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EM PARCERIA COM

ROXANA PEREIRA FERNANDES


DE SOUSA

FLUIDOS
DE
PERFURAÇÃO
TREINAMENTO
BETAEQ
M ÓDUL O 6
Equ ipam en tos e Pr ocedim en tos par a
Aval iação e Desem pen h o dos
Fl u idos de Per fu r ação
Como os fluidos de perfuração são constituídos por misturas complexas de
componentes que interagem, suas propriedades irão mudar com variações de
temperatura, taxa de cisalhamento e o histórico do cisalhamento. Para medir as
propriedades do fluido nas condições do poço, os testes no local do poço devem ser
realizados rapidamente e com equipamentos simples. Os testes feitos em laboratório
também são rápidos e práticos, porém, refletem o comportamento do fluido de maneira
aproximada (CAENN, DARLEY e GRAY, 2011).

Procedimentos de laboratório detalhados podem ser encontrados em publicações


da API e ISO (API Recommended Practice 13B-1; API Recommended Practice 13B-2; API
Recommended Practice 13I; ISO 10414-1; ISO 10414-2; ISO 10416).

6.1PREPARAÇÃODOSFLUIDOSDEPERFURAÇÃO
É importante que os fluidos de perfuração sejam testados em laboratório para
determinação de suas propriedades físicas e químicas e do seu comportamento diante do
fluxo.

Os fluidos de perfuração devem ser submetidos a uma mistura preliminar com


posterior envelhecimento de um ou dois dias, para dar tempo dos coloides hidratarem,
para, em seguida, ter suas propriedades testadas em temperatura ambiente (CAENN,
DARLEY e GRAY, 2011). Para a mistura desses fluidos, normalmente são utilizados
misturadores como o Hamilton Beach (Figura 1).

Figura 1 ? Misturador Hamilton Beach da Fann


(http://www.eurosul.com/index.php?pag=conteudo&id_conteudo=624&idmenu=72&hamilton-beach-agitadores)

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6. 2PROPRIEDADESFÍSICASMEDIDAS

· Den sidade

O método mais comum para medir a massa específica dos fluidos é utilizando a balança
de lama. A balança de lama consiste de uma base suporte, um copo e uma viga graduada
carregando um peso deslizante (Figura 2). A borda do braço da viga descansa sobre a base
do suporte (BAKER HUGHES, 2006).

Figura 2 ? Balança de lama da Fann


(http://www.eurosul.com/index.php?pag=conteudo&id_conteudo=887&idmenu=72&fann-balanca-de-lama-140).

O procedimento consiste em encher o copo com o fluido de perfuração e tampar,


até que saia um pouco do fluido pelo furo da tampa, garantindo que não haverá ar. Após
limpar o excesso de fluido, move-se o peso deslizante até que a viga fique em equilíbrio,
sendo possível, então, fazer a leitura da densidade no marcador.

· Viscosidade

Para verificar a consistência do fluido de perfuração e seu comportamento de fluxo,


utilizam-se viscosímetros.

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O viscosímetro Fann 35 A (Figura 3) é um viscosímetro rotativo de indicação direta,
onde o rotor é impulsionado a uma velocidade rotacional constante no fluido, que é
colocado dentro do copo, produzindo um torque no cilindro interno (bob). Uma mola
restringe o movimento do bob e um ponteiro conectado à mola de torção indica o
deslocamento angular do bob (Figura 4).

Figura 3 ? Viscosímetro de indicação direta Fann 35 A


(http://www.eurosul.com/index.php?pag=conteudo&id_conteudo=903&idmenu=72&fann-viscosimetro-35-a).

Figura 4 ? Esquema do viscosímetro de indicação direta Fann 35 A


(ALMOCO PRODUCTION COMPANY, 1994).

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Neste modelo de viscosímetro, podem ser feitas seis leituras de velocidade: 600,
300, 200, 100, 6 e 3 rpm (Figura 5), sendo utilizado para calcular a viscosidade plástica (VP),
viscosidade aparente (VA), limite de escoamento (LE), gel inicial (G0) e gel final (GF). Os
testes de força gel são feitos para avaliar a capacidade que o fluido tem em manter os
cascalhos em suspensão quando a perfuração é interrompida.

Para medir em uma velocidade de 600 rpm, com o viscosímetro ligado, empurra-se
o speed para baixo e coloca-se o interruptor lateral em ?high?. Para efetuar a leitura em
300 rpm, basta alterar o interruptor para ?low?. O mesmo se repete para as leituras de 200
e 100 rpm, sendo o speed totalmente levantado e o interruptor posicionado em ?high?
para 200 rpm e ?low? para 100 rpm. No caso de 6 e 3 rpm, o speed é colocado em uma
posição intermediária e o interruptor na posição ?high? mede a deflexão em 6 rpm e em
?low? a 3 rpm.

Figura 5 ? Esquema de controle de velocidades do viscosímetro de


indicação direta Fann 35 A (ALMOCO PRODUCTION COMPANY,
1994).

As tensões de cisalhamento podem ser calculadas, em N/m 2, através da Equação 1,


em que q são as deflexões, em graus, lidas no viscosímetro Fann, especificamente; e as
taxas de cisalhamento, em s-1, podem ser calculadas através da Equação 2, em que N é o
número de rotação em rpm (SHIROMA, 2012).

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A viscosidade aparente, VA (cP) pode ser calculada dividindo a leitura da deflexão a
600 rpm por 2 e a viscosidade plástica, VP (cP) pela subtração da leitura a 600 rpm pela
leitura a 300 rpm. O limite de escoamento, LE (lbf/100ft²) é dado pela leitura da deflexão a
300 rpm subtraído da viscosidade plástica, conforme a Norma API 13B (2012) para
viscosímetro Fann.

· En velh ecim en t o em alt a t em per at u r a

A medida que o fluido de perfuração vai sendo utilizado no poço, alguns


componentes se degradam lentamente quando submetidos a temperaturas mais
elevadas. Assim, é importante simular o envelhecimento do fluido em altas temperaturas
para verificar o efeito do tempo e temperatura no comportamento reológico (CAENN,
DARLEY e GRAY, 2011).

Normalmente, o teste de envelhecimento é feito em uma estufa Roller Oven da


Fann (Figura 6), na qual o fluido de perfuração é colocado em uma célula de pressão de
aço inoxidável, que pode ter capacidade de 260 ou 500 mL. Para evitar a ebulição da fase
líquida, as células são pressurizadas com nitrogênio ou dióxido de carbono. Então, para
simular o envelhecimento do fluido, as células são colocadas em uma estufa rotativa por,
no mínimo, 16 h sob uma temperatura pré-determinada com base na temperatura do
poço. Após o tempo do teste e o tempo do resfriamento, os testes no viscosímetro e no
filtro prensa são repetidos para efeito de comparação com os resultados antes do
envelhecimento.
Figura 6 ? Estufa Roller Oven da Fann
(http://www.eurosul.com/index.php?pag=conteudo&id_conteudo=892&idmenu=72&fann-estufa-rotativa-roller-oven).

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· Viscosidade HPHT

As propriedades reológicas de um fluido de perfuração medidas na superfície, no


viscosímetro Fann, por exemplo, não serão iguais àquelas exibidas no fundo do poço,
devido a exposição a altas temperaturas e pressões, de maneira que ocorre uma redução
de sua eficiência, uma vez que os fluidos são projetados para possuir valores específicos
das propriedades reológicas para cada cenário (MORIYAMA, 2010; MELO, DANTAS e
BARROS NETO, 2013). Por isso é importante simular as condições de alta pressão e alta
temperatura (High Pressure, High Temperature ? HPHT), para conseguir quantificar o
comportamento que o fluido irá apresentar nestes cenários.

Assim, utilizando o viscosímetro HPHT da Chandler Engineering (Figura 7), pode-se fazer as
mesmas leituras feitas no viscosímetro Fann 35 A, porém com aplicação de diferentes
pares de pressão e temperatura.

Figura 7 ? Viscosímetro HPHT da Chandler Engineering, modelo 7550


(https://www.chandlereng.com/products/viscosity-or-rheology/pressurizedrotational/model7550hphtviscometer).

· Filt r ação

O ensaio da perda de fluido pode ser realizado através da filtração estática em um Filtro
Prensa API Pressurizado (Figura 8), no qual é aplicada uma pressão de 100 psi com ar
comprimido durante 30 min. A pressão é aplicada à uma célula especial que contém o
fluido e um papel de filtro. Uma proveta colocada abaixo do furo da célula coleta o filtrado
perdido com a aplicação da pressão.

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Figura 8 ? Filtro Prensa API Pressurizado
(http://www.eurosul.com/index.php?pag=conteudo&id_conteudo=894&idmenu=72&fann-filtro-prensa-api-pressurizado).

· Teor de sólidos e líqu idos

O teor de sólidos e líquidos pode ser determinado em um kit Retorta óleo e água da Fann
(Figura 9).

Figura 9 ? Kit Retorta óleo e água de 10 mL da Fann


(http://www.eurosul.com/index.php?pag=conteudo&id_conteudo=899&idmenu=72&fann-kit-retorta-oleo-e-agua-10ml)

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O equipamento é constituído de um copo para amostra de fluido de perfuração com
capacidade de 10 mL, uma câmara de aquecimento, um forno e um condensador (Figura
10). Ocorre uma destilação e o destilado é coletado numa proveta graduada. A destilação
se completa em 35 minutos e atinge uma temperatura de 500ºC. O volume de sólidos é
dado pela diferença entre o volume de líquidos coletado na proveta e o volume total
adicionado da amostra (10 mL). O volume de líquidos é dado pela diferença dos líquidos
percebida na proveta.

Figura 10 ? Componentes do kit Retorta (ALMOCO PRODUCTION


COMPANY, 1994).

· Lu br icidade

O coeficiente de lubricidade pode ser medido em um equipamento EP-Lubricity Tester da


OFITE (Figura 11).

Figura 11 ? Lubricity Tester da OFITE


(http://www.ofite.com/products/drilling-fluids/product/2229-lubricity-tester).

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O fluido é agitado por 5 min no Hamilton Beach e, posteriormente, é transferido
para o recipiente do equipamento, com um torque inicial zero e uma velocidade de 60
rpm. Em seguida, aplica-se uma força de 150 in/lb durante 5 min, lentamente, e faz-se a
leitura dos ampères. Os ampères são convertidos no coeficiente de lubricidade por meio
de um gráfico de calibração. Faz-se, também, uma leitura do torque da água, para calcular
o fator de correção e, com ele, calcular o coeficiente de lubricidade (CL) do fluido de
perfuração, de acordo com as Equações 3 e 4 (MEDEIROS, AMORIM e SANTANA, 2008).

6. 3PROPRIEDADESQUÍMICAMEDIDAS

· pH

O pH dos fluidos de perfuração podem ser medidos no pHmetro (Figura 12), que
utiliza um método eletrométrico com eletrodos de vidro, fornecendo uma leitura direta
em unidades de pH.

Figura 12 ? pHmetro
(https://www.marcamedica.com.br/phmetro-de-bancada-para-solucoes-aquosas-mpa-210).

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· Alcalin idade

Existem três testes básicos para medição da alcalinidade de um fluido de perfuração base
água: PM , PF, M F. A alcalinidade PM é o volume, em mL, de ácido sulfúrico 0,02 N
necessária para levar 1 mL do fluido ao pH do ponto de viragem da Fenolftaleína, ou seja,
8,3; PF é o volume, em mL, de ácido sulfúrico 0,02 N necessária para levar 1 mL do filtrado
ao pH de 8,3; e o M F é o volume, em mL, de ácido sulfúrico 0,02 N necessária para levar 1
mL do filtrado ao pH do ponto de viragem do Metilorange, ou seja, 4,3 (TAVARES, 2010). A
amostra de filtrado deve ser coletada no teste de filtração API.

- Alcalinidade PM : Inicialmente, coleta-se uma amostra de fluido de perfuração com uma


seringa e transfere-se 1,0 mL para um erlenmeyer de 125 ou 250 mL. Em seguida, dilui-se
a amostra com 25 a 50 mL de água destilada. Adiciona-se à mistura, 4 ou 5 gotas de
Fenolftaleína (1% em solução alcoólica), devendo aparecer uma coloração rosa. Caso não
apareça, o PM é zero. Caso a amostra fique rosa, segue-se com uma titulação gota-a-gota
com solução de ácido sulfúrico (0,02 N), sob agitação, até viragem para a cor original da
amostra, ou até desaparecer a coloração rósea. Por fim, anota-se o volume de ácido gasto
como a alcalinidade PM (TAVARES, 2010).

- Alcalinidade PF: Primeiramente, transfere-se uma amostra de 1,0 mL do filtrado para um


erlenmeyer de 125 ou 250 mL e dilui-se com 25 mL de água destilada. Adiciona-se, então,
de 2 a 3 gotas de Fenolftaleína (1% em solução alcoólica). Se o pH estiver acima de 8,3, a
amostra irá ficar rosa, se não, PF será zero. Caso a amostra esteja rósea, segue-se com a
titulação da mistura com solução de ácido sulfúrico 0,02 N, gota-a-gota sob agitação, até
viragem para a cor da amostra, ou até desaparecer a coloração rósea. O volume de ácido
gasto será a alcalinidade PF (TAVARES, 2010).

- Alcalinidade M F: Sob a mesma amostra da alcalinidade PF, adiciona-se 2 a 3 gotas do


indicador Metilorange (0,1%), devendo aparecer uma coloração amarela. Se a amostra não
ficar amarela significa que o pH está abaixo de 4,3, e não será necessário utilizar ácido
para obter o pH (M F = PF). Caso a amostra fique amarela, deve-se titular gota-a-gota com a
solução de ácido sulfúrico 0,02 N, sob agitação constante, até viragem para coloração
laranja. O volume total de ácido gasto, inclusive o volume gasto para determinar o PF, será
a alcalinidade M F (TAVARES, 2010).

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· Teor es de clor et o

Os teores de cloreto, como as alcalinidades, são determinados através de titulação de


uma amostra do volume de filtrado do fluido de perfuração. Inicialmente, 1,0 mL do
filtrado do fluido é transferido para um erlenmeyer e 25 a 50 mL de água destilada são
adicionados. Em seguida, 2 gotas da solução indicadora de Fenolftaleína (1% em solução
alcoólica) devem ser adicionadas. Caso a coloração rosa apareça, adiciona-se gotas de
ácido sulfúrico 0,02 N até a coloração desaparecer. Então, posteriormente, adiciona-se de
5 a 10 gotas de cromato de potássio (5%). Agita-se o sistema continuamente, enquanto
titula-se com uma solução de nitrato de prata 0,282 N, até obter uma coloração laranja
avermelhado. Por fim, anota-se o volume gasto, em mL, da solução de nitrato de prata e
prossegue-se com os cálculos do teor de cloreto, conforme Equação 5 (TAVARES, 2010).

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REFERÊNCIAS

ALMOCO PRODUCTION COMPANY. Dr illin g Flu ids M an u al. 1994.

BAKER HUGHES. Dr illin g Flu ids r ef er en ce m an u al. 2006.

CAENN, R.; DARLEY, H. C. H.; GRAY, G. R. Flu idos de Per f u r ação e Com plet ação -
Com posição e Pr opr iedades - Série Engenharia de Petróleo. 6ª. ed. Elsevier, 2011.

MEDEIROS, R. C. A.; AMORIM, L. V.; SANTANA, L. N. de L. Avaliação de Lu br if ican t es em


Flu idos de Per f u r ação Base Águ a. In: XV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas.
Disponível em:
<https://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/article/viewFile/23384/15474<. 2008.

MELO, K. C.; DANTAS, T. N. C.; BARROS NETO, E. L. Influência da temperatura na reologia de


fluidos de perfuração preparados com carboximetilcelulose, goma xantana e bentonita.
Holos, v. 5, 2013.

MORIYAMA, A. L. L. Avaliação do En velh ecim en t o Din âm ico n as Pr opr iedades de


Flu idos de Per f u r ação Base Águ a. Natal, RN, 42 p. Monografia (Graduação em
Engenharia Química) ? Programa de Recursos Humanos ? PRH 14/ANP, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, 2010.

NORMA API 13B. Recommended Practice for Field Testing Oil-Based Drilling Fluids. API
Recom m en ded Pr act ice 13B-2. 5ª ed, 2012.

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SHIROMA, P. H. Est u do do com por t am en t o r eológico de su spen são aqu osa de
ben t on it a e CM C: in f lu ên cia da con cen t r ação do NaCl. São Paulo, SP, 130 p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia), Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
2012.

TAVARES, P. M. Pr ocedim en t os de Labor at ór io par a Test es de Flu idos Base Águ a.


Apostila do curso: Fluidos de Perfuração, Estimulação e Completação. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN. 2010.

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