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PORTUGUÊS
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
Ênclise Próclise
Apesar de não ser a forma preferencial dos falantes do A próclise é a posição pronominal mais utilizada no português,
português brasileiro, a ênclise – colocação do pronome átono após especialmente em sua utilização coloquial. As regras para sua
a forma verbal – é o “padrão” de colocação dos pronomes átonos colocação formal, de forma geral, dependem de uma palavra que
em textos escritos formais. atraia o pronome.
Casos em que ocorre a ênclise: Casos em que se usa próclise:
a) Havendo termo atrativo. São eles:
a) Com verbo no início da frase. – palavra de sentido negativo:
Comenta-se que Romário deverá ser o artilheiro. Não me convidaram para esta festa.
b) Com verbo no imperativo afirmativo: – conjunção subordinativa:
Alunos, apresentem-se ao coordenador. Quando te vi ali não acreditei.
– advérbio:
c) Com verbo no gerúndio:
Assim se resolvem os problemas.
Modificou a rota, tornando-a mais curta.
Caso haja pausa depois do advérbio (marcada na escrita por
– Caso o gerúndio venha precedido pela preposição em, vírgula), ocorrerá a ênclise:
ocorrerá a próclise:
Assim, resolvem-se os problemas
Em se tratando de cinema, prefiro filmes europeus.
– Pronome indefinido:
d) Com verbo no infinitivo impessoal: Tudo se acaba na vida.
Leia atentamente as questões – Pronome relativo:
antes de resolvê-las.
Não encontrei o caminho que me indicaram.
b) Nas orações interrogativas e exclamativas: c) Nas locuções verbais é comum o uso da próclise ao verbo
principal:
Quem te disse que ela não viria?
Quanto me custa dizer a verdade! Não venha me aborrecer agora, estou estudando.
b) verbo no futuro do pretérito: 02. (IFSP) Com relação à colocação pronominal e ao emprego dos
Convidar-te-ia para a viagem, pronomes, observe a tirinha abaixo.
se não estivesses atarefado.
Proibições
a) Não se usa próclise no começo de frases ou após pausa.
b) Não se usa ênclise com verbos no particípio passado.
Considerações ao uso Coloquial dos Pronomesno I. No primeiro quadrinho, o pronome “mim” foi utilizado de
Português Brasileiro forma incorreta, no que tange à norma padrão da Língua
Portuguesa e de acordo com a gramática normativa.
a) Formas regidas por preposição diferente de a, admitem II. No terceiro quadrinho, a frase: “Eu sei, estes momentos nos
próclise: deixam sem palavras...”, para seguir a regra da colocação
Minha mãe entoava pronominal, deveria ter sido escrita da seguinte maneira:
cantigas para me embalar. “Eu sei, estes momentos deixam-nos sem palavras...”.
b) Com verbos no infinitivo, mesmo na presença de elementos III. A frase: “Beije-me como nunca beijou alguém antes!” pode
atrativos, admite-se a ênclise: ser reescrita da seguinte maneira, sem que haja prejuízo
Sua intenção era não aborrecê-lo. semântico: “Beije-me como nunca beijou ninguém antes!”.
É correto o que se afirma em 05. (COL. NAVAL) Em que opção a colocação pronominal está de
a) II, apenas. c) I e III, apenas. e) III, apenas. acordo com a modalidade padrão?
b) II e III, apenas. d) I, II e III. a) Quando o casal chegou ao restaurante, se calou por motivos
bem diferentes.
03. (FUVEST) No trecho "mas minha mãe botou ele por promessa", b) Os pais distraí-lo-iam com novas tecnologias, embora o
o pronome pessoal foi empregado em registro coloquial. É o que pediatra condenasse.
também se verifica em: c) Por que a mulher questionou-os sobre o silêncio que pairava
a) " - E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?" no restaurante?
b) " - E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?" d) Por favor, solicitamos que entreguem-nos os celulares antes
da hora da prova.
c) " - Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?"
e) O homem usava a Internet, e o garçom não interrompeu-o para
d) " - Me desculpe mas até parece doença, doença de pele."
servir a comida.
e) " - (...) pois como o senhor vê eu vinguei... pois é..."
06. (UNIFESP) Analise a capa de um folder de uma campanha de
04. (FUVEST) trânsito.
O OPERÁRIO NO MAR
Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa.
No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está
na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés
enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum,
apenas mais escuro que os outros, e com uma significação
estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde
vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás.
Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de
gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe
sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que
contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na
Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha
no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante
faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo
meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos
entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio
que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de
encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a
cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe
que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava
que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há
nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no
seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e
deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram Explicitando-se os complementos dos verbos em “Eu cuido, eu
o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se respeito.”, obtém-se, em conformidade com a norma-padrão da
molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas língua portuguesa:
mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e a) Eu a cuido, eu respeito-lhe.
confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui b) Eu cuido dela, eu lhe respeito.
a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados
c) Eu cuido dela, eu a respeito.
pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio
do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso d) Eu lhe cuido e respeito.
cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se e) Eu cuido e respeito-a.
contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas,
atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança 17. (UNESP) Para responder à questão a seguir, leia a crônica
de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada
ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. originalmente em setembro de 1953.
Dentre estas propostas de substituição para diferentes trechos do Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar
texto, a única que NÃO está correta do ponto de vista da norma- com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-
padrão é: se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de
um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá
a) “Para onde vai ele, (...)?” = Aonde vai ele, (...)? das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha
b) “O operário não lhe sobra tempo de perceber” = Ao operário não mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada
lhe sobra tempo de perceber. pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do 1vernáculo
c) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão” = Teria vergonha de e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.
chamá-lo de meu irmão. Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador,
d) “Tenho vergonha e vontade de encará-lo” = Tenho vergonha e mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a
vontade de o encarar. colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe
ficou ligeiramente 2ressabiada quando seu Afredo, casualmente de
e) “quem sabe se um dia o compreenderei” = quem sabe um dia
passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na
compreenderei-o.
segunda do singular:
– Onde vais assim tão elegante? 09. O uso do pronome átono no início das frases é destacado por
Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no um poeta e por um gramático nos textos abaixo.
ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já Pronominais
me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à 3lide caseira, Dê-me um cigarro
queixou-se do fatigante 4ramerrão do trabalho doméstico. Seu Diz a gramática
Afredo virou-se para ela e disse: Do professor e do aluno
– Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e E do mulato sabido
tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão. Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, Dizem todos os dias
cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, Deixa disso camarada
esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia Me dá um cigarro.
mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.)
– Cantas?
Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: “Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na conversação
familiar, despreocupada, ou na língua escrita quando se deseja
– É, canto às vezes, de brincadeira...
reproduzir a fala dos personagens (...)”.
Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe (CEGALLA. Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo:
explicou o temperamento do nosso encerador: Nacional, 1980.)