina L (leve) ou H (pesada) e u m n ú c l e o cristalino Ferro Tecidual
i n t e r n o d e oxiidróxido férrico ( F e O O H ) x (Figura 28-6). N u m e r o s a s enzimas e c o e n z i m a s celulares n e c e s s i t a m de ferro,
A ferritina é e n c o n t r a d a e m quase todas as células d o c o r p o . c o m o u m a p a r t e integral da m o l é c u l a ou c o m o u m co-fator.
N o s h e p a t ó c i t o s d o fígado e e m macrófagos, a f e r r i t i n a f o r n e c e Notáveis são as peroxidases e os cito cromos que, c o m o a h e m o g l o -
u m a reserva d e f e r r o p r o n t a m e n t e disponível p a r a a f o r m a ç ã o de b i n a , são h e m e p r o t e í n a s . O u t r a s enzimas, c o m o a aconitase e a
h e m o g l o b i n a e outras h e m e p r o t e í n a s . É a r m a z e n a d a d e f o r m a ferredoxina, c o n t ê m ferro q u e está c o o r d e n a d o c o m o e n x o f r e e m
q u e o ferro fica p r o t e g i d o dos f l u i d o s c o r p o r a i s e é incapaz de u m clusfer ( a g r u p a m e n t o ) ferro-enxofre. Essas enzimas e coenzi-
p r o d u z i r d a n o oxidativo, o q u e p o d e r i a ocorrer caso ele estivesse mas, q u e a p a r e c e m e m t o d a s as células n u c l e a d a s d o c o r p o , são
n a f o r m a iônica. N o s h o m e n s , a q u a n t i d a d e d e ferro a r m a z e n a d o d e n o m i n a d a s c o l e t i v a m e n t e compartimento de ferro teci dual, nor-
é a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 0 mg, p r i n c i p a l m e n t e c o m o ferritina; e m malmente correspondendo a aproximadamente 8 mg
m u l h e r e s saudáveis, ela é de cerca de 2 0 0 mg. P e q u e n a s quanti-
d a d e s de f e r r i t i n a t a m b é m estão presentes n o soro em concentra-
ções a p r o x i m a d a m e n t e proporcionais ao a r m a z e n a m e n t o de ferro Mioglobina
corporal total. Lesão hepática e u m g r a n d e n ú m e r o de processos A m i o g l o b i n a assemelha-se m u i t o a u m a ú n i c a s u b u n i d a d e de
patológicos resultam n a liberação de q u a n t i d a d e s relativamente h e m o g l o b i n a , c o n t e n d o u m ú n i c o h e m e p o r molécula.
grandes de ferritina n o plasma.
O Pool Lábil de Ferro
Hemossiderina A p r o x i m a d a m e n t e 80 m g de f e r r o são e n c o n t r a d o s n o pool lábil.
A h e m o s s i d e r i n a é u m a ferritina agregada, p a r c i a l m e n t e despro- Esse c o m p a r t i m e n t o n ã o tem localização a n a t ô m i c a clara; n a
teinizada. A o c o n t r á r i o da ferritina, a h e m o s s i d e r i n a é insolúvel verdade, ele é u m c o n c e i t o d e r i v a d o de m e d i d a s cinéticas c o m
ferro m a r c a d o r a d i o a t i v a m e n t e . 1 6

Transporte d e Ferro
H24L0 O ferro é t r a n s p o r t a d o d e u m órgão a o u t r o p o r u m a p r o t e í n a
plasmática de t r a n s p o r t e d e ferro, apotransferrina. O c o m p l e x o
apotransferrina-Fe 1 ' é c h a m a d o transferrina. N o r m a l m e n t e j h á
u m total de a p r o x i m a d a m e n t e 2,5 m g de ferro n o plasma.
Células HeLa Q u a n d o a t r a n s f e r r i n a se liga ao receptor de transferrina nas células,
o c o m p l e x o t r a n s f e r r i n a / r e c e p t o r é i n t e r n a l i z a d o e m u m endos-
s o m o . Ele, e n t ã o , se t o r n a acidificado, l i b e r a n d o o ferro p o r sua
Músculo transferência e r e d u ç ã o a íon ferroso (Fe 2 í ), q u e é depois trans-
Timo p o r t a d o n a célula através d o t r a n s p o r t a d o r d e metais divalentes,
o D M T 1 . A a p o t r a n s f e r r i n a éj e n t ã o , t r a n s p o r t a d a de volta para
Células vermelhas
a superfície celular, p r o n t a p a r a t r a n s p o r t a r u m a o u t r a m o l é c u l a
do sangua
d e t r a n s f e r r i n a para o i n t e r i o r d a célula. Essa série de reações t e m
sido d e n o m i n a d a ciclo da transferrirux.
Cérebro
Coração R e g u l a ç ã o da H o m e o s t a s e do Ferro
A q u a n t i d a d e de ferro p e r d i d a d o c o r p o d e p e n d e a p e n a s m i n i m a -
m e n t e da carga d e ferro. A regulação d o c o n t e ú d o de ferro cor-
/ ^ ' V. X \
poral é, p o r t a n t o , alcançada quase i n t e i r a m e n t e pela m o d u l a ç ã o
d a q u a n t i d a d e de ferro a b s o r v i d o d o trato intestinal superior.

" • C o Balanço de Ferro Normal


A regulação d o c o n t e ú d o d e ferro c o r p o r a l é alcançada quase q u e
Linfócitos
c o m p l e t a m e n t e pela m o d u l a ç ã o d a q u a n t i d a d e d e ferro a b s o r v i d o
do trato intestinal superior. A dieta americana média fornece 10 a
Figado 15 m g de ferro diariamente, em grande parte em forma de (1) heme-
Baço
proteínas, (2) h e m o g l o b i n a e (3) mioglobina da carne. Normal-
m e n t e , cerca d e i m g de ferro é absorvido a cada dia, principalmence
n o d u o d e n o . O h e m e é absorvido, diretamente c o m o tal, através de
Soro
u m receptor específico. 12 Para ser absorvido, o ferro inorgânico deve
H0L24 estar n o estado ferroso (Fe2+).

•v_ys
Proteínas que Afetam a Homeostase do Ferro
Várias p r o t e í n a s d e s e m p e n h a m u m a f u n ç ã o na h o m e o s t a s e d o
Figura 2 8 - 6 Representação esquemática da estrutura de ferro. M u t a ç õ e s nessas p r o t e í n a s e m h u m a n o s e / o u suas inter-
s u b u n i d a d e s de ferritinas de vários tecidos. (De Harrison PM, Arosio P. r u p ç õ e s d i r e c i o n a d a s o u s u p e r p r o d u ç ã o e m ratos r e s u l t a m e m
T h e ferritins: molecular properties, iron storage f u n c t i o n a n d cellular / sobrecarga ou deficiência de ferro. A Tabela 28-2 r e s u m e os
regulation. Biochim Biophys Acta 1996; 1275-161-203 ) efeitos de a l g u m a s dessas p r o t e í n a s n a h o m e o s t a s e d o ferro. A
532 PARTE IV Analitos

TABELA 2 8 - 2 Proteínas que Afetam a Homeostase de Ferro


Proteína Efeito da Deficiência Suposta Função Comentários

HFE Fe aumentado Pode transmitir sinal que estimula a hepicidina A maioria dos pacientes ccm
hemocromatose hereditária é
homozigota para a mutação
845 A ^ G (C282Y) nesse gene
p-microglobina Fe aumentado Transporta HFE para a membrana
Transferrina Fe aumentado Transporta ferro no plasma
Receptor de transferrina-1 Letal, Fe de CNS aumentado Liga e internaliza a transferrina na membrana
Receptor de transferrina-2 Fe aumentado Pode transmitir sinal que estimula a
hepicidina
Ferroportina (SLC11A3] Fe aumentada Uma proteína transmembrana de transporte Herança dominante de sobrecarga de
de ferre que atua como receptor de ferro
hepicidina
Hefaestina Deficiência de Fe Oxida o íon ferroso a íon férrico na membrana Codificada por um gene ligado ao
intestinal luminal sexo. A deleção é a causa de
camundongos s/a
DMT1 Deficiência de Fe em roedores; Transporta íon terroso através das As mutações de ocorrência natural
sobrecarga de ferro em membranas encontradas no camundongo mke
humanos no rato Belgrade são as mesmas
Ceruloplasmina Fe aumentado Oxida ien ferrosa a íon férrico no plasma Acúmulo no cérebro e doença
neurológica
Hepicidina Fe aumentado Bloqueia o transporte de ferro pela ferroportina
Steap3 Deficiência de Fe Reduz o ferro no endossemo.

função exata d e cada uma dessas proteínas, entretanto, não é n ú m e r o de exames que tem sido preconizado para o diagnóstico
c o m p l e t a m e n t e entendida. de deficiência de ferro é um reflexo do fato que n e n h u m deles
sozinho é suficiente para detectai a deficiência de ferro moderada
I m p o r t â n c i a Clínica o u a deficiência de ferro e m uma circunstância clinicamente
A deficiência e m ferro e a sobrecarga de ferro são os principais complexa. N ã o existe u m m é t o d o melhor e vários estudos diferem
distúrbios d o metabolismo do ferro. Existem, além dessas, muitas nas conclusões obtidas com relação às vantagens de u m m é t o d o
doenças em q u e a distribuição anormal de ferro pode ter uma sobre o outro. 3
função primária o u secundária. A s últimas incluem doenças
c o m o (1) hiperferritinemia c o m catarata, (2) aceruloplasmine-
mia, (3) síndrome G R A C I L E (retaido do crescimento, aminoaci- Sobrecarga de Ferro
dúria, colestase, sobrecarga de feiro, lactacidose e morte precoce), O s termos sobrepostos hemossiderose e hemocromatose são con-
(4) neuroferritínopatia, (5) atransferrinemia e, possivelmente, dições associadas à sobrecarga de ferro.
(6) doenças neurodegenerativas, tais c o m o parkinsonismo, sín-
drome de Hallervorden-Spatz e doença de Alzheimer. Hemossiderose
H e m o s s i d e r o s e é u m termo usado para indicar sobrecarga de
Deficiência de Ferro ferro sem lesão tecidual associada. Ela ocorre localmente e m sítios
A deficiência de ferro é a doença mais prevalente em h u m a n o s . de hemorragia ou inflamação e pode ser generalizada e m pessoas
E particularmente uma doença de (1) crianças, (2) mulheres às quais tenha sido dada grande quantidade de ferro, c o m o medi-
jovens e (3) pessoas mais velhas, mas ocorre em pessoas de todas cação ou c o m o transfusões d e sangue.
as idades e classes sociais. Em crianças, ela é freqüentemente
devida à deficiência na dieta porque o leite contém baixo teor de Hemocromatose
ferro. Em adultos, ela é quase sempre resultado de perda crônica A h e m o c r o m a t o s e é uma doença na qual o corpo acumula quan-
de sangue o u parto.' 3 tidades excessivas de ferro. O s sintomas dc hemocromatose
Muitas medições diferentes têm sido preconizadas para o diag- incluem a "tríade clássica" de (1) bronzeamento da pele, (2) cirrose
nóstico de deficiência de ferro. Originalmente, ênfase foi dada aos e (3) diabetes. Outras manifestações incluem ca rd io mi opa tias e
índices de RBC. A anemia hipocrômica era geralmente conside- arritmias, deficiências endócrinas e possíveis artropatias.
rada u m s i n ô n i m o de deficiência de ferro na primeira metade do A hemocromatose secundária é a conseqüência da adminis-
século XX. Mais tarde, (1) a coloração da medula paTa identificação tração aumentada de ferro na forma de transfusões de sangue
de ferro, e as dosagens de (2) ferro sérico, (3) capacidade de ligação freqüentemente acompanhada pela absorção excessiva de ferro
de ferro, (4) ferritina sérica e (5) protoporfirina n o eritrócito se da dieta. As causas mais c o m u n s de hemocromatose secundária
tornaram úteis e são usadas e estudadas amplamente por suas são a talassemia major e os estados mielodisplásicos adquiridos,
capacidades de diagnosticar a deficiência de ferro. Tem sido obser- mas existem muitas doenças raras nas quais ocorre a sobrecarga
vado, também, que valores de receptor de transferrina circulante de ferro secundária.
e de hemoglobina no reticulõcito têm utilidade diagnostica. A o contrário da h e m o c r o m a t o s e secundária, a hemocromatose
Embora a maioria dos métodos identifique muito pronta- hereditária resulta de anormalidades herdadas de proteínas que
m e n t e a deficiência de ferro grave e não complicada, o grande regulam a homeostase do ferro. N o s últimos anos recentes, as
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 533

lesões genéticas responsáveis p o r m u i t a s f o r m a s d a d o e n ç a t ê m A c a p a c i d a d e d e ligação d e f e r r o i n s a t u r a d a sérica e a capaci-


sido descobertas. d a d e total de ligação d e ferro (T1BC) são d e t e r m i n a d a s pela
Hemocromstose Primária. Ahemocromatose hereditária é a d o e n ç a adição de Fe 3 " suficiente p a r a saturar os sítios de ligação ao ferro
clássica de sobrecarga d e ferro. Cerca de 10% a 15% dos norte- da t r a n s f e r r i n a . O excesso de Fe 3+ é r e m o v i d o , p o r exemplo, pela
e u r o p e u s são heterozigotos p a r a u m a m u t a ç ã o d o gene HFE, a d s o r ç ã o ao p ó leve d e c a r b o n a t o d e m a g n é s i o (MgCC^), e o
c . 8 4 5 G > A (C282Y) e, p o r t a n t o , a p r o x i m a d a m e n t e 5 / 1 . 0 0 0 são e n s a i o para o c o n t e ú d o d e ferro é, e n t ã o , r e p e t i d o . A T I B C é
homozigotos. O p r o d u t o gênico H F E parece ser necessário p a r a o b t i d a a p a r t i r dessa s e g u n d a m e d i ç ã o .
que a h e p i c i d i n a seja f o r m a d a c o m o u m a resposta à sobrecarga A s a t u r a ç ã o da t r a n s f e r r i n a é calculada c o m o a seguir:
d e ferro, mas os m e c a n i s m o s exatos pelos quais isso ocorre n ã o
são c o n h e c i d o s . A p e n e t r â n c i a b i o q u í m i c a d o estado h o m o z i g o t o S a t u r a ç ã o d a t r a n s f e r r i n a (%) = 100 x ferro s é r i c o / T I B C
para a m u t a ç ã o p r i n c i p a l (C282Y) é b a s t a n t e elevada. Mais de
5 0 % de tais i n d i v í d u o s têm saturações d a t r a n s f e n i n a e / o u con- Importância Clinica
centrações de ferritina elevadas 4 , e cerca d e 10% têm atividades A c o n c e n t r a ç ã o de ferro sérico se refere ao Fe 3+ ligado à transfer-
d e t r a n s a m i n a s e s g l u t â m i c o oxalacético séricas elevadas. Primeira- r i n a sérica e n ã o inclui o ferro c o n t i d o n o soro c o m o h e m o g l o b i n a
m e n t e , pensava-se q u e m u i t o s o u que a m a i o r i a dos h o m o z i g o t o s livre. A c o n c e n t r a ç ã o de ferro sérico está d i m i n u í d a e m m u i t o s ,
fossem s e r i a m e n t e afetados, 1 8 m a s agora se sabe que a p e n e t r â n c i a mas n ã o e m todos os pacientes c o m a n e m i a p o r deficiência de
clínica d o estado h o m o z i g o t o é m u i t o baixa, provavelmente d a ferro e e m d o e n ç a s i n f l a m a t ó r i a s crônicas, tais c o m o infecção
o r d e m d e 1%. 5 R a r a m e n t e a h e m o c r o m a t o s e hereditária resulta aguda, i m u n i z a ç ã o e i n f a r t o d o m i o c á r d i o (Tabela 28-3).
d e m u t a ç õ e s n o gene d o receptor de transferrina 2. C o n c e n t r a ç õ e s de ferro sérico maiores d o q u e o n o r m a l
A hemocromatose juveni! é u m a d o e n ç a h e r d a d a r a r a q u e se o c o r r e m (1) n o s d i s t ú r b i o s de carga de ferro, tais c o m o h e m o c r o -
a s s e m e l h a c l i n i c a m e n t e à h e m o c r o m a t o s e hereditária, m a s q u e matose, (2) e m pacientes c o m a n e m i a aplástica, (3) e m envene-
t e m u m a m é d i a de i d a d e de início m u i t o .mais precoce e u m a n a m e n t o a g u d o p o r f e r r o e m crianças, (4) a p ó s i n g e s t ã o o r a l
t e n d ê n c i a m a i o r ao d e s e n v o l v i m e n t o d e m a n i f e s t a ç õ e s endócri- de ferro c o m o m e d i c a m e n t o , (5) após a d m i n i s t r a ç ã o parenteral de
nas e cardíacas d o q u e a h e m o c r o m a t o s e hereditária. A m u t a ç ã o f e r r o o u (6) e m h e p a t i t e a g u d a . P o r e x e m p l o , u m c o m p r i m i d o
n ã o é n o gene HFE, mas n o g e n e q u e codifica a h e m o j u v e l i n a de 0,3 g de sulfato ferroso ingerido por u m a d u l t o p o d e a u m e n -
ou n o q u e codifica a h e p i c i d i n a . 2 0 t a r a c o n c e n t r a c ã o d e f e r r o sérico d e 5 0 a 9 0 f i m o l / L ( 3 0 0 a
A f o r m a d o m i n a n t e m e n t e h e r d a d a de d o e n ç a d e armazena- 5 0 0 iug/dL).
m e n t o d o ferro resulta d e m u t a ç õ e s n a f e r r o p o r t i n a (SLC11A3). T i p i c a m e n t e , cerca d e u m terço d o s sítios de ligação ao ferro
Nesse caso, o a r m a z e n a m e n t o d e ferro f r e q ü e n t e m e n t e o c o r r e d a t r a n s f e r r i n a é o c u p a d o p o r Fe , + . A t r a n s f e r r i n a sérica, por-
principalmente nos macrófagos, não n o parênquima hepático. O t a n t o , tem c a p a c i d a d e de ligação a o ferro de reserva considerável.
a c ú m u l o de ferro p a r e c e ser m a i s c o m u m e m a f r i c a n o s d o q u e Isso é c h a m a d o capacidade de ligação ao f e r r o i n s a t u r a d a sérica.
e m e u r o p e u s . E m b o t a a d i e t a possa ter u m p a p e l p r i n c i p a l , acre- A T I B C é u m a m e d i d a d a c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a de f e r r o q u e a
dita-se q u e exista, t a m b é m , u m a p r e d i s p o s i ç ã o genética q u e p o d e t r a n s f e r r i n a liga. A T I B C sérica varia e m d i s t ú r b i o s d o m e t a b o -
ser responsável p e l o a u m e n t o d a carga d o ferro, e u m polimor- lismo d o ferro. Está f r e q ü e n t e m e n t e a u m e n t a d a n a deficiência
f i s m o que parece ser u m fator d e risco t e m sido i d e n t i f i c a d o e n t r e d e ferro e d i m i n u í d a nas d o e n ç a s i n f l a m a t ó r i a s crônicas o u
africanos/0 malignas, e está f r e q ü e n t e m e n t e d i m i n u í d a , t a m b é m , n a h e m o -
Hemocromatose Secundária. A causa mais c o m u m de sobre- cromatose.
carga de ferro s e c u n d á r i a é a P-talassemia. As anemias sideroblásti-
cas são u m g r u p o d e d i s t ú r b i o s de carga d e ferro, m u i t o s dos Comentários e Precauções
quais são d e causa d e s c o n h e c i d a . E m u m tipo h e r e d i t á r i o dessa Exceto q u a n d o a espectroscopia p o r absorção a t ô m i c a é u s a d a , a
d o e n ç a , h á a deficiência d e ácido 5 - a m i n o l e v u l í n i c o sintetase h e m ó l i s e t e m m u i t o p o u c o efeito n o s r e s u l t a d o s da d o s a g e m de
específica de eritrócito e m precursores de R B C , devida a m u t a - ferro sérico p o r q u e o ferro d a h e m o g l o b i n a n ã o é l i b e r a d o d o
ções e n v o l v e n d o o gene ligado ao X q u e codifica essa enzima. 8 O h e m e p e l o t r a t a m e n t o c o m ácido. E n t r e t a n t o , q u a n d o as amos-
a r m a z e n a m e n t o de f e r r o é c o m u m e m pacientes c o m a n e m i a tras d e soro m o s t r a m h e m ó l i s e i m p o r t a n t e , u m a p e q u e n a q u a n -
díseritropoiética c o n g ê n i t a e p o d e ser e n c o n t r a d o e m pacientes t i d a d e de ferro p o d e ser liberada da h e m o g l o b i n a .
c o m deficiências de enzimas d e R B C , p a r t i c u l a r m e n t e deficiên- M u i t o s fatores i n f l u e n c i a m a c o n c e n t r a ç ã o de ferro sérico e
cia e m p i r u v a t o q u i n a s e . a T I B C . Variações q u e p o d e m ser observadas e m diversas condi-
ções fisiológicas o u patológicas estão listadas n a Tabela 28-3.
Metodologia Analítica Variações n o dia-a-dta são b a s t a n t e a c e n t u a d a s e m pessoas saudá-
Vários m é t o d o s são u s a d o s p a r a a d o s a g e m de f e r r o e analitos veis. U m a variação d i u r n a d i s t i n t a resulta e m c o n c e n t r a ç õ e s
r e l a c i o n a d o s . E n t r e eles estão os m é t o d o s para (1) ferro sérico, de ferro sérico m e n o r e s de t a r d e d o q u e pela m a n h ã e a c e n t u a -
(2) c a p a c i d a d e de ligação de ferro, (3) s a t u r a ç ã o d a t r a n s f e r r i n a d a m e n t e baixas à n o i t e (tão baixas q u a n t o 2 a 4 ( i m o l / L [10 a
e (4) f e r r i t i n a sérica. 20 p g / d L ] e m pessoas saudáveis). D e v i d o às n u m e r o s a s causas d e
c o n c e n t r a ç ã o baixa de ferro sérico, os r e s u l t a d o s devem ser inter-
Métodos para a Determinação de Ferro Sérico, p r e t a d o s c o m c u i d a d o . A l é m disso, i n d i v í d u o s c o m deficiência
Capacidade de Ligação de Ferro e Saturação da m o d e r a d a d e ferro, algumas vezes, a p r e s e n t a m valores n o r m a i s
Transferrina d e c o n c e n t r a ç ã o d e ferro sérico e T I B C .
Princípio
O ferro é l i b e r a d o d a t r a n s f e r r i n a pelo d e c r é s c i m o d e p H d o soro; Métodos para a Determinação de Ferritina Sérica
ele é r e d u z i d o de Fe 3 a Fe 2+ e, e n t ã o , c o m p l e x a d o c o m u m cro- Princípio
m ó g e n o , tal c o m o b a t o f e n a n t r o l i n a o u ferrozina. Tais c o m p l e x o s A d o s a g e m d e f e r r i t i n a sérica p o d e ser Tealizada p o r q u a l q u e r u m
f é r r o - c r o m ó g e n o têm u m a absorva ncia e x t r e m a m e n t e alta n o d e vários m é t o d o s , i n c l u i n d o (1) ensaio i m u n o r r a d i o m é t r i c o ,
c o m p r i m e n t o de o n d a a d e q u a d o , q u e é p r o p o r c i o n a l à concen- (2) ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) e métodos (3) imu
tração de ferro. n o q u i m i o l u m i n e s c e n t e s e (4) i m u n o f l u o r o m é t r i c o s . O s reagentes
534 PARTE IV Analitos

TABELA 2 8 - 3 Condições Conhecidas que Afetam as Concentrações Séricas de Ferro, a Capacidade Total de Ligação de Ferro e a
Saturação da Transferrina
Condição Efeito
Variação diurna Valores normais pela manhã; valores baixos no meio da tarde; valores muito baixos próximo
à meia-noite
Cicio menstrual Antes da menstruação, valores elevados (SI aumentada de 10%-30%); durante a menstruação,
valores baixos (SI diminuído em 10%-3O%)
Gravidez Pode aumentar SI devido ao aumento de progesterona; pode diminuir SI devido à deficiência de ferro
Ingestão de lerro (inclusive vitaminas com ferro) Valores altos; pode aumentar SI em + 54 ^mol/L (+ 300 ng/dL) e Tsat em 100%
Contraceptivos orais (semelhantes a progesterona) Valores altos; pode aumentar SI para > 36 ^mol/L {> 200 pg/dL) e Tsat em 75%; também aumenta
Tl BC
Contaminação per ferro de seringa, tubo Vacutainer ou Valores altos; p. ex., SI > 30 pmol/L (> 170 pg/dL); Tsat de 75%-100%
outras vidrarias (o fenômeno pode ser rara, esporádico,
muito difícil de ser provado)
Injeção de ferro dextrano Valores muito altos; SI pode ser > 180 jimol/L (> 1.000 ug/dL), Tsat 100%; provavelmente a partir do
ferro dextrano circulante; o efeito pode persistir por várias semanas
Hepatite Valores muito altos; SI pode ser >180 (amoVL (:> 1.000 pg/dL) devido à hiperferritinemia de injúria do
tiepafócito
Inflamação aguda (infecção respiratória), abscesso, SI baixo ou normal; Tsat normal ou baixa
imunização, infarto do miocárdio
Inflamação crônica ou malignidade SI baixo ou normal; Tsat normal ou baixa
Deficiência de ferro SI baixo ou normal; Tsat baixa normal; TIBC aumentada
Sobrecarga de ferre (hemocromatose) SI alto; Tsat alta; TIBC normal ou baixa

De FíiítÍmiiÍíj VF. Laboratot) testing for iron status. Hosf> Pract 199^,26:19.
SI, conc£n£iafdo àe ferre sérico; TIBC, Capacidade temi de ligação de ferro, Tsat, saturação da transferrina.

para esse ensaio estão disponíveis na forma de kit e em instrumen- tem-se mostrado útil para diferenciar a anemia por deficiência de
tos de imunoensaio automatizados de diversos fabricantes. ferro daquela por inflamação crônica,' embora exista considerável
sobreposição entre essas categorias diagnosticas.
Importância Clínica
A ferritina está presente n o sangue em concentração muito baixa.
Embora seja uma proteína de fase aguda, sob condições normais BILIRRUBINA
ela reflete grosseiramente o teor de ferro corporal. A proteína A bilirrubina é o pigmento amarelo-alaranjado derivado das
circulante é basicamente a apofeiritina. Ela é pobre e m ferro e RBCs senescentes. A p ó s a formação nas células reticuloendote-
consiste principalmente e m cadeias L glicosiladas, pobres em liais, a bilirrubina é transportada e biotransformada principal-
ferro. A concentração de ferritina plasmática declina muito pre- mente n o fígado e excretada na bile e na urina.
cocemente no desenvolvimento da deficiência em ferro, muito
antes que sejam observadas variações na concentração de hemo-
globina d o sangue, n o t a m a n h o da R B C o u na concentração de Química
ferro sérico. Dessa forma, a dosagem da concentração de ferritina A bilirrubina é uma molécula tecrapirrólica linear (Figura 28-7)
sérica é usada c o m o u m indicador muito sensível da deficiência que é insolúvel e m água e prontamente solúvel em vários solven-
de ferro, que não é complicada por outras doenças concorrentes. tes apoiares. Ela tem tanto ísômeros trans quanto eis. Q u a n d o
Alternativamente, u m grande n ú m e r o de doenças crônicas resulta exposta à luz, a bilirrubina na configuração trans é convertida à
em concentração de ferritina sérica aumentada (Tabela 28-3). configuração eis, que é mais hidrossolúvel. Na prática, esta é a
justificativa clínica para a exposição de neonatos que t e n h a m
Método para a Determinação do Receptor de icterícia clinicamente significante à luz, para reduzir as concen-
Transferrina Sérica trações plasmáticas de bilirrubina não-conjugada. As quatro
As membranas celulares dos precursores de R B C em desenvolvi- frações de bilirrubina que t ê m sido isoladas do soro estão listadas
m e n t o na medula óssea são m u i t o ricas e m receptores de trans- n o Quadro 28-2.
ferrina, aos quais o complexo ferro-transferrina se liga antes de
ser internalisado e o ferro ser liberado da transferrina n o citossol.
O n ú m e r o de receptores de transferrina aumenta na presença de Bioquímica
deficiência de ferro e d i m i n u i n o excesso de ferro. Essas variações A bilirrubina I X a é produzida a partir d o catabolismo da pT0t0-
na quantidade de receptores de transferrina no tecido eritropoi- porfirina IX por uma h e m e oxigenase microssômica. O produto
ético são, também, refletidas e m variações n o receptor de trans- tetrapirrólico da abertura do anel na p o n t e a - m e t e n o é o pig-
ferrina sérico, mas, e m grande parte, os valores de receptor de m e n t o verde biliverdina, a qual é subseqüentemente reduzida à
transferrina sérico refletem a quantidade de atividade ertitropni- bilirrubina por uma enzima citossólica biliverdina redutase
ética, i n d e p e n d e n t e m e n t e do estado de ferro d o paciente. (Figura 28-8). Para cada mol de heme catabolisado por essa via,
é produzido u m m o l de (1) m o n ó x i d o de carbono, (2) bilirrubina
Método para a Determinação do Conteúdo de e (3) ferro férrico. A produção diária de bilirrubina a partir de
Hemoglobina no Reticulócito (CHr) todas as fontes no h o m e m é, e m média, de 2 5 0 a 3 0 0 mg. Apro-
Dispositivos automáticos que m e d e m o conteúdo de hemoglobina ximadamente 85% do total de bilirrubina produzida são deriva-
nos reticulócitos estão disponíveis comercialmente, e sua dosagem dos da porção h e m e da h e m o g l o b i n a liberada dos eritrócitos
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 535

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Figura 28-7 E s t r u t u r a da b i l i r r u b i n a I X a . Acima, A e s t r u t u r a de y e / r "Y S
tetrapirrol a b e r t a ou lineaT m o s t r a n d o as ligações Z. Abaixo, A i\.J
H H
c o n f o r m a ç ã o f e c h a d a m o s t r a n d o extensivas p o n t e s de h i d r o g ê n i o / \ ^ liv^fcn,. lX.i
\
internas. (Reimpresso com p e r m i s s ã o de Elsevier Science P u b l i s h i n g /-íN v
N —í
Co., Inc., de S c h i m d R. Bilirubin metabolisni: state of t h e a n . y,!
G a s t r o e n t e r o l o g y 1978'74:1307-12, com p e r m i s s ã o da A m e r i c a n
M e - —CIT,
Gastroenterological Association.)
Vn- CH=CH-j
VIA 1)1*11 11 ~J
•» è-.V»J . J Ceí- CU- CU, COOH
TYkitfl *!/-
Q U A D R O 2 8 - 2 | F r a ç õ e s de Bilirrubina ^ NAD? i"|• ~ HluvlIlMIlleivMI

Bilirrubina não-conjugada (a-úilirrubina) VfT - v Jo rransivíitc


iL IJLÍHHI.* li'.iwtxx(NCiiir;ii
Bilirrubina monoconjugada (p-bilirrubina) vil >.C
Bilirrubina desconjugada {y-bilirrubina) .Ott. .A
Vr.y Y Y % V
Uma fração irreversivelmente ligada à proteína (S-bilirrutina)
V-ri /
/ H Tí' V liiinuiiiiii: IXa
\ HH /

y M]
T
Ltl
senescentes, q u e são d e s t r u í d o s n a s células reticulocndotcliais d o
fígado, d o b a ç o e da m e d u l a óssea. O s 1 5 % restantes são p r o d u -
zidos a partir d o c a t a b o l i s m o de o u t r a s proteínas q u e c o n t ê m Figura 2 8 - 8 C a t a b o l i s m o d o berne a b i l i r r u b i n a I X a . (De B e r l m

h e m e , tais c o m o m i o g l o b i n a , c i t o c r o m o s e peroxidases. N I , Berk PD. Q u a n t i t a t i v e aspects o f b i l i r r u b i n m e t a b o l i s n i for

N o sangue, a b i l i r r u b i n a é ligada à a l b u m i n a e t r a n s p o r t a d a hematologists. Blood 1981:57-983-99)

para o fígado. A b i l i r r u b i n a e n t ã o se dissocia d a a l b u m i n a n a


m e m b r a n a d o h e p a t ó c i t o . D e p o i s , ela é t r a n s p o r t a d a através d a
m e m b r a n a (Figura 28-9). D e n t r o das células hepáticas, a bilirru-
bina é reversivelmente ligada a p r o t e í n a s solúveis c o n h e c i d a s
c o m o l i g a n d m a s ou p r o t e í n a Y. As ligandinas t a m b é m ligam nios. Eles c o n t ê m 6, 8 o u 12 á t o m o s de h i d r o g ê n i o a mais d o q u e
vários o u t r o s compostos, tais c o m o (1) esteróides, (2) bromossul- a b i l i r r u b i n a e são d e n o m i n a d o s (1) ejtercobilinogénio, (2) mesobiíi-
faleina (BSP), (3) verde de i n d o c i a n i n a e (4) alguns carcinógenos. nogênio e (3) urobitinogénio, respectivamente Parte d o urobilinogê-
N o i n t e r i o r dos hepatócitos, a b i l i r r u b i n a é r a p i d a m e n t e conju- nio é r e a b s o r v i d o d o intestino, c a p t a d o pelo fígado e reexcretado
gada c o m o ácido glicurônico p a r a p r o d u z i r m o n o e diglicuroní- na bile. U m a p e q u e n a p a r t e e n t r a n a circulação geral e aparece
d e o de b i l i r r u b i n a , q u e são, e n t ã o , excretados n a bile (Figura na u r i n a . N o trato intestinal inferior, os três u r o b i i i n o g ê n i o s são
28-10). A e n z i m a m i c r o s s ô m i c a b i l i r r u b i n a u r i d i n a difosfato oxidados aos p i g m e n t o s biliares c o r r e s p o n d e n t e s (1) estercobilma,
(UDP)-glicuronosiltransferase ( E C 2.4-1 17) catalisa a f o r m a ç ã o (2) m e s o b i l i n a e (3) urobilina, q u e são m a r r o m - a l a r a n j a d o s e os
de m o n o g h c u r o n í d e o de b i l i r r u b i n a e, talvez, a conversão de principais p i g m e n t o s das fezes.
m o n o g l i c u r o n í d e o a d i g l i c u r o n í d e o . N o i n t e s t m o , os glicuroní-
deos de bilirrubina são h i d r o l i s a d o s p o r P-glicuronidases d o
fígado, das células intestinais epitehais e de bactérias. A bilirru- Importância Clínica
b i n a n ã o - c o n j u g a d a é, então, reduzida pela m i c r o b i o t a intestinal Defeitos n o m e t a b o l i s m o da b i l i r r u b i n a r e s u l t a n d o e m icterícia
a três tetrapirróis incolores coletivamente c h a m a d o s urobilinogê- p o d e m ocorrer e m cada u m a das etapas d a via m e t a b ó l i c a (Figura
536 PARTE IV Analitos

Pool da
, heme livre /

/Macro moléculas % /
; BR-citossólicas *| Biliverdina
Receptor \(p. ex.. lioandina)J / Herreprateinas \
de (p. ex., citocromo P4Í:0) >
/Blllrrubimi (BR)\ afbiMiínf)?
V Albumina / /
BR / J

Itutispudo rrtumbr&nâ- Monoíjlicuronideo


/ - ?
mcmbrons? det3R

Bilirrubina (BR)
Protoiim Dialicurondeo
rfà ligaçüo de BR \ '
d& ânion s
OíQànkxi? Rfltículo UDP-glicu ronosiltrs nsferase
sndopiasmátK»
Momfcwarw
Msmbrarui canalicular
Plasma sinusoidai

Figura 2 8 - 9 C a p t a ç ã o , m e t a b o l i s m o e t r a n s p o r t e de b i l i r r u b i n a n o h e p a t ó c i t o . (De G o l i a n JL, S c h m i d R.


Bilirubin m e t a b o h s m . In P o p p e r H , S c h a f f n e r F, eds. Progress in liver diseases, Vol. 7, C h a p t e t 15. Philadeíphia:
W B S a u n d e r s C o , 1982.)

28-9). Os distúrbios são normalmente classificados como (1) dis- tada que leva aa-dano cerebral permanente) durante o primeiro ano
túrbios herdados do metabolismo da bilirrubina ou (2) icterícia de vida. A flebotomia e a plasmaferese reduzem a bilirrubina sérica,
neonatal. Todos esses distúrbios são caracterizados por elevações mas a encefalopatia normalmente se desenvolve. O transplante
predominantes na bilirrubina conjugada ou não-conjugada na hepático precoce é a única terapia efetiva.
ausência de outros exames hepáticos anormais. Somente nesses
distúrbios o fracionamento da bilirrubina é clinicamente útil. Síndrome de Crigler-Najjar (Tipo II)
Ocasionalmente, os pacientes apresentam elevações isoladas Esse é um distúrbio autossômico dominante raro caracterizado
da concentração de bilirrubina. Na maioria dos casos, isso é por uma deficiência parcial de UDP-glicuronosiltransferase. A
devido a distúrbios herdados do metabolismo da bilirrubina, bilirrubina não-conjugada é normalmente de 5 a 20 m g / d L (85
hiperbilirrubinemia familiar ou hemólise. U m algoritmo para a 340 jimol/L). Diferentemente da síndrome de Crigler-Najjar
diferenciar as causas familiares de hiperbilirrubinemia é apresen- tipo I, a tipo II responde notavelmente ao fenobarbital, e pode
tado na Figura 28-10. esperar-se uma vida normal.

Distúrbios Herdados do Metabolismo da Bilirrubina Síndrome de Lucey-Discroll


Os distúrbios herdados do metabolismo da bilirrubina incluem as A síndrome de Lucey-Discroll é uma forma familiar de hiperbi-
síndromes de (1) Gilbert, (2) Crigler-Najjar (Tipo I), (3) Crigler- lirrubinemia não-conjugada causada por um inibidor circulante
Najjar (Tipo II), (4) Lucey-Discroll, (5) Dubin-Johnson e (6) Rotor. de conjugação da bilirrubina. A hiperbilitrubinemia é moderada
e se mantém durante as primeiras 2 a 3 semanas de vida.
Síndrome de Gilbert
A síndrome de Gilbert é uma doença benigna manifestada por Síndromes de Dubin-Johnson e Rotor
hiperbilirrubinemia não-conjugada moderada. Esta anormali- A síndrome de Dubin-Jonhson é uma doença autossômica reces-
dade, que afeta 3% a 5% da população, é provavelmente herdada siva caracterizada por icterícia com bilirrubina conjugada predo-
c o m o u m traço recessivo autossômico. A concentração sérica de minantemente elevada e uma elevação menos importante da
bilirrubina varia entre 1,5 e 3 m g / d L (26 e 51 jimol/L) e tende bilirrubina não-conjugada. A síndrome Rotor é similar à sín-
a aumentar com o jejum. A síndrome de Gilbert se diferencia drome de Dubin-Johnson, mas sem pigmento negro no fígado.
facilmente da hepatite crônica pela ausência de anemia e bilirru- As duas doenças são benignas.
bina na urina, e pelos testes normais de função hepática. N ã o é
necessário tratamento, mas os pacientes devem ser informados Icterícia em Neonatos
que não têm doença hepática. Os distúrbios que causam icterícia em neonatos são classificados
c o m o hiperbilirrubinemia não-conjugada ou conjugada (Quadro
Síndrome de Crigler-Najjar (Tipo I) 28-3).
A síndrome de Crigler-Najjar tipo I é uma doença rara causada
pela ausência completa de UDP-glicuronosiltransferase e manifes- Hiperbilirrubinemia Não-conjugada
tada por concentrações muito altas de bilirrubina não-conjugada A hiperbilirrubinemia não-conjugada representa um risco para
(25 a 50 mg/dL). Ela é herdada como um traço recessivo autossô- o desenvolvimento de IteTnicterus, especialmente em lactentes
mico. A maioria dos pacientes morre de dano cerebral grave causado prematuros e de baixo peso ao nascimento. O kemicterus refere-
por kemicterus (encefalopatia relacionada com a bilirrubina aumen- se a uma síndrome neurológica que resulta em dano cerebral
Hemoglobina, Ferra e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 537

Bilirrubina sérica aumentada isolada Q U A D R O 2 8 - 3 j Classificação Fisiológica da Icterícia

HIPERBILIRRUBINEMIA NÃO-CONJUGADA
Produção Aumentada de Bilirrubina Não-conjugada a partir do Heme
Exclusão de hemólise, fracionamento Hemólise
subseqüente da bilirrubina
Hereditária
Adquirida
Conjugada Eritropoiese ineficaz
Tumover (renovação) rápido da massa de RBC aumentada (nos neonatos)

Possibilidade das Entrega Diminuída de Bilirrubina Não-conjugada (no Plasma) para o


seguintes síndromes: síndromes de acordo com a Hepatócito
concentração de bilirrubina: Insuficiência cardíaca congestiva direita
Dubin-Johnson Gilbert, < 3 mg/dL Anastomose portocava

Rotor Crigler-Najjar, iipo I; > 25 mg/dL Captação Diminuída de Bilirrubina Não-conjugada através da Membrana
Crigler-Najjar, tipo II; 5 a 20 mc/dL do Hepatócito
Inibição Competitiva
Lucey-Discroll, transitoriamente - 5 mg/dL
•rogas
Outros
Figura 2 8 - 1 0 Algoritmo para diferenciar causas familiares de Síndrome de Gilbert
hiperbilirrubinemia. Sepse, jejum

d e v i d o à d e p o s i ç ã o de b i l i r r u b i n a n o gânglio basal n o s n ú c l e o s Armazenamento Diminuído de Bilirrubina Não-conjugada no Citossol


d o t r o n c o cerebral. Essa s í n d r o m e é p r e v e n i d a p o r f o t o t e r a p i a e (Proteínas YeZDiminuídas)
Inibição Competitiva
t r a n s f u s ã o e m lactentes c o m c o n c e n t r a ç õ e s elevadas de bilirru-
Febre
bina não-conjugada.
As causas de h i p e r b i l i r r u b i n e m i a n ã o - c o n j u g a d a n o n e o n a t o
Biotransformação Diminuída (Conjugação)
são a icterícia fisiológica d o recém-nascido, a d o e n ç a h e m o l í t i c a
icterícia neonatal (fisiológica)
devida à i n c o m p a t i b i l i d a d e R h ou A B O e a h i p e r b i l i r r u b i n e m i a
Inibição (drogas)
d o leite m a t e r n o .
Hereditária (Crigler-Najjar)
Icteríciã Fisiológica do Recém-nascido. O s lactentes f r e q ü e n t e - Tipo I (deficiência enzimática completa)
m e n t e tornam-se ictéricos e m p o u c o s dias após o n a s c i m e n t o , Tipo II (deficiência parcial)
u m a d o e n ç a c o n h e c i d a c o m o icterícia fisiológica do recém- Disfunção hepatocelular
nascido. As c o n c e n t r a ç õ e s d e b i l i r r u b i n a a l c a n ç a m u m pico Síndrome de Gilbert
d e n t r o de 3 a 5 dias após o n a s c i m e n t o e p e r m a n e c e m elevadas
p o r m e n o s de duas s e m a n a s . O s fatores q u e c o n t r i b u e m para a HIPERBILIRRUBINEMIA CONJUGADA (CQLESTASE)
icterícia fisiológica são (1) u m a carga de b i l i r r u b i n a a u m e n t a d a Secreção Diminuída de Bilirrubina Conjugada no Canalículo
n o recém-nascido p o r q u e as R B C s t ê m t e m p o de vida m e n o r , Doença hepatocelular
(2) c o n j u g a ç ã o d i m i n u í d a d a b i l i r r u b i n a devida a u m a falta rela- Hepatite
tiva d e glicuronosiltransferase {enzima c o n j u g a d o r a ) nos primei- Colesfase (intra-hepática)
ros dias após o n a s c i m e n t o e (3) exposição d o s bebês a m a m e n t a - Síndromes de Dubin-Johnson e Rotor
dos a i n i b id o r e s da c o n j u g a ç ã o da b i l i r r u b i n a presentes n o leite Drogas (estradiol)
materno.
A icterícia fisiológica d o recém-nascido é tratada com fotote- DRENAGEM DIMINUÍDA
Obstrução extra-hepáiica
rapia. O lactente é exposto à luz de a p r o x i m a d a m e n t e 4 5 0 n m ,
Cálculos
q u e t o r n a a b i l i r r u b i n a mais hidrossolúvel, e ela é, então, excre-
Carcinoma
tada n a bile. As t r a n s f u s õ e s são r a r a m e n t e necessárias.
Estenose
Doença Hemolítica. A d o e n ç a h e m o l í t i c a n o recém-nascido
Atresia
resulta de i n c o m p a t i b i l i d a d e m a t e r n o - f e t a l d o s fatores R h e s u s d o
Colangife escierosante
sangue. E m tais lactentes, o s a n g u e m a t e r n o Rh-negativo torna-se
Obstrução intra-hepática
sensibilizado p o r u m a gravidez a n t e r i o r d e u m feto Rh-positivo Drogas
ou p o r u m a t r a n s f u s ã o d e s a n g u e Rh-positivo. O lactente torna-se Granuloma
ictérico c o m b i l i r r u b i n a n ã o - c o n j u g a d a n o p r i m e i r o ou s e g u n d o Cirrose biliar primária
dia d e vida e é suscetível ao kemicterus. Estreitamento do dueto biliar
Hiperbilirrubinemia do Leite Materno. Este tipo de hiperbilirru- Tumores
b i n e m i a afeta cerca de 3 0 % dos recém-nascidos a l i m e n t a d o s c o m
leite m a t e r n o . A causa exata da icterícia é d e s c o n h e c i d a . A d o e n ç a
d u r a p o u c a s s e m a n a s e é tratada, se necessário, pela d e s c o n t i n u i -
dade do aleitamento.
A hiperbilirrubinemia conjugada é vista com bastante freqüência
n o recém-nascido como u m a complicação da nutrição parenteral.
Hiperbilirrubinemias Conjugadas
Estas síndromes são caracterizadas pela hiperbilirrubinemia n a qual Atresia Biliar
a bilirrubina conjugada excede 1,5 m g / d L (24 [imol/L) As mais A atresia biliar é u m a d o e n ç a n a qual os d u e t o s biliares n ã o se
i m p o r t a n t e s são a hepatite n e o n a t a l idiopática e a atresia biliar. desenvolvem o u se desenvolvem d e f o r m a a n o r m a l . N ã o t e n d o
538 PARTE IV Analitos

saída paTa o intestino, a bile é acumulada dentro do fígado e Acido glicurônico. ,Acido glicurônico
.O ii
eventualmente, escapa para o sangue, causando hiperbilirrubine- T ^C'
mia mista. Possíveis causas incluem (1) citomegalovírus, (2) reo- ÇHj U HÍ Cl!
!l I :i -
vírus III, (3) vírus Epstein-Barr. (4) vírus da rubéola, (5) deficiên- Me CH Me CH2 H2C Mc Me (' 11
cia de a.,-antitripsina, (6) síndrome de D o w n e (7) trissomia 17
o u 18.
A atresia biliar extra-hepática, mais c o m u m do que o tipo intra- 0-— V , / O
N
hepático, p o d e envolver toda o u parte da árvore biliar extra-hepá-
tica. Se a icterícia persiste além de 14 dias de idade, uma dosagem
A k
I
ii

da bilirrubina conjugada o u direta deve ser feita para excluir a Bilirrubina d üsctiivj ilíada
atresia biliar. Se ela está elevada, a deve ser feito o teste de bile s 0
- H03SV - <t1 V) — - =
n N . N®Cl
na urina. Se a cor não é verde n e m amarela, é provável que seja
\sE—/
atresia biliar. A identificação precoce dessa doença é essencial
Acido glicurônico Ácido sulfanílico diazotado
para saber se esses lactentes irão beneficiar-se da operação de tv, O
portoenterostomia, a qual deve ser realizada antes de 60 dias após
o nascimento. Se a portoenterostomia não for bem sucedida, o CH2 CH,
|
transplante de fígado é o tratamento escolhido. As crianças rara- Me C H ,
mente vivem além de 3 anos a m e n o s que a lesão seja corrigida
cirurgicamente.
SOjH
A atresia biliar mtm-hepáüca é caracterizada por uma ausência
de duetos biliares intra-hepáticos. A icterícia normalmente aparece
^nAcido glicurônico
nos primeiros dias de vida. A bilirrubina sérica é elevada e o
Azobilirrubina B (isômero I)
colesterol sérico pode estar alto e levar à formação de xantomas.
I
H,< CH-
H,C Me Me ( II
M e t o d o l o g i a Analítica LJ
Várias técnicas analíticas são usadas para dosar bilirrubina e
metabólitos n o soro e na urina. 1JOH;C

Bilirrubina Sérica Ácido <tilíaailic< > diB2t*ado


Bilirrubina c compostos relacionados são dosados nos fluidos
corporais pelo uso de uma variedade de métodos (1) espectrofo-
tométricos, (2) cromatográficos e (3) eletroforéticos por capilar. AuiUi: xlk .râtiia
O s intervalos de referência para bilirrubina e compostos relacio-
nados estão listados no Capítulo 45. HjÇ CH 2
H2Ç Mc Me CH
Métodos Diazo
O s métodos químicos mais amplamente usados para a dosagem j{ ~ \ ;> N—N—\JH J
IIO.S
de bilirrubina são aqueles baseados na reação diazo, primeira- \ = = / N' '»
mente descrita por Ehrlich, em 1883. Nessa reação, o ácido sul-
i
fanílico diazotizado—o reagente diazo—reage c o m a bilirrubina
Aiabilirrubina A (isômem II)
para produzir dois azodipirróis {Figura 28-11), os quais são roxo-
avermclhados e m pH neutro e azuis e m valores de p H baixos o u
Figura 28-11 A reação do glicuronídeo de bilirrubina com o ácido
altos. Mais tarde, descobriu-se que o álcool acelera a reação. A
sulfanílico diazotado para produzir os isômeros I e 11 da azobilirrubina
fração de bilirrubina que reage c o m o regente diazo na ausência
B. A bilirrubina não-conjugada reage da mesma forma para produzir os
de álcool é d e n o m i n a d a bilirrubina direta. A bilirrubina indi-
isômeros 1 e 11 da azobilirrubina A.
reta é considerada c o m o a diferença entre a bilinubina total
(encontrada após a adição de álcool à mistura de reação) e a
fração de bilirrubina direta. Todas as variações posteriores têm
usado u m dentre os vários "aceleradores" que facilitam a reação
da bilirrubina não-conjugada (indireta) com o reagente diazo.
Bilirrubina Total. O m é t o d o diazo descrito por Jendrassik e
Grof, e m 1938, e depois modificado por D o u m a s e colaborado- adicionado e a absorvância da azobilirrubina alcalina (cor azul-
res10 m e d e n o total as frações de bilirrubina (1) não-conjugada, esvetdeada) é medida a 5 9 8 n m . Em analisadores clínicos auto-
(2) monoconjugada, (3) desconjugada e (4) 5-bilirrubina n o soro. matizados, a adição de tartarato alcalino é omitida e a absorvân-
Esse m é t o d o tem sido "credenciado" pelo Clinicai Laboratory cia é medida a 5 3 0 n m . O m é t o d o é calibrado com soluções de
Standards Institute (CSLI) c o m o o método de referência para a concentrações de bilirrubina conhecidas preparadas pela adição
dosagem de bilirrubina total n o SOTO. Nesse procedimento, o soro de bilirrubina não-conjugada de pureza conhecida ao SOTO humano.
é adicionado a uma solução aquosa de cafeína, acetato de sódio Tal bilirrubina, Material de RefeTência-PadTão (SRM) No. 916, está
e benzoato de sódio (acelerador), que desloca a bilirrubina não- disponível no National Institute of Standards and Technology
conjugada de seus sítios de associação na albumina e facilita sua (NIST), Gaithersburg, M D .
reação com o ácido sulfanílico diazotizado. Após uma incubação Bilirrubina Direta. O s m o n o c o n j u g a d o s e diconjugados de bilir-
de 10 minutos à temperatura ambiente, o tartarato alcalino é rubina (principalmente glicuronídeos) e a S-bilirrubina, por serem
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 539

hidrossolúveis, reagem com o reagente diazo na ausência de u m oxidase estão e m boa concordância com aqueles obtidos pelo
acelerador. U m m é t o d o confiável para a bilirrubina direta n ã o p r o c e d i m e n t o de Jendrassik-Grof. A bilirrubina direta é dosada
deve medir qualquer bilirrubina não-conjugada. Para m a n t e r a em p H 3,7 a 4,5, nessa faixa de p H , a enzima oxida conjugados
bilirrubina não-conjugada sem reagir é necessário usar u m p H de bilirrubina e õ-bilirrubina, mas n ã o a bilirrubina não-conju-
próximo a 1,0 (soro ou plasma diluídos com HC1 a 0,05 m o l / L ) . gada. Em p H 10, a enzima oxida seletivamente os dois glicuroní-
A ditaurobilirrubina (bilirrubina conjugada com t a u r i n a e dispo- deos; a õ-bilirrubina n ã o é oxidada de forma alguma e s o m e n t e
nível c o m o sal dissódio), u m material sintético hidrossolúvel, é 5 % da bilirrubina não-conjugada é dosada c o m o conjugados.
usada pelos fabricantes de i n s t r u m e n t o s para calibrar os m é t o d o s
de bilirrubina direta. Está, t a m b é m , presente em material usado
para controle de qualidade e para testes de proficiência. Dosagem Transcutânea da Bilirrubina
Essa abordagem não-invasiva para dosar bilirrubina foi introdu-
zida p o r Yamanouchi, e m 1980. O primeiro b i l í r r u b i n ô m e t r o
Espectrofotomelria Direta (icterômetto) era u m f o t ô m e t r o de reflectância, o qual usava dois
Esse m é t o d o de dosagem baseia-se na absorção de luz pela bilir- filtros para corrigir a cor da hemoglobina e exigia medidas e m
r u b i n a p r ó x i m o a 460 n m e é restrito principalmente a amostras oito locais d o corpo. O s esforços para melhorar a precisão de tais
de sangue de recém-nascidos saudáveis nos quais a bilirrubina dosagens têm t i d o sucesso e levaram ao desenvolvimento de
não-conjugada é a espécie p r e d o m i n a n t e . A correção para oxie- aparelhos de eficiência aceitável. Em u m estudo, foi e n c o n t r a d o
moglobina, invariavelmente presente em soros de neonatos, é que o aparelho BiliCtack (SpectR* Inc., Norcross, Ga.) garante
alcançada pela dosagem da absorvância em dois c o m p r i m e n t o s resultados que estão a ± 2 m g / d L daqueles obtidos por u m pro-
de o n d a e pela resolução de u m sistema de duas equações simul- cedimento diazo. 31 O u t r o estudo e n c o n t r o u q u e o BiliCheck
tâneas t e n d o duas incógnitas. A concentração de bilirrubina na subestimava o soro q u a n d o sua concentracão era > 10 m g / d L
amostra é calculada a partir de u m a equação simples. (170 pmol/L). 1 1
Embora as dosagens transcutâneas de bilirrubina n ã o possam
substituir as determinações quantitativas laboratoriais, elas (1) íot-
Cromatografia Líquida de Alta Eficiência necem informação instantânea, (2) reduzem a necessidade de deter-
Os métodos de H P L C r a p i d a m e n t e separam e quantificam as minações de bilirrubina sérica, (3) p o u p a m lactentes do trauma
quatro frações de bilirrubina ( Q u a d r o 28-2). A H P L C tem sido das picadas nos calcanhares e (4) são custo-efetivas Além disso,
útil n a detecção e separação das diversas frações de bilirrubina e elas são úteis em determinar se é necessário tirar sangue de u m
dos fotoisômeros produzidos d u r a n t e a fototerapia e m recém-nas- bebê ictérico para orientar o tratamento, tal como fototerapia ou
cidos e, p o r t a n t o , na elucidação d o mecanismo pelo qual a foto- transfusão. U m a outra aplicação é predizer quais bebês necessita-
terapia d i m i n u i a concentração de bilirrubina no sangue de neo- rão de a c o m p a n h a m e n t o de acordo com o n o m o g r a m a "hora-
natos. Existem vários métodos p o r H P L C , de variável complexi- especifico" de bilirrubina sérica. 6
dade, para separar as frações de bilirrubina. U m m é t o d o por
H P L C simples e rápido usa u m a coluna Micronex RP-30, que n ã o
necessita de salting out de globulinas ou transformação química Bilirrubina Urinária
dos conjugados de bilirrubina. Este m é t ô d o separa a bilirrubina C o m o s o m e n t e a bilirrubina conjugada é excretada na urina, sua
sérica e m (1) õ-bilirrubina, (2) bilirrubina desconjugada (y-bilirru- presença indica hiperbilirrubinemia conjugada. O m é t o d o mais
bina), (3) bilirrubina m o n o c o n j u g a d a (p-bilirrubina), os (4) fotoi-
c o m u m e n t e usado para detectar bilirrubina na urina envolve o
sômeros E,Z ou Z,E e (5) bilirrubina não-conjugada. A descoberta
uso de uma vareta impregnada com u m reagente diazo. O s
da õ-bilirrubina solucionou o mistério das concentrações altas de
m é t o d o s de varetas detectam concentrações de bilirrubina tão
bilirrubina persistentes, a maioria reagindo diretamente, em
baixas q u a n t o 0,5 m g / d L .
pacientes c o m icterícia obstrutiva mtra-hepática o u pós-hepática
U m a amostra fresca de urina é necessária p o r q u e a bilirru-
muito t e m p o após a hepatite ter d i m i n u í d o ou a obstrução ter
b i n a é instável q u a n d o exposta à luz e à temperatura ambiente,
sido Tesolvida. Ela é a fração que demora mais a desaparecer do
e p o d e ser oxidada à biliverdina (a qual é diazo negativa) n o p H
soro porque segue o catabolismo da albumina, a qual tem u m a
n o r m a l m e n t e ácido da u r i n a . A tira reagente (Chemstrip, Roche
meía-vida de aproximadamente 19 dias.
Diagnostics, Basel, Switzerland; Multistix, Siemens Diagnostics,
A H P L C tem sido m u i t o útil na elucidação da natureza das
Tarrytown, N I ) é r a p i d a m e n t e imersa na amostra de urina, e a cor
espécies de bilirrubina que ocorrem n a t u r a l m e n t e n o sangue ou
que são formadas d u r a n t e a fototerapia. Clinicamente, ela oferece é lida 60 segundos depois. O mecanismo de reação para a bilir-
pouca, se alguma, ajuda ao médico n o diagnóstico diferencial de rubina conjugada urinária é o m e s m o que o descrito n a Figura
icterícia p o r q u e o c o n h e c i m e n t o da porcentagem das frações 28-11, exceto que o 2,6-diclorobenzeno-diazônio-tetrafluorobo-
de bilirrubina n o sangue não tem valor diagnóstico. rato (Chemstrip) e o sal 2,4-dicloroanilina diazónio (Multistix)
são os compostos diazo. Na prática, as varetas, as quais testam
u m a variedade de substâncias urinárias, são lidas por aparelhos
Métodos Enzimáticos fotométricos (p. ex., Clinitek, Siemens Diagnostics, Tarrytown,
Os m é t o d o s enzimáticos para bilirrubina total e direta e para NI), que t a m b é m i m p r i m e m os resultados.
conjugados d e bilirrubina com ácido glicurônico são baseados na As tiras C h e m s t r i p e Multistix para a bilirrubina na urina são
oxidação de bilirrubina com bilirrubina oxidase a biliverdina com testes altamente específicos e têm u m a baixa incidência de resul-
oxigênio molecular. Próximo a p H 8, e na presença d e colato de tados falso-positivos. E n t r e t a n t o , m e d i c a m e n t o s que colorem a
sódio e de dodecilsulfato de sódio, todas as quatro frações de u r m a de vermelho ou q u e dão cor vermelha em meio ácido, tais
bilirrubina são oxidadas a biliverdina, que é, ainda, oxidada a como a fenazopiridina, são conhecidos por produzirem leitura
p r o d u t o s roxos e, por fim, incolores. A diminuição n a absorvân- falso-positiva. G r a n d e s quantidades de ácido ascórbico ou de
cia, a 4 2 5 ou 4 6 0 n m , é proporcional à concentração de bilirru- nitrito t a m b é m p i o r a m o limite d e detecção d o teste. N a prática,
bina total. O s resultados obtidos pelo m é t o d o da bilirrubina a bilirrubina é r a r a m e n t e dosada na urma.
540 PARTE IV Analitos

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CAPÍTULO 2 9

Porfirinas e Doenças Associadas


ao Metabolismo das Porfirinas
Allan Deacon, B.S.C., Ph.D., F.R.C.Path., Sharon D. Whatley, Ph.D.,
e George H. Élder, M.D.

OBJETIVOS da biossíntese do heme, r e su l t a n d o em maior formação e


1. Definir os seguintes termos: excreção de porfirinas, seus precursores, ou amhos.
Precursores de Porfirinas: A L A e PBG, os intermediários
Porfirina
biossintéticos, q u e são metabolizados a p o r f i r m o g ê n i o s e
Porfobilinogênio
porfirinas.
Porfiria
Uroporfirina: U m a p o r f i r i n a com q u a t r o cadeias laterais de
2. Descrever a via biossintética e as funções fisiológicas do heme.
ácido acético e q u a t r o de ácido propiônico ligadas ao
3. Listar e descrever os sintomas das sete porfirias e os principais suporte d o tetrapirrol.
intermediários com níveis aumentados associados a cada uma Zinco-Protoporfirina (ZPP): U m s u b p r o d u t o normal, mas de
delas. m e n o r importância, da biossíntese d o heme, e n c o n t r a d o
4. Discutir a investigação laboratorial aplicada à clínica dos distúrbios nos eritrócitos; q u a n d o o Fe(ll) disponível é insuficiente
do metabolismo das porfirinas, incluindo os testes de rastreamento, para a biossíntese d o h e m e , mais ZPP é f o r m a d o .
os métodos de análise e as possíveis interferências em cada um
deles.

A
5. Descrever os efeitos da toxicidade do chumbo na via biossintética
s porfirias constituem u m g r u p o de doenças caracteriza-
do heme. das pela deficiência em u m a das enzimas da biossíntese
d o h e m e , o q u e resulta em s u p e r p r o d u ç ã o de intermedi-
PALAVRAS-CHAVE E D E F I N I Ç Õ E S ários da via.1 Estes intermediários são excretados em q u a n t i d a d e s
Porfirias Agudas: Doenças herdadas associadas à biossíntese d o excessivas n a urina, nas fezes, ou em ambos. As conseqüências
h e m e , caracterizadas p o r crises agudas causadas p o r clínicas d e p e n d e m da natureza dos precursores do h e m e q u e se
disfunções neuroviscerais; p o t e n c i a l m e n t e fatais; a c u m u l a m . Nas porfirias agudas, os precursores de porfirinas em
diagnosticadas por níveis elevados de porfobilinogênio excesso (ácido 5-aminolevulínico [ALA] e porfobilinogênio
(PBG) na urina. [PBG]) estão associados às crises agudas p o t e n c i a l m e n t e fatais
Acido 5-Aminolevulínico (ALA): Precursor imediato do causadas por disfunções neuroviscerais, que são f r e q ü e n t e m e n t e
porfobilinogênio; duas moléculas de ALA se c o m b i n a m provocadas p o r u m a variedade de drogas c o m u m e n t e prescritas,
para formar u m a molécula de porfobilinogênio. fatores h o r m o n a i s , álcool, jejum prolongado, estresse ou infec-
Coproporfirina: U m a porfirina c o m q u a t r o cadeias laterais d o ção. Nas porfirias não-agudas e nas porfirias agudas em que a pele
tipo metil e q u a t r o d o tipo ácido propiônico ligadas ao p o d e ser afetada, o a c ú m u l o de porfirinas resulta em fotossensi-
suporte do tetrapirrol. bilização e lesões na pele. O diagnóstico d e p e n d e da investigação
Porfirias Cutâneas: D o e n ç a s associadas à biossíntese do heme, laboratorial para d e m o n s t r a r o p a d r ã o de acúmulo do precursor
nas quais o acúmulo de porfirinas causa d a n o à pele d o h e m e específico para cada tipo de porfiria e requer a análise
q u a n d o esta é exposta à luz solar. de amostras apropriadas para os metabólitos-chave u s a n d o
Porfobilinogênio (PBG): Precursor imediato das porfirinas, m é t o d o s suficientemente sensíveis e específicos.
u m anel de pirrol com cadeias laterais do tipo acetil, O s avanços técnicos n a área de genética molecular possibili-
p r o p i o n i l e aminometil; q u a t r o moléculas de PBG se t a m investigar muitas porfirias ao nível molecular. E m b o r a n ã o
c o n d e n s a m para f o r m a r u m a molécula de 1- sejam essenciais para o diagnóstico de casos sintomáticos, estas
hidroximetilbilano, que é, então, convertido sucessivamente técnicas estão se t o m a n d o cada vez mais valiosas na investigação
a uroporfirinogênio-III, coproporfirinogênio-III, de famílias com porfiria.
protoporfirinogênio-IX, protoporfirma-IX e h e m e .
P o r f i r i n a s : Q u a l q u e r grupo de compostos c o n t e n d o a estrutura PORFIRINAS E QUÍMICA DO HEME
de p o r f m a , q u a t r o anéis de pirrol ligados p o r pontes de Antes de se discutirem a síntese das porfirinas e as doenças asso-
m e t e n o (ou pontes metênicas ou p o n t e s metenilas) e m u m a ciadas ao seu metabolismo, a estrutura, a n o m e n c l a t u r a e as carac-
configuração cíclica, a qual se ligam várias cadeias laterais. terísticas químicas desse grupo d e compostos serão revisadas.
Protoporfirina: U m a porfirina com quatro cadeias laterais do
tipo metil, duas do tipo vinil e duas do tipo ácido Estrutura e N o m e n c l a t u r a d a s Porfirinas
propiônico ligadas ao s u p o r t e do tetrapirrol; o complexo A estrutura básica das porfirinas consiste e m q u a t r o anéis m o n o -
protoporfirma-lX-ferro, o heme, é o grupo prostético da pirrólicos ligados por pontes de m e t e n o (ou pontes metênicas ou
h e m o g l o b i n a , dos citocromos e de outras hemoproteínas. pontes metenilas) para f o r m a r u m anel tetrapirrólico (Figura 29-
Porfirias: U m grupo de doenças metabólicas principalmente 1). M u i t o s compostos de p o r f i r i n a são conhecidos, mas apenas
herdadas que resultam d e deficiências parciais das enzimas u m n ú m e r o limitado é de interesse clínico. O s compostos de

541
542 PARTE IV Analitos

porfirina relevantes para as porfirias (Tabela 29-1) diferem nos porfirinas possuem uma absorvância particularmente intensa
substituintes que ocupam as posições periféricas 1 a 8. Variação próximo a 4 0 0 nm, f r e q ü e n t e m e n t e d e n o m i n a d a banda Soret.
na distribuição d o s m e s m o s substituintes nas posições periféricas Q u a n d o expostas à luz na tegião de 4 0 0 nm, as porfirinas revelam
d o anel de tetrapirrol origina isômeros de porfirinas, que são uma fluorescência vermelho-alaranjada característica na faixa de
geralmente representados por algarismos romanos (isto é, I, II, 5 5 0 a 6 5 0 n m . A absorvância e a fluorescência são alteradas pelos
III etc.). A forma reduzida de uma porfirina é conhecida c o m o substituintes ao redor do anel de porfirina e pelo metal ligante.
porfirinogênio (Figura 29-1) e difere pela presença de seis hidrogê- A quelação d o zinco altera o pico de fluorescência da protopor-
nios adicionais (quatro nas pontes de meteno e dois em nitrogênios firina para comprimentos de onda mais curtos e reduz a intensi-
presentes nos anéis). O s porfirinogênios são instáveis in viera e dade da fluorescência. A ligação forte d o ferro altera a natureza
são e s p o n t a n e a m e n t e oxidados a suas porfirinas corresponden- da protoporfirina de tal forma que o h e m e não apresenta fluo-
tes. Sob baixas tensões de oxigênio na célula, os porfirinogênios rescência significante.
são estáveis e formam os intermediários da via de síntese d o heme;
a aromatização da protoporfirina, na penúltima etapa da via, Solubilidade
requer uma enzima. As porfirinas são apenas levemente solúveis em água. As solubilida-
des diferentes de cada porfirina são importantes não somente para
Quelação de Metais o desenho dos métodos analíticos para sua extração e fraciona-
O arranjo dos quatro átomos de nitrogênio n o centro do anel de mento, mas também para a determinação da rota de sua excreção
porfirina faz c o m que as porfirinas possam quelar vários íons do corpo. Em pH 7, os grupos carboxila se encontram ionizados e
metálicos. A p r o t o p o r f i r i n a que c o n t é m ferro é conhecida c o m o a molécula tem uma carga líquida negativa. Abaixo de pH 2, os
heme; o ferro-heme refere-se especificamente ao c o m p l e x o Fe2" e nitrogênios pirrólicos e os grupos carboxila se tornam protonados,
o ferri-heme ao F e 3 \ O ferri-heme associado ao contra-íon cloreto de forma que a molécula apresenta uma carga líquida positiva.
é c o n h e c i d o c o m o hemina, o u hematina q u a n d o o contra-íon é Em p H fisiológico, a solubilidade de uma dada porfirina é
hidróxido. determinada pelo número de grupos carboxila substituintes. A
uroporfirina tem oito grupos carboxilato e é a porfirina mais
Propriedades Espectrais solúvel em m e i o aquoso. A protoporfirina tem somente dois grupos
As porfirinas são denominadas a partir da palavra grega para carboxilato e é basicamente insolúvel em água, mas se dissolve
"roxo" {parphyra), e sua cor está relacionada à estrutura d e dupla rapidamente em meios lipídicos e se liga prontamente às regiões
ligação conjugada d o anel tetrapirrólico. Os porfirinogênios não hidrofóbicas de proteínas, tais c o m o a albumina. A coproporfirina,
têm ligações duplas conjugadas e são, portanto, incolores. As com quatro grupos carboxilato, tem solubilidade intermediária.

Precursores das Porfirinas


A L A e PBG são conhecidos c o m o precursores das porfirinas
(Figura 29-2). Algumas vezes, o ALA é chamado aminolevulinato
(para enfatizar sua natureza tônica em p H fisiológico). O PBG
contém u m único anel pirrol (ao contrário das porfirinas que
contêm quatro) e é freqüentemente denominado monopirroí. O
PBG polimeriza rapidamente, em particular a altas concentrações
em solução ácida, para formar principalmente o isômero I da uro-
porfirina. A m b o s ALA e PBG são altamente solúveis em água.
Porfirina Por fi rini nogênio
Biossíntese do Heme
Figura 2 9 - 1 Representações de porfirina e porfirinogênio. O
A estrutura complexa d o anel tetrapirrólico do heme é constru-
sistema de numeração e as denominações do anel são baseados no
ído de forma gradativa a partir dos precursores muito simples
sistema de Fischer.

TABELA 2 9 - 1 Substituintes ao Redor do Maerociclo das Porfirinas dc Importância Clínica


POSIÇÃO
Porfirina 1 2 3 4 5 6 7 8

Uroporfirira-I Cm Cgi cm Cet cm Cet Cm Ce,


Urcporfirina-lll Cm ^e! cm Ce< cm c« C(i cm
Porfirina heptacarhoxilato-lll cm Ca Cm Cel cm C* C„ Me
Porfirina tiexacarboxilato-lll Me Ce, cra Cel cm Cl, C(i Me
Porfirina pentacarboxilatc-lll Me Cg Me CEI cm Cel Cet Me
Coproporíirina-lll Me CE, Me C£, Me Cel c„ Me
Coproporfirina-I Me Cet Me Cet Me CBt Me Cet
Isocoproporfirina Me Et Me CEt c. Cet Cet Me
Desidroisocoproporfirina Me Vn Me Cet Cm Cet Cet Me
Deetilisocoproporfirina Me H Me Cet cm Cet CBt Me
Protoporfirina Me Vn Me Vn Me Cet Cet Me
Pemptoporfirina Me H Me Vn Me Cel Cít Me
Deuteroporfirina Me H Me H Me Cd c„ Me
Mesopcrfifina Me Et Me Et Me Cel Cel Me

C™. Mrimtmcri! (—CHjCOOH); C„, caibmieiil (-CH 2 CH ; COOH); Me, me til (-CH,); Et, etil (-CH 3 CH,); Vn, vinil (-CH-CH,).
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 543

Mitocôndria Citüssol
2 ALA
Succinil-CoA
Glicina
S—CoA
PBG

> + "iK. X .
UtJ <".w Cs»
o ruK \ '•'> Porfobilinogênio (PBG)
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ALA sintasf

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O Ácido aminolevulinico espontâneo)
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Ferraquelatase
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Proroporfirina IX Uropoifirinogênio III Uroporfirinogênio I

Fmioporfi-rinogÊnlo Umporfirinogênio UVúfior/ ÍTEn ogéni o


oxidase descarboxílase descarbnxilasc
Vn Me iJcr Mc Cei
..VI Mj, a 'r;V r::" .y Cc; f»<C " ' Y ' ^V ::::N >- Ce '
VJÕJ ;rfi . •? Coproporfirinoginio % js|>t J{ i- -NH H J
\ oxidase
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- IIK--Á
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• ' \ Â y V M í
Cvl Ct* Cot Ccl Me Cel

Procoporfirinogênio IX C op t'up oi fí ri n o g ê 111 o III Coproporfirinogênio I

V
Figura 2 9 - 2 Via biossintétia de porfirinas e h e m e . C c t , - C H i C H ^ C O O H ,
C m , - C H j C O O H , Me, - C H , ; Vn, - C H = C H : .

succinihcoenzima A (CoA) e glicma (Figura 29-2).' A via está requer piridoxal fosfato c o m o co-fator, que forma u m a base de
presente em todas as células nucleadas, e estima-se que a síntese Schiff com o grupo a m i n o da glicma na superfície da enzima.
diária de h e m e em h u m a n o s é de 5 a 8 m m o l / k g de peso do O carbânion da base de Schiff desloca a C o A d o succmil-CoA,
corpo. A via é compartimentalizada com algumas etapas ocor- com a formação do ácido a-ammo-f3-cetoadípico, que é, então,
r e n d o na m i t o c ô n d r i a e outras n o citoplasma. Pouco se sabe descarboxilado a ALA. A atividade de ALAS é limitante da taxa
sobre o transporte dos intermediários através da m e m b r a n a de sintese de h e m e desde que a capacidade catalítica das outras
mitocondrial, e n e n h u m defeito n o transporte foi relatado até enzimas da via esteja n o r m a l .
o m o m e n t o nas porfirias.
Ácido 5-Aminolevulinico Desidratase (EC 4.2.1.24),
5-Aminolevulinato Sintase (EC 2.3.1.37% ALAS ALAD
O ALAS é a enzima inicial da via e catalisa a formação de A L A O A L A D ( t a m b é m conhecido c o m o porfobilinogênio sintase) é
a partir de succinil-CoA e glicina. A enzima é mitocondrial e u m a enzima citoplasmática q u e catalisa a formação do PBG
544 PARTE IV Analitos

monopirrólico a partir de duas moléculas de A I A , c o m a elimi- Pro topo rfirin ogênio Oxida se (EC 1.3.3.4), PPOX
nação de duas moléculas de água. A enzima requer íons de zinco A PPOX é uma flavoproteína localizada na membrana mitocon-
c o m o co-fator e grupos sulfidrila reduzidas no sítio ativo, sendo, drial interna e catalisa a remoção de seis hidrogênios (quatro das
portanto, suscetível à inibição por chumbo. pontes de meteno e dois dos nitrogênios d o anel) para formar a
protoporfirina-IX. A oxidação não-enzimática também ocorre m
Hidroximetilbilano Sintase (EC 2.5.1.61), HMBS nitro. C o n t u d o , sob a tensão de oxigênio da célula, a PPOX é
A H M B S (também conhecida c o m o PBG desaminase) é uma essencial para a oxidação ocorrer. A protoporfirina produzida é
enzima cito plasmática que catalisa a formação de uma molécula a única porfirina que funciona na via d o heme. Outras porfirinas
do tetTapirrol linear 1-hidroximetilbilano (HMB; t a m b é m deno- são produzidas por oxidação não-enzimática e representam por-
m i n a d o pré-uroporfirínogênio) a partir de quatro moléculas de firinogênios que escaparam irreversivelmente da via.
PBG, com a liberação de quatro moléculas de amónia. A e m i m a
é suscetível à inibição alostérica por intermediários de etapas Ferroquelatase (EC 4.39.1.1), FECH
posteriores da via biossintética d o heme, especialmente copropor- A F E C H (também d e n o m i n a d a h e m e sintase) é uma proteína
firinogênio-III e protoporfirinogênio-IX. 1 3 ferro-enxofre localizada na membrana mitocondrial interna. Esta
enzima insere íon ferroso na protoporfirina para formar heme.
Durante este processo, dois hidrogênios são retirados dos nitro-
Uroporfirinogênio-Hl Sintase (EC 4.2.1.75), UROS gênios do anel. Outros metais n o estado divalente também
A U R O S é uma enzima citoplasmática que rearranja e torna atuarão c o m o substrato, produzindo o quelato correspondente
cíclico o H M B para formar o uroporfirinogênio-III. Cada anel de (p. ex., incorporação de Zn 24 na protoporfirina para produzir
pirrol de H M B contém u m substituinte metilcarboxilato e u m zinco-protoporfirina [ZPP]). N o s estados de deficiência de ferro,
etilcarboxilato, que estão na mesma orientação. Pela rotação de Zn 2+ compete com sucesso c o m o Fe 2+ nos eritTÓcitos em forma-
n e n h u m , um, ou dois anéis pirrólicos alternados o u adjacentes, ção, de forma que a concentração de zinco-protoporfirina nos
é possível chegaT aos quatro diferentes isômeros. A l é m de fechar eritrócitos aumenta. Além disso, outras porfirinas dicarboxílicas
a estrutura de anel, a enzima Toda o anel D via u m intermediário também servirão c o m o substratos (p. ex., mesoporfirina).
espirano, produzindo o isômero tipo III - esta rotação é vital
porque somente o isômero tipo III contribui para a biossíntese de Função do Heme
heme. O H M B é instável, e, nas porfirias em que o excesso de O h e m e funciona c o m o u m grupo prostético e m várias proteínas,
H M B se acumula, a ciclização ocorre não enzimaticamente com nas quais, d e p e n d e n d o de sua função, o ferro muda livremente
a formação d o isômero tipo I. Normalmente, apenas quantidades entre os estados de valência V e 3T. D e 70% a 8 0 % da síntese
mínimas de uroporfirinogênio-I são formadas. de h e m e ocorre na medula óssea e aproximadamente u m p o u c o
mais de 15% no fígado. As proteínas que c o n t ê m h e m e partici-
pam dc u m a variedade de reações ledox, incluindo:
Uroporfirinogênio Descarboxilase (EC 4.1.1.37), 1. Transporte de oxigênio (pela h emoglob in a no sangue) e arma-
UROD zenamento (pela mioglobina n o músculo)
Esta é a última enzima citoplasmática da via e catalisa a descarbo- 2. Respiração mitocondrial (pelos citocromos bi, cL e a3)
xilação dcs quatro grupos carboximetil para formar o coproporfi- 3. Destruição enzimática de peróxidos (pela catalase e peroxi-
rinogênio tetracarboxílico. A enzima usa ambos os isômeros I e dase)
III de uroporfirinogênio c o m o substrato. A descarboxilação se 4. Metabolismo de drogas (pelas oxidases de função mista d o
inicia n o anel D e procede gradualmente através dos anéis A, B citocromo P-450 microssômico)
e C, c o m a formação dos intermediários heptacarboxilato, hexa- 5. Dessaturação de ácidos graxos (pelo citocromo bs microssô-
carboxilato e pentacarboxilato em um único sítio ativo. A defici- mico)
ência de U R O D causa acúmulo destes intermediários além de seu 6. Metabolismo do triptofano (pela triptofano oxigenase)
substrato, uroporfirinogênio. Hm altas concentrações de subs- Reações d o óxido nítrico (NO) são freqüentemente mediadas
trato, a descaTboxilação ocorre por u m mecanismo aleatório. pela reação do h e m e com N O e m enzimas-controle, tais c o m o
guanilato ciclase.
Coproporfirinogênio Oxida se (EC 1.3.3.3), CPO Outros derivados tetrapirrólicos que ocorrem naturalmente
A C P O está situada n o espaço intermembranas da mitocôndria incluem a vitamina B 12 e a clorofila, cada uma das quais contendo,
e catalisa a descarboxilação oxidaliva seqüencial dos grupos 2- e respectivamente, u m átomo de cobalto o u magnésio quclado.
4-carboxietil a grupos vinil para produzir o protoporfirinogênio-
IX mais lipofílico, c o m a formação de um intermediário tricar- Excreção de Precursores do Heme
boxílico, o harderoporfirinogênio. O oxigénio é necessário c o m o Normalmente, apenas quantidades insignificantes dos precurso-
oxidante. A enzima requer grupos sulfidrila para sua atividade, o res se acumulam n o corpo. A rota de excreção d e p e n d e grande-
que a torna alvo da inibição por metais. A enzima é específica mente da solubilidade. O s precursores de porfirinas A L A e PBG
para o isômero tipo III, assim o metabolismo da série 1 das por- são hidrossolúveis e são excretados quase exclusivamente na
firinas não ocorre além do coproporfirinogênio-I. O produto da urina. O uroporfirinogênio, com oito grupos carboxilato, é pron-
enzima difere do substrato pelo fato de a substituição de dois dos tamente solúvel em água e também é excretado via rim. O último
grupos carboxietil por grupos vinil introduzir u m terceiro substi- intermediário da via, a protoporfirina (e também o protoporfiri-
tuinte na molécula. Portanto o n ú m e r o de possíveis formas iso- nogênio), que tem s o m e n t e dois grupos carboxilato, é insolúvel
méricas aumenta e, por convenção, o sistema de numeração e m água e é excretado nas fezes via trato biliar. As outras porfi-
muda, de forma que o isômero III se torna o isômero IX. N o s rinas são de solubilidade intermediária e aparecem tanto na urina
estados de deficiência de U R O D , u m dos grupos etilcarboxilato c o m o nas fezes. O coproporfirinogênio-I é retirado e excretado
do porfirinogênio pentacarboxilato acumulado é descarboxilado pelo fígado preferencialmente e m relação ao isômero III, de
por u m mecanismo desconhecido para formar as séries de isoco- forma que o coproporfirinogênio-I predomina nas fezes e o
proporfirina das porfirinas. coproporfirinogênio-III, na urina. Todos os porfirinogênios na
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 S4S

u r i n a ou nas fezes são l e n t a m e n t e o x i d a d o s às p o r f i r i n a s corres- n ã o traduzida ( U T R ) d o m R N A de A L A S 2 , c o m c o n s e q ü e n t e


pondentes. inibição da tradução.
U m a vez n o i n t e s t i n o , as p o r f i r i n a s são suscetíveis à m o d i f i -
cação pela m i c r o b i o t a intestinal. O s dois g r u p o s vinil da proto- AS PRINCIPAIS DOENÇAS ASSOCIADAS ÀS
p o r f i r i n a são reduzidos a g r u p o s etil, h i d r a t a d o s a g r u p o s h i d r o - PORFIRINAS
xietil, ou r e m o v i d o s , o r i g i n a n d o u m a v a r i e d a d e de p o r f i r i n a s A s porfirias c o n s t i t u e m u m g r u p o d e d o e n ç a s m e t a b ó l i c a s q u e
s e c u n d á r i a s . A m i c r o b i o t a intestinal p o d e t a m b é m metabolizar r e s u l t a m de deficiências parciais das enzimas da biossíntese d o
o h e m e (se d e o r i g e m a l i m e n t a r , c o m o c o m p o n e n t e s d e células h e m e 1 (Tabela 29-2). T o d a s são h e r d a d a s e m p a d r õ e s m o n o g ê n i -
esfoliadas da m u c o s a intestinal, ou de s a n g r a m e n t o gastrointes- cos, c o m exceção de algumas f o r m a s d e p o r f i r i a cutanea tarda
tinal) para p r o d u z i r u m a v a r i e d a d e de p o r f i r i n a s dicarboxílicas. (PCT) e de tipos raros d e p o r f i r i a eritropoiética. U m n ú m e r o
A l é m disso, algumas bactérias são capazes de síntese de novo d e g r a n d e de m u t a ç õ e s d o t i p o doença-específica já foi i d e n t i f i c a d o
porfirinas. e m cada u m d o s genes q u e c o d i f i c a m as enzimas defeituosas
(www.hgmd.cf.ac.uk). C a d a tipo de p o r f i r i a é d e f i n i d o pela asso-
Regulação da Biossíntese do Heme ciação d e características clínicas típicas c o m u m p a d r ã o especí-
O s u p r i m e n t o de h e m e e m t o d o s os tecidos é c o n t r o l a d o pela fico d e a c ú m u l o de p r e c u r s o r e s d o h e m e , q u e reflete u m a m a i o r
atividade d e A L A S m i t o c o n d r i a l , a p r i m e i r a enzima d a via. f o r m a ç ã o de substratos p a r a a e n z i m a d e f i c i e n t e n a q u e l e t i p o de
Existem duas isoformas de A L A S . A i s o f o r m a u b í q u a , A L A S 1 , p o r f i r i a (Tabela 29-3).
é codificada p o r u m gene d o c r o m o s s o m o 3 p 2 1 e expressa e m A s porfirias são caracterizadas c l i n i c a m e n t e p o r duas carac-
t o d o s os tecidos. P o r q u e t e m u m a meia-vida d e a p e n a s aproxi- terísticas principais; lesões d e pele e m áreas expostas ao sol e
m a d a m e n t e u m a hoxa, m u d a n ç a s e m sua taxa d e síntese p r o d u - crises neuroviscerais agudas, c o m p r e e n d e n d o t i p i c a m e n t e d o r
zem alterações a c u r t o p r a z o n a c o n c e n t r a ç ã o d a e n z i m a e n a a b d o m i n a l , n e u r o p a t i a periférica e d i s t ú r b i o m e n t a l . As lesões
atividade celular de ALAS. A síntese de A L A S 1 está sob c o n t r o l e de pele são causadas p o r f o t o d a n o catalisado p o r p o r f i r i n a s , e m
de "feedback" negativo pelo h e m e . N o fígado, m a s n ã o n a m a i o r i a q u e o oxigênio singlete é o p r i n c i p a l m e d i a d o r . Crises agudas
dos o u t r o s tecidos, A L A S 1 é i n d u z i d a p o r u m a g r a n d e g a m a de estão associadas ao a u m e n t o da f o r m a ç ã o d e A L A a p a r t i r da
drogas e p r o d u t o s q u í m i c o s q u e i n d u z e m as oxidases d e p e n d e n - atividade i n d u z i d a de A L A S 1 hepática e deficiência parcial d o
tes de citocTomo m i c r o s s ô m i c o P-450 (CYFs). P r o v a v e l m e n t e h e m e h e p á t i c o , f r e q u e n t e m e n t e e m resposta à i n d u ç ã o de CYPs
este efeito é m e d i a d o p r i n c i p a l m e n t e pela ativação t r a n s c r i c i o n a l hepáticos p o r drogas e o u t r o s fatores. A relação e n t r e essas alte-
direta por receptores n u c l e a r e s de resposta a droga, e m vez de rações b i o q u í m i c a s e a d i s f u n ç ã o n e u r o n a l q u e f u n d a m e n t a
seT pela depleção de u m a m i s t u r a r e g u l a d o r a d e h e m e intracelu- todas as características clínicas da crise a g u d a n ã o é c o n h e c i d a .
lar c o m o c o n s e q ü ê n c i a d o u s o d e h e m e para a m o n t a g e m d e N a Tabela 29-2, as p o r f i r i a s são divididas e m p o r f i r i a s agudas,
CYP. A i n d u ç ã o d e A L A S 1 é i m p e d i d a pelo h e m e , q u e atua n a s quais o c o r r e m as crises neuroviscerais agudas, e as p o r f i r i a s
desestabilizando o ácido r i b o n u c l é i c o m e n s a g e i r o ( m R N A ) d e não-agudas.
A L A S 1 , b l o q u e a n d o a e n t r a d a d e p r é - A L A S l n a m i t o c ô n d r i a e,
possivelmente, i n i b i n d o sua transcrição. Porfirias Agudas
A i s o f o r m a eritróide, ALAS2, é c o d i f i c a d a p o r u m gene d o O defeito h e r d a d o e m cada u m a das porfirias agudas a u t o s s ô m i -
c r o m o s s o m o Xq21-22 e é expressa s o n t e n t e nas células eritróides. cas d o m i n a n t e s [porfiria i n t e r m i t e n t e aguda (AIP), p o r f i r i a varie-
S u a atividade é regulada p o r dois m e c a n i s m o s distintos. A trans- gata (VP) e c o p r o p o r f i r i a h e r e d i t á r i a ( H C P ) ] é u m a m u t a ç ã o q u e
crição é a u m e n t a d a d u r a n t e a diferenciação eritróide pela ação leva à inativação total o u quase total de u m dos pares d e alelos
d e fatores de transcrição eritróide-específicos, e as c o n c e n t r a ç õ e s q u e c o d i f i c a m a enzima cuja deficiência parcial causa a d o e n ç a .
de m R N A são reguladas p o r ferro. A deficiência de ferro n a s A s atividades enzimáticas são, p o r t a n t o , quase n o r m a i s e m t o d o s
células eritróides p r o m o v e a ligação específica d e p r o t e í n a s regu- os tecidos e m q u e elas são expressas, r e f l e t i n d o a atividade d o
ladoras d e ferro a e l e m e n t o s de resposta ao ferro n a região 5' gene n o r m a l sobre a d o alelo m u t a n t e . O f o r n e c i m e n t o d e h e m e

TABELA 2 9 - 2 I Os Principais Tipos de Porfiria Humana


Enzima Crises Lesões
Doença defeituosa Prevalência * Neuroviscerais de pele Herança

PORFIRIAS AGUDAS
Porfiria de deficiência de ALA desidratase (ALADP) ALAD muito rara + - AR
Porfiria intermitente aguda (AIP) HMBS 1-2:100.000 + - AD
Coproporfiria hereditária (HCP) CPO 1-2:1.000.000 + + t,t AD
Porfiria variegata (VP) PPOX 1:250.000 +u AD

PORFIRIAS NÃO-AGUDAS
Porfiria eritropoiética congênita (CEP) UROS 1:1.000.000 - +* AR
Porfiria cutanea tarda (PCT) UROD 1:25.000 - +* Complexa (20% AD)
Pratoporfiria eritropoiética (EPP) FECH 1:130.000 - Complexa
(principalmente AD)

AR, ãuiossõmím recessiuo; AD, autossômico dominante.


* Prevalência estimada da doença clinicamente evideme no Reino Unido,
f
Lesões de pele. e crises neuroviscerais podem ocorrer isoladamente ou ao ttiísmo tempo.
frágil, bclha.
546 PARTE IV Analitos

TABELA 2 9 - 3 As Porfirias: Padrões de Superprodução dos Precursores do H e m e durante a Fase Clinicamente Evidente da
Doença
Pico de Emissão
PBG/ALA Porfirinas nos de Fluorescência
Porfiria na Urina Porfirinas na Urina Porfirinas nas Fezes Eritrócitos do Plasma

ALADP ALA Copro-lll Não aumentada Zn-proto -

AIP PBG > ALA Principalmente uropnrlírina Normal nu leve aumento Não aumentada 615 a 620 nmb
a partir de PBG de Copro, P roto3
CEP Não aumentada Uro-I, Copro-I Copro-I Zn-proto, Prato, 615 a 620 nm
Copro-I, üro-l
PCT Não aumentada Uro, Heptac Isocopro, Heptac Não aumentada 615 a 620 nm
d
HCP PBG > ALA Copro-lll, uroportirína a Copro-lll Mão aumentada 615 a 620 nmb
partir de PBG
VP PBG > ALAd Copro-lll, uroportirína a Proto-lX > Copro-lll, Não aumentada 624 a 628 nm
partir de PBG X-porfirina
EPP Não aumentada Não aumentada ± Preto® Proto 626 a 634 nm'

"A porfirina total pode estar aumentada por ~ausa da presença de uToporfirina em excesso.
h
Nem sempre aumentada durante a crise agu la.
'0uiras porfirinas meüIÍZÍTLaxiLa [OJMbsti íwídíU estão aumentadas em uma menor extensão; urofwr/ÍTTna é uma mistura tios isfimerots dos tipos I e 111; porfirina
hepiacaThaxilata è
tmncijjãimente do tipo ilJ.
''PBG e ALA podem estar normais quando há apenas lesões de pele
"Nd o aumentada em afrroxitnadamente 40% dos pacienta.
'Protofor/irina ligada à globina (se acorre liemólije na üTnasüraJ tem um pica em 626 a 628nm.

mantido e m quantidades normais ou próximas d o normal pela desaparecer dentro "3e poucos dias, mas, em casos graves, uma
maior expressão de ALAS, c o m u m conseqüente a u m e n t o da neuropatia motora predominante se desenvolve e pode progredir
concentração de substrato da enzima defeituosa. Essas mudanças para quadriparesia flácida. D o r e vômito persistentes p o d e m levar
compensatórias variam entre tecidos, sendo ruais proeminentes à perda de peso e à má nutrição. A fase aguda pode ser acompa-
n o fígado e imperceptível na maioria dos outros órgãos, e entre nhada por confusão mental c o m alterações abruptas de humor,
indivíduos. Portanto, em todas as porfirias agudas autossômicas alucinações e outros traços psicóticos. Entretanto, essas perturba-
dominantes, alguns indivíduos não mostram evidências de super- ções mentais desaparecem com remissão. A doença psiquiátrica
produção de precursores do heme, enquanto outros têm a doença persistente não é uma característica das porfirias agudas, embora
manifestada bioquicamente c o m ou sem sintomas clínicos. A alguns pacientes possam apresentar ansiedade ou depressão leves.
baixa penetrância clínica é uma característica relevante de todas A dor abdominal geralmente desaparece dentro de duas semanas,
as porfirias agudas autossômicas dominantes. Estudos de famílias mas a recuperação da neuropatia pode levar muitos meses e nem
indicam que aproximadamente 8 0 % dos indivíduos afetados são sempre é completa. A maioria dos pacientes tem uma ou poucas
assintomáticos ao longo da vida. Complicações a longo prazo de crises seguidas de recuperação completa e remissão prolongada,
porfiria aguda incluem doença renal crônica, hipertensão e car- A p r o x i m a d a m e n t e 5 % têm crises agudas repetidas que, e m mulhe-
cinoma hepatocelular. 1 res, p o d e m ocorrer n o período pré-menstrual.
E m AIP, o principal defeito é uma deficiência de HMBS, a qual Fatores desencadeantes p o d e m ser identificados e m quase
Tesulta em acúmulo de seu substrato PBG (e em menor extensão dois terços dos pacientes que têm crises agudas. Os mais impor-
de ALA). Em V P e HCP, as deficiências herdadas de enzimas de tantes são as drogas, álcool, especialmente quando o c o n s u m o é
etapas posteriores da via levam ao acúmulo de porfirinogênies, que excessivo, o ciclo menstrual, gravidez, restrição calórica, infecção
são potentes inibidores alostéricos de HMBS 1 1 e levam ao acúmulo e estresse. As drogas que provocam crises agudas incluem barbi-
secundário de PBG (e ALA). N a doença recessiva muito rara, turatos, sulfonamidas, progesteronas e a maioria dos anticonvul-
ALADP, uma deficiência herdada de A L A D resulta em acúmulo sivos, mas muitas outras estão envolvidas na precipitação de crises
de ALA e coproporfirina-III, mas não de PBG. agudas 1 (www.porphyria-europe.com). Muitos desses fatores desen-
As crises agudas neuroviscerais, potencialmente fatais, que cadeantes induzem CYPs hepáticos.
ocorrem em AIP, VP e H C P são clinicamente idênticas. 10 Crises Lesões de pele similares às de P C T e de outras porfirias que
agudas são mais c o m u n s em mulheres, com a primeira ocorrência se manifestam com bolhas estão presentes e m aproximadamente
geralmente entre 15 e 4 0 anos, e são muitos raras antes da puber- 8 0 % de pacientes com VP clinicamente manifestada (Tabela 29-
dade. 2). Aproximadamente 6 0 % dos pacientes com esta condição têm
As crises agudas quase sempre começam com dor abdominal, apenas lesões de pele. A pele é mais raramente afetada em HCP;
que rapidamente se torna muito forte, mas não é acompanhada lesões de pele sem uma crise aguda são i n c o m u n s e são geral-
por peritonismo ou outros sinais de uma condição cirúrgica mente provocadas por colestase intercorrente.
aguda A dor pode ocorrer também nas costas e nas coxas,
p o d e n d o ocasionalmente ser mais forte nestas regiões. Sintomas Porfirias Não-agudas
de neuropatia autonômica, tais c o m o vômito, constipação, taqui' Estas se enquadram em duas categorias, d e p e n d e n d o se os
cardia e hipertensão, são freqüentes. As convulsões, quando pacientes têm lesões de pele c o m bolhas o u fotossensibilidade
ocorrem, são muitas vezes causadas por hiponatremia. A dor pode aguda.
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 547

Porfirias Não-agudas com Lesões de Pele com A exposição ao Sol é seguida, g e r a l m e n t e d e n t r o de 5 a 30


Bolhas m i n u t o s , p o r u m a sensação b a s t a n t e dolorosa, de q u e i m a ç ã o ,
Estas incluem a P C T e a porfiria eritropoiética congênita (CEP). picada e c o m i c h ã o da pele, n a m a i o r p a r t e das vezes n a face e
A l é m disso, nas porfirias agudas, V P e H C P , p o d e m ocorrer lesões n o s d o r s o s das mãos. O s s i n t o m a s persistem p o r várias h o r a s ou
de pele idênticas. Lesões n a pele exposta ao sol, p a r t i c u l a r m e n t e o c a s i o n a l m e n t e dias, e n ã o são aliviados pela p r o t e ç ã o da pele
a dos dorsos das mãos, d o antebraço e d a face, estão presentes e m c o n t r a a luz. O s pacientes t i p i c a m e n t e p r o c u r a m alívio mergu-
todos os pacientes. O a u m e n t o da fragilidade mecânica da pele, l h a n d o as m ã o s em água ou c o b r i n d o a pele c o m toalhas ú m i d a s .
com t r a u m a trivial levando a feridas e bolhas subepidérmicas, C r i a n ç a s m e n o r e s p o d e m se t o r n a r m u i t o aflitas p o r causa da
ocorre e m p r a t i c a m e n t e t o d o s os pacientes. A hipertricose n a face dor. A pele p o d e parecer n o r m a l d u r a n t e t o d o o t e m p o , e m b o r a
e a p i g m e n t a ç ã o n ã o u n i f o r m e são t a m b é m c o m u n s . As feridas e se a p r e s e n t e f r e q ü e n t e m e n t e c o m eritema, q u e p o d e ser seguido
bolhas cicatrizam l e n t a m e n t e , d e i x a n d o cicatrizes atróficas, acnes de i n c h a ç ã o e d e m a tosa c o m crostas. Essas alterações g e r a l m e n t e
e áreas desptgmentadas. A C E P é u m a condição t a r a que ocorre d i m i n u e m d e n t r o de p o u c a s h o r a s , de f o r m a q u e q u a n d o a
geralmente n a primeira infância e é transmitida e m u m p a d r ã o criança chega ao m é d i c o n ã o existe n a d a para ser visto e o epi-
recessivo autossômico. As lesões de pele se assemelham às da PCT, s ó d i o p o d e ser c o n s i d e r a d o m e r a m e n t e c o m o u m a q u e i m a d u r a
V P e H C P , mas são mais graves e persistem d u r a n t e a vida. C o m grave pelo sol. O s episódios r e c o r r e n t e s levam a m u d a n ç a s crô-
a idade, a cicatrização progressiva, p a r t i c u l a r m e n t e se as feridas se nicas da pele q u e , e m geral, são p e q u e n a s e difíceis d e se detec-
t o r n a m infectadas, e as alterações atróficas levam à f o t o m u t i l a ç ã o tar. As lesões típicas são cicatrizes lineares superficiais sobre a
c o m erosões das falanges terminais, à destruição das orelhas, d o base d o nariz e e m q u a l q u e r o u t r o lugar d a face, e n q u a n t o a pele
nariz e da pálpebra, e à alopecia. O a c ú m u l o de p o r f i r i n a s n o s p o d e se t o r n a r mais espessa e pálida e s p e c i a l m e n t e s o b r e as
ossos é visível c o m o a eritrodontia; dentes vermelho-amarronzados articulações d o s dedos. O s s i n t o m a s t e n d e m a se t o r n a r mais
que a p r e s e n t a m fluorescência vermelha e m luz ultravioleta A graves d u r a n t e a primavera e verão, e p o d e m m e l h o r a r d u r a n t e
(UVA). A a n e m i a hemolítica c o m esplenpmegalia é c o m u m n a a gravidez.
CEP. A hemólise p o d e ser t o t a l m e n t e c o m p e n s a d a ou leve, mas, A complicação mais grave da E P P é a d o e n ç a hepática progres-
e m alguns pacientes, a a n e m i a é grave o bastante para requerer siva, que é causada pelo a c ú m u l o de p r o t o p o r f i r i n a n o fígado. 14
transfusões repetidas A p r o x i m a d a m e n t e 15% dos pacientes têm testes b i o q u í m i c o s de
A P C T , a mais c o m u m d e todas as porfirias, g e r a l m e n t e f u n ç ã o hepática a n o r m a i s , p a r t i c u l a r m e n t e aspartato a n u n o t r a n s -
ocorre d u r a n t e a q u i n t a e sexta décadas, e a m a i o r i a d o s pacien- ferase a u m e n t a d a , mas s o m e n t e cerca de 2 % dos pacientes desen-
tes a p r e s e n t a evidências de d a n o d o s h e p a t ó c i t o s , g e r a l m e n t e volvem d o e n ç a hepática. A EPP p o d e t a m b é m a u m e n t a r o risco
sem i m p o r t â n c i a , e alguns graus d e siderose h e p á t i c a . A P C T de colelitíase, c o m a f o r m a ç ã o d e cálculo biliar s e n d o p r o m o v i d a
resulta de u m a d i m i n u i ç ã o da atividade d e U R O D n o fígado, o p o r altas concentrações d e p r o t o p o r f i r i n a n a bile.
q u e leva à s u p e r p r o d u ç ã o de u r o p o r f i n n o g ê n i o e o u t r o s porfiri- A p r i n c i p a l a n o r m a l i d a d e b i o q u í m i c a na E P P é a d i m i n u i ç ã o
n o g ê n i o s carboximetil-substituídos. D o i s principais tipos d e d a atividade d e F E C H . E m b o r a esta r e d u ç ã o esteja p r e s e n t e e m
P C T p o d e m ser i d e n t i f i c a d o s pela d o s a g e m d a atividade de todos os tecidos, o excesso de p r o t o p o r f i r i n a é f o r m a d o princi-
U R O D n o fígado e e m tecido extra-hepático, ou pela análise d o p a l m e n t e e m células eritróides. O m o d o de h e r a n ç a da E P P é
gene U R O D . A p r o x i m a d a m e n t e 8 0 % d o s pacientes t ê m a f o r m a complexo, m a s t e m sido esclarecido r e c e n t e m e n t e pelos e s t u d o s
esporádica (tipo I) de PCT, n a qual o •defeito d a e n z i m a está moleculares e enzimáticos de famílias. 7
restrito ao fígado e o gene UROD parece ser n o r m a l . O restante
tem a P C T familiar (tipo II). Nesta f o r m a , a m u t a ç ã o d o gene ANORMALIDADES DO METABOLISMO DE
UROD leva à atividade parcial de U R O D e m t o d o s os tecidos, PORFIRINAS NÃO CAUSADOS POR
a qual é herdada em u m padrão d o m i n a n t e autossômico. E m PORFIRIA
a m b o s os tipos, a P C T c l i n i c a m e n t e evidente é f o r t e m e n t e asso- A s a n o r m a l i d a d e s d o m e t a b o l i s m o o u d a excreção d e p o r f i r i n a s ,
ciada ao a b u s o de álcool, estrógenos, infecção c o m vírus hepa- o u a m b o s , p o d e m ocorrer n a ausência de p o r f i r i a . O u t r a s
totrópicos, p a r t i c u l a r m e n t e o d a h e p a t i t e C ( H C V ) , e s t o q u e de d o e n ç a s precisam ser c o n s i d e r a d a s q u a n d o se i n t e r p r e t a m os
ferro h e p á t i c o a u m e n t a d o e m u t a ç õ e s n o gene da h e m o c r o m a - d a d o s de pacientes n o s quais h á a suspeita de porfiria.
tose (HFE)."5 A P C T p o d e t a m b é m ser causada pela exposição a
certos h i d r o c a r b o n e t o s a r o m á t i c o s polialogenados, tais c o m o Envenenamento pelo Chumbo
h e x a c l o r o b e n z e n o e 2,3,7,8-tetraclodibenzo-f>-dioxina. A exposição ao c h u m b o a u m e n t a a excreção u r i n á r i a de A L A e
c o p r o p o r f i r i n a - I I I e causa o a c ú m u l o de ZPP n o s eritrócitos. O
teste definitivo p a r a o e n v e n e n a m e n t o pelo c h u m b o é a m e d i ç ã o
Porfirias Não-agudas com Fotossensibilidade d o c h u m b o s a n g u í n e o , mas o c a s i o n a l m e n t e a exposição ao
Aguda c h u m b o é responsável pelos s i n t o m a s similares aos d a p o r f i r i a e
A porfiria eritropoiética (EPP) é caracterizada pela fotossensibi- p o d e ser u m a c h a d o i n e s p e r a d o q u a n d o se investigam pacientes
lidade aguda p o r t o d a a vida, c a u s a d a p e l o a c ú m u l o da proto- c o m suspeita de p o r f i r i a .
porfirina-IX n a pele. 1 ' 1 A ausência d a pele frágil, b o l h a s subepi- A excreção a u m e n t a d a d e A L A é s e c u n d á r i a e m relação à
d é r m i c a s e hipertricose a d i s t i n g u e c l i n i c a m e n t e de todas as inibição d e A L A D causada p e l o c h u m b o d e s l o c a n d o o zinco
o u t r a s porfirias c u t â n e a s . O s pacientes a p r e s e n t a m fotossensibi- de seu c e n t r o catalítico. O c h u m b o t a m b é m leva ao a u m e n t o de
lidade aguda n o r m a l m e n t e c o m idade e n t r e u m e seis anos, e excreção d e c o p r o p o r f i r m o g ê n i o - I I I pela u r m a . A C P O r e q u e r
a m b o s os sexos são i g u a l m e n t e a f e t a d o s Q u a n d o u m a criança g r u p o s sulfídrilas p a r a sua atividade e, p o r t a n t o , é potencial-
de u m a família d e E P P a t m g e a idade de 14 anos, o risco de m e n t e u m alvo para a inibição pelo c h u m b o . C o n t u d o , se a
desenvolver fotossensibilidade aguda se torna m u i t o m e n o r . O c o p r o p o r f i n n ú r i a i n d u z i d a pelo c h u m b o é c a u s a d a pela inibição
início da fotossensibilidade d u r a n t e a vida a d u l t a é m u i t o raro, desta enzima, e n t ã o n ã o está claro p o r que a excreção fecal de
a m a i o r i a dos casos t e m sido associada à mielodisplasia e é c o p r o p o r f i r i n a n ã o é a u m e n t a d a . As c o n c e n t r a ç õ e s a u m e n t a d a s
causada p o r m u t a ç õ e s somáticas a d q u i r i d a s d o gene F E C H e m de ZPP n o s eritrócitos associadas à exposição ao c h u m b o n ã o
células h e m a t o p o é t i c a s . são, p r o v a v e l m e n t e , causadas pela inibição d e F E C H p o r q u e a
548 PARTE IV Analitos

inibição desta enzima requer concentrações de c h u m b o mais Doenças Hematológicas


elevadas do q u e aquelas geralmente encontradas após a exposição N a anemia ferropriva, o zinco atua c o m o u m substrato alternativo
ao chumbo. A hipótese atual é que a exposição ao c h u m b o cria da FECH, levando ao aumento de ZPP. O aumento da protopor-
uma deficiência de ferro intracelular (talvez por afetar o trans- firina nos eritrócitos (principalmente ZPP) pode também ocorrer
porte de ferro para o interior da célula o u a inibição da ferro- nas anemias sideroblásticas, megaloblásticas e hemolíticas.
redutase), de forma que o zinco substitui o ferro c o m o substrato
da FECH. U m a vez formada, a ZPP do eritrócito permanece Dieta, Bactéria e Sangramento
elevada durante o t e m p o de vida dos eritrócitos. C o m o a meia- Gastrointestinal
vida de u m eritrócito é mais longa do que a do c h u m b o sanguí- A fração de porfirinas dicarboxílicas das fezes contém protopor-
neo, o m o n i t o r a m e n t o de trabalhadores expostos ao c h u m b o firina e outras porfirinas dicarboxílicas derivadas dela pela
requer a análise tanto d o c h u m b o sanguíneo total c o m o de ZPP. Tedução bacteriana o u pela remoção de grupos laterais vinil.
A medição d e ZPP também apresenta a vantagem d e não existir Protoporfirinas adicionais e outras porfirinas dicarboxílicas
interferência da contaminação de c h u m b o via pele quando a p o d e m ser formadas pela ação da microbiota intestinal sobre
amostra de sangue é coletada, especialmente se u m a amostra de hemoproteínas derivadas da dieta ou de hemorragia gastrointes-
ponta de d e d o é utilizada. tinal. M e s m o o sangramento gastrointestinal sem importância,
particularmente se ocorrer na parte superior do intestino, que
Outras Exposições Tóxicas pode não originar e m u m teste de sangue oculto positivo, pode
Coproporfirinúria secundária também pode ser causada pelos efeitos aumentar muito a concentração de porfirinas dicarboxílicas nas
tóxicos de álcool, arsênico, outros metais pesados e várias drogas. fezes. A confusão c o m EPP pode ocorrer quando a deficiência
de ferro associada aumenta a porfirina total n o eritrócito, e lesões
Tirosinemia Hereditária Tipo I de pele de algumas outras causas estão presentes, ou c o m VP,
A succinilacetona, que se acumula nesta doença, tem uma seme- q u a n d o doença hepática coexistente causa coproporfirinúria. A
lhança estrutural c o m A I A e é, portanto, u m inibidor competi- porfiria pode ser excluída quando n e n h u m a fluorescência de
tivo de A L A D . C o n s e q ü e n t e m e n t e , ALA se acumula e o excesso porfirina é detectável na espectroscopia de fluorescência d o
é excretado pela urina. Pacientes c o m tirosinemia hereditária plasma. As porfirinas p o d e m também vir diretamente da dieta.
sofrem de crises neurológicas muito similares a crises de porfiria
aguda. Pseudoporfiria
O ternio "pseudoporfiria" foi originalmente aplicado a pacientes
Doenças Renais com lesões *de pele similares às da P C T nos quais n e n h u m a
A função glomerular comprometida reduz o clareamento das anormalidade de acúmulo ou de excreção de porfirinas podia s e r ^
porfirinas hidrossolúveis normalmente excretadas na urina. A l é m demonstrada. 8 Muitas drogas são fotossensibilizadores potentes e
d o mais, estas porfirinas são pobremente clareadas por diálise e, p o d e m produzir lesões similares às de porfiria.
c o m o conseqüência, as porfirinas plasmáticas se encontram
aumentadas na doença renal em sua fase final. M e s m o na ausên- DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE
cia de evidência bioquímica de porfiria, os problemas dermato- PORFIRIAS
lógicos c o m u m e n t e afetam os pacientes de diálise e freqüente- Existem muitas situações clínicas que se beneficiam do teste labo-
mente compartilham características c o m u n s com os de P C T ratorial de porfirinas e seus precursores. Estas incluem pacientes
(melanose, elastose actínica, fragilidade e bolhas). A s concentra- c o m sintomas de porfiria aguda e lesões cutâneas típicas, tanto
ções de porfirina plasmática encontradas e m pacientes de diálise quanto os parentes de pacientes portadores de porfiria.
são geralmente muito maiores d o que o normal, mas raramente
se aproximam daquelas encontradas e m pacientes c o m lesões Pacientes com Sintomas de Porfiria
ativas de pele causadas por PCT. N o entanto, o ternio "porfiria A s características clínicas das porfirias não são suficientemente
associada à diálise" tem sido empregado para estes pacientes, especificas para permitir seu diagnóstico sem a investigação labo-
embora seja improvável que as porfirinas aumentadas sejam res- ratorial. Em pacientes c o m sintomas atuais causados por porfiria,
ponsáveis pelas lesões de pele. A P C T genuína pode ocorrer em é sempre possível demonstrar a produção excessiva de precursores
pacientes de diálise, e alguns dos casos de porfiria associada à de heme. O diagnóstico depende de demonstrar padrões especí-
diálise descritos na literatura não foram adequadamente investi- ficos de superprodução de precursores de h e m e (Tabela 29-3) e
gados para excluir a PCT. Estes pacientes são geralmente anúri- geralmente é direto, desde que amostras apropriadas sejam exa-
cos, e, sem o benefício de análise urinária, a avaliação cuidadosa minadas quanto aos intermediários relevantes usando técnicas
das porfirinas plasmáticas e fecais é necessária para distinguir suficientemente sensíveis. 2,3 Os estudos de D N A e de enzima n ã o
pseudoporfiria de P C T e porfirias agudas em que as lesões de fornecem informação sobre a atividade da doença, sendo rara-
pele possam ocorrer. mente necessários para confirmar o diagnóstico de porfiria clini-
camente evidente, e são principalmente utilizados em estudos de
Doenças Hepatobiliares famílias.
N a icterícia obstrutiva, icterícia colestática, hepatite e cirrose,
existe uma excreção urinária aumentada predominantemente de Pacientes com Sintomas Neuroviscerais Agudos
copropOTÍirina-I, porque a doença hepática causa u m desvio da U m a análise essencial em pacientes c o m suspeita de porfiria
secreção de coproporfirina-I da rota biliar para a Tenal. aguda é u m teste suficientemente sensível d o excesso de PBG na
Na síndrome de Dubin-Johnson, ocorre u m a u m e n t o na urina. 2,5 Falha em diagnosticar corretamente uma crise de porfi-
excreção urinária de coproporfirina-I e uma excreção reduzida de ria aguda não s o m e n t e atrasa o tratamento apropriado, mas p o d e
coproporfirina-III. N a síndrome de Rotor, a excreção urinária de levar t a m b é m a uma cirurgia desnecessária ou à administração
coproporfirina-I é aumentada com excreção normal de copropor- de drogas porfirinogênicas. U m a dessas intervenções médicas de
firina-III, e na doença de Gilbert ocorre o a u m e n t o da excreção risco p o d e ainda agravar a crise c o m conseqüências potencial-
urinária de ambos os isômeros. mente fatais. Em contrapartida, u m diagnóstico falso de porfiria
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 549

p o d e ser igualmente grave por retardar a cirurgia vital ou outro cência do plasma é realizada (para excluir VP). Se todos estes
t r a t a m e n t o e p o d e r t a m b é m levar ao uso i n a p r o p r i a d o de anal- testes são negativos, é m u i t o improvável que os sintomas sejam
gésico (p. ex., opiatos) e d e p e n d ê n c i a . ou t e n h a m sido causados por porfiria. N o e n t a n t o , é difícil
D u r a n t e u m a crise, a excreção de P B G é m u i t o elevada e o excluir a porfiria após longos períodos (ou seja, vários anos) de
a u m e n t o é geralmente 10 vezes o limite máximo de referência. remissão clínica. D e p e n d e n d o d o grau de suspeita clinica, os
PBG normal, n o m o m e n t o em que os sintomas estão presentes, estudos de enzima e D N A p o d e m continuar, mas freqüente-
exclui todas as porfirias agudas, exceto a m u i t o rara ALADP, m e n t e n ã o são recompensadores
c o m o causa. Hm AIP, o P B G n o r m a l m e n t e permanece elevado
por semanas ou m e s m o meses após u m a crise. C o n t u d o , em V P Pacientes com Sintomas Cutâneos
ou HCP, o PBG p o d e r a p i d a m e n t e voltar ao n o r m a l (algumas As lesões de pele das porfirias cutâneas são sempre acompanha-
vezes em dias), logo que a crise começa a diminuir. Portanto, se das por s u p e r p r o d u ç ã o de porfirinas. O c a m i n h o da investigação
u m a crise suspeita está e n t r a n d o em remissão, ou a suspeita deve ser ditado pela apresentação clinica (Tabela 29-2).
clínica de porfiria aguda persiste, a análise de porfirinas plasmá-
ticas e fecais, c o m m edição de ALA, se esses forem normais, é Pacientes com Bolhas, Fragilidade e Cicatrizes
aconselhável m e s m o que a excreção de PBG seja normal. O PBG Existem quatro porfirias principais, nas quais ocorrem lesões de
a u m e n t a d o na u r i n a requer avaliação cuidadosa; embora o pele clinicamente indistinguíveis de pele frágil e bolhas (Tabela
paciente claramente tenha u m a porfiria aguda, a doença p o d e 29-2). Porfirinas urinária e fecal totais devem ser medidas por u m
não ser a causa dos sintomas atuais. Alguns pacientes com AIP m é t o d o espectrofotométrico 2 1 ou fluorimétrico 2 com sensibili-
têm taxas de excreção de PBG m u i t o altas em ausência de sin- dade suficiente, e as porfirinas plasmáticas devem ser determina-
tomas e existe u m a correlação pobre entre o PBG urinário e os das por espectroscopia de fluorescência 9 Na prática, a análise
sintomas, sem o m í n i m o acima dos quais os sintomas aparecem. fecal é geralmente desnecessária p o r q u e as duas porfirias associa-
A excreção dé PBG a u m e n t a d u r a n t e u m a crise aguda, mas a das a bolhas mais comunas, P C T e VP, p o d e m ser identificadas
detecção desta m u d a n ç a requer informações sobre a excreção pela análise de urina e plasma (Tabela 29-3). Se esses testes são
basal d o paciente. Q u a n t o maior a excreção de P B G na urina, normais, a porfiria é então excluída como causa de quaisquer
maior a probabilidade de q u e a porfiria seja responsável pelos lesões de pele ativas. Q u a l q u e r a u m e n t o de porfirina urinária ou
sintomas; entretanto, o diagnóstico final deve sempre ser feito fecal total deve ser posteriormente investigado pela determinação
com bases clinicas. de porfirinas individuais u s a n d o u m a técnica capaz de resolver
Caso seja e n c o n t r a d o PBG elevado n a urina p o r um teste de todas as porfirinas de interesse clinico, incluindo isômeros. 1 O
rastreamento qualitativo/semiquantitativo, este achado deverá, padrão observado em cada u m a dessas porfirias é único.
então, ser c o n f i r m a d o por u m m é t o d o quantitativo especifico 12
para eliminar a possibilidade de u m resultado falso-positivo. A Pacientes com Fotossensibilidade Aguda
m e l h o r forma de se realizar este teste é utilizando a amostra E m caso de suspeita de EPP, a investigação essencial é a me d iç ã o
original de urina (armazenada preferencialmente congelada), de p o r f i r i n a no sangue (ou eritrócito), u s a n d o u m m é t o d o flu-
p o r q u e , n o m o m e n t o em que u m a nova amostra é obtida, o PBG orimétrico sensível. O s testes de r a st r e a m e n t o através de extração
^Çode ter voltado ao n o r m a l . d o sangue com solvente ou de microscopia de fluorescência dos
A forma de lidar com a crise é a m e s m a i n d e p e n d e n t e m e n t e entrócitos n ã o são confiáveis e n ã o deveriam ser utilizados. Se
d o tipo de porfiria, p o r t a n t o investigações posteriores n ã o se a concentração de p o r f i r i n a n o eritrócito/sangue está d e n t r o dos
m o s t r a m urgentes. A diferenciação entre as porfirias agudas é limites de referência, a EPP está excluída, Se a concentração é
essencial para a seleção de testes apropriados para os estudos de alta, o a u m e n t o p o d e ser causado pela p r o t o p o r f i r i n a livre, c o m o
famílias; a ausência de lesões de pele n ã o exclui VP ou H C P em EPP, ou pela ZPP, como na deficiência de ferro e n o envene-
(Tabela 29-2). Se a p o r f i r i n a fecal total é normal, pode-se, então, n a m e n t o por c h u m b o . Distinguir as protoporfirinas requer
excluir V P e HCP, e o paciente deve ter AIP. A análise da ativi- extração c o m solvente neutro, tais com o etanol, 6 para evitar a
dade de H M B S nos erirrócitos não é essencial e pode levar a desmetalação causada por ácidos fortes, seguida de espectrosco-
erros. Se a porfirina fecal total é elevada, as porfirinas devem ser pia de fluorescência ou H P L C para diferenciar p r o t o p o r f i r i n a
fracionadas pela técnica de cromatografia líquida de alto desem- livre de ZPP (máximo de emissão de fluorescência em 630 e 587
p e n h o (HPLC), capaz de separar isômeros de coproporfirina. 1 1 n m , respectivamente). A dosagem de p r o t o p o r f i r i n a fecal n ã o é
Em HCP, a coproporfirina-III é m u i t o elevada e a protoporfirina- i m p o r t a n t e para o diagnóstico de EPP, p o r q u e os a u m e n t o s
IX é p o u c o elevada ou normal. Em VP, a protoporfirina-lX (e p o d e m ser causados pela ação da microbiota intestinal sobre o
outras porfirinas dicarboxilato) é elevada e existe u m a u m e n t o h e m e da dieta ou d o s a n g r a m e n t o gastrointestinal.
m e n o r da coproporfirina (com p r e d o m i n â n c i a do isômero tipo
III) (Tabela 29-3). E i m p o r t a n t e lembrar que a protoporfirina-IX
Parentes de Pacientes com Porfiria
e outras porfirinas dicarboxilato p o d e m a u m e n t a r pela ação da
Rastrear m e m b r o s de u m a família para identificar indivíduos
microbiota intestinal sobre o h e m e (se o h e m e é de origem ali-
assintomáticos que t e n h a m h e r d a d o AIP, V P ou H C P e estão,
m e n t a r ou resultado de s a n g r a m e n t o gastrointestinal). Portanto,
p o r t a n t o , sob risco de crises agudas é parte essencial do cuidado
se o p a d r ã o de p o r f i r i n a fecal sugere VP, o plasma deve ser
das famílias com estas doenças. O rastreamento p o d e ser reali-
e x a m i n a d o p o r espectroscopia de fluorescência para a fluores-
zado pela m e d i ç ã o de metabólitos, ensaios enzimáticos, análise
cência característica máxima em 624 a 6 2 8 n m (Tabela 29-3). 9
d o D N A , ou u m a c o m b i n a ç ã o dessas abordagens. A determina-
Algumas vezes é solicitado ao laboratório que seja feito u m
ção de metabólitos é simples, mas tem pouca sensibilidade; além
diagnóstico retrospectivo de porfiria após o paciente ter se recu-
disso, esses testes são quase sempre normais antes da p u b e r d a d e
perado de u m a crise, ou e m relação à causa de u m a doença
e, p o r t a n t o , não são adequados para a investigação de crianças.
neuropsiquiátrica crônica algum tempo depois da crise da
A medição da atividade da enzima defeituosa é mais sensível,
doença. A primeira etapa é quantificar o PBG urinário: testes
mais t a n t o a sensibilidade q u a n t o à especificidade são limitadas
de rastreamento são m u i t o insensíveis para este fim. A porfirina
pela sobreposição entre atividades na doença e na população
fecal é m e d i d a (para excluir H C P ) e a espectroscopia de fluores-
n o r m a l . A detecção de mutação pela análise d o D N A é específica
550 PARTE IV Analitos

e mais sensível d o que os métodos bioquímicos. Ela está, por- Métodos para os Metabólitos
tanto, substituindo rapidamente outros métodos, particular- O s m é t o d o s para os metabólitos incluem os destinados a A L A e
mente porque tem uma vantagem adicional de possibilitar que a PBG.
doença assintomática seja excluída com certeza. Entretanto,
d e p e n d e da identificação anterior de uma mutação doença-espe- Porfobilinogênio
cífica na família sob investigação. E m aproximadamente 5% das A maioria dos m é t o d o s para PBG se baseia n a reação do reagente
famílias nas quais uma mutação não p o d e ser identificada, o de Ehrlich (4~dimetilammobenzaldeido e m solução ácida) com o
rastreamento d o gene, usando polimorfismos de um único nucle- carbono a - m e t e n o do anel pirrol para formar u m produto colo-
otideo (SNPs) intragênico, p o d e set útil, mas requer pelo m e n o s rido descrito de diversas maneiras c o m o "vermelho-rosado" ou
dois membros da família inequivocadamente afetadas. "magenta", que tem u m espectro de absorção característico c o m
A investigação de famílias tem u m a função mais limitada n o u m pico a 5 5 3 n m e u m ombro a 5 4 0 nm. As porfirinas não
c u i d a d o clínico d e o u t r a s porfirias. E m PCT, a f o r m a familiar c o n t ê m n e n h u m h i d r o g ê n i o a - m e t e n o e, p o r t a n t o , não reagem.
a u t o s s ô m i c a d o m i n a n t e p o d e ser i d e n t i f i c a d a pela análise de Algumas outras substâncias na u r i n a reagem c o m o reagente,
U R O D n o eritrócito ou por análise m u t a c i o n a l , mas n ã o existe originando p r o d u t o s vermelhos, em especial o urobilinogênio,
n e n h u m a evidência até o m o m e n t o de que os e s t u d o s de família inibem a reação, ou são elas mesmas pigmentadas, mascarando,
sejam necessários a m e n o s q u e solicitado p o r parentes ansiosos. portanto, o cromógeno vermelho. Todas as interferências preci-
N o entanto, pacientes de descendência d o Norte Europeu devem sam ser removidas. Isto é mais b e m alcançado pela cromatografia
ser testados para a mutação C 2 8 2 Y do gene da hemocromatose de troca iônica (primeiramente descrita por Mauzerall e
(HFE). A hemocromatose deve ser considerada nas famílias que Granick 12 ), mas métodos para a quantificaçao precisa de PBG
têm u m membro homozigoto para C 2 8 2 Y (Capitulo 2 8 ) . baseados neste procedimento são demorados. M é t o d o s mais sen-
Em EPP, testar pais não afetados quanto à presença d o alelo síveis baseados e m H P L C e espectrometria de massas (MS) estão
IVS3-48C de baixa expressão de FECH é útil para avaliar o risco disponíveis.
de futuros filhos terem a doença clinicamente evidente. A análise Testes de rastreamento qualitativos, nos quais a urina reage
mutacional d o gene FECH pode ser necessária para o aconselha- diretamente com o reagente de Ehrlich e é avaliada visualmente
m e n t o genético de algumas famílias.' pela formação d o cromógeno vermelho (p. ex., os testes de
Watson-Schwartz e Hoesch), são convenientes, mas têm sido cri-
ticados pelas baixas sensibilidade e especificidade, m e s m o que a
MÉTODOS ANALÍTICOS extração c o m solvente tenha sido utilizada para separar o com-
O s métodos analíticos usados para diagnosticar e monitorar por- posto PBG-Ehrlich do complexo urobilinogênio-Ehrlich. O
firias estão descritos resumidamente aqui. As descrições comple- m é t o d o de Mauzerall e Granick foi modificâno na tentativa de
tas podem ser encontradas no Tietz Textbook of Clinicai CJiímijtT^ criar uma alternativa que seja aceitável para fins de rastreamento.
and Molecular Diagnostics, 4 a edição. Buttery e Stuart"1 evitaram o uso de colunas, empregando u m
tratamento com resina e m batelada, e compararam visualmente
Coleta e Estabilidade das Amostras a cor final com a de u m padrão substituto. Blake et al2 elimina-
Todas as amostras devem ser protegidas da luz; as concentrações ram as etapas de centrifugação, usando seringas preenchidas com
de porfirina urinária p o d e m diminuir em até 5 0 % se mantidas resina c o m filtros separáveis, e compararam a cor final com uma
na luz por 24 horas. As porfirinas urinárias e o PBG são mais variedade de padrões artificiais. Essas modificações reduziram o
bem analisados em amostras frescas, coletadas no inicio da tempo necessário para realizar o teste para 10 minutos e produ-
manhã (10 a 2 0 mL) e sem conservantes. Urina diluída (creati' ziram um resultado semiquantitativo. U m kit comercial baseado
nina <4 m m o l / L [45 mg/dL]) não é adequada para análise. n o m é t o d o de Blake está disponível (Trace PBG Kit; Alpha
A coleta n o período de 24 horas oferece pouca vantagem, Laboratories, Eastleigh, Hampshire, U K ) e parece ser mais sensí-
atrasa o diagnóstico e aumenta o risco de coleta incompleta vel e especifico para o rastreamento inicial do que os procedi-
durante o período especificado. PBG e porfirinas são estáveis na mentos qualitativos c o m extração com solvente. Se o teste de
urina por até 4 8 horas n o escuro a 4 D C , e por pelo m e n o s u m rastreamento qualitativo é usado, é essencial incluir controles
mês a - 2 0 ° C . Amostras para a avaliação de A L A devem ser ime- apropriados e confirmar todos os testes positivos usando u m
diatamente refrigeradas. Amostras de urina p o d e m ser estocadas m é t o d o quantitativo específico.
a 4 ° C no escuro por pelo menos duas semanas sem perda signi-
ficante de ALA, e amostras congeladas são estáveis por semanas. Ácido 5-Aminolevulínico
Enquanto PBG é mais estável em torno de p H 8 a 9, A L A é mais A L A p o d e ser medido diretamente, mas é mais c o m u m e n t e
estável em torno de p H 3 a 4, embora ambientes mais ácidos convertido e m um pirrol reativo com Ehrlich pela condensação
reduzam a estabilidade de ALA. com u m reagente, tal c o m o acetilacetona, após a separação de
C e r c a d e 5 a 10 g de peso ú m i d o de fezes é a d e q u a d o p a r a PBG por cromatografia de troca aniônica e m dois estágios. U m
as medições de porfirina. As mudanças de concentração impor- m é t o d o de medição de PBG e ALA, baseado no método de
tantes para o diagnóstico são improváveis de ocorrerem dentro Mauzerall e Granick, 12 está disponível comercialmente (Bio-Rad
de 36 horas à temperatura ambiente e as amostras são estáveis Laboratories, Hercules, Calif).
por muitos meses a - 2 0 ° C .
Sangue, anticoagulado c o m ácido etilenodiaminotetracético Análise de Porfirina na Urina e nas Fezes
(EDTA), não apresenta perda de protoporfirina por até 8 dias à O s métodos de fracionamento de porfirina são complexos, demo-
temperatura ambiente, e por pelo m e n o s 8 semanas a 4 ° C no rados e não estão disponíveis e m todo laboratório. Por esta razão,
escuro. os testes de rastreamento qualitativos simples são freqüentemente
E u m b o m costume tratar todas as amostras recebidas usados para excluir a maioria das amostras que não requer inves-
de pacientes com suspeita de porfiria associada a bolhas c o m o de tigação posterior das poucas que justificam fracionamento das
"alto risco", porque existe uma maior freqüência de infecção com porfirinas individuais. O s testes de rastreamento nos quais os
vírus hepatotrópicos, particularmente HCV, e m PCT. extratos de urina ou fezes são examinados visualmente pela flu-
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 551

orescência vermelha-rosada típica das porfirinas não têm sensi- sem dissociar o heme da hemoglobina. 6 O extrato é rastreado
bilidad e e não devem ser urilizados. O s métodos baseadas em e m u m espectrofluorímetro para distinguir os máximos de
varredura espectrofotométrica de extratos de urina acidificada emissão da protoporfirina e d o zinco quelado (Figura 29-3).
ou dc fezes quanto à presença da banda Soret são recomendados
e geram informações semiquantitativas. 5 O s métodos fluorimé- Análise de Porfirinas no Plasma
tricos quantitativos estão t a m b é m disponíveis. 2 As porfirinas do plasma p o d e m ser determinadas por espectros-
Todos os métodos de fracionamento de porfirinas são base- copia de fluorescência do plasma diluído e m salina 9 ou extratos
ados nas solubilidades diferentes das porfirinas individuais, desproteinizados, o u por HPLC. O primeiro desses métodos tem
devido aos seus (^substituintes diferentes e, em menor grau, à as vantagens de ser simples e incluir porfirinas que estão ligadas
sua posição ao redor do macrociclo. Portanto, os métodos covalentemente a proteínas plasmáticas. As porfirinas em p H
incluem extração diferencial com solventes, cromatogr afias e m neutro apresentam fluorescência na região de 610 a 6 4 0 nm; o
papel e de camada fina, e HPLC. O s métodos de extração com comprimento de onda da emissão máxima depende principal-
solvente geram apenas informações limitadas e, algumas vezes, mente da estrutura da porfirina, mas é t a m b é m influenciado
equivocadas, e não deveriam ser utilizados. HPLC de fase reversa11 pela natureza do complexo porfirina-proteína. Este m é t o d o é útil
é o m é t o d o escolhido atualmente e separa todas as porfirinas de c o m o uma primeira investigação quando há a suspeita de porfi-
interesse clinico, incluindo isômeros e quelatos de metal sem a ria cutânea.
necessidade de metilação prévia.
Medição de Enzimas
Análise de Porfirinas no Sangue A análise das enzimas individuais da via biossintética d o h e m e
Todos os m é t o d o s descritos a seguir requerem u m espectrofluo- raramente é solicitada para a investigação de pacientes com
rímetro instalado c o m u m fotomultiplicador sensível vermelho. sintomas de porfiria. C o n t u d o , a medição das atividades enzi-
Se este equipamento não estiver disponível no local, as amostras máticas é útil para os estudos de família quando a mutação
devem ser entregues a u m laboratório especializado porque as individual não p o d e ser identificada o u a análise de D N A não
medições no eritrócito e n o plasma são raramente necessárias está disponível, e para a identificação de subtipos, tais c o m o a
para a avaliação imediata de pacientes gravemente doentes. AIP não eritróide e as formas "homozigóticas" de porfirias domi-
O método mais simples para a porfirina do sangue total ou nantes aucossômicas. O s erirrócitos são uma fonte conveniente
do eritrócito é o descrito por Piomelli e modificado por Blake de enzimas cito plasmáticas (ALAD, H M B S , U R O S e U R O D ) ,
et al1 As porfirinas são extraídas e a hemoglobina e outras pro- mas a análise das enzimas mitocondriais (CPO, PPOX e FECH)
teínas são precipitadas ao se misturar o sangue diluído com uma requer células nucleadas, tais c o m o linfócitos o u fibroblastos e m
mistura de ácido dieril éter acético. As porfirinas são então cultura. As análises das enzimas que usam porfirinogênios c o m o
reextraidas e m ácido clorídrico e medidas fluorimetricamente substratos são tecnicamente difíceis porque o substrato é instá-
(Figura 29-3). Este m é t o d o tem a desvantagem de que as condi- vel, tem de ser preparado in sim e, particularmente com proto-
ções ácidas resultam e m liberação do zinco da ZPP e é, portanto, porfinogênio, sofre oxidação não-enzimática durante o teste.
uma medida da protoporfirina total. Para preservar o zinco
quelado, são necessárias coi^jições de extração neutras ou Análise de DNA
básicas. As células diluídas são misturadas com etanol, o qual O rastreamento de famílias quanto a porfirias pela análise de
precipita a hemoglobina c outras proteínas e extrai as porfirinas D N A é u m processo em duas etapas. Primeiramente, a mutação

Normal EPP D e f i c i ê n c i a d c forro

7r~Proto

Prcxo
ZfT Proto

56C 571! Si» 61G 63C 550 570 560 610 íiSíl JKI 5*í 3C-0 S» 630 650
Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm)

Figura 2 9 - 3 Espectro de emissão de fluorescência (excitação em 405 nm) dos extTatos etanóhcos dos
erkrócitos de um individuo normal e de pacientes envenenados por chumbo e protoporfiria eritropoiética (EPP).
Note que escalas diferentes são usadas.
552 PARTE IV Analitos

q u e causa a porfiria n a família investigada precisa ser identificada 5. Deacon AC, Élder G H . ACP Best Practice N o 165. Front line tests
p e l a a n á l i s e d o DN1A d e u m m e m b r o d a f a m í l i a e m q u e o diag- for the investigation of suspected porphyria ] Clin Pathol 2001;54:
n ó s t i c o d e u m t i p o e s p e c í f i c o d e p o r f i r i a foi c o n f i r m a d o e r r o n e - 500-7.
a m e n t e . S e g u n d o , os parentes d o paciente são rastreados para a 6. Garden ]S, Mitchell D G , Jackson KW. Improved e th anui extraction

mutação. A primeira parte deste processo é a mais complexa. procedure for determining zinc p r o t o p o r p h y i i n in whole blood. Clin
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C o m o a m a i o r i a das m u t a ç õ e s está restrira a u m a ou a p o u c a s
7. Gouya L, Marun-Schmitt C, Robreau AM, Austerlitz F, Da Silva V,
famílias, a identificação de u m a m u t a ç ã o e m u m a nova família
Brun P et ai Contributiori of a single núcleo ride polymorphísm to the
q u a s e s e m p r e r e q u e r p e l o m e n o s a a n á l i s e d e t o d o s os é x o n s , c o m
genetic predisposition for erythropoietic protoporphyria. Am J H u m
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0 teste inicial para u m a ú n i c a m u t a ç ã o vale à p e n a . T é c m c a s - 9. Hift R, Davidson BP, van der H o o f t C, Meissner D M , Meissner PN.
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simple resín metbod with use of a surro gate standard. Clin C h e m
1991;37:2133-6.
%
CAPÍTULO 3 0

Drogas Terapêuticas
Thomas P. Moyer, Ph.D., e Gwendolyn A. McMillin, Ph.D.*

OBJETIVOS B l o q u e a d o r de C a n a l de Cálcio: U m dos grupos de drogas que


1. Definir os seguintes termos: inibem a entrada de cálcio para dentro das células ou inibe
índice terapêutico a mobilização de cálcio a partir do a r m a z e n a m e n t o
Mecanismo de ação intracelular, resultando n a lentificação da c o n d u ç ã o
Pico e vale da concentração da droga atrioventricular e sinoatrial e relaxamento do m ú s c u l o liso
arterial e d o músculo cardíaco; utilizados n o t r a t a m e n t o da
Estado de equilíbrio (sfeady-s/a/e)
angina, arritmias cardíacas e hipertensão.
Farmacodinâmica
C i t o c r o m o P 4 5 0 : T e r m o genérico para enzimas oxídativas de
Farmacogenética
f u n ç ã o mista, importantes na fisiologia de animais, plantas
Farmacocinética
e bactérias.
Dose-resposta
D r o g a G e n é r i c a : M e d i c a m e n t o n ã o protegido por p a t e n t e
Meia-vida da droga
T a m b é m é o n o m e específico em oposição ao n o m e
Biadisponibilidade
comercial patenteado.
Metabolismo de primeira passagem Efeito de P r i m e i r a Passagemi Metabolismo extensivo d e u m a
2. Listar e descrever os cinco fatores que afetam a farmacocinética droga com alta taxa de extração hepática antes de atingir a
das drogas. circulação sistêmica.
3. Estabelecer métodos de análise para a monitoração a avaliação das Farmacocinética: Atividade ou destino das drogas n o c o r p o
concentrações de drogas terapêuticas. dentro de u m período de tempo, incluindo processos de
4. Listar os métodos de análise disponíveis para avaliar a absorção, distribuição, localização em tecidos,
concentração terapêutica da droga. ** biotransformação e excreção
5. Listar cinco drogas antiepilépticas, seus usos específicos, s e u s F a r m a c o d i n â m i c a : Estudo dos efeitos bioquímicos e
metabólitos ativos (se aplicável) e o nome comercial de cada uma. fisiológicos das drogas e seus mecanismos de ação,
6. Listar cinco drogas de ação cardiológica, seus usos específicos, incluindo as correlações entre as ações e os efeitos da droga
s e u s metabólitos ativos (se aplicável) e o nome comercial de cada e sua estrutura química; t a m b é m estuda esses efeitos na
uma. ação de uma droga particular.
7. Listar cinco antidepressivos e seus modos de ação. Farmacogenéticai Estudo da influência da variação genética na
8. Explicar o uso clínico dc lítio, resposta da droga em pacientes, pela correlação entre a
9. Explicar o uso clínico das drogas imunossupressoras e dos expressão de u m gene ou polimorfismos de u m ú n i c o
antibióticos e descrever seus modos de ação. nucleotídeo e a eficácia ou toxicidade de u m a droga.
10. Identificar possíveis interações medicamentosas quando conhecidas F a r m a c o g e n ô m i c a : Relação e correlação entre a variação
a s informações apropriadas. genética e a resposta ou toxicidade associada a u m a terapia
medicamentosa {farmacologia e toxicologia).
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES Farmacologia: Todo o c o n h e c i m e n t o sobre agentes químicos e
A c i d o G a m a A m i n o b u t í r i c o (GABA): A m i n o á c i d o que serve seus efeitos em processos ativos.
c o m o neurotransmissor inibitório n o sistema nervoso I m u n o f i l i n a : T e r m o genérico para u m a proteína intracelular
central que se liga a drogas imunossupressoras c o m o ciclosporma,
Agentes A n t i a r r í t m i c o s : Agentes utilizados n o t r a t a m e n t o ou FK 506 e rapamicma.
prevenção de arritmias cardíacas. Agentes antiarrítmicos são I m u n o s s u p r e s s o r : Agente capaz de suprimir respostas imunes.
f r e q ü e n t e m e n t e classificados em quatro grupos principais, I n d u ç ã o Enzimática: A u m e n t o da síntese de u m a enzima em
de acordo com seu m e c a n i s m o de ação. bloqueadores de resposta a u m i n d u t o r ou o u t r o estímulo
canais de sódio, bloqueadores (3-adrenérgicos, prolongadores Interações M e d i c a m e n t o s a s : Efeitos de u m a droga n a absorção
da repolarização, ou bloqueadores de canais de cálcio. intestinal, metabolismo ou ação de outra droga.
A n t i e p i l é p t i c o : Substancia para prevenir ou suavizar crises Meia-vida da D r o g a : Tempo requerido para que m e t a d e da
convulsivas. droga administrada seja metabolizada e eliminada.
B e t a b l o q u e a d o r : Droga que induz o bloqueio adrenérgico dos M o n i t o r a ç ã o da D r o g a : Estudo dos efeitos de u m a substância
receptores (31 ou p2-adrenérgicos ou de ambos. química administrada em u m indivíduo.
Relação Dose-resposta: Relação entre a dose da droga
administrada e a resposta d o organismo à droga.
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições dos Drs. Bonny L
Bukaveckas, Mark W. Linder c Leslie M Shaw, nas quais se baseiam partes deste X e n o b i ó t i c o s : Substância química estranha ao sistema
Capítulo. biológico.
554 PARTE IV Analitos

O manejo terapêutico de drogas (TDM) é uma atividade


clínica multidisciplinar iniciada pela solicitação d o
médico ao laboratório para quantificar a concentração
da droga n o f l u i d o biológico. Esses valores são utilizados para (1)
são similares quimicamente a substâncias endógenas naturais
importantes e p o d e m competir pelos sítios de ligação. A l é m
disso, algumas drogas bloqueiam (1) a formação, (2) a liberação,
(3) a absorção o u (4) o transporte de substâncias essenciais.
avaliar a adequação da terapêutica, (2) avaliar sua eficácia, ou (3) Outras produzem u m efeito pela interação c o m moléculas relati-
elucidar a causa da toxicidade induzida pela droga. vamente pequenas paTa formar complexos que ativamente se
Para ser efetivo, o T D M requer a aquisição de uma amostra ligam a receptores.
válida seguida da determinação da concentração da droga em Apesar de serem desconhecidas as exatas interações molecu-
tempo adequado, e interpretação dos resultados no contexto da lares que descrevem o m e c a n i s m o de ação de diversas drogas,
relação dose-resposta, tempo da última dose, e presença de outra modelos teóricos têm sido desenvolvidos para explicá-las. U m
droga. Os resultados devem ser apresentados e comparados com conceito postula que as drogas se ligam a receptores macromole-
valores de referência para que sejam corretamente interpretados. culares intracelulares através de pontes iónicas, de pontes de
O c o n h e c i m e n t o do impacto da genética na distribuição da hidrogênio e de forças de van der Walls. Esse m o d e l o teórico
droga se desenvolveu rapidamente nos anos de 1990 e continua ainda postula que se o complexo droga-receptor for suficiente-
a se desenvolver nos anos de 2000. Esse campo de c o n h e c i m e n t o mente estável e capaz de modificar o sistema-alvo, uma resposta
e sua relação c o m a distribuição da droga tornou-se c o n h e c i d o farmacológica observável irá ocorrer. C o m o a Figura 30-2 ilustra,
c o m o farmacogenômica. O T D M e a farmacogenômica são dis- a resposta é dose-dependente até o máximo efeito ser alcançado.
ciplinas altamente relacionadas e utilizadas em conjunto para O platô pode ser devido à saturação do receptor o u sobrecarga
esclarecer a posição global da farmacocmética de u m paciente. d o processo de transporte.
Os conceitos básicos da farmacogenômica que estão relacionados A utilidade de se monitorar a concentração da droga está
à interpretação dos resultados d o T D M estão inclusos neste baseada n o princípio de que a resposta farmacológica se correla-
capítulo. Revisões realizadas por 0 ' K a n e et al.10 e Weinshilboum 1 4 ciona c o m a concentração da droga n o local de ação (receptor).
e o website oferecido por Flockhart 4 são boas fontes de informa- Estudos têm demonstrado que, para diversas drogas, existe uma
ção adicional. forte correlação entre a concentração sérica da droga e o efeito
farmacológico observado. A l é m disso, anos relacionando as con-
CONCEITOS BÁSICOS centrações sanguíneas com os efeitos das drogas, têm demons-
A Figura 30-1 ilustra a relação conceituai entre a farmacodinâ- trado a utilidade clínica da informação da concentração da droga.
mica e farmacocinética. A primeira está relacionada à concentra- N o entanto, deve-se ter em mente que a concentração sérica da
ção da droga n o local de ação para se observar a magnitude do droga não é necessariamente igual à concentração n o receptor,
efeito 2 . Earmacocínética diz respeito à dose, intervalo entre doses mas apenas a reflete. \
e roteiro de administração (regra) para a concentração de droga Para os estudos de farmacocinética, é aceito que mudanças
n o sangue. na concentração da droga n o sangue (ou sérica) versus o tempo
O efeito farmacológico da droga é gerado pela interação são proporcionais às mudanças na concentração local d o receptor
direta da droga com u m receptor que controla uma função espe- o u d o tecido corporal. Essa hipótese é algumas vezes d e n o m i n a d a
cífica ou por alteração mediada pela droga n o processo fisiológico propriedade da homogeneidade cinética e é aplicável a todos os
que controla essa função. Isto é c o n h e c i d o c o m o mecanismo de m o d e l o s farmacocinéticos nas fases de pós-absorção e pós-distri-
ação. Em determinado tecido, o local no qual a droga age para buição d o tempo de curso. A Figura 30-3 ilustra essa propriedade
iniciar eventos levando a u m efeito biológico especifico é chamado para u m composto hipotético. Concentrações paralelas (log C)
de sítio de ação da droga. Para a maioria das drogas, a intensidade são esperacias no sangue, n o receptor e n o tecido c o m o passar
e a duração d o efeito farmacológico observado são proporcionais d o tempo. A Figura 30-3 é hipotética; a concentração absoluta
à concentração da droga n o receptor, prognosticado pela farma- de uma droga e m vários tecidos é altamente variável de droga
cocinética. pata droga.
A propriedade da h o m o g e n e i d a d e cinética é uma suposição
Mecanismo de Ação importante n o T D M , pois é a base na qual todos os valores de
O mecanismo às ação de uma droga é o processo bioquímico ou concentrações terapêuticas e tóxicas de referência são estabeleci-
físico que ocorre n o local da ação para produzir o efeito farma- dos. A variação das concentrações mensuráveis e m conjunto
cológico. A ação da droga n o r m a l m e n t e é mediada por u m recep- define a faixa terapêutica (Figura 30-4) que representa a relação
tor. Enzimas celulares e proteínas estruturais ou transportadoras entre a concentração mínima efetiva (MEC) e a concentração tóxica
são exemplos importantes de receptores de drogas. Macromolé- mínima (MTC). N u m ciclo de dosagem ótimo, a concentração
culas não-protéicfis também podem se ligar a drogas, resultando sanguínea no vale (concentração mínima atingida logo antes da
e m alteração das funções celulares controladas pela permeabili- próxima dose) não deve cair abaixo da MEC, e o £>ico da concen-
dade da membrana ou pela transcrição do D N A . Algumas drogas tração sanguínea não deve subir mais d o que a MTC. Isso noTmal-

Figura 30-1 Relação conceituai entre a fatmacodinâmica e a farmacocinética.


Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 555

Efskc máximo
Fa x a MTC
/ Cmax í 4
t&rapèiJtics
r

f \ ' N
\ T
MEC

Fstado do
(log) D o s e ccuilibiiu

F i g u r a 3 0 - 2 A curva logarítmica de relação causa-efeito. O platô


(efeito máximo) é devido à saturação nos receptores.
Tempo (t)

F i g u r a 3 0 - 4 As concentrações de pico, média e de vale a u m e n t a m


com múltiplas doses idênticas administradas a cada meia-vida, até que se
atinja o estado de equilíbrio. Para a maioria das drogas, isso leva de
cinco a sete meias-vidas. "No estado de equilíbrio, as concentrações de
pico e de vale ótimas são menores que as da T C M e maiores que as da
MEC. A faixa de valores entre a T C M e a M E C é chamada de "faixa
terapêutica" Cmáx ss e Cmin ss são as concentrações n o estado de
equilíbrio máximas e mínimas; C, a concentração média n o estado de
equilíbrio; T, o intervalo de dosagem; D, a dose; MTC, concentração
tóxica mínima; MEC, concentração efetiva mínima. (Modificado de
Gilman AG, G o o d m a n E, Gilman A, eds. T h e pharmacological basis of
therapeutics, 6th Ed New York- Macmillan, 1980 Reproduzido com a
permissão da McGraw-Hill Companies.)

Figura 3 0 - 3 Propriedade de homogeneidade^ínética


Concentrações sanguíneas se correlacionam com a concentração no
tecido e n o receptor, mas podem não ser iguais. p a c i e n t e ( Q u a d r o 30-1). Por exemplo, a c o n s i d e r a ç ã o da história
d o paciente, c o m ê n f a s e p a r t i c u l a r n o seu e s t a d o fisiopatológico
e terapia m e d i c a m e n t o s a associada, é essencial n a iniciação da
terapia c o m a droga e T D M . O u t r o s fatores i m p o r t a n t e s i n c l u e m
m e n t e é a t i n g i d o a d m i m s t r a n d o - s e a droga u m a vez a cada meia- c o m o a droga é (1) absorvida, (2) distribuída, (3) metabolizada,
vida, r e p r e s e n t a d o p e l o 1 n a Figura 30-4. Diversos regimes de (4) r e m o v i d a pelo fígado, (5) b i o t r a n s f o r m a d a e (6) excretada.
a d m i n i s t r a ç ã o da droga a t i n g e m o estado de equilíbrio da concen-
tração sérica d a droga c o n s i s t e n t e m e n t e m a i o r que M E C e m e n o r Absorção
q u e M C T d e n t r o d a faixa terapêutica. O estado de equilíbrio é A m a i o r i a das drogas a d m i n i s t r a d a s c o n t i n u a m e n t e a pacientes
o p o n t o n o qual a c o n c e n t r a ç ã o da droga n o c o r p o está e m p o r longos p e r í o d o s de t e m p o é prescrita p o r via extravascular.
equilíbrio com a taxa de dose a d m i n i s t r a d a e a taxa d e elimina- A p e s a r de as vias i n t r a m u s c u l a r e s e s u b c u t â n e a s serem utilizadas,
ção. C o n c e n t r a ç õ e s s a n g u í n e a s m a i o r e s d o que a M T C colocam a via oral é a p r i n c i p a l via para a d m i n i s t r a ç ã o d a m a i o r i a das
o p a c i e n t e e m risco para a toxicidade; c o n c e n t r a ç õ e s abaixo da doses extravasculares. O processo de absorção d e p e n d e (1) da
M E C o colocam e m risco p a r a o d i s t ú r b i o que a droga suposta- dissociação da droga n a sua f o r m a de a d m i n i s t r a ç ã o , (2) da sua
m e n t e estaria t r a t a n d o . A M T C e a M E C são referências úteis dissolução n o f l u i d o gastrointestinal e, depois, (3) da sua d i f u s ã o
n a terapia; este c o n c e i t o está i n c o r p o r a d o e m tabelas que serão através d a m e m b r a n a biológica a t i n g i n d o a circulação s a n g u í n e a .
a p r e s e n t a d a s p o s t e r i o r m e n t e n e s t e capitulo, r e s u m i n d o os d a d o s A taxa e extensão de absorção da droga p o d e m variar considera-
de cada droga especifica. As doses d e v e m ser p l a n e j a d a s de m o d o v e l m e n t e d e p e n d e n d o d a p r ó p r i a n a t u r e z a d a droga, da matriz
a atingir as c o n c e n t r a ç õ e s terapêuticas, e devem ser m o n i t o r a d a s n a qual é a p r e s e n t a d a , e d o m e i o fisiológico (p. ex., p H , motili-
para guiar ajustes n a dose, caso sejam necessários. A m e n o r d a d e gastrointestinal e vascularização).
diferença e n t r e M E C e M T C , o menor índice terapêutico e o A fração da droga q u e é absorvida para a circulação sistêmica
mais provável T D M serão necessários. O conceito-chave que deve é referida c o m o biodisponibilidade A b i o d i s p o n i b i h d a d e de u m a
ser l e m b r a d o é que a M E C e a M T C d e f i n e m a faixa terapêutica d e t e r m i n a d a droga é n o r m a l m e n t e calculada pela c o m p a r a ç ã o ,
para a m a i o r i a das drogas. para u m m e s m o o b j e t o d e e s t u d o , e n t r e a área n a c u r v a concen-
t r a ç ã o - t e m p o n o p l a s m a para doses equivalentes n a s f o r m a s intra-
venosa e oral. Para ser útil, a b i o d i s p o n i b i l i d a d e da droga deve
Distribuição da Droga ser g r a n d e o suficiente de m o d o q u e o c o m p o n e n t e ativo passe
Vários fatores p o d e m ter p r o f u n d a i n f l u ê n c i a n a f a r m a c o c i n é t i c a e m q u a n t i d a d e suficiente e n o t e m p o d e s e j a d o d o i n t e s t i n o para
d a droga e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , n a resposta farmacológica d o a circulação sistêmica. A b i o d i s p o n i b i l i d a d e p a r a drogas adminis-
556 PARTE IV Analitos

QUADRO 30-1 Fatores que Influenciam a Distribuição da resultando em u m a hiodisponibilidade muito baixa. Esse fenô-
Droga em Seres Humanos m e n o é chamado de efeito de primeira passagem.
A l é m da extensão da absorção, também é importante a taxa
FATORES DEMOGRÁFICOS de absorção. A absorção de uma droga é, de forma geral, consi-
Faixa etária (prematuros, recém-nascidos, crianças, pré-adolescentes, ado-
derada c o m o um processo de primeira ordem, e a constante da
lescentes, adultos, idosos)
taxa de absorção é normalmente maior que a constante da taxa
Peso
de eliminação. Ao manipular formulações para produzir produ-
Sexo
tos de liberação sustentada ou "lenta", a taxa de absorção apa-
Raça
rente de muitas drogas acaba s e n d o controlada. Por exemplo,
Constituição genética
formulações que geram liberação sustentada permitem que
FATORES RELACIONADOS A DOENÇAS drogas tomadas por via oral possam ser administradas menos
Doença hepática (cirrose, hepatite, colestase)
vezes ao dia. Outras condições que influenciam a taxa de absor-
Doença renal ção da droga incluem (1) motilidade gastrointestinal alterada, (2)
Distúrbios de tireóide (hipo ou hipertireoidismo] doenças do estômago e do intestino, (3) infecções gastrointesti-
Doenças cardiovasculares (insuficiência cardíaca, arritmias) nais, (4) radiação, (5) comida e (6) interação c o m outras substân-
Distúrbios ou doenças gastrointestinais (doença celíaca ou síndromes de má cias n o trato gastrointestinal. E preciso ter atenção particular-
absorção, úlcera péptica, colite) m e n t e ao se administrar drogas em conjunto quando elas afetam
Câncer a absorção intestinal, c o m o antiácidos, caulim, sucralfato, coles-
Cirurgia tiramina e medicações anti-úlcera, além da co-administração de
Queimaduras morfina, que diminui a motilidade intestinal.
Estado nutricional (estados caquáticos ou anoréticos)
Distribuição
FATORES EXTRACORPÓREOS A p ó s u m a droga ter entrado n o compartimento vascular, ela
Hemodiálise
interage com vários constituintes do sangue e é transportada
Diálise peritoneal
através de vários processos para diferentes órgãos e tecidos. A
Bypass cardiopulmonar
totalidade desse processo é conhecida c o m o distribuição. Os
Hipotermia ou hipertermia
fatores que determinam as características da distribuição de uma
droga são (1) ligação da droga aos c o m p o n e n t e s sanguíneos, (2)
FATORES QUÍMICOS E AMBIENTAIS INFLUENCIANDO:
Absorção da Droga ligação a receptores fixos, (3) passagem da droga através de mem-
Comida ou drogas administradas conjuntamente afetam a taxa de absorção branas e (4) habilitlhde de se dissolver em estruturas lipídicas. O
peso molecular, o pJC, a solubilidade lipídica e outras proprieda-
Distribuição da Droga des físicas e químicas da droga também são importantes determi-
Administração conjunta de drogas que afetam a I gação a proteínas plasmáti- nantes da distribuição.
cas ou receptores teciduais U m a vez que a droga tenha entrado na circulação sistêmica,
ela se distribui e se equilibra com diversos c o m p o n e n t e s do
Metabolismo da Droga sangue. U m dos grupos com maior significado clínico são as
Ingesta alimentar (carboidratos, proteínas, lipídios) competindo em sistemas proteínas plasmáticas. Existe u m equilíbrio entre drogas em sua
de metaholização forma livre e sua forma ligada a proteínas. Acredita-se, cm geral,
Administração conjunta de uma droga que induz metabolismo enzimático (p. que apenas a fração livre da droga fica disponível para distribuição
ex., fenobarbital) e eliminação. Além disso, apenas a droga livre é disponível para
Administração conjunta de uma droga que inibe o metabolismo enzimático atravessar as membranas celulares ou para interagir com recepto-
(p. ex., cimetidina] res de forma a desencadear respostas biológicas. Sendo assim, as
mudanças nas características de ligação protéica de uma droga têm
Excreção da Droga
profunda influência na distribuição e eliminação da mesma e na
Administração conjunta de uma droga que compete pelas vias de secreção
maneira em que suas concentrações n o estado de equilíbrio são
tubular renal (p. ex., probenicida, penicilina)
interpretadas. Cada droga tem suas próprias características de
Mudanças no fluxo urinário
ligação protéica que dependem de suas propriedades físicas e
Administração conjunta de compostos que aumentam a reabsorção tubular
químicas Por exemplo, drogas de caráter ácido tipicamente se
(p. ex,, bicarbonato de sódio ou fenobarbital)
ligam à albumina, e drogas de caráter básico se ligam às globulinas,
particularmente à glicoproteína ácida ai (AAG). Algumas drogas
se ligam tanto à albumina quanto às globulinas.
D e p e n d e n d o de sua afinidade pelas proteínas plasmáticas,
tradas oralmente é tipicamente maior que 70%. U m a exceção uma droga pode tanto ficar fortemente quanto fracamente ligada.
seria um caso na qual a luz d o trato gastrointestinal seja o local U m a droga com ligação protéica fraca se solta quando outra c e
de ação da droga (p. ex., antibióticos usados para esterilizar o maior afinidade chega ao local. Por exemplo, a fenitoína e o ácido
intestino). Nessa situação, a baixa biodisponibiíidade seria então valpróico competcm entre si pela ligação com a albumina. C o m o
considerada vantajosa. o ácido valpróico está presente em concentrações mais altas, sua
Algumas drogas são rápida e completamente absorvidas, mas massa causa um significativo deslocamento na fenitoína, de sua
têm baixa biodisponibiíidade para a circulação sistêmica. Isto é forma ligada a proteínas, para sua forma livre. A ligação protéica de
verdade para as drogas com alta taxa de extração hepática. Após a uma droga também d e p e n d e de características físicas das proteí-
administração oral, as drogas que são absorvidas na luz d o intes- nas plasmáticas, da presença ou ausência de ácidos graxos, bem
tino delgado são transportadas pela veia porta diretamente ao c o m o de outras drogas n o sangue. Em algumas situações, os
fígado. U m a droga c o m alta taxa de extração hepática será muito ácidos graxos deslocam a droga de seus locais de ligação protéica.
metabolizada pelo fígado antes de atingir a circulação sistêmica, E importante reconhecer que, m e s m o que a concentração total
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 557

de u m a droga permaneça a mesma, o deslocamento dela de seus livre de uma droga que está alterando suas capacidades cogniti-
locais de ligação protéica eleva as concentrações de droga livre e vas. A redução da dose do m e d i c a m e n t o de forma a diminuir
p o d e m levar à toxicidade clínica. suas concentrações pode resultar em melhoras cognitivas dramá-
Qualquer coisa que altere a concentração da fração livre de ticas nesses pacientes.
droga n o plasma, em última análise, altera a quantidade de droga Estimar a concentração da forma livre da droga continuará
disponível para entrar nos tecidos e interagir com sistemas recep- sendo de interesse com o T D M . Técnicas de ultrafiltração são
tores específicos. Algumas doenças p o d e m alterar a concentração úteis em satisfazer essa necessidade. Entretanto, deve-se lembrar
livre de drogas. Por exemplo, a composição do plasma pode ser que medidas laboratoriais apenas estimam as concentrações na
alterada por (1) um a u m e n t o de compostos nitrogenados não- circulação sanguínea. Qualquer artefato na coleta, no processa-
piotéicos na uremia, (2) distúrbios eletrolíticos e ácido-básicos e m e n t o e na estocagem d o sangue irá modificar o equilíbrio de
(3) u m a diminuição na albumina; nessas condições, as concen- dissociação de algumas drogas. A despeito dessas possíveis falhas,
trações de droga livre ficam f r e q u e n t e m e n t e elevadas. O s pacien- as medidas da forma livre da droga pela ultrafiltração são supe-
tes p o d e m ter efeitos adversos que são u m a conseqüência direta riores às medidas feitas na saliva. Poucas drogas mostram uma
d o a u m e n t o na concentração de droga livre. Se a concentração forte correlação entre a concentração salivar e a concentração
total da droga n o plasma for monitorada nesses pacientes, pouca plasmática. Além disso, é difícil coletar saliva de pacientes grave-
m u d a n ç a pode ser notada porque a concentração total perma- m e n t e doentes, como aqueles em UTIs.
nece inalterada ou até mesmo diminui, e n q u a n t o a fração livre
pode a u m e n t a r de forma significativa. Alterações na concentra- Metabolismo
ção de droga livre n ã o são detectáveis p o r q u e a concentração da O fígado é o principal órgão responsável pelo metabolismo de
droga p o d e n ã o estar muito diferente daquela observada em medicamentos. Ele cunveite drogas lipofílicas não-polares a
indivíduos saudáveis. Por exemplo, a fenitoína está 9 0 % ligada e formas mais polares e hidrossolúveis, u s a n d o reações de fase I ou
10% na forma livre em indivíduos saudáveis. Em pacientes com fase II (Figura 30-5). As reações de fase I modificam a estrutura
uremia, 2 0 % a 3 0 % da concentração plasmática de fenitoína química através de oxidação, redução ou hidrólise. As reações de
pode ser na sua forma livre. Se considerarmos u m a pessoa sau- fase II conjugam a droga (glicuronidação ou sulfatação) em
dável que tem concentração total de fenitoína de 15 p g / m L , a formas hidrossolúveis. Essas reações são realizadas n u m a fração
concentração de fenitoína livre é cerca de 1,5 p g / m L . Em u m microssômicas dos hepatócitos, onde as reações químicas ambien-
paciente urêmico que tem uma concentração total de 15 p g / m L , tais, bem como endógenas bioquímicos (xenobióticos) também
a concentração da droga em sua forma livre pode ser de 4,5 são processados pelos mesmos mecanismos.
p g / m L . U m a concentração de fenitoína livre de pg/mL é O papel do T D M se torna particularmente importante para
suficiente para desencadear efeitos colaterais graves, incluindo drogas que passam pelo metabolismo hepático ou gastrointesti-
letargia e a u m e n t o da freqüência de convulsões. Dessa forma, em nal. A ampla variabilidade da taxa metabólica de qualquer droga
pacientes urêmicos é interessante quantificar as concentrações de existe não só em diferentes pacientes como t a m b é m n o mesmo
fenitoína livre e ajustar a dose da medicação para manter sua paciente em diferentes m o m e n t o s e circunstâncias. Essa variabi-
concentração em aproximadamente 2,0 p g / m L . lidade se deve a diversos fatores (Quadro 30-1).
As alterações de concentrações protéicas em resposta ao
estresse agudo também alteram a concentração livre de drogas.

r
Por exemplo, após u m infarto agudo d o miocárdio, há u m rápido
a u m e n t o na concentração de AAG. A lidocaína é usada para
controlar arritmias causadas pelo infarto, mas essa droga tem
caráter básico e tem alta afinidade de ligação pela AAG. Doses Xenobiótico Absorvido
inicialmente adequadas de lidocaína para controle de arritmias
imediatamente após o infarto se tornam ineficientes 48 a 72
horas depois, porque as altas concentrações de AAG que ocorrem <1
após o infarto d i m i n u e m a disponibilidade da droga aos tecidos.
A arritmia reaparece, e como a concentração de lidocaína neces-
sária para controle chega a níveis tóxicos, a dose de lidocaína é
Fase I •« Metabolismo Fase II
(CYP) (Conjungaçces)
diminuída q u a n d o , na realidade, deveria ser a u m e n t a d a para • hidrólise • glicuranídeo
m a n t e r u m a concentração considerada ótima. • oxidação • acetato
• desalquilação • glutaticna
Algumas drogas apresentam saturação dos locais de ligação
• desidrogenação • sulfato
protéica disponíveis n o plasma em concentrações consideradas • redução • metionina
ótimas. Por exemplo, a ligação da disopiramida é concentração- • desaminação
d e p e n d e n t e e varia m u i t o de paciente para paciente. C o n s e q ü e n - • dessulfuração
temente, sua concentração total e as respostas clínicas observadas
Eliminação
t a m b é m são variáveis.
Qualquer mudança n o estado fisiológico normal pode alterar
a concentração de droga livre, levando a mudanças na distribui- Figura 3 0 - 5 E s q u e m a s i m p l i f i c a d o das reações m e t a b ó l i c a s

ção entre o plasma e os tecidos. Pacientes geriátricos muitas vezes primárias associadas c o m a m e t a b o l i z a ç ã o de x e n o b i ó t i c o s em seres

têm h i p o a l b u m m e m i a com u m a intensa diminuição dos sítios h u m a n o s . O s x e n o b i ó t i c o s a b s o r v i d o s (drogas o u o u t r o s c o m p o s t o s

de ligação protéica das drogas. Nos idosos, os sinais clássicos de exógenos) p o d e m ser e l i m i n a d o s s e m b i o t r a n s f o r m a ç ã o o u ser

intoxicação por u m medicamento n o r m a l m e n t e n ã o são aparen- t r a n s f o r m a d o s e m u m m e t a b ó l i t o através das reações d e Fase 1 e / o u de

tes; por outro lado, os sintomas clínicos de intoxicação acabam Fase II. O m e t a b ó l i t o p o d e ser n o v a m e n t e m e t a b o l i z a d o pelas Fase I o u

se manifestando com perda de f u n ç ã o cognitiva - particular- II antes d e ser e l i m i n a d o . As reações d e Fase I são p r i m a r i a m e n t e

m e n t e confusão mental. Pacientes idosos podem ser considera- oxidativas e são mais c o m u m e n t e m e d i d a s pelas isoenzimas d o

dos senis quando, na realidade, é o a u m e n t o da concentração c i t o c r o m o P^Q. AS reações d e Fase II envolvem a c o n j u g a ç ã o p a t a


f o r m a r g l i c u r o n í d e o s , acetatos e o u t r o s a d u t o s .
558 PARTE IV Analitos

A bio transformação das drogas p o d e produzir metabólitos, Testes pré-terapêuticos p o d e m reduzir os custos de saúde pública
que são farmacologicamente ativos. Nessas situações, o metabó- prevenindo hospitalizações o u os cuidados adicionais relaciona-
lito também deve ser m e d i d o , pois contribui com o efeito da dos c o m às A D R s , ao reduzir medicações desnecessárias e melho-
droga n o paciente. A primidona e a procainamida são exemplos rar a aceitação, mas devem ser considerados uma ferramenta
dessas drogas. Se o mecabólito é inativo, não precisa ser medido, complementar ao T D M e outros testes laboratoriais.
mas devem-se tomar medidas para garantir que ele não interfira
e m u m processo de análise. Excreção
A c i t o c r o m o P 4 5 0 oxidase (abrevia-se CYP e m m a m í f e r o s / A excreção de drogas o u produtos químicos do corpo ocorre
plantas; e P^50 para bactérias) é u m importante elemento na através das vias (1) biliar, (2) intestinal, (3) pulmonar o u (4) renal.
modificação química o u na degradação de produtos c o m o drogas Apesar de cada uma delas representar u m possível mecanismo de
e compostos endógenos. O s genes da CYP atualmente são eliminação de drogas, a excreção renal é a maioT via de elimina-
medidos e usados na farmacogenética. ção da maioria das drogas e metabólitos hipossoíúveis, o que é
importante para o T D M . Alterações na função renal p o d e m ter
Citocromo P 450 u m importante efeito na excreção e na meia-vida destes compos-
O termo CYP é usado de forma genérica para funções mistas de tos ou de seus metabólitos ativos; uma diminuição da função
enzimas oxidattvas (EC 1.14) são importantes na fisiologia de animais, renal causa aumento da concentração sérica e a u m e n t o na res-
plantas e bactérias.15 As CYPs metabolizam milhares de compostos posta farmacológica.
endógenos e exógenos. Muitas irão metabolizar múltiplos substratos,
e outras catalisarão diversas reações. N o fígado, esses substratos Utilidade Clínica
incluem drogas e compostos tóxicos, bem como produtos do meta- O T D M t e m maior validade quando a droga em questão é admi-
bolismo, como a bilirrubina. nistrada por u m longo período de t e m p o e t e m u m índice tera-
N o metabolismo das drogas, as CYPs são importantes ele- pêutico estreito. U m n ú m e r o de vantagens ocorre pelo uso do
m e n t o s da fase I do metabolismo de mamíferos. Muitas drogas T D M , o que inclui:
p o d e m diminuir ou aumentar a atividade de várias isozimas CYP 1. Pode-se diagnosticar não-adesão.
em u m f e n ô m e n o c o n h e c i d o c o m o i n d u ç ã o e inibição enzimá- 2. Pacientes que sofrem mudanças na apresentação da droga
tica. Essa é a maior fonte de interações medicamentosas adversas p o d e m ser reconhecidos.
(ADIs), porque as mudanças na atividade da enzima p o d e m 3. Regimes terapêuticos p o d e m ser ajustados durante períodos
afetar o metabolismo e o clearance de várias drogas. de m u d a n ç a fisiológica continua.
O s genes que codificam essas enzimas, b e m c o m o elas pró- 4- Concentrações basais associadas a u m a resposta terapêutica
prias, são designados através da abreviação CYP, seguida de um ótima p o d e m ser identificadas.
numeral arábico que mdica a família de genes, uma letra maiús- 5. O regime de dosagem mais apropriado da droga p o d e ser
cula que indica a subfamília, e outro número para o gene espe- mantido para u m paciente e m particular.
cífico. A convenção é usar itálico q u a n d o se refere a u m gene.
Por exemplo, CYP2EJ é o gene que codifica u m a enzima de METODOLOGIA ANALÍTICA
m e s m o n o m e - que é u m a das enzimas envolvidas n o metabo-
A evolução dp T D M tem sido facilitada pelo desenvolvimento de
lismo d o paracetamol (acetaminofeno). O citocromo CYP1-3 é
técnicas analíticas específicas, sensíveis e rápidas. 9
u m dos envolvidos c o m o metabolismo de drogas, e a maioria
das oxidações de fármacos em h u m a n o s se deve a isoenzímas
Técnicas Analíticas
CYP c o m o (1) CYP1A2, (2) CYP2B6, (3) C Y P 2 C 9 , (4) C Y P 2 C 1 9 ,
Técnicas analíticas que são utilizadas para medir drogas terapêu-
(5) C Y P 2 D 6 , (6) CYP2E1 e (7) CYP3A4-
ticas incluem o imunoensaio e técnicas instrumentais, c o m o os
procedimentos croma to gráficos e eletroforéticos, e as também
Farmacogenética chamadas "técnicas hifenadas", nas quais os cromatógrafos são
A farmacogenética é o estudo da influência da variação genética
associados a u m espectrõmetro de massa.
na resposta de pacientes às drogas, por m e i o da correlação da
expressão de u m gene o u d o polimorfismo de u m ú n i c o núcleo-
Imunoensaio
tídeo c o m a eficácia o u toxicidade de uma medicação. O objetivo
Historicamente, as técnicas de radioimunoensaio (RIA) foram
primário da farmacogenética é prognosticar c o m o os indivíduos
usadas para quantificar as concentrações de drogas em volumes de
responderão à ação das drogas e outros xenobióticos bioativos ou
microlitro de plasma com concentrações de nanogramas por mili-
potencialmente tóxicos, c o m base em certas características gené-
litro. Entretanto, poucas RIAs são agora usadas para o T D M .
ticas. A farmacogenética também ajuda a explicar por que as
A proliferação d o T D M a todos os laboratórios e médicos
reações adversas à medicação (ADR) ocorrem. O s testes de far-
foi alcancada com o desenvolvimento de imunoensaios não-iso-
macogenética na prática clínica analisam a genética do paciente
(genótipo) de forma a prognosticar diferenças farmacocinéticas
ou farmacodinámicas de medicações e outros compostos exóge-
nos. O s testes clínicos de farmacogenética resultam primaria-
m e n t e na seleção de medicações e de sua dosagem. Diretrizes
sobre dosagens específicas baseadas e m informações da farmaco- QUADRO 30-2 Aplicações Clínicas dos Tesles
genética estão se desenvolvendo de forma a dar suporte ao resul- Farmacogenéticos
tado de testes n o manejo terapêutico de medicações.
As aplicações clínicas dos testes farmacogenéticos são listadas Tiopurina S-metiliransferase (7PJW7]
n o Quadro 30-2. O s detalhes de cada u m foram previamente Citocromo P„so 2D6 (CYP2D6)
publicados. 7 Espera-se que esses testes, e outros futuros testes Citocromo P W 2C19 {CYP2C19}

baseados no genótipo, levem a mudanças na formulação de Citocromo P4S0 2C9 {CYP2C9\


N-acetil transíerases (NAT1 e NAT2\
drogas, novos testes, e melhoras na farmacoterapia dos pacientes.
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 559

t ó p i c o s ( C a p í t u l o 10). N u m e r o s o s sistemas e v o l u í r a m de f o r m a 5. C o m o os l a u d o s d o l a b o r a t ó r i o são p a n e d o p r o n t u á r i o d o


a dar m a r g e m a essa tecnologia t a n t o n o l a b o r a t ó r i o clínico c o m o p a c i e n t e , é útil f o r n e c e r este l a u d o n u m f o r m a t o q u e incor-
n o c o n s u l t ó r i o m é d i c o ( C a p í t u l o s 11 e 12). p o r e todos os d a d o s necessários para a i n t e r p r e t a ç ã o (p. ex.,
f o r m u l a ç ã o d a droga, f r e q ü ê n c i a e q u a n t i d a d e , c o n c e n t r a ç ã o
Métodos Instrumentais plasmática, h o r a da dose, i n t e r v a l o d a dose e o u t r a s drogas
A c r o m a t o g r a f i a de gás-líquido ( G L C ) p e r m i t e a separação da administradas em conjunto).
droga d e seus metabólitos, b e m c o m o a d i f e r e n c i a ç ã o c o m drogas
a d m i n i s t r a d a s c o n j u n t a m e n t e e c o m p o s t o s e n d ó g e n o s . A técnica GRUPOS ESPECÍFICOS DE DROGAS
tem a h a b i l i d a d e de separar e q u a n t i f i c a r diversas drogas d e n t r o Drogas que são r o t i n e i r a m e n t e m o n i t o r a d a s são classificadas pela
de u m a d a d a classe d e m e d i c a m e n t o s . As d e s v a n t a g e n s da G L C sua característica t e r a p ê u t i c a (p. ex., antibióticos, c o n t r o l e d e epi-
i n c l u e m a n e c e s s i d a d e de (1) u m g r a n d e v o l u m e de amostras, lepsia, m a n e j o d a f u n ç ã o cardíaca ou respiratória, supressão d a
para ser capaz de m e d i r as c o n c e n t r a ç õ e s biológicas e (2) deriva- resposta i m u n e ) . U m m é t o d o analítico p a r a a droga de u m g r u p o
ção q u í m i c a para garantir q u e o m a t e r i a l a n a l i s a d o t e n h a a vola- é m u i t a s vezes aplicável a outras drogas d o m e s m o grupo. A dis-
tilidade pié-requisitada. O s avanços n o d e s e n v o l v i m e n t o d e cussão q u e se segue é organizada de a c o r d o c o m classificações já
detectores d e e s p e c t r o m e t r i a d e massa, c r o m a t o g r a f i a gasosa reconhecidas. N o t e q u e algumas drogas, c o m o os salicilatos e o
espectrometria massa (GC-MS) e o uso de colunas capilares têm n i t r o p r u s s i a t o (que são avaliados pela q u a n t i f i c a ç ã o de tiocia-
a u m e n t a d o a sensibilidade dos i n s t r u m e n t o s a u m a extensão e m que nato), são discutidas n o C a p í t u l o 31.
a análise d e drogas a t u a l m e n t e é feita de f o r m a rotineira e m volumes
de amostras n a o r d e m de microlitros ((iL). Drogas Antiepilépticas
A c r o m a t o g r a f i a l í q u i d a de alta performance ( H P L C ) oferece Diferentes drogas a n t i e p i l é p t i c a s são usadas para tratar convul-
versatilidade c o m a p r e p a r a ç ã o de a m o s t r a s m í n i m a s . Suas espe- sões (Tabela 30-1). A p e n a s poucas das mais c o m u m e n t e prescritas
cificidade e sensibilidade, as necessidades relativas d e p e q u e n a s são discutidas aqui. O f e n o b a r b i t a l , a f e n i t o í n a e o ácido valpróico
a m o s t r a s e a facilidade de o p e r a ç ã o t o r n a m a H P L C u m a alter- são n o r m a l m e n t e q u a n t i f i c a d o s p o r i m u n o e n s a i o . O u t r a s drogas
n a t i v a prática à G L C . A H P L C t a m b é m se a d a p t o u à quantifica- antiepilépticas são n o r m a l m e n t e q u a n t i f i c a d a s por técnicas c o m o
ção s i m u l t â n e a de u m a a m p l a v a r i e d a d e d e drogas e seus meta- H P L C ou H P L C c o m b i n a d a c o m espectrometria de massa.
bólitos. A eletroforese capilar, u m a t é c n i c a r e l a t i v a m e n t e nova
( C a p í t u l o 6), t a m b é m v e m s e n d o utilizada p a r a m e d i r u m a varie-
Felbamato
d a d e d e drogas.
O f e l b a m a t o (Felbato!) f o i a p r o v a d o c o m o terapia p r i m á r i a o u
A c o m b i n a ç ã o d a H P L C c o m espectrómetros massa, cro-
a d j u n t a para tratar c o n v u l s õ e s parciais. Seu u s o é l i m i t a d o aos
matografia líquida-espectrometria de m a s s a / e s p e c t r o m e t r i a de
pacientes que n ã o r e s p o n d e m a outras drogas, p o r q u e o felba-
massa ( L C - M S / M S ) r e v o l u c i o n o u a a b o r d a g e m analítica para o
m a t o p o d e gerar g r a n d e risco de a n e m i a aplásica e insuficiência
T D M . Essa tecnologia p e r m i t e a análise direta de a m o s t r a s bioló-
hepática que não é relacionada c o m a concentração n o sangue.
gicas m í n i m a s , c o m altas sensibilidade, especificidade e precisão.
D u a s vezes p o r s e m a n a , devem-se m o n i t o r a r a c o n c e n t r a ç ã o san-
guínea, as t r a n s a m i n a s e s e as b i l i r r u b i n a s d e f o r m a a detectar
p r e c o c e m e n t e os efeitos colaterais. O f e l b a m a t o é particular-
Assuntos Analíticos de Interesse m e n t e eficiente n o c o n t r o l e d a s í n d r o m e d e L e n n o x - G a s t a u t .
A s s u n t o s analíticos d e c o n t í n u o interesse p a r a o serviço d o T D M O f e l b a m a t o é c o m p l e t a m e n t e a b s o r v i d o d o trato gastrointes-
incluem: tinal. Cerca de 3 0 % da droga se liga e m p r o t e í n a s plasmáticas, e
1. M é t o d o s de análise u s a d o s p a r a T D M devem ser r e p r o d u t í - a c o n c e n t r a ç ã o s a n g u í n e a ó t i m a da droga varia d e 4 0 a 120 p g /
veis e precisos. T o d o s os l a b o r a t ó r i o s clínicos c o m o serviço m L . Ela é e l i m i n a d a p e l o m e t a b o l i s m o h e p á t i c o ( C Y P 2 D 6 ) , c o m
d e T D M d e v e m estar a t i v a m e n t e envolvidos c o m u m c o n t r o l e sua meia-vida v a r i a n d o d e 14 a 21 h o r a s . O f e l b a m a t o satura o
i n t e r n o de q u a l i d a d e e u m p r o g r a m a de p r o f i c i ê n c i a externa. m e t a b o l i s m o q u a n d o sua c o n c e n t r a ç ã o ultrapassa 120 p g / m L ;
A l é m disso, o v o l u m e de a m o s t r a s e as análises ao l o n g o d o nessa c o n c e n t r a ç ã o , o m e t a b o l i s m o converte de p r i m e i r a o r d e m
t e m p o devem ser se le c i onados d o m é t o d o analítico mais apro- para o r d e m zero.
priado.
2. C a d a l a b o r a t ó r i o deve i n f o r m a r o profissional d e s a ú d e sobre
os intervalos de c o n c e n t r a ç ã o tóxica e terapêutica, o m é t o d o Gabapentina
analítico ( q u a n d o a p r o p r i a d o ) , os valores ativos, o v o l u m e de A g a b a p e n t i n a (Neurontín) é u m a n á l o g o d o á c i d o g a m a - a m i n o -
a m o s t r a necessário e as especificações d e t u b o s de coleta. b u t í r i c o (GABA), que p r o m o v e a liberação d e G A B A . ( G A B A é
3. Diretrizes devem estar disponíveis p a r a a coleta ideal de amos- u m p o t e n t e i n i b i d o r pré-sináptico e pós-sináptico n o sistema
tras e m u m i n d i v í d u o r e c e b e n d o u m a m e d i c a ç ã o q u e precisa n e r v o s o central.) A g a b a p e n t i n a n ã o interage d i r e t a m e n t e c o m o
ser m o n i t o r a d a . O e s t a d o d e equilíbrio e n t r e as c o n c e n t r a - r e c e p t o r G A B A e t a m b é m n ã o i m b e a ácido glutâmico-descarbo-
ções é o mais desejável; e n t r e t a n t o , o u t r o s p a r â m e t r o s p o d e m xilase, a e n z i m a q u e n o r m a l m e n t e c o n t r o l a a c o n c e n t r a ç ã o celular
ser a p r o p r i a d o s , d e p e n d e n d o das p r o p r i e d a d e s d a droga ou d e G A B A . A g a b a p e n t i n a se m o s t r a efetiva p a r a o t r a t a m e n t o de
das necessidades i n d i v i d u a i s d o p a c i e n t e . convulsões parciais resistentes.
4. A h o r a e a data da coleta d e u m a a m o s t r a , b e m c o m o da A absorção oral d a droga é c o m p l e t a . A g a b a p e n t i n a se liga
ú l t i m a dose d e m e d i c a m e n t o , d e v e m ser a n o t a d a s . Para a j^roteínas plasmáticas e m u m a taxa de 10%, e sua meia-vida d e
avaliar as c o n d i ç õ e s do e s t a d o d e equilíbrio, o t e m p o e m q u e e l i m i n a ç ã o é d e 5 a 9 h o r a s . A c o n c e n t r a ç ã o t e r a p ê u t i c a efetiva
u m p a c i e n t e está e m u m d e t e r m i n a d o e s q u e m a de trata- d a g a b a p e n t i n a é e n t r e 2 e 12 p g / m L . O s efeitos colaterais obser-
m e n t o deve ser c o n h e c i d o . As c o n d i ç õ e s in uitro q u e afetam v a d o s e m adultos, e m c o n c e n t r a ç õ e s m a i o r e s q u e 12 p g / m L , são
a estabilidade d a droga n a a m o s t r a (p. ex., p e n i c i l i n a , hepa- s o n o l ê n c i a , ataxia, v e r t i g e m e fadiga. A droga n ã o passa p e l o
r i n a e aminoglicosídeos), o u a especificidade d o teste (p. ex., m e t a b o l i s m o h e p á t i c o e n ã o ativa n e n h u m a e n z i m a d o m e t a b o -
p r e s e n ç a de h e m ó l i s e ) d e v e m ser c o n s i d e r a d a s n a m a n i p u l a - lismo, o q u e faz c o m q u e n ã o afete as c o n c e n t r a ç õ e s d e o u t r a s
ç ã o da a m o s t r a . drogas a d m i n i s t r a d a s c o n j u n t a m e n t e . Q u a n d o a d m i n i s t r a d a
560 PARTE IV Analitos

TABELA 3 0 - 1 Parâmetros Farmacocinéticos de Drogas Antiepiléptícas


Concentração
Efetiva Concentração Volume de
Mínima Tóxica Mínima Meia-vida Distribuição Biodisponi- Ligação Enzimas
(MEC) (MTC) Média Médio biíidade Protéica Importantes
Droga (jig/mL) (jig/mL) <h) (L/kg) Oral Média (%) Média {%) que Metabolizam

Felbamato 40 120 14-21 0,8 90 25 CYP2D6


Gabapentina 2 12 5-9 0,8 60 0 CYP2D6
Lamotrigina 1 8 20-30 1,2 98 60 CVP2C19, UGT
Levetiracetam 3 63 7 100 CYP2C19
MHC - metabólito 6-10 8-10 0,8 UGT
da oxicarbazepina
Fenobarbital 15 (criança) 35 (criança) 70 (criança) 1,0 90 40-60 CYP2C19, CYP2C9, UGT
20 (adulto) 40 (adulto) 90 (adulto)
Fenitoína 10 (livre: 1,0) 20 (livre: 2,0) -20 0,6 90 90 CYP2C9, CYP2C19, UGT
Tiagabina 0,005 0,52 7-9 96 CYP2C19
Topiramato 2 12 18-23 CYP2C19
Ácido valpróico 50 (livre: 5) 100 (livre: 10) 12-16 (adulto) 0,2 100 93 CYP2C19
8 (criança)
Zonisamida 10 30 50-70 1,4 50 50 CYP2C19

N A , N ã o ajpliodvel.

com antiácidos, a a b s o r ç ã o da g a b a p e n t i n a d i m i n u i e m aproxi- O levetiracetam é 1 0 0 % b i o d i s p o n í v e l . U m a vez absorvido,


madamente 20%. m e n o s de 10% se liga a p r o t e í n a s e seu v o l u m e d e distribuição
( q u a n t i d a d e da d i s t r i b u i ç ã o n o c o r p o ) é de 1 L / k g . A p ó s u m a
Lamotrigina dose otal, ele alcança c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a e m 1 h o r a . A meia-
A l a m o t r i g i n a n ã o é u m a n á l o g o G A B A , m a s se liga ao receptor vida é de a p r o x i m a d a m e n t e 7 + 1 horas e o clearance r e n a l é de
G A B A e é c o n s i d e r a d a u m a g o n i s t a gabaérgico. A l a m o t r i g i n a 0 , 9 6 m L / m i n / k g . C e r c a d e 2 4 % da droga passa p o r m e t a b o l i s m o
age c o m o a f e n i t o í n a e a c a r b a m a z e p i n a , b l o q u e a n d o disparos h e p á t i c o via C Y P 2 C 1 9 , a t i n g i n d o a f o r m a m e t a b ó l i c a d e ácido
n e u r o n a i s repetitivos i n d u z i d o s pela despolarização de n e u r ô n i o s carboxílico. O levetiracetam é excretado p r e d o m i n a n t e m e n t e
d a m e d u l a espinal. A U.S. F o o d a n d D r u g A d m i n i s t r a t i o n (FDA) pela f u n ç ã o renal. U m a r e d u ç ã o de 4 0 % n a excreção de levetira-
a p r o v o u a l a m o t r i g i n a c o m o terapia a d j u v a n t e de convulsões cetam é esperada se o clearance de c r e a t i n i n a for m e n o r q u e 3 0
parciais. m L / m i n . C r i a n ç a s n a pré-adolescência excretam a droga 4 0 %
A l a m o t r i g i n a tem tolerância satisfatória e é c o m p l e t a m e n t e mais r á p i d o que os adultos. N ã o h á interações f a r m a c o c i n é t i c a s
absorvida n o trato gastrointestinal após a d m i n i s t r a ç ã o oral. e n t r e o levetiracetam e outras drogas para epilepsia.
C e r c a d e 6 0 % de l a m o t r i g i n a a p r o t e í n a s plasmáticas. A m e l h o r E m adultos, a c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a n o s a n g u e se correla-
resposta o c o r r e q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o s a n g u í n e a n o vale está c i o n a c o m a dose. O valor m í n i m o de c o n c e n t r a ç ã o para c o n t r o l e
e n t r e 1 e 2 pg/mL., c o m a c o n c e n t r a ç ã o de pico v a r i a n d o e n t r e de convulsões é de 3 p g / m L . A c o n c e n t r a ç ã o de pico t e r a p ê u t i c o ,
5 a 8 p g / m L . A meia-vida varia e n t r e 2 0 e 3 0 h o r a s . A e l i m i n a ç ã o q u e é de 10 a 63 p g / m L , o c o r r e 1 h o r a após a dose. As concen-
ocorre através d o m e t a b o l i s m o d a u r i d i n a difosfato-glicoronosil- trações terapêuticas d e vale e x a t a m e n t e a n t e s da p r ó x i m a dose
transferase ( U G T ) ; o m e t a b ó l i t o é o éster g l i c u r o n í d e o . A admi- devem variar de 3 a 34 p g / m L .
nistração e m c o n j u n t o c o m drogas i n d u t o r a s d a C Y P 2 C 1 9 , c o m o O s efeitos tóxicos c o n h e c i d o s associados ao levetiracetam
o f e n o b a r b i t a l , a f e n i t o í n a ou a c a r b a m a z e p i n a , resulta e m dimi- i n c l u e m (1) d i m i n u i ç ã o dos eritrócitos e d o h e m a t ó c r i t o , (2)
n u i ç ã o da c o n c e n t r a ç ã o de l a m o t r i g i n a - a u m e n t o s n a d o s a g e m d i m i n u i ç ã o d a c o n t a g e m de n e u t r ó f i l o s , (3) s o n o l ê n c i a , (4)
d e cerca de 3 0 % são necessários para m a n t e r as c o n c e n t r a ç õ e s astenia e (5) t o n t u r a . A toxicidade p o d e ser associada às concen-
s a n g u í n e a s a d e q u a d a s . A l a m o t r i g i n a é u m p o t e n t e i n i b i d o r da trações s a n g u í n e a s n a dose t e r a p ê u t i c a . A a d m i n i s t r a ç ã o con-
d i i d r o f o l a t o r e d u t a s e . A s c o n c e n t r a ç õ e s d e folato d i m i n u e m j u n t a c o m cimecidina irá interferir c o m os testes, p r o d u z i n d o u m
q u a n d o a droga é a d m i n i s t r a d a . Se n ã o h o u v e r c o m p l e m e n t a ç ã o falso a u m e n t o na m e d i d a d e levetiracetam.
d e folato, p o d e m surgir rash e a n e m i a m e s m o q u a n d o as concen-
trações de l a m o t r i g i n a estão e m níveis terapêuticos. A droga Oxicarbazepina
t a m b é m se associa c o m o a p a r e c i m e n t o da s í n d r o m e d e Stevens- A oxicarbazepina ( O C B Z ) a p r o v a d a c o m o t e r a p i a de convulsões
J o h n s o n e m a p r o x i m a d a m e n t e 1 % d o s pacientes. Este efeito parciais c o m ou s e m generalização s e c u n d á r i a e m a d u l t o s , e
colateral n ã o se relaciona c o m a c o n c e n t r a ç ã o da droga. O s sinais c o m o terapia a d j u v a n t e para c o n v u l s õ e s d e início parcial e m
d e intoxicação q u e o c o r r e m q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o excede 10 crianças e n t r e 4 e 16 a n o s . A O C B Z é u m a pró-droga q u e é q u a s e
p g / m L i n c l u e m (1) t o n t u r a , (2) ataxia, (3) d i p l o p i a , (4) visão i m e d i a t a e c o m p l e t a m e n t e m e t a b o l i z a d a e m 10-hidróxi-10,ll-
t u r v a , (5) náuseas e (6) v ô m i t o s . diidrocarbamazepina, conhecida como monoidroxicarbamaze-
p i n a ( M H C ) , o m e t a b ó l i t o responsável p e l o efeito t e r a p ê u t i c o
Levetiracetam d a droga. A e n z i m a r e d u t a s e catalisa a conversão d a O C B Z a
O levetiracetam foi a p r o v a d o c o m o terapia a d j u n t a n o trata- M H C . A M H C sofre u m a c o n j u g a ç ã o c o m o g í i c u r ô n i o f o r m a d o
m e n t o de convulsões d e início parcial e m a d u l t o s c o m epilepsia. pela ação d a U G T . A M H C i n d u z de f o r m a seletiva a C Y P 3 A 4 ,
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 561

e n z i m a responsável p e l o m e t a b o l i s m o de estrógenos, i m u n o s s u - O f e n o b a r b i t a l é m e t a b o l i z a d o pela C Y P 2 C 1 9 e m f-hidroxi-


pressores e b l o q u e a d o r e s de canais d e cálcio d i i d r o p i r i d í n i c o s . f e n o b a r b i t a l , q u e é a m p l a m e n t e excretado c o m o g l i c u r o n í d e o
A c a r b a m a z e p i n a ativa a U G T , a u m e n t a n d o a taxa d e m e t a b o - (pela U G T ) . Q u a n d o h á d i m i n u i ç ã o d a f u n ç ã o hepática e r e n a l ,
lização d a M H C . os pacientes p a s s a m p o r m e n o r taxa d e m e t a b o h z a ç ã o da droga.
O m e t a b o l i s m o da O C B Z é extenso. C e r c a d e 9 6 % d a dose O álcool, a c a r b a m a z e p i n a , o u t r o s b a r b i t ú r i c o s e a r i f a m p i c i n a
é excretada n a u r i n a n a f o r m a de metabólitos, m e n o s de 1 % i n d u z e m enzimas oxidativas ( C Y P 2 C 1 9 e 2C9); essa i n d u ç ã o
c o m o a droga p u r a , e até 2 7 % c o m o M H C livre. A m a i o r p a r t e resulta e m (1) a u m e n t o d o m e t a b o l i s m o d a f e n i t o í n a , (2) r e d u ç ã o
da dose é r e c u p e r a d a c o m o o éster glicuronídeo, t a n t o da O C B Z d a c o n c e n t r a ç ã o sérica d e f e n o b a r b i t a l e (3) u m a r e d u ç ã o d o
c o m o d a M H C , e m taxas a p r o x i m a d a s de 9 % e de 4 9 % respec- efeito f a r m a c o l ó g i c o . M u i t a s o u t r a s drogas são afetadas pela
t i v a m e n t e . O v o l u m e de d i s t r i b u i ç ã o a p a r e n t e da M H C é de 0,8 i n d u ç ã o enzimática. Drogas c o m o (1) cloranfenicol, (2) cimeti-
L / k g . A p r o x i m a d a m e n t e 4 0 % d a M H C se liga a p r o t e í n a s séricas, d i n a , (3) dissulfiram, (4) isoniazida, (5) o m e p r a z o l e (6) topira-
p r i n c i p a l m e n t e à a l b u m i n a . A meia-vida d e e l i m i n a ç ã o é d e 1 a m a t o t a m b é m competem com o metabolismo do fenobarbital. A
2,5 h o r a s para a O C B Z e d e 8 a 10 h o r a s para a M H C . Esta eliminação do fenobarbital pode diminuir na presença de ácido
ú l t i m a m o s t r a u m a u m e n t o l i n e a r e p r o p o r c i o n a l à dose (baseado valpróico e salicilatos se o c o r r e r d i m i n u i ç ã o d o p H u r m á r i o .
n a dose d o O C B Z ) e m u m a taxa que varia d e 3 0 0 a 2 . 7 0 0 m g / D u r a n t e a a d m i n i s t r a ç ã o crônica t a n t o de ácido valpróico q u a n t o
dia. U m a vez q u e a M H C é excretada p r e d o m i n a n t e m e n t e pelos de salicilatos, a c o n c e n t r a ç ã o de f e n o b a r b i t a l p o d e a u m e n t a r e m
rins, a d o s a g e m diária de O C B Z d a d a a pacientes c o m clearance 10% a 2 0 % , e u m ajuste n a d o s a g e m p o d e ser necessário para
de c r e a t i n i n a m e n o r q u e 30 m L / m i n deve ser m e t a d e d a q u e l a evitar a intoxicação. O f e n o b a r b i t a l i n d u z enzimas oxidativas de
d a d a a pacientes c o m f u n ç ã o r e n a l n o r m a l f u n ç ã o mista (CYP2B6), r e s u l t a n d o e m a u m e n t o d o m e t a b o -
N o estado de equilíbrio, as c o n c e n t r a ç õ e s de M H C n o vale lismo de o u t r o s x e n o b i ó t i c o s a p ó s a p r o x i m a d a m e n t e 1 a 2
e m u m a a m o s t r a coletada e x a t a m e n t e antes d a p r ó x i m a dose se s e m a n a s de terapia.
c o r r e l a c i o n a m c o m a dose de O C B Z . O m o n i t o r a m e n t o d o vale D e v i d o à longa meia-vida de e l i m i n a ç ã o d o f e n o b a r b i t a l , as
é r e c o m e n d a d o para avaliar a a d e s ã o ou a a d e q u a ç ã o da dose. A c o n c e n t r a ç õ e s s a n g u í n e a s n ã o se m o d i f i c a m r a p i d a m e n t e . Dessa
resposta ó t i m a à O C B Z ocorre q u a n d o as c o n c e n t r a ç õ e s de vale f o r m a , u m a a m o s t r a coletada t a r d i a m e n t e e n t r e os intervalos das
de M H C estão e n t r e 6 e 10 p g / m L . O pico d e c o n c e n t r a ç ã o doses ( n o vale) é representativa d o efeito total. Resultados d e
plasmática de M H C ocorre e n t r e 4 a 6 h o r a s após a dose. C o m o a m o s t r a s coletadas e n t r e 2 e 4 h o r a s após a dose p o d e m ser
a c a r b a m a z e p i n a ativa a U G T , os pacientes q u e t o m a m esta droga e n g a n o s o s p o r q u e p o d e m ser coletadas n o pico de c o n c e n t r a ç ã o
j u n t a m e n t e c o m O C B Z têm níveis significantes d e r e d u ç ã o n a q u a n d o , na verdade, estão p r e c e d e n d o o p i c o real.
c o n c e n t r a ç ã o de M H C . O s efeitos tóxicos associados c o m O C B Z
i n c l u e m h i p o n a t r e m i a , v e r t i g e m , sonolência, d i p l o p i a , fadiga, Fenitoína
n á u s e a , vômitos, ataxia, alteração visual, d o r a b d o m i n a l , t r e m o r , A f e n i t o í n a ( d i f e n i l i d a n t o í n a ) , m a i s c o m u m e n t e disponível c o m o
dispepsia e alteração d a m a r c h a . Essa toxicidade p o d e ser obser- Dilãntina, m a s t a m b é m disponível c o m o d r o g a genérica, é usada
vada e m c o n c e n t r a ç õ e s terapêuticas. C o n c e n t r a ç ã o de s ó d i o n o t r a t a m e n t o de (1) convulsões tônico-clônicas generalizadas
abaixo de 1 2 5 m m o l / L e d i m i n u i ç ã o da tiroxina (T 4 ) são vistas p r i m á r i a s ou secundárias, (2) convulsões parciais ou parciais com-
e m pacientes tratados c o m O C B Z . plexas, e (3) n o status epilepíicus. A droga n ã o é eficiente p a r a
tratar crises de ausência. A f e n i t o í n a age m o d u l a n d o os canais
Fenobarbital de s ó d i o sinápticos ao p r o l o n g a r a inativação, o q u e r e d u z a
O f e n o b a r b i t a l é u s a d o n o t r a t a m e n t o de t o d o s os tipos d e con- h a b i l i d a d e d o n e u r ô n i o e m r e s p o n d e r a altas f r e q ü ê n c i a s de
vulsões, exceto n o t r a t a m e n t o de ausências, e é c o n h e c i d o p o r disparo. O efeito fisiológico dessa ação é reduzir a transmissão
diversos n o m e s comerciais, a l é m de ser e n c o n t r a d o e m c o m b i n a - sináptica central, a j u d a n d o n o c o n t r o l e da excitabilidade n e u r o -
ção c o m diversas drogas. E u s a d o n o t r a t a m e n t o d e convulsões nal anormal.
tônico-clônicas generalizadas, convulsões parciais, m o t o r a s focais, A f e n i t o í n a n ã o é p r o n t a m e n t e disponível e m soluções aquosas.
de l o b o t e m p o r a l e até m e s m o convulsões febris. T a m b é m se sabe Q u a n d o administrada de forma intramuscular, a maior parte da
q u e reduz a transmissão sináptica, r e s u l t a n d o em excitabilidade dose precipita n o local da aplicação e é absorvida d e í o r m a vaga-
d i m i n u í d a de toda a célula n e r v o s a , i n d u z i n d o sedação. O feno- rosa. U m a pró-droga c h a m a d a d e f o s f e n i t o í n a (Cereiryx) p e r m i t e
b a r b i t a l potencializa a inibição sináptica p o r m e i o da ativação d o a i n j e ç ã o i n t r a m u s c u l a r d e f e n i t o í n a e a u m e n t a a s ol ubi l i dade
receptor GABAA, a u m e n t a n d o a d u r a ç ã o d o f l u x o de cloro n a e m m e i o a q u o s o para a aplicação i n t r a m u s c u l a r . A p ó s a injeção,
sinapse. Isso a u m e n t a o limiar convulsivo e inibe a d i s s e m i n a ç ã o ela é r a p i d a m e n t e c o n v e r t i d a a f e n i t o í n a . A absorção oral d a
d e descargas d o foco epiléptico. f e n i t o í n a é vagarosa e m u i t a s vezes i n c o m p l e t a . Variações n a
A a b s o r ç ã o oral de f e n o b a r b i t a l é lenta, mas c o m p l e t a . O p r e p a r a ç ã o da droga f o r a m responsabilizadas pela baixa biodis-
t e m p o p a r a se alcançar o pico d e c o n c e n t r a ç ã o plasmática é d e p o n i b i l i d a d e . U m a vez absorvida, a droga se liga f o r t e m e n t e a
4 a 10 h o r a s após a dose. O f e n o b a r b i t a l liga-se a p r o t e í n a s plas- p r o t e í n a s ( 9 0 % a 9 5 % ) . C o m o t o d a s as drogas, os efeitos farma-
máticas e m u m a taxa d e 4 0 % a 6 0 % . A C Y P 2 C 1 9 é a p r i m e i r a cológicos d a f e n i t o í n a são d i r e t a m e n t e r e l a c i o n a d o s à q u a n t i d a d e
e n z i m a h e p á t i c a envolvida n o m e t a b o l i s m o , p r o d u z i n d o u m a de f o r m a livre presente. A p e n a s a f e n i t o í n a livre é capaz de cruzar
meia-vida d e e l i m i n a ç ã o d e 7 0 a 100 h o r a s . O m e t a b o l i s m o é m e m b r a n a s celulares e interagir b i o l o g i c a m e n t e e m i m p o r t a n t e s
i d a d e - d e p e n d e n t e (crianças ~ 70 horas; pacientes geriátricos - locais de ligação. O grau de ligação às p r o t e í n a s p o d e ser r e d u z i d o
100 horas). C o m o o m e t a b o l i s m o h e p á t i c o é o p r i m e i r o agente pela presença d e o u t r a s drogas, a n e m i a e h í p o a l b u m i n e m i a , o
de eliminação, u m a f u n ç ã o h e p á t i c a p r e j u d i c a d a implica p r o l o n - q u e ocorre c o m f r e q ü ê n c i a n o s idosos. Nessas condições, observa-
g a m e n t o d a meia-vida. se u m a u m e n t o d o efeito c o m a m e s m a c o n c e n t r a ç ã o de droga
A c o n c e n t r a ç ã o t e r a p ê u t i c a ó t i m a de f e n o b a r b i t a l é e n t r e 15 a p r e s e n t a d a e m pacientes n o r m a i s .
a 40 p g / m L . O p r i n c i p a l efeito colateral o b s e r v a d o e m a d u l t o s A c o n c e n t r a ç ã o terapêutica ideal para c o n t r o l e d e convulsões
c o m c o n c e n t r a ç ã o plasmática m a i o r que 4 0 p g / m L é sedação, s e m efeitos colaterais é d e 10 a 2 0 p g / m L . E m u m g r a n d e e s t u d o
apesar d e o p a c i e n t e desenvolver tolerância c o m a terapia p o p u l a c i o n a l , u m a taxa de resposta d e 5 0 % foi o b s e r v a d a e m
crônica. pacientes com c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas m a i o r e s que 10 p g / m T .
562 PARTE IV Analitos

e 86% de supressão da atividade convulsiva e m concentrações vida diminui para 4 a 7 horas. A fenitoína, o fenobarbital e a
acima de 15 pg/mL. 9 Essas concentrações também servem c o m o carbamazepina são indutores dessa enzima. O ácido valpróico e
diretrizes q u a n d o a droga é usada c o m o agente antiarrítmico a gabapentina não o são. A tiagabina não é considerada u m
cardíaco. Concentrações de fenitoína livre de 1 a 2 p g / m L são indutor de CYP3A4.
adequadas. Concentrações totais de fenitoína q u e excedem 20 A tiagabina alcança pico de concentração plasmática de apro-
p g / m L não melhoram o controle das convulsões e são associadas ximadamente 45 minutos após uma dose oral. Pacientes pediá-
a nistagmo e ataxia. Concentrações plasmáticas da droga acima tricos alcançam o pico de concentração e m aproximadamente 2,4
de 35 p g / m L foram relacionadas ao desencadeamento de ativi- horas. A tiagabina é b e m absorvida, sendo que o alimento
dade convulsiva. U m efeito colateral da fenitoína que não é diminui a taxa de absorção s e m alterar a quantidade absorvida
relacionado à concentração é o desenvolvimento de hiperplasia (dietas ricas em gordura prolongam o pico sérico de concentração
gengival. em 2,5 horas). A tiagabina é 9 5 % absorvida, com biodisponibi-
A fenitoína é metabolizada por enzimas de hidroxilação íidade oral de 90%. A farmacocinética da tiagabina é linear na
mictossômicas hepáticas, chamadas de C Y P 2 C 1 9 e CYP2C9. dose típica de 2 a 24 mg. Cerca de 96% da droga se liga a prote-
Aproximadamente 90% do metabolismo é mediado pela CYP2C9. ínas plasmáticas, principalmente à albumina e à A A G . A admi-
O principal metabólito é a 5-(/>hidroxifenil)-5-fenilidantoína, que nistração conjunta c o m ácido valpróico reduz a ligação protéica
é excretada c o m o éster glicuronídeo (pela U G T ) . Outros meta- a 94%, aumentando a fração livre de tiagabina e m 40%.
bólitos menores têm importância clínica mínima. O metabo- As concentrações séricas de tiagabina n o vale variam d e 5 a
lismo hepático da fenitoína p o d e apresentar-se saturado m e s m o 35 n g / m L na maioria dos pacientes recebendo doses terapêuticas
na faixa terapêutica. U m a vez que o metabolismo esteja saturado, e são proporcionais à dose. U m a única dose de 4 m g adminis-
pequenos aumentos na dose geram grandes mudanças na con- trada em crianças produz pico de concentração plasmática que
centração. Esse f e n ô m e n o explica parcialmente a grande variação varia de 5 2 a 108 n g / m L . N o estado de equilíbrio, u m adulto
de dose entre pacientes que é necessária paia atingir o efeito recebendo 4 0 m g / d i a terá u m pico de concentração na faixa de
terapêutico. Devido a esse f e n ô m e n o de saturação, a cinética de 110 a 2 6 0 n g / m L , e em u m adulto recebendo 8 0 mg por dia
primeira o r d e m não se aplica à fenitoína em concentrações que espera-se u m pico d e concentração plasmática na faixa de 2 2 0 a
ultrapassam 5 p g / m L . 5 2 0 n g / m L . Concentrações séricas maiores que 8 0 0 n g / m L
O m o m e n t o para coletar a amostra é determinado pela neces- indicam dose excessiva associada a efeitos adversos, c o m o astenia,
sidade de monitoramento. Se u m paciente apresenta qualquer ataxia, dificuldade d e concentração e depressão.
sintoma de intoxicação, interessa saber o pico de concentração.
Essa amostra deve ser coletada 4 a 5 horas após a dose, m e s m o
que o pico d e concentração seja demorado e ultrapasse 8 horas Topiramato
se a droga for dada junto c o m alimentação ou drogas que aumen- O topiramato é uma droga antiepiléptica de largo espectro. Tem
tam a acidez estomacal. Se a principal questão for a terapia ade- atividade bloqueadora em canais de sódio e potencializa a ativi-
quada, então a concentração n o vale é mais útil. Essa amostra dade d o GABA, além de potencializar a inibição dos receptores
deve ser coletada exatamente antes de a próxima dose ser dada. de glutamato. Devido à sua ação variada, o topiramato bloqueia
Várias interações medicamentosas resultam e m alterações da a difusão da convulsão mais d o que o a u m e n t o d o potencial
disponibilidade de fenitoína. Álcool, carbamazepina, outros bar- convulsivo.
bitúricos e rifampicina induzem C Y P 2 C 1 9 e C Y P 2 C 9 . Essa O ropiramato é administrado rotineiramente por via oral, é
indução resulta em (1) a u m e n t o d o metabolismo da íeuiLoína, absorvido rapidamente e p o u c o metabolizado. Sua disponibili-
(2) diminuição da concentração sérica da fenitoína livre e total e dade é afetada pela C Y P 2 C 1 9 . As concentrações séricas de outros
(3) redução d o efeito farmacológico. Drogas c o m o cloranfenicol, anticonvulsivantes n ã o são afetadas pela administração concomi-
cimetidina, dissulfiram, isoniazida, omeprazol e ropiramato com- tante d o topiramato. Exceção se faz em pacientes recebendo
petem c o m o metabolismo da fenitoína, resultando em u m fenitoína, que passam a ter níveis plasmáticos aumentados dessa
a u m e n t o das concentrações livre e total da droga c o m o melhora droga após a adição d e topiramato. A administração conjunta de
d o efeito farmacológico. Os salicilatos, o ácido valpróico, a fenil- fenitoína o u carbamazepina diminui as concentrações séricas de
butazona, o sulfisoxazol e a sulfoniluréias c o m p e t e m c o m a feni- topiramato. Mudanças nas doses de fenitoína ou carbamazepina
toína pelos locais de ligação protéica. O resultado final é a dimi- (p. ex., aumento o u retirada) para pacientes estabilizados c o m o
nuição da concentração sérica de fenitoína, enquanto que a uso de topiramato p o d e m precisar de ajustes na dose dessa droga.
concentração livre e o efeito farmacológico permanecem os Assim c o m o outras drogas anticonvulsivantes eliminadas por via
mesmos. O interesse em monitorar a concentração de fenitoína renal, pacientes c o m função renal alterada apresentam diminui-
livre é e m resposta a essas alterações nos locais d e ligação pro- ção do clearance renal.
téica. A concentração d e pico do topiramato é alcançada de 2 a 3
horas após a dose. Concentrações de pico na faixa de 9 a 12
Tiagabina p g / m L indicam que a dose é apropriada para se atingir uma
A tiagabina é indicada c o m o terapia adjunta e m adultos e crian- ótima atividade antiepiléptica. A concentração mínima, atingida
ças para o tratamento de convulsões parciais. E freqüentemente exatamente antes a próxima dose, deve ser maior que 2 p g / m L ,
administrada a pacientes recebendo pelo m e n o s mais uma droga para garantir uma adequada proteção contra convulsões. C o n -
antiepiléptica. A tiagabina é u m bloqueador seletivo d o G A B A centrações menores que 2 p g / m L indicam que a dose o u é
n o n e u r ô n i o pré-sináptico. A tiagabina reconhece e se liga aos subótima o u administrada com baixa freqüência.
locais associados de a captação do G A B A . Por m e i o dessa ação,
a tiagabina bloqueia a captação nos neurônios pré-sinápticos,
permitindo q u e mais G A B A esteja disponível para se ligar a Ácido Valpróico
receptores na superfície das células pós-sinápticas. O ácido valpróico é usado para o tratamento de c o n v u l s õ e s d o
A tiagabina tem uma meia-vida de 7 a 9 horas. E m pacientes tipo ausência. T a m b é m se mostrou útil contra convulsões par-
recebendo drogas antiepilépticas indutoras de CYP3A4, a meia- ciais e tônico-clônicas q u a n d o usado e m c o n j u n t o c o m outros
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 563

agentes, c o m o fenobarbital ou fenitoína. A droga inibe a Drogas com Ação Cardiológica


e n z i m a G A B A - t r a n s a m i n a s e , r e s u l t a n d o e m u m a u m e n t o da O s p a r â m e t r o s f a r m a c o c i n é t i c o s da digoxina e o u t r a s drogas c o m
concentração de G A B A n o cérebro. O ácido valpróico t a m b é m ação cardiológica estão r e s u m i d o s na Tabela 30-2. A digoxina, a
m o d u l a os canais d e s ó d i o s i n á p t i c o s ao p r o l o n g a r a i n a t i v a ç ã o , d i s o p i r a m i d a , a lidocaína, a p r o c a i n a m i d a e a q u i n i d m a são
q u e r e d u z a h a b i l i d a d e d o n e u r ô n i o e m r e s p o n d e r a altas fre- n o r m a l m e n t e m e d i d a s p o r i m u n o e n s a i o . Para q u a n t i f i c a r o u t r a s
q ü ê n c i a s . Essa ação gera a t i v i d a d e c o n t r a c o n v u l s õ e s t ô n i c o - drogas d e ação cardiológica, usa-se a H P L C .
clônicas.
O ácido valpróico é r a p i d a m e n t e e quase c o m p l e t a m e n t e Amiodarona
a b s o r v i d o após a a d m i n i s t r a ç ã o oral. O s picos de c o n c e n t r a ç ã o A a m i o d a r o n a é usada p a r a c o n t r o l a r t a q u i a r r i t m i a s supraventri-
o c o r r e m entre 1 e 4 h o r a s após a d o s e oral. O p r i n c i p a l m e t a b ó - culares e ventriculares. Essa droga é interessante c o m o s u b s t i t u t a
lito, o ácido 2-n-propil-3-cetopentanóico, é criado pela ação da de o u t r o s a n t i a r r í t m i c o s classe I c o m o p r o c a i n a m i d a ou quini-
C Y P 2 C 1 9 e t e m atividade a n t i c o n v u l s i v a n t e c o m p a r á v e l à d o dina, pois t e m u m a meia-vida longa (45 dias). A c o n c e n t r a ç ã o
ácido valpróico. A p e s a r de esse m e t a b ó l i t o n ã o se a c u m u l a r n o sérica efetiva dessa droga é m e d i d a 24 h o r a s d e p o i s de u m a ú n i c a
p l a s m a , o i s ô m e r o da enzima c i t o c r o m o exata envolvida n o meta- dose diária. Ela varia de 1 a 2 p g / m L . A droga é i n d i c a d a p a r a
b o l i s m o a m d a n ã o foi identificada. A meia-vida d e u m a dose c o n t r o l e d e taquicardias ventriculares e fibrilação resistente a
ú n i c a é d e 16 h o r a s e m a d u l t o s saudáveis, mas d i m i n u i para 12 o u t r a s f o r m a s de terapia. A a m i o d a r o n a é e x t e n s a m e n t e m e t a b o -
h o r a s na terapia c r ô n i c a e p o d e ser t ã o c u r t a q u a n t o 8 horas e m lizada pelo sistema C Y P 3 A 4 - S e u m e t a b o l i s m o é a f e t a d o de
crianças. E m n e o n a t o s e na d o e n ç a h e p á t i c a , q u a n d o o m e t a b o - f o r m a significativa pela a d m i n i s t r a ç ã o c o n j u n t a c o m carbamaze-
lismo está reduzido, a meia-vida se p r o l o n g a . O ácido valpróico p i n a , e r i r r o m i c i n a , f e n i t o í n a , r i f a m p i c i n a e erva-de-São J o ã o .
t e m alta taxa d e ligação pTOtéica (93%). E m algumas circunstân- A l é m disso, a p r e s e n ç a de a m i o d a r o n a p r o l o n g a r á o m e t a b o -
cias, q u a n d o a c o m p e t i ç ã o pela ligação a protéica a u m e n t a , c o m o lismo de diversas drogas, i n c l u i n d o ciclosporina, digoxina, ini-
na u r e m i a , na cirrose e n o u s o c o n c o m i t a n t e d e medicações, a b i d o r e s de protease, sirolimus, t a c r o l i m u s e vera pam i l . A c o n -
p o r c e n t a g e m d e ácido valpróico livre a u m e n t a . c e n t r a ç ã o de n o r a m i o d a r o n a , u m m e t a b ó l i t o e q u i v a l e n t e , é
A c o n c e n t r a ç ã o m í n i m a p a r a efeito t e r a p ê u t i c o de ácido val- t i p i c a m e n t e à da a m i o d a r o n a n o e s t a d o d e equilíbrio, e a l g u m a s
p r ó i c o é d e 5 0 p g / m L . C o n c e n t r a ç õ e s q u e ultrapassam 100 p g / vezes é m o n i t o r a d a j u n t o c o m a d r o g a de base.
m L são associadas a toxicidade h e p á t i c a e encefalopatia tóxica A a m i o d a r o n a é u m a n á l o g o e s t r u t u r a l da tiroxina, e m u i t o
aguda. T e m sido o b s e r v a d o o a c ú m u l o de glicina e m pacientes da sua toxicidade é r e l a c i o n a d a às interações q u e o c o r r e m n o s
q u e p a s s a m p o r t r a t a m e n t o c o m ácido valpróico. receptores de h o r m ô n i o s da t i r e ó i d e . A fibrose p u l m o n a r é u m
O clearance de ácido valpróico é r á p i d o , o q u e leva a u m evento f r e q u e n t e adverso r e l a c i o n a d o à dose, e c o n c e n t r a ç õ e s da
d i l e m a na dosagem. A dose deve ser a d e q u a d a p a r a gerar u m a droga m e n o r e s q u e 2 0 0 m g / d i a e u m a m a n u t e n ç ã o d o p i c o de
c o n c e n t r a ç ã o plasmática m a i o r q u e 4 0 p g / m L , e n q u a n t o se evita c o n c e n t r a ç ã o m e n o r d o q u e 2 p g / m L a j u d a m a prevenir esse
u m a c o n c e n t r a ç ã o q u e exceda 100 p g / m L . A a m o s t r a ideal para efeito colateral q u e a m e a ç a a vida.
m o n i t o r a r a c o n c e n t r a ç ã o é a q u e l a c o l h i d a e x a t a m e n t e antes da
p r ó x i m a dose, n o r m a l m e n t e logo cedo, p a r a c o n f i r m a r q u e u m a Digoxina
dose a d e q u a d a foi prescrita n o p e r í o d o anterior. A dosagem é A digoxina é u m f á r m a c o d o g r u p o dos glicosídeos cardíacos
u m p r o b l e m a particular e m crianças q u e d o r m e m p o r mais extraído das p l a n t a s "digitais" (p. ex., Digitítíis lanata). Ela res-
t e m p o d o q u e a meia-vida c o m p l e t a da droga. t a u r a a força de c o n t r a ç ã o cardíaca n a insuficiência cardíaca
O ácido valpróico m o d u l a a ação de várias o u t r a s drogas congestiva e t a m b é m é usada n o m a n e j o d e taquicardias supra-
antiepilépticas. Ele inibe o cleatance não-renal d o f e n o b a r b i t a l , v e n t n c u l a r e s . A droga se liga a s u b u n i d a d e a da N a ' / K + - A T P a s e
r e s u l t a n d o e m elevadas c o n c e n t r a ç õ e s dessa droga. Ele c o m p e t e n a face extracelular, i n i b i n d o t a n t o o e f l u x o celular d e N a +
com a f e n i t o í n a p o r locais de ligação protéica. A s c o n c e n t r a ç õ e s q u a n t o o i n f l u x o celular de K + n a célula miocárdica. Isso r e d u z
d e f e n i t o í n a livre p e r m a n e c e m a p r o x i m a d a m e n t e as m e s m a s , m a s o g r a d i e n t e s ó d i o / p o t á s s i o n a s fibras d e P u r k i n j e atriais, juncio-
a f e n i t o í n a total n o p l a s m a d i m i n u i . C o m o a c o n c e n t r a ç ã o de nais e ventriculares, r e s u l t a n d o e m d i m i n u i ç ã o d o p o t e n c i a l
f e n i t o í n a livre p e r m a n e c e a m e s m a , o efeito f a r m a c o l ó g i c o se t r a n s m e m b r a n a . Postula-se q u e a inibição da N a M C - A T P a s e
m a n t é m . O u t r a s drogas antiepilépticas q u e i n d u z e m enzimas a u m e n t a o m o v i m e n t o d o s í o n s cálcio para a célula, m e l h o r a n d o
hepáticas oxidativas a u m e n t a m o m e t a b o l i s m o d o ácido val- a d i s p o n i b i l i d a d e d o íon cálcio e m e l h o r a n d o a c o n t r a t i l i d a d e
próico-, esse a u m e n t o r e q u e r u m a d o s e mais alta para m a n t e r a cardíaca.
c o n c e n t r a ç ã o terapêutica efetiva. E m baixas c o n c e n t r a ç õ e s , a digoxina t o r n a o átrio m e n o s
excitável eletricamente. C o n c e n t r a ç õ e s m o d e r a d a s de digoxina
são necessárias p a r a reduzir a taxa de despolarização nas fibras
Zonisamida c o n d u t o r a s q u e d e s p o l a r i z a m e s p o n t a n e a m e n t e (fibras d e Pur-
A z o n i s a m i d a é u m b l o q u e a d o r d e canais de s ó d i o e cálcio. kinje), e c o n c e n t r a ç õ e s tóxicas d e digoxina são necessárias p a r a
T a m b é m se liga a receptores G A B A , m a s n ã o p r o d u z i n f l u x o d e causar d i m i n u i ç ã o da d e s p o l a r i z a ç ã o d o m i o c á r d i o ventricular.
cloro. A p r o v a d a c o m o t r a t a m e n t o a d j u n t o para convulsões par- D e s a c o r d o s acerca d o valor clínico das m e d i d a s de d i g o x i n a ,
ciais q u e n ã o r e s p o n d e m a a p e n a s u m a droga, a z o n i s a m i d a é b e m c o m o as falhas p a r a c o r r e l a c i o n a r os valores de c o n c e n t r a -
t o l e r a d a d e f o r m a satisfatória, m a s n ã o é c o m p l e t a m e n t e absor- ção de digoxina c o m a t o x i c i d a d e clínica, são n o r m a l m e n t e
vida p e l o trato gastrointestinal após a a d m i n i s t r a ç ã o oral. A bio- r e l a c i o n a d o s a alterações n a s c o n c e n t r a ç õ e s séricas e teciduais
d i s p o n i b i l i d a d e é de 5 0 % e 5 0 % e está ligada a p r o t e í n a s plas- de sódio, potássio, m a g n é s i o e cálcio. A u m e n t o da s e n s i b i l i d a d e
máticas. A m e l h o r resposta o c o r r e q u a n d o o pico de c o n c e n t r a - aos efeitos da digoxina surge e m estados d e h i p o c a l e m i a , h i p o -
ção plasmática varia entre 10 e 3 0 p g / m L . A meia-vida varia de m a g n e s e m i a e h i p e r c a l c e m i a , q u e t o r n a m difícil o estabeleci-
5 0 a 70 h o r a s A e l i m i n a ç ã o o c o r r e p o r m e i o do m e t a b o l i s m o da m e n t o da real c o n c e n t r a ç ã o t e r a p ê u t i c a da digoxina, p o r s e r e m
C Y P 2 C 1 9 . A a d m i n i s t r a ç ã o c o n j u n t a c o m outras drogas i n d u t o - p a r â m e t r o s interativos.
ras d e C Y P 2 C 1 9 , c o m o f e n o b a r b i t a l , f e n i t o í n a ou carbamaze- A absorção da digoxina é variável e d e p e n d e n t e da f o r m u l a -
p i n a , resulta e m c o n c e n t r a ç ã o d i m i n u í d a de zonisamida. ção da droga. A U.S. Píiarmaco^eia relata a necessidade de haver
564 PARTE IV Analitos

TABELA 3 0 - 2 Parâmetros Farmacoeinéticos de Drogas com Ação Cardiológica


Concentração
Efetiva Concentração Volume de Ligação
Mínima Tóxica Mínima Meia-vida Distribuição Biodisponibiíidade Protéica
(MEC) (MTC) Média Médio Oral Média Importante Enzimas que
Droga (ug/mL*) (pg/mL*) (h) (L/kg) (%) (%) Metabolizam

Amiodorona 1,0 2,0 45 días+ 60 45 99 CYP3A4, Pg


Digoxina 0,5 ng/mL* 0,0 ng/mL* 40 5 70 25 CYP3A4, Pg
Lidocaína 1,5 6,0 1,8 1,1 35 70 CYP2D6
CYP3A4, Pg
Procaínamida 4,0 12,0 6 1,9 83 20 NAT1
N-acetilprocaínamída 12,0 18,0 8
Quinidina 2,0 5,0 6 2,7 80 85 CYP3A4, Pg

"Exceto tjuanáo mostrada diference no texic.


t
Veja o texto

mais m e 6 5 % de digoxina n o comprimido para que este se dis- são menores nesses pacientes. A digoxina é metabolizada pela
solva em 6 0 minutos. N o plasma, 2 5 % da digoxina está ligada a C Y P 3 A 4 e transportada para fora das células via transportador
proteínas. A digoxina se concentra n o s tecidos. N o estado de glicoproteína P (Pg). A co-administração de ciclosporina, inibido-
equilíbrio, a concetração da digoxina n o tecido cardíaco é de 15 res de protease, quinidina, sirolimus ou verapamil, prolonga a
a 3 0 vezes a d o plasma. A acumulação da digoxina n o s tecidos taxa de clearance de digoxina, obrigando u m ajuste nas doses.
ocorre após se atingir a concentração plasmática. Por exemplo, D i m i n u i ç ã o da absorção gastrointestinal de digoxina ocorre
apesar de o pico de concentração plasmática ser alcançado de 2 c o m (1) doença celíaca e ressecções d o intestino delgado, (2) dietas
a 3 horas após a dose oral, o pico de concentração nos tecidos ricas e m fibras, (3) hipertiTeoidismo, e (4) situações de a u m e n t o
ocorre de 6 a 10 horas após essa dose. Apesar de os efeitos far- de motilidade gastrointestinal. U m a situação de mais risco se
macológicos e de a toxicidade se correlacionarem c o m a concen- desenvolve secundariamente à interação de quinidina e digoxina,
tração tecidual, mais do que a plasmática, a concentração plas- levando a n m aumento nas concentrações de digoxina.
mática de digoxina, que tem eficiência e segurança terapêutica, Nota: Digitoxina é raramente prescrita; entretanto, as con-
varia de 0,8 a 2,0 n g / m L . Entretanto, essa faixa foi recentemente centrações séricas devem ser avaliadas e m pacientes c o m suspeita
questionada, sugerindo-se a maior eficácia mantendo-se a digo- de intoxicação digital c o m concentrações de digoxina não detec-
xina na faixa de 0 , 5 a 0,8 ng/mL. 1 1 Clinicamente, a faixa efetiva tadas. O s testes de imunoensaio para digoxina têm reação cruzada
de digoxina não é determinada pelo pico de concentração plas- c o m digitoxina, requerendo a substituição d o anticorpo d o ensaio
mática, mas sim pela concentração de pico tecidual. Dessa forma, por u m seletivo para digitoxina.
para certificar u m a correlação entre a concentração plasmática e
a tecidual, o t e m p o correto para a coleta de u m a amostra é de 8 Lidocaína
horas ou mais após a dose. Resultados de amostras coletadas mais A lidocaína é a droga de escolha n o tratamento inicial das extra-
cedo que 8 horas após a dose são errados, porque não se corre- sístoles ventriculares,e para a prevenção de arritmias ventricula-
lacionam c o m as concentrações teciduais. res. A lidocaína é contra-indicada e m bradicardias e bloqueios
A toxicidade por digoxina é caracterizada por sintomas inespe- avançados d o n ó atrioventricular decorrentes de infarto agudo
cíficos c o m o (1) náusea, (2) vômitos, (3) anorexia e (4) distorções d o miocárdio. A lidocaína diminui o período refratário do poten-
visuais p r e d o m i n a n t e m e n t e verdes o u amarelas. O s sintomas car- cial de ação nessas fibras, e faz isso em concentrações menores
díacos de intoxicação incluem (1) extra-sístoles ventriculares poli- d o que aquelas necessárias para exercer efeito farmacológico e m
mórficas (PVCs), (2) b i g e m i n i s m o ventricular, (3) taquicardia outros pontos, c o m o o miocárdio d o ventrículo.
ventricular e (4) fibrilação ventricular. Combinações de atraso de A lidocaína passa quase que completamente pelo metabo-
c o n d u ç ã o e a u m e n t o d o automatismo podem resultar em taqui- lismo de primeira passagem no fígado através da C Y P 3 A 4 e da
cardia atrial paroxística com bloqueio do n ó atrioventricular e C Y P 2 D 6 , quando é administrada por via oral. Por isso só é
taquicardia juncional não-paroxística. Esses sintomas são fre- administrada por via intramuscular ou intravenosa. U m a vez na
q ü e n t e m e n t e observados q u a n d o as concentrações sanguíneas corrente sanguínea, 5 0 % da droga se liga a proteínas, principal-
excedem 2 n g / m L em adultos. Crianças toleram concentrações m e n t e à albumina e à A A G . O clearance de lidocaína é b e m
maiores e normalmente não apresentam toxicidade antes que a rápido. Sua meia-vida de distribuição é de 0,5 hora, e a meia-vida
concentração de digoxina ultrapasse 4 n g / m L . de eliminação é de 1 a 1,5 hora. D i m i n u i ç ã o da função hepática
A eliminação da digoxina segue os princípios da cinética de atrapalha o clearance, causando prolongamento na eliminação e
primeira ordem. Entre 5 0 % a 70% são excretados na urina na acúmulo da droga. Isso resulta e m intoxicação se a dose não for
forma pura, o u c o m o monossacarídeos ou dissacarídeos de digo- ajustada de forma a se adequar a essa diminuição na taxa meta-
xigenina. U m a pequena parte é metabolizada a diidrodigoxina e bólica.
também é excretada pelos rins. O restante é encontrado nas fezes A relação entre a concentração de lidocaína ótima n o sangue
c o m o digoxigenina ou seus sacarídeos. C o m o resultado, a toxici- e seus efeitos clinicos é mais b e m interpretada à luz da grande
dade da digoxina se desenvolve c o m mais freqüência e demora verossimilhança do sucesso terapêutico, da falência terapêutica,
mais e m pacientes com insuficiência renal. As dosagens usadas o u da toxicidade por aumentos seletivos de concentração. Con-
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 565

c e n t r a ç õ e s s a n g u í n e a s m e n o r e s q u e 1,5 p g / m L são r a r a m e n t e órgãos levam a a c ú m u l o de p r o c a i n a m i d a e d o s seus m e t a b ó l i t o s .


efetivas. C o n c e n t r a ç õ e s e n t r e 1,5 e 6,0 p g / m L são n o r m a l m e n t e A meia-vida é d e 3 a 4 h o r a s e m a d u l t o s saudáveis.
eficientes e r a r a m e n t e são associadas c o m q u a l q u e r f o r m a d e A c o n c e n t r a ç ã o n a qual a p r o c a i n a m i d a b l o q u e i a extras-sísto-
toxicidade de sistema n e r v o s o central ou cardiovascular. Entre- les ventriculares e i n i b e arritmias ventriculares varia e n t r e 4 e 12
t a n t o , c o n c e n t r a ç õ e s d e 4 a 6 p g / m L p o d e m ser necessárias p a r a p g / m L , e m b o r a os pacientes p o s s a m tolerar c o n c e n t r a ç õ e s mais
s u p r i m i r arritmias, m a s p o d e m se associar c o m d e p r e s s ã o leve d o altas p o r curtos p e r í o d o s d e t e m p o . E s a b i d o q u e p a c i e n t e s q u e
sistema n e r v o s o c e n t r a l e discreto a l a r g a m e n t o d e Q R S n o ele- t ê m q u a d r o s c r ô n i c o s de extra-sístoles ventriculares t o l e r a m con-
t r o c a r d i o g r a m a . C o n c e n t r a ç õ e s d e 6 a 8 p g / m L são aceitáveis centrações tão altas q u a n t o 16 p g / m L para reduzir a f r e q ü ê n c i a
a p e n a s se u m a alternativa t e r a p ê u t i c a n ã o f o r possível, p o r q u e d e eventos a u m n ú m e r o razoável. U m a c o n c e n t r a ç ã o p l a s m á t i c a
essas c o n c e n t r a ç õ e s são associadas c o m d e p r e s s ã o significativa d o m í n i m a de 8 p g / m L é necessária para proteger c o n t r a u m a taqui-
sistema n e r v o s o central e b l o q u e i o s d o n ó atrioventricular. C o n - cardia v e n t r i c u l a r s u s t e n t a d a .
c e n t r a ç õ e s que u l t r a p a s s a m 8 p g / m L são n o r m a l m e n t e associa- A q u e s t ã o da c o n c e n t r a ç ã o t e r a p ê u t i c a ideal de p r o c a i n a m i d a
das c o m atividade convulsiva, h i p o t e n s ã o i m p o r t a n t e e grave é c o m p l i c a d a p o r u m d e seus m e t a b ó l i t o s , a N - a c e t i l p r o c a i n a m i d a
d i m i n u i ç ã o d o d é b i t o cardíaco. (NAPA), q u e t e m atividade a n t i a r r í t m i c a similar à da procaina-
A lidocaína t e m dois m e t a b ó l i t o s f o r m a d o s pela ação d a m i d a . D e m o n s t r o u - s e q u e esse c o m p o s t o se a c u m u l a e m p a c i e n -
C Y P 2 D 6 e d a C Y P 3 A 4 q u e são detectáveis n o p l a s m a , a m o n o - tes c o m p e r d a de f u n ç ã o r e n a l e e m pacientes q u e são c o n h e c i d o s
etilglicinaxilidida ( M E G X ) e a glicinaxilidida (GX). A M E G X e a c o m o "acetiladores r á p i d o s " . A c o n c e n t r a ç ã o t e r a p ê u t i c a ó t i m a
l i d o c a í n a t ê m equivalência tóxica q u a s e idêntica, e a s o m a t o t a l d e N A P A n ã o é b e m d e f i n i d a . A droga é u s a d a n a E u r o p a , o n d e
d a c o n c e n t r a ç ã o de lidocaína e M E G X é e m m é d i a 18,7 p g / m L a c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a t o l e r a d a d e N A P A n a ausência d e pro-
( v a r i a n d o d e 17,9 a 2 8 , 0 p g / m L ) e m p a c i e n t e s c o m convulsões c a i n a m i d a é d e 3 0 p g / m L . U m a co-análise d a N A P A é necessária
d e s e n c a d e a d a s p o r lidocaína. A substituição tia M E G X pela lido- para f o r n e c e r u m a avaliação c o m p l e t a da terapia o u p a r a d e f i n i r
caína resulta n a m e s m a c o n c e n t r a ç ã o m é d i a p a r a u m a atividade o estado m e t a b ó l i c o . O s "acetiladores r á p i d o s " t ê m c o n c e n t r a -
convulsiva equivalente. ções d e N A P A iguais o u m a i o r e s q u e as d e p r o c a i n a m i d a e m
C o m o a lidocaína é mais c o m u m e n t e administrada em a m o s t r a s coletadas 3 h o r a s após a a d m i n i s t r a ç ã o , e n q u a n t o "ace-
i n f u s ã o c o n t í n u a após u m a d o s e d e a t a q u e , o t e m p o p a r a coletar tiladores lentos" t ê m p r o c a i n a m i d a p r e s e n t e e m q u a n t i d a d e p e l o
a a m o s t r a é d e t e r m i n a d o pela m o n i t o r a ç ã o racional. Se a con- m e n o s d u a s vezes m a i o r d o q u e a c o n c e n t r a ç ã o de N A P A e m
c e n t r a ç ã o s a n g u í n e a f o r d e s t i n a d a p a r a d o c u m e n t a r u m a concen- u m a a m o s t r a coletada d u r a n t e o m e s m o i n t e r v a l o d e t e m p o .
tração a d e q u a d a p a r a o efeito t e r a p ê u t i c o , a a m o s t r a deverá ser C o m o os efeitos d a p r o c a i n a m i d a e d a N A P A são cumulativos,
c o l e t a d a e m 3 0 m i n u t o s após a dose d e a t a q u e , o u 5 a 7 h o r a s as c o n c e n t r a ç õ e s d e pico p l a s m á t i c o d e p r o c a i n a m i d a d e v e m ser
após a terapia ter se iniciado se n ã o for d a d a d o s e de a t a q u e l i m i t a d a s a 8 a 12 p g / m L , e as c o n c e n t r a ç õ e s de pico de a m b a s
(cinco meias-vidas após o início da terapia). Se u m p a c i e n t e n ã o p o d e m exceder 3 0 p g / m L . A i n t e r p r e t a ç ã o de r e s u l t a d o s
a p r e s e n t a r r e b a i x a m e n t o d o nível de consciência, a l a r g a m e n t o d o r e q u e r c o n h e c i m e n t o d o estado cardíaco d o p a c i e n t e . A l g u m a s
Q R S ou o u t r o s s i n t o m a s tóxicos, a a m o s t r a deve ser coletada o c o n c e n t r a ç õ e s p o d e m ser intoleráveis para alguns pacientes,
mais p r ó x i m o possível d o e p i s ó d i o e a análise deve ser feita d e e n q u a n t o o u t r o s p o d e m precisar de c o n c e n t r a ç õ e s mais altas
f o r n i a imediata, p o r q u e esses s i n t o m a s r e p r e s e n t a m u m a p o t e n - p a r a o c o n t r o l e d e extra-sístoles ventriculares.
cial s i t u a ç ã o q u e a m e a ç a a v i d a (início d e intoxicação grave p o r O s s i n t o m a s d e intoxicação i n c l u e m (1) bradicardia, (2) pro-
lidocaína). l o n g a m e n t o d o i n t e r v a l o Q R S , (3) b l o q u e i o atrioventricular e (4)
A c o n c e n t r a ç ã o p l a s m á t i c a total de l i d o c a í n a é r e s u l t a d o d o i n d u ç ã o de arritmias. Esses s i n t o m a s o c o r r e m q u a n d o as c o n c e n -
clearance d a droga e é m o d u l a d a pela f u n ç ã o hepática. H á p o u c o trações de p r o c a i n a m i d a e N A P A n o s a n g u e são m a i o r e s q u e 3 0
i m p a c t o n o clearance n a d o e n ç a renal. E m situações de d i m i n u i - p g / m L . A h i p o t e n s ã o algumas vezes e n c o n t r a d a d u r a n t e o trata-
ção n a p e r f u s ã o d e órgãos, o clearance é r e d u z i d o e se espera q u e m e n t o c o m p r o c a i n a m i d a n ã o é r e l a c i o n a d a ao excesso d e con-
as c o n c e n t r a ç õ e s d e lidocaína a u m e n t e m n o sangue; é apro- c e n t r a ç ã o n o p l a s m a . O d e s e n v o l v i m e n t o de l ú p u s e r i t e m a t o s o
p r i a d o d i m i n u i r a dose nessas circunstâncias. D e m o n s t r o u - s e q u e sistêmico associado ao u s o de p r o c a i n a m i d a t a m b é m n ã o é rela-
a p r i n c i p a l p r o t e í n a q u e se liga à lidocaína, a A A G , acumula-se c i o n a d o à c o n c e n t r a ç ã o plasmática, mas sim ao grau de acetilador
n o p ó s - i n i a t t o . O r e s u l t a d o d o a c ú m u l o dessa p r o t e í n a é a d o paciente; "acetiladores lentos" p r e d o m i n a m n o g r u p o q u e
r e d u ç ã o n a fração livre de lidocaína, o q u e r e d u z o efeito farma- desenvolve a s í n d r o m e .
cológico d a droga.
Quinidina
Procainamida A q u i n i d i n a , disponível t a n t o c o m o sulfato d e q u i n i d i n a c o m o
A p r o c a i n a m i d a é u s a d a n a t e r a p ê u t i c a d e (1) extra-sístoles ven- g l u c o n a t o de q u i n i d i n a , é usada n o t r a t a m e n t o d e (1) extra-sísto-
triculares, (2) t a q u i c a r d i a ventricular, (3) fibrilação atrial e (4) les atriais, (2) t a q u i c a r d i a supraventricular paroxística, (3) taquiar-
t a q u i c a r d i a atrial paroxística. Seu m e c a n i s m o de ação é similar ritmia supraventricular, (4) extra-sístoles ventriculares, (5) taqui-
ao d a q u i n i d i n a , q u e a u m e n t a o p o t e n c i a l d e d i s p a r o d a m e m - cardia ventricular e (6) n o t r a t a m e n t o profilático após u m i n f a r t o
b r a n a ao b l o q u e a r o f l u x o de potássio e r e d u z a excitabilidade e a g u d o d o m i o c á r d i o . T a m b é m é u s a d a c o m cautela n o t r a t a m e n t o
a v e l o c i d a d e de c o n t r a ç ã o nas fibras de P u r k i n j e e n o m ú s c u l o d a fibrilação e /lutter atriais, apesar de esse t r a t a m e n t o ser acom-
ventricular. p a n h a d o d a a d m i n i s t r a ç ã o ou de digoxina o u d e u m b e t a b l o q u e -
A absorção d a p r o c a i n a m i d a é r á p i d a e c o m p l e t a . O p i c o de a d o r (propranolol), d e f o r m a a b l o q u e a r o n ó atrioventricular.
c o n c e n t r a ç ã o plasmática após u m a dose oral é a l c a n ç a d o e m 0 , 7 5 A absorção d a q u i n i d i n a é c o m p l e t a e r á p i d a . O p i c o d e
a 1,5 h o r a , se a droga for d a d a e m f o r m a de cápsula, ou e m 1 a c o n c e n t r a ç ã o sérica é a l c a n ç a d o e m 1,5 a 2 horas após u m a dose
3 h o r a s , se for d a d a e m f o r m a de c o m p r i m i d o . U m a vez absor- oral, a n ã o ser q u e se u s e u m a p r e p a r a ç ã o d e liberação l e n t a
vida, a p r o c a i n a m i d a t e m 2 0 % d e ligação c o m p r o t e í n a s plasmá- ( g l u c o n a t o d e q u i n i d i n a ) . A c o n c e n t r a ç ã o d e pico n o p l a s m a é
ticas. A excreção d a p r o c a i n a m i d a d e p e n d e d o m e t a b o l i s m o atingida e m 4 a 5 h o r a s após a a d m i n i s t r a ç ã o d o g l u c o n a t o d e
h e p á t i c o através d a N-acetiltransferasel ( N A T 1 ) e d o clearance q u i n i d i n a , e a c o n c e n t r a ç ã o d e vale ocorre e m 1 a 2 h o r a s após
renal; p o r isso, alterações n a f u n ç ã o de q u a l q u e r u m desses a d o s e seguinte. U m a vez absorvida, 8 0 % d a q u i n i d i n a se liga a
566 PARTE IV Analitos

p r o t e í n a s . A q u i n i d i n a é m e t a b o l i z a d a pela C Y P 3 A 4 - O clearance O s a m i n o g l i c o s í d e o s são u m g r u p o de c o m p o s t o s m u i t o


de q u i n i d i n a d e p e n d e de u m a d e q u a d o f u n c i o n a m e n t o h e p á t i c o polares e, dessa f o r m a , são p o u c o absorvidos pelo trato intestinal.
e renal. U m a p e r d a n a f u n ç ã o d e q u a l q u e r u m desses órgãos Eles são a d m i n i s t r a d o s "rotineiramente p o r via intravenosa ou
resulta e m a c ú m u l o da droga. O clearance r e n a l é u m a f u n ç ã o d o i n t r a m u s c u l a r d e f o r m a a atingir u m alto grau d e biodisponibiíi-
p H u r i n á r i o . Se a u r i n a estiver alcalina ou se o p a c i e n t e tiver d a d e . Q u a n d o a d m i n i s t r a d o s d i r e t a m e n t e n o sangue, eles rapi-
acidose t u b u l a r renal, o clearance será reduzido. d a m e n t e se d i s t r i b u e m p e l o f l u i d o extracelular, m a s n ã o cruzam
Foi d e m o n s t r a d o q u e existe u m a forte correlação e n t r e a a m e m b r a n a celular n e m se ligam a p r o t e í n a s plasmáticas. A
c o n c e n t r a ç ã o de q u i n i d i n a n o s a n g u e e a resposta farmacológica m a i o r i a d o s tecidos e as secreções hepáticas e não-renais c o n t ê m
ó t i m a . A c o n c e n t r a ç ã o t e r a p ê u t i c a ó t i m a de q u i n i d i n a é de 2 a c o n c e n t r a ç õ e s m u i t o p e q u e n a s d e aminoglicosídeos, c o m exceção
5 p g / m L . A toxicidade da q u i n i d i n a é n o r m a l m e n t e vista e m d o córtex renal, o n d e a droga se c o n c e n t r a , e na bile, d e v i d o à
c o n c e n t r a ç õ e s m a i o r e s q u e 8 p g / r a L e é caracterizada p o r sinto- secreção hepática ativa. As drogas são excretadas p r i n c i p a l m e n t e
mas d e (1) c i n c h o m s m o , (2) z u m b i d o , (3) t o n t u r a , (4) vertigem e pela filtração glomerular. A meia-vida de e l i m i n a ç ã o é curta,
(5) toxicidade cardiovascular, i n c l u i n d o extra-sístoles ventricula- v a r i a n d o de 2 a 3 horas. C o m o o clearance é a l t a m e n t e depen-
res e b l o q u e i o s d e n ó atrioventricular. O efeito tóxico p r e d o m i - d e n t e d a f u n ç ã o renal, q u a l q u e r p e r d a de filtração g l o m e r u l a r
n a n t e é d i s t ú r b i o gastrointestinal, o q u e inclui (1) náusea, (2) causa a c ú m u l o dessas drogas.
v ô m i t o s , (3) anorexia e (4) d e s c o n f o r t o a b d o m i n a l . Reações d e O t r a t a m e n t o c o m agentes a n t i m i c r o b i a n o s se diferencia da
h i p e r s e n s i b i l i d a d e associadas c o m q u i n i d i n a n ã o são relaciona- a b o r d a g e m usada p a r a a m a i o r i a das o u t r a s drogas discutidas
das à sua c o n c e n t r a ç ã o n o sangue. n e s t e capítulo. C o m elas, o objetivo é atingir u m a c o n c e n t r a ç ã o
O clearance da q u i n i d i n a d e p e n d e da C Y P 3 A 4 . A i n d u ç ã o n o p l a s m a tal q u e a bactéria seja e l i m i n a d a sem causar d a n o ao
desse sistema p o r drogas c o m o carbamazepi na, f e n i t o í n a e erva- paciente. C o m o os o r g a n i s m o s t r a t a d o s são variáveis e se sabe
de-São João leva a u m a u m e n t o d o clearance de q u i n i d i n a . A q u e se t o r n a m resistentes a certas drogas, o t r a t a m e n t o com
d i m i n u i ç ã o d a p e r f u s ã o d e órgãos, a inibição d a C Y P 3 A 4 p o r aminoglicosídeos específicos s e m p r e deve ser d i r e c i o n a d o p o r
suco d e uva o u e r i t r o m i c i n a e a a d m i n i s t r a ç ã o c o n j u n t a c o m testes d e sensibilidade. A s c o n c e n t r a ç õ e s inibitórias m í n i m a s
i n i b i d o r e s de p r o te a se r e s u l t a m e m d i m i n u i ç ã o d o clearance. Foi (MICs) efetivas dessas drogas estão listadas n a Tabela 30-4.
r e l a t a d o q u e a q u i n i d i n a p o r si só dilata os vasos s a n g u í n e o s U m limite p a r a a c o n c e n t r a ç ã o de aminoglicosídeos n o
periféricos, r e s u l t a n d o em h i p o t e n s ã o d e leve a m o d e r a d a e sangue é r e c o m e n d a d o , apesar d e u m a considerável variabilidade
r e d u ç ã o d o clearance e m u m c u r t o p e r í o d o de t e m p o . A q u i n i d i n a ser descrita a respeito d a relação n a c o n c e n t r a ç ã o s a n g u í n e a com
afeta a taxa d e clearance d a digoxina. o d e s e n c a d e a m e n t o de toxicidade. A necrose t u b u l a r renal e a
d e g e n e r a ç ã o do n e r v o auditivo são os efeitos colaterais q u e acon-
Antibióticos tecem c o m mais f r e q ü ê n c i a após exposição a altas c o n c e n t r a ç õ e s
O s antibióticos que precisam ser m o n i t o r a d o s são (1) os a m i n o - de aminoglicosídeos. A m o s t r a s t a n t o d o pico q u a n t o d o vale são
glicosídeos, (2) o cloranfenicol, (3) a v a n c o m i c i n a e (4) o trime- necessárias p a r a m o n i t o r a r a toxicidade. A Tabela 30-5 identifica
t o p r i m . D e t a l h e s da f a r m a c o c i n é t i c a desses e de o u t r o s antibió- as c o n c e n t r a ç õ e s séricas m á x i m a s para o pico e p a r a o vale. Nesse
ticos estão r e s u m i d o s n a Tabela 30-3. O s a m i n o g l i c o s í d e o s e a m o d o d e m o n i t o r a ç ã o , a f o r m a de terapia deve utilizar a droga
v a n c o m i c i n a são q u a n t i f i c a d o s p o r i m u n o e n s a i o . O u t r o s antibi- n o p a c i e n t e de m a n e i r a q u e a c o n c e n t r a ç ã o de pico n ã o ultra-
óticos são m e d i d o s por H P L C . passe esses limites. E m u m g r a n d e e s t u d o c o m pacientes cirúrgi-
cos n o qual a d o s a g e m era feita sob c o n d i ç õ e s controladas,
Amin oglicosídeos o c o r r e u p o u c a n e f r o t o x i c i d a d e q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o d e pico
O s a m i n o g l i c o s í d e o s são agentes policatiônicos q u e m a t a m bac- de g e n t a m i c i n a era m a n t i d a abaixo de 8 p g / m L . C o r r e ç õ e s na
térias gram-negativas aeróbicas. Eles agem se l i g a n d o à s u b u n i - dose devem ser feitas e m pacientes com alteração d a f u n ç ã o renal,
d a d e 3 0 S d o r i b o s s o m o d o ácido r i b o n u c l é i c o m e n s a g e i r o bacte- pois nestes o c o r r e m a u m e n t o da meia-vida e lentificação n a eli-
r i a n o í m R N A ) , c o n s e q ü e n t e m e n t e i n i b i n d o a síntese d e proteí- minação. i
nas. Eles são inativos e m c o n d i ç õ e s anaeróbicas devido ao meca- A toxicidade associada com os aminoglicosídeos se manifesta
n i s m o d e t r a n s p o r t e ativo o x i g ê n i o - d e p e n d e n t e q u e está envol- c o m o destruição de células sensoriais vestibular e coclear de início
v i d o n a passagem d o a m i n o g l i c o s í d e o s através d a p a r e d e celular tardio e c o m o necrose t u b u l a r r e n a l aguda. O grau e a severidade
b a c t e r i a n a . A classe d o s aminoglicosídeos inclui (1) amicacina, d o d a n o celular são variáveis e n t r e as diversas drogas, mas todas
(2) g e n t a m i c i n a , (3) c a n a m i c i n a , (4) n e o m i c i n a , (5) n e t i l m i c i n a , c a u s a m d a n o celular se a c o n c e n t r a ç ã o for além dos limites lista-
(6) sisomicma, (7) e s t r e p t o m i c i n a e (8) t o b r a m i e i n a . dos n a Tabela 30-5. Infelizmente, as diretrizes m o s t r a d a s n a Tabela

TABELA 30-3 Parâmetros Farmaco cinéticos de Antibióticos que São Monitorados


Concentração
Efetiva Concentração Volume de Ligação
Mínima Tóxica Mínima Meia-vida Distribuição Biodisponibiíidade Protéica
(MEC)* (MTC} Média Médio Oral Média Média
Droga (pg/mL) (lig/mL) íh) (L/kg) <%) (%)

Amicacina 25 35 2,5 0,3 5


Cloranfenicol 10 25 3 0,9 75-90 53
Gentamicina <5 8 2,5 0,3 5
Tobramicína <5 8 2 0,3 <10
Vancomicina 20 40 6 0,5 <10

* Estudos de sensibilidade de organismos (concentração inibi ifaia mini me; veja o texto) definem as concentrações efetivas mínimas
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 567

30-5 nao garantem que a toxicidade seja evitada, pois um pequeno A heparina tem sido apontada como sendo capaz de desativar
número de pacientes pode apresentar os efeitos da toxicidade a a gentamicina por meio da formação de um complexo inativo.
despeito da concentração. Uma perda irreparável de função renal, Esse complexo, apesar de biologicamente inativo, tem alguma
vestibular ou coclear normalmente se relaciona com a administra- semelhança estrutural com o aminoglicosídeo inicial e gera
ção de um dos aminoglicosídeos em concentrações elevadas no reações cruzadas com anticorpos para esse aminoglicosídeo espe-
sangue por períodos mais longos que 2 semanas. cifico. Concentrações de heparina encontradas durante um tra-
Os aminoglicosídeos apresentam atividade contra microrga- tamento anticoagulante são menores que 3 unidades/mL, tor-
nismos dependente do pico de concentração. Clinicamente, o nando-se uma complicação in vivo indesejável. Entretanto, amos-
ohjetivo terapêutico é atingir concentrações de pico 10 vezes o tras coletadas em tubos contendo heparina (1.000 unidades/mL)
valor da MIC do organismo. Uma dose diária com duas ou mais podem levar à formação do complexo, um fenômeno que pode
vezes da dose usual de 48 horas (conhecida como pulso) pode interferir com alguns procedimentos de imunoensaio. Na prática,
minimizar o desenvolvimento de resistência adaptativa, e pode os antibióticos aminoglicosídeos tipicamente são medidos por
diminuir ou atrasar a nefrotoxícidade. As concentrações de pico imunoensaio.
desejadas no pulso são normalmente mais de duas vezes os valores
que se objetivam durante o uso de doses de 48 horas (Tabela Cloranfenicol
30-5). Relatos de reações semelhantes a bac terem ia (p. ex., [1] O cloranfenicol é usado como um agente bactericida. Ele age se
tremores, [2] rigidez, [3] febre, [4] hipotensão, [5] taquicardia e ligando à subunidade ribossômica 50S do m R N A da bactéria, e
[6] distúrbio respiratório) são associados com a terapia de uma inibe a síntese protéica de organismos procarióticos. O uso dessa
dose diária. Muitos estudos com o uso de pulso de aminoglico- droga depende de sua relativa toxicidade contra o microrganismo
sídeos têm sido feitos em pacientes com baixas taxas de falência ou contra o paciente. A droga é usada contra bactérias gram-nega-
em infecções urinárias, abdominais e pélvicas. Esses grupos de tivas como (1) Haemophilus influenzae, (2) Neisseria meningitidis, (3)
pacientes podem ser bons candidatos à terapia usando pulsos. Neisserict gonorrhoeãe, (4) Saimoneüa tjpfii, (5) todas as espécies de
Pacientes que estão gravemente doentes ou que têm suspeita de Brucella, (6) Bord.eLe.lla pertussís, (7) Vi brio choterae e (8) ShigelLa.
teT volumes de distribuição acima do normal podem não atingir Todos esses organismos são suscetíveis a concentrações séricas de
as concentrações de pico desejadas. A quantificação da concen- 6 pg/mL. Os organismos que são suscetíveis a uma concentração
tração da droga 2 horas após o fim de uma infusão que durou de 12 pg/mL são (1) Escherichia coli, (2) Klebsmila pneumoniae, (3)
1 hora e a concentração de 8 a 12 horas após a primeira dose Pseudomonas pseudomallzi, (4) Chlamydia e (5) Mycoplasma.
têm sido usadas para calcular os parâmetros individuais de far- O cloranfenicol é rapidamente absorvido no trato gastroin-
macocinética do paciente (p. ex., extrapolar a meia-vida, o pico, testinal. O pico de concentração sérica ocorre 1 a 2 horas após
o vale etc.) e, dessa forma, otimizar a dose. a dose oral. N o plasma, aproximadamente 50% do cloranfenicol
se liga a proteínas e sua meia-vida é de 2 a 3 horas. Concentrações
séricas de pico após a administração de palmitato ou succinato
de cloranfenicol ocorrem 4 a 6 horas após a dose. O cloranfeni-
col se distribui por todos os tecidos e se concentra no líquido
cerebrospinal. A droga é ativamente metabolizada no fígado pela
TABELA 3 0 - 4 Concentração Inibitória Mínima dos
NAT1 e pela UGT. Dessa forma, o cloranfenicol se acumula em
Antibióticos*
casos de doença hepática. Doenças renais não afetam muito a
Suscetível Intermediária Resistente metabolízação.
Antibiótico (ug/mL) (ug/mL) (pg/mL) A toxicidade associada ao uso de cloranfenicol inclui discra-
Amicacina <16 32 >64 sias sanguíneas e colapso cardiovascular. Esses efeitos têm uma
Cloranfenicol <8 16 >32 relação modesta com a concentração no sangue. Outros efeitos
Gentamicina <4 <8 >12 tóxicos relacionados à concentração incluem (1) anemia, caracte-
Tobramicina <4 8 >16 rizada por uma parada na maturação da medula; (2) vacuolização
Vancomicina <4 8-16 >32 citoplasmática de células mielóides e eritróides; (3) reticulocito-
Dados dá Methods for dilution antimícrobial suscí^tifcilitj t&sts fcrt bactéria ifmt grou)
penia; e (4) aumentos tanto no ferro sérico quanto na capacidade
aembically, 7th Ecí. M7-A7. Approved Standard, Wayne, PA. Clinicai a n d de ligação do ferro. Todos esses sintomas são associados com
Laboratory Siandards Inslitute, 2006. concentrações acima de 25 ]jg/mL. O desenvolvimento de anemia
*Os valorei são para organismos outros que rido H a e m o p h i l u s s p p , N e i s e r r i a g o n o r - aplásica não é relacionado com a dose ou à concentração. O
rheae, e Streprococcus spp. colapso cardiovascular, que ocorre mais em recém-nascidos, é
relacionado a uma concentração total de cloranfenicol que ultra-

I
TABELA 3 0 - 5 | Concentração Efetiva Normal dos Antibióticos (|4f»/mL)
Pico da Dose
Droga Pico (iig/mL) de Pulsa (pg/mL) Vale (ug/mL) Tóxica'' (ug/mL)

Amicacina 25-35 40-60 4-8 >35


Cloranfenicol 10-25 NA 10 >25
Gentamicina 5-8 20-24 1-2 >10
Tobramicina 5-8 20-24 1-2 >10
Vancomicina 20-40 NA 5-10 >80

N A , não aplicável
'Nota: Não se aplica à dose de pubo.
568 PARTE IV Analitos

passa 50 p g / m L . U m a dose oral de 5 0 m g / k g / d i a resulta em uma farmacológica. A resposta dos pacientes a essas drogas é ampla-
concentração ótima para o pico de 10 a 25 p g / m L n o adulto m e n t e variado devido (1) à biodisponibilidade variável, (2) ao
saudável. grande volume de distribuição, (3) à atividade metabólica variável
e (4) à formação de metabólitos anvos farmacologicamente.
Vancomicina Os antidepressivos tricíclicos mostram u m a boa relação entre
A vancomicina é u m glicopeptídeo que tem ação bactericida a resposta terapêutica e a concentração sérica. Por exemplo, u m a
contra bactérias gram-positivas e alguns cocos gram-negativos. A relação linear entre a melhora clínica e a concentração sérica foi
vancomicina é usada devido à sua atividade contra estafilococos percebida na maioria dessas drogas, com exceção feita à nortrip-
metir.ilino-resistentes e cormebactérias Ela t a m b é m se tornou tilina, que tem u m c o m p o r t a m e n t o terapêutico específico U m a
popular pelo tratamento de endocardite e sepse causadas por concentração sérica de nortriptilina abaixo ou acima da taxa de
esses organismos. 5 0 a 150 n g / m L se correlaciona com piora do humor. O s outros
Apesar de a droga ser pouco absorvida por via oral, u m a dose antidepressivos não apresentam esse efeito. O limite superior da
de 1 g em forma intravenosa a cada 12 horas alcança u m pico de concentração ótima para esses outros antidepressivos limita o
concentração sangüínea de 20 a 40 p g / m L e u m a concentração desencadeamento de toxicidade. A toxicidade se expressa como
de vale de 5 a 10 p g / m L . Ela tem u m a meia-vida média de 5 a 6 boca seca e transpiração, sinais que t a m b é m ocorrem com a
horas. Toxicidade relacionada à concentração acomete o nervo depressão. Sendo assim, é difícil diferenciar entre a toxicidade
auditivo. Concentrações menores que 30 p g / m L raramente se leve causada pela droga e a doença que está sendo tratada. A
associam a esse sintoma. A toxicidade não relacionada à dose ou toxicidade mais grave se expressa como bloqueio d o n ó atrioven-
à concentração é rara e inclui febre, flebite e dor n o local da tricular, caracterizado por alargamento d o intervalo Q R S no
infusão. Em pacientes com perda de função renal, as concentra- eletrocardiograma. O início dos sintomas ocorre em concentra-
ções séricas p o d e m a u m e n t a r até níveis tóxicos devido à diminui- ções séricas que vão de 800 a 1.200 n g / m L , e a gravidade da
ção d o clearance. A técnica-padrão para monitorar a concentração intoxicação se relaciona com a concentração sérica. A relação
é o imunoensaio. entre a concentração sérica e a toxicidade cardíaca diminui com
o tempo após a intoxicação, à medida que a droga é absorvida
Drogas Antipsicóticas nos tecidos. Apesar de sua toxicidade, os antidepressivos tricícli-
As drogas usadas em cuidados psiquiátricos que são normal- cos permanecem como drogas muito importantes n o tratamento
m e n t e monitoradas incluem os antidepressivos, alguns neurolép- da depressão.
ticos e o lítio. Os parâmetros farmacológicos dessas drogas antip- Numerosos métodos têm sido publicados para análise de
sicóticas são mostrados na Tabela 30-6. Os métodos preferidos antidepressivos tricíclicos. Essas drogas apresentam vários pro-
para a quantificação dos antidepressivos são o GC-MS 1 e o LC- blemas n o laboratório clínico. Por exemplo, sua concentração
MS/MS.6 sérica terapêutica é 10 a 100 vezes menor do que as de outras
drogas monitoradas, então, para serem úteis clinicamente, os
Antidepressivos métodos devem ser capazes de medir concentrações menores que
Os antidepressivos são usados para tratar a depressão endógena 50 n g / m L . Além disso, os antidepressivos têm metabólitos que
caracterizada por (1) h u m o r deprimido, (2) sentimentos de culpa, t a m b é m precisam ser medidos. Eles t a m b é m são estruturalmente
(3) diminuição do apetite, (4) insónia, (5) variação de peso, (6) similares aos indutores de sono, anti-histamínicos, e muitas
diminuição na habilidade de se concentrar, (7) perda de interesse outras medicações vendidas sem prescrição médica, usadas para
ou prazer em atividades usuais e (8) diminuição do apetite sexual. diminuição do apetite, o que é uma potencial interferência.
Em casos mais graves, c o m p o r t a m e n t o despersonalizado, com-
p o r t a m e n t o paranóide, c o m p o r t a m e n t o obsessivo-compulsivo e Inibidores Seletivos da Recaplação de Serotonina
tendências suicidas se tornam óbvios. Os tipos de antidepressivos Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRls) são
com seus nomes genéricos e comerciais estão listados na Tabela medicações f r e q ü e n t e m e n t e prescritas. Sua eficácia terapêutica é
30-6. Suas concentrações terapêuticas ótimas e importantes parâ- diversa, variando de depressão a transtorno obsessivo-compul-
metros farmacorinéticos estão listados na Tabela 30-7.

Antidepressivos Tricíclicos
Os antidepressivos triciclicos são absorvidos quase que comple- TABELA 3 0 - 6 Tipos de Antidepressivos
tamente n o trato gastrointestinal. C o m o passam por metabo- Tipo Nome Genérico
lismo hepático de pnmeira-passagem, sua biodisponibilidade
Aminocetonas Bupropiona
final é variável. Além disso, os antidepressivos tricíclicos dimi- Cicloexanos Banlaíaxina
n u e m a atividade gastrointestinal e o esvaziamento gástrico; con- Dibenzoxazepinas Amoxapína
seqüentemente, sua absorção pode demorar. U m a vez absorvi- Difenilaminas Fluoxetina
dos, eles se ligam fortemente a proteínas e aos tecidos, resultando Naftaleraminas Aertralina
em grandes volumes aparentes de distribuição. O pico de con- Tetraciclicos Maprotilina
centração n o plasma é atingido em 2 a 12 horas após a dose oral. Triazóis Paraxetina
O metabolismo é feito pela CYP2C19, CYP2D6 e CYP3A4 Trazodona
através de N-dimetilação e hidroxilação do anel aromático, segui- Tricíclicos Amitriptilina
das de conjugação pela U G T catalisada. Se a droga administrada Clomipramina
é uma amma tricíclica terciária (amitriptilina, doxepina e imipra- Desipramina
mina), o metabolismo causa acúmulo da respectiva amina secun- Doxepina
dária (nortriptilina, nordoxepina e desipramma). Essas substân- Imipramina
cias geralmente têm atividade farmacológica igual e se acumulam Portriptílina

em concentrações aproximadamente iguais (mas variáveis) às da Protriptilina

droga de base. Os metabólitos hidroxilados têm pouca atividade Trimipramina


Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 569

TABELA 3 0 - 7 Parâmetros Farmacocinéticos de Drogas Antipsicóticas


Concentração
Efetiva Concentração Volume de Ligação
Mínima Tóxica Mínima Meia-vida Distribuição Biodisponibilidade Proteica Enzimas
(MEC) (MTC) Média Médio Oral Média Média Importantes que
Droga (ng/mL) (ng/mL) <h) (L/kg) (%) (%) Metabolizam

Amitriptilina 80 250 21 15 50 95 CYP2C19, 2D6, 3A4, Pg


Bupropiona 25 100 12 7 84 CYP2B6, 2D6, 3A4, Pg
Clozapina 100 600 8 97 CYP1A2, 3A4
Doxepina 150 250 17 20 27 90 CYP2C19, 2D6, 3A4, Pg
Fluoxetina 90 300 55 35 60 95 CYP2C19, 2D6, 3A4, Pg
Imipramina 150 250 12 18 40 90 CYP2C19, 2D6, 3A4, Pg
Lítio 0,6 m m o l / L 1,2 m m o l / L 22 0,8 100 0
Nortriptilina 50 150 30 18 50 92 CYP2C19, 3A4, Pg
Olanzapina 10 1.000 30 15 90 93 CYP1A2, ÜGT
Paroxetina 30 70 21 13 90 95 CYP2D6
Quetiapina Não conhecida Não conhecida 10 10 10 83 CYP2D6, 3A4, Pg
Sertralina NA 300 26 76 98 CYP2C19, 2D6
Trazodona 800 1.600 7 1 75 93 CYP2C19, 2 0 6 , 3A4, Pg
Trimipramina 100 300 NA NA NA 90 CYP2C19, 2D6, 3A4, Pg
Venlafaxina 70 250 5 6,5 92 27 CYP2D6, Pg

J N A , não aplicãvel

sívo, distúrbio d o pânico, bulimia e outras condições. Eles OutrOS SSfílS. Os antidepressivos (1) amoxapina, (2) sertralina,
incluem (1) bupropiona, (2) fluoxetina, (3) nefazadona, (4) paro- (3) trazodona e (4) venlafaxina n ã o têm o mesmo grau de toxici-
xetma e (5) outras drogas. dade cardíaca que os antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos. O
Bupropiona. A bupropiona é u m bloqueador fraco de seroto- tratamento com doses discretamente maiores que as normais não
nina, norepinefrina, e d o p a m i n a . E rapidamente absorvida, levam o paciente à toxicidade. Portanto, monitorar a concentra-
alcançando u m pico de concentração após 2 horas da adminis- ção dessas drogas não é necessário para evitar efeitos colaterais
tração por via oral. Imagina-se que passa de forma considerável tóxicos. Entretanto, se o paciente não está respondendo à droga
pelo metabolismo de primeira-passagem com sua biodisponibili- como o esperado, a monitoração da concentração p o d e ser útil
dade variando de 5 % a 20%. A b u p r o p i o n a é metabolizada pela para demonstrar a não-aderência.
CYP3A4, CYP2B6 e CYP2D6. Os maiores metabólitos são o
hidroxilado de m o r f i n o l e o th/reo-amino álcool. A meia-vida da Lítio
b u p r o p i o n a varia de 8 a 24 horas. Em u m a típica dose diária (100 O lítio (LO, cujos nomes comerciais incluem Esfcdiit/i, Li t/ume,
a 250 mg), a bupropiona apresenta correlação entre a concentra- Lithonato e outros, é administrado como carbonato de lítio e
ção sérica e a dose, variando de 25 a 100 n g / m L . usado para o tratamento da fase de mania, de distúrbios afetivos,
Fluoxetina. A fluoxetina (e outros antidepressivos não-tricícli- e d o transtorno bipolar. E postulado que sua ação se dá por
cos) age inibindo a recaptação de serotonina no sistema nervoso a u m e n t a r a recaptação de catecolaminas, consequentemente
central. Essa medicação tem m e n o s efeitos antagonistas em recep- reduzindo sua concentração na junção neuronal. Isso produz u m
tores muscarínicos, histamínicos, e (X-adrenérgicos d o que os efeito sedativo n o sistema nervoso central. O lítio também
antidepressivos tricíclicos, p e r m i t i n d o que seja usada com menos modula a distribuição de sódio, cálcio e magnésio nos neurônios,
efeitos colaterais. A fluoxetina é metabolizada pela CYP3A4, o que reduz a taxa de metabolismo de glicose que afeta a função
CY P2D 6 e CYP2C19. Ela tem uma meia-vida m u i t o longa (48 nervosa.
horas), e seu metabóhto ativo, a norfluoxetina, é eliminada com A absorção do lítio n o trato gastrointestinal é completa, com
u m a meia-vida de 180 horas. A resposta ótima à fluoxetina ocorre pico de concentração sendo atingido entre 2 e 4 horas após u m a
q u a n d o a concentração do plasma fica entre 90 a 300 n g / m L . A dose oral. O lítio não se liga a proteínas. Sua eliminação é bifásica.
norfluoxetina está em geral presente aproximadamente na mesma D u r a n t e a primeira fase, 3 0 % a 4 0 % da dose é metabolizada, com
concentração da fluoxetina. A droga passa de forma significativa uma meia-vida aparente de 24 horas. D u r a n t e a segunda fase, o
pelo metabolismo hepático e as concentrações n o sangue são restante do lítio incorporado a íons celulares é metabolizada,
afetadas por doença hepática. U m a f u n ç ã o renal prejudicada tem exibindo uma meia-vida de 48 a 72 horas. O cleavance é feito
pouco efeito na taxa de excreção da fluoxetina. p r e d o m i n a n t e m e n t e pelos rins, o n d e ocorre reabsorção ativa.
Paroxetína. A paroxetina é u m SSRI com utilidade clínica U m a função renal diminuída aumenta o tempo de excreção.
demonstrada como antidepressivo. A paroxetina é completa- A resposta terapêutica ótima ao lírio não se relaciona a u m a
m e n t e absorvida após a ingestão da dose e alcança u m pico em concentração sérica específica. Entretanto, a toxicidade é relacio-
concentrações de equilíbrio de 30 a 70 n g / m L em aproximada- nada à concentração e conseqüentemente, os níveis séricos de
mente 5 horas. Ela passa por metabolismo hepático através da lítio são monitorados para garantir a aderência do paciente e
CYP2D6, tem u m a meia-vida de 21 horas e seus metabólitos são prevenir a intoxicação. Recomenda-se que u m a amostra sérica de
inativos. As concentrações de paroxetina n o estado de equilíbrio 12 horas após a dose seja usada para avaliar a terapia. O intervalo
com u m a dose típica de 20 m g / d i a são atingidas em 10 dias. A de 1,0 a 1,2 m m o l / L foi identificado como o vale terapêutico
resposta clínica parece se relacionar com a concentração sérica. ideal. Concentrações de 1,2 a 1,5 m m o l / L mostram u m a faixa
570 PARTE IV Analitos

de aleira, e uma concentração além de 1,5 mmoI/L em uma 3. Concentração de metotrexato maior que 0,1 p m o l / L 72
amostra de 12 horas após a dose indica um grande risco de horas após a dose
intoxicação. Os sintomas iniciais da intoxicação incluem (1) Tipicamente, as concentrações sanguíneas de metotrexato são
apatia, (2) lentificação, (3) sonolência, (4) letargia, (5) dificulda- monitoradas com 24, 48 e 72 horas após uma dose única. O
des na fala, (6) tremores irregulares, (7) mioclonia, (8) fraqueza leucovorin é administrado quando as concentrações de metotre-
muscular e (9) ataxia. Apesar de esses sintomas não causarem xato se tornam altamente inapropriadas para uma fase pós-dose.
ameaça à vida, eles são desconfortáveis para o paciente e indicam A via de eliminação primária do metotrexato é a excreção renal.
o início iminente de convulsões graves. Durante períodos de alta concentração sanguínea, uma atenção
O lítio passa prontamente pela membrana glomerular e é particular deve ser dada para manrer um débito urinário alro com
reabsorvido no túbulo proximal. Em situações nas quais os urina alcalina. O píC, do metotrexato é 5,5 e, conseqüentemente,
pacientes têm risco de desidratação (febre, diarréia, vômitos, pequenas diminuições do pH urinário irão reduzir significativa-
perda de apetite e clima quente), o potencial para intoxicação por mente sua solubilidade. Manter o pH urinário alcalino diminui
lítio aumenta. Na desidratação, a resposta tubular proximal à os riscos de precipitação intratubular da droga e o risco de nefro-
reabsorção de sódio (e de lítio), é diminuída do clearance. O patia obstrutiva durante o período de tratamento. Dessa forma,
aumento na reabsorção do lítio leva a um aumento na concen- ao monitorar-se as concentrações sanguíneas, é possível obter-se
tração no sangue. A intoxicação grave, caracterizada por rigidez uma base para analisar o tempo de iniciar ou manter o uso de
muscular, hiper-reflexia, e convulsões é normalmente associada leucovorin, e para manejar o pH urinário.
a concentrações de lítio maiores que 2,5 mmol/L. O metotrexato é medido em amostras biológicas usando-se
A concentração de lítio no plasma, urina ou outros fluidos uma variedade de técnicas. Os imunoensaios são os métodos de
corporais tem sido determinada por espectrofotometria, espectro- escolha. Os procedimentos com cromatografia líquida também
metria por absorção atômica, ou por ensaio eletroquímico usando vêm se desenvolvendo para fornecer uma análise conjunta da
um eletrodo íon-seletivo 9 . droga e de seus metabólitos.

Antimetabólitos
O metotrexato e as tiopurinas são antimetabólitos representati- Imunossupressores
vos de uma série de medicações que interrompem o ciclo celular, Os imunossupressores são drogas capazes de suprimir as respos-
e que são usadas no tratamento de doenças neoplásicas; seu uso tas imunológicas. Eles são usados para tratar (1) doenças auto-
requer TDM. imunes, (2) alergias, (3) mieloma múltiplo, (4) nefrite crônica e
(5) transplantes de órgãos. Por exemplo, as drogas que são usadas
Metotrexato de forma a manter a imunossupressão em transplantes de órgãos
O metotrexato se provou útil (1) na leucemia linfóide aguda em sólidos incluem (1) a ciclosporina, (2) o ácido micofenólico, (3)
crianças; (2) no coriocarcinoma c tumores trofoblásticos relacio- o sirolimus c (4) o tacrolimus (Tabela 30-8).
nados em mulheres; (3) nos carcinomas de mama, língua, faringe
e testículos; (4) na manutenção da remissão da leucemia e (5) no Ciclosporina
tratamento de psoriase grave e debilitante. A administração de A ciclosporina (SandimmiiTie e Ne oral) é um peptideo cíclico com-
altas doses de metotrexato seguidas de resgate com leucovorin se posto de 11 aminoácidos, alguns com estruturas diferentes (Figura
mostrou efetiva no tratamento de carcinoma de pulmão e do 30-6). Ela é isolada do fungo Trichodermã poi^sporwm. A ciclospo-
sarcoma osteogênico. A administração intratecal é efetiva no rina se mostrou efetiva em suprimir a rejeição aguda em recepto-
tratamento de leucemia ou linfoma meníngeo. res de órgãos de outros indivíduos. E aprovada para uso em
O metotrexato inibe a síntese de D N A diminuindo a dispo- transplantes (1) renal, (2) cardíaco, (3) hepático, (4) pancreático
nibilidade de nucleotídeos pirimidínicos. Ele inibe de forma e (5) de medula óssea.
competitiva a enzima diidrofolato redutase, de forma a diminuir A ativação e proliferação de linfócitos T são consideradas as
a concentração de tetraidrofolato, que é essencial à metilação dos bases da resposta imune celular que, em última análise, levam à
nucleotídeos pirimidínicos e à taxa de síntese desses compostos. rejeição de tecidos transplantados na ausência de imunossupres-
O leucovorin, um análogo de folato, é usado para resgatar células são eficiente. Um importante efeito da ativação das células T é a
do paciente da inibição pelo metotrexato. C o m o é um substrato produção de Ca 2 + /calmodulina a partir da ativação da calcineu-
sintético da diidrofolato redutase, o leucovorin permite que rina serina/treonina fosfatase. Esta última é responsável pela
ocorra a síntese de pirimidinas dependente de tetraidrofolato, ativação e translocação nuclear de vários fatores de transcrição.
reiniciando a síntese de D N A . O metotrexato é uma cito toxina A absorção de ciclosporina na forma de Sandimmune é alta-
inespecífica, e ao se manter as concentrações sanguíneas apro- mente variável, indo de 5% a 40%. A concentração total no
priadas para destruir células tumorais, podem-se gerar efeitos sangue se correlaciona com o grau de imunossupressão e toxici-
tóxicos indesejáveis do ponto de vista citotóxico, como (1) mie- dade, mas há pouca relação entre a dose e a concentração san-
lossupressão, (2) mucosite gastrointestinal e (3) cirrose hepática. guínea. Uma microemulsão de ciclosporina, o Neoral, tem uma
Concentrações séricas de metotrexato são comumente moni- absorção mais reprodutível - em média 40% - e exibe melhor
toradas durante a terapêutica com altas doses (>50 mg/m 2 ), de correlação entre a dose, a concentração no sangue e a resposta
forma a identificar o tempo no qual uma intervenção ativa com clínica. Além das duas formulações citadas, há três formas gené-
o uso de leucovorin possa ser iniciada. Os critérios indicativos ricas de ciclosporina aprovadas para uso pela FDA. Apesar de
de potencial toxicidade, baseados na concentração sanguínea consideradas terapeuticamente equivalentes ao Neoral, os exci-
após uma dose única em bolus durante uma terapia com altas pientes são diferentes tanto desta formulação quanto do Sandim-
doses, são os seguintes: mune. A estrutura química desses compostos é equivalente à da
1. Concentração de metotrexato maior que 10 pmoI/L 24 horas ciclosporina. Uma monitoração terapêutica estreita é recomen-
após a dose dada quando há troca de uma formulação para outra, em vista
2. Concentração de metotrexato maior que 1 pmol/L 48 horas da biodisponibilidade limitada de dados publicados em revisões
após a dose sobre os genéricos.
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 571

A imunossupressão requer uma concentração de vale no Os métodos de imunoensaio são disponíveis para monitorar
sangue de pelo menos 100 ng/mL. Há consenso que uma con- a ciclosporina no sangue. Entretanto, os resultados variam entre
centração de vale que exceda 600 n g / m L associa-se com compli- os métodos devido à reação cruzada com os metabólitos inativos.
cações renais, hepáticas, neurológicas e infecciosas. Estratégias A técnica de LC-MS/MS também é usada. 9
que vêm sendu publicadas para reduzir a toxicidade da ciclospo-
rina e outras drogas imunossupressoias sugerem que a concen- Micofenolato Mofetil
tração terapêutica no vale paia ciclosporina em transplantes O micofenolato mofetil (MMF) é a pró-droga 2-morfoniloetil-
renais é de 100 a 300 ng/mL, enquanto para transplantes cardí- éster deTivada do imunossupressoT ativo MPA (Figura 30-7). Este
acos, hepáticos e pancreáticos, o valor deve ser de 200 a 350 último é um produto da fermentação de diversas espécies de
ng/mL. Imunossupressão simultânea com baixas doses de pred- Penirillium que têm atividade (1) andfúngica, (2) antibacteriana,
nisona, ácido micofenólico (MPA) ou sirolimus permite que o (3) antitumoral e (4) imunossupressora em modelos animais.
paciente atinja uma boa resposta com ciclospotina em concen- Após ter demonstrado eficácia como imunossupressoi em pacien-
trações mais baixas; alguns pacientes transplantados renais têm tes transplantados renais, o MMF foi aprovado em 1995 pela
uma resposta satisfatória com concentrações de vale de ciclospo- F D A para uso.
rina em torno de 70 ng/mL. O MPA é um inibidor reversível e não-competitivo da inosina
A ciclosporina é absorvida lentamente, e as concentrações de monofosfato desidrogenase (IMPDH). Uma característica muito
pico são atingidas entre 4 e 6 horas, ocorrendo 90% de ligação importante da proliferação de linfócitos é o grande aumento da
protéica e ficando reunidas nos eritrócitos. A melhor amostra pata taxa de biossíntese de purinas de novo. A taxa aumentada e
análise é o sangue total. A eliminação da ciclosporina é bifásica. mantida na produção do nucleotídeo guanina, catalisada pela
Uma fase de eliminação precoce com uma meia-vida aparente de IMPDH, é importante limitador da biossíntese de purinas de novo
3 a 7 horas é seguida de uma fase de eliminação mais lenta, com que não podem ser produzidas pela via de reaproveitamento em
uma meia-vida aparente que vai de 18 a 25 horas. O volume de linfócitos se proliferando. Dessa forma, a resposta pToliferativa
distribuição é de 17 I / k g . A ciclosporina passa por extenso meta- em células T ativadas é dependente de um suprimento contínuo
bolismo pela CYP3A4. Muitos dos 31 metabólitos conhecidos da e crescente de um estoque de guanina intracelular. A proliferação
ciclosporina são inativos. U m dos maiores metabólitos, que é de células T é abolida pela supressão da produção de guanina
hidroíxilado no aminoácido número 1, retém aproximadamente quando a IMPDH é inibida pelo MPA. O mecanismo de ação
10% da atividade imunossupressora do composto de base. pelo qual o MPA produz seu efeito imunossupressor em células
Muitas drogas alteram a distribuição da ciclosporina. Drogas T em proliferação é completamente distinto dos mecanismos dos
que inibem a atividade da enzinma CYP3A4 e bloqueiam Pg inibidores de calcineurina: a ciclosporina, ou tacrolimus, e o
diminuem o metabolismo da ciclosporina e diminuem a barreira sirolimus.
de absorção no trato gastrointestinal, causando conseqüente- O MMF é rapidamente hidrolisado por esterases amplamente
mente aumento na concentração sanguínea. Este último foi reco- distribuídas no sangue e nos tecidos de forma a produzir o MPA.
nhecido em 1999 como extremamente importante, juntamente A etapa limitante no clearance de MPA é sua conversão ao seu
com a enzima CYP3A, por ser uma barreira natural contra absor- metabólito glicuronídeo fenólico, o MPAG (Figura 30-7) via ação
ção de xenobióticos. Exemplos incluem (1) os bloqueadores de catalisadora da U G T no fígado, no trato gastrointestinal e, pos-
canais de cálcio: diltiazem, verapamil e nicardipina; (2) imidazó' sivelmente, em outros tecidos, como o renal. O MPAG é o
licos antifúngicos como fluconazol, itraconazol, voriconazol e metabólito primário do MPA e é farmacologicamente inativo. O
cetoconazol; e (3) antibióticos como eritromicina. Todos prolon- acil-glicuronídeo e o 7-O-glicosídeo são metabólitos produzidos
gam o metabolismo da ciclosporina e reduzem a barreira de em muito menor quantidade que o MPA e o MPAG. O metabó-
absorção suficientemente para aumentar o risco de nefrotoxici- lito glicosideo não tem atividade farmacológica, mas o acil-glicu-
dade. A administração conjunta com fenitoína, fenobarbital, ionídeo encontra-se em avaliação de seus possíveis efeitos
carbamazepina e rifampicina resulta em indicação das enzimas tóxicos. 12 O MPAG é excretado pelos rins e se acumula com taxas
CYP3A e das Pg que, respectivamente, aumentam a taxa de centenas de vezes mais altas que as concentrações plasmáticas de
metabolização da ciclosporina no trato gastrointestinal e no vale, quando o MPA está em estado de equilíbrio em paciente
fígado, e o contratransporte da droga, levando à redução signifi- urèmicos.
cativa da biodisponibilidade da ciclosporina. A administração O MPA normalmente alcança concentrações máximas com
intravenosa de sulfadimidina e trimetoprim diminui as concen- 1 hora após a administração do MMF. A distribuição da droga é
trações de ciclosporina. rápida e completa-se em 2 a 3 horas após a administração. N o

TABELA 3 0 - 8 Parâmetros Farmacocinéticos de Drogas Imunossupressoras


Concentração
Efetiva Concentração Volume de Ligação
Mínima Tóxica Mínima Meia-vida Distribuição Biodisponibi- Protéica Enzimas
(MEC) (MTC)* Média Médio lidade Oral Media Importantes
Droga (ng/mL) (ng/mL) (h) (L/kg) Média (%) (%) que Metabolizam

Ciclosporina A 1 100 35Ü t 8,4 3-5 30 90 CYP3A4, Pg


Ácido micofenólico 2 pg/mL 12 pg/mL 18 4 94 97 UGT
Sirolimus 6 2(T 13 2,6 NA NA CYP3A4, Pg
Tacrolimus 6 20 1 21 0,B5 15 85 CYP3A4,Pg

NA, Nd o aplicável
'Concentração de valf.
^Re fere-se aos liados do Neoral.
572 PARTE IV Analitos

na fase de pós-distribuição da curva concentração-rempo. A con-


tribuição da EHC para a área de MPA sob a curva (AUC) é em
média 37%, variando de 10% a 61%, com base no efeito da
administração concomitante de colestiramina. Acredita-se que a
característica do pico secundário de concentração do MPA, que
aparece entre 4 e 12 horas após a dose matinal de MMF, seja
resultado da EHC.
O MPA liga-se ampla e avidamente à albumina sérica. Em
pacientes transplantados estáveis, a fração livre de MPA varia de
1% a 3%. A fração livre de MPA aumenta significativamente em
pacientes (1) transplantados renais com função renal precoce-
mente ruim, (2) com insuficiência renal crônica, (3) com concen-
tração baixa de albumina sérica, (4) hiperbilirrubinemia e (5)
pacientes de transplante hepático no período logo após o trans-
plante.
O aumento da quantidade da fração livre causará um aumento
no clearance. de MPA, resultando em uma concentração menor
de MPA, que retorna aos valores basais quando a condição
que causou a mudança na quantidade da fração livre se nor-
malizar. Na insuficiência renal crônica, entretanto, a concen-
tração total de MPA está freqüentemente sempre dentro do
que dizem as diretrizes quanto a uma imunossupressão efetiva,
mas as concentrações livres podem estar substancialmente ele-
vadas - colocando o paciente e m risco de uma imunossupressão
extrema.
Os efeitos em sítios primários decorrentes de interações entre
drogas envolvendo outras medicações e o MPA são, em geral,
diminuição da absorção no trato gastrointestinal, inibição do ciclo
êntero-hepático e inibição do transporte do metabólito primário
glicuronídeo fenólico. O consumo de alimentos exatamente antes
da dose oral de MMF diminui a sua absorção, causando uma
redução de 25% na concentração máxima. Foi relatado que a
administração de antiácidos que contêm hidróxido de magnésio
ou alumínio reduz o pico de concentração de MPA em 33%, e a
área sob a curva, em 17%. As interações com os maiores efeitos
reportados ocorrem com colestiramina e sulfato ferroso. A coles-
tiramina produz 40% de redução no MPA e na área sob a curva,
quando administrada juntamente com o MMF. O suplemento
comum de ferro, o sulfato ferroso, diminui a área sob a curva de
MPA em 90%. Os efeitos a longo prazo dessas interações medica-
mentosas ainda estão sendo investigados. Sugere-se que os corti-
costeróides causem aumento do clearance de MPA por meio da
indução da atividade da UGT. U m estudo mostrou uma relação
direta de causa-efeito do MPA em pacientes transplantados renais.3
Foi demonstrado que os COTticosteróides induzem a atividade da
U G T em modelos animais. A inibição do transporte de MPAG
do fígado para a bile é o mecanismo presumido para a queda
significativa na concentração de MPA e aumento da concentração
de MPAG quando se usa ciclosporina conjuntamente. Essa inte-
ração medicamentosa resulta em valores de MPA ajustados para
a dose de MMF, que são aproximadamente 45% maiores em
pacientes com uso concomitante de tacrolimus contra aqueles em
uso concomitante de ciclosporina.
U m imunoensaio é disponível para medir as concentrações
de MPA. 13 Ensaios de HPLC validados com detecção por espec-
Figura 30-6 Estrutura química da ciclosporina A, do sirolimus e trometria de massa foram desenvolvidos e são particularmente
do tacrohmus. úteis para a mensuração acurada da concentração de MPA livre.3
U m método baseado na inibição da atividade de IMPDH pelo
MPA também já foi validado. 8

sangue, mais de 99,9% da droga fica no compartimento plasmá- Sirolimus


tico. O cleamnce de MPA é afetado por (1) glicuronidação, (2) O sirolimus, que é formalmente conhecido como rapamicina, é
circulação êntero-hepática (EHC), e (3) a quantidade de sua um antibiótico macrocíclico com atividade imunossupressora. É
fração livre. A E H C é considerada um contribuinte significativo um produto da fermentação do actinomiceto Strep Comeces hygros-
para a cinética do intervalo entre as doses de MPA, especialmente copicus, que foi isolado de amostras de solo coletado em Rapa
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3O 573

F i g u r a 3 0 - 7 Estruturas químicas e vias metabólicas do micofenolato mofetil (MMF), ácido micofenólico


(MPA) e micofenolato glicuronídeo (MPAG).

Nui (Ilha de Páscoa) durante uma pesquisa por novos agentes metabolismo intestinal e hepático excessivo através da CYP3A, e
antifúngicos. Estruturalmente, o sirolimus é uma lactona macro- ao contratransporte pela Pg, uma bomba de influxo de várias
cíclica lipofílica composta de um anel macrolídeo de 31 partes drogas no trato gastrointestinal. Essa barreira de absorção varia
(Figura 30-6). Foi demonstrado em estudos com modelos animais consideravelmente de paciente para paciente e com o mesmo
que cem atividade imunossupressiva, antifúngica e antitumoral. paciente, e é local de importantes interações medicamentosas, e
O complexo entre o sirolimus e imunofilina intracelular FK- de drogas com alimentos.
BP12 modula a resposta imune por meio da combinação com o O sirolimus se distribui primariamente nas células do
ciclo celular específico que regula a proteína mTOR e inibe sua sangue (95%), com apenas 3% e 1% se distribuindo no plasma,
ativação. Essa inibição resulta em supressão da proliferação de e nos linfócitos e granulócitos, respectivamente. A ligação ávida
linfócitos T desencadeada por citocinas, ao inibir a progressão e ampla do sirolimus às proteínas ligadoras de FK que estão
da fase G] para a fase S do ciclo celular. O metabolismo do presentes em todo meio intracelular contribui para a alta taxa
sirolimus no corpo humano é dirigido pelo metabolismo oxida- de concentração de sirolimus entre o sangue e o plasma. Apro-
tivo por meio da enzima CYP3A no trato gastrointestinal e no ximadamente 2,5% do sirolimus na fração plasmática ficam
fígado. livres.
O sirolimus é administrado oralmente, e como solução oral A relação entre as concentrações de vale do sirolimus no
em um veículo que contém uma combinação de (1) fosfatidilco- sangue foram investigadas em pacientes transplantados renais
lina, (2) propileno glicol, (3) monoglicerídeos, (4) etanol, (5) que receberam conjuntamente uma dose plena de ciclosporina e
ácidos graxos de soja, (6) ascorbil palmitato e (7) polissorbato 80, cor tico terapia. A concentração efetiva mínima de sirolimus -
com uma concentração de sirolimus de 1 mg/mL. U m tablete abaixo da qual há um aumento significativo no risco de rejeição
com formulação de 1 mg foi aprovado pela FDA, mas essa for- aguda - é de 4 a 5 ng/L. U m a concentração limiar foi encontrada
mulação não é bio equivalente à solução oral. Entretanto, as duas entre 13 a 15 ng/L, acima da qual os riscos de efeitos colaterais
são clinicamente equivalentes a uma dose de 2 mg com base em relacionados com a concentração, como trombocitopenia (<
taxas comparáveis de eficácia, falência, perda de enxerto e morte. 100.00 plaquetas/mm 3 ), leucopenia (< 4.000 leucócitos/mm 3 ) e
O sirolimus é rapidamente absorvido no trato gastrointestinal, hipertrigliceridemia (í> 300 m g / d L de triglicerídeos séricos), se
com u m tempo médio para atingir uma concentração máxima tornam aumentados.
no sangue de cerca de 2 horas. A biodisponibilidade média do Os métodos de LC-MS/MS para mensurar o sirolimus são
sirolimus é de 15%. A baixa biodisponibilidade é atribuída a um usados em laboratórios de todo o mundo. 9 U m imunoensaio
574 PARTE IV Analitos

com uma enzima de micropartícula também é disponível para hepáticos. Os parâmetros farmacocinéticos do tacrolimus estão
essa análise. resumidos na Tabela 30-8
Assim como a ciclosporina e o sirolimus, muitas drogas inte-
Tacrolimus ragem com o tacrolimus, tanto por induzir a produção de
O tacrolimus (Prograf e formalmente conhecido como FK506) é CYP3A4/5 e Pg, quanto por bloquear a ligação do tacrolimus
uma lactona macrolídea isolada de Streptonryces tsukubaensis em nesses sítios. A relação entre a dose de tacrolimus, a concentração
1984 e é um potente imunossupressor, que consiste em um anel de vale, no sangue, e os desfechos clínicos - incluindo rejeição
de carbono com 23 partes e uma função de a ou P-dicetoamida aguda, nefrotoxicidade e toxicidade que exige diminuição da dose
disfarçada em hemiquetal (Figura 30-6). O tacrolimus foi apro- - mostra uma correlação inversa significativa entre as concentra-
vado para profilaxia de rejeição de órgãos em pacientes rece- ções de tacrolimus no sangue e o risco de rejeição aguda durance
bendo transplante alogênico de fígado e para uso como imunos- a primeira semana após um transplante hepático, e isso foi
supressor em transplante renal. Esse potente imunossupressor foi demonstrado usando análise de regressão logística. A nefrotoxi-
usado efetivamente em outros transplantes de órgãos sólidos para cidade e outros efeitos colaterais foram correlacionados de forma
prevenção da doença enxerto-uersus-hospedeiro em transplante de significativa com o aumento da concentração sanguínea de tacro-
células-tronco alogênico e transplante de ilhotas pancreáticas. limus durante esse período. Análises de curva R O C mostram que
Assim como a ciclosporina e o sirolimus, o tacrolimus exerce a concentração de vale de tacrolimus pode diferenciar-se entre a
seu efeito imunossupressor mediante a formação de um com- toxicidade, e a não ocorrência de eventos. Uma quantidade de
plexo com imunofilinas. O complexo entre tacrolimus e o FK- métodos LC-MS/MS sensíveis e específicos para medir o tacroli-
BP12 nos Iinfócitos suprime a síntese de ci toei nas e os mediado- mus foi desenvolvida." Também se dispõe de um imunoensaio
res inflamatórios pelos mesmos mecanismos (veja a seção da para as medidas de tacrolimus.
ciclosporina para detalhes).
O tacrolimus é metabolizado primariamente pela CYP3A. REFERÊNCIAS
Nove metabólitos foram isolados no sangue humano e na bile de
1. Biggs ]T, Hcilland W H , Chang S, Hipps PP, Sherman \VR. Eleccrcn
ratos, ou produzidos m vitio por microssomos de fígados humanos
beam ionization mass fragmentographic analysis of tricyclic
ou animais. Os metabólitos de tacrolimus no sangue de pacientes
anti depressa nts in human plasma. ] Pharm Sei 1976,65 261-8.
transplantados renais ou hepáticos totalizam 42% a 45% da
2. Duffus JH. Glossary for chemists of terms used in toxicology. Pure Appl
concentração de tacrolimus. Todos esses metabólitos, exceto o
Chem 1993;65 2003-122
31-O-desme til tacrolimus, um metabólito menor do tacrolimus,
3. Elbarbry FA, Shoker A. Simple high performance liquid
têm pouca atividade imunossupressora. Esse último tem ativi-
chromatographic assay for mycophenolic acid in renal transplant
dade irnunossupressora in vitro comparável com à da droga de
pacients. ] Pharm Biomed Anal 2007,43:788-92.
base. A atividade imunossupressora total dos metabólitos é, por-
4. Flcckhart D. 2005, at http-//medicine iupui.edu/flockhart/tahle.htm.
tanto, negligenciável em pacientes transplantados. Entretanto,
(Assessed March 21, 2007).
em pacientes transplantados hepáticos com hiperbilirrubmemia,
5. Lu YP, Zhu YC, Liang MZ, Nan F, Yu Q, Wang L, et al. Therapeutic
pode haver um grande viés nos resultados do imunoensaio
drug monitoring of mycophenolic acid can be used as predictor of
porque a acumulação de metabólitos prejudica o clearance da
clinicai events for kidney transplant recipiencs treaced wirh
bile.
mycophenolate mofetil. Transplant Proc 2006;38:2048-50.
O tacrolimus é mais freqüentemente administrado pela via
6. Mclntyre 1M, King CV, Skafidis S, Drummer O H Dual ultraviolec
oral em cápsulas, como um sólido dispersado em hidroxipropil-
wavelength high-performance liquid chromatographic me th o d for the
metilcelulose. Uma solução para forma injetável também existe.
forensic or clinicai analysis of seventeen antidepressants and some
A absorção pelo intestino delgado é geralmente baixa, com média
selected metabolites. ] Chiomarogr 1993;621:215-23.
de 25% - mas altamente variável de paciente para paciente, indo
7- McMillin GA, Linder MW, Bukaveckas BL. Pharmacogenetics. In: Bur;is
de 4% a 93% - e muda com o tempo depois da cirurgia de
CA, Ashwood ER, Bruns DE Tietz textbook of clinicai chemistry and
transplante. Uma baixa biodisponibilidade de tacrolimus, assim
molecular diagnostics, 4th ed. St Louis, Saunders, 2005:1589-616.
como de ciclosporina e sirolimus, é devida à presença da enzima
8. Millan O, Oppenheimer F, Brunet M, Vilardell ], Rojo I, Vives ], et al,
CYP3A4/5 e ao influxo de várias drogas na bomba Pg nos ente-
Assessment of mycophenolic acid-induced immunosuppression- a new
rócitos do intestino delgado. Pensa-se que a combinação dessa
approach. Clin Chem 2000;46:1376-83.
enzima metabolizadora de drogas com a bomba de influxo forma
9. Moyer TP, Shaw LM. Therapeutic drugs and their managemenr. ln-
uma barreira natural à absorção de xenobióticos no trato gas-
Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE. Tietz textbook of clinicai chemistry
trointestinal. A extensa variabilidade entre pacientes quanto à
and molecular diagnostics, 4th ed St Louis, Saunders, 2005:1237:86.
biodisponibilidade é devida à grande variação de atividade cata-
10 0 ' K a n e DJ, Weinshilboum RM, Moyer TP. Pharmacogenomics and
lisadora da CYP3A4/5, e à quantidade de Pg por unidade de
reducing the frequency of adverse drug events. Pharmacogenomics
peso de intestino delgado. C o m o várias outras drogas são subs-
2003;4:M.
tratos para esses dois sistemas, o trato gastrointestinal é um 11. Rathore SS, Curtis JP, Wang Y, Bristow MR, Krumholz HM. Association
importante local para a maioria das interações medicamentosas of serum digoxin con centra tion and outcomes in patients with heart
que ocorrem com o tacrolimus. failuie. JAMA 2003;289:871-8.
A distribuição no sangue é caracterizada por uma captação 12. Tmg LS, Partovi N, Levy RD, Riggs KW, Ensom MH. Pharmacokmetics
ampla pelas células. A razão entre sangue total e plasma varia de of mycophenolic acid and its glucuronidated metabolites in stable lung
15 a 35. A alta afinidade do tacrolimus pelas ligações proteicas transplant recipients. Ann Phartnacother 2006,40:1509-16.
FK e sua rica presença nas células sanguíneas contribuem para 13- Vogl M, Weigel G, Seebacher G, Griesmacher A, Laufer G, Muller MM.
essa distribuição. Aproximadamente 99% do tacrolimus no Evaluadon of the EMIT mycophenolic acid assay from Dade Behring.
plasma fica ligado a proteínas, primariamente com OCrglicoprote- Ther Drug Monit 1999;21:638-43
ina ácida, lipoproteínas, albumina e globulinas A maior via de 14- Weinshilboum RM. Inheritance and drug response. N Engl J Med
eliminação de metabólitos é a excreção fecal. A meia-vida de 2003,48.529-37.
eliminação do tacrolimus é variável. Uma meia-vida média de 12 15. Wikipedia (http://en.wikipedia.org/wiki/Cytochrome_P450_
e 19 horas já foi reportada em pacientes transplantados renais e oxidase#Drug_Metabolism; Accessed March 21, 2007).
CAPÍTULO 3 1

j Toxicologia Clinica
William H. Porter. Ph.D.

OBJETIVOS horário da seqüência L-M-S recebe a configuração R e a


1. Definir os seguintes termos: orientação em sentido anti-horário, a configuração S.
Toxicologia Dietilamida do Acido Lisérgico (LSD): Derivado de um
Teste de triagem
alcalóide encontrado em determinados fungos que têm
propriedades alucinógenas.
Teste de confirmação
Diurese: Aumento da excreção de urina.
Enantiômeros do fármaco
Enantiômeros: Os estereoisòmeros que são imagens especulares
2. Listar dois analgésicos que são tóxicos em forma de overdose,
não-sobreponíveis.
assim como seus metabólitos ativos {se aplicável), efeitos tóxicos e
Etileno Glicol: U m composto etileno com dois grupos hidróxi
antídotos.
nos carbonos adjacentes. E um ingrediente comum em
3. Listar três álcoois que são tóxicos em forma de overdose, assim
anticongelamento e é muito tóxico se ingerido.
como seus metabólitos ativos {se aplicável), efeitos tóxicos e Fenciclidina (PCP): U m analgésico e anestésico potente usado
antídotos. em medicina veterinária. O uso abusivo deste fármaco pode
4. Descrever as manifestações de intoxicação por barbitúricos, levar a distúrbios psicológicos graves.
benzodiazepínicos, monóxido de carbono, cianeto, etileno glicol, Gama-hidroxibutirato (GHB): U m potente agente sedativo,
ferro e organofosfato e listar os antídotos apropriados. hipnótico, euforizante, que é ilicitamente ingerido devido
5. Listar os efeitos tóxicos da anfetamina, canabinóides, cocaína, aos seus efeitos prazerosos.
opiáceos, fenciclídina, assim como seus metabólitos ativos (se Intoxicação: Estado de funcionamento mental ou físico
aplicável), efeitos tóxicos e antídotos (se aplicável). deficiente resultante da ingestão de álcool ou fármaco.
6. Diferenciar o enantiômero metanfetamina, que pode ser vendido em Maconha: Preparação rudimentar de folhas e parte superior da
produtos isentos de prescrição, dos enantiômeros ilícitos da flor da (plantas fêmea ou macho) Cannabis satwa, em geral
metanfetamina. empregada em cigarros e inalada como fumaça devido às
7. Expor os métodos de análise para fármacos tóxicos, incluindo testes suas propriedades euforizantes.
auxiliares para detecção de dragas. Meia-vida do Fármaco (t I/2 ): A quantidade de tempo para que
8. Listar amostras adequadas para teste para detecção de drogas. a metade de u m fármaco administrado seja perdida através
de processo biológicos.
Metadona: Narcótico sintético que possui ações farmacológicas
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES semelhantes àquelas da morfina e heroína e perigo quase
Analgésicos: Agentes que aliviara a dor sem provocar perda da igual de drogadição; usada como analgésico e como
consciência. supressor da síndrome da abstinência narcótica no
Anfetamina: Uma amina simpatomimética que tem um efeito tratamento da drogadição causada pela heroína.
estimulante tanto no sistema nervoso central como no Molécula Quiral: Uma molécula que tem pelo menos um par
periférico. de enantiômeros.
A n ti-h i stamínicos: Antagonistas dos receptores H j e H 2 da Opiáceo/Opióide: Opiáceo refere-se a qualquer substância dc
histamina que são usados para tratar reações alérgicas ou u m grupo de alcalóides narcóticos de ocorrência natural
hiperacidez gástrica. (papoula) ou semi-sintéticos, com ações farmacológicas e
Barbitúricos: Qualquer um de uma classe de agentes estrutura química semelhantes às tia morfina. Opióide é
sedativo-hipnóticos derivados do ácido barbitúrico ou do u m termo geral aplicado a todas as substâncias com
ácido tiobarbitúrico e classificados nas classes de ação propriedades semelhantes às da morfina, independente da
longa, intermediária, curta e ultracurta. origem ou estrutura química.
Benzodiazepínicos: Qualquer u m de um grupo de Propoxifeno: Opióide sintético amplamente prescrito.
tranqüilizantes menores, que têm uma estrutura molecular Rotação dextror rotatória ou (+): Rotação em sentido horário
comum e atividade farmacológica semelhante, incluindo de luz plano polarizada por um estereoisômero (p. ex.,
efeitos ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, amnésicos, D- ou [+]-metaníetamina).
anticonvulsivantes e de relaxamento muscular. Rotação levorrotatória oti (-): rotação anti-horária de luz
Cocaína: U m alcalóide cristalino, obtido das folhas de polarizada plana por meio de um esteroisômero (p. ex.,
Erythroxylon coca {folhas de coca) e outras espécies de L- ou I-]-metanfetamina).
Eryt/worylon, ou por meio da síntese de ecgonina ou seus Teste de Confirmação: u m segundo procedimento analítico
derivados; usada como anestésico local com aplicação usado para identificar a presença de um fármaco ou
tópica nas membranas mucosas. metabólito específico. E independente do teste inicial de
Configuração R,S: Atribuição da configuração sobre u m átomo triagem e usa técnica e princípio químico diferentes
quitai, baseada na convenção de Cahn-Ingold-Prelog, por daqueles do teste inicial.
designação da sequência de substituintes do maior (L) para Teste de Triagem: Exame inicial, como u m imunoensaio ou
o médio (M) para o menor (S); orientação em sentido TLC, que é usado para "triar" amostras de urma para
576 PARTE IV Analitos

eliminar as "negativas" das considerações adicionais e AGENTES QUE CAUSAM HIPOXIA CELULAR
identificar as amostras presumivelmente positivas, que M o n ó x i d o de carbono e agentes formadores de metemoglobina
então requerem teste de confirmação. interferem n o transporte de oxigênio, resultando em hipoxia
Teste Judicial de Consumo de Drogas: Aplicação de testes de celular. O cianeto interfere n o uso do oxigênio e, portanto, causa
verificação de consumo de drogas em questões legais. aparente hipoxia celular.
Toxicologia Clínica: U m a subdivisão da toxicologia que
envolve a análise de fármacos, metais pesados e outros Monóxido de Carbono
agentes químicos nos líquidos e tecidos corporais, que tem O m o n ó x i d o de carbono (CO) é u m gás incolor, inodoro, insí-
como objetivo a assistência ao paciente. pido que é u m p r o d u t o da combustão incompleta de material
Toxíndrome: Síndrome causada por u m a concentração carbonáceo. Fontes exógenas comuns d o m o n ó x i d o de carbono
perigosa de toxinas n o corpo. incluem (1) tabagismo, (2) motores a gasolina e (3) unidades de
V e n e n o : Substância que, q u a n d o ingerida, inalada, absorvida, aquecimento doméstico i n a d e q u a d a m e n t e ventiladas. Pequenas
aplicada, injetada ou produzida dentro d o corpo, em quantidades do m o n ó x i d o de carbono são produzidas endogena-
quantidades relativamente pequenas, apresenta ação mente na conversão metabólica de h e m e a biliverdina. Esta pro-
química que pode causar dano estrutural ou distúrbio de dução endógena de m o n ó x i d o de carbono é acelerada nas
função, produzindo sintomatologia, doença ou morte. anemias hemolíticas.

Resposta Farmacológica e Toxicidade


Q u a n d o inalado, o m o n ó x i d o de carbono liga-se firmemente ao

A
Fe2+ n o h e m e da hemoglobina para formar carboxiemoglobina
toxicologia é u m a ciência multidisciplinar ampla, cujo (Capítulo 28). A afinidade de ligação da hemoglobina pelo
objetivo é determinar os efeitos de agentes químicos nos m o n ó x i d o de carbono é aproximadamente 250 vezes maior do
. sistemas vivos. A toxicologia clínica é u m a divisão da que pelo oxigênio. Portanto, altas concentrações de carboxiemo-
toxicologia e é definida como a análise dos fármacos, metais e globina limitam o conteúdo de oxigênio d o sangue. A ligação d o
outros agentes químicos nos líquidos e tecidos corporais, com o m o n ó x i d o de carbono à subunidade de hemoglobina também
objetivo de assistência ao paciente. Estas análises f r e q ü e n t e m e n t e aumenta a afinidade do oxigênio pelas subunidades remanescen-
são necessárias para o diagnóstico e t r a t a m e n t o da overdose aguda tes n o tetrânrero de hemoglobina. Assim, com u m determinado
de fármacos e a exposição aguda a substâncias químicas de origem valor de P 0 2 tecidual, m e n o s oxigênio dissocia-se da hemoglo-
desconhecida do ambiente do paciente. bina q u a n d o o m o n ó x i d o de carbono t a m b é m é ligado, des-
Devido à ampla gama de fármacos de interesse, n e n h u m a viando a curva de dissociação da hemoglobina para a esquerda.
técnica analítica é adequada para a detecção de fármacos de C o n s e q ü e n t e m e n t e , o m o n ó x i d o de carbono (1) não apenas
amplo espectro. Portanto, várias abordagens analíticas em com- diminui o conteúdo de oxigênio do sangue, mas (2) também
binação, em geral são necessárias. Estas podem incluir exames diminui a disponibilidade de oxigênio para o tecido, produzindo
casuais simples, baratos e rápidos; 10 imunoensaios (Capítulo 10); assim um grau maior de hipoxia tecidual do que provocaria u m a
e técnicas cromatográficas e / o u espectrométricas de massa (Capí- redução equivalente de oxiemoglobina causada apenas por hipoxia.
tulos 7 e 8), incluindo (1) cromatografia de camada fina (TLC), O monóxido de carbono também pode ligar-se a outras proteínas
(2) cromatografia líquida de alta performance (HPLC), (3) croma- heme, como a citocromo oxidase tz3 mitocondrial e da mioglobina;
tografia gasosa (GC), (4) cromatografia gasosa-espectrometria de isto pode limitar o uso de oxigênio q u a n d o o P 0 2 tecidual é muito
massa (GC-MS ou G C - M S / M S ) e (5) cromatografia líquida-espec- baixa
trometria de massa (LC-MS ou LC-MS-MS). Os efeitos tóxicos do m o n ó x i d o de carbono são resultado da
Na prática, devido aos inúmeros fármacos, metabólitos e hipoxia. Os órgãos com alta d e m a n d a de oxigênio, cumo o
substâncias endógenas que p o d e m ser encontrados, a identifica- coração e o cérebro; são mais sensíveis à hipoxia e p o r t a n t o são
ção positiva baseada nos resultados de u m a única técnica analí- responsáveis pela principal seqüela clínica da intoxicação por
tica em geral n ã o é suficientemente definitiva. As práticas labo- monóxido de carbono. U m a correlação geral entre a concentra-
ratoriais seguras determinam o uso de u m segundo procedimento, ção de carboxiemoglobina n o sangue e sintomas clínicos é forne-
ou procedimento de confirmação, que preferivelmente se baseie cida na Tabela 31.1. O leitor deve observar que a concentração
nos diferentes princípios analíticos. Atualmente, o GC-MS é o de carboxiemoglobina, embora útil no diagnóstico, n e m sempre
procedimento de confirmação definitiva mais amplamente usado. se correlaciona com os achados clínicos ou prognóstico. O u t r o s
O teste de confirmação é obrigatório para o teste judicial de fatores, exceto a carboxiemoglobina, que contribuem para a toxi-
c o n s u m o de drogas (p. ex., teste de detecção de drogas n o local cidade incluem (1) duração da exposição, (2) atividade metabó-
de trabalho). lica e (3) doença subjacente, especialmente cardiopatia ou doença
Muitos dispositivos para testes in loco estão disponíveis n o ou cerebrovascular. Além disso, baixas concentrações de carbo-
mercado para teste de detecção de drogas através da urina e pelo xiemoglobina com relação à gravidade da intoxicação p o d e m ser
menos seis para teste de detecção de drogas pela saliva. Eles são observadas se o paciente for removido do ambiente c o n t a m i n a d o
dispositivos não-instrumentais para teste por imunoensaio proje- com m o n ó x i d o de carbono várias horas antes da coleta da
tados para uso n o local da coleta, com resultados disponíveis em amostra de sangue.
3 até aproximadamente 10 minutos, e são variadamente configu- U m dos efeitos mais insidiosos da intoxicação por m o n ó x i d o
rados para detectar apenas u m a droga ou até 10 drogas simulta- de carbono é o desenvolvimento tardio dc seqüelas neuropsiqui-
neamente. 1 1 U m a revisão abrangente d o teste de drogas m loco átricas, que p o d e m incluir alterações da personalidade, distúrbios
está disponível. 9 motores e prejuízo da memória. Estas manifestações não se cor-
As características (1) tóxicas, (2) farmacológicas, (3) bioquími- relacionam n e m com a duração da exposição n e m com a concen-
cas e (4) analíticas de várias drogas e toxinas isoladas são discuti- tração máxima de carboxiemoglobina n o sangue, mas são mais
das nas seções seguintes. prováveis se os pacientes estiveram em coma p r o f u n d o .
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 577

TABELA 31-1 Efeitos da Carboxiemoglobina Valores de Referência


Os valores de referência para carboxiemoglobina em não-fuman-
Carboxiemoglobina tes moradores da área rural são de cerca de 0,5%; para não-
(%) Resposta
fumantes da área urbana, 1% a 2%; e para fumantes, 5 % a 6%.
10 Falta de ar ao esforço muscular vigoroso Os valores p o d e m ser a u m e n t a d o s em cerca de 3 % nas anemias
20 Falta de ar ao esforço moderado, ligeira hemolíticas.
cefaléia
30 Cefaléia forte, irritação, fadiga imediata e Cianeto
distúrbios de discernimento O ácido hidrociânico (HCN), t a m b é m chamado de ácido prús-
40-50 Cefaléia, confusão, colapso e desmaio ao sico, é um gás incolor com odor de a m ê n d o a detectável por
esforço apenas 5 0 % da população americana; o estado ionizado é cianeto
60-70 Inconsciência, insuficiência respiratória e (CN"). Este gás é liberado q u a n d o qualquer coisa que c o n t e n h a
morte se exposição for contínua CN" ionicamente ligado ou f o r m a n d o complexo é exposta ao
80 Rapidamente fatal ácido. A queima da espuma de uréia produz formaldeído e ácido
Mais de 80 Imediatamente fatal hidrociânico; incêndios em casas com isolamento de espuma de
D Ê Deichmãn WB, Gerarde HW. S^m/jtomíitoio© and therapy uréia representam u m a fonte significativa de exposição.
of íõjtiçdlofifeil
Academic Press, 1964
emergi nd es - Novel York:
Resposta Farmacológica e Toxicidade
Q u a n d o inalado, o H C N é rapidamente absorvido através dos
capilares alveolares até o sangue, o n d e o CN" se liga à hemoglo-
bina. A ligação de CN" n o eritrócito está em equilíbrio com
CN" n o soro a u m a razão de 10:1. O cianeto n o soro cruza ime-
O tratamento para intoxicação por monóxido de carbono diatamente as membranas biológicas e liga-se avidamente ao
envolve a remoção do indivíduo da área contaminada e a admi- (heme férrico) (Fe J+ ) n o complexo d o citocromo a-a3 dentro da
nistração de oxigênio. A meia-vida de carboxiemoglobina é de 5 mitocôndría. Q u a n d o ligado ao citocromo a-ah C N ' é u m inibi-
a 6 horas q u a n d o o paciente respira ar ambiente; é reduzida em dor competitivo e causa desacoplamento da fosforilação oxida-
cerca de 1,5 hora q u a n d o o paciente respira 100% oxigênio. Nos tiva. Os pacientes expostos a concentrações tóxicas de cianeto
casos graves, o tratamento com oxigênio hiperbárico a 2 a 3 apresentam início rápido de sintomas típicos de hipoxia celular
atmosferas é recomendado, se disponível. Neste último caso, a - rubor, cefaléia, taquipnéia, tontura e depressão respiratória -
meia-vida da carboxiemoglobina é reduzida em cerca de 25 que progride rapidamente para (1) coma, (2) convulsões, (3)
minutos. bloqueio cardíaco completo e (4) morte, se a dose for suficiente-
m e n t e grande. Os sintomas em geral estão relacionados com a
Metodologia Analítica dose e correlacionam-se f o r t e m e n t e com concentração de CN".
O m o n ó x i d o de carbono, após ser liberado da hemoglobina, é O tratamento requer identificação rápida de C N " como intoxi-
medido por G C , ou pode ser determinado indiretamente como cante, administração de nitrito de sódio para provocar a forma-
carboxiemoglobina pela espectrofotometria. Os métodos croma- ção de metemoglobina, que se liga avidamente ao CNT e depura-
tográficos gasosos, considerados procedimentos de referência, o, e de tiossulfato (um doador de enxofre) para aumentar o clea-
são exatos e precisos mesmo para concentrações muito baixas de rance por meio de metabolismo.
monóxido de carbono. Os métodos espectrofotométricos são O cianeto é metabolizado pela enzima ubíqua rodanase em
rápidos, convenientes, exatos e precisos, exceto com concentra- tiocianato (SCN"), usando o reservatório do doador de enxofre
ções muito baixas de carboxiemoglobina (menos de 2 % a 3%). do corpo como substrato para converter CN" a SCN". O tiocia-
Os métodos espectrofotométricos dependem das proprieda- nato é relativamente inerte e é depurado pelo rim. A conversão
des de absorção espectrais típicas da carboxiemoglobina. Dentre de C N " a SCN" ocorre lentamente em relação à ação farmacoló-
vários destes métodos, os mais populares são baseados em men- gica d o CN", portanto a mensuração de SCN" é útil n o monito-
surações automatizadas, de múltiplos comprimentos de onda de r a m e n t o do ckarance, mas não m u i t o útil na avaliação da expo-
várias espécies de hemoglobina (CO-oxímetros). Instrumentos sição aguda ao CN". Em u m a exposição aguda, o paciente apre-
comercialmente disponíveis realizam as mensurações de absorção senta sintomas de toxicidade com altas concentrações de CN" n o
das amostras de sangue a 4 a 7 comprimentos de o n d a e depois sangue, mas a concentração sérica de SCN" continua baixa até
registram a concentração de (1) desoxiemoglobina, (2) oxiemo- 12 a 24 horas mais tarde.
globina, (3) carboxiemoglobina e (4) metemoglobina, com base
em uma série de coeficientes da matriz. U m sistema óptico mais Metodologia Analítica
avançado baseia-se em u m espectômetro de 128 comprimentos Em u m método espectrofo to métrico c o m u m , u m a célula de
de onda. microdifusão de dois poços selada é usada para separar H C N do
A hemoglobina fetal tem propriedades espectrais ligeiramente sangue, misturando u m a amostra de sangue total com ácido forte
diferentes se comparada com a hemoglobina do adulto. Conse- em u m a câmara selada. O gás H C N gerado é absorvido em u m a
qüentemente, valores altos de carboxiemoglobina e (errôneos) de base forte localizada em outra parte da câmara selada. U m poço
4 % a 7 % p o d e m ocorrer q u a n d o o sangue dos recém-nascidos é da célula contém a amostra de sangue e o ácido forte (não mis-
medido por alguns métodos espectrofotométricos. Além disso, turados até que a célula seja selada) e o outro poço contém u m a
resultados errôneos p o d e m ocorrer com amostras lipêmicas e na base forte para absorver o gás H C N . Após o H C N ser coletado
presença de azul de metileno (veja seção sobre Agentes Formado- n o meio de base aquosa, os reagentes coloridos são adicionados
res de Metemoglobina). Estas interferências são eliminadas ou para gerar u m complexo vermelho, com absorvância da cor pro-
grandemente minimizadas com u m espectômetro de 128 compri- porcional à concentração de CN". E necessário u m espectrofotô-
mentos de onda. metro de boa qualidade para medir a absorvância. O CN" t a m b é m
578 PARTE IV Analitos

foi medido por eletrodo íon-seletivo e análise G O M S com dilui- moglobinemia adquirida (tóxica) pode ser causada por inúmeros
cão do isótopo. 11 fármacos e substâncias químicas (Tabela 31-2).

Valores de Referência Resposta Farmacológica e Toxicidade


A concentração normal de CNT é menor que 0,2 jig/mL de Os efeitos tóxicos da metemoglobinemia são uma conseqüência
sangue total. Os pacientes com exposição aguda estão propensos de hipoxia associada a (1) conteúdo reduzido de O2 do sangue e
a ter altas concentrações de CN" no sangue e baixas concentra- (2) dissociação reduzida de 0 3 das espécies de hemoglobina na
ções séricas de SCN". O paciente provavelmente torna-se coma- qual algumas, mas não todas as subunidades, contêm ferro ligado
toso quando a concentração de CN" no sangue é maior que 2 ao heme no estado férrico (i.e., desvio da curva de dissociação
|ig/mL, e as concentrações maiores que 5 jlg/mL são letais. para a esquerda). A P 0 2 é normal nestes pacientes e, portanto,
assim também é a saturação de oxigênio na hemoglobina. Con-
Agentes Formadores de Metemoglobina seqüentemente, uma P 0 2 normal em um paciente cianótico é
O feiro ligado ao heme na hemoglobina normalmente está no uma indicação significativa para a possível presença de metemo-
estado ferroso (FeiT). Quando oxidado em estado férrico (FeJ4), globinemia. A terapia específica para metemoglobinemia tóxica
há formação de metemoglobina e esta forma de hemoglobina não envolve a administração de azul de metileno para acelerar a con-
liga oxigênio. O principal sistema fisiológico para manter o feiro versão da metemoglobina a hemoglobina (Figura 31-1).
hemoglobínico no estado reduzido é a nicotinamida-adenina
dinucleotfdeo (NADH)-metemoglobina redutase (diaforase I) Metodologia Analítica
(Figura 3 1 - 1 ) . O N A D H para esta enzima é fornecido pela glicó- A metemoglobinemia é medida por espectrómetros automatizados
lise normal (via de Embden-Myerhof). U m a via menor paia de múltiplos comprimentos de ondas. Como a metemoglobina
redução de metemoglobina envolve fosfato de N A D reduzido não é estável em temperatura ambiente, as amostras devem ser
(NADPH)-metemoglobina redutase (diaforase II), e o N A D P paia mantidas no gelo ou refrigeradas, mas não congeladas. A estabili-
esta reação enzimática é derivado do desvio hexose-monofosfato. dade da metemoglobina a 4°C não foi bem estudada. Algumas
A metemoglobinemia congênita pode resultar de uma deficiência fontes indicam reduções significativas nas concentrações de mete-
de NADH-metemoglobina redutase ou, mais raramente, de moglobina após 4 a 8 horas, enquanto outras relatam pouca ou
variantes de hemoglobina (hemoglobina M), nas quais o feiro nenhuma alteração após 24 horas. O congelamento resulta em um
heme é mais suscetível à oxidação e mais resistente à ledução pelo aumento na concentração de metemoglobina. O azul de metileno
sistema de metemoglobina redutase. Mais comumente, uma mete- e a sulfemoglobina causam interferência espectral na mensuração
da metemoglobina com alguns CO-oxímetros.

Valores de Referência
A concentração normal de metemoglobina é menor do que 1,5%
TABELA 31-2 Causas Adquiridas de Metemoglobinemia
da hemoglobina total. Em indivíduos sadios (em outros aspec-
Fármacos Agentes Químicos tos), as concentrações de metemoglobina acima de 20% causam
Amil nitrito Anilina
apenas cianose. As concentrações entre 20% e 50% podem
Benzocaína Corantes anilina causaT (1) dispnéia, (2) intolerância aos exercícios, (3) fadiga, (4)
Cloroquina Butil nitrito fraqueza e (5) síncope. Sintomas mais graves de disrritmias, con-
Dapsona Clorobenzeno vulsões, acidose metabólica e coma estão associados a concentra-
Lidocaína Naftaleno ções de 50% a 70%, e concentrações maiores do que 70% podem
Nitroglicerina Nitratos sei letais.
Fenaceíina Nitritos
Fenazopiridina Nitrofeno! ÁLCOOIS
Primaquina Óxido nitroso
Vários álcoois são tóxicos e clinicamente importantes, como o
Sulfonamidas
etanol, metanol e isopiopanol. 3

SfitiJit da Heiose
Glicose

CJicóJiíi

J
Metemoglobina (Fe )
Glicose-6-P 1 , 3 DPG
NADH
A d e leuco-
NADP >
mciileno X f +
-
f ir~

i
NA^fH MtKb)
**iy«a*c K
NADH mecHb
Reúiilase GDH
V NADPM J N

Azul de
J w
metileno
NAlP
1
ó-Fosfoglitonato Hemoglobina (Fe ) G] ice raid eido-3-P

Glicose

Figura 31-1 Vias e n z i m á t i c a s para r e d u ç ã o d a m e t e m o g l o b i n a .


Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 579

Álcoois de Interesse Toxicológico disso, as ações d o etanol n o S N C são mais pronunciadas q u a n d o


O etanol é a substância química amplamente usada e seu uso a concentração de etanol n o sangue está a u m e n t a n d o (fase absor-
abusivo é freqüente. A mensuração d o etanol é u m dos testes tiva) do que q u a n d o está caindo (fase de eliminação), parcial-
mais f r e q ü e n t e m e n t e realizados n o laboratório de toxicologia. m e n t e devido ao f e n ô m e n o de tolerância aguda. Ademais, o uso
Embora encontrados com m e n o s freqüência, é importante incluir maciço de álcool leva a u m a forma mais crônica de tolerância.
o metanol, isopropanol e acetona (um metabólito do isopropa- Q u a n d o consumido com outros fármacos depressivos do S N C ,
nol) em u m a bateria de exames para álcoois, para u m a avaliação o etanol exerce u m efeito de potencialização ou depressivo siner-
adequada d o paciente agudamente intoxicado. gístico. Sabe-se que isto ocorre em concentrações relativamente
baixas dc álcool, e inúmeras mortes resultaram da combinação
Etanol de ingestão de etanol e fármacos.
A principal ação farmacológica d o etanol é a depressão do sistema O etanol é u m teratogênico e sabe-se que o consumo de álcool
nervoso central (SNC). Os efeitos n o S N C variam, d e p e n d e n d o durante a gravidez resulta n o nascimento de u m bebê com dis-
da concentração de etanol no sangue, desde (1) euforia e redução túrbios espectrais alcoólicos fetais (FASD). Estes efeitos p o d e m
das inibições (menor ou igual a 50 mg/dL) até (2) a u m e n t o da incluir incapacidades físicas, mentais, comportamentais e / o u de
desorientação e perda do controle muscular voluntário que aprendizagem com possíveis implicações para toda a vida. Outras
resulta em movimentos irregulares (100 a 300 mg/dL) e depois condições relacionadas ao álcool incluem distúrbios de desenvol-
para (3) coma e morte (maior do que 400 mg/dL) (Tabela 31-3). vimento neural relacionados ao álcool (ARND) e defeitos congê-
U m a concentração de álcool n o sangue de 100 m g / d L foi ante- nitos relacionados ao álcool (ARBD). Até 12.000 lactentes nascem
riormente estabelecida como limite para operação de veículo a cada ano com A R N D , e o triplo deste n ú m e r o apresenta A R N D
automotor na maioria dos estados nos EUA. U m a nova instrução ou A R B D . FASD, A R N D e A R B D afetam mais recém-nascidos a
federal exige que este limite seja reduzido para 80 mg/dL. N e m cada ano do que a síndrome de Down, fibrose cística, espinha
todos os indivíduos apresentam o mesmo grau de disfunção d o bífida e síndrome da morte súbita do recém-nascido combinadas
S N C com concentrações semelhantes de álcool n o sangue. Além (http://www.nofas.org). FASD, A R N D e A R B D são 100% evitá-

T A B E L A 3 1 - 3 I Estágios de Influência/Intoxicação Alcoólica A g u d a

Concentração de Álcool
no Sangue (g/100 mL) Estágio da Influência Alcoólica Sinais/Sintomas Clínicos

0,01-0,05 Subclínico Influência/efeitos não aparentes ou óbvios


Comportamento quase normal pela observação c o m u m
Deficiência detectável por testes especiais
0,03-0,12 Euforia Euforia branda, sociabilidade, loquacidade
Aumento da autoconfiança; redução das inibições
Diminuição da atenção, discernimento e controle
Alguma deficiência sensoriomotora
Processamento de informação lentificado
Perda de eficiência em testes de desempenho mais finos
0,09-0,25 Excitação Instabilidade emocional; perda de julgamento crítico
Deficiência de percepção, memória e compreensão
Resposta sensorial reduzida; aumento do tempo de reação
Redução da acuidade visual, visão periférica e recuperação após
ofuscamento da visão pela luz
Falta de coordenação sensoriomotora; deficiência de equilíbrio
Sonolência
0,18 0,30 Confusão Desorientação, confusão mental; tontura
Estados emocionais exagerados (medo, raiva, sofrimento etc.)
Distúrbios de visão (diplopia etc.) e de percepção da cor, forma,
movimento, dimensões
Aumento do limiar de dor
Aumento da incoordenação muscular; marcha cambaleante; fala
ininteligível
Apatia, letargia
0,25-0,40 Estupor Inércia geral; perda iminente de funções motoras
Resposta aos estímulos grandemente reduzida
Incoordenação muscular notável; incapacidade para ficar de pé ou andar
Vômitos; incontinência urinária e fecal
Deficiência da consciência; sono ou estupor
0,35-0,50 Coma Inconsciência completa; coma; anestesia
Reflexos deprimidos ou abolidos
Temperatura subnormal
Deficiência circulatória e respiratória
Possível morte
0,45+ Morte Morte por parada respiratória

Reimpresso com Jjermissáo de K M Dubotuslci, 1977. Todos os direitos reservados


580 PARTE IV Analitos

veis q u a n d o a mulher abstém-se completamente do álcool durante


a gravidez.
O etanol é metabolizado principalmente pela álcool desidro-
genase hepática (ADH) em acetaldeído, que subseqüentemente
é oxidado em ácido acético pela aldeído desidrogenase.

Metanol
O metanol é usado como (1) solvente em inúmeros piodutos
comerciais, (2) constituinte de líquidos anticongelamento e para
limpeza de vidros e (3) c o m p o n e n t e de combustível sólido. Pode
ser consumido pelos alcoólicos intencionalmente como substi-
tuto do etanol ou acidentalmente q u a n d o presente como conta-
m i n a n t e em whiske^s ilegais. As ingestões acidentais ocorreram
em crianças.
Os efeitos do metanol no S N C são substancialmente menos
graves do que aqueles do etanol. O metanol é oxidado pela A D H
hepática (a urn décimo da velocidade do etanol) em formaldeído.
O formaldeído, por sua vez, é rapidamente oxidado pela aldeido
desidrogenase em acido fórmico, que p o d e causar acidose grave
e neuropatia óptica, resultando eni cegueira ou morte. As con-
centrações séricas de formato correlacionam-se melhor com o
grau de acidose e a gravidade da toxicidade no S N C e a ocular
do que as concentrações séricas de metanol. Portanto, alguns
pesquisadores recomendam a mensuração do formato sérico para
avaliar a gravidade da toxicidade e paia orientar a terapia apro-
priada em casos de ingestão de metanol. Horas após a d m i s s ã o

Os tratamentos para intoxicação por metanol são (1) admi-


nistração de etanol ou preferivelmente fomepizol, para inibir o Figura 31-2 Concentrações de isopropanol e acetona no soro após
metabolismo do metanol, (2) terapia com bicarbonato de sódio, uma overdose aguda de isopropanol, Círculos fechados e abertos indicam
para ajudar a aliviar a acidose metabólica, (3) administração de concentrações séricas de isopropanol e acetona, respectivamente As
folato, para a u m e n t a r o metabolismo de formato mediado pelo concentrações de isopropanol e acetona no líquido espinal são indicadas
folato e (4) uso de hemodiálise, para aumentar o clearance de por triângulos fechados e abertos, respectivamente. (De Natowicz M,
metanol e formato. D o n a h u e J, G o r m a n L, Kane M, McKissick J, Shaw L. Pharmacokinetic
A análise por cromatografia gasosa (headspace) é o m é t o d o de analysis of a case report of isopropanol intoxication. Clin C h e m
escolha para a mensuração de metanol. U m a adaptação desta 1985;31:326-8.)
técnica pode ser usada para medir formato, o metabólito tóxico
de metanol, após esterificação em metil formato.
vítreo). A determinação do etanol no ar expirado requer bafôme-
isopropanol tros especializados (veja seção Etanol n o Ar Expirado).
O isopropanol está imediatamente disponível para a população
geral como u m a solução aquosa a 7 0 % para uso c o m o álcool para Etanol no Sangue
massagem. Ele tem u m a ação depressiva no S N C cerca de duas Amostras relacionadas com o sangue adequadas para a determi-
vezes maior q u e a provocada pelo etanol, mas n ã o é tão tóxico nação do nível de etanol são o soro, plasma ou sangue total. O
como o metanol. local de punção da veia deve ser limpo com substância para
O isopropanol tem u m a meia-vida (ti/ 2 ) curta de 1 a 6 horas, desinfecção sem álcool, como cloreto de benzalcônio aquoso
pois é rapidamente metabolizado por A D H em acetona, que é (Zefiran).
eliminada m u i t o mais lentamente O4/2, 17 a 27 horas), primaria- O etanol distribui-se nos compartimentos aquosos do sangue,
mente no ar alveolar e na urina. Portanto, concentrações de e pelo fato de o conteúdo de água do soro (aproximadamente 98%)
acetona no soro f r e q ü e n t e m e n t e excedem aquelas do isopropa- ser maior do que o do sangue total (aproximadamente 86%), os
nol durante a fase de eliminação que acompanha a ingestão de resultados que indicam concentrações mais altas de álcool são
isopropanol (Figura 31-2). A acetona tem atividade depressiva do obtidas com o soro. Experimentalmente, a razão de etanol no soro-
S N C semelhante àquela do etanol, e devido à sua meia-vida mais sangue total é de 1,14 (1,09 a 1,18) e varia ligeiramente com o
longa, prolonga os efeitos aparentes do isopropanol no S N C . hematócrito. Vários estados têm leis promulgadas que definem a
Sabe-se que a intoxicação grave por isopropanol, assim como intoxicação enquanto se dirige veículo automotor sob influência de
aquela do etanol, resulta em coma ou morte. A terapia apro- álcool com base nas concentrações de etanol no sangue total.
priada em tais casos inclui hemodiálise. A administração terapêu- Alguns estados não especificam o tipo de amostra. Portanto, os
tica de etanol não é indicada para intoxicação por isopropanol. laboratórios que realizam os exames para determinações de álcool
O isopropanol e seu metabólito, acetona, p o d e m ser determina- devem esclarecer qual amostra foi analisada.
dos por cromatografia gasosa (headspace) ou por espectroscopia Devido à natureza volátil dos álcoois, as amostras têm de ser
de ressonância nuclear magnética (RNM). mantidas tampadas para evitar perda evaporativa para a atmosfera.
O sangue pode ser armazenado, q u a n d o adequadamente lacrado,
Análise do Etanol por 14 dias em temperatura ambiente ou a 4°C, com ou sem
Utilizam-se técnicas semelhantes para mensurar etanol no sangue, conservantes. Para armazenamento mais prolongado ou para
soro, saliva ou urina e para amostras postviortem (p. ex., h u m o r amostras postmortem não-estéreis, o fluoreto de sódio deve ser
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 581

usado como conservante para evitar a redução ou ocasionalmente estar presente na boca (p.ex., ingestão muito recente de bebidas,
um aumento (via fermentação) da concentração de etanol. uso de enxaguatório bucal que contenha álcool, ou vómito de
Para medir o etanol no sangue, o método de escolha para líquido gástrico rico em álcool).
muitos laboratórios é uma análise enzimática. Neste método, o Visando à segurança pública, o U.S. Department of Trans-
etanol é medido por oxidação em acetaldeído com NAD + , uma portation (DOT) exigiu a adição do exame de álcool no ar expi-
reação catalisada por A D H . C o m esta reação, a formação de rado à triagem para detecção de drogas de uso abusivo na urina
N A D H , medida a 340 nm, é proporcional à quantidade de etanol (veja seção sobre Drogas de Uso Abusivo) para empregados de
na amostra. transporte comercial.14,15 Caso a concentração de álcool no ar
expirado esteja entre 0,02 e 0,04 g/210 L para mensurações
duplicadas (dentro de um período de 30 minutos), não é permi-
Ãícool
dísidroíraiiaje r
- tido ao empregado reiniciar as tarefas que exijam cuidados de
CHjOH
segurança por um período de 8 horas (24 horas para motoristas
T \ L, de veículos automotores). Se a concentração foi de 0,04 g/210 L
NAD+ N A D H + H+
ou mais, o empregado é suspenso das atividades até que se
obtenha uma avaliação por especialistas em uso abusivo de subs-
Vários fabricantes disponibilizam os km de reagentes para uso tâncias e se inicie um teste de acompanhamento.
com espectrofotômetros manuais ou analisadores automatizados. Vários dispositivos comerciais para mensuração de álcool no
Sob condições da maioria dos exames, a A D H é razoavelmente ar expirado estão disponíveis. Estes dispositivos usam (1) espec-
específica para o etanol. Alguns fabricantes afirmam que a inter- trometria por absorção no infravermelho (mais comum), (2)
ferência do isopropanol, metanol, acetona e etileno glicol é de redução de oxidação de ácido dicromato-sulfúrico (fotométrica),
menos de 1%. (3) G C (detecção por ionização em chamas ou por condutividade
O soro (ou plasma) é a amostra mais cbmum para a análise térmica), (4) oxidação eletroquímica (célula combustível), ou (5)
do etanol pelos métodos ADH; o método também apresenta sensores com semicondutores de óxido metálico. Foi publicada
bom desempenho com urina ou saliva. Entretanto, sabe-se que uma lista dos dispositivos para detecção de álcool pelo ar expi-
já ocorreram falso-positivos quando se mediu etanol na urina (W. rado aprovados pelo DOT. 2,15 Alguns destes dispositivos são apro-
H. Por ter, observação pessoal). Em alguns métodos, o sangue vados apenas para triagem. Neste caso, a segunda determinação,
total pode ser usado diretamente, mas em outros, uma etapa de ou determinação "confirmatória", de álcool na respiração deve
precipitação pode ser necessária antes da análise, para evitar ser realizada com um bafômetro comprobatório aprovado. Os
interferência da hemoglobina. Estes métodos geralmente são dispositivos para detecção de álcool pela respiração também
estreitamente comparáveis com os métodos de GC. podem ser usados para avaliação clínica de pacientes no local de
Os ensaios para etanol usando ADH, especialmente aqueles atendimento (p. ex., no setor de emergências).
que são completamente automatizados, são convenientes para labo-
ratórios clínicos que não têm instrumentação para GC. A especifi- Etanol na Saliva
cidade para o etanol tem de ser comunicada de maneira clara para Pelo fato de a saliva (cada vez mais chamada de líquido oral) poder
os médicos que tratam pacientes agudamente intoxicados. Caso ser facilmente coletada e de maneira não-invasiva, há um interesse
contrário, valores muito baixos ou negativos de etanol podem ser crescente pelo seu uso para mensurações de etanol e para detecção
mal interpretados como "álcool" em um paciente que ingeriu de drogas de uso abusivo (veja seção Drogas de Uso Abusivo). O
metanol ou isopropanol. As mensuiações de etanol podem ser etanol distribui-se entre o sangue e a saliva por meio de difusão
usadas em conjunção com o intervalo osmolar para examinar a passiva em grande medida de acordo com o conteúdo de água
possível presença de quantidades significativas de metanol, isopro- destes líquidos (85% w / v para sangue total; w/v, peso/volume;
panol ou etileno glicol (veja seção posterior sobre Determinação das 99% para saliva). Os perfis de tempo de concentração para o etanol
Substâncias voláteis por meio de Intervalo Osmolar no Soro). no sangue, no ar expirado e na saliva são todos semelhantes.
U m pequeno dispositivo para teste foi desenvolvido para
Etanol no Ar Expirado medir o etanol na saliva. A saliva é absorvida em um swah, que
As leis para quem dirige sob influência do álcool foram original- é então inserido no cartucho de teste. A mensuração do etanol
mente baseadas na concentração de etanol no sangue venoso baseia-se na reação de A D H juntamente com uma reação de
total. Pelo fato de a coleta de sangue ser invasiva e requerer indicador de cor mediada por diaforase, que fornece uma detec-
intervenção de equipe médica, a determinação do álcool no aT ção visual final em uma escala semelhante ao termômetro, após
expirado há muito é a base de mensurações comprobatórias de incubação de 2 minutos. Este dispositivo é aprovado pelo D O T
álcool. Também há u m interesse clínico crescente pela determi- em triagem para álcool.
nação do álcool no ar expirado no local do atendimento. O U m dispositivo com cartão de teste para mensuração qualita-
princípio fundamental para uso da análise do ar expirado é que tiva do etanol na saliva ou urina também se baseia em u m
o etanol no sangue capilar alveolaT equilibra-se rapidamente com esquema de detecção acoplada a diaforase-ADH. Este cartão de
o ar alveolar em uma razão de aproximadamente 2.100:1 (sangue: teste é projetado para produzir uma resposta positiva para as
respiração). Conseqüentemente, o álcool exalado expresso como concentrações de etanol maiores que 0,02 g/dL. Este dispositivo
g/210 L é aproximadamente equivalente à medida de grama por também é aprovado pelo D O T para triagem.
decilitro do álcool no sangue total. Para eliminar a confusão e a U m terceiro dispositivo aprovado pelo D O T consiste em uma
incerteza que cercam a conversão da concentração de álcool no fita de teste plástica adequada para inserção sob a língua da
ar expirado, a concentração de álcool no sangue, as leis de tráfego pessoa ou na saliva coletada. Após saturação da almofada de
nos EUA receberam emendas em que "a concentração de álcool reação com saliva e um período de incubação de 2 minutos, uma
deve representar gramas de álcool por 100 mililitros de sangue barra indicadora de cor acoplada a ADH-diaforase torna-se visível
ou gramas por 210 litros de ar expirado."8 Antes da análise de ar se a concentração de etanol for de 0,02 g/dL ou mais.
expirado, é necessário um período de espera de 15 minutos para O fluxo de saliva está, em grande medida, sob controle do
possibilitar o clearance de qualquer resíduo de álcool que possa sistema nervoso parassimpático. Conseqüentemente, a coleta de
582 PARTE IV Analitos

saliva pode ser difícil em indivíduos com sintomatologia antico- T A B E L A 31 - 4 A c c h a d o s Laboratoriais Característicos de
linérgica (p. ex., boca seca associada a averdose de antidepressivos Ingestão de Álcoois
tricíclicos). Além disso, o fluxo salivar pode ser prejudicado em
Acidose
alguns alcoólicos.
Metabólica
Intervalo com Ãrion Acetona Oxalato
Etanol na Urina Álcool Osmolar Gap Sérica na Urina
A urina tem sido usada como uma amostra alternativa, menos
invasiva para determinação do etanol, se comparada com o Etanol + - - -

sangue. Durante a fase pós-absortiva que se segue à ingestão de Metanol + •+ - -

álcool, a concentração de etanol na urina é de aproximadamente Isopropanol + - + -

1,3 vez àquela do sangue. Os cálculos da concentração de álcool Etileno glicol + -

no sangue a partir daquela determinada na urina, com base nesta


razão média de álcool na urina-sangue, são admissíveis em
algumas jurisdições. Entretanto, o uso de mensurações de álcool
na urina com este objetivo é desestimulado por alguns funcioná- Deve-se saber que (1) substâncias administradas a pacientes,
rios de laboratórios, porque a razão de 1,3 é altamente variável como o manitol (diurético osmótico) e propileno glicol (solvente
e a concentração de álcool na urina representa uma média da para diazepam e fenitoína), podem aumentar a osmolalidade
concentração de álcool no sangue durante o período de tempo sérica; (2) pacientes com cetoacidose alcoólica ou diabética
no qual a urina coletada fica na bexiga. Obtém-se uma correlação podem ter um intervalo osmolar elevado devido à acetona; (3)
melhor da urina com a concentração de álcool no sangue primei- pacientes com insuficiência renal crônica mas não aguda podem
ramente esvaziando-se a bexiga e depois coletando a urina após ter um intervalo osmolar elevado devido a osmolutos desconhe-
20 a 30 minutos. cidos; (4) após a ingestão de metanol, alguns pacientes podem
Há um interesse renovado pelo teste de detecção de álcool apresentar um aumento dos intervalos osmolares não inteira-
na urina em conjunção com exames de urina para detecção de mente causado pela presença de metanol. Além disso, este
drogas de uso abusivo (veja seção posterior sobre Drogas de Uso método de triagem é insensível a concentrações baixas ainda que
Abusivo). C o m este objetivo, a detecção do álcool na urina repre- clinicamente significativas de etileno glicol (<50 mg/dL) e metanol
senta aproximadamente a ingestão de álcool nas 8 horas anterio- (<30 mg/dL).
res. A urina não é uma amostra aprovada pelo D O T para men-
suração do álcool. ANALGÉSICOS (ISENTOS DE PRESCRIÇÃO)
Os analgésicos são substâncias que aliviam a dor sem causar
Etanol postmortem perda da consciência. Quando usados em excesso, os analgésicos
O álcool é medido em sangue e humor vítreo postmortem. - como o paracetamol e salicilato - são conhecidos por resultar
em resposta tóxica.
Determinação de Substâncias Voláteis por meio de
Intervalo Osmolar no Soro Paracetamol
Os principais constituintes osmoticamente ativos do soro são O paracetamol tem ações analgésicas e antipiréticas.
N a \ Cl", HCO-,", glicose e uréia {Capítulo 24). A diferença entre
a real osmolalidade, medida pela depressão do ponto de conge- Resposta Farmacológica e Toxicidade
lamento, e a osmolalidade calculada, é chamada de delta-osmoki- Em dosagem normal, o paracetamol é seguro e efetivo, mas pode
lidade, ou intervalo osmoiar. Normalmente, o intervalo osmolar é causar toxicidade hepática grave ou morte quando consumido
menor que 10 mOsm/kg. Álcoois, acetona e etileno glicol, em overdose. Menos freqüentemente, também pode ocorrer nefro-
quando presentes em concentrações significativas, aumentam a toxicidade. Os achados clínicos iniciais sobre a toxicidade do
verdadeira asmalalidade sérica e resultam em um aumento do paracetamol são relativamente brandos e inespecíficos (náuseas,
intervalo osmolar (maior do que 10 mOsm/kg). As substâncias vómitos e desconforto abdominal) e, portanto, não são preditivos
voláteis não são detectadas quando a osmolalidade é medida com de necrose hepática iminente, que tipicamente começa 24 a 36
um osmômetro de pressão a vapor. Portanto, com o objetivo de horas após uma ingestão tóxica e torna-se mais grave após 72 a
determinar o intervalo osmolar, apenas as mensurações da osmo- 96 horas. Embora incomum com ouerdose grave, podem ocorrer
lalidade baseadas na depressão do ponto de congelamento são coma e acidose metabólica antes do desenvolvimento de necrose
aceitáveis. A determinação do intervalo osmolar é u m meio hepática. A terapia antídota com N-acetilcisteína (NAC; Muco-
rápido de detectar osmolutos não-ionizados exógenos presentes mist) (veja discussão posterior) é mais efetiva quando adminis-
nas concentrações de miligrama-por-decilitro. trada antes da lesão hepática ocorrer, como anunciado pelas
Cada 100 mg/dL de etanol no soro resulta em uma delta- elevações da aspartato aminotransferase (AST) e alanina ami-
osmo la lidade de 21,7 mOsm/kg. Ao considerar este efeito previ- notransferase (ALT). Assim, a mensuração da concentração
sível do etanol na osmolalidade sérica, é possível determinar que séTica de paracetamol torna-se vital para a avaliação adequada
porção de aumento de um intervalo osmolar é causada pelo da gravidade da overdose. e para que se tomem as decisões apro-
etanol. U m intervalo osmolar residual significativo (>10 m O s m / priadas para a terapia antídota. U m nomograma útil está dis-
kg) sugeriria a possível presença de isopropanol, metanol, acetona ponível e relaciona a concentração sérica de paracetamol e o
ou etileno glicol. A contribuição do etanol para a osmolalidade tempo após ingestão aguda com a probabilidade de necrose
medida é então calculada (etanol, m g / d i y 4 , 6 ) e incluída no hepática (Figura 31-3).
cálculo da delta-osmolalidade. Esta informação, em conjunção O paracetamol normalmente é metabolizado no fígado em
com a presença ou ausência de acidose metabólica ou acetona conjugados de glicuronídeo (50%-60%) e sulfato (aproximada-
sérica, é útil para o médico se mensurações específicas de álcoois mente 30%). Uma quantidade menor (aproximadamente 10%)
que não o etanol e etileno glicol não estiverem disponíveis em é metabolizada por uma via de oxidase de função mista do citio-
uma base emergencial (Tabela 31.4). cromo P450 que, acredita-se, envolve a formação de um interme-
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 583

500
O
JS, V
CH,
ii i!
CH:
HA
200
150
Provável t o x i c i d a d e hepática
I
ir
x
100 I

TSO„ TOH
2. 50 Oxidase efe fnnçan mista,. Glicuronida
do citocromo P+K /

A
8 N e n h u m a toxicidade
hepática NJ?"1 HO
a 10 "-ISK'xCH3
CL
Intermediários
} 25% Tóxicos
Postulados

T
OH Ci.u:.iCkTj.ia

_L o
< X
IT O
M;rrcw)oI^v'.Us
8 12
Horas após ingestão
16' 20 24
K'
L
CHj
vJv.uiiiiu»
- Jk
N CH,

Figura 31-3 Moniograma de Rumack-Matthew. (De Rumack BH,


1 A '
Matthew H . Acetaminophen poisoning and toxicity. Pediatrics
x
1975,55:871-6. Reproduzido com permissão de Pediatrics.) JlucuLjiu Macromoléculas
OU OH celulares

diário altamente reativo (N-acetilbenzoquinoneimina) (Figura


31-4). Este intermediário normalmente passa por conjugação ele-
trofílica com glutationa e depois por subseqüente transformação
em cisteína e conjugados de ácido mercaptúrico do paracetamol. Acido Morte
C o m overdose de paracetamol, a via de sulfação torna-se saturada mercaptúrico celular
e, conseqüentemente, uma porção maior é metabolizada pela via
de oxidase de f u n ç ã o mista d o citocromo P4^n- Q u a n d o os esto- Figura 31-4 Vias de metabolismo do paracetamol. (De MitchellJR,
ques teciduais de glutationa são depletados, a arilação de molé- Thorgeirsson SS, Potter WZ, Jollow DJ, Keiser H. Acetaminophen-induced
culas celulares pelo intermediário b e n z o q u i n o n e i m i n a leva à hepatic injury: pTotective role of glutathione in man and rationale ÍOT
necrose hepática. therapv. Clin Pharmacol Ther 1974; 16:676.)
A terapia especifica para oveTdo.se de paracetamol é a adminis-
tração de NAC, que provavelmente age com u m substituto da
glutationa. A N A C t a m b é m p o d e fornecer substrato para repor
a glutationa hepática ou para aumentar a conjugação de sulfato base emergencial. U m imunoensaio qualitativo de fluxo lateral
ou ambas. O tempo de administração da N A C é crítico. Observa- de u m a etapa (corte de 25 |ig/mL) adequado para aplicação n o
se máxima eficácia q u a n d o N A C é administrada em u m período local do atendimento está disponível n o mercado.
de 8 horas, mas a eficácia então declina agudamente entre 18 e
24 horas após a ingestão. O antídoto p o d e ter alguns efeitos Salicilato
benéficos mesmo após ter ocorrido lesão hepática, presumivel- O ácido acetilsalicílico (aspirina) e seu metabólito ativo, salicilato,
m e n t e por sua capacidade de melhorar a distribuição e uso do têm propriedades analgésicas, antipiréticas e antiinflamatórias.
oxigênio n o tecido. Se os resultados de paracetamol sérico n ã o Devido a estes benefícios terapêuticos e à ausência geral de efeitos
estiverem disponíveis localmente em u m período de 8 horas da colaterais graves em doses normais, o ácido acetilsalicílico é u m
ingestão suspeitada, deve-se iniciar o t r a t a m e n t o com NAC. Este fármaco amplamente disponível que é consumido com freqüên-
tratamento pode ser descontinuado sc os resultados tardios d o cia. As concentrações séricas terapêuticas de salicilato em geral
exame indicarem que ele n ã o é justificado são mais baixas d o que 60 m g / L para efeitos analgésicos-antipi-
réticos, e de 150 a 300 m g / L para ações antiinflamatórias.
Metodologia Analítica O ácido acetilsalicílico, mas não o salicilato, t a m b é m interfere
O paracetamol é mais c o m u m e n t e m e d i d o por métodos de imu- na agregação plaquetária e, portanto, prolonga o tempo de sangra-
noensaio. U m a abordagem diferente usa arilacilamida amidoi- mento. Devido a esta atividade plaquetária inibitória, u m a dose
drolase com u m a reação q u e gera cor acoplada. Os métodos de baixa de ácido acetilsalicílico foi recomendada como terapia profi-
amidoidrolase da arilacilamida são suscetíveis à interferência pela lática para alguns indivíduos em risco para doença tromboembó-
NAC, b i l i n u b i n a e imunoglobulinas monoclonais IgM. A maioria lica. Há uma associação epidemiológica entre a ingestão de ácido
dos métodos cromatográficos é altamente precisa e, portanto, estes acetilsalicílico e síndrome de Reye em crianças e adolescentes com
p o d e m ser considerados procedimentos de referência; contudo, há infecções virais (p. ex., varicela e influenza). O uso do ácido acetil-
uma maior dificuldade para realizá-los, especialmente em u m a salicílico é, portanto, contra-indicado nestes pacientes.
584 PARTE IV Analitos

A absorção de doses normais de ácido acedlsalicílico regular náuseas, (6) vômitos e (7) distúrbios ácido-básicos. Os efeitos no
a partir do trato gastrointestinal (GI) geralmente é rápida, com SNC incluem letargia, desorientação e, em casos graves, coma e
concentração sérica de pico atingida dentro de 2 boras. Este valor convulsões. O zumbido pode ocorrer nas concentrações de sali-
de pico pode ser retardado por 12 horas ou mais para formula- cilato maiores do que 200 mg/L, mas manifestações tóxicas mais
ções com revestimento entérico ou de liberação lenta. Ademais, graves em geral não são evidentes, a menos que a concentração
doses tóxicas de ácido acetilsalicílico podem formar concreções de salicilato exceda 300 mg/L.
ou massa intestinal e produzir piloroespasmo, retardando assim O distúrbio ácido-básico primário observado com overdose de
a absorção. O salicilato sérico nestes casos pode não atingir uma salicilato depende da idade e da gravidade da intoxicação. A
concentração máxima por 6 horas ou mais, uma consideração alcalose respiratória predomina em crianças com mais de 4 anos
importante quando a avaliação da gravidade da toxicidade baseia- de idade e em adultos, exceto em casos muito graves, que podem
se nestas mensurações. progredir ao longo de um misto de alcalose respiratória-acidose
Uma vez absorvido, o ácido acetilsalicílico tem uma meia-vida metabólica até acidose metabólica. Nas crianças com menos de
muito curta (15 min) devido à sua rápida hidrólise em salicilato. 4 anos de idade, o período inicial de alcalose respiratória é muito
O salicilato é eliminado principalmente por conjugação com a breve e, portanto, pode não ser observado; nestes casos, predo-
glicina para formar ácido salicilúrico e, em menor extensão, com mina a acidose metabólica.
ácido glicurônico, para formar fenol e acil glicuronídeos. Uma A mensuração da concentração de salicilato no soro pode ser
pequena quantidade é hidrolisada em ácido gentísico (Figura útil para avaliação da gravidade da intoxicação. Um nomograma
31-5). Estas vias metabólicas podem tornar-se saturadas mesmo que relaciona a concentração sérica de salicilato e o tempo após
em doses terapêuticas altas. Conseqüentemente, a concentração a ingestão com a gravidade da intoxicação foi desenvolvido por
de salicilato no soro pode aumentar desproporcionalmente com Done (Figura 31-6), primariamente para uso com pacientes pedi-
a dosagem. Em doses terapêuticas altas ou tóxicas, a meia-vida átricos. O nomograma aplica-se apenas à ingestão aguda de salici-
de eliminação do salicilato é prolongada (15 a 30 horas versus 2 lato e não deve ser usado para estimar a gravidade da toxicidade
a 3 horas em dose baixa) e uma porção muito maior da dose é crônica. O nomograma é menos útil para pacientes adultos, que
excretada na urina como salicilato. tendem a cer acidemia menos grave (misto de alcalose respiratória-
acidose metabólica) do que paTa crianças em tenra idade (acidose).
R e s p o s t a Farmacológica e Toxicidade Além disso, a interpretação do nomograma é complicada em casos
Os salicilatos estimulam diretamente o centro respiratório central, de ingestão mista de fármacos. Por estas razões, o uso deste nomo-
causando hiperventilação e alcalose respiratória. O salicilato grama é desencorajado por alguns toxicologistas.
também causa um desacoplamento da fosforilação oxidativa. A absorção de ácido acetilsalicílico pode ser retardada quando
Como resultado, pode haver aumento de (1) produção de calor quantidades que levam à averdose são consumidas, especialmente
(hipertermia), (2) consumo de oxigênio e (3) taxa metabólica. de preparações com revestimento entérica ou de liberação lenta.
Além disso, os salicilatos aumentam a glicólise anaeróbica mas Isto deve ser considerado quando da interpretação dos valores
inibem o ciclo de Krebs e as enzimas transaminase, que levam ao séricos de salicilato, especialmente para amostras obtidas com
acúmulo de ácidos orgânicos e, portanto, à acidose metabólica. menos de 6 horas após a ingestão. Recomenda-se repetir o teste
Os sintomas da intoxicação por salicilato incluem (1)
zumbido, (2) diaforese, (3) hipertermia, (4) hiperventilação, (5)

0H

A c i d o salicilúrico
COOH
I .Glu
L JQ

.a
Cilininrriiil*
COOH COOH
JL\ iajjcil-clc!
X tr 'CHj ,OH

..Gl-J
Á c i d o acetilsalicílico Acido sa.i.ll.cci
V " -
(Aspirina) I
XMí

COOH
Glicuro nida 0 12 24 36 48 60
salicil-éster Horas após ingestão
_OH

Figura 31-6 Nomograma para estimar a gravidade da intoxicação


u HO" aguda por salicilato. (De Done AK. Salicylate intoxicaton: significante
Ácido gentísico of measurements of salicylate in blood in cases of acute ingestion.
Figura 31-5 Metabolismo do ácido acetilsalicílico. Gíi, glicuronida. Pediatrics. 1960;26:800. Reproduzido com permissão de Pediatrics.)
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 585

em u m período de 2 a 3 horas para assegurar que a absorção foi


completa; testes subseqüentes fornecem u m a indicação da efeti-
vidade da intervenção terapêutica.
O tratamento para intoxicação por salicilato é direcionada
para (1) redução de absorção adicional, (2) a u m e n t o da elimina-
ção e (3) correção de distúrbios ácido-básicos e eletroliticos. O
carvão ativado liga-se ao ácido acetilsalicílico e evita sua absorção.
A eliminação do salicilato pode ser a u m e n t a d a por diurese alca-
lina e, nos casos graves, por hemodiálise. O bicarbonato de sódio H3C "CH3
pode ser administrado para aliviar a acidose metabólica. Indica- Amitriptilina Norrriptilina
ções para hemodiálise incluem (1) salicilato sérico maior que
1.000 m g / L , (2) depressão grave do SNC, (3) acidose metabólica
intratável, (4) insuficiência hepática com coagulopatia e (5) insu-
ficiência renal. U m a triagem do fármaco na urina pode ser útil
no reconhecimento da presença de fármacos a partir da combi-
nação de medicamentos com ácido acetilsalicílico (p. ex., anti-
histamínicos, amínas simpatomiméticas e propoxifeno) ou
aqueles co-ingeridos de outra forma. ce2
]
M
H' ^CH3
Metodologia Analítica
Imipramina Desipramina
Os métodos clássicos para a mensuração de salicilato n o soro
baseiam-se n o método de Trinder. Estes procedimentos depen-
dem da reação entre salicilato e Fe' J para formar u m complexo
corado que é medido a 540 n m . Para diminuir a interferência
endógena de f u n d o , é necessária uma etapa de precipitação (de cfr> cQo
protéica) o u u m branco de soro. Entretanto, geralmente obser-
vam-se leituras do branco equivalentes a cerca de 20 a 25 mg/L.
Além disso, p o d e m ocorrer interferências pelos metabólitos de
salicilato, compostos endógenos e alguns fármacos, especialmente
fármacos estruturalmente relacionados, c o m o diflunisal (salici-
lato de difluorofenil). A azida, presente como conservante em
alguns soros de controle comercial, t a m b é m causa interferência.
Apesar dessas limitações, os métodos fotométricos c o n t i n u a m a
ser usados com sucesso para avaliar a overdose de salicilato.
O u t r o s métodos para quantificação d e salicilato incluem imu-
noensaio por fluorescência polarizada e u m procedimento foto-
métrico mediado por salicilato hidroxilase. Estes procedimentos
estão sujeitos a algumas interferências, como ocorre com o
método de Trinder, mas o m é t o d o com salicilato hidroxilase é
considerado mais específico. Este m é t o d o enzimático foi adap-
M
tado para alguns analisadores automatizados. U m imunoensaio H ? C^' v ch 3 H3C X:H 3
qualitativo de fluxo lateral de uma etapa (corte de 100 mg/L),
Clomipramina Trimipramina
adequado para aplicação no local de atendimento, está disponível
no mercado.
Figura 31-7 Estrutura de antidepressivos tricíclicos selecionados e o
relaxante muscular ciclobenzaprina.
FÁRMACOS ANTICOLjNÉRGICOS
Os anti depressivos tri cíclicos, as fenotiazinas e os anti-histamí ni-
cos apresentam aplicações terapêuticas divergentes. Nos casos de Resposta Farmacológica e Toxicidade
overdose, contudo, eles f r e q ü e n t e m e n t e partilham toxíndromes Devido ao seu uso contínuo, à faixa terapêutica estreita e à natu-
anticolinérgicas e anti-histaminicas semelhantes como compo- reza da doença para a qual eles são tipicamente prescritos, os
nentes principais de seus efeitos tóxicos gerais. Estas toxicidades antidepressivos tricíclicos podem causar toxicidade grave ou fatal.
sobrepostas provavelmente estão relacionadas com porções metil Por exemplo, em março de 2004, a U.S. Eood and Drug Admi-
ou dimetil aminoetil comuns, que estão estruturalmente relacio- nistration (FDA) lançou u m Consultivo de Saúde Pública devido
nadas a grupos semelhantes na acetilcolina e histamina. à idealização do suicídio e as tentativas de suicídio em crianças
que tomavam fármacos antidepressivos para o tratamento de
Antidepressivos Tricíclicos distúrbios depressivos maiores.
Os antidepressivos tricíclicos representam uma classe de fárma- As manifestações clínicas da overdose de antidepressivos tricícli-
cos amplamente prescrita para o tratamento de depressão endó- cos são, na maioria das vezes, extensões de seus efeitos farmacoló-
gena e d o r neurálgica, enxaqueca, enurese e distúrbio do déficit gicos normais e envolvem principalmente o SNC, o sistema nervoso
de atenção (Capítulo 30). O s antidepressivos tricíclicos incluem colinérgico (periférico e central) e o sistema cardiovascular.
imipramina, amitriptilina e seus derivados N-demetilados, desi- As ações anticolinérgicas dos antidepressivos tricíclicos são
pramina e nortriptilina; clomipramina; doxepina e trimipramina responsáveis pelos efeitos colaterais freqüentemente experimen-
(Figura 31-7). Outros fármacos antidepressivos cíclicos incluem tados até mesmo com doses terapêuticas e estão, portanto, comu-
amoxapina e maprotilina. m e n t e presentes na overdose. Estes efeitos incluem (1) taquicardia,
586 PARTE IV Analitos

(2) hiperpirexia, (3) pupilas dilatadas, (4) pele e boca secas, (5) intoxicação é mais confiavelmente indicada por u m a u m e n t o n o
rubor, (6) redução da motilidade GI e (7) retenção urinária. intervalo Q R S no eletrocardiograma (maior que 100 ms) do que
As manifestações do S N C de o verdose de antidepressivos tricí- pela concentração de soro.
clicos podem variai de agitação b r a n d a ou sonolência até (1) A distinção analítica entre amitriptilina e ciclobenzaprina
delírio, (2) coma, (3) depressão respiratória ou (4) convulsões. Estas f r e q ü e n t e m e n t e é difícil. A ciclobenzaprina realiza reação cruzada
manifestações são consideradas resultado, em parte, das ações com imunoensaios para antidepressivos tricíclicos e geralmente
anticolinérgicas e anti-histamínicas centrais destes fármacos. co-elui ou co-migra com amitriptilina n o H P L C e TLC. Entre-
A toxicidade cardiovascular é a manifestação mais grave da tanto, a ciclobenzaprina e amitriptilina apresentam espectros
ouerdose de antidepressivos tricíclicos e é responsável pela maior para ultravioletas diferentes; portanto, elas p o d e m ser distingui-
parte das mortes. Além disso, seus efeitos anticolinérgicos e sim- das por H P L C usando-se u m detector de diodos, por meio de
patomiméticos (inibição da captação de norepinefrina) contri- exame de múltiplos comprimentos de o n d a ou discriminação por
b u e m para arritmias. Na overdose branda, estes efeitos resultam em duplo c o m p r i m e n t o de onda. Embora estes dois fármacos co-
taquicardia e ligeiro a u m e n t o da pressão arterial. C o m overdose migrem usando-se a metodologia do kit comercial para TLC, eles
mais grave, arritmias graves e atrasos de condução podem desen- podem ser distinguidos por diferenças na fluorescência (a ami-
volver-se, dos quais a manifestação mais marcante é o prolonga- triptilina fluoresce em rosa, e n q u a n t o a ciclobenzaprina fluoresce
m e n t o d o intervalo Q R S n o eletrocardiograma. Além disso, o em alaranjado). Finalmente, a amitriptilina e a ciclobenzaprina
débito cardíaco diminui, o que, j u n t a m e n t e com vasodilatação são bem determinadas usando-se G C com colunas capilares, e
periférica (bloqueio ai-adrenérgico), leva à hipotensão com ameaça podem ser distinguidas por exame cuidadoso de seus respectivos
à vida. Freqüentemente, a morte resulta de arritmias ou hipoten- espectros de massa.
são. As manifestações cardiotóxicas p o d e m ocorrer em u m período
de horas da overdose, ou p o d e m ser lentas por 24 horas ou mais. Fenotiazinas
E importante reconhecer que a sintomatologia de u m paciente As fenotiazinas são compostos tricíclicos que têm propriedades
(talvez inicialmente apenas efeitos anticolinérgicos brandos) é químicas e farmacológicas em c o m u m com os fármacos antide-
resultado de antidepressivos tricíclicos, de forma que se adote um pressivos tricíclicos (Figura 31-8). Elas são primariamente usadas
período adequado de m o n i t o r a m e n t o para detecção de cardioto- devido às suas propriedades neurolépticas (modificadoras do
xicidade tardia e possivelmente catastrófica. Assim, a identificação comportamento) n o tratamento de doença psiquiátrica grave
laboratorial destes fármacos, especialmente na ausência de u m a (psicose e mania). Além disso, as fenotiazinas são administradas
história confiável, fornece informações essenciais. para controlar náuseas e vômitos, para sedação e para potencia-
Além das medidas gerais de suporte (lavagem gástrica, carvão lisação de analgesia e anestesia geral. As fenotiazinas são extensa-
ativado e líquidos intravenosos |IVJ), a terapia para ouercío.se por mente metabolizadas pelo fígado em inúmeros metabólitos,
antidepressivos tricíclicos inclui administração de N a H C O } para alguns dos quais são farmacologicamente ativos. Menos de 1%
disritmias. Hemodiálise ou h e m o p e r f u s ã o n ã o são benéficas, de u m a dose é excretada sem alterações n a urina.
porque os fármacos antidepressivos tricíclicos têm u m volume
grande de distribuição e são extensamente ligados a proteínas Resposta Farmacológica e Toxicidade
plasmáticas. As principais manifestações da toxicidade das fenotiazinas envol-
Fármacos mais recentes, mais seguros, que são inibidores vem o S N C e o sistema cardiovascular. Os sinais de toxicidade
seletivos da recaptação da serotonina (p. ex., fluoxetina [Prozac], do S N C incluem (1) sedação, (2) coma, (3) depressão respiratória
sertralina [Zoloft] e paroxetina [Paxil]) apresentam risco n u l o ou (incomum), (4) convulsões, (5) hipotermia ou hipertermia e (6)
m í n i m o de efeitos adversos anticolinérgicos, anti-histamínicos distúrbios de movimentos extrapiramidais (distonia aguda,
ou cardiovasculares. Eles são atualmente os fármacos de escolha parkinsonismo, acatisia, discinesia tardia e síndrome neuiolép-
para t r a t a m e n t o de distúrbios depressivos. tica maligna). Os efeitos cardiovasculares incluem hipotensão
A ciclobenzaprina, u m a amina tricíclica estruturalmente ortostática ou franca e arritmias, uma conseqüência da ação
m u i t o semelhante à amitriptilina (Figura 31-7), é usada como depressiva semelhante à da q u i n i d m a n o miocárdio, e do blo-
relaxante músculo-esquelético com ação central. Assim como a queio a-adrenérgico. Manifestações anticolinérgicas periféricas
amitriptilina, a ciclobenzaprina (1) causa sedação, (2) produz adicionais incluem redução dos sons intestinais, retenção uriná-
bloqueio colinérgico central e periférico e (3) potencializa as ria, r u b o r da pele, visão turva e boca seca.
ações adrenérgicas. Na twerdo.se, a ciclobenzaprina pode causar Os sintomas cardiovasculares, d o S N C e anticolinérgicos da
u m a toxíndrome anticolinérgica típica e arritmias cardíacas, hipo- toxicidade da fenotiazina são semelhantes, mas geralmente muito
tensão e coma. Entretanto, a overdose de ciclobenzaprina n ã o é menos graves do q u e aqueles para os antidepressivos tricíclicos.
tão freqüente n e m tão letal como a ouerdose de amitriptilina. As fenotiazinas são relativamente seguras e poucas mortes ocor-
reram q u a n d o doses tóxicas foram ingeridas isoladamente.
Metodologia Analítica Ocorre u m a toxicidade m u i t o mais grave q u a n d o as fenotizaninas
Os antidepressivos tricíclicos são quantificados n o soro por são co-ingeridas com fármacos antidepressivos tricíclicos ou
métodos croma to gráficos (mais c o m u m e n t e HPLC) ou por imu- outros depressivos d o SNC, como o etanol, opióides, barbitúri-
noensaio. Estes imunoensaios t a m b é m p o d e m ser usados para cos ou benzodiazepínicos.
detecção qualitativa ou semi-qualitativa dos antidepressivos tricí- A terapia para fenotiazinas geralmente é de apoio e seme-
clicos, que é útil para propósitos de triagem. Os imunoensaios lhante àquela para overdose de antidepressivos tricíclicos. Devido
são rápidos e relativamente fáceis de realizar, mas p o d e m estar ao grande volume de distribuição e à extensa ligação à proteína,
sujeitos a interferência por outros fármacos, como a clorproma- a hemodiálise e a h e m o p e r f u s ã o não são benéficas para a overdose
zina, tioridazina, ciproeptadina, ciclobenzaprina e difenidramina. por fenotiazina.
O s antidepressivos tricíclicos são a d e q u a d a m e n t e detectados na
urina, usando-se u m kit comercial de T L C e por meio de imuno- Metodologia Analítica
ensaio com o u r o coloidal. Nos casos de overdose, a identificação A correlação entre dose, concentração sérica e efeito farmacoló-
qualitativa (soro ou urina) é suficiente porque a gravidade da gico das fenotiazinas é precária. C o n s e q ü e n t e m e n t e , n ã o se jus-
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 587

cfn
Séries Alifá ricas Séries de Piperazina Séries de Pipeiidina

y^v
!
"NT ^ "R C O "N'
N" ^ ^R,
ct"I 1 "N ^ -R-J
I I
CH2-CH2-CH2-N(CH3)2 ch 2 -ch 2 -ch 2 -n :n—r,

Nome R, Nome R, Nomtí

-(-[ Promazina —Cl —ch3 Proclorperazina -(CH2)2 {/ -SCH3 Tioridazma

-Cl Clorpromazina —CF 3 CH i Trifluoperazina HiC


O
-CF 3 Trifklproiriazma —Cl (CH2)2OH Perfenazina "(CH2)2 &' Mesoridaiina
\ /
N ' CH,
-CF^ (CH2)2OH Flufenazina H.í
O
$
-C (CH2)2OH Acetofenazina —CH, C Piperacetazina
CH, Ah, . CH,
f l U-N ^ (CH2)2OH
\ /

Figura 31-8 Estrutura químíca de fenotiazinas representativas.

tifica seu monitoramento terapêutico ou quantificação sérica em psicose tóxica, (4) delírio e (5) convulsões. A toxíndrome antico-
casos de overdose. A detecção qualitativa das fenotiazinas ou de linérgica inclui (1) boca seca, (2) pele seca ruborizada, (3) reten-
seus metabólitos na urina é suficiente para documentar a inges- ção urinária, (4) taquicardia sinusal, (5) pupilas dilatadas, (6)
tão para pacientes sintomáticos. Métodos adequados de detecção visão turva e (7) febre. A morte pode ocorrer devido à depressão
incluem TLC. A capacidade para também detectar outros fárma- respiratória ou ao colapso cardiovascular.
cos co-ingeridos, como os opióides, antidepressivos tricíclicos, O tratamento para overdose do antagonista de H j em geral é
barbitúricos e benzodiazepínicos, é importante para alertar o de suporte (p. ex., lavagem gástrica e carvão ativado). A hemodi-
médico sobre o potencial aumentado para toxicidade grave álise ou hemoperfusão não é eficaz porque estes fármacos têm
devido à ingestão combinada destes. um grande volume de distribuição e são altamente ligados à
proteína.
Anti-histamínicos Em geral, os anti-histamínicos são relativamente seguros.
A histamina liberada dos mastócitos desempenha u m papel fisio- Entretanto, suas ações depressoras do SNC são aumentadas por
lógico importante nas respostas imediatas de hipersensibilidade co-ingestão de etanol, fármacos sedativo-hipnóticos e opióides.
e alérgicas. Além disso, a histamina funciona como um neuro- Além disso, suas ações anticolinérgicas são potencializadas pela
transmissor no SNC e é um estímulo potente para a secreção de co-ingestão de antidepressivos tricíclicos e fenotiazinas. Portanto,
ácido gástrico. a detecção de qualquer um destes fármacos em combinação em
Os fármacos anti-histamínicos (Figura 31-9) são classificados um exame de triagem da urina, alerta o médico para uma into-
como antagonistas H] e H 2 , com base em seu pimcipal local de xicação potencialmente mais grave.
ligação ao receptor. As ações terapêuticas dos antagonistas H]
incluem (1) relaxamento do músculo liso, (2) redução das secre- Metodologia Analítica
ções brônquicas, (3) redução da resposta alérgica e (4) sedação. Os anti-histamínicos estão presentes nas formas vendidas com e
Eles são, portanto, usados (1) para tratar reações imediatas de sem prescrição, sozinhas ou em combinação com analgésicos,
hipersensibilidade, (2) como medicamentos para gripe, (3) para como o ácido acetilsalicílico e o paracetamol. Em casos de over-
suprimir cinetose e (4) para sedação (antagonistas H t de segunda dose, o exame de triagem da urina que detecta salicilato, parace^
geração [p. ex., fexofenadina] não penetram a barreira hematoen- tamol e os anti-histamínicos é útil, especialmente quando a fonte
cefálica e, portanto, não causam sedação). Os antagonistas de de intoxicação é desconhecida. A detecção de qualquer destes
são amplamente usados para tratar úlcera péptica. Os antagonis- analgésicos na urina de um paciente sintomático deve levar à sua
tas H 2 são cimetidina (Tagamet), ranitidina (Zantac), famotidma quantificação no soro para avaliar seu potencial de toxicidade.
(Pepcid) e nizatidina (Axid). A quantificação dos anti-histamínicos no soro não é útil porque
há uma correlação precária entre dose, concentração do fármaco
Resposta Farmacológica e Toxicidade e grau de toxicidade.
As principais manifestações de overdose causada por antagonistas
H] são depressão ou estimulação do SNC e sintomas anticolmér- DROGAS DE USO ABUSIVO
gicos. Os sintomas de depressão do SNC incluem (1) sedação, Agências governamentais, industriais, educacionais e de esportes
(2) sonolência, (3) a taxi a e (4) coma. A estimulação do SNC, mais estão exigindo, cada vez mais, exames para detecção de drogas de
comum em crianças, resulta em (1) excitação, (2) alucinações, (3) uso abusivo nos futuros e nos já existentes empregados, estudan-
588 PARTE IV Analitos

O exame de urina para detecção de drogas também não deter-


CH 2 -CH 2 -NH 2 mina (1) grau de deficiência, (2) dose administrada da droga ou
(3) momento exato do uso, Muitas destas questões foram descri-
tas em detalhes na Arnold O. Beckman Conference, 3 em 1987,
e em um relato do Committee on Substance Abuse Testing. 7

(i
Grupo Etanoííimina Grupo Alcittírmna Devido a estas e outras limitações do teste para detecção de
drogas na urina, há um ciescente interesse pelo uso de amostras
1 biológicas alternativas para exame de fármaco (veja adiante, no
Cap. 45).
o Os resultados do exame para detecção de fármacos com obje-
L CH,
i„s
tivos não-clínicos podem ser a única evidência para ação punitiva
ou negação de direitos individuais. Portanto, este teste deve ser

I A TU,
considerado uma atividade toxicológica judicial, e requer os mais
altos padrões de metodologia analítica, segurança da amostra e
11,c' Cloríeniraraina
documentação. Além disso, os laboratórios envolvidos neste teste
Difenidramina
devem ser apropriadamente certificados pela Substance Abuse
and Mental Health Service Administration (SAMHSA)* do U.S.
Grupo Fdiiutiajimi Grupo Píperaz'na Department of Health and Human Services (DHHS) ou o pro-
y V ,/*** v ,y^'\ .Cl grama Forensic Urine Drug Testing, patrocinado conjuntamente

"V O X r pela American Association for Clinicai Chemistry e o College of


Ameiican Pathologists.
I Um esquema de coleta bem rigoroso é usado para obter
CH2
amostras para teste de detecção de drogas de uso abusivo. Neste

u
Xflu esquema, várias técnicas são usadas durante a coleta de amostra
H,C' ~N
I de urina ou subseqüentemente no laboratório, para defender-se
CH3
Prometazina
Ah, contra tentativas do doador de alterar a amostia de maneira que
Clordclizina possa evitar a detecção da droga. Estas táticas incluem a troca da
urina sem drogas de um indivíduo ou diluição da amostra para
Grupo Elilenediamina Grupo PiperííJjTUi limites abaixo do corte (1) com adição de água da torneira ou do
vaso sanitário à amostra, (2) pelo consumo excessivo de água pelo
X CH- OH
doador ou (3) pelo uso de um diurético pelo doador. Atém disso,
ff | \X = //
adulterantes imediatamente disponíveis, como detergente, água
r " 1 sanitária, sal, álcalis, amónia ou ácido, têm sido adicionados à

c ;i j
amostra em uma tentativa de interferir nos procedimentos de
triagem do imunoensaio. Outros adulterantes sofisticados espe-
N' ^N" ÇIU cificamente comercializados para evitar detecção de drogas
incluem o glutaialdeído {Urine Aid; Clear Choice), nitrito (Klear,
ÍH: CHr
Whizzies), cromato (Urine Luck; Sweet Pee's Spoiler) e uma
Íh,
r. combinação de peróxido e peroxidase (Stealth). Estes adulteran-
£

tes interferem nos imunoensaios em graus variáveis e os agentes


H 3 C ^CH3 Hü ^
oxidantes (nitrito, cromato e peróxido/peroxidase) podem resul-
Piíílaminí)
C(CH3)2COOH tar em destruição da morfina, codeína e o principal metabólito
resultante do uso de maconha, interferindo assim na confirma-
Fexofenadina
ção por GC-MS, bem como por imunoensaios.
Figura 31-9 E s t r u t u r a q u í m i c a da h i s t a m i n a e H , antagonistas d e A observação direta da coleta de urina é o meio mais rigoroso
representativos. para proteger contra troca ou adulteração de amostra. Entre-
tanto, o direito do indivíduo à privacidade e dignidade tem de
ser avaliado ante à necessidade do mais alto grau de certeza da
integridade da amostra. Medidas alternativas para evitar adulte-
tes e participantes de esportes profissionais e amadores. O uso ração da amostra incluem (1) limitação das roupas e outros
abusivo de drogas durante a gravidez também é de interesse, pertences pessoais permitidos na área de coleta da amostra, (2)
tanto clínico como social. Além disso, o exame para detecção de adição de agente corante na água do vaso e (3) inativação da água
drogas de uso abusivo também é uma exigência médica para (1) quente da torneira. Além disso, inúmeras verificações de validade
candidatos a transplantes de órgãos, (2) clínicas de tratamento da para a integridade da amostra podem ser realizadas no local da
dor, (3) programas de tratamento para uso abusivo de drogas e (4) coleta e no local do exame. Os critérios para o exame de validade
programas psiquiátricos. O teste para detecção de drogas com este (p. ex., pH, concentração de creatinina, gravidade específica e
propósito representa uma atividade significativa para a toxicologia presença de adulterantes) foram estabelecidos pela D H H S para
e laboratórios clínicos. o programa de teste de drogas exigido para os empregados fede-
O teste de detecção de drogas de uso abusivo em geral rais dos EUA.12
envolve o exame de uma única amostra de urina paia inúmeias
drogas. Deve-se salientar, contudo, que um único exame de
urina detecta apenas o uso bem recente da droga; ele não dife-
rencia o uso casual do uso crônico abusivo. Este último requer
teste para a detecção de drogas e avaliação clínica seqüenciais. *Ancigo National Institute on Drug Abuse (NIDA).
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 589

A urina deve ser coletada em vasilhames à prova de alterações, de u m teste alternativo, mais definitivo. O método mais ampla-
e uma cadeia de custódia deve ser mantida para identificar todos mente aceito para confirmação da droga é o GC-MS. Para discus-
os indivíduos envolvidos na coleta, transferência e teste da amostra. são mais detalhada desta técnica, leia o Capítulo 8. A cromato-
As amostras que apresentam resultado positivo devem ser manti- grafia liquida-espectrometria de massa em tandem (LC-MS) também
das congeladas por um período mínimo de 1 ano. Informações é usada para detecção rápida de drogas de uso abusivo.
detalhadas sobre a coleta e o processamento das amostras para Para confirmação, as mensurações quantitativas da droga são
teste de drogas foram descritas nas regras federais para teste de realizadas com uso de monitoramento iônico selecionado com
drogas em empregados12,1"5 e nos regulamentos federais promulga- GC-MS. Os valores de corte para confirmação, são estabelecidos
dos pela DOT 1 e a Nuclear Regulatory Commission. 4 nos valores de corte para os testes de triagem iniciais ou geral-
O teste de detecção de drogas no local de trabalho geralmente mente abaixo deles (Tabela 31-5; veja também Tabela 31-6 para
é restrito ao álcool e a algumas drogas que têm um potencial alto valores de corte atualmente propostos). O resultado pode ser
de abuso, sendo que algumas destas são usadas de maneira ilícita. relatado como positivo ou negativo com relação ao valor de corte.
Dependendo da natureza do programa de exames, isto pode Entretanto, a verdadeira concentração pode ser útil quando da
envolver testes para um número selecionado de drogas e classes interpretação dos resultados para morfina e codeína e quando
de drogas (Quadro 31-1) n do monitoramento de indivíduos inscritos nos programas de
Programas de testes para participantes envolvidos em compe- tratamento de drogas. Neste último caso, os indivíduos que apre-
tições desportivas são tipicamente mais extensos e incluem ensaios sentam resultado de teste positivo, mas que têm valores decres-
para um grupo maior de drogas, abrangendo estimulantes, (3-blo- centes no teste seqüencial, podem ser julgados abstinentes,
queadores, diuréticos e esteróides anabóhcos. Uma lista das drogas enquanto aqueles cujos valores aumentam subitamente provavel-
ilegais incluídas nos programas de testes do International Olympic mente são pessoas que não aderiram ao programa. Por esta razão,
Committee (IOC) é encontrada na página da web do Canadian é essencial normalizar a concentração da droga para uma concen-
Center for Ethics in Spoíts (http://www.cces.ca/). A lista de
drogas proibidas pela National Collegiate Athletic Association
(NCAA) é encontrada ao se pesquisar "banned drugs" (drogas
ilícitas) no tvebsite da NCAA (http://www.ncaa.org).
TABELA 31-5 C o n c e n t r a ç õ e s de C o r t e para D e t e c ç ã o d e
Os testes de triagem iniciais para as drogas anteriormente
D r o g a D e t e r m i n a d a s pelo G o v e r n o dos E U A
listadas tipicamente são os imunoensaios. Estes ensaios são
calibrados a concentrações de corte estabelecidas. As amostras Draga ou Classe IMUNOENSAIO fna/mU GC-MS (ng/mLl
que produzem respostas maiores que o valor de corte (limiar) são de Droga HHS/DOT DOD HHS/DOT DOD
consideradas positivas, enquanto os valores abaixo do corte são
Aníetaminas 1.000 500
considerados negativos. Os valores de corte não são sinônimos
Anfetamina 500 500
de limites de detecção do ensaio. Em vez disso, o corte é estabe-
Metanfetamina 500* 500*f
lecido em valor maior do que o limite de detecção (para assegurar
MDA 500
mensuração confiável), mas baixo o suficiente para detectar o uso
MDMA 500
da droga dentro de um intervalo de tempo razoável.
MDEA 500
Os imunoensaios podem não ser específicos para a droga
Barbitúricos 200
testada. Drogas semelhantes podem resultar em teste positivo;
Amobarbíta! 200
p.ex., pseudo-efedrina, presente em medicações para resfriados,
Butalbital 200
pode produzir uma resposta positiva em imunoensaios designa-
Pentobarbital 200
dos para detectar anfetamina e metanfetamma. Portanto, a con-
Secobarbital 200
firmação dos testes de triagem positivos é fundamental, por meio
Canabinóides 50 50
THC-COOH 15 15
QUADRO 31-1 Drogas ou Classes de Drogas que são Metabólitos da cocaína 300 150
Medidas em Programas de Testes de Benzoilecgonina 150 100
Detecção de Drogas no Ambiente de Trabalho LSD 0,5 0,2
Opiáceos 2.000 2.000
"NIDA 5"* Morfina 2.000 4.000
Anfetamina/melanfetamina Codeína 2.000 2.000
Canabinóides 10 10
6-Acetiimoríina
Cocaína
PCP 25 25 25 25
Opiáceos
Fenciclidina (PCP) Dados de Fe d Reg 19S8,53.]1963-, Fed Reg 1994; 59 '-29908-81, Fed Reg
1997;62-5] 118-20, living}. Drag testing in the militaryTechnical and legal problems.
Clin Chem 1988,34.637-40; Li ti R H . E i a lua ti on ofcommon imniuno assay kits for
OUTROS
efjective workplace drug testing. Jn: Líw RH, Goidberger BA, eis. i lanãbooK. of
• Benzodiazepínicos
workplace dvug teSzing. Washington, DC: A A C C Press, 1995: 70; Newberry RJ. Drug
• Barbitúricos
imnahsi* testing íeueís. Department of Defense Memozandum, 1997.
• LSD
G C - M S . Cromatografia gasosíi-espectrometria de massa; H H S , Department of Health
• Metilenedioxianfetamina {MDA)
and Human Services; D O T , Department of Transportation; D O D , Department of
• Metilenedioximetanfetamina (MDMA)
Defense-, M D A , meálenediaxian/eMminn, M D M A , meíifene-iioximetanfeMmítia; MDEA.
• Metílenedioxietilanfetamina (MDEA)
m^iilenedionietilanfetainina; P C P , fenciclidina; L S D , díetíiamida do ácido iísérgico, T H O
• Metadona C O O H , ácido }l-nciT-A9-t£íTaidrocanabinol-9-carboxilico.
• Propoxifeno * Também requer presença Ae an/e ta mi na (>20Ü ng/mL),

'Este painel também é usado em muitos outros programas de testes, e d - '> • i •CL' U\I: 'Requer análise qwiial; S(-> j-metan/etamina > 20% do J ViL

ãüsemínaiio, ê conhecido como "NIDA 5".


590 PARTE IV Analitos

TABELA 31-6 Diretrizes P r e l i m i n a r e s S A M H S A para Valores


Resposta Farmacológica e Toxicidade
As respostas farmacológicas de várias anfetaminas são discutidas
de Cnrte de Ensaio para D e t e c ç ã o de D r o g a s
nesta seção.
Fluidos
Urina Orais Suor Cabeias
Anfetamina e Metanfetamina
ng/mL ng/mL ng/Adesiva pg/mg
Estas drogas são aminas simpatomiméticas que têm um efeito
TESTE INICIAL estimulante nos sistemas nervosos central e periférico. Elas (1)
Metabólito THC3 50 4b 4 1 aumentam a pressão arterial, freqüência cardíaca, temperatura
Metabólito da cocaína 150 20 25 500 corporal e atividade motora; (2) relaxam a musculatura brôn-
Opiáceos 0 2.000 40 25 200 quica; e (3) deprimem o apetite. Seu uso abusivo pode levar a
PCP 25 10 20 300 dependência psíquica forte, tolerância notável e dependência
Anfetaminas 11 500 50 25 500
física branda associada a (1) taquicardia, (2) aumento da pressão
MDMA 500 50 25 500
arterial, (3) inquietação, (4) irritabilidade, (5) insónia, (6) altera-
ções de personalidade e (7) a forma grave de psicose crônica por
TESTE DE C0NFIR
intoxicação, semelhante à esquizofrenia. Estas respostas desagra-
THC precursor 2 1
dáveis reforçam o uso repetitivo das drogas para manter o "barato".
Metabólito THC 15 0,05
Em casos extremos, os drogaditos podem consumir continua-
Cocaína 500 1
mente (speed runs), quando doses IV são usadas por vários dias,
Benzoilecgonina (GE) 100 8e 25! 50 1
Morfina 2.000 40 25 200
durante os quais eles não dormem nem comem. Isto é seguido,
Codeína 2,000 40 25 200
quando vem a exaustão, de sono prolongado por 1 ou mais dias,
6-AM 10 9 4 25 2D0 após os quais eles acordam famintos mas deprimidos, o que leva
PCP 25 10 20 300 à repetição do ciclo. A tolerância e a dependência psicológica
Anfetamina 250 50 25 300 desenvolvem-se com o uso repetido de anfetaminas. Os efeitos de
Metanfetamina 25tí 50 1 25' 300 k longo prazo podem incluir depressão e prejuízo da memória e das
MDMA 250 50 25 300 habilidades motoras.
MDA 250 50 25 300 A anfetamina e a metanfetamina são moléculas quirais. Seus
MDEA 250 50 25 300 estereoiíômeTOs são designados por sua configuração R,S e / o u por
Diretrizes preliminares do Substance Abuse and Mental Health Se™i«
sua rotação dextrorrotatória (+) ou levorroíatória (-) (p. ex., S(+)-
Adminisiratinn para programa federal de teste para detecção de drogas no ambiente de anfetamina, R(-)-metanfetamina). Os isômeros ópticos da anfe-
trabalho, http.//luorlcf)lace.satnhsa.gov/ResourceCenter/DT/FA/guide!inesDraft4. tamina e metanfetamina exibem propriedades farmacológicas
hcm fAcessado em abril de 2006). estereosseletivas. Por exemplo, a atividade no S N C da S(+)-anfe-
"A^-THCCO O H . tamina é três a quatro vezes maior do que a da R(-)-anfetamina,
6
Precursor e metabólito.
mas este último fármaco tem efeitos cardiovasculares mais poten-
'Teste inicial parti 6-AM permitido com cortes de 10 n g / m L (urina), 4 ng/mL (fluidos
orais), 2 5 ng/adesivo (suor) e 2 0 0 pg/mg (cabelos)
tes do que o primeiro.
J
calibrador S(+)-metajifetamina. Os efeitos no S N C da S(+)-metanfetamina são de cerca de 10
'Cocaína ou BE. vezes maiores do que aqueles da R(-)-metanfetamina, mas este
'Cocaína "> carte e BE/cocaína > 0 , 0 5 ou cocaetikna > 5 0 pg/mg ou notcccaii\a último fármaco tem propriedades vasoconstritoras maiores do
> 5 0 pg/mg. que o primeiro. Devido à atividade mínima do S N C e, portanto,
'Pode ser registrado isoladamínte se testís iniciai,! ou ds confirmação estiverem acima
ao baixo potencial de abuso, R(-)-metanfetamina está incluída
dos cartes.
fc
Tem de conter morfina > 200 pg/mg.
em alguns inalantes nasais isentos de prescrição (p.ex., Vicks) por
'Tem de comer anfetamina > 100 ng/mL. causa de suas propriedades vasoconstritoras.
'Tem de conter anfetamina > limití de detecção (LOD).
'Tem de conter anfetamina > 5 0 pg/mg. Anfetaminas Sintéticas
As chamadas anfetaminas "sintéticas" freqüentemente são usadas
em todas as festas noturnas com dança chamadas raves e em
tração de creatinina urinária (nanogramas de droga por mili- boates. Elas também são conhecidas como cíub drugs (drogas
grama de creatinina). Isto ajudará a compensar as oscilações na usadas em boates).
concentração absoluta da droga com relação à variação fisiológica A M D M A é uma anfetamina sintética e é conhecida como
na diluição ou concentração da urina. ecstasy (Figura 31-10). Outras anfetaminas sintéticas incluem
Nas próximas seções, os aspectos farmacológicos e analíticos M D E A (Eue); MDA, que também é um metabólito de MDMA;
das drogas comumente medidas serão discutidos. e 4-bromo-2,5-dimetoxifeniletilamina (Nexus; 2 C-B). A param e-
toxianfetamina (PMA) é uma anfetamina sintética especialmente
Anfetamina, Metanfetamina e Aminas tóxica, que resultou em várias mortes devido à ingestão insuspei-
Simpatomiméticas Relacionadas tadas de um substituto do ecstasy.
A anfetamina e a metanfetamina (Figura 31-10) são drogas estimu- A M D M A tem características estruturais em comum com a
lantes do SNC que têm uso farmacológico legítimo limitado. Por metanfetamina e o agente alucinógeno prototípico, mescalina
exemplo, elas são usadas para tratar narcolepsia, obesidade e trans- (Figura 31-10), que é derivado do cacto peiote. A M D M A tem
tornos de déficit de atenção e hipeiatividade. Entretanto, produ- atividade estimulante do S N C consideravelmente menor, no
zem uma euforia inicial e têm um alto potencial de abuso. Outras entanto, maiores propriedades alucinógenas, se comparadas com
aminas simpatomiméticas que também têm alto potencial para a metanfetamina. A M D M A produz (1) euforia, (2) aumento do
abuso incluem (1) anfetaminas "sintéticas" (p. ex., 3,4-metilenedio- prazer e da sociabilidade e (3) aumento da percepção sensorial.
xietilamfetamina [MDMA], 3,4-metilenedioxianfetamina [MDA]), Os efeitos adversos incluem (1) confusão, (2) ataxia, (3) inquie-
epinefrina, (2) efedrina, (3) pseudo-efedrina, (4) fenilpropanola- tação, (4) concentração pTecária e (5) psicoses. Em doses mais
mina e (5) metilfenidato (Ritalina). altas, ocorrem respostas adrenérgicas central e periférica seme-
r V c H ^ H - •NH—CH 3 Metanfetamina

. CH 3
AVCHJ*-: NH2 Anfetamina

CÍÍ3
/ V
( \—CH2-Í—NH2 Fentermina

ÍH3
CH3
/ — \ Efedr in a/Ps e u d o-efed i i n a *
$ \—CH-ÍH—NH—CH3
\ = / il,

Fenilpropanolamina

Fenilefrina

/~~v_ T3
( > — C H 27 --C
CHH-NH—CH2 Propilexedrina

ÇH 3 ÇH 3
B enzfetamina
^ — C H 2 - Í H - N — ^

CH 3

O A / CH 2 —ÍH NH CH3 Metilenedioximetanfetamma


— J (MDttM

r :,v CH,
Metilenedioxianfetamma
C-4 S—cht-ÍH—NH^ (MDA)

C H
f — \ -

{ V CHÍ^H-NH-CHA-CH, Metilenedioxietilanfe tamil


O
(MDEA)

Y V CH,
CH , 0 — $ \ — C H , - Í H — NH2 Parametoxianfetamina (PMA)

/ V CH 3
Param etoxi me ranfetam ina
CH , 0 — $ \ — C H 22-- ÍCH
H-NH—CH3 (PMMA)

OCH3

H2-CH2-NH2 4-Biomo-2,5-dimetoxifenil-etilamina
(20B)
CH^O
CHiO

cu; —; —CH2-CH2—NH2 Mescalina

/
CH 3 O

Figura 31-10 Estrutura química de aminas simpatomiméticas.


* Efedrina e pseudoefedtina são diastereoisômeros.
592 PARTE IV Analitos

lhantes àquelas descritas para anfetamina/metanfetamina. As cantes. Antes desta retirada, a PPA era outro primeiro produto
conseqüências de longo prazo do uso abusivo incluem (1) altera- popular para síntese de S( + )-metanfetamina. A PPA também é
ções no humor, (2) distúrbio do sono, (3) ansiedade e (4) defici- um metabólito da efedrina e pseudo-efedrina.
ência da memória e da cognição. Devido à sua popularidade, ao
potencial para abuso, e à toxicidade grave de curto e longo prazos, Metilfenidato
a SAMHSA propôs incluir MDA, M D M A e MDEA no programa O metilfenidato é u m agente simpatomimético com propriedades
federal obrigatório de teste de drogas no local de trabalho.12 psicoestimulantes semelhantes às da S(+)-anfetamina. E ampla-
Na overdose, as manifestações tóxicas da anfetamina, metanfe- mente usado para tratar o transtorno do déficit de atenção com
tamina e M D M A incluem (1) tontura. (2) tremor, (3) irritabili- hiperatividadc (ADHD) cm crianças e adultos. Houve crescente
dade, (4) hipertensão que progride para hipotensão, (.5) diafotese, desvio e uso abusivo de metilfenidato entre adolescentes e adultos
(6) midríase, (7) arritmias cardíacas, (8) rigidez muscular e, se devido às suas supostas propriedades afrodisíacas. Em uma over-
grave, (9) hipertermia, (10) convulsões, (11) coma e (12) hemor- dose, os efeitos clínicos do metilfenidato são semelhantes àqueles
ragia cerebral. Agitação, rigidez muscular, hipertermia e diafo- da anfetamina. Relativamente poucos casos de ouerdoíe grave
rese, em combinação, podem levar a desidratação com ameaça à foram relatados.
vida e rabdomiólise com subseqüente acidose lática, insuficiência O metilfenidato é rapidamente metabolizado em ácido ritalí-
Tenal aguda e coagulopatia intravascular disseminada (DIC). A nico (Figura 31-11), que é responsável por 60% a 89% de uma
morte resulta, mais comumente, de hipertermia, disritmias e dose excretada em 24 horas. Menos de 1% da dose é excretada
hemorragia cerebral. Os freqüentadores de boates que ingerem como fármaco precursor.
metanfetamina ou M D M A correm risco aumentado de desidra- A detecção de adesão ao tratamento com metilfenidato ou
tação grave, rabdomiólise e insuficiência renal, como resultado de seu uso abusivo pelo teste de detecção de droga na urina é
de intenso esforço físico, hipertermia e sudorese excessiva. Para problemática. Por exemplo, a detecção da droga precursora fica
protegerem-se destas manifestações tóxicas, estes indivíduos difícil devido à sua concentração geralmente baixa, e o ácido
ingerem grandes quantidades de água, que combinadas com a ritalínico, presente em concentração muito maior, é difícil de ser
perda de sódio no suor e a liberação de A D H aumentada pela extraído e analisado pelas técnicas de GC. O ácido ritalínico foi
droga, especialmente no caso da MDMA, podem resultar em analisado diretamente por L O M S / M S ou por GC-MS após extra-
hiponatremia profunda com potencial para provocar edema cere- ção apropriada e derivação química, incluindo sua metilação para
bral e convulsões. formar metilfenidato novamente.
O tratamento para overdose de amina simpatomimética
envolve medidas gerais de suporte. Metodologia Analítica
O teste inicial de triagem para anfetamina e metanfetamina é
Efedriina e Pseudo-efedrina tipicamente um imunoensaio. Para confirmação de um tesre
Estas aminas são agonistas adrenérgicos diastereoisoméricos. A supostamente positivo, a mensuração quantitativa da droga é
efedrina causa broncodilatação mais proeminente (ação P-adre- realizada usando-se GC-MS.
nérgica) do que a pseudo-efedrina e está presente em alguns
medicamentos sem exigência de prescrição para o tTatamento da Imunoensaio
asma. Muitos suplementos dietéticos contêm efedra, a forma Os imunoensaios para anfetamina e metanfetamina apresentam
fitoterápica da efedrina. Estes produtos foram amplamente reatividades cruzadas variáveis com outras aminas simpatomimé-
comercializados para perda de peso e também são usados por ticas, como (1) efedrina, (2) pseudo-efedrina, feniipropanolamina,
alguns atletas que acreditam no aumento do desempenho. As (3) fentermina, (4) metilenedioxianfetamina (MDA), (5) MDE.A.
pílulas que contêm efedra têm sido vendidas como "ecstasy fito- e (6) M D M A (Figura 31-10). Muitos imunoensaios são menos
terápico" seguro. Os efeitos adversos da efedrina e efedra incluem reativos com MDA, M D M A e MDEA, comparados com anfeta-
(1) pressão arterial elevada, (2) palpitações, (3) agitação, (4) dis- mina e metanfetamina. U m ensaio multiplex foi introduzido e
túrbios psiquiátricos, (5) infarto do miocárdio, (6) convulsões, (7) emprega uma combinação de anticorpos monoclonais separados
hemorragia cerebral e (8) morte. As reações adversas são mais em anfetamina, metanfetamina e MDMA. U m ensaio específico
prováveis com dose alta, quando co-ingerida com cafeína ou para M D M A baseado na tecnologia de imunoensaio de enzima
outros fármacos estimulantes, ou com doença cardiovascular pre- multiplicada também está disponível juntamente com dispositi-
existente ou distúrbios convulsivos. As vendas de efedra são proi- vos para o teste de uso único no local do atendimento. Foram
bidas nos EUA. Ela também é proibida paia competição despor- relatados resultados falsos-positivos, causados pelas drogas feno-
tiva pela National Football League, a N C A A e pelo COI. tiazínicas clorpromazina e prometazina e pelos antimaláricos
A pseudo-efedrina é usada devido às suas propriedades vaso- cloroquina, com uso de alguns imunoensaios. Para aplicação
constritoras (ação a-adrenérgica) como descongestionante nasal
em uma variedade de medicamentos para gripe. Tanto a IR,
lS(-)-efedrina como a lS,lS(+)-pseudo-efedrina são os primeiros
produtos populares para a síntese de S(+)-metanfetamina. Por CH.
este motivo, a quantidade poT aquisição de produtos que contêm T
estas drogas atualmente é restrita. NH O

O
Feniipropanolamina (PPA)
Até recentemente, a PPA estava amplamente disponível em inú- Vv lliO

O
meros medicamentos para gripe isentos de prescrição e produtos
para controle dietético. Os efeitos adversos são semelhantes
àqueles descritos para efedrina. Em resposta a um aviso da FDA Metilfenidato Ácido ritalínico
de aumento do risco de AVC hemorrágico, especialmente em
mulheres, a PPA foi retirada do mercado pela maioria dos fabri- Figura 31-11 Metabolismo do metilfenidato.
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 593

judicial, a confirmação dos resultados positivos de imunoensaios Resposta Farmacológica e Toxicidade


por GC-MS é obrigatória. O L C - M S / M S é aplicável para detec- Os barbitúricos suprimem a atividade neuronal do S N C e, por-
ção direta sensível e especifica de M D M A e MDA na urina. tanto, apresentam propriedades sedativas e hipnóticas. Entre-
A discriminação quiral dos isômeros de metanfetamina pode tanto, devido ao seu alto potencial de abuso, os barbitúricos t ê m
ser necessáiia para distinguir o uso de inalantes nasais isentos de sido amplamente substituídos pelos benzodiazepínicos, q u e são
prescrição [R(-)-metanfetamina] d o uso ilícito de S(+)-metanfeta- mais seguros, para propósitos sedativos e hipnóticos. Entretanto,
mina. Alguns imunoensaios apresentam alta especificidade para eles continuam disponíveis com este objetivo ou em combinação
S(+)-metanfetamina. Entretanto, a mensuração definitiva dos com outros fármacos analgésicos, anti-hipertensivos, antiasmáti-
enantiômeros requer o uso de u m reagente de derivação quiral cos, antiespasmódicos ou antidiuréticos. O fenobarbital é efetivo
para formar diastereoisômeros de R(-) e S(-) metanfetamina, o que como um fármaco anticonvulsivante (Capítulo 30), e barbitúri-
pode ser resolvido usando-se G G M S convencional. O Departa- cos de ação curta e ultracurta (Tabela 31-7) são usados para
m e n t o de Defesa dos E U A exige a resolução quiral dos isômeros anestesia IV. As doses anestésicas de barbitúricos, como o pento-
de metanfetamina. Para o teste ser considerado positivo para uso barbital, t a m b é m são usadas para reduzir pressão intracraniana
ilícito de metanfetamina, S( 4 )-metanfetamina tem de ser maior devido a edema cerebral associado a traumatismo craniano, cirur-
que 2 0 % do conteúdo total de metanfetamina (Tabela 31-5). gia ou isquemia cerebral. Para indução deste coma terapêutico,
Vários fármacos que exigem prescrição são metabolizados em administra-se pentobarbital IV suficiente para se atingir u m a
metanfetamina (e subseqüentemente em anfetamina) ou em anfe- concentração sérica entre 20 e 5 0 |j,g/mL. Portanto, métodos
tamina. Por exemplo, a selegilina (Eldepril), usada para tratar mal analíticos apropriados são necessários para monitorar as concen-
de Parkinson, é metabolizada em R(-)-metanfetamina e R(-)-anfe- trações séricas de pentobarbital nestas circunstâncias. Além disso,
tamina. O (f)-isômero de benzofetamina (Didrex), administrado os barbitúricos c o n t i n u a m a estar sujeitos ao abuso e são u m a
como u m agente anoréxico, também é metabolizado em metanfe- fonte de intoxicação medicamentosa intencional ou, m e n o s
tamina e anfetamina, presumivelmente os S(+)-isômeros. A discri- comurnente, acidental. A mensuração dos barbitúricos comuns
minação quiral para selegilina e benzofetamina descartaria o uso no soro ou na urina ajuda n o diagnóstico e tratamento da into-
ilícito de metanfetamina somente n o caso de selegilina. Entre- xicação por barbitúricos.
tanto, a benzofetamina é um fármaco de escala III (de acordo com A fórmula geral para barbitúricos é dada na Tabela 31-7.
a lei norte-americana de substâncias controladas, Controlleâ Subs- Qualquer m u d a n ç a nos componentes da posição cinco, que
tances Act), de m o d o que seu uso sem prescrição é ilícito. confere u m a u m e n t o da solubilidade lipídica, tipicamente resulta
em (1) a u m e n t o d o início da ação, (2) redução da duração da
ação e (3) a u m e n t o da potência. Além disso, u m a u m e n t o das
Cromatografia Gasosa - Espectrometria de Massa propriedades hidrofóbicas também leva à depuração metabólica
U m resultado de triagem positivo para anfetamina ou metanfe- hepática mais rápida e extensa e, portanto, à redução da elimi-
tamina (ou M D A , M D E A e M D M A ) obtido por imunoensaio é nação urinária de u m fármaco sem alterações.
c o n f i r m a d o por análise por GC-MS de amostra da urina. Deve-se A classificação dos barbitúricos como de "ação ultracurta",
observar q u e ocasionalmente bá relatos de que as amostras que "ação curta", "ação intermediária" e "ação longa" refere-se à
contêm efedrina ou pseudo-efedrina apresentam resultados posi- duração do efeito e n ã o à eliminação da meia-vida. A duração da
tivos para metanfetamina (mas n ã o anfetamina), u m a conse- ação é determinada pela taxa de distribuição para o cérebro e
quência de sua conversão química sob determinadas condições subseqüente redistribuição para outros tecidos.
analíticas. Para se proteger contra u m relato faíso-positivo de As principais manifestações de intoxicação por barbitúricos
metanfetamina devido à presença de efedrina ou pseudo-efe- são depressão cardiovascular e respiratória d o S N C . A intoxica-
drina, os regulamentos da SAMHSA exigem a identificação de ção grave resulta em (1) coma, (2) hipotermia, (3) hipotensão e
metanfetamina (corte, 500 n g / m L ) e de seu metabólito, anfeta- (4) parada cardiorrespiratória.
mina (corte, 200 n g / m L ) . Entretanto, a exigência de anfetamina O tratamento adequado para intoxicação por barbitúricos
maior que ou igual a 200 n g / m L pode n ã o ser atendida em inclui suporte cardiopulmonar geral e medidas que evitem a
alguns casos de ingestão conhecida de metanfetamina, especial- absorção adicional do fármaco e a u m e n t e m a eliminação. A
mente durante as 12 horas iniciais do período pós-dose, levando alcalinização da urina pode aumentar a eliminação dos barbitú-
a resultados falsos-negativos. Para aumentar a taxa de detecção ricos de longa ação (p. ex., fenobarbital e barbital), mas tem pouco
para uso abusivo de anfetamina e metanfetamina, a S A M H S A efeito nos barbitúricos de ações intermediária, curta ou ultracurta.
propôs 1 2 u m a redução do corte da triagem e da confirmação a Embora a alcalinização da urina possa aumentar a eliminação d o
partir de 1.000 n g / m L e 500 n g / m L para 500 n g / m L e 250 fenobarbital, ela é consideravelmente menos efetiva d o que o
n g / m L , respectivamente. A metanfetamina iria requerer a pre- processo chamado de diálise GI, que é mediada pela administra-
sença de pelo me n o s 100 n g / m L de metabólito de anfetamina ção oral repetida de carvão ativado (carvão ativado de múltiplas
para u m resultado positivo (Tabela 31-6). doses, MDAC).
Os barbitúricos passam por metabolismo hepático extenso
n o qual os substituintes C 5 são transformados em álcoois, fenóis,
Barbitúricos cetonas ou ácidos carboxílicos. Estes metabólitos p o d e m ser
Os barbitúricos apresentam u m índice terapêutico baixo e u m excretados na urina, em parte como conjugados de glicuronidas.
potencial de abuso relativamente alto. Devido ao seu início Para alguns barbitúricos (amobarbital e fenobarbital), a N-glico-
rápido e à duração cuTta da ação, os barbitúricos de ação curta silação é uma transformação metabólica adicional importante
ou intermediária são usados como sedativo-hipnóticos (amobar- (Figura 31-12). C o m o resultado, apenas u m a quantidade relativa-
bital, butabarbital, butalbital, pentobarbital e secobarbital) e são mente pequena de uma dose de barbitúrico administrada é excre-
aqueles de uso abusivo mais c o m u m . Os barbitúricos de ação tada na urina como fármaco precursor; exceções notáveis são o
mais longa (mefobarbital e fenobarbital), usados p r i m a r i a m e n t e fenobarbital e aprobarbital (Tabela 31-8). Entretanto, os fármacos
por suas propriedades anticonvulsivantes, raramente são usados precursores, e n ã o os metabólitos hidróxi ou do ácido carboxí-
de m o d o abusivo. lico, são alvo para detecção nos procedimentos de triagem na
594 PARTE IV Analitos

T A B E L A 31-7 Característi cas d o s B a r b i t ú r i c o s

R{ \
Duração Meia- Concentração Concentração % % Excretada
da Ação vida Terapêutica Tóxica Ligação n a Urina s e m
Barbitúrico (h) <h) (|ig/mL) (ug/mL) à Proteína Alterações FLI

A Ç Ã O ULTRACURTA
Tiopental* 0,5 6-7 1 - 5 (hipnótica) >10 75-90 0,3 7,6 —CH2CH3 —CHCH2CH2CH3
7-130 1
{anestesia) CH a

AÇÃO CURTA

Butalbital 3-4 34-42 — — 26 3 7,9 —CH2CH=CH2 —CH2CH(CH3)2

Pentobarbital 3-4 15-30 1-5 >10 65 1 7,9 —CH2CH3 —CHCHJCHJCHG


|
1
CHA

SecobarbitaJ 3-4 19-34 1-2 >5 46-70 5 7,9 —CH2CH=CH2 —CHCH2CH2CHA


11

CH 3

AÇÃO INTERMEDIÁRIA
Amobarbital 6-8 8-42 1-5 >10 59 1-3 7,9 —CH2CH3 —CH2CH2CH(CH3)2

Aprobarbital 6-8 14-34 — — 55-70 13-24 8,1 —CH2CH=CHZ —CH(CH3)2

Butabarbital 6-8 34-42 — — 26 5-9 7,9 —CH2CH3 —CHCH2CH3


11

CH 3

A Ç Ã O LONGA
Pheno-barbital 10-12 40-140 15-40 >65 45-50 25-33 7,2 —CH2CH3 C6H5

Dados de Baseie R C . Dispasition of toxic drugs a n d chemicah in rrum, 7th ed. Foster City, G A : Biomedical Publieatioiu, 2 0 0 4 ; Tietz N W , ed C l i n i c a i guíde to laboratary testes,
Pfiiladelphia: WB SaundfTs Co, 1995; e Physicians desk reference, 56th ed. Montvale, NJ: Medicai Hconomics, 2 0 0 2 .
*Oxigênio n a posição 2 é substituído por enxofre

urina e de confirmação. Esta abordagem analítica em geral é


bem-sucedida para os barbitúricos, porque estes fármacos são
ingeridos em doses suficientemente altas para possibilitar a detec-
H A .Glicose
ção de u m fármaco não-metabolizado na urina. Y

Metodologia Analítica <r "x -o O" V


/ \
"'O
Para detectar overdose, imunoensaios semiquantitativos adequados H 5 c/ CH2CH2CH(CH,)2 H5CJ 'CH2CH2CH(CH3)2

para detecção de barbitúricos n o soro estão disponíveis e são úteis Amobarhita] N-Glicosil
para este propósito. A G C capilar também é útil para este propó-
amobarbital
sito. A overdose de barbitúricos t a m b é m é detectada na urina por
meio do uso de u m kit comercial de T L C ou por imunoensaio. O
Para detectar uso abusivo de barbitúricos por meio da análise
de amostras de urina, imunoensaio ou GC-MS são os métodos de %-V"
escolha para triagem e confirmação, respectivamente.
N JL .-h N
CT X
H
1
s c /
x :
'CH2CH2C(CH3)2
Imunoensaio
A OH
Todos os imunoensaios comerciais para barbitúricos usam seco- cr x ^
barbital como o calibrador em concentração de corte de 200 ou V-Hid-roxiamobarbiTa]
H5C2' CH3CH3CH—COOH
300 n g / m L . O grau de reatividade cruzada de outros barbitúricos CH3
varia com cada ensaio. O período de detecção na urina após a 3'-Carboxiamobarbital
ingestão de barbitúricos varia u m pouco com os diferentes
ensaios, e depende das propriedades farmacológicas dos fárma- Figura 3 1 - 1 2 Metabolismo de amobarbital.
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 595

cos. Os barbitúricos de ação curta a intermediária em geral Benzodiazepínicos


p o d e m ser detectados por 1 a 4 dias após o uso; os barbitúricos Os benzodiazepínicos são u m grupo de compostos que têm u m a
de longa ação, como o fenobarbital, p o d e m ser detectados estrutura molecular em c o m u m e que agem de maneira seme-
durante várias semanas após o uso crônico. lhante à dos depressores d o SNC.

Confirmação por GC-MS Resposta Farmacológica e Toxicidade


Hm u m m é t o d o de GC-MS, a amostra de urina que apresenta Os benzodiazepínicos têm propriedades (1) ansiolíticas, (2) seda-
resultado positivo para barbitúricos por meio de imunoensaio é tivo-hipnóricas, (3) de relaxamento muscular e (4) anticonvulsi-
extraída (líquido-líquido); o extrato é seco e depois tratado com vantes. Eles são fármacos amplamente prescritos devido (1) à sua
N,N-dimetilformamida dimetilacetal para formar derivados bar- eficácia, (2) segurança, (3) ao seu baixo potencial de drogadição,
bitúricos metilados. Após o tampão ser adicionado, os barbitúri- (4) aos efeitos colaterais mínimos e (5) à d e m a n d a pública alta
cos metilados são extraídos com hexano e são então analisados, para agentes sedativos e ansiolíticos. Em grande medida, eles
j u n t a m e n t e com padrões internos deuterados, por GC-MS por substituíram os barbitúricos para uso sedativo-hipnótico. O s ben-
m o n i t o r a m e n t o com ion-seletivo. zodiazepínicos aprovados para uso nos EUA estão listados na
Tabela 31-9. Qualitativamente, eles todos têm efeitos farmacoló-
gicos semelhantes. Aplicações clínicas específicas são amplamente
determinadas por diferenças n o início e na duração da ação e
por diferenças quantitativas em seus efeitos clínicos. U m m e m b r o
desta classe, o alprazolam, tem sido usado para o t r a t a m e n t o da
TABELA 3 1 - 8 Excreção Urinária de Barbitúricos e
depressão. O u t r o benzodiazepínico, o flunitrazepam (Figura 31-
Metabólitos
13), está aprovado para uso em muitos países, mas não n o s EUA.
P O R C E N T A G E M O E D O S E ÚNICA- EXCRETADA NA U R I N A Entretanto, ele entrou nos EUA ilegalmente (especialmente n o
Derivados Derivados Ácidas Texas e na Florida) e tem sido vendido ilegalmente para a comu-
Barbitúricos Precursor Hidróxi Jtf-glicosil Carboxilicos nidade que faz uso abusivo de drogas. Além disso, devido à sua
Amobarbital 1-3 30-50 29 5
potente ação sedativo-bipnótica, especialmente em combinação
Aprobarbital 8-18 com álcool, e à sua capacidade para induzir amnésia de curto
Butabarhital 5-9 2-3 24-34 prazo, ele ganhou notoriedade como a pílula do "encontro com
Butalbital* 3 60 estupro" (dãte rape
Pentobarbital 1 88 Os benzodiazepínicos sofrem oxidação hepática e conjugação,
Fenobarbital 25-33 18-19 24-30 f r e q ü e n t e m e n t e f o r m a n d o metabólitos com atividade farmacoló-
Secobarbital 5 50 gica (Figuras 31-13 a 31-17). Vários benzodiazepínicos são meta-
De Baselt RC. Dispositíon of toxic drwgs ünc! chímiailí in ituxti, 7lh ed. Foster City,
bolizados em oxazepam, que é então excretado como glicuronida
CA: Biomédica! Publications, 2 0 0 4 .
inativa. Outros são inativados por glicuronidação como a única
*Em cães; excreção em seres humanos é desconhecida. (lorazepam) ou mais i m p o r t a n t e (temazepam) transformação
metabólica. Em alguns casos, as transformações metabólicas
ocorrem antes de o fármaco atingir concentrações significativas

TABELA 31 - 9 Características dos Benzodiazepínicos


Composto Usos Terapêuticos fi/z (h) Metabólito Urinário Principal

Alprazolam Ansiedade; depressão 8-14 a - h i d r ó x i glicuronida


Clordiazepóxido Ansiedade; abstinência de álcool; 6 - 2 7 ; metabólitos ativos Glicuronida do oxazepam
medicamento pré-anestésico
Clorazepato Ansiedade, distúrbios convulsivos 2 (pró-farmaco)*; metabólito ativo Glicuronida do oxazepam
Diazepam Ansiedade; estado epilético, relaxamento 30-56 Glicuronida do oxazepam
muscular; medicamento pré-anestésico Glicuronida do temazepam
Lorazepam Ansiedade; medicamento pré-anesiésicc 8-25 Glicuronida do lorazepam
Oxazepam Ansiedade 5-15 Glicuronida do oxazepam
Estazolam Insónia 10-24 4-hidróxi giicuronida
Flurazepam 1 Insónia 2 - 3 ; metabólito ativo, 5 0 - 1 0 0 A^-tiidróxi etil glicuronida
Quazepam Insónia 6-10 2-oxo-3-hidróxi glicuronida
Temazepam Insónia 5-17 Glicuronida do temazepam
Triazolam Insónia 2-3 a - h i d r ó x i glicuronida
Clonazepam Distúrbios convulsivos 20-60 Conjugados 7 - a m i n o - 3 - h i d r ó x i
Midazolam Medicamentos pré-anestésico e 1-4 a - t i i d r ó x i glicuronida
intra-operatórios

Dados de Baselt RC. Disfosítion of toxic drtígs and íJiemicata in man, 71*1 ed. Foster City, CA: Biomédica! Publica tio ris, 2 0 0 4 ; Cftaríiej DS, M i c W SJ, Harris RA. H ^ n o t i c s
and íedatiues. ín: H a r d m a n JG, Limbird Lí, Gilman A G , eds. Goodman a n d G í l m a n s The píiamiacolrigícal Ijosís of therapeutícs, 10 ' ed. New York: McGraw-Hítl, 2 0 0 ] :
399427.
* Convertido era nordiaíáfam peh H C ! gástrico.
M e t a b ó l i t o ativo, N-desal^uiIfliiTUzepam.
596 PARTE IV Analitas

na circulação sistêmica. Por exemplo, o clorazepato é descarboxi- utilizar o flumazenil pode evitar a necessidade de intubação e
lado em nordiazepam pelo ácido estomacal, e o flurazepam e assistência ventilatória. Além disso, uma dose-teste do flumazenil
prazepam são convertidos a metabólitos ativos por metabolismo pode ajudar no diagnóstico de overdose por benzodiazepinico e
hepático de primeira-passagem. possivelmente evitar outros procedimentos, como u m exame de
Pode-se desenvolver algum grau de tolerância e dependência tomografia computadorizada. O flumazenil não é detectado por
física após uso prolongado de benzodiazepínicos. Uma síndrome imunoensaios para benzodiazepínicos.
de abstinência semelhante àquela para os barbitúricos e álcool
pode ser observada, mas em geral é menos grave, menos fre- Metodologia Analítica
qüente e nãn tãn prolongada. Estes sintomas podem incluir (1) Os benzodiazepínicos podem ser identificados e quantificados no
ansiedade, (2) apreensão, (3) tremores, (4) fraqueza muscular, (5) soro, geralmente por HPLC, mas estas informações quantitativas
anorexia, (6) náuseas, (7) vômitos, (8) tontura, (9) hipertermia e não são justificadas em casos de overdose por benzodiazepínicos,
(10) convulsões. porque as concentrações séricas não indicam gravidade de into-
Apesar de seu uso disseminado, o uso abusivo de benzodia- xicação. Entretanto, uma triagem com imunoensaio da urina ou
zepínicos é relativamente baixo e tem mais probabilidade de soro para benzodiazepínicos pode ser valiosa para avaliar os
ocorrer em indivíduos que fazem uso abusivo de outras drogas pacientes com uma causa desconhecida de depressão do SNC.
ou de álcool. Entretanto, como resultado de seu uso dissemi- Para detectar uso abusivo, o teste de triagem inicial para
nado, a intoxicação por benzodiazepínicos não é incomum. A benzodiazepínicos tipicamente é um imunoensaio. Para confir-
toxicidade do benzodiazepinico no S N C geralmente é de branda mação de um teste positivo presumido, uma mensuração quan-
a moderada e pode manifestar-se como (1) sonolência, (2) fala titativa do fármaco é realizada usando-se GC-MS.
ininteligível, (3) ataxia e, (4) ocasionalmente, coma. Efeitos tóxicos
mais gTaves que causam depressão respiratória ou comprometi- Imunoensaio
mento cardiovascular são infrequentes e poucas mortes docu- Vários sistemas de imunoensaios comerciais estão disponíveis
mentadas foram atribuídas à intoxicação por benzodiazepínicos para a detecção de uma ampla variedade de benzodiazepínicos e
isoladamente. metabólitos. Estes imunoensaios diferem em sua capacidade de
O tratamento para intoxicação por benzodiazepínicos é de detectar os vários benzodiazepínicos, seus metabólitos e conjuga-
suporte; o auxílio respiratório geralmente é necessário apenas dos de glicuronida. Para a maioria dos ensaios, a resposta para
quando os benzodiazepínicos são co-ingeridos com outros depres- vários benzodiazepínicos é aumentada por hidrólise anterior da
sores do SNC, como o álcool. Devido à ligação extensa à proteína urina com P-glicuronidase. A hidrólise é mais importante para
(85% a 95%) e a um grande volume de distribuição (1 a 3 L/kg), garantir a detecção de oxazepam, temazepam, nordiazepam e
a hemodiálise ou a hemoperfusão não são efetivas. O flumazenil, lorazepam. Os métodos foram adaptados para hidrólise em
um antagonista benzodiazepinico, melhora rapidamente a condi- tempo real automatizada. O tempo de detecção na urina após
ção clínica cm casos de overdose de benzodiazepínicos mas prova- uso de benzodiazepinico é extremamente variável e depende de
velmente não é necessário na maioria dos casos. Em casos de vários fatores, incluindo (1) sistema de imunoensaio, (2) inclusão
coma secundário por overdose devida a múltiplos fármacos, não de hidrólise de glicuronidase, (3) benzodiazepinico ingerido, (4)

Figura 31-13 Transformação metabólica de flunitrazepam.


*Não aprovado para uso nos EUA. t Principal metabólito na urina.
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 597

H dose e (5) duração de uso do fármaco. Os benzodiazepínicos de


Y.
x x ;>
CHT Kl!- longa ação (diazepam, clordiazepóxido e clorazepato) são admi-
NU. - N^_/ nistrados em doses relativamente grandes e podem ser detectados
Y \ durante vários dias até semanas ou m e s m o meses após o uso
crônico. Os benzodiazepínicos de curta ação (alprazolam e tria-

/ v
Cl-"' zolam) são usados em doses mais baixas e poderiam ser detecta-
dos apenas por alguns dias. A especificidade analítica dos imu-

A / r\ noensaios de benzodiazepínicos é aceitável e relataram-se poucos


resultados falsos-positivos. A oxaprozina (um fármaco antiinfla-
matório não-esteróidal) causa resposta positiva com vários ensaios
Clordiazepóxido Norclordiazepóxido de benzodiazepínicos. Os resultados falsos-negativos são comuns,
especialmente q u a n d o o imunoensaio é realizado sem hidrólise
anterior com ghcuromda.
A detecção de flunítrazepam (Rohipnol) é especialmente desa-
fiadora devido às baixas doses terapêuticas e ilícitas, e ao baixo
grau de reatividade cruzada da maioria doa imunoensaios com o
principal metabólito urinário, 7-aminoflunitrazepam (Figura 31-
13). Assim como para outros benzodiazepínicos, a hidrólise com
glicuronidase pode melhorar a detecção d o imunoensaio. Foram
desenvolvidos métodos para ensaio imunossorvente ligado à
enzima (FL1SA) com alta seletividade para 7-aminoflunitrazepam
e melhora da sensibilidade. Na ausência de u m imunoensaio
suficientemente sensível, indica-se a análise direta de 7-aminoflu-
nitrazepam por GC-MS, em casos suspeitados de ingestão de
flunitrazepam (p. ex., suspeita de "encontro com estupro").

Cromatografia Gasosa-Espectrometria de Massas


U m resultado de triagem positiva para benzodiazepínicos obtido
por imunoensaio é confirmado por análise GC-MS de amostra
da urina. Em u m método, a urina é tratada com p-glicuronidase,
sujeita a extração líquido-líquido, e o extrato é evaporado. O
resíduo é tratado com N-metil-N-trimetilsilil-trifluoroacetamida
(MSTFA) para formar derivados trimetilsilil (TMS) dos benzodia-
zepínicos, que são analisados, j u n t a m e n t e com padrões internos
deuterados, por GC-MS n o m o d o de m o n i t o r a m e n t o de íons
DUCCJE.:» Nordiazepam
selecionados.

Canabinóides
O s canabinóides são u m grupo de compostos C 2 i encontrados
na espécie vegetal Cannabis sativa. O principal canabinóide psi-
coativo é o A 9 -tetraidrocanabinol (TH C / F i g u r a 31-18). O T H C é
tipicamente consumido ao se f u m a r m a c o n h a , que é u m a mistura
de folhas, flores e algumas vezes caule da planta Cannabis tritu-
rados. O haxixe, as secreções de resina seca da planta, t a m b é m
pode ser f u m a d o . O haxixe geralmente tem u m conteúdo maior
de T H C do que a m a c o n h a .

Resposta Farmacológica e Toxicidade


O s principais efeitos psicoativos do T H C são euforia e u m a
sensação de relaxamento e bem-estar. Estes efeitos ocorrem em
u m período de minutos após se fumar m a c o n h a , atingem u m
pico em cerca de 15 a 30 minutos e p o d e m persistir por 2 a 4
horas. Associados a este "barato" estão u m a perda da memória
de curto prazo e prejuízo do d e s e m p e n h o intelectual (recordação,
compreensão de leitura, capacidade de concentração e resolução
GlicuTonida
de problemas matemáticos). Além disso, as habilidades psicomo-
toras p o d e m ser suficientemente prejudicadas, de m o d o a afetar
adversamente o desempenho ao operar automóveis e aeronaves.
Existe alguma controvérsia com relação ao grau de deficiência n o
d e s e m p e n h o além de 4 horas d o uso de m a c o n h a . U m a incerteza
Lorazepam ainda maior r o n d a os efeitos negativos d e longo prazo à saúde
devido ao uso crônico de maconha. Podem-se desenvolver tole-
Figura 31-14 Transformação metabólica de clordiazepóxido, rância e u m grau leve de dependência física após o uso crônico
diazepam e 1,4-benzodiazepínicos relacionados. de m a c o n h a e haxixe.
598 PARTE IV Analitos

í, ».»

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n M^0K -
KJ
N a ^ V ^ N Glicuionida
l

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\ / r v f * V r

Fluraiepam NI -1-H i drox i e tilflur aiep a m N 1-desalquilflurazepam N-l'Desalquií-.3-hidro!íiflijra-zeparn

/
CF,
/
OF-,
/\ r ' 0
Glicuronida

„ x p -OH Glicuionida

cy
a -==N _--.N

rv rv
Quaiepam 2-Oxoquazepam 3-Hidróxi- 2-oxo quazepam

Figura 31-15 T r a n s f o r m a ç ã o m e t a b ó l i c a de f l u r a z e p a m e 1,4-benzodiazepínicos r e l a c i o n a d o s

K,
- N-
•—OH » Glicuronida

ô
f\
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«. LiUJ.c('ttlU 3-H idrox iclonazepam

I
J
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N. K —#
—OI I Glicuronida
H j N N r r - N H,N

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7-A-ni-i O»'1.1" JKjrwn
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KJ
3-H id róxi-7-aminoclonazepam

I
II
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N rJ H-C N
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>—OH Glicuronida

I
rv c ]
I
H li
,f"V-c
V.-''
7 - Ac e ta mido clon a zep am 3-Hidróxí-7-aceramidoclonazepam

Figura 31-16 T r a n s f o r m a ç ã o metabólica d e clonazepam.


Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 599

OH
E m b o t a a m a c o n b a seja a droga ilícita mais f r e q ü e n t e m e n t e

Cf )
I
H3C. U • .N usada, ela tem u m uso medicinal legítimo limitado. O dronabi-
V--„v/ nol (Marinol) contém T H C sintético e é usado para tratar ano-
•tf* y rexia e náuseas nos pacientes com AIDS, náuseas e vômitos
Glicuronida
associados a quimioterapia, e asma e glaucoma. Vários estados
c:
dos EUA legalizaram o uso da m a c o n h a para propósitos clínicos.

r• V
v-- :
*
w
rV-R Entretanto, o tráfico de m a c o n h a continua sendo u m ciime
segundo a lei federal.

R = H;Alprazolam a-H id rox i a Ipra: ola m Metodologia Analítica


R = ClTriazolam Ol-H icl roxitri azolam
O teste inicial de triagem para T H C é tipicamente o imunoen-
R = F; Midazolam a-Hidroximidazolam
saio. Para confirmação de u m teste supostamente positivo, realiza-
se a mensuração quantitativa da droga usando-se GC-MS.

/ >
f >
,.:N"

f >
A-/
\Y OH Glicuronida
Imunaensaio
O T H C é extensamente metabolizado em u m n ú m e r o maior de
compostos, a maioria dos quais é inativa. O principal metabólito
urinário é o ácido ll-nor-Á 9 -tetraidrocanabinol-9-carboxílico
c.r r " V
Vrí=N ( T H C - C O O H ) e seu conjugado glicuronida (Figura 31-18). Os
imunoensaios projetados para fazer a triagem das amostras de
r \ urina para uso de m a c o n h a m e d e m este e outros metabólitos de
T H C . Estes ensaios são calibrados com T H C - C O O H , mas devido
- -Hidruxiestaiolam à reatividade cruzada com muitos outros metabólitos T H C , os
resultados quantitativos baseados neles são 1,5 a 8 vezes maiores
Figura 31-17 Transformação metabólica de alguns do que a real concentração de 1 H C - C O O H determinada pela
tr ia zo l ob enzo d i a zep í n ic os. GC-MS. Portanto, os resultados do imunoensaio são interpreta-
dos como equivalentes de T H G C O O H .
Devido à liberação lenta de T H C a partir dos locais de arma-
ÇTJ<
zenamento n o tecido, a urina p o d e apresentar resultado positivo
para metabólitos de T H C (maiores que os equivalentes de T H C -
C O O H de 20 n g / m L ) de 2 a 5 dias após o último uso de
m a c o n h a por fumantes infreqúentes; alguns indivíduos podem
apresentar teste positivo por até 10 dias. Os fumantes crônicos
H3C ^ p o d e m apresentar resultado positivo por 3 a 4 semanas após
CsH l
abstinência. Alguns fumantes pesados p o d e m continuar apresen-
V IHC 8-Hidróxi-THC tando resultados positivos por até 46 dias e p o d e m precisar de
até 77 dias para apresentarem resultado negativo por 10 dias
consecutivos. Portanto, u m exame de urina positivo para T H C -
C O O H pode apenas ser interpretado para indicar uso anterior
de m a c o n h a (imediato até várias semanas) e não está relacionado
com deficiência.
CH.OH
Devido às oscilações na excreção de líquidos, a concentração
de metabólitos de T H C n a urina p o d e a u m e n t a r subitamente
em vez de cair ou p o d e variar entre valores positivos e negativos
q u a n d o medidos seqüencialmente durante a fase terminal de
HiC„ "3C V eliminação após a abstinência. Neste caso, u m a u m e n t o da con-
centração de metabólitos poderia implicar falsamente reutiliza-
H3C ^ X\Ht]
ção da maconha. Portanto, para monitorar melhor a abstinência,
Il-Hidróxi-THC 8,11-Diidróxi-THC a concentração de T H C - C O O H deve ser expressa por miligramas
de creatinina. A u m e n t o s de 0,5 e 1,5 n a razão entre T H O C O O H
e creatinina entre duas amostras coletadas com pelo menos 24
horas de intervalo foram propostos como critérios para indicar
reutilização. O critério estimado para razão de 0,5 na amostra, é
CGOII mais sensível e seria mais b e m aplicado para m o n i t o r a m e n t o nos
programas de tratamento de drogas. Entretanto, o critério de
razão 1,5 tem especificidade m u i t o alta (baixo falso-positivo) e
seria mais apropriado se houvesse previsão de ação punitiva.
Conjugação
Tem-se levantado u m a questão legítima sobre a possibilidade
u./; de "inalação passiva" de q u a n t i d a d e suficiente de fumaça secun-
h;!c^ ^ X:3Hu dária da maconha de usuários próximos que resulte em u m teste
positivo de urina para canabinóide. Experimentalmente, a inala-
Carbóxi-THC ção passiva foi demonstrada, mas sob condições bastante irreais.
Sob condições normais, a inalação passiva não resultou em con-
Figura 31-18 Principal via metabólica para T H C em seres h u m a n o s . centração de T H C - C O O H na urina de mais de 12 n g / m L .
600 PARTE IV Analitos

As sementes e o óleo da planta do c â n h a m o (também uma A cocaína é rapidamente hidrolisada por esterases hepáticas
variedade da Cannabis saúva L) contêm A 9 -tetrai dro canabinol. O separadas em metabólitos inativos ecgonina metil éster e benzoi-
consumo c o m o suplementos nutricionais de óleo de semente de lecgonina (Figura 31-19). A ecgonina metil éster t a m b é m pode
c â n h a m o com conteúdo relativamente alto de T H C pode resultar ser formada pela ação do soro butirilcolinesterase, e a cocaína
em u m teste positivo de urina para T H C - C O O H , o que estimu- pode ser convertida a benzoilecgonina por hidrólise espontânea.
lou u m a "defesa do c â n h a m o " (argumenta-se uso do c â n h a m o A formação de benzoilecgonina com freqüência tem sido atribu-
para se defender de uma possível acusação de uso de maconha) ída inteiramente à hidrólise espontânea, mas demonstrou-se cla-
como explicação para o resultado d o teste. Hm 2001, a Drug ramente que é mediada principalmente por uma carboxiesterase
Enforcement Agency (DEA) incluiu qualquer p r o d u t o que con- hepática. Esta última enzima, na presença de etanol, catalisa a
tenha T H C sob a Escala 1 na classificação de substâncias contro- transes ter ifi cação da cocaína (benzoilecgonina metil éster) em
ladas, 6 n e g a n d o assim a "defesa do cânhamo". cocaetileno (benzoilecgonina etil éster). O cocaetileno possui a
mesma atividade estimulatória no S N C do que a cocaína em
Cromatografia Gasosa - Espectrometria de Massas animais experimentais. O etanol e a cocaína são c o m u m e n t e co-
U m resultado de triagem positiva paia T H C - C O O H obtido pot abusadas e especula-se que a formação de cocaetileno pode causar
imunoensaio é confirmado por análise p o i GC-MS da amostra a u m e n t o da estimulação d o S N C e levar, conseqüentemente, a
de urina. Tipicamente, os derivados T M S do T H O C O O H são reforço do co-abuso. O cocaetileno p o d e t a m b é m resultar em
medidos j u n t a m e n t e com o padrão interno deuterado por moni- a u m e n t o da cardiotoxicidade; é mais letal que a cocaína em
toramento com íon-seletivo. animais experimentais. O cocaetileno frequentemente está pre-
sente na urina ou soro de pacientes hospitalizados que apresen-
tam resultado positivo para benzoilecgonina. Q u a n d o a cocaína
Cocaína na forma de crack é fumada, forma-se u m produto de pirólise,
A cocaína é u m alcalóide presente nas folhas da planta de coca anidroecgonina metil éster, que pode ser detectado na urina.
que cresce n a América do Sul A droga tem uma longa história A meia-vida de eliminação para cocaína varia de 0,5 a 1,5
de consumo por seres humanos, começando com seu uso pelas hora, para ecgonina metil éster, de 3 a 4 horas, e para benzoile-
antigas civilizações sul-americanas, seguido da sua incorporação cgonina, de 4 a 7 horas. Os principais metabólitos urinários são
inicial na bebida popular cola (descontinuada n o inicio de 1900) a benzoilecgonina e a ecgonina metil éster. Apenas pequenas
e c o n t i n u a n d o com sua popularidade atual como droga recrea- quantidades de cocaína são excretadas na urina, A meia-vida de
cional. eliminação para cocaetileno é de 2,5 a 6 horas, consideravelmente
mais longa que para a cocaína. Esta meia-vida de eliminação mais
Resposta Farmacológica e Toxicidade longa pode contribuir para toxicidade pelo cocaetileno.
A cocaína é u m potente estimulante do S N C que provoca u m
estado de vigilância e euforia aumentado, com suas ações seme- Metodologia Analítica
lhantes àquelas da anfetamina, mas de duração mais curta. Acre- O teste inicial de triagem para cocaína (benzoilecgonina) é tipi-
dita-se que estes efeitos n o S N C estão amplamente associados à camente u m imunoensaio. Para confirmação de u m suposto
capacidade da cocaína de bloquear a recaptação de d o p a m i n a nas resultado positivo, u m a mensuração quantitativa da droga é rea-
sinapses nervosas e, portanto, prolongar a ação da d o p a m i n a no lizada usando-se GC-MS.
S N C . E esta resposta que leva ao uso abusivo recreacional da
cocaína. A cocaína também bloqueia a recaptação de norepine- Imunoensaio
frina nos terminais nervosos pré-smápticos. Isto produz uma Os imunoensaios de triagem foram projetados para detecção de
resposta simpatomimética (que inclui a u m e n t o da pressão arte- benzoilecgonina. Estes ensaios têm u m corte de 300 n g / m L e
rial, freqüência cardíaca e temperatura corporal). A cocaína é detectam excreção d e benzoilecgonina por 1 a 3 dias após o uso
efetiva c o m o anestésico local e vasoconstritor das membranas de cocaína. Entretanto, para os usuários pesados crónicos de
mucosas e é, portanto, usada clinicamente para cirurgia nasal, cocaína, o tempo de detecção pode estender-se a 10 a 22 dias
rinoplastia e mtubação nasotraqueal de emergência. após a última dose, aparentemente devido ao armazenamento
Para uso recreacional, a cocaína (sal hidrocloreto) freqüente- tecidual de cocaína. Ordinariamente, a cocaína p o d e ser detec-
mente é administrada por inalação nasal ("aspiração") ou, menos tada na urina por métodos cromatográficos por apenas cerca de
freqüentemente, por via intravenosa. A cocaína é mais volátil 8 a 12 horas após o uso, mas, nos usuários pesados crônicos, este
q u a n d o convertida de sal a base livre; portanto, a cocaína de base período de detecção pode ser de 4 a 5 dias. Estes fatos devem ser
livre p o d e ser inalada ao se fumar. Esta última via d e administra- considerados q u a n d o da interpretação dos resultados de u m teste
ção resulta em um início rápido de ação. Ela ganhou crescente de detecção de drogas pela urina para indivíduos nos programas de
popularidade devido à disponibilidade imediata da forma de tratamento por uso d e drogas. U m resultado positivo de exame
cocaína de base livre conhecida como crack. Conseqüentemente, de urina para detecção de benzoilecgonina além de 3 dias após
o n ú m e r o de admissões nos setores de emergência relacionados a última dose não indica necessariamente uso continuado. Para
com a toxicidade da cocaína aumentou. atingir estes objetivos, é preferível quantificar a excreção urinária
A toxicidade aguda da cocaína produz uma resposta simpato- de benzoilecgonina, normalizada para concentração de creati-
mimética que pode resultar em (1) midríase, (2) diaforese, (3) nina durante o tempo, A abstinência da droga seria indicada pela
sons intestinais hiperativos, (4) taquicardia, (5) hipertensão, (6) redução da excreção urinária de metabólitos de cocaína. Entre-
hipertermia, (7) hiperatividade, (8) agitação, (9) convulsões ou tanto, a normalização de creatinina nem sempre pode indicar
(10) coma. A morte súbita causada por cardio toxic idade pode com confiança a reutilização da droga.
acompanhar o uso da cocaína. A morte também pode ocorrer O consumo de chá de coca peruano, que não é legalmente
após o desenvolvimento seqüencial de hipertermia, delírio importado para os EUA, pode resultar em u m teste positivo de
agitado e parada respiratória. O delírio com excitação e a ativi- urina para benzoilecgonina.
dade física extrema p o d e m levar a rabdomiólise, insuficiência N o mecônio, m- e p-hidroxibenzoilecgonma (normalmente
renal aguda e DIC. metabólitos menores na urina do adulto) contribuem de maneira
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 601

HjC
liiC CHt H
CH, H3C ÇH?
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Anidroecgonma Ecgonina
metil éster Cocaetileno etil és rer

Figura 31-19 Metabolismo e pirólise de cocaína.

significativa para a imunorreatLvidade da benzoilecgonina (veja do crescimento, ele tem sido usado como u m a alternativa de
seção sobre Detecção de Drogas de Uso Abusivo U s a n d o Outros esteróide por fisiculturistas e atletas. Os atletas t a m b é m têm
Tipos de Amostras). usado o G H B como auxiliar do sono porque acredita-se que ele
promova recuperação rápida após competições repetitivas vigoro-
Cromatografia Gasosa-Espectrometria de Massas sas. Estas propriedades e a disponibilidade do G H B nos suple-
U m resultado de triagem positivo para benzoilecgonina obtido mentos dietéticos levaram ao crescente uso abusivo da droga. O
por u m imunoensaio é confirmado por análise por GC-MS da G H B tornou-se popular c o m o "droga sintética" {club drug) eufo-
amostra de urina. Em u m método, os derivados TMS da benzoi- rizante, usada com mais freqüência em combinação com álcool
lecgonina, após extração da urina, são analisados juntamente com e t a m b é m com M D M A ou cocaína, para "suavizar" suas proprie-
padrão interno deuterado, por monitoramento com íon-seletivo. dades estimulantes adversas. Seu início rápido e propriedades
amnésicas de curto prazo e hipnóticas resultaram n o uso de G H B
Dextrometorfano para ataque sexual facilitado pela droga (droga de "encontro com
Pelo fato de o dextrometorfano ser estruturalmente relacionado, estupro").
ele é discutido na seção adiante sobre Opióides/Opiáceos. A FDA retirou o G H B dos produtos para o consumidor em
1990 em resposta ao seu crescente uso abusivo e perigoso. Esta
Gama-hidroxibutirato ação levou à sua substituição por y-butirolactona (GBL), u m
O gama-hidroxibutirato (GHB) é u m metabólito de ocorrência precursor d o G H B (Figura 31-20) que t a m b é m é usado como
natural do ácido y-aminobutírico (GABA), e assim como o agente químico de limpeza e solvente. O GBL é mais rapida-
GABA, pode possuir atividade neuroinibitória do S N C por meio m e n t e absorvido e tem maior biodisponibilidade, se comparado
de receptores GHB-específicos. com G H B . O GBL também é imediatamente convertido em
G H B por seu tratamento com u m a solução alcalina. Os suple-
Resposta Farmacológica e Toxicidade mentos nutricionais que contêm GBL (p. ex., RenewTrient, Revi-
Inicialmente, o G H B foi investigado como u m agente anestésico, varant, Reinforce) t a m b é m foram retirados d o mercado apenas
mas este trabalho foi descontinuado devido à ausência de anal- para serem substituídos por outro precursor G H B , 1,4-butane-
gesia e aos efeitos colaterais adversos, como as convulsões. Ele é diol (Figura 31-20), t a m b é m presente em agentes de limpeza
usado fora dos EUA para tratar abstinência de álcool e opióides doméstica e solventes industriais. Os suplementos dietéticos que
e recentemente foi aprovado nos EUA sob o n o m e de Xyrem contêm 1,4-butanediol incluem o Som a to Pr o e Revitalize Plus.
(oxibato de sódio) para o tratamento de narcolepsia. As manifestações tóxicas do G H B ou de seus precursores
Q u a n d o ingerido, o G H B estimula a liberação de dopamina, incluem (1) náuseas e vômitos, (2) bradicardia, (3) hipotensão,
levando a efeitos prazerosos, como euforia, relaxamento muscu- (4) coma, (5) convulsões, (6) depressão respiratória grave, mas não
lar e a u m e n t o d o desejo sexual. Ele também tem efeitos depres- prolongada. Períodos de agitação p o d e m ser intercalados entre
sores do S N C que resultam em sedação e hipnose. Pelo fato de apnéia e não-responsividade. N ã o se sabe se esta agitação é u m
haver relatos de que o G H B a u m e n t a a liberação do h o r m ô n i o efeito direto do G H B ou u m a conseqüência de co-ingestão de
602 PARTE IV Analitos

,OH
HO"
1,4-Butanediul (BD) (C 3 H S ),W
NH,

©
HO'
r ti
LSD Serotonina
y-Hidroxibutiraldeído

Figura 31-21 Estrutura química de LSD e serotonina.

<y°
©

© ,0
HO pode produzir tolerância e dependência, apesar de sua curta
ÒH duração de ação. Uma síndrome de abstinência que consiste em
y-Butirolactona
(GBU
(1) tremor, (2) agitação, (3) paranóia, (4) delírio, (5) alucinações,
ácido y-Hidroxibutírica
(6) confusão, (7) taquicardia e (8) hipertensão pode acompanhar
(GHB)
a cessação do uso maciço e crônico.
O fomepizol, um inibidor de ADH, provavelmente é benéfico
© © para pacientes que ingerem 1,4-butanediol.

OH H Metodologia Analítica
I. K )
X
r
Os imunoensaios para GHB atualmente não estão disponíveis.
O ^ O
O O Assim, as técnicas cromatográficas (em geral GC-MS) são neces-
sárias para análise. O GHB é rapidamente eliminado (ti/2 de
OH OH
aproximadamente 30 minutos) e, portanto, o período de detec-
Semialdeído ção é de menos de 6 a 8 horas no plasma e menos de 10 a 12
succinico (SSA)
horas na urina.

© Dietilamida do Ácido Lisérgico


A dietilamida do ácido lisérgico (LSD) partilha características

Ciclo T C A
(ciclo de Krebs)
H?N
r OH
estruturais com a serotonina (5-hidroxitriptamina; Figura 31-2]),
um importante neurotransmissor e neuromodulador do SNC. O
LSD é sintetizado a partir do ácido D-lisérgico, um alcalóide do
ácico y-AminobutÍTÍco ergot de ocorrência natural encontrado no fungo Chxviceps purpu-
(GABA) r&a, que cresce no trigo e em outros grãos.

© Resposta Farmacológica e Toxicidade


O LSD é uma droga psicodélica extremamente potente que se
NH2 liga aos receptores de serotonina no SNC e age como um agonista
^ J ò
da serotonina. Os principais efeitos psicológicos do LSD são (1)
distorções perceptivas das cores, som, distância e forma; (2) des-
OH OH personalização e perda da imagem corporal; e (3) emoções que
mudam rapidamente do êxtase para a depressão ou p a T a n n i a
A c i d u gluLâiiucu
Estas ações alucinógenas do LSD são estereosseletivas, provoca-
Figura 31-20 Metabolismo de y-hidroxibutiratc e seus precursores. 1,
das apenas pelo D-isômero. O Departamento de Defesa dos EUA
álcool desidrogenase; 2, aldeído desidrogenase; 3, lactonase; 4, G H B
inclui o LSD entre as drogas para as quais o exame de urina é
exigido (Tabela 31-5).
desidrogenase; 5, SSA redutase; 6, GABA transaminase; 7, glutamato
Os efeitos fisiológicos do LSD estão relacionados com suas
descarboxilase; 8, SSA desidrogenase.
ações simpatomiméticas e incluem (1) midríase (mais freqüente
e consistente), (2) taquicardia, (3) aumento da temperatura cor-
poral, (4) diaforese e (5) hipertensão. Em doses mais altas, as
drogas estimulantes. Foram relatadas mortes, mas quase sempre ações parassimpatomiméticas podem ser observadas (p. ex., sali-
associadas a co-ingestão de álcool ou de outras drogas. vação, lacrimejamento, náuseas e vômitos [ações muscarínícas]).
O GHB é rapidamente absorvido do trato GI e seu início de Os efeitos neuTomusculares podem incluir parestesia, espasmos
ação é extremamente rápido. A perda da consciência pode ocorrer musculares e falta de coordenação (ações nicotinicas).
em um período de 15 a 30 minutos. A duração da resposta Os efeitos adversos mais comuns do LSD são ataques de
também é curta, tipicamente 1 a 3 horas para dose normal e 2 pânico. Além disso, a recorrência imprevisível de alucinações
a 4 horas para dose excessiva. A overdose que conduz ao coma e (flashbacks) pode ocorrer semanas ou meses após o último uso da
depressão respiratória que requer suporte ventilatório resolve-se droga, e o LSD pode provocar reações psicóticas (distúrbios de
em menos de 6 horas. O uso freqüente de GHB em alta dose pensamento, alucinações, depressão e despersonalização). O LSD
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 603

é usado ilicitamente devido aos seus efeitos alucinógenos. Não maior do que o LSD). Portanto, a detecção do LSD apresenta
há evidências de que o uso repetido do LSD resulte em depen- um desafio analítico especialmente difícil. Mesmo com ensaios
dência ou sintomas de abstinência. sensíveis, o espaço de detecção para LSD geralmente é de apenas
As formas populares de dosagem incluem (1) pó, (2) cápsula 12 a 24 horas. Estabelecer 2-oxo-3-hidróxi-LSD como alvo melhora
gelatinosa, (3) comprimido ou (4) cubos de açúcar, filtros de o espaço de detecção.
papel ou selos de postagem impregnados de LSD. A droga é Os imunoensaios detectam LSD a uma concentração de corte
rapidamente absorvida do trato GI; os efeitos começam em um de 500 pg/mL. A confirmação é tipicamente realizada por GC-
período de 40 a 60 minutos, atingem o pico em cerca de 2 a 4 MS, GC-MS/MS, LC-MS ou LC-MS/MS. Uma concentração de
horas e desaparecem em 6 a 8 horas. A t]/2 de eliminação é de coTte de 200 p g / m L é usada pelo Departamento de Defesa em
aproximadamente 3 horas. seus programas de testes paTa detecção de drogas.
Os efeitos clínicos da ingestão do LSD em geral são benignos
e não requerem intervenção médica. Casos raros de overdose
maciça resultaram em hipertermia com ameaça à vida, rabdomi- Opióides/Opiáceos
ólise, insuficiência renal aguda, insuficiência hepática, DIC, Opióide é um termo geral aplicado a todas as substâncias com
parada respirató-ria e coma. Há poucos, se é que há, relatos bem propriedades semelhantes às da morfina. O termo opiáceo é
documentados de morte diretamente relacionada com a ingestão usado para descrever alcalóides analgésicos de ocorrência natural
de LSD. ou semi-sintéticos derivados do ópio, o suco leitoso seco das
sementes imaduras da papoula. A morfina é o principal e proto-
Metodologia Analítica típico alcalóide analgésico do ópio. O ópio também contém
Devido à potência muito alta do LSD e, portanto, baixa dose quantidades menores de codeína. Alguns derivados semi-sinréri-
típica (aproximadamente 50 fig) e seu metabolismo rápido e cos importantes da morfina incluem (1) heroína, (2) oxicodona,
extenso (Figura 31-22), apenas cerca de 1% a 2% da droga é (3) hidrocodona, (4) oximorfona, (5) hidromorfona e (6) levorfa-
excretada na urina sem alterações (o metabólito principal, 2-oxo- nol. A codeína também pode ser sintetizada por 3-metilação da
3-hidróxi-LSD, está presente em uma quantidade 10 a 40 vezes morfina. Os agentes sintéticos com propriedades semelhantes às

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14-H idróxi-LSD-glicuronida

Figura 31-22 Metabolismo de LSD.


604 PARTE IV Analitos

da morfina incluem (1) propoxifeno, (2) metadona, (3) meperi- Heroína (diacetilmorfina) é a forma de morfina preferida por
dina e (4) fentanil (Figura 31-23). aqueles que fazem uso abusivo de opiáceos devido ao início
rápido de ação. Geralmente é administrada por injeção IV ou
Resposta Farmacológica e Toxicidade subcutânea ou, menos freqüentemente, pelo f u m o ou insuflação
Os opiáceos são usados clinicamente devido às suas propriedades nasal. A heroína em si n ã o é ativa, mas é rapidamente convertida
analgésicas. Os opiáceos t a m b é m causam (1) sedação, (2) euforia, (t]/2 < 1 min) a 6-acetilmorfina, que por sua vez é hidrolisada (t]/2
(3) depressão respiratória, (4) hipotensão ortostática, (5) redução < 4 0 min) em morfina (Figura 31-24). Tanto a 6-acetilmorfina
da motilidade intestinal, (6) náuseas e (7) vômitos. As principais como a morfina são farmacologicamente ativas. A morfina é
manifestações da overdose de m o r f i n a são coma, miose (diminui- inativada principalmente por conjugação de glicuronida n o
ção d o diâmetro das pupilas) e depressão respiratória. O edema grupo 3-hidroxila (fenólico). Além da morfina-3-glicuronida,
p u l m o n a r f r e q ü e n t e m e n t e é u m a complicação da overdose de quantidades menores de morfina-6-glicuronida t a m b é m são for-
morfina, e a morte pode resultar de parada cardiopulmonar. O madas. Entretanto, diferentemente da morfina-3-glicuronida,
tratamento para overdose de m o r f i n a inclui administração de anta- que é inativa, a morfina-6-glicuronida tem u m a atividade analgé-
gonista do opiáceo, naloxona (Narcan), que reverte drasticamente sica muito mais potente do que a morfina. A h i d r o m o r f o n a
os efeitos da m o r f i n a . provavelmente é u m metabólito m e n o r da morfina. Da m o r f i n a
Devido à suas propriedades analgésicas e euforizantes, os total na urina, cerca de 9 0 % são morfma-3-glicuronida (50% a
opiáceos apresentam u m alto potencial de abuso. O uso crônico 7 5 % da dose de morfina) e cerca de 10% são morfina livre.
da morfina leva à tolerância e à dependência física e psicológica. A codeína tem apenas cerca de u m décimo da potência anal-
A abstinência da drogadição à m o r f i n a pode ser tratada por meio gésica da morfina; esta é u m a conseqüência d o bloqueio d o
da administração de metadona, u m opiáceo oralmente ativo grupo fenólico hidroxila, que proíbe a ligação a receptores opiói-
de longa duração. C o m o tempo, o objetivo é substituir o uso de des. U m a pequena quantidade de codeína (aproximadamente
opiáceo pela metadona e então gradualmente fazer a retirada da 10%) é convertida a morfina (Figura 31-24), que é responsável
metadona. Outros agentes terapêuticos para tratamento da dro- pelas propriedades analgésicas da codeína. Esta O-desmetilação
gadição à morfina incluem (1) naltrexona, um antagonista opiáceo é mediada pela isoforma do citocromo P^q, C Y P 2 D 6 (Capítulo
de longa ação; (2) levo-a-acetilmetadol (LAAM), u m agonista de 30), que exibe polimorfismo genético. Metabolizadores lentos
longa ação (aproximadamente 4 dias); (3) clonidina, u m agente (deficientes na atividade CYP2D6) produzem quantidades muito
anti-hipertensivo agonista a 2 -adrenérgico com ações n o S N C pequenas de morfina e, portanto, não experimentam analgesia,
semelhantes às dos opiáceos e (4) buprenorfina, um agonista e n q u a n t o os metabolizadores rápidos (atividade de C Y P 2 D 6
parcial e antagonista fraco. aumentada) experimentam u m efeito analgésico maior d o que o

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Figura 31-23 Estruturas químicas de opióides representativos e do antagonista de opióide naloxona.


Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 605

CH^

Figura 31-24 Metabolismo de heroína, morfina e codeína.

esperado. Uma quantidade semelhante de norcodeína é formada binada com agentes analgésicos nãoopiáceos (p. ex., ácido acetil-
pOT N-desmetilação. A hidrocodona é um metabólito menor. salicílico e paracetamol); ela também é um agente antitussígeno
Assim, tanto a codeína como a morfina podem ser detectadas na efetivo em alguns medicamentos para tosse.
urina após ingestão de codeína. Além disso, a hidrocodona A acetilcodeína é um contaminante comum da heroína;
também pode ser detectada em baixa concentração (aproximada- assim, tanto a codeína como a morfina podem freqüentemente
mente 100 ng/mL) quando a concentração de codeína na urina ser detectadas na urina após o uso de heroina. C o m o a morfina
é alta (mais de 5.000 ng/mL). A codeína freqüentemente é com- é um metabólito da codeína, o uso legítimo da codeína foi usado
606 PARTE IV Analitos

como explicação para um exame positivo de detecção de drogas H;CO


na urina para morfina e codeína quando, na verdade, a heroína
foi usada. N o caso da heroína, a concentração de morfina excede
a da codeína, enquanto o inverso é verdadeiro nas primeiras 24
horas após o uso da codeína. Entretanto, uma reversão na ia2ão
codeína:morfina pode ocorrer no período tardio de eliminação
(mais de 24 horas) subseqüente à administração de codeína. Isto
é uma conseqüência da fase de eliminação terminal mais longa
Noridroccdona Conjugado
para morfina, se comparada com a da codeína. Assim, nem (5%) (4%)
sempre é possível distinguir entre uso legítimo da codeína (p. ex.,
uma preparação para tosse) e uso abusivo de heroína ou morfina
com base na Tazão codeína:morfina na urina. Entretanto, a detec-
ção do metabólito de 6-acetilmorfina da heroína ou do contami-
nante da heroína 6-acetilcodeína fornece evidências de uso de H,(ü HO
heroína. O período de detecção para estes derivados acetil é
relativamente curto (aproximadamente 8 a 12 horas). Ao contrá-
rio das mensurações na urina, as concentrações plasmáticas de
morfina e codeína podem distinguir de maneira mais clara entre N —CHj N—CH;
o uso de heroína e de codeína.
O consumo de alimentos que contêm sementes de papoula
(p. ex., bolos, pães, roscas) pode resultar em excreção urinária de Hiunxixlnna
morfina e codeína. Isto pode causar a falsa incriminação por uso (12%)
ilícito de opiáceo como determinado pelos programas de testes
de detecção de drogas. Embora as diretrizes baseadas nas concen-
trações de morfina e codeína na urina tenham sido propostas
para descartar a ingestão de semente de papoula como a origem
destes opiáceos, elas nem sempre são confiáveis. A detecção do
metabólito da heroína 6-acetilmoTfina (Figura 31-24) também H«CO HO.
eliminaria a ingestão de semente de papoula. Entretanto, a 6-
acetilmorfma é rapidamente eliminada, de forma que a detecção
na uTÍna é limitada a menos de 24 horas (talvez menos de 8 horas)
após o uso da heroína. Portanto, a ausência de 6-acetilmorfina N —CHi N—CHj
não descarta o uso de heroína ou morfina.
Para evitar algumas destas questões relacionadas à ingestão HO
de sementes de papoula e o uso legítimo de medicações opiáceas, udrocode Hidfoaionol
o Departamento de Defesa dos EUA estabeleceu concentrações (3%)
de corte confirmatórias de 4 000 ng/mL de morfina e 2.000
ng/mL de codeína e também exige teste para 6-monoacetilmor-
fina (Tabela 31-5). Da mesma forma, o DHHS aumentou as
concentrações de corte confirmatórias e de triagem de 300 ng/
Conjugado
mL para 2.000 ng/mL para morfina e codeína e também exige (0,1%)
teste para 6-acetilmorfina (corte, 10 ng/mL). Com propósitos
clínicos, o corte de 300 ng/mL (ou mais baixo) é apropriado. F i g u r a 3 1 - 2 5 Transformações metabólicas da hidrocodona e
A hidromorfona e a oximorfona são opiáceos semi-sintéticos hidromorfona. Os números entre parênteses são percentuais de uma
que têm cerca de 8 a 10 vezes a potência da morfina. A hidro- dose de hidrocodona excretada na urina. Os metabolizadores rápidos
morfona tem maior biodisponibilidade oral do que a morfina. excretam mais conjugados de hidromorfona (5,9%), comparados com
O oximorfona tem uso IV limitado para analgesia pós-cirúrgica. metabolizadores lentos (1,0%). O hidrocodol e hidromorfol existem
A hidrocodona, oxicodona e diidrocodeína são 3 a 10 vezes mais como 6-a e (3-estereoisômeros. 6-a-hidrocodol é diidrocodeína;
potentes do que a codeína, e assim como a codeína têm biodis- 6-a-hidromorfoI é diidtomorfina. Para administração de hidromorfona,
ponibilidade oral relativamente boa. A hidrocodona é metaboli- 6% da dose é excretada como a droga precursora livre e 30% como
zada em hidromorfona e diidrocodeína (Figura 31-25). Esta con- conjugados. Apenas quantidades pequenas de conjugados hidromorfol
versão é mediada pela CYP2D6, que exibe polimorfismo gené- são formadas.
tico. Os metabolizadores rápidos formam uma quantidade maior
da hidromorfona mais potente, se comparados com os metabo-
lizadores lentos. As transformações do metabólito paTa diidroco-
deína e oxicodona são apresentadas nas Figuras 31-26 e 31-27, levar à mensuração do salicilato ou paracetamol no soro para
respectivamente. A t^/j de eliminação para todos estes opiáceos avaliar sua toxicidade. Alternativamente, a determinação da con-
varia de cerca de 2,5 a 5 horas, o que é ligeiramente mais longo centração de paracetamol e salicilato é apropriada para pacientes
do que para a morfina. com toxíndrome opióide. A oxicodona sem combinação também
Assim como para a codeína, a oxicodona é freqüentemente está disponível em forma de dosagem de liberação imediata e
formulada em combinação com o ácido acetilsalicílico (Percodan) prolongada. Este último (OxyContin) é um analgésico oral efetivo
ou paracetamol (Percocet e Tylox). Portanto, a detecção de salici- para pacientes com dor crônica (p. ex., pacientes com câncer). O
lato ou paracetamol juntamente com a codeína ou oxicodona na desvio ilícito do OxyContin tem levado especialmente a uso
urina dos pacientes que apresentam toxíndrome opiácea deve abusivo grave da droga, drogadição e várias mortes em determi-
Toxicologia Clinica CAPÍTULO 31 S07

Conjugado
(13%-14%) Conjugado

O Hj

Conjugado Conjugado Hidrocodona


(6,3%) (28%) (0,2%)

Oximorfona Oxímorfòl

Nordiidrocodeína .Diidrocodeína
(16%) (31%)

Oxicodona Qxiccdol
(13%19%)

Conjugado Conjugado
(796-29%)
Nordiidromorfina Diidromorfina
(1,8%) (0.5%)

Conjugado Noroxicodona
(8,4%)

Figura 3 1 - 2 6 Metabolismo de diidrocodeína. Valores entre Figura 3 1 - 2 7 Metabolismo de oxicodona e oximorfona. Valores
parênteses são a porcentagem da dose excretada na urina. entre parênteses são a porcentagem da dose de oxicodona excretada na
urina. Para dose de oximorfona, 1,9% é excretado como droga
precursora, 4 4 % como conjugados e 3% como oximoTfol.

nadas regiões dos EUA. As pílulas p o d e m ser mastigadas ou tri- diidrocodeína além da hidrocodona prescrita (Figura 31-25) pode
turadas paia liberação da disponibilidade imediata de toda a ser falsamente interpretada c o m o substituição. Da mesma forma,
dose, que é projetada para liberação prolongada por u m período u m a amostra de urina q u e c o n t e n h a codeína prescrita mais seu
de 12 horas. E m alguns casos, a pílula esmagada pode ser inalada metabólito de morfina, ou concentrações m u i t o baixas (aproxima-
ou solubilizada para injeção IV. damente 100 n g / m L ) d o metabólito m e n o r de hidrocodona
Nos programas de tratamento da dor, o teste de detecção de (detectado q u a n d o a codeína é maior que 5.000 n g / m L ) não deve
droga na urina f r e q ü e n t e m e n t e é empregado para monitorar (1) ser interpretada c o m o uso de heroína e / o u m o r f i n a ou hidroco-
adesão, (2) desvio ou (3) substituição por drogas que exigem pres- dona. Por outro lado, a amostra de urina que apresenta resultado
crição. C o m base nos resultados destes exames, u m indivíduo negativo para codeína prescrita, mas positivo para h i d r o m o r f o n a
p o d e ser dispensado do programa. E importante que os laborató- ou hidrocodona, indicaria claramente substituição.
rios de testes de drogas c o m u n i q u e m os aspectos relevantes da O m o n i t o r a m e n t o da adesão d o paciente ao uso de oxico-
interconversão metabólica dos opiáceos para os médicos respon- d o n a nos programas de tratamento da dor é problemático devido
sáveis por estes programas. D e outra forma, a detecção de baixas à baixa reatividade cruzada da oxicodona na maior parte dos
concentrações de h i d r o m o r f o n a com altas concentrações de imunoensaios de opiáceos {p. ex., mais de 5.000 n g / m L de oxi-
morfina com prescrição (Figura 31-24), ou de hidromorfona e codona para resultado positivo com ensaio usando corte de 300
608 PARTE IV Analitos

n g / m L de m o r f i n a ) . N e s t e caso, u m teste c o m i m u n o e n s a i o de mol. EDI dose m u i t o alta, o d e x t r o m e t o r f a n o p o d e causar (1)


opiáceo falso-negativo p o d e levar a u m desvio da o x i c o d o n a . U m letargia o u sonolência, (2) agitação, (3) ataxia, (4) n i s t a g m o , (5)
n o v o i m u n o e n s a i o específico para o x i c o d o n a está disponível para diaforese e (6) h i p e r t e n s ã o . O uso abusivo de d e x t r o m e t o r f a n o ,
detecção inicial d e o x i c o d o n a e m c o n c e n t r a ç ã o de corte de 100 especialmente por adolescentes q u e se referem a ele c o m o " D M X " ,
n g / m L . U m i m u n o e n s a i o de fluxo lateral de u s o ú n i c o t a m b é m tornou-se d i s s e m i n a d o e m alguns locais. Aqueles q u e fazem uso
está disponível (corte d e 100 n g / m L ) . abusivo descrevem sensação d e euforia; efeitos dissociativos,
c o m o u m a sensação d e f l u t u a ç ã o , e alucinações. A d e s c o n t i n u a -
Metodologia Analítica ção da droga f r e q ü e n t e m e n t e é seguida d e disforia e depressão.
O teste m i c i a l d e triagem para opiáceos mais f r e q ü e n t e é o imu- A m a i o r i a das preparações c o n t é m d e x t r o m e t o r f a n o c o m o o sal
n o e n s a i o . Para c o n f i r m a ç ã o de u m teste s u p o s t a m e n t e positivo, d e b r o m e t o . A ingestão excessiva de d e x t r o m e t o r f a n o p o d e resul-
u m a m e n s u r a c ã o q u a n t i t a t i v a d a droga é realizada usando-se tar e m i n t o x i c a ç ã o p o r b r o m e t o e e m u m gap a n i ô n i c o sérico
GC-MS. negativo e m c o n s e q ü ê n c i a d a resposta d e s p r o p o r c i o n a l ao
b r o m e t o c o m m é t o d o s c o m u n s para análise de cloreto.
Imunoensaio O d e x t r o m e t o r f a n o é m e t a b o l i z a d o e m d e x t r o f a n o (Figura
Pata aplicação clínica, u m c o t t e de 3 0 0 n g / m L de m o r f i n a (ou 31-28) p o r C Y P 2 D 6 . O d e x t r o f a n o t a m b é m n ã o apresenta ativi-
equivalentes da m o r f i n a ) é c o m u m e n t e u s a d o para distinguir as d a d e analgésica, m a s retém a ação antitussígena. O d e x t r o f a n o
a m o s t r a s d e u r i n a negativas das positivas, e n q u a n t o u m c o r t e de p o d e ser responsável pelos efeitos psicotrópicos mais prazerosos
2 . 0 0 0 n g / m L é exigido pelo S A M H S A p a r a t r i a g e m d e drogas da alta dose d e d e x t r o m e t o r f a n o , e n q u a n t o o f á r m a c o p r e c u r s o r
n o a m b i e n t e de t r a b a l h o . O s i m u n o ensaios comerciais p a r a opi- p o d e causar disforia, sedação e ataxia Assim, os m e t a b o l i z a d o r e s
áceos são p r o j e t a d o s p r i m a r i a m e n t e para detecção d e m o r f i n a e fracos (deficientes e m atividade de C Y P 2 D 6 ) p o d e m ser m e n o s
c o d e í n a O grau de reatividade cruzada c o m morfina-3-glicuro- p r o p e n s o s , e os m e t a b o l i z a d o r e s extensos mais p r o p e n s o s a con-
n i d a e c o m o u t r o s opiáceos varia e n t r e os i m u n o e n s a i o s . E m t i n u a r c o m o uso abusivo de d e x t r o m e t o r f a n o .
geral, a r e a t i v i d a d e cruzada c o m o x i c o d o n a e o x i m o r f o n a é m u i t o O d e x t r o f a n o é o e n a n t i ô m e r o d o levorfanol, u m agonista
baixa. R e s p o s t a s falso-positivas p a r a alguns i m u n o e n s a i o s resul- o p i ó i d e p o t e n t e disponível n o s ELIA (Levo-Dromoian). A m e n o s
t a r a m d e (1) d e x t r o m e t o r f a n o , (2) d i f e n i d r a m í n a , (3) e f e d r i n a / q u e se u s e m técnicas analíticas q u e m e ç a m as moléculas quirais,
p s e u d o - e f e d r i n a , (4) d o x i l a m i n a , (5) c l o r f e n i r a m m a , (6) b r o n f e n i -
r a m i n a , (7) a n t i b i ó t i c o s de q u i n o l o n a e (8) r i f a m p i c i n a .
O p e r í o d o de detecção após o u s o de m o r f i n a o u c o d e í n a Conjugado
varia u m p o u c o c o m (1) a dose, (2) a c o n c e n t r a ç ã o d e c o r t e para (30%)
i m u n o e n s a i o e (3) o grau d e reatividade cruzada c o m c o n j u g a d o s
d e glicuronida. E m geral, exames d e amostras d e u r i n a apresen-
t a m r e s u l t a d o s positivos p o r 1 a 3 dias após u s o de m o r f i n a (ou
heroína) ou c o d e í n a q u a n d o os ensaios são realizados c o m u m
H 3 co HO
corte de 3 0 0 n g / m L . C o m u m corte de 2.000 n g / m L , o p e r í o d o
d e detecção a p ó s u m a ú n i c a d o s e d e h e r o í n a caiu de 24 a 4 8
h o r a s (corte d e 3 0 0 n g / m L ) p a r a 12 a 24 horas, m a s a especifi-
c i d a d e d o teste a u m e n t o u . A aplicabilidade d o c o r t e mais alto
foi d e s a f i a d a p e l o a c h a d o d e 6-acetilmorfina e m u m a p o r c e n t a - N-CH3
gem alta de amostras com c o n c e n t r a ç õ e s d e m o r f i n a m e n o r e s
q u e 2.000 n g / m L n o s casos d e m o r t e associada à h e r o í n a .
Dextrometorfano Dextrofano
Cromatografia Gasosa - Espectrometria de Massas (aproximadamente 2%)
U m r e s u l t a d o de triagem positiva para opiáceos o b t i d o p o r imu-
n o e n s a i o é c o n f i r m a d o p o r análise p o r G C - M S n a a m o s t r a da
u r i n a . E m u m m é t o d o típico, a a m o s t r a de u r i n a é t r a t a d a c o m
ácido para hidrolisar as glicuronidas, e c o m h i d r o x i l a m i n a p a r a
f o r m a r derivados oxima dos ceto opiáceos ( o x i c o d o n a , oximor-
f o n a , h i d r o c o d o n a , h i d r o r n o r f o n a ) . O s opiáceos e oximas opiá-
ceas são e n t ã o extraídos c o m a a j u d a de u m a c o l u n a de extração
d e fase sólida, convertidos a derivados T M S , e d e p o i s analisados
juntamente com padrões internos deuterados por GC-MS por
m o n i t o r a m e n t o com. íon- seletivo.

Dextrometorfano 3-Metoximorfiano 3-H idroxi m o rfi ano


O d e x t r o m e t o r f a n o está e s t r u t u r a l m e n t e r e l a c i o n a d o aos opiói-
des, m a s n ã o se liga aos receptores de o p i ó i d e e m dose n o r m a l
e, p o r t a n t o , n ã o tem atividade analgésica. O ( - ) i s ô m e r o de
d e x t r o m e t o r f a n o , l e v o r f a n o ( n ã o disponível n o s EUA), é u m
p o t e n t e analgésico o p i ó i d e e u m exemplo da natureza estereosse-
letiva da ligação d o receptor o p i ó i d e .
Conjugado Conjugado
O d e x t r o m e t o r f a n o n ã o t e m atividade antitussígena compa-
(aproximadamente 15%) (aproximadamente 30%)
rável c o m a da codeína. Está p r e s e n t e e m i n ú m e r o s m e d i c a m e n -
tos para tosse, f r e q ü e n t e m e n t e e m c o m b i n a ç ã o c o m anti-histamí- Figura 3 1 - 2 8 Metabolismo de dextrometorfano. Valores entre
mcos, d e s c o n g e s t i o n a n t e s nasais, ácido acetilsalicílico e pataceta- parênteses são porcentagens de dose excretada na urina.
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 609

estes e n a n t i ô m e r o s n ã o são d e t e r m i n a d o s . O s l a b o r a t ó r i o s p a i a
teste d e d e t e c ç ã o de drogas q u e u s a m técnicas G C c o n v e n c i o n a i s SS. /
n ã o devem relatar u m a c h a d o d e l e v o r f a n o l apenas, mas, e m vez Ü
n Y CHt
I ~ // LIJ
disso, devem registrar o d e x t r o f a n o / l e v o r f a n o l c o m u m c o m e n - CHríH-,—c—c—CH 2 -ÍH—rí
tário sobre sua relação ísomérica e sobre a origem d o d e x t r o f a n o ("T-T,
Isto é e s p e c i a l m e n t e i m p o r t a n t e para triagem de drogas para
t r a t a m e n t o da d o r , na qual u m registro falso de l e v o r f a n o l p o d e
resultar e m d e s l i g a m e n t o d o p r o g r a m a . Esta d u a l i d a d e d o regis- Metadona
tro é aconselhável m e s m o q u a n d o o d e x t r o m e t o r f a n o p r e c u r s o r
t a m b é m é d e t e c t a d o . O s u s u á r i o s abusivos de l e v o r f a n o l b e m
i n f o r m a d o s p o d e m co-ingerir, de m o d o concebível, d e x t r o m e t o r -
f a n o p a r a o c u l t a r o u s o de levorfanol. Se isto for s u s p e i t a d o , a
resolução quiral d o d e x t r o f a n o e levorfanol seria e n t ã o necessá-
ria. O d e x t r o m e t o r f a n o sofre reação cruzada c o m a m a i o r i a d o s
i m u n o e n s a i o s p a r a opióides. V -l 'k "CH;
X r
- ' V 7
X
Meta d o ri a CH;
A m e t a d o n a é u m o p i ó i d e c o m e s t r u t u r a s e m e l h a n t e à d o pro-
p o x i f e n o (Figura 31-23). A m e t a d o n a é u s a d a c l i n i c a m e n t e (1) H:or
para aliviar a d o r , (2) tratar a s í n d r o m e de abstinência d e o p i ó i d e s
e (3) para tratar viciados e m h e r o í n a em u m a tentativa d e fazê-los
deixar o u s o ilícito de drogas IV.

^JL H s
Resposta Farmacológica e Toxicidade
A s principais ações farmacológicas da m e t a d o n a são s e m e l h a n t e s <j / v 1 i i c-'
:: j(

àquelas d e o u t r o s opióides e i n c l u e m (1) analgesia, (2) sedação, x.. /

(3) depressão respiratória, (4) miose, (5) efeitos antitussígenos e íy-/ X \.-—
v C H i
(6) c o n s t i p a ç ã o . A m e t a d o n a é a d m i n i s t r a d a c o m o u m a m i s t u r a x "X ^
racêmica (R,S[±]-metadona), mas a atividade analgésica é causada
quase q u e i n t e i r a m e n t e p e l o R ( - ) i s ô m e r o . Q u a n d o administra- liMIV
das p o r via i n t r a m u s c u l a r , a m e t a d o n a e a m o r f i n a a p r e s e n t a m
p o t ê n c i a analgésica equivalente. A o c o n t r á r i o da m o r f i n a , a meta- Figura 3 1 - 2 9 Metabolismo de metadona.
d o n a r e t é m cerca de 5 0 % d e sua p o t ê n c i a analgésica i n t r a m u s -
cular q u a n d o t o m a d a p o r via oral.
A m e t a d o n a é r a p i d a m e n t e absorvida d o trato G I c o m u m culatório, (6) h i p o t e r m i a , (7) c o m a , (8) convulsões e (9) e d e m a
início de ação e m u m p e r í o d o de 3 0 a 6 0 m i n u t o s . A ti/2 de pulmonar (embora m e n o s freqüentemente do que a morfina). O
e l i m i n a ç ã o é l o n g a (15 a 5 5 horas), se c o m p a r a d a c o m a da t r a t a m e n t o para overdose d e m e t a d o n a inclui m e d i d a s de s u p o r t e
m o r f i n a (1 a 8 horas). D e v i d o à t ^ d e e l i m i n a ç ã o m a i s longa, a p a r a m a n t e r a respiração e pressão arterial a d e q u a d a s e a admi-
m e t a d o n a acumula-se n o sangue e tecidos após doses repetidas e nistração d o a n t a g o n i s t a d o o p i ó i d e n a l o x o n a , p a r a reverter os
isto p r e s u m i v e l m e n t e c o n t r i b u i p a r a sua d u r a ç ã o d e ação relati- efeitos da m e t a d o n a .
v a m e n t e mais longa (6 a 8 horas).
A tolerância aos efeitos da m e t a d o n a desenvolve-se c o m doses Metodologia Analítica
repetidas, p o r é m mais l e n t a m e n t e d o q u e c o m a m o r f i n a . D a O teste inicial de triagem para m e t a d o n a é u m i m u n o e n s a i o
m e s m a f o r m a , a abstinência desenvolve-se mais l e n t a m e n t e e e m típico. Para c o n f i r m a ç ã o de u m teste s u p o s t a m e n t e positivo, a
geral é m e n o s i n t e n s a , p o r é m mais p r o l o n g a d a d o q u e a d e m e n s u r a ç ã o quantitativa da droga é realizada usando-se G C - M S .
m o r f i n a . O s s i n t o m a s d e abstinência i n c l u e m (1) fraqueza, (2)
ansiedade, (3) i n s ó n i a , (4) d e s c o n f o r t o a b d o m i n a l , (5) sudorese Imunoensaio
e (6) o n d a s d e frio e calor. Vários i m u n o e n s a i o s para triagem de m e t a d o n a estão disponíveis
A m e t a d o n a é metabolizada n o fígado p r i m a r i a m e n t e e m 2- n o mercado. U m a c o n c e n t r a ç ã o de corte de ensaio típica é de
etilideno-l,5-dimetil-3,3-difenilpirrolidina ( E D D P ) e 2-etil-5-metil- 3 0 0 n g / m L . N e n h u m a reatividade cruzada c o m E D D P ou E D M P
3,3-difenilpirrolina ( E M D P ) (Figura 31-29). O s p r i n c i p a i s p r o d u - foi relatada; e n t r e t a n t o , L A A M , u m a n á l o g o d e longa ação da
tos de excreção u r i n á r i a são m e t a d o n a ( 5 % a 5 0 % d a dose) e m e t a d o n a e m e t a b ó l i t o s d e verapamil p o d e sofrer reação cruzada
E D D P ( 3 % a 2 5 % da dose); r e l a t i v a m e n t e mais m e t a d o n a (pK a e m alguns ensaios. A m e t a d o n a e m geral p o d e se d e t e c t a d a n a
8,62) d o q u e E D D P é excretada q u a n d o a u r i n a está ácida. O u r i n a p o r até 72 h o i a s a p ó s a ingestão. O s i m u n o e n s a i o s especí-
m o n i t o r a m e n t o da adesão n o s p r o g r a m a s de m a n u t e n ç ã o da ficos p a r a E D D P estão disponíveis.
m e t a d o n a c o m testes de detecção de droga n a u r i n a p o d e ser
c o m p l i c a d o pela r e d u ç ã o da d o s e c o m o t e m p o e pela excreção Cromatografia Gasosa-Espectrometria de Massa
urinária da m e t a d o n a d e p e n d e n t e de p H . C o m este p r o p ó s i t o , a U m r e s u l t a d o de t r i a g e m positiva para m e t a d o n a o b t i d o p o r
m e n s u r a ç ã o da E D D P foi mais efetiva d o q u e a m e t a d o n a e m i m u n o e n s a i o é c o n f i r m a d o p o r análise p o r G C - M S da a m o s t r a
u m e s t u d o de g r a n d e p o r t e . A l é m disso, u m a a m o s t r a positiva de u r i n a . A p ó s a adição de p a d r õ e s i n t e r n o s d e u t e r a d o s , u m a
para m e t a d o n a e negativa p a r a E D D P indicaria c o n t a m i n a ç ã o amostra de u r i n a é extraída (líquido-líquido) e o extrato o r g â n i c o
das amostras p o r u m p a c i e n t e q u e n ã o aderiu ao t r a t a m e n t o . é evaporado. O r e s í d u o é dissolvido e m etil acetato e a n a l i s a d o
N a overdose, a m e t a d o n a causa (1) depressão respiratória e d o para metadona e E D D P com GC-MS operado por monitora-
S N C , (2) miose, (3) b r a d i c a r d i a , (4) h i p o t e n s ã o , (5) colapso cir- m e n t o com íon-seletivo.
610 PARTE IV Analitos

Propoxifeno O^CH 2 -ch 3


O p r o p o x i f e n o é u m o p i ó i d e e s t r u t u r a l m e n t e s e m e l h a n t e à meta-
ii.r 1 CH-, O / —
d o n a (Figura 31-23)
J i — \
h>.C '
Resposta Farmacológica e Toxicidade
O p r o p o x i f e n o é u m analgésico narcótico a m p l a m e n t e prescrito, n.p-Xlkrui
c o m u m a potência d e a p r o x i m a d a m e n t e m e t a d e d a q u e l a da
c o d e í n a q u a n d o cada u m é a d m i n i s t r a d o por via oral. As doses
orais típicas d e p r o p o x i f e n o t ê m a p r o x i m a d a m e n t e o m e s m o efeito
analgésico d e 6 0 0 m g de á c i d o acetilsalicílico. A p e n a s o (+)-isômero
(Darvon, outros) causa analgesia; o (-)-isômero (Novrad; apropria-
CK XH-i-CHi
d a m e n t e a grafia da i m a g e m invertida de D a r v o n ) é desprovido de
atividade analgésica, mas é efetivo c o m o agente antitussígeno. O
HfC
p r o p o x i f e n o é prescrito m a i s f r e q ü e n t e m e n t e c o m o u m a c o m b i n a - N-Cll-.—^11—v—CHy . ,
X 7
ção c o m p a r a c e t a m o l o u á c i d o acetilsalicílico. U ^
O p r o p o x i f e n o é r a p i d a m e n t e a b s o r v i d o e passa p o r m e t a b o -
Norpropoxifeno
lismo h e p á t i c o d e p r i m e i r a p a s s a g e m e x t e n s o e m n o r p r o p o x i f e n o
(Figura 31-30). A t y i de e l i m i n a ç ã o p a r a p r o p o x i f e n o é de cerca
de 15 h o r a s (8 a 24), e a d o n o r p r o p o x i f e n o é d e 27 h o r a s (24 a pH > 11
34). O n o r p r o p o x i f e n o p o d e c o n t r i b u i r p a r a os efeitos analgési-
OH0
cos e cardiotóxicos d o p r o p r o x i f e n o .
A overdose d e p r o p o x i f e n o p o d e resultar e m (1) náuseas, (2)
v ô m i t o s , (3) s o n o l ê n c i a o u , em casos m a i s graves, (4) d e p r e s s ã o
HaC. \ y C H ; -CHi
d o S N C , (5) convulsão, (6) d e p r e s s ã o respiratória e (7) colapso
cardiovascular. A m o r t e , e m geral u m r e s u l t a d o d e d e p r e s s ã o Intermediário
respiratória e a r r i t m i a cardíaca, é m a i s c o m u m q u a n d o o p r o p o - cíclico CH-.
x i f e n o é ingerido c o m o u t r o d e p r e s s o r d o S N C , c o m o o álcool.
A i d e n t i f i c a ç ã o q u a l i t a t i v a d o p r o p o x i f e n o n a u r i n a p o d e ser
útil para a j u d a r a c o n f i r m a r o u estabelecer a causa d a s i n t o m a -
tologia de u m p a c i e n t e . Pelo f a t o d e o p r o p o x i f e n o ser f r e q ü e n -
t e m e n t e t o m a d o em c o m b i n a ç ã o c o m o p a r a c e t a m o l ou o ácido
acetilsalicílico, é aconselhável a q u a n t i f i c a ç ã o d o p a r a c e t a m o l e
salicilato n o soro para avaliar sua possível toxicidade.
O
v ch 3 oh
Metodologia Analítica CH3-CH2^C
O teste inicial de triagem para p r o p o x i f e n o t i p i c a m e n t e é o i m u n o -
N-CH 2 -ch-C-CH,
H íC - o
ensaio. Para c o n f i r m a ç ã o d e u m teste s u p o s t a m e n t e positivo, u m a
m e n s u r a ç ã o quantitativa d a droga é realizada usando-se G C - M S . Norpropoxifeno amida

Imunoensaio
Figura 3 1 - 3 0 i, N-Desmettlação de propoxifeno; 2, conversão
I m u n o e n s a i o s para p r o p o x i f e n o são p r o j e t a d o s para a detecção d o
catalisada p o r base de n o i p i o p o x i f e n o em n o r p r o p o x i f e n o amida.
f á r m a c o precursor. A reatividade cruzada c o m n o r p r o p o x i f e n o ,
p r e s e n t e e m c o n c e n t r a ç ã o m u i t o m a i o r d o q u e o f á r m a c o precur-
sor, g e r a l m e n t e é fraca. E m geral, o p r o p o x i f e n o p o d e ser d e t e c t a d o
p o r cerca d e 2 dias após o uso. A d i f e n i d r a m i n a p o d e produzir
a m a resposta falso-positiva com pelo m e n o s u m i m u n o e n s a i o .

Cromatografia Gasosa - Espectrometria de Massas Resposta Farmacológica e Toxicidade


U m r e s u l t a d o d e triagem positiva p a r a p r o p o x i f e n o o b t i d o p o r A P C P e a c e t a m i n a p a r t i l h a m características e s t r u t u r a i s e m
i m u n o e n s a i o é c o n f i r m a d o p o r análise G C - M S d a a m o s t r a d a c o m u m e p o s s u e m ações farmacológicas s e m e l h a n t e s . Elas são
u r i n a para n o r p r o p o x i f e n o . Pelo f a t o de o n o r p r o x i f e n o estar classificadas c o m o anestésicos dissociativos p o r q u e c a u s a m disso-
presente na urina em concentrações consideravelmente maiores ciação f u n c i o n a l d e (1) p e r c e p ç ã o da dor, (2) consciência, (3)
d o q u e o p r o p o x i f e n o e p e l o f a t o d e este ú l t i m o ter características m o v i m e n t o e (4) m e m ó r i a . Assim, u m a d o s e de anestésico p r o d u z
fracas p a r a G C , a análise d e c o n f i r m a ç ã o p o r G C - M S é direcio- analgesia p r o f u n d a , m a s os i n d i v í d u o s estão em e s t a d o a m n é s i c o
n a d a p a r a a d e t e r m i n a ç ã o d e n o r p r o p o x i f e n o a p ó s sua conversão e cataléptico p r o f u n d o c o m os o l h o s abertos, são capazes de
e m n o r p r o p o x i f e n o a m i d a (Figura 31-30). m o v e r os m e m b r o s i n v o l u n t a r i a m e n t e e a p r e s e n t a m depressão
respiratória ou cardiovascular m í n i m a . Pelo f a t o d e alguns indi-
Fenciclidina e Cetamina v í d u o s e x p e r i m e n t a r e m psicose a g u d a e disforia d u r a n t e aneste-
A f e n c i c l i d i n a { P C P ) é u m analgésico e anestésico v e t e r i n á r i o sia de e m e r g ê n c i a i n d u z i d a p o r PCP, ela foi retirada r a p i d a m e n t e
p o t e n t e . A l g u m a s vezes é u s a d a de m a n e i r a ilícita p o r seres d o u s o clínico. A c e t a m i n a t e m cerca de u m d é c i m o d a p o t ê n c i a
h u m a n o s e m casos de u s o a b u s i v o de drogas, l e v a n d o a d i s t ú r b i o s da PCP, u m a d u r a ç ã o d e ação m a i s c u r t a e reações d e e m e r g ê n c i a
psicológicos graves. A c e t a m i n a é u m anestésico geral d e ação m e n o s p r o e m i n e n t e s , e s p e c i a l m e n t e e m crianças. Seu uso e m
r á p i d a e auxiliar anestésico, a d m i n i s t r a d a p o r via i n t r a m u s c u l a r seres h u m a n o s é a m p l a m e n t e l i m i t a d o à p e d i a t r i a , m a s ela é
o u intravenosa. l a r g a m e n t e aplicada n a m e d i c i n a veterinária.
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 611

O a c r ô n i m o P C P é derivado d o n o m e q u í m i c o p a r a PCP, tados d e v i d o às altas c o n c e n t r a ç õ e s d e d e x t r o m e t o r f a n o , difeni-


l-(l-phenilcicloexil)-piperidina ou de sua designação d u r a n t e os d r a m i n a e tioridazina. A c o n f i r m a ç ã o das amostras positivas d o
a n o s d e 1960 c o m o a "pílula d a paz" (do inglês, peace pi 11). A P C P i m u n o e n s a i o usando-se u m a técnica alternativa (p. ex., G C - M S )
é usada r e c r e a c i o n a l m e n t e d e v i d o à sua experiência d e alteração é, p o r t a n t o , necessária.
d a m e n t e o u "fora d o c o r p o " . O s efeitos adversos são c o m p l e x o s
e imprevisíveis. Estes i n c l u e m (1) euforia, (2) disforia, (3) ataxia, Cromatografia Gasosa - Espectrometria de Massas
(4) n i s t a g m o , (5) agitação, (6) a n s i e d a d e , (7) p a r a n ó i a , (8) a m n é s i a , Exige-se que a P C P seja i n c l u í d a n o s p r o g r a m a s de triagem para
(9) convulsões, (10) rigidez m u s c u l a r , (11) hostilidade, (12) delírio, uso abusivo de drogas r e g u l a d o s p e l o governo d o s E U A (Tabela
(13) ilusões d e grandeza e (14) alucinações. U m a sensação d e 31-5); p r o g r a m a s d e triagem não-governa m e n t a is p o d e m escolher
força s o b r e - h u m a n a , j u n t a m e n t e c o m a u s ê n c i a d e p e r c e p ç ã o d a incluir a P C P nas triagens para u s o abusivo de drogas, d e p e n -
dor, p o d e levar a esforço físico excessivo e t r a u m a t i s m o auto- d e n d o d a p r o b a b i l i d a d e local de u s o d e PCP. A triagem inicial
i n d u z i d o acidental ou i n t e n c i o n a l , que, e m alguns casos, p o d e m p o r i m u n o e n s a i o , se positiva, é seguida de c o n f i r m a c ã o u s a n d o
levar a r a b d o m i ó l i s e e insuficiência r e n a l m i o g l o b i n ú r i c a . Assim, GOMS.
as m o r t e s relacionadas c o m P C P mais f r e q ü e n t e m e n t e são secun-
dárias a estes efeitos c o m p o r t a m e n t a i s adversos d a d r o g a . O uso D e t e c ç ã o de Drogas de Uso Abusivo Usando
r e c r e a c i o n a l d a P C P d i m i n u i u d e s d e a d é c a d a d e 1980, mas Outros Tipos de Amostras
c o n t i n u a s e n d o u m p r o b l e m a e m algumas grandes c i d a d e s metro- A u r i n a a t u a l m e n t e é a a m o s t r a mais c o m u m para detecção d e
p o l i t a n a s . C o m uso r e p e t i d o de PCP, pode-se desenvolver d e p e n - drogas d e u s o abusivo. E n t r e t a n t o , o intervalo de t e m p o n o q u a l
d ê n c i a psicológica, mas a tolerância ou a s í n d r o m e d a a b s t i n ê n c i a as drogas p o d e m ser d e t e c t a d a s g e r a l m e n t e é l i m i t a d o a alguns
não é profunda. dias após o uso d a droga. A l é m disso, a coleta d e u r i n a p o d e
A d r o g a é r a p i d a m e n t e absorvida d o trato G l . Esta f o r m a de r e q u e r e r u m a certa invasão d a privacidade e p e r d a d a d i g n i d a d e ,
ingestão é difícil de regular e resulta, p o r t a n t o , n a mais alta e as amostras d e u r i n a e s t ã o sujeitas a a d u l t e r a ç ã o o u m a n i p u l a -
p r o b a b i l i d a d e d e overdose ou "viagens r u i n s " . Assim, f u m a r ( P C P ção para escapar da d e t e c ç ã o . Por estas razões, pesquisaram-se
p o l v i l h a d a n o tabaco, folhas d e salsa ou m a c o n h a ) é h o j e a f o r m a amostras biológicas alternativas q u e p o s s a m evitar algumas destas
mais p o p u l a r de ingestão, p o r q u e os u s u á r i o s p o d e m a u t o t i t u l a r limitações. 5
os efeitos mais perigosos d a PCP. U m a vez absorvida, a P C P é
extensamente metabolizada pelo fígado (aproximadamente 9 0 % Mecônio
d e u m a dose); a p e n a s 10% a 15% são excretados s e m alterações
O m e c ô n i o são as p r i m e i r a s fezes d e u m lactente. O e x a m e d o
na urina.
m e c ô n i o para detecção d e drogas possibilita u m a taxa m e l h o r a d a
O t r a t a m e n t o da toxicidade pela P C P é d e s u p o r t e . Agitação
de detecção de droga, se c o m p a r a d a c o m a u r i n a .
grave o u convulsões p o d e m r e s p o n d e r ao d i a z e p a m . Psicoses
O m e c ô n i o c o m e ç a a se formar d u r a n t e o s e g u n d o t r i m e s t r e
graves p o d e m r e q u e r e r u m f á r m a c o n e u r o l é p t i c o , c o m o o halo-
e c o n t í n u a a acumular-se até o n a s c i m e n t o . Acreditasse q u e as
p e r i d o l . Para os casos mais graves, a sucção nasogástrica c o n t í n u a
drogas são d e p o s i t a d a s n o m e c ô n i o p o r m e i o d a excreção biliar
para a j u d a r a remover a P C P p o d e ser benéfica.
fetal e pela deglutição d o l í q u i d o a m n i ó t i c o , q u e c o n t é m droga
A c e t a m i n a ( c o n h e c i d a nas ruas c o m o v i t a m i n a K [do inglês
e m e t a b ó l i t o s d a droga e l i m i n a d o s n a u r i n a fetal. O teste d o
k e t a m i n e ] , K especial, s u p e r K, cat valiwmj t o r n o u - s e p o p u l a r
m e c ô n i o p o d e , p o r t a n t o , f o r n e c e r evidências históricas d o u s o
c o m o u m a "droga sintética" (clwb drug) d e v i d o a seus efeitos alu-
m a t e r n o da droga a q u a l q u e r m o m e n t o d u r a n t e os dois ú l t i m o s
c i n ó g e n o s de alteração d o h u m o r s e m e l h a n t e s aos d a P C P e d o
trimestres. A l g u n s toxicologistas sugeriram q u e o limite de detec-
L S D ( c h a m a d o s de "terra d o K"), mas e m dose m a i s alta p o d e
ção d o ensaio é mais i m p o r t a n t e d o q u e o tipo d e am os t r a e q u e
causar u m a experiência de estar "fora d o c o r p o " ou " p r ó x i m o d a os resultados d o e x a m e de u r i n a comparáveis aos d o m e c ô n i o
m o r t e " c h a m a d a d e "k-hole" ( b u r a c o d o K). Suas p r o p r i e d a d e s
serão a t i n g i d o s ao se abaixar o corte de t r i a g e m típico para o
anestésicas e amnésicas, s e g u n d o relatado, r e s u l t a r a m e m seu uso exame de urina.
como droga do "encontro com estupro".
E m b o r a o m e c ô n i o seja mais f a c i l m e n t e c o l e t a d o dos recém-
nascidos d o q u e a u r i n a , é c o n s i d e r a v e l m e n t e mais difícil analisá-
Metodologia Analítica lo. O m e c ô n i o é u m m a t e r i a l gelatinoso, h e t e r o g ê n e o , d o qual
O teste inicial de t r i a g e m para P C P t i p i c a m e n t e é o i m u n o e n s a i o . as drogas t ê m de ser extraídas antes da análise p o r i m u n o e n s a i o
Para c o n f i r m a ç ã o d e s u p o s t o r e s u l t a d o positivo, u m a m e n s u r a ç ã o e confirmação por GC-MS.
q u a n t i t a t i v a d a droga é realizada usando^se G C - M S . O s i m u n o - E s t u d o s sobre o m e c ô n i o l e v a n t a r a m novas questões sobre o
ensaios p a r a c e t a m i n a n ã o estão disponíveis. A c e t a m i n a p o d e m e t a b o l i s m o fetal versus m a t e r n o d a droga. Por exempla, e m b o r a
ser d e t e r m i n a d a p o r G C - M S o u LC-MS. m-hidroxibenzoilecgonina e p-hidroxibenzoilecgonina estejam pre-
sentes e m q u a n t i d a d e s m e n o r e s n a u r i n a d o a d u l t o d o que a
Imunoensaio benzoilecgonina, elas são os principais c o n t r i b u i n t e s para a imu-
A q u a n t i f i c a ç ã o d a P C P n o s o r o n ã o é útil n o d i a g n ó s t i c o o u norreatividade d a b e n z o i l e c g o n i n a n o m e c ô n i o . N ã o está esclare-
t r a t a m e n t o d e toxicidade d a PCP, p o r q u e h á u m a baixa correla- cido se estes a c h a d o s r e p r e s e n t a m u m a diferença n o m e t a b o l i s m o
ção e n t r e a c o n c e n t r a ç ã o d a droga e seus efeitos. E n t r e t a n t o , a fetal da cocaína ou se são r e s u l t a d o de transferência placentária
i d e n t i f i c a ç ã o q u a n t i t a t i v a de P C P n a u r i n a é útil para a j u d a r n o destes metabólitos. D a m e s m a forma, a c o n c o r d â n c i a e n t r e a
d i a g n ó s t i c o de toxicidade à PCP. C o m este p r o p ó s i t o , os i m u n o - triagem c o m i m u n o e n s a i o para metabólitos de m a c o n h a e a con-
ensaios específicos p a r a P C P são r á p i d o s e g e r a l m e n t e mais sen- f i r m a ç ã o p o r G C - M S para T H C - C O O H (veja C a n a b i n ó i d e s ) é
síveis d o q u e a T L C . A inclusão o u n ã o d a P C P e m u m a triagem c o n s i d e r a v e l m e n t e m e n o r p a r a o m e c ô n i o d o q u e para a urina,
p a r a d e t e c ç ã o de drogas n a u r i n a d e p e n d e d e r e g u l a m e n t o s apli- p o r q u e o m e c ô n i o c o n t é m maiores q u a n t i d a d e s de metabólitos
cáveis e d a prevalência d o uso de P C P n a c o m u n i d a d e local. E m de ll-hidróxi-A 9 -THC e 8 p , l l - d i i d r ó x i - A 9 - T H C (Figura 31-18).
alguns locais, a prevalência d o u s o d e P C P p o d e ser b a i x a d e m a i s A s s i m c o m o para a u r i n a n o a d u l t o , o cocaetileno p o d e ser
para justificar u m a triagem d e r o t i n a para PCP. O s i m u n o e n s a i o s d e t e c t a d o n o m e c ô n i o e s u a p r e s e n ç a i n d i c a o u s o m a t e r n o de
para P C P g e r a l m e n t e são confiáveis; fiais os-positivos f o r a m rela- e t a n o l e cocaína (veja seção sobre C o c a í n a ) . O u s o significativo
612 PARTE IV Analitos

de álcool durante a gravidez pode ser indicado pela mensuração de Os dispositivos para coleta de suor com adesivos semelhantes
etil ésteres de ácido graxo no mecônío. a u m a atadura adesiva podem ser usados por vários dias a
semanas, durante as quais a droga, se presente, acumula-se na
Cabelos almofada absorvente n o adesivo e n q u a n t o o vapor de água escapa
Desde a década de 1970, o cabelo tem sido analisado para detec- através de u m a cobertura semipermeável. Assim, o teste de detec-
ção de metais com objetivo de avaliar o estado nutricional. Entre- ção de drogas n o suor oferece a possibilidade de m o n i t o r a r o uso
tanto, (1) ausência de procedimentos padronizados (coleta, pre- d u r a n t e períodos prolongados de tempo sem a necessidade de
paração e análise), (2) ausência de limites de referência e (3) coleta freqúente da urina. O teste de detecção de drogas pelo
problemas causados por contaminação ambiental limitaram o suor seria particularmente vantajoso para m o n i t o r a m e n t o do uso
sucesso da análise dos cabelos com este propósito. C o n t u d o , a de drogas em instituições de correção ou em programas de rea-
análise de c h u m b o , arsênico e mercúrio n o cabelo é u m m é t o d o bilitação de drogaditos. Os valores de corte atualmente propostos
estabelecido e aceito de avaliação de exposição tóxica anterior a pela SAMHSA estão listados na Tabela 31-6.
estes metais (Capítulo 32).
O cabelo apresenta vantagens como amostra biológica porque Saliva (Líquido Oral)
é facilmente obtido sem perda da privacidade ou dignidade (a A mensuração de drogas na saliva é interessante tanto com obje-
menos que se o b t e n h a m pêlos pubianos) e não é facilmente tivo de m o n i t o r a m e n t o terapêutico de fármacos como para a
alterado ou m a n i p u l a d o para evitar a detecção da droga. Além detecção de uso de drogas ilícitas. Comparada com a urina, a
disso, u m a vez depositadas n o cabelo, as drogas são muito mais saliva é fácil de ser obtida, com m e n o r invasão da privacidade e
estáveis; portanto, o uso anterior da droga pode sei detectado menos facilidade de adulteração. A saliva é u m ultrafiltrado do
durante vários meses. Pelo fato de o cabelo crescer a u m a taxa plasma; portanto, a concentração de drogas nela reflete a fração
relativamente constante (0,3 a 0,4 mm/Mia), existe o potencial livre ou ativa e pode refletir mais estreitamente o efeito da droga
para análise segmentar do cabelo para fornecer u m a "narrativa" do que é possível com mensurações na urina. A transferência da
do uso anterior da droga. droga do sangue para a saliva é influenciada pela ligação da droga
Os mecanismos pelos quais as drogas são depositadas nos à proteína, pK a , pela solubilidade lipídica e pelo p H do sangue
cabelos não são b e m compreendidos, mas p o d e m incluir (1) (a saliva é mais ácida do que o sangue). Em geral, as drogas estão
transferência de sangue para o pedículo piloso em crescimento, presentes na saliva em concentração mais baixa e p o d e m ser
(2) transferência do suor e sebo (algumas glândulas sudoríparas detectadas por um período de t e m p o mais curto, se comparado
esvaziam-se nos folículos pilosos) e (3) contaminação ambiental. com o da urina. A detecção de drogas na saliva, portanto, indica
Os fatores que p o d e m afetar o depósito de drogas nos cabelos uso recente. Além disso, a concentração de droga na saliva pode
t a m b é m não estão bem estabelecidos, mas p o d e m incluir (1) a correlacionar-se com o grau de deficiência, exceto q u a n d o a con-
taxa de crescimento do cabelo, (2) localização anatômica do taminação bucal possa ter ocorrido devido a ingestão oral, f u m o
cabelo, (3) tipo de cabelo, (4) cor do cabelo (conteúdo de mela- ou inalação da droga. Os valores de corte preliminares da
nina), (5) efeitos dos vários tratamentos capilares e (6) contami- S A M H S A para drogas na saliva são apresentados na Tabela 31-6.
nação ambiental, especialmente por drogas que são fumadas eles foram validados por um estudo de grande porte.
(maconha, cocaína, heroína e PCP).
As drogas, q u a n d o depositadas nos cabelos, em geral estão ETILENO GLICOL
presentes em concentrações relativamente baixas (pg/mg-ng/mg); O etileno glicol (etano-l,2-diol) está presente em produtos de
portanto, técnicas analíticas sensíveis são necessárias para detec- anticongelamento. Ele pode ser ingerido acidentalmente ou com
ção. Além disso, a droga precursora geralmente está presente em o propósito de embriaguez ou suicídio.
maior quantidade d o que os metabólitos. Alguns imunoensaios
projetados primariamente para teste de detecção de drogas na
Resposta Farmacológica e Toxicidade
urina são de uso limitado para análise dos cabelos. A confirma-
O etileno glicol enr si é relativamente não-tóxico, e seus efeitos
ção dos resultados do imunoensaio, geralmente por G O M S ,
iniciais n o S N C são semelhantes aos do etanol. Entretanto, o
GC-MS-MS ou LOMS-MS, continua sendo u m requisito para
metabolismo do etileno glicol pela A D H resulta na formação de
qualquer aplicação jurídica d o teste de detecção de drogas nos
inúmeros metabólitos do ácido, incluindo o ácido oxálico e o
cabelos. Estas técnicas também podem ser adequadas para
ácido glicólico (Figura 31-31).
triagem inicial qualitativa de uso abusivo de drogas e para análise
Estes metabólitos do ácido são responsáveis por grande parte
seqüencial direta do cabelo sem imunoensaio anterior. da toxicidade do etileno glicol, cujas manifestações clínicas
Para detecção de droga, o cabelo oferece vantagens potenciais,
incluem (1) anormalidades neurológicas, (2) acidose metabólica
se comparado com a urina. Entretanto, é necessária uma melhor
grave, (3) insuficiência Tenal aguda e (4) insuficiência cardiopul-
compreensão da disposição cinética das drogas nos cabelos. Além
monar. A concentração sérica de ácido glicólico correlaciona-se
disso, (1) métodos de lavagem, extração ou digestão e análise
mais estreitamente com os sintomas clínicos e com mortalidade
terão todos de ser mais padronizados; (2) limites de corte terão
do que a concentração do etileno glicol. Devido à rápida elimi-
de ser consensuais; e (3) controle de qualidade adequado e mate-
nação do etileno glicol (ti/2 = aproximadamente 3 horas), sua
riais de teste de proficiência terão de ser desenvolvidos. Tendo
concentração sérica pode ser baixa ou indetectável, e a do ácido
estes objetivos, SAMHSA propôs valores de corte preliminares
glicólico continua elevada. Assim, a determinação de etileno
das drogas para análise dos cabelos (Tabela 31-6).
glicol e d o ácido glicólico fornece informações analíticas clínicas
e de confirmação em casos de ingestão d o etileno glicol. Outros
Suor achados laboratoriais c o m u m e n t e observados com intoxicação
As drogas p o d e m ser excretadas n o suor e, assim como para os por etileno glicol incluem intervalo osmolar e gaf aniônico
cabelos, a droga precursora geralmente está presente em u m a séricos, redução do cálcio sérico e presença de cristais de oxalato
quantidade maior do que os metabólitos. Além disso, a excreção de cálcio na urina. A redução do cálcio sérico resulta em depósito
n o suor pode ser um mecanismo importante pelo qual as drogas de oxalato n o tecido ou de u m a possível interferência na resposta
p e n e t r a m nos cabelos. h o r m o n a l paratireoideana noraial, ou de ambos.
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 613

CHjOH Metodologia Analítica


EciIeno
Íh,oh ®licnl A intoxicação por etileno glicol é relativamente rara mas, q u a n d o
ocorre, é importante que o laboratório forneça suporte analitico
Álcool ãesidrogenase rápido (menos de 2 horas). O etileno glicol (e o ácido glicólico)
requer procedimentos cromatográfícos completamente validados
ch 2 oh (p. ex., GC-MS). O etileno glicol p o d e ser rapidamente mensu-
I Glioxal rado com o uso de glicerol desidrogenase, mas estes métodos
enzimáticos estão sujeitos a interferência por inúmeras substân-
cias endógenas e exógenas. U m intervalo osmolar sérico maior
que 10 m m o l / L pode ser u m indicador inespecífico da presença
de etileno glicol.
CH 2 OH
I Acidn filicálico FERRO
O ' ^OH Vários metais tóxicos são discutidos nos Capítulos 27 e 32. Pelo fato
de a avaliação na overdose aguda por ferro requerer suporte laborato-
rial de emergência, ele também é discutido neste capítulo.

r
.H Resposta Farmacológica e Toxicidade
Ácido glioxílico Q u a n d o a intoxicação aguda por ferro ocorre em crianças, p o d e m
. Á ocorrer morbidade significativa ou morte. Os efeitos tóxicos ini-
ciais do trato GI são resultado de u m a ação corrosiva direta do
ferro na mucosa, que pode causar edema, infarto, ulceração ou
hemorragia de mucosa. C o m o resultado, os sintomas clínicos de
(1) náuseas, (2) vômitos, (3) dor abdominal, (4) diarréia, (5)
O. OH
V Acido axálico hematêmese e (6) melena p o d e m ser evidentes. As ações sistêmi-
cas d o excesso de ferro afetam (1) sistema cardiovascular, (2)
O^^OH funções metabólicas gerais, (3) fígado e (4) SNC. Os efeitos car-
diovasculares da toxicidade do ferro incluem (1) redução d o
Figura 31-31 Metabolismo de etileno glicol.
débito cardíaco, (2) acúmulo de sangue venoso e (3) vazamento
capilar, sendo que todos p o d e m levar a hipotensão, choque,
cianose, letargia, taquicardia e acidose lática. N o fígado, o excesso
de ferro pode causar edema ou necrose dos hepatócitos, o que
resulta em testes de f u n ç ã o hepática anormais e coagulopatia. A
disfunção do ciclo de Krebs e a tosforilação oxidativa levam a
acidose metabólica e secundariamente causam hiperglicemia. Os
O reconhecimento precoce da intoxicação por etileno glicol efeitos no S N C variam desde letargia e e m b o t a m e n t o até coma.
e a necessidade de intervenção terapêutica o p o r t u n a são impor- Estes efeitos p o d e m ser secundários a toxicidade cardiovascular,
tantes devido à meia-vida curta d o composto (cerca de 3 horas). hepática, metabólica e a uma ação direta d o ferro n o SNC.
A concentração sanguínea de etileno glicol pode cah rapida- O tratamento específico para toxicidade d o ferro envolve a
mente durante as primeiras 24 hoias após a ingestão. Portanto, administração de deferoxamina em ferro quelatado não-ligado.
concentrações séricas relativamente baixas (0,05 a 2 g/L) p o d e m A decisão de administrar deferoxamina baseia-se na história,
ser observadas na intoxicação grave caso passem várias horas sintomas clínicos e mensuração de ferro sérico. Em geral, há
entre o tempo de ingestão e o da coleta da amostra de sangue. evidência de uma toxicidade apenas b r a n d a q u a n d o o ferro sérico
Nestes casos, a mensuração d o ácido glicólico é especialmente está abaixo de 300 p g / d L , e a administração de deferoxamina
importante. As concentrações séricas associadas a mortes devido n o r m a l m e n t e não é necessária. Q u a n d o o feTto sérico atinge 500
à ingestão de etileno glicol variaram de 0,06 a 4,3 g/L. [ig/dL, u m a toxicidade sistêmica grave é provável e pode ser fatal
A terapia adequada para intoxicação por etileno glicol inclui em concentrações de 1.000 jig/dL ou mais. O ferro sérico deve
(1) administração de fomepizol (4-metilpirazol) ou etanol para ser m e d i d o à admissão e novamente 4 a 6 horas após a ingestão,
inibir de maneira competitiva o metabolismo mediado por A D H q u a n d o a absorção deve estar completa e a concentração sérica
do etileno glicol, (2) terapia agressiva com bicarbonato de sódio máxima é obtida. A mensuração seriada de ferro sérico é justifi-
para ajudar a aliviar a acidose e (3) hemodiálise ou diurese forçada cada se u m a medicação de liberação contínua tiver sido ingerida
para aumentar a remoção do etileno glicol e metabólitos do o u se grandes massas intestinais forem evidentes n o raio X de
ácido. A administração de etanol ou preferivelmente fomepizol abdome.
em geral á r e c o m e n d a d a q u a n d o a concentração de etileno glicol
sérico é maior d o que 0,2 g/L. A hemodiálise remove de maneira Metodologia Analítica
efetiva o etileno glicol e o ácido glicólico e é recomendada q u a n d o A toxicidade do ferro presumivelmente não é provável, a menos
a concentração de etileno glicol sérico é maior do que 0,5 g / L , que a concentração sérica total de ferro exceda a capacidade total
com acidose metabólica grave (pH m e n o r que 7,25 a 7,30) ou de ligação ao ferro (TIBC). Assim, a mensuração de T I B C seria
com insuficiência renal, independente da concentração de etileno importante nos casos de intoxicação por ferro, mas é desencora-
glicol sérico. O ácido glicólico sérico maior que ou igual a 10 jada devido às limitações metodológicas (Capítulo 28). Na deter-
m m o l / L prevê, com alta probabilidade, insuficiência renal aguda minação da TIBC, o excesso de ferro é adicionado ao soro para
e a necessidade de hemodiálise, e n q u a n t o aqueles pacientes com ligar todos os sítios de ligação d o ferro disponíveis. O excesso de
concentrações menores que 10 m m o l / L provavelmente requerem ferro não-ligado é então removido por u m material absorvente
apenas terapia d e antimetabólitos adequada. (p. ex., M g C 0 3 ) antes da mensuração d o ferro ligado. Na pre-
614 PARTE IV Analitos

sença de excesso de f e n o e n d ó g e n o , este material a b s o r v e n t e t a n t e sofre hidrólise e s p o n t â n e a c o m s u b s e q ü e n t e reativaçao


p o d e ser i n a d e q u a d o p a r a r e m o v e r t o d o o ferro não-ligado, o q u e enzimática desde velocidades m u i t o lentas até e s s e n c i a l m e n t e
resulta e m u m a T I B C f a l s a m e n t e elevada. E n t r e t a n t o , esta limi- inexistentes, d e p e n d e n d o d o t a m a n h o d o s g r u p o s alquila. A l é m
tação n ã o se aplica à m e n s u r a ç ã o h o m o g ê n e a da c a p a c i d a d e de disso, alguns complexos enzimáticos fosforilados, e s p e c i a l m e n t e
ligação d o f e r r o i n s a t u r a d o ( U I B C ) , pelo m e n o s até u m ferro aqueles c o m u m g r u p o alquila s e c u n d á r i o , p e r d e m u m g r u p o
total de 5 0 0 | I g / d L , ou à d e t e r m i n a ç ã o i m u n o q u í m i c a da trans- alquila e m velocidades variáveis (geralmente 24 a 48 horas) p a r a
ferrina, a m b a s as quais p o d e m ser realizadas e m analisadores f o r m a r u m a ligação q u e é c o m p l e t a m e n t e resistente até m e s m o
q u í m i c o s gerais a u t o m a t i z a d o s . O T I B C (\xg/dL) é igual ao U I B C à hidrólise f a r m a c o l o g i c a m e n t e m e d i a d a (Figura 31-33). Esta
(jag/dL) + Fe ( f l g / d L ) ou à transferrina ( m g / d L ) x 1,43. U m reação é c h a m a d a de " e n v e l h e c i m e n t o " da enzima. A o c o n t r á r i o
c o m i t ê de toxicologia especialista da N a t i o n a l A c a d e m y of Clini- da ligação fosforil-serina, a ligação carbamil-serina sofre hidrólise
cai B i o c h e m i s t r y r e c o m e n d a a d e t e r m i n a ç ã o destas análises p a r a e s p o n t â n e a c o m r e g e n e r a ç ã o da atividade enzimática (24 a 48
avaliação da toxicidade d o ferro. 1 6 horas). Por esta razão e devido à p e n e t r a ç ã o precária n o S N C , a
A d e f e r o x a m i n a i n t e r f e r e nas m e n s u r a ç õ e s f o t o métricas d o n euro toxicidade d o inseticida c o m c a r b a m a t o é m e n o s grave e d e
ferro e U I B C , u m a c o n s i d e r a ç ã o i m p o r t a n t e se o ferTo sérico e d u r a ç ã o mais curta d o q u e aquela c o m o r g a n o f o s f o r a d o s .
as m e n s u r a ç õ e s d e U I B C f o r e m usadas p a r a m o n i t o r a r a terapia
com deferoxamina. A deferoxamina tem uma c u r t a (aproxi-
m a d a m e n t e 1 hora); p o r t a n t o , u m atraso de p e l o m e n o s 4 h o r a s Resposta Farmacológica e Toxicidade
após a a d m i n i s t r a ç ã o de d e f e r o x a m i n a seria a p r o p r i a d o antes de O excesso de acetilcolina sináptica estimula os receptores musca-
as m e n s u r a ç õ e s de ferro sérico e U I B C serem repetidas. rínicos (periféricos e d o S N C ) , mas depois d e p r i m e o u paralisa
os receptores nicotínicos. A ativação d o s receptores m u s c a r í n i c o s
INSETICIDAS ORGANOFOSFORADO E DE periféricos causa (1) diarréia, (2) micção, (3) miose, (4) bradicar-
CARBAMATO dia, (5) êmese, (6) s u d o r e s e , (7) salivação e (8) b r o n c o r r é i a / b r on-
coconstrição.
U m agente colinérgico é q u a l q u e r substância q u í m i c a q u e
O s efeitos n e u r o t ó x i c o s n o S N C p e l o excesso d e estimulação
a u m e n t a os efeitos m e d i a d o s pela acetilcolina n o S N C , n o
d o s receptores m u s c a r í n i c o s i n c l u e m (1) inquietação, (2) agita-
sistema n e r v o s o periférico o u e m a m b o s . A acetilcolina é u m
ção, (3) letargia, (4) c o n f u s ã o , (5) fala ininteligível, (6) convulsões,
n e u r o t r a n s m i s s o r essencial q u e afeta (1) sinapses parassimpáticas
(7) c o m a , (8) depressão cardiorrespiratória o u (9) m o r t e .
( a u t ô n o m a s e d o S N C ) , (2) sinapses pré-ganglionares simpáticas
A estimulação o u paralisia dos receptores n i c o t í n i c o s na
e (3) j u n ç ã o n e u r o m u s c u l a r . A hidrólise da acetilcolina pela
j u n ç ã o n e u r o m u s c u l a r causa (1) fasciculações musculares, (2)
acetilcolinesteTase, q u e está p r e s e n t e n o tecido nervoso, n o r m a l -
cãibras, (3) fraqueza e (4) paralisia m u s c u l a r respiratória. A esti-
m e n t e limita a d u r a ç ã o da ação deste n e u r o t r a n s m i s s o r e possi-
m u l a ç ã o d o s receptores n i c o t í n i c o s n o s gânglios simpáticos
bilita u m a f u n ç ã o sináptica n o r m a l . O s inseticidas organofosfo-
resulta e m h i p e r t e n s ã o , taquicardia, palidez e midríase.
r a d o (p.ex., M a l a t h i o n , P a r a t h i o n , D i a z i n o n , D u r s b a n ) e de car-
A m o r t e mais c o m u m e n t e resulta de insuficiência respirató-
b a m a t o (p.ex., Sevin e F u r a d a n ) (Figura 31-32) exercem sua
ria, u m a c o n s e q ü ê n c i a d e paralisia m u s c u l a r m e d i a d a p o r recep-
toxicidade i n i b i n d o a ação da acetilcolinesterase e, p o r t a n t o ,
t o r n i c o t í n i c o , c o m b i n a d a c o m b r o n c o r r é i a facilitada p o r musca-
p r o v o c a n d o u m a resposta colinérgica p r o n u n c i a d a . A inibição
rínicos, b r o n c o c o n s t r i ç ã o e depressão d o S N C .
enzimática é c o n s e q ü ê n c i a d a fosforilação ( o r g a n o f o s f o r a d o s ) o u
A terapia específica p a r a intoxicação p o r inseticida organo-
d a c a r b a m i l a ç ã o (carbamatos) d o g r u p o hidroxila da serina n o
f o s f o r a d o e d e c a r b a m a t o inclui a d m i n i s t r a ç ã o de a t r o p i n a p a r a
local ativo da co li neste rase. A ligação d e alquilfosforilserina resul-
b l o q u e a r as ações m u s c a r í n i c a s (mas n ã o nicotinicas) da acetilco-
lina. A l é m disso, administra-se p r a l i d o x i m a para Teativai a coli-
Inseticida organofosforado nesterase. A p r a l i d o x i m a liga-se ao local catalítico da colinesterase
e realiza desfosforilação ou d e s c a r b a m o i l a ç ã o d o g r u p o serina
(Figura 31-33). A p r a l i d o x i m a é inefetiva n a reativação da f o r m a
"envelhecida" da e n z i m a fosforilada. A a d m i n i s t r a ç ã o de pralido-
x i m a p o d e n ã o ser necessária n o s casos de intoxicação p o r inse-
R„ R-3 " por exemplo, " O CH3, O—CH2—CH3
ticida d e c a r b a m a t o p o r q u e a colinesterase q u e sofreu carbamoi-
X = por exemplo, B, CN, O ^ NOj lação reativa-se e s p o n t a n e a m e n t e e m u m p e r í o d o d e p o u c a s
horas.
As seqüelas neurológicas da intoxicação p o r o r g a n o f o s f o r a d o
(fraqueza m u s c u l a r o u paralisia; s i n t o m a s s e m e l h a n t e s aos d a
Carbamate inseclicide d o e n ç a de Parkinson) p o d e m ocorrer após a crise colinérgica
O inicial ter r e s p o n d i d o à terapia c o m a t r o p i n a e oxima.
CH]-NH—tf
O—X
inseticida dc cjuI<íuiiu.> Metodologia Analítica
A acetilcolinesterase s e m e l h a n t e àquela n o tecido n e r v o s o
a - pur cwrinfl.i. I| t a m b é m está p r e s e n t e n o s eritrócitos e sua m e n s u r a ç ã o é útil p a r a
o diagnóstico de intoxicação p o r inseticida o r g a n o f o s f o r a d o ou
d e c a r b a m a t o . A m e n s u r a ç ã o desta colinesterase e d e u m a
Figura 3 1 - 3 2 Estruturas químicas gerais paTa inseticidas s e g u n d a enzima c o n h e c i d a c o m o butirilcolinesterase o u p s e u d o -
organofosforado e de carbamato. colinesterase é discutida n o C a p i t u l o 19.
Toxicologia Clínica CAPÍTULO 31 BIS

Oxima-fosfonato

V
N
e
H ; ^ o
H 3 < rCs \p/
Pralidoxima X
RO' OR' R</ OR'
V
ò
'V

Colinesterase Inativada Colinesterase Inativada Colinesterase


Regenerada

R1
J Envelhe c i m e n t o

Pralidoxima

Colinesterase Inativa de

Figura 3 1 - 3 3 Reativação de acetilcolinesterase fosforilada por pralidoxima; f o r m a ç ã o de enzima fosforilada


"envelhecida", q u e n ã o reativa. A tríade catalítica em local ativo de serina, histidina e glutamato é representada
por O H , - N H , e u m a carga negativa, respectivamente.

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9. Jenkins A], Goldberger BA, eds. On-site drug testing. Totowa, NJ. deparrment Clin C h e m 2003;49 357-9
Humana Press, 2002.
CAPÍTULO 3 2

Metais Tóxicos
Thomas P. Moyer, Ph.D., Mary F. Burritt, Ph.D., e John A. Butz, III, B.A.

OBJETIVOS CONCEITOS BÁSICOS


1. Definir toxina e metais pesados. I m p o r t a n t e s questões p a r a c o n s i d e r a r a toxicidade p o r metais
2. Listar os efeitos tóxicos de cinco metais, incluindo o chumbo, e são: (1) E u m m e t a l d e interesse toxicológico? (2) Q u a l a preva-
seus antídotos. lência associada ao m e t a l e m questão? (3) Q u a i s são os sinais e
3. Descrever os métodos de análise para os metais tóxicos. s i n t o m a s da exposição ao metal? (4) O grau d e exposição é c o n h e -
cido? (5) Existem técnicas a d e q u a d a s para m e n s u r a r o metal? (6)
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES H á tecidos utilizáveis paTa q u a n r i f i c a r o metal?
A T S D R : A g e n c y for Toxic S u b s t a n c e s a n d Disease Registry. A p r i m e i r a p a r t e deste c a p í t u l o r e s p o n d e a essas p e r g u n t a s .
C E R C L A : Comprehensive Etivironmental Response, A s e g u n d a p a r t e se c o n c e n t r a nas características únicas de vários
C o m p e n s a t i o n , a n d Liability Act. metais c o m u n s que s a b i d a m e n t e são tóxicos. O s leitores p o d e m
M e t a i s P e s a d o s : E l e m e n t o s metálicos c o m altos pesos p r o c u r a r i n f o r m a ç õ e s adicionais s o b r e toxicidade dos metais n o
moleculares, g e r a l m e n t e tóxicos à vida a n i m a l e vegetal e m Tietz Textbook of Clinicai Chemistrj and Molecular Diãgnostics, 4S
baixas c o n c e n t r a ç õ e s . Tais metais são f r e q ü e n t e m e n t e edição 12 ou n o C a s a r e t t o & Douí['s Toxicoíogy .10
residuais n o m e i o - a m b i e n t e e a p r e s e n t a m a c u m u l a ç ã o
biológica. São exemplos o m e r c ú r i o , o c r o m o , o c á d m i o , o
a r s ê n i c o e o c h u m b o . N o t a : o I n t e r n a t i o n a l U n i o n of P u r e Prevalência da Toxicidade por Metais
a n d A p p l i e d ChemistTy ( I U P A C ) c o n s i d e r a o t e r m o " m e t a l O s seres h u m a n o s f r e q ü e n t e m e n t e e n t r a m e m c o n t a t o c o m
p e s a d o " s e m s e n t i d o e q u e passa u m a idéia errada, e toxinas elementais, c o m exposição crônica e de baixa c o n c e n t r a -
r e c o m e n d a q u e n ã c seja m a i s u s a d o . ção o c o r r e n d o c o m mais f r e q ü ê n c i a e m indivíduos isolados d o
N I O S H : N a t i o n a l I n s t i t u t e for O c c u p a t i o n a l Safety a n d q u e e m grandes g r u p o s p o p u l a c i o n a i s . A i n d a h á p r e o c u p a ç ã o
Health. sobre a exposição a baixas c o n c e n t r a ç õ e s de c h u m b o e o efeito
OMS: Organização M u n d i a l da Saúde. q u e tal exposição causa n o d e s e n v o l v i m e n t o m e n t a l na infância.
O S H A : O c c u p a t i o n a l Safety a n d H e a l t h A d m i n i s t r a t i o n . O arsênico é c o m u m n o n o s s o meio, e i n d i v í d u o s são ocasional-
S A R A : S u p e r f u n d A m e n d m e n t s a n d R e a u t h o r i z a t i o n Act. O m e n t e expostos d e v i d o à falta de c o n h e c i m e n t o sobre os p r o d u t o s
SARA incorporou o Comprehensive Environmental domésticos q u e estão u s a n d o . M u i t o s inseticidas c o n t ê m arsênico
R e s p o n s e , C o m p e n s a t i o n , a n d Liability Act ( C E R C L A ) e m c o m o ingrediente ativo; o u s o sem c u i d a d o s desses p r o d u t o s leva
17 d e O u t u b r o de 1986. a u m a exposição significante. O arsênico é f r e q ü e n t e m e n t e iden-
S u p e r f u n d : U m p r o g r a m a d o governo d o s E U A criado p a i a tificado c o m o causa de n e u r o p a t i a periférica e n t r e pacientes q u e
limpar locais c o m resíduos perigosos s e m c o n t r o l e n o país. tiverem exposição que n ã o foi suspeita. Áreas c o m água c o n t a m i -
C o m o p r o g r a m a S u p e r f u n d , resíduos perigosos n a d a p o r arsênico n a Baía de Bengala e m Bangladesh e x c e d e r a m
a h a n d o n a d o s , a c i d e n t a l m e n t e d e r r a m a d o s o u descarregados os limites de segurança da O M S (Organização M u n d i a l d a Saúde)
ilegalmente, e q u e c o n f i g u r a m u m a a m e a ç a atual ou f u t u r a p o r causa da lixiviação de leitos rochosos, r e p r e s e n t a n d o u m sério
à s a ú d e h u m a n a o u ao m e i o - a m b i e n t e , são colocados s o b risco à s a ú d e da g r a n d e p o p u l a ç ã o q u e vive n a q u e l a Tegião. O
controle. c á d m i o é u s a d o p a r a fabricação de p i g m e n t o s b r i l h a n t e s d e tintas;
p i n t o r e s que n ã o u s a m p r o t e ç ã o respiratória a d e q u a d a e n q u a n t o
fazem p i n t u r a c o m sjmrys dessas tintas, s a b i d a m e n t e s o f r e m g r a n d e
exposição. O c á d m i o é t a m b é m u m a i m p o r t a n t e toxina e m pro-

O
d u t o s que c o n t ê m tabaco. Foi d e m o n s t r a d o q u e o m e r c ú r i o se
s metais são r e c o n h e c i d o s c o m o toxinas há séculos. H á , d e s p r e n d e de amálgamas dentários. I n i c i a l m e n t e essa i n f o r m a ç ã o
p o r exemplo, o e n v e n e n a m e n t o p o r arsênico, q u e era o causou g r a n d e inquietação; e n t r e t a n t o , estudos f a l h a r a m c m achar
m é t o d o p r e f e r i d o p a r a d e s t r o n a r a realeza d u r a n t e o u m a relação causal. 17 A l é m d o mais, estudos i n d i c a m que vias d e
p e r í o d o d o R e n a s c i m e n t o . O e n v e n e n a m e n t o p o r m e r c ú r i o era a p o p t o s e são iniciadas p o r metais c o m o (1) arsênico, (2) c á d m i o ,
c o m u m n o século XVIII n a E u r o p a e era associado à p r o d u ç ã o (3) c r o m o , (4) n í q u e l e (5) berílio, e, possivelmente, p o r (6)
d e feltro a partir d a pele de castores para as p o p u l a r e s cartolas. c h u m b o , (7) a n t i m õ n i o e (8) cobalto. 11
O s chapeleiros a p r e s e n t a v a m m u d a n ç a s d e c o m p o r t a m e n t o A p e s a r d e raros, erros d e f a b r i c a ç ã o c a u s a m a p r o d u ç ã o d e
típicas d o r e s u l t a d o d a exposição ao m e r c ú r i o , l e v a n d o ao uso d o p r o d u t o s q u e c o n t ê m metais tóxicos. Por exemple], n o início dos
jargão p o p u l a r "louco c o m o u m chapeleiro". N o s anos 1950, u m anos 1960, u m a cervejaria c a n a d e n s e a c i d e n t a l m e n t e c o n t a m i -
caso trágico de intoxicação p o r m e r c ú r i o o c o r r e u n a Baía d e n o u vários lotes dos seus p r o d u t o s c o m cobalto. O p r o d u t o foi
M i n a m a t a n o Japão, o n d e g r a n d e s q u a n t i d a d e s d e m e r c ú r i o comercializado e c o n s u m i d o pelo p ú b l i c o , r e s u l t a n d o e m u m a
industrial f o r a m d e r r a m a d a s . Mais d e 3 . 0 0 0 vítimas f o r a m reco- eclosão de d o e n ç a r e n a l e c a r d i o m i o p a t i a . N e s s e tipo de situação,
nhecidas como tendo a "doença de Minamata", uma síndrome o Serviço de S a ú d e Pública dos E U A é f r e q ü e n t e m e n t e c h a m a d o
caracterizada p o r s i n t o m a s d e intoxicação p o r metil-mercúrio. p a r a identificar u m pico d e s i n t o m a s n ã o usuais. U m l a b o r a t ó r i o
E m 1971, a c o n t a m i n a ç ã o d e s e m e n t e s d e cereais p o r m e r c ú r i o clínico deve estar p r e p a r a d o para d a r s u p o r t e a este t i p o de inves-
causou 6.000 mortes n o Iraque. tigações.
618 PARTE IV Analitos

U m estudo de u m a grande população de pacientes clínicos TABELA 32-1 j Condições nas quais os Metais Podem ser
(N = 329.000) p o n t u o u perspectivas na discussão sobre o papel Fatores Causais
dos metais tóxicos nas doenças. 11 Entre u m grupo de indivíduos
que representavam u m largo espectro de todos os tipos de doença, Metal Condição

com maior concentração d e pacientes de nível terciário, 1.986 Alumínio Na encefalopatia dialítica ou em demências
pacientes (0,6% da população total) foram identificados como Arsênico Paciente relatando dor bilateral que irradia dos
t e n d o algum tipo de achado físico ou relação com exposição, pés para as pernas
indicando u m a razão para complementar a investigação com Cádmio Doença renal que aparece em pintores que
exames para metais. Desses, 152 casos (0,05% da população usam aerossóis
original) foram p o n t u a d o s pelos testes laboratoriais como de alta Deficiência de cobre-zinco Perda da capacidade de cicatrização de feridas
suspeita da participação de metais em suas doenças. Provou-se, Gliumbo Em crianças menores de 2 anos vivendo em
por fim, que 32 casos (0,01% da população, ou 1 em 9.700) casas velhas

foram afetados pela toxicidade dos metais. Dezoito casos eram Manganês Parkinsonismc com início antes dos 50 anos
Mercúrio Mudanças agudas de comportamento, fala
relacionados a arsênico, dois a cádmio, sete a cbumbo e cinco a
arrastada, diminuição de campo visual, perda
mercúrio.
auditiva e de sensibilidade
A incidência de intoxicação por metais nessa população, atri-
Selênio (deficiência] Em pacientes com nutrição parenteral
buída a arsênico, cádmio, c h u m b o e mercúrio, parece ser da
Tálio Perda aguda de cabelo
mesma proporção que os mais freqüentes erros inatos d o meta-
Zincc (deficiência) Pacientes queimados exibindo eritema
bolismo, como hipotireoidismo neonatal e fenilcetonúria. E
também da mesma magnitude que a incidência de hetnocroma-
tose em adultos, u m a doença sugerida como de rastreamento
mandatório. O rastreamento para essas doenças é indicado
difícil que estes compostos gerem toxicidade a menos que eles
porque são tratáveis e o tratamento reduz de forma significativa
sejam injetados diretamente n o sistema vascular. O s elementos
e a longo tempo a morbidez. O mesmo é dito pata as intoxicações
dos grupos IB até VIIB e VIII, n a linha quatro da tabela perió-
por metais. Q u a n d o identificadas precocemente, a doença
dica, são geralmente essenciais à vida, mas são necessários em
causada pela exposição aos metais pode ser p r o n t a m e n t e tratada
baixas concentrações; muitos são co-fatores de proteínas necessá-
com bons desfechos. Em contrapartida, se a exposição não é
rios em suas funções. O trato gastrointestinal e a pele regulam o
identificada e reduzida, d a n o s graves e irreparáveis podem aco-
influxo até certo grau, mas o excesso pode induzir difusão passiva
meter os sistemas nervoso, renal e cardiovascular.
que pode levar à concentração excessiva e toxicidade. Os elemen-
tos na linha cinco e ahaixo dela são classificados como não-essen-
Diagnosticando a Toxicidade ciais (ou, se essenciais, são necessários em níveis de concentração
C o n f i r m a r o diagnóstico de u m a intoxicação por metal é difícil,
picomolares ou menores). A medida que se movem da direita
pois os sinais e sintomas são similares aos de diversas ourras
para a esquerda na tabela periódica, os elementos vão se tor-
doenças. O diagnóstico de toxicidade por metais requer a demons-
n a n d o mais prevalentes e, dessa forma, têm maior potencial de
tração de todos os seguintes fatores: (1) deve haver evidência de
gerar toxicidade. Elementos nos grupos IB e IIB nas linhas seis
u m a fonte de exposição ao metal, (2) o paciente deve ter sinais
e sete e d o grupo II1A até o VIA, nas linhas quatro a seis, são de
e sintomas típicos causados por determinado metal, e (3) deve particular interesse como toxinas, pois eles têm u m a configura-
haver evidência de concentrações anormais do metal em tecidos
ção espacial de elétrons que permite a formação de ligações
adequados para análise. Se u m a dessas características não existir, covalentes com enxofre. Mais à frenre neste capítulo, essa carac-
as outras não são suficientes para fazer o diagnóstico conclusivo terística será identificada como sendo u m fator significante n o
de toxicidade pelo metal. O laboratório tem u m papel chave
mecanismo de ação do gTupo de metais conhecidos como metais
nesse processo, e a eoleta apropriada de material associada a uma pesados." Eles incluem (1) o arsênico, (2) o cádmio, (3) o chumbo,
análise com acurácia fará u m a grande diferença n o diagnóstico (4) o mercúrio e (5) o tálio, que são toxinas de considerável
correto.
importância. O s elementos do grupo VIIA (halogenados), são
N a prática clínica, a análise de toxicidade por elementos deve
essenciais à vida, p o r é m são tóxicos q u a n d o presentes em excesso.
ser sempre considerada na abordagem clínica do paciente com O grupo VTIIA, os elementos inertes, são tóxicos em seu estado
(1) doença renal de origem desconhecida, (2) neuropatia perifé-
gasoso, pois podem causar anóxia; sua característica inerte é a
rica hilateral, (3) mudanças agudas nas funções mentais, (4) infla- causa da toxicidade.
mação aguda do epitélio laríngeo ou nasal, ou (5) uma história
de exposição. Certos elementos p o d e m ser considerados agentes
Rastreamento Ocupacional
ativos, causadores ou deficitários em circunstâncias específicas
Os empregados são freqüentemente monitorados quando traba-
(Tabela 32-1).
lham em u m ambiente onde é possível haver exposição a metais
tóxicos. A forma mais comum de monitorização envolve a quanti-
Classificação d o s Metais ficação das concentrações de partículas aéreas dos metais n o pro-
Alguns metais são essenciais à vida (Capítulo 27), mas se a expo-
cesso de produção. Nos EUA, os valores limites para a concentração
sição de u m indivíduo exceder u m certo limite, podc-sc desen- de partículas aéreas são definidos pelo National Institute for Occu-
volver toxicidade. Metais não-essenciais p o d e m ser tóxicos mesmo
pational Safety and Health (NIOSH) para garantir a segurança dos
em baixas concentrações. U m a revisão da cabeia periódica pode trabalhadores. Os trabalhadores também podem ser monitorados
mostrar algumas pistas na determinação da toxicidade potencial através da coleta de amostras biológicas. O exame mais comumente
de u m metal (Figura 32-1).
Elementos nos grupos IA e I1A nas linhas três a cinco da
tabela periódica geralmente se e n q u a d r a m como elementos " O Internacional U m o n of Puie arid Applied Chemistry (IUPAC) considera o
termo "metal pesado" sem sentido e equivocado, e recomenda que não seja
essenciais. O trato gastrointestinal e a pele são muito eficientes
mais usado. (Duffus JH. "Heavy Metals", a meaningless term 7 IUPAC Techni-
em regular as quantidades corporais desses compostos - é muito
cal Report. Puré Appl C h e m 2002; 74: 793-807.)
Metais Tóxicos CAPÍTULO 32 619

IVB VB VIB VIIB ; VIII 1 IB

Figura 32-1 Tabela Periódica, com ênfase nos metais de importância clínica e toxicológica.

feito é a coleta d e u m a amostra d e urina, e os resultados são expres- METAIS ESPECÍFICOS


sos e m u n i d a d e s de concentração d o metal de interesse por grama C e r t o s metais são c o n h e c i d o s p o r s e r e m tóxicos q u a n d o os seres
de creatinina para normatizar as variações de v o l u m e excretado. h u m a n o s são expostos a elevadas c o n c e n t r a ç õ e s , e cinco metais
A p e n a s o c á d m i o tem concentrações de excreção urinária definidas são listados e n t r e as 2 0 substâncias n o t o p o da lista p r i o r i t á r i a
por u m a agência federal norte-americana, para garantir a segurança de substâncias perigosas de 2 0 0 5 d a C E R C L A / S u p e r f u n d *
d o trabalhador. Informações adicionais técnicas e regulatórias sobre ( h t t p : / / w w w . e p a , g o v / s u p e i f u n d / a c t i o n / l a w / c e r c l a . h t m ) . Estão
a toxicidade dos metais estão disponíveis n o site d o Occupational inclusos o arsênico (N° 1), c h u m b o (N° 2), m e r c ú r i o (N 2 3),
Safety a n d H e a l t h A d m m i s t r a t i o n ( O S H A ) ( h t t p : / / w w w . o s h a . g o v / c á d m i o (N° 8) e c r o m o (N° 17) ( h t t p : / / w w w . a t s d r . c d c . g o v / c x c x 3 .
S L T C / m e t a l s h e a v y / i n d e x . h t m l ) . A O M S e a O S H A definiram as html). O u t r o s m e t a i s de interesse i n c l u e m (1) o a l u m í n i o , (2) o
concentrações sangüíneas para c h u m b o que são dadas para avisar berílio, (3) o cobalto, (4) o cobre, (5) o ferro, (6) o m a n g a n ê s , (7)
os empregadores q u a n d o os trabalhadores estão superexpostos. O s o n í q u e l , (8) a platina, (9) o selênio, (10) o silício, (11) a p r a t a e
limites seguros paTa outros metais foram d e t e r m i n a d o s por organi- (12) o tálio. A A g e n c y for Toxic S u b s t a n c e s a n d Disease Registry
sações profissionais, c o m o a A m e r i c a n C o n f e r e n c e for G o v e r n m e n - ( A T S D R ) p r o d u z "arquivos toxicológicos" para m u i t o s desses
tal Hygienists (http://www.acgih.org). metais e m seu site ( h t t p : / / w w w . a t s d r . c d c . g o v / t o x p r o 2 . h t m l ) .
Essas substâncias perigosas são classificadas c o n f o r m e a sua fre-
Métodos Analíticos q u ê n c i a de o c o r r ê n c i a , toxicidade e p o t e n c i a l de exposição ao ser
O s metais são m e n s u r a d o s em l í q u i d o s biológicos c o m técnicas h u m a n o . V á r i o s desses m e t a i s são c o n s i d e r a d o s e l e m e n t o s essen-
analíticas q u e i n c l u e m (1) E s p e c t r o m e t r i a absortiva a t ô m i c a c o m ciais e t a m b é m são discutidos n o capítulo 27.
c h a m a (AAS-F) o u f o r n o de atomização e l e t r o t é r m i c a (AAS-ETA),
(2) Espectroscopia i n d u z i d a p o r emissão associada p l a s m a - óptica Alumínio
(ICP-OES), (3) E s p e c t r o m e t r i a i n d u z i d a pela associação p l a s m a - A toxicidade pelo a l u m í n i o está ligada à exposição oral q u e
massa (ICP-MS) e (4) E s p e c t r o m e t r i a d e alto d e s e m p e n h o p o r resulta d e p r o d u t o s f a r m a c ê u t i c o s q u e c o n t ê m a l u m í n i o , c o m o
c r o m a t o g r a f i a l í q u i d a - m a s s a (LC-MS). Elas são específicas e sen- q u e l a n t e s à base de a l u m í n i o e antiácidos. C o m o os a n t i á c i d o s
síveis, e p e r m i t e m ao l a b o r a t ó r i o clinico a c a p a c i d a d e de m e d i r de v e n d a livre em farmácias são f o n t e s i m p o r t a n t e s d e exposição
u m a larga gama de m e t a i s e m c o n c e n t r a ç õ e s clínicas significan- h u m a n a ao a l u m í n i o , folhetos d e explicação p a r a pacientes n a
tes. A ICP-MS p o d e ser usada p a r a m e d i r vários metais simulta- E u r o p a c o n t ê m avisos d a possível toxicidade d o a l u m í n i o . O
neamente. 3 ' 1 4 Ensaios f o t o m é t r i c o s são t a m b é m disponíveis, m a s a l u m í n i o é t a m b é m u m agente tóxico se a d m i n i s t r a d o de f o r m a
r e q u e r e m grandes v o l u m e s d e a m o s t r a s e t ê m d e s e m p e n h o ana- parenteral.
lítico l i m i t a d o . Testes de a m o s t r a s para análise de f l u i d o s bioló-
gicos são c o n s i d e r a d o s o b s o l e t o s p o r q u e t e n d e m ao erro, m u i t a s
vezes r e n d e n d o resultados falso-positivos. O s leitores p o d e m
t o m a r c o m o referência o C a p í t u l o 3 5 d o Tietz Textbook of Clinicai
Chemistr) and Molecular Díagnostics, 4 a edição, q u e descreve deta- * 0 Superfund Amendments and Reauthorization Acc (SARA) incorporou o
l h a d a m e n t e os m é t o d o s de análise d e metais e m f l u i d o s biológi- Comprehensive Environmental Response, Compensation, and Liability Acc
cos descritos n e s t e capítulo i2 . (CERCLA) em 17 de outubro de 1986.
620 PARTE IV Analitos

E m c o n d i ç õ e s fisiológicas n o r m a i s , a ingesta n o r m a l d e alu- maiores q u e 2 0 (ig/L, mas m e n o r e s q u e 6 0 Hg/L, são identifica-


m í n i o é e n t r e 5 e 10 m g / d i a . N o r m a l m e n t e , essa q u a n t i d a d e é dos c o m o possíveis c a n d i d a t o s à d o e n ç a óssea r e l a c i o n a d a ao
c o m p l e t a m e n t e excretada pela filtração g l o m e r u l a r Tenal d o alu- a l u m í n i o ; esses pacientes p r e c i s a m d e medidas agressivas para
m í n i o q u e está n o sangue. Pacientes c o m insuficiência renal d i m i n u i r sua exposição diária a o a l u m í n i o . As m e d i d a s para
p e r d e m essa capacidade de excreção e são passíveis de intoxicação reduzir a exposição ao a l u m í n i o i n c l u e m (1) troca d e q u e l a n t e s
p o r a l u m í n i o A diálise n ã o é m u i t o eficiente e m e l i m i n a r o à base d e a l u m í n i o p o r q u e l a n t e s à base d e cálcio, (2) garantir
a l u m í n i o e p e d e até ser u m a f o n t e de exposição. A l é m disso, é q u e a água d a diálise c o n t e n h a m e n o s q u e 10 p g / L de a l u m i n i o ,
u m a prática c o m u m a d m i n i s t r a r c o m p o s t o s orais à base d e alu- e (3) garantir q u e a a l b u m i n a u s a d a d u r a n t e a terapia pós-diálise
m í n i o e m pacientes c o m insuficiência renal, p a r a reduzir a q u a n - seja livre de a l u m í n i o .
t i d a d e d e fosfato a b s o r v i d o da dieta, d e f o r m a a evitar o a c ú m u l o Despertou-se interesse n o p a p e l d o a l u m í n i o n a d o e n ç a d e
excessivo de fosfato, U m a p e q u e n a fração desse a l u m i n i o p o d e A l z h e i m e r (DA) q u a n d o se o b s e r v o u q u e o a l u m i n i o se a c u m u l a
ser absorvida; pacientes c o m insuficiência r e n a l a c u m u l a m esse n a r e d e d e n e u r o f i b r i l a s dos p a c i e n t e s c o m D A . A p e s a r d e u m a
a l u m í n i o . Seguida à diálise, p o d e o c o r r e r a d m i n i s t r a ç ã o de albu- relação d e causa e efeito e n t r e o a c ú m u l o d e a l u m í n i o n o c é r e b r o
m i n a p a r a r e p o r a q u e foi r e m o v i d a d u r a n t e o p r o c e d i m e n t o . e a D A precisar ser d e m o n s t r a d a d e f o r m a conclusiva, e s t u d o s
A l g u n s p r o d u t o s c o m a l b u m i n a t ê m alto c o n t e ú d o de a l u m í n i o , m o s t r a m c l a r a m e n t e a u m e n t o da c o n c e n t r a ç ã o d e a l u m í n i o n o
r e s u l t a d o d o processo de p u r i f i c a ç ã o f a r m a c ê u t i c a que passa a cérebro. E possível q u e o a c ú m u l o d e a l u m í n i o n a r e d e de n e u -
a l b u m i n a p o r filtros d e silicato de a l u m í n i o . rofibrilas de p a c i e n t e s com D A se]a u m a c h a d o s e c u n d á r i o asso-
O a l u m í n i o acumula-se n o s a n g u e se n ã o for filtrado pelos ciado à d o e n ç a , mas n ã o d i r e t a m e n t e r e l a c i o n a d o à causa. A
rins. N o sangue, ele se liga f o r t e m e n t e a p r o t e í n a s j c o m o a trans- glicação d o s beta-amilóides t e m u m papel n a D A e p o d e causar
ferrina, e é r a p i d a m e n t e d i s t r i b u í d o p e l o c o r p o . O excesso de alterações estruturais d e p r o t e í n a s que a u m e n t a m a ligação ao
alumínio leva a u m a c ú m u l o nos ossos e n o cérebro. Nos ossos, alumínio.
0 a l u m í n i o substitui o cálcio n o processo d e mineralização, des- A m a i o r i a d o s dispositivos utilizados para a r m a z e n a r o sangue
t r u i n d o a f o r m a ç ã o óssea n o r m a l (Figura 32-2). O depósito de coletado e m f l e b o t o m i a s tem u m a e x t r e m i d a d e de b o r r a c h a que
a l u m i n i o n o s ossos i n t e r r o m p e a troca n o r m a l de cálcio; o cálcio c o n t é m silicato de a l u m í n i o . C o n s e q ü e n t e m e n t e , q u a n d o a
n o s ossos deixa de estar disponível para a reabsorção n a c o r r e n t e agulha atravessa essa b o r r a c h a p a r a d e p o s i t a r o sangue n o dispo-
s a n g u í n e a , u m processo c o n t r o l a d o fisiologicamente pelo para- sitivo, o c o r r e c o n t a m i n a ç ã o n a a m o s t r a c o m a l u m í n i o , p r o d u -
tOTmônio (PTH) e pela 1,25 diidroxi-vitamina D . O a l u m í n i o zindo-se u m a c o n c e n t r a ç ã o a n o r m a l deste m e t a l . T i p i c a m e n t e , o
liga'se aos sítios o n d e o cálcio n o r m a l m e n t e se liga n a g l â n d u l a sangue coletado e a r m a z e n a d o e m t u b o s - p a d r ã o ficará c o n t a m i -
paratireóide, c a u s a n d o u m a resposta fisiológica a n o r m a l pela n a d o c o m 2 0 a 6 0 ( i g / L d e a l u m í n i o . S e n d o assim, t u b o s de
para tireóide, o q u e resulta e m u m a característica b i o q u í m i c a q u e coleta especiais são necessários p a i a teste q u e analisam a l u m í n i o .
é p r a t i c a m e n t e diagnostica d e d o e n ç a p o r sobrecarga de a l u m í n i o Esses t u b o s estão disponíveis e m d i s t r i b u i d o r e s comerciais e
- P T H a n o r m a l m e n t e baixo p a r a o grau de insuficiência r e n a l devem s e m p r e ser usados.
p r e s e n t e c o m b i n a d o c o m a l u m í n i o sérico elevado. O a l u m í n i o é t i p i c a m e n t e m e n s u r a d o p o r ICP-MS. C o m o
E m indivíduos c o m f u n ç ã o r e n a l n o r m a l , as c o n c e n t r a ç õ e s alternativa pode-se utilizar a AAS-ETA, mas deve-se a t e n t a r para
d e a l u m í n i o jerico são n o r m a l m e n t e m e n o r e s q u e 6 | i g / L . as interferências na matriz.
Pacientes c o m insuficiência renal invariavelmente t ê m concentra-
ções séricas de a l u m í n i o m u i t o maiores q u e este valor. Diretrizes Antimônio
clínicas p u b l i c a d a s e m 2 0 0 3 s u g e r e m q u e pacientes s e m sinais ou O a n t i m ô n i o p u r o (Sb) é m u i t o frágil e p o u c o u s a d o e m proces-
s i n t o m a s d e osteomalácia ou e n c e f a l o p a t i a e m geral têm concen- sos industriais. Ligas d e Sb, e n t r e t a n t o , são usadas e m vários
trações de a l u m í n i o sérico m e n o r e s q u e 20 fJ.g/L e c o n c e n t r a ç õ e s c a m p o s da tecnologia. Poi e x e m p l o , a d i c i o n a r Sb ao c h u m b o ,
de P T H maiores q u e 16 p m o l / L , valores típicos para hiper para- e s t a n h o e cobre a u m e n t a a resistência desses metais q u a n d o são
t i r e o i d i s m o s e c u n d á r i o associado à insuficiência renal. Pacientes u s a d o s c o m o eletrodos, projéteis, metais para impressão e rola-
c o m sinais e sintomas de osteomalácia ou encefalopatia t ê m , m e n t o s . O u t r o s usos incluem p r o d u t o s q u í m i c o s resistentes a
t i p i c a m e n t e , c o n c e n t r a ç õ e s d e a l u m í n i o sérico maiores q u e 6 0 fogo, p i g m e n t o s e corantes.
Hg/L e c o n c e n t r a ç õ e s d e P T H m e n o r e s q u e 16 p m o l / L . Esses A exposição n o local de t r a b a l h o à p o e i r a de S b d u r a n t e u m
p a r â m e t r o s laboratoriais i n d i c a m d o e n ç a óssea relacionada ao p e r í o d o de a n o s leva à p n e u m o c o n i o s e . O t a m a n h o das partícu-
a l u m í n i o - Pacientes c o m c o n c e n t r a c õ e s de a l u m í n i o sérico las de areia d e trióxido d e Sb a u m e n t a d e f o r m a significante a
o c o r r ê n c i a d e p n e u m o c o n i o s e , s e n d o as partículas m e n o r e s mais
nocivas. O s t r a b a l h a d o r e s sob g r a n d e risco são aqueles q u e tra-
b a l h a m n o subsolo e n a p r o d u ç ã o de metais. F u m a r p o d e con-
Doença Doença óssea com tribuir p a r a o a g r a v a m e n t o d o s p r o b l e m a s respiratórios. O s sin-

/
ó s s e a leve baixo tumover
t o m a s da exposição a g u d a i n c l u e m (1) gosto metálico, (2) cefaléia,
(3) n á u s e a e (4) t o n t u r a . A p ó s u m p e q u e n o i n t e r v a l o d a exposi-
ção s u r g e m v ô m i t o s , diarréia e cólicas intestinais. A gravidade
d o s s i n t o m a s d e p e n d e t a n t o d a q u a n t i d a d e q u a n t o d a via de
Doença óssea do Doença óssea c o n t a t o . N a intoxicação crônica, ot> efeitos adversos à s a ú d e
hiperparatireoidísmo. associada à Qstecmalácia
uremia i n c l u e m (1) arritmias cardíacas, (2) irritação ocular e de vias
aéreas superiores, (3) a b o r t o s e s p o n t â n e o s , (4) p a r t o s p r e m a t u r o s
Efeitos máximos e (5) d e r m a t i t e . Linfocitose, eosinofilia e u m a r e d u ç ã o n a conta-
Efeitos máximos do
da PTH aluminio gem de leucócitos e plaquetas t a m b é m são vistas, e i n d i c a m lesão
n o f í g a d o e n o b a ç o . U m a deficiência n a coagulação s a n g u í n e a
Alumínia sérico < 60 ng/mL Alumínio sérico >
PTH > 5 pmol/mL 100 ng/mL é vista c o m doses letais d e Sb. A respiração torna-se superficial e
PTH < 5 pmol/mL irregular, e, q u a s e sempre, a m o r t e é p o r paralisia respiratória.
Figura 32-2 Efeitos d o a l u m í n i o na fisiologia óssea. H á evidências q u e e m b a s a m o a u m e n t o d o risco d e desenvolvi-
Metais Tóxicos CAPÍTULO 3 2 621

mento de câncer de p u l m ã o em trabalhadores que inalam Sb, 32-3). Os alimentos que n o r m a l m e n t e contêm concentrações
mas o efeito pode ser multifatoiial, por exemplo, pela presença significantes de arsênico orgânico são a ostra e outros predadores
de arsênico no ambiente de trabalho. E importante lembrar que da cadeia alimentar do oceano, como o bacalhau. Conseqüente-
q u a n d o ocorre intoxicação com o metal Sb, o efeito é devido não mente a taxa de excreção de arsênico em indivíduos saudáveis é
só ao Sb, mas também ao chumbo, arsênico, ou outros metais aproximadamente de 120 pjig em uma coleta de 24 horas. Após
que façam parte da liga metálica. a ingesta, a arsenobetaína e a arsenocolina passam rapidamente
pela filtração glomerular e se concentram na urina. Os arsênicos
Arsênico orgânicos são completamente excretados após 1 a 2 dias da
O arsênico (As) é largamente conhecido como toxina, tendo ingesta, e não sobram metabólitos tóxicos residuais. Aparente-
ganhado notoriedade pelo extenso uso como agente anti-sífilis mente a meia-vida do arsênico orgânico é de 4 a 6 horas. O
entre a nobreza da Renascença e como antídoto contra envene- consumo de frutos do mar antes de uma coleta de amostra de
n a m e n t o agudo por arsênico, uma vez que a administração urina para testes de arsênico resulta em elevação da concentração
crônica de pequenas doses protege contra uma intoxicação aguda de arsênico detectável, isso pode causar erro de interpretação.
por uma dose maciça. Esse agente foi memoravelmente utilizado A toxicidade do arsênico se deve a três mecanismos diferen-
no conhecido conto Arsenic a n d Old Lace como meio de ' 'ter- tes, dois dos quais são relacionados à transferência de energia. O
minar com pessoas indesejáveis". Mesmo hoje, o arsênico conti- arsênico liga-se avidamente a ácidos diidrolipôicos, que são co-
nua sendo u m agente tóxico perigoso, c o m o evidenciado pelo fatores da piruvato-desidrogenase. A ausência do co-fator inibe a
incidente em Bangladesh, n o qual centenas de pessoas se enve- conversão do piruvato em acetil-coenzima A, o primeiro passo da
nenaram com água de fontes contaminadas pela extração de gluconeogênese. O arsênico t a m b é m compete com o fosfato para
arsênico em pedreiras. C o m o mencionado anteriormente, o arsê- reagir com a adenosina-difosfatc (ADP), resultando na formação
nico é listado como o agente tóxico n ú m e r o um na lista de de A D P com menos energia que a adenosina-trifosfato (ATP). O
prioridades de substâncias perigosas do U.S. CERCLA. O arsê- arsênico também se liga com qualquer grupo sulfidril hidratado
nico ainda é encontrado em alguns inseticidas. de proteínas, distorcendo a configuração tridimensional da pro-
O arsênico existe em inúmeras formas tóxicas e não-tóxicas teína e levando à perda de sua atividade. O arsênico é também
(Figura 32-3). As formas tóxicas são as espécies inorgânicas As3", u m conhecido carcinógeno, mas o mecanismo de seus efeitos
também denotadas As (III); os mais tóxicos As3", também conhe- ainda é pouco conhecido. O British antilewisite (BAL) é u m
cidos c o m o As(V); e seus metabólitos parcialmente desintoxica- antídoto eficiente para tratar a intoxicação por arsênico; o agente
dos, monometil de arsénio (MMA) e dimetil de arsénio (DMA). ativo n o BAL é o dimercaprol, u m agente redutor de sulfidril.
A desintoxicação ocorre no fígado, sendo que o As5* é reduzido Isso sugere que o mecanismo primário de ação da toxicidade do
a AS3+; ambos são metilados em M M A e DMA. C o m o resultado arsênico é relacionado à sua ligação com o sulfidril. O arsênico
dessa desintoxicação, As 3 ' e As5+ são encontrados na urina logo também interfere na atividade de diversas enzimas da via de
após a ingestão, enquanto o M M A e D M A predominam após síntese do grupo Heme. Também há evidência do a u m e n t o do
24hs da ingestão. O pico de concentração urinária do As 3 + e As i1 risco de câncer de bexiga, pele e pulmão após o consumo de água
ocorre aproximadamente após 10 horas e retorna ao normal muito contaminada por arsênico 3 .
entre 20 e 30 horas após a ingestão. A concentração urinária de A análise de cabelo é freqüentemente utilizada para docu-
M M A e D M A atinge seu pico, normalmente, entre 40 e 60 horas mentar o tempo de exposição ao arsênico. O arsênico circulante
e retorna ao nível basal entre 6 a 20 dias após a ingestão. A meia- n o sangue liga-se a proteínas pela formação de complexos cova-
vida do arsénico inorgânico no sangue é de 4 a 6 horas e dos lentes com grupos sulfidril do aminoácido cisteína. C o m o o
seus metabólitos metilados entre 20 e 30 horas. As concentrações arsênico tem alta afinidade por cueratina, que tem alto conteúdo
séTicas de arsênico ficam elevadas por u m período curto após ele de cisteína, a concentração de arsênico nos cabelos e nas u n h a s
teT sido administrado, rapidamente desaparecendo no pool de é maior do que em outros tecidos. Várias semanas após a expo-
fosfato do corpo Após a ingesta, o arsênico pode ser detectado sição, podem aparecer nas unhas estrias brancas, chamadas de
por menos de 4 horas na corrente sanguínea. linhas de Mees, o que é causado pela desnaturação da queratina
As formas não-tóxicas de arsênico estão presentes em muitos por metais como arsênico, cádmio, c h u m b o e mercúrio. C o m o
alimentos. A arsenobetaína e a aisenocolina são as formas mais o cabelo cresce n u m a taxa aproximada de 0,5 cm pot mês, o
comuns de arsênico orgânico encontradas nos alimentos (Figura cabelo coletado da nuca tem sido usado para documentar expo-
sição Tecente. Pêlos púbicos e axilares são usados para documen-
tar exposições crônicas (seis meses a u m ano). Concentração de
OH CH 3 arsênico no cabelo maior que 1 }ig/grama de peso seco indica
OH I exposição excessiva. Em u m estudo, a maior quantidade de arsê-
HO—/IS—O HO-As—O
nico observada foi 210 pg/grama de peso seco, em u m caso de
HO' "OH (Í)H AH
exposição crônica que levou à morte. 8 O sangue é o último
Arsénico III Arsênico V Monometil de arsénio material usado para identificar exposição ao arsênico. As concen-
(ácido arsenoso) (ácido arsênico) (ácido mera no arsô nico)
trações de arsênico sérico ficam elevadas por u m período curto
após a administração, após o qual o arsênico se liga às proteínas
CH 3 e desaparece nos estoques de fosfato, o que acontece porque o
CII 3
iu: | cu, corpo reconhece o arsênico como fosfato, incorporando-o no
H^^ch, As

X
CH3 © lugar do fosfato. O arsênico absorvido circula rapidamente e se
I CH 7
HO—As=0 distribui em diversos tecidos. Concentrações séricas normais são
<^H3 ÍH^oh À. detectadas por menos de 4 horas após a ingesta. Esse teste é útil
O OH
apenas para documentar uma exposição aguda q u a n d o o arsê-
Dimeril cie arsénio Arsenocolina Arsenobetaína
(ácido cacodílico) nico p o d e estar maior do que ICO n g / m L por u m período curto
de tempo. Normalmente, a concentração sérica de arsênico é
Figura 32-3 E s t r u t u r a s das espécies de arsênico. menor do que 35 n g / m L .
622 PARTE IV Analitos

Berílio E m 1992, o N I O S H o b r i g o u q u e e m p r e g a d o s expostos ao


O berílio (Be) é u m m e t a l alcalino q u e n ã o é necessário p a r a o c á d m i o n o local de t r a b a l h o fossem m o n i t o r a d o s usando-se a
c o i p o h u m a n o e é tóxico. Ligas metálicas de berílio são leves, q u a n t i f i c a ç ã o de c á d m i o e creatinina n a u r i n a , e x p r e s s a n d o os
rígidas e t ê m alto p o d e r de c o n d u z i r eletricidade. O berílio metá- resultados e m m i c r o g r a m a s d e c á d m i o p o r grama d e creatinina 1 6 .
lico, as ligas d e berílio e cerâmica são usados e m diversos meca- U m a excreção d e c á d m i o m a i o r q u e 3 j i g / g r a m a d e creatinina
n i s m o s , c o m o e m (1) a p a r e l h o s d e n t á r i o s , (2) tacos d e golfe, (3) indica exposição significativa ao c á d m i o . R e s u l t a d o s m a i o r e s q u e
dispositivos isolantes, (4) cadeiras de rodas, (5) c o n s t r u ç ã o de 15 Jlg d e c á d m i o p o r g r a m a de c r e a t i n i n a são c o n s i d e r a d o s indi-
satélites e espaçonaves, (6) p r o d u ç ã o d e placas de circuito, (7) cativos d e exposição grave. O c á d m i o n a u r i n a é u m a m e d i d a
energia n u c l e a r e (8) m o d u l a d o r d e n ê u t r o n s . mais específica da exposição ao c á d m i o d o q u e o u t r o s marcado-
A p o p u l a ç ã o e m geral se expõe ao berílio através da água e res de f u n ç ã o renal, c o m o as p2-microglobulina, p r o t e í n a ligadora
d a c o m i d a , n o e n t a n t o as c o n c e n t r a ç õ e s são m u i t o baixas e n ã o d e retinol o u a N-acetilglicosaminidase.
t ê m c o n s e q ü ê n c i a s clínicas. A p r i n c i p a l via pela qual o berílio A concentração normal de cádmio no sangue é menor que 5
e n t r a n o c o r p o é o t r a t o respiratório, e a exposição i n d u s t r i a l n g / m L , e as maiores c o n c e n t r a ç õ e s estão entre 0,5 e 2 n g / m L .
n o r m a l m e n t e o c o r r e pela inalação e ingestão d e p o e i r a de U m a u m e n t o m o d e r a d o d e c á d m i o n o sangue (3 a 7 n g / m L )
berílio. O s c o m p o s t o s d e berílio i n a l a d o s s a e m d o p u l m ã o de p o d e ser associado ao u s o d e tabaco. 1 2 A toxicidade aguda se
f o r m a m u i t o lenta. C o m p o s t o s solúveis são a b s o r v i d o s n u m grau observa q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o n o s a n g u e ultrapassa 5 0 n g / m L .
m u i t o m a i o r d o q u e o ó x i d o d e berílio, q u e é m e n o s solúvel. O s A excreção n o r m a l diária d e c á d m i o é m e n o r q u e 3 |Xg/dia. A
sais d e berílio são f o r t e m e n t e ácidos q u a n d o dissolvidos e m coleta d e amostras d e u r i n a c o m u m a s o n d a leva a resultados
água, e se i m a g i n a q u e esse seja o m a i o r efeito tóxico aos tecidos elevados, u m a vez q u e o material da s o n d a c o n t é m traços d e
h u m a n o s . O berílio a b s o r v i d o acumula-se n o esqueleto. O cisa- c á d m i o q u e são extraídos c o n f o r m e a u r i n a passa. Reservatórios
rance renal é m u i t o l e n t o . O berílio inibe u m a v a r i e d a d e d e plásticos coloridos p a r a u r i n a d e v e m ser evitados d e v i d o aos
sistemas enzimáticos, i n c l u i n d o (1) a fosfatase alcalina, (2) a p i g m e n t o s d o plástico q u e p o d e m ser à base d e c á d m i o . O c á d m i o
fosfatase ácida, (3) a f o s f o g l i c e r o m u t a s e , (4) a h e x o q u i n a s e e (5) é n o r m a l m e n t e quantificado por AAS atômico, mas t a m b é m
a lactato d e s i d r o g e n a s e . p o d e ser q u a n t i f i c a d o c o m acurácia pelo ICP-MS.
A exposição aguda é rara, n o r m a l m e n t e causada p o r u m
a c i d e n t e industrial o u explosão, e t i p i c a m e n t e resulta e m p n e u - Cromo
m o n i t e q u í m i c a . A exposição crônica ao berílio n o local de tra- A exposição o c u p a c i o n a l ao c r o m o (Cr) r e p r e s e n t a u m perigo à
b a l h o t e m levado a decisões de s a ú d e o c u p a c i o n a l devido ao seu saúde. 1 3 O c r o m o é utilizado e x t e n s i v a m e n t e e m (1) fabricação
p o t e n c i a l e m causar u m a c o n d i ç ã o respiratória p o t e n c i a l m e n t e d e aço sem e s t a n h o , (2) galvanização c o m c r o m o , (3) c u r t i m e n t o
fatal e progressiva, c h a m a d a d o e n ç a crônica d o berílio (CBD), d e couro, (4) p i g m e n t o n a m a n u f a t u r a têxtil, (5) solução d e
caracterizada pela f o r m a ç ã o d e g r a n u l o m a s resultantes de u m a limpeza, e (6) c o m o a n t i c o r r o s i v o e m sistemas d e r e s f r i a m e n t o .
reação i m u n e às partículas d e berílio n o p u l m ã o . E s t u d o s s u g e r e m A f o r m a tóxica d o c r o m o é C r 6 ' (Cr[VI]), q u e é raro; u m a m b i e n t e
q u e o t a m a n h o das partículas d e berílio afeta n ã o só o local de d e forte oxidação é necessário para converter a f o r m a c o m u m
d e p o s i t e , mas t a m b é m a q u a n t i d a d e depositada. Isso p o d e Cr 3 * (Cr(IIIJ) a Cr 6 + , c o m o e n c o n t r a d o q u a n d o o Cr 3 + é exposto
i n f l u e n c i a r a taxa de clearance e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , o t e m p o de a altas t e m p e r a t u r a s n a p r e s e n ç a d e oxigênio ou d u r a n t e a galva-
c o n t a t o e n t r e as células imunológicas e o berílio. H á m u i t o s a n o s nização d e alta v o l t a g e m . A inalação d e vapores d e Cr 6 + causa
notou-se q u e as células d o p u l m ã o e d o sangue d e p a c i e n t e c o m erosão d o epitélio nasal e p r o d u z c a r c i n o m a s n o pulmão. 1 5 O Cr É *
C B D se proliferavam q u a n d o expostas a u m a cultura c o m berílio. é m u i t o solúvel e m lipídios e p r o n t a m e n t e atravessa a m e m b r a n a
Esse e s t u d o foi r e f i n a d o e tornou-se o teste d e proliferação de celular, e n q u a n t o o Cr3"" é insolúvel e n ã o cruza as m e m b r a n a s .
linfócitos n o berílio (BeLPT), e é o atual " p a d r ã o - o u r o " p a r a o C l i n i c a m e n t e , m o n i t o r i z a r amostras biológicas p a r a Cr 6 + n ã o é
diagnóstico de C B D . O curso clínico da C B D é variável e é n e m p r á t i c o n e m c l i n i c a m e n t e útil para detectar a toxicidade d o
impossível de se prever o p r o g n ó s t i c o . c r o m o , já q u e n o i n s t a n t e e m q u e ele e n t r a na célula ele é redu-
zido a Cr 3 *, q u e n ã o é tóxico. E m vez disso, m o n i t o r i z a r o ar n o
Cádmio local d e p r o d u ç ã o para C r 6 + é a m a n e i r a u s u a l d e testar a expo-
O c á d m i o (Cd) é u m s u b p r o d u t o da f u s ã o d o zinco e d o c h u m b o . sição ao Cr é + . A q u a n t i f i c a ç ã o d o total de c r o m o na u r i n a t e m
É u s a d o n a i n d ú s t r i a (1) na galvanoplastia, (2) n a p r o d u ç ã o d e sido u s a d a p a r a avaliar a exposição ao c r o m o , m a s n ã o indica se
b a t e r i a s recarregáveis d e n í q u e l , (3) c o m o p i g m e n t o d e t i n t a s , a exposição foi e s p e c i f i c a m e n t e ao Cr 6 +
(4) e m p r o d u t o s d o t a b a c o . R e s p i r a r os v a p o r e s d o c á d m i o leva
à d e t e r i o r a ç ã o d o epitélio nasal e congestão p u l m o n a r q u e l e m b r a Cobalto
o e n f i s e m a c r ô n i c o . U m a f o n t e c o m u m de exposição crônica é a O cobalto (Co) é e n c o n t r a d o e m ligas metálicas q u e (1) são m u i t o
inalação d e tintas spray sem o u s o de e q u i p a m e n t o d e p r o t e ç ã o . duras, (2) t ê m alto p o n t o de f u s ã o e (3) são resistentes à oxidação.
M e c â n i c o s de a u t o m ó v e i s r e p r e s e n t a m u m g r u p o d e t r a b a l h a d o ' A exposição o c u p a c i o n a l o c o r r e d u r a n t e a p r o d u ç ã o de ligas
res q u e t ê m exposição significativa ao c á d m i o . metálicas e leva à d o e n ç a p u l m o n a r intersticial. C a r d i o m i o p a t i a
A toxicidade d o c á d m i o se assemelha a de o u t r o s m e t a i s e insuficiência renal são s i n t o m a s da exposição aguda ao cobalto.
(arsênico, m e r c ú r i o e c h u m b o ) q u a n t o à lesão renal. D i s f u n ç ã o Isso é exemplificado p e l a incidência d e exposição p o p u l a c i o n a l
r e n a l c o m p r o t e i n ú r i a d e início tardio (ao l o n g o d e anos) é u m a ao cobalto q u a n d o cerveja c o n t a m i n a d a c o m esse m e t a l é consu-
a p r e s e n t a ç ã o típica. A exposição c r ô n i c a ao c á d m i o causa d a n o s m i d a . A q u a n t i f i c a ç ã o d o cobalto na u r i n a é u m m e i o efetivo de
renais devidos ao seu acúmulo 1 8 . A toxicidade d o c á d m i o se identificar i n d i v í d u o s c o m exposição excessiva.
expressa pela f o r m a ç ã o de associações e n t r e c á d m i o e proteínas, O cobalto n ã o é a l t a m e n t e tóxico, mas doses altas o suficiente
m o d i f i c a n d o suas e s t r u t u r a s c o n f o r macio nais l e v a n d o à desnatu- irão p r o d u z i r (1) e d e m a p u l m o n a r , (2) alergia, (3) náusea, (4)
ração. Essa d e s n a t u r a ç ã o protéica o c o r r e n o s locais d e m a i o r v ô m i t o s , (5) h e m o r r a g i a e (6) insuficiência renal. S i n t o m a s crô-
c o n c e n t r a ç ã o : n o alvéolo, se a exposição é causada pela inalação nicos i n c l u e m (1) s í n d r o m e p u l m o n a r , (2) irritação d e pele, (3)
de poeira, e n o s t ú b u l o s proximais d o s rins, p o r ser esta a m a i o r alergia, (4) irritação gastrointestinal, (5) náusea, (6) c a r d i o m i o p a -
via d e excreção. tia, (7) distúrbios h e m a t o l ó g i c o s e (8) a n o r m a l i d a d e s d e tireóide.
Metais Tóxicos CAPITULO 32 623

Observou-se que a inalação da poeira d u r a n t e a produção de ligas com concentrações mais altas quando a água é ligeiramente ácida.
metálicas de cobalto causa doença intersticial pulmonar. Q u a n d o Alguns líquidos (por exemplo, bebidas alcoólicas destiladas de
manipulado de forma inapropriada,* 50 o C o causa intoxicação por forma clandestina em tubos de chumbo), e alguns medicamentos
radiação devida à exposição a raios gama. A exposição ao cobalto caseiros tradicionais t a m b é m contêm chumbo, A exposição ao
sozinho pode não provocar toxicidade e deve ser considerada n o c h u m b o por qualquer u m a dessas formas de contato, seja inges-
contexto de exposição a múltiplos metais. tão, inalação ou pela pele, causa toxicidade significativa.
O cobalto é quantificado em amostras biológicas pelo AAS e U m a dieta típica nos Estados Unidos contribui com aproxi-
pelo ICP-MS. m a d a m e n t e 300 |_ig de c h u m b o por dia, dos quais 1% a 10% são
absorvidos; crianças p o d e m absorver mais de 5 0 % da quantidade
Cobre ingerida na dieta. A fração de c h u m b o absorvida é a u m e n t a d a
A homeostasia e a análise d o cobre (Cu) são discutidas n o Capí- p o r deficiências nutricionais. A maior parte da ingestão diária é
tulo 27. A ingestão de cobre provoca séria toxicidade, e ele pode excretada pelas fezes após a passagem pelo trato gastrointestinal.
ser encontrado em pesticidas. Além disso, o cobre é u m dos Apesar de u m a significante fração do c h u m b o absorvido ser
agentes ativos em tintas contra corrosão marinha e como u m rapidamente incorporada aos ossos e eritrócitos, o metal acaba
preservativo de madeira o qual é utilizado em madeira verde sendo d i f u n d i d o por todos os tecidos. Tecidos com alto teoT
tratada com altas concentrações de cobre e arsênico. A ingestão lipídico, como o sistema nervoso central, são particularmente
dessas fontes produz (1) desconforto gastrointestinal grave com sensíveis às formas orgânicas d o chumbo. Todo o c h u m b o absor-
irritação da parede epitelial do trato gastrointestinal, (2) anemia vido acaba, por fim, sendo excretado pela bile ou pela urina. O
hemolítica, (3) hepatite centrolobular com icterícia e (4) d a n o tumover do c h u m b o dos tecidos (exceto o ósseo) ocorre em apro-
renal. O excesso de ingestão de cobre atrapalha a absorção de ximadamente 120 dias.
zinco, levando à deficiência de zinco, que é freqüentemente carac- O c h u m b o expressa sua toxicidade através de diversos meca-
terizada pela cura vagarosa. A apresentação clássica da toxicidade nismos (Figuras 32-4 e 32-5). Por exemplo, ele inibe fortemente
pelo cobre é representada pela doença genética que causa acúmulo a ácido-aminolevulínico-desidratase (ALAD), u m a das enzimas
de cobre, conhecida como doença de Wilson. Essa doença é que catalisa a síntese de heme a partir das porfirinas. A inibição
caracterizada pelo dano hepatocelulaT (aumento de transamina- da A L A D causa acúmulo de protoporfirina nos eritrócitos (Capí-
ses) e / o u mudanças de h u m o r e comportamento devidos ao tulo 29), que é u m significante marcador de exposição ao chumbo.
acúmulo de cobre nos neurônios do sistema nervoso central. As A anemia causada pela falta de h e m e é f r e q ü e n t e m e n t e obser-
bases genéticas para essa doença jã foram identificadas. vada na toxicidade pelo c h u m b o . O c h u m b o t a m b é m tem alta
avidez por elétrons, o que leva à formação dc ligações covalentes
Ferro com o grupo sulfidril da cisteína nas proteínas. Dessa forma, as
A homeostase e a análise do ferro (Fe) são revisadas n o Capítulo proteínas em todos os tecidos expostos ao c h u m b o terão c h u m b o
28. Os suplementos de ferro são usados f r e q ü e n t e m e n t e para ligado a elas. A queratina d o cabelo contém u m a grande porcen-
manter u m estoque adequado n o corpo. Ocasionalmente a tagem de cisteína, comparada a ourros aminoácidos, e tem a
ingesta ultrapassa as necessidades diárias, resultando em toxici- propriedade de se ligar avidamente ao c h u m b o ; a análise d o
dade pelo ferro. A ingestão aguda de mais de 0,5 g de ferro cabelo q u a n t o ao c h u m b o é u m bom marcador de exposição.
produz irritação grave do epitélio do trato gastrointestinal e O desenvolvimento de toxicidade por c h u m b o segue u m
resulta em hemossiderose, que pode se desenvolver em cirrose padrão progressivo (Figura 32-5). Crianças jovens são particular-
hepática. A presença de quantidades excessivas de ferro n o sangue m e n t e propensas aos efeitos d o c h u m b o porque elas têm maior
e na urina define o diagnóstico. chance de se expor ao chumbo. 1 2 Por exemplo, u m a criança t e n d e
a passar muito tempo em contato com o chão. Em casas antigas
Chumbo que foram pintadas com tintas à base de chumbo, fragmentos de
O c h u m b o (Pb) é u m metal c o m u m e n t e encontrado n o ambiente, c h u m b o e poeira se acumulam n o chão, e as crianças acabam
c considerado u m a toxina aguda e crônica. O c h u m b o está pre- ingerindo essas partículas.
sente em altas concentrações (mais de 3 5 % do peso/espessura)
em tintas fabricadas antes de 1978. O conteúdo de c h u m b o per-
mitido em tintas para uso domiediar foi limitado em menos de
0,5% em 1978, mas o c h u m b o ainda é encontrado em tintas
direcionadas a uso não doméstico e em pigmentos usados por
Ciclo do ácido cítrico
artistas. Produtos de cerâmica usados em casas, como vasilhas e
tigelas, vendidos fora d o comércio normal (como produtos feitos Succ inil CoA
Heme
\ Ferroquelala se
por artistas), contêm significantes quantidades de chumbo, que \
se desprende da cerâmica por ácidos fracos, como vinagre e sucos G icina Pb 1 s
Protopo •firina IX

de frutas. Cristais feitos com c h u m b o contêm mais de 10% d o Ácido 5-arninolevulínico Protoporfin nogênio IX
metal, que se desprende durante a estocagem em longo prazo de
PBG Sintase Copro-oxidase
líquidos ácidos como sucos de frutas. O c h u m b o t a m b é m é encon-
Pb — 9
trado nn lixn de áreas adjacentes a casas pintadas com tintas a Mitocôndria
base de c h u m b o e em estiadas, onde ele se acumula devido ao Ci tosai
uso de gasolina com c h u m b o pelos automóveis. O uso de gasolina Porfobilinogêrio Ufoporfirinogênio III Caproporfirinegênio III
com chumbo tem diminuído de forma significativa desde a intro-
I
dução de gasolina sem o metal, o que foi requisitado nos Estados
Uroporfirinogênio I
Unidos desde 1978, para automóveis de uso pessoal. O c h u m b o
*
também é encontrado n o solo perto de áreas industriais abando- Coproporfirinogénio I
nadas o n d e ele era usado. A água que passa através de canos
soldados com c h u m b o acaba tendo algum conteúdo do metal, Figura 3 2 - 4 Efeitos do chumbo na eritropoiese.
624 PARTE IV Aralitos

Concentração de g u í n e a s d e c h u m b o caíram para u m valor m é d i o d e 1,4 \xg/dL


Chumba na Sangue (Mg e n t r e os 2C e 4 9 anos, e para u m valor m é d i o de 1,9 [ l g / d L e n t r e
de Pb/dL)
ok SO p 69 anos. 1 3 D a d a a d i m i n u i ç ã o das concentracÕes sanguí-
n e a s de c h u m b o e m adultos, é i m p o r t a n t e rever as r e c o m e n d a -
Morte. ções acerca d a exposição. E m 2 0 0 0 , o C D C r e c o m e n d o u q u e ,
c o m o m e d i d a de prevenção, a c o n c e n t r a ç ã o s a n g u í n e a e m traba-
l h a d o r e s expostos ao c h u m b o fosse r e d u z i d a a m e n o s de 25
IMOOl—- Encefalopatia
| i g / d L até o a n o d e 2010. 2 0 As c o n c e n t r a ç õ e s de p r o t o p o r f i r i n a
Encefalopatia eritrocitária n ã o são u m m a r c a d o r sensível d a baixa c o n c e n t r a ç ã o
Nefropatia • Anemia pela exposição ao c h u m b o , mas são u m m a r c a d o r definitivo da
Anemia overdose p o r c h u m b o . A c o n c e n t r a ç ã o de p r o t o p o r f i r i n a eritro-
~ Diminuição da citária m a i o r q u e 6 0 ^ g / d L é u m m a r c a d o r significante d e expo-
expectativa de vida sição ao c h u m b o . A análise sérica d e c h u m b o é d e u s o l i m i t a d o
Cólicas
p o r q u e as c o n c e n t r a ç õ e s séricas f i c a m a n o r m a i s p o r u m c u r t o
""" Neuropatias periféricas t
p e r í o d o de t e m p o após a exposição. N o r m a l m e n t e o c o n t e ú d o
Infertilidade (homens)
capilar d e c h u m b o é m e n o r q u e 5 (i/g; a c o n c e n t r a ç ã o capilar
Síntese de hemoglobina +
m a i o r q u e 2 5 ( i / g indica exposição grave ao c h u m b o .
_Nefropatia
E de vital i m p o r t â n c i a prevenir a exposição c o n t í n u a ao
Pressão arterial (homens) 4
Metabolismo da vitamina D + 30 c h u m b o q u a n d o as c o n c e n t r a ç õ e s s a n g u í n e a s e x c e d e m limites
Acuidade | aceitáveis. Por exemplo, a A m e r i c a n A c a d e m y of Pediatrics reco-
' auditiva
m e n d a q u e o u s o d e quelantes seja iniciado se a c o n c e n t r a ç ã o
— Protoporfirina eritrocitária
(homens) s a n g u í n e a exceder 4 5 j i / d L 1
Velocidade de condução }. 20 U m a toxicidade grave p e l o c h u m b o p o d e precisar d o u s o d o
nervosa q u e l a n t e BAL, a d m i n i s t r a d o d e f o r m a e n d o v e n o s a . O dimerca-
p r o l oral é u m a terapia-padrão e é u s a d o a m b u l a t o r i a l m e n t e p a r a
P r e t a p a r f i r i n a eritrocitária ^
Protoporfirina eritrocitária 4 todos os pacientes, exceto aqueles c o m casos graves de intoxica-
Metabolismo da vitamina D (?} (mulheres) ção p o r c h u m b o .
Toxicidade no A análise d o c h u m b o é feita de r o t i n a n o s a n g u e p o r q u e o
desenvolvimento c h u m b o fica c o n c e n t r a d o n o s eritrócitos. Deve-se ter c u i d a d o
Ql (?) I 10 * Hipertensão q u a n d o se o b t é m s a n g u e capilar; a c o n t a m i n a ç ã o de superfícies,
Audição I
Crescimento | . a coleta de v o l u m e i n s u f i c i e n t e e a m i s t u r a i n a d e q u a d a c o m o
Transferência trans placenta ria ácido e t i l e n o d ia m i n o t e t r acético ( E D T A ) r e s u l t a m f r e q ü e n t e -
m e n t e e m rejeição d a amostra. R e s u l t a d o s de análise d e u r i n a
t a m b é m se c o r r e l a c i o n a m c o m a exposição.

4 Aumento da função { Diminuição da função

Manganês
Figura 3 2 - 5 Efeitos d o c h u m b o i n o r g â n i c o em crianças e a d u l t o s O manganês (Mn) é amplamente distribuído no ambiente e é
( c o n c e n t r a ç ã o t r e n o r d e efeitos adversos observáveis). (Em: Royce SE, (1) u m d o s c o m p o n e n t e s d o s tijolos, (2) p r e s e n t e e m diversas
N e e d l e m a r i H L , e d s . Casê studies i n eninronme-nUil m e d i c i n e : LeaJ toxicity. ligas metálicas c o m o a n t i c o r r o s i v o , (3) u s a d o e x t e n s i v a m e n t e
W a s h i n g t o n D C : U S Public H e a l t h Service, A T S D R , 1990.) e m l a b o r a t ó r i o s c o m o u m a g e n t e de limpeza p a r a o b j e t o s d e
v i d i o e (4) u m p i g m e n t o c o m u m e m tintas. O s seres h u m a n o s
exibem toxicidade pelo manganês q u a n d o expostos a grandes
q u a n t i d a d e s d a p o e i r a desse m e t a l . A p ó s a e x p o s i ç ã o c r ô n i c a ,
o m a n g a n ê s se a c u m u l a n a substancia nigra d o cérebro, c a u s a n d o
O teste definitivo para a toxicidade p o r c h u m b o é a m e d i d a u m distúrbio neurodegenerativo semelhante ao Parkinson,
d a c o n c e n t r a ç ã o n o s a n g u e . Diversos e s t u d o s m o s t r a r a m u m a conhecido c o m o manganismo. A toxicidade pelo manganês
relação inversa e n t r e as c o n c e n t r a ç õ e s s a n g u í n e a s de c h u m b o e t a m b é m é o b s e r v a d a e m crianças q u e r e c e b e n u t r i ç ã o p a r e n t e -
o Q I d e crianças, q u e era m e n o r q u a n t o m a i o r fosse a concen- ral c r o n i c a m e n t e .
tração d e c h u m b o . E m resposta, o C e n t e r for Disease C o n t r o l As c o n c e n t r a ç õ e s de m a n g a n ê s n o s a n g u e ou n a u r i n a são
a n d P r e v e n t i o n ( C D C ) foi c o n t i n u a m e n t e d i m i n u i n d o o limite b o n s i n d i c a d o r e s d e exposição. O s valores d e referência, para
s u p e r i o r de c h u m b o a d m i t i d o p a r a crianças, q u e agora é d e adultos, d a q u a n t i d a d e de m a n g a n ê s n o s a n g u e são 0 , 4 a 1,1
m e n o s de 10 \Àg/dL. É t a m b é m i m p o r t a n t e q u e a m e d i d a m é d i a n g / m L (7 a 20 n m o l / L ) para o s o r o o u p l a s m a e 7,7 a 12,1 n g /
de c h u m b o n a c o r r e n t e s a n g u í n e a d e crianças caiu de 1.5 H g / d L m L (140 a 2 2 0 n m o l / L ) para o s a n g u e c o m o u m t o d o . A excreção
e m 1978 p a r a 2 j i g / d L e m 1999, graças às m e d i d a s adotadas, diária típica d e m a n g a n ê s n a u r i n a é de 0,2 a 0,5 j i / d i a . Entre-
c o m o a retirada d o c h u m b o da gasolina. Estudos q u e avaliaiaui t a n t o , a p r o x i m a d a m e n t e 5 % das pessoas n o r m a i s excretam mais
o i m p a c t o intelectual e m crianças c o m c o n c e n t r a ç õ e s de c h u m b o d e 2 ^,/dia d o metal, provavelmente p o r q u e estão expostas a
m e n o r e s q u e 10 ( i g / m L i n d i c a m q u e h á u m a relação inversa níveis a n o r m a i s d o m e t a l .
e n t r e as c o n c e n t r a ç õ e s d e c h u m b o e o Q I de crianças, m e s m o A m a i o r p a r t e d o m a n g a n ê s n a dieta n ã o é absorvida. C o m o
e m c o n c e n t r a ç õ e s s a n g u í n e a s m e n o r e s q u e 10 Jig/dL. 11 o c o n t e ú d o de p o e i r a d e m a n g a n ê s é c o m u m , a c o n t a m i n a ç ã o
A O M S d e f i n i u que c o n c e n t r a ç õ e s m a i o r e s q u e 3 0 J l g / d L e m d a u r i n a c o m o m e t a l ocorre f a c i l m e n t e . Traços de c o n t a m i n a ç ã o
a d u l t o s i n d i c a m exposição significativa. C o n c e n t r a ç õ e s m a i o r e s d e preservativos ácidos u s a d o s para estabilizar a u t i n a t a m b é m
q u e 6 0 j i g / d L i n d i c a m u s o de terapia q u e l a n t e . D e m a n e i r a são observados. O m a n g a n ê s é q u a n t i f i c a d o pelo AAS-ETA o u
similar à situação o b s e r v a d a e m criancas, as c o n c e n t r a ç õ e s san- p e l o ICP-MS.
Metais Tóxicos CAPÍTULO 32 625

Mercúrio 300 crianças, em meados dos anos 1990.' Alguns acreditam que
A atmosfera e a superfície da terra são expostas a milhares de esse a u m e n t o é devido ao mercúrio presente em vacinas c o m o o
toneladas de mercúrio (Hg) anualmente. A maior parte dessa preservativo Timerosal (sódio-etil-mercúrio-tiossulfato).' Em
exposição vem (1) como resultado do desgaste natural de rochas 2001, o C o m m i t t e e on Immunization Safety Review of the Board
(30.000 toneladas/ano), (2) de indústrias o n d e ele é usado na on Health Promotion and Disease Prevention of the Institute of
eletrólise, em dispositivos elétricos e como fungicida (6.000 tone- Medicine iniciou u m estudo para revisar a conexão entre as
ladas/ano) e, (3) de sua incorporação em amálgamas dentários vacinas que contêm mercúrio e doenças que afetam o desenvol-
(90 toneladas/ano). Além disso, o mercúrio é usado largamente vimento neurológico, incluindo o autismo. O comitê p o n t u o u
na indústria do papel c o m o clareador; os extratos de plantas diversos relatos, e, no seu octogésimo primeiro, em 2004, foi
produtoras de papel são conhecidas fontes de mercúrio. relatado que a hipótese era plausível biologicamente, mas que
O mercúrio é essencialmente atóxico em sua forma elementar não havia evidências suficientes para aceitar ou negar uma
(Hg 0 ), Na ausência de qualquer sistema biológico ou químico que conexão causal, e recomendaram u m programa de pesquisas. 9
altere o Hg 0 , é possível consumi-lo por via oral sem qualquer As fontes na dieta t a m b é m contribuem na quantidade de
efeito colateral. Entretanto, u m a vez que o Hg 0 tenha sido qui- mercúrio no corpo já que diversos alimentos contêm esse metal.
micamente modificado em formas inorgânicas ionizadas, c o m o Por exemplo, como conseqüência do acúmulo de metil-mercúrio
o Hg2"", ele se torna tóxico. A bioconversão em qualquer forma na cadeia alimentar aquática, os seres h u m a n o s são expostos ao
alquilizada, como, por exemplo, o metil-mercúrio (CH 3 Hg + ), metal ao comer alimentos contaminados como (1) peixes, (2)
torna-o extremamente tóxico, por ser altamente seletivo para ostras e (3) mamíferos marinhos.
tecidos ricos em lipídios, c o m o os neurônios. A ordem relativa Em adultos, casos de intoxicação por metil-mercúrio são carac-
de toxicidade é a seguinte: terizados pela degeneração focal de neurônios em regiões do
sistema nervoso central, como o córtex cerebral e o cerehelo.
Hg° (atóxico) << Hg 2+ « < CH 3 Hg + (maior toxicidade) D e p e n d e n d o do grau de exposição ainda no útero, o metil-mer-
cúrio pode levar a efeitos que variam de morte fetal até atrasos do
O mercúrio é quimicamente convertido do seu estado elementar desenvolvimento neural. Conseqüentemente, como (1) gestantes,
em u m estado ionizado em um processo industrial que expõe o (2) mulheres em idade fértil e (3) crianças jovens estão particular-
Hg 0 a u m oxidante forte, corno a clorina. O mercúrio elementar mente em risco, a U.S. Food and Drug Administration (FDA)
é t a m b é m convertido biologicamente tanto em Hg 2+ quanto em recomenda que se evite comer tubarões, peixe-espada e cavala."
formas alquiladas por microrganismos que existem n o intestino Entretanto, não sc alcançou u m consenso definitivo q u a n t o à
h u m a n o normal e no sedimento do f u n d o de lagos e rios. segurança dos níveis de exposição materna durante a gestação,
Q u a n d o o Hg 0 entra nesses sedimentos, ele é absorvido por A análise de sangue, urina e cabelo é utilizada para determi-
bactérias, fungos e outros microrganismos; esses organismos o nar o grau de exposição ao mercúrio. A concentração n o r m a l de
convertem me tribo I icamente em Hg», C H 3 H g \ ( C H J J H g , e mercúrio no sangue é m e n o i que 10 p g / L . Indivíduos que têm
outras formas. exposição ocupacional leve (p. ex., dentistas), p o d e m rotineira-
A toxicidade do mercúrio se expressa em três formas. Primeiro, mente ter concentrações sanguíneas do metal da ordem de 15
o Hg2* reage com os grupos sulfidril das proteínas, causando uma pg/L, Exposição significativa é demonstrada q u a n d o a concen-
mudança na estrutura terciária da proteína e a subseqüente perda tração de mercúrio n o sangue é maior que 50 p g / L (se exposição
de sua atividade biológica. C o m o o Hg 2+ se concentra nos rins for por metil-mercúrio) ou maior que 200 p g / L (se for exposição
durante o processo normal de filtração, os rins são os órgãos-alvo a Hg 2+ ). A O M S preconiza que a exposição diária ao mercúrio
da maior parte da toxicidade. Segundo, com a mudança estrutural segura é de 45 p g / d i a , sendo que uma excreção urinária diária
das proteínas mencionada anteriormente, algumas proteínas se de 50 pg/dia indica exposição significativa. N o r m a l m e n t e o
tornam imunogênicas, desencadeando uma proliferação de linfó- cabelo contém m e n o s de 1 pg de Hg/grama; quantidades maiores
citos B que geram imunoglobulinas que se ligam a novos antígenos indicam grande exposição. O tratamento com BAL ou penicila-
(tecidos colagenosos são particularmente sensíveis a esse efeito). mina mobiliza o mercúrio, permitindo sua excreção na urina. A
Terceiro, as espécies alquilizadas de mercúrio, como o metil-mer- terapia é monitorada através da excreção urinária de mercúrio; o
cúrio, são particularmente lipofílicas e se ligam a proteínas de tratamento termina q u a n d o a excreção urinária diária cai a
tecidos ricos em lipídios, como os neurônios; a mielina é particu- menos de 50 pg/L.
larmente suscetível à degeneração através desse mecanismo.^
Experiências com a. toxicidade do mercúrio vêm crescendo
Níquel
desde as investigações do derramamento industrial de mercúrio O níquel (Ni) é freqüentemente usado (l) na produção de ligas
de 1951 a 1963 na Baía de Minamata no Japão. Os peixes na Baía metálicas graças às suas propriedades anticorrosivas e de a u m e n t o
de Minamata tornaram-se carreadores de mercúrio na cadeia ali- da resistência, (2) em baterias recarregáveis e (3) como catalisador
na hidrogenação de óleos. O elemento níquel é não-tóxico,
mentar. A população local que tinha sua dieta dependente desses
peixes passou a apresentar sintomas de envenenamento por metil- exceto por causar inflamação em pontos de contato. E sabido
mercúrio, o que inclui ataxia, fala empastada, diminuição do que o níquel é essencial à vida em concentrações muito baixas.
campo visual, perda auditiva e mudanças sensitivas, caracterizadas O níquel-carbonil (Ni [CO] 4 ), usado em refinarias de petróleo, é
histológica mente por necrose d o córtex cerebral. Esses sintomas u m dos produtos químicos conhecidos mais tóxicos ao ser
se tornaram conhecidos como "a doença de Minamata". h u m a n o . O níquel carbonil é absorvido após ser inalado e pron-
No final dos anos 1980, a população tomou conhecimento da tamente atravessa todas as membranas biológicas, e inibe de
exposição ao mercúrio a partir de amálgamas dentários Estudos forma não competitiva a ATPase e R N A polimerase.'' Pacientes
recentes, entretanto, não confirmaram uma relação causal.17
' C o m o nota histórica, uma epidemia ocorreu em 1976 na Filadélfia e ficou
Suspeitas foram levantadas sobre a possível relação entre a
conhecida como a "doença dos legionários". Antes de a causa ser identificada
exposição ao mercúrio a partir de vacinas e o autismo. Nos EUA, como microbiológica, foram feitas sérias considerações sobre a possibilidade
a prevalência de autismo cresceu de 1 em aproximadamente de ser o níquel carbonil o causador, porque a apresentação dos pacientes
2.500, na metade dos anos 1980, para 1 em aproximadamente lembrava aquela esperada para os expostos a este complexo à base de níquel.
626 PARTE IV Analitos

expostos ao n í q u e l c a r b o n i l exibem r a p i d a m e n t e c o n g e s t ã o pul- As p r e o c u p a ç õ e s a respeito d o uso d e silicone e m implantes,


m o n a r e i n a b i l i d a d e e m oxigenar a h e m o g l o b i n a , e n a s e q ü ê n c i a e sobre sua possível toxicidade, vieram ao d o m í n i o p ú b l i c o c o m
s u r g e m lesões de (1) p u l m ã o , (2) fígado, (3) rins, (4) adTenais e base nos relatos de alta prevalência d e d o e n ç a s d o tecido conectivo
(5) b a ç o . O u t r o s c o m p o s t o s de n í q u e l f o r a m descritos c o m o associada ao a u m e n t o das m a m a s , O silicone parece induzir u m a
tóxicos e m ratos. resposta d e células p o l i m o r f o n u c l e a r e s e macrófagos, q u e se ligam
Pacientes s u b m e t i d o s à diálise são expostos ao níquel e acu- a p e q u e n a s partículas d e silicone e as t r a n s p o r t a m aos l i n f o n o d o s ,
m u l a m esse m e t a l n o s a n g u e e e m o u t r o s órgãos. A p a r e n t e m e n t e o n d e se a c u m u l a m . O u t r o s e s t u d o s n ã o s u s t e n t a m o papel reu-
essa f o r m a d e exposição n ã o causa efeitos adversos à s a ú d e . O matológico d o silicone. A q u a n t i f i c a ç ã o das c o n c e n t r a ç õ e s de
n í q u e l é t i p i c a m e n t e q u a n t i f i c a d o p e l o AAS-ETA. silicone n o sangue o u n o s tecidos se correlaciona c o m a presença
de implantes, mas n a o c o m s i n t o m a s e d o e n ç a articular.
Platina
U m a v a r i e d a d e d e agentes antineoplásicos q u e c o n t ê m platina Prata
(Pt), u s a d o s e m q u i m i o t e r a p i a , é c h a m a d a d e cisplatina (cts- O interesse clínico n a análise da p r a t a (Ag) é l i m i t a d o à m o n i t o -
d i c l o r o - d i a m i n o p l a t i n a diidrato). T o d o s esses c o m p o s t o s t ê m rização d e pacientes (1) c o m q u e i m a d u r a s q u e são t r a t a d o s c o m
a l g u m a n e f r o t o x i c i d a d e q u e é relacionada à c o n c e n t r a ç ã o d e sulfadiazina de p r a t a e (2) pacientes t r a t a d o s c o m descongestio-
p l a t i n a n a circulação s a n g u í n e a . Apesar de n ã o ser r o t i n a a n a n t e s nasais à base d e p r a t a . E m a m b o s os casos, a p r a t a se
d o s a g e m d a c o n c e n t r a ç ã o d e p l a t i n a n o s pacientes r e c e n d o cis- d e p o s i t a e m diversos órgãos, i n c l u i n d o a c a m a d a suhepitelial da
platina, a q u a n t i f i c a ç ã o dessas c o n c e n t r a ç õ e s e m pacientes c o m pele e d e m e m b r a n a s mucosas, p r o d u z i n d o u m a s í n d r o m e
insuficiência r e n a l a j u d a a identificar se o metal é a causa d a c h a m a d a argina ( c o m s i n t o m a típico de pele acinzentada). A
p e r d a d e f u n ç ã o . Picos de c o n c e n t r a ç ã o sérica maiores d o q u e argiria é associada a (1) r e t a r d o de crescimento, (2) h e m a t o p o i e s e ,
1 j i g / m L , p o r é m m e n o r e s q u e 1,5 | i g / m L , se c o r r e l a c i o n a m c o m (3) a u m e n t o de área cardíaca, (4) d e g e n e r a ç ã o h e p á t i c a e (5)
b a i x a n e f r o t o x i c i d a d e e b o a resposta terapêutica. T a n t o o AAS- d e s t r u i ç ã o d o s t ú b u l o s renais. A c o n c e n t r a ç ã o n o r m a l de p r a t a
E T A c o m o o ICP-MS são u s a d o s para q u a n t i f i c a r a p l a t i n a . sérica é m e n o r q u e 2 n g / m L . As c o n c e n t r a ç õ e s séricas típicas,
observadas e m p a c i e n t e s n ã o a f e t a d o s d u r a n t e seus t r a t a m e n t o s ,
Selênio p o d e m alcançar 3 0 0 n g / m L , e seus débitos u r i n á r i o s p o d e m ser
O selênio (Se) é u m e l e m e n t o essencial e t e m u m papel e m m a i o r e s q u e 5 5 0 |u.g/dia.
m i n i m i z a r o d a n o biológico c a u s a d o pela exposição ao arsênico
e ao c á d m i o . A toxicidade pelo selênio é o b s e r v a d a e m a n i m a i s Tálio
q u a n d o a ingestão diária ultrapassa 4 0 0 | l g / L (5,08 [ i m o l / L ) . O s O tálio (Tl) é u m s u b p r o d u t o da f u s ã o d o c h u m b o . O interesse
efeitos teratogênicos são f r e q ü e n t e m e n t e n o t a d o s n a p r o l e d e n o tálio deriva p r i m a r i a m e n t e d e seu u s o c o m o r o d e n t i c i d a ; a
a n i m a i s q u e vivem e m solo c u j o c o n t e ú d o e m t e r m o s d e selênio exposição acidental r e p r e s e n t a a principal f o r m a d e exposição.
é alto, c o m o n o centro-sul d a D a k o t a d o Sul e n a costa n o r t e d a A d i c i o n a l m e n t e , interesses a m b i e n t a i s estão crescendo p o r q u e o
C a l i f ó r n i a . A toxicidade ao selênio e m seres h u m a n o s n ã o é tálio é u m p r o d u t o d a c o m b u s t ã o d o carvão e da p r o d u ç ã o d e
descrita c o m o u m p r o b l e m a significativo, exceto e m casos agudos c i m e n t o . O tálio é r a p i d a m e n t e absorvido pela ingestão, por via
d e overdose. O selênio é e n c o n t r a d o em m u i t a s v i t a m i n a s ven- inalatória e p o r c o n t a t o com a pele. E c o n s i d e r a d o tão tóxico
d i d a s l i v r e m e n t e e m farmácias p o r q u e se imagina que sua ativi- q u a n t o o c h u m b o ou o m e r c ú r i o , e t e m locais de ação semelhan-
d a d e a n t i o x i d a n t e é anticarcinogênica. N ã o h á evidências subs- tes. O m e c a n i s m o d a toxicidade d o tálio resulta de (1) c o m p e t i ç ã o
tanciais de q u e o selênio impeça o d e s e n v o l v i m e n t o d e câncer. c o m o potássio e m receptores celulares q u e afetam b o m b a s d e
O selênio t i p i c a m e n t e é q u a n t i f i c a d o pelo ICP-MS, t e n d o c o m o íons, (2) inibição d a síntese de D N A , (3) ligação c o m g r u p o s
alternativa o A A S , após se m i s t u r a r o material d a coleta c o m u m a sulfidril de proteínas n o s axõnios e (4) c o n c e n t r a ç ã o nas células
matriz m o d i f i c a d o r a . t u b u l a r e s renais, c a u s a n d o necrose. Pacientes expostos a altas
doses d e Láliu (> 1 g) a p r e s e n t a m alopecia (perda de cabelo), neu-
Silício r o p a t i a periférica, convulsões e insuficiência renal. A intoxicação
O silício (Si) é o e l e m e n t o mais a b u n d a n t e de n o s s o a m b i e n t e ; p o r tálio está implicada c o m o causa d e m o r t e e m diversos arquivos
c o n s t i t u i 2 6 % d a crosta terrestre. D o p o n t o d e vista toxicológico, de m o r t e s políticas. Por exemplo, Zhu Ling, e m 1995 ( h t t p : / /
diversas f o r m a s d e silício são d e interesse, i n c l u i n d o óxidos e n . w i k i p e d i a . o r g / w i k i / Z h u _ L i n g ) , e A l e x a n d e r Litvinenko, e m
a m o r f o s d e silício (p. ex., os asbestos) e p o l í m e r o s metilados d e 2006 (http://en.wikipedia.org/wiki/Alexander_Licvinenko).
silício (p. ex., o silicone). As c o n c e n t r a ç õ e s séricas n o r m a i s d e tálio são m e n o r e s q u e
A inalação de poeiras q u e c o n t ê m asbestos leva ao d e p ó s i t o 10 n g / m L , e a excreção u r i n á r i a diária n o r m a l é m e n o r q u e 10
d e fibras de asbesto n o s alvéolos p u l m o n a r e s . Essas fibras são jag/dia. Pacientes expostos p o d e m ter c o n c e n t r a ç õ e s séricas tão
espículas que t ê m f o r m a d e agulhas, c o m a p r o x i m a d a m e n t e 150 altas q u a n t o 5 0 | i g / m L , c o m d é b i t o u r i n á r i o q u e excede os 5 0 0
[im de c o m p r i m e n t o e q u a s e 15 jim d e diâmetro. Q u a n d o essas |.ig/dia. O p r o g n ó s t i c o de l o n g o prazo d a exposição é r u i m .
fibras são inaladas, elas se d e p o s i t a m n o s alvéolos o n d e são
envolvidas p o r m a c r ó f a g o s e se t o r n a m revestidas p o r p r o t e í n a s
e m u c o p o l i s s a c a r í d e o s , f o r m a n d o os "corpos d e asbestos". O REFERÊNCIAS
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direta para pesquisa d e sílica n ã o distingue asbestose d e u m a Fe, Li, Mn, Mo, Ni, Rb, Se, Sr, and Zn in human serum and their
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Metais Tóxicos CAPÍTULO 3 2 S27

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FISIOPATOLOGIA PARTE v

C
APÍ
TUL
O 33

Doença Cardiovascular
Fred S. Apple, Ph.D., e Allan S. Jaffe, M.D.

OBJETIVOS „ M a r c a d o r C a r d í a c o : U m teste útil e m d o e n ç a cardíaca. O s


1. Definir os seguintes termos: m a r c a d o r e s p o d e m ser usados, p o r exemplo, p a r a detectar
Síndrome coronariana aguda d i s t ú r b i o s cardíacos ou o risco de desenvolvê-los, para
Angina m o n i t o r a r o d i s t ú r b i o o u p a i a preveT a resposta d e u m
Doença da artéria coronária d i s t ú r b i o ao t r a t a m e n t o .
Creatininoquinase P l a c a : U m a área b r a n c o - g r a n u l a d a n o interior d a p a r e d e de
Isque mi a u m a artéria q u e faz a superfície í n t i m a (interior) p r o t u b e r a r
Lactato desidrogenase d e n t r o d o l ú m e n ; c o m p o s t a p o r lipídios, r e s í d u o s celulares,
Miocárdio células d o m ú s c u l o liso, colágeno e, às vezes, cálcio;
Infarto do miocárdio t a m b é m c o n h e c i da c o m o a t e r o m a ,
Mioglobina R e p e r f u s ã o : A restauração do fluxo sanguíneo para u m
Placa tecido; n e s t e c a p í t u l o , refere-se ao r e t o r n o d o f l u x o
Troponina s a n g u í n e o p a r a u m a área d o c o r a ç ã o a b a s t e c i d a p o r u m a
2. Diagrama do fluxo sanguíneo através do coração e dos pulmões. artéria coronária.
3. Expor os eventos que levam a um infarto agudo do miocárdio. S í n d r o m e C o r o n a r i a n a A g u d a (ACS): U m d i s t ú r b i o cardíaco
q u e varia d e a n g i n a (dor n o p e i t o p o r esforço físico c o m
4. Listar os marcadores essenciais da lesão cardíaca e a ordem em
que surgem após um enfarto do miocárdio. lesão ao tecido reversível) a a n g i n a instável (com injúria
m í n i m a ao miocárdio) e i n f a r t o d o m i o c á r d i o (com necrose
5. Expar os métodos usados para medir os marcadores cardíacos.
tecidual extensa, q u e é irreversível).
6. Descrever a bioquímicatíopeptídío natriurético tipo B e o uso de
T r o m b ó l i s e j Destruição ("dissolução") de u m t r o m b o (coágulo),
biomarcadores na insuficiência cardíaca.
quase s e m p r e após injeção de u m a droga c o m o
estreptoquinase ou ativador de p l a s m i n o g ê n i c o de tecidual
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES (TPA).
A n g i n a i D o r n o p e i t o g e r a l m e n t e associada à r e d u ç ã o n o
s u p r i m e n t o d e oxigênio (isquemia) p a r a o m ú s c u l o cardíaco:
A n g i n a Instável: A n g i n a cuja gravidade, d u r a ç ã o o u f r e q ü ê n c i a
esteja a u m e n t a n d o .
A n g í o p l a s t i a : U m p r o c e d i m e n t o u s a d o p a r a e l i m i n a r áreas d e
e s t r e i t a m e n t o n o s vasos s a n g u í n e o s ; n o r m a l m e n t e realizada
p o r careter c o m balão inflável n o local d o e s t r e i t a m e n t o .
A r r i t m i a : Q u a l q u e r variação n o r i t m o n o r m a l d o b a t i m e n t o
D o e n ç a ísquêmica aguda e insuficiência cardíaca são as
d u a s d o e n ç a s cardiovasculares mais c o m u n s q u e d e p e n -
d e m de d i a g n ó s t i c o b i o q u í m i c o ; p o r t a n t o , elas serão o
foco p r i n c i p a l d e s d e capítulo. A f o r m a mais séria d e d o e n ç a
i s q u ê m i c a do coração é o i n f a r t o a g u d o d o m i o c á r d i o (AMI). O
cardíaco. ( C o m o o r i t m o cardíaco l e n t o o u r á p i d o p o d e ter A M I o c o r r e q u a n d o há u m d e s e q u i l i b r o e n t r e oferta e c o n s u m o
b a t i m e n t o rítmico, o t e r m o disritmia, ao invés d e arritmia, de oxigênio n o m ú s c u l o cardíaco (miocárdio), r e s u l t a n d o e m
é algumas vezes u s a d o p a r a essas duas a n o r m a l i d a d e s . ) i n j ú r i a e eventual m o r t e das células d o m ú s c u l o (miócitos). 2
A r t é r i a s C o r o n á r i a s : P e q u e n o s vasos s a n g u í n e o s q u e se Q u a n d o o s u p r i m e n t o de s a n g u e p a r a o m ú s c u l o e m u m a Tegião
o r i g i n a m da aoTta, acima d a válvula aórtica, e que fornecem d o coração é b l o q u e a d o p o r mais d e alguns m i n u t o s , m u i t a s o u
s u p r i m e n t o sanguíneo ao coração. a m a i o r i a das células d o m ú s c u l o n a região afetada m o r r e m ; isso
A t e r o s c l e r o s e : O processo d a d o e n ç a q u e causa f o r m a ç ã o de se c h a m a necrose a b s o l u t a d o m i o c á r d i o . O u t r o s eventos d e
placas n o i n t e r i o r d e artérias d e g r a n d e e m é d i o calibre. m e n o s gravidade p o d e m passar i n t e i r a m e n t e despercebidos ou
E l e t r o c a r d i o g r a m a ( E C G ) : U m registro gráfico da atividade serem c h a m a d o s de a n g i n a — q u e p o d e variar e n t r e a n g i n a estável
elétrica p r o d u z i d a p e l o coração. e a n g i n a instável. O s eventos i s q u ê m i e n s n o coração, v a r i a n d o
I n f a r t o A g u d o d o M i o c á r d i o (AMI): Necrose total d o miocárdio e n t r e a n g i n a (sem m o r t e celular) e A M I (com m o r t e celular), são
c o m o resultado d a i n t e r r u p ç ã o n o s u p r i m e n t o s a n g u í n e o c o n h e c i d o s c o m o s í n d r o m e s c o r o n a r i a n a s a g u d a s (ACS).
para u m a área d o m ú s c u l o cardíaco; o A M I é quase s e m p r e N o s Estados U n i d o s , a p r o x i m a d a m e n t e 7 0 0 mil pacientes
provocado por aterosclerose nas artérias coronárias sobre as p o r a n o s o f r e m u m p r i m e i r o A M I , e outras 5 0 0 mil pessoas q u e
quais a t r o m b o s e c o r o n a r i a n a n o r m a l m e n t e é sobreposta; s o f r e r a m u m A M I n o passado s o f r e m o u t r o ( d e n o m i n a d o A M I
c o m u m e n t e c h a m a d o de " a t a q u e cardíaco". recorrente). Cerca de 1,7 m i l h ã o d e pacientes são hospitalizados
I s q u e m i a : Deficiência d o f l u x o s a n g u í n e o c a u s a d a p o r a cada a n o n o s Estados U n i d o s c o m A C S . A carga e c o n ô m i c a
c o n s t r i ç ã o f u n c i o n a l o u o b s t r u ç ã o efetiva de u m a artéria; a n u a l p a r a d o e n ç a d a artéria c o r o n á r i a ( C A D ) excede e m U $
n e s t e capítulo as artérias referidas são as artérias coronárias. 133,2 bilhões, mais de 1 / 3 d o t o t a l de U $ 3 6 8 , 4 b i l h õ e s d e v i d o
630 PARTE V Fisícpatologia

à d o e n ç a cardiovascular global. A t u a l m e n t e , o t r a t a m e n t o d o tole. D u r a n t e a sístole, a pressão s a n g u í n e a típica n a a o r t a é d e


A M I sugerido pela m a i o r i a das diretrizes é agressivo e invasivo, a p r o x i m a d a m e n t e 120 m m H g , e n q u a n t o d u r a n t e a diástole ela
n a esperança d e r e d u z i t a e x t e n s ã o d o d a n o c a u s a d o ao miocár- cai para cerca de 70 m m Hg. E m r e p o u s o , o coração b a t e e n t r e
d i o e, assim, m e l h o r a r o diagnóstico. 6 0 e 80 vezes p o r m i n u t o . O ciclo cardíaco é e s t r i t a m e n t e con-
N a d o e n ç a cardíaca i s q n ê m i c a aguda, a q u í m i c a clínica trolado pelo sistema c o n d u t o r cardíaco, i n i c i a n d o os i m p u l s o s
desempenha u m papel i m p o r t a n t e na detecção d o d a n o a o mio- elétricos e t r a n s p o r t a n d o - o s , p o r u m sistema c o n d u t o r especiali-
cárdio. O s testes mais i m p o r t a n t e s para esse p r o p ó s i t o são as zado, o m i o c á r d i o . O e l e t r o c a r d i o g r a m a (ECG) registra m u d a n -
m e d i d a s das t r o p o n i n a s cardíacas, p r o t e í n a s e n c o n t r a d a s exclusi- ças n o p o t e n c i a l elétrico e é u m t r a ç a d o r gráfico das variações n o
v a m e n t e nas células d o m ú s c u l o cardíaco e liberadas n a circula- p o t e n c i a l elétrico c a u s a d o pela excitação d o m ú s c u l o cardíaco. O
ção q u a n d o as células m o r r e m . C o n c e n t r a ç õ e s a u m e n t a d a s n c E C G de superfície é u m registro d o potencial elétrico tal c o m o
s a n g u e são sinais sensíveis d e lesão ao m ú s c u l o cardíaco. A o ele é d e t e c t a d o n a superfície d o c o r p o . C l i n i c a m e n t e , o E C G é
contrário, concentrações persistentemente normais fornecem u s a d o p a r a identificar m u d a n ç a s (1) a n a t ô m i c a s , (2) metabólicas,
u m a evidência p o d e r o s a ao m é d i c o de q u e os s i n t o m a s d o (3) iónicas e (4) h e m o d i n â m i c a s A sensibilidade e a especifici-
p a c i e n t e n ã o estão r e l a c i o n a d o s c o m a injúria cardíaca. d a d e clínicas das a n o r m a l i d a d e s ecocardiográficas para detectar
A insuficiência cardíaca ( c h a m a d a c o m f r e q ü ê n c i a de insufi- s í n d r o m e s c o r o n a r i a n a s agudas são i n f l u e n c i a d a s p o r u m a m p l o
c i ê n c i a c a r d í a c a congestiva [ C H F ] é a ú n i c a d o e n ç a cardiovas- espectro de m u d a n ç a s a n a t ô m i c a s e fisiológicas e pela situação
cular q u e está a u m e n t a n d o . O N a t i o n a l H e a r t , L u n g , and. B l o o d clínica.
I n s t i t u t e estima q u e a atual prevalência de C H F n o s E s t a d o s E m circunstâncias n o r m a i s , o p a d r ã o de cada u m a das m u d a n -
U n i d o s ( n ú m e r o d e pessoas v i v e n d o c o m o d i s t ú r b i o ) é 4,9 ças (cada complexo) n o p o t e n c i a l elétrico d o ciclo é similar àquele
m i l h õ e s de pessoas, c o m u m a incidência a n u a l d e a p r o x i m a d a - de q u a l q u e r o u t r o ciclo e inclui três c o m p o n e n t e s i m p o r t a n t e s
m e n t e 4 0 0 mil novos casos a cada a n o . A C H F é a p r i n c i p a l causa (Figura 33-2): despolarização atrial (a o n d a P), despolarização ven-
de hospitalização e m i n d i v í d u o s c o m 65 a n o s de i d a d e ou mais. tricular (o complexo Q R S ) e repolarização (o s e g m e n t o S T e a
O p r o g n ó s t i c o d e p e n d e da gravidade da d o e n ç a , mas e m geral o n d a T). U m E C G de r o t i n a é c o m p o s t o p o r 12 c o n d u t o r e s . Seis
ele é r u i m . A m o r t a l i d a d e e m c i n c o anos é de a p r o x i m a d a m e n t e são c h a m a d o s de c o n d u t o r e s d e m e m b r o s (I, II, III, u m a V R , u m a
10% n a C H F leve, de 2 0 % a 3 0 % n a C H F m o d e r a d a , e de até 8 0 % V L e u m a VF) p o r q u e são registrados e n t r e os eletrodos d e b r a ç o
n a d o e n ç a t e r m i n a l . Esses r e s u l t a d o s insatisfatórios n ã o aconte- e p e r n a , e seis são c h a m a d o s de c o n d u t o r e s precordiais ou de
cem s e m u m custo, e s t i m a d o e m U $ 18,8 bilhões p o r a n o n o s tórax (Vi, Vi, V 3 , V 4 , e Vs) e são registrados sobre o esterno e
Estados U n i d o s . o p r e c ó r d i o esquerdo. C a d a c o n d u t o r registra o m e s m o i m p u l s o
A testagem q u í m i c a clínica é i m p o r t a n t e n a detecção d a elétrico, mas e m u m a p o s i ç ã o d i f e r e n t e relativa ao coração. As
C H F . O s p r i n c i p a i s testes são m e d i d a s d a liberação d o p e p t í d i o áreas de patologia m o s t r a d a s n o E C G p o d e m ser localizadas ana-
n a t r i u r é t i c o ripo B (BNP) o u d o pToduto d e d e g r a d a ç ã o d a lisandn-se o traçado e m q u e s t ã o e o q u e é s a b i d a m e n t e n o r m a l
p o r ç ã o N - t e r m i n a l d o p e p t í d i o ( N T - p i o B N P ) pelo coração enfra- n o s 12 c o n d u t o r e s diferentes.
q u e c i d o . C o m o o n o m e " n a t r i u r é t i c o " indica, o B N P a u m e n t a a
excreção r e n a l d e sódio. D i f e r e n t e das t r o p o n i n a s cardíacas, q u e DOENÇA CARDÍACA
são p r o t e í n a s intracelulares q u e só e s c a p a m das células d o N e s t a seção descreveremos e m m a i s d e t a l h e s as s í n d r o m e s coro-
m ú s c u l o c ar d ía c o q u a n d o as células estão m o r t a s o u g r a v e m e n t e n a r i a n a s e a insuficiência cardíaca.
destruídas, o B N P é u m h o r m ô n i o que é secrefcado n o sangue. A
secreção de B N P é e s t i m u l a d a pela distensão d a p a r e d e d o c o r a ç ã o
Síndromes Coronarianas Agudas
q u e o c o r r e na insuficiência cardíaca. A m e n s u r a ç ã o d o B N P n o
O t e r m o A C S engloba os p a c i e n t e s q u e p o s s u e m u m a v a r i e d a d e
plasma p r o v o u ser c l i n i c a m e n t e valiosa c o m o será e x p l o r a d o
de d o e n ç a s cardíacas isquêmicas instáveis. 2 N a f o r m a mais grave,
n e s t e capítulo. ( O b s e r v e q u e o uso, e m geral, d o t e r m o B N P n e s t e
o A M I , o eletrocardiograma p o d e m o s t r a r elevação de u m a
c a p i t u l o se refere ao B N P ou N T - p r o B N P , salvo q u a n d o f o r espe-
p o r ç ã o c h a m a d a s e g m e n t o S T ( q u e será descrito e m seguida). O
cificamente indicado.)
aspecto clinico associado é c o n h e c i d o p o r A M I c o m elevação d o
s e g m e n t o S T (STEMI). A p e r d a parcial d e p e r f u s ã o c o r o n a r i a n a ,
ANATOMIA E FISIOLOGIA DO CORAÇÃO q u a n d o grave, t a m b é m p o d e levar à necrose, m a s o nível de
E m m é d i a , o c o r a ç ã o d e u m ser h u m a n o a d u l t o pesa aproxima- m o r t e celular g e r a l m e n t e é m e n o r e o E C G n ã o m o s t r a elevação
d a m e n t e 3 2 5 g e m h o m e n s e 275 g e m m u l h e r e s . Ele está e n v o l t o d o s e g m e n t o ST. Essa c o n d i ç ã o é c o n h e c i d a c o m o i n f a r t o d o
e m u m saco d e n o m i n a d o pericárdio. A p a r e d e cardíaca é com- m i o c á r d i o s e m elevação d o s e g m e n t o S T ( N S T E M I o u não-
p o s t a p o r três c a m a d a s : o epicárdio (a c a m a d a mais externa), a S T E M I ) . O s pacientes c o m S T E M I n o r m a l m e n t e desenvolverão
c a m a d a d o m e i o e a c a m a d a mais i n t e r n a , d e n o m i n a d a endocâr- o n d a s Q e m seus E C G s (Figura 33-2), explicando o t e r m o I M
dio. O coração possui q u a t r o câmaras. As duas c â m a r a s s u p e r i o r e s o n d a Q . C a s o eles n ã o t e n h a m STE, m a s t e n h a m evidências
são c h a m a d a s d e átrio direito e átrio esquerdo e as duas c â m a r a s b i o q u í m i c a s de i n j ú r i a cardíaca (das quais a m e l h o r é u m a u m e n t o
inferiores de ventrículo direito e ventrículo esquerdo (Figura 33-1). O d e t r o p o n i n a I cardíaca o u t r o p o n i n a T cardíaca n o sangue), são
e n d o c á r d i o é a c a m a d a mais susceptível à i s q u e m i a p o r q u e sua c h a m a d o s N S T E M I ; a m a i o r i a desses pacientes n ã o desenvolve
p e r f u s ã o c o m s a n g u e é m u i t o incerta. (Note q u e as artérias coro- o n d a s Q n o E C G . A q u e l e s q u e t ê m i s q u e m i a instável e n ã o
nárias q u e f o r n e c e m o s a n g u e p a r a a p a r e d e d o coração estão n o m o s t r a m evidência de n e c r o s e cardíaca ( m o r t e celular), c o m o
epicárdio.) O m i o c á r d i o c o n t é m feixes d e fibras n o m ú s c u l o i n d i c a d o p e l o a u m e n t o nas c o n c e n t r a ç õ e s sanguíneas d e tropo-
estriado. O t r a b a l h o d o c o r a ç ã o é g e r a d o pela a l t e r n â n c i a e n t r e n i n a cardíaca, são classificados c o m o p o r t a d o r e s d e a n g i n a instá-
a c o n t r a ç ã o e o r e l a x a m e n t o dessas fibras. As fibras c o n t ê m as vel (CA). A m a i o r i a dessas s í n d r o m e s ocorre e m resposta ao
p r o t e í n a s c o n t r a t e i s a c t m a e m i o s i n a . Elas t a m b é m c o n t ê m pro- e v e n t o a g u d o n a a r t é r i a c o r o n á r i a q u e o b s t r u i a circulação p a r a
teínas c h a m a d a s t r o p o n i n a s q u e r e g u l a m a c o n t r a ç ã o ; d u a s das u m a região d o coração. Se a o b s t r u ç ã o for d e alto grau (bloque-
t r o p o n i n a s , as f o r m a s cardíacas de t r o p o n i n a s I e T, são os bio- a n d o m u i t o d o c a m i n h o para o s a n g u e n o vaso) e persistir, e n t ã o ,
m a r c a d o r e s definitivos de i n j ú r i a cardíaca. U m ciclo cardíaco n o r m a l m e n t e , o c o r r e necrose. Já q u e a necrose é c o n h e c i d a p o r
típico consiste e m dois intervalos c o n h e c i d o s c o m o sístole, e diás- levar algum t e m p o para se desenvolver, parece q u e a a b e r t u r a d o
Artéria Carótida
Comum Esquerda Aarta
Artéria Subclávia
Tranco Esquerda
Veia Cava
Braquiocefálicc. . . Superior
Artérias
Duetos Arteriais Veias
Veia Cava Superior Pulmonares
Obliterados Pulmonares
Esquerda
Artéria Artéria Pulmonar Direitas
Direita
Pulmonar Esquerda Superior a
Direita Inferior
Átrio Veias Pulmona-
Veias Esquerdo res Esquerdas
Pulmonares Superior e
Direitas Inferior
Superior e
Sinus
Inferior c_Ramo ;
Circunflexo
Ramo
Interventricular ,
Anterior da
Méria .
Esquerda
Ventrículo ,
Esquerdo v-.v-,'1' i n - Artéria
Interventricular
Veia Cava Interior Posterior
Veia Cardiaca
vista Anterior Vista Posterior

Aberturas das Aorta


Artérias Coronárias
Válvula Pulmonar

Nádulo Sipon i j
Vista Seccional
Válvulas - ..-í". :
Válvula (Mitral)
Nódulo Atrioventricular
Atrioventricular
Esquerda
Fossa Oval

Abertura do Sínus
Cofon^rio Ventrículo Esquerdo
Músculo Papilar
Artérias Coronárias e
Aberturas

Cúspide
Válvula Atrioventricular
Direita Septo
Interventricular

Válvula Aórtica Válvula Mitral


(vista de cima) (vista de cima)

Válvula (Tricúspide)
Atrioventricular Direita (vista de cima)

Figura 33-1 A n a t o m i a d o coração. ( D e DorlaruTs Illustraced M e d i c a i D i c t i o n a r y , 3 0 t h ed. P h i l a d e l p h i a : W B


S a u n d e r s C o , 2003:Panel 20.)

Figura 3 3 - 2 E l e t m c a t d i o g r a m a s de u m p a c i e n t e c o m i n f a r t o a g u d o d o
m i o c á r d i o . A seqüência é A, n o r m a l , B , h o r a s pós-infatto, o s e g m e n t o S T fica
elevado, C, d e h o r a s a dias depois, a o n d a T inverte e a o n d a Q fica m a i o r ,
D , dias a s e m a n a s após o s e g m e n t o S T r e t o r n a p r ó x i m o ao n o r m a l e
E, s e m a n a s a meses após a o n d a T começa a subir n o v a m e n t e , mais a
" v -
onda Q permanece ainda maior.
632 PARTE V Fisiopatologia

b l o q u e i o n a artéria c o r o n á r i a e m t e m p o h á b i l p o d e q u a s e s e m p r e QUADRO 33-1 Condições que Aumentam as


evitar a l g u m a s m o r t e s d o t e c i d o d o m i o c á r d i o . Essa terapia é Concentrações de Troponinas sem Provocar
c o n s i d e r a d a agressiva. Insuficiência Cardíaca Isquêmica
A p r i n c i p a l causa da A C S é a a t e r o s c l e r o s e , q u e c o n t r i b u i p r a
u m e s t r e i t a m e n t o significativo d o l ú m e n d a artéria. A l é m disso, Trauma cardíaco (contusão, ablação pacing, cardioversãc e outros)
Insuficiência Gardíaca congestiva — aguda e crônica*
a placa aterosclerótica t e n d e a se p a r t i r ( d i s t ú r b i o da placa) e
Doença da válvula aórtica e H0CM c o m LVH* significativo
f o r m a r coágulos s a n g u í n e o s ( t r o m b o s ) n o vaso, b l o q u e a n d o
Hipertensão
a i n d a mais o u i n t e r r o m p e n d o c o m p l e t a m e n t e o f l u x o sanguí-
Hipotensão, quase sempre c c m a r r i t m i a s
neo. 1 2 A i s q u e m i a d o m i o c á r d i o e o i n f a r t o s u b s e q ü e n t e n o r m a l -
Pacientes em pós-operatório de cirurgia não-cardíaca que parecem estar bem*
m e n t e c o m e ç a m n o e n d o c á r d i o e se e s t e n d e m p a r a o epicáTdio.
insuficiência renal*
A e x t e n s ã o d a i n j ú r i a d o m i o c á r d i o r e f l e t e (1) a e x t e n s ã o d a
Pacientes gravemente doentes, especialmente com diabetes, insuficiência
oclusão, (2) as necessidades m e t a b ó l i c a s d a área p r i v a d a d e per-
respiratória*
f u s ã o e (3) a d u r a ç ã o d o d e s e q u i l í b r i o e n t r e o s u p r i m e n t o coro- Toxicidade por droga, por exemplo, Adriamicina, 5FU, Herceptina, venenos
n a r i a n o e, p o r t a n t o , d o s u b s t r a t o d i s p o n í v e l e das necessidades de cobra*
m e t a b ó l i c a s d o tecido O d a n o c a r d í a c o irreversível o c o r r e c o m Hipotireoidismo
freqüência em animais q u a n d o a oclusão é completa durante, Vasoespasmo coronário, incluindo síndrome de balonamento apical
p e l o m e n o s , 15 a 20 m i n u t o s . A m a i o r i a d o s d a n o s o c o r r e d e n t r o Doenças inflamatórias (p. ex., miocardite, p. ex., com parvovírus B19,
das p r i m e i r a s 2 e 3 h o r a s . doença de Kawasaki, sarcóide, vacina para catapora ou extensão do PE do
A restauração do fluxo sanguíneo coronariano dentro dos miocárdio)
primeiros 60 a 90 m i n u t o s determina a máxima preservação d o Pacientes na pós-PCI que parecem não ter complicações*
tecido, m a s os benefícios são s u f i c i e n t e s até 4 a 6 h o r a s p a r a Embolismo pulmonar, hipertensão pulmonar grave*
s e r e m associados ao a u m e n t o da s o b r e v i d a . Para os p a c i e n t e s c o m Sepse*

S T E M I , a a b e r t u r a p r e c o c e d o vaso c o m agentes diluentes de Queimaduras, especialmente se TBSA > 3 0 % *

coágulos ( t r o m b ó l i s e ) e / o u i n t e r v e n ç ã o p e r c u t â n e a (PCI) q u a s e Doenças infiltrativas, incluindo amiloidese, hemacromatose, sarcoidose e

s e m p r e p o u p a o m i o c á r d i o e vidas. N a P C I , u m cateter é i n s e r i d n esclerodermia*


Doença neurológica aguda, incluindo CVA, sangramentos subaraenóideos*
n a artéria f e m o r a l ( n o r m a l m e n t e ) e sua p o n t a é m a n i p u l a d a n a
Rabdomiólise com lesão cardíaca
aoTta e n a artéria c o r o n á r i a . Lá o b l o q u e i o é a b e r t o , q u a s e s e m p r e
t/asculopatia por transplante
p e l n b a l ã o i n f l a d o q u e está n o cateter, p e r t o d a p o n t a . O cardio-
Exaustão vital
logista p o d e , e n t ã o , inserir u m scent, u m t u b o de a r a m e t r a n ç a d o
i n s e r i d o n o vaso p a r a m a n t ê - l o a b e r t o ; essa a b o r d a g e m p r o m o v e HOCM, ctirdiomiofiocia oÍjjithlívíi hiperLró/jea; LVH, hipertrofia ventricular
a m a i o r taxa de a b e r t u r a e m e n o s p r o b l e m a s d e s a n g r a m e n t o q u e esquerda-,5FU, 5-/luorouracil; PE, êmbolo pulmonar; PCI, ínlítvençâo coronariana
o u t r a s i n t e r v e n ç õ e s , c o m o o uso d e agentes p a r a dissolver os pÊTCutÃTiefl' TBSA, áreã Ictd! da superfície corporal-, CVA, acidente vascular cerebral.
*lnformaçãò sobre prognóstico de iroponína foi relatada.
coágulos. N o e n t a n t o , m u i t o s h o s p i t a i s n ã o p o d e m o u n ã o ofe-
r e c e m P C I d e urgência, 24 h o r a s p o r dia, 3 6 5 dias p o r a n o . I-ogo,
a a d m i n i s t r a ç ã o de m e d i c a m e n t o s dissolvente de coágulos sem o
uso d e P C I a i n d a c o n t i n u a s e n d o o t r a t a m e n t o m a i s u s a d o . A l é m
disso, parece q u e a t u a l m e n t e a revascularização invasiva u r g e n t e
t a m b é m b e n e f i c i a aqueles c o m N S T E M I . Sabe-se que, atual-
N a maioria dos pacientes, a dor de u m a A C S é intensa, mas
m e n t e , m u i t o s t r a t a m e n t o s , c o m o os mais novos agentes anticoa-
r a r a m e n t e intolerável; a d o r t a m b é m p o d e ser leve o u a u s e n t e .
gulantes, a n t i p l a q u e t á r i o s e a n t i i n f l a m a t ó r i o s , q u a n d o u s a d o s
O d e s c o n f o r t o é descrito c o m o c o n s t r i n g e n t e , e s m a g a d o r , opres-
associados à P C I e a o u t r a s a b o r d a g e n s p a r a a revascularização
sor e c o m p r e s s o r ; o p a c i e n t e q u a s e s e m p r e relata sensação de algo-
c o r o n a r i a n a , p o u p a m vidas n e s s e g r u p o .
pesando sobre o peito e apertando-o. A dor n o r m a l m e n t e é
E m m u i t o s p a c i e n t e s c o m A M I , n e n h u m fator p r e c i p i t a n t e
s e n t i d a atrás d o e s t e r n o (retroesternal), f r e q ü e n t e m e n t e se irra-
p o d e ser i d e n t i f i c a d o E s t u d o s n o t a r a m as seguintes atividades
d i a n d o p a r a os dois lados do peito, f a v o r e c e n d o o l a d o e s q u e r d o .
e m p a c i e n t e s n o início d o A M I : (1) exercício físico p e s a d o , 13%;
A d o r irradia-se c o m f r e q ü ê n c i a p a r a o b r a ç o e s q u e r d o . E m
(2) exercício usual o u m o d e r a d o , 18%; (3) p r o c e d i m e n t o cirúr-
alguns casos, a d o r d o A M I p o d e c o m e ç a r n o a b d o m e s u p e r i o r
gico, 6 % ; (4) r e p o u s o , 5 1 % ; e (5) d u r a n t e o s o n o , 8 % . Se e
(epigástrio) e s i m u l a r vários d i s t ú r b i o s a b d o m i n a i s , o q u e p o d e
q u a n d o u m a a t i v i d a d e for a d e s e n c a d e a d o r a d o i n f a r t o , a j a n e l a
levar a o d i a g n ó s t i c o e r r a d o de i n d i g e s t ã o . E m o u t r o s p a c i e n t e s o
d o risco será q u a s e s e m p r e a b e r t a , n o r m a l m e n t e a p e n a s 1 ou 2
d e s c o n f o r t o d o A M I irradia-se p a r a os o m b r o s , as e x t r e m i d a d e s ,
h o r a s d m a n t e e após a atividade.
o pescoço e o q u e i x o , n o v a m e n t e f a v o r e c e n d o o l a d o e s q u e r d o .
O u t r a s c o n d i ç õ e s ( Q u a d r o 33-1) t a m b é m p o d e m causar a
E m pacientes com angina preexistente, a dor d o infarto normal-
m o r t e dos c a r d i o m i ó e i t o s e levar ao a u m e n t o d e t r o p o n i n a car-
m e n t e l e m b r a a d o r d a a n g i n a n o q u e diz respeito às caracterís-
díaca n o s a n g u e , i n d i c a n d o d a n o ao m i ó c i t o , m a s essas e n t i d a d e s
ticas e à localização, m a s ela g e r a l m e n t e é m u i t o mais a g u d a , d u r a
n ã o d e v e m ser c o n f u n d i d a s c o m i n f a r t o d o m i o c á r d i o .
m a i s t e m p o (mais de 30 m i n u t o s ) e / o u n ã o alivia c o m r e p o u s o
e n i t r o g l i c e r i n a . O s i n d i v í d u o s m a i s velhos, diabéticos e m u l h e r e s
t e n d e m a a p r e s e n t a r os s i n t o m a s d e f o i m a atípica, s e m d o r o u
Papel da História Clínica no Diagnóstico da ACS c o m s i n t o m a s não-específicos. A d o r d o A M I p o d e ter desapare-
A história clínica c o n t i n u a t e n d o u m valor substancial n o estabe- cido a n t e s de o m é d i c o a t e n d e r o p a c i e n t e , o u p o d e d u r a r p o r
l e c i m e n t o d o diagnóstico. 2 U m a história p r o d r ô m i c a de angina algumas horas.
p o d e seT e l u c i d a d a e m 4 0 % a 5 0 % dos pacientes c o m A M I . A p r o -
x i m a d a m e n t e 1 / 3 desses paci ent es a p r e s e n t a r a m s i n t o m a s e m 1 a Desenvolvimento e Progressão da Aterosclerose
4 s e m a n a s a n t e s d a hospitalização; n o s 2 / 3 restantes, os s i n t o m a s A t e r o s c l e r o s e é u m a d o e n ç a i n f l a m a t ó r i a crônica. 1 2 O c o n c e i t o é
pré-datam à admissão e m 1 s e m a n a o u m e n o s , c o m 1 / 3 desses q u e alguns eventos d a n i f i c a m o r e v e s t i m e n t o i n t e r n o das células
pacientes a p r e s e n t a n d o os s i n t o m a s p o r 24 h o r a s o u m e n o s . ( e n d o t é l i o ) d o s vasos s a n g u í n e o s , o q u e facilita a saída de lipídio
Doença Cardiovascular CAPÍTULO 3 3 633

d e n t r o d o espaço s u b e n d o t e l i a l . O processo d e evolução da ate- Papel dos Marcadores Cardíacos na ACS


rosclerose d i m i n u i c o m o e n v o l v i m e n t o d o s linfócitos, m o n ó c i - U m m a r c a d o r c a r d í a c o é d e f i n i d o c o m o u m teste clínico labo-
tos, m a c r ó f a g o s e células musculares lisas. A d i n â m i c a e n t r e ratorial útil n a d o e n ç a cardíaca, mais c o m u m e n t e para d e t e c t a r
d i f e r e n t e s placas p o d e variar, m a s c e r t a m e n t e existe u m processo i n j ú r i a d o A M I o u d o m i o c á r d i o . Q u a n t o a este ú l t i m o , os mar-
i n f l a m a t ó r i o . Este processo t a m b é m envolve a a d e r ê n c i a d e cadores são m u i t o úteis q u a n d o os pacientes t ê m E C G s não-
células s a n g u í n e a s brancas à superfície d a n i f i c a d a d o e n d o t é l i o , diagnosticados. Para u m m a r c a d o r ser c l i n i c a m e n t e útil para
c o m s u b s e q ü e n t e d e g r a n u l a ç ã o das células b r a n c a s e liberação de d e t e c t a r u m A M I , ele deve ser l i b e r a d o r a p i d a m e n t e d o coração
mieloperoxidase. H á t a m b é m um c o m p o n e n t e pró-coagulante p a r a a circulação e f o r n e c e r i n f o r m a ç ã o sensível e especifica p a r a
atribuível, p r e d o m i n a n t e m e n t e , à presença d o fator tecidual, q u e o diagnóstico. A l é m disso, os exames analíticos d e v e m ser r á p i d o s
está localizado i m e d i a t a m e n t e sob a capa d a placa. A l é m disso, e capazes de m e d i r as baixas c o n c e n t r a ç õ e s dos m a r c a d o r e s nas
existe t a m b é m u m a i n s t a b i l i d a d e i n t e r m i t e n t e , c a u s a d a p o r pro- a m o s t r a s de s o r o ou d e plasma. A d e m a i s , o m a r c a d o r ideal de
d u t o s i n f l a m a t ó r i o s d e n t r o d a placa q u e l i b e r a m substâncias d a n e d o m i o c á r d i o persistirá n a circulação p o r vários dias para
q u í m i c a s q u e d e g r a d a m as moléculas de superfície. Esses proces- f o r n e c e r u m t e m p o m a i o r d e d i a g n ó s t i c o p a r a os pacientes q u e
sos, além d e p r o v o c a r e m u m a r e d u ç ã o n o fluxo, p o d e m levar à só p r o c u r a m assistência após o evento (p. ex., aqueles c o m d o r
necrose o u , pelo m e n o s , à isquemia r e c o r r e n t e . T a m b é m é apa- m í n i m a ) . As t r o p o n i n a s cardíacas s e r v e m a esses objetivos. A
r e n t e q u e o processo q u e e v e n t u a l m e n t e leva a eventos agudos i n t e r r u p ç ã o d e u m a persistência longa p o d e ser u m a incapaci-
envolve u m a t e n d ê n c i a sistêmica para a agregação plaquetária e d a d e p a r a distinguir u m a nova lesão (aguda) d e u m a antiga q u e
i n f l a m a ç ã o , p o r q u e o f l u x o e f l u e n t e d o vaso n ã o c a u s a d o r (dis- ocorreu h á p o u c o s dias. Isso é i m p o r t a n t e p o r q u e os pacientes
t a n t e da lesão c o r o n á r i a putativa q u e causou o e v e n t o agudo) p o s s u e m risco a u m e n t a d o de s o f r e r e m mais A M I s ( c h a m a d o s
elabora os m e d i a d o r e s i n f l a m a t ó r i o s (p. ex., mieloperoxidase) r e i n f a r t o o u extensão do A M I ) n o s dias s u b s e q ü e n t e s ao A M I .
similares àqueles o b s e r v a d o s c o m o o r i u n d o s d o vaso afetado.
F i n a l m e n t e , q u a n d o h á necrose, ela t a m b é m estimula u m a reação Insuficiência Cardíaca Congestiva
d e fase aguda, i n c l u i n d o u m c o m p o n e n t e i n f l a m a t ó r i o . E m N a I C C há b o m b e a m e n t o ineficaz d o coração l e v a n d o ao
v i r t u d e dessa fisiopatologia, m u i t a s terapias são agora voltadas a c ú m u l o (congestão) d e l í q u i d o n o s p u l m õ e s . E m t e r m o s médicos,
p a r a a inibição d a t r o m b o s e , fibrinólise, agregação p l a q u e t á r i a e ela é d e f i n i d a c o m o a c o n d i ç ã o fisiopatológica na qual u m a
inflamação. a n o r m a l i d a d e da f u n ç ã o cardíaca é responsável pela i n c a p a c i d a d e
d o coração e m b o m b e a r o s a n g u e de f o r m a suficiente para satis-
Diagnóstico de Infarto Agudo do Miocárdio fazer as necessidades d o tecido m e t a b o l i z a d o s p o r c o n s e g u i n t e ,
Previamente; o diagnóstico d o A M I estabelecido pela Organiza- os pacientes p o d e m ter insuficiência cardíaca n a ausência d e
ção M u n d i a l de S a ú d e necessitava d e p e l o m e n o s dois d o s seguin- congestão p u l m o n a r . E n c e r r a d a n a d e f i n i ç ã o de insuficiência
tes critérios: (1) história de d o r n o peito, (2) e n v o l v i m e n t o d e cardíaca está u m a m p l o espectro de c o n d i ç õ e s clínicas, v a r i a n d o
m u d a n ç a s n o E C G ( c o m o aquelas m o s t r a d a s n a Figura 33-2) de (1) debilitação p r i m á r i a n a f u n ç ã o d e b o m b e a m e n t o , c o m o
e / o u (3) elevações e m série nos m a r c a d o r e s cardíacos. 1 , 2 N o p o d e ocorrer após u m g r a n d e A M I ; (2) e n r i j e c i m e n r o cardíaco
e n t a n t o , u m diagnóstico d e A M I r a r a m e n t e era feito n a ausência a u m e n t a d o q u e provoca a u m e n t o s n a pressão n o coração, restrin-
d e evidência b i o q u í m i c a d e lesão d o m i o c á r d i o . U m a c o n f e r ê n c i a g i n d o o a b a s t e c i m e n t o e a u m e n t a n d o as pressões hidrostáticas
consensual, e m 2000, da E u r o p e a n Society of C a r d i o l o g y e d o atrás da área d e compliância; e (3) situações nas quais a d e m a n d a
A m e r i c a n College of Cardiology ( E S C / A C C ) , c o d i f i c o u o papel periférica é excessiva, r e s u l t a n d o n o q u e é c o n h e c i d o c o m o insu-
dos b i o m a t c a d o r e s (especificamente das t r o p o n i n a s cardíacas I e ficiência cardíaca d e alta p r o d u ç ã o , d e f i n i d a c o m o i n c a p a c i d a d e
T), d e f e n d e n d o que o diagnóstico r e q u e r evidência de injúria d o
m i o c á r d i o c o m base nas c o n c e n t r a ç õ e s a u m e n t a d a s de marcado-
res séricos d o d a n o cardíaco ( Q u a d r o 33-2). 1,7 As diretrizes reco-
n h e c e r a m , e n t ã o , q u e n a realidade n e m a a p r e s e n t a ç ã o clínica, QUADRO 33-3 Recomendações da ESC/ACC para o Uso de
n e m o E C G p o s s u e m sensibilidade a d e q u a d a e específica. Essa Biomarcadores Cardíacos para Detecção de
diretriz n ã o sugere q u e t o d o s os a u m e n t o s desses m a r c a d o r e s Injúria do Miocárdio e Infarto do Miocárdio
devem elucidar u m diagnóstico de A M I — a p e n a s aqueles asso-
• Aumentos nos biomarcadores de injúria cardiaca são indicativos de dano
ciados à clínica a p r o p r i a d a e / o u aos a c h a d o s n o E C G . Q u a n d o
ao miocárdio, mas não de um mecanismo isquêmico do dano.
o c o r r e m elevações q u e n ã o são causadas p o r isquemia aguda, o
• Troponinas cardíacas (I ou T) são marcadores preferidos para o
m é d i c o é o b r i g a d o a pesquisar o u t r a razão para este a u m e n t o . As
diagnóstico de dano ao miocárdio.
r e c o m e n d a ç õ e s sobre o uso desses m a r c a d o r e s da j u n t a bioquí-
• Aumentos nas proteínas (marcadores cardíacos) retletem dano
mica da E S C / A C C estão listadas n o Q u a d r o 33-3.
irreversível.
• Melhor controle de qualidade dos testes de treponina é essencial.
• AMI está presente quando há dano cardíaco, como detectado pelas
Q U A D R O 3 3 - 2 | Diagnóstico do Infarto Agudo da Miocárdio
proteínas marcadoras (um aumento acima do perceníii 99 da variação
normal] em um quadro clínico compatível com isquemia do miocárdio.
Qualquer um dos critérios a seguir satisfaz o diagnóstico para um AMI em
• Para pacientes com um mecanismo isquêmico de lesão, o prognóstico
evolução ou recente.
está relacionado com a extensão dos aumentos de protonina.
1. Elevação típica e queda gradual (troponina cardíaca) ou elevação e queda
• Se um mecanismo isquêmico for improvável, outras causas de lesão
mais rápidas (CK-MB) dos marcadores bioquímicos da necrose do
cardíaca deverão ser investigadas.
miocárdio com pelo menos um dos seguintes:
• Para excluir um Ml, devem-se obter amostras de no mínimo 6 a 9 ti oras
a. Sintomas isquêmicos
após o inicio dos sintomas.
b. Desenvolvimento de ondas Q patológicas no ECG
" Após PCI e CABG, a significância das elevações nos marcadores e do
c. Mudanças na ECG indicativas de isquemia (depressão ou elevação do
cuidado ao paciente deve ser individuaíi2ada.
segmento ST)
d. Intervenção na artéria coronária (p. ex., angioplastia coronária) P C I , ímenjençãa coronariana perciítâneã", C A B G , enxerto frota desfie de artéria
2. Achados patológicos de um AMI
634 PARTE V Fisiopatologia

d o coração e m a u m e n t a r sua pTodução o suficiente para a t e n d e r p o r ç ã o a m m o t e r m i n a l d á a esse m a r c a d o r especificidade única.


as d e m a n d a s periféricas p o r sangue. C o n t u d o , d u r a n t e o d e s e n v o l v i m e n t o fetal h u m a n o , e m m ú s c u l o
A classificação f u n c i o n a l d o s pacientes c o m C H F usa o esquelético d e rato em regeneração e em m ú s c u l o esquelético
sistema de classificação da N e w York H e a r t A s s o c i a t i o n (NYHA). h u m a n o d o e n t e , p e q u e n a s q u a n t i d a d e s de c T n T são expressas
O s pacientes n a classe I são g e r a l m e n t e c o n s i d e r a d o s assintomá- c o m o u m a das q u a t r o isoformas identificadas n o m ú s c u l o esque-
ticos, sem restrições à atividade física; n a classe mais alta, classe lético. E m h u m a n o s , a expressão d a i s o f o r m a c T n T foi relatada
IV, os pacientes sao q u a s e s e m p r e s i n t o m á t i c o s e m r e p o u s o , c o m e m amostras d e m ú s c u l o esquelético obtidas de pacientes c o m
severas limitações de atividade física. As m a n i f e s t a ç õ e s clínicas distrofia muscular, polimiosite, d e r m a t o m i o s i t e e d o e n ç a renal
da insuficiência cardíaca v a r i a m c o n s i d e r a v e l m e n t e e m u i t a s n ã o t e r m i n a l , mas n ã o f o r a m reagentes c o m a interação do i m u n o e n -
são específicas. O s a c h a d o s d e p e n d e m de m u i t o s fatores, saio para c T n T a t u a l m e n t e disponível (Roche). A t r o p o n i n a C
i n c l u i n d o (1) as características clínicas d o paciente, (2) a extensão n ã o é útil c o m o m a r c a d o r cardíaco p o r q u e a m e s m a expressa n o
e a v e l o c i d a d e c o m q u e o d e s e m p e n h o d o coração se t o r n a coração n ã o é específica para ele.
a n o r m a l , (3) a causa d a d o e n ç a cardíaca, (4) c o - m o r b i d a d e s con- A p ó s lesão d o m i o c á r d i o ou p o r causa d a d i s p o n i b i l i d a d e
c o m i t a n t e s e (5) a p a r t e d o c o r a ç ã o q u e é a f e t a d a p o r f u n c i o n a - genética, múltiplas f o r m a s d e t r o p o n i n a a p a r e c e m t a n t o n o
m e n t o a n o r m a l . A gravidade da debilitação p o d e variar de leve tecido q u a n t o n o sangue. Essas f o r m a s i n c l u e m os complexos das
— m a n i f e s t a d a c l i n i c a m e n t e a p e n a s d u r a n t e o estresse — a avan- t r o p o n i n a s cardíacas T, I e C (T-I-C o u c o m p l e x o terciário); com-
çada, n a qual a f u n ç ã o d e b o m b e a m e n t o cardíaco é incapaz de plexos d e I e C (I-C c o m p l e x o b i n á r i o ) e I livre. M ú l t i p l a s modi-
m a n t e r a vida s e m auxílio e x t e r n o . ficações dessas f o r m a s p o d e m existir, e n v o l v e n d o oxidação,
Já q u e os sinais e s i n t o m a s da insuficiência cardíaca n ã o são r e d u ç ã o , fosforilação e desfosforilação, e r e m o ç ã o d o s aminoáci-
específicos, u m teste objetivo de insuficiência cardíaca p o d e ser extre- dos nas e x t r e m i d a d e s das moléculas ( C ou N). O s i m u n o e n s a i o s
m a m e n t e útil. D e forma ideal, o m a r c a d o r a u m e n t a r i a progressi- c l i n i c a m e n t e úteis r e c o n h e c e m i d e a l m e n t e os e p í t o p o s n a região
v a m e n t e c o m o a u m e n t o d a gravidade da d o e n ç a e n ã o estaria c o n s e r v a d a d a molécula m e n s u r a d a e m e d e m , i g u a l m e n t e , as
a u m e n t a d o (ou d i m i n u í d o ) e m condições q u e i m i t a m a C H F . várias formas ( p o s s u e m u m a "resposta e q u i m o l a r " para as várias
A l é m disso, q u a n t o aos marcadores de d a n o cardíaco, testes rápidos formas) q u e circulam n o sangue.
são desejáveis. O p e p t í d i o natriurético tipo B (BNP) vai ao encon-
t r o desses objetivos. Peptídio Natriurético Cerebral
O B N P cerebral (ou tipo B), u m h o r m ô n i o q u e foi o r i g i n a l m e n t e
BIOQUÍMICA DOS BIOMARCADORES isolado d o tecido cerebral de s u í n o s , é liberado, p r i n c i p a l m e n t e ,
CARDÍACOS dos ventrículos cardíacos. s A síntese d o B N P d e p e n d e m u i t o da
U m g r a n d e n ú m e r o de m a r c a d o r e s foi m o n i t o r a d o para avaliar expressão d o gene e da regulação positiva inicial d o R N A m e n -
o d a n o e a d i s f u n ç ã o d o m i o c á r d i o . M u i t o s são p r o t e í n a s d o s sageiro ( m R N A ) . A Figura 33-3 ilustra a síntese d o pré-pró-hor-
m i o c á r d i o e d i f e r e m e m sua (1) localização n o mi óci t o, (2) ciné- m ô n i o e a secreção s u b s e q ü e n t e d o B N P dos m i ó c i t o s cardíacos.
tica de liberação após o d a n o e (3) clearãnce d a circulação. Acre- N ã o há certeza se o p r o B N P é clivado n o m i ó c i t o ou posterior-
dita-se q u e u m a b o a q u a n t i d a d e de o u t r a s moléculas t a m b é m t e m m e n t e n o plasma, mas sabe-se q u e h á proteases c i r c u l a n d o q u e
p o t e n c i a l p a r a ser bio m a r c a d o r . Nesta seção, p r i m e i r o discutire- são capazes d e clivar o f r a g m e n t o N - t e r m i n a l p r o B N A e de ativar
m o s as t r o p o n i n a s cardíacas (usadas c o m o m a r c a d o r e s de lesão a m e t a d e d o BNP. As principais f o r m a s circulantes são a p o r ç ã o
d o m i o c á r d i o e n o d i a g n ó s t i c o d o A M I ) e os p e p t í d i o s natriuTé- N - t e r m i n a l (ou f r a g m e n t o ) d o p r o B N P ( N T - p r o B N P ) q u e n ã o
ticos (usados n a C H F ) , e d e p o i s d i s c u t i r e m o s dois o u t r o s marca- possui f u n ç ã o c o n h e c i d a ; p r o B N P , f u n ç ã o d e s c o n h e c i d a ; e B N P
dores de lesão ao m i o c á r d i o ( c r e a t i n o q u i n a s e e m i o g l o b i n a ) que (o h o r m ô n i o fisiologicamente ativo q u e é a p a r t e O t e r m i n a l d o
estão disponíveis, mas q u e n ã o são a m p l a m e n t e u s a d a s . A seção p r o B N P ) . O B N P é e l i m i n a d o via d e g r a d a ç ã o p o r e n d o p e p t i d a s e s
t e r m i n a c o m a discussão s o b r e vários m a r c a d o r e s cardíacos que n e u t r a s , por ckarance m e d i a d a p o r receptor e u m p o u c o , talvez,
p o d e m vir a ser úteis n o s p r ó x i m o s a n o s para u m a v a r i e d a d e de pelos rins, q u e t a m b é m p o d e m secretar BNP. O f r a g m e n t o NT-
propósitos. p r o B N P n ã o é e l i m i n a d o p u r m e c a n i s m o s m e d i a d o s p o r recep-
tores, mas acredita-se q u e sejam p r e d o m i n a n t e m e n t e e l i m i n a d o s
Troponinas Cardíacas I e T pelos rins. P o r t a n t o , ele será mais sensível às m u d a n ç a s n a f u n ç ã o
Três s u b u n i d a d e s de t r o p o n i n a s f o r m a m u m c o m p l e x a q u e Tegula
a interação d e actina e m i o s i n a e, p o r conseguinte, regula a con-
tração cardíaca. As três t r o p o n i n a s são (1) t r o p o n i n a C (o c o m p o -
n e n t e h g a n t e de cálcio), (2) t r o p o n i n a I (o c o m p o n e n t e inibidor) Mioclto p r e p r o B N P (134 aa)
e (3) t r o p o n i n a T (o c o m p o n e n t e ligante d e tropo miosina). A
peptídio sinal (26 aa)
t r o p o n i n a está localizada, p r i n c i p a l m e n t e , nas miofibrilas ( 9 4 % a
97%), c o m u m a p e q u e n a f r a ç ã o n o citoplasma (3% a 6 % ) As p r o B N P (108 aa)
s u b u n i d a d e s I e T de t r o p o n i n a cardíaca (cTn) p o s s u e m seqüên- B N P - 3 2 ( p r o B N P 77-108)

cias diferentes de a m i n o á c i d o s codificadas por genes diferentes 1 Secreção


I \
— e são distintas das t r o p o n i n a s p r e d o m i n a n t e s e n c o n t r a d a s e m
/ \ Distensão
o u t r o m ú s c u l o c o m o o m ú s c u l o esquelético. A c T n l h u m a n a
Tensão da parede
possui a adição d e u m resíduo de a m i n o á c i d o n a posição 31 d a
proBNP
extremidade amino terminal comparada com a cTnl do músculo
esquelético, d a n d o a ela u m a especificidade única. A p e n a s u m a NT-proBNP 1-76 BNP-32
i s c f o r m a de c T n l foi identificada. A c T n l n ã o é expressa e m forma fisiologicamente ativa
m ú s c u l o esquelético h u m a n o o u animais em c o n d i ç õ e s n o r m a i s , Sangue
regenerativa o u d o e n t e . A t r o p o n i n a T cardíaca t a m b é m é codifi-
cada p o r u m g e n e d i f e r e n t e d a q u e l e q u e codifica as isofoimas d o Figura 33-3 B i o t r a n s f o r m a ç ã o e liberação d e B N P e N T - p r o B N P d o
m ú s c u l o esquelético. O r e s í d u o de a m i n o á c i d o n a posição 11 d a m i ó c i t o na circulação (aa, a m i n o á c i d o ) .
Doença Cardiovascular CAPÍTULO 3 3 635

renal. A maioria das pesquisas sobre peptídios natriuréticos na desafio diagnóstico para o médico. Elevações persistentes do
I C C teve como objetivo o BNP e o NT-proBNP. N o entanto, soro total e da porcentagem de CK-MB o r i u n d a s de m u d a n ç a s
investigações atuais descreveram quantidades substanciais de pro- musculares crónicas ocorrem em pacientes com distrofia mus-
BNP circulando que reagem de m o d o cruzado em testes de BNP cular, doença renal terminal ou polimiosite, e em pessoas sau-
e NT-proBNP; essa descoberta precisa ser mais explorada para dáveis que praticam exercício extremo ou atividades físicas. O
interpretação clínica. a u m e n t o de CK-MB n o soro em corredores, por exemplo, p o d e
O BNP possui múltiplas funções cardíacas e é liberado como estar relacionado com a adaptação d o músculo esquelético
u m h o r m ô n i o contra-regulador em resposta a uma variedade de d u r a n t e o t r e i n a m e n t o regular e após o exercício extremo, resul-
estresses cardíacos, especialmente à distensão cardíaca. Ele é sig- t a n d o em concentrações teciduais de CK-MB a u m e n t a d a s , que
nificativamente afetado pelas mudanças n o volume do fluido e são refletidas n o sangue. Em todas essas patologias a t r o p o n i n a
n o desempenho cardíaco, e entre seus efeitos estão a redução do cardíaca mostrou estar n o r m a l q u a n d o o miocárdio não sofreu
volume e a vasodilatação. A concentração desses hormônios em lesão.
circulação é u m marcador sensível para mudanças na fisiologia
ventricular As concentrações de BNP e NT-proBNP na circulação Mioglobina
estão aumentadas na insuficiência cardíaca crônica e correlacio- A mioglobina é u m a proteína ligante de oxigênio nos músculos
nadas com sua gravidade. Estudos anteriores demonstraram que cardíaco e esquelético, com peso molecular de 17.800 Da. A
a secreção de BNP reflete estresse na parede regional nos ventrí- medida da mioglobina sérica foi defendida porque ela parece
cu los e é, portanto, associada à remodelagem ventricular adversa aumentar antes da CK-2, após u m AMI. O peso molecular e a
e a um pior diagnóstico após AMI. Atualmente, está claro que as locação citoplasmática da proteína provavelmente respondem
mensurações do BNP são Úteis para identificar pacientes com por seus aparecimentos na circulação logo após lesão muscular
C H F de moderada a grave, o que às vezes pode ser difícil de (cardíaca ou esquelética). N ã o há diferença n a proteína da mio-
reconhecer, e para estratificação do risco em pacientes com C H F globina encontrada n o coração versus músculo esquelético.
e naqueles com ACS. Os dados sugerem que ambos, BNP e NT- A u m e n t o s de mioglobina sérica ocorrem após trauma aos
proBNP, fornecem informação que é sinérgica com a mensuração músculos esqueléticos e cardíacos, como em danos por esmaga-
de troponina nesses cenários e especialmente útil para a estratifi- m e n t o ou AMI. U m a lesão, ainda que pequena ao músculo
cação do risco q u a n d o as troponinas cardíacas estão normais. esquelético, pode resultar em concentrações aumentadas de mio-
globina sérica, criando possibilidades para u m a interpretação
equivocada, como d a n o do miocárdio. A mioglobina é liberada
Isoformas e Isoenzimas da Creatinoquinase
pelos rins, logo a normalidade na função renal p o d e causar ele-
Três isoenzimas citosólicas (CK-3, CK-2, CK-1) e uma isoenzima
mitocondrial (CK-Mt) da creatinoquinase (CK) ( M W aproxima- vações
damente 80 mil Da para as quatro isoenzimas) foram identifica-
dos. As enzimas citosólicas são dímeros de duas subunidades Outros Biomarcadores Potenciais3
chamadas M e B. Genes distintos codificam as subunidades M e U m grande n ú m e r o de outros marcadores cardíacos potencial-
B, e u m terceiro codifica a CK mitocondrial. A CK-3 (CK-MM) m e n t e úteis foi estudado e discutido em relatórios de pesquisas.
é p r e d o m i n a n t e n o coração e n o músculo esquelético, e a C K l - 1 A maioria ainda precisa de estudo adicional e d o desenvolvi-
(CK-BB) é a forma p r e d o m i n a n t e n o cérebro e n o músculo liso. m e n t o de testes apropriados Descrevemos brevemente os seguin-
A CK-2 (CK-MB) às vezes é chamada de isoenzima cardíaca, já tes marcadores como exemplos de testes que p o d e m ser aplicados
que 10% a 20% total da atividade de C K n o miocárdio são n o cuidado aos pacientes com doença cardíaca.
provenientes da CK-MB, e n q u a n t o n o músculo esquelético essa
porcentagem varia de menos 2 % a 5%. A eletroforese das isoen- Proteína C-reativa
zimas CK, usando tempos de eletroforese estendidos ou eletrofo- A proteína C-reativa (CRP) é discutida n o Capítulo 23 como u m
rese de alta voltagem, revela pelo menos três isoformas CK-MM fator de risco cardíaco. C R P é considerada como marcador do
e pelo menos quatro isoformas CK-MB (subtipos das isoenzimas processo aterosclerótico, ]á que ambos os processos ateroscleróti-
individuais). cos, crônico e agudo, envolvem u m componente inflamatório.
A proporção de CK-MB é b e m mais baixa nas áreas periféri-
cas normais do tecido d o que n o miocárdio infartado em humanos. Colina
Q u a n d o estudadas de forma mais detalhada em humanos, as A colina é liberada após estimulação por fosfolípase D durante
concentrações de CK-MB variam de 15% a 24% do total de CK isquemia e vista como u m teste de prognóstico em paciente com
n o tecido do miocárdio obtido de pacientes com hipertrofia ACS e desconforto n o peito, sem a u m e n t o de troponina cardíaca.
ventricular esquerda (LVH) causada por estenose da aorta, de Até o m o m e n t o não existe u m teste padronizado, n e m estudos de
pacientes com C A D sem LVH, e de pacientes com C A D e LVH intervalos de referência ou validações consistentes de testes.
provocado por estenose da aorta. E m contraste, os pacientes
com tecido ventricular esquerdo n o r m a l tiveram u m a porcenta- Ligante sCD40
gem baixa de CK-MB (< 2%). Esses dados sugerem que as mudan- Esse marcador é u m a proteína transmembrana relacionada com
ças na distribuição da isoenzima CK são dinâmicas e ocorrem fator de necrose tecidual (TNF)-alfa. Ele possui miiltiplos efeitos
em miocárdio h u m a n o hipertrofiado e doente. As células doentes pró-trombóticos e pró-aterogênicos. O que é n o r m a l m e n t e
também têm menos CK total por célula. O músculo esquelético medido é a forma solúvel d o receptor, que mostrou ser u m pre-
normal, d e p e n d e n d o de sua localização, contém muito p o u c o ditivo de eventos após apresentações agudas de ACS. Até o
CK-MB. Porcentagens tão altas q u a n t o 5 % e 7% foram relatadas, m o m e n t o não existe u m teste padronizado n e m estudos de inter-
mas menos de 2% é muito c o m u m . Injúria severa ao músculo valos de referência ou validações consistentes de testes.
esquelético após trauma ou cirurgia pode causar elevações abso-
lutas de CK-MB acima do limite máximo de CK-MB n o soro. Albumina Modificada por Isquemia
Porém, a porcentagem de CK-MB n o soro é < 5%. A u m e n t o s em A albumina modificada por isquemia (IMA), medida pelo teste
CK total sérico e em CK-MB quase sempre representam u m de ligação de cobalto à albumina, foi revogada pelo F D A por
636 PARTE V Fisiopatologia

causa de seu valor predirivo negativo para isquemia j u n t o c o m clonais para a m e n s u r a ç ã o de c T n l e c T n T n o soro. O t e m p o
u m E C G n o r m a l e u m a t r o p o n i n a cardíaca n o r m a l . Esse teste dos testes varia de 5 a 30 m i n u t o s . Mais de u m a dúzia d e testes,
baseia-se nas m u d a n ç a s da ligação de cobalto à molécula d e em laboratório central e e m plataformas de testes de exames de
a l b u m i n a q u a n d o há isquemia. Ele r e q u e r validação adicional do execução r e m o t a ( P O C T ) , f o r a m revogados pelo FDA para testa-
significado positivo antes d e seu uso clínico para d e t e r m i n a r a gem e m paciente para auxiliar no diagnóstico d e AMI. A l é m dos
isquemia. testes quantitativos, vários testes f o r a m revogados pelo F D A para
a d e t e r m i n a ç ã o qualitativa de c T n l e cTnT.
Mieloperoxidase Na prática, dois obstáculos limitam a facilidade para trocar
A mieloperoxidase é liberada q u a n d o os neutrófilos se agregam u m teste d e c T n l por outro. Primeiro, n ã o h á referência primária
e, assim, p o d e m indicar u m a resposta i n f l a m a t ó r i a ativa nos d e material c T n l disponível para os f a b r i c a n t e s u s a r e m n a
vasos sanguíneos. Ela mostrou estar c r o n i c a m e n t e elevada q u a n d o padronização de seus testes. Segundo, as concentrações n o teste
a C A D está presente. U m reste foi revogado pelo F D A para o uso n ã o c o m b i n a m por causa dos diferentes epítopos reconhecidos
em prognóstico d e pacientes d e alto risco para ACS. C o n t u d o , pelos vários an t i co r p o s usados. U m esforço está a c a m i n h o desde
estudos iniciais de prognósticos foram realizados sem considera- 2001 pela Subcomissão para Padronização de c T n l da A m e r i c a n
ção a d e q u a d a d e outros analitos, e m especial a t r o p o n i n a cardíaca. Association for Clinicai C h e m i s t r y ( A A C C ) para preparar u m
Portanto, são necessários estudos adicionais. material d e referência primária. E m colaboração com o N a t i o n a l
Institute for Standards a n d Technology (NIST), u m material de
LDL Oxidada referência, u m complexo de t r o p o n i n a s T, I e C (complexo terci-
A lipoproteína d e baixa d e n s i d a d e oxidada, LDL, possui u m ário T I C ) , foi p r o d u z i d o e agora está disponível pelo N I S T (mate-
papel-chave n o desenvolvimento da aterosclerose. Vários m é t o d o s rial d e refeTência-padrão (SRM] 2921). Esse material dá aos fabri-
f o r a m usados para medi-la, mas eles a p r e s e n t a m resultados poten- cantes condições para planejarem seus testes. T r a b a l h a n d o com
cialmente diferences. Alguns correlacionaram L D L m a l o n d i a l d e í d o a N I S T e c o m as indústrias de diagnóstico in vitro, estudos preli-
ao desenvolvimento de aterosclerose e eventos a c u r t o prazo. A minares d e m o n s t r a r a m q u e e n q u a n t o a padronização dos testes
identificação direta com a n t i c o r p o s sugere q u e a L D L oxidada p e r m a n e c e elusiva, a h a r m o n i z a ç ã o das concentrações d e c T n l
p o d e ser liberada dos vasos e se co-localizar com a lipoproteína p o r testes diferentes vem s e n d o estreitada — de u m a diferença de
(Lp [a]) após eventos agudos. 20 vezes entre os testes para u m a diferença d e 2 a 3 vezes.
A c T n l está presente n a circulação e m múltiplas formas,
Fosfolípase Associada à Lipoproteína A2 (LpPLA2) c o m o (1) livre, (2) ligada c o m o duas u n i d a d e s do complexo
LpPLA2 é u m a fosfolípase associada à L D L considerada c o m o b i n á r i o com a c T n C e (3) ligada c o m o três u n i d a d e s d o com-
u m marcador a n t i i n f l a m a t ó r i o . Ela é sintetizada p o r m o n ó c i t o s plexo terciário c o m c T n T e c T n C . C o m o resultado, testes dife-
e linfócitos. H á u m teste a p r o v a d o pelo FDA para esse analito rentes para c T n l p r o d u z e m resultados diferentes. As compara-
c o m intervalos d e referência obrigatórios. Ela m o s t r o u m e l h o r a r ções entre sistemas de ensaios devem ver as m u d a n ç a s c o m o
a precisão de eventos e m pacientes sem A M I prévio, m e s m o relativas a cada limite d e referência superior respectivo ao teste.
q u a n d o a p r o t e í n a C-reativa de sensibilidade alta (hsCRP) é O s usuários devem c o m p r e e n d e r as características analíticas de
responsável, sugerindo q u e ela m e d e algo diferente dos reagentes cada teste da t r o p o n i n a I antes da i m p l e m e n t a ç ã o clínica.
de fase aguda associados à hsCRP, Várias adaptações d o i m u n o e n s a i o R o c h e Diagnostics c T n T
f o r a m descritas, r e s u l t a n d o n a revogação pelo FDA do teste d e
Proteína A Plasmática Associada à Gravidez q u a r t a geração disponível e m t o d o o m u n d o e livre da interfe-
A proteína A plasmática associada à gravidez (PAPPA) é u m a rência de h e p a r i n a . T n T d o m ú s c u l o esquelético n ã o é u m poten-
metaloproteinase, e acredita-se q u e ela seja expressa em placas cial i n t e r f e r e n t e do teste cTnT, c o m o foi e n c o n t r a d o na primeira
q u e estão prontas para romper. N o m o m e n t o , a literatura a esse geração. A o contrário do cTnl, n ã o há t e n d e n c i o s i d a d e entre os
respeito n ã o está certa sobre seu uso e m ACS. A t é o m o m e n t o , testes R o c h e de cTnT, nos quais os m e s m o s an t i c or pos ( M i l ,
n ã o há teste p a d r o n i z a d o n e m estudos de intervalos de referência M 7 ) são usados consistentemente: teste quantitativo d e laborató-
o u validações consistentes de testes. rio central e teste qualitativo P O C .
E m 2001, a I n t e r n a t i o n a l Federation of Clinicai C h e m i s t r y
Fator de Crescimento Piacentário (IFCC) C o m m i t t e e o n Standardization of Markers of Cardiac
O fator d e crescimento piacentário é u m fator angiogêmco rela- D a m a g e ( C - S M C D ) estabeleceu especificações sobre a q u a l i d a d e
c i o n a d o c o m o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) r e c o m e n d a d a para os testes de t r o p o n i n a cardíaca. 15 Essas espe-
q u e estimula as células do m ú s c u l o liso e os macrófagos. Ele cificações f o r a m destinadas ao uso p o r fabricantes de testes
t a m b é m a u m e n t a o T N F e a proteína-1 qui mio atraente de m o n ó - comerciais e por laboratórios q u e u s a m testes de t r o p o n i n a . O
cito. Acredita-se q u e o fator d e crescimento piacentário forneça principal objetivo foi t e n t a r estabelecer critérios u n i f o r m e s para
i n f o r m a ç ã o prognóstica adicional para pacientes q u e têm A C S . avaliação das qualidades analíticas e d o d e s e m p e n h o clínico dos
A t é o m o m e n t o n ã o há teste p a d r o n i z a d o n e m estudos d e inter- testes disponíveis. T a n t o os fatores analíticos q u a n t o os pré-ana-
valos de referência ou validações consistentes de testes. líticos f o r a m abordados, c o m o mostra o Q u a d r o 33-4. U m a des-
crição a d e q u a d a dos princípios analíticos, d o p l a n e j a m e n t o d o
TESTES E INTERVALOS DE REFERÊNCIA m é t o d o e dos c o m p o n e n t e s dos testes precisa ser feita. C o m o
mais sistemas de teste são p l a n e j a d o s para P O C T , o m e s m o rigor
PARA PROTEÍNAS DE MARCADORES
aplicado às metodologias para o laboratório central precisa ser
CARDÍACOS m a n t i d o pelos sistemas P O C T .
Troponina C a r d í a c a Diretrizes publicadas sugerem u m requisito para os a r e d u ç ã o
Metodologia n o t e m p o d e a t e n d i m e n t o (TATs) para os b i o m a r c a d o r e s de
D e s d e q u e C u m m i n s e colaboradores desenvolveram o p r i m e i r o m e n o s de 60 m i n u t o s , desde o p e d i d o do teste até o c o m u n i c a d o
teste, há mais d e 20 anos, m u i t o s fabricantes desenvolveram dos resultados. Esta r e c o m e n d a ç ã o está baseada n a urgência para
i m u n o e n s a i o s para diagnósticos com base em a n t ic o r p o s m o n o - tratat os vasos ocluídos antes q u e a isquemia do miocárdio leve
Doença Cardiovascular CAPÍTULO 33 637

Q U A D R O 33-4 Especificações de Qualidade — Testes de a 8 4 a n o s d e idade) estratificados p o r g ê n e r o e e t n i c i d a d e . O s


Troponina Cardíaca d a n o s d e m o n s t r a r a m várias questões. P r i m e i r o , dois e s t u d o s de
c T n l m o s t r a r a m u m p e r c e n t i l 99 1,2 a 2,5 vezes mais alto p a r a
A. Fatores Analíticos
h o m e n s q u e p a r a m u l h e r e s . S e g u n d o , dois testes de c T n l d e m o n s -
1. Especificidade de anticorpo — reconhece epítopos como parte da molécula
t r a r a m u m p e r c e n t i l 99 de 1,1 a 2,8 vezes m a i s alto para afro-
e reconhecimento eqüimolar de todas as formas
a m e r i c a n o s q u e para caucasianos. Terceiro, h o u v e u m a d i f e r e n ç a
2. Influência de anticoagulantes
de 30 vezes e n t r e o limite d o percentil 99 m a i s baixo e o mais
3. Calibração contra forma natural de molécula
alto m e d i d o e m c T n l . O b v i a m e n t e , a falta d e p a d r o n i z a ç ã o e m
4. Define o tipo de material apropriado para diluições
teste d e t r o p o n i n a cardíaca e as d i f e r e n ç a s n o r e c o n h e c i m e n t o
5. Demonstra recuperação e linearidade do método
de e p í t o p o s e n t r e os testes (testes d i f e r e n t e s u s a m a n t i c o r p o s
6. Descreve limite de detecção e imprecisão (CV 10%)
7. Aborda inferentes (isto é, fator reumatóide, anticorpos heterófilo)
diferentes) suscitaram r e s u l t a d o s s u b s t a n c i a l m e n t e discrepantes.
B. Fatores Pré-ana líticos C o n t u d o , d e s d e q u e as pessoas e n t e n d a m as características d e
1. Tempo de armazenamento e condições de temperatura u m teste individual e n ã o t e n t e m c o m p a r a r as c o n c e n t r a ç õ e s
2. Efeitos de centrifugação — separadores em gel absolutas e n t r e testes diferentes, a i n t e r p r e t a ç ã o clínica deve ser
3. Correlações de sangue total/soro/plasma aceitável para todos os testes.
A i m p l e m e n t a ç ã o de p o n t o s d e cortes de referência e m tro-
Modificado ÍIÉ Pün teghiní Gatiardt IX' Apple FS. Da ti F, Ravleilde .!, Wu A H
Q u ü l i t j specifications for cardiac troponin assdrp. CIm Cfiem Ltih Meã 2001;
p o n i n a cardíaca m e l h o r o u c o m testes d e c T n l d e s e g u n d a geração
39:1748.
e de c T n T de q u a r t a geração mais robustas. E n q u a n t o os testes de
CV, coeficiente de variação. c T n l de p r i m e i r a geração são imprecisos e m c o n c e n t r a ç õ e s próxi-
m a s d o limite d e referência d o percentil 99, os cestes c T n l d e
s e g u n d a geração estão a m p l a m e n t e m e l h o r a d o s c o m a c o n c e n t r a -
à m o r t e das células d o m i o c á r d i o . O m a i o r e s t u d o d e T A T publi- ção n o percentil 9 9 d a p o p u l a ç ã o saudável a c i m a d o limite d e
c a d o até h o j e d e m o n s t r o u q u e as expectativas p a r a a T A T n ã o detecção. O s d a d o s n o pacote d e inserção s o b r e imprecisão são
são a t e n d i d a s e m u m a g r a n d e p o r c e n t a g e m d e hospitais. U m a baseados, p r i n c i p a l m e n t e , n o s e s t u d o s intra-ensaios e m vez d e n o
pesquisa d o College of A m e r i c a n Pathologists Q-probe, de 7.020 d e s e m p e n h o mais i m p o r t a n t e d o dia-a-dia. N o v a m e n t e , n ã o é
d e t e r m i n a ç õ e s de t r o p o n i n a cardíaca realizada e m 159 hospitais, c o n s i s t e n t e a especificação d o F D A sobre q u e tipn de e s t u d o de
d e m o n s t r o u q u e a m é d i a e o T A T de p e r c e n t i l 9 0 p a r a t r o p o n i n a imprecisão deve ser relatado n o p a c o t e d e inserção. O objetivo
f o r a m 74,5 m i n u t o s e 129 m i n u t o s , resultados similares f o r a m p r i n c i p a l será a t i n g i d o q u a n d o t o d o s os testes d e t r o p o n i n a car-
vistos p a r a CK-MB (82 e 131 m i n u t o s ) . M e n o s de 2 5 % dos hos- díaca o b t i v e r e m u m C V (total), n o dia-a-dia, < 10% n o limite de
pitais c o n s e g u e m acender o T A T de m e n o s d e 6 0 m i n u t o s , d e s d e referência d o p e r c e n t i l 99. P o r é m , q u a n d o se u s a m d e t e r m i n a -
o t e m p o d o p e d i d o d o teste até o c o m u n i c a d o d o r e s u l t a d o ções consecutivas d e t r o p o n i n a e m u m c o r t e n o p e r c e n t i l 99,
( t e m p o d o p e d i d o até o resultado). Infelizmente, u m a s u b a n á l i s e c o m o d e f e n d i d o pela E S C / A C C , pela N a t i o n a l A c a d e m y of Cli-
s e p a r a d a só de sistemas P O C T n ã o foi relatada. N o e n t a n t o , nicai B i o c h e m i s t r y ( N A C B ) e pelo I F C C , as d i f e r e n ç a s e m impre-
d a d o s m o s t r a r a m q u e a i m p l e m e n t a ç ã o d a testagem de t r o p o n i n a cisão e n t r e os testes p o s s u e m a p e n a s p o u c a i n f l u ê n c i a sobre as
cardíaca P G C p o d e d i m i n u i r os TATs para m e n o s d e 3 0 m i n u t o s taxas d e A M I falso-pcsitivo o u sobre a classificação e r r a d a de
n o c u i d a d o cardiológico crítico e n a s u n i d a d e s de p o u c a p e r m a - pacientes com A C S para estratificação de risco. A u m e n t o s e m
nência.4 b i o m a r c a d o r e s acima d o p e r c e n t i l 99 d e v e m ser c u i d a d o s a m e n t e
i n t e r p r e t a d o s , d e n t r o d o c o n t e x t o clínico d o p a c i e n t e , e a c o m p a -
Intervalos de Referência n h a d o s c o m a m o s t r a s seriadas d u r a n t e u m p e r í o d o de 6 a 9 h o r a s
O s laboratórios individuais devem d e t e r m i n a r u m percentil 9 9 após a a p r e s e n t a ç ã o .
d e u m g r u p o de referência para o teste específico u s a d o n a prática O u s o d a r e d e f i n i ç ã o d o a c o r d o c o m E S C / A C C (2000) d o
clínica o u teste v a l i d a d o c o m base nas d e s c o b e r t a s n a literatura. d o c u m e n t o c o n s e n s u a l sobre o MI, b a s e a d o n o m o n i t o r a m e n t o
A l é m disso, a imprecisão ideal (coeficiente de variação [CV]) d e d a t r o p o n i n a cardíaca (em vez de n a testagem d e CK-MB), já
cada ceste de t r o p o n i n a cardíaca e de teste d e massa CK-MB foi d e m o n s t r o u u m a u m e n t o n o n ú m e r o d e M i s diagnosticados (1)
d e f i n i d a c o m o < 10% e m u m limite d e referência de percentil n a prática clínica de r o t i n a , (2) n o s d e p a r t a m e n t o s de e m e r g ê n -
99- Infelizmente, a m a i o r i a d o s l a b o r a t ó r i o s n ã o p o s s u i recursos cia, (3) n o s d e p a r t a m e n t o s epidemiológicos, (4) n o s exames clí-
para realizar d e f o r m a a d e q u a d a e s t u d o s de intervalos d e referên- nicos, (5) na s o c i e d a d e e (6) n a política pública. 1 3 O s avanços e m
cia c o m a u t o r i d a d e , n e m a c a p a c i d a d e para estabelecer critérios tecnologia diagnostica n o d e s e n v o l v i m e n t o de u m a m e l h o r detec-
de imprecisão total d e a c o r d o c o m ns p r o t o c o l o s d o Clinicai ção analítica das t r o p o n i n a s cardíacas c o n t i n u a r ã o a u m e n t a n d o
L a b o r a t o r y S t a n d a r d s I n s t i t u t e (CLSI) ( a n t e r i o r m e n t e N C C L S ) . a prevalência da detecção d e A M I . O s testes de t r o p o n i n a cardíaca
P o r t a n t o , os l a b o r a t ó r i o s clínicos d e v e m recorrer à literatura mais sensíveis r e s u l t a m e m taxas maiores d e diagnósticos d e M I
p u b l i c a d a e revisada pelos pares. Deve-se ter c u i d a d o ao c o m p a r a r e d e positividade para t r o p o n i n a cardíaca. A M I s mais b r a n d o s e
as descobertas relatadas n o p a c o t e de inserções, revogado p e l o m e n o r e s serão detectados. O s casos clínicos q u e a n t e r i o r m e n t e
F D A , d o s fabricantes c o m as d e s c o b e r t a s e m jornais, p o r causa e r a m classificados c o m o U A receberão diagnósticos d e M I (por
das d i f e r e n ç a s n o s t a m a n h o s das a m o s t r a s totais, nas distribui- causa d a t r o p o n i n a cardíaca a u m e n t a d a ) . A i m p o r t â n c i a de
ções p o r g ê n e r o e e t n i c i d a d e , nas variações d e idade e n o m é t o d o p e q u e n o s a u m e n t o s e m t r o p o n i n a foi c o n f i r m a d a p o r suas asso-
estatístico u s a d o para calcular o percentil 99 r e l a t a d o . ciações a u m p r o g n ó s t i c o pior. 1 6 E s t u d o s d e m o n s t r a r a m clara-
N ã o h á diretriz estabelecida pelo F D A p a r a o r d e n a r u m a m e n t e u m a m e l h o r a na avaliação d o risco e m c o n c e n t r a ç õ e s
avaliação c o n s i s t e n t e d o limite de referência d o percentil 99 p a r a inferiores ao nível d e c o r t e para o diagnóstico. T o d o s estes d a d o s
t r o p o n i n a s cardíacas, O m a i o r e mais diversificado e s t u d o d e r e u n i d o s a p o i a m a i m p l e m e n t a ç ã o d e testes d e t r o p o n i n a cardíaca
i n t e r v a l o d e referência r e l a t a d o até h o j e m o s t r a limites d o per- ao invés de, e n ã o e m c o m b i n a ç ã o c o m , CK-MB.
centil 9 9 p l a s m á t i c o ( h e p a r i n a ) p a r a o i t o testes de t r o p o n i n a As características u s a d a s para d e f i n i r u m a d o e n ç a e m u m país
cardíaca (sete c T n l , u m c T n T ) e sete testes d e massa CK-MB. 6 p o d e m ser i n t e r p r e t a d a s d e foTma d i f e r e n t e p o r m é d i c o s d e
Esses e s t u d o s f o r a m realizados e m 6 9 6 a d u l t o s saudáveis (de 18 o u t r a s nações, o q u e dificulta as c o m p a r a ç õ e s d e d o e n ç a s cardía-
638 PARTE V Fisiopatologia

cas e n t r e os países. C o n s e q ü e n t e m e n t e , a A m e r i c a n H e a r t Asso- d o c u m e n t a r q u e f r a g m e n t o s d o p e p t í d i o n a t r i u r é t i c o (NP) são


ciation, o W o r l d H e a r t Federation C o u n c í l s o n E p i d e m i o l o g y m e d i d o s n o s testes d e B N P e NT-proBNP. Para BNP, d i f e r e n t e s
a n d P r e v e n t i o n , o C e n t e r s for Disease C o n t r o l a n d P r e v e n t i o n e materiais f o r a m u s a d o s para calibrar testes diferentes e, c o m o
o N a t i o n a l H e a r t , Lung, a n d Blood Institute p u b l i c a r a m j u n t o s descrito p r e v i a m e n t e , pares de a n t i c o r p o s diferentes são usados
u m a declaração q u e d e f i n e a d o e n ç a c o r o n a r i a n a aguda ( C H D ) em cada teste. C o n t u d o , parece q u e t a n t o o labor at ór i o A b b o t t
e m e p i d e m i o l o g i a e e m e s t u d o s de pesquisa clínica. Essa declara- q u a n t o o Bayer estabeleceram seus testes p a r a s e r e m comparáveis
ção foi baseada e m u m a revisão sistemática das estratégias diag- e m t o r n o da c o n c e n t r a ç ã o de B N P de 100 n g / L (100 p g / m L ) , o
nosticas c o m o objetivo d e desenvolver p a d r õ e s para e s t u d a s de p o n t o d e corte c o m a m a i o r i n f o r m a ç ã o clínica baseada e m evi-
p o p u l a ç õ e s c o m C H D . C o n s i d e r o u - s e q u e a d e f i n i ç ã o d o s casos d ê n c i a p a r a diagnóstico.
d e C H D d e p e n d e d e s i n t o m a s , sinais, E C G e / o u a c h a d o s e m A estabilidade a p a r e n t e d o B N P nas amostras d e p e n d e d o
b i ó p s i a e b i o m a r c a d o r e s . O s b i o m a r c a d o r e s c a r d í a c o s q u e refle- teste u s a d o para medi-lo. O r e c o n h e c i m e n t o diferencial das
t e m necrose d o m i o c á r d i o f o r a m priorizados p a r a a s e g u i n t e regiões d o e p í t o p o parece ser o p r i n c í p i o d e t e r m i n a n t e das dife-
utilização: t r o p o n i n a cardíaca > q u a n t i d a d e d e massa de C K - M B renças entre os testes d e B N P na a p a r e n t e estabilidade da amostra.
> atividade d e CK-MB. O c o n j u n t o a d e q u a d o de b i o m a r c a d o r e s Testes q u e u s a m u m a n t i c o r p o q u e r e c o n h e c e a instabilidade da
foi d e t e r m i n a d o a partir de m e n s u r a ç õ e s d o m e s m o b i o m a r c a d o r região d o N - t e r m i n a l d o B N P d e m o n s t r a r a m m e n o s estabilidade
e m pelo m e n o s d u a s amostras coletadas n o m í n i m o 6 h o r a s antes d o analito e m t e m p e r a t u r a a m b i e n t e (< 24 horas) d o q u e os testes
(similar ao c o n s e n s o preestabelecido p o r E S C / A C C ) . U m a c h a d o que usaram anticorpos que reconhecem o C-terminal.
positivo de b i o m a r c a d o r diagnóstico foi d e f i n i d o c o m o pelo A estabilidade da i m u n o t r e a t i v i d a d e d o B N P está c o m p r o m e -
m e n o s u m b i o m a r c a d o r positivo e m u m c o n j u n t o a d e q u a d o , tida n o sangue total c o l e t a d o e m tubos de vidro versus t u b o s sili-
m o s t r a n d o u m p a d r ã o d e elevação o u de q u e d a n o cenário d e conizados e plásticos. Isso foi descrito p o r todos os fabricantes,
i s q u e m i a clínica e n a ausência d e casos não-cardíacos c o m eleva- c o m perda de i m u n o r r e a t i v i d a d e d e 3 0 % a 8 0 % e m vidro após 4
ção de b i o m a r c a d o r . U m b i o m a r c a d o r positivo foi d e f i n i d o c o m o a 8 horas. A l é m disso, o N T - p r o B N P m o s t r o u seT mais estável q u e
u m percentil acima d e 99 o u a c o n c e n t r a ç ã o mais baixa na qual o BNP. Especificações de q u a l i d a d e s estão disponíveis para testes
u m C V de 10% p o d e ser d e m o n s t r a d o . PaTa os estudos clínicos de BNP. 5 Mais i m p o r t a n t e será c o m p r e e n d e r c o m o o p r o B N P e
de terapias, a f i m de evitar a c o n f u s ã o de vários centros u s a n d o outras m o b i l i d a d e s d o N P reagem c o m t o d o s os testes de NP.
m ú l t i p l o s testes, várias a b o r d a g e n s são r e c o m e n d a d a s p a r a a tes-
tagem de t r o p o n i n a cardíaca. 7 Intervalos de Referência
H á várias questões práticas relacionadas c o m o uso d o m o n i t o -
Peptídio Natriurético Tipo B r a m e n t o de B N P e N T - p r o B N P n o s a n g u e total, n o plasma e n o
Metodologia5 soro. Primeiro, os intervalos de referência variam d e p e n d e n d o
E m n o v e m b r o de 2 0 0 0 , o F D A a p r o v o u o p r i m e i r o teste p a r a d e q u a l e x a m e é u s a d o e d a natureza da p o p u l a ç ã o de referência
d e t e c t a r o B N P ; d e s d e e n t ã o vários f o r a m revogados ( Q u a d r o usada. S e g u n d o , vários fatores clínicos a f e t a m as c o n c e n t r a ç õ e s
33-5). As características d o s testes d e B N P comerciais d i f e r e m d e B N P e NT-proBNP, p r i n c i p a l m e n t e os fatores de idade, sexo,
q u a n t o à p a d r o n i z a ç ã o das m e n s u r a ç õ e s e q u a n t o ao uso d e o b e s i d a d e e f u n ç ã o renal. Diferenças significativas são observadas
anticorpos. e n t r e h o m e n s e m u l h e r e s (maiores), e as c o n c e n t r a ç õ e s a u m e n -
N o m o m e n t o , os materiais de referência n ã o estão disponí- t a m c o m a idade, c o m o m o s t r a d o na Figura 33-4, p a r a NT-
veis para B N P ou NT-proBNP, e a p a d r o n i z a ç ã o a i n d a n ã o foi proBNP. T a n t o para B N P q u a n t o para N T - p r o B N P há u m a
alcançada. Porém, para NT-proBNP, q u e a R o c h e licenciou p a r a relação inversa entre os valores e o índice d e massa c o r p o r a l e m
empresas d e diagnósticos m ú l t i p l o s , u m a vez q u e os reagentes, os pacientes c o m C H F . E u m desafio estabelecer intervalos d e refe-
materiais calibradores e os materiais de a n t i c o r p o s são equivalen- rência p a r a NT-proBNP. U m a revisão d o pacote de inserção
tes, espera-se q u e as c o n c e n t r a ç õ e s m e d i d a s e n t r e os testes sejam revogado p e l o F D A e d o pacote de teste e u r o p e u revela diferenças
h a r m o n i z a d a s . I n f o r m a ç ã o adicional é necessária para m e l h o r substanciais nas c o n c e n t r a ç õ e s c o n s i d e r a d a s n o r m a i s p o r idade
e sexo.

QUADRO 33-5 Testes Comercialmente Disponíveis para


Creatinoquinase-2
BNP e NT-proBNP Metodologia
O s atuais i m u n o t e s t e s u s a m a n t i c o r p o s a n t i CK-2 m o n o c l o n a i s
A. BNP e, agora, (1) m e d e m CK-2 d i r e t a m e n t e e f o r n e c e m m e d i d a s d e
1. Abbott (AxSYM. Architect)
2. Biosite (Triage)
Licenciado para Beckman Coulter (Access)
3. Bayer (Centaur)
4. Shionogi (RIA) Homens

B NT-proBNP
Roche (Elecsys)
Licenciado para:
• Mulheres

a. Dade Behring* (Dimension, Sfratus CS)


b Ortlio-Clinical Diagnostics* (Vitros)
c DPC1 (Immulite)
1
Mitsubishi 1 (Pathfast)
Response Biomédica!1 <30 30-39 40-49 50-59 60+
. Radiometer^PISA) Grupos etários

'Aprovado pela FDA, mm rd o os mesmas anticorpos do Roche.


Figura 3 3 - 4 Concentrações de NT-proBNP relacionadas com idade e
Os mesmos anticorpos do Roche, mas não aprovado pelo FDA.
gênero em u m a população saudável de referência para não-CHF.
Doença Cardiovascular CAPÍTULO 33 639

concentração, e (2) são automatizados e rápidos (< 30 segundos). sensibilidade diagnostica. U m médico de ED deve preferir u m
Testes de concentração confiáveis m e d e m concentrações baixas teste de alta sensibilidade diagnostica a enviar alguém para casa
de CK-2 em amostras com atividade enzimática total baixa (< 100 que esteja t e n d o um ataque cardíaco. Os testes com resultados
U / L ) e com atividade enzimática total alta (> 10.000 U/L). Além falso-positivos p o d e m ser examinados mais tarde, n o r m a l m e n t e
disso, n ã o há relato sobre a interferência de outras proteínas. A por u m cardiologista após a admissão d o paciente. Para admitir
maioria dos imunoensaio monoclonais disponíveis, comercial- u m AMI, é preciso u m teste de alta especificidade diagnostica.
m e n t e que usam anticorpos antiCK-2 é d o m e s m o fahricante q u e Tal teste é preferido pelo cardiologista após a admissão do
produz testes de troponina cardíaca. U m a concordância excelente paciente. Estratégias diagnosticas diferentes podem exigir pata-
foi mostrada entre a concentração de massa e os testes de ativi- mares de decisão diferentes (pontos de corte) ou biomarcadores
dade. Todos possuem limites de detecção de aproximadamente cardíacos diferentes. O laboratório tem como função fornecer
1 ]Jg/L, são 100% específicos para CK-2 e são extremamente u m parecer aos médicos sobre as características diagnosticas dos
similares n o d e s e m p e n h o clínico em diagnóstico de AMI. O biomarcadores cardíacos.
p o n t o de corte do diagnóstico, designado n o percentil 99 de uma Os pacientes chegam às EDs ou a outras unidades de primei-
população de referência, é d e p e n d e n t e de teste em virtude da ros socorros com vários sinais clínicos e sintomas, nos quais o
falta de padronização para CK-2 entre os fabricantes. U m a Sub- diagnóstico diferencial de AMI é considerado. A Figura 33-5
comissão da A A C C para Padronização de CK-MB obteve sucesso demonstra o espectro das apresentações clinicas de tal paciente.
n o desenvolvimento, na restagem e na validação de material de O espectro pode mostrar o paciente com isquemia, sem m o r t e
referência primária comercialmente disponível para auxiliar na de célula do miocárdio (necrose) ou alterações n o ECG. T a m h é m
concordância. Se usado para padronização de teste, esse material p o d e a p r e s e n t a r o p a c i e n t e c o m e v i d ê n c i a em E C G d e
permite concentrações relatadas de vários testes que estejam A M I , indicada por uma elevação n o ST, ou u m achado em
entre 20% em cada u m . E C G de o n d a Q. O espectro inteiro das apresentações clinicas
foi designado ACS.
Intervalos de Referência Para auxiliar na diferenciação de pacientes com AMI daqueles
Para CK-MB, como reconhecido d u r a n t e anos para o CK total, sem AMI, a E S C / A C C publicou diretrizes consensuais para a
todos os testes demonstraram u m percentil 99 1,2 a 2,6 vezes redefinição de AMI. 7 A pedra angular da redefinição é o uso de
mais alto para h o m e n s que para mulheres Vários testes mostra- biomarcadores cardíacos, especialmente c T n l ou cTnT. O s
ram concentrações q u e chegaram a ser 2,7 vezes mais altas para Quadros 33-2 e 33-3 resumem a definição de MI, de acordo com
afro-americanos que para caucasianos. Esses dados d e m o n s t r a m o consenso da E S C / A C C , e o uso de biomarcadores cardíacos.
q u e os laboratórios clínicos devem estabelecer p o n t o s de corte O s biomarcadores a seguir são designados indicadores bioquími-
de referência para CK-MB diferentes para h o m e n s e mulheres. cos para detecção de necrose do miocárdio: (1) uma concentração
máxima de c T n l ou de cTnl excedendo o limite de decisão defi
Mioglobina nida como percentil 99 dos valores para o grupo-controle de
Testes de mioglobina rápidos e quantitativos que incorporam referência, em pelo m e n o s u m a ocasião durante as primeiras 24
anticorpos monoclonais foram comercializados e estão disponí- horas após o índice do evento clínico; (2) um valor máximo de
veis tanto n o laboratório central q u a n t o nas plataformas P O C T . CK-MB (preferivelmente concentração) excedendo o percentil
Testes diferentes produzem resultados diferentes em amostras de 99° dos valores para o grupo-controle de referência em duas
soro. As diferenças entre os testes podem ser diminuídas de 3 2 % amostras sucedidas ou u m valor máximo excedendo duas vezes
para 13% pela calibração traçável para u m único material de o limite de referência mais alto durante as primeiras horas após o
hemoglobina cardíaca h u m a n a , isolado e liofilizado em soro índice do evento clínico. Embora o d o c u m e n t o consensual declare
h u m a n o . Os intervalos de referência par mioglobina sérica variam que os valores para t r o p o n i n a cardíaca e para CK-MB devam
com idade, raça e sexo. Em média, as concentrações a u m e n t a m subir e cair, tanto u m p a d r ã o de elevação q u a n t o de queda
com a idade, homens possuem concentrações mais altas que mulhe- devem ser considerados diagnósticos. C o n t u d o , os valores que
res, e afro-americanos possuem concentrações mais altas que cau-
casianos. O percentil 97,5 de uma população de referência deve
ser usado como p o n t o de corte de referência.
Espectro de ACS
LÓGICA CLÍNICA SUBJACENTE AO USO DE
Angina Angina Ml de Ml de
MARCADORES DE DANO CARDÍACO Estável Instável Onda Onda Q


O marcador de lesão do miocárdio ideal deve (1) fornecer detec- Não-Q
ção precoce de injúria, (2) fornecer diagnóstico rápido para MI
agudo, (3) servir como ferramenta de estratificação de risco em
pacientes com ACS, (4) avaliar u sucesso da r e p e r f u s ã c põs-
ACS sem STE-MI Oclusão
terapia trombolítica, (5) detectar reoclusão e reinfarto, (6) deter- Elevação de ST Completa
Aumento
minar o tempo e o t a m a n h a de u m infarto e (7) detectar os
Súbito no
procedimentos relacionados ao IM perioperatório d u r a n t e cirur- Risco CV Embolia pelo Fluxo
gia cardíaca ou não-cardíaca. Antes de discutir as m u d a n ç a s deta-
Oclusão Parcial
lhadas nos biomarcadores não-cardíacos logo após u m AMI, é
conveniente rever a lógica do diagnóstico usado por médicos em Ruptura de Plaqueta
unidades de emergência (ED) ou por médicos (normalmente
Aterosclerose, Estreitamento do Lúmen
cardiologistas) q u a n d o precisam fazer u m diagnóstico.
O médico de ED deve decidir se o paciente com dor n o peito
ou outros sintomas isquêmicos deve ser admitido e se o paciente Figura 33-5 Espectro c o m p l e t o d o processo fisiopatológico
deve ir para casa e set acompanhado mais tarde. Enviar u m paciente c o r o n a r i a n o a g u d o d o início d a aterosclerose à m o r t e celular ( D e
para casa requer a exclusão de AMI, e isso requer u m teste de alta R o b e r t Jesse, M . D . , Personal C o m m u n i c a t i o n . )
640 PARTE V Físiopatologia

p e r m a n e c e m elevados sem m u d a n ç a raramente são causados por


AMI; e (3) na ausência da disponibilidade de teste de troponina
cardíaca ou de CK-MB, u m C K total superior a duas vezes o
limite de referência mais alto pode ser usado. As orientações,
tanto do documento consensual da E S C / A C C quanto das dire-
trizes para fragmentos de UA da A C C / A m e r i c a n Heart Associa-
tion (AHA) recomendam a monitoração de troponina cardíaca
em pacientes com A C S para diferenciar de U A (definido como
q u a n d o a troponina cardíaca está dentro de u m limite de refe-
rência de percentil 99) e N S T E M I (definido como quando a
troponina cardíaca está a u m e n t a d a acima do limite de referência
do percentil 99). A N A C B (National Academy of Clinicai Bio-
chemistry) publicou recentemente orientações clínicas e analíti-
cas que complementam as orientações da E S C / A C C e do I F C C
para detectar AMI em pacientes com ACS.
Vários marcadores não devem mais ser usados para avaliar
doença cardíaca, incluindo a aspartato aminotransaminase
(AST), a lactato de sidrogenase total (LD) e isoenzimas de I.D.
Esses marcadoras possuem pouca especificidade para detecção de Tempo após inicio de AMI (horas)

lesão cardíaca por causa de sua ampla distribuição tecidual.


Embora CK total e CK-MB t e n h a m sido usadas durante muitos Figura 3 3 - 6 Perfis seqüenciais d e c r e a t i n i n o q u i n a s e 2 sérica
anos, não há consenso clínico para os laboratórios continuarem (CK-MB), t r o p o n i n a T cardíaca (cTnl e I) e t r o p o n i n a T cardíaca (cTnT)
a medi-las se a troponina cardíaca estiver disponível. Em países após A M I . O s m a r c a d o r e s cardíacos estão traçados c o m o m ú l t i p l o s d o
em desenvolvimento, a CK total pode ser preferida e a única limire d e referência superior.
alternativa poT questões financeiras. Esse conceito é enfatizado
em u m a declaração-da A H A Council on Epidemiology and Pre-
vention n o que diz respeito a definições de casos para doença
A cTnl e a c T n T p o d e m permanecer aumentadas de 4 a 14 dias
cardíaca crônica e aguda em estudos de pesquisas epidemiológi-
após AMI. O mecanismo é semelhante à liberação já existente de
cas e clínicas. Para melhor interpretar as tendências recentes em
troponina de 9 4 % a 9 7 % da fração ligada à miofibrila da tropo-
doença cardíaca, especialmente em AMI, durante a propagação
nina. As concentrações de troponina são muito baixas ou não-
de novas tecnologias e de u m a nova definição d o AMI prevista
detectáveis n o soro de pessoas sem doença cardíaca. Portanto, a
sobre troponina cardíaca, as seguintes recomendações foram
liberação de quantidades muito pequenas de troponina do
feitas: (1) uso simultâneo de biomarcadores antigos com tropo-
cotação a u m e n t a as concentrações de troponina circulando
nina cardíaca deve ser usado para determinar os efeitos de novos
acima do esperado em pessoas saudáveis- Isso contribui paTa a
marcadores e (2) o uso de fatores de ajuste deve ser considerado
sensibilidade diagnostica superior da troponina em comparação
em bancos de dados e em estudos retrospectivos que b u s q u e m
com CK-MB. Finalmente, a especificidade do tecido cardíaco da
determinar tendências e incidências do AMI antes e depois dos
cTnl e da c T n T elimina os diagnósticos falso-positivos de AMI
estudos de pesquisas derivados de troponina cardíaca.
em pacientes com concentrações aumentadas de CK-MB após
As recomendações da cardiologia determinam que para os
d a n o do músculo esquelético ou doenças.' 3
laboratórios clínicos que não p o d e m realizar u m a testagem de
C o m o u m marcador precoce para AMI, usando o ponto de
troponina cardíaca rapidamente, CK-MB (de preferência medida
corte de percentil 99, a troponina cardíaca mostra u m a sensibi-
por teste de concentração) deve ser usada. E m b o r a haja a suges-
lidade clinica de 5 0 % a 75% em até 4 a 6 horas após o início da
tão para CK-MB ser usada com troponina cardíaca para (1) auxi-
dor no peito. 1013 Portanto, diferentemente da CK-MB, a tropo-
liar n o tempo exato do início da lesão n o miocárdio, (2) amenizar
nina cardíaca está se tornando u m marcador eficiente pata u m
o infarto ou (3) determinar o reinfarto, n o m o m e n t o não há u m a
diagnóstico precoce eficaz e para evitar a necessidade de testes de
forte evidência para apoiar uma testagem dupla para cTn e CK-
mioglobina. As troponinas cardíacas permanecem elevadas por
MB. Portanto, para a monitoração de pacientes com ACS para
muito mais t e m p o após o início do AMI (em até 4 a 10 dias) do
auxiliar na classificação clínica, a troponina cardíaca é o biomar-
que CK-MB, d a n d o u m a alta sensibilidade clinica (> 90%) em
cador preferido. Para a maioria dos pacientes, o sangue deve ser
até 4 a 7 dias após IAM.
obtido para testagem na apresentação (zero hora) e nas sexta e
n o n a horas, com uma amostra adicional entre 12 e 24 horas se
os resultados nas amostras anteriores forem normais e o índice
Peptídio Natriurético Cerebral
A testagem em laboratório clínico n o cenário de C H F tem como
clínico de suspeita for alto. C o m os testes atuais de troponina, a
foco alguns objetivos: (1) determinar a causa dos sintomas diag-
testagem com analitos como mioglobina para um diagnóstico
nósticos, (2) estimar o grau de gravidade da CHF, (3) estimar o
precoce não é mais necessária. in i 1
risco de progressão da doença e (4) fazer triagem para u m a doença
menos sintomática. As cuuceiitrações de BNP em pacientes com
OBSERVAÇÕES CLÍNICAS GERAIS SOBRE
C H F refletem a gravidade da mesma (Figura 33-7). As concentra-
BIOMARCADORES ções de BNP diferem entre testes. Dois estudos multicêntricos e
Troponina Cardíaca prospectivos avaliaram a utilidade do BNP e do NT-proBNP n o
As cinéticas liberadas precocemente de cTnl e de c T n T são simi- plasma na avaliação inicial de pacientes com falta de ar.11,14
lares àquelas de CK-MB após AMI, o que a u m e n t a além do limite Até o momento, o maior estudo prospectivo paTa avaliar o
de referência mais alto visto em até 2 a 6 horas (Figura 33-6). O valor diagnóstico do BNP é o "The Breathing Not Properly Multi-
a u m e n t o inicial provavelmente é causado pela fração citoplás- centeT Study" ou "BNP Study". Muitas publicações desse estudo
mica de 3% a 6% da troponina (CK-MB é 100% cito plasmática). abordaram vários aspectos da utilidade do monitoramento d o
Doença Cardiovascular CAPÍTULO 3 3 641

1.40£h e i n t e r p r e t a d o q u a n t o à a p r e s e n t a ç ã o clínica, e s p e c i a l m e n t e n o
q u e diz r e s p e i t o à i d a d e e ao g ê n e r o d o p a c i e n t e .

c
w 1.000- Uso de BNP para Prognóstico e Estratificação do
uG
Risco
•| eoo- Estudos apoiam o m o n i t o r a m e n t o de B N P ou NT-proBNP para
a estratificação d e risco e m p a c i e n t e s c o m C H F e A C S , c o m o u
" 600- s e m história prévia. 5 O s a u m e n t o s n a s c o n c e n t r a ç õ e s d e B N P após
o
•j S T E M I f o r a m associados a (1) f u n ç ã o sistólica v e n t r i c u l a r e s q u e r d a
a 400"
m (LV) r u i m , (2) r e m o d e l a g e m v e n t r i c u l a r adversa c o m o t e m p o ; e
0_
200" (3) m a i o r p r o b a b i l i d a d e d e ó b i t o e C H F . A l é m disso, B N P o u
N t - p r o B N P a u m e n t a d o m e d i d o e m c i n c o dias a p ó s A M I está
O-' 1 1 1 1 f o r t e m e n t e associado ao risco d e m o r t e cardíaca a c u r t o e l o n g o
I II III IV prazos. E m b o r a o d a n o i s q u ê m i c o seja u m a das p r i n c i p a i s causas
<N = 18) (N = 152) (N = 351) (N = 276)
d e C H F , a t u a l m e n t e é difícil i d e n t i f i c a r p a c i e n t e s q u e c o r r a m
Classificação da New York Heart Association m a i o r risco d e desenvolver C H F após A M I . Ter u m a f e r r a m e n t a
d e triagem confiável para i d e n t i f i c a r os p a c i e n t e s q u e c o r r e m m a i s
Figura 3 3 - 7 R e l a ç ã o das c o n c e n t r a ç õ e s d e B N P (Biosite TViage) e d a risco p o d e p r o p i c i a r u m a c o m p a n h a m e n t o feito sob m e d i d a , pla-
classificação da N Y H A da i n s u f i c i ê n c i a cardíaca. ( D e Maisel AS, n e j a d o para reduzir m o r b i d a d e s e m o r t a l i d a d e s f u t u r a s .
K r í s h n a s w a m y P, N o w a k R M , M c C o r d J, H o l l a n d e r JE, D u c P, et al.
R a p i d m e a s u r e m e n t of B-type n a t r i u r e t i c p e p t i d e m t h e e m e r g e n c y
Implicações para a Terapia
d i a g n o s i s of h e a r t failure. N E n g l ] M e d 2002-347:161-7. D i r e i t o s
N ã o se sabe se os t r a t a m e n t o s q u e d i m i n u e m o B N P r e s u l t a m
a u t o r a i s , 2 0 0 2 MassacKusetts M e d i c a i Society. T o d o s os d i r e i t o s
e m d i m i n u i ç ã o d e m o r b i d a d e e m o r t a l i d a d e , m a s 05 e s t u d o s
reservados.) m e n o r e s parecem promissores. U m estudo piloto examinou o
B N P e m p a c i e n t e s a d m i t i d o s c o m C H F d e s c o m p e n s a d a e trata-
BNP. 14 Nesse e s t u d o m u l t i n a c i o n a l , mais d e 4 0 % d o s m é d i c o s d e d o s c o m o a t u a l p a d r ã o d e c u i d a d o s . O B N P foi m o n i t o r a d o
E D m o s t r a r a m considerável indecisão q u a n t o ao diagnóstico d e C H F r e g u l a r m e n t e d u r a n t e a h o s p i t a l i z a ç ã o (mas e s t u d o cego p a r a os
s e m o c o n h e c i m e n t o d o BNP. O B N P era u m preditivo i n d e p e n - m é d i c o s ) e c o r r e l a c i o n a d o aos seguintes r e s u l t a d o s : m o r t a l i d a d e
d e n t e d e C H F . U s a n d o - s e u m a c o n c e n t r a ç ã o d e c o r t e para B N P e m h o s p i t a l , m o r t a l i d a d e e m 3 0 dias após a d m i s s ã o ou readmis-
s a n g u í n e o d e 100 n g / L , h o u v e , u m a sensibilidade clínica de 9 0 % são e m 3 0 dias. A c o n d i ç ã o d o s p a c i e n t e s cujas descargas d e B N P
e u m a especificidade clínica de 7 5 % , o q u e foi u m avanço n a c a í r a m abaixo d e 5 0 0 n g / L g e r a l m e n t e foi s a t i s f a t ó n a . P o r é m ,
acurácia d o j u l g a m e n t o clínico e n o s m é t o d o s diagnósticos tradi- u m a u m e n t o e m B N P d u r a n t e a h o s p i t a l i z a ç ã o c o m descarga d e
cionais sem B N P . A d i s p o n i b i l i d a d e d o s r e s u l t a d o s d e B N P reduziu B N P s u p e r i o r a 1.000 n g / L teve f o r t e c o r r e l a ç ã o c o m as taxas
a p r o p o r ç ã o d e p a c i e n t e s n o s quais o m é d i c o estava i n c e r t o d o d e r e a d m i s s ã o o u m o r t e d u r a n t e os 3 0 dias d e a c o m p a n h a m e n t o .
diagnóstico, de 4 3 % para 11%. D e s c o b e r t a s s e m e l h a n t e s para N t - E m u m s u b e s t u d o s e p a r a d o , as c o n c e n t r a ç õ e s seriadas d e B N P
p r o B N P m o s t r a r a m que, utilizando-se p o n t o s d e cortes relaciona- f o r a m c o m p a r a d a s c o m as m u d a n ç a s e m h e m o d i n â m i c a s p a r a 2 0
d o s c o m i d a d e (> 150 n g / L para < 5 0 a n o s e > 9 0 0 n g / L para > pacientes com C H F descompensada. O s pacientes que pressupos-
5 0 anos), as sensibilidades diagnosticas e a especificidade f o r a m t a m e n t e estavam r e s p o n d e n d o a o t r a t a m e n t o e x p e r i m e n t a r a m
9 8 % e 7 6 % , r e sp e c tiv a m e nt e, c o m u m v a l o r ideal d e < 3 0 0 n g / L u m a redução significativamente maior e m BNP comparados com
para excluir CHF. 1 1 O m o n i t o r a m e n t o d e N P p l a s m á t i c o em E D os n ã o - r e s p o n d e n t e s ( 5 5 % vemts 8 % d e r e d u ç ã o e m valores
m e l h o r o u a avaliação e o t r a t a m e n t o d e p a c i e n t e s c o m dispnéia, basais). E n q u a n t o os r e s u l t a d o s d e g r a n d e s e s t u d o s estão p e n d e n -
r e d u z i n d o o t e m p o d e alta e o custo total d o t r a t a m e n t o . Atual- tes, o B N P p a r e c e ser u m m a r c a d o r objetivo q u e avaliaria a res-
m e n t e , h á u m c o n s e n s o geral d e q u e a testagem d e B N P ou d e p o s t a ao t r a t a m e n t o e se c o r r e l a c i o n a r i a c o m d i a g n ó s t i c o d e
N T - B N P deva ser realizada (1) para c o n f i r m a r o diagnóstico d e descarga. O B N P t a m b é m foi u s a d o p a r a m o n i t o r a r t e r a p i a s e m
p a c i e n t e s c o m suspeita de C H F , m a s c o m características clínicas p a c i e n t e s de a m b u l a t ó r i o .
a m b í g u a s ou etiologias patológicas q u e p o d e m c o n f u n d i r , c o m o
d o e n ç a p u l m o n a r obstrutiva crônica ( C O P D ) ; (2) c o m o guia p a r a Relação do BNP com Mortalidade, Peso Corporal
m é d i c o s não-especialistas, paTa auxiliar e / o u m e l h o r a r a acurácia e Doença Renal
diagnostica n a detecção d e insuficiência cardíaca; e (3) p a r a auxiliar N o m o m e n t o , B N P e N T - p r o B N P n ã o são r e c o m e n d a d o s c o m o
n a exclusão de C H F ( q u a n d o c o n c e n t r a ç õ e s n o r m a i s d e N P são f e r r a m e n t a d e triagem. N o e n t a n t o , p e l o m e n o s u m g r a n d e
e n c o n t r a d a s ) . P o r é m , o u t r o s estudos m o s t r a r a m q u e a testagem e s t u d o ( F r a m i n g h a m ) d e m o n s t r o u u m a r e l a ç ã o e n t r e terciles d e
r o t i n e i r a d e B N P o u N T - p r o B N P n o s o i o e m pacientes c o m C H F B N P e e v e n t o s cardíacos a l o n g o prazo, e m o r t a l i d a d e m e s m o n a
óbvia n ã o é necessária n e m custo-benéfica. ausência de B N P a u m e n t a d o . E m pacientes com C H F , o B N P
O desafio em diagnosticar a C H F é que muitos dos sintomas está i n v e r s a m e n t e c o r r e l a c i o n a d o c o m o í n d i c e d e massa c o r p o r a l
a p r e s e n t a d o s n ã o s ã o específicos. C o n t u d o , e s t u d o s m o s t r a r a m (BMI; o b e s i d a d e ) . O N T - p r o B M I m a n i f e s t a u m a r e l a ç ã o similar
diferenças dramáticas nas concentrações de B N P circulante de a o B M I c o m o o B N P . Níveis d e B N P e N T - p r o B N P r e d u z i d o s
p a c i e n t e s c o m d i s p n é i a c a u s a d a p o r i n s u f i c i ê n c i a cardíaca (con- m o s t r a r a m estar c o r r e l a c i o n a d o s ao B M I d i m i n u í d o d u r a n t e
c e n t r a ç ã o m e d i a n a > 1.000 n g / L ) uersus p a c i e n t e s c o m d i s p n é i a t e r a p i a d e C H F ( p r i n c i p a l m e n t e d e v i d o à excreção b e m - s u c e d i d a
c a u s a d a p o r causas não-cardíacas ( c o n c e n t r a ç ã o m e d i a n a < 100 d o excesso de á g u a c o r p o r a l ) .
n g / L ) . C u r v a s R O C (Receiver-Operator Chctracterátic) m o s t r a r a m A C H F é mais c o m u m em pacientes com doença renal
q u e o B N P teve m e l h o r acurácia global d o q u e o j u l g a m e n t o d o crônica avançada com B N P i n d e p e n d e n t e m e n t e associado à
m é d i c o (área sob a c u r v a [ A U C ] 0,97 uerms 0,88), c o m a c h a d o s C H F . A h e m o d i á l i s e parece i n f l u e n c i a r a c o n c e n t r a ç ã o d e c o r t e
similares o b s e r v a d o s p a r a N T - p r o B N P . É i m p o r t a n t e l e m b r a r q u e ideal p a r a u s o e m B N P e N T - p r o B N P n o d i a g n ó s t i c o d e C H F ,
o B N P " n ã o é u m teste d i a g n ó s t i c o i s o l a d o " ; ele deve ser u s a d o c o m estágios a v a n ç a d o s d e d o e n ç a r e n a l e x i g i n d o valores d e c o r t e
642 PARTE V Fisiopatologia

mais altos. O B N P e o NT-pToBNP são secretados d e f o r m a testes clínicos o u laboratoriais p o r causa d e sua falta de especifi-
p u l s a n t e dos ventrículos cardíacos c o m u m a meia-vida aproxi- cidade tecidual. As c o n c e n t r a ç õ e s séricas d e m i o g l o b i n a se elevam
m a d a para B N P de 22 m i n u t o s n o sangue e de h o r a s para N T - acima d o i n t e r v a l o dc referência tão p r e c o c e m e n t e q u a n t o I h o r a
p r o B N P . Acredita-se q u e os rins f o r n e ç a m a p e n a s u m a p e q u e n a após MI, c o m sensibilidade de pico v a r i a n d o d e 2 a 12 horas,
r o t a p a r a o clearance de BNP, mas eles t ê m u m papel i m p o r t a n t e s u g e r i n d o q u e a m i o g l o b i n a sérica reflete o curso precoce d e
n o clearance de NT-proBNP. necrose d o m i o c á r d i o . A m i o g l o b i n a é r a p i d a m e n t e liberada e,
p o r t a n t o , possui u m a sensibilidade clínica s u b s t a n c i a l m e n t e
Variabilidade Biológica Teduzida após 24 h o r a s . Se h o u v e r u m p a p e l para a m i o g l o b i n a
 m e d i d a q u e B N P e N T - p r n B N P se t o r n a r a m mais a m p l a m e n t e n a detecção d o A M I , este p a p e l deve surgir nas p r i m e i r a s 4 horas,
u s a d o s p a r a m o n i t o r a r pacientes c o m C H F e m terapia, as inves- p e r í o d o d e t e m p o n o q u a l CK-2 e t r o p o n i n a cardíaca a i n d a estão
tigações q u e s t i o n a r a m a u t i l i d a d e d o m o n i t o r a m e n t o conse- d e n t r o d o s intervalos de referência, e m b o r a d a d o s recentes
cutivo para auxiliar n o sucesso d a terapia c o m drogas. E m u m s u g i r a m q u e a u m e n t o s de t r o p o n i n a s (acima d o p e r c e n t i l 99)
e s t u d o de 11 pacientes c o m C H F , a variação biológica para B N P c o m os testes atuais o c o r r a m d e f o r m a similar àqueles d a mioglo-
e N T - p r o B N P (avaliado u s a n d o q u a t r o testes diferentes) foi bina. 1 0 O p o t e n c i a l uso de m e n s u r a ç õ e s precoces de m i o g l o b i n a
gTande, i n d i c a n d o que u m a m u d a n ç a d e 1 3 0 % paTa B N P e de sérica após a a d m i s s ã o e m E D indica a u t i l i d a d e clínica dessas
9 0 % paTa N T - p r o B N P foi necessária a n t e s q u e os resultados dos m e n s u r a ç õ e s c o m o preditivos negativos d e A M I .
d a d o s coletados su c e ssiv a ment e p u d e s s e m ser c o n s i d e r a d o s c o m o
r e p r e s e n t a n t e s d e u m a m u d a n ç a estatística e b i o l o g i c a m e n t e sig- MARCADORES DE LESÃO CARDÍACA NA
nificativa. Esses a c h a d o s i m p l i c a m q u e u m a r e d u ç ã o d e aproxi- PRÁTICA CLÍNICA EM GERAL
m a d a m e n t e 5 0 0 n g / L a 2 5 0 n g / L , p o r exemplo, seria necessária
Este capítulo revisou as r e c o m e n d a ç õ e s atuais para testagem de
para u m m é d i c o c o n c l u i r q u e a terapia c o n s e g u i u m e l h o r a r as
b i o m a r c a d o r e s preditivos de t r o p o n i n a cardíaca e m percentil 99.
características d a C H F . O s m é d i c o s q u e n ã o t ê m esse conheci-
G r u p o s d i f e r e n t e s de médicos, n o e n t a n t o , p o s s u e m diferentes
mento podem, de maneira imprópria, presumir que uma redução
objetivos clínicos e m relação à sensibilidade e especificidade d e
n o valor de B N P de 5 0 0 n g / L , n a ad missão d o paciente, para
u m b i o m a r c a d o r ( t r o p o n i n a cardíaca). Por exemplo, n a m e d i c i n a
u m valor de 4 0 0 n g / L , 24 horas pós-admissão, p o d e ter sido o
d e emergência, o m é d i c o de E D deseja u m teste q u e f o r n e ç a alta
r e s u l t a d o d e u m t r a t a m e n t o b e m - s u c e d i d o . Isso sugere q u e p a r a
sensibilidade para n ã o p e r d e r possíveis pacientes c o m A M I .
u m valor de B N P pós-admissão, u m s e g u n d o valor de B N P deve
C o n t u d o , c o m a m e l h o r i a dos testes de t r o p o n i n a cardíaca dis-
ser m o n i t o r a d o d e n t r o de 24 h o r a s da alta p a t a otimizar o custo-
poníveis n o m e r c a d o , a sensibilidade de 1 0 0 % dos testes d e
b e n e f í c i o para B N P n a avaliação global d o p a c i e n t e c o m C H F .
t r o p o n i n a d e m o n s t r a u m a especificidade clinica de a p e n a s 7 5 %
a 8 5 % , pois a t r o p o n i n a cardíaca detecta lesão d o m i o c á r d i o e
CK-2 n ã o a p e n a s A M I . Isso é d e m o n s t r a d o na Figura 33-8 q u e m o s t r a
E m b o r a a testagem c o m CK-2 t e n h a sido a m p l a m e n t e s u b s t i t u í d a as curvas R O C de pacientes c o m s i n t o m a s sugestivos d e A C S
p o r t r o p o n i n a cardíaca I ou T, ela c o n t i n u a s e n d o u m a alterna-
i n t e r n a d o s e m hospitais para se certificarem o u excluírem IM
tiva. A CK-2 (Figura 33-6] leva de 4 a 6 h o r a s para se s o b r e p o r
p a r a c T n l . O t e m p o a p r o p r i a d o para coleta sucessiva de sangue
ao l i m i t e de referência mais alto, c o m c o n c e n t r a ç õ e s de pico e m
terá i n f l u ê n c i a s u b s t a n c i a l sobre a sensibilidade d a m u d a n ç a e
a p r o x i m a d a m e n t e 24 h o r a s . O r e t o r n o ao n o r m a l (basal) leva de
sobre os cálculos de especificidade. C o m o a t r o p o n i n a cardíaca
4 8 a 72 hoTas (a meia-vida de CK-2 é de 10 a 12 horas). O s fatores detecta q u a l q u e r f o r m a de d a n o d o m i o c á r d i o , os m e c a n i s m o s
q u e a f e t a m o padTão clássico i n c l u e m o tamanho d o i n f a r t o , a não-isquêmicos d e d a n o t a m b é m são responsáveis p e l a liberação
c o m p o s i ç ã o d e CK-2 n o m i o c á r d i o , a lesão músculo-esquelética de t r o p o n i n a cardíaca d o coraçãoj c a u s a n d o a u m e n t o s d e tropo-
c o n c o m i t a n t e e a r e p e r f u s ã o ( e s p o n t â n e a , após t r o m b ó l i s e o u n i n a cardíaca circulante ( Q u a d r o 33-1). Assim, s e m p r e q u e a
após angioplastia). A falta d e especificidade tecidual se t o r n a
t r o p o n i n a cardíaca for m o n i t o r a d a , é i m p o r t a n t e seguir o p a d r ã o
i m p o r t a n t e q u a n d o ocorre d a d o c o n c o m i t a n t e n o m ú s c u l o
seriado de u m p a d r ã o d e elevação ou de q u e d a d o biomarcadoT.
esquelético c o i n c i d e n t e c o m u m A M I . Nessa situação, a q u a n t i -
C m a u m e n t o de t r o p o n i n a cardíaca q u e p e r m a n e c e relativa-
d a d e f r a c i o n á r i a de CK-2 liberada n o coração é o b s c u r e c i d a pela
m e n t e estável e n ã o é indicativo de t e n d ê n c i a seriada provavel-
gTande liberação d e C K total da lesão n o m ú s c u l o esquelético. mente não é um MI.
C o m o descrito n o d o c u m e n t o c o n s e n s u a l de E S C / A C C
sobre a r e d e f i n i ç ã o d o A M I , u m a a m o s t r a g e m d e n o m í n i m o 6
Estratégias para o Papel da Troponina
a 9 h o r a s após a a p r e s e n t a ç ã o é r e c o m e n d a d a a n t e s d e se excluir
Cardíaca para a Avaliação de Risco
o AMI. 1 O uso clínico d a p o r c e n t a g e m d o índice relativo (%IR;
Nesta seção as estratégias para avaliação d o risco e m pacientes
% I R = [CK-2 c o n c e n t r a ç ã o / a t i v i d a d e C K total] X 100%) o u d a
c o m (1) isquemia, (2) a p r e s e n t a ç õ e s não-isquêmicas e (3) d o e n ç a
% C K - 2 ([CK-2 a t i v i d a d e / a t i v i d a d e C K total] X 100%) a j u d a n a
r e n a l t e r m i n a l são discutidas.
i n t e r p r e t a ç ã o das c o n c e n t r a ç õ e s d e CK-2 para detecção de A M I .
E m b o r a n ã o absoluta, % C K - 2 o u % R I elevada acima de 3 % a
Pacientes com Isquemia
5 % a p o n t a o coração c o m o a f o n t e de CK-2 n o soro. P o r é m , % R 1
O u s o de c T n l ou d e c T n T m e d i d o n a a p r e s e n t a ç ã o , e nova-
e % C K - 2 n ã o devem ser u s a d o s para i n t e r p r e t a ç ã o q u a n d o a
m e n t e 12 a 24 h o r a s depois, e m pacientes c o m isquemia, permi-
atividade total de C K p e r m a n e c e r d e n t r o d o i n t e r v a l o d e refe-
tirá aos m é d i c o s u s a r e m m a r c a d o r e s c o m o i n d i c a d o r e s prognós-
rência d e v i d o aos valores p o t e n c i a l m e n t e falso-positivos. Seu u s o
ticos. O s Tesultados ajudaTão a d e t e r m i n a r q u e m possui m a i o r
para essa f i n a l i d a d e t a m b é m está c o m p r o m e t i d o se h o u v e r qual-
risco para A M I e m o r t e e, assim, d e t e r m i n a r q u e m p o d e se bene-
q u e r lesão m u s c u l a r esquelética c o n c o m i t a n t e , pois a sensibili-
ficiar d e u m a i n t e r v e n ç ã o m é d i c a o u cirúrgica precoce. O u s o
d a d e para detecção de eventos cardíacos fica p e r d i d a .
ideal dessa estratégia extrai pelo m e n o s duas a m o s t r a s de s a n g u e
para t r o p o n i n a cardíaca. C o n s i d e r a n d o q u e u m a c o n c e n t r a ç ã o
Mioglobina de t r o p o n i n a cardíaca sérica a n o r m a l seja i d e n t i f i c a d a , essa abor-
A m i o g l o b i n a é c o n h e c i d a por sua elevação precoce n a c o n c e n - d a g e m p e r m i t i r á ao m é d i c o oferecer ao p a c i e n t e opções d e pro-
tração após IM-, n o e n t a n t o , ela n ã o é u s a d a a m p l a m e n t e em c e d i m e n t o s m é d i c o s alternativos. Essas alternativas i n c l u e m (1)
Doença Cardiovascular CAPÍTULO 33 643

-- 2 horas 2-6 horas


1-1 1-1
0,9- 0,9
0,8- 0,8

0,7 0,7
3 0,6- 0,6
1 0,8- [ r 0,5"
! 0,4- / 0,4
r a
* 0,3 0,3-
0.2 0,2-
0,1 0,1
o! 0
0 0,1 0,2 O.y 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0.9 1 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
1 = Especificidade 1 = Especificidade

C-12 horas 12-24 horas


1 1-
0,9-
0.8- r„. 0,9"
0,8-
... /—

0,7- 0,7-
<1! 0 . 6 % 0,6-
m
o 0.5 I 0,5
Cl
0.4- % 0,4-
c.
Oi
(.0 0 , 3 - » 0,3
0,2- 0,2-

0,1 0,1
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
1 = Especificidade 1 - Especificidade

Curva ROC para CK-MB Curva ROC para cTnl

0,0 0,2 0,4 0,6 0.8 1.0


FP (1 - Especificidade) FP (1 = Especificidade)

Figura 33-8 C u r v a s R O C para A , c T n T , CK-MB e m i o g l o b i n a ; e B , CK-MR e c T n l p a r a d i a g n ó s t i c o de


i n f a r t o a g u d o d o m i o c á r d i o , d e a c o r d o c o m o t e m p o da a m o s t r a na a d m i s s ã o (zero hora). (A f cortesia d e
C o l l i n s o n P O , S t u b b s P], Kessler A C For t h e M u l t i c e n t e r e v a l u a r i o n of r o u t i n e i m m u n o a s s a y of t r o p o n i n T
study [MERIT], H e a r t 2003;89:280-6 B , d a d o s de T u c k e r JF, C o l l i n s R A , A n d e r s o n A ] er ai. Early diagnostic
efficiency of cardiac t r o p o m n I and cardiac t r o p o n i n T f o r a c u t e myocardial i n f a r c t í o n . Acad E m e r g M e d
1997;4:13-21. D i r e i t o s autorais Elsevier 1 9 9 7 )

terapias antitrombóticas e antiplaquetárias, (2) procedimentos de Para os pacientes com u m mecanismo isquêmico de d a n o e
PCI, (3) ecocardiografia, (4) tomografia radionuclídea, ou (5) aumentos de troponina cardíaca, o prognóstico está relacionado,
testagem de estresse por exercício para, possivelmente, identificar em parte, com a magnitude do a u m e n t o . Vários estudos de maior
as explicações patológicas para a liberação tecidual de marcadores impacto demonstraram que a intervenção farmacológica com
de d a n o d o miocárdio. base n o a u m e n t o de troponina cardíaca na apresentação reduz
644 PARTE V Fisiopatologia

substancialmente o risco de m o r t e e de composição de MI e logias com descoberta inesperada de lesão d o miocárdio n o qual
morte, em estudos tanto de curta quanto de longa duração. o mecanismo de liberação não está claro. Essas observações
A capacidade dos testes de troponina cardíaca para identificar levaram a novas e importantes investigações envolvendo pacien-
prognósticos depende da precisão e da sensibilidade analíticas tes com doença cardíaca não-isquêmica e o papel para as tropo-
das concentrações medidas em torno do limite de referência do ninas cardíacas como u m a ferramenta pró-diagnóstica e diagnos-
percentil 99. Os testes com limites inferiores de intervalo {limites tica. A doença renal terminal é u m exemplo.
mais baixos de detecção) identificam mais pacientes com ACS
com diagnóstico pior que p o d e m ser candidatos a procedimentos Doença Renai Terminal
invasivos precoces. Por exemplo, em u m estudo representativo, Os pacientes com doença renal terminal (ESRD) são u m sub-
dois testes foram comparados e usados para avaliar o desempe- grupo de pacientes não-isquêmicos nos quais a estratificação de
n h o clínico em pacientes com C A D instável. Embora ambos os risco t a m b é m é encontrada com o m o n i t o r a m e n t o da troponina
testes t e n h a m mostrado que os pacientes com concentrações cardíaca. A prevalência de c T n T a u m e n t a d a mostrou ser maior
normais de cTnl tivessem u m prognóstico significativamente que a de cTnl nesses pacientes. Vários estudos demonstraram
melhoT que os pacientes com concentrações aumentadas, uma que aumentos em c T n T e C T n l em pacientes com ESRD
coorte de 11% dos pacientes (n = 98) com u m prognóstico ruim mostram u m a u m e n t o de 2 a 5 vezes em mortalidade durante 2
foi identificada apenas pelo teste com o limite de detecção mais a 3 anos, com u m número maior de pacientes apresentando
baixo. O tratamento invasivo reduziu os eventos clínicos apenas c T n T aumentada. O maior estudo clínico mostra que a estratifi-
n o grupo de pacientes com cTnl a u m e n t a d o . Logo, para cada cação d o risco para morte por concentração de c T n T e cTnl
exame de troponina, I ou T, foi necessário avaliar a estratificação durante três anos de a c o m p a n h a m e n t o é influenciado pela con-
dos pacientes nas concentrações reduzidas finais, a fim de evitaT centração de corte (ROC, CV 10%, percentil 99) usada. A c T n T
potenciais imprecisões analíticas, levando à terapia e a decisões aumentada versus n o r m a l foi predítiva de mortalidade a u m e n t a d a
sobre o tratamento inapropriadas. usando todos os três pontos de corte para cTnT, mas somente
apenas do percentil 99 para cTnl. As curvas de sobrevivência de
Pacientes com Apresentações Não-isquêmicas Kaplan Méier pelos cortes de troponina basal para c T n T e cTnl
C o m o a cTn pode permanecer aumentada durante dias após lesão mostraram que os riscos relativos ajustados de m o r t e associada à
aguda do miocárdio, a avaliação temporal do dano não pode ser c T n T elevada (percentil > 99) foram 3,9 para c T n T e 2,0 para
determinada com o valor de cTn sérica aumentado, especialmente cTnl. Esses achados podem fornecer informação útil para a
q u a n d o o primeiro valor está maior. O d o c u m e n t o consensual da tomada de decisão d o cardiologista, mas p o d e m causar u m
E S C / A C C recomenda a obtenção de CK-MB para ajudar a escla- impacto maior na estratificação de risco para o nefrologista. A
recer se o evento foi recente (isto é, dentro de 46 a 72 horas ou parte mais importante da avaliação é exeluir ACS, o que deve ter
posterior a este período). C o n t u d o , não há forte evidência para como base o padrão de elevação da troponina. N o entanto,
apoiar o tesle adicional com CK-MB e as recomendações revisadas qualquer elevação de troponina cardíaca está associada ao risco
da E S C / A C C não apoiam essa sugestão inicial. Observar a eleva- a u m e n t a d o . Infelizmente, modalidades terapêuticas apropriadas
ção e / o u queda seqüencial de troponina cardíaca pode auxiliar a ainda não foram estabelecidas para abordar as decisões de trata-
diferenciação de u m paciente com Ml de evolução precoce, m e n t o com base nos valores elevados de troponina cardíaca em
mediana ou tardia de um paciente não-isquêmico sem ML Para pacientes com ESRD. O s mecanismos responsáveis pelas diferen-
pacientes em procedimentos intervencionais (como PCI, stents ças inexplicadas nas elevações entre cTnT e cTnl c o n t i n u a m sem
etc.), aumentos em troponina cardíaca após procedimento inicial explicação
normal podem indicar lesão do miocárdio.
Para os pacientes que sofrem cirurgia cardíaca, n e n h u m biomar- Estimativa do Tamanho do Infarto do
cador cardíaco é capaz de diferenciar a lesão causada por infarto miocárdio
agudo da lesão associado ao próprio procedimento cirúrgico. De Estudos anteriores da década de 1970 demonstraram a capaci-
fato, a literatura sugere que concentrações sanguíneas mais elevadas dade de as concentrações séricas de CK total e / o u de CK-MB em
podem ser indicativas de quantidades maiores de lesões, indepen- fornecer u m a estimativa bioquímica da extensão do infarto. A
dentemente do mecanismo. C o m o a troponina cardíaca é específica reperfusão do tecido cardíaco logo após terapia, entretanto,
de tecido, o monitoramento das concentrações de troponina cardí- muda o índice de liberação (a porcentagem de marcador que
aca n o sangue deve ser superior ao de CK-MB. aparece n o sangue em relação à quantidade extraída do miocár-
Q u a n d o uma ou duas das concentrações consecutivas de dio), dificultando a dimensão d o infarto na era moderna. Tanto
troponina cardíaca está aumentada, o médico pode ser confron- os dad os experimentais quanto os relacionados com pacientes
tado com as seguintes questões: (1) o que esse a u m e n t o significa sugeriram que a concentração sérica ou plasmática de troponina
n o quadro clínico de u m paciente .não-isquêmico? (2) SeTá que 72 horas após AMI correlaciona-se ao t a m a n h o d o infarto deter-
esse é u m achado analítico falso-positivo? (3) Por que será que esse m i n a d o por cintilografia. Os dados são mais fortes para tropo-
reste foi pedido? A medida que testes com mais sensibilidade nina T do que para troponina I.
analítica foram desenvolvidos e comercializados, a capacidade
para detectar graus menores de lesão do miocárdio em u m a Reinfarto ou Extensão de AMI
variedade de condições clínicas a u m e n t o u e melhorou a compre- A dctecçãu bioquímica do infarto ou da extensão do infarto tem
ensão de que a iroponina cardíaca não é apenas u m biomarcador contado, tradicionalmente, com testagem de CK-MB. C o m o CK-
para MI, mas u m biomarcador sensível para lesão d o miocárdio. M B retorna ao normal dentro de aproximadamente três dias após
Os 2 0 % de pacientes com suspeita de ACS que não são clinica- u m infarto, u m segundo episódio de lesão cardíaca após esse
m e n t e característicos de MI, mas apresentam u m aumento de tempo é teoricamente mais facilmente de ser visto como uma
troponina cardíaca, representam dois grupos de condições: pato- segunda elevação em CK-MB. N o início de 1980 foi d o c u m e n t a d o
logias não-isquêmicas nas quais os mecanismos de lesão são b e m que u m aumento secundário na atividade de CK-MB ocorreu em
definidos (como miocardites, trauma torácico súbito e exposição 10 dias após o infarto inicial em 34 de 200 pacientes com AMI
a agentes quimioterápicos tóxicos para o coração) e outras pato- (17%). Em u m estudo recence os padrões de aumentos e reduções
Doença Cardiovascular C A P Í T U L O 3 3 645

de cTnl e de concentração CK-MB foram determinados em u m 5. Apple FS, Panteghini M, Ravkilde J, Mair J, Wu ABH, Tate ], et al.
g r u p o d e nove pacientes c o m A M I q u e tiveram u m r e i n f a r t o d o Quality specifications for B-type natríuretic peptide assays. Clin Chem
m i o c á r d i o d u r a n t e i n t e r n a ç ã o . E m t o d o s os casos, a c T n l a u m e n - 2005;51:486-93.
tou s u b s t a n c i a l m e n t e e m relação ao valor anterior. Logo, c T n l é 6. Apple FS, Quist FIE, Doyle PJ, Otto AP, Muiakami MM. Plasma 99th
suficiente c o m o u m Lio m a r c a d o r cardíaco individual p a r a incluir percentile reference limits for cardiac troponin and creatine kmase MB
mass for use with European Society of Cardiology/American College of
o u e x c l u i r M I e / o u r e i n f a r t o n a p r á t i c a clínica, q u a n d o as c o n -
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o u p o d e m ser m e d i d a s e m a m o s t r a s a r m a z e n a d a s . N e s s a s situa-
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ções, a a n á l i s e d e C K - M B n ã o é c l i n i c a m e n t e r e l e v a n t e .
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p a r a caracterizar d e t e r m i n a d o s pacientes q u e estejam desenvol- 21.
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(isto é, b a i x o versua alto) p a r a c T n l , B N P e C R P d e alta s e n s i b i - serial measurement of cardiac markers in patients with chest pain.
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Função Renal e Doença*
Michael P. Delaney, B.Sc., M.D., F.R.C.R, Christopher P. Price, Ph.D., F.R.C.Path.,
e Edmund J. Lamb, Ph.D., F.R.C.Path.

OBJETIVOS D i á l i s e P e r i t o n e a l : D i f u s ã o de s o l u t o s e convecção d o l í q u i d o
1. Descrever a anatomia macro e microscópica do sistema renal. através da m e m b r a n a p e r i t o n e a l A solução d e diálise é
2. Definir os seguintes termos: i n t r o d u z i d a e r e m o v i d a da cavidade p e r i t o n e a l e m
procedimento contínuo ou intermitente.
Néfron
D o e n ç a R e n a l T e r m i n a l (ESRD): Condição em que a função
Glomérulo
r e n a l é i n a d e q u a d a para m a n t e r a vida.
Terapia de reposição renal
G l o m é r u l o ; U m t u f o d e vasos s a n g u í n e o s e n c o n t r a d o e m cada
Diálise
n é f r o n d o rim q u e está envolvido n a filtração d o sangue
Netropatia diabética
G l o m e r u l o n e f r i t e : N e f r i t e a c o m p a n h a d a p o r i n f l a m a ç ã o das
3. Listar e descrever as funções do sistema renal.
alças capilares dos g l o m é r u l o s d o r i m . Isso o c o r r e de f o r m a
4. Entender os conceitos de clearance e taxa de filtração glomerular. aguda, s u b a g u d a e crônica.
5. Entender a condução renal de eletrólitos e água. H e m a t ú r i a : Sangue na urina.
6. Relatar os testes laboratoriais clínicos usados para avaliar a função H e m o d i á l i s e : R e m o ç ã o d e certos e l e m e n t o s d o s a n g u e e m
renal e os valores laboratoriais associados à patologia renal. v i r t u d e d a diferença nas taxas d e sua d i f u s ã o através de
7. Descrever diferentes tipos de proteinúria e seus significados u m a m e m b r a n a s e m i p e r m e á v e l , p o r exemplo, p o r m e i o de
clínicos. u m a m á q u i n a o u filtro de h e m o d i á l i s e .
8. Discutir as causas, os sintomas e os resultados laboratoriais H o r m ô n i o A n t i d i u r é t i c o ( A D H ; Vasopressina): U m h o r m ô n i o
pertinentes obtidos com cada uma das seguintes condições: o c t a p e p t í d i o f o r m a d o pelas células n e u r o n a i s d o n ú c l e o
Insuticiência renal crônica h i p o t a l â m i c o e a r m a z e n a d o n o l o b o p o s t e r i o r da g l â n d u l a
insuficiência renal terminal (síndrome urêmica) pituitária (neuro-hipófise). Ele possui ação t a n t o
Insuficiência renal aguda a n t i d i u r é t i c a q u a n t o vasopressora.
Síndrome nefrítica aguda Litotripsia: E s m a g a m e n t o de cálculos d e n t r o d o sistema
Síndrome nefrótica u r i n á r i o o u d a vesícula biliar, p r o n t a m e n t e a c o m p a n h a d o
Pielonefrite p o r lavagem dos f r a g m e n t o s ; isso é feito c i r u r g i c a m e n t e ou
Obstrução do trato urinário p o r vários m é t o d o s não-invasivos diferentes.
N e f r i t e : I n f l a m a ç ã o d o r i m c o m p r o l i f e r a ç ã o focal o u d i f u s a ou
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES processos destrutivos q u e p o d e m envolver g l o m é r u l o ,
t ú b u l o ou tecido renal intersticial.
A z o t e m i a : Excesso de uréia o u d e o u t r o s c o m p o s t o s
N e f r o l i t í a s e : C o n d i ç ã o m a r c a d a pela presença de cálculos
n i t i o g e n a d o s n o sangue.
renais (pedras).
Clearance R e n a l : O v o l u m e d e p l a s m a d o qual u m a
N é f r o n : U n i d a d e anatômica e funcional d o rim, formada por
d e t e r m i n a d a substância é c o m p l e t a m e n t e e l i m i n a d a pelos
(1) c o r p ú s c u l o renal, (2) t ú b u l o c o n v o l u t o p r o x i m a l , (3)
rins p o r u n i d a d e d e t e m p o .
m e m b r o s d e s c e n d e n t e e a s c e n d e n t e d a alça d e H e n l e , (4)
Diabetes I m i p i d i t s (DI): D i s t ú r b i o d i a b é t i c o ( d e f i n i d o c o m o
t ú b u l o c o n v o l u t o distai e (5) t ú b u l o coletor.
p r o d u ç ã o excessiva de u r i n a ) c a u s a d o pela síntese
P í e l o n e f r i t e : I n f l a m a ç ã o d o r i m e d e sua pelve c o m o r e s u l t a d o
i n s u f i c i e n t e de h o r m ô n i o a n t i d i u r é t i c o ( A D H ) o u pelos
de infecção.
receptores d e f e i t u o s o s d o A D H o u pela resistência d o órgão
P r o t e í n a de B e n c e J o n e s ; P r o t e í n a u r i n á r i a o u p l a s m a
t e r m i n a l à sua ação. Isso resulta e m insuficiência d e
a n o r m a l , f o r m a d a p o r cadeias leves de i m u n o g l o b u h n a
r e a b s o r ç ã o t u b u l a r de água n o rim.
m o n o c l o n a i s , excretada e m algumas d o e n ç a s neoplásicas e
caracterizada p o r suas p r o p r i e d a d e s raras de s o l u b i l i d a d e
q u a n d o se precipita e m calor de 5 0 ° C a 6 0 ° C e dissolve-se
e m 90 ° C a 100 °C. Q u a n d o d e s a q u e c i d a , ela n o v a m e n t e
precipita e dissolve. E u m a p r o t e í n a característica
e n c o n t r a d a n a u r i n a d a m a i o r i a dos pacientes c o m
* Agradecemos os dados fornecidos pelo relatório de dados anual do United mieloma múltiplo.
States Renal Data System (USRDS 2002: atlas de insuficiência renal terminal S í n d r o m e N e f r ó t i c a : N o m e g e n é r i c o para u m g r u p o de
nos Estados Unidos. Nacional Institutes of Health, National Institute of Dia- d o e n ç a s e n v o l v e n d o g l o m é r u l o s d e f e i t u o s o s d o rim,
betes and Digestive and Kidney Diseases. Bethesda, Md: 2005) A interpreta- caracterizados p o r p r o t e i n ú r i a e l i p i d ú r i a maciças c o m graus
ção e a divulgação desses dados são de responsabilidade dos autores e de variáveis d e e d e m a , h i p o a l b u m i n e m i a e h i p e r l i p i d e m i a .
nenhum modo devem ser vistas como uma politica oficial ou uma interpreta-
T a x a d e F i l t r a ç ã o G l o m e r u l a r ( G F R ) : Taxa e m mililitros p o r
ção do governo dos Estados Unidos. Agradecemos também pelos dados for-
necidos pelo UK Renal Régistry. A interpretação e a divulgação desses dados m i n u t o , pela qual p e q u e n a s m o l é c u l a s são filtradas pel os
são de responsabilidade dos autores e de nenhum modo devem ser vistas como g l o m é r u l o s d o rim. E u m a m e d i d a d o n ú m e r o d e n é f r o n s
uma política oficial ou uma interpretação do UK Renal Registry. em funcionamento.
648 PARTE V Fisiapatologia

U r e m i a : Excesso de uréia, d e creat i ni na e d e o u t r o s d u e t o coletor (Figura 34-2). O s d u e t o s coletores e v e n t u a l m e n t e


nitrogenados e produtos d o metabolismo de proteína e se c o m b i n a m p a r a se u n i r e m d e n t r o dos cálices renais, o n d e a
a m i n o á c i d o n o sangue; mais c o r r e t a m e n t e c h a m a d a de u r i n a se a c u m u l a a n t e s de passar pelo u r e t e r p a r a d e n t r o d a
azotemia. bexiga. O r i m é d i v i d i d o e m vários lobos. O córtex é a região
exterior mais escura de cada l n b o e é formado pela m a i o r i a d o s
g l o m é r u l o s e t ú b u l o s distai e p r o x i m a l . Ele c i r c u n d a u m a região

O
i n t e r i o r mais pálida, a m e d u l a , q u e é a d i c i o n a l m e n t e dividida e m
s rins d e s e m p e n h a m u m p a p e l central n o s m e c a n i s m o s várias áreas cónicas c o n h e c i d a s c o m o p i r â m i d e s renais, c u j o s
h o m e o s t á t i c o s d o c o r p o h u m a n o . A f u n ç ã o r e n a l redu-
ápices se e s t e n d e m r u m o à pelve renal, f o r m a n d o papilas. Raios
zida t e m forte correlação c o m o a u m e n t o d a m o r b i d a d e
m e d u l a r e s são e s f r i a m e n t o s visíveis nas p i r â m i d e s renais q u e
e m o r t a l i d a d e . A a n a t o m i a e a fisiologia básicas d o s rins são
c o n e c t a m o c ó r t e x r e n a l c o m a m e d u l a . Eles são c o m p o s t o s p o r
descritas p r i m e i r o c o m o u m alicerce para a c o m p r e e n s ã o d a
r a m o s espessos d a alça d e H e n l e d e s c e n d e n t e ( c o n t í n u o ao
fisiopatologia da d o e n ç a e d o f u n d a m e n t o básico para o diagnós-
t ú b u l o proximal) e a s c e n d e n t e ( c o n t í n u o ao t ú b u l o distai) e p o r
tico e as estratégias de t r a t a m e n t o n a insuficiência renal. O s
d u e t o s coletores e vasos s a n g u í n e o s associados (o vaso reto). O
m é t o d o s analíticos mais i m p o r t a n t e s utilizados d u r a n t e a inves-
hilo central é o n d e os vasos s a n g u í n e o s , linfáticos e a pelve r e n a l
tigação d a insuficiência r e n a l são discutidos n o C a p í t u l o 21.
( c o n t e n d o o ureter) se u n e m ao r i m .
O g l o m é r u l o é f o r m a d o p o r u m a r e d e capilar especializada.
ANATOMIA
C a d a capilar se desenvolve e m a p r o x i m a d a m e n t e 4 0 alças glome-
O s rins, u m sistema de órgão p a r e a d o , estão localizados n a região rulares, m e d i n d o cerca de 2 0 0 p m e c o n s i s t i n d o e m u m a varie-
l o m b a r . Eles (1) f i l t r a m o sangue, (2) excretam os p r o d u t o s finais d a d e de tipos diferentes d e células a p o i a d a s e m u m a m e m b r a n a
d o m e t a b o l i s m o d o c o r p o e m f o r m a de urina, e (3) r e g u l a m as basal especializada (Figura 34-3). Elas são células endoteliais e
c o n c e n t r a ç õ e s de h i d r o g ê n i o , sódio, potássio, fosfato e o u t r o s epiteliais q u e a t u a m e m c o n j u n t o c o m a m e m b r a n a basal glome-
íons n o l í q u i d o extracelular. E m u m adulto, cada r i m m e d e cerca rular especializada para f o r m a r a barreira d e filtração glomerular.
d e 12 c m e pesa a p r o x i m a d a m e n t e 150 g em h o m e n s e 135 g e m O s capilares g l o m e r u l a r e s são a p o i a d o s p o r u m a r e d e d e células
m u l h e r e s . O r i m t e m a f o r m a característica d e u m feijão e p o r mesangiais e matriz mesangial q u e a t u a m c o m o tecido c o n j u n t i v o
ele passam vasos, n e r v o s e ureter (Figura 34-1). p a r a o a p a r a t o g l o m e r u l a r . A membrana hasal f o r m a a principal
barreira d e s c r i m i n a n t e d e t a m a n h o para a passagem d a p r o t e í n a
Néfron dentro do l ú m e n tubular.
A u n i d a d e f u n c i o n a l d o rirn é o n é f r o n . C a d a r i m p o d e c o n t e r A cápsula de B o w m a n f o r m a o início f i r m e m e n t e e n r o l a d o
até 1 m i l h ã o d e n é f r o n s . O n é f r o n consiste e m (1) glomérulo, d o t ú b u l o c o n t o r c i d o proximal (frars convaluta), q u e e m seu pro-
(2) t ú b u l o proximal, (3) alça d e H e n l e , (4) t ú b u l o distai e (5) gresso r u m o à m e d u l a r e n a l torna-se reto e é e n t ã o c h a m a d o de
pars recta. O t ú b u l o p r o x i m a l h u m a n o t e m a p r o x i m a d a m e n t e 15
m m d e c o m p r i m e n t o . E a p a r t e m e t a b ó l i c a mais ativa d o n é f r o n ,
Veia cava Inferior
f a c i l i t a n d o a reabsorção d e 6 0 % a 8 0 % d o v o l u m e f i l t r a d o glo-
m e r u l a r — i n c l u i n d o 7 0 % d a carga filtrada d e sódio e cloreto, a
m a i o r i a d o potássio, glicose, b i c a r b o n a t o , fosfato e s u l f a t o — e
s e c r e t a n d o 9 0 % d o íon d e h i d r o g ê n i o excretado p e l o r i m .
O pars recta escoa para d e n t r o d a f i n a alça d e s c e n d e n t e de
H e n l e que, d e p o i s de passar p o r u m a alça ein f o r m a de g r a m p o
de cabelo, p r i m e i r o se t r a n s f o r m a e m b r a ç o f i n o d e s c e n d e n t e e
d e p o i s e m alça grossa a s c e n d e n t e . N o f i n a l d o b r a ç o grosso ascen-
d e n t e , h á u m a g l o m e r a d o d e células c o n h e c i d a s c o m o macula
densa (Figura 34-3). O p a p e l p r i n c i p a l da alça de H e n l e é f o r n e c e r
a c a p a c i d a d e para gerar u m a u r i n a c o n c e n t r a d a , h i p e r t ô n i c a c o m
relação ao plasma.
As células que f o r m a m o t ú b u l o distai d o n é f r o n t ê m início
na mácula d e n s a e se e s t e n d e m até a p r i m e i r a f u s ã o c o m o u t r o s
t ú b u l o s p a r a f o r m a r os d u e t o s coletores. A reabsorção d e cloreto
de s ó d i o e d e alguns íons de potássio e h i d r o g ê n i o o c o r r e nesse
sítio.
O s d u e t o s coletores são f o r m a d o s p o r a p r o x i m a d a m e n t e seis
t ú b u l o s distais. Esses t ú b u l o s são s u c e s s i v a m e n t e ligados a o u t r o s
t ú b u l o s p a r a f o r m a r os d u e t o s d e Bellini q u e , e v e n t u a l m e n t e ,
e s c o a m p a r a o cálice renal.

Aparato Justaglomerular
E n q u a n t o a alça a s c e n d e n t e d e H e n l e passa m u i t o p e r t o da
cápsula d e B o w m a n d e seus p r ó p r i o s n é f r o n s , as células d o
t ú b u l o e d a arteriola aferente m o s t r a m especialização r egi onal
(Figura 34-3). O t ú b u l o f o r m a a m á c u l a d e n s a e as células arte-
riolares são cheias de g r â n u l o s ( c o n t e n d o r e n i n a ) e inervadas c o m
Figura 34-1 As relações vasculares e anatômicas dos rins h u m a n o s . fibras d o n e r v o simpático. Essa área é c h a m a d a d e a p a r a t o justa-
(De Leaf A, C o t r a n RS. Renal pathophysiology, 3rd ed. Oxford: O x f o r d g l o m e r u l a r OCA). O J G A d e s e m p e n h a u m papel i m p o r t a n t e n a
University Press, 1985. C o m permissão da Oxford University Press, Inc.) m a n u t e n ç ã o d a pressão s a n g u í n e a sistêmica, r e g u l a n d o o v o l u m e
Função Renal e Doença CAPÍTULO 3 4 649

Néfron cortical

"Arteríola H i-;r<-jri' i-:: _

aferente

Nléíron justamedular
Artéria iriter-
• lobular Túbulo proximal

Túbulo distai

Glomérulo

Dueto coletor —

Figura 3 4 - 2 R e p r e s e n t a ç ã o diagramática do n é f r o n , a u n i d a d e f u n c i o n a l d o r i m , i l u s t r a n d o os a r r a n j o s
a n a t ô m i c o e vascular (De Pitts RF. Physiology of t h e k i d n e y a n d b o d y fluids, 3rd ed. C h i c a g o : Year B o o k
M e d i c a i Publishers, 1974.)

Túbulo contorcido distai


Mácula densa

Arteríola eferente
Arteríola aferente
Células Fibras do nervo simpático
mesangiais extra- Células granulares
Figura 34-3 O a p a r e l h o j u s t a g l o m e r u l a r . O início d o
glomerulares
cúbulo distai {isto é, o n d e a alça d e H e n l e r e t o r n a ao
córtex) fica b e m p r ó x i m o das arceríolas aferente e eferente,
Cápsula de Bowman
e as células t a n t o da arteríola aferente, q u a n t o d o t ú b u l o
m o s t r a m especialização. As células d a arteríola e f e r e n t e
são células granulares espessadas (justaglomerular) e
inervadas pelas fibras d o n e r v o simpático. As células
p o s s u e m f o r m a irregular e c o n t ê m f i l a m e n t o s de proteínas
contrateis. Células idênticas são e n c o n t r a d a s n o exterior
dos g l o m é r u l o s e são d e n o m i n a d a s células mesangiais
extraglomerulares.. ou células de G o o r m a g h t i g h . (De Lote
CJ. Principais of renal physiology, 4 t h ed. L o n d o n : Kluwer
A c a d e m i c Publishers, 2 0 0 0 , c o m p e r m i s s ã o d e Springer
Science and Business Media.)
650 PARTE V Fisiopatologia

de sangue intravascular circulante e a concentração de sódio. N a UTÍnação, t a m b é m d e n o m i n a d a micturiçáo, é o descarte de


m a i o r i a das vezes, a enzima p r o t e o l i t i c a r e n i n a é liberada em u r i n a . E m adultos n o r m a i s , a homeostase adequada é m a n t i d a
resposta à pressão arterioíar aferente d i m i n u í d a e à transferência c o m u m a p r o d u ç ã o de u r i n a de a p r o x i m a d a m e n t e 5 0 0 m L / d i a .
d i m i n u í d a de sódio i n t r a l u m i n a l paia a mácula densa. A libera- Alterações na p r o d u ç ã o de u r i n a são descritas c o m o anúria
ção de r e n i n a pela mácula densa t a m b é m é i n f l u e n c i a d a pelas (menos de 100 m i y d i a ) , oligúria (< 4 0 0 m L / d i a ) o u poliúria (> 3
prostaglandinas cotticais renais ( p r e d o m i n a n t e m e n t e P G I 2 ) e L / d i a o u 5 0 m L / k g de peso c o r p o r a l / d i a ) . O d i s t ú r b i o mais
pelo sistema nervoso simpático. A r e n i n a então liberada atua c o m u m da u r i n a ç ã o é a freqüência alterada, que p o d e estar
sobre a proteína plasmática angiotensinogênica para gerar angio- associada ao v o l u m e u r i n á r i o a u m e n t a d o o u à obstrução d o trato
tensina I. Esta é c o n v e r t i d a nos p u l m õ e s pela enzima conversora u r i n á r i o (p. ex., e m h i p e r t r o f i a prostática).
de angiotensina ( A C E ) n o p o t e n t e vasoconstritor e e s t i m u l a d o r O p r i m e i r o passo n a f o r m a ç ã o da u r i n a é a f i l t r a ç ã o de
da liberação de aldosterona, a angiotensina I I ( A l i ) . A vasocons- água n o plasma n o s g l o m é r u l o s . U m a pressão de f i l t r a ç ã o
trição e a liberação de aldosterona ( c o m retenção de sódio t u b u l a r l í q u i d a de a p r o x i m a d a m e n t e 17 m m H g n o l e i t o c a p i l a r d o
distai aumentada) a t u a m em c o n j u n t o c o m a o u t r a ação da A l i t u f o c o n d u z o f i l t r a d o pela m e m b r a n a g l o m e r u l a r . O f i l t r a d o
para a u m e n t a r a liberação d o h o r m ô n i o a n t i d i u r é r i c o ( A D H , é c h a m a d o de u l t r a f i l t r a d o p o r q u e sua c o m p o s i ç ã o é essencial-
Vasopressina) e para a u m e n t a r a reabsorção de sódio t u b u l a r m e n t e a mesma d o p l a s m a , mas c o m u m a n o t á v e l r e d u ç ã o nas
p r o x i m a l , o v o l u m e intravascular e a pressão. A l i t a m b é m possui m o l é c u l a s de peso m o l e c u l a r q u e excede 15 k D a . C a d a n é f r o n
u m efeito i n i b i d o r sobre a liberação de Tenina c o m o parte de u m p r o d u z cerca de 100 p L de u l t r a f i l t r a d o p o r d i a . E m geral,
c i r c u i t o de feedback negativo. a p r o x i m a d a m e n t e 170 a 2 0 0 L de u l t r a f i l t r a d o passam pelos
g l o m é r u l o s e m 24 h o r a s . N a passagem d o u l t r a f i l t r a d o pelos
Suprimento Sanguíneo t ú b u l o s , a reabsorção de solúveis e água e m várias regiões dos
A artéria renal se d i v i d e em elementos a n t e r i o r e posterior que t ú b u l o s r e d u z o v o l u m e t o t a l de u r i n a , o q u e n o r m a l m e n t e
depois se d i v i d e m em i n t e r l o b a r , arqueado, i n t e r l o b u l a r e, final- varia entre 0,4 e 2 L / d i a .
mente, em arfreríolas aferentes, q u e se e x p a n d e m d e n t r o do leito O t r a n s p o r t e de solúveis e água ocorre t a n t o através q u a n t o
capilar altamente especializado q u e f o r m a os g l o m é r u l o s (Figura entre as células epiteliais que revestem os t ú b u l o s renais. O trans-
34-2). Esses capilares, então, se r e ú n e m para f o r m a r a arteriola porte é t a n t o ativo (requer energia) q u a n t o passivo, mas m u i t o s
eferente que, p o r sua vez, f o r m a os plexos capilares e os vasos desses processos de transporte chamados passivos são dependen-
alongados (os vasos Tetos) que passam em t o m o das partes res- tes o u secundários aos processos de t r a n s p o r t e ativo, especial-
tantes (1) n é f r o n , (2) t ú b u l o s p r o x i m a l e distai, (3) alça de H e n l e m e n t e aqueles que e n v o l v e m o transporte de sódio. Todos os
e (4) d u e t o coletor, f o r n e c e n d o o x i g ê n i o e n u t r i e n t e e r e m o v e n d o processos de transportes conhecidos e n v o l v e m u m receptor o u
íons, moléculas e água, q u e são absorvidos pelo n é f r o n . A s s i m a m e d i a d o r de moléculas, m u i t o s dos quais já identificados e carac-
a r t e r i o l a eferente se f u n d e c o m as vênulas renais para f o r m a r as terizados c o m o uso de técnicas biológicas moleculares. A ativi-
veias renais que surgem d e n t r o da veia cava i n f e r i o r . A arquite- dade de muitas dessas moléculas é regulada pela fosforilação
tura complexa da árvore vascular intra-renal é ordenada em três facilitada pela p r o t e í n a quinase C o u A . Sua d i s t r i b u i ç ã o renal
dimensões, em u m arranjo característico que provavelmente m o s t r o u correlação c o m as atividades f u n c i o n a i s regionais conhe-
serve para d i s t r i b u i r de foTma apropriada, a pressão e o f l u x o cidas. H á distúrbios herdados de transportes tubulares específi-
sanguíneos para os glomérulos. cos e u m d i s t ú r b i o generalizado b e m c o n h e c i d o que afeta todos
N o adulto, os rins recebem a p r o x i m a d a m e n t e 2 5 % da pro- os processos de transporte, causando a s í n d r o m e de Fanconi.
dução cardíaca; p o r é m , n o recém-nascido, eles recebem 5 % , só A conexão direta da h i d r ó l i s e d o trifosfato de adenosina
alcançando as proporções de u m a d u l t o n o f i n a l d o p r i m e i r o ano (ATP) é u m exemplo de u m processo de transporte ativo. O mais
de vida. Cerca de 9 0 % desse f l u x o sanguíneo abastecem 0 córtex i m p o r t a n t e desses processos de t r a n s p o r t e n o n é f r o n é N a \ K*-
renal, m a n t e n d o as células tubulares a l t a m e n t e ativas. A m a n u - ATPase, q u e está localizado nas m e m b r a n a s basolaterais das
tenção do f l u x o sanguíneo r e n a l é essencial para a f u n ç ã o renal, células epiteliais tubulares. Esse t r a n s p o r t a d o r enzimático é res-
e há u m a disposição c o m p l e x a de mecanismos reguladores intra- ponsável p o r m u i t o do c o n s u m o de oxigênio renal e c o n d u z mais
renais que asseguram a m a n u t e n ç ã o desse f l u x o em u m a ampla de 9 9 % da reabsorção de sódio renal.
gama de pressões sanguíneas. A pressão de perfusão g l o m e r u l a r As membranas das células epiteliais t a m b é m c o n t ê m proteí-
é i n d e p e n d e n t e da pressão sistêmica entre 9 0 e 2 0 0 m m H g , nas que a t u a m c o m o canais de ions. Por exemplo, há u m para
sendo m a n t i d a em u m a constante de 45 m m H g . sódio que é fechado p o r a m i l o r i d a e m o d u l a d o p o r h o r m ô n i o s
c o m o o p e p t í d i o n a t r i u r é t i c o a t r i a l ( A N P ) . Os canais de ions
FUNÇÃO RENAL p o s s i b i l i t a m taxas b e m mais Tápidas de t r a n s p o r t e que asATPases,
As principais funções biológicas dos r i n s são: (1) excreção, (2) mas são r e l a t i v a m e n t e poucos e m n ú m e r o — a p r o x i m a d a m e n t e
regulação da bomeostase e (3) e n d ó c r i n a . Os r i n s integram essas 100 canais de sódio e cloreto c o n t r a 10' Na*, K'-ATPase molécu-
las p o r célula.
funções para m a n t e r a homeostase e regular o m e i o a m b i e n t e
interno. N o s t ú b u l o s , a composição solúvel do u l t r a f i l t r a d o é alterada
pelo processo de reabsorção c secreção, de m o d o q u e a u r i n a
Excreção excretada possa ter u m a composição m u i t o diferente daquela d o
A urina é (1) excretada pelos rins, (2) passada pelos ureteres, (3) f i l t r a d o o r i g i n a l . Diferentes regiões d o t ú b u l o m o s t r a r a m se espe-
armazenada na bexiga e (4) dispensada pela uretra. Q u a n d o sau- cializar e m certas funções. N o t ú b u l o p r o x i m a l , 6 0 % a 8 0 % d o
dável, ela (1) é estéril e clara, (2) é de cor âmbar, (3) possui u m u l t r a f i l t r a d o são reabsorvidos de m o d o o b r i g a t ó r i o , j u n t o c o m
p H levemente ácido (5,0 a 6,0) e (4) possui u m o d o r característico (1) sódio, (2) cloreto, (3) b i c a r b o n a t o , (4) cálcio, (5) fosfato, (6)
e u m a gravidade específica de a p r o x i m a d a m e n t e 1,024 g / m L . sulfato e (7) outros íons. A glicose é quase t o t a l m e n t e reabsor-
A l é m de dissolver os compostos, ela c o n t é m u m n ú m e r o de vida, p r e d o m i n a n t e m e n t e n o t ú b u l o p r o x i m a l p o r u m processo
fragmentos celulares, células completas, c o m p o n e n t e s proteiná- passivo, mas dependente, de sódio que é saturado e m u m a con-
ceos e cristais (elementos formados). M u d a n ç a s nesses elementos centração de glicose n o sangue de a p r o x i m a d a m e n t e 10 m m o l / L .
f o r m a d o s são estudadas utilizando-se m i c r o s c o p i a da u r i n a . O ácido ú r i c o t a m b é m é reabsorvido n o t ú b u l o p r o x i m a l p o r u m
Função Renal e Doença CAPÍTULO 34- 651

m e c a n i s m o passivo d e p e n d e n t e de sódio, mas t a m b é m existe u m NaHnn- nlirnsp Glomérulos


mecanismo ativo secretor.
Nas alças de H e n l e , cloreto e sódio sem água são absorvidos,
gerando u r i n a d i l u í d a . A reabsorção de água nos t ú b u l o s distais
e nos duetos coletores é então regulada pelo A D H . N o t ú b u l o
distai, a secreção é a atividade p r o e m i n e n t e ; íons orgânicos, de
potássio e de h i d r o g ê n i o são t r a n s p o r t a d o s do sangue na arteríola
eferente para o l í q u i d o tubular. Essa região é t a m b é m a que
secreta íons de h i d r o g ê n i o e reabsorve sódio e b i c a r b o n a t o para
auxiliar na Tegulação ácido-base. O m o v i m e n t o paracelular (entre
célula) é p r e d o m i n a n t e m e n t e i m p u l s i o n a d o pela concentração
de gradientes osmóticos o u elétricos.

Função Reguladora
A função reguladora dos rins t e m u m papel i m p o r t a n t e na home-
ostase. Os mecanismos de reabsorção diferencial e de secreção,
localizados n o t ú b u l o de u m n é f r o n , são os executores da regu-
lação. Os mecanismos o p e r a m sob u m sistema c o m p l e x o de
c o n t r o l e n o q u a l fatores h u m o r a i s , t a n t o externos q u a n t o inter-
nos, p a r t i c i p a m . F i g u r a 3 4 - 4 Mecanismo de multiplicação contracorrente:
representação esquemática do principal processo de transporte no
Homeostase de Eletrólito néfron. Na porção contorcida do túbulo proximal (1), sais e água sáo
O t ú b u l o c o n t o r c i d o p r o x i m a l está p r e d o m i n a n t e m e n t e preocu- reabsorvidos em altas taxas em proporções isotônicas. Reahsorção em
pado c o m a reabsorção (Figura '344). Nele, cerca de 7 5 % de grande quantidade da maioria do filtrado {65% a 70%) e reabsorção
cloreto de sódio e água do u l t r a f i l t r a d o são reabsorvidos, b e m quase completa de glicose, aminoácidos e bicarbonato acontecem nesse
c o m o a m a i o r parte do bicarbonato, fosfato, cálcio e potássio. A segmento. Na pars recta (2), ácidos orgânicos são secretados e há
reabsorção de água n o t ú b u l o c o n t o r c i d o p r o x i m a l é d e n o m i n a d a reabsorção contínua de cloreto de sódio. A alça de Henle contém crês
" o b r i g a t ó r i a " porque seu v o l u m e escá relacionado c o m a concen- segmentos: os braços finos descendente (3) e ascendente (4) e o braço
tração de solutos que estão r e t o r n a n d o ao sangue n a arteríola espesso ascendente (5). O fluido se torna hiperosmótico, por causa da
eferente. A q u a n t i d a d e de reabsorção de b i c a r b o n a t o está relacio- abstração de água, à medida que flui rumo à curva da alça; e
nada c o m a taxa de filtração glomerular (GFR) e c o m a taxa hiposmótíco, por causa da reabsorção de cloreto de sódio, à medida que
secretora de í o n de h i d r o g ê n i o . A q u a n t i d a d e de reabsorção de flui rumo ao túbulo convoluto distai (6). A reabsorcao de sódio ocorre
fosfato é controlada, e m parte, pela concentração de cálcio n o no túbulo convoluto distai e no rúbulo coletor cortical (7). Esse último
plasma e t a m b é m pelo efeito do h o r m ô n i o pararireóide nas células segmento é impermeável à água na ausência do ADH, e a reabsorção de
tubulares. N o r m a l m e n t e as substâncias de limiares altos — a sódio nesse segmento é aumentada pela aldosterona. O dueto coletor (8)
glicose e, e m grande parte, os aminoácidos — são reabsorvidas a q u i permite o equilíbrio da água com o interstício hiperosmótico quando o
p o r meio de sistemas específicos de transporte ativo intracelular. A D H escá presente. Para mais detalhes, ver texto. (De Burg MB. The
O acido ú r i c o pode ser reabsorvido o u secretado n o t ú b u l o con- nephron in ttansport of sodium, amino acids, and glucose. Hosp Fract
torcido p r o x i m a l p o r u m processo m e d i a d o p o r co-transporte. 1978;13:100- Adaptado de um desenho feito por A. Iselin.)
N a alça de H e n l e ascendente, 2 0 % a 2 5 % do f i l t r a d o de sódio
são reabsorvidos sem reabsorção c o n c o m i t a n t e de água. Esse
processo gera u r i n a d i l u í d a c o m osmolalidade de 100 a 150
m O s m / k g de água e ajuda a estabelecer o gradiente o s m ó t i c o
c o r t i c o m e d u l a r . A b i p e r t o n i c i d a d e resultante do interstício é
i m p o r t a n t e na patogênese das infecções renais p o r q u e o ambiente
h i p e r t ô n i c o interfere na função do leucócito. A subseqüente angiotensina e pela alta concentração de potássio n o plasma. A
reabsorção de água é regulada pelo A D H . E m b o r a a reabsorção secreção renal de r e n i n a é complexa, mas é pelo m e n o s parcial-
de Na + na alça de H e n l e seja complexa e e n t e n d i d a apenas par- m e n t e regulada pela perfusão renal e pela concentração de sódio
cialmente, p e l o menos u m mecanismo consiste e m u m a b o m b a n o plasma. T a n t o a perfusão inadequada q u a n t o a concentração
de C l " ativa c o m reabsorção subseqüente de Na + ao l o n g o de u m haixa de sódio n o plasma e s t i m u l a m a secreção de r e n i n a . A n i o n s
gradiente e l e t r o q u í m i c o . Esse mecanismo é aparentemente orgânicos, c o m o o acetoacetato e o Q-hidroxibutiraro, t a m b é m
i n i b i d o pelos poderosos diuréticos da alça. c o n s o m e m H + q u a n d o são parcialmente e l i m i n a d o s e m sua
O t ú b u l o distai é, f u n c i o n a l m e n t e , a região mais ativa d o f o r m a não-dissociada. Q u a n d o o H + deve ser conservado para
n é f r o n para a Tegulação homeostática dos eletrólitos do plasma m a n t e r o p H d o plasma, as células d o t ú b u l o d i s t a i reduzem a
e das concentrações plasmáticas de ácido-base. N e l e u m a combi- secreção de H + , reduzem a geração de N H / , r e d u z e m a troca de
nação de secreção e reabsorção acontece entre N a \ K ' e H + . N a * ' H + e a u m e n t a m a excreção de b i c a r b o n a t o . O efeito básico
E m b o r a o excesso de íons de h i d r o g ê n i o n o plasma seja secretado é a redução do b i c a r b o n a t o n o plasma e a restauração d o p H
em t o d o o t ú b u l o , é n o t ú b u l o distai que a troca de H + para Na* n o r m a l do plasma.
(que é reabsorvido) a f i n a a s i n t o n i a do e q u i l í b r i o entre perda e
retenção de H + ( C a p í t u l o 35). Os íons de potássio t a m b é m são Homeostase da Água
secretados n o t ú b u l o distai. A l d o s t e r o n a é u m potente m o d u l a - A p r o x i m a d a m e n t e 7 0 % do c o n t e ú d o de água d o l í q u i d o t u b u l a r
d o r da reabsorção Na* n o t ú b u l o distai, p a r t i c u l a r m e n t e q u a n d o é reabsorvido n o t ú b u l o p r o x i m a l , 5 % na alça de H e n l e , 10% n o
surge a necessidade de conservar o Na + . A p r o d u ç ã o de aldoste- t ú b u l o distai, e o restante nos duetos coletores. As m e m b r a n a s
r o n a no c ó r t e x supra-renal é estimulada pelo sistema renina- plasmáticas de todas as células de mamíferos são permeáveis à
652 PARTE V Fisiopatologia

água, mas em graus variáveis. A homeostase da água está i n t r i n - 1,25(OH2) Vitamina D3


secamente ligada aos processos renais para uréia. Por exemplo, o Os r i n s são responsáveis p r i n c i p a l m e n t e pela p r o d u ç ã o de
t r a n s p o r t a d o r de uréia fornece u m a a f i n i d a d e m u i t o baixa, mas l , 2 5 ( O H i ) v i t a m i n a D 3 do 25-hidroxicoIecalciferol c o m n resul-
u m processo de t r a n s p o r t e passivo de alta capacidade ligado à tado de u m a ação da enzima 25-hidroxicolecalciferol lD-hidroxi-
reabsorção de N a + no t ú b u l o p r o x i m a l . A i m p o r t â n c i a da uréia lase e n c o n t r a d a nas células epiteliais tubulares p r o x i m a i s . A regu-
para a reabsorção de água é que os duetos coletores corticais são lação desse sistema é discutida d o C a p í t u l o 38.
impermeáveis à uréia, assim c o m o os duetos coletores medulares,
a não ser que t e n h a m sido i n f l u e n c i a d o s pelo A D H . O A D H é FISIOLOGIA DO RIM
u m n o n a - p e p a d i o que se liga a receptores específicos nas m e m - O G F R , o f l u x o sanguíneo renal, e a p e r m e a b i l i d a d e g l o m e r u l a r
branas basais das células do d u e t o coletor renal. Ele a u m e n t a a são c o m p o n e n t e s fisiológicos i m p o r t a n t e s da f u n ç ã o renal.
permeabilidade da água nas células corticais, mas t a m b é m
a u m e n t a a p e r m e a b i l i d a d e t a n t o da água q u a n t o da uréia nos Taxa de Filtração Glomerular
t ú b u l o s medulares. A taxa de filtração g l o m e r u l a r ( G F R ) é considerada c o m o u m a
m e d i d a segura da capacidade f u n c i o n a l dos rins e quase sempre
é vista c o m o u m i n d i c a t i v o do n ú m e r o de néfrons e m f u n c i o n a -
Função Endócrina m e n t o . C o m o u m a m e d i d a fisiológica, ela p r o v o u ser u m marca-
As funções endócrinas dos rins p o d e m ser consideradas c o m o (1) d o r sensível e específico das mudanças da f u n ç ã o renal. A taxa
p r i m á r i a , p o r q u e os rins são órgãos e n d ó c r i n o s que p r o d u z e m de f o r m a ç ã o d o f i l t r a d o g l o m e r u l a r depende d o e q u i l í b r i o entre
h o r m ô n i o s ; ou (2) secundária, p o r q u e os rins c o n s t i t u e m u m sítio as forças hidrostáticas e oncóticas ao l o n g o da arteriola aferente
de ação para os h o r m ô n i o s produzidos o u ativados em o u t r o local. e através do f i l t r o glomerular. A diferença da pressão básica deve
A l é m disso, os rins c o n s t i t u e m u m sítio de degradação para hor- ser suficiente não apenas para i m p e l i r a filtração através da bar-
m ô n i o s c o m o i n s u l i n a e aldosterona. E m sua função e n d ó c r i n a reira de filtração glomerular, mas t a m b é m para i m p u l s i o n a r o
p r i m á r i a , os rins p r o d u z e m (1) e r i t r o p o i e t i n a (EPO), (2) prostagla- u l t r a f i l t r a d o ao l o n g o dos t ú b u l o s c o n t r a sua inerente resistência
dinas e tromboxanas, (3) r e n i n a e (4) l , 2 5 ( O H 2 ) v i t a m i n a D 3 . ao f l u x o . N a ausência de pressão suficiente, os l ú m e n s dos
t ú b u l o s entrarão em colapso.
U m a redução na G F R p r e n u n c i a a insuficiência d o r i m e m
Eritropoietina todas as formas de doença progressiva. Sabe-se que diferentes con-
E P O é u m a glicoproteína h o r m o n a l secretada p r i n c i p a l m e n t e dições patológicas renais p r o g r i d e m para doença r e n a l t e r m i n a l
pelos rins e m adultos, e pelo fígado e m fetos, que atua sobre as (ESR.D) e para dependência de diálise em taxas que variam de
células da m e d u l a óssea para estimular a eritropoiese. Ela é u m a semanas a várias décadas. Os sintomas que a c o m p a n h a m a insufi-
D-globulina c o m u m peso m o l e c u l a r de 38 k D a . Fisiologicamente, ciência renal progressiva e sua correlação c o m a queda na G F R
os rins sentem u m a redução no transporte de 0 2 para o tecido serão i n f l u e n c i a d o s p o r essa taxa de progressão. M e d i r a G F R em
pelo sangue e l i b e r a m a e r i t r o p o i e t i n a , e s t i m u l a n d o assim a doença estabelecida é ú t i l para (1) a objetivação do t r a t a m e n t o , (2)
m e d u l a óssea a p r o d u z i r mais glóbulos vermelhos (RBCsJ. De a progressão do m o n i t o r a m e n t o e (3) para preveT q u a n d o a terapia
f o r m a oposta, c o m u m excesso de O ; n o sangue atravessando os de reposição renal será necessária. Essa m e d i d a t a m b é m é usada
rins, c o m o em algumas formas de p o l i c i t e m i a , a liberação de como guia para a dosagem das drogas excretadas pelos rins na
e r i t r o p o i e t i n a n o sangue é d i m i n u í d a . O uso de e r i t r o p o i e t i n a prevenção do potencial de toxicidade da droga. V á r i o s métodos
h u m a n a r e c o m b i n a n t e ( r h E P O , E p o e t i n ) n o t r a t a m e n t o de são usados para m e d i r a GFR; a m a i o r i a envolve a capacidade do
anemia em insuficiência r e n a l é d i s c u t i d o a seguir. r i m de e l i m i n a r u m marcador exógeno o u endógeno.

Prostaglandinas e Tromboxanas
As prostaglandinas e as tromboxanas são sintetizadas d o ácido O Conceito de Clearance
a r a q u i d ó n i c o pelo sistema da enzima ciclooxigenase ( C a p i t u l o A m a i o r i a das informações clínico-laboratoriais usadas para avaliar
23). Esse sistema está presente em muitas partes dos rins. O a função renal é proveniente de o u está relacionada c o m a men-
m e t a b ó l i t o p r e d o m i n a n t e de sua atividade e n d o t e l i a l vascular é suração do clearance de alguma substância o u marcador dos rins.
a prostaciclina {FGI2). A p r o s t a g l a n d i n a E i (PGE 2 ) paíece ser o As mensutações da G F R p o d e m ser baseadas n o clearance plasmá-
p r i n c i p a l m e t a b ó l i t o das células mesangiais e tubulares. A produ- tico o u u r i n á r i o do marcador. O clearance r e n a l de u m a substância
ção e a atividade desses compostos b i o l o g i c a m e n t e ativos possuem é d e f i n i d o c o m o "o v o l u m e de plasma do qual a substância é
u m papel i m p o r t a n t e n a regulagem da ação fisiológica de outros c o m p l e t a m e n t e e l i m i n a d a dos rins p o r u n i d a d e de t e m p o " . Desde
h o r m ô n i o s n o tônus vasculaT renal, na c o n t r a t i b i l i d a d e mesan- que a substância (S) esteja (1) em concentração estável n o plasma;
gial e n o processamento t u b u l a r d o sal e da água. (2) fisiologicamente inerte: (3) livremente filtrada n o g l o m é r u l o ;
e (4) não esteja secretada, reabsorvida, sintetizada o u metabolizada
Renina pelo r i m , então a quantidade de substância filtrada n o g l o m é r u l o
A r e n i n a é p r o d u z i d a d e n t r o das células justaglomerulares depois será igual à q u a n t i d a d e excretada na u r i n a . A q u a n t i d a d e de S
d o processamento e da divisão da pró-renina, q u e é produzida f i l t r a d a n o g l o m é r u l o = G F R m u l t i p l i c a d a pela concentração de
n o fígado. A produção elevada de r e n i n a resulta na formação de plasma S: G F R x P s . A q u a n t i d a d e de S excretada é igual à con-
angiotensina I I n o fígado, que é u m poderoso vasoconstritor e centração de S na u r i n a (U s ) m u l t i p l i c a d a pela taxa do f l u x o uri-
t a m b é m u m i m p o r t a n t e e s t i m u l a n t e da liberação de aldosterona n á r i o (V, v o l u m e excretado p o r u n i d a d e de tempo).
da zona das células glomerulosas e das glândulas supra-renais. O
efeito básico é (1) vasoconstrição sistêmica, (2) vasoconstrição Já que S f i l t r a d a ~ S excretada, então
intra-renal e (3) liberação elevada de aldosterona. A aldosterona
c o n t r o l a o e q u i l í b r i o de sal e água nos rins. Seu efeito é predo- G F R * Ps = Us * V (1)
m i n a n t e m e n t e sobre a rede t u b u l a r distai, p r o d u z i n d o u m
a u m e n t o na reabsorção de s ó d i o na troca para potássio. GFR = (Us - V)/Ps (2)
Função Renal e Doença CAPÍTULO 34 653

o n d e G F R = clearance em unidades de m i l i l i t r o s de plasma livres Marcadores Usados


de u m a substância p o r m i n u t o V á r i o s marcadores exógenos e e n d ó g e n o s são usados p a r a
e s t i m a r o clearance (Tabela 34-1). A m e n s u r a ç ã o d o clearance
U s = concentracão u r i n á r i a da substância p o d e requerer m e d i d a s precisas das concentrações t a n r o plas-
V = taxa de f l u x o v o l u m é t r i c o da u r i n a e m m i l i l i t r o s p o r máticas q u a n t o u r i n á r i a s dos marcadores usados, a l é m de
minuto coleta c o n f i á v e l da u r i n a , Para u m a m e n s u r a ç ã o p l a s m á t i c a
Ps = concentração de plasma da substância c o n f i á v e l , a substância deve ter alcançado u m estado estável de
c o n c e n t r a ç ã o e não estar m u d a n d o r a p i d a m e n t e . Para u m a
O t e i m o ( U s * V ) / P s é d e f i n i d o c o m o o clearance da substância coleta de u r i n a c o n f i á v e l (1) o f l u x o de u r i n a deve ser ade-
S e é u m a estimativa precisa da G F R desde que os critérios pre- q u a d o (vários m L / m i n ) , (2) o p e r í o d o de coleta de d u r a ç ã o
v i a m e n t e m e n c i o n a d o s sejam obedecidos. A i n s u l i n a obedece a l o n g a o bastante ( n o r m a l m e n t e > 4 horas) e (3) o esvaziamento
esses critérios e há m u i t o v e m sendo observada c o m o a estimativa c o m p l e t o da bexiga o b t i d o . A l é m disso, para g a r a n t i r a precisão
mais precisa da G F R (ver adiante). O t a m a n h o d o r i m e a G F R q u a n d o se faz a m e n s u r a ç ã o da G F R utilizando-se os m é t o d o s
são a p r o x i m a d a m e n t e p r o p o r c i o n a i s ao t a m a n h o do corpo. Por- de clearance u r i n á r i o , é essencial q u e (1) a secreção o u reabsor-
t a n t o , é c o n v e n c i o n a l ajustar as estimativas d o ckarance a u m a ção t u b u l a r r e n a l n ã o c o n t r i b u a m para a e l i m i n a ç ã o do com-
área-padrão de superfície c o r p o r a l (BSA) de 1,73 m 2 . H á pro- posto e que (2) a ligação da p r o t e í n a p l a s m á t i c a ao f á r m a c o
grama de c o m p u t a d o r dis ponív el para esses cálculos ( h t t p : / / seja i n s i g n i f i c a n t e .
www.nkdep.nih.gov/).

T A B E L A 3 4 - 1 I Taxa de Filtração G l o m e r u l a r de Marcadores: Disposição Hierárquica


Hierarquia Marcador Vantagens Desvantagens

Padrão-ouro Método de clearance urinário Padrão-ouro Exógeno


por infusão contínua de Perda de tempo
inulina (sinistrina) Requer coleta de urina em tempo determinado
Especificidade pobre da análise
Clearance extra-renal - 0,003 mlVmm/kg
Padrão-prala Método de clearance Exógeno
plasmático por bolus Perda de tempo
único de inulina Especificidade pobre da análise
(sinistrina) Clearance extra-renal = 0,093 mL/min/kg
51
Cr-EDTA Radioisctcpicc (mensuração simples) Exógeno
Radioisotãpico (riscos de radiação ionizante)
Estreita correlação com clearance de inulina Perda de tempo
Clearance extra-renal = 0,079 mLVmin/kg
51
Cr menos disponível que ^"tecnécic (Tc)
"Tc-DTPA Radia isotópico (mensuração simples) Exógeno
Radioisotópico (riscos de radiação ionizante)
Pode ser usado para imagem de câmera Perda de tempo
gama Ligação à proteína
125
l-iothalamato Radio isotópico (mensuração simples) Exógeno
Radioisotópico (riscos de radiação ionizante)
Não disponível em todos os países
Relatos de reaçõss alérgicas
loexol Não-radio isotópico Exógeno
Clearance extra-renal = 0,007 mUmin/kg
Relatos de reações alérgicas
Padrão-bronze Creatinina Endógeno Sensibilidade e especificidade pobres
Barato
Pode ser usado para gerar GFR de
fórmula (p. ex., MDRD)
Cisfatina C Não secretado/reabsorvido Influência da função tireóide
Expresso constitutivãmente
Mais sensível e específico que a
creatinina

De uso clínico incerto Clearance de creatinina Endógeno Requer coleta de urina em tempo determinado
Barato Impreciso
Uréia Endógeno Sensibilidade e especificidade ruins
Barato
Proteína ligante de Endógeno Influências não-renais sobre as taxas de produção
retinoi (RBP) Não secretado/reahsorvido
«rtnicroglotulina Endógeno Influências não-renais sobre as taxas de produção
Não secretado/reahsorvido Menos livremente filtrado que RBP
654 PARTE V Fisiopatologia

Marcadores Exógenos da GFR uso rotineiro, especialmente quando a G F R é estimada em base


A m b o s os marcadores rotulados não-radioisotópicos e radioisotó- regular. Creatinina e certas proteínas de peso molecular baixa,
picos são usados como marcadores exógenos. Os compostos não- Como cistatina C , foram usadas como marcadores endógenos da
radioativos usados para medir a G F R incluem insulina e ioexol. GFR. O uso de uréia nesse contexto tem valor limitado e não será
Os radiofármacos usados incluem (1) ácido 5 , Cr-etilenodiamina- discutido. Os marcadores endógenos t o r n a m óbvia a necessidade
tetracético ( E D T A ) , (2) ácido ""Tc-dietilenotriaminopentacético de injeção, e requer uma única amostra de sangue, simplificando
( D T P A ) , e (3) l í 3 I-iotalamato. NI a prática, prefere-se 5 l C r - E D T A o procedimento para o paciente, médico e laboratório.
a " m T c - D T P A e l2:, I-iota[amato, já que seu clearance é considerado Concentração de Creatinina. O marcador endógeno da GFR
como o mais p r ó x i m o da inulina.
mais amplamente usado é a creatinina, expresso como sua con-
Clearance de Inulina. O polímero de frutose i n u l i n a (massa centração plasmática ou como seu clearance renal (Capítulo 21).
molecular de aproximadamente 5kDa) satisfaz os critérios como
A creatinina (massa molecular 113 Da) é livremente filtrada nos
u m marcador ideal da GFR. O clearance de i n u l i n a que utiliza
glomérulos e sua concentração está inversamente relacionada com
uma abordagem de clearanrp. u r i n á r i o por infusão constante há
a GFR. C o m o u m marcador da G F R , ela é conveniente e barata
m u i t o é considerado como u m padrão-ouro de medida da GFR.
para se medir, mas sua concentração medida é afetada por (1)
Abordagens aceitáveis de clearance plasmático em u m ú n i c o bolo
idade, (2) sexo, (3) exercício, (4) certas drogas (p. ex., cimetidina
t a m b é m foram avaliadas. Porém, a não disponibilidade de
e trimetoprim), (5) massa muscular, (6) estado n u t r i c i o n a l e (7)
métodos laboratoriais simples de mensuração de i n u l i n a perma-
mgesta de carne. A l é m disso, u m a proporção pequena (mas signi-
nece u m i m p e d i m e n t o para o uso universal.
ficativa) e variável de creatinina demonstrada na urina é derivada
Clearance de Ioexol. O clearance do agente de contraste não-
da secreção tubular. N o r m a l m e n t e , 7 % a 10% são ocasionadas
radioativo para raios-X ioexol f o i proposto como uma alternativa
por secreção tubular, mas essa proporção é aumentada na pre-
mais simples paTa o clearance de i n u l i n a . E m u m método, o ioexol
sença de insuficiência renal. Interferências analíticas importantes
plasmático é medido por cromatografia líquida de alta eficiência
c o n t i n u a m sendo u m problema. Talvez a mais importante seja a
(F1PLC) com separação de fase revertida e detecção ultravioleta
permanência da creatinina plasmática dentro do intervalo de
( U V ) , após desproteinização prévia com acido perclórico. A
imprecisão analítica é i n f e r i o r a ± 3 % intrateste, e ± 5 % inter- referência até a perda de função renal expressiva. Já que a creati-
teste. O clearance plasmático em bolo único de ioexol demonstra n i n a plasmática é derivada do colapso de creatina e fosfocreatina
excelente concordância com o clearance u r i n á r i o de i n u l i n a por no músculo, o intervalo de referência abrange a extensão de massa
infusão contínua. A variabilidade biológica em pacientes com muscular observada na população. Isso c o n t r i b u i para a insensi'
insuficiência renal usando essa técnica é aproximadamente 6%. bilidade da creatinina como u m marcador da G F R diminuída.
A natureza estável e não-radioisotópica do ioexol permite que Ademais, em pacientes com insuficiência renal crônica ( C K D ) , o
análises de amostras sejam retardadas e que centros de referência clearance de creatinina extra-renal insensibiliza ainda mais o
comuns sejam usados para estudos multinacionais. aumento antecipado de creatinina plasmática em resposta à GFR
Os métodos de clearance plasmático em bolo único possuem que esrá em queda. C o m o conseqüência, a mensuração de creati-
vantagens práticas óbvias em comparação com os métodos com- n i n a plasmática não detectará pacientes com C K D em estágio 2
plexos de infusão contínua. U m a dose única do marcador (p. ex., (GFR 60 a 89 m L / m i n / I , 7 3 m 2 ) e também não identificará
inulina, 70 m g / k g ; ioexol, 5 m L ; Omnipaque 300 mg i o d i n a / m L muitos pacientes c o m C K D em estágio 3 (GFR 30 a 59 m i y
[Nycomed AS, Oslo, Noruega]; o u J ' C r - E D T A , 50 a 100 pCi) é m i n / 1 , 7 3 m 2 ). Portanto, embora uma concentração elevada de
injetada e amostras de sangue venoso são colhidas em intervalos creatinina no plasma geralmente se equacione com função renal
de tempo (p. ex., normalmente 120, 180 e 240 minutos após o debilitada, uma creatinina plasmática n o r m a l não se equaciona,
início da injeção do marcador). A GFR é calculada utilizando o necessariamente, c o m função renal normal. Devido a todas essas
conhecimento da quantidade de marcador injetado e a redução na limitações, o uso isolado de mensuração de creatinina plasmática
concentração do marcador (atividade) como uma função de tempo. para avaliar a função renal não é recomendado.
A eliminação do marcador é descrita por u m modelo de dois Clearance de Creatinina. Porque a creatinina é endogenamente
compartimentos. Isso inclui u m equilíbrio inicial ou fase de distri- produzida e liberada nos f l u i d o s corporais em r i t m o constante,
buição enquanto o marcador se mistura entre os espaços vascular seu clearance f o i mensurado c o m o u m indicador da G F R . Histo-
e extravascular e também enquanto é eliminado do plasma pelo ricamente, o clearance de creatinina tem sido visto como mais
r i m . A fase de distribuição dura entre 2 e 8 horas, dependendo do sensível para detecção de disfunção renal do que como medida
(1) tamanho do paciente, (2) volume de distribuição da molécula de creatinina plasmática. C o n t u d o , ele requer coleta de u r i n a em
(p. ex., maior em pacientes edematosos) e (3) G F R do paciente hora determinada, o que introduz suas próprias imprecisões, é
(quanto menor a GFR, mais longa a fase de distribuição. Isso dá inconveniente e desagradável. E m adultos, o coeficiente de varia-
origem a uma cuTva biexponencial do clearance. Embora a G F R ção (CV) diário intra-individual para medidas repetidas do clea-
seja normalmente calculada usando-se análise monoexponencial, rance de creatinina excede 25%. Embora a secreção tubular pre-
traçando-se a concentração do marcador log contra o tempo A j u d i q u e o valor teórico da creatinina como u m marcador da
meia-vida é calculada a partir do declive (k) e da distribuição do G F R , n o contexto do clearance de creatinina isso foi previamente
volume (C0) do marcador logo após a injeção. compensado pelo uso de métodos não-específicos para medir a
creatinina plasmática. Isso leva a uma superestimação da concen-
G F R = íc x CQ (3) tração no plasma Apesar disso, o clearance de creatinina normal-
mente equipara-se ou excede a G F R de i n u l i n a em adultos por
Porque esse m o d e l o ignora a fase de distribuição, a G F R é supe- u m fator entre 10% a 4 0 % em clearances acima de 80 m i y m i n .
restimada. Varias correções são usadas para ajustar isso. Porém, à medida que a G F R cai, a creatinina plasmática sobe
desproporcionalmente e observou-se que o clearance da mesma
Marcadores Endógenos da GFR chegou a quase o d o b r o do clearance de i n u l i n a . A reabsorção
Embora o clearance de marcadores exógenos infundidos geralmente tubular de creatinina t a m b é m f o i relatada em G F R baixa, mas
seja considerado u m estimador da GFR, até o m o m e n t o esses pode reapresentar difusão de creatinina pelas lacunas das junções
procedimentos são considerados m u i t o caros e incômodos para entre as células tubulares o u diretamente, por meio das células
Função Renal e Doença CAPÍTULO 34 655

epiteliais, até u m gradiente de concentração. Seja qual for o plasmática, mas m u i t o recentemente vários grupos demonstra-
mecanismo, isso só desvaloriza ainda mais o uso do clearance de ram que a mensuração de cistatina C pode oferecei u m meio
creatinina. C o n t u d o , na m e l h o r das hipóteses o clearance de mais sensível e específico de m o n i t o r a r as mudanças na G F R do
creatinina apenas fornece u m índice b r u t o da G F R . que a creatinina plasmática.
GFR Estimada. A relação matemática entre creatinina plasmá- A cistatina C é u m a proteína de peso molecular baixo (12,8
tica e G F R é melhorada, corrigindo-se as variáveis que confun- kDa) sintetizada por todas as células nucleadas cujo papel fisio-
d e m e t o r n a m essa relação não-linear. H á mais de 25 fórmulas lógico é o de u m i n i b i d o r de protease à cisteína. N o que diz
diferentes que estimam a G F R usando creatinina plasmática cor- respeito à função renal, seus atributos mais importantes são
rigida para algumas o u para todas as variáveis de sexo, t a m a n h o tamanho pequeno e p o n t o isoelétrico alto ( p i = 9,2), p e r m i t i n d o
corporal, raça e idade. 4 Essas fórmulas p o d e m produzir uma que ela seja filtrada com mais liberdade no glomérulo d o que as
estimativa melhor da G F R d o que a creatinina sozinha. Por proteínas previamente mencionadas. As concentrações plasmáti-
exemplo, a N a t i o n a l Kidney F o u n d a t i o n dos Estados U n i d o s cas de cistatina C parecem não ser afetadas pela massa muscular,
recomenda que tais estimativas sejam usadas em vez de creatinina dieta o u sexo. N ã o havias extra-renais conhecidas de eliminação,
sérica, e que a f ó r m u l a abreviada "Modificação da Dieta na com o clearance da circulação apenas pela filtração glomerular.
Doença Renal" ( M D R D ) deve ser usada em adultos. 8 As fórmulas A l é m disso, a mensuração da cistatina C parece não ser afetada
de Schwartz e de Counahan-Barrat são recomendadas para uso pelas interferências ópticas que afetam os testes de creatinina.
em crianças. A f ó r m u l a M D R D foi desenvolvida em 1999, por Devido às suas múltiplas vantagens, a cistatina C é considerada
Levey e colaboradores 5 , entre 1.628 pacientes predominante- u m marcador superior para determinar a G F R Ela parece ser
mente de meia-idade inscritos n o estudo M D R D . A versão abre- especialmente ú t i l na tentativa de detectar piora de leve a mode-
viada desta f ó r m u l a a seguir, que foi amplamente adotada, foi rada na função renal.'
publicada u m ano depois.

GFR ( m L / m i n / 1 , 7 3 m z ) = 186 GFR e Idade


* [creatinina plasmática (mg/dL)] - 1 ' 1 5 4 A função renal não é constante durante toda a vida. N o útero, a
x [idade]" 0 ' 203 u r i n a é produzida pelo feto em desenvolvimento a partir da n o n a
* [1,210, se negro] semana de gestação. A G F R no nascimento é de aproximada-
* [0,742, se m u l h e r ] mente 30 m L / m m / 1 , 7 3 m 2 . Ela aumenta rapidamente nas pri-
meiras semanas d e v i d a , até alcançar, aproximadamente, 70 m L /
ou, m i n / 1 , 7 3 m z aos 16 dias de vida c o m os valores para adulto da
G F R corrigidos para BSA sendo atingidos aos 2 anos de idade.'
G F R ( m L / m m / 1 , 7 3 m 2 ) = 186 E m média, a G F R declina com a idade em aproximadamente 1
x
[creatinina plasmática ( p m o l / L ) * 0.011] -1 ' 154 m L / m m / 1 , 7 3 m 2 / a n o aos 40 anos de idade e o r i t m o de declínio
x [idade] -°'203 na G F R acelera depois dos 65 anos. 3
* [1,210, se negro]
* [0,742, se m u l h e r ]
Recomendações e Intervalos de Referência
(Há programa de computador disponível para tais cálculos; A mensuração do clearance u r i n á r i o de i n u l i n a , depois de infusão
http://www.kidney.org/professionals/kdoqi/gfr_calculator.cfm.) contínua, é considerada como m é t o d o p r i m á r i o o u de referência
Deve ser lembrado, entretanto, que a creatinina plasmática é para determinar a G F R . C o n t u d o , uma vez que os testes neces-
u m marcador imperfeito da G F R e, p o r t a n t o , fórmulas baseadas sários de plasma e urina para m u l i n a quase sempre não sao
nela são imperfeitas. O uso da f ó r m u l a não envolve as interferên- práticos em laboratórios clínicos, a creatinina plasmática ou o
cias ópticas m u i t o importantes que afetam a mensuração da clearance de creatinina t ê m sido usados quase que universalmente
creatinina plasmática, como hemólise, icterícia e lipidemia. para avaliar a G F R . C o m o aumento do reconhecimento da
Ademais, a fórmu la é inadequada para uso em pacientes c o m importância de detecção e o tratamento precoces da C K D , a
insuficiência renal aguda, nos quais as concentrações de creati- necessidade de avaliações mais precisas da G F R vem sendo enfa-
nina plasmática estão m u d a n d o rapidamente. A l é m disso, as tizada. Conseqüentemente, o clearance de creatinina não é mais
fórmulas são criticamente susceptíveis a variações na especifici- considerado aceitável como uma medida para a G F R e as men-
dade e calibração do teste de creatinina.^ surações de creatinina plasmática não devem ser relatadas isola-
Proteínas de Peso Molecular Baixo. Muitas proteínas c o m peso damente, mas devem ser usadas para gerar estimativas formulá-
molecular abaixo de 30 k D a são, em grande parte, liberadas da veis da GFR. Porém, a susceptibilidade dessas fórmulas para as
circulação pela filtração renal e, relativamente falando, considera- variações de calibração do teste de creatinina devem ser-reconhe-
se que sejam livremente filtradas na barreira de filtração glome- cidas. O sucesso de marcadores alternativos como a cistatina C
rular. Fazem parte dessas proteínas (1) a 2 -microglobulina, (2) dependerá da compreensão do benefício da eficácia de u m diag-
proteína de ligação ao r e t i n o l (RBP), (3) a r m i c r o g l o b u l i n a , (4) nóstico superior e da melhora nos resultados clínicos e económi-
proteína (3-trace e (5) cistatina C . Essas proteínas são filtradas nos cos em relação ao m a i o r custo do teste quando comparado aos
glomérulos, depois reabsorvidas (e metabolizadas) no t ú b u l o pro- métodos de creatinina de Jaffe.
x i m a l o u excretadas na urina, e então completamente eliminadas Dados de referência para G F R usando vários métodos estão
da circulação. Portanto, elas t ê m potencial para obedecer aos listados na Tabela 34-2.
critérios de uso como marcador de GFR. N o entanto, exceto pela
cistatina C, todas as outras proteínas mostraram ter concentra-
ções plasmáticas influenciadas por outros fatores não-renais Permeabilidade Glomerular, Filtração e
como inflamação (aj-microglobulina) e doença hepática (RBP, Excreção de Proteína
a r m i c r o g l o b u l i n a ) . A relação entre as concentrações circulantes A permeabilidade glomerular e as capacidades de filtração do r i m
dessas proteínas mostra a mesma forma curvilínea da creatinina c o n t r o l a m a quantidade de proteína excretada na u r i n a .
656 PARTE V Fisiopatologia

Permeabilidade Glomerular e Filtração Excreção Urinária de Proteína


O g l o m é r u l o atua c o m o u m f i l t r o seletivo do sangue q u e passa O a u m e n t o na excreção u r i n á r i a de proteína (proteinúria) é resul-
p o r seus capilares. A c o m b i n a ç ã o de (1) camada e n d o t e í i a l tado de (1) q u a l q u e r a u m e n t o n o sangue f i l t r a d o , (2) a u m e n t o
fenestrada, (2) m e m b r a n a basal r i c a em proceoglicanas negati- na concentração circulante de proteínas de baixo peso molecular
v a m e n t e carregados, e (3) b a r r e i r a celular e p i t e l i a l t e r m i n a l - o u (3) redução da capacidade de reabsorção. O padrão de excre-
m e n t e d i f e r e n c i a d a e a l t a m e n t e especializada p r o d u z u m f i l t r o ção u r i n á r i a de p r o t e í n a é usado para i d e n t i f i c a - a causa e para
que restringe a passagem de m a c r o m o l é c u l a s d e p e n d e n d o de classificar os três tipos principais de p r o t e i n ú r i a : glomerular, em
(1) t a m a n h o , (2) carga e (3) f o r m a . As células epiteliais (podó- excesso e t u b u l a r . Detalhes desses tipos de p r o t e i n ú r i a são encon-
citos) possuem processos podais q u e são conectados à m e m - trados n o C a p í t u l o 18.
b r a n a basal g l o m e r u l a r e f o T m a m a barreia f i n a l para a f i l t r a ç ã o A excreção u r i n á r i a n o r m a l do t o t a l de proteínas é i n f e r i o r a
p o r i n t e r d i g i t a ç a o c o m células vizinhas dos processos podais 150 m g / 2 4 horas. As proteínas excretadas são, e m grande parte,
conectadas p o r u m d i a f r a g m a estreito. E x e m p l o s das relações compostas p o r a l b u m i n a ( 5 0 % a 6 0 % ) e proteínas menores,
e n t r e t a m a n h o , carga e massa das p r i n c i p a i s proteínas u r i n á r i a s j u n t o a proteínas secretadas pelos túbulos, das quais a tetraidro-
e de seu t r a t a m e n t o g l o m e r u l a r estão listados na Tabela 34-3. gestrinona ( T H G ) é u m a delas. A s concentrações n o r m a i s de
E m geral, as proteínas de pesos moleculares maiores q u e o da proteínas encontradas na u r i n a estão listadas na Tabela 34-3. A
a l b u m i n a (66 k D a , d i â m e t r o 3,5 n m ) são retidas pelo g l o m é r u l o investigação de excreção u r i n á r i a a u m e n t a d a de proteína é obri-
sadio e são d e n o m i n a d a s proteínas de peso m o l e c u l a r alto. gatória e m q u a l q u e r paciente c o m suspeita de i n s u f i c i ê n c i a renal.
Porém, proteínas de baixo peso m o l e c u l a r t a m b é m são retidas A p r o t e i n ú r i a clínica o u manifesta é quase sempre detectada
e m q u a n t i d a d e significativa. usando-se m é t o d o s de f i t a reagente; seu l i m i t e de detecção é de

T A B E L A 3 4 - 2 | Taxp de Filtração Glomerular: Valores de Referência

GFR* (MÉDIA IVAHIAÇÃOI) OU MÉGIA + S D


Estudo Método Idade (Ano) (mL/min/1,73 m*) N

Slack e Wilson Inulira (Infusão contínua) 20-29 47


20 118 (90-146)
25 115 (88-142)
30-39 28
30 112 (86-138)
35 109 (84-134)
40-49 30
40 106 (82-130)
45 104 (80-128)
50-59 26
50 101 (78-124)
55 99 (75-123)
60 96 (73-119) 4
Prescott et al Inulina (infusão contínua) 30 ± 5 100 ± 19 9
26 ±8 88 + 12 10
Prescott et al Inulína (infusão contínua) 27 + 6 104 ± 1 4 27
27 + 3 102 + 20 8
26 ± 8 95+12 10
51
Askergren et al Cr-EDTA (infusão contínua) 20-63 103 + 15 26
20-63 112 + 13 15
Báck et al lo era I (infusão contínua] 20-50 100 (78-122) 23
51-65 83 (58-108) 20
66-80 72 (52-92) 8
Arvidssori e Hedman loexol (infusão contínua) 19-30 116 ± 10 12
em determinações triplicadas 19-30 117 ± 9 12
19-30 110 ± 12 12
Rowe et al Clearance de creatinina 17-24 112 (93-131) 10
(Apenas homens) 25-34 112 (78-146) 73
35-44 106 (74-138) 122
45-54 101 (74-129) 152
55-64 97 (69-122) 94
65-74 89 (61-114) 68
75-84 78 (52-102) 29
Sokoll et al Clearance de creatinina 40-49 94 (65-123) 56
(Apenas mulheres) 50-59 84 (58-110) 79
60-69 80 (50-111) 82
70-79 76 (46-105) 56
80+ 66 (48-85) 6

'Todos Os «lloiH forãm arreAonilaAns para ou pura c número inteiro tnúú próximo
baixe
Função Renal e Doença CAPÍTULO 34 657

200 a 300 m g / L . A p r o t e i n ú r i a acima de 300 m g / d i a geralmente consenso geral que uma amostra de 24 horas é o meio d e f i n i t i v o
é patológica. C o n t u d o , há exceções para isso. ]á f o i observado de demonstrar a presença de proteína. C o n t u d o , t a m b é m são
que a proteinúria ocorre c o m o resultado de febre e exercício usadas coletas de amostras noturnas, do p r i m e i r o esvaziamento
(funcional) o u que está relacionada c o m a postura (ortostática). matinal, do segundo esvaziamento matinal, o u amostras aleató-
Essas mudanças esporádicas causam dificuldades interpretativas rias. Já que a excreção de creatinina na u r i n a é razoavelmente
quando se suspeita de alguma patologia. A posição ereta (em pé) constante durante u m período de 24 horas, a mensuração das
aumenta a excreção de proteína t a n t o e m pessoas normais, q u a n t o razões p r o t e í n a / c r e a t i n i n a (ou a l b u m i n a / c r e a t i n i n a ) permite cor-
naquelas com insuficiência renal. Se a excreção for postural, reção para as variações na concentração urinária. A t u a l m e n t e , a
desaparecendo em repouso e ausente pela manhã, o paciente prática de substituir a razão pToteína/creatinina por excreção
poderá ser bastante tranqüilizado. Nessas situações benignas, o total de proteína de 24 horas medida a partir de uma coleta de
grau de p r o t e i n ú r i a raramente excede 1.000 m g / d i a . Proteinúria 24 horas geralmente é aceita. U m a amostra da p r i m e i r a u r i n a
acima de 1.000 m g / d i a i m plic a p r o t e i n ú r i a glomerular. A protei- m a t i n a l é preferível, já que ela se correlaciona b e m c o m a excre-
n ú r i a glomerular pode ser a b u n d a n t e e u m a p r o t e i n ú r i a asso- ção de proteína de 24 horas e é necessária para excluir o diagnós-
ciada à elevação de proteínas de pesos moleculares alto e baixo tico de p r o t e i n ú r i a ortostática (postural). N o entanto, u m a
poderá ser observada. amostra r a n d ô m i c a de u r i n a é aceitável se não houver amostra
da p r i m e i r a u r i n a matinal disponível. Caso seja necessário, a
Conseqüências da Proteinúria excreção de proteína diária (em m g / 2 4 horas) pode ser aproxima-
É crescente a aceitação de que a p r o t e i n ú r i a não é apenas u m a damente estimada multiplicando-se a razão p r o t e í n a / c r e a t i n i n a
conseqüência da progressão da insuficiência renal, mas que eia {medida em m g / m m o l ) p o r u m fator de 10 já que, embora a
c o n t r i b u i diretamente para isso. O a c ú m u l o de proteínas em excreção diária de creatinina dependa da massa muscular, u m
quantidades anormais n o l ú m e n t u b u l a r pode provocar reação algarismo de 10 m m o l de creatinina por dia pode ser a d m i t i d o .
inflamatória, o que, por sua vez, pode c o n t r i b u i r para lesão U m pr ot oc olo adequado para investigação adicional de pacientes
estrutural intersticial, expansão e progressão da insuficiência c o m p r o t e i n ú r i a na triagem é apresentado na Figura 34-5.
renal. Evidências de estudos in vitro sugerem que a filtração glo-
merular de quantidades ou tipos anormais de proteínas causa Mensuração de Proteína Urinária
lesão às células mesangiais, levando à glomerulosclerose, e que H á m u i t o s métodos usados para a mensuração do total das pro-
essas mesmas proteínas t a m b é m possuem efeitos adversos sobre teínas urinárias. Discussões sobre os vários métodos são encon-
a função celular tubular proximal. V á r i o s estudos demonstraram tradas nos Capítulos 18 e 22.
que a p r o t e i n ú r i a é u m potente marcador de risco para a progres-
são da insuficiência renal t a n t o diabética quanto não-diabética. 2 FISIOPATOLOGIA DA INSUFICIÊNCIA RENAL
A l é m disso, reduzir a excreção de proteína reduz o r i t m o de A despeito das diversas causas iniciais, a insuficiência renal que
progressão da insuficiência renal protemúrica. Isso f o i observado progride para E S R D é u m processo m u i t o m o n ó t o n o caracteri-
em estudos clínicos de pacientes tratados c o m inibidores da zado p o r acúmulo e depósito implacáveis de matriz extracelular,
enzima conversora de angiotensma ( A C E ) e com bloqueadores levando à fibrose generalizada do tecido. A p r o t e i n ú r i a é u m
dos receptores de angiotensina I I (ARBs), quer isoladamente ou determinante na progressão da insuficiência renal, embora os
em combinação. Essas drogas reduzem a excreção de proteína, mecanismos envolvidos em seu potencial papel para causar infla-
d i m i n u i n d o a pressão de filtração intraglomerular e, possivel- mação intersticial e cicatriz permaneçam desconhecidos. Evidên-
mente, estabilizando a atividade c o n t r á t i l das células epiteliais cias colhidas em estudos in vitro sugerem que a filtração de u m a
glomerulares. Conseqüentemente, a redução da p r o t e i n ú r i a é u m quantidade a n o r m a l o u de u m t i p o de proteína pelo glomérulo
alvo terapêutico i m p o r t a n t e . lesado pode causar lesão celular mesangial, levando à glomeru-
losclerose, e que essas mesmas proteínas t a m b é m possuem efeito
Considerações sobre Coleta de Amostras adverso sobre a função t u b u l a r p r o x i m a l . Os néfrons são perdi-
H á u m a extensa discussão na literatura sobre a amostra de urina dos via lesão tóxica, anóxica ou i m u n o l ó g i c a que, inicialmente,
apropriada para o uso investigarivo da excreção de proteína. E de pode prejudicar o glomérulo, o t ú b u l o ou ambos. A lesão glome-

TABELA 34-3 Características das Principais Proteínas Urinárias


Concentração Coeficiente Carga Concentração
Plasmática Livre Diâmetro de Triagem Filtrada Urinária %
Proteína NL (kDa) (a/L) (nm) pl Glomerular* (mg/L)' (mg/L) Reabsorvida

IflG 150 1G 5,5 7,3 0,0001 1 0,1 99


Albumina 66 40 3,5 4,7 0,0002 a 5 09
G^-microglobulina 31 0,025 2,9 4,5 -0,3 7.5 5 99
Proteína de ligação do retinol 22 0.025 2,1 4.5 -0.7 17.5 0,1 99
Cistatina C 12.8 0,01 9,2 -0,7 0.7 0,1 99
^-microglobulina 11.8 0,015 1,6 5„6 0,7 1.1 0,1 99
Proteína total •— 70 — — NA* 700 <150 NA*

M„ Müj5ti moíiciíltw
* O coe/i ciente de triagem glomemlar da molécula que t livremente filtrada é J,0
f
Concentração no filtrado glomerular.
^Nâü aplicável por cfluss da secreção tubular de jn o trinas (p. ex., THG, que forma 50% do total das proteinas urinárias em pessoa saudável)
658 PARTE V Fisiopatologia

Urina
inspecionada

ir

sim
Turva MSU para G&S
Tratar irfacçAo,
sa positivo

ndo
1f
Enviar urina para PCR
Enviar para possível
biópsia

i i

P C R > 30
mg/mmol J>
sim

nâo'
V
EMU
Enviar EMU para PCR PCR > 1 0 0
mg/mmol

programa de
tratamento PCR > 30
de CKD mg/mmol

náo

nao
Continua a rotina
de observação <

Figura 3 4 - 5 Protocolo sugerido para investigação adicional de uma fita reagente com resultado positivo
(traço ou acima) ou de um teste quantitativo de proteína. Os equipamentos para teste com fita reagente mostram
poucos resultados falso-negativos, mas muitos resultados falso-positívos. Portanto, os resultados positivos devem
ser confirmados com teste laboratorial em pelo menos duas ocasiões adicionais. Pacientes com dois ou mais
testes positivos (> 45 mg total p r o t e í n a / m m o l creatinina) em amostras macinais, uma a duas semanas depois,
devem sei diagnosticadas como portadoras de proteinúria persistente. {A possibilidade de proteinúria postural
deve ser excluída pelo exame da EMU.) CÊ?S, cultura e sensibilidade; CKD, doença crônica do rim; EMU,
primeira urina marinai; A/ISL/, urina do meio jato da micção; PCR, razão proteína/creatinina. 'Na ausência de
uma doença sistémica, como diabetes ou hipertensão, uma elevação limítrofe na excreção total de proteína (15 a
44 mg/mmol) sem hematúria ou elevação de creatinina plasmática, uma patologia renal primária grave é
improvável. Em um paciente diabético, graus inferiores de proteinúria podem ser significativos e demandam
investigação e tratamento apropriados (ver seção Triagem Urinária de Albumina e Microalbuminúria'). (O
algoritmo foi cortesia do Dr. R. Burden, Kiottingham City Hospital, Nottingham, Reino Unido.)

r u l a r envolve as células endoteliais, epiteliais o u mesangiais e / o u e m fibrose g l o m e r u l a r e t u b u l a r . A expansão da matriz extracelu-


a m e m b r a n a basal. Estímulos i n f l a m a t ó r i o s são liberados, lar causa i n t e r r u p ç ã o n o f l u x o sanguíneo local, a u m e n t a n d o a
i n c l u i n d o fatores de crescimento e cítoquinas que ativam os isquemia regional, e u m círculo vicioso de i n f l a m a ç ã o , fibrose e
l i n f ó c i t o s e macTófagos residentes e TecTUtam células adicionais m o r t e celular é propagado.
da circulação periférica. Observou-se que essas células ativadas O s Tins possuem u m a habilidade considerável para a u m e n t a r
causam lise celular, ativação e proliferação de fibroblastos inters- sua capacidade f u n c i o n a l em resposta à lesão. P o r t a n t o , u m a
ticiais m e d i a d a p o r células T. A atividade de fibroblastos resulta redução de 5 0 % a 6 0 % na massa renal (%) e m f u n c i o n a m e n t o
em síntese aumentada da matriz extracelular e, eventualmente, p o d e ocorrer antes d o i n í c i o de quaisquer sintomas significantes
Função Renal e Doença CAPÍTULO 3 4 659

o u m e s m o antes de grandes alterações b i o q u í m i c a s aparecerem. M u i t o s testes de significância r e n a l f o r a m adaptados para uso


A m e d i d a mais especifica e sensível da m u d a n ç a f u n c i o n a l é a e m fitas de celulose o u a l m o f a d a de celulose em fitas de plástico
G F R , que já f o i reduzida para menos de 6 0 m L / m i n / 1 , 7 3 m 3 que f o r a m impregnadas c o m reagentes para a substância em
(Tabela 34-4) antes que os sinais e os sintomas da i n s u f i c i ê n c i a questão. Esse t i p o de teste analítico é c o n h e c i d o c o m o teste de
renal fossem observados. Esse a u m e n t o na carga de t r a b a l h o p o r f i t a reagente. U m a f i t a p o d e c o n t e r reagentes para u m teste p o r
n é f r o n parece ser u m a causa i m p o r t a n t e da i n j ú r i a renal progres- fita o u reagentes para m ú l t i p l o s testes em u m a única fita. Por
siva que t e r m i n a em fibrose intersticial. exemplo, atualmente até 10 c o n s t i t u i n t e s são medidos em u m a
única fita. As amostras de u r i n a para o teste c o m fita reagente
devem ser colhidas em frascos estéreis e o teste c o m esta f i t a deve
Diagnóstico e Triagem para Insuficiência ser realizado c o m u r i n a fresca. A s fitas reagentes só devem ser
Renal: Urináiise usadas se f o r e m armazenadas e desumidificadas de f o r m a apro-
O paciente c o m i n s u f i c i ê n c i a r e n a l n o r m a l m e n t e recorre ao priada p o r q u e elas p o d e m deteriorar em questão de horas. A
m é d i c o p o r causa de (1) u m a a n o r m a l i d a d e detectada em u m a urináiise c o m f i t a reagente p e r m i t e a detecção de m ú l t i p l a s anor-
urináiise o u h e m o g r a m a b i o q u í m i c o de r o t i n a , (2) u m s i n t o m a malidades s i m u l t a n e a m e n t e ; c l i n i c a m e n t e , a p r o t e i n ú r i a e a
o u sinal físico o u (3) u m a d o e n ç a sistêmica c o m e n v o l v i m e n t o h e m a t ú r i a são as mais i m p o r t a n t e s dessas anormalidades na sus-
renal c o n h e c i d o , c o m o o diabetes melhtus. O t r a t a m e n t o eficaz d o peita de i n s u f i c i ê n c i a renal.
paciente c o m insuficiência r e n a l depende do estabelecimento de A p r o t e i n ú r i a é u m achado c o m u m e m pacientes c o m insu-
u m diagnóstico d e f i n i t i v o . O t r a t a m e n t o i n i c i a l i n c l u i (1) história ficiência renal e o uso de teste c o m f i t a reagente é u m teste de
clínica detalhada, (2) exame c l í n i c o e (3) avaliação do s e d i m e n t o triagem i m p o r t a n t e em m u i t o s pacientes c o m suspeita de insufi-
urinário. ciência renal. A urináiise anual para detectar p r o t e i n ú r i a é aceita
O exame de u r i n a é quase sempre o p r i m e i r o passo na ava- c o m o u m m e i o ú t i l de i d e n t i f i c a r pacientes c o m risco de insufi-
liação de u m paciente c o m suspeita ou c o n f i r m a ç ã o de deterio- ciência renal progressiva. O teste c o m f i t a reagente para protei-
ração na f u n ç ã o renal. N o l a b o r a t ó r i o , a u r i n a é examinada visual, n ú r i a não é adequado para a detecção de doença crônica do r i m
q u í m i c a e m i c r o s c o p i c a m e n t e . A aparência (cor e o d o r ) da u r i n a ( C K D ) entre pacientes c o m diabetes, q u e devem ser testados
é quase sempre ú t i l c o m u m escurecimento da cor p á l i d a (palha) a n u a l m e n t e para m i c r o a l b u m i n ú r i a . O teste c o m fita reagente
n o r m a l , o que i n d i c a u m a u r i n a mais concentrada o u a presença para a proteína t o t a l i n c l u i u m a a l m o f a d a de celulose i m p r e g n a d a
de o u t r o p i g m e n t o . H e m o g l o b i n a e m i o g l o b i n a dão u m a colora- c o m t e t r a b r o m o f e n o l azul e u m tampão de citrato p H 3. A reação
ção que varia entre rosa, v e r m e l h o e m a r r o m , d e p e n d e n d o da é baseada n o f e n ô m e n o "erro p r o t e í n i c o dos i n d i c a d o r e s " , n o
concentração. Tur v aç ão em u m a amostra fresca de u r i n a p o d e qual certos indicadores q u í m i c o s d e m o n s t r a m u m a cor na pre-
i n d i c a r infecção, mas t a m b é m p o d e ser causada p o r partículas sença de proteína e o u t r a na sua ausência. A s s i m , o t e t r a b r o m o -
adiposas e m pacientes c o m s í n d r o m e nefrótica. O excesso de f e n o l azul se t o r n a verde na presença de proteína em p H 3, e
espuma q u a n d o se agita a u r i n a sugere p r o t e i n ú r i a . A u r i n a é amarelo na sua ausência. A cor é v e r m e l h a depois de exatamente
quase sempre avaliada q u i m i c a m e n t e c o m o auxílio de testes c o m 6 0 segundos e o teste t e m u m l i m i t e de detecção mais baixo de
fitas reagentes, q u e estão disponíveis para u m a variedade de 150 a 3 0 0 m g / L , d e p e n d e n d o do t i p o e da q u a n t i d a d e de prote-
substâncias, o u q u a n d o e x a m i n a d a p o r microscópio. ínas presentes. O reagente é mais sensível à a l b u m i n a e menos

TABELA 3 4 - 4 Estág los de Insuficiência Ttenal Crônica: Conseqüências Metabólicas e Tratamento


GFR
Estágio Descrição (mL/min/1,73 m2) Conseqüências Metabólicas Tratamento

1 Lesão renal com GFR > 90 Diagnóstico e tratamento; tratamento


normal ou aumentada das condições co-mórbidas
Diminuir progressão
Redução do risco de CVD
2 GFR levemente diminuída 60-89 Concentração de hormônio paratireóide Estimar progressão
começa a subir (GFR 60-80)
3 GFR moderadamente 30-59 Redução na absorção de cálcio Avaliar e tratar as complicações
diminuída (GFR < 50); atividade lipoprotéica
diminui
Subnutrição
irÍGio de hipertrofia ventricular
esquerda
Inicio de anemia (deficiência eritropoietina)
4 GFR gravemente reduzida 15-29 Concentrações de triglicerídeos começam Preparação para RRT, quando
a subir apropriado
Hiperfosfatemia
Acidose metabólica
Tendência à hipercalemia
5 Insuficiência renal < 15 Ure mi a/azotem ia RRT, se apropriado

Modificado àe. National ^onnàaticm D o w n e n t Clinicai ptactíce gwdeiin&s for ckrunic dúecse: £-valuationt cltissificdXit37i, and jtrati/ícíitiori. KídiÍJisease Ontajme
Quality InitwXive. Am} Kidney Dis 2002,39:31-246.
=
660 PARTE V isiopatalogia

sensível às globulinas, proteína de Bence Jones, mucoproteínas e Estados U n i d o s , pela National Kidne^ Foundation-fCidne^ Disease
hemoglobina. Outcomes Quahty Initiative ( N K F K D O Q I ™ ) , t e n t a m avaliar, clas-
A presença de hemoglobina na u r i n a pode ser causa de sificar e estratificar a doença crônica do r i m ( C K D ) (Tabela 34-
doença (1) glomerular, (2) t u b u Io intersticial o u (3) pós-renal, 4).B O termo "renal" f o i amplamente substituído por " r i m "
embora as duas últimas causas sejam as mais comuns. A presença quando se refere à doença crônica por ser mais facilmente enten-
de sangue na urina é detectada c o m o uso de u m microscópio d i d o pelos pacientes e não-especialistas. A l é m disso, embora
de contraste de fase para determinar a presença de hemácias no "insuficiência renal aguda" permaneça como nomenclatura
sedimento da u r i n a o u c o m o uso de teste de f i t a reagente. A padrão, u m a literatura recente doa Estados U n i d o s classifica o
detecção química de hemoglobina na UTina depende da atividade t e i m o como "lesão aguda do r i m " (AK1).
da proteína peroxidase, empregando u m substrato da peroxidase A A R F é diagnosticada q u a n d o a função excretora dos rins
e u m aceitador de oxigênio. Para esse teste a almofada reagente declina em questão de horas o u dias. A A R F é uma condição
é impregnada com tetrametilbenzidina ( T M B ) tamponada e u m c o m u m que complica 5 % das admissões hospitalares. A incidên-
peróxido orgânica. O m é t o d o depende da detecção da atividade cia de A R F aumenta c o m a idade e co-morbidade. U m dos pro-
da peroxidase da hemoglobina, que catalisa a reação do hidrope- blemas na identificação da verdadeira incidência e do resultado
r ó x i d o de cumeno e da T M B . A mudança de cor varia de laranja da A R F é o espectro de definições em estudos publicados que
para verde-claro a escuro, e as células vermelhas ou hemoglobina varia de grave (requer diálise) a aumentos modestos nas concen-
livre são detectadas j u n t o com a mioglobina. Mais uma vez, a cor trações de creatinina no plasma U m estudo prospectivo do tra-
da almofada reagente deve ser comparada com uma tabela de tamento hospitalar inicial da A R F c o n f i r m o u que em quase 4 0 %
cores após exatamente 60 segundos. Duas almofadas reagentes dos casos a A R F era iatrogênica ou evitável. A R F intrínseca é
são empregadas para a concentração baixa de hemoglobina. Se originalmente causada por distúrbios (1) vasculares, (2) glomeru-
células vermelhas estiverem presentes, a almofada de concentra- lares ou (3) intersticiais. C o n t u d o , na maioria dos casos a lesão
ção baixa terá uma aparência manchada, c o m uma cor sólida n o r i m vista na histologia é referida como necrose tubular aguda
i n d i c a n d o células vermelhas hemolisadas. O teste é igualmente ( A T N ) . A A T N é causada por lesão isquêmica o u nefrotóxica ao
sensível à h e m o g l o b i n a e mioglobina. A presença de hemoglo- r i m . E m 5 0 % dos casos de A R F que requerem hospitalização, a
b i n a livre ou de cé lul as vermelhas na u r i n a indica a presença de causa é multifatorial. A A R F desenvolve-se rapidamente e, por-
insuficiência renal o u da bexiga. A hematúria está quase sempre tanto, suas seqüelas são, principalmente, uma conseqüência da
presente em várias doenças dos rins, i n c l u i n d o (1) nefrite glome- rapidez nos desequilíbrios de eletrólito, ácido-base e f l u i d o que
rular, (2) doença renal policística, (3) doença de célula falciforme, são quase sempre difíceis de controlar. O tratamento clínico da
(4) vasculite e (5) várias infecções. U m espectro de doenças uro- A R F deve considerar se o precipitante é pré-, intra- o u pós-renal.
lógicas também pode suscitar hematúria, i n c l u i n d o t u m o r na As causas mais comuns estão listadas na Tabela 34-5. E m b o r a a
bexiga, na próstata, pélvico o u uretral, pedras nos rins, trauma, patogênese seja inceTta, há u m padrão clínico b e m reconhecido,
lesão na bexiga e estenose ureteral. com anúria ou oligúria e anormalidades indicando disfunção
O exame microscópico do sedimento o b t i d o da centrifugação tubular (Figura 34-6). Se o paciente sobreviver, a recuperação
de u m a amostra de u r i n a fresca revelará a presença de algumas geralmente ocorrerá dentro de dias o u semanas após a remoção
células (eritrócitos, leucócitos e células derivadas do r i m e do do evento iniciador. A A R F não-cotriplicada tem uma taxa de
trato urinário), de cilindros (compostos predominantemente de mortalidade de 5 % a 10%, embora a A R F que complica a insu-
T H G ) e, possivelmente, de partículas pigmentadas o u de gordura. ficiência do sistema de u m órgão não-renal em cenário de U T I
U m aumento de hemácias o u de cilindros sugere hematúria, esteja associada a taxas de m o r t a l i d a d e que se aproximam de 5 0 %
possivelmente causada por doença glomerular. Leucócitos ou a 70%, apesar dos avanços n o tratamento c o m diálise. As pistas
cilindros sugerem a presença de leucócitos nos túbulos. Inflama- bioquímicas para o desenvolvimento da A R F i n c l u e m (1) aumento
ção do trato u r i n á r i o superior pode resultar em presença de rápido nas concentrações de creatinina e uréia e (2) desarranjos
polimorfonucleares e em vários tipos de cilindros; na inflamação metabólicos graves e de risco para a vida, particularmente hiper-
do trato u r i n á r i o inferior os cilindros não estarão presentes. Na calemia e acidose metabólica. T r a t a m e n t o de emergência é neces-
glomerulonefrite aguda, a hematúria pode levar à coloração da sário na tentativa de corrigir esses desarranjos e pode i n c l u i r
u r i n a e à presença de grande quantidade de hemácias e brancas; diálise. D u r a n t e a fase de recuperação, o papel do laboratório
à medida que a duração da doença aumenta, a quantidade de clínico na avaliação e monitoração da A R F é crucial para a análise
sedimento d i m i n u i . de distúrbio no eletrólito e no estado do f l u i d o . D u r a n t e o
Mensurações bioquímicas, especialmente da concentração de período de recuperação há u m a fase poliúrica inicial enquanto a
creatinina plasmática (Capítulo 21) e da G F R estimada, possuem função glomerular se recupera, antes que a função tubular se
u m papel i m p o r t a n t e na descoberta de ocorrência de lesão ao recupere. Novamente, problemas metabólicos graves p o d e m per-
r i m e na monitoração do progresso e do tratamento. Imagens sistir, causando lesão tubular, c o m o perda de potássio c de fosfato,
não-invasivas c o m o uso de ultra-sonografia são fundamentais além de acidose em progresso. Essa fase poliúrica retrocede após
para identificar o t a m a n h o e a forma dos rins e qualquer evidên- alguns dias ou semanas, mas requer m o n i t o r a m e n t o cuidadoso
cia de obstrução. N o entanto, biópsia percutânea do r i m em geral para possibilitar reposição adequada de f l u i d o e eletrólito.
é feita paia c o n f i r m a r o diagnóstico, orientar o tratamento e
obter informação sobre o prognóstico.
DOENÇAS RENAIS
Classificação da Insuficiência Renal: Aguda As doenças renais discutidas nesta seção i n c l u e m (1) síndrome
versus Crônica urêmica, (2) doença crónica do r i m ( C K D ) , (3) E S R D , (4) nefro-
A terminologia associada às doenças renais f o i revisada. A n t e r i o r - patia diabética, (5) nefropatia hipertensiva, (6) doenças glomeru-
mente, a insuficiência renal era dividida em insuficiência renal lares, (7) nefrite intersticial, (8) nefropatia tóxica, (9) uropatia
aguda ( A R F ) o u insuficiência renal crônica ( C R F ) . Esses t e r m o s obstrutiva, (10) doenças tubulares, (11) cálculo renal e (12) cisti-
i n d i c a m o r i t m o no qual essas lesões ocorrem em vez de o meca- núria. A l é m disso, esta seção t a m b é m i n c l u i discussões sobre (13)
nismo pelo qual eles ocorrem. As diretrizes desenvolvidas nos prostaglandinas e drogas antiinflamacórias não-esteróides
Função Renal e Doença CAPÍTULO 34 661

( N S A I D s ) na doença renal, (14) cadeias leves m o n o c l o n a i s e insuficiência dos rins para m a n t e r adequadas as funções excre-
doença r e n a l e (15) os mo l al i dade u r i n á r i a . tora, reguladora e e n d ó c r i n a . Essa s í n d r o m e é considerada a
manifestação clinica l e r m i n a l da insuficiência renal. Sabe-se que
Síndrome Urêmica pelo menos 90 compostos são retidos na u r e m i a (Tabela 34-6).
A síndrome urêmica é o g r u p o de sintomas, sinais físicos, e de M u i t o s outros solúveis ainda n ã o identificados possivelmente
achados a n o r m a i s e m estudos de diagnósticos que resultam da estão retidos e p o d e m exercer toxicidade.
Os sinais clássicos de u r e m i a (azotemia) i n c l u e m (1) fraqueza
progressiva e fadiga leve, (2) perda de apetite seguida p o r (3)
T A B E L A 3 4 - 5 | Causas da Insuficiência R e n a l A g u d a náusea e v ô m i t o , (4) perda muscular, (5) tremores, (6) f u n ç ã o
m e n t a l a n o r m a l , (7) respirações freqüentes, mas p o u c o p r o f u n -
Causa Agentes
das e (8) acidose metabólica. A s í n d r o m e u r ê m i c a evolui para
PRÉ-RENAL p r o d u z i r estupor, coma e, p o r f i m , m o r t e , a não ser que haja
Hipovolemia Trauma, queimaduras, cirurgia apoio c o m diálise o u transplante de r i m bem-sucedido. A com-
Volume plasmático efetivo Síndrome nefrótica, sepse, clnoque posição do plasma é a n o r m a l m e n t e instável e m resposta a fatores
diminuído c o m o (1) dieta, (2) estado de hidratação, (3) sangramento gas-
Produção cardíaca diminuída Insuficiência cardíaca congestiva, t r o i n t e s t i n a l , (4) v ô m i t o , (5) diarréia e (6) ingestão de drogas
embolismo pulmonar terapêuticas. E m relação aos estágios da doença renal d e f i n i d o s
Obstrução renovascular Aterosclerose, esíenose pela N K F K D O Q I 1 M , a insuficiência renal está presente e m u m a
Interferência com auto-regulação Inibidores daACE, ciclosporina G F R i n f e r i o r o u igual a 15 m L / m i n / m 2 (Estágio 5). Nessa G F R
renal
geralmente há sinais e sintomas de uremia, o u necessidade de
terapia de reposição renal (R R T).
RENAL
Os achados laboratoriais mais característicos são concentra-
Doença glomerular e dos pequenos Glomerulonefrite agressiva
ções aumentadas de compostos nitrogenados n o plasma, c o m o
vasos (p. ex., pré-eclâmpsia
n i t r o g ê n i o uréico e creatinina, resultantes de G E R reduzida e
pós-estreptccócica)
f u n ç ã o t u b u l a r d i m i n u í d a . A retenção desses compostos e ácidos
Nefrite intersticial Infecção, infiltração, drogas/toxinas
Lesões tubulares Pos-isquêmicas, nefrotexinas, metabólicos é seguida p o r progressiva (1) hiperfosfatemia, (2)
rabdomiólise, proteína de Bence hipocalcemia e p o r (3) h i p e r c a l e m i a p o t e n c i a l m e n t e perigosa.
Jones, tiipercalcemia E m b o r a a m a i o r i a dos pacientes eventualmente exiba acidemia,
a compensação respiratória p o r eliminação de d i ó x i d o de carbono
PÓS-RENAL é extremamente i m p o r t a n t e . A l é m disso, f u n ç ã o e n d ó c r i n a redu-
Obstrução do fluxo da bexiga Prostatísmo, bexiga neurogêníca zida é manifestada p o r síntese inadequada de E P O e calcitriol,
Obstrução uretérica Pedras, coágulos sanguíneos, c o m anemia e osteomalácia resultantes. A regulação desordenada
tumores radioterapia, fibrose da pressão sanguínea geralmente leva à hipertensão. A s caracte-
retroperitoneal

Fisiopatologia da Insuficiência Renal A g u d a Isquêmica

MICROVASCULAR I _ TUBULAR

Glomerular Medular

Vasoconstrição em resposta a:
endolelina, adenosína, angiotensina II, iromboxana
A2, leucotrienos, atividade do nervo simpático Catabolismo do citoesqueleto

Perda de polaridade

Apoptose e necrose
Mediadores
inflamatórios e Descamaçãc de células viáveis e
vasoativos necróticas
Vasodilatação em resposta a:
óxido níirico, PGE2, acetilcolina, bradiquinina
Obstrução tubular
Backleak (perda de líquidos através
da membrana tubular)
Dano estrutural das células do músculo liso
vascular e endotelial

Adesão leucócito-endotelial, obstrução vascular,


ativação de leucócito e inflamação

Figura 3 4 - 6 Patog ênese da insuficiência renal aguda isquêmica. Insultos hipoxicos causam respostas
vasculares e lesão tubular. (De Bonventre JV, "Weinberg JM. Recent advances in the pathophysíology of ischemic
acute renal failure. J Am Soe Nephrol 2003;14:2199-210.)
662 PARTE V Fisiopatologia

TABELA 34-6 Toxinas Urêmicas em Potencial


QUADRO 34-1 Características Bioquímicas da Síndrome
Urêmica
Toxina Efeito

Uréia Em concentrações muito altas (> 300 mg/dL) METABÓLITOS NITROGENADOS RETIDOS
pode causar dor de cabeça, vômito, fadiga e Uréia

carbamilação de proteínas Cianato


Creatinina Possivelmente afeta a tolerância à glicose e a Creatinina

sobrevida do eritrócito Compostas guanidínicas

Ácido úrico Causa pericardite urêmica "Moléculas médias"


Cianato Causa sonolência, hiperglicemia; um produto Ácido úrico

de decomposição da uréia, isso pode causar


carbamilação de proteínas, alterando a DISTÚRBIOS DE FLUIDO, DE ÁCIDO-BASE E DE ELETRÓLITO
função da proteína Osmoiai idade urinária fixada
Polióis (p. ex., mioinositol) Podem causar neuropatia periférica Acidose metabólica (redução do pH sanguíneo, bicarbonato)
Fenóis Hiponatremia ou hipernatremia
Podem ser altamente tóxicos porque são
solúveis em lipídio e, portanto, podem Hipocalemia ou hipercalemia

atravessar as membranas celulares com Hipercloremia

facilidade Hipocalcemia
Moléculas intermediárias Pacientes em CAPD mostram menos sinais de Híperfosfatemia
(p. ex., peptídio Hiparmagnesemia
neuropatia que pacientes em hemodiálise
natriurético atrial, (muitas moléculas candidatas, mas nenhuma
cistina C, proteína preeminente) INTOLERÂNCIA AO CARBOIDRATO
indutora de sono delta, Resistência à insulina (hipoglicemia também pode ocorrer)
IL-6, TNF-a, PTH) Insulina plasmática normal ou aumentada
fo-microglobulina Agente causador em amilóide renal Resposta atrasada ao carregamento de carboidrato
Hiperglucagonemia
DPAC, diálise ambulatnrial j>eráonea! continua; IL-6, mterkucina ó; TNF-a; fator
de necrose tttmmai a!/a; FTH, komônio da paratireóide.
METABOLISMO LIPÍDICO ANORMAL
Hipertrigliceridemia
Redução do HDL-coiesterol
Hiperlipoproteínemia

rísticas bioquímicas cia s í n d r o m e u r ê m i c a es cão resumidas n o FUNÇÃO ENDÓCRINA ALTERADA


Q u a d r o 34-1. Hiperparatireoidismo secundário
A l é m das conseqüências na redução das funções excretora, Osteomalácia (secundária ao metabolismo anormal de vitamina D)
reguladora e e n d ó c r i n a dos rins, a s í n d r o m e urêmica possui Hiper-reninemia e hiperaldosteronismo
várias manifestações sistêmicas — dent re as quais (1) pericardite, Hiporreninemia

(2) pleurite, (3) f u n ç ã o desordenada de plaquetas e granulócitos Hipoaldosteronismo


e (4) encefalopatia. Produção de eritropoietina diminuída
Metabolismo de tiroxina alterado
M u i t o s metabólitos retidos t ê m implicação na toxicidade sis-
Disfunção gonadal (aumento de prolactina e hormônio luteinízante, testosterona
têmica da s i n d r o m e urêmica. E m b o r a a uréia t e n h a sido o pri-
diminuída)
m e i r o desses metabólitos a ser i d e n t i f i c a d o c o m o substância q u e
a u m e n t a na u r e m i a , ela não parece ser responsável pelas mani-
festações sistêmicas da uremia. A uréia é u m composto de 60 D a
solúvel e m água ( C a p í t u l o 21) que possui a mais alta concentra-
ção já conhecida de solutos de retenção urêmica n o plasma c o m o "anormalidades patológicas o u marcadores de lesões,
u r ê m i c o . E m b o r a sua remoção p o r diálise esteja d i r e t a m e n t e i n c l u i n d o anormalidades e m testes sanguíneos o u u r i n á r i o s o u
associada à sobrevida d o paciente, os efeitos da uréia sobre os e m estudos de imagens".
sistemas biológicos não estão claros. A remoção de uréia p o r A s diretrizes da N K F K D O Q I ™ estratificam C K D desde o
diálise não é necessariamente representativa de outras moléculas estágio 1, n o f i n a l b r a n d o d o espectro, até o estágio 5, falência
retidas na s í n d r o m e urêmica, especialmente os solúveis de ligação renal ou G F R i n f e r i o r a 15 m L / m i n / m " , E m b o r a os valores de
proteica o u moléculas intermediárias, c o m o o h o r m ô n i o da para- i n t e r r u p ç ã o entre os estágios sejam arbitrários, o processo pode
tireóide e a cistatina C . levar em c o n t a a consistência nos relatos de prevalência para
estudos epidemiológicos e t a m b é m os cronogramas de tratamen-
Doença Crônica do Rim tos voltados para d e t e r m i n a d o s pacientes (Tabela 34-4). As prin-
O s estudos estabelecidos para i d e n t i f i c a r a incidência, as causas cipais causas de C K D q u e levaram à falência renal entre 1990 e
e as complicações da C K D tiveram c o m o f o c o a doença avançada 2000, nos Estados U n i d o s , estão indicadas na Figura 34-7.
e a insuficiência renal. O s dados o b t i d o s de pesquisas epidemio-
lógicas estão c o m p r o m e t i d o s p o r falta de marcadores substitutos Tratamento da CKD
consistentes da função renal para identificar doença estabelecida. A taxa de progressão da C K D depende t a n t o de fatores não-modi-
Por exemplo, creatinina plasmática, clearance de creatinina calcu- ficáveis c o m o (1) idade, (2) sexo, (3) raça, (4) nível da f u n ç ã o renal
lado e clearance de c r e a t i n i n a m e n s u r a d o f o r a m usados de diver- ao diagnóstico, q u a n t o de características modificáveis, i n c l u i n d o
sas formas. A N K F K D O Q 1 ™ p u b l i c o u u m a definição de C K D (1) p r o t e i n ú r i a , (2) pressão sanguínea e (3) tabagismo.
na tentativa de i d e n t i f i c a r seus estágios precoces. 8 C K D é defi- Baixar a pressão sanguínea e reduzir a p r o t e i n ú r i a m o s t r o u
nida, p o r t a n t o , c o m o "lesão ao r i m o u G F R i n f e r i o r a 6 0 m L / d i m i n u i r a progressão da C K D . O estudo M D R D c o m p a r o u as
m i n / 1 , 7 3 m 2 p o r n o m í n i m o 3 meses". Lesão ao r i m é d e f i n i d a taxas de d e c l í n i o n a G F R e m pacientes c o m várias causas de
Função Renal e Doença CAPÍTULO 34

C K D designados para u m a m e t a de pressão sanguínea " n o r m a l " e m mulheres. Já está claramente estabelecido que a anemia é
o u "baixa". Os dados d o resultado sugerem que a meta de pressão inevitável à m e d i d a que a C K D p r o g r i d e . Existem terapias dispo-
sanguínea baixa teve efeito benéfico nos pacientes c o m altos níveis para corrigir a a n e m i a e, p o r t a n t o , é imprescindível avaliar
níveis de p r o t e i n ú r i a . o paciente c o m C K D para anemia. A N K F K D O Q I ™ recomenda
A ingesta de proteína foi espontaneamente restrita a aproxima- que u m a G F R i n f e r i o r a 60 m L / m i n / 1 , 7 3 m" deve ser o valor
damente 0,6 a 0,8 g / k g / d i a pelos pacientes urêmicos que não para d e t e r m i n a r a presença o u ausência de anemia. A detecção
receberam prescrição de dieta. Para evitar a subalimentação, os é i m p o r t a n t e , pois o t r a t a m e n t o p o d e aliviar m u i t o s dos sintomas
pacientes receberam orientação dietética profissional c o m dietas da C K D e até reduzir o risco de L V H . A causa da a n e m i a na
c o n t e n d o u m a proporção aumentada de proteína de p r i m e i r a C K D é considerada m u l t i f a t o r i a l . O fator p r e d o m i n a n t e , entre-
classe e conteúdo calórico a u m e n t a d o em até 35 k c a l / k g / d i a . t a n t o , é a perda de fibroblastos peritubulares n o córtex Tenal que
M e d i d a s de saúde e m geral, i n c l u i n d o parar de fumar, f o r a m sintetiza a E P O . A não-produção de E P O leva a números reduzi-
incentivadas. As complicações da C K D que se desenvolveram antes dos de células e de concentrações c o n c o m i t a n t e s de hemoglo-
da R R T são numerosas e i n c l u e m doença cardiovascular, doença bina. Outras causas de a n e m i a i n c l u e m (1) deficiência absoluta
óssea e anemia. M i c r o a l b u m i n ú r i a e p r o t e i n ú r i a mostraram estar o u f u n c i o n a l de ferro, (2) deficiências de acido f ó l i c o e v i t a m i n a
associadas ao risco a u m e n t a d o de doença cardiovascular, mortali- B12 e (3) i n f l a m a ç ã o crônica. A sobrevida das hemácias t a m b é m
dade cardiovascular e m o r t a l i d a d e por todas as causas. pode ser reduzida. O t r a t a m e n t o c o m agentes estimulantes de
eritropoiese r e c o m b i n a n t e é r e c o m e n d a d o para corrigir a anemia.
Complicações Cardiovasculares da CKD O gene para E P O h u m a n a foi c l o n a d o e m 1985 e as formas
A incidência de doença cardiovascular é 7 a 10 vezes m a i o r e m recombinantes da E P O h u m a n a ( E P O h u m a n a r e c o m b i n a n t e
pacientes c o m C K D da mesma idade e sexo do que nos não- [ d i E P O ] , epoetina n u agentes estimulantes de e r i t r o p o i e t i n a )
C K D . Q u a n d o os pacientes desenvolvem a necessidade de R R T , f o r a m introduzidas na prática clínica pouco t e m p o depois. O
bá u m risca a p r o x i m a d a m e n t e 17 vezes m a i o r de m o r t e cardio- efeito colateral mais c o m u m é a hipertensão e, p o r t a n t o , a pressão
vascular ou de i n f a r t o do m i o c á r d i o não-fatal do que em i n d i v í ' sanguínea deve ser b e m c o n t r o l a d a antes da i n t r o d u ç ã o d o trata-
duos da mesma idade e sexo sem doença renal. O espectro da m e n t o . A m a i o r i a dos pacientes responde ao t r a t a m e n t o e a
doença cardiovascular estudado na C K D i n c l u i (1) angina, (2) não-resposta deve ser a m p l a m e n t e investigada para muitas causas
insuficiência cardíaca congestiva, (3) i n f a r t o do m i o c á r d i o , (4) em p o t e n c i a l ( Q u a d r o 34-2).
doença vascular periférica, (5) acidente vascular cerebral e (6)
ataque isquêmico transiente. A doença cardíaca estrutural, c o m o Avaliação do Ferro
h i p e r t r o f i a v e n t r i c u l a r esquerda ( L V H ) e doença cardíaca valvu- O t r a t a m e n t o da a n e m i a na C K D requer reservas adequadas de
lar, é m u i t o c o m u m . A t é 7 5 % dos pacientes que i n i c i a m diálise ferro. Por exemplo, em pacientes c o m C K D , u m a f e r r i t i n a plas-
possuem evidência ecocardiográfica de L V H . Os fatores de risco mática i n f e r i o r a 100 p g / L sugere deficiência dc ferro, e u m a
para doença cardiovascular na C K D são u m a m i s t u r a de fatores f e r r i t i n a plasmática de 200 p g / L e m associação a u m a saturação
tradicionais e específicos da C K D (Tabela 34-7). de transferrina ( T S A T ) i n f e r i o r a 2 0 % representa deficiência
" f u n c i o n a l " de ferro. Ferro paTenteral é o t r a t a m e n t o de escolha
Anemia para deficiências dc ferro absoluta e f u n c i o n a l , pois o ferro oral
A Organização M u n d i a l de Saúde d e f i n e a n e m i a c o m o a h e m o - t e m baixa eficiência na C K D .
g l o b i n a a menos de 13 g / d L e m h o m e n s e menos de 12 g / d L

350

Todas
300 T A B E L A 3 4 - 7 | Patores de Risco Tradicionais c Relacionados
c o m a C K D para D o e n ç a Cardiovascular
| 250 na C K D
É
Fatores de Risco
200 Fatores de Risco
• Tradicionais
•8. Diabetes para Doença Relacionados com a CKD
m
3
Q. 150 Cardiovascular para Doença Cardiovascular
OCL
Idade avançada Sobrecarga de fluido extracelular
a ioo Hiper+cnsft»
Sexo masculino Hipertrofia ventricular esquerda
ca
Raça branca Proteinúria
•" 50 G bmerulonoírtlc
Hipertensão Anemia
Colesterol LDL elevado Metabolismo cáicio-fósforo
0 ancrmal
1992 1994 1996 1998 200C Colesterol HDL diminuído Dislipidemia
Síndrome MIA
F i g u r a 3 4 - 7 Tendências em taxas de incidência da doença renal Diabetes mellitus Infecção
terminal (ESRD) por diagnóstico primário. Diabetes é a causa principal Tabagismo Fatores tromhogênicos
de ESRD em 42% a 47% dos pacientes em diálise nos Estados Unidos. Sedentarismo Estresse oxidativo
A incidência geral de ESRD aumentou em 5 0 % entre 1991 e 2000. (Do Menopausa Homocisteína elevada
United States Renal Data System [USRDS], Excertos do relatório de História familiar Toxinas urêmicas
dados anuais do USRDS; adas of ESRD in the United States. Am J
L D L , lipoprareíM de baixa densidade; H D L , Upa proteína de alia densidade; CKD
Kidney Dis 2003;41 (suppl 2):50, com permissão da National Kidney doença crônica dc rim; M I A , subalimentação, inflamação e aterosderose.
Foundation.)
664 PARTE V Fisiopatologia

Q U A D R O 3 4 - 2 | Causas de Nãa-resposta à Epoetina secundárias do diahetes, podem ser considerados para o trans-
plante simultâneo de pâncreas e r i m (SPR) (veja o Capítulo 22
Nível de ferro para discussão minuciosa sobre diabetes mellitus).
Perda oculta de sangue
Deficiência de vitamina B12 ou de lolato Nefropatia Hipertensiva
Infecção e inflamação A hipertensão perde apenas para o diabetes como diagnóstico
Diálise inadequada
primário da ESRD em pacientes que iniciam diálise nos Estados
Hiperparatireoidismo
Unidos. De 1990 a 2000 houve u m aumento de 3 2 % em hiper-
Toxicidade por alumínio
tensão como causa primária da ESRD. A incidência é mais alta
Adesão do paciente
em pessoas idosas e especialmente entre a população negra nos
Hipotireoidismo
Estados Unidos. A hipertensão quase sempre se desenvolve como
Atividade primária da doença
consequência da C K D por causa das alterações no metabolismo
Rejeição ao transplante
de sal e água e da ativação dos sistemas nervoso simpático e
Malignidade
Aplasia pura de hemácia
renina-angiotensina. A hipertensão é conhecida pOT agir como
uma força aceleradora no desenvolvimento da ESRD. C o m o
descrito anteriormente, o tratamento da hipertensão para valores-
alvo predefinidos de pressão sanguínea é essencial para prevenir
Disiipidemia na CKD a progressão para ESRD.
Várias dislipidemias estão associadas à C K D . O padrão da disli-
pidemia na C K D difere do padrão visto em não-CKD. Ele é Doenças Glomerulares
caracterizado por u m acúmulo de (1) partículas ricas em rriglice- Clinicamente, há várias síndromes distintas resultantes de lesão
rídeos parcialmente metabolizadas [predominantemente lipopm- glomerular. Entre as mais importantes estão (1) nefropatia por
teína de densidade m u i t o baixa ( V L D L ) e (2) vestígios de lipo- i m u n o g l o b u l i n a A (IgA), (2) g l o m é r u l o n e f r i t e rapidamente pro-
proteína de densidade intermediária (IDL)], principalmente gressiva (RPGN), (3) nefrite aguda, (4) glomerulopatias crônicas
devido à função anormal da lípase. Isso resulta em hipertríglice- e (5) síndrome nefrótica. As doenças sistêmicas que também
r i d emia e reduz as concentrações de lipoproteína de alta densi- afetam a fnnção glomerular incluem (1) lúpus eritematoso sistê-
dade ( H D L ) . Embora a concentração de colesterol total possa mico (SLE), (2) poliangiíte microscópica, (3) crioglobulinemia,
estar normal, quase sempre há u m perfil de subfração lipídica (4) infecções viiais, como as associadas às hepatites B e C e ao
altamente anormal com predominância de partículas densas, vírus da imunodeficiência humana ( H I V ) e (6) malignidade.
pequenas e aterogênicas de lipoproteína de baixa densidade A doença glomerular primária se apresenta, clinicamente,
(LDL). As concentrações de lipoproteína também estão aumen- c o m (1) anormalidades da urina, i n c l u i n d o proteinúria e hema-
tadas na C K D . túria, (2) hipertensão, (3) edema e, com freqüência, (4) função
excretora renal reduzida. Urináiise deve ser prescrita para pacien-
tes que apresentam hipertensão o u insuficiência renal o u sus-
Distúrbios no Metabolismo de Cáicio e Fósforo em
peita de doença renal. Cilindros urinários são identificados pOT
CKD
microscópio, e cilindros hemáticos são indicativos de sangra-
A C K D está associada a distúrbios complexos no metabolismo
mento glomerular e patologia glomerular. Os testes laboratoriais
de cálcio e fósforo. Embora esses distúrbios sejam comumente
realizados para investigar doença glomerular e distúrbios sistêmi-
chamados de osteodistrofia renal, houve uma importante mudança
cos incluem (1) medir a excreção de proteína urinária, (2) medir
n o que diz respeito à supervisão de cálcio, fosfato e h o r m ô n i o da
a concentração de creatinina plasmática, (3) estimar a GFR, (4)
paratireóide (PTH) em pacientes que estão recebendo diálise e
realizar testes de função hepática, (5) medir a concentração de
naqueles com C K D moderada a avançada (Capítulo 38 para mais
glicose, (6) exame de urina para proteína de Bence Jones e, se
detalhes). A l é m disso, diretrizes para o metabolismo ósseo e para
houver suspeita de mieloma, (7) realizar eletroforese de proteína
doença em C K D foram publicadas ( h t t p : / / w w w . k i d n e y . o r g / p r o -
sérica Teste sorológico para detectar presença de auto-anticorpos
fessional/kdoqi/guidelines_ b o n e / i n d e x . h t m ) .
para (1) antígenos antinucleares (ANAs), (2) D N A de filamento
duplo (ds-DNA), antígenos nucleares extraíveis (ENAs) e (4) anti-
Nefropatia Diabética corpo anticitoplasma de neutrófilo ( A N C A ) é realizado se houver
Nefropatia diabética é u m diagnóstico clinico baseado na desco- suspeita de SLE ou vasculite sistêmica. Anticorpos antimem-
berta de proteinúria em pacientes com diabetes. Nefropatia mani- brana basal glomerular (anti-GBM) podem ser detectados em
festa é caracterizada por excreção de proteína superior a 0,5 g / casos raros de doença renal limitada a anti-GBM (doença de
dia. Isso é equivalente a uma excreção de albumina em torno de Goodpasture) e síndromes renais pulmonares (síndrome de Goo-
300 mg/dia. E preferível avaliar a proteinúria como albuminúria dpasture). Os componentes do sistema complemento às vezes são
porque esta é u m marcador mais sensível para C K D em virtude afetados (p. ex., concentrações reduzidas de C3 e C4) em várias
do diabetes. H á u m consenso na designação de albumina como condições, incluindo SLE, infecção por crioglobulinemia e glo-
o "critério-padrão" na avaliação do dano ao r i m relacionado com merulonefrite mesangiocapilar (também chamada de membrano-
o diabetes. Os pacientes com uma taxa de excreção urinária de proliferativa). Culturas sanguíneas são empregadas paTa exame
albumina entre 30 e 300 m g / d i a têm m i c r o a l b u m i n ú r i a (Capi- bacteriológico na suspeita de infecção.
tulo 18). A nefropatia diabética é a causa mais c o m u m de ESRD
nos Estados U n i d o s e responde por aproximadamente 4 0 % dos Nefropatia IgA
pacientes em programas de RRT. Mais de 100.000 pessoas rece- A nefropatia IgA é o tipo mais c o m u m de glomeTulonefrite em
bendo diálise nos Estados U n i d o s têm o diabetes como causa de todo o m u n d o . A doença tende a ser lentamente progressiva. Por
sua ESRD. Entre os pacientes que precisam de diálise, aqueles exemplo, em 20 anos 3 0 % a 4 0 % dos pacientes irão desenvolver
c o m diabetes têm mortalidade 22% mais alta em u m ano e 15% ESRD dependendo (como na maioria das doenças renais) do
mais alta em cinco anos do que os pacientes sem diabetes. Pacien- grau de proteinúria e da G F R na ocasião do diagnóstico, e do
tes com diabetes tipo 1 e C K D em estágio 5, com complicações grau da fibrose intersticial na biópsia. Os achados da biópsia são
Função Renal e Doença CAPÍTULO 3 4 665

patognomônicos com deposição de IgA polimérica. A t é 5 0 % dos Uropatia Obstrutiva


pacientes exibem IgA plasmática, embora o diagnóstico dependa A hipertrofia benigna da próstata (BPH) é u m dos tipos mais
de achados em biópsia do r i m . As estratégias de tratamento atuais comuns de uropatia obstrutiva e u m achado quase universal em
são insatisfatórias, mas envolvem medidas gerais para reduzir a homens idosos. Entre os sintomas mais comuns estão os distúr-
p r o t e i n ú r i a e terapia com prednisolona em casos selecionados. bios de micção, especialmente a freqüência aumentada, em muitos
casos progredindo para obstrução do f l u x o da bexiga (Capítulo
Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva (RPGN) 20), H á uma tendência de progressão mais lenta para ESRD na
R P G N é u m grupo heterogêneo de distúrbios caracterizado por uropatia obstrutiva quando comparada a outras doenças renais.
u m curso clínico f u l m i n a n t e que leva à falência renal em apenas
semanas o u poucos meses. Essas síndromes são quase sempre Doenças Tubulares
caracterizadas por glomerulonefrite de necrotização focal e por Acidoses tubulares renais e tubulopatias hereditárias são tipos de
formação crescente extracapilar dentro da camada parietal das doença tubular renal.
cápsulas de Bowman. A proliferação de células epitehais e macró-
fagos eventualmente c o m p r i m e m o glomérulo e obstruem os Acidoses Tubulares Renais
túbulos contorcidos proximais, comprometendo de m o d o grave Acidoses tubulares renais (RTAs) englobam u m grupo diverso de
a função do néfron. distúrbios tanto hereditários quanto adquiridos que afetam o
t ú b u l o p r o x i m a l o u distai. Esses distúrbios são caracterizados por
Síndrome Nefrítica Aguda (1) hipercloremia, â n i o n gap n o r m a l , (2) acidose metabólica e (3)
Esse distúrbio é caracterizado pelo início rápido de (1) hematú- excreção de bicarbonato o u de í o n de hidrogênio inapropriada
ria, (2) proteinúria, (3) G F R reduzida e (4) retenção de sódio e para o p H plasmático. Eles resultam da incapacidade de reter
água, com resultante hipertensão e edema periférico localizado. bicarbonato ou de os túbulos renais secretarem íons de hidrogê-
Isso geralmente é causado por u m processo proliferativo que gera nio. Tipicamente, a G F R na R T A é n o r m a l ou levemente redu-
inflamação glomerular acentuada. E m contraste, a s í n d r o m e zida e não há retenção de ãnions, como fosfato e sulfato (o oposto
nefrótica é caracterizada por proteinúria abundante, mas não da acidose da insuficiência renal).
tipicamente hematúria. As três categorias de R T A são distai ( d R T A , tipo I)); p r o x i m a l
(pRTA, tipo II); e tipo IV, que é secundária à deficiência o u
resistência à aldosterona O termo " R T A tipo I I I " (defeito misto
Síndrome Nefrótica proximal/distal) foi abandonado porque não é mais considerado
A síndrome nefrótica é caracterizada pelas mudanças em geral na como uma entidade separada.
permeabilidade glomerular. Os critérios diagnósticos para estabe- A descoberta de urfia acidose metabólica hiperclorêmica em
lecer síndrome nefrótica são a presença de (1) p r o t e i n ú r i a (pro- u m paciente sem evidência de perdas de bicarbonato gastrointes-
teína total > 3 g / d i a ou albumina > 1,5 g/dia), (2) hipoalbumi- tinais e sem causa farmacológica óbvia deve levantar suspeita de
nemia, (3) hipercoíesterolemia e, finalmente, (4) edema. C o m o uma R T A A l é m da mensuração de eletrólito plasmático
mostra a Figura 34-8, a proteinúria é a conseqüência de uma ( i n c l u i n d o potássio), a investigação preliminar deve incluir men-
redução nas propriedades cargas-seletivas da barreira de filtração. suração do p H u r i n á r i o em amostra fresca de E M U . O achado
A síndrome nefrótica resulta de várias causas, i n c l u i n d o (1) nefro- de u m p H u r i n á r i o superior a 5,5 na presença de acidose sistê-
patia m í n i m a de mudança (mais c o m u m em crianças); (2) glome- mica corrobora o diagnóstico de d R T A . Detalhes adicionais
rulosclerose segmentar focal (FSGS); (3) nefropatia de membrana, sobre a conduta e interpretação desses testes p o d e m ser encon-
que pode ser idiopática ou estar associada a carcinoma, drogas trados em Penney and Oleeslcy.9
ou infecção; (4) SLE e (5) nefropatia diabética.
Tubulopatias Hereditárias
Nefrite Intersticial As tubulopatias hereditárias englobam u m conjunto heterogêneo
U m a variedade de lesões químicas, bacterianas e imunológicas de distúrbios raros, i n c l u i n d o (1) síndrome de Bartter, (2) sín-
ao r i m causa mudanças generalizadas ou localizadas que afetam, drome de Gitelman, (3) síndrome de Liddle, (4) pseudo-hipoal-
principalmente, o tubulointerstício e não o glomérulo. Esse dosteronismo T i p o I, (4) doenças de D e n t e (6) raquitismo hipo-
grupo de distúrbios é caracterizado por alterações na função fosfatêmico dominante ligado ao cromossomo X (anteriormente
tubular que, em casos avançados, p o d e m causar lesões vasculares conhecido como raquitismo resistente à vitamina D). A maioria
e glomerulare5 secundárias. Nefrite intersticial, i n c l u i n d o pielo- é caracterizada por distúrbios eletrolíticos. 11 A l é m dessas, as razões
nefrite crônica, é o diagnóstico p r i m á r i o , respondendo por 3 , 8 % em geral para suspeita de tubulopatia incluem (1) padrão familiar
dos pacientes admitidos em programas de diálise nos Estados da doença, (2) insuficiência renal, (3) nefrocalcinose e (4) forma-
U n i d o s . P i e l o n e f r i t e é o termo associado à infecção bacteriana ção de pedra, especialmente se apresentada em idade precoce. E m
que causa esse t i p o de lesão e é a mais c o m u m das nefrites. casos nos quais u m canal diurético-sensível é afetado, esses distúr-
bios irão claramente imitar os efeitos do uso de diurético (discus-
Nefropatia Tóxica são adiante neste capítulo) e a exclusão do uso escondido de
Existe u m a grande variedade de nefrotoxinas no meio ambiente, diuréticos é importante. Embora esses distúrbios sejam individu-
muitas das quais estão associadas a determinadas ocupações. almente incomuns ou raros, seu conhecimento é essencial para o
U m a variedade de metais, como cádmio e chumbo, há m u i t o é bioquímico clínico quando considera potenciais diagnósticos dife-
conhecida por estar associada à doença renal, quase sempre cau- renciais em pacientes com desequilíbrios eletrolíticos. 11
sando disfunção tubular p r o x i m a l e lesão glomerular (Capítulo
32). U m resumo das drogas e toxinas ambientais conhecidas por Diuréticos
causar lesão ao r i m é descrito na Tabela 34-8. Ambas as lesões, Os diuréticos são predominantemente prescritos para tratar
glomerular e tubulo intersticial, resultam de exposição a essas hipertensão e / o u distúrbios associados à sobrecarga de f l u i d o .
toxinas; a detecção de ambas requer m o n i t o r a m e n t o b i o q u í m i c o Todos os diuréticos atuam interferindo na reabsorção tubular de
da GER e das proteinúrias tubular e glomerular. sódio e / o u de cloreto e, portanto, têm efeitos concomitantes
666 PARTE V Fisiopatologia

F i g u r a 3 4 - 8 Exemplo gráfico de mudanças glomerulares na síndrome nefrótica. Visão microscópica de


escaneamento de elétron de podócitos epiteliais glomcrulares de um rato tratado com veículo (à esquerda) e de
um cato (peso corporal 180 mg/kg) tratado com aminoglucosídeo puromicina (PAN) (d direita). Observe a perda
extensiva dos processos podais do podócito que ocorre em resposta à síndrome nefrótica induzida por PAN. Isso
ilustra as principais mudanças celulares que podem ocorrer na síndrome nefróticE. GEC, célula epitelial
glomerular. (De Ricardo SD, Bertram JF, Ryan GB. Antioxidancs procect podocyte foct processes in puromicm
aminonucleoside-treated rats. J Am Soe Nephrol 1994;4:1974-86 )

sobre a retenção de água. Classes diferentes de diuréticos a t u a m sempre considerada c o m o uma doença n u t r i c i o n a l o u a m b i e n t a l ,
em diferentes sítios ao longo do n é f r o n . As classes i n c l u e m diu- ligada à afluência, mas anormalidades genéticas o u anatômicas
réticos de alça, tiazidas e "poupadores de potássio". M u i t o s diu- t a m b é m são significativas. Calcula-se que a p r o x i m a d a m e n t e 5%
réticos irão causar hipocalemia até certo grau, d e p e n d e n d o da a 10% da população do m u n d o o c i d e n t a l t e n h a m f o r m a d o pelo
potência, da dose, da duração do t r a t a m e n t o e do e q u i l í b r i o de menos u m a pedra no r i m aos 70 anos de idade, e a prevalência
potássio subjacente do paciente. de pedras nos rins pode estar a u m e n t a n d o . T a n t o em h o m e n s
q u a n t o e m mulheres, a idade m é d i a para a p r i m e i r a formação de
pedra n o r i m está d i m i n u i n d o . Para a m a i o r i a dos tipos de pedra
Diabetes Insipidus há u m a p r e p o n d e r â n c i a para o sexo m a s c u l i n o . A passagem de
O diabetes insipidus ( D I ) é u m d i s t ú r b i o no q u a l há a u m e n t o u m a pedra provoca u m a d o r aguda chamada cólica, que pode
a n o r m a l na produção de urina, ingesta de l í q u i d o e, com freqü- d u r a r de 15 m i n u t o s a várias horas e c o m u m e n r e está associada
ência, sede. O D l se deve à ausência de u m efeito n o A D H , a náusea e v ô m i t o .
causada por insuficiência ou fracasso na secreção ( D I craniano o u A m a i o r i a das pedras nos rins encontradas n o m u n d o oci-
central) o u p o r f"alta de resposta de órgão-final ao A D H ( D I nefro- d e n t a l é composta p o r u m a o u mais das seguintes substâncias:
gênico). U m d i s t ú r b i o adicional, polidipsia psicogênica o u inges- (1) oxalato de cálcio c o m ou sem fosfato (freqüência 67%); (2)
tão compulsiva de água apresentam-se c o m o diabetes imífüdus. fosfato de a m ó n i o de magnésio (12%); (3) fosfato de cálcio (8%);
(4) urato (8%); (5) cistina ( 1 % a 2 % ) e (6) c o m p l e x o da m i s t u r a
Cálculo Renal acima ( 2 % a 3 % ) . Essas substâncias pobres em s o l u b i l i d a d e cris-
N e f r o l i t í a s e é u m a condição marcada pela presença de cálculos talizam d e n t r o de u m a matriz orgânica, mas a natureza desse
renais. Tais cálculos ("pedras nos Tins") o c o r r e m em (1) pelve processo não é b e m compreendida. 1 0 As pedras nos rins são tra-
renal, (2) ureter e (3) bexiga. A formação de pedra n o r i m é quase tadas por l i t o t r i p s i a , que envolve esmagar o cálculo d e n t r o d o
Função Renal e Doença CAPÍTULO 34 667

TABELA 34-8 Drogas e Toxinas Ambientais m e m b r a n a da célula ( C a p í t u l o 23). A p r i n c i p a l prostaglandina


vasodilatadora renal é a P G E Z j que é sintetizada, p r e d o m i n a n t e -
Associadas ao Desenvolvimento de
m e n t e , na medula do r i m . A p r i n c i p a l prostaglandina vasocons-
Nefropatia
t r i t o r a é a t r o m b o x a n a A ; , que é p r o d u z i d a p r i n c i p a l m e n t e d e n t r o
Droga Ação Tóxica do córtex renal, A PGE2 (1) aumenta a taxa do f l u x o sanguíneo
Inibidores da ACE Queda drástica na GFR em pacientes com renal, (2) i n i b e a reabsorção de sódio n o n é f r o n distai e n o dueto
estenose bilateral da artéria renal coletor, e (3) estimula a liberação de renina. Essas ações p r o m o -
Dose alta de captopril pode causar v e m natriurese e diurese. E m pacientes c o m C K D , as taxas de
proteinúria excreção de PGE2 renal são três a cinco vezes mais altas d o que
Inibidores de Queda drástica na GFR de pacientes com aquelas em i n d i v í d u o s saudáveis e, p o r t a n t o , a produção de PGE 2
NSAIDs/COX-2 insuficiência circulatória (p. ex., representa u m a resposta compensatória à perda de massa d o
insuficiência cardíaca) n é f r o n . A s prostaglandinas vasodilatadoras são sintetizadas após
Hipovolemia; também pode causar nefrite estimulação c o m mecanismos renais adrenérgicos simpáticos A I I -
intersticial aguda ou crônica dependentes para compensar o u m o d u l a r a vasoconstrição. N o
t ú b u l o , as prostaglandinas atuam c o m o autocóides, exercendo
DROGAS ANTI-REUMÁTICAS seus efeitos localmente, perto do sítio da síntese.
Inibidores de calcineurina Vasoconstrição, vasculopatia glomerular e As N S A I D s possuem efeitos analgésico, a n t i p i r é t i c o e antiín-
fibrose intersticial (cíclosporina e f l a m a t ó r i o . Elas t a m b é m b l o q u e i a m a síntese dos produtos da
tacrolimus) C O X d o ácido a r a q u i d ô n i c o , que possui u m papel crítico na (1)
Sais de ouro Aspecto do tipo membranoso com síndrome h e m o d i n â m i c a renal, (2) n o c o n t r o l e da função tubular e (3) na
nefrótica (mecanismo desconhecido) liberação de renina. A nefropatia analgésica é u m a causa c o m u m
Compostos de mercúrio Aspecto do tipo membranoso com síndrome
de E S R D em vários países, chegando a 10% na Suíça e na Aus-
nefrótica (mecanismo desconhecido)
trália) mas éj essencialmente, u m a condição preventiva para a q u a l
D penicilina Aspecto do tipo membranoso com síndrome
o m o n i t o r a m e n t o b i o q u í m i c o provou ser ú t i l . As pessoas mais
nefrótica (mecanismo desconhecido)
idosas d e m o n s t r a r a m redução significativa da G F R d e n t r o de u m a
semana de ingesca de N S A I D s . A ocorrência de nefrite intersticial
DROGAS ANTITUMORAIS
aguda e s í n d r o m e nefrótica f o i relatada c o m N S A I D s .
Mitomicina Síndrome urêmica-hemolítica
Cisplatína Necrose tubular aguda
Metctrexato Precipitação intraluminal e necrose tubular
aguda Cadeias Leves Monoclonais e Doença Renal
M o l é c u l a s de Ig são formadas nas células secretoras de cadeias de
ANTIBIÓTICOS/ANTI FÚNGICOS p o l i p e p t í d í o s pesados ( H ) e leves (L). O peso m o l e c u l a r de cadeias
Aminoglicosídeos Necrose tubular aguda e nefrite intersticial leves gira em t o r n o de 22,5 k D a (Capítulos 10 e 18). E m indiví-
Cefalosporinas Nefrite intersticial duos n o r m a i s , a pequena q u a n t i d a d e de cadeias leves circulantes
Penicilina G Nefrite intersticial é f i l t r a d a pelos glomérulos c o m a p r o x i m a d a m e n t e 9 0 % de reab-
Ampicilina Nelrite intersticial sorção n o t ú b u l o p r o x i m a l . Q u a n d o a concentração de cadeias
Amoxicilina Netrite intersticial leves filtradas é a u m e n t a d a , isso leva à alteração patológica nas
Anfotericina células do t ú b u l o p r o x i m a l . Por exemplo, as cadeias leves são
Lítio Lesão tubular distai com diabetes insipidus conhecidas p o r q u e se depositam nos rins c o m o cilindros, fibrilas,
nefrogênico e p o r q u e se p r e c i p i t a m o u se cristalizam, d a n d o origem a u m
Alcpurincl Nefrite intersticial espectro de doenças, i n c l u i n d o (1) n e f r o p a t i a dos cilindros, (2)
amiloidose, (3) doença p o r depósito de cadeia leve ( L C D D ) e (4)
TOXINAS AMBIENTAIS s í n d r o m e de F a n c o n i . N o e n t a n t o , n e m todos os pacientes com
Mercúrio Glomerulonefrite u m a p r o d u ç ã o excessiva de cadeias leves m o n o c l o n a i s desenvol-
Cádmio Nefrite intersticial crónica v e m doença. O u t r o s p r o m o t o r e s , i n c l u i n d o desidratação, hiper-
Chumbo Hipertensão e nefrite tubulointersíiciaJ calcemia, m e i o de contraste e N S A I D s estão implicados.
Cromo Proteínas tubulares aumentadas e enzimúria M i e l o m a , o u m i e l o m a m ú l t i p l o , é u m a proliferação neoplás-
Vanádio Proteínas tubulares aumentadas e enzimúria tica de células B secretoras (células plasmáticas) que p r o d u z e m
Níquel Proteínas tubulares aumentadas e enzimúria quantidades excessivas de Ig m o n o c l o n a l (paraproteína), chamada
Paraquat Gerador de radical livre: lesão tubular aguda p r o t e í n a M , p o r causa dos picos característicos o b t i d o s da eletro-
forese de proteína sérica e m gel de agarose. Essa p r o d u ç ã o c l o n a l
SOLVENTES está associada a uma p r o d u ç ã o de cadeia leve puTa o u em excesso.
Lavagem a seco/Tintas Glomerulonefrite
N o m i e l o m a m ú l t i p l o , Igs m o n o c l o n a i s completos ( n o r m a l m e n t e
ACE. Encima conversara ££ngioten.síTld, NSAIDs, drogets dntiinflamatónas não- I g G o u IgA) são acompanhados n o plasma p o r concentrações
esferóide. variáveis de cadeias leves livres que aparecem na u r i n a c o m o
proteínas de B e n c e Jones. As proteínas M e as cadeias leves são
identificadas n o sangue e / o u na u r i n a em 9 8 % dos pacientes
c o m m i e l o m a usando eletroforese de proteína e i m u n o f i x a ç ã o .
sistema u r i n á r i o o u da vesícula biliar, a c o m p a n h a d o , em seguida, F u n ç ã o renal prejudicada na apresentação ocorre em quase 5 0 %
p o r lavagem dos fragmentos. dos pacientes.
As cadeias leves t a m b é m causam disfunção tubular, especial-
Prostaglandinas e NSAIDs em Doença Renal m e n t e das células tubulares proximais. D e m o d o característico,
A s prostaglandinas são u m a série de ácidos graxos não-sacurados o d o m í n i o variável da cadeia leve é resistente à degradação p o r
C i Q derivados de ciclooxigenase ( C O X ) n o ácido a r a q u i d ô n i c o da proteases nos lisossomos nas células tubulares. Os fragmentos do
668 PARTE V Fisiopatologia

d o m í n i o variável se acumulam nas células tubulares proximais e TABELA 3 4 - 9 Suporte Laboratorial para Terapia de
os aspectos clínicos incluem R T A e perda de fosfato. Reposição Renal
Complicações Testes Laboratoriais
Osmolalidade Urinária
A concentração urinária é quantificada por mensuração da gra- AGUDA
vidade específica o u por mensuração da osmolalidade urinária. Desequilíbrio na diálise Eletrólitos plasmáticos
Para a maioria dos propósitos clínicos, medir a gravidade especí- Pirexia Proteína C-reativa
Sangramento Fatores de coagulação
fica provavelmente é suficiente, mas a mensuração da osmolali-
dade urinária á crítica para o diagnóstico e para o diagnóstico
CRÔNICA
diferencial do D I usando o teste de privação de água.
Anemia Hemoglobina, ferritina
A osmolalidade urinária de indivíduos normais pode variar Septicemla/peritonite Proteína C-reativa
enormemente, dependendo do estado da hidratação. Após cultura e sensibilidade
ingesta excessiva de líquidos, por exemplo, a concentração osmó- Desnutrição Albumina, pré-aibumina
tica pode chegar a 50 m O s m / k g H 2 0 . E m indivíduos c o m res- Doença cardiovascular Perfis lipidicos
trição severa de ingestão de líquido, concentrações de até 1.400 Amiloidose (3j-microglobulina sérica
m O s m / k g H 2 0 são normalmente observadas. Indivíduos com Osteodistrofia Ca5*, P0r 3 , íoslatase alcalina óssea,
média ingesta de líquidos, concentrações de 300 a 900 m O s m / k g PTH intacto, alumínio

H 2 0 são geralmente observados. Se u m espécime randômico de


ADEQUAÇÃO DA DIÁLISE
urina de u m paciente tiver urna osmolalidade de > 600 m O s m /
Modelagem cinética da uréia Uréia pré e pós-diálise
kg H 2 0 (ou > 850 m O s m / k g H 2 0 após 12 horas de restrição de
(UflR)
líquido), geralmente poder-se-á presumir que a capacidade de Clearances semanais de Creatinina pré e pós diálise
concentração renal estará normal. creatinina
N a insuficiência renal crônica progressiva, a capacidade de Teste de equilíbrio peritonea! Creatinina plasmática e dialisada e
concentração dos túbulos está diminuída. N a A T N a osmolali- (PET) glicose
dade urinária, se houver produção de urina, é semelhante à do
filtrado glomerular. MONITORAMENTO DE TRANSPLANTE
Paia discussão sobre a mensuração da osmolalidade plasmá- Imunossuproasão Concentração de ciclospcrina A em
tica e urinária, ver Capítulo 24. sangue total na 2a hora ou de vale
Concentrações de tacrolimus e

TERAPIA DE REPOSIÇÃO RENAL rapamicina em sangue total de vale


Função do enxerto Creatinina sérica, plasmática e
ESRD é u m rermo administrativo nos Estados U n i d o s baseado eletrólitos na urina
nas condições para o pagamento de assistência médica pelo Medi-
care ESRD Program e, especialmente, baseado no nível da G F R
e na ocorrência de sinais e sintomas de insuficiência renal que
necessite de tratamento por RRT. A R R T inclui procedimentos
de diálise e transplantes. U m apoio laboratorial extensivo é neces-
n o r m a l m e n t e realizada três vezes por semana em sessões que
sário para u m programa de R R T (Tabela 34-9).
d u r a m entre três e cinco horas.

Diálise HemodiafUtraçâo
Diálise é o processo de separai macromoléculas de íons e de
H F D é u m método de diálise que combina H D e hemofiltiação
compostos de peso molecular baixo em solução pela diferença (HF). Ele oferece as vantagens tanto de H D quanto de H F em
em suas taxas de difusão através de u m a membrana semiperme- uma única terapia. A troca de f l u i d o , previamente fornecida em
ável. Os cristalóides passam rapidamente por essa membrana,
bolsas herméticas agora é gerada "online", a partir de u m concen-
mas os colóides passam m u i t o lentamente ou não passam de
trado de bicarbonato, e usa de 20 a 30 L de água por sessão. O
forma alguma. Dois processos físicos diferentes estão envolvidos: resultado é que a H D F fornece u m aumento de 10% a 15% no
difusão e convecção. Os procedimentos de diálise incluem hemo-
clearance de uréia em comparação com a H D e também ocorre
diálise ( H D ) , hemodiafiltração ( H D F ) e diálise perítoneal (PD).
aumento n o clearance de células intermediárias.

Hemodiálise Diálise Perítoneal


Hemodiálise é o método mais c o m u m utilizado para tratar insu-
Diálise perítoneal é u m tipo de diálise em que o dialisado é
ficiência renal avançada o u permanente, Operacionalmente, esse instilado na cavidade perítoneal do paciente, com o peritônio
método envolve conectar o paciente a u m hemodialisador n o então empregado como membrana de diálise (Figura 34-10). Atu-
qual seu sangue f l u i . Depois da filtiação para remover os resíduos almente, a diálise perítoneal ambulatorial contínua ( C A P D ) está
e fluidos excedentes, o sangue l i m p o é devolvido ao paciente.
disponível e é realizada em pacientes ambulatoriais durante ati-
Essa terapia é complicada, inconveniente e requer esforços coor- vidades normais.
denados da equipe de saúde. Operacionalmente, a C A P D usa a própria membrana períto-
O exemplo de u m hemodialisador é mostrado na Figura 34- neal do paciente (área de superfície aproximada 2 m 2 ) através da
9. A parte funcional mais importante é a membrana do dialisa-
qual fluidos e solúveis são trccados entre o sangue capilaT perí-
dor. H á várias membranas disponíveis com diferentes áreas de
toneal e a solução de diálise colocada na cavidade perítoneal.
superfície e características de filtração. O tipo de membrana mais
Remoção de f l u i d o (UF) é obtida usando-se fluidos de diálise
antigo foi feito de acetato de celulose e cuptofane; porém, esse
contendo altas concentrações de dextrose que atua como agente
tipo foi substituído por membranas sintéticas mais biocompatí- o s m ó t i c o ; à m e d i d a q u e a d e x t r o s e passa p e l a m e m b r a n a p e i í l o -
veis feitas de polisulfona e poliacrilonitrila. Os pacientes são
neal, a taxa de remoção do f l u i d o d i m i n u i . As terapias conven-
dialisados em unidades residenciais o u hospitalares, com a diálise cionais usam quatro trocas diárias de aproximadamente 2 L de
Função Renal e Doença CAPÍTULO 34 €69

Dialisado para fora

Ar comprimido

Fluxo Cartucho de diálise


contra corrente

Dialisado para dentro

Fístula
arte ri ove nos a

Figura 34-9 Hemodialisador estruturado com diagrama de fluxo de inserção

f l u i d o c o m a p r o x i m a d a m e n t e 10 L do dialisado gasto gerado,


incluindo UF.
ROIH.H d e diálise
Transplante de Rim
O t r a n s p l a n t e de r i m é a f o r m a mais eficaz de R R T , e m termos
de sobrevida a l o n g o prazo e qualidade de vida. A p r o x i m a d a -
m e n t e 3 0 % dos pacientes e m diálise são selecionados para cons-
tarem na lista de espera para o transplante. O transplante bem-
Cateter
sucedido requer avaliação pré- e pós-operatória, além de trata-
m e n t o terapêutico c o m droga.

Avaliação Pré-operatória Cavidade


Os critérios para aceitação e m p r o g r a m a de transplante d i f e r e m perítoneal
u m p o u c o de centro para centro, e é mais fácil considerar as
razões para a exclusão. Os candidatos não devem ser obesos Membrana
(índice de massa c o r p o r a l [ B M I ] i n f e r i o r a 40 k g / m J ) e não devem psritonôal
ter (1) doença p u l m o n a r crônica grave, (2) cardiopatia isquêmica
inoperável, (3) infecção hepática ativa o u doença i m u n o l ó g i c a ,
• • Fluido d e
(4) infecção crônica (p. ex., tuberculose), (5) m a l i g n i d a d e preexis-
l i diálise
tente o u (6) disfunção d o t r a t o u r i n á r i o inferior. H á t a m b é m
duas questões psicológicas i m p o r t a n t e s : (1) o conceito sobre o (75-214 mmol.'L glicose)
órgão recebido e (2) a d i f i c u l d a d e e m potencial de adaptação às
terapias imunossupressoras. A idade não é mais u m a questão Figura 3 4 - 1 0 Desenho díagramático de diálise perítoneal. Para
i m p o r t a n t e e m u m i n d i v í d u o que esteja saudável. converter concentração de glicose em m m o l / L p a r a mg/dL, multiplicar
A avaliação laboratorial i n c l u i os indicadores de saúde e m por 18. (Redesenhado de Nolph KD. Perítoneal anatomy a n d transport
geral para cirurgia c o m o (1) eletrólitos, (2) status ácido-base, (3) physiology. In: Maher JF, ed. Replacement of renal function by dialysis,
p e r f i l de coagulação, (4) h e m o g r a m a c o m p l e t o e (5) c o m p a t i b i l i - 3rd ed. Dordrecht, The Netherlands: Kluwer Academic Publishers/
dade tecidual. A l é m disso, t i p a g e m completa em tecido para Springer, 1989, Chapter 23, com permissão de Springer Science e
a n t ig e n o de leucócito h u m a n o ( H L A ) é realizada, além de triagem Busmess Media.)
completa para doenças infecciosas, especialmente citomegaloví-
rus ( C M V ) , hepatite, herpes e status de H I V , pois essas infecções
às vezes são ativadas pela terapia imunossupressora. ção de u r i n a é necessário para m o n i t o r a r a f u n ç ã o d o enxerto
(Figura 34-11). A m a i o r i a dos enxertos p r o d u z quantidades men-
Avaliação Pós-operatória suráveis de u r i n a e m questão de horas, e esse é u m sinal claro de
D u r a n t e a fase pós-operatória i n i c i a l de u m a a duas semanas, o enxerto que está f u n c i o n a n d o ; c o n t u d o , em d e t e r m i n a d a p r o p o r -
m o n i t o r a m e n t o cuidadoso da creatinina plasmática e da p r o d u - ção, talvez e m 5 % a 10% dos casos, há u m n ã o - f u n c i o n a m e n t o
670 PARTE V Fisiopatolagia

hemodiálise I
soras possuem numerosos efeitos colaterais potencialmente
1000
graves. P o r t a n t o , o t r a t a m e n t o terapêutico c o m droga e o m o n i -
t o r a m e n t o são necessários, ( C a p í t u l o 30).
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receptor de transplante não-cotriplicado. Para converter concentração de
6- Myers GL, Miller "WG, Coresh J, Fleming J, Greenberg "N, et al.
creatinina em p m o l / L para mg/dL, multiplique por 0,011.
Recommendations for improving serum creatinine measurement: a
report from the laboratory working group of the National Kidney
Disease Education Program. Clin Chem 2006;52:5-18.
7. Newman DJ. Cystatín C. Ann Clin Biochem 2002;39:89-104.
8. National Kidney Foundacion-K/DOQI. Clinicai practice guidelines for
aparentemente p r i m á r i o . Nesse subgrupo é necessário c o n t i n u a r
chronic kidney disease. evaluation, classification, and stratification. Am
o t r a t a m e n t o c o m diálise.
] Kidney D is 2002;39(suppl 1):S 1-266.
9. Penney MD, Oleesky DA. Renal tubular acidosis. Ann Clin Biochem
tmunassupressão e Tratamento Terapêutico com 1999;36:408-22.
Droga 10. Samueli CT, Kasidas GP. Biochemical invéstigations in renal stone
A i n t r o d u ç ã o de drogas imunossupresscras na década de 1970 formers. Ann Clin Biochem 1995;32:112-22.
levou a u m grande avanço na taxa de sucesso dos transplantes de 11- Sayer JA, Pearce SHS. Diagnosis and clinicai biochemistry of inherited
r i m . Apesar de seus benefícios óbvios, as drogas imunossupres- cubulopathies. Ann Clin Biochem 2001;38:459-70.
35

Fisiologia e Distúrbios da
Água, Eletrólito e
Metabolismo Ácido-base*
J. Stacey Klutts, M.D., Ph.D., e Mitchell G. Scott, Ph.D.

OBJETIVOS intersticial, plasmático, l i n f á t i c o e cerebrospinal; esse f l u i d o


fornece u m a m b i e n t e externo constante para as células.
1. Discutir as distribuições dos eletrólitos e da água corporal total.
F l u i d o I n t r a c e l u l a r ( I C F ) : Porção de água c o r p o r a l t o t a l c o m
2. Discutir a manutenção da homeostase quanto às concentrações de
seus solutos dissolvidos n o m e i o i n t e r n o das células.
eletrólitos.
H i p e r c a l e m i a : C o n c e n t r a ç ã o sérica de potássio acima do l i m i t e
3. Apresentar a equação de Henderson-Hasselbalch.
de referência de 5,0 m m o l / L .
4. Listar os sistemas-tampão fisiológicos e seus papéis na regulação
H i p e r n a t r e m i a : C o n c e n t r a ç ã o sérica de sódio acima do l i m i t e
do pH sanguíneo.
de referência de 150 m m o l / L .
5. Descrever a contribuição da respiração para a medida ácido-base.
H i p e r v o l e m i a : A u m e n t o a n o r m a l n o v o l u m e de f l u i d o
6. Listar as condições associadas à medida ácido-base anormal e à
circulante (plasma) n o c o r p o .
composição iônica anormal do sangue; demonstrar o déficit H i p o c a l e m i a : C o n c e n t r a ç ã o sérica de potássio abaixo d o l i m i t e
primário, o mecanismo compensatório e os valores laboratoriais de referência de 3,5 m m o l / L .
obtidos para cada um. H i p o n a t r e m i a : C o n c e n t r a ç ã o sérica de sódio abaixo d o l i m i t e
de referência de 136 m m o l / L .
H i p o v o l e m i a : V o l u m e a n o r m a l m e n t e r e d u z i d o de f l u i d o
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES circulante (plasma) n o c o r p o .
A c i d e m i a : p H sanguíneo arterial < 7,35. I n t e r v a l o A n i ô n i c o ( A G ) : A diferença entre a concentração
A c i d o s e M e t a b ó l i c a : Processo patológico q u e leva ao a c ú m u l o sérica de sódio e a soma das concentrações séricas de
de ácido, r e d u z i n d o a concentração de b i c a r b o n a t o e b i c a r b o n a t o e cloreto-, o A G é alto em algumas formas de
d i m i n u i n d o o p H ; t a m b é m c o n h e c i d a c o m o déficit acidose metabólica.
p r i m á r i o de b i c a r b o n a t o .
A c i d o s e R e s p i r a t ó r i a : Processo patológico que leva ao a c ú m u l o

A
de d i ó x i d o de c a r b o n o , elevando o p C O z e d i m i n u i n d o o
p H ; n o r m a l m e n t e causada p o r enfisema o u hipoventilação. adaptação dos mamíferos à vida terrestre envolveu o desen-
A l c a l e m i a : p H sanguíneo a r t e r i a l > 7,45. v o l v i m e n t o de sistemas fisiológicos complexos para m a n t e r
Alcalose M e t a b ó l i c a : Processo p a t o l ó g i c o que leva ao a c ú m u l o a composição de seus ambientes internos, i n c l u i n d o u m a
de base, elevando a concentração de b i c a r b o n a t o e variedade de tampões q u í m i c o s e de mecanismos p u l m o n a r e s e
a u m e n t a n d o o p H ; t a m b é m c o n h e c i d a c o m o excesso renais altamente especializados, que t r a b a l h a m j u n t o s para regular
p r i m á r i o de b i c a r b o n a t o . água, eletrólitos e p H entre os c o m p a r t i m e n t o s i n t r a e extracelu-
Alcalose R e s p i r a t ó r i a : Processo patológico que leva à lares. A s perturbações que existem n o e q u i l í b r i o d i n â m i c o existem
e lim inaç ão excessiva de d i ó x i d o de c a r b o n o , d i m i n u i n d o o para água, eletrólitos e p H p o d e m ser provenientes de fontes
p C O ? e a u m e n t a n d o o p H ; causada p o r hiperventilação. externas (p. ex., trauma, mudanças de altitude, ingestão de subs-
D i s t ú r b i o M i s t o Ácido-base: O c o r r ê n c i a de mais de u m tâncias tóxicas) o u internas (p. ex., estados m ó r b i d o s e metabo-
d i s t ú r b i o ácido-base s i m u l t a n e a m e n t e ; o p H sanguíneo lismo n o r m a l ) . A correção desses desequilíbrios pelos tampões e
p o d e estar baixo, alto o u d e n t r o d o i n t e r v a l o de referência. pelos mecanismos compensatórios p u l m o n a r e renal p o d e n e m
Equação de H e n d e r s o n - H a s s e l b a l c h : Equação que d e f i n e a sempre ser adequada; nesse caso, o l a b o r a t ó r i o clínico p o d e for-
relação entre p H , b i c a r b o n a t o e a pressão parcial do gás necer i n f o r m a ç ã o valiosa para orientação terapêutica.
d i ó x i d o de c a r b o n o dissolvido.
E q u i l í b r i o Ácido-base: M a n u t e n ç ã o homeostásica de ácidos e
bases d e n t r o do c o r p o para obter u m p H fisiológico ÁGUA CORPORAL TOTAL - VOLUME E
( a p r o x i m a d a m e n t e 7,40). DISTRIBUIÇÃO
F l u i d o E x t r a c e l u l a r ( E C F ) : T e r m o genérico para todos os A p r o x i m a d a m e n t e dois terços da águá c o r p o r a l total ( T B W ) estão
f l u i d o s corporais fora das células, i n c l u i n d o o f l u i d o d i s t r i b u í d o s d e n t r o do c o m p a r t i m e n t o de f l u i d o i n t r a c e l u l a r
( I C F ) . O s c o m p a r t i m e n t o s do I C F e d o E C F são fisicamente
separados pela m e m b r a n a plasmática celular. O E C F p o d e ser
Os autores agradecem e r e c o n h e c e m as c o n t r i b u i ç õ e s prévias s u b d i v i d i d o , a d i c i o n a l m e n t e , e m c o m p a r t i m e n t o s de f l u i d o
de N o r b e r t W . Tietz, E l i z a b e t h L. P r u d e n , O l e Siggaard-Ander- intersticial ( a p r o x i m a d a m e n t e três quartos d o c o m p a r t i m e n t o d o
sen e J o n a t h a n W . H e u s e l , nas quais se baseiam partes deste E C F ) e intravascular ( a p r o x i m a d a m e n t e u m q u a r t o do c o m p a r t i -
capítulo. m e n t o do E C F ) estando separados, pelo e n d o t é l í o capilar. D e n t r o
672 PARTE V Fisiopatologia

TABELA 35-1 Manifestações Clínicas e Causas das Mudanças no V o l u m e do Fluido Extracelular (ECF)
Manifestações Clínicas Causas

Perda de ECF Sede, anorexia, náusea, distúrbio mental, hipotensão Trauma (e outras causas de perda sanguínea aguda), "terceiro-espaço"
ortostática, sincope, taquicardia, oligúria, turgor da pele do fluida (p. ex., queimaduras, pancreatite, peritonite), vômito, diarreia,
diminuído, "olhos fundos", choque, coma, morte diuréticos, doença renal ou adrenal (isto é, perda de sódio)
Ganho de ECF Ganho de peso, edema, dispnéia {causada por edema Insuficiência cardíaca, cirrose hepática, síndrome nefrótica, iatrogênica
pulmonar), taquicardia, distensão jugular venosa, hipertensão (sobrecarga de fluido intravenoso)
porta, varizes esofágicas

TABELA 35-2 C o m p o s i ç ã o de Água e Eletrólito dos n ú m e r o total de íons positivos ( i n c l u i n d o H + ) deve ser igual ao
C o m p a r t i m e n t o s de Fluido Corporal* n ú m e r o de íons negativos para sua neutralidade elétrica.

FLUIDO
Componente Plasma Intersticial IntracbJulyr1
Compartimentos Intra e Extracelular
O c o m p a r t i m e n t o do E C F é c o m p o s t o p o r f l u i d o intersticial e
Volume, H;Q -3,5 L 10,5 L 28 L plasma.
Na+ 142 145 12
K+ ~4 ~4 156 Plasma
CaI+ ~6 2-3 -3 O plasma, p r i n c i p a l interesse na discussão sobre água e eletróli-
Mg fc ~2 1-2 26
tos, geralmente c o n s t i t u i a p r o x i m a d a m e n t e 5 % do v o l u m e cor-
Elementos traçadores ~1
p o r a l ( ~ 3 , 5 L para u m i n d i v í d u o de 66 kg). A composição ele-
Cátions totais 155
trolítica d o plasma venoso é resumida na Tahela 35-2. A concen-
cr 103 114 ~4
tração de massa da água n o plasma n o r m a l é de a p r o x i m a d a m e n t e
HCOj 27 31 12
0,933 k g / L , d e p e n d e n d o do c o n t e ú d o de p r o t e í n a e de l i p í d i o
Proteína" 16 — 55
Ácidos orgânicos ~5 — —
( C a p i t u l o 24). Assim, u m a concentração de sódio n o plasma, de
Hpor ~2 140 m m o l / L corresponderia a u m a m o l a l i d a d e de sódio na água
sor ~1 plasmática de 150 m m o l / k g H ^ O (140 m m o l / L d i v i d i d o p o r
Ânions lotais 154 0,933 k g / L ) . A concentração absoluta de íons de proteína n o
plasma é ~ 1 2 m m o l / L , c o m a carga provocada, p r i n c i p a l m e n t e ,
ãgiui corpoml total = 42 L.
pela a l b u m i n a .
* Todas os valores de e letra íi tos estão expressos em da fluido. Como o conteúdo
inRq/L
de HjO da plãsma é - 90% por volume, as concentrações con-cifpondentc.í de eletrólicoi
na água phíSTtwtica são - 10% mais nlwí. Obíerfe que ã concentração molílT das íons Fluido Intersticial
diwletites é a metade do valor expresso. O f l u i d o intersticial é essencialmente u m u l t r a f i l t r a d o do plasma
1
Essej ucíIotés ião de.rwãdos do mtiscwío esquelético - sanguíneo. Q u a n d o todos os espaços extracelulares, exceto o
plasma, estão incluídos, o v o l u m e é responsável por aproximada-
m e n t e 2 6 % ( - 1 0 , 5 L) da água c o r p o r a l total. O plasma é sepa-
rado do f l u i d o intersticial pelo e n d o t é l i o capilar, que atua c o m o
u m a m e m b r a n a semi-impermeável e p e r m i t e a passagem de água
e solutos difusíveis, mas não dos compostos de massa molecular
d o c o m p a r t i m e n t o intravascular (sangue total), o píasmíij a fração grande c o m o as proteínas. Todavia, essa " i m p e r m e a b i l i d a d e " não
d o l í q u i d o , c o n s t i t u i ~3,5 L para o a d u l t o que possua u m hema- é absoluta, c o m o d e m o n s t r a d o pela concentração (embora baixa)
t ó c r i t o de ~ 4 0 % e u m v o l u m e sanguíneo de 5 L, variável de proteína nos f l u i d o s intersticiais. E m condições pato-
A atividade, as condições ambientais e a doença, todos possuem lógicas q u e causem " c h o q u e " , c o m o sepse bacteriana, a permea-
efeitos dramáticos sobre as necessidades de água (e de eletrólitos). b i l i d a d e d o e n d o t é l i o vascular a u m e n t a d r a m a t i c a m e n t e , resul-
C o n t u d o , em média, u m a d u l t o deve ingerir 1,0 a 1,5 L de água t a n d o em vazamento de a l b u m i n a , redução n o v o l u m e circulante
p o r dia para m a n t e r o e q u i l í b r i o do f l u i d o . C o m o os mecanismos efetivo e hipotensão.
regulatúrios p r i m á r i o s são designados para m a n t e r p r i m e i r o o
status de hidratação intracelular, desequilíbrios não-corrigidos na Fluido Intracelular
T B W são inicialmente refletidos n o c o m p a r t i m e n t o do ECF. A A composição exata do I C F é extremamente d i f í c i l de m e d i r
Tabela 35-1 lista as causas comuns e as manifestações clínicas do devido à i n d i s p o n i b i l i d a d e relativa de células livres de c o n t a m i n a -
a u m e n t o e da d i m i n u i ç ã o do c o m p a r t i m e n t o d o ECF. ção. E m b o r a as hemácias sejam facilmente acessíveis, é incorreto
As concentrações de eletrólitos dos c o m p a r t i m e n t o s de f l u i d o fazer generalizações c o m base na composição destas células alta-
c o r p o r a l são mostradas na Tabela 35-2. N a ' , K + , Cl~ e HCO~3 n o m e n t e especializadas. Logo, os dados sobre a composição celular
plasma o u n o soro são c o m u m e n t e analisados em u m perfil eletro- (Tabela 35-2) são considerados apenas c o m o aproximações. O
lítico p o r q u e suas concentrações f o r n e c e m a i n f o r m a ç ã o mais rele- v o l u m e d o I C F c o n s t i t u i ~ 6 6 % d o v o l u m e c o r p o r a l total.
vante sobre as medidas osmótica, de hidratação e do p H do c o r p o .
E m b o r a o í o n de h i d r o g ê n i o (H + ) seja q u i m i c a m e n t e u m cátion, Razões para as Diferenças na Composição
sua concentração é a p r o x i m a d a m e n t e 1 m i l h ã o de vezes i n f e r i o r dos Fluidos Corporais
n o plasma que os principais eletrólitos listados na Tabela 35-2 e, O exame da Tabela 35-2 revela que as composições dos eletrólitos
p o r t a n t o , é insignificante em termos de atividade osmótica. O d o plasma sanguíneo e d o f l u i d o intersticial (ambos ECFs) são
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Ácido-Base CAPÍTULO 35 673

similares, mas suas composições diferem m u i t o daquela do ICF. tores são sensíveis à osmolalidade circulante que é, principal-
Essas diferenças em composição são, principalmente, uma con- mente, uma reflexão da concentração de Na'. 1 0 Q u a n d o o volume
seqüência do transporte passivo e ativo de íons. sanguíneo está d i m i n u í d o ou quando a osmolalidade plasmática
está aumentada, o A D H é secretado, a permeabilidade tubular à
Distribuição de íons pelo Transporte H 2 0 aumenta, e a H 2 0 é reabsorvida na tentativa de restaurar
Passivo e Ativo o volume sanguíneo ou d i m i n u i r a osmolalidade. E m contraste,
Os principais íons extracelu lares são Na + , C L e H C O ~ 3 , embora quando o volume de sangue aumenta ou a osmolaridade d i m i n u i ,
no I C F os principais íons sejam K \ Mg 2 ", fosfatos orgânicos e a secreção de A D H é i n i b i d a e mais H2O é excretada na u r i n a
proteína. Essa distribuição desigual de íons é o resultado de u m (diurese)
transporte ativo de Na + de d e n t r o para fora da célula contra u m O ú n i c o outro mecanismo do corpo para restaurar a home-
gradiente eletroquímico Esse processo requer energia fornecida ostase de N a + / H 2 0 é a ingestão de H ? 0 . A sede é estimulada
por processos metabólicos na célula (p. ex., glicólise). U m a b o m b a pelo volume sanguíneo d i m i n u í d o ou pela condição hiperosmó-
de sódio ativa que extrai sua energia do trifosfato de adenosina tica. E i m p o r t a n t e lembrar que os receptores que i n f l u e n c i a m o
(ATP) está presente na maioria das membranas celulares, fre- controle renal de Na + , de H 2 0 e da sede sentem as mudanças
qüentemente acoplada ao transporte de K + dentro da célula. 5 apenas no v o l u m e sanguíneo intravascular, e não no ECF total.
A l é m de Na + /K + -ATPase, também existe u m trocador Na + -H H A l é m disso, a avaliação laboratorial dos distúrbios dos eletrólitos
(quase sempre mencionado c o m o u m antiportador) que ativa- e da água é realizada, principalmente, a partir do volume sanguí-
mente bombeia H para fora do I C F na troca por Na*. Esse neo (plasma). C o m o discutido nas seções subsequentes, o médico
trocador é crucial para manter a homeostase do p H intracelular deve avaliar as condições da T B W e o volume sanguíneo antes
e o v o l u m e em muitos tipos de células. O papel desse trocador de interpretar os valores laboratoriais no diagnóstico dos distúr-
tem importância relevante para a regulação do equilíbrio ácido- bios de eletrólitos e água. Os achados físicos e as manifestações
base nas células tubulares renais, como será discutido posterior- clínicas desses distúrbios são tão importantes quanto os valores
mente neste capítulo. laboratoriais (Tabela 35-1).

ELETRÓLITOS Hiponatremía
Homeostase e distúrbios de Na", IO, C L e H O C - ^ serão cnnsi de- A h i p o n a t r e m í a é definida c o m o uma concentração plasmática
rados separadamente. de Na* d i m i n u í d a (< 136 m m o l / L ) . Sua manifestação clínica
típica é náusea, fraqueza generalizada e confusão mental em
Sódio valores inferiores a 120 m m o l / L e incapacidade mental grave
Distúrbios na homeostase do Na* p o d e m ocorrer devido ao entre 90 e 105 m m o l / L . 8 Os sintomas do sistema nervoso central
excesso de perda, ganho ou retenção de Na 1 ou por causa do (CNS) são principalmente causados pelo m o v i m e n t o de H z O
excesso de perda, ganho ou retenção de H2O. E difícil separar dentro das células para manter o equilíbrio osmótico, provo-
distúrbios de Na + e equilíbrio de H 2 0 por causa de sua estreita cando assim o inchaço das células do C N S . A rapidez do desen-
relação n o estabelecimento da osmolalidade n o r m a l em todos os v o l v i m e n t o da h i p o n a t r e m í a i n f l u e n c i a as concentrações de Na +
compartimentos de água corporal. C o m o descrito em detalhes nas quais os sintomas se desenvolvem (isto é, os sintomas clini-
no C a p í t u l o 34, o p r i n c i p a l órgão para regulação da água corpo- camente aparentes p o d e m se manifestar em concentrações mais
ral e N a ' extracelular é o r i m . N o entanto, como uma breve altas de Na* [~125 m m o l / L ] , quando a hiponarremia se desen-
introdução para esta seção, é i m p o r t a n t e lembrar ao leitor as volve rapidamente). 6
funções de u m r i m saudável. Nos túbulos proximais, 6 0 % a 7 0 % A hiponatremía pode ocorrer em cenários de plasma hipos-
do Na 4 filtrado são ativamente reabsorvidos, c o m H z O e C L , mótico, hiperosmótico ou isosmótico; portanto, a mensuração da
seguindo passivamente para manter a neutralidade elétrica e a osmolalidade plasmática é u m passo inicial e i m p o r t a n t e na ava-
equivalência osmótica Na alça de Henle descendente, H z O , mas liação da hiponatremía. Destes cenários, o mais c o m u m é a hipo-
não eletrólitos, é passivamente reabsorvida devido à alta força natremía hiposmótica, já que o Na + é o principal determinante
osmótica do f l u i d o intersticial no ambiente especializado da da osmolalidade do plasma. A Figura 35-1 descreve u m algoritmo
medula renal. Na alça de H e n l e ascendente, o C l " é ativamente para mensurações laboratoriais e descobertas de exames físicos no
reabsorvido, acompanhado d o Na*. N o nível do túbulo distai, diagnóstico diferencial de Na + plasmático < 135 m m o l / L .
ocorre o p r i m e i r o dos dois principais processos de regulação
N a + / H 2 0 . A q u i , a aldosterona estimula os túbulos distais para Hiponatremia Hiposmótica
reabsorver Na 4 (com a água acompanhando de f o r m a passiva) e N o r m a l m e n t e , quando a concentração plasmática de Na + está
para secretar K + (e em menos quantidade, H*) para manter a baixa, a osmolalidade medida ou calculada t a m b é m estará baixa.
neutralidade elétrica. A aldosterona é produzida pelo córtex Este tipo de h i p o n a t r e m i a pode ser o resultado de perda excessiva
supra-renal em resposta à angiotensina I I derivada pela ação da de Na* (hiponatremia depletiva) ou de volume do E C F aumentado
renina (Capítulo 34). A secreção de renina pelas células justaglo- (hiponatremia por dilmção). Diferenciá-las requer avaliação clínica
merulares renais é estimulada pelo cloreto baixo, atividade (3- da T B W e do volume do E C F c o m exame físico e do histórico
adrenérgica e pressão arterial baixa. 9 Assim, quando há hipoper- clínico.
fusão dos rins (como ocorre q u a n d o o v o l u m e sanguíneo d i m i n u i A hiponatremia depletiva (perda em excesso de Na + ) está
ou quando as artérias renais estão obstruídas), os túbulos distais, quase sempre acompanhada por u m a perda de água do ECF, mas
sob influência da aldosterona, recuperam o Na + . A regulação em menos quantidade do que a perda de Na*. A h i p o v o l e m i a é
adicional da água nos rins ocorre do t ú b u l o distai para o dueto aparente n o exame físico (hipotensão ortostática, taquicardia,
coletor, onde a permeabilidade tubular para H z 0 está sob a turgor da pele d i m i n u í d o ) . A perda de f l u i d o isosmótico ou
i n f l u ê n c i a do h o r m ô n i o antidiurético ( A D H ) (Capítulos 34 e h i p e r t ô n i c o é a causa e isso pode ocorrer através de perdas renais
39). O A D H , t a m b é m chamado vasopressina, é liberado pela ou extra-renais. Caso o Na + u r i n á r i o esteja baixo (geralmente <
p i t u i t á r i a posterior sob a i n f l u ê n c i a de barorreceptores, n o arco 10 m m o l / L ) , a perda é externa (Figura 35-1) porque os rins estão
aórtico, e de quimioireceptores hipotalâmicos. Os quimiorrecep- retendo devidamente o Na + filtrado de maneira adequada em
674 PARTE V Fisiopatologia

Normal Diminuída Aumentada


{280-295 mOsm/kg)

Pseudo-hiponatremia: Hiperglicamia
Hiper! ipldemia Manitol
Hiperproteinemia Uremia

Medida do Volume

Hipervolemia Euvolemia Hipavolemia


excesso de água défícH de desidratação com um
com NACI normal 4-, ou T NaCI isolado grande déficit de NaCI

Na+ urinário (mmol/L) Na* urinário (mmol/L)


"1
>20 <10
>20 <10

J
Insuficiência
I
Insuficiência cardí- Perda renal: Perda extra-renat:
renal aca congestiva
Cirrose (com • Diuréticos • Perda de fluido Gi:
ascite) • Deficiência - Vômito
Síndrome minRralncorticoide - Diarréia
nefrótíca • Alcalose metabólica • Perda através da pele:
• RTA proximal - Queimaduras
- Inibidores de anidrase - Suor
carbônica
• Doença renal por "perda
da sal":
- Rim policistieo
SIADH - Nefrite intersticial
Diuréticos crônica
Hipotirecidismo - Obstrução
Hipoadrenalismo
Reajuste do osmolar central

Figura 35-1 Algoritmo paTa o diagnóstico diferencial de hiponatremia. (Modificado de Kirkpatrick W,


Kreisberg R. Acid-base and electrolyte disorders. In: Liu P, ed. Blue book of diagnostic tests. Philadelphía; W B
Saunders Co, 1986:239-54 )

resposta à aldosterona a u m e n t a d a (estimulada pela h i p o v o l e m i a exame físico, c o m o a presença de g a n h o de peso o u edema.


e h i p o n a t r e m i a ) . As causas da perda externa de N a ' n o excesso Q u a n d o o E C F está a u m e n t a d o , mas o v o l u m e sanguíneo está
de H 2 0 i n c l u e m as perdas d o trato gastrointestinal o u da pele d i m i n u í d o ( c o m o na i n s u f i c i ê n c i a cardíaca congestiva [ C H F ] , na
{Figura 35-1). cirrose hepática o u n a s í n d r o m e nefrótica), u m círculo vicioso
D e forma alternativa, caso o N a * u r i n á r i o esteja elevado nesse está estabelecido. O v o l u m e sanguíneo d i m i n u í d o é sentido pelos
cenário (geralmente > 2 0 m m o l / L ) , h á p r o b a b i l i d a d e de perda barorreceptores e resulta n o a u m e n t o da aldosterona e d o A D H ,
r e n a l de N a \ A perda r e n a l de N a ' ocorre c o m (1) diurese osmó- embora o v o l u m e d o E C F seja excessivo. Os rins reabsorvem Na 4
tica, (2) diuréticos d o t i p o tiazida, (3) i n s u f i c i ê n c i a adrenal (a e H ^ O e m resposta à aldosterona a ao A D H a u m e n t a d o s na
ausência de aldosterona e c o r t i s o n a evita a reabsorção de N a + d o tentativa de restaurar o v o l u m e sanguíneo, mas isso simples-
t ú b u l o distai) o u (4) d i u r é t i c o s " p o u p a d o r e s de potássio", c o m o m e n t e resulta e m a u m e n t o s adicionais n o E C F e em mais d i l u i -
a e s p i r o n o l a c t o n a que b l o q u e i a a reabsorção de Na*, m e d i a d a ção de N a ' .
pela aldosterona ncs t ú b u l o s distais. A perda r e n a l de N a ' p o r N a h i p o n a t r e m i a h i p o s m ó t i c a c o m c o n d i ç ã o de v o l u m e
excesso de H ^ O t a m b é m p o d e o c o r r e r n a alcalose metabólica n o r m a l , as causas mais c o m u n s são a s í n d r o m e d o A D H i napro-
d e v i d o ao v ô m i t o p r o l o n g a d o , já que a excreção renal a u m e n t a d a p r i a d o ( S I A D H ) , p o l i d i p s i a p r i m á r i a , h i p o t i r e o i d i s m o e insuficiên-
de H C O " j é a c o m p a n h a d a p o r íons Na + . cia adrenal (Figura 35-1). A S I A D H é n o r m a l m e n t e o resultado
A h i p o n a t r e m i a d i l u c i o n a l é u m resultado da retenção de de p r o d u ç ã o de A D H ectópico o u " i n a p r o p r i a d o " , p r o v e n i e n t e
H z O e m excesso e quase sempre p o d e ser detectada d u r a n t e o de u m a variedade de condições 4 ( C a p í t u l o s 3 4 e 39), e resulta e m
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Ácido-Base CAPÍTULO 3 5 675

retenção excessiva de H j O . A S 1 A D H é quase sempre diagnosti- n a t r e m i a d e t e r m i n a r á o v a l o r d o N a + plasmático e quais sinto-


cada q u a n d o a o s m o l a l i d a d e u r i n á r i a , que é m a i o r d o que a mas ocorrerão.
plasmática ( n o r m a l m e n t e > 100 m O s m o l / k g ) , é observada n o E m m u i t o s casos os sintomas da h í p e r n a t r e m i a p o d e m estar
q u a d r o de h i p o n a t r e m i a , mos apenas quando as funções renal, mascarados p o r condições básicas q u e c o n t r i b u e m para o desen-
adrenal e tireóidea estão normais. v o l v i m e n t o da h í p e r n a t r e m i a . D e fato, a m a i o r i a dos casos de
h í p e r n a t r e m i a o c o r r e e m pacientes c o m o estado m e n t a l alterado
Hiponatremia Hiperosmótica o u e m bebês, que p o d e m ter d i f i c u l d a d e para se r e i d r a t a r e m ,
A h i p o n a t r e m i a ocorre c o m u m a q u a n t i d a d e a u m e n t a d a de apesar d o r e f l e x o de sede n o r m a l . P o r t a n t o , a h í p e r n a t r e m i a
o u t r o s solutos n o E C F , causando u m a alteração extracelular da raramente ocorrerá e m u m paciente e m alerta c o m u m a resposta
água o u i n t r a c e l u l a r d o N a + p a i a m a n t e r o e q u i l í b r i o o s m ó t i c o à sede n o r m a l e que t e n h a acesso à água.
entre os c o m p a r t i m e n t o s d o E C F e d o I C F . A causa mais c o m u m E m geral a h í p e r n a t r e m i a surge e m cenários de (1) h i p o v o l e -
desse t i p o de h i p o n a t r e m i a é a h i p e r glicemia grave. C o m o regra m i a (perda excessiva de água o u não-reposição da perda n o r m a l
geral, o Na* d i m i n u i - 1 , 6 m m o l / L para cada a u m e n t o de 100 de água), (2) h i p e r v o l e m i a ( u m ganho absoluto de Na* p o r
m g / d L de glicose acima de 100 m g / d L . O uso c l í n i c o de m a n i t o l excesso de g a n h o de água), o u (3) e u v o l e m i a . N o v a m e n t e , a
para diurese o s m ó t i c a pode ter u m efeito similar. avaliação da m e d i d a d o T B W p o r exame físico e a mensuração
d o N a * u r i n á r i o e da osmolalidade são passos i m p o r t a n t e s para
Hiponatremia Isosmótica estabelecer u m diagnóstico para h í p e r n a t r e m i a (Figura 35-2).
Caso a concentração de Na + esteja d i m i n u í d a n o plasma, mas a
o smo la lid a de plasmática, a glicose e a uréia estejam n o r m a i s , a Hipernatremia Hipovolêmica
ú n i c a explicação será a p s e u d o - h i p o n a t r e m i a causada p o r efeito A h í p e r n a t r e m i a n o cenário d o E C F d i m i n u í d o é causada pela
de exclusão d o e l e t r ó l i t o ( C a p í t u l o 24). Isso ocorre q u a n d o o N a ' perda renal o u extra-renal d o f l u i d o h i p o s m ó t i c o , levando à
é m e d i d o p o r u m eletrodo íon-seletivo i n d i r e t o e m pacientes c o m desidratação. P o r t a n t o , u m a vez estabelecida a h i p o v o l e m i a , a
h i p e r í i p i d e m i a grave o u e m estados de h i p e r p r o t e i n e m i a (p. ex., mensuração d o N a 1 u r i n á r i o e da osmolalidade é usada para
paraproteinemia de mieloma múltiplo). d e t e r m i n a r a f o n t e de perda de f l u i d o .
Os pacientes q u e t ê m grandes perdas extra-renais p o s s u e m
Hípernatremia u m a u r i n a c o n c e n t r a d a (^ 8 0 0 m O s m o l / L ) c o m N a + u r i n á r i o
A h í p e r n a t r e m i a (Na* p l a s m á t i c o > 150 m m o l / L ) é sempre hipe- baixo (< 2 0 m m o l / L ) , r e f l e t i n d o a resposta r e n a l a p r o p r i a d a para
r o s m o l a r . O s s i n t o m a s da h í p e r n a t r e m i a são p r i n c i p a l m e n t e conservar N a " e água c o m o u m m e i o de restaurar o v o l u m e d o
neurológicos (devido à perda i n t r a n e u r a l de H 2 0 para o E C F ) e E C F . As causas extra-renais i n c l u e m diarréia, q u e i m a d u r a s na
i n c l u e m tremores, i r r i t a b i l i d a d e , ataxia, confusão e coma. A s s i m8 pele, suor excessivo o u perdas respiratórias j u n t o à incapacidade
c o m o n a h i p o n a t r e m i a , a rapidez d o d e s e n v o l v i m e n t o da híper- de r e p o r a água p e r d i d a .

Medida do Volume

Hipervolemia Euvolemia
Hipovolemia
excesso de água com excesso desidratação com ou
grande excesso de NaCI de NaC! isolado sem excesso de NaCI

Na+urinária variável Na" urinário (mmol/L)


Hiperaldosteronismo
Síndrome de Cushing
Terapia de fluido IV
hipertônico
>20 <10

LI
Osm* (mOsrrWkg)

Isotônico ou Hipertônico
c800 >800 hipotônico ( U ^ > 800)

Diabetes irsipidus Perda insensível Diurese Perda Gl e


central ou - Pulmão osmólica ingesta de água
nefragênico - Pele Diurético Perda através da
terapia e 4- ingesta pele e 1 ingesta
de água de água

Figura 35-2 Algoritmo para o diagnóstico diferencial de hipernacremia. (Modificado de Kirkpacrick W,


Kreisberg R Acid-base and electrolyte disorders. In: Liu P, ed. Bine book of diagnostic tests. Philadelphia- W B
Saunders Co, 1986.239-54.)
676 PARTE V Fisiopatologia

A s causas renais de perda de água por excesso de Na* p o d e m cardiograma ( C a p i t u l o 33) p o r " p i c o s " elevados de ondas T e
ocorrer c o m diurese osmótica o u c o m diuréticos do t i p o tiazida intervalos de Q R S e PR prolongados. A hipercalemia grave pro-
j u n t o à ingestão d i m i n u í d a de água. Nesses cenários, o v o l u m e longada > 7,0 m m o l / L pode levar ao colapso vascular periférico
de u r i n a será alto, a osmolalidade u r i n á r i a será de n o r m a l a baixa, e à parada cardíaca. H á u m a v a r i a b i l i d a d e i n d i v i d u a l nas concen-
e o N a ' u r i n á r i o será alto. trações de K + na q u a l os sintomas se t o r n a m aparentes, mas estes
sintomas estão quase sempre presentes nas concentrações de K +
Hipernatremia Normovolêmica > 6,5 m m o l / L . N a m a i o r i a dos casos, as concentrações > 10,0
A hipernatTemia na presença de u m v o l u m e d o E C F n o r m a l é m m o l / L são fatais.
quase sempre u m p r e n u n c i o de h i p e r n a t r e m i a h i p o v o l ê m i c a .
Perdas insensíveis através dos pulmões o u da pele devem ser Hipocalemia
suspeitas e são caracterizadas pela u r i n a concentrada à m e d i d a As causas de h i p o c a l e m i a (K + plasmático < 3,5 m m o l / L ) estão
que os rins f u n c i o n a m para conservar a água. O u t r a causa de classificadas c o m o redistribuição de K + extracelular d e n t r o do
h i p e r n a t r e m i a n o r m o v o l ê m i c a é a diurese de água manifestada I C F , o u d é f i c i t real de K ' , c o m o resultado de c o n s u m o d i m i n u -
p o r p o l i ú r i a (Figura 35-2). O d i f e r e n c i a l para p o l i ú r í a (geralmente ído o u de perda de f l u i d o s corporais ricos em K + (Figura 35-3).
d e f i n i d a c o m o > 3 L de u r i n a em p r o d u ç ã o / d i a ) é u m a diurese
de água o u de solutos. A diurese de solutos é exemplificada pela Redistribuição
diurese osmótica d o diabetes mellttus e n o r m a l m e n t e é caracteri- A redistribuição de 10 é ilustrada pela queda plasmática de 10
zada pela o s m o l a l i d a d e u r i n á r i a > 3 0 0 m O s m o l / L e pela hipo- que ocorre logo após a i n s u l i n o t e r a p i a para h i p e r g l i c e m i a diabé-
n a t r e m i a (discussão a n t e r i o r neste capítulo). A diurese de água tica. As células precisam i n c o r p o r a r o I C c o m o u m a conseqüência
(solvente) é a manifestação d o diabetes imif>idus ( D I ) e é caracteri- do t r a n s p o r t e de glicose. A h i p o c a l e m i a de r e d i s t r i b u i ç ã o t a m b é m
zada por u r i n a diluída (osmolalidade < 250 m O s m o l / L ) e leve é u m a característica da alcalose, na qual o K + se desloca do E C F
hipernatremia. O D l p o d e ser central ou nefrogênico. 7 O D I central para as células da mesma f o r m a que o H + se desloca em direção
é causado pela redução o u falta total de secreção d o A D H como oposta. A pseudo-hipocalemia é u m a característica das leucemias
resultado de trauma c r a n i a n o , hi pofi s ec tom i a, t u m o r p i t u i t á r i o agudas. A c o n t a g e m elevada de leucócitos p o d e causar u m trans-
o u doença granulomatosa. A causa d o D I nefrogênico é a resis- p o r t e de I O d e p e n d e n t e de t e m p o para as células leucêmicas após
tência renal d o A D H causado p o r drogas (p. ex., lítio, demeclo- a coleta da amostra do sangue. O u t r a s causas menos c o m u n s de
ciclina, anfotericina e p r o p o x i f e n o ) o u doenças, c o m o a n e m i a de redistribuição intracelular estão listadas na Figura 35-3.
célula doente e s í n d r o m e de Sjõgren, que afetam a resposta do
d u e t o coletor ao A D H . O D I c e n t r a l n o r m a l m e n t e é tratado c o m Déficit Real de Potássio
vasopressina, e n q u a n t o o nefrogênico é t r a t a d o c o m a desconti- A h i p o c a l e m i a r e f l e t i n d o o d é f i c i t c o r p o r a l t o t a l de I C p o d e ser
nuação da droga responsável o u c o m o f o r n e c i m e n t o de acesso classificada e m perdas renais e não-renais c o m base na excreção
fácil e freqüente à ingestão de água. diária de K + na u r i n a (Figura 35-3). Se a excreção u r i n á r i a de K
for < 3 0 m m o l / d i a , poder-se-á c o n c l u i r que os rins estão funcio-
Hipernatremia Hipervolêmica n a n d o satisfatoriamente e t e n t a n d o reabsorver o m á x i m o possí-
A presença em excesso de T B W e hipernatremia indica u m ganho vel de I C n o cenário h i p o c a l ê m i c o . As causas p o d e m ser absorção
absoluto de água e N a \ c o m ganho de Na" por excesso de água d i m i n u í d a de K ' o u perda extra-renal de f l u i d o r i c o em K + . As
(Figura 35-2). Essa condição é c o m u m e n t e observada em pacientes sicuações de absorção d i m i n u í d a i n c l u e m inanição crônica e
hospitalizados que estejam recebendo solução salina h i p e r t ô n i c a f l u i d o t e r a p i a intravenosa pós-operatória c o m soluções pobres em
o u bicarbonato de sódio. Outras causas de h i p e r n a t r e m i a hipervo- K + . A perda gastrointestinal de I C é mais c o m u m na diarréia.
lêmica i n c l u e m hiperaldosreronismo e s í n d r o m e de C u s h i n g A excreção de u r i n a que excede 30 m m o l / d i a e m u m cenário
( C a p í t u l o 40). O excesso de aldosterona e de cortisol (que t a m b é m hipocalêmico é inapropriada e indica que os rins são a p r i n c i p a l
atuam c o m o ligantes para o receptor de aldosterona n o t ú b u l o fonte de perda de IO. Perdas renais de K + p o d e m ocorrer duranre
distai) resulta em excesso de Na + e em retenção de água. A terapia a fase diurética (recuperação) da necrose tubular aguda e durante
c o m corticosteróide t a m b é m pode ter efeitos similares. os estados c o m excesso de m i n e r a l o c o r t i c ó i d e (aldosteronismo pri-
mário o u secundário) o u de glicocorticóide (síndrome de Cushing).
Potássio A l é m da redistribuição de I C nas células em u m cenário alcalótico,
O potássio c o r p o r a l t o t a l de u m i n d i v i d u o de 70 k g é - 3 , 5 m o l o I C t a m b é m pode ser perdido pelos rins na troca pelos íons H '
(40 a 59 m m o l / k g ) , do qual apenas 1,5% a 2 % p o d e estar pre- necessários. Essa causa de hipocalemia renal ficará evidente pelo
sente n o ECF. N o e n t a n t o , o K " plasmático é u m i n d i c a d o r C l " u r i n á r i o baixo e pela u r i n a quase sempre alcalina.
relativamente b o m do estoque t o t a l de K 4 c o m apenas algumas
exceções. O d i s t ú r b i o da homeostase de 10 tem conseqüências Hipercalemia
sérias. Por exemplo, a redução de I C extracelular (hipocalemia) é A hipercalemia ( K ' plasmático > 5,0 m m o l / L ) é o resultado (quer
caracterizada p o r fraqueza muscular, i r r i t a b i l i d a d e e paralisia. As só o u em combinações) de (1) redistribuição, (2) absorção aumen-
concentrações plasmáticas de I C inferiores a 3,0 m m o l / L estão tada o u (3) retenção aumentada. A l é m disso, sabe-se que as
associadas a sintomas n e u r o m u seu lares sérios e i n d i c a m u m grau condições pré-analíticas — c o m o hemólise, crombocítose {> I 0 6 /
crítico de depleção intracelular. E m concentrações baixas, a pL) e leucócitos (> 1 0 s / p L ) — t a m b é m causam pseudo-hipercale-
taquicardia e os efeitos da c o n d u ç ã o cardíaca específica são apa- m i a substancial, c o m o descrito em detalhes n o C a p í t u l o 24
rentes n o exame eletrocardíográfico (ondas T achatadas) e p o d e m (Figura 35-4).
levar à parada cardíaca. 8
A s concentrações extracelulares a n o r m a l m e n t e altas de I C Redistribuição
( h i p e r c a l e m i a ) p r o d u z e m sintomas de confusão m e n t a l , fraqueza, A transferência de I C intracelular pata o E C F ocorre invariavel-
f o r m i g a m e n t o , paralisia f l á c i d a das extremidades e fraqueza dos m e n t e na acidose, à medida que o H ' se desloca para d e n t r o da
músculos respiratórios. 8 Os efeitos cardíacos da hipercalemia célula e o K~ se desloca para fora para m a n t e r a neutralidade elé-
i n c l u e m b r a d i c a t d i a e defeitos de condução evidentes n o eletro- trica. C o m o regra geral, espera-se que as concentrações de IC
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Ácido-Base CAPÍTULO 3 5 677

Redistribuição de K+ Déficit real de K+

• Resposta à insulina
• Alcalose K+ urinário de 24 horas
• Excesso de catecolamina
ou de (3-adrenérgico
• Pseudo-hipocalemia
provocada por devido à
t leucócito > 25 mmcl/dia < 25 mmol/dia
• Hipotermia
• Paralisia periódica
hipocalêmica

Perda renal Perda extra-renal -J- ingesta dietética


• Gl: diarréia, fístula (p. ex., inanição)
• Polo: suor oxcessivo

Acidose metabólica Alcalose metabólica

' Acidose tubular renal, Necrose tubular aguda, fase


tipos 1 ou II diurética
Toxicidade por anfotericina B
Hipomagnesemia

Cl urinário de 24 horas

> 10 mmol/dia 10 mmol/dia

Excesso de minera loco rticóide,


1
Diuréticos
primário ou secundário Vômito ou sucção
Excesso de glicocorticóide, de NG
primário (p ex., síndrome Penicilinas
de Cushing) ou iatrogênioo

F i g u r a 3 5 - 3 Algoritmo para o diagnóstico diferencial de hipocalemia. (Modificado de Kirkpatrick W,


Kreisberg R. Acid-base and electrolyte d í sor d eis. In- Liu P, ed. Blue book of diagnostic tests. Philadelphia: W B
Saunders Co, 1986:239-54.)

subam de 0,2 a 0,7 m m o l / L para cada gota de u n i d a d e 0,1 n o p H . a hipercalemia r a r a m e n t e é prolongada. A excreção d i m i n u í d a
Q u a n d o as causas básicas da acidose são tratadas, a n o r m o c a l e m i a de K + na doença renal aguda e na i n s u f i c i ê n c i a renal t e r m i n a l
é rapidamente restabelecida. A redistribuição extracelular de K + ( c o m o l i g ú r i a o u a n ú r i a e acidose) é a causa mais c o m u m de
t a m b é m p o d e ocorrer em (1) desidratação, (2) cboque c o m hipoxia hipercalemia p r o l o n g a d a (Figura 35-4). A hipercalemia ocorre
tecidual, (3) deficiência de insulina (p. ex., cetoacidose diabética), j u n t o c o m a depleção de N a + na i n s u f i c i ê n c i a a d r e n o c o r t i c ó i d e
(4) bemólise maciça intra o u extra corporal, (5) queimaduras graves, (p. ex., doença de A d d i s o n ) p o r q u e a reabsorção d i m i n u í d a de
(6) s í n d r o m e de lise do t u m o r e (7) atividade muscular violenta, Na 1 e a redução c o n c o m i t a n t e na troca de Na + -K + resulta e m
c o m o a que ocorre em estados epiléticos. Finalmente, as causas secreção de K + d i m i n u í d a . A s drogas q u e b l o q u e i a m a p r o d u ç ã o
iatrogênicas importantes de hipercalemia na redistribuição i n c l u e m de aldosterona, c o m o os i n i b i d o r e s da enzima conversora de
toxicidade p o r digoxina e b l o q u e i o P-adrenérgico, especialmente angiotensina (inibidores de A C E , p ex., captopril) t a m b é m p o d e m
em pacientes c o m diabetes o u e m diálise. 8 causar hipercalemia. O u t r a s causas de hipercalemia i n c l u e m
hiperplasia adrenal congênita por perda de sal, s í n d r o m e de lise
Retenção de Potássio d o t u m o r e administração em excesso de diuréticos poupadores
Q u a n d o a filtração g l o m e r u l a r o u a f u n ç ã o t u b u l a r renal estão de potássio, que b l o q u e i a m a secreção t u b u l a r distai de K + (p. ex.,
d i m i n u í d a s , a hipercalemia p o d e ser i n d u z i d a p o r infusão intra- t r i a n t e r e n o e espironolactona).
venosa de K + . Q u a n d o a f u n ç ã o renal está n o r m a l , não é provável
q u e u m a sobrecarga do t r a t a m e n t o produza h i p e r c a l e m i a p o r q u e Cloreto
existe u m a capacidade renal mais do que adequada para excretar O í o n de cloreto ( C l - ) é o â n i o n mais a b u n d a n t e n o E C F (Tabela
o excesso de K + . D e fato, na ausência de i n s u f i c i ê n c i a r e n a l grave, 35-2). N a ausência de distúrbios ácido-base, as concentrações de
678 PARTE V hisiopatologia

Hemõtise ' AckJoss metabólica


Tromba citoso ' Desidratação
(> ' Hipoxia tacidual maciça
Leucodtose • Def ciência de inclina
(> 107mrrr') • Ratrlomtòlise
• latrogènica;
- foxinlrls^dd d» Oigifatis
- íllftqucadrtnjií (j-adrenòrgicos

Exctbç&o ôitrirtulda Os X.'


Oligúria (GFR <10 m L/min)
mais t de carga de K'

• Suplementos de K*

Deficiência Defeito tubular renal Diuréticos
• Transfusão sanguínea
mineralocorticâide: primário: poupadores de K+
maciça
• Doença de Addison • Nefropatia obstrutiva • Triantereno
Hemólise
• Hipoaldosteronismo • Transplante renal • Amilorida
' Necrose tecidual
hiparTenirêmico • Doença da célula • Espironolactona
• Penicilina em dose alia
• Inibidores da ACE falciforme
- Lúpus eritematoso
sistêmico

F i g u r a 3 5 - 4 Algontmo para o diagnóstico diferencial de hipercalemia. (Modificado de Kirkpatrick W,


Kreisberg R. Acid-base and electrolyte disotders. In: Liu P, ed. Blue book of diagnostic bests. Philadelphia: WR
Saunders Co, 1986:239-54 )

C l " n o plasma geralmente seguirão àquelas d o Na + . Porém, a n a t o de sódio, D l , estados de h i p e r f ú n ç ã o a d r e n o c o r t i c ó i d e e


d e t e r m i n a ç ã o da concentração plasmática de Cl~ é ú t i l no diag- sobrecarga de t r a t a m e n t o c o m soluções salinas. U m leve a u m e n t o
nóstico diferencial dos d i s t ú r b i o s ácido-base e é essencial para na concentração de Cl~ t a m b é m p o d e ser visto na alcalose respi-
calcular o intervalo a n i ô n i c o (ver A c i dos e A u m e n t a d a no Inter- ratória c o m o resultado da compensação renal da excreção de
valo A n i ô n i c o {Acidose Orgânica) p o s t e r i o r m e n t e , neste capí- HCO~3- Acidose h i p e r c l o r ê m i c a p o d e ser u m s i n a l de doença
t u l o ) . As flutuações de Cl~ n o soro o u n o plasma possuem pouca t u b u l a r renal grave.
conseqüência clinica, mas servem c o m o sinais de u m d i s t ú r b i o
básico na homeostasia d o f l u i d o e do e q u i l í b r i o ácido-base, Bicarbonato
p o d e n d o auxiliar na diferenciação da causa desses distúrbios. O c o n t e ú d o t o t a l de d i ó x i d o de c a r b o n o ( C 0 3 ) no plasma con-
siste em d i ó x i d o de carbono dissolvido em u m a solução aquosa
Hipocloremia ( d C O z ) , C 0 2 f r o u x a m e n t e ligado a grupos de a m t n a em proteí-
E m geral, as causas de h i p o c l o r e m i a serão equivalentes àquelas nas (compostos de c a r b a m i n o ) , H C O j e u m a pequena q u a n t i -
da h i p o n a t r e m i a discutidas a n t e r i o r m e n t e . A h i p o c l o r e m i a é fre- dade de íons não-permanentes de C 0 2 ~ 3 e ácido c a r b ô n i c o
q u e n t e m e n t e observada nas acidoses metabólicas causadas p o r (H2CO3). O s íons de b i c a r b o n a t o c o m p õ e m a totalidade de C O :
p r o d u ç ã o aumentada o u excreção d i m i n u í d a dos ácidos orgâni- do plasma (22 a 31 m m o l / L ) , exceto ~ 2 m m o l / L . A mensuração
cos (p. ex., cetnacidose diabética e i n s u f i c i ê n c i a renal). E m tais do t o t a l de C O 2 c o m o parte de u m p e r f i l de eletrólito é usada,
casos, a fração da concentração d o â n i o n total representada p o r p r i n c i p a l m e n t e , para avaliar a concentração de H C O ~ j na avalia-
C l " está d i m i n u í d a p o r q u e a fração c o m p l e m e n t a r de fi-hidroxi- ção dos distúrbios ácido-base.
b u t i r a t o , acetoacetato, lactato e fosfato está aumentada. Secreção Alterações de H C O ~ 3 e de C O 2 dissolvidos n o plasma são
gástrica persistente e v ô m i t o p r o l o n g a d o , seja q u a l for a causa, características de desequilíbrio ácido-base. Seus valores t ê m mais
r e s u l t a m em perda significativa de C l " e, p o r f i m , em u m a alca- significância n o contexto de outros valores para eletrólito e c o m
lose h i p o c l o r ê m i c a e depleção de C l " c o r p o r a l t o t a l c o m retenção os valores dos gases sanguíneos e d o p H . T o d a significância clínica
correspondente de HCO~3- da determinação do C 0 2 total ficará clara na discussão a seguir
sobre a fisiologia ácido-base.
Hipercloremia
A concentração plasmática de C l " a u m e n t a d a , assim c o m o a FISIOLOGIA ÁCIDO-BASE
concentração aumentada de Na + , ocorre c o m desidratação, A dieta h u m a n a n o r m a l é quase n e u t r a , c o n t e n d o apenas u m a
acidose t u b u l a r r e n a l ( R T A ) , insuficiência renal aguda, acidose pequena q u a n t i d a d e de ácido titulável. N o e n t a n t o , o processo
metabólica associada à diarréia prolongada e perda de bicarbo- m e t a b ó l i c o n o c o r p o resulta em u m a p r o d u ç ã o de quantidades
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Áoido-Base CAPÍTULO 3 5 679

relativamente grandes de ácidos carbônicos, sulfúricos, fosfóricos dade seja igual à concentração. A relação entre a atividade do í o n
e outros. de h i d r o g ê n i o e o p H é ilustrada na Figura 35-5. A relação é inversa
POT exemplo, d u r a n t e u m p e r í o d o de 24 horas, u m a pessoa e obviamente não-linear. M u i t o s centros europeus expressam a
pesando 70 k g e l i m i n a cerca de 20 m o l de C O 2 (a f o r m a v o l á t i l atividade do sangue e m termos da concentração de í o n de h i d r o -
de ácido carbônico) pelos pulmões e cerca de 70 a 100 m m o l (ou gênio em n a n o m o l s p o r l i t r o ( n m o l / L ) . Essa f o r m a de expressão
~ 1 m m o l / k g ) de ácidos tituláveis não-voláteis ( p r i n c i p a l m e n t e t e m a vantagem de evitar as transformações logarítmicas q u a n d o
ácidos s u l f ú r i c o e fosfórico) pelos rins. Esses p r o d u t o s do meta- realiza cálculos de ácido-base. E m b o r a seja consistente c o m o
b o l i s m o são transportados para os p u l m õ e s e rins via E C F e m o d o c o m o outras concentrações são expressas, ela não a d q u i r i u
sangue sem p r o d u z i r qualquer m u d a n ç a apreciável n o p H plas- a m p l o uso nos Estados U n i d o s .
m á t i c o e c o m apenas u r r a diferença m í n i m a n o p H entre o O p K ( t a m b é m p K ' e p K ) representa o l o g a r i t m o negativo
sangue arterial ( p H de 7,35 a 7,45) e o venoso ( p H de 7,32 a da ionização constante de u m ácido fraco ( K J . Isto é, o piC é o
7,38). Isso é a c o m p a n h a d o pela capacidade t a m p o n a n t e do p H n o q u a l o ácido é m e i o associado, existindo c o m o proporções
sangue e pelos mecanismos reguladores respiratórios e renais. iguais de ácido e de base conjugados. Logo, os ácidos possuem
valores de p K < 7 , 0 , e n q u a n t o as bases possuem valores de p K >
Equilíbrio Ácido-base e "Status Ácido-base" 7,0. O pico mais baixo de p K , o ácido mais forte, e o p i c o mais
A descrição do e q u i l í b r i o ácido-base envolve u m a contagem dos alto de p K , a base conjugada mais forte. Por exemplo, o p K do
ácidos carbônicos e não-carbônicos e as bases conjugadas ( H j C O ^ , ácido láctico é 3,5, e para o í o n de a m ó n i o N F l ^ é 9,5. O p K
HCO~3, C 0 2 - 3 , CO2) em termos de inpuc (ingesta mais p r o d u ç ã o alto para o í o n de a m ó n i o i n d i c a que essas espécies preferem ficar
metabólica) e output (excreção mais conversão metabólica) d u r a n t e presas e m seus p r ó t o n s e m vez de se dissociarem e m N H 3 e H + .
u m d e t e r m i n a d o intervalo de t e m p o . O p e r f i l ácido-base dos O p H do plasma p o d e ser considerado u m a f u n ç ã o de duas
f l u i d o s corporais é t i p i c a m e n t e avaliado p o r mensurações de variáveis independentes: (1) o P C 0 2 , que é regulado pelos
C 0 2 , p H plasmático e PCO2 totais, p o r q u e o sistema bicarbo- p u l m õ e s e representa o c o m p o n e n t e ácido d o sistema-tampão
n a t o / á c i d o carbônico é o sistema de t a m p o n a m e n t o mais i m p o r - ácido c a r b ô n i c o / b i c a r b o n a t o e (2) a concentração da base titu-
tante do plasma. lada, que é regulada pelos rins. A concentração de b i c a r b o n a t o
Os termos clínicos a seguir são usados para descrever o p e r f i l n o plasma é geralmente tomada c o m o m e d i d a d o excesso de base
ácido-base. A c i d e m i a é d e f i n i d a c o m o u m sangue arterial de p H o u c o m o d é f i c i t n o plasma e n o E C F , embora existam condições
< 7,35 e alcalemía i n d i c a u m sangue arterial de p H > 7,45. nas quais a concentração de b i c a r b o n a t o pode n ã o r e f l e t i r preci-
Acidose e alcalose se referem aos estados patológicos que levam à samente o verdadeiro excesso o u déficit de base.
acidemia o u à alcalemía. Por exemplo, em distúrbios ácido-base
c o m u n s c o m o a acidose láctica e a cetoacidose diabética, inter- Bicarbonato e C02 Dissolvido
m e d e i a m os ácidos orgânicos (ácido láctico e ácido P - h i d r o x i b u - O b i c a r b o n a t o é a segunda m a i o r fração (depois de Cl~) dos
tírico, respectivamente), q u e são n o r m a l m e n t e metabolizados ânions plasmáticos ( ~ 2 2 5 m m o l / L ) . C o m o descrito n o C a p í t u l o
para C O ? e água, p o d e m se a c u m u l a r e m q u a n t i d a d e significa- 24, a análise usual de m e d i d a n o plasma é o C O 2 total que m c l u i
tiva, r e s u l t a n d o e m a c i d e m i a . A l é m d i s s o , m a i s de u m t i p o d e b i c a r b o n a t o e C 0 2 dissolvido ( d C 0 2 ) . A fração d C 0 2 é d e f i n i d a
processo patológico pode ocorrer s i m u l t a n e a m e n t e , d a n d o incluindo-se o ácido carbônico não-dissociado, fisicamente dis-
origem a u m d i s t ú r b i o ácido-base m i s t o , n o q u a l o p H sanguíneo solvido, e C 0 2 livre. N o p H sanguíneo, a q u a n t i d a d e dissolvida
pode estar baixo, alto, o u d e n t r o do i n t e r v a l o de referência. Essas de C 0 2 é 700 a 1.000 vezes m a i o r que a q u a n t i d a d e de ácido
mensurações refletem u m a amostragem estatística de u m pro-
cesso d i n â m i c o envolvendo interações complexas entre sistemas
m ú l t i p l o s de t a m p o n a m e n t o e de mecanismos compensatórios
140
dos rins e pulmões. Para e n t e n d e r c o m o essas outras perturba-
ções do m e t a b o l i s m o ácido-base afetam a fisiologia h u m a n a , será
120
necessário e x a m i n a r breve, p o r é m cuidadosamente os conceitos
de ácidos, bases, p H e tampões e m relação aos sistemas relevantes
que f u n c i o n a m para m a n t e r n o r m a l o e q u i l í b r i o ácido-base n o 100
X. Normal
corpo h u m a n o
80
Parâmetros Ácido-base — Definições e o
j-
Abreviaturas •5 60
O s ácidos sao substâncias químicas que p o d e m doar p r ó t o n s (íons 9
TJ >40
«
H + ) e m solução e as bases são substâncias que aceitam prótons. 40

I
3
Os ácidos fortes d o a m p r o n t a m e n t e H + , e n q u a n t o as bases fortes B
aceitam p r o n t a m e n t e FL. Logo, a base conjugada de u m ácido 20
f o r t e é u m a base fraca, e vice-versa.
0
pH e pK 6,9 7,0 7.1 7.2 7.3 7,4 7.5 7.6 7,/
O p H de u m a solução é d e f i n i d o c o m o o l o g a r i t m o negativo da
DH
atividade d o í o n de h i d r o g ê n i o ( p H = - I o g a H + ) . Logo, o f>H é uma
quantidade sem dimensão, o u seja, o decréscimo de u m a u n i d a d e Figura 3 5 - 5 Relação do p H com a concentração de íons de
de p H representa u m a u m e n t o de 10 vezes na atividade de H + . hidrogênio. A ímha pontilhada enfatiza a relação linear (aproximada)
A m é d i a de p H d o sangue (7,40) corresponde a u m a concentra- entre a concentração de íons de hidrogênio e o p H acima da faixa do
ção de í o n de h i d r o g ê n i o de 4 0 n m o l / L (Figura 35-5). D e t e r m i - p H de 7,2 a 7,5. (De Narins RG, Emmett M. Simple and mixed acid-
nações potenciométricas do p H sanguineo m e d e m a atividade de base disorders- A pracrical approach. Medicine 1980;59 161-87 )
H * e nao a concentração de H + , embora se presuma que a ativi-
680 PARTE V Fisiopatologia

c a r b ô n i c o e, p o r t a n t o , c d C 0 2 é o t e r m o usado para expressar equação de Henderson-Hasselbalch à fisiologia ácido-base


suas concentrações combinadas. O c d C O j é calculado a p a r t i r h u m a n a p o d e ser ilustrada p o r u m diagrama c o m p o n t o de apoio
do coeficiente de s o l u b i l i d a d e de C 0 2 no sangue a 37 ° C ( a = (gangorra) (Figura 35-6).
0 , 0 3 0 6 m m o l / L p o r m m H g ) m u l t i p l i c a d o pela PCO2 m e d i d a
em m m Hg. A s s i m , em u m a P C 0 2 de 40 m m H g , c d C 0 2 é 1,224 Sistemas-tampão e Seus Papéis na
m m o l / L (0,0306 m m o l / L / m m H g x 40 m m Hg). Esse valor de Regulação do pH dos Fluidos Corporais
c d C O í p o d e ser usado, na equação de Henderson-Hasselbalch, U m t a m p ã o é a m i s t u r a de u m ácido fraco e de u m sal de sua
para calcular a concentração d o b i c a r b o n a t o total. base conjugada que resiste às mudanças n o p H q u a n d o u m ácido
o u base f o r t e é a d i c i o n a d o à solução ( C a p í t u l o 1). Se as concen-
Equação de Henderson-Hasselbalch trações dos c o m p o n e n t e s do ácido e da base de u m t a m p ã o f o r e m
A equação de H e n d e r s o n - H a s s e l b a l c h é descrita em detalhes n o iguais, o p H será igual ao p í C G e r a l m e n t e os tampões f u n c i o n a m
C a p í t u l o 24. Porém, é i m p o r t a n t e rever essa equação a q u i p o r q u e m e l h o r em mudanças n o p H n o i n t e r v a l o + 1 da u n i d a d e do p H
ela ajuda a e n t e n d e r a regulação do p H dos f l u i d o s coTporais, à de seu pfC. Isto é, os tampões f u n c i o n a m m e l h o r q u a n d o a razão
m e d i d a que se relaciona c o m os mecanismos compensatórios do ácido:base está d e n t r o da variação de 10:1 a 1:10. Os tampões
c o r p o nos distúrbios ácido-base. A equação desenvolvida n o t a m b é m são mais eficazes em concentrações mais altas, de m o d o
C a p í t u l o 24 t a m b é m p o d e ser escrita da seguinte maneira: que u m a solução-tampão de 10 m m o l / L é mais eficaz do que
u m a solução de 1,0 m m o l / L .
p H = 6,1 + l o g ( c H C O y c d C 0 2 ) A ação dos tampões na regulação do p H c o r p o r a l p o d e ser
explicada usando-se o s is tema-ta m p ã o d o b i c a r b o n a t o c o m o u m
o n d e c d C 0 2 é igual a a x P C 0 2 e 6,1 é o plC aparente para o exemplo. Se u m ácido forte for a d i c i o n a d o a u m a solução que
sistema ácido c a r b o n o / b i c a r b o n a t o ( C a p í t u l o 24). c o n t e n h a H C O ~ 3 e H 2 C 0 3 J o H " reagirá c o m H C O ~ J para f o r m a r
A razão m é d i a n o r m a l das concentrações dc b i c a r b o n a t o e mais H Z C 0 3 e, subseqüentemente, C 0 2 e H 2 0 . Os íons de h i d r o -
COT dissolvido n o plasma é 25 ( m m a l / L ) / l , 2 5 ( m m o l / L ) = gênio são então ligados e o a u m e n t o na concentração de H + será
2 0 / 1 . Por conseguinte, q u a l q u e r m u d a n ç a na concentração de mínimo.
b i c a r b o n a t o o u de C 0 2 dissolvido deve ser acompanhada por
u m a m u d a n ç a n o p H . Tais mudanças na razão p o d e m ocorrer HCO"3 + H+ -» h 2 c o 3 c o 2 + h2o
através de u m a m u d a n ç a n o n u m e r a d o r (o c o m p o n e n t e renal)
o u no d e n o m i n a d o r (o c o m p o n e n t e respiratório). As condições Os sistemas-tampão de m a i o r interesse fisiológico na regulação
clínicas caracterizadas c o m o d i s t ú r b i o s metabólicos do e q u i l í b r i o do p H dos f l u i d o s corporais são os do plasma e das hemácias. Os
ácido-base são classificadas c o m o distúrbios p r i m á r i o s e m c H C O ~ 3 . tampões fisiológicos mais i m p o r t a n t e s serão discutidos adiante.
As condições caracterizadas c o m o distúrbios respiratórios são clas-
sificadas c o m o distúrbios p r i m á r i o s em c d C 0 2 . V á r i o s mecanis- Sistema-tampão de Ácido Carbônico/Bicarbonato
mos compensatórios t e n t a n d o restabelecer a razão n o r m a l de O t a m p ã o mais i m p o r t a n t e d o plasma é o ácido c a r b ó n i c o / b i c a r -
c H C C T i / c d C O ? p o d e m resultar em mudanças na concentração b o n a t o (ver equação neste capítulo). I n i c i a l m e n t e , pode-se não
de b i c a r b o n a t o , de C 0 2 dissolvido o u de ambos. A aplicação da acreditar que esse tampão seja m u i t o eficaz p o r q u e seu píC é 6,1,

Razão PH
cHCO V c d C 0 2 sanguíneo
Óbito

Alcalose

(excesso de HCO~a
CHCOg e/ou déficit de dC0 2 )
27 Normal
44 ^ X
Acidose

(Déficit de HCO 3
ou excessa de dCO:)

Óbito

F i g u r a 3 5 - 6 Esquema demonstrando a relação entre o pH e a razão da concentração de bicarbonato para a


concentração de C 0 2 dissolvido. Se a T a z ã o no sangue for 20:1 (cHCO~3 ~ 27 m m o l / c d C 0 2 " 1,35 mmol/L), o
pH resultante será 7,4, como demonstrado pela uiga sólida. A linha pontilhada mostra um caso de alcalose
descompensada (excesso de bicarbonato) com uma concentração de bicarbonato de 44 m m o l / L e um cdCOj de
1,1 mmol/L. Logo, a razão é 40:1, e o pH resultante é 7,7. TSIo caso de acidose descompensada, o ponteiro do
equilíbrio apontará para um pH entre 6,8 e 7,35, dependendo da razão c H C 0 ~ 3 / c d C 0 2 . (De Weisberg HF. A
better understanding of anion-cation ("acid-base") balance. Surg Clin Nortb Am 1959;39:93-120; Snively WD,
Wessner M. ABC's of fluid balance. ] Ind State Med Assoe 1954;47:957-72.)
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Ácido-Base CAPÍTULO 35 681

e n q u a n t o o p H plasmático n o r m a l é 7,4. A l é m disso, a razão da venoso p u l m o n a r , então, r e t o r n a para o v e n t r í c u l o esquerdo pelo


base para o ácido é ~ 2 0 : 1 n o plasma, o que está fora dos limites á t r i o esquerdo e é b o m b e a d o pela aorta para o t e c i d o periférico.
gerais para u m a boa capacidade de t a m p o n a m e n t o . C o n t u d o , a N o s capilares do tecido p e r i f é r i c o , o sangue arterial libera 0 2
eficácia d o t a m p ã o de b i c a r b o n a t o é baseada em sua alta concen- para as células teciduais e capta C 0 2 . C o m o r e t o r n o do sangue
tração (> 20 m m o l / L ) e no fato de que os pulmões p o d e m aos pulmões, o ciclo é c o m p l e t a d o .
p r o n t a m e n t e liberar o u reter C 0 2 (ver equação). A l é m disso, os E m estado de repouso, a taxa de respiração é de 12 a 15
t ú b u l o s Tenais p o d e m a u m e n t a r o u diminuir a velocidade da r e s p i r a ç õ e s / m i n u t o . Para u m a d u l t o de t a m a n h o m e d i a n o com
recuperação de b i c a r b o n a t o d o f i l t r a d o g l o m e r u l a r ( C a p í t u l o 34). u m v o l u m e corrente ( q u a n t i d a d e de aT trocada p o r ciclo respira-
A i m p o r t â n c i a da concentração alta fica aparente q u a n d o se t ó r i o ) de a p r o x i m a d a m e n t e 0,5 L, 6 a 8 L de ar p o r m i n u t o são
considera que u m p H n o r m a l , 5 m m o l / L de lactato ( p K ~ 4 ) gera transportados em qualquer das direções. A atividade física
~ 5 m m o l / L de íon o que é notável — considerando-se que a u m e n t a a ventilação (taxa respiratória X v o l u m e corrente [isto
u m a concentração de í o n H + n o r m a l é de apenas 40 n m o l / L , é, a q u a n t i d a d e de ar trocada p o r m i n u t o ] ) . Esforços v o l u n t á r i o s
O u t r o s tampões do sangue, c o m exceção do b i c a r b o n a t o , estão p o d e m a u m e n t a r a taxa de ventilação 20 a 30 vezes acima da
presentes na concentração < 10 m m o l / L . concentração de repouso, mas apenas brevemente. O s a u m e n t o s
i n v o l u n t á r i o s na taxa e na p r o f u n d i d a d e da respiração são regu-
Sist&ma-tampáo de Fosfato lados pelo centro respiratório m e d u l a r n o t r o n c o cerebral que,
E m u m p H plasmático de 7,4, a razão c H P O ^ ^ / c H j P O ^ é 4 : 1 p o r sua vez, é estimulado pelos quimiorreceptores centrais loca-
( p K ' = 6,8). A concentração t o t a l desse tampão, t a n t o nas hemá- lizados na superfície anterior da m e d u l a alongada e pelos qui-
cias q u a n t o no plasma, é m e n o r que a de outros sistemas-tampão miorreceptores periféricos localizados nas artérias carótidas e na
i m p o r t a n t e s , r e s p o n d e n d o p o r apenas cerca de 5 % do valor aorta. Os quimiorreceptores periféricos são estimulados p o r u m a
plasmático d o tampão c o m exceção do b i c a r b o n a t o . O fosfato queda n o p H , causada pelo a c ú m u l o de C 0 2 o u pela redução
orgânico, entretanto, na f o r m a de 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) de P 0 2 . Os quimiorreceptores centrais são estimulados apenas
(presente nas hemácias e m u m a concentração de aproximada- por u m a redução n o p H do l í q u i d o cerebrospinal (CSF).
mente 4,5 m m o l / L ) , responde p o r cerca de 16% d o valor d o A resposta n o r m a l de u m paciente a esses receptores q u í m i -
t a m p o n a m e n t o para o f l u i d o eritrocitário. cos que i m p u l s i o n a m a respiração é quase sempre p e r t u r b a d a
p o r u m a condição patológica n o sistema c i r c u l a t ó r i o o u respira-
Sistema-tampão de Hemoglobina e Proteína t ó r i o . Se o d i s t ú r b i o for significativamente a n o r m a l , o paciente
Plasmática precisará de ventilação assistida q u e utilize u m aparelho mecâ-
As proteínas, especialmente a l b u m i n a , r e s p o n d e m pela m a i o r n i c o para fornecer m i s t u r a de gases i n t e r m i t e n t e m e n t e via t u b o
porção (95%) do valor do tampão plasmático, não considerando e n d o t r a q u e a l inserido na boca o u p o r traqueostomia. A m i s t u r a
o tampão b i c a r b o n a t o . Os grupos de tampões protéicos mais de gases c o n t e n d o diferentes composições fracionárias de O? e
i m p o r t a n t e s na variação d o p H fisiológico são os grupos de imi- C 0 2 p o d e ser a d m i n i s t r a d a e m c o n j u n t o c o m a ventilação assis-
dazol das histidinas ( p K ~7,3). Cada m o l é c u l a de a l b u m i n a tida. Os ajustes das condições da ventilação mecânica feitos pelo
c o n t é m 16 hisridinas. m é d i c o depende e n o r m e m e n t e dos resultados dos gases sanguí-
A h e m o g l o b i n a responde pela m a i o r parte dos tampões d o neos e das determinações do p H que r e f l e t e m a condição ácido-
f l u i d o eritrocitário, c o m m a i o r c o n t r i b u i ç ã o de 2 , 3 - D P G para o base presente.
restante dos tampões. Os grupos de i m i d a z o l da h e m o g l o b i n a são
q u a n t i t a t i v a m e n t e os grupos de tampões mais i m p o r t a n t e s . Troca de Gases nos Pulmões e no Tecido
Periférico
Mecanismos Respiratórios na Regulação do A difusão de O i e C 0 2 pelas m e m b r a n a s celulares alveolares é
Equilíbrio Ácido-base governada pelos gradientes n a pressão parcial de cada gás (Figura
A l é m de fornecer 0 2 às células teciduais para u m m e t a b o l i s m o 35-7). O ar seco i n s p i r a d o e m u m a pressão de 1 atm (760 m m
n o r m a l , o mecanismo r espi r atór i o c o n t r i b u i para a m a n u t e n ç ã o Hg) consiste em 2 1 % de 0 2 ( P 0 2 " 1 6 0 m m Hg), 0 , 0 3 % de C 0 2
do p H sanguíneo n o r m a l , e l i m i n a n d o o u r e t e n d o C 0 2 na acidose (PCO2 ~ 0 , 2 5 m m Hg), 7 8 % de n i t r o g ê n i o e ~ 0 , 1 % de outros
e alcalose metabólicas, respectivamente. gases inertes. Q u a n d o o ar i n s p i r a d o passa sobre as m e m b r a n a s
das mucosas ú m i d a s do trato respiratório superior, ele é aque-
Respiração c i d o a 3 7 ° C , saturado c o m o v a p o r de água e m i s t u r a d o c o m o
A troca de 0 2 e C 0 2 nos pulmões entre o ar alveolar e o sangue ar na árvore respiratória, r e s u l t a n d o e m pressões parciais de
é d e n o m i n a d a respiração externa, e m contraste c o m a respiração ~ 150 m m H g para 0 2 l 0,3 m m H g para C 0 2 , ~47 m m H g para
i n t e r n a que ocorre a nível tecidual. N a inspiração, a contração do H 2 0 e 563 m m H g para n i t r o g ê n i o . A m i s t u r a a d i c i o n a l c o m o
diafragma e da musculatura torácica expande o v o l u m e intratorá- ar alveolar resulta em pressões parciais na m e m b r a n a alveolar de
cico e cria u m a queda na pressão i n t r a p u l m o n a r . O ar atmosférico ~ 105 m m H g para 0 2 , ~ 4 0 m m H g para C 0 2 e ~47 m m H g
é puxado para d e n t r o da árvore b r ô n q u i c a , que t e r m i n a nos para H ^ O . O sangue venoso d o l a d o oposto da m e m b r a n a alve-
alvéolos. Os alvéolos são pequenas câmaras sacifoTmes c o m olar c o n t é m O2 em u m a pressão p a r c i a l de a p r o x i m a d a m e n t e 40
paredes m u i t o finas b e m próximas dos capilares pulmonares, m m H g , e C 0 2 e m a p r o x i m a d a m e n t e 46 m m Hg. Logo, o gra-
onde ocorre a troca de gases entre o aT alveolar e o sangue pul- d i e n t e para O? é para d e n t r o , em direção ao sangue, e para COT
m o n a r . A expiração ocorre passivamente pelo recuo q u a n d o o é para fora, em direção aos alvéolos. A remoção de C 0 2 é tão
tecido elástico dos p u l m õ e s e a parede torácica se retraem e o eficiente que o P C 0 2 n o ar e x p i r a d o é mais de 100 vezes o ar
v o l u m e intratorácico é d i m i n u í d o . A perda da elasticidade dos i n s p i r a d o de P C 0 2 (Figura 35-7). N o sangue arterial, o PO^ é
pulmões e a destruição das membranas alveolares são mecanismos ligeiramente mais baixo n o ar alveolar (90 uersus 105 m m Hg). A
patológicos básicos, o r i g i n a n d o muitas doenças pulmonares. diferença se dá pelo fato de o desvia sanguíneo de aproximada-
O sangue venoso periférico alcança a circulação p u l m o n a r m e n t e 5 % pelos p u l m õ e s não se e q u i l i b r a r c o m o 0 2 .
pelo v e n t r í c u l o d i r e i t o d o coração e é "arterializado" nos capilares N o f i n a l dos capilares arteriais d o tecido periférico, o P O i de
dos p u l m õ e s p o r captação de O z e perda de C O z . O sangue a p r o x i m a d a m e n t e 90 m m H g é substancialmente m a i o r d o que
682 PARTE V Fisiopatologia

Ar expirado Af in-\;p ratío


POy. 115 PO-: 160
PCOv. 30 PCCh: 0.25
PHJO: 47 PH,0: variável

Ar bronquial
ou tratjUHéil
TO;: 150
PCOy. 0.25
PH,O: 47

Figura 3 5 - Pressões parciais de oxigênio e dióxido de carbono n o ar, n o sangue e no tecido. Os valores
mostrados são aproximações em m m Hg e calculados assumindo-se u m a variação de 5%. As setas em negritn
indicam as direções dos gradientes. (Modificado de Tietz NW. Fundamentals of clinicai chemistry, 3rd. Ed.
Philadelphia' W B Saunders Co, 1987.)

a m é d i a de P 0 2 na superfície das células teciduais (20 m m H g ) , horas p o d e m ser necessárias para a resposta máxima. A resposta
e o P C O t de - 4 0 m m H g é substancialmente m e n o r d o que m á x i m a não é o b t i d a até que os q u i m i o r r e c e p t o r e s periféricos e
aquele nas células (50 a 70 m m Hg). Assim, n o capilar tecidual, centrais sejam c o m p l e t a m e n t e estimulados; p o r exemplo, nos
o gradiente para O i é para d e n t r o da célula; para C O 2 , ele é para estágios iniciais da acidose m e t a b ó l i c a , o p H sanguíneo d i m i n u i ,
fora do sangue capilar. A diferença arteriovenosa na pressão mas c o m o os íons de H " se e q u i l i b r a m u m t a n t o l e n t a m e n t e
parcial é a p r o x i m a d a m e n t e 60 m m H g para O2 e 6 m m H g o u através da barreira sangue-cérebro, o p H n o C S F permanece
menos para C O 2 . A diferença na P 0 2 arteriovenosa é u m indica- p r ó x i m o do n o r m a l . C o n t u d o , c o m o os q u i m i o t r e c e p t o r e s peri-
d o r da eficiência da extração de 0 2 na passagem do sangue pelos féricos são estimulados pelo p H plasmático d i m i n u í d o , a hiper-
capilares. D u r a n t e a passagem pelo tecido, a concentração de 0 2 ventilação ocorre e o P C 0 2 plasmático d i m i n u i . Q u a n d o isso
t o t a l cai em média 2,3 m m n l / I . . , e n q u a n t o a concentração d o ocorTe, o PCO2 d o C S F d i m i n u i dc f o r m a i m e d i a t a p o r q u e o
C O j t o t a l do s?ngue se eleva a cerca de 2,0 m m o l / L . C O 2 se e q u i l i b r a r a p i d a m e n t e através da barreira sangue-cérebro,
levando a u m a u m e n t o n c p H de CSF. Isto i n i b i r á os q u i m i o t -
receptores centrais, mas à m e d i d a q u e o b i c a r b o n a t o plasmático
Resposta Respiratória às Perturbações Ácido-base cai g r a d u a l m e n t e p o r causa da acidose, a concentração de bicar-
M u i t o s distúrbios ácido-base metabólicos se desenvolvem lenta- b o n a t o e o p H e m C S F t a m b é m cairão d u r a n t e várias horas.
mente, d u r a n d o horas para cetoacidose diabética e meses, ou até Nesse p o n t o , a estimulação da respiração torna-se m á x i m a à
anos para doença renal crônica. O sistema respiratório responde m e d i d a que os q u i m i o r receptor es periféricos e centrais são maxi-
i m e d i a t a m e n t e à m u d a n ç a n a c o n d i ç ã o ácido-base, mas várias m a m e n t e estimulados.
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Ácido-Base CAPÍTULO £ 683

O c o n t r á r i o é verdadeiro q u a n d o u m paciente c o m acidose © H 0U


O. COO v -
H.K T COO H3N coo
metabólica é tratado c o m H C O ~ 3 . Q u a n d o o p H n o plasma " í.
Glutamato
a u m e n t a c o m o resultado de administração de H C O ~ 3 , a estimu- CHi Ghitamino.se. dc^in^nasí A h•2
lação dos quimiorreceptores periféricos volta ao n o r m a l . S.. V A„2
ÍH, x CH 2
C o n t u d o , d e v i d o ao e q u i l í b r i o lento de H C O ~ 3 entre o plasma NH, NAD" NADH
e o CSF, os quimiorreceptores centrais c o n t i n u a m a ser estimu-
i. "nh .b.
OH
2 O ^OH NH,© O'
lados e o paciente c o n t i n u a a se h i p e r v e n t i l a r , mesmo q u a n d o o
Gluramína Gluramato 2-OxoelüCarato
p H sanguíneo retorna ao n o r m a l . A respiração não retorna ao
n o r m a l até que o e q u i l í b r i o ácido-base n o C S F do cérebro seja
restaurado. — NHt

Os íons de a m ó n i o p r o d u z i d o s dissociam-se em a m ó n i a e em
Mecanismos Renais na Regulação do íons de h i d r o g ê n i o até u m grau dependente n o p H . E m u m p H
Equilíbrio Ácido-base sanguíneo n o r m a l , a razão de N H \ para N H 3 é aproximada-
A m é d i a d o p H plasmático e d o f i l t r a d o g l o m e r u l a r é ~7,4, m e n t e 100 para 1. A a m ó n i a é u m gás que se d i f u n d e p r o n t a -
m e n t e através da m e m b r a n a celular d e n t r o d o l ú m e n t u b u l a r ,
e n q u a n t o a m é d i a do p H u r i n á r i o é ~"6,C, r e f l e t i n d o a excreção
renal dos ácidos não-voláteis p r o d u z i d o s pelos processos metabó- o n d e ela se c o m b i n a c o m os ions de h i d r o g ê n i o para f o r m a r íans
de a m ó n i o . N o p H u r i n á r i o ácido o e q u i l í b r i o entre N H % e N H ^
licos. A s várias funções dos rins r e s p o n d e m às diferentes altera-
se move drasticamente para a esquerda (~ 10.000 para 1), favore-
ções da c o n d i ç ã o ácido-base. N o caso da acidose, a excreção de
cendo bastante a formação de N H % . O N H ^ f o r m a d o n o l ú m e n
ácidos é a u m e n t a d a e a base é conservada; na alcalose, ocorre o
oposto. O p H u r i n á r i o m u d a c o r r e s p o n d e n t e m e n t e e pode variar t u b u l a r não pode atravessar f a c i l m e n t e as m e m b r a n a s celulares,
f i c a n d o preso na u r i n a t u b u l a r e sendo excretado c o m ânions,
de f o r m a randômica nos espécimes r a n d ô m i c o s do p H de 4,5 a
8,0. A capacidade para excretar quantidades variadas de ácido o u c o m o fosfato, cloreto ou sulfato. E m i n d i v í d u o s n o r m a i s a pro-
dução de N H + 4 n o l ú m e n t u b u l a r é responsável pela excreção de
base faz do r i m u m mecanismo de defesa f i n a l contra as m u d a n -
~ 6 0 % (30 a 60 m m o l ) dos íons de h i d r o g ê n i o associados aos
ças no p H d o corpo.
Os vários ácidos p r o d u z i d o s d u r a n t e o processo m e t a b ó l i c o ácidos não-voláteis.
A q u a n t i d a d e de H + excretado j u n t o c o m N H 3 p o d e ser
são t a m p o n a d o s n o C S F às custas d o H C O ~ 3 . A excreção renal
de ácido e a conservação de H C O ~ 3 o c o r r e m através de vários m e d i d a c o m o N H % . O H + r e q u e r i d o para a formação de N H \
pode estar presente n o f i l t r a d o g l o m e r u l a r o u pode ser gerado
mecanismos, i n c l u i n d o (1) a troca de N a f - H \ (2) p r o d u ç ã o de
a m ó n i a e excreção de N H ^ e (3) recuperação de H C O - 3 . d e n t r o das células tubulares pela síntese de amdrase carbônica
do ácido carbônico do C O z . Estes íons de h i d r o g ê n i o são secre-
tados d e n t r o d o l ú m e n tubular, pelos trocadores de Na"-H + . N a
acidose sistêmica a excreção responde e m u i t o p o r u m a excrecão
Troca de A/a+-H+ m a i o r de H ' pelos rins. N o e n t a n t o , a taxa m á x i m a de g l u t a m i n a
Quase todas as células mamárias possuem u m a m e m b r a n a plas- liberada e, p o r t a n t o , da p r o d u ç ã o de N H 3 ( - 4 0 0 m m o l / d i a ) não
mática de p r o t e i n a h i d r o l i s a d o r a ATP-dependente capaz de trocar é alcançada até que a acidose tenha persistido p o r três dias. N o s
íons de sódio p o r H + — a então chamada trocadora de Na H -í-T. pacientes c o m i n s u f i c i ê n c i a renal crónica os rins não conseguem
N o s t ú b u l o s renais, os trocadores de N A + - H " expulsam íons de gerar N H 3 suficiente para t a m p o n a r a p r o d u ç ã o de ácidos não-
H no f l u i d o t u b u l a r e m troca de íons de Na*. A troca de N a ' - H ' voláteis, e esse defeito c o n t r i b u i significativamente para a acidose
é m e l h o r a d a nos estados de acidose e i n i b i d a nos estados de em tais pacientes.
alcalose. Os túbulos p r ó x i m a is, entretanto, não p o d e m manter
u m gradiente de H + de mais de ~ 1 u n i d a d e de p H , e n q u a n t o os Excreção de H+ como H;PO~4
t ú b u l o s distais não p o d e m m a n t e r u m a de mais d o que ~ 3 u n i - O H + secretado d e n t r o do l ú m e n t u b u l a r pelo trocador Na 4 -H +
dades de p H . A acidez u r i n á r i a m á x i m a é alcançada c o m p H de t a m b é m pode reagir c o m HPOJ~4 a f i m de f o r m a r H 2 PO~4. Esse
" 4 , 4 . E m algumas formas de R T A , esse processo de troca é processo depende da q u a n t i d a d e de fosfato f i l t r a d a pelos glo-
defeituoso e pode levar à d i m i n u i ç ã o do p H sanguíneo. mérulos e do p H u r i n á r i o . E m condições fisiológicas n o r m a i s ,
Os íons de potássio c o m p e t e m c o m os íons de h i d r o g ê n i o na ~ 3 0 m m o l de H + são excretados p o r dia c o m o H 2 PO~^, e essa
troca de Na~-H t u b u l a r renal. Se a concentração de K + intrace- q u a n t i d a d e responde p o r ~ 9 0 % da acidez titulada da u r i n a . A
l u l a r das células tubulares renais for alta, mais IO e menos H + acidemia aumenta a excreção de fosfato, f o r n e c e n d o assim u m
serão trocados p o r Na + . C o m o resultado, a u r i n a fica menos tampão adicional para a reação c o m o H + . U m a redução 11a taxa
ácida, a u m e n t a d o a acidez dos f l u i d o s corporais. Se o K + for de filtração g l o m e r u l a r (GFR), c o m o observado na doença renal,
esgotado, mais íons de H serão trocados p o r Na + , a u r i n a ficará p o d e resultar e m u m a redução na excreção de H 2 PO~4.
mais ácida e os f l u i d o s corporais mais alcalinos. Logo, a hiperca-
lemia c o n t r i b u i para a acidose e a h i p o c a l e m i a para a alcalose.
C o m o o m e c a n i s m o c o m p e n s a t ó r i o d o c o r p o contra a alcalose Excreção de Outros Ácidos
metabólica é relativamente ineficaz, o esgotamento de K + sozinho Os ácidos fortes c o m o o s u l f ú r i c o , o h i d r o c l ó r i c o e o f o s f ó r i c o
poderá resultar em u m a alcalose metabólica. estão t o t a l m e n t e ionizados n o p H da u r i n a e são excretados
s o m e n t e depois que o H 4 derivado desses ácidos reagir c o m a
base-tampão. A excreção dos â n i o n s desses ácidos é acompa-
n h a d a p o r u m a remoção simultânea de u m n ú m e r o igual de
Produção Renal de Amónia e Excreção de Ions de cátions, c o m o Na + , K + o u N H + 4 , para fornecer e q u i l í b r i o eletro-
Amónio q u i m i c o . Porém, alguns ácidos, c o m o o ácido acetoacético ( p K =
As células tubulares renais conseguem gerar a m ó n i a a p a r t i r da 3,58) e o ácido (3-hidroxibutírico ( p K = 4,7), estão presentes no
g l u t a m i n a e de outros a m i n o á c i d o s derivados das células hepáti- sangue quase i n t e i r a m e n t e sob a f o r m a ionizada; n o p H ácido,
cas e do m ú s c u l o , de acordo c o m a seguinte reação: f r e q u e n t e m e n t e p r e d o m i n a n t e na u r i n a , alguns são não-dissocia-
684 PARTE V Fisiopatologia

dos e, p o r t a n t o , p o d e m ser excretados parcialmente c o m o ácido N o e n t a n t o , os resultados o b t i d o s n o sangue o u n o plasma n e m


não-dissociado. sempre p o d e m refletir o status ácido-base do I C F .
As anormalidades d o státus ácido-base d o sangue estão sempre
Reaproveitamento do Bicarbonato Filtrado acompanhadas p o r mudanças características nas concentrações
O f i l t r a d o g l o m e r u l a r n ã o - m o d i f i c a d o tem a mesma concentração d o e l e t r ó l i t o n o plasma, especialmente e m distúrbios ácido-base
de HCCT-j que o plasma; c o n t u d o , c o m o aumento da acidez da metabólicos. Os íons de h i d r o g ê n i o não p o d e m a c u m u l a r sem
u r i n a tubular p r o x i m a l , a concentração de H C O ~ 3 d i m i n u i . Acre- a c ú m u l o c o n c o m i t a n t e de ânions, c o m o o Cl~ o u o lactato, o u
dita-se que essas mudanças sejam engatilhadas pela excreção de sem a troca para cátions, c o m o K + ou Na + . C o n s e q ü e n t e m e n t e ,
H * graças ao mecanismo trocador Na~-H + , o que resulta em u m a composição do e l e t r ó l i t o d o soro sanguíneo o u d o plasma é
p H u r i n á r i o d i m i n u í d o , O H " excretado reage com o H C O ~ 3 para quase sempre d e t e r m i n a d a j u n t o c o m as mensurações dos gases
f o r m a r H ? C 0 3 e, subseqüentemente, C O ? e H 2 O (catalisado p o r sanguíneos e do p H e para avaliar os distúrbios ácido-base.
anidrase carbônica, nos limites das células tubulares proximais). Os distúrbios ácido-base são t r a d i c i o n a l m e n t e classificados
O a u m e n t o de C 0 2 n o tTato u r i n á r i o faz o C O ? difundir-se c o m o (1) acidose metabólica, (2) alcalose metabólica, (3) acidose
através da parede tubular, para d e n t r o da célula tubular, o n d e ele respiratória o u (4) alcalose respiratória. Nos distúrbios ácido-base
reage c o m H ? 0 na presença de anidrase carbônica citoplasmática simples e diretos, os parâmetros laboratoriais observados para
das células tubulares para f o r m a r H 2 C 0 3 e, subseqüentemente, estes grupos estão d e m o n s t r a d o s na Tabela 35-3. Porem, a inter-
H + e H C O 3. Logo, o reaproveitamento de bicarbonato é decor- pretação dos valores laboratoriais para classificar esses distúrbios
rente da difusão de C O 1 d e n t r o das células tubulares e de suas raramente é direta p o r q u e as respostas compensatórias dos siste-
subseqüentes conversões para H C O ~ 3 . O aumento em H C O - ^ mas respiratório e Tenal t e n t a m corrigir o desequilíbrio.
ajuda a m a n t e r o u restaurar o p H n o r m a l na circulação geral. As causas dos distúrbios ácido-base, os valores laboratoriais
N o r m a l m e n t e , cerca de 9 0 % d o H C O " 3 f i l t r a d o (ou cerca de resultantes e as respostas compensatórias são discutidos a q u i de
4.500 m m o l / d i a ) são reaproveitados n o t ú b u l o p r o x i m a l e a exten- acordo c o m as categorias tradicionais desses distúrbios. C o n t u d o ,
são d o reaproveitamento de H C O ~ 3 é equiparada à reabsorção é quase sempre d i f í c i l l e m b r a r quais distúrbios caem e m q u a l
de N a \ Logo, para cada H * secretado no f l u i d o tubular, u m N a " categoria; assim, é c o m u m o uso de esquemas m n e m ó n i c o s o u
e u m H C O ~ 3 e n t r a m na célula t u b u l a r e r e t o r n a m para a circu- de tabelas para facilitar a descrição desses distúrbios. U m a abor-
lação g e r a l dagem mais ú t i l e lógica é entender que a acidose só pode ocorrer
Q u a n d o a concentração plasmática de H C O ~ 3 a u m e n t a c o m o resultado de u m o u dois mecanismos (ou de u m a c o m b i -
acima de ~ 2 8 m m o l / L , a capacidade dos túbulos p r o x i m a l e nação): (1) adição a u m e n t a d a de ácido, (2) eliminação d i m i n u í d a
distai para aproveitar é excedida, e o H C O 3 é excretado na u r i n a . de ácido e (3) perda a u m e n t a d a de base. D a mesma f o r m a , a
O processo de reaproveitamento d o b i c a r b o n a t o é m e l h o r a d o na alcalose ocorre apenas p o r (1) adição a u m e n t a d a de base, (2)
acidose (e d i m i n u í d o na alcalose) m u i t o provavelmente c o m o eliminação d i m i n u í d a de base e (3) perda a u m e n t a d a de ácido.
resultado da troca de Na + -H H aumentada. Dessa f o r m a , os rins D u f o u r i l u s t r o u esse conceito simples m o s t r a n d o o c o r p o c o m o
e m acidose o u alcalose s u p o r t a m os outros mecanismos compen- u m t o n e l de dois tanques, u m de ácido e u m de base, c o m inputs
satórios para restaurar a razão c H C C T ^ c d C C b n o r m a l . e ou.tpu.ts para cada tanque (Figura 35-8). 2 E m u m cenário n o r m a l ,
esses infutts e otítfmts são equilibrados; então, u m d i s t ú r b i o ácido-
CONDIÇÕES ASSOCIADAS AO STATUS base envolve u m a perturbação n o m£>ut o u n o output desses reser-
ÁCIDO-BASE ANORMAL E À COMPOSIÇÃO vatórios, c o m o d i s c u t i d o na seção seguinte.
DE ELETRÓLITO ANORMAL DO SANGUE88,12
M u i t a s condições patológicas são acompanhadas p o r distúrbios Acidose Metabólica
n o equilíbrio ácido-base e na composição dos eletrólitos do sangue. (Déficit Primário de Bicarbonato)
Essas mudanças são n o r m a l m e n t e refletidas no padrão ácido- A acidose m e t a b ó l i c a é p r o n t a m e n t e detectada pelo b i c a r b o n a t o
base e na composição â n i o n - c á t i o n d o E C F , m e d i d o no sangue. d i m i n u í d o n o plasma, a p r i n c i p a l a n o r m a l i d a d e nesse d i s t ú r b i o

TABELA 3 5 - 3 | Classificação e Características dos Distúrbios Ácido-base Simples


Mudança Primária Resposta Compensatória Compensação Esperada

Acidose 4- cHCO 3 4- FCO2 PC02 = 1,5 (cHCO 3) + 8 ± 2


PC02 cai de 1 a 1,3 mm Hg para cada queda de mmol/L em cHC0~3
Últimos 2 dígitos do pH = PC02 (p. ex., se PC02 = 28, pH = 7,28)
cHCCTg + 15 = últimos 2 dígitos do pH (cHC0"3 = 15, pH = 7,30)
Alcalose t cHC0"a T PCO2 PC02 aumenta 6 mm Hg para cada 10 mmol/L de elevação em cHC0"3
cHC0"3 + 15 = últimos 2 dígitos do pH (cHC0"3 - 35, pH - 7,50)

RESPIRATÓRIA
Acidose
Aguda t PC02 t cHCO3 cHCO 3 aumenta em 1 mmol/L para cada 10 mm Hg de elevação em PC02
Crônica t PCO, t CHCO-g CHC0~3 aumenta em 3,5 mmol/L para cada 10 mm Hg de elevação em PC02
Alcalose
Aguda i PC0 2 4- CHCC-3 CHC0"3 cai em 2 mmol/L para cada 10 mm Hg de queda em í t 0 2
Crônica i PC0 2 4- CHC0"3 cHC0"acai em 5 mmol/L para cada 10 mm Hg de queda em í£0 2

Modi/icado de Narins K(i. üardner LB. Simbk acid-hase dirturbances. Med Clin Nortfi Am l981;65\321-46.
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Ácido-Base CAPÍTULO 3 5 685


150

àU
.S
HCO:
HCO, HCO;

100

Na' Cl" Na* nr N 4' CIT

50

kfáÚB ! Medida Acidose de Acidose de


ácido-base intervalo intervalo
normal aniônico alto não-aniônico

Figura 3 5 - 9 Descrição simples de "Gamblegram" para intervalo


normal, acidose de intervalo aniônico e acidose de intervalo não-
aniônico. Os cátions Na" e K+ estão na barra esquerda paTa cada
condição, enquanto os ânions medidos (Cl~ e HCO~3) e não-medidos
(U~) estão na barra direita para cada condição..

Figura 3 5 - 8 Descrição simples d o corpo como um sistema de dois víduos saudáveis. 1 O intervalo aparente é o resultado de ânions
tanques de ácido e base. N o equilíbrio, o input e o output de cada não-mensutados (p. ex., proteínas, S 0 2 " ^ , H 2 P 0 2 ~ 4 ) que estão
"tanque" são iguais. (De Dufour D R Acid-base disorders. In: Dufour presentes n o plasma. Os valores d o i n t e r v a l o a n i ô n i c o fora d o
DR, Christenson RH, eds. Professional praetiee ID clinicai chemistry: A i n t e r v a l o de 7 a 16 m m o l / L sugerem a possibilidade de u m erro
review Washington D C . A A C C Press, 1995:604-35.) na mensuração dc u m dos eletrólitos. C o n t u d o , t a m b é m f i c o u
aparente que o i n t e r v a l o a n i ô n i c o estava a u m e n t a d o em m u i t o s
pacientes c o m acidose metabólica. 3 D e fato, a presença de u m
i n t e r v a l o a n i ô n i c o elevado é quase sempre a p r i m e i r a indicação
ácido-base. O bicarbonato é " p e r d i d o " n o t a m p o n a m e n t o d o de u m a acidose metabólica e deve ser avaliado n o p e r f i l eletrolí-
ácido em excesso. D e n t r e as causas, destacamos as seguintes: t i c o de todos os pacientes. O i n t e r v a l o t a m b é m fica u m p o u c o
1. Produção de ácidos orgânicos que excedem a taxa de elimi- a u m e n t a d o na ausência de acidose p o r concentrações m u i t o
nação (p. ex., a produção de ácido acctoacético e de ácido baixas de cálcio, magnésio o u potássio p o r q u e as concentrações
p - h i d r o x i b u t i r i c o na acidose diabética, e do ácido láctico na mais baixas desses cátions " n ã o - m e d i d o s " resultarão e m concen-
acidose láctica). trações mais baixas de ânions (Figura 35-9). D e f o r m a c o n t r á r i a ,
2. Excreção de ácidos reduzida (H + ), c o m o ocorre na insuficiên- o i n t e r v a l o p o d e ser estreitado a r t i f i c i a l m e n t e em cenários de
cia renal e nas RTAs, r e s u l t a n d o e m a c ú m u l o de ácido que h i p o a l b u m i n e m i a (proteínas carregadas negativamente), hiperga-
consome b i c a r b o n a t o . m a g l o b u l i n e m i a (proteínas carregadas positivamente), bipercalce-
3. Perda excessiva de b i c a r b o n a t o por causa da excreção renal m i a o u hipermagnesemia
a u m e n t a d a (reclamação t u b u l a r d i m i n u í d a ) o u perda exces- Todas as acidoses de intervalo a n i ô n i c o p o d e m ser explicadas
siva de f l u i d o d u o d e n a l ( c o m o na diarréia). O cHCO~3 plas- p o r u m dos o i t o mecanismos ( o u u m a combinação), listados
m á t i c o cai; a queda está associada a u m a u m e n t o na concen- adiante de acordo c o m o esquema m n e m ó n i c o M U D P 1 L E S
tração de ânions inorgânicos ( p r i n c i p a l m e n t e cloreto) o u a (Tabela 35-4). A base fisiológica para o i n t e r v a l o a n i ô n i c o nessas
u m a queda c o n c o m i t a n t e na concentração de sódio. condições é o c o n s u m o de b i c a r b o n a t o n o t a m p o n a m e n t o de
Q u a n d o q u a l q u e r dessas condições existe, a razão de c H C O - , / ácido e m excesso. O s valores de Cl~ c o n t i n u a m n o r m a i s q u a n d o
cCC>2 é d i m i n u í d a p o r causa da d i m i n u i ç ã o p r i m á r i a de bicarbo- o ácido e m excesso é qualquer u m , exceto HC1, p o r q u e o bicar-
nato. A queda resultante n o p H estimula a compensação respi- b o n a t o p e r d i d o é reposto pelos ânions não-mensurados.
ratória via hiperventilação, o q u e d i m i n u i o P C O z , a u m e n t a n d o
assim o p H . Metanol
E m b o r a o m e t a n o l , em si, não seja tóxico, ele é metabolizado
Acidose de Intervalo Aniônico Aumentado (Acidose peio fígado para f o r m a l d e í d o e ácido f ó r m i c o . O a c ú m u l o desse
Orgânica) ácido leva à acidose metabólica c o m i n t e r v a l o a n i ô n i c o alto e a
A s acidoses metabólicas são classificadas c o m o aquelas associadas sintomas clínicos de papilice óptica (perda de " c a m p o visual"),
ao i n t e r v a l o a n i ô n i c o a u m e n t a d o o u a u m i n t e r v a l o a n i ô n i c o edema r e t i n i c o e, f i n a l m e n t e , cegueira p o r atrofia d o n e r v o
n o r m a l (Tabela 35-4). O c o n c e i t o de i n t e r v a l o a n i ô n i c o f o i ori- ó p t i c o e defeitos neurológicos que p o d e m levar ao coma. O
g i n a l m e n t e visado c o m o u m a regra de c o n t r o l e de qualidade m e t a n o l e outros álcoois ingeridos, c o m o o etilenoglicol, e t a n o l
q u a n d o se percebeu que q u a n d o a soma dos valores de C l " e de e i s o p r o p a n o l , a u m e n t a r ã o a osmolalidade do plasma. Assim, na
H C O ~ 3 era subtraída do valor de Na + (Na + - [ C l - + H C O ~ 3 ] ) , a presença de u m a acidose de intervalo a n i ô n i c o alto, a determi-
diferença o u o " i n t e r v a l o " era, em média, 12 m m o l / L em indi- nação d o i n t e r v a l o referente à osmolalidade ( C a p í t u l o 24) ajudará
686 PARTE V Fisiopatologia

TABELA 3 5 - 4 C o n d i ç õ e s de Acidose Metabólica c o m Intervalos A n i ô n i c o s Alto e N o r m a l


Causa Acidas Retidos Outros Achados Laboratoriais

AG ALTO*
Toxicidade de metanol Formato t Intervalo osmolar (> 15 mOsmol/kg)
Uremia de insuficiência renal Sulfúrico, Fosfórico, orgânico t BUNre creatinina sérica
Diabetes meltrtus ou cetoacidose Acetoacetato e p-hidroxibutirato T Plasma e glicose urinária
Toxicidade de álcool etílico t Intervalo osmolar (> 15 mOsmol/kg)
Inanição
Toxicidade de paraldeído
Toxicidade de isoniazida ou ferro e isquemia Orgânico, principalmente lactato Isoniazida e ferro atuam como venenos mitocondriais
Acidose láctica Lactato
Toxicidade de etilenoglicoi Hipurato, glicolato, oxalato T Intervalo osmolar (> 15 mOsmol/kg), cristais de oxalato na urina
Toxicidade de salicilato Salicilato, orgânico Alcalose respiratória

AG NORMAL
Perda de fluido gastrointestinal Perda primária de bicarbonato
Diarréia grave Hipacalemia
Pancreatite K+ variável
Fístula intestinal
Acidoses tubulares renais (FTTAs) Sulfúrico, fosfórico, orgânico
RTA proximal (tipo II) pH urinário < 5,5, com K+ normal ou baixo
RTA distai (tipo 1) pH urinário > 5,5 com tiipocalemia (normalmente)
RTA tipo IV pH urinário < 5,5 com hipercalemia

'Embora haja ^anabihdaAí camiderát»t, • intertwln amãnica é <jnase semfyre >25 mmol/L nessas condições cem aceçãa dc insuficiência rena! urêmica.
1
Nitrogénio uréico sanguíneo (inteivalo dí referência: 8 a 25 mg/dL, ou ~ .3,0 a 9,0 mmol/L).

a d e t e r m i n a r a fonte d o ã n i o n não-mensurado, sugerindo análi- de ácidos orgânicos c o m u m a p r e d o m i n â n c i a para o ácido láctico.


ses toxicológicas específicas. P o r t a n t o , os "três" representam casos especiais na categoria geral
da acidose láctica que será discutida a seguir. A toxicidade t a n t o
Uremia na Insuficiência Renal do ferro q u a n t o da isoniazida, u m agente a n t i r n i c o b a c t e r i a n o
A perda de massa t u b u l a r renal f u n c i o n a l resulta em formação c o m u m e n t e usado n o t r a t a m e n t o o u p r o f i l a x i a da tuberculose,
d i m i n u í d a de amónia, troca d i m i n u í d a de N a + - t T e G F R d i m i n u - envolve a p r o d u ç ã o de peróxidos tóxicos que a t u a m c o m o
ída, todas resultando em excreção d i m i n u í d a de ácido ( C a p í t u l o venenos m i t o c o n d r i a i s , i n t e r f e r i n d o na respiração celular n o r m a l .
34). N o r m a l m e n t e , a acidose se desenvolve q u a n d o a G F R cai A i s q u e m i a tecidual pode resultaT de muitas causas; em geral, a
abaixo de 20 m L / m i n . As concentrações de creatinina sérica e de h i p e r p e r f u s ã o leva à h i p o x i a das células, o que resulta em u m
n i t r o g ê n i o uréico sanguíneo estão geralmente elevadas e são usadas m e t a b o l i s m o anaeróbico c o m a c ú m u l o c o n c o m i t a n t e de ácidos
c o m o estimativas do grau de d a n o renal ou, mais propriamente, orgânicos ( p r i n c i p a l m e n t e lácticos).
c o m o uma estimativa da capacidade renal f u n c i o n a l restante.
Acidose Láctica
Diabetes ou CetoacidosG A acidose láctica, presente n o sangue c o m o í o n lactato (pfC = 3,8ó),
A patogênese da ceioacidose é discutida em detalhes n o C a p í t u l o é intermediária n o metabolismo de carboidratos e é derivada,
22. Os cetoácidos, c o m o o [3-hidroxibutirato e o 2-oxoglutarato, p r i n c i p a l m e n t e , das células musculares e das hemácias ( C a p í t u l o
acumulam-se e representam os ânions não-mensurados. O 22). Ela representa o p r o d u t o f i n a l do metabolismo anaeróbico e
a c ú m u l o desses "corpos cetônicos" causa u m a redução e m n o r m a l m e n t e é metabolizada n o fígado. A concentração de lactato
H C O 3 " , u m a normalização o u redução e m cloreto sérico e u m a n o sangue é, p o r t a n t o , afetada pela taxa de produção e pela taxa
elevação n o intervala a n i ô n i c o . A cetoacidose t a m b é m se acumula metabólica e depende de perfusão tecidual adequada. U m a u m e n t o
e m estados de inanição e de s u b n u t r i ç ã o alcoólica. na concentração de lactato para mais de 2 m m o l / L e o a u m e n t o
associado de H + são considerados acidose láctica.
Toxicidade de Paraldeído A acidose láctica causada p o r h i p o x i a tecidual grave é vista
A toxicidade de p a r a l d e í d o pode se desenvolver após a ingestão na anemia grave, n o choque, na descompensação cardíaca e na
crônica de paraldeído. A patogênese é p o u c o d e f i n i d a , mas a i n s u f i c i ê n c i a p u l m o n a r . Se a o r i g e m do lactato p u d e r ser retifi-
acidose p o d e ser u m a cetose (negativo n i t r o p r u s s i a t o ) c o m o cada (p. ex., ataque apoplético e tecido h i p ó x i c o ) , o lactato será
ácido P - h i d r o x i b u t i r a t o c o m o o p r o d u t o acídico p r i n c i p a l . Os r a p i d a m e n t e metabolizado para C 0 2 que é, então, e l i m i n a d o
pacientes c o m toxicidade de paraldeído possuem u m h á l i t o c o m desde que o sistema respiratório esteja intacro.
o d o r p u n g e n t e de maçã. A acidose láctica t a m b é m é causada p o r (1) drogas e toxinas
c o m o etanol, m e t a n o l , biguanidos, isoniazida (ver discussão ante-
Isoniazida, Ferro ou Isquemia rior) e escreptozotocina; (2) defeitos hereditários e a d q u i r i d o s e m
Essas causas aparentemente não-relacionadas de acidose de inter- enzimas envolvidas na gluconeogênse; (3) distúrbios c o m o acidose
valo a n i ô n i c o alto t ê m u m a característica e m c o m u m : o a c ú m u l o grave, u r e m i a , insuficiência hepática, tumores e ataque apoplé-
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Ácido-Base CAPÍTULO 35 687

tico; (4) anestesia e (5) bactéria intestinal a n o r m a l produzindo resultante é causada pela reposição do bicarbonato perdido c o m
D-lactato (Capitulo 22). C l " para manter o equilíbrio elétrico.
A hiperventílação na acidose láctica é mais intensa do que
em outras formas de acidose metabólica. Acredita-se que isso se Acidose Tubular Renal, Tipo I e II
deva à participação do centro respiratório na produção de ácido Essas síndromes são predominantemente caracterizadas pela perda
láctico e à acidificação local m a i o r resultante do centro respira- de bicarbonato devido à secreção tubular d i m i n u í d a de H + (RTA
tório. D u r a n t e o exercício, as concentrações de lactato podem tipo I ou distai) ou reabsorção d i m i n u í d a de H C 0 3 (RTA tipo I I
aumentar significativamente de uma concentração, em média, de ou proximal). 6 C o m o o principal poder acidificante da urina dos
~0,9 m m o l / L para - 1 2 m m o l / L . Porém, em condições normais, rins está nos túbulos distais, as RTAs proximal e distai podem ser
o lactato é rapidamente metabolizado de m o d o que a "acidosc" diferenciadas pela mensuração d o p H u r i n á r i o . N a R T A p r o x i m a l ,
seja apenas transiente. o p H urinário apresenta-se < 5,5, enquanto a RTA distai e os
O lactato no f l u i d o espinal n o r m a l m e n t e se equipara às con- túbulos distais estão comprometidos e o ptJ urinário é > 5,5.È
centrações sanguíneas. E m casos de alterações bioquímicas n o
C N S , entretanto, os valores do lactato no CSF m u d a m indepen- Inibidores de Anidrase Carbônica
dente dos valores no sangue. O CSF aumentado pode ser visto A acetazolamida é a droga mais c o m u m nessa classe de agentes
na hemorragia intracraniana, na meningite bacteriana, na epilep- terapêuticos. Ela é usada, c o m freqüência, como diurético leve.
sia e em outros distúrbios do C N S . " Mais freqüentemente ela é empregada na alcalinização u r i n á r i a
e em pacientes c o m glaucoma de ângulo aberto o u doença aguda
Etilenoglícol da m o n t a n h a (altitude). A inibição da anidrase carbônica causa
O etilenoglicol é metabolizado para ácidos glicólicos e oxálicos e perda de Na 4 , K" e H C O ~ 3 nos túbulos proximais e representa
para outros metabólitos ácidos. Seu metabolismo leva a uma uma R T A proximal farmacologicamente induzida.
acidose com intervalos aniônicos altos e osmolares. O acúmulo
de matabólitos tóxicos pode c o n t r i b u i r apara a produção de Acidose de Intervalo Aniônico Normal Hipercalêmica
ácido láctico, que c o n t r i b u i para a acidose. A precipitação de (Acidose Tubular Renal Tipo IV)
oxalato de cálcio e de cristais de h i p u r a t o n o trato u r i n á r i o pode A falha dos rins para sintetizar renina, a falha do córtex adrenal
levar à insuficiência renal. Clinicamente, os pacientes desenvol- para secretar aldosterona e a resistência tubular renal à aldoste-
vem uma variedade de sintomas neurológicos que p o d e m levar rona são as causas mais comuns desse tipo de acidose (chamada,
ao coma. Alguns pacientes p o d e m desenvolver, quer só ou em c o m freqüência, de R T A tipo IV). Isso inibe a reabsorção de N a "
combinação, (1) p n e u m o n i a brônquica, (2) edema pulmonar, (3) e tanto í C quanto H + são, então, anormalmente retidos. O resul-
C H F , (4) hipertensão ou (5) parada cardiopulmonar. A dose letal tado é a formação de amónia renal d i m i n u í d a e, conseqüente-
m í n i m a do etilenoglicol é - 1 0 0 m L para u m adulto de 70 lcg. mente, a eliminação d i m i n u í d a de H + . Q u a n d o associada ao
volume aumentado do ECF, o reaproveitamento de H C O ~ 3 nos
Intoxicação por Salicilato túbulos pode estar d i m i n u í d o . N o r m a l m e n t e há uma insuficiên-
Geralmente ocorre em concentrações sanguíneas de salicilato cia renal branda associada (creatinina sérica elevada), mas a u r i n a
acima de 30 m g / d L . O salicilato sozinho, u m â n i o n não-mensu- ainda pode ser acidificada para u m p H < 5,5. Geralmente, a
rado, altera o metabolismo periférico, levando à produção de hipercalemia também pode estar presente.
váTios ácidos orgânicos sem predominância de qualquer ácido
específico. O processo, eventualmente, resulta em u m a acidose
metabólica c o m intervalo a n i ô n i c o alto. O salicilato também Mecanismos Compensatórios e Acidose
estimula o centro respiratório a aumentar a velocidade e a pro- Metabólica
fundidade da respiração, resultando em uma baixa P C O z , HCO~ 3 Os sistemas-tampão do sangue (principalmente o tampão de
baixo e alcalose respiratória (ver seção Alcalose Respiratória). ácido carbónico/bicarbonato) m i n i m i z a m as mudanças n o p H .
Na acidose, a concentração de bicarbonato d i m i n u i para dar u m a
Acidose de intervalo Aniônico Normal (Acidose razão de c H C O ^ c d C O j de < 20:1. O mecanismo de compensa-
Inorgânica) ção respiratório responde para corrigir a razão com uma veloci-
H m contraste c o m a acidose de intervalo aniônico alto, na qual dade e p r o f u n d i d a d e de respiração aumentadas para eliminar o
o bicarbonato é consumido no excesso de H + tamponado, a causa CO2. A Tabela 35-3 mostra a compensação esperada na acidose
da acidose na presença de u m intervalo aniônico n o r m a l é a e na alcalose e os valores laboratoriais correspondentes.
perda de f l u i d o rico em bicarbonato do r i m o u do trato gastroin-
testinal. A medida que o bicarbonato é perdido, mais íons C l "
são reabsorvidos com Na + ou K + para manter a neutralidade Mecanismo Compensatório Respiratório
elétrica e, assim, ocorre a hipercloremia (Figura 35-9). A acidose A redução do p H na acidose metabólica estimula o mecanismo
de intervalo aniônico n o r m a l pode ser dividida em acidose h i f o compensatório respiratório e produz hipervenrilação (respiração
calêmica e normocalêmica, o que pode ajudar no diagnóstico dife- de Kussmaul), o que resulta na eliminação de ácido carbônico
rencial desse t i p o de distúrbio (Tabela 35-4). como C 0 2 , na redução de F C O i (hipocapnia) e, conseqüente-
mente, na redução de cdCO-j.

Diarréia Mecanismo Compensatório Renal


A diarréia pode causar acidose devido à perda de Na~, K + e Se possível, os rins respondem para restaurar o p H n o r m a l ,
H C O " 3 . U m a das principais funções exócrinas do pâncreas é a aumentando a excreção de ácido e a preservação de base (aumento
produção de HCO~3 para neutralizar os conteúdos gástricos na na velocidade da troca de Na + -H + , na formação de amónia e na
entrada para o duodeno. Se água, K + e H C O - ] não forem reab- reabsorção de bicarbonato). Q u a n d o o mecanismo de compen-
sorvidos no intestino, uma acidose metabólica de intervalo ani- sação renal está f u n c i o n a n d o , a acidez e a amónia urinárias estão
ônico n o r m a l Hipocalêmica irá se desenvolver. A hipercloremia aumentadas.
688 PARTE V Fisiopatologia

Alcalose Metabólica que o C l " e o H C O "3 disponíveis são reabsorvidos com Na + . As


(Excesso de Bicarbonato Primário) causas comuns da contração por alcalose incluem v ô m i t o prolon-
A alcalose ocorre quando o excesso de base é adicionado ao sis- gado ou sucção nasogástrica, obstrução duodenal pilórica ou
tema, a eliminação de base está diminuída, ou os fluidos ricos superior, adenoma viloso (secreção desregulada de HC1) e o uso
em ácidos são perdidos (Tabeia 35-5). Qualquer dessas situações de certos diuréticos. O tratamento consiste na reposição d a T B W
pode levar a u m excesso de bicarbonato primário, de modo que como água e comprimidos de N a C l ou infusão salina.
a razão de c H C 0 ~ 3 / c d C 0 2 seja > 20:1.
Q u a n d o o aumento no p H é grande o bastante, uma ativi- Alcalose Metabólica Cl~ Resistente
dade neuromustular pode ser vista e, com u m p H acima de 7,55, Essa condição é b e m menos c o m u m do que a alcalose metabólica
a tetania pode se desenvolver mesmo na presença de uma con- C l " responsiva e está quase sempre associada à doença subjacente
centração sérica normal de cálcio total. A causa da tetania é uma (hiperaldosteronismo primário ou síndrome de Cushing) ou a
concentração d i m i n u í d a de cálcio ionizado livre provocada pelo u m a a d i ç ã o excessiva d e base e x ó g e n a . Nessas c o n d i ç õ e s , o CL"
aumento na ligação de íons de cálcio pelas proteínas (principal- u r i n á r i o será normalmente > 20 m m o l / L
mente a albumina) e outros ânions. A mensuração da quantidade
de C l " pode ajudar porque as causas da alcalose metabólica caem Excesso de Mineralocorticóide ou de Glicocortícosteróide
nas categorias: C l " responsivo, Cl" resistente e base exógena Em estados de excesso adrenocortícal (endógeno, farmacológico
(Tabela .35-5 e Figura 35-3). p r i m á r i o ou secundário), K" e H 4 são "desperdiçados" pelos rins
por causa da reabsorção aumentada de Na 4 estimulada pela ele-
Alcalose Metabólica a Cl Responsiva vação de aldosterona ou de cortisol- A hipocalemia concomitante
A maioria das causas de alcalose metabólica C l " responsiva ocorre quase sempre c o n t r i b u i para a alcalose e deve ser tratada com
como resultado de hipovolemia (Tabela 35-5). Quando o ECF está terapia de reposição. O aumento resultante na concentração cie
gravemente esgotado, o distúrbio ácido-base resultante é quase K" tubular estimula a produção de N H 3 e, conseqüentemente, a
sempre conhecido como "contração por alcalose". A retenção de excreção de H " como N H Y As doenças nas quais os mineralo-
bicarbonato renal ocorrerá como resposta à hipovolemia sob a corticóides ou os glicocorticóides endógenos (ou ambos) estão
ação da aldosterona aumentada. Isso também ocorrerá na reab- elevados incluem hiperaldosteronismos primário e secundário,
sorção aumentada de Na + j u n t o a H C O " 3 e na excreção de K + e hiperplasia adrenal bilateral, adenoma produzindo h o r m ô n i o
H + . A bípocalemia resultante contribui para a alcalose, como adrenocorticóide pituitário ( A C T H ) (doença de Cushing) e ade-
descrito previamente. O C l u r i n á r i o será < 10 m m o l / L à medida nomas adrenais primários produzindo glicocorticóides (síndrome
de Cushing) ou aldosterona.

Base Exógena
TABELA 3 5 - 5 Condições que Levam ã Alcalose Os exemplos nesta categoria incluem toxicidade de citrato após
Metabólica transfusão de sangue maciça, terapia intravenosa agressiva com
soluções de bicarbonato, e ingestão de grandes quantidades de
CLORETO RESPONSIVO (CL URINÁRIO < 10 MMOL/L)
Contração por alcaloses leite e de antiácidos no tratamento de gastrite e de úlceras pép-
Vômito prolongado ou sucção nasogástrica ticas ("síndrome alcalina do leite"). Este ú l t i m o exemplo é menos
Obstrução duodenal pilórica ou superior observado desde a introdução do uso (agora mais difundido) de
Terapia diurética prolongada ou abusiva (diuréticos de aíga) antagonistas receptores de H 2 e de inibidores de bomba de
Adenoma viloso próton. Finalmente, o uso de antiácidos e de resinas de troca
Estado pós-hipercápnicQ catiônica em pacientes com insuficiência renal (especialmente
Fibrose cística (reabsorção sistêmica não efetiva de Cl") aqueles em diálise) pode resultar em uma alcalose metabólica.

CLORETO RESISTENTE (CL" URINÁRIO > 20 MMOL/L)


Excesso de mineralocorticóide
Mecanismos Compensatórios na Alcalose
Hiperaldosteronismo primário (adenoma adrenal ou, raramente,
carcinoma)
Metabólica
Hiperplasia adrenal bilateral Os mecanismos compensatórios para a alcalose metabólica incluem
Hiperaldosteronismo secundário a compensação respiratória e, quando fisiologicamente possível, a
Hiperaldosteronismo hiper-reninêmico (hipertensão) compensação renal.
Hiperplasia adrenal congênita (causada por deficiências de enzima
adrenal na produção de cortisol) Mecanismo Compensatório Respiratório
Excesso de glicoccrticóide
O aumento n o p H deprime o centro respiratório, causando uma
Adenoma adrenal primário (síndrome de Cushing)
redução de C 0 2 (hipercapnia), o que, por sua vez, causa u m
Adenoma pituitário secretando AGTH (doença de Cushing)
aumento em c H i C O ^ e em c d C O i . Assim, a razão cHC~3/cdC0 2 ,
Terapia com cortisol exógeno
ingestão excessiva de alcaçuz que foi originalmente aumentada, aproximando-se de seu valor
Síndrome de Bartter (reabsorção defeituosa de Cl" renal) normal, embora as concentrações atuais tanto de cHCO~3 quanto
c d C O i permaneçam aumentadas. A resposta respiratória à alca-
BASE EXÓGENA lose metabólica é errada, e os aumentos em P C 0 2 são variáveis.
latrogênica
Terapia com fluido intravenoso contendo bicarbonato Mecanismo Compensatório Renal
Transfusão sanguínea maciça (sobrecarga de citrato de sódio) Os rins respondem ao estado da alcalose com redução na troca
Resinas de troca de cátions e antiácidos em pacientes em diálise
de Na + -H + , na formação de amónia e n o reaproveitamento de
Carbenicilina ou penicilina em dose alta (associada à hipocalemia)
bicarbonato. Essa resposta, entretanto, é embotada em condições
Síndrome "alcalina do leite"
de hipocalemia e hipovolemia.
Fisiologia e Distúrbios da Água, Eletrólito e Metabolismo Âcido-Base CAPÍTULO 3 5 689

Acidose Respiratória Mecanismo Renal


Q u a l q u e r c o n d i ç ã o q u e d i m i n u a a e l i m i n a ç ã n de C 0 2 pelos O s rins r e s p o n d e m à acidose respiratória de m o d o similar ao q u e
p u l m õ e s resulta e m u m aumentei de PCOT (hipercapnia) e em r e s p o n d e m à acidose metabólica; p r i n c i p a l m e n t e c o m (1) troca
u m excesso p r i m á r i o de dCO-? (acidose r e s p i r a t ó r i a ) . Logo, a de N a + - H + a u m e n t a d a , (2) formação de a m ó n i a a u m e n t a d a e (3)
acidose respiratória só ocorre pela el i m i naç ão d i m i n u í d a de C 0 2 . r e a p r o v e i t a m e n t o de b i c a r b o n a t o a u m e n t a d o . E m u m a acidose
As causas da eliminaç ão d i m i n u í d a de C O z (Tabela 35-6) são respiratória crónica parcialmente compensada em estado estável,
classificadas c o m o aguda o u crônica. A l t e r n a t i v a m e n t e , essas con- o p H plasmático retorna até o estado de quase n o r m a l i d a d e ,
dições p o d e m estar separadas d e n t r o daquelas causadas por q u a n d o c o m p a r a d o à situação aguda (não-comptnsada). A com-
fatores que d e p r i m e m d i r e t a m e n t e o centro c o m p e n s a t ó r i o pensação renal não é efetiva antes de 6 a 12 horas e não é ideal
( c o m o as drogas de ação central, t r a u m a d o C N S e infecções) e até dois a trés dias. N a acidose respiratória crônica, c o m o acon-
daquelas que afetam o aparato respiratório o u causam obstrução tece em pacientes c o m doença p u l m o n a r obstrutiva crónica
mecânica das vias aéreas. A doença p u l m o n a r obstrutiva é a causa ( C O P D ) , a compensação renal total p o d e seT observada mesmo
mais c o m u m . A respiração, o u respirar ar c o m alto c o n t e ú d o de nos pacientes c o m P C 0 2 alto ("> 5 0 m m Hg). N o e n t a n t o , esses
C 0 2 , t a m b é m pode causar u m P C O z alto. O a u m e n t o em PCO? pacientes c o m C O P D grave quase sempre têm u m a alcalose meta-
resulta n o a u m e n t o de c d C 0 2 (e, assim, H 2 C 0 3 q u e dissocia para b ó l i c a imposta p o r várias causas, c o m o a d m i n i s t r a ç ã o p r o l o n g a d a
H e H C O ]) que, p o r sua vez, causa u m a redução na razão de diuréticos.
c H C 0 ~ ; j / c d C 0 2 (Figura 35-6). U m a duplicação de PCO-i causará
u m a queda no p H de a p r o x i m a d a m e n t e 0,23 q u a n d o outros
fatores permanecerem constantes. Mecanismo Respiratório
O a u m e n t o em PCO2 estimula o centro respiratório e resulta em
Mecanismo Compensatório e Acidose Respiratória u m a velocidade e p r o f u n d i d a d e de respiração p u l m o n a r , desde
A compensação para acidose respiratória ocorre i m e d i a t a m e n t e que o defeito p r i m á r i o não esteja n o centro respiratório. A eli-
via tampões e, c o m o tempo, pelos r i n s e ainda, q u a n d o possível, m i n a ç ã o de C 0 2 pelos pulmões resulta em u m a d i m i n u i ç ã o de
pelos p u l m õ e s . c d C 0 2 e, assim, a razão de c H C 0 ~ 3 / c d C 0 2 e do p H se a p r o x i m a
do normal.
Sistema-tampão
O excesso de ácido carbônico presente n o sangue é, até certo
p o n t o , t a m p o n a d o pelos sistemas-tampão de h e m o g l o b i n a e pro- Alcalose Respiratória
teína. O t a m p o n a m e n t o de C 0 2 causa u m a ligeira elevação em U m a redução e m P C O j (hipocapnia) e o déficit p r i m á r i o resul-
c H C O ~ 3 . P o r t a n t o , n o estado pós-hipercápnico i m e d i a t o , essa tante em c d C 0 2 (alcalose respiratória) são causados p o r uma
compensacão p o d e aparecer como uma alcalose metabólica velocidade o u p r o f u n d i d a d e aumentadas da respiração, o u ambas.
(Tabela 35-5). Logo, a causa básica da alcalose respiratória é a eliminação em
excesso de ácido pela via respiratória. A eliminação excessiva de
C O 2 reduz o P C 0 2 e causa u m a u m e n t o na razão c H C O ~ 3 / c d C O ?
(devido ao a u m e n t o em c d C 0 2 ) Esta ú l t i m a altera o e q u i l í b r i o
TABELA 35-6 Condições que Levam à Acidose n o r m a l do sistema-tampão b i c a r b o n a t o / á c i d o carbônico, redu-
Respiratória zindo a concentração de í o n de h i d r o g ê n i o e a u m e n t a n d o o p H .
Essa alteração resulta e m u m a d i m i n u i ç ã o em cHCO~3, o que, de
FATORES QUE DEPRIMEM DIRETAMENTE 0 CENTRO RESPIRATÓRIO
alguma f o r m a , m e l h o r a a troca n o p H Os análogos ás causas da
Drogas como narcóticos e barbitúricos
acidose e da alcalose respiratórias p o d e m ser classificados c o m o
Trauma da sistema nervosa central (CNS), tumores e distúrbios
aqueles c o m efeitos estimulantes sobre o centro respiratório e
degenerativos
c o m o aqueles que são resultados de efeitos sobre o sistema pul-
Infecções do CNS, como encefalite e meningite
Estados comatosos, como acidente vascular cerebral, causado por m o n a r . Essas e algumas condições adicionais subjacentes às alca-
hemorragia intracraniana loses respiratórias estão listadas n a Tabela 35-7.
Hipoventilação central primária

CONDIÇÕES QUE AFETAM 0 APARELHO RESPIRATÚHIO Mecanismos Compensatórios na Alcalose


Doença pulmonar obstrutiva crônica (causa mais comum) Respiratória
Fibrose pulmonar Os mecanismos compensatórios r e s p o n d e m à alcalose respirató-
Estado asmático (grave) r i a em dois estágios. N o p r i m e i r o estágio os tampões de hemácia
Doenças das vias aéreas suseriores, como laringospasmo ou tumor e tecidual f o r n e c e m íons de H + que c o n s o m e m u m a pequena
Infecções pulmonares (graves) q u a n t i d a d e de H C O 3. O segundo estágio torna-se operaci onal
Incapacitação do movimento pulmonar pela efusão pleural ou pneumotórax
na alcalose respiratória p r o l o n g a d a e depende da compensação
Síndrome de angústia respiratória do adulta
renal, c o m o f o i descrito para a alcalose metabóli ca (reaproveita-
Doenças da parede torácica e deformidades da parede torácica
m e n t o d i m i n u í d o de bicarbonato).
Distúrbios neurológicos afetando os músculos da respiração

OUTROS
Distensão abdominal, como na peritonite e ascite
Obesidade extrema (síndrome de Pickwíck)
Distúrbios do sono, como apnéia do sono

\
690 PARTE V Fisiopatologia

TABELA 35-7 Fatores que C a u s a m Alcalose Respiratória


REFERENCIAS
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ESTIMULAÇÃO NÃ0-PULM0NAR DO CENTHO RESPIRATÓRIO
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12. W i l l i a m s o n JC. Acid-base disorders: classification and management
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CAPÍTULO 3 6

Doenças do Fígado*
D. Robert Dufour, M.D.

OBJETIVOS qualquer órgão. N a cirrose, as células hepáticas são


substituídas p o r tecido cicatricial fibroso. A fibrose leva ao
1. Descrever a anatomia macro e microscópica do sistema hepático.
desenvolvimento da h i p e r t e n s ã o p o r t a l .
2. Definir os seguintes termos:
C o l a n g i t e Esclerosante: E s t r e i t a m e n t o i n f l a m a t ó r i o c r ô n i c o ,
Ácino hepático
não-bacteriano, dos duetos biliares, f r e q ü e n t e m e n t e
Tríade porta
associado à colite ulcerativa. O t r a t a m e n t o é atenuar a
Icterícia
obstrução através de dilatação o u cirurgia.
Hepatites aguda e crônica
Colestase: B l o q u e i o do f l u x o n o r m a l da bile. Pode ocorrer
Cirrose
devido à obstrução dos duetos biliares, r e s u l t a n d o em
Colestase aumenco da b i l i r r u b i n a na c o r r e n t e sanguínea (icterícia).
3. Listar e descrever as principais funções do fígado. D o e n ç a de W i l s o n : D i s t ú r b i o autossõmico recessivo associado
4. Listar as enzimas sintetizadas no fígado, bem como seu significado a quantidades excessivas de cobre nos tecidos,
clínico, e descrever os mecanismos de liberação das enzimas. p a r t i c u l a r m e n t e n o fígado e sistema nervoso central.
5. Descrever os dois principais padrões de lesão celular hepática D o e n ç a H e p á t i c a A l c o ó l i c a : A cirrose alcoólica é u m a
aguda e as causas de cada padrão. condição de doença hepática irreversível devido aos efeitos
6. Descrever como doses tóxicas de certas drogas induzem a lesão tóxicos do etanol e i n f l a m a ç ã o crônica n o fígado. O
hepática. desenvolvimento da cirrose está d i r e t a m e n t e relacionado
7. Referir os valores laboratoriais obtidos em cada uma das doenças c o m a q u a n t i d a d e e duração d o c o n s u m o de álcool.
hepáticas: E n c e f a l o p a t i a H e p á t i c a : C o n d i ç ã o usada para descrever os
Hepatite virai aguda efeitos tóxicos da insuficiência hepática n o sistema nervoso
Hepatite alcoólica aguda central A s características i n c l u e m confusão m e n t a l e falta
Hepatite isquêmica ou tóxica aguda de reação (coma).
Colestase H e m o c r o m a t o s e : D i s t ú r b i o genético raro, causado pela

Hepatite crônica deposição de h e m o s s i d e i i n a nas células parenquimatosas e


tecidos corporais, causando lesão tecidual e disfunção do
Cirrose
fígado, pâncreas, coração e h i p ó f i s e ; t a m b é m chamada de
Síndrome de Reye
doença de armazenamento de ferro.
Doença de Wilson
H e p a t i t e : I n f l a m a ç ã o do fígado.
H e p a t i t e A l c o ó l i c a : Lesão i n f l a m a t ó r i a aguda o u crônica do
DEFINIÇÕES E PALAVRAS-CHAVE
fígado, e m alcoólicos, que é p o t e n c i a l m e n t e progressiva,
A p o p t o s e - M o r t e celular geneticamente programada e m células
e m b o r a algumas vezes seja reversível
a n i m a i s e h u m a n a s que f u n c i o n a m n u i m a l m e n t e , q u a n d o
H e p a t i t e A u t o - í m u n e : U m a h e p a t i t e crônica, de o r i g e m auto-
o e n v e l h e c i m e n t o o u a c o n d i ç ã o e o estado da cé lula
i m u n e , geralmente c o m h i p e r g a m a g l o b u l i n e m i a e auto-
exigem.
anticorpos séricos.
Ascite: L í q u i d o seroso que se acumula na cavidade a b d o m i n a l .
H e p a t i t e C r ô n i c a : T e r m o coletivo para u m a s í n d r o m e clínica e
B i l e : L i q u i d o amarelo-esverdeado secretado pelo fígado e
patológica q u e possui várias causas e é caracterizada p o r
armazenado na vesícula biliar.
graus variáveis de necrose hepatocelular e i n f l a m a ç ã o por,
B i o t r a n s f o r m a ç ã o : Séries de alterações químicas de u m
pelo menos, seis meses.
c o m p o s t o (p. ex., uma droga) que o c o r r e m d e n t r o do c o r p o
H e p a t i t e V i r a i : I n f l a m a ç ã o do fígado causada p o r vírus. Os
p o r atividade enzimática.
vírus específicos da hepatite f o r a m identificados c o m o A , B,
C á l c u l o B i l i a r : Formação sólida na vesícula biliar, composta
C , D e E.
p o r sais biliares e colesterol.
H e p a t ó c i t o : A célula epitelial d o fígado.
C i r r o s e B i l i a r Primária.- F o r m a rara de doença hepática que
H i p e r t e n s ã o P o r t a l : Q u a l q u e r a u m e n t o da pressão da veia
resulta na destruição irreversível d o fígado e duetos biliares.
p o r t a ( n o fígado) devido à obstrução a n a t ô m i c a o u
A causa é desconhecida, mas acredita-se q u e seja u m
funcional (p ex., cÍTrose alcoólica) do f l u x o sanguíneo n o
mecanismo autO'imune.
sistema venoso p o r t a l .
C i r r o s e : D o e n ç a hepática caracterizada, patologicamente, pela
I c t e r í c i a : S í n d r o m e caracterizada p o r h i p e r b i l i r r u b i n e m i a e
perda da a r q u i t e t u r a l o b u l a r microscópica n o r m a l , c o m
deposição de p i g m e n t o b i l i a r na pele, m e m b r a n a s mucosas
fibrose e regeneração n o d u l a r . O t e r m o é algumas vezes
e esclera, r e s u l t a n d o e m aparência amarela da pele e da
usado para se referir à i n f l a m a ç ã o intersticial crônica de
es cl era dos olhos; chamada t a m b é m de icterus. E m neonatos
a icterícia é chamada t a m b é m de icterícia do n e o n a t o .
I n s u f i c i ê n c i a H e p á t i c a . C o n d i ç ã o de disfunção hepática grave,
* 0 a u t o r a g r a d e c i d a m e n t e r e c o n h e c e as c o n t r i b u i ç õ e s prévias em fase t e r m i n a l , a c o m p a n h a d a p o r d e c l í n i o do estado
dos D r s . K e i t h G . T o l m a n e R o b e r t Rej, nas quais se baseiam m e n t a l que p o d e variar de confusão m e n t a l (encefalopatia
partes deste c a p í t u l o . hepática) à falta de reação (coma hepático).
692 PARTE V Fisiopatologia

Necrose: C o n j u n t o de alterações morfológicas indicativas de arterial rico e m oxigênio o r i u n d o da circulação central hepática.
m o r t e celular e causadas pela progressiva ação degradativa Esses dois aportes sanguíneos f i n a l m e n t e se u n e m e f l u e m para
das enzimas; a necrose p o d e afetar grupos de células o u d e n t r o de sinusóides que c a m i n h a m entre os hepatócitos. A
parte de u m a estrutura o u u m órgão. drenagem venosa do fígado ocorre p o r m e i o das veias hepáticas
S í n d r o m e de Reye: Súbita e, e m algumas situações, doença d i r e i t a e esquerda que desaguam n a veia cava i n f e r i o r , p r ó x i m o
fatal d o cérebro (encefalopatia), c o m degeneração d o à sua entrada no átrio d i r e i t o .
fígado. O c o r r e e m crianças (a m a i o r i a entre 4 a 12 anos de
idade) após infecção v i t a l (varicela o u t i p o de influenza), Drenagem Biliar
associada à ingestão de aspirina. A drenagem hiliar se o r i g i n a nos canalículos biliares, que são
Varizes: Veias, artérias o u vasos linfáticos aumentados e sulcos entre os hepatócitos adjacentes, que f o r m a m d ú c t u l o s que
tortuosas. se f u n d e m para f o r m a r os duetos biliares intra-hepáticos e, final-
X e n o b i ó t i c o s : Substâncias químicas que são estranhas ao m e n t e , se u n e m para f o r m a r os duetos biliares hepáticos d i r e i t o
sistema b i o l ó g i c o . I n c l u e m compostos naturais, drogas, e esquerdo, que emergem do fígado na p o r t a hepática e f o r m a m
toxinas ambientais, carcinógenos, inseticidas etc. o d u e t o hepático c o m u m . O d u e t o hepático une-se ao dueto
cístico da vesícula biliar, c r i a n d o o d u e t o biliar c o m u m (Figura
36-1), o q u a l penetra n o d u o d e n o (geralmente c o m o d u e t o
pancreático) na ampola de Vater. A vesícula biliar, localizada na

O fígado t e m u m papel crítico e central (1) n o metabo-


lismo, (2) n a digestão, (3) na detoxicação e (4) na elimi-
nação de substâncias d o c o r p o . T o d o o sangue o r i u n d o
d o trato i n t e s t i n a l passa, i n i c i a l m e n t e , pelo fígado, o n d e os pro-
dutos derivados da digestão dos a l i m e n t o s são processados, trans-
superfície i n f e r i o r d o l o b o d i r e i t o do fígado, armazena e concen-
tra a bile, u m a m i s t u r a de ácidos biliares e colesterol. O e s t i m u l o
h o r m o n a l i n i c i a d o pela ingestão de a l i m e n t o causa a c o n t r a ç ã o
da parede muscular da vesícula biliar, l i b e r a n d o os ácidos biliares
n o i n t e r i o r d o i n t e s t i n o para facilitar a digestão de l i p í d i o s .
f o r m a d o s e armazenados. O fígado t e m t a m b é m u m papel c e n t r a l
n o m e t a b o l i s m o dos lipídios, carboidratos e proteínas, e sintetiza Anatomia Microscópica
os ácidos biliares, a partÍT d o colesterol, para facilitar a absorção A u n i d a d e anatômica f u n c i o n a l d o fígado é o ácino, adjacente à
de lipídios e vitaminas. O fígado metaboliza t a n t o os compostos tríade porta, que consiste de u m r a m o da veia p o r t a , u m r a m o
endógenos q u a n t o os exógenos, c o m o drogas e toxinas através da da artéria hepática e u m dueto b i l i a r . C a d a ácino é u m a massa
b i o t r a n s f o r m a ç ã o , p e r m i t i n d o a sua eliminação. 1 6 O fígado de p a r ê n q u i m a hepático, e m f o r m a de prisma p o l i é d r i c o , s u p r i d o
desempenha funções endócrinas c o m o catabolismo dos h o r m ô - p o r u m r a m o t e r m i n a l da veia p o r t a e da artéria hepática e
nios tireoidíanos, d o c o r t i s o l e da v i t a m i n a D e sintetiza o fator 1 d r e n a d o p o r u m r a m o t e r m i n a l d o d u e t o b i l i a r O s vasos sanguí-
de crescimento semelhante à insulina, o angiotensinogênio e a eritro- neos se i r r a d i a m e m direção à periferia, f o r m a n d o os sinusóides,
p o i e t i n a . M u i t a s dessas funções hepáticas p o d e m ser avaliadas que p e r f u n d e m o fígado e d r e n a m , f i n a l m e n t e , na veia hepática
p o r p r o c e d i m e n t o s laboratoriais que f o r n e c e m informações sobre c e n t r a l ( t e r m i n a l ) (Figura 36-1). Os sinusóides são revestidos por
a integridade d o fígado. 4 células endoteliais fenestradas ( p e r m i t i n d o a livre filtração d o
C o m o u m órgão grande, o fígado desempenha suas funções sangue) e células fagocíticas de K u p f f e r (Figura 36-1). A s células
c o m u m a extensa capacidade de reserva. E m m u i t o s casos, indi- de K u p f f e r , derivadas dos m o n ó c i t o s , c o n t ê m lisossomos que
víduos c o m doença hepática m a n t ê m as funções n o r m a i s mesmo d e g r a d a m a bactéria fagocitada e são o p r i n c i p a l local de cíearance
c o m extensa lesão neste órgão. E m tais casos, a doença hepática de complexos antígeno-anticorpo originados n o sangue.
é reconhecida apenas pelo uso de testes que detectam a lesão. A s principais células f u n c i o n a i s n o fígado são os hepatócitos,
N o r m a l m e n t e isto é realizado p o r medidas da atividade das responsáveis pela m a i o r i a das funções de sintese e metabólicas.
enzimas endógenas liberadas para o plasma e m alguns padrões As células estreladas ( a n t e r i o r m e n t e referidas c o m o células de
específicos de lesão tissular. A lesão hepática crônica envolve, c o m Ito) estão localizadas entre o revestimento endotelial dos sinusói-
freqüência, a fibrose d o fígado, e a detecção dos marcadores d o des e os hepatócitos. N o r m a l m e n t e , as células estreladas armaze-
processo f i b r ó t i c o pode ser u m i n d i c a d o r da gravidade de lesão. n a m v i t a m i n a A e sintetizam ó x i d o n í t r i c o , que auxilia n a regu-
O capítulo se i n i c i a c o m u m a discussão sobre a a n a t o m i a e lação do f l u x o sanguíneo intra-hepático. A p ó s estímulo, as células
as funções b i o q u í m i c a s do fígado. E m seguida são discutidos os estreladas são transformadas e m células produtoras de colágeno,
vários estados de doenças que envolvem o órgão. A conclusão se sendo responsáveis pela fibrose e t a m b é m pela cirrose. As células
dá p o r meio dc u m a discussão sobre o uso de testes laboratoriais ovais estão localizadas n o i n t e r i o r dos dúctulos biliares periportais
que p e r m r t a m o r e c o n h e c i m e n t o e a caracterização dos padrões e acredita-se que sejam células precursoras que p r o l i f e r a m após
de lesão hepática. lesão hepática e regeneram os duetos biliares e os hepatócitos.
O s u p r i m e n t o sanguíneo para cada ácino consiste e m três
ANATOMIA DO FÍGADO zonas (Figura 36-2). A zona 1 é a área i m e d i a t a m e n t e adjacente
O fígado a d u l t o pesa, a p r o x i m a d a m e n t e , de 1,2 a 1,5 kg. Está ao trato poTtal e é rica em lisossomos e m i t o c ô n d r i a s . A zona 3,
localizado abaixo do diafragma, n o q u a d r a n t e superior d i r e i t o d o na periferia do ácino, é rica em retículo endoplasmático, é meta-
abdome, e é p r o t e g i d o pelas costelas, onde se fixa p o r ligamentos b o l i c a m e n t e m u i t o ativa e possui tensão de oxigênio relativamente
de aderência (Figura 36-1). baixa. Esta área é mais suscetível à lesão, embora a zona 1 pareça
estar envolvida c o m a proteção d o fígado de lesão externa e for-
Suprimento Sanguíneo n e c i m e n t o de u m a base para a regeneração hepática.
O fígado possui u m s u p r i m e n t o sanguíneo d u p l o . O p r i m e i r o é
a veia p o r t a , que transporta o sangue o r i u n d o d o baço e rico em Ultra-estrutura do Hepatócito
n u t r i e n t e s do trato gastrointestinal ( G I ) . A veia p o r t a fornece, Os h e p a t ó c i t o s c o n t ê m u m a subestrutura de organelas bem
a p r o x i m a d a m e n t e , 7 0 % do s u p r i m e n t o sanguíneo paTa o fígado. desenvolvida (Figura 36-3). A s m i t o c ô n d r i a s são o local da fosfo-
O segundo s u p r i m e n t o é a artéria hepática, que é u m r a m o do rilação oxidativa e da p r o d u ç ã o de energia. O retículo endoplas-
eixo celíaco. A artéria hepática transporta para o fígado sangue m á t i c o rugoso é o local da síntese de proteínas, e n q u a n t o o
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 693

Área Veia
l ü £
.ip&menlo lri«n«jfcu esva
direito n. \ infe-icr Lnlxi
l cauoado

Lobo / Ligamento triangular


direi lo esquerda

^rnp^èdoj
Ligamento ..fi- % renal
.iikXi ffrjqtJfcrdi!
ca ronário V'
Ligamento 1 inamertn
falcifoi—e triangular dlrcslto
Vesícula bilia- / Área
Ligamento r>us
Superfície Diafragmática coronário
Voiu hepática v .'Vsiiis cava inTcnor
Sinusóides hepáticos Superfície Visceral
-no lóbulo V o i c , Espaço
Vfiir? / Lacuna contrsl 1 s /de Oiütyj
cenrre ._'y, .£^s , Células
hepática ,-^os,
"c:+í ^ " P ^ r
.... "
Veia porta
y * -^Células
do trato
'' henâiira^
intestinal
Vaso linfático

Artéria hepática ^'J-ãminas Canalículo biliar


íífiepáticas

::íreanalículo
t biliar
Dueto
biliar
Tecido Sinusóides
conjuntivo

... .. Duetos
i» . hepáticos direito e
esquerdo
3b? ./"V

Sinusóides
Dueto hepático
Veia porta do comum
Vesícula
[rato intestinal
biliar
. Veia sublobular
í) da veia central • u c t o biliar

Vesícula Biliar
Lóbulo Hepático

Figura 3€~1 E s t r u t u r a d o fígado. ( D e D o r l a n d ' a illustrated medicai d i c t i o n a r y , 3 0 t h ed. P h i l a d e l p h i a : W B


Saunders, 2 0 0 3 , plate 26.)

retículo endoplasmático liso contém microssomos envolvidos no Função Excretora Hepática


metabolismo de toxinas e drogas e síntese de colesterol e ácido Os ânions orgânicos de origem endógena e exógena são extraídos
biliar. Os peroxissomos catalisam a (3-oxidação dos ácidos graxos do sangue pelos capilares sinusóides, biotransformados e excretados
de cadeia média (7- 18C) e participam n o metabolismo do etanol na bile ou na urina A avaliação desta função excretora fornece uma
Os lisossomos contêm enzimas hidrolíticas que acuam como informação clínica valiosa. Os testes utilizados mais freqüentemente
varredoras de radicais livres; a deposição de ferro, lipofuscina (um consistem em medidas de concentrações plasmáticas de compostos
pigmento lipídico ferro-negativo), pigmentos biliares e cobre produzidos endogenamente, como a bilirrubina e os ácidos biliares,
ocorrem nos lisossomos. O aparelho de Golgi está envolvido na e a determinação da velocidade de remoção de compostos exógenos,
secreção de várias substâncias, incluindo os ácidos biliares e a como a aminopirina, lidocaína e cafeína. Os testes de metabolismo
albumina. de drogas são também usados como marcadores de função em
transplantes hepáticos e doença hepática avançada.

FUNÇÕES BIOQUÍMICAS DO FÍGADO Bilirrubina


O fígado está envolvido em u m grande número de funções meta- A bilirrubina é u m pigmento derivado da degradação do heme
bólicas, sintéticas e excretoras. É extraída e biotransformada n o fígado e excretada na bile e na
694 PARTE V Fisiopatologia

O aumento da biíirrubina plasmática é classificado, tipica-


mente, como primariamente indireto (uma aproximação da biíir-
rubina não-conjugada) ou direto (uma aproximação do conjunto
de biíirrubina conjugada e biliproteina). O aumento de biíirru-
bina indireta indica uma superprodução de biíirrubina, geral-
mente causada por hemólise, ou uma redução do metabolismo
no fígado (basicamente por defeitos congênitos envolvendo a
uridina 5'-fosfato [UDP]- glicuronil transferase). C o m insuficiên-
cia hepática grave, a doença pode causar, primariamente, hiper-
b i l i r m b i n e m i a não-conjugada. O aumento da biíirrubina direta
geralmente resulta de hepatite aguda ou colestase (bloqueio ou
supressão do f l u x o da bile); sendo o percentual de biíirrubina
direta semelhante nos dais tipos de doença hepática. A biíirru-
bina na urina geralmente está presente quando ocorre aumento
da biíirrubina conjugada. C o m a resolução da doença hepática,
a biíirrubina conjugada é rapidamente removida e a biliproteina
pode se tornar a única forma presente; a biíirrubina da urina é
tipicamente ausente em tais circunstâncias. A elevação de biíir-
rubina conjugada raramente é observada em distúrbios congêni-
tos de excreção de biíirrubina, como na Síndrome de D u b i n -
Johnson e na excreção prejudicada de biíirrubina, como ocorre
na sepse ou outras doenças agudas.

Função de Síntese Hepática


O fígado possui uma grande capacidade de síntese e exerce u m
papel principal na regulação de proteínas, carboidratos e meta-
bolismo lipídico. Por exemplo, a síntese de proteína, glicose,
glicogênio, triglicerídeos, ácidos graxos, colesterol e ácidos bilia-
res ocorre no interior do fígado. C o m o os detalhes dessas sínteses
são discutidos em outros capítulos (Capítulos 18, 22 e 23), a
discussão nesta seção é limitada aos testes para avaliação da
função hepática.
Figura 36-2 S u p r i m e n t o s a n g u í n e o de u m ú n i c o á c i n o h c p á t i c o .
Zonas 1, 2 e 3 i n d i c a m v o l u m e s c o r r e s p o n d e n t e s e m u m a porção de u m a
u n i d a d e a c i n a r adjacente. A tensão de o x i g ê n i o e a c o n c e n t r a ç ã o de
Síntese de Proteínas
n u t r i e n t e s d o sangue nos sinusóides, decresce da z o n a 1 para a zona 3.
O fígado possui uma capacidade de reserva significativa, impe-
B D , d u e t o b i l i a r ; H A , artéria hepática; PV, veia p o r t a ; C V , veia c e n t r a l .
d i n d o que as concentrações de proteínas sejam reduzidas a menos
( D e Z a k i m O , Boyer T D , H e p a t o l o g y : A textboolc o f liver disease, 3 r d
que haja uma lesão hepática extensa. A l é m disso, muitas proteí-
ed. P h i l a d e l p h i a : W B Saunders, 1996:10.)
nas hepáticas apresentam meias-vidas relativamente longas, como
a albumina, de aproximadamente três semanas. A sensibilidade
e a especificidade das concentrações proteicas no diagnóstico de
doença hepática estão longe do ideal. Os padrões de alterações
urina. As metodologias químicas, bioquímicas e analíticas para a das proteínas plasmáticas, observados na doença hepática, depen-
biíirrubina e compostos relacionados são discutidas no Capítulo dem do tipo, gravidade e duração da lesão hepática. Por exemplo,
28. A q u i incluímos apenas uma breve visão geral dos fatores na disfunção hepática aguda há, geralmente, uma pequena alte-
relevantes paTa o entendimento da doença hepática. ração no perfil das proteínas plasmáticas ou na concentração
A biíirrubina é transportada para o fígado, fracamente asso- proteica plasmática total; na insuficiência hepática fulminante
ciada à albumina, em sua forma nativa não-conjugada Transpor- ou na lesão hepática acentuada, as concentrações de proteínas
tada para o interior do hepatócito ela é rapidamente conjugada hepáticas de meia-vida curta (como a transtirretina e protrom-
para produzir os glicuronídeos de biíirrubina, que são então bina) cairão rapidamente, tornando-se anormais, enquanto as
excretados para a bile por u m processo dependente de energia. proteínas de meia-vida mais longa não se alterarão. Na cirrose,
Este processo é altamente eficiente e os conjugados de biíirrubina as concentrações de todas as proteínas plasmáticas sintetizadas
são detectáveis no plasma n o r m a l somente com a utilização de pelo fígado cairão com aumento das imunoglobulinas (relacio-
técnicas altamente sensíveis. Na presença de monoglicuronídeo nado com deficiência da função da célula de Kupffer). As deter-
de biíirrubina e albumina (e outras proteínas), estas são modifi- minações em série das proteínas plasmáticas contribuem para o
cadas pós-síntese através d e ligações c o v a l e n t e s aos r e s í d u o s d e prognóstico da doença; por exemplo, o aumenco do eempo de
lisina, produzindo biliproteina ou S-bilirrubina. As elevações de p r o t r o m b i n a durante a hepatite aguda sugere u m prognóstico
biíirrubina conjugada ou S-bilirrubina constituem marcadores r u i m , enquanto o tempo de p r a t r o m b i n a tem sido usado como
altamente específicos de disfunção hepática (exceto em raros parte da triagem do M E L D (Model for End-Stage Liver Disease)
distúrbios hereditários, como a síndrome de Dubin-Johnson). N o para se afirmar o prognóstico em pacientes com cirrose.
trato intestinal, os glicuronídeos de biíirrubina são hidrolisados
e reduzidos pelas bactérias a urobilinogénios, que passarão pela Proteínas Plasmáticas
circulação enterepática, sendo excretados os pigmentos estercobi- As proteínas plasmáticas discutidas adiante são examinadas em
lina, mesobilina e urobilina. maiores detalhes no Capítulo 18.
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 695

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Figura 36-3 Porções de duas células hepáticas h u m a n a s m o s t r a n d o a relação das organelas e u m t í p i c o


c a n a l i c u l o b i l i a r ( B C ) , A s pontas da seta i n d i c a m as j u n ç õ e s de oclusão. N , N ú c l e o ; M , m i t o c ô n d i i a ; M k ,
m i c r o s s o m o ; O, G o l g i ; SER, r e t í c u l o e n d o p l a s m á t i c o liso; L, lisossomo, g, g l i c o g ê n i o . ( D e Z a k i m O , Boyer T D .
H e p a t o l o g y ; A t e x t b o o k o f liver dísease, 3 r d ed. F h i l a d e l p h i a : W B Saunders, 1996:20.)

Albumina. A albumina é a proteína sérica mais co m u mente Ceruloplasmina. Esta proteína está reduzida na doença de
medida e é sintetizada exclusivamente pelo fígado. C o m doença W i l s o n , cirrose e muitas causas de hepatite crônica, mas pode
hepática, a hipoalbuminemia é notada primariamente na cirrose, estar elevada na (1) inflamação, (2) colestase, (3) hemocroma-
na hepatite auto-imune e na hepatite alcoólica. U m a considera- tose, (4) gravidez e (5) terapia estrogênica, mascarando o decrés-
ção importante nas medidas séricas c a sensibilidade dos métodos cimo esperado na doença de Wilson. Ela é discutida em maiores
que utilizam corantes em pacientes com doença hepática. Embora detalhes a seguir, na seção sobre doença de W i l s o n ,
as análises com verde de bromocresol possam superestimar os arAntitripSina. Esta proteína é o principal inibidor de serina
valores da concentração de albumina mesmo em baixas concen- protease no plasma (serpina) e está reduzida nas deficiências
trações, o método com vermelho de bromocresol fornece valores homoiigóticas e cirrose, e elevada na inflamação aguda. E discu-
falsamente negativos em pacientes com icterícia, devido à inter- tida em maiores detalhes mais adiante, na seção sobre deficiência
ferência da biíirrubina no local da ligação de a,j-antitripsina.
Transtírretina. Esta proteína possui meia-vida curta, de 24 a 48 a-Fetoproteína. Esta proteína, u m componente normal do
horas, tornando-a u m indicador sensível da capacidade de síntese sangue fetal, reduz a nível adulto em torno de 1 ano de idade. U m
em curso. Na hepatite aguda, o fracasso em aumentar a transtír- ligeiro aumento pode ser observado em pacientes com hepatite
retina é u m indicador de insuficiência hepática fulminante e está aguda e crônica e indica regeneração hepatocelular. Está presente
associado a u m prognóstico r u i m . E mais comumente usada com em concentração bem mais elevada no carcinoma hepatocelular
medida do estado nutricional. ( H C C ) e è discutida em maiores detalhes no Capítulo 43.
Imunoglobulinas. Geralmente as imunoglobulinas estão eleva-
das na (1) cirrose, (2) hepatite auto-imune e (3) cirrose biliar Proteínas da Coagulação
primária, mas são normais na maioria dos outros tipos de doença Devido à grande capacidade de reserva do fígado, a deficiência
hepática. A imunoglobulina (IgG) está elevada na hepatite auto- de hemostasia geralmente não ocorre, exceto na doença hepática
imune e na cirrose; I g M está elevada na cirrose biliar primária, e grave ou de longa duração. O tempo de protromhina (PT) inves-
a IgA tende a u m aumento em todos os tipos de cirrose. N e n h u m tiga a atividade do fibrinogênio (fator I), protromhina (fator II)
desses achados é específico e raramente são usados no diagnós- e fatores V, V I I e X. C o m o todos esses fatores são sintetizados
tico de doença hepática. pelo fígado, u m tempo de protromhina prolongado geralmente
696 PARTE V Fisiopatologia

indica a presença de doença hepática significativa. Na colestase, lítico. C o m o estas condições também aumentam as concentra-
a deficiência de vitamina K causa também u m aumento no ções de amónia, existe uma pequena correlação entre o aumento
tempo de protrombina. Neste caso, a normalidade da coagulação da amónia e o nível de insuficiência hepática. Entretanto, infe-
é corrigida dentro de poucos dias através de injeção parenteral lizmente, de forma individual, nos pacientes, existe uma pequena
de 10 mg de vitamina K. A o contrário, se o PT é prolongado correlação entre as concentrações plasmáticas de amónia e o nível
devido à doença hepatocelular, a síntese do fator é d i m i n u í d a e de encefalopatia. A persistência da concentração de amónia no
a administração dc vitamina K não corrige o problema. O método plasma é ú t i l no diagnóstico diferencial de encefalopatia, quando
para detectar o PT na doença hepática permanece controverso, não está claro se a encefalopatia é de origem hepática. É especial-
mas o sistema de normatização internacional (INR)* não padro- mente útil, também, para o diagnóstico da síndrome de Reye e
niza a medida de PT na doença hepática, como o faz na terapia de distúrbios hereditários do metabolismo da uréia. Entretanto,
por varfarina. não auxilia em pacientes com doença hepática conhecida.
Se os valores da amónia em indivíduos saudáveis são m u i t o
Síntese de Uréia maiores do que o esperado, deve-se considerar a existência e
Os pacientes com doença hepática em estágio terminal podem posterior correção das possíveis fontes de erro pré-a na lítico. Estas
apresentar baixas concentrações de uréia no plasma. A veloci- fontes incluem (1) contaminação (por uso de cigarros, utilização
dade de excreção da uréia na urina é menor do que em pessoas de beparina amoníaca na anticoagulação), (2) o mecanismo de
saudáveis. A l é m disso, as concentrações plasmáticas da amónia, coleta (uso prolongado do torniquete, mão fechada apertada
precursora da uréia (ver adiante), c de aminoácidos estão aumen- durante a coleta), ou (3) manipulação da amostra (atraso na
tadas na doença hepática terminal. análise; amostra não refrigerada).

Funções Metabólicas Hepáticas Metabolismo e Excreção de Xenobióticos


O fígado tem u m papel importante e central nas vias metabólicas Os xenobióticos são substâncias estranhas removidas e metabo-
e de regulação. Por exemplo, a expressão funcional da complexa e lizadas pelo fígado e, por isso, algumas são utilizadas como testes
integrada estrutura das organelas inclui o metabolismo de drogas de função hepática. Por exemplo, certas substâncias lipofílicas,
(ativação e detoxificação) e a liberação de substâncias endógenas como (1) bromossulfoftaleína (BSP), (2) verde de indocianina
e exógenas, como a amónia. U m clássico exemplo é galactosemia. (ICG), (3) aminopirina, (4), cafeína, (5) lidocaína e (6) rosa
Nesta condição, a ausência congênita da enzima galactose-1- bengala, são excretadas na bile como compostos intactos, ou seus
fosfato uridiltransferase permite o acúmulo dc metabólitos conjugados, ou ambos. Normalmente a remoção desses xenobi-
tóxicos da galactose-l-fosfato, que causa lesão no fígado, cérebro óticos ocorre, quase que totalmente, pelo fígado e acredita-se que
e rins. seja u m transporte mediado por receptor e c o m gasto de energia.
C o m o a excreção para a bile é lenta, a eliminação dos xenobió-
Metabolismo da Amónia ticos da corrente sanguínea depende (1) do fluxo sanguíneo
A principal fonte de amónia circulante é a ação das proteases hepático, (2) da desobstrução da árvore biliar e (3) da função do
bacterianas, ureases e aminoxidases sobre os conteúdos do trato parênquima hepático.
gastrointestinal. A concentração de amónia na veia porta é de 5
a 10 vezes maior do que na circulação sistêmica. Sob circunstân- MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA DOENÇA
cias normais, a maior parte da amónia é convertida em uréia HEPÁTICA
através do ciclo Krebs-Henseleit, nos hepatócitos (FigUTa 36-4). VáTÍas condições são indicativas de doença hepática e estas incluem
Os estudos em animais e humanos mostraram que o aumento (1) icterícia, (2) hipertensão porta, (3) distúrbios na hemostasia (4)
da concentração de amónia na circulação (hiperamonemia) liberação de enzimas em vários líquidos corporais.
exerce efeitos tóxicos n o sistema nervoso central. Existem várias
causas, herdadas ou adquiridas de hiperamonemia. As deficiên- Icterícia
cias herdadas de enzimas do ciclo da uréia constituem as princi- A icterícia (também conhecida por icterus) é caracterizada pela
pais causas de hiperamonemia nas crianças. aparência amarela da (1) pele, (2) membranas mucosas e (3) da
As causas adquiridas mais comuns de hiperamonemia são as esclera, e é causada pelo depósito de b i l i r r u b i n a . E a manifestação
doenças hepáticas avançadas e a insuficiência renal. A insuficiên- clínica mais específica da disfunção hepática. N o entanto, a icte-
cia hepática crônica ou grave (como ocorre na cirrose e na hepa- rícia não está presente em muitos indivíduos com doença hepá-
tite fulminante, respectivamente), leva a uma redução significa- tica (especialmente doença hepática crónica) e pode ocorrer
tiva no metabolismo normal da amónia. A síndrome de Reye, também com hiperprodução de bilirrubina (hemólise) ou distúr-
que é primariamente u m distúrbio do sistema nervoso central bios congênitos do metabolismo da bilirrubina. A icterícia é cli-
com disfunção hepática mínima, também está associada à hipe- nicamente aparente quando a concentração de b i l i r r u b i n a plas-
ramonemia. mática alcança 2 a 3 m g / d L (34 a 51 p m o l / L ) . Q u a n d o a remoção
A encefalopatia hepática no paciente cirrótico é causada, com de b i l i r r u b i n a do fígado para o tTato intestinal está prejudicada
freqüência, por sangramento gastrointestinal que aumenta a pro- (como na hepatite aguda e obstrução de dueto biliar), ela pode
dução de amónia. Outras condições que desenvolvem encefalo- ser acompanhada por fezes acólicas (de cor cinza). A elevação de
patia incluem (1) excesso de proteína na dieta, (2) constipação, b ilirru b in a conjugada solúvel em água dá à urina uma cor de chá.
(3) infecções, (4) drogas ou (5) desequilíbrio ácido-base e eletro- O metabolismo da b ilirru b in a é discutido no Capítulo 28. U m a
classificação de icterícia, com base na etapa do metabolismo
alterado da bilirrubina, é mostrada n o Quadro 28-3.
Mnternational Nnrmalized Ratio é u m sistema estabelecido pela Organização
Mtmámí ãe Saiíáí (OMS) e o International Cotnmittee o n Thiombosis and Hipertensão Portal
Hemosiasis para repoTtar os resultados dos restes de coagulação sanguínea. Todos O fluxo venoso do (1) trato G I , (2) baço, (3) pâncreas e (4) vesí-
os resultados são padroniíados utilizando-se o índice de sensibilidade interna-
cuia biliar passa através da circulação porta (Figura 36-5). A
cional para o reagente trombopiastma e instrumentos combinados para realizar
o teste. hipertensão p o r t a l ocorre quando há obstrução ao fluxo em
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 697

F i g u r a 3 6 - 4 Principais vias metabólicas para utilização de amónia pelo hepatócito. As barras sólidas
indicam os locais de defeitos das enzimas primárias em vários distúrbios metabólicos associados à
hiperamonemia: (1) carbamil fosfato sintetase 1, (2) ornitina transcarbamilase, (3) argininossuccinato
sintetase, (4) argininossuccinato liase, (5) arginase, (6) transporte mitocondrial da ornitina, (7) propionil
Co A carboxilase, (8J metílmalonil CoA mutase, f 9) L -lisina desidrogenase e (10,) N-acetil glucamina
sintetase. As ímhds pontilhadas indicam o local da ativação (+) ou da inibição (-) da via. (De Flannery OB,
Hsia YH, Wolf B. Current status of hyperammonemia syndromes. Hepatology 1982;2:495-506. Copyright
1996 American Association for the Study of Liver Diseases. Reimpresso com permissão de Wiley-Liss, Inc.,
subsidiária de John Wiley & Sons, Inc.)

qualquer ponto, ao longo desse curso. As causas de obstrução maioria dos nutrientes chega através da veia porta, as funções de
que levam à hipertensão porta são classificadas em (1) pré-sinu- síntese n o fígado são também prejudicadas, resultando em (1)
soidal, (2) sinusoidal e (3) pós-smusoidal. A hipertensão porta hipoalbuminemia (contribuindo para a ascite), (2) redução dos
pré-sinusoidal é causada, mais comumente, por trombose da veia fatores de coagulação (predispondo-se à hemorragia), e (3) redução
porta ou esquistossomíase. Dentre as causas importantes de dos fatores trombolíticos, como a antitrombina (predispondo-se
hipertensão pós-sinusoidal estão a obstrução da veia hepática à trombose venosa).
(síndrome de Budd-Chiari) e a insuficiência cardíaca congestiva.
A vasta maioria dos casos de hipertensão porta representa hiper- Sangramento das Varizes Esofágicas
tensão dos sinusóides, mais comumente causada pela cirrose. A conseqüência mais grave, incompatível à vida da derivação
Quando a pressão da veia porta aumenta, o sistema venoso portossistêmica, é o desenvolvimento de varizes (veias aumenta-
portal se dilata e forma conexões lacerais ao fluxo venoso sistê- das e tortuosas) que ocorrem por todo o trato G I , mas são mais
mico (Figura 36-6), levando a uma derivação portossistêmica. comuns no esôfago e no estômago. O sangramento das varizes
Inicialmente, esta condição é clinicamente silenciosa, mas, à constitui uma das causas de morbidade e mortalidade em pacien-
medida que a hipertensão porta aumenta mais, as funções meta- tes com cirrose. As varizes estão presentes desde o diagnóstico de
bólicas do fígado são comprometidas. U m a anormalidade deste cirrose, em cerca de 40% dos pacientes, e se desenvolvem em u m
tipo é a alteração do metabolismo do estrógeno, que leva a (1) adicional de 6% ao ano.
telangiectasias e eritema palmar, (2) ginecomastia (em homens),
e (3) sangramento vaginal anormal e períodos menstruais irregu- Ascite
lares (em mulheres). A ineficiência das funções metabólicas pro- Ascite é a passagem e o acúmulo de líquido na cavidade abdomi-
teicas ocasiona o acúmulo anormal de amónia e de neurotransmis- nal. A ascite é o achado clínico mais comum em pacientes com
sores, ocasionando, finalmente, a encefalopatia hepática. Como a hipertensão porta. Ela por si só, não é ameaçadora à vida, mas é
698 PARTE V Fisiopatologia

Figura 36-5 O sistema p o r t a l venoso. H V , V e i a h e p á t i c a ; JVC, veia cava i n f e r i o r ; JA/IV, veia m e s e n t é r i c a


i n f e r i o r ; L G V , veia gástrica esquerda; L R V , veia r e n a l esquerda; PV, veia p o r t a ; fiRV, veia r e n a l d i r e i t a ; SV, veia
esplénica; S M V , veia m e s e n t é r i c a s u p e r i o r . ( D e Z a k i m O , Boiyer T D . H e p a t o l o g y ; A t e x t b o o k o f liver disease, 3 r d
ed. P h i l a d e l p h i a : W B S a u n d e r s , 1996:721.)

desconfortável e pode comprometer a respiração. Predispõe ções plasmáticas de amónia raramente auxiliam no diagnóstico
também os indivíduos à peritonite bacteriana espontânea, que é e monitoração dos pacientes com este distúrbio. Entretanto, as
prejudicial à vida. C o m o existem muitas causas de ascite, a carac- concentrações normais de amónia são úteis para excluir a ence-
terística que mais distingue a hipertensão porta é o aumento da falopatia hepática como uma causa de disfunção cerebral. U m a
diferença entre as concentrações de albumina plasmática e a do exceção é o paciente que tem encefalopatia aguda de causa des-
líquido ascítico (algumas vezes chamada de gradiente de albumina conhecida. Nesta situação, as concentrações elevadas de amónia
sérica-ascite ou SAAG). U m gradiente maior que 1,1 g / d L con- sugerem insuficiência hepática aguda ou síndrome de Reye.
firma o diagnóstico de ascite caus ada por hipertensão porta.
Síndrome Hepatorrenal
Peritonite Bacteriana Espontânea A síndrome hepatorrenal (HRS) refere-se à diminuição da função
A ascite predispõe à peritonite bacteriana espontânea, definida renal decorrente de doença hepática. A hipertensão porta é u m
como bacteremia (caracteristicamente gram-negativa) na ausência fator c o m u m em todos os casos de H R S que se desenvolve em
de r o m p i m e n t o mecânico do intestino. Geralmente se apresenta doença hepática crônica. Entretanto, a síndrome também pode
em u m individuo com cirrose conhecida que desenvolve dor se desenvolver na insuficiência hepática aguda. Apesar de ante-
abdominal, febre ou leucocitose. O diagnóstico é estabelecido riormente ter sido associada a u m quadro terminal e rapidamente
pelo exame do líquida ascítico; mais de 250 neutrófilos por progressivo de doença hepática, atualmente a HRS é classificada
microlitro, ou mais de 500 na ausência de uma cultura de sangue em dois grupos principais. Por exemplo, a HRS ripo 2 é a mais
positiva, é considerado diagnóstico. A o contrário, uma peritonite c o m u m e representa u m declínio estável ou lentamente progres-
secundária está geralmente associada a (1) contagens mais altas sivo da função renal, devido à vasodilatação periférica e à vaso-
de neutrófilos, (2) baixa glicose no líquido ascítico e (3) alta constrição renal. O tipo 1 ou H R S clássica, caracteriza-se pelo
concentração de proteína. rápido declínio da função renal, geralmente se desenvolvendo em
uma pessoa com H R S tipo 2 preexistente. A HRS tipn 1 geral-
Encefalopatia Hepática (Portossistêmica) mente se desenvolve quando ocorre uma diminuição aguda da
A encefalopatia hepática é u m distúrbio metabólico caracteri- pressão sanguínea, freqüentemente devido a uma peritonite bac-
zado por u m amplo espectro de disfunções neuropsiquiátricas. teriana espontânea ou sangramento de varizes.
Pode ocorrer (I) como uma síndrome aguda, em pacientes com A característica c o m u m em ambas as formas de HRS é a
insuficiência hepática aguda causada por hepatite virai ou indu- ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, causada por
zida por drogas, ou (2) como uma síndrome crônica associada à depleção do volume intravascular, acarretando retenção de água
cirrose e insuficiência hepática. U m a variedade de sistemas e e sais. Isto leva ao desenvolvimento de hiponatremia, hipocale-
neurotransmissores está em disfunção na encefalopatia hepática, mia, alcalose metabólica, baixa excreção de sódio e alta excreção
mas a causa exata das alterações não é conhecida. As concentra- de potássio na urina e alta osmolaridade da urina.
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 699

Veias de Sappey
Diafragma

Varizes esofágicas

Fígado

Parede
abdominal Omento Parede
abdominal

Veias de
Retzius

Veia
espermática

Veia abdominal
subcutânea

Veia hemorroidária superior


Veia de Retzius
Veia hemorroidária inferior

Figura 36-6 Locais da circulação colateral portossistêmica na cirrose hepática. ( D e S h e r l o c k S, D o o l e y J, eds


Diseases o f the liver and b i l i a r y system, 9 t h ed. L o n d o n - B k c k w e l l Scientific Publications,1993:134.)

Distúrbios da Hemostasia na Doença lação intravascular ineficaz. Embora seja comumente atribuída
Hepática ao seqüestro esplénico (hiperesplenismo), há evidências da des-
Vários fatores de coagulação são produzidos pelo fígado. Por- truição de plaquetas mediada por anticorpo. Pacientes com hepa-
tanto, anormalidades na hemostasia são comuns na doença hepá- tite auto-imune podem possuir anticorpos anticardiolipina e
tica, particularmente na cirrose e na insuficiência hepática aguda. anticorpos para plaquetas.
Os, distúrbios do fibrinogênio, como a disfibrmogenemia,
também podem ser vistos tanto na doença hepática aguda quanto
na crônica, ocasionando extensão do tempo parcial da trombo- Enzimas Liberadas por Lesão Hepática
plastina. A coagulação intravascular disseminada ocorre com a C o m o a função hepática é freqüentemente normal em muitos
necrose hepática aguda, provavelmente como resultado da libe- pacientes com doença hepática, as atividades plasmáticas de
ração de tromboplastina tecidual e defeito na remoção de inibi- numerosas enzimas associadas à membrana, citosólicas e mito-
dores, como a antitrombina e proteína C. A trombocitopenia condriais são analisadas juntamente com o aumento em muitas
(comum em pessoas com cirrose) pode contribuir para a coagu- formas de doença hepática.
700 PARTE V Fisiopatologia

C o m o o padrão e o grau de elevação da atividade enzimática zima. O mecanismo de liberação de enzimas ligadas à membrana,
variam com o tipo de doença hepática, estas avaliações são extre- como G G T e ALP, para a circulação, é b e m menos compreendido,
mamente úteis para reconhecimento e diagnóstico diferencial das mas parece ser (1) por aumento de síntese, (2) por fragmentação
lesões hepáticas. Vários fatores contribuem para a utilização de da membrana pelos ácidos biliares e (3) solubihzação das enzimas
enzimas hepáticas no diagnóstico, como (1) especificidade teci- ligadas à membrana, através da ação dos ácidos biliares.
duai, (2) distribuição dentro da célula, (3) perfil da atividade da
enzima no fígado e no plasma, (4) padrões de liberação e (5) Velocidade de Remoção das Enzimas Plasrháticas
remoção do plasma. A remoção das enzimas plasmáticas hepáticas ocorre em tempos
diferentes. A meia-vida da A L T é de 47 horas, da A S T citosólica
Especificidade Teciduai 17 horas; portanto, embora mais a A S T seja liberada do fígado,
As cinco enzimas que são normalmente utilizadas n o diagnóstico a meia-vida m u i t o mais longa da A L T leva a atividades maiores
de doença hepática incluem (1) aspartato aminotransferase (AST; de A L T do que de A S T na maioria das formas de lesão hepato-
E C 2.6.Í.1); (2) alanina aminotransferase (ALT; E C 2.6.1.2.); (3) celular. A meia-vida da isoenzima hepática A L P varia entre 1 a
fosfatase alcalina (ALP; 3.1.3.1) e (4) y-glutamil transferase ( G G T ; 10 dias; o valor anterior parece corresponder melhor às alterações
E C 2,3.2.2), que normalmente são utilizadas para a detecção de vistas com a remoção de cálculos biliares. A meia-vida da G G T
lesão hepática e (5) lactato desidrogenase ( L D ; E C 1.1.1.27), que foi descrita com 4,1 dias. O mecanismo pelo qual as enzimas são
é usada de forma ocasional. A L T e G G T estão presentes em removidas da circulação não é completamente conhecido, embora
vários tecidos, porém as atividades plasmáticas refletem, prima- a endocitose mediada por receptor, nos macrófagos do fígado,
riamente, a lesão hepática. A S T é encontrada no fígado, músculo provavelmente esteja envolvida.
(cardíaco e esquelético) e, em proporção limitada, nos eritrócitos.
A L D rem u m a ampla distribuição e por isso é relativamente
inespecífica. A A L P é encontrada em vários tecidos, mas em DOENÇAS DO FÍGADO
indivíduos normais, primariamente em ossos e fontes hepáticas. O fígado possui u m número limitado de maneiras de responder
Assim, com base na distribuição teciduai, a A L T e a G G T são à lesão. A lesão aguda do fígado pode ser assintomática, mas com
consideradas marcadores específicos para a lesão hepática. freqüência se apresenta como icterícia. As duas principais doenças
hepáticas agudas são a hepatite aguda e a colestase. Geralmente
Distribuição Subceiuiar a lesão hepática crónica assume a forma clínica de hepatite
As enzimas são encontradas em diferentes locais dentro das crônica; suas complicações em longo prazo incluem a cirrose e
células. As AST, A L T e L D são enzimas citosólicas, e como tais, H C C . A discussão de doença hepática será abordada principal-
são liberadas durante as lesões celulares, surgindo relativamente mente sobre estes aspectos e em poucas doenças que diferem
rápido no plasma. N o caso da A S T e ALT, elas se apresentam deste padrão geral.
como isoenzimas nas mitocôndrias e no citosol dos hepatócitos,
e em outras células que contenham essas enzimas. Em relação à
ALT, a quantidade relativa de isoenzima m i t o c o n d r i a l é pequena Padrões e Mecanismos de Lesão
e sua meia-vida plasmática é extremamente curta, o que a torna A célula-alvo determina o padrão de lesão, assim, a lesão do
sem utilidade no diagnóstico. C o m a AST, a isoenzima mitocon- hepatócito leva à doença hepatocelular e a lesão da célula biliar
drial representa uma fração significativa da A S T total dos hepa- origina a colestase. Toda lesão celular pode induzir a fibrose
tócitos. Do contrário, A L P e G G T são glicoproteínas ligadas à como uma resposta adaptativa o u de cura, porém a duração da
membrana, e a localização mais importante de ambas as enzimas lesão e os fatores genéticos determinam se ocorrerá cirrose o u
é na membrana dos canalículos dos hepatócitos. u m carcinoma (Figura 36-7).
A morte celular ocorre por necrose ou apoptose, ou ambas.
Atividade Relativa no Fígado e no Plasma A necrose celular ocorre como resultado de u m ambiente nocivo
Para as enzimas citoplasmáticas, a correspondência das concen- e é referida como "assassínio". A lesão tóxica provocada por
trações relativas de enzima no fígado e no plasma constitui u m compostos como o tetracloreto de carbono, aspirina e paraceta-
parâmetro clinico importante. A atividade da A S T dentro dos mol 9 ocorre na maior parte por necrose. A apoptose ocorre como
hepatócitos é cerca de duas vezes a da ALT, embora as atividades resultado de u m programa de morte celular acelerado, no qual a
plasmáticas sejam semelhantes. A o contrário, as atividades da L D célula c o n t r i b u i para a sua própria m o r t e e, portanto, comete
no hepatócito são muito mais baixas (relativas ao plasma) do que "suicídio". Independente da causa, a morte celular leva, tipica-
as outras duas enzimas, mas as atividades plasmáticas da L D são mente, ao extravasamento de enzimas citoplasmáticas.
muitas vezes maiores do que as da A S T e ALT. Isto indica que, Os testes em laboratório são úteis na distinção (1) do padrão
na lesão hepática, a L D apresenta u m menor aumento quando da lesão (hepatocelular versus colestática), (2) cronicidade da lesão
comparada a A S T e ALT. A concentração relativa de enzima no (aguda versus crónica) e (3) gravidade da lesão (branda versus
tecido não é necessariamente a mesma na doença; na cirrose e acentuada). Em geral, (1) as enzimas aminotransferases e a fosfa-
na desnutrição ocorre redução significativamente maior da A L T tase alcalina (ALP) são usadas para distinguir o padrão, (2) a
do que da AST. albumina plasmática para determinar a cronicidade e a concen-
tração (3) do fator V ou do TP, para determinar a gravidade. A t é
Mecanismos de Liberação o momento, o único m o d o de detectar a fibrose com precisão é
Vários mecanismos parecem estar envolvidos na liberação de a biópsia hepática.
enzimas dos hepatócitos. A lesão celular é o mecanismo mais
simples que permite o extravasamento de enzimas citoplasmáticas, Distúrbios do Metabolismo da Bilirrubina
porém uma liberação mínima de outros tipos de enzimas. O Os defeitos do metabolismo da bilirrubina que resultam em
álcool parece induzir a expressão de A S T mitocondrial na super- icterícia ocorrem em cada etapa da via metabólica. A via meta-
fície dos hepatócitos. Não é surpresa que a hepatite alcoólica bólica e os defeitos relacionados com esses defeitos são discutidos
esteja associada ao aumento de atividades plasmáticas desta isoen- no Capítulo 28.
Doenças do Fígado C A P Í T U L O 3 6 701

r
Recuperação
sem seqüela Carcinoma
Regeneração hepatocelular
l 1 L U W I LJIQ I

Lesão
hepática
Lesão
crônica
Fibrose
(cura) Cirrose
X Morte
aguda

Hipertensão porta
(varizes esofágicas, ascite,
encefalopatia)
Falha na
regeneração

Hepatite — •. Recuperação
K v
fulminante

Morte

Figura 36-7 H i s t ó r i a n a t u r a l da doença hepática.

TABELA 36-1 Tipos de Hepatite V i r a i

A B G D E G

Tipo RNA DNA RMA Parcial RNA RNA


Período de incubação (d) 45-50 30-150 15-160 30-150 20-40 Desconhecido
Transmissão
Fecal oral Sim Não Min Não Sim Nao
Doméstica Sim Min Min Sim Sim Não
Vertical Não Sim Min Sim Não Sim
Sangue Raro Sim Sim Sim Desconhecido Sim
Sexual Não Sim Min Sim Desconhecido Sim
Diagnóstico IgM Anti-HAV HBsAg, PCR, IgM anti-HBc Anti-HCV, PCR Anti-HDV Anti-HEV Anti-HGV
Estado de portador Não Sim Sim Sim Sim Sim
Hepatite crônica Não 10% 80% Sim Não Não
Câncer de fígado Não Sim Sim Não Mão Não
Prevenção
Vacina Sim Sim Não Sim* Mão Não
Imunogiobuíína Sim Sim Não Sim* Não Não
Resposta ao interferon Não usado 50% 20% a 45% Sim Não usado Sim

M i n , Mínima; HAV, víms da hepatite A ; HBsAg, ttníígeno dt superfície da hepatite. B; PCR, reação em cadeia da JíolimÊttiSÉ; IgM, ímunoglobuliM M ; HCV, vírus da hepatite C;
HDV, vírus da hepatite D; HtíV, vírus da hepatite Ej HGV, vírus da ha/ia ti te • .
^Vacinação t imunização passiva contai H B V protege comra a infecção por H D V

Infecção Hepática Virai D o i s testes são usados c o m u m e n t e para avaliar a exposição


F o r a m i d e n t i f i c a d o s cinco vírus ( A , B, C , D , E) c o m o causas de ao H A V . A n t i c o r p o s totais para H A V se desenvolvem após a
infecção q u e t ê m c o m o alvo p r i n c i p a l o fígado. A l é m disso, exposição n a t u r a l o u após i m u n i z a ç ã o e parecem persistir d u r a n t e
o u t r o s vírus p o d e m infectar o fígado c o m o parte de u m a infecção t o d a a vida após a infecção n a t u r a l e, p o r pelo menos, 20 anos
mais generalizada e, entre eles, estão o citomegalovirus ( C M V ) , após a vacinação A I g M a n t i - H A V se desenvolve r a p i d a m e n t e
o virus Epstein-Barr ( E B V ) e o virus do herpes simples ( H S V ) c o m a exposição aguda e geralmente permanece detectável p o r 3
A s várias hepatites virais estão listadas na Tabela 36-1. Apenas a a 6 meses. C o m a redução da i n c i d ê n c i a da doença aguda pelo
hepatite A , B e C serão discutidas nesta seção. H A V , a m a i o r i a dos resultados positivos para I g M a n t i - H A V
representa falso-positivosj os Centers for Disease C o n t r o l a n d
P r e v e n t i o n ( C D C ) r e c o m e n d a m que o teste seja usado apenas na
Vírus da Hepatite A vigência de hepatite aguda.
O v i r u s da hepatite A ( H A V ) é a causa mais c o m u m de h e p a t i t e
v i r a i aguda na A m é r i c a d o N o r t e , embora sua i n c i d ê n c i a t e n h a Vírus da Hepatite B
sido reduzida c o m a vacinação. As epidemias f o r a m associadas à O vírus da h e p a t i t e B ( H B V ) é a causa mais c o m u m de infecção
c o n t a m i n a ç ã o fecal da água e dos alimentos. E n q u a n t o a m a i o r i a v i r a i crônica. Estima-se e m 3 5 0 m i l h õ e s o n ú m e r o de pessoas que
dos adultos c o m infecção aguda p o r H A V torna-se ictérica, a estão c r o n i c a m e n t e infectadas c o m o H B V e que aproximada-
m a i o r i a das crianças permanece assintomática. N ã o existe f o r m a m e n t e u m terço da população m u n d i a l tenha sido exposto ao
crônica de hepatite A , mas a colestase (manifestada por várias H B V , A freqüência de portadores crônicos de H B V é alta na Ásia
semanas de icterícia e p r u r i d o ) p o d e ocorrer em alguns adultos. e na A f r i c a , mas m u i t o m e n o s c o m u m entre as pessoas nascidas
702 PARTE V Fisiopatologia

na A m é r i c a do N o i t e e na E u r o p a . O H B V é t r a n s m i t i d o através O D N A v i r a i da hepatite B c o n s t i t u i m e d i d a direta do vírus


das secreções corporais, p r i n c i p a l m e n t e p o r c o n t a t o sexual o u circulante. Ele é m e d i d o d i r e t a m e n t e o u após amplificação d o
p o r via parenteral. A transmissão t e m sido encontrada da mãe D N A virai. O m é t o d o de amplificação detecta quantidades
para a criança, geralmente d u r a n t e o u apôs o p a r t o (chamada de ínfimas de vírus, sendo agora a m p l a m e n t e usado. N ã o está defi-
transmissão vertical). E m algumas regiões do m u n d o , c o m altas n i d o quantas cópias do D N A do H B V representam v i r e m i a cli-
taxas de infecção crônica, a transmissão é vertical. C o m o discu- n i c a m e n t e i m p o r t a n t e . E n t r e t a n t o , as orientações da prática
t i d o mais tarde, a infecção crônica p o r H B V p o d e apresentar clínica a d o t a r a m o n ú m e r o de 100.000 c ó p i a s / m L (20.000 I U /
várias formas, p o r é m n e m todas t ê m o m e s m o significado. m L ) c o m o nível de v i r e m i a " c l i n i c a m e n t e significa eiva". Os
A hepatite B é causada p o r u m vírus cujo genoma é D N A , estudos m o s t r a r a m que o risco de complicação a u m e n t a c o m a
de 4 2 - n m , m e m b r o da f a m í l i a h^padnaviridae. Os hepadnavírus carga v i r a i entre 1.000 e 10.000 cópias/ml. 1 0 C o m o t r a t a m e n t o ,
são i n c o m u n s p o r q u e se r e p r o d u z e m u t i l i z a n d o a tTanscriptase a p r i m e i r a evidência de resposta é o d e c l í n i o de D N A do H B V .
reversa a p a r t i r de u m m o d e l o de R N A e D N A , e sendo, por-
tanto, propensos a cepas mutantes. V á r i o s mutanres t ê m i m p o r - Vírus da Hepatite C
tância clínica. Os m u t a n t e s que i m p e d e m a produção do antí- O vírus da hepatite C ( H C V ) 1 4 é a causa mais c o m u m de hepatite
geno e da hepatite B ( H B e A g ) , mas que p e r m i t e m a produção d o crônica na A m é r i c a d o N o r t e , E u r o p a e Japão. Estima-se que na
a n t i c o r p o específico (anti-HBe), são c o m u n s na maior parte d o população m u n d i a l 170 milhões de pessoas n o m u n d o estejam
m u n d o e Tepresentam até 2 5 % das infecções crônicas na A m é r i c a infectadas. A infecção por H C V ocorre p r i n c i p a l m e n t e através
d o N o r t e Isto l i m i t a a u t i l i d a d e do H B e A g c o m o u m marcador do plasma. Os principais fatores de risco são o uso de drogas
de replicação virai. Os mutanres resistentes aos inibidores da injetáveis e a transfusão sanguínea, antes dos testes de triagem de
transcriptase reversa, utilizados c o m u m e n t e para c o n t r o l a r a sangue q u e se i n i c i a r a m em 1990. O H C V é u m flavírus genoma
infecção crônica p o r H B V , se desenvolvem em m u i t o s i n d i v í d u o s R N A , c o m alta taxa de mutação espontânea. Existem seis genóti-
tratados p o r longo período. A l g u m a s mutações envolvem a pos principais (< 7 0 % de h o m o l o g i a dos nucleotídios), ao longo
porção do antígeno de superfície ( H B s A g ) , reconhecido pelos kits de u m n ú m e r o de subtipos ( 7 7 % a 8 0 % de homologia)
de H B s A g e pelos a n t i c o r p o s desenvolvidos e m resposta à vacina
para H B V , p o d e n d o causar infecção que não é detectada pelos Prevenção
testes laboratoriais de r o t i n a . A prevenção da hepatite C é mais d i f í c i l d o que H A V e H B V .
N o entanto, houve u m decréscimo de 8 0 % na incidência de H C V
aguda d u r a n t e a década passada devido aos testes para H C V entre
Imunização os doadores de sangue e as práticas de injeção segura, instituídas
A hepatite B p o d e seT prevenida p o r imunização passiva ( i m u n o - para reduzir o risco de infecção pelo vírus da i m u n o d e f i c i ê n c i a
g l o b u l i n a [ H B I G ] da hepatite B) o u imunização ativa (vacina humana (HIV).
r e c o m b i n a n r e da hepatite B). I n i c i a l m e n t e a vacinação f o i dire-
cionada para os i n d i v í d u o s de alto risco, c o m o (1) bebês infecta- Testes Diagnósticos para Hepatite C
dos pelas mães, (2) i n d i v í d u o s c o m práticas sexuais promíscuas, O a n t i c o r p o para H C V ( a n t i - H C V ) é o p r i n c i p a l teste de rastre-
(3) profissionais da área de saúde e (4) os que m a n t i n h a m con- a m e n t o para a exposição ao H C V . Testes de segunda geração
tatos sexuais c o m i n d i v í d u o s infectados. A t u a l m e n t e , muitas tornam-se positivos, em média, 12 semanas após a exposição,
áreas requerem vacinação de r o t i n a nas crianças. e n q u a n t o os de terceira geração tornam-se positivos geralmente
após 9 semanas de exposição. As recomendações atuais do C D C
sugerem o uso de u m valor de corte ( S / C ) m e n o r que 3,8 para
Testes Diagnósticos para Hepatite B a segunda e terceira geração de imunoensaios c o m o E L I S A
O H B s A g é p r o d u z i d o e m excesso pelo vírus e é usado c o m o teste (enzyme-linked immunosoTbent assa;?), um valor de S / C menor qu
laboratorial para detectar a infecção p o r H B V em curso. Está 8,0 para o teste de q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a , e u m v a l o r de S / C de
presente nas infecções aguda e crônica. O a n t i c o r p o para o cerne 10 para o teste M E I A (microparticle enzyme immunoassay} para
do antígeno da hepatite B (anti-HBc) é o a n t i c o r p o contra H B V d e f i n i r resultados positivos baixos. Recomenda-se que as amos-
mais c o m u m e n t e detectado. D o i s métodos são usualmente empre- tras c o m baixo valor de S / C sejam c o n f i r m a d a s pelo uso d o teste
gados; I g M e anti-HBc total. A avaliação de anticorpos totais mede immunohlot R I B A (recombmant immunoblot assay), que é semelhan
os anticorpos I g G e I g M e geralmente é positiva durante a vida, ao W e s t e r n b l o t ( C a p í t u l o 6).
após a exposição. A I g M anti-HBc geralmente ê positiva p o r 3 a O R N A d o H C V é usado para detectar a infecção ativa. A
6 meses após infecção aguda, mas ocasionalmente está presente rápida separação d o soro do coágulo é crítica para a m e d i d a
t a m b é m c o m a infecção crônica p o r H B V A presença do anti- precisa do R N A do H C V , Os testes para R N A H C V geralmente
c o r p o d i r i g i d o para o antígeno de superfície da hepatite B (anti- usam padrões qualitativos e q u a n t i t a t i v o s , e m b o r a m u i t o s labo-
HBs) é considerada evidência de i m u n i d a d e para hepatite B e é ratórios não e m p r e g u e m o teste q u a l i t a t i v o p o r q u e testes quanti-
o Único marcador e n c o n t r a d o naqueles que receberam vacina tativos mais recentes possuem l i m i t e s de detecção semelhantes
para hepatite B; c o m a "resolução" de u m a infecção n a t u r a l , a aos testes qualitativos originais. O g e n ó t i p o do H C V c o n s t i t u i
m a i o r i a dos i n d i v í d u o s desenvolve ambos, anti-Hbs e anti-Hbc. u m p a r â m e t r o i m p o r t a n t e d o pré-tratamento. O g e n ó t i p o é deter-
O H B e A g e o anti-Hbe são usados geralmente apenas no con- m i n a d o pelo seqüenciamento direto o u ensaio de sonda.
texto de infecção crônica p o r H B V . O H B e A g é produzido c o m as
partículas virais replicativas, mas não é parte da partícula virai. Ele Hepatite Aguda
é usado c o m o marcador de persistência de vírus infecciosos; seu A h e p a t i t e aguda refere-se a u m a lesão aguda d i r e c i o n a d a c o n t r a
desaparecimento e o aparecimento de anti-HBe são usados c o m o os hepatócitos. A lesão pode ser mediada direta o u indireta-
indicadores da conversão para o estado não-rep li cativo e como meta mente. A lesão direta ocorre c o m certas drogas, c o m o o parace-
para o tratamento antiviral, A presença de H B e A g indica sempre t a m o l , o u c o m a isquemia. A lesão i n d i r e t a é mediada i m u n o l o -
viremia persistente; sua ausência não é segura na indicação de perda gicamente e ocorre c o m as hepatites virais e m u i t a s drogas,
de vírus circulante, c o m o discutido adiante. i n c l u i n d o o etanol. N a lesão direta ocorre de f o r m a típica u m
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 703

rápido aumento das enzimas citosólicas, com a AST, A L T e L D , últimos anos de 1980, provavelmente devido à imunização para
seguida por redução a valores semelhantes aos valores conhecidos H A V e H B V e o uso seguro de injeções e práticas sexuais.
de meia-vida. C o m a lesão indireta, há (1) aumento gradual das
enzimas citosólicas, (2) uma fase de equilíbrio platô, e (3) redução
gradual da elevação das enzimas. Embora a icterícia seja o achado Hepatite A Aguda
clínico principal que leva ao reconhecimento da hepatite aguda, E m adultos, cerca de 70% daqueles com infecção aguda por H A V
ela freqüentemente está ausente. U m aumento de atividade da desenvolvem icterícia. Em crianças, a infecção aguda por H A V segue
A S T maior que 200 I U / L , ou da atividade da A L T maior que quase sempre não reconhecida e apenas 10% tornam-se ictéricas.
300 I U / L , tem sensibilidade e especificidade clínicas maiores que O anticorpo IgM (IgM anti-HAV) surge no curso inicial da doença
90% para hepatite aguda. A A L P é, em geral, levemente aumen- e persiste, em média, por 2 a 6 meses e é o melhor teste para o
tada e é três vezes menor que o l i m i t e de referência superior em diagnóstico de infecção aguda por HAV.
90% dos casos de hepatite aguda. A elevação da biíirrubina,
quando presente, é predominantemente de biíirrubina de reação
direta, em uma porcentagem total semelhante à da obstrução do Hepatite B Aguda
dueto biliar. Em geral, a função de síntese do fígado é bem pre- Assim como na HAV, a maioria das infecções em crianças é clini-
servada na maioria das formas de hepatite aguda; o prejuízo da camente silenciosas. Estima-se que 30% a 5 0 % dos adolescentes
função de síntese é u m importante preditor da insuficiência e adultos com infecção aguda por H B V desenvolvam icterícia. O
hepática aguda. Estas e outras características que são úteis para resultado da infecção aguda p o i H B V é fortemente influenciado
o diagnóstico diferencial da hepatite aguda estão resumidas na pela idade e pelo estado imune, como discutido anteriormente.
Tabela 36-2. O curso sorológico da hepatite B aguda está ilustrado na Figura
O resultado da hepatite aguda é variável. Na maior parte dos 36-8. O HBsAg é o primeiro marcador sorológico a aparecer (1
casos ocorre a recuperação completa e a regeneração do fígado a 2 meses após a infecção, antes da evidência de hepatite), e é o
leva à normalidade da estrutura e função do órgão. C o m algumas ú l t i m o marcador protéico a desaparecer. O primeiro anticorpo a
viroses a deficiência em remover a infecção leva ao desenvolvi- aparecer, usualmente coincidindo com o inicio da evidência
mento da hepatite crônica. E m pequena porcentagem dos casos, clínica de hepatite, 3 a 6 meses após a infecção, é o anti-HBc,
a destruição maciça do fígado leva à insuficiência hepática aguda que persiste por 3 a 6 meses. E geralmente considerado diagnós-
(hepatite fulminante), que está associada à alta taxa de mortali- tico de infecção aguda por hepatite B. Raramente indivíduos
dade a menos que ocorra u m transplante hepático. possuem HBsAg e anti-HBc negativos n o m o m e n t o da apresen-
ração inicial, deixando a I g M anti-HBc como o único marcador
Hepatite Virai Aguda positivo. Este achado tem sido chamado "janela do cerne". A
Todas as formas de hepatite virai aguda possuem u m curso clínico "recuperação" está associada à perda do H B s A g e ao apareci-
semelhante, com elevações notórias nas aminotransferases, comu- mento do anti-HBs; mais do que 9 5 % dos adultos e adolescentes
mente entre 8 a 50 vezes os limites superiores de referência. A saudáveis têm este resultado, enquanto estes valores são menores
A L T é tipicamente maior que a A S T devido à sua remoção mais em crianças mais jovens ou naqueles que estão imunossuprimi-
lenta. As elevações enzimáticas apresentam u m pico antes da dos. As evidências que se acumulam indicam que o H B V perma-
ocorrência do pico de biíirrubina e permanecem elevadas, em nece quiescente n o corpo e o D N A do H B V circula em baixas
média, por 4 a 5 semanas (mais para A L T do que A S T por causa concentrações na "recuperação '. Isto tem sido chamado de infec-
da sua meia-vida mais longa). A incidência de hepatite virai aguda ção "oculta" por H B V . A "reativação" ou infecção pode ocorrer
reduziu a valores inferiores a 2 0 % dos valores encontrados nos com a quimioterapia ou por imunossupressao severa.

TABELA 36-2 C a r a c t e r í s t i c a s L a b o r a t o r i a i s das D i f e r e n t e s F o r m a s d e H e p a t i t e A g u d a

Tipo AST/ÔLT ALP Biíirrubina PT Sorologia Outros

Virai 8 - 5 0 x URL <3 URL 5-15 mg/dL <15 s Positiva


HAV IgM anti-HAV
HBV HBsAg, IgM
anti-HBc
HCV RNA HCV,
+anti-HCV
Alcoólica <8 * URL >3 x URL in 25% 5-15 mg/dL <15 s Negativa AST > ALT
Tóxica >50 x URL Normal <5 mg/dL >15 s Negativa Toxina geralmente detectável,
insuficiência renal aguda é comum
Isquêmica >50 x URL Normal <5 mg/dL >15 S Negativa Insuficiência renal aguda é comum
induzida por drogas 8-50 x URL >3 x URL in 50% 5-15 mg/dL <15 s Negativa Eosinofiiia, erupção cutânea è comum
Auto-imune 8-50 x URL <3 x ÜRL 5-15 mg/dL <15 s Positiva Albumina baixa, globulinas altas
ANA ou ASMA
Wilson 8-50 x URL Normal baixa 5-15 mg/dL <15 s Negativa Anemia hemolítica, insuficiência renal
ou diminuída é comum; ceruloplasmina baixa
freqüentem ente ausente

U R L , Limite superior de re/evêncid.


704 PARTE V Fisiapatalagia

Incubação Icterícia Convalescença Indução:


Overdose
Álcool
Isoniazida

16 20 24 28

Figura 36-8 E v o l u ç ã o da hepatite B aguda, c o m recuperação. 1,


I n í c i o da hepatite c o m icterícia, três meses após a exposição; 2, detecção Necrose celular
d o antigeno de superfície da h e p a t i t e R ( H B s A g ) duas a o i t o semanas
após a exposição, seguida pelo a p a r e c i m e n t o de seu a n t i c o r p o (anti-HBs)
duas a q u a t r o semanas após o H B s A g não ser mais detectado; 3, Figura 36-9 M e t a b o l i s m o d o paracetamol pelo fígado.
detecção d o a n t i g e n o Bc da h e p a t i t e ( H B e A g ) logo após o
desaparecimento d o antígeno H B s A g (isto é geralmente seguido pelo
aparecimento d o a n t i c o r p o c o n t r a H B e A g [anti-HBe], o qual persiste);
4, detecção d o a n t i c o r p o contra H B e A g (cerne) (anti-HBc) n o m o m e n t o
colestática da doença, com aumento maior que 3 vezes o limite
d o i n í c i o da doença, dois a três meses após a exposição. A I g M a n t i - I I B c
superior da atividade da ALP, é encontrada em até 20% dos casos
deverá ser detectável e m níveis elevados p o r cinco meses. { D e Balistrerí
e está associada à maior mortalidade. A elevação da concentração
W F . V i r a i hepatitis: U n i q u e aspects o f i n f e c r i o n d u r i n g c h i l d h o o d .
de biíirrubina é c o m u m e reduções nas concentrações de prote-
C o n s u l t a n t 1984;24:131-53.)
ínas sintetizadas pelo fígado estão comumente presentes. O
aumento da biíirrubina, a redução de albumina e o PT prolon-
gado constituem marcadores de u m prognóstico r u i m na hepatite
Hepatite C Aguda alcoólica. U m função discriminante [4,6 x (PT-PT controle) +
A infecção aguda por H C V 1 4 é responsável por 10% a 15% dos biliTTubina plasmática (mg/dL)] com valor maior que 32 indica
casos de hepatite aguda, nos Estados Unidos, mas apenas 10% a indivíduos com alta taxa de mortalidade.
30% das pessoas desenvolvem icterícia. O R N A do H C V é detec-
tável no plasma 2 a 4 semanas após exposição inicial, enquanto Hepatite Tóxica
que a elevação das aminotransferases geralmente se desenvolve A hepatite tóxica se refere à lesão direta dos hepatócitos por uma
ceTca de 6 a 8 semanas após a infecção. O anticorpo a n t i - H C V toxina ou metabólito tóxico. As reações tóxicas são geralmente
está presente em pouco mais da metade dos casos no momento previsíveis e estão diretamente relacionadas com a dose do agente
da apresentação. O diagnóstico de H C V aguda é possivelmente ingei-ido. Na América do Norte e na Europa, a causa mais c o m u m
positivo se (1) o a n t i - H C V está ausente, mas o R N A do H C V de hepatite tóxica é o paracetamol, um analgésico amplamente
está presente; (2) a carga virai de R N A do H C V é alta e a titula- utilizado sem prescrição (Figura 36-9). A primeira anormalidade
ção do a n t i - H C V é baixa; (3) a titulação de a n t i - H C V aumenta laboratorial a aparecer é u m aumenta do PT, seguido por aumento
com o tempo ou; (4) o R N A do H C V , inicialmente positivo, das atividades das enzimas citosólicas. Inicialmente, a L D é fre-
torna-se negativo sem tratamento. A carga virai cai com o desen- qüentemente aumentada a quantidades absolutas maiores que a
volvimento do anticorpo para uma ou mais proteínas do H C V A S T e esta tende a ser maior que a ALT. Picos de atividade
e pode se tornar temporariamente negativa mesmo naqueles que (tipicamente 100 vezes maior que o limite de referência superior)
progridem para infecção crônica. Estima-se que 30% a 50% das ocorrem geralmente por 24 a 48 horas, seguidos por eliminação
pessoas infectadas e l i m i n e m o vírus espontaneamente (mais rápida a níveis que se aproximam aos valores normais de meia-
comumente em indivíduos mais jovens); aqueles que e l i m i n a m vida das enzimas. As elevações de PT são típicas e estão 4 segun-
o vírus podem falhar no desenvolvimento do a n t i - H C V ou das acima do valor do controle, na maioria dos casos. O prog-
podem perder o anticorpo anos após a exposição. nóstico está relacionado mais estreitamente ao aumento prolon-
gado do PT. A elevação persistente do PT, após quatro dias da
Hepatite Alcoólica Aguda ingestão está associada a u m prognóstico r u i m . Outros marcado-
A doença hepática alcoólica é discutida mais completamente res de risco incluem o desenvolvimento de insuficiência renal
adiante, no contexto da hepatite crônica. Clinicamente, a hepa- aguda ou acidose lática, com p H menor que 7,3.
tite alcoólica aguda é uma doença febril aguda, caracteristica-
mente associada à leucocitose e concentrações elevadas de prote- Hepatite isquêmica ("Choque Hepático")
ínas de fase aguda.12 Ela também causa aumento moderado das A hipoperfusão hepática (hepatite isquêmica) é uma das causas
enzimas citosólicas. Por exemplo, a atividade da A S T é tipica- mais comuns de elevação das enzimas citosólicas, em pacientes
mente duas vezes superior do que a da A L T e é raro que a A S T hospitalizados. Ela é a causa da maioria dos casos de hepatite
seja oito vezes maior que o limite superior de referência. A forma aguda. Geralmente é m í n i m o o aumento da concentração de
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 705

bilirrubina, ocorrendo u m pico vários dias após as atividades das r


TABELA 3 6 - 3 Causas d e H e p a t i t e C r ô n i c a e E s t r a t é g i a s
enzimas estarem maiores. Os achados de laboratório são seme- D i agnósticas
lhantes aos da hepatite tóxica {incluindo aumento da L D ) e a L
Causa Diagnóstico
insuficiência renal aguda é u m fator c o m u m de complicação.
Hepatite B História, HBsAg, anti-HBs, anti-HBc, DNA
HBV
Síndrome de Reye Hepatite C Anti-HCV, RNA HCV por PCR
A encefalopatia aguda, em combinação com a degeneração gor- Auto-imune tipa 1 ANA, anticorpo antimúsculo liso
durosa das vísceiasj foi descrita, inicialmente, por Reye, em 1963. Aulo-imune tipo 2 SLA, anti-LKNh
A síndrome é caracterizada por uma doença prodrômica virai, Doença de Wilson Cerulcplasmina
febril, causada normalmente por influenza R ou varicela. Após Drogas História
uma semana seguem episódios de vômitos prolongados associa- Deficiência de antitripsina Fenótipo de c^-AT

dos com letargia e confusão que podem se deteriorar rapidamente Idiopática Biópsia hepática, ausência de marcadores

para estupor e coma. Simultaneamente, (1) o fígado aumenta, (2)


as aminotransferases e o PT aumentam, e (3) a concentração de
amónia também aumenta. A concentração de b i l i r r u b i n a é
n o r m a l ou apenas levemente aumentada. Outras características Hepatite Crônica
laboratoriais incluem hipoglicemia e hiperuricemia. A síndrome A hepatite crônica é caracterizada por lesão inflamatória persis-
de Reye foi posteriormente associada ao uso de aspirina. A partir tente que atinge os hepatócitos (durando mais que 6 meses), fre-
das recomendações divulgadas contra o uso de aspirina em crian- qüentemente acompanhada por regeneração do hepatócito e
ças com febre, a síndrome de Reye tornou-se uma doença rara. cicatrização.5 As causas comuns de hepatite crônica e os testes
usados para definir u m diagnóstico etiológico específico estão
listados na Tabela 36-3. A maioria dos pacientes é assintomática,
Outras Causas de Hepatite Aguda mas características não-específicas como (1) fadiga, (2) perda de
As drogas causam lesão hepática por u m númeTO de mecanismos, concentração e (3) fraqueza podem estar presentes. Apesar deste
mas o mais c o m u m é idiossincrático, a lesão ao hepatócito quadro clínico relativamente leve, pode ocorrer cicatrização
mediada pela resposta imune, caracterizada por elevações de A L T gradual do fígado, levando à cirrose. Após 20 anos de hepatite
ou AST. A hepatite colestática, com aumento das aminotransfe- virai crônica (onde a maioria das informações é conhecida), 20%
rases e da ALP, é mais comum em hepatites induzidas por drogas a 30% dos indivíduos desenvolvem cirrose, a qual, com freqüên-
do que outras causas de hepatite aguda. As reações hepáticas às cia, leva à insuficiência hepática e morte. A maioria dos casos de
drogas representam cerca de 1% dos casos de hepatite aguda. hepatite crônica é diagnosticada devido ao aumento das amino-
Aproximadamente 60% dos casos ocasionam hepatite aguda grave,
transferases (tipicamente de 1 a 5 vezes acima dos limites superio-
com icterícia, ocorrendo fatalidades. As reações graves são mais res de referência) ou por detecção de testes positivos para a causa
comuns em indivíduos que estão sob medicação continuada. Em da hepatite crônica. As aminotransferases algumas vezes podem
aproximadamente u m terço dos casos a lesão hepática se torna ser normais ou, intermitentemente ou por u m período prolon-
crônica após a suspensão da droga. gado, na hepatite crônica, esperialmente com o H C V e com a
Alguns distúrbios que usualmente produzem hepatite crônica, esteatose hepática não-alcoólica (NASH). Caracteristicamente, a
ocasionalmente podem se apresentar de forma aguda. A hepatite A L T está mais elevada que a AST. A conversão da razão A S T A L T
auto-imune (discutida mais completamente adiante) possui um para maior que 1 sugere a coexistência do abuso do álcool ou
componente agudo em até 40% dos casos; diferindo de outras desenvolvimento de cirrose. Os resultados da maioria dos outros
formas por ter (1) diminuição da albumina, (2) aumento das testes são normais. As causas mais comuns de hepatite crônica são
globulinas e (3) u m aumento mais prolongado das aminotransfe- o H B V e H C V crônicos e N A S H , porém, uma variedade de
rases. A doença de W i l s o n pode se apresentar também como outros processos de doença pode causar a hepatite crônica.
uma hepatite aguda, freqüentemente associada à insuficiência
hepática fulminante. Os achados bioquímicos clássicos da doença
Significado da Hepatite Crônica3
de W i l s o n estão freqüentemente ausentes e uma quantidade alta
A atividade necroinflamatória e a fibrose constituem os dois
de cobre na urina é comum a todas as formas de hepatite aguda.
principais componentes da hepatite ciônica. A extensão da
As várias características adicionais que podem sugerir o diagnós-
fibrose (estágio) está fortemente relacionada com o risco de pro-
tico incluem (1) anemia hemolítica, (2) necrose tubular aguda e
gressão para a cirrose, enquanto a atividade necroinflamatória
(3) uma relação de A L P (em I U / L ) para bilirrubina (em m g / d L )
(grau) está correlacionada com a progressão em alguns, mas não
menor que 2.
todos os estudos. A atividade da A L T é fortemente correlacio-
nada com a atividade necroinflamatória, mas não com a fibrose.
Acompanhamento da Hepatite Aguda A fibrose do fígado envolve (1) o colágeno, (2) a laminina, (3) a
Os testes mais importantes para determinar a extensão da lesão elastina e (4) a fibronectina. As proteoglicanas, especialmente o
são os testes de função hepática. O marcador prognóstico mais hialuronato, também fazem parte da formação da fibrose.
importante é o PT prolongado. Na hepatite alcoólica ou na virai Acreditava-se, inicialmente, que as concentrações plasmáticas
aguda, u m PT maior que 1.5 segundos está associado a u m pior dessas substâncias poderiam se correlacionar com a extensão da
prognóstico, enquanto u m aumento que persista por mais de 4 fibrose hepática. Infelizmente existe uma sobreposição significa-
dias após a ingestão de paracetamol indica um alto risco para a tiva nas concentrações de marcadores nos vários estágios da
insuficiência hepática. Outros marcadores de função de síntese, fibrose. As concentrações dos marcadores mudam com a ativi-
como a transtirretina, ou marcadores de regeneração do hepató- dade necroinflamatória e podem refletir a atividade da doença
cito, tais como a-fetoproteína, são usados para avaliar o prognós- n o momento da coleta de amostra, em vez da fibrose cumulativa.
tico. C o m as hepatites B e C, os testes sorológicos (perda do Conseqüentemente, o interesse principal está na identificação de
H B s A g ou R N A do H C V ) constituem a maneira segura de deter- indivíduos com fibrose mínima, que possuam u m risco pequeno
minar a resolução da infecção. de progressão para cirrose. O cálculo de u m índice de piognós-
706 PARTE V Fisiopatologia

tico, d e n o m i n a d o Fibroteste, usando u m a combinação de 5 mar- m e n t o é m o n i t o r a d o p o r análises esporádicas d o D N A d o H B \


cadores (a 2 -macroglobulina, a p o l i p o p r o t e í n a A j , b i í i r r u b i n a através de métodos de amplificação. Se o H B e A g era positiv-
total, G G T e h a p t o g l o b u l i n a ) f o i m u i t o eficaz para o prognóstico antes d o tratamento, o H B e A g e o a n t i - H B e deverão ser avaliado
de pessoas c o m várias causas de hepatite crônica e que não periodicamente se o D N A do H B V se t o r n a r indetectável.
t i n h a m fibrose significativa. Ele é usado c o m u m e n t e n a França.
O u t r o s índices de prognóstico u t i l i z a n d o testes de r o t i n a e espe-
ciais t a m b é m f o r a m propostos, mas não e n c o n t r a r a m grande Hepatite C Crônica
aceitação na A m é r i c a d o N o r t e para a avaliação da fibrose hepá- N a população m u n d i a l existem, aproximadamente, 170 m i l h õ e
tica até o m o m e n t o e m que este capítulo é escrito. As limitações de indivíduos c o m infecção crônica por H C V e a maioria dos caso
para tais avaliações não-invasivas para fibrose i n c l u e m a (1) é encontrada na A m é r i c a d o N o r t e , N o r t e da Europa e Japão.1
estreita variação de doenças para as quais o prognóstico f o i ava- A l é m disso, a infecção crônica substitui a infecção aguda muit<
liado; (2) o grande n ú m e r o de pacientes c o m resultados indeter- mais c o m u m e n t e (naqueles expostos após 5 anos de idade) entr
m i n a d o s sobre pesquisa de marcadores e (3) a carência de índices as infectados c o m H C V do que c o m o H B V . H á u m a evidênci
para avaliar c o m o a extensão da atividade n e c r o i n f l a m a t ó r í a de que a infecção crônica p o r H C V se desenvolva e m 5 0 % da
i n f l u e n c i a seu desempenho. pessoas c o m infecção aguda e que os títulos de anticorpos clecL
n a m e se t o r n a m negativos naquelas que e l i m i n a m a infecção.
Hepatite B Crônica N o r m a l m e n t e o t r a t a m e n t o para H C V c r ô n i c o utiliza um;
A hepatite B crônica ( d e f i n i d a pela persistência d o H B s A g ) f o i combinação de i n t e r f e r o n peguilado e ribavirina. Novos agentes
d i v i d i d a e m fases replicativa e não-replicativa. N a f o r m a de repli- i n c l u i n d o os inibidores de protease, t ê m dado esperanças n o
cativa crônica, o D N A v i r a i é liberado na circulação, usualmente tratamentos clínicos iniciais. O t r a t a m e n t o d o H C V é freqüen
c o m (1) alta carga v i r a i (> IO 5 c ó p i a s / m L ) , (2) H B e A g positivo e temente bem-sucedido na erradicação p e r m a n e n t e d o vírus cii
(3) a u m e n t o da atividade das aminotransferases. A p r o x i m a d a - culantc. A Tabela 36-4 resume os testes de l a b o r a t ó r i o usado,
m e n t e 5 % dos i n d i v í d u o s alteram a n u a l m e n t e o estado para a para avaliar e m o n i t o r a r o t r a t a m e n t o para H C V . Vários t e r m o
f o r m a não-replicativa, caracterizada por (1) D N A d o H B V baixo são usados na avaliação dos efeitos d o t r a t a m e n t o . A respost;
o u indetectável, (2) perda d o H B e A g e desenvolvimento d o anti- virológica rápida ( R V R ) se refere a vírus indetectáveis (< 50 IUy
H B e e (3) aminotransferases n o r m a i s . Por serem c o m u n s as muta- m L ) após 4 semanas de t r a t a m e n t o ; os dados preliminare;
ções d o H B V , que perde a h a b i l i d a d e de f o r m a r H B e A g , o D N A sugerem que os pacientes q u e alcançam u m a R V R t ê m grand*
d o H B V é necessário em pessoas c o m H B s A g positivo e a m i n o - chance de t r a t a m e n t o bem-sucedido, p o d e n d o não necessitar d<
transferases elevadas, mesmo se o H B e A g f o r negativo. t r a t a m e n t o mais p r o l o n g a d o , c o m o recomendado atualmente. /
U m a variedade de agentes é utilizada para o t r a t a m e n t o d o resposta virológica i n i c i a l ( E V R ) refeTe-se a pelo menos utr
H B V crônico, sendo usados em pessoas c o m H B e A g positivo decréscimo de 21og na carga virai, após 12 semanas de trata
e / o u D N A do H B V > IO 5 c ó p i a s / m L , p a r t i c u l a r m e n t e se possuí- m e n t o . A resposta virológica c o n t í n u a (SVR) refere-se à q u a n t i
rem t a m b é m A L T elevada. O objetivo d o t r a t a m e n t o é a supres- dade de R N A do H C V indetectável, 6 meses após o t é r m i n o dt
são da replicação virai, detectada p r i m e i r o p o r d i m i n u i ç ã o da tratamento. Naqueles que alcançam a S V R , o controle a longe
atividade da A L T e das cópias d o D N A d o H B V (preferencial- prazo da replicação d o R N A d o H C V , ocorre e m 9 9 % dos pacien
m e n t e a níveis indetectáveis), seguido, menos c o m u m e n t e (naque- tes, na m a i o r i a , a recuperação clínica e histológica da h e p a t i u
les que são H B e A g positivos), p o r eliminação d o H B e A g e desen- crônica. Vários fatores i n f l u e n c i a m a resposta ao t r a t a m e n t o . C
v o l v i m e n t o de anti-HBe; a p r o x i m a d a m e n t e 2 0 % a 3 0 % dos mais i m p o r t a n t e é o genótipo; os genótipos 2, 3 e 4 possuen:
i n d i v í d u o s tratados alcançam todos os objetivos. E m pacientes taxas de resposta a p r o x i m a d a m e n t e duas vezes maiores que Oí
que e l i m i n a m o vírus circulante, raramente o H B s A g torna-se outros genótipos ( S V R de 7 0 % a 8 0 % versus, 4 5 % ) , os infectados
indetectável. Exceto c o m o i n t e r f e r o n , a v i r e m i a n o r m a l m e n t e c o m os genótipos 2 e 3 necessitam apenas de 6 meses de trata
reincide, se o t r a t a m e n t o f o r i n t e r r o m p i d o . G e r a l m e n t e o trata- m e n t o , co n tra 12 meses para os outros genótipos. As taxas de

TABELA 36-4 Testes para Avaliação da Hepatite C Crônica e Seu Tratamento


Tempo do Teste Teste Condição Uso/Interpretação

Pré-tratamenlo Carga virai de HCV Detectável Linha básica (para comparar com valores de 12 semanas
Genótipo 2 ou 3 x outras Extensão do tratamento (24 semanas para genótipo
2 ou 3, 43 semanas se outro genótipo)
12 semanas em tratamento Carga virai de HCV < 2 log gota Parar tratamento (não-responsivo)*
> 2 log gota Continuar tratamento (no responsivo ao tratamento)
24 semanas em tratamento* RNA sensível ao HCV* Detectável Parar tratamento (não-responsivo)
Não-detectável Continuar tratamento (no responsivo ao tratamento)
Término do tratamento 5 RNA sensível ao HCV4 Detectável Não-responsivo
Não-detectável Responsivo ao tratamento
24 semanas após o término RNA sensível ao HCV* Detectável Reincidente
Não-detectável Responsivo virológico continuado

*Menos que 3% de chance de resposta virológica continuada; aiguns continuam o tratamento por 24 semanas e reavaliam.
*Ri'.-ilizado apenas se o genctijbo não for 2 cu 3.
'Limite de detecção mais baixo <50 lU/mL.
s
Fdco em 24 semanas para o genótipo 2 ou 3; {eito em 48 semanas em outros genótipos; nem todos com avaliação recomendada no fim da resposta ao tratamento.
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 707

resposta são pequenas nos que possuem ancestrais africanos e resumo dos auto-anticorpos mais comuns, suas associações e seus
naqueles com risco aumentado de desenvolvimento de fibrose. alvos moleculares (quando conhecidos) é mostrado na Tabela 36-5.
O tratamento por imunossupressão, usando-se somente a predni-
Doença Hepática Gordurosa Não-alcoólica e sona ou em combinação com a azotioprina é eficaz na indução da
Esteatose Hepática Não-alcoólica remissão clínica da doença em cerca de 80% dos casos.
A NASH 1 3 (esteatose hepática não-alcoólica) refere-se a uma
doença associada à gordura e inflamação no fígado, em pessoas Doenças Hepáticas Induzidas por Drogas
que ingerem quantidades mínimas ou não ingerem álcool. E mais C o m o já discutido, a maioria dos casos de doença hepática indu-
comumente observada em associação ao diabetes, obesidade e / o u zida por drogas apresenta-se como uma hepatite aguda. Menos
dislipidemia (altas taxas de triglicerídeos e baixas taxas de lipopro- c o m u m são, as drogas que produzem lesão hepática crônica, em
teína de alta densidade ([colesterol HDL])- H á u m crescente reco- u m padrão parecido com a hepatite crônica ou outra lesão hepá-
nhecimento de que o acúmulo de gordura no fígado sem infla- tica crônica (p. ex., colestase crônica e granulomas hepáticos). As
mação é tamhém comumente encontrado em indivíduos com drogas mais comuns que estão associadas à hepatite crônica são
obesidade e diabetes e aqueles com outros componentes da sín- a nitrofuranteínaj o metildopa e os inibidores de H M G - C o A
drome metabólica. O termo mais abrangente de doença hepática redutase. Os medicamentos à base de ervas também estão asso-
gordurosa não-alcoólica ( N A F L D ) foi introduzido para incluir esta ciados à hepatite crônica. As drogas estabilizadoras, como causa
última forma e N A S H . A freqüência da N A F L D é alta na América de hepatite crônica, tornam-se mais difíceis ]á que as relações
do Norte e na Europa; estima-se que a N A F L D ocorra em 20% temporais à ingestão da droga não são tão definitivas quanto à
da população e a N A S H em 2 % a 3%. Isto pode fazer a N A S H causa da hepatite aguda. As reações são observadas primeiro
tão c o m u m quanto o H C V crônico. A N A S H progride para naqueles que estão tomando o medicamento por vários meses.
cirrose em 15% dos casos em u m número pequeno de estudos A maioria das reações crônicas às drogas termina quando a uti-
prospectivos publicados. Os diagnósticos por laboratório de lização é interrompida.
N A S H e N A F L D não é possível atualmente. As características
clinicas são semelhantes àquelas outras causas de hepatite crônica. Doenças Hepáticas Hereditárias que se
A t é o momento, o principal tratamento tem sido a perda de peso, Apresentam como Hepatite Crônica
que está sempre associada à diminuição dos valores da ALT. As doenças hepáticas hereditárias que se apresentam como hepa-
tite crônica incluem a hemocromatose (discutida no Capítulo
Hepatite Auto-imune 28), a deficiência de a r a n t i t r i p s m a (AAT, discutida no Capítulo
A hepatite auto-imune (AIH) representa uma forma de hepatite 18) e a doença de W i l s o n (discutida nos Capítulos 18 e 32).
crônica que progride rapidamente (mais que 40%, mortalidade em
6 meses em indivíduos não-tratados) e está associada à presença de Doença Hepática Alcoólica
marcadores auto-imunes e hrpergamaglobulinemia acentuada.2 A doença hepática alcoólica12 difere clínica e bioquimicamente
Ocorre mais comumente em mulheres jovens e de meia-idade Os das outras formas de hepatite e doença hepática. Constitui uma
anticorpos mais importantes para o diagnóstico são o anticorpo causa c o m u m de doença hepática n o m u n d o desenvolvido, mas
antinuclear (ANA), o anticorpo antimúsculo liso e o anticorpo a incidência de hepatite alcoólica aguda parece estar reduzida na
antiantigeno 1 de microssomo hepático e renal ( L K M J . U m América do N o r t e e na Europa. Os fatores de risco para o desen-

TABELA 36-5 Marcadores Sorológicos de Doença Hepática Auto-imune


Nome do Anticorpo Alvo do Antígeno Associações

Artiactina Actina AIH tipo 1; mais específico que ASMA, fraca resposta aos
corticoesteróides. início em idade precoce
Receptor antiasialoglicoproteína (ASGPR) Proteína de ligação ao antígeno AIH, correlacionar com a atividade, desaparece com
Iransmembrana tratamento bem-sucedido
Microssomos anti-hepático e renal (LKM!) Citccromo P450 IID6 AIH tipo 2; vista em apenas 4% dos casos nos Estados
Unidos; geralmente em crianças
Citosol específico anti-hepático (LCO Enzima (possivelmente formimino-transferase AIH em pacientes mais jovens, com anti-LKMI1p colangite
ciclodesaminase ou argininossuccinato esclefosante primária; varia com a atividade da
liase] doença
Anticorpo antimitocondriai (AMA tipo M2) Diidrolipaamida acetiltransferase Cirrose biliar primária
Anticorpos citoplasmáticas anlineutrófilo Bactericida/proteína de permeabilidade, Colangite esclerosante primária (50% a 70%), colite
(p-ANCA) caíepsina G, lactoferrina ulceraíiva (50% a 70%), AIH; AIH tipo 1 não-específica
Anticorpo antinuclear (AMA) Múltiplos alvos (centrômero, AIH tipo 1, alguns casos de PSC
ribonucleoproteínas); pode não ser
detectado por ELISA
Antígeno antimúsculo liso (5MA) Actina, tubulina, vimentina, desmina, AIH tipo 1, vista em outras doenças auto-imunes, em títulos
esquelitina mais baixos
Antígeno hepático anti-solúvel/fígado e Via da proteína selenocisteina (serina AIH tipo 3; muito especifico para AIH, correlaciona-se com
pâncreas (SLA) h idroxi m eti Itransfe rase) a reincidência após retirada do corticosteróide

AIH, hepatite auto-imune.


708 PARTE V Fisiopatologia

volvimento da doença hepática alcoólica incluem (1) a duração de Velocidade Normalizada Internacional + 9,6 l n de concentra-
e a magnitude do abuso do álcool (fara se a ingestão for <40 g / ção de creatinina (mg/dL) + 6,4 a contagem da etiologia (0 para
dia, em homens e 10 g/dia em mulheres), (2) sexo (mulheres álcool ou obstrução, 1 para todas as outras causas). O M E L D tem
podem ser mais propensas a desenvolver cirrose) (3) a pTesença sido usado para identificar pacientes com cirrose avançada que
de uma co-ínfecção com H B V ou H C V (ambos aumentam o risco podem ser candidatos ao transplante de fígado; parece ser supe-
de cirrose) e (4) o estado nutricional (má nutrição aumenta o riOT ao sistema de contagem de Child-Pugh no prognóstico de
risco de cirrose). A l é m disso, existem evidências da existência de sobrevivência a curto prazo. O risco de morte em 3 meses é baixo
u m componente imune na doença hepática alcoólica, assim nos pacientes com contagem M E L D abaixo de 10; intermediário
como a modificação das proteínas hepáticas por metabólitos do naqueles com contagens de 10 a 20, e alto nas contagens acima
etanol também pode estar envolvida na patogênese. Comparada de 20.7
a outras causas de hepatite crônica, na hepatite alcoólica é pouco Os achados laboratoriais na cirrose refletem o avanço da lesão
provável ocorrer aumento de A S T ou A L T e, sim, A S T superior hepática e o decréscimo da função hepática. Na cirrose, as ativi-
a ALT. O prognóstico da doença hepática alcoólica crônica é dades das aminotransferases são variáveis e refletem a atividade
melhor do que as outras formas de doença hepática, com apenas necroinflamatóría fundamental. Se a causa da cirrose for elimi-
10% a 15% de desenvolvimento de cirrose e uma fração m u i t o nada (como pela abstinência do álcool ou tratamento bem-suce-
menor para o desenvolvimento de H C C . O principal tratamento dido da hepatite viTal), a atividade da aminotransferase ficará
é a abstinência de álcool. dentro do intervalo de referência. A persistência o u a elevação é
u m fator de risco para o desenvolvimento de H C C . Os aumentos
Cirrose da a-fetoproteína (AFP) são comuns nos pacientes cirróticos,
A cirrose, definida anatomicamente como fibrose difusa com mesmo na ausência de H C C .
regeneração nodular, representa o estágio final de formação de
cicatriz e regeneração na lesão hepática crônica. As causas comuns Doenças Hepáticas Colestáticas
da hepatite crônica que levam à cirrose e suas terapias (que A colestase (bloqueio ou supressão do fluxo da bile) está asso-
podem prevenir ou, em alguns casos, reverter a cirrose) estão ciada à retenção da bile dentro do sistema excretor. O termo
listadas na Tabela 36-3. Possivelmente, todas as doenças hepáticas obstrução é freqüentemente usado de modo inapropriado, já que
crônicas são conhecidas por levar à cirrose, mas a maioria dos a colestase também ocorre sem obstrução mecânica do trato
casos de cirrose ocorrem como resultado da hepatite crônica. biliar. Embora a colestase intra-hepática possa resultar de proble-
Nos primeiros estágios da transição de hepatite crônica para mas mecânicos ou funcionais, a colestase extra-hepática resulta
cirrose, denominada cirrose compensada, pode não haver sinais sempre de obstrução física dos duetos biliares, por processos
ou sintomas de lesão hepática. Os resultados de laboratório geral- como (1) cálculos nos duetos biliares (coledocolitíase), (2) esteno-
mente surgem anormais antes dos achados clínicos começarem a ses e (3) tumores primários nos duetos biliares (colangiocarci-
se desenvolver. Estes últimos incluem (1) ascite, (2) ginecomastia, noma), de pâncreas ou envolvendo os linfonodos adjacentes aos
(3) eritema palmar e (4) hipertensão porta. As anormalidades duetos biliares. As principais doenças colestáticas são (1) obstru-
laboratoriais mais precoces são (1) redução do número de plaque- ção física dos duetos biliares, (2) cirrose biliar primária (PBC) e
tas, (2) aumento do PT, (3) diminuição da relação albumina-glo- (3) colangite esclerosante primária (PSC).6,15 A hepatite colestá-
bulina para <1 e (4) aumento da relação de atividade A S T / A L T tica que foi discutida previamente, pode causaT, também, coles-
para <1. A sobrevivência naqueles com cirrose compensada é boa. tase, mas geralmente se apresenta mais ligada à hepatite.
Por exemplo, a taxa de sobrevivência em 10 anos é de 90%. C o m A colestase prolongada pode levar à deficiência de ácido
a progressão da cirrose, ocorre a descompensação, com evidência biliar, causando má absorção de lipídios e das vitaminas liposso-
clínica de hipertensão porta. U m a vez ocorrendo a descompen- lúveis A , D , E e K (Capítulo 27). O acúmulo de conteúdos
sação, a sobrevivência de 10 anos é reduzida para 20%. U m a normais da bile causa a icterícia e o desenvolvimento de uma
variedade de sistemas de estadiamento tem sido usada para pre- lipoproteína X anormal, contendo fosfolipidios, colesterol, frag-
venir o prognóstico na cirrose. A contagem M E L D é calculada mentos de membranas celulares (junto com a ALP) e albumina.
como 3,8 + l n de concentração de biíirrubina ( m g / d L ) + 11,2 l n A lipoproteína X será incluída na lipoproteína de baixa densi-
dade (LDL) na fórmula de Friedewald (Capítulo 23) e em alguns
métodos diretos para colesterol L D L . Geralmente ocorre aumento
da biíirrubina apenas com a obstrução completa e, portanto, é
mais comumente observado na colestase extra-hepática do que
TABELA 36-6 Testes d e F u n ç ã o H e p á t i c a na intra-hepática.
Teste Utilidade Os indicadores laboratoriais da colestase incluem aumento
das atividades plasmáticas das enzimas canaliculares, como a A L P
Biíirrubina Diagnóstico de icterícia, correlação
e GGT. E m geral, ocorre u m breve retardo entre o início da
modesta com a gravidade
colestase e o aumento das atividades plasmáticas. Nos estágios
Foslatase alcalina (ALP) Diagnóstico de colestase e lesões que
iniciais da obstrução mecânica (especialmente por cálculos bilia-
ocupam espaços
res), podem ocorrer aumentos temporários das atividades plasmá-
Fracion amento da biíirrubina Diagnóstico dos distúrbios do
ticas das enzimas citosólicas hepáticas, como A S T e ALT, as quais
metabolismo e distúrbios do neonato
Aspartato aminotransferase (AST) Teste sensível para doença podem exceder 400 I U / L e, em 1% a 2% dos casos, podem estar
hepatocelular; AST > ALT na doença acima de 2.000 I U / L . Mesmo com a permanência da obstrução,
alcoólica, na cirrose a atividade da A S T e da A L T decresce gradualmente, e os valores
Alanina aminotransferase (ALT) Teste mais sensível e mais específico da AST, dentro de 8 a 10 dias, retornam ao intervalo de referên-
para doença hepatocelular cia. Os aumentos da biíirrubina total, com o predomínio de
Albumina Indicador de cronicidade e gravidade biíirrubina reagente direta, refletem a extensão da obstrução e são
Tempo de protrombina (PT) Indicador de gravidade, indicador observados na colestase intra e extra-hepática. O PT prolongado
inicial da cirrose, na hepatite crônica é a anormalidade de coagulação mais comumente detectada. Nor-
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 709

malmente é corrigido pela administração parenteral de vitamina comuns em pessoas mais velhas, com até 50% dos indivíduos
K. aumento temporário do Antígeno 19-9 ( C A 19-9) de Câncer apresentando aumento de enzimas pelo uso de medicamentos. As
ocorre com a obstrução de dueto biliar; esta é uma consideração drogas podem causar u m quadro colestático por meio de dois
importante porque o C A 19-9 é freqüentemente usado como teste mecanismos principais. E m alguns casos, apenas a bilirrubina
diagnóstico para carcinoma de duetos biliares e carcinoma pan- conjugada está elevada, não ocorrendo aumento das enzimas cana-
cieático. U m a característica importante da obstrução extra-hepá- li cu lar es.11 Esta condição freqüentemente é vista com o estrogênio
tica é a dilatação dos duetos biliares intra-hepáticos mais proxi- e os estetóides anabólicos. Mais comumente, as drogas induzem
mais, os quais são visualizados por estudos de imagens. uma hepatite colestática, como discutido anteriormente.

Cirrose Biliar Primária Cálculos Biliares


A cirrose biliar primária (PBC) ou colangite destrutiva não-supu- Os cálculos biliares são formações sólidas na vesícula biliar, com-
lativa é u m distúrbio auto-imune i n c o m u m que acomete os duetos postos de colesterol e sais biliares. Embora variem na composição
biliares intra-hepáricos ern mulheres de meia-idade (na proporção química, geralmente eles contêm uma mistura de colesterol, bilir-
de 6 mulheres para 1 homem de meia-idade, com início aos 50 rubina, cálcio e mucoproteínas. Nos Estados Unidos, 70% a 85%
anos). Existe uma associação com o antígeno D R 8 classe I I do dos cálculos são predominantemente formados de colesterol, e
H L A (antígeno leucocitário humano), e mais de 80% dos casos acima de 10% da população adulta é afetada.
estão associados a outros processos auto-imunes, como mais
comumente à síndrome de Sjogren e ao hipotireoidismo (que Tumores Hepáticos
frequentemente se desenvolvem antes do início da PBC). Pelo O fígado é hospedeiro de uma grande variedade de tumores
menos 95% dos pacientes possuem anticorpos antimitocondriais primários benignos e malignos. E também o segundo local mais
que reagem contra o componente diidrolipoamida acetiltransfe- c o m u m de metástases, as quais são responsáveis por 90% a 9 5 %
rase do complexo piruvato descarboxilase. Parte deste complexo é de todas as neoplasias malignas hepáticas. Embora os tumores
encontrada na superfície apical das células epiteliais biliares, suge- primários possam surgir de muitas linhagens celulares no fígado,
rindo u m papel para este antígeno como u m alvo imune. o t u m o r hepático primário mais importante é o H C C .
A PBC apresenta-se tipicamente como uma elevação assinto-
mática da ALP, mas pode ocorrer com colestase ou fadiga. As Carcinoma Hepatocelular
atividades da aminotransferase estão elevadas em 5 0 % dos casos, O carcinoma hepatocelular ( H C C ) é o quinto tipo de câncer mais
mas em apenas 20% dos casos são 2 vezes o limite de referência comum do m u n d o líder nas estatísticas de neoplasias. Aproxima-
superior. O aumento da bilirrubina é u m valor tardio e é impor- damente, 75% dos H C C ocorrem na Asia, com uma incidência
tante no prognóstico da descompensação. A PBC progride lenta- anual na China de, aproximadamente, 30 casos para 100.000
mente na maioria dos pacientes, levando, finalmente, à hiperten- homens, uma taxa seis vezes maior do que na América do Norte.
são porta e ao risco aumentado do desenvolvimento de H C C . A incidência é de duas a três vezes maior entre homens do que
entre mulheres. Embora a cirrose esteja presente na maioria dos
Colangite Escierosante Primária pacientes com H C C , ela está ausente em cerca de 25% a 30%
A colangite escierosante primária é uma doença inflamatória dos casos, freqüentemente em associação com o HBV. O princi-
crônica da árvore biliar que afeta mais comumente os duetos pal fator de risco para o desenvolvimento do H C C é a infecção por
biliares extra-hepáticos; duetos intra-hepáticos, ou com o envol- H B V ou HCV. Na Ásia, a incidência do H C C foi reduzida signifi-
vimento extra-hep ático ou como u m achado isolado, também é cativamente com a imunização da forma crônica do HBV. U m a vez
possível.1 A o contrário da PBC, a PSC tem uma predominância que a cirrose tenha se desenvolvido, a taxa de desenvolvimento de
masculina e uma idade média mais jovem, com início aos 30 H C C é cerca de 1,5% a 5% por ano, em ambos H B V e H C V . O
anos. E m 70% dos pacientes, a PSC está associada à colite ulce- risco relativo duplica em indivíduos infectados por ambas as
rativa, que usualmente (mas não sempre) antecede o início da viroses.
PSC. Provavelmente é u m componente auto-imune já que 97% As características clínicas do H C C normalmente não se
dos pacientes com PSC apresentam u m ou mais auto-anticorpos expressam até o curso tardio da doença, quando o t u m o r é
em seu plasma. Os anticorpos citoplasma ticos antineutró filos grande, e a retirada é impossível. Smais e sintomas não específi-
( A N C A ) estão presentes em, aproximadamente, 50% a 80% dos cos, como febre, mal-estar, anorexia e anemia, são comuns, e a
pacientes, mas não são específicos para PSC; eles também estão icterícia pode ocorrer com tumores centrais que obstruem a
presentes na PBC e na hepatite auto-imune. Morfologicamente, drenagem biliar. E m u m pequeno número de casos, os achados
os anticorpos têm u m padrão perinuclear atípico, localizados iniciais que se apresentam são características paraneoplásicas,
próximo ao núcleo, nas preparações fixadas por formalma ou por como hipoglicemia, hipercalcemia (devidas à produção do peptí-
metanol. Os antígenos incluem a lactoferrina, a proteína de dio relacionado ao h o r m ô n i o da paratireóide [PTHrP]) ou eritro-
aumento de permeabilidade/ bactericida e a catepsina G. citose (devidas à eritropoetina). Os diagnósticos laboratoriais
A apresentação clínica da PSC, assim como da PBC é, tipi- incluem aqueles para cirrose e colestase e (exceto para os marca-
camente, u m paciente assintomático com concentrações elevadas dores tumorais, discutidos adiante) são inespecíficos.
de ALP, encontradas durante exames de rotina. Os sintomas C o m o o tratamento não é possível com o H C C avançado,
estão, basicamente, presentes na maioria dos pacientes com PSC; tem havido muito interesse em rastrear os indivíduos de alto
os mais comuns são p r u r i d o e dor abdominal intermitente, risco. Os menores tumores detectados por rastreamento podem
podendo rambém ocorrer febre. A principal causa de morte em ser tratáveis por extração de uma parte do fígado ou por trans-
indivíduos com PSC é o colangiocarcinoma, o qual se desenvolve plante hepático. Os programas mais comuns de rastreamento
em mais de u m terço dos pacientes. utilizam marcadores tumorais plasmáticos e / o u estudos por
imagens. O marcador tumoral mais amplamente utilizado é a
Colestase Induzida por Drogas AFP; recentemente, a isoforma L3 mais específica tem sido
As drogas constituem a causa mais c o m u m de colestase, causando também utilizada. A elevação da AFP é também c o m u m em
cerca de 15% dos casos. As reações ás drogas são especialmente indivíduos com hepatite crônica e citrose, o grupo de maior risco
710 PARTE V Fisiopatologia

para H C C . Na experiência do autor, a AFP acima do l i m i t e de uma doença da outra. Neste caso, é prudente assumir que o
referência superior tem u m valor prognóstico positivo de apenas problema é colestático e não considerar a obstrução biliar.
16% para o H C C . O uso de valores de corte maiores do que o Ocasionalmente, são vistos pacientes com elevações isoladas
limite de referência superior melhora a especificidade clínica da na A L P ou nas atividades da aminotransferase. Na prática, u m
AFP total à custa da sensibilidade clínica. A protrombina des-y- aumento isolado na arividade da ALP é difícil de interpretar. E m
carbóxi (DCP), também chamada de PIVKA-2 (proteína fator I I crianças, a hiperfosfatasemia transitária benigna deveria sempre ser
induzida por antagonista da vitamina K), é a forma inativa da considerada, e é importante o uso dos intervalos de referência
protrombina encontrada em pessoas que usam varfarina. Os apropriados à idade, porque o crescimento ósseo ocasiona valores
testes para D C P c o m limites de detecção baixos podem detectar de A L P tão superiores ao limite de referência superior para
cerca de 5Q% dos H C C pequenos; a D C P é mais bem utilizada adultos. E m adultos, isto é necessário para que primeiro se con-
como u m adjunto da AFP, porque os tumores sempre produzem f i r m e se a ALP é de origem hepatobiliar. Pode ser obtido através
u m ou outro marcador tumoral. do fracionamento da isoenzima ou pela medida de outra enzima
canalicular, como a GGT, a qual pode estar normal se o aumento
ESTRATÉGIA DIAGNOSTICA da ALP não fot de origem hepática. O aspecto mais importante
Os testes de função e integridade do fígado são úteis para (1) d o trabalho é excluir as lesões que ocupam espaços, pela visuali-
detecção, (2) diagnóstico, (3) avaliação da gravidade, (4) monito- zação do fígado por tomografia computadorizada (CT) e da
ração da terapia e (5) avaliação da disfunção e no prognóstico da doença do trato biliar pela visualização da árvore biliar com ultra-
doença hepática (Tabela 36-6). sonografia ou colangiografia.
Através do uso de uma combinação dos testes listados na O aumento das atividades plasmáticas da A S T e da A L T são
Tabela 36-6, é possível classificar os principais tipos de doença comuns em muitos distúrbios. O fígado é a provável fonte de
hepática, os quais podem então ser mais precisamente diagnosti- elevação se a atividade da A L T for maior do que a da AST. Se a
cados através dos testes específicos para a doença. U m algoritmo atividade da A S T for maior do que a da ALT, uma outra evidên-
para este processo é apresentado na Figura 36-10. cia para sugerir comprometimento do fígado poderia incluir as
das anormalidades da função hepática (albumina, PT, biíirru-
Enzimas Plasmáticas bina) e o aumento da atividade da ALP. Se todos estes testes
Na prática, as atividades das aminotransferases séricas e da A L P relacionados forem normais, é razoável medir a atividade da
são os testes mais úteis, por permitirem a diferenciação entre creatinoquinase (CK) para assegurar que a causa não seja por
doenças hepatocelular e colestática. U m a diferenciação a tempo lesão muscular. Se foT determinado que o fígado é a fonte, a
é importante porque a deficiência em reconhecer uma doença administração de todas as drogas potencialmente hepatotóxicas
colestática, causada por obstrução biliar extra-hepática, poderá e a ingestão de álcool (especialmente se a A S T for maior que
resultar em falência do fígado, se a obstrução não for rapida- A L T ) devem ser interrompidas. Se persistir o aumento a ultra-
mente corrigida. A diferenciação é importante também para sonografia (à procura de u m fígado gorduroso não-alcoólico) e
reconhecer que pode haver uma zona nebulosa de doenças hepa- sorologia para hepatites B e C devem ser realizadas. Mais de 90%
tocelular e colestática misturadas, onde os testes não distinguem das elevações enzimáticas isoladas de origem hepática podem ser
causadas por esses distúrbios. U m a biópsia hepática é sempre
necessária para se fazer um diagnóstico mais específico, como
também para determinar a extensão da lesão. Não existe outro
Testes de função hepática anormal
teste mais confiável para detecção de fibrose do que a biópsia
AST > 3XURL AST < 3XURL hepática, embora exista uma promessa que os testes laboratoriais
ALP < 2XURL ALP > 2XURL p o d e m pelo menos auxiliar a excluir uma fibrose grave.

Doença hepatocelular Doença colestática


' \
Albumina Plasmática
Albumina Albumina / \ Albuinl ta As medidas de albumina plasmática são úteis na avaliação da
diminuída normal \ diminuída cronicidade e gravidade da lesão hepática. Por exemplo, a concen-
tração de albumina plasmática encontra-se diminuída na doença
hepática crônica. Entretanto, sua utilidade paia esta doença é algo
Hepatite Colestase
aguda
limitado, porque a concentração de albumina plasmática também
aguda
está diminuída (1) na doença hepática aguda grave, assim como
nos (2) distúrbios inflamatórios (3) na desnutrição e na (4) sín-
drome nefrótica. Medidas seriadas da albumina plasmática são
também usadas para avaliar a gravidade da doença hepática.

Ultra-som ou colangiografia
percutânea
Tempo de Protrombina
As medidas seriadas do PT são usadas para determinar a função
de síntese hepática. São tidas como mais confiáveis do que a
medida de concentração da albumina, porque poucas afetam o
PT quanto a albumina (além da administração de varfarina). O PT
Colestase Colestase
intra-hepática extra-hepática é o marcador mais importante de doença hepática aguda, como
prognóstico, discutido anteriormente, e é geralmente o primeiro
Figura 36-10 A l g o r i t m o para os testes de f u n ç ã o hepática a n o r m a l teste de função que se torna anormal quando a hepatite crônica
para diagnosticar e classificar os vários tipos de doenças hepáticas. A L P , evolui para cirrose. O PT é, também, u m dos parâmetros usados
Fosfatase alcalina; A S T , aspartato aminotransferase; U R L , l i m i t e de no cálculo da contagem M E L D , o qual é utilizado para o prog-
referência superior. nóstico da necessidade de transplante, na cirrose.
Doenças do Fígado CAPÍTULO 3 6 711

Aumento isolado da bilirrubina sérica REFERÊNCIAS


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9. Lee W M . A c e t a m i n o p h e n and the U.S. Acute Liver Failure Stüdy
G i u u ^ . l o w e i h i g die lisks of liepalic failuit;. HeijaUilo^y 2004,40:6-9.
Bilirrubina Plasmática 10 L o k A , M c M a h o n B. C h r o n i c hepatitis B. Heparology 2007;4-5.507-29.
As medidas seriadas da bilirrubina auxiliam na avaliação da gra- 11. Lucas W , C h u t t a n i R. Pathophysiology and current concepts i n the
vidade da doença hepática aguda e crônica. O fracionamento da diagnosis o f obstruetive jaundice. Gastroenterologist 1995;3:105-18.
b i l i r r u b i n a é ú t i l apenas na icterícia do neonato ou em aumentos 12. M e n o n K , Gores G , Shah V . Pathogenesis, diagnosis, and treatment o f
isolados de b i l i r r u b i n a , na ausência de outros testes hepáticos alcoholic liver disease. Mayo C l i n Proc 2001;76:1021-9.
anormais que poderiam indicar u m distúrbio hereditário do 13. Neuschwander-Tetri B, Caldwell S. N o n a l c o h o l i c steatohepaiitis:
metabolismo da b i l i r r u b i n a . summary of an A A S L D aingle topic conference. Hepatology

Ocasionalmente, os pacientes apresentam elevações isoladas 2003;37.1202-19.

da concentração de b i l i r r u b i n a . N a maioria dos casos, isto é 14. Strader D B , W r i g h t T, Thomas D L , Seeff LB: Diagnosis, management,
and treatment o f hepatitis C . Hepatology 2004;39:1147-71.
devido a distúrbios hereditários do metabolismo da b i l i r r u b i n a
15 Zein C , L i n d o r K. Primary sclerosing cholangitis, Semin Gastrointesr
o u devido à hemólise. N ã o é difícil distinguir a hemólise grave o
D i s 2001;12:103-12.
bastante para causai hiperbilirrubinemia, porque o paciente com
16. Z i m m e r m a n H . Hepatoroxicology: T h e adverse effecis of drugs and
hemólise deverá ter anemia e pode ter outras manifestações da
other chemicals o n the liver, 2 n d ed Philadelphia- JB L i p p i n c o t t , 1999.
doença. U m algoritmo para a diferenciação dos casos familiares
de h i p e r b i l i r r u b i n e m i a é apresentado na Figura 36-11.
CAP
TÍULO 37

Doenças Gastrointestinais*
Peter G. Hill, Ph.D., F.R.C.Path.

OBJETIVOS d a n o à mucosa é revertido retirando-se da dieta todos os


a l i m e n t o s que c o n t e n h a m glúten.
1. Definir os seguintes termos:
D o e n ç a de Crohn.- D o e n ç a i n f l a m a t ó r i a que p o d e afetar
Digestão
qualquer parte do i n t e s t i n o , d o seu i n í c i o até o ânus.
Absorção
D o e n ç a TJlcerosa Péptica- N o m e coletivo d a d o à ulceração
Helicobacter pylorí
gástrica e d u o d e n a l .
Doença celíaca
Esteatorréia: U m a condição de g o r d u r a excessiva nas fezes (>5
Esteatorréia
g / d i a , >18 m m o l / d i a ) .
Diarréia
Fibrose Cística (FC): D o e n ç a hereditária causada p o r alteração
2. Listar e descrever as três fases da digestão.
genética da proteína reguladora de c o n d u t â n c i a
3. Descrever a estrutura e função do estômago, do trato intestinal e t r a n s m e m b r a n a ( C F T R ) que ocasiona doença pancreática
do pâncreas. crônica e doença p u l m o n a r obstrutiva. A fibrose cística
4. Listar os cinco principais hormônios sintetizados no trato afeta m u i t o s tipos de glândulas exócrinas - p a r t i c u l a r m e n t e
gastrointestinal e suas principais funções. as glândulas sudoríparas (o c o n t e ú d o de sódio e cloreto n o
5. Listar as principais enzimas envolvidas na digestão dos suor é elevado) - mas t a m b é m as glândulas d o p u l m ã o e do
carboidratos, gorduras e proteínas. pâncreas, causando a secreção de m u c o viscoso n o p u l m ã o ,
6. Listar os procedimentos não-invasivos usados para avaliar a função responsável p o r torná-lo infectado.
pancreática cxccrina e descrever os princípios dos procedimentos. G a s t r i n a : G r u p o de h o r m ô n i o s peptidicos secretados pelas
7. Listar os testes usados para investigar uma possível doença células da mucosa gastrointestinal de alguns mamíferos, em
celíaca, a deficiência de lactase, a proliferação bacteriana e o uso resposta ao estresse mecânico o u p H alto, ambos
abusivo de laxativos e descrever os princípios dos testes. produzidos pela presença do a l i m e n t o n o estômago. A
8. Referir o uso dos seguintes testes: gastrina estimula as células parietais do estômago a
Gastrina sérica p r o d u z i r e m ácido c l o r í d r i c o .
Elastase fecal G a s t r i n o m a : T u m o r das células das ilhotas pancreáticas que
ocasiona u m a h i p e r p r o d u ç ã o de ácido gástrico, l evando a
Teste respiratório da uréia
u m a ulceração f u l m i n a n t e do esôfago, estômago, d u o d e n o e
Anticorpos IgA contra Iransgiutaminase tecidual
j e j u n o . Os gastrinomas t a m b é m p o d e m ocorrer n o
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES estômago, d u o d e n o , baço e l i n f o n o d o s regionais.
Gastrite: I n f l a m a ç ã o da mucosa d o estômago.
C o l e c i s t o c i n i n a : Peptídeo de 33 a m i n o á c i d o s secretado pela
H e l i c o b a c t e r p y l o r i : Bactéria e n c o n t r a d a na camada mucosa do
mucosa intes tinal superior e e n c o n t r a d o t a m b é m n o
estômago. Todas as cepas secretam (1) proteínas que causam
sistema nervoso central. Causa a contração da vesícula
i n f l a m a ç ã o da mucosa e (2) a enzima urease, q u e p r o d u z
b i l i a r e libera as enzimas pancreáticas exócrinas ( o u
a m ó n i a a p a r t i r da uréia; algumas cepas p r o d u z e m toxinas
digestivas), e i n f l u e n c i a outras funções gastrointestinais.
q u e lesam as células gástricas.
C o l i t e U l c e r a t i v a : D o e n ç a i n f l a m a t ó r i a recorrente d o intestino
I n t o l e r â n c i a à Lactose: U m a condição provocada pela
grosso que sempre envolve o reto e se dissemina para
deficiência da lactase, levando à m á absorção e causando
envolver u m a q u a n t i d a d e variável d o c ó l o n . A colite
sintomas de f l a t u l ê n c i a , desconforto a b d o m i n a l o u diarréia,
ulcerativa, c o m o a doença de C r o h n , é u m a f o r m a de
após a ingestão de leite o u a l i m e n t o s que c o n t e n h a m
doença i n f l a m a t ó r i a intestinal.
lactose.
D i a r r é i a - Passagem de fezes amolecidas o u liquidas, mais que
M á A b s o r ç ã o : A n o r m a l i d a d e na absorção de nutrientes.
três vezes ao dia e / o u fezes c o m peso s u p e r i o r a 200 g por
M á Digestão: A n o r m a l i d a d e no processo digestivo devido à
dia.
disfunção d o pâncreas o u do i n t e s t i n o delgado.
Digestão: A conversão do a l i m e n t o , n o estômago e intestinos,
P a n c r e a t i t e A g u d a : E p i s ó d i o agudo de destruição enzimática
e m p r o d u t o s solúveis e difusíveis, capazes de serem
da substância do pâncreas, d e v i d o ao escape das enzimas
absorvidos.
pancreáticas ativas n o tecido pancreático.
Doença Celíaca ( E n t e r o p a t i a Sensível ao G l ú t e n ) : D o e n ç a
Pancreatite Crônica: D o e n ç a inflamatória caracterizada p o r
causada pela interação destrutiva d o g l ú t e n c o m a mucosa
destruição persistente e progressiva d o pâncreas.
intestinal, causando má absorção. N a m a i o r i a dos casos, o
P e p t í d e o I n s u l i n o t r ó p i c o D e p e n d e n t e de Glicose ( G I P ,
P o l i p e p t í d e o I n i b i t ó r i o G á s t r i c o ) : H o r m ô n i o p e p t í d i c o (de
42 a m i n o á c i d o s ) que estimula a liberação de i n s u l i n a e
i n i b e a liberação d o ácido gástrico e da pepsina.
P e p t í d e o I n t e s t i n a l Vasoativo ( V I P ) ! Peptídeo de 28
* 0 autor deste capítulo e os editores deste livro agradecidamente reconhecem
as contribuições prévias dcs Drs. A . Ralph Henderson e A l a n D. Rinker, nas a m i n o á c i d o s e n c o n t r a d o no sistema nervoso central e
quais se baseiam partes deste capítulo. periférico, o n d e atua c o m o neurotransmissor. Está
714 PARTE V Fisiopatologia

localizado nos nervos entéricos do i n t e s t i n o . Relaxa o


m ú s c u l o liso d o i n t e s t i n o e a u m e n t a a secreção de
eletrólitos e água do intestino.
Processo D i g e s t i v o : Processo em três fases - neurogênica,
gástrica e intestinal. A fase neurogênica (vagai) é iniciada
pela visão, o d o r e sabor d o a l i m e n t o . A fase gástrica é
i n i c i a d a por distensão d o estômago, pela entrada do
a l i m e n t o . A fase intestinal inicia-se q u a n d o o alimentOj
o r i u n d o do estômago e parcialmente d i g e r i d o , entra n o
duodeno.
Q u i m o : A l i m e n t o q u e f o i processado pelo r e v o l v i m e n t o d o
estômago e dos sucos gástricos, mas que ainda não passou
ainda para os intestinos.
Secretina: H c r m ô n i o p e p t í d i c o do trato gastrointestinal (27
resíduos de aminoácidos), e n c o n t r a d o nas células da
mucosa do d u o d e n o . E s t i m u l a a secreção da bile, da
pepsina e pancreática e i n i b e a secreção ácida gástrica.
Considerável h o m o l o g i a c o m o G i r , peplídeu intestinal
vasoativo, e glucagon.
S í n d r o m e da Pós-gastrectomia: S í n d r o m e que sucede a cirurgia Corpo do Estômago
Secreção de
para a doença ulcerosa péptica q u e i n c l u i a s í n d r o m e de
HCI, enzimas, muco e
esvaziamento r á p i d o , diarréia, má digestão, perda de peso, fator intrínseco
anemia, doença óssea e câncer gástrico. Antro
S í n d r o m e de Z o l l i n g e r - E l l i s o n {Z-E)s C o n d i ç ã o resultante de
u m t u m o r das células das ilhotas pancreáticas, p r o d u t o r de Figura 37-1 D e s e n h o e s q u e m á t i c o d n estômago, c o m as p r i n c i p a i s
gastrina (gastrinoma), que resulta e m h i p e r p r o d u ç ã o de regiões.
ácido gástrico, levando à ulceração d o esôfago, estômago,
d u o d e n o e j e j u n o , causando h i p e r g a s t r i n e m i a , diarréia e
estea torrei a.
S í n d r o m e d o E s v a z i a m e n t o Rápido? A p ó s cirurgia gástrica, o
quimo hiperosmolar é "esvaziado" no i n t e s t i n o delgado,
causando hipovolemia Tápida e hemoconcentração.
precursores da enzima pepsina q u e degrada proteínas n o ali-
Testes R e s p i r a t ó r i o s : Testes que detectam os p r o d u t o s do
m e n t o . A região p i l ó r i c a é s u b d i v i d i d a e m a n t r o (o terço distai
m e t a b o l i s m o bacteriano n o i n t e s t i n o o u os p r o d u t o s do
do estômago), o canal p i l ó r i c o e o esfíncter. A s células da região
m e t a b o l i s m o h u m a n o , m e d i n d o , mais c o m u m e n t e , o C 0 7
p i l ó r i c a secretam m u c o , pepsinogênios, serotonina, gastrina e
e o H 2 na respiração.
vários o u t r o s h o r m ô n i o s , mas não secretam H C I .

Intestino Delgado

A
O a l i m e n t o é c o n v e r t i d o no estômago em u m m a t e r i a l homogê-
digestão eficiente d o a l i m e n t o e a absorção dos n u t r i e n -
neo, semelhante a m i n g a u ( q u i m o ) , que passa através d o esfíncter
tes são o resultado de funções coordenadas que o c o r r e m
p i l ó r i c o para o i n t e s t i n o delgado, o q u a l é c o n s t i t u í d o de três
n o trato gastrointestinal ( G I ) . A coordenação e a regula-
partes: o d u o d e n o , o j e j u n o e o íleo. E m u m h u m a n o adulto, o
ção dessas funções d e p e n d e m dos h o r m ô n i o s q u e e s t i m u l a m o u
i n t e s t i n o delgado tem, a p r o x i m a d a m e n t e , 2 a 3 m de c o m p r i -
i n i b e m a secreção de l í q u i d o s c o n t e n d o ácido c l o r í d r i c o (HC1),
m e n t o e sua luz d i m i n u i à m e d i d a que prossegue distalmente. O
ácidos biliares, b i c a r b o n a t o e enzimas digestivas.
d u o d e n o (cerca de 25 c m de c o m p r i m e n t o ) é a parte mais c u r t a
e mais larga do i n t e s t i n o delgado. O j e j u n o e o íleo perfazem o
ANATOMIA restante d o i n t e s t i n o delgado.
O t r a t o G I é u m l o n g o t u b o de 10 metros, q u e se inicia na boca A superfície i n t e r n a do i n t e s t i n o delgado superior c o n t é m
e t e r m i n a n o ânus. O esôfago mede cerca de 25 c m de c o m p r i - pregas circulares semelhantes a valvas, que se p r o j e t a m de 3 a 10
m e n t o e é u m t u b o m u s c u l a r q u e conecta a faringe ao estômago. m m para a luz d o i n t e s t i n o . Projeções e m f o r m a de d e d o (vilos)
Os p r i n c i p a i s órgãos d o trato G I são (1) estômago, (2) intestinos m u i t o pequenas (1 m m ) c o b r e m toda a superfície mucosa d o
delgado e grosso, (3) pâncreas e (4) vesícula biliar, todes envolvi- i n t e s t i n o delgado, dando-lhe u m a aparência "aveludada". A área
dos n o processo digestivo q u e se inicia c o m a ingestão do ali- de superfície absortiva do i n t e s t i n o delgado é cerca de 250 m 2 ,
m e n t o e água e se c o n c l u i c o m a excreção das fezes. comparável à área de duas quadras de tênis.

Estômago Intestino Grosso


O estômago consiste em três p r i n c i p a i s regiões: a região cardíaca, O intestino grosso possui, aproximadamente, 1,5 m de compri-
o c o r p o e a região p i l ó r i c a (Figura 37-1). A região cardíaca supe- m e n t o e i n c l u i o ceco, o apêndice, o cólon, o reto e o canal anal.
r i o r , a qual i n c l u i o f u n d o , c o n t é m células epiteliais superficiais
secretoras de m u c o e vários tipos de células secretoras endócrinas. Pâncreas
O c o r p o do estômago c o n t é m células de m u i t o s tipos diferentes, O pâncreas t e m de 12 a 15 c m de c o m p r i m e n t o e situa-se trans-
i n c l u i n d o as células secretoras de m u c o e as células parietais versalmente à parede posterior da cavidade a b d o m i n a l . A cabeça
(oxínticas), que secretam H C 1 e fator intrínseco. A s células das está localizada na curva d u o d e n a l ; o c o r p o e a cauda estão dire-
três regiões do estômago p r o d u z e m pepsinogênios, que são os cionados à esquerda (Figura 37-2).
Doenças Gastrointestinais CAPÍTULO 3 7 71S

O PROCESSO DIGESTIVO ambiente ácido, os pepsinogênios são convertidos rapidamente


As fases neurogênica, gástrica e intestinal constituem o processo à pepsina, uma enzima proteolítica ativa. Quando o alimento
digestivo. A fase neurogênica (vagai) é iniciada por (1) visão (2) entra no estômago, ele é misturado pelas contrações do estô-
odor e (3) sabor do alimento. Todos estes estimulam o córtex mago. Então, as secreções químicas do estômago degradam par-
cerebral e, subseqüentemente, o núcleo vagai resultando na secre- cialmente o alimento em uma mistura contendo muco denomi-
cão de pepsinogênio, H C 1 e gastrina. O processo é mediado nada quimo, o qual, então, é movido através do piloro para o
quimicamente pela acetilcolina das terminações nervosas paras- duodeno. O piloro tem u m papel de esvaziar o alimento para o
simpáticas pós-ganglionares, que agem nas células parietais gástri- duodeno por causa da sua forte musculatura.
cas. O vago também estimula as células principais e parietais a A fase intestinal da digestão inicia-se quando os produtos
secretarem pepsinogênio e HC1. A secreção de íons hidrogênio digestivos fracamente ácidos das proteínas e lipídios entram n o
ocorre contra u m gradiente de concentração de 1 milhão de duodeno (Figura 37-3). Vários hormônios do trato G I , incluindo
vezes, u m processo dependente de energia, catalisado pela a gastrina, são liberados pela estimulação neural e local e atuam
H\íCATPase; é mediado pela acetilcolina, histamina e gastrina, em várias regiões do trato G I para regular a digestão e a absorção.
atuando através de suas respectivas vias neurócrina, parácrina e A l é m disso, a ação da gastrina é potencializada pela secreção da
endócrina para estimular as células parietais. colecistocinina (CCK). Gastrina adicional é liberada quando a
A célula parietal é morfologicamente transformada quando a mucosa duodenal entra em contato com as proteínas e lipídios
secreção de ácido é estimulada. A cimetidina (Tagamet) e outros parcialmente digeridos e o H C l gástrico. A C C K é liberada no
antagonistas de receptor H2 (como a ranitidina [Zantac] e famo- duodeno em resposta à presença de gordura, proteínas e H C l .
tidina [Pepcid]) bloqueiam ambas, a transformação morfológica Suas principais ações são a estimulação das contrações da vesícula
da célula parietal e a secreção de H*. Os inibidores da bomba de biliar; secreção de enzimas, bicarbonato, insulina e glucagon pelo
próton (PPIs) possuem u m mecanismo de ação diferente. O pâncreas e estimulação da motilidade intestinal e contração do
omeprazol (um PPI) é captado pela célula parietal e convertido estômago.
a u m metabólito ativo que inativa a H",IC-ATPase parietal. A A secretina é liberada pelo ácido gástrico no duodeno e (1)
secreção do. íon hidrogênio é inibida até que nova ATPase seja aumenta o efeito da C C K na contração da vesícula biliar e nas
sintetizada - u m processo que requer, pelo menos, 24 horas. secreções pancreáticas, (2) estimula a secreção de pepsinogênio
A distensão causada pela entrada do alimento no estômago pelo estômago, (3) inibe a secreção de ácido gástrico e gastrina e
inicia a fase gástrica da digestão. A liberação de H C l é causada (4) reduz a motilidade gástrica e duodenal. O polipeptídeo inibi-
por (1) estimulação direta das células parietais, pelo nervo vago; tório gástrico (GIP) é secretado pelo duodeno e jejuno. Ele inibe
(2) distensão local do antro e estimulação das células antrais, pelo o ácido gástrico, a gastrina e a secreção de pepsina; reduz a moti-
nervo vago, para secretarem gastrina, que, por sua vez, causa a lidade intestinal e aumenta a secreção de insulina, na presença
liberação de H C l das células parietais e (3) liberação de gastrina, de hiperglicemia. O polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP), pre-
estimulada pela neutralização ( p H 5 a 7) do H C l gástrico pelo sente em todo o intestino e nas fibras nervosas, é u m potente
alimento ingerido que entra na região pilórica. A gastrina também vasodilatador e auxilia o relaxamento da musculatura lisa. Ele
estimula (1) a motilidade antral, (2) a secreção de pepsinogênio possui u m grande número de ações fisiológicas, algumas das
e f l u i d o pancreático rico em enzimas e (3) a liberação de hormô- quais são compartilhadas com a secretina e o GIP. A somatosra-
nios do trato G I , como secretina, insulina, acetilcolina, somatos- tina é secrecada para i n i b i r a maioria das ações motoras e secre-
tatina e polipeptídeo pancreático (PP). C o m o resultado do toras do trato G I , impedindo, portanto, reações excessivas.
As enzimas digestivas pancreáticas, em u m f l u i d o rico em
bicarbonato, entram n o duodeno através da ampola de Vater e
do esfíncter de O d d i (Figura 37-2) e se misturam com o bolo
alimentar, n o duodeno. Durante a passagem pelo intestino
delgado, os carboidratos são quebrados pela amilase e sacaridases
em monossacarídeos, os quais então são absorvidos ativamente
na corrente sanguínea. As proteínas são degradadas posterior-
mente no duodeno pela tripsina, quimotripsina e carboxipepti-
dase do pâncreas e pelas aminopeptidases do intestino delgado.
Os dipeptídeos e aminoácidos resultantes são absorvidos n o
jejuno e no íleo, por mecanismos absortivos especializados, na
superfície da mucosa. As gorduras da dieta são emulsíficadas no
duodeno pela ação da bile. Elas são hidrolisadas pela lípase
(auxiliada pela colípase) a ácidos graxos individuais, monoacilgli-
ceróis (monoglicerídeos) e glicerol e, entãn, absorvidas no res-
tante do intestino delgado. A maioria dos nutrientes, incluindo
as vitaminas e minerais, já foi absorvida no momento em que o
alimento passa para o intestino grosso, onde a água é absorvida
ativamente, o equilíbrio de eletrólitos é regulado e onde ocorrem
as ações bacterianas. Estes processos terminam finalmente na
formação das fezes.

PEPTÍPEOS REGULADORES DO TRATO GI13


O intestino é o maior órgão endócrino do corpo e também o
principal alvo para muitos hormônios, liberados localmente e de
outros locais. Os peptídeos reguladores do trato G I são liberados
Figura 37-2 C o r t e transversal através d o pâncreas.
das ilhotas pancreáticas (p.ex., somatostatina) ou de células endó-
716 PARTE V Fisiopatologia

Gordura da dieta
Absorção Sais biliares Má absorção (esteatorréia)
{principalmente
sintetizados
triglicerídeos)
no figado

Doença hepática

i coleslálica

Emulsrficação no

Doença pancreática
' Drogas - orlistat
Hidrólise pela llpase pancreática
W- Doença do intestino delgado

K
Lesão da mucosa p. ex., doença
celíaca, espru tropical
Formação de micelas mistas
Proliferação bacteriana {desconju-
5ação dos sais biliares)
Parasitas, p ex., Giárdia
Quilomicrons Resseeção intestinal
Doença ileai — Crohn

ü -
I
Abetalipoproteinemia
Drogas

«S\ Saisr Linfáticos


biliares
reabsorvidos

Figura 37-3 R e s u m o dos processos envolvidos n a absorção e m á absorção da gordura. ( D e C l a r k M L , S i l k


D B . G a s t r o i n t e s t i n a l disease. I n : K u m a r P, C l a r k M , eds. C l i n i c a i m e d i c i n e , 5 * ed. E d i n b u r g h : W B SaundeTs,
2002; 25.3-333.)

crinas no interior da mucosa intestinal (p.ex., C C K ) . Muitos fisiológica. Todas as formas da C C K são produzidas por clivagem
desses peptídeos (como o V I P e a somatostatina) estão presentes emimática de u m Único precursor de 115 aminoácidos, a pré-pró-
em nervos entéricas e são encontrados também no sistema colecistocinina.
nervoso central, e exercem importantes papéis no controle neu- A C C K é encontrada nas células da mucosa superficial do
roendócrino do intestino. EmboTa muitos deles (como secretina intestino delgado. As concentrações circulantes de C C K são
e gastrina) preencham o critério clássico para hormônio, por aumentadas após a ingestão de uma refeição mista. A secreção
agirem em células distantes (Capítulo 25), outros funcionam de C C K é estimulada pela mistura de polipeptídeos c aminoáci-
como neurotransmissores ou têm efeito local (parácrino) em dos (especialmente triptofano e femlalanina), mas não por pro-
células adjacentes. Coletivamente, influenciam a motilidade, a teínas não digeridas. A secreção também é estimulada pelo ácido
secTeção, a digestão e a absorção no intestino. Regulam o fluxo gástrico que entra n o duodeno e por ácidos graxas com cadeias
da bile e a secreção dos hormônios pancreáticos e afetam a toni- de nove ou mais carbonos, especialmente na forma de micelas.
cidade das paredes vasculares, a pressão sanguínea e a potência A C C K é rapidamente removida do plasma (meia-vida de < de 3
cardíaca. minutos), principalmente pelos rins. A secreção de C C K é com-
Existe u m crescente entendimento do papel do sistema neu- pletamente inibida após infusão de somatostatina.
roendócrino e dos peptídeos intestinais e da importância da via A C C K regula a contração de vesícula biliar e aumenta a
hipotalâmica-intestinal n o controle n o r m a l da ingestão de ali- motilidade do intestino delgado. C o m o ela possui o mesmo
mento e da possibilidade de distúrbios nesses mecanismos, como pentapeptídeo terminal da gastrina, exerce u m efeito estimulató-
causas da obesidade. O peprídeo gástrico grelina e a C C K atuam r i o leve (1) na secreção de pepsinogênio e H C I gástrico, (2) na
como reguladores de curto prazo do apetite e da saciedade. O motilidade antral e (3) na secreção do bicarbonato pancteático.
neuropeptídeo PYY336 é secretado por células endócrinas no A gastrina e a C C K são aditivas na estimulação do pâncreas e
intestino delgado distai e no cólon, em resposta à ingestão de ambas aumentam o efeito da secretina sobre a função pancreá-
alimento. A infusão em humanos de PYY3.36 em concentrações tica. A C C K também (1) estimula o crescimento pancreático, (2)
plasmáticas fisiológicas d i m i n u i significativamente o apetite, com relaxa o esfíncter de O d d i e (3) estimula secreções das glândulas
uma redução de 33% de ingestão de alimentos por mais de 24 de Brunner (duodenais).
horas. O P Y Y ^ é, portanto, u m adicional à crescente lista de A C C K é amplamente distribuída por todo o sistema nervoso
hormônios com papel na regulação do equilíbrio de energia. central e periférico, com concentrações mais altas no córtex
A Tabela 37-1 resume as características químicas básicas de cerebral; sua função no sistema nervoso central é desconhecida.
cinco dos principais peptídeos reguladores do trato G I e indica Q u a n d o liberada do trato G I , atua como u m sinal de curto prazo
seus locais de origem e principais funções. de saciedade, regulando, portanto, o apetite.

Colecistocinina Gastrina
A colecistocinina (CCK) é u m polipeptídeo linear que existe em A gastrina também ocorre em múltiplas formas moleculares no
várias formas moleculares. Em todas elas, os cinco aminoácidos sangue e nos tecidos; as formas mais importantes são a grande
C-terminais são idênticos àqueles da gastrina e são necessários, gastrina (G-34), u m polipeptídeo linear de 34 aminoácidos, e a
em conjunto com u m resíduo tirosil sulfatado, para a atividade pequena gastrina (G-17). A principal forma circulante da gastrina
Doenças Gastrointestinais CAPÍTULO 3 7 717

TABELA 37-1 Características das Formas Proeminentes dos Principais Peptideos Reguladores do Intestino
Peso Número de Principal Localização
Hormônio/Peplídeo Molecular Aminoácidos no Intestino Principais Ações Fisiológicas

FAMÍLIA GASTRINA
Colecistocinina 3918 33 (também 385,59) Duodeno e jejuno, Estimula a contração da vesícula biliar e a motilidade
nervos entéricos intestinal; estimula a secreção das enzimas
pancreáticas, insulina, glucagon e polipeptídeos
pancreáticos; tem um papel em indicar saciedade; o
peptídeo de 8 aminoácidos C-terminal CCK-8 retém
atividade total
Pequena gastrina 2098 17 Ambas as iormas de As gastrinas estimulam a secreção do ácido gástrico,
Grande gastrina 3B39 34 gastrina são encontradas pepsinogênio, tator intrínseco e secretina; estimulam o
na antro gástrico e no crescimento da mucosa intestinal; aumentam a
duodeno motilidade gástrica e intestinal

FAMÍLIA GLUCAGÜN-SECFIETIN A
Secretina 3056 27 Duodeno e jejuno Estimula a secreção pancreática de HC03, enzimas e
insulina; reduz a motilidade gástrica e duodenal, inibe
a liberação de gastrina e a secreção de ácido gástrico
Polipeptídeo intestinal 3326 23 Nervos entéricos Relaxa o músculo liso do intestino, dos vasos sanguíneos
vasoativo (VIP) e sistema genitourinário; aumenta a secreção de água
e eletrólito do pâncreas e intestino; libera hormônios do
pâncreas, intestino e hipotálamo
Peptídeo insulinotrópico 4976 42 Duodeno e jejuno Estimula a liberação de insulina; inibe a secreção do
dependente de glicose ácido gástrico, pepsina e gastrina; reduz a motilidade
(GIP) gástrica e intestinal; aumenta a secreção de fluido e
eletrólitos do intestino delgado

é a G-34, em indivíduos sadios e em pacientes com hipergastri- Secretina


nemia Todas as formas de gastrina se originam de u m único A secretina é u m polipeptídeo linear que contém 27 aminoácidos
precursor, a pré-pró-gastrina, u m peptídeo constituído de 101 e que possui semelhanças estruturais a vários hormônios, incluindo
aminoácidos. A menor sequência peptídica da gastrina que o glucagon, o V I P e o GIP. A molécula intacta da secretina é
possui atividade biológica é o tetrapeptídeo carbóxi-terminal (G- necessária para a atividade biológica e, ao contrário da gastrina,
4, terrina). U m pentapeptideo sintético (pentagastrina) tem sido não há fragmento ativo mínimo.
usado para a estimulação da secreção de H C l em testes de função Ela é secretada pelas células mucosas S granulares localizadas
gástrica. em maior concentração no duodeno, mas presentes em todo o
A gastrina é produzida e armazenada principalmente pelas intestino delgado. E liberada principalmente n o contato das
células endócrinas da mucosa antral e, em menor quantidade, células S com o H C l gástrico; entretanto, quando o suco pancre-
no duodeno proximal e em células das ilhotas pancreáticas. Após ático f l u i para dentro do duodeno, ela neutraliza o ácido gástrico
a secreção, a gastrina é transportada pelo sangue através do fígado e, desse modo, remove o estímulo para sua própria secreção. A
para as células parietais da região fúndica do estômago. Lá, ela secretina não é liberada até que o p H esteja d i m i n u í d o a, pelo
estimula a secreção do ácido gástrico. Ela também estimula (1) a menos, 4,5. Entretanto, u m p H menor que 4,5 normalmente
secreção de pepsinogênios gástricos e fatoi intrínseco, pela ocorre apenas nos primeiros poucos centímetros do duodeno,
mucosa gástrica, (2) a liberação da secretina pela mucosa do causando pequeno aumento na secretina plasmática, após uma
intestino delgado, (3) a secreção de enzimas e bicarbonato pan- refeição normal. Portanto, a liberação da secretina após a expo-
creáticos e da bile hepática. Ela aumenta (1) a motilidade gástrica sição das células S ao H C l não deve ser u m estímulo fisiológico
e intestinal, (2) o crescimento da mucosa e (3) o fluxo sanguíneo importante. Porém, as concentrações de secretina plasmática que
para o estômago. E secretada em resposta à distensão antral pelas estejam baixas demais para serem medidas podem estimular o
refeições e por aminoácidos, peptideos e polipeptídeos das pro- pâncreas na presença de concentrações fisiológicas da C C K , a
teínas parcialmente digeridas n o estômago. Os outros estímulos qual potencializa fortemente a ação da secretina. A gordura não
da gastrina incluem o álcool, a cafeína, a hipoglicemia induzida digerida não estimula a secreção da secretina, mas os ácidos
pela insulina, a ingestão ou a infusão de cálcio intravenoso e a graxos com cadeias de 10 ou mais carbonos são estimuladores
estimulação vagai iniciada pelo odor, sabor, mastigação e deglu- fracos. O álcool aumenta a secreção de secretina por meio do
tição do alimento. estímulo da secreção de ácido gástrico, com subseqüente abaixa-
A secreção máxima da gastrina ocorre em p H antral de 5 a mento do p H duodenal, em vez de por u m efeito estimulatório
7. E m p H 2,5, a secreção é reduzida em cerca de 80%; a supres- direto. A meia-vida da secretina é cerca de 4 minutos. O r i m é o
são máxima ocorre em p H 1,0. A secreção é inibida pela ação principal local de sua degradação. O único inibidor fisiológico
direta do ácido sobre as células endócrinas que produzem gas- conhecido da liberação de secretina é a somatostatina.
trina. Este feedback negativo protege contra a hiperacidificação de O principal papel fisiológico da secretina é o de estimular o
todos os estimulantes. pâncreas a secretar u m volume aumentado de suco com alto
718 PARTE V Fisiapatologia

c o n t e ú d o de b i c a r b o n a t o . A s nutras ações i n c l u e m (1) estímulo DISTÚRBIOS E DOENÇAS ESTOMACAIS,


de secreção de b i c a r b o n a t o e água d o fígado e das glândulas de INTESTINAIS E PANCREÁTICAS
B r u n n e r , (2) a u m e n t o das contrações da vesícula biliar e a u m e n t o
A s doenças d o trato G I i n c l u e m as d o estômago, intestinos e
d o f l u x o da b i l e hepática, (3) e s t í m u l o de liberação d o P T H das
pâncreas.
enzimas pancreáticas e d o pepsinogênio pelas células p r i n c i p a i s
d o estômago, (4) redução da m o t i l i d a d e gástrica e d u o d e n a l , (5)
redução da pressão d o esfíncter esofágico i n f e r i o r e (6) p r o m o ç ã o
Doenças do Estômago
A evolução de p r o c e d i m e n t o s endoscópicos, c o m a visualização
d o crescimento pancreáLÍtu. A secretina inibe a secreção n o r m a l
direta d o i n t e r i o r d o estômago, r e m o v e u g r a n d e m e n t e a necessi-
de gastrina (mas não d i m i n u i a gastrina sérica, n a s í n d r o m e de
dade de exames laboratoriais para se realizaT a análise d o conte-
Zollinger-Ellison) e, p o r t a n t o , a secreção d o ácido gástrico.
ú d o gástrico. E n t r e t a n t o , p e r m a n e c e m situações nas quais o
l a b o r a t ó r i o c o n t i n u a t e n d o u m papel significativo n o diagnóstico
Polipeptídeo Intestinal Vasoativo de doenças gástricas e n o m o n i t o r a m e n t o da eficácia d o trata-
O p o l i p e p t í d e o i n t e s t i n a l vasoativo ( V I P ) é u m p o l i p e p t í d e o
m e n t o . Por exemplo, os testes laboratoriais f o r n e c e m i n f o r m a -
l i n e a r c o n s t i t u í d o de 28 a m i n o á c i d o s , p o s s u i n d o semelhanças
ções para a doença ulcerosa péptica, a s í n d r o m e de Zollinger-
estruturais c o m a secretina, G I P e glucagon. O V I P está presente
E l l i s o n (Z-E) e a gastrite.
e m t o d o o c o r p o , sendo e n c o n t r a d o e m concentrações maiores
n o sistema nervoso e i n t e s t i n o . D i f e r e n t e da secretina e de outros
Doença Ulcerosa Péptica e Helicobacter pylori12,14
h o r m ô n i o s d o trato G I , o V I P n ã o é e n c o n t r a d o nas células
Descrição
endócrinas da mucosa d o t r a t o G I . Acredita-se que seja u m neu-
O r g a n i s m o s de f o r m a espiralada t ê m sido observados n o estô-
rotransmíssor l i m i t a d o ao sistema nervoso central e p e r i f é r i c o .
mago há m u i t o s anos, p o r e m apenas e m 1985 é que f o i feita a
As fibras nervosas c o n t e n d o V I P são encontradas e m t o d o o trato
associação entre Helicobacter pylori ( c o n h e c i d o então c o m o Cam-
G I , desde o esôfago até o c ó l o n .
pylõbacter f^Iori) e d o e n ç a ulcerosa p é p t i c a . A m a i o r i a das estima-
Pouco se conhece sobre as condições que causam a liberação
tivas sugere que a bactéria esteja presente n a camada mucosa d o
d o V I P paia a circulação. N ã o existe evidência de que o V I P seja
estômago, na metade da população m u n d i a l . N a E u r o p a , 3 0 % a
liberado d u r a n t e a digestão, mas sua secreção é a u m e n t a d a p o r
5 0 % dos adultos, e nos Estados U n i d o s , pelo m e n o s 2 0 % da
estimulação vagai. O V I P t e m u m a meia-vida plasmática de cerca
população adulta estão infectados c o m a bactéria. A colonização
de 1 m i n u t o e a m a i o r parte d o h o r m ô n i o é inativada p o r u m a
c o m H . pylori provoca u m a reação i n f l a m a t ó r i a crônica na mucosa
Única passagem através d o fígado. Ele possui u m grande n ú m e r o
gástrica mesmo q u a n d o a observação endoscópica direta se
de ações fisiológicas, que estão resumidas na Tabela 37-1. A
mostra n o r m a l . Os p o r t a d o r e s da bactéria têm u m risco aumen-
m a i o r i a das ações d o V I P t e n d e m a ser de c u r t a duração d e v i d o
tado de câr.cer gástrico (de duas a 10 vezes) e de úlcera péptica
à sua degradação rápida.
(três a 10 vezes). Cerca de 9 0 % dos pacientes c o m câncer gástrico
estão infectados c o m H priori, comparados c o m 4 0 % a 6 0 % dos
Peptídeo Insulinotrópico Dependente de
controles pareados p o r idade, e existe u m a correlação significa-
Glicose (GIP, Polipeptídeo Inibitório Gástrico)
tiva entre as taxas de infecção e a i n c i d ê n c i a e m o r t a l i d a d e p o r
O p e p t í d e o i n s u l i n o t r ó p i c o d e p e n d e n t e de glicose ( G I P ) é u m
câncer gástrico,. N o e n t a n t o , e m b o r a u m a grande p r o p o r ç ã o de
peptídeo linear, c o n s i s t i n d o e m 4 2 aminoácidos. Sua extremidade
câncer gástrico seja a t r i b u í d a à infecção p o r H. apenas
N - t e r m i n a l possui u m a í n t i m a semelhança ao glucagon e à secre-
u m a m i n o r i a de i n d i v í d u o s infectados p r o g r i d e de u m a reação
tina, mas a sequência de 17 resíduos a m i n o á c i d o s C - t e r m i n a i s não
i n f l a m a t ó r i a para câncer gástrico, e o consenso atual é que i n d i -
é c o m u m a qualquer o u t r o h o r m ô n i o intestinal c o n h e c i d o .
víduos assintomáticos não d e v e r i a m ser investigados para a infec-
O G I P é sintetizado e liberado p o r células localizadas na
ção p o r H.pylori 12 .
mucosa d o d u o d e n o e jejuno. O G I P plasmático é a u m e n t a d o
Pelo menos 9 5 % dos pacientes c o m úlcera d u o d e n a l estão
p o r administração oral de glicose, triacilgliceróis o u p o r infusões
infectados com H . pylori, e a erradicação d o H . priori é o trata-
intTaduodenais de soluções c o n t e n d o u m a m i s t u r a de a m i n o á c i -
m e n t o recomendado para pacientes c o m úlcera gástrica o u duo-
dos. A ingestão de p r o t e í n a não a u m e n t a s i gni fi c ati vamente o
denal os quais são positivos para H . pylori. Os a n t i b i ó t i c o s combi-
GIP. Para q u e os c o m p o n e n t e s d o a l i m e n t o e s t i m u l e m a libera-
nados eficazes e os regimes de supressão ácida (usando PPIs) estão
ção d o GIP, eles d e v e m seT absorvidos na mucosa intestinal.
disponíveis c o m u m a taxa de erradicação e m t o r n o de 9 0 % ,
As ações biológicas d o G I P estão resumidas na Tabela 37-1. A
A razão de u m a infecção n a mucosa gástrica causar ulceração
ação i n s u l i n o trópica d o G I P parece ser a mais i m p o r t a n t e das suas
d u o d e n a l é complexa, mas envolve u m n ú m e r o de vias q u e l e v a m
ações biológicas e, c o m o resultado, este h o r m ô n i o t e m sido
à p r o d u ç ã o a u m e n t a d a de ácido. A n t e s d o e n t e n d i m e n t o d o
chamado a t u a l m e n t e de " p e p t í d e o i n s u l i n o t r ó p i c o dependente de
papel d o H . pylori n o d e s e n v o l v i m e n t o de úlcera péptica, a vago-
glicose" e m u m a descrição mais exata de sua ação fisiológica.
to mia (seccionamento c i r ú r g i c o , ou corte, d o nervo vago) era a
f o r m a p r i n c i p a l de t r a t a m e n t o usada para reduzir a p r o d u ç ã o de
Outros Peptídeos Reguladores ácido gástrico, levando, assim, a u m a m b i e n t e mais favorável à
U m grande n ú m e r o de o u t r o s peptídeos reguladores d o trato G I , cura da úlcera.
h o r m ô n i o s e fatores de crescimento f o r a m agora localizados n o
O H . pylori produz urease, e a hidrólise da uréia endógena a
i n t e s t i n o , e m b o r a a f u n ç ã o de alguns deles a i n d a seja desconhe- bicarbonato e a m ó n i a p o d e criar u m m i c r o a m b i e n t e mais hospi-
cida. Os fatores de crescimento que p e r t e n c e m a várias famílias
taleiro para sua sobrevivência n o estômago. A capacidade da bac-
de peptídeos possuem papéis i m p o r t a n t e s n o c o n t r o l e de u m a téria de rapidamente hidrolisar a uréia é a base d o teste respirató-
a m p l a gama de funções celulares n o i n t e s t i n o . A clínica atual
r i o da uréia e dos testes da urease direta, nas amostras de biópsias
utiliza as dosagens dos peptídeos e h o r m ô n i o s reguladores d o gástricas. As células dos mamíferos não p r o d u z e m urease.
trato G I n o diagnóstico de tumores n e u r o e n d ó c r i n o s d o pân-
creas e d o trato G I . E provável que elas v e n h a m a ter aplicações
Testes Diagnósticos para H. pylori
mais amplas à m e d i d a que o e n t e n d i m e n t o de suas funções cresça
Os testes para H.p^íori ( Q u a d r o 37-1) são necessários para o
(p. ex., n o c a m p o da obesidade e da m o d u l a ç ã o d o apetite).
diagnóstico da infecção e para c o n f i r m a r , q u a n d o os sintomas
Doenças Gastrointestinais CAPÍTULO 3 7 719

continuam, se a terapia de erradicação foi bem sucedida. U m a tTica maciça, (3) hipergastrmemia, (4) diarréia e (5) esteatorréia.
alta sensibilidade clínica é necessária para assegurar que positivos Cerca da metade de todos os gastrinomas é m ú l t i p l a e cerca de
não são perdidos; de m o d o semelhante, uma alta especificidade dois terços são malignos. U m quarto de todos os gastrinomas é
clinica é essencial para evitar o uso inapropriado da terapia de parte da síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 1 ( M E N
erradicação. As diretrizes do Maastricht 2-2000 12 recomendam 1), com cumores o u hiperplasia nas ilhotas pancreáticas e nas
u m a estratégia de L,teste e tratamento" em adultos, com idade glândulas paratíreóide e hipófise. E m indivíduos com a síndrome
abaixo de 45 anos, com sintomas dispépticos, usando o teste Z-E, as concentrações de gastrina em j e j u m estão aumentadas
respiratório o u o teste de antigeno fecal. A idade limite pode substancialmente, variando de duas a 2.000 vezes o normal. A
variar dependendo da prevalência local e da distribuição de idade gastrina plasmática em j e j u m está geralmente m u i t o aumentada,
de câncer gástrico. A erradicação bem-sucedida deve ser confir- variando também de duas a 2.000 vezes o normal. Concentrações
mada com o teste respiratório da uréia o u pelo teste da urease maiores que 10 vezes o limite superior normal, na presença de
direta, quando a endoscopia está clinicamente indicada; o teste hipersecreção de ácido gástrico, constituem virtualmente o diag-
do antigeno fecal pode ser usado se o teste respiratório da uréia nóstico de gastrmoma. A concentração de gastrina plasmática em
não está disponível. Atualmente, o teste respiratório da uréia é jejum na apresentação de síndrome de Z-E esporádica correla-
o procedimento preferido para o diagnóstico inicial e a confir- ciona-se com o tamanho e a localização do t u m o r e a presença
mação da erradicação. O teste para confirmar a erradicação deve de metástase hepática, tendo, portanto, valor prognóstico.
ser feito pelo menos 4 semanas após o t é r m i n o do tratamento. C o m o o tratamento do paciente com síndrome de Z-E requer
Os testes respiratórios de uréia são simples de realizar, com geralmente intervenção cirÚTgica, torna-se importante a distinção
sensibilidade e especificidade maiores que 95%. A uréia marcada de hipergastrmemia causada por gastrinoma de outras condições
com H C ou ViC é ministrada oralmente, como u m a bebida ou que podem levar a aumentos semelhantes da gastrina plasmática.
uma cápsula para engolir com água; a urease do H. f^íoTÍ gástrico Por exemplo, a elevação da concentração de gastrina plasmática
hidrolisa rapidamente a uréia ingerida para produzir bicarbonato ocorre em (1) hipocloridria o u acloridria, (2) pacientes sendo
marcado, o qual é absorvido no sangue e exalado como , 4 C 0 2 tratados com drogas supressoras de ácido (p.ex., antagonistas do
ou n C 0 2 . As principais vantagens do isótopo estável ''C-uréia do receptor H2 de histamina o u PPls), (3) infecção por H. priori, (4)
teste respiratório sobre o teste respiratório com "C-uréia radioa- anemia perniciosa e (5) pacientes com gastrite atrófica crônica
tiva são a simplicidade da coleta respiratória e a abstenção das associada a anticorpos anticélula parietal. A ressecção cirúrgica,
regras relacionadas ao uso e descarte de radioisótopos. N o teste doenças renais o u do intestino delgado podem causar também
respiratório da ! j C-uréía, o paciente assopra através de u m hipergastrmemia, possivelmente porque esses são locais impor-
canudo, em u m tubo vazio de 15 m L , o qual é então tampado tantes de degradação o u excreção da gastrina.
As taxas de " C O j / 1 2 C O i são comparadas com amostras basais As concentrações aumentadas de gastrina basal podem ser
e pós-dose usando-se espectrometria de massas das taxas dos classificadas como "apropriadas" ou "inapropriadas", de acordo
isótopos o u métodos alternativos de medidas de infravermelho. com sua associação com secreção aumentada o u d i m i n u í d a de
N o teste fecal, os antígenos específicos do H. pylon são detec- ácido gástrico. Por exemplo, em pacientes com secreção ácida
tados em placas de microtitulação cobertas com anticorpos poli- m u i t o baixa ou ausente e u m antro gástrico funcionalmente
clonais. O método é atualmente recomendado para testagem da intacto, u m aumento na gastrina plasmática é fisiologicamente
erradicação, se o teste respiratório da uréia não estiver disponí- apropriado e esperado.
vel.12 Embora ainda estejam amplamente disponíveis, os testes
sorológicos não são mais recomendados, Dosagens da Gastrina Plasmática
N o soro de indivíduos saudáveis, as formas predominantes de
Síndrome de Zollinger-Ellison gastrina são G-34 e G-17 amidadas. Em indivíduos com gastri-
Descrição noma, as gastrinas circulantes exibem heterogeneidade com
A síndrome de Zollinger-Ellison (Z-E) resulta de u m t u m o r (gas- mudança direcionada aos peptideos maiores. Para a detecção dos
t r i n o m a ) , das células das ilhotas pancreáticas. Suas características gastrinomas, os imunoensaios são destinados para detectar todas
incluem (1) úlceras pépticas fulminantes, (2) hipersecreção gás- as formas secretadas de gastrina, evitando-se falso-negativos. Os
ensaios utilizam anti-soros policlonais ou misturas de anticorpos
monoclonais (com o u sem u m anti-soro policlonal) que reagem
com as múltiplas formas da gastrina.
A gastrina é instável no soro o u no plasma, com até 5 0 % de
Q U A D R O 37-1 Testes Diagnósticos para Helicobacter pylori
perda da imunorreatividade em 48 horas a 2°C a 8°C, devido à
TESTES INVASIVOS - USANDO AMOSTRAS DE BIÓPSIA DA MUCOSA GÁSTRICA ação de enzimas proteolíticas. As amostras de sangue devem ser
Histologia: microscopia após coloração pelo Giemsa ou pela prata coletadas em tubos contendo heparina como anticoagulante e
Histologia: microscopia após coloração imunoistoquímica aprotinina (p ex., Trasilol, 0,2 mL, 2.000 U1K em tubo de 10
Teste da urease direta: uma biópsia incubada em uréia ou solução indicadora; mL) para impedir a prateólise. As amostras devem ser misturadas
ponto final visual por inversão, transportadas no gelo rapidamente, para o labora-
Cultura: incubação em meio adequado por A a 10 dias tório, e o plasma separado em centrífuga refrigerada. O plasma
Reação em cadeia da polimerase: amplificação das seqüências específicas de DNA deve ser congelado em aproximadamente - 2 0 ° C dentro de 15
minutos após a punção venosa. As amostras coletadas desta
TESTES NÃO-INVASIVOS — USANDO RESPIRAÇÃO, SANGUE, SALIVA OU
maneira são adequadas para a análise de gastrina, VIP, polipep-
FEZES
tídeo pancreático, somatostatina, neurotensina e cromograninas
Testes respiratórios: aumento de 14CÜS ou 13CQ2 após ingestão de uréia marcada
com " C ou 13C A e B.
Testes sorológicos: dosagem de anticorpo igG específico
Testes com sangue total: testes de ponto de cuidado para anticorpo IgG específico Determinação da Produção do Ácido Basal
Testes de saliva: detecção de anticorpo IgG específicoTestes fecais: detecção
A documentação da produção aumentada do ácido basal (BAO)
de antigeno específico
no suco gástrico fornece u m a forte evidência de que uma alta
720 PARTE V Fisiopatologia

concentração de gastrina sérica é causada pela síndrome Z-E, O Doença Celíaca (Espru Celíaco, Enteropatia
teste é, por esse motivo, usado em pacientes com ulceração duo- Sensível ao Glúten)5'9
denal e concentração aumentada de gastrina sérica. O teste não A doença celíaca é algumas vezes chamada de espru não-tropical,
é apropriado em pacientes com gastrite atrófica. A anemia per- espru celíaco ou enteropatia sensível ao glúten.
niciosa, que causa tam bém hipergastrinemia, deve ser excluída
antes da avaliação do B A O . Os PPIs devem ser interrompidos Descrição
por, pelo menos, 14 dias, e os antagonistas de receptor H j por, A doença celíaca é u m distúrbio intestinal auto-imune que dura
pelo menos, 3 dias antes do teste. O H. fryíorí como causa do toda a vida, encontrada em indivíduos geneticamente suscetí-
aumento da gastrina sérica deve ser t ambém excluído, antes da veis.6 Nesses indivíduos, o estímulo externo para o seu desenvol-
avaliação do B A O . vimento é encontrado no glúten, o qual é u m grupo complexo
Tipicamente, é usada a coleta de suco gástrico por 12 horas de proteínas presentes no trigo. E m pessoas com doença celíaca,
noturnas para medir a B A O . U m a alternativa satisfatória é a todas as proteínas (e peptídeos) que são tóxicas para a mucosa
coleta de suco gástrico por 60 minutos após o paciente ter tido do intestino delgado contêm grandes quantidades de glutamina.
uma noite de sono satisfatória em u m quarto reservado e calmo. As principais proteínas tóxicas do trigo são as gliadinas, com
Após despertar, o paciente deve permanecer em jejum; o f u m o proteínas homólogas (as hordeínas e secalinas) que ocorrem na
e o exercício devem ser evitados antes e durante o teste. Para cevada e no centeio, respectivamente. As gliadinas constituem
coletar a amostra, u m tubo gástrico é inserido oralmente ou, se cerca de 5 0 % da proteína do trigo. Acredita-se que o desenvolvi-
o paciente tiver u m reflexo hiperativo de náusea, pode ser usada mento da doença celíaca seja iniciado por essas proteínas tóxicas
a intubação nasal. E necessária a confirmação por raio X ou por do cereal, que causam lesão do epitélio intestinal, o qual libera
fluoroscopia de que a extremidade do tubo radiopaco está na transglutaminase teciduai (TGA). 3 A ligação cruzada pela enzima
porção mais inferior do estômago. Dez ou 15 minutos após o produz os complexos gliadina-gliadina o u gliadina-enzima que,
paciente ter se acalmado e se ajustado à presença do tubo, o em indivíduos geneticamente suscetíveis, desencadeiam u m a res-
paciente é posicionado com o tronco em posição vertical e incli- posta i m u n e pelas células T derivadas do intestino. A enteropatia
nado levemente para a esquerda. Então, o suco gástrico é aspi- característica é, então, induzida pela liberação de y- interferon e
rado e coletado. O volume total de suco coletado é registrado e outras citocinas pró-inflamatórias.
o ácido livre é determinado por titulação com h i d r ó x i d o de sódio Provavelmente, u m peptídeo de 33 aminoácidos é o principal
a u m f i n a l de p H de 3,5. iniciador da resposta inflamatória. Ele é resistente à degradação
Os intervalos de referência da B A O são da 0 a 10,5 m m o l / h por todas as proteases gástricas, pancreáticas e de membrana da
para homens e 0 a 5,6 m m o l / h para mulheres. Pacientes com borda-em-escova intestinal, permitindo, assim, o seu alcance ao
síndrome de Z-E têm valores de B A O de 15 a 100 m m o l / h , o u intestino delgado intacto. Após desamidação pela t T G , ele é u m
>5 m m o l / h , se u m a cirurgia de redução de ácido aconteceu potente i n d u t o r de linhagens de células T humanas derivadas do
previamente. U m a produção de ácido livre >15 m m o l / h deve intestino de pacientes com doença celíaca.
levar a uma suspeita de gastrinoma, porém não é diagnostica; u m Existe u m amplo espectro na apresentação da doença celíaca,
valor >25 m m o l / h com gastrina sérica elevada é, virtualmente, com a maior parte dos diagnósticos feitas na vida adulta. A
diagnóstico de síndrome de Z-E. maioria dos adultos possui sintomas inespecificos, como (1) dor
abdominal, (2) fadiga, (3) perda de peso, (4) osteoporose, (5)
baixa estatura e, com freqüência, (6) deficiência moderada de
Gastrite ferro. A l é m disso, existe uma forte associação com outras doenças
Gastrite é o termo usado para denotaT a inflamação da mucosa auto-imunes, especialmente com diabetes meííitus t i p o 1 e doença
do estômago. Os tipos diferentes de gastrite são classificados auto-imune da tireóide.
como (1) erosiva, (2) não erosiva e (3) especifica (muito rara).
Testes para Doença Celíaca
Gastrite Erosiva Os testes sorológicos têm u m papel importante n o crescente
A gastrite erosiva (gastrite aguda) ocorre em indivíduos após conhecimento da alta prevalência do distúrbio, e testes padroni-
trauma severo ou queimaduras graves (ulcera de Curling) e era- zados apropriadamente possuem altas sensibilidade e especifici-
n i o t o m i a o u lesões traumáticas da cabeça. E encontrada também dade clínicas para o diagnóstico e para o m o n i t o r a m e n t o da
em indivíduos com doença intracraniana (úlcera de Cushing) e adesão ao tratamento com u m a dieta livre de glúten.
naqueles que ingerem drogas cronicamente, tais como corticos- Os anticorpos i m u n o g l o b u l i n a A (IgA) são usados para o
teróides, etanol ou aspirina o u outras drogas antiinflamatórias diagnóstico da doença celíaca. I n c l u e m os anticorpos anti-reticu-
não-esteroidais ( DAlNEs). Geralmente, a endoscopia é a técnica lina ( A R A ) , endomisial ( E M A ) e transglutaminase teciduai
definitiva para estabelecer o diagnóstico. (TGA) As dosagens de T G A possuem várias vantagens sobre
E M A e tem sido descrita u m a estratégia de laboratório baseada
Gastrite Não Erosiva em T G A como teste de primeira linha. 11 A T G A é agora o anti-
A gastrite não-erosiva (gastrite crônica) é associada a úlcera corpo de escolha para os testes sorológicos e para a avaliação da
péptica ou carcinoma gástrico, no período após gastrectomia adesão dietética de pessoas em dieta livre de glúten. A T G A é
parcial, anemia perniciosa, infecção por H. pylori e em indivíduos u m procedimento quantitativo; vários conjuntos de reagentes
idosos saudáveis. A gastrina sérica é elevada em indivíduos com estão, atualmente, comercialmente disponíveis para dosar T G A
acloridria devido à ausência do feedback negativo pelo H C I classe-IgA usando-se T G A recombinante humana o u enzima
humana purificada como antígeno ("métodos de 2a geração").
Doenças do Intestino Para u m diagnóstico definitivo, as diretrizes atuais requerem
As doenças do intestino incluem (1) doença celíaca, (2) deficiên- uma biópsia de jejuno com (1) as alterações caracteristicas de
cia de dissacaridase, (3) proliferação bacteriana, (4) má absorção atrofia das vilosidades, (2) aumento de linfócitos intra-epiteliais
de sais biliares e (5) enteropatia por perda protéica e os principais e (3) hiperplasia das criptas. O uso mais amplo da sorologia levou
achados laboratoriais associados com seu diagnóstico. ao reconhecimento de mais casos e ao desenvolvimento do con-
Doenças Gastrointestinais CAPÍTULO 3 7 721

ceito de "iceberg celíaco" paTa destacar o fato de que muitos casos mais semelhantes àqueles atribuídos à má digestão de dissacarí-
permanecem ocultos, se a sorologia for restrita àqueles que deos. Por exemplo, a má absorção de glicose-galactose é herdada
possuem os sinais clássicos do distúrbio. como u m traço autossômico recessivo. Os sintomas ocorrem nos
Os indivíduos com deficiência de IgA seletiva (IgA < 0,005 neonatos afetados tão logo o leite (lactose) é tomado, mas também
g / L , incidência em torno de 1:600) estão sob u m risco maior de após ingestão de alimentos contendo glicose ou galactose. Os
doença celíaca e deve ser considerada uma biópsia de intestino sintomas causados pela má absorção da frutose ocorrem com a
delgado em todas as pessoas deficientes de IgA, com sintomas de ingestão de frutas. Esta intolerância dietética é u m distúrbio
doença celíaca. diference da intolerância hereditária à frutose, na qual a enzima
C o m a disponibilidade atual de testes sorológicos com alta hepática aldolase é defeituosa.
precisão diagnostica, os testes mais antigos, usados para investigar
doença celíaca, devem ser abandonados. Estes incluem o teste de Testes Diagnósticos para a Deficiência de Lactase
absorção de xilose e os testes de má absorção de gordura. Os Muitos métodos'têm sido propostos para a detecção de deficiên-
testes de função pancreática (p.ex., elastase fecal) podem ser cia da lactase (Quadro 37-2).
indicados em pacientes diagnosticados com doença celíaca, que Testes de Tolerância Oral à Lactose. Os testes de tolerância oTal
não respondem a uma dieta livre de glúten. medem o aumento da glicose ou da galactose plasmática após
ingestão de lactose e são utilizados para diagnosticar a deficiência
Deficiências de Dissacarídases de lactase. A dose usual de lactose é de 50 g em 200 m L de água,
As dissacarídases da borda-em-escova são essenciais para absorção embora doses mais baixas devam ser usadas em crianças (2 g/kg,
dos carboidratos, e uma redução em sua atividade resulta em até o máximo de 50 g). As amostras múltiplas de sangue são
intolerância a e má absorção de carboidratos. Entretanto, a má coletadas em u m período de 2 horas e o pico de aumento da
absorção de carboidratos nem sempre leva a sintomas clínicos, glicose (ou da galactose) é anotado.
mas quando estes ocorrem, como (1) dor abdominal, (2) flatu- Devido aos vários problemas com o teste de tolerância oral,
lência e (3) diarréia como conseqüência da má absorção, o o teste não-invasivo de hidrogênio respiratório é atualmente a
paciente é descrito como portador de intolerância a carboidrato. técnica de escolha para o diagnóstico da deficiência de lactase
A intolerância à lactose é o único defeito absortivo mais comum (Quadro 37-3). Esta técnica é baseada no fato de o hidrogênio
em adultos, com uma incidência de 5 % a 9%, dependendo do não ser u m produto final do metabolismo dos mamíferos e,
grupo racial. conseqüentemente, o hidrogênio da respiração é derivado do
metabolismo bacteriano no intestino. Após uma dose OTal de
Descrição lactose, o dissacaTídeo será normalmente quebrado em seus
Congênita e adquirida são categorias da deficiência de lactose. As monossacarídeos constituintes e absorvido. C o m a deficiência de
deficiências em sacarase-isomaltase e trealase também são defici- lactase, o dissacarídeo não absorvido passará para o intestino
ências de dissacarídases e afetam a absorção de carboidratos. grosso e o metabolismo bacteriano produzirá hidrogênio, que é
Deficiência de Lactase Congênita. A lactase intestinal é essen- absorvido na circulação e exalado na respiração. O hidrogênio
cial na infância, e a deficiência de lactase congênita é u m distúr- da respiração é então medido na expiração final, usando-se moni-
bio muito raro, no qual as atividades da lactase na mucosa são tores de hidrogênio eletroquímicos de leitura direta.
baixas ou indetectáveis ao nascimento. Os sintomas ocorrem Na maioria dos pacientes com absorção normal de lactose, as
assim que o leite é ingerido; as fezes têm u m p H baixo e contêm concentrações de hidrogênio da respiração permanecem em 2 a
glicose, produzida pela ação bacteriana sobre a lactose não dige- 5 p L / L (2 a 5 ppm) por todo o teste. Na má absorção da lactose,
rida. U m diagnóstico definitivo deve ser feito até que tenha o hidrogênio da respiração está caracteristicamente aumentado
ocorrido a maturação do sistema da síntese de lactase. de 30 a 100 p i / L (30 a 100 ppm) em 60 a 120 minutos após a
Deficiência de Lactase AdQUirída. A expressão da enzima d i m i n u i ingestão de lactose. Em poucas pessoas, as bactérias do intestino
com a idade e na vida adulta as concentrações da atividade da grosso não produzem hidrogênio; nesses pacientes, u m resultado
lactase são 10% ou menos das encontradas na infância. Se os normal não exclui a deficiência de lactase. Concentrações muito
sintomas de (1) flatulência, (2) desconforto abdominal, (3) inchaço baixas de hidrogênio (em jejum ou por todo o teste) podem,
ou (4) diarréia ocorrem após o consumo de u m ou dois copos de portanto, indicar um resultado falso-negativo. Esses falso-negati-
leite ou de uma grande porção de sorvete ou iogurte, deve-se vos podem ser confirmados pela falha em produzir hidrogênio
suspeitar de intolerância à lactose. de 45 a 180 minutos após a ingestão de lactulose (10 g), o qual
A intolerância à lactose secundária pode ocorrer como resul- é u m dissacarídeo não-absorvível e, portanto, disponível para o
tado da redução de atividade da enzima que se sucede à lesão metabolismo bacteriano no intestino grosso.
intestinal difusa por (1) infecções (giardíase, proliferação bacte- Após ingestão de lactose, u m resultado positivo de hidrogênio
riana ou ga5troenterite virai), {2) colite ulceTativa, (3) doença da respiração pode ocorrer também na má absorção de glicose-
celíaca e (4) espru tropical. Esta deficiência é geralmente reversí- galactose, a qual também causa sintomas intestinais. Quando
vel após a recuperação do distúrbio. necessário, a má ahsorção de glicose-galactose pode ser confir-
Deficiências de Sacarase-isomaltase e Treaiose. A deficiência de mada ou excluída por um teste respiratório no qual cada 25 g de
sacarase-isomaltase geralmente se apresenta clinicamente na infân-
cia, quando a sacarose e as frutas são introduzidas na dieta, porém Q U A D R O 37-2 | Métodos para Detecção da Deficiência de
pode se apresentar em adultos. As deficiências da lactase e da saca- I Lactase
rase-isomaltase podem ocorrer secundariamente a outras doenças
do intestino delgado (p.ex., doença celíaca, doença de C r o h n ou Lactase na biópsia da mucosa
gastroenterite aguda). A deficiência de treaiose é u m distúrbio raro, Tolerância oral à lactose
exceto na Groenlândia, onde ocorre em 8% da população. Mani- Dosagem do aumento da glicose plasmática
festa-se por diarréia após a ingestão de cogumelos. Dosagem do aumento da galactose plasmática
Má Absorção de Monossacarídeos. A má absorção de monos- Dosagem do aumento de W7 da respiração
sacarídeos é conhecida também por causar sintomas intestinais Dosagem do aumento do 13C02 da respiração
722 PARTE V Fisiopatologia

QUADRO 37-3 Protocolo para o Teste de Tolerância à QUADRO 37-4 Anormalidades do Intestino Delgada
Lactose com Dosagem do Hidrogênio da Associadas à Proliferação Bacteriana
Respiração
Divertículo jejunal
Refeição antes das 19 horas (restrição de trigo e fibra), então jejum até o final Doença de Cmhn
do teste Neuropatia autônoma
Escovar os dentes (manhã e noite) ou usar coiutórío Esclerodermia (esclerose sistêmica)
Dosagem em jejum do H2 respiratório da expiração finai Pseudo-obstrução
Dar sclugãc de lactose (50 g em 180 mL de água) Pós-gastrectomia
Enxaguar a boca com mais 20 mL de água e deglutir
Dosar H; da respiração em 15, 30,60, 90 e 120 minutos
0 teste pede ser interrompido se iniciar com aumento de >20 ppm acima
da concentração em jejum Menos de 10% dos ácidos biliares secTetados são perdidos nas
fezes, ou cerca de 0,2 a 0,6 g/dia.
A má absorção de ácidos biliares ocasionando diarréia crônica
ocorre quando existe uma doença ileal (p. ex., doença de Crohn)
glicose e galactose são substituídos por 50 g de lactose. U m ou após ressecção do íleo terminal; ela também pode ocorrer após
aumento de hidrogênio da respiração confirma o diagnóstico. uma colecistectomia e em alguns pacientes com síndrome do
Testes de Tolerância à Sacarose e Trealose. A deficiência de intestino irritável. A má absorção dos sais biliares produz diarréia
sacarose é investigada pelo uso de 50 g de sacarose, em vez de por dois mecanismos diferentes. Em u m , uma deficiência signi-
lactose. U m aumento no hidrogênio da respiração de >20 j i l y T ficativa de sais biliares intralummais leva à má absorção de
(>20 ppm), dentro de 2 horas, é diagnóstico. Raramente é neces- gordura e à esteatorréia. N o segundo mecanismo, que é caracte-
sário o teste paTa a deficiência de trealase. risticamente mais comum, a má absorção de sais biliares no íleo
leva a concentrações mais altas no cólon, onde eles alteram a
Proliferação Bacteriana absorção de água e eletrólitos, ocasionando uma secreção final
Normalmente, o duodeno e o jejuno contêm poucas bactérias. de água para a luz e diarréia. A má absorção de sais biliares é
A maioria das bactérias ingeridas não sobrevive ao ambiente provavelmente subdiagnosticada e deve ser suspeitada em pacien-
ácido do estômago e, portanto, normalmente poucos organismos tes com diarréia crônica não explicada.
vivos entram no intestino delgado. A motilidade do jejuno Os procedimentos usados para o diagnóstico de má absorção
impede organismos do tipo fecal de progredirem do ceco para o de sais biliares incluem (1) o teste da seleno-homocoliltaurina' 3
jejuno. Normalmente, o íleo contém algumas bactérias do tipo ( ^ S e H C A T ) , (2) dosagem sérica da 7a,-hidróxi-4-colesteno-3-ona
fecal. A colonização do intestino delgado superior é descrita e (3) uma prova terapêutica dos seqüestradores de ácidos biliares,
como proliferação bacteriana e ocorre geralmente como conse- como a colestiramina. O primeiro é o mais amplamente utilizada
qüência de outras anormalidades (estruturais ou distúrbios de e envolve a administração oral do ácido biliar radioativo sintético
75
motilidade) do intestino delgado (Quadro 37-4). O uso de PPIs SeHCAT. A contagem gama do corpo todo é feita para estimar
está associado ao aumento do risco de colonização bacteriana. a atividade basal 1 hora após a dose. A contagem gama é medida
As bactérias que colonizam o intestino delgado (como Esche- novamente após 7 dias, quando, normalmente, mais de 15% da
nchia cúli e espécies Bacteroides) desconjugam e desidroxilam os dose administrada é retida. A retenção de menos de 10% indica
sais biliares, levando à deficiência de sais biliares conjugados, os má absorção de sais biliares.
quais causam má absorção de gordura. Pode ocorreT também o
metabolismo bacteriano da vitamina Bi 2 , ocasionando a defici- Enteropatia por Perda Protéica
ência de vitamina B 12 Os sintomas clínicos da proliferação bac- A perda de quantidades significativas de proteínas séricas para a
teriana são (1) dor abdominal, (2) diarréia e (3) esteatorréia. luz do intestino e sua passagem nas fezes são uma conseqüência
O "padrão-ouro" de diagnóstico requeT intubação, com aspi- de uma vasta gama de distúrbios do trato GI. Estes podem ser
ração dos conteúdos jejunais e a demonstração de uma contagem associados a (1) inflamação ou ulceração de u m segmento do
de bactérias menor que 107 organismos/mL e maior que W intestino delgado ou grosso (como na doença de C r o h n e colite
anaeróbios/mL. Na prática, os testes respiratórios de hidrogênio ulcerativa) ou do estômago, (2) doenças nas quais os vasos linfá-
que tenham como substrato a glicose ou lactulose são usados ticos intestinais estão obstruídos, (3) condições onde ocorre
mais freqüentemente. aumento da pressão dos vasos linfáticos (p. ex., linfoma e doença
de W h i p p l e ) ou (4) distúrbios devido ao estado i m u n e alterado,
Má Absorção de Sais Biliares como no lúpus eritematoso sistêmico e em algumas alergias ali-
Os ácidos biliares sao sintetizados no fígado e passam para a luz mentares.
do intestino delgado através da vesícula biliar. Estão presentes na O diagnóstico de enteropatia por perda proteica é conside-
bile como conjugados da glicina ou da taurina. C o m o o p H da rado em pacientes com hipoalbuminemia nos quais insuficiência
bile é levemente alcalino e contém quantidades significativas de renal, doença hepática e má nutrição tenham sido excluídas.
sódio e potássio, a maioria dos ácidos biliares e seus conjugados Historicamente, o teste clássico para o diagnóstico de enteropatia
existem como sais (i.e., sais biliares). Os termos ácidos biliares e por perda protéica era a medida da 5 1 Cr-albumina fecal após
sais biliares são usados freqüentemente como sinónimos. Sua injeção intravenosa. Este teste foi substituído por u m que mede
principal função é a de agir como agentes ativos de superfície, a depuração fecal de alfarantitripsina (AT) como marcador de
formando micelas e facilitando a digestão dos triacilgliceróis e a perda protéica do trato G I . A A T no soro e nas fezes é medida
absorção do colesterol e vitaminas lipossolúveis. N o intestino mais convenientemente por imunodifusão radial. As fezes devem
delgado proximal, ocorre pouca reabsorção de ácidos biliares, seT coletadas quantitativamente, de preferência por 3 dias, em
mas normalmente mais de 90% são reabsorvidos n o íleo termi- recipientes pré-pesados e mantidos em refrigeração. Antes da
nal. Eles retornam ao fígado na circulação porta e são ressecreta- análise, a A T é extraída em salina. A depuração da A T ( m L / d ) é
dos na bile. Isto é conhecido como circulação êntero-hepática. calculada como [( peso fecal x concentração de A T fecal) / A T
Doenças Gastrointestinais CAPÍTULO 3 7 723

sérica], onde o peso fecal é expresso em g/dia, a A T fecal em QUADRO 37-5 Espectro da Doença Pancreática na
m g / k g de fezes e a A T sérica em m g / L . Infância

Doenças do Pâncreas e Avaliação da Função DISTÚRBIOS DA M0RF0GÊNESE


Pancreática Exócrina8 Pâncreas anular, pâncreas divisum, hipoplasia e agenesia pancreáticas,
pâncreas hete roto pico
A insuficiência pancreática é a incapacidade do pâncreas em
produzir e / o u transportar enzimas digestivas suficientes para SÍNDROMES HEREDITÁRIAS QUE AFETAM O PÂNCREAS
metabolizar o alimento no intestino e permitir sua absorção. Fibrose cística
Ocorre, tipicamente, como resultado de uma lesão pancreática Síndrome de Síiwachman-Diamcnd. síndrome de Johnson-Blizzard, síndrome
crônica. É associada mais frequentemente com fihrose cística em do pâncreas e medula óssea de Pearson
crianças e com pancreatite crônica em adultas. E menos freqüen-
temente, mas algumas vezes, associada a câncer pancreático. A l é m MUTAÇÕES GENÉTICAS QUE LEVAM À DOENÇA PANCREÁTICA
disso, os distúrbios do pâncreas exócrino são, com freqüência, Pancreatite hereditária; mutações genéticas do tripsinogênio caliônico,
associados aos sintomas do trato G I de má absorção ou diarréia mutações dos genes inibidores da tripsina
devido ao seu papel centTal na absorção de carboidratos, gorduras
e proteínas. Nesta seção, os distúrbios pancreáticos exócrinos SÍNDROME DA INSUFICIÊNCIA PANCREÁTICA
pediátricos e adultos são brevemente discutidos e são descritos os Deficiências de enzimas isoladas, lipase, colípase, enteroquinase
testes para a avaliação da função pancreática exócrina.
INSUFICIÊNCIA PANCREÁTICA SECUNDÁRIA A OUTROS DISTÚRBIOS
Doença celíaca
Distúrbios Pediátricos do Pâncreas Exócrino
Os distúrbios pancreáticos na infância estão resumidos no
PANCREATITE ADQUIRIDA NA INFÂNCIA
Quadro 37-5.
Idicpática, traumática, por drogas, virai, metabólica, dcenças do colágeno
A fibrose cística (FC) é a doença autossômica recessiva grave
vascular, auto-imune, fibrosante, nutricional (tropical)
mais c o m u m , com uma freqüência genética estimada na Europa
Ocidental e nos Estados U n i d o s de 1:25 e 1:35 e incidência da
doença de cerca de 1 em 2.500 a 1 em 3.200. A patogênese e o
diagnóstico da FC estão descritos n o Capítulo 24- A insuficiência
pancreática está presente ao nascimento em 6 5 % das crianças
com FC e, posteriormente, 15% a desenvolvem durante a infân- QUADRO 37-6 | Etiologias da Pancreatite em Adultos
cia e início da infância. Os 2 0 % que não desenvolvem insufici-
ência pancreática têm u m prognóstico melhor e complicações AGUDA
menores. Cálculos biliares
A dosagem de elastase-1 pancreática nas fezes é considerada Álcool
u m teste confiável para insuficiência pancreática em crianças com lnlecçÕes (p. ex., caxumba, coxsáckie B)
idade acima de 2 semanas com FC e em crianças mais velhas no Tumores pancreáticos
diagnóstico do distúrbio. O teste também é utilizado para detec- Drogas (p. ex., a2otioprína, estrógenes, corticosteróides)
tar o início da insuficiência pancreática e naqueles com suficiên- latrcgênica (p. ex., pós-cirúrgica, CPRE]

cia pancreática prévia. Hiperlipidemias


Outras - trauma, mordida de escorpião, cirurgia cardíaca
Idiopática
Distúrbios Adultos do Pâncreas Exócrino
Os principais distúrbios pancreáticos exócrinos que se apresen-
CRÔNICA
tam na vida adulta são (1) pancreatite aguda, (2) pancreatite
Álcool
crônica e (3) carcinoma do pâncreas.8 O uso do teste de enzimas
Tropical (nutricional)
no diagnóstico de pancreatite aguda é discutido no Capitulo 19. Hereditária (defeitos do tripsinogênio e de proteínas inibidoras, defeitos dos
As etiologias das pancreatites são descritas no Quadro 37-6. reguladores transmembrana da fibrose cística |CFTR])
A pancreatite crônica é u m a doença inflamatória caracteri- Idiopática
zada por destruição persistente e progressiva do pâncreas, levando Trauma
à destruição das funções exóctina e endócrina. Hm países ociden- Hipercalcemia
tais, a causa mais c o m u m é o álcool (60% a 9 0 % de todos os
De Bunoughí A l i , Wesuiby D. Liver, btliary tract disease and paucreaiic diíeaje. In-
casos de pancreatite crônica), embora apenas 5 % a 15% dos Kiítiwt P, Clark M, eds. Clinicai medicine, 5 ' ed. Edinburgh: WH Sdunders,
bebedores pesados desenvolvam a doença. Existem, claramente, 2002.395-404.
outros fatores de predisposição {p. ex., o tabagismo e dietas ricas
em gordura e pTOteína).

Testes de Função Exócrina do Pâncreas


As funções exócrinas predominantes do pâncreas são a produção
e secreção do suco pancreático, o qual é rico em enzimas e bicar- a intubação do trato G I para coletar amostras pancreáticas. Os
bonato. O suco pancreático n o r m a l (1) é incolor e sem cheiro, testes não-invasivos (ou "testes sem tubo") foram desenvolvidos
(2) tem u m p H de 8,0 a 8,3 e (3) tem uma densidade específica para evitar a intubação, que (1) é desconfortável para o paciente,
de 1,007 a 1,042. O volume de secreção total de 24 horas pode (2) consome tempo e (3) é cara. Os testes não-invasivos são mais
ser tão alto quanto 3.000 mL. simples e menos dispendiosos para realizar, mas em geral não
Vários testes laboratoriais invasivos e não-invasivos (Tabela apresentam a sensibilidade e a especificidade clinica dos testes
37-2) estão disponíveis para medir a função exócrina na investi- invasivos, particularmente para o diagnóstico de insuficiência
gação da insuficiência pancreática. Os testes invasivos requerem pancreática moderada.
724 PARTE V Fisiopatologia

TABELA 37-2 R e s u m o dos Testes Invasivos d a Função E x ó c r i n a Pancreática

Procedimento Estimulante Pancreático Análise do Conteúdo Duodenal

Teste de Lundh Refeição padronizada Liberação de enzima


Teste da estimulação da secretina Secretina de porco sintética ou purificada Liberação de bicarbonato
Testa da secretina-colecistocinina (CCK) Secretina como acima mais análogo da CCK Bicarbonato e enzimas
(CCK-8 ou ceruletide)

Testes Invasivos para F u n ç ã o Pancreática Exócrina


QUADRO 37-7 Testes Nao-invasivos Usados para Avaliar a
O s testes invasivos i n c l u e m as m e d i d a s (1) d o v o l u m e t o t a l d o
Função Exócrina Pancreática
suco p a n c r e á t i c o , (2) d a q u a n t i d a d e o u c o n c e n t r a ç ã o d o b i c a r b o -
n a t o e (3) das atividades das enzimas pancreáticas n o s c o n t e ú d o s Quimotripsina fecal
d u o d e n a i s . A e n z i m a mais c o m u m e n t e m e d i d a é a (1) t r i p s i n a , Elastase-1 fecal
p o r é m (2) amilase, (3) lípase, (4) q u i m o t r i p s i n a e (5) elastase NBT-PABA (ácido /V-benzoil-L-tirosil-p-aminobenzóico)
t a m b é m são m e d i d a s . O teste de Lundh consiste e m u m a refeição Pancreolauril
p a d r ã o q u e é d a d a c o m o e s t í m u l o f i s i o l ó g i c o ao pâncreas. E n t r e - Absorção de 13C-trigíicerídeo de cadeia mista
t a n t o , a a d m i n i s t r a ç ã o d a refeição i m p e d e a d e t e r m i n a ç ã o d e
e n z i m a t o t a l e a p r o d u ç ã o d e b i c a r b o n a t o o u o v o l u m e secretor.
A l é m disso, ele f o r n e c e u m a e s t i m u l a ç ã o i n a d e q u a d a n a presença
de doenças d a m u c o s a (p. ex., d o e n ç a celíaca), n a q u a l a l i b e r a ç ã o a c h a d o d e alta c o n c e n t r a ç ã o d e V I P p l a s m á t i c o e a d e m o n s t r a ç ã i
d e h o r m ô n i o d a m u c o s a d u o d e n a l está p r e j u d i c a d a . E m v i s t a d o t u m o r , p o r i m a g e m dc r e c e p t o r d e s o m a t o s t a t i n a .
destas l i m i t a ç õ e s , o teste d e L u n d h é mais d e interesse h i s t ó r i c o . O s t u m o r e s n e u r o e n d ó c r i n o s d o t r a t o G I são t u m o r e s p a r
O teste da secretina é baseado n o p r i n c í p i o d e q u e a secreção creáticos e n d ó c r i n o s o u t u m o r e s c a r c i n ó i d e s q u e s u r g e m d
d o suco p a n c r e á t i c o e a p r o d u ç ã o d e b i c a r b o n a t o estão relacio- células e n t e r o c r o m a f i n s , as q u a i s o c o r r e m e m t o d o o t r a t o G ]
nadas à massa f u n c i o n a l d o t e c i d o p a n c r e á t i c o . A p ó s u m a n o i t e O s t u m o r e s c a r c i n ó i d e s são d i s c u t i d o s n o C a p í t u l o 26.
d e j e j u m , as amostras basais d o f l u i d o são c o l h i d a s d o e s t ô m a g o A p r o x i m a d a m e n t e d o i s terços dos pacientes c o m t u m o r e
e d o d u o d e n o . A secretina é então a d m i n i s t r a d a intravenosa- q u e s u r g e m das i l h o t a s pancreáticas p o s s u e m s í n d r o m e s c l í n i c a
m e n t e e o f l u i d o d u o d e n a l é c o l e t a d o e m i n t e r v a l o s d e 15 associadas c o m a p r o d u ç ã o excessiva d e h o r m ô n i o s . Este grup<
m i n u t o s p o r , p e l o m e n o s , 1 h o r a . A secretina e s t i m u l a a secreção d e t u m o r e s i n c l u i (1) os í n s u l i n o m a s , (2) os g a s t r i n o m a s , (3) o
d o suco p a n c r e á t i c o e d o b i c a r b o n a t o , mas a e s t i m u l a ç a o d a V I P o m a s , (4) os g l u c a g o n o m a s e (5) os s o m a t o s t a t i n o m a s . G e r a l
secreção das enzimas pancreáticas é i n c o n s i s t e n t e . A a d i ç ã o d e m e n t e os í n s u l i n o m a s e os g l u c a g o n o m a s n ã o estão associados ;
C C K ( o u d e u m e q u i v a l e n t e s i n t é t i c o ) e s t i m u l a a secreção das s i n t o m a s d o t r a t o G I . A s í n d r o m e d o s o m a t o s t a t i n o m a está asse
enzimas pancreáticas, f o r n e c e n d o u m a avaliação mais c o m p l e t a ciada a esteatorréia, cálculos b i l i a r e s e diabetes. O t e r ç o restanti
d a f u n ç ã o p a n c r e á t i c a d o q u e a secretina s o z i n h a . dos pacientes c o m t u m o r e s p a n c r e á t i c o s e n d ó c r i n o s n ã o possu
s i n t o m a s c l í n i c o s específicos associados aos t u m o r e s , os quais sã<
Testes Nâo-invasivos da Função Exócrina d o Pâncreas descritos c o m o n ã o - f u n c i o n a i s .
U m a v a r i e d a d e de testes não-invasivos t e m s i d o usada ( Q u a d r o O p a d r ã o de p r o d u ç ã o d o p r e c u r s o r e d o h o r m ô n i o pelo;
37-7), mas n e n h u m deles p o s s u i a s e n s i b i l i d a d e c l í n i c a a d e q u a d a t u m o r e s n e u r o e n d ó c r i n o s é c o m p l e x o . A m a i o r i a secreta vário;
p a r a a detecção c o n f i á v e l d a d o e n ç a p a n c r e á t i c a i n i c i a l . Q u a n d o m a r c a d o r e s t u m o r a i s . A d o s a g e m da c o n c e n t r a ç ã o c i r c u l a n t e d<
a m á absorção está p r e s e n t e , tais testes são d e v a l o r n a c o n f i r m a - c r o m o g r a n i n a A , m e m b r o d e u m a f a m í l i a d e p r o t e í n a s secretoras
ção o u exclusão d e d o e n ç a p a n c r e á t i c a . C o n s i d e r á v e i s sobreposi- f o r n e c e a s e n s i b i l i d a d e d i a g n o s t i c a m a i s alta <!?*1 'o) p a r a o;
ções s e m p r e o c o r r e m e n t r e os r e s u l t a d o s o b s e r v a d o s e m i n d i v í - t u m o r e s p a n c r e á t i c o s e n d ó c r i n o s , a c o m p a n h a d a pelas d o s a g e n
d u o s n o r m a i s e os e n c o n t r a d o s e m pacientes c o m d i s t ú r b i o s d e p o l i p e p t í d e o p a n c r e á t i c o ( 7 4 % ) . A c r o m o g r a n i n a A estí
pancreáticos, as quais são devidas, p r i n c i p a l m e n t e , à g r a n d e a u m e n t a d a n o p l a s m a d a m a i o r i a dos pacientes e é u m a a l t e r n a
reserva f u n c i o n a l d o pâncreas. U m a e s t i m a t i v a t e m s i d o f e i t a d e t i v a p a r a m a r c a d o r e s mais específicos n o m o n i t o r a m e n t o da e f i
q u e a i n s u f i c i ê n c i a p a n c r e á t i c a n ã o p o d e ser d e m o n s t r a d a clara- cácia da c i r u r g i a o u d a t e r a p i a p o r drogas. E n t r e t a n t o , comc
m e n t e até q u e p e l o m e n o s 5 0 % das células acinares t e n h a m s i d o acontece c o m outros peptídeos e proteínas marcadores t u m o r a i s
destruídas. C o m f r e q ü ê n c i a , os sinais c l í n i c o s d a i n s u f i c i ê n c i a a especificidade d o epítopo d o anti-soro t e m u m efeito p r o f u n d e
p a n c r e á t i c a n ã o a p a r e c e m até a d e s t r u i ç ã o d e 9 0 % d o t e c i d o sobre a s e n s i b i l i d a d e d i a g n o s t i c a d o ensaio. E m b o r a a c r o m o g r a
a c i n a r . E m geral, esses testes p o d e m ser usados q u a n d o se inves- nina A possua alta s e n s i b i l i d a d e , os falso-positivos t ê m side
t i g a m as causas d a m á absorção, mas p o s s u e m s e n s i b i l i d a d e i n a - observados e m u m n ú m e r o de t u m o r e s n ã o - e n d ó c r í n o s , i n c l u i n d c
dequada para o diagnóstico de pancreatite crônica. Informações o câncer p r o s t á t i c o .
a d i c i o n a i s sobre os testes não- invasivos são e n c o n t r a d a s n a versão
Distúrbios da Má Digestão/Má Absorção
10
e x p a n d i d a deste c a p í t u l o .
O Q u a d r o 37-8 r e s u m e as p r i n c i p a i s causas d a m á absorção. A
apresentação c l í n i c a d o p a c i e n t e q u e sofre d e m á a b s o r ç ã o o t
Tumores Neuroendócrinos m á d i g e s t ã o i n c l u i , classicamente, as seguintes características:
A s í n d r o m e d a a c l o r i d r i a h i p o c a l e m i a d a d i a r r é i a aquosa ( W D H A ) • Evidência de indisposições gerais, incluindo (1) a n o r e x i a , (2,
é c o n h e c i d a t a m b é m c o m o s í n d r o m e de W e r n e r - M o r n s o n e c o m o p e r d a d e peso, (3) f a d i g a q u e se segue aos m e n o r e s esforços e (4!
V I P o m a . Esta s í n d r o m e deve ser suspeitada e m u m p a c i e n t e q u e d i s p n é i a . A l é m disso, o e d e m a ( d e v i d o à h i p o a l b u m i n e m i a o t
p r o d u z grandes v o l u m e s de d i a r r é i a secretora (>1 L / 2 4 horas), fraqueza), a t e t a n i a e a desidratação devidas a o d e s e q u i l í b r i c
c o m desidratação e h i p o c a l e m i a . O d i a g n ó s t i c o é c o n f i r m a d o p e l o e l e t r o l í t i c o e à p e r d a de água p o d e m estar presentes. N a i n s u f i c i
Doenças Gastrointestinais CAPÍTULO 3 7 725

ência pancreática exócrina, entretanto, a hiperfagia é a regra; Diarréia Crônica7,15


freqüentemente os pacientes se reportam a uma ingestão m u i t o Embora a diarréia seja u m problema comum, não há uma defi-
alta de alimento (5.000 kcal/dia). nição clara para distingui-la da variação do peso, freqüência,
• Deficiências nutricionais isolãdas. A deficiência de ferro, folato consistência ou volume das fezes que ocorrem na população
ou vitamina B12 pode se manifestar como anemia leve; a normal. Em 2003, para uma dieta ocidental, a diarréia foi defi-
deficiência de vitamina K, como uma tendência a nida como "passagem anormal de fezes amolecidas ou líquidas,
sangramentos, e a deficiência de vitamina D, como doença mais do que três vezes por dia e / o u u m volume de fezes [com
óssea. São refletidas par u m a variedade de sinais e sintomas u m peso] maior que 200 g/dia" 1 5 . Ela pode ser definida como
que incluem (1) glossite, (2) palidez, (3) dermatite, (4) crônica quando se c o n t i n u o u por 4 semanas; esta persistência
petéquias, (5) equimoses (6) hematúria, (7) dor muscular ou indica a probabilidade de causa não-infecciosa que requer inves-
óssea e (8) anormalidades neurológicas tigação posterior.
• Sintomas abdominais, como desconforte, distensão, Vários mecanismos completamente diferentes levam à diarréia.
flatulência e ruídos intestinais (sons de roncos e gorgolejos, Na má absorção de carboidratos, a presença, no intestino, de
devido ao movimento dos gases no intestino). Tais sintomas solutos não absorvidos, causa uma diarréia osmótica quando a
também podem ocorrer após cirurgia gástrica, ocasionando água dos tecidos entra no intestino. A o contrário, a diarréia da
as síndromes da pós-gastrectomia e dc esvaziamento maioria dos abusos de laxativos e dos VIPomas é devida à secreção
rápido. ativa de água e eletrólitos para o intestino, e é descrita como diar-
• Diarréia aquosa e provavelmente esteatorréia. E m casos graves réia secretora. As doenças inflamatórias do intestino (colite ulce-
de esteatorréia (excesso de gordura nas fezes), as fezes são r ativa e doença de Crohn) causam diarréia como conseqüência do
caracteristicamente amolecidas, volumosas, ofensivas, processo inflamatório com perda de f l u i d o dentro intestino.
gordurosas, de cor clara e de descarga difícil. Muitas doenças que comumente se pensava causarem "diar-
Alternativamente, as fezes podem parecer normais, porém réia", de fato levam à passagem mais freqüente de fezes, mas não
ser mais volumosas ou sofrer passagens com maior usualmente a u m peso (ou volume) aumentado das fezes. Tais
freqüência. distúrbios (p. ex., síndrome do cólon irritável) geralmente saem
A apresentação inicial da má absorção é sempre sutil. Por do alcance da definição de "diarréia crônica". O Quadro 37-9
exemplo, pode haver apenas uma leve alteração no volume ou na descreve as muitas causas da diarréia crônica; a maioria é devida
consistência das fezes e apenas sintomas leves atribuíveis ao trato à doença do cólon, nas quais os testes diagnósticos laboratoriais
GI. O paciente pode queixar-se apenas de anorexia, fadiga e perda são, atualmente, de pouco valor. U m algoritmo para a investiga-
de interesse pelas atividades diárias. E em tais casos que o médico ção da diarréia crônica é dado na Figura 37-4.
que suspeita de má absorção sob bases clínicas deverá contar com O abuso sub-reptício de laxativos é uma causa importante e
o laboratório para o diagnóstico. As investigações laboratoriais freqüentemente não notada de diarréia crônica e é u m diagnós-
iniciais são (1) os exames de rotina; (2) os exames para anorma- tico n o qual as investigações laboratoriais exercem u m papel
lidades que possam apontar para a possibilidade de má absorção significativo (Tabela 37-3).4 O principal pré-requisito inicial para
(p. ex., concentração de hemoglobina n o sangue, volume médio se fazer u m diagnóstico de abuso sub-reptício de laxativos é u m
da hemácia; concentrações séricas de folato, ferritina, cálcio, albu- índice alto de suspeita clínica, seguido por pedido de análises
m i n a e fosfatase alcalina) e (3) testes para anticorpos na doença apropriadas em amostras de urina e fezes no momento em que
celíaca (sorologia celíaca). o paciente apresenta diarréia.
A medida do intervalo osmótico (osmolal) fecal é usada para
o teste da diarréia. E baseada no fato de que, normalmente, a
osmolalidade da "água" das fezes deverá ser a do soro (290
m O s m / k g ) , mas a contribuição de eletrólitos e de não-eletrólitos
à osmolalidade total variará dependendo da causa da diarréia. O
QUADRO 37-8 Resumo dos Distúrbios que Levam è Má
intervalo osmótico fecal (FOG) expressa a diferença entre a osmo-
Absorção
lalidade normal teórica (290 m O s m / k g ) e a contribuição de Na +
DISTÚRBIOS DE DIGESTÃO INTRALUMINAL e K + como se segue:
a. Função gástrica alterada Síndrome da pós-gastrectomia
Síndrome de Zollinger-Ellison Intervalo osmótico fecal= 290 - [2 (Na+ + K + fecal)]
b. Insuficiência pancreática Pancreatite crônica
Fibrose cística O sódio e o potássio fecais são dosados n o f l u i d o o b t i d o por
Câncer pancreático
centrifugação rápida de uma amostra fecal. A osmolalidade fecal
c. Deficiência de ácido biliar Doença cu ressecção do íleo terminal
total aumenta significativamente em amostras não refrigeradas,
Proliferação bacteriana no intestino delgado
e o uso da osmolalidade do soro ou 290 m O s m / k g é recomen-
dado, em vez da medida da osmolalidade fecal total.
DISTÚRBIOS DE TRANSPORTE PARA A CÉLULA MUCOSA
a. Distúrbios generalizados Doença celíaca, espru tropical A dosagem do F O G permite uma estimativa a ser feita da
devido à redução de área contribuição de eletrólitos e não-eletrólitos para a retenção de
de superfície absortiva água no intestino e, portanto, auxilia na distinção entre diarréia
b. Distúrbios específicos Hipolactasia osmótica e secrerora. Na diarréia osmótica, os solutos não absor-
Vitamina B12 na anemia perniciosa vidos levam à retenção dc água c fazem, portanto, uma contri-
Zinco na acrodermatite enteropátíca buição maior do que a n o r m a l à osmolalidade fecal; o sódio e o
potássio fecais deverão, assim, estar presentes em concentrações
DISTÚRBIOS DE TRANSPORTE PARA FORA DA CÉLULA MUCOSA
mais baixas que a normal, levando a um "intervalo osmótico"
a. Bloqueio dos linfáticos Linfoma abdominal, linfangiectasia
maior Contrariamente, na diarréia secretora, são os eletrólitos
primária
que levam à retenção de água, e o F O G deverá, portanto, ser
b. Distúrbios hereditários a-p-lipoproteneimia
pequeno. O F O G > 50 m O s m / k g é consistente com uma diarréia
726 PARTE V Fisiopatologia

Q U A D R O 3 7 - 9 | Causas da Diarréia Crônica

CQLÕNICA PANCREÁTICA
Neoplasia colânica Pancreatite crônica
Colite ulcerativa e colite de Crohn Carcinoma pancreático
Colite mie rose épica Fibrose cística

INTESTINO DELGADO ENDÓCRINA


Doença celíaca Hipertireoidismo
Doença de Crohn Diabetes
Outras enteropatias do intestino delgado (p.ex., doença de Whipple, espru tropical, Hipoparatireoidismo
amilóide, linfangiectasia intestinal) Doença de Addison
Má absorção de sais biliares Tumores secretores de hormônios (VIPoma, gastrinoma, carciróide)
Deficiência de dissacaridase
Proliferação bacteriana no intestino delgada OUTRAS
Isquemia mesentérica Diarréia convencional
Enterite por radiação Causas "cirúrgicas" (p.ex., ressecção de intestino delgado, fístula intestinal)
Linfoma Drogas
Giardíase (e outras infecções crônicas) Álcool
A u t o n o m i c neuropathy

De Thomas PD, Forbes A, Geen J, Howdle P, L/mg /?, Playford R et aL Guidelines for the investigatiori of chronic diarrhea, ed. Guc 2003;52 (Suppl V): Vol. Í-Vo!. 15.
Reproduzido com permissão de BlsAJ PuMijíimg Group.

Figura 37-4 A l g o r i t m o para a investigação de d i a r r é i a crônica. CST, c o n t a g e m d o sangue t o t a l ; T F H , testes


de f u n ç ã o hepática; T C , t o m o g r a f i a c o m p u t a d o r i z a d a ; CPRE, colangiopancrearografia retrógrada endoscópica;
C P R M , colangiopancreatografia p o r ressonância magnética; T c - H M P A O , tecnécio o x i m a hexa-metil-
p r o p r i l e n o a m i n a ; 7 5 S e - H C A T , 7 5 S e h o m o t a u r o c o l a t o ; 5-HIAA, ácido 5- h i d r o x i i n d o l a c é t i c o . ( D e T h o m a s P D ,
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Doenças Gastrointestinais CAPÍTULO 3 7 727

TABELA 37-3 REFERÊNCIAS


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induzida por magnésio. E m contraste, o F O G < 50 m O s m / k g
infection—the Maastricht 2-2000 Consensus Repott. A l i m e n t Pharmacol
sugere uma diarréia secretora, e as investigações posteriores Fher 2002; 16.167-80.
devem incluir uma triagem para estimulantes colônicos ou rara- 13. M i l l e t Lj. Gastrointestinal hormones and receptors. I n : Yamada T, ed.
mente testes para u m tumor neuroendócrino. 1 U m F O G baixo Fextbook of gastroenterology, 4cb ed. Philadelphia: L i p p i n c n t t W i l l i a m s
deverá ser encontrado em u m a diarréia convencional devido à & W i l k i n s , 2003:48-77.
adição de água às fezes; se isto está sob suspeita e se outras causas 14. Suerhaum S, M i c h e t t i P. Medicai progress- Helicobacier pylori infection.
são excluídas, então a medida da osmolalidade total das fezes (Review article). N Engl J M e d 2002;347:1175-86.
pode ser útil. 15. Thomas PD, Forbes A , Green ] , H o w d l e P, L o n g R, Playford R, et al.
A dosagem de creatinina tem sido usada como uma indicação Guídelmes for rhe investiga cio ri of chronic diarrhoea, 2 n d ed. G u i
de contaminação da amostra fecal com urina. 2003;52(Suppl V ) - v l - v l 5
CAP
TÍULO 38

Doenças Ósseas
David B. Endres, Ph.D., e Robert K. Rude, M.D.

OBJETIVOS H i p o f o s f a t e m i a : Baixas concentrações séricas de fosfato; a


1. Discutir a estrutura e a função óssea, incluindo os componentes h i p o f o s f a t e m i a é c o m u m e m pacientes hospitalizados
( a p r o x i m a d a m e n t e 2%), geralmente é causada pela troca
celulares e a matriz óssea.
intracelular do fosfato (estimulação da secreção de i n s u l i n a
2. Descrever a regulação do cálcio e fosfato, incluindo o papel do
pelos carboidratos, administração da i n s u l i n a o u alcalose
paratormônio e da vitamina D.
respiratória), redução do l i m i a r renal
3. Listar e descrever as causas de hipercalcemia, hipocalcemia,
( h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o ) , perda i n t e s t i n a l (vômitos, diarréia,
hipofosfatemia. hipomagnesemia e hipermagnesemia.
uso de antiácidos), redução da absorção i n t e s t i n a l (má
4. Discutir os métodos mais comumente utilizados na mensuração dos
absorção) o u perda intracelular (acidose).
íons cálcio, fósforo e magnésio. H i p o m a g n e s e m i a : Concentrações séricas baixas do magnésio;
5. Listar os fatores que alteram a distribuição do cálcio livre, ligado à caracteriza-se p r i n c i p a l m e n t e c o m o hiperexcitabilidade
proteína e sob a forma de complexos e os erros potenciais n e u r o m u s c u l a r ; c o m u m em pacientes hospitalizados,
pré-analíticos na medição do cálcio total e do cálcio livre. geralmente ocasionada pela perda d o magnésio pelo trato
6. Descrever os métodos utilizados na medição do paratormônio (PTH) gastrointestinal (diarréia) o u pelos r i n s (álcool, diabetes,
e o seu papel no diagnóstico diferencial da hipercalcemia e da diuréticos de alça, antibióticos aminoglicosideos e terapia
hipocalcemia. de n u t r i ç ã o parenteral).
7. Discutir o metabolismo da vitamina D, a quantificação dos seus Ligações Cruzadas d o Colágeno, P i r i d í n i o : Derivados dos
metabólitos, e o papel clínico das determinações das dosagens da a m i n o á c i d o s f o r m a d o s pela condensação i n t e r m o l e c u l a r de
25-hidroxivitamina D e da 1,25-diidroxivitamina D. duas cadeias de h i d r o x i l i s i l o u u m a cadeia de lisína
8. Descrever as métodos utilizados na medição dos níveis da ( d e s o x í p i r i d i n o l i n a ) e três cadeias de h i d r o l i s i n a
calcitonina e das proteínas relacionadas com o paratormônio e a ( p i r i d i n o l i n a ) d u r a n t e a maturação do colágeno, que
sua importância na utilização clínica. a d i c i o n a m força tensora e estabilidade ao osso.
9. Listar e descrever as doenças osteometabólicas mais comuns. Osteoblastos. São células responsáveis pela f o r m a ç ã o óssea,
10. Discutir os marcadores de formação e reabsorção ósseas e como i n c l u i n d o a síntese d o colágeno t i p o I e de outras proteínas
não derivadas d o colágeno, a l é m da mineralização da
estes marcadores são afetados durante o crescimento e em
osteóide.
doenças como osteoporose, osteomalácia e doença de Paget.
Osteoclastos: São células grandes, m u l t i n u c l e a d a s , responsáveis
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES pela reabsorção óssea.
C a l c i t o n i n a : U m p o l i p e p t í d i o p r o d u z i d o pelas células O s t e o d i s t r o f i a R e n a l : Doença óssea associada à i n s u f i c i ê n c i a
parafoliculares tireoidianas, que, e m concentrações renal crônica, i n c l u i n d o doenças ósseas de elevado turnover
farmacológicas, reduz a concentração d o cálcio n o sangue. ósseo (osteíte fibrosa o u h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o secundário) e
D o e n ç a de Paget: D o e n ç a c o m u m (4% dos i n d i v í d u o s após os de baixo tumover ósseo (osteomalácia e doenças ósseas
4 0 anos de idade); n ã o é u m a doença osteometabólica, é adinâmicas).
u m a doença óssea localizada, caracterizada pelo a u m e n t o da Osteomalácia: Mineralização osteóide i n a d e q u a d a o u retardada;
reabsorção óssea osteoclástica, seguido pelo p r e e n c h i m e n t o é o equivalente ao r a q u i t i s m o n o a d u l t o ( i n t e r r u p ç ã o do
ósseo de u m a f o r m a caótica. Pode estar associada a desenvolvimento e da mineralização da placa de
infecções virais. crescimento na criança).
H i p e r c a l c e m i a : A u m e n t o da concentração d o cálcio no plasma; Osteoporose-. C o n d i ç ã o clínica caracterizada pela redução da
as manifestações clínicas da hipercalcemia i n c l u e m fadiga, massa óssea, levando a fraturas ocasionadas p o r traumas
fraqueza muscular, depressão, anorexia, náusea e m í n i m o s ; a osteoporose pós-menopausa ocorre em mulheres
constipação. A s p r i n c i p a i s causas são h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o após a menopausa, e a osteoporose senil acomete t a n t o
p r i m á r i o e neoplasias. h o m e n s c o m o mulheres em u m a fase mais tardia da vida.
H i p e r p a r a t i r e o i d i s m o S e c u n d á r i o : Secreção excessiva do P a r a t o r m ô n i o ( P T H ) : E u m h o r m ô n i o p e p t í d i c o secretado
p a r a t o r m ô n i o em resposta a níveis séricos baixos de cálcio pelas glândulas paratireóides e m resposta à hipocalcemia.
causados por o u t r a c o n d i ç ã o clínica, c o m o a observada e m Ocasiona elevação do cálcio sérico devido ao a u m e n t o da
pacientes c o m insuficiência renal crônica e i n d i v í d u o s c o m reabsorção óssea, a u m e n t o da reabsorção renal do cálcio e
ingestão inadequada de v i t a m i n a D , p o r exemplo. a u m e n t o da síntese da 1 , 2 5 - h i d r o x i v i t a m i n a D , que
H i p o c a l c e m i a : Redução da concentração d o cálcio no plasma; a u m e n t a a absorção i n t e s t i n a l de cálcio e fosfato,
c o m u m e n t e se apresenta c o m o hiperexcitabilidade Proteína Relacionada com o P a r a t o r m ô n i o (PTH-fP): É uma
n e u r o m u s c u l a r , c o m o tetania, parestesia e c o n v u l s õ e s ; proteína que m i m e t i z a várias ações do P T H , p o r é m é u m
geralmente as principais causas de h i p o c a l c e m i a são p r o d u t o de u m gene diferente que é expresso em vários
insuficiência renal crônica, deficiência de magnésio o u tecidos n o r m a i s e superexpresso e m tumores na m a i o r i a dos
deficiência de v i t a m i n a D . casos de hipercalcemia h u m o r a l associada à neoplasia.
730 PARTE V Fisiopatologia

V i t a m i n a D : V i t a m i n a lipossolúvel produzida pela pele após uma célula progenitora osteoclástica, aumentando a diferencia-
exposição à luz solar ou proveniente de alimentos que a ção e a atividade desta célula. O segundo produto, a osteoprote-
contenham (óleos de peixe, ovos, gema de ovo, fígado) e de gerina (OPG), serve como u m receptor que atrai o ligante do
suplementos alimentares com vitamina D (tais como o leite R A N K (RANK-L). Q u a n d o a O P G se liga ao R A N K - L , a ativação
nos Estadas Unidos). A sua deficiência causa raquitismo dos osteoclastos é impedida. A razão relativa destas duas molécu-
nas criancas e osteomalácia nos adultos. las determina o turnover ósseo.
O osso contém quase todo o cálcio (99%) do organismo, a
maior parte do íon fosfato (85%), e uma concentração elevada
de magnésio (55%). As concentrações destes íons n o plasma

O metabolismo do cálcio é u m dos processos mais inten- dependem do efeito líquido da deposição e reabsorção minerais
samente controlados do organismo. O cálcio tem u m ósseas, da absorção intestinal e da excreção renal. O P T H e a
papel crítico na sinalização intracelular, na membrana 1,25-diidrovitamina D são os principais hormônios que regulam
plasmática das células e n o controle da função de proteínas estes três processos.
extracelu lares, como aquelas que participam da cascata de coagu-
lação. O aporte extracelular de cálcio está intimamente ligado CÁLCIO
com o do fosfato e, em menor extensão, com o do magnésio. O cálcio é o q u i n t o elemento mais c o m u m no organismo, e o
Está complexamente ligado, também, com os processos celulares cátion mais prevalente. O esqueleto contém 9 9 % do cálcio cor-
ativos no osso, u m sistema metabólica e funcionalmente impor- poral (Tabela 38-1), predominantemente como cristais extracelu-
tante. lares com uma estrutura desconhecida e com uma composição
Neste capitulo, após uma revisão dos metabolismos ósseo e aproximada daquela da hidroxiapatita [CaioíPO^síOH);].
mineral, discutiremos a bioquímica clinica do cálcio, do fosfato
e do magnésio; os hormônios que controlam estes minerais, as Bioquímica e Fisiologia
principais doenças ósseas; e o uso clínico dos marcadores de N o sangue, virtualmente todo o cálcio está no plasma, que apre-
formação e degradação ósseas. senta uma concentração normal média de aproximadamente
9,5 m g / d L (2,38 m m o l / L ) . O cálcio existe no plasma em trcs estados
VISÃO GERAL DO OSSO E DOS MINERAIS físico-químicos (Figura 38-1), com aproximadamente (1) 50% livre
As principais funções do osso são: (1) mecânica (2) proteção e (ionizado), (2) 40% ligado a proteínas plasmáticas, principalmente a
(3) metabólica. Os ossos são compostos pelo osso cortical (80% albumina, e (3) 10% complexado a pequenos ânions (Tabela 38-2).
a 90% da matriz mineral) e trabecular (15% a 25%). A função O cálcio também está redistribuído entre as três formas plasmáticas,
do osso cortical é primariamente mecânica e de proteção, aguda ou cronicamente, por (1) alterações na concentração de
enquanto que o osso trabecular é mais metabolicamente ativo. proteínas e de pequenos ânions, (2) mudança no p H ou (3) mudan-
O osso é composto principalmente por uma matriz extracelular ças nas quantidades do cálcio sérico livre e total.
mineralizada composta com uma fração celular reduzida. A A fração do cálcio livre é a forma biológica ativa. A sua con-
matriz orgânica é composta principalmente pelo colágeno tipo I centração no plasma é precisamente regulada pelos h o r m ô n i o s
(90%) e por pequenas concentrações de outras proteínas, reguladores, como o P T H e a 1,25-diidroxivitamina D O cálcio
i n c l u i n d o a osteocalcina. A matriz orgânica é mineralizada prin- intracelular tem u m papel fundamental em várias funções fisio-
cipalmente pela deposição do cálcio inorgânico e de fosfato. Os lógicas, i n c l u i n d o a contração muscular, a secreção de vários
osteoclastos e os osteoblastos são as duas principais células ósseas. hormônios, o metabolismo do glicogênio e a divisão celular. A
Os osteoclastos reabsorvem o osso, enquanto os osteoblastos concentração intracelular do cálcio citoplasmático de células não
participam da formação de u m novo osso. estimuladas é <10*6 a IO"7 m o l / L ou mais baixa, a qual é menor que
O turnover ou o remodela mento ósseo ocorre continuamente, l/iooo daquela do fluido extracelular (10° mol/L).
capacitando o osso a reparar o dano causado e ajustar a sua força. O cálcio extracelular é necessário para a mineralização óssea,
O remodelamento ósseo não ocorre ao acaso, porém em locais coagulação sanguínea e outras funções. O cálcio estabiliza as mem-
distintos (pacotes) denominados unidades de remodelamento. O branas plasmáticas e influencia a permeabilidade e a excitabili-
ciclo de remodelamento inclui as fases de (1) ativação, (2) reab- dade. U m a redução na concentração do cálcio sérico livre causa
sorção, (3) reversão, (4) formação e (5) repouso. Os precursores aumento da excitabilidade neuromuscular e tetania. U m aumento
dos osteoclastos circulantes são recrutados, proliferam e se nesta concentracão reduz a excitabilidade neuromuscular.
fundem, formando os osteoclastos. Estas células gigantes multi-
nucleadas reabsorvem o osso produzindo íons hidrogênio para
mobilizar minerais e enzimas lisossômicas para digerir a matriz
orgânica. Após o t é r m i n o da reabsorção, uma linha cementante
é depositada na cavidade reabsorvida, provavelmente por células TABELA 38-1 Distribuição do Cálcio, Fosfato e Magnésio
mononucleadas. As células alinhadas do estroma diferenciam-se no Organismo
em osteoblastos. Os osteoblastos f o r m a m o osso por meio da Tecido Cálcio Fosfata Magnésio
síntese da matriz orgânica, i n c l u i n d o o colágeno tipo I, e parti-
Esqueleto 99% 85% 55%
cipando na mineralização de uma nova matriz óssea recém-
formada. Aproximadamente 10% a 30% do esqueleto é remode- Tecido conjuntivo 1% 15% 45%

lado a cada ano. O crescimento e o turnover ósseos são influen- Fluido extracelular < 0,2% < 0,1% 1%

ciados pelo metabolismo do cálcio, fosfato, magnésio e vários Total 1.000 fl 600 g 25 g

hormônios, especialmente o paratormônio (PTH), a 1,25-diidro- (25 mol) (19,4 mol) (1 mol)
xivitamina D ( l , 2 5 [ O H ] i D) e várias citocinas. Modificado de Aurbagh GD, Mox S], Speigel A M . Paiathyroid hormone,
Dois produtos dos osteoblastos parecem coordenar as ativi- cakitonin, and the calciferols. In: Wilson JD, Foster DW, eds. Wiliams
dades osteoblástica e osteoclástica. O primeiro, o ligante do recep- textbook of endocrmology, fi'1" ed. Philadelphia: W B Sauriders, 1992:
tor ativador do fator nuclear K B ( R A N K ) , liga-se ao receptor de 1397-476.
Doenças Ósseas CAPÍTULO 3 8 731

Ânions
HCO3-
HJPOF2
HPO,
Citrato
La cia to

Cálcio ligado à proteína Cálcio livre Cálcio complexado

^ I Cálcio
K livre —

Cálcio total

Figura 38-1 E q u i l í b r i o e determinações d o cálcio sérico. O cálcio p o d e distribuir-se entre três grupos físico-
q u í m i c o s : (1) cálcio livre, {2) cálcio ligado a proteínas e (3) cálcio c o m p l e x a d o a ânions inorgânicos e orgânicos
M é t o d o s para a d e t e r m i n a ç ã o d o cálcio t o t a l m e d e m os três grupos, e n q u a n t o m é t o d o s que d e t e r m i n a m o cálcio
livre avaliam s o m e n t e u m deles.

TABELA 3 8 - 2 Estados Físico-químicos do Cálcio, Q U A D R O 3 8 - 1 | Causas de Hipocalcemia


Fosfato e Magnésio no Plasma
Hipoalbumínemia

PERCENTUAL APROXIMADO DO TOTAL


Insuficiência renal crônica

Estada Cálcio Fosfato Magnésio Deficiência de magnésio


Hipoparatireoidismo
Livre (ionizado) 50 55 55 Pseudo-hipoparatireoidismo
Ligado a proteínas 40 10 30 Osfeomalácia e raquitismo devido à deficiência ou resistência a vitamina D
Complexado 10 35 15 Hemorragia aguda e pancreatite edematosa
Total (mg/dL) 8,6-10,3 2,5-4,5 1,7-2,4 Fase de cura da doença óssea no tiiperparíireoidismo tratado,
(mmol/L) 2,15-2,57 0,81-1,45 0,70-0,99 hipertíreoidismo, e doença hematológica maligna (síndrome do osso
Modificado de Marshall RW. Plasma fiactions, In. Nordin BEC, ed. faminto)
Calcium, phosphare, and magnesium metabolism. L o n d o n Cliurchill
Lívingstone, 1976.162-65,

Significância Clínica cia do magnésio, que será discutida posteriormente neste capi-
Doenças do metabolismo do cálcio são divididas naquelas que tulo, prejudica a secreção do P T H e também causa resistência
causam hipocalcemia e hipercalcemia. 2,6 ' 9 ' 10 periférica a este h o r m ô n i o .
O hipoparatireoidismo é comumente causado pela destruição
Hipocalcemia das glândulas paratireóides durante cirurgias cervicais (90%). O
O nível baixo de cálcio sérico total (hipocalcemia) pode ocorrer pseudo-hipoparatireoidismo é caracterizado pela resistência ao
tanto por uma redução do cálcio ligado à albumina como por P T H e aumento da sua concentração séTica.
uma redução da fração livre, o u ambas (Quadro 38-1). A hipoal- A rápida Temineralização do osso após cirurgia para correção
buminemia é a causa mais c o m u m da redução de cálcio total baixo do hiperparatireoidismo primário (síndrome do osso faminto -
com cálcio livre normal (às vezes denominada de pseudo-hipocal- Fiungry bone síndrome), o tratamento para o hipertíreoidismo ou o
cemia); o cálcio sérico é baixo quando a albumina sérica está tratamento paia doenças malignas hematológicas podem resultar
reduzida, porque 1 g / d L da albumina se liga a, aproximadamente, em hipocalcemia. A hipocalcemia geralmente é uma complicação
0,8 m g / d L do cálcio. Condições clínicas comuns associadas à da pancreatite aguda. A deficiência da vitamina D pode, também,
hipoalbumínemia incluem: doença hepática crônica, síndrome estar associada à hipocalcemia por causa da redução da absorção
nefrótica, insuficiência cardíaca congestiva e desnutrição. intestinal do cálcio e da resistência esquelética ao P T H .
Na insuficiência renal crônica, a hipoproteinemia, a híperfos- A hipocalcemia comumente se apresenta com sinais e sinto-
fatemia, a concentração reduzida de 1 j 2 5 ( O H ) 2 D sérica (síntese mas de hiperexcitabilidade neuromuscular, como tetania, pareste-
reduzida por causa da massa renal insuficiente) e a resistência sias e convulsões. U m a queda rápida no cálcio sérico também está
esquelética ao P T H c o n t r i b u e m para a hipocalcemia. A deficiên- associada a hipotensão e anormalidades eletrocardiográficas.
732 PARTE V Fisiopatologia

A avaliação l a b o r a t o r i a l i n i c i a l i n c l u i a avaliação da função A c i m a de 8 0 % dos pacientes c o m h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o pri-


renal e a determinação da concentração séríca da a l b u m i n a e do m á r i o são assintomáticos na sua apresentação clínica, porque a
í o n magnésio. As concentrações séricas d o P T H i n t a c t o estão detecção precoce está m u i t o d i f u n d i d a pelo uso dos painéis bio-
baixas o u i n a p r o p r i a d a m e n t e n o r m a i s n o h í p o p a r a t i r e o i d i s m o e químicos de testes que i n c l u e m a dosagem do cálcio. Os sinais e
elevadas n o pseudo-hipoparatireoidismo. A deficiência da vita- sintomas mais c o m u n s da hipercalcemia não são específicos e
m i n a D é caracterizada p o r baixos níveis da 2 5 ( O H ) D , P T H estão relacionados c o m o sistema neuromuscular. Eles i n c l u e m
elevado ( h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o secundário), e níveis elevados da fadiga, indisposição e fraqueza muscular c o m níveis de hipercal-
fosfatase alcalina (ALP) n o soro. cernia moderados (cálcio < 12 m g / d L ) ; depressão, apatia, e inca-
N o s casos de hipocalcemia sintomática, o cálcio deve seT pacidade de concentração p o d e m estar presentes em concentra-
a d m i n i s t r a d o p o r via intravenosa. ções mais elevadas. A hipercalcemia pode induzi r o aparecimento
de diabetes insipidus nefrogênico m o d e r a d o , ocasionando sede e
Hipercalcemia p o l i ú r i a . A hipercalcemia crônica acompanhada de hipercalciúria
A h i p e r c a l c e m i a é c o m u m e n t e observada na prática clinica e p o d e ocasionar a formação de cálculos renais c o n t e n d o cálcio, que
ocorre q u a n d o o f l u x o de cálcio do c o m p a r t i m e n t o do f l u i d o pode, em alguns casos, levar ao desenvolvimento gradual de insu-
extracelular para o esqueleto, intestino o u r i m é m a i o r que o ficiência renal. A m a i o r i a dos pacientes c o m hiperpararireoidisTTio
e f l u x o do cálcio. A hipercalcemia é causada pelo (1) a u m e n t o da p r i m á r i o são mulheres na pós-menopausa (> 6 0 % dos casos).
absorção intestinal, (2) a u m e n t o da retenção urinária, (3) a u m e n t o O h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o è diagnosticado pela avalia-
da reabsorção óssea, o u (4) u m a combinação dos mecanismos. ção laboratorial. A hipercalcemia deve ser d o c u m e n t a d a pela
As causas mais c o m u n s e i n c o m u n s de hipercalcemia estão m e d i ç ã o do cálcio total e da a l b u m i n a sérica, o u , mais precisa-
listadas n o Q u a d r o 38-2. O h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o é a m e n t e , pela medição d o cálcio livre, em mais de u m a ocasião
causa mais freqüente e m pacientes ambulatoriais, e n q u a n t o as antes de iniciar outras investigações futuras. A medição d o P T H
neoplasias são as causas mais c o m u n s em pacientes hospitaliza- intacto ( c o n c o m i t a n t e c o m a medição d o cálcio sérico) é o teste
dos. Juntas, estas duas patologias correspondem p o r 9 0 % a 9 5 % mais sensível e específico para a avaliação da função das parati-
de todas as causas de hipercalcemia. reóides e é f u n d a m e n t a l para o diagnóstico diferencial da hiper-
O h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o é f r e q ü e n t e m e n t e causado calcemia. N o s casos de hipercalcemia relacionadas c o m a parati-
p o r u m adenoma, p o r é m p o d e ser causado pela hiperplasia que reóide, os níveis plasmáticos do P T H não estão s u p r i m i d o s
envolve m ú l t i p l a s glândulas paratireóides, ou, mais raramente, (abaixo do valor de referência); nas outras causas de hipercalce-
pelo c a r c i n o m a das paratireóides. mia, os níveis elevados d o cálcio s u p r i m e m a p r o d u ç ã o do P T H
pelas glândulas paratireóides. Os níveis séricos da l , 2 5 ( O H ) 2 D
estão n o r m a l m e n t e acima dos valores de referência observados
Q U A D R O 3 8 - 2 | Causas de Hipercalcemia n o h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o , já q u e o P T H estimula a sua
p r o d u ç ã o . A o c o n t r á r i o , os níveis da l , 2 5 ( O H ) 2 D ( c o m o o P T H )
Hiperparatireoidismo primário estão abaixo do n o r m a l o u s u p r i m i d o s na hipercalcemia não
Adenoma, hiperplasia, carcinoma relacionada c o m a paratireóide, exceto na sarcoidose, outras
Familiar doenças granulomatosas e certos tipos de l i n f o m a , nos quais os
Neoplasia endócrina múltipla tipo l
tecidos patológicos c o n t ê m a enzima 2 5 - h i d r o v i t a m i n a D - l a -
Neoplasia endócrina múltipla tipo II
hidroxilase, que é necessária para a p r o d u ç ã o da l , 2 5 ( O H ) 2 D .
Malignidade
O P T H a u m e n t a o clearancc renal do b i c a r b o n a t o e d o fosfato.
Metástases ósseas
N o h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o , u m a acidose metabólica hieperclorê-
Hipercalcemia humoral
m i c a m o d e r a d a está f r e q ü e n t e m e n t e presente, e n q u a n t o que nas
Proteína relacionada com o PTH (PTH-rP)
outras causas de hipercalcemia é observada a presença de alcalose
Fatores de crescimento (p. ex., fator epidérmico e derivados das plaquetas)
Doenças hematológicas malignas metabólica h i p o c l o r ê m i c a moderada. E m b o r a a hipofosfatemia
Citocinas (interleucina-1, fator de necrose tumoral etc.) seja f r e q ü e n t e m e n t e observada n o h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o , a
1,25-Diidroxivitamina D (linfoma) medição d o fosfato sérico t e m p o u c o valor, p o r q u e a hipofosfa-
Hiperparatireoidismo primário coexistente t o m í a t a m b é m p o d e seT e n c o n t r a d a na hipercalcemia associada
Outras doenças endócrinas a neoplasias.
Hipertireoidismo Pacientes c o m h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o c o m sinais e
Hipotireoidismo sintomas de hipercalcemia devem ser submetidos à paTatireoidec-
Acromegalia t o m i a . Se o paciente é assintomático, diretrizes devem ser estabe-
Insuficiência adrenal aguda lecidas para que a cirurgia seja recomendada, m o n i t o r a n d o os
Feocromocitoma níveis séricos do cálcio, o ckarence de creatinina, o cálcio u r i n á r i o
Hipercalcemia hipocalciúrica familiar e a densidade m i n e r a l óssea.
Hipercalcemia idiopática da infância A hipercalcemia ocorre e m 10% a 2 0 % dos i n d i v í d u o s c o m
Overdose de vitamina, vitamina D ou A câncer. Os t u m o r e s c o m u m e n t e causam hipercalcemia pela
Doenças granulomatosas, p eie, sarcoidose, tuberculose (1) p r o d u ç ã o da p r o t e í n a relacionada c o m o P T H (PTH-rP), a
Insuficiência renal q u a l é secretada na circulação e estimula a reabsorção óssea e / o u
Crônica, aguda (fase diurética) ou após transplante
(2) invasão do osso pelo t u m o r metastático, o q u a l p r o d u z fatores
Uso de diuréticos clorotia2ídJcos
locais que e s t i m u l a m a reabsorção óssea. A P T H - r P liga-se ao
Terapia com lítio
receptor d o P T H e é o p r i n c i p a l m e d i a d o r da hipercalcemia
Síndrome do leite alcalino
h u m o r a l m a l i g n a ( H H M ) . As citocinas e a P T H - r P parecem
Flegimes de hi peral imentação
mediar a hipercalcemia n o m i e l o m a m ú l t i p l o e e m outros tumores
Imobilização
Aumento das proteínas séricas hematológicos. A l g u n s l i n f o m a s associados à s í n d r o m e de i m u -
Hemoconcentração n o d e f i c i ê n c i a a d q u i r i d a o u a infecções causadas pelo vírus
Paraproteína h u m a n o l i n f o t r ó p i c o t i p o 1 ( H T L V - 1 ) causam hipercalcemia pela
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 733

produção da l , 2 5 ( O H ) i D . Alguns pa:ientes com câncer podem tes alcalinos são estáveis separadamente, porém a estabilidade é
ter hipetparatireoidismo p r i m á r i o concomitantemente. limitada quando combinados.
Sinais e sintomas de hipercalcemia são comuns em pacientes MétOdO de ArSBnaZO III. O arzenazo III, em pH moderadame
com neoplasias porque o cálcio sérico se eleva rapidamente e com ácido (aproximadamente 6,0), tem m u i t o mais afinidade pelo
freqüência, alcança concentrações mais elevadas que n o hiperpa- cálcio do que pelo magnésio. A solução deve ser completamente
ratireoidismo primário. Letargia, obnubilação, náusea e vômitos tamponada, porque as propriedades espectrais do arsenazo I I I são
são sintomas adicionais. dependentes do pH. A ligação do cálcio com o arsenazo I I I é
A seleção dos testes laboratoriais é semelhante à dos testes influenciada pela solução tampão e pela concentração de sódio. A
solicitados na investigação do hiperparatireoidismo. A medição interferência da maioria dos pigmentos biológicos é reduzida pela
da PTH-rP é raramente necessária. E m situações específicas (p. medição do complexo cálcio-corante próximo de 650 nm. C o m o
ex., é no linfoma), a medição da l , 2 5 ( O H ) 2 pode ser útil. uso da técnica de deslizamento seco, uma interferência clinica-
As terapias são direcionadas para o tratamento do tumor, mente significativa pode ser observada em pacientes que recebe-
reduzindo a concentração do cálcio sérico por meio da diurese ram sangue ou outros hemoderivados com citrato. Diferentemente
salina e da redução da reabsorção osteoclástica (bifosfonatos, da CPC, o arsenazo I I I é estável como u m reagente único.
calcitonina etc.). Os glicocorticóides são úteis na redução da
adsorcão intestinal de cálcio nos casos de hipercalcemia mediada Requisitos para a Coleta das Amostras
por Ú 5 ( O H ) z D . O soro e o plasma heparinizado são as amostras preferidas para
a determinação do cálcio total. Anticoagulantes como o citrato,
Quantificação do Cálcio o oxalato, e o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) não devem
Os métodos mais utilizados para determinar a calcemia são a ser utilizados porque eles interferem formando complexos com
quantificação ou do cálcio sérico livre (ionizado) ou do cálcio o cálcio. A co-precipitação do cálcio com a fibrina n o plasma
total. O termo cálcio ionizado é mal utilizado porque t o d o o heparinizado ou com lipídios é descrita com o armazenamento
cálcio plasmático é ionizado, estando ou não associado a pro- ou congelamento.
teínas ou a pequenos ânions p o r ligação iônica. A o longo deste As amostras de urina devem ter de 20 a 30 m L de solução
capítulo, utilizamos o termo cálcio livre, em analogia aos hormô- de 6 m o l / L de HC1 por amostra de urina de 24 horas (1 a 2 m L
nios livres que não estão ligados a proteínas (p.ex., tiroxina livre para uma amostra aleatória) com o i n t u i t o de prevenir a precipi-
ou testosterona livre). tação do sal de cálcio. A adição do ácido após a coleta pode não
O cálcio livre é considerado o melhor indicador da situação dissolver completamente os sais de cálcio precipitados.
do cálcio porque é a forma biologicamente ativa e que é regulada
pelo P T H e pela l , 2 5 ( O H ) : D . Interferências
Hemólise, icterícia, hiperlipidemia, paraproteinas, magnésio e
Medição do Cálcio Total quelatos de gadolínio presentes em contrastes interferem com os
Eletrodos iónicos específicos espectrofotomé tricôs (ISEs) e, ocasio- métodos fotométricos. Vários métodos utilizam análise bicromá-
nalmente, métodos de absorção atômica são utilizados rotineira- tica, correções com comprimentos de onda múltiplos ou clarea-
mente. De acordo com o College of American Pathologists Com- mento com o i n t u i t o de reduzir a interferência na determinação
prehensiveChemistry Survey, realizado em 2007, aproximadamente dos níveis de cálcio. Embora a hemólise cause u m resultado falso-
75% dos laboratórios clínicos participantes utilizaram métodos de negativoj porque as hemácias contêm níveis mais baixos de cálcio
espectro fotometria (31% arsenazo I I I e 44% complexo o-cresolfta- que o soro, erros mais significativos podem ser causados pela
leína) e 24% dos laboratórios restantes utilizaram o ISEs. interferência do espectro da hemoglobina. Dependendo do
C o m o uso de ISEs, o espécime é acidificado para converter método, a hemoglobina pode produzir u m resultado falso-nega-
tanto o cálcio ligado à proteína e como o cálcio complexado ao tivo ou falso-positivo. E m métodos fotométricos, se as amostras
cálcio livre antes da mensuração do cálcio livre. Este método será estiverem hemohsadas, o clareamento com o ácido etilenoglicol-
discutido mais adiante neste capítulo. A absorção atômica f o i tetracético (EGTA) é sugerido. Outros exames e métodos utiliza-
descrita em detalhes n o C a p i t u l o 4- dos devem ser avaliados quanto à suscetibilidade de causar inter-
ferência. Os contrastes de gadolínios (gadodiamida [Omniscan]
Métodos Espectrofoíoméíricos e gadoversetamida [ o p t i M A R K ] ) empregados na ressonância mag-
Estes métodos utilizam indicadores metalocrômicos que mu d a m nética causam u m erro significativo (geralmente subestimado)
de cor quando se ligam ao cálcio. Embora tenham uma acurácia nos métodos espectofotométricos.
menor que a espectrometria de absorção atômica, são mais fáceis A maneira como o paciente deve ser preparado e como a
de serem realizados. amostra obtida pode afetar tanto a dosagem do cálcio livre quanto
Método do Complexo o-Cresolftaleína (CPC). E m solução alca- total serão discutidas posteriormente neste capítulo
lina, o C P C forma u m c r o m ó f o i o vermelho com o cálcio, o qual
é medido em u m comprimento de onda entre 570 e 580 nm. A Ajuste ou Correção do Cálcio Total
amostra é diluída com ácido para liberar o complexo de cálcio e Vários cálculos foram utilizados para ajustar ou corrigir os níveis
o cálcio ligado à proteína. A interferência com o íon magnésio é do cálcio total devido às variações nas concentrações das proteínas
reduzida por: (1) adição da 8-hidroxiquinolina, (2) tampona- séricas. A equação a seguir é normalmente vista nos livros-textos,
mento da mistura da reação p r ó x i m o de p H 12 e (3) medida da porém esta correção não considera a falta de harmonização da
absorvância próxima a 580 n m . Aditivos reduzem a turvação das albumina e dos métodos que avaliam o cálcio na população.
amostras lipêmicas e aumentam a formação de complexos. O
etanol e outros solventes orgânicos podem ser incluídos com o Cálcio Corrigido ( m g / d L ) = Cálcio Total ( m g / d L ) +
i n t u i t o de reduzir a absorvância do branco de reação. A calibra- 0,8 ( 4 - A l b u m i n a [g/dL])
ção em vários pontos é recomendada, e a linearidade pode ser
melhorada com a adição do acetato de sódio. A temperatura é Alguns fatores que l i m i t a m a capacidade do cálcio total e do
controlada porque a reação é termossensível. O C P C e os reagen- cálcio corrigido em predizer os valores do cálcio livre estão lista-
734 PARTE V Fisiopatologia

Q U A D R O 38-3 Fatores que Alteram a Distribuição entre o do cálcio livre. Eletrodos são bastante insensíveis ao H"1, c o m u m a
Cálcio Ligado è Proteína, os Complexos de i n s i g n i f i c a n t e i n t e r f e r ê n c i a entre p H 5 e 9.
Cálcio e o Cálcio Livre, Afetando a N o v o s eletrodos u t i l i z a m u m a m e m b r a n a de diálise o u u m
Interpretação do Cálcio Sérico Total carreador n e u t r o , r e d u z i n d o o u e l i m i n a n d o o efeito da proteína
observado nos eletrodos anteriores. C o m os eletrodos amais, o
FATORES QUE ALTERAM A FATORES QUE ALTERAM A
efeito é m e n o r que 0,02 m m o l / L p a r a 1 g / d L ( 1 0 g / L ) de proteína.
LIGAÇÃO 0 0 CÁLCIO À PROTEÍNA FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS DE
Os depósitos de proteínas n o eletrodo p o d e m , t a m b é m , agir como
Alteração na concentração de CÁLCIO
u m rrocador de c á t i o n divalente, resultando e m interferência
albumina ou globulinas Citrato
Proteínas anormais positiva c o m altas concentrações de Mg 2 ". T e m sido descrito que
Bicarbonato
Heparina Lactato a manutenção regular dos i n s t r u m e n t o s e a remoção da proteína
PH Fosfato m i n i m i z a m esta interferência.
Ácidos graxos livres Piruvato e p-hidroxibutirato Substâncias químicas p o d e m i n t e r f e r i r c o m a medição do
Bilirrubina Sulfato cálcio pelo m é t o d o de ISEs o u alterar as concentrações de cálcio
Drogas Ânion gap livre. Surfactantes aniônicos e etanol afetam a m e m b r a n a seletiva
Temperatura de cálcio. À n i o n s fisiológicos, i n c l u i n d o (1) proteínas, (2) fosfato,
(3) citrato, (4) lactato, (5) sulfato e (6) oxalato, e substâncias
químicas c o m o (7) E D T A e (8) E G T A , f o r m a m complexos c o m
o cálcio e r e d m e m a concentracão de cálcio livre.

dos n o Q u a d r o 38-3. Sempre que possível, os ajustes o u correções Efeito do pH


matemáticos devem set substituídos pela determinação direta do A ligação do cálcio c o m a p r o t e í n a e pequenos â n i o n s é i n f l u e n -
cálcio livre. ciada pelo p H m vitro e in vivo. A a l b u m i n a , c o m mais de 3 0 sítios
de ligação para o cálcio, c o n t r i b u i c o m a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 %
d o cálcio ligado à proteína. O a u m e n t o do p H de u m a amostra
Medição do Cálcio Livre (fonizado) i n vitro a u m e n t a a ionização e a carga negativa da a l b u m i n a e das
Os ISEs são a m p l a m e n t e utilizados para a medição r á p i d a d o outras proteínas, levando a u m a u m e n t o n o cálcio ligado a pro-
cálcio livre, eletrólitos e gases sanguíneos ( C a p í t u l o s 5 e 24). Estes teína e a u m a redução n o cálcio livre. A redução d o p H in vitro
eletrodos c o n t ê m u m a m e m b r a n a seletiva para o cálcio, que reduz a ionização c o m u m a carga negativa, r e d u z i n d o o cálcio
c o n f i n a u m a solução i n t e r n a de referência de cloreto de cálcio ligado à proteína e a u m e n t a n d o a fração livre. O cálcio livre varia
geralmente c o n t e n d o u m a solução saturada de cloreto de prata em t o r n o de 5 % para cada m u d a n ç a de 0,1 u n i d a d e n o p H .
( A g C l ) , além de concentrações fisiológicas de cloreto de sódio e Por causa da relação inversa entre os níveis de cálcio livre e
de cloreto de potássio (KC1) e u m eletrodo i n t e r n o de referência. o p H , as amostras devem ser analisadas n o p H do sangue (in vivo)
O eletrodo de referência, geralmente A g / A g C l , é imerso na do paciente.
solução i n t e r n a de referência.
As soluções modernas de ISEs u t i l i z a m m e m b r a n a s líquidas Requisitos para Coleta das Amostras
que c o n t ê m o sensor íon-seletivo d o cálcio dissolvido e m u m A s amostras para a dosagem d o cálcio livre devem ser coletadas
l í q u i d o orgânico i n t e r l i g a d o c o m u m a matriz p o l i m é r i c a . CaTrea- e manuseadas anaerobicamente e i m e d i a t a m e n t e c o m o i n t u i t o
dores neutros (p.ex., E T H 1001) são os mais c o m u m e n t e utiliza- de m i n i m i z a r as alterações n o p H e n o cálcio livre devido á perda
dos c o m sensores d o cálcio, seguidos de trocadores iónicos, c o m o do C O 2 e do m e t a b o l i s m o das células sanguineas. As seringas e
o organofosfato. os tubos a vácuo devem ser cheios c o m p l e t a m e n t e e lacrados para
A t e m p e r a t u r a afeta a resposta do eletrodo e a extensão da prevenir a perda d o C O ^ ( a u m e n t o n o p H ) . As amostras t a m b é m
ligação do cálcio a proteína e a pequenos ânions. A m a i o r i a dos devem ser m a n i p u l a d a s c o m o i n t u i t o de prevenir a p r o d u ç ã o de
analisadores de cálcio livre ajusta e m a n t é m as amostras a 37 l l C, ácido lático (redução n o p H ) pelos eritrócitos o u pelos leucócitos
assegurando-se, desse m o d o , que os resultados sejam fisiologica- d u r a n t e o m e t a b o l i s m o anaeróbico o u glicólise. A menos q u e as
m e n t e relevantes para a m a i o r i a dos pacientes. amostras sejam analisadas o u processadas i m e d i a t a m e n t e , elas
devem ser coletadas, transportadas, e mantidas n o gelo c o m o
Interferências i n t u i t o de prevenir o m e t a b o l i s m o anaeróbico.
C o m o os métodos de ISEs m e d e m a atividade iônica, eles são O cálcio livre é m e d i d o n o sangue total e plasma hepariniza-
afetados pela força i ô n i c a da amostra. Os analisadores de cálcio dos, o u no soro. Para a m a i o r i a dos laboratórios, as amostras são
livre e calibradores são otimizados para as amostras de sangue, analisadas d e n t r o de 3 0 m i n u t o s . O uso do sangue total hepari-
plasma o u sangue total, C o m o a concentração iônica desses nizado é preferível p o r q u e reduz o t e m p o de processamento e o
f l u i d o s é p r i n c i p a l m e n t e o resultado dos níveis de Na* e Cl* n o v o l u m e da amostra e evita as alterações n o p H associadas a cen-
plasma o u n o soro, os calibradores são n o r m a l m e n t e preparados trifugação em temperaturas diferentes de 37°C. O cálcio livre é
em u m a solução-tampão e c o m N a C l c o m u m a força i ô n i c a f i n a l estável no sangue t o t a l p o r 1 h o r a à temperatura a m b i e n t e e por
de 160 m m o l / k g . P o d e m ocorrer erros se f o r e m utilizadas outras 4 horas a 4"C. Se as amostras não são p r o n t a m e n t e analisadas,
amostras que não sejam o soro, o plasma o u o sangue total, a elas devem ser coletadas em b a n h o de gelo para m i n i m i z a r o
menos q u e as matrizes e as forças iónicas dos calibradores e das m e t a b o l i s m o , p o r é m as concentrações do K + d o plasma p o d e m
amostras sejam m u i t o próximas. a u m e n t a r significativamente p o r causa da i n i b i ç ã o da Na + , K*-
Eletrodos m o d e r n o s t ê m u m a alta aeletividade para o cálcio, ATPase. Se a análise não for realizada em 1 hora, o soro deve ser
superior a d o Na", tC, Mg 2 ", H " e Li". E m concentrações n o r m a i s , c o l h i d o em tubos c o m gel e a vácuo, que p o d e m ser melhores
estes cátions t ê m u m p e q u e n o efeito na medição d o cálcio livre. para a análise da amostra. Os tubos devem ser cheios totalmente.
Variações amplas na concentração do N a e elevadas concentra- U m a vez centrifugadas, as amostras p e r m a n e c e m estáveis por
ções de Mg 2 + e L i " p o d e m i n f l u e n c i a r a concentração aparente horas a 2 5 ° C e p o r dias a 4°C, se o t u b o permanecer fechado. N a
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 735

literatura, f o i descrito que o cálcio livre é menos estável em amos- U m a f o n t e i m p o r t a n t e e c o m u m de erro pré-analítico é o
tras de pacientes u i ê m i c o s , c o m acidose o u não. a u m e n t o d o cálcio t o t a l pelo uso d o t o r n i q u e t e e a oclusão
A concentração de cálcio livre e o p H real da amostra devem venosa d u r a n t e a coleta da amostra, q u e não i n f l u e n c i a a f o r m a
ser descritos em cada amostra. O p H é ú t i l para verificar se a livre. Erros de 0,5 a 1,0 m g / d L (0,12 a 0,25 m m o l / L ) n o cálcio
amostra f o i corretamente m a n i p u l a d a . A m a n i p u l a ç ã o aeróbica total p o d e m ocorrer d e v i d o ao a u m e n t o do cálcio ligado à pro-
das amostras e a correção d o cálcio livre para o p H 7,4 p o d e m teína devido ao e f l u x o de l í q u i d o d o c o m p a r t i m e n t o vascular
ser equivocadas em pacientes c o m alcalose o u acidose, e devem ser d u r a n t e a estase. Se o uso do t o r n i q u e t e for necessário, este deve
evitadas. ser colocado i m e d i a t a m e n t e antes da coleta da amostra, e reti-
rado em 1 m i n u t o .
Efeitos dos Anticoagulantes O f e c h a m e n t o do p u n h o e o exercício d o antebraço devem
A hepaTina é o ú n i c o anticoagulante aceito para a determinação ser evitados antes da f l e b o t o m i a p o r q u e causam u m a redução n o
d o cálcio livre, p o r é m ela pode reduzir os níveis do cálcio livre p H (produção de ácido lático), a u m e n t a d o o cálcio livre.
nas concentrações (30 a 100 U / m L o u mais) encontradas na M u d a n ç a s posturais causam troca de f l u i d o s e alteram a
m a i o r parte das seringas de gasometria arterial. O uso da hepa- concentração das células e de moléculas grandes, i n c l u i n d o
r i n a l i q u i d a deve ser evitado p o r q u e p o d e resultar em níveis a a l b u m i n a e o cálcio total (em parte p o r causa da ligação pro-
falsamente mais baixos de cálcio por causa da (1) diluição da téica) n o c o m p a r t i m e n t o vascular. A s mudanças relativas à
amostra de sangue c o m a h e p a r i n a l í q u i d a , e (2) ligação do cálcio postura de cerca de 10% nas concentrações de a l b u m i n a e outras
livre pelas concentrações elevadas de heparina. O citrato, o proteínas n o r m a l m e n t e não são encontradas. E m contraste, as
oxalato, e o E D T A ligam-se ao cálcio e reduzem as concentrações mudanças na calcemia são notadas p o r causa do estreito i n t e r v a l o
do cálcio livre. de referência, e pequenas diferenças na medição das concentra-
Várias seringas de uso comercial são adequadas para as deter- ções d o cálcio livre m u d a m os resultados de n o r m a l para a n o r m a l
minações do cálcio livre: (1) seringas eletrólito-balanceadas o u ou de a n o r m a l para n o r m a l . A postura ereta reduz o l í q u i d o
seringas c o m heparina t i t u l a d a c o m cálcio (concentração f i n a l intravascular e a u m e n t a a concentração de cálcio t o t a l de 0,2 a
de 4 0 a 5 0 U / m L ) ; (2) seringas de h e p a r i n a de baixo peso c o m 0,8 m g / d L (0,05 a 0,20 m m o l / L ) . A h e m o d i l u i ç ã o causada pela
a h e p a r m a e m u m enchedor inerte, c o m u m a concentração f i n a l inclinação ( j u n t o c o m a h i p o a l b u m i n e m i a ) c o n t r i b u i para o
de h e p a r i n a de 2 a 3 U / m L ; (3) seringas de h e p a r m a lítio-zinco a u m e n t o da prevalência de h i p o c a l c e m i a (cálcio total, não o livre)
(50 U / 3 m L ) . C o m o uso da seringas eletrólito-balanceadas o u f r e q u e n t e m e n t e observada e m pacientes hospitalizados.
de h e p a r i n a titulada c o m cálcio, a h e p a r i n a é t i t u l a d a c o m o O u t r o s fatores pré-analíticos causam menos confusão. E m
cálcio de m a n e i r a t a l que a concentração plasmática do cálcio u m p e q u e n o n ú m e r o de pacientes, a imobilização e repouso
livre não é apreciavelmente alterada na m a i o r i a das concentra- prolongados p o d e m reduzir a densidade m i n e r a l óssea e aumen-
ções observadas (3,6 a 6,4 m g / d L [0,9 a 1,6 m m o l / L ] ) ; entre- tar o cálcio total e livre. A h i p e r v e n t i l a ç ã o e o exercício reduzem
t a n t o , alguns erros sistemáticos p o d e m sei evidenciados em con- e a u m e n t a m a concentração d o cálcio livre, respectivamente, p o r
centrações m u i t o baixas o u m u i t o elevadas de cálcio livre. Dife- causa das mudanças n o p H sérico. T a n t o o cálcio sérico livre
r e n t e m e n t e , a seringa de lítio-zinco não altera a concentração c o m o a excreção d o cálcio estão reduzidos d u r a n t e a n o i t e . A
t o t a l de cálcio, p o r é m o magnésio p o d e a u m e n t a r e m 0,19 m g / d L ingestão a l i m e n t a r t e m sido descrita c o m o t e n d o vários efeitos,
(0,08 m m o l / L ) p o r é m geralmente causa u m a u m e n t o discreto n o cálcio sérico.
A m a i o r i a dos tubos coletores a vácuo, q u a n d o cheios com- A ingestão de sais de cálcio p o d e a u m e n t a r o cálcio sérico. A
pletamente, c o n t é m concentrações de h e p a r i n a (15 U / m L ) que h e m ó l i s e pode alterar o cálcio livre p o r causa da d i l u i ç ã o e alte-
reduz apenas ligeir amente o cálcio livre. Marcas específicas de rações n o p H e na ligação proteica (veja a discussão descrita
seringas, de tubos a vácuo e de h e p a r i n a devem ser avaliadas a n t e r i o r m e n t e n o i t e m Interferências).
cuidadosamente.
Intervalos de Referência
O i n t e r v a l o de referência do cálcio t o t a l em adultos é aproxima-
Preparo do Paciente e Fontes de Erro Pré-
d a m e n t e 8,6 a 10,3 m g / d L (2,15 a 2,57 m m o l / L ) . O i n t e r v a l o
analítico na Medição do Cálcio Total e Livre
de referência do cálcio livre em adultos é cerca de 4,6 a 5,3 m g /
O preparo d o paciente e a coleta da amostra são fatores que
d L (1,15 a 1,33 m m o l / L ) .
afetam os níveis de cálcio total e livre ( Q u a d r o 38-4)
O cálcio t o t a l declina paralelamente c o m a a l b u m i n a sérica
d u r a n t e a gestação, e n q u a n t o o cálcio livre não se m o d i f i c a .
Os homens e as mulheres n o r m a i s excretam até 3 0 0 m g (7,49
Q U A D R O 38-4 Fatores Pré-analítioos na Medição do Cálcio m m o l ) de cálcio p o r dia em u m a dieta sem restrição de cálcio e até
Total ou Livre 200 m g / d i a (4,99 m m o l / d i a ) em u m a dieta c o m rstrição de cálcio
(500 m g [12,48 m m o l ] de cálcio p o r dia o u menos p o r vários
IN VIVO m virno dias).
Uso do torniquete e oclusão venosa Uso de anticoagulantes inapropriados Pot causa da i n f l u ê n c i a d o p H para o cálcio livre, é recomen-
Mudanças posturais: elevação de Diluição com o uso da heparina d a d o que o p H seja m e d i d o e descrito j u n t o c o m a determinação
10% a 12% no cálcio total e de líquida d o cálcio livre. Isto poderá o r i e n t a r o l a b o r a t ó r i o e o m é d i c o na
5% a 6% no cálcio livre na Níveis de heparina que interferem identificação de amostras nas quais o c o r r e r a m u m t r a t a m e n t o
posição ereta com a dosagem dc cálcio pré-analítico i n a d e q u a d o , levando as mudanças i n <uitro n o p H
Exercício Contaminação com cálcio Amostras de sangue t o t a l desenvolvem u m potencial de
Hiperventilação Cortiças, frasGos de vidro, tubos j u n ç ã o l í q u i d a diferente daquele d o soro o u plasma p o r causa da
Garroíeamenío Manuseio da amostra
presença das células. T e m sido descrito que há u m a i n f l u ê n c i a
Estado nutricional Alterações no pH (cálcio livre)
positiva que é d i r e t a m e n t e p r o p o r c i o n a l ao v a l o r d o h e m a t ó c r i t o .
Alterações na ligação proteica Adsorção ou precipitação do cálcio
A l é m do que, os valores d o cálcio livre f o r a m descritos c o m o
Alterações na formação de Interferência esperfofotcmétrica
sendo diferentes n o sangue capilar, n o sangue venoso e e m amos-
complexos Hemólise, icterícia, lipemia
tras de soro, p o r causa das diferenças n o p H .
736 PARTE V Fisiopatologia

Os coeficientes de variação analítica desejáveis, baseadas na E m alguns situações, c o m o : (1) secreção excessiva d o P T H ,
variação biológica interpessoal para o cálcio livre e total, são 0 , 9 % (2) s í n d r o m e de F a n c o n i , (3) r a q u i t i s m o h i p o f o s f a t ê m i c o ligado
e 1 % o u menos, respectivamente. ao X e (4) osteomalácia i n d u z i d a p o r t u m o r , ocorrerá perda do
fosfato na u r i n a , p o d e n d o , t a m b é m , causar h i p o f o s f a t e m i a e
FOSFATO depleção do fosfato.
Fósforo é a f o r m a do fosfato i n o r g â n i c o e orgânico, sendo u m A hipofosfatemia o u a depleção de fosfato devido à absorção
elemento i m p o r t a n t e e a m p l a m e n t e d i s t r i b u í d o n o c o r p o inadequada de fosfato são menos c o m u n s p o r causa da a b u n d a n -
h u m a n o (Tabelas 38-1 e 38-2). O fosfato i n o r g â n i c o é a fração cia do fosfato na dieta, p o r é m p o d e m ocorrer em pacientes que
mensurável no soro e n o plasma pelos laboratórios clínicos. u t i l i z a m antiácidos que c o n t e n h a m a l u m í n i o o u magnésio e em
pacientes c o m m á absorção. Os antiácidos ligam-se aa fosfato,
Bioquímica e Fisiologia i m p e d i n d o sua absorção. A hipofosfatemia e a depleção de
fosfato, em pacientes c o m má absorção, p o d e m estar m u i t o mais
O fosfato n o plasma existe tanto na f o r m a de â n i o n m o n o v a l e n t e
(H 2 P0 4 *) c o m o na f o r m a divalente (HP0 4 ~ 2 ). N o sangue, os relacionadas c o m o h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o s e c u n d á r i o (e resul-
tante perda de fósforo na u r i n a ) d o que à má absorção.
ésteres do fosfato o r g â n i c o são localizados p r i m a r i a m e n t e d e n t r o
das células. O fosfato i n o r g â n i c o é o p r i n c i p a l c o m p o n e n t e da O fosfato intracelular pode ser p e r d i d o nos casos de acidose,
h i d r o x i a p a t i t a no osso. resultante d o catabolismo dos compostos orgânicos d e n t r o da
N o tecido m o l e , a m a i o r i a do fosfato é intracelular. A m a i o r i a célula. A cetoacidose diabética está associada, i n i c i a l m e n t e ,
a níveis séricos de fosfato n o l i m i t e superioT da n o r m a l i d a d e a
do fosfato das células ê orgânico e i n c o r p o r a d o aos ácidos
nucléicos, fosfolipídios, fosfoproteínas e compostos de "alta níveis elevados de fosfato. O t r a t a m e n t o da cetose e da acidose
c o m i n s u l i n a e f l u i d o s intravenosos, entretanto, resulta na
energia", c o m o trifosfato de adenosina (ATP). O fosfato t a m b é m
é u m elemento essencial dos nucleotídeos cíclicos (como o m o n o - redução rápida de concentração de fosfato sérico. Conseqüente-
m e n t e , pacientes e m t r a t a m e n t o para a cetoacidose diabética
fosfato cíclico de adenosina [ A M P c ] ) e a n i c o t i n a m i d a adenina
d i n u c l e o t í d e o fosfato ( N A D P ) . Estes são i m p o r t a n t e s para a ati- p o d e m ter tanto depleção d o fosfato intracelular q u a n t o hiper-
vidade de várias enzimas. fosfatemia.
As manifestações clínicas da depleção sérica de fosfato depen-
d e m do nível e da intensidade da deficiência. Concentrações
Hipofosfatemia
plasmáticas de fosfato < 1,5 m g / d L (< 0,48 m m o l / L ) p o d e m levar
A h i p o f o s f a t e m i a é d e f i n i d a c o m o a concentração d o fosfato
a manifestações clínicas. C o m o o fosfato é necessário para a
i n o r g â n i c o n o soro abaixo d o i n t e r v a l o de referência n o r m a l ,
formação d o ATP, tanto a glicólise q u a n t o a função celular são
geralmente abaixo de 2,5 m g / d L (< 0,81 m m o l / L ) , sendo c o m u m
prejudicadas pelas baixas concentrações de fosfato intracelular.
e m pacientes hospitalizados ( a p r o x i m a d a m e n t e 2%).
Fraqueza muscular, insuficiência respiratória aguda e insuficiên-
A hipofosfatemia pode estar presente q u a n d o as concentra-
cia cardíaca p o d e m ocorrer na depleção de fosfato. Níveis m u i t o
ções celulares são n o r m a i s , e a depleção do fosfato celular pode
baLxos de fosfato sérico (< 1 m g / d L o u < 0,32 m m o l / L ) p o d e m
existir q u a n d o as concentrações são n o r m a i s o u , até mesmo, ele-
estar associados a rabdomiólise. A depleção de fosfato nas hemá-
vadas. A h i p o f o s f a t e m i a o u depleção do fosfato p o d e m ser cau-
cias reduz a enzima 2,3-disfosfoglicerato, causando b i p o x i a teci-
sadas por (1) desvio d o fosfato do espaço extracelular para o
d u a l por causa do a u m e n t o da a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a pelo
intracelular, (2) p e r d a renal de fosfato, (3) redução na absorção
oxigênio. A h i p o f o s f a t e m i a severa (concentração sérica de fosfato
i n t e s t i n a l e (4) perda do fosfato intracelular. O Q u a d r o 38-5 lista
< 0,5 m g / d L [< 0,16 m m o l / L ] ) pode resultar em hemólise. C o n -
as p r i n c i p a i s causas de h i p o f o s f a t e m i a e de depleção do fosfato.
fusão m e n t a l e coma t a m b é m p o d e m ser secundários à redução
A injeção de i n s u l i n a e a estimulação da secreção da i n s u l i n a
do A T P e à h i p o x i a tecidual. Se a hipofosfatemia é crônica, o
i n d u z i d a por carboidratos a u m e n t a m o transporte d o fosfato e
r a q u i t i s m o ( e m crianças) e a osteomalácia ( e m adultos) p o d e m se
da glicose para d e n t r o das células, sendo, deste m o d o , causas
desenvolver-se.
c o m u n s de hipofosfatemia. A realimentação de i n d i v í d u o s des-
O t r a t a m e n t o depende do grau da hipofosfatemia e da pre-
n u t r i d o s causa u m e f l u x o do fosfato intracelular. A alcalose res-
sença de sintomas. Pacientes c o m h i p o f o s f a t e m i a m o d e r a d a
p i r a t ó r i a ocasiona u m a u m e n t o intracelular do p H , o q u a l ativa
p o d e m requerer somente t r a t a m e n t o da doença de base o u suple-
a fosfofrutoquinase e acelera a glicólise, causando a passagem d o
m e n t a ç ã o c o m fosfato oral. E m pacientes c o m sintomas de h i p o -
fosfato para a célula.
fosfatemia severa, p a r t i c u l a r m e n t e se estiver presente fraqueza da
m u s c u l a t u r a respiratória, o uso de fosfato intravenoso p o d e estar
indicado.
QUADRO 38-5 Causas de Hipofosfatemia e Depleção de
Fosfato
Hiperfosfatemia
Desvia intracelular Absorção intestinal líquida de fosfato H i p e r f o s f a t e m i a é geralmente secundária à incapacidade dos rins
Glicose diminuída e m excretar o fosfato, c o m o o que ocorre na insuficiência renal.
Oral ou intravenosa Aumento da perda do fosfato U m a u m e n t o m o d e r a d o nos níveis séricos de fosfato pode ocorrer
Hiperalimentação Vômitos e m i n d i v í d u o s c o m (1) baixos níveis de P T H (hipoparatireoi-
Insulina Diarréia d i s m o ) , (2) resistência ao P T H (pseudo-hipoparatireoidismo), o u
Alcalose respiratória Ligação do fosfato com antiácidos
(3) acromegalia (elevação do h o r m ô n i o de crescimento), ocasio-
Redução do limiar renal de fosfato Redução da absorção intestinal
n a d o p o r u m a u m e n t o n o l i m i a r renal do fosfato. As causas mais
Hiperparatireoidismo primário ou Sindmme de má absorção
c o m u n s de hiperfosfatemia estão listadas n o Q u a d r o 38-6.
secundário Deficiência de vitamina D
U m r á p i d o a u m e n t o nos níveis séricos de fosfato p o d e estar
Defeitos tubulares renais Perda intracelular de fosfato
associado à hipocalcemia. Por essa razão, p o d e m estar presentes
Hipofosfatemia familiar Acidose
sintomas c o m o tetania, convulsões, e hipotensão. A hiperfosfate-
Síndrome de Fanconi Cetoacidose
Acidose lática m i a de l o n g o prazo pode estar associada a (1) h i p e r p a r a t i r e o i -
d i s m o secundário, (2) osteíte fibrosa e (3) calcificação d o tecido
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 737

Q U A D R O 38-6 Causas de Hipofosfatemia n i c o . O fosfato i n o r g â n i c o se eleva de 4 para 5 m g / d L (1,29 a


1,61 m m o l / L ) p o r dia em amostras hemolisadas armazenadas a
Redução da excreção do fosfato Aumento do aporte extracelular de 4 ° C , elevando-se mais r a p i d a m e n t e e m t e m p e r a t u r a a m b i e n t e
Redução da taxa de filtração fosfato o u a 37°C.
glomerular Desvio transcelular
O fosfato é estável n o soro q u e f o i separado, p o r vários dias
Insuficiência renal, crônica ou Acidose lática
a 4°C, e p o r meses q u a n d o congelado, c o n t a n t o q u e a evaporação
aguda Acidose respiratória
seja prevenida.
Aumento da reabsorção tuhular Cetoacidose diahética sem
Hipoparatireoidismo tratamento
Pseudo-hipoparatireoidismo Lise celular
Interferências
Acromegalia Rabdomiólise D e p e n d e n d o d o m é t o d o utilizado, pode ocorrer interferência posi-
Uso de etíodronato dissódíco Hemólise intravascular tiva o u negativa c o m amostras hemolisadas, ictéricas e lipêmicas.
Aumento da entrada de fosfato Terapia citotóxica Manitol, fluoreto e imunoglobulmas monoclonais também podem
Administração oral ou intravenosa Leucemia interferir. O fosfato é u m c o m p o n e n t e c o m u m dos detergentes.
Laxativos ou enemas contendo Linfoma
fosfato Intervalos de Referência
E m adultos, o i n t e r v a l o de referência n o soro varia de 2,5 a 4,5
miligramas de fósforo p o r d e c i l i t r o (0,81 a 1,45 m m o l / L ) . E m
crianças, os valores são mais elevados, 4,0 a 7,0 miligramas de
fósforo p o r d e c i l i t r o (1,29 a 2,26 m m o l / L ) , p o r q u e o h o r m ô n i o
de crescimento a u m e n t a o l i m i a r renal de fosfato. Os níveis de
fosfato sérico são mais baixos na gestação. Estes níveis a u m e n t a m
após refeições e exercício e e x i b e m u m a variação d i u r n a , c o m
m o l e renal, vaso sanguíneo, córnea, pele e tecido ao redor da níveis mais elevados à tarde e à n o i t e .
articulação. O fosfato u r i n á r i o varia c o m a idade, c o m a massa m u s c u l a r ,
A terapia para a correção da h i p e r f o s f a t e m i a é direcionada c o m a f u n ç ã o renal, c o m os níveis de P T H , c o m o h o r á r i o do
para c o r r i g i r a causa da elevação nos níveis séricos de fosfato. N a dia e c o m o u t r o s fatores. A excreção u r i n á r i a d o fosfato varia
insuficiência renal e n o h i p o p a r a t i r e o i d i s m o , a restrição dietética a m p l a m e n t e c o m a d i e t a e é essencialmente e q u i v a l e n t e à
de fosfato e o uso de agentes que se l i g a m ao fosfato n o intestino ingestão a l i m e n t a r . E m u m a dieta não restritiva, o i n t e r v a l o de
(carbonato de cálcio e outros) são úteis n a redução das concen- referência para o fosfato u r i n á r i o é de 0,4 a 1,3 g / d i a (12,9 a
trações séricas de fosfato. 42,0 m m o l / d i a ) .
A amostra de u r i n a de 24 horas deve ser coletada em reci-
Medição do Fosfato p i e n t e c o n t e n d o 20 a 3 0 m L de H C l a 6 m o l / L , para p r e v e n i r a
T o d o s os métodos a m p l a m e n t e utilizados na medição do fosfato precipitação do fosfato.
i n o r g â n i c o sérico são baseados na reação dos íons fosfato c o m
m o l í b d a t o de a m ó n i o , f o r m a n d o o c o m p l e x o f o s f o m o l i b d a t o , MAGNÉSIO
que é, então, m e d i d o e s p e c t r o f o t o m e t r i c a m e n t e . O c o m p l e x o 0 magnésio é o q u a r t o c á t i o n mais a b u n d a n t e do c o r p o . A p r o -
f o s f o m o l i b d a t o i n c o l o r é m e d i d o d i r e t a m e n t e pela absorção x i m a d a m e n t e 5 5 % do magnésio c o r p o r a l total está n o esqueleto
ultravioleta (340 n m ) , o u ele p o d e ser r e d u z i d o a m o l i b d ê n i o , de c o m o í o n divalente e 4 5 % são intracelular, o n d e é o c á t i o n mais
cor azul (600 a 700 n m ) , por vários agentes redutores, c o m o o prevalente (Tabela 38-1).
ácido a m i n o n a f t o l s u l f ô n i c o ( A N S ) . U m p H ácido é necessário
para a formação dos complexos, p o r é m deve ser c o n t r o l a d o Bioquímica e Fisiologia
p o r q u e t a n t o a f o r m a ç ã o de complexos c o m o a redução do m o l í - A concentração do magnésio das células é de a p r o x i m a d a m e n t e
b d a t o são dependentes d o p H . A m e d i ç ã o dos complexos não 1 a 3 m m o l / L (2,4 a 7,3 m g / d L ) . D e n t r o da célula, a m a i o r parte
reduzidos t e m várias vantagens, i n c l u i n d o simplicidade, veloci- d o magnésio está ligada a proteínas e a moléculas negativamente
dade e estabilidade U m a grande desvantagem é a m a i o r interfe- carregadas, p a r t i c u l a r m e n t e o ATP. O magnésio extracelular cor-
rência a 340 n m na presença de hemólise, icterícia e h i p e r l i p i d e - responde a p r o x i m a d a m e n t e a 1 % d o c o n t e ú d o t o t a l d o magnésio
mia. A p r o x i m a d a m e n t e 7 3 % dos l a b o r a t ó r i o s participantes d o corporal. A p r o x i m a d a m e n t e 5 5 % do magnésio plasmático está
College o f A m e r i c a n Pathologists C o m p r e h e n s i v e C h e m i s t r y na sua f o r m a livre (Tabela 38-2).
Survey, realizado e m 2007, u t i l i z a r a m o p r o c e d i m e n t o de leitura O í o n magnésio (1) é u m co-fator c o m mais de 300 enzimas,
direta n o u l t r a v i o l e t a ( U V ) . (2) é necessário para a f o r m a ç ã o de substrato enzimático (p. ex-,
M g A T P ) , e (3) é u m ativador alostérico para vários sistemas enzi-
Requisitos para Coleta das Amostras máticos. A redução da concentração d o magnésio resulta em u m
O soro e o plasma são as amostras preferíveis para a medição d o a u m e n t o da excitabilidade muscular, p o r q u e o magnésio i n i b e
fosfato. As concentrações do fosfato i n o r g â n i c o são cerca de 0,2 c o m p e t i t i v a m e n t e a encrada de cálcio d e n t r o dos n e u r ô n i o s .
a 0,3 m g / d L (0,06 a 0,10 m m o l / L ) , sendo mais baixas no plasma
h e p a r i n i z a d o d o que n o soro. A n t i c o a g u l a n t e s c o m o o citrato, o Hipomagnesemia/Deficiência de Magnésio
oxalato e o E D T A não devem ser utilizados, pois i n t e r f e r e m c o m A h i p o m a g n e s e m i a é c o m u m e m pacientes hospitalizados. Dez
a f o r m a ç ã o do c o m p l e x o f o s f o m o l i b d a t o . p o r cento dos pacientes a d m i t i d o s em hospitais de grandes
A s concentrações do fosfato n o plasma o u n o soro aumen- centros e 6 5 % dos pacientes i n t e r n a d o s em unidades de terapia
tam c o m o armazenamento prolongado à temperatura ambiente intensiva p o d e m ter hipomagnesemia. E m m u i t o s casos, esta
o u a 37°C. A m o s t r a s hemolisadas são inaceitáveis p o r q u e os deficiência parece r e f l e t i r u m desvio d e n t r o das células, p o r q u e
e r i t r ó c i t o s c o n t ê m elevadas concentrações de ésteres orgânicos este d i s t ú r b i o é resolvido c o m a reposição de magnésio. A s causas
d o fosfato, os quais p o d e m ser h i d r o l i s a d o s ao fosfato inorgâ- da deficiência de magnésio são demonstradas no Q u a d r o 38-7.
738 PARTE V Fisiopatologia

Q U A D R O 3 8 - 7 | C a u s a s de Deficiência d e M a g n é s i o Q U A D R O 3 8 - 8 | Causas de Hipermagnesemia

Distúrbios gastrointestinais Aminoglicosídeos Entrada excessiva


Uso prologado de sonda Cisplatina Oral (geralmente na presença de insuficiência renal crônica)
nasogástrica Ciciosporina Antiácidos
Síndromes de má absorção Anfotericina B Catártico
Ressecção extensa do intestino Glicosídeos cardíacos Retal
Diarréia aguda ou crônica Pentamidina Purgação
Fístulas intestinais e biliares Tacrolimus Parenteral
Desnutrição pratéico-calórica Acidose metabólica (jejum, Tratamento da hipertensão induzida na gravidez
Pancreatite hemorrágica aguda cetoacidose, alcoolismo) Tratamento da deficiência de magnésio
Hipomagnesemia primária (neonatal) Doenças renais Insuficiência rena!
Perda por via renal Pielonefrite crônica, nefrite Crônica (normalmente com administração de magnésio)
Terapia parenteral líquida crônica intersticial e glomerulonefrite Antiácido
Diurese osmótica Fase diurética da necrose tubular Catártico
Glicose (diabetes meilitu$ aguda Enema
Manitol Nefropatia pós-obstrutiva Infusão
Uréia Acidose tubular renal Diálise
Hipercalcemia Após transplante renal Aguda
Álcool Hipomagnesemia primária Rabdomiólise
Medicamentos Depleção de fosfato Hipercalcemia hipocalciúrica familiar
Diuréticos (furosemida, ácido Ingestão de lítio
etacrínico)

A d e f i c i ê n c i a m o d e r a d a o u severa deste í o n é g e r a l m e n t e d e v i d a cidade dos r i n s e m excretar o excesso d e magnésio. O m a g n é s i o


a perdas d o t r a t o g a s t r o i n t e s t i n a l ( G I ) o u r e n a l . a terapia-padrão n o t r a t a m e n t o d a h i p e r t e n s ã o específica d a grav
A d e f i c i ê n c i a de m a g n é s i o está c o m u m e n t e associada às dez (pré-eclâmpsía e eclâmpsia) e a i n t o x i c a ç ã o p e l o magnésio p o d
perdas n o i n t e s t i n o grosso, n a d i a r r é i a . C o m o o í o n m a g n é s i o é ser observada nas mães e e m seus n e o n a t o s .
m a i s e f i c i e n t e m e n t e a b s o r v i d o n o i n t e s t i n o d e l g a d o , as s í n d r o - A m a n i f e s t a ç ã o mais c o m u m d a i n t o x i c a ç ã o p e l o magnési*
mes de m á absorção e a c i r u r g i a d e bypass p a r a t r a t a m e n t o d a é a depressão d o sistema n e u r o m u s c u l a r . O s r e f l e x o s t e n d i n o s o
o b e s i d a d e estão associadas à m á absorção d o m a g n é s i o . O uso p r o f u n d o s d e s a p a r e c e m c o m níveis séricos a c i m a d e 5 a 9 m g / d ]
d a s o n d a nasogástrica o u v ô m i t o s p o d e m d e p l e t a r os estoques ( 2 , 0 6 a 3 , 7 0 m m o l / L ) , e n q u a n t o q u e a depressão r e s p i r a t ó r i a >
c o r p o r a i s d e m a g n é s i o , p o i s os f l u i d o s g a s t r o i n t e s t i n a i s c o n t ê m a a p n é i a , causadas pela p a r a l i s i a da m u s c u l a t u r a v o l u n t á r i a
a p r o x i m a d a m e n t e 0 , 5 m m o l / L de m a g n é s i o . p o d e m o c o r r e r c o m c o n c e n t r a ç õ e s d e m a g n é s i o a c i m a de 10 ;
A s perdas u r i n á r i a s excessivas d e m a g n é s i o são causas i m p o r - 12 m g / d L (>4,11 a 4 , 9 4 m m o l / L ) , c o m p a r a d a cardíaca e m n í v e i
t a n t e s d e d e f i c i ê n c i a de m a g n é s i o e m pacientes alcoólicos e dia- a i n d a m a i s elevados.
béticos (diurese o s m ó t i c a ) e e m uso dc d i u r é t i c o s d e alça (furose- Pacientes c o m i n t o x i c a ç ã o severa p o d e m ser t r a t a d o s c o n
m i d a ) e a n t i b i ó t i c o s a m i n o g l i c o s í d e o s . O a u m e n t o d a excreção d o cálcio v e n o s o , p o r q u e o c á l c i o a n t a g o n i z a a g u d a m e n t e os e f e i t o
s ó d i o (reposição p a r e n t e r a l ) e o a u m e n t o n a excreção d o cálcio t ó x i c o s d o m a g n é s i o . Se necessário, a diálise p e r i t o n e a l o u ;
(hipercalcemia) t a m b é m resultam na perda renal de magnésio. hemodiálise, c o n t r a u m b a n h o de diálise pobre e m magnésio
A h i p e r e x c i t a b i l i d a d e n e u r o m u s c u l a r acompanhada de tetania efetivamente reduzem a concentração d o magnésio.
e c o n v u l s õ e s p o d e estar p r e s e n t e . A deficiência de magnésio
r e d u z a secreção d o P T H , r e s u l t a n d o e m r e s i s t ê n c i a p e r i f é r i c a Medição do Magnésio Total
a o P T H , o q u e p o d e r e s u l t a r e m h i p o c a l c e m i a . A r r i t m i a s cardí- O m a g n é s i o sérico e p l a s m á t i c o t o t a l é c o m u m e n t e m e d i d o pele
acas p o d e m estar associadas à d e f i c i ê n c i a d e m a g n é s i o e são, e m m é t o d o e s p e c t o f o t o m é t r i c o e, o c a s i o n a l m e n t e , pela e s p e c t o f o m e
p a r t e , causadas pela h i p o c a l e m i a e pela d e p l e ç ã o i n t r a c e l u l a r d e t r i a de absorção a t ô m i c a . A e s p e c t o f o m e t r i a de absorção a t ô m i c í
potássio. f o i descrita e m detalhes n o C a p í t u l o 4.
A h i p o m a g n e s e m i a não é necessariamente u m i n d i c a d o r de
deficiência de magnésio. Reciprocamente, a depleção intracelular Métodos Espectofotométrícos
e a d e f i c i ê n c i a p o d e m existir, m e s m o c o m u m a c o n c e n t r a ç ã o D e acordo c o m College o f A m e r i c a n Pathologists C o m p r c h e n
sérica d e m a g n é s i o n o r m a l . sive C h e m i s t r y S u r v e y d e 2 0 0 7 , a c a l m a g i t a e o azul d e m e t i l t i m o
A deficiência aguda e sintomática é n o r m a l m e n t e corrigida são usados p o r a p r o x i m a d a m e n t e 2 7 % dos l a b o r a t ó r i o s , seguido;
c o m o uso d o m a g n é s i o p a r e n t e r a l ; a d e p l e ç ã o m o d e r a d a p o d e pelos m é t o d o s c o m c o r a n t e f o r m a z a n ( 1 8 % ) , m a g o n ( x i l i d i l a z u l
ser c o r r i g i d a c o m o uso d e m a g n é s i o o r a l . ( 1 6 % ) , c l o r o f o s f o n a z o 111 ( 7 % ) e arsenazol ( 3 % ) . Estes i n d i c a d o
res m e t a l o c r ô m i c o s g e n e r a l m e n t e f o r m a m u m c o m p l e x o e o l o r i d e
Hipermagnesemia (azul o u v e r m e l h o ) c o m o m a g n é s i o e m u m a s o l u ç ã o a l c a l i n a , e
A i n t o x i c a ç ã o p e l o m a g n é s i o é i n c o m u m , e m b o r a a sua c o n c e n t r a - q u a l é m e d i d a e m t o r n o d e 6 0 0 n m . A g e n t e s q u e l a n t e s específi
ção possa estar discreta o u m o d e r a d a m e n t e elevada e m mais de cos d o cáício c o m o o E G T A são a d i c i o n a d o s p a r a r e d u z i r £
1 2 % dos pacientes hospitalizados. A h i p e r m a g n e s e m i a s i n t o m á t i c a interferência c o m o cálcio.
é g e r a l m e n t e causada pela ingesta excessiva, r e s u l t a n t e d a a d m i n i s -
tração d e a n t i á c i d o s , enemas e f l u i d o s parenterais c o n t e n d o mag- Medição do Magnésio Livre (Ionizado)
n é s i o ( Q u a d r o 38-8). A m a i o r i a dos pacientes s i n t o m á t i c o s apre- O m a g n é s i o l i v r e é d e t e r m i n a d o n o sangue t o t a l , p l a s m a o u sorc
senta i n s u f i c i ê n c i a r e n a l c o n c o m i t a n t e m e n t e , a q u a l l i m i t a a capa- por instrumentos disponíveis comercialmente que utilizam E
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 739

técnica de ISEs com carreadores neutros ionóforos. Os íonóforos Intervalos de Referência para o Magnésio
e eletrodos de uso corrente possuem seletividade insuficiente para Total
o magnésio e o cálcio. O cálcio livre é simultaneamente determi- Para os adultos, o intervalo de referência para o magnésio sérico
nado e utilizado com o sinal proveniente do eletrodo do magné- é de aproximadamente 1,7 a 2,4 m g / d L (0,66 a 1,07 m m o l / L ) .
sio, calculando, assim, as concentrações do magnésio livre. As hemácias apresentam níveis de magnésio três vezes maiores
que o soro. Deve-se ter cautela quando se interpretam as concen^
trações do magnésio porque os resultados em m g / d L e em m E / L
Requisitos para a Coleta das Amostras não são prontamente distinguiveis, a menos que as unidades
O soro e o plasma heparinizado são as amostras preferíveis para estejam anexadas ao valor. Os fatores de conversão para as uni-
a determinação do nível do magnésio. O uso de heparina-zinco, dades que são utilizadas para expressar as concentrações do mag-
heparina-lítio-zinco, e novos tipos de heparina desenvolvidos para nésio estão mostradas a seguir:
a determinação do cálcio livre deve ser evitado porque aumenta
o magnésio. Outros anticoagulantes, como citrato, oxalato e (1) m g / d L = m E q / L x 1,22
E D T A , não são adequados porque formam complexos com o íon (2) m E q / L = m g / d L x 0,82
magnésio. O armazenamento do soro por dias a 4°C e o conge- (3) m m o l / L = m E q / L x 0,5
lamento por meses não afetam a determinação da concentração
do magnésio total, contanto que a evaporação da amostra seja
HORMÔNIOS REGULADORES DO
prevenida.
O soro e o plasma devem ser separados do coágulo e das METABOLISMO MINERAL
hemácias logo que possível com o i n t u i t o de prevenir o aumento O P T H e a 1,25-diidroxivicamina D são os hormônios primários
do magnésio sérico, por causa da liberação das células. C o m o as que regulam o metabolismo mineral e ósseo Z,3'6'SJ0. A calcitonina
hemácias contêm concentrações maiores de magnésio que o soro tem ações farmacológicas, porém o papel fisiológico não f o i ainda
ou plasma, amostras hemolisadas são inaceitáveis. A interferência estabelecido em adultos. O PTH-rP é o principal mediador do
pela presença de icterícia ou lipemia depende do método e pode HHM.
ser reduzida pelo uso da análise hicromática ou clareamento com
E D T A . Amostras lipêmicas devem ser ultracentrifugadas. Hormônio da Paratireóide
Amostras de urina devem ser coletadas em meio ácido (p ex., O p a r a t o r m ô n i o ( P T H ) é sintetizado e secretado pelas quatro
20 a 30 m L de HCl-6 m o l / L em uma amostra de 24 horas) com glândulas paratireóides, que estão localizadas bilateralmente
o i n t u i t o de prevenir a formação de complexos de magnésio. (duas à esquerda e duas à direita), próximas à cápsula da glândula

Pró ) SoqOéncio L'<k>f


X " 10 -20 —31*

Prc- WH,
seqüência (2) {

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<:"K_ 10 ao

s m n i m Bwo^awinflnte Aitva
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^ 50 40 ^ 4 $ *
(4)

000
9
Q , . 70 80 O

I OH

Figura 38-2 S e q ü ê n c i a de a m i n o á c i d o s d o pré-pró-paratormônio. A s setas i n d i c a m os sítios de clivagem


pelas proteases que removem (1) as metioninas N-tetminal, (2) a (pré-) seqüência líder e a (3) pró-seqüência,
p r o d u z i n d o o P T H intacto (1-84). A clivagem na posição (4) produz o fragmento carboxii (C)-teTminal inativo.
( D e H a b e n e r JF, Rosenblatt M, Potts JT Jr. Parathyroid h o r m o n e . B i o c h e m i c a l aspects o f biosynthesis, secretion,
action and metabolism. Physiol Rev 1 9 8 4 ; 6 4 , 9 8 5 - 1 0 5 3 . )
740 PARTE V Fisiopatologia

tireóide (veja Figura 25-1, Capitulo 25). As glândulas são com- t i n o pela ação da l,25(OH)2D. A atividade biológica reside n o
postas de células principais e oxifílicas; as células principais sin- primeiro terço ou região N-terminal do PTH. O P T H sintético
tetizam, armazenam e secretam o PTH. (1-14) é pplo m e n o s tão potente quanto o P T H (1-84) em estimu
lar a calcemia, a fosfatúria e outTas respostas no r i m e no osso.
Bioquímica e Fisiologia O P T H exerce a sua ação pela interação com os receptores do
A concentração do P T H no plasma é determinada pela sua P T H / PTH-rP, localizados na membrana plasmática das células-
síntese e secreção pelas paratireóides, e o seu metabolismo e o alvo, aumentando o A M P cíclico (cAMP) e iniciando a cascata
cUarence são determinados pelo fígado e pelos rins. O P T H age de eventos intracelulares.
diretamente no osso e no rim. Nos rins, o P T H (1) aumenta a reabsorção de cálcio no túbulo
contornado distai do néffon, (2) reduz a reabsorção do fosfato
Síntese e Secreção pelo túbulo proximal e (3) inibe a atividade antiportcr de Na + - H",
O P T H é sinretizado como u m precursor: o pré-pró-PTH (Figura a qual favorece o aparecimento de uma acidose metabólica hiper-
38-2). As seqüências pré e pró são clivadas ou quebradas enzima- clorêmica leve no hiperparatireoidismo, e (4) estimula a síntese
ticamente dentro da célula. O P T H intacto (84 aminoácidos, da 25-hidroxivitamina D-la-hidroxilase, aumentando a produ-
peso molecular de 9.425 Da) é secretado, armazenado, ou degra- ção da l , 2 5 ( O H ) 2 D , a qual estimula a absorção intestinal tanto
dado dentro da célula do cálcio como do fosfato.
A concentração do cálcio livre no sangue ou f l u i d o extrace- Os efeitos do P T H no osso são complexos, como é evidente
lular é o regulador fisiológico primário da síntese e secreção do pela estimulação da reabsorção óssea ou da formação óssea,
PTH. O cálcio livre é detectado pelo Teceptor sensível ao cálcio dependendo da concentração do h o r m ô n i o e da duração da
localizado na membrana plasmática das células das paratireóides. exposição. A reabsorção óssea, u m efeito imediato, é importante
Este receptor inicia os eventos intracelulares que levam à inibição para a manutenção da homeostasia do cálcio, enquanto que
da síntese e secreção do P T H , além de acelerar o seu metabo- efeitos tardios são importantes para demandas sistêmicas extre-
lismo. A redução do cálcio plasmático tem u m efeito oposto. mas e para a homeostasia do esqueleto.
Existe uma relação sigmoidal inversa entre a secreção do P T H e O P T H aumenta o cálcio plasmático total e livre, Teduz o
a concentração do cálcio livre (Figura 38-2). fosfato plasmático, e aumenta a excreção do fosfato inorgânico.
O magnésio e a l , 2 5 ( O H ) 2 D também influenciam a síntese O cálcio urinário está geralmente aumentado, porque a grande
e a secreção do P T H . O ú l t i m o ( l , 2 5 [ O H ] 2 D ) interage com o quantidade de cálcio filtrada (derivada da reabsorção óssea e da
receptor da vitamina D nas glândulas paratireóides, suprimindo absorção intestinal do cálcio) anula o aumento da reabsorção
cronicamente a síntese do P T H . A hipomagnesemia crônica tubular do cálcio.
severa, como a que ocorre n o alcoolismo, está associada à redução
na secreção do PTH, enquanto a hipomagnesemia aguda pode Metabolismo e Heterogeneidade Circulante do PTH
estimular a sua secreção. O P T I í circula na forma de h o r m ô n i o intacto e como fragmento
inativo carboxil C-terminal. Sua heterogeneidade é uma conseqü-
Ações Biológicas ência (I) da secreção tanto do h o r m ô n i o intacto como inativo pelas
O P T H influencia diretamente tanto a homeostasia do cálcio paratireóides, (2) do metabolismo periférico do hormônio intacto
como do fosfato, por intermédio das suas ações diretas tanto no pelo fígado e rins e (3) do clearence renal do hormônio inracto e
osso como nos rins. Influência, também indiretamente no intes- dos fragmentos inativos. Nas paratireóides, a secreção do P T H
intacto é aumentada pela hipocalcemia e m u i t o reduzida ou
ausente na hipercalcemia, enquanto que a secreção do fragmento
inativo persiste na hipercalcemia.
O P T H inracto, biologicamente ativo, tem uma meia-vida n o
plasma de < 5 minutos É metabolizado para o fragmento inativo
no fígado e nos rins. Os fragmentos C-terminal são eliminados
100 -
pela filtração renal e normalmente têm uma meia-vida de < 1
hora. A sua meia-vida e a sua concentração circulante estão
80 " aumentadas em pacientes com insuficiência renal. Geralmente,
0
"D 5 % a 25% do P T H total imunorreativo está sob a forma de
60 h o r m ô n i o intacto, e 75% a 9 5 % como fragmentos C-terminal.
1 * As concentrações relativas do h o r m ô n i o intacto e dos fragmentos
.
variam com a fisiologia e a patologia. Recentemente, foTam apre-
? 40 - sentadas evidências das formas circulantes do P T H que perderam
0
E os primeiros aminoácidos da região N-terminal.
«
1 20 -

Significância Clínica
0 1 1 1 1 1 1 1 A determinação do P T H é ú t i l (1) no diagnóstico diferencial
1,0 1,25 1,5
tanto da hipercalcemia como da hipocalcemia, (2) para avaliação
Cácio ionizado {mmol/L)
da função das paratireóides na insuficiência renal e (3) para
avaliação da função das paratireóides em distúrbios minerais
Figura 38-3 Regulação da secreção do PTH intacto pelo cálcio e m ósseos. O nível do cálcio livre e total é, geralmente, medido na
indivíduos normais. Foram infundidos cálcio e E D T A para demonstrar mesma amostra que o PTH, porque a concentração do P T H deve
a relação sigmoidal entre a secreção de PTH e o cálcio livre. (De Brown ser interpretada c o m cautela de acordo com o resultado do
EM. Extracellular Ca 1 * sensing, regulation of parathyroid cell function, cálcio.
and role of C a ! ' and other ioris as extracellular (first) messengets. O P T H é o teste mais importante para o diagnóstico diferen-
Physiol Rev 1991;71:371-411.) cial da hipercalcemia. O P T H está elevado na maioria dos pacien-
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 741

3.000 -í baixos de P T H , e n q u a n t o que o P T H encontra-se elevado n o


pseudo-hipopararireoidisnio.
2.000 - E m pacientes c o m doença renal em estágio terminal, a medição
do P T H é ú t i l na (1) avaliação da função paratireoideana, (2) esti-
mativa do tumoveT ósseo e (3) melhora do manejo clínico (veja
1.000 ' /
8 Doenças Osteometabólicas). Pacientes c o m doenças de alto turnover
(osteíte fibrosa avançada) apresentam as concentrações mais eleva-
900 -
das de P T H , enquanto pacientes com baixo turnover (doença óssea
adinâmica), como a osteomalácia, apresentam as concentrações
•j- 800 - mais baixas de P T H . A proposta terapêutica nestes casos é manter
E o P T H intacto (primeira geração) 2 a 4 vezes acima do l i m i t e supe-
ÒI
CL
— 700 - r i o r do intervalo de referência que tem sido proposto c o m o i n t u i t o
<
2 de prevenir doenças ósseas.
a:
600 - 1
Medição do PTH
O s i m u n o e n s a i o s de dois sítios o u sanòwich são utilizados para
~ 500 -
m e d i r o P T H intacto. Estes métodos r e q u e r e m dois a n t i c o i p o s
I—
CL que são capazes de se ligar s i m u l t a n e a m e n t e ao P T H ; (1) u m a
400 H fase sólida de captura do a n t i c o r p o , geralmente direcionada
c o n t r a a região C - t e r m i n a l (p. ex., sequências de a m i n o á c i d o s
38-84) e (2) u m a n t i c o r p o marcado o u sinal, geralmente direcio-

I
300 -
m n a d o c o n t r a a região N - t e r m i n a l (p. ex., seqüências de aminoáci-
*
dos 1-34). A m b o s os a n t i c o r p o s são adicionados em excesso,
200 -
assegurando que t o d o o P T H é m e d i d o . O excesso de a n t i c o r p o
m a r c a d o é r e m o v i d o p o r lavagem, antes de q u a n t i f i c a r o anti-
100 - c o r p o marcado ligado ao P T H que é captado pelo a n t i c o r p o de
captura i m o b i l i z a d o .
C o m o(s) fragmento(s) N - t e r m i n a l truncado(s) ocorre reação
Osteíte Osteite cruzada nos m é t o d o s de p r i m e i r a geração para detectar o P T H
Fibrosa Fibrosa ~ . ... .
Normais inicial Avançada 0steoma acia
l Aplásica " i n t a c t o " , p o r é m isto não ocorre nos métodos mais novos. O grau
n = 1
n = 253 n = 25 n - 34 ° ri = 54 de superestimação do valor d o P T H i n t a c t o é d e p e n d e n t e dos
m é t o d o s d e n o m i n a d o s "ensaios de p r i m e i r a geração para o P T H
Figura 3 8 - 4 O PTH intacto e m indivíduos normais e e m pacientes i n t a c t o " . A superestimação da dosagem do P T H i n t a c t o , q u e
c o m hiperpararireoidismo primário, hipercalcemia associada à p o d e ocorrer em 5 0 % dos pacientes c o m i n s u f i c i ê n c i a r e n a l
malignidade, e com hipoparatireoidismo, (De Endres DB, Villanueva R, c r ô n i c a o u c o m h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o e em 2 0 % dos
Sharp CF Jr, Singer FR Measurement of parathyroid h o r m o n e i n d i v í d u o s n o r m a i s , não é h a b i t u a l . M é t o d o s específicos para a
Endocrinol Metab Clin N o r t h A m 1989,18.611-29.) dosagem do P T H intacto devem ser mais úteis para m o n i t o r a r o
t r a t a m e n t o de pacientes e m diálise. R o t i n e i r a m e n t e , a d i s p o n i b i -
lidade destes novos métodos é l i m i t a d a .
M é t o d o s de r a d i o i m u n o e n s a i o ( R I A ) e o u t r o s i m u n o e n s a i o s
tes c o m h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o e abaixo do n o r m a l ou competitivos não devem ser utilizados p o r q u e eles m e d e m p r i m a -
abaixo da metade do valor de referência na m a i o r i a dos pacientes r i a m e n t e os fragmentos inativos, o u não são sensíveis o bastante
c o m hipercalcemia não relacionada c o m a paratireóide, i n c l u i n d o para m e d i r adequadamente o P T H intacto.
a hipercalcemia associada à m a l i g n i d a d e ( H A M ) , a causa mais
c o m u m de hipercalcemia não relacionada c o m a paratireóide
Requisitos para a Coleta das Amostras
(Figura 38-4). O h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o é mais freqüen-
A m o s t r a s de soro o u plasma c o m E D T A são preferíveis. A p ó s a
temente causado pela secreção excessiva do P T H p o r u m adenoma
separação, o soro o u plasma deve ser congelado, se ocorrer atraso
solitário, e menos f r e q ü e n t e m e n t e p o r hiperplasia m ú l t i p l a das
na análise. Baixas concentrações do P T H são observadas n o soro
paratireóides e r a r a m e n t e p o r c a r c i n o m a p a r a t i r e o i d i a n o (< 1%).
q u e f o i i n c u b a d o à t e m p e r a t u r a a m b i e n t e p o r algumas horas o u
O h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o é t r a t a d o pela remoção cirúr-
p o r u m dia o u mais, a 4 Ü C. T e m sido descrito q u e o P T H é mais
gica do adenoma. A determinação intra-operatória do P T H é ú t i l
estável n o plasma c o m E D T A .
na avaliação da retirada c o m p l e t a do t u m o r . O d e c l í n i o de 5 0 %
o u mais dos níveis do pré-operatório é geralmente considerado
i n d i c a t i v o de sucesso da remoção cirúrgica d o tecido h i p e r f u n - Intervalos de Referência
c i o n a n t e . A H A M está associada u s u a l m e n t e a pacientes c o m O s intervalos de referência para a dosagem do P T H i n t a c t o
metástases ósseas e / o u a p r o d u ç ã o d o PTH-rP. C o m o P T H - r P v a r i a m c o m os métodos utilizados. Os intervalos de referência
não ocorre reação cruzada c o m os i m u n o e n s a i o s q u e avaliam o típicos são 10 a 65 p g / m L (1,1 a ó,8 p m o l / L ) para os ensaios de
P T H intacto. p r i m e i r a geração e de 6 a 4 0 p g / m L (0,6 a 4,2 p m o l / L ) para os
O P T H t a m b é m é ú t i l n o diagnóstico d i f e r e n c i a l da hipocal- ensaios de segunda geração. Os valores m á x i m o s do l i m i t e de
cemia. N o h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o secundário, está elevado antes referência descritos p o d e m ser i n a p r o p r i a d a m e n t e elevados, p o r
que os níveis do cálcio t o t a l o u livre f i q u e m a n o r m a l m e n t e causa da alta prevalência de insuficiência de v i t a m i n a D na
baixos. A i n s u f i c i ê n c i a r e n a l c r ô n i c a é a causa mais c o m u m de população, o c a s i o n a n d o o h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o secundário
hipocalcemia. A deficiência de magnésio p o d e reduzir a secreção m o d e r a d o . Os níveis d o P T H i n t a c t o são baixos o u n o r m a i s na
d o P T H , r e s u l t a n d o e m níveis de P T H i n a p r o p r i a d a m e n t e baixos gestação, p o r é m são elevados nos p r i m e i r o s dias de vida. Os
o u normais. Pacientes c o m h i p o p a r a t i r e o i d i s m o apresentam níveis níveis do P T H a u m e n t a m c o m a idade, u m a possível consequên-
742 PARTE V Fisi o patologia

Õ- 2 Ç-tucboxíúiK
Ifigado)

ITT adiarão
Vitamina D ;
(Ergàualciferal)

Erg as rerol
(Pró-vítaiuina Dj)

25-hidrcoxi- 25-hidroxi-
vitamina D: vitamina D ;
Figura 38-5 Estrutura da vitamina D 3 (colecalciferol) e da vitamina
D2 (ergocalciierol) e seus precursores. O 7-colecalciferol é produzido na
pele a partir do 7-desidrocolesterol pela exposição à luz solar. O
ergocalciferol é produzido comercialmente pela irradiação do ergosterol.
(Modificado de Holick MF, Adams JS. V i t a m i n D metabolism and
biological functior». In; Avioli LV, Krane SM, eds. Metabolic b o n e 25 /lííJroJtíuitamína
disease, 2 n d ed. Philadelphia: "WB Saunders, 1990:155-95.) D-l-a-hidroxüase (rim'

cia d o h i p e r p a r a t i i e o i d i s m o secundário m o d e r a d o , devido à insu-


ficiência de v i t a m i n a D .

Vitamina D e Seus Metabólitos l-otj25-diidrox ivita- 1 -a, 2 5-d li d rnxivi ta


A v i t a m i n a D é p r o d u z i d a p o r via endógena pela exposição da mina D2
mina D j
pele aos raios solares e pela absorção dos alimentos. A v i t a m i n a
D é metabolizada p r i m e i r a m e n t e à sua p r i n c i p a l f o r m a circu-
lante, a 2 5 - h i d r o x i v i t a m i n a D [ 2 5 ( O H ) D ] e, então, à sua f o r m a
biologicamente ativa, a 1 , 2 5 - d i i d r o x i v i t a m m a D [1,25 ( O H ) 2 D ] ,
sendo u m h o r m ô n i o que regula o m e t a b o l i s m o do cálcio e d o
fósforo. O nível de 2 5 ( O H ) D reflete o estado n u t r i c i o n a l da Figura 38-6 Metabolismo da vitamina D . As vitaminas D ; e D^são
v i t a m i n a D --0-8,0. A deficiência da v i t a m i n a D Tesulta em redução enzimaticamenre hidtoxiladas a 25-hidroxivitamina D n o fígado e
da formação do osso, causando r a q u i t i s m o nas crianças e osteo- l,25-diidroxLvii:amina D nos rins. A 1,25-diidroxivitamina D i e a 1,25
malácia nos adultos. diidroxivitamina D 3 são as formas ativa da vitamina D .

Bioquímica e Fisiologia
A v i t a m i n a D e seus metabólitos p o d e m ser categorizados c o m o
colecalciferol o u ergocalciferol (Figura 38-5). O colecalciferol 24- Q u a n d o a v i t a m i n a D o u os seus metabólitos são escritos sem
( v i t a m i n a D-J é o composto matriz n a t u r a l m e n t e presente, sendo u m a identificação, ambas as famílias são incluídas.
p r o d u z i d o na pele a p a r t i r do 7-desidrocolesterol pela exposição A v i t a m i n a D p o d e ser f o r m a d a pela exposição da pele aos
à porção B dos raios solares ultravioletas. A latitude, a estação raios solares o u pela ingestão de alimentos que c o n t e n h a m a
d o ano, a faixa etária, o uso de p r o t e t o r solar, e a pigmentaçao v i t a m i n a D o u os seus metabólitos. A p e n a s alguns alimentos,
cutânea i n f l u e n c i a m a p r o d u ç ã o da v i t a m i n a D 3 pela pele. A p r i n c i p a l m e n t e (1) óleo de fígado de peixe, (2) peixes gordurosos,
v i t a m i n a D 2 (ergocalciferol), o c o m p o s t o parente da o u t r a família, (3) gema de ovo e (4) fígado, n a t u r a l m e n t e c o n t ê m quantidades
é p r o d u z i d o pela irradiação do ergosterol p r o d u z i d o p o r levedu- significativas de v i t a m i n a D . C o n s e q ü e n t e m e n t e , antes da suple-
ras. A v i t a m i n a D? se diferencia da v i t a m i n a D ] pela d u p l a ligação mentação dos alimentos c o m a v i t a m i n a D 2 o u D 3 a m a i o r parte
entre o c a r b o n o 22 e o c a r b o n o 23 e o g r u p o m e t i l n o c a r b o n o da v i t a m i n a D c o r p o r a l era p r o d u z i d a pela síntese na pele. N a
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 743

QUADRO 38-9 Concentrações Circulantes Anormais de


TABELA 3 8 - 3 V i t a m i n a D e Seus Metabólitos n o Plasma
25(OH)D
Composto Concentração Livre (%) Meia-vida

Vitamina D < 0,2-20 ng/mL (jig/L) — 1-2 dias Redução da 25(0H)D


< 0,5-52 nmol/L Exposição inadequada à luz solar
25(0H) D 10-65 ng/mL (pg/L) 0,03 2-3 semans Ingesta inadequada de vitamina D
25-162 nmol/L Má absorção de vitamina D
1.25(0H)2D 15-60 pg/mL (ng/L) 0,4 4-6 horas Doença hepatocelular severa
36-144 pmoi/L Elevação do catabolismo (p. ex,, dragas como anticonvulsivantes)
Aumento da perda renal (síndrome nefróiica)
2 5 ( O H ) D , 2 5-<li i d r o x i u i ta m í D a D ; l , 2 5 ( O H ) ? D , 1,25-diidroxivitaimna D .
Aumento da 25{0H)D (hipercalcemia)
Intoxicação pela vitamina D ou 25(0H]D

QUADRO 38-10 Concentrações Circulantes Anormais de


A m é r i c a do N o r t e , u m a fração considerável da v i t a m i n a D é
i 1,25{OH) e D
a d q u i r i d a pela ingestão de a l i m e n t o s fortificados (alguns cereais,
pães e derivados, e leite) o u suplementos v i t a m í n i c o s . A dose
Redução da 1,25(0H)aD
diária recomendada é 4 0 0 U I (10 pg), embora as necessidades Insuficiência renal
sejam maiores n o idoso (800 a 1.000 U I ) Hiperfostatemia
Hipomagnesemia
Metabolismo, Regulação e Transporte Hipoparatireoidismo
A v i t a m i n a D 2 e v i t a m i n a D 3 são metabolizadas n o fígado a Pseudo-hipoparatireoidismo
2 5 ( O H ) D ? e 2 5 ( O H ) D 3 , respectivamente, pela v i t a m i n a D-25- Raquitismo dependente da vitamina D tipo I
hidroxilase. Esses m e t a b ó l i t o s são, então, metabolizados nos r i n s Hipercalcemia associada á malignidade
a l , 2 5 ( O H ) 2 D z e l , 2 5 ( O H ) 2 D 3 , respectivamente (e t a m b é m na Aumento da1,25(0H)sD
placenta das gestantes) pela 2 5 ( O H ) D - 1 - h i d r o x i l a s e (Figura 38-6). Doenças granulomatosas
A f o r m a b i o l o g i c a m e n t e ativa da v i t a m i n a D é a l , 2 5 ( O H ) I D , Hiperparatireoidismo primário
e n t r e t a n t o a 2 5 ( O H ) D é a p r i n c i p a l f o r m a circulante (Tabela Linfoma
38-3). A s concentrações circulantes da l , 2 5 ( O H ) 2 D são aproxima- Intoxicação pela 1,25(QH)SD
Raquitismo dependente da vitamina D iipo II
d a m e n t e 15 a 6 0 p g / m L (36 a 144 p m o l / L ) , quase 1 / 1 . 0 0 0 da
2 5 ( O H ) D , c o m concentrações de 10 a 5 0 n g / m L (25 a 125 n m o l / L ) .
A m e i a M d a plasmática da 1 , 2 5 ( O H ^ D é de 4 a 6 horas, e da
2 5 ( O H ) D , de 2 a 3 semanas.
Concentrações circulantes da l , 2 5 ( O H ) 2 D são reguladas p r i n - atividade ostcoclástica. Pelo e s t í m u l o dos osteoblastos, t a m b é m
c i p a l m e n t e pelo (1) P T H , (2) fosfato, (3) cálcio, e (4) 1 , 2 5 ( O H ) 2 D . p r o m o v e o a u m e n t o na concentração circulante da fcsfatase alca-
O P T H e a h i p o f o s f a t e m i a a u m e n t a m a síntese da l , 2 5 ( O H ) 2 D l i n a óssea (ALP) e da proteína não-colágena osteocalcina ( t a m b é m
pelo a u m e n t o da 2 5 ( O H ) D - l a - h i d r o x i l a s e , e n q u a n t o que a h i p o - chamada de proteína G l a óssea o u BGP, p o r q u e ela c o n t é m o
calcemia age i n d i r e t a m e n t e p e l o estímulo da secreção do P T H . ácido y-carboxiglutâmico o u Gla). N o s rins, a l , 2 5 ( O H ) 2 D i n i b e
A hipercalcemia, h i p e r f o s f a t e m i a e a l , 2 5 ( O H ) 2 D reduzem a ação a sua p r ó p r i a síntese e estimula o seu m e t a b o l i s m o . Age, t a m b é m
da 2 5 ( O H ) D - l a - h i d r o x i l a s e e da l , 2 5 ( O H ) 2 D . A ú l t i m a t a m b é m d i r e t a m e n t e nas paratireóides i n i b i n d o a síntese e a secreção do
i n d u z a 2 5 ( O H ) D - 2 4 - h i d r o x i l a s e , u m a enzima que p r o d u z a P T H e exerce a sua ação pela associação ao receptor específico
24,25-diidroxivitamina D (24,25[OH]2D), a vitamina D díidroxi- nuclear da v i t a m i n a D , análogo aos receptores dos esteróídes para
lada mais prevalente n o soro. A atividade desta enzima p o d e os andrógenos, estrógenos e glicocorticóides.
reduzir a f o r m a ç ã o da 1,25 ( O H ) 7 . D b i o l o g i c a m e n t e ativa.
A v i t a m i n a D , 2 5 ( O H ) D e a l , 2 5 ( O H ) 3 D estão ligadas na Significância Clínica
circulação a proteínas de ligação da v i t a m i n a D (DBP), uma O estado n u t r i c i o n a l é mais b e m avaliado pela medição da 2 5 ( O H ) D
proteína de transporte de alta afinidade, especifica, t a m b é m ( Q u a d r o 38-9), em lugar da v i t a m i n a D , p o r q u e (1) a 2 5 ( O H ) D é
c o n h e c i d a c o m o componente grupo-específico. Esta proteína é sinte- a p r i n c i p a l f o r m a circulante da v i t a m i n a D , (2) a 2 5 ( O H ) D varia
tizada pelo fígado e circula e m excesso (cerca de 4 0 0 m g / L ) , c o m menos diariamente c o m a exposição solar e c o m a dieta por causa
menos de 5 % dos sítios de ligação n o r m a l m e n t e ocupados. A da sua meia-vida mais longa e (3) a m e d i d a da 2 5 ( O H ) D é rela-
v i t a m i n a D e seus m e t a b ó l i t o s estão ligados na seguinte o r d e m t i v a m e n t e fácil, comparada a o u t r o s m é t o d o s tecnicamente mais
de preferência: 2 5 ( O H ) D > l , 2 5 ( O H ) 2 D » v i t a m i n a D . A p e n a s complicados para a avaliação da v i t a m i n a D . G r u p o s de alto risco
0 , 0 3 % da 2 5 ( O H ) D e 0 , 4 % de l , 2 5 ( O H ) 2 D estão n o r m a l m e n t e para desenvolver deficiência n u t r i c i o n a l da v i t a m i n a D i n c l u e m
livres n o plasma (Tabela 38-3). A s concentrações da D PB estão os lactentes a m a m e n t a d o s n o p e i t o , vegetarianos estritos que não
elevadas na gestação e reduzidas na s í n d r o m e n e f r ó t i c a . i n g e r e m ovos e leite, negros e idosos.
C o n h e c e r a concentração da 2 5 ( O H ) D é ú t i l na avaliação
Ações Biológicas da 1,25-Diidroxivitamina D (1) da hipocalcemia, (2) d o status da v i t a m i n a D , (3) da doença
A s concentrações de cálcio e fosfato n o soro são m a n t i d a s pela óssea, e (4) de outros distúrbios do m e t a b o l i s m o m i n e r a l . As
ação da l , 2 5 ( O H ) 2 D n o i n t e s t i n o , osso, r i m e nas paratireóides. concentrações circulantes da 2 5 ( O H ) D p o d e m estar reduzidas
N o i n t e s t i n o delgado, a l , 2 5 ( O H ) z D estimula a absorção d o pela (1) redução da d i s p o n i b i l i d a d e da v i t a m i n a D , (2) conversão
cálcio, p r i n c i p a l m e n t e no d u o d e n o , e o fosfato é absorvido n o inadequada da v i t a m i n a D a 2 5 ( O H ) D , (3) aceleração da meta-
j e j u n o e íleo. E m concentrações elevadas, ela a u m e n t a a reabsor- bolização da 2 5 ( O H ) D e (4) perda u r i n á r i a da 2 5 ( O H ) D c o m o
ção óssea, i n d u z i n d o a diferenciação das células-tronco m o n o c í - transporte de proteínas. A redução da d i s p o n i b i l i d a d e da vita-
ticas da m e d i d a óssea em osteoclastos e e s t i m u l a n d o os osteoblas- m i n a D ocorre c o m a exposição i n a d e q u a d a à luz solar, deficiên-
tos a p r o d u z i r e m citocinas e o u t r o s fatores que i n f l u e n c i a m a cia dietética, síndromes de m á absorção, o u ressecção gástrica o u
744 PARTE V IFisiopatologia

do i n t e s t i n o delgado. D o e n ç a hepática crônica severa t e m sido cia em U V após separação p o r cromatografia l í q u i d a de alta
associada à conversão inadequada da v i t a m i n a D a 2 5 ( O H ) D . eficiência ( H P L C ) e (4) cromatografia l í q u i d a associada à espec-
M e d i c a m e n t o s c o m o a fenitoína, f e n o h a r b i t a l e a Tifampicina t r o m e t r i a de massas tandem ( L C - M S / M S . O m é t o d o C P B A
i n d u z e m a ativação de enzimas que aceleram o m e t a b o l i s m o da baseado nos níveis da D B P mede t a n t o a 2 5 ( O H ) D c o m o a
v i t a m i n a D e seus m e t a b ó l i t o s . l , 2 5 ( O H ) 2 D . Os C P B A s , que não separam cromatograficamente
A concentração sérica da 2 5 ( O H ) D p o d e estar reduzida e m a 2 5 ( O H ) D dos o u t r o s m e t a b ó l i t o s , superestiman os seus níveis
pacientes c o m s í n d r o m e nefrótica p o r causa da perda u r i n á r i a da em cerca de 10% e m i n d i v í d u o s n o r m a i s . E m imunoensaios, as
D B P e da 2 5 ( O H ) D . A medição de 2 5 ( O H ) D t e m p o u c o valor na amostras e os calibradores são desproteinizados c o m acetonitTila
avaliação da hipercalcemia, sendo mais empregada para a confir- e analisados após cromatografia o u d i r e t a m e n t e sem cromatogra-
mação da intoxicaçao pela ingestão de grandes quantidades de fia. E m b o r a o anti-soro t a m b é m reconheça a 2 4 , 2 5 ( O H ) 3 D ,
v i t a m i n a D o u 2 5 ( O H ) D ; nestes pacientes, os níveis de 2 5 ( O H ) D 2 5 , 2 6 ( O H ) 2 D e 25(OH)D-26-23-Iactona, os resultados são com-
estão tipicamente acima de 100 n g / m L (250 n m o l / L ) . paráveis aos obtidos c o m H P L C p o r causa da concentração m u i t o
A medição da l , 2 5 ( O H ) i D é ú t i l na detecção da produção baixa destes metabólitos. Os métodos H P L C e L C - M S / M S são
inadequada o u excessiva deste h o r m ô n i o na avaliação da (1) hiper- utilizados mais c o m u m e n t e , e m parte p o r causa da evidência de
calcemia, (2) hipercalciúria, (3) hipocalcemia e (4) distúrbios que alguns imunoensaios s u b e s t i m a m a f o r m a 2 5 ( O H ) D da vita-
ósseos e minerais ( Q u a d r o 38-10). C o m o os macrófagos ativados m i n a D 2 - Os métodos H P L C e L C - M S / M S m e d e m a 2 5 ( O H ) D 2
convertem a 2 5 ( O H ) D a l , 2 5 ( O H ) 2 D , as concentrações séricas da e a 2 5 ( O H ) D 3 separadamente. A soma das duas concentrações é
l , 2 5 ( O H ) 2 D estão geralmente elevadas na sarcoidose, tuberculose utilizada para d e t e r m i n a r se u m paciente t e m deficiência de
e outras doenças granulomatosas. O l i n f o m a t a m b é m pode estar v i t a m i n a D (ou, t a m b é m , se este paciente tem excesso de vita-
associado a concentrações elevadas da l , 2 5 ( O H ) 2 D . As concentra- m i n a D ) . N ã o é a p r o p r i a d o tratar u m a concentração elevada o u
ções de l , 2 5 ( O H ) z D t a m b é m estão elevadas n o r a q u i t i s m o depen- reduzida da 2 5 ( O H ) D 2 e da 2 5 ( O H ) D 3 q u a n d o a soma das duas
dente da v i t a m i n a D t i p o I I e na intoxicação pela v i t a m i n a D , e concentrações é n o r m a l .
p o d e m estar elevadas n o h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o . Estes A l , 2 5 ( O H ) 2 D circula e m u m a concentração aproximada-
pacientes, que apresentam níveis elevados da l , 2 5 ( O H ) 2 D , m e n t e 1 / 1 . 0 0 0 da 2 5 ( O H ) D e em concentrações significativa-
parecem estar mais propensos a desenvolver hipercalciúria e cál- m e n t e mais baixas que os outros metabólitos diidroxilados, com-
culos renais. Concentrações séricas reduzidas de l , 2 5 ( O H ) 2 D são p l i c a n d o m u i t o a sua determinação n o soro. O m é t o d o mais
observadas em pacientes c o m (1) insuficiência renal, (2) hipercal- utilizado requer a desproteinização c o m acetonitrila, oxidação
cemia associada a malignidade, (3) hiperfosfatemia, (4) hipoparati- c o m metaperiodato de sódio c o m o i n t u i t o de e l i m i n a r a interfe-
reoidismo, (5) pseudo-hipoparatireoídismo, (6) r a q u i t i s m o depen- rência dos metabólitos d i i d r o x i l a d o s mais abundantes, purificação
dente da v i t a m i n a D t i p o I, (7) hipomagnesemia, (8) síndrome utilizando uma ú n i c a coluna de C , r O H , seguida da quantificação
nefrótica e (9) doença hepática crônica severa. A medição da por R I A u t i l i z a n d o u m análogo r a d i o i o d i n a d o da l , 2 5 ( O H ) 2 D .
l , 2 5 ( O H ) 2 D , porém, não é ú t i l na confirmação da intoxicação tanto
pela v i t a m i n a D c o m o pela 2 5 ( O H ) D , porque os níveis de Requisitos para a Coleta da Amostra
l , 2 5 ( O H ) 2 D p o d e m estar baixos, normais o u elevados. O soro é t i p i c a m e n t e u t i l i z a d o na m e d i ç ã o dos metabólitos da
v i t a m i n a D . U m a vez separados do coágulo, os m e t a b ó l i t o s são
Medição dos Metabólitos da Vitamina D relativamente estáveis à t e m p e r a t u r a a m b i e n t e e a 4 ° C ; c o n t u d o ,
Ensaios específicos e sensíveis t ê m sido desenvolvidos para a estas amostras devem ser congeladas se a análise for postergada.
medição da 2 5 ( O H ) D e da l , 2 5 ( O H ) 2 D . Estes ensaios devem Estes m e t a b ó l i t o s não parecem ser sensíveis à luz e não r e q u e r e m
m e d i r i g u a l m e n t e os m e t a b ó l i t o s D 2 e D 3 ( c o m reatividade equi- manuseio especial n o l a b o r a t ó r i o .
molar), já que ambos são metabolizados para p r o d u z i r a f o r m a
b i o l o g i c a m e n t e ativa, q u e é a l , 2 5 ( O H ) 2 D . A m e d i d a separada intervalos de Referência
das formas D 2 e D 5 não d i s t i n g u e as fontes dietéticas e endógenas Os intervalos de referência dos metabólitos da v i t a m i n a D depen-
de v i t a m i n a D , p o r q u e o a l i m e n t o é s u p l e m e n t a d o c o m estes d e m dos m é t o d o s empregados, e o l i m i t e i n f e r i o r da n o r m a l i d a d e
metabólitos. da 2 5 ( O H ) para i n d i v í d u o s saudáveis é controverso. Os interva-
A m a i o r i a dos ensaios para a dosagem da 2 5 { O H ) D e da los de referência representativos são:
l , 2 5 ( O H ) 2 D requer as seguintes etapas: (1) desproteinização o u
extração, (2) purificação e (3) quantificação. A desproteinização 2 5 ( O H ) D : 10 a 65 n g / m L (25 a 162 n m o l / L )
o u extração, geialmente c o m acetonitrila, libera os metabólitos 1,25 ( O H ) 2 D : 15 a 6 0 p g / m L (36 a 144 p m o l / L )
da DBP. As diferenças nas suas polaridades p o r causa do n ú m e r o
dos grupos hidroxilas têm sido utilizadas para separar a v i t a m i n a Concentrações < 20 a 3 0 n g / m L (< 5 0 a 75 n m o l / L ) estão
D dos seus metabólitos. C o m três grupos hidroxilas, a l , 2 5 ( O H ) z D associadas a elevação d o P T H e redução da absorção d o cálcio.
t e m m a i o r p o l a r i d a d e q u e a 2 5 ( O H ) D , que apresenta dois grupos O recente estudo N H A N E S I I I r e l a t o u u m a prevalência inespe-
hidroxilas, sendo esta mais polaT que a v i t a m i n a D , que só apre- r a d a m e n t e elevada de níveis baixos de 2 5 ( O H ) D ; d u r a n t e o
senta u m g r u p o h i d r o x i l a . A extração em fase sólida u t i l i z a n d o i n v e r n o n o sudeste dos Estados U n i d o s , a 2 5 ( O H ) D foi < 20
octadecil (C 18 )-sílica f o i a m p l a m e n t e utilizada para p u r i f i c a r par- n g / m L (< 5 0 n m o l / L ) em 1 5 % dos h o m e n s caucasianos adultos
cialmente a l , 2 5 ( O H ) 2 D . O m é t o d o mais p o p u l a r utiliza t a n t o a e em 3 0 % das mulheres, c o m índices especialmente elevados em
fase reversa e m u m a m i n i c o l u n a de sílica-C| 6 q u a n t o u m a m i n i - negTos e níveis i n t e r m e d i á r i o s e m hispânicos.
c o l u n a de sílica de fase n o r m a l para separar os m e t a b ó l i t o s da A s concentrações circulantes da 2 5 ( O H ) D estão elevadas pela
v i t a m i n a D . Este m é t o d o f o i m o d i f i c a d o pela el i minação do exposição à luz solar e d e m o n s t r a m u m a variação sazonal, c o m
c a r t u c h o de sílica, u t i l i z a n d o a "fase t r o c a d o r a " c o m u m ú n i c o níveis maiores n o verão o u o u t o n o e níveis mais baixos n o
c a r t u c h o de C i g O H . O m é t o d o de quantificação depende d o i n v e r n o o u na primavera. Estas concentrações são influenciadas
m e t a b ó l i t o que está sendo m e d i d o . pela l a t i t u d e , uso de p r o t e t o r solar, e pela pigmentação da pele.
A 2 5 ( O H ) D sérica t e m sido m e d i d a pelo (1) ensaio compe- A concentração sérica de l , 2 5 ( O H ) z D de 100 n g / m L (250 n m o / L )
t i t i v o de ligação protéica ( C P B A ) , (2) i m u n o e n s a i o , (3) absorvân- não é i n c o m u m nos salva-vidas.
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 745

Concentrações dos m e t a b ó l i t o s da v i t a m i n a D v a r i a m c o m a Q U A D R O 38-11 Concentrações Circulantes Aumentadas de


idade e estão elevadas na gestação. As concentrações da l , 2 5 ( O H ) 2 D Calcitonina
são maiores nas gestantes e nas crianças d o que nos adultos, c o m
as maiores concentrações o c o r r e n d o d u r a n t e o crescimento. Hiperplasia das cÉlulas-C Insuficiência renal aguda e crônica
Apesar de ter sido relatado na l i t e r a t u r a que as concentrações de Carcinoma medular da tireóide Hipercalcemia
2 5 ( O H ) D e l , 2 5 ( O H ) 2 D decresçam c o m a idade, este d e c l í n i o Carcinomas não tireoideanos Hipergastrinemia e outros distúrbios
pode ser u m a conseqüência de n u t r i ç ã o deficiente, da redução Carcinomas de pequenas células gastrointestinais
da exposição à luz solar e do d e c l í n i o da saúde. A s concentrações {.oat-celI) Doença pulmonar
destes metabólitos não se m o d i f i c a r a m c o m a idade nos estudos Outros tumores malignos
l i m i t a d o s a i n d i v í d u o s saudáveis e ativos.

Calcitonina
A c a l c i t o n i n a é secretada pelas células parafoliculares o u células
c r i n o e m m e m b r o s da f a m í l i a do caso-índice; d i f e r e n t e m e n t e do
C , as quais se o r i g i n a m na crista n e u r a l e estão distribuídas p o r
m o n i t o r a m e n t o c o m a c a l c i t o n i n a , o teste não requer a avaliação
toda a glândula tireóide. Estas células são incluídas na f a m í l i a
anual. A realização deste teste é, t a m b é m , justificada nos casos
A P U D (do inglês, a m i n e precursor u p t a k e and decarboxylatíon,
esporádicos de C M T , p o r q u e 5 % a 10% p o d e m ser carreadores
captação e descaboxilação de precursores de amina), o que explica
de mutações germinativas na l i n h a g e m do KET.
a associação do carcinoma m e d u l a r de tireóide ( u m t u m o r das
M u i t o s pacientes c o m C M T tiveram aumentos nas concen-
células C) a outros tumores da f a m í l i a A P U D na neoplasia endó-
trações basais de c a l c i t o n i n a , mas testes provocativos u t i l i z a n d o
c r i n a m ú l t i p l a tipos 2 A e 2B ( M E N - 2 A e M E N - 2B).
secretagogos de c a l c i t o n i n a a u m e n t a m a sensibilidade na detec-
ção do C M T e hiperplasia das células C . O cálcio, a pentagastrina
Bioquímica e Fisiologia o u a c o m b i n a ç ã o de ambos f o r a m os agentes de e s t í m u l o da
A c a l c i t o n i n a é u m peptídeo c o m 32 aminoácidos ( M W = 3.418 secreção da c a l c i t o n i n a mais c o m u m e n t e utilizados. A especifici-
Da) c o m u m a p o n t e dissulfeto N - t e r m i n a l l i g a n d o resíduos de dade t a m b é m é a u m e n t a d a c o m o uso dos testes d e e s t i m u l o .
cisteína 1 e 7 e u m resíduo p r o l i n a - a m í d i c o na porção C - t e r m i n a l . Concentrações m i n i m a m e n t e aumentadas que n ã o são estimula-
A porção C - t e r m i n a l da molécula, c o m seu resíduo prolina- das após o teste provocativo deveriam ser questionadas. A efeti-
a m í d i c o , a ligação dissulfeto entre os resíduos 1 e 7, e o resíduo vidade da cirurgia é f r e q ü e n t e m e n t e m o n i t o r a d a pela m e d i ç ã o
m e t i o n i n a na posição 8 são necessários para a atividade biológica seriada de concentrações de c a l c i t o n i n a basais e, preferencial-
d o h o r m ô n i o . Os a m i n o á c i d o s da p o r ç ã o a m i n o - t e r m i n a l são mente, pós-estímulo.
altamente conservados; cinco dos nove p r i m e i r o s aminoácidos A s concentrações de c a l c i t o n i n a estão aumentadas e m vários
são idênticos e m todas as espécies. N o s seres h u m a n o s , a calcito- carcinomas não-tireoidianos e e m algumas condições benignas
n i n a suína t e m 1 / 1 0 da atividade da calcitonina h u m a n a , enquanto ( Q u a d r o 38-11).
e calcitonina de salmão é 10 vezes mais potente.
O c o n t r o l e fisiológico da secreção da c a l c i t o n i n a não é com- Medição da Calcitonina
p l e t a m e n t e c o n h e c i d o . Doses farmacológicas de c a l c i t o n i n a A medição e a interpretação da c a l c i t o n i n a sérica são complicadas
reduzem as concentrações do cálcio e fosfato séricos, p r i n c i p a l - pela heterogeneidade da calcitonina circulante e pelas diferenças
mente pela i n i b i ç ã o da reabsorção óssea pelos osteoclastos. O significativas na sensibilidade e especificidade dos imunoensaios.
papel fisiológico da c a l c i t o n i n a e m a d u l t o s é incerto. Historicamente, a calcitonina era m e d i d a p r i n c i p a l m e n t e pelo
M ú l t i p l a s formas da c a l c i t o n i n a t ê m sido descritas e m indiví- R I A . Os imunoensaios não-competitivos de dois sítios ( I R M A ,
duos n o r m a i s e em pacientes c o m c a r c i n o m a m e d u l a r da t i r e ó i d e E L I S A e I C M A ) são, agora, os métodos de escolha para a deter-
( C M T ) o u neoplasias não-tireoidíanas. A m a i o r parte da calcito- minação dos níveis de calcitonina. Estes novos métodos são mais
n i n a i m u n o r r e a t i v a geralmente m i g r a c o m o formas maiores em específicos e sensíveis para o diagnóstico do C M T . C o m o uso
lugar da c a l c i t o n i n a m o n o m é r i c a . O s u l f ó x i d o d o m o n ô m e r o , d o destes métodos não-competitivos, as concentrações basais da cal-
d i m e r o , formas glicosiladas e precursores têm sido propostos para c i t o n i n a em i n d i v í d u o s normais são < 10 a 20 p g / m L ( n g / L ) .
explicar esta heterogeneidade.
Intervalos de Referência
Significância Clínica Os valores de referência da c a l c i t o n i n a basal e pós-estímulo c o m
O C M T pode ocorrer c o m o u m t u m o r esporádico o u c o m o parte a pentagastrina para h o m e n s e m u l h e r e s n o r m a i s e pacientes sem
das síndromes da M E N - 2 A , M E N - 2 B , e C M T f a m i l i a r ( C M T F ) . tecido t i r e o d i a n o , pelo m é t o d o de q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a de alta
M E N - 2 A e M E N - 2 B são síndromes m u l t i g l a n d u l a r e s autossõmi- sensibilidade e não-competitivo, estão listados a seguir:
cas d o m i n a n t e s herdadas, c o m penetrância relacionada c o m a Concentrações basais da c a l c i t o n i n a sérica:
idade e c o m expressão variável. Todas as formas combinadas d o H o m e m : < 8,8 p g / m L ( n g / L )
C M T c o r r e s p o n d e m a 5% a 10% dos tumores malignos de tire- M u l h e r : < 5,8 p g / m L ( n g / L )
óide. O C M T esporádico corresponde a a p r o x i m a d a m e n t e 7 5 % Pacientes sem tecido t i r e o i d i a n o : < 0,5 p g / m L ( n g / L )
de todos os M T C s . A medição r o t i n e i r a da c a l c i t o n i n a sérica em Teste provocativo c o m pentagastrina:
pacientes c o m doença n o d u l a r da t i r e ó i d e auxilia na detecção do N o r m a l ; < 30 p g / m L ( n g / L ) ( N = 20)
C M T esporádico não suspeitos. C o m o advento dos testes gené- Pacientes sem tecido t i r e o d i a n o : < 0,5 p g / m L ( n g / L ) ( N = 10)
ticos para M E N - 2 A , M E N - 2 B e C M T F , a dosagem da c a l c i t o n i n a
é p r i n c i p a l m e n t e utilizada n o diagnóstico do C M T esporádico e O s intervalos de referência da c a l c i t o n i n a são dependentes
d o caso-índice d o C M T F e para o a c o m p a n h a m e n t o d o C M T . d o m é t o d o . Níveis basais e pós-estímulo (cálcio e pentagastrina)
E m a p r o x i m a d a m e n t e 9 5 % dos i n d i v í d u o s c o m M E N - 2 A , devem ser d e t e r m i n a d o s para i n d i v í d u o s n o r m a i s e sem t i r e ó i d e
M E N - 2 B e C M T F , as mutações são identificadas p o r análise do e p o r sexo, de acordo c o m cada m é t o d o .
RET protooncogene. Os testes genéticos for nec em os métodos A m a i o r i a dos investigadores refere concentrações basais e
mais sensíveis e específicos para a detecção do d i s t ú r b i o endó- pós-estímulo de c a l c i t o n i n a mais elevadas nos h o m e n s d o que
746 PARTE V Fisiopatologia

nas m u l h e r e s . O e f e i t o d a i d a d e é i n c e r t o , c o n f o r m e as c o n c e n - plasias h e m a t o l ó g i c a s (p. ex., m i e l o m a m ú l t i p l o ) . A P T H - r P


trações basais e p ó s - e s t í m u l o d e c l i n a m e p e r m a n e c e m s e m m o d i - i n d e t e c t á v e l o u n o r m a l n a m a i o r i a dos, p o r é m n ã o e m t o d o s o:
ficações c o m a i d a d e . M a i o r e s c o n c e n t r a ç õ e s f o r a m r e p o r t a d a s pacientes c o m n e o p l a s i a s m a l i g n a s q u e n ã o estão associadas
d u r a n t e a gravidez e lactação e e m crianças e bebês. F o i d e s c r i t o h i p e r c a l c e m i a . T e m s i d o d e s c r i t o q u e c o n c e n t r a ç õ e s elevadas d
q u e a ingestão a l i m e n t a r p o d e a u m e n t a r o u t e r u m p e q u e n o P T H - r P p o d e m p r e c e d e r a h i p e r c a l c e m i a e m a l g u n s paciente
efeito n a concentração de c a l c i t o n i n a circulante. c o m neoplasias m a l i g n a s .
A s d e t e r m i n a ç õ e s d a P T H - r P são g e r a l m e n t e c o n s i d e r a d a
Proteína Relacionada com o Paratormônio m é t o d o s d e investigação, p o r q u e a H H M quase s e m p r e o c o r r
A proteína relacionada com o Paratormônio (PTH-rP) foi des- e m pacientes c o m d o e n ç a avançada q u a n d o o d i a g n ó s t i c o j á
c o b e r t a e m 1987 p o r investigadores q u e e s t u d a v a m o m e c a n i s m o ó b v i o . A necessidade d a d e t e r m i n a ç ã o d a P T H - r P p o d e a u m e r
p e l o q u a l certos cânceres p r o d u z i a m a H H M (hipercalcemia tar, se f o r u m f a t o r i m p o r t a n t e n o p r o g n ó s t i c o , n a seleção d
h u m o r a l maligna). terapia o u na m o n i t o r a ç ã o .

Bioquímica e Fisiologia Medição da PTH-rP


A P T H - r P é d e r i v a d a d e u m g e n e q u e está presente n o c r o m o s - V á r i o s i m u n o e n s a i o s c o m p e t i t i v o s t ê m s i d o u t i l i z a d o s n a avalie
s o m o 12, q u e é d i s t i n t o d o g e n e d o P T H , q u e está p r e s e n t e n o cão d a P T H - r P n o p l a s m a d e pacientes c o m H H M . A t u a l m e n t e
c r o m o s s o m o 11. A p e s a r d e as f o r m a s c i r c u l a n t e s exatas d a P T H - a PTH-rP é mensurada utilizando métodos não-competitivos m a i
r P s e r e m d e s c o n h e c i d a s , três i s o f o r m a s de 139,141 e 173 a m i n o - sensíveis e específicos.
á c i d o s p o d e m ser previstas p e l o p r o c e s s a m e n t o a l t e r n a t i v o (spli-
cing) d o R N A - m e n s a g e i r o ( m R N A ) . A a t i v i d a d e s e m e l h a n t e s à d o Requisitos para a Coleta da A m o s t r a
P T H d a P T H - r P está c o n t i d a n o s a m i n o á c i d o s d a p o r ç ã o N - t e r - A P T H - r P é i n s t á v e l n o soro e p l a s m a a 4 ° C e à t e m p e r a t u r ,
m i n a l ( P T H - r P [ l - l ó ) ] . N o f i n a l da p o r ç ã o N - t e r m i n a l da molé- a m b i e n t e , a n ã o ser q u e a a m o s t r a seja c o l e t a d a j u n t a m e n t e c o n
c u l a , o i t o dos 13 p r i m e i r o s a m i n o á c i d o s são i d ê n t i c o s aos d o i n i b i d o r e s de protease. A c o m b i n a ç ã o d e a p r o t i n i n a , l e u p e p t i n a
P T H . A P T H - r P i n t e r a g e c o m os receptores d e P T H / P T I I - r P , p e p s t a t i n a e E D T A f o r n e c e m a i o r p r o t e ç ã o . E m geral, as a m o s
m i m e t i z a n d o as ações b i o l ó g i c a s d o P T H n o s tecidos-alvo clássi- tras d e v e m ser coletadas c o m i n i b i d o r e s d e protease e m a n t i d a ;
cos, i n c l u i n d o o osso e o r i m . C o m o o P T H , a P T H - r P causa n o gelo. O soro o u o p l a s m a d e v e m ser r a p i d a m e n t e separado:
hipercalcemia e hipofosfatemia e aumenta o c A M P urinário. d o c o á g u l o s a n g u í n e o e das células, e l o g o d e p o i s c o n g e l a d o s .
Q u a n d o OS pacientes c o m h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o p r i m á r i o são
c o m p a r a d o s aos pacientes c o m h i p e r c a l c e m i a i n d u z i d a p e l a P T H - Intervalos de Referência
rP, estes t ê m c o n c e n t r a ç õ e s m a i s baixas d a l , 2 5 ( O H ) 2 D e t i p i c a - O s i n t e r v a l o s d e r e f e r ê n c i a p a r a a análise da P T H - r P são m é t o d o ;
m e n t e a p r e s e n t a m alcalose m e t a b ó l i c a ( e m vez d e acidose meta- d e p e n d e n t e s . U m dos m é t o d o s m a i s u t i l i z a d o s c o m e r c i a l m e n t e
b ó l i c a hiperclorêmica), além de redução da reabsorção t u b u l a r que utilizam imunoensaios não-competitivos t e m u m valor dí
d i s t a i d o c á l c i o , e f o r m a ç ã o r e d u z i d a e d e s a c o l p a d a d o osso. r e f e r ê n c i a d e 1,3 p m o l / L o u m e n o s . T e m s i d o r e l a t a d o q u e E
A l é m d o seu p a p e l e n d ó c r i n o n a f i s i o p a t o l o g i a d a H H M , a P T H - r P p o d e ser detectável p o r m é t o d o s m a i s sensíveis, e m a p r o
P T H - r P parece p a r t i c i p a r d a f i s i o l o g i a n o r m a l p o r agir l o c a l m e n t e x i m a d a m e n t e 5 0 % a 8 0 % d o s i n d i v í d u o s saudáveis.
nas células o u n o s tecidos, c o m o u m f a t o r p a r á c r i n o e a u t ó c r i n o .
PTH-rP é a m p l a m e n t e expressa n a m a i o r i a d o s t e c i d o s dos CONTROLE INTEGRADO DO METABOLISMO
a d u l t o s e dos fetos. E m b o r a seja p o u c o p r o v á v e l q u e as baixas MINERAL
concentrações circulantes de P T H - r P t e n h a m u m efeito significa- O m e t a b o l i s m o d o c á l c i o está i n t i m a m e n t e l i g a d o ao d o fosfate
t i v o n a h o m e o s t a s i a d o c á l c i o n o s a d u l t o s , a P T H - r P p o d e exercer ( F i g u r a 38-7). O s m e c a n i s m o s h o m e o s t á t i c o s são d i r e c i o n a d o s
efeitos e n d ó c r i n o s n a h o m e o s t a s i a d o c á l c i o d u r a n t e a v i d a f e t a l p r i n c i p a l m e n t e para a m a n u t e n ç ã o das c o n c e n t r a ç õ e s n o r m a i s
e n a lactação. O l e i t e m a t e r n o c o n t é m altas c o n c e n t r a ç õ e s d o d e c á l c i o e f ó s f o r o extracelulares, as q u a i s m a n t ê m os processos
PTH-rP, c o m o t a m b é m a placenta e o l í q u i d o amniótico. i n t r a e e x t r a c e l u l a r e f o r n e c e m substratos p a r a a m i n e r a l i z a ç ã o
esquelética. A s p a r a t i r e ó i d e s r e s p o n d e m a u m a r e d u ç ã o d a con-
Significância Clínica c e n t r a ç ã o d o c á l c i o l i v r e em segundos. D u r a n t e o t e m p o de pri-
A H A M é a s e g u n d a causa m a i s c o m u m d e h i p e r c a l c e m i a . Esta vação d o c á l c i o , a elevação r á p i d a d o P T H sérico altera t a n t o o
f r e q ü e n t e s í n d r o m e p a r a n e o p l á s i c a é causada p r i n c i p a l m e n t e p o r m e t a b o l i s m o renal c o m o o esquelético.
H H M e / o u p o r osteólise l o c a l , c o n t r i b u i n d o os p r i m e i r o s , p a r a D e cada 10 g ( 2 5 0 m m o l ) d o cálcio f i l t r a d o pelos r i n s a cada
a m a i o r i a dos casos d e H A M . H H M é c o m u m e m pacientes c o m d i a , a p r o x i m a d a m e n t e 6 5 % são r e a b s o r v i d o s n o t ú b u l o p r o x i -
c a r c i n o m a (1) escamoso ( p u l m ã o , cabeça e pescoço, esôfago, m a l . A reabsorção d o c á l c i o está i n t i m a m e n t e l i g a d a à reabsorção
c é r v i x , v u l v a , p e l e e o u t r o s sítios), (2) r e n a l , (3) d e vesícula, e do sódio, e é independente d o P T H . A p r o x i m a d a m e n t e 10% a
(4) o v a r i a n o s . A h i p e r c a l c e m i a causada p o r metástases esqueléti- 2 0 % d o cálcio é r e a b s o r v i d o n o r a m o a s c e n d e n t e espesso d a alça
cas e osteólise l o c a l é f r e q ü e n t e m e n t e o b s e r v a d a n o câncer de de H e n l e e 5 % a 1 0 % n o t ú b u l o c o n t o r n a d o d i s t a i , p r e s u m i v e l -
m a m a , m i e l o m a m ú l t i p l o , l i n f o m a e o u t r a s neoplasias h e m a t o l ó - m e n t e através d o m e c a n i s m o d o c A M P . U m a p e q u e n a p o r ç ã o d o
gicas. A h i p e r c a l c e m i a p r e s e n t e e m u m s u b c o n j u n t o de l i n f o m a s cálcio f i l t r a d o , a p r o x i m a d a m e n t e 5 % , é r e a b s o r v i d a n o t ú b u l o
parece ser causada p o r H H M . O c â n c e r de m a m a p o d e causar coletor por u m mecanismo independente d o P T H .
hipercalcemia por H H M e / o u metástases esqueléticas a c o m p a - E m c o n t r a s t e ao e f e i t o c o n s e r v a d o r d o c á l c i o nos r i n s , o P T H
n h a d a de osteólise l o c a l . A t u a l m e n t e , está b e m e s t a b e l e c i d o q u e a u m e n t a a excreção r e n a l n o t ú b u l o p r o x i m a l pela r e d u ç ã o d i r e t a
a P T H - r P é o p r i n c i p a l m e d i a d o r d o H H M . D e p o i s de ser secre- d o l i m i a r r e n a l d o fosfato. A p r o x i m a d a m e n t e 6,5 g (210 m m o l ) d o
t a d a p e l o s t u m o r e s , o P T H - r P c i r c u l a e age nos tecidos-alvos fosfato são f i l t r a d o s pelos r i n s a cada dia. N o r m a l m e n t e , 8 5 % a
(esqueleto e r i m ) c o m o u m h o r m ô n i o e n d ó c r i n o , e c a u s a n d o 9 0 % são reabsorvidos pelos t ú b u l o s renais ( t ú b u l o c o n t o r n a d o
h i p e r c a l c e m i a . A P T H - r P está a u m e n t a d a e m 5 0 % a 9 0 % dos p r o x i m a l e distai). O P T H é u m dos fatores m a i s i m p o r t a n t e s
pacientes c o m H A M . A s c o n c e n t r a ç õ e s de P T H - r P estão m e n o s reguladores d o l i m i a r d o fosfato renal e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , d a
f r e q ü e n t e m e n t e elevadas e m pacientes c o m h i p e r c a l c e m i a e neo- c o n c e n t r a ç ã o d o fosfato sérico.
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 747

ParalormOnlo

Glãrduls paratreóide

Ca
plasmático
Efeito de 1.251,011)/ vilurninu D
1. Aumuoto d.'» síntese fie CaBP.
2. Auiiienlo Ua iítisorçSíi de Ca.
3. AurrienLo Ca âbSO.'ÇãO dc PO,. 1. Aumenta da rsabscrçãc eis Ca.
2. Ri:íUiÇíVj rJn rertbfsnrçVi d e PO+-
3. Aurrraritu cie 1,2b(OH}j vitamina ly

Efoiki du purulorrrtOiiio

Intestino

Figura 3 8 - 7 Controle integrado do metabolismo mineral. CaBP, proteína de ligação do cálcio

O P T H t a m b é m a u m e n t a a absorção do cálcio i n t e s t m a l pelo maduros, que c o n t i n u a m a reabsorver o osso, l i b e r a n d o cálcio,


a u m e n t o da l , 2 5 ( O H ) 2 D . O P T H é o p r i n c i p a l fator t r ó f i c o para fosfato e peptideos c o m o os p i r i d í n i o das ligações cruzadas d o
a 2 5 ( O H ) D - l a - h i d r o x i l a s e renal. A s s i m , há u m a u m e n t o da con- coíágeno. A exposição p r o l o n g a d a ao P T H e v e n t u a l m e n t e
versão da 2 5 ( O H ) D ao m e t a b ó l i t o ativo da v i t a m i n a D , l , 2 5 ( O H ) 2 D . t a m b é m a u m e n t a a atividade osteoblástica, a u m e n t a n d o , assim,
O cálcio é absorvido p r i n c i p a l m e n t e no d u o d e n o , e m b o r a t a m b é m os marcadores de formação óssea, c o m o a A L P e osteocalcina.
seja absorvida pelo intestino delgado distai e cólon. Cerca de .30% Apesar da i m p o r t â n c i a crítica do magnésio na fisiologia,
da ingesta diária de 1 g (25 m m o l ) de cálcio são absorvidos. A p r o - n e n h u m h o r m ô n i o o u fator t e m sido descrito c o m o regulador
x i m a d a m e n t e 100 m g (2,5 m m o l ) d o cálcio é lançado n o l ú m e n da homeostasia do magnésio. O magnésio é absorvido eficiente-
intestinal pela secreção intestinal; p o r t a n t o , a absorção l í q u i d a de m e n t e n o trato intestinal (mais e f i c i e n t e m e n t e n o i n t e s t i n o
cálcio é de 200 m g (5,0 m m o l ) p o r dia. O cálcio é absorvido p o r delgado distai). A p r o x i m a d a m e n t e 2 5 % a 3 5 % do magnésio fil-
difusão passiva e p o r u m sistema de transporte ativo. Estima-se que t r a d o é reabsorvido passivamente n o t ú b u l o c o n t o r n a d o distai.
a difusão passiva responde pela absorção de cerca de 10% d o cálcio O m a i o r sítio de absorção ativa é o r a m o ascendente da alça de
ingerido p o r dia. A absorção ativa d o cálcio n o d u o d e n o é aumen- H e n l e , o n d e 6 0 % a 7 0 % do magnésio é reabsorvido. D u r a n t e
tada pela l , 2 5 ( O H ) 2 D períodos de privação, a excreção u r i n á r i a do magnésio é m e n o r
A ingesta a l i m e n t a r d o fosfato é geralmente 1,2 a 1,4 g (39 a que 0,5 m m o l / d i a . Q u a n d o a ingestão d o magnésio é excessiva,
45 m m o l ) p o r dia, quase duas vezes a ingesta diária recomendada, q u a l q u e r q u a n t i d a d e m a i o r que o l i m i a r renal é excretada.
da q u a l a p r o x i m a d a m e n t e 6 0 % a 7 0 % são absorvidos, p r i n c i p a l -
m e n t e n o j e j u n o . C o m o o cálcio, t a n t o o sistema de t r a n s p o r t e DOENÇAS OSTEOMETABÓLICAS
passivo c o m o de transporte ativo existem, e a l , 2 5 ( O H ) 2 D é o As doenças osteometabólicas r e s u l t a m do desacoplamento parcial
p r i n c i p a l regulador do t r a n s p o r t e ativo d o fosfato. A síntese da o u do desequilíbrio entre a reabsorção e a f o r m a ç ã o óssea. 1 ' 4 , ^
l , 2 5 ( O H ) 2 D é estimulada pelo P T H , deste m o d o c o m p e n s a n d o A redução da massa óssea, o u osteopenia, é mais freqüente que a
o efeito f o s f a t ú i i c o do P T H . As concentrações séricas p r e d o m i - da massa óssea. As doenças osteometabólicas mais prevalentes
nantes d o fosfato t a m b é m m o d u l a m a ação da 2 5 ( O H ) D - l a - são (1) osteoporose, (2) osteomalácia e r a q u i t i s m o , e (3) osteodis-
hidroxilase renal. A depleção d o fosfato o u a h i p o f o s f a t e m i a t r o f i a renal. A osteoporose, a doença osteometabóhca mais pre-
e s t i m u l a m a f o r m a ç ã o da l , 2 5 ( O H ) 2 D pelos rins. G e r a l m e n t e , valente em países industrializados, é caracterizada p o r (1) perda
e m concentrações farmacológicas, a c a l c i t o n i n a t e m u m efeito da massa óssea, (2) deterioração da m i c r o a r q u i t e t u r a óssea e
oposto ao do P T H . N ã o está claro, c o n t u d o , se a c a l c i t o n i n a t e m (3) a u m e n t o do risco de fratura. A osteomalácia e o r a q u i t i s m o ,
a l g u m papel fisiológico na homeostasia m i n e r a l em h u manos que são mais freqüentes nos países subdesenvolvidos, são carac-
adultos. terizados p o r u m a mineralização defeituosa da matriz óssea. A
O P T H t a m b é m t e m u m efeito agudo n o esqueleto. O P T H osteodistrofia renal é u m a c o n d i ç ã o complexa que se desenvolve
reduz a síntese osteohlástica do colágeno, p o r é m estimula a reab- em resposta a anormalidades das funções endócrinas e excretora
sorção óssea osteoclástica, a u m e n t a n d o o aporte m i n e r a l (cálcio dos rins. Estas três doenças osteometabólicas e a doença de Paget,
e fosfato) p r o v e n i e n t e do osso para o l í q u i d o extracelular ( L E C ) . u m a doença óssea localizada, são as mais i m p o r t a n t e s doenças
O P T H é capaz de agir d i r e t a m e n t e nos osteoblastos, i n t e r a g i n d o ósseas primárias, para as quais os médicos u t i l i z a m os marcadores
c o m seu receptor. O efeito do P T H nos osteoclastos parece ser laboratoriais do m e t a b o l i s m o ósseo.
i n d i r e t o , através de mediadores locais p r o d u z i d o s pelos osteoblas-
tos (p. ex., ligance do R A N K e O P G ) o u l i b e r a d o da m a t r i z óssea Osteoporose
(p.ex., fator de crescimento t e c i d u a l beta [TGF-p]). A privação A osteoporose é a doença osteometabólica mais prevalente nos
p r o l o n g a d a do cálcio resulta e m u m a u m e n t o n o r e c r u t a m e n t o Estados U n i d o s , r e s u l t a n d o em 1,5 m i l h ã o de fraturas a cada
dos osteoclastos e u m a u m e n t o n o n ú m e r o dos osteoclastos ano. As mulheres t ê m u m risco a u m e n t a d o de fraturas p o r toda
748 PARTE V Fisiopatologia

Q U A D R O 3 8 - 1 2 I Causas de Osteoporose a u m e n t o n a osteóide, a m a t r i z orgânica d o osso não minerali-


zada. U m a mineralização defeituosa p r o d u z r a q u i t i s m o nas crian-
Falha em desenvolver massa óssea Imobilização ou perda excessiva de ças e osteomalácia nos adultos. A m b o s são geralmente causados
adequada durante o crescimento peso
pela deficiência de v i t a m i n a D o u depleção de fosfato.
e desenvolvimento por causa de Neoplasias hematológicas (mieloma
A s causas da redução da 2 5 ( O H ) D e da l , 2 5 ( O H ) ? D estão
uma dieta pobre ou exercício múltiplo)
listadas nos Q u a d r o s 38-9 e 38-10, respectivamente. Crianças
inadequado Deteitos hereditários da síntese do
amamentadas n o peiro, idosos, vegetarianos estritos e i n d i v í d u o s
Deficiência ou excesso endócrino colágeno (osleogênese
negros t ê m u m risco a u m e n t a d o de desenvolver insuficiência de
Deficiência de estrágeno ou imperfeita)
testosterona Masiocitose sistêmica v i t a m i n a D . Osteomalácia causada pela deficiência da v i t a m i n a
Síndrome de Cushing Terapia com heparina é i n c o m u m nos Estados U n i d o s , p o r é m a prevalência das formas
Hlpertlrecldisimc Artrite reumatóide subclínicas o u moderadas de osteomalácia é desconhecida. A
Hiperparatireoidisimo Osteoporose juvenil idiopátíca osteomalácia subclínica p o d e coexistir c o m a osteoporose em
pacientes idosos c o m u m a dieta inadequada e pouca exposição à
luz solar. A deficiência de v i t a m i n a D p o d e desenvolver-se nos
pacientes c o m má absorção causada p o r s í n d r o m e pós-gastrecto-
mia, doença d o i n t e s t i n o delgado (p. ex., espru celíaco), doença
hepatobiliar, o u insuficiência pancreática.
a v i d a três vezes m a i o r que os h o m e n s . U m terço das mulheres A resistência à v i t a m i n a D é rara. O r a q u i t i s m o dependente
acima de 65 anos sofre fraturas de corpos vertebrais. O risco de da v i t a m i n a D t i p o I é u m defeito herdado da deficiência da
f r a t u r a do q u a d r i l d u r a n t e a v i d a é de 15%. As fraturas das vér- 2 5 ( O H ) D - l a - h i d r o x i l a s e , causando a redução da síntese da
tebras o c o r r e m mais precocemente que as fraturas d o q u a d r i l p o r l , 2 5 ( O H ) 2 D . Esta doença é manifestada na infância e p o d e ser
causa do alto turnover do osso trabecular. O pico de massa óssea tratada c o m doses fisiológicas de l , 2 5 ( O H ) 2 D ativa. O r a q u i t i s m o
é alcançado c o m 3 0 anos e Teduz-se após os 35 a 45 anos de dependente da v i t a m i n a D t i p o I I t a m b é m é u m d i s t ú r b i o herdado,
idade. A perda óssea é de a p r o x i m a d a m e n t e 1 % p o r ano, p o r é m caracterizado p o r concentrações m u i t o elevadas de l , 2 5 ( O H ] 2 D .
p o d e a u m e n t a r em 2 % após a menopausa. 1,4,11 Esta s í n d r o m e é causada pela resistência a l , 2 5 ( O H ) 2 D , p o r causa
A p ó s a redução da massa óssea ter sido c o n f i r m a d a pela sua de u m defeito n o seu receptor.
medição, o diagnóstico é d i r e c i o n a d o para a determinação da A osteomalácia e o r a q u i t i s m o t a m b é m p o d e m ocorrer p o r
causa ( Q u a d r o 38-12). M u i t o f r e q ü e n t e m e n t e , a causa é a t r i b u í d a causa da depleção d o fosfato. A causa mais c o m u m nos Estados
à idade (osteoporose senil), osteoporose pós-menopausa, o u U n i d o s é a osteomalácia hipofosfatêmica ( t a m b é m d e n o m i n a d a
ambas, p o r é m , p o d e ser secundária a doenças crônicas, uso de de raquitismo hipofosfatémico resistente à vitamina D e raquitismo- resis-
m e d i c a m e n t o s , t r a t a m e n t o c o m corticosteróides o u t i r o x i n a , o u tente à vitamina D). Este d i s t ú r b i o é u m traço h e r e d i t á r i o autossô-
outras causas. m i c c d o m i n a n t e ligada ao cromossomo X , caracterizado pela
Os marcadores ósseos são utilizados para avaliar o turnover perda renal de fosfato. T e m sido descrito que esta perda t a m b é m
ósseo (reabsorção o u formação) em pacientes c o m osteoporose. pode ocorrer esporadicamente e m adultos e c o m o parte da sín-
Os marcadores de reabsorção (N-telopeptídeo, d e s o x i p i r i d i n o - d r o m e de Fanconi. Certos tumores raros mesenquimais t a m b é m
lina, ou C-telopeptídeo) p o d e m ser úteis na identificação dos p o d e m p r o d u z i r u m fator fosfatúrico (fosfatonina o u FGF-23),
i n d i v í d u o s osteoporóticos c o m elevada reabsorção óssea e para resultando na perda renal de fosfato e osteomalácia.
predizer e avaliar a resposta ao t r a t a m e n t o . C o m o a reabsorção M e d i c a m e n t o s t a m b é m estão associados à osteomalácia. Os
e a formação ósseas são acopladas, GS marcadores de f o r m a ç ã o anticonvulsivantes a u m e n t a m o catabolismo hepático dos meta-
óssea (fosfatase alcalina óssea e osteocalcina sérica) t a m b é m estão b ó l i t o s da v i t a m i n a D e p r o d u z e m resistência periférica. A n t i á c i -
elevados em pacientes osteoporóticos c o m alto turnover. A eleva- dos ligadores do fosfato utilizados n o t r a t a m e n t o da doença
ção destes marcadores i n d i c a a u m e n t o da f o r m a ç ã o e / o u reab- ulcerosa péptica t a m b é m causam osteomalacia pela redução da
sorção óssea, mas não são diagnósticos de osteoporose. Eles são, absorção i n t e s t i n a l d o fosfato. T e m sido descrito que o trata-
c o n t u d o , utilizados para m o n i t o r a r o t r a t a m e n t o . POT exemplo, m e n t o c o m e t i o d r o n a t o (p. ex., doença de Paget, osteoporose, o u
3 0 % o u mais de redução d o marcador ósseo sugere que a terapia hipercalcemia t u m o r a l ) causa u m defeito na mineralização e
f o i eficaz. M e d i d a s seriadas da massa óssea somente são realizadas resulta e m osteomalácia.
a cada 1 a 3 anos d u r a n t e a terapia, p o r q u e a massa óssea se As manifestações clínicas do r a q u i t i s m o i n c l u e m c u r v a t u r a
m o d i f i c a l e n t a m e n t e e a imprecisão destas medições só p e r m i t e das extremidades e baixa estatura. N o s adultos c o m osteomalácia,
a detecção de mudanças relativamente extensas. a d o r óssea é o s i n t o m a mais c o m u m , e fraturas p o r estresse o u
E m e l h o r prevenir a osteoporose com u m a dieta adequada, que fraturas esqueléticas espontâneas p o d e m ocorrer. O raio X mostra
inclua cálcio e v i t a m i n a D , e o exercício. O tratamento da osteo- achados clássicos n o r a q u i t i s m o , e pseudofraturas são c o m u n s n o
porose depende da causa. N a osteoporose secundária, a terapia adultos.
é direcionada para a condição subjacente. A maioria das terapias N o r a q u i t i s m o e na osteomalácia, a concentração da A L P está
para o tratamento da osteoporose pós-menopausa são direcionadas geralmente elevada p o r causa do a u m e n t o da atividade osteoblás-
para reduzir a atividade osteoclástica de reabsorção óssea. A terapia tica associada à p r o d u ç ã o de u m a osteóide não mineralizada. O
anti-reabsortiva i n c l u i o uso de bifosfonatos (alendronato e risen- cálcio sérico p o d e estar abaixo d o n o r m a l o u baixo, na deficiên-
dronato), terapia de reposição estrogènica, moduladores seletivos cia da v i t a m i n a D . O fosfato sérico p o d e estar n o r m a l o u baixo,
do receptor do esnógeno (raloxifeno), e calcitonina (spro^ nasal o u p o r é m seus níveis caem c o m o desenvolvimento do hiperparati-
injetável). O tratamento c o m o P T H ( l - 3 4 ) (injetável) é o p r i m e i r o r e o i d i s m o secundário. Os níveis séricos do cálcio e as concentra-
aprovado para estimular a formação óssea. ções do P T H estão geralmente n o r m a i s nos defeitos tubulares
renais do transporte d o fosfato. O estado n u t r i c i o n a l da v i t a m i n a
Osteomalácia e Raquitismo D p o d e ser avaliado pela d e t e r m i n a ç ã o do nível sérico da
O s t e o m a l á c i a e r a q u i t i s m o são causados p o r u m a mineralização 2 5 ( O H ) D . Defeitos d o fosfato renal p o d e m ser mais b e m avalia-
óssea defeituosa d u r a n t e a f o r m a ç ã o óssea, r e s u l t a n d o em u m dos p o r estudos da função renal.
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 749

O r a q u i t i s m o n u t r i c i o n a l e a osteomalácia são corrigidos c o m p o r a l u m í n i o , pelo uso t e r a p ê u t i c o de antiácidos q u e c o n t i n h a m


o uso de doses fisiológicas da v i t a m i n a D , e n q u a n t o que doses a l u m í n i o , reduzia a absorção intestinal d o fosfato e f o i u m fator
mais altas p o d e m ser necessárias nas síndromes de má absorção. que c o n t r i b u i u significativamente para a osteomalácia e a doença
U m a ingesta n u t r i c i o n a l adequada de cálcio e fósforo é crítica do osso a d i n â m i c o . O u t r a s causas da doença do osso a d i n â m i c o
d u r a n t e a terapia. As síndromes de perda r e n a l de fosfato reque- i n c l u e m a suplementação c o m cálcio, administração excessiva da
rem a a d m i n i s t r a ç ã o farmacológica do fosfato oral. v i t a m i n a D , t r a t a m e n t o d o h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o , idade avançada
e osteoporose, diabetes, terapia c o m corticosteróides e imobiliza-
Doença de Paget ção. A t u a l m e n t e , acredita-se que a elevada supressão da f u n ç ã o
A d o e n ç a de Paget é u m a doença óssea localizada, caracterizada das paratireóides (por c o m p r i m i d o s de carbonato de cálcio, vita-
pelo a u m e n t o da reabsorção osteoclástica, seguido p o r reposição m i n a D e soluções de diálise c o m alta concentração de cálcio)
do osso de m a n e i r a caótica. Ela pode afetar u m o u vários ossos. seja a p r i n c i p a l causa da doença óssea renal adinâmica.
A doença de Paget afeta mais de 4 % das pessoas acima dos 4 0 A d o r óssea é a queixa mais freqüente dos pacientes c o m
anos de idade. A causa é desconhecida. U m a h i s t ó r i a f a m i l i a r osteodistrofia renal. Os achados b i o q u í m i c o s na i n s u f i c i ê n c i a
positiva é descrita e m 2 0 % a 3 0 % dos pacientes. r e n a l c r ô n i c a i n c l u e m h i p e r f o s f a t e m i a e hipocalcemia. O P T H
O (1) crânio, (2) o f é m u r , (3) a pelve e (4) as vértebras são as p o d e estar elevado, e a l , 2 5 ( O H ) 2 D , reduzida. Os níveis sérícos
regiões mais c o m u m e n t e afetadas. Nos Estados U n i d o s , a enfermi- da A L P estão elevados t a n t o nos pacientes c o m h i p e r p a r a t i r e o i -
dade é mais freqüentemente diagnosticada p o r radiografias o u p o r d i s m o c o m o nos c o m osteomalácia. O m a n e j o c l í n i c o i n c l u i a
testes laboratoriais (ALP) realizados para outras finalidades. D o r restrição dietética de fosfato, uso de agentes ligantes de fosfato,
óssea e a u m e n t o da temperatura p o d e m ocorrer n o osso afetado t r a t a m e n t o c o m a l , 2 5 ( O H ) 2 D o u o u t r a f o r m a ativa da v i t a m i n a
o u acima desta área. T e m sido descrito que a doença avançada D , diálise e, p o r ú l t i m o , transplante.
ocasiona deformidades, c o m o a u m e n t o do crânio e alargamentos
dos ossos que sustentam o peso ( f é m u r e tíbia). Complicações MARCADORES BIOQUÍMICOS DO
destas deformidades i n c l u e m sintomas de artrite, compressão neu- TURNOVER ÓSSEO
rológica e, em raros casos, o sarcoma osteogênico.
Os marcadores b i o q u í m i c o s do turnover ósseo são classificados
O achado mais c o m u m que c o n d u z para o diagnóstico da
c o m o (1) marcadores de reabsorção óssea (Tabela 38-4), os quais
doença de Paget é a elevação da A L P sérica (acima de 10 vezes).
são produzidos pelos osteoclastos d u r a n t e a reabsorção óssea, e
A elevação dos marcadores ósseos de reabsorção reflete a natureza
(2) marcadores de f o r m a ç ã o óssea, os quais são p r o d u z i d o s pelos
osteoclástica da lesão. Estes marcadores p o d e m ser úteis n o diag-
osteohlastos d u r a n t e a f o r m a ç ã o óssea.1,4,1,13
nóstico e m o n i t o r a m e n t o d o t r a t a m e n t o . O exame r a d i o l ó g i c o
A seleção e a interpretação dos marcadores b i o q u í m i c o s de
d e m o n s t r a os achados característicos. A c i n t i l o g r a f i a óssea é o
reabsorção e de formação óssea na osteoporose e outras doenças
teste mais sensível para a detecção precoce de pequenas lesões.
metabólicas são complicadas pelas considerações pré-analíticas,
A terapia é direcionada para a redução da reabsorção óssea
analíticas e pós-analíticas. Estes marcadores m e d e m a taxa global
osteoclástica c o m o uso dos bifosfonacos e da calcitonina. A
de reabsorção e f o r m a ç ã o ósseas. Eles não i d e n t i f i c a m o t i p o
cirurgia é utilizada para c o r r i g i r a deformidades esqueléticas q u e
ósseo o u a localização d o osso c o m alteração na f o r m a ç ã o o u na
l i m i t a m a m o b i l i d a d e o u que causam compressão neurológica.
reabsorção. N o s distúrbios ósseos, nos quais a reabsorção e a
f o r m a ç ã o são acopladas e d r a m a t i c a m e n t e alteradas, q u a l q u e r
Osteodistrofia Renal classe de marcador poderá i d e n t i f i c a r as mudanças do turnover
A o s t e o d i s t r o f i a r e n a l i n c l u i todas os distúrbios ósseos e do
ósseo.
m e t a b o l i s m o m i n e r a l associados à i n s u f i c i ê n c i a renal crônica. I S,:12
Os marcadores b i o q u í m i c o s de reabsorção e formação ósseas
As doenças renais ósseas i n c l u e m t a n t o as de alto turnover (osteíte
têm sido utilizados para (1) m o n i t o r a ç ã o da efetividade da terapia,
fibrosa o u h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o secundário) c o m o as de baixo
(2) seleção dos pacientes para a terapia, (3) predição da perda
turnover (osteomalácia e doença d o osso a d i n â m i c o ) .
óssea e (4) predição do risco de fratura. Destes, os marcadores
A osteíte fibrosa (doença óssea do h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o ) é a
ósseos são atualmente m u i t o utilizados para m o n i t o r a r a efetivi-
doença de alto turnover ósseo mais c o m u m . Este d i s t ú r b i o é
dade da terapia. A terapia anti-reabsortiva efetiva é seguida p o r
causado pelas altas concentrações d o P T H presentes n o hiperpa-
u m a redução significativa dos marcadores de reabsorção óssea e m
r a t i r e o i d i s m o secundário, que é u m a conseqüência da hipocalce-
poucas semanas, n o r m a l m e n t e alcançando u m p l a t ô d e n t r o de
m i a associada à h i p e r f o s f a t e m i a e a deficiência da l , 2 5 ( O H ) 2 D .
3 a 6 meses. Os marcadores de formação óssea r e s p o n d e m mais
A hiperfosfatemia é resultante da i n a b i l i d a d e dos r i n s em excre-
tar o fosfato. A deficiência de l , 2 5 ( O H ) 2 D resulta de i n a b i l i d a d e
dos rins em sintetizar a l , 2 5 ( O H ) 2 D devido à redução da massa
renal e à supressão da atividade da 2 5 ( O H ) D - l a - h i d r o x i I a s e pelas TABELA 38-4 Marcadores ó s s e o s de Reabsorçao

altas concentrações de fosfato. A deficiência da v i t a m i n a D ativa Marcador Método


leva à redução da absorção i n t e s t i n a l d o cálcio e à redução da
Telopeptídeos
i n i b i ç ã o da secreção do P T H . A resistência esquelética ao P T H
N-telopeptídeos (NTx) ELISA, ICMA
t a m b é m c o n t r i b u i para a hipocalcemia e para o hiperparatireoi-
C-telopeptídeos (CTx) ELISA, eletroquimioluminescéncia
d i s m o secundário. Ligações Cruzadas do Piridínio
As d oenças ósseas de baixo turnover i n c l u e m a osteomalácia Desoxipiridinolina livre ELISA, ICMA
e a doença óssea a d i n â m i c a ( t a m b é m chamada de aplásica). A Piridinolira livre e ELISA
osteomalácia e a doença óssea a d i n â m i c a são distinguíveis pela desoxipiridinolina
extensão da m a t r i z não mineralizada óssea o u osteóide: a osteóide Desoxipiridinolina total HPLC
está a u m e n t a d a na osteomalácia e n o r m a l o u reduzida na doença e piridinolina
óssea adinâmica. A osteomalácia na i n s u f i c i ê n c i a renal c r ô n i c a Fosfatase ácida resistente Inibição enzimática, imunoensaio
pode r e f l e t i r u m a deficiência da v i t a m i n a D p o r causa da redução ao tartarato
da síntese renal da de l , 2 5 ( O H ) 2 D . D e 1970 a 1980, a intoxicação Hidroxiprolina HPLC, fotométrico
750 PARTE V Fisiopatologia

lentamente, em geral alcançando u m platô em 6 a 12 meses. 1. Telopeptídeos derivados da porção N - t e r m i n a l (NTx) e


Dependendo da terapia anti-reabsortiva e do marcador ósseo, a C-terminal (CTx) do colágeno
terapia efetiva está associada a uma redução no marcador ósseo 2. Desoxipiridinolina (DPD, lisil pirídínnlina) formada pela
de 20% a 80%. reação de duas cadeias laterais de hidroxilisina e uma cadeia
Em contraste com várias doenças ósseas, a osteoporose é lateral de lisina da molécula do colágeno
freqüentemente caracterizada por modestas alterações no turnover 3. Piridinolina (PYD, hidroxilisil piridinolina) formada pela
ósseo, e, assim, apenas pequenas mudanças podem ocorrer durante reação de três cadeias laterais de hidroxilisina
a terapia. Deve-se esperar u m período de 1 a 3 anos antes de A D P D é u m marcador mais específico e sensível do que a
realizar avaliações da massa óssea (como, p. ex., por absorciome- PYD. A D P D é encontrada em quantidades significativas apenas
tria por raios X de dupla energia) que identificarão mudanças nos ossos, dentina, ligamentos e na aorta, enquanto a PYD se
estatisticamente significativas na massa óssea durante a terapia. encontra mais amplamente distribuída. Por causa da grande
A medição dos marcadores ósseos possibilita a avaliação mais massa do sistema esquelético, o osso é geralmente a maior fonte
precoce da reabsorção e / o u da formação óssea do que as medi- tanto da PYD como da D P D . N e n h u m a substância está presente
ções da massa óssea. C o m o a maioria das terapias são anti-reab- em quantidades significativas na pele.
sortivas e os marcadores de reabsorção respondem mais rapida- A D P D é u m marcador da reabsorção óssea porque (1) é
mente a estas terapias, atualmente a utilização destes marcadores formada durante a maturação do colágeno, não durante a bíos-
tem recebido muita atenção. síntese, e se origina apenas como u m produto proveniente da
A l e m do uso destes marcadores nas doenças osteometabóli- quebra da matriz madura, (2) este marcador não parece ser meta-
cas, eles são ferramentas potencialmente úteis no diagnóstico e bolizado antes de ser excretado na urina, (3) o osso é a maior
monitoramento da doença óssea metastática. fonte da D P D e (4) ele não parece ser proveniente da dieta.
As ligações cruzadas do p i r i d í n i o ( D P D e PYD) e os telopep-
Variáveis Pré-analíticas e Analíticas tídeos contendo estas ligações cruzadas são liberados na circula-
Variáveis pré-analíticas e analíticas reduzem significativamente a ção pela hidrólise do colágeno tipo I durante a reabsorção óssea
utilidade das medições dos marcadores de formação e reabsorção e são excretados na urina.
ósseas. A variabilidade individual dos marcadores urinários a
longo prazo é geralmente mais elevada (15% a 60%) do que a
dos marcadores séricos ( 5 % a 10%). Importância Clínica dos Telopeptídeos e da Desoxipiridinolina
As concentrações séTÍcas e urinárias da maioria dos marcado- Concentrações elevadas dos telopeptídeos e da D P D têm sido
res ósseos variam com a hora do dia por causa da variação diurna descritas na (1) osteoporose, (2) doença de Paget, (3) doença óssea
da reabsorção e formação ósseas. Por causa do pico n o t u r n o do metastática, (4) hiperparatireoidismo primário ou secundário,
tumover ósseo, a maioria dos marcadores alcança as suas concen- (5) hipertireoidismo e (6) outras doenças que apresentam aumento
trações mais elevadas no mício da manhã (de 4 às 8 h) c têm seus da reabsorção óssea. Quando as mulheres na pós-menopausa são
menores níveis entre 13 e 23 b. A amplitude desta variação é comparadas ao grupo-controle de mulheres na pré-menopausa, os
maior para os marcadores ósseos de reabsorção, com seus valores níveis dos telopeptídeos estão geralmente mais aumentados que
médios 70% mais baixos que o seu pico de liberação. Conseqüen- os dos outros marcadores de reabsorção e formação ósseas. A
temente, as amostras devem ser colhidas em uma hora específica inibição da reabsorção óssea com o uso de agentes farmacológicos,
do d ia com o i n t u i t o de minimizar o impacto da variabilidade incluindo estrogéno ou bifosfonatos, leva a uma redução nos
d i u r n a durante a comparação entre as amostras. Para os marca- telopeptídeos e na DPD.
dores urinários, a coleta da segunda urina da manhã é geralmente
recomendada. Comparada com o u t r o s marcadores, a A L P não Medição de Telopeptídeos e Ligações Cruzadas do Piridínio
demonstra m u i t a variação diurna, provavelmente por causa da N T x , C T x e D P D são os marcadores de reabsorção óssea mais
sua meia-vida longa no soro. freqüentemente utilizados. Os métodos estão comercialmente
As concentrações dos marcadores urinários de reabsorção são disponíveis para a medição do N T x e do C T x no soro e na urina
geralmente normalizadas pela divisão da concentração da creati- e da desoxipiridinolina na u r i n a (Tabela 38-4). Imunoensaios são
nina urinária. A variabilidade (intra e interensaio) das medidas utilizados para medir o N T x e o C T x . A D P D é medida por
da creatinina urinária, a variabilidade individual da creatinina H P L C ou imunoensaio.
urinária e a dependência da creatinina com a massa muscular Requisitos para a Coleta da Amostra, D P D e telopeptídeos são
contribuem pata a variabilidade global dos marcadores urinários relativamente estáveis na urina. A exposição aos raios U V degrada
de reabsorção. a D P D e a PYD; a exposição prolongada à luz solar deve ser
evitada. O pico de excreção urinária das piridinolinas ocorre
entre as 5 e 8 horas da manhã, refletindo o pico n o t u r n o do
Marcadores de Reabsorção Óssea twrnouer ósseo. As concentrações mais baixas das piridinolinas
Os marcadores de reabsorção óssea estão listados na Tabela 3 8 4 . urinárias são encontradas entre 14 horas e 23 horas. Apesar de
Estes marcadores, separadamente da fosfatase ácida resistente ao os primeiros estudos utilizarem amostras urinárias de 24 horas,
tartarato (TRAP), são inicialmente medidos na urina. Metodolo- amostras matinais únicas do início da manhã também foram
gias que utilizam o soro têm sido desenvolvidas para a análise dos utilizadas. A segunda aiuustra da manhã, coletada às 10 horas, é
marcadores, incluindo os N-telopeptídeos e C-telopeptídeos. mais comumente recomendada.
Tem sido relatada uma variação biológica individual dos mar-
Ligações Cruzadas de Telopeptídeos e Piridínio cadores ósseos com u m coeficiente de variação de 5 % a 60%.
(Desoxipiridinolina e Piridinolinaj Intervalos de Referência. Intervalos de referência apropriados
O colágerio tipo I corresponde a aproximadamente 9 0 % da para a medição dos telopeptídeos e a D P D dependem do motivo
matriz orgânica do osso. O metabolismo do colágeno durante a de solicitação do teste. Para mulheres com osteoporose, os resul-
reabsorção óssea produz telopeptídeos do colágeno e ligações tados são, geralmente, comparados com os das mulheres saudá-
cruzadas que são medidos no soro ou na urina: veis na pré-menopausa.
Doenças Ósseas CAPÍTULO 38 751

A s concentrações de ligações cruzadas d o colágeno são i n f l u e n - d i u r n a . A A L P óssea t a m b é m é mais estável m vitro e não requer
ciadas pela idade e pelo sexo. Estas concentrações são notavel- m a n i p u l a ç ã o especial. A A L P óssea é mais ú t i l em i n d i v í d u o s
m e n t e mais elevadas na p r i m e i r a i n f â n c i a e na adolescência, c o m redução da f u n ç ã o renal p o r q u e não é e l i m i n a d a pela filtra-
períodos de r á p i d o crescimento ósseo. As concentrações são rela- ção g l o m e r u l a r .
t i v a m e n t e constantes entre os 3 0 e os 45 anos de idade, mas Dos marcadores b i o q u í m i c o s atuais, a A L P total o u a A L P
a u m e n t a m após a menopausa. Para mulheres, os intervalos de óssea f o r n e c e m as maiores sensibilidade e especificidade clínicas
referência são baseados geralmente nas concentrações observadas n o diagnóstico e m o n i t o r a m e n t o da doença de Paget. Apesar de
em m u l h e r e s na pré-menopausa c o m ciclos menstruais n o r m a i s , a A L P total ser mais utilizada, a A L P óssea é mais sensível do que a
c o m 3 0 a 45 anos de idade. A u m e n t o s relativos à idade t a m b é m A L P total nos casos moderados de doença de Paget A O C é relati-
são observados e m h o m e n s . vamente insensível e menos ú t i l que a A L P óssea na doença de Paget.
A A L P total não é ú t i l nas doenças osteometabólicas que apresentam
Fosfatase Ácida Resistente ao Tartarato elevações moderadas da A L P óssea.
D u r a n t e a reabsorção óssea, os osteoclastos p r o d u z e m e secretam A medição da A L P óssea p o d e ser equivocada e m alguns pacien-
T R A P . A m a i o r i a dos ensaios n ã o d i s t i n g u e m a T R A P osteoclás- tes. Por exemplo, os seus níveis p o d e m ser falsos nos pacientes c o m
tica (isoforma 5b) das outras T R A P s encontradas n o plasma. doença hepática p o r causa da reatividade cruzada dos métodos
A l é m disso, a instabilidade da enzima e a associação desta enzima correntes c o m a A L P hepática. N a osteomalácia grave, a A L P p o d e
c o m a otj-macroglobulina c o m p l i c a m o desenvolvimento dos estar m u i t o a u m e n t a d a sem o a u m e n t o na mineralização, d e v i d o
métodos. a u m a falha na mineralização. C o m o a 1 , 2 5 - d i i d r o x i v i t a m i n a D
Tegula a síntese da A L P e O C , ambos os marcadores p o d e m ter
Hidroxiprolina Urinária valores falsos nos pacientes que u t i l i z a m o c a l c i t r i o l e em pacien-
A h i d r o x i p r o l i n a é encontrada p r i n c i p a l m e n t e n o colágeno, sendo tes c o m concentrações a n o r m a i s deste h o r m ô n i o .
derivada da p r o l i n a p o r h i d r o x i l a ç ã o pós-traducional. E m t o r n o Os i m u n o e n s a i o s são mais convenientes, sensíveis e específi-
de 10% da h i d r o x i p r o l i n a liberada d u r a n t e o catabolismo do cos para a medição da A L P q u e os p r o c e d i m e n t o s convencionais,
colágeno é excretada na u r i n a , p r i n c i p a l m e n t e e m pequenos pep- i n c l u i n d o a inativação pelo calor, a i n i b i ç ã o química, a precipi-
tídeos dialisáveis. A h i d r o x i p r o l i n a é liberada dos peptídeos p o r tação pela lectina, a eletroforese e o u t r o s procedimentos. D o i s
h i d r ó l i s e ácida. Ensaios anteriores envolviam a oxidação da h i d r o - m é t o d o s são c o m e r c i a l m e n t e disponíveis (1) m é t o d o de dois
x i p r o l i n a a p i r r o l , seguida pela reação c o m o reagente de E h r l i c h sítios, q u e utiliza dois a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s para m e d i r a A L P
(4-dimetilaminobenzaldeido). A cromatografia de troca iônica óssea, e (2) ensaio de i m u n o a d s o r ç ã o , que utiliza u m ú n i c o anti-
antes da análise e outras modificações têm sido defendidas para c o r p o m o n o c l o n a l para capturar a A L P antes que a sua ação
reduzir a interferência dos c o m p o n e n t e s urinários. M é t o d o s sen- enzimática seja m e d i d a .
síveis e específicos de H P L C p o r fase reversa têm sido descritos.
A h i d r o x i p r o l i n a u r i n á r i a n ã o é específica paia o turnover o u
para a reabsorção óssea p o r q u e (1) outros tecidos, i n c l u i n d o Intervalos de Referência
m ú s c u l o e pele, e a fração C l q d o c o m p l e m e n t o c o n t ê m u m a As concentracões n o r m a i s da A L P óssea são aproximadamente de
p r o p o r ç ã o significativa de colágeno do corpo; (2) u m a significa- 5 a 20 n g / m L ( | i g / L ) pelo I R M A e 11,6 a 29,6 e 15,0 a 41,3 U / L
tiva porcentagem d o colágeno é degradada d u r a n t e a síntese e para mulheres na pré-menopausa e h o m e n s , respectivamente,
maturação, i n c l u i n d o os pró-peptideos N - t e r m i n a l e C - t e r m i n a l pelo ensaio de imunoabsorção. As concentrações séricas são mais
(peptídeos d o pró-colágeno); e (3) sua concentração é alterada elevadas nos h o m e n s e a u m e n t a m c o m a idade t a n t o nas m u l h e -
p o r várias doenças e outros fatores, i n c l u i n d o a dieta. C o m a res c o m o nos homens, sendo este fato consistente c o m o a u m e n t o
d i s p o n i b i l i d a d e de marcadores de reabsorção óssea, mais sensí- do turnover ósseo relacionado c o m a idade. A s crianças t ê m con-
veis e específicos, a h i d r o x i p r o l i n a n ã o é utilizada r o t i n e i r a m e n t e centrações m u i t o mais elevadas, especialmente d u r a n t e o estirão
na avaliação do turnover e reabsorção óssea. do crescimento.

Marcadores de Formação Óssea Osteocatcina


A A L P e a osteocalcina ( O C ) são os marcadores de f o r m a ç ã o A O C é a p r i n c i p a l p r o t e í n a não-colágena do osso h u m a n o e a
óssea mais f r e q ü e n t e m e n t e utilizados, Os peptídeos pró-colágeno mais c o m p l e t a m e n t e caracterizada. Ela corresponde a aproxima-
são m e n o s f r e q u e n t e m e n t e m e d i d o s . Os marcadores de f o r m a ç ã o d a m e n t e 1 % da proteína total n o osso h u m a n o . A O C é u m a
óssea são m e d i d o s n o soro o u n o plasma. pequena proteína de 49 aminoácidos, c o m u m peso m o l e c u l a r
de 5 6 6 9 D a .
Fosfatase Alcalina Óssea D u r a n t e a formação óssea, 1 0 % a 3 0 % da O C sintetizada
A fosfatase alcalina (ALP) é encontrada e m vários tecidos, pelos osteoblastos é liberada na circulação. E n t r e t a n t o , a O C , e
i n c l u i n d o osso, fígado, i n t e s t i n o , rins, e placenta (veja C a p í t u l o especialmente os seus fragmentos, pode, t a m b é m , ser liberados
19 para detalhes e métodos de avaliação). As A L P s provenientes d u r a n t e a reabsorção óssea. Sua síntese é estimulada pela a
do fígado, osso e r i m são isoformas do m e s m o gene. A i s o f o r m a l , 2 5 ( O H ) 2 D . A O C é e l i m i n a d a pelos rins. A meia-vida da O C
óssea é p r o d u z i d a pelos osteoblastos d u r a n t e a f o r m a ç ã o óssea. circulante é de a p r o x i m a d a m e n t e 5 m i n u t o s .
A fosfatase alcalina óssea ( A L P ) está elevada em doenças osteo- A O C é t a m b é m chamada de BGP, p o r q u e c o n t ê m o ácido
metabólicas, i n c l u i n d o (1) osteoporose, (2) osteomalácia e raqui- y-carboxiglutâmico o u Gla. Os três resíduos g l u t a m i l nas posições
tismo, (3) h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o , (4) osteodistrofia renal, (5) tire- dos a m i n o á c i d o s 17, 21 e 24 são convertidos aos resíduos do G l a
otoxicose, e i n d i v í d u o s c o m (6) acromegalia, (7) mestástases p o r u m a carboxilação enzimática d e p e n d e n t e de v i t a m i n a K . O
ósseas, (8) excesso de g l i c o c o i t i c ó i d e , (9) doença de Paget e (10) G l a se liga aos íons de cálcio e é e n c o n t r a d o em várias proteínas
outras doenças que apresentam a u m e n t o da f o r m a ç ã o óssea. envolvidas na coagulação sanguínea e n o transport e, deposição,
A medição da A L P t e m várias vantagens c o m relação à ava- e homeostasia do cálcio. A O C não carboxilada, a qual t e m sido
liação da O C . Por causa da sua meia-vida relativamente longa tn descrita n o soro e m algumas condições, p o d e estar relacionada
vivo (1 a 3 dias), ela é relativamente não afetada pela variação c o m a redução da massa óssea e responder à administração de
752 PARTE V Fisiopatologia

v i t a m i n a K. Apesar de a O C se ligar ao cálcio e a h i d r o x i a p a t i t a , Intervalos de Referência


o seu papel fisiológico é desconhecido. Os intervalos de referência são dependentes d o m é t o d o . As con-
O s imunoensaios são u t i l i z a d o s para m e d i r a O C e seus frag- c e n t r a ç õ e s são m a i o r e s nas c r i a n ç a s , c o m valores m a i s elevados
mentos. A O C intacta é responsável p o r 3 5 % da i m u n o r r e a t i v i - observados nos períodos de crescimento r á p i d o . H o m e n s têm
dade em i n d i v í d u o s n o r m a i s , 4 5 % em pacientes c o m osteoporose, concentrações de O C u m p o u c o mais elevadas. H á relatos de que
e 2 5 % em pacientes c o m insuficiência renal crônica ( I R C ) . O as concentrações de O C p o d e m a u m e n t a r , reduzir o u permane-
fragmento mais prevalente é u m fragmento grande (1-43) interme- cer inalteradas c o m o avanço da idade, u m a provável conseqüên-
d i á r i o da região N - t e r m i n a l que perdeu seis aminoácidos da região cia da heterogeneidade dos níveis circulantes e das diferenças de
C - t e r m i n a l da O C . especificidade dos i m u n o e n s a i o s As concentrações de O C estão
A temperatura ambiente, a i m u n o r r e a t i v i d a d e sérica m e d i d a geralmente aumentadas d u r a n t e a menopausa. A O C exibe u m a
p o r u m ensaio para a dosagem da O C intacta reduz-se aproxima- variação d i u r n a c o m u m pico n o t u r n o , c o m u m a queda de 5 0 % ,
damente em 2 0 % e m 3 horas, e n q u a n t o a i m u n o r r e a t i v i d a d e c o m a t i n g i n d o o p o n t o m í n i m o pela m a n h ã . As concentrações de O C
o ensaio que mede t a n t o o h o r m ô n i o intacto como o f r a g m e n t o estão aumentadas e m i n d i v í d u o s c o m i n s u f i c i ê n c i a renal.
p r e d o m i n a n t e não é modificada. O f r a g m e n t o i n t e r m e d i á r i o
N - t e r m i n a l pode ser liberado pelos osteoblastos durante a forma-
ção óssea e ser p r o d u z i d o ín vivo na circulação, e é p r o d u z i d o in Peptídeos do Pró-colágeno (Pró-peptídeos do
vitro durante o manejo da amostra pela proteólise da O C intacta. Colágeno)
O colágeno t i p o I é sintetizado c o m o u m precursor, o pró-colá-
Significância Clínica geno, c o n t e n d o t a n t o as extensões C - t e r m i n a l c o m o N - t e r m i n a l .
A O C está a u m e n t a d a nas doenças osteometabólicas c o m Estas extensões, o u pró-peptídeos, são clivadas do pró-colágeno
a u m e n t o da f o r m a ç ã o óssea o u osteóide, i n c l u i n d o (1) osteopo- t i p o I d u r a n t e a formação d o colágeno. Os pró-peptídeos do
rose, (2) osteomalacia e r a q u i t i s m o , (3) h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o , colágeno são marcadores de f o r m a ç ã o óssea. V á r i o s i m u n o e n -
(4) osteodistrofia renal, (5) tireotoxicose e (6) acromegalia. Está saios t e m sido desenvolvidos para m e d i r os pró-petídeos N - t e r m i -
reduzida (1) n o h i p o p a r a t i r e o i d i s m o , (2) h i p o t i r e o i d i s m o , (3) na n a l (P1NP) e C - ( t e r m í n a l P I C P ) .
deficiência do h o r m ô n i o de crescimento e d u r a n t e (4) a terapia C o m o o colágeno t i p o I é t a m b é m a p r i n c i p a l m a t r i z de vários
de reposição estiogênica e o t r a t a m e n t o c o m glicocorticóides, o u t r o s tecidos, os pró-peptídeos do colágeno não são sensíveis o u
bifosfonatos e calcitonina. específicos para a avaliação da f o r m a ç ã o óssea c o m o a O C o u a
C o m o a O C é e l i m i n a d a pelos rins, a sua concentração p o d e A L P óssea. A m e d i d a dos peptídeos d o pró-colágeno p o d e ser
estar aumentada nos pacientes c o m insuficiência renal m e s m o ú t i l na avaliação da formação óssea nos pacientes que u t i l i z a r a m
sem a u m e n t o da f o r m a ç ã o óssea. A O C p o d e a u m e n t a r d u r a n t e a 1 , 2 5 - d i i d r o x i v i t a m i n a D o u e m pacientes c o m concentrações
o repouso p r o l o n g a d o sem u m a u m e n t o da formação óssea. a n o r m a i s deste h o r m ô n i o , q u a n d o os níveis da O C e A L P p o d e m
C o m o os níveis da O C sérica são regulados pela l , 2 5 ( O H ) 2 D , ser imprecisos.
isto p o d e não r e f l e t i r a f o r m a ç ã o óssea e m pacientes e m uso da
l , 2 5 ( O H ) z D o u e m pacientes c o m alteração do m e t a b o l i s m o o u
da ação da v i t a m i n a D . R E F E R Ê M CI AS
I. Avioli LV, Krane SM, eds Metabolic bone disease and clinically related
Medição da Osteocalcina disorders, 3rd ed. San Diego- Academic Press, 1998.
T a n t o os ensaios competitivos c o m o os imunoensaios de dois sítios 2. Becker KL, ed. Principies and practice of endocrinology and
são utilizados na determinação da O C . A concentracão circulante metabolism, 3rd ed. Philadelphia; Lippincott Williams & Wilkins, 2001.
da O C em indivíduos n o r m a i s varia amplamente entre os vários 3 Bilezikian JP, Marcus R, Levine MA, eds. The parathyroids: basic and
métodos e laboratórios, c o m valores médios em indivíduos normais clinicai concepts, 2nd ed San Diego- Academic Press, 2001.
de 3 a 27 n g / m L ((J,g/L). A especificidade e a heterogeneidade do 4. Bílezilciati JP, Raisz LG, Rodan GA, eds. Principies of bone biology, 2nd
anti-soro para a O C circulante são provavelmente as principais ed. San Diego: Academic Press, 2002
razões para as diferenças observadas entre os métodos. 5. Coe FL, Favus MJ, eds. DixordeTs of bone and mineral metabolism, 2nd
ed. Lippincott, Williams &. Wilkins, 2002,
Requisitos para a Coleta da Amostra 6. DeGroot L], Jamison JL, eds. Endocrinology, 5th ed. Philadclphia W B
Saunders, 2005
O soro é a amostra mais a m p l a m e n t e utilizada. O plasma hepari-
7. Eastell R, Baumann M, Hoyle N, Wieczorek L, eds. Bone markers:
nizado é utilizado p o r alguns métodos. A estabilidade da O C em
biochemícal and clinicai perspectives, London: Martin Dunitz, 2001.
amostras é dependente do m é t o d o . T e m sido descrica u m a redução
S. Favus MJ, ed. Pnmer on che metabolic bone diseases and disoiders of
da i m u n o r r e a t i v i d a d e da O C de 5 0 % a 7 0 % após 6 a 24 horas à
mineral metabolism, 6th ed. Durham, NC: American Society for Bone
temperatura a m b i e n t e e de 4 0 % a 8 0 % após 2 semanas a 4°C. O
and Mineral Research, 2006
Trasylol®, u m a m i s t u r a de i n i b i d o r e s de protease, e a coleta n o
9 Feldman D, Pikc JW, Glorieux F, eds Vicamin D. San Diego- Academic
gelo m e l h o r a m a estabilidade da O C c o m alguns métodos, p o r é m Press, 2004
não c o m todos. A concentração sérica da O C é estável p o r 3 horas 10 Larsen PE, Kronenberg HM, Melmed S, Polonsky KS, eds Williams
na temperatura a m b i e n t e e p o r 2 horas na temperatura de 4°C, textbook of endocrinology, 10th ed Philadelphia- W B Saunders, 2003.
q u a n d o for m e d i d a p o r métodos que avaliam a O C intacta e a I I . Marcus R, Feldman D, Kelsey J, eds. Osteoporosis, 2nd ed. San Diego:
região i n t e r m e d i á r i a do f r a g m e n t o N - t e r m i n a l (1-43). Academic Press, 2001
A estabilidade da amostra deve ser d e t e r m i n a d a e a coleta e 12. Massry SG, Coburn JW, FPuska K, Langman C, Malluche H, Martin K,
o manuseio, otimizados para cada m é t o d o . A não ser q u e seja et al. National Kidney Foundation K / D O Q I Guidelines for Bone
provado que não é necessário, a amostra deve ser coletada e Metabolism and Disease in Chronic Kidney Disease 2003, http://www,
colocada n o gelo, separada d e n t r o de 1 h o r a e congelada imedia- kidncy.org/professionals/kdoqi/guidelines_bone/index.htm.
tamente. Os ciclos de congelamento-descongelamento devem ser 13. Seibel MJ, Robins SP, Bilezikian JP, eds, Dynamics of bone and cartilage
evitados. O uso de E D T A n o plasma e / o u de i n i b i d o r e s de pro- metabolism San Diego. Academic Press, 2006.
tease deve ser avaliado.
CAP
TÍULO 33

Distúrbios Hipofisários*
Laurence M. Demers, Ph.D., D.A.B.C.C., F.A.C.B., e Mary Lee Vance, M.D.

OBJETIVOS H o r m ô n i o d o C r e s c i m e n t o ( G H ) : U m p o l i p e p t í d e o c o m 191
1. Descrever a estrutura e a função da hipófise. a m i n o á c i d o s que é p r o d u z i d o pela adeno-hipófise e que
afeta o m e t a b o l i s m o de carboidratos, lipídios e proteínas.
2. Listar os hormônios sintetizados pela adeno-hipófise e aqueles
H o r m ô n i o E s t i m u l a n t e da T i r e ó i d e ( T S H ) : U m p o l i p e p t í d e o
armazenados na neuro-hipóíise.
sintetizado pela adeno-hipófise que p r o m o v e o crescimento,
3. Relatar os efeitos periféricos da liberação hormonal para cada
sustenta e estimula a secreção de h o r m ô n i o s na tireóide,
hormônio sintetizado ou armazenado na hipófise.
t a m b é m conhecida c o m o t i r e o t r o p i n a .
4. Relatar os efeitos periféricos do aumento e redução da liberação
H o r m ô n i o F o l í c u l o E s t i m u l a n t e ( F S H ) : U m gticopeptídeo
hormonal para cada hormônio sintetizado ou armazenado na
secretado pela adeno-hipófise. E m mulheres, o F S H
hipófise.
estimula o crescimento e maturação dos folículos ovarianos,
5. Definir adenoma hipofisárío e descrever seus efeitos na atividade estimula a secreção d o estrógeno e p r o m o v e alterações
hormonal. endometriais.
6. Listar os testes de laboratório usados para avaliar a função H o r m ô n i o L u t e i n i z a n t e ( L H ) : U m h o r m ô n i o glicoprotéico
hipofisária. g o n a d o t r ó p i c o secretado pela adeno-hipófise que age c o m o
F S H p r o m o v e n d o a ovulação e a p r o d u ç ã o de a n d r ó g e n o e
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES da progestetona. E m i n d i v í d u o s do sexo m a s c u l i n o , o L H
A c r o m e g a l i a : U m a doença c r ô n i c a dos adultos causada pela atua c o m o u m h o r m ô n i o e s t i m u l a d o r de células
hipersecreção do h o r m ô n i o de crescimento h i p o f i s á r i o e intersticiais.
caracterizada pelo espessamento de várias partes do N a n i s m o H i p o f i s á r i o : Baixa estatura causada pela deficiência
esqueleto. de síntese de h o r m ô n i o s da adeno-hipófise
Diabetes I n s i p i d u s : U m a f o r m a de diabetes na q u a l os t ú b u l o s ( p a n - h i p o p i t u i t a r i s m o ) d u r a n t e a infância.
renais não reabsorvem a água. Causado t a n t o pela O c i t o c i n a : U m h o r m ô n i o o c t a p e p t í d i c o sintetizado n o
p r o d u ç ã o inadequada d o A D H q u a n t o pelo defeito n o h i p o t á l a m o e armazenado na n e u r o - h i p ó f i s e que i n d u z u m a
receptor do A D H . suave contração muscular n o ú t e r o e nas glândulas
F a t o r de C r e s c i m e n t o S e m e l h a n t e à I n s u l i n a ( I G F ) : Os fatores mamárias.
de crescimento semelhantes à i n s u l i n a I e I I são P o l i d i p s i a : A u m e n t o excessivo de ingestão de água c o m o n o
p o l i p e p t í d e o s c o m considerável s i m i l a r i d a d e estrutural à diabetes mellituí o u diabetes insipidus.
i n s u l i n a e c o m as mesmas respostas biológicas. P o l i ú r i a : E l i m i n a ç ã o de u m a grande q u a n t i d a d e de u r i n a em
G i g a n t i s m o H i p o f i s á r í o : C r e s c i m e n t o a u m e n t a d o causado pelo u m d e t e r m i n a d o p e r í o d o , característica do diabetes.
excesso de síntese de h o r m ô n i o s da adeno-hipófise. P r o l a c t i n a ( P R L ) : U m h o r m ô n i o lactogênico sintetizado pela
G l â n d u l a H i p ó f i s e : F o r m a d a p o r u m c o r p o de f o r m a elíptica, hipófise.
localizada na base do c r â n i o , alojada na sela túrcica, que se S í n d r o m e da Secreção I n a p r o p r i a d a de H o r m ô n i o
c o m u n i c a c o m o h i p o t á l a m o pela haste hipofisária, de o n d e A n t i d i u r é t i c o ( S I A D H ) : U m a condição na q u a l a secreção
recebe i m p o r t a n t e e s t í m u l o neural e vascular. E d i v i d i d a na i n a p r o p r i a d a de h o r m ô n i o a n t i d i u r é t i c o p r o d u z
h i p ó f i s e a n t e r i o r (adeno-hipófise), i n t e r m e d i á r i a e posterior h i p o n a t r e m i a , h i p o v o l e m i a e elevada osmolalidade na
(neuro-hipófise), cada q u a l responsável pela p r o d u ç ã o dos urina.
seus p r ó p r i o s h o r m ô n i o s . p - L i p o t r o p i n a ( p - L P H ) : U m p o l i p e p t í d e o c o m 91 a m i n o á c i d o s
H o r m ô n i o Adrenocorticotrófico ( A C T H ) : U m polipeptídeo sintetizado pela adeno-hipófise que exerce u m a ação
c o m 39 aminoácidos secretado pela adeno-hipófise que lipolítica periférica b r a n d a e p r o m o v e o escurecimento da
estimula o córtex adrenal a secretar os corticosteróides. pele p o r estímulo aos melanócitos.
H o r m ô n i o A n t i d i u r é t i c o ( A D H ) : U m h o r m ô n i o peptídico Vasopressina: U m h o r m ô n i o p e p t í d i c o — t a m b é m c o n h e c i d o
sintetizado n o h i p o t á l a m o , mas l i b e r a d o a p a r t i r da neuro- c o m o h o r m ô n i o a n t i d i u r é t i c o ( A D H ) — que é sintetizado
hipófise n o h i p o t á l a m o , mas liberado a p a r t i r da neuro-hipófise.
H o r m ô n i o de L i b e r a ç ã o da C o r t i c o t r o p i n a ( C R H ) : U m
n e u r o p e p t í d e o liberado p e l o h i p o t á l a m o que estimula a

A
liberação da c o r t i c o t r o p i n a peia adeno-hipófise.
h i p ó f i s e está localizada na base d o c r â n i o (Figura 39-1)
H o r m ô n i o de L i b e r a ç ã o de T i r e o t r o p i n a ( T R H ) : U m
e m u m a cavidade óssea chamada seíla túrcica (sela túrcica).
t r i p e p t í d e o p r o d u z i d o n o h i p o t á l a m o que estimula a
A glândula é pequena — 1 c m o u menos e m altura e
liberação do T S H da adeno-hipófise.
largura — e pesa a p r o x i m a d a m e n t e 5 0 0 mg. E a n a t o m i c a m e n t e
d i v i d i d a em porção a n t e r i o r (adeno-hipófise) e posterior (neuro-
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias de Ron ai d hipófise). U m terceiro segmento (parte intermediária) está pre-
]. Whitley, A. Wayne M d Ide e Nelson B. Watts, nas quais se baseiam partes sente n a m a i o r i a dos vertebrados e n o feto h u m a n o ; mas é p o u c o
deste capítulo. desenvolvido n o h u m a n o a d u l t o .
754 PARTE V Fisiopatologia

Figura 39-1 Localização da hipófise e do hipotálamo no cérebro.

F i g u r a 3 9 - 2 [nter-relaçãa funcional do hipotálamo, hipófise e


glândulas endócrinas.
TABELA 39-1 H o r m ô n i o s da Adenc-hipófise e suas
Fontes Celulares

Hormônio Abreviação Fonte Celular e n q u a n t o o T S H , o A C T H e as g o n a d o t r o f i n a s ( L H e F S H ) agem


p r i n c i p a l m e n t e nas glândulas endócrinas-alvo específicas c o m o a
Hormônio do Crescimento GH SomatctróficG
glândula tireóide, córtex a d r e n a l e gônadas, respectivamente.
Fatores de Crescimento IGF 1 & II Somatotrótico
Semelhante à insulina Esses h o r m ô n i o s peptídicos originados dos h o r m ô n i o s hipofisá-
Prolactina PRL Mamotrófico rios e os elaborados pela placenta d u r a n t e a gravidez e relaciona-
Hormônio Estimulante da Tireóide TSH Tireotrófico dos c o m estes t ê m sua classificação baseada na sua estrutura
Hormônio Folículo-Estimulante FSH Gonadotrótico m o l e c u l a r e evolução b i o q u í m i c a .
Hormônio Luteinizante LH Gonadotrófico
Hormônio Adrenocorticotrópico ACTH Corticotrófico REGULAÇÃO HIPOTALÃMICA
A secreção dos h o r m ô n i o s da adeno-hipófise é c o n t r o l a d a pelo
h i p o t á l a m o , que p r o d u z p e q u e n o s h o r m ô n i o s peptídicos conhe-
O sangue arterial alcança a hipófise através da artéria hipofi- cidos c o m o /atores inibidores o u liberadores (Figura 39-2). M u i t o s
sária superior. O sangue venoso transporta os h o r m ô n i o s neu- f o r a m classificados, entre eles: (1) h o r m ô n i o de l i b e r a ç ã o da
rossecretores d o h i p o t á l a m o que alcançam a h i p ó f i s e pelo sistema c o r t i c o t r o p i n a ( C R H ) , 9 (2) h o r m ô n i o de liberação da t i r e o t r o -
p o r t a l h i p o t a l â m i c o . Os fatores h i p o t a l â m i c o s e s t i m u l a m o u p i n a ( T R H ) , (3) h o r m ô n i o de liberação do G H ( G H - R H ) ,
i n i h e m a liberação de h o r m ô n i o s da adeno-hipófise. (4) somatostatina ( t a m b é m c o n h e c i d o c o m o fator de inibição-libe-
A hipófise regula o sistema e n d ó c r i n o i n t e g r a n d o os sinais Tação de somatotropina fSRIFjf), (5) h o r m ô n i o de liberação da gona-
químicos d o cérebro c o m a resposta regulatória na concentração d o t r o f i n a ( G n - R H , t a m b é m c o n h e c i d o c o m o h o r m ô n i o de libe-
dos h o r m ô n i o s circulatórios, estimulando a liberação i n t e r m i - ração do h o r m ô n i o luteinizante) e (6) fator i n i b i d o r da P R L , que
tente de h o r m ô n i o s das glândulas endócrinas-alvo 3 . H i s t o r i c a m e n t e , é, na verdade, a d o p a m i n a . A l é m disso, o G n - R H estimula a secre-
pelo fato de a hipófise estar i n t i m a m e n t e ligada na regulação d o ção de F S H e L H . E n t r e t a n t o , ainda não foi estabelecido u m
(1) crescimento, (2) desenvolvimento, (3) função tireoidiana, (4) fator de liberação para o F S H d e t e r m i n a d o , m e s m o que o con-
função adrenal, (5) função gonadal, e (6) na homeostasia da água trole de resposta negativa desta g n n a d o t r o f i n a seja afetado pela
e do sal, ela é chamada de "glândula endócrina mestre". 9,11 i n i b i n a , u m peptídeo de o r i g e m gonadal.
A adeno-hipófise secreta (1) h o r m ô n i o de crescimento ( G H ) , C R H , G H - R H , G n - R H e T R H f o r a m todos usados em testes
(2) p r o l a c t i n a ( P R L ) , (3) t i r e o t r o p i n a ( T S H ) , (4) adrenocortico- para a reserva dos h o r m ô n i o s p i t u i t á r i o s . A l é m disto, a adminis-
t r o p i n a ( A C T H ) , (5) h o r m ô n i o f o l í c u l o e s t i m u l a n t e (FSH), e (6) tração e m pulso do G n - R H é usada para i n i c i a r a puberdade e
h o r m ô n i o l u t e i n i z a n t e ( L H ) , e todos são proteínas o u peptídeos i n d u z i r ovulação o u espermatogênese. A l t e r n a t i v a m e n t e , os anta-
(Tabela 39-1). A adeno-hipófise t a m b é m secreta P - l i p o t r o p i n a (p- gonistas de G n - R H que i n i b e m a ação d o endógeno G n - R H são
L P H ) e u m n ú m e r o de peptídeos menores de i m p o r t â n c i a indeter- usados para tratar pacientes c o m (1) puberdad e precoce, (2) endo-
m i n a d a . ' A vasopressina e ocitocina são produzidas no h i p o t á l a m o metriose, (3) fibrose u t e r i n a e (4) c a r c i n o m a na próstata. O G H -
e são levadas através das fibras nervosas até a neuro-hipófise. Assim, R H a i n d a é o u t r o peptídeo h i p o t a l â m i c o que é usado para tratar
a neuro-hipófise não f u n c i o n a c o m o u m órgão e n d ó c r i n o distinto, de pacientes c o m deficiência de G H causada p o r distúrbios no
mas c o m o u m reservatório para esses dois h o r m ô n i o s . hipotálamo.
Dos seis h o r m ô n i o s p r i n c i p a i s deTivados da adeno-hipófise, Os n e u r ô n i o s que p r o d u z e m h o r m ô n i o s h i p o f i s i o t r ó p i c o s
o G H e a P R L agem p r i n c i p a l m e n t e por difusão no tecido-alvo, são i n f l u e n c i a d o s p o r neurotransmissores hipotalâmicos, c o m o

Í
Distúrbios Hipofisários CAPÍTULO 39 7SS

TABELA 39-2 E f e i t o d o s N e u r o t r a n s m i s s o r e s nas l i n a I e I I são polipeptídeos sintetizados e liberados em resposta


ao O H e apresentam notáveis seqüências de a m i n o á c i d o s e fun-
S e c r e ç õ e s H o m o n a i s d o L o b o A n t e r i o r da
cionalidade similar à insulina.
Glândula Hipófise

Secreção Secreção
Bioquímica
Estimulada por Inibida por
G H é u m a cadeia simples de polipeptídeos c o m massa molecular
ACTH Serotonina GABA de 21.500 D a q u e c o n t é m 191 a m i n o á c i d o s e duas pontes dis-
Acetilcolína sulfeto intramoleculares. T e m estrutura s i m i l a r a P R L e ao hor-
Endorfinas m ô n i o s o m a t o m a m o t r ó p i c o c o r i ô n i c o ( h C S , h o r m ô n i o lactogê-
TSH Norepinefrina Dopamina n i o placentário), c o m q u e m tem efeitos biológicos que se sobre-
Serotonina põem.
Endorfína G H é sintetizado pelas células somatotrópicas (acidófilas) da
PRL Norepinefrina Dopamina adeno-hipófise e armazenado em grânulos intracelulares.
Endorfinas D u r a n t e o dia, a concentração plasmática de G H j nos adultos
GH Dopamina
saudáveis, permanece estável e relativamente baixa ( m e n o r de
Norepinefrina
2 n g / m L ) , c o m vários picos de liberação acontecendo aproxima-
Serotonina
d a m e n t e 3 horas depois das refeições e depois dos exercícios. D o
Endorfinas
c o n t r á r i o , n o p e r í o d o n o t u r n o , a d u l t o s e crianças apresentam
Gonadoírofínas Norepinefrina Serotonina
u m a elevação na atividade secretória do G H a p r o x i m a d a m e n t e
Acetilcolina Dopamina
9 0 m i n u t o s depois do começo do sono; as concentrações de G H
GABA Endorfinas
alcançam u m valor de pico d u r a n t e o p e r í o d o de s o n o mais
ACTH, Hormônio adrenocoí tico trópico; GABA. y-ácido amirtobutirico; p r o f u n d o . Este padrão de secreção d o G H p o d e ser i m p o r t a n t e
TSH. hcirTníVnrn e-StrinvrJanre (ia Hrenkie, PRT., prnlaerina. GH, hormônio do
para os processos anabólicos e de reparo e para o p r ó p r i o cres-
cresci men to.
c i m e n t o d o esqueleto.
I G F s são polipeptídeos c o m alta s i m i l a r i d a d e de seqüência
c o m a insulina. A o c o n t r á r i o de m u i t o s o u t r o s h o r m ô n i o s pep-
tídicos, os I G F s c i r c u l a m n o sangue conjugados a p r o t e í n a s
(1) d o p a m i n a , (2) n o r e p i n e f r i n a , (3) s e r o t o n i n a , (4) acetilco-
p l a s m á t i c a s especificas. Seis p r i n c i p a i s p r o t e í n a s de ligação de
lina, e (5) e n d o r f i n a s . Estes neurotransmissores t a m h é m m o d i -
I G F f o r a m i d e n t i f i c a d a s n o p l a s m a h u m a n o . 1 ' A p r o t e í n a de
f i c a m a a t i v i d a d e secretória dos h o r m ô n i o s da adeno-hipófise
ligação d o f a t o r de c r e s c i m e n t o s e m e l h a n t e à i n s u l i n a ( I G F B P ) -
(Tabela 39-2). Sem d ú v i d a , a secreção episódica e basal, o r i t m o
3, u m a p r o t e í n a de ligação glicosilada, liga > 7 5 % d o I G F - 1
c i r c a d i a n o e a liberação n o t u r n a dos h o r m ô n i o s h i p o f i s á r i o s
c i r c u l a n t e . A c o n c e n t r a ç ã o desta p r o t e í n a de ligação é depen-
são, t a m b é m , considerados eventos secundários nos eventos do
d e n t e de G H e f o r n e c e p a r a a c i r c u l a ç ã o estoque de I G F - I . A
sistema nervoso central, sendo mediados pelos h o r m ô n i o s h i p o -
dissociação d o I G F s das p r o t e í n a s de ligação o c o r r e m antes
talâmicos.
da passagem pelas m e m b r a n a s capilares e e n t r a d a e m tecidos
A l é m da m a i o r regulação central d o eixo h i p o t a l â m i c o - h i p o -
densos, c o m o a c a r t i l a g e m .
fisário pelos neurotransmissores clássicos, f o i descoberto que
alguns mediadores q u í m i c o s liberados p o r células i n f l a m a t ó r i a s
(citocinas) 4 t a m b é m p a r t i c i p a m dos mecanismos associados que
Regulação de Secreção
alteram o c o n t r o l e d o eixo n e u r o e n d ó c r i n o . 5 Por exemplo, a
A liberação de G H é c o n t r o l a d a p e l o G H - R H e SR1F d o h i p o -
m o d u l a ç ã o da alça feedback entre o eixo hipotalãmico-hipofisá-
t á l a m o . O p r i m e i r o e s t i m u l a e o o u t r o i n i b e a liberação de
rio-adrenal pelas citocinas, c o m o a i n t e r l e u c i n a 1 (IL-1) e IL-6,
G H . O S R I F t a m b é m é e n c o n t r a d o nas células delta das
liberadas c o m o resultado de infecção o u estresse, tem sido apre-
i l h o t a s pancreáticas e e m m u i t o s o u t r o s locais n o t r a t o diges-
sentada c o m o i n i b i d o r a s d o sistema i m u n o l ó g i c o .
tivo. A p r e s e n t a efeitos i m p o r t a n t e s na secreção de h o r m ô -
O c o n t r o l e da relação f u n c i o n a l entre a h i p ó f i s e e seus
n i o s g a s t r o i n t e s t i n a i s e causa i n i b i ç ã o de i n s u l i n a e l i b e r a ç ã o
órgãcs-alvo é baseado n o p r i n c í p i o d o c o n t r o l e p o r feedback, que
de g l u c a g o n . A i n f l u ê n c i a d o h i p o t á l a m o sobre a liberação de
é p r i n c i p a l m e n t e negativo entre a concentração dos h o r m ô n i o s
G H parece ser p r i m a r i a m e n t e i n i b i t ó r i a através da ação de
circulantes e a h i p ó f i s e e o h i p o t á l a m o (Figura 39-2) Esse efeito
S R I F (Figura 39-3). A liberação desses dois fatores h i p o t a l â m i -
negativo do feedback é t i p i c a m e n t e oposto ao do estímulo i n i c i a l .
cos é sucessivamente i n f l u e n c i a d a pelos centros mais altos do
Por exemplo, u m a concentração elevada de cortisol (estímulo
cérebro. Desse m o d o , diferentes estímulos c o m o (1) exercício,
inicial) reduz a síntese e liberação de C R H , resultando na
(2) estresse físico e e m o c i o n a l , (3) h i p o g l i c e m i a , (4) a u m e n t o
redução de secreção de A C T H e, p o r f i m , na redução de secreção
da concentração de a m i n o á c i d o s circulantes ( p a r t i c u l a r m e n t e
de c o r t i s o l (resposta final). Esse c o n t r o l e p o r feedback m a n t é m
aTginina), e (5) h o r m ô n i o s , c o m o testosterona, estrógenos e
u m a concentração adequada de h o r m ô n i o circulante sob u m a
t i r o x i n a , evocam u m a u m e n t o na secreção de G H (Figura 39-3).
variedade de circunstâncias oscilatórias.
N a presença de concentrações a n o r m a l m e n t e elevadas de glico-
corticóides, a secreção de G H é s u p r i m i d a . O u t r o s h o r m ô n i o s
HORMÔNIOS DA ADENO-HIPÓFISE d o h i p o t á l a m o , c o m o T R H e G n - R H , não afetam a liberação de
Os h o r m ô n i o s da adeno-hipófise e suas fontes celulares estão G H e m i n d i v í d u o s saudáveis, mas p o d e m provocar a liberação
listados na Tabela 39-1. de G H em pacientes cora acromegalia.
O i s o l a m e n t o e a descoberta da grelina p r o p i c i a r a m o u t r o
Hormônio do Crescimento e Fatores de sistema de c o n t r o l e para a l i b e r a ç ã o de G H além d o G H - R H
Crescimento Semelhantes à Insulina e SRIF. A grelina é u m p e q u e n o peptídeo de 28 a m i n o á c i d o s
O h o r m ô n i o p r o d u z i d o de f o r m a mais a b u n d a n t e pela adeno- l i b e r a d o das células n e u r o e n d ó c r i n a s na mucosa gástrica que se
h i p ó f i s e é o G H . Os fatores de crescimento semelhantes à insu- liga ao receptor G H de secretagogos para induzir a secreção tanto de
756 PARTE V Fisiopatologia

Hormônio do crescimento

Fatores estimula tórios


Sono profundo Fatores d e s u p r e s s ã o
Jejum Sa ma los latina
a-adrenérgico HipotdJamo Cortisol
Esteróides sexuais 0-adrenérgico
Estresse Hiperglicemia
Exercício Obesidade
Hipoglicemia GH-RH + / SRIF Ácidas graxos livres
Aminoácidos Hipotireoidismo
Tiroxina IGF-I
Greiina
Hipófise

GH
(-)

Fatores inibitórios
Desnutrição
Doenças Tecido â d i p j s o Catabolismo
•eficiência de de lipídios
receptor de G H GH
Anticorpos contra
o GH-R
Deficiência d e 1GF-I-R

Crescimento ósseo e muscular

Figura 39-3 A alça d e feedback regula tório d o eixo d o h o r m ô n i o d e c r e s c i m e n t o h i p o t a l â m i c o h i p o f i s á r i o . O


h o r m ô n i o d e liberação d o h o r m ô n i o d o c r e s c i m e n t o ( G H - R H ) e s t i m u l a a h i p ó f i s e para produzir G H . O G H
e s t i m u l a o fígada para produzir IGF-I, o qual j u n t o c o m o G H m o d u l a o c r e s c i m e n t o e diferenciação óssea e
muscular. O G H t a m b é m t e m u m efeito c a t a b ó l i c o e m t e c i d o a d i p o s o . IGF-I exerce u m feedback n e g a t i v o n o
G H - R H e n a secreção de G H , e S R I F atenua os e f e i t o s d o G H - R H n a h i p ó f i s e .

G H - R H como do próprio G H . A grelina t a m b é m induz a entrada de células periféricas. Seus respectivos efeitos na homeostase da glicose,
alimento e o desenvolvimento da obesidade. entretanto, opõem-se u m ao outro. M u i t o s efeitos de promoção do
crescimento do G H são mais retardados do que imediatos e são
Ações Fisiológicas exercidos principalmente pela IGF-I.
O p r i n c i p a l efeito f i s i o l ó g i c o d o G H é p r o m o v e r o c r e s c i m e n t o A mais importante das IGFs é a IGF-I. A l é m do seu efeito na
d o t e c i d o c o n j u n t i v o , da c a r t i l a g e m e dos ossos. Essa ação promoção de crescimento na caTtilagem, a I G F - I também apresenta
resulta d o e s t í m u l o da síntese p r o t é i c a q u e é e m p a r t e i n d u z i d a atividade semelhante à insulina em outros tecidos. O I G F - I aumenta
p e l o a u m e n t o n o t r a n s p o r t e de a m i n o á c i d o s através das m e m - a oxidação de glicose no tecido adiposo e estimula o transporte de
branas celulares. O s efeitos do G H nos ossos e músculos são glicose e aminoácidos no músculo diafragmático e n o músculo
exercidos d i r e t a m e n t e e através dos efeitos das I G b s q u e são cardíaco. Asíntese de colágeno e proteoglicanos é a u m e n t a d a pelo
produzidas p r i n c i p a l m e n t e n o fígado e t a m b é m e m outros I G F - I , que t a m b é m exerce efeitos positivos na homeostase d o
tecidos sob a i n f l u ê n c i a d o e G H ( p o r e x e m p l o , ossos). O cres- cálcio, d o magnésio e do potássio.
c i m e n t o das partes m o l e s e d o esqueleto é a c o m p a n h a d o p o r As concentrações plasmáticas da I G F - I imunorreativa aumen-
m u d a n ç a s n o m e t a b o l i s m o dos e l e t r ó l i t o s , i n c l u i n d o (1) o t a m d u r a n t e a infância e alcançam as concentrações do adulto na época
b a l a n ç o p o s i t i v o de n i t r o g ê n i o e f ó s f o r o , (2) a elevação das da puberdade. D u r a n t e a puberdade, observam-se concentrações de
concentrações de f ó s f o r o n o plasma e (3) a redução d o n i t r o - I G F - I duas a três vezes maiores que a concentração do adulto.
g ê n i o u r é i c o e da c o n c e n t r a ç ã o dos a m i n o á c i d o s . As respostas D u r a n t e a adolescência, as concentrações de I G F - I d e m o n s t r a m
a d i c i o n a i s do G H i n c l u e m o a u m e n t o da absorção de cálcio u m declínio gradual, alcançando a estabilidade na terceira década
i n t e s t i n a l e a redução n a excreção de s ó d i o e de potássio na de idade. As concentrações de I G F - I a u m e n t a m como esperado e m
iiTina. As m u d a n ç a s m e t a b ó l i c a s são mais u m resultado d o pacientes c o m acromegalia' 0 e são reduzidas em estados de deficiên-
a u m e n t o de captação destes íons pelos tecidos e m crescimento. cia de G H e em muitas outras situações, i n c l u i n d o (1) retardo de
O G H t e m o u t r o s efeitos n o m e t a b o l i s m o i n t e r m e d i á r i o . crescimento, (2) hipotireoidismo, (3) doenças crónicas, (4) desnutri-
Por exemplo, o G H estimula a captação de ácidas graxos não- ção e (5) doenças hepáticas.
esterificados pelo m ú s c u l o e acelera a mobilização e o metabo-
l i s m o de l i p í d i o d o tecido adiposo ao fígado. A g u d a m e n t e , o G H Significância Clínica
causa u m a d i m i n u i ç ã o nas concentrações de glicose do sangue; Situações c l i n i c a m e n t e i m p o r t a n t e s de excesso o u deficiência de
e n t re t a nto, o a u m e n t o c r ó n i c o d o G H estimula a glicogenólise G H são relativamente i n c o m u n s e são f r e q ü e n t e m e n t e de d i f í c i l
hepática e antagoniza o efeito da i n s u l i n a n a captação de glicose diagnóstico ,c A s concentrações de G H v a r i a m a m p l a m e n t e sob
pelas células periféricas. circunstâncias n o r m a i s , p o r t a n t o a m e d i ç ã o de G H sob c o n d i -
Isso causa u m aumento na glicemia. G H e insulina induzem ções aleatórias não é geralmente considerada ú t i l . N ã o se deve
crescimento de maneira semelhante porque ambos têm efeitos ana- usar u m a ú n i c a m e d i d a de G H para d i s t i n g u i r as flutuações
bólicos de proteína e estimulam o transporte de aminoácidos em n o r m a i s das baixas o u altas concentrações que são vistas e m
Distúrbios Hipofisários CAPÍTULO 39 J57

vários estágios de doenças. As medições do G H são mais bem tica ou causada por dano anatômico na hipófise ou n o hipo-
determinadas como parte do teste dinâmico que envolve o uso de tálamo, ou (3) causada por deficiências isoladas ou associadas a
u m estímulo provocativo farmacológico o u fisiológico que estimula outros h o r m ô n i o s hipofisários. E m u m estado reversível de defi-
ou suprime a liberação do GH. 1 0 ciência de G H conhecido como nanismo psicossocial, o estresse
A o contrário do G H , uma única medida da IGF-I é considerada ambiental d e m o n s t r o u ser i n i b i d o r da função hipofisária e hipo-
suficiente para uma avaliação acurada da sua produção 1 3 As concen- talâmica, levando à supressão de G H e retardo de crescimento.
trações séricas de IGF-1 são influenciadas pela idade, grau de matu- Crianças com este distúrbio apresentam evidências clínicas e
ração sexual e estado nutricional. C o m o mencionado anteriormente, químicas de deficiência de crescimento nas primeiras avaliações,
as concentrações de IGF-I são baixas em estados de deficiência de mas, geralmente, t ê m função hipofisária n o r m a l após alguns dias
G H , mas também em pacientes com privação aguda ou crônica de de internação hospitalar. A deficiência de G H não é uma causa
proteína ou de calorias. c o m u m de retardo de crescimento. Quase metade das crianças
avaliadas p o r retardo de crescimento não apresentava causas
Excesso de Hormônio de Crescimento orgânicas específicas. A p r o x i m a d a m e n t e 15% das crianças com
O excesso de produção de G H está associado aos adenomas retardo de crescimento apresentavam problemas endócrinos, e
eosinofílicos e cromófobos da hipófise. 2 Esses tumores são sufi- quase metade delas (em t o r n o de 8 % de todas as crianças com
cientemente grandes e são detectados em aproximadamente baixa estatura) t i n h a m deficiência de G H . Porém, crianças com
7 5 % dos pacientes através da tomografia computadorizada ou retardo de crescimento ou nanLsmo h i p o f i s á r í o sem explicação
da ressonância magnética. A exposição prolongada ao excesso de deveriam ser, ao menos, investigadas quanto à deficiência de G H .
G H causa u m crescimento excessivo do esqueleto e das partes C o m a disponibilidade do G H recombinante para uso terapêu-
moles. Isso ocorre com mais freqüência em adultos e é conhe- tico, muitas crianças com baixa estatura agora estão sendo seleti-
cido como acromegalia. Q u a n d o ocorre excesso de G H antes de vamente tratadas com este h o r m ô n i o com o i n t u i t o de avançar
se completar o crescimento dos ossos longos, esta condição seus padrões de crescimento para mais p r ó x i m o do normal.
clínica é chamada de gigantismo. N o gigantismo, além do cres- A deficiência de G H em adultos é provavelmente a anorma-
cimento excessivo dos ossos e d o tecido c o n j u n t i v o , que é parti- lidade mais c o m u m demonstrada em pacientes com grandes
cularmente evidente na face e nas extremidades, existe u m a adenomas" hipofisários o u pacientes que sofreram radiação
grande aceleração do crescimento linear. E m casos graves ou hipofisária. E m adultos, foi conhecida que a deficiência de G H
avançados de excesso de G H , o diagnóstico é realizado apenas ocasiona (1) mortalidade prematura, (2) alteração da composição
pelo exame físico. As mudanças físicas são freqüentemente sutis corporal, (3) elevação dos lipídios, (4) redução da densidade
e graduais tanto que é necessário u m alto grau de suspeição mineral óssea com aumento n o risco de fratura e (5) piora total
clinica para se fazer u m diagnóstico prévio. A reversão das na qualidade de vida. Assim, a terapia de reposição c o m G H é
mudanças d o tecido c o n j u n t i v o depende, em grande parte, da uma i m p o r t a n t e intervenção clínica em adultos com deficiência
duração da doença. A l é m das mudanças no tecido c o n j u n t i v o , de G H , considerada o tratamento-padrao.
a acromegalia pode causaT inaptidão grave ou óbito por doenças A insensibilidade ao G H n o r m a l m e n t e resulta na falha do
cardíacas o u neurológicas. O requisito mais i m p o r t a n t e para o crescimento, apesar do aumento das concentrações séricas do G H .
diagnóstico da acromegalia é a demonstração da secreção inapro- Pacientes com história familiar de baixa estatura e de elevada
priada e excessiva de GH. 1 0 concentração de G H , o u baixa concentração de IGF-I, provavel-
Os tumores hipofisários secretores de G H causam a maioria mente apresentam muitos defeitos diferentes no código genético
dos casos de acromegalia. Pacientes com tumores hipofisários no receptor d o G H , que resulta e m ausência ou deficiência desses
que produzem G H freqüentemente liberam o G H em resposta receptores. Nos indivíduos afetados, o G H exógeno falha em
a outros peptídeos hipotalâmicos ( T R H e G n - R H ) , que, sob provocar qualquer mudança metabólica apreciável ou na promo-
circunstâncias normais, não provocam a liberação do G H . E m ção de crescimento. E m indivíduos saudáveis, a concentração
algumas ocasiões, observa-se que os tumores hipofisários produ- basal de G H é geralmente baixa, e a meia-vida d o G H circulante
zem u m a quantidade excessiva tanto de G H como de PRL. é de 20 minutos. A l é m disso, o G H é secretado pela hipófise em
Poucos casos de acromegalia, entretanto, são causados pela pulsos curtos. Assim, ensaios de G H executados de forma randô-
hipersecreção t u m o r a l de G H - R H . mica única o u amostra de j e j u m p o d e m não distinguir pacientes
Dez por cento dos pacientes com acromegalia em atividade com baixas concentrações de indivíduos saudáveis que possuem
t ê m concentrações randômicas de G H séricas que estão dentro concentração de G H no l i m i t e inferior d o intervalo de referência.
do intervalo de referência. Essencialmente, todos os pacientes Q u a n d o se avalia a reserva de G H , freqüentemente utilizam-se
c o m acromegalia t ê m u m a resposta a n o r m a l à glicose oral. os testes provocativos para detectar uma verdadeira deficiência.
Pacientes com acromegalia geralmente não apresentam n e n h u m a Embora uma resposta n o r m a l de G H para u m teste provocativo
mudança na sua concentração basal de G H n e m demonstram seja u m a forte indicação da ausência de deficiência de G H ,
u m aumento paradoxal no GH. 1 0 Por o u t r o lado, indivíduos n e n h u m teste isolado é considerado diagnóstico nesta situação.
saudáveis demonstram supressão nas concentrações de G H < 1 Por exemplo, 3 0 % dos indivíduos c o m secreção n o r m a l de G H
n g / m L após a ingestão oral de glicose. falham em apresentar a elevação esperada do h o r m ô n i o em res-
As concentrações séricas de IGF-I estão elevadas na acromega- posta aos estímulos provocativos específicos. Conseqüentemente,
lia ativa. As concentrações de IGF-I freqüentemente se correlacio- para diagnosticar a deficiência de G H como causa de retardo de
nam m e l h o r com a gravidade clínica da acromegalia do que com crescimento, é necessário demonstrar que a concennação de G H
a supressão da glicose ou com as concentrações basais de GH, 1 J no soro permanece baixa após a realização de pelo menos dois
diferentes testes de estímulo. A definição de resposta abaixo do
Deficiência de Hormônio de Crescimento e Situações de Retardo normal, entretanto, é arbitiatiauieiite definida e é ensaio-depen-
de Crescimento dente. E m geral, u m a resposta de G H entre 7 e 10 n g / m L após
Crianças que apresentam produção inadequada de G H o u o estímulo é considerada normal.
defeito n o receptor d o G H não crescem n o r m a l m e n t e . A defi- Várias circunstâncias fisiológicas e farmacológicas provocam
ciência de G H pode ser (1) congênita o u adquirida, (2) idiopã- a liberação de G H (Figura 39-3). E m u m simples teste de triagem
758 PARTE V Fisiopatologia

(screening), a paciente executa 2 0 m i n u t o s de exercício vigoroso, Medição de Fatores de Crescimento Semelhantes à Insulina
e, assim, obtém-se u m a amostra para u m a m e d i ç ã o d o G H . I G F s e proteínas de ligação a I G F são medidas n o plasma o u n o
Tendo em vista a conhecida elevação na concentração de GH soro por imunoensaios que utilizam padrões de IGF recombi-
que ocorre d u r a n t e o sono p r o f u n d o , u m a amostra deve ser nante e a n t i c o r p o s específicos monoclonais. 1 3 Os valores de refe-
o b t i d a de 6 0 a 90 m i n u t o s após o i n í c i o do sono A l i m i t a ç ã o rência esperados p a r a o I G F - I n o soro estão listados n a T a b e l a
óbvia desta abor dagem é a que o paciente teria que estar hospi- 45*1 n o C a p í t u l o 45.
talizado o u e m u m c e n t r o de análises clínicas para a realização
do teste. A h i p o g l i c e m i a i n d u z i d a pela i n s u l i n a e a r g i n i n a são os Prolactina
testes de e s t í m u l o padrão-ouro utilizados para avaliar a liberação P r o l a c t i n a ( P R L ) é u m h o r m ô n i o secretado p o r células especia-
de G H ; p r o t o c o l o s para o seu uso são b e m estabelecidos e padro- lizadas d e n t r o da adeno-hipófise. O papel p r i n c i p a l da P R L é
nizados. O u t r a s medicações usadas para estimular a liberação de estimular e sustentar a lactação em mamíferos n o pós-parto. A P R L
G H i n c l u e m o glucagon. A a d m i n i s t r a ç ã o intravenosa de G H - R H tem m u i t o s outros efeitos, inclusive papéis essenciais na m a n u t e n -
t a m b é m t e m sido utilizada para avaliar a reserva de G H e para ção d o sistema i m u n o l ó g i c o e u m papel i m p o r t a n t e na esteroido-
d i s t i n g u i r d i r e t a m e n t e u m a deficiência na liberação d o G H de gènese ovariana. A P R L t a m b é m é conhecida c o m o (1) lactogcnio,
o r d e m h i p o t a l â m i c a de o u t r a de o r d e m h i p o f i s ã n a . (2) lactotropina, (3) luteotropina, (4) mamotropina, o u (5) hormônio
C o m o esperado, as concentrações de I G F - I são baixas e m galãctopoiético, de lactação, lactogênico o u luteotrópico.
pacientes c o m deficiência de G H e d i s t ú r b i o de crescimento.
Pacientes c o m deficiência de crescimento causada p o r outras Bioquímica
doenças endócrinas o u p o r doenças orgânicas não-endócrinas A P R L c o n t é m 199 a m i n o á c i d o s e t e m três pontes dissulfeto
t ê m f r e q ü e n t e m e n t e baixas concentrações circulantes de I G F - I ; intramoleculares. E secretada pelas células lactotróficas hipofísá-
assim, u m a baixa concentração de I G F - I não é necessariamente rias que são acidofílicas. A P R L circula n o sangue sob diferentes
u m a indicação específica de deficiência de G H . A presença de formas, P R L m o n o m é r i c a , 23 k D a (referida c o m o P R L pequena),
concentracão n o r m a l de I G F - I , p o r é m , exclui a deficiência grave P R L d i m é r i c a , 48 a 5 6 k D a ("big" PRL) e formas polímericas de
de G H . P R L >100 k D a ("big-big" P R L ) . A f o r m a m o n o m é r i c a é conside-
rada a mais bioativa das diferentes formas encontradas na circu-
lação e d e m o n s t r a a m a i o r resposta ao T R H , o fator de liberação
Metodologia Analítica h i p o t a l â m i c o que e s t i m u l a a h i p ó f i s e a liberar a P R L . O n ú m e r o
Os i m u n o e n s a i o s são os m é t o d o s escolhidos para m e d i r o G H e relativo e o c o n t e ú d o de P R L nas células lactotróficas são aumen-
as IGFs. tados e m mulheres d u r a n t e a gravidez e t a m b é m elevados nas
hipófises dos fetos.
A secreção do P R L , c o m o para outros h o r m ô n i o s liberados
Medição do Hormônio de Crescimento pelo l o b o a n t e r i o r da h i p ó f i s e , decresce sob o c o n t r o l e hipotalâ-
Para m e d i r o G H , são utilizados os i m u n o e n s a i o s c o m a n t i c o r m i c o . E n t r e t a n t o , a P R L è ú n i c a entre os h o r m ô n i o s da adeno-
pos específicos de G H disponíveis c o m e r c i a l m e n t e c o m o p a r t e h i p ó f i s e na m e d i d a em q u e o c o n t r o l e p r i n c i p a l de sua secreção
de u m kit de i m u n o e n s a i o s o u são utilizados i n s t r u m e n t o s auto- é i n i b i t ó r i o e m vez de e s t i m u l a n t e (Figura 39-4).
matizados.
C o m o uso de a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s altamente específicos Ação Fisiológica
e de derivados do G H r e c o m b i n a n t e , alguns desses testes são A P R L é o p r i n c i p a l h o r m ô n i o que c o n t r o l a a iniciação e a
capazes de d i s c r i m i n a r os variantes do G H . A m a i o r i a dos i m u - m a n u t e n ç ã o da lactação. Porém, para expressar adequadamente
noensaios para o G H u s a m G H r e c o m b i n a n t e c o m o traçadores a ação da P R L , o tecido m a m á r i o requer a preparação p o r estró-
e calibradores d o material. Este ú l t i m o é geralmente preparado genos, progesterona, corticosteróides, h o r m ô n i o da t i r e ó i d e e
g r a v i m e t r i c a m e n t e e verificado p o r comparação c o m u m a refe- i n s u l i n a . A P R L i n d u z o crescimento ductal, o d e s e n v o l v i m e n t o
rência de preparação i n t e r n a c i o n a l (IRP), c o m o a da W o r l d do sistema l o b u l a r alveolar da m a m a e a síntese de proteínas
H e a l t h O r g a n i z a t i o n s ( W H O ' s ) padrão i n t e r n a c i o n a l , I R P específicas do leite, i n c l u i n d o caseína e y l a c t a l b u m i n a . A P R L
8 0 / 5 0 5 d o h o r m ô n i o de crescimento h u m a n o r e c o m b i n a n t e tem efeitos no sistema i m u n o l ó g i c o e é i m p o r t a n t e n o c o n t r o l e
( h G H r ) , q u e cem u m a potência de 3,3 I U / m g de h G H r , o u da o s m o l a r i d a d e e vários eventos metabólicos, i n c l u i n d o , (1) o
outras preparações-padrão, c o m W H O I R P 6 6 / 2 1 7 o u 8 8 / 6 2 4 . m e t a b o l i s m o de l i p í d i o s s u b c u t â n e o , (2) m e t a b o l i s m o de carboi-
A m e d i ç ã o de u m a ú n i c a concentração basal o u aleatória de dratos, (3) m e t a b o l i s m o de cálcio e v i t a m i n a D , (4) desenvolvi-
G H fornece p o u c o v a l o r diagnóstico. A secreção de G H pela m e n t o p u l m o n a r fetal e (5) esteroidogênese. Esta ú l t i m a f u n ç ã o
h i p ó f i s e é t a n t o episódica c o m o pulsátil, e f o r a m observadas p o d e estaT relacionada c o m o o seu efeito a n t i g o n a d o t r ó p i c o .
concentrações transitórias acima de 4 0 n g / m L em i n d i v í d u o s A P R L , c o m o o u t r o s h o r m ô n i o s hipofisários, liga-se a u m
n o r m a i s e saudáveis. A s concentrações de soro são bastante receptor específico na m e m b r a n a celular dos seus órgãos-alvo
baixas entre pulsos em i n d i v í d u o s saudáveis, e alguns i m u n o e n - (mamas, glândulas adrenais, ovários, testículos, próstata, rins e
saios p o d e m não ser capazes de d i s t i n g u i r pacientes c o m valores fígado). E n t r e t a n t o , o exato m e c a n i s m o intracelular da ação da
a n o r m a l m e n t e baixos de i n d i v í d u o s saudáveis que t ê m valo- P R L não é c o n h e c i d o .
res que chegam ao l i m i t e mais baixo de referência. E m alguns
i n d i v í d u o s , a secreção espontânea de G H é mais b e m avaliada Significância Clínica
p o r amostras seriadas de G H realizadas a cada 20 a 3 0 m i n u t o s A h i p e r p r o l a c t i n e m i a é a d i s f u n ç ã o h i p o t á l a m o - h i p o f i s á r i a mais
d e n t r o de u m p e r í o d o de 12 a 24 horas. Para m e l h o r i n t e r p r e t a r c o m u m da E n d o c r i n o l o g i a Clínica. 6 A s concentrações de P R L
as concentrações de G H , vários testes provocativos t ê m sido t a m b é m p o d e m estar elevadas e m m u l h e r e s q u e t ê m apenas
estabelecidos na l i t e r a t u r a para estimular o u s u p r i m i r a liberação alterações sutis de fertilidade, como (1) anovulação c o m o u sem
de G H . O teste de tolerância à insulina, q u e p r o d u z u m a h i p o - irregularidade menstrual, (2) amenorréia e galactorréia, o u (3) apenas
glicemia transitória para provocar a liberação de G H , é o teste galactorréia. O excesso de P R L é manifestado c o m freqüência nos
de estímulo mais utilizado para avaliar a secreção de G H . h o m e n s p o r o l i g o s p e m i i a e / o u i m p o t ê n c i a . A l é m disso, h o m e n s
Distúrbios Hipofisários CAPÍTULO 39 759

Prolacíína

Fatores de estimulo Fatores inibitórios


Estrógenos Dopamina
Hipotíreoidismo Endotelina-1
EGF Calcitonina
VIP TGF-p
Oeitoeina
Serotonina TRH Dopamina
Narcóticos
Antidepressivos
Bloqueadores de H3
[• Hrpoflse
Fenotiazinas
Neurolépticos
Lactação
Estresse
Exercício
Gravidez
Traumatismo Prolactina

Lactação e gravidez
Esteroidogênese avariana e testicular
Função imunológica

Figura 3 9 - 4 Controle que regula a liberação de PRL. TRH, juntamente com uma variedade de outros
fatores, estimula a liberação de PRL da hipófise. A dopamina e outros fatores são inibidores da liberação de
PRL

c o m adenomas h i p o f i s á r i o s secretores de P R L têm, c o m freqü- QUADRO 39-1 Causas da Elevação da Prolactina


ência, macroadenomas e d i s t ú r b i o s do campo visual c o m o resul-
tado da sua compressão n o quiasma óptico. H o m e n s não t ê m o Insuficiência renal crônica
s i n t o m a s u t i l de menstruação irregular que f r e q ü e n t e m e n t e está Gravide?
presente nas m u l h e r e s c o m m i c r o a d e n o m a . Concentrações ele- Estímulo nos seios ou trauma na parede do tórax
vadas de P R L são observadas e m 3 0 % de pacientes c o m sin- Hlpotireoidismo primário
d r o m e dos ovários policísticos e pacientes c o m adenomas h i p o - Síndrome da sela va?ia
fisários c l i n i c a m e n t e silenciosa. O u t r a s causas da elevação de Adenoma íiipofisáric (microadenoma ou macroadenoma)
P R L são apresentadas na Figura 39-4 e d e v e r i a m ser considera- "Não-secretor"
das na avaliação de pacientes c o m elevada concentracão de Com galactorréia e amenorréia ou oligospermia
PRL. Idiopática
Drogas
As concentrações basais de g o n a d o t r o f i n a são baixas na
Agentes bloqueadores dopaminérgicos: fenotiazinas, butirofenonas,
m a i o r i a dos pacientes c o m h i p e r p r o l a c t i n e m i a ; a m a i o r i a dos
benzamidas (metoclopramida, sulpirida)
estudos sugere que a P R L i n i b e a liberação de G n - R H , resul-
Agentes depletores de dopamina: a-metildopamina, reserpina
t a n d o e m u m estado de h i p o g o n a d i s m o f u n c i o n a l . O u t r o s testes
Agentes dependentes de não catecolamina: TRH, estrógenos
de função h i p o f i s á r i a são geralmente n o r m a i s e m pacientes c o m
Agentes bloqueadores dos receptores H,: cimetidina
h i p e r p r o l a c t i n e m i a , exceto e m i n d i v í d u o s c o m tumores m u i t o
Antidepressivos tricíclicos
grandes. Causas hipotalámicas
C l i n i c a m e n t e , m e d i c a m e n t o s que e s t i m u l a m a liberação de Estresse
P R L são as causas mais c o m u n s q u e levam a u m q u a d r o b i o q u í -
m i c o de u m p r o l a c t i n o m a , e m u m i n d i v í d u o saudável. Q u a n d o
u m a u m e n t o significativo de P R L é c o n f i r m a d o , deve set feito u m
histórico meticuloso para se excluir a possibilidade de que o uso Metodologia Analítica
dos medicamentos não tenha ocasionado esta alteração. A P R L h u m a n a é m e d i d a n o soro p o r i m u n o e n s a i o s h o m ó l o g o s
E n c o n t r a r u m a concentração elevada de P R L e m u m paciente de ligação c o m p e t i t i v a e i m u n o e n s a i o s desenvolvidos para plata-
c o m u m t u m o r h i p o f i s á r í o não estabelece u m a Telação de causa formas automatizadas. Ensaios i m u n o m é t r i c o s de dois sítios
e efeito. Geralmente, u m a concentração de P R L acima de 200 n g / (ensaios-sandwich) que fazem uso de dois o u mais a n t i c o r p o s
m L é evidência suficiente da presença de u m t u m o r h i p o f i s á r i o d i r i g i d o s a diferentes partes da m o l é c u l a de P R L são usados em
secretor de PRL. E n t r e t a n t o , p o d e ocorrer a presença de "pseu- i n s t r u m e n t o s automatizados c o m o sinal do a n t i c o r p o rotulado
d o p r o l a c t i n o m a s " , que são grandes tumores não secretores que c o m u m a m o l é c u l a de detecção (enzima, f l u o i ó f o r o o u marcador
c o m p r i m e m a haste h i p o f i s á r i a i n t e r r o m p e n d o o f l u x o n o r m a l de q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a ) . ' Os padrões de P R L são calibrados
do fator i n i b i d o r que é a d o p a m i n a p r o v e n i e n t e d o h i p o t á l a m o , c o n t r a materiais de referência c o m c o n h e c i d a u n i d a d e de potên-
r e s u l t a n d o e m elevações modestas nas concentrações de P R L cia i n t e r n a c i o n a l , c o m o a W H O p r i m e i r a I R P 7 5 / 5 0 4 , o segundo
(ti p ica m e nte entre 50 e 200 g / L ) . As causas da elevação de P R L padrão i n t e r n a c i o n a l (IS) 8 3 / 5 6 2 , o u o terceiro IS 8 4 / 5 0 0
são mostradas n o Q u a d r o 39-1. ( h t t p : / / w w w . n i s b c . a c . u k ) . U m a das preocupações c o m os i m u -
760 PARTE V Fisiopatologia

noensaios da PRL é o "efeito hook" ("efeito gancho") com con- das na hipófise, mas a maior parte se localiza nas células sinteti-
centrações altas de prolactina que afetam certos ensaios imuno- zadotas de catecolamina na medula adrenal e é liberada conjun-
enzimáticos. Q u a n d o se suspeita do "efeito gancho", as amostras tamente com epinefrina e norepinefrina. U m a terceira família de
precisam ser diluídas e demonstradas paralelamente. peptídeos opióides endógenos é derivada da prodinorfina, u m
p r ó - h o r m ô n i o armazenado principalmente na neuro-hipófise
Adrenocorticotropina e Peptídeos onde é liberada junco com a vasopressina.
Relacionados
O h o r m ô n i o adrenocorticotrópíco ( A C T H ) é u m h o r m ô n i o pep- Regulação da Secreção de Adrenocorticotropina
tídico secretado pela adeno-hipófise como u m dos derivados da A regulação da secreção de A C T H é descrita detalhadamente n o
pro-opiomelanocortina ( P O M C ) . Ele age principalmente no Capítulo 40 e apresentada na Figura 39-6.
córtex adrenal, estimulando seu crescimento e a síntese e a secre-
ção dos cor ti cos teró ides. A produção de A C T H é aumentada em Significância Clínica
períodos de estresse. E também conhecido como corticotropina, Na insuficiência adrenal, a liberação hipofisária de P O M C e A C T H
cortocotrofina, adrenocorticotrofina e adrenocorticotropina. aumenta significativamente. Indivíduos com doença de Addison
apresentarão aumento da concentração sérica do A C T H e do M S H
Bioquímica como resultado da falta do feedback negativo do cortisol na hipófise.
O A C T H e os peptídeos relacionados originam-se da P O M C , uma O aumento de concentração de M S H resulta na hiperpigmentação
grande molécula percussora com 31 kDa de peso molecular e escurecimento da pele, sendo esta uma característica observada
(Figura 39-5). A clivagem enzimática da P O M C em peptídeos em indivíduos portadores da doença de Addison.
menores ocorre tanto na adeno-hipófise como na neuro-hipófise. A l é m disso, pelo fato de a síntese do A C T H se originar do
N a adeno-hipófise, as enzimas hidrolisam P O M C para P-LPH e P O M C , sua produção pela hipófise é bastante vinculada à secre-
u m fragmento de 22-kDa conhecido como p r ó - A C T H . Este ção de peptídeos opióides endógenos, como a P-endorfina. Os
ú l t i m o peptídeo é processado mais adiante ao A C T H (um peptí- efeitos fisiológicos dos opióides endógenos incluem (1) sedação,
deo consistindo em 39 aminoácidos) e a u m peptídeo de 16 kDa, (2) u m aumento do limiar de dor e (3) regulação autonômica da
pró-y-melanotropina (pró-MSH). E m troca, P-LPH é dividido em respiração, da pressão sanguínea e do batimento cardíaco. Esses
dois peptídeos menores, P-endorfina e y-LPH. Tanto o y-LPH peptídeos também são envolvidos em respostas endócrinas ao
como a P-endorfina são liberados pelo A C T H da adeno-hipófise, estresse e balanço e podem desempenhar u m papel na regulação
mas somente cerca de 1/3 do p-LPH é convertido em P-endorfina. da reprodução e no sistema imunológico. N e n h u m a doença,
A o contrário, a porção intermediária da hipófise (quando pre- entretanto, f o i relacionada claramente com o metabolismo desor-
sente) processa totalmente P-LPH em P-endoifma, d i v i d i n d o prõ- denado dos peptídeos opióides, mas mudanças em suas concen-
a-melanotropina (MSH) em a-melanotropina (a-MSH) e sepa- trações plasmáticas podem acompanhar outras doenças, como a
rando A C T H em a - M S H e u m peptídeo do lobo intermediário doença de Cushing e depressão (concentrações aumentadas
similar à corticotropina. Esses peptídeos menores são encontrados de p-endorfina) ou teocromocitoma (aumento da concentração de
no feto humano, restando pequenos traços na hipófise do adulto. encefalina). Concentrações alteradas de opióides n o f l u i d o cere-
As mudanças observadas na pigmentação da pele em diversas bromedular podem implicar distúrbios como síndromes de dor
doenças endócrinas (como, por exemplo, insuficiência adrenal) crônica, esquizofrenia e depressão.
ocorrem mais pela atividade da a - M S H do que pelo excesso de
ACTH. Metodologia Analítica
A l é m da P-endorfina, p-LPH contém a seqüência de amino- Métodos de imunoensaio estão disponíveis para medir tanto
ácidos de outro endógeno opióide, a metencefalina. Entretanto, A C T H como peptídeos opióides endógenos.
este peptídeo não é p r o d u t o da quebra de p-LPH, mas surge de
u m a molécula percussora conhecida como proencefalina. A pro- Medição do A C T H
encefalina é amplamente distribuída em neurônios por todo o O A C T H é avaliado por vários métodos de imunoensaio, como
cérebro e espinha dorsal. Algumas proencefalinas são encontra- a quimioluminescência e o ensaio de imunoadsorção enzimático

HcN Pró-opiomelanocortina {POMC, 31 kD) COOH

Pró-ACTH {22KD) p-Lipotropina {p-LPH, 8kD)


a
1 91

"•

Pró-y-MSH (16 kD) ACTH TLPH p-Endorfina

76 1 39 58 61 91

rMSH a-MSH CLIP 3-MSH Met-Enk

1 13 18 39 41 58 61 65

Figura 39-5 Diagrama representativo da P O M C e sua relaçao c o m o precursora d o A C J H, da p-LPH, d o


a - e P-MSH, e das endorfinas.
Distúrbios Hipofisários CAPÍTULO 39 761

HormSnio adrenocorticotrópico

Fatores estimulatórins Fatores inibitórios


Ritmo circadiana Corticosteróides
Pulsatilidade diária Hipotálamo GABA
Estresse
Hipoglicemia
Norepínefrína
Acetílcolina CRH + AVP +
Exercício
Hemorragia aguda
Hipovolemia Hipófise
Cirurgia
IL-6
Traumatismo
Opióides H
Infecção endógenos V (-) v
(-)
R-Endorrina (-)

ACIH

DHEA Cortisol (CPF)

< ^ ^ • 1
Androstenediona Aldosterona

Figura 39-6 A alça dc regulação do feedback du eixo hipotalâmico-hipofisârio-adrenal. O C R H sob influência


de fatores neurais e outros fatores modificáveis que controlam a sua secrcção pulsátil e circadiana na hipófise,
produzindo o h o r m ô n i o (ACTH). A C T H , por sua vez, estimula a glândula adrenal formando o cortisol, a
aldosterona, a deidroepiandrosterona ( D H E A ) , e a androstenediona. Os corticosteróides e o ácido
y-amincbutírico (GABA) são inibidores da liberação d o C R H e do A C T H , e o AVP estimula a liberação de
ACTH.

( E L I S A ) . Os c o m p o n e n t e s i n d i v i d u a i s dos i m u n o e n s a i o s (anti- dos para esse p r o p ó s i t o . Os kits comerciais dos reagentes estão
soro a n t i - A C T H e calibradores d o A C T H ) e ícits completos de a m p l a m e n t e disponíveis, e m u i t o s l a b o r a t ó r i o s de referência ofe-
reagentes estão disponíveis c o m e r c i a l m e n t e . A m a i o r i a usa anti- recem ensaios de p - e n d o r f i n a . As concentrações de p - e n d o r f i n a
soro p o l i c l o n a l dir igido ao segmento biologicamente ativo da porção são geralmente m u i t o baixas o u indetectáveis e m i n d i v í d u o s
N - t e r m i n a l da molécula. Esses anti-soros reagem com a porção d o n o r m a i s , e pode ser necessário usar p r o c e d i m e n t o s de extração
A C T H intacto (aminoácidos 1 a 39) e c o m fragmentos d o A C T H para detectar concentrações significativas n o plasma. A especifi-
(aminoácidos 1 a 24), e com moléculas precursoras, c o m o a P O M C cidade dos a n t i c o r p o s comerciais para a P - e n d o r f i n a relativa a
e o pró-ACTH.12 p - L P H varia a m p l a m e n t e . C o m alguns i m u n o e n s a i o s , a reativi-
Os i m u n o e n s a i o s para o A C T H t a m b é m estão disponíveis dade cruzada p o d e ocorrer e m 5 0 % das dosagens da p - L P H .
c o m o i n s t r u m e n t o s de i m u n o e n s a i o s automatizados que u t i l i - C o m a n t i c o r p o s políclonais, os resultados p o d e m ser falso-posi-
zam o sinal de q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a para m e d i r as baixas con- tivos d e v i d o à reatividade cruzada c o m o soro da i m u n o g l o b u l i n a
centrações deste peptídeo, observado e m i n d i v í d u o s normais. A G ( p o r exemplo, e m pacientes c o m m i e l o m a secretor de i m u n o -
concentração de A C T H n o plasma é n o r m a l m e n t e m u i t o baixa g l o b u l i n a G).
(em t o r n o de 5 a 8 0 p g / m L e m amostras matutinas). A amostra preferida é o plasma c o m o ácido e r i l e n o d i a m í n o -
Os resultados n u m é r i c o s dos diferentes m é t o d o s de i m u n o - tetraacético ( E D T A ) c o m o anticoagulante. O i n t e r v a l o de refe-
ensaio d o A C T H p o d e m ser difíceis de se c o m p a r a r pelas dife- rência t í p i c o d o a d u l t o para amostras coletadas entre 6 e 10
renças de calibração. A t u a l m e n t e , l a b o r a t ó r i o s e fabricantes de horas da m a n h ã é de 16 a 4 8 p g / m L (5 a 30 p m o l / L ) .
íuts comerciais geralmenre c a l i b r a m seus ensaios c o n t r a prepara- A m e d i ç ã o de metencefalina n o plasma é de d i f í c i l execução
ções de A C T H obtidas de centros de pesquisa, c o m o o A C T H p o r causa da sua meia-vida m u i t o c u r t a (2 m i n u t o s e m e i o a
h u m a n o p u r i f i c a d o 1 a 39 ( M e d i c a i Research C o u n c i l [ M R C ] 37°C). M e s m o se o sangue f o r i m e d i a t a m e n t e congelado e cen-
7 4 / 5 5 5 , 6.2 1U p o r 25 jjg) f o r n e c i d o pelo N a t i o n a l I n s t i t u t e f o r t r i f u g a d o sob refrigeração, perde-se e m t o r n o de 5 0 % da encefa-
B i o l o g i c a l Standards a n d C o n t r o l ( R e i n o U n i d o ) o u A C T H lina, a não ser que a amostra tenha sido coletada c o m 23 m m o l / L
sintético 1 a 39 ( 4 . 7 1 1 U p o r 50 pg) f o r n e c i d o pelo U n i t e d States de ácido cítrico. 1 F o r a m desenvolvidos kits comerciais para a
N a t i o n a l HoTmone a n d P i t u i t a r y P r o g r a m (NIHPP; h t t p : / / w w w . m e d i ç ã o de metencefalina e a n t i c o r p o s a n t i e n c e f a l i n a estão dis-
h u m c . e d u / h o r m o n e s / ) que era c o n h e c i d o a n t e r i o r m e n t e p o r poníveis.
N a t i o n a l P i t u i t a r y Agency.
Gonadotrofinas (Hormônio Folículo
Medição dos Peptídeos Opióides Endógenos Estimulante, Hormônio Luteinizante)
B e t a - e n d o r f i n a é u m peptídeo e n d ó g e n o o p i ó i d e , e o i m u n o e n - O h o r m ô n i o folículo estimulante (FSH) é sintetizado na adeno-
saio é o m é t o d o escolhido para a sua medição. Por exemplo, h i p ó f i s e e ( I ) estimula o crescimento e maturação de folículos
ensaios i m u n o r r a d i o m é t r i c o s diretos ( I R M A s ) f o r a m desenvolvi- ovarianos, (2) estimula a secreção de estrógeno, (3) p r o m o v e
762 PARTE V Fisiopatologia

mudanças endomerriais características da p r i m e i r a fase (fase pro- a s u b u n i d a d e P é responsável p o r fornecer a resposta biológica
liferativa) d o ciclo menstrual, e (4) estimula a espermatogênese específica.
( C a p í t u l o 42). É c o n h e c i d o , t a m b é m , c o m o f o l i t r o p i n a . O hor- As células gonadotrópicas da adeno-hipófise secretam F S H
m ô n i o luteinizante ( L H ) t a m b é m é sintetizado na adeno-hipófise ( M W 3 0 k D a ) e L H ( M W 3 2 k D a ) . Por estes dois h o r m ô n i o s
e age c o m o F S H para p r o m o v e r ovulação e secreção de andró- c o n t r o l a r e m a atividade f u n c i o n a l das gônadas, eles são agrupa-
genos e progesterona. Ele i n i c i a e m a n t é m a segunda fase (secre- dos sob o t e r m o genérico de gonadotrofinas. A regulação da secre-
tora) d o ciclo menstrual. H m fêmeas, é responsável pela formação ção g o n a d o t r ó p i c a n o sexo f e m i n i n o e m a s c u l i n o é apresentada
do c o t p o lúteo e, e m machos, estimula o desenvolvimento e na Figura 39-7.
atividade f u n c i o n a l das células de Leydig testiculares ( C a p í t u l o
42). L H t a m b é m é c h a m a d o de hormônio estimuíánte tLis céluhis Ação Fisiológica
intersticiais o u lutropina. E m fêmeas, o F S H estimula o crescimento dos folículos ovarianos
e, na presença d o L H , p r o m o v e secreção de estrógenos pelos
Bioquímica folículos maduros. O L H causa, nas fêmeas, ovulação e liberação
Os h o r m ô n i o s glicoprotéicos da hipófise ( L H , F S H e T S H ) e da de óvulos d o f o l í c u l o ovariano, o que é previamente a m a d u r e c i d o
placenta ( g o n a d o t r o f i n a c r o n i ô n i c a [GC]) são compostos p o r sob a i n f l u ê n c i a d o F S H , e causa luteinização do f o l í c u l o r o m p i d o
duas cadeias peptídicas (geralmente classificadas c o m o subunida- para f o r m a r o c o r p o lúteo. O c o r p o l ú t e o e m seguida secreta
des a e P), cada u m a v i n c u l a d a a grupos de carboidratos substi- t a n t o a progesterona c o m o o estradiol sob a i n f l u ê n c i a da libera-
tuíveis. A porção do c a r b o i d r a t o , que corresponde a 1 5 % a 3 1 % ção p u l s á t i l d o L H . M o sexo m a s c u l i n o , o F S H estimula a esper-
d o peso molecular, i n c l u i (1) fucose, (2) manose, (3) galactose, matogênese pelas células germinativas nos testículos e o L H é
(4) glucosamina, (5) galactosamina e (6) ácido siálico. A s subuni- responsável pela produção de testosterona pelas células Leydig.
dades a desses h o r m ô n i o s são similares entre si e intercambiá-
veis. As subunidades p apresentam diferenças nas seqüências de Regulação e Significância Clínica
aminoácidos entre os vários h o r m ô n i o s , c o n f e r i n d o maior especi- A regulação da secreção do L H e F S H e sua significância clínica
ficidade h o r m o n a l e imunológica. As subunidades a isoladas são e m E n d o c r i n o l o g i a R e p r o d u t i v a é discurida n o C a p í t u l o 42.
destituídas de atividade biológica. As subunidades P isoladas
p o d e m ter u m a pequena atividade biológica intrínseca, mas a
atividade t o t a l é o b t i d a q u a n d o as subunidades oc e P são recom- Metodologia Analítica
binadas. Isso sugere que a presença de ambas subunidades é V á r i o s diferentes métodos de i m u n o e n s a i o t ê m sido desenvolvi-
i m p o r t a n t e para o r e c o n h e c i m e n t o do receptor específico e que dos para d e t e r m i n a r os níveis de F S H e L H n o sangue e na u r i n a .

Gonadotrofinas

Falnroc Fatores inibitórios


oetim.ilot/Srinc Testosterona
Estrógenos Estradiol
Hipotálamo
Norepinefrina Progesterona
inibiria
Dopamina
Gn-RH + Opióides endógenos

Hipófise
H
FSH
(+.-)
H

LH

FSH
Inibina

LJVEJI I U Testículos

LZMJ
Estradiol Progesterona Testosterona

Figura 39-7 A alça do feedback regulatório d o eixo hipotalàmico-hipofisário-gonadal. O estimulo neural e


sensorial d o cérebro estimula a liberação d o Gn-RH. O Gn-RH, em contrapartida, estimula a síntese e liberação
das gonadotrofinas FSH e LH, que agem nas gônadas (ovários e testículos) para estimular a maturação e a
ovulação, e a esteroidogênese (escradiol e progescerona), no sexo feminino, e a espermatogênese e a produção de
testosterona, n o sexo masculino. A inibina formada pelos ovários e testículos, juntamente c o m estradiol e
testosterona, responde negativamente ao eixo hipotalâmico-hipofisário, m o d u l a n d o a liberação d o Gn-RH, d o
FSH e o LH.
Distúrbios Hipofisários CAPÍTULO 39 763

Existe uma quantidade grande de íuts comerciais confiáveis dis- (Figuia 39-8), porém com uma isoleucina no lugar da fenilala-
poníveis tanto para o teste manual como com o uso de instru- n m a n a p o s i ç ã o 3 e leucina n o lugar da a r g i n i n a n a posição 8
mentos de imunoensaio automatizados. 6
Geralmente, a maior parte dos imunoensaios para FSH e L H Arginina Vasopressina
apresenta menos de 1% de reatividade cruzada com T S H ou AVP é formada pelas células neuronais do núcleo hipotalâmico e
h C G ou com suas cadeias a ou P livres como resultado da armazenada na neuro-hipófise. E m humanos, ela contém arginina
especificidade dos anticorpos utilizados na medição. Por na posição 8 (no porco e no hipopótamo, a lisina é encontrada
exemplo, a interferência do h C G nos ensaios do L H foi essen- nesta posição). AVP (1) estimula a contração dos músculos dos
cialmente eliminada (< 0,008% de reatividade cruzada), e os capilares e das arteríolas, elevando a pressão sanguínea; (2) promove
ensaios imunométricos que utilizam instrumentos automatiza- a contração da musculatura intestinal, aumentando o peristal-
dos apresentam excelente precisão de ensaio (coeficientes de tismo; (3) influencia na contração do útero; e (4) tem u m efeito
variação interensaio [CVs] de ± 10%) e limites de detecção específico nas células epiteliais dos túbulos coletores renais, aumen-
menores de 0,2 I U / L . 1 4 Este ú l t i m o é especialmente importante tando a reabsorção de água independentemente de solutos, cau-
na avaliação de crianças pré-púberes e pacientes com distúrbios sando a concentração de urina e diluição do soro. Sua taxa de
hipotalâmicos, quando as concentrações de L H são baixas. Os secreção é regulada principalmente pela osmolaridade do plasma.
valores esperados do FSH e L H no soro são apresentados na
Tabela 45-1 no Capítulo 45. Bioquímica
A AVP é sintetizada como parte de uma grande molécula pre-
Tireotropina cursora (pré-ptó-vasopressina) que inclui uma proteína específica
A tireotropina é u m h o r m ô n i o glicoprotéico sintetizado pelas de ligação denominada neurofisina. Esta última serve como uma
células tireotróficas da adeno-hipófise que promove o cresci- proteína carreadora durante o transporte axonal e seu armaze-
mento e a captação do iodo pela tireóide, estimulando a síntese namento. A ocitocina tamDém é sintetizada como parte de u m
e secreção dos hormônios tireoidianos. Também é chamado de pré-pró-hormônio j u n t o com a proteína de ligação neurofisina.
h o r m ô n i o estimulante da tireóide (TSH). E u m peptídeo com Esses complexos moleculares são armazenados em grânulos
peso molecular de 26,6 kDa. U m a molécula de T S H consiste secretórios que migram pelos axônios por 12 a 14 horas antes
em duas subunidades a e P associadas de forma não covalente, de alcançarem a neuro-hipófise para armazenamento A libera-
com a subunidade a quimicamente similar às subunidades J3 de ção dos hormônios da neuro-hipófise para dentro da circulação
L H , FSH, e h C G . O T S H (1) estimula o crescimento e a vascu- portal ocorre por via exoeitose dependente de cálcio estimu-
larização da tireóide, (2) estimula o crescimento das células foli- lando as células neuronais. Em p H fisiológico, o AVP e a ocito-
culares tireoidianas e (3) estimula as várias etapas da síntese dos cina circulam n o plasma principalmente nas suas formas livres.
hormônios da tireóide. Isso i n c l u i a (1) captação de iodo, (2)
organificação do todo sobre a tirosina, (3) união das moléculas Regulação da Secreção
de tirosma e (4) liberação proteolítica do h o r m ô n i o tireoidiano A osmolalidade do sangue é o principal regulador da secreção de
armazenado na tireoglobulina. AVP Osmorreceptores localizados nos corpos celulares dentro ou
A regulação da secreção de T S H , sua significância clínica e próximo ao núcleo magnocelular do hipotálamo respondem a
métodos para sua determinação são discutidos detalhadamente mudanças da osmolalidade do plasma. U m aumento inferior a 2%
no Capítulo 41. na osmolalidade do fluido extracelular causa redução das células
osmorreceptoras com estímulo da liberação de AVP da neuro-hipófise
HORMÔNIOS DA NEURO-HIPÓFISE (Figura 39-9). Uma osmolalidade de plasma acima de 280 m O s m / k g
O sistema neuro-hipofisário compreende o tecido neural e os é considerada o limiar para a liberação de AVP.
neurônios do núcleo supra-óptico e paraventricuíar do hipo- Apesar do mecanismo osmorreceptor, a regulação fisiológica
tálamo 11 Estes neurônios passam através da eminência média e da secreção de AVP também envolve u m mecanismo de pressão-
do pedículo hipofisário, e as terminações nervosas projetam-se volumc que é distinto do sensor osmótico. Neste segundo pro-
para o lobo posterior da hipófise. Os corpos destes neurônios cesso, a liberação de AVP é regulada pelos barorreceptores que
sintetizam e secretam arginina vasopressina (AVP) e ocitocina, A respondem às alterações no volume sanguíneo. Por exemplo,
arginina vasopressina também é conhecida como h o r m ô n i o anti- uma redução no volume plasmático ou na pressão sanguínea, ou
diurético (ADI1). A m b o s são nonapeptídeos ( M W 1080 Da) ambos, estimula a secreção de AVP. Outros estímulos não-osmó-
consistindo em u m hexapeptídeo cíclico e três cadeias laterais ricos para a liberação e AVP incluem (1) dor, (2) estresse, (3) sono,
de aminoácidos. A estrutura da ocitocina é similar à do A D H (4) atividade física e (5) agentes químicos, como catecolaminas,
angiotensina II, opiáceos, prostaglandinas, anestésicos, nicotina
e barbitúricos. Agentes como álcool, fenitoína e glicocorticóides
s são conhecidos por inibir a liberação de AVP, levando à diurese

r i
Cys — Tyr — Phe — Glr — Asn — Cys — Pro — Arg — Gly — NH2
e desidratação fisiológica.
O centro da sede é regulado por muitos dos mesmos fatores
1 2 3 4 5 6 7 8 9 que determinam a liberação de AVP. Este centro tem u m ponto
Arginina vasopressina fixo mais alto que os osmorreceptores e responde a osmolalida-
des acima de 290 m O s m / k g . Respostas envolvendo AVP, sede,

s e os Tins sãn coordenadas em u m sistema complexo para manter

r i
Cys —Tyr — lie — Gln — Asn — Cys — Pro — Leu — Gly — NIH2
a osmolalidade do plasma em indivíduos saudáveis dentro de
uma margem estreita (284 a 295 m O s m / k g ) .
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Ocitocina Ações Fisiológicas
A maior função fisiológica da A V P é o controle da homeostase
Figura 39-8 A seqüência de aminoácidos do AVP e da ocitocina. da água, que permite que os rins reabsorvam água e concentrem
764 PARTE V Fisiopatologia

2% de aumento na 10% de decréscimo do


Os estados poliúricos são divididos em três categorias princi-
osmolalidade do LEC volume circulatório
pais: (1) produção deficiente de AVP (diabetes insipidus hipotalâ-
mico ou central [ D I central]), (2) ação deficiente de AVP nns rins
(diabetes insipidus nefrogênico [ D I nefrogênico]), e (3) ingestão
Osmorreceptor do SNC Ba ror receptor excessiva de água (polidipsia psicogênica). A diurese osmótica
/ também pode produzir poliÚTia e polidipsia. O diabetes meüitus
descompensado é uma causa c o m u m de diurese osmótica devido
ao aumento do aporte de glicose nos rins.
."•STBjfiC SQ ADH

j;
Angiotansina II
Diabetes Insipidus Hipotafâmico. O D I hipotalâmico também é

Antidiurese OPR - -Sede


K conhecido como diabetes insipidus neurogênico, central ou cra-
niano. E causado por uma falha na hipófise em secretar quanti-
dades normais de AVP em resposta a fatores osmorregulatórios.

Conservação de Égua
L li
'Aquisição de água
A incidência de D I central é de 1 para cada 25.000 indivíduos.
E m 30% dos pacientes, o D I central ocorre sem causa aparente;
\ outros casos são associados a (1) neoplasias, (2) neurocirurgia,
(3) traumatismo craniano, (4) distúrbios isquêmicos ou hipóxi-
cos, (5) doenças granulomatosas, (6) infecções ou (7) doenças
auto-i munes.
^TVolume circulatório Diabetes Insipidus Nefrogênico. O D I nefrogênico resulta da
ANP ANP - falha do r i m em responder a concentrações normais ou elevadas
^•Osmolalidade da ECF
da AVP. Na maioria destes pacientes, a AVP é incapaz de estimu-
lar a formação de adenosina monofosfato cíclica (AMPc).
Acredita-se que mutações no receptor da A V P e mutações nos
Figura 39-9 E l e m e n t o s - c h a v e da h o m e o s t a s e da água. As l i n h a s
canais de água aquaporina-2 sejam responsáveis por este distúr-
s ó l i d a s i n d i c a m as vias c s m o t i c a m e n t e e s t i m u l a d a s , e as linhas tracejadas
bio. A forma de mutação do receptor AVP no D I nefrogênico
n o alto i n d i c a m as vias e s t i m u l a d a s p a r v o l u m e . A s l i n h a s tracejadas
está ligada ao cromossomo X, e afetando mais indivíduos do sexo
inferiores i n d i c a m as vias q u e e x e r c e m feedback negativo. A b r e v i a ç õ e s :
masculino. As mulheres estão mais propensas a cerem u m defeito
A N P , p e p t í d e o n a t n u r é t i c o atrial; AVP, arginina vasopressina; S N C ,
no gene dos canais de água aquaporina-2 no cromossomo 12,
s i s t e m a n e r v o s o central; ECF, l í q u i d o extracelular; O P R , r e f l e x o
ql2-13, produzindo uma doença autossômica recessiva. Formas
orofaringen. ( D e Reeves W , A n d r e o l i T. T h e p o s t e r i o r pituifary a n d
adquiridas de D I nefrogênico podem ser causadas por (1) doenças
water m e t a b o l i s m . I n W i l s o n JD, Foster D W , eds. W i l l i a m s cextbook o f
metabólicas (hipocalemia, hipercalcemia e amiloidose), (2) drogas
e n d o c r i n o l o g y , S t h ed. P h i l a d e l p h i a : W B S a u n d e r s C o , 1992:312.)
(lítio, demecloriclina, e barbitúricos) e (3) distúrbios renais
(doença policística e insuficiência renal crônica). O D I nefrogê-
nico também pode ser observado na ausência desses fatores
(forma idiopátíca).
Polidipsia Psicogênica OU Primária. U m a ingesta crônica e exces-
urina (Figura 39-9). Q u a n d o liberado, em concentração sufi- siva de água suprime a secreção de AVP e produz poliúria hipo-
ciente, a AVP também induz vasoconstrição generalizada que leva tônica. A poliúria e a polidipsia geralmente não são sustentadas,
a u m aumento na pressão sanguínea arterial. Acredita-se que a tanto no D I central como no D I nefrogênico. A poliúria noturna
AVP tenha um papel importante na manutenção da pressão também é menos freqüente. Fatores psicogênicos são mais comu-
arterial durante a hemorragia. A liberação de AVP no sistema mente associados a este distúrbio, mas a doença hipotalâmica
portal htpofisário também aumenta a ação do C R H , que esti- que afeta o centro da sede pode ser, também, responsável. As
mula a liberação do A C T H da adeno-hipófise. Entretanto, a AVP drogas também afetam o centro da sede e resultam em polidipsia
parece não afetar a liheração dos outros hormônios adeno-hipo- primária.
fisários.
Síndrome da Secreção Inapropriada de Hormônio Antidiurético
Significância Ciínica A síndrome da secreção inapropriada de h o r m ô n i o antidiuré-
Distúrbios na atividade da AVP foram divididos em hipofunção tico (SIADH) refere-se à autônoma e prolongada produção de
(poliúria) e hiperfunção (síndrome da secreção inapropriada de AVP na ausência de estímulo conhecido para sua liberação. Nesta
h o r m ô n i o antidiurético [S1ADH]). síndrome, as concentrações plasmáticas do AVP estão "inapropria-
damente" aumentadas com relação à baixa osmolalidade do plasma
Estados Poliúricos e a u m volume de plasma normal ou elevado. A S I A D H pode ser
A produção ou ação deficiente da A V P resulta em poliúria resultado de (1) produção de AVP por neoplasias malignas (como
causada pela falência dos túbulos renais em reabsorver água livre o carcinoma pulmonar de pequenas células), (2) presença de
de solutos.11 Sob circunstâncias normais, a produção de urina é doenças agudas e crônicas no sistema nervoso central, (3) doenças
largamente dependente da ingesta de fluidos. Desse modo, u m pulmonares, ou (4) efeito colateral de alguns medicamentos. Além
limite arbitrário para avaliar o volume n o r m a l da diurese é difícil disso, aproximadamente 10% de pacientes que sofreram cirurgia
de ser definido. Quando a diurese é maior que 2,5 l y d i a , uma hipofisária têm uma S I A D H passageira, cerca de 8 a 9 dias após
investigação clínica e laboratorial geralmente está indicada; na a cirurgia (quando já estão em casa), que responde à restrição à
deficiência completa de AVP, o volume da diurese deve se apro- água (2 a 3 dias) e não tem recorrência. Na S I A D H , u m excesso
ximar-se a 1 L / h . Se a resposta à sede é normal, ocorrerá u m primário de AVP, juntamente com entrada irrestrita de f l u i d o ,
aumento na ingestão de fluidos (polidipsia). Se o acesso à água promove o aumento da reabsorção da água livre pelo r i m . O
não for restrito, a osmolalidade do plasma e os soros eletrolíticos resultado é u m volume de urina reduzido, e uma elevada concen-
geralmente voltarão ao normal. tracão de sódio e aumento da osmolalidade urinária. C o m o con-
Distúrbios Hipofisários CAPÍTULO 39 76S

seqüência da retenção de água, estes pacientes apresentam expan- trar o valor m o m e n t â n e o do h o r m ô n i o presente na amostra e
são de v o l u m e . O a u m e n t o n o v o l u m e intravascular causa hemo- remover substâncias interferentes não específicas. O s intervalos
d i l u i ç ã o acompanhada p o r h i p o n a t r e m i a d i l u c i o n a l e baixa de referência para a A V P são e n c o n t r a d o s na Tabela 45-1 do
osmolalidade de plasma. A expansão do v o l u m e t a m b é m reduz C a p i t u l o 45.
a reabsorção renal de sódio, e, desse m o d o , posteriormente,
ocorre a u m e n t o da concentração de sódio na urina. Ocitocina
A causa mais c o m u m de h i p o n a t r e m i a d i l u c i o n a l e m pacientes O c i t o c i n a é u m n o n a p e p t í d e o que p r o m o v e contrações uterinas,
hospitalizados é a S I A D H . 1 1 Entretanto, outras doenças causam estimula a lactação e c o n t r i b u i n o segundo estágio do t r a b a l h o
hiponatremia d i l u c i o n a l e devem ser diferenciadas da S I A D H . de parto.
Essas condições i n c l u e m (1) insuficiência cardíaca congestiva,
(2) insuficiência renal, (3) síndrome nefrótica, (4) cirrose hepática Bioquímica
e (5) h i p o t i r e o i d i s m o . A administração excessiva de f l u i d o s h i p o - A o c i t o c i n a é sintetizada no h i p o t á l a m o c o m o parte de u m pré-
tô nicos e tratamentos c o m drogas que estimulam a A V P (como p r ó - h o r m ô n i o , j u n t a m e n t e c o m u m a proteína de ligação chamada
clorpropamida, vincristina, clofibrato, carbamazepina, nicotina, de neurofisina. Esses complexos moleculares são armazenados e m
fenotiazinas e ciclo fosfamida) t a m b é m causam h i p o n a t r a m i a dilu- grânulos secreto rios que m i g r a m para os axônios p o r 12 a 14
cional. A h i p o n a t r e m i a t a m b é m pode ocorrer devido à perda renal horas antes de alcançarem a neuro-hipófise paTa armazenamento.
o u extra-renal de sódio (hiponatremia deplecional), resultado de A liberação da o c i t o c i n a na circulação ocorre p o r exocitose
vômitos, diarréia, sudorese excessiva, abuso de diuréticos, nefropa- dependente de cálcio, e s t i m u l a n d o as células neuronais. A ocito-
tia perdedora de sal o u deficiência de mineralocorticóide. cina existe no plasma p r i n c i p a l m e n t e na sua f o r m a livre.
As manifestações clínicas da h i p o n a t r e m i a não são específi-
cas. Fraqueza e apatia o c o r r e m e m casos leves, e mudanças n o Secreção
sistema nervoso central (letargia, coma e apoplexia) são presentes O p r i n c i p a l estímulo para a liberação da o c i t o c i n a é a amamen-
na m a i o r i a dos casos graves. N e n h u m s i n a l o u s i n t o m a é espe- tação. A estimulação de receptores táteis localizados ao redor dos
cífico da S I A D H . A h i s t ó r i a clínica, o exame físico e os resulta-
m a m i l o s i n i c i a u m a ação p o t e n c i a l que se propaga ao l o n g o das
dos de testes de r o t i n a de l a b o r a t ó r i o geralmente sugerem que a fibras nervosas c o n d u t o r a s através da m e d u l a espinal e d o
h i p o n a t r e m i a seja causada p o r d i l u i ç ã o o u depleção. mesencéfalo para o h i p o t á l a m o . O s corpos celulares d o núcleo
As medições do sódio e da o s m o l a l i d a d e sérica e u r i n á r i a , paraventricular são então estimulados, r e s u l t a n d o em u m a libe-
c o m b i n a d a s c o m a avaliação clínica d o estado do v o l u m e , geral-
ração episódica da ocitocina. Receptores n o Útero e, possivel-
m e n t e p e r m i t e m u m diagnóstico d i f e r e n c i a l a p r o p r i a d o das con- mente, na mucosa vaginal p o d e m , t a m b é m , iniciar ações poten-
dições h i p o n a t r ê m i c a s . O paciente típico c o m S I A D H tem u m ciais nas fibras nervosas aferentes, que, p o r f i m , estimularão a
plasma h i p o s m o l a r (< 270 m O s m / k g ) , u m a o s m o l a l i d a d e uriná- liberação de o c i t o c i n a na neuro-hipófise. Os estrógenos aumen-
r i a lig e ira mente m a i o r que a d o plasma, além de apresentar u m a t a m a resposta da o c i t o c i n a a esses estímulos. A i n f l u ê n c i a de
concentração de sódio u r i n á r i o i n a p r o p r i a d a m e n t e elevada (de outras partes do cérebro na liberação da o c i t o c i n a foi descrita;
4 0 a 8 0 m m o l / L ) . Pacientes c o m h i p o n a t r e m i a d i l u c i o n a l resul- o estresse e m o c i o n a l , por exemplo, i n i b e a lactação.
tante da ingesta excessiva de água t ê m u m plasma h i p o t ô n i c o ,
a c o m p a n h a d o de u m a concentração de sódio u r i n á r i o baixo
Ações Fisiológicas
( i n f e r i o r a 2 0 m m o l / L ) , e c o m u m a u r i n a d i l u í d a ( c o m osmola-
A o c i t o c i n a está presente e m h o m e n s e mulheres, mas seus
lidade i n f e r i o r à da d o plasma). Pacientes c o m h i p o n a t r e m i a
efeitos fisiológicos são c o n h e c i d o s apenas nas mulheres. A oci-
d i l u c i o n a l causada p o r perda de sódio extra-Tenal t ê m plasma
t o c i n a estimula a contração do m i o m é t r i o u t e r i n o apenas n o
h i p o t ô n i c o , baixa concentração sódica na u r i n a (geralmente infe-
útero estimulado pelo estrógeno, além de ativar a muscul at ura
rior a 20 m m o l / L ) c o s m o l a l i d a d e de u r i n a mais elevada q u e a
lisa associada à liberação de leite c o m a lactação. Desse m o d o ,
do plasma. Pacicntcs c o m h i p o n a t r e m i a d e p l e c i o n a l causada
os efeitos da o c i t o c i n a parecem l i m i t a d o s a eventos da gestação
pela d i f i c u l d a d e dos rins e m reabsorver o sódio apresentam
e lactação. A o c i t o c i n a t e m sido usada c o m o u m agente terapêu-
resultados similares, exceto p o r t e r e m concentrações de sódio
tico i n d u t o r de parto, mas o m e c a n i s m o fisiológico pelo q u a l ela
u r i n á r i o elevadas.
i n d u z as contrações uterinas permanece obscuro. Existe alguma
Se a causa para a h i p o n a t r e m i a permanecer não esclarecida
evidência que mostra q u e a o c i t o c i n a estimula a p r o d u ç ã o de
depois que os testes citados a n t e r i o r m e n t e f o r e m realizados, o
prostaglandina, o que p o d e ser o veiculo através d o q u a l a con-
teste de privação h í d r i c a p o d e r á ser realizado. Esse teste, entre-
t r a t i l i d a d e do m i o m é t r i o é a u m e n t a d a . Existem evidências i n d i -
t a n t o , é p o t e n c i a l m e n t e perigoso e m pacientes c o m h i p o n a t r e -
cando que a o c i t o c i n a p o d e afetar o sistema nervoso central e,
m i a grave e não deverá ser realizado se a concentração de sódio
deste m o d o , modulaT o c o m p o r t a m e n t o h u m a n o . Acredita-se
n o soro for i n f e r i o r a 130 m m o l / L . Pacientes c o m S I A D H apre-
que os progestágenos n e u t r a l i z e m as ações da ocitocina.
sentam redução na excreção da água livre e falha na capacidade
de d i l u i ç ã o da u r i n a . Medições de A V P n o plasma não são
Metodologia Analítica
geralmente necessárias para se fazer o diagnóstico de S I A D H ,
Numerosos imunoensaios para medição da ocitocina plasmática
mas pode-se esperar que os valores basais estejam inapropriada-
ou u r i n á r i a f o r a m descritos. 11 E n t r e t a n t o , sua aplicação clínica de
m e n t e altos c o m relação à h i p o s m o l a r i d a d e plasmática. A inter-
rotina t e m sido l i m i t a d a p o r causa da falta de relevância fisiológica
pretação das concentrações plasmáticas de A V P é muitas vezes
a distúrbios de o r d e m reprodutiva. Intervalos de referência para
complicada, p o r q u e os valores estão sempre d e n t r o do i n t e r v a l o
a ocitocina são encontrados na Tabela 45-1 do C a p í t u l o 45
de referência o u são indetectáveis. 51

Metodologia Analítica AVALIAÇÃO DA RESERVA DA


N u m e r o s o s imunoensaios para m e d i r a A V P no plasma o u na ADENO-HIPÓFISE
u r i n a f o r a m descritos. N a m a i o r parte das análises plasmáticas, A avaliação da função e n d ó c r i n a é u m a parte i m p o r t a n t e d o
é exigido u m p r o c e d i m e n t o p r e l i m i n a r de extração para concen- gerenciamento de pacientes c o m t u m o r e s h i p o f i s á r i o s . O s
766 PARTE V Fisiopatologia

objetivos dos testes que avaliam as funções hipofisárias em mente em mulheres durante a fase reprodutiva. 1 A presença de
pacientes c o m estes tumores é a detecção das deficiências h o r m o - ciclos menstruais regulares na m u l h e r na fase reprodutiva geral-
nais antes e após o tratamento e reconhecimento de tumores mente indica a integridade d o eixo hipotalâmico-hipofisário-
secretores. gonadal. A avaliação laboratorial basal do eixo hipotalãmico-
A avaliação da função da adeno-hipófise e neuro-hipófise em hipofisário-gonadal deve i n c l u i r a medição das gonadotrofinas
pacientes com tumores hipofisários é importante por duas razões. séricas ( L H e FSH) e os esteróides sexuais (estradiol em mulheres
A primeira é identificar estados clínicos relevantes de deficiência e testosterona nos homens). O teste de estimulo com o uso do
h o r m o n a l causados pelo p r ó p r i o t u m o r . A segunda é para a G n - R H e medições do FSH e do L H são úteis em pacientes
reavaliação de pacientes após cirurgia o u radioterapia para detec- selecionados. Esses testes, entretanto, são conhecidos p o r serem
tar as deficiências h o r m o n a i s conseqüentes ao tratamento inva- não confiáveis na diferenciação entre doenças hipofisárias e hipo-
sivo. O teste da função hipofisária é geralmente feito sob condi- talâmicas; desse m o d o , o médico é geralmente dependente de
ções basais, mas t a m b é m sob condições provocativas para trazer u m a determinação acurada das gonadotrofinas e dos esteróides
à tona deficiências pequenas o u sutis que são observadas em sexuais, juntamente c o m julgamento clínico.
doenças da glândula adrenal, tireóide o u gônadas. Geralmente,
não é necessária uma avaliação da reserva hipofisária para o G H
ou PRL em pacientes adultos, porque acredita-se que a deficiên-
REFERÊNCIAS
cia desses h o r m ô n i o s não seja clinicamente importante.
Os baixos limites de detecção dos novos imunoensaios de I. Apter D. Deveiopment of the hypotiia 1 amie-pituitary-ovaria 11 axis. A n n
dois sítios de ligação para a medição dos h o r m ô n i o s hipofisários "NY Acad Sei 1997;816:9-21

possibilitam distinguir u m valor anormalmente baixo de u m 2. Buatci JM, Marcus RB Jr. Pituitary adenomas: current merhods of
diagnosis and treatment, Oncology 1997;11:791-6.
valor no limite inferior do intervalo de referência. A avaliação da
3 Demcrs LM. General endocrinology. In Kaplan L, Pesce AJ,
função hipofisária deve i n c l u i r sinais e sintomas clínicos de
Kazmierczak, eds. Clinicai chemistry, t henry, analysis, correia tio n. St
deficiência h o r m o n a l e a medição de h o r m ô n i o s secretados pela
Louis: Mosby, 2003:809-26.
glândula endócrina pertinente (por exemplo, tiroxina, cortisol e
4- Imura H, Fukata J, Mori T. Cytokines and endocrine function: an
testosterona); os novos ensaios ultra-sensíveis para T S H , FSH, L H
interaction bcrween the immune and neurocndocrine systems. Clin
e A C T H p e r m i t e m uma distinção mais acurada de u m verdadeiro
Endocrinol 1991:35:107-15.
resultado baixo de u m resultado n o r m a l baixo.
5. Johnson RW, Arlons S, Dantzer R, Kelley KW Hormones,
lymphohcmopoietic cytokines and the neuro immune axis. C o m p
Eixo Hipotalâmico-Hipofisário-Adrenal Biochem Physiol A Physiol 1997;116:183-201.
U m a concentração n o r m a l de cortisol no soro m a t i n a l geral- 6. K a y c T B . H y p e r p r o l a c t i n e m i í i : causes, c o n s e q u e n c e s , a n d i r e a i m e n t
mente é uma evidência adequada de que o eixo hipotalâmico- options. Postgrad Med 199ó;99 265-8.
hipofisário-adrenal está intacto e f u n c i o n a n d o corretamente 7. KilroyJ, Zhou A, Gaumorid G, Prnvuncher G, Ling E. An automated
Ocasionalmente, o teste de estímulo c o m Synacthen® ( u m chamiliiminescence immunoassay for human prolaetin. Clin C h e m
potente análogo do A C T H ) é usado quando os resultados do 199i;37:935.
cortisol matinal são baixos (inferiores a 5 p g / d L ) ou quando há 8. Ling E, Schubert W, Yannoni C. A n automated che-milummescencc
u m a forte suspeita clínica de insuficiência adrenal. Este teste immunoassay for human follicle stimulating hormone. Clin C h e m
provocativo é feito obtendo-se u m a amostra basal de cortisol 1991:37:935.

seguida pela administração intravenosa (IV) de 250 pg de Synac- 9. Melmed S, Kleinberg DL. The anterior pituitary. In: Larsen PR,
Kronenberg HM, Melmed S, Polonsky KS, eds. Williams textbook
t h e n ( A C T H ) . E m seguida, amostras para a dosagem do cortisol
of endacrinalagy, 10th ed. Philadelphia: W B Saunders, 2003:
são coletadas em 30 a 60 m i n u t o s após a administração intrave-
177-280.
nosa do A C T H sintético. U m a resposta após a administração do
10. Rei ter EO, Rosenfeld RG Normal and aberrant growth. In- Larsen PR,
A C T H com valor de pico acima de 18 p g / d L para o cortisol
Kronenberg HM, Melmed S, Polonsky KS, eds. Williams textbook
plasmático é considerada normal.
c f endocrinology, 10th ed. Philadelphia: WR Saunders, 2003:
1003-1114.
Eixo Hipotalâmico-Hipofisário-Tireoidiano II. Robinson AG, Verbalis JG. Posterior pituitary gland. In: Larsen PR,
Q u a n d o o resultado da concentração sérica da tiroxina livre (FT 4 ) Kronenberg HM, Melmed S, Polonsky KS, eds. Williams textbook of
ou do T S H ultra-sensível são normais, entende-se que o eixo endocrinology, lOrh ed. Philadelphia: W B Saunders, 2003:281-329.
hipotalãmico-hipofisáno-tireoidiano está intacto. Entretanto, se 12. Rosano TG, Demers LM, Hillam R, Dybas MT, Leinung M. Clinicai
há suspeita clínica de que haja u m hipotireoidismo p r i m á r i o , a n d a n a l y t i c a l e v a l u a t i o n o f a n i m m u n o r a d i o m e t r i c assay f o r
medição simples de concentração basal de T S H pode ser sufi- corticotropin. Clin C h e m 1995;41:961-1064-
ciente na confirmação do diagnóstico. E m pacientes c o m histó- 13. Rosenfeld RG, Gargosky SE. Assays for insulin-like growth factors and
rico de doenças hipofisárias e hipotiTeoidismo secundário, a their binding proteins: practicalities and pitfalls. ] Pediatr (United
concentração sérica do T S H é freqüentemente normal; assim, States) 1996;128:S52-S57.
nessa situação, a concentração de FT4 é o melhor teste para medir 14. Shellum C, KLce G. A sensitive, specific immunochemiluminometric
a normalidade do eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano. As assay for luteinizing hormone in serum and urine. Clin C h e m
1991;37:1038-9.
melhorias na sensibilidade dos restes de terceira geração do T S H
15. W i e m a n ME. Disease of the pituitary- diagnosis and treatment. Totowa,
p e r m i t i r a m a detecção de anormalidades do eixo hipotalâmico-
NJ: Humana Press, 1997.
hipofisário-tireoidiano b e m mais precocemente.

Eixo Hipotalâmico-Hipofisário-Gonadal
A anamnese e o exame físico são extremamente úteis na avaliação
do estado do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadai, particular-
CAPÍTULO 4 0

Distúrbios Adrenoeortieais*
Laurence M. Demers, Ph.D., F.A.C.B., D.A.B.G.G.

OBJETIVOS Z o n a Fasciculada: C a m a d a m é d i a espessa d o c ó r t e x adrenal


q u e contém- células grandes carregadas de lipídios. E a
1. Descrever a estrutura e função do córtex adrenal.
p r i n c i p a l f o n t e de glicocorticóides.
2. Fazer um diagrama da biossíntese de hormônios adrenocorticais a
Z o n a G l o m e r u l o s a : C a m a d a externa f i n a d o córtex adienah E
partir do colesterol.
a f o n t e de aldosterona.
3. Listar os hormônios sintetizados por cada zona específica do córtex
Z o n a R e t i c u l a r i A camada i n t e r n a d o c ó r t e x adrenal. Suas
adrenal e apresentar suas funções.
células são semelhantes àquelas da zona fasciculada, exceto
4. Descrever os seguintes distúrbios adrenais:
por conterem menos lipídios.
Doença de Addison
Síndrome de Conn
Síndrome de Cushing

5.
Hiperplasia congênita da adrenal
Listar os exames laboratoriais usados para avaliar a função
adrenocortical.

PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES
A g l â n d u l a a d r e n a l repousa sobre o p ó l o s u p e r i o r de cada
r i m n o ser h u m a n o . C a d a g l â n d u l a (1) t e m f o r m a p i r a m i -
dal, (2) t e m a p r o x i m a d a m e n t e 2 a 3 c m de largura, 4 a 6
c m de c o m p r i m e n t o , 1 c m de espessura e (3) pesa aproximada-
m e n t e 4 g, i n d e p e n d e n t e da idade, peso o u sexo. C a d a g l â n d u l a
A l d o s t e r o n a : O p r i n c i p a l h o r m ô n i o esteróide consiste e m u m córtex externo amarelo e u m a m e d u l a i n t e r n a
m i n e r a l o c o r t i c ó i d e secretado pelo c ó r t e x a d i e n a l . Ele cinza. A b a i x o da cápsula d o córtex externo repousa a zona glome-
c o n t r o l a o e q u i l í b r i o h i d r o s s a l i n o renal. rulosa, que c o n s t i t u i a p r o x i m a d a m e n t e 1 5 % d o córtex. A p r ó x i m a
A n d r ó g e n i o s : U m a classe de h o r m ô n i o s sexuais que p r o d u z e m camada é a zona fasciculada, que c o m p õ e cerca de 7 5 % d o córtex
masculinização. c o m células grandes e carregadas de l i p í d i o . A zona mais i n t e r n a
A n d r o s t e n e d i o n a : U m esteróide a n d r o g ê n i c o p r o d u z i d o pelos é a zona r e t i c u l a r , que c o n t é m células de aparência irregular c o m
testículos, c ó r t e x a d r e n a l e ovários. Ele ocorre n a natureza p o u c o c o n t e ú d o l i p í d i c o . As células d o córtex adrenal sintetizam
1 5
c o m o A" -androstenediona e A -androstenediona. A h o r m ô n i o s esteróides. As células da m e d u l a adrenal sintetizam
a n d r o s t e n e d i o n a é convertida m e t a b o l i c a m e n t e e m catecolaminas, c o m o as aminas aromáticas d o p a m i n a , norepine-
testosterona e o u t r o s andrógenios. f r i n a e e p i n e f r i n a , que apresentam conseqüências i m p o r t a n t e s
C o r t i s o l : O p r i n c i p a l g l i c o c o r t i c ó i d e a d r e n a l sintetizado na para a regulação da pressão arterial. A s catecolaminas e sua f u n ç ã o
zona fasciculada d o córtex adrenal. Ele afeta o m e t a b o l i s m o são discutidas n o C a p í t u l o 26.
da glicose, proteínas e l i p í d i o s e t e m ' a t i v i d a d e O córtex a d r e n a l d o ser h u m a n o secreta três classes p r i n c i p a i s
m i n e r a l o c o r t i c ó i d e apreciável. de h o r m ô n i o s esteróides que possuem u m a ampla gama de funções
D e s i d r o e p i a n d r o s t e r o n a ( D H E A ) : Esteróide secretado pelo fisiológicas. Estas i n c l u e m (1) glicocorticóides, (2) m i n e r a l o c o r t i -
córtex adrenal. E o p r i n c i p a l precursor d o a n d r ó g e n i o nas cóides e (3) andrógenios adrenais. Este c a p i t u l o começa c o m u m a
mulheres. seção geral sobre a b i o q u í m i c a dos esteróides, seguida de u m a
D o e n ç a de C u s h i n g : U m d i s t ú r b i o caracterizado p o r u m discussão das funções clínicas e biológicas dos h o r m ô n i o s este-
a u m e n t o da concentração de h o r m ô n i o g l i c o c o r t i c ó i d e róides p r o d u z i d o s pelo c ó r t e x a d r e n a l
a d r e n a l n a c o r r e n t e sanguínea.
G l i c o c o r t i c ó i d e s : Q u a l q u e r substância d o g r u p o de esteróides QUÍMICA GERAL DOS ESTERÓIDES
C 2 1 p r o d u z i d o s pelo córtex adrenal q u e r e g u l a m o O s h o r m ô n i o s esteróides são esteróides que agem c o m o h o r m ô -
m e t a b o l i s m o dos carboidratos, l i p í d i o s e proteínas. Eles nios. Nesta seção, discute-se brevemente a estrutura q u í m i c a
t a m b é m i n i b e m a secreção de a d r e n o c o r t i c o t r o f i n a , geral, a b i o q u í m i c a e o m e t a b o l i s m o dos esteróides.
possuem atividade a n t i i n f l a m a t ó r i a p r o n u n c i a d a e
d e s e m p e n h a m u m papel e m u m a variedade de processos Estrutura Química
h o m e o s t á ticos. O s esteróides c o n t ê m u m n ú c l e o c i c l o p e n t a n o p e r i d r o f e n a n t r e n o
M i n e r a l o c o r t i c ó i d e s : Q u a l q u e r substância d o g r u p o de c o m o estrutura básica (Figura 40-1). Os três anéis de seis lados
corticosteróides C Z 1 ( p r i n c i p a l m e n t e aldosterona) que (A, B e C ) c o n s t i t u e m o n ú c l e o f e n a n t r e n o , ao q u a l está f i x a d o
r e g u l a m o balanço h í d r i c o e de eletrólitos d o c o r p o . o anel D o u c i c l o p e n t a n o . O p r e f i x o " p e r i d r o " refere-se à satura-
R e n i n a : E n z i m a da classe das hidrolases que catalisa a clivagem ção d o c o m p o s t o c o m átomos de h i d r o g ê n i o . Esta classe de
da ligação leucina-leucina n o a n g i o t e n s i n o g ê n i o para gerar compostos i n c l u i p r o d u t o s naturais c o m o esteróis (p. ex., coles-
angiotensina I. terol), ácidos biliares (p. ex., ácido colânico), h o r m ô n i o s sexuais
(p.ex, estrógenos e a n d r ó g e n i o s ) , v i t a m i n a D e corticosteróides.
Os h o r m ô n i o s esteróides c o n t ê m até 21 átomos de c a r b o n o (este-
róides C21), n u m e r a d o s c o m o m o s t r a d o na Figura 40-1.
* 0 autor agradecidamente reconhece a contribuição pTévia de Ronald ]. Os esteróides são moléculas t r i d i m e n s i o n a i s . Seus átomos
Whitley, na qual se baseia paTtes deste capítulo. c o n s t i t u i n t e s r e p o u s a m e m planos diferentes, o que resulta n a
768 PARTE V Fisiopatologia

Cu
TABELA 40-1 Sufixos e Prefixos C o m u n s para
i» c »
C I.. Esteróides
Sufixa au Prefixa Definição
^ v
. I «
A SUFIXO
f A í B J Xí
>
>
-al
-ano
Grupo aldeído
Hidrocarboneto saturado
Hidrocarboneto insaturado
-eno
CiclopencarLopcridrofcnan treno -ol Grupo hidroxila
ona Grupo cetona
Figura 40-1 Características comuns e sistema de numeração de
esteróides. PREFIXO
hidroxi- (oxi-) Grupe hidroxila
CetO- (0X0-) Cetona
criação de isômeros. A direção dos átomos de h i d r o g ê n i o , os deoxi- (desüxi-) Substituição de grupo hidroxila por hidrogênio
substiruintes, e a cadeia lateral desempenham u m papel m u i t o desidro- Perda de dois átomos de hidrogênio dos
mais i m p o r t a n t e na diferenciação entre vários isômeros do com- átomos de carbono adjacentes
posto esteróide do que as posições relativas dos átomos de diidro- Adição de dois átomos de hidrogênio
c a r b o n o nos anéis. A s s i m , os isômeros que r e s u l t a m da fusão de cis- Arranjo espacial de dois substituintes no
dois anéis são identificados c o m base na relação espacial entre mesmo lado da molécula
os átomos de h i d r o g ê n i o o u os substituintes nos átomos de trans- Arranjo espacial de dois substituintes nos lados
c a r b o n o c o m u n s . Q u a n d o os anéis A e B s e f u n d e m , dois isôme- opostos da molécula
a- Substituinte que é frans para o grupo metila
ros são possíveis, d e p e n d e n d o de se o á t o m o de h i d r o g ê n i o e m
em C-10
C-5 e o g r u p o metila e m C-1Ü estão n o mesmo lado o u no lado
3- Substituinte que é eis para grupo metila em
oposto ao p l a n o dos anéis. Se o á t o m o de h i d r o g ê n i o a p o n t a r
C-10
para a mesma direção d o g r u p o angular m e t i l a e m O l O , o com-
epi- Isomérico em configuração em qualquer átomo
posto está na f o r m a eis, o u normal E n t r e t a n t o , se eles estão e m
de carbono exceto na junção de dois anéis
lados opostos, o c o m p o s t o está na f o r m a traro o u alio D e p e n -
An- Posição de ligação insaturada
d e n d o em q u a l lado da m o l é c u l a os subscituintes estão fixados
c o m relação a estes dois grupos metila, eles apresentam u m a
orientação a o u p. Por exemplo, q u a n d o os substituintes estão
n o mesmo lado dos dois grupos metila, eles t ê m u m a configura-
ção J3, que é i n d i c a d a p o r u m a l i n h a c o n t í n u a ( — ) q u e liga os
substituintes aos átomos de c a r b o n o apropriados n o n ú c l e o . O s TABELA 40-2 N o m e s Triviais e Sistemáticos de Alguns
substituintes n o lado oposto são fixados p o r u m a l i n h a tracejada H o r m ô n i o s Esteróides Importantes
( — ) para d e n o t a r u m a configuração a . Nome Trivial Nome Sistemático
Os esteróides i n d i v i d u a i s que c o n t ê m o núcleo ciclopentano-
Aldosterona 11 p-21 -diidróxi-3,20-dioxopregn-4-
p e r i d r o f e n a n t r e n o são diferenciados pela presença de ligações
eno-18-ai
duplas entre d e t e r m i n a d o s pares de ácomos de carbono, a intro-
Androstenediona Androst-4-ene-3,11,17-triona
dução de substituintes para os átomos de h i d r o g ê n i o o u a adição
Androsterona 3a-Hidroxi-5a-androstari-17-ona
de u m t i p o específico de cadeia lateral. C o m base e m tais carac-
Cortisol 11 p„ 17,21 -Triidroxipregn-4-ene-
terísticas estruturais, os compostos esteroidais são classificados 3,20-diona
c o m o derivados de d e t e r m i n a d o s h i d r o c a r b o n e t o s (p. ex., estrano Desidroepiandrosterona 3p-Hidroxiandrost-5-en-1 7-ona
para estrógenos, a n d r o s t a n o para andrógenios e pregnano para Estradiol-17p Estra-1,3,5(10)-trieno-3,17p-diol
corticosteróides e progestinas). Vários sufixos e, prefixos são Estriol Estra-1,3,5(10)-trieno-3,16a,17p-triol
usados para descrever os esteróides (Tabela 40-1). Estrora 3-HidróxÍÊStra-1,3,5(10) -Iri eno-17-ona
Os nomes triviais e sistemáticos de vários h o r m ô n i o s esterói- Etiocolanoiona 3a-hidróxi-5p-androstan-17-ona
des i m p o r t a n t e s estão listados na Tabela 40-2. Pregnanediol 5p-Pregnano-3a, 20a-diol
Progesterona Pregn-4-ene-3,20-diona
Bioquímica Testosterona 17p-Hidróxi-androst-4-eno-3-ona
Os h o r m ô n i o s esteróides dos seres h u m a n o s são sintetizados Urocortisol (tetraidro F) , 3a,11 p,17-21 -Tetraidróxi - 5 p-
p r i m a r i a m e n t e a p a r t i r d o colesterol nas glândulas adrenais e pregnan-20-ona
gônadas ( C a p í t u l o 23). N a m a i o r i a dos casos, o colesterol é
a d q u i r i d o da circulação na f o r m a de colesterol de l i p o p r o t e i n a
de baixa densidade ( L D L ) . A captação do L D L ocorTe poT m e i o
de receptores específicos de L D L na superfície celular na super-
fície da glândula adrenal que i n t e r n a l i s a m a porção de colesterol, lular é s u p r i m i d a e o excesso de colesterol para as necessidades
libeiando-a c o m o substrato para esteroidogênese. Todas as células celulares é esterificado e armazenado para uso f u t u r o .
esteroidogênicas, c o n t u d o , são capazes de síntese de novo a p a r t i r A etapa l i m i t e i n i c i a l da velocidade do transporte de coleste-
da acetilcoenzima A . Para garantir u m s u p r i m e n t o c o n t í n u o de r o l intracelular para locais de esteroidogênese é mediada p o r u m a
colesterol livre para a síntese de esteróides, a captação do coles- proteína reguladora da esteroidogênese aguda (StAR), que é regu-
t e r o l da l i p o p r o t e i n a é coordenada c o m a síntese intracelular de lada p o r h o r m ô n i o a d r e n o c o r t i c o t r ó f i c o ( A C T H ) .
colesterol e c o m a mobilização de reservatórios intracelulares de A natureza e q u a n t i d a d e de h o r m ô n i o s esteróides produzidos
ésteres de colesteril. Q u a n d o a taxa de captação de colesterol pelas glândulas adrenais e gônadas são diferentes. Por exemplo, as
excede a taxa de esteroidogênese, a síntese de colesterol intrace- enzimas l l p - h i d r o x i l a s e e 21-hidroxilase, presentes apenas nas
Distúrbios Adrenocorticais CAPÍTULO 40 769

glândulas adrenais, sintetizam esteróides característicos das glân- ch2oh CH,OH


dulas adrenais. D e maneira semelhante, os ovários e os testículos i=o A=o
c o n t ê m enzimas que sintetizam os h o r m ô n i o s sexuais masculinos A- OH HO. OI I
\
e f e m i n i n o s ( C a p í t u l o 42). A s enzimas que p a r t i c i p a m da biossín-
: C
tese de h o r m ô n i o s esteróides são amplamente classificadas c o m o
(1) hidroxilases, (2) hases, (3) desidrogenases e (4) isomerases. V TR
J itV
Metabolismo 11 -Desoxicortisol C o r t i s o l ( C o m p o s t o F)
O fígado é o p r i n c i p a l local de m e t a b o l i s m o esferóide. O r i m e ( C o m p o s t o S)
o trato gastrointestinal, c o n t u d o , t a m b é m d e s e m p e n h a m trans-


f o r m a ç ã o metabólic a i m p o r t a n t e dos esteróides. As etapas bio-
químicas i m p o r t a n t e s para neutralizar a p o t e n t e atividade b i o l ó - Cl -,OII CTT, OH
;n| •
gica dos h o r m ô n i o s e facilitar sua r á p i d a el i m i naç ão da circulação A=Ü
sistêmica i n c l u e m (1) i n t r o d u ç ã o de u m g r u p o h i d r o x i l a adicio- JU OH
n a l (p. ex., estradiol em estriol); (2) desidrogenação (p. ex., tes- s Y*
tosterona e m androstenediona); (3) redução de u m a ligação d u p l a • !,.
(
(p. ex., c o r t i s o l e m d i i d r o c o r t i s o l ) ; e (4) conjugação de u m g r u p o
h i d r o x i l a essencial o u grupos c o m u m a porção q u í m i c a , c o m o o o-
I «
IC

*.
»

ácido g h c t i r ô m c o (p. ex., testosterona e m g l í c u r o n i d a de testoste-


Cortisona D esoxicor ti c o s reron a
rona). A conjugação destes h o r m ô n i o s e seus m e t a b ó l i t o s c o m os
(Composto E) (DOC)
ácidos s u l f ú r i c o e g b c u r ô m c o é o processo m e t a b ó l i c o ú n i c o mais
eficiente para sua excreção na u r i n a . Quase todos os m e t a b ó l i t o s
CHjOH ch2oh
esteróides são excretados c o m o glicuronidas o u sulfatos hidros-

1
solúveis. i=o t o
H0
>. U.>.. I
ESTERÓIDES ADRENOCORTICAIS
O córtex adrenal n o ser h u m a n o secreta i n ú m e r o s h o r m ô n i o s
7
esteróides que estão envolvidos e m u m a a m p l a gama de processos
metabólicos. O"
r f j X
Corticosterona 11-Desidroconicosrerona
Bioquímica Geral ( C o m p o s t o B) (Composto A)
Os esteróides isolados das glândulas adrenais i n c l u e m os cotCíom-
teróiães fisiologicamente i m p o r t a n t e s e os andrógenios adrenais.'As
Cll^O]] CH2OH
f ó r m u l a s estruturais de alguns dos corticosteróides biologica- HO i
CKi I c=o
m e n t e ativos mais significativos são mostrados na Figura 40-2.

rn
o—cn
Seus nomes triviais e sistemáticos estão listados na Tabela 40-2. HO.

Glicocorticóides
O c o r t i s o l é o p r i n c i p a l g l i c o c o r t i c ó i d e sintetizado a p a r t i r do
colesterol na zona fascicuiada e reticular do córtex adrenal
jCu
, . . i l :

Aldosterona
rr
h u m a n o (Figura 40-3). Ele é secretado a u m a taxa de aproxima- Aldosterona
d a m e n t e 25 m g / d i a Q u a n d o l i b e r a d o na circulação, o c o r t i s o l (aldeído) (hemiacetal)

é p r i n c i p a l m e n t e ligado à g l o b u h n a ligadora de corticosteróide


( C B G ) e t r a n s p o r t a d o c o m o tal. O c o r t i s o l é metabolizado e Figura 4 0 - 2 Fórmulas estruturais e n o m e s triviais le alguns
c o n j u g a d o n o fígado em várias formas inativas. M a i s de 9 5 % d o corticosteróides b i o l o g i c a m e n t e ativos. Observe o sistema alfabético d o
c o r t i s o l e seu m e t a b ó l i t o c o r t i s o n a são conjugados em ácido anel e o sistema n u m é r i c o para 21 á t o m o s de carbono
g l i c u r ô n i c o e excretados na u r i n a c o m o u m conjugado, M e n o s
de 2 % d o c o r t i s o l é excretado n a u r i n a não metabolizados c o m o
c o r t i s o l livre u r i n á r i o .
Os glicocorticóides t ê m efeitos i m p o r t a n t e s n o m e t a b o l i s m o Mineralacorticóides
dos carboidratos, proteínas e l i p í d i o s (Figura 40-4). Eles t a m b é m Os m i n e r a l o c o r t i c ó i d e s r e g u l a m a homeostasia de sais (conser-
afetam o m e t a b o l i s m o da g o r d u r a c o m u m a ativação na lipólise vação do sódio e perda de potássio) e v o l u m e de l í q u i d o extrace-
e a liberação dos ácidos graxos livres na circulação. Q u a n d o lular. A a l d o s t e r o n a é o m i n e r a l o c o T t i c ó i d e de ocorrência n a t u r a l
presentes em excesso, os glicocorticóides causam u m a d i s t r i b u i - mais p o t e n t e e é sintetizada exclusivamente na região da zona
ção central de gordura para a face, pescoço e t r o n c o . Os glicocor- glomerulosa do córtex adrenal. Esta zona c o n t é m exclusivamente
ticóides t a m b é m e s t i m u l a m a diferenciação de adipócitos e pro- a enzima aldosterona sintase, u m a enzima o b r i g a t ó r i a na via
m o v e m a lipogênese através da ativação de enzimas c o m o a lípo- sintética para aldosterona (Figura 40-3). E secretada a u m a taxa
proreína lípase e a u m e n t o da expressão do ácido r i b o n u c l é i c o de a p r o x i m a d a m e n t e 2 0 0 jj.g/dia. 1,10
mensageiro ( m R N A ) para l epti na. O u t r o s esteróides adrenocorticais que apresentam proprieda-
Os glicocorticóides circulantes t a m b é m t ê m propriedades des mineralocorticóides' c o m graus variados de potência i n c l u e m
a n t i m f l a r n a t õ r i a s e s u p r i m e m o sistema i m u n e (Figura 40-4). desoxicorticosterona ( D O C ) , 1 8 - h i d r o x i - D O C , corticosterona e
C o n s e q ü e n t e m e n t e , os glicocorticóides são usados terapeutica- cortisol. U m grande n ú m e r o de análogos c o m atividade de mine-
m e n t e para tratar distúrbios i n f l a m a t ó r i o s , c o m o a artrite reuma- ralocorticóides e glicocorticóides f o i sintetizado; alguns, na verdade,
tóide. são mais potentes d o que aqueles que ocorrem naturalmente.
770 PARTE V Fisiopatologia

. O. CEI,

X
c í A3 M " r è 1: Emiikiu d< diva^aii lie cadclú lateral (F-450^)
II: A ' 3 [J-H iJroxicstcróide doidro^cnasc c
si-
* r A^-ívrcrtimSidt Uoinetase
nn' ' 111: 21-HidraxiJxw
Colesterol IVl 11 P"Hidn.JXlL\9C
A. 'Pregnenolona

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Aldoíit-iona Cortútorja

Figura 40-3 Biossíntcse de corticosteróides. N ú m e r o s romanos I (enzima de clivagem de cadeia lateral), II (3-p-ol
desidrogenase e / o u A isomerase), III (21-hidroxilase) e IV (llfi-hidroxilase) indicam locais de principais bloqueios que
causam síndromes adrenogeniçais. (Copyright 1959 C I B A Pharmaceutical C o . Division de CIBA-GEIGY Corp. Reproduced,
c o m permissão, de T h e C I B A Collection of Medicai Illustrations por Nettet FH. Todos os direitos reservados.)
Distúrbios Adrerocortícaís CAPÍTULO 40 771

Tireóide
Cérebro
Depressão
Psicose

Metabolismo lipídico/CHO
Alimento do glicogênio
Aumento da resistência à
insulina
Aumento da glieoneogênese Cardiovascular
Aumento de AGL Retenção de água e sal
Obesidade visceral
Hipertensão

Sistema endócrino Pele/músculo


Redução de FSH, liberação de LH Degradação da proteína
Redução da liberação de TSH Atrofia muscular
Redução da secreção de GH Perda óssea
An ti inflamatórios
Imunossupressão

Figura 40-4 Efeitos principais d o s glicoc o i ti cuides n o s sistemas orgânicos mais i m p o r t a n t e s n o SCT h u m a n o .

Andrógenios Adrenais carreadora. A excreção dos esteróides ocorre por meio dos rins
As glândulas adrenais também secretam andrógenios, progeste- ou trato gastrointestinal, onde são reabsorvidos. A C B G , albu-
rona e estrógeno, sendo que todos eles são também produzidos mina e S H B G são produzidas pelo fígado. As concentrações de
pelas gônadas (Capítulo 42).' Os andrógenios adrenais são sinte- C B G e S H B G são aumentadas pelos estrógenos e em alguns
tizados na zona fasciculada e / o u reticular a partir do substrato pacientes com hepatite e reduzidas pelos glicocorticóides, testos-
precursor 17a-hidroxipregnenolona. Os andrógenios adrenais terona e em pacientes com doença hepática o u renal. E m con-
incluem desidroepiandrosterona ( D H E A ) , androstenediona e centrações fisiológicas, cerca de 9 0 % a 9 8 % de h o r m ô n i o s este-
testosterona (Figura 40-3). A D H E A e seu derivado sulfatado, róides circulam ligados a uma proteína carreadora, em geral com
sulfato de D H E A (DHEA-S), são os andrógenios adrenais mais alta afinidade por uma globulina de ligação, como a C B G e a
importantes encontrados na circulação e estão presentes na mais S H B G . E m concentrações fisiológicas mais altas, a albumina, que
alta concentração. A adrenal do adulto secreta aproximadamente tem uma alta capacidade mas baixa afinidade para esteróides,
6 a 8 m g / d i a de D H E A , 8 a 16 m g / d i a de D H E A - S , 1,5 m g / d i a torna-se u m meio de transporte mais importante para os esterói-
de androstenediona e 0,05 m g / d i a de testosterona. A quantidade des. Q u a n d o u m esferóide tem baixa afinidade por u m a "proteína
de D H E A e / o u D H E A - S produzida fica atrás apenas do cortisol, carreadora", 6 0 % a 7 0 % do esteróide circula ligado principal-
entre os esteróides adrenais liberados diariamente na circulação. mente à albumina." 3 Alguns esteróides, como a aldosterona, apre-
Estas quantidades são responsáveis por cerca de 5 0 % de D H E A sentam afinidade relativamente alta para C B G , mas a C B G não
e mais de 9 0 % de D H E A - S que circulam no plasma. As glându- é a principal proteína carreadora porque o cortisol, a corticoste-
las adrenais também produzem pequenas quantidades dos estró- rona e a 17ct-hidroxiprogescerona excedem em m u i t o a concen-
genos estradiol e estrona e quantidades insignificantes de proges- tração de aldosterona. D e maneira semelhante, a testosterona e
terona e outros precursores esteróides em u m a base diária. 10 a diidrotestosterona circulam primariamente ligadas a S H B G nos
homens, enquanto o estradiol, apesar da alta afinidade de ligação
Formas Circulantes para S H B G , é amplamente ligado à albumina porque sua con-
Os h o r m ô n i o s esteróides circulam n o sangue como h o r m ô n i o s centração é baixa com relação àquela da testosterona. D H E A - S e
livres ou ligados a proteínas carreadoras, como a a 2 -globulina, D H E A circulam primariamente ligadas à albumina, e n e m a
C B G , alhumina o u globulina ligadora de h o r m ô n i o sexual C B G nem a S H B G são importantes n o transporte destes andró-
(SHBG). 1 0 Alguns esteróides são conjugados à glicuronida ou genios adrenais. A prednisolona é o único glicocorticóide sinté-
sulfato e, portanto, circulam independentes de u m a proteína tico com alta afinidade de ligação para C B G , enquanto a dexa-
772 PARTE V Fisiopatologia

metasona, metilprednisolona e triamcinolona acetonida sao pri- bólitos são conjugados em glicuronídeos e sulfatos, que sao então
mariamente ligadas à albumina. excretados na urina.

Metabolismo REGULAÇÃO HORMONAL - EIXO


O fígado é o principal local para transformação e conjugação de HIPOTALÂMICO-HIPOFISÁRIO-
hormônios esteróides, em grande medida por meio da presença
enriquecida dos sistemas enzimáticos metabolizadores do cito-
ADRENOCORTICAL
cromo P-450 (Capítulo 30). Os rins também desempenham u m A secreção de glicocorticóides e andrógenios adrenais é regu-
papel importante n o metabolismo esteróide. O r i m excreta apro- lada por A C T H (Capítulo 39) que, por sua vez, está sob con-
ximadamente 90% dos esteTóides conjugados liberados pelo trole do h o r m ô n i o de liberação da corticotrofina ( C R H ) , u m
fígado e cerca de 50% do cortisol secretado aparece na urina peptídeo hipotaIâmico. 1 , ; i Também se descobriu que a glândula
como tetraidrocortisol (THF) e tetraidrocortisona (THE). M u i t o s hipófise secreta u m fator h o r m o n a l separado que regula espe-
tecidos contêm as enzimas necessárias que ativam esteróides ou cificamente a produção de andrógenio supra-renal. 1 Esta subs-
os tornam biologicamente inativos. O cortisol, p. ex., é metabo- tância, chamada de h o r m ô n i o estimulador do andrógenio cor-
lizado em cortisona por meio da atividade de llfi-hidroxieste- tical, foi identificada como u m glicopeptídeo nos extratos hipo-
róide desidrogenase; esta alteração torna este esteróide incapaz fisários humanos e apresenta homologia c o m a seqüência de
de ligar-se ao receptor do glicocorticóide. O fígado, contudo, é u m componente do N-terminal de 18 aminoácidos da pró-opio-
capaz de converter cortisona de volta a cortisol, que é biologica- melanocorticotrofina, o peptídeo precursor de A C T H e do
mente ativo. Os andrógenios como D H E A e androstenediona h o r m ô n i o estimulador d o melanócito. As relações hipotalâmi-
são conhecidos por serem convertidos a testosterona n o tecido cos-hipofisárias-adrenais ( H H A ) na saúde e nos vários distúr-
adiposo e depois a diidrotestosterona nos tecidos que contêm a bios adrenais são apresentadas na Figura 40-5.
enzima 5a-redutase. A enzima aromatase converte testosterona e
androstenediona a estradiol e estrona, respectivamente, em CRH/ACTH
tecidos como o adiposo e hepático. Mesmo os esteróides sulfata- Os biorritmos e outros eventos fisiológicos n o cérebro resultam
dos e glicuronidados são ativados pela ação de enzimas sulfatase em secreção episódica e circadiana do C R H a partir do hipo-
e (x-glicuranidase. Os macrófagos, p. ex., convertem D H E A - S a tálamo. Isto, por sua vez, provoca variação circadiana semelhante
D H E A , o que altera a produção da citocina pelos linfócitos T na liberação de A C T H . 3 O A C T H secretado então estimula a
associados. A testosterona é u m andrógenio potente no músculo, produção de cortisol, que promove inibição do feedback negativo
u m tecido que tem pouca atividade de 5a-redutase. Na pele e para o eixo C R H - A C T H . A secreção de C R H , u m peptídeo de
tecido prostático, com alta atividade de A 4 -5a-redutase, a testos- 40 aminoácidos, é modulada por fatores neuroendócrinos, físicos
terona é um pró-hormônio para diidrotestosterona, o andrógenio e emocionais. A l é m do C R H , outros fatores circulantes têm uma
ativo nestes tecidos. Assim, ocorre metabolismo considerável dos influência na dinâmica secretora da liberação de A C T H . Por
esteróides fora de seu local original de síntese. Doenças hepáticas, exemplo, a vasopressina arginina (hormônio antidiurético) da
renais e tireoidianas afetam a secreção e o metabolismo dos hipófise posterior e outros peptídeos (angiotensina II, activina,
esteróides adrenais. Outros fatores que afetam estes processos citocinas, opiáceos e somatostatina) e catecolaminas influenciam
incluem (1) estresse, (2) idade, (3) terapia com estrógenio, (4) a secreção de A C T H a partir da adenohipófise. 1 0
nutrição e (5) fármacos. O ritmo circadiano da secreção de A C T H sob ciclos normais de
vigília e sono produz concentrações mais altas de cortisol de manhã,
Cortisol entre 4:00 horas e meio-dia, e concentrações mais baixas no final da
U m a compreensão do metabolismo do cortisol é importante na noite e começo da manhã. A magnitude da concentração de coTtisol
interpretação dos exames projetados para avaliar alterações nas pela manhã é afetada por fatores familiares e genéticos.1,10
taxas de produção de cortisol e distúrbios da função adrenal.10 Os estresses físicos que elevam as concentrações plasmáticas
Menos de 2% do cortisol é excretado sem alterações na urina. de cortisol e alteram o ritmo circadiano incluem (1) traumatismo,
C o m o resultado de sua forte ligação à C B G , o cortisol é meta- (2) febre, (3) cirurgia, (4) hipoglicemia, ( í ) ingestão de álcool, (6)
bolizado lentamente. N o fígado, o metabolismo • do cortisol diabetes descontrolado e (7) privação nutricional, incluindo
envolve redução enzimática da ligação dupla entre 0 4 e C-5 para aquelas associadas a anorexia nervosa. A depressão maioT e a
formar diidrocortisol ou diidrocortisona. O metabolismo adicio- ansiedade grave são estresses psicológicos que também elevam as
nal do cortisol e cortisona produz T H F e T H E , respectivamente, concentrações plasmáticas de cortisol. A secreção de A C T H em
que por sua vez são metabolizados em cortol e cortolona. Mais resposta a estresses menores é inibida pela administração de gli-
de 9 5 % dos metabólitos de cortisol e cortisona são conjugados cocorticóides exógenos.
pelo fígado. A glicuronidação na posição 3a-hidroxíla é favore- A supressão prolongada de A C T H pela administração de
cida em detrimento de outros grupos hidroxila, e o grupo glicocorticóides causa atrofia do córtex adrenal. 1 O grau de atrofia
21-hidroxila é favorecido para sulfatações; os metabólitos de glicu- está relacionado com a duração e magnitude da supressão da
ronídeo são mais abundantes do que os esteróides sulfatados. secreção de A C T H . C o m supressão intensa prolongada, a recu-
peração do H H A leva vários dias até alguns meses.

Andrógenios
Os andrógenios adrenais também têm u m destino metabólico Secreção de Cortisol
complexo. Por exemplo, a D H E A - S é formada no córtex adrenal O A C T H tem efeitos tróficos e esteroidogênicos n o córtex adrenal
ou por sulfoquinases no fígado e rins a partir de D H E A e é e está sob controle de feedback negativo de cortisol não ligado à
excretada pelo r i m . D H E A e DHEA-S são metabolizadas por proteína. 1 O cortisol é secretado em u m período de alguns
7a- e 16p-hidroxilases. A redução (17-p) de ambos os compostos minutos após u m aumento do A C T H sético. A deficiência de
forma A 4 -5-androstenediol e seu sulfato. A androstenediona A C T H resulta em atrofia da zona fasciculada e da zona reticular.
também é metabolizada em androsterona após 3a- e 5a-redução. A atrofia do córtex adrenal devido a várias causas e a síntese e
A 5p-redução resulta na formação de etiocolanolona. Estes meta- liberação reduzidas de cortisol fazem com que haja aumento das
Distúrbios Adrenocorticais CAPÍTULO 40 773

Doença de Síndrome de ACTH Tumor


Normal Cushing ectópico adrenal

Hipotálamo

!^Jumor(

ACTH Cortisol AC TH Cortisol ACTH Cortisol

W
<100 >120 >120 >120
Cortisol livre na urina, Mg/dia

Figura 4 0 - 5 H H A sob condições normais e em vários distúrbios adrenais. A C T H , h o r m ô n i o


adrenocorcicotrófico; CRF, fator de liberação da coiticotrofina. (De Lipsett M B , Odell W D , Rosenberg LE.
H u m o r a l syndromes associated w i t h nonendocrine tumors. A n n I n t e r n Med 1964;61:733. Copyright 1964,
American Medicai Association.)

concentrações de A C T H . O u t r o s fatores modificadores c o m o (1) f u n ç ã o da zona glomerulosa são afetados p r i m a r i a m e n t e pelo


idade, (2) várias doenças, (3) terapia c o m estrógenío, (4) n u t r i ç ã o , sistema renina-angiotensina e pelo potássio. O c o r r e hiperplasia
(5) doenças generalizada e (6) fármacos t a m b é m afetam a secreção q u a n d o as concentrações de angiotensina I I o u K + , o u ambas,
de cortisol. T a n t o a h i p e r t r o f i a c o m o a hiperplasia do córtex estão elevadas, e ocorre atrofia c o m u m a deficiência de angioten-
adrenal o c o r r e m em resposta à exposição crônica ao A C T H . A sina I I o u c o m defeitos e m suas ações.
resposta trófica ao A C T H é reproduzida pela estimulação de
m o n o f o s f a t o cíclico de adenosina ( c A M P ) d o fator I I de cresci- Secreção de Andrógenio Adrenal
m e n t o semelhante à i n s u l i n a , e não pelo c A M P d i r e t a m e n t e / 0 O A C T H regula parcialmente a produção de a n d r ó g e n i o adrenal
As citocinas pró-inflamatórias, c o m o a i n t e r l e u c i n a (IL)-1, em adultos à m e d i d a que D H E A e androstenediona são secreta-
IL-6 c o fator de necrose t u m o r a l alfa ( T N F a ) , t a m b é m aumen- das c m c o n j u n ç ã o c o m o cortisol. 1 A produção adrenal de andró-
t a m a secreção de cortisol p o r m e i o de u m a u m e n t o da secreção genio começa a a u m e n t a r a p r o x i m a d a m e n t e aos 9 o u 10 anos de
hipofisária de A C T H c o m o parte da i m p o r t a n t e interação imu- idade; atinge o pico na terceira década de vida; e depois d i m i n u i
n o e n d ó c r m a que ocorre c o m doença e infecção. gradualmente, a t i n g i n d o baixas concentrações n o v a m e n t e na
idade avançada. 1 A terapia c o m glicocorticóides t a m b é m s u p r i m e
a secreção de andrógenios adrenais. Nas crianças e m tenra idade,
Secreção de Aldosterona
as baixas concentrações de a n d r ó g e n i o adrenal não são ainda
O mecanismo de c o n t r o l e p r i m á r i o para secreção de aldosterona
mais s u p r i m i d a s pela terapia c o m glicorticóides.
envolve o sistema renina-angiotensina A r e n i n a é u m a enzima
proteolítica sintetizada e armazenada nas céíttl&s epiteliais justaglo-
merukres, localizadas ao l o n g o da parte t e r m i n a l das arteríolas
METODOLOGIA ANALÍTICA
aferentes dos glomérulos renais. 1 Estas células especializadas cons- O i m u n o e n s a i o é o m é t o d o mais amplamente usado para m e d i r
t i t u e m parte do aparelho j u s t a g l o m e r u l a r ( C a p í t u l o 34). Sob o cortisol, a aldosterona e a D H E A . E n t r e t a n t o , a cromatografia
estimulação do aparelho justaglomerular, a r e n i n a é liberada na l í q u i d a de alta p e r f o r m a n c e ( H P L C ) , o u a espectrofotometria de
circulação, onde h i d r o l i s a seu substrato, angiotensinogênio, para massa (MS) fazendo interface c o m cromatografia gasosa ( G O M S )
p r o d u z i r u m decapeptídeo c o n h e c i d o c o m o angiotensina I. A o u l í q u i d a (LOMS) 2 , 5 , 6 , 8 , 9 t a m b é m são usadas para m e d i r esterói-
angiotensina I é então r a p i d a m e n t e convertida a u m octapeptí- des específicos c o m precisão excelente e capacidade para m e d i r
deo, angiotensind 11, p o r u m a encima conversora da angiotensina baixas concentrações de h o r m ô n i o .
( E C A ) circulante, que é e n c o n t r a d a em abundância n o p u l m ã o .
A angiotensina I I é u m p o t e n t e vasoconstritor e estimula as Escolha da Amostra
células da zona glomerulosa para p r o d u z i r aldosterona. A angio- Os esteróides são r o t i n e i r a m e n t e m e d i d o s nas amostras de u r i n a ,
tensina I I estimula a secreção de aldosterona a u m e n t a n d o a sangue e saliva.
transcrição do c i t o c r o m o 450 C Y P 1 1 B 2 , o gene responsável pela
aldosterona sintase através de vias de sinalização intracelular Urina
c o m u n s . O potássio estimula a síntese e liberação de aldosterona E m b o r a a excreção u r i n á r i a de u m h o r m ô n i o , o u de seus meta-
p o r meio do efeito de despolarização da m e m b r a n a que abre os bólitos, o u de ambos, não seja responsável pela q u a n t i d a d e t o t a l
canais de cálcio nas células adrenais. Isto ativa a sinalização dos de h o r m ô n i o secretada pela glândula, e m geral ela representa
mecanismos da célula c o m o a fosfolípase C , que leva a u m u m a boa aproximação da q u a n t i d a d e secretada d u r a n t e o p e r í o d o
a u m e n t o da síntese e liberação de aldosterona sintase. Os estí- da coleta de u r i n a . A s s i m , exames de u r i n a f o r n e c e m u m a boa
m u l o s p r i m á r i o s para liberação de renina são (1) u m a redução estimativa da atividade Secretora da glândula adrenal. E n t r e t a n t o ,
da pressão arteriolar renal, (2) pressão oncótica, (3) a u m e n t o d o fatores c o m o (1) coleta i n c o m p l e t a , (2) f u n ç ã o renal alterada c o m
i m p u l s o simpático para a mácula densa do aparelho justaglome- doença renal e (3) c o n t r i b u i ç ã o de mais de u m a glândula para a
r u l a r e (4) u m e q u i l í b r i o de s ó d i o negativo. O A C T H t a m b é m excreção total do mesmo h o r m ô n i o o u h o r m ô n i o s j u s t i f i c a m
aumenta a secreção de aldosterona. E n t r e t a n t o , o t a m a n h o e a u m a atenção especial na interpretação de valores u r i n á r i o s . A n á -
774 PARTE V Fisiopatologia

lises dos metabólitos u r i n á r i o s totais t a m b é m são questionáveis p o s s i b i l i t a m a coleta freqüente e fácil das amostras p o r m e i o de
p o r q u e r e f l e t e m apenas u m a fração dos h o r m ô n i o s esteróides técnicas não-invasivas, sem estresse. O exame c o m amostra da
ativos que são metabolizados através de vias diferentes. A quan- saliva é p a r t i c u l a r m e n t e ú t i l q u a n d o se avaliam as concentrações
tidade e a natureza destes metabólitos p o d e m , p o r sua vez, depen- h o r m o n a i s e m crianças que p o d e m ter aversão a picadas de
der não apenas da c o n d i ç ã o patológica, mas t a m b é m da ingestão agulhas. A dosagem de esteróides na saliva t a m b é m evita as difi-
de fármacos e da dieta. O s exames de urina, c o n t u d o , t ê m seu culdades em se garantir a conclusão de u m a coleta de u r i n a de
lugat i m p o r t a n t e na d e t e r m i n a ç ã o dos h o r m ô n i o s livres. Por 24 horas. Os pacientes e n c o n t r a m pouca d i f i c u l d a d e para salivar
e x e m p l o , demonstrou-se que o c o r t i s o l livre u r i n á r i o e a dosagem d i r e t a m e n t e nos tubos de coleta e p o d e m fornecer u m v o l u m e
de estradiol, estrona e testosterona livres na u r i n a f o r n e c e m adequado em a p r o x i m a d a m e n t e 10 m i n u t o s . Exames de amos-
informações clínicas q u e r e f l e t e m as taxas de p r o d u ç ã o destes tras coletadas em intervalos de 1 a 2 horas d u r a n t e os períodos
esteróides. e m que se está acordado f o r n e c e m u m a avaliação precisa das
concentrações endócrinas basais. Pelo fato de ser possível coletar
Sangue alíquotas menores (500 pi) e m intervalos de 15 o u até mesmo
A determinação dos esteróides n o soro o u plasma atualmente t e m 10 m i n u t o s , as amostras de saliva p o d e m ser mais úteis do que
sido a rotina aceita para d e t e r m i n a r as taxas de secreção dos este- as amostras de plasma ou u r i n a c o m protocolos de exame dinâ-
róides dos órgãos endócrinos que os produzem. Os imunoensaias micos de c u r t o prazo.
e os métodos cromatográficos f o r a m desenvolvidos para determi-
nar de maneira e f i c i e n t e todos os esteróides c l i n i c a m e n t e relevan- Esteróides Livres Versus Ligados
tes encontrados na circulação. A l é m disso, pelo fato de os exames A dosagem de h o r m ô n i o s esteróides em u m estado livre, separada
endócrinos baseaTem-se e m exames provocativos (exames de esti- de u m estado ligado à proteína, pode ser vantajosa e m determi-
mulação e supressão), as amostras de sangue para exame d i n â m i c o nadas situações. Por exemplo, q u a n d o o c o r r e m alterações nas
r á p i d o apresentam obtenção mais conveniente do que a u r i n a e proteínas de ligação que carregam o v o l u m e de esteróides na cir-
refletem u m p o n t o n o t e m p o mais Televante para o estado endó- culação, a interpretação da concentração circulante t o t a l daquele
c r i n o do paciente. A determinação de esteróides n o plasma, esteróide em particular pode ser significativamente i n f l u e n c i a d a
c o n t u d o , t ê m suas limitações devido às rápidas oscilações e pulsa- A l é m disso, é o h o r m ô n i o livre que se liga ao receptor esteróide
tilidade que o c o r r e m na secreção de concentrações d e h o r m ô n i o e p r o d u z o efeito b i o q u í m i c o . Assim, o c o n h e c i m e n t o da concen-
d u r a n t e o dia. Assim, u m a única amostra de plasma é representa- tração do h o r m ô n i o livre é desejável e m inúmeras situações clíni-
tiva apenas da concentração que existiu n o m o m e n t o da coleta da cas. O conceito de dosagem de h o r m ô n i o s livres esteve documen-
amostra. Portanto, a dosagem de alguns esteróides, como o cortisol tado na literatura durante m u i t o s anos c o m a u t i l i d a d e clinica do
livre, usando coletas de u r i n a programadas, t e m seu valor. cortisol livre u r i n á r i o . Outras aplicações i n c l u e m a dosagem de
As concentrações sanguíneas de c o r t i s o l são semelhantes testosterona livre e fracamente ligada n o exame clínico d o paciente
àquelas de A C T H , c o m concentrações episódicas e diurnas obser- que apresenta hirsutismo.
vadas d u r a n t e t o d o o dia. A concentração de sangue após as
2 0 horas em geral é a p r o x i m a d a m e n t e 5 0 % da concentração DISTÚRBIOS DO CÓRTEX ADRENAL
o b t i d a após as 8 horas. O a u m e n t o da secreção de c o r t i s o l é D i s t ú r b i o s d o córtex adrenal são classificados c o m o resultantes
observado em pacientes c o m estresse, após terapia c o m glicocor- de h i p o f u n ç ã o o u h i p e r f u n ç ã o .
ticóides, e na gravidez, estados de depressão, h i p o g l i c e m i a e
h i p e r t i r e o i d i s m o . Nos adultos, os valores de cortisol livre não
Hipofunção do Córtex Adrenal
d e p e n d e m de m a n e i r a significativa da idade o u do sexo. A meia-
A insuficiência adrenal e o hipoaldosteronismo são exemplos de
vida d o cortisol na circulação é de a p r o x i m a d a m e n t e 100 m i n u t o s .
condições clínicas que resultam de h i p o f u n ç ã o do córtex adrenal.
N o p e r í o d o após o n a s c i m e n t o , ocorre u m a u m e n t o t r a n s i t ó r i o
n o c o r t i s o l i m e d i a t a m e n t e após o p a r t o ; isto c seguido p o r u m
Insuficiência Adrenal
d e c l í n i o para u m a concentração abaixo daquela do sangue do
A i n s u f i c i ê n c i a adrenal é classificada c o m o p r i m á r i a , secundária
cordão u m b i l i c a l em 12 até 48 horas e depois p o r u m a u m e n t o
o u terciária (Tabela 40-3).
que se estabiliza c o m cerca de 1 semana de idade. A i n s u f i c i ê n c i a
A insuficiência adrenal primária, t a m b é m conhecida c o m o
renal exerce p o u c o efeito n o c o r t i s o l sérico, exceto que metabó-
doença de Addison, resulta de destruição o u disfunção progressiva
litos retidos p o d e m sofrer reação cruzada e m alguns exames
das glândulas adrenais causada p o r u m processo l o c a l de doença
diretos e, p o r t a n t o , causam u m a superestimativa significativa de
o u d i s t ú r b i o sistêmico ( Q u a d r o 40-1).' Pelo fato de t o d o o córtex
concentrações de cortisol.
ser a c o m e t i d o na insuficiência adrenal p r i m á r i a , todas as classes
de esteróides adrenais são deficientes. O i n í c i o de manifestações
Saliva clinicas e m geral é gradual e o grau e gravidade dos sintomas
E m geral, é possível m e d i r a m a i o r i a dos esteróides de interesse d e p e n d e m da extensão da insuficiência adrenal. Expressões pre-
c l í n i c o na saliva. 5 Para alguns esteróides, c o m o o cortisol, estriol coces o u brandas de insuficiência p r i m á r i a da adrenal p o d e m não
e progesterona, a dosagem da concentração salivar parece ser u m ser evidentes a menos que o paciente esteja sob estresse. A defi-
i n d i c a d o r confiável da concentração plasmática livre. Para o u t r o s ciência c o m p l e t a de glicocorticóides irá manifestar-se e m u m a
(p. ex., testosterona, 17-hidroxiprogesterona, estradiol e aldoste- variedade de formas, i n c l u i n d o (1) fadiga, (2) fraqueza, (3) perda
rona) a u t i l i d a d e clínica das dosagens salivares ainda não f o i de peso, (4) distúrbios gastrointestinais e (5) h i p o g l i c e m i a pós-
c o m p l e t a m e n t e estabelecida. p r a n d i a l . A deficiência de m i n e r a l o c o r t i c ó i d e s leva à desidrata-
Sugeriu-se que a dosagem dos esteróides salivares reflete a ção c o m hipotensão, h i p o n a t r e m i a e hipercalemia. A liberação
fração livre de esteróide (não ligado à proteína) n o sangue e p o d e hipofisária excessiva de A C T H e os peptídeos precursores rela-
fornecer informações semelhantes àquelas derivadas da dosagem cionados, não verificada pelo sistema de feedback negativo, p o d e
dos esteróides livres u r i n á r i o s . causar h i p e r p i g m e n t a ç ã o da pele e m e m b r a n a s mucosas p o r
A dosagem d o c o r t i s o l e da progesterona f o i d e t e r m i n a d a na m e i o da ação do h o r m ô n i o e s t i m u l a d o r de melanócitos nos
saliva. Os protocolos de amostragens da saliva são vantajosos pois melanócitos.
Distúrbios Adrenocorticais CAPÍTULO 40 775

TABELA 40-3 Insuficiência Adrenocortical

INSUFICIÊNCIA ADRENAL
Normal Primária Secundária Terciária

EXAMES DE TRIAGEM
ACTH plasmático (8:00h) 10-85 pg/mL Aumentado Normal ou reduzido Normal ou reduzido
Cortisol sérico (8:00h) 5-23 pg/dL Reduzido Normal ou reduzido Normal ou reduzido

EXAMES DESAFIADORES
Pico de cortisol cem estimulação de >20 jjg/dL <20pg/dL Qualquer Qualquer
ACTH rápida
Exame noturno com metirapona >7 ng/dL Não indicado . <7 M g/dL <7 M g/dL
ACTH plasmático com >150 pg/mL Não indicado 150 M g/dL 150pg/dL
11 -desoxiccrtisal plasmático

ACTH plasmático com exame de Não indicado Não indicado Resposta reduzida Resposta aumentada
estimulação com CRH

A C T H , hormônio adrenocar tico tráfico; C R H , hormônio liberador de cor ticotro fina.

Q U A D R O 4 0 - 1 | Causas de Insuficiência A d r e n a l Primária redução da capacidade para secretar A C T H (secundária) o u C R H


(terciária)." 5,10 E n t r e t a n t o , a causa mais c o m u m de i n s u f i c i ê n c i a
Doença auto-imune
terciária é a administração farmacológica crónica de glicocorticói-
• Esporádica
des q u e s u p r i m e a síntese de C R H . Isto leva a u m a redução t a n t o
• Síndrome auto-imune pcliglandular tipo I (doença de Addison, candidíase,
da liberação do A C T H c o m o da secreção de cortisol. As m a n i -
hipoparatireoidismo e insuficiência gonadal primária)
festações clínicas de insuficiência adrenal secundária e terciária
• Síndrome auto-imune poliglandular tipo li (doença de Addison,
são semelhantes àquelas da i n s u f i c i ê n c i a p r i m á r i a , exceto que a
hipotireoidismo primário, hipogonadismo primária, diabetes e anemia
h i p e r pigmentação não está presente e a hipotensão é menos
perniciosa)
grave; a deficiência de m i n e r a l o c o r t i c ó i d e s e o excesso de A C T H
Doença granulomatosa
• Tuberculose, histoplasmose, sarcoidose, infecções fúngicas e
não são observados na insuficiência adrenal secundária o u terci-
citomegaiovíms
ária. O teste de estimulação de A C T H t a m b é m é usado para
Infiltração neoplásica d e t e r m i n a r a i n s u f i c i ê n c i a adrenal em pacientes c o m insuficiên-
• Amilóide cia adrenal secundária e terciária.
• Hemocromatose O teste de estimulação c o m C R H é usado para diferenciar a
Adrenoieucodistrofias insuficiência adrenal terciária da secundária." 3 Aqueles c o m
Hipoplasia congênita da adrenal doença terciária apresentam u m a elevação n o A C T H c o m admi-
Síndromes de resistência ao ACTH nistração intravenosa de C R H . Aqueles c o m doença secundária
HIV apresentam apenas alterações m í n i m a s nas concentracões de
Irradiação abdominal ACTH.
Adrenalectomia bilateral A dosagem de auto-anticorpos adrenais - a n t i c o r p o s c o n t r a
Hemorragia intra-adrenal: infecção (causada per meningococos, a enzima 21-hidroxilase - m o s t r o u ser ú t i l na avaliação de pacien-
Pseudomona$ tes c o m suspeita de insuficiência supra-renal.
Anticoagulantes

Hipoatdosteronismo
A produção deficiente de aldosterona ocorre e m i n d i v í d u o s c o m
doença de A d d i s o n (Tabela 40-4). 1 Ela t a m b é m ocorre em pacien-
tes c o m (1) p r o d u ç ã o inadequada de r e n i n a pelo r i m , q u e leva a
A dosagem de A C T H basal e concentrações de cortisol, jun- deficiência secundária de aldosterona ( h i p o a l d o s t e r o n i s m o h i p o r -
tamente c o m exame de estimulação de A C T H , é recomendada reninêmico); (2) defeitos hereditários enzimáticos na biossintese
se Houver suspeita de insuficiência adrenal p r i m á r i a a p a r t i r da da aldosterona e (3) formas a d q u i r i d a s de deficiência p r i m á r i a de
anamnese e sintomas. As concentrações plasmáticas basais de aldosterona (terapia c o m h e p a r i n a e pós-cirutgia). As alterações
A C T H maiores que 150 p g / m L c o m concentrações séricas de metabólicas resultantes são hipercalemia e h i p o n a t r e m i a , fre-
c o r t i s o l menores q u e 10 H g / d L são diagnosticas de insuficiência q ü e n t e m e n t e c o m acidose h i p o c l o r ê m i c a . A depleção b r a n d a o u
adrenal. U m a resposta s u b n o r m a l de c o r t i s o l no exame de esti- m o d e r a d a de v o l u m e , f r e q ü e n t e m e n t e c o m hipotensão p o s t u r a l
m u l a ç ã o de A C T H sustenta o diagnóstico de insuficiência adrenal o u não provocada, t a m h é m p o d e ocorrer. O h i p o a l d o s t e r o n i s m o
p r i m á r i a . U m a resposta n o r m a l de c o r t i s o l à estimulação d o h i p o r r e n i n è m i c o t a m b é m f o i estabelecido ao se d e m o n s t r a r falha
A C T H estabelece que o córtex adrenal é capaz de liberar cortisol no a u m e n t o da r e n i n a e aldosterona plasmáticas, e m resposta à
de u m a f o r m a n o r m a l . U m a resposta s u b n o r m a l à estimulação estimulação c o m f u r o s e m i d a o u postura ereta. Este d i s t ú r b i o é
do A C T H sugere o diagnóstico de i n s u f i c i ê n c i a adrenal secundá- mais c o m u m em pacientes idosos e e m i n d i v í d u o s c o m diabetes
r i a o u terciária (Tabela 40-3). mel li tus. U m a f o r m a de r e n i n a alta f o i observada c o m menos
N a insuficiência adrenal secundária o u terciária, a p r o d u ç ã o f r e q u ê n c i a d o que a f o r m a de h i p o r r e n i n a .
inadequada de c o r t i s o l pode ser causada p o r processos destruti- O s pacientes c o m insuficiência adrenal p r i m á r i a e m geral
vos n o eixo h i p o t a l â m i c o - h i p o f i s á r i o q u e resultam e m u m a t a m b é m t ê m deficiência de aldosterona. A m a i o r parte dos endo-
776 PARTE V Fisiopatologia

TABELA 40-4 S í n d r o m e s de H i p o a l d o s t e r o n i s m o

Entidade Mecanismos Comentários

Doença de Addison Destruição difusa de córtex adrenal Incluindo zona glomerulosa


Tratamento com heparina Efeito direto da terapia com heparina Em gorai após tratamento prolongado
Após ressBcção de adenoma produtor Supressão de secreção de aldosterona no tecido cortical Pode ser evitado por tratamento com
de aldosterona normal pelo adenoma com recuperação tardia após cirurgia espircnclactona antes da cirurgia
Hipoaldosteronismo hiperreninêmico Lesão seletiva na zona glomerulosa renal durante episódios Secreção de cortisol é íntegra; apresenta-se
hipotensos em pacientes criticamente doentes com hipercalemia nos pacientes em unidadfes
tratamento intensivo
Hiperplasia congênita de adrenal com Bloqueio enzimático na conversão de 18-OHp corticosterona
deteito de metiloxidase tipo II em aldosterona
Pseudo-hipoaldosteronismo Responsividade reduzida à aldosterona causada por defeito Concentrações de aldosterona são mais altas
no receptor do mineralocorticcide
Hipoaldosteronismo hiporreninêmico Baixa renina que reduz secundariamente a secreção Observada em diabéticos e pacientes Idosos
de aldosterona com insuficiência renal branda

crinologistas, contudo, não conduz exames para confirmar a


TABELA 4 0 - 5 Incidência de Manifestações Clínicas na
deficiência de aldosterona nestes pacientes.
Síndrome de C u s h i n a

Manifestação Clínica Incidência (%j

Hiperfunção do Córtex Adrenal Obesidade 90


A hiperfunção do cÓTtex adrenal produz as síndromes clínicas de Hipertensão 85
(1) excesso de glicocorticóides, (2) excesso de mineralocorticóides Hiperglicemia e redução da tolerância à glicose 80
e (3) excesso de andrógenio. 1 ^ Disfunção menstrual e sexual 76
Hirsutismo, acne, pletora 72
Estrias, pele atrófica 67
Excesso de Cortícosteróides (Síndrome de Fraqueza, miopatia proximal 65
Osteoporose 55
Cushing)
Fácil formação de hematomas 55
A síndrome de Cushing é resultado de produção excessiva autô-
Distúrbios psiquiátricos 50
n o m a de cortisol que leva a sintomas clássicos típicos deste dis-
Edema 46
túrbio. 1,10 O quadro clínico i n c l u i (1) obesidade do tronco, (2)
Poliúria, poliíagia 16
face de lua cheia, (3) hipertensão, (4) hirsutismo, (5) alcalose
Alterações oculares e exoftalmia 8
metabólica hipocalêmica, (6) intolerância a carboidratos, (7) dis-
túrbios da função reprodutiva e (8) sintomas neuropsiquiátricos.
A incidência de manifestações clínicas na síndrome de Cushing
é mostrada na Tabela 40-5. Freqüentemente, a causa é iatrogê- TABELA 40-6 Causas de S í n d r n m e de C u s h i n g
nica, resultante da terapia excessiva com esteróides exógenos. Os
Espontânea
d i s t ú r b i o s e n d ó g e n o s que c a u s a m hipersecreção de cortisol e
síndrome de Cushing são classificados como dependente de A C T H Distúrbio Subjacente Incidência (%)

ou independente de A C T H {Tabela 40-6). A doença de Cushing é Dependente de ACTH


a forma da síndrome de Cushing dependente da hipófise que é Coença de Cushing 68
responsável por 70% dos casos observados na prática clínica. Na Tumor secretor de ACTH ectópico 15
doença de Cushing, a hipersecreção de A C T H por u m microa- Independente de ACTH
denoma hipofisário é o defeito primário q u e leva à hiperplasia Adenoma 5
adrenal bilateral e à superprodução de cortisol. N a sindrome de Carcinoma 3
A C T H ectópico, os tumores não-endócrinos (p. ex., tumores de Hiperplasia adrenal nodular g
pulmão, intestino, ovário e carcinóides) desenvolvem a capaci- Tumor de resquícios adrenocorticais <1

dade de secretaT A C T H , o que resulta em (1) hiperplasia adrenal, A C T H , hormônio crrírenocm11COETD/ÍCO.


(2) secreção desregulada de cortisol e (3) supressão da atividade
hipofisária de A C T H . Na forma da síndrome de Cushing asso-
ciada a doença adrenal primária, como o adenoma adrenocorti- Exames para Triagem de Síndrome de Cushing
cal ou carcinoma (Tabela 40-7), a secreção de concentrações A síndrome de Cushing é u m distúrbio incnirmm, mas muitos
aumentadas de cortisol suprime tanto a síntese de C R H como a sinais e sintomas usuais desta síndrome são observados em
secreção de A C T H . Isto resulta em atrofia de tecido supra-renal pacientes com função adrenal normal. O diagnóstico inicial de
não-tumoral. As neoplasias endócrinas múltiplas tipo 1 (MEN-1) síndrome de Cushing, particularmente na doença branda ou
e ripo 2 (MEN-2) também são causas de síndrome de Cushing. precoce, depende de evidências laboratoriais de produção exces-
M E N - 1 resulta em síndrome de Cushing através de hipersecreção siva e autônoma de cortisol. 6,710 Dois exames de triagem simples
de A C T H a partir de u m microadenoma na hipófise ou de u m estão disponíveis para detectar a síndrome de Cushing (Tabela
t u m o r ectópico secretor de A C T H do pâncreas ou carcinoma 40-7). U m é a dosagem do cortisol livre na urina de 24 horas.
medular de tireóide. Sob circunstâncias normais, menos de 2% do cortisol secretado
Distúrbios Adrenocorticais CAPÍTULO 40 777

i
T A B E L A 4 0 - 7 I Diagnóstico Diferencial na Síndrome de Cushing

Síndrome de Síndrome de ACTH


Normal Cushing Tumor Adrenal Ectópico

EXAMES DE TRIAGEM
Cortisol livre na urina <100 ^g/dia >120 pg/dia >120 pg/dia >120 jug/día
Exame noturno de supressão com
dexametasona
Cortisol sérico (8:00 h) <3 ng/dL >10 ng/dL >10 juig/dL >10 ng/dL

EXAMES DE DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL


ACTH plasmático (8:00h) 10-85 pg/mL 40-260 pg/mL <10 pg/mL Normal a grandemente
elevado
Cortisol sérico (S.OQh) 5-23 ng/dL Normal Normal ou elevado Normal ou elevado
Exame noturno de supressão com alta
dose de dexametasona
Cortisol sérico (8.00 h) 50% de supressão Maior parte Falha em suprimir Falha em suprimir
suprimida
TC ou RNM
Das glândulas adrenais - - + -

Da glândula hipotisária - + - -

De outros locais - - - +
Exame de estimulação de CRH com
amostragem venosa de SPI
Razão entre ACTH na veia do SPI e Não indicado >3 <3 <3
o da veia periférica

ACTH, hormônio adrenocmticoiráfico, CRH, fiormctiio Iibéraáor de anticocrofiria


; SPI, SÉÍO Jjêiroso inferior-,
R N M , Tessonáflciít nuclear magnética.

aparece na u r i n a como cortisol livre. Em geral, uma concentração mente elevadas em pacientes com síndrome de Cushing e hiper-
de cortisol livre na urina de 24 horas menor que 100 p g / d i a plasia macronodular. As concentrações plasmáticas de A C T H
exclui o diagnóstico de síndrome de Cushing, e concentrações com freqüência são acentuadamente elevadas em pacientes com
maiores que 120 p g / d i a sugerem seu diagnóstico {Tabela 40-7). tumores não-endócrinos secretores de A C T H porque alça de
A acurácia diagnostica clínica é de mais de 9 0 % quando o exame feedback negativo n o r m a l não responde nesta situação. As con-
é realizado de maneira adequada. U m a taxa de excreção elevada centrações plasmáticas de A C T H maiores que 300 pg/mL em
documenta superprodução de coítisol. Enrreranto, observou-se geral são sugestivas de n i m o r não-endócrino secretor de A C T H ,
que (1) momento inadequado da coleta de amostra de urina O exame de supressão com alta dose de dexametasona é útil
(mais de 24 horas), (2) uso concomitante de u m diurético, (3) para diferenciar a síndrome de Cushing causada por tumores
ingestão de alto teor de sal, (4) depressão e (5) estresse causam adrenais e tumores não-endócrinos que secretam A C T H da
resultados falsos-positivos. As dosagens de cortisol na urina não doença de Cushing hipofisária. I 0 Alguns pacientes com doença de
estabelecem o diagnóstico, e u m resultado anormal deve ser Cushing apresentam resultados fa ls o-neg ativos com supressão
acompanhado por repetição do exame o u teste provocativo. com baixa dose de dexametasona. Os resultados falso-negativos
O u t r o exame de triagem confiável e conveniente para sín- dos exames sao avaliados administrando-se 1 mg (baixa dose) o u
drome de Cushing é o exame de supressão noturna com baixa 8 mg (alta dose) de dexametasona à meia-noite (exame de supres-
dose de dexametasona (1 m g à meia-noite), com dosagem de são noturna com dexametasona). O soro é coletado às 8 horas
cortisol sérico (suprimido para menos de 5 p g / d L [140 n m o l / L ] ) para dosagem de cortisol. Nos pacientes com tumores adrenais e,
às 8 horas da manhã seguinte. com poucas exceções, naqueles pacientes com tumores não-endó-
O exame do r i t m o circadiano de secreção de cortisol também crinos que secretam A C H T , a supressão não ocorre após adminis-
tem sido usado para fazer a triagem para síndrome de Cushing. tração de alta dose de dexametasona. A maioria dos pacientes com
A diferença da manhã para a noite é perdida em pacientes com hiperplasia macronodular não apresenta supressão normal no
síndrome de Cushing, de forma que as concentrações noturnas exame de alta dose com os exames noturnos n e m com os de
são inapropriadamente elevadas acima do normal. múltiplas doses. Eles, em geral, apresentam concentrações men-
suráveis de A C T H . C o m o exame de alta dose, menos de 10%
Diagnóstico Diferencial da Síndrome de Cushing dos pacientes com doença de Cushing falham em mostrar algum
Os exames de triagem discutidos anteriormente sugerem sín- grau de supressão, embora a maioria apresente apenas 50% a 6 0 %
drome de Cushing endógena. O exame mais definitivo deve de supressão. Os resultados falso-positivos ocorreram nos pacien-
então ser realizado para determinar a origem da superprodução tes com clearance acelerado de dexametasona, assim como em
do cortisol, quando observada nos exames de triagem (Tabela pacientes que recebem fármacos indutores de enzima, como a
40-7). As concentrações plasmáticas de A C T H são baixas nos fenitoína. Nestes pacientes, as dosagens de dexametasona plasmá-
pacientes com tumores supra-renais e normais ou moderada- tica são úteis para medir a concentração sanguínea efetiva.
778 PARTE V Fisiopatologia

O teste de estimulação de C R H p r o d u z respostas exageradas


Hiperplasia Congênita de Adrenal (Síndrome
de A C T H o u cortisol, o u de ambos, e m cerca de 9 0 % dos pacien-
Adrenogenital)
tes c o m doença de Cushing. 3 Respostas precárias o c o r r e m e m
A biossíntese de c o r t i s o l e aldosterona a p a r t i r d o colesterol
pacientes c o m rumores adrenais e na m a i o r i a dos pacientes c o m
requer a ação de enzimas específicas n o córtex adrenal para
t u m o r e s não-endócrinos secretores de A C T H (em geral aqueles
m o d i f i c a ç ã o q u í m i c a e i n t r o d u ç ã o dos diferentes grupos f u n c i o -
que t ê m concentrações basais elevadas de A C T H plasmático). Os
nais. A H C A 1 é caracterizada p o r ausência o u deficiência congê-
pacientes c o m depressão e anorexia nervosa e m geral não e x i b e m
n i t a de u m a o u mais enzimas biossintétícas que levam à biossín-
respostas exageradas de A C T H c o m injeções de C R H . O teste de
tese do cortisol. C o m o observado na Figura 40-3, pode ocorrer
C R H não tem grande v a n t a g e m sobre o exame de supressão c o m
u m defeito o u deficiência e m qualquer u m a o u e m todas as
alta dose de dexametasona. Se a causa da s í n d r o m e de C u s h i n g
q u a t r o enzimas p r i n c i p a i s da biossíntese a d r e n o c o r t i c ó í d e . C o m o
for incerta, dosagem de A C T H a p a r t i r de amostras da veia
resultado, a biossíntese de cortisol é prejudicada, levando a u m
petrosa i n f e r i o r antes e depois da estimulação c o m C R H pode
a u m e n t o c o m p e n s a t ó r i o na liberação de A C T H , O A C T H então
ser ú t i l .
e s t i m u l a a biossíntese de esteróides até n o p o n t o d o b l o q u e i o da
As concentrações de andrógenios adrenais e D H E A - S plas-
enzima.
mática são medidas n o diagnóstico diferencial de h i r s u t i s m o sem
O t e r m o H C A é usado para denotar a apresentação congênita
s í n d r o m e de Cushing. 1 , 1 0 Por exemplo, em pacientes c o m sín-
deste d i s t ú r b i o (em geral ao nascimento) e a hiperplasia adreno-
d r o m e de C u s h i n g , as concentrações plasmáticas de D H E A - S e m
c o r t i c a l que resulta da resposta compensatória de A C T H à defici-
geral são n o r m a i s o u m o d e r a d a m e n t e elevadas ( D H E A - S plasmá- ência de cortisol. O t e r m o " s í n d r o m e adrenogenital" t a m b é m é
tica a p r o x i m a d a m e n t e de 5 n g / m L ) . Aqueles pacientes c o m usado para descrever este distúrbio, pois ele afeta a genitália e as
a d e n o m a adrenal e m geral apresentam concentrações baixas de características sexuais secundárias d o recém-nascido. Nas meninas,
D H E A - S ajustadas à idade. A s concentrações para D H E A - S nos p a r t i c u l a r m e n t e , o diagnóstico de H C A n o período n e o n a t a l
pacientes c o m t u m o r e s não-endócrinos que secretam A C T H c o m u m e n t e é sugerido p r i m e i r a m e n t e pela presença observada de
v a r i a m de n o r m a i s a elevadas. E m pacientes c o m hiperplasia genitália ambígua. Nos m e n i n o s , a a n o r m a l i d a d e pode não ser
c o n g ê n i t a de a d r e n a l ( H C A ) , andrógenios adrenais são s u p r i m i - suspeitada até que sinais de puberdade precoce o u crescimento
dos n o r m a l m e n t e c o m administração de 0,75 m g de dexameta- acelerado estejam presentes. Pelo fato de ter-se observado o com-
sona p o r 2 a 3 semanas, mas a supressão não ocorre naqueles p r o m e t i m e n t o da p r o d u ç ã o de aldosterona c o m o a c ú m u l o e
pacientes c o m t u m o r e s adrenais e nos t u m o r e s não-endócrinos desvio de esteróides intermediários para outras vias, hipertensão
que secretam A C T H . e perda de sal t a m b é m p o d e m estar presentes. A s í n d r o m e adre-
A l é m do exame de supressão e estimulação, m é t o d o s de n o g e n i t a l é reconhecida c o m maior freqüência nos adultos, sendo
localização a n a t ô m i c a devem ser usados para d o c u m e n t a r o que as pessoas acometidas apresentam anormalidades sutis na
d i a g n ó s t i c o da s í n d r o m e de C u s h i n g . A t o m o g r a f i a c o m p u t a - época da puberdade, as quais passam despercebidas. Nas mulheres
d o r i z a d a ( T C ) das g l â n d u l a s adrenais t e m sido ú t i l na localiza- adultas, a apresentação clínica pode ser indistinguível da sín-
ção de (1) t u m o r e s adrenais, (2) h i p e r p l a s i a m a c r o n o d u l a r e (3) d r o m e de ovário policístico (SOPC) o u h i r s u t i s m o idiopático. 1
h i p e r p l a s i a b i l a t e r a l das glândulas adrenais. A T C , e m c o m b i - A deficiência da enzima 21-hidroxilase é a f o r m a mais c o m u m
nação c o m ressonância nuclear m a g n é t i c a ( R N M ) da g l â n d u l a de H C A , sendo que mais de 9 0 % dos casos são causados pela
h i p ó f i s e , t e m sido usada para ajudar a detectar m i c r o a d e n o m a s deficiência de 21-hidroxilase. U m a deficiência de ] ] p-fiidroxilose
hipofisários. é a segunda f o r m a mais c o m u m de H C A , c o m u m a i n c i d ê n c i a
de 1 p o r 100.000 nascimentos, e está associada a (1) manifesta-
ções de virilização, (2) concentrações elevadas de androstene-
Condições que Mimetizam a Síndrome de Cushing d i o n a plasmática e D H E A - S e (3) hipertensão. Observou-se que
Sabe-se que o uso abusivo de álcool i n d u z u m a "pseudo-síndrome u m a deficiência de 3$-h.idroxiesteróiàe d es i droge nase-isomerase leva a
de C u s h i n g " que m i m e t i z a as manifestações clínicas e b i o q u í m i - u m a elevação da razão entre 1 7 a - h i d r o x i p r e g n e n o l o n a e 17 a -
cas da doença real. A s anormalidades são todas reversíveis q u a n d o hidrcoc (progesterona e a u m a u m e n t o da razão entre D H E A e
o uso abusivo de álcool pelo paciente é e l i m i n a d o . O m é d i c o a n d r o s t e n e d i o n a . Nas formas graves deste d i s t ú r b i o raro, os lac-
deve, p o r t a n t o , usaT j u l g a m e n t o considerável para detectar a tentes d o sexo f e m i n i n o apresentam p s e u d o - h e r m a f r o d i t i s m o , e
causa de s í n d r o m e de C u s h i n g antes da terapia. O vírus da i m u - os lactentes d o sexo m a s c u l i n o apTesentam-se c o m masculiniza-
nodeficiência h u m a n a ( H I V ) , a anorexia nervosa e a depressão ção i n c o m p l e t a .
estão associados a concentrações elevadas de c o r t i s o l sérico, e os U m a redução na conversão de 17-hidroxípregnenolona a
pacientes c o m estes distúrbios p o d e m apresentar exames de D H E A e de 17-hidroxiprogesterona a androstenediona Tesulta de
supressão n o t u r n a c o m baixa dose de dexametasona positivos. u m a deficiência de OJ7,20-iiase/17a-Kidroxilase. U m defeito d o
E n t r e t a n t o , as manifestações clínicas dos pacientes c o m H I V e c o m p l e x o desta enzimático nas gônadas das mulheres genctípicas
anorexia nervosa não são típicas daqueles c o m s í n d r o m e de resulta e m falha n o desenvolvimento puberal; u m defeito nos
C u s h i n g . A dosagem de c o r t i s o l livre u r i n á r i o e o cortisol plas- h o m e n s genotípicos causa p s e u d o - h e r m a f r o d i t i s m o . A síntese de
mático c o m teste de supressão de dexametasona m e l h o r a m o cortisol, andrógenios e estrógenos é reduzida, e a p r o d u ç ã o de
valor p r e d i t i v o para diagnóstico da s í n d r o m e de C u s h i n g e da progesterona, corticosterona e D O C é aumentada. N a f o r m a
depressão. 10 c o m p l e t a , a hipertensão e a hipercalemia c o m u m a ausência de
Os pacientes obesos t a m b é m se apresentaram c o m manifes- d e s e n v o l v i m e n t o sexual são observadas e m meninas, e n q u a n t o o
tações clínicas que m i m e t i z a m a verdadeira s í n d r o m e de C u s h i n g . p s e u d o - h e r m a f r o d i t i s m o masculino é observado em m e n i n o s . O
A s manifestações da s í n d r o m e de C u s h i n g que o c o r r e m em i n d i - diagnóstico em geral é feito n a época da puberdade, q u a n d o os
víduos n o r m a i s obesos i n c l u e m (1) obesidade de t r o n c o , (2) pacientes apresentam-se c o m h i p o g o n a d i s m o associado a hiper-
estrias e (3) excreção de concentrações elevadas de 17-hidroxies- tensão e hipocalemia.
teróides. O c o r t i s o l livre u r i n á r i o , c o n t u d o , é n o r m a l n o indiví- A efetividade de u m programa de t r a t a m e n t o para H C A é
d u o obeso. Isto efetivamente diferencia os i n d i v í d u o s n o r m a i s julgada c o m base na presença o u ausência de crescimento linear
daqueles c o m a verdadeira s í n d r o m e de C u s h i n g . n o r m a l , desenvolvimento sexual n o t m a l e supressão de concen-
Distúrbios Adrenocorticais CAPÍTULO 40 779

trações anormais de esteróides n o sangue e na u r i n a n o intervalo de peso. N ã o h o u v e relatos de tumores virilizantes menores que
de referência. 1 c m de diâmetro. Os carcinomas e m geral pesam mais de 3 0 g.

Tumores Adrenais Excesso de Mineralocorticóides


As concentrações plasmáticas de D H E A - S , D H E A , androstene- (Hiperaldosteronismo)
d i o n a e testosterona são elevadas em pacientes c o m adenomas O h i p e r a l d o s t e r o n i s m o , c o m u m e n t e referido à s í n d r o m e de
adrenais virilizantes e s í n d r o m e de C u s h i n g A s concentrações C o n n , é u m a s í n d r o m e associada à hipersecreção d o p r i n c i p a l
plasmáticas de D H E A t a m b é m p o d e m ser elevadas nas mulheres m i n e r a l o c o i t i c ó i d e , aldosterona (Tabela 40-8). Os dois tipos de
c o m tumores ovarianos virilizantes. A s T C , j u n t a m e n t e c o m aldosteronismo são o primário e o secundário
R N M , são úteis para diferenciar os locais dos tumores. Os ade-
nomas que secretam aldosterona, referidos à s í n d r o m e de C o n n , Aldosteronismo Primário
são t i p i c a m e n t e m i c r o a d e n o m a s pequenos encontrados na zona N o aldosteronismo' primário, a p r o d u ç ã o excessiva de aldosterona
glomerulosa que hipersecteta aldosterona, p r o d u z i n d o a sín- origina-se do i n t e r i o r da glândula adrenal; f o i descrito pela pri-
d r o m e caracterizada p o r hipertensão c o m baixa renina. meira vez poT C o n n em 1955 e é caracterizado p o r u m a concen-
Os carcinomas adrenais são raros, c o m u m a incidência de tração plasmática elevada de aldosterona j u n t a m e n t e c o m hiper-
apenas 1 p o r m i l h ã o da população, e p o d e m causar apenas víri- tensão e hipocalemia. A s u p e r p r o d u ç ã o de aldosterona pode ser
lização e não as manifestações típicas da s í n d r o m e de C u s h i n g . causada p o r (1) secreção a u t ô n o m a e i n a p r o p r i a d a de aldosterona
As mulheres são mais c o m u r a e n t e acometidas do que os h o m e n s p o r u m adenoma de u m a g l â n d u l a adrenal [adenoma adrenal
em u m a p r o p o r ç ã o de 2,5:1. A s concentrações plasmáticas de produtor de alÂosterona (APA) o u síndrome de ConnJ, (2) hiperplasia
D H E A - S , D H E A e a n d r o s t e n e d i o n a são acentuadamente eleva- de células p r o d u t o r a s de aldosterona e m ambas as glândulas
das em pacientes c o m carcinoma adrenal j u n t a m e n t e c o m con- [hiperplasia adrenal idiopática ( H A I ) ] , (3) c a r c i n o m a adrenal p r o d u -
centrações elevadas de cortisol. A s concentrações de D H E A - S t o r de aldosterona o u (4) d i s t ú r b i o f a m i l i a r raro c o n h e c i d o c o m o
f r e q u e n t e m e n t e excedem 10 | i g / m L em pacientes q u e se apresen- aldosteronismo sucessível por glicocorticóides. As manifestações clíni-
t a m c o m carcinoma adrenal e e m geral são diagnosticas deste cas do a l d o s t e r o n i s m o p r i m á r i o em geral estão relacionadas c o m
mal. A l t a s doses de glicocorticóides não s u p r i m e m as concentra- as conseqüências da superprodução de aldosterona. Elas i n c l u e m
ções elevadas de a n d r ó g e n i o . (1) a u m e n t o da retenção de sódio p o r m e i o dos efeitos da aldos-
Os carcinomas adrenocorticais femimlizantes t a m b é m são terona n o m a n e j o t u b u l a r renal do sódio, (2) expansão do v o l u m e
raros. El es resultam em elevaçao das concentrações plasmáticas de l í q u i d o extracelular e (3) a u m e n t o da secreção t u b u l a r de
de (1) D H E A - S , (2) D H E A , (3) a n d r o s t e n e d i o n a , (4) estrona e potássio e íons h i d r o g ê n i o . A h i p o c a l e m i a e a alcalose metabólica
(5) estradiol. As concentrações séricas de c o r t i s o l p o d e m ser o c o r r e m em conseqüência de u m a depleção r e n a l progressiva de
n o r m a i s o u elevadas naqueles pacientes c o m s í n d r o m e de potássio corporal. C o m o conseqüência da retenção de sódio, há
C u s h i n g . A ginecomastia e a disfunção sexual o c o r r e m e m u m a modesta expansão do v o l u m e de l í q u i d o extracelular e u m
h o m e n s , e a pseudopuberdade precoce, e m mulheres. A p r o d u - a u m e n t o da pressão arterial.
ção de h o r m ô n i o esteróide falha em d i m i n u i r n o r m a l m e n t e após
o t r a t a m e n t o c o m dexametasona.
Aldosteronismo Secundário
Tumores Adrenocorticais Não-Funcionais N o aldosteronismo secundário, u m e s t í m u l o fora da glândula adrenal
A p r o x i m a d a m e n t e 2 % da população geral t ê m u m t u m o r adrenal; ativa o sistema renina-angiotensina.
a m a i o r i a destes tumores é n ã o - f u n c i o n a l e algumas vezes são A interação da r e n i n a , angiotensina e aldosterona é i m p o r -
chamados de incidentalomas. Eles são encontrados q u a n d o se tante na regulação do v o l u m e de l í q u i d o extracelular, pressão
realizam exames de T C de abdome, que são capazes de detectar arterial e e q u i l í b r i o de íons sódio e potássio. U m a m u d a n ç a e m
c o m facilidade tumores pequenos, de 1 c m de d i â m e t r o o u 5 g u m a destas variáveis leva a alterações nas outras.

TABELA 40-8 Diagnóstico Diferencial de Hiperaldosteronismo

Renina Plasmática Aldosterona Plasmática Pressão Arterial Potássio Sérico

Aldosteronismo primário Baixa Alta Alta Baixo


Hipertensão secundária
Distúrbio edematoso Alta Alta Normal Baixo
Hipertensão maligna Alta Aita Alta Baixo
Hipertensão renovascular Normal ou alta Normal ou alta Alta Normal ou baixo
Tumores secretores de renina Alta Aita Alta Normal ou baixo
HCA (deficiência de 11 e Baixa Baixa Alta Baixo
17-niüroxiiase)
Síndrome de Cushing Normal ou baixa Normal ou baixa Alta Baixo
Síndrome de Liddle Baixa Baixa Alta Baixo
Síndrome de Bartter Alta Alta Normal ou baixa Gaixo
Ingestão de licorice Baixa Baixa Alta Baixo
Hipertensão essencial com baixa renina Baixa Normal ou baixa Alia Normal
Ingestão de mineralocorticóides exógenos Baixa Baixa Alta Baixo

HCSR, fnfwfjííisúi adrenal congênita.


780 PARTE V Fisiopatologia

O hiperaldosteronismo secundário é suspeito em pacientes renal de potássio, o diagnóstico de aldosteronismo não precisa
com depleção de volume, edema Ê alcalose hipocalêmica. As ser considerado posteriormente. 2 1 0
dosagens das atividades de renina e aldosterona raramente são N o aldosteronismo p r i m á r i o , a baixa atividade de renina e a
necessárias nestes casos. Suas dosagens têm importância inesti- alta concentração de aldosterona são esperadas. M u i t o s outros
mável, contudo, na investigação de distúrbios primários no fatores, contudo, i n f l u e n c i a m a secreção de renina e aldosterona
sistema renina-angiotensina-aldosterona, na avaliação de estenose e estes fatores têm de ser reconhecidos e compreendidos antes
da artéria renal e na gênese e manutenção da hipertensão arte- do exame. Pelo fato de fármacos, como os inibidores da E C A ,
rial. betabloqueadores e espironolactona alterarem a liberação de
renina, os pacientes devem suspender estes medicamentos por
Diagnóstico Laboratorial várias semanas antes de se determinar a razão entre atividade de
A hipocalemia é o p r i n c i p a l achado clínico que indica a presença aldosterona plasmática/renina plasmática. O uso de u m i n i b i d o r
de aldosteronismo p r i m á r i o em u m paciente c o m hipertensão da E C A como o captopril também foi empregado para o diag-
diastólica. 2 Para confirmar o diagnóstico, é necessário demonstrar nóstico de aldosteronismo p r i m á r i o . E m indivíduos que são nor-
(1) hipossecreção de renina que não é corrigida de maneira motensos ou têm hipertensão essencial, a inibição aguda da E C A
apropriada durante a depleção de v o l u m e e (2) hipersecreção de reduz a produção de aldosterona mediada pela angiotensina, e a
aldosterona que falha em s u p r i m i r de maneira apropriada durante produção a u t ô n o m a de aldosterona a partir de u m adenoma
a expansão de volume. A Figura 40-6 traz uma sugestão de p r o d u t o r de aldosterona não é afetada pelo i n i b i d o r da E C A .
esquema para avaliar pacientes com suspeita de excesso de mine- A determinação da responsividade da renina plasmática,
ralocorticóides. contudo, não é suficiente para diagnosticar o aldosteronismo
A maioria dos pacientes c o m superprodução autônoma de p r i m á r i o , porque a atividade da renina plasmática suprimida
aldosterona é hipocalêmica. Entretanto, a maioria dos pacientes (ARP) t a m b é m ocorre e m cerca de 2 5 % dos pacientes c o m hiper-
c o m hipocalemia não tem aldosteronismo p r i m á r i o . N o hiperal- tensão essencial. E possível diferenciar aldosteronismo p r i m á r i o
dosteronismo, a excreção urinária de potássio é inapropriada- de outros estados hipermineralocorticóides c o m base na secreção
mente alta, e u m potássio de urina aleatória menor do que 30 inapropriada de aldosterona. A demonstração de uma concentra-
m m o l / L em geral é indicativo de aldosteronismo p r i m á r i o ou ção elevada de aldosterona no sangue o u u r i n a em u m paciente
algum tipo de distúrbio com excesso de mineralocorticóides. Se c o m uma concentração plasmática de renina inequivocamente
ficar comprovado que a hipocalemia é causada por perda não- suprimida (razão aldosterona plasmática/renina plasmática >50)

Hipertensão com hipocalemia

I
Dosagem de potássio na urina

I
>30 mmol/L <30 mmol/L
Excesso de Mineralocorticóides Sam Excesso de
Mineralocorticóides

Dosagem de ARP (ambulatário ou após


estimulação com furosemida)

ARP alta na linha de ARP baixa na linha de base


base Nenhuma estimulação
Resposta estimulada Excesso de Mineralocorticóides Primários
Aldosteronismo
Secundário
Dosagem de aldosterona no sangue ou na urina

Aldosterona alta na linha de base Aldosterona normal ou baixa na linha de base


Falha em suprimir com solução salina, fludrocortisona ou captopril Hipertensão Essencial com Baixa Renina
Aldosteronismo Primário Tumores Produtores de
•esoxicortioosteróide, Mineralocorticóides
Exógenos, Ingestão de Licorice

Dosagem de aldosterona plasmática após adoção de postura ereta


Dosagem de 1SJ3-OH plasmático

Nenhuma resposta ou Aumento da aldosterona


queda na aldosterona 18(3-OH normal
iap-OH elevado Hiperplasia
Adenoma

Figura 40-6 Esquema para exame laboratorial de suspeita de aldosteronismo que causa hipertensão.
ARP, atividade de renina plasmática; JSp-OH, 183-hidrcxicorticasterona.
Distúrbios Adrenocorticais CAPÍTULO 40 781

é evidência suspeitável de aldosteronismo p r i m á r i o . Pelo fato de m e n t e após depleção de sódio, t a m b é m é p r e d i t i v a de boa res-
a h i p o c a l e m i a ter u m efeito supressivo na secreção de aldoste- posta à cirurgia em 9 0 % dos casos.
rona, o déficit de potássio deve ser substituído antes da realização
das dosagens de aldosterona. Para estabelecer a a u t o n o m i a da EXAME DO ESTADO FUNCIONAL DO CÓRTEX
aldosterona, o m é d i c o p o d e tentar s u p r i m i r a produção de aldos- ADRENAL
terona c o m r á p i d a expansão de v o l u m e usando u m rnineralocor-
O estado f u n c i o n a l do eixo hipotalámico-hipofisário-adrenal é
ticóide p o t e n t e o u captopril. A falha em s u p r i m i r a aldosterona
avaliado pela dosagem de A C T H e adrenocorticosteróides (como
usando estas manobras c o n f i r m a o diagnóstico de aldostero-
o cortisol e a aldosterona) n o sangue sob condições basais e esti-
nismo primário.
muladoras. E n t r e t a n t o , é p r o b l e m á t i c o confiar nas concentrações
U m a vez estabelecido o diagnóstico de aldosteronismo p r i m á -
h o r m o n a i s basais para estabelecer a presença de distúrbios corti-
r i o , é necessário d i s t i n g u i r entre A P A e H A I bilateral. Esta dife-
cais adrenais devido à natureza secretora episódica e circadiana
renciação é v i t a l p o r q u e a m a i o r i a dos pacientes c o m adenomas
dos h o r m ô n i o s envolvidos n o eixo hipotalâmico-hipofisário-
adrenais responde de maneira positiva à retirada cirúrgica d o
adrenal. O exame d i n â m i c o deste eixo ajuda a d e f i n i r anormali-
t u m o r . Os pacientes c o m hiperplasia adrenal não r e s p o n d e m e
dades que não são refletidas na secreção basal de h o r m ô n i o s .
são tratados clinicamente. A localização usando técnicas de
i m a g e m t e m sido ú t i l . I n ú m e r o s indícios b i o q u í m i c o s t a m b é m
a j u d a m n o diagnóstico diferencial. A hípersecieção de aldoste-
Função do Corticosteróide
r o n a e a supressão de r e n i n a plasmática em geral são maiores
Concentrações Basais de Peptídeo e Hormônios
c o m adenomas adrenais. A p ó s a depleção de sódio o u após 2 a Esteróides
4 horas em postura ereta, os pacientes c o m A P A em geral não A secreção episódica e a variação circadiana l i m i t a m a acurácia
apresentam alterações o u queda paradoxal na aldosterona plas- diagnostica clínica das concentrações do cortisol sérico basal. As
mática. Os pacientes c o m H A I tipicamente apresentam u m concentrações séricas de cortisol são mais altas nas primeiras
a u m e n t o da aldosterona plasmática. As concentrações plasmáti- horas da m a n h ã e v a r i a m de 5 a 25 (J.g/dL entre 4 e 12 horas. Os
cas elevadas dos substratos precursores de aldosterona, c o m o valores n o f i n a l da tarde são cerca da metade das concentrações
18-hidroxicorticosteróide (>85 n g / d L ) , são observados na m a i o r i a da m a n h ã e freqüentemente são menores que 5 ( i g / d L entre 2 2
dos pacientes c o m A P A , mas não naqueles c o m H A I . e 2 horas. O cortisol sérico c o m b i n a d o c o m A C T H plasmático
m e l h o r a a acurácia diagnostica dos valores basais.
O cortisol livre u r i n á r i o o b t i d o de u m a coleta de u r i n a de 24
Outras Causas de Excesso de Mineralocorticóides
horas é u m a m e d i d a integrada de cortisol plasmático livre e
Adrenais
e l i m i n a a i n f l u ê n c i a circadiana na secreção d o cortisol. As dosa-
Descobriu-se que os carcinomas adrenocorticais p r o d u z e m m i n e -
gens de cortisol livre na u r i n a são, p o r r a n r o , consideradas o
ralocorticóides e m excesso e p r o v o c a m hipertensão com hipoca-
m e l h o r exame de triagem para h i p e r a d r e n o c o r t i c i s m o . A taxa de
lemia. 1 0 A aldosterona o u a D O C , o u ambas, p o d e m ser p r o d u -
excreção de c o r t i s o l u r i n á r i o livre e m i n d i v í d u o s saudáveis cai
2idas em excesso. A s concentrações de mineralocorticóides não
entre 20 e 80 j i g / d i a .
r e s p o n d e m à terapia c o m glicocorticóides o u a alterações n o
A secreção de m i n e r a l o c o r t i c ó i d e s e andrógenios adrenais
estado salino. As T C são úteis. Os carcinomas adrenais e m geral
t a m b é m é de natureza circadiana e episódica, mas as mudanças
são t u m o r e s grandes que pesam mais de 30 g; os adenomas
dinâmicas nas concentrações não são tão p r o n u n c i a d a s c o m o
secretores de aldosterona são m u i t o menores. O achado de baixa
c o m o cortisol. E m geral recomenda-se, c o n t u d o , que as amostras
atividade dc r e n i n a plasmática c concentração de aldosterona sob
de sangue para esteróides adrenais sejam coletadas entre 7:00 e
circunstâncias que devem causar u m a elevação (estimulação c o m
10:00 horas, para que haja consistência na interpretação dos
f u r o s e m i d a o u postura ereta) sustentaria o diagnóstico.
resultados.
O u t r o s distúrbios i n c o m u n s que sugerem excesso o u deficiên-
cia de aldosterona, mas não estão conectados ao sistema renina-
angiotensma-aldosterona, i n c l u e m síndromes de Liddle e Bartter. A
Testes de Estimulação
s í n d r o m e de L i d d l e t a m b é m é conhecida c o m o pseudo-hiperal- Os testes de estimulação provocativos são úteis na d o c u m e n t a ç ã o
d o s t e i o n i s m o e é clinicamente semelhante ao aldosteronismo da hipossecreção dos h o r m ô n i o s adrenocorticais. 1 0 Aplica-se u m
p r i m á r i o , mas a p r o d u ç ã o de aldosterona é baixa e não há hiper- estímulo específico e a liberação de u m d e t e r m i n a d o h o r m ô n i o
tensão. N a s í n d r o m e de Bartter, que envolve u m a perda de potás- é m e d i d a e m u m p e r í o d o específico de tempo. Os testes de estimu-
sio renal mediada pela prostaglandina e defeito renal de m a n e j o lação âo ACTH, algumas vezes chamados de "teste de cosintro-
do cloreto, t a n t o as concentrações de aldosterona c o m o as ativi- p i n a " , são projetados para d o c u m e n t a r a capacidade f u n c i o n a l
dades da r e n i n a são elevadas. N a acidose t u b u l a r renal e n o das glândulas adrenais e m sintetizar cortisol. E m i n d i v í d u o s
pseudo-hipoaldosteTonismo, o q u a d r o clínico de hipoaldostero- sadios, a administração de A C T H exógeno a u m e n t a r a p i d a m e n t e
n i s m o é observado j u n t a m e n t e c o m concentrações maiores que a a secreção de cortisol em duas a três vezes em u m período de 60
n o r m a l de aldosterona. m i n u t o s após a aplicação do estímulo. Esta resposta f u n c i o n a l
pode seT prejudicada p o r a t r o f i a adrenal, causada p o r u m a defi-
ciência crônica de A C T H , o u p o r destruição p r i m á r i a do córtex
Renina Plasmática na Hipertensão Renovascular adrenal. A seqüência b i o l o g i c a m e n t e ativa de 1-24 aminoácidos
Usada c o m o u m exame de triagem, u m a atividade de renina de A C T H h u m a n o f o i sintetizada e está disponível c o m o tetra-
plasmática elevada após estimulação c o m f u r o s e m i d a o u q u a n d o cosactrina (Synacthen). Este c o m p o s t o é u m estimulante potente
correlacionada c o m excreção u r i n á r i a de sódio sugere estenose para secreção de cortisol e tem u m a meia-vida breve e antigeni-
de artéria renal c o m o causa da hipertensão. Se houver evidências cidade m í n i m a . U m pice de concentração plasmática de c o r t i s o l
arteriográficas de estenose de artéria renal, a dosagem de renina m a i o r que 20 (J.g/dL (>525 n m o l / L ) em u m p e r í o d o de 60
plasmática e m amostras obtidas da cateterização seletiva da veia m i n u t o s da administração intravenosa de Synacthen é d e f i n i d o
renal é ú t i l para prever a resposta à correção cirúrgica da lesão c o m o u m a resposta n o r m a l .
vascular renal o u à n e f r e c t o m i a . A lateralização da r e n m a nas U m exame d i r e t o e seletivo da f u n ç ã o da glândula h i p ó f i s e é
veias renais para o l a d o r a d i o g r a f i c a m e n t e envolvido, especial- o teste de. estimulação com C R H 10 A injeção de C R H o v i n o es ti-
782 PARTE V Fisiopatologia

m u l a a secreção de A C T H nos i n d i v í d u o s nor m ais em u m o r i g e m ectópica de A C T H . U m a supressão de mais de 5 0 % de


p e r í o d o de 60 a 180 m i n u t o s ; os glicocorticóides i n i b e m este c o r t i s o l plasmático e m comparação c o m o resultado basal origi-
efeito. O uso deste teste está n o diagnóstico diferencial da hiper- nal d e f i n e l i m a resposta positiva.
função e h i p o f u n ç ã o a d r e n o c o r t i c a l . Este teste t a m b é m é usado
n o diagnóstico d i f e r e n c i a l da s í n d r o m e de C u s h i n g endógena e Função do Mineralocorticóide
para d i s t i n g u i r a deficiência de A C T H secundária e terciária. 10 Concentrações Basais de Peptídeo e de Hormônio
U m a variação do teste de estimulação c o m C R H mede o Esteróide
A C T H em amostras de sangue retiradas d o seio petroso i n f e r i o r Concentrações de m i n e r a l o c o r t i c ó i d e s adrenais (p. ex., aldoste-
(SPI) para d o c u m e n t a r a presença de u m m i c r o a d e n n m a h i p o f i - r o n a e D O C ) e fatores d o sistema renina-angiotensina (p. ex.,
sário e para d e t e r m i n a r e m que lado da h i p ó f i s e o m i c r o a d e n o m a r e n i n a ) são r o t i n e i r a m e n t e dosados nos f l u i d o s corporais p o r
está localizado. As amostras de sangue são coletadas das veias m e i o de vários imunoensaios e m é t o d o s baseados em i n s t r u m e n -
d i r e i t a e esquerda d o S P I e de u m a veia periférica antes e 2, 5 e tos. A aldosterona, assim c o m o o cortisol, é secretada episodica-
10 m i n u t o s após a administração intravenosa de C R H o v i n o mente, sendo que as concentrações circulantes mais altas o c o r r e m
( 1 p-g/kg de peso c o r p o r a l ) p o r 20 a 6 0 segundos. A razão entre mais o u m e n o s na h o r a que se acorda e as concentrações mais
a concentração n o SPI e a concentração venosa periférica de baixas, logo após o início do sono; as concentrações de aldoste-
A C T H plasmático é usada para prever a localização de excesso rona, c o n t u d o , são apenas m o d e s t a m e n t e estimuladas pela secre-
de secreção de c o r t i c o t r o f i n a . A razão m á x i m a é de mais de 3 nos ção de A C T H . 1 , 4 E m i n d i v í d u o s sadios, u m a dieta c o m baixo teor
pacientes c o m s í n d r o m e de C u s h i n g hipofiaária e menos de 3 de sódio, a m a n u t e n ç ã o de u m a postura eTeta e o uso de diuré-
naqueles c o m p r o b a b i l i d a d e de u m a s í n d r o m e de A C T H ectó- ticos a u m e n t a m as concentrações plasmáticas de aldosterona,
pico o u de u m t u m o r adrenal- A l g u n s endocrinologistas a f i r m a m e n q u a n t o u m a dieta c o m alto teor de sódio e a posição em decú-
que a amostragem d o S P I é o m e l h o r exame para d i s t i n g u i r b i t o dorsal reduzem a secreção de aldosterona. Procedimentos
formas dependentes de A C T H da s í n d r o m e de C u s h i n g , q u a n d o padronizados paia obtenção de amostras de sangue e u r i n a são
realizadas no caso de h i p e r c o r t i s o l i s m o p r o l o n g a d o . As concen- necessários para a interpretação adequada dos resultados dos
trações de A C T H são suprimidas nos pacientes c o m tumores exames. 10 T a m b é m é ú t i l i n t e r p r e t a r as concentrações de aldoste-
adrenais p r i m á r i o s , se comparadas c o m aqueles c o m s í n d r o m e r o n a j u n t a m e n t e c o m a determinação de sódio na u r i n a , p o r q u e
de C u s h i n g o u s í n d r o m e de A C T H ectópico. a ingestão de sal pode i n f l u e n c i a r de maneira p r o f u n d a a con-
Para testar a integridade do eixo hipofisário-adrenal, outros centração de aldosterona. A concentração de aldosterona é inver-
exames indiretos de secreção de A C T H d e p e n d e m da resposta samente p r o p o r c i o n a l à concentração de sódio na u r i n a .
adrenal a manobras que e s t i m u l a m a liberação endógena de D i f e r e n t e m e n t e da aldosterona, a r e n i n a plasmática freqüen-
A C T H . N o exame de estimulação da hipoglicemia induzida pela insu- temente é m e d i d a em termos de sua atividade enzimática, e m b o r a
lina, a i n s u l i n a é a d m i n i s t r a d a para estimular a liberação de C R H os ensaios de massas baseados e m i m u n o m e t r i a para r e n i n a
através da h i p o g l i c e m i a , e as concentrações de A C T H o u c o r t i s o l estejam disponíveis. A A R P é avaliada pela geração de angioten-
são avaliadas para detecção de u m a u m e n t o . sina I, que é m e d i d a usando-se técnicas de i m u n o e n s a i o , e n q u a n t o
U m exame i n d i r e t o menos arriscado da função do eixo H H A os ensaios de massa para r e n i n a m e d e m d i r e t a m e n t e a r e n i n a
envolve a administração de m e t i r a p o n a , u m i n i b i d o r da enzima usando a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s direcionados à enzima r e n i n a
l l p - h i d r o x i l a s e que converte 11-desoxicortisol a cortisol. E m em si. A liberação de r e n i n a é c o n t r o l a d a p o r m u i t o s fatores
i n d i v í d u o s normais, a queda da concentração de c o r t i s o l plasmá- fisiológicos. Dietas c o m baixo teor de sódio, m a n u t e n ç ã o de
tico q u e a c o m p a n h a o b l o q u e i o enz i m áti c o i n d u z i d o pela meti- postura ereta e uso de m e d i c a m e n t o s diuréticos a u m e n t a m a
r a p o n a estimula a liberação de A C T H h i p o f i s á r i o , e, em seguida, liberação de r e n i n a e devem ser c o n t r o l a d o s o u e l i m i n a d o s antes
os precursores esteróides adrenais acumulam-se até o p o n t o de do exame do eixo renina-angiotensina-aldosterona. Pelo fato de
b l o q u e i o da enzima. Sob circunstâncias n o r m a i s , 11-desoxicorti- as A P R t a m b é m variarem c o m o e q u i l í b r i o de sódio, é ú t i l inter-
sol (composto S), o substrato esteróide para a enzima l i p - h i d r o - pretar a A R P s n o a m b u l a t ó r i o c o m excreção de sódio na u r i n a .
xilase, a u m e n t a 4 0 a 8 0 vezes em u m p e r í o d o de 3 horas após a Encontra-se u m a relação inversa, que possibilita a identificação
administração de m e t i r a p o n a . A ausência de u m a u m e n t o sugere de grupos de r e n i n a plasmática baixa, saudável e alta a p a r t i r de
insuficiência adrenal p r i m á r i a . u m n o m o g r a m a . A idade, terapia c o m estrogênio e diabetes meíli-
t«í sem insuficiência renal afetam os resultados da r e n i n a plas-
Exames de Supressão mática. Os pacientes c o m mais de 55 anos de idade e aqueles
Os exames de supressão são usados para d o c u m e n t a r a hiperse- c o m diabetes apresentam resultados de A R P que são 5 0 % d o
creção dos h o r m ô n i o s adrenocorticais. 1 0 E m i n d i v í d u o s normais, n o r m a l . O estrógeno causa u m a u m e n t o da síntese hepática de
u m a elevação da concentração de c o r t i s o l n o sangue i n i b e a a n g i o t e n s i n o g ê n i o , a u m e n t a n d o assim a concentração d o subs-
liberação de A C T H a p a r t i r da g l â n d u l a hipófise. Isto resulta e m t r a t o e n d ó g e n o para a enzima renina. Isto causa u m a atividade
redução da produção de c o r t i s o l e outros esteróides adrenais a i n a d e q u a d a m e n t e elevada da r e n i n a para a concentração de
p a r t i r do córtex adrenal. A integridade deste mecanismo de feed- sódio na u r i n a . I n ú m e r o s m e d i c a m e n t o s afetam as A R P s . Os
back f o i testada administrando-se u m glicocorticóide potente, i n i b i d o r e s da E C A , betabloqueadores, e s p i r o n o l a c t o n a e agentes
c o m o a dexametasona, e julgando-se a supressão da secreção de i n f l a m a t ó r i o s não-esteroidais l i d e r a m a lista dos fármacos que
A C T H p o r m e i o da dosagem dag concentrações de c o r t i s o l n o a l t e i a m a r e n i n a plasmática.
soro e na u r i n a . U m a dose baixa de dexametasona é usada ini-
c i a l m e n t e para d o c u m e n t a r a verdadeira hipersecreção d o corti- Testes de Estimulação
sol. l , l c Os pacientes c o m s í n d r o m e de C u s h i n g por q u a l q u e r O sistema renina-angiotensina-aldosterona responde ao equilí-
causa apresentarão falha na supressão de sua secreção de c o r t i s o l b r i o eletrolítico. A excreção de sódio e o v o l u m e extracelular de
d u r a n t e a n o i t e c o m u m a dose baixa de dexametasona. Doses l í q u i d o s estão inversamente associados às concentrações plasmá-
mais altas de dexametasona administradas d u r a n t e 48 horas são ticas de r e n i n a e aldosteiona. J A razão sódio-creatinina em u m a
então usadas para estabelecer o diagnóstico diferencial de u m amostra de u r i n a tem sido usada c o m o marcador para o estado
a d e n o m a h i p o f i s á r i o que secreta A C T H c o m o d i s t i n t o de u m a de v o l u m e de sódio. Os p r o c e d i m e n t o s para e s t i m u l a r o sistema
Distúrbios Adrenocorticais CAPÍTULO 40 7B3

renina-angiotensina são baseados nas manobras de depleção de o uso de outros procedimentos. O c a p t o p r i l essencialmente i n i b e
v o l u m e , c o m o (1) restrição de sódio, (2) postura ereta o u (3) a conversão de angiotensina I a angiotensina II, r e m o v e n d o o
administração de diuréticos. 1 N o exame de estimulação com furcse- estímulo da angiotensina I I para a secreção de aldosterona. A
mida, administra-se f u r o s e m i d a p o r via oral o u intravenosa (40 a aldosterona plasmática é m e d i d a e n q u a n t o o paciente está sentado,
80 mg), seguida de 4 horas na posição ereta Este exame não antes e 2 a 3 horas após a administração oral de 25 m g de capto-
requer hospitalização, dietas especiais o u ficar de pé p o r tempo pril. Os i n d i v í d u o s sadios s u p r i m e m a aldosterona plasmática para
p r o l o n g a d o , embora ele f u n c i o n e m e l h o r q u a n d o se m a n t é m menos de 15 n g / d L (<410 p m o l / L ) .
u m a dieta c o m ingestão n o r m a l de sal. A resposta n o r m a l a este
d i u r é t i c o é u m a elevação de duas a três vezes na r e n i n a plasmá-
tica. O u t r o exame simples e conveniente de estimulação consiste
REFERÊNCIAS
na restrição de sódio e postura ereta. U m a dieta c o m baixo teor
de sal que c o n t é m menos de 2 0 m m o l / d i a de sódio é adminis- 1. Bessei G M , Thcímer M O , eds. Endociinology, 3rd ed. Philadelphia: W B
Saunders Co, 2002 1-760
trada p o r 3 a 5 dias; a u r i n a é c o l e t a d a p a r a dosagens de creati-
2. Dc Brabandere V I , Thienpont LM, Stockl D, De Leenheer AP. Three
n i n a e sódio até que se estabeleça u m e q u i l í b r i o c o m a nova dieta.
routine methods for serum coitisol evaluated by comparison with an
Neste p o n t o , a A R P é o b t i d a após 2 horas na posição de pé. U m a
isotopc dilution gas chromatography-mass spectrometry method. C i i n
resposta n o r m a l é u m a u m e n t o de duas a três vezes n o d é b i t o de
Chem 1995;41-17813.
r e n i n a plasmática.
3. DeGroot LJ, Jameson. J L eds. Endocrinology, 5th ed. Philadelphia:
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Os exames de supressão de m i n e r a l o c o r t i c ó i d e s f o r a m projetados 2005;26:313-21.
com base na carga de sal.1 Por exemplo, (1) infusões de soluções 5. Kushnir M M , Rochvood AL, Nelson G], Terry A H , Meikle AW. Líquid
salinas, (2) carga oral de sal o u (3) administração de mineralocor- chiomatography tandem mass spectrometry analysis of urinaiy free
ticóides são usadas para s u p r i m i r a secreção de aldosterona pela cortisol. Cliri Chem 2003;49965-7.
6. Laudat M H , Cerdas S, Fournier C, Guiban D, Guilhaume B, Luton JP.
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Salivary cortisol measurement: A pracrical approach to assess pituitary-
v o l u m e plasmático c o m sal a u m e n t a a perfusão renal, suprime a
adrenal functíon. ] Clin Endocrinol Metab 1988;66:343-8.
liberação da renina e reduz a secreção de aldosterona. N o exame
7. Lin C L Uriiiary free cortisol and cortisone determined by high
de supressão salina, infunde-se solução salina isotônica p o r via
performance liquid chromatography in the diagnosis of Cushings
intravenosa p o r u m período de 4 horas, após o q u a l a concentta-
syndrome J C lin Endocrinol Metab 1997;82:151-5.
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8. Marsden D, Larson CA. Emerging role for tandem mass speccromeny i n
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detecting congenital adrenal hyperplasia. C lin Chem 2004;50:467-8.
de 5 n g / d L (< 140 p m o l / L ) e a A R P é s u p r i m i d a A administração 9 Shibasaki H, Funjca T, fíasuya Y. Quantification of corticosteroids in
de f l u d r o c o r t i s o n a , u m m i n e r a l o c o r t i c ó i d e sintético, p r o d u z u m a human plasma by liquid chromatography-thermospray mass spectrometry
supressão comparável de secreção de aldosterona. A f l u d r o c o i t í - using stable isotope dilution. J Chromatogr B Biomed Sei Appl
sona deve ser administrada c o m cautela em pacientes c o m hipo- 1997;692:7-14.
calemia e insuficiência cardíaca o u renal. U m exame alternativo 10. Stewart PM. The adrenal córtex. In. Larsen PR, Kronenberg H M ,
de supressão utiliza o i n i b i d o r da E C A , o cd.£>tofmí. Este exame é Melmed S, Polonsky KS, eds. Williams textbook of endocnnology, 10th
r e c o m e n d a d o q u a n d o os riscos de sobrecarga de v o l u m e i m p e d e m ed. Philadelphia: W B Saunders, 2003:491-551.
APÍTULO 4 1

Doenças Tireoidianas*
Laurence M. Demers, Ph.D., D.A.B.C.C., F.A.C.B.

OBJETIVOS H o r m ô n i o L i b e r a d o r da T i r e o t r o p i n a ( T R H ) : U m t r i p e p t í d e o
p r o d u z i d o n o h i p o t á l a m o que e s t i m u l a a síntese e liberação
1. Definir os seguintes termos:
do T S H da adeno-hipófise.
Folículo
S í n d r o m e do D o e n t e E u t i r e o i d i a n o i C o n d i ç ã o clínica q u e
Coió ide
cursa c o m concentrações a n o r m a i s de h o r m ô n i o
Tireoglobulina
t i r e o i d í a n o e h o r m ô n i o e s t i m u l a n t e da tireóide presente
Hormônio liberador da tireotropina
nos doentes gravemente enfermos, e m face de u m a função
T a reverso
t i r e o i d i a n a n o r m a l . F r e q ü e n t e m e n t e s i m u l a u m q u a d r o de
Bócio
h i p o t i r e o i d i s m o e m pacientes e u t i r e o i d i a n o s que t e n h a m
Eutireoidiano outras doenças, c o m o diabetes mellitus o u cirrose hepática.
2. Descrever a estrutura e função da tireóide. T i r e o g l o b u l i n a : U m a glicoproteína que c o n t é m i o d o de alto
3. Listar os hormônios sintetizados pela tireóide e descrever suas peso m o l e c u l a r (663 k D a ) presente n o colóide dos folículos
funções. da tireóide.
4. Descrever a síntese, regulação e metabolismo dos hormônios T i r e o i d i t e : I n f l a m a ç ã o da glândula tireóide. É u m a
tireoidiancs. característica da doença de H a s h i m o t o , u m d i s t ú r b i o auto-
5. Relatar os efeitos dos aumentos e reduções das concentrações de i m u n e que causa a destruição da tireóide.
hormônios tireoidianos sobre as concentrações de TSH. T i r o x i n a ( T 4 ) : O p r i n c i p a l h o r m ô n i o sintetizado e l i b e r a d o
6. Listar os testes de laboratório usados para avaliar a função pela tiTeóide que contém quatro moléculas de i o d o
tireoidiana. (L-3,5,3',5'-tetraiodotironma).
7. Listar os valores de laboratório associados a: T r i i o d o t i r o n i n a (T 3 ): A f o r m a biológica ativa de h o r m ô n i o
Doença de Hashimoto {tireoidite crônica) t i r e o i d i a n o p r o d u z i d a p r i m a r i a m e n t e fora da t i r e ó i d e pela
Doença de Graves desiodinação da t i r o x i n a (T 4 ). T e m três moléculas de i o d o
Hipotireoidismo secundário ligadas à sua estrutura m o l e c u l a r ( L - 3 , 5 , 3 ' - t r i i o d o t i r o n i n a ) .
O T3 reverso é u m m e t a b ó l i t o b i o l o g i c a m e n t e inerte da
Anticorpos tireoidianos
t i r o x i n a ( T J , c o m três moléculas de i o d o anexadas à sua
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES estrutura molecular (L-3,3',5'- t r i i o d o t i r o n i n a )

B ó c i o : U m a u m e n t o da g l â n d u l a tireóide que causa a u m e n t o


na p a r t e a n t e t í o T d o p e s c o ç o .

A
C o l ó i d e : U m m a t e r i a l a m o r f o e n c o n t r a d o nos folículos da tireóide é u m a glândula em f o r m a de b o r b o l e t a situada na
tireóide. E c o m p o s t o p r i n c i p a l m e n t e de t i r e o g l o b u l i n a (Tg) face anterior do pescoço logo acima da t r a q u é i a n o h u m a n o
e pequenas quantidades de t i r e o a l b u m i n a iodada. adulto (veja Figura 25-1, C a p í t u l o 25). A tireóide comple-
D o e n ç a de Graves: U m a doença t i r e o i d i a n a de caráter auto- tamente desenvolvida nos adultos pesa a p r o x i m a d a m e n t e de 15 a
i m u n e . Caracterizada p o r apresentar pelo menos duas das 20 g e é composta de dois lóbulos ligados p o r u m istmo.
seguintes condições: h i p e r t i r e o i d i s m o , b ó c i o e exoftalmia. O folicuia tireoidiano é a u n i d a d e secretora da tireóide. C a d a
T a m b é m c o n h e c i d a na E u r o p a c o m o doença de Basedow. f o l í c u l o possui u m a camada exterior de células epiteliais que
E u t i r e o i d i a n o : O que t e m f u n ç ã o t i r e o i d i a n a n o r m a l . engloba u m m a t e r i a l a m o r f o c h a m a d o colóide. O c o l ó i d e é com-
H i p e r t i r e o i d i s m o : U m a c o n d i ç ã o causada pela p r o d u ç ã o posto p r i n c i p a l m e n t e de t i r e o g l o b u l i n a (Tg) e pequenas q u a n t i -
excessiva dos h o r m ô n i o s t i r e o i d i a n o s iodados. Os sintomas dades de t i r e o a l b u m i n a iodadas. Acredita-se que as reações
i n c l u e m a u m e n t o do m e t a b o l i s m o basal, b ó c i o , taquicardia, i m p o r t a n t e s da síntese dos h o r m ô n i o s tireoidianos, c o m o a
hipertensão arterial, e u m a série de sintomas secundários. iodação e a fase i n i c i a l da secreção d o h o r m ô n i o (reabsorção do
H i p o t i r e o i d i s m o : U m a condição de deficiência na atividade colóide), devam ocorrer na superfície das células epiteliais o u
t i r e o i d i a n a , causando letargia, fraqueza muscular e p r ó x i m o s a ela.
i n t o l e r â n c i a ao f r i o . A tireóide t a m b é m c o n t é m o u t r o t i p o de célula, c o n h e c i d a
H o r m ô n i o E s t i m u l a n t e da T i r e ó i d e ( T S H ) : U m h o r m ô n i o c o m o parafolicular o u célula C. Essas células p r o d u z e m u m hor-
p o l i p e p t í d i c o sintetizado pela adeno-hipófise que p r o m o v e m ô n i o p o l i p e p t í d i c o c h a m a d o cakitonina. Elas estão confinadas
o crescimento da t i r e ó i d e e estimula a síntese e liberação d e n t r o da l â m i n a basal das células foliculares o u existem e m
dos h o r m ô n i o s t i r e o i d i a n o s pela mesma. T a m b é m chamado grupos entre os espaços das células foliculares.
de t i r e o t r o p i n a .

HORMÔNIOS TIREOIDIANOS
A t i r e ó i d e secreta dois h o r m ô n i o s , a t i r o x i n a (3,5,3',5''L-tetraio-
d o t i r o n i n a ) e a t r i i o d o t i r o n i n a ( 3 , 5 , 3 ' - L - t r i i o d o t i r o n i n a ) , que são
* 0 autor agradecidamente reconhece as contribuições prévias de R. '. Whitley,
nas quais se baseiam partes deste capitulo, e a revisão crítica de C.A. Spcncer c o m u m e n t e conhecidas c o m o T 4 e T 3 , respectivamente (Tabela
neste capitulo. 41-1). A l é m disso, a tireóide secreta pequenas quantidades de
786 PARTE V Fisiopatologia

MIT DIT
TABELA 41-1 N o m e n c l a t u r a e Abreviação para os Testes
HJN^ ^COOH HjN, „COOH

L
Tireoidianos

CONCENTRAÇÃO HORMONAL ÍH,


Tiroxina total L
A .
Triiodotiranina totai (L-S^.SMriiodotironina) T3
Tiroxina livre* FT, Ô v ,
1
Triiodotironina livre * FT3
OH OH
Tireotropina (hormônio estimulante da tireóide) TSH
T3 reverso ^'^'-friiodolironina) rT3
rT, T3

ESTIMATIVAS DE FRAÇÕES DE HORMÔNIO LIVRES MjN COO II I:?N. jCOOH


Fração de I , livref % FT,
Cllj
Fração de T3 livre* %FT3
Taxa de ligação do hormônio da tireóide1 THBH

ESTIMATIVAS DE CONCENTRAÇÕES DE HORMÔNIO LIVRES


Estimativa de T4 livre [T< x % FT«] FT,E
Estimativa de T3 livre JT3 x % FT3] FT3E

XI
índice de T„ livre |T„ Y THBR] FT4I
índice de T 3 livre [TA * THBR] FT3I
Razão T 4 /TBG VTBG OH OH
Estimativa de h livre (por imunoensaio)5 FT<E
Figura 41-1 Estrutura dos hormônios tireoidianos e seus
PROTEÍNAS DE LIGAÇÃO SÉRICAS precursores. M Í T , Monoiodotirosina; D/T, diiodotirosina; rTj, 3,3',5'-L-
Globuiina ligadcra da tiroxina TBG triiodotironina; T 3i 3,5,3'-L-iriiadci:iranina; T^. 3,5,3',5'-L-
Pré-albumina ligadora da tiroxina ftranstiretina) TBPA tet ra iodo tiro ni na.

TESTES PARA DOENÇAS AUTO-IMUNES DA TIREÓIDE


Anticorpos antitireoglobulinas TgAb e o crescimento, (2) promover a maturação sexual, (3) estimular
Anticorpos antimicrossômicos TMAÜ a atividade adrenérgica c o m a u m e n t o da freqüência cardíaca e
Anticorpos antitireoperovidase TPO Ab
da c o n t r a t i b i l i d a d e do m i o c á r d i o , (4) estimular a síntese proteica
e o m e t a b o l i s m o dos carboidratos, (5) a u m e n t a r a síntese e degra-
Anticorpos anti-receptores de TSH TFlAb
dação do colesterol e triglicerideos, (6) a u m e n t a r a necessidade
de vitaminas, (7) elevar o m e t a b o l i s m o d o cálcio e fósforo, e (8)
OUTROS HORMÔNIOS E PROTEÍNAS RELACIONADAS COM A TIREÓIDE
acentuar a sensibilidade de receptores adrenérgicos a catecolami-
Hormônio liberador da tireotrapina THH
nas. Esses efeitos estão tipicamente exacerbados nos pacientes
Tireoglobulina Tg
c o m a tireóide hiperativa, c o m o n o h i p e r t i r e o i d i s m o , o u estão
Calcitonina CT reduzidos nos pacientes c o m u m a t i r e ó i d e p o u c o ativa, c o m o no
'Medida par imunoensaio "direto" de stno rtãodiluído dialisado (ou ultrafiltrodo). h i p o t ireoidis m o .
'Medida pelã diãhse de equilíbrio (ou ultra/iliríiçãoj dn sora diluído contendo Tj ou
T1 3
f
Bioquímica
Derivado dos raéiodos ds "captação" de T4 ou T j [veja detalhei no texto).
A p r o x i m a d a m e n t e 4 0 % de T4 secretada é desiodinada nos tecidos
^Medida poi ensaios de duas etapas ou análogos (urrm etapa)
periféricos pelas enzimas desodinases p r o d u z i n d o T 3 , e em t o r n o
de 4 5 % são desiodinadas p r o d u z i n d o o rT3, u m m e t a b ó l i t o bio-
logicamente inativo. Conseqüentemente, c o m a p r o d u ç ã o n o r m a l
de T 4 de 100 n m o l (80 pg) diários, ~ 4 0 n m o l (26 pg) de T3 e
45 n m o l (29 pg) de r T 3 são produzidos p o r desiodinação perifé-
3,3 1 ,5 1 -L-tTiiodotironina (T 3 reverso [rT^]) e pequenas quantida- rica. Das taxas de produção diárias estimadas para T 3 (30 pg) e
des de m o n o i o d o t i r o s i n a ( M I T ) e d i i o d o t i r o s i n a ( D I T ) , que são r T 3 (30 pg), e m u m estado n o r m a l ( e u t i r e o i d i a n o ) , n o m í n i m o
precursores do T 3 e T V A s estruturas desses compostos estão 8 5 % da produção de T3 e essencialmente t o d a a produção de r T 3
demonstradas na Figura 41-1. são formadas pela desiodinação periférica de T 4 em vez da secre-
ção direta da tireóide (Figura 41-2). O T j é q u a t r o a cinco vezes
Função Biológica mais potente nos sistemas biológicos do que a T4. Pelo fato de
Os h o r m ô n i o s rireoidianos t ê m m u i t o s efeitos biológicos impor- u m terço de toda a tiroxina ser convertido a T-i d u r a n t e o curso
tantes. 1,9 A sua p r i n c i p a l função é o controle da taxa metabólica d o seu m e t a b o l i s m o , a tiroxina é considerada u m p r ó - h o r m ô n i o
basal e da calorigènese p o r m e i o d o a u m e n t o de consumo de sem n e n h u m a atividade biológica intrínseca.
oxigênio nos tecidos, via efeito do h o r m ô n i o tireoidiano sobre o A biossíntese dos h o r m ô n i o s tireoidianos envolve (1) a cap-
transporte da m e m b r a n a ( b o m b a de N A V K 4 - A T P a s e c o m tação d o i o d o circulante pela tireóide, (2) incorporação do i o d o
a u m e n t o da síntese e do c o n s u m o de trifosfato de adenosina) e em tirosina e (3) u n i ã o de resíduos de rirosil i o d a d o para f o r m a r
acentuação d o m e t a b o l i s m o m i t o c o n d r i a l (estímulo da função as t i r o n i n a s (T 4 e T 3 ) d e n t r o da estrutura protéica da tireoglobu-
m i t o c o n d r i a l e fosforilação oxidativa). Os h o r m ô n i o s tireoidia- lina (Tg) n o l ú m e n folicular. A endocitose seguida da proteólise
nos são conhecidos por (1) estimular o desenvolvimento n e u r a l da T g l i b e r a as i o d o t i r o n i n a s para d e n t r o da circulação. N a
Doenças Tireoidianas CAPÍTULO 41 787

Figura 41-3 é apresentado u m p e r f i l esquemático do metabo-


lismo do iodo, com ênfase na formação e secreção de h o r m ô n i o s
tireoidianos.
O iodo proveniente da dieta é o elemento f u n d a m e n t a l envol-
(-)
v i d o na síntese dos h o r m ô n i o s tireoidianos. Ele é n o r m a l m e n t e
; T R H (+) ingerido na forma de iodeto, O transporte do iodeto para os
/ (") folículos é a primeira e a etapa l i m i t a n t e n o processo de síntese.
HipÒfoo As células foliculares da tireóide concentram o iodeto até 30 a
T
H /
, ^ ^ H r 3 40 vezes a concentração n o r m a l plasmática por meio de u m
mecanismo de b o m b a dependente de energia.

//
7
T S H (h As sínteses de T , , T 4 , D I T e M I T nas moléculas de Tg ocorrem
lodo principalmente na interface célula folicular-colóide, mas t a m b é m
proveniente dentro do colóide. A Tg está presente em altas concentrações
da dieta dentro do colóide, onde é armazenada. As células foliculares
(150 (ig/dia) '• T4 3 (6 | i g / d ]
englobam os glóbulos de colóide por endocitose. Esses glóbulos
(80 | i g / d ) Desiodi nação
Periférica
então se f u n d e m c o m os lisossomas dento da célula folicular. As
T 3 (30 ug/dia) proteases lisossomais q u e b r a m as ligações peptídicas entre resí-
Tireóide
duos iodados e a Tg, então o T 4 , o T 3 l o D I T , e a M I T são libe-
rados para dentro do citoplasma da célula folicular. O T 4 e T3
Figura 4 1 - 2 Síntese h o r m o n a l d o eixo h i p o t a l â m i c o - h i p o f i s á l i o - difundem-se para a circulação depois de sua liberação da Tg. A
tireoidiano dependente da ingestão diária de 150 pg dc iodo por dia. A D I T e a M I T são desiodinadas pela iodotirosina desalogenase
t i r o x i n a ( T , ) é a p r i n c i p a l t i r o n i n a secretada pela tireóide, e o T 3 é microssomal intracelular. O iodo liberado é então reutilizado
p r o v e n i e n t e p r i n c i p a l m e n t e da desiodinação periférica. paia a síntese do h o r m ô n i o da tireóide.

Resíduos
Tireóide
tirosil da
tireoglobulina
I lillu
gastiafnrnttinal
Enzima
de captação
Dependente de Ga
Iodo lado
plasmático tireoidíano
Inibido •

Fígado
1. Desaminação
OJft
2. Desiodinaçãc Bili
Resíduos dc
3. Esterificação t Q i 9
monoiodotiiosina (MIT) e
Tecidos diiodorirosina (DIT)

Transportado por
TBG, TBPA e
albumina

IJ-Jí
T,

3,5|3'*TriJodotironma { T J

HOO<
\ '
Desiodinado para T3 e 1 1
3,3'.5'-triiudotironina 3,5,3',5'-Tecraiodotironina (T4)
(Tj reverso) Tireogiofcuiiriíi
{frotease

Figura 4 1 - 3 Formação e secreção do hormônio tireoidiano. O transporte do iodo paTa a glândula é inibido
p o r ânions, c o m o t i o c i a n a t o ( S C N ' ) , p e r c l o r a t o ( C I O 4 ) e pertecnetato ( T c 0 4 ' ) . A oxidação e ligação orgânica d o
i o d o à t i r e o g l o b u l i n a são bloqueadas p o r tiouréias, s u l f o n a m i d a s e altas concentrações de i o d o . ( M o d i f i c a d o de
Berger S, Q u i n n ] L T h y r o i d f u n c t i o n . ín: Tietz N W , ed. F u n d a m e n t a l s o f C l i n i c a i C h e m i s t r y , 2 n d ed.
P h i l a d e l p h i a : W B Saunders C o , 1976:585.)
1
788 PARTE Fisiopatologia

Cada etapa na síntese dos h o r m ô n i o s tireoidianos é regulada QUADRO 41-1 Alterações na Concentração ou Afinidade
pelo h o r m ô n i o estimulante da tireóide ( T S H ) da hipófise. O das Proteínas de Ligação dos Hormônios
T S H estimula o (1) "bombeamento do iodo", (2) a síntese de Tg Tireoidianos
e (3) a captação coloidal pelas células foliculares. O T S H também
regula a taxa de proteólise da Tg para a libéração de T 4 e T 3 . A l é m
AUMENTO NA:
disso, o T S H induz a u m aumento n o tamanho e na quantidade
A. Concentração (cu afinidade) de TBG
de células foliculares da tireóide. O estímulo prolongado de T S H
1. Causas genéticas (herdadas)
leva a uma elevação de vascularidade e eventual aumento hiper-
2. Doenças não-tireoidianas {infecção por HIV, hepatite infecciosa DU
trófico da tireóide (bócio).
crônica, tumores produtores de estrógeno, porfíria aguda intermitente)
3. Fisiologia normal (gravidez, recém-nascido)
Metabolismo 4. Uso de dragas (contraceptivos orais, estrógenos, tamoxifeno, meta-
O T 4 livre (FT 4 ) é o p r i n c i p a l p r o d u t o secretado pela tireóide. de na)
Ocorre desiodinação periférica do anel exrerno na posição 5' do B. Concentração de pré-albumina
T4 para produzir T 3 . Essa desiodinação ocorre em vários tecidos, C. Ligação de albumina (hipertiroxinemia disalbuminêmica familiar)
mas principalmente n o fígado. O T 3 reverso, produzido pela D. Ligação de T4 por anticorpos (doença tireoidiana auto-imune, carcinoma
remoção de u m iodo do anel interior de T 4 , é metabolicamente hepatocelular)
inativo e é u m p r o d u t o f i n a l do metabolismo da T 4 (Figura 41-1).
A desiodinação periférica é u m mecanismo de controle rapida- REDUÇÃO NA:
mente responsivo para o equilíbrio do h o r m ô n i o tireoidiano. O A. Concentração de TBG
estresse agudo o u crônico ou doença causam uma troca na 1. Determinação genética (herdada)
2. Doença não-tireoidiana (doenças graves ou estresse cirúrgico, síndrome
direção dessa desiodinação, favorecendo a formação de rT 3 em
nefrótica)
vez de T 3 . Vários medicamentos também desviam a desiodinação
3. Uso de dragas (andrógenos, esteróides anahclizantes, grandes doses de
periférica em direção à formação do produto rT 3 inativo.
glicorticóides)
T f e T 3 circulam ligados reversivelmente e quase completa-
B. Capacidade de ligação de TBG (drogas que se ligam a TBG, como sallcitatos
mente a proteínas transportadoras. Essas proteínas transportado-
e tenitoína)
ras são (1) globulina ligadora da tiroxina (TBG), (2) pré-albumina
C. Concentração de pré-albumina
ligadora da tiroxina (TBPA), e (3) albumina. Coletivamente, elas
se ligam a 99,97% do T 4 e 9 9 , 7 % do T 3 . Assim, apenas uma
pequena fração de cada u m desses h o r m ô n i o s está na f o r m a livre
para exerceT atividade biológica. Por causa da grande variação
m U l / L 1 " ' 1 1 Clinicamente, esses ensaios são capazes de medir o
existente na concentração das proteínas ligadoras do T 4 , mesmo
T S H em concentrações requeridas para diferenciar c o m acurácia
sob circunstâncias normais, u m a ampla variação cambém existe
as baixas concentrações do T S H no soro observadas nos pacien-
no t o t a l de concentrações de T 4 entre indivíduos com função
tes c o m hipertireoidismo verdadeiro das concentrações suprimi-
tireoidiana n o r m a l (eutireoidianos). As concentrações totais de
das encontradas em pacientes c o m doenças não-tireoidianas.
T 3 também variam com as alterações das proteínas de ligação,
A secreção do T S H ocorre de maneira circadiana: as mais altas
embora usualmente menos que as concentrações de T 4 . As cir-
concentrações p r e d o m i n a m à noite, entre 2:00 e 4:00h, e as mais
cunstâncias nas quais as concentrações das proteínas ligadoras do
baixas ocorrem entre 17:00 e 18:00h. As oscilações de baixa ampli-
h o r m ô n i o da tireóide a u m e n t a m o u d i m i n u e m são mostradas no
tude t a m b é m ocorrem durante o dia. 9 O aumento n o t u r n o do
Q u a d r o 41-1.
T S H é perdido em doenças críticas e no pós-operatório. O T S H
se eleva imediatamente após o nascimento, atingindo em 30
minutas o pico de 25 a 160 m U I / L ; os valores declinam em 3
METODOLOGIA ANALÍTICA dias até as concentrações do cordão umbilical, alcançando os
A Tabela 41-1 é uma revisão da nomenclatura dos testes utilizados valores típicos de adultos nas primeiras semanas de vida. Não
para avaliar os h o r m ô n i o s tireoidianos e as proteínas séricas existem diferenças significativas de sexo o u raça. As concentrações
relacionadas com a tireóide. As diretrizes para classificar os vários de T S H no soro dos indivíduos euureoidianos são de distribuição
testes tireoidianos foram descritas em u m relatório especial da log-gaussiana o u log-normal; os intervalos de referência deveriam
A m e r i c a n T h y r o i d Association. R Quase todos os testes de labora- ser avaliados logaritmicamente para alcançar uma melhor acurácia
t ó r i o para a função tireoidiana estão disponíveis comercialmente na detecção de limites mais baixos que o normal.
tanto na forma de ítit como de instrumentos de imunoensaios
automatizados. O seguinte relato é uma rápida descrição de testes Determinação da Tiroxina no Soro
considerados úteis para a avaliação do estado da tireóide. Descri- N o r m a l m e n t e , os laboratórios de análises clínicas medem o T 4
ções mais detalhadas de métodos serão discutidas mais adiante total c o m o uso dos imunoensaios competitivos executados por
neste capítulo. 1 As bulas que acompanham os produtos comer- instrumentos automatizados. M u i t o s imunoensaios de T 4 usam
ciais nas embalagens t a m b é m são u m a fonte de informação adi- anticorpos com alta afinidade produzidos contra u m conjugado
cional. Os intervalos de referência para as amostras analisadas albumina-T). Esses antnsoros policlonais são bastante específicos
serão discutidos posteriormente na Tabela 45-1 do Capítulo 45. e estão aptos a distinguir moléculas que diferem por apenas u m
átomo (p. ex., T 3 e T 4 ).
Determinação do Hormônio Estimulante da Os imunoensaios de T 4 total medem tanto a tiroxina livre
Tireóide Sérico como a tiroxina ligada à proteína. Por essa razão, a medição
O imunoensaio é o m é t o d o de escolha para quantificação do acurada do total de h o r m ô n i o s endógenos exige a dissociação do
T S H no soro em u m laboratório clínico. Os ensaios de alta T 4 de suas proteínas de transporte no soro, porque 9 9 , 9 7 % do
sensibilidade para o T S H que se tornaram disponíveis empregam T 4 circula firmemente ligado a T B G , a a l b u m i n a e a T B PA. A
vários sinais de detecção, i n c l u i n d o quimiolumínescência e ligação de T 4 à a l b u m i n a geralmente não é uma peocupação,
ensaios com baixos limites de detecção, na faixa de 0,01 a 0,05 porque a constante de associação de T 4 para o anticorpo (geral-
Doenças Tireoidianas CAPÍTULO 41 789

mente 1 0 9 L / m o l o u mais) é por várias ordens de magnitude mais algum grande laboratório de referência devido à pouca freqüên-
elevada que a de T 4 para a a l b u m i n a (~1,6 x 10 h L/mol). cia na necessidade de medição de rT 3 .
Entretanto, as constantes de ligação para T 4 com T B G e T B P A O rT 3 no soro está presente quase totalmente como o resul-
são elevadas (2 x 1 0 l ü L / m o l e 2 x 1 0 a L / m o l , respectivamente). tado de sua geração a partir do T 4 nos tecidos periféricos pelas
A ligação do T 4 a T B P A é superada pelo uso de tampão barbital, 5'-deiodinases. A concentração sérica de rT-j é mais baixa do que
porque o íort barbital inibe seletivamente esta ligação. Vários a do ^ por causa do rápido ckarancç metabólico do rT^. As
agentes bloqueadores são usados para i n i b i r a ligação de T 4 com concentrações séricas do rT 3 são elevadas ao nascimento, mas
a T B G , como o ácido 8-anilino-l-naftaleno- sulfônico (ANS), que d i m i n u e m para valores estáveis aproximadamente no q u i n t o dia
é o agente de escolha. Esses agentes bloqueadores removem efe- de vida. O rT 3 n o l í q u i d o amniótico reduz-se c o m o aumento do
tivamente o T4 da T B G sem afetar suas características de ligação tempo gestacional. C o m o reconhecimento de que o rT 3 não está
com o anticorpo. sempre elevado na doença, o teste de rT 3 é raramente usado em
Imunoensaios enzimáticos homogêneos foram desenvolvidos pacientes com s í n d r o m e da eutireóide doente. A insuficiência
para determinações do T 4 no soro. Esses procedimentos são rápidos renal é, especificamente, associada à baixa concentração de rT 3 .
e simples de usar e têm sido aplicados em vários instrumentos
automatizados importantes 1
T a m b é m foi desenvolvido o uso de moléculas q u i m i o l u m i - Determinação dos Hormônios Tireoidianos
nescentes c o m marcadores diretos para os imunoensaios para T 4 , Livres
e analisadores completamente automatizados com acesso direto Foram desenvolvidos numerosos métodos para m e d i r as concen-
que utilizam esse sistema de sinalização são agora amplamente trações séricas de FT 4 e FT 3 . Esses métodos incluem ensaios
utilizados para m e d i r o T 4 total e livre (FT 4 ) por imunoensaio. diretos, que geralmente servem como métodos de referência, e
A o nascimento, as concentrações séricas do T 4 total são mais ensaios indiretos o u estimativos, que são mais disponíveis para o
elevadas n o período neonatal por causa do aumento de T B G no uso geral em laboratórios.
soro i n d u z i d o pelo estrógeno materno, enquanto os valores de
FT 4 são mais próximos das concentrações dos adultos. Os valores
totais de T 4 sobem abruptamente nas primeiras horas de vida e
Métodos de Referência Direta
decrescem gradualmente até a idade de 15 anos. Cada laborató- A medição direta de FT 4 e FT 3 no soro apresenta u m desafio
técnico considerável, na medida em que as concentrações de
rio que realiza a triagem para h i p o t i r e o i d i s m o neonatal, contudo,
deveria estipular seu p r ó p r i o intervalo de referência para o T 4 h o r m ô n i o livre são extremamente baixas no soro de indivíduos
dos recém-nascidos. saudáveis. Por exemplo, elas são aproximadamente 0 , 0 3 % do
total de T 4 no soro e 0 , 3 % da concentração sérica total de T 3 ,
respectivamente. Conseqüentemente, ensaios para hormônios
Determinação da Triiodotironina no Soro
tireoidianos livres devem ser capazes de medir concentrações
Os anticorpos específicos para T 3 agora estão disponíveis para a
abaixo de picomol. Teoricamente, os métodos mais confiáveis para
medição direta de T 3 por imunoensaio. Diferentemente do anti-
a medição de FT 4 e FT 3 em SOTO empregam a diálise de equilíbrio
soro para T 4 , é difícil obter altos títulos de anti-soro específico
e técnicas de ultrafíltração que separam fisicamente o h o r m ô n i o
para T 3 por imunização de coelhos com Tg de ocorrência natural-
livre do h o r m ô n i o ligado à proteína antes da medida direta da
Entretanto, foi produzido anti-soro de qualidade aceitável usando-
fração livre c o m u m imunoensaio sensível a T 4 ou T 3 . Apenas
se Tg enriquecida com T 3 , conjugados de T 3 -albunruna do soro
pequenas diluições das amostras de soro são permitidas, porque
h u m a n o (HSA) ou de T r a l b u m i n a do soro b o v i n o (BSA). A n t i -
a diluição altera a ligação de drogas, ácidos graxos livres e outras
corpos monoclonais para o T ] também foram produzidos utili-
substâncias às proteínas séricas, interferindo assim n o equilíbrio
zando tecnologias de h i b r i d o m a . M u i t o s desses métodos foram
entre o h o r m ô n i o ligado e o livre.
desenvolvidos para uso em sistemas de imunoensaio totalmente
A introdução de imunoensaios bastante sensíveis para T 4 e
automatizados. C o m o acontece nos ensaios com T 4 , os ensaios
T 3 combinados com melhorias no m é t o d o de diálise ou ultrafíl-
por quimiluminescência em plataformas automatizadas também
tração de soro não-díluído p e r m i t i u a medição direta dos h o r m ô -
se tornaram rotineiros.
nios tireoidianos livres. 4 Desse m o d o , os métodos de didíise de
Os intervalos de referência para o I 3 variam de acordo c o m
equilíbrio direto e ultrafíltração estão disponíveis para a quantifica-
o procedimento e com a população de referência. Cada labora-
ção de FT 4 ."
tório deveria estabelecer seu p r ó p r i o intervalo de referência. E m
geral, os valores para T 3 estão relacionados c o m a idade, e valores
mais baixos são observados em idosos (com idade acima de 70 Diálise de Equilíbrio Direta
anos), comparados com os adultos jovens, por causa da redução Nesse método, as amostras de soro não-diluído sofrem diálise por
da conversão periférica de T 4 para T 3 com a idade. 16 a 18 horas a 37°C e m u m a câmara de diálise reutilizável. O
Os papéis clinicamente mais importantes para a medição do tampão de diálise proporciona mudanças mínimas na matriz do
T 3 total estão no diagnóstico e m o n i t o r a m e n t o dos pacientes com soro. O soro dialisado é então analisado diretamente, utilizando
hipertireoidismo com concentrações de T S H suprimidas e con- u m radio imunoensaio sensível (RLA). A variação de resultados
centrações normais de FT 4 ("tireotoxicose por T 3 ' J ); as medições esperados é de 2 a 128 n g / L (2,6 a 165 p m o l / L ) , e o coeficiente
de variação interensaio é inferior a 10%.
de T j têm apenas u m papel l i m i t a d o em pacientes com eutireoi-
dismo e hipotireoidismo, mas t ê m valor n o estabelecimento do
diagnóstico do hipertireoidismo em idosos, Ultrafíltração
O segundo método direto é u m procedimento de ultrafíltração
para a determinação d£ FT 4 no soro que consome significativa-
Determinação da Triiodotironina Reversa mente b e m menos tempo que a diálise. Nesse método, a amostra
A molécula de rT 3 (3,5 ^ ' - t r i i o d o t i r o n i n a ) é biologicamente inerte de soro é (1) ajustada a u m p H de 7,4, (2) incubada por 20
e é u m catabólito do T 4 . Vários métodos de imunoensaios foram minutos.a 37°C (para alcançar o equilíbrio de ligação nessa tem-
estabelecidos para quantificar os níveis de r T 3 l contudo a maioria peratura), e então (3) aplicada a u m dispositivo de ultrafíltração
dos laboratórios hospitalares encaminha o teste do rT 3 para para centrifugação por 30 m i n u t o s a 37°C e 2,000 x g (usando

i
790 PARTE V Fisiopatologia

u m rotor de ângulo fixo). Subseqüentemente, o ultrafiltrado é de calibradores secundários que tiveram seus valores-alvo atribuí-
analisado para T 4 por imunoensaio. dos por u m método de referência. A quantidade de h o r m ô n i o
marcado retido pelo anticorpo está inversamente relacionada
Comentários com a concentração de h o r m ô n i o livre da amostra em teste.
Os ensaios de FT 4 haseados na diálise de equilíbrio direto ou A característica fundamental desse método de duas etapas é
ultrafiltração medem o hoTmônio livre sem a necessidade de que o h o r m ô n i o marcado é fisicamente impedido de interagir
quantificação do h o r m ô n i o total. Esses métodos não são afetados com proteínas de ligação séricas. Isso garante que o anticorpo
por nenhuma variação de proteínas de ligação sérica ou de auto- ligante do traçador seja influenciado apenas pela concentração
anticorpos contra o h o r m ô n i o tireoidiano. E sabido que os de h o r m ô n i o livre, e não por mudanças nas proteínas de ligação
valores médios obtidos nos indivíduos saudáveis eutireoidianos dos hormônios da tireóide.
são ligeiramente mais altos, quando são utilizados métodos de U m certo número de procedimentos manuais e automáticos
ultrafiltração, do que na diálise de equilíbrio. 1 agora está disponível para a dosagem de T 4 ou T i livres. Os
métodos mais antigos utilizavam marcadores radioativos e tubos
Métodos indiretos para Avaliação de Hormônios cobertos por anticorpos ou microglóbulos, mas os sistemas auto-
Tireoidianos Livres matizados disponíveis atualmente usam traçadores não-isotópicos
A maioria dos métodos rotineiros de imunoensaio utilizados na e uma variedade dc formatos de fase sólida. Os imunoensaios de
determinação das concentrações de FT 4 e FT 3 no soro é baseada duas etapas de captura de micropartículas foram desenvolvidos
em estimativas hormonais. Essas abordagens são geralmente mais para automatizar totalmente a medição dos hormônios tireoidia-
convenientes e mais econômicas que a diálise de equilíbrio direto nos livres.1 Em u m tipo de ensaio para T 4 livre, este é inicialmente
ou métodos de ultrafiltração, e a maioria está disponível em imunoextraído do soro utilizando-se micropartículas de látex
instrumentos de imunoensaio automatizados como métodos de cobertas com anticorpo pohclonal anti-T^; o T 4 ligado às proteí-
imunoensaio diretos. nas séricas não reage com o anticorpo. U m a alíquota da mistura
Os imunoensaios duetos de duas etapas (two step) e de uma da reação então é transferida para uma matriz de fibra de vidro
etapa (one ste£>) avaliam as concentrações de h o r m ô n i o livre que captura de forma irreversível o complexo micropaTtícula-T 4 -
usando técnicas de extração de anticorpos. Nesses métodos, os and-T 4 . A lavagem remove todo o material do soro não-hgado na
resultados dos testes são relacionados com calibradores do soro fase sólida. Na segunda etapa de análise com T 4 ou T 3 ligado,
extraídos, com valores de h o r m ô n i o livre que foram medidos os sítios de ligação com os anticorpos que permaneceram deso-
independentemente usando métodos de referência (como a cupados reagem com o conjugado de T3-fosfatase alcalina. As
diálise de equilíbrio direto). A l é m disso, estudos mostraram que proteínas de ligação séricas não estão disponíveis para ligação
todos os métodos de avaliação de h o r m ô n i o livre nos instrumen- com essa enzima conjugada. O excesso da enzima não-conjugada
tos atuais são dependentes das proteínas de ligação até certo é removido pela lavagem, seguida da adição do substrato, 4-metil-
ponto. 1 umbeliferil fosfato, à célula matriz. A concentração do produto
Os valores de referência do T 4 livre oscilam entre 0,02% e fluorescente varia inversamente com o montante de T 4 livre n o
0,04% da concentração total de h o r m ô n i o . Devido a T 3 ter uma soro. A T 3 conjugada com a fosfatase alcalina é utilizada nesse
interação mais fraca com T B G do que T 4 , a fiação de T 3 subme- sistema de ensaio em vez da T i conjugada, por causa de sua
tida à diálise é consideravelmente maior (quase 10 vezes) do que menor afinidade com o anticorpo anti-T 4 . Embora a T 3 conju-
a de T 4 . Assim, o intervalo de referência para o T 3 livre é de 0,2% gada possua a capacidade de se ligar a sítios vagos de anti-T 4 nas
a 0,4%. micropartículas, essa enzima marcada não substitui ou desloca o
Vários imunoensaios foram desenvolvidos para medir hormô- FT, já ligado às micropartículas.
nios tireoidianos livres utilizando técnicas de extração de anti-
corpo. 3 Esses ensaios são subdivididos como ensaio seqüencial cie Imunoensaios de Uma Etapa
duas etapas ou ensaio simultâneo de uma etapa ("análogo"). Cada Esses métodos são amplamente utilizados para avaliação direta
procedimento envolve a incubação direta de soro com u m anti- do T4 1 ivre ou do T 3 livre e são conhecidos como imunoensaios
corpo específico anti-T4 ou anti-T 3) durante a qual os hormônios de uma etapa ou "análogos hormonais". Essas técnicas de uma
tireoidianos alcançam u m novo equilíbrio com todos os ligantes única etapa são geralmente subdivididas em (1) baseadas em u m
presentes. Ocorre uma ligeira redução na concentração de hor- h o r m ô n i o análogo marcado e u m anticorpo de fase sólida ou (2)
m ô n i o livre, mas esta é insignificante se o anticorpo seqüestrar aquelas baseadas em anticorpos marcados e u m h o r m ô n i o
menos de 5% do total de h o r m ô n i o presente na amostra. Assim, análogo de fase sólida. Ambas as abordagens usam análogos dos
a quantidade de T 4 ou T 3 imunoextraída é bem próxima da con- hormônios tireoidianos estruturalmente modificados que, em
centração de h o r m ô n i o livre já existente no soro em equilíbrio. tese, conservam a habilidade de competir com o h o r m ô n i o livre
para ligação com anticorpos anti-T 4 ou anti-T 3 específicos, mas
Imunoensaios de Duas Etapas são quimicamente restringidos da interação com proteínas de
Esses métodos utilizam duas etapas de processamento. Na pri- ligação do h o r m ô n i o tireoidiano na amostra de soro. Diferente-
meira etapa, a amostra do soro é incubada rapidamente com mente dos métodos de duas etapas, os ensaios análogos se
anticorpo específico da fase sólida. Sob condições normais de baseiam mais na análise simultânea do que na titulação seqüen-
temperatura e tempo de incubação, uma porcentagem do hormô- cial dos sítios de ligação com os anticorpos não-ocupados.
n i o total proporcional à concentração original do T 4 livre ou do Imunoensaios enzimáticos de uma etapa estão disponíveis
T 3 livre é extraída e ligada ao anticorpo. Após lavagem exaustiva para a dosagem do T 4 livre no qual u m conjugado T 4 -peroxidase
para remoção das proteínas séricas e outras substâncias interfe- compete com T 4 livre por u m anticorpo da fase sólida. U m
rentes, uma segunda etapa avalia os sítios de ligação com os sistema de quimioluminescência baseado em princípios similares
anticorpos que permanecem desocupados por titulação com T 4 envolve o uso de um conjugado T4-éster de acridina que compete
ou T 3 marcados. O excesso de anticorpo marcado então é reti- com h o r m ô n i o livre pelos sítios de ligação em anticorpos imobi-
rado do anticorpo da fase sólida. A quantidade de traçador ligado lizados em partículas paramagnéticas. 1 As indústrias afirmam que
então é comparada com uma curva de calibração gerada a partir a ligação dessas proteínas de ligação séricas aos conjugados é
Doenças Tireoidianas CAPÍTULO 41

insignificante. Vários sistemas de imunoensaio automatizado tireoidismo disalbuminêmico familiar t a m b é m são obtidos de
baseados em uma etapa, métodos com análogos marcados, estão pacientes c o m auto-anticorpos contra T 4 circulantes ou q u a n d o
disponíveis comercialmente com o objetivo de estimar as concen- a ligação de T 4 c o m a pré-albumina está aumentada.
trações de ambas, FT 4 e FT 3 . A l é m disso, os métodos de quantificação de F T 4 e FT 3 não
Os valores esperados usando-se u m ensaio i m u n o q u i m i o l u m i - são confiáveis quando aplicados em pacientes com excesso o u
nométrico de uma etapa são de 0,8 a 2,3 n g / d L (10 a 30 p m o l / L ) deficiência congênita de T B G . Pacientes nessas condições são
para FT 4 e 230 a 420 p g / d L (3,5 a 6,5 p m o l / L ) para FT 3 . clinicamente eutireoidianos, e suas concentrações de FT4 e FT3
são normais q u a n d o determinadas por métodos de referência
Cálculo das Razões T^TBG e T^TBG direta e imunoensaios de duas etapas. Entretanto, os métodos de
As determinações da concentração da T B G no soro são realizadas índice e de imunoensaios análogos de uma etapa produzem resul-
de duas maneiras n o diagnóstico das doenças da tireóide. E m tados anormais. N o caso de excesso de T B G , p. ex., as concen-
uma, a razão T 4 : T B G ou T 3 : T B G é calculada. 1,0 Tais índices são trações séricas totais de T 4 e T 3 aumentam, e o coeficiente de
derivados das equações de açao de massa e sao usadas para apro- h o r m ô n i o de ligação da tireóide ( T H B R ) é baixo. C o n t u d o , o
x i m a r as concentrações de FT 4 o u FT 3 . Essas razões se correlacio- T H B R não está linearmente relacionado com a fração livre de T 4
n a m variavelmente com as concentrações de FT 4 e FT 3 e são ou T 3 a extremos do alcance desta. Conseqüentemente, o T H B R
particularmente úteis nos soros com concentrações alteradas de não é reduzido t a n t o quanto a fração livre, e o índice de FT 4
T B G . Entretanto, elas p o d e m falhar para compensar as variantes calculado é anormalmente alto.
da T B G c o m afinidade reduzida para T 4 ou c o m ligação a n o r m a l O u t r a situação na qual a estimativa de h o r m ô n i o livre pode
à albumina. O intervalo de referência para a razão T 4 : T B G é de não ser confiável é na avaliação de doentes críticos, os quais
3,8 a 4,5 quando os intervalos de referência para T 4 total e T B G acredita-se que são eutireoidianos. Por exemplo as concentrações
são de 4,5 a 12,5 p g / d L e 1,2 a 2,8 m g / d L , respectivamente. séricas de FT 4 . em pacientes com doenças não-tireoidianas c o m
As medições da T B G t a m b é m t ê m sido usadas para obter valores baixos de T 4 total, são geralmente normais o u elevadas
valores para FT 4 ou FT 3 por cálculo. A s s u m i n d o que a T B G é a de acordo com os métodos de referência, enquanto a maioria das
maior determinante da ligação d o h o r m ô n i o tireoidiano, as con- avaliações de FT 4 o u FT 3 fornece valores baixos, apesar de alguns
centrações séricas de T B G e de T 4 total (ou T 3 ), j u n t a m e n t e c o m resultados estarem dentro do intervalo de referência. U m difícil
a constante de associação para a ligação de T 4 (ou T 3 ) à T B G , são desafio analítico é distinguir doenças não-tireoidianas graves do
utilizadas para calcular os valores do h o r m ô n i o livre N a maioria h i p o t i r e o i d i s m o verdadeiro. Por causa disso é que as atuais dire-
dos casos, esses valores calculados correlacionam-se b e m com trizes da N a t i o n a l Academy o f C l i n i c a i Biochemistry ( N A C B )
aqueles determinados diretamente. recomendam o uso preferencial de FT 4 sobre os atuais testes que
estimam o FT 4 (FT 4 E). ]
Considerações Clinicas As avaliações de FT 4 ou FT 3 p o d e m ser p r o f u n d a m e n t e afe-
As estimativas de FT 4 e F T 3 geralmente dão resultados confiáveis tadas por medicamentos que competem com a T 4 ou T 3 na ligação
nos (1) indivíduos saudáveis, (2) pacientes c o m hipertireoidismo c o m proteínas séricas. C o m métodos de referência que utilizam
e hipotireoidismo, e (3) pacientes com pequenas anormalidades soro não-diluído, a concentração de h o r m ô n i o livre pode aumen-
nas proteínas de ligação. Os resultados são comparáveis com os tar e eventualmente voltar a u m novo estado de equilíbrio na
métodos de referência, c o m o a diál ise do equilíbrio direto e os presença de drogas de remoção de T 4 ou T 3 . Contrastando com
ensaios de R I A . Nesses indivíduos, a seleção de u m método isso, a maioria das avaliações de F T 4 ou FT 3 utiliza soro d i l u í d o
específico de medição de F T 4 o u FT 3 é baseada em fatores como no qual a droga competidora é i n i b i d a antes de os h o r m ô n i o s
(1) conveniência técnica, (2) tempo de análise, (3) disponibilidade livres serem inibidos. Conseqüentemente, o efeito de remoção
comercial e (4) custo. E m certas condições clínicas, os métodos do h o r m ô n i o da droga t a m b é m decresce, levando-se a subestimar
de determinação do h o r m ô n i o livre p o d e m fornecer resultados a verdadeira concentração de FT 4 .
anormais que diferem dos valores normais, geralmente obtidos
utilizando-se métodos de referência diretos. Essas anormalidades Determinação da Globulina de Ligação da
são c o m u m e n t e encontradas e m pacientes eu tireoidianos que Tiroxina e Outras Proteínas de Ligação do
apresentam mudanças significativas nas ligações de T 4 e T 3 com Hormônio da Tireóide
proteínas séricas. Nessas situações, a seleção de métodos de ava- A T B G é a proteína de ligação do h o r m ô n i o tireoidiano com maior
liação de FTf e FT 3 apropriados deveria ser baseada mais em afinidade por T 4 . C o m o tal, é m u i t o importante na regulação da
fatores como sua confiabilidade de análise e diagnóstico do que concentração e disponibilidade da T 4 livre. O excesso de T B G
na facilidade de execução e custo. induzido pelo estrógeno e a deficiência congênita de T B G são as
Infelizmente, os métodos de quantificação de FT 4 e F T i não anormalidades mais significativas que afetam a interpretação dos
têm sido considerados confiáveis em diversas situações. U m a resultados de testes da função titeoidiana (Quadro 41-1).
dessas é c o m relação ao h i p e r t i r e o i d i s m o disalbummêmico fami- A medição direta da concentração protéica da T B G por imu-
liar, uma doença hereditária na q u a l u m componente geralmente noensaio é amplamente utilizada. Estão disponíveis ícits comer-
pequeno da albumina sérica está aumentado, Essa albumina ciais baseados tanto na forma isotópica como na não-isotópica.
variante liga T 4 c o m afinidade anormalmente elevada, mas sua U m imunoensaio enzimático competitivo por quimiolumines-
avidez por T 3 não é aumentada de forma comparável. Apesar de cência para T B G faz uso de T B G marcada com peroxidase e
as concentrações de T 4 total serem geralmente altas, pacientes anticorpo T B G , que é capturado por u m segundo anticorpo da
com hipertireoidismo d i s a l b u m i n ê m i c o familiar são clinicamente fase sólida. 3 O conjugado ligado é medido por luminescência
considerados eu tireoidianos, e as concentrações de h o r m ô n i o ampliada após a adição de l u m i n o l e peróxido de hidrogênio. E m
livre são normais enquanto medidas por métodos de referência adultos saudáveis, o intervalo de referência é de 12 a 28 m g / L .
e pela m a i o r parte dos imunoensaios de duas etapas. Os imuno-
ensaios de uma etapa, do mesmo m o d o , estimam valores altos Determinação da Tireoglobulina
de T 4 livre devido à ligação de T 4 análoga c o m a albumina Os ensaios i m u n o m é t r i c o s de dois sítios foram desenvolvidos
variante. Resultados de teste similares àqueles em casos de hiper- para a medição da Tg. Esses ensaios baseiam-se n o uso de dois
792 PARTE V Fisiopatologia

o u mais a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s dirigidos a diferentes porções (4) T S H , (5) T 4 e (6) T 3 . Desses anticorpos, a antiperoxidase
da m o l é c u l a de Tg. U m dos a n t i c o r p o s é anexado a u m a molécula t i r e o i d i a n a é a mais c o m u m e n t e utilizada na avaliação das
sinalizadora, c o m o u m a enzima o u molécula q u i m i o l u m i n e s - doenças auto-imunes tireoidianas, e n q u a n t o o a n t i c o r p o and-Tg
ccnte, e o o u t r o a u m suporte sólido, c o m o pérolas de polistiTeno é empregado para detectar interferência nas medições de Tg.
o u micropérolas magnéticas. O u t r a variação é ligar b i o t i n a ao O ensaio i m u n o s s o r v e n t e ligado à enzima (ELISA) e i m u n o -
a n t i c o r p o e separar o c o m p l e x o T g usando avidina ligada a u m a ensaios baseados e m q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a f o r a m desenvolvidos
fase sólida. Existem kits comerciais disponíveis baseados nessas para m e d i r t a n t o os a n t i c o r p o s anti-Tg c o m o anticorpos antipe-
técnicas. Os ensaios i m u n o m é t r i c o s mais utilizados são calibra- roxidase t i r e o i d i a n o s ( T P O ) . V á r i o s kits comerciais e m é t o d o s
dos u t i l i z a n d o u m a preparação de referência de T g ( M a t e r i a l de automatizados estão disponíveis, i n c l u i n d o métodos baseados e m
Referência C e r t i f i c a d o [ C R M ] - 4 5 7 ) desenvolvida pelo C o m m u - microplacas de titulação o u tubos, b e m c o m o i n s t r u m e n t o s auto-
i i i l y B u r e a u o f Refercnce. O uso desse padrão reduz a variabili- matizados baseados e m q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a . Hsses métodos
dade entre ensaios e m algo em t o r n o de 3 7 % , u m valor que é geralmente são sensíveis e específicos para acompanhar os pacien-
três vezes mais alto do que a variabilidade entre pessoas.14 A tes c o m doenças tireoidianas auto-imunes.
elevada v a r i a b i l i d a d e entre os métodos impede a troca entre A estimativa d o i n t e r v a l o de referência para os a n t i c o r p o s
métodos d u r a n t e m o n i t o r a m e n t o p o r longos períodos. anti-Tg é controversa, p r i n c i p a l m e n t e devido ao fato de que os
A p r i n c i p a l d i f i c u l d a d e na m a i o r i a dos i m u n o e n s a i o s para Tg auto-anticorpos anti-Tg são observados em i n d i v í d u o s que não
é a interferência devido aos a n t i c o r p o s endógenos a n t i T g (TgAb), aparentam ter q u a l q u e r doença tireoidiana. Intervalos de referên-
que estão presentes entre 1 5 % e 3 5 % dos pacientes c o m câncer cia variáveis f o r a m relatados, d e p e n d e n d o do m é t o d o e de se f o i
t i r e o i d i a n o . Os efeitos de interferência são algumas vezes subs- escolhida u m a população aleatória o u u m a população sem
tanciais, causando o u u m a superestimativa o u u m a subestimativa doença t i r e o i d i a n a ativa o u prévia. Os anticorpos a n t i t i r e o g l o b u -
d o valor real. C o m ensaios i m u n o m é t r i c o s mais novos, esse efeito l i n a são geralmente expressos e m unidades p o r m i l i l i t r o s c o m
tende mais a subestimar. 15 E m contraste, a antiga m e t o d o l o g i a de referência à I a Preparação I n t e r n a c i o n a l de Referência (IRP) d o
R I A parece resistente à i n t e r f e r ê n c i a . 1 5 E crucial q u e todas as M e d i c a i Research C e n t e r ( M R S ) para o auto-anticorpo tireoglo-
amostras de soro sejam avaliadas q u a n t o à presença de T g A b c o m bulina 65/93.
o uso de u m i m u n o e n s a i o sensível, e não u m teste de recupera- A quantificação do a n t i c o r p o anti-Tg acrescenta pouca infor-
ção.' Recomenda-se que a metodologia d o ensaio i m u n o m é - mação além da o b t i d a p o r m e d i ç ã o dos anticorpos a n t i - T P O
trico não seja utilizada para m e d i r T g q u a n d o o T g A b é detectado. para o diagnóstico de u m a doença auto-imune t i r e o i d i a n a . '
O u t r o s problemas técnicos, c o m o a interferência de a n t i c o r p o E n t r e t a n t o , a determinação de anti-Tg é necessária para i d e n t i f i -
heterofílico ( H A M A ) , p o d e m l i m i t a r o valor c l í n i c o das medições car soros c o m auto-anticorpos que p o d e m i n t e r f e r i r na q u a n t i f i -
de Tg. F o r a m sugeridas recomendações sobre abordagens de cação de T g sérica e m pacientes e n c a m i n h a d o s para t r a t a m e n t o
padronização, precisão, limites de detecção e avaliação do "efeito de c a r c i n o m a t i r e o i d i a n o . As concentrações consecutivas de anti-
gancho". 1 Tg p o d e m ser m o n i t o r a d a s e m pacientes c o m câncer de tireóide
O intervalo de referência para T g em i n d i v í d u o s eutireoidia- e a n t i c o r p o s anti-Tg detectáveis, c o m o u m marcador de t u m o r
nos oscila e n t r e . u m l i m i t e i n f e r i o r de 0,5 a 3 a u m l i m i t e superior substituto. 14
de 2 0 a 42 n g / m L (3 a 4 2 p g / L ) , d e p e n d e n d o do método. 1 5
Pacientes sem t i r e ó i d e e que não estão recebendo terapia de Determinação de Anticorpos
reposição de T^ devem ter níveis de Tg indetectáveis, indepen- Antimicrossômicos/Antiperoxidase
dente da c o n d i ç ã o d o T S H . As concentrações de T g são elevadas Tireoidianos
nos recém-nascidos e decrescem significativamente d u r a n t e os A T P O é a t u a l m e n t e r e c o n h e c i d a c o m o o p r i n c i p a l e possivel-
dois p r i m e i r o s anos de vida. mente ú n i c o c o m p o n e n t e auto-antigênico dos microssomos
A Tg é utilizada primariamente, como u m marcador t u m o r a l c i r e o i d i a n o s . Os ensaios baseados na T P O são os preferidos e m
nos pacientes diagnosticados c o m carcinoma diferenciado da tire- uso c l í n i c o de r o t i n a na triagem de pacientes c o m suspeitas de
óide ( C D T ) . Apesar de os níveis séricos da Tg estarem elevados em doenças auto-imunes tireoidianas. O desempenho dos ensaios de
pacientes c o m câncer tireoidiano, i n c l u i n d o o câncer de tireóide a n t i c o r p o s a n t i m i c r o s s õ m i c o s é p r e j u d i c a d o pela (1) l i m i t a ç ã o d e
folicular e o carcinoma papilífero, as elevações t a m b é m são vistas d i s p o n i b i l i d a d e de tecido t i r e o i d i a n o h u m a n o , (2) presença de
em condições não-neoplásicas c o m o (1) adenoma de tireóide, (2) antígenos t i r e o i d i a n o s irrelevantes e auto-anticorpos e (3) conta-
t i r e o i d i t e subaguda, (3) tireoidite de H a s h i m o t o e (4) doença de m i n a ç ã o das preparações microssômicas c o m Tg.1
Graves. As concentrações séricas da T g não a u m e n t a m nos pacien- A purificação da T P O p o r cromatografia de afinidade o u pro-
tes c o m carcinoma m e d u l a r de tireóide. A medição seriada da Tg dução por técnicas recombinantes levou ao desenvolvimento de
é mais utilizada na detecção de recorrência d o C D T após ressecção ensaios para anti-TPO baseados e m R I A o u técnicas i m u n o m é t r i -
cirúrgica. A determinação da Tg é utilizada c o m o u m auxiliar à cas p o r quimioluminescência. 1 Esses procedimentos t ê m as melho-
ultra-sonografia e a pesquisa de c o r p o inteiro c o m iodo radioativo. res características de performance na detecção, confirmação e m o n i -
A análise sérica da Tg t a m b é m é ú t i l no manejo de crianças c o m toração de doenças auto-imunes tireoidianas do que os ensaios
h i p o t i r e o i d i s m o congênito. Todos os pacientes c o m hipertireoi- antigos para anticorpos microssômicos, e são mais adequados para
d i s m o devem ter níveis da Tg elevados;, baixas concentrações de triagem o u automação de grande v o l u m e de testes c o m interferên-
Tg p o d e m indicar a presença de tireotoxicose factitia. cia m í n i m a da Tg o u de anti-Tg. Estão disponíveis imunoensaios
não-isotópicos manuais e automatizados para anticorpos anti-
Determinação dos Anticorpos Antitireoidianos T P O 1 ; os limites de detecção v a r i a m de 0,3 a 2 U / m L .
O a u m e n t o das concentrações circulantes dos a n t i c o r p o s antiti- O i n t e r v a l o de referência de n o r m a l i d a d e para os a n t i c o r p o s
r e o i d i a n o s é observado e m várias doenças da tireóide, em outras a n t i - T P O é controverso. E m ensaios sensíveis, as baixas concen-
doenças auto-imunes e certas e m doenças malignas. Esses anti- trações de a n t i - T P O p o d e m ser detectadas e m alguns i n d i v í d u o s
corpos são dirigidos c o n t r a vários anrigenos da tireóide e do saudáveis sem n e n h u m a doença tireoidiana. A l g u n s desses i n d i -
h o r m ô n i o da tir eóide, i n c l u i n d o (1) Tg (TgAb), (2) peroxidase víduos p o d e m ter disfunção t i r e o i d i a n a subclínica o u oculta. H á
t i r e o i d i a n a ( T P O A b ) , (3) receptor de T S H ( T R A b ) e, raramente, u m a alta prevalência de a n t i - T P O e m idosos. 9,,c E n t r e t a n t o , estu-
Doenças Tireoidianas CAPÍTULO 41 793

dos realizados ao longo d o t e m p o sugerem que a presença de proliferação e privando-a do T S H . As células tireoidianas então
a n t i - T P O é u m fator de risco para disfunção tireoidiana auto- se t o r n a m m u i t o sensíveis ao estímulo pelas preparações de i m u -
i m u n e . As concentrações de a n t i - T P O são geralmente expressas n o g l o b u l i n a G de pacientes c o m doença de Graves. Essas i m u -
e m unidades p o r m i l i l i t r o c o m referência n o padrão M R C n o g l o b u l i n a s s i m u l a m o efeito d o T S H , a t i v a n d o a adenilato
6 6 / 3 8 7 . C o m u m ensaio i m u n o r r a d i o m é t r i c o c o m p e t i t i v o ciclase. Subseqüentemente, o c A M P é liberado para o m e i o cir-
( I R M A ) , a atividade do a n t i - T P O em soro n o r m a l é de 69 ± 15 c u n d a n t e e analisado. O efeito d o estímulo é expresso c o m o u m a
U / m L (SEM). 1 C o m u m ensaio sensível p o r q u i m i l u m i n e s c ê n c i a , porcentagem da atividade basal; a faixa n o r m a l n o soro é de 7 0 %
os valores são < 2 U / m L . 1 a 1 3 0 % . As TSIs estão presentes em 9 5 % dos pacientes c o m
Concentrações detectáveis de anti-TPO são observadas em doença de Graves não-tratada. A l é m de ser altamente sensível e
quase todos os pacientes c o m tireoidite de H a s h i m o t o e nnxedema u m i n d i c a d o r específico da doença de Graves, a medição de T S I
idiopático e na maioria dos pacientes com doença de Graves Esses t a m b é m é empregada n o decorrer da terapia, predizendo recaídas
anticorpos t a m b é m f o r a m encontrados em pacientes c o m diabetes e remissões. E n t r e t a n t o , o valor clínico m a r g i n a l desse teste para
mfiílitus t i p o 1 (dependente de insulina). A frequência de anticor- o paciente, j u n t a m e n t e c o m o custo relativamente alto, sugere
pos anti-TPO detectáveis observados c m doenças tireoidianas não- que a T S I pode não ser a m e d i d a ideal para o diagnóstico e
imunes é similar à observada na população n o r m a l . ' t r a t a m e n t o do h i p e r t i r e o i d i s m o de Graves. 1

Determinação dos Anticorpos Receptores de DISFUNÇÃO TIREOIDIANA


Tireotropina O h i p o t i r e o i d i s m o e o h i p e r t i r e o i d i s m o são as duas p r i n c i p a i s
Os anticorpos anti-receptores de t i r e o t r o p i n a f o r m a m u m g r u p o condições patológicas que envolvem a tireóide. 1,9,16 A análise labo-
de i m u n o g l o b u l i n a s relacionadas que se ligam ao receptor do r a t o r i a l dos h o r m ô n i o s t i r e o i d i a n o s é utilizada para diagnosticar
T S H . Esses anticorpos são f r e q ü e n t e m e n t e encontrados n o soro e d o c u m e n t a r a presença de doenças da tireóide. Conseqüente-
de pacientes c o m doença de Graves ou outras doenças auto- m e n t e , a medição acurada das concentrações h o r m o n a i s da tire-
i m u n e s da trreóide. E m geral, esses anticorpos d e m o n s t r a m hete- óide é a chave para u m diagnóstico a p r o p r i a d o da disfunção da
rogeneidade substancial; alguns e s t i m u l a m a tireóide, e n q u a n t o glândula.1,8
outros não causam n e n h u m efeito o u reduzem a secreção pela
tireóide, b l o q u e a n d o a ação d o T S H . N o m o m e n t o , essas i m u - Hipotireoidismo
n o g l o b u l i n a s anormais não p o d e m ser diferenciadas p o r métodos O h i p o t i r e o i d i s m o é d e f i n i d o c o m o u m a deficiência na secreção
químicos o u i m u n o l ó g i c o s ; sua presença é d e m o n s t r a d a particu- e ação do h o r m ô n i o t i r e o i d i a n o . 9 E u m a doença c o m u m que
l a r m e n t e usando-se ensaios radiorreceptores o u bioensaios que ocorre t a n t o de f o r m a b r a n d a c o m o grave e afeta de 2 % a 1 5 %
u t i l i z a m o m o n o f o s f a t o cíclica o de adenosina ( c A M P ) c o m o cla p o p u l a ç ã o . ' As mulheres são mais afetadas que os homens, e
p o n t o de referência f i n a l . ambos os sexos são afetados c o m mais freqüência c o m o a u m e n t o
O ensaio radiorreceptor d i r e t o avalia a capacidade das i m u - da idade. Os sintomas clínicos v a r i a m desde letargia aparente e
n o g l o b u l i n a s e m i n i b i r e m a ligação de T S H marcado a seus fácil de reconhecer, cansaço e i n t o l e r â n c i a ao frio, a u m d i s t ú r b i o
receptores nas preparações de m e m b r a n a t i r e o i d i a n a h u m a n a s s u b c l í n i c o mais sutil, c o m sintomas generalizados que escapam à
o u a n i m a l . Tais anticorpos são geralmente conhecidos c o m o detecção. A Figura 41-4 representa a constelação de eventos fisio-
imunogíobuiinas inibidoras da ligação de tireotropina ( T B l I s ) . Nesse lógicos associados à d i m i n u i ç ã o da concentração de h o r m ô n i o
m é t o d o , são utilizados receptores de T S H solubilizados p o r deter- t i r e o i d i a n o . O mixedema é u m a f o r m a grave de h i p o t i r e o i d i s m o
gentes e T S H m a r c a d o c o m 12 T. A habilidade de u m a fração na q u a l há u m a c ú m u l o de mucopolissacarideos na pele e em
p u r i f i c a d a de i m u n o g l o b u l i n a s séricas de deslocar o T S H marcado outros tecidos, levando ao engrossamento das feições faciais e a
c o m ,25 1 dos receptores é medida.' Esse m é t o d o , disponível c o m o u m e n d u r e c i m e n t o da pele. 1 O cretinismo é o t e r m o utilizado para
kit comercial, detecta mais de 8 5 % dos pacientes c o m doença de descrever o h i p o t i r e o i d i s m o grave que se desenvolve e m recém-
Graves e requer apenas 2 a 3 horas para ser executado. Os con- nascidos.
centrados de i m u n o g l o b u h n a G n o r m a l (IgG) não p r o d u z e m M u i t a s anormalidades f u n c i o n a i s o u estruturais da t i r e ó i d e
deslocamentos significativos d o T S H ligado ao receptor de T S H levam à deficiência h o r m o n a l t i r e o i d i a n a ( Q u a d r o 41-2). Doenças
(< 10% de inibição). Esse m é t o d o detecta todos os anticorpos o u t r a t a m e n t o s que destroem d i r e t a m e n t e o tecido da t i r e ó i d e
receptores de T S H , mas não distingue se os anticorpos e s t i m u l a m ou i n t e r f e r e m na biossíntese h o r m o n a l t i r e o i d i a n a freqüente-
o receptor de T S H , causando h i p e r t i r e o i d i s m o , o u se o blo- m e n t e causam h i p o t i r e o i d i s m o p r i m á r i o . O h i p o t i r e o i d i s m o
queiam, causando h i p o t i r e o i d i s m o . A quantificação de T B I I s é secundário ocorre c o m o u m resultado de doenças o u d i s t ú r b i o s
p r i n c i p a l m e n t e utilizada em mulheres grávidas c o m diagnóstico hipofisários o u hipotalâmicos.
recente o u prévio de doença de Graves, c o m o i n t u i t o de avaliar
o risco de tireotoxicose fetal o u n e o n a t a l secundária à passagem Hipotireoidismo Primário
transplacentária de anticorpos maternos, 1 O h i p o t i r e o i d i s m o p r i m á r i o ocorre q u a n d o a síntese de T^ e T 3
Os bioensaios i n mtro avaliam a capacidade das i m u n o g l o b u - é prejudicada, o u p o r causa de u m f a t o r extrínseco ou p o r u m
linas de e s t i m u l a r e m a atividade f u n c i o n a l da tireóide, c o m o (1) defeito intrínseco h e r e d i t á r i o na biossíntese d o h o r m ô n i o tireoi-
estímulo da adenilato ciclase, (2) formação de c A M P , (3) m o b i l i - d i a n o . C o m o resultado, o feedback positivo causa a u m e n t o com-
zação d o colóide, o u (4) liberação de i o d o t i r o n i n a . Tais anticor- pensatório na tireóide (tireomegalia, bócio) através da hipersecre-
pos são geralmente conhecidos c o m o imunoglobulinas estimulantes ção de h o r m ô n i o l i b e r a d o r de t i r e o t r o p i n a ( T R H ) e T S H . O
da tireóide (TSIs). A m e d i d a d o a u m e n t o na concentração do h i p o t i r e o i d i s m o p r i m á r i o sem b ó c i o é caracterizado por perda o u
c A M P t e m sido realizada utilizando-se (1) fatias de tecidos tireoi- atrofia de tecido t i r e o i d i a n o , resultando em redução na p r o d u ç ã o
dianos h u m a n o s , (2) c u l t u r a de células humanas da t i r e ó i d e de h o r m ô n i o s tireoidianos, apesar de haver estímulo m á x i m o
congeladas, o u (3) u m a l i n h a g e m clonada de células foliculares pelo T S H . A t i r e o i d i t e de H a s h i m o t o é a causa mais freqüente
tireoidianas (FRTL-5). 1 Esta ú l t i m a t e m facilitado e n o r m e m e n t e de h i p o t i r e o i d i s m o p r i m á r i o em países desenvolvidos, o n d e o
as medições de TS1, e os seus ensaios agora são executados em 1 c o n s u m o de i o d o é suficiente. E m t o d o o m u n d o , a deficiência
dia. Nesse teste, cultiva-se a l i n h a g e m celular p e r m i t i n d o a sua de i o d o é a causa mais c o m u m de h i p o t i r e o i d i s m o c o m bócio. A
794 PARTE V Fisiopatologia

A doença tireoidiana tem uma ampla gama de efeitos: Hipotireoidismo

Tireóide
Cérebro
Depressão
Redução da concentração
Perda de interesse geral
Desenvolvimento intelectual
fetal deficiente

Fígado
Elevação do LDL-colesterol
Elevação dos triglicerídeos

Coração
Redução da freqüência
cardíaca
Aumento da pressãc arterial
intestinos Redução do débito cardiaeo
Constipação Disfunção diastólica
Redução da motilidade Gl

Sistema Reprodutivo
Redução da fertilidade Rins
Anormalidades menstruais Redução da função renal
Retenção hídrica e edema

Figura 4 1 - 4 Efeitos clínicos do hipotireoidismo nos diversos órgãos e sistemas.

causa mais c o m u m do h i p o t i r e o i d i s m o sem bócio é a remoção


QUADRO 41-2 Causas d e Hipotireoidismo
cirúrgica da tireóide o u sua ablação c o m i o d o radioativo no tra-
HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO t a m e n t o da doença de Graves. O h i p o t i r e o i d i s m o p r i m á r i o está
A. Perda do tecido funcionante
f r e q ü e n t e m e n t e associado a a n t i c o r p o s a n t i t i r e o i d i a n o s circulan-
1. Tireoidite linfocítica crônica (Hashimoto) tes e pode coexistir c o m outras doenças nas quais os auto-anti-
corpos são encontrados. A l é m disso, o h i p o t i r e o i d i s m o p r i m á r i o
2. Injúria cervical pela radiação (terapia com I-131, radioterapia)
3. Pás-cirúrgica (cirurgia cervical)
p o d e ser u m a manifestação de u m a s í n d r o m e a u t o - i m u n e de
falha endócrina poliglandular.9
4. Disgenesias da tireóide, defeitos do desenvolvimento (neonatal)
Concentrações reduzidas e da d i s p o n i b i l i d a d e do T4 e T j
B. Doenças infiltrativas da glândula tireóide
1. Infecções virais
levam à hipersecreção de T S H h i p o f i s á r i o e a notáveis elevações
nas concentrações de T S H n o soro. A concentração elevada de
2. infecções bacterianas
T S H é u m i m p o r t a n t e achado laboratorial, p a r t i c u l a r m e n t e na
C. Defeitos na síntese dos hormônios tireoidianos
detecção precoce da falência tireoidiana. N o h i p o t i r e o i d i s m o
1. Defeitos congênitos da biossíntese
2. Deficiência endêmica de iodo
m o d e r a d o o u subclínico, as concentrações de h o r m ô n i o tireoi-
d i a n o p e r m a n e c e m d e n t r o do i n t e r v a l o de referência saudável,
3. Defeitos induzidos por drogas (lítio, glicocorticóides, iodo, propranolol)
mas a concentração de T S H é elevada. A etiologia d o h i p o t i r e o i -
4. Hipotireoidismo primário idiopático (defeito no receptor de TSH)
d i s m o p r i m á r i o é geralmente d e t e r m i n a d a p o r meio de (1) histó-
5. Agentes antitireoidianos (propiltiouracil - PTU)
r i c o detalhado, (2) exame físico e (3) detecção de auto-anticorpos
6 Tireoidites com auto-anticorpos
t i r e o i d i a n o s circulantes, especialmente o anri-TPO.
HIPOTIREOIDISMO HIPOTIREOTRÓPICO (SECUNDÁRIO) O hipotireoidismo congênito pode ser causado p o r completa
A. Doença hipofisária — deficiência de TSH ausência da t i r e ó i d e (agenesia) o u ser secundário a defeitos na
B, Doença hipotalâmica — deficiência de TRH síntese h o r m o n a l . Essa e n f e r m i d a d e ocorre u m a vez a cada 3 . 5 0 0
a 4 . 0 0 0 nascimentos vivos, e a terapia precoce c o m reposição
RESISTÊNCIA PERIFÉRICA AOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS h o r m o n a l de t i r o x i n a é crítica para que se p r e v i n a m os danos
neurológicos irreversíveis. 6,10 Programas de triagem para o hipo-
Doenças Tireoidianas CAPÍTULO 41 795

t i r e o i d i s m o c o n g ê n i t o t ê m sido estabelecidos na grande m a i o r i a nos 9 . Essa doença é causada p o r u m n ú m e r o de condições que


dos países desenvolvidos d o m u n d o e e n v o l v e m a triagem c o m são resultantes d o excesso de d i s p o n i b i l i d a d e dos h o r m ô n i o s
T S H seguida da m e d i d a d o T f livre, q u a n d o o T S H está acima t i r e o i d i a n o s ( Q u a d r o 41-3) 2 , 9 ' i h A l g u n s clínicos preferem utilizar
de 20 m U I / L . 2 O h i p o t i r e o i d i s m o p r i m á r i o é f a c i l m e n t e t r a t a d o o t e r m o geral tireotoxicose, d o que o t e r m o h i p e r t i r e o i d i s m o , para
c o m a reposição diária da t i r o x i n a oral. 9 D u r a n t e o i n í c i o d o d e f i n i r o estado h i p e r m e t a b ó l i c o associado à elevação dos níveis
t r a t a m e n t o , as concentrações séricas de T , livre se ajustam rapi- de h o r m ô n i o s t i r e o i d i a n o s n a circulação. A Figura 41-5 descreve
d a m e n t e , mas as concentrações de T S H p e r m a n e c e m elevadas. as mudanças metabólicas associadas à d i s p o n i b i l i d a d e aumen-
C o m o a resposta da h i p ó f i s e é lenta em registrar pequenas varia- tada de h o r m ô n i o t i r e o i d i a n o As causas de cireotoxicose são
ções agudas d o h o r m ô n i o t i r e o i d i a n o ("atraso h i p o f i s á r i o " ) , divididas e m (1) as que estão associadas a evidência clínica de
p o d e m ser necessárias 4 a 8 semanas para que os valores séricos h i p e r t i r e o i d i s m o e a u m e n t o da p r o d u ç ã o e secreção dos h o r m ô -
d o T S H cheguem ao n o r m a l após o ajuste da dose. A m o n i t o r a - n i o s t i r e o i d i a n o s pela g l â n d u l a t i r e ó i d e e (2) as que não estão.
ção p e r i ó d i c a d o nível d o T S H , u m a a três vezes ao ano, é reco- N a A m é r i c a d o N o r t e , a p r i n c i p a l causa de h i p e r t i r e o i d i s m o é a
m e n d a d a para a m a n u t e n ç ã o d o e u t i r e o i d i s m o clínico e dos doença de Graves, que é u m a doença a u t o - i m u n e que afeta 0 , 4 %
níveis de T S H n o l i m i t e n o r m a l . 8 O t r a t a m e n t o excessivo c o m o da população americana. Sua etiologia envolve o desenvolvi-
T4 oral deve ser evitado c o m o i n t u i t o de m i n i m i z a r o risco de m e n t o de a n t i c o r p o s da classe I g G c o n t r a o receptor d o T S H ,
aceleração da reabsorção óssea e / o u de f i b r i l a ç ã o atrial. r e s u l t a n d o na h i p e r p r o d u ç ã o de T 4 e d o T 3 pela g l â n d u l a tire-
óide. O excesso de p r o d u ç ã o desses h o r m ô n i o s t a m b é m é resul-
Hipotireoidismo Secundário tante de outras condições, i n c l u i n d o : (1) p r o d u ç ã o a u t ô n o m a p o r
O hipotireoidismo secundário (doença t i r e o i d i a n a central) ocorre n ó d u l o s t i r e o i d i a n o s m ú l t i p l o s o u p o r u m n ó d u l o ú n i c o , (2) u m
c o m o resultado das doenças hipofisárias o u h i p o t a l â m i c a s que a d e n o m a solitário tóxico o õ (3) secreção excessiva de T S H p o r
levam à deficiência de T S H , T R H , o u de ambos. A deficiência tumores h i p o f i s á r i o s (rara). O u t r a s causas m e n o s c o m u n s de
de T S H isolada é rara, e a grande m a i o r i a dos pacientes c o m h i p e r t i r e o i d i s m o i n c l u e m a t i r e o i d i t e aguda o u subaguda causada
h i p o t i r e o i d i s m o secundário t a m b é m tem a deficiência de outros p o r infecções virais o u bacterianas. Estas p r o d u z e m u m a u m e n t o
h o r m ô n i o s hipofisários (pan-hipopituitarismo). N o hipotireoi- n a liberação dos h o r m ô n i o s armazenados na glândula, c o m o
d i s m o secundário, as concentrações séricas dos h o r m ô n i o s tireoi- resultado de mudanças i n f l a m a t ó r i a s e i n f i l t r a ç ã o de leucócitos
dianos são mais baixas, mas o nível de T S H p o d e ser b a i x o o u d e n t r o da p r ó p r i a glândula. A síntese de novos h o r m ô n i o s pode
d e n t r o d o l i m i t e de referência de i n d i v í d u o s n o r m a i s . Q u a n d o estar reduzida d e v i d o à s u p T e s s ã o d o T S H pelo excesso de hor-
t a n t o as concentrações de T f e dc T S H estão baixas, o teste d o
T R H p o d e trazer a l g u m benefício. N o s pacientes c o m lesões
destrutivas da g l â n d u l a h i p o f i s á r i a que r e s u l t a m e m deficiência
de T S H , n e n h u m a resposta é esperada c o m a a d m i n i s t r a ç ã o
exógena de T R H . N o s pacientes c o m lesões h i p o t a l â m i c a s que QUADRO 41-4 Sintomas de Hipertireoidismo e
afetam a liberação de T S H e T R H , o p i c o de resposta d o T S H Hipotireoidismo
ao T R H pode ser n o r m a l , p o r é m a sua resposta está atrasada e m
HIPERTIREOIDISMO
acc 45 a 6 0 m i n u t o s após a a d m i n i s t r a ç ã o d o T R H , e m lugar da
Perda de peso
resposta n o r m a l que ocorre e m t o r n o de 20 a 30 m i n u t o s .
Fadiga
Wervosismo
Hipertireoidismo Palpitações
O h i p e r t i r e o i d i s m o é definido como u m a condição hipermeta- Pulso rápido
bólica causada pela excessiva p r o d u ç ã o dos h o r m ô n i o s tíreoidia- Irregularidades menstruais
Intolerância ao calor
Sudorese aumentada
Q U A D R O 4 1 - 3 | Causas de H i p e r t i r e o i d i s m o
Diarréia
Inquietação
CAUSAS COMUNS DA HIPERFUNÇÃO DA TIREÓIDE*
Tremor
A. Bócio difuso tóxico (doença de Graves)
Fraqueza muscular
B. Bócio moltinodular (doença de Plummer)
Alterações oculares (doença de Graves)
C. Adenoma solitário tóxico
Aumento variável da glândula
CAUSAS INCOMÜNS DE HIPERFUNÇÃO DA TIREÓIDE*
A. Tireoidite aguda ou subaguda (eiiologia virai ou bacteriana) HIPOTIREOIDISMO
1. Tireoidite de Hashimoto (auto-imune) Aumento do peso
2. Tireoidite De Quervain (subaguda) Fadiga fácil
3. Tireoidite linfocitica (indolor, subaguda) Letargia
B. Tumores hipofisários secretores de TSH Intolerância ao frio
C. Carcinoma de tireóide (papilífero, folicular, anaplásico) Queda de cabelo
D. Tireoidite pos-parto Constipação
E. Tumor trofoblástico produtor de MCG Depressão
F. Hipertireoidismo induzido pelo iodo Reflexos lentos
G. Tireotoxicose factícia idiopática Bradicardia
H. Toxicose pelo T3 Rouquidão/alteraçãD da voz
I. Tireotoxicose induzida por medicamentos (amiodarona)
Pele seca e de textura irregular
J. Tecido tireoidiano ectópico {struma ovarii, mestástases de carcinoma de
Aumento do colesterol
tireóide).
Olhos inchados
"Associado a aumento da captação âz iodo radioativo, exceío mfio Wit^ííio Irregularidades menstruais
•\v. liViu • ti diminuição da câpKifdo de iodo radioativo, Músculo fraqueza/cãibras
796 PARTE V Fisiopatologia

A doença tireoidiana tem uma ampla gama de efeitos: Hipertireoidismo

Tireóide Cérebro
Aumento do tonus adrenérgico
Excitabilidade
Hipercinesia

Fígado
Aumento da degradação
dos lipídios
Balanço proteico negativo
Disfunção hepática
Coração
Taquicardia
Palpitações
Aumento do débito cardíaco
Pulso acelerado
Intestinos
Esteatorréia
Aumento da motilidade Gl
Má absorção intestinal

Rins
Sistema Reprodutivo
Aumento da filtração glomerular
Redução da fertilidade
renal (FGR)
Anormalidades menstruais
Aumento do fluxo sanguíneo
Abortamento
renal

Figura 41-5 Efeitos clínicos do hipertireoidismo nos diversos órgãos e sistemas.

m ô n i o . Outras causas secundárias de h i p e r t i r e o i d i s m o i n c l u e m Q u a n d o as concentrações do T S H estão suprimidas, as con-


(1) entrada exógena de h o r m ô n i o da tireóide (tireoroxicose -factí- centrações séricas de T 4 livre devem ser determinadas e deverão
cia), (2) ingestão excessiva de iodo, (3) carcinoma de tireóide, (4) estar elevadas na maioria dos casos de hipertireoidismo. A pre-
tireotoxicose induzida por draga, c o m medicamentos que c o n t ê m sença de níveis de T S H baixos acompanhada de níveis elevados
iodo, como a amiodarona. de T 4 livre é usualmente suficiente para estabelecer o diagnóstico
A prevalência do hipertireoidismo é razoavelmente baixa na de hipertireoidismo. Se a concentração de T S H estiver suprimida
população em geral (0,3% a 0,6%), e as mulheres são mais pro- mas a concentração de T 4 livre estiver dentro do intervalo de
pensas a desenvolver h i p e r t i r e o i d i s m o que os homens. A propor- referência, a dosagem de T 3 deve ser realizada porque as concen-
ção de mulheres para homens com doença de Graves é de cerca trações de T^ estão freqüentemente mais elevadas do que as de T 4
de 5:1. O h i p e r t i r e o i d i s m o é usualmente mais fácil de ser diag- nas fases iniciais da doença de Graves e em alguns pacientes com
nosticado pela observação clínica do que o h i p o t i r e o i d i s m o bócios u n i o u multinodulares tóxicos (também denominados
(Quadro 41-4). E m alguns pacientes com h i p e r t i r e o i d i s m o , par- tireoitoxicose pelo T 3 ). U m a concentração de T S H persistente-
ticularmente indivíduos c o m mais de 60 anos, o diagnóstico mente suprimida acompanhada de níveis normais de T 3 e F T ,
pode não ser evidente, e os sintomas p o d e m ser sutis o u atribuí- pode significar u m "hipertireoidismo subclínico", que é definido
dos ao estresse ou a outras causas. O painel b i o q u í m i c o do bioquimicamente como uma situação que apresenta poucos sin-
hipertireoidismo p r i m á r i o demonstra aumento de T 3 e do T 4 tomas ou sintomas clínicos sutis. 4 Pelo fato de apenas a fração
com T S H s u p r i m i d o a indetectável, exceto nos raros casos nos livre de T 3 ser biologicamente ativa, a estimativa do FT 3 é ú t i l para
quais o hipertireoidismo é mediado pelo p r ó p r i o T S H . Tais casos compensar as variações nas proteínas de ligação. Al g u n s medica-
i n c l u e m os adenomas hipofisários secretores de T S H e a resistên- mentos e doenças agudas e crônicas causam uma redução transi-
cia hipofisária aos h o r m ô n i o s tireoidianos. Os pacientes c o m tória nas concentrações de T 3 . E m pacientes c o m doenças não-
hipertireoidismo tipicamente apresentam concentrações séricas tireoidianas (DNTs), o diagnóstico precoce do hipertireoidismo
de T S H < 0,05 r n U I / L . U m nível sérica de T S H dentro do inter- pode não ser possível até que a outra doença seja resolvida.
valo de referência quase sempre exclui o diagnóstico de hiperti- Ocasionalmente, o aumento das concentrações séricas de T 4
reoidismo. e T j ocorrerá como resultado de (1) ingestão exógena de grandes
Doenças Tireoidianas CAPÍTULO 4.1 797

quantidades de h o r m ô n i o s t i r e o i d i a n o s o u (2) a liberação dos t e c i d o periférico. Essa conversão é i n i b i d a (1) e m problemas


h o r m ô n i o s t i r e o i d i a n o s d e v i d o ao dano d o p a r ê n q u i m a tireoi- n u t r i c i o n a i s agudos e crônicos, (2) n o c o n t r o l e precário do dia-
d i a n o associado a t i r e o i d i t e subaguda o u t i r e o i d i t e linfocítica betes melhtus, e (3) e m m e d i c a m e n t o s , c o m o h i d r o c o r t i s o n a e
crônica. O a u m e n t o nas concentrações de T 4 e T 3 pode estar betabloqueadores.
associado a achados clínicos q u e sugerem u m h i p e r t i r e o i d i s m o Concentrações reduzidas de T 4 total p o d e m ser vistas t a m b é m
verdadeiro. O d i l e m a desse diagnóstico, entretanto, é solucio- em D N T s . A s concentrações de bTj,, determinadas p o r i m u n o e n -
nado p o r m e i o da realização d o teste de captação de i o d o radioa- saio e p o r diálise de e q u i l í b r i o , entretanto, geralmente permane-
tivo, e n c o n t r a n d o u m a baixa captação de i o d o radioativo (por- cem d e n t r o d o intervalo de referência de n o r m a l i d a d e o u são
centagem de i o d o r a d i o a t i v o a d m i n i s t r a d o o r a l m e n t e captado apenas ligeiramente elevadas. Essa disparidade entre a queda
pela g l â n d u l a c o m 6 o u 24h), u m a situação que acompanha essas t o t a l de valores de T4 e n o r m a i s , o u mesmo elevadas concentra-
formas não-tóxicas de h i p e r t i r e o i d i s m o . N a m a i o r i a dos casos de ções de T i livre, pode ser causada p o r (1) redução nas concentra-
tireoidite, a condição clínica é a u t o l i m i t a d a e irá se resolver sem ções séricas das proteínas de ligação dos h o r m ô n i o s tireoidianos,
anormalidades na f u n ç ã o t i r e o i d i a n a residual . (2) mudanças nas propriedades de ligação induzidas p o r i n i b i d o -
Estratégias de t r a t a m e n t o i n c l u e m (1) administração de res de circulação e drogas, o u ambas.
drogas antitireoidianas, (2) ablação c o m i o d o radioativo e (3) As concentrações séricas de T S H são geralmente n o r m a i s em
remoção cirúrgica da tireóide. O t r a t a m e n t o visa a reduzir a pacientes c o m s í n d r o m e d o doente e u t i r e o i d i a n o , mas p o d e m
p r o d u ç ã o de h o r m ô n i o o u i n i b i r a conversão periférica de T 4 a ser s u p r i m i d a s a m o d e r a d a m e n t e reduzidas d u r a n t e a fase aguda
T 3 . N o m o m e n t o em que o t r a t a m e n t o é i n i c i a d o , recomenda-se de D N T o u ligeiramente elevadas d u r a n t e a recuperação de u m a
que sejam feitas medições de F T 4 sérico em algumas semanas até doença grave. 1 A s causas dessas concentrações passageiras e anor-
que os sintomas d i m i n u a m e os valores séricos se n o r m a l i z e m E mais de T S H não f o r a m t o t a l m e n t e entendidas, mas p o d e m
recomendável que se faça o m o n i t o r a m e n t o c o n t í n u o duas a três relatar os efeitos dos h o r m ô n i o s endógenos o u exógenos, c o m o
vezes ao ano após o f i m do t r a t a m e n t o bem-sncedido para evitar glicocorticóides o u d o p a m i n a , os quais s u p r i m e m independente-
a recorrência do h i p e r t i r e o i d i s m o . 5 Pelo fato de a h i p ó f i s e estar m e n t e a secreção hipofisária de T S H . O u t r a s causas possíveis
s u p r i m i d a n o h i p e r t i r e o i d i s m o , a medição da concentração sérica i n c l u e m desnutrição o u atividade biológica alterada d o T S H
de T S H não é u m b o m p a r â m e t r o para m o n i t o r a r o estado da ímunorreativo.8
t i r e ó i d e n o p e r í o d o i m e d i a t o após o i n í c i o da terapia antitireoi- Q u a n d o os pacientes recuperam-se da D N T s , m u i t a s anorma-
diana. D e fato, as concentrações de T S H permanecem s u p r i m i - lidades detectadas nos testes t i r e o i d i a n o s v o l t a m ao n o r m a l .
das p o r meses após o paciente se t o r n a r c l i n i c a m e n t e eutireoi- Concentrações d o T | t o t a l serão corrigidas p r i m e i r a m e n t e , segui-
diano. A ablação do tecido t i r e o i d i a n o o u o uso de doses exces- das p o r u m a elevação n o T 3 . O T S H sérico pode t a m b é m provi-
sivas de drogas antitireoidianas, algumas vezes, leva a u m h i p o t i - soriamente a u m e n t a r p o r vários dias o u semanas antes de voltar
r e o i d i s m o iatrogênico clínico e a a u m e n t o sérico do T S H . Deve- ao n o r m a l . Desse m o d o , na D N T , os resultados anormais dos
se vigiar o h i p o t i r e o i d i s m o e m pacientes previamente tratados testes da função t i r e o i d i a n a não necessariamente r e f l e t e m a pre-
para h i p e r t i r e o i d i s m o p o r toda a v i d a , o que é mais b e m m o n i - sença de u m a doença tireoidiana, mas p o d e m d e m o n s t r a r adap-
t o r a d o pela dosagem d o T S H sérico. tações ao estado catabólico. A o m e s m o tempo, valores paradoxal-
m e n t e n o r m a i s p o d e m ser vistos e m pacientes c o m doença tireoi-
Doença Não-tireoidiana diana c o m o resultado de medicações o u da p r ó p r i a D N T . È
M u i t o s distúrbios são associados ao excesso o u à deficiência de preferível p r o r r o g a r as avaliações sobre a função t i r e o i d i a n a e m
h o r m ô n i o t i r e o i d i a n o na ausência de u m a doença t i r e o i d i a n a pacientes doentes até que a doença de base seja esclarecida, a não
d e f i n i d a . Esses estados de h i p e r t i r o x i n e m i a eutireoidiana o u ser que esse diagnóstico m u d e a sobrevida do paciente.
h i p o t i r o x i n e m i a e u t i r e o i d i a n a geralmente são resultados de alte-
rações (1) na concentração de proteínas de ligação dos h o r m ô - DIAGNÓSTICO DA DISFUNÇÃO TIREOIDIANA
nios tireoidianos, (2) nas ações de certas drogas, (3) nos efeitos Os testes de l a b o r a t ó r i o mais c o m u m e n t e utilizados para avaliar
das D N T s agudas e crônicas, o u (4) na resistência periférica aos pacientes c o m disfunção t i r e o i d i a n a estão citados na Tabela 41-1-
h o r m ô n i o s tireoidianos. A f a m i l i a r i d a d e c o m a fisiologia e c o m a fisiopatologia é i m p o r -
U m espectro progressivo de anomalias de resultados dos tante se esses testes f o r e m utilizados e selecionados de f o r m a
testes t i r e o i d i a n o s a c o m p a n h a D N T s em pacientes eutireoidianos apropriada. E n t r e t a n t o , é i m p o r t a n t e n o t a r que a n o r m a l i d a d e
(síndrome do doente eutireoidiano) 1 ' 1 1 ( Q u a d r o 41-5). A s m u d a n - das concentrações séricas do h o r m ô n i o t i r e o i d i a n o não necessa-
ças iniciais e mais c o m u n s que o c o r r e m são a redução nas con- r i a m e n t e exclui a existência de doença da tireóide, e resultados
centrações séricas do T 3 t o t a l e livre, algumas vezes concentrações anormais n e m sempre i n d i c a m a sua presença. O alargamento
extremamente baixas, e u m a elevação na concentração sérica d o d i f u s o o u n o d u l a r da tireóide, p. ex., p o d e ser n o t a d o em pacien-
rT 3 ( " s í n d r o m e d o T 3 baixo")- Essas mudanças f o r a m atribuídas tes eutiroideanos. 9 Os sinais e sintomas clínicos do excesso o u
a u m b l o q u e i o nas 5'-desiodmases que convertem T j a T 3 n o deficiência de h o r m ô n i o t i r e o i d i a n o são geralmente vagos e ines-
pecificos ( Q u a d r o 41-4). Por essa razão, q u a n d o há suspeita de
h i p o t i r e o i d i s m o o u h i p e r t i r e o i d i s m o , geralmente exige-se a con-
f i r m a ç ã o c o m testes de l a b o r a t ó r i o . As diretrizes para a seleção
QUADRO 41-5 Efeitos das Doenças A g u d a s e C r ô n i c a s na de testes de l a b o r a t ó r i o apropriados para a f u n ç ã o t i r e o i d i a n a
Função Tireoidiana f o r a m publicadas p o r organizações profissionais c o m o a A m e r i -
can T h y r o i d Association ( h t t p : / / w w w . t h y r o i d . o r g / ) , e a N a t i o n a l
Conversão periférica reduzida de T, a T3 Academy of Clinicai Biochemistry1 (http://www.aacc.org/
Aumento na produção de rTa A A C C / m e m b e r s / n a c b / ) , e o Royai College o f Physicians de
Produção reduzida das proteínas de ligação do hormônio treoidianc Londres. Para u m a discussão mais m i n u c i o s a acerca do diagnós-
Inibidores circulantes da ligação de hormônio tireoidiano tico e t r a t a m e n t o das doenças da tireóide, recomenda-se ao leitor
Elevação moderada do TSH sérico durante a fase de recuperação consultar textos gerais de endocrinologia 2 ' 9 ' 1 6 o u revisões em
Redução moderada do TSH sérico durante a fase aguda tópicos específicos, c o m o doença tireoidiana na gravidez.^
798 PARTE V Fisiopatologia

Historicamente, o teste na tireóide era feito passo a passo, da doença tireoidiana c o m o teste FT4E, o uso de u m ensaio
c o m a primeira etapa sendo realizada por meio da mèdição do sensível de T S H agora é o teste de screening inicial da função
soro do T 4 total ou. FT 4 E. O T 4 total mede tanto o h o r m ô n i o tireoidiana mais aceito em pacientes ambulatoriais — as concen-
ligado quanto o livre e reflete a produção do h o r m ô n i o tireoi- trações de T S H são elevadas n o h i p o t i r e o i d i s m o e baixas 110
diano; entretanto, as mudanças na concentração o u afinidade no hipertireoidismo. A g o r a é possível utilizar o teste de FT 4 de m o d o
soto das proteínas de ligação do h o r m ô n i o tireoidiano afetam as mais parcimonioso quando a concentração de T S H é anormal-
concentrações de T4 total sem mudar as do h o r m ô n i o livre e ativo mente alta ou baixa. Essa estratégia baseada na dosagem do T S H
(resultados de testes de T 4 total "anormais" na ausência de doença para a avaliação inicial da função tireoidiana provou ser clinica-
da tireóide). Pequenas mudanças nas proteínas de ligação séricas, mente eficiente, além de ter u m a boa relação custo-benefício. 3
como aquelas induzidas por gravidez ou terapia com estrógeno,
são corrigidas c o m u m a estimativa indireta de FT 4 por i m u n o e n -
saio (FT 4 E). As anormalidades extremas das proteínas de ligação, R EFERÊ NCIflS
entretanto, dão resultados de FT 4 E não-confiáveis. As concentra-
1. Baloeh Z, Carayon P, Conte-Devolx B, et al. 2003 Laboratory Medicine
ções séricas elevadas das proteínas tendem a produzir uma supe-
Practice Guidclincs. Laboratory support for the diagnosis and
restimativa do resultado de FT4E, enquanto baixas concentrações monitoring of thyroid disease. Thyroid 13:57-67. See also www.aacc.org/
proteicas levam a u m a subestimativa dos valores de FT4. Para A A C C / m e m b e r s / nacb/ •
pacientes com anormalidades primárias da T B G , o valor de FT 4 E 2. DeGroof L], Uirsen PR, Henticmann G, eds The thyroid and its
fornece uma informação diagnostica mais segura do que u m valor dtseases, 6th ed. New York: Churchill Livingstone, 1996
de T 4 total sozinho. Se necessário, em algumas circunstâncias, 3. D eme rs L M , Spencer C A . The thyioid. pathophysiology and thyroid
q u a n d o se o b t ê m resultados equivocados, pode-se mediT a con- funefion testmg In: Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE, eds. Tietz
centração de FT 4 diretamente usando-se métodos de diálise de textbook of clinicai chemistiy and molecular diagnostics, 4th ed.
equilíbrio. Saunders, 2006:2053-95.
As determinações de T 4 total e FT 4 E não são indicadores 4 Fritz KS, Wilcox RB, Nelson JC A direct free rhyroxine (T4) wich the
ideais da função tireoidiana (1) por causa dos efeitos de variação characteristics of a total T 4 immunoassay. C l i n Chem 2007: Mar 15;
nas concentrações das proteínas de ligação n o soro, (2) porque a [Epub ahead of printl.
T 3 é a forma mais potente e biologicamente ativa de h o r m ô n i o 5. Gharib H , Tuttle R M , Daskin HJ, Fish LH, Singer PA, M c D e r m o t t M T
tireoidiano, e (3) porque as relações entre esses h o r m ô n i o s (T 4 e Subclinical thyroid dysfunction: A j o i n t statement on management from
the American Association of Clinicai Endocrinologists, the American
T 3 ) não são sempre previsíveis, E m pacientes c o m hipertireoi-
Thyroid Association, and the Endocríne Society J C l i n Endocrinol
dismo, a T 3 é geralmente elevada a uma amplitude m a i o r que a
Metab 2005;90:581-5; discussion 586-7
T 4 , porque é derivada do aumento da secreção tireoidiana de T3
6. Glinoer D. The regulation of thyroid funccion i n pregnancy; pathways
e da conversão periférica de T 4 a T 3 . A medição de T 3 total é u m
of endocrine adapta tion from physiology to pathology. Endocr Rev
teste auxiliar algumas vezes m u i t o ú t i l em pacientes c o m suspeita
1997;18 404-33.
de hipertireo idismo. Entretanto, pelo fato de as concentrações
7. Hollowell JG, Staehling N W , Handers W D , H a n n o n W H , Gunter EW,
de T3 f l u t u a r e m rapidamente em resposta ao estresse e a outros
Spencer C A , et al. Serum TSH, T(4), and thyroid antibodíes in the
fatores não-tireoidianos, as concentrações de T 3 são baixas não United States population (1988 to 1994): Narional Health and N u t r i t i o n
apenas no h i p o t i r e o i d i s m o , mas t a m b é m em muitas outras con- Examination Survey (NHAKIES 111). ] C l i n Endocrinol Metab
dições. Desse m o d o , a medição de rotina da T 3 total não é u m 2C02:87:489-99.
b o m teste de triagem do estado da tireóide. 8. Ladenson PW, Singer PA, A i n KB, Bagchi N , Bígos ST, Levy EG, et al.
As concentrações séricas de T S H refletem a ação integrada AmeTÍcan Thyroid Association guidclincs for detection of thyroid
dos h o r m ô n i o s tireoidianos na concentração de u m de seus dysfunction. Arch Intern Med 2000; 160.1573-5-
tecídos-alvo — as células hipofisárias que secretam T S H . Assim, 9. Larsen PR, Davies T R , Schlumberger M , Hay I D The thyroid gland. In:
a medição de TSH é mais confiável no diagnóstico da disfunção Larsen PR, Kronenberg H M , Mel med S, Polonsky KS, eds Williams
tireoidiana que as próprias medições de concentrações hormo- textbook of endocrinology, 10th ed Philadelphia: W B Saunders,
nais da tireóide. A secreção hipofisária de T S H é notavelmente 2003:331491
sensível às concentrações de h o r m ô n i o circulante da tireóide; de 10. Larsen PR, Davies TF. Hypothyroidism and thyroíditis. In: Larsen PR,
fato, u m a mudança em dobro na FT 4 provoca uma mudança de Kronenberg H M , Melmed S, Polonsky KS, eds Williams textbook of
100 vezes na concentração sérica de TSH. 1 3 Essa relação recíproca endocrinology, 10th ed. Philadelphia: W B Saunders, 2003.331491.

log-linear explica por que alguns pacientes p o d e m ter concentra- 11 Mclver B. Euthyroid sick syndrome: an overview. Thyroid 1997;7:125-32.
12. Rawlins M L , Roberts W T . Performance characteristics of si.x third-
ções normais de F T | o u FT3, ou ambas, e poucos sinais ou sin-
generation assays for thyroid-stimulating hormone. C l i n C h e m
tomas de disfunção da tireóide, mas p o d e m ter concentrações de
2004;.50.233844 Epub 2004 Oct 7.
T S H anormalmente altas o u baixas. N e m todas as doenças tireoi-
13. Spencer C A , Takeucho M , Kazarosyan M. Current status and
dianas "subclínicas" justificam o tratamento, mas a detecção de
performance goals for serum thyrotropin (TSH) assays. C l i n Chem
pequenas mudanças na função tireoidiana pode ser i m p o r t a n t e
1996.42.140-5.
para alguns pacientes.
14. Spencer C A . Challenges of serum thyroglobulin (Tg) measurement in
Historicamente, o uso clínico de medições de T S H era limi- the presence of Tg autoantibodies. ] C l i n Endocrinol Metab
tado pela incapacidade da maior parte dos imunoensaios em 2004;89:37024.
diferenciar o l i m i t e inferior do intervalo de referência das con- 15. Spencer C A , Bergoglio LM, Kazarosyan M , Fatemi S, Lopresti JS. 2005
centrações anormalmente baixas. A melhora nas técnicas de Clinicai ímpact of thyroglobulin (Tg) and Tg autoantibody method
ensaios levou à disponibilidade do chamados ensaios de terceira differences on the management of patients w i t h differentiated thyroid
geração do T S H , que são altamente sensíveis e distinguem as carcinomas, j C l m Endocrinol Metab 90.5566-75.
concentrações baixas das normais. Esses novos ensaios alteraram 16. Werner SC, Utiger RD, Ingbar SH. The Thyroid: a Fundamental and
a abordagem nos testes de função tireoidiana. E m vez da triagem Clinicai Text, 9th ed. Lippincott Williams <SL Wilkins, 2004.
C A P Í T U L O 4 2

Distúrbios Reprodutivos*
Ann M. Gronowski, Ph.D.

OBJETIVOS S í n d r o m e do Ovário Policístico (PCOS); U m a condição


1. Definir os seguintes termos: feminina que se caracteriza p o r múltiplos folículos
Ginecomastia Menopausa ovarianos e pelo aumento da produção de andrógenio.
Virilização: A indução ou desenvolvimento de características
Hirsutismo Andropausa
sexuais secundárias masculinas; especialmente a indução de
Puberdade precoce Síndrome do ovário policístico
tais alterações no sexo feminino, incluindo o aumento do
2. Descrever o controle endócrino dos testículos e ovários.
clitóris, crescimento de pêlos faciais ou corporais,
3. Listar os hormônios sintetizados pelos tratos reprodutivos feminino
desenvolvimento de uma l i n h a de implantação capilar
G masculino e os seus locais de ação específicos. Determinar a
tipicamente masculina, estimulação da secreção e
função e a regulação desses hormônios. proliferação das glândulas sebáceas (freqüentemente
4. Representar em gráficos os hormônios LH, FSH, estradiol e provocando acne), e redução da tonalidade da voz.
progesterona durante o ciclo reprodutivo feminino.
5. Listar os exames laboratoriais utilizados para avaliar a função

A
reprodutiva.
6. Discutir a infertilidade masculina e feminina — disfunção hormonal, endocrinologia reprodutiva engloba os h o r m ô n i o s do
alterações físicas e tratamento disponível. eixo hipotalâmico-hipofisárío-gonadal e as glândulas adre-
nais (Capítulos 39 e 40). Esses hormônios são cruciais
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES para uma função reprodutiva adequada e incluem (1) h o r m ô n i o
de liberação da gonadotrofina ( G n R H ) , (2) h o r m ô n i o luteini-
A m e n o r r é i a : A ausência de menstruação.
zante (LH), (3) h o r m ô n i o folículo-estimulante (FSH) e (4) uma
Andropausa: A redução da função gonadal masculina com
idade avançada. multiplicidade de esteróides sexuais. Os esteróides sexuais são
sintetizados pelos ovários, testículos e glândulas adrenais, s e n d o
C o r p o Lúteo: U m a massa glandular amarela no ovário
formada pelo folículo ovariano que amadureceu e liberou responsáveis pela manifestação das características sexuais primá-
rias e secundárias. Os esteróides que feminizam são classificados
seu óvulo; secreta progesterona.
Folículo: U m saco em formato de bolsa que se localiza na como estrógenos. Aqueles que masculinizam são conhecidos como
andrógenios.
superfície do ovário e que contém o óvulo que está
amadurecendo.
Ginecomastia: Desenvolvimento excessivo das glândulas BIOLOGIA REPRODUTIVA MASCULINA
mamárias masculinas. A função dos testículos é sintetizar tanto o esperma quanto os
Gônada: U m a glândula produtora de gametas (um ovário ou andrógenios (Figura 42-1). As células de Sertoli nos túbulos semi-
u m testículo). níferos dos testículos desempenham u m papel crucial na matura-
H e r m a f r o d i t i s m o : U m estado físico caracterizado pela presença ção dos espermatozóides e secretam inibina, que inibe a secreção
tanto dos órgãos sexuais masculinos como femininos. hipofisária de FSH. 5 Envolvendo os túbulos seminíferos estão as
H i r s u t i s m o : U m a quantidade anormal de pêlos, especialmente células de Leydig, que são responsáveis pela produção de andró-
u m padrão masculino adulto de distribuição de pêlos, em genios testiculares e necessárias para a maturação espermática.
mulheres.
Menarcai O estabelecimento ou o início da função menstrual. Papel do Eixo
Menopausa: Cessação da menstruação na mulher, que Hipotalâmico-hipofisário-gonadal
geralmente ocorre por volta dos 50 anos. O G n R H é u m decapeptídeo que é sintetizado n o hipotálamo e
Menstruações: O fluxo mensal de sangue pelo trato genital das transportado para a hipófise anterior, onde estimula a liberação
mulheres. tanto de FSH quanto de L H (Figura 42-1).
Placenta: U m órgão materno-fetal que é característico dos N o homem, G n R H , L H e FSH são secretados em padrões
mamiferos verdadeiros durante a gestação. pulsáteis, encontrando-se as concentrações mais elevadas nas pri-
Puberdade Precoce: Desenvolvimento prematuro das meiras horas da manhã e as mais baixas, tarde da noite. O L H
características sexuais secundárias; geralmente antes dos 8 age sobre as células de Leydig para sintetizar testosterona. O papel
anos de idade em meninas e antes da idade de 9 anos em exato do FSH n o sexo masculino ainda não está claro; contudo,
meninos. sabe-se que o FSH atua sobre as células de Sertoli para estimular
a gametogênese e a síntese e liberação de inibina. Os esteróides
sexuais e a inibina fornecem, em conjunto, o controle de feedback
negativo da secreção de L H e FSH, respectivamente. O F S H pode
se encontrar elevado nos distúrbios nos quais o número das
* 0 autor agradecidamente reconhece as contribuições prévias de R. J. Whitley,
células de Sertoli (e, por conseguinte, a concentração de inibina)
A. "W. Meilcle, N. B. Watts e Shannon Haymond, nas quais se baseiam partes
esteja reduzido. Semelhantemente, uma redução do n ú m e r o de
deste capítulo.
800 PARTE V Fisiopatologia

OH

HIPOTÁLAMO
•XXX
a r x y
R
. > •

Testosterona Dildrotestosterona (DHT)


*
(17|Í-Hidroniandro5C-4-en-3-ona) (17[3-Hidróxi-5cx-androstan-3-Gna)

OH 011
I

m
HKJFISE
ANTERIOR Testosterona
CXJ HO"
J
Androstenediol Androstanediol
Inibina (3p, 17 P-D i id roxiandrost'5-em) {3 Ct, 17 P-Diidróxi-5Cí-androsta na)

! TESTÍCULOS
ClJ
L >4 ^ J
HO v ^
4
A -Andros te n e-3,17 • d io na Desidroepiandrosterona
(DHEA)

Células
Sertoli
Células de Leydig ^ i X .

Figura 42-1 Resumo do controle e n d ó cr in o dn testículo. As lin/ms


tracejadas in d i c a m os efeitos inibitórios, as Lm lias contínuas, os efeitos
OvSO
y ' -*y rJ
estimulatórios. FSH, h o r m ô n i o folfculo-estimulante; GnRH, h o r m ô n i o
Sulfato de desidroepiandrosterona
de liberação da gonadotrofina; L H , h o r m ô n i o luteinizante. (DHEA-S)

Figura 42-2 Estrutura química dos andrógenios.

células de Leydig (e, p o r t a n t o , da secreção de testosterona) acar-


reta u m a elevação da concentração de L H .
t e n e d i o n a e D H E A . Esses estetóides sao metabolizados a testos-
Andrégenios terona e D H T n o tecido-alvo.
Os andrógenios são u m g r u p o de esteróides C ! 9 (Figura 42-2).
Bioquímica e Fisiologia
Função A síntese dos andrógenios se i n i c i a c o m a formação da pregne-
Os andrógenios p r o v o c a m a masculinização do trato genital e o n o l o n a a p a r t i r do colesterol por m e i o da ação da enzima de
desenvolvimento e m a n u t e n ç ã o dos caracteres sexuais secundá- clivagem da cadeia lateral do colesterol. A via para a f o r m a ç ã o da
rios masculinas. Eles t a m b é m c o n t r i b u e m para (1) massa muscu- testosterona é mostrada na Figura 42-3, sendo a via preferencial
lar, (2) massa óssea, (3) l i b i d o e (4) desempenho sexual nos d e f i n i d a pelas setas grossas.
h o m e n s . A testosterona é o p r i n c i p a l a n d í ó g e n i o secretado pelas
células de Leydig dos testiculos, e a sua produção a u m e n t a Transporte dos Andrógenios no Sangue
d u r a n t e a puberdade. As m u l h e r e s p r o d u z e m cerca de 5 % a 10% A testosterona e a D H T c i r c u l a m n o plasma livres (aproximada-
da testosterona p r o d m i d a pelos h o m e n s . m e n t e 2% a 3 % ) o u ligadas às proteínas plasmáticas. As proteínas
A testosterona afeta d i r e t a m e n t e alguns aspectos d o desenvol- de ligação i n c l u e m as globulinas específicas de ligação dos hor-
v i m e n t o sexual secundário, tais c o m o a redução do t o m da voz, m ô n i o s sexuais ( S H B G ) e proteínas não-específicas, tais c o m o a
o a u m e n t o da massa muscular e a l i b i d o . Ela t a m b é m possui a l b u m i n a . A S H B G é u m a Oc-globulina que possui baixa capaci-
efeitos indiretos nos tecidos, c o m u m a elevada atividade da 5(X- dade para os esteróides, mas se liga c o m a f i n i d a d e m u i t o alta,
redutase, o n d e serve c o m o u m pTé-hoTmõnio para a formação de e n q u a n t o a a l b u m i n a possui u m a elevada capacidade, mas baixa
diidrotestosterona ( D H T ) . O u t r o s andrógenios secretados pelas afinidade.
glândulas adrenais i n c l u e m (1) desidroepiandrosterona ( D H E A ) , I n i c i a l m e n t e , pensou-se que a fração livre da testosterona
(2) sulfato de desidroepiandrosterona ( D H E A - S ) , (3) androstene- representasse a fração b i o l o g i c a m e n t e ativa. A t u a l m e n t e , acre-
d i o n a e (4) a n d r o s t e n e d i o l . A s gônadas t a m b é m secretam andros- dita-se que a dissociação da testosterona ligada à proteína t a m b é m
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 42 801

Acetato

OH

17-Hídroxipregnenolona 17-H Idroxiprogoaterona

Desidroepiandrosterona {DHEA) A*-Androstene-3,17-diona

Sulfato de Desidroepiandrosterona (DHEA-S]

Androstanediol Testosterona Estradiol

OH

Enzimas
а. 20a-Hidroxilase
1. 3 p - H i d r o x i e s t e r ó i d e D e s i d r o g e n a s e
2. 1 7 a - H i d r o x i l a s e
H
3. 1 7 , 2 0 - D e s m o l a s e
Diidrotestosterona (DHT)
4. 1 7 p - H i d r o x i e s t e r ó i d e D e s i d r o g e n a s e
5. 5 a - R e d u t a s e R
б. 3 c t - H i d r o x i e s 1 e r ó i d e D e s i d r o g e n a s e
7. C Y P 1 9 ( A r o m a t a s e )
8. D H E A S u l f o t r a n s f e r a s e

3 a-, Andrastanedíol

Figura 42-3 Biossíntese dos andrógenos (glândula adrenal e testículos). As setas grossas i n d i c a m a via
p r i n c i p a l . A s áreas circuladas representam o local de m o d i f i c a ç ã o q u í m i c a .
802 PARTE V Fisiopatologia

ocorra n o i n t e r i o r d o leito capilar. Portanto, a testosterona biodis- Os p r i n c i p a i s m e t a b ó l i t o s excretórios da a n d r o s t e n e d i o n a ,


ponív&l é igual a cerca de 3 5 % d o total, o u seja, a fração livre mais testosterona e D H E A são mostrados na Figura 42-4- Exceto pela
a ligada à a l b u m i n a . 5 A fração ligada à a l b u m i n a é c o n h e c i d a epitestosterona, esses catabólítos c o n s t i t u e m u m g r u p o de este-
c o m o fração " n ã o v i n c u l a d a à S H B G " , o u fração fracamente, uin- róides conhecidos c o m o 17-cetoesteróides (17-KS). M a i s de 9 0 %
culada. desses metabólitos são excretados na u r i n a .

Metabolismo da Testosterona Desenvolvimento Reprodutivo Masculino


A testosterona circulante serve c o m o u m precursor para a f o r m a - Os estágios d o d e s e n v o l v i m e n t o r e p r o d u t i v o m a s c u l i n o i n c l u e m
ção de D H T e estradiol. A m b o s são metabólitos ativos e são con- (1) fetal, (2) pós-natal, (3) p u b e r d a d e e (4) andropausa.
vertidos pela 5ot-redutase e pela aromatase, respectivamente (etapas
5 e 7, Figura 42-3). 3 A D H T é f o r m a d a nos tecidos-alvo androgè- Fetal
nicos, tais c o m o a pele e a próstata, e n q u a n t o a aromatização D u r a n t e o i n í c i o da embriogênese, o feto possui t a n t o duetos
ocorre e m diversos tecidos. A aromatização periférica ocorre pri- genitais para o m t o r e p r o d u t i v o f e m i n i n o (dueto m ü l l e r i a n o )
m a r i a m e n t e n o tecido adiposo ( t a n t o de h o m e n s q u a n t o de q u a n t o para o m a s c u l i n o (dueto w o l f f i a n o ) . O d u e t o m ü l l e r i a n o
mulheres) devido à alta concentração de aromatase nesse tecido. se diferencia em (1) trompas de f a l ó p i o , (2) útero e (3) porção
A taxa de aromatização extraglandular, p o r t a n t o , a u m e n t a c o m superior da vagina do trato r e p r o d u t i v o f e m i n i n o . O d u e t o wolf-
a g o r d u r a corporal. 5 f i a n o se diferencia e m (1) dueto deferente, (2) e p i d í d i m o e (3)
A dndrotestosterona é metabolizada a 30í-androstenediol gli- vesículas seminais n o trato r e p r o d u t i v o m a s c u l i n o . N o s fetos d o
c u r o n í d e o e 3ot-androstenediol. Esses metabólitos f o r a m utiliza- sexo m a s c u l i n o , a testosterona é responsável pela m a n u t e n ç ã o
dos c o m o marcadores da p r o d u ç ã o de D H T n o tecido perifé- dos duetos w o l f f i a n o s e pela virilização do seio u r o g e n i t a l e da
rico. genitália externa. A substância i n i b i d o r a m ü l l e r i a n a ( M I S ) é res-
ponsável pela regressão dos duetos mullerianos. 5 Para que o
desenvolvimento sexual m a s c u l i n o n o r m a l ocorra, deve haver a
p r o d u ç ã o de M I S e de testosterona, a conversão de testosterona
a D H T , e receptores androgênicos f u n c i o n a n t e s .
Diversos defeitos enzimáticos provocarão u m a deficiência na
i i 011
p r o d u ç ã o de testosterona d u r a n t e o desenvolvimento fetal. Estes
T N /--v. i n c l u e m (1) deficiência da lOcfÁidroxilase (colesterol 20,22-desmolase),
(2) deficiência da ÜCH-hidroxilase e (3) deficiêrmia da 17$-hidroxiste-

£
, A íy
^ v /j
r j y TÓide desidrogenase- Os h o m e n s afetados apresentam u m a diversi-
dade de fenótipos, d e p e n d e n d o da deficiência.

esKcster; n i Epitesti n!«r* .ji*i


Pós-natal
A o nascer, a concentração de testosterona é só u m p o u c o mais
/
alta nos m e n i n o s do q u e nas m e n i n a s . Logo após o nascimento,

A â" a concentração de testosterona a u m e n t a , permanece elevada p o r


cerca de 3 meses e, então, cai n o v a m e n t e para os níveis basais
p o r volta de 1 ano (< 1 n m o l / L ) . A concentração dos andróge-
y v
nios permanece baixa, e m b o r a mais alta nos m e n i n o s d o que nas

iC: «cr v J m e n i n a s , até a puberdade. 3

A -Amlrrulenc- i,17*.l'iir:i rtaidrocpiAniicwcTuna (DHEA) Puberdade


A s concentrações de androstenediona, D H E A e D H E A - S começam
a aumentar já p o r volta dos 6 a 7 anos de idade. O i n í c i o da
O o puberdade está associado a picos n o t u r n o s de secreção de L H e,
J em m e n o r medida, de FSH. As alterações globais associadas à

n puberdade refletem a teoria de que o sistema hipotalâmico-hipofi-


sário se t o r n a menos sensível à i n i b i ç ã o p o r feedback pelos andró-
genios circulantes, resultando em concentrações mais elevadas de
_ r
(ndí andrógenios. A secreção de a n d r ó g e n i o d u r a n t e a puberdade
parece ser necessária para u m a densidade óssea n o r m a l . E m média,
E|iiandr ctúfu AIHÍPIMCTCIM* a puberdade está completa entre as idades de 16 e 19,5

^» Andropausa
X O a u m e n t o da expectativa de v i d a gerou interesse pelos proble-
mas de saúde relacionados ao e n v e l h e c i m e n t o , i n c l u i n d o a
redução gradual da f u n ç ã o g o n a d a l nos h o m e n s após a idade de
5 0 anos. O processo de e n v e l h e c i m e n t o m a s c u l i n o acarreta a
11«( redução fisiológica dos andrógenios, i n c l u i n d o a testosterona.
U m a vez que isso se compara c o m as alterações observadas no
Etiocolannlona
J e n v e l h e c i m e n t o f e m i n i n o d u r a n t e a menopausa, esse estado t e m
sido d e n o m i n a d o andropausa. O s sintomas i n c l u e m a d i m i n u i -
Figura 42-4 Catabolismo dos andrógenios CjçO;. A área circulada ção (1) do bem-estar, (2) dos níveis de energia e (3) da f u n ç ã o
representa o local de modificação química. sexual. A o c o n t r á r i o da sua c o n t r a p a r t e f e m i n i n a , a andropausa
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 42 B03

não resulta em u m a perda universal o u absoluta da função e p o r métodos de r a d i o i m u n o e n s a i o ( R I A ) . C o n t u d o , a u t i l i d a d e


g o n a d a l e o processo é m u i t o mais gradual, p r o g r e d i n d o ao l o n g o de tais ensaios para o sexo f e m i n i n o e para i n d i v í d u o s pré-pube-
de várias décadas. rais é duvidosa. A testosterona é baixa nesses i n d i v í d u o s e as
T a n t o a concentração total da testosterona c o m o a livre d i m i - dosagens se c o m p a r a m mal c o m os m é t o d o s de espectrometria
n u e m c o m a idade e m u m a m é d i a de 3,2 n g / d L (0,11 n m o l / L ) de massa.13 A precisão do i m u n o e n s a i o c o m b i n a d o c o m a extra-
p o r ano, A concentração média de testosterona aos 80 anos de ção é incerta.
idade é, a p r o x i m a d a m e n t e , 6 0 % daquela entre os 2 0 e os 5 0 A despeito do t i p o de i m u n o e n s a i o , quase t o d o anti-soro
anos. A s concentrações de testosterona são afetadas p o r u m a série testosterona exibe algum grau de atividade cruzada c o m a D H T
de fatores — especialmente idade, obesidade, hora d o dia e con- (tipicamente 3 % a 5 % ) , mas d e m o n s t r a reação cruzada desprezí-
centração de proteína ligadora ( a l b u m i n a e S H B G ) . A s dosagens vel c o m outros andrógenios. Os ensaios que u t i l i z a m anti-soro
da testosterona livre ( o u b i o d i s p o n í v e l ) em espécimes matinais contra a posição G 1 9 f o r n e c e m u m a especificidade analítica
são consideradas os indicadores mais precisos da androgenici- m á x i m a em relação aos esteróides endógenos. Todavia, as reações
dade, c o n s t i t u i n d o , p o r t a n t o , o exame l a b o r a t o r i a l preferido n o cruzadas c o m os 19-noresteróides que são usados e m preparados
diagnóstico da andropausa. contraceptivos causaram problemas. N a m a i o r i a das situações
clínicas, a estimativa da testosterona sem u m a prévia separação
Metodologia Analítica da D H T é p e r m i t i d a p o r q u e as concentrações plasmáticas de
Diversos métodos estão disponíveis para a dosagem dos h o r m ô - D H T são somente 10% a 2 0 % daquelas da testosterona. A l é m
nios r e p r o d u t i v o s masculinos e h o r m ô n i o s correlatos nos f l u i d o s disso, a LesLosLeiona e a D I I T são os dois andrógenios mais i m p o r -
corporais. (Os métodos utilizados para dosar os h o r m ô n i o s repro- tantes na circulação sistêmica. M e s m o q u a n d o u m m é t o d o dosa
dutivos proteicos encontram-se discutidos n o C a p í t u l o 39.) as concentrações de ambos, ainda assim u m a i n f o r m a ç ã o clinica-
mente ú t i l sobre a carga total de andrógenios é o b t i d a . C o n t u d o ,
Dosagem da Testosterona Total no Sangue se u m a estimativa específica da concentração de testosterona for
A concentração circulante de testosterona c o m o u m t o d o i n c l u i necessária, então a separação c r o m a to gráfica da testosterona e da
(1) u m a f o r m a não-ligada às proteínas, o u " l i v r e " , (2) u m a f o r m a D H T antes do i m u n o e n s a i o geralmente é necessária para a obten-
fracamente ligada e (3) u m a f o r m a f i r m e m e n t e ligada. A f o r m a ção de resultados consistentemente confiáveis.
fracamente ligada está associada à a l b u m i n a , e a f i r m e m e n r e
ligada, à S H B G ( t a m b é m c o n h e c i d a c o m o g l o b u l m a de ligação Coleta e Armazenamento üas Amostras
da testosterona/estradiol). O t e r m o testosterona total refere-se a T a n t o o soro q u a n t o o plasma heparinizado são usados para a
u m a m e d i d a sérica q u e i n c l u i (1) a testosterona livre, (2) a testos- dosagem da testosterona tocai o u livre. A testosterona está sujeita
terona ligada à a l b u m i n a e (3) a testosterona ligada à S H B G . A a u m a variação d i u r n a , alcançando u m a concentração m á x i m a
testosterona b i o d i s p o n í v e l i n c l u i a testosterona livre circulante e entre 4 0 0 a 800. P o r t a n t o , as amostras m a t i n a i s são as preferidas.
a testosterona ligada à a l b u m i n a . 5 A testosterona ligada à S H B G As amostras são estáveis p o r 1 semana (homens), o u 3 dias (mulhe-
não é biologicamente ativa, e n q u a n t o a f o r m a livre enconcra-se res), se refrigeradas, e p o r até 1 ano congeladas a - 2 0 ° C . N e n h u m a
disponível para as céíulas-alvo. A testosterona ligada à a l b u m i n a medicação à base de esteróides, h o r m ô n i o t i r e o i d i a n o o u adre-
t a m b é m está disponível para o tecido-alvo p o r q u e a testosterona n o c o r t i c o t r ó f i c o ( A C T H ) , estradiol, o u g o n a d o t r o f i n a deve ser
se dissociará da a l b u m i n a t r a n s p o r t a d o r a e se d i f u n d i r á rapida- a d m i n i s t r a d a p o r 48 horas antes da coleta da amostra. A m a i o r i a
m e n t e para as células-aivc.'' dos ensaios é padronizada para soro o u plasma heparinizado.
O u t r o s anticoagulantes tais c o m o o ácido etilenodiaminotetracé-
Metodologia t i c o ( E D T A ) p o d e m fornecer valores diferentes. E m alguns
Os imunoensaios enzimáticos (não-isotópicos) c o n s t i t u e m a técnica ensaios R I A , a presença de E D T A parece provocar u m a redução
mais a m p l a m e n t e empregada para a dosagem da concentração da de 10% nas concentrações totais de testosterona.
testosterona circulante (tanto sob a f o r m a ligada às proteínas
c o m o sob a não-ligada). A cromatografia gasosa ( G C ) c o m b i n a d a Intervalos de Referência
à espectrometria de massa ( G C - M S ) permanece o m é t o d o de Os intervalos de referência para a testosterona t o t a l n o soro estão
referência para a dosagem da testosterona, sendo f r e q ü e n t e m e n t e listados na Tabela 45-1 n o C a p í t u l o 45.
utilizada para avaliar as características de desempenho dos
métodos rotineiros de i m u n o e n s a i o . 3 Já f o i sugerido que a cro- Comentários
matografia líquida-espectrometria de massa em tandem ( L C - M S / A avaliação da S H B G n o soro algumas vezes é m u i t o ú t i l para a
M S ) possa se t o r n a r o m é t o d o c l í n i c o de escolha para a dosagem interpretação das concentrações sanguíneas de testosterona.
de baixas concentrações de testosterona. n Ensaios para a dosagem da S H B G i n c l u e m (1) ensaios de ligação,
M é t o d o s diretos de i m u n o e n s a i o (que não exigem extração) nos quais a q u a n t i d a d e de u m a n d r ó g e n i o r a d i o m a r c a d o ligado
f o r a m descritos para a d e t e r m i n a ç ã o da testosterona no soro o u à S H B G é dosada; (2) i m u n o e n s a i o s específicos para a p r o t e í n a
n o plasma. H m tais métodos, a testosterona deve ser deslocada S H B G . Kits comerciais para a d e t e r m i n a ç ã o da S H B G estão
das suas proteínas de ligação ( a l b u m i n a e S H B G ) . Os m é t o d o s disponíveis.
utilizados para liberá-la das suas proteínas endógenas de ligação
i n c l u e m o uso de (1) salícilatos o u sutfactantes, (2) alterações de Dosagem da Testosterona Livre e Fracamente
p H , (3) alterações de t e m p e r a t u r a e (4) esteróides competidores, Ligada no Sangue
tais c o m o es trona e estradiol. Diversos métodos estão disponíveis para a determinação das con-
Os imunoensaios c o m p l e t a m e n t e automatizados i n c o r p o - centrações das formas livre ou biodisponível da testosterona n o soro
r a n d o análogos marcados c o m enzimas e moléculas sinalizadoras o u plasma. Estes i n c l u e m métodos que avaliam (1) a fração livre da
fluorescentes ou q u i m í o l u m i n e s c e n t e s estão comercialmente dis- testosterona por m e i o de equilíbrio de diálise o u ultrafiltração, (2)
poníveis para uso de r o t i n a . Para os pacientes adultos d o sexo h o r m ô n i o livre utilizando u m imunoensaio direto ("traçador ana-
m a s c u l i n o , esses ensaios d e m o n s t r a r a m u m a precisão e r e t o r n o lógico"), (3) combinação das frações livre e fracamente ligada ("bio-
aceitáveis e c o m c o n c o r d â n c i a c o m valores validados por G C - M S disponíveis") da testosterona por precipitação seletiva da forma
804 PARTE V Fisiopatologia

fortemente ligada, (4) índice androgênico utilizando Índices que Nas mulheres, que n o r m a l m e n t e excretam quantidades menores
refletem as proporções dos valores da testosterona e (5)1 concentra- d o que os h o m e n s , as concentrações totais de 17-KSs são deriva-
ções da testosterona livre e fracamente ligada p o r meio de modelos das quase que exclusivamente das glândulas adrenais.
matemáticos.^ Esta ú l t i m a abordagem utiliza equações de ação de A m a i o r parte dos 17-KSs u r i n á r i o s consiste e m (1) androste-
massa para calcular as concentrações da'testosterona livre e fraca- rona, (2) epiandrosterona, (3) e t i o c o l a n o l o n a , (4) D H E A , (5)
mente ligada a partir de concentrações da testosterona total, S H B G 11-cero e (6) 11 p - h i d r o x i a n d r o s t e r o n a e (7) 11-cero e (8) l l f ü -
e a l b u m i n a e a partir de constantes de associação para a ligação da h i d r o x i e t i o c o l a n o l o n a . A D H E A e os 17-KSs 11-oxigenados são
testosterona com as duas proteínas de ligação. p r o d u z i d o s somente pelas glândulas adrenais, e n q u a n t o os outros
Intervalos de referência para a testosterona livre, percentual t a m b é m p r o v ê m de precursores (androstenediona e testosterona)
de testosterona livre e testosterona b i o d i s p o n í v e l n o soto estão elaborados pelas gônadas. P o r t a n t o , o p r i n c i p a l p r o p ó s i t o da
listados na Tabela 45-1 n o C a p í t u l o 45. A diálise de e q u i l í b r i o é dosagem desses m e t a b ó l i t o s esteróides é avaliar a p r o d u ç ã o
considerada o m é t o d o de referência para a determinação da adrenal de andrógenios.
testosterona livre n o soro. Diversos métodos f o t o m é t r i c o s estão disponíveis para a ava-
liação da concentração t o t a l dos 17-KSs na u r i n a . A m a i o r parte
Dosagem da Desidroepiandrosterona e do Seu deles se baseia na reação c o l o r i d a o r i g i n a l m e n t e descrita p o r
Sulfato Z i m m e r m a n . Nesse p r o c e d i m e n t o , (1) a clivagem ácida dos con-
As dosagens da D H E A o u d o seu conjugado sulfatado, D H E A - S , jugados dos 17-KSs dos ácidos g l i c u r ô n i c o e s u l f ú r i c o é seguida
no soro e plasma, sãc i m p o r t a n t e s para as investigações da pro- pela (2) extração, (3) lavagem c o m álcalis e (4) desenvolvimento
dução androgênica adrenal, tais c o m o a avaliação de (1) hiper- da cor. A estrona, que é u m 17-KS " á c i d o " , é r e m o v i d a pelo
plasia, (2) t u m o r e s adrenais, (3) adrenarca, (4) puberdade retar- t r a t a m e n t o alcalino d e v i d o à sua natureza fenólica e, p o r t a n t o , é
dada, o u (5) h i r s u t i s m o . O D H E A - S e m circulação se o r i g i n a e l i m i n a d a antes da reação f o t o m é t r i c a da fração " n e u t r a " rema-
p r i m a r i a m e n t e das glândulas adrenais, embora, nos h o m e n s , nescente dos 17-KSs. A formação do c r o m ó f o r o se baseia na
u m a parte possa ser derivada dos testículos. N a d a é p r o d u z i d o reação dos 17-KSs c o m o m - d i n i t r o b e n z e n o n o h i d r ó x i d o de
pelos ovários. A D H E A é secretada quase c o m p l e t a m e n t e pelas potássio alcoólico para p r o d u ç ã o de u m a coloração roxo-averme-
glândulas adrenais. lhada c o m absorção m á x i m a em 520 n m . Diversos medicamentos
A s concentrações de D H E A exibem u m r i t m o circadiano que i n t e r f e r e m c o m o ensaio para os 17-KSs. Aqueles que p r o d u z e m
reflete a secreção de A C T H e que varia d m a n t e o ciclo menstrual. u m a interferência positiva i n c l u e m (1) c l o r p r o m a z i n a , (2) etina-
As concentrações de D H E A - S não exibem u m r i t m o circadiano mato, (3) m e p r o b a m a t o , (4) ácido n a l i d í x i c o , (5) p e n i c i l i n a , (6)
devido à sua meia-vida circulante mais longa. f e n a g l i c o d o l e (7) espironolactona. Os medicamentos que p r o d u -
zem u m a interferência negativa i n c l u e m (1) clordiazepóxido, (2)
Metodologia agentes progestationais, (3) p t o p o x i f e n o e (4) reserpina.
O i m u n o e n s a i o é o m é t o d o de escolha para as dosagens de
D H E A e de D H E A - S . O u t r o s m étodos i n c l u e m (1) C G , (2) Dosagem dos Esteróides Anabólicos
métodos derivados de isótopos d u p l o s e (3) ensaios competitivas A detecção e a dosagem de esteróides exógenos, tais c o m o a
de ligação proteica. Estes ú l t i m o s , na verdade, dosam os deriva- testosterona e a D H T , que são usados para m e l h o r a r o desempe-
dos do 5-androstenediol e u t i l i z a m a S H B G c o m o u m a proteína n h o atlético, c o n s t i t u e m u m desafio para o l a b o r a t ó r i o . A pro-
de ligação de ocorrência natural. U m m é t o d o de referência porção entre a testosterona e a epitestosterona, seu epímero 17-01,
baseado a cromatografia l í q u i d a de alta performance — espectro- f o i utilizada para a detecção d o abuso de testosterona. U m a
metria de massa — f o i usado para a u m a avaliação i n d e p e n d e n t e proporção entre a testosterona e a epitestosterona > 1 sugere o
dos m é todos de r o t i n a . Os i m u n o e n s a i o s para D H E A - S demons- uso de testosterona exógena, e exames adicionais deveriam ser
t r a m u m a reatividade cruzada significativa c o m D H E A , andros- realizados para c o n f i r m a ç ã o . O u t r o s sugeriram u m a p r o p o r ç ã o
t e n e d i o n a e androsterona; a i n d a assim, as concentrações relativas entre a testosterona e o L H na u r i n a c o m o u m a indicação da
desses esteróides p r o v o c a m u m efeito m í n i m o sobre o desempe- dopagem p o r testosterona. Estudos detalhados dessas proporções
n h o d o ensaio. estão disponíveis. A G C - M S permanece sendo o m é t o d o mais
Os intervalos de referência para as concentrações séricas de a m p l a m e n t e utilizado para triagem e confirmação.
D H E A - S e D H E A estão listados na Tabela 45-1 n o C a p í t u l o 45.
Anomalias Reprodutivas Masculinas
Coleta e Armazenamento das Amostras Diversas anomalias afetam o sistema r e p r o d u t i v o m a s c u l i n o antes
O soro o u o plasma (preservados c o m E D T A ) são adequados para do nascimento, na i n f â n c i a o u na vida a d u l t a ( Q u a d r o 42-1). Para
os imunoensaios para D H E A e D H E A - S - N e n h u m a medicação os propósitos deste c a p i t u l o , elas f o r a m divididas nas categorias
à base de esteróides, A C T H , estradiol, o u g o n a d o t r o f i n a s deve (1) h i p o g o n a d i s m o h i p o g o n a d o t r ó f i c o , (2) h i p o g o n a d i s m o hiper-
ser a d m i n i s t r a d a n o p e r í o d o de 48 horas antes da coleta da g o n a d o t r ó f i c o , (3) defeitos na ação androgênica, (4) i m p o t ê n c i a
amostra. A coleta no i n í c i o da m a n h ã , antes das 10:30h, é a e (5) ginecomastia.
preferida para a D H E A . Amostras refrigeradas (4 n a 8°C) são
estáveis p o r até 14 dias, aquelas congeladas a - 2 0 C são estáveis Hipogonadismo Hipogonadotrófico
p o r > 1 ano. O h i p o g o n a d i s m o m a s c u l i n o é u m a condição provocada p o r
u m a redução da f u n ç ã o dos testículos que acarreta u m retardo
Dosagem dos 17-Cetoesteróides na Urina d o desenvolvimento sexual se manifestado no i n í c i o da vida. O
Os 17-cetoesteróides (17-KSs) são os metabólitos dos precursores d i s t ú r b i o é classificado c o m o Jufogonadotrófico o u c o m o hiper-
secretados pelas glândulas adrenais, testículos e, em alguma g o n a d o t r ó f i c o , d e p e n d e n d o de se os h o r m ô n i o s hipofisários
m e d i d a , pelos ovários. N o s h o m e n s , a p r o x i m a d a m e n t e u m terço g o n a d o t r ó f i c o s ( L H e F S H ) estão d i m i n u í d o s o u aumentados.
dos 17-KSs u r i n á r i o s totais representa metabólitos da testosterona O h i p o g o n a d i s m o h i p o g o n a d o t r ó f i c o ocorre q u a n d o defeitos
secretada pelos testículos, e n q u a n t o os dois terços restantes n o h i p o t á l a m o o u na h i p ó f i s e i m p e d e m o estímulo gonadal
derivam-se dos esteróides produzidos pelas glândulas adrenais. n o r m a l . Os fatores causais i n c l u e m (1) p a n - h i p o p i t u i t a r i s m o con-
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 4-2 805

Q U A D R O 42-1 A n o m a l i a s Reprodutivas Masculinas (3) defeitos enzimáticos na síntese androgênica; (4) agenesia tes-
ticuiar e (5) doença t u b u l a r seminífera, dentre outras causas
HIP0G0NADISM0 HIPOGONADOTRÓFICO diversas. O envelhecimento t a m b é m está associado à insuficiên-
Pan-hipopituitarismo (congênito ou adquirido) cia gonadal, que ocorre e m cerca de 2 0 % dos h o m e n s c o m mais
Síndrome hipotaiâmica (adquirida ou congênita) de 60 anos (veja o i t e m A n d r o p a u s a na seção anterior). 9
Defeitos estruturais (neopiásicos, inflamatórios e infiitrativos)
Síndrome de PraderWilli Defeitos da Ação Androgênica
Síndrome de Laurence-Moor-Biedi O defeito mais c o m u m e grave da ação androgênica é a síndrome
Deficiência de GnRH (síndrome de Kallmann) do testículo feminizante. Esses i n d i v í d u o s possuem u m a constitui-
Hiperproiactinemia (proiactinoma ou medicamentos) ção f e m i n i n a e desenvolvem tecido m a m á r i o . A vagina t e r m i n a
Desnutrição e anorexia nervosa
e m u m a bolsa cega e testículos masculinos estão presentes. Acre-
Supressão induzida por drogas do hormônio luteinizante (andrógenios,
dita-se que o d i s t ú r b i o provenha de u m defeito n o receptor
estrogenos, tranqüilizantes, antidepressivos, anti-hipertensivos, barbitúricos,
a n d r o g ê n i c o As concentrações circulantes de testosterona nesses
cimetidina, análogos do GnRH e opiáceos)
pacientes são as mesmas, o u maiores, d o que aquelas de h o m e n s
normais.
HIPOGONADISMO HIPERGONADOTRÓFICO
Adquirido (irradiação, caxumba, castração e drogas citoióxicas)
Defeitos cromossõmicos impotência
Síndrome de Klinetelter (47, XXY) e mosaicos A i m p o t ê n c i a é a persistente incapacidade de desenvolver o u
Cromossomos autossômicos e sexuais, poliploidias m a n t e r u m a ereção peniana que seja suficiente para a relação
Hermafroditismo verdadeiro sexual e a ejaculação em 5 0 % o u mais das tentativas. 9 U m a ampla
Defeito da biossíntese aridrogênica variedade de anomalias orgânicas e psicológicas p o d e m provocar
Deficiência da 20a-hidroxilase (colesterol 20,22-desmolase) alterações n o i m p u l s o sexual e na capacidade de apresentar u m a
Deficiência da 17,20-liase ereção o u de ejacular. A i m p o t ê n c i a psicogênica é o diagnóstico
Deficiência da 3(3-hidroxiesteróide desidrogenase mais c o m u m . O u t r a s causas i n c l u e m (1) doença vascular, (2) dia-
Deficiência da 17a-hidroxilase betes meUitus, (3) hipertensão, (4) uremia, (5) doença neurológica,
Deficiência da 17(3-liidroxi esferóide desidrogenase (6) h i p o g o n a d i s m o , (7) h i p e r t i r e o i d i s m o e (8) h i p o t i r e o i d i s m o , (9)
Agenesia testicuiar neoplasias e (10) medicamentos. Se n e n h u m a explicação óbvia
Doença tubular seminífera seletiva para a i m p o t ê n c i a for encontrada, as dosagens matinais das con-
Outros
centrações séricas de testosterona, L H e h o r m ô n i o estimulador da
Síndrome de Noonan (baixa estatura, estenose valvar pulmonar,
t i r e ó i d e são sugeridas 9 Concentrações elevadas de gonadotro finas
hipertelorismo e ptose)
i n d i c a m h i p o g o n a d i s m o p r i m á r i o . As concentrações da testoste-
Gõnadas em estria
r o n a total e mesmo da f o r m a livre p o d e m estar d e n t r o dos inter-
Miotonia distnófica
valos de referência, ainda assim p o d e m ser subnormais para u m
Doenças agudas e crônicas
dado paciente se encontradas na presença de L H o u F S H eleva-
DEFEITOS DA AÇÃO ANDROGÊNICA dos. A h i p e r p r o i a c t i n e m i a é u m a causa rara de impotência, mas
insensibilidade androgênica completa (feminização testicuiar) deveria ser considerada e m situações extraordinárias
Sensibilidade androgênica incompleta
Desfeitos do receptor andrcgênico Ginecomastia
Deficiência 5a-redutase Ginecomastia é o crescimento benigno de tecido glandular m a m á r i o
em homens, c o n s t i t u i n d o u m achado c o m u m em homens de
GnRH, Hormámo de lib&tíção da gonãJotrofma
idades variadas. A ginecomastia está associada a u m a u m e n t o na
razão estrógenoiandrógenio. Existem três períodos distintos da
vida aos quais a ginecomastia está c o m u m e n t e associada. O pri-
m e i r o é a ginecomastia transitória, freqüentemente encontrada e m
gênito o u a d q u i r i d o , (2) síndromes hipotalâmicas, (3) deficiência 6 0 % a 9 0 % de todos os neonatos, devido às elevadas concentra-
de G n R H , (4) h i p e r p r o i a c t i n e m i a , (5) desnutrição o u anorexia e ções de estrógenos que cruzam a placenta. O segundo pico ocorre
(6) causas iatrogênicas. Essas anomalias estão todas associadas a durante a puberdade em 5 0 % a 7 0 % dos m e n i n o s normais. Ela
concentrações reduzidas de testosterona e de g o n a d o t r o finas. geralmente é autolimitada, p o d e n d o ser provocada p o r u m a baixa
A síndrome de Kallmann é a f o r m a mais c o m u m de hipogona- testosterona sérica, p o r u m a D H T baixa, o u p o r u m a elevada razão
d i s m o h i p o g o n a d o t r ó f i c o e resulta de u m a deficiência de G n R H estrógeno:andrógenio. O ú l t i m o p i c o é encontrado na população
n o h i p o t á l a m o d u r a n t e o d e s e n v o l v i m e n t o e m b r i o n á r i o . ' Ela se adulta, mais freqüentemente e m h o m e n s entre 50 e 80 anos de
caracteriza p o r h i p o g o n a d i s m o e anosmia (perda do sentido d o idade. Esta ginecomastia pode ser devida à insuficiência testicuiar,
olfato) e m pacientes d o sexo m a s c u l i n o o u f e m i n i n o ; c o n t u d o , resultando e m u m a razão estrógeno: andrógenio aumentada, o u a
ela é cinco vezes mais c o m u m e m h o m e n s . Ela é u m defeito u m a u m e n t o da gordura corporal, resultando em u m a aromatiza-
c o n g ê n i t o c o m graves causas genéticas que resulta em u m a defi- ção periférica aumentada da testosterona para estradiol.
ciência go nado trófica. 7 A ginecomastia t a m b é m p o d e se desenvolver d e v i d o a (1)
causas iatrogênicas, (2) h i p e r t i r e o i d i s m o , o u c o m o resultado de
Hipogonadismo Hipergonadotrófico (3) diversos t u m o r e s endócrinos. E i m p o r t a n t e observar que a
O h i p o g o n a d i s m o h i p e r g o n a d o t r ó f i c o é causado pela disfunção p r o l a c t i n a desempenha u m i m p o r t a n t e papel na galactorréia (pro-
gonadal. Os pacientes c o m insuficiência testicuiar p r i m á r i a apre- dução de leite), mas apenas u m papel i n d i r e t o na ginecomastia,
sentam concentrações elevadas de L H e de F S H e concentrações
reduzidas de testosterona. As causas de h i p o g o n a d i s m o p r i m á r i o BIOLOGIA REPRODUTIVA FEMININA
i n c l u e m (1) lesão testicuiar, t a l c o m o aquela provocada p o r irra-
O sistema reprodutivo f e m i n i n o consiste e m u m a vagina, u m útero,
diação, doença, o u medicamentos,- (2) defeitos cromossõmicos,-
trompas de Falópio e ovários. O s ovários estão localizados em
806 PARTE V Fisiopatologia

Fase folicular I Fase lutei nica


. i

Ciclo
endócrino

ÚQ
Histologia O
Rocnitamanto Corpo
folicular Folículo dominante lúteo

Histologia
andooiH íiial

Temperatura 37.0
corporal
; : J
(«O
36.0

Figura 42-5 As alterações hormonal, ovariana, endometrial e da temperatura corporal basal através do ciclo
menstrual normal. ( D e C a i r BR, Bradshaw K D . Disordeis of the ovary and female reproductive tiact. In:
Braunwald E, Fauci A , Kaspei D , Hauser SL, Longo D L , Jameson JL, eds. Harrison principies of internai
medicine, 15tb ed. N e w York: M c G r a w - H i l l , 2001:2158.)

ambos os lados do útero e m í n t i m a p r o x i m i d a d e com as trompas aumenta e m espessura e vascularização; d u r a n t e a menstruação,


de Falo pio. Sua função é tanto a produção de óvulos q u a n t o a o e n d o m é t r i o se desprende (Figura 42-6).
secreção dos h o r m ô n i o s sexuais progesterona e estrógenos.
Papel do Eixo
Hipotalâmico-hipofisário-gonadal
Fisiologia Nas mulheres adultas, existe u m feedback r i g i d a m e n t e coorde-
T o d o n e o n a t o saudável do sexo f e m i n i n o possui aproximada- n a d o entre o h i p o t á l a m o , a hipófise anterior e os ovários, para
m e n t e 4 0 0 . 0 0 0 folículos p r i m o r d i a i s , cada u m deles c o n t e n d o orquestrar a menstruação. O F S H serve para estimular o cresci-
u m ó v u l o i m a t u r o . D u r a n t e a vida r e p r o d u t i v a de u m a m u l h e r m e n t o folicular, e o L H estimula a ovulação e a secreção de
adulta, 300 a 400 folículos alcançarão a m a t u r i d a d e . U m ú n i c o progesterona pelo c o r p o l ú t e o e m desenvolvimento (Figura 42-6).
f o l í c u l o m a d u r o é p r o d u z i d o d u r a n t e cada ciclo m e n s t r u a l Essas ações são discutidas em m a i o r p r o f u n d i d a d e posterior-
n o r m a l , a p r o x i m a d a m e n t e n o 14° dia (Figura 42-5). D u r a n t e a m e n t e neste capítulo.
ovulação, o f o l í c u l o m a d u r o se r o m p e l i b e r a n d o o o v ó c i t o n o
espaço p r ó x i m a às trompas de Falópio. A p ó s a ovulação, as
células das camadas granulosa e tecal do f o l í c u l o se t r a n s f o r m a m Estrógenos
n o c o r p o l ú t e o (corpo amarelo). Essas células lutelnicas p r o d u - O s estrógenos são h o r m ô n i o s sexuais que são responsáveis pelo
zem estrógeno e progesterona. Se a fertilização e a gTavidez ocor- desenvolvimento e m a n u t e n ç ã o dos órgãos sexuais f e m i n i n o s e
rerem, o c o r p o lúteo persistirá e c o n t i n u a r á a p r o d u z i r estrógenos das características sexuais secundárias f e m i n i n a s . E m c o n j u n ç ã o
e progesterona. Se a gestação não ocorrer, o c o r p o lúteo regredirá, c o m a progesterona, t a m b é m p a r t i c i p a m na regulação do ciclo
sendo eventualmente s u b s t i t u í d o p o r tecido cicatricial. m e n s t r u a l e do crescimento m a m á r i o e u t e r i n o , assim c o m o na
As trompas de F a l ó p i o procedem d o útero e se estendem na m a n u t e n ç ã o da gravidez.
direção dos ovários. Elas c o n d u z e m os espermatozóides ascen- Os estrógenos afetam a homeostasia do cálcio e possuem u m
d e n t e m e n t e a p a r t i r da cavidade u t e r i n a e f o r n e c e m u m local efeito benéfico sobre a massa óssea. Eles reduzem a reabsorção
para a fertilização do ovócito. O ovo fertilizado é t r a n s p o r t a d o óssea, e, em meninas pré-púberes, o estrógeno acelera o cresci-
de v o l t a ao l o n g o das trompas de F a l ó p i o para a cavidade uterina. m e n t o ósseo linear e resulta e m fechamento das epífises. 5 A
A cavidade u t e r i n a é revestida pelo e n d o m é t r i o . O e n d o m é t r i o depleção estrogênica de l o n g o prazo está associada a (1) perda d o
sofre alterações cíclicas em preparação para a i m p l a n t a ç ã o e a c o n t e ú d o ósseo m i n e r a l , (2) u m a u m e n t o das fraturas de estresse
gravidez. D u r a n t e a fase luteínica, o revestimento e n d o m e t r i a l e (3) osteoporose pós-menopausa.
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 42 807

HIPOTÁLAMO

Estradiol,
Prog este rena

OVÁRIO

DesenvoMmento folicular Ovulação Corpo lúteo

Figura 42-6 R e s u m o d o c o n t r o l e e n d ó c r i n o e das alterações n o ovário e n o e n d o m é c r i o d u r a n t e o ciclo


m e n s t r u a l A s linhas tracejadas i n d i c a m os efeitos i n i b i t ó r i o s , e as iinfias contínuas, os efeitos e s t i m u l a t ó n o s . FSH,
H o r m ô n i o f o l í c u l o - e s t i m u l a n t e ; G n R H , h o r m ô n i o de liberação da g o n a d o t r o f i n a ; L H , h o r m ô n i o luteinizanre.

OH Oll

J l
ra
,on

O ;

i-?J HO LIO ^
Escrano Es trona Estradiol-17 P Estriol
«I! O riH
.OH J L .OH <0

xr
T í - J

XX7
<4?

HO" HO
16 Ot-H i d rox i estro n a
£1 J
HO" ^ ^
16-Epiestxiol 1 6-Oxo es trad iol-17 P

0
A
OH

^ - N p Y ° " A.

XXX
I K
\ ^ Y
T í f
TIO" ^

léP-Hidioxies trona 2>Hidroxiesrrcma 2-Hidroxiestradiol

r:b , / v

jçxy
011
l-Hidiusaostiona

Figura 42-7 Fórmulas estruturais de estrógenos i m p o r t a n t e s


808 PARTE V Fisiopatologia

Os estrógenos também possuem efeitos bem estabelecidos Enzimas


L 17,20-Desmolase
sobre as proteínas plasmáticas que influenciam os exames endó-
17-Hidroxi- 17-Hidroxipro- 2. 3 (i-H Leiro*teró i d e desidiogenase
crinos. Eles elevam (1) as concentrações de S H B G , (2) da globu- 3. 17f3-Hidioxicstcióide desidrogenaíe
(jitgiienukma gesterona
lina de ligação dos cor ticos teró ides e (3) da globulina de ligação 4. Atomatase
da tiroxina. Portanto, meninos e meninas apresentam concentra-
ções comparáveis de S H B G , mas os homens adultos possuem
concentrações de S H B G que são a metade daquelas das mulheres
©
DHEA
adultas.

Química
/ uCÊ
r f r
Os nomes e as fórmulas estruturais de alguns dos estrógenos impor-
tantes estão exibidos na Figura 42-7. Estruturalmente, os estróge-
nos são derivados do hidrocarboneto genitor estrano, que é uma
molécula de 18 carbonos com u m anel aromático A e u m grupo Androstenediona Testosterona
metil no C-13. 211 O anel fenólico A e a função oxigênio no
carbono 17 são essenciais para a atividade biológica. Substituintes

Pr
em outras posições na molécula d i m i n u e m a potência femini- o

A
| OH
zante. Por exemplo, o estriol, que contém u m grupo hidroxila na
posição C-16, possui m u i t o pouca atividade biológica.
cu. onj

Bioquímica e Fisiologia
Biossíntese do Estrógeno
Nas mulheres normais, a maioria dos estrógenos é secretada pelos
0":
T
19-Hidroxi androstenediona
XX J19-Hi droxi cestos cero na
folículos ovarianos e pelo corpo lúteo, e, durante a gravidez, pela
placenta. Acredita-se que adrenais e os testículos secretem quan-
tidades insignificantes de estrógenos. O ovário segue a mesma via OH
esteroidogênica dos demais órgãos produtores de esteróides. 211
Os ovários humanos normais produzem todas as três classes de
esteróides sexuais — estrógenos, progestinas e andrógenios. O / v /
estradiol e a progesterona, contudo, constituem os produtos secre-
tórios primários. A o contrário dos testículos, o ovário possui u m
o-
sistema de arun latas es altamente ativo que rapidamente converte 19-Oxo testosterona
andrógenios, como a testosterona, a estrógenos. Diferentemente
do córtex adrenal, o ovário normal carece tanto da enzima 21-
hidroxilase quanto da ll(3-hídroxilase e, portanto, não produz
OH
glicocorticóides e mineralocorticóides. 2,11 Mais de 20 estrógenos
foram identificados, mas somente o 17p-estradiol (também indi- 1
R LJ
Cfj
cado como E2) e o estriol (também indicado como E3) são

rry
rotineiramente dosados clinicamente. O estrógeno mais potente
secretado pelo ovário é o I7p-estradiol. U m a vez que ele deriva
quase que exclusivamente dos ovários, a sua dosagem freqüente- HO
mente é considerada suficiente para avaliar a função ovariana. A Estrona Escradiol-17P
via bioquímica ilustrando a aromatização da testosterona a estra-
d i o l e da androstenediona a es trona é mostrada na Figura 42-8. Figura 4 2 - 8 Biossíntese dos estrógenos. As setas grossas indicam a
via A5-3(5-hidróxi. As áreas circuladas representam o local de modificação
Biossíntese do Estriol durante a Gravidez química. Consulte a Figura 42-4 para as etapas sintéticas iniciais.
A biossíntese dos estrógenos difere qualitativa e quantitativa-
mente nas mulheres grávidas, se comparada às não-gestantes. Nas
mulheres grávidas, a principal fonte de estrógenos é a placenta,
enquanto nas mulheres não-gestantes os ovários constituem o semana: 0,30 a 1,50 pg/L) quando a síndrome de D o w n está
principal local de síntese. 2611 Ao contrário das quantidades em presente.
microgramas secretadas pelas mulheres não-gestantes, a quanti-
dade de estrógenos secretados durante a gravidez se eleva para o Transporte do Estrógeno no Sangue
nivel de miligramas. O principal estrógeno secretado pelo ovário Mais de 97% do estradiol circulante está ligado às proteínas
é o estradiol, enquanto o principal produto secretado pela pla- plasmáticas. Ele se liga especificamente e com elevada afinidade
centa é o estriol. O estriol é formado na placenta a partir de á S H B G c, não-especificamente, à albumina. Os eslrógeiios
DHEA-S, por meio das ações da sulfatase e da aromatase. Exceto elevam as concentrações de S H B G e, portanto, elas são mais
durante a gravidez, as dosagens de estriol possuem pouco valor elevadas nas mulheres do que nos homens. Elas também estão
clínico, uma vez que, nas mulheres não-gestantes, o estriol deriva aumentadas durante (1) a gravidez, (2) o uso de contraceptivos
quase que exclusivamente do estradiol. otais, (3) o hipertireoidismo e (4) a administração de certas
As dosagens do estriol sérico são comumente usadas como drogas antiepiléticas, tais como a Dilantina. As concentrações de
parte de triagens maternas "triplas" ou "quádruplas" para fetos S H B G podem d i m i n u i r no hipotireoidismo, obesidade, ou
afetados pela síndrome de D o w n (Capítulo 43). E m média, o excesso de andrógenios. Somente 2% a 3 % do estradiol total
estriol não conjugado é 0,72 vez menor (valor médio na 16a circula na forma livre. Assim como com a testosterona, acredita-
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 42 809

OH 21
O.TTj
x'
u 1.-0 OH

HO
XX) Estradiol (E5)
/ r s
P .
i> fí

0
n

;
P
14 í ü
JLLJ
Progesterona Nortestosrerona
(Pregn-4-ene*3,2Q-diona) {17 |^H i dróx i-19-n orand ros c-4-eri .3 -on a)
(o)
Figura 4 2 - 1 0 Fórmulas estruturais da progesterona e da
19-no rtes to s tero n a.

HO
XXJ V V

Via òa 2-Hiàroxilãçâo
y Estrona (Hj)
\ \ 16
Via áa
dro3t! la çã o
tação do blastocisto e na manutenção cia gravidez. Em mulheres
não-gestantes, a progesterona é principalmente secretada pelo
corpo lúteo. Durante a gravidez, a placenta se t o m a a principal
fonte desse h o r m ô n i o . Fontes secundárias são o córtex adrenal,
em ambos os sexos, e os testículos, no homem.

. C
X . , - 0

@ k ^ . Y A . v , Química
r i A formula estrutural da progesterona, u m composto C 2 ], está
HO' I-IO"" mostrada na Figura 42-10. Assim como os corticosteróides e a
2-H i d roxi es crori a 16«-H idroxies txori a testosterona, a progesterona (pregn-4-ene-3,20-diona) contém u m
grupo ceto (em C-3) e uma ligação dupla entre C 4 e C-5 (A 4 );
ambas as características estruturais são essenciais para a atividade

© progestacional. Não se acredita que a cadeia lateral de dois car-


bonos (CH3CO) n o carbono 17 seja importante para a sua ação
A .OH
fisiológica De fato, o composto sintético 19-nortestosterona
feoà y w „ (Figura 42-10) e os seus derivados, que são amplamente utilizados
V como contraceptivos orais, são agentes progestacionais mais
" I 1
HO
. - v
^
A HO
y potentes do que a própria progesterona.

2-Metoxies trona Estriol (Ei)


Bioquímica e Fisiologia
Figura 42-9 Principais vias do metabolismo do estriol em seres Biossíntese
humanos As áreas circuladas representam os locais de modificação Acredita-se que a biossíntese da progesterona no tecido ovariano
química. siga a mesma via do acetato ao colesterol através da pregneno-
lona, como ocorre no córtex adrenal (Capitulo 40).2,11 N o tecido
lúteo, contudo, acredita-se que a lipoproteína de baixa densidade
se que tanto a fração livre do estradiol quanto aquela ligada à
sirva como precursor de preferência, a despeito do potencial do
albumina sejam biologicamente disponíveis, mas a dosagem dessa corpo lúteo para sintetizar a progesterona de novo a partir do acetato.
fração não se revelou clinicamente importante. A iniciação e o controle da secreção luteínica da progesterona
são regulados pelo L H e pelo FSH. 211
Metabolismo dos Estrógenos
Tipicamente (Figura 42-9), o estradiol é convertido a estrona em Transporte
uma reação reversível. A estrona é, então, metabolizada ao longo
A progesterona não possui uma proteína plasmática de ligação
de duas vias alternativas. O r u m o do metabolismo do estradiol específica, mas, assim como o cortisol, está vinculada à globulina
depende da condição fisiopatológica. Por exemplo, a obesidade
de ligação dos corticosteróides. As concentrações relatadas de
e o hipotireoidismo estão associados a u m aumento da formação progesterona plasmática livre variam de 2% a 10% das concentra-
de estriol, enquanto o baixo peso corporal e o hipertireoidismo
ções cotais, e a porcentagem de progesterona não vinculada per-
estão associados à formação de estrógenos catecóis.2 O fígado é manece constante ao longo de todo o ciclo menstrual normal.
o sítio primário de inativação dos estrógenos. As principais
reações bioquímicas são hidroxilação, oxidação, redução e meti-
Metabolismo
lação. A conjugação c o m os ácidos glicurônico ou sulfúrico forma
Os importantes eventos metabólicos que levam à inativação da
metabólitos que são rapidamente eliminados através dos rins.
progesterona são a redução e a conjugação. A principal via metabó-
lica do metabolismo da progesterona é exibida na Figura 42-11.
Progesterona Os metabólitos da progesterona podem ser classificados em
A progesterona, assim como os estrógenos, é u m h o r m ô n i o sexual três grupos, com base no grau de redução: (1) pregnanedionas,
feminino. Em conjunção com os estrógenos, ela ajuda a regular (2) pregnanolonas e (3) piegnanedióis. Os metabólitos reduzidos
os órgãos acessórios durante o ciclo menstrual. 6,11 Este h o r m ô n i o são eventualmente conjugados com o ácido glicurônico e excre-
é especialmente importante na preparação do útero para a implan- tados como glicuronídeos hidrossolúveis.
810 PARTE V Fisiopatologia

,Ç»J desce para as concentrações basais d e n t r o de 5 a 7 dias após o


>
C=o nascimento, persistindo nessa concentração até a puberdade. A

A
ii ç—o

I? ríl 1 X, a ç l o de feedback negativo dos esteróides agora está removida, e as


gonadotrofinas são liberadas. Picos pós-natais de L H e de F S H
são mensuráveis p o r uns poucos meses após o parto, a t i n g i n d o
tfiv" seu m á x i m o aos 2 e 5 meses e, então, caindo para as concentrações
" f
^ fi S basais.
o: " XA|./\x
II
Piogesceioria Pregnanediona Puberdade
A transição a p a r t i r da i m a t u r i d a d e sexual parece se i n i c i a r c o m

r
, =i
CHi u m a sensibilidade d i m i n u í d a da g l â n d u l a hipófise o u d o hipo-

rJLi
& tálamo, o u de ambos, ao efeito de feedback negativo das esteróides
X r "
sexuais. O mecanismo para esta m u d a n ç a não é claro. A m e d i d a
que a puberdade se a p r o x i m a , ocorre a secreção n o t u r n a de
.l gonadotTOfinas. As concentrações de L H , F S H e esteróides gona-

fi<y
H
LT dais se elevam g r a d u a l m e n t e ao l o n g o de vários anos antes de se
estabilizarem nas concentrações adultas, q u a n d o u m a m a t u r i -
dade sexual plena é alcançada. Nas meninas, a puberdade é
Alopregnanediom Preganolona
considerada precoce se o i n í c i o d o desenvolvimento p u b e r a l
(características sexuais secundárias) ocorre antes da idade de 8
(.'II, anos (veja a seção p o s t e r i o r sobre puberdade precoce) e é consi-
(nl\
JL
r—t IIC derada retardada se não houve n e n h u m desenvolvimento aos 13
anos de idade, o u se a m e n a r c a não ocorreu até a idade de I6V2.

1 A idade m é d i a da menarca nos Estados U n i d o s é 12,43 anos. A


adrenarca precede a p u b e r d a d e e m uns poucos anos. Nas meninas,
a elevação das concentrações dos andrógenios adrenais ( D H E A ,

ftr WJ
II
D H E A - S e androstenediona) se inicia entre 6 e 7 anos. Esta
elevação das concentrações dos andrógenios adrenais persiste até
Alo pregnano Ion a pTegnanediol
o f i n a l da puberdade. A secreção de estrógenos pelo ovário se
eleva e provoca o a u m e n t o do ú t e r o e das mamas. Nas mamas,
Cif; o estrógeno p r o m o v e o crescimento dos duetos; a progesterona

t
u i a u m e n t a este efeito. A m e d i d a que a m a m a se desenvolve, o
< 113 estrógeno t a m b é m a u m e n t a o tecido adiposo e m t o r n o d o sistema

Um HC—OH de duetos lactíferos, c o n t r i h u i n d o paTa u m a u m e n t o a d i c i o n a l


j.. do tecido mamâric. 2 , 1 1 Os alvéolos passam para u m padrão secre-

na
n
í 11 t ó r i o sob a i n f l u ê n c i a da progesterona.

Alopregiianedin] COOFI Ciclo Menstrual Normal


11
j t - °( i y
y D u r a n t e o ciclo m e n s t r u a l n o r m a l , ocorre u m a interação i n t i m a -
/u \ m e n t e coordenada de efeitos de feedback entre (1) o h i p o t á l a m o ,
ÍS?H V (2) o l ó b u l o anterior da g l â n d u l a hipófise e (3) os ovários. A l é m
M
| —í H Glicuranídco de
disso, o c o r r e m alterações h o r m o n a i s cíclicas que acarretam
H OU ptegnanediol
mudanças f u n c i o n a i s e estruturais nos (1) ovários (maturação de
folículos, ovulação e d e s e n v o l v i m e n t o do c o r p o lúteo), (2) ú t e r o
Figura 42-11 Metabolismo da progesterona. As áreas círcuhiÂtis
(preparação d o e n d o m é t r i o para a possível implantação d o ó v u l o
representam os locais de modificação química.
fertilizado), (3) cérvice (para p e r m i t i r o transporte dos esperma-
tozóides) e (4) vagina (Figura 42-6). 2,6,11

Fases
Desenvolvimento Reprodutivo Feminino O ciclo m e n s t r u a l é m e d i d o t e n d o c o m o dia " 1 " o p r i m e i r o dia
Os estágios do des env ol v i m ento r e p r o d u t i v o f e m i n i n o i n c l u e m de sangramento m e n s t r u a l . C a d a ciclo consiste e m u m a fase
(1) fetal, (2) pós-natal e (3) puberdade. f o l i c u l a r e u m a fase luteínica.

Fetal Fase Folicular


N a m u l h e r genotípica, a carência de testosterona e de M I S O crescimento folicular se i n i c i a na fase folicuhr d u r a n t e os
provoca a regressão dos duetos w o l f f i a n o s e a m a n u t e n ç ã o dos ú l t i m o s dias da fase l u t e í n i c a prévia e t e r m i n a c o m a ovulação
duetos m ü l l e r i a n o s , f o r m a n d o , assim, o trato r e p r o d u t i v o femi- (Figura 42-6). D u r a n t e o p e r í o d o i n i c i a l da fase folicular, as con-
n i n o . 2 A atividade da g o n a d o t r o f i n a in útero está s u p r i m i d a em centrações de F S H encontram-se elevadas, mas d e c l i n a m até a
v i r t u d e das elevadas concentrações de estrógenos circulantes ovulação (Figura 42-6). 2 A secreção de L H começa a a u m e n t a r
o r i u n d o s da mãe. 2,11 p o r v o l t a da metade da fase folicular. I m e d i a t a m e n t e antes da
ovulação, a secreção de estrógenos pelo f o l í c u l o a u m e n t a drama-
Pós-natal ticamente, o que estimula positivamente o h i p o t á l a m o e desen-
Q u a n d o a placenta se separa, as concentrações dos esteróides cadeia o p i c o de L H . O p i c o d o L H é u m i n d i c a d o r confiável da
sexuais fetais caem a b r u p t a m e n t e . O estradiol sérico nos neonatos ovulação, iniciando-se 24 a 36 horas antes da ovulação e atin-
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 42 811

gindo seu ápice 10 a 12 horas antes dela. 2 A ovulação ocorre por resultam no pico de L H da metade do ciclo. Os receptores do
volta do 14" dia do ciclo menstrual. folículo ovariano para o L H , sensibilizados pelo FSH e pelo
estradiol, transmitem o estímulo para acentuar a diferenciação
Fase Luteínica das células teçais e para produzir progesterona pelo corpo lúteo
A fase luteínica constitui a segunda metade do ciclo e se caracteriza em desenvolvimento. A produção de L H encontra-se suprimida
por uma produção aumentada de progesterona e estrógeno pelo durante a fase luteínica pelo feedback negativo da progesterona
corpo lúteo com a conseqüente redução gradual das concentra- combinada com o estradiol, mas u m a concentração baixa de L H
ções de L H e de FSH. A progesterona atinge um pico de, apro- provavelmente é necessária para prolongar a função do corpo
ximadamente, 8 m g / d i a por volta do oitavo dia após a ovulação. lúteo.
Se a ovulação não ocorrer, o corpo lúteo não consegue se formar
e a elevação cíclica da progesterona é subnormal. Se a gravidez Estradiol
ocorrer, a gonadotrofina coriõnica (CG) mantém o corpo lúteo A produção de estradiol pelo ovário cai próximo ao f i m de u m
e a progesterona continua a se elevar. N a ausência da concepção, ciclo, mas começa a aumentar de novo sob a influência do FSH
o corpo lúteo se resolve, resultando em uma diminuição das (Figura 4 2 - 5 ) . A n t e s da fase folicular média, as concentrações
concentrações de estrógeno e de progesterona e a decomposição de estrógeno são < 50 p g / m L , mas se elevam rapidamente à
do endométrio. A duração média do fluxo menstrual é de 4 a ó medida que o folículo amadurece. A produção de estradiol
dias e a perda média de sangue menstrual é de 30 mL. 2 aumenta, atingindo u m pico de meio de ciclo de 250 a 500
p g / m L . As concentrações de estradiol caem abruptamente após
O Papel dos Hormônios Individuais a ovulação, mas se elevam novamente à medida que o corpo lúteo
Os principais hormônios que influenciam o controle e os efeitos se forma, atingindo concentrações de, aproximadamente, 125
do ciclo menstrual normal incluem (1) G n R H , (2) FSH, (3) L H , p g / m L durante a fase luteínica. A progesterona produzida pelo
(4) estradiol e (5) progesterona (Figura 42-5). corpo lúteo, combinada ao estrógeno, exerce u m efeito negativo
sobre o hipotálamo e o lóbulo anterior da glândula hipófise.
Hormônio de Liberação da Gonadotrofina C o m o resultado, a secreção de L H e de FSH é novamente supri-
O h o r m ô n i o de liberação da gonadotrofina desencadeia o pico mida durante a fase luteínica. O estradiol é essencial para o
de L H que precede a ovulação. 2,6,11 Parece haver dois centros desenvolvimento do endométrio proliferativo e atua sinergica-
independentes de feedback n o hipotálamo: (1) u m centro tônico mente com a progesterona para o desenvolvimento das alterações
de feedback negativo n o hipotálamo medial basal e (2) u m centro do endométrio que iniciam a d e s c a m a ç ã o .
cíclico de feedback positivo nas regiões anteriores do hipotálamo.
Baixas concentrações de estradiol, tais como aquelas que estão Progesterona
presentes durante a fase folicular, afetam o centro de feedback A progesterona não é produzida em quantidades significativas até
negativo, enquanto concentrações elevadas de estradiol, tais o pico de L H da metade do ciclo e a ovulação. O L H aumenta
como aquelas observadas imediatamente antes do pico de L H da a diferenciação das células da teca e a produção de progesterona,
metade do ciclo, desencadeiam o centro de feedback positivo. A que se eleva de 10 a 20 vezes, até cerca de no máximo 8 dias após
progesterona, em combinação com o estrógeno, afeta o centro de o pico de L H da metade do ciclo. Acredita-se que a progesterona
feedback negativo na fase luteínica. estimule o pico ovularório do FSH e promova o crescimento do
endométrio secretor, que é necessário para a implantação do óvulo
Hormônio Folículo-estimuiante fertilizado. 2
Alguns dias antes do primeiro dia do ciclo, o FSH exibe u m dis-
creto, mas importante, pico (Figura 42-5), provavelmente desen- Ovulação
cadeado por uma queda na concentração de estradiol que, por Não se sabe como u m folículo em particular é selecionado para
u m curto espaço de tempo, elimina o efeito de feedback nega- cada ciclo menstrual. O pico de FSH de final de ciclo é provavel-
tivo. 2,11 Este pico de FSH inicia o crescimento e a maturação de mente importante nesse processo. U m a vez que u m folículo
u m grupo de folículos ovarianos. A liberação de L H e FSH é tenha sido estimulado, a produção de estradiol faz c o m que
pulsátil ao longo do ciclo. A medida que o estrógeno é liberado aquele folículo específico seja mais receptivo aos efeitos d o FSH.
pelos folículos em crescimento, as concentrações de FSH caem A elevada concentração de estradiol imediatamente antes da
novamente, permanecendo baixas através da fase folicular. Por metade do ciclo é responsável pelo desencadeamento do feedback
volta do quinto ao sétimo dia, u m único folículo é escolhido para positivo no hipotálamo, que leva ao pico de L H da metade do
u m crescimento adicional. O FSH, auxiliado pelo estradiol, age ciclo. A causa exata da ovulação não é conhecida, mas a ovulação
sobre as células do folículo, aumentando a responsividade dos ocorre de 1 a 24 horas após o pico de L H . Após a ovulação, o
receptores de L H no período d o pico da m e t a d e d o ciclo. Ocorre L H é suprimido pela progesterona e pelo estradiol, mas o efeito
uma elevação do FSH na metade do ciclo que é desencadeada do L H é aumentado no corpo lúteo. 2,0 ' 11 N a hipótese de uma
pela progesterona. Durante a fase luteínica, o FSH é suprimido fertilização e de uma implantação bem-sucedidas, a função do
pelo feedback negativo do estradiol até que u m pico menor de corpo lúteo é sustentada pela C G produzida pelas células trofo-
FSH, que ocorre p r ó x i m o ao f i m do ciclo, inicie a maturação blásticas do embrião em desenvolvimento. A C G possui uma alta
folicular do ciclo seguinte. homologia molecular com o L H e é capaz de se ligar e estimular
os receptores do L H . Caso contrário, a concentração declinante
Hormônio Luteinizante do estradiol leva à regressão do corpo lúteo e ao pico de final de
A secreção de L H está suprimida na fase folicular pelo feedback ciclo do FSH, que reinicia o processo.
negativo do estradiol. 2,6,11 A medida que a produção de estradiol
pelo folículo em desenvolvimento aumenta, o efeito do estradiol sobre Menopausa
o centro de feedback positivo se torna mais importante. A cres- A menopausa é definida como a permanente cessação da mens-
cente liberação de G n R H pelo hipotálamo e o aumento da truação resultante da perda da atividade folicular ovar ia na. Os
sensibilidade do l o b o anterior da glândula hipófise ao G n R H ovários falham em produzir quantidades adequadas de estrógeno
812 PARTE V Fisiopatologia

e, então, a produção de inibina e de gonadotrofina aumenta em anilino-l-naftaleno sulfônico (ANS) ou de uma quantidade exces-
uma contínua tentativa de estimular o ovário. A idade média da siva de u m esteróide competitivo, tal como a D H T , à amostra.
menopausa nos Estados U n i d o s é de 51 anos, mas essa idade
varia consideravelmente. 2,4 A falência ovariana pode ocorrer em Coleta e Armazenamento da Amostra
qualquer idade, mas a menopausa antes dos 40 anos é conside- O soro ou o plasma (com E D T A ou heparina como anticoagu-
rada prematura. 4 lante) são usados para a dosagem dos estrógenos. As amostras
As alterações hormonais se iniciam cerca de 5 anos antes da devem ser centrifugadas e separadas dentro de 24 horas. As
verdadeira menopausa, à medida que a resposta do ovário às gona- amostras podem ser armazenadas refrigeradas poT 24 horas ou
dotrofinas começa a se reduzir e os ciclos menstruais se tornam congeladas por até 1 ano, As concentrações de estradiol estão
progressivamente irregulares.4 O termo "perimenopausa" refere-se aumentadas na cirrose hepática e foi constatado que os contra-
ao intervalo de tempo entre a início dessas irregularidades mens- ceptivos orais alteram as concentrações. N e n h u m a medicação à
truais e a própria menopausa. Observou-se que essa fase de transi- base de esteróides, A C T H , gonadotrofina ou estradiol deveria ser
ção dura entre 2 e 8 anos.4 Nesse momento, as concentrações de administrada dentro de 48 horas antes da coleta da amostra.
FSH aumentam e as concentrações de estradiol diminuem.
E importante observar que, com o advento de imunoensaios Intervalos de Referência
altamente sensíveis para a dosagem das concentrações séricas e Os intervalos de referência para o estradiol e a estrona estão lis-
urinárias de (3-CG, foi ocasionalmente observado que as mulhe- tados na Tabela 45-1 n o Capítulo 45.
res na pós-menopausa apresentam concentrações levemente ele-
vadas de p-CG (tipicamente maiores que 5, mas < 25 U I / L ) . Esses Dosagem de Progesterona no Sangue
resultados podem causar confusão quando as concentrações A dosagem da progesterona no soro ou n o plasma é considerada
estão acima do limite de detecção definido pata um teste de a técnica mais confiável para avaliar a sua taxa de produção.
gravidez positivo. Embora este fenômeno não esteja associado à
gravidez, esses resultados não são falso-positivos, uma vez que são Metodologia
rotineiramente confirmados por métodos alternativos.
Métodos derivativos de isótopos duplos e ensaios competitivos
de ligação proteica foram aplicados à dosagem da progesterona
sérica. Estes métodos exigem uma extensa purificação do este-
Metodologia Analítica róide e são altamente dependentes de mão-de-obra. Os procedi-
Diversos métodos estão disponíveis para a dosagem dos hormô- mentos de G C utilizando ionização em chama, captura eletrô-
nios reprodutivos femininos e seus correlatos nos líquidos corpo- nica, ou detecção por nitrogênio foram empregados para melho-
rais. (Os métodos utilizados para dosar os hormônios reproduti- rar a precisão das análises da progesterona. Esses métodos
vos protéicoR são discutidos no Capítulo 39.) também consomem tempo e muitas vezes exigem extração por
solvente, cromatografia e derivatização antes da quantificação do
Dosagem dos Estrógenos no Sangue esteróide. A G C - M S foi recomendada como método de referên-
Metodologia cia para a determinação da progesterona.
Tanto métodos cromatográficos quanto imunoensaios são utili- Para as dosagens de rotina da progesterona n o laboratório
zados para dosar os estrógenos no sangue. clínico, os imunoensaios que utilizam anticorpos esteróide-espe-
Métodos Cromatográficos. Métodos C G - M S associados à cíficos são os preferidos. Os imunoensaios iniciais para a dosagem
diluição isotópica uíeTecem a dosagem mais precisa e confiável da progesterona sérica utilizavam solventes orgânicos para remover
do estradiol. As etapas fundamentais desses métodos de referên- os esteróides das proteínas endógenas de ligação, tais como a
cia são (1) extração por solvente, (2) fracionamento cromatográ- globulina de ligação dos corticosteróides e a albumina. A dosagem
fico, (3) derivatização química e (4) análise instrumental. Para direta (não-extração) da progesterona no soro ou no plasma é
propósitos de rotina, os métodos cromatográficos foram ampla- considerada o método escolha para as aplicações de rotina. Vários
mente substituídos pelos imunoensaios, que são mais fáceis e antígenos diferentes foram utilizados para preparar anti-soros
rápidos do que os métodos cromatográficos. para os ensaios de progesterona. A reatividade cruzada é mais
Imunoensaio. Tanto o imunoensaio indireto (extração neces- proeminente com o 5a-pregnanedioI, variando de 6 % a 11%.
sária) quanto o direto (a extração não é necessária) são utilizados. Tanto o R I A quanto os imunoensaios não-isotópicos estão dispo-
O antígeno mais comumente empregado para preparar anticor- níveis para a dosagem da progesterona. Os imunoensaios enzimá-
pos paraos ensaios de estradiol é o estradiol-6-(0-carboximetil)oxima ticos são responsáveis pela maior parte dos ensaios de progeste-
conjugado à albumina sérica bovina. A reação cruzada com rona utilizados atualmente.
outros esteróides Cia geralmente é mínima, uma vez que os
grupos 3- e 17-hidroxila permanecem livres. Os imunoensaios Coleta e Armazenamento de Amostras
diretos substituíram amplamente os RIAs para a dosagem de O soro ou o plasma (com heparina ou E D T A como anticoagu-
rotina das concentrações de estradiol. A avaliação das concentra- lantes) são usados, mas devem ser separados dentro de 24 horas.
ções de estrógeno em homens, mulheres na pós-menopausa e O paciente não necessita estar em jejum e n e n h u m procedi-
crianças, requer RIAs mais sensíveis. M u i t o s dos imunoensaios mento especial de manuseio é necessário. As amostras podem ser
iniciais utilizavam solventes orgânicos para a extração seletiva de armazenadas refrigeradas por até 3 dias entre 4°C e 8°C, ou por
estradiol do soro. Esta etapa não somente remove o estradiol das até u m ano a - 2 0 ° C . Os pacientes não devem estar em uso de
proteínas endógenas de ligação como também retira outros com- qualquer medicação à base de corticosteróides, A C T H , estróge-
postos que interferem com o método. nos ou gonadotrofinas por, pelo menos, 48 horas antes da coleta
Para dosar o estradiol diretamente sem extração e cromato- da amostra.
grafia, o esteróide deve ser deslocado das suas proteínas de ligação.
Os agentes deslocadores utilizados pelos métodos comerciais fre- Intervalos de Referência
qüentemente não são revelados, mas em alguns sistemas uni Os intervalos de referência para as concentrações séricas de pro-
deslocamento efetivo é alcançado com a adição de ácido 8- gesterona estão listados na Tabela 45-1 no Capítulo 45.
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 42 813

A n o m a l i a s Reprodutivas Femininas puberdade precoce G n R H - d e p e n d e n t e é tratada c o m a utilização


de agonistas do G n R H a f i m de i n i b i r a liberação n o r m a l de
Pseudo-hermafroditismo Feminino
g o n a d o t r o f i n a s , r e d u z i n d o , desse m o d o , a progressão p u b e r a l . O
N o pseudo-hermafroditismo, o sexo gonadal difere do sexo genital.
t r a t a m e n t o da puberdade precoce G n R H - i n d e p e n d e n t e é deter-
O pseudo-hermafrodita f e m i n i n o é u m i n d i v í d u o que é genetica-
m i n a d o pela causa subjacente.
m e n t e f e m i n i n o , mas cujas características fenotípicas são, e m
graus variados, masculinas. N o s neonatos c o m u m c a r i ó t i p o
4 6 , X X e genitália ambígua, a hiperplasid adrenal congênita ( C A H ) Estrógenos e Câncer de Mama
deveria ser considerada. A C A H é u m a família de distúrbios Suspeitas acerca de etiologias baseadas em estrógenos n o desen-
áutossômicos recessivos da esteroidogênese adrenal ( C a p í t u l o 40). v o l v i m e n t o d o câncer m a m á r i o h u m a n o resultam t a n t o de obser-
Cada d i s t ú r b i o apresenta u m padrão específico de anomalias hor- vações epidemiológicas q u a n t o experimentais. 1 0 A menarca pre-
monais que r e s u l t a m n a deficiência o u n o excesso de andrógenios. m a t u r a e a menopausa n a t u r a l mais tardia estão associadas a u m
N o s fetos femininos, a exposição aos andrógenios antes da 12a risco a u m e n t a d o de câncer de mama. U m m e c a n i s m o de dois
semana de gestação provoca genitália ambígua; após 13 semanas, estágios f o i postulado. N o p r i m e i r o estágio, u m estado pré-can-
ela resulta e m a u m e n t o clitoridiano. 2 , 1 1 U m a vez que o excesso de ceroso é i n i c i a d o pela atividade ovariana d u r a n t e os anos repro-
andrógenios ocorre antes da 12a semana de gestação nos pacientes d u t i v o s iniciais. N o segundo, a atividade ovariana c o n t i n u a e m
c o m C A H , a genitália ambígua quase sempre está presente. anos posteriores c o m o u m a i n f l u ê n c i a p r o m o t o r a em células
Somente as deficiências da 21-hidToxilase e da llfS-hidroxilase são t u m o r ais já iniciadas. Supôs-se que estrógeno ovariano fosse o
distúrbios p r e d o m i n a n t e m e n t e v i r i l izantes. A deficiência da 3fi- fator causal, u m a vez que a a d m i n i s t r a ç ã o de estrógeno neutrali-
hidroxiesteróide desidrogenase é rara mas, q u a n d o presente, pode zava os efeitos protetores da o o f o r e c t o m i a precoce.
manifestar virilização nas m e n i n a s afetadas. O baixo risco para o câncer de m a m a t e m sido sistematica-
mente associado a alta paridade. Risco a u m e n t a d o está associado
a (1) menarca prematura, (2) p r i m e i r a gestação levada a t e r m o de
Puberdade Precoce
A p u b e r d a d e precoce é o desenvolvimento de características m o d o tardio (> 30 anos) (3) menopausa tardia. A gestação que
sexuais secundárias e m meninas c o m menos de 8 anos de idade ocorre antes da idade de 25 a 30 anos possui u m efeito protetor.
e em m e n i n o s c o m m e n o s de 9. A puberdade precoce se manifesta O s receptores estrogênicos são i m p o r t a n t e s indicadores prog-
pelo s u r g i m e n t o de caracteres sexuais secundários tais c o m o (1) nósticos, sendo a t u a l m e n t e dosados e m amostras de t e c i d o
telarca p r e m a t u r a (desenvolvimento m a m á r i o prematuro), (2) m a m á r i o após a remoção cirúrgica d o t u m o r . Sessenta p o r c e n t o
adrenarca p r e m a t u r a (desenvolvimento p r e m a t u r o dos pêlos dos pacientes c o m carcinoma m a m á r i o possuem tumores positi-
sexuais), o u (3) a u m e n t o fálico. Q u a n d o apresentadas c o m o casos vos para receptores estrogênicos. A p r o x i m a d a m e n t e dois terços
isolados, essas características sexuais secundárias não são conside- dos pacientes c o m t u m o r e s positivos para receptores estrogênicos
radas patológicas na m e d i d a em que n e n h u m a delas progride para r e s p o n d e m à terapia e n d ó c r i n a ; 9 5 % dos pacientes c o m t u m o r e s
u m a puberdade completa, n e m estão associadas a taxas aumenta- negativos para receptores estrogênicos não respondem. P o r t a n t o ,
das de crescimento e maturação óssea. E n t r e t a n t o , se u m a criança q u a n t o m a i o r o c o n t e ú d o de receptores estrogênicos do t u m o r ,
apresenta pelo menos dois sinais de puberdade e t a m b é m demons- m a i o r a taxa de resposta à terapia e n d ó c r i n a e mais baixa a inci-
tra aumentadas taxas de crescimento e maturação óssea, as muitas dência de recorrências.
causas de puberdade precoce devem ser consideradas.
A puberdade precoce é classificada c o m o G n R H dependente Menstruações Irregulares e Amenorréia
o u independente. A puberdade precoce G n R H dependente ( t a m h é m E m u m ciclo o v u l a t ó r i o n o r m a l , a menstruação ocorre a cada 28
d e n o m i n a d a p u b e r d a d e precoce central) é devida à ativação dias, e m média. As mulheres n o r m a i s exibem u m a considerável
precoce d o eixo h i p o t a l â m i c o - h ipofisário-gonadal. variação, de 25 a 3 0 dias, na duração do ciclo. 2 A m e n o r r é i a , a
A puberdade precoce G n R H i n d e p e n d e n t e ( t a m b é m d e n o m i - ausência de sangramento menstrual, é t r a d i c i o n a l m e n t e catego-
nada puberdade pseudoprecoce) refere-se à secreção precoce de rizada c o m o p r i m á r i a (mulheres que n u n c a m e n s t r u a r a m ) o u
esteróídes sexuais q u e é i n d e p e n d e n t e da liberação h i p o f i s á r i a secundária (mulheres nas quais a menstruação está presente p o r
de gonadotrofinas. A s C A H s são u m a causa c o m u m da puber- u m p e r í o d o variável e, então, cessa). A a m e n o r r é i a é u m d i s t ú r b i o
dade pseudoprecoce. O s t u m o r e s da g l â n d u l a adrenal, ovários e relativamente c o m u m , c o m u m a prevalência estimada de 5 % .
testículos que secretam androgênios o u estrógenos p o d e m resul-
tar em puberdade precoce G n R H - i n d e p e n d e n t e . Amenorréia Primária
O diagnóstico da p u b e r d a d e precoce se baseia e m (1) apre- A a m e n o r r é i a p r i m á r i a ( Q u a d r o 42-2) é a incapacidade de esta-
sentação clínica, (2) u m a h i s t ó r i a p u b e r a l completa, (3) determi- belecer u m a menstruação p e r i ó d i c a espontânea até os 16 anos, a
nações da idade óssea e (4) exames laboratoriais para avaliar as despeito de se os caracteres sexuais secundários se desenvolveram.
concentrações de g o n a d o t r o f i n a s e a resposta ao G n R H exógeno. Cerca de 4 0 % das mulheres fenotípicas que apresentam amenor-
O teste de estímulo c o m G n R H é o " p a d r ã o - o u r o " para o diag- réia p r i m á r i a (quase sempre associada à ausência de desenvolvi-
nóstico da p u b e r d a d e precoce G n R H - d e p e n d e n t e . As respostas m e n t o das características sexuais secundárias) t ê m síndrome de
pubeTais do L H e d o F S H ao e s t í m u l o c o m o G n R H são consi- Turner (cariótipo 55 X ) o u disgenesw gonadal pura (cariótipos 46
deradas diagnosticas para a puberdade precoce q u a n d o a idade X X o u XY). 2 A agenesia dos duetos múllerianos o u a disgenesia c o m
cronológica é i n a d e q u a d a para a resposta h o r m o n a l . Tipica- ausência da vagina o u do útero é a segunda manifestação mais
m e n t e , u m b o l o I V de G n R H exógeno é a d m i n i s t r a d o seguido c o m u m , e a terceira mais c o m u m é a feminizdção testicular (defi-
p o r u m a ú n i c a d e t e r m i n a ç ã o (entre 40 e 45 m i n u t o s ) , o u p o r ciência de receptor a n d r o g ê n i c o e concentrações plasmáticas de
dosagens seriadas das concentrações de L H e de F S H . testosterona n o r m a i s o u elevadas se o paciente é pós-púbere e
O t r a t a m e n t o da puberdade precoce depende dos sintomas possui c a r i ó t i p o X Y ) . .
de apresentação e das causas subjacentes. A telarca o u a adrenarca
prematuras isoladas n ã o exigem t r a t a m e n t o . A s pacientes c o m Amenorréia Secundária
telarca p r e m a t u r a devem ser acompanhadas p o r 3 a 6 meses e A a m e n o r r é i a secundária é u m a ausência de m e n s t r u a ç ã o peri-
exigem avaliação mais detalhada para puberdade precoce. A ó d i c a p o r , pelo menos, 6 meses e m m u l h e r e s que já h a v i a m
814 PARTE V Fisiopatologia

Q U A D R O 4 2 - 2 | Causas de Amenorréia TABELA 42-1 Características Clínicas da Síndrome dos


Ovários Polidsticos
AMENORRÉIA PRIMÁRIA
Característica Clínica Freqüência (%)
Defeitos do trato inferior
Aplasia vaginal Hirsutismo 65
Hímen imperfurado Acne 26
Atresia vaginal congênita Obesidade 37
Distúrbios uterinos Infertilidade 48
Ausência congênita do útero Amenorréia 35
Endometriose Oligomenorréia 42
Agenesia mülleriana (síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser) Ciclo menslrual regular 20
Distúrbios ovarianos
Modificado de Pmtik.1 S. Poiyc-ystíc ÍH'ÍXT^ syndrome. N } Med 1995;333:1435.
XO gonadal, disgenesias do X e variantes
CofíjTigfic 1 9 9 5 MjssíicfiiiSÊtts M e d i c a i Society Todos OÍ direitos reservados-
Disgenesia XX gonadal
Os dados /aram compiladas de três estudai. Dois utilizaram a uhra-so-nagrafia
Síndrome de Turner
como método primário de diagnóstico, u m utilizou a histologia o «ariana- N° T a w í ~
Síndrome da feminização testicular 1.935.
Deficiência da 17-hidrcxilase dos cvérios e das glândulas adrenais
Ooforite auto-imune
Síndrome de ovário resistente
Síndrome do ovário policístico
Distúrbios adrenais (hiperplasia adrenal congênita) m e n s t r u a d o p r e v i a m e n t e , o u p o r 12 meses e m u m a m u l h e r
Distúrbios tireoidianos (hipotireoidismo) c o m o l i g o m e n o r r é i a prévia. A oligomenoTréia é a m e n s t r u a ç ã o
Distúrbios tiipofisários-hipotalâmicoE i n f r e q ü e n t e , o c o r r e n d o m e n o s de nove vezes p o r a n o . C o m
Hipopituitarismo
u m a s poucas exceções, as causas de a m e n o r r é i a p r i m á r i a e
Atraso constitucional do início das menstruações (fisiológico)
secu n d ária se s o b r e p o e m ( Q u a d r o 42-2). A gravidez é a causa
Distúrbios nutricionais
m a i s c o m u m de a m e n o r r é i a secundária e deve ser c o n s i d e r a d a
Síndrome de Kallmann
em p r i m e i r o lugar e descartada. U m a p r o l a c t i n a elevada, t a n t o
a iatrogênica c o m o a i n d u z i d a p o r u m t u m o r secretor de pro-
AMENORRÉIA SECUNDÁRIA
l a c t i n a , p o d e resultar e m o l i g o m e n o r r é i a o u e m a m e n o r r é i a .
Gravidez/lactação
Distúrbios uterinos C e r c a de u m terço das m u l h e r e s sem n e n h u m a causa ó b v i a de
Sináquias uterinas pós-traumáticas (síndrome deAsherman) a m e n o r r é i a apresenta concentrações elevadas de p r o l a c t i n a .
Agentes pró-gestacionais Acredita-se que a h i p e r p r o l a c t i n e m i a i n i b a a liberação de L H e
Distúrbios ovarianos de F S H . T a n t o o h i p e r t i r e o i d i s m o q u a n t o o h i p o t i r e o i d i s m o
Síndrome do ovário policístico (hipotalâmica) estão associados a u m a variedade de d i s t ú r b i o s m e n s t r u a i s
Tumores ovarianos d e v i d o aos seus efeitos sobre o m e t a b o l i s m o e i n t e r c o n v e r s ã o
Falência ovaríana prematura (idicpática, auto-imune, lesão) e n t r e a n d r ó g e n i o s e estrõgenos.
Terapia com antimetabólites M u i t a s vezes é ú t i l separar as pacientes c o m a m e n o r r é i a
Distúrbios adrenais secundária daquelas c o m e sem sinais de excesso a n d r o g ê n i c o e
Hiperplasia adrenal de início tardio hirsutismo.
Síndrome de Cushing Excesso de Andrógenios. U m a paciente c o m excesso de andró-
Tumores adrenais virilizantes genios apresenta graus variáveis de (1) excesso de pêlos n a face,
Insuficiência adrenocortical tórax, a b d o m e e coxas; (2) acne e (3) obesidade. A a m e n o r r é i a
Distúrbios tireoidianos
provocada pelo excesso a n d r o g ê n i c o é devida a u m a C A H de
Hipotireoidismo
i n í c i o na idade adulta, à s í n d r o m e de C u s h i n g d e p e n d e n t e de
Hipertireoidismo
c o r t i c o t r o f i n a , o u à s í n d r o m e d o ovário p o l i c í s t i c o ( P C O S ) .
Distúrbios hipofisários
A P C O S ocorre e m cerca de 5 % a 10% das mulheres na pré-
Hipopituitarismo adquirido (trauma, tumores, síndrome de Sheehan,
menopausa, acreditando-se que seja provocada p o r u m d i s t ú r b i o
hipofisite linfocítica)
h i p o t a l â m i c o . 7 A P C O S é c l i n i c a m e n t e d e f i n i d a pelo h i p e r a n d r o -
Hiperprolactinemia fisiológica cu patológica
genismo c o m anovulação crônica e m mulheres sem d o e n ç a sub-
Distúrbios hipotalâmicos
jacente das glândulas adrenal o u hipófise. 3 Esta s í n d r o m e se
Tumores e doenças infiltrativas
Distúrbios nutricionais caracteriza p o r i n f e r t i l i d a d e , h i r s u t i s m o , obesidade (em, aproxi-
Hipofisite madamente, a metade das afetadas) e diversos d i s t ú r b i o s mens-
Exercício excessivo truais que v a r i a m de a m e n o r r é i a a u m sangramento m e n s t r u a l
Estresse irregular (Tabela 42-1). E m b o r a esta s í n d r o m e esteja associada a
latrogênica ovários policísticos, estes não f o r a m considerados essenciais para
Antipsicóticos (fenotiazidas, haloperidoi, clozapina, pimozida) o diagnóstico. Concentrações relativamente baixas de F S H e
Antidepressivos (tricíclicos, inibidores da monoamina oxidase) concentrações d e s p r o p o r c i o n a l m e n t e altas de L H são c o m u n s na
Anti-iiipertensivos (bloqueadores dos canais de cálcio, metildopa, P C O S . As concentrações séricas de androstenediona e de testos-
reserpina) t e r o n a (concentrações totais e livres) encontram-se elevadas, c o m
Drogas com atividade estrogênica (digital, flavonóides, maconha, concentrações médias 5 0 % a 1 5 0 % mais elevadas do que o
contraceptivos orais] normal. 2 , 0 As pacientes c o m P C O S apresentam u m a p r o d u ç ã o
Dragas com toxicidade ovariana (bussulfan, clorambucil, cisplatina, substancial de estrõgenos devido à conversão periférica de andró-
genios a estrõgenos. A anovulação é provocada pelo c o n t í n u o
e s t í m u l o estrógeno sobre o e n d o m é t r i o .
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 42 815

QUADRO 42-3 Causas de Hirsutismo D H E A - S f o r < 7 0 0 p g / d L , o u as concentrações de 17-KSs f o r e m


< 30 mg/dia.2
OVARIANAS As pacientes c o m P C O S geralmente apresentam concentra-
Resistência insu lírica severa ções de a p r o x i m a d a m e n t e 4 0 p g / m L e, p o r t a n t o , e x i b e m u m
Hípertecose, hiperplasia das células do hilo ou das células do estroma teste de estímulo c o m progesterona positivo. As determinações
Tumores ovarianos produtores de andrógenio laboratoriais séricas de testosterona, D H E A - S , L H e F S H são
Menopausa usadas para c o n f i r m a r o diagnóstico de P C O S . Por exemplo, as
concentrações de L H f r e q ü e n t e m e n t e estão elevadas e as de F S H
ADRENAIS são n o r m a i s o u d e s p r o p o r c i o n a l m e n t e baixas. Foi sugerido que
Hiperplasia congênita clássica u m a p r o p o r ç ã o L H / F S H > 2,5 i n d i c a a presença de P C O S . 2 A
Deficiência da 21 -hidroxilase concentração t o t a l de testosterona encontra-se discretamente
Deficiência da 11-hidroxilase elevada em 4 0 % a 6 0 % das pacientes. 2 Nas m u l h e r e s c o m con-
DeticiênGia da 3p-hidroxiestenáide desidrogenase
centrações n o r m a i s de testosterona, a testosterona livre n o r m a l -
Hiperplasia adrenal adulta ou atenuada
m e n t e está elevada. A s concentrações de D H E A - S geralmente
Tumores produtores de andrógenio
encontram-se n o r m a i s o u ligeiramente elevadas.
A s concentrações plasmáticas m a t i n a i s de 17ot-liidroxiproges-
HIRSUTISMO FAMILIAR
terona são dosadas para avaliar a deficiência nãoclássica o u de início
tardio da 21-h.idroxilase. U m a concentração < 2 0 0 n g / d L (< 6,1
DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS
Síndrome do ovário policístico n m o l / L ) exclui esse diagnóstico, e u m a concentração > 1.500
Hiperprclactinemia n g / d L (> 3 0 n m o l / L ) e m mulheres não-gestantes é c o n f i r m a t ó -
Acromegalia ria. Q u a n d o concentrações basais entre 2 0 0 e 1.500 n g / d L são
Síndrome de Cushing encontradas, deveria ser realizado u m teste de estímulo c o m
A C T H . A hiperplasia adrenal não-clássica ( N C A H ) t i p i c a m e n t e
HIRSUTISMO IDIOPÁTICO (INCLUI A SENSIBILIDADE CUTÂNEA apresenta u m a concentração de 17fX-hidroxi progesterona > 1.500
AUMENTADA AOS ANDRÓGENIOS) n g / d L , e a C A H clássica apresenta u m a resposta > 2.000 n g / d L .
O s pacientes c o m formas atenuadas de C A H geralmente apre-
IATROGÊNICA s e n t a m concentrações n o m i a i s de F S H e de L H . Cerca da
Andrógenios metade exibe concentrações elevadas de testosterona e de andros-
Dilantina t e n e d i o n a . ' A m a i o r i a desses pacientes t a m b é m apresenta con-
Diazoxida centrações aumentadas de D H E A - S e mais de 9 0 % exibem concen-
Minoxidil trações s u p r a n o r m a i s de g l i c u r o n í d e o de a n d r o s t e n e d i o l .
Estreplomicina
Ciclosporina
Outros Fatores
Danazol
D i s t ú r b i o s d o ovário, tais c o m o a falência ovariana p r e m a t u r a
Metirapona
(POF) e a perda da f u n ç ã o ovariana, t a m b é m p r o v o c a m amenor-
Fenotiazidas
Progestágenos (derivados dos 19-norestercídes) réia. A P O F t a m b é m f o i d e f i n i d a c o m o a insuficiência na p r o d u -
ção de estrógenos pelos ovários q u e ocorre e m u m estado hiper-
g o n a d o t r ó f i c o e m qualquer idade e n t r e a menarca e a idade de
4 0 anos. 2 Se a paciente f o r mais j o v e m do q u e 25 anos de idade,
Hirsutismo e Viriiização. O hirsutismo é definido como o a cariotipagem deveria ser realizada para descartar a presença de
crescimento excessivo de pêlos t e r m i n a i s e m m u l h e r e s e crianças u m a variedade de anomalias cromossômicas envolvendo duplica-
e m u m a distribuição semelhante àquela q u e ocorre nos h o m e n s ções o u a ausência d o c r o m o s s o m o X o u a presença de u m cro-
pós-puberais. 1 O v e r d a d e i r o h i r s u t i s m o , q u e é responsivo aos m o s s o m o Y. A s pacientes c o m P O F se apresentam c o m sintomas
andrógenios, tem de ser d i f e r e n c i a d o da hipertricose, que é o de hiperestrogenismo, i n c l u i n d o ondas de calor e elevadas con-
crescimento excessivo de velo o u de pêlo não responsivo aos centrações de gonadotrofinas. Os distúrbios auto-imunes f o r a m
andrógenios. O velo é u m pêlo f i n o , f e l p u d o , que n o r m a l m e n t e associados a 2 0 % a 4 0 % dos casos de P O F q u e resultam na
não é p i g m e n t a d o , e n q u a n t o os pêlos t e r m i n a i s são espessos e destruição d o ovário e e m amenorréia. 2
encontrados em áreas da pele responsivas aos andrógenios. A s A s disfunções hipotalâmicas consistem naqueles distúrbios
causas de h i r s u t i s m o encontram-se listadas n o Q u a d r o 42-3. q u e i n t e r f e r e m c o m a freqüência o u c o m a a m p l i t u d e d o G n R H .
A v i r i l i z a ç ã o é caracterizada pela (1) h i p e r t r o f i a c l i t o r i d i a n a , R a r a m e n t e , ela p o d e ser provocada p o r u m a lesão o u u m t u m o r .
(2) redução do t o m da voz, (3) perda dos cabelos temporais, (4) C o n t u d o , mais c o m u m e n t e , a perturbação ocorre em resposta a
calvície, (5) a u m e n t o da l i b i d o , (6) redução da g o r d u r a c o r p o r a l (1) estresse psicológico, (2) depressão, (3) perda p o n d e r a l grave,
e (7) irregularidades menstruais o u amenorréia. O h i r s u t i s m o (4) anorexia nervosa o u (5) exercício intenso. U m a s í n d r o m e
geralmente está associado a androgênios séricos n o r m a i s o u leve- c o n h e c i d a c o m o tríade da mulher atleta t a m b é m f o i descrita. Esta
m e n t e elevados, e n q u a n t o a virilização está associada a aumentos s í n d r o m e é prevalente e m mulheres q u e se exercitam vigorosa-
substanciais na p r o d u ç ã o ovariana o u adrenal de andrógenios. 2 m e n t e e está associada à amenorréia, alimentação desordenada e
O s dois testes de triagem mais i m p o r t a n t e s utilizados na osteoporose. Corredoras de competições de longa distância,
avaliação das mulheres para h i r s u t i s m o e virilização são as dosa- ginastas e dançarinas profissionais de balé parecem apresentar
gens da testosterona sérica t o t a l o u livre e d o D H E A - S / A eleva- u m risco mais elevado. E m b o r a o m e c a n i s m o para o d i s t ú r b i o
ção das concentrações de D H E A - S sugere u m a o r i g e m adrenal não seja claro, os sintomas e os perfis laboratoriais são semelhan-
dos androgênios, e n q u a n t o elevações da testosterona sugerem tes àqueles de outras formas de a m e n o r r é i a h i p o t a l â m i c a . As
t a n t o u m a f o n t e adrenal q u a n t o ovariana. A m e n o s que a histó- concentrações de L H e de F S H são baixas o u encontram-se
r i a seja suspeita, a doença neoplásica é improvável se a concen- d e n t r o d o i n t e r v a l o de referência, e as concentrações de estradiol
tração sérica de testosterona for < 2 n g / m L , a concentração de são baixas. C o m o u m resultado do estrógeno c r o n i c a m e n t e
816 PARTE V Fisiopatologia

TABELA 42-2 Diagnóstico Diferencial da Amenorréia


Uterino Depois da
Causas de Sangramento Uterino FSH LH Estrógeno (E2) Progesterona

HIP0TALÂM1CAS |
SNC — disfunção hipotalâmica idiopática N N N +
Secundária a medicamentos N N N +
Secundária a estresse N N N +
SNC — disfunção ou insuficiência hipotalâmica devida ao exercício 4- ou N 4 ou N 4 cu N ±
SNC — disfunção ou insuficiência hipotalâmica devida à perda de peso
Perda simples de peso 4 ou N 4 ou N 4 ou N ±
Anorexia nervosa 4 V 4 -

SNC — insuficiência hipotalâmica


Lesões 4 4 4 -

Idiopática 4 1 i -

SNC — disfunção hipotalâmico-adrenc-ovariana (síndrome dos ovários N t N +


policísticos) ou anovulação hiperandrcgênica crônica

HIP0FISÁRIAS
Lesões destrutivas (síndrome de Sheehan) 4 4 4 --

Tumor i 4 4 -

OVAR IAN AS
Falência ovariana prematura t T • -

Perda da Junção ovariana (ooforectomia, infecção, degeneração cística) T T 4 -

UTERINAS
Sinéquias uterinas (síndrome de Asherman) N N N -

De Davajan V, Kletrfcj A O . Amenerrhía. I n ' WísKêÜ DR, Davajan V L e t o R A , «is In/ej-rilitj, con tracejnion and reproductive enJccrinclogj, 3tJ. ed. Boston: B l n t t u i e l í Scienri/ic
Publicacions, 199J:373.
F S H , Hormônio jòlfcul&títimulance; L H , hormônio hiteimzdme, S N C , sistema n m n s o centrai; N , talor dentro do iniervala de referência normal; 4 , valor abaixe do intervalo Aa referência
normat; T, valor acima do incervalc dá refsTÔicia normal (T, >25 xr\Ul/mL, menm do que o nível da menopausa; ±, respoica hemorrágica positiva ou negativa à progestemrw)

baixo, o c o n t e ú d o m i n e r a l ósseo encontra-se d i m i n u í d o e a inci- Diversas causas de a m e n o r r é i a secundária t a m b é m p r o v o c a m


dência de fraturas de estresse a u m e n t a . d i s f u n ç ã o p r i m á r i a . Esses d i s t ú r b i o s serão d i s c u t i d o s n a p r ó x i m a
seção. M u i t a s vezes, a p u b e r d a d e atrasada n ã o é provocada p o r
Testes para a Avaliação da Amenorréia u m a doença orgânica específica, sendo simplesmente u m resul-
Avaliação da Amenorréia Primária. O diagnóstico diferencial tado i n c o m u m d o espectro da maturação.
de a m e n o r r é i a é m o s t r a d o na Tabela 42-2. Q u a n d o a p u b e r d a d e Avaliação da Amenorréia Secundária. Na avaliação de uma
está atrasada e m u m a m e n i n a , a dosagem das g o n a d o t r o f i n a s m u l h e r c o m a m e n o r r é i a , u m a h i s t ó r i a e u m exame físico meti-
séricas é ú t i l para p r o p ó s i t o s diagnósticos. A s baixas concentra- culosos nas pacientes que n ã o apresentam outros problemas de
ções p o d e m i n d i c a r i n s u f i c i ê n c i a h i p o f i s á r i a , e n q u a n t o concen- saúde geralmente l e v a m à d e t e r m i n a ç ã o da causa correta. A his-
trações elevadas n o i n t e r v a l o pós-menopausa i n d i c a m u m a t ó r i a deve d e f i n i r (1) a descrição c o m p l e t a dos padrões menstru-
f a l ê n c i a g o n a d a l d e f i n i t i v a . 2 N a falência g o n a d a l , os estudos ais; (2) a presença o u ausência de galactorréia; {3) ondas de calor;
c r o m o s s ô m i c o s estão i n d i c a d o s . N a i n s u f i c i ê n c i a h i p o f i s á r i a , os (4) sintomas de h i p o t i r e o i d i s m o ; (5) h i r s u t i s m o ; (6) c i r u r g i a ante-
testes de f u n ç ã o b i p o f i s á r i a e as r a d i o g r a f i a s p o d e m ser úteis. r i o r d o abdome, pelve, o u útero; (7) t r a u m a , (8) m e d i c a m e n t o s ;
As pacientes c o m b a i x a estatura, sem s í n d r o m e de T u r n e r , mas (9) h i s t ó r i a n u t r i c i o n a l ; (10) padrões de exercício; (11) uso prévio
c o m a m e n o r r é i a p r i m á r i a , p o d e m apresentar m ú l t i p l a s defici- de contraceptivos; (12) alterações d o peso e estresse; e (13)
ências na secreção de h o r m ô n i o s h i p o f i s á r i o s . Nessas pacientes, doenças crônicas. O exame físico deve d e t e r m i n a r (1) os campos
dever-se-ia suspeitar de u m c r a n i o f a r i n g i o m a o u de u m t u m o r visuais, (2) o t a m a n h o e a f u n ç ã o da tireóide, (3) aspecto cushin-
hipofisário. góide, (4) galactorréia, (5) h i r s u t i s m o , (6) massas a b d o m i n a i s , (7)
O diagnóstico de deficiência da HaJudraxilase. é estabelecido massas pélvicas, (8) a u m e n t o c l i t o r i d i a n o e (9) evidências de
q u a n d o a concentração de (1) progesterona sérica é > 3 n g / m L ; desnutrição. O [B-HCG sérico o u u r i n á r i o deve ser dosado a f i m
(2) a 17Cí-hidroxiprogesterona é < 0,2 n g / m L ; (3) a aldosterona de descartar a gravidez. U m a vez que t a n t o o h i p o t i r e o i d i s m o
é baixa e (4) a 11-desoxicorticosterona está elevada. A s concen- q u a n t o a h i p e r p r o l a c t i n e m i a são causas reconhecidas de amenor-
trações plasmáticas de l l - d e s o x i c o r t i s o l , testosterona, estradiol e réia, p o d e m ser f a c i l m e n t e excluídos p o r m e i o da dosagem das
D H E A - S t a m b é m estão baixas. O diagnóstico é c o n f i r m a d o p o r concentrações séricas d o h o r m ô n i o e s t i m u l a n t e da t i r e ó i d e e da
m e i o de u m teste de estimulação com A C T H . D e p o i s q u e as con- p r o l a c t i n a . U m a amostra de u r i n a de 24 horas para dosagem de
centrações basais de progesterona e de 17ot-hidroxiprogesterona c o r t i s o l o u u m teste de supressão n o t u r n a c o m dexametasona são
f o r e m dosadas, é a d m i n i s t r a d o 0,2.5 m g de A C T H . O diagnóstico realizados naqueles pacientes c o m suspeita de s í n d r o m e de
será feito se as concentrações séricas de progesterona estiverem C u s h i n g ( C a p í t u l o 40).
sig n if ica tiv amente elevadas e as concentrações de 17 a - h i d r o x i p r o - U m teste de e s t í m u l o c o m G n R H c o m a d o s a g e m das
gesterona n ã o se alterarem 6 0 m i n u t o s após a a d m i n i s t r a ç ã o de concentrações de L H e F S H naqueles pacientes c o m d e f i c i ê n -
ACTH. cia de g o n a d o t r o f i n a s a u x i l i a n a d i f e r e n c i a ç ã o e n t r e a d o e n ç a
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 42 817

h i p o t a l â m i c a e a h i p o f i s á r i a . Para o diagnóstico da P C O S , con- pacientes que n u n c a t i v e r a m gestações prévias bem-sucedidas. A


sulte a seção a n t e r i o r sobre a avaliação l a b o r a t o r i a l para h i r s u - i n f e r t i l i d a d e secundária abrange os pacientes que conceberam
tismo/virilização. previamente, mas que a t u a l m e n t e são incapazes de conceber.
Teste da Progesterona. Q u a n d o a causa da amenorréia não A m b o s os tipos de i n f e r t i l i d a d e geralmente c o m p a r t i l h a m causas
f i c o u clara após a avaliação i n i c i a l , o estado estrogênico relativo em comum.
deveria ser d e t e r m i n a d o . O esttadiol sérico é m e d i d o o u é reali- Os problemas de i n f e r t i l i d a d e f r e q ü e n t e m e n t e surgem c o m o
zado u m teste da progesterona/ M u l h e r e s c o m u m ú t e r o preparado resultado de disfunção h o r m o n a l d o eixo hipotalâmico-hipofisá-
pelo estrógeno m e n s t r u a m após o t r a t a m e n t o c o m progestágenos rio-gonadal. A dosagem dos h o r m ô n i o s peptídicos e esteróides
orais, na dose de 30 m g p o r dia, p o r 3 dias, o u de 10 m g p o r dia n o soro é, p o r t a n t o , u m aspecto essencial na avaliação da infer-
p o r 5 a 10 dias, o u 100 a 2 0 0 m g de progesterona e m solução tilidade. Esta seção enfoca os aspectos h o r m o n a i s e b i o q u í m i c o s
oleosa a d m i n i s t r a d a p o r via i n t r a m u s c u l a r . Nas pacientes que da avaliação da i n f e r t i l i d a d e .
m e n s t r u a m , a concentração plasmática de estradiol geralmente é
> 40 p g / m L . 2 A dosagem das concentrações séricas de estradiol Infertilidade Masculina
pode ser feita em lugar do teste da progesterona, mas não é a
Fatores Causais
preferida p o r q u e as concentrações de estrógeno f l u t u a m ao l o n g o
A i n f e r t i l i d a d e masculina c o m f r e q ü ê n c i a permanece sem ser
d o dia e o sangramento de retirada c o n s t i t u i u m a indicação de
detectada, u m a vez que u m a baixa contagem de espermatozóides
u m t r a t o de saída n o r m a l .
o u u m a m o t i l i d a d e espermática a n o r m a l , combinadas a u m a
Se o sangramento não ocorrer após o teste da progesterona,
f u n ç ã o r e p r o d u t i v a f e m i n i n a n o r m a l , simplesmente resultam em
então exames laboratoriais adicionais estão indicados. O L H e o
u m a retardo na concepção. U m a lista dos fatores mais c o m u n s
F S H deveriam ser dosados para localizar o p r o b l e m a n o f o l í c u l o ,
de i n f e r t i l i d a d e masculina é oferecida no Q u a d r o 42-4-
hipófise o u h i p o t á l a m o .
A testosterona é essencial para o desenvolvimento n o r m a l dos
espermatozóides. P o r t a n t o , q u a l q u e r d i s t ú r b i o que resulte e m
INFERTILIDADE h i p o g o n a d i s m o (e, conseqüentemente, e m baixas concentrações
A Infertilidade é d e f i n i d a c o m o a incapacidade de conceber após de testosterona) resulta e m i n f e r t i l i d a d e . E n t r e as causas está o
1 ano de relações desprotegidas/' 1 5 Estima-se que 2 5 % dos casais hipogonadismo h i p o g o n a d o t r ó f i c o e o hipergonadotrófico ( Q u a d r o
experimentarão u m episódio de i n f e r t i l i d a d e d u r a n t e a sua vida 4 2 4 ) . A causa mais c o m u m de h i p o g o n a d i s m o h i p o t a l â m i c o é o
r e p r o d u t i v a . A i n f e r t i l i d a d e p r i m á r i a refere-se aos casais o u fupogonadismo hipogonadotrófico iãiopático ( I H H ) , o u a sua variante,
a s í n d r o m e de K a i l m a n n .
A insuficiência o u a falência hipofisária t a m b é m provocam
infertilidade, sendo esta p r i m a r i a m e n t e causada por adenomas,
mas t a m b é m p o d e n d o ser provocada p o i trauma, infiltração,
Q U A D R O 4 2 - 4 j Fatores de Infertilidade Masculina metástases o u hemocromatose. A h i p e r p r o l a c t i n e m i a é u m a causa
de disfunção testicular secundária. 5 O excesso de prolactina prova-
DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS
Disfunção hipotalâmica (síndrome de Kailmann)
insuficiência hipofisária (tumor, radiação, cirurgia)
Hiperprolactinemia (drogas, tumor) T A B E L A 4 2 - 3 | Valores N o r m a i s do Líquido Seminal
Andrógenios exógenos Valor
Parâmetro
Distúrbios tireoidianos
Hiperplasia adrenal Volume ejaculado > 2mL*

Insuficiência testicular Densidade do esperma > 20 milhões/mL*


Contagem total de espermatozóides > 40 milhões/ejaculado*
Motilidade > 50% com progressão para diante
ANATÔMICOS
ou > 2 5 % com rápida progressão
Ausência congênita dos duetos deferentes
dentro de 60 min após a
Obstrução dos duetos diferentes
ejaculação*
Anomalias congênitas do sistema ejaculatório
Morfologia >30% normal*
Varicocele 7,2-8,0*
PH
Ejaculação retrógrada Cinza-branca-amarela
Cor
Liquefação Dentro de 40 min
ESPERMATOGÈNESE ANORMAL Frutose >1.200 pg/mL
Azoospermia inexplicada Fosfatase ácida 100-300 pg/mL
Anomalias cromossômicas Acido cítrico > 3 mg/mL
Orquite pela caxumba Inositol >mg/mL
Criptorquidia Zinco > 7 5 pg/dL
Exposição química ou à radiação Magnésio > 7 0 pg/mL
Prastaglandinas (PGE, + PGEZ) 30-200 pg/mL
MOTILIDADE ANORMAL Glicerilfosforilcolina >650 pg/mL
Cílios ausentes (síndrome de Kartagener) Carnifira >250 pg/mL

Formação de anticorpos Glicosidase >20 mU por ejaculado

De Glajerman M , Barloov B. Sêmen In: Insltrr V, Lunenfeld B, eds.


PSICOSSOCIAL In/mility: male and jernãte* 2 ri d ed. Ne«J Yoríc: Churchill LinmgsLori£.,
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818 PARTE V Fisiopatologia

velmente provoca hipogonadismo ao comprometer a liberação de Q U A D R O 4 2 - 5 |l F a t o r e s d e I n f e r t i l i d a d e F e m i n i n a


G n R H . Ele também acarreia uma s ub androgen i zaç ão e impotên-
cia. Adenomas hipofisários e medicamentos tais como (1) ansiolí- FATORES OVARÍAMOS OU HORMONAIS
ticos, (2) anti-hipertensivos, (3) serotoninérgicos e (4) antagonistas Doença metabólica
dos receptores H 2 histamínicos elevarão a prolactina séTica. Tireóide
Outras causas endócrinas de infertilidade incluem (1) andró- Fígado
genios exógenos, (2) distúrbios tireoidianos, (3) hiperplasia adrenal Obesidade
e (4) insuficiência testicular. A ginecomastia ou a obesidade n o Excesso de andrógenios
homem infértil podem significar elevadas concentrações de estró- Síndrome do ovário policístico
genos e, possivelmente, síndrome do testículo feminizante. Hipogonadismo hipergonadotrólico
Anticorpos contra antígenos espermáticos de superfície cons- Menopausa
t i t u e m uma causa bem documentada de infertilidade. Observou- •eficiência da fase luteínica
se que eles reduzem a motilidade, provocam aglutinação e são Disgenesia gonadal
responsáveis pela incapacidade do espermatozóide em penetrar Falência ovariana prematura (auto-imune, quimioterapia citotóxica, tumor)
o óvulo humano. Síndrome dos ovários resistentes
Hipogonadismo hipogonadotrófico
Avaliação da infertilidade Masculina Hiperpralaclinemia (tumor, drogas)
A avaliação laboratorial da infertilidade masculina inclui (1) a Disfunção hipotalâmica (síndrome de Kallmann)
análise do sêmen, (2) parâmetros endócrinos e (3) parâmetros Insuficiência hipofisária (tumor, necrose, trombose, estresse, exercício,
imunológicos. anorexia)

Análise do Sêmen FATORES DAS TROMPAS


A análise do sêmen dosa (1) o volume ejaculado, (2) o p H , (3) a Oclusão ou fibrose
contagem dos espermatozóides, (4) a motilidade e (5) a progres- Salpingite ístmica nodosa
são para a frente. O sêmen deveria ser analisado dentro de 1 hora Salpingite infecciosa
após a coleta. Embora a análise do sêmen não seja u m teste para
infertilidade, ela é considerada o exame laboratorial mais impor- FATORES CERVICAIS
tante na avaliação da infertilidade masculina. Os valores de refe- Estenose
rência para o líquido seminal dados pela Organização M u n d i a l Inflamação ou infecção
de Saúde (OMS) estão exibidos na Tabela 42-3. M Viscosidade anormal do muco
A i n d a não foram estabelecidos testes funcionais que, inequi-
vocamente, poderão prever a capacidade fertilizante dos esperma- FATORES UTERINOS
tozóides. Contudo, existem, na literatura atual, métodos detalha- Leiam iomatose
dos descrevendo a análise da função espermática. Estes métodos Malformação congênita
tendem a avaliar as funções do espermatozóide necessárias à Aderências
fertilização. Por exemplo, para que u m espermatozóide seja bem- Endcmetrite ou endométrio anormal
sucedido, ele deve ser capaz de (1) alcançar o óvulo através de
uma motilidade dirigida, (2) sofrer capacitação, (3) fundir-se à FATORES PSICOSSOCIAIS
membrana do oócito e (4) ser incorporado ao citoplasma do Libido diminuída
oócito. O teste pós-coito (conforme descrito na seção posterior Anorgasmla
sobre a avaliação da fertilidade feminina) é a medida mais ampla-
mente utilizada de adequação espermática. IATROGÊNICQS

IMUNOLÓGICOS (ANTICORPOS ANTIESPERMATOZÓIDE)


Avaliação dos Parâmetros Endócrinos
A testosterona sérica deveria ser dosada especialmente quando a Modificada de. M o r e l l V Basic in/ertility aisesiment Tritnary Care 1997\ 2
história do paciente ou o seu exame físico sugerem um desenvol- 204.
vimento deficiente dos caracteres sexuais secundários. Os pacien-
tes com concentrações de testosterona limitantes ou suprimidas
são avaliados por meio de u m teste de estímulo com CG. C o m este
teste, uma injeção de 5.000 U I de C G é administrada por via insuficiência genital primária, síndrome de células de Sertoli
intramuscular subseqüentemente à coleta de uma amostra de apenas, ou condições genéticas tais como a síndrome de Kline-
soro basal do início da manhã para dosagens subseqüentes das felter. O FSH elevado (> 120 m U I / m L ) em u m cenário de tes-
concentrações de testosterona. U m a segunda amostra c então tosterona diminuída (< 200 n g / d L ) c oligospermia indica insufi-
obtida 72 horas mais tarde e a concentração de testosterona é ciência testicular primária ou andropausa (veja seção anterior
dosada. Os homens bipogonádicos exibem uma elevação depri- sobre andropausa).
mida da concentração de testosterona em Tesposta a esse desafio. Hipogonadismo Hipogonadotrófico. Concentrações diminuí-
U m a duplicação da concentração de testosterona em relação aos das de testosterona (< 200 n g / d L ) e concentrações reduzidas de
valores basais é compatível com uma função normal das células FSH (< 10 mTJI/mL) são sugestivas de hipogonadismo hipogo-
de Leydig. A incapacidade em elevar a testosterona >150 n g / d L nadotrófico. A administração de G n R H pode ajudar a distinguir
indica hipogonadismo primário. entre a insuficiência gonadal provocada pela hipófise e a falência
Hipogonadismo Hipergonadotrófico. A dosagem do FSH está hipotalâmica. U m a vez que a hipófise é sensível aos esteróides
indicada em homens com contagens de espermatozóides menores sexuais para uma adequada secreção de gonadotrofinas, pacientes
que 5 a 10 m i l h õ e s / m L . Concentrações elevadas de FSH indicam com hipogonadismo de longa duração deveriam receber testoste-
disfunção das células de Sertoli e, em homens azoospérmicos, rona exógena por 1 semana antes do teste de estímulo com
Distúrbios Reprodutivos CAPÍTULO 4 2 819

G n R H . U m a abordagem para este teste envolve a injeção intra- Papanicolaou cervical e vaginal com culturas cervical e endocer-
venosa de 100 jig de G n R H com dosagens das concentrações de vical apropriadas, (3) investigação da patência das trompas, em
FSH e de L H aos zero, 30, 60, 120 e 180 minutos após a injeção. busca de endometriose ou de aderências e (4) avaliação da ovu-
U m a elevação das gonadotrofinas séricas > 10 m U I / m L acima lação e da adequação da função luteínica. Depois que as anoma-
do nível basal é normal. Se o aumento das gonadotrofinas for lias tratáveis óbvias tenham sido excluídas, uma história mens-
pequeno ou ausente, a doença hipofisária é provável. Pacientes trual indicará uma avaliação endócrina adicional e u m teste
com doença hipotalâmica demonstrarão u m aumento retardado, pós-coito auxiliará a determinar a suficiência do coito.
mas significativo, > 7 m U I / m L dentro cie 180 minutos.
Teste Pós-coito
Avaliação dos Parâmetros Imunológicos 0 teste pós-coito constitui uma avaliação rápida dos múltiplos
O método de dosagem dos anticorpos antiespermatozóide é idên- fatores que afetam a fertilidade; contudo, as opiniões variam com
tico para a avaliação da infertilidade masculina ou feminina. A relação à sua utilidade clínica. O teste é agendado por volta do
técnica das immunobeads é a mais amplamente utilizada. Nesta m o m e n t o do pico de L H . U m exame com especulo estéril é
técnica, uma conta de poliacrilamida é revestida com u m anti- realizado entre 9 e 24 horas após o coito (baseado nas diretrizes
corpo anti-humano de coelho. Este se liga aos anticorpos que já da O M S ) . U m a amostra de muco endocervical é aspirada e colo-
estão presentes n o esperma h u m a n o ou que estão presentes após cada em uma lâmina de vidro com duas lamínulas. O muco com
a incubação do esperma com o f l u i d o apropriado (muco cervical uma adequada estimulação estrogênica tem uma aparência clara
ou soro). As contas que se ligam aos espermatozóides são micros- e transparente e forma u m filamento de 6 cm ou mais de exten-
copicamente detectadas. Essa técnica permite a determinação da são quando as lamínulas são separadas da lâmina. Q u a n d o exa-
porcentagem de espermatozóides humanos ligados, o isotipo de m i n a d o sob o microscópio, o muco seco pelo ar sob a segunda
imunoglobulina e a localização da ligação dos anticorpos (cabeça, lamínula forma, quando uma quantidade adequada de estrógeno
peça intermediária, o u cauda). A verificação rotineira em busca está presente, u m padrão semelhante a uma samambaia. Antes
de anticorpos antiespermatozóide não está recomendada.' 5 U m a que o muco tenha secado, devem ser visualizados > 20 esperma-
vez que os anticorpos antiespermatozóides estejam associados à tozóides por campo de alta resolução (corte recomendado pela
infertilidade, a concentração em que estes reduzem a fertilidade O M S ) . U m resultado normal para o teste sugere (1) suficiência
é desconhecida. do coito, (2) provável ovulação, (3) muco cervical "não-hostil" e
(4) u m teste de fertilidade masculina normal. Os valores prognós-
Infertilidade F e m i n i n a ticos variam de quase 5 0 % de chance de concepção dentro de
1 ano com u m teste ótimo a 15% de chance de concepção se o
Fatores Causais
teste for anormal.
Os fatores que contribuem para a infertilidade feminina estão
mostrados n o Quadro 42-5.2
Avaliação da Ovulação
Fatores Ovulatórios Os exames laboratoriais atuais não confirmam a liberação do
A disfunção ovulatória se manifesta por meio da presença ou ausên- óvulo. Contudo, a dosagem da progesterona plasmática da metade
cia de menstruações regulares, o que a toma difícil de diagnosticar. da fase luteínica indica que o corpo lúteo foi formado. O u t t o s
Doenças metabólicas de vários tipos afetam a função ovulatória, métodos, tais como a temperatura corporal basal e a avaliação do
incluindo aquelas que resultam de u m excesso de andrógenios. Por pico do L H , também foram usados para detectar ou prever a
exemplo, a PCOS é a causa mais comum de anovulação e foi dis- ovulação.
cutida anteriormente neste capítulo. Em mulheres com hirsutismo, Dosagem dâ Progesteronã. A dosagem da concentração sérica
a C A H deveria ser considerada. Uma deficiência de 21-hidroxilase da progesterona é o primeiro ensaio utilizado para a avaliação da
ou de 3-(i-hidroxiesteróide pode estar presente em até 26% dos ovulação. E importante observar que uma elevação na concen-
casos. Distúrbios hepáticos o u tireoidianos reconhecidamente tração de progesterona indica que u m corpo lúteo foi formado,
também resultam em disfunção ovulatória. mas não pode confirmar que o óvulo foi realmente liberado.
Assim como na i n f e r t i l i d a d e masculina, o hipogonadismo Começando imediatamente após a ovulação, as concentrações
(hipergonadotrófico ou hipogonadotrófico) também resulta séricas de progesterona se elevam e têm o seu pico dentro de 5
em infertilidade f e m i n i n a . As causas de hipogonadismo hiper- a 9 dias, durante a metade da fase luteínica (dias 21 a 23). Se a
gonadotrófico i n c l u e m (1) POF, (2) disgenesia gonadal, (3) ovulação não ocorrer, o corpo lúteo não consegue se formar e a
síndrome dos ovários resistentes, (4) menopausa e (5) deficiên- esperada elevação cíclica da concentração de progesterona é sub-
cia da fase luteínica. As causas de hipogonadismo hipogonado- normal. Se a gravidez ocorrer, a C G estimula o corpo lúteo e a
trófico i n c luem insuficiência hipofisária ou hipotalâmica e produção de progesterona continua a se elevar. Concentrações
hiperprolactinemia. da metade da fase luteínica > 10 n g / m L indicam ovulação
normal; concentrações < 10 n g / m L sugeTem (1) anovulação, (2)
Fatores Imunológicos produção lútea inadequada de progesterona, (3) momento inade-
Os anticorpos antiespermatozóide contribuem para a infertili- quado de coleta da amostra.15
dade feminina e podem estar presentes n o soro, muco cervical Temperatura Corporal Basal. Os gráficos de temperatura cor-
ou no líquido seminal. O seu papel na infertilidade feminina p o r a l basal há m u i t o têm sido aceitos como indicadores simples
permanece controverso. Alguns casos de infertilidade, especial- e c o m boa relação custo-benefício da ovulação. A ovulação está
mente quando associada a u m teste pós-coito anormal, são encon- associada a uma rápida elevação da temperatura corporal em
trados na presença de uma elevada porcentagem de anticorpos t o r n o de 0,5°C, o que.persiste ao longo da fase luteínica (Figura
ligados aos espermatozóides. 42-5). A elevação na temperatura se deve a u m aumento da con-
centração de progesterona. C o n t u d o , assim como a progesterona,
Avaliação da Infertilidade Feminina a elevação da temperatura corporal só é evidente retrospectiva-
A avaliação inicial da infertilidade feminina deveria incluir (1) mente e, portanto, não prediz uma ovulação iminente de u m
uma história e u m exame físico detalhados, (2) u m esfregaço de m o d o ú t i l para o ajuste do m o m e n t o da relação sexual.
820 PARTE V Fisiopatologia

Dosagem do Pico do Hormônio Luteinizante. O LH surge na ções basais de estradiol >75 a 80 p g / m L estão associadas a u m
u r i n a i m e d i a t a m e n t e após o pico d o L H e 24 a 36 horas antes da resultado insatisfatório.
ovulação. A dosagem d o L H não c o n f i r m a a presença de ovulação
n e m fornece u m v i s l u m b r e da causa da anovulação, mas, emvez Reprodução Assistida
disso, i n d i c a q u a n d o a ovulação deveria ocorrer e oferece u m guia Casais c o m m ú l t i p l o s problemas de i n f e r t i l i d a d e , i n c l u i n d o
c o m o q u a l se pode d e t e r m i n a r o m o m e n t o da relação sexual. causas não identificadas e i n f e r t i l i d a d e persistente, a despeito dos
A tecnologia m o n o c l o n a l levou à utilização de kits domésticos tratamentos padrão, p o d e m se beneficiar de técnicas de r e p r o d u -
de LH que não apenas oferecem u m a i n f o r m a ç ã o precisa e m ção assistida. A terapia padrão i n i c i a l consiste na i n d u ç ã o da
relação ao m o m e n t o da ovulação, mas que p o d e m reduzir o ovulação e inseminação a r t i f i c i a l por, pelo menos, 6 meses antes
estresse e os custos associados aos programas de i n f e r t i l i d a d e , que se prossiga para técnicas mais dispendiosas e exóticas.
u m a vez que estes testes são realizados e m casa e são comparati- O l a b o r a t ó r i o desempenha u m i m p o r t a n t e papel n o processo
v a m e n t e baratos. A m a i o r i a dos kits domésticos de ovulação de i n d u ç ã o da ovulação. O p r i n c í p i o envolve a administração de
consiste em u m a "vareta" que emprega u m i m u n o e n s a i o m o n o - g o n a d o t r o f i n a s para estimular o crescimento f o l i c u l a r seguida
c l o n a l d u p l o de dois p o n t o s ligado à enzima. O s testes efetiva- pela C G a f i m de estimular a ovulação. A dosagem da concen-
m e n t e prevêem a ovulação e m 7 0 % das mulheres. tração de estradiol sérico e o m o n i t o r a m e n t o ultra-sonográfico
do ciclo de t r a t a m e n t o são necessários para (1) d e t e r m i n a r a dose
Avaliação dos Parâmetros Endócrinos e a duração do t r a t a m e n t o , (2) d e t e r m i n a r q u a n d o o u se se deve
a d m i n i s t r a r C G e (3) obter u m a resposta o v u l a t ó r i a adequada,
Hipogonadismo Hipergonadotrófico
e m b o r a e v i t a n d o a hiperestimulação.
A P O F é i n d i c a d a p o r concentrações basais de F S H repetida-
m e n t e elevadas (> 3 0 U I / L ) o u p o r u m a ú n i c a elevação de > 4 0 REFERÊNCIAS
U I / L . Essas pacientes são hipoestrogênicas (estradiol < 20 U I / L )
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C A P Í T U L O 4 3

Distúrbios da Gravidez
Edward R. Ashwood, M.D., e George J. Knight, Ph.D.

OBJETIVOS Feto: D e s e n v o l v i m e n t o i n t r a - u t e r i n o após 8 semanas de v i d a


e m b r i o n á r i a até o f i m da gestação.
1. Definir os seguintes termos:
Gestação: T e m p o de duração da gravidez m e d i d o em semanas
a-fetoproteína
desde o p r i m e i r o dia do ú l t i m o p e r í o d o m e n s t r u a l (idade
Líquido amniótico
obstétrica).
Anencefaiia
G o n a d o t r o f i n a C o r i ô n i c a : U m h o r m ô n i o glicoprotéico
Gonadotrofina crônica
p l a c e n t á r i o que estimula o ovário a p r o d u z i r progesterona.
Síndrome de Down
G r a v i d e z E c t ó p i c a : D e s e n v o l v i m e n t o de u m e m b r i ã o na
Eciâmpsia
t r o m b a de F a l ó p i o o u n o a b d o m e , em vez de n o útero.
Gravidez ectópica
L í q u i d o A m n i ó t i c o : Substância derivada p r i n c i p a l m e n t e da
Embrião u r i n a fetal que protege o feto e m desenvolvimento.
Feto P a r t o P r é - t e r m o : N a s c i m e n t o de u m bebê antes de 37 semanas
Gestação de gestação.
Doença hemolítica do recém-nascido Pré-eclâmpsia: H i p e r t e n s ã o i n d u z i d a pela gravidez c o m
Defeito do tubo neural a u m e n t o de proteína n a u r i n a ( p r o t e i n ú r i a ) .
Pré-eclâmpsia S í n d r o m e de D o w n : D i s t ú r b i o genético caracterizado p o r ter
Parto pré-termo três cópias d o cromossomo 21 (trissomia do 21) em vez das
Síndrome da angústia respiratória duas cópias n o r m a i s .
Espinha bífida S í n d r o m e d o D e s c o n f o r t o R e s p i r a t ó r i o : U m a doença de
2. Listar os hormônios produzidos durante a gravidez e expor suas recém-nascidos prematuros causada p o r u m a deficiência do
funções. surfactante p u l m o n a r .
3. Descrever a função e a composição do líquido amniótico.
4. Expor as principais mudanças bioquímicas que acontecem na

O
mulher durante uma gravidez normal.
l a b o r a t ó r i o clínico tem u m papel i m p o r t a n t e n o con-
5. Descrever o desenvolvimento dos sistemas renal, hepático e
trole da gravidez. E m contraste c o m a m a i o r i a das situa-
pulmonar do feto quanto à função e à maturidade.
ções clínicas, n o t r a t a m e n t o de u m a gestante, o m é d i c o
6. Expor a significância clínica dos seguintes analitos para avaliar a deve cuidar s i m u l t a n e a m e n t e de mais de u m paciente. A saúde
saúde maternal e fetal: gonadotrofina crônica, lactogênio da mãe e a d o seu feto estão interligadas, cada u m a afetando a
placentário, alfa-fetoproteina, estriol não-conjugado, inibira-A o u t r a ; logo, o t r a t a m e n t o da gravidez deve considerar ambos. Este
dimérica. c a p í t u l o revisa a b i o l o g i a da gravidez e discute os testes laborato-
7. Listar os métodos de análise e os princípios dos procedimentos riais usados para detectar, avaliar e m o n i t o r a r a gravides t a n t o
usados para avaliar a maturidade do pulmão fetal. n o r m a l quanto anormal.
a. No contexto de triagem sérica materna para defeitos fetais,
descrever a composição, logísticas e utilidade dos testes triplos,
quádruplos e integrados. GRAVIDEZ HUMANA
Para apreciar o papel dos testes laboratoriais de assistência m é d i c a
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES
na gravidez, é necessário e n t e n d e r tópicos f u n d a m e n t a i s c o m o
a - F e t o p r o t e í n a : U m a proteína produzida no fígado fetal que é
(1) concepção, desenvolvimento e m b r i o n á r i o e crescimento fetal;
usada para prever risco de anencefaiia, espinha b í f i d a e
(2) o p a p e l da placenta; (3) a i m p o r t â n c i a e a composicão d o
s í n d r o m e de D o w n .
l i q u i d o a m n i ó t i c o ; (4) a adaptacao m a t e r n a à gravidez e (5) a
A n e n c e f a i i a : D e f e i t o de nascença caracterizado p o r u m cérebro
maturação f u n c i o n a l do feto.
que não se desenvolve n o r m a l m e n t e .
D e f e i t o d o T u b o N e u r a l : Defeitos congênitos n o cérebro, na
m e d u l a espinal o u e m ambos (p. ex., anencefaiia e espinha
bífida). Concepção, Embrião e Feto
D o e n ç a H e m o l í t i c a d o Recém-nascido: D o e n ç a d o feto e do A gravidez h u m a n a n o r m a l , i. e., a gestação, d u r a aproximada-
recém-nascido causada p o r destruição de e r i t r ó d t o s fetais m e n t e 40 semanas, medidas desde o p r i m e i r o dia do ú l t i m o
mediada por anticorpo materno. p e r í o d o m e n s t r u a l n o r m a l ( L M P ) o u ( L N M P ) . A data antecipada
E c i â m p s i a : Convulsões e c o m a o c o r r e n d o e m mulheres d o n a s c i m e n t o de uma. criança é c o m u m e n t e chamada de data
grávidas o u puerperais. esperada de confinamento ( E D C ) . A o falar c o m os pacientes, os
E m b r i ã o : Primeiras m o d i f i c a ç õ e s celulares a p a r t i r d o ovo médicos n o r m a l m e n t e d i v i d e m a gravidez em três intervalos de
f e c u n d a d o até a 8 a semana de gestação. t e m p o chamados trimestres, cada q u a l i n d o u m p o u c o além de 13
E s p i n h a B í f i d a : Defeitos congênitos caracterizados p o r u m a semanas. Por convenção, o p r i m e i r o trimestre, de zero a 13 semanas,
m e d u l a espinal que não se desenvolve n o r m a l m e n t e . começa n o p r i m e i r o dia da ú l t i m a menstruação.
822 PARTE V Fisiopatologia

A ovulação ocorre a p r o x i m a d a m e n t e n o 14° dia d o ciclo Q U A D R O 4 3 - 1 | Transporte Placentário Normal


m e n s t r u a l regular ( C a p í t u l o 42). Caso ocorra concepção, o
ó v u l o é f e r t i l i z a d o , geralmente na t r o m b a de Falópio, t o r n a n d o - SEM TRANSPORTE
se u m zigoto, o qual é, então, t r a n s p o r t a d o pela t r o m p a até o ú t e r o . A maioria das proteínas
O zigoto se divide, tornando-se u m a m ó r u l a . D e p o i s q u e 5 0 a Hormônios da tireóide
6 0 células estão presentes, a m ó r u l a desenvolve u m a cavidade, o IgA e IgM maternas
Eritrócitos letais maternos
saco e m b r i o n á r i o p r i m i t i v o , tornando-se, assim, u m blastócito,
q u e se i m p l a n t a na parede u t e r i n a cerca de 5 dias após a fertili-
TRANSPORTE PASSIVO LIMITADO
zação. A s células na parede e x t e r n a d o blastócito, trofoblmtos,
Esteróides não-Gonjugados
sinergisticamente i n v a d e m o e n d o m é t r i o u t e r i n o e se desenvol-
Sulfatas de esteróides
v e m e m vilos, f o r m a n d o a placenta, Ácidos graxos livres
Nesse estágio, o p r o d u t o da concepção é denominado
e m b r i ã o . U m a cavidade chamada â m n i o se f o r m a e cresce c o m TRANSPORTE PASSIVO
o a c ú m u l o de líquida amniótico. N u t r i d o pela placenta e prote- Moléculas com peso molecular de até 5.0DD Da com solubilidade lipidica
g i d o p e l o l í q u i d o a m n i ó t i c o , o e m b r i ã o passa p o r u m a r á p i d a Oxigênio
divisão celular, diferenciação e crescimento. Os ÓTgãos c o m e ç a m Dióxido de carbono
a se f o r m a r a p a r t i r das combinações d o ectoderma, m e s o d e r m a Sódio e cloreto
Uréia
e endoderma — u m processo c h a m a d o organogênese. N a 10a
Etanol
semana, o e m b r i ã o desenvolveu a m a i o r i a das p r i n c i p a i s estru-
turas e agora é c h a m a d o de feto. N a 13a semana, o feto pesa
TRANSPORTE ATIVO ATRAVÉS DE MEMBRANAS CELULARES
a p r o x i m a d a m e n t e 13 g e t e m 8 c m de c o m p r i m e n t o . Glicose
O r á p i d o crescimento fetal o c o r r e d u r a n t e a 13 a e a 26 a Muitos aminoácidos
semana d o segundo trimestre. A o f i n a l d o segundo trimestre, o Cálcio
feto pesa 700 g e t e m 30 c m de c o m p r i m e n t o . M u i t o s órgãos
fetais c o m e ç a m a m a t u t a r . E n t r e a 26 a e 40 a semana d o terceiro ENDOCITOSE MEDIADA POR RECEPTOR
semestre, os órgãos fetais c o m p l e t a m sua m a t u r a ç ã o pré-natal. IgG materna
D u r a n t e esse trimestre, a taxa de crescimento desacelera-se. A o Insulina
Lipoproteína de baixa densidade
f i n a l d o terceiro trimestre, o feto pesa a p r o x i m a d a m e n t e 3 . 2 0 0 g
Acido fálico
e m e d e cerca de 5 0 c m . Termo é o i n t e r v a l o entre a 37 a e a 42 a
Tiamina
semana, T r a b a l h o de p a r t o n o r m a l , contrações uterinas rítmicas
e n a s c i m e n t o o c o r r e m d u r a n t e esse p e r í o d o .

Placenta
Mãe Placenta Felo
A placenta e o cordão u m b i l i c a l são o elo p r i n c i p a l entre a mãe
e o feto. A placenta cresce d u r a n t e a gravidez e é n o r m a l m e n t e
Hormônios Esteróides
liberada pelo canal d o parto logo após o nascimento da criança.
Colesterol Progesterona
Função DHEA-S (adrenal) Eslradiol e estrona DHEA-S (adrenal)
4
A placenta (1) m a n t é m os sistemas de circulação fetal e m a t e r n o
separados, (2) a l i m e n t a o feto, (3) remove os p r o d u t o s d o meta- Estriol 4 16-a-OH-DHEA-S (figado)
b o l i s m o fetal e (4) p r o d m os h o r m ô n i o s vitais para a gravidez. Hormônios Protéicos
Ela é c o m p o s t a p o r grandes coleções de vasos chamados uiíos, os
quais são c i r c u n d a d o s p o t espaços i nter v i l os os nos quais o CG
sangue m a t e r n o f l u i . Q u a n d o as substâncias se deslocam da
PL
circulação m a t e r n a para a circulação fetal, elas atravessam os
Aminoácidos ACTH
trofoblastos e várias m e m b r a n a s . O t r a n s p o r t e de q u a l q u e r subs-
tância depende, e m grande parte, de (1) u m gradiente de concen- e CT
tração entre os sistemas c i r c u l a t ó r i o s fetal e m a t e r n o , (2) pre- carboidratos TRH
sença o u ausência de proteínas ligantes c i r c u l a n d o , (3) s o l u b i l i -
GnRH
dade l i p i d i c a da substância e (4) presença de t r a n s p o r t e facili-
CRH
tado, c o m o b o m b a s de íons o u e n d o c i t o s e m e d i a d a p o r receptor
( Q u a d r o 43-1). A p l a c e n t a é u m a b a r r e i r a eficaz para o m o v i - Somatostatina
m e n t o de proteínas grandes e de compostos h i d r o f ó b i c o s ligados Inibina-A
às proteínas plasmáticas. A i m u n o g l o b i n a m a t e r n a G ( l g G ) atra- PAPP-A
vessa a placenta v i a endocitose m e d i a d a p o r receptor. D e v i d o à Cerca de 20 proteínas especificas da
sua longa meia-vida, a I g G p r o d u z i d a pela mãe protege o recém- gravidez (proteína de Schwangerschaft)
nascido d u r a n t e os 6 p r i m e i r o s meses de vida. Exames de anti-
corpos c o m baixos l i m i t e s de detecção p o d e m ser positivos e m
Figura 43-1 Representação esquemática da produção de hormônio
crianças c o m até 18 meses.
proteico e esteróide pela placenta. DHEA-S, sulfato de
desidroepiandrosterona; CG, gonadotrofina cotiônica; PL, lactogênio
Hormônios Placentários placentário; ACTH, hormônio adrenocorricotrôfico; TRH, hormônio
A placenta p r o d u z várias proteínas e h o r m ô n i o s esteróides liberador de tireotrofina; CT, ciíeotrofma cotiônica; GnRH, hormônio
(Figura 43-1). O s p r i n c i p a i s h o r m ô n i o s proteicos são a g o n a d o - liberador de gonadotrofina; CRH, hormônio liberador de
t r o f i n a c o r í ô n i c a ( C G ) e o l a c t o g ê n i o p l a c e n t á r i o (PL). O s este- corticotrofina; PAPP-A, proteína-A plasmática associada à gravide?.
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 823

róides incluem (1) progesterona, (2) estradiol, (3) estriol e (4) estrona. O volume do líquido amniótico é (1) 200 a 300 m L em 16
Geralmente, a produção pela placenta aumenta em proporção semanas, (2) 400 a 1.400 m L em 26 semanas, (3) 300 a 2.000 m L
ao aumento de massa placentária. Portanto, as concentrações de em 34 semanas e (4) 300 a 1.400 em 40 semanas. O volume em
hormônios derivados da placenta, como o PL, aumentam no qualquer período é uma função de vários movimentos fluídicos
sangue periférico materno à medida que a placenta aumenta de inter-relacionados, incluindo (1) deglutição, (2) urinação, (3) trans-
tamanho. A C G , que atinge o pico n o final do primeiro trimes- porte intramembranoso e (4) excreção pulmonar. Embora o
tre, é uma exceção. f l u i d o pulmonar fetal contribua com u m pequeno volume, a
respiração fetal desse f l u i d o é o mecanismo de transporte de
Gonadotrofina Coriônica surfactante dos pulmões fetais para o líquido amniótico.
A C G é u m h o r m ô n i o placentário m u i t o importante. Ela esti- Aumentos e peidas patológicas no volume do líquido amni-
mula o ovário a produzir progesterona que, por sua vez, evita a ótico são encontrados com freqüência na prática clínica. O
menstruação, protegendo, assim, a gravidez. A química, a bio- retardo no cresfcimento intra-uteiino e as anormalidades do trato
química e os métodos da C G são discutidos mais adiante neste u r i n á r i o fetal, como a agenesia renal bilateral ou obstrução da
capítulo. uretra, estão associados aos oiigoidrâmnios, u m volume de líquido
amniótico anormalmente baixo. O volume fluídico aumentado
Lactogânio Placentário é conhecido como hidrãmnio (também denominado polndrâm-
O PL, também conhecido como lactogênio placentário h u m a n o nio). As condições associadas ao h i d r â m n i o são tão diversas
(hPL) e como somatotrofina coriônica humana (hCS), é uma como as associadas ao diabetes meUitws, incluindo (1) doença
cadeia polipeptídica única de 191 aminoácidos. A estrutura do isoimune R h grave, (2) atresia esofágica fetal, (3) gravidez rnulti-
PL é excepcionalmente homóloga (96%) ao h o r m ô n i o do cres- fetal, (4) anencefaiia e (5) espinha bífida.
cimento (GH) e menos homóloga à prolactina (67%). Suas pro- N o início da gestação, a composição do líquido amniótico
priedades lactogênicas e sobre o crescimento são potentes. A parece u m dialisado complexo do soro materno. A medida que
secreção placentária próxima ao termo é 1 a 2 g/dia, a maior de o feto cresce, o líquido amniótico sofre várias alterações (Tabela
qualquer h o r m ô n i o conhecido. D o ponto de vista fisiológico, o 43-1). Mais notavelmente, a concentração de sódio e a osmola-
PL possui muitas atividades biológicas, incluindo (1) lactogênica, lidade d i m i n u e m e as concentrações de uréia, creatinina e ácido
(2) metabólica, (3) somatotrófica, (4) luteotrófica, (5) eritropoié- úrico aumentam. Os lipídios de maior interesse são os fosfolipí-
tica e (6) efeitos estimuladores de aldosterona. Seu efeito direto dios, cujos tipos e concentrações refletem a maturidade pulmo-
ou em sinergismo c o m a prolactina c o n t r i b u i significativamente nar fetal (discutida mais detalhadamente adiante). M u i t o s hor-
na preparação das glândulas mamárias para a lactação. Embora mônios esteróides e protéicos também estão presentes n o líquido
o PL tenha sido usado n o passado para aliviar o bem-estar fetal, amniótico e alguns são úteis para o diagnóstico de hiperplasia
atualmente não há razão clínica aparente para medir o PL. adrenal congênita ( C A H ) e doença tireoidiana fetal.
N o início da gravidez, há pouca ou n e n h u m a matéria parti-
Esteróides Placentários culada no líquido amniótico. Em 16 semanas de gestação, grandes
A placenta produz uma grande variedade de hormônios esterói- quantidades de células segregadas das superfícies do âmnio, da
des, incluindo estrógeno e progesterona. Quantidades significa- pele e da árvore traqueobrônquica estão presentes. Essas células
tivas de estrõgenos são produzidas a termo. A química desses são de grande utilidade n o diagnóstico pré-natal A medida que
esteróides é descrita n o Capítulo 42. O colesterol materno é o a gravidez continua a progredir, cabelos do couro cabeludo e
principal precursor da produção de progesterona placentária. A lanugem (pilosidade fina no corpo do feto) também são secretados
biossíntese dos estrógenos pela placenta difere daquela dos no líquido amniótico e contribuem para sua turbidez. A produ-
ovários porque a placenta não possui 17a-hidroxilase. Portanto, ção de partículas surfactantes no pulmão, denominadas corpos
cada u m dos estrógenos — (1) estrona ( E l ) , (2) estradiol (E2) e ]amehzres, aumenta m u i t o o turvamento do líquido. N o período
(3) estriol (E3) — deve ser sintetizado a partir dos intermediários a termo, o líquido amniótico contém partículas absolutas de
Cj9 que já possuem u m grupo hidroxila na posição 17. E m
mulheres não-grávidas, os ovários secretam 100 a 600 pg/dia de
estradiol, dos quais cerca de 10% são metabolizados para estrona.
D u r a n t e o período f m a l da gravidez, a placenta produz 50 a TABELA 43-1 Composição do Líquido Amniótico (Valores
150 mg/dia de estriol e 15 a 20 m g / d i a de estradiol e estrona. A Médios)
secreção de estrógenos e progesterona durante a gravidez asse-
IDADE GESTACIONAI (SEMAMAS)
gura (1) o desenvolvimento apropriado do endométtio, (2) o
Componente 15 25 40
crescimento uterino, (3) o suprimento sanguíneo uterino ade-
quado e (4) a preparação do útero para o trabalho de parto. Sódio, mmol/L 136 138 126
Embora a dosagem de estriol n o terceiro trimestre tenha sido Potássio, mmol/L 3,9 4,0 4,3
usada no passado para avaliar o bem-estar fetal, muitos obstetras Cloreto, mmol/L 111 109 103
consideram essa prática obsoleta. As dosagens de estriol entre as Bicarbonato, mmol/L 16 18 16

16a a 18a semanas de gestação são úteis para prever a trissomia Nitrogênio uréico, mmol/L 11 11 18

fetal do 21 e do 18 (veja discussão adiante sobre triagem sérica Creatinina, mg/dL 0,8 0,9 2,2
Glicose, mg/dL 47 39 32
materna para defeitos fetais).
Ácido úrico, mg/dL 4,0 5,7 10,4
Proteína total, g/dL 0,5 0,8 0,3
Líquido Amniótico Bilirruhina, mg/dL - 0,13 0,14 0,04
Durante a vida intra-uterina, o feto vive dentro de u m compar-
Osmolalidade, m0sm/kg H 2 0 272 272 255
timento cheio de líquido. O l í q u i d o a m n i ó t i c o fornece u m meio
no qual o feto se movimenta prontamente; ele protege o feto DE Betifie Kl, Dorán TA, Harkins 71, O u m VM, Por ter CJ. Composiüon o/ lhe
amnioftc flitid and materna jerttrn in pregnan&i. Ara J Cfeto GjíiecúI
contra possíveis danos e ajuda a manter uma temperatura cons-
1974,119:798-810.
tante.
824 PARTE V Fisiopatologia

vemix caserna, substância gordurosa composta de sebo e células TABELA 43-2 Média dos Valores Laboratoriais Séricos
epiteliais descamadas que recobre a pele do feto. e Plasmáticos durante Gestações N o r m a i s
Os fetos n o r m a i s não defecam durante a gravidei. Q u a n d o
Expressos c o m o uma Porcentagem da Média
severamente estressado, u m fero pode defecar u m a matéria chamada
1 e m Não-grávidas
mecônio. Esse material heterogêneo c o n t é m m u i t o s pigmentos bilia-
TEMPO DE GESTAÇAC
res e, p o r t a n t o , tinge o l í q u i d o a m n i ó t i c o de verde. L í q u i d o amni-
Analito 12 semanas 32 semanas Termo
ó t i c o t i n g i d o p o r m e c ô n i o é u m sinal de estresse fetal.
Sódio 97 98 97
Adaptação Materna Potássio 95 95 100
D u r a n t e a gravidez, a m u l h e r passa p o r mudanças fisiológicas e Bicarbonato 85 85 81
h o r m o n a i s intensas. O a u m e n t o na concentração de estrógeno, Cloreto 98 100 99
Nitrogênio uréico 77 63 77
progesterona, P L e corticosteróides produzidos durante a gravidez
Creatinina 71 74 81
afetam vários sistemas metabólicos, fisiológicos e endócrinos.
Glicose em jejum 98 94 94
A l é m disso, ela e x p e r i m e n t a (1) u m a u m e n t o na resistência à
Bilirrubina, não-conjugada 56 67 78
angiotensina, (2) prevalência do m e t a b o l i s m o l i p í d i c o sobre o
Albumina 93 78 78
uso de glicose e (3) u m a síntese a u m e n t a d a pelo fígado das pro-
Proteína 92 83 93
teínas ligantes de h o r m ô n i o s esteróide e tireoidianos, fibrinogê-
Ácido úrico 68 92 120
n i o e outras proteínas. D e v i d o a tais mudanças, m u i t o s dos
Cálcio 98 94 97
intervalos de referência laboratoriais para pacientes não-grávidas Cálcio ionizado livre 99 101 102
não são apropriados para pacientes grávidas. Os valores medianos Hormônio da paratireóide, intacto — — 140
para testagems selecionados expressos c o m o porcentagem das 1,25-diidroxivitamina D — — 400
médias de c o n t r o l e são apresentados na Tabela 43-2. Fosfato 108 97 96
Magnésio 92 87 87
Alterações Hematológicas Fosfatase alcalina 90 203 347
O v o l u m e sanguíneo m a t e r n o aumenta e m média 4 5 % d u r a n t e Creatininoquinase 87 86 135
a gravidez. O v o l u m e plasmático aumenta mais rapidamente que a aT-antitripsina 129 174 191
massa de eritrócitos. P o r t a n t o , apesar da eritropoiese aumentada, Transferrina 105 160 170
a (1) concentração de h e m o g l o b i n a , (2) a contagem de eritrócitos Colesterol 100 144 156
e (3) o h e m a t ó c r i t o d i m i n u e m durante a gravidez n o r m a l . A HDL-colesterol 121 119 130
média das concentrações de h e m o g l o b i n a a termo é 12,6 g / d L , LDL-colestercI 80 118 146
Triglicerídeos em jejum 141 300 349
comparada c o m 13,3 g / d L para o estado de não-gravidez.
Ferro 112 94 94
A s concentrações de vários fatores de coagulação sanguínea
Capacidade Ugarte de ferro 95 139 144
estão aumentadas d u r a n t e a gravidez. Por exemplo, o f i b r i n o g ê -
Saturação da transferrina 136 68 64
n i o plasmático a u m e n t a a p r o x i m a d a m e n t e 65%, de 275 para
Zinco protoporfirina 107 109 144
450 m g / d L . A gravidez a u m e n t a o risco de t r o m b o e m b o l i s m o
Ferritina 81 33 59
e m até cinco vezes o TÍSCO n o r m a l .
Tiroxina 103 107 100
Triiodotironina 100 121 121
Alterações Bioquímicas Tiroxina livre 98 Cl 74
D u r a n t e a gravidez, os eletrólitos mostram pouca mudança, mas há Globulina ligante de tiroxina 114 155 182
u m aumento de aproximadamente 4 0 % em triglicerídeos séricos, Hormônio estimulante da tireóide 111 122 139
colesterol, fosfolipídios e ácidos graxos livres. A albumina plasmática Cortisol 111 301 309
é reduzida a u m a média de 3,4 g / d L no f i n a l da gravidez, e as con- Aldosterona — — 1500
centrações de globulina plasmática têm u m leve aumento. Várias das Prolactina — — 800
proteínas de transporte a u m e n t a m significativamente n o plasma, Hemoglobina 95 90 96
i n c l u i n d o globulina ligante da tiroxina (TBG), globulina ligante do Hematócrito 94 91 97
cortisol ( C B G ) e globulina ligante d o h o r m ô n i o sexual ( S H B G ) . A Contagem de leucócitos 144 167 240
atividade da colinesterase sérica é reduzida, enquanto a atividade da Tempo de protrombina 99 97 97
Tempo de tromboplastina parcial ativada 95 91 93
fosfatase alcalina sérica triplica, principalmente devido ao aumento
Contagem plaquetária 98 96 100
na fosfatase alcalina termolábel de origem placentária. A l é m disso,
Fibrincgênio 119 154 165
a creatininoquinase aumenta substancialmente n o parto.
Dildos dtt Lockiií.k G, ed. HandÜjook of diagnoslic biochcmíjtrj aná hematoUigy in

Função Renal TIOITMI pregnancy. Bo ca Raton, Fla: CKC Press, 1993.


HDL, Lipoprotelna de alta densidade; LDL, lipofwoieina de baixa densidade.
A gravidez aumenta a taxa de filtração glomerular (GFR) para cerca
de 170 m L / m i n / l , 7 3 m 2 em 20 semanas e, portanto, aumenta o
clearance de uréia, creatinina e ácido úrico. As concentrações desses
três analitos estão, p o r t a n t o , levemente reduzidas no SOTO durante
a maior parte da gravidez. A glicosúria, até 1.000 mg/Mia, pode estar p r o d u z i d a pelo c o r p o l ú t e o n o ovário m a t e r n o em resposta à C G .
presente devido à G F R aumentada, o que representa mais f l u i d o N o s estágios posteriores, a placenta p r o d u z progesterona o bas-
nos túbulos, reduzindo, assim, o limiar da glicose renal. Sabe-se que tante para m a n t e r a gravidez.
a perda de proteína na u r i n a aumenta em até 300 m g/di a. D u r a n t e a gravidez, o h o r m ô n i o da paratireóide ( P T H ) aumenta
4 0 % a p r o x i m a d a m e n t e , c o m quase n e n h u m a m u d a n ç a na fração
Alterações Endócrinas plasmática d o cálcio ionizado livre, sugerindo, assim, u m n o v o
A ação da progesterona previne as menstruações e, assim, p e r m i t e l i m i a r para a secreção de P T H . A c a l c i t o n i n a não a u m e n t a de
que a gravidez c o n t i n u e . N o i n í c i o da gravidez, a progesterona é f o r m a previsível d u r a n t e a gravidez, e n q u a n t o a 1,25-diidroxivita-
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 825

m i n a D está aumentada e promove aumento na absorção de cálcio Fígado


intestinal. Essas mudanças p e r m i t e m a transferência de grandes A hematopoiese ocorre no fígado d u r a n t e os primeiros dois tri-
quantidades de cálcio para o feto em desenvolvimento. mestres e se transfere para a m e d u l a óssea d u r a n t e o terceiro
O a u m e n t o na concentração de estrógeno estimula a p r o d u - trimestre. O fígado t a m b é m é responsável (1) pela p r o d u ç ã o de
ção hepática de g l o b u l i n a ligante de c o r t i s o l ( C B G ) . O ckarance proteínas específicas (como a l b u m i n a e fatores da coagulação),
hepático de cortisol d i m i n u i . Portanto, as concentrações absolu- (2) p e l o m e t a b o l i s m o e desintoxicação de m u i t o s compostos e (3)
tas de cortisol t o t a l e livre n o plasma estão b e m mais altas pela secreção de substâncias c o m o b i l i r r u b i n a . U m a p r o t e í n a
d u r a n t e a gravidez. O r i t m o d i u r n o do cortisol, mais alto pela c l i n i c a m e n t e ú t i l p r o d u z i d a pelo fígado é a a - f e t o p r o t e í n a (AFP).
m a n h ã e mais baixo à noite, é m a n t i d o . Concentrações plasmá- Os mecanismos de desintoxicação e de secreção de b i l i r r u b i n a
ticas aumentadas de desoxicorticosterona e de aldosterona estão imaturos até o p e r í o d o f i n a l da gravidez e mesmo nos pri-
t a m b é m são observadas. meiros meses após o nascimento. Portanto, as crianças prematu-
O a u m e n t o nas concentrações de estrógeno d u r a n t e a gravi- ras q u e t ê m concentrações perigosamente elevadas de b i l i r r u b i n a
dez a u m e n t a a secreção de p r o l a c t i n a e m até 10 vezes; e m con- sérica não metabolizam b e m as drogas.
centração elevada, o estrógeno s u p r i m e a secreção d o h o r m ô n i o
luteinizante ( L H ) e d o h o r m ô n i o folículo-estimulante (FSH) Rins
abaixo do l i m i t e de detecção. As concentrações basais de outros P r ó x i m o ao f i n a l d o p r i m e i r o trimestre, os rins do feto começam
h o r m ô n i o s hipofisários, c o m o o h o r m ô n i o estimulante da tire- a produzir urina, que é o principal c o m p o n e n t e do l í q u i d o amni-
óide ( T S H ) , p e r m a n e c e m quase inalteradas (Tabela 43-2). ótico. Os néfrons precoces não p o d e m produzir u r i n a concentrada,
E m b o r a a gravidez n o r m a l seja u m estado de eutireóide, e a regulação do p H t a m b é m é limitada. A maturação completa
muitas mudanças o c o r r e m na função da tireóide. Essas concen- ocorre após o nascimento. E m b o r a os rins não sejam necessários
trações altas de T B G elevam a concentração da t i r o x i n a total ( T J para a sobrevivência do feto, o líquido a m n i ó t i c o é necessário para
e da t r i i o d o t i r o n i n a (T 3 ), mas u m a leve redução na concentração o desenvolvimento apropriado do p u l m ã o . Portanto, os recém-
de T 4 livre ocorre d u r a n t e o segundo e o terceiro trimestre. M u i t o nascidos sem rins m o r r e m de insuficiência p u l m o n a r .
poucas mulheres grávidas (menos de 0 , 2 % ) desenvolvem h i p e r t i -
reoidismo, e o h i p o t i r e o i d i s m o é m u i t o raro. A disfunção tireoi- Desenvolvimento do Sangue Fetal
diana pós-parto é c o m u m e freqüentemente não reconhecida. O sangue fetal é p r o d u z i d o p r i m e i r o pelo saco e m b r i o n á r i o ,
depois pelo fígado e, f i n a l m e n t e , pela m e d u l a óssea fetal. O saco
Desenvolvimento Funcional do Feto e m b r i o n á r i o p r o d u z três h e m o g l o b i n a s : P o r t l a n d ( Ç ^ ) , Gower-1
Os órgãos fetais a m a d u r e c e m d u r a n t e o terceiro trimestre, mas (Ç z £ 2 ) e GowÊt-2 (a 2 E 2 ). Essas hemoglobinas embriônicas n o r m a i s
não c o m a mesma velocidade. Esta seção revê o desenvolvimento são de p o u c a i m p o r t â n c i a na q u í m i c a clínica p o r q u e elas estão
dos p u l m õ e s , fígado, rins e sangue d o fero presentes n o sangue fetal apenas n o p r i m e i r o trimestre.
C o m a m u d a n ç a da eritropoiese para o fígado e o baço, a
p r o d u ç ã o de h e m o g l o b i n a fetal ( H b F ) t e m início. A H b F (OC2Y2)
Pulmões e Surfactante Pulmonar
consiste e m duas cadeias a e y. Pequenas quantidades de hemo-
N o s p u l m õ e s c o m respiração n o r m a l , u m a substância chamada
g l o b i n a adulta, H b A ( a 2 p 2 ) t a m b é m são produzidas, mas a H b F
surfactante pulmonar cobre o epitélio alveolar e responde às alte-
p r e d o m i n a d u r a n t e o resto da v i d a fetal.
rações n o v o l u m e alveolar r e d u z i n d o a tensão na superfície da
A m e d i d a que a m e d u l a óssea i n i c i a a p r o d u ç ã o de eritróci-
parede alveolar d u r a n t e a expiração. O surfactante é necessário
tos, a p r o d u ç ã o de H b A a u m e n t a . A o nascimento, o sangue fetal
p o r q u e a tensão na superfície é u m a função inversa do raio da
c o n t é m 7 5 % de H b F e 2 5 % de H b A . A p r o d u ç ã o de H b F
via aérea. Logo, os alvéolos menores possuem u m a força de
d i m i n u i r a p i d a m e n t e d u r a n t e o p r i m e i r o ano de v i d a . E m
colapso m a i o r que os alvéolos maiores. O surfactante opõe-se à
a d u l t o s n o r m a i s , menos de 1% da h e m o g l o b i n a é H b F . A dife-
força e impede o colapso dos alvéolos menores. Células alveolares
rença entre h e m o g l o b i n a fetal e a d u l t a é m u i t o significativa. A
especializadas chamadas pneumócitos granulares tipo 11 sintetizam o
H b F t e m m a i o r afinidade pelo oxigênio do que a H b A . Assim,
surfactante p u l m o n a r e o g u a r d a m e m grânulos laminados deno-
na placenta, o oxigênio é l i b e r a d o da H b A materna, difunde-se
minados corpos lamelares. Esses grânulos armazenados t ê m 1 a 5 p m
nos vilos coriônicos e liga-se à H b F . A l é m disso, 2,3-difosfoglice-
em diâmetro e c o n t ê m fosfolipídios, colesterol e proteína. A pro-
r a t o (2,3-DPG) não se liga à H b F e, p o r t a n t o , não pode d i m i n u i r
dução t e m início já nas primeiras 20 semanas de gestação, mas
sua a f i n i d a d e pelo oxigênio.
quantidades adequadas não se a c u m u l a m até p o r volta da 36 fl
semana. O p u l m ã o do recém-nascido c o n t é m 100 vezes mais sur-
factante por cm 3 do que o p u l m ã o do adulto. O excesso de surfac-
AVALIAÇÃO DA SAÚDE MATERNA E FETAL
tante é necessário ao nascimento, quando o recém-nascido trans- Para u m a boa assistência médica d u r a n t e a gravidez, a m u l h e r
f o r m a a respiração de água e m respiração de ar. O surfactante deve consultar u m m é d i c o antes da concepção A avaliação pré-
supera a tensão na superfície produzida nos alvéolos cheios de água concepção deve i n c l u i r (1) história médica, r e p r o d u t i v a e fami-
que estão a d m i t i n d o ar pela primeira vez. liar, (2) exame físico e (3) testes laboratoriais.
O surfactante p u l m o n a r é u m a m i s t u r a complexa de lipídios
e proteínas, e m e n o s de 5 % são compostos de carboidratos. A Testagem Laboratorial
m a i o r i a dos l i p í d i o s é fosfolipídios e a m a i o r i a destes é lecitina O s seguintes testes são r e c o m e n d a d o s c o m o parte de u m a
(fosfatidilcolina). D i f e r e n t e da lecitina de outros órgãos, a leci- avaliação pré-concepção: (1) h e m a t ó c r i t o , (2) t i p o sanguíneo e
t i n a p u l m o n a r t e m dois ácidos graxos saturados, n o r m a l m e n t e c o m p a t i b i l i d a d e d o R h , (3) triagem de a n t i c o r p o a n t i e r i t r ó c i t o ,
grupos p a l m i t o i l . O u t r o s l i p í d i o s presentes são fosfatidilglicerol (4) esfregaço de Papanicolaou, (5) urinálise, (6) t í t u l o anticorpos
(PG), f o s f a t i d i l i n o s i t o l (PI) e f o s f a t i d i l e t a n o l a m i n a ( C a p í t u l o anti-rubéola, (7) teste r á p i d o de reagina plasmática, (8) teste gono-
23). E s f i n g o m i e l i n a está presente e m quantidades m u i t o peque- cócico, (9) estado de p o r t a d o r de fibrose cística, (10) a n t i c o r p o
nas ( - 2 % ) . A fração protéica dos corpos lamelares é aproxima- c o n t r a o vírus da i m u n o d e f i c i ê n c i a h u m a n a ( H I V ) e (11) antí-
d a m e n t e 4 % e é c o m p o s t a p o r q u a t r o proteínas específicas d o geno de superfície da hepatite B. D e p e n d e n d o dos riscos demo-
surfactante, SP-A, SP-B, SP-C e SP-D. gráficos, a testagem pata distúrbios genéticos c o m o doença de
826 PARTE V Fisiopatologia

Tay-Sachs, talassemia e doença da célula falciforme pode ser


l.COO.OOO
recomendada. U m a história de dieta cuidadosa é aconselhável.
Suplementação c o m ácido f ó l i c o deve ser recomendada para d" 100.000
reduzir o risco de defeitos d o t u b o n e u r a l . "s
A m a i o r i a das mulheres consulta o m é d i c o alguns dias após a p to.ooo
falta de menstruação q u a n d o suspeitam que p o d e m estar grávidas. •3 .
« S 1.000
O teste u r i n á r i o de gravidez que mede a C G é usado para verificar
a gravidez. U m resultado positivo é e n c o n t r a d o em metade das 100
mulheres grávidas n o i n í c i o do atraso menstrual — cerca de 2 a
semanas após a concepção. Triagem para defeitos de t u b o neural
e para s í n d r o m e de D o w n deve ser oferecida a todas as pacientes
grávidas. A t é 2002, a triagem era recomendada na 16a a 18a
0 4 6 12 16 20 24 28 32 36 40
semana de gestação, mas, atualmente, a triagem da s í n d r o m e de
a 15
D o w n já é possível na 10 semana. O teste de tolerância à glicose Semanas de Gestação
deve ser realizado nas semanas 24 a 28. A l g u n s médicos fazem a
triagem de pacientes para risco de trabalho de parto pré-termo
Figura 4 3 - 2 Concentração de gonadotrofina coriônica (CG) no
nas semanas 24 a 30. EmhoTa as mensurações de PL e estriol
soro materno como uma função da idade da gestação. As linhas
t e n h a m sido usadas a n t e r i o r m e n t e para prever o bem-estar fetal,
representam o 2Ü, 50 c e 97° percentis. Os valores séricos maternas da 14a
tais testes são, agora, obsoletos para esse propósito. Os métodos
a 25" semana são médias calculadas de 24.229 gestações de testagem
atuais de escolha para m o n i t o r a r o bem-estar fetal incluem (1) obser-
realizada nos ARUP Laboratories Inc., de janeiro a outubro de 1997.
vação materna e Tegistro dos m o v i m e n t o s fetais, (2) exame de
(Redesenhado de Ashwood ER. Evaluating health and maturation of
ultra-som e (3) testes para m o n i t o r a r o r i t m o cardíaco fetal d u r a n t e
the unborn: the role of the clinicai laboratory. Clin Chem
concentrações uterinas aleatórias o u m o v i m e n t o fetal.
1992;38:1523-9. Permissão concedida por Clin Chem.)

Amostras Clínicas
M u i t a s amostras diferentes estão disponíveis para análise clínica
l a b o r a t o r i a l antes e d u r a n t e a gravidez. Essas amostras i n c l u e m
(1) sangue e soro paternos; (2) soro, sangue e u r i n a maternos;
(3) l í q u i d o a m n i ó t i c o o b t i d o p o r amniocentese o u a p a r t i r de o b t i d o s q u a n d o anticorpos a n t i m u r i n o s h u m a n o s ( H A M A ) o u
concentrados do f l u i d o na vagina após r u p t u r a das membranas anticorpos heterófilos estão presentes. 2,6 E m caso de suspeita, o
fetais; (4) vilos coriônicos; (5) sangue fetal o b t i d o p o r amostragem soro deve ser testado usando-se u m métodos de C G diferente o u
sanguínea u m b i l i c a l percutânea e {6) tecido fetal o b t i d o p o r a u r i n a deve ser testada.
biópsia. Para estabelecer datas acuradas, os obstetras c o n t a m c o m
A técnica de amniocentese é descrita n o C a p i t u l o 3. I n f o r - (1) história menstrual, (2) exame físico, (3) sons cardíacos fetais, (4)
mação a d i c i o n a l encontra-se na seção sobre testes para avaliar a ultra-sonografia e (5) detecção e quantificação da C G . Nas p r i -
m a t u r i d a d e do p u l m ã o fetal, mais adiante neste capítulo. O meiras 8 semanas dé gravidez, a concentração de C G n o soro
l í q u i d o a m n i ó t i c o é, às vezes, o b t i d o i m e d i a t a m e n t e após a m a t e r n o sobe geometricamente (Figura 43-2). Q u a n t i d a d e s detec-
p u n ç ã o transvaginal das membranas abauladas. E possível usar táveis ( - 5 U l / L ) estão presentes em 8 a 11 dias após a concepção,
esse l í q u i d o para análise se ele não estiver m u i t o c o n t a m i n a d o que é na terceira semana de gravidez, c o m o m e d i d o pelo L M P .
c o m sangue o u secreções vaginais. Os médicos devem considerar PaTa as mulheres c o m idade entre 18 e 40 anos, as concentrações
seriamente a amniocentese para pacientes c o m membranas r o m - séricas de C G de ~ 5 U l / L o u maiores são consistentes c o m a
pidas espontaneamente. gravidez. Valores mais altos não são vistos c o m freqüência e m
Pequenas amostras de tecido placentário (vilos coriônicos) mulheres mais velhas e não-grávidas, e acredita-se que sejam
t a m b é m são usadas para análise. Elas são obtidas com u m cateter causados pela secreção de C G pela hipófise. 1 3 As concentrações
entre a 9 a e a 12a semana de gestação. A s amostras de vilos cori- em a p r o x i m a d a m e n t e metade das mulheres grávidas chegam a
ônicos t ê m sido usadas para (1) i d e n t i f i c a r os cromossomos fetais 25 U I / L n o p r i m e i r o dia do p e r í o d o m e n s t r u a l ausente. O p i c o
(o cariótipo), (2) d e t e r m i n a r as atividades enzimáticas o u (3) detec- de concentração ocorre e m cerca de 8 a 10 semanas e aproxima-
tar as mutações de genes específicos. E possível realhar esse pro- se de 100.000 U I / L . Subseqüentemente, as concentrações de C G
c e d i m e n t o mais cedo na gravidez d o que a amniocentese, mas ele começam a d i m i n u i r n o soro e na u r i n a , e n o f i n a l d o segundo
possui u m a taxa mais alta de perda fetal. trimestre, u m a redução de 9 0 % d o pico da concentração n o r m a l -
m e n t e já ocorreu. A presença de gêmeos quase dobra as concen-
trações de C G .
Diagnóstico e Datação da Gravidez
Os aspectos mais i m p o r t a n t e s do c o n t r o l e da gravidez são detec-
tar a gravidez e estabelecer estimativas acuradas da idade fetal Os COMPLICAÇÕES DA GRAVIDEZ
obstetras m e d e m a extensão da gravidez e m termos de semanas, E m b o r a a m a i o r i a das gestações p r o g r i d a sem problemas, com-
não trimestres. plicações p o d e m surgir na mãe, na placenta o u n o feto.
O s testes quantitativos para C G n o sangue o u u r i n a são
usados p r i n c i p a l m e n t e paTa a c o n f i t m a ç ã o da gravidez. Os testes Gravidez Anormal
u r i n á r i o s de C G n o r m a l m e n t e são suficientes para diagnosticar As condições que acometem p r i n c i p a l m e n t e a mãe i n c l u e m
a gravidez n o r m a l q u a n d o ela já passou da p r i m e i r a semana (1) gravidez ectópica, (2) biperêmese gravídica, (3) pré-eclâmpsia,
depois do p r i m e i r o p e r í o d o m e n s t r u a l ausente. Porém, os testes (4) S í n d r o m e H E L L P (hemólise, enzimas hepáticas elevadas e
séricos de gravidez qualitativos detectam a gravidez mais cedo, e contagens de plaquetas associadas à pré-eclâmpsia), (5) doenças
os testes séricos quantitativos são úteis para descobrir problemas hepáticas, (6) doença de Graves e (7) doença h e m o l í t i c a d o
no início da gravidez. Testes falso-positivos de C G sérica f o r a m recém-nascido. O m é d i c o deve d i s t i n g u i r as mudanças anormais
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 827

em testes laboratoriais das mudanças fisiológicas normais indu- hepáticas, i n c l u i n d o (1) hemorragia, (2) mfarto e (3) insuficiên-
zidas pela gravidez (Tabela 43-2). cia hepática fulminante, podem ocorrem e precisam de parto
prematuro.
Gravidez Ectópica e Ameaça de Aborto
Q u a n d o u m ovo fertilizado se implanta em outro local que não Síndrome HELLP
seja o útero, a condição é denominada gravidez ectópica. A A síndrome H E L L P ocorre em 0,1% das gestações. As caracte-
maioria das implantações ocorre na trompa de Ealópio, mas elas rísticas mais prevalentes são trombocitopenia e coagulação intra-
também podem ocorrer n o abdome, embora isso seja raro. A vascular disseminada (DIC). A maioria dos casos ocorre entre a
ruptura tubária e a hemorragia são as complicações sérias mais 27a e 36a semana de gestação, mas também pode ocorrer n o
comuns da gravidez ectópica. Cerca de 25% das mulheres com pós-parto. As mulheres normalmente apresentam (1) dor epigás-
gravidez ectópica apresentam sintomas clássicos de (1) dor na trica ou no quadrante superior direito, (2) mal-estar, (3) náusea,
parte inferior do abdome, (2) sangramento vaginal e (3) massa (4) v ô m i t o e (5) dor de cabeça. Icterícia ocorre em 5 % das
anêxial. De todas as mulheres com esses sintomas, cerca de 15% pacientes. As atividades da lactato desidrogenase (LD) podem
têm uma gravidez ectópica e uma porcentagem menor tem u m estar m u i t o altas, e as atividades de A L T e A S T estão geralmente
aborto espontâneo incompleto ou completo. U m a paciente 2 a 10 vezes acima dos seus limites de referência superiores. O
grávida tem aproximadamente uma chance em 200 de morrer tratamento é o parto. O controle pós-parto da paciente pode
por causa de uma gravidez ectópica. O controle de uma gravidez exigir plasmaférese ou transplante de órgão. As taxas de recor-
ectópica é cirúrgico (por laparoscopia) ou médico (com adminis- rência são de 3% a 27%.
tração intramuscular de metotrexato). A detecção precoce e o
controle apropriado da gravidez ectópica são os meios mais efi- Doença Hepática
cazes de prevenir a morbidade e a mortalidade maternas. H á muitos distúrbios hepáticos próprios da gravidez. Dentre eles
O exame de ultra-som e as mensurações quantitativas de C G estão (1) hiperêmese gravídica, (2) colestase da gravidez e (3) e
séiica são úteis para identificar mulheres com gravidez ectópica fígado adiposo da gravidez. Esses distúrbios devem ser distingui-
ou gravidez intra-uterina anormal. Essas condições quase sempre dos das mudanças fisiológicas normais da gTavidez (Tabela 43-2).
produzem concentrações anormais de C G e ritmos lentos de As mudanças significativas normalmente observadas na gravidez
aumento. A l é m disso, as mensurações de progesterona são úteis incluem uma redução dilucional na albumina sérica e uma ele-
tanto individualmente quanto em combinação com C G . vação da fosfatase alcalina placentária (ALP). Notavelmente,
Nos casos de gravidez ectópica, as concentrações de C G (1) b ilirru b in a total, (2) 5'-nucleotidase, (3) y-glutamikransferase
chegam a 200.000 U I / L , com uma média geométrica de aproxi- ( G G T ) , (4) A L T e (5) A S T estão inalteradas em mães com gesta-
madamente 1.000 U l / L . As concentrações de C G dependem do ções normais. Mudanças nesses analitos refletem doença hepa-
tamanho e da viabilidade do tecido trofoblástico. E m cerca de tobiliar.
1% das pacientes, a C G é < 5 U I / L . A testagem em serie dc C G
pode sei m u i t o útil. N a gravidez intra-uterina normal, durante Hiperêmese Gravídica
o período que vai da segunda até a quinta semana, a C G dobra A hiperêmese gravidica é caracterizada por náusea e v ô m i t o e,
em cerca de 36 horas. Após 5 semanas de gestação, os valores em casos graves, desidratação e subnutrição. Normalmente,
de C G dobram em intervalos de 2 a 3 dias. Nos casos de gravi- ocorre no primeiro trimestre. Q u a n d o a hiperêmese causa desi-
dez ectópica ou de aborto espontâneo, as concentrações de C G dratação, valores anormais da enzima hepática — geralmente
sobem mais lentamente ou quase sempre d i m i n u e m . menos de quatro vezes o limite de referência superior — são
A concentração de progesterona sérica é quase sempre baixa observados em aproximadamente 5 0 % das pacientes. Hiperbi-
em mães com gestações anormais. U m a progesterona sérica < 6 lirrubinemia leve pode ocorrer. N o entanto, doença hepática
n g / m L prevê u m resultado de gravidez anormal com 81% de significativa não ocorre, e os resultados de biópsia hepática são
confiança paia mulheres com menos de 8 semanas desde a normais. Bebês que nascem abaixo do peso são comuns, espe-
ú l t i m a menstruação. Para as mulheres com sintomas clínicos de cialmente em mulheres que desenvolvem subnutrição.
gravidez anormal, a mensuração tanto de C G quanto de proges-
terona é mais preditiva de gravidez anormal que a mensuração Colestase da Gravidez
apenas de CG. Noventa e sete por cento das pacientes na oitava A colestase da gravidez geralmente ocorre no terceiro trimestre e
semana com C G < 3.000 U I / L e progesterona < 12,6 n g / m L é manifestada clinicamente por pruridos difusos e, em 20% a 60%
têm u m resultado de gravidez anormal, enquanto aquelas com das pacientes, por ictericia. As características típicas da colestase,
C G > 3.000 U I / L ou progesterona > 12,6 n g / m L t ê m u m resul- incluindo fezes pálidas e urina escura, estão presentes e duram até
tado de gravidez normal. Apenas 8% das pacientes com gravidez o parto. As mulheres que experimentam colestase enquanto
ectópica terão uma progesterona > 17,5 n g / m L . tomam contraceptivos orais geralmente desenvolvem colestase na
gravidez. A concentração de bilirrubina sérica Taramente excede
Pré-eclâmpsia e Eciâmpsia 5 m g / d L . A A L P está tipicamente 2 a 4 vezes o limite de referên-
A pré-eclâmpsia é caracterizada por (1) hipertensão, (2) protei- cia superior. As atividades enzimáticas de A L T e A S T estão leve-
núria e (3) edema, normalmente ocorrendo n o final do segundo mente elevadas. Pode haver u m tempo de protrombina aumen-
trimestre ou no início do terceiro trimestre. Se a mãe desenvol- tado devido à má absorção de vitamina K. Embora alguns médicos
ver convulsões, a condição é denominada eciâmpsia. O distúrbio recomendem ácidos biliares séricos, esse teste é raramente neces-
é caracterizado por deposição intravascular de f i b i i n a com sub- sário para o diagnóstico. A condição, em si, é benigna, mas está
seqüente dano ao órgão-alvo. A maioria das mortes é causada associada a risco aumentado de parto prematuro e morte fetal. Há
por complicações no sistema nervoso central, mas o fígado recorrência em gestações subseqüentes.
também pode ser alvo de prejuizo. O dano causado ao fígado é
isquêmíco. Elevações moderadas na alanina aminotransferase Esteatose Hepática da Gravidez
(ALT) e aspartato aminotransferase (AST) ocorrem, normal- A esteatose hepática da gravidez ocorre em uma de 7.000 gesta-
mente 4 a 10 vezes o limite de referência superior. Complicações ções. Embora a causa exata seja desconhecida, esse distúrbio
828 PARTE V Fisiopatologia

ocorre com m u i t o mais freqüência em mulheres que têm o feto nal e a gravidade da doença, a avaliação dn líquido amniótico
afetado por distúrbio na oxidação de ácido graxa.' A doença para b i l i r r u b i n a é ú t i l (discutido mais adiante).
geralmente ocorre na 37a semana e se manifesta clinicamente A sensibilização, ou produção de anticorpo materno, pode
pelo desenvolvimento rápido de (1) mal-estar, (2) náusea, (3) vômito ocorrer em resposta ã transfusão sanguínea ou à gravidez na qual
e (4) dor abdominal. Elevações leves —'' fnenos de seis vezes os o feto tenha u m antígeno celular sanguíneo que a mãe não tenha.
limites de referência superiores — da aminotransferase ocorrem Embora se considere que os compartimentos sanguíneos fetal e
com a atividade de A S T normalmente maior que a de ALT. A materno estejam separados durante a gestação normal, pequenos
b i l i r r u b i n a sérica geralmente está > 6 m g / d L , e hipoglicemia nÚmeTOS de eritrócitos estão continuamente ganhando acesso à
severa com ameaça à vida pode ocorrer. A hiperuri cernia, prova- circulação materna. E m algumas mulheres, esse desafio antigê-
velmente da destruição tecidual e da insuficiência renal, é carac- nico è suficiente para provocar a produção de anticorpos. Expo-
terística. A histologia hepática mostra infiltração adiposa aguda sições com grande carga antigênicas podem resultar de hemorra-
com pouca necrose ou inflamação. Caso não seja tratada, ocorre gia fetal transplacentária causada por (1) aborto espontâneo ou
insuficiência hepática fulminante com encefalopatia. O trata- induzido, (2) gravidez ectópica ou (3) parto. Quanto maior for a
mento é a interrupção imediata da gravidez, tempo no qual a hemorragia materno-fetal, maior a probabilidade de a mãe res-
recuperação rápida normalmente ocorre. A mortalidade infantil ponder ao desafio desenvolvendo anticorpos. Outros antígenos
e materna é de aproximadamente 20%. A recorrência em gesta- do sistema R h — C, c, E, e — podem estimular a formação de
ções subseqüentes é m u i t o rara. anticorpo, mas são bem menos potentes.
A IgG materna produzida é ativamente transportada para o
Doença Hepática na Gravidez Nãa-Relacionada à Gravidez feto através da placenta. Quando uma mulher sensibilizada está
A gravidez não impede a aquisição ou o agravamento de doença grávida de u m feto RhD-positivo, os anticorpos causam a destrui-
hepática não-relacionada à gravidez. Portanto, a colesrase durante ção dos eritrócitos fetais. A anemia fetal impõe uma carga extra
a gravidez pude indicar a presença de (1) hepatotoxicidade indu- no coração fetal para forneceT suprimento adequado de oxigênio
zida por droga, (2) cirrose biliar primária, (3) síndrome de Dubin- para o tecido fetal. A anemia estimula a medula fetal e a eritro-
Johnson ou (4) colelitíase {Capítulo 36). poiese medular no fígado e no baço para repor os eritrócitos
A hepatite virai ocorre com a mesma freqüência na gravidez destruídos. A eritropoiese extramedular destrói os hepatócitos e
que seria esperada em u m gtupo de idade comparável. As mulhe- leva à produção aumentada de albumina sérica, além de d i m i n u i r
res que adquirem hepatite B no final da gravidez ou que são a pressão oncótica n o espaço intravascular. Essas mudanças,
portadoras crônicas podem transmitir a doença a seus bebês. Isso quando graves, levam à insuficiência cardíaca congestiva e ao
é especialmente provável se a mãe for positiva para HBeAg. O edema fetal generalizado, com ascite e efusões pleurais e pericar-
resultado na criança varia de hepatite fulminante (rara e geral- diais. Q u a n d o a condição fetal atinge esse grau de deterioração,
mente em mães positivas para anti-HBe) a hepatite branda e a ela é denominada hidropsia fetal e apresenta u m prognóstico
hepatite crônica (resultado mais c o m u m em 90% das mulheres m u i t o grave. O edema e as efusões são prontamente observados
infectadas cronicamente). Todas as mulheres grávidas devem por exame de ultra-som. Q u a n d o essas mudanças são observadas
fazer uma triagem para hepatite B com HBsAg. Caso sejam posi- e não há intervenção terapêutica, a morte uterina ocorre em
tivas, seus bebês devem ser imunizados com globulina específica tempo relativamente curto.
e vacina contra hepatite B. Os bebês nascidos de mães positivas
para hepatite C normalmente possuem anticorpos transmitidos Profilaxia
passivamente por vários meses, mas a transmissão da hepatite U m a imunoglobulina anti-RhD, R h o G A M ( O r t h o Clinicai Diag-
ativa é rara. C o m o não há tratamento conhecido para o recém- nostics, Raritan, N J . ) , vem sendo usada nos Estados Unidos
nascido, a triagem da infecção por vírus da hepatite C não é desde 1968, e outros produtos similares foram introduzidos n o
recomendada. final da década de 1971. U m a dose de 300 pg é administrada
intramuscularmente em uma mãe potencialmente exposta a
Doença de Graves Neonatai 15 m L o u menos de eritrócitos fetais RhD-positivos após (1) aborto,
O eixo tireoidiano-hipofisáTio fetal funciona independentemente (2) hemorragia materno-fetal, (3) amniocentese, (4) amostra de
do eixo da mãe na maioria dos casos. C o n t u d o , se a mãe tiver vilos coriônicos ou (5) parto. O uso de imunoglobulina R h D tem
doença de Graves preexistente (Capítulo 44), é possível que seus sido responsável pela redução dramática na incidência de H D N .
auto-anticorpos consigam atravessar a placenta e estimular a glân- Além da reconhecida hemorragia fetal transplacentária, o sangra-
dula tireóide fetal. Logo, é possível que o feto desenvolva hiper- mento materno-fetal não detectado durante uma gravidez aparen-
tireoidismo. A triagem com anticorpos anti-receptores para T S H temente normal pode levar à sensibilização. Portanto, a adminis-
é ú t i l para avaliar a doença de Graves fetal ou materna. tração de imunoglobulina R h D na 28a semana de gestação é reco-
mendada para mulheres negativas para R h D . Apesar dessa profi-
Doença Hemolítica do Recém-nascido laxia imune, u m pequeno número de gravidez sensibilizada conti-
A doença hemolítica do recém-nascido ( H D N ) é u m distúrbio nua ocorrendo.
hemolítico fetal causado pelos anticorpos maternos direcionados
contra antígeno na membrana eritrocitária fetal. Os sinônimos Controle Clinico de Mães Sensibilizadas
comumente usados para esse distúrbio são (1) doença de isoimtmi- Para identificar mulheres sensibilizadas, uma triagem aloanti-
zaçãa, (2) doença isoimime do Rh, (3) doença Rh ou (4) isoimunização corpo é feita na primeira consulta pré-natal. Se u m anticorpo
(FRh). Qualquer u m do grande número de antígenos de superfí- para u m antígeno de eritrócito for identificado, o título é deter-
cie de eritrócito — R h (CDE), A , B, Kell, Duffy, K i d d e outros — minado. O título crítico para anti-RhD depende do laboratório,
pode ser responsável pela hemólise isoimune. Q u a n d o grave, o normalmente 1:8 a 1:32, embora os estudos de título crítico
distúrbio é conhecido como eritToblastose fetal e é uma ameaça à sejam bem desiguais. Para todas as mulheres sensibilizadas, o
vida do feto e do recém-nascido. A causa mais c o m u m da doença fenótipo do eritrócito paterno é determinado. Se o pai for RhD-
grave é a sensibilização de uma mulher D-negativa. Devido à forte negativo, estudos de acompanhamento não são necessários. Se
associação entre a concentração de bilirrubina, a idade gestacio- ele for D-positivo, então sua zigosidade fenotípica do fator R h é
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 829

estimada (a g e n o t i p a g e m provavelmente será usada n o f u t u r o ) . nentes n o desenvolvimento do cérebro, da m e d u l a espinal o u


Se o g e n ó t i p o R h p a t e r n o for heterozigoto para D , então o de ambos. Esses defeitos são d e n o m i n a d o s (1) anencefalia,
estado R h D do feto precisa ser d e t e r m i n a d o . O l í q u i d o a m n i ó - (2) memngomielocele ( c o m u m e n t e d e n o m i n a d a de e s p i n h a b í f i d a )
tico é coletado p o r amniocentese para genotipagem R h D fetal e (3) encefalocele. A deficiência de ácido f ó l i c o está associada à
usando a amplificação através da reação e m cadeia da polimera.se freqüência a u m e n t a d a de defeitos do fechamento d o t u b o
(PCR). Para se prevenir c o n t r a u m falso-negativo causado p o r n e u r a l . Por exemplo, as estimativas a t r i b u e m 7 0 % o u mais de
u m rearranjo d o gene R h D p a t e r n o ( o c o r r e n d o em cerca de todos os defeitos do t u b o n e u r a l à deficiência de ácido f ó l i c o .
1,5% dos caucasianos), o pai t a m b é m deve ser genotipado. U m a Desde 1997, os p r o d u t o s de grãos nos Estados U n i d o s e n o
ocorrência f r e q ü e n t e naqueles c o m ancestrais africanos é u m C a n a d á são fortificados c o m 140 pg de ácido f ó l i c o / 1 0 0 g, mas
pseudogene R h D ; o paciente é R h D - n e g a t i v o na sorologia, mas n ã o é provável que a q u a n t i d a d e a d i c i o n a d a seja suficiente para
R h D - p o s i t i v o n o g e n ó t i p o . Se o feto for R h D - g e n ó d p o - p o s i t i v o , r e d u z i r a prevalência de nascimentos em mais de 3 0 % . A s orga-
a mãe (que é R h D - n e g a t i v o sorologicamente) deve ser testada nizações c o m o M a r c h o f D i m e s estão c o n d u z i n d o campanhas
para g e n ótipo R h D . vigorosas para educar as m u l h e r e s sobre a necessidade da suple-
Para as mães sensibilizadas c o m u m feto em risco, a titulação mentação de ácido fólico antes da gravidez, c o m o r e c o m e n d a d o
é feita n o soro m a t e r n o todos os meses até a 24 2 semana de pelos Centers for Disease C o n t r o l a n d Prevention. A m a i o r i a
gestação; daí e m diante, a cada 2 semanas. Se u m t í t u l o crítico dos suplementos v i t a m í n i c o s c o n t é m os 400 p g de ácido fólico
a n t i - D for detectado, mensurações c o m ultra-som D o p p l e r são r e c o m e n d a d o s d i a r i a m e n t e pelas autoridades.
usadas para d e t e r m i n a r o p i c o da velocidade d o f l u x o sanguíneo A prevalência de defeitos d o t u b o neural aberto varia c o m
na artéria cerebral m e d i a n a d o feto. U m a velocidade mais alta fatores c o m o (1) localização geográfica (maior n o leste dos
é u m forte indicador de anemia fetal. A l é m disso, amniocentese é Estados U n i d o s , m e n o r n o oeste), (2) raça ( m e n o r e m afro-ame-
realizada para avaliar a concentração de b i l i r r u b i n a n o l í q u i d o ricanos), (3) etnicidade (maior na Escócia irlandesa), (4) h i s t ó r i a
a m n i ó t i c o . N a prática, é possível avaliar o grau de hemólise em f a m i l i a r ( m a i o r c o m nascimentos anteriores de i n d i v í d u o s afeta-
gestações sensibilizadas, m e d i n d o a absorvância dos p i g m e n t o s dos) e (5) peso m a t e r n o ( m a i o r e m mulheres obesas), A i n c i d ê n -
de b i l i r r u b i n a n o l í q u i d o a m n i ó t i c o e classificando os resultados cia para os Estados U n i d o s é 1 ( u m ) defeito do t u b o n e u r a l em
e m três zonas c o m base na idade gestacional. O p r o c e d i m e n t o 1-000 gestações (cerca de 1 (um) e m 2.000 para cada defeito
f o i o r i g i n a l m e n t e d e n o m i n a d o AOD450, mas A A ^ o é agora o i n d i v i d u a l ) . Cerca de 9 5 % dos casos de m e n i n g o m i e l o c e l e s e
t e r m o preferido. Esse m é t o d o é descrito mais adiante neste quase todos os casos de a n e n c e f a l i a são abertos, sem pele reco-
c a p i t u l o , na seção Testes Laboratoriais. A titulação é indicada a b r i n d o , e, p o r t a n t o , estão e m c o m u n i c a ç ã o direta c o m o l í q u i d o
cada 10 a 14 dias. Se AA450 subir o u se nivelar n o 80 ü p e r c e n t i l a m n i ó t i c o . Logo, as proteínas séricas d o feto n o r m a l m e n t e pre-
cia zona 2 na curva de Liley, u m a amostra de sangue fetal é sentes n o l í q u i d o a m n i ó t i c o e m concentrações baixas g a n h a m
indicada. A amostragem sanguínea u m b i l i c a l guiada p o r ultra- acesso ao l í q u i d o a m n i ó t i c o em grandes quantidades. A concen-
som é realizada para d e t e r m i n a r (1) o t i p o sanguíneo fetal, (2) o tração elevada de A F P n o l í q u i d o a m n i ó t i c o leva a quantidades
h e m a t ó c r i t o , (3) a t r i a g e m a n t i c o r p o , (4) a contagem de reticu- aumentadas na circulação m a t e r n a . C o n s e q ü e n t e m e n t e , cerca
lócitos e (5) a b i l i r r u b i n a total. Transfusão sanguínea intravascu- de 9 0 % dos defeitos do t u b o n e u r a l são detectados p o r t r i a g e m
lar i n t r a - u t e r i n a p o d e ser feita se indicada. Caso t e n h a o c o r r i d o de A F P 110 soro m a t e r n o - H
maturação pulmonar fetal ( n o r m a l m e n t e em 35 semanas o u
mais), o p a r t o é i n d i c a d o . Síndrome de Down
A s í n d r o m e de D o w n é o d i s t ú r b i o sério mais c o m u m dos cro-
Doença Trofobíástica mossomos autossômicos, o c o r r e n d o e m 1 ( u m ) em 800 nasci-
As determinações da C G sérica são m u i t o úteis para m o n i t o r a r m e n t o s c o m vida. L i m a cópia extra da região d o braço l o n g o
pacientes c o m neoplasias derivadas de células germinativas o u q 2 2 . 1 ao q22.3 d o c r o m o s s o m o 21 resulta em u m f e n ó t i p o
tumores p r o d u z i n d o C G , c o m o e m carcinoma de p u l m ã o . O c o m p o s t o p o r (1) retardo m e n t a l de m o d e r a d o a grave, (2) hipo-
uso de C G nessas doenças é d i s c u t i d o n o C a p í t u l o 20. t o n i a , (3) defeito cardíaco c o n g ê n i t o e (4) p e r f i l facial achatado.
O autossomo é o m e n o r c r o m o s s o m o , formando cerca de 1,7%
A n o m a l i a s Fetais do genoma h u m a n o . C o m mais freqúência, u m a criança afetada
A s anomalias fetais que são parcialmente detectáveis pela t r i a g e m possui três cópias do c r o m o s s o m o 21 (i. e., trissomia d o 21), mas
do soro m a t e r n o i n c l u e m (1) defeitos d o t u b o n e u r a l aberto, 5 % dos casos são causados p o r translocações e 1 % dos casos são
(2) s í n d r o m e de D o w n e (3) trissomia d o 18. C o n t u d o , d e v i d o e m mosaicos. A o s 25 anos de idade, o risco ao n a s c i m e n t o é
à triagem de u m grande n ú m e r o de gestações e ao interesse em cerca de 1 ( u m ) em 1.000. O risco a u m e n t a l e n t a m e n t e até a
outras condições fetais e em suas possíveis associações c o m as idade de 30 anos e a p a r t i r daí a u m e n t a c o n s t a n t e m e n t e à
concentrações de analitos séricos m a t e r n o s a n o r m a i s , muitas m e d i d a que a idade da mãe avança (Figura 43-3); aos 4 0 anos,
associações entre condições raras e resultados de triagem f o r a m o risco é 1 ( u m ) em 90.
publicadas.
Trissomia do 18
Defeitos do Tubo Neural A trissomia do 18 (síndrome cie Edwards) é causada p o r u m evento
Os defeitos d o t u b o n e u r a l são anormalidades que o c o r r e m cedo não-disjuntivo durante a meiose que resulta e m u m feto c o m u m a
n o desenvolvimento e m b r i ô n i c o . E m 19 dias após a fertilização, cópia extra do cromossomo 18. E m b o r a a trissomia ocorra em
a área destinada a f o r m a r o sistema nervoso central (cérebro e apenas 1 (um) e m 8.000 nascimentos, ela, provavelmente, é o
m e d u l a espinal) diferenciou-se em u m a placa de células. Essa defeito cromossômico mais c o m u m n o m o m e n t o da concepção.
placa então se enrola e suas bordas se f u n d e m , f o r m a n d o u m A m u d a n ç a dramática na prevalência é o resultado de u m a taxa
t u b o n e u r a l que penetra mais p r o f u n d a m e n t e n o e m b r i ã o para de perda fetal m u i t o elevada t a n t o n o período de 8 semanas
se desenvolver b e m p r ó x i m o à pele das costas. A formação d o ( ~ 8 0 % ) q u a n t o d u r a n t e o segundo e terceiro trimestres (outros
t u b o n e u r a l está n o r m a l m e n t e completa e m 4 semanas após a 7 0 % ) . A p r o x i m a d a m e n t e 2 5 % dos fetos afetados possuem espinha
fertilização. A não-fusão do t u b o n e u r a l leva a defeitos perma- b í f i d a o u onfalocele. H á u m a taxa de secção cesariana aka para
830 PARTE V Fisiopatologia

Segundo
20- Trimestre
c Espinha Bífida Aberta
Termo
§
T~ 50- Não afetada
c
5 100-
Q
05
TJ MO-
(D Anencefaiia
E
2
Tl MO
c
(/)
(D 1000-
<y>
8
JS 2000-
a.
15 20 25 30 35 40 45
0,2 0.3 0.5 1 2 3 5 10 20 30 50 80
Idâde Materna (anos)
AFP Sérica Materna (MoM)

Figura 4 3 - 3 Relação entre idade materna e risco de gravides afetada


Figura 43-4 Distribuição das medidas de a-fe to proteína (AFP) em
com sindrome de Down. Linha tracejada, risco no segundo trimestre;
gestações não afetadas com espinha bífida ou anencefaiia.
linha sóíicífl, tisco no termo. Linfia vertical aos 35 anos de idade é o
ponto de corte usado para selecionar mulheres com risco aumentado
com base na idade materna.

inteicostais. A doença se agrava nos dias seguintes, p i o r a n d o n o


terceiro o u q u a r t o dia de vida. Os bebês c o m risco de desenvolver
casos não diagnosticados. A p ó s o nascimento, metade dos bebês R D S são tratados c o m administração i n t r a t r a q u e a l de surfactante
morre nos primeiros 5 dias e 9 0 % d e n t r o de 100 dias. exógeno i m e d i a t a m e n t e ao nascerem.

Parto Pré-termo TRIAGEM SÉRICA MATERNA PARA DEFEITOS


A p r i n c i p a l causa de m o r b i d a d e e m o r t a l i d a d e neonatais nos FETAIS
Estados U n i d o s é o p a r t o p r é - t e r m o , c o m 3 0 0 . 0 0 0 a 500.000
N o i n í c i o da década de 1970, as mães portadoras de fetos afeta-
casos a cada ano. O s bebês que nascem antes da 37" semana de
dos c o m defeito d o t u b o neural aberto apresentavam a u m e n t o
gestação quase sempre desenvolvem s í n d r o m e da angústia respi-
na concentração de A F P no SOTO e n o l í q u i d o a m n i ó t i c o . As
r a t ó r i a (RDS) e n o r m a l m e n t e nascem abaixo do peso (< 2.500 g).
concentrações n o soto e m gestações afetadas e não afetadas, n o
A l g u n s nascem b e m abaixo d o peso (< 1.500 g). D e acordo c o m
e n t a n t o , eram bastante coincidentes. Isso i n d i c o u que a A F P
o N a t i o n a l C e n t e i f o r H e a l t h Statistics, e m 1993, 7 , 2 % de todos
sérica m a t e r n a seria ú t i l apenas c o m o teste de triagem i n i c i a l para
os bebés nascidos vivos nos E U A estavam abaixo de peso e 1,3%
i d e n t i f i c a r mulheres c o m alto risco de terem fetos afetados (Figura
b e m abaixo do peso. A m a i o r i a desses bebês f i c o u em unidades
43-2). Essas mulheres então precisavam ser encaminhadas para
de terapia intensiva a u m custo de até U $ 3 . 5 0 0 por dia. A causa de
p r o c e d i m e n t o s diagnósticos c o m o (1) ultra-som de alta resolução
parto pré-termo é desconhecida.
e, se indicada, (2) amniocentese para mensuração de A F P e ace-
tilcolinesterase n o l í q u i d o a m n i ó t i c o . U m grande esrudo colabo-
Maturidade do Pulmão Fetal rativo c o n d u z i d o n o R e i n o U n i d o e m 1977 H m o s t r o u que a
A R D S , t a m b é m d e n o m i n a d a doença da membrana hialina, é o t r i a g e m de A F P sérica m a t e r n a para defeitos do t u b o n e u r a l
p r o b l e m a c r i t i c o mais c o m u m e n c o n t r a d o n o t r a t a m e n t o clínico aberto n o segundo trimestre de gravidez era possível, e o r e l a t ó r i o
de recém-nascidos pré-termo. A i n c i d ê n c i a m u n d i a l de R D S é de f i n a l forneceu estimativas do desempenho da triagem em termos
1 % nos nascimentos de bebês vivos e de 10% a 1 5 % nos bebês de taxas de detecção e de falso-positivos. U m a história f a m i l i a r de
nascidos vivos pré-termo (< 37 semanas o u < 2.500 g). O risco de defeitos d o t u b o n e u r a l e m qualquer dos pais a u m e n t a de 5 a 15
R D S é f o r t e m e n t e relacionado c o m a idade gestacional na época vezes o risco de que o feto seja afetado. M a i s de 9 0 % de todos
do nascimento: 1% e m 37 semanas, 2 0 % em 34 semanas e 6 0 % os bebês c o m defeitos d o t u b o neural, n o e n t a n t o , nascem de
e m 29 semanas. E m 2000, a R D S m a t o u p o u c o mais de 1.000 pais não-suspeitos que não t ê m fator de risco r e c o n h e c i d o para
bebês nos Estados U n i d o s . Os bebês afetados precisam de oxigê- o d i s t ú r b i o . A testagem de A F P sérica materna, p o r t a n t o , f o r n e c e
n i o s u p l e m e n t a r e de ventilação mecânica pata p e r m a n e c e r e m u m m é t o d o de triagem d i s p o n í v e l a todas as m u l h e r e s para
adequadamente ventilados. O d i s t ú r b i o é causado p o r u m a defi- i d e n t i f i c a r gestações c o m alto risco o u para estimar o risco rela-
ciência do surfactante pulmonar. E m p u l m õ e s n o r m a i s , o surfac- tivo de se ter u m feto c o m defeito do t u b o n e u r a l aberto. N a
tante cobre o epitélio alveolar e responde às mudanças n o v o l u m e década de 1980, o uso de A F P sérica m a t e r n a para t r i a g e m de
alveolar, r e d u z i n d o a tensão na superfície da parede alveolar defeitos d o t u b o n e u r a l aberto tornou-se u m a prática-padrão nos
d u r a n t e a expiração. Q u a n d o a q u a n t i d a d e de surfactante é defi- Estados U n i d o s . O (1) A m e r i c a n College o f O b s t e t r i c i a n s a n d
ciente, m u i t o s dos alvéolos e n t r a m em colapso na expiração, Gynecologists, (2) a A m e r i c a n Society o f H u m a n Genetics e (3)
i n f l a n d o excessivamente o restante das vias aéreas. O processo é a A m e r i c a n Academy o f Pediatrics publicaram declarações apoiando
c o n h e c i d o c o m o atelectasia focal. O s p u l m õ e s vão e n d u r e c e n d o seu uso.
progressivamente, e o sangue que f l u i nos leitos capilares não é E m 1984, u m a grande expansão na triagem b i o q u í m i c a pré-
oxigenado. D u r a n t e as primeiras horas de vida, os bebês afetados n a t a l f o i possível q u a n d o u m a associação entre a A F P sérica
desenvolvem (1) t a q u i p n é i a c o m o u sem cianose, (2) dilatação e m a t e r n a n o segundo trimestre e a s í n d r o m e de D o w n f o i rela-
c u r v a t u r a nasal para fora, (3) chiado e x p i r a t ó r i o e (4) retrações tada. As concentrações de A F P sérica materna estão cerca de 2 5 %
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 831

mais baixas na s í n d r o m e de D o w n d o que em gestações não a triagem é aplicada e m mulheres grávidas de todas as idades. 8
afetadas. D e m o d o significativo, descobriu-se q u e esta associação Acredita-se que a p r o x i m a d a m e n t e u m a em cada 35 mães classi-
i n d e p e n d e da idade materna. A n t e s dessa descoberta, o ú n i c o ficadas c o m o de alto risco terão u m feto c o m s í n d r o m e de
teste de triagem de s í n d r o m e de D o w n d i s p o n í v e l era perguntar Down.
à m u l h e r a sua idade. A m n i o c e n t e s e e cariotipagem eram reco- A triagem sérica materna usando o teste t r i p l o às vezes p r o d u z
mendadas às mulheres c o m 35 anos de idade o u mais velhas na u m padrão de resultados mais baixos para AFP, C G e uE 3 . Esse
época d o parte. A triagem de s í n d r o m e de D o w n usando a idade padrão i n d i c a u m risco a u m e n t a d o para trissomia d o 18.
m a t e r n a t e m c o m o base o a u m e n t o d o risco de se ter u m bebê
c o m s í n d r o m e de D o w n à m e d i d a que a idade m a t e r n a a u m e n t a Múltiplo da Mediana
(Figura 43-2). A i n d e p e n d ê n c i a das mensurações de A F P sénea O m ú l t i p l o da m e d i a n a ( M o M ) é a estatística usada para n o r m a -
m a t e r n a e da idade m a t e r n a estabeleceu a possibilidade de ofe- lizar os valores dos analitos. A etapa i n i c i a l para calcular u m
recer u m m é t o d o de triagem às m u l h e r e s mais jovens, nas quais M o M é desenvolver u m c o n j u n t o de valores medianos para cada
a m a i o r i a dos casos de s í n d r o m e de D o w n ocorre, A triagem de semana (ou dia) de gestação, u s a n d o os p r ó p r i o s valores das
A F P sérica m a t e r n a para s í n d r o m e de D o w n t a m b é m i n t r o d u z i u análises laboratoriais m e d i d o s na p o p u l a ç ã o a ser tríada. Os
o conceito de usar o risco, em vez de a concentração de analitos, resultados de testes i n d i v i d u a i s são, então, expressos c o m o M o M ,
corno a triagem d i s p o n í v e l p a t a i d e n t i f i c a r mulheres de alto dividindo-se cada resultado de teste i n d i v i d u a l pela m e d i a n a
risco. para a semana gestacional relevante. Essa convenção f o i original-
Estudos adicionais m o s t r a r a m q u e estriol não-conjugado m e n t e desenvolvida c o m o u m m e i o de levar em consideração as
(uEj) e C G são suficientemente d i s c r i m i n a t ó r i o s e independentes grandes diferenças entre os centros nos valores das análises de
para serem adições úteis na triagem de s í n d r o m e de D o w n n o A F P observados no estudo colaboratívo de 1977 n o R e i n o
segundo trimestre. Por exemplo, o UE3 está cerca de 2 5 % mais Unido. 1 ' 1 C o n v e r t e r os resultados das análises para unidades do
baixo em gestações c o m s í n d r o m e de D o w n , e as concentrações M o M t a m b é m contrabalança c o m a elevação constante na con-
de C G , cerca de duas vezes mais altas. E m 1988, f o i proposto u m centração de A F P n o soro m a t e r n o d u r a n t e o segundo trimestre
m é t o d o para c o m b i n a r a idade materna c o m as mensurações e c o m a redução correspondente nos valores de A F P n o l í q u i d o
desses três analitos (o teste t r i p l o ) e m u m a estimativa ú n i c a do a m n i ó t i c o , p e r m i t i n d o o uso de u m a ú n i c a estatística para
risco para s í n d r o m e de D o w n . A s s i m c o m o c o m a triagem de expressar os resultados. Subseqüentemente, descobriu-se que os
AFP, o risco, em vez dos p r ó p r i o s valores dos analitos, é a variável valores do M o M t a m b é m p o d i a m ser ajustados para levar em
da triagem. O teste t r i p l o f o i projetado para detectar 6 0 % das consideração o u t r o s fatores (p. ex., peso e raça maternos) q u e
gestações c o m s í n d r o m e de D o w n , i d e n t i f i c a n d o 5 % de todas as afetam m a t e r i a l m e n t e os valores dos analitos. O M o M é agora
mulheres grávidas c o m o t e n d o u m resultado positivo n o teste de m u n d i a l m e n t e usado para converter os valores dos analitos em
triagem (desempenho baseado em gestações datadas pelo L M P ) . u m a u n i d a d e interpretativa, além de ser o p o n t o de p a r t i d a para
A u t i l i d a d e do teste t r i p l o f o i c o n f i r m a d a em 1992 p o r dois calcular os riscos para defeitos d o t u b o neural, s í n d r o m e de
estudos intervencionais. s A mensuração da i n i b i n a dimérica D o w n e trissomia do 18.
t a m b é m se m o s t r o u ú t i l para ser adicionada ao teste t r i p l o ,
a u m e n t a n d o a taxa de detecção em 8 % a 10%. a Esse "teste quá- Triagem para Defeito do Tubo Neural Usando
d r u p l o " tornou-se a triagem pré-natal mais c o m u m . M a i s da a-Fetoproteína Sérica Materna
metade dos participantes da Pesquisa de T r i a g e m de FP M a t e r n a A triagem pré-natal baseada na p o p u l a ç ã o teve i n í c i o n o f i n a l da
de proficiência externa, a d m i n i s t r a d a pelo College o f A m e r i c a n década de 1970, c o m o uso de mensurações de A F P sérica
Pathologists, oferece o teste q u á d r u p l o , i n c l u i n d o todos os m a t e r n a para i d e n t i f i c a r m u l h e r e s c o m risco a u m e n t a d o de
grandes laboratórios de referência nos Estados U n i d o s . t e r e m u m feto c o m defeito do t u b o n e u r a l aberto. H E m b o r a seja
Descobriu-se q u e u m a expansão a d i c i o n a l da triagem pré- possível usar o risco específico da paciente na t r i a g e m de defeitos
n a t a l é possível c o m a d e s c o b e r t a dc que a trissomia do 18 em d o cubo n e u r a l aberto, quase todos os laboratórios d e f i n e m u m
fetos t e m u m padrão característico n o teste triplo que difere do resultado positivo na triagem c o m A F P n o p o n t o de corte do
padrão da síndrome de D o w n . Nas gestações c o m trissomia do 18, M o M f i x a d o o u acima. U m a triagem considerada ó t i m a é reali-
as concentrações de A F P e u E 3 estão baixas, mas as concentra- zada entre a 16â e a 18â semana c o m p l e t a de gestação, m o m e n t o
ções de C G t a m b é m estão m u i t o baixas, Isso é o inverso da em que as distribuições dos resultados para gestações afetadas e
s í n d r o m e de D o w n , na q u a l as mensurações de C G estão altas, não afetadas estão e m suas diferenças máximas, e há t e m p o
Logo, é improvável q u e as gestações c o m trissomia do 18 obte- adequado para estudos de a c o m p a n h a m e n t o . Os dois p o n t o s de
n h a m estimativas de risco alto para s í n d r o m e de D o w n . corte do M o M da A F P mais c o m u m e n t e usados nos Estados
U n i d o s são 2,0 e 2,5 M o M , p r o d u z i n d o taxas positivas na
A p l i c a ç ã o Clínica da Triagem Pré-natal triagem de 3 % a 5 % e de 1% a 3 % , respectivamente. A taxa
A t u a l m e n t e , é prática c o m u m oferecer t r i a g e m sérica materna positiva i n i c i a l mais baixa e m 2,5 M o M está associada à taxa de
para mulheres de todas as idades. C o n t u d o , p o d e ser p r u d e n t e detecção reduzida para espinha b í f i d a : 7 0 % a 7 5 % , comparados
c o n t i n u a r oferecendo a opção de amniocentese às mulheres mais c o m 8 0 % a 8 5 % em 2,0 M o M . U m a pesquisa norte-americana
velhas p o r q u e a amniocentese ainda é considerada por alguns descobriu q u e 5 2 % dos laboratórios usam 2,5 M o M c o m o p o n t o
profissionais c o m o u m c u i d a d o - p a d i ã o . Recentemente, a pro- de corte, 3 0 % usam 2,0 M o M , c o restante usa p o n t o s dc corte
porção de mulheres grávidas c o m 35 anos de idade o u mais entre esses dois valores.
velhas a u m e n t o u de 5 % para 14% d o total, e cerca de metade A s m u l h e r e s que t ê m resultado p o s i t i v o n o teste de triagem
(até 2 0 % ) de todos os casos de s í n d r o m e de D o w n ocorreu nesse de defeitos do t u b o n e u r a l aberto são encaminhadas para acon-
grupo. 1 0 Se todas essas mulheres fizessem amniocentese, desco- selhamento genético -e testes adicionais. A l g u n s programas soli-
brir-se-ia que u m a em cada 150 teria u m a gravidez c o m s í n d r o m e c i t a m u m a segunda amostra para resultados m o d e r a d a m e n t e
de D o w n . E m contraste, o teste q u á d r u p l o n o segundo trimestre elevados (2,0 a 3,0 M o M ) para r e p e t i r e m o teste. Se o resultado
detecta 8 0 % dos casos c o m s í n d r o m e de D o w n c o m apenas 5 % do segundo teste de A F P não estiver elevado, a m u l h e r é consi-
a 6 % das mulheres o b t e n d o u m teste de triagem positivo q u a n d o derada negativa nesta triagem. Se o resultado c o n t i n u a r elevado,
832 PARTE V Fisiopatologia

a paciente é e n c a m i n h a d a para teste adicional. A p ó s o aconse- então, calculados usando-se os valores de M o M ajustados, junta-
l h a m e n t o genético para (1) explicar os resultados dos testes, m e n t e c o m a idade materna n o p a r t o , utilizando-se u m a l g o r i t m o
(2) f o r n e c e i mais i n f o r m a ç õ e s sobre o d i s t ú r b i o e (3) descrever q u e usa distribuições gaussianas m u l t i v a r i a d a s sobrepostas. O
os riscos e os benefícios da testagem adicional, u m exame de risco f i n a l de s í n d r o m e de D o w n , e não os p r ó p r i o s valores d o
ultra-som de baixa resolução é r e c o m e n d a d o para verificar a analito, é a variável da triagem sobre a q u a l as decisões clínicas
idade gestacional e para i d e n t i f i c a r outras possíveis razões p a i a serão tomadas.
os resultados d o teste de A F P a u m e n t a d a (p. ex., perda fetal A detecção e os índices falso-positivos alcançados d e p e n d e m
recente e gêmeos). Para pacientes cujo resultado para A F P séTica de m u i t o s fatores, i n c l u i n d o (1) a c o m b i n a ç ã o escolhida, (2) o
elevada não pode ser explicado, recomenda-se amniocentese para p o n t o de corte escolhido, (3) o m é t o d o de datação usado para
mensuração de A F P n o l í q u i d o a m n i ó t i c o e de acetilcolinesterase estabelecer a idade gestacional e (4) as idades maternas das
( A C h E ) , ultra-som de alta resolução, o u ambos. mulheres que estão sendo testadas. A Tabela 43-3 apresenta u m
Comparadas c o m o soro m a t e r n o , as concentrações de A F P resumo d o i m p a c t o desses fatores e m u m a h i p o t é t i c a cooTte de
no l í q u i d o a m n i ó t i c o em gestações afetadas c o m defeitos d o t u b o m u l h e r e s c o m a distribuição das idades maternas encontradas
n e u r a l aberto estão b e m distantes das gestações normais. N o nos Estados U n i d o s e m 2000. 8 M u i t o s laboratórios nos Estados
e n t a n t o , as dosagens de A F P n o l i q u i d o a m n i ó t i c o não são, em U n i d o s usam o teste t r i p l o (AFP, UE3, C G ) e u m p o n t o de corte
si, u m diagnóstico, p o r causa dos resultados falso-positivos. Se o equivalente ao risco de u m a m u l h e r c o m 35 anos de idade (1:270
l í q u i d o a m n i ó t i c o estiver c o n t a m i n a d o c o m u m a q u a n t i d a d e n o segundo trimestre o u 1:350 a t e r m o ) . Nesse p o n t o de corte e
ainda que m í n i m a de sangue fetal, é possível que 2 % a 3 % dos c o m o uso dos dados d o L M P para estimar a idade gestacional,
resultados sejam falsamente positivos. Todos os resultados anor- o teste t r i p l o apresenta u m a taxa positiva i n i c i a l de 6 , 6 % e u m a
mais de A F P n o l i q u i d o a m n i ó t i c o devem ser c o n f i r m a d o s c o m taxa de detecção de 7 0 % . Se as gestações f o r e m datadas p o r ultra-
mensuração de A C h E . A c o m b i n a ç ã o de A F P e de A C h E n o som, a taxa de detecção a u m e n t a para 7 4 % e o índice positivo
l i q u i d o a m n i ó t i c o é v i r t u a l m e n t e u m diagnóstico para defeitos na triagem cai levemente para 6 , 5 % . E m vez disso, alguns labo-
d o t u b o neural aberto. ratórios escolhem u m p o n t o de corte para o risco, para o b t e r u m
O ultra-som de alta resolução quase sempre c o n f i r m a o diag- índice positivo i n i c i a l de a p r o x i m a d a m e n t e 5 % ( 4 , 6 % na tabela
nóstico q u í m i c o de u m defeito d o t u b o neural. A anencefaiia é c o m datação do L M P ) . Esse í n d i c e mais baixo ocorre n o p o n t o
p r o n t a m e n t e identificável e o diagnóstico p o r ultra-som de de corte da triagem n o segundo trimestre, que corresponde a u m
espinha b í f i d a aberta é consideravelmente m e l h o r a d o c o m a risco de 1:190 (risco n o t e r m o 1:250) e está associado à taxa de
presença de dois achados cranianos, os sinais de " l i m ã o " e detecção de 6 5 % . Se as mensurações da D I A ( i n i b i n a d i m é r i c a
" b a n a n a " . O diagnóstico p o r u l t r a - s o m de defeitos d o t u b o n e u r a l A ) f o r e m adicionadas ao teste t r i p l o , a taxa de detecção a u m e n t a
aberto é agora tão confiável que é usado c o m freqüência para para cerca de 7 8 % , e o índice positivo i n i c i a l d i m i n u i para 5 , 1 %
diagnosticar mulheres c o m A F P sérica m a t e r n a elevada sem (datação do L M P e m u m p o n t o de corte para o risco de u m a
esperar p o r mensurações do l í q u i d o a m n i ó t i c c . m u l h e r r o m 35 anos de idade). A tabela d e m o n s t r a c o m o as
escolhas da c o m b i n a ç ã o de testes e o p o n t o de corte para o risco
Triagem para Síndrome de Down Usando Testes afetam a detecção e os índices positivos da triagem.
Bioquímicos Múltiplos As mulheres que t ê m u m resultado p o s i t i v o n o testes de
A s combinações mais c o m u n s dos testes b i o q u í m i c o s n o soro triagem de s í n d r o m e de D o w n são n o r m a l m e n t e encaminhadas
m a t e r n o n o segundo trimestre usados para tr i ar a s í n d r o m e de para aconselhamento genético e testagem adicional. D e p o i s do
D o w n nos Estados U n i d o s são o teste t r i p l o (idade materna em aconselhamento, u m exame c o m ultra-som de baixa resolução
c o m b i n a ç ã o c o m mensurações de AFP, uE 3 e C G ) e o teste quá- p o d e ser r e c o m e n d a d o c o m o m e i o para verificar a idade gesta-
d r u p l o (que adiciona i n i b i n a d i m é r i c a A [ D I A ] ) . A s medidas de c i o n a l e i d e n t i f i c a r outras possíveis razões para o resultado posi-
cada analito são feitas e m u m a ú n i c a amostra sérica (a mesma tivo do teste. U m a das razões mais c o m u n s para o risco aumen-
usada para triagem de defeito dn rnho n e u r a l aberto) e os resul- t a d o de s í n d r o m e de D o w n é a idade gestacional superestimada.
tados nas unidades de massa são convertidos em M o M para a A t é u m terço das mulheres c o m resultados positivos na triagem
semana ( o u dia) a p r o p r i a d a de gestação. Esse valor de M o M é, q u e são datadas pelo L M P terá gestações m u i t o recentes para u m a
então, ajustado para outras variáveis, c o m o idade materna e raça. triagem confiável (< 15 semanas) o u será reclassificado c o m o de
Os riscos de s í n d r o m e de D o w n específicos para a paciente são, baixo risco após revisão da idade gestacional p o r ultra-som. 9 Para

TABELA 43-3 Estimativas das Taxas de Detecção {DR) para S í n d r o m e de D o w n , dos índices Falso-positivos (FPR) e das Chances
de Estar Afetada A d m i t i n d o u m Resultado Positivo (DARP) e m Três Valores de Pnrito de Corte do Risco para
1 C o m b i n a ç õ e s Selecionadas de Marcadores Séricos Maternos e e m D o i s M é t o d o s de Datação
SEGUNDO TRIMESTRE

Ponto de Corte Idade Materna e DR ( % ) FPR ( % ) D A P R (1 : N )

do Risca (termo) Marcadores Séricas LMP US LMP US LMP US

1 5 0 (200) AFP, UE 3 , CG 61 67 3,6 3,7 43 40

AFP, UE 3 , CG, DIA 68 71 2,8 2,9 30 29


1 9 0 (250) AFP, UE 3 , CG 65 70 4,6 4,7 51 49

AFP, UE 3 , CG, D I A 71 74 3,5 3,7 36 36


2 7 0 (350) AFP, UE 3 , CG 70 74 6,6 6,5 69 64

AFP, UE 3 , CG, DIA 75 78 5,0 5,1 48 48

LMP, Idade tia gestação estimada desde o último período menstrual; US, idade gestacional estimada por medidas de ultra-som
, AFP, tt-fetoproteÍTi/l] UE 3J estriol nâo-conjugãdo,
CG, gonadotrofina coriônica, DIA, inibina dimérica A.
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 833

as mulheres que c o n t i n u a m c o m risco aumentado depois do dos e atualizados q u a n d o necessário. Os valores da mediana
exame de ultra-som, recomenda-se amniocentese para obtenção fornecidos em bulas para A F P não são aceitáveis por muitas das
de células fetais para cariotipagem. E m b o r a alguns achados ao razões descritas anteriormente. Os métodos para determinar os
ultra-som n o segundo trimestre estejam associados à síndrome valores da mediana são discutidos no Tietz Textbook of Clinicai
de D o w n , o p r o c e d i m e n t o não é diagnóstico. O ú n i c o m e i o de Cfiemistry and Molecular Diagnostics.3
diagnosticar a síndrome de D o w n é via determinação do carió- A l g u ns laboratórios usam medianas "específicas do dia", em
t i p o do feto. C o n t u d o , os benefícios de diagnosticar precisa- vez de medianas semanais. E m b o r a as gestações individuais não
mente u m a anormalidade cromossômica no inicio da gestação possam ser seguramente datadas em u m dia específico, há uma
devem ser avaliados contra o potencial de prejudicar u m feto mudança consistente no dia-a-dia nas concentrações de analitos
n o r m a l durante a amniocentese. Esse procedimento invasivo se u m grupo de mulheres grávidas for observado.
contém u m risco pequeno, mas real, de prejudicar o feto ou de Os laboratórios devem atualizar os valores da mediana existen-
causar aborto espontâneo. M e s m o u m a amniocentese realizada tes em várias situações. Por exemplo, diferenças significativas nos
por obstetra experiente usando ultra-sonografia como guia t e m valores das mesmas amostras da paciente são comuns quando se
uma taxa de p e i d a fetal relacionada c o m o procedimento de usa u m novo lote de reagentes ou reagentes de fabricantes diferen-
aproximadamente 1 (um) em 200. Dado que 1 (uma) em 50 tes. Nesse caso, a relação entre o novo e o velho método é estabe-
mulheres c o m resultados positivos inexplicados na triagem (alto lecida por analise de regressão dos valores medidos nas mesmas
risco) terá u m feto com uma anormalidade cromossômica, a amostras da paciente, c o m o descrito anteriormente. 1 Se u m ajuste
recomendação de u m procedimento invasivo é razoável. periódico for necessário, o laboratório deve escolher cuidadosa-
mente as características da população a ser usada (p. ex., raça,
Triagem para Trissomia do 18 Usando Testes método de datação e período de tempo) e verificar que o teste tem
Múltiplos fornecido resultados consistentes durante o período de tempo de
A trissomia do 18 é o menos c o m u m dos três distúrbios consi- interesse. Isso é obtido com m o n i t o r a m e n t o rotineiro da média
derados para triagem sérica no segundo trimestre. Ela t a m b é m do M o M durante algum tempo (monitoramento epidemiológico),
é a menos compatível c o m a vida. Por essas razões, é d i f í c i l jus- como será discutido em detalhes posteriormente.
tificar u m programa de triagem exclusivamente dedicado à iden-
tificação pré-natal da trissomia do 18. Klo entanto, dado que os Ajustes para Fatores que Influenciam as
analitos séricos já estão sendo medidos para triagem de sín- Mensurações de Analitos
drome de D o w n e defeitos do tubo neural aberto, acrescentar A triagem pré-natal para defeitos do t u b o neural aberto e sín-
uma interpretação adicional desses analitos para quantificar o drome de D o w n é otimizada quando cada concentração de
risco de trissomia do 18 fetal é justificável. C o n t u d o , desde que analito de uma m u l h e r é comparada com outras mulheres (o
a prevalência da trissomia do 18 é u m décimo da prevalência da grupo de referência) que sejam "similares" a ela.7 A l é m da idade
síndrome de D o w n , a porcentagem de mulheres identificadas gestacional, essa "similaridade" se estende para outros fatores
como positivas na triagem deve ser correspondentemente mais que mostraram afetar as concentrações do analito, i n c l u i n d o
baixa que a porcentagem para síndrome de D o w n . U m algo^ (1) peso materno, (2) raça, (3) diabetes dependente de insulina
r i t m o baseado no risco mostrou que em u m p o n t o de corte n o ( I D D ) e (4) gravidez m ú l t i p l a . N a prática, o uso desses fatores
segundo trimestre de 1:100, 6 0 % das gestações c o m trissomia aumenta a especificidade da interpretação. Esses fatores são
do 18 poderiam ser identificadas, com cerca de 0 , 5 % das mulhe- levados em consideração q u a n d o se divide o valor do M o M da
res ohtendo u m a triagem positiva inicial. Esse algoritmo irá paciente pelo fator correspondente da razão dos valores do M o M
identificar 1 (um) feto c o m trissomia do 18 para cada 16 amnio- encontrado naquelas sem o fator para os valores do M o M naque-
centeses que resultam do programa. As mulheres c o m risco las c o m o fator. U m a metanálise dos dados que apoiam as
superior ao p o n t o de corte especificado são encaminhadas para seguintes recomendações f o i publicada. 1
aconselhamento genético e testagem adicional.
Peso Materno
Estabelecimento dos Valores da Mediana A medida que o peso materno aumenta, a concentração média
Específicos da População e do Teste dos valores do analito d i m i n u i , talvez porque uma quantidade
U m a das responsabilidades mais importantes do laboratório de fixa do analito seja diluída c o m o aumento do volume sanguíneo
triagem pTé-natal é estabelecei os valores de mediana específicos materno. Por exemplo, as mulheres c o m mais peso têm, em
da população e do kit para cada analito usado na triagem ou média, valores de A F P menores e têm menos probabilidade que
mostrar que os valores da mediana obtidos de outras fontes são as mulheres c o m menos peso de serem positivas na triagem de
apropriados. Erros relativamente pequenos nos valores da defeitos do tubo neural. S e m levar o peso materno em conside-
mediana já tiveram impacto desproporcional sobre a precisão do ração, a triagem é menos eficaz em mulheres mais pesadas,
risco calculado e sobre o n ú m e r o de mulheres identificadas p o i q u e seus valores do M o M estão inapropriadamente baixos.
como positivas na triagem. Os valores medidos nas mesmas A importância de se ajustar os valores do M o M da AFP para o
pacientes e nas mesmas amostras na testagem de proficiência peso é reforçada por estudos mostrando que u m a m u l h e r mais
diferem entre métodos em 5 % a 2 0 0 % j dependendo do analito pesada tem o risco aumentado em 3 a 4 vezes para espinha bífida
medido. Os valores da mediana não são, p o r t a n t o , diretamente aberta. O efeito do peso t a m b é m é significativo para C G e D I A ,
transferíveis entre os grupos de reagentes de diferentes métodos. mas menos significativo para uE> O peso materno é levado em
Os valores da mediana t a m b é m diferem entre laboratórios consideração, ajustando-se os valores de M o M para cada m u l h e r
mesmo q u a n d o a mesma metodologia é empregada. Essas dife- por u m fator correspondente ao valor dn M o M esperado para a
renças são causadas por fatores como o método e a confiabili- média de mulheres' com seu peso. Esses fatores são empirica-
dade da datação gestacional, a raça, o peso materno e até as mente derivados da população triada de uma maneira que seja
mudanças sutis na instrumentação do teste o u as mudanças nos similar à derivação da concentração média do analito para cada
números dos lotes dos fabricantes de reagentes o u de calibrado- idade gestacional. Portanto, cada laboratório deve derivar seus
res. Os valores da mediana devem ser rotineiramente monitora- próprios fatores de ajuste d o peso materno para cada analito
834 PARTE V Fisiopatologia

porque o peso médio materno pode ser diferente daquele visto Gravidez de Gêmeos e Defeitos do Tubo Neural
era outros laboratórios. Esses fatores de ajuste devem ser aplica- As concentrações da AFP sérica materna em gestações de gêmeos
dos apenas sobte a variação do peso materno na qual eles se são quase o dobro (2,0 M o M ) das concentrações encontradas em
mostraram apropriados. Pot exemplo, se pouco ou n e n h u m dado gestações únicas. 1 Entre as gestações únicas com espinha bífida
estiver disponível para derivar fatores de ajuste para mulheres aberta, o M o M da mediana da AFP sérica é cerca de 3,5.14 Por-
com peso acima de 120 kg, então o laboratório deve ter cautela tanto, a AFP sérica materna esperada na gravidez de gêmeos afetada
ao extrapolar fatores para essas mulheres a partir de dados sobre com espinha bífida aberta pode estar em torno de 4,5 M o M (1,0
mulheres com pesos inferiores. Os laboratórios devem limitar a M o M do feto não afetado e 3,5 M o M do feto com espinha bífida
faixa de ajuste usando limites de truncamento superiores (e infe- aberta). O desempenho da triagem em gestações de gêmeos não
riores). Se o peso de uma mulher estiver fora desses limites, o irá, portanto, ser tão efetivo como nas gestações únicas, já que as
ajuste deve ser aplicado como se a mulher estivesse n o limite distribuições de AFP estão menos separadas. E m cerca de 5 % das
respectivo. gestações de gêmeos afetadas, ambos os gêmeos estão afetados e
espera-se que o desempenho da triagem seja bem próximo daquele
para gestações únicas.
Raça Materna
As mulheres afro-americanas possuem concentrações de AFP e Gravidez de Gêmeos e Triagem de Síndrome de Down
C G séricas 10% a 15% mais altas que as encontradas em mulhe- O cálculo do risco de sindrome de D o w n requer o conhecimento
res caucasianas 1 O ajuste para essa diferença c o b t i d o calculando- das distribuições dos valores dus analitos para todos OS testes
se o valor do M o M para mulheres afro-americanas usando-se analisados tanto na gravidez não afetada quanto na afetada. Essas
medianas derivadas da população caucasiana e depois dividindo distribuições estão bem definidas para AFP, uE 3 e D I A em gesta-
o M o M resultante pelo fator correspondente à razão entre os ções únicas e, portanto, os TÍSCOS confiáveis já foram calculados.
valores nas duas populações (i e., 1:10). Por exemplo, se uma As distribuições desses analitos também estão disponíveis para a
mulher afro-ameTicana tiver u m M o M de AFP sérica materna de gravidez de gêmeos não afetada por sindrome de D ow n; as médias
1,60 calculado usando-se os valores da mediana de uma popula- dos M o M s em gravidez de gêmeos não afetada para AFP, UE3,
ção caucasiana, seu M o M ajustado é 1,45 (1,60/1,10). Embora C G e D I A ficam em torno de 2,0, 1,7, 1,9 e 2,0, respectiva-
haja pouca evidência de que a prevalência de nascimentos com mente.' Há poucos dados disponíveis para as concentrações
síndrome de D o w n específica da idade difira com a raça, há forte desses analitos em gestações de gêmeos afetadas com síndrome
evidência de que a prevalência de nascimentos com defeitos do de D o w n . U m a complicação extra é que, em aproximadamente
tubo neural aberto em mulheres afro-americanas seja metade ou u m terço das gestações, ambos os gêmeos estarão afetados (mono-
menos da metade da prevalência em mulheres caucasianas da Zlgóticos) e, em dois terços, apenas u m gêmeo estará afetado
mesma região geográfica. Portanto, em qualquer suposto M o M (dizigótico). A triagem será menos efetiva quando apenas u m dos
da AFP sérica materna, uma mulher afro-americana tem metade gêmeos estiver afetado. Dados publicados indicam que a preva-
do risco de uma mulher caucasiana de ter uma gravidez afetada lência em gestações de gêmeos é similar àquela encontrada em
por u m defeito do tubo neural aberto. gestações únicas.
Devido a essas limitações, o cálculo do risco, ainda que apro-
Diabetes Dependente de Insulina ximado (às vezes denominado pseudo-risco), para gravidez de
Há relatos de que os valores da AFP sérica materna em mulheres gêmeos, é possível. Isso é obtido dividindo-se o valor do M o M
com I D D anterior à gravidez são sistematicamente mais baixos para cada analito pela média correspondente encontrada na gra-
em cerca de 20%. 7 Essa diferença é considerada dividindo-se o videz de gêmeos não afetada. O risco para a gravidez de gêmeos
valor do M o M computado em mulheres com I D D por 0,8 — a é, então, computado da mesma forma que para as gestações
razão dos valores da AFP sérica materna encontrada nas duas únicas. O mesmo ponto de corte usado para identificar as mulhe-
populações. Após o ajuste, a proporção de mulheres com I D D res com gestações únicas também é usado para identificar as
n o p o n t o de corte ou acima de qualquer ponto de corte deve ser mulheres com gestações de gêmeos.
aproximadamente igual àquela encontrada na população geral. Esse protocolo de triagem de gêmeos (1) classifica correta-
Informação atual sugere que as concentrações de AFP sérica mente as gestações de alto risco às de risco mais baixo e (2) produz
materna não estão alteradas entre as mulheres com diabetes uma taxa posiriva na rriagem similar à taxa encontrada para ges-
gestacional, mesmo que a insulina seja subseqüentemente neces- tações únicas em qualquer ponto de corte admitido na triagem.
sária mais tarde na gravidez. O pseudo-risco de síndrome de D o w n , entretanto, pode não estar
Não há forte evidência de que a taxa de nascimentos com correto, e recomenda-se que esse risco não seja rotineiramente
síndrome de D o w n em mulheres com I D D seja muito diferente comunicado. Deve-se informar às mulheres positivas na triagem
daquela da população geral. C o n t u d o , há evidência de que a com gestações de gêmeos que o resultado dos seus testes as colo-
prevalência de nascimentos com defeitos do tubo neural aberto é caram em u m grupo de alto risco, mas que seus riscos reais são
superior em até u m fator de 5. Logo, em uma determinada con- incertos. A interpretação do risco para trigêmeos e gestações múl-
centração do M o M da AFP, as mulheres com I D D estão em risco tiplas não é recomendada devido aos poucos dados disponíveis.
substancialmente maior para defeitos do tubo neural aberto que
a população geral. Isso pode ser considerado diminuindo-se n
ponto de corte do M o M da AFP de 2,0 para 1,5, por exemplo. Outros Testes e Combinações de Testes
E m mulheres com I D D , os M o M s de uE 3 e C G estão em H á relatos de que vários outros analitos séricos maternos estão
média 8 % e 7% mais baixos, respectivamente, do que em mulhe- associados à síndrome de D o w n durante o segundo trimestre,
res não-diabéticas. 7 Essas diferenças são pequenas, e se elas serão i n c l u i n d o as subunidades da C G alfa e beta livres e o antígeno
ou não usadas terá pouco impacto no risco resultante de sín- trofoblasto invasivo (ITA, também denominado C G hiperglico-
drome de Down. O impacto da I D D sobre os resultados da D I A silada). U m estudo retrospectivo concluiu que o I T A sérico
é mais variável, variando de 0,91 M o M a 1,17 M o M (média ava- poderia substituir a C G ou a CG{3 livre em u m quadro de mul-
liada de 1,06 M o M ) , e o ajuste ainda não f o i confirmado. tianalitos.
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 835

Triagem de Síndrome de Down no Primeiro analitos m e d i d o s , (2) o risco estimado de s í n d r o m e de D o w n


Trimestre de Gravidez ( j u n t o c o m os riscos para outras anormalidades, c o m o trissomia
A m a i o r i a dos programas de triagem r e c o m e n d a testar as mães do 18), (3) u m a interpretação positiva o u negativa na triagem e
entre a 16- e a 18a semana de gestação, mas poderão aceitar (4) u m a interpretação da i n f o r m a ç ã o que inclua possíveis ações
amostras coletadas entre a 15a e a 20 a semana o u mais tarde. Fazer adicionais. A i n f o r m a ç ã o f o r n e c i d a pelo m é d i c o deve i n c l u i r
a triagem após a 20 a semana de gestação p e r m i t e p o u c o t e m p o (1) data de coleta da amostra, (2) identificação c o m o p r i m e i r a
para testes adicionais e a u m e n t a a d i f i c u l d a d e na tomada de o u segunda amostra, (3) data do L M P o u idade gestacional p o r
decisão pelo casal. M u i t o s pacientes escolheriam fazer a triagem ultra-som, (4) data de n a s c i m e n t o da mãe (ou idade), (5) h i s t ó r i a
de s í n d r o m e de D o w n d u r a n t e o p r i m e i r o trimestre de gravidez f a m i l i a r relevante, (6) n ú m e r o de fetos (se conhecido), (7) raça
(10 a 13 semanas de gestação). A triagem n o p r i m e i r o trimestre m a t e r n a e (8) presença o u ausência de diabetes m a t e r n o que
é, às vezes, baseada em (1) teste sérico, (2) ultra-som o u (3) ambos. precise de i n s u l i n o t e r a p i a .
Os valores séricos maternos da proteína A plasmática associada
à gravidez (PAPP-A) são baixos, e os valores da CG(3 livre, eleva- Calculando Riscos Individualizados Específicos da
dos, nos casos de s í n d r o m e de D o w n . E m combinação c o m a Paciente com o Uso de Mensurações Bioquímicas
idade materna, esses dois testes séricos p r o d u z e m u m a taxa de O cálculo de u m risco i n d i v i d u a l i z a d o (risco especifico da
detecção de 67%, c o m u m a taxa de falso-positivo de 5%. 1 1 O paciente) para u m a d e t e r m i n a d a c o n d i ç ã o é o b t i d o convertendo-
desempenho dessa triagem é i n f e r i o r ao da triagem d o teste quá- se o risco a priori para essa c o n d i ç ã o a chances, m u l t i p l i c a n d o
d r u p l o n o segundo trimestre e não é r o t i n e i r a m e n t e recomen- essas chances p o r u m a razão de probabilidade calculada usando-se
dado. A s mensurações p o r ultra-som da translucidez nucal ( N T ) , as medidas do analito na m u l h e r (chances da paciente = chances
espaço subcutâneo entre a pele e a espinha cervical, estão aumen- a priori x razão de p r o b a b i l i d a d e ) e convertendo-se as chances da
tadas em m u i t o s fetos c o m s í n d r o m e de D o w n . As medidas de paciente a risco. Essa equação básica é usada para calcular o risco
N T aumentadas t a m b é m são u m achado inespecífico para muitas específico da paciente para defeitos d o t u b o neural, s í n d r o m e
anormalidades estruturais do feto e, p o r t a n t o , são úteis apenas de D o w n , trissomia d o 18 o u outras condições nas quais as
c o m o u m teste de triagem. Por exemplo, as mensurações de N T distribuições dos testes para a p o p u l a ç ã o não afetada e afetada
sozinhas detectam 6 8 % dos casos de s í n d r o m e de D o w n , c o m t e n h a m sido definidas. O risco a priori f o i o b t i d o de estudos
u m a taxa positiva na triagem de 5 % , fazendo da N T o m e l h o r epidemiológicos que avaliaram a prevalência para a c o n d i ç ã o
teste ú n i c o de triagem descrito até o m o m e n t o . considerada. Por exemplo, a idade de u m a m u l h e r é usada para
N e m os achados de ultra-som n e m os testes séricos n o pri- d e f i n i r seu risco a priori de ter u m feto c o m s í n d r o m e de D o w n .
m e i r o trimestre possuem p o d e r p r e d i t i v o suficiente para serem A razão de p r o b a b i l i d a d e é d e t e r m i n a d a pelo cálculo da razão
usados sozinhos. U m teste c o m b i n a d o está a m p l a m e n t e dispo- das elevações nas distribuições sobrepostas das populações afe-
nível na E u r o p a e sua oferta vem a u m e n t a n d o nos Estados tadas e não afetadas para qualquer valor de M o M especificado.
U n i d o s . Sua taxa de detecção é de 8 5 % , c o m u m a taxa positiva Q u a n d o testes m ú l t i p l o s são usados, u m a única razão de proba-
na triagem de 5 % . Para serem confiáveis, as mensurações de b i l i d a d e é calculada usando-se as distribuições sobrepostas para
N T devem ser realizadas e m centros de referência especializados cada testagem, mas c o m a correlação entre os testes levada em
que e m p r e g u e m profissionais capacitados para ultra-sonogra- consideração. Detalhes completos sobre o cálculo dos riscos
fias, que t e n h a m passado p o r t r e i n a m e n t o rigoroso e partici- estão disponíveis. 3
pado de programas de c o n t r o l e de qualidade atuais. O ultra-som
clínico r o t i n e i r o não é adequado para se obter medidas, Se a Uso de Monitoramento Epidemiológico no
testagem diagnostica n o p r i m e i r o trimestre for realizada, ela Controle de Qualidade
deverá i n c l u i r amostra de v i l o c o r i ô n i c o . A amostra de v i l o N a triagem pré-natal, a u n i d a d e i n t e r p r e t a t i v a para cada analito
c o n ô n i c o é menos segura que a amniocentese realizada n o é o M o M , que considera variáveis c o m o idade gestacional, peso
segundo trimestre de gravidez, e p o d e não estar p r o n t a m e n t e m a t e r n o , raça e I D D . Expressar esses resultados e m M o M s
disponível. Se u m a paciente f o r tríada para s í n d r o m e de D o w n p e r m i t e o cálculo de u m risco específico da paciente para sín-
n o p r i m e i r o trimestre, a triagem de r o t i n a para defeitos d o t u b o d r o m e de D o w n . U m a das causas mais c o m u n s d o desempenho
n e u r a l aberto usando A F P sérica materna n o segundo trimestre
l a b o r a t o r i a l i n s u f i c i e n t e é o uso i n c o r r e t o dos valores das media-
precisa ser recomendada. nas, o u p o r q u e esses valores são i n a p r o p r i a d o s para o kit que
está sendo usado o u p o r q u e o c o r r e r a m mudanças sistemáticas
Combinando a Triagem no Primeiro e Segundo nos valores dos testes. O desempenho i n s u f i c i e n t e t a m b é m pode
Trimestres em um Único Teste integrado ocorrer q u a n d o u m kit não é específico ou é relativamente
Existe u m teste integrado que c o m b i n a o m e l h o r dos testes n o impreciso. Assegurar que os valores das medianas (e p o r extensão
p r i m e i r o e segundo trimestres e que evita a m a i o r i a das limitações os valores do M o M ) sejam precisos é u m a das responsabilidades
de u m a única triagem n o p r i m e i r o trimestre. C o m essa aborda- mais i m p o r t a n t e s d o l a b o r a t ó r i o de triagem. Detalhes sobre
gem, as mensurações de N T e PAPP-A são feitas n o p r i m e i r o tri- m o n i t o r a m e n t o e p i d e m i o l ó g i c o estão disponíveis. 3 1 0
mestre, mas não interpretadas o u trabalhadas até o segundo
trimestre. N o segundo trimestre, u m a segunda amostra sérica é Teste de Proficiência Externa
extraída e o teste q u á d r u p l o , realizado. Os resultados para os seis Todos os laboratórios que realizam t r i a g e m pré-natal devem par-
testes ( N T , PAPP-A, AFP, uE 3 , C G e D I A ) são combinados em ticipar de u m programa de testagem de proficiência externa que
uma única estimativa de risco para interpretação n o segundo tri- d i s t r i b u i amostras desconhecidas que r e f l e t e m as concentrações
mestre. Essa abordagem detecta 8 7 % dos casos de s í n d r o m e de de analitos encontrados p e r t o da metade do segundo trimestre de
D o w n c o m u m a taxa de falso-positivo de apenas 1%. n gravidez. Esses programas t a m b é m avaliam a capacidade do labo-
r a t ó r i o para (1) converter valores de analitos a M o M usando os
Relatório de Resultados Individuais p r ó p r i o s valores das medianas do laboratório, (2) fazer recomen-
O r e l a t ó r i o da triagem sérica materna deve conter as seguintes dações de triagem, (3) fazer ajustes para variáveis que i n f l u e n -
informações: (1) as concentrações e os valores d o M o M dos ciam os valores dos analitos e (4) calcular os riscos específicos da
836 PARTE V Fisiopatologia

paciente. Dois desses programas de testagem de proficiência homens e de mulheres não-grávidas e, como muitos outros hormô-
externa para triagem pré-natal estão atualmente disponíveis nos nios da hipófise, elas são secretadas de modo pulsátil. U m único
Estados Unidos. O College of American Pathologists (CAP) admi- gene localizado no cromossomo 6 codifica a subunidade a dos
nistra o materna Screening Survey FP, atendendo aproximada- quatro hormônios da glicoproteína (TSH, L H , FSH e CG). O
mente 300 lab ora tórios. Amostras de proficiência, cinco séricas e cromossomo 19 contém uma família de genes que codifica a subu-
duas de líquido amniótico, são distribuídas três vezes por ano. O nidade C G p . RNAs mensageiros separados são transcritos dos
estado de Nova Iorque também possui u m programa de testagem respectivos genes, e as subunidades a e p são traduzidas de cada
de proficiência externa que é uma exigência para os laboratórios um. As subunidades combinam-se espontaneamente no retículo
que atendem os residentes do estado. Nenhuma das análises inclui endoplasmãtico rugoso e são, então, continuamente secretadas na
testes séricos n o primeiro trimestre ( C G beta livre e PAPP-A), mas circulação materna. A síntese de C G p chega ao pico em cerca de
o W o m a n and Infants Hospital, em Providence, Rhode Island, 8 a 10 semanas, mas a produção da subunidade a continua aumen-
administra u m programa voluntário denominado InteTlaboratory tando e parece ser uma função da massa da placenta.
Comparison Program para esses analitos (informação disponível Existe uma homologia extensiva entre as porções do peptídeo
em gknight@ipmms.org ou www.ipmms.org). das subunidades CG(5 e L H p . Investigadores propuseram que
u m a única deleção n o gene L H 0 ancestral alongaria a subuni-
TESTES LABORATORIAIS dade de 115 aminoácidos para 145 aminoácidos; 8 0 % dos pri-
Nesta seção, os métodos para mensurações de (1) CG, (2) AFP, meiros 115 aminoácidos nas duas subunidades p são idênticos,
(3) UE3, (4) D I A , (5) fibronectina fetal e (6) bilirrubina no líquido amni- mas 20 resíduos de aminoácidos adicionais são exclusivos na
ótico, bem como (7) seis testes para maturidade fetal, serão revistos. CGp.

Gonadotrofina Coriônica Fisiologia


A C G é comumcnte denominada "gonadotrofina coriônica A C G estimula o corpo lúteo no ováTio para sintetizar a proges-
humana" e quase sempre abreviada para h C G ou H C G . Os terona durante as primeiras semanas de gravidez. A placenta não
laboratoristas devem abandonar esse termo em comunicações é capaz de sintetizar quantidades inadequadas de progesterona
internas, pois o adjetivo "humana" é supérfluo. N o entanto, ao durante esse tempo. Não se conhece um receptor específico para
comunicar-se com médicos (pelo menos nos Estados Unidos), o a C G . Ela, no entanto, liga-se ao receptor do L H e o ativa nas
termo h C G é preferível, para evitar mal-entendidos. células do corpo lúteo no ovário materno. A ativação do receptor
aumenta o monofosfato cíclico de adenosina intracelular (cAMP)
Química que, por sua vez, estimula a produção de progesterona, u m este-
A C G é uma glicoproteína que contém u m cerne de proteína róide que previne menstruações e, portanto, facilita a gravidez.
com cadeias ramificadas de carboidrato que normalmente termi- A C G liga-se fracamente aos receptores do T S H na tireóide
nam com ácido siálico, galactose, N-acetilglicosamina e manose. materna; logo, as concentrações de C G ^ 1 milhão U l / L são
O h o r m ô n i o é u m heterodímero composto por duas subunidades tireotró ficas.
de glicoproteína não-idênticas e não-covalentemente ligadas: alfa
(a) e beta (p). A molécula do h o r m ô n i o completo tem u m peso Análises de CG
molecular de aproximadamente 37.900 Da e uma proporção mais Muitas técnicas de análise foram usadas para determinar a CG. 3
alta de carboidrato do que qualquer outro h o r m ô n i o humano. Todas as técnicas modernas usam imunoensaios com anticorpos
A C G é encontrada no soro materno em muitas formas, monoclonais altamente específicos para epítopos singulares da
incluindo C G dimérica não modificada (nativa) com oligossaca- C G p . Quando u m segundo anticorpo é usado, ele pode ser
rídeos diferenciados e formas modificadas por graus variados de monoclonal ou policlonal e direcionado à C G a ou C G p .
degradação. As enzimas séricas separam as ligações do peptídeo
na C G p na posição 44-45 (e, após incubação prolongada, em 51- Testes Qualitativos de CG
52) para formar C G clivada (CGn). A clivagem inativa o hormô- Nos Estados Unidos, estão disponíveis cerca de 30 testes paTa
nio e também reduz a capacidade de ligar alguns anticorpos C G urinária ou sérica em laboratórios de análises clínicas (LACs)
anti-CG. Outros sítios de clivagem estão em P47-48 e em a.70-71. e 25 testes caseiros. O site da F D A lista os produtos sob esquema
Tanto as cadeias C G a livre ( f C G a ) quanto a CGP livre (fCGp) de códigos L C X , D H A , JHI, JHJ e LFS.
são encontradas no soro, j u n t o com formas livres clivadas (p. ex., As análises com o teste caseiro são as mais comumente usadas
fCGPn). N o segundo trimestre, mais de 9 9 % da C G está na forma nos Estados Unidos. Comprados sem receita, esses testes são
dimérica; apenas uma pequena quantidade circula como subuni- simples e podem ser usados na privacidade do lar. U m terço das
dade p livre. C o m o avançar da gestação, a m o l de C G torna-se mulheres que suspeitam estar grávidas realiza esses testes caseiros.
mais ácida e atravessa o glomérulo. A porção C-terminal da f C G p A maioria dos ícits fornece u m único teste e usa uma estratégia
é separada para formar o fragmento do cerne nuclear da C G p imunocromatográfica ou imunométrica da enzima para medir a
(CGpcf), que é composto por dois pedaços da subunidade p, C G na urina. Os limites de detecção variam de 6,3 a 50 U I / L ,
resíduos 6-40 e resíduos 55-92, mantidos juntos pelas pontes de embora os fabricantes aleguem uma variação de 25 a 100 U I / L .
dissulfeto. A CGPcf tem u m peso molecular de 13.000 Da. Os testes precisam de 1 a 5 minutos para reagir. Embora os
A urina contém predominantemente C G p c f e, em menos mesmos para o uso sejam simples, as consumidoras cometem
quantidade, C G não modificada e C G n . A taxa do clsarãnce varia mais erros ao desempenhá-los que os profissionais treinados de
para as diferentes formas e tem três fases. As meias-vidas rápida, laboratórios.
média e lenta são, respectivamente: C G , 3,6, 18 e 53 horas; C G $ , As amostras da primeira urina da manhã têm a preferência
1,0, 23 e 194 horas, e C G a , 0,63, 6 e 22 horas. dos LACs nos testes qualitativos urinários de gravidez, porque as
amostras estão concentradas e contêm C G em abundância.
Bioquímica Quase todos os testes usam i m u n o c r o m ato grafia. A urina apli-
A C G é sintetizada nas células do sinciciotrofoblasto da placenta. cada ao dispositivo é absorvida em uma fita de nitrocelulose. A
Quantidades minúsculas também são produzidas na hipófise de C G é concentrada em uma tira estreita enquanto a urina migra.
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 837

U m a n t i c o r p o a n t i - C G marcado c o m corantes n o dispositivo 10.000.000


liga-se à C G m ó v e l e atravessa u m a zona c o m a n t i c o r p o de
captura em fase sólida para C G . O aparecimento de u m a l i n h a
1.000.000
c o l o r i d a indica u m teste p o s i t i v o . C o n t r o l e s positivos são u m
c o m p o n e n t e integral desses dispositivos — C G i m o b i l i z a d a fun-
ciona b e m . Resultados falso-positivos o c o r r e m e m 1 % dos testes 100.000
d e v i d o à presença na u r i n a de substâncias interferentes, c o m o
proteínas, drogas, bactérias, eritrócitos o u leucócitos. Resultados a
10.000
falso-positivos já o c o r r e r a m d e v i d o à baixa concentração de C G .
i:
Cerca de metade desses testes qualitativos será positiva n o dia iS
g
seguinte após a p r i m e i r a ausência d o p e r í o d o m e n s t r u a l . A n á l i - g- 1.000
ses séricas qualitativas estão disponíveis e t e n d e m a ser mais Ü.
confiáveis que análises de u r i n a , p o r q u e as concentrações uriná- ü
rias de C G v a r i a m consideravelmente. 100

Kits para Testagem Laboratorial Quantitativa 10


O soro é usado para análises quantitativas de C G . As cinco
estratégias c o m u n s para m e d i r a C G i n c l u e m (1) r a d i o i m u n o e n -
saio a n t i - C G ^ ( R I A ) , (2) sanduíche anti-CG(3: anti-CG(3, (3) 1
6 10 14 18 22 26 30 34 33 42
sanduíche a n t i - C G p : a n t i - C G a , (4) sanduíche a n t i - C G (3 termi-
nal- a n t i - C G p e (5) sanduíche a n t i - C G : a n t i - C G p . A especifici- Semanas de gestação
dade das análises séiicas quantitativas varia consideravelmente.
A m a i o r i a das diferenças é a t r i b u í d a a diferenças n o reconheci- Figura 4 3 - 5 Concentrações de a-fetoproteína no soro do feto e do
m e n t o d o a n t i c o r p o das várias formas de C G , clivado, s u b u n i - recém-nascido, soio materno e no líquido amniótico. Os valores séricos
dade P, h - C G e o u t r o s fragmentos presentes n o soro. A concen- maternos são medianas calculadas de 24.232 gestações, e os valores do
tração mais baixa detectável dessas análises é 1 a 2 U I / L . Impre- liquido amniótico são medianas calculadas de 1,544 gestações com
cisão típica entre o processo e m a n d a m e n t o (coeficiente de rescagens realizadas nos ARUP Laboratories Inc., de janeiro a outubro
variação ( C V ) é 10% a 1 5 % e m 10 U I / L , 6 % a 15% e m 3 0 de 1997.
U I / L e 7 % a 12% e m 150 U V L

Métodos de Análise para Triagem no Segundo Trimestre


Quase todos os kits de C G comercialmente disponíveis são aná-
lises m u i t o sensíveis designadas para m e d i r concentrações de 2 a Significância Clínica
1.000 U I / L . C o n s e q ü e n t e m e n t e , as análises de C G existentes são A testagem de C G é usada para (1) detectar gravidez e suas
usadas para triagem n o segundo trimestre sem modificações. Os anormalidades (p. ex., gestações ectópicas e molares), (2) triar
laboratórios apenas precisam selecionar u m a d i l u i ç ã o sérica apro- s í n d r o m e de D o w n e trissomia d o 18 e (3) m o n i t o r a r o curso de
priada para que as mensurações caiam d e n t r o da faixa da curva u m a paciente c o m u m câncer p r o d u z i n d o C G . Os valores típicos
de calibração. U m a d i l u i ç ã o sérica de 1:200 a 1:500 é adequada d u r a n t e a gravidez são mostrados na Figura 43-2.
para a m a i o r i a das análises. A m a i o r i a das triagens laboratoriais
pré-natais usa análises i m u n o m é t r i c a s automatizadas para m e d i r a-Fetoproteína
a C G . A calibração das análises de C G é descrita e m Tiet? Tbctbook A mensuração de A F P n o soro m a t e r n o e n o l í q u i d o a m n i ó t i c o
of Clinicai CtamlsErj and Moíecuídr Diagnostica.1 é usada extensivamente nos Estados U n i d o s e n o R e i n o U n i d o
para detecção pré-natal de algumas anomalias fetais sérias. O uso
de A F P em pacientes não-grávidas para m o n i t o r a r certos cânce-
Coleta e Armazenamento da Amostra res é descrito n o C a p í t u l o 20.
A m o s t r a s séricas são obtidas de mulheres, em j e j u m o u não,
pelas técnicas-padrão de coleta de sangue periférico ( C a p í t u l o 2). Química
A C G está estável n o soro m a t e r n o e é possível transportá-la em C o m o seu n o m e i m p l i c a , a A F P m i g r a para a zona a d u r a n t e a
temperatura a m b i e n t e e armazenada a 4 ° C p o r 1 semana. A s s i m eletroforese Essa glicoproteína t e m u m peso m o l e c u l a r de apro-
c o m o na m a i o r i a dos materiais biológicos, o congelamento e o x i m a d a m e n t e 70.000 D a . O gene, localizado d e n t r o do q l l - 1 2
descongelamento repetitivos da amostra devem ser evitados. As n o c r o m o s s o m o 4, faz parte de u m a f a m i l i a de genes q u e t a m b é m
amostras séricas que revelarem h e m ó l i s e e l i p e m i a excessiva o u c o d i f i c a m para a l b u m i n a e p r o t e í n a ligante de v i t a m i n a D .
t u r b i d e z p o d e m fornecer resultados tendenciosos.
Bioquímica
Especificidade das Análises de CG A A F P é produzida i n i c i a l m e n t e pelo saco e m b r i o n á r i o e m
A t u a l m e n t e , os i m u n o e n s a i o s para C G devem ter pouca o u pequenas quantidades, sendo substituída p o s t e r i o r m e n t e pelo
n e n h u m a reatividade cruzada c o m o L H . A testagem de amostras fígado fetal e m grande quantidade, à m e d i d a que o saco embrio-
séricas c o m altas concentrações de L H fisiológico é usada para n á r i o se degenera. N o i n í c i o da v i d a e m b r i õ n i c a , essa proteína
certificar q u e esse h o r m ô n i o n ã o i n f l u e n c i e significativamente t e m u m a concentração alta n o soro fetal, chegando a quase u m
os resultados da C G . O soro de m u l h e r e s na pós-menopausa é d é c i m o da concentração de a l b u m i n a . A concentração m á x i m a
u m a f o n t e conveniente de espécimes c o m L H alto. Essa análise n o soro fetal, aproximadamente 3 m i l h õ e s p g / L , é alcançada em
deve ser designada para q u e as concentrações baixas de C G cerca de 9 semanas de gestação. A concentração então declina
sejam detectadas e os valores falso-positivos causados pela inter- constantemente para cerca de 20.000 p g / L n o t e r m o (Figura 43-5).
ferência d o L H sejam m i n i m i z a d o s . O a u m e n t o e a d i m i n u i ç ã o na concentração de A F P n o l í q u i d o
838 PARTE V Fisiopatologia

amniótico não se comparam àqueles n o soro fetal, mas a concen- Mensuração de a-Fetoproteina no Líquido
tração é 2 a 3 ordens de magnitude inferior (~ 15.000 p g / L em Amniótico
16 semanas de gestação). A relação no que diz respeito à concen- A A F P n o l í q u i d o amniótico é medida usando-se os mesmos
tração n o soro materno é u m pouco mais complicada devido a imunoensaios para A F P sérica materna após uma diluição ade-
vários fatores, i n c l u i n d o (1) transferência feto-maternal, (2) cresci- quada ( n o r m a l m e n t e 1:50 a 1:200). Os resultados são expressos
mento rápido do feto, (3) tamanho relativamente constante da em microgramas por m i l i l i t r o , microgramas por litro o u em qui-
mãe, (4) ckarance materno da proteína e (5) variação do volume logramas-UI por litro. A maioria dos laboratórios usa unidades
de distribuição na mãe c o m o peso materno. A AFP é detectável de massa.
p r i m e i r o ( ~ 5 p g / L ) n o soro materno por volta da 10a semana de A A F P no l í q u i d o amniótico é menos estável que no soro.
gestação. A concentração aumenta cerca de 15% por semana até Deixar amostras em temperatura ambiente por períodos prolon-
u m pico de aproximadamente 180 p g / L em cerca de 25 semanas. gados resulta em degradação de A F P no l í q u i d o amniótico. A
U m a típica concentração na 16a semana é de aproximadamente refrigeração do l í q u i d o amniótico, no entanto, comprometerá a
35 p g / L (Figura 43-5). A concentração no soro materno então análise do cromossomo. Portanto, se forem requisitadas a análise
declina lentamente até o termo. Após o nascimento, a AFP sérica de AFP no l í q u i d o amniótico e a análise cromossômica na mesma
materna declina rapidamente para < 2 p g / L . N o bebê, a A F P sérica amostra, uma alíquota do l í q u i d o coletado deve ser colocada na
declina exponencialmente para alcançar as concentrações do geladeira o mais r á p i d o possível após a coleta para determinar a
adulto por volta do 10a mês de vida. concentração de AFP. A outra alíquota do l í q u i d o é mantida em
A distribuição das concentrações de A F P sérica em uma temperatura ambiente para c o m ela determinar o cariótipo do
população de mães grávidas é gaussiana após transformação loga- cromossomo fetal. A l é m disso, as amostras enviadas aos labora-
rítmica. Os fatores que afetam as concentrações de AFP no soro tórios de referência devem ser transportadas no dia seguinte em
materno incluem (1) idade gestacional, (2) peso materno, (3) pre- temperatura ambiente ou em caixas c o m gelo se a temperatura
sença de diabetes mellitus materno dependente de insulina, (4) raça exterior estiver alta. C o m o a presença de sangue fetal nas amos-
materna, (5) número de fetos presente, (6) distúrbios renais fetais tras de l i q u i d o amniótico aumenta os resultados de AFP, os
que causam proteinúria e (7) anomalias estruturais fetais. laboratórios devem anotar a presença de sangue no relatório. N o
A A F P no l í q u i d o a m n i ó t i c o já foi medida tão precocemente caso de u m resultado com AFP aumentada no l í q u i d o a m n i ó t i c o
como em 8 semanas de gestação. Ela declina rapidamente para (normalmente acima de 2,0 o u 2,5 M o M ) , o laboratório deve
u m p o n t o baixo em 11 semanas, depois aumenta para chegar a u m pesquisar a presença de sangue fetal. Os laboratórios que medem
segundo p o n t o máximo em 13 semanas. A concentração então A F P no l í q u i d o amniótico devem estabelecer medianas para cada
cai de m o d o log-linear até a 25 a semana, q u a n d o o declínio pre- semana entre a 13a e a 25a semana de gestação (Figura 43-5).
cipita. M u i t o s estudos mostraram que a combinação de A C h E e
da A F P no l í q u i d o a m n i ó t i c o é ú t i l na detecção de defeitos do Mensuração de Acetilcolinesterase no Líquido
t u b o neural aberto nas 13a a 25a semanas de gestação. Amniótico
O teste de A C h E é essencial e c o n f i r m a t ó r i o para todos os fluidos
c o m A F P elevada n o líquido amniótico. O l í q u i d o a m n i ó t i c o
Métodos de Detecção da a-Fetoproteína Sérica n o r m a l contém u m grupo de colinesterases inespecíficas deno-
E m b o r a a AFP tenha sido tradicionalmente medida pelo m é t o d o m i n a d o pseudocolinesterase (PChE). O l í q u i d o cerebrospinal
R I A , os métodos mais recentes usam análise imunoenzimétrica contém altas concentrações da enzima neural A c h E , e, em casos
( I E M A ) ou imunoensaio quimioluminescente ( C I A ) devido a de defeitos do tubo neural aberto (e em cerca de 8 0 % dos casos
(1) seus limites de detecção mais baixos, (2) sua melhor precisão, c o m defeitos da parede abdominal), f l u i d o s vazam da lesão aberta
(3) velocidade, (4) evitação de radioatividade e (5) facilidade de e p e r m i t e m que a A C h E entre n o l í q u i d o a m n i ó t i c o .
automação. Vários sistemas comerciais estão disponíveis para
medir A F P e a maioria possui desempenho satisfatório como Estriol Não-conjugado
d o c u m e n t a d o em pesquisas de testes de proficiência administra- A mensuração de estriol não-conjugado (uEj) é agora usada de
das pelo College o f A m e r i c a n Pathologists (Survey FP). A calibra- m o d o r o t i n e i r o na maioria dos laboratórios nos Estados U n i d o s
ção das análises de A F P é descrita em Tietz Textbook of Clinicai que oferecem triagem de síndrome de D o w n . Esse esteróide, em
Chemistry and Molecular Diagnostics.3 vez de estriol total (estriol conjugado e não-conjugado), é o mais
específico dos estrógenos para identificar u m feto c o m síndrome
de D o w n .
Coleta e Armazenamento da Amostra
Amostras séricas são obridas de mulheres sem estarem em j e j u m Química
pelas técnicas-padrão de coleta de sangue. A A F P é m u i t o estável O estriol, como o n o m e implica, é u m estrógeno c o m três grupos
nas amostras de soro materno que são transportadas em tempe- hidroxilas (nas posições 3, 16 e 17). E m b o r a esteja presente em
ratura ambiente e armazenadas a 4 ° C por 1 semana ou a - 2 0 ° C pacientes não-grávidas em concentrações m u i t o baixas, no f i n a l
por anos. da gravidez esse estrógeno predomina. Apenas u m a pequena
quantidade ( ~ 9 % ) do h o r m ô n i o circula no plasma não-conju-
Significância Clínica gado e, devido à sua baixa solubilidade, essa f o r m a está forte-
Os testes de AFP no l í q u i d o a m n i ó t i c o e n o soro materno são mente ligada ao S H B G . A m a i o r i a existe como conjugado de
úteis para detectar algumas anormalidades fetais sérias. A A F P glicuronato e sulfato (Figura 43-6). A conjugação que ocorre no
no soro materno está elevada em 8 5 % a 9 5 % dos casos de defeito fígado materno t o r n a o h o r m ô n i o mais solúvel, p e r m i t i n d o o
do tubo neural aberto 14 e está reduzida em cerca de 25%, em cleamnce renal.
média, nos casos de síndrome de D o w n . C o m o a triagem sérica
materna para defeitos fetais envolve testes m ú l t i p l o s , esse tema Bioquímica
foi discutido anteriormente em Triagem Sérica Materna para O estriol é produzido em grandes quantidades no ú l t i m o trimes-
Defeitos Fetais. tre da gravidez. A via biossintética requer o f u n c i o n a m e n t o
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 B39

OH a adrenal fetal é grande, comparada c o m a de u m adulto. A zona


,.<>H fetal responde p o r cerca de 8 0 % d o peso adrenal. A adrenal fetal
liga-se c o m avidez à l i p o p r o t e í n a de baixa densidade para receber
colesterol, que é c o n v e r t i d o a (1) sulfato de p r e g n e n o l o n a e
(2) sulfato de desidroepiandrosterona ( D H E A S ) . O fígado fetal
converte D H E A S a 1 6 a - h i d r ó x i - D H E A S , F i n a l m e n t e ) a placenta
sintetiza estriol do 1 6 a - h i d r ó x i - D H E A S . Cerca de 9 0 % do estriol
sérico m a t e r n o é derivado da via biossintética. U m a q u a n t i d a d e
Glicwronidaçdo m í n i m a é p r o d u z i d a usando precursores do ovário m a t e r n o . A
relação do uE 3 sérico m a t e r n o c o m a idade gestacional n o
segundo trimestre é log-linear, a u m e n t a n d o e m u m a taxa de
2 0 % a 2 5 % p o r semana de gestação (Figura 43-7). As concen-
trações típicas para o segundo t r i m e s t r e de gravidez são 0,70 a
2,50 p g / L , d e p e n d e n d o da análise usada. Ás concentrações
séricas de e s t r i o l conjugado são de 5 a 10 vezes mais altas que
as concentrações d o u E j d u r a n t e a gravidez.
G Q

Sulfato de estriol

Métodos para Determinar Estrioi Não-conjugado


A determinação d o u E j é d i f í c i l d e v i d o à sua baixa concentração.
A t é 2002, o UE 3 era m e d i d o pelos m é t o d o s ultra-sensíveis R I A
Análises não-isotópicas estão agora disponíveis, n o r m a l m e n t e
c o m o parte de sistemas automatizados. Os valores o b t i d o s c o m
as várias análises de u E 3 v a r i a m m u i t o ( c o m o julgado pela testa-
g e m de p r o f i c i ê n c i a d o C A P ) . A conversão para M o M reduz a
diferença entre os métodos, mas o uE 3 ainda é o mais variável
dos analitos de triagem. As concentrações de estrona, esrriol-3-
sulfato e estriol-3-gIicuronida até 1.000 n g / m L contra-reagem
Figura 4 3 - 6 As formas de estriol presentes no soro materno menos que 0 , 0 3 % nas análises atuais.
Glicuroni dação e sulfatação também podem ocorrer nas outras
posições hidroxilas Coleta e Armazenamento da Amostra
Para a mensuração de uE 3 , as amostras séricas maternas são
obtidas de m u l h e r e s sem estarem e m j e j u m pelas técnicas-padrão
de coleta sanguínea periférica. C o m o o uE 3 é o menos estável
dos q u a t r o analitos usados a t u a l m e n t e para triagem, deve-se ter
tO.vT c u i d a d o na coleta, armazenagem e transporte das amostras que
serão analisadas pelo seu c o n t e ú d o de uE 3 . A l é m disso, as formas
M7'K
conjugadas se desconjugam e s p o n t a n e a m e n t e para f o r m a r o hor-
m ô n i o parente em temperatura a m b i e n t e e em 4 ° C . P o r t a n t o ,
y
deve-se p e r m i t i r que o sangue coletado coagule e, então, extrair
7"" o soro de i m e d i a t o . A o usar t u b o s separadores de soro, devem-se
2%

I .ÍX>
/XJ centrifugar as amostras logo após a coleta. O transporte de
sangue t o t a l não é r e c o m e n d a d o . Se o sangue t o t a l for enviado
p o r correio, a entrega n o dia seguinte é essencial. Q u a n t o à
f * armazenagem, o uE 3 fica estável n o soro p o r até 7 dias a 4 ° C . A
/ , 7 concentração do uE 3 , e n t r e t a n t o , a u m e n t a q u a n d o os soros são
/ / T
V7 armazenados p o r mais de 4 dias à t e m p e r a t u r a ambiente.

0,10
77 Significância Clínica
Q u a l q u e r d i s t ú r b i o na via biossintética levará a u m uE 3 sérico
6 10 14 18 22 26 30 34 38 42 m a t e r n o m u i t o baixo. As condições q u e causam distúrbios
i n c l u e m anencefaiia fetal, deficiência de sulfatase placentária,
Semanas de Gestação
m o r t e fetal, anormalidades cromossômicas, gravidez m o l a r e sín-
d r o m e de S m i t h - L e m l i - O p i t z (SLOS). A deficiência de sulfatase
F i g u r a 4 3 - 7 Concentração de estriol não-conjugado (uE3) no soro placentária apresenta-se no bebê c o m o ictiose ligada ao cromos-
materno como uma função da idade gestacional. As linhas representam somo X . Ela está presente em a p r o x i m a d a m e n t e 1 ( u m ) em cada
o 2Q, 50 E e 97 ü percentis. Os valores séricos maternos das semanas 14 a 2.000 bebês do sexo masculino. D e v i d o à falta de uE 3 , a mãe
25 são medianas calculadas de 11.309 gestações com testagens quase sempre t e m o i n í c i o d o t r a b a l h o de p a r t o retardado. O
realizadas no ARUP Laboratories Inc., de janeiro a outubro de 1997. í n d i c e de cesariana é m u i t o alto nessas mães. A S L O S é u m
defeito de nascença raro, resultante de u m erro i n a t o n o meta-
b o l i s m o de colesterol, deficiência de 7-desidrosterol-7-reductase.
(1) da adrenal fetal, (2) do fígado fetal e (3) dos órgãos placen- A s í n d r o m e de D o w n leva a u m a modesta redução e m uE 3 . A
tários. O córtex adrenal do feto possui u m a zona especial para triagem de s í n d r o m e de D o w n é agora a aplicação mais c o m u m
a p r o d u ç ã o de esteróides. A d e m a n d a p o r estriol é t a m a n h a que das mensurações de uE 3 .
840 PARTE V Fisiopatologia

Inibina A Dimérica ovariano, (2) distúrbios da ovulação, (3) detecção precoce de


As inibinas são m e m b r o s das superfamílias de proteínas transfor- gTavidez viável após fertilização i n vitro e (4) avaliação de inferti-
madoras de crescimento p ( T G F 0 ) . As formas de i n i b i n a i n c l u e m lidade masculina.
inibinas A e B e ativinas A , B e A B . C o n f o r m e descrito n o Capí-
t u l o 42, a i n i b i n a é u m feedback negativo que regula a secreção de Fibronectina Fetal
F S H e m b o m e n s e mulheres. A placenta p r o d u z grandes quanti- A o d e t e r m i n a r o risco de trabalho de p a r t o pré-termo, ela ajuda
dades de i n i b i n a A que s u p r i m e m o F S H completamente. os médicos a l i d a r e m mais agressivamente c o m aqueles de alto
risco e, p o r t a n t o , d i m i n u e m a i n c i d ê n c i a de p a r t o pré-termo. A
Química concentração de f i b r o n e c t i n a fetal ( f F N ) nas secreções cervical e
As i n i b i n a s são glicoproteínas c o n t e n d o dímeros de subunidades vaginal é u m teste que ajuda na previsão do p a r t o pré-termo.
não-idênticas a e p q u e estão ligadas por pontes de dissulfeto. A
s u b u n i d a d e p ocorre e m duas formas estritamente relacionadas Bioquímica
(p A e p B ), levando a dois tipos de inibinas diméricas ( i n i b i n a F N é u m t e r m o para a família de glicoproteínas adesivas ubíquas
d i m é r i c a A , a p A ,e i n i b i n a d i m é r i c a B , a.p B ). A f o r m a m a d u r a que f o r m a ligações cruzadas c o m colágeno para manter as células
de i n i b i n a , que t e m u m peso molecular de a p r o x i m a d a m e n t e unidas. Essas proteínas são encontradas nas superfícies das células,
3 0 . 0 0 0 D a , é p r o d u z i d a pela divisão de duas grandes formas no plasma e n o l í q u i d o a m n i ó t i c o . O feto t e m u m a F N incompa-
precursoras. As formas precursoras estão relativamente menos rável. Q u a n d o o trabalho de p a r t o começa e a adesão celular entre
bioativas que as formas maduras. N o soro, estão presentes as a placenta e a parede uterina se rompe, a concentração de f F N nas
i n i b i n a s maduras, os precursores das i n i b i n a s e as moléculas secreções cervical e vaginal aumenta. Mães que têm f F N acima de
intermediárias de peso molecular variado. 5 0 n g / m L nessas secreções d u r a n t e o segundo e o terceiro trimes-
tre possuem TÍSCO m a i o r de parto pré-termo. Porém, a m a i o r i a das
Bioquímica pacientes c o m resultados > 50 n g / m L irá reparar qualquer distúr-
As i n i b i n a s s u p r i m e m e as ativinas e s t i m u l a m a secreção de FSH. b i o placentário e c o n t i n u a r a gravidez c o m sucesso.
As i n i b i n a s são secretadas p o r células granulosas d o ovário e pelas
células de S e r t o l i dos testículos. A i n i b i n a A e a i n i b i n a B Método de Análise
possuem perfis distintos d u r a n t e o ciclo m e n s t r u a l h u m a n o . E m E m u m a análise comercial, a f F N é m e d i d a usando-se i m u n o e n -
mulheres pús-menopausa, as concentrações de ambas as i n i b i n a s saio de m e m b r a n a , o q u a l possui, na fase sólida, a n t i c o r p o anti-
estão abaixo de 5 n g / L . O s h o m e n s secretam i n i b i n a B e não f F N c a p r i n o p o l i c l o n a l e a n t i - f F N m o n o c l o n a l marcado c o m
parecem p r o d u z i r i n i b i n a A . A i n i b i n a A é p r o d u z i d a pela pla- enzima. A amostra é o b t i d a pela coleta de m u c o cervical o u
centa n o i n í c i o da gravide;. A s concentrações de D I A e x i b e m u m vaginal c o m sulab de D a c r o n o u poliéster. O swab t o t a l m e n t e
padrão c o m p l e x o d u r a n t e o curso da gravidez, elevando-se para saturado c o n t é m a p r o x i m a d a m e n t e 150 p L de f l u i d o . O swab è
u m pico nas semanas 8 a 10 de gestação, d e c l i n a n d o paTa u m colocado d e n t r o de 7 5 0 p L de solução-tampão. U m a alíquota da
m í n i m o na 17a semana de gestação e, então, se recuperando para amostra d i l u í d a é adicionada ao cassete c o n t e n d o os anticorpos,
a u m e n t a r l e n t a m e n t e n o t e r m o . D i f e r e n t e m e n t e dos o u t r o s e o desenvolvimento da cor é m e d i d o e relacionado c o m a con-
testes de triagem, as concentrações médias de i n i b i n a m u d a m centração de f F N .
relativamente p o u c o da 15a a 20 a semana de gestação. U m valor
típico e m 17 semanas de gestação é 175 n g / L . Significância Clínica
N a triagem de mulheres assintomáticas, a testagem deve ser feita
Métodos de Análise para DIA entre as semanas 24 e 3 0 de gestação. As mulheres c o m resultado
As análises de i n i b i n a para a triagem de s í n d r o m e de D o w n devem positivo (^ 5 0 n g / m L ) possuem u m risco 2 a 4 vezes m a i o r de
m e d i r apenas a D I A e não as subunidades a livres e os precurso- p a r t o p r e m a t u r o . U m teste negativo após u m teste positivo
res de peso molecular superior que t a m b é m c i r c u l a m n o sangue. d i m i n u i o risco, e u m segundo teste negativo subseqüente retorna
As análises originais de i n i b i n a (ensaio imunossorvente ligado à o risco para a l i n h a de base. E n t r e as mulheres assintomáticas,
enzima [ E L I S A ] o u R I A ) usavam anticorpos direcionados c o n t r a aquelas c o m resultados positivos para f F N t ê m 4 a 5 vezes mais
epítopos na s u b u n i d a d e a e m e d i a m todas as formas de inibinas, p r o b a b i l i d a d e de dar à luz antes da 34 a semana de gestação,
i n c l u i n d o os precursores. Essas análises são conhecidas c o m o comparadas c o m aquelas que t ê m resultados negativos para
análises de i n i b i n a t o t a l o u de i n i b i n a imunorreativa. Análises fFN.
altamente específicas usando anticorpos m o n o c l o n a i s estão agora Os sintomas de p a r t o pré-termo i n c l u e m (1) contrações ute-
disponíveis para m e d i r apenas a D I A . N a prática, as análises rinas regulares, (2) d o r l o m b a r i n f e r i o r , (3) cólica a b d o m i n a l
específicas para D I A possuem m e l h o r desempenho para triagem i n f e r i o r , (4) sangramento vaginal e (5) descarga vaginal aumen-
que as análises inespecíficas de i n i b i n a total. Os valores típicos tada. E n t r e as mulheres sintomáticas, os resultados positivos para
para o segundo trimestre de gravidez variam de 5 0 a 4 0 0 n g / L . f F N possuem u m a razão de p r o b a b i l i d a d e de 5,4 para prever u m
p a r t o antes da 34 a semana de gestação o u d e n t r o dos 7 dias
Amostra e Armazenamento da Amostra seguintes. PaTa os resultados de f F N negativos, a Tazão de proba-
Para as análises de D I A , as amostras séricas são obtidas de m u l h e - b i l i d a d e correspondente é 0,25. As pacientes c o m u m teste nega-
res sem estar e m j e ] u m pelas técnicas-padrão de coleta de sangue t i v o p o d e m voltar para casa e m segurança p o r q u e possuem
periférico. A D I A está estável n o soro m a t e r n o e p o d e ser trans- apenas cerca de 1% de chance de d a r e m à luz e m 1 semana.
p o r t a d a à t e m p e r a t u r a a m b i e n t e e armazenada a 4 ° C p o r 1
semana. Bilirrubina (AA450) no Líquido Amniótico
A concentração de b i l i r r u b i n a n o l í q u i d o a m n i ó t i c o é geralmente
Significância Clínica m u i t o baixa (0,01 a 0,03 m g / d L ) para ser m e d i d a p o r técnicas-
A l é m da u t i l i d a d e da D I A c o m o u m p r e d i t i v o de risco para sín- padrão ( C a p í t u l o 28). Porém, é possível m e d i r a b i l i r r u b i n a a m n i -
d r o m e de D o w n discutida previamente, as mensurações de inibinas ótica p o r espectrofotometria. A absorvência m á x i m a de b i l i r r u -
A e B e n c o n t r a m aplicações em (1) m o n i t o r a m e n t o de câncer b i n a ocorre em 4 5 0 n m . N a ausência de b i l i r r u b i n a , o espectro
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 4-3 841

b i n a n o l í q u i d o a m n i ó t i c o e essa q u a n t i d a d e m u d a c o m a idade
gestacional (Figura 43-9). Pata i n t e r p r e t a r AA450 adequadamente,
é preciso saber a idade gestacional. Os detalhes do p r o c e d i m e n t o
estão disponíveis e m Tiet? Textbook of Clinicai Chemistí7 and Mole-
cular Diagnoi Cies.3

Coleta e Armazenamento da Amostra


Para a mensuração da concentração de b i l i r r u b i n a no l í q u i d o
a m n i ó t i c o , u m a amostra do l í q u i d o é o b t i d a p o r amniocentese
guiada p o r ultra-som, c u i d a n d o para não c o n t a m i n a r a amostra
c o m sangue. Pelo menos 10 m L devem ser extraídos. C o m o a
350 365 410 450 530 580 nm b i l i r r u b i n a é mstãvel na presença de luz, a amostra deve ser
protegida da luz d u r a n t e o t r a n s p o r t e para o l a b o r a t ó r i o e a
0.0 armazenagem. A m a i o r i a das bandejas para amniocentese
/ c o n t é m u m t u b o plástico m a r r o m c o m t a m p a de rosca. Se u m
0,5
/ N t u b o claro for usado, envolva o t u b o c o m a amostra e m f o l h a de

\
0,4 "^^,227 ,
0,232 . a l u m í n i o . O pico de absorvência da b i l i r r u b i n a tem u m a meia-
v i d a de 10 horas e m l a b o r a t ó r i o i l u m i n a d o . N o e n t a n t o , q u a n d o
0,3
armazenada n o escuro, o pico fica estável p o r 3 0 dias à ternpe-
r a t u r a a m b i e n t e e p o r n o m í n i m o de 9 meses em 4 Q C.
0,2

€ Interpretação
A interpretação de A A W depende d o c o n h e c i m e n t o da idade
0,1
gestacional (Figura 43-9). Considera-se que os valores que caem
na zona i n f e r i o r de Liley representem u m feto n ã o afetado o u
I I l i ! m u i t o levemente afetado. Os valores na zona i n t e r m e d i á r i a
B 350 365 410 450 530 580 nm ainda são compatíveis c o m u m feto m i n i m a m e n t e afetado, mas,
à m e d i d a que os valores sobem d e n t r o dessa zona, a u m e n t a a
F i g u r a 4 3 - 8 A, Líquido amniótico normal. Observe a linearidade p r o b a b i l i d a d e de que o feto esteja s o f r e n d o h e m ó l i s e m o d e r a d a
peito da curva quando diagramada no gráfico log-linear. B, Liquido a acentuada. D e p e n d e n d o da t e n d ê n c i a c o m o t e m p o e das
amniótico mostíando o pico de bilirrubina em 450 nm e o pico de circunstâncias clínicas, alguns m é d i c o s r e c o m e n d a m interven-
oxiemoglobina em aproximadamente 410 nm Observe a linba de base ção q u a n d o a elevação de AA450 atinge 8 5 % na zona i n t e r m e d i -
traçada entre as partes lineares da curva, de 365 e 530 nm. ária. Os valores na zona s u p e r i o r (zona I I I ) d e n o t a m doença
grave. Sem intervenção, u m feto c o m valores na zona superior
m u i t o provavelmente morrerá.
A c o n t a m i n a ç ã o de u m a amostra d o l í q u i d o a m n i ó t i c o c o m
o sangue de u m feto afetado c o m u m a alta concentração de
b i l i r r u b i n a sérica p o d e levar a erro substancial, cuja m a g n i t u d e
^jOI"a 11 n ã o p o d e ser exatamente prevista. Correções matemáticas e
•H. extração e m c l o r o f ó r m i o f o r a m usadas para amostras c o m sangue
(ve]a Tietí Textbook of Clinicai Cfiemistr} and Molecular Diagnostics
n\
/

- —
3 para detalhesj. 3
- / n n* II j^i
S * ~ Corar o líquido amniótico c o m mecônio aumenta a A A ^ o
*Ni c o m picos extensos e variáveis e m 4 0 0 a 415 n m . N ã o há m e i o
a1 de compensar q u a n t i t a t i v a m e n t e n o caso de c o n t a m i n a ç ã o c o m
*—
m e c ô n i o . O clearance de m e c ô n i o de u m a única passagem pelo
C.C1 l í q u i d o a m n i ó t i c o requer 3 semanas.
22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42
Semanas de Gestecão
Testes para Avaliar a Maturidade do Pulmão
Fetal
Os testes de m a t u r i d a d e d o p u l m ã o fetal ( F L M ) a j u d a m o m é d i c o
Figura 43-9 Gráfico da zona três de Liiey (com modificação) para
a decidir se a m e l h o r sobrevida p e r m a t a l será o b t i d a n o ú t e r o
interpretação do líquido amniótico AA^o Paia explicação sobre as três
o u n o berçário. A situação mais c o m u m na q u a l u m teste de
zonas, veja o texto. (Modificado de Liley AW. Liquor amnii analysis in
F L M é r e c o m e n d a d o é antes de r e p e t i r u m p a r t o cesariano
the management of the pregnancy complica te d by rhesus sensicization.
q u a n d o a idade da gestação é i n c e m . O u t r a indicação i m p o r -
Am J Obstet Gynecol 1961;82:1359-70.).)
t a n t e é o paTto p r e m a t u r o antecipado devido à indicação médica
o u obstétrica, c o m o (1) dores d o p a r t o pré-termo, (2) r u p t u r a
p r e m a t u r a das m e m b r a n a s , (3) p i o r a de h i p e r t e n s ã o materna,
de absorvência para o l í q u i d o a m n i ó t i c o entre 365 e 5 5 0 n m (4) doença renal grave, (5) r e t a r d o n o crescimento i n t r a - u t e r i n o
define u m a curva quase e x p o n e n c i a l (Figura 43-8). N o s eixos o u (6) s o f r i m e n t o fetal. As vezes, resultados i n d i c a n d o i m a t u r i -
log-lineares, a altura da curva em 4 5 0 n m acima da l i n h a reta é dade dos p u l m õ e s do feto levam ao a d i a m e n t o do p a r t o eletivo
l i n e a r m e n t e p r o p o r c i o n a l à concentração de b i l i r r u b i n a n o o u i n c i t a m intervenção ativa c o m drogas para s u p r i m i r as dores
l í q u i d o a m n i ó t i c o . Essa é a diferença na absorvência em 4 5 0 n m n o pré-parto. A administração farmacológica de corticosteróides
(AA^5q). N o r m a l m e n t e , há u m a pequena q u a n t i d a d e de b i l i r r u - antes d o n a s c i m e n t o acelera a m a t u r a ç ã o p u l m o n a r e reduz casos
842 PARTE V Fisiopatologia

de RDS. Se o parto de uma criança for inevitável, a transferência mica (tingida de amarelo) ou obviamente contaminada com
para u m centro de assistência médica terciário é apropriada. muco. A amostra deve ser mantida em gelo ú m i d o .
Vários testes de l í q u i d o a m n i ó t i c o para F L M foram propos-
tos. A lgun s deles, como mensuração de creatinina e uréia o u a Testes de Maturidade do Pulmão Fetal por
coloração lipidica das células, correlacionam-se c o m a idade ges- Polarização de Fluorescência
tacional, mas não analisam diretamente a maturação do pulmão. A FP é uma razão sem unidade de medida c o m valores de 0,000
Os testes que medem (1) corpos lamelares direta o u indireta- a 0,500 para soluções diluídas contendo compostos fluorescen-
mente, (2) o sutfactante que eles contêm o u (3) a propriedade tes. A polarização (P) mede a difusão rotativa do f l u o r ó f o r o
biofísica do surfactante mostraram-se úteis para avaliar a F L M . relativa à sua meia-vida fluorescente. Se a meia-vida for curta,
Os métodos que m e d e m o surfactante p u l m o n a r i n c l u e m a comparada c o m a taxa de difusão rotativa, a P estará alta. E m
determinação de (1) razão lecitina/esfingomielina (L/S), (2) con- contraste, se a rotação molecular for mais rápida que o estado
centração de fosfatidilglicerol (PG), (3) polarização de fluorescên- excitado de decomposição, a P estará baixa. Corantes fluorescen-
cia (FF) (testes comerciais e não-comerciais) e (4) contagens de tes específicos ligam-se à albumina e ao surfactante; logo, a P
corpos lamelares. Desde 1994, o n ú m e r o de laboratórios usando resultante é uma função da razão surfactante/albumina e u m
métodos que requerem cromatografia em camada delgada (razão indicador da maturidade de u m p u l m ã o fetal. Versões comerciais
I / S e fosfatidilglicerol) d i m i n u i u , enquanto o n ú m e r o de labo- e "feitas em casa" estão disponíveis. 3 A versão comercial está
ratórios que usam FP comercial aumentou sensivelmente. Deta- calibrada c o m soluções contendo fosfolipídios e a l b u m i n a em
lhes sobre esses e outros testes baseados em surfactante são des- várias razões, expressas como miligramas de surfactante por
critos em Tietz Textbook of Clinicai Chemistrj and Molecukn Díag- grama de albumina. A maioria dos laboratórios que realizam
nostics.3 testes de FP para F L M usa a versão comercial desse teste.11
Os laboratórios hospitalares devem oferecer testes rápidos,
como FP, PG ou contagens de corpos lamelares Esses testes Razão Lecitina/Esfingomielina
devem estar disponíveis diariamente tanto para r o t i n a quanto O p r i n c i p a l componente ativo de superfície do surfactante pul-
para emergência. Solicitações de razões L / S e de perfis pulmona- monar é a fosfatidilcolina, t a m b é m denominada lecitina. A quase
res devem ser encaminhadas ao laboratório de referência. Os a totalidade de esfingomielina no l í q u i d o amniótico é derivada
resultados das análises de qualquer F L M devem ser comunicados de fontes não-pulmonares; logo, ela não tem papel determinado
imediatamente, porque o estado da paciente pode estar m u d a n d o no sistema surfactante nos pulmões, mas é u m padrão interno
e a informação pode ajudar no manejo do parto. conveniente para a mensuração de lecitina. A concentração de
lecitina relativa à esfingomielina, a razão L / S , tende a se elevar
c o m o aumento da idade gestacional. Essa elevação não é gradual
Coleta e Manejo do Líquido Amniótico para ou u n i f o r m e ; uma elevação u m tanto súbita ocorre em 34 a 36
Análise da Maturidade do Pulmão Fetal semanas de gestação e se correlaciona c o m o desenvolvimento da
Para os testes usados para analisar a F L M , o l i q u i d o amniótico é maturidade do p u l m ã o fetal.
o b t i d o por amniocentese transabdominal, geralmente durante a A maioria dos laboratórios usa u m método comercialmente
visualização sonográfica em tempo real. O médico evitará através- disponível para determinar a razão L / S . C o m esse teste, u m
sar a placenta, mas, às vezes, falhará. E m uma gravidez m ú l t i p l a , intervalo de referência conservador para a maturidade do p u l m ã o
n o r m a l m e n t e há bolsas separadas. Amostra é extraída de cada é u m a razão L / S de 2,5 ou mais elevada. Espera-se que mais de
bolsa. O l í q u i d o pode ser o b t i d o por punção transvaginal das 1% dos bebês nascidos dentro de 24 horas da obtenção de uma
membranas abauladas, mas não deve estar m u i t o c o n t a m i n a d o razão L / S > 2,5 desenvolvam RDS; logo, 9 9 % dos bebês c o m
c o m secreções vaginais como pode ocorrer na aspiração de poças previsão de maturidade estarão, de fato, maduros. N o entanto,
vaginais após ruptura esponrânea das membranas. Amostras em quase metade dos bebês com razões l / S entre 1,5 e 2,5 não
poças vaginais raramente são adequadas para testagem. Os desenvolverão RDS.
médicos devem considerar seriamente a amniocentese em pacien-
tes com r u p t u r a das membranas. 1 Fosfatidilglicerol
Sempre que possível, o l í q u i d o deve ser testado imediata- O papel exato do P G n o surfactante p u l m o n a r não está claro.
mente. Caso for preciso adiar por algumas horas, o l í q u i d o deve M u i t o s alegam que o aparecimento do PG no l í q u i d o a m n i ó t i c o
ser refrigerado a 4°C. As amostras permanecem estáveis por no indica a maturação b i o q u í m i c a f i n a l do surfactante, mas o PG
m í n i m o 1 semana a 4°C. Se o teste for adiado em mais de 1 t a m b é m é encontrado em quantidades mensuráveis no l í q u i d o
semana (p. ex., líquidos coletados para estudos de pesquisas), os a m n i ó t i c o já na 32 a semana de gestação, e sua presença em
líquidos devem ser congelados em - 2 0 ° C o u - 7 0 ° C . O l í q u i d o pequenas quantidades não implica necessariamente que os
deve ser suavemente invertido 20 vezes para obter uma suspensão pulmões do feto estejam maduros. A concentração de PG no
u n i f o r m e sem criar espuma logo antes da testagem. Recomenda- l í q u i d o amniótico aumenta c o m a idade gestacional.
se pelo menos 2 m i n u t o s no rotor para tubo. 1 A maioria dos laboratórios que oferecem teste de PG usa
A maioria dos procedimentos para medir a F L M i n c l u i cen- testagem de aglutinação rápida qualitativa, no qual a aglutinação
trifugação para remover debris. Atenção cuidadosa à técnica é ocorre na presença de PG e é comparada com três controles. Os
necessária para obter resultados reproduzíveis. Qualquer centri- resultados são notificados como negativo, positivo-haixo (0,5 a
fugação remove algum surfactante p u l m o n a r da amostra. Obser- 2 p g / m L ) ou positivo-alto (2 p g / m L o u mais elevado). A R D S
vou-se que centrifugação prolongada acidentalmente reduz a raramente se desenvolve em u m bebê de uma mãe c o m P G posi-
recuperação de fosfolipídios para menos de 50%. Para melhores tivo-alto.
resultados, a amostra deve ser (1) completamente homogeinizada,
(2) cuidadosamente centrifugada (p. ex., 2 m i n u t o s em 400 x g), Contagem de Corpo Lamelar
(3) decantada e (4) homogeinizada novamente. A condição da Os corpos lamelares dispersam luz avidamente, obscurecendo o
amostra t a m b é m deve ser observada, p. ex., não contaminada, líquido amniótico. Essas partículas são contadas diretamente usando
c o m sangue, corada c o m mecônio (tingida de verde), xantoerõ- o canal plaquetáno da maioria dos contadores de células de sangue
Distúrbios da Gravidez CAPÍTULO 43 843

total."1 Essa técnica é d e n o m i n a d a contagem de corpo lamelar 8. Haddow JE, Palomaki GE, Knight GJ, Foster DL, Neveux LM. Second
(LBC). U m a metanálise registrou que em u m a sensibilidade clínica trimester screening for Down's syndrome using maternal setum dimeric
fixa de 95%, a especificidade clínica da L B C f o i de 8 0 % , enquanto inhibin A. J Med Screen 1998;5:115-9.
9. Haddow JE, Palomaki GE, Knight GJ, Williams J, Pulkkinen A, Canick
que a especificidade clínica da razão L / S foi de 70%. 16
JA, et ai. Prenatal screening for Down's syndrome with use of maternal
D e v i d o aos diferentes algoritmos de identificação plaqueta-
semm markers. N Engl J Med 1992;327:588-93.
ria, as contagens serão mais baixas o u mais altas e m diferentes
10. Knight GJ, Palomaki GE. Epidemiologic monitoring of prenatal
i n s t r u m e n t o s . O s i n s t r u m e n t o s que usam algoritmos similares
screening for neural tube defects and Down syndrome. Clin Lab Med
possuem alta correlação, mas pouca concordância. Logo, os
2003;23:531-51.
valores de referência vão depender do i n s t r u m e n t o usado.
11. Malone FD, Canick JA, Ball RH, Nyberg DA, Comstock CH, Bukowski
R, et al. Firsc-tnmescer ot second-trimester screening, ot both, fot
Down's syndrome. N Engl J Med 2005;353:2001-12
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fetal lung maturity by fluoiescent polarization. Am J Obstet Gynecol
maturity. Clin Chem 1997;43:1-4.
2005;192:199-207. Erratum in: Am J Obstet Gynecol 2005;192:
2. Ashwood ER Maikets of fetal lung maturity. In: Gronowski AM, ed.
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ratio in the prediction of neonatal respiratory distress syndrome: a
7. Haddow ]E, Palomaki GE, Knight G], Canick JA. Prcnatal screening
meta-analys is. Br J Obstet Gynaecol 2001;108:583-8.
for major fetal disorders, Vol. II: Down syndrome. Scarhorough, ME:
Foundation for Blood Research, 1998 (available atwww.fbr.org).
C A P Í T U L O 4 4

Triagem Neonatal
Marzia Pasquali, Ph.D., F.A.C.M.G., e
Barbara G. Sawyer, Ph.D., M.T.ÍA.S.C.R), C.L.S.(N.CA), C.L.Sp.(M.B.)

OBJETIVOS E r r o I n a t o de Metabolismo: Doença primária causada por u m


1. Listar os seis componentes de um programa de triagem neonatal. defeito enzimático hereditário.
2. Definir os critérios necessários para qualquer programa de triagem. Espectrometria de Massa em Tandem ( M S / M S ) : U m método
espectro métrico de análise que envolve separação e
3. Discutir a lista de exames de triagem com base nas recomendações
identificação de substâncias químicas e outras substâncias
do American College of Medicai Genetics (ACMG), incluindo as
c o m base na razão massa e carga (m/z).
classificações e nomes de distúrbios; discutir as questões
Fenilcetonúria ( P K U ) : A c ú m u l o de fenilalanina no sangue,
envolvidas na ausência de procedimentos padrão de triagem em
mais frequentemente causado por ausência de atividade da
todos os EUA.
fenilalanina hidroxilase, que leva à produção de fenilcetonas
4. Enunciar as três classes de distúrbios metabólicos; fornecer
que são excretadas na urina.
exemplos e a apresentação clínica geral de cada classe. Herança Autossômica Recessiva: Padrão de herança
5. Fazer um diagrama da genealogia do padrão de herança mendeliano n o qual as características aparecem
autossômica recessiva e enunciar a importância deste padrão de horizontalmente na genealogia, os indivíduos acometidos
herança nos erros inatos do metabolismo e em outros distúrbios de c o m dois alelos anormais têm progenitores heterozigotos
triagem neonatal. sadios e os progenitores heterozigotos têm uma chance de
6. Listar distúrbios do metabolismo de aminoácidos, de ácidos graxos 2 5 % de acometimento da progénie; os autossomos
e de carboídratos e as causas e tratamentos de cada um. apresentam a mutação.
7. Descrever o teste de Guthrie e como ele é interpretado. Teste de G u t h r i e (Teste do Pezinho): Ensaio microbiológico
8. Descrever o princípio da espectrometria de massa em tandem. semiquantitativo para determinação de aminoácidos
9. Listar as metodologias usadas na triagem de hipotireoidismo fenilalanina n o sangue ou na urina.
congênito, hiperplasia adrenal congênita, anemia falciforme e
fibrose cística.

O
10. Discutir a questão dos resultados falso-positivos na triagem do s avanços recentes da tecnologia, como a espectrometria
recém-nascido, incluindo os exames mais comumente mal de massa em tandem e a análise de D N A , promoveram
interpretados e o uso e princípio dos exames de segunda opção. a identificação, prevenção e tratamento pré-sintom áticos
e precisos de doenças congênitas e genéticas em recém-nascidos.
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES Algumas crianças com estes distúrbios manifestam sintomas ao
A c i d e m i a / A c i d ú r i a Orgânica: Distúrbio do metabolismo de nascimento, enquanto outras permanecem assintomáticas durante
aminoácidos n o qual a enzima degradante deficiente leva ao décadas. Embora os programas de triagem tipicamente não sejam
aparecimento de u m produto catabólico de u m aminoácido projetados para fornecer u m diagnóstico definitivo da doença, eles
n o sangue, em vez do desenvolvimento de u m aminoácido identificam uma subpopulação de indivíduos de alto risco para os
precursor. quais o acompanhamento, exames de confirmação, diagnóstico e
A m i n o a c i dopatia: U m distúrbio do metabolismo de tratamento são vantajosos.
aminoácido no qual o aminoácido precursor é elevado no
sangue ou na urina. PRINCÍPIOS BÁSICOS
Análise M u l t i p l e x : Avaliação simultânea de múltiplos analitos A triagem neonatal é uma atividade de saúde pública que
em uma única amostra. começou no início dos anos de 1960, graças ao Dr. Robert
Distúrbios de Oxidação de A c i d o Graxo: G r u p o de distúrbios G u t h r i e , que desenvolveu u m exame de triagem para fenilalanina
causados por deficiência de uma enzima na via de oxidação a partir do sangue seco dos recém-nascidos colhido em papel
dos ácidos graxos, que leva à incapacidade de utilizar filtro (Figura 44-1 ).9
lipídios como uma fonte de energia. Desde esta época, milhões de lactentes nos E U A passaram
Distúrbios do M e t a b o l i s m o de A m i n o á c i d o : U m grupo de pela triagem para uma variedade de distúrbios genéticos e congê-
distúrbios causados pela perda de uma enzima na via nitos. O objetivo da triagem neonatal é a identificação e o trata-
metabólica do aminoácido, que leva à elevação do nível de mento precoces de distúrbios que, de outra forma, não seriam
aminoácidos n o sangue e na urina. detectados antes q u e ocorresse dano irreversível o u morte. A
Distúrbios do Metabolismo de Carboídratos; U m grupo de detecção e intervenção precoces levam à eliminação ou redução
distúrbios causados por perda de uma enzima na via da mortalidade, morbtdade e incapacidades associadas a estas
metabólica de u m carboidrato, que leva a concentrações condições. Assim como com os programas de triagem da popu-
elevadas daquele carboidrato no sangue e na urina. lação, os exames de triagem neonatal têm de ser primeiramente

845
846 PARTE V Fisiopatologia

C a d a u m destes c o m p o n e n t e s deve ter p r o t o c o l o s especifica-


m e n t e redigidos que l i d e m d i r e t a m e n t e c o m o desempenho das
tarefas envolvidas. A s s i m c o m a m a i o r i a dos p r o c e d i m e n t o s labo-
ratoriais, o C l i n i c a i a n d L a b o r a t o r y Standards I n s t i t u t e (antigo
N C C L S ) p u b l i c o u o Acompanhamento da Triagem "Neonatai; Dire-
trizes aprovadas ( I / L A ^ T - A ) ^ u m guia que a c o m p a n h a o Coleta de
Sangue em Papel Filtro para Programas de Triagem Neonatai; Padrão
Programa de Triagem Neonatai Aprovado ( L A 4 - A 4 ) / que descreve os p r i n c í p i o s básicos, escopo e
Sobrenome faixa de atividades d o p r o g r a m a de t r i a g e m neonatai. Estas ativi-
do bebê dades d e s e m p e n h a m u m p a p e l v i t a l n o diagnóstico e n a inter-
venção precoces para recém-nascidos possivelmente acometidos
Nome
completo p o r d i s t ú r b i o s genéticos o u congênitos,
da mãe
•ata de RECOMENDAÇÕES DE TRIAGEM
nascimento Sexo M/F
do bebê O g r u p o de distúrbios que passam p o r triagem d u r a n t e o p e r í o d o
Peso ao n e o n a t a i v a r i a e m cada estado dos E U A , o q u e cria d i s p a r i d a -
Gestação somarias
nascimento 9 des m e s m o d e n t r o da m e s m a região geográfica. Estas dispari-
Data da amostra Exame com menos de 48 h dades a u m e n t a r a m c o m novos avanços t e c n o l ó g i c o s dos exames
e o uso de espectrometria de massa e m tandem ( M S / M S ) , q u e
Alimentação: Leite matemo/mamadeira/leite de soja/N PT/Ou Iras
a u m e n t o u bastante o n u m e r o de d i s t ú r b i o s receptivos à t r i a g e m
neonatai. 4 A vantagem da M S / M S é q u e os m ú l t i p l o s metabóli-
Hospital/origem da amostra
Pediatra/Médico tos p o d e m ser detectados s i m u l t a n e a m e n t e n a mesma amostra
responsável de sangue (análise m u l t i p l e x ) , o que possibilita a identificação
de vários d i s t ú r b i o s de u m a só vez, e n q u a n t o as técnicas tradicio-
nais de triagem baseiam-se e m u m exame para cada d i s t ú r b i o .
Figura 44-1 Exemplo de caTtão para amostra de sangue seco
C o m o c o n h e c i m e n t o crescente sobre distúrbios genéticos e tec-
utilizado para coletar amostras de sangue de recém-nascida.
n o l o g i a para exames, os d i s t ú r b i o s receptivos à t r i a g e m r e q u e r e m
revisão periódica. E m 2005, o A m e r i c a n College o f M e d i c a i
Genetics ( A C M G ) p u b l i c o u u m r e l a t ó r i o , c o n c e d i d o pelo Mater-
n a l a n d C h i l d H e a l t h B u r e a u ( M C H B ) d o H e a l t h Resources a n d
considerados apropriados p o r critérios específicos para o exame.
Services A d m i n i s t r a t i o n ( H R S A ) , c o m recomendações para u m
Estes critérios avaliam as características da doença, o exame usado
g r u p o u n i f o r m e para a t r i a g e m neonatai 2 1 ( h t t p : / / w w w . a c m g .
para fazer a triagem e o p r o g r a m a de triagem neonatai. A doença
n e t / r e s o u r c e s / p o l i c i e s / N B S / N B S - s e c t i o n s . h t m , acesso e m 8 d e
a ser tríada t e m de ser grave e bastante c o m u m . A h i s t ó r i a n a t u r a l
fevereiro de 2007). D e acordo c o m o relato da A C M G , os pro-
da doença t e m de ser c o m p r e e n d i d a e deve haver d i s p o n i b i l i d a d e
gramas de triagem n e o n a t a i e m cada estado devem i n c l u i r pelo
de t r a t a m e n t o o u a c o n s e l h a m e n t o genético ( n o caso de doença
m e n o s c i n c o d i s t ú r b i o s de oxidação de ácido graxo, nove acide-
genética) úteis. O exame de triagem t e m de ser aceitável para o
mias orgânicas, seis a m i n o a c i d o p a t i a s (p. ex., f e n i l c e t o n ú r i a
p ú b l i c o , confiável, v á l i d o e de preço acessível. O p r o g r a m a de
[ P K U ] e doença da u r i n a c o m o d o r de xarope de b o r d o ) , três
t r i a g e m n e o n a t a i requer a d i s p o n i b i l i d a d e de diagnóstico e o
h e m o g l o b i n o p a t i a s e seis o u t r o s d i s t ú r b i o s (Tabela 44-1).
t r a t a m e n t o da doença convenientes e c o m u n i c a ç ã o eficaz dos
O r e l a t ó r i o i n c e n t i v o u a m a i o r i a dos estados a e x p a n d i r seus
resultados. O s programas de t r i a g e m n e o n a t a i t ê m de ser abor-
programas de triagem n e o n a t a i para i n c l u i r estes distúrbios. A
dagens de saúde p ú b l i c a eficazes ao diagnóstico de d i s t ú r b i o s
m a i o r i a das condições neste g r u p o é de d i s t ú r b i o s metabólicos
tratáveis n o i n í c i o d a vida.
q u e p o d e m ser detectados p o r M S / M S 2 0 , 2 2 ; c o n t u d o , i n ú m e r o s
A eficácia de u m p r o g r a m a de t r i a g e m n e o n a t a i é u m a f u n ç ã o
d i s t ú r b i o s são testados usando-se m é t o d o s tradicionais, c o m o o
da integração e colaboração entre seus diferentes c o m p o n e n t e s :
i m u n o e n s a i o o u a focalização isoelétrica. E n t r e t a n t o , pelo fato
1. T r i a g e m
de os m é t o d o s de triagem, c o m o a M S / M S , não estarem dispo-
a. C o l e t a e d i s t r i b u i ç ã o de amostras
níveis de m a n e i r a u n i f o r m e e m todos os estados, u m a questão
b. Exames laboratoriais
levantada sobre o a t e n d i m e n t o das recomendações da A C M G é
2. A c o m p a n h a m e n t o de
que não há u m m o d e l o que possa ser aplicado e m t o d o s os
a. Informações demográficas incompletas
estados para a p r i m o r a r seus programas de triagem.
b. A m o s t r a s insatisfatórias
c. Resultados de t r i a g e m a n o r m a i s
3. Diagnóstico
ERROS INATOS DQ METABOLISMO
a. Exames c o n f i r m a t ó r i o s A s classes de erros inatos, c o m o aqueles dos a m i n o á c i d o s , lipí-
b. C o n s u l t a clínica dios e carboidratos, são discutidas p r i m e i r o . D i s t ú r b i o s isolados
4- Tratamento clínico selecionados de cada classe são então revisados e m mais detalhes
5. O r i e n t a ç ã o de para servir c o m o exemplos de distúrbios descobertos d u r a n t e a
a. Profissionais da área de saúde t r i a g e m n e o n a t a i . U m a base de dados online que c o n t é m u m
b. Progenitores catálogo de d i s t ú r b i o s genéticos h u m a n o s p o d e ser e n c o n t r a d a
6. G a r a n t i a de q u a l i d a d e em www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/, " O n l i n e Mendelian Inheri-
a. A n a l í t i c a : exame de p r o f i c i ê n c i a , controles de qualidade, tance i n M a n " ( O M I M ) .
padrões
b. Eficiência d o sistema de a c o m p a n h a m e n t o Classes de Distúrbios
c. Eficácia d o t r a t a m e n t o O s erros i n a t o s d o m e t a b o l i s m o afetam a conversão dos n u t r i e n -
d. Desfechos de l o n g o prazo tes e m o u t r o s n u t r i e n t e s o u e m energia. Eles são causados p o r
Triagem Neonatal CAPÍTULO 4 4 847

T A B E L A 4 4 - 1 ! D i s t ú r b i o s q u e D e v e m Ser I n c l u í d o s e m T o d o s os Programas de Triagem c o m o R e c o m e n d a d o pe lo G r u p o d e


Especialistas e m T r i a g e m N e o n a t a l da A C M G

Distúrbios de Ácidos Distúrbios da Oxidação Distúrbios de


Orgânicos* de Ácidas Graxos* Aminoácidos'" Hemoglobinopatias Outros Distúrbios

Acidemia isovalérica (IVA1) Deficiência de acil-CcA Fenilcetonúria (PKU) Anemia falciforme (HbSS) Hipolireoidismo congênito
desidrogenase de cadeia (CH)
média (MCAD)
Acidemia glutárica tipo 1 (GA1) Deficiência de acii-CoA Doença (da urina) do Hb S/p-talassemia Deliciência de biotinidase
desidrogenase de cadeia muito xarope de bordo (Hb S/p-Th) (BIOT)
longa (VLCHAD) (MSUD)
Acidúria 3-hidróxi Deficiência de L-3-0H acil-CoA Hornocistinúria (HCY) Doença da Hb S/C Hiperplasia adrenal
3-metil glutárica (HMG) desidrogenase de cadeia longa (Hb S/C) congênita (CAH)
(LCHAD)
Deficiência múltipla de Deficiência de proteína Citmlinemia (CIT) Galactosemia (GALT)
carboxilase (MCD) trifuncional (TFP)
Acidemia metilmalônica •efeito da captação da Acidemia Perda auditiva (HEAR)
(deficiência de mutase) camitina (CUD) argininossuccinica
(MIIT) (ASA)
Deficiência de Tirosinemia tipo 1 (TYH 1) Fibrose cística (CF)
3-metilcrotcnil-CoA
carboxilase (3MCC)
Acidemia metilmalônica
(Cbl A.B)
Acidemia propiònica (PR0P)
Deliciência de
p-cetotiolase (pKT)

Modificado de: Niiuborn Scrceníng: TOUIUTA a Uniform Screeniri£ Panei anA Sustem, http://www.acm.g.net/re&ou,rees/policie5/NBS/NBSjsectíortí-hi'm

(acesso em 18 de janeiro de 2007)


* Distúrbios detectados por triagem
comi MS/MS.
* Abreviações padrão do distúrbio encontram-se entrêfrárêii teses

d e f i c i ê n c i a da a t i v i d a d e das enzimas, t r a n s p o r t a d o r e s o u co- a u t o s s ô m i c a recessiva e, p o r t a n t o , acomete m e n i n o s e m e n i n a s


fatores, e r e s u l t a m e m a c ú m u l o de m e t a b ó l i t o s a n o r m a i s (subs- i g u a l m e n t e ( F i g u r a 44-4). N o c a s o de u m d i s t ú r b i o a u t o s s õ m i c o
tratos) p r o x i m a i s ao b l o q u e i o m e t a b ó l i c o o u p o r ausência de Tecessivo, os i n d i v í d u o s a c o m e t i d o s a p r e s e n t a m u m a m u t a ç ã o
produtos necessários (Figura 44-2). Subprodutos anormais e m a m b o s os alelos q u e c o d i f i c a m para u m t r a n s p o r t a d o r /
t a m b é m p o d e m ser p r o d u z i d o s q u a n d o vias alternativas são e n z i m a específico. O s p r o g e n i t o r e s da criança c o m u m a destas
usadas para e l i m i n a r o excesso de m e t a b ó l i t o s (Figura 44-3). c o n d i ç õ e s metabólicas são p o r t a d o r e s d o d i s t ú r b i o , pois carre-
H á três classes p r i n c i p a i s de d i s t ú r b i o s d o m e t a b o l i s m o : g a m u m alelo n o r m a l e u m alelo m u t a n t e e n ã o a p r e s e n t a m
d i s t ú r b i o s d o m e t a b o l i s m o d e a m i n o á c i d o s , dc l i p í d i o s e de sinais clínicos d o d i s t ú r b i o . Eles t ê m u m risco de 2 5 % de ter
carboídratos. A f r e q ü ê n c i a de doenças isoladas é rara, v a r i a n d o u m f i l h o a c o m e t i d o e m cada gravidez, u m a chance de 5 0 % de
de 1:10.000 ( P K U , a c i l - C o A desidrogenase dc cadeia m é d i a ter f i l h o s q u e são p o r t a d o r e s c o m o eles e u m a c h a n c e de 2 5 %
[ M C A D ] ) até 1 : 2 0 0 . 0 0 0 o u m e s m o mais raras, mas sua f r e q ü ê n - de ter u m f i l h o c o m os dois alelos n o r m a i s .
cia c u m u l a t i v a é substancial, a t i n g i n d o 1:3.000 recém-nascidos.
A s conseqüências clínicas dos erros i n a t o s d o m e t a b o l i s m o são Distúrbios do Metabolismo de Aminoácidos
variáveis, i n d o desde falha n o d e s e n v o l v i m e n t o até d o e n ç a aguda D i s t ú r b i o s d o m e t a b o l i s m o d e a m i n o á c i d o s são i s o l a d a m e n t e
q u e leva, e m alguns casos, a lesão cerebral, c o m a e m o r t e . E m raros, mas c o l e t i v a m e n t e a c o m e t e m talvez 1 e m cada 8 . 0 0 0
m u i t o s casos, a apresentação aguda é p r e c e d i d a p o r u m p e r í o d o recém-nascidos. Q u a s e t o d o s são t r a n s m i t i d o s c o m o traços
s e m s i n t o m a s , c o m d u r a ç ã o variável, d e p e n d e n d o da d o e n ç a autossômicos recessivos e são causados pela ausência de u m a
específica. N a m a i o r i a dos casos, há u m t r a t a m e n t o d i s p o n í v e l e n z i m a específica na v i a m e t a b ó l i c a de u m a m i n o á c i d o . Isto leva
para estes d i s t ú r b i o s , q u e consiste e m dietas especiais ( f ó r m u l a s ) ao a u m e n t o d o a m i n o á c i d o p r e c u r s o r o u de seus p r o d u t o s alter-
sem os n u t r i e n t e s específicos q u e p o d e m n ã o ser m e t a b o l i z a d o s , nativos o u de p r o d u t o s catabólicos, d e p e n d e n d o da localização
a l é m de v i t a m i n a s e o u t r o s co-fatores. O t r a t a m e n t o é efetivo se d o b l o q u e i o e n z i m á t i c o . D i s t ú r b i o s d o m e t a b o l i s m o de a m i n o -
i n i c i a d o i m e d i a t a m e n t e antes da o c o r r ê n c i a dos s i n t o m a s , ácidos são d i v i d i d o s e m dois grupos: (1) a m i n o a c i d o p a t i a s , nas
porque geralmente a lesão é irreversível. Por esta razão, o quais o a m i n o á c i d o p r e c u r s o r acumula-se e m excesso n o sangue
m o m e n t o ideal para a i d e n t i f i c a ç ã o dos pacientes c o m d i s t ú r b i o s e surge na u r i n a ; e (2) a c i d ú r i a s orgânicas, nas quais h á u m
m e t a b ó l i c o s é ao n a s c i m e n t o . a c ú m u l o de p r o d u t o s na v i a catabólica de d e t e r m i n a d o s a m i n o -
ácidos. U m exemplo d o p r i m e i r o g r u p o é a P K U , u m d i s t ú r b i o
Padrão de Herança dos Distúrbios Metabólicos d o m e t a b o l i s m o de f e n i l a l a n i n a causado na m a i o r i a dos casos pela
O s d i s t ú r b i o s m e t a b ó l i c o s são causados p o r m u t a ç õ e s nos genes deficiência de f e n i l a l a n i n a hidroxilase, a e n z i m a responsável
q u e c o d i f i c a m para enzimas específicas envolvidas nas vias meta- pela conversão da f e n i l a l a n i n a a tirosina. Este d i s t ú r b i o é caracte-
bólicas. A m a i o r i a dos d i s t ú r b i o s m e t a b ó l i c o s apresenta h e r a n ç a r i z a d o pelo a u m e n t o da c o n c e n t r a ç ã o de f e n i l a l a n i n a e fenilce-
848 PARTE V Fisiopatologia

Mãe
Dieta (portador) (portadora)

Proteínas PofesacarideoR I ipMioj

/vnínoáõdoo Monoaaacaiídeos AckJUK [irrtxn;'.


N = Gene normal
n = Gene com mutação

Glicose

ATP
Portador Portador
NADH

II
Piruvato

AGBÜI-COA
N n N n

25% 50% 25%

/ Cicio Figura 4 4 - 4 Padrao de herança autossômico recessivo.


-/ òo Aclôo
\ citrlco

ATP
bólica, f r e q ü e n t e m e n t e a c o m p a n h a d a de h i p e r a m o n e m i a , é u m
NH H?0 CO, achado f r e q ü e n t e nas acidemias orgânicas. 0 ( s ) composto(s)
n
acumulado(s) depende(m) d o l o c a l d o b l o q u e i o enzimático, da
reversibilidade das reações p r ó x i m a s à lesão e da d i s p o n i b i l i d a d e
F i g u r a 4 4 - 2 Macromoléculas maiores em nutrientes são degradadas
de vias alternativas de "fuga" metabólica.
em subunidades simples que são convertidas a acetil-CoA com produção
de ATP e N A D H . A acetil-CoA é então completamente oxidada em
Fenitcetonúria
CO2 e H i O na mitocõndria, com produção de grandes quantidades de
A f e t i i l c e t o n ú r i a ( P K U ) ( O M I M n ° 261600) é u m d i s t ú r b i o do
N A D H e ATP.
m e t a b o l i s m o da fenilalanina. A f e n i l a l a n i n a é u m a m i n o á c i d o
essencial, c o n s t i t u i n d o 4 % a 6 % de todas as proteínas obtidas
na dieta. A f e n i l a l a n i n a que não é usada na síntese de proteína
Bloqueio é convertida a t i r o s i n a pela enzima f e n i l a l a n i n a hidroxilase e
metabólico •eficiência
Acúmulo do I . depois é degradada p o r meio de u m a v i a cetogênica (Figura 44-5).
substrato 1 de produto
E x i s t e m várias formas de h i p e i f e n i l a l a n i n e m i a / f e n i l c e t o n ú r i a ,
TA Di
c o m u m a freqüência de 1:10.000 até 1:20.000 nascimentos vivos.
A P K U clássica é causada p o r mutações n o gene da f e n i l a l a n i n a
Ft
hidroxilase e representa 9 8 % de todos os casos de hiperfenilala-
Acúmulo de n i n e m i a / f e n i l c e t o n ú r i a . Os 2 % restantes são causados p o r defei-
subprodutos tos na biossíntese o u reciclagem de t e t r a i d r o b i o p t e r i n a ( B H 4 ) , o
co-fator para f e n i l a l a n i n a hidroxilase.
A deficiência p r i m á r i a o u secundaria (causada p o r u m a defi-
Figura 4 4 - 3 Bloqueio em uma via metabólica resulta em acúmulo
ciência do co-fator) da f e n i l a l a n i n a hidroxilase resulta em a c ú m u l o
de substrato A, deficiência do produto B e acúmulo de subprodutos F.
de fenilalanina, fenilcetonas e fenilaminas e e m deficiência de
tirosina. A concentração a l t a m e n t e elevada de f e n i l a l a n i n a pre-
j u d i c a o desenvolvimento e as funções cerebrais, afetando outros
órgãos m i n i m a m e n t e . Os pacientes c o m P K U clássica são clini-
tonas nos l í q u i d o s biológicos. A P K U não tratada irá causar c a m e n t e assintomáticos ao nascimento; os atrasos n o desenvolvi-
r e t a r d a m e n t o m e n t a l . O u t r o s exemplos i n c l u e m doença da u r i n a m e n t o e as manifestações neurológicas típicas tornam-se eviden-
c o m o d o r de xarope de b o r d o , h o m o c i s t i n ú r i a e tirosinemia tipo I. tes após vários meses de vida, q u a n d o a lesão cerebral já ocorreu.
U m exemplo de acidemia orgânica é a acidemia glutárica tipo I (veja Os pacientes c o m P K U não tratada desenvolvem microcefalia,
adiante)j u m d i s t ú r b i o d o m e t a b o l i s m o de lisina e t r i p t o f a n o . e x a n t e m a cutâneo eczematoso, o d o r " m u r i n o " (devido ao
O u t r o s i n c l u e m acidemia isovalérica, acidemia m e t i l m a l ô n i c a e a c ú m u l o de fenilacetato) e r e t a r d a m e n t o m e n t a l grave. O trata-
acidemia p r o p i ô n i c a (Tabela 44-1). As manifestações clínicas das m e n t o da P K U i n c l u i dieta c o m baixo teor de p r o t e í n a s / f e n i l a -
acidemias orgânicas variam desde conseqüências clínicas não obser- l a n i n a e suplementação c o m tirosina, minerais, v i t a m i n a s e
váveis até mortalidade neonatai. Atraso do desenvolvimento mental, outros n u t r i e n t e s para p e r m i t i r o crescimento n o r m a l . O trata-
convulsões, alterações sensoriais o u distúrbios de comportamento m e n t o deve ser c o n t í n u o p o r toda a vida. A triagem n e o n a t a i
ocorrem e m mais da metade dos distúrbios. A cetoacidose meta- para P K U é realizada em todas as regiões dos E U A . A detecção
Triagem Neonatal CAPÍTULO 44 849

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A c i d o a - h i d r o x i f e n i la célico

Figura 4 4 - 5 Via metabólica do aminoácido fenilalanina.

e a i n t e r v e n ç ã o precoces causaram o desaparecimento de retar- e das concentrações plasmáticas de f e n i l a l a n i n a . Eles p o d e m


d a m e n t o m e n t a l d e v i d o à P K U . D e f o r m a ideal, o t r a t a m e n t o desenvolver convulsões e apresentam h i p o t o n i a de t r o n c o típica
deve começar antes de 2 semanas de idade. As m u l h e r e s grávidas c o m hipertonia dos membros. Estes pacientes requerem terapia c o m
c o m P K U que não estão fazendo dieta c o m baixo teor de fení- B H 4 e neurotransmissores apropriados. Eles p o d e m o u não reque-
l a l a n i n a / p r o t e i r i a s e que apresentam alta concentração de fenila- rer dieta c o m baixo teor de fenilalanina q u a n d o a terapia c o m BH4
lanina têm m a i o r risco de aborto espontâneo o u de ter u m a criança é iniciada.
c o m microcefalia, defeitos cardíacos congênitos, fendas labial e
palatal e atraso n o desenvolvimento, causados p o r efeitos t e r a t o
gênicos da f e n i l a l a n i n a . Acidemia Giutárica Tipo i
A P K U é diagnosticada medindo-se os a m i n o á c i d o s plasmá- A acidemia glutárica t i p o I ( G A I , O M I M n e 231670) é u m dis-
ticos que i n d i c a m o a u m e n t o n o plasma d o a m i n o á c i d o fenila- t ú r b i o autossômico recessivo do m e t a b o l i s m o de lisina, h i d r o l i -
l a n i n a e a p r o p o r ç ã o f e n i l a l a n i n a / t i r o s i n a . Os ácidos orgânicos s i n a e t r i p t o f a n o c a u s a d o p e l a d e f i c i ê n c i a d e g l u t a r i l - C o A desi-
da UTina apresentam fenilcetonas elevadas ( p o i isso o n o m e drogenase. Nesta condição, o ácido glutárico ( G A ) e 3-ácido
f e n i l c e t o n ú r i a ) . A c o n f i r m a ç ã o enzimárica de deficiência de feni- h i d i o x i g l u t á r i c o ( 3 - O H - G A ) , f o r m a d o na via catabólica destes
l a l a n i n a h i d r o x i l a s e em geral n ã o é realizada (a enzima é expressa a m i n o á c i d o s , acumulam-se especialmente na u r i n a . Os pacientes
apenas n o fígado), mas a análise m u t a c i o n a l d o gene é cada vez acometidos p o d e m apresentar atrofia cerebral e macrocefalia
mais usada p o r q u e há u m a correlação entre gravidade da m u t a ç ã o ( f r e q ü e n t e m e n t e , a c i r c u n f e r ê n c i a da cabeça a u m e n t a drastica-
e tolerância à f e n i l a l a n i n a . Todas as crianças c o m h i p e r fenilala- m e n t e após o nascimento) e d i s t o n i a aguda secundária à dege-
n i n e m i a d e v e m passar p o r triagem para detecção de defeitos na neração (na m a i o r i a dos casos desencadeada p o r u m a infecção
síntese o u reciclagem de BH4. Isto é realizado medindo-se o c o m febre) estriatal ( u m c o m p o n e n t e do sistema m o t o r n o
p e r f i l de ptermas u r i n á r i a s e a atividade enzimática da d i i d r o p - cérebro) entre 6 e 18 meses de idade. Este d i s t ú r b i o p o d e ser
t e r i d i n a redutase ( D H P R ) n o sangue c o l h i d o n o p a p e l f i l t r o . i d e n t i f i c a d o pelo a u m e n t o de g l u t a r i l ( C 5 D C ) c a r n i t i n a na
B H / j é u m co-fator não apenas da fenilalanina hidroxilase, mas t r i a g e m n e o n a t a l (Figura 44-6).
t a m b é m da t i r o s i n a hidroxilase, t r i p t o f a n o hidroxilase e ó x i d o A análise d o ácido o r g â n i c o na u r i n a i n d i c a a presença de
n í t r i c o sintase. P o r t a n t o , a deficiência de B H 4 afeta a síntese de excesso de 3 - O H - G A e o p e r f i l de a c i l c a r n i t i n a na u r i n a mostra
vários neurotransmissores ( d o p a m i n a e serotonina). O s pacien- g l u t a r i l c a r n i t i n a c o m o p i c o p r i n c i p a l . A terapia consiste em
tes c o m u m defeito na síntese o u reciclagem de BH4 apresentam suplementação de c a r n i t i n a para remover o ácido glutárico, u m a
sintomas neurológicos e regressão do desenvolvimento n o s pri- dieta c o m restrição de a m i n o á c i d o s capazes de p r o d u z i r ácido
meiros meses de v i d a , apesar d o c o n t r o l e adequado da ingestão glutárico, e o tratamento i m e d i a t o de doenças secundárias (p. ex.,
850 PARTE V Fisiopatologia

2.865 d3C16

2,4e5
Acidúria glutárica tipo I

2.0e5
d3C18

1 .GeS d3C3 d9C14

1.2e5
d3 C4
d9C5
d3C8 C5DC
8.0fl4
388.3
C3*.

4.084

O.C H
2B0 3CD 320 340 360 3BQ 400 420 440 4B0 480

m/z, amu

Figura 4 4 - 6 Perfil da acilcarnitina por M S / M S obtido de uma amostra de sangue de um paciente com
acidemia glutárica tipo I. A glutarilcarnitina (C5DC) está presente em excesso. Os padrões internos deu cerados
(d3C3, d3C4j d9C5, d3C8, d9C14, d3C16) são adicionados ao solvente do extrato para possibilitar a
quantificação das diferentes espécies de acilcarnitina.

infecções). O diagnóstico precoce e a terapia reduzem o risco de doentes, p e r d e m a consciência, tornam-se comatosas e p o d e m
d i s t o n i a aguda e m pacientes c o m G A I . 1 0 m o r r e r . Q u a n d o sintomáticos, os pacientes c o m d i s t ú r b i o s da
oxidação de ácidos graxos tornam-se hipoglicêmicos e p o d e m
Tratamento de Acidemias Orgânicas e apresentar a u m e n t o das transaminases séricas, o que i n d i c a lesão
A minoacidopatias hepática. A l g u n s distúrbios da oxidação de ácidos graxos (defici-
A terapia para os d i s t ú r b i o s de ácido orgânico e aminoacidopatias ência de h i d r o x i a c i l - C o A desidrogenase [ L C H A D ] de cadeia
consiste em dietas especiais que restringem os compostos (em geral longa) t a m b é m p o d e m afetar os músculos esqueléticos e o
aminoácidos) que resultam na formação de ácido orgânico a n o r m a l coração, p r o d u z i n d o d o r m u s c u l a r (mialgia) e c a r d i o m i o p a t i a , o u
o u n o a c ú m u l o de altas concentrações de aminoácidos; suplemen- causar sintomas na mãe d u r a n t e a gravidez. O u t r o s d i s t ú r b i o s
tacão c o m vitaminas específicas para cada distúrbio; suplementos i n c l u e m o defeito d o t r a n s p o r t a d o r de c a r n i t i n a e a deficiência
de carnitina e, algumas vezes, evitar j e j u m . Para algumas destas de a c i l - C o A desidrogenase de cadeia curta (Tabela 44-1).
condições, a terapia agressiva das doenças c o m líquidos I V que
c o n t e n h a m glicose é essencial para evitar catabolismo e agrava- Deficiência de MCAD
m e n t o dos sintomas clínicos. A M C A D ( O M I M n c 201450) é o d i s t ú r b i o mais c o m u m da
oxidação de ácidos graxos, c o m u m a freqüência de 1:6.000 até
Distúrbios da O x i d a ç ã o de Ácidos Graxos 1:10.000 nascimentos entre caucasianos. 1519 Os sintomas da
Os ácidos graxos são metabolizados d e n t r o da m i t o c ô n d r i a para d o e n ç a são variáveis, desde pacientes c o m p l e t a m e n t e assintomá-
produzir energia. A c a r n i t i n a e seu ciclo são necessários para trans- ticos até h i p o g l i c e m i a , letargia, coma e m o r t e súbita, e m geral
ferir ácidos graxos de cadeia longa para as mitocôndrias, para desencadeados p o r j e j u m p r o l o n g a d o , doença aguda o u ambos. 19
subseqüente beta-oxidação (Figura 23-8). E m cada ciclo da beta- A m a i o r i a dos pacientes apresenta a doença n o p r i m e i r o ano de
oxidação, os ácidos graxos de cadeia longa são progressivamente v i d a , mas p o d e m ocorrer sintomas clínicos e m qualquer m o m e n t o
reduzidos e m duas unidades de c a r b o n o para p r o d u z i r acetil-CoA, d u r a n t e a vida e f r e q ü e n t e m e n t e o p r i m e i r o episódio é fatal. O
que é utilizada pelo ciclo de Krebs para p r o d u z i r energia. Os t r a t a m e n t o consiste e m evitar j e j u m , c o n s u m i r a l i m e n t o s c o m
d i s t ú r b i o s da oxidação dos ácidos graxos, c o m o a deficiência de b a i x o teor de gordura, fazer suplementação de c a r n i t i n a e insti-
M C A D , o c o r r e m q u a n d o falta u m a enzima na via metabólica e t u i r u m p l a n o de emergência n o caso de doença o u o u t r o estresse
os ácidos graxos não conseguem sofrer oxidação para p r o d u ç ã o m e t a b ó l i c o . O diagnóstico precoce p o r m e i o da triagem n e o n a t a i
de energia. Estes d i s t ú r b i o s em geral são silenciosos e tornam-se e o i n í c i o precoce de t r a t a m e n t o c o n d u z e m a u m prognóstico
evidentes apenas q u a n d o o c o r p o precisa de energia a p a r t i r de b o m . 3 Os pacientes c o m deficiência de M C A D são i d e n t i f i c a d o s
l i p í d i o s d u r a n t e j e j u m , infecções o u febre. As crianças aparente- p o r t r i a g e m n e o n a t a i c o m M S / M S d e v i d o ao t í p i c o p e r f i l de
mente saudáveis que t ê m estes distúrbios f i c a m gravemente a c i l c a r n i t i n a , c o m a u m e n t o da concentração de C6-(hexanoil),
Triagem Neonatai CAPÍTULO 44 851

ca
2.2e5
344 d3C16
459

1.8e5 -
Deficiência de MCAD

1.4e5
d3C3
S. 277 d9C14
437
1.0 e5 d3C4 d9C5 d3C8
291 311 347

G,0e4

C3 CG
/ C10:1
370

274 316
2.0 e4
302.3
0.0 4 1 , i., L
2HQ 300 320 340 360 380 40D 420 440 460 4H0
m/z, amu

Figura 44-7 Perfil da acilcarnitina por M S / M S obtido de uma amostra de sangue de um paciente com
deficiência de MCAD. O hexanoil (C6)-, octanoil (C8)- e decanoil (C10: l)-carnitim são as espécies típicas da
acilcarnitina aumentadas neste distúrbio de oxidação do ácido graoco, Os padrões internos deuterados (d3C3,
d3C4, d9C5, d3C8, d9C14, d3C16) são adicionados ao solvente do extrato para possibilitar a quantificação das
diferentes espécies de acilcarnitina.

C8-(ocranoil) e C I O : 1-(decanoil) c a r n i t i n a e rabões C 8 / C 2 e C 8 / m e t a b o l i s m o de c a r b o i d r a t o s i n c l u i as doenças do armazena-


C I O elevadas (Figura 44-7). m e n t o de glicogênio e deficiência de glicose-6-fosfato desidroge-
O diagnóstico é c o n f i r m a d o b i o q u i m i c a m e n t e pela presença nase [G-6-PD], mas a de m a i o r i m p o r t â n c i a para os recém-nasci-
de ácido orgânico e acilglicina na u r i n a , além de análises de dos é a ausência de galactose-l-fosfato u r i d i l transferase. A ausên-
acilcarnitina plasmática p o r análise de DNA. 1 7 , 1 9 Duas mutações cia desta enzima leva à incapacidade de metabolizar a galactose
c o m u n s f o r a m identificadas e m pacientes c o m deficiência de e m glicose, r e s u l t a n d o na galactosemia "clássica". 11 A p r i n c i p a l
M C A D . U m a mutação, K 3 0 4 E , é prevalente nos pacientes sinto- f o n t e de galactose é derivada d o dissacarídeo lactose e n c o n t r a d o
máticos ( 8 0 % dos pacientes sintomáticos são homozigotos para n o leite, e as concentrações elevadas de galactose-l-fosfato nas
esta mutação, 9 8 % são portadores de pelo menos u m a cópia) 1 , células são tóxicas. Os lactentes n ã o se desenvolvem, apresentam
e n q u a n t o a segunda mutação, Y 4 2 H , f o i encontrada e m recém- icterícia e insuficiência hepática. A m o r t e p o d e ocorrer se a
nascidos assintomáticos identificados p o r triagem neonatai c o m galactosemia não for tratada.
M S / M S , heterozigotos para a mutação c o m u m K304E. 1
Tratamento dos Distúrbios de Carboidratos
Tratamento dos Distúrbios de Oxidação dos Restrições dietéticas especiais para toda a v i d a que r e m o v e m da
Ácidos Graxos d i e t a o carboidrato específico (p. ex., galactose e lactose na
O t r a t a m e n t o dos d i s t ú r b i o s de oxidação dos ácidos graxos con- galactosemia, frutose na i n t o l e r â n c i a hereditária à frutose) t ê m
siste e m evitar j e j u m , fazer dieta c o m baixo teor de gordura, de ser seguidas para os lactentes que não possuem as enzimas
suplementada c o m c a r n i t i n a . Para alguns distúrbios de oxidação que m e t a b o l i z a m a p r o p r i a d a m e n t e aquele d e t e r m i n a d o açúcar.
dos ácidos graxos (p. ex., h i d r ó x i a c i l - C o A desidrogenase de N a galactosemia, a intervenção n o início da vida fornece u m
cadeia m u i t o longa [ V L C A D ] e L C H A D ) indica-se a suplemen- prognóstico m e l h o r , e m b o t a alguns efeitos de longa duração
tação c o m triglicerideos de cadeia m é d i a (óleo M C T ) , que possam c o n t i n u a r a ser observados, p a r t i c u l a r m e n t e em m e n i n a s
e n t r a m nas m i t o c ô n d r i a s i n d e p e n d e n t e m e n t e de c a r n i t i n a e que, p o r razões desconhecidas, desenvolvem insuficiência ova-
desviam-se do b l o q u e i o m e t a b ó l i c o . A l é m disso, os distúrbios riana. Os distúrbios de aprendizagem são ocasionalmente obser-
que a u m e n t a m o catabolismo ( c o m o febre, v ô m i t o s e infecções) vados nos i n d i v í d u o s tratados t a m b é m .
precisam ser agressivamente tratados c o m , p. ex., a n t i b i ó t i c o s e
antipiréticos e, q u a n d o a criança não consegue comer, c o m Outros Distúrbios Congênitos
glicose intravenosa. Os distúrbios congênitos que não são considerados erros inatos
do m e t a b o l i s m o , mas passam p o r triagem na m a i o r i a dos estados,
Distúrbios do Metabolismo de Carboidratos i n c l u e m o h i p o t i r e o i d i s m o c o n g ê n i t o ( C H ) ( C a p í t u l o 41), a
A deficiência enzimática nas vias metabólicas para carboidratos a n e m i a f a l c i f o r m e e outras h e m o g l o b i n o p a t i a s ( C a p í t u l o 28), a
resulta e m u m excesso de u m monossacarídeo que aparece hiperplasia adrenal congênita ( C A H ) ( C a p í t u l o 40) e fibrose
elevado n o sangue e na u r i n a . Este g r u p o de d i s t ú r b i o s d o cística (CF) ( C a p í t u l o 37). O u t r o s distúrbios que p o d e m ser
852 PARTE V Fisiopatologia

parte de u m programa de triagem neonatal incluem deficiência envolve estimulaçao da medula óssea, hidiataçao adequada ou
de biotinidase, distrofia muscular de Duchenne, neuroblastoma possíveis transfusões sanguíneas.
e toxoplasmose, dentre outros
M É T O D O S DE T R I A G E M NEONATAL
Embora a técnica de M S / M S seja u m avanço notável na área da
Hipotireoidismo Congênito triagem neonatal, muitos programas de triagem c o n t i n u a m
O h o r m ô n i o da tireóide é essencial para a função celular e o usando os métodos de triagem tradicionais. Estes serão discuti-
crescimento n o r m a l do cérebro. A peTda de função da tireóide dos primeiro, seguidos de uma discussão sobre a M S / M S .
ao nascimento leva a retardamento mental e deficiência no cres-
cimento. O hipotireoidismo congênito ( C H ) afeta 1 em 3.500 M é t o d o s Tradicionais
recém-nascidos e é u m distúrbio esporádico, embora aproxima- Os primeiros exames de triagem neonatal detectaram substâncias
damente 15% dos casos sigam u m padrão de herança autossô- anormais na urina. U m a das primeiras deficiências enzimáticas
mico recessivo. As mutações genéticas especificas afetam o desen- congênitas testadas que resultou em aumento do fluxo renal foi
volvimento da glândula tireóide ou d i m i n u e m a produção de a P K U , O Dr. A s b j 0 r n F 0 l l i n g , da Noruega 7 , desenvolveu o teste
hormônios da tireóide sem mudar a glândula em si. de cloreto férrico nos anos de 1930, o qual usava u m a reação
entre os íons férricos e o excesso de fenilpiruvato nas amostras
Hemogtobinopâ tias de urina para formar u m complexo de coloração verde-asulada,
Os principais distúrbios hereditários da hemoglobina incluem que indicava possível PKU. Entretanto, devido à baixa sensibili-
anemia falciforme (HbSS), hemoglobina S/beta-talassemia e dade e inúmeras substâncias de interferência, o exame f o i usado
doença da hemoglobina SC. A HbSS é o distúrbio autossômico apenas para avaliar lactentes de famílias que t i n h a m uma história
recessivo hereditário do sangue mais c o m u m nos E U A , com do distúrbio.
acometimento de aproximadamente 1 em 500 recém-nascidos N o f i n a l dos anos de 1950, o D r Robert G u t h r i e desenvolveu
afro-descendentes. O distúrbio produz eritrócitos que assumem u m sistema efetivo, ainda em uso atualmente, para coletar sangue
uma morfologia anormal {célula "falcifonne") quando a satura- de lactentes usando u m papel f i l t r o / Aplica-se a gota de sangue
ção de oxigênio é baixa- Isto reduz a estabilidade das células, que retirada com uma picada no calcanhar do lactente sobre u m
se t o r n a m rapidamente destruídas, levando a icterícia, anemia e cartão de papel f i l t t o espesso, e deixa-se secar. U m a vez secos,
redução do fluxo sanguíneo, predispondo a infecções e hiperten- estes cartões são coletivamente enviados para um laboratório de
são pulmonar. a análises, em geral estadual público, ou u m laboratório de refe-
rência. N o laboratório a "mancha" de 3 a 6 m m é retirada com
Hiperplasia Adrenal Congênita (Síndrome perfuração do centro da área da amostra seca e enviada para
Adrenogenital) análise. U m a das vantagens de se usar amostra seca é que os
Aproximadamente 1 em cada 12.000 lactentes é acometido com cartões de papel filtro são facilmente transportados e podem ser
C A H . A causa mais freqüente deste distúrbio é a ausência de guardados para exames adicionais. A maior parte deste trabalho
21-hidroxilase, uma enzima necessária para a síntese de aldoste- hoje é realizada c o m equipamentos automatizados. Esforços adi-
rona e cortisol pelo córtex adrenal 8 Estes hormônios esteróides cionais feitos pelo Dr. Guthrie, que ficou conhecido como o "Pai
são essenciais para o metabolismo da glicose, reabsorção de sal da Prevenção", levaram ao desenvolvimento de muitos exames
pelos Tins e desenvolvimento genital. Nos casos graves de C A H de tTiagem neonatal, i n c l u i n d o aqueles usados para avaliar a
que prejudicam a síntese de aldosterona, ocorre perda de sal e os galactosemia, a doença da urina com odor de xarope de bordo e
lactentes desenvolvem desidratação, vômitos e desequilíbrio ele- a homocistinúria.
trolítico que leva à morte. A produção excessiva de andrógenos
leva à genitália ambígua nas meninas e à puberdade prematura Triagem de PKU
nos meninos. C o m o mostrado na Figura 44-5, a perda da conversão do subs-
trato de fenilalanina a tirosina resulta na formação de fenilpiru-
Fibrose Cística vato e metabólitos, assim como fenilalanina elevada no sangue;
A CF é u m distúrbio autossômico recessivo de glândulas exócrinas as fenilcetonas são excretadas na urina. O exame de triagem
em todo o corpo, incluindo as glândulas sudoríparas, pequenos semiquantitativo para P K U idealizado pelo Dr. G u t h r i e nos anos
duetos exócrinos no pâncreas e glândulas brônquicas. A C F leva a de 1960 foi u m ensaio microbiológico que envolveu a incorpora-
obstrução glandular ou excesso de secreção de determinadas subs- ção de uma bactéria, Baciílus sitbíiíis, e u m inibidor do cresci-
tâncias, incluindo secreções mucosas espessas nos pulmões, que mento, beta-2-tienilaIanina, em ágar.2 A mancha de sangue seco
levam a doença pulmonar crônica, e bloqueio da liberação da retirada do cartão de papel filtro é colocada no ágar. Se houver
enzima pancreática, que leva a má absorção. Aproximadamente 1 u m a concentração n o r m a l de fenilalanina na mancha da amostra,
em cada 2.000 lactentes caucasianos é acometido por CF. o crescimento bacteriano será inibido. O excesso de fenilalanina
neutralizará o inibidor e irá restaurar o crescimento da bactéria
Tratamento de Outros Distúrbios Congênitos ao redor da mancha, indicando P K U . O teste de G u t h r i e é
Os tratamentos típicos usados para a maioria dos distúrbios que sensível para concentrações séricas de fenilalanina maiores que
envolvem a falta de u m h o r m ô n i o concentram-se em uma terapia 4 m g / d L . A simplicidade do exame possibilitou a triagem de u m
de reposição para toda a vida com o h o r m ô n i o que está faltando. grande número de lactentes não apenas para PKU, mas também
A tiroxina sintética é o típico tratamento de reposição para hipo- para outros distúrbios de aminoácidos com uso de diferentes
tireoidismo congénito, enquanto a hidroxicortisona freqüente- inibidores do crescimento.
mente é prescrita para C A H . O tratamento para C F inclui fisio-
terapia, suplementação enzimática para as enzimas pancreáticas Triagem para Galactosemia
ausentes, antibióticos e outros tratamentos com base nas neces- A galactosemia é u m distúrbio do metabolismo de carboídratos
sidades específicas do indivíduo. As hemoglobinopatias são tra- que resulta n o acúmulo de galactose. A forma mais c o m u m é
tadas com u m enfoque na oxigenação adequada do tecido, que causada pela deficiência de galactose-1-fosfato uridiltransfeiase
Triagem Neonatai CAPÍTULO 4 4 853

( G A L T ) , a enzima que converte galactose-l-fosfato a glicose-1-


fosfato. Os métodos de triagem tradicionais típicos i n c l u e m a
_N. A . JL
m e n s u r a ç ã o de galactose e g a l a c t o s e - l - f o s f a t o o u e n s a i o da ativi- IT3C" i ^ "OI1
CH3
dade da enzima G A L T a p a r t i r de u m a m a n c h a de sangue seco
(teste de Beutler). 1 6
Derivai izaç ao por
Triagem de Hipotireoidismo Congênito butanol/HCI

Os exames de triagem para C H i n c l u e m análise da tiroxina (T4)


da m a n c h a de sangue seco. A l g u n s l a b o r a t ó r i o s realizarão u m
a!V>\
ensaio do h o r m ô n i o e s t i m u l a d o r da tireóide ( T S H ) se o valor
de T 4 estiver reduzido. A m e t o d o l o g i a típica envolve u m ensaio •kAzi 1
H a C k V,v ^
i m u n o e n z i m á t i c o ( E L I S A ) n o q u a l manchas secas de sangue v-1 ^ "~
retiradas d o papel f i l t r o são colocadas d i r e t a m e n t e nos poços de
u m a placa de microticulação, nos quais a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s
•- RCOOH
f o r a m ligados.
- N(CH3)3
' " C4H8
Triagem para Hemoglobinopatias
Os distúrbios hereditários q u e afetam a h e m o g l o b i n a e passam [H2C=CH—CH—COOÍ] ®
p o r t r i a g e m ao n a s c i m e n t o i n c l u e m anemia f a l c i f o r m e (HbSS),
m/z - 85
h e m o g l o b i n a S/beta-talassemia, e doença da h e m o g l o b i n a SC.
Os m é t o d o s de exame de triagem i n c l u e m eletroforese da hemo-
F i g u r a 4 4 - 8 Análise de acilcarnitmas após derivatização com HC1
g l o b i n a (Capítulos 6 e 28), focalização isoelétrica e cromatografia
butanólico por MS/MS. A fragmentação na célula de colisão dá origem
l í q u i d a de alta eficiência ( C a p í t u l o 7).
a um fragmento com massa/carga (m/z) = 85,

Triagem para Hiperplasia Adrenal Congênita


(Síndrome Adrenogenital)
O exame para C A H envolve ensaios f l u o r o m é t r i c ô s o u o u t r o s U m a pequena perfuração (3 m m de diâmetro) do sangue cole-
i m u n o e n s a i o s que m e d e m 17-hidroxiprogesterona, u m i n t e r m e - tado n o papel f i l t r o fornece a amostra necessária para a análise
d i á r i o na via de biossíntese d o c o r t i s o l ( C a p í t u l o 40). M S / M S A amostra é extraída c o m m e t a n o l c o n t e n d o padrões
i n t e r n o s deuterados. A p ó s secar o extrato, os a m i n o á c i d o s e
Triagem para Fibrose Cística acilcarnitmas são derivarizados e m derivados d o butilester. A
A triagem n e o n a t a i para fibrose cística é realizada p o r m e i o da m i s t u r a derivatizada é seca, adiciona-se a c e t o n i t r i l o / á g u a à
análise de t r i p s i n o g ê n i o i m u n o r r e a t i v o na m a n c h a seca de amostra, que é então injetada n o espectrômetro de massa.
sangue (IRT). U m resultado p o s i t i v o é seguido de u m segundo D e v i d o à mensuração da carga, as moléculas são p r i m e i r a m e n t e
exame de IRT, exame de cloreto n o suor, o u ambos. A l é m disso, ionizadas, t i p i c a m e n t e p o r eletrospray. Os íons f o r m a d o s são
a criança deve ser avaliada p a r a detecção de sintomas de C F e então separados de acordo c o m a razão massa e carga ( m / z ) .
s u b m e t i d a a exame para detecção de mutações de C F conheci- C o m o a m a i o r parte dos íons t e m u m a carga positiva, sua razão
das. A identificação de p e l o menos duas mutações do gene massa/carga corresponde à massa de moléculas ionizadas neste
regulador da c o n d u t â n c i a t r a n s m e m b r a n a da fibrose cística processo D o i s espectrómetros de massa são utilizados e m tandem
(CFTR) c o n f i r m a o diagnóstico. V á r i o s l a b o r a t ó r i o s realizam o para separar e analisar misturas de compostos, c o m o aminoáci-
teste reflexo de u m a triagem positiva c o m I R T p a i a análise de dos e acilcarnitinas. A p ó s os íons serem separados pelo p r i m e i r o
D N A do gene CFTR. T i p i c a m e n t e , o p a i n e l c o m p l e t o de exames espectrômetro de massa, eles e n t r a m na "célula de colisão", o n d e
genéticos para possíveis alterações d o CFTR é reservado para o são degradados em fragmentos pela colisão c o m u m gás n e u t r o .
exame para p o r t a d o r , realizado e m q u e m planeja u m a gravidez Os fragmentos passam através de u m segundo espectrômetro de
o u que já está grávida. O exame de cloreto n o suor é descrito massa, que os separa de acordo c o m sua razão massa/carga
n o C a p í t u l o 37. (rri/z). Cada m o l é c u l a tem u m p a d r ã o de fragmentação caracte-
rístico e classes de compostos i r ã o se fragmentar de m a n e i r a
Método de Triagem com MS/MS semelhante. Por exemplo, todas as acilcarnitmas ( c a r n i t i n a con-
M u i t o s distúrbios metabólicos p o d e m ser detectados no p e r í o d o jugada c o m ácidos orgânicos o u ácidos graxos de cadeia curta,
n e o n a t a i por espectrometria de massa em tandem. Duas classes m é d i a e longa) geram u m f r a g m e n t o de m / z de 85 após frag-
principais de m e t a b ó l i t o s são detectadas p o r esta técnica: ami- mentação na célula de colisão (Figura 44-8). T o d o s os aminoáci-
noácidos e acilcarnitinas. O s a m i n o á c i d o s f i c a m elevados e m dos, e m vez disso, p e r d e m u m f r a g m e n t o n e u t r o de m / z de 102
determinadas a m i n o a c i d o p a t i a s (p. ex., P K U , t i r o s i n e m i a e após fragmentação (Figura 44-9).
doença da u r i n a c o m o d o r d o xarope de b o r d o ) , e n q u a n t o o O espectrômetro de massa e m tandem usado para fazer a
estudo d o p e r f i l da a c i l c a r n i t i n a p o d e i d e n t i f i c a r defeitos de triagem do recém-nascido é c o n f i g u r a d o para m e d i r apenas estas
oxidação d o ácido graxo (p. ex., deficiência de M C A D e de classes de m e t a b ó l i t o s (acilcarnitinas e aminoácidos) u s a n d o as
V L C H A D ) e acidemias orgânicas (p. ex., acidemia p r o p i ô n i c a , informações sobre sua massa e seu padrão de fragmentação. Os
acidemia m e t i l m a l ô n i c a e acidemia glutárica t i p o 1) Os distúr- padrões i n t e r n o s marcados (aminoácidos e acilcarnitinas c o m a
bios d o m e t a b o l i s m o dos carboidratos ( c o m o a galactosemia) mesma substância q u í m i c a e propriedades físicas dos análogos
não p o d e m ainda ser detectados p o r M S / M S . naturais, mas c o m razão massa/carga m a i o r devido à presença
de isótopos estáveis, c o m o o d e u t é r i o o u 13 C) são adicionados
Metodologia da MS/MS às misturas do extrato para q u a n t i f i c a r as diferentes espécies. A
A e s p e c t r o m e t r i a de massa e m t a n d e m ( M S / M S ) mede a razão análise é m u i t o r á p i d a (menos de 2 m i n u t o s ) e adequada para
entre a massa (m) de u m a substância q u í m i c a e sua carga (z) aplicação de alta transformação.
854 PARTE V Fisiopatologia

H para u m centro para cuidados de distúrbios metabólicos. E m


pacientes assintomáticos, a confirmação do diagnóstico depende
H2N^l^COOH de exames específicos, como cromatografia de troca íônica para
R
análise de aminoácidos, cromatografia gasosa-espectrometria de
massa {GC-MS) para ácidos orgânicos e análise de acilglicinas, e
espectrometria de massa em tandem ( M S / M S ) com ou sem sepa-
Derivatiíação por ração cromatográfica líquida para perfil de acilcarnitinas. A com-
butanol/HCl binação destes exames é essencial para confirmação dos resulta-
'r dos de triagem neonatal anormais, especialmente para aqueles
com valores duvidosos (border/ine). O exame de D N A e os ensaios
H enzimáticos estão disponíveis para confirmação posterior da
maioria destas condições.
® JL
H 3 N ' ^"COOC4Hg
Exame de Segunda Opção
(m/z = M + ) U m dos principais problemas da triagem neonatal é o número de
resultados falso-positivos associados a determinados exames de triagem,
como hiperplasia adrenal congênita, C H e, particularmente, I R T
Fragmentação para fibrose cística. Para reduzir o número de lactentes que reque-
rem exame confirmatório adicional nestes casos, desenvolveram-
^ HCOOC 4 H 9
se exames de segunda opção. Estes exames de segunda opção
(102 dáltons) envolvem análise posterior da mesma amostra sanguínea com
resultado anormal e incluem análise de D N A para CF,18 perfil
r ' n® esteróide por M S / M S para hiperplasia adrenal congênita 12,H e
L H n = C H - R J
3
outros exames bioquímicos, como T S H para CH. 1 3 O exame de
(m/z = M + - 1 0 2 ) segunda opção tornou-se u m componente crucial dos programas
de triagem neonatal para reduzir o número de resultados falso-
Figura 44-9 A n á l i s e de a m i n o á c i d o s após derivatizaçào c o m H C 1
positivos.
butanólico pot MS/MS. Sob fragmentação na célula de colisão, os
a m i n o á c i d o s p e r d e m u m f r a g m e n t o n e u t r o d e 102 d á l t o n s .

REFERÊNCIAS
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m u t a t i o n s í d e n r i f i e d b y M S / M S - b a s e d prospecrive s c r e e n i n g o f
Os distúrbios metabólicos e outros distúrbios são causados pelo
n e w b o r n s d i f f e r f r o m those o b s e r v e d i n patients w i t h c l i n i c a i s y m p t o m s :
bloqueio em uma via bioquímica, provocando o acúmulo de
i d e n t i f i c a t i o n a n d c h a i a c t e r i z a r i o n o f a new, p r e v a l e n t m u t a r i o n t h a t
produtos específicos de doença ou a ausência de uma substância
results i n m i l d M C A D deficiency. A m ] H u m G e n e t 2001;68:1408-18.
necessária para o desenvolvimento normal e compatível com a
2. B r y a n t K G , H o r n s K M , L o n g o N , S c h i e f e l b e i n J A p r i m e i o n n e w b o r n
vida. C a m métodos de triagem neonatal tradicionais, os exames
screening. A d v N e o n a t a l C a r e 2004;4:306-17.
anormais são assinalados quando a quantidade de u m metabólito
3. C a r p e n t e r K , W i l e y V , S i m K G , H e a t h D , W i l c k e n B. E v a l u a r i o n o f
medido está acima de u m determinado valor de corte. C o m
n e w b o r n screening for m e d i a m c h a i n a c y l - C o A dehydrogenase
M S / M S , vários analitos são detectados no mesmo momento e a deficiency i n 2 7 5 , 0 0 0 bafai es. A r c h D i s C h i l d Fecal N e o n a r a l E d
interpretação dos resultados baseia-se expressivamente no reconhe- 2 0 0 1 ;85;F 105-9.
cimento padrão, enquanto a mensuração da concentração de dife- 4- Chace D H , Kalas T A , N a y l o i E. U s e o f t a n d e m mass s p e c t r o m e t r y for
rentes metabólitos sustenta a interpretação.'1 A capacidade de detec- m u l t i a n a l y r e screening o f d t i e d b l o o d specimens f r o m n e w b o r n s . C l i n
tar metabólitos múltiplos por M S / M S possibilita o uso de propor- C h e m 2003;49:1797-617.
ções de metabólitos para definir se u m valor elevado é causado por 5. C l i n i c a i a n d L a b o r a t o r y Standards Insricute. N e w b o r n s c r e e n i n g f o l l o w -
u m desarranjo metabólico o u pelo estado clinico ou nutricional do up; approved guideline. C L S I D o c u m e n r I / L A 2 7 - A { I S B N 1-56238-606-9).
recém-nascido. W a y n e , PA: C l i n i c a i a n d L a b o r a t o r y Standards I n s t i t u t e , 2 0 0 6 ; 2 6 ( 1 8 ) :
A avaliação de distúrbios congênitos no momento apropriado 1-19.

após o nascimento é crucial. Por exemplo, enquanto as concen- 6. C l i n i c a i a n d L a b o r a t o r y Standards Insricute. B l o o d c o l l e c t i o n o n f i l t e r

trações de aminoácidos não m u d a m de maneira significativa no paper for n e w h o r n screening p r o g r a m s ; a p p r o v e d standard— f o u r t h

recém-nascido, as concentrações de acilcarnitina variam signifi- e d i t i o n . C L S I D o c u m e n t L A 4 - A 4 ( I S B N 1-56238-503-8). W a y n e , PA:

cativamente. Para a maioria das acilcarnitinas, suas concentrações C l i n i c a i a n d L a b o r a t o r y Standards I n s t i t u t e , 2 0 0 3 ; 2 3 ( 2 1 ) : l - 2 7 .


7. Elgjo RF. A s b j o r n F o l l i n g : his life a n d w o r k . P r o g C l i n B i o Res
são mais altas na primeira semana de vida e, em seguida, caem
1985;177:79-92.
rapidamente. E m alguns casos, u m segundo exame tem de ser
8. Genecics H o m e Reference: provides c o n s u m e r - f r i e n d l y i n f o f m a t i o n
realizado com 1 a 2 semanas devida. Os valores de corte adequa-
a b o u r t h e effeets o f genetic v a r i a r i o n s o n h u m a n h e a l i h . h t t p : / / g W r . n l m .
dos à idade para todos os exames de triagem devem ser usados
n i h . g o v / . Accessed F e b r u a i y 15, 2007.
para interpretação de resultados de triagem neonatal.
9. G u t h r i e R . Susi A . A s i m p l e phervylalanine m e t h o d f o i d e t e c t i n g
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bio metabólico deve levar a uma avaliação imediata usando II. H o l t o n JB, W a t l e r J H , T y f i e l d L A . G a l a c t o s e m i a . I n : Scriver C R ,
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Triagem Neonatal CAPÍTULO 44 855

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INFORMAÇÕES DE REFERÊNCIA PARTE VI

C A P Í T U L O

Informações de Referência
para Laboratórios Clínicos*
William L. Roberts, M.D., Ph.D., Gwendolyn A. McMillin, Ph.D.,
Carl A. Burtis, Ph.D., e David E. Bruns, M.D.

SUMÁRIO
Tabela 45-1 Valores e Intervalos de Referência
Tabela 45-2 Níveis Terapêuticos e Tóxicos dos Fármacos
Tabela 45-3 Valores Críticos

*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias de Pennell C.


Paintei, June Y. Cope e Jane L Smith, nas quais foram baseadas paites deste
capítulo.
858 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 V a l ores e I n t e r v a l o s d e R e f e r ê n c i a

Os resultados dos testes laboratoriais apresentavam pouca utilidade clínica até que estudos clínicos atribuíram vários estados de saúde e doença aos intervalos de valores.
Os intervalos de referência são úteis parque tentam descrever os resultados típicos encontrados em uma população definida de indivíduos aparentemente saudáveis.
Diferentes métodos podem gerar valores diferentes,- dependendo da calibração e de outras considerações técnicas. Portanto, podem ser obtidos diversos intervalos de
referência e resultados em diferentes laboratórios. A variabilidade entre os métodos é particularmente característica dos métodos que utilizam anticorpos para detectar o
material de interesse e quando os resultados são reportados como unidades relativas de atividade. Os valores de indivíduos aparentemente "saudáveis" e doentes pedem
sobrepor-se significativamente. Portanto, os intervalos de referência, embora úteis na orientação dos clínicos, não devem ser utilizados como indicadores absolutos de
saúde e doença. Os intervalos de referência apresentadas neste capítulo são somente para propósitos de informação geral. As orientações para definir e determinar
os valores de referência são discutidas no Capítulo 14 e publicadas no manual 2000 CLSI C28-A2 (Como Definir e Determinar Intervalos de Referência no Laboratório
Clínico; Manual Aprovado - Segunda Edição). Como apresentado em vários capítulos deste livro, laboratórios individuais devem gerar seu próprio conjunto de intervalos
de referência.
Os intervalos de referência são listados nas unidades convencionais e internacionais, quando ambas existirem, e para adultos em jejum, a menos que o contrário seja
determinado. Os valores para os outros grupos etários, quando incluídos, devem ser claramente identificados. A maioria dos valores listados foi obtida dos capítulos deste
livro. Alguns foram extraídos de Tietz NW. Clinicai guide to iaboratory tests, 3 ,d ed. Philadelphia: WB Saunders, 1995 e Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE. Tietz textbook of
clinica! chemistry and molecular diagnostics, 4* ed, Philadelphia: Saunders, 2006. Para várias proteínas específicas, os intervalos de referência-obtidos após a calibração
do sistema analítico com a referência de proteína internacional RPPHS/CRM-470 - estão listados no Capítulo 18. Intervalos adicionais podem ser encontrados em Wu AHB,
ed. Tietz clinicai guide to iaboratory tests, 4^ ed. Philadelphia: Saunders, 2006.
Uma fonte valiosa de intervalos de referência para métodos antigos está em http://cclnprod.cc.nih.gov/dlm/testguide.nsf/ (Acesso em 20 de junho de 2007).
Utilizamos abreviações-padrão empregadas em medicina laboratorial por conveniência e para economizar espaço. Algumas abreviações menos comuns e algumas
abreviações não-padronizadas estão listadas abaixo:

Amf Líquido amniótico


CSF Líquido cerebroespinal
EDTA Ácido etilenodiaminotetracético
F/Ox fon fluoreto e oxalato
Hep Heparina
Exp. ocup. Exposição ocupacional
Ox Oxalato
P Plasma
RBCs Eritrócitos
S Soro
Sal Saliva
U Urina
WB Sangue total

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais

11 -Desoxicortisol ng/dL nmol/L


S Cordão umbilical 295-554 0,0289 9-16
Crianças e adultos 20-158 0,6-4,6

17-Hidroxiprogesterona ng/dL nmol/L


Sangue do cordão umbilical 900-5.000 0,03 27,3-151,5
Prematuro 26-568 0,8-17,0
Recém-nascido, 3 dias 7-77 0,2-2,7
Criança pré-púbere 3-90 0,1-2,7
Puberdade
Estágio de Tanner
1. Homem 3-90 0,1-2,7
Mulher 3-82 0,1-2,5
2. Homem 5-115 0,2-3,5
Mulher 11-98 0,3-3,0
3. Homem 10-139 0,3-4,2
Mulher 11-155 0,3-4,7
4. Homem 29-180 0,9-5,4
Mulher 18-230 0,5-7,0
5. Homem 24-175 0,7-5,3
Mulher 20-267 0,6-8,0
Adultos
Homem 27-199 0,8-6,0
Mulher
Fase folicular 15-70 0,4-2,1
Fase lútea 35-290 1,0-8,7
Grávida 200-1.200 6,0-36,0
Pós-ACTH < 320 <9,6
Pós-menopausa < 70 <2,1
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 859

TABELA 45-1 Valores e Intervalos de Referência - Cont.


INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Árido 5-hidroxiindalacético (5 HIAA) ng/L nmol/L


P 5,2-13,4 5,23 27-70
mg/g de creatinina mmol/mol de creatinina
U 0-5 anos < 21 0,592 <13
> 5 anos <16 <10

Ácida ascórbico
(ver Vitamina C)

Ácido cítrico mmol/mol de creatinina


U 0-1 mês < 1.046
1-6 meses 104-268
6 meses-5 anos 0-656
> 5 anos 87-639

Ácido homovanílico (HVA) U, 24 h mg/dia pmcIMia


3-6 aros 1,4-4,3 5,49 8-24
6-10 anos 2,1-4,7 12-26
10-16 anos 2,4-8,7 13-48
16-83 anos 1,4-8,8 8-48
U mg/g de creatinina mmol/mol de creatinina
0-6 meses <40 0,571 <23
6 meses-5 anos <10 <6
3-6 anos 5,4-15,5 3,4-9,6
6-10 anos 4,4-11,5 2,7-7,1
10 16 anos 3,3-10,3 2,0-6,4

Ácido metilmalônico jimol/L M mo l/L


S Adulto 0-0,4 1,0 0-0,4
mg/g de creatinina mmol/mol de creatinina
U <3,76 0,96 <3,7

Acido orótico mmol/mol de creatinina


U 0-1 mês 1,4-5,3
1 -6 meses 1,0-3,2
6 meses-5 anos 0,5-3,3
> 5 ancs 0,4-1,2

Ácido oxálico mmol/mol de creatinina


U 0-1 mês 51-931
1 -6 meses 7-567
6 meses-5 anos 7-352
> 5 anos < 10B

Ácido pantotênico (Vitamina B3) WB MG/L pmol/L


344 583 0,0046 1,57-2,66
mg/dia |imol/dia
U, 24 h 1-15 4,53 5-68

Ácido pimvico mg/dL limol/L


WB, arterial Adulta 0,2-0,7 0,114 0,02-0,08
WB, venoso Adulta 0,3-0,9 0,03-0,10
CSF Adulto 0,5-1,7 0,06-0,19
U, 24 h Adulto < 1,1 mmol/dia
mmol/mol de creatinina
U 0-1 mês 24-123
1 -6 meses 8-90
6 meses-5 anos 3-19
> 5 anos 6-9
860 PARTE VI Informações de Referência

T A B E L A 45-1 Valores e Intervalos de Referência - Cont.


INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais
Ácido úrico S mg/dL mmol/L
Fosfotungstato Adulta
Homem 4,4-7,6 0,059 0,26-0,45
Mulher 2.3-6,6 0,13-0,39
> 60 anos
Homem 4,2-8,0 0,25-0,47
Mulher 3,5-7,3 0,20-0,43
LJ ri case Criança 2,0-5,0 0.12-0.32
Adulto
Homem 3,5-7,2 0,21-0,42
Mulher 2,6-6,0 0,15-0,35
U, 24 h mg/dia mmol/L
Dieta livre de purina
Homem < 420 0,0059 <2,48
Mulher Ligeiramente menor Ligeiramente menor
Dieta com baixa <480 <2,83
quantidade de purina
Homem <480 <2,83
Mulher <400 <2,36
Dieta com grande < 1.000 < 5,90
quantidade de purina
Dieta padrão 250-750 1,48-4,43
U mmol/mol de creatinina
0-1 mês 359-2.644
1 -6 meses 359-2.G44
6 meses-5 anos 185-1.134
> 5 anos 199-1.034

Ácido vanililmandélicc (VMA) U, 24 h mg/dia fimol/dia


3-6 anos 1-2,6 5,05 5-13
6-10 anos 2,0-3,2 10-16
10-16 anos 2,3-5,2 12-26
16-83 anos 1,4-6,5 7-33
U mg/g de creatinina mmcl/mol de creatinina
0-1 mês <27 0,571 <16
1-6 meses <19 < 11
6 meses-5 anos <13 <8
3-6 anos 4,0-10,8 2,3-6,2
6-10 anos 4,0-7,5 2,3-4,3
10-16 anos 3,0-8,8 1,7-5.0

Ácidos biliares S jxmol/L (imol/L


Adulta 0-10 1,00 0-10

Alanina aminotrarisferase S U/L |ikat/L


(ALT, SGPJ) Homem adulto <45 0,017 <0,77
IFCC, 37°C Mulher adulta <34 <0,58

Albumina g/dL g/L


S 0-4 dias 2,8-4,4 10 28-44
4 dias-14 anos 3.8-5,4 38-54
14-18 anos 3,2-4,5 32-45
Adulto (20-60 anos) 3,5-5,2 35-52
60-90 anos 3,2-4,6 32-46
> 90 anos 2,9-4,5 29-45
mg/dia mg/dia
U, 24 h 3,9-24,4 1 3,9-24,4
mg/dL mg/L
CSF, lombar 17,7-25,1 10 177-251

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 861

T A B E L A 45-1 V a l o r e s e I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a - C o n t .

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Aldolase U/L fikat/L
S Criança
10-24 meses 10-40 0,017 0,17-0,68
25 meses-16 anos 5-20 0,09-0,34
Adulto 2,5-10,0 0,04-0,13

Aldosterona ng/dL nmol/L


S Cordão umbilical 40-200 0,0277 1,11-5,54
Prematuro 19-141 0,53-3,91
Crianças a termo
3 dias 7-184 0,19-5,10
1 semana 5-175 0,03-4,85
1 -12 meses 5-90 0,14-2,49
1-2 anos 7-54 0,19-1,50
2-10 anos (supino) 3-35 0,08-0,97
2-10 anos (vertical) 5-80 0,14-2,22
10-15 anos (supino) 2-22 0,06-0,61
10-15 anos (vertical) 4-48 0,11-1,33
Adultos
(supino) 3-16 0,08-0,44
(vertical) 7-30 0,19-0,83
U, 24 ti ti g/dia nmol/dia jjg/g creatinina
Recém-nascidos (1-3 dias) 0,5-5 2,77 1-14 20-140
4-10 anos 1-8 3-22 4-22
Adultos 3-19 8-51 1,5-20

Alumínio M9/L nmol/L


S,P <5,51 0,0371 <0,2
Pacientes em hemodiálise 20-550 0,74-20,4
Medicação com alumínio <30 <1,11
U 5-30 0,19-1,11

Amilase S U/L m kat/L


IFCC, 37°C Adulto 28-100 0,017 0,48-1,70

Amónia nitrogenada P (Hep] Mg N/dL jimol N/L


Recém-nascido 90-150 0,714 64-107
0-2 semanas 79-129 56-92
>1 mês 29-70 21-50
Adulto 15-45 11-32
u, 24 h mg N/dia mmol N/dia
Lactente 560-2.900 0,0714 40-207
Adulto 140-1.500 10-107

Androstenediona ng/dL nmol/L


S Criança, pré-púbere <5 0,0349 <0,2
Adultos 75-205 2,6-7,2
Adulto, mulher 82-275 3,0-9,6
pós-mencpausa

Antígeno cancerígeno 125 U/mL kU/L


S <35 1,0 <35

Antígeno cancerígeno 15-3 U/mL kU/L


S <30 1,0 < 30

Antígeno cancerígeno 19-9 U/mL kU/L


S <37 1,0 <37

Antígeno cancerígeno 27.29 U/mL kU/L


S <38 1,0 <38

Antígeno cancerígeno 72-4 U/mL kU/L


S <6 1,0 <6

Antígeno carcinoembrionário (CEA) ng/mL Hfl^L


S Não-fumantes <3 1,0 <3
Fumantes <5 <5
862 PARTE VI Informações de Referência

T A B E L A 45-1 Valores c Intervalos dc Referência - C o n í .

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analíto Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Antígeno prostático específico (PSA) ng/mL M9/L


S Homens
40-49 anos 0-2,5 1,0 0-2,5
50-59 anos 0-3,5 0-3,5
60-69 anos 0-4,5 0-4,5
70-79 anos 0-6,5 0-6,5

ApolipcproteínaA-1 mg/dL G/L


S 4-5 anos H 109-172 0,01 1,09-1,72
M 104-163 1,04-1,63
6-11 anos H 111-177 1,11-1,77
M 110-166 1,10-1,66
12-19 anos H 99-165 0,99-1,65
M 105-180 1,05-1,80
20-29 anos H 105-173 1,05-1,73
M 111-209 1,11-2,09
30-39 anos H 105-173 1,05-1,73
M 110-189 1,10-1,89
40-49 anos H 103-178 1,03-1,78
M 115-195 1,15-1.95
50-59 anos H 107-173 1,07-1,73
M 117-211 1,17-2,11
60-69 anos H 111-184 1,11-1,84
M 120-205 1,20-2,05
> 69 anos H 109-180 1,09-1,80
M 118-199 1,18-1,99

Apolipcproteína B mg/dL g/L


S 4-5 anos H 58-103 0,01 0,58-1,03
M 58-104 0,58-1,04
6-11 anos H 5G-105 0,56-1,05
M 57-113 0,57-1,13
12-19 anos H 55-110 0,55-1,10
M 53-119 0,53-1,19
20-29 anos H 59-130 0,59-1,30
M 59-132 0,59-1,32
30-39 anos H 63-143 0,63-1,43
M 70-132 0,70-1,32
40-49 anos H 71-152 0,71-1,52
M 75-136 0,75-1,36
50-59 anos H 75-160 0,75-1,60
M 75-168 0,75-1,68
60-69 anos H 81-156 0,81-1,56
M 75-173 0,75-1,73
> 69 anos H 73-152 0,73-1,52
M 79-168 0,79-1,68

Arsênico pg/L Mmol/L


WB (Hep) 2-23 0,0133 0,03-0,31
Intoxicação crônica 100-500 1,33-6,65
Intoxicação aguda 600-9.300 7,98-124
ng/dia jjmol/dia
U, 24 h 5-50 0,07-0,67

Aspartata aminotransferase S U/L (ikat/L


(AST, SGOT) Homem adulto <35 0,017 < 0,60
IFCC, 37°C Mulher adulta < 31 <0,53

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 863

T A B E L A 45-1 Valores e Intervalos de Referência - Cont.


INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais
Atividade de rerima ng/mUh ^g/lih
Plasma (EDTA) 1-7 dias 2,0-35,0 1,0 2,0-35,0
Supino 1-12 meses 2,4-37,0 2,4-37,0
1 -3 anos 1,7-11,2 1,7-11,2
4-5 anos 1,0-6,5 1.0-6,5
6-10 anos 0,5-5,9 0,5-5,9
11-15 anos 0,5-3,3 0,5-3,3
Adulto 0,2-1,6 0,2-1,6
Em posição vertical Adulto 0,5-4,0 0,5-4,0

Bilírrubina total mg/dL jjmol/L


S Cordão umbilical (prematuro) < 2,0 17,1 <34,2
Cordão umbilical (a termo) < 2,0 < 34,2
0-1 dia (prematuro) 1,0-8,0 17-187
0-1 dia (a termo) 2,0-6,0 34-103
1-2 dias (prematuro) 6,0-12,0 103-205
1-2 dias (a termo) 6,0-10,0 103-171
3-5 dias (prematuro) 10,0-14,0 171-240
3-5 dias (a termo) 4,0-8,0 68-137
Adulto 0-2,0 0-34
II Negativo Negativo
Amf 28 semanas < 0,075 < 1,28
AA45Q < 0,048
40 semanas < 0,025 <0,43
AAi5o < 0,02
Conjugada S 0,0-0,2 0,0-3,4

Biotina WB Saudável 0,5-2,20 nmol/L


Deficiente < 0,5 nmol/L

BNP P (EDTA) pg/mL ng/L


Limiar de decisão 1QQ 1,0 100
para o adulto

Cádmio WB (Hep) MQ/L nmol/L


Não-fumantes 0,3-1,2 8,897 2,7-10,7
Fumantes 0,6-3,9 5,3-34,7
ng/L (imol/L
U, 24 h Intervalo tóxico 100-3.000 0,9-26,7

Cálcio ionizado (livre) S. P (Hep) mg/dL mmol/L


Adultos 4,6-5,3 0,25 1,15-1.33

Cálcio total S, P (Hep) mg/dL mmol/L


Adultas 8,6-10,2 0,25 2,15-2,55

Calcitonina S,P pg/mL • ng/L


Homens <8,8 1,0 <8,8
Mulheres <5,8 < 5,8
Atireóidea <0,5 <0,5

Catecoiaminas
Epinefrina P Adultos pg/mL pmol/L
Supino (30 min) <50 5,46 <273
Sentado (15 min) <60 <328
Em posição vertical (30 min) <90 <491
Norepinefrina P Adultos pg/mL pmo!/L
Supino (30 min) 110-410 5,91 650-2.423
Sentado (15 min) 120-680 709-4.019
Em posição vertical (30 min) 125-700 739-4.137
864 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 Valores e Intervalos de Referência Cont.


L

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais
Catecoiaminas - cont.
Dopamina P Adultos pg/mL pmol/L
Supino (30 min) < 87 6,53 <475
Sentada (15 min) <87 <475
Em pasiçãa vertical (30 min) <87 < 475
Epinefrina LI, 24 h jag/dia nmol/dia
0-1 ano 0-2,5 5,46 0-14
1-2 anos 0-3,5 0-19
2-4 anos 0-6,0 0-33
4-7 anos 0,2-10 1-55
7-10 anos 0,2-10 1-55
10-15 anas 0,5-20 3-109
> 15 anos 0,5-20 3-109
Norepinefrina U, 24 h ng/dia nmol/dia
0-1 ano 0-10 5,91 0-59
1-2 anos 1-17 6-100
2-4 anos 4-29 24-171
4-7 anos 8-45 47-266
7-10 anos 13-65 77-384
10-15 anos 15-80 89-473
> 15 anos 15-80 89-473
Dopamina II, 24 h fj.g/día nmol/dia
0-1 ano 0-85 6,53 0-555
1-2 anos 10-140 G5-914
2-4 anos 40-260 261-1.697
4-7 anos 65-400 424-2.612
7-10 anos 65-400 424-2.612
10-15 anos 65-400 424-2.612
> 15 anos 65-400 424-2.612

Ceruloplasmina mg^L G/L


P Cordão umbilical (a termo) 50-330 0,001 0,050-0,33
Nasci mento-4 meses 150-560 0,15-0,56
5-6 meses 260-830 0,26-0,83
7-36 meses 310-900 0,31-0,90
4-12 anos 250-450 0,25-0,45
13-19 anos (homem) 150-370 0,15-0,37
13-19 anos (mulher) 220-500 0,22-0,50
Adulto (homem) 220-400 0,22-0,40
Adulta (mulher), sem 250-600 0,25-0,60
contraceptivos
Adulto (mulher), 270-660 0,27-0,66
contraceptivos (estrógeno)
Adulto, mulher grávida 300-1.200
mg/dL g/L
S Adulto (20-60 anos) 20-60 0.01 0,2-0,6

Chumba Mg/DL nmol/L


WB (Hep) Criança < 25 0,0483 <1,21
Adulto <25 <1,21
Tóxica > 99 >4,78
nmol/L
U, 24 h < 80 < 0,39

Cianeto WB (Qx) mg/L lamol/L


Não-fum antes <0.2 38,5 <7,7
Fumantes <0,4 < 15,4
Terapia com nitroprussiato Até 100 sem toxicidade Até 3.850
Tóxico > 1 >38,5

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 865

TABELA 45-1 Valores e Intervalos de Referência - Cont.


1
INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Cistatina C S mg/L mg/L
0-3 meses 0,8-2,3 1,0 0,8-2,3
4 11 meses 0,7-1,5 0,7-1,5
1 -17 anos 0.5-1,3 0,5-1,3
Adulta 0,5-1,0 0,5 1,0
CKMB, massa (concentração) s ng/mL MEJ/L
Adulto <5,0 1,0 <5,0
Cloreto (Cl) mEq/L mmol/L
S,p Cordão umbilical 96-104 1,0 96-104
Prematuro 95-110 95-110
0-30 dias 98-113 98-113
Adulto 98-107 98-107
> 90 anos 98-111 98-111
mEq/dia mmol/dia
U, 24 h Lactente 2-10 2-10
Criança < 6 anos 15-40 15 40
6 10 anos
H 36-110 36-110
M 18-74 18-74
10-14 anos
H 64-176 64-176
M 36-173 36-173
Adulto 110-250 110-250
> 60 anos 95-195 95-195
Suor mEq/L mmai/L
(iontoforese) Normal 5-35 5-35
Limítrofe 30-70 30-70
Fibrose cística 60-200 60 200

Cobre S MQ/dL Mmol/L


Nascimentü-6 meses 20-70 0,157 3,14-10,99
Deficiência <30 <5
6 anos 90-190 14,13-29,83
12 anos 80-160 12,56-25,12
Adulto
Homem 70-140 10,99-21,38
Mulher 80-155 12,56-24,34
Deficiência 50 8
Grávida, a termo 118-302 18,53-47,41
Negros Negros 8%-12% mais alto Negros 8%-12% mais alto
U, 24 h Adultos < 60 pg/24 h 0,0157 1,0 jimol/24 h
Doença de Wilson > 200 mQ/24 h > 3 Mmol/24 h

Colesterol mg/dL mmol/L


Risco de doença
cardíaca coronariana
Lactente Desejável <170 0,0259 <4,4
Limítrofe alto 170-199 4,40-5,15
Alto > 199 > 5,15
Adulto Desejável < 200 < 5,18
Limítrofe alto 200-239 5,18-6,19
Alto > 239 >6,19

Colinesterase (37°C) U/L Mkat/L


S Homem 40-78 0,017 0,68-1,33
Mulher 33-76 0,56-1,29

Complemento C3 s mg/dL g/L


Adulto (20-60 anos) 90-180 * 0,01 0,9-1,8

Complemento C4 s mg/dL g/L


Adulta (20-60 anos) 10-40 0,1-0,4
866 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 Valorts e Intervalos de Referência - Cont.


INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Cortisol livre M9AJL nmol/L
S 08:00 h 0,6-1,6 27,6 17-44
16:00 h 0,2-0,9 6-25
ng/mL nmol/L
Sal 07:00 h 1,4-10,1 2,76 4-30
22:00 h 0,7-2,2 2-6
pg/dia nmol/dia
U, 24 h Criança
1-10 anos 2-27 6-74
2-11 anos 1-21 3-58
11-20 anos 5-55 14-152
12-16 anos 2-38 6-105
Adulto
Extraído 20-90 55-248
Não extraído 75-270 207-745

Cortisol total ng/dL nmol/L


S Sangue de cordão umbilical 5-17 27,6 138-469
Lactente (1-7 dias) 2-11 55-304
Criança (1 -16 anos)
08:00 h 3-21 83-580
Adulto
08:00 h 5-23 138-635
16:00 li 3-16 83-441
20:00 H < 50% dos valores de 08:00 h < 50% dos valores
de 08:00 h

Creatinina enzimática S mg/dL jamol/L


0-1 ano 0,04-0,33 88.4 4-29
2-5 aros 0,04-0,45 4-40
6-9 arios 0,20-0,52 18-46
10 anos 0,22-0,59 10-52
Homem adulto 0,62-1,10 55-96
Mulher adulta 0,45-0,75 40-66
Teste de Jaffé mg/dL (imot/L
Cordão umbilical 0,6-1,2 53-106
Recém-nascido (1-4 dias) 0,3-1,0 27-88
Lactente 0,2-0,4 18-35
Criança 0,3-0,7 27-62
Adolescente 0,5-1,0 44-88
18-GO anos
Homem 0,9-1,3 80-115
Mulher 0,6-1,1 53-97
60-90 anos
Homem 0,8-1,3 71-115
Mulher 0,6-1,2 53-106
> 90 anos
Homem 1,0-1,7 88-150
Mulher 0,6-1,3 53-115
Teste de Jaffé, manual 1,24 ti mg/kg/dia Minol/kg/dia
Lactente 8-20 8,84 71-177
Criança 8-22 71-194
Adolescente 8-30 71-265
Adulto
Homem 14-26 124-230
Mulher 11-20 97-177

Creatinoquinase (CK)
IFCC, 37°C S U/L jjkat/L
Homem 46-171 0,017 0,78-2,90
Mulher 34-145 0,58-2,47

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 867

TABELA 45-1 Valores e Intervalos de Referência - Cont.


lNTEHVALOS DE REFEHÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais

Cromo na/L nmol/L


WB (Hep) 0,7-28,0 19,23 14-538
s 0,1-0,2 2-3
jig/dia nmcl/dia
U, 24 h 0,1-2,0 1,9-38,4
Mg/L nmol/L
RBCs 20-36 384-692

Crcmogranina A ng/mL ng/L


S Adulto 0-375 1,0 0-375

Depuração da creatinina (ver taxa


de filtração glomerular)

Desidroepiandrosterona, ng/dL nmul/L


não-conjugada s Crianças
6-9 anos, H 13-187 0,0347 0,45-6,49
6-9 anos, M 18-189 0,62-6,55
10-11 anos, H 31-205 1,07-7,11
10-11 anos, M 112-224 3,88-7,77
12-14 anos, H 83-258 2,88-8,95
12-14 anos, M 98-360 3,40-12,5
Adulto
H 180-1.250 6,25-43,4
M 130-980 4,51-34,0

Desoxipiridinolina timol/mol de nmol/mol de


creatinina creatinina
u Homens 2,3-5,4 1,0 2,3-5,4
Mulheres na 3,0-7,4 3,0-7,4
pré-menopausa

Diidrotestosterona ng/dL nmol/L


Criança, pré-pubere <3 0,0344 < 0,10
Adulto, H 30-85 1,03-2,92
Adulto, M 4-22 0,14-0,76

Dióxido de carbono, pressão parcial mm Hg kPa


PC Oj WB, arterial (Hep) Recém-nascido 27-40 0,133 3,59-5,32
Lactente 27-41 3,59*5,45
Adulto, homem 35-48 4,66-6,38
Adulta, mulher 32-45 4,26-5,99

Dióxido de carbono, total (tC02) mEq/L mmol/L


Sangue de cordão 14-22 1,0 14-22
umbilical
P,S Adulto 23-29 23-29
> 60 anos 23-31 23-31
> 90 anos 20-29 20-29
P, Capilar Prematuro, 1 semana 14-27 14-27
Recém-nascido 13-22 13-22
Lactente 20-28 20-28
Criança 20-28 20-28
Adulto 22-28 22-28
Sangue total
Arterial 19-24 19-24
Venosc 22-26 22-26

Enzima conversora da U/L Mkat/L


angiotensina (AGE) S Adultos 9-67 0,017 0,15-1,14
CSF Adultos 0-2,5 0-0,043
868 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 Valores e Intervalos de Referencia - C n n t .

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais

Eritrapaietina mll/mL U/L


S Adultos 4-27 1,0 4-27

Estradiol pg/mL pmol/L


Crianças
1-5 anos, H 3-10 3,69 11-37
1 - 5 anos, M 5-10 18-37
6-9 anos, H 3-10 11-37
6-9 anos, M 5-60 18-220
10-11 anos, H 5-10 18-37
10-11 anos, M 5-300 18-1.100
12-14 anos, H 5-30 18-110
12-14 anos, M 24-410 92-1.505
15-17 anos, H 5-45 18-165
15 17 anos, M 40-410 147-1.505
Adultos
H 10-50 37-184
IVI
Fase folicular inicial 20-150 73-550
Fase folicular tardia 40-350 147-1.285
Meia do ciclo 150-750 550-2.753
Fase lútea 30-450 110-1.652
Pós-menopausa <21 < 74
Níveis púberes, estágio
de Tunner
1, H 3-15 11-35
1. M 5-10 18-37
2,H 3-10 11-37
2, M 5-115 18-422
3, H 5-15 18-55
3, M 5-180 18-660
4, H 3-40 11-147
4, M 25-345 92-1.267
5, H 15-45 55-165
5, M 25-410 92 1.505

Estriai, livre (não-conjugado, uE3) ng/mL nmol/L


S Homens e mulheres < 2,0 3,47 < 6,9
não-grávidas
Gravidez (semanas
de gestação)
16 0,30-1,05 1,04-3,64
18 0,63-2,30 2,19-7,98
34 5,3-18,3 18,4-63,5
35 5,2-26,4 18,0-91,6
36 8,2-28,1 28,4-97,5
37 8,0-30,1 27,8-104,0
38 8,6-38,0 29,8-131,9
39 7,2-34,3 25,0-119,0
40 9,6-28,9 33,3-100,3
Amf Gravidei (semanas
de gestação]
16-20 1,0-3,2 3,5-11
20-24 2,1-7,8 7,3-27
24-28 2,1-7,6 7,3-27
28-32 4,0-13,6 14-47
32-36 3,6-15,5 12-54
36-38 4,6-18,0 16-62
38-40 5,4-19,8 19-69

Contínua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 869

TABELA 45-1 V a l o r e s e I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a - C o í i t .

INTERVALOS DÊ REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Estrona pg/mL pmol/L
s Homem 15-65 3,69 55-240
Mulher
Fase folicular inicial 15-150 55-555
Fase folicular tardia 100-250 370-925
Fase lútea 15-200 55-740
Pós-menopausa 15-55 55-204

Etanol mg/dL mmol/L


WB (Ox) Prejuízo 50-100 0,217 11-22
Depressão do SNC > 100 > 21,7
Fatalidades reportadas > 400 >86,8

Fator de crescimento insulina-simile I S ng/mL Mg/L


1-2 anos
Homem 31-160 1,0 31-160
Mulher 11-206 11-206
3-6 anos
Homem 16-288 16-288
Mulher 70-316 70-316
7-10 anos
Homem 136-385 136-385
Mulher 123-396 123-396
11-12 anos
Homem 136-440 136-440
Mulher 191-462 191-462
13-14 anos
Homem 165-616 165-616
Mulher 286-660 286-660
15-18 anos
Homem 134-836 134-836
Mulher 152-660 152-660
19-25 anos
Homem 202-433 202-433
Mulher 231-550 231-550
Adulto (25-85 anos)
Homem 135-449 135-449
Mulher 135-449 135-449

Ferritina s ng/mL MS/L


Recém-nascido 25-200 1,0 25-200
1 mês 200-600 200-600
2-5 meses 50-200 50-200
6 meses-15 anos 7-140 7-140
Adulto
Homem 20-250 20-250
Mullier 10-120 10-120

Ferro É aconselhável que


o laboratório defina
independentemente
seus próprios
intervalos de
referência

Folato ng/L nmol/L


s 2,6-12,2 2,265 6,0-28,0
S deficiente <1,4 <3,2
Eritrocito 103-411 237-948
Eritrócito deficiente <110 <252
870 PARTE VI Informações de Referência

T A B E L A 45-1 V a l o r e s e I n t e r v a l os d e R c f e r c n e i a Cont.

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Fosfatase alcalina U/L nkat/L
IFCC, 37QC s 4-15 anos (Homem) 54-369 0,017 0,91-6,23
4-15 anos (Mulher) 54-369 0,91 -6,23
20-50 anos (Homem) 53-128 0,90-2,18
20-50 anos (Mulher) 42-98 0,71-1,67
> 60 anos (Homem) 56-119 0,95-2,02
s 60 anos (Mulher) 53-141 0,90-2,40

Fosfatase alcalina (osso-específica, U/L U/L


par imunaadsarçãa) s Homens 15,0-41,3 1,0 15,0-41,3
Mulheres na pré-menopausa 11,6-29,6 11,6-29,6

Fosfatase alcalina isoenzimas < 1 ano 1-15 anos Adulto Mulheres Mulheres na
grávidas pós-menopausa
Porcentagem da
Atividade Total
Biliar 3-6 2-5 1-3 1-3 0-12
Hepática 20-34 22-34 17-35 5-17 17-48
Óssea 20-30 21-30 13-19 8-14 a-21
Placentária 8-19 5-17 13-21 53-69 7-15
Renal 1-3 0-1 0-2 3-6 0-2
Intestinal 0-2 0-1 0-1 0-1 0-1
Atividade Fracionada < 1 ano 1-15 anos Adulto Mulheres Mulheres na
grávidas pós-menopausa
Biliar 0,3-0,06 0,02-0,05 0,01-0,03 0,01-0,03 0,0-0,12
Hepática 0,20-0,34 0,22-0,34 0,17-0,35 0,05-0,17 0,17-0,48
Óssea 0,20-0,30 0,21-0,30 0,13-0,19 0,08-0,14 0,08-0,21
Placentária 0,08-0,19 0,05-0,17 0,13-0,21 0.53-0,69 0,07-0,15
Renal 0,01-0,03 0,0-0,01 0,0-0,02 0,03-0,06 0,0-0,02
Intestina] 0,0-0,02 0,0-0,01 0,0-0,01 0,0-0,01 0,0-0,01

Fosfatase resistente ao s U/L pkat/L


ácido tartárico (37°C) Crianças 3,4-9,0 0,017 0,05-0,15
Adulto 1,5-4,5 0,03-0,08

Fosfato s, P (Hep) mg/dL mmol/L


Crianças 4,0-7,0 0,323 1,29-2,26
Adultos 2,5-4,5 0,81-1,45
U, 24 h g/dia mmoi/dia
Adultos 0,4-1,3 32,3 12,9-42,0

Frutcsamiria S Criança 5% abaixo dos níveis dos adultos


^imol/L ^irnol/L
Adulto 205-285 1,0 205-285

Gastrina s pg/mL ng/L


Adulto 0-100 1,0 0-100

Glicose s mg//dL mmol/L


Cordão umbilical 45-96 0,0555 2,5-5,3
Prematuro 20-60 1,1-3,3
Neonato 30-60 1,7-3,3
Recém-nascido
1 dia 40-60 2,2-3,3
> 1 dia 50-80 2,8-4,5
Criança 60-100 3,3-5,6
Adulto 74-100 4,1-5,6
> 60 anos 82-115 4,6-6,4
> 90 anos 75-121 4.2-6,7
WB (Hep) Adulto 65-95 3,5-5,3
CSF Lactente, criança 60-80 3,3-4,5
Adutto 40-70 2,2-3,9
U 1-15 0,1-0,8
U, 24h < 0 , 5 g/dia 5,55 < 2,8 mmol/dia

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 871

TABELA 45-1 V a l o r e s e I n t e r v a l o s d e R e f e r ê n c i a - Cnnt.

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
A na li to Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
GIicose-6-fosfato desidrcgenase ST (ACD, EDTA 7,9-16,3 U/g Hb 64,5 510-1.050
(G-6-PD) em erilrócitos CL Hep) 230-470 0,001 U/mmoi Hb
OMS e ICSH U/1012 RBCs 0,23-0,47 nU/RBCs
2,69-5,53 U/mL 1,0 2,69-5,53 kU/L RBCs
RBCs

Haptoglobina S mg/dL Q/L


Crianças 20-1.60 0,01 0,2-1,6
Adutto {20-60 anos) 30-200 0,3-2,0

Hemoglobina glícosilada (HbA1c) % total Hb Fração de Hb


WB (EDTA, 4,0-6,0 (NGPS) 0,01 0,040-0,060
Hep ou Ox)

Homocisteína total
S,P Dieta suplementada
com foiato F.imol/L nmol/L
< 1 5 anos <8 1.0 <0
15-65 anos <12 <12
> 65 anos < 16 <16
Sem suplemento
de tolato
< 15 anos <10 < 10
15-65 anos < 15 <15
> 65 anos <20 <20

Hormônio adrerocorticotrófico pg/mL pmol/L


P (EDTA) Cordão umbilical 50-570 0,22 11-125
Recém-nascido 10-185 2,2-41
Adulto (0800-0900) <120 <26
Adulto (24 h, supino) < 85 <19

Hormônio do crescimento S ng/mL pg/L


Basal 2-5 1,0 2-5
Teste de tolerância > 10 >10
à insulina
Arginina >7,5 >7,5
L-Dcpa >7,5 >7,5

Hormônio folículo-estimulante (FSH) mUI/mL LI/L


S Homens (23-70 anos) 1,4-15,4 1,0 1,4-15,4
Mulheres
Fase folicular 1,4-9,9 1,4 9,9
Pico do meio do ciclo 0,2-17,2 0,2-17,2
Fase lútea 1,1-9,2 1,1-9,2
Pós-menopausa 19,3-100,6 19,3-100,6

Hormônio luteinizante (LH) mUI/mL Ul/L


Homens {23-70 anos) 1,2-7,8 1,0 1,2-7,8
Mulher
Fase folicular 1,7-15,0 1,7-15,0
Pico no meio do ciclo 21,9-56,6 21,9-56,6
Fase lútea 0,6-16,3 0,6-16,3
Pós-menopausa 14,2-52,3 14,2-52,3

Hormônio paratircide (1 84) s pg/mL ng/L


6-40 1,0 6-40

Hormônio paratiróide intacto s pg/mL ng/L


10-65 1,0 10-65

ImunoglohuiinaA mg/dL S/L


s Neonato (4 dias) 0-2,2 0,01 0,0-0,02
Adulto (20-60 anos) 70-400 0,7-4,0
Adulto (> 60 anos) 90-410 0,9-4,1
CSF 0,0-0,6 . . 0,0-0,006
Sal < 11 <0,11
872 PARTE VI nformações de Referência

TABELA 45-1 V a l o r e s e I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a - C o n t .

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Imunoglobulina D mg/dL g/L
S Adulto (20-60 anos) 0-8 0,01 0,0-0,08

Imunoglobulina E UI/mL kUI/L


S Adulta (20-60 anos) 0-160 1,0 0-160
1 Ul = 2,4 ng
ng/mL g/L
0-380 0,01 0-3,80

Imunoglobulina Q mg/dL g/L


S Recém-nascido (4 dias) 700-1.480 0,01 7,0-14,8
Adulto {20-60 anos) 700-1.600 7,0-16,0
Adulto (> 60 anos] 600-1.560 6,0-15,6
CSF 0-5,5 0-0,055
Imunoglobulina M mg/dL 0/L
S Recém-nascido (4 dias) 5-30 0,01 0,05-0,30
Adulto (20-60 anos) 40-230 0,4-2,3
Adulto (> 60 anos) 30-360 0,3-3,6
CSF 0,0-1,3 0,0-0,013

Iníbina A pg/mL ng/L


S Homens 1,0-3,6 1.0 1,0-3,6
Mulheres (Ciciando;
dias do ciclo]
Fase folicular inicial 5,5-28,2 5,5-28,2
( - 14 a - 1 0 dias)
Fase folicular mediana 7.9-34,5 7,9-34,5
{ - 9 a - 4 dias)
Fase folicular tardia 19,5-102,3 19,5-102.3
( - 3 a - 1 dias)
Melo do ciclo (Dia 0) 49,9-155,5 49,9-155,5
Fase lútea inicial 35,9-132,7 35,9-132,7
{1 a 3 dias)
Meio da fase lútea 13,2-159,6 13,2-159,6
(4-11 dias)
Fase lútea tardia 7,3-89,9 7,3-89,9
(12-14 dias)
Níveis do pico em IVF 354,2-1.690,0 354,2-1.690,0
PCOS-ciclo ovulatório 5,7-16,0 5,7-16,0
Pós-menopausa 1,0-3,9 1,0-3,9
S, Materno Gravidez (semana) pg/mL ng/L
(Mediana) (Mediana]
15 174 174
16 170 170
17 173 173
18 182 182
19 198 198
20 222 222

Insulina S pUl/mL pmol/L


Adulto 2-25 6,00 12-150

Iscenzimas creatinoquinase S Fração 2 (MB) Índice relativo Atividade (racionada


MB/CK total < 3,9% 0,01 < 0,039

Isotormas creatinoquinase S % da atividade Atividade fracianada


fetal
CK-3-i 42-75 0,01 0,42-0,75
CK-32 18-51 0,18-0,51
CK-33 2-14 0,02-0,14

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 873

TABELA 45-1 Valores e Intervalos de Referência - Cont.


1
INTERVALOS DE REFERÊNCIA

Unidades Fator de Unidades


Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais
Lactato desidrogenase (LD) U/L jakat/L
Total L - > P s 24 meses-12 anos 125-220 0,017 2,1-3,7
IFCC, 37°C 12-60 anos 180-360 3,1-6,1

Lípase, 37°C U/L (ikat/L


s Adulto <38 0,017 <0,65

Lipoproteína de baixa densidade


colesterol (LDL-C)
Risco de doença mg/dL mmol/L
cardíaca coronariana Ótimo <100 0,0259 <2,59
Próximo/acima de ótimo 100-129 2,59-3,34
Limítrofe alto 130-159 3,37-4,12
Alto 160-189 4,15-4,90
Muito alto > 189 > 4,90

Lipoproteína de densidade alta


Classificação
ATP III mg/dL g/L
S Baixo <40 0,01 <0,40
Alto > 59 >0,59

L-lactato mg/dL mmol/L


WB (Hep) Deitado em repouso
Venoso 5-12 0,111 0,56-1,39
Arterial 3-7 0,36-0,75
CSF Criança 16-17 1,78-1,88
U, 24 h Adulto 496-1.982 0,0111 5,5-22 nnmol/dia
mg/dia mmol/mol de creatinina
0-1 mês 46-348
1 - 6 meses 57-346
6 meses-b anos 21-38
> 5 anos 20-101
Suco gástrico Negativo Negativo

Magnésio AAS mg/dL mmol/L


S Recém-nascido, 2-4 dias 1,5-2,2 0,4114 0,62-0,91
5 meses-6 anos 1,7-2,3 0,70-0,95
6-12 anos 1,7-2,1 0,70-0,86
> 12 anos 1,6-2,6 0,66-1,07
U, 24 h 6,0-10,0 mEq/L 0,5 3,0-5,0 mmol/L

Magnésio livre S mmol/L mmol/L


0,45-0,60 1,0 0,45-0,60

Mercúrio ng/L nmol/L


WB (EDTA) 0,6-59 4,99 3,0-294,4
U, 24 h <20 <99,8
Cone. tóxica > 150 > 748,5
Cone. letal > 800 > 3.992

Metanefrinas
Livre
Normetanefrina s,p pg/mL nmoi/L
Adultos hipertensos 24-145 0,0054 0,13-0,79
Adultos normotensos 18-101 0,10-0,55
Crianças normotensas 22-83 0,12-0,45
Metanefrina S, P pg/mL nmol/L
Adultos hipertensos 12-72 0,0050 0,06-0,37
Adultos normotensos 12-67 0,06-0,34
Crianças normotensas 10-95 0,05-0,48
Total
Normetanefrina S, P pg/mL nmol/L
Adultos hipertensos 755-5.623 0,0054 4,1-30,7
Adultos normotensos 624-3.041 3,4-16,6
Crianças normotensas 851-2.398 4,7-13,1
874 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 Valores c Intervalos dc Referência - C o n t .

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Metanefrinas - cont.
Metanefrina S,p pg/mL nmol/L
Adultos hipertensos 327-2.042 0,0050 1,7-10,4
Adultos normotensas 328-1.837 1,7-9,3
Crianças normotensas 380-1.995 1,9-10,1

Metanefrinas (total)
Metanefrina U. 24 h ^g/dia nmol/dia
0-3 meses 5,9-37 5,07 130-188
4-6 meses 6,1-42 31-213
7-9 meses 12-41 61-210
10-12 meses 8,5-101 43-510
1-2 anos 6,7-52 34-264
2-6 anos 11-99 56-501
6-10 anos 54-138 275-701
10-1G anos 39-242 200-1.231
Adulto 74-297 375-1.506

Metanefrina U F^G/g de creatinina mmol/mol de creatinina


0-3 meses 202-708 0,574 116-407
4-6 meses 156-572 89-328
7-9 meses 150-526 86-302
10-12 meses 148 651 85-374
1-2 anos 40-526 23-302
2-6 anos 74-504 42-289
6-10 anos 121-319 69-183
10-16 anos 46-307 26-176
Normetanefrina IJ, 24 li ng/dia nmol/dia
0-3 meses 47-156 5,46 257-852
4-6 meses 31-111 171-607
7-9 meses 42-109 230-595
10-12 meses 23-103 127-562
1-2 anos 32-118 175-647
2-6 anos 50-111 274-604
6-10 anos 47-176 255-964
1G-16 aras 53-290 289-1.586
Adulto 105-354 573-1.933
Normetanefrina U pgyg de creatinina mmol/mol de creatinina
0-3 meses 1.535-3.355 0,617 947-2.070
4-6 meses 737-2.194 4.54-1.354
7-9 meses 592-1.046 365-645
10-12 meses 271-1.117 167-689
1-2 anos 350-1.275 216-787
2-6 anos 104-609 64-376
6-10 anos 103-452 63-279
10-16 anos 96-411 59-254

Metanol mg/L mmol/L


WB (F7Qx) <1,5 0,0312 < 0,05
Tóxico > 200 > 6,24
II Exp. Ocup. <50 < 1,56
ppm mmol/L
Hálito 0,8 0,03
Exp. Ocup. 2,5 0,08

Metemoglobina (MetHb] g/dL nmol/L


WB (EDTA, Hep 0,06-0,24 155 9,3-37,2
ou ACD)
% da Hb total Fração da massa de Hb
total
0,04-1,52 0,01 0,0004-0,0152

Continue]
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 875

T A B E L A 45-1 Valores c Intervalos de Referência - Cont,


INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Molécula gonadotrofina mUI/mL Ul/L


ccriõnica (CG) intacta S Homem e mulher <5,0 1,0 <5,0
não-grávida
Mulher grávida
(semanas de gestação)
4 semanas 5-100 5-100
5 semanas 200-3.000 200-3.000
G semanas 10.000-80.000 io.ooo-ao.ooo
7-14 semanas go.ooo-soo.ooo 90.000-500.000
15-26 semanas 5.000-80.000 5.000-80.000
27-40 semanas 3.000-15.000 3.000-15.000
Valores baseados no Segundo Padrão Internacional para CG.
Doença trofoblástica > 100.000 > 100.000
U Negativo Negativo
A metade das gestações A metade das gestações
é detectada no é detectada no
primeiro dia de primeiro dia de atraso
atraso da menstruação da menstruação

Monóxido de carbono WB (EDTA) %HbC0 Fração HbGO


Não-fumantes 0,5-1,5 0,01 0,005-0,015

Fumantes
1 -2 maços/dia 4-5 0.04-0,05
> 2 maços/dia 8-9 0,08-0,09
Tóxico >20 > 0,20
Letal >50 > 0,5

Niacina mg/dia M mol/dia


U, 24 h 2,4-6,4 7,30 17,5-46,7

Níquel ng/L nmol/L


S ou P (Hep) 0,14-1,0 17 2,4-17,0
WB 1,0-28,0 17-476
ng/dia nmol/dia
U. 24 h 0,1-10 2-170

N-Te!opeptídeo
(BCE = equivalentes ao
colágeno medular) nmol BCE/L nmol BCE/L
S Homens 5,4-24,2 1,0 5,4-24,2
Mulheres na pré-menopausa 6,2-19,0 6,2-19,0
nmol BCE/mmol nmol BCE/mmol de
de creatinina creatinina
u Homens 3-63 3-63
Mulheres na 5-65 5-65
pré-menopausa

Osteocalcina ng/mL Mg/1-


S homem adulto 3,0-13,0 1,0 3,0-13,0
Mulher adulta
Pré-mencpausa 0,4-8,2 0,4-8,2

Pós-menopausa 1,5-11,0 1,5-11,0

Peptídeo C S ng/mL nmol/L


Adulto 0,8-3,5 0,33 0,26-1,16
U Mg/dia ^mol/dia
Adulto 14 156 0,33 4,6-51,5

Peptídeo relacionado ao hormônio S pmol/L pmol/L


paratiróide (PTHrP) <1,4 <1,4
876 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 Valores e I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a - C o n t .

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analfto Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
pH (37°C) WB, arterial pH pH
Sangue do cordão umbilical
Arterial 7,18-7,38 1,0 7,18-7,38
Venoso 7,25-7,45 7,25-7,45
Recém-nascido
Prematuro, 48 h 7,35-7,50 7,35-7,50
A termo
Nascimento 7,11-7,36 7,11-7,36
5-10 min 7,09-7,30 7,09-7,30
30 min 7,21-7,38 7,21-7,38
1 h 7,26-7,49 7,26-7,49
1 dia 7,29-7,45 7,29-7,45
Crianças e adultos
Arterial 7,35-7,45 7,35-7,45
Venoso 7,32-7,43 7,32-7,43
Adultos
60-90 anos 7,31-7,42 7,31-7,42
> 9G anos 7,26-7,43 7,26-7,43

Porfirinas, total nmol/L


U, 24 h 20-320
nmol/L g de peso seco
Fezes 10-200
p mol/L eritrácilos
Eritrócitos 0,4-1,7

PortobilirogÊnio mg/L pmol/L


U, 24 h < 2,26 4,42 <10

Potássio (K) mEq/L mmol/L


S Cordão umbilical de 5.0-10,2 1,0 5,0-10,2
prematuro
Prematuro, 48 h 3,0-6,0 3,0-6,0
Cordão umbilical de 5,6-12,0 5,6-12,0
recém-nascido
Recém-nascido 3,7-5,9 3,7-5,9
Lactente 4,1-5,3 4,1-5,3
Criança 3,4-4,7 3,4-4,7
Adultos 3,5-5,1 3,5-5,1
P (Hep) Homem 3,5-4,5 3.5-4.5
Mulher 3,4-4,4 3,4-4,4
mEq/dia mmol/dia
U, 24 h 6-10 anos
H 17-54 17-54
M 8-37 8-37
10-14 anos
H 22-57 22-57
M 18-58 18-58
Adulto 25-125 25-125

Pressão parcial de oxigênio (FG3) mm Hg kPa


Sangue de cordão
umbilical
Arterial 5,7-30,5 0,133 0,8-4,0
Venoso 17,4-41,0 2,3-5,5
WB, arterial
Nascimento 8-24 1,06-3,19
5-10 min 33-75 4,39-9,96
30 min 31-85 4,12-11,31
1 h 55-80 7,32-10,64
1 dia 54-95 7,18-12,64
2 dias- 60 anos 83-108 11,04-14,36
> 60 anos > 80 > 10,64
> 70 anos > 70 > 9,31
> 80 anos > 60 >7,98
> 90 anos > 50 >6,65

Ofintintíd
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 877

TABELA 45-1 Valores e I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a - C o n t .

INTERVALOS GE REFERÊNCIA I
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Progesterona ng/dL nmol/L
s Criança pré-púbere 7-52 0,0318 0,2-1,7
Adulto H 13-97 0,4-3,1
Adulto M
Fase folicular 15-70 0,5-2,2
Fase lútea 200-2.500 6,4-79,5
Grávida M
Primeiro trimestre 725-4.400 23,0-139,9
Segundo trimestre 1.950-8.250 62,0-262,4
Terceiro trimestre 6.500-22.900 206,7-728,2

Pró-insulina s pmol/L pmol/L


1,1-6,9 1,1-6,9

Prolaetina s ng/mL MS/L


Sangue do cordão 45-539 1,0 45-539
umbilical
Crianças, estágio
de Tanner 1
Homem <10 <10
Mulher 3.6-12 3,6-12
Crianças, estágio
de Tanner 2-3
Homem <6,1 <6,1
Mulher 2,6-18 2,6-18
Crianças, estágio
de Tanner 4-5
Homem 2,8-11 2,8-11
Mulher 3,2-20 3,2-20
Adulto
Homem 3,0-14,7 3,0-14,7
Multier 3,8-23,0 3,8-23,0
Grávida, terceiro 95-473 95-473
trimestre

Proteína C-Reativa (PGR) s mg/dL mg/L


Adulto (20-60 anos) <0,5 10 < 5

Proteína C-Reativa (sensibilidade alta) s mg/L mg/L


Homens americanos 0,3-8,6 1,0 0,3-8,6
Homens americanos 0,2-12,3 0,2-12,3
brancos
Homens afro-americanos 0,1-8,2 0,1-8,2
Homens mexicanos- 0,2-6,3 0,2-6,3
americancs
Homens europeus 0,3-8,6 0,3-0,6
Homens japoneses <7,a < 7,8
Mulheres americanas 0,2-9,1 0,2-9,1
Mulheres européias 0,3-8,8 0,3-8,8

Proteína da matriz nuclear 22 U/mL kU/L


(NMP-22)
s <10 1,0 <10

Proteína de ligação aD retinoI (RBP) mg/dL g/L


s Nascimento 1,1-3,4 0,01 0,011-0,034
6 meses 1,8-5,0 0,018-0,05
Adulto 3,0-6,0 0,03-0,06

Proteína total g/dL g/L


s Cordão umbilical 4,8-8,0 10 48-80
Prematuro 3,6-6,0 36-60
Recém-nascido 4,6-7,0 46-70
1 semana 4,4-7,6 . . 44-76
7 meses-1 ano 5,1-7,3 51-73
1-2 anos 5.6-7.5 56-75
> 2 anos 6,0-8,0 60-80
Adulto, de ambulatório 6,4-8,3 64-83
Adulto, deitado 6,0-7,8 60-78
> 60 anos Menor em ~ 0,2 Menor em ~ < 2,0
878 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 V a l o r e s £ I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a - C o n t .

INTTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais
Proteína total - cont.
mg/dL mg/L
U, 24 h Adulta 1-14 10-140
Excreção mg/dia g/dia
Adulta <100 0,001 <0,1
Grávida <150 <0,15
mg/dL g/L
CSF Prematuro 15-130 15tl-1.300
Recém-nascido a termo 40-120 400-1.200
< 1 mês 20-80 200-800
> 1 mês 15-40 150-400
Liquido ventricular 5-15 50-150
Líquido cisternal 15-25 150-250
g/dL g'L
Amf Início da gravidez 0,2-1,7 2,0-17,0
Final da gravidez 0,175-0,705 1.8-7,1

Razão L/S Amf Ra2ão Razão


Estadc da maturidade
fetal
Imaturo <1,5 1,0 <1,5
Transitório 1,6-2,4 1.6-2,4
Maduro > 2,5 >2,5
Diabético >2.5 >2,5

Ribollavina (Vitamina BJ Mg/dL nmol/L


S 4 24 26,6 106-638
Eritrócitos 10-50 26G-1.330
U > 80 ng/g 0,3 > 24 Mmol/mol
de creatinina de creatinina
U.24H > 100 ng/dia 2,66 > 266 nmol/L

Saturação de oxigênio (s02) WB, arterial Porcentagem Fração de saturação


de saturação
Recém-nascida 40-90 0,01 0,40-0,90
Após RN 94-98 0,94-0,98

Selênio ng/L Mmol/L


s Neonatos < 8,0 (deficiência) 0,0127 < 0,10 (deficiência)
< 2 anos 16-71 0,2-0,9
2-4 anos 40-103 0,5-1,3
4-16 anos 55-134 0,7-1,7
Adultas 63-160 0,8-2.0
WB (Hep) 58-234 0,74-2,97
U, 24 n 7-160 0,09-2,03
Cone. tóxica > 400 > 5,08

Serotonina ng/mL nmol/L


WB 50-200 5,68 280-1140
ng/10 9 plaquetas nmol/10 0 plaquetas
WB 88-1.230 0,00568 0,5-7,0
ng/mL nmol/L
S 30-200 5,68 170-1.140
Mg/dia nmol/dia
U, 24 h 60-167 340-950
Mg/g de creatinina Mmol/mol de creatinina
U 38-101 0,653 25-66
ng/mL nmol/L
CSF 1,0-2,1 5,68 5,7-12,0
ng/10 9 plaquetas nmol/10 9 plaquetas
Soro rico em plaquetas 370-970 0,00568 2,07-5,55

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 879

TABELA 45-1 | Valores e Intervalos de Referência - C o n t .


INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Ana li to Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Serotcnina - cont.
ng/10a plaquetas nmol/109 plaquetas
Plaquetas Isoladas 154-1.086 0,88-6,16
ng/mL nmol/L
Plasma pobre em 0-3,60 5,68 0-12,9
plaquetas

Sódio (Na) S, P mEq/L mmol/L


Cordão umbilical 116-140 1,0 116-140
de prematuro
Prematuro, 48 h 128-148 128-148
Cordão umbilical 126-166 126-166
de recém-nascido
Recém-nascido 133-146 133-146
Lactente 139-146 139-146
Criança 138-145 138-145
Adulto 136-145 136-145
> 90 anos 132-146 132-146
U. 24 h 6-10 anos mEq/dia mmol/L
H 41-115 41-115
M 20-69 20-69
10-14 anos
H 63-177 63-177
M 46-168 48-16B
Adulto
H 40-220 40-220
M 27-287 27-287

Sulfato de desldroepiandrosterona ng/dL nmol/L


s Crianças
1-5 dias, H 12-254 0,027 0,3-6,9
1-5 dias, M 10-248 0,3-6,7
1 mês-5 anos, H 1-41 0,03-1,1
1 mâs-5 anos, M 5-55 0,1-1,5
6-9 anos, H 2,5-145 0,07-3,9
6-9 anos, M 2,5-140 0,07-3,8
10-11 anos, H 15-115 0,4-3,1
10-11 anos, M 15-260 0,4-7,0
12-17 anos. H 20-555 0,5-15,0
12-17 anos, M 20-535 0,5-14,4
Níveis pré-púberes,
estágios de Tanner
1, H 5-265 0,1 -7,2
1. M 5-125 0,1-3.4
2, H 15-380 0,4-10,3
2, M 15-150 0,4-4,0
3, H 60-505 1,6-13,6
3, M 20-535 0,5-14,4
4, H 65-560 1,8-15,1
4, M 35-485 0,9-13,1
5, H 165-500 4,4-13,5
S, M 75-530 2,0-14,3
Adultos MG/dL nmol/L
18-30 anos, H 125-619 3,4-16,7
18-30 anos, M 45-380 1,2-10,3
31-50 anos, H 5-532 1,6-12,2
31-50 anos, M 12-379 0,8-10,2
51 -60 anos, H 20-413 0,5-11,1
61-83 anos, H 10-285 0,3-7,7
Pós-menopausa, M 30-260 •• 0,8-7,0
880 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 V a l o r e s e I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a - C o n t .

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Taxa de filtração glomerular (endógena] mLVmin/1,73mz mL/s/m 2
S ou P e U Homens
17-24 anos 93-131 0,00963 0,90-1,26
25-34 anos 78-146 0,75-1,41
35-44 anos 74-138 0,71 -1,33
45-54 anos 74-129 0,72-1,24
55-64 anos 69-122 0,67-1,18
65-74 anos 61-114 0,59-1,10
78-84 anos 52-102 0,50-0,93
Mulheres
40-49 anos 65-123 0,63-1,19
50-59 anos 58-110 0,56-1,06
60-69 anos 50-111 0,48-1,07
70-79 anos 46-105 0,44-1,01
80 + anos 48-85 0,46-0,82

Telopeptídeo-C S ng/L ng/L


Homens < 1.009 1,0 c 1 009
Mulheres na < 574 <574
pré-menopausa
mg/mol de creatinina mg/mol de creatinina
U Homens 0-505 0-505
Mulheres na 0-476 0-476
pré-menopausa

Testosterona biodisponível S ng/dL nmol/L


Adulto, H 66-417 0,0347 2,29-14,5
Adulto, M 0,6-5,0 0,02-0,17

Testosterona, livre S pg/mL pmol/L


Cordão umbilical, H 5-22 3,47 17,4-76,3
Cordão umbilical, M 4-19 13,9-55,5
Recém nascido, 1,5-31,0 5,2-107,5
1-15 dias, H
Recém-nascido, 0,5-2,5 1,7-8,7
1-15 dias, M
1 -3 meses, H 3,3-8,0 11,5-62,5
1 -3 meses, M 0,1-1,3 0,3-4,5
3-5 meses, H 0,7-14,0 2,4-48,6
3-5 meses, M 0,3-1,1 1,0-3,8
5-7 meses, H 0,4-4,8 1,4-16,6
5-7 meses, M 0,2-0,6 0,7-2,1
6-9 anos, H 0,1-3,2 0,3-11,1
6-9 anos, M 0,1-0,9 0,3-3,1
10-11 anos, H 0,6-5,7 2,1-19,8
10-11 anos, M 1,0-5,2 3,5-18,0
12-14 anos, H 1,4-156 4,9-541
12-14 anos, M 1,0-5,2 3,5-18,0
15-17 anos, H 80-159 278-552
15-17 anos, M 1,0-5,2 3,5-18,0
Adulto, H 50-210 174-729
Adulto, M 1,0-B,5 3,5-29,5

Testosterona, total ng/dL nmol/L


S Cordão umbilical, H 13-55 0,0347 0,45-1,91
Cordão umbilical, M 5-45 0,17-1,56
Prematuro, H 37-196 1,28-6,87
Prematuro, M 5-22 0,17-0,76
Recém-nascido, H 75-400 2,6-13,9
Recém-nascido, M 20-64 0,69-2,22
Criança pré-púbere
1 -5 meses, H 1177 0,03-6,14
1-5 meses, M 1-5 0,03-0,17
6-11 meses, H 2-7 0,07-0,24

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 B81

TABELA 45-1 V a l o r e s e I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a - C o n t .

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Ana li to Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Testosterona, lotai - cont. ng/dL nmol/L
6-11 meses, M 2-5 0,07-0,17
1-5 anos, H 2-25 0,07-0,87
1-5 anos, M 2-10 0,07-0,35
6-9 anos, H 3-30 0,10-1,04
6-9 anos, M 2-20 0,07-0,69
Puberdade, estágio de Tanner
1,H 2-23 0,07-0,80
1, M 2-10 0,07-0,35
2, H 5-70 0,17-2,43
2, M 5 30 0,17-1,04
3, H 15-280 0,52-9,72
3,M 10-30 0,35-1,04
4, H 105-545 3,64-18,91
4, M 15-40 0,52-1,39
5, H 65-800 9,19-27,76
5, M 10-40 0,35-1,39
Adulto, H 260-1.000 9-34,72
Adulto, M 15-70 0,52-2,43

Tiocianato mg/dL nmol/L


S Não-fumantes < 0,4 172,4 < 69
Fumantes <1,2 < 207
Terapia com nitroprussiato 0,6-2,9 103-500
Tóxico >5 > 862

Tireoglobulina (Tg) ng/mL M0/L


s Adulto eutiróideo 3-42 1,0 3-42
Paciente atireóídeo < 5 <5

Tireotropina (harmonia jiUI/mL mUI/L


estimulador da tireóide) (TSH) S Prematuro, 28-36 semanas 0,7-27,0 1,0 0,7-27,0
Sangue do cordão umbilical 2,3-13,2 2,3-13,2
{> 37 semanas)
Crianças
Nascimento-4 dias 1,0-39,0 1,0-39,0
2-20 semanas 1,7-9,1 1,7-9,1
21 semanas-20 anos 0,7-64,0 0,7-64,0
Adultos
21-54 anos 0,4-4,2 0,4-4,2
55-87 anos 0,5-8,9 0,5-8,9
Gestação
Primeiro trimestre 0,3-4,5 0,3-4,5
Segundo trimestre 0,5-4,6 0,5-4,6
Terceiro trimestre 0,8-5,2 0,8-5,2
Sangue total Triagem da < 20 <20
(punctura do recém-nascido
calcanhar}

Tiroxina (Ta) ng/dL nmol/L


S Cordão umbilical 7,4-13,1 12.9 95-168
Crianças
1-3 dias 11,8-22,6 152-292
1-2 semanas 9,9-16,6 126-214
1-4 meses 7,2-14,4 93-186
4-12 meses 7,8-16,5 101-213
1-5 anos 7,3-15,0 94-194
5-10 anos 6,4-13,3 83-172
1-15 anos 5,6-11,7 72-151
Adultos (15-60 anos)
Homens 4,6-10,5 59-135
Mulheres 5,5-11,0 65-138
> 60 arios 5,0-10,7 65-138
Triagem do recém-nascido
1-5 dias >7,5 >97
6 dias > 6,5 > 84
882 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 V a l o r e s e I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a Cont.


L

I N T E H V A L O S DE R E F E H É N C Í A
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Tiroxina, livre (FT4) ng/dL pmot/L
S Recém-nascidos (1-4 dias) 2,2-5,3 12,9 28,4-68,4
Crianças (2 semanas- 0,8-2,0 10,3-25,8
20 anos)
Adultos (21 -87 anos) 0,8-2,7 10,3-34,7
Gestação
Primeiro trimestre 0,7-2,0 9,0-25,7
Segundo e terceira 0,5-1,6 6,4-20,6
trimestres

Transcetolase, eritrccito Eritrócitos 0,75-1,30 U/g 64,53 48,4-83,9 kU/mol


Hb Hb

Transferrina S mg/dL g/L


Recém-nascido 117-250 0,01 1,17-2,5
20-60 anos 200-360 2,0-3,6
> 60 anos 160-340 1,6-3,4

Transtirretina (pré-albumiria) S mg/dL g/L


Adulta (20-60 anos) 20-40 0,01 0,2-0,4

Triglicerídeos Pontos de corte mg/dL mmol/L


recomendados
Normal <150 0,0113 <1,70
Alto 150-199 1,70-2,25
Hipertrigliceridemia 200-499 2,26-5,64
Muito alto >499 > 5,64

Triiodotironina (Ta), livre pg/dL pmol/L


S Cordão umbilical 15-391 0,0154 0,2-6,0
Criança e adulto 210-440 3,2-6,8
Gravidez 200-380 3,1-5,9
Triiodortironina (T3), total ng/dL nmol/L
s Cordão umbilical 5-141 0,0154 0,08-2,17
(> 37 semanas)
Crianças
1-3 dias 100-740 1,54-11,40
1-11 meses 105-245 1,62-3,77
1-5 anos 105-269 1,45-4,14
6-10 anos 94-241 1,26-3,71
11-15 anos 82-213
Adolescentes
16-20 anos 80-210 1,23-3,23
Adultas
20-50 anos 70-204 1,08-3,14
50-90 ares 40-181 0,62-2,79
Gestação
Primeiro trimestre 81-190 1,25-2,93
Segundo e terceiro 100-260 1,54-4,00
trimestres

Troponina I ng/mL H9/L


P (Hep) 0,1 D 1,0 0,10

Troponina T ng/mL ng/L


S <0,01 1,0 <0,01

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 883

TABELA 45-1 Valores e Intervalos de Referência - Cont.

INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Faiar de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Uréia nrtrogenada s mg/dL mmol/L


Cordão umbilical 21-40 0,357 7,5-14,3
Prematuro (1 semana) 3-25 1,1-8,9
Recém-nascido 4-12 1,4-4,3
Lactente/criança 5-18 1,8-6,4
Adulta 6-20 2,1-7,1
Adulto > 60 anos 8-23 2,9-8,2
g/dia mol/dia
U, 24 h 10-20 0,0357 0,43-0,71

Vitamina A S ng/dL nmol/L


1-6 anos 20-40 0,0349 0,70-1,40
7-12 anos 26-49 0,91-1,71
13-19 anos 26-72 0,91-2,51
Adulto 30-80 1,05-2,8

Vitamina B1 WB 90-140 nmol/L 1,0 90-140 nmol/L


(Difosfato de tiamina) Eritrccitos 280-590 ng/g Hb 0,146 40,3-85,0 nmol/mol
de Hb

Vitamina B3 (Veja Riboflavina)

Vitamina BB P (EDTA) ng/mL nmol/L


5-30 4,046 20-121
Deficiência <5 <20,2

Vitamina B1S ng/L pmol/L


S 206-678 0,733 151-497
Aceitável (OMS) > 201 > 147
Deficiência (OMS) < 150 <110

Vitamina C (ácido ascórbico) mg/dL nmol/L


S 0,4-1,5 56,79 23-85
Deficiência <0,2 <11
Leucócito 20-53 na/ 0,057 1,14-3,01 fmol/10 a
a
10 leucócitos leucócitos
•eficiência < 1 o nfl/ < 0 , 5 7 fmol/10 a
1Ge leucócitos leucócitos

Vitamina D S ng/mL nmol/L


25(0H)D 10-65 2,50 25-162
pg/mL pmol/L
1,25<0H)2D 15-60 2,4 36-144

Vitamina E s mg/dL nmol/L


Neonatos prematuros 0,1-0,5 23,2 2,3-11,6
Crianças 0,3-0,9 7-21
Adolescentes 0,6-1,0 14-23
Adultos 0,5-1,8 12-42

Vitamina K s ng/mL nmol/L


0,13-1,19 2,22 0,29-2,64

Zinco ng/dL nmol/L


s 80-120 0,153 12-18
Deficiência < 30 <5
U, 24 h 0,2-1,3 mg 15,3 3-21 nmol

a,-Antitripsina S mg/dL g/L


Adulto (20-60 anos) 90-200 0,01 0,9-2,0
884 KARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-1 Va]ores e Intervalos dc Referência - C o n í .


INTERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Analito Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais
a-Fetoproteíria (AFP) s mg/L g/L
Feto, 1 o trimestre 200-4C0 0,01 2,0-4,0
Sangue do cordão <5 <0,05
umbilical
ng/mL MG/L
Criança, 1 ano <30 1,0 < 30
Adulto (85% da <8,5 < 8,5
população)
Adulta (100% <15 < 15
da população)
ng/mL Mg/L
Soro materno Semanas de gestação (Mediana) (Mediana)
14 25,G 1,0 25,6
15 29,9 29,9
16 34,8 34,8
17 40,6 40,6
18 47,3 47,3
19 55,1 55,1
20 64,3 64,3
21 74,9 74,9
S Marcador tu moral ng/mL M9/L
Marcador detecção precoce 10-20 10-20
Câncer > 1.000 >1.000
Amt pg/mL mg/L
(Mediana) (Mediana)
Semanas de gestação
15 16,3 16,3
16 14,5 14,5
17 13,4 13,4
18 12,0 12,0
19 10,7 10,7
20 8,1 8,1

ps-Micraglobulina mg/dL mg/L


s Adultas 0,11-0,24 10 1,1-2,4
CSF 0-0,24 0-2,4
M9/L M9/L
U 0-160 1,0 0-160

p-caroteno S pg/dL pmol/L


HPLC 10-85 0,0186 0,19-1,58

y-Glutamiliransferase s U/L pkat/L


IFCC, 37"C Homem <55 0,017 <0,94
Mulher < 38 <0,65
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 885

T A B E L A 45-21 Níveis Terapêuticos e Tóxicos dos Fármacos


0 monitoramento de tármacos terapêuticos e a detecção de overdose são aspectos importantes do papel do laboratório no tratamento do paciente. A informação sobre
fármacos fornecida nesta tabela foi colelada de fontes publicadas. 0 conhecimento e as metodologias de mensuração de fármacos estão em Gonstanfte aprimoramento,
por isso pode ser necessário suplementar a informação dada aqui com a informação obtida de outras fontes à medida que elas se tornam disponíveis. A informação de
análises de drogas confiável depende da boa coordenação entre a coleta da amostra, as características da metodologia dos ensaios e as considerações associadas ao
paciente como idade, fase da doença, administração concomitante de medicamentas e procedimentos clínicos aos quais o paciente foi submetido. Os dados aqui
fornecidos não podem ser aplicáveis aos resultados para fármacos conhecidos por desenvolver tolerância Gom o decorrer do tempo e que são administrados
cronicamente, como vários opióides o benzodiazepínicos. Os intervalos terapêuticos fornecidos são relacionados ao uso terapêutico dos fármacos. Os limiares tóxicos
são referentes a overdose acidental, em oposição às overdoses agudas intencionais, em que pode não ocorrer a completa distribuição do fármaco. Na prática, cada
organização deve ter seu próprio conjunto de dados terapêuticos e tóxicos para os fármacos mensurados.
Vários testes para fármacos terapêuticos necessitem de um controle no tempo entre a administração e a coleta da amostra, se a concentração mensurada do
fármaco for otimizada para a aplicação clínica. Gs intervalos terapêuticos e limites tóxicos para os quais os dados são limitados não constam na tabela. Os fármacos
estão listados de acordo com o nome genérico ou químico.
Por conveniência e para economizar espaço, foram utilizadas abreviaçÕes-padrãD comumente empregadas em medicina laboratorial. As abreviações menos comuns e
algumas abreviações não-padronizadas são fornecidas abaixo.

Abreviação Termo
EDTA Acido elilenodiaminotetracético
Hep Heparina
P Plasma
Prem Prematuro
S Soro
Terap Terapêutico
U Urina
WB Sangue total

INVEKVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Fármaco Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Acetaminofen S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L
Terap 10-30 6,62 66-199
Tóxico
4 h após a dose >200 >1.324
12 h após a dose > 50 >132

Á c i d D vai pró ico S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL 6,93 nmol/L


Terap 50-100 346-693
Tóxico > 100 >693

Amicacina
(sulfato) S ou P (EDTA) ng/mL nmol/L
Terap
Pico 25-35 1,71 43-60
Depressão
Infecções menos 1-4 1.7-6,a
graves
Infecções graves 4-8 6.8-13,7
Tóxico
Pico > 35 >60
Depressão > 10 >17

Amiodarcna S ou P (Hep ou EDTA) mg/mL mmol/L


Terap 1,0-2,D 1,55 1,5-3,1
Tóxico > 3,5 > 5,4
Nota: o metabólito desetil é ativo e está presente em concentração igual à do precursor em estado constante; os valores listados representam apenas a amiodarcna

Amitriptilina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 80-250 3,61 299-903
Tóxico >500 > 1.805
Nota: o metabólito nortriptiiina é ativo; os valores listados representam a atividade total do fármaco

Amobarbitai S na/mL nmol/L


Terap 1-5 4,42 4-22
Tóxico >10 >44

Amoxapina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 200-G00 3,19 638-1.914
Tóxico >600 >1.914
Nota: o metabólito 8-hidróxi é ativo; os valores listados representarr i a atividade total do fármaco
886 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-2 N í v e i s T e r a p ê u t i c o s e T ó x i c o s dos F á r m a c o s - C o n t .

INVERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Fármaco Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Brometo como brcminea S pg/mL mmol/L


Terap 750-1.500 0,0125 9,4-18,7
Tóxico > 1.250 > 15,6

Bupropiona S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol//L


Terap 25-100 4,17 104-417
Tóxico >100 > 417

Cafeína S ou P (Hep ou EDTA) pg/mL pmol/L


Terap 8-14 5,15 41-72
Tóxico >20 > 103

Carbamazepina S ou P (Hep ou EDTA) pg/mL pmol/L


Terap 4-12 4,23 17-51
Tóxico >15 >63
Nota: o metabóiito 10,11-epóxido é ativo; os valores listados representam apenas carbamazepina

Carbamazepina-10,11 -epóxidc S pg/mL pmol/L


Terap 0,4-4 3,97 1,6-15,9
Tóxico > 8 > 31,8

Carbeniciiina S ou P (Hep ou EDTA) pg/mL pmol/L


Terap Depende da 2,64 Idem
concentração
inibitória mínima
de um organismo
específico
Tóxico > 250 >660
(neurotoxicidade)

Ciclosporina A WB (EDTA) Terap ng/mL nmol/L


12 h após a dose 100-400 0,832 83-333
24 h após a dose 100-200 83-166
Tóxico > 4C0 >333

Ciprofloxacina S pg/mL pmol/L


Terap
Pico (dose oral) 0,5-1,5 3.02 1,51-4,53
Pico (dose IV) <5,0 < 15,1
Tóxico >5,0 > 15,1

Cionazepam S ou P (Hep cu EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 15-60 3,17 48-190
Toxico > BO > 254

Clonidina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 1,0-2,0 4,35 4,4-8,7

Cioranfenicoi S OU P (Hep OU EDTA) pg/mL pmol/L


Terap 10-25 3,09 31-77
Tóxico >25 > 77
Síndrome d c bebê cinzento >40 > 124

Clcrazepatc S OU P (Hep OU EDTA) pg/mL pmol/L


Terap (como 0,12-1,0 3,01 0,36-3,01
desmetildiazepam)

Ciordiazepóxido S ou P (Hep oo EDTA) ng/mL pmol/L


Terap 700-1.000 0,0033 2,3-3,3
Tóxico > 5.000 > 16,7
Nota: o metabóiito nordiazepam é ativo; os valores listados representam a atividade total do fármaco

Clorpromazina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap
Adulto 50-300 3,14 157-942
Criança 40-80 126-251
Tóxico >750 > 2.355

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 887

TABELA 45-2 N í v e i s T e r a p ê u t i c o s e T ó x i c o s dos F á r m a c o s - C o n t .

IN VER VALOS DE REFERÊNCIA


Unidades Fator de Unidades
Fármaco Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Clozapina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 100-600 3,06 306-1,836
Tóxico >900 > 2.754

Delavi rdina p,g/mL


S Terap
Depressão 3-8 1,80 5,4-14,4
Pico 14-16 25,2-28,8
Tóxico >16 > 28,8

Desipramina S ou P (Hep ou EDTA)


ng/mL nmol/L
Terap 75-300 3,75 281-1.125
Tóxico > 40Q >1.500

Diazepam S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 100-2.000 0,0035 0,35-7,0
Tóxico > 5.000 > 17
Mota: • metabóiito nordiazepam é ativo; os valores listados representam o fármaco ativo total

Didanosina ng/mL i^mol/L


Terap
Depressão 0,1-0,3 4,23 0,4-1,2
Pico 0,7-1,5 3,0-6,4
Tóxico >1,5 >6,4

Difenilldarloína (veja Fenitoína)

Digitoxina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 20-35 1.31 26-46
> 8 h após a dose Tóxico >45 > 59

Digoxina S ou P (Hep OU EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 0,5-1,0 1.28 0,64-1.28
(> 12 h após a dose) Tóxico
Adulto >2,0 >2,6
Criança > 3,0 >3,8

Disopiramida S ou P (Hep ou EDTA) Mfl/mL nmol/L


Terap
ArTitmias
Atrial 2,0-5,0 2,95 5,9-14,8
Ventricular 3,3-7,5 9,7-22,1
Tóxico >7 > 20,6

Doxepina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 150-250 3,58 537-895
Tóxico >500 > 1.790
Nota: o metabóiito nordoxepina ativo; os valores acima representam o fármaco ativo total

Efavirenz S |jg/mL jumol/L


Terap 0,5-2,9 3,16 1,6-9,2
Tóxico > 2,9 > 9,2

Etosuximida S OU P (Hep 0U EDTA) pg/mL Mmol/L


Terap 40-100 7,08 283-708
Tóxico > 150 >1.062

Felbamato S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 40-100 4,20 168-420
Tóxico >120 > 504

Fenitoína S ou P (hep ou EDTA) ng/mL'L (imol/L


Terap 10-20 3,96 40-79
Tóxico > 2G >79
888 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 4 5 - 2 Níveis Terapêuticos e Tóxicos dos Fármacos - Cont.


IFTVERVALQS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Fármaco Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Fenobarbital S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap
Crianças 15-35 4,31 65-151
Adultos 20-40 86-173
Tóxico
Lentidão, ataxia, 35-80 151-345
nistagmo
Coma, com reflexos 65-117 280-504
Coma, sem reflexos > 100 >431

Flecainida S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL 2.41 nmol/L


Terap 0,2-1,0 0,5-2,4
Tóxico >1,0 >2,4

Fluoxetina S ng/mL nmol/L


Terap 1UU-1.4Ü0 3,23 323-4,522
Tóxico > 2.000 > 6 460
Nota: o metabólito norlluoxetina é ativo; o limite tóxico representa • fármaco ativo total

Flurazepam S ou P (EDTA) NG/ML nmol/L


Terap 0,02-0,01 2,58 0,05-0,26
Tóxico > 0,2 > 0,5
| Nota:o metabólito N-desalquilflurazepam á ativo; o limite tóxico representa o fármaco ativo total

Gabapentina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 2-12 5,84 12-70
Tóxico > 12 >70

Gentamicina S ou P (EDTA) ng/mL nmol/L


Terap
Pico
Infecções mencs 5-8 2.09 10,5-16,7
graves
IrfecçÕes graves 8-10 16,7-20,9
Depressão
Infecções menos <1 < 2
graves
Infecções moderadas <2 <4
Infecções graves <4 < 8
Tóxico
Pico > 10 >21
Depressão >2 >4

Haloperidol S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 1-10 2,66 2,7-26,6
Tóxico >42 >112

Imipramina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 150-250 3,57 536-893
Tóxico > 500 >1.785
| Nota: o metabólito desipramina é ativo; os valores listados representam o fármaco ativo total

Indlnavir S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap
Depressão > 0,1 1,41 > 0,14
Pico 8-10 11,3-14,1
Tóxico >10 >14,1

Isoniazitía S ou P (Hep ou EDTA) n^mL nmol/L


Terap 1-7 7,29 7-51
Tóxico >20 > 146

Kanamicina S ou P (EDTA) ng/mL nmol/L


Terap
Pico 25-35 2,06 52-72
Depressão
Infecções menos 1-4 2-8
graves
Infecções graves 4-8 8-17
Tóxico
Pico > 35 > 72
Depressão > 10 > 21

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 889

TABELA 4 5 - 2 Níveis Terapêuticos e Tóxicos dos fármacos - Cont.


* INVEFIUALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Fármaco Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Lamivudina s ng/mL pmol/L


Terap
Depressão 0,1-10 4,36 0,5-4,4
Pico 1,4-1,3 6,1-7,9
Tóxico > 5 >21,8

Lamotrigina S ou P (Hep ou EDTA] ng/mL nmol/L


Terap
Depressão 1-2 3,91 3,9-7,8
Pico 5-8 19,6-31,3
Tóxico >10 >39,1

Levetiracetam S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap
Depressão 3-34 5,88 18-200
Pico 10-63 59-371
Tóxico >63 > 371

Lidocalna S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 1,5-6,0 4,27 6,4-26
> 45 min após uma Tóxico
dose em bolus SNC, depressão 6-8 26-34
cardiovascular
Convulsões, >8 > 34
embotamento,
diminuição do
débito cardíaco

Lítio S ou P (Hep o u EDTA] mEq/L mmol/L


Terap 0,6-1,2 1,0 0,6-1,2
Tóxico > 2 > 2

Mefobarbital S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 1-7 4,06 4,1-28,4
Tóxico > 15 > 60,9

Meprobamato S ng/mL nmol/L


Terap 6-12 4,58 28-55
Tóxico > 60 > 275

Metctrexato S ou P (Hep ou EDTA) nmol/L nmol/L


Tóxico
1-2 semanas após > 0,2 1,00 >0,2
terapia com baixa dose
24 h após terapia >5 >5
com alta dose
48 h após terapia >0,5 >0,5
com alta dose
72 h após terapia >0,05 > 0,05
com alta dose

Mexiletino S o u P (Hep ou EDTA) ng/mL jimol/L


Terap 0,7-2,0 4,64 3,2-9,3
Toxico > 2,0 >9,3

Micofenolato moletil como S OU P (EDTA) ng/mL nmol/L


ácido micofenclico Terap 1,0-3,5 3,12 3,1-10,9
Tóxico > 12 >37,5

N-acetilprocainamida (MAPA, S ou P (Hep ou EDTA) MQ/mL nmol/L


metabóiito procainamidaj Terap 4-30 3,61 14-108
Tóxico >30 > 108
L
Nelfinavir S mg/mL ' nmol/L
Terap 1-3 1,51 1,5-4,5
Tóxico >3 > 4,5
890 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 4 5 - 2 Níveis Terapêuticos e Tóxicos dos Fármacos - Cont.


INVERVALCS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Fármaco Amestra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Netilmicina S jig/mL Mmol/L


Terap
Pico
Infecções menos graves 5-8 2,10 10-17
Infecções graves 8-10 17-21
Depressão
Infecções menos < 1 <2
graves
Infecções <2 <4
moderadas
Infecções graves <4 <8
Tóxico
Pico > 10 >21
Depressão > 2 > 4

Nevirapina S ng/mL (jmol/L


Terap
Depressão 3-8 3,76 11,3-30,1
Pico 10-15 37,6-56,4
Tóxico >15 > 56,4

Nortriptilina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 50-150 3,80 190-570
Tóxico >500 > 1.900

Olanzapina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 10-1.000 3,20 32-3.200
Tóxico >1.000 > 3.200

Oxazepam S ou P (Hep ou EDTA) M g/mL (iinol/L


Terap 0,2-1,4 3,49 0,70-4,9

Oxcarbazepina S ou P (EDTA) ng/mL nmcl/L


monitorado como metabólito Terap
monoidróxi (MHD) Depressão 6-10 3,97 24-40
Pico <4(1 < 159
Tóxico > 40 > 159

Pentazocina S ou P (hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 0,05-0,2 7,57 0,4-1,5
Tóxico > 1,0 >7,6
Tóxico >3,0 >22,7

Pentobarbital S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL ^mol/L


Terap
Hipnótico 1-5 4,42 4-22
Coma terapêutico 20-50 aa-221
Tóxico > 10 >44

Primidona S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL fimol/L


Terap 5-12 4,58 23-55
Tóxico > 15 >69
Nota: o fenobarbital é um metabólito ativo; os valores listados refletem apenas primidona

Procainamida S ou P (Hep ou EDTA) Mg/mL nmol/L


Terap 4-12 4,23 17-51
Tóxico > 10 > 42
Nota: a N-acetilprocainamida (NAPA) é um metabólito ativo; os valores listados refletam apenas a procainamida

Propafenona S ou P (EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 0,5-2,0 2,93 1,5-5,9
Tóxico >2 > 5,9

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 45 891

TABELA 45-2 Níveis Terapêuticos e Tóxicos dos Fármacos - Cont.


INUERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Fármaco Amostra Condição Convencionais Conversão internacionais

Protriptilina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 70-260 3,80 266-988

Tóxico > 500 > 1.900

Queliapina S ou P (EDTA) mg/L nmol/L


Terap 0,1-1,0 2,58 0,26-2,6

Tóxico > 2 5,16

Quinidira S QLI P (Hep ou EDTA) PG/ML nmol/L


Terap 2-5 3,08 6,2-15,4

Toxico > 6 > 18,5

Ritonavir S MQ/mL nmol/L


Terap
Depressão 1-6 1,39 1,4-8,4

Pica 8-14 11,1-19,5

Tónico > 14 :> 1 9 , 5

Salicilatos como ácido S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL mmol/L


salicílico Terap
Analgésico, antipirético < 100 0,00727 < 0,72
Antiintlamatório 150-300 1,09-2,17

Tóxico > 100 > 0,72

Letal, + de 24 li > 500 > 3,62


após a dose ou
ingestão crônica

Saquinavir S ng/mL nmol/L


Terap
Depressão 0,05-0,2 1.49 0,07-0,30

Pico D,5-2,5 0,75-3,73

Tóxico > 2,5 >3,73

Secobarbital S ng/mL nmol/L


Terap 1-2 4,20 4,2-8,4
Tóxico > 5 >21,0

Sertralina S ng/mL nmol/L


Terap
Depressão 20-50 3,27 65-164
Pica 100-200 327-654
Tóxico > 500 > 1.635

Sirolimus WB (EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 3-20 1,10 3,3-22
Tóxico > 20 > 22

Sulfonamidas (todas) S CL P (Hep ou EDTA) mg/mL mmol/L


Terap 5,0-15,0 5,81 29,1-87,2
Tóxico > 20,0 > 116,2

Tacrolimus WB (EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 3-20 1,30 3,9-26,0
Tóxico >25 > 32,5

Teofilina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap
Broncodi latador 8-20 5,55 44-111
Apnéia PREWI 6-13 33-72
Tóxico > 20 > 110
Nota: as metabólitos cafeína e 3-metilxantina são ativos; os valores representam apenas a teotilina
892 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 4 5 - 2 Níveis Terapêuticos e Tóxicos dos Fármacos - Cont.


INVERVALOS DE REFERÊNCIA
Unidades Fator de Unidades
Fármaco Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais

Tiagabina S ng/mL nmol/L


Terap
Depressão 5-35 2,66 14-93
Pico 110-520 293-1.383

Tóxico > 520 >1.383

Tiopental S ou P {Hep OU EDTA) ng/mL pmol/L


Hipnótico 1-5 4,13 4-21

Coma 30-100 124-413

Anestésico 7-130 29-536

Tóxico > 10 > 41

Tioridaiina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL (imol/L


Terap 1,0-1,5 2,70 2,7-4,1
Tóxico >10 >27

Tobramicina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL pmol/L


Terap
Pico
Infecções menos 5-8 2,14 11-17
graves
Infecções graves 8-10 17-21
Depressão
Infecções menos < 1 < 2

graves
Infecções moderadas < 2 < 4

Infecções graves < 4 < 9

Tóxico
Pico > 10 > 21

Depressão > 2 > 4

Tolbutamida S ng/mL (imol/L


Terap 90-240 3,70 333-808
Tóxico >640 > 2.368

Topiramato S ng/mL nmcl/L


Terap
Depressão 2-4 2,95 6-12

Pico 9-12 27-36

Tóxico > 12 >36

Trazodona ng/mL nmol/L


Terap 800-1.600 2,68 2.144-4.288

Tóxico > 2.500 > 6.700

Trimipramina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 100-300 3,40 340-1.020

Tóxica >300 >1.020

Vancomicina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap
Pico 20-40 0,69 14-28

Depressão 5-10 3-7

Tóxico >80 > 55

Venlafaxina S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmol/L


Terap 70-250 3,61 253-903

Tóxico >250 > 903

Nota: o metabólito o-desmetilvenlafaxina é ativo; os valares listados refletem apenas venlafaxina

Continua
Informações de Referência para Laboratórios Clínicos CAPÍTULO 4.5 893

TABELA 45-2 N í v e i s T e r a p ê u t i c o s e T ó x i c o s dos F á r m a c o s - C o n t -

- - * ÍN VER VALOS DE REFERÊNCIA

Unidades Fator de Unidades


Fármaco Amostra Condição Convencionais Conversão Internacionais
Zalcitabina (ddC, S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL nmolVL
2 , ,3'-didesoxicitidina) Terap 5-25 4,73 24-119
Tóxico > 25 > 119

Zidovudina (AZT, S ou P (Hep ou EDTA) ng/mL pmol/L


azidodeoxitimidina) Terap 0,02-1,2 3,74 0,08-4,49
TÓXiCC >1,2 > 4,49

Zonisamida iig/mL nmol/L


Terap 10-30 4,71 47-141
Tónico >30 >141

REFERÊNCIAS Slish JC, Catanzaro L M , M a Q, Okusanya O O , Demeter L, A l b r e c h t M ,


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Schulz M , Schmoldt A . Therapeutic and toxic b l o o d concentrations of more
than 800 drugs and other xenobiotics. Pharmazie 2003;58:447-74

TABELA 45-3 Valores Críticos


0s valores críticos, também conhecidos cama valares de alerta ou pânico, são resultados laboratoriais que indicam uma situação de ameaça à vida para o paciente.
Devido à situação crítica, é necessária a notificação urgente do valor crítica para o profissional de saúde, A Tabela 45-3 tci adaptada a partir de extensas pesquisas
norte-americanas e apresenta o limite mediano ou médio crítico determinado por estas pesquisas. Na prática, cada organização deve ter o seu próprio conjunto de
limites críticos e política de notificação médica.

Teste Unidades Limite Mínimo Limite Máximo Comentários

ÊASES SANGUÍNEOS
PH 7,2 7,6 Arterial, capilar
PC02 mm Hg 20 70 Arterial, capilar
POi mm Hg 40 - Arterial
POs (crianças) mm Hg 45 125 Arterial
P02 (recém-nascido) mm Hg 35 90 Arterial

QUÍMICA
Albumina (crianças) g/dL 1,7 6,0 Soro ou plasma
Amónia (crianças) pino l/L - 109 Plasma
Bilirrubina (recém-nascido) mg/dL - 15 Soro ou plasma
Cálcio mg/dL 6,0 13 Soro ou plasma
Cálcio (crianças) mg/dL 6,5 12,7 Soro ou plasma
Cálcio ionizado mmol/L 0,75 1,6 Plasma
Dióxido de carbono, total mmol/L 10 40 Soro cu plasma
Cloreto mmol/L ao 120 Soro ou plasma
Creatinina mg/dL - 5,0 Soro ou plasma
Creatinina (crianças) mg/dL - 3,8 Soro ou plasma
Glicose mg/dL 40 450 Soro ou plasma
Glicose (crianças) mg/dL 46 445 Soro ou plasma
Glicose (recém-nascido) mg/dL 30 325 Soro ou plasma
Glicose, CSF mg/dL 40 200 CSF
Glicose, CSF (crianças) mg/dL 31 - CSF
Lactato mmcl/L - 3,4 Plasma
Lactato (crianças) mmol/L - 4,1 Plasma
Magnésio mg/dL 1,0 4,7 • • Soro ou plasma
Osmolalidade m Os m/kg 250 325 Soro ou plasma
Fósforo mg/dL 1,0 8,9 Soro ou plasma
Potássio mmol/L 2,8 6,2 Soro ou plasma
Potássio (recém-nascido) mmol/L 2,8 7,8 Soro ou plasma
894 PARTE VI Informações de Referência

TABELA 45-3 Valores Críticos


Teste Unidades Limite Mínimo Limite Máximo Comentários

Proteína (crianças) g/dL 3,4 9,5 Soro ou plasma


Proteína, CSF (crianças) mg/dL 188 C3F
Sódio mmol/L 120 160 Soro ou plasma
Uréia nitrogenada mg/dL 80 Soro ou plasma
Uréia nitrogenada (crianças) mg/ril 55 Gora ou plasma
Ácido úrico mg/dL 13 Soro ou plasma
Ácido úrico (crianças) mg/dL 12 Soro ou plasma

HEMATOLOGIA
Hematócrito
Adulto % 20 60 Somente 0
primeiro registro
Recém-nascido % 33 71
Hemoglobina
Adulto g/dL 7 20 Somente o
primeiro registro
Recém-nascido g/dL 10 22
Leucograma
Adulto x 10 a / M L 2,0 30 Somente o
primeiro registro
Crianças x 10 3 /(iL 20 43
Plaquetas * 103/|oL 40 1.000
Blastos Qualquer um visto (somente o primeiro registro)
Drepanócitos Presença de células falciformes ou crise aplásica

COAGULAÇÃO
Fibrinogènio mg/dL 100 800
Tempo de piotrombina 30
Tempo de tromboplastina parcial 78

URINÁLISE
Microscópica Presença de cristais patológicos (urato, cisteína, leucina ou tirosina)
Química Glicose e cetonas fortemente positivas

LIQUIDO CEREBROESPINAL
Leucograma (0-1 ano) Células por jiL >30
Leucograma (1-4 anos) Células por jaL >20
Leucograma (5-17 anos) Células por JIL >10
Leucograma ( > 17 anos) Células por pL >5
Células malignas, blastos em microrganismos Qualquer um Aplicável a outros fluidos corporais estéreis

REFERÊNCIAS Kost GJ. U s i n g criticai limits to improve patient outcome. M e d Lab Observ
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Glossário

3,4-di ídroxifenilglicol ( D H P G ) ; O metabo- missor inibitório no sistema nervoso pelo espessamento de várias partes do
li to produzido dentro dos nervos noradre- central. esqueleto.
nérgicos do sistema simpático periférico A c i d o Graxo Essencial: Acido graxo que não Acuraria do Diagnóstico: A proximidade de
ou sistema nervoso central pela cies anima- é sintetizado no corpo bumano. São concordância entre valores obtidos a
ção da norepinefrina (também pode ser exemplos os ácidos linoléico, linolênico e partir de u m teste diagnóstico (teste-
formado a paTtir da epinefnna); é O-meti- araquidônico. índice) e aqueles do padrão de referência
lado a metoxi-hidroxifenil glicol nos A c i d o Graxo: Qualquer ácido monocarboxí- (padrão-ouro) para uma doença ou distúr-
tecidos extraneurais. lico de cadeia linear. Os ácidos graxos são bio especifico; esses resultados são expres-
a-Fetoproteína: U m a proteína produzida no geralmente classificados como-, ácidos sos de inúmeras formas, incluindo sensi-
fígado fetal usada para prever o risco de graxos saturados, aqueles sem ligações bilidade e especificidade, valores prediti-
anencefalia, espinha bífida e síndrome de duplas; ácidos graxos monoinsarurados, vos, razões de probabilidade, oiüs ratio
Down. aqueles com uma ligação dupla, e ácidos diagnósticos e áreas sob curvas R O C (recei-
Absortividade \ i o l a r (s): A absorvância de graxos polimsaturados, aqueles com múl- ver operating characteristic).
uma solução u m molar de u m de ter mi' tiplas ligações duplas. Adeno-hipófise: O lobo glandular anterior
nado compostoj em u m determinado Á c i d o Homovanílico ( A H V ) : Produto do
da glândula hipófise.
comprimento de onda e com 1 cm de metabolismo da dopamina; concentra- Aditivos: Componentes adicionados a amos-
espessura, sob condições prescritas do sol- ções urinárias elevadas são usadas para
tras biológicas para evitar que coagulem
vente, temperatura, p H etc.; expressa em diagnosticar neuroblastomas.
ou para preservar seus constituintes.
L / m o l x cm'1. Ácido Nucléico: U m polímero feito de
Afinidade: Energia de interação de u m
Absortividade: Medida da absorção de monômeros de nucleotídeos (uma parte
único sítio de combinação de u m anti-
energia radiante em u m dado compri- de açúcar, u m ácido fosfórico e uma base
corpo com seu epítopo correspondente
mento de onda e / o u a freqüência com purímca ou pirimidímca), são exemplos o
no antígeno.
que esta passa através da solução de uma ácido desoxirribonucléico ( D N A ) e o
Agentes Antiarrítmicos: Agentes utilizados
substância a uma concentração de 1 m o l / ácido ribonucléico (RNA).
no tratamento ou prevenção de arritmias
L; é expressa como a absorvância dividida Á c i d o Vanililmandélico ( V M A ) : O princi-
cardíacas. Os agentes antiarrítmicos são
pelo produto da concentração de uma pal produto final do metabolismo da
frequentemente classificados em quatro
substância e o comprimento da trajetória norepinefrina e epinefrina, excretado na
grupos principais de acordo com seu
da amostra. urina; formado principalmente no fígado
mecanismo de ação: bloqueadores de
Absorvância (A): A capacidade de uma subs- a partir da oxidação do metoxi-hidroxife-
canais de sódio, bloqueadores beta-adre-
tância em absorver radiação; é expressa nilglicol.
nérgicos, prolongadores da repolarização
como o logaritmo (log) do recíproco da Acidose Metabólica; Processo patológico
e bloqueadores dos canais de cálcio.
transmitância (T) da substância. que leva ao acúmulo de ácido, reduzindo
AgonistasBeta-Adrenérgicos: Medicamentos
Acidemia Orgânica: Distúrbio no metabo- a concentração de bicarbonato e dimi-
que se ligam aos receptores p-adrenérgi-
lismo do aminoácido no qual a enzima n u i n d o o p H ; também conhecida como
degradante deficiente leva ao apareci- déficit primário de bicarbonato. cos, estimulando-os.

mento de u m produto catabólico de u m Acidose Respiratória! Processo patológico Água de G r a u Reagente: Água purificada e

aminoácido no sangue, em vez do desen- que leva ao acúmulo de dióxido de classificada para usos analíticos específi-

volvimento de u m aminoácido precursor. carbono, o que aumenta a PCO? e cos.


Acidemia! p H sanguíneo arterial <7,35. d i m i n u i o p H ; geralmente causada por Alcalemia: p H sanguíneo arterial >7,4.5.

Ácido 5-Aminolevulínico ( A L A ) : Precursor enfisema ou hipovennlação. Alcalose Metabólica: Processo patológico


imediato do porfobilinogemo; duas molé- Acreditação: U m a técnica de auditoria usada que leva ao acúmulo de base, elevando a
culas de A L A se combinam para formar para avaliar a qualidade de u m processo concentração de bicarbonato e aumen-
uma molécula de porfobilinogênio. verificando se os padrões operacionais tando o p H ; também conhecida como
Acido 5-Hidroxiindolacético (5-HIAA): definidos estão sendo seguidos, neste caso excesso primário de bicarbonato.
Metabólito da serotomna (5-hidroxitripta- no desempenho da testagem laboratorial Alcalose Respiratória: Processo patológico
mina) excretado em grandes quantidades remota. que leva à eliminação excessiva de dióxido
por pacientes com tumores carcinóides. Acromegalia: Doença crônica dos adultos de carbono, o que d i m i n u i a P C O j e
Acido GamaAminobutirico (GABA): causada pela hipersecreção do h o r m ô n i o aumenta o p H ; causada por hiper ventila-
Aminoácido que serve como neurotrans- de crescimento hipofisário e caracterizada ção.
896 Glossário

Aldolase: E m i ma glicolítica que cliva a fosfato, A alanina e a aspartato amino- processo único para que apenas sejam
frutose-l,6-hifosfato em dihidroxiacetona transferase são exemplos que têm utili- produzidos os resultados para u m único
e gliceraldeído-3-fosfato. dade clinica significante. analito. Também conhecida como análise
Aldosterona: Principal h o r m ô n i o es ter ó ide AmperomeLria: U m processo eletroquímico de teste único.
mineralocorticóide secretado pelo córtex em que a corrente é determinada em Análise Seqüencial: T i p o de análise na qual
adrenal. Controla o equilíbrio hidrossa- diferença de potencial fixo (controlado) cada amostra em u m lote entra no pro-
lino renal. entre os eletrodos de trabalho e de refe- cesso analítico uma após a outra, e cada
Alelo: Cópia de u m gene; os alelos podem rência em uma célula eletroquimica. resultado ou conjunto de resultados
conter variações na seqüência (mudanças A m p l i c o n : O produto de uma reação de emerge na mesma ordem que as amostras
na seqüência de pares de bases) que amplificação, como a PCR. entraram.
alteram sua expressão ou as característi- A m p l i f i c a ç ã o do A l v o : Qualquer método Análise: As etapas de procedimento desen-
cas funcionais da proteína transcrita. para aumentar a quantidade de ácido volvidas para determinar o tipo o u quan-
Alfa-Amilase: Enzima que catalisa a endo- nucleico alvo, ou seja, o ácido nucléico tidade de u m analito em u m espécime.
hidrólise das ligações glicosídicas 1,4-alfa de interesse. A n a l i t o ; Componente, substância ou cons-
no amido, glicogênio e polissacarideos Amplificação do Sinal: Método que tituinte para o qual o laboratório conduz
relacionados e cligossacarídeos que aumenta o sinal resultante de uma inte- o teste. A substância a ser analisada ou
contêm três ou mais unidades de D - ração molecular que não envolve ampli- mensurada pode ser u m i o n (p. ex.,
glicose ligadas por ligações 1,4-alfa. ficação do DNA-alvo. sódio), uma molécula inorgânica (p. ex.,
A l í q u o t a : Quantidade conhecida de u m Analgésicos: Agentes que aliviam a doT sem fosfato) ou uma molécula orgânica (p.
material homogêneo, a qual se assume causar perda de consciência. ex., etanol, glicose, gonadotrofina cotiô-
ser obtida com erro de amostragem Análise de Acesso Aleatório: T i p o de análise nica h u m a n a ou imuncglobulina G).
ínfimo ( I U P A C — U n i ã o Internacional na qual qualquer amostra, pelo comando A n d r ó g e n o s i U m a classe de hormônios
para Química Pura e Aplicada); informal- do sistema processador, é analisada pOT sexuais que produzem masculinização.
mente, uma portão de uma amostra qualquer processo disponível, em seqü- Andropausa: A redução da função gonadal
como sangue ou urina (n); u m processo ência ou não a outras amostras e sem masculina com idade avançada.
para dividir uma solução em alíquotas respeitar a ordem inicial. Androstenediona: Esferóide androgênico
(v). Análise de Fluxo C o n t í n u o : U m tipo de produzido pelos testículos, córtex adrenal
Alosteria; Fenômeno pelo qual a conforma- análise no qual cada amostra do lote e ovários. Ocorre na natureza como A 4 -
ção de u m a enzima o u outra proteina é passa pelo mesmo fluxo contínuo na andrnstenediona e A^-mdrostenediona.
alterada pela ligação — em u m outro aí Lio mesma velocidade e é submetida às A andtostenediona é convertida metabo-
que não o sítio de ligação ao substrato mesmas reações analíticas. licamente cm testosterona e outros
— com uma pequena molécula referida Análise de Massas: Processo pelo qual u m a andrógenos.
como efetor, o que resulta em aumento mistura de espécies icnicas é identificada A n e m i a Falciforme: U m tipo autossômico
o u redução da atividade da enzima. segundo a relação entte a massa e a carga dominante de anemia hemolítica causada
Alteração: U m a variação ou mudança na { m / z ) (íons). pela presença de hemoglobina S c o m
seqüência de D N A . Pode ser benigna o u Análise e m Lote: U m tipo de análise no entrócitos anormais em forma de foice
causar doença. qual muitas amostras são processadas na {células falciformes).
A m e n o r r é i a ; A ausência de menstruação. mesma sessão o u "curso" analítico. Anencefalia: Defeito de nascença caracteri-
A m i n o á c i d o : U m composto orgânico que Análise Independente: U m tipo de análise zado por u m cérebro que não se desen-
contém ambos os grupamentos funcio- no qual cada amostra em u m lote tem os volve normalmente.
nais amino (-NH2) e carboxila (- espaços físicos e químicos separados de A n f e t a m i n a : A m i n a simpatomimética que
COOH). qualquer outra amostra. tem efeito estimulante sobre o sistema
A m i n o a c i d o p a t i a : U m distúrbio do meta- Análise M u l t i c a n a l : T i p o de análise no qual nervoso central e periférico.
bolismo de aminoácido no qual o ami- cada amostra é submetida a múltiplos A n f ó l i t o : U m a molécula que contém tanto
noácido precursor está elevado no sangue processos analíticos para que vários resul- grupos ácidos como básicos (também
ou na urina. tados de testes sejam obtidos de uma denominada zwitterion).
A m i n o á c i d o s Essenciais: Aminoácidos que única amostra; também conhecida como A n g i n a Instável: Angina cuja gravidade,
não podem ser sintetizados pela maioria artdlise tnulüteste duração o u freqüência esteja aumen-
dos mamíferos e, portanto, são conside- Análise M u l t i p l e x : Avaliação simultânea de tando.
rados constituinte? essenciais da dieta múltiplos analitos em uma única A n g i n a : D o r no peito geralmente associada
para a manutenção da saúde o u cresci- amostra. à redução no suprimento de oxigênio
mento. Análise Muhivaríada: Consideração de (isquemia} para o músculo cardíaco.
Aminotransferases: Subclasse de enzimas mais de u m teste simultaneamente. Angiografia: Visualização das artérias coro-
da classe transferase que catalisa a trans- Análise Paralela: T i p o de análise no qual nárias 1 geralmente utilizando equipa-
ferência de u m grupo a m i n o de u m todas as amostras são submetidas a uma m e n t o radiográfico, em seguida a uma
doador (geralmente um aminoácido) série de processos analíticos ao mesmo injeção de u m contraste radiografica-
para u m aceptor (geralmente u m 2-ceto- tempo, de forma paralela. mente opaco.
ácido). A maioria dessas enzimas é de Análise por V i a Ú n i c a : U m tipo de análise Angioplastia: U m procedimento usado para
proteínas dependentes de piridoxil no qual cada amostra é submetida a u m eliminar áreas de estreitamento nos vasos
Glossário 897

sanguíneos; normalmente realizada por que é utilizada para registrar a completa Autossomo: U m cromossomo não-sexual;
cateter com balão inflável n o local do absorção do espectro em milissegundos. existem 22 pares de autossomos no
estreitamento. Arritmia: Qualquer variação no ritmo genoma humano.
Anticoagulante: Qualquer substrato que normal do batimento cardíaco. Avaliação da Qualidade Externa: O pro-
evite a coagulação do sangue. (Tecnicamente, arritmia significa ausên- grama de qualidade no qual as amostras
A n t i c o r p o M o n o c l o n a l : Produto de u m cia de ritmo. U m batimento cardíaco são submetidas a laboratórios para análise
único clone ou linhagem de pias mó ei- rápido ou lento, em contraste, pode ter e os resultados de u m laboratório indivi-
tos. batimento rítmico e, assim, o rermo dis- dual são comparados aos resultados do
A n t i c o r p o : Molécula da classe das imuno- ritmia é algumas vezes usado para essas grupo de laboratórios participantes.
globulinas (Ig) (p. ex., IgA, IgG ou IgM) anormalidades.) Avidez: Força de total de ligação de um
que se liga, especificamente, a u m anti- Artérias Coronárias: Pequenos vasos sanguí- anticorpo a u m antígeno; inclui a soma
geno ou hapteno. neos que se originam da aorta, acima da das afinidades das ligações de todos os
Antiepilético: Substância paia prevenir ou válvula aórtica, e que fornecem supri- sítios de combinação individuais no anti-
suavizar crises convulsivas.. mento sanguíneo aos tecidos cardíacos. corpo.
Antígeno Oncofetal: Proteínas produzidas Ascite: Líquido seroso que se acumula na Avitaminose: Doença, descrita como uma
durante a fase fetal cujas concentrações cavidade abdominal. síndrome de deficiência, resultante da
se tornam baixas ou não detectáveis após Aterosclerose: U m distúrbio no qual depó- carência de vitamina.

o nascimento. Elas reaparecem em sitos de placas amareladas contendo Azotemia: Excesso de uréia ou de outros

algumas formas de câncer por causa da colesterol, material lipóide e células espu- compostos nitrogenados no sangue.
mosas de macrófagos são formados p-Lipotropina (f^-LPH): U m polipeptídeo
reativação de um gene nas células malig-
nas transformadas. dentro das camadas íntima e média das com 91 aminoácidos sintetizado pela
artérias de médio e grande calibre. adeno-hipófise que exerce uma ação lipo-
Antígeno Prostático Específico: Proteinase
Ativador: Molécula efetora que aumenta a lítica periférica branda e promove o escu-
serina produzida pelas células epiteliais
atividade catalítica de uma enzima recimento da pele por estímulo aos mela-
de tecido prostático tanto benigno como
quando esta se liga a u m sítio especí- nócitos.
maligno e em alguns outros tecidos.
fico. Bacterióíago: Qualquer vírus que infecta uma
Antígeno: Qualquer material capaz de reagir
Atividade Catalítiva: A propriedade de um bactéria.
com u m anticorpo sem necessariamente
catalisador medida pela velocidade de Balança: U m instrumento usado para pesar.
ser capaz de induzir a formação de anti-
conversão catalisada de uma reação Bmiífixzss: A faixa de comprimento de onda
corpo.
química específica produzida em u m que atravessa u m filtro ou monocroma-
Anti-histamínicos: Antagonistas dos recep-
sistema de ensaio especificado. dor; também chamada de largura de
tores H | e H j cia histamina, usados para
A T S D R : Agency for Toxic Substances and banda, é expressa como o intervalo de
tratar reações alérgicas ou hiperarides
Disease Registry. comprimentos de onda transmitidos em
gástrica.
A u d i t o r i a Clínica: Revisão de histórias de u m ponto igual à metade do máximo de
Anti-soro Policlonal: Anti-soro produzido
casos de pacientes em comparação com intensidade transmitida.
em u m animal hospedeiro normal em
o padrão de melhor prática vigente; Barbitúrico: Qualquer u m de uma classe de
resposta à administração de u m imunó-
usada como ferramenta para melhorar a agentes sedativo-hipnóticos derivados do
geno.
prática clínica. ácido barbitúrico ou do ácido tiobarbitú-
Apoenzima: A parte protéica de uma enzima
A u d i t o r i a : O exame de u m processo para rico e classificados nas classes de ação
que requer uma coenzima ou co-fator
verificar sua acuidade, que neste caso longa, intermediária, curta e ultracurta.
para a catálise. pode ser o uso da testagem laboratorial Base {do D N A ou R N A ) : As purinas e piri-
Apolipoproteínas: Componentes proteicos
remota para garantir que o resultado midinas em uma molécula de ácido nuc-
das lipoproteínas. correto esteja sendo produzido e / o u que léico.
Apoptose: M o r t e celular geneticamente pro- o resultado do paciente esperado esteja Bastão de Imersão: U m dispositivo fácil de
gramada em células animais e humanas sendo apresentado. usar que consiste em uma superfície ou
que funcionam normalmente, quando o A u t ó c r i n o : U m modo de ação hormonal no almofada contendo reagentes sobre o
envelhecimento ou a condição e o estado qual um h o r m ô n i o se liga aos receptores qual se coloca uma gota da amostra (ou
da célula exigem. localizados nos tipos celulares que os pro- o dispositivo é mergulhado na amostra
Arranjo (Microarranjo, Chip de D N A , duzem, afetando sua função. [p. ex., urina]) e que, então, permite que
C/üf» de Genes): Nos estudos de ácidos Automação: O processo pelo qual um ins- se monitore a reação da amostra com os
nucléicos, lâminas ou pérolas de vidro ou trumento analítico realiza muitos testes reagentes (p. ex., por alteração de cor ou
plástico às quais as sondas de D N A se com apenas o envolvimento m í n i m o do alteração eletroquímica).
ligam, com o propósito de estudar o analista; também definida como a opera- Benzodiazepínkos: Qualquer substância do
D N A o u R N A em uma amostra. E m ção controlada de u m aparelho, processo grupo dos tranqüilizantes menores, que
outros tipos de arranjo, as sondas de ou sistema por dispositivos mecânicos ou têm uma estrutura molecular c o m u m e
D N A são substituídas por anticorpos ou eletrônicos sem a intervenção humana. atividade farmacológica semelhante,
antígenos. (Veja também microarranjo.) Auto-radiografia: Uso de uma emulsão foto- incluindo efeitos ansiolíticos, sedativos,
A r r a n j o de Fotodiodo: Matriz bidimensio- gráfica (filme de raios X) para visualizar hipnóticos, amnésicos, anticonvulsivan-
nal de semicondutores sensíveis à luz, moléculas radioativamente marcadas. tes e de relaxamento muscular.
898 Glossário

Betabloqueadors Medicamento que induz o Branco; Reagente Branco: Solução com- Centrifugação: Processo de separação de
bloqueio adrenérgico dos receptores P1 posta de todos os componentes de uma moléculas por tamanho ou densidade
ou p2-adrenérgicos, ou de ambos. reação, exceto a substância a ser anali- usando forcas centrífugas geradas por u m
Bile; Líquido amarelo-esverdeado secretacjo sada. rotor. Forças G de várias centenas de
pelo fígado e armazenado na vesícula Calcitonina: Polipeptídeo produzido pelas milhares de vezes a gravidade são geradas
biliar. células parafoli culares tireoidianas, que, na ultracentrifugação.
B i l i r r u b i n a Conjugada: Bilirrubina que foi em concentrações farmacológicas, reduz Centro Ativo: A parte da enzima ou outra
resgatada pelas células hepáticas e conju- a concentração de cálcio no sangue. proteína na qual ocorre a ligação inicial
gada para formar o diglicuronideo de Cálculo B i l i a r : Formação sólida na vesicula entre o substrato e a enzima para formar
bilirrubina bidroasolúvel. biliar, composta de colesterol e sais bilia- o complexo enzima-substrato intermediá-
B i l i r r u b i n a Direta ( B i l i r r u b i n a Conjugada); res. rio.
A bilirrubina que foi conjugada (geral- Câncer: T u m o r maligno de crescimento Centrômerc: Constrição primária em u m
mente no fígado) para formar a bilirru- potencialmente ilimitado que se expande cromossomo; os centrômeros desempe-
bina hidrossolúvel diglicuronida. localmente por invasão e sistemicamente nham u m uma função importante no
B i l i r r u b i n a Direta: A fração da bilirrubina por metãstase; envolve u m crescimento controle do movimento dos cromosso-
que reage com o reagente diazo na ausên- relativamente autônomo do tecido. mos entre as células-filhas durante a
cia de álcool. Carboidratos: Compostos neutros forma- divisão celular.
B i l i r r u b i n a Indireta; Bilirrubina livre que dos por carbono, hidrogênio e oxigênio C E R C L A : Comprehensive Hnvironmental
não foi conjugada com o ácido glicurô- (em uma proporção de 1:2:1) que consti- Response, Compensation, and Liability
nico. tuem uma classe importante de alimen- Act.
Bilirrubina Não-conj ugada: Bilirrubina tos. Cetonas: Compostos que surgem a partir da
livre que não foi conjugada com o ácido Catalisador: Substância que aumenta a velo- quebra de ácidos graxos; a deficiência de
glicurônico. cidade de uma reação química, mas não insulina provoca o aumento de cetonas
Bioluminescência: E a emissão de luz como é consumida ou alterada por ela. U m a séricas, as maiores responsáveis pela
consequência da oxidação de algum subs- enzima é u m hiocatalisador. acidose metabólica que ocorre em indiví-
trato celular (lucifermas) na presença de Catecolamina: Pertence a u m grupo de duos com cetoacidose diabética.
uma enzima (luciferases); existe em bacté- aminas biogênicas que possuem uma Cirrose B i l i a r P r i m á r i a Forma rara de
rias, fungos, protozoários e espécies per- ação simpaticomimética, cuja porção aro- doença hepática que resulta ria destrui-
tencentes a 40 diferentes ordens animais. mática da molécula é o catecoí e a porção ção irreversível do fígado e dos duetos
B i o r r i t m o : Ocorrência cíclica de eventos alifática, uma amina; os exemplos biliares. A causa é desconhecida, mas
fisiológicos como u m ritmo circadiano. incluem a dopamina, a norepinefrina e a acredita-se que seja auto-imune.
Biossensor: U m tipo especial de sensor, no epinefrina Cirrose: Doença hepática caracterizada,
qual u m componente biológico/bioquí- Célula C r o m a f i m : Células neuroendócrinas patologicamente, pela perda da arquite-
mico, capaz de interagir com o analito e derivadas da crista neuronal embrionária, tura lobular microscópica normal, com
produzir u m sinal proporcional à concen- encontradas na medula da glândula fibrose e regeneração nodular. O termo
tração do analito, é imobilizado na super- adrenal e em outros gânglios do sistema é algumas vezes utilizado para se referir à
fície do eletrodo,, ou em proximidade a nervoso simpático; assim denominadas inflamação intersticial crônica de qual-
ela. A interação entre o biocomponente devido à presença de grânulos citoplasmá- quer órgão. Na cirrose hepática, as células
e o analito é uma reação bioquímica (p. ticGs que praduzem uma reação acasta- do fígado são substituídas por tecido cica-
ex., enzimas) ou u m processo de ligação nhada com os sais de cromo. tricial fibroso. A fibrose leva ao desenvol-
(p. ex., anticorpos), que é percebido pelo Célula Eletroquímica Eletrolítica: U m tipo vimento de hipertensão portal.
transducor eletroquímico. de célula eletroquímica na qual ocorrem Citocromo P450: Termo genérico para
Biotransformação: Séries de alterações quí- reações químicas pela aplicação de uma enzimas oxidativas de função mista,
micas de u m composto (p. ex., uma diferença de potencial externo. Esse tipo importantes na fisiologia de animais,
droga) que ocorrem dentro do orga- de célula forma a base para as técnicas plantas e bactérias.
nismo, por atividade enzimática. eletro analíticas amperométricas, conduti- Clearance Renal: O volume de plasma do
Bloqueador de Canal de Cálcio: U m dos métricas, coulométricas e voltamétricas. qual uma determinada substância é com-
grupos de drogas que inibem a entrada Célula Eletroquímica Galvânica: T i p o de pletamente eliminada pelos rins por
de cálcio para dentro das células ou inibe célula eletroquímica que opera esponta- unidade de tempo.
a mobilização de cálcio a partir do arma- neamente e produz uma diferença de C L I A ' 8 8 : Clinicai Laboratory Improvement
zenamento intracelular, resultando na potencial (força eletromotiva) pela con- Amendments de 1988
lentificaçãc da condução atrioventricular versão de energia química em energia Cloreto do Suor: A concentração do cloreto
e sinoatrial e íeflxa mento do músculo elétrica. Essas células formam a base para no suor; o cloreto do suor aumentado é
liso arterial e do músculo cardíaco; utili- as técnicas eletroanalíticas potenciométri- característico de fibrose cística.
zado no tratamento da angina, arritmias cas. Cocaína: Alcalóide cristalino, obtido das
cardíacas e bipertensão. Célula Eletroquímica: Dispositivo eletro- folhas de Erytfiroxylon coca (folhas de coca)
Bócio: U m aumento da glândula tireóide químico que produz uma força eletromo- e outras espécies de E^t/irajqyíon, ou pela
que causa aumento na parte anterior do tiva. Entre as classes de células eletroqui- síntese de eegonina ou seus derivados;
pescoço.. micas estão a galvânica e a eletrolítica. usada como anestésico local aplicada
Glossário 899

topicamente às membranas mucosas. O (Tg) e pequenas quantidades de tireoal- Constante de Michaelis-Menten (K^:
abuso de cocaína ou seus sais leva à bumina iodada. Operacionalmente definida como a con-
dependência. Complemento: Sistema de proteínas funcio- centração do substrato que permite que
Código Genético: A lista completa dos nalmente relacionadas que compreende uma reação enzimática proceda com a
códons de três nucleotídeos (trifiíets) e os pelo menos 20 proteínas séneas e de metade de sua velocidade máxima.
aminoácidos ou ações que eles "codifi- membrana distintas que auxiliam na des- Contador de Radiação: Contador de
D
cam . truição de células estranhas e vírus iden- líquido ou cristal de cintilação ou conta-
Códon: Seqüência de três nucleotídeos que tificados pelo sistema imune. dor preenchido com gás (p. ex., contador
"codifica" para u m aminoácido durante Comprimento de Onda: Característica da Geiger |Hans Geiger]) usado para detec-
a tradução ou codifica paTa o f i m de uma radiação eletromagnética; a distância tar e medir radiação.
cadeia peptídica ("códon de parada" — entre duas cristas de onda. Contaminação Cruzada (Carry-0<uer): O
"stop codon"); existem 64 códons possí- Comutabilidade! Habilidade de u m mate- transporte de uma quantidade de analito
veis de três nucleotídeos no DNA rial de referência ou de controle para ou reagente que parte da reação de uma
nuclear. demonstrar propriedades interensaio amostra para a seguinte e a contamina.
Coenzima: Molécula orgânica ou substância comparáveis às propriedades demonstra- Controle de Processo do Seis Sigma: Meta
termoesrável e difundível (algumas vezes das pelas amostras clínicas autênticas de desempenho da qualidade que requer
derivada de uma vitamina), de baixo peso quando mensurado por mais de um 6 sigma ou 6 desvios-padrão de variação
molecular, que, quando combinada com método analítico. do processo para se ajustar aos limites de
uma proteína inativa denominada apo-
Condutometria: U m processo eletroquí- tolerância do processo.
enzima, forma um composto ativo
mico utilizado para medir a capacidade Controle de Qualidade Estatístico: Os
chamado de holoenzima que funciona
de uma solução de elerrólito em trans- aspectos do controle de qualidade nos
caraliticamente em u m sistema enzimá-
portar uma corrente elétrica pela migra- quais estatísticas são aplicadas, em con-
tico.
ção de íons em u m gradiente de campo traste com o objetivo mais amplo da
Co-fators Reagente natural, geralmente u m
potencial. U m potencial alternado é apli- garantia de qualidade, que inclui muitos
íon metálico ou uma coenzima, necessá-
cado entre dois eletrodos em uma célula outros procedimentos, como a manuten-
rio a uma reação catalisada por enzima.
de dimensões definidas. ção preventiva, avaliações da função do
Calangite Esclerosante: Estreitamento infla-
Conectividade: A propriedade (p. ex., sof- instrumento e testes de validação do
matório crônico, nãobacteriano, dos
tivare e iund UJÍTÉ O U conexão sem fio) de desempenho.
duetos biliares, frequentemente asso-
u m dispositivo que permite que ele seja Coproporfirina: Uma poifirina com quatro
ciado à colite ulcerativa. O tratamento é
conectado a u m sistema de informação cadeias laterais do tipo metil e quatro do
atenuar a obstrução através de dilatação
(p. ex., u m sistema de informação de tipo ácido propiônico ligadas ao suporte
ou cirurgia.
laboratório) com os principais objetivos do tetrapinol.
Colecistocinina: Peptídeo de 33 aminoáci-
de transmitir os dados do paciente do Corpo Lúteoí U m a massa glandular amarela
dos secretado pela mucosa do intestino
dispositivo para o registro do paciente e no ovário formada pelo folículo ovariano
superior e encontrado também no
de monitorar o desempenho do disposi- que amadureceu e liberou seu óvulo;
sistema nervoso central. Causa a contra-
tivo. secreta progesterona.
ção da vesícula biliar e libera as enzimas
Configuração do Analisador: O formato no Cortisol: Principal glicocorticóide adrenal
pancreáticas exócrinas (ou digestivas), e
qual os instrumentos analíticos são con- sintetizado na zona fasciculada do córtex
influencia outras funções gastrointesti-
figuradas; disponível em sistemas aberto adrenal. Afeta o metabolismo da glicose,
nais.
Colestase: Bloqueio do fluxo normal da e fechado. No sistema aberto, o operador proteínas e lipídios e tem atividade mine-

bile. Pode ocorrer devido à obstrução dos de laboratório modifica os parâmetros da ralocorticóide apreciável.
duetos biliares, resultando em aumento análise e compra reagentes de vários for- Coulometriai U m processo eletroquímico
da bilirrubina na corrente sanguínea necedores. N o sistema fechado, a maioria no qual a quantidade total de eletrici-
(icterícia). dos parâmetros é determinada pelo fabri- dade (ou seja, carga = corrente x tempo)
Colesterolt Álcool esteróide, cante que também fornece os reagentes necessária para eletrolisar uma espécie
que é o componente essencial do meta- em u m recipiente especial. eletroativa específica é medida em solu-
bolismo lipídico. Freqüentemente encon- Configuração R,S: Atribuição da configura- ções sob agitação e em condições de
trado esterificado com u m ácido graxo. ção sobre u m átomo quitai, baseada na potencial controlado ou corrente cons-
Colinesterase: Enzima da classe hidrolase convenção de Cahn-Ingold-Prelog, por tante.
que catalisa a clivagem do grupo acil de designação da seqüência de subsrituintes Creatininoquinase (CK): Enzima diméTÍca
vários ésteres de colina, inclusive acetilco- do maior (L) para o médio (M), para o que catalisa a formação de ATP a partir
lina e alguns compostos relacionados. menor (S); orientação em sentido horário de A D P e creatinina" fosfato no músculo.
Colite Ulcerativa: Doença inflamatória do da seqüência L-M-S recebe a configura- Tem tTês formas: CK-1, CK-2 e / o u CK-
intestino grosso e reto que causa feridas ção R e a orientação em sentido anti- " 3.
(úlceras). horário, a configuração S.. Cromatina: D N A nuclear e suas proteínas
Colóides Material amorfo encontrado nos Conservantes: Substância ou preparação estruturais associadas; a cromatina é
folículos da glândula tireóide. É com- adicionada a uma amostra para evitar arranjada e organizada em u m padrão
posto principalmente de tireoglobulina alterações em seus constituintes. hierárquico no qual o grau de sua con-
900 Glossário

densação aumenta com os níveis mais ria), enquanto a outra (fase móvel) se onda entre o quanta absorvido e o
altos de organização estrutural. move em uma direção definida. emitido.
Cromatografía de Fase Gasosa (GC): U m Cromatograma de l ô n í c o Total (TIC): Na Desnaturação: Alteração parcial ou total na
tipo de cromatografia em coluna no qual espectrometria de massa, a disposição, estrutura de uma proteina, sem alterar a
a fase móvel é u m gás. como uma função de tempo, da soma de estrutura covalente, pela ação de certos
Cromatografia de Fase Reversa: U m tipo de todos os ions produzidos no aparelho. procedimentos físicos (aquecimento, agi-
cromatografia de partição líquida no Cromatograma: U m gráfico ou outra apre- tação) ou de agentes químicos. A desna-
qual a fase móvel é significativamente sentação da resposta do detector, concen- turação pode ser reversível ou irreversí-
mais polar que a fase estacionária. tração de uma substância a ser analisada vel.
Cromatografia de Partição: M o d o de cro- (analito) no efluente ou outra quanti- Dessecador: U m recipiente, preenchido
matografia no qual a separação é baseada, dade usada como medida de concentra- com dessecante, usado para armazenar
principalmente, nas diferenças entre as ção de efluente versus volume de efluente substâncias em ambiente livre de água.
solubilidades dos componentes da ou tempo. Tipicamente, a técnica de con- Detecção de Erros: U m desempenho carac-
amostra na fase estacionária (cromatogra- firmação de escolha é a Cromatografia terístico de u m procedimento de Q C que
fia em fase gasosa) ou nas diferenças Gasosa-Espectrometria de Massa [CG- descreve o quão freqüentemente uma
entre as solubilidades dos componentes EM] série analítica é rejeitada quando os resul-
nas fases móvel e estacionária (cromato- Cromossomo: Estrutura altamente orde- tados contêm erros além da imprecisão
grafia líquida). nada de u m a única molécula de d s D N A inerente ao método.
Cromatografia Eletrocinética Micelar (DNA dupla-fita), compactada muitas D e t e r m i n a n d o : A "quantidade" que é real-
( M E K C ) : H í b r i d o de eletroforese e cro- vezes com a ajuda de proteínas mente medida (p. ex., a concentração de
matografia envolvendo a adição de Curva de Dissociação do Oxigênio: A curva um analito). Por exemplo, se o analito é
agentes químicos ao tampão para produ- sigmoidal obtida quando a SO? do sangue a glicose, o determinando é a concentra-
zir micelas, as quais auxiliam na separa- é representada graficamente contra a ção de glicose. Para uma enzima, o deter-
ção de moléculas sem carga. P0 2 . minando pode ser a atividade enzimática
Cromatografia em Coluna: Técnica de Defeito do T u b o N e u r a l : Defeito congênito ou a concentração de missa da enzima.
separação na qual o leito estacionário do cérebro, na medula espinal ou em Diabetes Insipidus (DI): Distúrbio diabético
está dentro de u m tubo. ambos (p. ex., anencefalia e espinha (definido como produção excessiva de
Cromatografia em Fase Gasosa— bífida). urina) causado pela síntese insuficiente
Espectrometria de Massa (GC-MS): Deleção: Seqüência de D N A que é perdida de h o r m ô n i o antidiurético ( A D H ) ou
Processo analítico que usa a cromatogra- em uma amostra em comparação a uma pelos receptores defeituosos de A D H , ou
fia em fase gasosa acoplada a u m espec- outra. As deleções podem ser tão peque- pela resistência do órgão terminal à sua
tômetro de massa. nas a ponto de conter apenas u m nucle- ação. Isso resulta em insuficiência de rea-
Cromatografia L í q u i d a (LC): Forma de cro- otídeo. bsorção tubular de água no rim.
matografia de coluna na qual a fase D e l t a Clieck: A diferença entre duas men- Diabetes Melí/tws ( D M ) : U m grupo de dis-
móvel é um líquido. surações consecutivas de u m mesmo túrbios metabólicos do metabolismo dos
Cromatografia Líquida de A l t a Eficiência analito em u m mesmo paciente como carboidratos n o qual a glicose é subutili-
( H P L C ) : U m tipo de L C que usa uma medida de garantia de qualidade. zada, produzindo hiperglicemia.
eficiente coluna contendo pequenas par- Densitometria: U m método instrumental Diabetes Melíitus Gestacional (GDM):
tículas de fase estacionária. para medir a absorvância, a reflectância Intolerância a carboidratos que surge
Cromatografia Líquida—Espectrometria de ou a fluorescência de cada fração sepa- durante a gestação.
Massa (LC-MS): Processo analítico que rada em uma fita eletroforética (ou outro Diagnóstico Molecular: U m campo da
usa u m cromatógrafo líquido acoplado a meio) à medida que esta passa por u m medicina laboratorial n o qual os princí-
u m espectrômetro de massa. sistema óptico de medição. pios e técnicas da biologia molecular são
Cromatografia Planar: Técnica de separa- Desfechos: Os resultados relacionados com aplicados para o estudo da doença.
ção na qual a fase estacionária é u m papel qualidade ou sobrevida dos pacientes; os Diálise Peritoneah Difusão de solutos e con-
(cromatografia em papel [PC]) ou uma exemplos incluem mortalidade, estado vecção do líquido através da membrana
camada de partículas sólidas dispersas •funcional, qualidade de vida e bem- peritoneal. A solução de diálise é intro-
em um suporte (cromatografia em estar. duzida e removida da cavidade peritoneal
camada fina [TCL]). Desidroepiandrosterona (DHEA): como procedimento continuo ou inter-
Cromatografia p o r Troca de Ions: T i p o de Esferóide secretado pelo córtex adrenal. mitente.
cromatografia em que a separação é É o principal precursor do andrógeno Diarréia; Passagem de fezes amolecidas ou
baseada, principalmente, nas diferenças nas mulheres. líquidas, mais que três vezes ao dia e / o u
das afinidades de troca iônica dos com- Deslocamento de Stokes: O fenômeno pelo fezes com peso superioi a 2 0 0 / g por
ponentes da amostra. qual substâncias luminescentes ou fluo- dia.
Cromatografia: Método físico de separação rescentes emitem luz em compiimentos D i e t i l a m i n a do A c i d o Lisérgico (LSD):
n o qual os componentes a serem separa- de ondas superiores ao comprimento de Derivado de u m alcalóide encontrado
dos são distribuídos entre duas fases: onda de excitação em que a luz é absor- em certos fungos que têm propriedades
uma delas é estacionária (fase estacioná- vida; a diferença n o comprimento de alucinógenas.
Glossário 901

Digestão; Conversão do alimento, n o estô- rilação oxidativa; este D N A é particular- Dose de Radiação: Quantidade de energia
mago e intestinos, em produtos solúveis mente transmitido através de gerações de radiação absorvida em matéria, con-
e difusíveis, capazes de serem absorvidos por herança materna. vencionalmente expressa em rads, defi-
pelo sangue. d N T P s : D es oxirrib o nucleotídeos trifosfatos nida como 100 ergs absorvidos por grama
D i l u i ç ã o ; O processo (diluindo) de redução (geralmente dATP, dCTP, d G T P e dTTP), de matéria.
da concentração de u m soluto pela os blocos de consnução do D N A . Dose Equivalente Efetiva Total (TEDE): A
adição de u m solvente adicional. Doença Celíaca (Enteropatia Sensível ao dose total de radiação, tanto de fontes
Diretrizes de Prática Clínica: Afirmações Glúten): Doença causada pela interação internas como externas, corrigida para o
sistematicamente desenvolvidas para destrutiva do glúten com a mucosa intes- tipo de radiação. Os limites para a T E D E
auxiliar nas decisões do profissional e do tinal, causando má absorção. Na maioria são estabelecidos em regulamentações
paciente sobre a assistência adequada dos casos, o dano à mucosa é revertido gover n a m en ta i s.
para circunstâncias clínicas especificas; retirando-se da dieta todos os alimentos Droga Genérica: Medicamento não prote-
n o laboratório, elas incluem objetivos que contenham glúten. gido por patente. Também, o nome cien-
para acurácia, precisão e tempo de execu- Doença de C r o h n : Doença inflamatória tífico em oposição ao nome comercial
ção dos exames. crônica que afeta qualquer parte do intes- patenteado.
Dispersão da Luz: A dispersão da luz ocorre tino, do seu início até o ânus. Droga Ilícita: Substância controlada, como
quando a enetgia radiante, passando por Doença de Cushing: Distúrbio caracteri- especificado nas Tabelas I a V da
uma solução, encontra uma partícula e é zado por aumento da concentração de Controlled Substances Act, seções 811 e
dispersada em todas as direções. b o r m ô n i o glicocorticóide adrenal na cor- 812 do título 21 do Código dos Estados
Dispositivos Minimamente Invasivos: rente sanguínea. Unidos (United States Co de, 21 U.S.C
Dispositivos para medir constituintes dos Doença de Graves: U m a doença tireoidiana 811, 812). O termo "droga ilegal" não se
fluidos do corpo sem a necessidade de de caráter auto-imune. Caracterizada por aplica ao uso de uma substância contro-
uma venipuntuta, como n o caso da ion- apresentar pelo menos duas das seguin- lada de acordo com os termos de uma
toforese, para extrair o líquido extracelu- tes condições: hipertireoidismo, bócio e prescrição válida, ou outros usos autori-
lar para a superfície da pele para a men- exoftalmia. Também conhecida na zados pela lei.
suração de glicose, como alternativa a Europa como doença de Basedow. Eclâmpsia: Convulsões e coma que ocorrem
lancetar o dedo para medir a glicose san- Doença de Paget [dos Ossos]: Doença em mulheres grávidas ou em fase puerpe-
guínea. c o m u m e localizada não-metabólica dos ral.
D i s t ú r b i o M i s t o Acido-Base: Ocorrência de ossos, caracterizada pela reabsorção oste- Efeito de Exclusão d o Eletrólito: Os eletró-
mais de u m distúrbio ácido-base simulta- oclástica do osso seguida de reposição de litos são excluídos da fração do volume
neamente; o p H sanguíneo pode estar osso de modo caótico. Tem-se sugeiido de plasma total ocupado por sólidos, o
baixo, alto ou dentro do intervalo de refe- uma causa virai. que acarreta a subestimação da concen-
rência. Doença de W i l s o n : Distúrbio autossômico tração de eletrólitos por alguns
Distúrbios de Oxidação de Á c i d o Graxo: recessivo associado a quantidades excessi- métodos.
U m grupo de distúrbios causados pela vas de cobre nos tecidos, particularmente Efeito de P r i m e i r a Passagem: Metabolismo
deficiência de uma enzima da via de oxi- n o fígado e sistema nervoso central. extensivo de uma droga com alta taxa de
dação dos ácidos graxos, que leva à inca- Doença Hemolítica d o Recém-Nascido: extração hepática antes de atingir a circu-
pacidade de utilizar lipídios como fonte Doença do feto e do tecém nascido lação sistêmica.
de energia. causada por destruição de eritrócitos Elastase-1. U m a serina protease do pâncreas.
Distúrbios do Metabolismo de A m i n o á c i d o ; fetais mediada por anticorpos maternos. U m a carboxiendopeptidase que catalisa
U m grupo de distúrbios causados pela Doença Hepática Alcoólica; A cirrose alco- a hidrólise da elastma nativa com afini-
perda de uma enzima na via metabólica ólica é a condição de doença hepática dade especial pelo grupo carboxila da
do aminoácido, que leva à elevação do irreversível devida aos efeitos tóxicos do Ala, Val e Leu.
nível de aminoácidos no sangue e na etanol e inflamação crônica no fígado. O Elemento-traçoi Molécula inorgânica
urina. desenvolvimento da cirrose está direta- encontrada em tecidos humanos ou
Distúrbios do Metabolismode Carboidratos: mente relacionado à duração e quanti- animais em concentrações expressas em
U m grupo de distúrbios causados pela dade de consumo de álcool. miligrama por quilograma, ou inferior.
perda de uma enzima da via metabólica Doença Renal T e r m i n a l (ESRD): Condição Elemento-ultratraço: Molécula inorgânica
de u m carboidrato, levando a concentra- na qual a função renal é inadequada para encontrada em tecidos humanos ou
ções elevadas daquele carboidrato no manter a vida. animais em concentrações expressas em
sangue e na urina. Doença Ulcerosa Péptica: N o m e coletivo micrograma por quilograma, ou infe-
Diurese; A u m e n t o da excreção de urina. dado à ulceração gástrica e duodenal. rior.
DNA (Ácido Desoxirribonucléico): Dopamina: Catecolamma formada no Eletrocardiograma (ECG): Um registro
Substância biológica que carrega infor- corpo pela descarboxilação da dopa; é gráfico da atividade elétrica produzida
mação genética e é u m polimero de u m produto intermediário na síntese da pelo músculo cardíaco.
nucleotídeos dupla-fita. norepinefrina, que age como u m neuro- Eletrodo de M e m b r a n a de V i d r o : Eletrodo
D N A M i t o c o n d r i a l : O D N A circular dentro transmissor n o sistema nervoso central; contendo u m a fina membrana de vidro
da organela mitocondiial que codifica é produzido perifericamente e age nos (geralmente na forma de u m bulbo no
polipeptídios envolvidos na via de fosfo- receptores periféricos. final de u m tubo de vidro) como ele-
902 Glossário

mento sensor. É amplamente utilizado Embrião: Primeiras modificações celulares a Epinefrina (Adrenalina): Hormônio cateco-
a
como eletrodo de pH, mas algumas com- partir do ovo fecundado até a 8 semana lamínico secretado pela medula adrenal.
posições de vidro são sensíveis a concen- de gestação Equação de Henderson-Hesselbalch:
trações de cárions, como o sódio. Enantiômeros: Os estereoisômeros que são Equação que define a relação entre pH,
Eletrodo: U m condutor através do qual a imagens especulares não-sobreponíveis. bicarbonato e pressão parcial do gás de
corrente elétrica entra ou sai de uma Encefalopatia Hepática: Condição usada dióxido de carbono dissolvido.
região não metálica de um circuito. Os para descrever os efeitos tóxicos da insu- Equação de Nernsti Walther H, N e m st
eletrodos indicador, de trabalho e de refe- ficiência hepática sobre o sistema nervoso (1864-19411 recebeu o prêmio Nobel em
rência são utilizados com propósitos ele- central. As características incluem confu- 1920 por seu trabalho em termoquímica.
troanalíticos. O eletrodo indicador, utili- são mental e falta de reação (coma).
Sua contribuição à termodinâmica
zado em potenciometna, produz u m Endocrinologia: O estudo científico da
química levou ao melhor conhecimento
potencial representativo da espécie a ser função e patologia das glândulas endócri-
da equação que correlaciona a energia
medida. O eletrodo de trabalho é utili- nas.
química e o potencial elétrico de uma
zado em células eletrolíticas onde ocorre Endonuclease: Enzima que hidrolisa uma
célula galvânica ou bateria.
a reação de interesse. O eletrodo de refe- ligação fosfodiéster interna, cortando u m
Equilíbrio Acido-Base: A manutenção
rência, onde não é permitido u m fluxo ácido nucléico em duas ou mais partes.
homeostática de ácidos e bases dentro do
apreciável de corrente, é utilizado para Endonucleases de Restrição: As endonucle-
organismo para alcançar o p H fisiológico
observar ou controlar o potencial dos ases, geralmente de bactérias, cortarão,
(aproximadamente 7,40).
eletrodos indicador ou de trabalho, res- cada uma delas, somente seqüências
Ergonomia: O estudo de suscetibilidades
pectivamente. Em certos tipos de células, específicas de ácido nucléico.
o eletrodo contador ou auxiliar é utili- Endosmose (Fluxo Endosmótico, em relação ao trabalho exigido pela defi-
zado para transportar a corrente que Eletroendosmótico): Movimento prefe- nição de posturas que minimizam o tra-
passa através do eletrodo de trabalho. rencial da água em uma direção através balho estático desnecessário e reduzem as
Eletrodos Seletivos de Ions (ISEs):Um tipo de u m meio eletroforético devido à forças que atuam sobre o corpo.
de eletrodo potenciométrico com finali- ligação seletiva de u m tipo de carga sobre Erro Aleatório: Erro que resulta de varia-
dades especiais, constituído de uma a superfície do meio. ções imprevisíveis influenciado pela
membrana seletivamente permeável a Energia de Ativação: E m enzimologia, é a quantidade de medidas. Estes efeitos ale-
uma única espécie iõnica. O potencial energia necessária para uma molécula atórios originam variações em observa-
produzido na interface entre a mem- formar u m complexo ativado. Em uma ções repetidas do determinando.
brana e a solução de amostra é propor- reação catalisada por enzima, isso corres- Erro Inato do Metabolismo: Doença primá-
cional ao logaritmo da concentração ou ponde à formação do complexo enzima- ria causada por u m defeito enzimático
atividade iônica. substrato ativado. hereditário.
Eletroferograma: Representação densitomé- Ensaio de Imunoabsorvâncía Ligado à Erro Sistemático: U m componente de erro
trica de zonas de proteína em u m mate- Enzima (ELISA): U m imunoensaio do que, no decorrer de uma série de análises
rial de suporte após a separação e colora- tipo sanduíche de enzima em que u m do mesmo determinando, permanece
ção. dos componentes da reação está ligado à constante ou varia de uma forma previsí-
Eletroforese Capilar: Método no qual as superfície de uma fase sólida para facili- vel.
técnicas clássicas de eletroforese em placa tar a separação dos reagentes marcados Especificidade (Clínica): Proporção de indi-
são transferidas para u m tubo capilar de ligados ou livres.
víduos sem doença que apresentam resul-
silica fundida de pequeno calibre. Enzima Conversora de Angiotensina
tados negativos.
Eletroforese em Microchip: U m tipo de ele- (ECA): Enzima que cliva o decapeptidio
Espécime/Amostra: U m exemplar ou parte
troforese no' qual a separação é condu- angiotensina I para formar angiotensina
de u m fluido corpóreo ou tecido cole-
zida em canais em u m microcfiif). I I ativa.
tado para exame, estudo ou análise.
Eletroforese por Focalização Isoelétrica Enzima: Molécula protéica que catalisa
Espectro de Absorção: Descrição gráfica da
(IEF): Método eletroforético que separa reações químicas sem ser destruída ou
absorvância vénus comprimento de onda
compostos anfotéricos em um meio que alterada.
(espectro de absorvância) para u m com-
contém um gradiente de p H estável. Enzimas Imobilizadas: Enzimas solúveis
posto específico.
Eletroforese: Separação de moléculas por ligadas a uma matriz insolúvel, orgânica
Espectro de Massa: U m gráfico da abundân-
seus movimentos causados por um ou inorgânica, ou encapsuladas em uma
campo elétrico, freqüentemente através membrana para aumentaT sua estabili- cia relativa de cada íon traçado em função
de uma matriz de gel. Poliacrilamida e dade e tornar possível seu uso repetido da sua relação entre a massa e a carga
agarose são matrizes comumente usadas ou contínuo. (m/z).
para separar D N A e R N A sujeitos a u m Epigenética: Processos que alteram a função Espectrofotometria de Absorção Atômica
campo elétrico. do gene por outros mecanismos que não (AA): Método analítico no qual uma
Eletrólitos; Moléculas carregadas, de baixo aqueles que dependem da mudança da amostra ê vaporizada e a concentração de
peso molecular, presentes no plasma e seqüência de DNA; esses processos u m metal é determinada pela absorção
citosol, geralmente ions de sódio, potás- incluem a metilação do D N A , imprínting da luz emitida por u m átomo neutro em
sio, cálcio, magnésio, cloreto, bicarbo- genômtco, modificação de histona e uma das linhas de emissão intensa do
nato, fosfato, sulfato e lactato. remodelagem de cromatma. elemento.
Glossário 903

Espectrofotometria: Medida da intensidade Excreção U r i n á r i a de A l b u m i n a (UAE): O uso abusivo deste fáTmaco pode levar
da luz em comprimentos de ondas sele- Taxa de excreção da albumina na urina a distúrbios psicológicos graves.
cionados. (20 a 200 jjg/min) que está entre protei- Fenilcetonúria (PKU): Acúmulo de fenila-
Espectrometria de Massa com Diluição de núria normal e maciça; a U E A aumen- lanina no sangue, mais freqüentemente
Isótopo (IDMS): Técnica analítica usada tada precede e é altamente preditíva de causado pela ausência de atividade da
para quantificar um componente relativo nefropatia diabética; também conhecida fenilalanina hidroxilase, levando à pro-
a uma espécie isotópica de concentração como microaIbuminúria. dução de fenilcetonas que são excretadas
conhecida ou fixada. Exon: A região codificadora de u m gene que na urina.
Espectrometria de Massa em Tandem (MS/ pode ser expressa cnmo proteína logo Fenótipo: Características observáveis de u m
MS): U m método espectrométrico de após a tradução. organismo, determinadas pela interação
análise que envolve separação e identifi- Exonuclease: Atividade enzimática qüe dos genes com o ambiente; a função
cação de substâncias químicas e outras remove os nucleotídeos :erminaís de u m expressa o u o produto biológico do
substâncias com base na razão massa e polinucleotídeo. gene.
carga (m/z). Experimento Controlado Rando mizado: Feo cromo cito ma: Tumor vascular geral-
Espectrometria de Massas (MS): Técnica U m estudo experimental no qual os par- mente benigno, bem encapsulado e
analítica que usa u m espectrômetro de ticipantes do estudo são randomicamente lobular do tecido cromaflm da medula
massas para identificar e quantificar subs- alocados em um grupo de intervenção adrenal ou dos paragânglios simpáticos.
tâncias em uma amostra pelo espectro da (tratamento) ou em u m grupo alternativo Ferritilia: Complexo ferro-apoferritina, uma
massa de seu fragmento. de tratamento (controle). das principais formas nas quais o ferro é
Espectrômetro de Massas: Instrumento no Earmacocinética: Atividade ou destino das armazenado no organismo; ocorre na
qual feixes de íons são separados (anali- drogas no corpo dentro de u m período mucosa gastrointestinal, fígado, baço,
sados) de acordo com sua razão massa- de tempo, incluindo processos de absor- medula óssea e células reticuloendote-
carga e são mensurados eletricamente. ção, distribuição, localização em tecidos, liais.
Espinha Bífida; Defeitos congênitos carac- biotransformação e excreção. Feto: Desenvolvimento intra-uterino após 8
terizados pela medula espinal que não Farmacodinàmica: Estudo da interação dos semanas de vida embrionária até o f i m
fechou normalmente durante o desenvol- fármacos (e outros xenobióticos) com o da gestação.
vimento. corpo, e dos efeitos bioquímicos e fisio- Fibrose Cística (FC): Doença hereditária
Estadiamento do Câncer: O processo de lógicos dos medicamentos e seu meca- causada por alteração genética da prote-
determinação da extensão anatômica e nismo de ação; inclui a correlação dos ína reguladora da condutância de mem-
presença ou ausência de disseminação efeitos dos fármacos com sua estrutura brana (CFTR) que causa pancreatite
para linfonodos e órgãos distantes; útil química. crônica e doença pulmonar obstrutiva.
para o prognóstico e direcionamento do Farmacogenética: Estudo da influência da A fibrose cística afeta muitos tipos de
tratamento. variação genética na resposta da droga glândulas exócrinas — particularmente
Estado Nutricional: A condição do coTpo em pacientes, pela correlação entre a glândulas sudoríparas (o sódio e o cloreto
relacionada à nutrição, geralmente, ou expressão de u m gene ou polimorfismos contidos no suor são elevados) — mas
em referência a u m nutriente específico, de u m único nucleotídeo e a eficácia ou também glândulas do pulmão e pâncreas,
como u m elemento-traço. toxicidade de uma droga. causando a secreção de u m muco viscoso
Esteatorréia: Condição de gordura excessiva Farmacologia: Todo o conhecimento sobre sujeito a se tornar infectado, quando no
nas fezes (algumas vezes definida como agentes químicos e seus efeitos em pro- pulmão.
>5 g/dia ou >18 mmol/dia). cessos ativos Flebotomia: A punção de u m vaso sanguí-
Estereoisômetos: Moléculas com a mesma Fase Estacionária: A fase es(acionária é uma neo para coletar sangue.
constituição, mas que diferem no arranjo das duas fases que formam o sistema cro- Flebotomista: Quem pratica a flebotomia;
espacial de certos átomos ou grupos. matográfico. Pode ser u m sólido, u m gel o indivíduo que retira uma amostra de
Estudos dos Desfechos: Estudos realizados ou u m líquido. Se for líquido, pode ser sangue.
paTa determinar se uma intervenção distribuído sobre u m suporte sólido. Esse Fluídico: Processo pelo qual o líquido se
médica (como um exame laboratorial suporte sólido pode ou não contribuir move dentro de u m espaço confinado,
específico) melhorará o desfecho do para o processo de separação. como no caso de u m tubo estreito ou
paciente. Fase Móvel: Na cromatografia, u m gás ou uma matriz porosa. Tal processo inclui
Etileno Glicol: U m composto etileno com líquido que se infiltra através ou ao longo tensão de superfície, difusão e o uso de
dois grupos hidróxi nos carbonos adja- do leito estacionário numa direção defi- bombas.
centes. E u m ingrediente comum em nida. Fluido Extracelular (ECF): U m termo gené-
anticongelamento e é muito tóxico se Fator de Crescimento Semelhante à rico para todos os fluidos corporais fora
ingerido. Insulina (IGF): Os fatores de crescimento das células, incluindo fluido intersticial,
Eucromatina: Regiões genômicas que são semelhantes à insulina I e I I são polipep- plasmático, linfático e líquido cerebrospi-
ricas em genes e geralmente estão organi- tídeos com considerável similaridade nal; esse fluido gera u m ambiente externo
zadas de forma menos compacta durante estrutural à insulina e com as mesmas constante para as células.
a intérfase do que a heterocromatina. respostas biológicas. Fluido Intracelular (ICF): A porção de água
Eutireoidiano: O que tem função tireoi- Fenciclidina (PCP): Analgésico e anestésico corporal total com seus solutos dissolvi-
diana normal. potente usado em medicina veterinária. dos no meio interno das células.
904 Glossário

Fluorescência: A emissão de radiação eletro- para medir a quantidade da substância de alelos que u m indivíduo possui em
magnética por uma substância após a analisada. uma ceita localização do genoma.
absorção de energia de alguma forma Fotometria: A medição da luz. Gerenciamento de Qualidade: Técnicas
(por exemplo, a emissão de luz de uma. Fóton: Quantum, de energia radiante. usadas para garantiT a melhoT qualidade
cor [comprimento de onda], quando Gama-Glutamiltransferase: Enzima que no desempenho. As técnicas incluem
uma substância é excitada por irradiação catalisa reversivelmente a transferencia treinamento e certificação dos operado-
com luz de diferente comprimento de de u m grupo glutamil de u m glutamil- res, controle de qualidade, garantia de
onda); distinguida de fosforescência por peptídio e u m aminoácido para u m pep- qualidade e auditoria.
apresentai vida útil inferior a 10 milisse- tídio e u m glutamil-aminoácido. Gestação: Tempo de duração da gTavidez
gundos, após cessada a excitação. Gama-hidroxibutiratc (GHB): Potente medido em semanas desde o primeiro
Folha de Dados de Segurança do Material agente sedativo, hipnótico, euforizante, dia do último período menstrual.
(MSDS): Boletim técnico que contém que é ilicitamente ingerido por seus Gestão da Qualidade Total ( T Q M ) i Filosofia
informação a respeito de produtos quími- efeitos prazerosos. Tem sido usado para e abordagem de gestão que focaliza os
cos perigosos, como composição química, agressão sexual facilitada por droga processos e sua melhoria como o meio
perigo químico e físico e precauções paTa (estupro durante encontro). para satisfazer as necessidades e exigên-
segurança na manipulação e uso. Gases Sanguíneos: PCOí e P 0 2 (pressões cias do cliente.
Folículo Tireoidiana! Unidade secretora da parciais de dióxido de carbono e oxigê- Gigantismo Hipofisário: Crescimento
glândula tireóide consistindo em uma nio) geralmente no sangue total. excessivo em função da produção aumen-
camada externa de células epiteliais que Gastrina: Grupo de hormônios peptidicos tada de hormônio de crescimento pela
encapsulam u m material amorfo chamado secretados pelas células da mucosa gas- hipófise antes de o crescimento dos ossos
trointestinal de alguns mamiferos, em longos estar completo.
de colóide.
resposta ao estresse mecânico ou p H alto, Gine comas tia: Desenvolvimento excessivo
Folículo: U m saco em formato de bolsa que
ambos produzidos pela presença do ali- das glândulas mamárias masculinas.
se localiza na superfície do ovário e que
mento no estômago. A gastrina estimula Glândula Hipófise: Formada por um corpo
contém o óvulo que está amadure-
as células parietais do estômago a produ- de forma elíptica, localizada na base do
cendo.
zirem ácido clorídrico, crânio, alojada na sela túrcica, que se
Força Centrífuga Relativa (FCR): O peso
Gastrinoma: Tumor das células das ilhotas comunica com o hipotálamo pela haste
de uma partícula em uma centrífuga,
pancreáticas que ocasiona uma hiperpro- hipofisária, de onde recebe importante
relativo ao seu peso normal.
dução de ácido gástrico, levando a ulce- estímulo neural e vascular. É dividida na
Fosfatase Acida: Emima da classe hidrolase
ração fulminante do esôfago, estômago, hipófise anterior (adeno-hipófise), inter-
que catalisa a clivagem do ortofòsfato a
duodeno e jejuno. Os gastrinomas mediária e posterior (neuro-hipófise),
partir de monoésteres ortofosfóricos sob
podem ocorrer também no estômago, cada qual responsável pela produção de
condições ácidas.
duodeno, baço e linfonodos regionais. seus próprios hormônios.
Fosfataie Alcalina: Enzima da classe hidro-
Gastrite: Inflamação da mucosa do estô- Glicocorticóides! Qualquer substância do
lase que catalisa a clivagem do OT to fosfato
mago. grupo de esteróides C21 produzidos pelo
a partir de monoésteres ortofosfóricos
Gene Supressor Tumoral: Gene envolvido córtex adrenal que regulam o metabo-
sob condições alcalinas.
na regulação do crescimento celular; a lismo dos carboidratos, lipídios e proteí-
Fosfolipídio: Qualquer lipídio que contém
perda do gene supressor de tumor tem o nas. Eles também inibem a secreção de
fósforo, incluindo aqueles com uma
potencial de permitir o crescimento autó- adrenocoTticotrofina, possuem atividade
estrutura central de glicerol (fosfoglicerí-
nomo. antiinflamatória pronunciada e desem-
deos) e esfingosina ou substâncias rela-
Gene: Unidade básica da hereditariedade; penham u m papel em uma variedade de
cionadas (esfingomielinas). Os fosfolipi-
parte do D N A do gene humano codifica processos homeostáticos.
dios são a principal forma de lipídio nas a produção de R N A , enquanto outras GUcogènio: Polissacarídeo que tem a
membranas celulares. partes não codificam. fórmula (C É H 10 O 3 )n e é utilizado pelos
Fosforescência: Luminescência produzida Genes Diabetogênicos: Genes que contri- músculos e pelo fígado para armazena-
por certas substâncias após terem absor- buem para o desenvolvimento do diabe- mento de carboidratos.
vido energia radiante ou de outros tipos; tes; menos de 5% dos indivíduos com Glicose: U m açúcar simples de seis carbonos
distinguida da fluorescência na medida diabete tipo 2 tem u m defeito genético que é o principal combustível para a
em que continua mesmo depois que a identificado. maioria dos organismos e um importante
radiação incidente tenha desaparecido. Genoma: Conjunto completo de cromosso- precursor de outros constituintes corpo-
Fotodetector: U m dispositivo utilizado para mos; o complemento total da informação rais.
medir ou indicar a presença de luz. hereditária; o genoma humano contém Glicose-6-fosfato Desidrogenase: Enzima que
Fotômero/Espectrofotômero: Dispositivo duas cópias, denominadas alelos, de cada catalisa a primeira etapa na via da hexose
utilizado para medir a intensidade da luz um dos genes autossômicos. monofosfato, isto é, a conversão de glicose-
emitida que atravessa ou é refletida por Genótipo: Constituição genética de u m 6-fbsfato a 6-fosfogliconato, gerando
uma substância. indivíduo, incluindo seqüências de D N A NADPH.
Fotometria de Reflexão: Técnica de espec- que podem não afetar a aparência exte- Glomérulo: Tufo de vasos sanguíneos
tro foto metr ia em que a luz é refletida da rior (/biótipo); o "genótipo" é geralmente encontrado em cada néfron do rim,
superfície de uma reação e é utilizada utilizado para se referir ao par especifico envolvido na filtração do sangue.
Glossário 905

Glomerulonefrite: Nefrite acompanhada algumas cepas produzem toxinas que tica e pulmonaT são caracterizadas pelas
de inflamação das alças capilares dos glo- lesam as células gástricas. quantidades anormais de hemossideTina
mérulos do rim. Ocorre nas formas Hematúria: Sangue na urina. no fígado e nos pulmões, respectiva-
aguda, subaguda e crônica. Foram descri- Heme: Qualquer quelato de ferro com os mente.
tos diversos padrões patológicos, desde quatro grupos pirrólicos de uma porfi- Hepatite Alcoólica: Lesão inflamatória
idiopáticos até aqueles associados a rina, também reconhecido como ferro- aguda ou crônica do fígado, em alcoóli-
doenças sistêmicas. heme ou fem-heme, que se refere aos cos, que é potencia Imente progressiva,
Glutamato Desidrogenase: Enzima mito- quelatos do Fe(II) e Fe(III), respectiva- embora algumas vezes seja reversível.
condrial que catalisa a remoção de hidro- mente. Hepatite Auto-imune: Hepatite crônica,
gênio do L-glutamato para formar um Hemoconcentração: Diminuição do conte- geralmente com hipergamaglobulinemia
cetoaminoácido correspondente que údo fluido do sangue que resulta em e auto-anticorpos séricos.
sofre hidrólise espontânea a 2-oxogluta- aumento da concentração dos consti- Hepatite Crônica: Termo coletivo para uma
rato. tuintes sanguíneos. síndrome clínica e patológica que possui
Go-Iíue: O momento no qual u m sistema Hemocromatoae: Uma doença genética diversas causas e é caracterizada por graus
de software ou hardware é completa- rara causada por deposição de hemossi- variáveis de necrose hepatocelular e infla-
mente instalado e testado e inicia-se seu derina nas células parenquimais, cau- mação por, pelo menos, seis meses.
uso de rotina. sando dano ao tecido e disfunção do Hepatite Virai: Inflamação do fígado
Gônada: Glândula produtora de gametas fígado, do pâncreas, do coração e da causada por vírus. Os vírus específicos da
(ovário ou testículo). pituitária. Também chamada doença de hepatite foram identificados como A, B,
Gonadotrofina Coriônica: Hormônio glico- sobrecarga de ferro. C, D e E. Quanto a outros vírus, como
protéico placentário que estimula o Hemodiálise: Remoção de certos elementos o vírus da mononucleose (Epstein-Barr)
ovário a produzir progesterona do sangue em virtude da diferença nas e citomegalovírus, que também causam
Gota: Grupo de distúrbios do metabolismo taxas de sua difusão através de uma mem- hepatite, o fígado não é o órgão-alvo prin-
de purina e pirimidina. brana semipermeável, por exemplo, por cipal.
Gráfico de Controle de Levey-Jennings: meio de uma máquina ou filtro de hemo- Hepatite: Inflamação do fígado.
Uma exposição gráfica simples na qual os diálise. HepatócitO! Célula epitelial do fígado.
valores observados são confrontados Hemodiluição: Aumento do conteúdo Herança A u tossôtnica Recessiva! Padrão de
com uma série de valores aceitáveis, fluido do sangue que resulta em dimi- herança mendeliano no qual as caracte-
como indicado no gráfico pelas linhas de nuição da concentração dos constituin- rísticas aparecem horizontalmente na
limites de controle superior e inferior, os tes sanguíneos. genealogia, os indivíduos acometidos
quais são comumente extraídos da média, Hemoglobina (Hb)i Proteína contendo heme com dois alelos anormais têm progenito-
mais ou menos 3 desvios-padTão. e carreadora de oxigênio, abundante nas res heterozigotos sadios e os progenitores
Gráfico de Linewaver-Burk: Gráfico do hemácias e formada pelo eritrócito em heterozigotos têm uma chance de 25%
recíproco da velocidade de uma reação desenvolvimento na medula óssea. E uma de acometimento da progénie; os autos-
catalisada por enzima (ordenada; eixo Y) proteína conjugada que contém quatro somos apresentam a mutação.
versus o recíproco da concentração dn grupos heme e globina, possuindo a pro- Hermafroditismo: Estado físico caracteri-
substrato (abscissa; eixo x). priedade de oxigenação reversível. zado pela presença tanto dos órgãos
Gravidez Ectópica: Desenvolvimento de u m Hemoglobina Glicada: Hemoglobina com sexuais masculinos como femininos.
embrião na tromba de Falópio ou no resíduo de açúcar; A Hb A k é a principal Heterocromatina: Regiões genômicas que
abdome, em vez de no útero. fração ( 80%) da hemoglobina glicada; são pobres em genes ou cobertas por
Gravimetria: O processo de medição da também conhecida como glicohemoglo- genes transcricionalmente silenciosos,
massa (peso) de uma substância. bivã. sendo mais densamente empacotadas
G r u p o Prostético: Uma estrutura não-poli- Hemoglobinopatia: Qualquer doença here- durante a intérfase do que a eucroma-
peptídica que está fortemente ligada à ditária causada por anormalidades da tina.
proteína e é necessária à atividade de hemoglobina, resultando em condições Hihridização: Anelamento ou pareamento
uma enzima ou outra proteína. como anemia falciforme, anemia hemo- de duas fitas complementares de D N A .
Haplótipo: Associação de alelos específicos lítica ou talassemia. H I P A A : Health Insurance Portability and
em múltiplos loci em uma fita do cromos- Hemólise: Ruptura da membrana das hemá- Accountability Act, com suas regulamen-
somo. cias causando liberação de hemoglobina tações associadas a respeito da segurança
Hapteno: Determinante quimicamente e outros componentes dos eritrócitos. e privacidade da informação de saúde.
definido que, quando conjugado a um Hemossideiina: Forma de armazenamento Hiperbilirrubinemia: Concentrações exces-
carreadoT imunológico, estimula a síntese intracelular de ferro; os grânulos consis- sivas de bilirrubina no sangue, as quais
de anticorpos específicos para o tem em um complexo mal definido de podem levar à icterícia; as hiperbilirrubi-
hapteno. hidróxidos de ferro, poltssacarídeos e nemias são classificadas como conjuga-
Helicobacter pylorii Bactéria encontrada na proteínas, com u m conteúdo de ferro de das e não-conjugadas, de acordo com a
camada mucosa do estômago. Todas as cerca de 33% do peso. forma predominante de bilirrubina no
cepas secretam proteínas que causam Hemossiderose: Aumento focal ou geral dos sangue.
inflamação da mucosa e a enzima urease, estoques de ferro tecidual sem dano teci- H i perca! cem ia: Aumento da concentração
que pTcdu2 amónia a partir da uréia; dual associado. As hemossideroses hepá- do cálcio no plasma; as manifestações
906 Glossário

clínicas da hipercalcemia incluem fadiga, Hipofosfatemia: Baixas concentrações mula o córtex adrenal a secretar os corti-
fraqueza muscular, depressão, anorexia, séricas de fosfato; a hipofosfatemia é costeróides.
náusea e constipação. As principais comum em pacientes hospitalizados Hormônio Antidiurético (ADH; Vaso-
causas são hiperparatireoidismo primá- (aproximadamente 2%); geralmente é pressina): Hormônio octapeptídico
rio e neoplasias. causada pela troca intracelular do fosfato formado pelas células neuronais do
Hipercalemia: Elevada concentração plas- (estimulação da secreção de insulina núcleo hipotalâmico e armazenado e
mática ou sérica de potássio acima do pelos carboidratos, administração da liberado pelo lobo posterior da glândula
limite superior do intervalo de referência insulina ou alcalose respiratória), redução pituitária (neuro-hipófise). Possui tanto
apropriado do limiar renal (hipetparatireoidismo), ação antidiurética como vasopressora.
Hiperglicemia: Concentrações elevadas de perda intestinal (vômitos, diarréia, uso de Hormônio de Crescimento (GH): Poli-
glicose no sangue. antiácidos), redução da absorção intesti- peptídeo com 191 aminoácidos produ-
Hipernatremia: Concentração sérica ou nal (má absorção) ou perda intracelular zido pela adeno-hipófise e afeta o meta-
plasmática de sódio acima de seu limite (acidose). bolismo de carboidratos, lipídios e prote-
de referência de 150 m m o l / L . Hipoglicemia: Concentrações reduzidas de ínas.
Hiperparatireoidismo Secundário: Secreção glicose no sangue. H o r m ô n i o de Liberação da C o r t i c o t r o p i n a
excessiva do paratormônio em resposta a Hipomagnesemia: Baixa concentração de (CHR): Um neuropeptídeo liberado
níveis séricos baixos de cálcio causados magnésio no plasma; manifesta-se pri- pelo hipotálamo que estimula a liberação
por outra condição clínica, comc a obser- mordialmente como hiperexcitahilidade da corticotropina pela adeno-hipófise.
vada em pacientes com insuficiência neuromuscular; c o m u m em pacientes
H o r m ô n i o de Liberação de T i r e o t r o f i n a
renal crônica e indivíduos com ingestão hospitalizados.
( T R H ) : Tripeptídeo produzido no hipo-
H í p o n a tremia: Concentração sérica de
inadequada de vitamina D, por tálamo que estimula a síntese e liberação
sódio abaixo do limite de referência de
exemplo. de T S H da adeno-hipófise.
136 m m o l / L .
Hipertensão Portali Qualquer aumento na H o r m ô n i o Estimulante da Tireóide (TSH):
H i p o t i r e o i d i s m o : U m a condição de defici-
pressão da veia porta (no fígado) devido U m polipeptídeo sintetizado pela adeno-
ência na atividade tireoidiana, causando
à obstrução anatômica ou funcional (p. hipófise que promove o crescimento,
letargia, fraqueza muscular e intolerância
ex., cirrose alcoólica) da fluxo sanguínea sustenta e estimula a secreção de hormô-
ao frio.
no sistema venoso portal. nios na tireóide, também conhecida
H i p o u r i c e m i a : Concentração diminuída de
Hipertextai Interface para o usuário de u m como tireotrofina.
ácido úrico no sangue, às vezes devida à
sistema de informação que liga informa- Hormônio Folículo-Estimulantc (FSH):
deficiência de xantina oxidase, a enzima
ções relacionadas através de documentos U m glicopeptídeo secretado pela adeno-
necessária para a conversão da hipoxan-
e sustenta a procura fácil de documentos hipófise. E m mulheres, o FSH estimula
tina em xantina e da xantina em ácido
usando essas ligações (!inlís). o crescimento e maturação dos folículos
úrico.
Hipertireoidismo: Condição causada pela ovarianos, estimula a secreção do estró-
Hipovitaminose: Condição não saudável
produção excessiva de Hormônios tireoi- geno e promove alterações endome-
resultante da carência de vitamina; inter-
dianos iodados. Os sintomas incluem triais.
cambiável com a avitaminose.
aumento do metabolismo basal, bócio, H o r m ô n i o Luteinizante (LH): H o r m ô n i o
Hipovolemia: Volume anormalmente redu-
taquicardia, hipertensão arterial, e uma glicoprotéico gonadotiófico secretado
zido de fluido circulante (plasma) no
série de sintomas secundários pela adeno-hipófise que age com o FSH
corpo.
Hiperuricemiat A u m e n t o da concentração promovendo a ovulação e a produção de
H i r s u t i s m o : Uma quantidade anormal de
do ácido úrico ou uratos n o sangue; pré- andrógeno e da progesterona.
pêlos, especialmente um padrão mascu-
requisito para o desenvolvimento de gota H o r m ô n i o : Substância química que tem
lino adulto de distribuição de pêlos, em
e pode levar à doença renal. mulheres. u m efeito regulatÓTio na atividade de
Hipervitaminosei Condição não saudável Histona: Proteína estrutural envolvida na certo(s) órgão(s) ou tipos celulares.
resultante do excesso de vitamina. organização tridimensional dos cromos- H o r m ô n i o s Hipotalâmícos: Hormônios do
Hipervolemiai Aumento anormal no somos e na regulação da função do D N A hipotálamo que exercem controle sobre
volume de fluido circulante (plasma) n o nuclear. outros órgãos, principalmente a glândula
corpo. Holoenzima; Componente funcional (i.e., hipófise.
Hipocalcemia: Redução da concentração cjiraliMramente ativo) formado pela com- Icterícia; Síndrome caracterizada por hiper-
do cálcio no plasma; comumente se apre- binação de uma apoenzima e sua coen- bilirrubinemia e deposição de pigmento
senta como hiperexcitab ilida de neuro- zima apropriada. biliar na pele, nas membranas mucosas e
musculaT, como tetania, parestesia e con- Homeostase: Manutenção de condições na esclera, com resultante aparência ama-
vulsões; geralmente as principais causas fisiológicas internas relativamente está- relada da pele e esclera dos olhos; também
de hipocalcemia são insuficiência renal veis (como o p H do plasma sanguíneo) chamada de amarelão. Nos neonatos, a
crônica, deficiência de magnésio ou defi- mesmo diante de mudanças nas condi- icterícia é também chamada de icterícia
ciência de vitamina D ções ambientais. neonatal.
Hipocalemia: Concentração sérica ou plas- H o r m ô n i o Adrenocorticotrófico ( A C T H ) : Imunodeficiência: Deficiência ou incapaci-
mática. de potássio abaixo do limite de U m polipeptídeo com 39 aminoácidos dade de certas partes do sistema imune
referência apropriado. secretado pela adeno-hipófise que esti- para funcionar, o que torna u m indivíduo
Glossário 907

suscetível a certas doenças que ele ou ela, disseminação e transferência de informa- Intoxicação: Estado de funcionamento
de forma geral, não desenvolveria. ção. Também pode ser usada para descre- mental o u físico deficiente resultante da
Imunoensaio: Ensaio baseado na reação de ver o estudo da aplicação da informação ingestão de álcool ou fármaco.
u m antígeno com u m anticorpo especí- dentro de organizações. I i i t r o n : Região nãocodificadora de u m gene
fico para esse antígeno. I n i b i d o r : O inibidor é uma substância que que não será traduzida em proteína con-
I m u n o í i l i n a : Termo genérico para uma pro- d i m i n u i a velocidade de uma reação forme é removida durante o processa-
teina intracelular que se liga a drogas química; o processo é denominado inibi- mento do m R N A .
ímunossupressoras como a ciclosporina, ção. í o n Molecular: O íon não fragmentado da
FK 506 (tacrolimus), ou rapamicina. Inserção: "Uma seqüência extra de D N A que molécula original.
Imunógeno: Substância capaz de induzir está presente em uma amostra em com- Ionização p o r Eletrospray-, Técnica na qual
uma resposta imune. paração com uma sequência de referên- uma amostra é ionizada sob pressão
Imunoglobulínasi Classes de proteínas, cia. atmosférica antes de sua introdução no
também conhecidas como anticorpos, pro- Insuficiência Hepática. Condição de dis- analisador de massas.
duzidas pelas células B do sistema imune função hepática grave, em fase terminal, lontoforese por Pilocarpina: Processo de
em resposta ao antígeno específico, con- acompanhada por declínio do estado utilizar eletricidade para forçar o fármaco
tendo uma região que se liga a este antí- mental que pode variar de confusão pilocarpina para dentro da pele com o pro-
geno (sítio de ligação ao antígeno); mental (encefalopatia hepática) à falta de pósito de induzir o suor naquele local.
existem cinco classes de imunoglobulinas reação (coma hepático). lontoforese: U m método não invasivo de
(IgA, IgD, IgE, IgG e IgM).
Insulina: H o r m ô n i o protéico produzido propulsão de altas concentrações de uma
Imunossupressor: Agente capaz de suprimir
pelas células [3 do pâncreas que d i m i n u i substância carregada transdetmicamente
as respostas imunes.
as concentrações de glicose no sangue. por uma força eletromotiva repulsiva uti-
Incerteza: Parâmetro associado ao resultado
Interações Medicamentosas! Os efeitos de lizando uma carga elétrica pequena apli-
de uma medição que caracteriza a disper-
uma droga na absorção intestinal, meta- cada a uma câmara iontoforética que
são dos valores que poderiam ser razoa-
bolismo ou ação de outra droga. contém u m agente ativo carregado de
velmente atribuídos ao determinando
Interface de Operador: A parte de u m dis- forma semelhante e o seu veículo.
ou, mais resumidamente: a incerteza á
positivo que o operador precisa usar para I S O 9000: Séries de padrões internacionais
u m parâmetro que caracteriza o intervalo
que o dispositivo funcione (p. ex., ligar pata a gestão da qualidade, produzidos
de valores dentro do qual se espera que
u m leitor, inserir identificação de amostra pela Organização Internacional para
a quantidade a ser medida esteja
de paciente ou calibrar o dispositivo). Padronização.
contida
Interface: N o ambiente laboratorial, esse Isoenzima: U m a enzima de u m grupo de
índice Refrativo (índice de Refração): A
termo geralmente se refere ao mecanismo enzimas relacionadas que catalisam a
razão entre as velocidades da luz em u m
de transmissão de dados de u m sistema mesma reação, mas que têm diferentes
meio e em u m segundo meio.
de computador para outro, incluindo estruturas moleculares e são caracteriza-
I n d i v í d u o Referenciai Individuo selecio-
formatos específicos de dados. das por diversas propriedades físicas, bio-
nado como base de comparação com
Intergênica: Seqüência de DNA entre químicas e imunológicas.
outros indivíduos que estão sob investi-
genes. Isoforma: Eorma enzimática molecular que
gação clinica; os indivíduos referência
Internet: Rede mundial de computadores foi modificada pós-traducionalmente.
são selecionados através do uso de crité-
disponível para uso público. Isquemia: Deficiência do fluxo sanguíneo
rios definidos.
Intervalo A n i ô n i c o (AG): Diferença entre a causada por constrição funcional ou obs-
Indução Enzimática: A u m e n t o da síntese
de uma enzima em resposta a u m indutor concentração sérica de sódio e a soma trução efetiva de uma artéria; na doença
das concentrações séiicas de bicarbonato cardíaca, a artéria referida é a artéria
ou outro estímulo.
Indução: Na enzimologia, indução é u m e cloreto; o A G é alto em algumas formas coronária.

processo biológico que resulta em u m de acidose metabólica. Katal: Quantidade de atividade enzimática
aumento da biossintese de uma enzima Intervalo de Medição; Intervalo fechado de que converte u m m o l de substrato por
aumentando, com isso, sua atividade valores possíveis permitidos para u m pro- segundo sob condições específicas de
aparente. Isso resulta da presença de u m cedimento de medição e delimitado reação.
indutor. pelos limites inferior e superior de deter- Kernicteriis: Síndrome clínica do neonato
Infarto A g u d o do Miocárdio ( A M I ) : Necrose minação. Para este intervalo, o erro total resultante de altas concentrações de bilir-
total do miocárdio como resultado da das medições está dentro de limites espe- rubina não-conjugada, que passa pela
interrupção no suprimento sanguíneo cíficos do método. Também designado barreira hematoencefálica imatura do
para uma área do músculo cardíaco; o faixa de medição analítica. recém-nascido e causa degeneração das
A M I é quase sempre provocado por ate- Intolerância à Lactose: Condição provocada células da gânglia basal e do hipo-
rosclerose nas artérias coronárias sobre as pela deficiência de lactase, levando à má campo.
quais a trombose coronariana normal- absorção da lactose e causando sintomas Laboratório Central: U m tipo de laborató-
mente é sobreposta; comumente chamado de flatulência, desconforto abdominal, rio centralizado para o qual as amostras
de "ataque cardíaco". inchaço ou diarréia após a ingestão de são enviadas para a análise.
Informática: A estrutura, criação, gerencia- leite ou alimentos que contenham Lactato Desidrogenase: Enzima da classe
mento, armazenamento, recuperação, lactose. oxidorredutase que catalisa a redução do
908 Glossário

piruvato a lactara, usando N A D H como proteína consistem em u m núcleo esfé- Marcador: Qualquer substância com pro-
doador de elétron. rico hidrofóbico de triglicerídeos e ésteres priedade mensurável de se ligar a u m
Lactato: Produto intermediário do metabo- de colesterol circundados por uma mono- antígeno, anticorpo ou substância ligante
lismo de carboidratos que se acumula no camada de íosfolipídios, colesterol e apo- (como avidina, biotina ou proteína A)
sangue predominantemente quando lip0pT0teína5. que pode ser associada a u m analito para
ocorre diminuição da oxigenação teci- Líquido A m n i ó t i c o : Substância derivada que seja mais fácil observá-lo.
dual; a concentração elevada de lactato principalmente da urina fetal que protege Marcadores Tumorais de Carboidrato:
no sangue resulta em acidose láctica. o feto em desenvolvimento. Antígenos contendo um componente
L - D o p a (Levodopa); Aminoácido, 3,4-dii- Litotripsia: Esmagamento de cálculos dentro carboidrato principal, geralmente encon-
droxifenilalanina, produzido pela oxida- do sistema urinário ou da vesícula biliar, trados na superfície das células ou secre-
ção da tirosina pela tirosina hidroxilase; prontamente acompanhado por lavagem tados pelas células (p. ex., mucinas ou
è o precursor da dopamina e u m produto dos fragmentos; isso é feito cirurgica- antígenos de grupos sanguíneos).
intermediário na biossíntese da norepi- mente ou por vários métodos nãoinvasi- Material de Referência (RM): U m material
nefrina, epinefrina e melanina. vos diferentes. ou substância, com uma ou mais proprie-
L e i de Bcer: Equação matemática que esti- Luminescência: Emissão de lua ou de dades físicas ou químicas suficientemente
pula que a absorvância da luz monocro- energia radiante quando u m elétron bem estabelecidas, para ser usado para a
mática por uma solução é proporcional retorna de u m nível excitado ou de u m calibração de um aparelho, para a verifi-
à absortívídade (a), ao comprimento do cação de u m método de medida ou para
nível de energia superior para u m nível
trajetória da luz (b) e à concentração (c): atribuir valores a materiais. Certificados
energético inferior.
Absorvância = a x b x c. primário e secundário são tipos de mate-
Luz Parasita: Qualquer luz de fora de u m
Ligação Peptídica: Ligação amida formada riais de referência.
fotômetro ou espectrofotômetro, ou de
entre o grupamento carboxila de u m ami- Material de Referência Certificado (CRM):
dispersão dentro do instrumento, que é
noácido e o grupamento amina de um Na química clínica, u m material para o
detectada e provoca erros na medida da
outro aminoácido. qual uma propriedade (geralmente a con-
transmitância ou absorvância.
Ligações Cruzadas do Colágeno, Piridínio: centração ou pureza de u m analito) foi
Luz Visível: Região do espectro eletromag-
Derivados dos aminoácidos formados determinada por u m tipo especial de pro-
nético com comprimento de onda entre
pela condensação intermolecular de duas cedimento; o certificado dá o resultado
390 e 780 nm, visível para o olho
cadeias de hidroxilisil ou uma cadeia de (como concentração) e incerteza do resul-
humano.
lisina (desoxipiTÍdinolina) e três cadeias tado.
M á Absorção: Anormalidade do intestino
de hidrolisina (piridinolina) durante a Material de Referência Primários Um
delgado que causa distúrbio do processo
maturação do colágeno, que adicionam material perfeitamente caracterizado,
absortivo.
força tensora e estabilidade ao osso. estável, homogêneo, do qual uma ou
M á Digestão: Anormalidade do processo
Ligase: Enzima que liga, covalente mente, mais propriedades físicas ou químicas
digestivo devido à disfunção do pâncreas
duas fitas de D N A . foram determinadas experimentalmente
e do intestino delgado.
L i m i t e de Detecção: A menor quantidade dentro de medidas fixadas. Usado paTa
Maconha: Preparação rudimentar de folhas
de analito que pode ser detectada numa calibração de métodos definitivos; no
e parte superior da flor da (plantas fêmea
amostra, mas não quantificada como u m desenvolvimento, estimativa e calibracão
ou macho) Gmnabis nativa, em geral
valor exato. Também designado de limite de métodos de referência; e para atribuir
empregada em cigarros e inalada como
inferior de detecção, concentração valores a um material de referência secun-
mínima detectável (ou dose ou valor). fumaça devido às suas propriedades eufo-
dário.
Limites de Controle: Linhas sobre um rizantes.
Material de Referência Secundário: Solu-
gráfico de controle utilizadas para avaliar MALDI: Acrônimo para Ionização/
ções cujas concentrações não podem ser
o estado de controle de u m método; Dessorção a Laser Assistida por Matriz). preparadas pela pesagem do soluço e dis-
comumente calculadas como a média do Malwarci Termo genérico para software mali- solução de uma quantidade conhecida
material de controle mais ou menos u m cioso, incluindo, mas não se limitando em u m volume de solução. A concentra-
certo múltiplo do desvio-padrão obser- aos vírus de computadores. ção dos analitos nos materiais de referên-
vado para aquele material de controle. Marcador Cardíaco: U m teste ú t i l em cia secundários é geralmente determinada
Lípase: Uma enzima que cliva hidrolitica- . doença cardíaca. Os marcadores podem pela análise de uma alíquota da solução
mente u m ânion de ácido graxo a partir ser usados, por exemplo, paTa detectar por u m método de referência aceitável,
de u m triglicerídeo ou fosfolipídio. distúrbios cardíacos ou o risco de desen- usando u m material de referência primá-
Lipídios: Qualquer grupo heterogêneo de volvê-los, para monitorar o distúrbio ou rio para calibrar o método. Os materiais
gorduras e substâncias semelhantes à para prever a resposta de u m distúrbio ao de referência secundários contêm u m ou
gordura caracterizado por ser insolúvel tratamento. mais analitos em uma matriz que repro-
em água e solúvel em solventes não Marcador Tumoral: Substância produzida duz ou estimula a matriz das amostras que
polares como álcool, éter, clorofórmio, por u m tumor, encontrada no sangue, são tipicamente analisadas.
benzeno etc. nos fluidos corporais ou nos tecidos, que Material de Referência-Padrão (SRM): U m
Lipoproteínas: Qualquer complexo lipídio- pode ser usada para predizer a presença material de referência certificado (CRM)
proteína no qual os lipídios são transpor- do tumor, seu tamanho e a resposta ao que é certificado e distribuído pelo
tados no sangue. As partículas de lipo- tratamento. National Institute of Standards and
Glossário 909

Technology (NIST), uma agência do ácido homovanílico, diidroxifenilglicoí, M i c r o a l b u m i n ú r i a : Taxa de excreção da


Governo dos Estados Unidos antes metoxiidroxifenilglicol, normetanefrina, albumina na urina (20 a 200 ftg/min)
conhecida como National Bureau metanefrina e ácido vanílilmandélico. entre a proteinúria normal e a maciça; a
Standards (NBS). O S R M reúne os crité- Metadona: Narcótico sintético que possui excreção urinária elevada de albumina
rios de certificação específicos do N I S T ações farmacológicas semelhantes às da precede e é altamente preditiva de nefro-
além daqueles para o C R M ; este é morfina e heroína e perigo quase igual patia diabética.
emitido com u m certificado ou certifi- de drogadição; usada como analgésico e Microarranjo: Pequeno chi£> ("pastilha") de
cado de análise que relata os resultados como supressor da síndrome de abstinên- silicone que contém u m grande número
dessa caracterização e fornece informa- cia no tratamento da dependência em de elementos (pontos) em u m arranjo
ção a respeito do uso(s) apropnado(s) do heroína. bidimensional (os "pontos" podem ser
material. Metais Pesados: Elementos metálicos com D N A , R N A , proteína, anticorpos ou
Matriz: Todos os componentes de u m altos pesos moleculares, geralmente pequenos pedaços de tecido).
sistema de material, exceto o analito. tóxicos à vida animal e vegetal em baixas Mineralocorticóides: Qualquer substância
Medicina Baseada em Evidências: O uso concentrações. Tais metais são freqüente- do grupo de corticosteróides C21 (prin-
consciencioso, criterioso e explícito das mente residuais no meio-ambiente e cipalmente aldosterona) que regulam o
melhores evidências na tomada de deci- apresentam acumulação biológica. São balanço hídrico e de eletrólitos do
sões sobre o cuidado dos pacientes indi- exemplos o mercúrio, o cromo, o cádmio, corpo.
vidualmente. o arsênico e o chumbo. O International Minisseqüenciamento: Técnica para identi-
Medicina Laboratorial Baseada em ficar a seqüência de bases próxima ao
U n i o n of Pure and Applied Chemistry
Evidências: Aplicação de princípios e primer oligonucleotídeo; também
(IUPAC) considera o termo "metal
técnicas da medicina baseada em evidên- chamada extensão de base única do
pesado" sem sentido e que passa uma
cias na medicina laboratorial; o uso cons- pnmer ou extensão de u m único nucleo-
idéia errada, e recomenda que não seja
ciencioso, criterioso e explícito de melho- tídeo (SNE).
mais usado,
res evidências no uso de investigações da Mioglobina: Proteína contendo heme
Metanefrina: U m metabólito farmacológica
medicina laboratorial para auxiliar na encontrada no músculo esquelético ver-
e fisiologicamente inativo das catecolamí-
tomada de decisões sobre o cuidado de melho-
nas resultante da O-metilação da epine-
pacientes individualmente. Missense (de Sentido Trocado): U m a subs-
frma; formada principalmente no inte-
Meia-Vida da Droga: Na endocrinologia, o tituição de nucleotídeo que codifica u m
rior das células cromafins da adrenal;
tempo necessário paia u m hormônio aminoácido diferente. Estas alterações de
excretada na urina como u m metabólito
reduzir à metade sua concentração origi- seqüência são comumente denominadas
conjugado ao sulfato; as dosagens dos
nal no líquido específico ou sangue. Em "mutações" nrnsense (de sentido trocado),
metabólitos livres e conjugados fornecem
estudos radioativos, é o período de tempo mas elas podem ser benignas e não causar
testes diagnósticos úteis para o feocTorno-
necessário para uma radionuclídeo decli- qualquer doença.
citoma.
nar à metade da quantidade original' Mobilidade Eletroforética: A velocidade de
Metilação de D N A : A adição de u m grupo
mente presente. Na farmacologia, a migração (cm/s) de u m soluto carregado
medi à posição correspondente ao quinto
quantidade de tempo necessária para que em u m campo elétrico, expressa pela
carbono dos resíduos de citosina nos
metade do medicamento administrado unidade de força do campo (volts/cm).
dínucleotideos CpG (citosina-fosfato-
se perca em processos biológicos, como Tem o símbolo f± e unidades de c m 2 /
guanina); esse processo epigenético está
metabolismo e eliminação. (VXs).
M e l l i o r da Categoria: U m termo usado para envolvido no crescimento e desenvolvi-
Molécula Quiral: Molécula que possuí pelo
descrever u m produto que é considerado mento dos organismos.
menos u m par de enantiômeros.
o melhor em uma categoria particular de Métodos de Amplificação: As técnicas para
Monitoração da Droga: Estudo dos efeitos
produtos. Isso implica a escolha de u m amplificar a quantidade do alvo, do sinal de uma substância química administrada
complemento de produtos excelentes de ou da sonda, de forma que as alterações em u m indivíduo.
múltiplos vendedores em vez de se adqui- na seqüência possam ser prontamente M o n i t o r a m e n t o Contínuo: U m forma de
rir todo o portfólio de u m único vende- observadas. reação na qual esta é monitorada conti-
dor. Métodos de Detecção: Técnicas para identi- nuamente e os dados são apresentados
Menarca: Estabelecimento ou início da ficar sequências de ácido nucléico, geral- de modo analógico ou digital.
função menstrual. mente após purificação e amplificação. M o n i t o r a m e n t o do I o n Selecionado (SIM):
Menopausa: Cessação da menstruação na Metoxi-hidroxifenilglicol (MHPG): Um Técnica em espectrometria de massa na
mulher, que geralmente ocorre por volta metabólito da epinefrina e da norepine- qual apenas os íons de interesse são
dos 50 anos de idade. frina formado principalmente pela O- monitorados.
Menstruação: Fluxo mensal de sangue pelo metilação do diidroxifenilglicol e, em Monocromática: Radiação eletromagnética
trato genital das mulheres. menores quantidades, pela desaminação de u m comprimento de onda ou uma
Mensuração Acido-Base: A mensuracão do da normetanefrina e da metanefrina; faixa muito restrita de comprimento de
P H e gases sanguíneos do sangue total. encontrado no cérebro, sangue, CSF e onda..
Metahólitos das Catecolamínas: Produtos do urina, onde suas concentrações podem Mutação: Alteração na seqüência de u m
metabolismo das catecolamínas, como ser usadas para dosar a renovação das ácido nucléico genômico; em alguns con-
ácido diidroxifenílacéüco, metoxitiramina, catecolamínas. textos, a palavra é usada apenas quando
910 Glossário

a alteração da seqüência causa doença células cromafins da adrenal como um Ongogene: Gene que causa a transformação
e / o u é hereditária. precursor da epinefrina. maligna de células normais. O termo se
Nanismo Hipofisário: Baixa estatura Normetanefrina: U m metabólito O-meti- refere tipicamente a u m gene mutado e
causada pela deficiência de síntese de lado da norepinefrina produzido nas uma célula normal (proto-oncogene).
hormônios da adeno-hipófise células extraneuronais e na medula Opiáceo/Opióide: Opiáceo refere-se a qual-
Necroses Conjunto de alterações morfológi- adrenal; excretada pela urina como u m quer substância de um grupo de alcalói-
cas indicativas de m o r t e celular e causa- metabólito conjugado a sulfato; as dosa- des narcóticos de ocorrência natural
das pela progressiva ação degradativa das gens dos metabólitos livres e conjugados (papoula) ou semi-sintéticos, com ações
enzimas; pode afetar grupos de células o u fornecem testes úteis para o diagnóstico farmacológicas e estrutura química seme-
paTte de uma estrutura ou órgão. do feocromocitoma lhantes às da morfina. Opióide é u m
Nefelometria: Técnica que usa u m nefelô- Northern Blút; U m método para detectar termo genérico aplicado a todas as subs-
metro para medir um número ou seqüências específicas de R N A com tâncias com propriedades semelhantes às
tamanho de partículas em uma suspen- sondas marcadas após elas terem sido da morfina, independente da origem ou
são; u m detector é colocado em u m separadas por eletroforese. estrutura química.
ângulo ao feixe de luz incidente pata Nuclease: Enzima que degrada o ácido nuc- Optodo: Sensor óprico que mede optica-
medir a intensidade da luz dispersa pelas léico. mente substâncias específicas, como pH,
partículas. Nucleossomo: Uma unidade de cromatina gases sanguíneos e eletrólitos.
Nefrite: Inflamação do r i m com prolifera- que consiste em partículas centrais de OSHAi Occupational Safety and Health
ção focal ou difusa ou processos destruti- nucleossomo (146 pares de bases do A d m in istratíon.
vos que podem envolver glomérulo, D N A dupla-fita) e u m D N A de ligação Osmometria: Técnica para mensurar a con-
tiibulo ou tecido renal intersticial. (linícer) enrolado ao redor de u m con- centração de partículas de soluto dissol-
Nefrolitíases Condição marcada pela pre- junto de oito (octâmeTo) proteínas histx> vidas em uma solução
sença de cálculos renais (pedras). nas. Osteoblastos: Células responsáveis pela for-
Néfron: Unidade anatômica e funcional do Nucleotídeo: Unidade monomérica que mação do osso, incluindo síntese de colá-
rim, formada por corpúsculo renal, consiste em uma parte de açúcar, u m geno tipo I e de proteínas não derivadas
túbulo convoluto proximal, membros ácido fosfórico e uma base purínica ou do colágeno, e mineralização da oste-
descendente e ascendente da alça de pirimidinica; a ligação dos monômeros óide.
Henle, túbulo convoluto distai e túbulo de nucleotídeos forma os polímeros de Osteoclastosi Células grandes e multinucle-
coletor. D N A e RNA. adas, responsáveis pela reabsorção óssea.
Nefcuiorlcs Mecanismo para conectar com- N ú m e r o Variável de Repetições em Série Osteodistrofia Renal: Doença óssea asso-
putadores para o compartilhamento de ( V N T R ) : Segmentos repetidos de D N A ciada à insuficiência renal crônica,
dados. As redes de comunicação incluem com comprimento de 14 a 500 bases, incluindo doenças ósseas de elevado tur»
conexões sem fio (u/ireless) e conexão também conhecidos como minissatéli- rtouer ósseo (osteíte fibrosa ou hiperpara-
física, j unto com hardware e software para tes. tireoidismo secundário) e de baixo turno
os dados de rotina. Nutrição Parenteral Total (TPN): Prática ver ósseo (osteomalácia e doenças ósseas
Neuroblastoma: Sarcoma constituído por de alimentar uma pessoa por via intrave- adinâmicas).
neuroblastos malignos, surgindo geral- nosa, evitando o intestino. Osteomalácia: Mineralização osteóide ina-
mente no sisrema nervoso autônomo Nutrientes Essenciais: Aqueles nutrientes dequada ou retardada; é o equivalente ao
(simpaticoblastoma) ou na medula (proteínas, minerais, carboidraros, lipí- raquitismo no adulto (interrupção do
adrenal; considerado u m tipo de tumor dios e vitaminas) necessários ao cresci- desenvolvimento e da mineralização da
neuroepitelial que afeta principalmente mento, às funções normais e à manuten- placa de crescimento na criança).
os lactentes e crianças atá 10 anos de ção da vida; esses devem ser supridos Osteoporose: Condição clínica caracteri-
idade. pelos alimentos porque não podem ser zada pela redução na massa óssea, levando
Neuro-hipófises Lobo posterior da glândula sintetizados pelo corpo. a fraturas por traumas mínimos; a osteo-
hipófise, compondo a porção neural a Ocitocinai H o r m ô n i o octapeptídico sinteti- porose pós-menopausa ocorre na mulher
qual secreta hormônios diversos. zado no hipotálamo e armazenado na após a menopausa; a osteoporose senil
N l O S H s National Iristitute for Occupational neuro-hipófise que induz uma suave con- ocorre ranto em homens como em
Safety and Haealth. . tração muscular no útero e glândulas mulheres na fase mais avançada da
Nonsense, Mutação Nonsense (Mutação mamárias. vida.
sem Sentido): Uma alteração de seqüên- Oclusão Venosa: Bloqueio temporário do P30: A P0 3 paTa uma dada amostra de
cia que converte u m códon que deter- retorno do fluxo sanguíneo ao coração sangue em que metade da hemoglobina
mina u m aminoácido em um códon de através da aplicação de pressão, geral- do sangue está saturada com O u a P?o
parada ("stofi"), terminando prematura- mente usando um torniquete. reflete a afinidade da hemoglobina pelo
mente a proteína. O ligo núcleo tíd ec: U m pequeno polímero 07.
Norepinefrina (Noradrenalina): U m impor- de ácido nucléico de fita simples. Padrão de Referência: Nas avaliações de
tante neurotransmissor produzido por Oligopeptídeo: Uma cadeia relativamente acurácia/precisao diagnostica de exames
alguns neurônios cerebrais e nervos sim- curta de aminoácidos (três a cinco resí- médicos, o melhor método disponível
páticos periféricos que agem sobre recep- duos). para estabelecer a presença ou ausência
tores 0 r e p r adrenérgicos; produzida nas OMS: Organização M u n d i a l de Saúde. de doença ou distúrbio-alvo; pode ser u m
Glossário 911

único exame ou uma combinação de Partícula Beta (p): Elétron de alta energia dos às substâncias químicas perigosas
métodos e técnicas. emitido como resultado de u m decai- presentes no laboratório.
Padrão P r i m á r i o de Medição: Padrão que mento radioativo. Plasma: Porção fluida do sangue na qual as
é amplamente designado ou conhecido Parto Pré-termo: Nascimento de u m bebê células estão em suspensão. Difere do
como tendo as melhores qualidades antes de 37 semanas de gestação. soro por conter fibrinogênio e compo-
metrológicas e cujos valores são aceitáveis Patógenos Hematogênicos: Microrganismos nentes relacionados que são removidos
sem referência a outros padrões da patogênicos que estão presentes no do soro quando o sangue coagula.
mesma quantidade. sangue humano. Esses patógenos incluem Polidipsia: A u m e n t o excessivo de ingestão
Pancreatite Aguda: Episódio agudo de des- o vírus da hepatite B (HBV) e vírus da de água como n o diabetes meüitus ou dia-
truição enzimática da substância do pân- imunodeficiência humana (HIV), mas betes iwifridus.
creas devido ao escape de enzimas pancre- não se l i m i t a m a eles. Polimerases: Enzimas envolvidas na replica-
áticas ativas no tecido pancreático. P C R em Tempo Real (Real-time PCR): ção e transcrição do D N A .

Pancreatite Crônica; Doença inflamatória Métodos para observar o progresso da P o l i m o r f i s m o de u m Ú n i c o Nucleorideo


caracterizada pela destruição progressiva produção de ácido nucléico (amplifica- (SNP); U m a variante de u m único nucle-

e persistente do pâncreas. ção) pelo menos uma vez a cada ciclo. orideo (isto é, com uma base alterada) de

Pancreatite: Inflamação aguda o u crônica Peptídeo Insulinotrófico Dependente de uma molécula de D N A ) que ocorre na
Glicose (GIP, PoKpeptídio I n i b i t ó r i o população com uma freqüência de pelo
do pâncreas, que pode ser sintomática ou
Gástrico): H o r m ô n i o peptídico (42 ami- menos 1%. Os SNPs podem ser doenças
assintomática e se deve a autodigestão do
noácidos) que estimula a liberação de benignas ou malignas.
tecido pancreático por suas próprias
insulina e inibe a secreção de ácido gás- Polimorfismos de Comprimento de
enzimas. Na maioria das vezes é causada
trico e pepsina. Fragmentos de Restrição (RFLP):
por alcoolismo ou doença do nato
Peptídeo Intestinal Vasoativo (VIP): Alteração da seqüência do D N A que
biliar.
Peptídeo de 28 aminoácidos encontrado muda o tamanho dos fragmentos de
Par de Bases: Nucleotídeos de purina e piri-
no sistema nervoso central e periférico, D N A produzidos por digestão do D N A
midina ligados por pontes de hidrogênio;
onde atua como neurotransmissor. Está por uma enzima de restrição.
no pareamento de bases do D N A , a
localizado nos nervos entéricos no intes- Polipeptídeo: Cadeia curta de aminoácidos,
adenina se liga à tiamina e a guanina faz
tino. Relaxa o músculo liso do intestino tipicamente com cerca de 6 a 30 resí-
par com a citosina; no pareamento de
e aumenta a secreção de água e eletrólitos duos.
bases do R N A , a adenina se liga ao
do intestino. Poliúria: Eliminação de uma grande quan-
uracila.
p H : Logaritmo negativo da atividade do íon tidade de urina em u m determinado
Parácrino: U m tipo de função hormonal no
hidrogênio. período, característica do diabetes.
qual o h o r m ô n i o sintetizado dentro de
Pico Básico: O íon em maior abundância Porfirias Agudas: Doenças herdadas asso-
um tipo de célula e liberado por ela se
no espectro da massas; é atribuído u m ciadas à biossintese do heme, caracteriza-
liga a receptores hormonais em células
valor relativo de 100%. das por crises agudas causadas por disfun-
vizinhas, de tipo diferente, e afeta suas
Pielonefrite: Inflamação do r i m e de sua ções neuroviscerais; potencialmente
funções.
pelve como resultado de infecção. fatais; diagnosticadas por níveis elevados
Paramétrico: Em estudos de intervalo de
P i r i m i d i n a i Base contendo u m anel de de porfobilinogênio (PBG) na urina
referência, a abordagem da análise dos
carbono e nitrogênio; citosina, timina e Porfirias Cutâneas: Doenças associadas à
valores de referência que requer uma uracila são pirimidinas. biossintese do heme, nas quais o acúmulo
suposição específica em relação à distri- Placa: U m a área branco-granulada no inte- de porfirinas causa dano à pele quando
buição dos dados; as abordagens não-para* rior da parede de uma artéria que faz a esta é exposta à luz solar.
métricas, por outro lado, não fazem supo- superfície íntima (interior) protuberar Porfirias Neurológicas! Distúrbios hereditá-
sições a respeito da distribuição. dentro do lúmen; composta por lipídio, rios da biossintese do heme, caracteriza-
Paraproteína: Proteína plasmática anormal resíduos celulares, células do músculo dos por ataques agudos de sintomas neu-
que aparece em grandes quantidades liso, colágeno e, às vezes, cálcio; também roviscerais; potencialmente fatal; detec-
como resultado de condições patológi- conhecida como ateroma. tada por testes para detecção de aumento
cas. Placenta: U m órgão matemo-fetal que é do porfobilinogênio urinário
Paratormônio ( P T H ) : E u m h o r m ô n i o pep- característico dos mamíferos verdadeiros Porfirias: G r u p o de doenças metabólicas
tídico secretado pelas glândulas pararire- durante a gestação. primordialmente hereditárias que resul-
óides em resposta a hipocalcemia. Piano de Controle de Exposição: U m con- tam de deficiências parciais das enzimas
Ocasiona elevação do cálcio sérico devido junto de instruções escritas descrevendo da biossintese do heme, resultando em
ao aumento da reabsorção óssea, aumento os procedimentos necessários para prote- maior formação e excreção de porfirinas,
da reabsorção renal do cálcio e aumento ger funcionários de laboratório contra a seus precursores, ou ambos.
da síntese da 1,25-hidroxivitamina D , exposição potencial a patógenos hemato- Porfirinas: Qualquer grupo de compostos
que aumenta a absorção intestinal de gênicos. contendo a estrutura de porfina, quatro
cálcio e fosfato. Plano de Higiene Química: U m conjunto anéis de pirrol ligados por pontes de
Partição: Processo pelo qual u m grupo de de instruções escritas descrevendo os pro- meteno (ou pontes metênicas ou pontes
referência é subdividido para reduzir a cedimentos necessários para proteger os metenilas) em uma configuração cíclica,
variação biológica em cada grupo. empregados de riscos à saúde, relaciona- a qual se ligam várias cadeias laterais.
912 Glossário

Porfühilinogênio (PBG): Precursoi ime- Processo de Teste Completo: Definição Proteína: Polímeros caracterizados pela pre-
diato das porfirinas, u m anel p i r r o l com ampla do processo de testes laboratoriais, sença de uma o u mais cadeias de amino-
cadeias laterais do tipo acetil, p t o p i o n i l e que inclui as etapas pié-analítica, analí- ácidos ligadas por ligações peptídicas; as
aminometil; quatro moléculas de PBG se tica e pós-analítica. proteínas contêm carbono, hidrogênio,
condensam para formar uma molécula Processo Digestivo: Processo de três fases nitrogênio e geralmente enxofre (sendo
de 1-hidroximetilbilano, que é então con- — neurogênica (vagai), gástrica e intesti- o elemento característico o nitrogênio) e
vertido sucessivamente a uroporfirinogê- nal. A fase neurogênica (vagai) é iniciada são amplamente distribuídas em animais
nio-III, coproporfitinogênio-III, proto- pela visão, odor e sabor do alimento. A e plantas.
porfirinogênio-IX, piotoporfirina-DÍ e fase gástrica é iniciada pela distensão do Proteínas de Bence-jones: Cadeia leve de
heme. estômago, pela entrada de alimenta. A imunoglobulina monoclonal encontrada
Potenciometria: Um processo eletroquí- fase intestinal inicia-se quando o ali- em algumas doenças neoplásicas e carac-
mico no qual a diferença de potencial mento, o r i u n d o do estômago e parcial- terizada por propriedades anormais de
entre u m eletrodo indicador e u m ele- mente digerido, entra n o duodeno. solubilidade; precipita-se quando aque-
trodo de referência (ou segundo eletrodo Produção Magra: Processo de qualidade cida entre 50°C e 60°C e se redissolve
indicador) é medida enquanto não é per- que se concentra na em criação de mais entre 90°C e 100°C; quando resfriada
m i t i d o fluxo de corrente na célula eletro- valor pela eliminação de atividades con- precipita-se e se redissolve novamente. E
química. sideradas desperdício. uma proteína característica encontrada
Precauções Universais: U m a abordagem P r o d u t o : Substância produzida pela conver-
na urina da maioria dos pacientes c o m
paTa o controle de infecções. D e acordo
são catalisada por enzima de u m subs-
com conceito das Precauções Universais, mieloma múltiplo.
trato.
todo sangue h u m a n o e certos fluidos Proteínas Plasmáticas: Proteínas presentes
Produtos Finais de Glicação Avançada
orgânicos humanos são tratados como se no sangue, incluindo proteínas transpor-
(AGE): Proteínas que foram modificadas
fossem infectados pelo H I V , HBV e tadoras, fibrinogênio e outros fatores de
irreversivelmente por ligação não enzimá-
outros patógenos hematogênicos. coagulação, componentes do comple-
tica da glicose; podem contribuir pata as
Precursores de Porfirinas: A I A e PBG, os mento, imunoglobulinas, inibidores de
complicações crônicas do diabetes.
intermediários biossintéticos, que são enzimas e muitas outras; a maioria
Prognóstico: U m a predição dos futuros
metabolizados a porfirinogênios e porfi- também é encontrada em outros fluidos
curso e conseqüência da doença do
rinas. corporais, mas em concentrações
paciente baseada nos indicadores atual-
Pré-Eclãmpsia: Hipertensão induzida pela menores.
mente conhecidos (p.ex., idade, sexo,
gravidez com aumento da proteína uriná- Proteômica: Identificação e quantificação
estágio do tumor, concentração do mar-
ria. de proteínas e suas modificações pós-
cador tumoral etc.)
Pressão Parcial: A fração da substância translacionais em u m dado sistema o u
Prolactina (PRL): H o r m ô n i o lactogênico
(mole) de gás multiplicada pela pressão sistemas. "Proteômica" também é utili-
sintetizado pela hipófise.
total; por exemplo, a pressão parcial de zado para indicar o tipo de alterações
P r o m o t o r ; Região reguladora do D N A ; os
oxigênio, P 0 2 l é a fração de gás oxigênio globais na expressão da proteína quando
promotores estão envolvidos no controle
multiplicada pela pressão barométrica.. visualizada mais comumente por eletro-
da taxa e do tempo da transcrição.
Primeri Oligonucleotídeo que serve para forese em gel bidimensional ou analisada
Propoxifeno: O p i ó i d e sintético amplamente
iniciar a adição catalisada por polimerase
por espectrometria de massa.
prescrito.
de dNTPs por anelamento à fita molde.
Protoporfirina: U m a porfirina com quatro
Procedimento de controle (Procedimento Prostaglandina: Qualquer grupo de com-
postos derivados de ácidos graxos insatu- cadeias laterais do tipo metil, duas do
C Q ) : Protocolo e materiais necessários
rados de 20 carbonos (principalmente tipo v i n i l e duas do tipo ácido propiônico
para u m analista avaliar se u m método
ácido araquidônico) por meio da via de ligadas ao suporte do tetrapirrol; o com-
está funcionando adequadamente e se os
ciclo oxigenas e. Estes compostos são plexo pr0t0p0rfirina-IX-ferT0, o heme, é
resultados dos exames do paciente podem
potentes mediadores de u m grupo diverso o grupo prostético da hemoglobina, dos
ser divulgados. E descrito pelo número
de processos fisiológicos. citocromos e de outras hemoproteínas.
de medidas de controle e pelos critérios
Proteína Conjugada: Proteína que contém Pseudogene: Elemento genético que não
de decisão (regras de controle) usados
. u m ou mais grupos prostéticos. resulta em u m produto gênico funcional,
para julgar a aceitabilidade dos resulta-
dos. Proteína G l o b u l a r : Proteína com morfolo- geralmente por causa das mutações acu-

Procedimento de Medição de Referência: gia compacta que é solúvel e m água o u muladas.

Procedimento de medição exaustiva- soluções salinas. Puberdade Precoce: Desenvolvimento pre-


mente investigado e com demonstração Proteína Relacionada ao Pararormônio maturo das características sexuais secun-
que fornece valores de inceTteza de (PTH-rP)s E uma proteína que mimetiza dárias; geralmente antes dos 8 anos de
medição compatível com o objetivo de várias ações do PTH, porém é um idade em meninas e antes da idade de 9
utilização, especialmente na avaliação da produto de u m gene diferente que é anos em meninos.
veracidade de outros procedimentos de expresso em vários tecidos normais e Punção da Pele: Coleta de sangue capilar
medição para a mesma quantidade e na superexpresso em tumores na maioria geralmente de u m paciente pediátrico
caracterização de materiais de referên- dos casos de hipercalcemia humoral asso- por meio de u m pequeno corte feito na
cia. ciada a neoplasia. pele, geralmente no calcanhar.
Glossário 913

P u r i n a : U m a base contendo dois anéis de Reação de Fase Aguda: Resposta do corpo Rejeições Falsas: O desempenho caracterís-
carbono e nitrogênio; a adenina e a a uma lesão ou inflamação, incluindo tico de u m procedimento de Q C que
guanina são purinas. febre, leucocitose e alterações de proteí- descreve o quão freqüentemente uma
Qualidade: Conformidade às exigências dos nas. série analítica é rejeitada quando n e n h u m
usuários ou clientes e a satisfação de suas Reação de Jaffe: Reação da creatinina com erro ocorre, exceto pela imprecisão ine-
necessidades e expectativas. o picrato alcalino para formar u m com- rente ao método.
Quantidade: A quantidade de substância (p. ponente colorido. Usada para medir a Relação Dos e-Resp os ta: A relação entre a
ex., a concentração da substância). creatinina. dose da droga administrada e a resposta
Q u i l o m í c r o n : Partícula da classe das lipo- Reação de O r d e m Zero: Reação na qual a do organismo à droga.
proteínas, responsável pelo transporte de velocidade da reação é independente da Renina: U m a enzima da classe das hidrola-
colesterol e triglicerídeos exógenos do concentração do reagente. ses que catalisa a clivagem da ligação
intestino delgado para os tecidos após as Reação de P r i m e i r a O r d e m : Reação na leucina-leucina no angiotensinogênio
refeições. U m quilomícron é uma partí- qual a velocidade de reação é proporcio- para gerar a angioterisina I.
cula esférica com u m núcleo de triglice- nal à concentração dc reagente. Reperfusão: Restauração do fluxo sanguí-
rídeos circundado por uma monocamada Reação de Tempo Fixo: U m a forma de neo para u m tecido; em discussões de
de fosfolipídios, colesterol e apolipopro- reação de dois pontos na qual as medidas síndromes coronárias agudas, refere-se ao
teínas. são feitas em tempos específicos (i.e., retorno do fluxo sanguíneo a uma área
Q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a : Emissão de luz por "fixos"). Prefere-se esse método pata do coração irrigada pela artéria coroná-
moléculas nos estados excitados produzi- ensaios nos quais a velocidade da reação ria.
dos por uma reação química, como em é primeira ordem em relação à concen- Repetições Curtas em Série (STR):
vaga-lumes. tração inicial do substrato. Segmentos curtos de D N A (1-13 bases de
Q u i m i o t r i p s i n a : Serina protease originária Reação em Cadeia da Polimerase (PCR): comprimento) que se repetem de ponta
do pâncreas. Hidrolisa preferencialmente Método ín vitra de amplificação expo- a ponta; também conhecidos como
os peptídios que contêm Leu, Phe, Tyr ou nencial do D N A . micros satélites.
T r p e ligações ésteres. Receptor: Estrutura mo.ecular, dentro de Replicação: Reprodução do DNA das
Q u i r n o : A l i m e n t o que foi processado pelo uma célula ou na sua superfície, caracte- células-mães para as células-filhas durante
revolvimento do estômago e dos sucos rizada por (1) ligação seletiva de substân- a divisão celular; cópia das seqüências de
gástricos, mas que ainda não passou para cias específicas, (2) efeito fisiológico espe- DNA.
os intestinos. cifico que acompanha a ligação; são Resolução: N a cromatografia, uma medida
Radiação Infravermelha (IR): Região do exemplos receptores na superfície da do quão eficazmente dois picos adjacen-
espectro eletromagnética entre 770 e célula (para hormônios peptídicos, neu- tes estão separados.
12.000 nm. rotransmissores, antígenos, fragmentos Revisão Sistemática! Uma revisão metodo-
Radiação Ultravioleta: Região entre 180 a do complemento e imunoglobulinas) e lógica e abrangente de todas as informa-
390 n m do espectro eletromagnético. receptores intracelulares para hormônios ções publicadas e não publicadas sobre
Radioatividade: Decaimento espontâneo de esteroidais. u m assunto específico para responder
átomos (radionuclídeos) que produz Retração: Desvio oblíquo de u m raio de luz uma pergunta clínica precisamente defi-
radiação detectável. ou comprimento de onda em trajetória nida.
Radioproteção: Regulamentações e práticas linear, quando passa de um meio para R N A (Acido Ribonucléico): Uma substân-
para garantir que a radiação seja usada outro. cia biológica similar ao D N A exceto por
com segurança. Registro Clínico Eletrônico (EHR): Registro ser, principalmente, de fita simples,
Raio Gama: Fóton de alta energia emitido médico com base em computador. O conter ribose como a parte de açúcar, ter
como resultado de decaimento radioativo. E H R pode incluir dados hospitalares, u m grupo hidroxila extra e conter uracila
Rastreabilidade: "A propriedade do resultado dados de atendimento ambulatorial e em lugar de timina; existem diferentes
de uma medida ou do valor de u m padrão mesmo dados de entrada do paciente. tipos funcionais de R N A , incluindo
segundo a qual esses podem ser relaciona- Regras de Controle: Critério de decisão R N A mensageiro (mRNA), R N A ribos-
dos a referências estabelecidas, geralmente usado para interpretar os dados do con- sômico (rRNA) e R N A de transferência
padrões nacionais ou internacionais, por trole de qualidade (QC) e fazer u m julga- (tRNA).
uma cadeia ininterrupta de comparações, mento do estado de controle (p. ex., l 3 s Rotação dextro rrotatória o u (+): Rotação
todas possuindo incertezas indicadas" representando uma regra de controle sentido horário da luz polarizada por u m
[ISO], Isto é alcançado pelo estabeleci- onde uma sétie é julgada fora de controle estereoisômero (p. ex., D- ou [+]-metanfe-
mento de uma cadeia de calibrações que se uma medida de controle exceder a tamina).
leva aos padrões nacionais ou internacio- média mais ou menos 3 desvios- Rotação Levorrotatória ou (-): Rotação anti-
nais primários, de maneira ideal (por coe- padrão). hoTária da luz plana polarizada por um
rência a longo prazo), em unidades de Regras Multiplicas de Westgard: esteroisômero (p. ex., L- ou [-]-metanfeta-
medidas do S^sféme Internacional (SI). Procedimento que utiliza uma série de mina).
Razão entre Massa e Carga (m/zh Quan- regras de controle para testar as medidas SARA: Superfund Amendments and
tidade adimensional formada pela divisão de controle: uma regra li s é usada como Reauthonzation Act. O S A R A incorpo-
do numero de massa de u m íon pela sua u m aviso, seguida por 1^, 2^, R^,, 4is e rou o Comprehensive Environmental
carga. 10, usadas como regras de rejeição. Response, Compensation, and Liability
914 Glossário

Açu (CERCLA) em 17 de outubro de (com injúria mínima ao miocárdio) e ao pelo aumento da produção de andró-
1986. infarto do miocárdio (com extensa geno.
Saturação de Oxigênioi Fração (porcenta- necrose tecidual). Síndrome Ectópica: Produção de u m hor-
gem) de hemoglobina funcional que é Síndrome da Pós-Gastrectomia: Síndrome m ô n i o por tecido tumoral não-endócrino
saturada com oxigênio, abreviada com que sucede a cirurgia para doença ulce- que normalmente não produz o hormô-
so2. rosa péptica, que inclui a síndrome do nio (p. ex., produção de A D H pelo carci-
Secretina: H o r m ô n i o peptidico do trato gas- esvaziamento rápido, diarréia, má diges- noma de células pequenas do pulmão).
trointestinal (27 Tesiduos de aminoáci- tão, perda de peso, anemia, doença óssea Síndrome Nefrótica: N o m e genérico paia
dos), encontrado nas células da mucosa e câncer gástrico. u m grupo de doenças envolvendo os glo-
do duodeno. Estimula a secreção da bile, Síndrome da Secreção Inapropriada de mérulos defeituosos do rim, caracteri-
da pepsina e pancreática e inibe a secre- Hormônio Antidiurético (SIADH)i zado por proteinúria e lipidúria maciças
ção ácida gástrica. Considerável homolo- Condição na qual a secreção inapro- com graus variáveis de edema, hipoalbu-
gia com o GIP, peptídeo intestinal vaio- priada de h o r m ô n i o antidiurético produz minemia e hiperlipidemia.
ativo, e glucagon. hiponatremia, hipovolemia e elevada Sistema C r o m a f i m : Células do corpo que
S E L D I : A c r ô n i m o de Dessorcão/Ionizacão osmolaridade urinária. se coram com sais de cromo.
a Lase-r Realçado de Superfície. Síndrome de D o w n : Distúrbio genético Sistema de Gerenciamento de Dados
Seletividade e / o u Especificidade (Analítica): caracterizado pela presença de três cópias (DBMS): U m programa de computador
Na química analítica, o grau em que um do cromossomo 21 (trissomia do 21) em projetado para criar e manter grandes
método responde, exclusivamente, a um coleções de informação.
vez de duas cópias normais.
analito definido. Sistema He Informação Hospitalar (HIS):
Síndrome de Reye: Doença súbita, algumas
Sensibilidade (Clinica): Proporção de indi- Sistema de funções computadorizadas
vezes fatal, que afeta múltiplos órgãos,
víduos com doença que apresentam que gerencia o atendimento do paciente
mas mais notavelmente o cérebro (ence-
resultados positivos. dentro do hospital.
falopatia) e fígado. Ocorre em enanças
Sensor! Dispositivo que recebe e responde a Sistema de Informação Laboratorial (LIS):
(maioria entre 4 e 12 anos de idade) apôs
u m sinal ou estímulo. Existem muitos Sistema de funções computadorizadas
infecção virai (varicela ou tipo de
exemplos na vida, incluindo os recepto- para o gerenciamento das operações labo-
influenza), associada à ingestão de aspi-
res da língua, orelha etc. Uma enzima é ratoriais e comunicação dos resultados
rina.
usada como u m sensor conectado a u m de testes laboratoriais.
Síndrome de Zollinger-Ellison (Z-E): Con-
transdutor na construção de u m bios sen- Sistema Endócrino: O sistema de glândulas
dição resultante de u m tumor das células
sor. que libera suas secreções (hormônios)
das ilhotas pancreáticas, produtor de gas-
Scqüenciamento: Método para determinar diretamente no sistema circulatório.
trina (gastrinoma), que resulta na hiper-
a identidade e ordem exata das bases em A l é m das glândulas endócrinas, estão
produção de ácido gástrico, levando à
uma molécula de D N A o u R N A , ou incluídos o sistema cromafim e o sistema
ulceração do esôfago, estômago, duodeno
parte (sequenciamento de ácido nucléico), neurossecretor.
e jejuno, causando hipergastrinemia,
ou a ordem de aminoácidos em uma pro- Sistema Hipotálamo-Hipofisário: Sistema
diarréia e esteatorréia.
teína (seqüenciamento de proteína). de neurônios, feixes fibrosos, tecido
Síndrome do Desconforto Respiratório:
Serotonina (5-Hidroxitriptamina): Um endócrino e vasos sanguíneos responsá-
Doença de recém-nascidos prematuros,
vasoconstritor monoamínico sintetizado vel pela produção e liberação dos hormô-
causada por deficiência de surfactante
pelas células enterocromafins intestinais nios hipofisários na circulação sistê-
ou em neurônios centrais ou periféricos; pulmonar.
mica.
encontrada em altas concentrações em Síndrome do Doente Eutireoidiano:
Sistema Internacional de Unidades (Slj:
vários tecidos do corpo, incluindo a Condição clínica que cursa com concen-
U m sistema de medidas adotado interna-
mucosa intestinal, corpo pineaí e sistema trações anormais de h o r m ô n i o tireoi- cionalmente. As unidades do sistema são
nervoso central. diano e h o r m ô n i o estimulante da tire- chamadas unidades SI.
Síndrome Carcinóide: Um complexo óide presente nos doentes gravemente Sistema M é t r i c o : Sistema de pesos e medidas
sistema associado aos tumores carcinói- enfermos, face a uma função tireoidiana baseado no metro como unidade padrão
des e caracterizado por crises de rubor normal. Frequentemente simula um de comprimento.
cianótico da pele — com duração de . quadro de hipotireoidismo em pacientes Sistema Operacional (OS): U m programa
minutos a dias — e por evacuações diar- eutireoidianos que tenham outras de computador mestre que controla as
réicas aquosas, crises broncoconstritivas, doenças, como diabetes metlítus o u cirrose funçõesbásicas do computador, incluindo
quedas abruptas da pressão sanguínea, hepática. dispositivos terminais de imagens, res-
edema e ascite. Os sintomas são provoca- Síndrome do Esvaziamento Rápido: Após posta ao teclado e ao moiüe, gerencia-
dos pela secreção tumoral de serotonina, cirurgia gástrica, o quimo hiperosmolar é mento de arquivos e controle de progra-
prostaglandinas e outras substâncias bio- "esvaziado" no intestino delgado, cau- mas.
logicamente ativas. sando hipovolemia rápida e hemocon- Samatomedinai Fator de crescimento seme-
Síndrome Coronariana A g u d a (ACS): U m centração. lhante à insulina I. Originalmente, qual-
distúrbio cardíaco que varia de angina Síndrome do Ovário Policístico (PCOS): quer peptídeo produzido no fígado e
(dor no peito por esforço físico com lesão U m a condição feminina que se caracte- relacionado em resposta ao h o r m ô n i o de
ao tecido reversível) a angina instável riza por múltiplos folículos ovarianos e crescimento (somatotrofina) que medeia
Glossário 915

o estímulo d o crescimento induzido por pequenas substâncias como creatinina e Teste de T r i a g e m : Exame inicial, como u m
h o r m ô n i o d o crescimento. uréia são filtradas através dos glomérulos imunoensaio o u T L C , que é usado para
Sonda: A c i d o nucléico usado para identifi- renais. E uma medida da quantidade de "triar" amostras de u r i n a para eliminar
car u m alvo por hibridização. néfrons ativos. as "negativas" das considerações adicio-
Soro: L í q u i d o claro que se separa d o sangue Taxa de P r o d u ç ã o de A m o s t r a : A veloci- nais e identificar as amostras presumivel-
na coagulação. dade na qual u m sistema analítico pro- mente positivas, que então requerem
Southern B l o t : U m m é t o d o para detectar cessa as amostras. teste de confirmação.
variantes da seqüência de D N A que T é c n i c a de I m u n o e n s a i o M u l t i p l i c a d o p o r Teste Judicial de C o n s u m o d e Drogas:
envolve digestão do D N A , c o m u m a ou E n z i m a ( E M I T ) : U m imunoensaio de Aplicação de testes de verificação de
mais enzimas de restrição, e separação não-separação baseado na marcação da consumo de drogas em questões legais.
dos fragmentos de D N A resultantes por enzima. Teste: N o laboratório de análises clínicas,
eletroforese. Após separação, o D N A é Tecnologia da I n f o r m a ç ã o (IT): U m assunto u m teste é u m procedimento qualitativo,
transferido (por "blotting" - transferência amplo relacionado com tecnologia e semiqualitarivo, quantitativo ou semi-
por absorção) d o gel de eletroforese para outros aspectos d o gerenciamento e pro- quantitativo, para detectar a presença o u
u m suporte sólido (tal como papel) e os cessamento de informações. Os profissio- m e d i r a quantidade de u m analito e m
fragmentos de interesse são identificados nais da computação são muitas vezes u m espécime.
por hibridização com uma sonda chamados de especialistas em IT, e a Teste-Indice: Nos estudos de acurácia diag-
marcada. Southern bíots detectam varian- divisão de u m a empresa ou universidade
nostica, o " n o v o " teste o u o teste de inte-
tes de seqüência que produzem u m a alte- que lida com a tecnologia de softwares ê
resse.
ração na distância entre sítios de restrição geralmente chamada de departamento
Testes Respiratórios: Testes que detectam os
e, p o r t a n t o , p r o d u z e m u m a alteração dos de IT.
produtos do metabolismo bacteriano n o
tamanhos dos fragmentos. Sout/iem blots T e l ô m e r o : A seqüência de D N A na extremi-
intestino ou os produtos do metabolismo
p o d e m detectar alterações pequenas n o dade de u m cromossomo; os telõmeros
h u m a n o , pela mensuração, mais comu-
DNA, alterações estas que afetam os c o n t ê m seqüências de nucleotídeo repe-
mente, de C O ? e H? na respiração.
sítios que as enzimas de restrição cortam, titivas que protegem as extremidades dos
T i r a : Matriz porosa que c o n t é m u m a região
p o d e n d o t a m b é m detectar inserções e cromossomos da recombinação com
na qual u m anticorpo marcado é seco na
deleções grandes e alguns rearranjos de outros cromossomos.
matriz e outra à qual u m a n t i c o r p o está
seqüências de D N A . Testagem Centralizada: U m m o d o de testa-
quimicamente ligado. Q u a n d o a amostra
S T A R D : D o inglês Standards for J^eporting gem n o qual as amostras são transporta-
é adicionada à primeira região, o analito
o f .Qiagnostic Accuracy - Padrões para das para uma unidade central, ou
de interesse se liga ao anticorpo, agora na
Relato de Acurácia Diagnostica, um "núcleo", de análise.
solução, e se move ao longo da fita,
projeto delineado para melhorar a quali- Testagem L a b o r a t o r i a l R e m o t a ( P O C T ) :
ligando-se ao segundo anticorpo. A pre-
dade dos relatos dos resultados dos U m sistema de testagem e m que a análise
sença desse p r i m e i r o a n t i c o r p o retido na
estudos de acurácia diagnostica. é realizada n o local onde a assistência
segunda região indica que o antígeno
Substrato: Regente em u m a reação catali- médica é fornecida; t a m b é m conhecido
contra o qual os anticorpos foram esti-
sada. c o m o teste à cabeceira, próximo ao paciente,
mulados está presente na amostra.
S u p e r f u n d : U r n programa do governo dos descentralizado e fora do laboratório. O
Tireoglobulina: Uma glicoproteína que
E U A criado para limpar locais c o m resí- exame ao leito geralmente é realizado
contém iodo de alto peso molecular (663
duos perigosos sem controle n o país. c o m u m aparelho portátil, e a amostra
kDa) presente n o colóide dos folículos da
C o m o programa Superfund, são elimi- não processada é coletada imediatamente
tireóide.
nados os resíduos perigosos abandona- antes d o teste.
T i r e o i d i t e : Inflamação da glândula tireóide.
dos, acidentalmente derramados ou des- Teste de C o n f i r m a ç ã o ; U m segundo proce-
carregados ilegalmente, e que configuram d i m e n t o analítico usado para identificar Característica da doença de H a s h i m o t o ,

u m a ameaça atual ou futura à saúde a presença de u m fármaco o u metabólito u m a doença auto-imune que causa des-

h u m a n a ou ao meio-ambi ente. específico. E independente do teste truição da tireóide.

Talas se m i a : G r u p o heterogênio de anemias i n i c i a l de triagem e usa técnica e princí- T i r o x i n a (T 4 ): Principal h o r m ô n i o sinteti-

hemolíticas hereditárias que apresentam p i o químico diferentes daqueles do teste zado e liberado pela tireóide; c o n t é m

u m a taxa de síntese d i m i n u í d a de u m a inicial. quatro moléculas de i o d o (L-3,5,3 * ,5 '-


ou mais cadeias polipeptídicas da hemo- Teste de G u t h r i e : Ensaio microbiológico tetraiodotironina).
globina, as talassemias são classificadas semi quantitativo para determinação de T o r n i q u e t e : Dispositivo aplicado ao redor
de acordo c o m a cadeia envolvida ( a , P, aminoácidos fenilalanina n o sangue o u da extremidade para controlar a circula-
Ô); as duas gategorias principais são as a urina. ção e evitar o fluxo de sangue para o u a
e p-talassemias. Teste de P r o f i c i ê n c i a (PT): O processo pelo partir da área distai.
Tampão: U m a solução o u reagente que q u a l amostras simuladas de pacientes Toxicologia Clínica: Subdivisão da toxicolo-
resiste à m u d a n ç a de p H após a adição obtidas a partir de u m a fonte c o m u m são gia que envolve a análise de fármacos,
de u m ácido o u u m a base. analisadas por laboratórios, sendo os metais pesados, e outros agentes quími-
Taxa de Filtração G l o m e r u l a r (GFR): A resultados deste procedimento avaliados cos nos fluidos e tecidos corporais, que
taxa, geralmente expressa em mililitros para se determinar a "qualidade" d o tem como objetivo a assistência ao
de sangue f i l t r a d o por m i n u t o , na qual desempenho dos laboratórios. paciente.
916 Glossário

Toxíndrome: Síndrome causada por uma Tripslna: Serina endopeptidase que catalisa Validação: (na pesquisa) o grau até o qual
concentração perigosa de toxinas no a clivagem de ligações peptídicas na u m exame ou estudo mede o que ele se
organismo. porção carboxila de uma arginina ou propõe a medir.
Traduçãoi O processo pelo qual uma seqüên- lisina. Valor de Referência: Valor obtido pela
cia do R N A mensageiro (mRNA) dire- Trombólíse: Destruição ("dissolução") de observação ou mensuração de um tipo
ciona a formação de u m peptídio com a u m trombo (coágulo), quase sempre após particular de quantidade em u m indiví-
seqüência de aminoácidos desejada; a injeção de uma droga como estreptoqui- duo referência.
tradução também envolve os RNAs de nase ou ativador de plasminogênio teci- Variáveis Pré-Analíticas: Fatores que afetam
transferência (tRNAs), que reconhecem dual (TPA). as amostras antes de serem realizados os
os códons trijjlfit no m R N A e carregam o T u m o r Careínóide: U m tumor amarelado, exames; são classificadas como controlá-
aminoácido correspondente; a tradução circunscrito, originado das células entero veis e não controláveis,
ocorre nos ribossomos e necessita de cromafins, geralmente no intestino Varizes: Veias, artérias ou vasos linfáticos
enzimas e outros fatores. delgado, apêndice, estomago ou cólon, e aumentados e tortuosos.
Transaminase: Subclasse de enzimas da menos comumente no brônquio; Vasopressina: Hormônio peptidico —
classe das transferases que catalisa a trans- algumas vezes usado isoladamente para também conhecido como hormônio
ferência de u m grupo amino de u m se referir ao tumor gastrointestinal antidiurético ( A D H ) — sintetizado no

doador (geralmente um aminoácido) (também denominado argentafinoma).. hipotálamo, mas liberado a partir da

para u m receptor (geralmente u m 2-ceto- Turbidezi Opacidade de uma solução neuro-hipófise.

ácido). E m sua maioria, essas enzimas são causada p o i partículas em suspensão que Veneno: Substância que, quando ingerida,

proteínas piridoxal fosfato. A alanina dispersam luz; a quantidade de luz dis- inalada, absorvida, aplicada, injetada ou
persa está relacionada de maneira com- produzida dentro do corpo, em quanti-
transaminase e a aspartato transaminase
plexa com a concentração, tamanhos e dades relativamente pequenas, apresenta
são transaminases que são medidas com
formas das partículas. ação química que pode causar dano
freqüência nos laboratórios de análises
Turbidimetria: A medição de turbidez; estrutural ou distúrbio de função, produ-
clínicas.
geralmente executada em instrumento zindo sintomas, doença ou morte.
Transcrição; Processo de transferência de
(espectrofotômetro ou fotómetro) que V e n o p u n t u r a : Processo envolvido na nhren-
informação da seqüência de regiões
mede a razão entre a intensidade de luz ção de amostra de sangue da veia do
gênicas do D N A para uma mensagem de
transmitida por dispersão e a intensidade paciente.
R N A ; fazer uma "cópia" de R N A do
de luz incidente. Viéss Erro sistemático n a coleta OU na inter-
DNA.
U n i d a d e Internacional: A quantidade de pretação dos dados, superestimado ou
Transcriptase Reversai Polimerase que cata-
enzima que catalisa a conversão de u m subestimado, ou outra forma de desvio
lisa a síntese de D N A a partir de u m
m i c r o m o l de substrato por minuto sob dos resultados ou das inferências a partir
molde de R N A ; a enzima que faz uma
condições especificas do método de da verdade. O viés pode resultar de falhas
"cópia" de D N A do R N A ; contrasta com
ensaio. sistemáticas na elaboração do estudo, na
a transcrição.
Unidade-Dose de Reagente: Reagente emba- mensuração, na coleta de dados ou
T r a n s d u t o n Substância ou dispositivo que
lado de modo que apenas uma embala- análise ou na interpretação dos resulta-
converte entrada de energia em uma
gem seja usada por ensaio. dos.
forma, em produção de energia de outra
Uréia: Principal metabólito nitrogenado do Virilização: Indução ou desenvolvimento das
forma. São exemplos o cristal piezoeléc-
catabolismo protéíco n o homem. características sexuais secundárias masculi-
trico, o microfone e a célula fotoelétrica.
U r e m i a : Excesso de uréia, de creatinina e de nas; especialmente a indução de tais altera-
A combinação de u m sensor e um trans-
outros nitrogenados e produtos do meta- ções no sexo feminino, incluindo o
dutor deve levar a u m produto que pode bolismo de proteína e aminoácido n o aumento do ditóris, crescimento de pêlos
ser "lido" por humanos- sangue; mais corretamente chamada de faciais e corporais, desenvolvimento de
Transferrina: Betaglobulina que transporta azotemia. uma linha de implantação capilar tipica-
ferro no sangue. Urobilinogênios Componente incolor for- mente masculina, estimulação da secreção
Triglicerídeo! U m composto orgânico que mado n o intestino pela redução da bilir- e proliferação das glândulas sebáceas (fre-
consiste em até três moléculas de ácidos rubina. quentemente provocando acne), e redução
giaxos esterificados ao glicerol. U r o p o r f m n a : Porfirina com quatro cadeias da tonalidade da voz.
T r i i o d o t i r o n i n a (T 3 ): A forma biológica laterais de ácido acético e quatro de ácido V i t â m e r o i Termo usado para descrever qual
ativa de hormônio tireoidiano produzida propriôníco, ligadas ao suporte de tetra- quer u m dos diversos compostos que
primariamente fora da tireóide pela pirrol. possuem uma dada atividade vitamí-
desiodinação da tiroxina (T 4 ). Tem três Validação Externa: O grau até o qual os nica.
moléculas de iodo ligadas à sua estrutura resultados de u m estudo podem ser gene- V i t a m i n a D i Vitamina lípossolúvel produ-
molecular (L-3,5,3'-triiodotironina). O ralizados para a população como definido zida pela pele após exposição à luz solar
T 3 reverso é u m metabólito biologica- pelos critérios de inclusão do estudo. ou proveniente de alimentos que a con-
mente inerte da tiroxina (T+), com três Validação Internas O grau até o qual se pode tenham (óleos de peixe, ovos, gema de
moléculas de iodo anexadas à sua estru- confiar nos resultados de u m estudo para ovo, fígado) e de suplementos alimenta-
tura molecular (L-3,3',5'- triiodotiro- a amostra de pessoas que estão sendo res com vitamina D (tais como o leite nos
nina).. estudadas. Estados Unidos). A sua deficiência causa
Glossário 917

raquitismo nas crianças e osteomalácia para uma membrana e detecção com Zinco-Protoporfirina (ZPP): U m subpro-
nos adultos. anticorpo marcado. duto normal, mas de menor importân-
Vitamina; Micronutriente orgânico essencial Wicíc Fiou; (Fluxo por Capilaridade)! cia, da biossintese do heme, encontrado

que deve ser suplementado por via exógena Movimento da água dos reservatórios de nos eritrócitos; quando o Fe(II) disponí-
tampão em direção ao centro de um gel vel é insuficiente para a biossintese do
e em muitos casos é o precursor de uma
ou fita de eletroforese para reposição da heme, mais ZPP é formado.
coenzima derivada metabolicamente.
água perdida pela evaporação. Zona Fasciculada: Camada média espessa
Voltametria: U m processo eletroqulmico
World Wide Weh-. U m a rede de servidores do córtex adrenal que contém células
que envolve a medida de corrente da
na Internet que permite aos usuários de grandes carregadas de lipídios. È a prin-
célula como uma função de potencial,
computador navegarem entre documen- cipal fonte de glicocorticóides.
quando o potencial do eletrodo de traba-
tos usando interfaces gráficas e ligações Zona Glomerulosai Camada externa fma do
lho versus o eletrodo de referência varia hipertexto (links) córtex adrenal. E a fonte de aldosterona.
em função do tempo. Xenobióticos: Substâncias químicas estranhas Zona Reticular: Camada interna do córtex
Western B l o t t i t i g : Ensaio baseado em mem- ao sistema biológico. Incluem os com- adrenal. Suas células se assemelham às da
brana n o qual as proteínas são separadas postos natural, drogas, toxinas ambientais, zona fasciculada exceto por conterem
por eletroforese, seguida da transferência carcinógenos, inseticidas etr. menos lipídios.
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FUNDAMENTOS
DE QUÍMICA CLÍNICA
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