Você está na página 1de 56

Rodrigo Silva

A Real
Humanização em
Saúde

Será que de fato você é capaz de


entender o que é a real humanização em
enfermagem? Descubra aqui.
A Real
Humanização em
Saúde

Será que de fato você é capaz de


entender o que é a real humanização em
enfermagem? Descubra aqui.
Para o Enfermeiro Rodrigo do
futuro, e para todos aqueles que
optaram por esta carreira solene,
denominada enfermagem, dedico
este conteúdo.
Agradecimentos

Muito obrigado são palavras


pequenas para expressar a minha
gratidão às pessoas que me
permitiram trilhar por este caminho,
em especial agradeço a minha tia
Nena (in memoriam) por me mostrar
que eu era capaz, agradeço aos meus
pais, pois sem eles eu não teria feito o
curso e com um carinho especial ao
Felipe que me apoia, ensina, e
comemora comigo cada pequena
vitória ao longo deste percurso, e que
inclusive me deu o pontapé que
faltava para que eu iniciasse esta
minha primeira obra. Muito obrigado!
Aqui quero te conduzir por um
pensamento crítico, baseado em
ciência juntamente com
experiências pessoais obtidas até
o presente momento (final do
primeiro semestre técnico em
enfermagem pela Uninove) sobre a
enfermagem e seu papel na vida
humana.

Primeiramente, é necessário
apresentar-me para que você, caro
leitor, tenha a visão de quem lhes
fala. Meu nome é Rodrigo Pereira

6
da Silva, atualmente matriculado
no curso de técnico em
enfermagem na Universidade
Nove de Julho, formado em gestão
de marketing pela Universidade
Uninter, com formação continuada
em gestão de pessoas (SENAI).
Desde muito jovem, algo dentro
das relações humanas me atraía, e
foi sempre um ponto de inclinação
em minhas decisões a respeito da
minha carreira, e quando houve a
oportunidade de me matricular em
uma universidade, a época com
meus dezenove anos optei por
marketing, e pode ser que surja a
seguinte pergunta: "Rodrigo, mas o

7
que marketing tem a ver com
vidas?" E caro leitor, a resposta
cabe em uma única palavra "Tudo"
pois, o que mais seria marketing,
se não o estudo das necessidades
humanas com o intuito de
desenvolver novas soluções para
atendê-las? Inclusive utilizamos no
marketing uma das premissas mais
valiosas até o momento para este
fim, que é a chamada pirâmide de
Maslow, que veremos mais à frente
que também é uma fonte utilizada
para desenvolver soluções
também na medicina bem como na
enfermagem. De posse deste
conhecimento podemos então

8
traçar algumas ideias a respeito do
papel da enfermagem na vida
humana, entender o lugar ao qual
de fato estamos pisando. Estas
reflexões me parecem
necessárias, pois vivemos em uma
sociedade onde a grande massa
infelizmente ainda não pôde
mensurar a importância e
solenidade desta profissão, isso
pode ser notado de forma objetiva,
como por exemplo salários não tão
expressivos, alta carga de
trabalho, e também por fatores não
tão objetivos, que são resultantes
da ignorância de parte da

9
população a respeito do cuidado
como um todo.

Sabemos que existe uma equipe


que compõe o cuidado, formando
sim uma hierarquia, mas, nesta
hierarquia acaba-se exaltando em
demasia o profissional médico
como o único detentor do saber, e
colocando muito abaixo os
profissionais que compõem a
equipe de assistência como meros
executores, obviamente nós,
profissionais de enfermagem não
temos o currículo destinado a
diagnósticos, este é um fato,
porém, não somos menos

10
importantes para o
reestabelecimento da saúde de um
paciente, precisamos nos
identificar como parte do cuidado,
parte esta, que é essencial, e
veremos isso ao longo deste
conteúdo a fim de entenderemos
de onde viemos e então possamos
construir reflexões com clareza
baseado no que a ciência histórica
nos revela até aqui.

11
Capítulo 1
abemos que atualmente

S no Brasil a equipe de
enfermagem assistencial,
de acordo com as normativas do
COREN se moldam em
Enfermeiros, técnicos em
enfermagem e auxiliares de
enfermagem. Este é o nosso
parâmetro contemporâneo. Porém,
para que chegássemos nesta
estrutura precisamos iniciar nossa

12
jornada histórica há alguns
milhares de anos atrás.

No período pré-cristão a doença


era entendida como castigo divino,
tratava-se dos doentes
oferecendo-se sacrifícios, os
cuidados eram baseados em
afastar os maus espíritos que se
apossavam da pessoa, e este
cuidado era de exclusividade dos
"sacerdotes e feiticeiras".
Infelizmente não é incomum
ouvirmos frases como fulano está
com câncer e termos em
contrapartida que lidar com ideias
em respostas que tendam a

13
expressar, "mas fulano não
perdoava, fulano foi mal" entre
diversas outras hipóteses que
nada mais expressam que uma
sugestão de que a pessoa esteja
sendo punida por divindades pelos
seus atos, ideias que não fazem
sentido nos tempos atuais, muito
menos trazem consigo evidencias
tão pouco comprovação cientifica,
ficando mais no âmbito da crendice
popular, porém, ainda precisamos
lidar com elas.

Passado este período entramos na


era Pré Profissionalizante, período

14
onde começa-se entender mais
sobre o homem e suas
enfermidades, começa-se a
verificar que a doença poderia não
ser castigo e sim parte da vida
humana, e a assistência aos
doentes eram realizados por mães,
esposas e também religiosas, esta
assistência era entendida como
parte dos deveres da boa esposa
ou mãe, este conceito está
mudando agora com a tal da
geração "Z", mas quem não tem
aquela avó que sempre recomenda
um chá maravilhoso de algumas
ervas muitas vezes cultivadas na
própria hortinha? É estomago? Ah,

15
o santo boldo. E você leitor já
reparou que na maior parte das
vezes é a avó que é a primeira a
buscar as mencionadas ervas na
hortinha? Justamente por esta
ideia de nossos ancestrais lá do
passado que conseguiram
implantar em nossa sociedade que
o cuidado é um dever da mulher,
da boa esposa, da boa mãe, em
outras palavras que não estavam
fazendo algo que não apenas sua
obrigação. Felizmente as coisas
evoluíram, porém, ainda bem longe
da perfeição, mas a passos lentos
estamos chegando a algum lugar.

16
Pulando aqui para a idade média,
começamos a ver locais
destinados ao cuidado, pois, nem
todos tinham mães, esposas, a
quem pudessem recorrer em
momentos de enfermidade, e além
desses também tinham os
"excluídos" que portando doenças
eram considerados ameaças a
sociedade, estas instalações que
posteriormente seriam chamadas
de hospitais eram provavelmente
um dos piores lugares para um
doente estar, porém, era o que
tinha na época, lugares mal
iluminados e mal ventilados,
abrigavam um número muito maior

17
de doentes do que a estrutura
permitia, e os cuidados
assistenciais eram prestados por,
pasmem, "mulheres leigas de
moral duvidosa" no caso
prostitutas, que estavam em busca
de remissão de seus pecados, e
eram designadas para cuidar de
pessoas doentes como punição
para alcançar perdão e salvação.

18
Capítulo 2

F
oi no século XVII que estes
locais agora chamados de
hospitais evoluíram para
locais de cura, e formação de
profissionais da saúde, colocando
o médico como figura principal dos
hospitais. No século XIX surge a
figura mais importante em
enfermagem no contexto mundial,
Florence Nightingale, uma mulher
que fugia totalmente aos padrões

19
das então enfermeiras da época,
uma mulher de família rica,
Florence era estudada, falava
diversos idiomas e com inclinações
ao conhecimento científico do
cuidado, e bastante preocupada
com as instalações hospitalares da
época, quando Florence
comunicou a família que seguiria
pela carreira de enfermagem
causou espanto e certa
contrariedade por parte de seus
familiares, pois seria inadmissível
alguém de tamanho gabarito
desempenhar uma função que era
tradicionalmente realizada por
cozinheiras ou prostitutas, era algo

20
deveras decepcionante para sua
família. E hoje em dia podemos
dizer, ainda bem que ela teve esta
coragem, pois Florence foi
revolucionária dentro da
enfermagem, mas, podemos dizer
que ela brilhou mesmo na guerra
da Criméia, da qual foi convidada
pelo então ministro de guerra da
Inglaterra para trabalhar na
recuperação dos soldados. E ao
chegar em Scutari encontrou um
local totalmente desapropriado
para a recuperação de pessoas,
imagine o cenário de pessoas
amontoadas, em contato com
materiais biológicos de outros

21
pacientes com outras patologias,
imagine o tamanho do problema de
transmissibilidade que era possível
encontrarmos neste local. Vendo
isso, Florence começou a
transformar o local para que de fato
pudéssemos chamar de algo
próximo de um local de cura, dava-
se aí um grande salto para o
desenvolvimento de cuidados da
enfermagem, Florence também foi
chamada como a dama da
lâmpada por fazer rondas noturnas
com uma lamparina na mão.
Foram incontáveis contribuições
para moldar o perfil que temos hoje
de cuidados e prevenção a

22
infecções uma vez que Florence
tinha a visão de que o paciente
tinha mais chances de se curar se
estivesse em um local com
iluminação, ventilação,
distanciamento adequados,
separação de acordo com a
característica e gravidade das
doenças ou ferimentos dos
soldados aos quais dela recebiam
cuidados, as transformações foram
de tal importância que o nível de
contaminação hospitalar do citado
local caiu drasticamente assim
como a mortalidade que caiu de
40% para 2%, portanto podemos
dizer que Florence iniciou a

23
revolução dando o pontapé inicial
para moldarmos a enfermagem
moderna.

Na volta da guerra Florence foi


homenageada e condecorada,
também criou a escola de
enfermagem Florence Nightingale
em Londres. Florence então foi
responsável por nos mostrar que
fatores como higiene, iluminação
entre outras diversas coisas que
são de primeira necessidade nos
dias atuais eram de fato
importantes para o
reestabelecimento da saúde dos
pacientes.

24
Em âmbito nacional tivemos a
"Matriarca da Enfermagem no
Brasil" conhecida por prestar
serviços ininterruptos nos hospitais
militares, além de também
acompanhar a morte de seu filho
em uma das guerras, chegando a
ganhar medalha humanitária de
primeira classe por sua dedicação
ao cuidado.

25
Capítulo 3

A
gora começamos a falar
sobre a parte interessante
de nossa discussão,
Wanda de Aguiar Horta, aqui sim
começamos a ter uma melhor
visão a respeito do paciente,
Wanda introduziu conceitos ao
processo de Enfermagem durante
do século XX, Wanda Horta
conseguiu trazer o conceito de que
o paciente não era apenas um

26
indivíduo como até então era
entendido, passando a ser visto
como indivíduo com sentimentos e
emoções. Para tal, Wanda Horta
utilizou a pirâmide de Maslow que
é utilizada em ampla escalada no
Marketing, com base nela,
elaborou a teoria da motivação
Humana elencando da seguinte
forma;

- Necessidades Fisiológicas

-Segurança

-Amor

-Estima

-Autorrealização

27
Aqui chegamos no ponto mais alto
da profissão de enfermagem, todo
o nosso trabalho é destinado a
proporcionar tudo isso ao paciente,
e aqui a gente precisa refletir, até
que ponto estamos nos
preparando para tal?

Este questionamento tornou-se


evidente em minha vida, pois, ao
chegar no curso técnico em
enfermagem, vi que a triste
realidade é que diversos alunos
acreditavam que o trabalho se
resumia a aplicar medicações, a
triste realidade é que a cultura de
que a equipe de enfermagem

28
trabalha como uma “oficina
mecânica”, onde recebemos o
paciente efetuamos o reparo e
pronto, o trabalho está acabado.

Para darmos suporte para nossas


discussões é interessante
definirmos saúde, e segundo a
OMS organização mundial de
Saúde em 1946 definiu saúde
como um estado de completo bem-
estar físico, mental e social e não
apenas como a ausência de
doença ou enfermidade.
Com a nossa história da evolução
da ciência nas questões de saúde,
as contribuições dos nomes de
imensurável importância citados
acima e a definição de saúde

29
apresentada pela OMS
conseguimos então ampliar os
nossos horizontes quando falamos
de assistência aos pacientes,
começamos aqui a lidar com uma
realidade um pouco mais profunda
do que a enorme massa acredita
sobre do que se trata a
enfermagem.

30
Capítulo 4

A
té aqui tivemos a base do
que se entende como
cuidado e assistência a
pacientes, vimos que o nosso
trabalho como integrantes da
equipe de enfermagem não é
apenas medicar pacientes,
precisamos sobretudo garantir que
todas as esferas de necessidades
do paciente sejam garantidas. Hoje
em dia tem se levantado muito

31
questões como humanização no
cuidado, sobre empatia e tudo
mais, porem, creio que a palavra
mais adequada seja humanização,
pois empatia é se colocar no lugar
do outro, e o erro já começa aí,
uma vez que se eu tiver empatia
por você, eu Rodrigo vou me
colocar no seu lugar, eu estou indo
para o seu lugar imaginário com
aquilo que eu imagino que você
esteja vivenciando, e com isso te
propor um cuidado que eu imagino
que seja melhor para você, ou seja,
está tudo errado, a partir do
momento que eu tento deixar o
meu lugar para entrar no seu, eu

32
estou te medindo com a minha
régua, e as chances de eu errar
são muito grandes. Quando nós
falamos e humanização, quando
nós estendemos todas as esferas
de um cuidado, quando somos
capazes de entender que cada ser
humano é único, e que ele tem
experiências de vida
completamente diferente das
nossas, nós somos capazes de
compreender que muitas vezes o
que nos falta é ter a sensibilidade
de perguntar ao paciente como
podemos fazer para melhorar o dia
dele, é tentar entender quais são
suas preocupações, suas

33
angústias, quais necessidades
precisam ser atendidas, afinal um
paciente que é humano não tem
somente necessidades
fisiológicas. Estas discussões
começaram a se tornar mais
evidentes agora com a pandemia,
com pacientes isolados, e nota-se
a mudança positiva do paciente ao
ter uma de suas necessidades
atendidas, quando algum
enfermeiro o colocava em contato
com sua família, que ficava por
semanas, somente com a
imaginação de um pai, mãe ou
outro ente querido, neste momento
tão desafiador, conseguimos ver o

34
quanto se faz necessário ter um
olhar humano para os pacientes,
pois, quando olhamos para nossos
pacientes e enxergamos um ser
humano, nós estamos
simplesmente olhando para nós
mesmos, pois, é uma realidade
que mais cedo ou mais tarde irá
nos pertencer, e quão maravilhoso
seria estar com uma pessoa que te
enxerga como alguém que possui
uma história, alguém que está ali
para te compreender, alguém que
ouça aquilo que você tem a dizer,
e talvez o ponto mais alto, que se
importe, que não te trate como
mais um paciente, mais um doente,

35
que te pergunte como você está
não somente para saber se o
remédio fez efeito, mas se você
dormiu bem, se você está sentindo
falta de algo, não para que o seu
setor ou seu andar seja comparado
a um hotel cinco estrelas, mas para
que de fato o ambiente chegue o
mais próximo possível de ser
agradável, como diz uma
professora muito querida “o
paciente não vai ao hospital porque
não tem mais nada de bom para
fazer, ele vai porque precisa”,
agora quem tem escolha é a
equipe de enfermagem, a todo e
qualquer momento tem a opção de

36
pedir demissão, o paciente, vai ao
hospital pois não conseguiu
resolver em casa, ele pode ter
tentando, e como último recurso
decidiu ir a medico, isso quando
ele ainda vai com as próprias
pernas, mas ainda tem aqueles,
que não são poucos, que chegam
ao hospital sem nem serem
consultados, as vezes
desacordados, as vezes sofrendo
infarto, entre outras condições de
emergência, para estes casos
existem procedimentos que são
preconizados, onde o objetivo é
reestabelecer o paciente que pode
retornar com sequelas, onde ele irá

37
precisar entregar o corpo dele aos
cuidados de alguém
desconhecido, usando uma
citação da doutora Ana Claudia
Quintana Arantes “o maior ato de
coragem é entregar o seu corpo ao
cuidado de outra pessoa”. Quando
a gente analisa por estes ângulos,
podemos entender que de fato
empatia não concretiza o
verdadeiro propósito de
humanização.

Podemos então ver com grande


clareza que o nosso papel vai além
da esfera empática, e sim
humanização, como nós vimos lá

38
em cima do conceito de saúde
segundo a OMS, precisamos nos
certificar que estamos
proporcionando todo o conforto
possível a nível fisiológico,
precisamos nos atentar quanto aos
demais fatores que colaboram com
o bem estar-estar do paciente nos
assegurar de que ele tenha o bem
estar social, de que ele se sinta
parte integrante dos
procedimentos, claro que parte
disso já é preconizado pelo próprio
coren, mas certificar-se de que o
paciente tem tido atenção, tem tido
assistência às necessidades
básicas, é trata-lo como igual e não

39
como inferior, é conversar com o
paciente e não impor a ele, é
garantir autonomia para que ele
consiga sentir bem estar, é motiva-
lo a tentar e parabeniza-lo por
pequenas conquistas, num banho
no leito proporcionar conforto ao
paciente não somente aqueles que
já são obrigatórios, mas também ir
conversando com ele tornando
aquele situação que para o
paciente seria extremamente
desconfortável, seria uma
exposição, mostrar para ele que
ele não é menos que ninguém por
estar temporariamente precisando
de auxílio para as atividades

40
básicas, aquele famoso sorriso na
voz, sorriso nas mãos, sorriso no
corpo inteiro afinal nosso corpo
fala, e que ele diga então coisas
boas, trazendo este bem-estar
físico e social para o paciente,
trazermos também, segurança,
melhor aceitação do tratamento,
bem como a dieta, pois, quanto
menos hostil e humanizado for o
hospital melhor será a recuperação
do paciente, e podemos estender
tudo isso para outros lugares,
home care, instituições de longa
permanência para idosos,
instituições de que tratam de
pacientes com patologias

41
psiquiátricas, que eram
antigamente chamadas de
manicômios ou hospícios, que
eram simplesmente depósitos que
muitas vezes agravavam ainda
mais a situação dos pacientes,
tirando toda a humanidade dos
pacientes, tirando toda a
autonomia, transformando
humanos em animais, e ai ficamos
com a incógnita, será que alguém
nessas condições poderia se
recuperar com todo seu potencial?
Claro que não. É preciso oferecer
ao paciente o mínimo de escolha,
sempre que possível, tornando-o
cada vez mais responsável mesmo

42
que seja por coisas simples, e
elogia-los, se o paciente não
conseguir executar, não forçar,
mudar a atividade, pois forçar
demais algo que o paciente não
tem conseguido executar, causará
nele uma sensação de
incompetência, e humanização é
ter este “jogo de cintura" para lidar
com estas situações, e muitas
outras. O olhar humano para os
pacientes deve orientar-se para
criar mecanismos de integração,
de estabelecer relações positivas,
que beneficiem o tratamento e
reestabelecimento do paciente,
humanização é como o próprio

43
nome já diz claramente, é tornar
humano, e tratar como humano, é
o trabalho voltado para garantir
que uma experiência de
compreensão, o paciente quando
acamado, quando privado de
executar tarefas simples, ele
precisa entregar-se ao cuidado, e
não é uma tarefa fácil, é necessário
que toda a equipe entenda que o
paciente precisa se sentir seguro,
pois, ele se encontra vulnerável,
sem o poder defesa, e o
profissional humano, terá a
capacidade de compreender e
propor alternativas ao paciente,
será capaz de investir alguns

44
minutinhos para entender suas
angústias, o profissional humano,
entenderá que a agitação do
paciente pode ser simplesmente
um mecanismo de defesa gerado
pelo medo, o profissional humano
não se sentirá realizado em seu
trabalho apenas quando der a
sorte de estar com um paciente
amável que o elogie, que o faça se
sentir o melhor profissional de
saúde, e para estes profissionais
que acreditam que a realização
virá apenas dos elogios
provenientes de pacientes
amorosos, eu apenas posso dizer
que infelizmente ainda têm um

45
caminho muito longo rumo a
compreensão do conceito de
humanização, afinal, muitos
pacientes não poderão falar, outros
não se lembrarão de você, outros
serão ríspidos, e isso não quer
dizer que ele tenha algum
problema com você, e sim que ele
esteja passando por um momento
difícil, em que as diversas esferas
de bem-estar deste paciente
estejam abaladas, afinal, devolver
um sorriso, é fácil, o difícil é
conseguir enxergar um sorriso em
um rostinho que te olhe com
desconfiança, sim, é desafiador.

46
Capítulo 5

A
té agora lidamos com o
contexto que
basicamente dá
resultados visíveis, falamos sobre
procedimentos que contribuam
para melhorar o processo de cura
e reestabelecimento de pacientes,
a dinâmica que todo gostam de
trabalhar, medicar e ver resultados,
ver evolução. Mas também temos
a outra parte da ciência médica

47
que ainda precisa evoluir bastante,
e que temos levantado muitas
questões principalmente com a
doutora Ana Cláudia Quintana
Arantes, e aqui trarei alguns
conceitos de autoria da mesma,
que são bastante relevantes para
nossa discussão, para que
possamos aguçar o nosso olhar
humano.

Hoje muito se fala sobre a tal da


ortotanasia, que basicamente quer
dizer boa morte ou morte digna,
algo como silenciar a doença para
que o processo de morte ocorra
naturalmente porem com menos

48
sofrimento com o chamado
cuidado paliativo. Aquele momento
em que a medicina curativa já não
é mais uma alternativa, e o
paciente entende-se como a
espera da morte.

Ocorre que neste momento, temos


um certo despreparo para
administrar esta situação e
inclusive os próprios operadores
da saúde, digo me referindo aos
médicos e toda equipe de cuidado,
aqueles que operam o cuidado
como um todo, muitas vezes se
mostram muito despreparados,
com tristeza, natural claro, mas

49
dizendo coisas como perdemos
mais um soldado para o câncer, ou
outra doença degenerativa que
seja, mas como sempre é dito pela
doutora Ana Cláudia, que a morte
é parte da vida, todos nós
nascemos, crescemos e
morremos, e não é uma luta entre
o paciente e a morte, é um
processo que mais cedo ou mais
tarde todos passaremos afinal
daqui ninguém saiu vivo até hoje, e
uma das teclas mais batidas pela
doutora Ana é que precisamos
preparar os nossos pacientes para
este momento, e que a morte,
chega para todos nós, será que se

50
nós soubéssemos que nossa vida
é finita não tomaríamos melhores
decisões? Será que se nos fosse
dado um relógio da vida onde
pudéssemos saber qual seria o
exato momento de nossa morte
não faríamos melhores escolhas?
Ocorre que vivemos ignorando
este momento, vivemos fingindo
que este dia nunca chegará,
vivemos dando graças a Deus que
o final de semana ou as férias
chegaram, e no restante do
tempo? O que fizemos? Ficamos
desligados a espera de dois únicos
dias da semana que não somos
robôs? Estas reflexões que

51
encontramos com a doutora Ana
nos faz entender o quanto não
estamos preparados para a nossa
morte, o quanto não valorizamos
nosso tempo de existência, o
quanto não temos a menor noção
de tempo, e quando nos
deparamos com pessoas que
estão com seus dias contados, nós
mesmos nos desestruturamos,
pois, morte é um assunto pouco
tratado, um assunto ignorado, um
assunto tido como um fracasso,
porém não é, a morte é a
conclusão do nosso TCC ao longo
desse curso que chamamos de
vida. Em lugares onde o

52
tratamento paliativo não contempla
todas as áreas do ser humano a
palavra mais vista entre os
pacientes é arrependimento, e
parte do nosso trabalho, sim o
nosso e não só do psicólogo, é
trilharmos com o paciente
mostrando a ele que ele é valioso,
que a vida dele é valiosa, é ouvindo
este paciente pois, uma coisa é
certa, o que mais este paciente
terá é história para te contar, e
quanto custa demonstrar a
importância deste paciente
ouvindo e se importando com sua
trajetória? Exatamente, nada, pois
você é presenteado com um

53
mestrado de vida, ainda ganha seu
salário ao final do mês, ouvindo ou
ignorando este paciente. O
trabalho paliativista não consiste
apenas em medicações de
opioides para silenciar a dor, o
trabalho vai muito além, ele deve
promover a dignidade da pessoa, a
valorização, a atenção e
preparação para o desfecho desta
história, que pode ser dramático ou
aplaudido.

Com estas reflexões, que eu entro


para o segundo semestre, de
enfermagem, o meu desejo para
mim, e para você que veio até aqui

54
nesta leitura é que você seja este
profissional, consciente da morte e
que não deixe para depois aquilo
que se tem de melhor para fazer
agora, não deixar o melhor
profissional para amanhã, pois o
amanhã um dia pode não existir
mais, e que a consciência da morte
não te paralise ou te faça estagnar-
se como profissional, mas sim que
aproveite todo o seu tempo com
aquilo que importa, com as
conexões verdadeiras não apenas
no âmbito profissional mas
também pessoal, pois agora
sabemos que somos um
conglomerado de esferas e não

55
tem como ser realizado em apenas
uma delas.

Meus parabéns por chegar até


aqui, e nos vemos no próximo
semestre onde com certeza você
terá muito mais para compartilhar.

56

Você também pode gostar