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Aqui, falaremos sobre a Petrobras (PETR4), longe de ser esquecida, mas deixada para trás na
corrida de preços das ações na Bolsa, e sobre a Portobello (PTBL3) e a Mills (MILS3), ambas
componentes da extensa cadeia produtiva do segmento de construção civil, aquecido no País -
sobretudo no Sudeste.
O mercado em geral, quando se trata do setor, volta suas atenções para as incorporadoras
imobiliárias, seja pela quantidade de empresas listadas (atualmente próxima a 20), seja pela
relevância dessas empresas na Bolsa, com 3 incorporadoras na composição do Ibovespa (Cyrela,
Eztec e MRV Engenharia). As incorporadoras fazem parte da cadeia mais visível aos olhos do
investidor, com canteiros de obras e campanhas de marketing de lançamentos, por exemplo. Esta
parte mais visível é a ponta final da cadeia, de modo que, quando ela está indo bem, todo o
restante se beneficia.
A seguir, entenderemos melhor o que tem segurado o desempenho da PETR4 neste ano. Depois,
traremos um breve panorama do funcionamento da cadeia produtiva do setor de construção civil,
exposto quem são os participantes dessa cadeia listados em Bolsa e onde se encaixam as
empresas Portobello (PTBL3) e Mills (MILS3) dentro dessa malha de participantes.
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Petrobras - Fundamentos mais sólidos que nunca
Desde a reformulação, em 2016, da estrutura de governança da Petrobras, desencadeada pela
sequência de operações da Lava-Jato, a empresa vem gradualmente melhorando seus resultados,
corrigindo e aperfeiçoando procedimentos arcaicos, enxugando seu tamanho e investindo
recursos onde realmente há potencial de geração de valor relevante.
Os objetivos da empresa são simples e diretos: redução de seu nível de endividamento, ainda alto
para os patamares do setor petrolífero, e melhora do retorno sobre o capital investido (Return On
Invested Capital - ROIC). O caminho é complexo e longo, porém os resultados têm aparecido nos
últimos meses, com destaque para a geração de caixa no segmento de Exploração e Produção de
Petróleo no pré-sal.
Na quinta-feira da semana passada (01 de outubro), o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu
decisão favorável à venda das refinarias pela Petrobras como parte do programa de
desinvestimento já anunciado pela estatal em seu plano de negócios 2020-24. O julgamento
ocorreu devido a uma contestação do poder Legislativo alegando que a autorização da venda
deveria passar pelo crivo do Congresso e do Senado, visto que o formato executado pela Petrobras
seria supostamente uma manobra para driblar tal deliberação.
Entretanto, no tocante à Petrobras e sua tese de investimento, as refinarias não são o ponto mais
importante, mas sim os resultados consistentes que a companhia vem apresentando e as
melhorias operacionais constantes e duradouras em curso dentro da empresa. Os custos de
extração de petróleo vêm atingindo níveis cada vez mais baixos. Atualmente, eles já estão em
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patamar competitivo com os custos dos maiores produtores mundiais da commodity,
predominantes no Oriente Médio, tamanha a produtividade e qualidade da tecnologia empregada
e desenvolvida pela estatal nos campos do pré-sal. Somado a esse ponto, há os desinvestimentos
em campos maduros e em ativos de menor rentabilidade. Tais desinvestimentos permitem uma
alocação de recursos otimizada, de modo a tornar o balanço e as operações cada vez mais leves e
rentáveis, mesmo aos preços atuais do petróleo (fator que representa um grande balizador de
receita da empresa), permitindo uma geração de caixa líquido trimestre a trimestre.
Em uma estimativa rápida, levamos em conta um cenário de Petróleo a USD 35/barril e um câmbio
a R$ 5/dólar (ambos abaixo dos
patamares atuais - USD
40/barril e R$ 5,65/dólar),
adicionando a isso tudo uma
“pitada” de demanda de
combustíveis abaixo do
patamar pré pandemia, o que
pressiona a receita da
companhia.
Não há motivos para acreditarmos que o múltiplo de 5,5 x tenha de ser revisado para baixo, dado
que: (1) ele já está em um patamar abaixo do patamar dos pares internacionais da companhia; e
(2) a Petrobras é uma empresa controlada pelo Estado, o que embute um desconto de risco na
conta.
Então, após todas essas questões expostas, chegamos à pergunta-chave desta parte: “O que pode
estar segurando o desempenho das ações da Petrobras nesses últimos meses?”
Por ser uma estatal atuando em um setor estratégico para o País, há sempre o risco de
interferência política na empresa, o que faz com que os investidores mantenham cautela
sobre o papel, sobretudo neste ano, recheado de grandes instabilidades política e
econômica no Brasil.
Como vimos, com a história das refinarias, os riscos de judicialização e interferência nos
planos da empresa permanecem latentes.
Nesse ponto, o ambiente parece muito mais benigno atualmente, dado que o governo
atual tem um viés liberal, garantindo a autonomia da gestão atual da estatal para ela seguir
com as melhorias internas. Além do mais, a decisão sobre as refinarias é considerada um
divisor de águas, dada a complexidade e a magnitude financeira da operação. Ela abre uma
janela positiva não só para que a Petrobras continue seus desinvestimentos, mas também
para as demais estatais seguirem a mesma onda de limpar o balanço e otimizar a estrutura
de capital.
Estamos confiantes de que a tese de Petrobras é uma das mais promissoras daqui em
diante, com os papéis ainda descontados em relação ao potencial de geração de valor da
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companhia, muito mais visível e concreto, e sendo deixados de lado pelo mercado. Assim,
neste caso específico, há uma boa oportunidade de compra.
A cadeia produtiva do setor de construção civil possui grande importância para a economia
brasileira, tendo sido responsável por 6,2% do PIB nacional em 2019 e movimentado mais de 70
setores da economia de maneira direta. A cadeia é complexa, mas é possível dividi-la em: Cadeia
Montante (Fornecimento de Matéria-Prima e Insumos Primários), Cadeia Principal (Construção,
Equipamentos, Materiais e Insumos Secundários) e Cadeia Jusante (Serviços, Comércio e
Acabamentos).
Em geral, o setor se movimenta puxado pela cadeia principal, com o segmento de construção
puxando a demanda para os demais segmentos, conforme as obras avançam nos canteiros, e
movimentando o fluxo de materiais e recursos no montante e na jusante da cadeia.
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Fonte: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) | Adaptação: Levante Ideias de Investimentos
Por mais que o projeto a ser desenvolvido seja simples, com apenas 1 edifício pequeno, a
complexidade é inerente ao setor, com muitos detalhes a serem cobertos e executados em um
ciclo longo de tempo, geralmente contabilizado em anos. As construtoras e executoras das obras
disponibilizam grandes montantes de recursos de maneira antecipada, de modo a alimentar a
cadeia fornecedora de insumos (entende-se tal cadeia, aqui, em sentido mais amplo, desde
energia até maquinários e mão-de-obra), visando a rentabilização de um projeto no longo prazo
com boas margens de lucro.
Por conta desse longo ciclo, a taxa de juros é um componente crucial na avaliação da viabilidade
de um projeto e na continuidade de suas obras, dado que ela assegura um nível de rentabilidade
aceitável para a empresa, em comparação com o custo do dinheiro que a empresa terá nesse
mesmo período.
Neste momento, tanto a demanda quanto a oferta de obras na construção civil encontram-se
favoráveis ao olharmos o potencial financeiro dos projetos, com custo de captação baixo para
quem executa as obras e custo de compra cada vez mais reduzido para o público consumidor (no
caso de obras habitacionais).
Após uma das mais graves recessões econômicas da história do Brasil, ocorrida no biênio 2015-
2016, uma série de medidas macroprudenciais foram adotadas pelo Governo Federal como forma
de reorganizar a política econômica do País. Daí surgiu a possibilidade de prescrever uma série de
cortes na taxa básica de juros brasileira, lançando mão de uma política monetária expansionista.
Basicamente, três políticas contribuíram para alcançarmos o atual patamar da Selic no País: a
implementação de mecanismos de controle das despesas públicas; a redução substancial do
direcionamento de crédito e a ampliação do crédito livre; e a redução das expectativas (e,
consequentemente, da meta) de inflação.
Com isso, o setor de construção civil, que possui um perfil de ciclo mais longo que setores como o
varejo, por exemplo, beneficia-se exponencialmente dessa dinâmica, principalmente no segmento
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de construção vertical (casas, condomínios e edifícios), possibilitando à população um maior
acesso aos financiamentos imobiliários - e com prestações que cabem no orçamento familiar.
Assim, uma família que, antes, com os juros básicos em patamares de 13% ao ano, não estaria
autorizada a financiar um valor de R$ 300 mil reais para um imóvel, hoje, com a Selic a 2% e os
juros de financiamento imobiliário caindo para patamares de 6%, se encaixa dentro do perfil de
financiamento autorizado pelas instituições financeiras, levando-se em consideração o
comprometimento de cerca de 30% do orçamento mensal.
Para ilustrar de maneira mais concreta, fizemos uma simulação com as seguintes premissas:
Com esses números, um financiamento de imóvel a 13% ao ano de taxa geraria uma parcela
mensal de cerca de R$ 4.874, com renda mensal necessária de R$ 16.250. Já quando a taxa cai
para 7% ao ano, a parcela cai para R$ 3.547 e a renda mensal necessária cai para R$ 11.823, o que
amplia fortemente a base de famílias com acesso a esse valor de financiamento.
Estima-se que a queda de 6 pontos percentuais no custo efetivo total (o custo final dos juros do
financiamento) praticamente dobra a quantidade de famílias com acesso ao mesmo valor de
financiamento, comparando-se as duas taxas, e, na realidade atual, significa o ingresso de cerca de
4,4 milhões de famílias na base de potenciais compradores de imóveis.
Essa dinâmica também é positiva para o lado das instituições financeiras que concedem o crédito,
uma vez que o perfil de crédito ganha qualidade, com maior número de clientes em créditos de
longuíssimo prazo e lastreados em um ativo real, com garantias mais firmes.
Esse indicador monitora mensalmente o volume de alvarás concedidos na cidade de São Paulo,
local com o maior volume de construções do País, que, mesmo em meio a paralisações diante da
pandemia, se mantém em níveis altos e crescendo, conforme podemos ver no gráfico abaixo.
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Fonte: Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) | Elaboração: Levante Ideias de Investimentos
Porém, o setor envolve de maneira direta (atenção para a palavra direta) muitos outros setores da
economia. Portanto, ao avaliar os ventos favoráveis para as incorporadoras, necessitamos prestar
atenção em toda a cadeia. A boa notícia é que, sim, temos diversas outras empresas que fazem
parte dessa rede e merecem a devida atenção na hora da avaliação de investimentos.
A seguir, temos uma listagem das empresas de capital aberto ligadas ao setor. Elas estão
separadas em 3 segmentos de atuação principais: Fornecimento de Insumos Primários,
Comércio/Serviços e Finalização/Acabamentos.
ii) Comércio/Serviços:
PORTOBELLO (PTBL3)
A Portobello possui quatro frentes de receita, sendo três delas no mercado doméstico e uma
frente de exportação. As distribuições entre as linhas de negócios são próximas, com pouca
concentração.
A frente de Engenharia é a venda direta a obras de construção civil, acompanhada de uma equipe
técnica da Portobello para atender às especificações de cada projeto.
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A Portobello Shop é a frente de venda direta aos consumidores. Isso é feito em suas lojas
expositivas, com apresentação de catálogos e coleções lançadas periodicamente. Voltada ao
segmento comercial e residencial.
As receitas de exportação têm predominância de vendas de seus produtos aos EUA, por meio de
escritório e fábrica instalados no local.
Um ponto de atenção é a oscilação grande de sua margem Ebitda (métrica para geração de caixa
potencial), muito influenciada pelos custos dos insumos atrelados ao câmbio, o que corrói as
margens em caso de desvalorização forte do real. Além disso, cerca de 85% de seu endividamento
é atrelado ao dólar, o que gera uma instabilidade nos resultados financeiros, apesar de ser um
efeito contábil e a empresa possuir um hedge (estar protegida) natural devido à parcela da receita
proveniente do exterior.
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No mais, o montante total de endividamento permanece estável, indicando uma geração de caixa
suficiente para financiar suas operações sem grandes problemas, apesar da forte variação da
relação Dívida Líquida/Ebitda.
Os principais catalisadores para as ações PTBL3 são justamente o ritmo de continuidade das obras,
sobretudo residenciais, e os projetos verticais (edifícios) em todo o País. A exposição da empresa à
região Sudeste também favorece a linha de receita daqui em diante, dada a maior concentração
de obras na região - a mais rica economicamente do Brasil.
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Fonte: Quantum Axis | Elaboração: Levante Ideias de Investimentos
MILLS (MILS3)
A Mills (MILS3) é uma companhia criada na década de 50 que presta serviços para o segmento de
construção civil e infraestrutura. Ela é a maior companhia da América Latina em termos de locação
de plataformas aéreas e a maior fornecedora de soluções em engenharia no Brasil.
As suas operações giram em torno da
locação, da intermediação comercial e da
venda, com montagem ou não, de bens
e móveis de fabricação própria ou
adquiridos de terceiros, de uma ampla
gama de mais de 8.400 equipamentos
de produtos de infraestrutura, a citar
principalmente os andaimes, as
plataformas aéreas de trabalho e os
manipuladores telescópicos.
Sob a ótica dos seus resultados mais recentes, observamos uma variação relevante em termos de
receita, EBITDA e de margens operacionais, ao contrário da Portobello, que demonstra variação na
margem (por conta do componente cambial na matriz de custos), mas alguma resiliência em sua
linha de receitas. Já a Mills, como prestadora de serviços exclusivamente no cenário doméstico,
apresentou uma retração significativa de sua receita, de seu EBITDA e de suas margens no triênio
2016-2018, auge da crise do setor de construção civil:
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Fonte: RI Mills | Elaboração: Levante Ideias de Investimentos
Porém, sob a ótica do endividamento e da alavancagem, a Mills está posicionada de maneira mais
conservadora que a Portobello, que opera com relação dívida líquida/EBITDA anual de
aproximadamente 3 x. A Mills passou a adotar uma dinâmica mais conservadora a partir de 2016,
mantendo recursos em caixa superiores ao total de dívidas:
Desse modo, o bom momento da construção civil pode beneficiar as operações da Mills. Uma
diferença significativa em seu catalisador na comparação com a Portobello é a sua exposição ao
segmento de grandes obras de infraestrutura, que ficaram atrasadas após o contexto pandêmico
deste ano.
No ano, suas ações recuam 43,9%, ante queda de 16,9% do Ibovespa. Acreditamos que, ao preço
atual, a Mills é uma empresa interessante para o investidor manter no radar.
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Fonte: RI Mills | Elaboração: Levante Ideias de Investimentos
Conclusão
Este relatório, como dito inicialmente, teve como principal objetivo ampliar o seu ponto de vista e
calibrar o seu radar, para que assim você possa encontrar boas oportunidades de investimento no
mercado. As três empresas aqui apresentadas (PETR4, PTBL3 e MILS3) estão sendo, a nosso ver,
deixadas de lado por boa parte do mercado atualmente. Assim, acreditamos que todos os
investidores devam considerá-las como opções para seus portfólios.
Lembrando que as análises sempre devem ter respaldo nos fundamentos da(s) companhia(s), que
são dados, concretos e reais, dos desempenhos operacional e financeiro da empresa e do setor no
qual ela atua e servem de base para as teses de investimento.
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Este relatório foi produzido pela equipe responsável pela estratégia de investimentos Carta do Estrategista,
disponível na plataforma da Levante.
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