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Autoria: Victor Hugo Lessa Pierre, Henrique Cezar Martins Costa, André de Souza Melo, Claudio Zancan,
Yony de Sá Barreto Sampaio, Waldemar Antonio da Rocha de Souza
Resumo
Os preços do açúcar do Nordeste registram elevado grau de persistência a choques. Os
choques de nível e volatilidade dos preços resultam em assimetrias informacionais e
alocativas dos agentes da cadeia da commodity na região. Assim, para mitigar os impactos
sobre os agentes necessita-se analisar alternativas econômico-financeiras para a gestão
eficiente das decisões alocativas. Uma alternativa pode ser a formulação de um fundo de
estabilização dos preços do açúcar do Nordeste. Em particular, calculou-se o grau e duração
da persistência de choques nas séries de preços mensais do açúcar de Alagoas e Pernambuco,
comparando com os preços futuros do açúcar # 11, da ICE. Também, analisaram-se os
elementos constitutivos dos fundos de estabilização de preços agropecuários existentes
atualmente na Índia, para produtos hortifrutigranjeiros, e na Colômbia, para açúcar. Por fim,
aplicou-se o desenho de mecanismo, mechanism design, para arrolar a proposta de criação do
fundo de estabilização dos preços da commodity do Nordeste. Os resultados confirmaram a
elevada persistência de choques sobre os preços do açúcar do Nordeste. Também, a
identificação dos elementos dos fundos de estabilização de preços operacionais e o desenho
do mecanismo da proposta para o fundo do Nordeste arrolam o conjunto de informações para
a constituição do fundo.
1. Introdução
Além disso, ilustra-se forte grau de risco dos preços de açúcar do Nordeste. Especificamente,
registraram-se períodos com quebras estruturais do nível dos preços, bem como elevados
valores da volatilidade mensal, do Value-at-Risk (VaR) e do Conditional Value-at-Risk
(CVaR), a 5%, dos preços mensais do açúcar a vista de Alagoas, em dólares americanos
(ATAÍDE et al, 2015). Assim, o regime de níveis e volatilidade de preços do açúcar no
Nordeste aponta a necessidade de mitigar os riscos.
2. Revisão de literatura
3.Metodologia e dados
3.1. O modelo teórico para examinar o impacto dos preços do açúcar sobre as usinas do
Nordeste
Para analisar o impacto dos preços do açúcar sobre o setor sucroalcooleiro do Nordeste arrola-
se como proxy dos agentes econômicos da cadeia de oferta do setor uma usina de açúcar i da
região. Assim, tem-se:
𝑅𝑇! = 𝑓(𝑝! , 𝑞!! , 𝑝!" , 𝑞!"! , 𝑝!! , 𝑞!!! )
Onde:
RTi = receita total da usina i,
𝑝! , 𝑝!" 𝑎𝑛𝑑 𝑝!! = preços exógenos de açúcar, etanol anidro e hidratado, respectivamente,
𝑞!! , 𝑞!"! 𝑎𝑛𝑑 𝑞!!! = produção de açúcar, etanol anidro e hidratado, respectivamente, da usina
i,
qTi = 𝑞!! + 𝑞!"! + 𝑞!!! = produção total da usina i.
Em particular:
𝑞!! = 𝑔! (𝑝! , 𝑟, 𝑤, 𝜃, 𝐶𝑇! )
Onde:
5
Também:
𝜕𝑞!" 𝜕𝑞!"# 𝜕𝑞!"#
> 0, >0e >0
𝜕𝑝! 𝜕𝑝!" 𝜕𝑝!"
Em especial, aplicando-se expectativas racionais de Muth:
𝑝!! = 𝛾𝑝!!!
Onde:
𝑝!! = preço real esperado em t;
γ = fator de ajustamento, 0 < γ < 1;
pt-1 = preço do último período.
Dessa forma, a tendência de queda dos preços passados impactará negativamente o preço
esperado. Portanto, ocorrerá queda da produção e receita total da usina i, qTi e RTi. Em
consequência, examinam-se alternativas de alinhar os interesses das usinas sucroalcooleiras
do Nordeste com formulações econômico-financeiras para mitigar o impacto do risco do
preço do açúcar.
Nesse sentido, uma escolha pode ser o desenho de mecanismos que maximizem a posição
relativa das usinas frente ao risco do preço do açúcar. Por exemplo, a organização de fundo
rotativo para amortecer os impactos do preço do açúcar sobre o capital de giro das usinas
nordestinas.
Portanto, para calcular o estimador mediano não viesado, seja 𝛼 um estimador do parâmetro
autoregressivo α. Em particular, a função mediana, m(α) é definida exclusivamente
∀ 𝛼 ∈ (−1,1], então se define 𝛼! , o estimador mediano não viesado de α:
1 se 𝛼 > 1
!!
𝛼! = 𝑚 𝛼 se 𝑚 −1 < 𝛼 ≤ 𝑚(1) Eq. (2)
−1 se 𝛼 ≤ 𝑚(−1)
Onde:
m(-1)=lim à1 m(α),
α
Em especial, ao expressar uma função para qual cada valor verdadeiro de α resulta no valor
mediano de 𝛼, aplica-se a função inversa para arrolar o estimador mediano não viesado de α.
Especificamente, Andrews (1993) calculou a mediana, o quartil a 5%, a banda inferior, e o
quartil a 95%, a banda superior, da função m(α) para o modelo AR(1) com raiz unitária, para
diversos tamanhos amostrais.
Em adição, objetiva-se calcular a persistência de choques e reversão à média dos preços do
açúcar do Nordeste, comparando com a dinâmica dos preços futuros da ICE. Particularmente,
as medidas para investigar a persistência serão a função impulso resposta (FIR), a função
impulso resposta cumulativa (CIR) e a função meia vida de um choque unitário (MVC).
Assim, a FIR arrola o efeito de um choque unitário em t, ou seja εt à εt+1 na Equação 1 sobre
os valores futuros da série temporal. Para as séries com raiz unitária a FIR não amortece,
porém para séries com tendência estacionária a FIR amortece-se. Desta forma, a magnitude da
FIR registra para períodos diferentes aponta a extensão da persistência dos choques sobre as
séries temporais. Define-se a FIR:
Por seu turno, para α ≥ 0, a MVC sublinha o intervalo de tempo em que o impulso resposta de
uma unidade de choque marca metade da magnitude original. Definem-se as funções:
! !!
𝐶𝐼𝑅 = !!! 𝐼𝑅𝐹 𝜏 = 1−𝛼 e 𝑀𝑉𝐶 = 𝐴𝐵𝑆(log (1/2)/log (𝛼)) Eq. (4)
Também, calculam-se estimadores medianos não viesados intervalos de confiança exatos para
a FIR, a CIR e a MVC, apontando informações sobre a variabilidade das medidas escalares de
persistência. Assim, calculam-se as estimativas medianas não viesadas para as medidas de
persistência usando a estimativa de α na Equação 4. Analogamente, calcula-se o intervalo de
confiança bilateral a 90% usando os quartis de 5% e 95% da Equação 4.
Θ F Ζ
• •
µ h
•
Μ
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3.5. Dados
i. Preços a vista do açúcar no Nordeste, proxy apontada pelas duas séries dos
Indicadores Mensais Açúcar CEPEA/ESALQ – Alagoas e Pernambuco - Mercado
Interno, em US$/sc de 50 kgs; fonte: CEPEA (2016); a seguir, para fobizar o
preço, aplicou-se o multiplicador 0,7474 calculando o preço FOB exportação;
ii. Preços futuros mensais do contrato de açúcar # 11 com vencimento mais próximo,
da ICE, fonte: barchart.com (2016); justifica-se o uso dos preços do contrato
futuro de açúcar # 11 da ICE pelo alto volume e disponibilidade de dados; valores
em US$ centavos/libra-peso, convertidos para US$/saca de 50 kgs multiplicando-
se por 1,10231.
4. Resultados e discussão
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Gráfico 1. Preços mensais a vista do açúcar em Alagoas. Indicador Mensal Açúcar CEPEA/ESALQ
Alagoas - Mercado Interno fobizado. Em US$/sc de 50 kgs. Período – eixo horizontal: setembro de 2000 a
março de 2016.
40,00
35,00
30,00
25,00
Preços
20,00
Média
15,00
10,00
5,00
0,00
Fonte: CEPEA (2016).
Assim, a análise do Gráfico 1 no período apontou variação dos preços mensais a vista do
açúcar em Alagoas no intervalo [US$ 6,10; US$ 37,70], amplitude de variação de US$ 31,60.
Também, o valor médio foi de US$16,41, interceptando o gráfico dos preços em quatro
pontos. Desta forma, uma explicação pode ser o forte grau de persistência dos choques
externos sobre a série temporal.
Gráfico 2. Preços mensais a vista do açúcar em Pernambuco. Indicador Mensal Açúcar CEPEA/ESALQ
Pernambuco - Mercado Interno fobizado. Em US$/sc de 50 kgs. Período – eixo horizontal: setembro de
2000 a março de 2016.
60
50
40
Preços
30
Média
20
10
0
Fonte: CEPEA (2016).
Em particular, o exame do Gráfico 2 no período ilustrou variação dos preços mensais a vista
do açúcar em Pernambuco no intervalo [US$ 8,01; US$ 49,30], amplitude de variação de
US$41,30. Também, o valor médio foi de US$ 21,50, interceptando o gráfico dos preços em
quatro pontos. Analogamente aos preços do açúcar de Alagoas, uma explicação pode ser o
forte grau de persistência dos choques externos sobre a série temporal.
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Gráfico 3. Preços mensais do contrato futuro de açúcar # 11 da ICE. Valores contínuos. Em US$/sc de 50
kgs. Período – eixo horizontal: setembro de 2000 a março de 2016.
40,00
35,00
30,00
25,00
Preços
20,00
Média
15,00
10,00
5,00
0,00
Tab. 1. Matriz de correlações entre preços mensais a vista do açúcar em Alagoas e Pernambuco e futuros
do açúcar # 11 da ICE. Período: setembro de 2000 a março de 2016. Em US$/sc de 50 kgs.
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Em particular, o exame da Tabela 2 registrou que o estimador mediano não viesado para o
preço do açúcar em Alagoas, α, foi de 0,996, enquanto estimador de mínimos quadrados
(MQ) atingiu 0,966, diferença de 0,030. Entretanto, a baixa diferença absoluta enunciou um
efeito elevado sobre a persistência de choques. Também, o intervalo de confiança a 90 por
cento para o estimador mediano não viesado α, [0,974-1,00], registrou estimação robusta. A
função impulso resposta, IR, decresceu monotonicamente para zero, ou seja, tendeu a zero.
Além disso, a diferença entre a função impulso resposta acumulada (CIR) do α o estimador
mediano não viesado e do MQ foi 836 por cento superior. A CIR registrou o efeito acumulado
total de uma unidade de choque sobre a evolução futura da série de preços. Assim, uma
unidade de choque sobre o preço do açúcar de Alagoas gerou 836 unidades de variação do
nível dos preços quando t → ∞.
Também, o estimador mediano não viesado para o preço do açúcar em Pernambuco, α, foi de
0,995, enquanto estimador MQ atingiu 0,963, diferença de 0,032. Analogamente aos preços
de Alagoas, a baixa diferença absoluta enunciou um efeito elevado da persistência de
choques. O intervalo de confiança a 90 por cento para o estimador mediano não viesado α,
[0,973-1,00], apontou estimação robusta. Também, a função impulso resposta, IR, tendeu a
zero.
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Além disso, a razão entre a CIR do estimador mediano não viesado e do MQ foi 707 por
cento superior. Assim, uma unidade de choque sobre o preço do açúcar de Pernambuco
apontou 707 unidades de variação do nível dos preços quando t → ∞.
A seguir, a análise do estimador mediano não viesado para o preço do açúcar futuro # 11 da
ICE, α, foi de 0,983, enquanto o estimador MQ atingiu 0,944, diferença de 0,039.
Similarmente aos preços de Alagoas e Pernambuco, a baixa diferença absoluta apontou um
elevada persistência de choques. O intervalo de confiança a 90 por cento para o estimador
mediano não viesado α, [0,916-1,00], ilustrou estimação robusta. Também, a função impulso
resposta, IR, tendeu a zero.
Além disso, a CIR do α o estimador mediano não viesado e do MQ foi 231 por cento
superior. Assim, uma unidade de choque sobre o preço do açúcar futuro # 11 da ICE
registrou 231 unidades de variação do nível dos preços quando t → ∞.
Também, o tempo de dissipação de metade do impulso resposta foi de 12,050 e 40,667 meses
para os estimadores MQ e mediano não viesado, respectivamente. Entretanto, comparados aos
resultados para Alagoas e Pernambuco, os choques sobre os preços do açúcar futuro # 11 da
ICE arrolaram menores persistências.
Em particular, algumas razões podem ser os choques de oferta e demanda mundial de açúcar,
por exemplo, a entrada de novos produtores, a substituição do açúcar por produtos
alternativos, o fim de acordos de exportação, entre outras. Desta forma, a volatilidade dos
preços do açúcar do Nordeste afeta as receitas de exportação, os superávits financeios dos
produtores, os padrões de consumo e o resultado fiscal dos governos estaduais e municipais.
Portanto, necessita-se estimar alternativas para mitigar o impacto dos choques persistentes
sobre os preços do açúcar do Nordeste. Assim, uma escolha poderia ser planejar um fundo de
estabilização dos preços do açúcar regional. A seguir analisou-se a literatura específica sobre
fundos de estabilização de preços de commodities.
Assim, arrolaram-se os elementos gerais e específicos dos fundos. Entre os elementos gerais
enuncia-se a organização, o mecanismo operacional, a governança e a accountability. A
Figura 2 esquematiza os elementos gerais e específicos de fundos de estabilização de
commodities:
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Quadro 3. Proposta para o desenho de mecanismo (mechanism design) do fundo de estabilização dos
preços do açúcar do Nordeste.
Espaço de resultados Estratégias para survey do Desenho do mecanismo –
esperados (Z) espaço ambiente (Θ ) espaço de mensagens (M)
• Identificar a adesão voluntária • Formular a transparência do
dos stakeholders. processo de gestão administrativa.
• Examinar o estado da arte de • Articular a representatividade
Organização
gestão de fundos de estabilização. equilibrada.
eficaz
• Inventariar alternativas de • Planejar rotinas administrativas
parcerias, p. ex., BID, Banco Mundial e e operacionais eficazes.
similares.
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Por último, a proposta de criar o fundo de estabilização dos preços do açúcar do Nordeste, a
partir dos elementos arrolados, poderia mitigar os impactos do risco de preços, em especial a
persistência de choques sobre a economia regional. Assim, os agentes econômicos da cadeia
de oferta do açúcar do Nordeste identificariam a existência de um mecanismo eficiente para
coordenar as ações, minimizando os efeitos de choques do nível e volatilidade dos preços
sobre as decisões alocativas.
5. Resumo e conclusões
Assim, identificou-se a ocorrência de elevadas persistências dos choques dos preços do açúcar
de Alagoas e Pernambuco, os principais mercados nordestinos. Os mercados regionais
registraram elevada correlação entre si e com os preços futuros do contrato # 11 da ICE.
Também, identificou-se a persistência dos choques sobre os preços da ICE, em valor inferior
ao Nordeste.
Desta forma, como forma de mitigar os impactos das persistências sobre os preços do açúcar
do Nordeste propôs-se a formulação de fundo de estabilização dos preços regionais.
Inicialmente, com base nos fundos de estabilização de preços existentes na Índia, de produtos
hortifrutigranjeiros, e na Colômbia, de açúcar, arrolaram-se as características comuns e as
específicas. Em particular, identificaram-se os elementos organização, mecanismo
operacional, governança e accountability.
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Por último, a pesquisa limitou-se a analisar os resultados de choques sobre a dinâmica dos
preços do açúcar do Nordeste, comparando com os preços da ICE. Também, não arrolou
estudos específicos e surveys dos agentes locais. Assim, sugere-se ampliar o universo de
análise, examinar a percepção dos agentes da cadeia de oferta da commodity na região.
Também, pode-se aprofundar a análise dos elementos do fundo de estabilização do açúcar da
Colômbia.
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