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Olá!
Você está na unidade Matrizes e teorias do pensamento psicológico. Conheça aqui as contribuições do
Reducionismo para a formação da ciência psicológica; a formação de um novo campo de abordagem prático-
teórica da Psicologia Etnocêntrica; a consolidação das leituras socioculturais com a Psicologia Transcultural; e a
Nesta unidade, seja apresentado a alguns aspectos importantes do percurso histórico da Psicologia, além de
algumas das principais matrizes presentes nas suas dinâmicas de análise mais atuais.
Bons estudos!
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1 Reducionismo
O Reducionismo é um sistema de pensamento bastante promissor e com potencial explicativo nascido entre os
séculos XVII e XIX, juntamente com a concepção de que os homens seriam como máquinas, cuja natureza se
comportava segundo critérios e padrões específicos, submetidos a “leis gerais” de funcionamento, subsidiando
os primórdios do que mais tarde se reconheceria como conhecimento científico e seus desdobramentos
metodológicos.
explicar o homem e seus feitos a partir de uma compreensão que se afastasse do conhecimento religioso e se
apropriasse do pensamento filosófico racional, prático e paradigmático, a fim de poder intervir e produzir
consolida como um método de pensamento, cujos conceitos podem ser formulados em termos cada vez mais
“simples”, promovendo uma redução ao nível das propriedades e das relações entre suas partes.
Foi através do reducionismo teórico conceitual que a visão mecânica do universo se constituiu em um modelo
leis gerais que explicitavam o homem, suas estruturas orgânicas e biológicas, e sua relação com a vontade e o
pensamento.
Através desse modelo, o homem era comparado a uma máquina, e seu funcionamento podia ser então explicado
Enquanto o que o motivava, como operava sua maquinaria interna e revelava a dinâmica
Causa
física de seu comportamento.
Consequência Enquanto processo de tomada de consciência (mesmo que religiosa e moral) de seus atos.
O universo mecânico era então explicitado aos olhos de quem quisesse ver, e as razões de causas e efeitos
podiam ser harmonicamente remontadas na composição das engrenagens de uma das máquinas mais
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Como nos dizem Schultz e Schultz (1992, p. 34): “O relógio era a metáfora perfeita para o espírito mecanicista do
século XVII, tendo sido, justamente, considerado uma das maiores invenções de todos os tempos”.
Foi com esse conhecimento, cada vez mais sistematizado e difundido sobre o mundo e seu funcionamento, que o
homem passou a considerar-se pertencente ao mundo natural; assim, deixava de ser uma criação divina
para fazer parte das mesmas leis mecânicas que regiam e organizavam todo o universo.
A concepção dos seres humanos “como máquinas” emprestou aos modelos filosóficos de explicação do mundo
condições para a criação de um novo método de conhecimento, modo pelo qual seria possível entender e operar
sobre a natureza humana, fomentando intensamente o recém “descoberto” método científico de investigação do
mundo moderno.
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1.1 Conceitos e Abordagens
É inegável a contribuição e o avanço significativo que o reducionismo trouxe no bojo das transformações das
relações do homem com o conhecimento e de sua base na produção do conhecimento científico, como ainda hoje
se considera.
A possibilidade de traduzir as leis gerais de um fenômeno em um único conceito ou apenas em uma lista
diminuta de explicações que congregam, em essência, o jogo das partes envolvidas e sua dinâmica de
interferências, produziu, no homem, uma racionalidade de controle e predição dos fenômenos enquanto
acontecimentos naturais e, como tais, possíveis de serem “reduzidos” aos mesmos enquadres de explicações de
As explicações reducionistas oferecem, pelo menos, uma economia potencial de conceitos, visto que
um único conceito pode servir em mais de um nível de explicação. Essas economias podem servir
Como também explicitam El-Hani e Pereira (1999), a base de toda produção científica na modernidade se
consolida a medida em que os pensadores e cientistas das diversas áreas do conhecimento fazem uso do
reducionismo como modelo a ser aplicado na construção do saber científico, contrapondo-se aos saberes
Através de um modelo reducionista, ao analisar um fenômeno qualquer em questão, o cientista seria capaz de
“reduzir” a explicação do mesmo em termos condensados e essenciais, revelando os “segredos” das estruturas e
de seus funcionamentos específicos, respeitando as condições externas e internas para a sua manifestação e
expressão aparente.
Nos últimos trezentos anos, o programa reducionista tem sido o modo de análise dominante dos
mundos físico, biológico e até mesmo social. Em outras palavras, ele tem sido o paradigma na
Os autores acreditam que a assimilação do reducionismo ao pensamento científico da modernidade fez com que
essa última estivesse intimamente associada a um modelo que, se tinha grande sucesso no plano das ciências
naturais da física, química e biologia, o mesmo não se podia observar no planos dos conhecimentos científicos
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que não possuíam um objeto de investigação tão objetivo e passível de replicação de experimentos com
E, apesar de demonstrar-se como um método limitado para lidar com sistemas causais complexos, dentre eles
encontramos os estudos realizados pela psicologia científica. Esta fez uso de suas premissas em diversos
momentos e em várias perspectivas teóricas tão distintas que, em certos momentos, chegou mesmo a produzir-
se em contradições teóricas e metodológicas, sendo seus conflitos teóricos a base para a compreensão do que
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1.2 Contribuições para a Psicologia
Para retratarmos as contribuições do reducionismo para a Psicologia enquanto ciência moderna, vale destacar as
premissas do que é científico contrapondo-se aos conhecimentos de naturezas distintas, de base especulativa,
observacional e experimental, presentes nos conhecimentos da filosofia, das artes, religiões e do próprio senso
Com o advento do “Iluminismo”, movimento cultural e filosófico do século XVII, transfere-se ao homem a
capacidade de conhecer e explicar o universo, suas estruturas e funcionamentos com base no instrumental
próprio de sua natureza superior. Isso distingue-o dos demais seres e dá ao homem o caráter dominador de tudo
o que é capaz de observar, perceber, pensar, controlar, mensurar e concretamente experimentar, “objetivando” o
Essa mudança de paradigma para o processo de conhecimento e produção de saberes específicos sobre o homem
e a natureza inaugura um cenário ideal para o advento da racionalidade enquanto instrumento específico de
acesso às verdades universais do homem e da natureza, conduzindo a humanidade para a realização plena de
Desse modo, fazendo uso da racionalidade como princípio norteador das ciências humanas e, dentre essas, a
ciência psicológica, o homem passou a considerar a possibilidade de revelar todo o fenômeno humano à luz
do reducionismo explicativo, tratando a realidade interna e externa da psiquê humana como “essência” e,
portanto, como um fenômeno já dado a priori, que se transforma e se “esconde” à medida que se manifesta no
seja, reduzindo o que se entendia em termos subjetivos como vontades e motivações humanas a uma espécie de
Esse exemplo de um reducionismo realizado pela ciência psicológica demonstra o difícil dilema enfrentado por
essa área do conhecimento científico e, até mesmo, revela uma das tensões fundamentais da Psicologia
apresentada em termos de disputa de, ora pertencimento, ora afastamento do paradigma da ciência moderna.
Assista aí
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Devido à natureza não quantificável de seu objeto – à simultaneidade da condição de sujeito e objeto de estudo,
próprio ser humano pela inerente interação com o mundo e demais indivíduos, da sua relativa autonomia e,
portanto, relativa liberdade, além das constantes transformações de suas realidades externas e internas –, as
diversas teorias explicativas realizadas pelos métodos reducionistas desses fenômenos contribuíram para a
ampliação dos modelos teóricos, por vezes complementares, ou tão antagônicos, colocados no bojo da
compreensão psicológica: desde o estudo do funcionamento neuroquímico do sistema nervoso central até
Essa compreensão analítica da realidade psíquica humana será sustentada por reducionismos metodológicos
desses sistemas e de acordo com as tendências das épocas históricas que se seguem, até o aparecimento de outro
campo teórico capaz de produzir uma Psicologia científica tão rica e plural quanto as complexas realidades de
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2 Abordagem etnocêntrica
Para entendermos a abordagem etnocêntrica em Psicologia e seu reduzido quadro de compreensão do homem e
do mundo, precisamos adentrar uma área ainda mais espinhosa da psicologia científica, que se constitui na
interface das relações de saber e poder produzidas e amplamente difundidas pela Psicologia e pela
Os esforços da ciência psicológica, desde seu início, voltaram-se primeiramente para os estudos do
comportamento do ser humano adulto, traçando suas características externas e internas, preocupando-se com a
regularidade e padrões desses comportamentos. Com o passar do tempo, essa ciência ampliou seu olhar também
para os “desvios”, os comportamentos que se constituíam fora da “curva”, ou seja, se constituíam em análises
psicologia passou a incluir outras áreas do conhecimento em seu campo teórico-metodológico. Os avanços nos
profundos das atividades humanas, acompanhado de um vasto campo de técnicas de intervenção e métodos de
exploração científica, deram à Psicologia um lugar de destaque na compreensão de quem é o homem, objeto e
sujeito de análise, na área das ciências humanas. Contudo, esse destaque não lhe garante universalidade de
Podemos observar que, apesar dos avanços significativos alcançados na compreensão do fenômeno humano, o
etnocêntrica, que considera outras sociedades ou povos como inferiores ao seu próprio grupo étnico.
Toda a Psicologia produzida até meados de 1960 e 1970 tinha por pressuposto uma universalidade de homem
referendada aos sujeitos brancos, ocidentais, que viviam culturas capitalistas e democráticas, de tradição
cultural judaico-cristã, e que compactuavam com a visão de mundo advinda da Europa renascentista, com os
ideais da Revolução Francesa ainda pulsando fortemente em suas formas de entender e se relacionar com o
mundo.
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2.1 Teorias e conceitos
O caráter etnocêntrico até então apresentado nos estudos psicológicos, ou seja, o caráter de quem olha para
outra cultura sem realizar um trabalho de reconhecimento e tratando o diferente como “exótico, diferente de
mim (indivíduo), ou nós (sociocultural), começa a alargar-se em todas as direções dos campos de pesquisa.
A abordagem etnocêntrica em Psicologia começa a sofrer severas críticas com o desenvolvimento da Psicologia
Social em consonância às críticas dos métodos de investigação da Antropologia, compondo um campo novo,
capaz de, não somente abarcar duas áreas específicas do conhecimento humano científico, mas compor uma
Psicologia capaz de trabalhar a universalidade dos conhecimentos e dos olhares sobre o acontecimento humano
sobre a terra, sem excluir as dimensões singulares e particulares dos modos de ser e habitar o planeta em toda
sua diferenciação fundamental. Para essa nova perspectiva, a Psicologia Cultural nascerá como proposta
Andrada (2010, p. 6) nos trará um aporte totalmente renovado sobre as perspectivas desse modo de entender o
outro”, como um modo de revermos o cenário antropológico da Psicologia, e propondo “um novo enfoque para a
Vale ressaltar que, dada a realidade recente desse campo de trabalho, ainda temos muito o que conhecer e
compreender enquanto realidade teórico-metodológica, e muito mais ainda a formar enquanto campo semântico
conceitual de inserção desse saber nas atuais bases das ciências humanas.
Desse modo, as experiências que apresentamos a seguir são possibilidades de compreensão do campo da
abordagem cultural em oposição à visão etnocêntrica em Psicologia, e nos permitem vislumbrar o caminho
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2.2 Perspectivas culturais da Psicológica
Das características psicológicas compartilhadas entre os indivíduos de uma tribo, aldeia, ou qualquer outro
agrupamento humano que caracteriza ou denota uma compreensão específica de um modo de ser e estar no
Assim, é uma abordagem que se processa na tensão emergente das tentativas de interlocução interdisciplinar a
respeito das relações entre os sujeitos, da mesma forma que acontece na composição da Psicologia Cultural, cujo
cultural tem se aproximado de questões que dizem respeito à relação de pessoas oriundas de povos
recentes vêm demonstrando, por exemplo, que diversos fatores contribuem para a configuração de
habitam tanto nas aldeias quanto nas regiões metropolitanas de grandes cidades.
Com essa aproximação entre a Psicologia Cultural, a abordagem etnocêntrica perde espaço para a compreensão
sua psicodinâmica, extrapolando e, por vezes, ressignificando os conceitos tradicionalmente aceitos e aplicados
Assista aí
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Esse esforço pode ser analisado nas recentes apropriações do campo teórico da psicologia na tentativa de
explicar fenômenos culturais nos mais diversos espaços de ocupação do homem sobre a terra – primeiramente
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numa perspectiva puramente descritiva, na tentativa de identificação de o que fazem esses sujeitos, como vivem,
como se organizam e como lidam com as adversidades desse modo de vida, etc. Tais esforços aprofundam-se na
busca de compreender como se desenvolvem, quais aspectos de personalidade estão mais dispostos a aceitar e
inclinados a valorizar, e como reagem diante do desconhecido e dos sentimentos que carregam e apresentam na
#PraCegoVer: Na imagem, há um esquema das relações dos conceitos de cultura, etnia, pessoas, crença,
tradição, diversidade e nação projetado numa parede com jovens sentados como em um auditório observando
essa projeção.
Vale destacar que uma das possíveis respostas a essa abordagem em Psicologia está na aproximação do plano
teórico-metodológico da Psicologia Cultural às questões dos povos indígenas de nossa realidade nacional. Assim
estabelecer formas de relação mais equitativas, passamos a conhecer a alteridade das diferentes
tradições indígenas, ao mesmo tempo em que, pelo processo de comparação, passamos a conhecer
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Com essa abordagem, vislumbramos um plano teórico-metodológico ainda em processo de consolidação e com
muito espaço de aberturas e composição interdisciplinar que capte o que há de melhor no plano das ciências que
têm o homem como principal referência de suas dimensões individuais e culturais em análise.
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3 Abordagem Transcultural
Para apresentar a abordagem da Psicologia Transcultural no seu percurso científico, que se relaciona com a
Psicologia Social Experimental, utilizaremos da Psicologia Cultural como substrato de compreensão dessas
discussões associadas ao universo da produção brasileira na área. Desse modo, faz-se necessária uma atenção ao
recorte epistemológico dos efeitos desse Sistema Transcultural, na composição do campo temático em Psicologia.
O nascimento da Psicologia Cultural remonta ao século XVII, quando o filósofo Giambattista Vico (1668- 1774) –
em pleno período em que imperava o pensamento de Descartes, cuja expressão da ciência e do saber eram a
compreensão da vida prática como elementos fundamentais para a construção do pensamento e da linguagem
(BONIN, 1998).
Ele apontava a importância de Deus como conhecedor de todas as coisas, e o homem deveria apreender as
questões a partir de seu viés particular, amplamente valorizado, incitando o estudo cultural, voltado
especificamente para a análise de uma dada realidade ou de um dado contexto. É por isso que se atribui a ele as
origens da Psicologia Cultural, uma vez que consubstancia a importância da apreensão particular de cada sujeito.
De uma maneira ou de outra, a Psicologia como ciência trilhou um caminho de reconhecimento do campo
cultural. Apesar de algumas escolas de pensamento centralizarem suas pesquisas, conceitos e conhecimentos na
natureza intrapsíquica das questões psicológicas, há uma busca de compreensão do campo cultural e de como os
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3.1 Leituras do Campo Cultural
De modo geral, a cultura se apresenta como “um conjunto de hábitos, de instrumentos, objetos de arte, tipos de
relações interpessoais, regras sociais e instituições em um dado grupo” (BONIN, 1998, p. 61). A partir desse
recorte, o autor nos relata quatro perspectivas sobre a Psicologia Cultural, que são determinadas pela leitura
• Primeira leitura
A primeira leitura toma a cultura como variável independente, ou seja, se caracteriza como uma
grandeza que estava sendo manipulada em um experimento. Essa concepção foi aplicada aos estudos de
cognição/testagem psicológica nos anos 1960/1970. A ideia observada era de que o corpo era separado
da mente, dualismo mente/corpo. Nesse sentido, registra Bonin (1998), o mental era um aparelho
interno que estabelecia o pensamento abstrato, o qual era marcado pela cultura, de fora, sem ter relação
• Segunda leitura
A segunda leitura da concepção de cultura era de que a mente está inserida nas práticas culturais. Nesse
entendimento, a cultura passa a ser considerada como elemento fundante das interações e práticas
sociais, as quais constituem o sujeito. Há uma retroalimentação: o sujeito se constitui como humano a
partir das produções culturais e, por sua vez, também é produtor dos elementos da cultura.
mentais superiores com as indicações de como a criança aprende e apreende o mundo a partir das
relações de mediação promovidas pelo adulto em seus universos linguísticos e também pela ajuda
• Terceira leitura
A terceira leitura acena para a cultura na mente, a ideia de se estudar as narrativas produzidas pelas
pessoas em um dado contexto cultural. Dar visibilidade e luz pelo modo como relatam e organizam as
suas experiências diárias, coletivas, a partir de elementos cotidianos, e não se limitar a estudar
A questão que se coloca aqui alude ao pensamento simbólico e aos registros possíveis de serem
efetuados pela fala ou a partir de elementos situacionais que nos conduzem a criar e potencializar ações
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e estabelecer conexões, por exemplo: diante de uma situação de descobrimento/conflito para a criança,
ela pode resolver isso a partir da interação com o adulto (que apresenta a cultura em seus gestos e
ações) ou a partir de um conhecimento próprio (por ser sujeito emergente da mesma cultura).
• Quarta leitura
A quarta leitura sobre a cultura implica um novo direcionamento para a Psicologia Cultural, diz respeito
ao recorte que considera a cultura na pessoa, observando o sujeito como um agente intencional, capaz de
Estudos recentes apontam o bebê como um sujeito de intencionalidades e capacidade de empatia desde
o nascimento, diferindo da concepção que aponta o bebê dotado apenas de instinto ou comportamento
reflexo.
Nesses estudos, se considera cada vez mais a importância do ambiente como elemento potencializador
do desenvolvimento, bem como as relações que se estabelecem com o bebê, que viabilizam a ação deste,
na convocação dos adultos que cuidam dele, reforçando a proposição de agente intencional que busca
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3.2 A Psicologia Transcultural: conceitos e contribuições
A Psicologia Transcultural se caracteriza como um sistema de investigação em Psicologia, que se coloca a estudar
a relação do homem em seu contexto social, como ele interage, aprende, demonstra emoções e afetos sob certas
circunstâncias de vida.
De acordo com Gomes (2018), a busca para compreender e estudar as semelhanças e diferenças nos indivíduos e
grupos em seus mais diferentes aspectos – sejam eles biológicos, ecológicos, sociais ou psicológicos – constitui-se
Fique de olho
Para aprofundamento dessa questão, sugerimos o filme “Babies”, pois apresenta o processo do
desenvolvimento infantil em diferentes contextos culturais possíveis de serem analisados
segundo a perspectiva da Psicologia Transcultural.
Para garantir pesquisas que oportunizem tamanha correlação de variáveis, a Psicologia Transcultural opta por
metodologias de trabalho que contemplem as ações de coleta e análise de dados, mas que também analisem uma
Gomes (2018) aponta que esse campo precisa ser melhor explorado nos países ocidentais, que ainda há
necessidade de estudos mais abrangentes para analisar as pesquisas e metodologias que apresentem um maior
rigor científico. Via de regra, pode-se dizer que a Psicologia Transcultural oferece três orientações teóricas
para os fenômenos observados, a saber: absolutismo, relativismo e universalismo. Clique abaixo para obter
Absolutista
Para a perspectiva absolutista, entende-se que os fenômenos psicológicos se caracterizam da mesma maneira
em todas as culturas (por exemplo, o comportamento ansioso, em um dado local, continua sendo um
Relativista
A perspectiva relativista implica em afirmar que o comportamento pode ser criado a partir do contexto em que
ele se desenvolve, por exemplo, a criança desenvolverá paladares específicos de acordo com a ingestão de
alimentos ofertados em um determinado contexto cultural a partir das primeiras experiências. Nesse caso,
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podemos observar que, para algumas culturas, o leite a ser oferecido para a criança é apenas o leite materno, não
possuindo qualquer outro substituto como observado em determinadas culturas que o associam às
Universalista
Por fim, a perspectiva universalista aponta que os processos psicológicos básicos são comuns a todas as
pessoas, independentemente de questão cultural; porém, admite-se que a cultura possa interferir em
características psíquicas.
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4 Determinismo/Livre Arbítrio
A dualidade que aqui se apresenta é apenas mais uma das diversas formas de compreender o acontecimento
homem, como se constitui objetiva e subjetivamente, qual seu objetivo ou sua missão no mundo, além de muitas
outras indagações que, dependendo do ponto de partida, despertarão respostas tão distintas quanto incompletas
Se partimos do pressuposto de que os atos humanos são frutos de uma intenção e que o próprio homem é
quem conduz sua vida a partir de decisões pessoais, então estamos considerando o homem como um ser livre.
Segundo esse pressuposto, somos livres e o próprio querer é a origem causal de uma ação cujas intenções se
colocam em xeque ao compreender que nem sempre somos capazes de identificar linearmente o motivo e a
Mas é possível estar no mundo e ser um sujeito sem qualquer interferência sobre si e seus comportamentos? De
onde nasce o querer e quais as razões dele se manifestar dessa ou daquela forma? A liberdade da qual estamos
tratando pode ser traduzida pelo livre arbítrio? Essas e outras questões nascem no intelecto humano e se
constituem ao longo do seu próprio desenvolvimento sócio-histórico, desde os primórdios das civilizações das
É claro que, ao ser estudado, enquanto objeto de conhecimento científico, conseguimos, por alguns breves
momentos, compreendê-lo objetivamente e satisfazer nossa aguçada atenção curiosa definindo conceitos que
justifiquem seus significados. Por outro lado, podemos também, sem muito esforço, ver tal estrutura teórico-
conceitual se desmontar em função de um “novo” conceito, ou novo argumento, apresentado numa nova
perspectiva que nos “obriga” a aceitarmos, senão em termos ideológicos, porém em termos lógico-racionais, que
Pensemos agora na psiquê humana como um “aparelho mental” provido de um sistema de análise e definidor
de escolhas possíveis de serem realizadas sem interferências; como um dispositivo sem um acionamento prévio,
É essa reflexão que Strapsson e Dittrich (2011) realizam ao analisar as contribuições do determinismo para a
formação da Psicologia como ciência e profissão. Os autores fazem um contraponto esclarecedor entre o
determinismo radical e o indeterminismo, também radical. Em ambos os casos, a realidade da condição humana
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O homem, apesar de sua liberdade de criação de modos de organização vital, individual e coletiva, não é
desprovido de determinantes, que tanto podem ser internas (vontades, desejos e motivações individuais)
quanto externas (suscetível à pressão do grupo, aos impeditivos jurídicos e convenções sociais), ou ainda, a um
terceiro tipo de interferência cuja base se constitui na interseção dos determinismos anteriormente citados
acrescidos aos de natureza ética e moral com seus tabus e tradição de qualquer sorte.
Mesmo com o nível de compreensão alcançado pelas ciências naturais e humanas, ainda temos a tarefa de tentar
explicitar, de maneira objetiva, a seguinte questão: o que determina o motivo do comportamento humano em
suas mais diferentes nuances de intenções e efeitos sobre si e os demais sujeitos com os quais convive? Onde
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4.1 Conceitualização e consequências para a Psicologia
Para nos ajudar nesta tarefa nada fácil de compreender, finalmente, o que está em jogo quando trabalhamos as
questões humanas e os pressupostos da ciência psicológica na dualidade determinismo e livre arbítrio, nos
aproximamos de Strapsson e Dittrich (2011). Esses autores se debruçaram sobre as questões teórico-conceituais
acerca do determinismo e, por consequência, do livre arbítrio como elementos basilares para se decifrar o
Continuam os autores:
consequentemente um dos eventos de mais difícil explicação. A cultura em geral tende a assumir que
ao menos parte do nosso comportamento é livre, e o tamanho dessa parte tem sido tema de
Ciência e Profissão, analisam o quanto dessa compreensão se encontra nos diferentes postulados teóricos da
Psicologia ao longo da sua história e reconhecem que existe uma tendência a aceitar o determinismo em campos
Essa compreensão se justifica pela argumentação que, se de um lado a psicanálise pauta-se nos estudos e
análises do comportamento humano determinado em grande parte pela dinâmica do inconsciente, por outro,
não deixa de ser um determinismo à base das relações funcionais entre organismo e ambiente no jogo de
estímulos e respostas pesquisados pelos behavioristas radicais. Para repor a complexidade da análise, não nos
esqueçamos também dos determinismos sócio-histórico-culturais presentes nas análises da psicologia social.
Assista aí
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O que de fato acontece na visão desses autores é uma certa confusão teórico-conceitual com a definição de
determinismo quando utilizado para explicitar uma refutação de ideias e compreensão epistemológica distinta
entre os diversos sistemas e teorias em Psicologia. Ou seja, a questão das críticas formuladas entre esses campos
teóricos do conhecimento psicológico não se faria com base no problema do determinismo, compreendido como
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equivocada simplificação do fenômeno humano sobredeterminado em suas causas, mas sim numa errônea
Ao contrário do determinismo, o fatalismo apontaria para a incapacidade humana de criação de novas formas
expressões de suas vontades, mesmo que inconscientemente. Nessa perspectiva, além de estar preso às
demandas externas ou internas da motivação, não conseguiria nem mesmo recusar-se ao movimento na
anulação de si mesmo.
E essa não é mais uma escolha plausível na justificativa dos comportamentos humanos, pois, de toda a complexa
rede de interações e determinações existente na condição humana, há ainda uma possibilidade de criação que
pode indeterminar o homem e as respostas apresentadas às mais diversas e variadas indagações da vida.
Do mesmo modo, o livre arbítrio estaria colocado em um pressuposto epistemológico determinado pela
concepção de autonomia humana, para poder pensar, refletir, racionalizar uma escolha diante de diferentes
circunstâncias objetivas e subjetivas de vida, podendo até mesmo ser compreendida na relação entre as forças
conscientes e inconscientes que determinam a realidade psíquica dos sujeitos, mas não completamente alheio às
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4.2 Entre a dualidade e a complexidade
Dentre as diversas formas criadas pela Psicologia na tentativa de abarcar o homem e todo fenômeno psíquico a
ele referendado, entendemos, assim como Figueiredo (2008), que nas questões explicitadas entre os
determinismos e o livre arbítrio encontramos um rede de relações tão complexas que qualquer reducionismo é
apenas uma possível forma, historicamente constituída e arbitrariamente eleita, como modelo que apenas se
revela como efeito dos arranjos das forças presentes no fato observado.
[...] as condições para a emergência de projetos de psicologia científica eram duas: a) um alto nível de
reconhecimento de que o sujeito não é tão livre como julga, nem tão único como crê. É isso que leva à
compreensão dos fenômenos psíquicos colocados em termos antagônicos e maniqueístas da relação entre
determinismo e livre arbítrio, para alcançar a compreensão da complexidade do fenômeno humano posto em
O autor acima citado irá propor a construção dessa dualidade à necessidade que temos de criar, também
historicamente, a ilusão de condições imutáveis e fixas que justifiquem a natureza humana em uma essência
dada ao conhecimento que, pela emergência da evolução do método científico, seria capaz de definir, de uma vez
Assim, Figueiredo (2008) recorrerá às ideias nietzschianas para repor a natureza complexa do homem e da
necessidade de também trabalharmos o pensamento nessa complexidade. Como Mangueira e Bonfim (2014, p.
627), o autor apresenta a intrínseca correlação entre vida e pensamento, e que este constitui-se “não mais uma
atividade puramente contemplativa e rememorativa, mas um procedimento criativo por meio do qual um
Portanto, na afirmação da vida ao homem, mesmo que realize sua compreensão em termos dualistas e, não
raras vezes, antagônicos, esta deve ser entendida como uma forma possível de expressar seus anseios e
projeções condicionados a um determinado tempo histórico e lugar físico específico, pois sua verdade reside na
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é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer as matrizes e teorias do pensamento psicológico;
• estudar os conceitos e aplicações dessas teorias;
• apropriar-se das leituras do conhecimento psicológico;
• compreender as transformações da ciência psicológica ao longo da história;
• analisar o homem como sujeito e objeto de investigação científica.
Referências
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STRAPASSON, B. A.; DITTRICH, A. Notas sobre o determinismo: implicações para a psicologia como ciência e
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