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Portugal & Espanha

Mesmo antes da unificação dos estados, a guerra entre os reinos eram


constantes. Com a formação dos estados nacionais, os conflitos armados não
despareceram, de forma alguma. Com a colonização da América, as
diferenças entre Portugal e Espanha se acirraram e diversos tratados foram
firmados após o primeiro, o Tratado de Tordesilhas, a fim de garantir a real
posse das terras, e delimitar as fronteiras, que eram constantemente
invadidas já que os limites entre as possessões espanholas e portuguesas eram
incertos.

Portugal começara a expansão marítima de forma promissora. Além do Brasil,


possuía colônias no Oriente, e o monopólio da coroa sobre os produtos
coloniais eram extremamente lucrativos. Mas, enquanto a Espanha dominava
quase todo o continente americano, Portugal limitou-se ao Brasil, e, quando o
comércio oriental começou a declinar, viu sua expansão territorial ser
dificultada pelos demais reinos que também haviam se lançado nas grandes
navegações.

O projeto português voltou-se para a África, com o objetivo de construir um


império luso nesse continente. Por questões tanto territoriais quanto
religiosas, o Rei Dom Sebastião, lançou-se ao Marrocos, e desapareceu em
combate, na batalha de Alcácer Quibir.

O desaparecimento do rei, e sua morte provável, gerou uma enorme crise em


Portugal, já que Dom Sebastiao não deixara herdeiros. Seguiu-se uma guerra
sucessória que culminou com a vitória do Rei Felipe da Espanha, que desta
maneira, anexou o território português ao espanhol, no período conhecido
como União Ibérica, que vigorou entre 1580 e 1640. Nesse período, perdurou
tanto em Portugal quanto no Brasil uma legislação chamada de Ordenações
Filipinas, já que era esta a dinastia que estava no poder na Espanha, que

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então, passa a legislar sobre todo o território ibérico e sobre grande parte do
continente americano.

Ainda que tenham resistido ao domínio espanhol, este só teve fim décadas
depois. O desaparecimento do rei e a submissão de Portugal deram origem a
um fenômeno conhecido como sebastianismo. Como o corpo do monarca
jamais fora encontrado criou-se um mito popular de que Dom Sebastião
voltaria e lideraria os portugueses rumo à liberdade. Podemos considerar este
como um mito de resistência, cujas raízes podem ser encontradas não só na
União Ibérica, mas na própria questão dinástica que envolveu a posse deste
rei. Dom Sebastião nasceu após a morte de seu pai, Dom João Manuel e era o
filho homem desejado pela coroa para dar continuidade à dinastia de Avis,
que então reinava em Portugal. Sua morte precoce abriu caminho para a
anexação de Portugal, que a Espanha tanto almejava. Segundo a historiadora
Jacqueline Hermann:

D. Sebastião jogou tudo na batalha de Alcácer Quibir e


perdeu, talvez, mais do que tinha. Perdeu o exército.
Perdeu a vida. Perdeu o reino. Desaparecido o rei, sem
deixar herdeiros, pois não se casara, Portugal foi
anexado à Espanha e teria que aguardar 60 anos para
recobrar sua independência. Mas o corpo do rei jamais
seria realmente encontrado ou, pelos menos, muitos se
recusaram a crer que estivesse morto. D. Sebastião, rei
desejado, passou a ser Sebastião, rei encoberto, cujo
retorno libertaria o reino e traria a felicidade geral para
os lusitanos.

Fonte: Hermann, Jacqueline. No reino do desejado; a


construção do sebastianismo em Portugal, séculos XVI e
XVII. São Paulo: Cia das Letras, 1998. p. 12.

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O Sebastianismo é um movimento messiânico. Falamos muito sobre
messianismo ao nos referirmos a revoltas como Canudos e Contestado, que
ocorreram no Brasil, no final do século XIX, e início do século XX, já no
período republicano brasileiro. Mas, o que quer dizer messianismo?

Messianismos são movimentos que creem no aspecto divino de um enviado ou


líder. Em Canudos, temos Antônio Conselheiro e no Contestado, o monge José
Maria. É importante notarmos que o messianismo está ligado a uma profunda
religiosidade, a crença na existência de um messias, um líder não só no plano
político, mas também no plano espiritual.

Embora a crença no retorno de Dom Sebastião obtivesse adeptos entre os


portugueses, ela não se concretizou. O messianismo chegou à colônia, mas
Portugal continuou sendo parte da Espanha e essa anexação também teve
reflexos na sociedade colonial brasileira.

A Espanha, ainda que fosse um império poderoso, mal podia regulamentar


suas próprias colônias e quando incorporou Portugal, congregou também o
Brasil. Mas a colônia ficou negligenciada, permitindo a invasão de estrangeiros
que, por sua vez, contestavam o Tratado de Tordesilhas, não reconhecendo a
posse dos territórios americanos pelos ibéricos.

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