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UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

<https://youtu.be/6c_8Y7t-csk>

Juliana Aguirre Garcia


Lígia Dutra de Barros
Milva Garcia Biondi
Raitisa Cavallieri Boneli
Tatiane Camila Rovéro

A importância da Literatura Infantil e da Contação de


Histórias na Alfabetização

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC -


Artigo - para o curso de Licenciatura em
Pedagogia da Universidade Virtual do Estado
de São Paulo (UNIVESP).

Jaú - SP
2022
2

A importância da Literatura Infantil e da Contação de Históriasna


Alfabetização

Juliana Aguirre Garcia, Lígia Dutra de Barros, Milva Garcia Biondi, Raitisa
Cavallieri Boneli, Tatiane Camila Rovéro

Resumo

O presente artigo teve por objetivo investigar o papel da literatura infantil e da contação
de histórias no processo de alfabetização. Como ferramenta de pesquisa utilizou-se o
método de revisão bibliográfica com base nos principais autores do tema, por meio de
fichamento de livros e artigos. Para alcançar tal objetivo a pesquisa foi dividida em três
capítulos, no primeiro investigou-se como a contação de histórias e a literatura infantil
contribuem no desenvolvimento da criança, relacionando com os estágios de
desenvolvimento, sob a perspetiva de Piaget e Vygotsky; no segundo capítulo a pesquisa
abordou as diferenças entre alfabetização e letramento, bem como a importância de se
alfabetizar letrando; no terceiro e último capítulo investigou-se como a literatura infantil e a
contação de história auxiliam no processo de alfabetização. Após análise dos dados
obtidos, pode-se observar que a contação de histórias e a literatura infantil devem
perpassar todas as fases do desenvolvimento da criança, estimulando a imaginação, a
formação do pensamento e da oralidade. Portanto, são ferramentas pedagógicas
indispensáveis no processo de Alfabetização e Letramento.

Palavras-chave: Literatura Infantil, Contação de Histórias, Alfabetização, Letramento

1. Introdução

Durante todo o curso de Licenciatura em Pedagogia, uma das matérias


mais aguardadas pelas autoras deste trabalho, foi, sem sombra de dúvidas,
Alfabetização e Letramento. Enquanto alunas do curso de Licenciatura em
Pedagogia, mesmo antes de começar o curso, já tínhamos noção da importância
da alfabetização. Afinal, é através dessa importante etapa que a criança deve
adquirir as ferramentas necessárias para ler e interpretar o mundo. Desta forma, o
interesse pelas etapas da alfabetização sempre se fez presente.
Juntamente com isso, no desenvolvimento do Projeto Integrador V; que é
um projeto semestral interdisciplinar da Univesp; onde trabalhou-se um tema que
envolveu contação de histórias em espaços não formais, percebeu-se, através da
pesquisa bibliográfica para o projeto, que a literatura e a contação de histórias
são ferramentas muito importantes para a alfabetização, e o quão relevante é para
futuros educadores e docentes compreender como cada etapa da alfabetização e
letramento se relacionam com a literatura infantil e a contação de histórias.
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Mediante a esses interesses, surgiu o desejo de aprofundar a temática, buscando


entender de forma mais detalhada como os conceitos citados auxiliam no processo
de alfabetização dos alunos.
Para uma melhor investigação, a pesquisa foi dividida em três capítulos: o
primeiro para compreender como a literatura infantil e a prática de contar histórias
auxiliam no desenvolvimento da criança. O segundo capítulo aborda as
diferenças de alfabetização e letramento, bem como a importância do docente
alfabetizar letrando. O terceiro e último capítulo abordam o papel da literatura
infantil e da contação de histórias no processo de alfabetização.
O artigo baseou-se no método de revisão bibliográfica, estudo e fichamento
das obras de diversos autores que contribuíram ativamente na análise da
importância da contação de histórias e da literatura para o desenvolvimento no
processo de alfabetização e letramento. Livros onde os autores abordam que a
literatura e contação de histórias estão presentes na vida da criança desde muito
cedo, mesmo antes delas terem conhecimento dos códigos, também abordam a
importância da literatura na alfabetização, bem como a importância de alfabetizar e
letrar.

2. O papel da Literatura Infantil e da Contação de Histórias no


Desenvolvimento Infantil

Para discutir o papel da literatura infantil e da contação de histórias no


desenvolvimento infantil, se faz necessário contextualizar, primeiramente, como
surgiu a literatura infantil.
Em meados do século XVIII, o francês Charles Perrault, que é considerado
o pai da literatura infantil, deu o pontapé inicial para o desenvolvimento de
histórias focadas e adequadas às crianças. Por conta das transformações sociais
na Europa, e um novo entendimento de criança; que até meados do século XVII
era vista como “pequeno adulto”; ele começou a adaptar os contos populares a
uma linguagem adaptada para os pequenos. Segundo Zilberman, “[...] a
concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e
necessitando de uma formação específica, só aconteceu em meio à Idade
Moderna.” (1985, p.13).
No Brasil, a literatura infantil surgiu tardiamente e foi originalmente
adaptada dos textos europeus, por Alberto Figueiredo Pimentel, em sua maioria
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adaptações dos textos portugueses. De acordo com Cunha (1987, p.20), “no
Brasil, como não poderia deixar de ser, a literatura infantil tem início com obras
pedagógicas e, sobretudo, adaptadas de produções portuguesas, demonstrando a
dependência típica das colônias”.
Contudo, somente a partir de 1922 surge a primeira obra de literatura
infantil brasileira, através do escritor Monteiro Lobato, com a obra “A menina do
narizinho arrebitado” (CADEMARTORI,1986). Hoje, porém, a literatura infantil
brasileira é muito rica e diversificada e adequada para diversas faixas etárias de
crianças.
Após entender de forma sucinta o surgimento da literatura infantil, se faz
necessário também perpassar os estágios do desenvolvimento para poder
compreender como a literatura infantil e a contação de histórias contribuem nesses
processos.
Segundo Jean Piaget (1999), quatro estágios fazem parte do
desenvolvimento infantil: sensório motor, pré-operacional, operacional concreto e
operações formais.
O primeiro dos quatro estágios de desenvolvimento cognitivo é o estágio
sensório-motor. Durante esse estágio (do nascimento até
aproximadamente os 2 anos), dizia Piaget, os bebês aprendem sobre si
mesmos e sobre seu ambiente (PAPALIA, 2006, p.197).

Dos dois aos sete anos ocorre o período pré-operacional, onde a criança
carrega significações do período anterior, tendo experiências iniciais confusas,
mas em constante evolução de ideias lógicas (RAPPAPORT, 1987). Já a fase
Operacional Concreta acontece dos sete aos doze anos.
Aproximadamente aos 7 anos, segundo Piaget, as crianças entram no
estágio de operações concretas, quando podem utilizar operações mentais
para resolver problemas concretos (reais). As crianças são então capazes
de pensar com lógica porque podem levar múltiplos aspectos de uma
situação em consideração.” (PAPALIA, 2006, p.365)

O estágio Operacional Formal é a última etapa do desenvolvimento infantil,


e acontece a partir dos 12 anos. É neste período que os adolescentes começam a
pensar abstratamente e a raciocinar sobre problemas hipotéticos. Começam a
pensar mais em questões morais, filosóficas, éticas, sociais e políticas que exigem
raciocínio teórico e abstrato.
O pensamento f ormal, é portanto, “hipotético-dedutivo”, isto é, capaz de
deduzir as conclusões de puras hipóteses e não somente através de uma
observação real. Suas conclusões são válidas, mesmo independentement e
da realidade de f ato, sendo por isto que esta f orma de pensamento
envolve uma dif iculdade e um trabalho mental muito maiores que o
pensamento concreto. (PIAGET, 1999, p. 59)
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Portanto, à medida que progridem, no estágio operacional concreto, as


crianças avançam constantemente em sua capacidade de processar e reter
informações. Elas têm uma melhor compreensão de como a memória funciona, e
esse conhecimento permite que eles usem estratégias ou planejamento cuidadoso
para ajudá-los a lembrar. Além disso, à medida que seu conhecimento se expande,
eles se tornam mais conscientes dos tipos de informações importantes para
prestar atenção e dos tipos de informações que devem ser lembradas (PAPALIA,
2006). E é nesse estágio (operacional concreto) que a criança desenvolve ou não
o hábito da leitura, dependendo das experiências e estímulos ambientais e sociais.
Na perspectiva de Vygotsky (2007), a aprendizagem antecede o
desenvolvimento porque o desenvolvimento acontece por meio da aprendizagem,
que por sua vez gera o desenvolvimento a partir da zona de desenvolvimento
proximal.
É a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma
determinar através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas
sobre a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros
mais capazes. (VYGOTSKY, 2007, p. 112).

É importante salientar, que embora Piaget e Vygotsky tivessem


concordâncias no que diz respeito a importância da leitura e contação de histórias
no desenvolvimento infantil, suas teorias têm muitos pontos divergentes.
Segundo Piaget, as crianças se desenvolvem da mesma forma,não importando
as influências ambientais.

Sua teoria é de desenvolvimento cognitivo; seu sujeito é epistêmico e


científ ico – constrói seu conhecimento e conhece o mundo cientif icament e.
Este sujeito possui uma arquitetura cognitiva variável (que aprende) e se
desenvolve através de f unções gerais invariantes – adaptação e
organização. Na interação com o mundo, o sujeito tende a integrar suas
estruturas psicológicas em sistemas coerentes. (MOREIRA, 2016, p. 13)

Por outro lado, Vygotsky afirma que a cultura e a socialização


desempenham um papel importante no desenvolvimento das crianças e que o
desenvolvimento interno e a aquisição da linguagem ocorrem de forma simultânea,
ambos apoiados por influências externas, como a relação com os tutores, com
amigos e professores.

Para Lev Vygotsky (1896-1934), o desenvolvimento cognitivo não pode ser


entendido sem ref erência ao contexto social, histórico e cultural no qual
ocorre. Os processos mentais superiores (pensamento, linguagem,
comportamento volitivo) do indivíduo têm origem em processos soc iais . O
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desenvolvimento desses processos no ser humano é mediado por


instrumentos e signos construídos social, histórica e culturalmente no meio
social em que ele está situado. Não se trata, no entanto, de apenas
considerar o meio social como uma variável importante no
desenvolvimento cognitivo. Na perspectiva de Vygotsky, o desenvolvimento
cognitivo é a conversão de relações sociais em f unções mentais.
(MOREIRA, 2016, p. 19)

Desse modo, o desenvolvimento infantil é um processo não-estático, de


modo que as crianças não o vivenciam passivamente, mas movimentando-se por
meio da interação com seu próprio corpo, ambiente e sociedade. E dessa maneira
as crianças desenvolvem concomitantemente diversas competências: motora,
afetiva e cognitiva (CRAIDY, 2009).
É, portanto, no contato direto com livros e por meio da contação de histórias
ou na leitura com mediação que a criança irá se apropriar da leitura e tornar-se
leitora autônoma na medida em que realiza tais atividades com um mediador (pais,
responsáveis, educador).

As experiências com a literatura inf antil, propostas pelo educador,


mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o
desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da
ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com
histórias, contos, f ábulas, poemas, cordéis etc. propicia a f amiliaridade com
livros, com dif erentes gêneros literários, a dif erenciação entre ilustrações e
escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as f ormas corretas de
manipulação de livros. (BNCC, 2017, p.42)

Abramovich (2009) destacou que quando as crianças ouvem histórias, elas


passam a visualizar seus sentimentos sobre o mundo com mais clareza. Nesse
sentido, quanto mais cedo uma criança for exposta aos livros e perceber a alegria
que eles geram, maior a probabilidade de ela ser um leitor adulto assíduo. O autor
também aponta que, a criança ouvindo pode aprender a ser um leitor, o que lhe
daria condições de compreender o mundo, estimular sua imaginação, dar
respostas a perguntas e obter novas ideias por meio de seus personagens,
identificar-se com base na situação em que se encontram para melhor esclarecer
suas dificuldades ou encontrar soluções para os problemas.
De acordo com a BNCC (BRASIL, 2017),
Na Educação Inf antil, é importante promover experiências nas quais as
crianças possam f alar e ouvir, potencializando sua participação na cultura
oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas
descrições, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas
implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui
ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social.
(BRASIL, 2017, p. 42).

Por meio da contação de histórias infantis e dos contos de fadas, a criança


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tem a oportunidade de representar papéis e cenas do cotidiano, seposicionando e


resolvendo problemas livremente, sem a interferência das pressões do mundo
real, podendo experienciar outras maneiras de ser e pensar (BRASIL, 1998).
Portanto, isso permite que a criança invente seu mundo particular,
descobrindo respostas às necessidades infantis, sendo utilizadas de forma
fantasiosa, promovendo eventos que induzem a imaginação, ao pensamento e ao
desenvolvimento pessoal, reconhecendo suas emoções, permitindo novas
experiências relevantes para o processo de socialização (BRASIL,1998).

3. Diferenças de Alfabetização e Letramento e a importância de se Alfabetizar


Letrando

Esta seção tem por objetivo explicitar a diferença de alfabetização e


letramento, bem como abordar a importância de se alfabetizar letrando. Para que
se possa aprofundar a pesquisa e compreensão sobre a problemática, se faz
necessário uma breve contextualização do porquê Alfabetização e Letramento são
conceitos distintos, e de que forma tais termos foram utilizados no Brasil no
decorrer das últimas décadas.
durante muito tempo, considerava-se analf abeto o indivíduo incapaz de
escrever o próprio nome; nas últimas décadas, é a resposta à pergunta
“sabe ler e escrever um bilhete simples?” que def ine se o indivíduo é
analf abeto ou alf abetizado. Ou seja: da verif icação de apenas a habilidade
de codif icar o próprio nome passou-se à verif icação da capacidade de
usar a leitura e a escrita para uma prática social. (SOARES, 2007, p.21)

No Brasil, até meados dos anos oitenta, era considerado alfabetizado o


indivíduo que sabia escrever e ler o próprio nome. Percebe-se então, que
nesse período, o termo “alfabetização” ou “alfabetizado” não levava em
consideração a capacidade de ler um texto, tampouco sua interpretação, também
não se levava em conta a capacidade social-crítica do indivíduo.
Algumas décadas depois, elevou-se o critério, sendo considerado
alfabetizado o indivíduo capaz de ler e escrever um bilhete simples. Apesar dos
critérios de avaliação de um cidadão alfabetizado terem sido elevados, ainda não
levava em conta a capacidade de leitura e interpretação crítica do mundo
(SOARES, 2007).
Nesse sentido, "alfabetização é o processo de apropriação da “tecnologia da
escrita”, isto é, conjunto de técnicas - procedimentos, habilidades - necessárias
para a prática da leitura e da escrita.” (SOARES, 2020, p. 27). Portanto, o termo
“alfabetização”, no Brasil, não tinha o poder de abranger o significado necessário
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de um indivíduo com capacidade de escrita, leitura e interpretação do mundo.


O termo letramento surge, portanto, para atender a uma “demanda” e ao
surgimento de novas ideias e concepções, e em meados dos anos oitenta, nos
âmbitos acadêmicos, se popularizou entre os especialistas nas décadas seguintes,
sendo hoje um termo indissociável da alfabetização.
passamos a enf rentar esta nova realidade social em que não
basta apenas saber ler e escrever, é preciso também saber
f azer uso do ler e do escrever, saber responder às
exigências de leitura e de escrita que a sociedade f az
continuamente – daí o recente surgimento do termo
letramento.(SOARES, 2007, p.20)

Dessa maneira, “Letramento é a capacidade de uso da escrita para inserir-


se nas práticas sociais e pessoais que envolvam a língua escrita, o que implica
várias habilidades, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir
diferentes objetivos.” (SOARES, 2007, p.27). Logo, entende-se que um indivíduo
letrado, é o sujeito que tem capacidade não apenas de ler e escrever, mas de
“pensar certo” (FREIRE, 2021) e interpretar o que está sendo lido de forma crítica,
de maneira a compreender como o texto lido se conecta com a realidade material
em que vive, e o que fazer para transformá-la.
Contudo, é importante salientar, que um sujeito (seja adulto ou criança)
pode ser letrado, mesmo que não tenha sido alfabetizado. A leitura do mundo
precede a leitura da palavra (FREIRE, 2017), dessa forma, a alfabetização não é
um pré-requisito obrigatório para o letramento do indivíduo.
Assim, um adulto pode ser analf abeto, porque marginalizado social e
economicamente, mas, se vive em um meio em que a leitura e a escrita
têm presença f orte, se se interessa em ouvir a leitura de jornais f eitapor
um alf abetizado, se recebe cartas que outros lêem para ele, se dita cartas
para que um alf abetizado as escreva (e é signif icativo que, em geral, dita
usando vocabulário e estruturas próprios da língua escrita), se pede a
alguém que lhe leia avisos ou indicações af ixados em algum lugar, esse
analf a-beto é, de certa f orma, letrado, porque f az uso da escrita, envolve-
se em práticas sociais de leitura e de escrita. Da mesma f orma, a criança
que ainda não se alf abetizou, mas já f olheia livros, f inge lê-los, brinca de
escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material escrito
e percebe seu uso e f unção, essa criança é ainda “analf abeta”, porque não
aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento, já é,
de certa f orma, letrada. (SOARES, 2007, p.24)

A respeito da alfabetização e letramento de crianças, de acordo com a


BNCC (Base Nacional Curricular Comum), a alfabetização se inicia nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, contudo, desde a Educação Infantil, a criança
deve ser estimulada e letrada, com atividades envolvendo leitura e contação de
histórias (BRASIL, 2017). No livro Alfaletrar, Soares evidencia a importância de,
durante todo o período de alfabetização e letramento, o indivíduo ser envolvido em
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atividades de leitura e produção de textos reais e de práticas sociais envolvendo


leitura e escrita (SOARES, 2020, p.27).
Da mesma forma que uma pessoa pode ser letrada mesmo que ainda não
seja alfabetizada, o oposto também ocorre. Um sujeito pode ser alfabetizado
(saber ler e escrever) mas não ser letrado, ou seja, o indivíduo mesmo sabendo
ler e escrever, não sabe interpretar criticamente o que lê, muito menos utilizar o
saber escrever para práticas sociais.
Apesar de alfabetização e letramento serem práticas distintas, uma não
pode ser dissociada da outra. São práticas interdependentes, e o eixo central
deste ligamento é o texto. E é por meio dele que as duas práticas se encontram,
onde a alfabetização aparece com a leitura dos códigos gramaticais e o letramento
com a interpretação crítica e social das práticas de escrita e leitura. “Como em um
quebra-cabeça, cada peça só ganha sentido quando associada a outra peça que a
complementa. Também a alfabetização e letramentos são processos
interdependentes.” (SOARES, 2020, p.37).
Dessa maneira, é indispensável ao docente durante todo o processo de
alfabetização e letramento dos educandos, desenvolver atividades e metodologias
que envolvam a contação de histórias e a literatura, para que o aluno tenha cada
vez mais intimidade com as palavras e com os textos. É muito importante também
trazer conteúdos que façam parte do cotidiano do alfabetizando, sendo eles
sujeitos de todo o processo de apoderamento da escrita e da linguagem.
De acordo com Paulo Freire (2014, p.90), os alfabetizandos precisam
compreender o mundo, o que implica falar a respeito do mundo. Nesse sentido é
bem-sucedida porque a alfabetização é mais do que simplesmente um domínio
mecânico das habilidades de escrita e leitura.

a alf abetização escolar numa perspectiva crítica f undamenta-se,


principalmente, nas diretrizes teóricas da pedagogia emancipadora,
desenvolvidas por Paulo Freire. Portanto, é parte de um processo que v is a
ao desenvolvimento da consciência crítica dos educandos, possibilitando
que estes se percebam capazes de, através da ref lexão e da ação,
participar na transf ormação das relações sociais injustas e opressoras.
(AMARAL, 2002, p. 31 apud RESENDE, 2020, p.16).

Portanto, alfabetizar letrando, é determinante para formar cidadãos


comprometidos criticamente com a realidade material e social, com autonomia na
construção do conhecimento juntamente com o educador, utilizando a escrita e a
leitura para transformar a sociedade em que estão inseridos.
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4. Como a literatura infantil e a contação de histórias auxilia no processo de


alfabetização infantil

Nesta seção, será abordado com mais detalhes como essas ferramentas
pedagógicas auxiliam no processo de alfabetização. Segundo a BNCC, nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, a alfabetização deve ser o foco das atividades
docentes, de modo a garantir que se apropriem dos códigos da escrita e das
práticas de leitura, e também interpretação crítica social dos textos propostos,
de modo que sejam alfabetizados e letrados (BRASIL, 2017).
[...]a leitura toma importância no processo de desenvolvimento da criança,
principalmente durante o período de alf abetização, pois contribui através d e
suas histórias para o encantamento e a necessidade em aprender a ler.
Durante o período de alf abetização é importante que o prof essor se utilize
da literatura inf antil, para estimular a leitura, criando estratégias para que o
aluno entenda o que o texto quer dizer, ou seja, interprete-o. (KLUNCK;
PASCHOALI, 2015, p. 5)

Como pode-se avaliar nas seções anteriores, a literatura infantil e a


contação de histórias tem um papel muito importante no desenvolvimento infantil,
estimulando o pensamento, a imaginação e a oralidade (ABRAMOVICH, 2009). A
linguagem faz parte do dia a dia da criança, sendo a oralidade fator essencial que
favorece a comunicação e as interações sociais. Dessa forma é função do docente
praticar o hábito da leitura com os pequenos, no intuito de estimular a
curiosidade e a imaginação das crianças (BRASIL,1998).
[...]é ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes,
como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o
pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver
prof undamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve - com
toda a amplitude, signif icância e verdade que cada uma delas f ez (ou não)
brotar... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário!
(ABRAMOVICH, 2009, p. 17).

Tais práticas são importantes em todas as etapas da vida familiar e escolar


da criança. Da mesma maneira, verificou-se também como a leitura faz partedo
processo de alfabetização e letramento.
Como explicitado anteriormente, Soares aponta que o eixo de ligação entre
a alfabetização e o letramento é o texto. Desse modo, sabe-se que quanto mais
uma criança tiver contato com livros; quanto mais tenha experiências com a
contação de histórias, mais apta estará para se tornar um leitor.

antes mesmo de que saibam ler, atribuem a aspectos f ormais do texto


escrito: a quantidade e variedade de letras necessárias para que se possa
ler uma palavra (com menos de três letras não se pode ler, com letras
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repetidas não se pode ler); a distinção entre desenho e texto; a relação


entre desenho e palavras, entre desenho e orações; o reconhecimento das
letras do alf abeto; a dif erenciação entre números e letras, entre letras e
sinais de pontuação; a orientação espacial da leitura; a separação entre
palavras, na escrita; a interpretação de atos de leitura (silenciosa, oral); o
reconhecimento de dif erentes portadores de texto. (SOARES, 2016, p.66)

Portanto, mesmo antes da criança adquirir a habilidade da leitura, é


importante que tenha experiências sociais envolvendo essas ferramentas
pedagógicas, pois dessa forma ela criará afinidade com os códigos gramaticais,
com o livro e com a própria literatura, e, portanto, também com a escrita. Sabe-se
também que o aprendizado da leitura é indicotomizável do aprendizado da escrita.
Mesmo quando o educador propõe uma prática focando apenas no aprendizado
da escrita, a prática da leitura caminha ali, mutuamente com a apropriação da
escrita (SOARES, 2020).

A escuta de histórias, pela criança, f avorece a narração e processos de


alf abetização e letramento: habilidades metacognitivas, consciência
metalinguística e desenvolvimento de comportamentos alf abetizados e
meta alf abetizados, competências ref erentes ao saber explicar, descrever,
atribuir nomes e utilizar verbos cognitivos (penso, acho, imagino, etc.),
habilidades de reconhecimento de letras, relação entre f onema e graf ema,
construção textual, conhecimentos sintáticos, semânticos e ampliação do
léxico. (SOUZA e BERNARDINO, 2011, p. 237-238)

Sabendo, portanto, da importância que tais práticas têm no processo de


alfabetização, o professor alfabetizador tem o dever de conhecer a literatura
infantil em toda sua diversidade, e se aprofundar, bem como desenvolver
atividades criativas ao contar histórias para seus educandos, de modo organizado,
adequando os livros às faixas etárias dos alunos, de modo premeditado e
metodológico; diversificando e utilizando de forma inteligente e inovadora tais
ferramentas, para que os educandos tenham prazer no aprendizado, e se divirtam
enquanto adquirem a capacidade de ler e interpretar o mundo.

A atuação do prof essor é de vital importância, uma vez que dele depende
a instauração de nova mentalidade ao texto literário que vise a exploração
de seu caráter f ormativo e estético. Critérios que orientem a seleção de
textos adequados ao crescimento intelectual e humano dos receptores;
métodos aptos a privilegiar o ludismo nos espaços de indeterminação d o s
textos, bem com atividades incentivadoras de manif estações criativas que
são essenciais para que o prof essor legitime o texto literário como
f undamento de sua prática alf abetizadora, que é também f ormadora.
Nesse sentido o prof essor é a ponte que permite à criança avançar na
leitura e na compreensão das múltiplas realidades que af loram a partir das
diversas tramas f iccionais, para estabelecer vínculos com seu próprio
universo. (SARAIVA, 2009, p. 19)
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O processo de alfabetização e letramento é, desse modo, enriquecido pela


contação de histórias e pelo uso da literatura infantil como instrumento
pedagógico, por ser algo divertido e lúdico, tais práticas colaboram com o estímulo
da imaginação, promovem criatividade e o pensamento crítico, ampliando o
conhecimento do mundo, dos lugares e das pessoas, além de fazer a criança se
habituar com a língua e a escrita. Sendo, desse modo, práticas indicotomizáveis
da alfabetização.

5. Considerações finais

Investigar a importância da literatura infantil e da contação de histórias no


processo de alfabetização é uma tarefa bastante ambiciosa, pois existem inúmeros
autores, publicações e artigos sobre o tema. Evidentemente que não foi possível
mencionar todas as contribuições neste artigo. Contudo, conseguiu-se agrupar
material baseado nos ensaios mais relevantes sobre a temática abordada, ainda
que de forma sucinta.
Com base nos dados apresentados, foi possível dimensionar como a
contação de histórias e a literatura infantil perpassam todas as etapas do
desenvolvimento da criança, que não é um objeto passivo nesse processo, pelo
contrário, é sujeito.
No sentido do desenvolvimento da criança leitora, os livros de literatura
infantil e a contação de histórias devem se tornar ferramentas indispensáveis para
o cultivo do pequeno leitor, sendo a leitura um meio de ouvir, conhecer, imaginar,
desvendar; sendo nesse processo formador, o professor-mediador, um agente
indispensável.
Por sua vez, sobre Alfabetização e Letramento entende-se que não basta
apenas saber ler e escrever, é necessário também interpretar o que se lê e
conectar o texto lido com a realidade material. Desse modo, foi possível conectar
os aspectos relacionados aos objetivos do trabalho.
Quando a criança é enriquecida por práticas pedagógicas envolvendo a
leitura e a contação de histórias desde os primeiros anos de vida, ela irá se
familiarizar com a linguagem, com as palavras, com os livros, e essas “sementes”
irão gerar frutos por todo o período de alfabetização e letramento, bem como em
toda a formação da criança, formando desse modo um sujeito letrado, com
capacidade de interagir com mundo, e também transformá-lo por meio de práticas
13

sociais envolvendo a leitura e a escrita.


Como citado anteriormente, não foi possível reunir dados sobre a
perspectiva de todos os autores sócio construtivistas a respeito desenvolvimento
infantil, contudo, salienta-se o grande interesse deem futuras pesquisas poder
trabalhar de forma mais detalhada como a leitura se relaciona com as teorias de
desenvolvimento e aprendizagem destes autores.

6. Referências

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5° ed. São Paulo:


Scipione, 2009, 174 p.
DE RESENDE, Maria Aparecida; RESENDE, Tamiris Cristhina. Análise da importância
da leitura no processo de alfabetização na concepção de Magda Soares e de Paulo
Freire. Revista Linguagens e Letramentos, v. 5, n. 1, p. 07, Jun/2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Referencial curricular nacional para a educação infantil /Ministério da Educação e do
Desporto, Secretaria da Educação Fundamental, Brasília: MEC/SEF, 1998.

DE SOUSA, Linete Oliveira; BERNARDINO, A. A contação de história como estratégia


pedagógica na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Revista de Educação, v. 6, n.
12, p. 235-249, 2011.

CARMEM, Maria Craidy; KAERCHER, Gládis. E. Educação Infantil: Pra que te quero?.
Brasil: Artmed Editora, 2009. 164 p.

CADEMARTORI, Lígia. O que é literatura infantil. São Paulo: Brasiliense, 2017. 65 p.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: teoria e prática. 6 ed. São Paulo:
Ática, 1999. 176 p.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa.


67. ed. São Paulo. Editora Paz e Terra, 2021. 144 p.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam:


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