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Noções gerais sobre a

Me. André de Paula Viana


prática de ações
andre.viana@universidadebrasil.edu.br
(17) 99726-8923
médicas humanitárias e
noções sobre Ética e
conceitos gerais.
Juramento de Hipócrates
"Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os
deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se
segue:

Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se
necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos;
ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem
compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino,
meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da
profissão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para
causar dano ou mal a alguém.

A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda.
Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.

Conservarei imaculada minha vida e minha arte.

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos
práticos que disso cuidam.

Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano
voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os
homens livres ou escravizados.

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver


visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da
minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o
contrário aconteça."
Como O médico que um estudante de medicina se
tornará será fortemente influenciado pela soma
fomentar uma de suas experiências, sejam prévias ou durante o
curso. A disciplina que inicia o viés prático,
visão geralmente, é a semiologia com as anamneses,
que irá se seguir com a clínica médica e por fim o
humanitária internato. Uma trajetória já comprovadamente
no estudante válida no aspecto clínico. Pois, em geral, os
médicos que a tiveram na sua formação se
de medicina? tornaram capazes de exercer a teoria.
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Contudo, o debate atual sobre a O cenário precário da saúde, as Seria possível ainda na
postura questionável de uma remunerações incompatíveis academia prover uma base
pequena parcela desses dos planos de saúde e do moral mais sólida que reduzisse
profissionais que é generalizada próprio SUS e a falta de os riscos para tais condutas?
aos demais traz a tona a estabilidade em cargos públicos
discussão das responsabilidades são justificativas plausíveis para
por tais atos e se há alguma um desvio do comportamento
deficiência nas suas formações. ético?
A medicina e o seu papel humanitário
No passado, os médicos levavam em suas maletas poucos instrumentos,
muita esperança e bondade no coração. Prescreviam cataplasmas, infusões,
chás, medicamentos e ainda ministravam doses de esperança. Com a chegada
das novas opções de diagnóstico e tratamento, eles tiveram que dominar
técnicas sofisticadas e o saber científico. Isso influenciou a formação e a
atuação desses médicos. Este avanço levou à perda do conteúdo
humanístico da profissão. Ouve-se menos o doente, distancia-se da sua alma
e conforta-se menos. A dor trazida pelas doenças de hoje é a mesma que se
via antes. O corpo é melhor tratado do que a alma. O conforto desta também
cura o corpo e há evidências de que o amparo acelera tal processo. É hora de
estimular o diálogo entre os componentes científicos e humanitários, a partir
das escolas médicas. O Dr. House é ótimo! Para ser perfeito, deveria exercitar
o dom do amor e da compaixão.
*Texto Paulo Saldiva é patologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) | Colaborou: Priscila
Pegatin | Foto Pinteterst | connie willett | Adaptação Kelly Miyazzato.
Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização humanitária
internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves
crises humanitárias. Também é missão de MSF chamar a atenção para as
dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos.

A organização foi criada em 1971, na França, por jovens médicos e jornalistas,


que atuaram como voluntários no fim dos anos 60 em Biafra, na Nigéria.
Enquanto socorriam vítimas em meio a uma guerra civil brutal, os profissionais
perceberam as limitações da ajuda humanitária internacional: a dificuldade de
acesso ao local e os entraves burocráticos e políticos, que faziam com que
muitos se calassem, ainda que diante de situações gritantes. MSF surge, então,
como uma organização humanitária que associa ajuda médica e sensibilização
do público sobre o sofrimento de seus pacientes, dando visibilidade a realidades
que não podem permanecer negligenciadas. Em 1999, MSF recebeu o prêmio
Nobel da Paz.
Ação médica acima de tudo
A atuação de Médicos Sem Fronteiras é, acima de tudo, médica. A organização leva assistência
e cuidados preventivos a quem necessita, independentemente do país onde se encontram.

Em situações em que a atuação médica não é suficiente para garantir a sobrevivência de


determinada população – como ocorre em casos de extrema urgência –, a organização pode
fornecer água, alimentos, saneamento e abrigos. Esse tipo de ação se dá prioritariamente em
períodos de crise, quando o equilíbrio anterior de uma situação é rompido e a vida das pessoas é
ameaçada.

A atuação de MSF respeita as regras da ética médica, em particular, o dever de oferecer auxílio
sem prejudicar qualquer indivíduo ou grupo e a imparcialidade, garantindo o direito à
confidencialidade. Ninguém pode ser punido por exercer uma atividade médica de acordo com o
código de ética profissional, não importando as circunstâncias, nem quem são os beneficiários.
No que atuamos
Médicos Sem Fronteiras oferece cuidados de saúde
a pessoas em necessidade de ajuda humanitária. Os
principais contextos nos quais a organização atua
são conflitos armados, epidemias, catástrofes
naturais e situações que envolvem refugiados e
deslocados internos. Além de oferecer cuidados de
saúde em situações de extrema urgência, as equipes
também estão presentes onde as populações sofrem
com a falta de acesso à assistência médica.
Como organização que atua de forma independente, neutra e imparcial, MSF determina, de acordo
com sua própria avaliação, onde, quando e como atuar. Um projeto pode ser desencadeado pela
existência de uma situação de crise que requer uma resposta humanitária emergencial, pelo
pedido de organizações internacionais, de governos ou mesmo de outras organizações não
governamentais ou ainda pela identificação de uma demanda de saúde específica, com a qual a
organização considera que possa contribuir de forma relevante.

No local, profissionais de MSF analisam, de acordo com o contexto, o número de pessoas


afetadas, as necessidades de saúde, as condições de vida, água e saneamento, o ambiente
político e a capacidade local de responder ao problema. Assim, a organização toma a decisão de
atuar ou não naquele país, determinando as prioridades e compondo a equipe que entrará em
ação e os recursos necessários para iniciar o projeto.

Quando a atuação se dá em resposta a uma emergência repentina, como uma catástrofe natural,
ela pode ser viabilizada entre 48 e 72 horas. Por trás da agilidade de MSF, está um sistema de
logística extremamente eficiente que envolve a padronização dos métodos de trabalho, a
manutenção de estoques permanentes e a experiência dos profissionais. Em 1980, a organização
passou a utilizar kits personalizados e adaptados para cada contexto, que são pré-embalados e
prontos para viagem e são constantemente aprimorados. Os kits contêm medicamentos,
suprimentos e equipamentos básicos e atendem desde campanhas de vacinação até a montagem
de um hospital inflável.
Contextos de Atuação
Desastres naturais
Em questão de minutos, desastres naturais, como terremotos, tsunamis e furacões, podem prejudicar
populações inteiras. Milhares de pessoas podem ficar feridas ou traumatizadas com perda de familiares,
amigos e de seus lares.

É comum que água limpa, cuidados de saúde e transporte sejam afetados quando desastres como esses
acontecem. Cuidados médicos rápidos e uma resposta de emergência coordenada são essenciais para proteger
os sobreviventes.
De catástrofes de larga escala a emergências locais, as redes de profissionais e de
suprimentos de MSF pelo mundo garantem que possamos responder rapidamente
aos desastres – nós levamos apenas três minutos para tratar o primeiro paciente
após o terremoto no Haiti, por exemplo. Com mais de 40 anos de experiência,
somos especialistas em viabilizar respostas para situações complexas.

Nós enviamos equipes médicas, logísticos e especialistas em água e saneamento


altamente qualificados às zonas de desastre. Por décadas, trabalhamos em um
sistema de suporte logístico e reunimos uma grande quantidade de profissionais de
MSF experientes que podem ser mobilizados em um curto espaço de tempo.

Quase 90% dos nossos recursos são resultantes da generosidade de doadores


privados, o que garante a MSF uma incomparável independência. Por isso,
podemos agir imediatamente sem precisar negociar com governos ou doadores
institucionais para a liberação de recursos. Nós apenas recorremos a fundos
adicionais caso o desastre seja muito grande e realmente precisemos de mais
ajuda do público.
Resposta imediata
O terremoto de 2010 no Haiti foi nossa maior resposta de emergência até o
momento. O desastre matou 220 mil pessoas, deixou 1,5 milhão de
desabrigados e destruiu 60% das instalações de saúde, incluindo dois de
nossos hospitais.
Nós respondemos recrutando milhares de novos profissionais, principalmente
haitianos, que trabalharam em 26 centros médicos, inclusive em um hospital
inflável estruturado em um campo de futebol. Em dez meses, tratamos 350 mil
pacientes, realizamos 16 mil cirurgias e, quando a cólera eclodiu, tratamos
60% dos casos da doença por todo o país.
O caso do Haiti mostrou como a resposta a um desastre natural frequentemente vai
além da crise imediata. A fase de emergência, à qual respondemos com a
realização de cirurgias, oferta de cuidados médicos, assistência psicológica,
alimentação, abrigo e água, foi relativamente curta.
No longo prazo, nós precisamos conter e limitar a proliferação de doenças
infecciosas, restabelecer o sistema de saúde e prestar suporte às pessoas que
perderam suas casas e estavam vivendo em abrigos temporários.
Preparo para emergências
Como temos projetos em cerca de 70 países por todo o mundo, muitas vezes já
contamos com trabalhadores humanitários por perto quando um desastre natural
acontece. Eles recebem apoio de equipes de emergência que estão em alerta nos
centros operacionais, e são compostas por especialistas em viabilizar rápidas
avaliações e organizar respostas imediatas.

Suprimentos médicos e logísticos, na forma de kits pré-embalados e prontos para


serem enviados rapidamente, são estocados em armazéns localizados em pontos
estratégicos por todo o mundo, e uma lista de profissionais experientes dispostos a
largar tudo e partir imediatamente para trabalhar em um desastre garantem que
podemos estar onde as pessoas mais precisam de nós o mais rápido possível.
Casos de urgência médica não podem esperar.
Financiamento de emergência
Como organização, nós nos orgulhamos do incrível apoio de nossos doadores. Nossa estrutura de
financiamento depende das muitas doações regulares de centenas de milhares de indivíduos pelo mundo
que contribuem com o trabalho de MSF todos os meses. Isso nos dá flexibilidade – e dinheiro em caixa –
para responder a emergências assim que elas acontecem, ao invés de termos de criar pacotes individuais de
financiamento para cada crise separadamente.
É raro para nós solicitar financiamento do público para uma crise específica – nós tomamos a decisão
coletivamente e cuidadosamente, porque temos escritórios em mais de 20 países pelo mundo e queremos ter a
certeza de que levantamos apenas o montante que será necessário para a realização de nossas atividades.
Em 2004, após o tsunami no Oceano Índico, MSF se viu, rapidamente, com mais fundos em caixa do que seria
necessário – ou as pessoas já tinham morrido ou não tinham grandes necessidades médicas, e a resposta do
público mundial com doações foi extremamente generosa.
Isso aconteceu apesar de termos encerrado os apelos por fundos apenas alguns dias após a catástrofe.
Atualmente, tomamos ainda mais cuidado ao combinarmos financiamentos restritos para uma crise específica
aos orçamentos operacionais. Estudamos com muita cautela o montante que será necessário para nosso
trabalho e quanto o público, impactado por nossos pedidos por ajuda, pode nos dar.
Em meio a uma emergência, isso é algo difícil de fazer e, algumas vezes, erramos, como aconteceu, por
exemplo, no terremoto do Haiti em 2010, quando gastamos muito mais do havíamos planejado porque as
necessidades foram maiores do que o previsto. Mas nossos doadores podem ter a certeza de que planejamos
muito antes de pedir qualquer ajuda extra – se nós pedimos fundos adicionais durante uma crise, é porque
entendemos que a escala das necessidades e a nossa resposta realmente justificam a demanda.
Epidemias
MSF tem experiência em responder a manifestações epidêmicas de cólera, meningite, sarampo, malária e
outras doenças infecciosas que se espalham rapidamente.

Ao longo das últimas décadas, MSF também tem combatido epidemias devastadoras como o HIV/Aids e a
tuberculose, além de doenças negligenciadas, como leishmaniose, doença do sono e Chagas – males que
afetam, em sua maioria, os mais pobres e para os quais há poucas opções efetivas de tratamento.
A organização se preocupa em oferecer os melhores cuidados médicos possíveis
aos seus pacientes. Por meio da Campanha de Acesso a Medicamentos
Essenciais (CAME), MSF pressiona por mais pesquisas voltadas para novos
medicamentos para doenças negligenciadas e pelo acesso a eles, assim como a
testes para diagnósticos e vacinas.
MSF também chama a atenção para as necessidades dos soropositivos,
aperfeiçoando tratamentos e diagnósticos para a tuberculose, doença que mais
mata portadores do vírus HIV.
Em 1999, MSF cofundou a Iniciativa de Medicamentos para Doenças
Negligenciadas (DNDi, ou Drugs for Neglected Diseases initiative, no original em
inglês), envolvendo pesquisadores, médicos e companhias farmacêuticas na
busca por alternativas para o desenvolvimento de medicamentos. O estímulo à
pesquisa e aos estudos é a prioridade da DNDi. Em 2007, a iniciativa foi
responsável pela formulação do ASAQ, medicamento bastante eficaz no
tratamento contra a malária.
Refugiados e Deslocados Internos
Mais de 41 milhões de pessoas estão atualmente fugindo de conflitos e perseguições pelo mundo. Seus
lares já não são seguros por questões de raça, religião ou nacionalidade, e seus governos não podem
mais oferecer-lhes proteção.

MSF trabalha pelo mundo para oferecer aos refugiados e às pessoas que se deslocam internamente por seus
países tudo o que precisam, de assistência psicológica a tratamento nutricional vital. Nós estruturamos hospitais
em campos de refugiados, ajudamos mulheres a darem à luz com segurança, vacinamos crianças para prevenir
epidemias e garantimos acesso à água potável.
Lei internacional
Refugiados são protegidos por leis internacionais. O Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur) é responsável por garantir que refugiados tenham
direito ao asilo, recebam assistência – alimentos, abrigo, cuidados de saúde – e
estejam protegidos da violência. O Acnur também é responsável por viabilizar uma
solução duradoura para a situação dessas pessoas.

Entretanto, algumas políticas são estruturadas para impedir que os refugiados


busquem asilo: políticas que toleram medidas inadequadas ou que, simplesmente,
mandam os refugiados de volta aos seus países.

Assim como levar cuidados de saúde e saneamento para refugiados, acreditamos


que seja igualmente importante nos manifestarmos acerca dessas políticas.
O maior acampamento do mundo
Quando os países oferecem abrigo, os refugiados são frequentemente forçados a enfrentar os impactos da vida
em meio a acampamentos insalubres. Com uma população de 460 mil pessoas, o campo de refugiados de
Dadaab, no Quênia, é reconhecido como o maior do mundo, assim como um dos mais perigosos.

Hoje, Dadaab não é mais um refúgio. Na medida em que mais pessoas chegam ali, fugindo da guerra que
devasta a Somália, os acampamentos superlotados estão se tornando sua moradia permanente, onde as
pessoas enfrentam crises de desnutrição contínuas e surtos de doenças, como o sarampo e a cólera.

Abubakar Mohamed Mahamud, coordenador de projeto adjunto de MSF, trabalhou em Dadaab por mais de 20
anos. “A crise na Somália não vai acabar tão cedo”, afirma. “A história está se repetindo e esse é um problema
sem fim. O que vejo hoje foi o que vi em 1991: pessoas desesperadas que fugiram de guerras que destruíram
seus países deixando tudo para trás, apenas para acabarem em um acampamento em que as condições de vida
estão aquém daquilo que é considerado humanamente digno.”

Após a seca no Chifre da África em 2011, um grande número de pessoas fugiu da Somália em busca de
segurança, alimentação e cuidados médicos, agravando a já terrível situação dos refugiados em Dadaab.

Em Dagahaley, um dos cinco acampamentos de Dadaab, equipes de MSF triplicaram sua capacidade quando
estruturaram um centro de nutrição de emergência com mais de 200 leitos, mantendo um hospital de 100 leitos
voltado para assistência materna, pediatria, emergências e cuidados médicos gerais.
Pessoas deslocadas internamente
Apesar de as pessoas deslocadas internamente fugirem de suas casas por razões
similares às dos refugiados (conflitos armados, violações de direitos humanos,
desastres naturais), tecnicamente, elas não são refugiadas. Deslocados internos não
cruzam fronteiras internacionais para buscar refúgio e, portanto, continuam, legalmente,
sob a proteção de seus próprios governos, mesmo que esse governo seja, muitas
vezes, a causa de sua fuga.
Hoje, existem 26 milhões de deslocados internos em 52 países no mundo. Quase a
metade deles está fugindo de conflitos em apenas três países: Sudão, Colômbia e
Iraque; e cerca de três quartos dos deslocados internos são mulheres e crianças.
Apesar das leis internacionais exigirem a proteção de civis em meio a conflitos,
mulheres e crianças são, geralmente, deliberadamente atacadas pelas partes
beligerantes como parte de sua estratégia.
Mesmo que existam programas para oferecer cirurgias e outros cuidados a essas
pessoas, a grande maioria não vai receber a assistência de que precisa porque vivem
em regiões onde o sistema de saúde entrou em colapso e é muito perigoso para
agências de ajuda independentes atuarem.
Exclusão do Acesso à Cuidados de Saúde
As equipes de Médicos Sem Fronteiras levam cuidados a populações que, por quaisquer motivos,
estejam privadas do acesso a serviços de saúde.

São diversos os fatores que podem inviabilizar esse acesso: em meio a conflitos armados, a insegurança limita os
deslocamentos e o receio da violência representa uma ameaça; por vezes, as mesmas insegurança e violência
motivam, também, a fuga massiva de profissionais de saúde de uma determinada localidade; a inexistência de
um sistema de saúde público institucionalizado e a escassez de profissionais de saúde é comum em diversos
países em desenvolvimento; desastres naturais podem destruir instalações de saúde; a falta de recursos
financeiros pode impossibilitar o uso de quaisquer tipos de transporte para se chegar às poucas estruturas de
saúde disponíveis em regiões de difícil acesso; e, por vezes, a cobrança de taxas referentes às consultas e aos
medicamentos pode restringir o acesso à saúde.
Na tentativa de oferecer serviços essenciais e superar tais obstáculos, equipes
de MSF avaliam o contexto a fim de implementar a solução que melhor se
adapte ao cenário encontrado. A organização pode investir na construção de
instalações de saúde permanentes ou provisórias, de acordo com a demanda de
saúde identificada em campo, e atuar por meio de clínicas móveis, que tem por
objetivo levar cuidados até as regiões e comunidades mais remotas.

No sistema de saúde da República Centro-Africana, por exemplo, é os pacientes


precisam pagar, de seus próprios bolsos, para bancar o custo que seus
atendimentos representam. O sistema não funciona. Não para os pacientes, e
não para o sistema de saúde. Na realidade, em um país como a República
Centro-Africana, onde o Estado é fraco, a população é pobre e a prevalência de
doenças é grande, o sistema da política de contrapartida contribui para o
abandono dos cuidados de saúde primários para a maioria da população. As
taxas bloqueiam o acesso a cuidados de saúde. No entanto, em muitos países,
elas ainda existem.
A violência urbana presente no cotidiano de diversos países também pode significar
uma limitação para o acesso a cuidados. “Independentemente dos recursos que o
México tem como país, parte da população tem de enfrentar diretamente situações
de extrema violência e encontra dificuldades para acessar o sistema de saúde.
Organizações criminosas que operam em grande parte do país usam métodos e
estratégias que têm consequências médicas e humanitárias graves para a
população. Programas de promoção e prevenção foram suspensos e instalações de
saúde não estão mais operacionais devido à falta de pessoal treinado, que
geralmente tem de reduzir sua carga horária e ficam expostos a serem roubados ou
são ameaçados nas regiões afetadas pela violência. Tudo isso afeta os pacientes,
que têm cada vez menos acesso a serviços de saúde”, explica Emiliano Lucero, que
atuou como coordenador médico por um ano, entre 2013 e 2014, no México.
No Afeganistão, que teve seu sistema de saúde recentemente celebrado por
iniciativas bem-sucedidas, a falta de recursos e os altos custos dos serviços
oferecidos foram apontados como as principais barreiras ao acesso a cuidados, de
acordo com estudo publicado por Médicos Sem Fronteiras em fevereiro de 2014.
Conflitos armados
Em meio a conflitos, MSF não toma partido. Oferecemos cuidados médicos com base unicamente nas
necessidades e trabalhamos duro para tentar chegar às pessoas que mais precisam de ajuda.

Se as partes beligerantes enxergarem organizações de ajuda como parciais, é menos provável que se
consigamos acesso às pessoas que precisam de nós e é mais provável que sejamos atacados.
Uma das formas pelas quais podemos demonstrar nossa independência para os envolvidos no conflito é por
meio da garantia de que todo o nosso financiamento para o trabalho realizado em zonas de guerra é privado,
proveniente de pessoas físicas – não aceitamos doações de governos.
Resposta imediata
Conflitos, sejam eles guerras internacionais ou disputas internas, podem ter muitas
consequências.

O medo da violência ou de perseguição causa deslocamentos de comunidades inteiras


e os que ficam geralmente não têm acesso a cuidados médicos.

Geralmente, conflitos causam o aumento do número de ferimentos relacionados a


trauma, mas também problemas para as pessoas que precisam de cuidados médicos
normais, como complicações durante a gravidez ou doenças crônicas, como a diabete.

É comum que o estresse psicológico e as doenças mentais também aumentem.


Infelizmente, a violência sexual também frequente em meio a conflitos.

Tentamos atender às necessidades das pessoas nesses contextos com médicos


altamente experientes, enfermeiros e logísticos que oferecem cuidados médicos
especializados e suporte.
Violência intensa
Durante períodos de violência intensa, nossas equipes, geralmente, têm de trabalhar
com grande flexibilidade. Em 2011, com a violência contínua afetando as instalações
médicas em Misrata, na Líbia, uma equipe de MSF teve de encontrar uma maneira de
evacuar de forma segura e rápida um grande número de pacientes gravemente feridos
da cidade.

A equipe fretou uma balsa, removendo seus assentos, para que lonas plásticas e
colchões pudessem ser encaixados ali. “A violência causou um influxo de pessoas
feridas e, felizmente, pudemos estar ali e colocá-los a bordo”, conta Helmy Mekaoui,
médico de MSF que coordenou a evacuação.

Apesar das dificuldades no mar, a embarcação chegou em segurança na Tunísia no dia


seguinte, onde 20 ambulâncias aguardavam para levar os 71 pacientes ao hospital.

Annas Alamudi, logístico de MSF, conta: “Até onde sei, foi uma operação bem-sucedida
e fiquei feliz por termos conseguido ajudar. Havia pessoas doentes que precisavam sair
dali e nós as removemos. Missão cumprida.”
Equipe altamente experiente
O trabalho em zonas de guerra pode ser uma experiência extremamente
aterrorizante e perturbadora. Por isso, permitimos apenas que profissionais treinados
e experientes atuem nessas situações.

Paul McMaster, cirurgião britânico que já atuou diversas vezes com MSF, ainda
considera missões desse tipo desafiadoras.

Depois de retornar de um projeto na Síria, onde tratou feridos em um centro cirúrgico


estruturado dentro de uma caverna, ele disse: “Trabalhei em muitos lugares difíceis
com MSF, zonas de guerra como Sri Lanka, Costa do Marfim e Somália. Mas,
enquanto esses países eram perigosos em terra, na Síria o perigo vinha pelos ares.
É um tipo de perigo muito mais opressor ter um helicóptero sobrevoando o céu, bem
em cima de você.
Segurança
Embora aceitemos que é impossível proteger nosso pessoal de todos os riscos, fazemos o
melhor para que sejam respeitadas medidas rigorosas de segurança.

Antes de iniciar um novo projeto, e durante a sua realização, avaliamos os riscos


associados às atividades sendo desenvolvidas constantemente. Cada projeto em campo
tem uma regulamentação de segurança específica e detalhada que é colocada em prática,
com atenção às nossas estratégias, medidas de segurança e responsabilidades.

Entre essas regulamentações, MSF sustenta a rígida prática de impedimento da circulação


de armas em todas as suas clínicas, veículos e centros de saúde. Para garantir a
segurança de nosso pessoal e dos pacientes, é essencial que não haja pessoas armadas
em nossos hospitais. Naturalmente, combatentes que precisem de ajuda médica serão
tratados, independentemente do lado do confronto em que estejam, mas eles e seus
colegas deverão deixar suas armas do lado de fora. A presença de qualquer pessoa
armada aumenta as chances de nossas instalações serem alvo de violência.
A logomarca de MSF
Aprendemos que, em meio à realização de intervenções humanitárias essenciais
que são visivelmente imparciais e neutras – e quando esses atributos são
percebidos e entendidos completamente pelas comunidades locais –, a logomarca
de MSF estampada em uma camiseta é, frequentemente, mais efetiva para a
proteção de nossas equipes do que um colete à prova de bala. Isso é reflexo do
trabalho de nossos coordenadores de projeto e de emergência que, quando em
zonas de guerra, dedicam parte considerável de seu tempo às negociações com
diferentes grupos armados.

Quando uma equipe de MSF é percebida por todos como neutra, imparcial e
independente, e quando essas palavras são claramente entendidas e apreciadas
porque se traduzem em ações concretas em campo, é quando estamos mais a
salvo.
Projetos no Brasil
MSF já realizou 15 projetos no Brasil, da Amazônia a contextos urbanos, como no
Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro. Hoje, MSF não tem projetos
regulares no país, mas pode responder a emergências quando avaliar que existem
necessidades médico-humanitárias que não estão sendo atendidas. Em 2011, a
organização contribuiu com ajuda médica durante as enchentes que afetaram a
Região Serrana do Rio de Janeiro. Entre outubro do mesmo ano e março de 2012,
MSF respondeu a uma crise humanitária envolvendo imigrantes haitianos na cidade
de Tabatinga, no Amazonas. Em 2013, psicólogos da organização contribuíram com o
treinamento de profissionais de saúde mental da rede de saúde nacional no
atendimento aos sobreviventes do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS). Por
ocasião da cheia do Rio Madeira, em fevereiro de 2014, Médicos Sem Fronteiras
enviou equipes para avaliar a situação médico-humanitária das comunidades locais
e descartar a probabilidade de um surto de cólera. A conclusão foi a de que as
autoridades locais estavam preparadas para atender às necessidades das
populações atingidas. Ainda assim, a organização ministrou um treinamento médico
para compartilhar sua experiência no tratamento da cólera e organizou um
documento com medidas que poderiam ser adotadas localmente para conter um
possível surto.
Brasil
Ajuda humanitária a haitianos em Tabatinga (2011 -2012)
Médicos Sem Fronteiras iniciou suas atividades em Tabatinga, na tríplice fronteira
entre Brasil, Peru e Colômbia, em dezembro de 2011. Naquela época, mais de mil
haitianos, que haviam chegado ao Brasil fugindo das dificuldades de um país
devastado por um terremoto, aguardavam um protocolo da polícia Federal que
lhes permitiria sair da cidade e trabalhar. Enquanto aguardavam, grande parte vivia
em condições extremamente precárias e com acesso limitado a cuidados de saúde,
sem qualquer assistência das autoridades locais, estaduais ou federais.
Em oito semanas, Médicos Sem Fronteiras distribuiu mais de 1.800 kits de higiene
contendo itens como escova e pasta de dente, sabão, balde, toalha, para facilitar a
manutenção de condições mínimas de higiene e evitar, assim, a degradação do
estado de saúde deles. Foram distribuídos também cerca de kits família, com
vassouras e água sanitária e outros produtos de limpeza.
A equipe de Médicos Sem Fronteiras também realizou atividades de promoção de saúde
com o objetivo de melhorar a prevenção de doenças e facilitar o acesso dos haitianos ao
sistema público de saúde, fazendo a ponte entre os serviços locais e a população de
imigrantes. Para isso, MSF desenvolveu material de educação em saúde em creole, a
língua falada no Haiti.

As condições de vida difíceis e a incerteza sobre futuro provocaram sintomas de stress


agudo como insônia, perda de apetite, dificuldades para respirar e dores corporais. Por
isso, além do trabalho educacional e da distribuição dos kits, MSF também ofereceu apoio
em saúde mental individual e em grupo.

Os principais problemas de saúde observados foram dermatites, doenças gastrointestinais,


febres sem causa esclarecida e infecções respiratórias, doenças normalmente associadas
às condições de vida e de habitação. No entanto, MSF avaliou que o sistema de saúde
público poderia dar conta dessa demanda. A equipe de Médicos Sem Fronteiras também
realizou, então, atividades de promoção de saúde, que além de melhorar a prevenção de
doenças, tinha o objetivo de facilitar o acesso dos haitianos ao sistema público de saúde,
fazendo a ponte entre os serviços locais e a população de imigrantes.
Em meados de fevereiro, após encerrarem as atividades em Tabatinga, profissionais
de MSF foram para Manaus para trabalhar com haitianos, que de posse do
protocolo de visto, documento que lhes permite viajar dentro do país e trabalhar
haviam ido para capital do estado atrás de emprego. Foi uma rápida passagem de
20 dias em que MSF trabalhou junto com profissionais locais para montar uma
estratégia de inserção dos haitianos no sistema público de saúde e de atendimento
de saúde mental.

Capacitação na região de Itaperuna (2012)

Duas psicólogas de Médicos Sem Fronteiras (MSF) foram enviadas a Itaperuna,


cidade situada entre os Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, para organizar
treinamentos para capacitar os profissionais locais a oferecer assistência psicológica
às vítimas das enchentes na região. Diversas cidades do entorno sofreram com as
fortes chuvas, em janeiro de 2012, que causaram sérias enchentes e deslizamentos
e que deixaram dezenas de mortos e desabrigados.

Mais de 50 pessoas participaram da primeira capacitação. O trabalho foi uma


resposta a um convite feito pela Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro.
Capacitação na região serrana do Rio de Janeiro (2011)

Cidades na região serrana do Rio de Janeiro foram atingidas por fortes chuvas, em janeiro
de 2011, que fizeram mais de 700 vítimas fatais. Equipe de psicólogos de Médicos Sem
Fronteiras (MSF) treinaram profissionais de saúde mental que trabalharam na região
atingida pelas cheias. A capacitação foi o principal foco do trabalho de MSF nesta
emergência. A estratégia de trabalhar com a qualificação dos profissionais em vez de fazer
atendimento direto à população também tem o objetivo de atingir um público grande
mesmo com uma equipe reduzida. Além dos treinamentos, MSF colaborou na organização
dos voluntários que estão trabalhando na cidade para que não houvesse multiplicação de
esforços desnecessários.

Depoimento

"Essa capacitação me deu um novo olhar sobre o que está acontecendo e me despertou
para coisas que estavam passando despercebidas por mim. E o mais importante é que a
presença das psicólogas de Médicos Sem Fronteiras me deu segurança para trazer à tona
tudo o que eu já sabia. Por também ter sido vítima eu estava muito abalada". Ozimar
Verly, neuropsicóloga.
Auxílio para as vítimas de Alagoas (2010)

Em junho de 2010, fortes enchentes atingiram os estados de Pernambuco e Alagoas


no nordeste do Brasil. As inundações deixaram milhares de casas completamente
destruídas. Em alguns lugares, a população inteira foi afetada pelo desastre e muitas
famílias perderam todos os seus pertences. Equipes de MSF ofereceram apoio
psicológico, distribuição de kits, melhoria das condições de água e saneamento,
monitoramento e treinamento.
MSF doou conjuntos de material para limpeza de latrinas, adaptou vários tanques de
água, construiu locais para banho, distribuiu kits de higiene (sabonete, toalha, bacias,
escova de dente) e kits não-alimentares (lonas plásticas, colheres e baldes), realizou
monitoramento para detectar o surgimento de casos de doenças como leptospirose,
dengue, diarreia, doenças de pele e infecções respiratórias e ofereceu treinamento
em cuidados de saúde mental para o pessoal médico e não-médico local, para ajudá-
los a identificar problemas psicológicos nos pacientes.
Unidade de Emergência do Complexo do Alemão (2007 - 2009)

Em outubro de 2007, Médicos Sem Fronteiras (MSF) inaugurou na Comunidade da


Fazendinha, no centro do Complexo do Alemão, a Unidade de Emergência de MSF. Na
clínica, equipes de MSF ofereciam atendimento de emergência, cuidados de saúde
mental, transferência em ambulância para hospitais da região e orientação sobre a
rede pública de saúde do município.

A Unidade de Emergência MSF funcionou até o final de 2009, quando as atividades na


clínica foram encerradas. Nos mais de dois anos em que funcionou, a equipe de MSF
atendeu majoritariamente pacientes com problemas de saúde primária, tendo
realizado mais de 19 mil consultas médicas. Além disso, prestou também atendimento
emergencial, com 650 resgates de ambulância, e ofereceu cuidados de saúde mental a
2 mil pacientes. A maioria destes atendimentos foi composta por mulheres adultas
apresentando quadros depressivos, ansiosos e psicossomáticos (aproximadamente
47%), e crianças e adolescentes com problemas de aprendizagem e agressividade
(aproximadamente 43%).
A unidade de saúde do
Complexo do Alemão, a
exemplo de outras que MSF
abriu em outras comunidades
do Rio de Janeiro, deveria ser
retomada pela Prefeitura,
segundo acordo assinado em
2008. Com o
descumprimento do acordo
por parte da Prefeitura, MSF,
uma organização que não se
propõem a substituir o poder
público, se viu obrigada a dar
fim às atividades em
novembro de 2009, como
previsto desde o início do
projeto.
A África é o continente que apresenta os mais graves problemas
socioeconômicos do planeta, consequência do processo de colonização e
independência, cujos países colonizadores exploraram as riquezas e
deixaram uma verdadeira mazela.

A situação de pobreza, fome, subnutrição, doenças e guerras na África


mobiliza milhares de pessoas de todo o mundo a participar dos programas
de ajuda humanitária ao continente. Existem, atualmente, dezenas de
grupos humanitários trabalhando em auxílio da população africana,
atuando em áreas como saúde, educação, distribuição de alimentos e
roupas, entre outros.
A Organização das Nações Unidas (ONU) também participa das atividades
humanitárias do continente, isso ocorre, em alguns países, através de
doações de recursos básicos para suprir as necessidades da população e o
envio de tropas militares que tentam promover o fim dos conflitos.

Tentando contribuir de forma imediata e eficaz para minimizar o


sofrimento dos habitantes da África, as Organizações Não Governamentais
(ONGs) desempenham função importante nesse processo, com destaque
para a organização canadense Médicos Sem Fronteiras (MSF), cujo
trabalho, sem fins lucrativos, se desenvolve especialmente junto a
comunidades afetadas pelas guerras.
A ONG brasileira Infanto-Juvenil de Reivindicação, também denominada
Mirim-Brasil, em parceria com a organização sueca Unga Ornar,
desenvolve um projeto de conscientização sobre a Aids em 15 países do
continente africano, cujo público alvo são os jovens. Esse tema é
elementar, visto que o continente abriga mais de 70% dos portadores
mundiais do vírus HIV.

Outra organização humanitária brasileira com atuação na África é a


Pastoral da Criança, entidade católica que já foi liderada pela médica Zilda
Arns, morta durante um terremoto no Haiti, em 2010. A Pastoral realiza
trabalhos de alfabetização, higiene e ações que possibilitem a redução da
mortalidade infantil na Angola, que atualmente é de 114 óbitos a cada mil
crianças nascidas vivas.
Apesar da atuação desses grupos humanitários, a atenção dada ao
continente africano é insuficiente. Conforme relatório publicado em
2009 pela Cruz Vermelha Internacional e pelo Crescente Vermelho, a
assistência humanitária na África não satisfaz às necessidades dos
habitantes.

Esses grupos humanitários atuam de forma assistencialista, portanto,


mesmo sendo de grande importância para a população africana, eles
não serão capazes de solucionar os problemas do continente, sendo
necessária uma política promovida pelos países ricos de inclusão
global, investimentos em infraestrutura, saúde, saneamento ambiental
e educação.
Para os filhos do médico e ex-candidato à
presidência de Portugal, Fernando Nobre, o pai é
um “avião”. Há 36 anos, ele passa mais tempo
viajando pelo mundo, dedicando-se a ações
humanitárias, do que em sua casa, em Lisboa. As
missões o levaram a 170 países nesse período,
praticamente o mundo todo. “A única coisa que
eu não presenciei foi o efeito de uma bomba
nuclear, e espero não ver”, conta. No mais, já
encarou de tudo: desde tragédias provocadas por
desastres naturais, como terremotos e
maremotos, a acampamentos de refugiados
Há 36 anos, Nobre participa de famintos, genocídios, guerras e, até mesmo, um
assistência médica atentado à sua própria vida. Mas o que ele mais
lamenta, e classifica como doenças mais graves
humanitária a vítimas de
do mundo, são a intolerância e a indiferença ao
terremotos, próximo.
maremotos, genocídios,
guerras, entre outras
tragédias; "só não vi o efeito
de uma bomba nuclear", diz
Desde criança – quando ainda morava em Luanda, capital de Angola, onde nasceu, em 1951 –
Nobre tinha certeza de que seria médico. Filho de pai português e mãe francesa, cursou
Medicina em Bruxelas, na Bélgica, onde especializou-se em Urologia e Cirurgia-geral.
O futuro profissional, na Europa, era promissor, mas seu sonho era “montar um hospital no meio
do mato, como fez Albert Schweitzer” (médico francês que dedicou parte de sua vida a pacientes
de pequenos povoados da África), lembra.

Pouco depois da especialização, o médico decidiu dedicar-se ao trabalho humanitário.


Na época havia grandes conflitos de independência na África. “Entendi que, assim, realizaria
meu sonho. Como não podia ter um hospital no mato, viveria em missões pelo mundo
afora”, lembra. É o que faz desde então.

Começou em 1976, na Organização Não-Governamental Médicos Sem Fronteira (MSF).


Depois de seis anos e várias missões humanitárias, decidiu sair devido a divergências com a
direção da ONG no Chade, no centro-norte da África, relativa ao conflito desse país com a Líbia.
Em 1984, ao mudar-se de Bruxelas para Portugal, a convite do ministro da Saúde português,
Nobre decidiu, então, fundar ele mesmo uma organização de ajuda humanitária, a
Assistência Médica Internacional (AMI), com sede em Lisboa, na qual trabalha.
Dentre os inúmeros desafios que os cenários de conflitos armados,
genocídios e catástrofes representam para o trabalho dos médicos, o
maior deles, na opinião de Nobre, é a cirurgia de guerra. “Muitas
vezes, nós não podemos fazer tudo o que seria necessário,
pois é preciso operar o maior número de pessoas no menor
tempo possível. O que importa é salvar vidas e, para isso,
temos de tomar decisões muito rápidas. Infelizmente, nas
guerras, geralmente amputamos muitos membros”, lamenta.

As incontáveis cenas trágicas e tristes que já vivenciou, e as


lembranças dos lugares por onde passou e das pessoas que ajudou,
frequentemente voltam à lembrança. “Às vezes, à noite, fecho os
olhos e revejo algumas cenas ou momentos pelos quais
passei”, diz. Dois deles – durante uma missão no Líbano, em 1982,
pelo MSF – ficarão marcados para sempre, acredita o médico. O
primeiro foi o ambiente de alto estresse que lá viveu durante dois
meses. “Havia bombardeios marítimos, aéreos e terrestres
todos os dias. Para mim, os piores eram os bombardeios
noturnos. Pela manhã, conseguíamos ver os aviões e tínhamos
certa noção de onde a bomba cairia, mas à noite não dava
para saber, só escutávamos o barulho. A próxima poderia cair
sobre nós”, relata.
O segundo foi uma tentativa de assassinato que sofreu durante essa mesma
missão. Certa noite, quando acabara de sair da casa onde morava e se encontrava
na rua, um franco-atirador disparou na direção de Nobre. Ele só não foi atingido
porque, após o projétil passar de raspão por sua orelha, pulou para se esconder –
sem refletir para onde ia, já que não sabia de onde viriam os tiros. E, felizmente,
pulou para o lado correto, o dos imóveis onde estava o franco-atirador. Assim, como
este se encontrava em um dos tetos, o médico foi se esgueirando pelas paredes até
conseguir sair daquela área. Se tivesse pulado para o outro lado, teria continuado
na mira do atirador e, provavelmente, não estaria vivo.

Outra imagem que volta sempre à sua lembrança aconteceu por ocasião do
genocídio de Ruanda, em 1994. Quando Nobre entrou em uma das tendas do
acampamento, viu uma mulher africana, em silêncio, com lágrimas escorrendo pelo
rosto e, no colo, um bebê, morto. “As pessoas acham que os africanos estão
acostumados com a morte, mas isso é uma grande mentira. Mãe é mãe
em qualquer lugar. A pior dor que se pode ter é a provocada pela morte
de um filho”, garante.
A inocência acabou
Em relação aos conflitos atuais, afirma que a AMI não envia seus quadros a algumas áreas de
conflito do Oriente Médio, como a Síria e o Iraque, por exemplo. “Estamos em uma época de
opressão, a inocência acabou. Muitas forças fundamentalistas não querem mais saber se
você é médico ou padre, sem vínculo algum com os governos ocidentais. Para eles, agora,
todos são culpados e, portanto, passíveis de serem alvos de sequestros, execuções ou
atentados terroristas”, conta. Apenas em 2013, informa Nobre, o número de pessoas
envolvidas em ações humanitárias feridas, mortas ou executadas chegou a 470. “Não tenho
medo de morrer de um tiro, mas morrer degolado, como uma galinha, não! Não posso
enviar o pessoal da ONG para onde eu mesmo não esteja disposto a ir”, afirma.

As viagens constantes fazem com que o médico não tenha uma rotina com a família como
gostaria. Ele casou-se duas vezes e tem quatro filhos. A segunda esposa, que também
trabalha na AMI, onde se conheceram, é quem cuida da família. “Ela é pai e mãe ao mesmo
tempo. É o preço que eu pago por viver por um ideal. Minha sorte é que nós acreditamos
nos mesmos ideais”, diz. Alguns membros da família trabalham junto com ele, como o irmão,
José Luís Nobre – que cuida da logística de transporte e estruturas físicas das missões da AMI
–, e a filha Isabel, que o acompanha em algumas missões, como fotógrafa.
Política
A candidatura à presidência de Portugal aconteceu há três anos. Nobre apresentou-se de forma
independente, sem partido e sem recursos. Mesmo assim, ficou em terceiro lugar, com 15% dos
votos. “Decidi disputar a presidência por acreditar que, como cidadão conhecedor de
algumas realidades especiais do país e do mundo, poderia contribuir com Portugal,
dar outra visão de mundo e despertar a sensibilidade nas pessoas”. Ele não pretende
mais candidatar-se. “As dificuldades financeiras são imensas para sustentar uma candidatura
independente”, enfatiza.

Além de administrar e participar das missões da AMI, o médico dá aula de Medicina Humanitária
na Universidade de Lisboa. Acredita que só o humanitarismo pode mudar o mundo.
“Infelizmente, as pessoas estão perdendo a humanidade e mesmo a Medicina tomou
outros rumos. “O médico não encosta mais no paciente, às vezes nem o olha nos
olhos, isso não é praticar Medicina”, afirma. “A única coisa que um robô não pode
fazer no lugar do médico é ser sensível. Se não mantivermos a humanidade, a
Medicina será mais uma profissão tecnicista e não passará disso”, conclui.
A AMI no mundo
Criada em dezembro de 1984, a Assistência Médica Internacional (AMI)
tem sede em Lisboa, Portugal, e é a primeira organização humanitária do
país. Conta com 250 funcionários e com ajuda voluntária.

Todas as missões das quais a AMI participa envolvem um plano de ação


médica e social para prestar auxílio a qualquer país que tenha passado por
uma catástrofe natural, ou que esteja vivendo um cenário de guerra. A
logística de uma missão humanitária é enorme, englobando desde locais
para abrigar o pessoal, transportes e recursos para mantimentos, entre
outros.

Inicialmente, a organização criada por Nobre visava levar ajuda a todos os


países de língua portuguesa, mas, depois, ampliou sua ajuda, e esteve
presente em todos os cenários de guerra e catástrofes naturais das últimas
três décadas, em todo o mundo. Atualmente, só não participa de missões
no Iraque e na Síria.

O trabalho da ONG abrange: assistência médica, ação social,


conscientização sobre a importância da preservação do ambiente
e sensibilização em torno de questões que acredita serem
importantes para a humanidade, como a necessidade da
participação da sociedade civil para promover mudança de
atitudes e comportamentos.
(Colaborou: Fátima Lopes)
A História da Cruz Vermelha Brasileira iniciou no ano de 1907, graças à ação do Dr. Joaquim de Oliveira
Botelho, espírito culto e cheio de iniciativa que, inspirando-se naquilo que testemunhara em outros
países, sentiu-se animado do desejo de ver, também aqui, fundada e funcionando, uma Sociedade da
Cruz Vermelha. Junto com outros profissionais da área de saúde e pessoas da sociedade promoveu
uma reunião em 17 de outubro daquele ano na Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, para
lançamento das bases da organização da Cruz Vermelha Brasileira. Em reunião realizada em 5 de
dezembro de 1908, foram discutidos e aprovados os Estatutos da Sociedade. Esta data ficou consagrada
como a de fundação da Cruz Vermelha Brasileira, que teve como primeiro Presidente o Sanitarista
Oswaldo Cruz. O registro e o reconhecimento da entidade nos âmbitos nacional e internacional se deu
nos anos de 1910 e 1912, sendo que a I Grande Guerra (1914/1918) constitui-se, desde seus primórdios,
no fator decisivo para o grande impulso que teria a nova Sociedade.

As “Damas da Cruz Vermelha Brasileira”, comitê criado por um grupo de senhoras da sociedade carioca,
deu origem à Seção Feminina, que teria como primeira tarefa, a formação do corpo de Enfermeiras
voluntárias. A semente assim plantada frutificaria e, para permitir o funcionamento de outros cursos
sugeridos pela Seção Feminina, foi criada e inaugurada, em março de 1916, a Escola Pratica de
Enfermagem, sob a eficiente direção do Dr. Getúlio dos Santos, na época Capitão Medico do Exército.
Com a declaração de guerra do Brasil aos Impérios Centrais (Alemanha e seus aliados), a Sociedade
expandir-se-ia com intensificação dos Cursos de Enfermagem e com a criação de filiais estaduais e
municipais, cabendo a São Paulo a primazia. Em 1919, as filiais já eram em número de 16.
A Cruz Vermelha Brasileira participou da constituição da Federação de Sociedade de Cruz Vermelha
e do Crescente Vermelho em 1919, filiando-se a ela. Em nosso país, tornou-se instituição modelar, da
forma prevista nas Convenções de Genebra, como em tempos de paz, levando ajuda a vítimas de
catástrofes e desastres naturais (secas, enchentes, terremotos etc.).

Atua com base nos princípios fundamentais da Cruz Vermelha, que são:

•Humanidade
•Imparcialidade
•Neutralidade
•Independência
•Voluntariado
•Unidade
•Universalidade

É reconhecida pelo governo brasileiro como sociedade de socorro voluntário, autônoma, auxiliar dos
poderes públicos e, em particular, dos serviços militares de saúde, bem como única sociedade
nacional da Cruz Vermelha autorizada a exercer suas atividades em todo o território brasileiro.
O Projeto Rondon foi criado, pelo Decreto nº 62.927, de 28 de junho de 1968,
que estabeleceu um Grupo de Trabalho (GT) denominado de “Grupo de
Trabalho Projeto Rondon”, subordinado ao Ministério do Interior.
Posteriormente, em 1970, esse GT foi transformado em Órgão Autônomo da
Administração Direta pelo Decreto n° 67.505, de 6 de novembro de 1970, e em
1975, pela Lei N° 6.310 de 15 de dezembro, foi instituída a Fundação Projeto
Rondon. Em janeiro de 1989, o Projeto Rondon foi extinto pela Medida
Provisória nº 28/89 convertida posteriormente na Lei 7.732, de 14 de fevereiro
de 1989. Em 1990, foi criada por ex-rondonistas a Associação Nacional dos
Rondonistas, uma Organização Não Governamental (ONG) qualificada pelo
Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIP).
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Projeto Rondon

https://www.youtube.com/watch?v=iWwZRwPmb2M

Obs: Trabalho em grupo e entrega no prazo de 01 semana

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