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Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se
necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos;
ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem
compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino,
meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da
profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para
causar dano ou mal a alguém.
A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda.
Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos
práticos que disso cuidam.
Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano
voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os
homens livres ou escravizados.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da
minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o
contrário aconteça."
Como O médico que um estudante de medicina se
tornará será fortemente influenciado pela soma
fomentar uma de suas experiências, sejam prévias ou durante o
curso. A disciplina que inicia o viés prático,
visão geralmente, é a semiologia com as anamneses,
que irá se seguir com a clínica médica e por fim o
humanitária internato. Uma trajetória já comprovadamente
no estudante válida no aspecto clínico. Pois, em geral, os
médicos que a tiveram na sua formação se
de medicina? tornaram capazes de exercer a teoria.
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Contudo, o debate atual sobre a O cenário precário da saúde, as Seria possível ainda na
postura questionável de uma remunerações incompatíveis academia prover uma base
pequena parcela desses dos planos de saúde e do moral mais sólida que reduzisse
profissionais que é generalizada próprio SUS e a falta de os riscos para tais condutas?
aos demais traz a tona a estabilidade em cargos públicos
discussão das responsabilidades são justificativas plausíveis para
por tais atos e se há alguma um desvio do comportamento
deficiência nas suas formações. ético?
A medicina e o seu papel humanitário
No passado, os médicos levavam em suas maletas poucos instrumentos,
muita esperança e bondade no coração. Prescreviam cataplasmas, infusões,
chás, medicamentos e ainda ministravam doses de esperança. Com a chegada
das novas opções de diagnóstico e tratamento, eles tiveram que dominar
técnicas sofisticadas e o saber científico. Isso influenciou a formação e a
atuação desses médicos. Este avanço levou à perda do conteúdo
humanístico da profissão. Ouve-se menos o doente, distancia-se da sua alma
e conforta-se menos. A dor trazida pelas doenças de hoje é a mesma que se
via antes. O corpo é melhor tratado do que a alma. O conforto desta também
cura o corpo e há evidências de que o amparo acelera tal processo. É hora de
estimular o diálogo entre os componentes científicos e humanitários, a partir
das escolas médicas. O Dr. House é ótimo! Para ser perfeito, deveria exercitar
o dom do amor e da compaixão.
*Texto Paulo Saldiva é patologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) | Colaborou: Priscila
Pegatin | Foto Pinteterst | connie willett | Adaptação Kelly Miyazzato.
Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização humanitária
internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves
crises humanitárias. Também é missão de MSF chamar a atenção para as
dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos.
A atuação de MSF respeita as regras da ética médica, em particular, o dever de oferecer auxílio
sem prejudicar qualquer indivíduo ou grupo e a imparcialidade, garantindo o direito à
confidencialidade. Ninguém pode ser punido por exercer uma atividade médica de acordo com o
código de ética profissional, não importando as circunstâncias, nem quem são os beneficiários.
No que atuamos
Médicos Sem Fronteiras oferece cuidados de saúde
a pessoas em necessidade de ajuda humanitária. Os
principais contextos nos quais a organização atua
são conflitos armados, epidemias, catástrofes
naturais e situações que envolvem refugiados e
deslocados internos. Além de oferecer cuidados de
saúde em situações de extrema urgência, as equipes
também estão presentes onde as populações sofrem
com a falta de acesso à assistência médica.
Como organização que atua de forma independente, neutra e imparcial, MSF determina, de acordo
com sua própria avaliação, onde, quando e como atuar. Um projeto pode ser desencadeado pela
existência de uma situação de crise que requer uma resposta humanitária emergencial, pelo
pedido de organizações internacionais, de governos ou mesmo de outras organizações não
governamentais ou ainda pela identificação de uma demanda de saúde específica, com a qual a
organização considera que possa contribuir de forma relevante.
Quando a atuação se dá em resposta a uma emergência repentina, como uma catástrofe natural,
ela pode ser viabilizada entre 48 e 72 horas. Por trás da agilidade de MSF, está um sistema de
logística extremamente eficiente que envolve a padronização dos métodos de trabalho, a
manutenção de estoques permanentes e a experiência dos profissionais. Em 1980, a organização
passou a utilizar kits personalizados e adaptados para cada contexto, que são pré-embalados e
prontos para viagem e são constantemente aprimorados. Os kits contêm medicamentos,
suprimentos e equipamentos básicos e atendem desde campanhas de vacinação até a montagem
de um hospital inflável.
Contextos de Atuação
Desastres naturais
Em questão de minutos, desastres naturais, como terremotos, tsunamis e furacões, podem prejudicar
populações inteiras. Milhares de pessoas podem ficar feridas ou traumatizadas com perda de familiares,
amigos e de seus lares.
É comum que água limpa, cuidados de saúde e transporte sejam afetados quando desastres como esses
acontecem. Cuidados médicos rápidos e uma resposta de emergência coordenada são essenciais para proteger
os sobreviventes.
De catástrofes de larga escala a emergências locais, as redes de profissionais e de
suprimentos de MSF pelo mundo garantem que possamos responder rapidamente
aos desastres – nós levamos apenas três minutos para tratar o primeiro paciente
após o terremoto no Haiti, por exemplo. Com mais de 40 anos de experiência,
somos especialistas em viabilizar respostas para situações complexas.
Ao longo das últimas décadas, MSF também tem combatido epidemias devastadoras como o HIV/Aids e a
tuberculose, além de doenças negligenciadas, como leishmaniose, doença do sono e Chagas – males que
afetam, em sua maioria, os mais pobres e para os quais há poucas opções efetivas de tratamento.
A organização se preocupa em oferecer os melhores cuidados médicos possíveis
aos seus pacientes. Por meio da Campanha de Acesso a Medicamentos
Essenciais (CAME), MSF pressiona por mais pesquisas voltadas para novos
medicamentos para doenças negligenciadas e pelo acesso a eles, assim como a
testes para diagnósticos e vacinas.
MSF também chama a atenção para as necessidades dos soropositivos,
aperfeiçoando tratamentos e diagnósticos para a tuberculose, doença que mais
mata portadores do vírus HIV.
Em 1999, MSF cofundou a Iniciativa de Medicamentos para Doenças
Negligenciadas (DNDi, ou Drugs for Neglected Diseases initiative, no original em
inglês), envolvendo pesquisadores, médicos e companhias farmacêuticas na
busca por alternativas para o desenvolvimento de medicamentos. O estímulo à
pesquisa e aos estudos é a prioridade da DNDi. Em 2007, a iniciativa foi
responsável pela formulação do ASAQ, medicamento bastante eficaz no
tratamento contra a malária.
Refugiados e Deslocados Internos
Mais de 41 milhões de pessoas estão atualmente fugindo de conflitos e perseguições pelo mundo. Seus
lares já não são seguros por questões de raça, religião ou nacionalidade, e seus governos não podem
mais oferecer-lhes proteção.
MSF trabalha pelo mundo para oferecer aos refugiados e às pessoas que se deslocam internamente por seus
países tudo o que precisam, de assistência psicológica a tratamento nutricional vital. Nós estruturamos hospitais
em campos de refugiados, ajudamos mulheres a darem à luz com segurança, vacinamos crianças para prevenir
epidemias e garantimos acesso à água potável.
Lei internacional
Refugiados são protegidos por leis internacionais. O Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur) é responsável por garantir que refugiados tenham
direito ao asilo, recebam assistência – alimentos, abrigo, cuidados de saúde – e
estejam protegidos da violência. O Acnur também é responsável por viabilizar uma
solução duradoura para a situação dessas pessoas.
Hoje, Dadaab não é mais um refúgio. Na medida em que mais pessoas chegam ali, fugindo da guerra que
devasta a Somália, os acampamentos superlotados estão se tornando sua moradia permanente, onde as
pessoas enfrentam crises de desnutrição contínuas e surtos de doenças, como o sarampo e a cólera.
Abubakar Mohamed Mahamud, coordenador de projeto adjunto de MSF, trabalhou em Dadaab por mais de 20
anos. “A crise na Somália não vai acabar tão cedo”, afirma. “A história está se repetindo e esse é um problema
sem fim. O que vejo hoje foi o que vi em 1991: pessoas desesperadas que fugiram de guerras que destruíram
seus países deixando tudo para trás, apenas para acabarem em um acampamento em que as condições de vida
estão aquém daquilo que é considerado humanamente digno.”
Após a seca no Chifre da África em 2011, um grande número de pessoas fugiu da Somália em busca de
segurança, alimentação e cuidados médicos, agravando a já terrível situação dos refugiados em Dadaab.
Em Dagahaley, um dos cinco acampamentos de Dadaab, equipes de MSF triplicaram sua capacidade quando
estruturaram um centro de nutrição de emergência com mais de 200 leitos, mantendo um hospital de 100 leitos
voltado para assistência materna, pediatria, emergências e cuidados médicos gerais.
Pessoas deslocadas internamente
Apesar de as pessoas deslocadas internamente fugirem de suas casas por razões
similares às dos refugiados (conflitos armados, violações de direitos humanos,
desastres naturais), tecnicamente, elas não são refugiadas. Deslocados internos não
cruzam fronteiras internacionais para buscar refúgio e, portanto, continuam, legalmente,
sob a proteção de seus próprios governos, mesmo que esse governo seja, muitas
vezes, a causa de sua fuga.
Hoje, existem 26 milhões de deslocados internos em 52 países no mundo. Quase a
metade deles está fugindo de conflitos em apenas três países: Sudão, Colômbia e
Iraque; e cerca de três quartos dos deslocados internos são mulheres e crianças.
Apesar das leis internacionais exigirem a proteção de civis em meio a conflitos,
mulheres e crianças são, geralmente, deliberadamente atacadas pelas partes
beligerantes como parte de sua estratégia.
Mesmo que existam programas para oferecer cirurgias e outros cuidados a essas
pessoas, a grande maioria não vai receber a assistência de que precisa porque vivem
em regiões onde o sistema de saúde entrou em colapso e é muito perigoso para
agências de ajuda independentes atuarem.
Exclusão do Acesso à Cuidados de Saúde
As equipes de Médicos Sem Fronteiras levam cuidados a populações que, por quaisquer motivos,
estejam privadas do acesso a serviços de saúde.
São diversos os fatores que podem inviabilizar esse acesso: em meio a conflitos armados, a insegurança limita os
deslocamentos e o receio da violência representa uma ameaça; por vezes, as mesmas insegurança e violência
motivam, também, a fuga massiva de profissionais de saúde de uma determinada localidade; a inexistência de
um sistema de saúde público institucionalizado e a escassez de profissionais de saúde é comum em diversos
países em desenvolvimento; desastres naturais podem destruir instalações de saúde; a falta de recursos
financeiros pode impossibilitar o uso de quaisquer tipos de transporte para se chegar às poucas estruturas de
saúde disponíveis em regiões de difícil acesso; e, por vezes, a cobrança de taxas referentes às consultas e aos
medicamentos pode restringir o acesso à saúde.
Na tentativa de oferecer serviços essenciais e superar tais obstáculos, equipes
de MSF avaliam o contexto a fim de implementar a solução que melhor se
adapte ao cenário encontrado. A organização pode investir na construção de
instalações de saúde permanentes ou provisórias, de acordo com a demanda de
saúde identificada em campo, e atuar por meio de clínicas móveis, que tem por
objetivo levar cuidados até as regiões e comunidades mais remotas.
Se as partes beligerantes enxergarem organizações de ajuda como parciais, é menos provável que se
consigamos acesso às pessoas que precisam de nós e é mais provável que sejamos atacados.
Uma das formas pelas quais podemos demonstrar nossa independência para os envolvidos no conflito é por
meio da garantia de que todo o nosso financiamento para o trabalho realizado em zonas de guerra é privado,
proveniente de pessoas físicas – não aceitamos doações de governos.
Resposta imediata
Conflitos, sejam eles guerras internacionais ou disputas internas, podem ter muitas
consequências.
A equipe fretou uma balsa, removendo seus assentos, para que lonas plásticas e
colchões pudessem ser encaixados ali. “A violência causou um influxo de pessoas
feridas e, felizmente, pudemos estar ali e colocá-los a bordo”, conta Helmy Mekaoui,
médico de MSF que coordenou a evacuação.
Annas Alamudi, logístico de MSF, conta: “Até onde sei, foi uma operação bem-sucedida
e fiquei feliz por termos conseguido ajudar. Havia pessoas doentes que precisavam sair
dali e nós as removemos. Missão cumprida.”
Equipe altamente experiente
O trabalho em zonas de guerra pode ser uma experiência extremamente
aterrorizante e perturbadora. Por isso, permitimos apenas que profissionais treinados
e experientes atuem nessas situações.
Paul McMaster, cirurgião britânico que já atuou diversas vezes com MSF, ainda
considera missões desse tipo desafiadoras.
Quando uma equipe de MSF é percebida por todos como neutra, imparcial e
independente, e quando essas palavras são claramente entendidas e apreciadas
porque se traduzem em ações concretas em campo, é quando estamos mais a
salvo.
Projetos no Brasil
MSF já realizou 15 projetos no Brasil, da Amazônia a contextos urbanos, como no
Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro. Hoje, MSF não tem projetos
regulares no país, mas pode responder a emergências quando avaliar que existem
necessidades médico-humanitárias que não estão sendo atendidas. Em 2011, a
organização contribuiu com ajuda médica durante as enchentes que afetaram a
Região Serrana do Rio de Janeiro. Entre outubro do mesmo ano e março de 2012,
MSF respondeu a uma crise humanitária envolvendo imigrantes haitianos na cidade
de Tabatinga, no Amazonas. Em 2013, psicólogos da organização contribuíram com o
treinamento de profissionais de saúde mental da rede de saúde nacional no
atendimento aos sobreviventes do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS). Por
ocasião da cheia do Rio Madeira, em fevereiro de 2014, Médicos Sem Fronteiras
enviou equipes para avaliar a situação médico-humanitária das comunidades locais
e descartar a probabilidade de um surto de cólera. A conclusão foi a de que as
autoridades locais estavam preparadas para atender às necessidades das
populações atingidas. Ainda assim, a organização ministrou um treinamento médico
para compartilhar sua experiência no tratamento da cólera e organizou um
documento com medidas que poderiam ser adotadas localmente para conter um
possível surto.
Brasil
Ajuda humanitária a haitianos em Tabatinga (2011 -2012)
Médicos Sem Fronteiras iniciou suas atividades em Tabatinga, na tríplice fronteira
entre Brasil, Peru e Colômbia, em dezembro de 2011. Naquela época, mais de mil
haitianos, que haviam chegado ao Brasil fugindo das dificuldades de um país
devastado por um terremoto, aguardavam um protocolo da polícia Federal que
lhes permitiria sair da cidade e trabalhar. Enquanto aguardavam, grande parte vivia
em condições extremamente precárias e com acesso limitado a cuidados de saúde,
sem qualquer assistência das autoridades locais, estaduais ou federais.
Em oito semanas, Médicos Sem Fronteiras distribuiu mais de 1.800 kits de higiene
contendo itens como escova e pasta de dente, sabão, balde, toalha, para facilitar a
manutenção de condições mínimas de higiene e evitar, assim, a degradação do
estado de saúde deles. Foram distribuídos também cerca de kits família, com
vassouras e água sanitária e outros produtos de limpeza.
A equipe de Médicos Sem Fronteiras também realizou atividades de promoção de saúde
com o objetivo de melhorar a prevenção de doenças e facilitar o acesso dos haitianos ao
sistema público de saúde, fazendo a ponte entre os serviços locais e a população de
imigrantes. Para isso, MSF desenvolveu material de educação em saúde em creole, a
língua falada no Haiti.
Cidades na região serrana do Rio de Janeiro foram atingidas por fortes chuvas, em janeiro
de 2011, que fizeram mais de 700 vítimas fatais. Equipe de psicólogos de Médicos Sem
Fronteiras (MSF) treinaram profissionais de saúde mental que trabalharam na região
atingida pelas cheias. A capacitação foi o principal foco do trabalho de MSF nesta
emergência. A estratégia de trabalhar com a qualificação dos profissionais em vez de fazer
atendimento direto à população também tem o objetivo de atingir um público grande
mesmo com uma equipe reduzida. Além dos treinamentos, MSF colaborou na organização
dos voluntários que estão trabalhando na cidade para que não houvesse multiplicação de
esforços desnecessários.
Depoimento
"Essa capacitação me deu um novo olhar sobre o que está acontecendo e me despertou
para coisas que estavam passando despercebidas por mim. E o mais importante é que a
presença das psicólogas de Médicos Sem Fronteiras me deu segurança para trazer à tona
tudo o que eu já sabia. Por também ter sido vítima eu estava muito abalada". Ozimar
Verly, neuropsicóloga.
Auxílio para as vítimas de Alagoas (2010)
Outra imagem que volta sempre à sua lembrança aconteceu por ocasião do
genocídio de Ruanda, em 1994. Quando Nobre entrou em uma das tendas do
acampamento, viu uma mulher africana, em silêncio, com lágrimas escorrendo pelo
rosto e, no colo, um bebê, morto. “As pessoas acham que os africanos estão
acostumados com a morte, mas isso é uma grande mentira. Mãe é mãe
em qualquer lugar. A pior dor que se pode ter é a provocada pela morte
de um filho”, garante.
A inocência acabou
Em relação aos conflitos atuais, afirma que a AMI não envia seus quadros a algumas áreas de
conflito do Oriente Médio, como a Síria e o Iraque, por exemplo. “Estamos em uma época de
opressão, a inocência acabou. Muitas forças fundamentalistas não querem mais saber se
você é médico ou padre, sem vínculo algum com os governos ocidentais. Para eles, agora,
todos são culpados e, portanto, passíveis de serem alvos de sequestros, execuções ou
atentados terroristas”, conta. Apenas em 2013, informa Nobre, o número de pessoas
envolvidas em ações humanitárias feridas, mortas ou executadas chegou a 470. “Não tenho
medo de morrer de um tiro, mas morrer degolado, como uma galinha, não! Não posso
enviar o pessoal da ONG para onde eu mesmo não esteja disposto a ir”, afirma.
As viagens constantes fazem com que o médico não tenha uma rotina com a família como
gostaria. Ele casou-se duas vezes e tem quatro filhos. A segunda esposa, que também
trabalha na AMI, onde se conheceram, é quem cuida da família. “Ela é pai e mãe ao mesmo
tempo. É o preço que eu pago por viver por um ideal. Minha sorte é que nós acreditamos
nos mesmos ideais”, diz. Alguns membros da família trabalham junto com ele, como o irmão,
José Luís Nobre – que cuida da logística de transporte e estruturas físicas das missões da AMI
–, e a filha Isabel, que o acompanha em algumas missões, como fotógrafa.
Política
A candidatura à presidência de Portugal aconteceu há três anos. Nobre apresentou-se de forma
independente, sem partido e sem recursos. Mesmo assim, ficou em terceiro lugar, com 15% dos
votos. “Decidi disputar a presidência por acreditar que, como cidadão conhecedor de
algumas realidades especiais do país e do mundo, poderia contribuir com Portugal,
dar outra visão de mundo e despertar a sensibilidade nas pessoas”. Ele não pretende
mais candidatar-se. “As dificuldades financeiras são imensas para sustentar uma candidatura
independente”, enfatiza.
Além de administrar e participar das missões da AMI, o médico dá aula de Medicina Humanitária
na Universidade de Lisboa. Acredita que só o humanitarismo pode mudar o mundo.
“Infelizmente, as pessoas estão perdendo a humanidade e mesmo a Medicina tomou
outros rumos. “O médico não encosta mais no paciente, às vezes nem o olha nos
olhos, isso não é praticar Medicina”, afirma. “A única coisa que um robô não pode
fazer no lugar do médico é ser sensível. Se não mantivermos a humanidade, a
Medicina será mais uma profissão tecnicista e não passará disso”, conclui.
A AMI no mundo
Criada em dezembro de 1984, a Assistência Médica Internacional (AMI)
tem sede em Lisboa, Portugal, e é a primeira organização humanitária do
país. Conta com 250 funcionários e com ajuda voluntária.
As “Damas da Cruz Vermelha Brasileira”, comitê criado por um grupo de senhoras da sociedade carioca,
deu origem à Seção Feminina, que teria como primeira tarefa, a formação do corpo de Enfermeiras
voluntárias. A semente assim plantada frutificaria e, para permitir o funcionamento de outros cursos
sugeridos pela Seção Feminina, foi criada e inaugurada, em março de 1916, a Escola Pratica de
Enfermagem, sob a eficiente direção do Dr. Getúlio dos Santos, na época Capitão Medico do Exército.
Com a declaração de guerra do Brasil aos Impérios Centrais (Alemanha e seus aliados), a Sociedade
expandir-se-ia com intensificação dos Cursos de Enfermagem e com a criação de filiais estaduais e
municipais, cabendo a São Paulo a primazia. Em 1919, as filiais já eram em número de 16.
A Cruz Vermelha Brasileira participou da constituição da Federação de Sociedade de Cruz Vermelha
e do Crescente Vermelho em 1919, filiando-se a ela. Em nosso país, tornou-se instituição modelar, da
forma prevista nas Convenções de Genebra, como em tempos de paz, levando ajuda a vítimas de
catástrofes e desastres naturais (secas, enchentes, terremotos etc.).
Atua com base nos princípios fundamentais da Cruz Vermelha, que são:
•Humanidade
•Imparcialidade
•Neutralidade
•Independência
•Voluntariado
•Unidade
•Universalidade
É reconhecida pelo governo brasileiro como sociedade de socorro voluntário, autônoma, auxiliar dos
poderes públicos e, em particular, dos serviços militares de saúde, bem como única sociedade
nacional da Cruz Vermelha autorizada a exercer suas atividades em todo o território brasileiro.
O Projeto Rondon foi criado, pelo Decreto nº 62.927, de 28 de junho de 1968,
que estabeleceu um Grupo de Trabalho (GT) denominado de “Grupo de
Trabalho Projeto Rondon”, subordinado ao Ministério do Interior.
Posteriormente, em 1970, esse GT foi transformado em Órgão Autônomo da
Administração Direta pelo Decreto n° 67.505, de 6 de novembro de 1970, e em
1975, pela Lei N° 6.310 de 15 de dezembro, foi instituída a Fundação Projeto
Rondon. Em janeiro de 1989, o Projeto Rondon foi extinto pela Medida
Provisória nº 28/89 convertida posteriormente na Lei 7.732, de 14 de fevereiro
de 1989. Em 1990, foi criada por ex-rondonistas a Associação Nacional dos
Rondonistas, uma Organização Não Governamental (ONG) qualificada pelo
Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIP).
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Projeto Rondon
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