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OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O estruturalismo foi um movimento que começou a tomar forma no início do século
XX e cuja proposta inicial era oferecer um novo método de pesquisa científica. Essa
corrente do pensamento partia do pressuposto de que há estruturas formadas por
partes menores que têm significado apenas dentro do sistema, ou seja, considerar
a inter-relação existente entre essas partes é condição fundamental para esse tipo
de abordagem. Assim, a teoria estruturalista se contrapôs ao método empírico
de observação de fatos isolados.
Como esperado, também o estruturalismo foi alvo de contraposições, so-
bretudo dos chamados “pós-estruturalistas”, movimento do qual fez parte, por
exemplo, Michel Foucault. De todo modo, é inegável a contribuição do pensamento
estruturalista para a ciência, estando presente em trabalhos importantes da
antropologia, da linguística, da psicologia, entre outras áreas do conhecimento.
Psicologia e estruturalismo
À medida que se difundia ao longo do século XX, a psicologia foi assimilando
influências de diversas correntes teóricas, dentre as quais merece destaque
o estruturalismo. No entanto, antes de abordarmos a influência dessa teoria
sobre a psicologia, é interessante voltarmos um pouco na linha do tempo.
Até a primeira metade do século XVIII, não existia um estudo exclusivo
do subjetivo; o que hoje denominamos “psicologia” fazia parte da filosofia,
consistindo em um dos modos de se pensar a metafísica, na forma da alma.
A psicologia como hoje a conhecemos passou a existir com os estudos do
filósofo alemão Christian Wolff (1679–1754), que, implementando elementos
físicos e psíquicos, buscou mensurar eventos mentais. Porém, foi apenas no
século XIX que a psicologia, já em sua forma autônoma, foi oficializada nas
universidades alemãs. Há nesse contexto um nome muito relevante para a
história da psicologia e principalmente para o entendimento da psicologia
moderna: Wilhelm Wundt. Esse físico, médico e psicólogo alemão conceituou
a psicologia como uma ciência, postulando que ela deveria ser exercida de
forma empírica e estudar a experiência do sujeito (ARAUJO, 2020).
Outro pensador importante na história da psicologia foi o psicólogo bri-
tânico Edward Bradford Titchener (1867–1927), que ainda jovem dirigiu-se à
Universidade de Leipzig para ter aulas com Wundt, tornando-se um aluno
extremamente aplicado e fiel seguidor dos ensinamentos de seu mestre. Con-
tudo, posteriormente Titchener desvinculou-se de Wundt, criando sua própria
abordagem, que nomeou como “estruturalismo” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2019).
Embora seja comum o estabelecimento de uma relação entre a obra de
Wundt e o estruturalismo, Schultz e Schultz (2019, p. 103) salientam que “o
rótulo estruturalismo não pode ser aplicado à psicologia de Wundt, mas sim
à obra de Titchener”. Wundt identificava constituintes da consciência, mas
voltava sua atenção principalmente para o sistema desses constituintes
dentro de processos cognitivos maiores, por meio da percepção. Isso des-
toava da visão dos empiristas e associacionistas britânicos, com os quais
Titchener compartilhava ideais mais mecânicos e passivos, sintetizando a
ideia dos componentes estruturais da consciência. Para o psicólogo britânico,
a psicologia deveria concentrar-se em desvendar as experiências conscientes
não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreinte) psíquica
desse som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos;
tal imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-la “material”, é somente nesse
sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais
abstrato (SAUSSURE, 2006, p. 106).
Contribuições do estruturalismo e
principais críticas a esse movimento
Como pudemos identificar nas seções anteriores, o movimento estruturalista
foi abundantemente criticado dentro da psicologia. Titchener, por exemplo,
recebeu diversas críticas por deixar de lado áreas da psicologia moderna que
cresciam, por não acreditar que se encaixassem em seus métodos e conceitos
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2019). As definições estruturalistas que postulavam o que
deveria ou não ser estudado eram bastante limitadas, e os estudos dentro
do campo tornavam-se cada vez mais numerosos. Dessa forma, a psicologia
moderna ultrapassou o estruturalismo de Titchener, e diversos pensadores
se propuseram a investigar as bases dessa teoria e oferecer contribuições,
fortalecendo-a ou apontando suas incongruências.
movimento, mas para o debate acadêmico como um todo. Por fim, abordamos
as principais críticas ao movimento estruturalista, que marcaram o início do
pós-estruturalismo, movimento que ofereceu contraposições importantes
ao fazer científico e introduziu a ideia do indivíduo como sujeito discursivo
localizado em um campo de multiplicidades e jogos de saber-poder.
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