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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................2
2. BEHAVIORISMO: BREVE DEFINIÇÃO E REFERENCIAL HISTÓRICO..............4
2.1 AS INFLUÊNCIAS HISTÓRICAS NO BEHAVIORISMO.................................6
2.2 ESTRUTURALISMO........................................................................................6
2.3 FUNCIONALISMO...........................................................................................8
2.4 PSICOLOGIA ANIMAL..................................................................................11
2.4.1 EDWARD THORNDIKE..............................................................................12
2.4.2 IVAN PAVLOV.............................................................................................12
2.4.3 VLADIMIR BEKHTEREV.............................................................................13
2.5 CONTRIBUIÇÃO HISTÓRICA.......................................................................14
3. AS INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS NO BEHAVIORISMO....................................15
3.1 RENÉ DESCARTES......................................................................................16
3.2 AUGUSTE COMTE........................................................................................17
4. CORRENTES BEHAVIORISTAS.........................................................................18
4.1 CLÁSSICO OU METODOLÓGICO...............................................................18
4.2 RADICAL........................................................................................................18
4.3 FILOSÓFICO.................................................................................................19
4.4 OUTROS TIPOS............................................................................................19
5. CONCLUSÃO.......................................................................................................20
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................21

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho, relacionado à matéria Teorias e Sistemas em Psicologia, tem


como objetivo analisar e tornar compreensível o contexto histórico, filosófico e as
principais ideias que deram origem a teria behaviorista.

Behaviorismo ou behavior (do inglês) significa comportamento. É também


conhecido como comportamentalismo ou psicologia comportamental de forma
genérica. A ideia central é a possibilidade de uma ciência do comportamento,
chamada de análise comportamental, sendo o behaviorismo a filosofia dessa
ciência.

Nosso objeto de estudo são as influências sofridas pelos grandes teóricos


behavioristas e, neste sentido, não podemos deixar desconsiderar a análise do
zeitgeist da época.

Zeitgeist é um termo alemão, cuja tradução significa espírito da época, sinal


dos tempos, ou espírito do tempo. Em suma, o zeitgeist significa o conjunto do clima
intelectual, sociológico e cultural de uma região, ou até a abrangência do mundo
todo em uma certa época.

O zeitgeist é sempre um elemento muito importante na análise contextual


pois, de acordo com a teoria naturalista da história científica, “a época é o que molda
o indivíduo, ou, pelo menos, torna possível reconhecer e aceitar a proposta de um
indivíduo” (SCHULTZ, 2014, p. 15) – o que significa que: ou o zeitgeist está pronto
para a nova ideia, ou esta será alvo de descrédito ou até de condenação.

Quando pensamos no movimento behaviorista do século XX, precisamos


observar que não foi exatamente John B. Watson (fundador do movimento) quem
deu origem as ideias básicas desta teoria. Elas já vinham sendo desenvolvidas, há
algum tempo, tanto na psicologia como na biologia. O conceito de reposta
condicionada, por exemplo, foi sugerido pelo cientista escocês Robert Whytt, em
1763. No entanto, não despertou nenhum interesse em sua época. Mais de um
século depois, quando os métodos de pesquisa adotados já eram mais objetivos, “o
psicólogo russo Ivan Pavlov aprimorou as observações de Whytt, expandindo-as e
transformando-as em base para um novo sistema de psicologia” (SCHULTZ, 2014,

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pág. 16). Como qualquer outro fundador, “Watson organizou e promoveu as ideias e
as questões já aceitáveis para o zeitgeist intelectual” (SCHULTZ, pág. 190).

Justamente por isso, é tão importante conhecer o contexto histórico e as


principais ideias que precederam certas descobertas ou novas teorias.

Por fim, para que possamos alcançar o objetivo proposto neste trabalho, para
além das discussões estruturalistas e funcionalistas, vamos abordar também os
principais conceitos reunidos por Watson para formar seu sistema psicológico
behaviorista: a tradição filosófica objetivista e mecanicista, a psicologia animal e a
psicologia funcional.

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2. BEHAVIORISMO: BREVE DEFINIÇÃO E REFERENCIAL HISTÓRICO

Quando a psicologia foi estabelecida pela primeira vez como uma ciência
separada da biologia e filosofia, deu início ao debate sobre a forma de descrever e
explicar a mente humana e o comportamento. As primeiras duas grandes escolas de
psicologia a surgir durante este tempo eram conhecidas como estruturalismo e
funcionalismo.

O estruturalismo surgiu como a primeira escola de pensamento e algumas


das ideias associadas com a escola estruturalista foram defendidas pelo fundador do
primeiro laboratório de psicologia, Wilhelm Wundt.

Em resposta ao estruturalismo, uma perspectiva americana conhecida como


funcionalismo emergiu de pensadores como Charles Darwin e William James.

Eventualmente, essas duas escolas de pensamento perderam o domínio na


psicologia, substituídas pela ascensão do behaviorismo, psicanálise e humanismo
através do início e parte do século XX.

A primeira versão do pensamento behaviorista surgiu com John B. Watson


(1879-1958), sendo este considerado seu fundador. Em 1913, publicou o artigo
“Psychology as the behaviorist views it”, que rapidamente tornou-se o manifesto
desse movimento.

O behaviorismo surge como oposição ao estruturalismo e ao funcionalismo.


No entanto, ele traz alguma herança do funcionalismo, como a base evolucionista, a
psicologia animal e a visão de homem como organismo, em interação com o
ambiente.

As premissas básicas do behaviorismo de Watson eram “simples, diretas e


ousadas. Ele buscava uma psicologia científica que lidasse exclusivamente com os
atos comportamentais observáveis e passíveis de descrição objetiva” (SCHULTZ,
2014, p. 190).

Além disso, Watson “articulou a crescente insatisfação dos psicólogos com a


introspecção e a analogia como métodos” (BAUM, 1999, pág. 23). Acreditava que a

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psicologia deveria ser definida como ciência do comportamento, e não mais como
ciência da consciência, e reagiu escrevendo:

Eu acredito que podemos escrever uma psicologia, defini-la como Pillsbury, e nunca voltar atrás na
nossa definição: nunca usar os termos consciência, estados mentais, mente, conteúdo,
introspectivamente verificável, imagem mental e similares . (Watson, 1913).

Para formar seu sistema de psicologia behaviorista, Watson reuniu alguns


conceitos e ideias já aceitas à época como a psicologia objetiva, a psicologia
comparativa, a filosofia objetivista, mecanicista e materialista, o conhecimento
positivo (fatos), a psicologia animal e a psicologia funcional.

Com o intuito de organizar e demonstrar as grandes influências filosóficas e


históricas que deram origem ao movimento behaviorista, ilustramos abaixo a linha
do tempo com a evolução das principais teorias e pensadores que sustentam esse
pensamento:

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Linha do tempo representada a partir de dados históricos

2.1 AS INFLUÊNCIAS HISTÓRICAS NO BEHAVIORISMO

Para compreendermos as influências históricas que deram origem ao


behaviorismo, inevitavelmente precisamos analisar o nascimento da psicologia como
conhecemos agora. Isso porque, a psicologia é abordada há anos tanto pela filosofia
quanto pela biologia. Porém, quando ela se dissociou de ambos os campos,
iniciaram-se os debates sobre a forma de descrever e explicar a mente humana e o
comportamento e, com isso, surgiram duas grandes escolas de psicologia: o
estruturalismo e o funcionalismo.

O estruturalismo foi uma das primeiras escolas da psicologia e usou a


introspecção para explorar os elementos estruturais da mente humana. O
funcionalismo foi uma escola da psicologia voltada para o funcionamento de nossos

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processos mentais e comportamentais – como eles permitem nossa adaptação,
sobrevivência e crescimento.

2.2 ESTRUTURALISMO

O estruturalismo foi um movimento intelectual que contribuiu para a revolução


científica da filosofia e das ciências humanas. Foi inaugurado no século XX pelo
teórico linguista Ferdinand de Saussure (1857-1913). Esse movimento teve reflexos
sobre o pensamento antropológico, linguístico, social, matemática, psicologia,
psicanálise e teoria literária. No caso da psicologia, ela passou à condição de campo
dissociado da filosofia após a influência do estruturalismo.

O fundador dos estudos da psicologia sob o prisma do estruturalismo foi


Wilhelm Wundt (1832 - 1920). Entre os estudiosos de destaque do pensamento
estruturalista na psicologia esteve Edward Titchener (1867 - 1927).

O estruturalismo foi a primeira escola de psicologia focada em quebrar


processos mentais para os componentes mais básicos. Os investigadores tentaram
compreender os elementos básicos de consciência através de um método conhecido
como introspecção, ou auto-observação, com base em observadores rigorosamente
treinados para descrever os elementos no seu estado consciente, em vez de relatar
o estímulo observado ou percebido, utilizando apenas nomes conhecidos.

Segundo Schultz (2014, p. 95), Titchener divergia de Wundt porque estava


interessado em analisar a experiência consciente complexa a partir das partes
componentes, e não a síntese dos elementos mediante a apercepção. Titchener
dava ênfase às partes, enquanto Wundt, ao todo.

Para Titchener, o objeto de estudo da psicologia é a experiência consciente


como dependente do indivíduo que a vivencia. Um exemplo é que, em um estudo
sobre luz e calor, um físico examinaria os fenômenos do ponto de vista dos
processos físicos envolvidos, enquanto os psicólogos analisam a luz e o som com
base na experiência.

O universo da física, no qual essas experiências são consideradas


independentes das pessoas que as vivenciam, não há calor nem frio, não há
escuridão nem luz, não há silêncio nem ruído. Somente quando as experiências são

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consideradas dependentes de algum indivíduo é que existem o calor e o frio, o preto
e o branco, o colorido e o cinzento, tons, assobios e estampidos. E esses são os
objetos de estudo da psicologia (Textbook of psychology, 1909, E.B. Titchener, P.9 –
trecho retirado de (SCHULTZ, 2014, p. 96).

Titchener definia a consciência como a soma das experiências existentes em


certo momento e a mente como a soma das experiências acumuladas ao longo do
tempo. Para ele, o único objetivo legítimo da Psicologia deveria ser descobrir os
fatos estruturais da mente e estudá-los.

Críticas relevantes em relação ao método de introspecção estavam voltadas


ao tipo de observação praticada no laboratório de Titchener, que lidava com relatos
subjetivos de elementos da consciência, diferentemente do método de percepção de
Wundt, o quel lidava com as reações mais objetivas e quantitativas ao estimulo
externo.

Pelos padrões científicos de hoje, os métodos experimentais utilizados para


estudar as estruturas da mente eram muito subjetivos e o uso de introspecção levou
a uma falta de confiabilidade nos resultados. Outros críticos argumentam que o
estruturalismo estava muito preocupado com o comportamento interno, que não é
diretamente observável e não pode ser medido com precisão.

Porém, apesar das críticas, os historiadores dão o devido crédito às


contribuições de Titchener e dos estruturalistas. Seu objeto de estudo – a
experiência consciente – era claramente definido e seus métodos de pesquisa eram
cientificamente os mais tradicionais. O método de introspecção, por exemplo,
definido como relato oral baseado na experiência, ainda é empregado em diversas
áreas da psicologia. A escola estruturalista também influenciou o desenvolvimento
da psicologia experimental.

Embora o trabalho de Wundt tenha ajudado a estabelecer a psicologia como


uma ciência separada e contribuiu com métodos para a psicologia experimental, o
desenvolvimento do estruturalismo de Titchener ajudou a estabelecer a primeira
escola da psicologia, mas o próprio estruturalismo não durou muito além da morte
de Titchener. Com todo o avanço científico, o estruturalismo passou a ser alvo da
oposição e a psicologia superou seus limites iniciais.

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2.3 FUNCIONALISMO

Funcionalismo é uma teoria adaptada para diferentes campos de


conhecimento, como a filosofia, a psicologia e a antropologia. Seu principal objetivo
é explicar a sociedade, as ações coletivas e individuais, a partir de causalidades, ou
seja, de funções. Desta forma, a sociedade, ou o que se observa a partir desta
teoria, é compreendida como um organismo, composto por órgãos relacionados e
com funções específicas.

Os princípios do pensamento funcionalista surgiram dos estudos de Charles


Darwin e Francis Galton. Darwin, com a Teoria da Evolução na qual menciona que a
espécie não permanecia fixa e o ambiente seleciona aqueles que são mais capazes
e que tinham condições de se adaptar ao meio, os demais eram extintos. Galton,
com o intuito de aplicar os pressupostos da Teoria da Seleção Natural ao ser
humano, em 1883, reunindo duas expressões gregas, cunhou o termo "eugenia" ou
"bem-nascido”, no qual identificava os portadores das melhores características e
incentivava sua reprodução, bem como encontrava os que apresentavam
características degenerativas e, da mesma forma, evitava-se que reproduzissem,
através de uma seleção artificial (VANTIL, 2017, p.2).

Para tal, Galton desenvolveu testes capazes de medir a inteligência e


eficiência intelectual de homens e mulheres aplicando rigorosos tratamentos
estatísticos aos dados coletados, e criou uma das mais importantes medidas na
ciência: a correlação. A sua obra é de grande importância para a Psicologia, visto
que, por meio da aplicação de seus testes mentais, a nova ciência começou a se
voltar ao tópico das diferenças individuais.

Na psicologia, o funcionalismo é um ramo que surgiu nos Estados Unidos


durante o século XIX, tendo como precursor o americano William James (1842-
1910), com o objetivo de se opor ao estruturalismo que dominava o campo da
psicologia na época, e que não respondia as questões funcionalistas: o que e como
a mente produz. Foi um dos primeiros ramos da psicologia que enfatizou o
empirismo e o pensamento racional, e suas contribuições permanecem importantes
até hoje.

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O principal objetivo do funcionalismo, a princípio, era explicar os processos
mentais dos seres humanos de maneira sistemática e científica. Portanto, em vez de
estudá-los diretamente através da introspecção (o principal método do
estruturalismo), os funcionalistas procuraram entender o propósito da consciência,
comportamento e pensamento.

O funcionalismo estava originalmente preocupado com o modo como a mente


trabalha e com suas capacidades, e não com os processos de pensamento do
campo de estudo do estruturalismo. Além disso, a corrente norte-americana
pretendia, acima de tudo, ser útil e prática, portanto sua pesquisa foi muito focada na
aplicabilidade.

Por outro lado, o funcionalismo foi a primeira corrente da psicologia que


revelou a importância das diferenças individuais. A partir dessa tendência, surgiram
algumas ferramentas amplamente utilizadas até hoje, como testes de inteligência ou
modelos de personalidade.

Além disso, os funcionalistas foram os primeiros psicólogos a tentar aplicar


um método estatístico e científico ao estudo da mente humana. Nesse sentido, suas
ideias eram precursoras daquelas que dominariam o campo da psicologia durante o
século seguinte, abrindo caminho para correntes como o behaviorismo ou o
cognitivismo.

A visão que se tornou o ponto central do funcionalismo americano foi a teoria


de que a psicologia não tem como meta a descoberta dos elementos da experiência,
mas sim o estudo sobre a adaptação dos seres humanos ao seu meio ambiente. A
função da nossa consciência é guiar-nos aos fins necessários para a sobrevivência.
A consciência é vital para as necessidades dos seres complexos em um ambiente
complexo; de outra forma, a evolução humana não ocorreria.

A partir de suas contribuições, surgiu um grande número de pesquisadores


que desenvolveram as teorias dessa disciplina. Entre os mais importantes estão o
grupo da Universidade de Chicago (incluindo John Dewey, George Herbert Mead e
James Rowland Angel) e o grupo da Universidade Columbia (com James Cattell e
Edward Thorndike no comando).

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Os ataques contra o movimento funcionalista surgiram rápida e
veementemente por parte dos estruturalistas. As acusações, as investidas, e os
contra-ataques partiram de ambos os lados, pois cada lado se considerava o dono
da verdade. Os estruturalistas argumentavam que o funcionalismo não era, de jeito
algum, psicologia pois não adotava os métodos e o objeto de estudo e, inclusive,
alegavam que qualquer abordagem que se desviasse da introspecção não podia ser
chamada de psicologia.

Os estruturalistas ignoravam qualquer aplicação do conhecimento psicológico


aos problemas do mundo real, enquanto os funcionalistas não viam utilidade em
manter a psicologia com um caráter de ciência pura e não abriram mão do seu
interesse prático.

Apesar da grande rivalidade entre as duas escolas de psicologia, o


funcionalismo serviu de base para o que hoje entendemos como psicologia moderna
e contribuiu com muitas das primeiras descobertas importantes para a solução de
problemas práticos. A aplicação prática da psicologia nos problemas reais está entre
as principais contribuições do funcionalismo. Além disso, incorporou pesquisas
sobre o comportamento animal, bem como estudos sobre bebês, crianças e adultos
com problemas mentais.

2.4 PSICOLOGIA ANIMAL

A teoria da evolução de Darwin foi comprovadamente um estímulo para o


desenvolvimento da psicologia animal, visto que, até antes da publicação de A
origem das espécies, não havia razão para os cientistas acreditavam que os animais
eram apenas autômatos sem mente e sem alma. Após o trabalho de Darwin, os
cientistas propuseram a continuidade entre todo o aspecto mental e físico dos seres
humanos e dos animais, com base na teoria de que o homem descende do animal
por meio de um processo evolutivo.

Nos anos que se seguiram à publicação de A origem das Espécies, o tema da


inteligência animal ganhou popularidade, não apenas entre o público geral como
também a comunidade científica, tendo esta desenvolvido diversos estudos
importantes. Nomes como George John Romanes (1848-1894), Conwy Lloyd
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Morgan (1852-1936), Jacques Loeb (1859-1924), Edward Lee Thorndike (1874-
1949), Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936) e Vladimir Bekhterev (1857-1927), são
alguns dos principais estudiosos que contribuíram não apenas na compreensão da
teoria evolucionista e no avanço da psicologia animal, como também no
desenvolvimento de uma psicologia funcionalista mais objetiva, tendo como
propósito desviar a área das ideias subjetiva em direção à observação objetiva do
comportamento manifesto. Desta forma, a metodologia tornava-se mais objetiva,
mesmo o objeto de estudo sendo subjetivo.

Conceitos como a lei da parcimônia, de Lloyd Morgan, que propunha


neutralizar a tendência predominante de atribuir excessiva inteligência aos animais e
a memória associativa, de Jacques Loeb, usada para provar a existência da
consciência nos animais através da associação entre estímulo e resposta,
contribuíram muito para que Watson estabelecesse relação direta entre os estudos
do comportamento animal e o behaviorismo.

“O behaviorismo é o resultado direto dos estudos do comportamento animal realizados


durante a primeira década do século XX.”

(Watson, 1929, p. 327)

Neste contexto, três pesquisadores se destacam no desenvolvimento da


psicologia animal, elaborando teorias objetivas e mecanicistas com maior enfoque
no comportamento: Edward Thorndike, Ivan Pavlov e Vladimir Bekhterev.

2.4.1 EDWARD THORNDIKE

Thorndike acreditava que o psicólogo devia estudar o comportamento, não os


elementos mentais ou a experiência consciente, e reforçava a objetividade iniciada
pelos funcionalistas. Sua interpretação com relação à aprendizagem não era do
ponto de vista subjetivo, mas em termos de conexões concretas entre o estímulo e a
resposta.

Desenvolveu estudos e teorias importantes como o conexionismo, abordagem


dada à aprendizagem com base nas conexões entre as situações e as respostas; a
lei do efeito, sobre a ideia de que os atos que produzem satisfação em determinada
situação tornam-se associados a ela com base na repetição (dando mais ênfase à
recompensa do que à punição), e a lei do exercício, que afirma que quanto mais um
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ato é realizado em dada situação, mais forte se torna a associação entre ato e
situação.

2.4.2 IVAN PAVLOV

No caso de Ivan Pavlov, seu trabalho sobre aprendizagem ajudou a mudar a


ênfase da visão tradicional do associacionismo das ideias subjetivas para os eventos
quantificáveis e objetivos. Como consequência, seu trabalho proporcionou a Watson
o método para estudar e tentar controlar e modificar o comportamento.

Durante toda sua carreira como cientista, Pavlov trabalhou com três questões
principais. A primeira era referente a função dos nervos cardíacos, a segunda
envolvia as glândulas digestivas primárias e, a terceira, foi o estudo dos reflexos
condicionados.

A noção de reflexo condicionado teve origem, assim como vários feitos


científicos, em uma descoberta acidental. Durante seu trabalho com as glândulas
digestivas, Pavlov observou a função da saliva que os cachorros secretavam
involuntariamente sempre que recebiam a comida na boca. O fisiologista percebeu
que às vezes a saliva era secretada mesmo antes de receber a comida. Os cães
salivavam ao ver a comida ou ao som de passos do homem que geralmente os
alimentava. A reação não aprendida de salivação de algum modo se associou ou se
condicionou ao estímulo anteriormente associado ao recebimento da comida.

Desta observação foram desenvolvidos estudos e pesquisadas relacionadas


aos reflexos condicionados – inicialmente chamados de reflexos condicionados. Em
seu programa de pesquisa, Pavlov e seus auxiliares descobriram que diversos
estímulos poderiam produzir a resposta de salivação condicionada nos animais do
laboratório, desde que o estímulo fosse capaz de atrair a atenção do animal sem
provocar medo ou fúria.

A preocupação de Pavlov em impedir que as influências externas afetassem a


confiabilidade da pesquisa era tão grande que ele construiu cubículos especiais, um
para o animal e outro para o observador, o que ficou conhecido como a “Torre do
Silêncio”.

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O típico experimento de condicionamento do programa de Pavlov consistia,
em primeiro plano, apresentar o estímulo condicionado (digamos, a luz); nesse
exemplo, acendia-se a luz. Em seguida, o pesquisador apresentava o estímulo
incondicionado: a comida. Após certo número de pareamentos da luz acesa e da
comida, o animal passava a salivar com a simples visão da luz. Diante disso
formava-se uma associação ou uma ligação entre a luz e a comida, e o animal era
condicionado a responder mediante a apresentação do estímulo condicionado. No
entanto, o reforço (nesse caso, receber a comida), é necessário para que a
aprendizagem ocorra.

2.4.3 VLADIMIR BEKHTEREV

Bekhterev é outra figura importante no desenvolvimento da psicologia animal,


uma vez que ajudou a desviar a área das ideias subjetivas em direção à observação
do comportamento manifesto. Suas pesquisas sobre o condicionamento mostravam
grande interesse na resposta motora condicionada. Em outras palavras, Bekhterev
aplicava os princípios de Pavlov nos músculos. E, através da análise das respostas
motoras, ele descobriu os reflexos associados que, basicamente, são reflexos
provocados não apenas por estímulos não condicionados, mas também por
estímulos que foram associados aos estímulos não condicionados.

2.5 CONTRIBUIÇÃO HISTÓRICA

É possível afirmar que, no contexto histórico, o programa de Watson foi


grandemente influenciado pela psicologia animal e funcional. A psicologia animal,
resultante da teoria evolucionista, levou à tentativa de se demonstrar a existência da
mente nos organismos inferiores e a continuidade entre a mente animal e a humana.
No caso da psicologia funcional, embora Watson rejeitasse qualquer termo ou
conceito mentalista (o que incluía palavras como imagem, sensação, mente e
consciência), ela foi um dos primeiros ramos da psicologia que enfatizou o
empirismo e o pensamento racional. Outro ponto relevante é que, ao invés de utilizar
a introspecção para realização de pesquisas, a corrente norte-americana do
funcionalismo pretendia, acima de tudo, ser útil e prática, sendo sua pesquisa muito
focada na aplicabilidade.

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3. AS INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS NO BEHAVIORISMO

De acordo com Hegel, uma determinada filosofia tem intrínseca relação com o
contexto histórico em que foi concebida. Desse modo, podemos afirmar que a
investigação filosófica no mundo grego esteve, a princípio, preocupada com
questões relacionadas ao cosmos. Na Idade Média, a filosofia baseou-se em tentar
provar racionalmente a existência de Deus. Já na contemporaneidade, seu grande
objetivo passou a ser a validade do conhecimento científico e o sentido da presença
do ser humano no mundo.

Os resultados das investigações filosóficas formam a tradição filosófica. Em


outros termos, a investigação filosófica pode ser concebida como a busca individual
para compreender, de forma racional, e se situar frente à realidade tendo como base
intelectual a tradição filosófica, que corresponde aos conhecimentos sistematizados
ao longo da história por inúmeros pensadores.
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Entretanto, em cada época existem certas verdades aceitas acerca das
coisas, que, no passar do tempo, podem – ou não, ser mais o que se é aceito. Ao
levar em consideração os aspectos histórico-filosóficos que se encontrava a
Psicologia em meados dos séculos XIX e XX, poderemos compreender mais sobre a
trajetória epistemológica na qual se baseou o Behaviorismo postulado por Watson.

A Psicologia, nestes dois séculos, possuía duas grandes tendências


epistêmicas: uma internalista e a outra externalista.

A primeira dessas tendências – A internalista – caracterizava-se por todas


aquelas ideias psicológicas que eram marcadas pela influência do pensamento
idealista alemão, como por exemplo, as ideias de Wundt, no estruturalismo. Para
esta tendência a experiência humana pode ser estudada a partir das ideias extraídas
do próprio sujeito. Já seu método e objeto de estudo centram-se respectivamente no
conceito da introspecção e da consciência.

A tendência externalista era marcada por uma influência direta e indireta das
correntes filosóficas objetivas como o positivismo, por exemplo.

Havia dentro do cenário científico em geral e da Psicologia daquela época um


extremo descrédito e insegurança nos postulados idealistas da consciência e da
introspecção, e por outro lado uma intensa afirmação das ciências naturais como a
fisiologia, a química e a física. Sobre este item, assinala Baum (1999, p.24):

Alguns dos psicólogos do século XIX sentiam-se pouco à vontade com a introspecção como
método científico. Ela parecia muito pouco confiável, muito vulnerável a distorções pessoais, muito
subjetivas. Outras ciências utilizavam métodos objetivos que produziam medidas verificáveis e
replicáveis em laboratórios do mundo inteiro.

Ademais, dois nomes de extrema relevância na história da filosofia precisam


ser destacados, devido a grande influência sobre o behaviorismo: René Descartes
(1596-1650) e Auguste Comte (1798-1857).

3.1 RENÉ DESCARTES

René Descartes foi um exemplo típico de um intelectual renascentista:


soldado, cientista, filósofo e psicólogo especulativo. Sua influência foi decisiva para
sua reformulação do racionalismo e sua inclusão em um sistema mecanicista.

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O racionalismo de Descartes foi uma resposta ao o ceticismo humanista do
período anterior, tendo colocado o homem no centro do mundo.

Descartes não aceitou a crença dos céticos na impossibilidade do


conhecimento, nem na fraqueza da razão. Ele decidiu duvidar sistematicamente de
tudo até encontrar algo tão verdadeiro que não podia duvidar disso. Descartes
descobriu que podia duvidar da existência de Deus, da validade das sensações
(axioma empirista) e até da existência de seu corpo.

Ele acreditava que um método correto de raciocínio pode descobrir e provar o


que é verdadeiro. Ele defende, como um bom racionalista, o método dedutivo:
descubra pela razão as verdades óbvias e deduza delas o resto. Esse método é
oposto ao método indutivo proposto por Francis Bacon e adotado pelos empiristas.

Descartes enriquece a teoria de Galileu com princípios e noções de


mecânica, uma ciência que alcançou sucessos espetaculares (relógios, brinquedos
mecânicos, fontes). Mas Descartes também é o primeiro a considerar os princípios
mecanicistas como universais, aplicáveis tanto à matéria inerte quanto à matéria
viva, partículas microscópicas e corpos celestes.

O resultado foi que uma parte da alma, tradicionalmente associada ao


movimento, tornou-se parte inteligível da natureza e, portanto, da ciência. Portanto,
o behaviorismo, que define comportamento psicológico como movimento, é devedor
do mecanismo de Descartes. Para Descartes, no entanto, o pensamento era
inseparável da consciência.

3.2 AUGUSTE COMTE

Positivismo é uma escola filosófica desenvolvida pelo sociólogo e filósofo


francês, Auguste Comte, em meados do século 19. Ele foi o criador do Positivismo,
que constituiu a base para o surgimento do cientificismo. O cientificismo acredita que
o único meio de se chegar ao conhecimento é a ciência.

O positivismo, principalmente o de Auguste Comte, recriminou severamente


as correntes mentalistas de sua época, inclusive algumas da própria psicologia,
além de ter primado metodologicamente pela experimentação, principalmente pela
descrição, o controle e a predição dos fenômenos estudados.

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Ele defendia a existência da razão e da ciência como sendo fundamentais
para a vida humana e pregava uma atitude voltada para o conhecimento positivo,
concreto e objetivo da realidade. Comte defendeu um posicionamento científico para
o pensamento filosófico, apontando para a necessidade absoluta do uso da razão
como ponto de partida para toda e qualquer área do conhecimento.

As ideias de Augusto Comte acabaram extasiando as correntes externalista


da Psicologia no século XX. Os conceitos de consciência e introspecção eram
combatidos por psicólogos e positivistas por duas razões: primeiro porque ambos os
conceitos não teriam sido postulados dentro dos preceitos teóricos da Psicologia e
das Ciências Naturais, mas sim fora delas, ou seja, nas ciências humanas, mais
especificamente na Filosofia e, segundo, porque ambas careciam de uma definição
conceitual mais clara e que seguisse um princípio tão urgente no cenário científico
da época - o da universalidade científica.

4. CORRENTES BEHAVIORISTAS

O behaviorismo é uma das principais correntes teóricas da psicologia .


Nascido em uma época da história em que a corrente psicodinâmica prevaleceu, o
behaviorismo se opôs e diferiu muito de sua concepção.

O behaviorismo se concentra em tentar oferecer uma explicação o mais


científica e objetiva possível sobre os fenômenos psíquicos e o comportamento
humano, ignorando qualquer informação que não possa ser observada diretamente.
Ele propõe que o único aspecto da psique claramente observável é o
comportamento, sendo este o único elemento com o qual é possível trabalhar
cientificamente.

4.1 CLÁSSICO OU METODOLÓGICO

É a teoria, iniciada por Watson, que trata de explicar o comportamento


publicamente observável, cujos os estudos concentraram-se na ligação entre
estímulo e resposta. Conforme esta corrente, o pesquisador deve atentar-se à

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conduta animal, seja ela humana ou não, apenas quando for possível uma
observação pública.

A intenção é mensurar a influência do meio nas ações dos indivíduos,


abstendo-se do poder da mente sobre tais atitudes. Assim, portanto, o behaviorismo
metodológico reconhece a mente, mas a ignora nas explicações sobre o
comportamento.

O que determina o comportamento é o ambiente e os estímulos. Para o


behaviorismo clássico, o sujeito é um ser passivo e reativo, que atua através do
aprendizado de associações.

4.2 RADICAL

Proposto por Skinner para se opor às ideias formuladas por Watson, o


behaviorismo radical foi denominado pelo seu autor como a filosofia da ciência do
comportamento humano. A grande diferença é que Skinner desprezava a
observação da conduta a partir de elementos não observáveis.

Em vez disso, o behaviorismo radical propõe que o ambiente ofereça


estímulos ao indivíduo. Esses estímulos foram chamados de reforço negativo, que
reduz a possibilidade do acontecimento de determinado comportamento por um
estímulo que cause desprazer, e reforço positivo, que deseja aumentar a frequência
de alguma conduta utilizando um estímulo encorajador.

4.3 FILOSÓFICO

O behaviorismo filosófico ficou conhecido como uma teoria analítica o sentido


das estruturas de pensamento e dos conceitos adotados pela mente. Nesta corrente,
existe a defesa do chamado estado mental.

Baseados nos postulados de Ryle e Wittgenstein, a teoria relaciona o pensar


com o agir. São analisados os estados mentais intencionais e os estados mentais
representativos para tentar definir ou descrever modelos de comportamento.

4.4 OUTROS TIPOS

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Os mencionados acima são alguns dos principais tipos de behaviorismo que
foram desenvolvidos ao longo do tempo. Mas existem muitos outros, como o
behaviorismo intercondutismo, dedutivo, teleológico, teórico ou empírico.

Além disso, devemos ter em mente que a evolução do behaviorismo e a


superação de suas limitações permitiram o surgimento de muitos outros modelos
teóricos como cognitivismo e construtivismo.

5. CONCLUSÃO

É nesta perspectiva e nesse cenário de não aceitação do mentalismo na


Psicologia e de influência das ideias de teóricos como Augusto Comte, Descartes,
Jacques Loeb, Edward Lee Thorndike, Ivan Petrovitch Pavlov, Vladimir Bekhterev,
entre outros, que viria a preparar o chão aonde se fixaria mais tarde a bandeira do
Behaviorismo de Watson, ou seja, foram com as influências diretas e indiretas
destes autores objetivistas que criou-se, dentro da Psicologia, no final do século XIX
um Zeigeist, onde o behaviorismo viria a ser o seu principal fruto. A Watson coube
apenas o papel de condensar todas estas influências no sentido de colocar a
psicologia behaviorista no ramo das ciências naturais, e como nos afirma Carrara
(1992, p.109-115):

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“Watson teria aparecido como a pessoa capaz de reunir de forma dinâmica – conquanto
conviesse à objetividade pretendida no behaviorismo – as influências até então dispersas”

Ele teria, então, representado o anseio de uma geração de psicólogos por


mudanças teóricas e metodológicas na Psicologia. Foi dentro deste contexto
objetivista que se sedimentaria as principais ideias que iriam ser legitimadas
definitivamente no dado manifesto de 1913.

Contudo foi neste cenário unânime de rejeição ao mentalismo e da busca de


um purismo metodológico que já em 1903, Watson viria a versar suas concepções e
formulações sobre o comportamento, no primeiro momento sobre a observação
animal, pois fora sem sombra de dúvidas, o fascínio de Watson pela experimentação
em psicologia animal o agente causal mais importante para o surgimento do
behaviorismo metodológico, expresso e legitimado simbolicamente no manifesto de
1913.

Já em 1914, Watson escreveria sobre o behaviorismo como campo científico


e metodologicamente definido, devendo ser seguido pela comunidade científica de
sua época como uma nova escola psicológica.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUM, W.M. Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto


Alegre: Artemed, 1999.

CARRARA, K. A questão do controle na abordagem comportamental. Psicologia:


Argumentos, v.10, p.109-115, 1992.

SCHULTZ, D. P., SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 10. ed. São


Paulo: Cultrix, 2014.

WATSON, John B,1913, Manifesto Behaviorista,


<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2008000200011> Acessado em: 03 de out 2022
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WATSON, J. B., 1929, Behaviorism. Encyclopedia Brittannica (vol. 3, pp. 327-329).

VANTIL, Fernanda Venturim, FERNANDES, Eliandra Ketlen de Assis, ROSA, Enzo


Oliveira, SILVA, Francielle Santos da, SANTOS, Gecilene Aparecida dos, SILVA,
Jordana Mozer da, NASCIMENTO, Luana Santos do, CUSTÓDIO, Patrícia
Aparecida. Funcionalismo. 2017 <https://idoc.pub/documents/funcionalismo-psicologia-
6nq80okyz9nw> Acesso em: 01 de out. 2022.

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