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HUMANOS
RECURSOS HUMANOS
Fernanda Versiani
Universidade Pontifícia Católica de Minas Gerais
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
ABSTRACT
This paper intends to contribute with the studies of leadership comparing the
leaders perceptions and their folowers perceptions about the leader behaviour
using the managerial grid proposed by Blake e Mouton (1978). The research an-
alysed six dimensions: decision, conviction, conflict, emotions, sense of humor and
effort. It is a descriptive research about a telemarketing company at Campina
Grande, Paraíba, Brazil. The data was collected througe 52 questionaries which
were submitted to two working teams, each one with leader and 25 followers.
The results showed divergence between the leaders perceptions and their follow-
ers perceptions about the leader behaviour in each case on the managerial grid
dimensions. Results showed also divergente between the behavior of the two lead-
ers, one being more oriented towards people and the other towards production.
KEYWORDS
R. Adm. FACES Journal Belo Horizonte v. 16 n. 3 p. 87-104 jul./set. 2017. ISSN 1984-6975 (online). ISSN 1517-8900 (Impressa) 89
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LÍDER VERSUS LIDERADO? PERCEPÇÕES A PARTIR DO GRID GERENCIAL
sobre liderança, é pertinente trazer a pers- Blake e Mouton (1978), constituído por
pectiva do liderado também como objeto cinco pontos de referência para as atitu-
de pesquisa, para que suas impressões pre- des e práticas gerenciais. Esta matriz ainda
encham a lacuna entre o ideal discursivo, é muito utilizada pelas organizações para
apresentado pelo líder e a prática realiza- compreender o comportamento do líder,
da, sob a perspectiva dos liderados. pois leva em consideração dois parâmetros
A liderança pode ser melhor compre- da orientação do líder: a orientação para a
endida quando se entende que ela enfatiza produção e a orientação para as pessoas.
resultados a partir de como os líderes são Porém, o tipo de comportamento é flexí-
percebidos como líderes, e como isso pode vel, não sendo fixado somente em um des-
afetar o desempenho de uma organização; ses pontos (BLAKE; MOUTON, 1978).
que envolve percepções e ações dos mem- Esses dois parâmetros são diagnostica-
bros do grupo (DINH; LORD; GARDNER dos através da percepção do próprio líder,
et al., 2014). ou seja, uma auto avaliação. No entanto,
Torna-se, assim, relevante perceber que este estudo defende a ideia de que o Grid
a sintonia entre líder e liderados é funda- Gerencial também possa ser aplicado aos
mental para promover uma série de as- liderados, para que eles possam avaliar o
pectos positivos no contexto do trabalho, estilo de comportamento predominante
como, por exemplo, desempenho, com- no líder. Sendo assim, o objetivo deste es-
prometimento (NIEMEYER; CAVAZOT- tudo é comparar e, por sua vez, compreen-
TE, 2014), além de um ambiente organi- der se a auto avaliação do líder é coerente
zacional mais harmonioso para o alcance com a avaliação do liderado, contrapondo
de melhores resultados (BLANCHARD; P. o ideal refletido pelo líder e a prática per-
ZIRGAMI; D. ZIRGAMI, 1986; SRONCE; cebida pelo liderado. Por isso, este estudo
ARENDT, 2009). utilizou o questionário com as dimensões
O relacionamento entre líder e lidera- do Grid Gerencial como forma de analisar
do ganha ainda mais importância quando o estilo de liderança sob ótica do líder e,
se tem por objetivo compreender um gru- também, de seus liderados.
po ou um indivíduo (FIEDLER, 1981; BER- Trata-se de estudo preliminar, que visa
GAMINI, 1994; BENNIS; NANUS, 1988). O lançar luz sobre a importância da visão do
líder tem a capacidade de estudar, analisar, liderado na discussão sobre estilos de lide-
identificar e modificar seu próprio com- rança. A ideia é comparar a percepção do
portamento a partir das exigências em seu líder com seus respectivos liderados sobre
entorno (RUFFATTO; PAULI; FERRÃO, a liderança exercida pelo líder em dife-
2017). Assim, não necessariamente há um rentes dimensões, propostas por Blake e
estilo de comportamento “correto”, o lí- Mouton (1978): decisão, convicção, confli-
der pode maximizar os métodos e pode to, emoções, senso de humor e empenho.
utilizá-los de acordo com as necessidades Para a realização deste estudo, levou-se
(BLAKE; MOUTON, 1978). em consideração o fato de que, nas orga-
Os possíveis métodos que podem ser nizações, o líder geralmente é visto como
utilizados pelo líder são explicados na Ma- aquele indivíduo que ocupa algum cargo de
triz do Grid Gerencial desenvolvido por supervisão, o qual, muitas vezes, é imposto
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e não escolhido. Dessa forma, assim como meira universidade chegou à conclusão de
a organização, o liderado pode criar uma que existem dois estilos básicos de lideran-
certa expectativa sobre a figura do seu su- ça: o primeiro refere-se ao líder com com-
pervisor, no sentido de pressupor que ele portamento orientado para a produção, no
tenha comportamentos de liderança. qual o foco está nos aspectos técnicos do
trabalho e o empregado é apenas um meio
REFERENCIAL TEÓRICO para atingir os fins; e o segundo diz res-
A abordagem comportamental e a peito ao comportamento orientado para
teoria do Grid Gerencial de Blake e pessoas, focado nas relações humanas e na
Mouton individualidade.
A abordagem comportamental origi- Em paralelo, a Estadual de Ohio também
nou-se no início dos anos 1950, baseando- encontrou duas dimensões que ajudam
se na ideia de que o indivíduo era capaz na direção do comportamento do líder.
de aprender e desenvolver características A primeira, conhecida como estrutura da
para se tornar um líder (BLAKE; MOU- iniciação, relaciona-se ao estilo de com-
TON, 1978; CARVALHO NETO; LIMA, portamento voltado para como atingir o
2011; CARVALHO NETO; TANURE; SAN- objetivo. A segunda, denominada estrutura
TOS et al., 2012). A presença do liderado de consideração, revela a preocupação do
também pode ser considerada um salto líder com as necessidades individuais dos
nesta teoria, já que ele, mesmo que de ma- liderados e a coesão do grupo (BERGAMI-
neira discreta, passou a ser citado como NI, 2005; BLAKE; MOUTON, 1978; GUEST;
um objeto influenciador do líder, oferecen- HERSEY; BLANCHARD, 1980).
do bases para a tentativa de se relacionar As pesquisas realizadas por essas duas
a percepção do líder e do liderado quanto universidades influenciaram o desenvolvi-
ao estilo de liderança (CARVALHO NETO; mento das teorias que se enquadram na
LIMA, 2011; CARVALHO NETO;TANURE; abordagem comportamental, tendo como
SANTOS et al., 2012). foco que os estilos de liderança podem es-
Nesta abordagem, as teorias buscavam tar associados a uma orientação para pes-
identificar quais comportamentos pode- soas e/ou produção.
riam contribuir para a eficácia organiza- A teoria estilo gerencial, proposta por
cional, indicando os diferentes tipos de Blake e Mouton (1978), desenvolveu o ins-
comportamentos que um líder poderia ter. trumento Grid Gerencial conhecido e am-
Sendo possível perceber as diferenças de plamente utilizado nas organizações, até
comportamento entre um líder eficaz e hoje. O Grid Gerencial caracteriza-se pela
ineficaz. A tentativa de compreender qual polarização entre produção versus empre-
seria o best way para liderar era o foco des- gados; tarefas versus pessoas e estrutura de
ta abordagem. iniciação versus estrutura de concentração.
As Universidades de Michigan e a Esta- O instrumento é considerado um mar-
dual de Ohio, ambas nos Estados Unidos, co na abordagem comportamental, daí a
desenvolveram pesquisas que possibilita- necessidade de compreender e classificar
vam entender o tipo de comportamento o estilo de liderança através dele.A ideia de
do líder (BLAKE; MOUTON, 1978). A pri- aplicar o mesmo instrumento também ao
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neira a proporcionar conforto e segurança. perada seja alcançada. Logo, não se percebe
Outro pressuposto deste estilo gerencial é no comportamento do líder uma atenção
o de que as pessoas são instruídas a como às dimensões como conflito, criatividade e
fazer ao invés de serem forçadas a agir, isto motivação. O objetivo é maximizar o resul-
é, o líder descobre como as pessoas que- tado e organizar as pessoas para que isso
rem que o trabalho seja feito, para então ocorra. Assim, a responsabilidade do líder
ajudá-las. Quanto à relação líder-liderado, é planejar, dirigir e controlar as ações dos
a palavra solidariedade é o ponto chave da liderados. A relação líder e liderado é base-
questão. A função do líder é estimular e ada na autoridade e obediência, onde a co-
manter a moral do liderado alta, focando municação é formal. Em caso de conflitos
em sua satisfação. Desta forma, o liderado entre os liderados, o líder tende a eliminar
demonstra sua lealdade e aceitação. A co- o problema, visto que isto pode interferir
municação entre eles é intensa: o líder pro- na produção (BLAKE; MOUTON, 1978).
cura manter o liderado informado e vice O estilo gerencial 9,9 é a combina-
-e-versa, conservando a harmonia entre as ção da forte orientação para a produção
pessoas e minimizando conflitos (BLAKE; com a forte orientação para pessoas. Há
MOUTON, 1978). uma integração entre produção e pessoas.
Já no estilo gerencial 9,1, o líder possui O pressuposto emerge da inexistência de
uma forte orientação para produção e fraca conflitos entre os objetivos de produção e
orientação para pessoas. Baseia-se no pres- as necessidades das pessoas. A criatividade,
suposto de que as pessoas são os meios alta produtividade e moral alto são aspec-
para atingir os fins, ou seja, as pessoas de- tos que integram o objetivo básico de um
vem ser utilizadas para que a produção es- líder que se enquadra nesse estilo. A alta
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foram tabulados e, de acordo com Blake para aliviar a pressão do trabalho, não ha-
e Mouton (1978), a alternativa “a” cor- vendo um envolvimento com as pessoas,
responde ao estilo 1.1; a alternativa “b” ou seja, o líder apenas executa sua função,
corresponde ao estilo 1.9; alternativa “c” nada mais. Sendo assim, na E1, enquanto o
corresponde ao estilo 9.1; alternativa “d” líder se enxerga como acomodado, a maio-
corresponde ao estilo 5.5 e alternativa “e” ria dos liderados o enxerga capaz de esti-
ao estilo 9.9 (BLAKE; MOUTON, 1978). mular, ainda que pouco, tanto a produção
Sobre a dimensão 1, na equipe 1 (E1), quanto as pessoas, dando atenção para que
percebe-se divergência entre as percep- a comunicação ocorra de forma suficiente
ções do líder e dos liderados quanto ao (BLAKE; MOUTON, 1978).
comportamento do primeiro em relação Vale ressaltar que alguns liderados (7)
às decisões. Afinal, a alternativa percebida apontaram para um estilo de comporta-
pelo líder não foi percebida por nenhum mento 9,9 do líder, que é a combinação
liderado. Nesta dimensão, a maioria dos da forte orientação para produção e forte
liderados da E1 acredita que o comporta- orientação para pessoas, pressupondo uma
mento do líder tende ao estilo 5,5, o que harmonia entre os objetivos de produção
implica equilíbrio entre nem tanto para e as necessidades das pessoas, o oposto
produção, nem tanto para pessoas, sendo apontado pelo próprio líder (1,1). Os as-
denominada como uma orientação inter- pectos que caracterizam esse estilo de lí-
mediária. O líder é capaz de estimular um der 9,9 são: a criatividade, alta produtivida-
pouco a produção e ao mesmo tempo de e moral alto. Mostrando mais uma vez
considera as atitudes e sentimentos das a divergência entre as percepções sobre o
pessoas para que elas se sintam satisfeitas. estilo gerencial exercido pelo líder.
Já a auto avaliação do líder o classifica No caso da equipe 2, nota-se também
no estilo 1,1, diferente da percepção do uma divergência bastante acentuada en-
liderado (5,5), o líder parte da pressupo- tre as percepções, uma vez que o líder se
sição de que há pouca entrega dele para classificou no estilo de comportamento
com a organização e pessoas, uma vez que 9,9, enquanto para os liderados ele tendia
suas atitudes são consideradas suficientes ao estilo 1,1. Isso significa que o líder tem
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uma visão de si como sendo fortemente çada, deixando pouco espaço para o ele-
orientado para pessoas e para a produ- mento humano.
ção, enquanto seus liderados percebem Já uma segunda maioria dos lidera-
essa orientação para pessoas e produção dos classificaram o líder no estilo 9,9, ou
como fraca. seja, indicando uma forte combinação en-
Nenhum dos liderados da E2 classificou tre produção e pessoas. Percebe-se que,
seu líder na dimensão 5,5, diferentemen- mesmo não havendo a igualdade na per-
te da E1, na qual essa dimensão foi a mais cepção entre líder e liderado, os estilos se
assinalada pelos liderados. Dessa maneira, assemelham no quesito referente à forte
observa-se que, em relação às decisões, orientação para produção e se diferem na
houve divergência das percepções nas duas orientação para pessoas, o que significa
equipes pesquisadas, onde aparentemen- que a maioria acredita que o líder tem uma
te os líderes tendem a se comportar de fraca orientação para pessoas e a segunda
maneira praticamente oposta àquela que maioria acredita que o líder tem uma forte
acreditam, sendo esse fato refletido pela orientação para pessoas. Porém, enquanto
avaliação de seus liderados. no estilo 9,1 o líder tem como responsa-
Na dimensão 2, referente às convic- bilidade planejar, controlar as ações do li-
ções, na E1, percebe-se um alinhamento derado, a relação é baseada na autoridade
de percepções entre o líder e seus lide- do líder e obediência do liderado, o líder
rados, na medida em que 13 liderados no estilo 9,9 não necessariamente exerce
concordam com o líder sobre a classifi- seu poder por meio da autoridade e con-
cação 9,1. Isso implica uma forte orien- trole. Isso mostra que entre os próprios
tação para produção e fraca orientação liderados há uma diferença no que tange
para pessoas, as pessoas são utilizadas ao entendimento da forma que o líder se
para que a produção esperada seja alcan- comporta na relação com as pessoas, em-
Classificação
Dimensão 2: Convicções Líder Liderado Líder Liderado
Grid
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bora a maioria (13) dos liderados ache que melham, enquanto na E2 percebe-se uma
o líder é mais autoritário. divergência significativa.
Como nenhum dos liderados assinalou Na dimensão conflito, foi verificado no-
a opção que indica uma tendência do líder vamente um alinhamento entre o que o
a possuir fraca orientação para pessoas e líder da E1 acredita ser e a percepção dos
para produção (1,1), pode-se dizer que eles liderados sobre o que ele é. Tanto o líder
concordam que o líder não exerce somen- quanto seus liderados entendem que, nas
te a função esperada e que possui algum situações de conflito, o líder procura agir
envolvimento com produção e pessoas, de forma a fazer prevalecer sua posição
mesmo que com intensidades diferentes. acerca do assunto (5,5). Identifica-se tam-
Já em relação à equipe 2, os dados reve- bém que, tanto o líder quanto a maioria
lam uma divergência significativa, na medida dos liderados acreditam que, em relação
em que, se por um lado, o líder se percebe ao conflito, o líder possui um comporta-
com baixa orientação para pessoas e pro- mento equilibrado. Além disso, é possível
dução, exercendo somente o necessário identificar que na percepção do liderado
da sua função (1,1), a maioria de seus lide- quanto a essa dimensão, todas as alter-
rados o classificam com forte orientação nativas foram marcadas, havendo até um
para ambos os fatores (9,9), pressupondo certo equilíbrio entre as alternativas “b”
que o líder tenha a capacidade de ir além (4) e “e” (5).
do que sua função exige. Nenhum dos lide- No caso da E2, a auto percepção do
rados teve sua resposta coincidindo com líder indica baixa orientação para a pro-
a percepção do líder sobre si mesmo e, dução e alta para as pessoas (1,9), de for-
ainda, nenhum liderado percebeu no líder ma que, diante do conflito, o líder acredi-
fraca orientação para pessoas. ta que suas ações objetivem restaurar a
Quanto à dimensão de convicções, por- harmonia do grupo. Este estilo prevê que
tanto, percebe-se que, em relação à alter- os sentimentos e atitudes das pessoas
nativa mais marcada pelos liderados nas são fundamentais, estando em primeiro
duas equipes, na E1 as percepções se asse- lugar. O líder se preocupa em estimular
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meio do Grid Gerencial de Blake e Mouton tiva às emoções coincidiu a auto percepção
(1978) indicaram divergência entre as per- dos dois líderes, pois ambos assinalaram a
cepções do líder sobre si mesmo e dos li- assertiva que atribuía a pouca irritabilidade
derados em relação ao seu respectivo líder. à neutralidade assumida diante das situa-
A auto percepção do líder, praticamen- ções. Porém, nem isso foi percebido pela
te de forma unânime, se distanciou daquilo maioria dos liderados das duas equipes,
que é percebido pelos liderados na equipe indicando que a auto percepção do líder
2. Isso porque foi observada convergência não se confirma quando o olhar é o dos
das percepções em apenas uma das dimen- liderados. Nas demais dimensões, o com-
sões do Grid, a saber, aquela referente ao portamento auto percebido pelos líderes
empenho, quando o líder e a maioria de difere bastante.
seus liderados demonstraram entender que Ficou evidente na pesquisa, portanto, o
o primeiro busca manter um ritmo de tra- baixo alinhamento entre o que o líder acre-
balho bom e constante. Ainda assim, chama- dita ser e o que os liderados percebem em
se atenção para a dispersão dos dados, pois seu comportamento, sendo que esse fato
apenas 8 dos liderados concordaram com a pode ser uma das justificativas para os pro-
auto percepção do líder, ou seja, trata-se de blemas enfrentados pela organização em re-
uma convergência relativamente fraca. lação às duas equipes. Isso porque a lideran-
A equipe 1, por sua vez, apresentou con- ça está relacionada ao bom desempenho de
vergência em três das dimensões analisa- uma equipe, como aponta a literatura.
das pelo Grid Gerencial, quais sejam: con- Dessa maneira, destaca-se a importância
vicções, conflito e empenho. Pelo menos de estudos que tragam a percepção dos li-
metade dos liderados da equipe 1 concor- derados sobre o líder, a fim de que se tenha
dou com a auto percepção do líder nessas uma visão menos enviesada da realidade.
dimensões, fato que indica um forte alinha- Afinal, como mostrou este artigo, a auto
mento entre as impressões nesta equipe, percepção do líder muitas vezes não vai ao
ao contrário da equipe 2. encontro daquilo que é experimentado pelo
Esse fato lança luz sobre a diferença no liderado. Merece atenção, também, a postu-
estilo de liderança quando se compara as ra da empresa no sentido de observar o
duas equipes. Afinal, os líderes das duas alinhamento das percepções, para que, com
equipes apresentam comportamentos bas- isso, possa investir no desenvolvimento das
tantes desiguais. Apenas na dimensão rela- habilidade e competências necessárias.
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