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1.
O MISTÉRIO PASCAL
CENTRO E FUNDAMENTO DO ANO LITÚRGICO 1

A expressão Mistério pascal é cunhada com os conteúdos pascais da revelação na Igreja


do século II. A primeira geração dos cristãos identificaram o mistério pascal com os mistérios
e Cristo. Esta síntese não existe nos escritos do Novo Testamento; é inexato falar de
"mistério pascal" nas Escrituras. Sto. Agostinho concluiu: "paixão e ressurreição do Senhor,
eis a verdadeira Páscoa" ( De Cat. Rud., XXIII, 41,3: PL 40,340).

1. O MISTÉRIO PASCAL PREFIGURADO NO ANTIGO TESTAMENTO


"A obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus tem o seu·prelúdio nas
maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento" (S CS). De fato, a economia do
Antigo Testamento estava ordenacJa principalmente para preparar a vinda de Cristo, redentor
, de todos, e de seu reino messiânico, para anunciá-la profeticamente (cf. Lc 24, 44; Jo 5,39;
.. 1Pd 1,10) e dá-la a conhecer através de várias figuras" (cf. 1 Cor 10,11; DV 15 e 16).
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O concílio parte da visão unitária da única história da salvação, ou salvação na história


dos dois testamentos: as maravilhas do AT prefiguram o evento pascal de Cristo único e
definitivo de salvação eterna.
A luz pascal de Cristo. faz compreender na fé o cumprimento das Escrituras: "e
começando por Moisés e continuando por todos os profetas, explicou-lhes o que se referia a
Ele em toda a Escritura" (Lc 24,27). Cabe ao próprio Cristo vivo e glorificado, cordeiro
vencedor e lâmpada, projetar sobre a totalidade da história da salvação o facho de luz, pelo
cumprimento de toda a escritura em si mesmo. Só o peregrino discreto explica com sabedoria
as santas escrituras, divinamente inspiradas para revelar a extraordinária e insondável riqueza
da pessoa, palavra, vida e prática da missão redentora de Cristo, razão de ser das escrituras.
Em todas as escrituras ressoam Cristo.
A Igreja refletia na homilia de Militão de Sardes: "Cristo é aquele que sofreu na pessoa
de muitos. Ele é que foi morto na pessoa de Abel, amarrado em Isaac, vendido em José,
exposto em Moisés, imolado no cordeiro, perseguido em Davi, vilipendiado nos profetas".
O aceno a Moisés, no texto de Lucas relembra, principalmente, o Êxodo, o novo
êxodo, que se realizou na páscoa de Jesus Cristo (9, 30-31).
Páscoa do Êxodo - nas maravilhas do Êxodo, na passagem de Deus ferindo o Egito
(Ex 12,3), tirando o povo da oprçssão (Dt 26,8), emerge a figura tipológica do cordeiro, onde
pelo sangue foram poupados os.:-fühos de Israel (Ex 12, 1-14.21-27.46). O verdadeiro e
definitivo cordeiro, cujo sangue redimiu a humanidade, será Jesus imolado sobre a cruz Go
19, 31-36). A salvação é portanto salvação pascal, pois realiza uma passagem e uma
libertação. E através das águas do Mar Vermelho, guiados por Moisés, os hebreus,
humilhados no cativeiro do Egito, passam da escravidão para a dignidade de povo livre, de
ser "o povo de Deus", pela intervenção poderosa do Senhor, "que combateu por eles" (Ex
14,14). Esses memoráveis eventos são celebrados nas expressões dos SI 105 .e SI 110,4:
"O Senhor deixou-nos um

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BERGAMINI, Augusto. Cristo, Festa da Igreja - história, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico. Paulinas, São
Paulo, 1997. Pág. 86-104.
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memorial de suas maravilhas", e se referem à Cristo. Na sua gloriosa paixão salvadora
realizar-se-á o êxodo pascal definitivo.
O aceno a todos os profetas é para explicar a razão do sofrimento e da morte a fim
de que o Messias entrasse em sua gloria; é a referência precisa do tema do servo sofredor do
Deutêro-Isaías, suscitado para a salvação de muitos (52, 13-15; 53,1-12). O servo inocente
oferece um sacrificio de expiação pelo pecado de todos, depois de ter intercedido por eles (Is
53, 11-12).
A figura do servo não esvazia a dinâmica do êxodo, da grande passagem, porque os_
cantos do servo estão inseridos num contexto de "novo êxodo", de uma saída exaltante, sob
a guia de Deus para um mundo novo (Is 52, 12; 55,12). O tema do êxodo domina o
ensinamento do Segundo Isaías e, de modo central, forma a introdução e a conclusão de sua
obra.

2. O MISTÉRIO PASCAL REALIZADO EM CRISTO


O prenúncio das maravilhas que Deus realizou no AT "porque eterno é o seu amor"
(Sl 136), "completou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada
paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão. Por esse mistério Cristo, morrendo,
destruiu a nossa morte e, ressuscitando, recuperou a nossa vida" (SC 5).
A redenção da natureza humana é um drama que se desenvolveu antes de tudo em
Jesus, pela sua bem-aventurada paixão e gloriosa ressurreição. Há uma unidade inseparável
entre os dois aspectos do mistério: a paixão e a glorificação de Cristo, pois é a vida que brota
da morte, pois 'morrendo destruiu a morte e ressuscitando nos deu a vida'.

3. A KÉNOSIS DE CRISTO, PRIMEIRA VERTENTE DA SUA PÀSCOA


A escritura nos fornece uma teologia essencial do mistério de Redenção. De fato, "a
escritura deve ser a alma da teologia" (DV 24; OT 16).
A modalidade da morte de Jesus Cristo, dá-se por causa de uma condenação aceita por
amor e vivida no abandono. A cruz é a conseqüência, por parte de Cristo, da missão do Pai,
que quis a salvação do mundo através da obediência e do serviço, por amor; é o caminho do
Servo e do Filho. A ressurreição é a resposta prazerosa do amor do Pai à fidelidade do Filho.
A morte e a ressurreição são conseqüências da vida histórica e do modo de Deus se revelar
em Cristo e do modo como Cristo se auto revelou no ato de revelar o Pai e seu plano
salvífico, num contexto social, pqlítico, econômico, cultural e religioso de seu tempo. Porém,
com eficácia salvadora eterna. '\

A Páscoa de Jesus, nos seus componentes morte-vida, está ligada à realidade bíblica
do servo sofredor e glorificado (Mt 12, 15-21). A Páscoa-de morte-ressurreição é a síntese e
a plenitude de toda a vida e missão de Cristo como servo.
Jesus redimiu a todos, não dominando-os como os chefes deste mundo (Mt 20, 25-28),
mas seguindo com ânimo filial, na potência do Espírito, o caminho de servo; superando
criticamente a mentalidade messiânica nacionalista e. triunfalista dos seus contemporâneos e
discípulos; rompendo com o puritanismo de uma prática religiosa corrompida -pela
infidelidade a Deus, a sua Lei e a sua Aliança.
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Jesus encarna e realiza a figura do servo sofredor e do Filho do Homem
transcendente e escatológico de Daniel (Dn 7,13); "o Filho do·Homem não veio para ser
servido mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos" (Mt 20, 28; 12, 15-21; Me 10,
45; Lc 22,27).
A manifestação da divindade de Cristo se deu na carne Qo 1,14-18; 14,9; 12,45). A
humanidade integral de Cristo foi assumida não em condição de privilégio e prestígio, mas de
fraqueza, nas condições reais de pecado. E Ele se colocou em uma situação criatura! de Servo,
de pobreza e de amor.

a) O hino cristológico (F1 2,6-11) expressa já a profissão de fé da prurut:tva


comunidade cristã no mistério de Cristo, como rebaixamento e exaltação, pois Ele é o servo
sofredor que, "pelas amarguras suportadas, veio à luz e ficará saciado pelo seu
conhecimento" (Is 53,11).
O hino sugere um paralelo entre Cristo e Adão; este criado à imagem de Deus
exaltando-se e querendo ser igual a Deus e,. levado pelo orgulho, precipita toda a humanidade
no pecado (Gn1,11). O Cristo novo Adão é o esplendor da glória do Pai, imagem do Deus
invisível, se esvazia de ser igual a Deus Pai, e carrega sobre si os pecados dos homens. Por
isso, Deus exalta a sua humilhação e nela a sua função de novo Adão, que dá a vida (Rm 5,
12-19; 1 Cor 15,45.).

b) A perspectiva deste hino encontra eco na cristologia, quando os evangelhos


:relatam o batismo no Jordão e a transfiguração. Na teofania do Jordão, o Pai revela Jesus
como o verdadeiro servo anunciado por Isaías: "eis o meu servo que eu sustento, o meu
eleito, em quem tenho prazer" (42,1). Também Isaac, que Abraão deveria imolar, é chamado
de filho amado (Gn 22,2). O termo filho, que substitui o de servo, ressalta o caráter
messiânico e propriamente filial da relação de Jesus com o Pai.
Jesus é mostrado pelo Batista no Jordão como o "cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo" Qo1,29), fundindo numa única realidade a imagem de servo (Is 53), que carrega
o pecado dos homens e se oferece como "cordeiro de expiação" (Lv 14), e o rito do cordeiro
pascal (Ex 12,1 e Jo 19,36).
O batismo é o início do ministério messiânico de Cristo, de sua missão como servo e a
sua vocação à cruz. Jesus realizou sua obra entre o batismo do Jordão e o batismo da paixão.
O batismo que espera Jesus é o dp Calvário Oc 12,49-50).
Na transfiguração (Mt 17,1,8_;Me 9,2-8; Lc 9,28-36), Jesus é o Filho do Pai fazendo-se
Servo. Por isso, goza de todo o agràdo do Pai. O mistério da transfiguração é uma experiência
pascal gloriosa antecipada. Moisés e Elias falam com Jesus do seu êxodo, da morte que deverá
· sofrer em Jerusalém, a cidade que mata os profetas (Lc 9,31, 13-33-34). ·

c) Fidelidade eterna - Jesus se mantém fiel no caminho de servo, vencendo as


tentações e sistematicamente, rejeitando a vantagefl) pessoal (Mt4,3) através do poder, do
sucesso e da vã glória, que implica a recusa da cruz (Mt 4,6). Não aceita subornar sua missão
ao poder deste mundo (Mt 4,9).
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d) Viagem pascal - os sinóticos relatam com profunda intuição teológica a auto
determinação de Jesus em ir a Jerusalém (Me 10,1; Mt 19,1; Me 9;51). Esta viagem tem valor
de cumprimento das profecias, é a viagem da última páscoa: só a ela está propriamente ligado
o valor messiânico da Revelação, da redenção e do reino de Deus. Empreendendo a viagem,
Jesus educa os apóstolos para a compreensão do mistério do Messias, servo sofredor, para
entrar na glória: "quando se completaram os dias de sua assunção,Jesus tomou resolutamente
o caminho de Jerusalém" (Lc 9,51).

de) Orientação pascal dada à vida de Jesus no relato de João.


Desde o início Jesus é apresentado como "o cordeiro de Deus", pois morre na cruz
sem que lhe seja quebrado nenhum osso, como o cordeiro pascal (Ex 12,46), no momento em
que os hebreus estão comendo em suas casas o cordeiro na ceia pascal 0019,31-35). Cristo
buscou a data da imolação do çordeiro para mostrar a sua substituição. O Salvador, ao
entregar o Espírito nesse preciso momento. da imolação do cordeiro, numa sexta-feira,
substitui a figura pela realidade. O homem é redimido no mesmo dia em que foi criado, na
sexta-feira. João contemplou debaixo da cruz a glória do cordeiro imolado 0o 19, 35-37),
contempla-o definitivamente glorificado no trono (Ap 22,1). Na ceia, João resume o sentido
da missão de Jesus, o Senhor em atitude de Servo 0o 13,1-5). O gesto em que Jesus depõe e
retoma as vestes, ao lavar os pés dos disápulos, está ligado à atitude fundamental do bom
pastor "Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para retomá-la depois. Ninguém a
tira de mim; eu a dou voluntariamente. Tenho poder para dá-la e recuperá-la depois. Este é o
encargo que recebi do Pai" 0o 10,17-18). Ele falou de sua morte livremente aceita e da sua
ressurreição.

f) O tema do servo e do cordeiro sublinha que toda a vida de Cristo, principalmente


a oferta de si ao Pai na cruz como servo obediente e cordeiro mudo, inaugura o culto em
"espírito e verdade"0o 4,21-24), que só honra o Pai."O meu alimento é fazer a vontade
daquele que me enviou e realizar a sua obra" 0o 4, 21-24). "É por causa dessa vontade que
nós fomos santificados pela oferta do corpo de Cristo, realizada uma vez para sempre" (Hb
10,10).
A obediência de Jesus à vontade do Pai não esgota o motivo dessa paixão. Por que
Cristo imolou-se como nossa Páscoa? Porque Deus é amor; se o Pai ama infinitamente, como
responde o Novo Testamento: "I)eus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único"
0o 3,16), o amor do Filho para cQtP. o Pai se manifesta no cumprir a sua vontade: "é preciso
que o mundo saiba que eu amo o Pài, e é por isso que faço tudo o que o Pai me ordenou" 0o
14,31); assim também é o amor de Cristo para com os homens: "Ele que tendo amado os seus
que estavam no mundo, amou-os até o fim" 0o 13,1); amou-me e entregou-se por mim"(Gl
2,20); "amou-nos e se entregou a Deus por nós"; amou a Igreja e se entregou por ela" (Ef
5,2.25).

g) A hora de Cristo - o momento da morte e ressurreição de Cristo é "a hora" de


Cristo, em que o Filho glorifica o Pai, realizando a sua vontade 0o 12,23-27); como Filho, dá
glória ao Pai e assim o Pai engrandece a glória do Filho. Na ressurreição e ascensão dá-se a
volta de Jesus ao estado que lhe era próprio na eternidade 0o 17, 5-24).
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A glória que o Filho dá ao Pai e a glória que o Pai dá ao Filho atuam numa mesma
realidade: a efusão de luz-vida divina para nós. Eis o segredo da única glória: a do Filho se
realiza em ser perfeita e totalmente submissa ao Pai, sobretudo na paixão; a do Pai se realiza
no domínio sobre o Filho e se manifesta sobretudo na Ressurreição e Ascensão.
Movimentos progressivos e simultâneos tendo o cume do "esvaziamento-plenitude";
"escravidão-liberdade"; "humilhação-glorificação", no crucificado-ressuscitado. Foi no ato
supremo do amor sacrifical que se manifestou que "Deus é amor" (1Jo 4,8). A ressurreição é
o sinal máximo da vitória do amor que liberta e vivifica. A exaltação de Cristo sobre a cruz
na Ressurreição, juntamente com a efusão do Espírito Santo, constituem o cume da
revelação para nossa salvação (DV 4).

4. GLORIFICAÇÃO DE CRISTO, SEGUNDA VERTENTE DA SUA PÁSCOA


A salvação eterna, como Deus a quis realizar com sua vontade divina, nós a obtivemos
num único movimento: desde que Cristo se encarnou e aceitou a sua paixão por nós e no
momento culminante e pleno em que a vida divina nos foi dada de modo concreto segundo
o desígnio disposto por Deus, neste instante, o seu Filho morto e ressuscitado infunde o seu
Espírito fruto da Páscoa.

a) Ensina São Paulo. "Cristo que foi entregue à morte pelos nossos pecados e
ressuscito para nossa justificação" (Rm 4,25); morrendo, venceu a morte libertando-nos do
pecado e, com sua·ressurreição, se toma para nós Espírito vivificante" (Cor 15,45; 2 Cor
3,17).
Somente Cristo glorificado à direita do Pai é o mediador, o sacerdote eterno na
plenitude do seu ato sacrifical: "o tema mais importante da nossa exposição é este: temos um
tal sacerdote que se assentou a direita do trono da majestade nos céus. Ele é ministro do
santuário e da tenda verdadeira, armada pelo Senhor, e não por homens" (Hb 8,1-
2). Pedro proclamará o núcleo da fé em Cristo: "que todo o povo de Israel fique sabendo com
certeza que Deus tomou Senhor e Cristo aquele Jesus que vocês crucificaram" (At 2,36).
A vida divina é comunicada como graça, através da carne de Cristo crucificado,
ressuscitado e glorificado. Afirma Sto. Tomás que "assim como são salutares para nós as
coisas realizadas e sofridas por Cri,sto na sua humanidade em virtude da sua divindade,
assim também a sua ressurreição é causa eficiente da nossa ressurreição pela virtude de
Deus, a quem cabe propriamente ressuscit os mortos. Tal virtude atinge com a sua
presença todos os lugares e todos os tempos. E ess,e contato é suficiente para explicar tal
eficácia" (S. Th., III, q.56, a 1 ad 3um). "'

b) Todos os mistérios de Cristo são salvíficos - Encarnaçâo, batismo, palavra,


sinais, transfiguração, são recapitulados e adquirem sua validade para nós como evento
pascal culminante na ressurreição e ascensão. Jesus Cristo "foi constituído Filho de Deus por
geração Divina no seio do Pai, mas só após a ressw;reição, superada a fragilidade da carne e
revestido da potência do Espírito, tomou-se KYRIOS, recebendo "o nome que está acima de
qualquer outro nome"(Fl 2,9), e tomou-se também "um Espírito que vivifica" 0 Cor 15,45).
Ele recebeu o pleno e universal exercício do poder de santificar e vivificar, superando
infinitamente os limites do espaço e de tempo.
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Paulo só vê a vinda do Senhor na carne em perspectiva pascal: sacrificio (Fl 2,7-8;
Hb 10,5-7), ressurreição (Rml,3-4), glória (Fl 2,7-11) e redenção (Gl 2;4-5).

c) Resumo do pensamento salvífico ·- proclamar a fé na ressurreição de Cristo:


"se Cristo não ressuscitou, a fé quer vocês têm é ilusória e vocês ainda estão nos seus
pecados... De fato, já que a morte veio através de um homem, também por um homem vem a
ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos receberão a
vida... A Escritura ainda diz que Adão, o primeiro homem, tomou-se um ser vivo, mas o
último Adão tomou-se Espírito que dá a vida. (1Cor 15,7,21-22.45). Em força da
ressurreição, o Pai colocou Cristo em estado de Espírito vivificante. O poder do Pai comunica
neste mistério, à natureza humana do filho, a capacidade de dar a vida ao mundo, como
Espírito vivificante.

d) Ascensão, dimensão integrante do movimento pascal de glorificação.


Somente com a exaltação, a ressurreição de Jesus manifesta o seu pleno significado: "eu saí de
junto do Pai e vim ao mundo; a.gç>ra deixo o mundo e volto para o Pai" Qo 16,28). Como
parte integrante do mistério pascal, a ascensão é a passagem plena e definitiva da exinanitio
para a glorificatio, da humilhação para a elevação, ponto final e irreversível e eterno da
encarnação do Filho de Deus. Afuma Echillebeeckx: "a ascensão é a própria encarnação no
seu estágio final, a redenção plenamente consumada" (E.Echillebeeckx, Cristo, sacramento do
encontro com Deus, Ed. Paulinas).

5. A FINALIDADE ÚLTIMA SALVÍFICA DO MISTÉRIO PASCAL FOI


ATINGIDA COM O DOM DO ESPÍRITO

Finalidade salvífica - existe estreita relação entre a missão do Filho e a efusão do


Espírito Santo. No plano da salvação, tudo tende para a efusão do Espírito que produz
comunhão de vida com Deus no Cristo morto e ressuscitado: "inclinando a cabeça, transmite
o Espírito Qo, 19,30), que·é prelúdio da efusão do Espírito, que Jesus irá soprar na tarde da
ressurreição, ao encontrar com os seus no cenáculo. O drama do esvaziamento da paixão e
morte, como a descida à mansão dos mortos, desemboca na ressurreição e no dom do
Espírito, que gera a sua nova criação (Ez 36,25-27;Jr 31,31-34)
Na humanidade glorificad de Jesus, plena do Espírito, é comunicado o dom divino
para gerar a comunhão com Deus.e. a nova geração.
O mistério pascal é o mistérto no qual: 1. o Filho de Deus encarnado, 2. como servo
obediente e fiel até a morte de Cruz, 3. exaltado na Ressurreição e ascensão, comunica ao
mundo a vida divina para que os homens mortos ao pecado e configurados com Cristo, "não
vivam mais para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por Ele" (2Cor 5,15)..

6. O SIGNIFICADO ESCATOLÓGICO E CÓS IICO DO MISTÉRIO PASCAL

O objetivo constante de Jesus foi reconduzir o mundo ao seu termo e introduzir os


tempos novos (LG 28). O nascimento, vida, palavra, sinais, ministério, paixão, morte,
ressurreição, ascensão de Jesus, e o dom do Espírito como plenitude do mistério pascal, têm
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proporções cósmicas: significam o fim deste mundo e a inauguração da ressurreição dos
mortos (Mt 27,52; 26,64; 10,23).
,A ressurreição e a manifestação da glória de Jesus constituem, com a sua última vinda,
um único mistério de parusia, cuja manifestação já está dentro do curso dá história.

a) O dom do Espírito em At 2,16ss - A efusão do Espírito é o acontecimento


característico dos últimos tempos; o Espírito da promessa foi derramado do corpo de Cristo
perfurado e morto e jorrando mais plenamente do corpo glorificado.
O novo testamento vive da alegre convicção de que com a ação do Pai ressuscitando e
exaltando o Filho que doa o Espírito, os últimos tempos irromperam no mundo. A Igreja
parte da ressurreição de Cristo e no Espírito se move para a ressurreição, progredindo até ser
repleta da vida divina, com a glorificação final pois a Igreja, diletíssima esposa amada, já se
associou à ressurreição do seu Senhor pela participação real e sacramental da vida nova
iniciada no Batismo, e tende para a consumação em plenitude.
A parusia é a confirmação plena e eterna dos efeitos do mistério pascal nos fiéis. É a
salvação definitiva e acabada (Hb 9,28), sua realização completa (Rm 8,23), quando Deus a
transportá-la toda inteira "do poder das trevas para o Reino de seu Filho amado" (Cl 1,13).
Eis o triunfo final do plano de De1,1s (Ap 21,2-40).
O céu novo não é o desembarque de indivíduos salvos na eternidade, mas o triunfo de
um povo, conclusão da história da salvação que viu o Deus amor e fiel resgatá-lo (páscoa),
fazendo propriedade sua pela iniciativa de revelar; fazendo e cumprindo fielmente a aliança
eterna, garantindo todos os bens messiânicos no derramamento do Espírito, para gozar da
eterna alegria na liturgia triunfal da Jerusalém celeste; celebrando as núpcias do cordeiro. A
vitória final do cordeiro em todos será a liturgia cósmica, que não terá fim (cf. Ap 5,9).

b) O Mistério Pascal toca todas as realidades deste mundo


É missão do povo de Deus transformar o mundo, antecipando pelo amor, verdade e
justiça o que este será mais plenamente no futuro. A ctcmidadc não é o que vem depois, mas
a realização final, cumprimento de Cristo na Ressurreição: Cristo em nós esperança da
glória.
O mundo novo, irrevogavelmente prometido, já está em via de realização em Jesus
Cristo e com a sua Igreja. É inadmissível alienar-se da história humana, pois é na
profundidade desta história que a eternidade vai sendo gestada. O reino final nos obriga a
insistir que todos devem, de fato,_empenhar-se na renovação desta história.(GS 38).
A luz, a glória de Cristo Re. uscitado derramando o Espírito, não transforma somente
o coração do homem, toda a criaçãó., a história, o mundo, a matéria. O poder do ressuscitado
age com a fidelidade dos cristãos, co ressuscitados. O clamor por libertação, vida, paz, brota
de dentro do mundo. O Mistério pascal impele o testemunho dos cristãos a trabalhar para
crescer no mundo o germe divino, lançado pela ressurreição de Cristo.
Em Cristo ressuscitado já se iniciou a renovação do mundo e da humanidade (objeto
da esperança teologal); na sua humanidade glorific da estabeleceu-se irrevogavelmente a
transformação do universo; com a glorificação de Cristo e a efusão do Espírito Santo chegou
o fim dos tempos e começou a era escatológica.
De sua glória Cristo atrai todos e tudo para si.

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