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Avaliação de Desenho de Mecanismo para Estabilizar Preços de Commodities: Proposta

para Criar Fundo de Estabilização dos Preços do Açúcar do Nordeste

Autoria: Victor Hugo Lessa Pierre, Henrique Cezar Martins Costa, André de Souza Melo, Claudio Zancan,
Yony de Sá Barreto Sampaio, Waldemar Antonio da Rocha de Souza

Resumo
Os preços do açúcar do Nordeste registram elevado grau de persistência a choques. Os
choques de nível e volatilidade dos preços resultam em assimetrias informacionais e
alocativas dos agentes da cadeia da commodity na região. Assim, para mitigar os impactos
sobre os agentes necessita-se analisar alternativas econômico-financeiras para a gestão
eficiente das decisões alocativas. Uma alternativa pode ser a formulação de um fundo de
estabilização dos preços do açúcar do Nordeste. Em particular, calculou-se o grau e duração
da persistência de choques nas séries de preços mensais do açúcar de Alagoas e Pernambuco,
comparando com os preços futuros do açúcar # 11, da ICE. Também, analisaram-se os
elementos constitutivos dos fundos de estabilização de preços agropecuários existentes
atualmente na Índia, para produtos hortifrutigranjeiros, e na Colômbia, para açúcar. Por fim,
aplicou-se o desenho de mecanismo, mechanism design, para arrolar a proposta de criação do
fundo de estabilização dos preços da commodity do Nordeste. Os resultados confirmaram a
elevada persistência de choques sobre os preços do açúcar do Nordeste. Também, a
identificação dos elementos dos fundos de estabilização de preços operacionais e o desenho
do mecanismo da proposta para o fundo do Nordeste arrolam o conjunto de informações para
a constituição do fundo.

Palavras-chave: Risco de preço; desenho de mecanismo; fundo de estabilização; açúcar;


Nordeste.

1. Introdução

O setor sucroalcooleiro sublinha relevância econômica para a região Nordeste. Em particular,


prevê-se a produção de aproximadamente 3,15 milhões de toneladas de açúcar na região,
8,4% do total da produção brasileira na safra 2016/2017, com aumento de 22,3% sobre a
anterior. Também, comparando a alocação agregada em relação ao etanol, as usinas de
Alagoas e Pernambuco arrolarão maior produção de açúcar (CONAB, 2016).

Desta maneira, consequente à decisão de produzir açúcar, os agentes da cadeia local da


commodity registram exposição ao risco dos preços de açúcar. Especificamente, ilustra-se a
elevação do risco dos preços agropecuários resultante do aumento dos níveis absolutos e da
volatilidade de preços de commodities após a crise financeira do subprime de 2008
(EUROPEAN COMMISSION, 2009; farmdocdaily.com, 2011).

Em adição, recentemente a queda acentuada dos preços das commodities, consequente do


excesso de oferta, pode resultar em efeitos não lineares sobre as regiões produtoras, tais como
stress financeiro, falências e contágio generalizado. Assim, aponta-se impacto econômico
negativo na atividade econômica, caso os exportadores não ajustem os custos, podendo os
preços baixos e a volatilidade elevada contagiar os importadores (IMF, 2015).

Além disso, ilustra-se forte grau de risco dos preços de açúcar do Nordeste. Especificamente,
registraram-se períodos com quebras estruturais do nível dos preços, bem como elevados
valores da volatilidade mensal, do Value-at-Risk (VaR) e do Conditional Value-at-Risk
(CVaR), a 5%, dos preços mensais do açúcar a vista de Alagoas, em dólares americanos
(ATAÍDE et al, 2015). Assim, o regime de níveis e volatilidade de preços do açúcar no
Nordeste aponta a necessidade de mitigar os riscos.

Entretanto, não se identificaram mecanismos econômico-financeiros compensatórios


regulares para mitigar eficientemente o grau de risco de preços de açúcar do Nordeste. Neste
sentido, em 2015 as usinas de Alagoas, Paraíba e Pernambuco contrataram financiamento
internacional de R$ 1,2 bilhões, operacionalizado pelo Fundo de Garantia à Exportação –
FGE. A garantia serão as futuras exportações de açúcar para os EUA (SINDAÇÚCAR-AL,
2015).

Em particular, o financiamento das exportações futuras de açúcar é uma solução pontual e


descontínua. Assim, para eliminar a descontinuidade de fontes financeiras devem-se articular
mecanismos perenes. Os mecanismos objetivam estabilizar o efeito de choques dos preços
internacionais do açúcar sobre os preços do Nordeste. Assim, como alternativa para a
indústria sucroalcooleira nordestina ilustra-se a formulação de um fundo de estabilização dos
preços.

Em especial, arrolaram-se a existência de fundos de estabilização de preços de commodities


não renováveis em países exportadores de petróleo, por exemplo, Rússia, Noruega, Irã, e
Venezuela. Também existe fundo de estabilização dos preços do cobre no Chile (DAVIS et al,
2001).

Além disso, para commodities agropecuárias identificou-se fundo de estabilização de preços


na Índia, para chá, borracha e café. Também, em Gana e Costa do Marfim existe fundo de
estabilização dos preços do cacau. Especificamente para o açúcar, ilustra-se fundo de
estabilização de preços na Colômbia (ÍNDIA, 2015; GHOSHRAY, 2013; OWEN, 2004).

Desta forma, a questão de pesquisa é avaliar mecanismo econômico-financeiro para


estabilizar preços de commodities no BR, propondo constituir fundo de estabilização dos
preços do açúcar do Nordeste. Especificamente, objetiva-se: i. identificar a persistência de
choques e reversão à média dos preços do açúcar em Alagoas, Pernambuco e a bolsa de
futuros ICE; ii. comparar fundos de estabilização de preços de commodities internacionais,
ilustrando as esquematizações para o açúcar; e, iii. propor a constituição de fundo de
estabilização dos preços do açúcar do Nordeste, aplicando parâmetros de desenho de
mecanismo (mechanism design).

Na próxima seção arrola-se a revisão de literatura. A seguir, a metodologia e os dados. A


quarta seção aponta e discute os resultados. Por último, registra-se o resumo e as conclusões
da pesquisa.

2. Revisão de literatura

Identificou-se corpo de literatura sobre fundos de estabilização de preços de commodities não


renováveis e agropecuárias. Particularmente, justifica-se a existência dos fundos como
resultado de choques exógenos às regiões produtoras e exposição ao risco dos preços.
Em particular, uma característica marcante dos preços de commodities é a reversão à média.
Neste sentido, Bessembinder et al (1995) usaram a estrutura a termo de preços futuros para
testar se investidores antecipavam a reversão à média em preços a vista de ativos. Apontaram
a existência de reversão à média nos mercados examinados. Em particular, para commodities
agropecuárias e petróleo a reversão à média era elevada.
Também, um terço dos preços de açúcar internacionais exibiam reversão à média a partir de
choques com duração de até quatro meses. Os preços domésticos de açúcar apontavam a
proporção de setenta por cento.
Schwartz e Smith (2000) desenvolveram modelo bivariado de preços de commodities que
arrolava reversão a média e incerteza sobre o ponto de reversão. Registraram que, apesar de
não observáveis, ambos os fatores poderiam ser estimados dos preços a vista e futuros. Em
adição, sublinharam que o modelo estimava uma convenience yield estocástica.
Back e Prokopczuk (2013) revisaram a literatura sobre a dinâmica de preços de commodities e
modelos de precificação de derivativos. Entre as características de preços de commodities
apontaram que a reversão à média era comum, resultando da interação entre a oferta e
demanda.
Também, Hart et al (2015) propuseram fórmula para precificação de opções agropecuárias de
vencimento longo, cujos preços apontavam reversão à média e sazonalidade. Em particular,
destacaram que o nível dos preços a vista e a convenience yield de grãos sublinhavam
reversão à média, consequente das pressões de oferta e demanda.
Assim, uma alternativa para mitigar o impacto de choques sobre os preços de commodities é a
organização de fundos de estabilização de preços. Em especial, Miranda e Helmberger (1988)
analisaram programa público de apoio e estabilização do preço da soja nos EUA usando
compras e vendas no mercado. Aplicando modelo de expectativas racionais com simulação
estocástica destacaram que os programas de estabilização reduziam o preço de mercado no
logo prazo e desestabilizavam a receita dos produtores.
Coleman e Larson (1991) examinaram alternativas de esquematização de sistemas de tarifas
para estabilização dos preços de commodities na Venezuela. Concluíram que a proposta ideal
deveria registrar os preços internacionais domesticamente e a estrutura tarifária não
desestabilizar os preços de longo prazo. Também, não deveria arrolar ônus fiscal significativo
e ser transparente.
Assim, o uso de bandas flexíveis resultaria na alternativa desejável. Em particular,
propuseram a aplicação de bandas de flutuação de 30% sobre o preço de referência constante.
Cashin, Liang e McDermott (2000) examinaram a persistência de choques sobre os preços
mundiais de commodities no período 1957-1998. Concluíram que os choques apontavam
longa duração e persistência elevada.

Em particular, apontaram que o custo dos esquemas domésticos e internacionais para


estabilizar as receitas de exportação para choques de longa duração superavam os benefícios
da suavização econômica.
Subervie (2008) comparou o impacto da volatilidade dos preços de commodities sobre a oferta
em nível de país, usando indicadores específicos para exportações de commodities. Destacou
que a reação dos produtores dependia de fatores macroeconômicos que afetavam a capacidade
de gestão de risco.
Assim, os efeitos da instabilidade dos preços internacionais de commodities acentuavam-se
por inflação elevada, infraestrutura de baixa qualidade e sistema financeiro subdesenvolvido.
Em suma, uma melhor reação dos produtores aos choques de preços internacionais das
commodities dependia do aperfeiçoamento do macroambiente.
Larson et al (2012) desenvolveram modelo de armazenamento dinâmico para o trigo do
Oriente Médio e Norte da África. Apontaram que se o objetivo for estabelecido elevado e as
reservas adequadas a estratégia pode ser eficiente e robusta. Entretanto, a política é mais
dispendiosa do que a intervenção direta para mitigar preços elevados com subsídio, por
exemplo, cupons alimentares.
Em adição, Ghoshray (2013) examinou a persistência de choques sobre os preços de
commodities no período de 1900 a 2008 aplicando método bootstrap em indexador
idiossincrático, identificando se os preços apontavam múltiplas alterações de persistência.

Concluiu que a persistência dos choques variava a duração fortemente dependendo da


commodity. Assim, as políticas econômicas deveriam ser cautelosas ao estruturar medidas
para amortecer o efeito de choques dos preços internacionais de commodities.

No caso específico do risco de preços de açúcar, Owen (2004) analisou o Fondo de


Estabilización de Precios del Azúcar –FEPA, da Colômbia. Registrou que o fundo aplicava
mecanismo compensatório, ou seja, quando os preços superavam um limite superior
arrolavam-se entradas financeiras. Analogamente, haveria compensação se os preços
rompessem um limite inferior.

Em particular, aplicando modelagem econométrica, examinou o FEPA sob as condições de


concorrência perfeita e oligopólio. Concluiu que o modelo de concorrência perfeita gerava
menores prejuízos para os produtores.

Por último, a contribuição inédita da pesquisa é avaliar mecanismo econômico-financeiro para


estabilizar preços de commodities no BR, propondo constituir fundo de estabilização dos
preços do açúcar do Nordeste.

3.Metodologia e dados

Classifica-se a pesquisa aplicando os critérios de Richardson (2011):

i. Quanto ao objetivo: exploratória, pois são escassas as pesquisas sobre o


problema, principalmente no Brasil;
ii. Quanto aos procedimentos: bibliográfica, arrolando referenciais teóricos e
métodos publicados por diversos autores;
iii. Quanto à abordagem da questão de pesquisa: quali-quanti, aplicando métodos
quantitativos para examinar a persistência e duração de choques sobre as séries
de preços do açúcar do Nordeste e futuros da ICE; também, analisou o
conteúdo de pesquisas aplicadas sobre fundos de estabilização de preços de
commodities, particularizando o açúcar, propondo fundo de estabilização de
preços do Nordeste com o uso de desenhos de mecanismo, mechanism design;
iv. Quanto ao critério amostral: usou-se a amostragem não probabilística, por
acessibilidade e conveniência, examinando período com disponibilidade de
dados e literatura de estudos sobre fundos de estabilização de preços de
commodities.

Em particular, aplicou-se uma revisão bibliográfica analítica, abrangendo o tema. Objetivou-


se atualizar da literatura sobre o assunto no exterior e no Brasil, possibilitando a divulgação
dos resultados dos estudos e a esquematização de futuros eixos de pesquisa da temática no
país.

3.1. O modelo teórico para examinar o impacto dos preços do açúcar sobre as usinas do
Nordeste

Para analisar o impacto dos preços do açúcar sobre o setor sucroalcooleiro do Nordeste arrola-
se como proxy dos agentes econômicos da cadeia de oferta do setor uma usina de açúcar i da
região. Assim, tem-se:
𝑅𝑇! = 𝑓(𝑝! , 𝑞!! , 𝑝!" , 𝑞!"! , 𝑝!! , 𝑞!!! )

= 𝑝! 𝑞!! + 𝑝!" 𝑞!"! + 𝑝!! 𝑞!!!

Onde:
RTi = receita total da usina i,
𝑝! , 𝑝!" 𝑎𝑛𝑑 𝑝!! = preços exógenos de açúcar, etanol anidro e hidratado, respectivamente,
𝑞!! , 𝑞!"! 𝑎𝑛𝑑 𝑞!!! = produção de açúcar, etanol anidro e hidratado, respectivamente, da usina
i,
qTi = 𝑞!! + 𝑞!"! + 𝑞!!! = produção total da usina i.

Em particular:
𝑞!! = 𝑔! (𝑝! , 𝑟, 𝑤, 𝜃, 𝐶𝑇! )

𝑞!"! = 𝑔! (𝑝!" , 𝑟, 𝑤, 𝜃, 𝐶𝑇! )

𝑞!"! = 𝑔! (𝑝!" , 𝑟, 𝑤, 𝜃, 𝐶𝑇! )

Onde:
5

r = taxa real de juros,


w = salário real,
θ = taxa de câmbio real
CTi = custo total da usina i; CTi = CFi + CVi; CFi = custo fixo da usina i and CVi = custo
variável da usina i.

Também:
𝜕𝑞!" 𝜕𝑞!"# 𝜕𝑞!"#
> 0, >0e >0
𝜕𝑝! 𝜕𝑝!" 𝜕𝑝!"
Em especial, aplicando-se expectativas racionais de Muth:
𝑝!! = 𝛾𝑝!!!
Onde:
𝑝!! = preço real esperado em t;
γ = fator de ajustamento, 0 < γ < 1;
pt-1 = preço do último período.

Dessa forma, a tendência de queda dos preços passados impactará negativamente o preço
esperado. Portanto, ocorrerá queda da produção e receita total da usina i, qTi e RTi. Em
consequência, examinam-se alternativas de alinhar os interesses das usinas sucroalcooleiras
do Nordeste com formulações econômico-financeiras para mitigar o impacto do risco do
preço do açúcar.
Nesse sentido, uma escolha pode ser o desenho de mecanismos que maximizem a posição
relativa das usinas frente ao risco do preço do açúcar. Por exemplo, a organização de fundo
rotativo para amortecer os impactos do preço do açúcar sobre o capital de giro das usinas
nordestinas.

3.2. Medida da persistência de choques e reversão à média dos preços do açúcar do


Nordeste
Para examinar a persistência de choques e reversão à média dos preços do açúcar do
Nordeste, comparando com a dinâmica dos preços do contrato futuro de açúcar # 11 da ICE
(SCHWARTZ; SMITH, 2000), aplicou-se o método de Andrews (1993), justificado em
Cashin, Liang e McDermott (2000). O estimador mediano não viesado de Andrews (1993)
arrola a ausência de viés com a estimação pontual e intervalar para estimações mais precisas
da persistência de choques em séries temporais.
Assim, o estimador mediano não viesado de Andrews (1993) objetiva estimar modelos
autoregressivos de primeira ordem, AR (1) com raiz unitária que registrem erros normais e
identicamente distribuídos. Dessa forma, analisa-se o processo estocástico da série temporal
arrolando intercepto e tendência (CASHIN; LIANG; McDERMOTT, 2000), ou seja:

𝑌! = 𝜇∗ + 𝛼𝑌!!! + 𝛽 ∗ 𝑡 + 𝜀! , ∀ 𝑡 = 1, … , 𝑇. Eq. (1)


Onde:
𝜀! ~𝑖𝑖𝑑 𝑁 0, 𝜎 ! , 𝜎 ! > 0,
𝜎!
𝑌! ~𝑁 𝜇, , se 𝛼 ∈ −1,1 ,
1 − 𝛼!
Y0 é constante arbitrária ou variável aleatória se α = 1,
𝜇∗ = 𝜇 1 − 𝛼 + 𝛼𝛽,
𝛽 ∗ = 𝛽 1 − 𝛼 , 𝛼 ∈ −1,1 ,
𝜀! = inovações do modelo,
µ = intercepto, e,
t = tendência.

Portanto, para calcular o estimador mediano não viesado, seja 𝛼 um estimador do parâmetro
autoregressivo α. Em particular, a função mediana, m(α) é definida exclusivamente
∀ 𝛼 ∈ (−1,1], então se define 𝛼! , o estimador mediano não viesado de α:
1 se 𝛼 > 1
!!
𝛼! = 𝑚 𝛼 se 𝑚 −1 < 𝛼 ≤ 𝑚(1) Eq. (2)
−1 se 𝛼 ≤ 𝑚(−1)
Onde:

m(-1)=lim à1 m(α),
α

m-1:(m(-1),m(1)] à (-1,1] é a função inversa de m(.), e,


m-1(m(α)) = α para 𝛼 ∈ −1,1 .

Em especial, ao expressar uma função para qual cada valor verdadeiro de α resulta no valor
mediano de 𝛼, aplica-se a função inversa para arrolar o estimador mediano não viesado de α.
Especificamente, Andrews (1993) calculou a mediana, o quartil a 5%, a banda inferior, e o
quartil a 95%, a banda superior, da função m(α) para o modelo AR(1) com raiz unitária, para
diversos tamanhos amostrais.
Em adição, objetiva-se calcular a persistência de choques e reversão à média dos preços do
açúcar do Nordeste, comparando com a dinâmica dos preços futuros da ICE. Particularmente,
as medidas para investigar a persistência serão a função impulso resposta (FIR), a função
impulso resposta cumulativa (CIR) e a função meia vida de um choque unitário (MVC).

Assim, a FIR arrola o efeito de um choque unitário em t, ou seja εt à εt+1 na Equação 1 sobre
os valores futuros da série temporal. Para as séries com raiz unitária a FIR não amortece,
porém para séries com tendência estacionária a FIR amortece-se. Desta forma, a magnitude da
FIR registra para períodos diferentes aponta a extensão da persistência dos choques sobre as
séries temporais. Define-se a FIR:

FIR (τ) = α para τ = 0, 1, 2, ...


τ
Eq. (3)
Em adição, Andrews (1993) arrolou duas medidas escalares de persistência que sintetizam a
FIR, a função impulso resposta cumulativa (CIR) e a função meia vida de um choque unitário
(MVC). Especificamente, a CIR aponta o efeito cumulativo total de um choque unitário sobre
os valores futuros da série temporal, ou seja, a soma da FIR para todos os períodos.
7

Por seu turno, para α ≥ 0, a MVC sublinha o intervalo de tempo em que o impulso resposta de
uma unidade de choque marca metade da magnitude original. Definem-se as funções:
! !!
𝐶𝐼𝑅 = !!! 𝐼𝑅𝐹 𝜏 = 1−𝛼 e 𝑀𝑉𝐶 = 𝐴𝐵𝑆(log (1/2)/log (𝛼)) Eq. (4)
Também, calculam-se estimadores medianos não viesados intervalos de confiança exatos para
a FIR, a CIR e a MVC, apontando informações sobre a variabilidade das medidas escalares de
persistência. Assim, calculam-se as estimativas medianas não viesadas para as medidas de
persistência usando a estimativa de α na Equação 4. Analogamente, calcula-se o intervalo de
confiança bilateral a 90% usando os quartis de 5% e 95% da Equação 4.

3.2. Comparação de fundos de estabilização de preços de commodities internacionais,


ilustrando as esquematizações para o açúcar

Para identificar pontos comuns e específicos de fundos de estabilização de preços de


commodities internacionais, ilustrando as esquematizações para o açúcar usou-se revisão de
literatura anotada. Assim, o Quadro 1 resume a classificação de Noronha e Ferreira (2000)
para a metodologia da revisão de literatura anotada sobre fundos de estabilização de preços de
commodities internacionais, ilustrando as esquematizações para o açúcar:
Quadro 1. Classificação da revisão de literatura sobre fundos de estabilização de preços de commodities
internacionais, ilustrando as esquematizações para o açúcar.
CLASSIFICAÇÃO TIPOLOGIA OBSERVAÇÕES
Revisão da literatura sobre temática específica,
transcrevendo parte dos desenvolvimentos sobre a área de
interesse, fundos de estabilização de preços de
Propósito Analítico
commodities internacionais, ilustrando as esquematizações
para o açúcar, com base no estado da arte da literatura e
documentação dos fundos.
O estudo centra-se no tema específico da evolução
teórico-analítica sobre fundos de estabilização de preços
Abrangência Temática de commodities internacionais, ilustrando as
esquematizações para o açúcar, com base no estado da
arte da literatura.
Registram-se as principais contribuições de pesquisadores
sobre a temática, objetivando subsidiar o desenho do
Função Atualização
mecanismo do fundo proposto para estabilizar os preços
do açúcar do Nordeste.
Arrola-se revisão bibliográfica analítica e descritiva, sem
análise crítica, indicando-se as principais contribuições
Tratamento e
Bibliográfica teóricas sobre fundos de estabilização de preços de
Abordagem
commodities internacionais, ilustrando as esquematizações
para o açúcar.
Fonte: elaborado pelos autores, com base em Noronha e Ferreira (2000).

Em suma, classificou-se o conjunto informacional sobre fundos de estabilização de preços de


commodities internacionais, ilustrando as esquematizações para o açúcar. Inicialmente
arrolaram-se os resultados de pesquisa em bases científicas aplicando as palavras-chave
fundos de estabilização de preços, commodities, mecanismos operacionais.
A seguir filtraram-se os resultados identificando os resultados que sublinhavam as
características de cada fundo. O próximo passo expressou as propriedades comuns e
individuais dos fundos. Também, examinou-se a documentação de cada fundo arrolado para
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comparar as propriedades comuns e individuais. Além disso, sublinhou-se procedimento


similar para fundos específicos de açúcar.
Por fim, esquematizaram-se quadros comparativos das propriedades comuns e individuais dos
fundos de estabilização de preços de commodities internacionais, ilustrando as
esquematizações para o açúcar.

3.4. Propor a constituição de fundo de estabilização dos preços do açúcar do Nordeste,


aplicando parâmetros de desenho de mecanismos, mechanism design

Empregando os resultados da seção 3.3, ilustrou-se a proposta para constituição de fundo de


estabilização dos preços do açúcar do Nordeste. Especificamente, aplicaram-se parâmetros de
desenho de mecanismos, mechanism design.
Em particular, um mecanismo é uma instituição, procedimento ou jogo para articular
resultados. A escolha dos resultados e do mecanismo associado dependerá do designer e do
cenário. Objetiva-se identificar o resultado alocativo social ótimo. Exemplificadamente, o
designer para bens públicos é o governo, definindo o fornecimento e o financiamento.
Também, para a venda de ativos, o mecanismo será um leilão e o designer o leiloeiro que
escolherá o formato do leilão. Numa eleição o mecanismo é o processo eleitoral com as regras
associadas.
Entretanto, a dificuldade é identificar o resultado ótimo. Por exemplo, a escolha do bem
público ou dos licitantes de leilão com maiores lances. Portanto, como o designer desconhece
o resultado ótimo, deve agir indiretamente arrolando resultados por decreto ou regra.
Particularmente, os desenhos de mecanismos devem gerar a informação necessária enquanto
são executados.
Em especial, o desenho de mecanismo pode ser aplicado para normatizar ações de múltiplos
agentes operando em condições de preferências não reveladas. Especificamente, objetiva-se
formular as regras do jogo interativo entre os agentes no regime de preferências aplicando o
desenho de mecanismo (MASKIN, 2008).
Assim, um mecanismo é um processo de troca de mensagens e informações, propondo
incentivos otimizados para a ação de múltiplos agentes agindo de forma não cooperativa. Em
equilíbrio, o desenho de mecanismo enuncia três elementos (HURWICZ; REITER, 2006, p.
26):
i. Um espaço de mensagens, definido por M,
ii. Um conjunto de mensagens correspondentes de equilíbrio, definido por 𝜇: Θ ⇒ 𝑀,
iii. Uma função de resultado, definida por h, h:MàZ, Z é o espaço dos resultados.

Seja π = (M, µ, h) o mecanismo ilustrando a estacionariedade ou os estados de equilíbrio de


um processo dinâmico de troca de mensagens. O espaço de mensagens M consiste das
mensagens disponíveis para comunicação. Por hipótese é um espaço euclidiano de dimensão
finita.

Em particular, as mensagens podem traduzir comunicações escritas formais da empresa, como


relatórios de vendas, produção e financeiros. Os relatórios são padronizados, registrando uma
ordem de espaços em branco com entradas numéricas ou alfanuméricas conforme instruções.
Assim, um relatório é uma ordenação de variáveis, cujos valores ilustram um espaço vetorial.
Também, comunicações menos formais como correspondências e memorandos comerciais
podem ser igualmente identificadas.
Além disso, a correspondência do conjunto de mensagens de equilíbrio µ associa para cada
cenário, θ, o conjunto de mensagens, µ(θ), que são mensagens de equilíbrio ou estacionárias
para todos os agentes, ou seja, cada agente aceitam-nas individualmente. Caso as mensagens
fossem propostas de ações, então aquelas de µ(θ) arrolariam todas as propostas para as quais
cada agente concordaria com o cenário seria θ.
Também, a função de resultados h interpreta as mensagens em resultados. Portanto, o
mecanismo π = (M, µ, h) quando operado num ambiente θ arrola os resultados h(µ(θ)) em Z.
Desta forma, para todos os cenários em dado espaço Θ, o mecanismo π ilustra um resultado
desejado pelo cliente no cenário. Então, se expressa que π realiza F em Θ, ou que π realiza F.

Em resumo, π realiza F se para todo θ em Θ, h(µ(θ)) = F(θ). Assim, a Figura 1 registra o


diagrama comutativo de Θ, Φ, Ζ, µ, Μ e h:
Fig. 1. Diagrama comutativo de Θ, Φ, Ζ, µ, Μ e h.

Θ F Ζ
• •

µ h


Μ

Fonte: Hurwicz e Reiter (2006, p. 27).

Desta forma, a correspondência de mensagens de equilíbrio, µ aponta o comportamento dos


agentes, que podem ignorar os incentivos ou escolher as estratégias num jogo.
Em adição, aplicar-se-á o desenho de mecanismo para o caso específico da proposta do fundo
de estabilização dos preços do açúcar do Nordeste. Dessa forma, deve-se formular:
i. O espaço de resultados esperados, Z; entre os elementos do fundo sublinham-se a
originação dos recursos financeiros, regras de adesão e de entrada e saída,
accountability, governança, duração e impactos fiscais;
ii. A estratégia para survey do espaço ambiente, Θ; fundamentalmente expressa a
conexão do espaço ambiente com o agente econômico representativo do setor
sucroalcooleiro do Nordeste, a usina i, pela constelação de preços a vista e futuros;
desta forma, pode-se esquematizar gatilho para acessar o fundo de estabilização a
partir de pontos de reversão à média de longo prazo dos preços futuros do açúcar;

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iii. O desenho do mecanismo, ou espaço de mensagens, M; deve-se definir a estrutura


de incentivos aceitos individualmente pelos agentes, no estudo a usina i; assim,
entre as mensagens de equilíbrio, µ, pode-se registrar a transparência das regras do
fundo, a participação e o papel dos stakeholders, o sistema de amortização das
exigibilidades, o uso específico dos recursos para reforço do capital de giro das
usinas, entre outras.
Em suma, o desenho do mecanismo proposto para o fundo de estabilização dos preços do
açúcar do Nordeste empregará as etapas apontadas, arrolando os resultados da análise da
seção 3.3.

3.5. Dados

Para os cálculos da seção 3.2 usaram-se os dados:

i. Preços a vista do açúcar no Nordeste, proxy apontada pelas duas séries dos
Indicadores Mensais Açúcar CEPEA/ESALQ – Alagoas e Pernambuco - Mercado
Interno, em US$/sc de 50 kgs; fonte: CEPEA (2016); a seguir, para fobizar o
preço, aplicou-se o multiplicador 0,7474 calculando o preço FOB exportação;
ii. Preços futuros mensais do contrato de açúcar # 11 com vencimento mais próximo,
da ICE, fonte: barchart.com (2016); justifica-se o uso dos preços do contrato
futuro de açúcar # 11 da ICE pelo alto volume e disponibilidade de dados; valores
em US$ centavos/libra-peso, convertidos para US$/saca de 50 kgs multiplicando-
se por 1,10231.

Também, arrolou-se o período de setembro de 2000 a março de 2016, totalizando 187


observações mensais, por acessibilidade e disponibilidade. Em particular, optou-se por não
analisar a série de preços mensais de açúcar da Paraíba devido ao menor número de
observações disponíveis. Usou-se o software MATLAB versão R2015b.

A seguir, para analisar a bibliografia sobre fundos de estabilização de preços de commodities


arrolou-se documentação primária dos fundos operacionais de hortaliças na Índia e do açúcar
na Colômbia. Em particular a análise identificou os elementos dos fundos, articulando
comparação.

4. Resultados e discussão

Arrolam-se os gráficos dos preços mensais a vista do açúcar em Alagoas, Pernambuco e


futuros do açúcar # 11 da ICE, Gráficos 1, 2 e 3:

11

Gráfico 1. Preços mensais a vista do açúcar em Alagoas. Indicador Mensal Açúcar CEPEA/ESALQ
Alagoas - Mercado Interno fobizado. Em US$/sc de 50 kgs. Período – eixo horizontal: setembro de 2000 a
março de 2016.
40,00
35,00
30,00
25,00
Preços
20,00
Média
15,00
10,00
5,00
0,00
Fonte: CEPEA (2016).

Assim, a análise do Gráfico 1 no período apontou variação dos preços mensais a vista do
açúcar em Alagoas no intervalo [US$ 6,10; US$ 37,70], amplitude de variação de US$ 31,60.
Também, o valor médio foi de US$16,41, interceptando o gráfico dos preços em quatro
pontos. Desta forma, uma explicação pode ser o forte grau de persistência dos choques
externos sobre a série temporal.

Gráfico 2. Preços mensais a vista do açúcar em Pernambuco. Indicador Mensal Açúcar CEPEA/ESALQ
Pernambuco - Mercado Interno fobizado. Em US$/sc de 50 kgs. Período – eixo horizontal: setembro de
2000 a março de 2016.
60

50

40
Preços
30
Média
20

10

0
Fonte: CEPEA (2016).

Em particular, o exame do Gráfico 2 no período ilustrou variação dos preços mensais a vista
do açúcar em Pernambuco no intervalo [US$ 8,01; US$ 49,30], amplitude de variação de
US$41,30. Também, o valor médio foi de US$ 21,50, interceptando o gráfico dos preços em
quatro pontos. Analogamente aos preços do açúcar de Alagoas, uma explicação pode ser o
forte grau de persistência dos choques externos sobre a série temporal.

12

Gráfico 3. Preços mensais do contrato futuro de açúcar # 11 da ICE. Valores contínuos. Em US$/sc de 50
kgs. Período – eixo horizontal: setembro de 2000 a março de 2016.
40,00
35,00
30,00
25,00
Preços
20,00
Média
15,00
10,00
5,00
0,00

Fonte: www.barchart.com (2016).

Em adição, a análise do Gráfico 3 no período apontou variação dos preços mensais do


contrato futuro de açúcar # 11 da ICE no intervalo [US$ 5,47; US$ 37,40], amplitude de
variação de US$ 31,98. Especificamente, o valor médio foi de US$ 15,53, interceptando o
gráfico dos preços em oito pontos. Também, conforme Cashin, Liang e McDermott (2000)
uma explicação pode ser o forte grau de persistência dos choques externos sobre a série
temporal, característica comum às séries de preços de açúcar.

Em resumo, comparando-se os três gráficos, os valores de amplitude e média dos preços do


açúcar em Pernambuco superaram Alagoas e ICE. Também, os valores de Alagoas superaram
os da ICE. Uma explicação pode ser a persistência de choques em Pernambuco, que lideraria
a formação de preços da commodity no Nordeste.

A seguir registra-se a matriz de correlações entre preços mensais a vista do açúcar em


Alagoas e Pernambuco e futuros do açúcar # 11 da ICE, Tabela 1:

Tab. 1. Matriz de correlações entre preços mensais a vista do açúcar em Alagoas e Pernambuco e futuros
do açúcar # 11 da ICE. Período: setembro de 2000 a março de 2016. Em US$/sc de 50 kgs.

PAL PPE PICE


PAL 1 0.9979 0.9327
PPE 0.9979 1 0.9359
PICE 0.9327 0.9359 1
Obs.: PAL = preços a vista de Alagoas;
PPE = preços a vista de Pernambuco; e,
PICE = preços futuros da ICE.
Fonte: Elaborada com os dados da pesquisa.

Em especial, a análise da matriz de correlações entre os preços mensais a vista do açúcar em


Alagoas e Pernambuco e os futuros do açúcar # 11 da ICE apontou valores positivos e
elevados, de 0,9327 e 0,9979, respectivamente. Por seu turno, a correlação entre os preços de
Alagoas e Pernambuco foi elevada, 0,9979. Assim, o resultado sugere forte grau de endogenia
entre os três mercados. Consequentemente, as propagações de choques persistentes,

13

originados nos mercados internacionais espalham-se com velocidade nos mercados


nordestinos.
A próxima etapa examinou a persistência dos choques sobre os preços do açúcar analisados.
Assim, calcularam-se os estimadores autoregressivos AR (1) normais e medianos não viesados
com raiz unitária das séries temporais dos preços, aplicando as Equações 2, 3 e 4. A Tabela 2
aponta os valores:
Tab. 2. Estimadores autoregressivos medianos não viesados/raiz unitária. Unidade: Preços mensais a vista
do açúcar em Alagoas e Pernambuco e futuros do açúcar # 11 da ICE. Período: setembro de 2000 a março
de 2016. Em US$/sc de 50 kgs. Aplicação das Equações 2, 3 e 4.
Mercado Estimador α IR (4) IR (12) IR (36) CIR MVC
MQ1 0,966 0,872 0,663 0,291 29,674 20,220
Alagoas Mediano
0,996 0,986 0,958 0,878 277,778 192,194
a vista não viesado
Intervalo2 [0,974-1,00] [0,900-0,984] [0,729-0,954] [0,338-0,867] [38,532-∞] [26,360-∞]

MQ1 0.963 0,860 0,635 0,256 26,954 18,334


Pernambuco Mediano
0,995 0,982 0,946 0,847 217,391 150,337
a vista não viesado
Intervalo2 [0,973-1,00] [0,898-1,00] [0,724-1,00] [0,380-1,00] [37,723-∞] [25,799-∞]

MQ1 0,944 0,794 0,501 0,126 17,889 12,050


ICE # 11 Mediano
0,983 0,934 0,815 0,541 59,172 40,667
futuro não viesado
Intervalo2 [0,916-1,00] [0,703-1,00] [0,347-1,00] [0,042-1,00] [11,844-∞] [7,858-∞]
Obs.: 1. Estimador de mínimos quadrados do AR(1) com tendência e constante; 2. Intervalo de confiança a 90%
do estimador mediano não viesado, calculado usando-se a Tabela III, de Andrews (1998).
Fonte: Elaborada com os dados da pesquisa.

Em particular, o exame da Tabela 2 registrou que o estimador mediano não viesado para o
preço do açúcar em Alagoas, α, foi de 0,996, enquanto estimador de mínimos quadrados
(MQ) atingiu 0,966, diferença de 0,030. Entretanto, a baixa diferença absoluta enunciou um
efeito elevado sobre a persistência de choques. Também, o intervalo de confiança a 90 por
cento para o estimador mediano não viesado α, [0,974-1,00], registrou estimação robusta. A
função impulso resposta, IR, decresceu monotonicamente para zero, ou seja, tendeu a zero.

Além disso, a diferença entre a função impulso resposta acumulada (CIR) do α o estimador
mediano não viesado e do MQ foi 836 por cento superior. A CIR registrou o efeito acumulado
total de uma unidade de choque sobre a evolução futura da série de preços. Assim, uma
unidade de choque sobre o preço do açúcar de Alagoas gerou 836 unidades de variação do
nível dos preços quando t → ∞.

Em adição, o tempo de dissipação de metade do impulso resposta foi de 20,220 e 192,194


meses para os estimadores MQ e mediano não viesado, respectivamente. Desta forma, os
choques sobre os preços do açúcar de Alagoas identificaram persistências longas.

Também, o estimador mediano não viesado para o preço do açúcar em Pernambuco, α, foi de
0,995, enquanto estimador MQ atingiu 0,963, diferença de 0,032. Analogamente aos preços
de Alagoas, a baixa diferença absoluta enunciou um efeito elevado da persistência de
choques. O intervalo de confiança a 90 por cento para o estimador mediano não viesado α,
[0,973-1,00], apontou estimação robusta. Também, a função impulso resposta, IR, tendeu a
zero.

14

Além disso, a razão entre a CIR do estimador mediano não viesado e do MQ foi 707 por
cento superior. Assim, uma unidade de choque sobre o preço do açúcar de Pernambuco
apontou 707 unidades de variação do nível dos preços quando t → ∞.

Em adição, o tempo de dissipação de metade do impulso resposta foi de 18,334 e 150,337


meses para os estimadores MQ e mediano não viesado, respectivamente. Similarmente aos
resultados para Alagoas, os choques sobre os preços do açúcar de Pernambuco identificaram
persistências duradouras.

A seguir, a análise do estimador mediano não viesado para o preço do açúcar futuro # 11 da
ICE, α, foi de 0,983, enquanto o estimador MQ atingiu 0,944, diferença de 0,039.
Similarmente aos preços de Alagoas e Pernambuco, a baixa diferença absoluta apontou um
elevada persistência de choques. O intervalo de confiança a 90 por cento para o estimador
mediano não viesado α, [0,916-1,00], ilustrou estimação robusta. Também, a função impulso
resposta, IR, tendeu a zero.

Além disso, a CIR do α o estimador mediano não viesado e do MQ foi 231 por cento
superior. Assim, uma unidade de choque sobre o preço do açúcar futuro # 11 da ICE
registrou 231 unidades de variação do nível dos preços quando t → ∞.

Também, o tempo de dissipação de metade do impulso resposta foi de 12,050 e 40,667 meses
para os estimadores MQ e mediano não viesado, respectivamente. Entretanto, comparados aos
resultados para Alagoas e Pernambuco, os choques sobre os preços do açúcar futuro # 11 da
ICE arrolaram menores persistências.

Em resumo, identificou-se que os choques sobre os preços do açúcar em Alagoas e


Pernambuco registravam persistência. Especificamente, o preço atual pode ser expresso como
o preço do período anterior mais um choque aleatório. Desta forma, os baixos preços
correntes tenderão a permanecer baixos nos períodos subsequentes, sem reverter à média. O
resultado pode ser demonstrado pela análise dos Gráficos 1 e 2, alinhando-se com as
conclusões de Cashin, Liang e McDermott (2000) para os preços do açúcar em mercados
livres.

Em particular, algumas razões podem ser os choques de oferta e demanda mundial de açúcar,
por exemplo, a entrada de novos produtores, a substituição do açúcar por produtos
alternativos, o fim de acordos de exportação, entre outras. Desta forma, a volatilidade dos
preços do açúcar do Nordeste afeta as receitas de exportação, os superávits financeios dos
produtores, os padrões de consumo e o resultado fiscal dos governos estaduais e municipais.

Portanto, necessita-se estimar alternativas para mitigar o impacto dos choques persistentes
sobre os preços do açúcar do Nordeste. Assim, uma escolha poderia ser planejar um fundo de
estabilização dos preços do açúcar regional. A seguir analisou-se a literatura específica sobre
fundos de estabilização de preços de commodities.

Assim, arrolaram-se os elementos gerais e específicos dos fundos. Entre os elementos gerais
enuncia-se a organização, o mecanismo operacional, a governança e a accountability. A
Figura 2 esquematiza os elementos gerais e específicos de fundos de estabilização de
commodities:

15

Fig. 2. Elementos de fundos de estabilização de commodities.

Fonte: elaborada com os dados da pesquisa.

Em particular, sublinha-se que os mecanismos operacionais devem nomear os critérios para


saques e contribuições, identificando a origem e a remuneração dos recursos. Também, devem
definir os produtos e mercados cobertos. Especificamente, reúne-se no Quadro 2 os elementos
dos fundos de estabilização de preços de commodities atualmente operacionais, do açúcar, na
Colômbia, e produtos agropecuários, na Índia:
Quadro 2. Elementos dos fundos de estabilização de preços de commodities em operação. Açúcar na
Colômbia e produtos agropecuários na Índia.
Elemento Colômbia1 Índia2
Organização
Fondo de Estabilización de
• Nomenclatura Price Stabilization Fund (PSF)
Precios del Azúcar – FEPA.
• Parâmetros Legais Lei Federal n. 101, de 1993. Legislação do Min. da Agricultura.
Asocaña, entidade representativa da Comitê dirigente multi-
• Administração
indústria açucareira e setor público. institucional.
Mecanismo operacional
Fundo organizado como
• Critérios Fundo organizado c/conta especial.
órgão público.
Dia da operação, cfe. diferencial de Propostas dos governos
§ Saques
preços definidos p/Fundo. locais, sem juros.
Parafiscais, cfe. diferencial de Fiscais, c/recursos federais e
§ Contribuições
preços definidos p/Fundo. estaduais, percentual variável.
§ Produtos Açúcar e derivados. Hortigranjeiros perecíveis.
§ Mercados Interno e externo. Interno.
Governança
Governo federal e agentes privados da Governos federal, estaduais e
• Stakeholders
indústria açucareira. locais, pequenos produtores.
Definir políticas, regulamentos, preços, Procurement de produtos e
• Papel institucional
administração e operação do Fundo. controle do fundo.
• Mecanismos Auditoria das contas do fundo
Auditoria interna e externa.
de controle junto aos operadores.
Accountability
• Mecanismos de Portal, boletim, base de dados, correio Demonstrativos das operações do
informação eletrônico e armazenamento informações. fundo.
Fonte: 1. FEPA (2016). 2. INDIA (2015).
16

Em especial, o exame do Quadro 2 identificou elementos comuns e específicos dos fundos de


estabilização de preços agropecuários da Colômbia e Índia. Assim, entre os principais pontos
comuns arrolaram-se a participação do setor público, acentuada na operacionalização do
fundo indiano. Também, os critérios de accountability e mecanismos de controle com
auditoria.
Quanto aos elementos específicos, o fundo da Colômbia formulava mecanismo para
estabilizar o preço do açúcar, enquanto o indiano os preços de hortifrutigranjeiros.
Adicionalmente, o funding da Colômbia originava-se de recursos parafiscais e o indiano de
fiscais. Por fim, o fundo do açúcar colombiano arrolava operações individuais dos agentes da
cadeia. O fundo indiano coordenava procuração de compra de produtos em nível de porteira
dos pequenos produtores.
A seguir, organizaram-se as etapas para propor a constituição de fundo de estabilização dos
preços do açúcar do Nordeste, aplicando parâmetros de desenho de mecanismo, mechanism
design, definidos na seção 3.4. Especificamente, esquematizou-se o espaço de resultados
esperados, Z e a estratégia para survey do espaço ambiente, Θ. Α última etapa foi o desenho
do mecanismo, ou espaço de mensagens, M, conforme o Quadro 3:

Quadro 3. Proposta para o desenho de mecanismo (mechanism design) do fundo de estabilização dos
preços do açúcar do Nordeste.
Espaço de resultados Estratégias para survey do Desenho do mecanismo –
esperados (Z) espaço ambiente (Θ ) espaço de mensagens (M)
• Identificar a adesão voluntária • Formular a transparência do
dos stakeholders. processo de gestão administrativa.
• Examinar o estado da arte de • Articular a representatividade
Organização
gestão de fundos de estabilização. equilibrada.
eficaz
• Inventariar alternativas de • Planejar rotinas administrativas
parcerias, p. ex., BID, Banco Mundial e e operacionais eficazes.
similares.

• Aplicar regras operacionais • Formular regras operacionais


correlacionadas com mercado e transparentes e eficientes.
stakeholders. • Planejar a perenidade
Mecanismo
• Identificar a captação de financeira.
operacional
recursos não fiscais. • Esquematizar os critérios de
eficiente
• Analisar continuamente a contribuições e saques.
dinâmica dos preços do mercado de
açúcar.

• Definir a participação dos • Planejar a continuidade


stakeholders. operacional.
Governança • Ilustrar as regras e • Compor níveis decisórios
representativa procedimentos operacionais. eficientes, sem viés político.
• Identificar a assimetria • Coordenar a participação dos
informacional dos stakeholders. stakeholders na gestão.

• Identificar estratégias para • Organizar ferramentas de


aplicar feedback recebido. divulgação sistemática das ações.
Accountability • Reafirmar interesses comuns • Articular a participação de
transparente sobrepostos aos individuais. stakeholders e outros agentes.
• Sublinhar operações focadas na • Articular pesquisas de opinião
estabilização dos preços do açúcar. sobre o fundo.
Fonte: elaborado com os dados da pesquisa.

17

Assim, o Quadro 3 esquematizou o arcabouço geral da proposta do fundo de estabilização dos


preços do açúcar do Nordeste. Adicionalmente, elementos complementares do fundo
poderiam empregar performance bond com incentivos para adimplência de pagamentos e
criar bolsa regional atraindo compradores e vendedores, formulando preços regionais e locais.

Também, outros elementos do fundo arrolariam constituir o financiamento de estratégias para


o uso de mercados futuros e de opções, por exemplo, financiado prêmios de puts e collars,
empregar incentivo financeiro para parcerias estratégicas com financiadores e investidores no
setor sucroalcooleiro regional e coordenar a atração de agentes da cadeia, fornecedores
insumos agropecuários e cana de açúcar, usinas, tradings e importadores. Desta forma, o
conjunto de elementos poderia compor a base do fundo de estabilização dos preços do Açúcar
do Nordeste.

Por último, a proposta de criar o fundo de estabilização dos preços do açúcar do Nordeste, a
partir dos elementos arrolados, poderia mitigar os impactos do risco de preços, em especial a
persistência de choques sobre a economia regional. Assim, os agentes econômicos da cadeia
de oferta do açúcar do Nordeste identificariam a existência de um mecanismo eficiente para
coordenar as ações, minimizando os efeitos de choques do nível e volatilidade dos preços
sobre as decisões alocativas.

5. Resumo e conclusões

A questão de pesquisa avaliou mecanismo econômico-financeiro para estabilizar preços de


commodities no Brasil, propondo constituir fundo de estabilização dos preços do açúcar do
Nordeste. Especificamente, objetivou identificar a persistência de choques e reversão à média
dos preços do açúcar em Alagoas, Pernambuco e bolsa de futuros ICE

A seguir; compararam-se fundos de estabilização de preços de commodities internacionais,


ilustrando as esquematizações para o açúcar. Por fim, propôs-se a constituição de fundo de
estabilização dos preços do açúcar do Nordeste, aplicando parâmetros de desenho de
mecanismo (mechanism design).

Assim, identificou-se a ocorrência de elevadas persistências dos choques dos preços do açúcar
de Alagoas e Pernambuco, os principais mercados nordestinos. Os mercados regionais
registraram elevada correlação entre si e com os preços futuros do contrato # 11 da ICE.
Também, identificou-se a persistência dos choques sobre os preços da ICE, em valor inferior
ao Nordeste.

Desta forma, como forma de mitigar os impactos das persistências sobre os preços do açúcar
do Nordeste propôs-se a formulação de fundo de estabilização dos preços regionais.
Inicialmente, com base nos fundos de estabilização de preços existentes na Índia, de produtos
hortifrutigranjeiros, e na Colômbia, de açúcar, arrolaram-se as características comuns e as
específicas. Em particular, identificaram-se os elementos organização, mecanismo
operacional, governança e accountability.

A seguir aplicaram-se os parâmetros de desenho de mecanismo, mechanism design, para


formular a proposta do fundo de estabilização dos preços do açúcar do Nordeste. Desta forma,
para compor o fundo apontaram-se o espaço de resultados esperados, Z e a estratégia para

18

survey do espaço ambiente, Θ. Α última etapa foi o desenho do mecanismo, ou espaço de


mensagens, M.

Em particular, registra-se que o desenho de mecanismo da proposta do fundo de estabilização


dos preços do açúcar do Nordeste objetiva enunciar as análises preliminares para a validação
da alternativa. Com efeito, o desempenho econômico regional registra elevada correlação com
o setor sucroalcooleiro. Desta forma, a criação do fundo em bases competitivas aplicando o
estado da arte de desenho de mecanismo, pode mitigar o efeito da persistência de choques dos
níveis e volatilidades dos preços.

Por último, a pesquisa limitou-se a analisar os resultados de choques sobre a dinâmica dos
preços do açúcar do Nordeste, comparando com os preços da ICE. Também, não arrolou
estudos específicos e surveys dos agentes locais. Assim, sugere-se ampliar o universo de
análise, examinar a percepção dos agentes da cadeia de oferta da commodity na região.
Também, pode-se aprofundar a análise dos elementos do fundo de estabilização do açúcar da
Colômbia.

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