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ALFABETIZAÇÃO
LETRAMENTO
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APRESENTAÇÃO
Com esse intuito o livro será estruturado em unidades que discutiram diferentes
aspectos sobre o tema.
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FICHA TÉCNICA
Objetivos:
Bibliografia Básica:
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LEAL, Telma Ferraz; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de.; MORAIS, Artur
Gomes de. Letramento e Alfabetização: pensando a prática pedagógica. In: Org.
BEAUCHAMP, Janete; PAGEL, Denise; NASCIMENTO, Aricélia R. Ensino
Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão de seis anos de idade.
Brasília:MEC/SEB, 2007. Disponível
em:http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf
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Bibliografia Complementar:
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SUMÁRIO
UNIDADE 1: A história da alfabetização: concepções e mudanças---------------- p. 7
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UNIDADE 1
"[…] as mudanças necessárias para enfrentar sobre bases novas a alfabetização inicial
não se resolvem com um novo método de ensino, nem com novos testes de prontidão
nem com novos materiais didáticos.
É preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões.
Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando
consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem.
Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um
par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que
emite sons.
Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações,
que age sobre o real para fazê-lo seu."
Emília Ferreiro
A invenção da escrita de acordo com Sampson (1996) surge tardiamente com relação ao
aparecimento da linguagem, aparecendo depois da chamada "revolução neolítica".Sua
história pode ser dividida em três fases: pictórica, ideográfica ealfabética. Porém, esta
divisão não pode seguir uma linha cronológica (ANDRADE, 2001).
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Mas será que esse percurso foi tão linear e tranquilo? Vamos saber um pouco mais
sobre isso.
Vamos retomar as características das fases dessa história, lembrando que elas não
podem ser consideradas em ordem cronológica.
A fase pictória corresponde aos desenhos ou pictogramas, os quais não estão associados
a um som, mas à imagem daquilo que se quer representar. Consistem em representações
simples dos objetos da realidade. Surgem em inscrições antigas, podendo ser vistos de
forma mais elaborada na escrita asteca e, mais ultimamente, nas histórias em quadrinhos
(ANDRADE, 2001).
Já a fase ideográfica é representada pelos ideogramas, que são símbolos gráficos que
representam diretamente uma ideia, como, hoje em dia, certos sinais de trânsito. As
escritas ideográficas que se destacam são a egípcia (também conhecida como
hieroglífica), a mesopotâmica (suméria), as escritas da região do mar Egeu (a cretense,
por exemplo) e a chinesa (de onde decorre a escrita japonesa) (ANDRADE, 2001).
No que se refere à fase alfabética esta é caracterizada pelo uso de letras, as quais, ainda
que tenham se originado nos ideogramas, perderam o valor ideográfico e adquiriram
uma nova função de escrita, que foi a representação puramente fonográfica. Já o
ideograma, perdeu seu valor pictórico e passou a ser apenas uma representação fonética
(ANDRADE, 2001).
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Os sistemas silábicos do Oriente Médio surgiram da escrita Suméria (iniciada por volta
de 3200 a.C.) que se transformou em cuneiforme com o domínio da civilização acadiana
(2000 a 600 a. C.). As duas referências mais importantes de disseminação dessa escrita
foram as civilizações babilônica e assíria da Mesopotânia(CAGLIARI, 2009).
Os acadianos, bem como os egípcios, falavam uma língua semítica, ramo ao qual
pertencem atualmente o árabe e o hebraico. Nas línguas semíticas as palavras trazem a
ideia central na combinação de três consoantes. Um exemplo no árabe, seria a sequência
KTB, sendo lhe atribuída a ideia de algo referente à ‘escrita’. E outras ideias adicionais
são acrescidas com a junção de novas vogais com as consoantes, formando assim novas
palavras como Katab que significa “ele escreveu” e Kaatib que significa “escritor”
(CAGLIARI, 2009).
Podemos perceber através desses indícios que a escrita desde seus primórdios teve
como objetivo a comunicação, e também a possibilidade de permanência dos
conhecimentos produzidos ao longo das gerações.E essa foi uma das motivações para as
mudanças que foram ocorrendo ao longo dos séculos em tantas civilizações diferentes.
O sistema de representação consonantal dos semitas durou milênios, sendo que somente
a escrita egípcia perdurou três mil anos. Os semitas das grandes civilizações estavam
satisfeitos com seus sistemas de escrita, predominando no nordeste da África o sistema
egípcio e na Mesopotânia o sistema cuneiforme. Entre essas civilizações, haviam povos
não tão comprometidos com essas culturas, que eram grandes comerciantes no
Mediterrâneo e logo perceberam a praticidade dos silabários cuneiformes, mas se
sentiram atraídos pela escrita egípcia. Surgiu assim, uma escrita com caracteres egípcios
para línguas do Oriente Médio, que uniu as vantagens gráficas dos caracteres egípcios
às vantagens funcionais da escrita cuneiforme, chegando a um silabário com poucos
caracteres (CAGLIARI, 2009).
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Em outra parte do Oriente, os fenícios tinham a escrita como importante suporte de sua
atividade comercial. Tem-se indícios de que a escrita fenícia já se estabelecera no século
XIII a. C. No século XI a. C. o sistema de escrita fenícia já havia passado por mudanças
e se estabelecido de maneira definitiva, com 22 letras apenas. Ela está na origem de
muitas outras escritas, como a árabe, a hebraica, a aramaica, a tamúdica, a púnica (de
Cartago) e, sobretudo, a escrita grega, da qual se derivou a latina, origem do alfabeto
que hoje usamos.
Segundo Heródoto, um fenício chamado Cadmos, que viveu de 1350 a 1209 a.C.,
instalou-se na Boécia, onde constituiu Tebas e começou a escrever grego com 16
caracteres fenícios. Conta-se também que, durante a guerra de Tróia, originaram quatro
novas letras, introduzidas por Palamedes. O alfabeto grego teria sido completado pelo
poeta Simônides de Ceos (556-468 a.C.) com mais quatro letras.
No esforço para adaptar à sua língua o sistema de escrita já estabelecido para osfenícios,
os gregos seguiram o mesmo princípio acrofônico 1 da escrita fenícia.Os caracteres
egípcios deram origem à escrita semítica. O alfabeto grego formou-se a partir do
sistema fenício, uma ramificação da escrita semítica, que funcionou como modelo
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Originado de acrofonia: Antigo sistema gráfico que utilizava o que era originalmente o desenho ou o ideograma de
um objeto como símbolo fonético do som (letra ou sílaba) inicial da palavra que tal desenho ou ideograma
representava.
Read more: http://aulete.uol.com.br/acrofonia#ixzz2qz28mieO
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A forma diversificada de dizer o nome das letras em latim passou, mais tarde, para as
línguas neolatinas, como o português. Essa mudança transformou, em parte, o princípio
acrofônico. Em seguida, com a introdução de novas letras, o princípio acrofônico nem
sempre foi respeitado. Um exemplo é a letra H, que os romanos chamavam de
adspiratio, passou a se chamar agá em português (CAGLIARI, 2009).
É difícil pensar o nosso cotidiano hoje sem a escrita. Ela é hoje fundamental para
diferentes formas que temos de nos comunicar, seja por uma carta, e-mails e mais
recentemente nas redes sociais.Não há como pensar na escrita, desvinculada de outra
ação humana que é o ato de leitura. E como eram as primeiras práticas de leitura? A
quem era permitido ler?
É sabido que na história da humanidade o conhecimento não era disponível a todos com
igualdade. Houve épocas em que o acesso ao conhecimento era restrito às elites.
Agora vamos partir para as questões que envolvem a leitura e a escrita inseridas no
contexto da escolarização e mais especificamente da alfabetização escolar.
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Por volta dos anos 60 temos o ápice do segundo período, principalmente nos Estados
Unidos. As discussões sobre a alfabetização se entrelaçavam com as questões do
fracasso escolar. Isso se deu num contexto de luta contra a segregação dos negros, que
trouxe como consequência uma batalha pela integralização das escolas americanas,
ajudando a explicitar as dificuldades escolares das minorias (BRASIL/PROFA, 2001).
O terceiro período se inicia em meadosdos anos 70, marcado por mudanças nas
investigações e foco das mesmas. Ao invés de se buscar explicar os motivos que
explicassem o déficit de quem não consegue aprender, passou-se a investigar como
aprendem os que conseguem aprender a ler e escrever, e o que pensam sobre a escrita os
que ainda não se alfabetizaram (BRASIL/PROFA, 2001).
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A principal diferença seria a ênfase dada nas relações entre as práticas sociais de leitura
e escrita (letramento) e a aprendizagem do sistema de escrita (alfabetização). Assim, nos
países desenvolvidos as práticas sociais de leitura e escrita assumem o lugar de
problema relevante, a partir da constatação de que mesmo estando alfabetizada, a
população não possui habilidades necessárias para uma efetiva participação nas práticas
sociais.
No Brasil o movimento se deu de outra forma, pois se despertou para a importância das
habilidades necessárias para o uso competente da leitura e da escrita, vinculada à
questão da aprendizagem inicial da escrita, desenvolvido a partir do questionamento do
conceito de alfabetização.
Um dos fatores que podem ser levantados é que nos 80 chegou ao Brasil juntamente
com a concepção de letramento uma nova organização do tempo da escola, que consiste
na divisão em ciclos. Juntamente a essa proposta, veio a questão da progressão
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continuada, que inclui a não reprovação. Então temos nesse momento, uma influência
desses fatores na concepção de alfabetização do país.
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Tendo em vista a constatação de que o contexto que a criança está inserida, pela
estimulação que recebe irá fazer diferença em seu aprendizado, é necessário ter uma
estratégia pedagógicapara reduzir as diferenças sociais.Aescola precisa assegurar que na
rotina diária dos alunos, esteja presente a vivência de práticas reais deleitura e produção
de textos diversificados.
E neste processo é necessário ampliar asexperiências das crianças demodo que eles
possam ler e produzir diferentes textos com autonomia. Retomandoo que foi posto
anteriormente sobre a codificação e decodificação, sobre a técnica de ler e escrever.
Esta é uma parte do processo de aquisição da leitura e da escrita como técnica. Porém, a
finalidade deste processo precisa ser sem dúvida a inserção do aluno de forma autônoma
no meio social em que vive.
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Para tanto, é fundamental que, desde a educação infantil, a escola tambémse preocupe
com o desenvolvimento dos conhecimentos relacionados à aprendizagem da escrita
alfabética, bem como daqueles ligadosao uso e à produção da linguagem escrita.
Nesse sentido, fica um convite à reflexãode nós professores sobre opapel do contato dos
estudantescom diferentes textos,em atividades de leitura eescritarealizadas dentroe fora
da escola. Porém, é preciso recordarque esse contatopor si só, sem mediação,não
garante que nossos alunosse alfabetizem, ou ainda, quese apropriem do Sistema
deEscrita Alfabética. Desse modo,consideramos importante se fazera
distinçãoentrealfabetização e letramento (LEAL, ALBUQUERQUE & MORAIS,
2007).
Esta unidade nos permitiu partir da origem da cultura escrita e não deixa de estar
vinculada também ao contexto de criação da prática da leitura, e como este processo foi
inserido primeiramente num contexto mais amplo e posteriormente em nosso país no
ambiente escolar. É de suma importante frisar a necessidade de valorizar a
complexidade e riqueza que envolve o processo de aquisição da leitura e da escrita, para
que não se chegue ao equívoco de proporcionar seu ensino apenas de forma mecânica
sem que este esteja inserido num contexto social, permitindo sua utilização de forma
reflexiva.
Leitura Complementar:
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b) De que forma você desenvolveria uma atividade de escrita pelas crianças no mesmo
contexto apresentado?
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UNIDADE 2
Vamos fazer uma pausa e trazer suas experiências para nosso estudo. A partir de sua
atuação como professor/a como você definiria o termo Alfabetização? Registre nas
linhas abaixo sua definição.
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Agora vamos pensar na palavra Letramento. Ela não é uma palavra dicionarizada, pois
sua utilização na língua portuguesa é recente. Encontramos no dicionário as palavras
letrado (versado em letras, erudito) e iletrado (que não tem conhecimentos literários).
Mas esse não é o sentido em que a palavra letramento é utilizada. E para entender o
sentido dessa palavra, importante se faz perceber o porque da necessidade de
surgimento da mesma. Na língua sempre surgem novas palavras a partir da ocorrência
de novos fenômenos, pois o ser humano não sabe viver sem nomear as coisas.E a
palavra letramento é uma tradução para o Português da palavra inglesa literacy, que
traduzindo seria a condição de ser letrado.
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O que você achou da origem da palavra letramento? Está claro para você o sentido desta
palavra? Vamos fazer um exercício neste momento de ampliar a definição da palavra
letramento, criando uma definição sua a partir dos conhecimentos teóricos e práticos
que você já possui, para que possamos assim ir aprofundando em nossos estudos.
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O QUE É LETRAMENTO?
Letramento não é um gancho
em que se pendura cada som enunciado,
não é treinamento repetitivo
de uma habilidade,
nem um martelo
quebrando blocos de gramática.
Letramento é diversão
é leitura à luz de vela
ou lá fora, à luz do sol.
São notícias sobre o presidente
O tempo, os artistas da TV
e mesmo Mônica e Cebolinha
nos jornais de domingo.
É uma receita de biscoito,
uma lista de compras, recados colados na geladeira,
um bilhete de amor,
telegramas de parabéns e cartas
de velhos amigos.
É viajar para países desconhecidos,
sem deixar sua cama,
é rir e chorar
com personagens, heróis e grandes amigos.
É um atlas do mundo,
sinais de trânsito, caças ao tesouro,
manuais, instruções, guias,
e orientações em bulas de remédios,
para que você não fique perdido.
Letramento é, sobretudo,
um mapa do coração do homem,
um mapa de quem você é,
e de tudo que você pode ser (SOARES, 1998).
Observamos a partir de nossos estudos até aqui, que a Alfabetização é uma ação de
ensinar e aprender a ler e escrever, que por sua vez é um processo inserido no
Letramento. Porém, suas especificidades não podem deixar de ser trabalhadas no
contexto escolar, tendo em vista as habilidades técnicas que a envolve. Lembrando que
a forma de direcionar tais técnicas que precisam estar inseridas num contexto.
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Convido você para refletir sobre o conceito de letramento a partir da imagem a seguir
também presente na capa de nosso livro. Como poderíamos definir o termo letramento a
partir dessa imagem? Registre suas ideias nas linhas abaixo.
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Quando nos propomos a discutir aqui a questão de método, estamos partindo de uma
visão ampla, que não se restringe aos métodos sintéticos e analíticos, mas sim de
aspectos metodológicos.
A escola é uma agência de letramento como as outras e a educação deve ter uma
preocupação permanente com as formas de ensinar o princípio alfabético da escrita,
tendo em vista que, como afirmamos anteriormente, um ambiente alfabetizador não é o
bastante para o processo de aquisição da escrita.
E podemos acrescentar ainda que a apropriação dos métodos não será sempre algo
homogêneo, por não ser um processo estático, mas dinâmico, tendo em vista que os
professores não se apropriam deles da mesma maneira. Nesse processo de apropriação
se mesclam competências diferenciadas, conhecimentos e a própria intuição do
educador, presentes em práticas que deram certo.
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Os métodos sintéticos quanto ao seu procedimento mental ou ponto de partida vai das
partes para o todo. Na história dos métodos sintéticos temos a escolha de princípios
organizativos diferenciados que valorizam a memorização de sinais gráficos e as
correspondências fonográficas. Essa tendência abrange o método alfabético que toma
como unidade a letra; o método fônico que toma como unidade o fonema e o método
silábico que toma como unidade um segmento fonológico mais facilmente
pronunciável, que é a sílaba. O que os diferencia de modo geral seria a opção por um
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Nas estratégias utilizadas num dos métodos mais antigos, o alfabético ou de soletração,
destaca-se a aplicação de uma sequência modelar, que inclui a memorização oral das
letras do alfabeto, logo após seu reconhecimento em pequenas sequências e numa
sequência de todo o alfabeto e por fim, de letras isoladas. Em seguida, propunha a
decoração de possibilidades de combinações silábicas, porém sem estabelecer relação
entre a representação gráfica e a fala. Esta relação deveria ser alcançada pelo aluno
através da memorização e adição de letras. Os silabários eram apresentados em todas as
combinações possíveis sendo utilizada como estratégia para memorizar, cantando.
Os livros que se baseiam no método fônico têm como ponto de partida em suas lições
palavras ou pequenos textos. E no manual o professor recebe as orientações de qual
momento fará a apresentação das letras e qual estratégia pode utilizar.
No entanto, há variações nas propostas das cartilhas, podendo apresentar a letra e suas
famílias silábicas mostradas em diferentesordens a cada linha, por exemplo:ba, be, bi,
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bo, bu na primeira, bu, be, bo, ba, bi na segunda e assim por diante.Outra forma seria
apresentar palavras com sílabas separadas porhifens. E ainda a denominada
“Exercícios”, é formada por um conjunto depequenas frases ou textos, em que as
palavras também são separadas em sílabaspor hifens.
Mesmo que a formação de palavras se dê na maioria das vezes por consoantes e vogais,
muitas cartilhas enfatizavam primeiramente o trabalho com as vogais e seus encontros
para depois iniciar com as sílabas. Porém, nem sempre os métodos silábicos eram
ligados a famílias silábicas e nem sempre se nomeavam dessa forma.
Em relação aos métodos sintéticos até aqui relacionados, pode-se dizer que mesmo com
apredomínio do significante que reforça os aspectos abstratos difíceis de serem
percebidos pelosalunos e apesar da utilização de estratégias queprovocam
distanciamento, a pedagogia veio criando várias estratégias para recuperar o significado,
por exemplo, pela associação da apresentação das letras a umahistória, seja através de
jogos e brincadeiras para tornar mais prazerosa esta análise. Assim, constata-se que as
tentativas de uma contextualização do processo de alfabetização pela pedagogia não é
recente.
Em geral, eles privilegiam o sentido do ouvir na relação com os sinais gráficos sendo
comuns a eles os exercícios de leitura em voz alta e o ditado, sendo garantida em todas
estas atividades a coerência com o pressuposto da transformação da fala em sinais
gráficos.
Agora vamos partir para as características dos métodos analíticos. Elespartem do todo
para aspartes e buscam atuar na compreensão e não na decifração.Defenderam a
inteireza do fenômeno da língua edos processos de percepção infantil e tomam como
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Alguns exemplos de procedimentos utilizados nas atividades são cartões para fixação,
com palavras de um lado e gravuras correspondentes de outro e exercícios cinestésicos
para o ensino do movimento de escrita de cadapalavra.
- Princípio do interesse
- Princípio da globalização
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- A leitura precisa ter um caráter natural que funciona como a aquisiçãoda linguagem
falada. (BRASLAVSKY, 1985, apud. FRADE, 2007, p. 27).
Com algumas variações, esse método parte do reconhecimento global de um texto que é
memorizado e na realização da leitura por um período, para o reconhecimento de
sentenças,seguida do reconhecimento de expressões (porções de sentido), de palavras
e,finalmente, das sílabas. Não se trata de um processo sequencial e simultâneo entre as
fases citadas. Tendo o sentido como foco,o professor inicia o processo utilizando-se, por
um período, de textoscompletos das várias lições seguidas. Apenas após a vivência por
um período maior com o texto é que viria uma forma de decomposição, contudo com o
cuidado de fragmentaro texto em parcelas maiores como primeiro a sentença e depois a
palavra. Em manuais dos métodos globais é observada a orientaçãopara que o professor
apenas entre em cada etapa quando perceber que as crianças já fazem algum tipo de
análise (da frase, das palavras ou das sílabas).
Houve grande reviravolta na concepção de método como livro didático e uma virada
paradigmática em seus procedimentos, ficando as vezes imperceptível a especificidade
do suporte cartilha e sua função contrapondo-a aos livros de leitura. Acrescenta-se a isso
que fica evidente que quanto mais claras as estratégias ficam para os especialistas, elas
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Quando pensamos na valorização dessas práticas que geram novas estratégias, isso nos
remete a como estão sendo pensados e organizados os cursos de formação de
professores. Essa valorização está presente nesses cursos?
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Leitura Complementar:
Este artigo apresenta uma pesquisa que analisa como um grupo de professoras do 1º ano
do Ensino Fundamental transpõem as "mudanças didáticas" relacionadas à alfabetização
para suas práticas de ensino e como "fabricam" suas práticas pedagógicas cotidianas.
Esse texto tem o objetivo de refletir sobre as relações entre o processo de ensino-
aprendizagem da leitura e da escrita, considerando a discussão recente sobre
alfabetização e letramento.
Este livro traz um conjunto de textos de autores diversos que abordam esses conceitos,
suas relações com a escolarização, o trabalho com os gêneros textuais na escola,
inseridos na perspectiva de alfabetizar letrando.
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http://www.youtube.com/watch?v=Pz4vQM_EmzI
http://www.youtube.com/watch?v=IJY-NIhdw_4
Após assistir aos vídeos faremos uma atividade que nos ajudará em nossa reflexão.
O quadro abaixo fará uma comparação entre os dois vídeos quanto as concepções de
ensinar, aprender, da metodologia utilizada e do planejamento. Registre suas ideias nos
lugares correspondentes. Discuta suas ideias com outros colegas.
VÍDEO 1
VÍDEO 2
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UNIDADE 3
Nesta unidade iremos tratar de algo imprescindível para que melhorias nos processos de
Alfabetização e o Letramento ocorram – a formação de professores. Não iremos tratar
aqui da formação inicial de professores, mas sim da formação continuada, que em
alguns casos acontecem no modelo de formação em serviço. E assim iremos lembrar de
alguns Programas de formação de professores oferecidos, suas características,
organização e uma breve análise de cada um deles em suas concepções e objetivos.
No regime militar um dos fatores de influência foram os acordos firmados entre MEC-
USAID, tendo a política educacional brasileira que se adaptar às exigências dos técnicos
americanos. A década de 70 é marcada por uma significativa expansão da formação
continuada por conta do advento da modernização social. Com a abertura política nos
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anos 80, houve uma intensificação dos movimentos em prol da educação, do avanço
científico e tecnológico. Também esse período foi marcado por uma maior participação
dos professores nas questões relacionadas à educação. Já havia nesse contexto uma
preocupação para além da dimensão técnica da formação, mas também com a dimensão
política da prática docente (ALFARES, 2009).
No final dos anos 80 e início dos anos 90, foram muito enfatizadas as formações em
serviço, pois se considerava que as formações em formato de encontros e treinamentos
que os professores estavam participando não estavam sendo suficientes para melhorar a
qualidade do ensino. Assim, essas formações aconteciam no próprio local de trabalho,
através de uma reflexão contínua de suas práticas (ALFARES, 2009).
Assim observamos que a formação continuada no Brasil ao longo dessas décadas foi
fortemente influenciada em suas concepções e objetivos por fatores políticos,
econômicos e sociais.
Percebemos até os dias de hoje, um discurso presente no contexto educacional que diz
que a teoria nada tem a ver com a prática. Mas sabemos que tal discurso promove
distanciamento entre teoria e prática prejudicando e esvaziando a qualidade de nossas
práticas. Assim, necessário se faz tratar a teoria e a prática considerando a importância
de cada uma delas. E assim construir formações que levem em consideração a natureza
social tanto da escola quanto das formações.
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O PROFA apresenta uma carga horária de 160 horas/a, distribuída em três módulos
diferentes: no primeiro priorizam-se os conteúdos de fundamentação, referentes aos
processos de aprendizagem da leitura e escrita e a didática da alfabetização. No segundo
a proposta é discutir situações didáticas de alfabetização. Já no terceiro o objetivo maior
é introduzir conteúdos da Língua Portuguesa que se relacionam com a alfabetização
(MACHADO, 2007).
O módulo Alfabetizar com textos foi destinado não apenas a professores alfabetizadores,
mas abrangia professores atuantes no Ensino Fundamental (1ª a 8ª séries e hoje 1º ao 9º
ano), na Educação Indígena, na Educação Infantil e na Educação de Jovens e Adultos. E
teve como objetivo mostrar aos educadores que é possível e ainda mais produtivo
alfabetizar com textos (BECALLI, 2007).
A proposta do curso objetiva constituir uma relação interativa entre o sujeito e a cultura
na qual está inserida. O desenvolvimento do programa influenciou nas propostas de
ensino de vários educadores participantes, que começaram a utilizar dos conhecimentos
sobre aprendizagem propostos por Vygotsky e Piaget.
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Outro importante documento que amparou a criação do PROFA foi o Plano Nacionalde
Educação (PNE), aprovado por meio da Lei nº. 10.172, em 9 de janeiro de 2001.
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=16478&Itemid=1107
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Na primeira etapa, foi realizada a divulgação do Programa pelo MEC em parceria com
as Universidades para os estados e municípios, sendo formalizada a adesão através de
um termo de cooperação. Havia a figura dos professores orientadores de estudos ou
tutores, formados com um curso presencial de 40 horas, por uma das universidades
participantes que compõem a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da
Educação Básica. Aconteceram ainda três seminários para formação dos tutores, sendo
dois de acompanhamento e um de avaliação. Cada município em geral tinha dois
tutores, sendo um para Alfabetização e Linguagem e outro de Matemática (ALFARES,
2009).
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E por último a etapa de retorno, os municípios que não participaram do Programa tem a
oportunidade de serem convidados através de visita feita pelo MEC.
Para a equipe pedagógica, a proposta tem como centro a concepção de que o professor
deve estar equipado com diversas atividades práticas, separadas por conteúdos e em
módulos. Assim, os professores deveriam aplicar tais atividades com as turmas que
trabalham e avaliar junto com o tutor os impactos do que foi realizado. Ressalta-se uma
grande preocupação no como fazer, ou seja, na dimensão técnica, dedicando-se pouco a
questões teóricas.
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Porém, segundo Freitas (2007, apud. ALFERES, 2009, p. 83), “a oferta de cursos de
formação na modalidade a distância pode se apresentar como uma forma de aligeirar e
baratear a formação. Isto pode significar o aumento na quantidade de professores
formados, mas não garantir a qualidade desejada na formação continuada”.
Após essa breve apresentação da estrutura em que foi distribuídao material, você terá a
oportunidade de aprofundar um pouco mais seus conhecimentos sobre o Programa Pró-
Letramento e localizar aqueles que lhe despertam maior interesse. Através do link a
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http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12616&Ite
mid=850
Para fechar nosso estudo sobre o Programa Pró-Letramento vamos fazer uma atividade
de reflexão.
Você considera que os objetivos propostos pelo Programa foram alcançados? Houve
equilíbrio entre os aspectos teóricos e práticos trabalhados dentro do Programa?
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Em sua opinião quais aspectos poderiam ser melhorados? Com quais pontos da
formação você concorda?E quais discordam?
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Nos últimos anos o Governo Federal tem tido um foco maior nos anos iniciais do ensino
fundamental quanto aos investimentos feitos, em especial nos três primeiros anos, que
corresponde ao período da Alfabetização. Tais investimentos foram através de materiais
didáticos enviados para as escolas, como livros didáticos, livros de literatura infantil,
jogos pedagógicos e ainda na formação dos professores alfabetizadores.
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É preciso pensar sobre esses pontos, pois de que adianta tantos investimentos se a
concepção de nós educadores não mudar.
De acordo com informações contidas no próprio site do programa, oPacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certaé um compromisso formal assumido pelos governos
federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de garantir que todas as crianças
estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ou seja, ao final do 3º ano do ensino
fundamental (BRASIL, 2013).
De acordo com a proposta as crianças aos oito anos de idade precisam ter a
compreensão do funcionamento do sistema de escrita; o domínio das correspondências
grafofônicas, mesmo que dominem poucas convenções ortográficas irregulares e poucas
regularidades que exijam conhecimentos morfológicos mais complexos; a fluência de
leitura e o domínio de estratégias de compreensão e de produção de textos escritos
(BRASIL, 2013)
No Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, quatro princípios centrais serão
considerados ao longo do desenvolvimento do trabalho pedagógico:
3. conhecimentos oriundos das diferentes áreas podem e devem ser apropriados pelas
crianças, de modo que elas possam ouvir, falar, ler, escrever sobre temas diversos e agir
na sociedade;
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Interessante se faz ressaltar que neste programa existe uma grande preocupação em
preparar os professores estratégias para sua prática educativa. Porém, os estudos
teóricos também estão presentes.
Tendo em vista que este programa teve início no ano de 2013, tendo apenas um ano de
aplicação do mesmo, restringiremos nossas análises em relação ao Pacto Nacional de
Alfabetização na Idade Certa ao que vimos até aqui.
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Leitura Complementar:
Cadernos de Formação:http://pacto.mec.gov.br/2012-09-19-19-09-11
Portarias:
Medidas Provisórias:
Leis:
Dispõe sobre o apoio técnico e financeiro da União aos entes federados no âmbito do
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e altera as Leis nos 5.537, de 21 de
novembro de 1968, 8.405, de 9 de janeiro de 1992, e 10.260, de 12 de julho de 2001.
Resoluções:
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A partir desse vídeo vamos pensar na seguinte afirmação: Com o ensino fundamental de
nove anos a criança inicia o processo de alfabetização aos 6 anos. Reflita sobre isso e
construa um texto a partir de suas reflexões.
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UNIDADE 4
Assim, nessa unidade nos propomos a pensar essa organização tendo em vista todos
esses fatores em plena interação, pois tudo isso acontece de forma simultânea e intensa
no ambiente escolar.
Para que o professor consiga atingir seus objetivos pedagógicos junto às crianças, é
preciso que ele estabeleça junto a elas uma relação de confiança. E a sensibilidade do
professor para perceber os alunos para além dos conteúdos a serem ensinados é de suma
importância. Isso não significa que o professor irá perder sua autoridade diante dos
alunos. Para tanto regras de convivências precisam ser construídas juntos com os alunos
e não de maneira imposta, podendo estas ser retomadas durante a rotina semanal ou
mesmo reformuladas com eles quando surgirem situações em que o professor julgar
necessário.
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Nove entre dez profissionais da educação afirmam que um dos maiores entraves do ofício
reside no descaso com autoridade do professor por parte das novas gerações. Embora
legítima, essa constatação merece alguns reparos.
Os antigos costumavam dizer que “o combinado não sai caro”. Com razão. Celebramos
contratos, mesmo que implícito, todo o tempo, em todos os momentos da vida. É uma
espécie de pacto de confiança, que poderia ser assim resumido: “Primeiro diga-me o que
espera que eu faça e seja, para que eu possa esperar algo de você.” Assim começamos a
cultivar expectativas acerca do outro e de nós mesmos e passamos a contar com parâmetros
de julgamento de nossas ações e das alheias.
Um bom exemplo disso é o primeiro dia de aula – ocasião mágica de convocação dos mais
jovens pra o ingresso no velho mundo que os precede. Muitas vezes, apenas o bom senso não
é suficiente para nos guiar mediante uma engenhosa tarefa de iniciar o ano letivo. Quem não
precisa de um certo fôlego diante de trinta ou quarenta pares de olhos desconfiados,
espreitando o que virá e se repetirá nos próximos meses? É hora de ultrapassar as
aparências, de dizer a que viemos.
Sempre que deparamos com alguém pela primeira vez é preciso conhecer sua trajetória de
vida. Vale a pena, de cara, aproveitar o tempo para contar um pouco de sua história e ouvir as
que os alunos têm para revelar. Histórias de realizações, de fracassos e, sobretudo, de
aspirações.
Mas não só. É fundamental o professor dispor abertamente o projeto de trabalho para o ano
que se inicia, dando a conhecer as exigências e condições mínimas para que as aulas
transcorram a contento. O mesmo vale para o outro lado do balcão. Muitos se espantarão
com clareza que os alunos têm de seus valores. E vontade de participar não lhes falta – a não
ser que não se queira vê-la...
Mais importante de tudo: contratos estão longe de ser uma lista de mandamento do não
pode ser feito. Ao contrário, eles tratam do que deve ocorrer durante o ano letivo. O resto – o
respeito mútuo, o exercício livre do pensar e a alegria de tomar parte da vida escolar, é
consequência.
REVISTA NOVA ESCOLA- janeiro/fevereiro de 2002, p.14
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E nas oportunidades que forem organizadas pela escola que incluam a presença dos
pais, ou mesmo em atendimento individuais é importante ter uma atitude acolhedora por
parte do professor, no modo de olhar, de falar e nos pontos que irá tratar sobre a criança,
tendo o cuidado de não tratar somente de aspectos negativos, pois toda criança tem suas
potencialidades. Infelizmente, quando chamados à escola os pais chegam resistentes por
pensar que foi para ouvir que seu filho é um problema. Precisamos descontruir essa
ideia e solicitar a presença dos pais também para falar da evolução de seus filhos.
Antes de construir seu planejamento é preciso ter uma visão geral da turma, das
habilidades que os alunos já possuem consolidadas e as que precisam ser introduzidas.
Na alfabetização isso pode ser feito com um diagnóstico inicial, com questões diversas
que contemplem habilidades básicas para aquela série ou ano em que o aluno está
inserido.
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Para que o professor possa fazer uma análise reflexiva dos diagnósticos aplicados é
necessário que tenha clareza na diferenciação dos níveis de escrita em que se encontra
seus alunos a partir das hipóteses que eles utilizam.
Pré-silábico
Silábico
1. Estabelece relação entre fala e escrita (faz corresponder para cada sílaba oral uma
marca) utilizando grafismos e outros símbolos
2. Estabelece relação entre fala e escrita (faz corresponder para cada sílaba oral um
grafismo)
3. Estabelece relação entre fala e escrita, utiliza letras mas sem fazer uso do valor
sonoro convencional.
4. Estabelece relação entre fala e escrita, fazendo uso do valor sonoro convencional.
Silábico-alfabético
1. Estabelece relação entre fala e escrita, ora utilizando uma letra para cada sílaba, ora
utilizando mais letras.
2
Fonte: Guia de Planejamento e Orientações Didáticas do programa Ler e Escrever, da secretaria
municipal de Educação de São Paulo
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Alfabético
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(NOME DA ESCOLA)
PLANO DE AULA
PROFESSOR/A: _______________________ ANO: _______
SUPERVISOR/A: DATA:_____/_____/_____
L. Portuguesa Matemática História Geografia Ciências Ens. Religioso Arte Ed. Física
TEMA(S):____________________________________________________________________
________
CONTEÚDO (S):
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
OBJETIVOS:
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
MATERIAL UTILIZADO:
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
ESTRATÉGIAS:
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
LOCAL:
____________________________________________________________________________
OBSERVAÇÕES:
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
AVALIAÇÃO DO MOMENTO:
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
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Por outro lado, é importante destacar que apenas o convívio intenso com textos que
circulam na sociedade não garante que os alunos se apropriem da escrita alfabética, uma
vez que essa aprendizagem não é espontânea e requer que o aluno reflita sobre as
características do nosso sistema de escrita (SANTOS & MENDONÇA, 2005).
Alfabetizar e letrar são duas ações diferentes, mas não inseparáveis. Na verdade, o ideal
seria alfabetizar letrando, o que significa, ensinar a ler e a escrever no contexto das
práticas sociaisda leitura e da escrita (SOARES, 1998).
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A escrita pelo aluno na alfabetização inicial é uma situação didática em que o professor
cria condições para que o aluno escreva, antes mesmo de dominar completamente o
funcionamento do sistema alfabético. Os principais exemplos dessa situação são as
atividades de escrita de textos memorizados (poemas, parlendas, canções, trava-línguas)
e de listas de palavras ou expressões de um determinado campo semântico familiar ao
aluno (nomes dos colegas da turma, ingredientes de uma receita títulos de histórias
conhecidas etc). O registro desses textos pode ser feito com letras móveis ou com lápis
e papel, a depender do conhecimento que a criança possui sobre o alfabeto e sua grafia.
Isso não significa que a única intervenção possível é a pergunta e que os alunos
precisam descobrir tudo sozinhos. O professor precisa perceber o limite dos alunos e
deve fornecer informações, conforme enfatiza a pesquisadora argentina Ana Maria
Kaufman "é importante que o professor, seja como for, ensine. Porque erros muito
sérios foram cometidos pensando assim: ah, se isso é uma construção, a psicogênese, há
que se ver como a criança avança, temos de deixá-la... Não, o professor sempre deve
ensinar, ler e escrever com as crianças e propor situações de leitura e escrita e fornecer
informação."
3
Este texto está disponível em http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/escrita-pelo-aluno-
alfabetizacao-inicial-641238.shtml?page=1
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O trabalho de escrita pelo aluno durante a alfabetização inicial é necessário, pois essa
situação faz com que a criança coloque em jogo tudo o que pensa sobre a escrita. Ela
reflete sobre suas hipóteses, confrontando-as com as dos colegas e com as informações
oferecidas pela professora e pelo ambiente. Esses confrontos fazem com que o aluno
reforce ou reelabore seus conceitos, avançando na compreensão do sistema alfabético de
escrita. Somente por meio dessa reflexão é que a criança terá condições de compreender
a relação grafofônica entre o que se escreve e o que se lê.
Há ainda uma última justificativa para realizar essa situação didática em sala de aula: ao
escrever por conta própria, os alunos tornam observáveis suas ideias. Em outras
palavras, é por meio da escrita do aluno que se pode ter acesso às concepções
elaboradas pela criança sobre o sistema alfabético. A interpretação dessas escritas
possibilitará ao professor conhecer melhor seu aluno, o que é essencial para planejar
boas situações didáticas, melhores intervenções e parcerias mais produtivas entre as
crianças.
Foi posto anteriormente que o fato da criança estar em contato com um ambiente
alfabetizador não é suficiente para que esta adquira as habilidades de ler e escrever.
Porém, apesar de ser uma parte do processo, o contato com suportes textuais é de suma
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Tal mudança revela a literatura à criança bem antes desta dominar a leitura,
modificando significativamente as condições de acesso à escrita, invertendo o processo
de aprendizagem, em que a alfabetização não mais é pré-requisito para o acesso à
literatura.
Porém, a bem pouco tempo, esse acesso era restrito às famílias com poder aquisitivo
que lhes dessem condições de adquirir livros e também que possuíam uma abertura
cultural que valorizassem o mundo imaginário.
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O que temos como dados gerais é um investimento em recursos didáticos por parte do
governo federal nos últimos anos, tendo em vista o foco de investimento na
Alfabetização. Dentre esses recursos se incluem livros de literatura infantil de excelente
qualidade. A partir disso, retomando nossa discussão sobre o acesso à literatura pela
criança que não o tem no ambiente familiar, teríamos essa possibilidade no ambiente
escolar. E como isso pode se dar?
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A criança não alfabetizada ainda possui uma compreensão difusa ao folhear os livros.
Mas a leitura realizada pelo professor em voz alta é fundamental para criar o
entendimento e dar condições de trocas entre os alunos e provocar reflexões. O reconto
de histórias pelas crianças auxiliam na percepção das diferenças entre língua falada e
escrita, sendo importante para formação de leitores.
Mas o trabalho com os textos não pode se restringir ao seu reconhecimento, devendo-se
criar uma intimidade com os mesmos, que se inicia com a possibilidade concreta de
utilizá-los em diferentes ocasiões da vida escolar e social. E assim se pode avançar para
a compreensão do texto, sua finalidade, e posteriormente ser capaz de escrevê-los
(CARVALHO, 2004).
Mesmo antes de serem alfabetizadas é possível realizar alguns exercícios que fazem
parte da rotina escolar em que o professor será o escriba dos alunos, fazendo uso da
escrita coletiva. Esses exercícios podem ser a escrita de cartas, bilhetes para os pais,
convites, murais, cartazes e jornalzinho. Durante o desenvolvimento desse tipo de
atividade é importante estimular a participação dos alunos para que eles auxiliem na
construção do texto pela oralidade e que o professor chame atenção para as diferenças
entre a língua oral e a língua escrita, como também pode ir destacando questões da
estrutura do texto de acordo com a proposta trabalhada.
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Quando se inicia o trabalho com novos textos é importante se fazer além da leitura uma
exploração do mesmo, dando condições ao aluno de perceber suas características.
Assim alguns questionamentos são importantes: A quem se destina o texto? Onde foi
encontrado? Este texto foi produzido para informar, divertir, fazer propaganda de um
produto ou serviço? De que forma ele foi escrito, à mão ou digitado? Que tipos de letras
aparecem: maiúsculas, minúsculas? É possível ler as imagens que aparecem? Há letras e
números ou apenas letras? Esse tipo de atividade de análise do texto direcionam a
atenção das crianças para questões importantes que fazem parte do processo de
compreensão da leitura (CARVALHO, 2004).
Quando refletirmos sobre os usos que fazemos daescrita no dia-a-dia, isto se evidencia
tanto nasala de aula quanto fora dela.Qualquer cidadão lê e escreve
cumprindofinalidades diversas e reais. Precisamos garantiresse mesmo princípio, ao
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Dolz e Schneuwly nos ajudam a refletir sobre tal temática.Esses autores defendem que
deveríamospropiciar em todos os anos o contatocom:
(1) textos da ordem do narrar – destinados à recriação darealidade, tais como contos,
fábulas,lendas;
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O fundamental no desenvolvimento das atividades seja ela qual for é que se tenha claro
o objetivo que se quer alcançar ou quais capacidades pretende desenvolver em seus
alunos e ainda o como avaliar. Não é porque estamos no processo de alfabetização e
muitas vezes inseridos num sistema de ciclos que a avaliação deixa de ser importante.
Defende-se nesse sentido uma perspectiva de avaliação contínua, com registros
qualitativos do processo de aprendizagem das crianças, para que a partir disso novos
objetivos possam ser traçados para o processo de aprendizagem da turma.
Leitura Complementar:
Consulta em 23-05-13.
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Você irá observar um botão no centro da tela para clicar a cada etapa em que você
visualizará diferentes hipóteses de escrita e você irá logo abaixo optar por uma e
confirmar. E você terá a resposta em seguida, com a justificativa.
Faça a atividade sem consultar para você possa perceber realmente como está seu
reconhecimento da escrita de seus alunos. Logo após o término da atividade faça
anotações das possíveis dificuldades que teve ou ainda daquilo que lhe chamou mais
atenção.
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Finalizamos este estudo com um exercício de apreciação estética que precisa ser
trabalhado com nossas crianças desde os primeiros anos escolares. Se degustem com a
beleza do vídeo A maior flor do mundo de José Saramago. Não é preciso registrar nada,
apenas aprecie.
http://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1U
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Importante:
A criança começa a ser estimulada desde a educação infantil e mesmo fora da escola.
No decorrer do processo de alfabetização produz muitas hipóteses sobre a escrita que
precisam ser compreendidas pelo professor.
A elaboração do planejamento anual, bem como dos planos de aula pelo professor,
auxilia na clareza de sua proposta de maneira mais ampla e em sua organização diária
com os objetivos que pretende nas atividades propostas. E nesse sentido a avaliação
diária é de suma importância para não se perder de vista o processo.
O professor é uma referência de leitor para as crianças, por isso deve-se utilizar a leitura
em voz alta e ter uma pronúncia clara.
O método fônico está dentre os métodos sintéticos e nele há uma valorização da relação
som/letra.
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Atividades
Avaliativas
Alfabetização e Letramento
Professora Daniela Mota Fernandes
3- Faça uma pequena síntese da trajetória da alfabetização ao longo dos anos e analise a
alfabetização nos dias hodiernos.
6- Elabore um plano de aula para trabalhar a linguagem escrita com sua turma de
alfabetização.
Bom desempenho!
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