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POPULAÇÕES INDÍGENAS DO MARANHÃO

Quantas e quais populações de indígenas existe:


De acordo com um estudo da Funai, atualmente existem sete etnias vivendo no
Maranhão
- Ka’apor
-Guajá
- Tenetehara
-Timbira
- Kanela
-Krikati
-Gamela

Sistemas de organização: politica, econômica e social:


Ka'apor- A aldeia Ka'apor (hendá) consiste normalmente em um ou dois
agrupamentos residenciais uterinos. O irmão mais velho das irmãs casadas em
um agrupamento uterino é normalmente o chefe (kapitã) do agrupamento, de
forma que uma aldeia pode ter mais do que um chefe se houver mais de um
agrupamento residencial. Enquanto a residência tende a ser uxorilocal, com a
maior parte dos homens deixando o seu agrupamento de origem em razão do
casamento para residir com os familiares de suas esposas, pelo menos um
homem permanece, normalmente um filho do chefe, sendo a sua esposa quem
se muda para viver com ele; entretanto, se ela é filha da irmã do seu pai, real
ou classificatória, pode ser do mesmo agrupamento. O agrupamento é,
politicamente, uma facção, baseada tanto no fato da co-residência quanto na
doutrina da descendência repartida.
O poder político do chefe se limita a acertar os casamentos de suas irmãs reais
e classificatórias com homens dispostos a casar no seu agrupamento, que lhe
garantem lealdade difusa assim como as filhas solteiras casadouras deles,
para que ele ou seus filhos possam casar mais tarde. 
A sociedade é basicamente igualitária, não havendo autoridade central (o que
pode estar mudando com as crescentes pressões de posseiros invasores).
Cada aldeia tende a agir como uma entidade politicamente autônoma.

Povo horticultor, os Ka'apor, assim como vários outros grupos estabelecidos na


Amazônia, dependem da mandioca brava como fonte principal de calorias. Eles
a consomem principalmente na forma de farinha. Cultivam no total cerca de 50
espécies de plantas. Estas são usadas como alimento, tempero, remédios,
fibras, ferramentas e armas. Além disso, eles caçam e coletam frutos nas
matas densas e pescam em pequenos igarapés do seu hábitat para obter a
maior parte do restante de sua alimentação.

Os animais de caça mais importantes na sua dieta são o veado galheiro, caititu,
queixada, paca, cutia, macaco guariba, duas espécies de jabuti, jacaré e várias
espécies de cracídeos, mutuns e tinamídeos Nem tudo o que é comestível no
habitat é aproveitado como alimento. E alguns itens comestíveis só são
comidos algumas vezes por algumas pessoas. O complexo de tabus
alimentares centraliza-se em ritos associados à fertilidade feminina,
especialmente o resguardo e o ritual de puberdade. Para quem se encontra
nestes estados, a única carne de animal terrestre permitida é a do jabuti de pé
amarelo.

Importantes espécies de peixes incluem o surubim, pacu, piranha, traíra e jeju.


Os mais importantes frutos silvestres coletados para alimentação incluem o
bacuri (Platonia insignis), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), piquiá (Caryocar
villosum) açaí (Euterpe oleracea), bacaba (Oenocarpus distichus) e abiu cutite
(Pouteria macrophylla).

A divisão sexual do trabalho não é rígida, mas as mulheres dedicam muito mais
tempo do que os homens à preparação do alimento, especialmente no que diz
respeito ao processamento da mandioca brava. Os homens passam bem mais
tempo caçando do que as mulheres. No geral, os homens tecem as cestas,
inclusive os tipitis (prensa de mandioca) enquanto as mulheres fazem as
panelas, incluindo as grandes vasilhas (kamuši~) usadas para servir o caxiri de
mandioca nas cerimônias de nomeação das crianças.

A arte plumária dos Ka'apor é o seu trabalho de maior renome e dois


livros inteiros foram dedicados a ela. As penas usadas vêm de
numerosos pássaros, inclusive tangarás, que são especialmente difíceis
de caçar devido ao seu pequeno tamanho e à sua preferência pela copa
das árvores. Os velhos artesãos fazem cocares, brincos, colares,
pulseiras, braceletes e adornos labiais de penas. Eles são ostentados
com toda a pompa apenas nas cerimônias de nomeação das crianças,
como testemunho da consciência que eles têm de si mesmos como
povo.

A arte Ka'apor é também vista nos desenhos geométricos característicos que


as mulheres pintam nos rostos das pessoas com sumo de urucum e nas
cabaças com tintura à base da casca da árvore makuku (Licania spp.). O
trabalho artístico dos Ka'apor, quando não é feito como um fim em si mesmo,
esmaece na cultura material.

A cultura material inclui arquitetura da casa e da paisagem, ferramentas,


armas, utensílios, redes e vestuário. A cerâmica está sendo substituída em
grande escala por utensílios de cobre e alumínio importados, mas não é uma
arte de todo perdida. A casa é construída a partir de um plano térreo retangular
e tem um telhado inclinado. Ela normalmente acomoda uma família nuclear ou
no máximo uma família extensa. As colunas são feitas basicamente de
acariquara resistente ao apodrecimento; os barrotes e as vigas, de cerca de
vinte espécies de madeira de lei. Os moradores dormem em redes de algodão
amarradas às colunas e vigas, cortadas e erguidas pelos homens adultos.
Normalmente uma fogueira é mantida acesa na casa para cozinhar e aquecer
as noites frias do período da seca. As mulheres coletam quase toda a lenha,
cuidam de manter o fogo e a maior parte do trabalho de cozinha.

Awá-Guajá-Os Guajá entraram em contato permanente com a sociedade


nacional brasileira a partir de 1973. Especula-se que até então tivessem uma
vida nômade, subsistindo da caça de animais silvestres e da coleta de produtos
florestais. Possivelmente, os Guajá foram agricultores no passado, até serem
obrigados a adotar uma vida nômade por força da pressão sofrida por outros
grupos numericamente superiores e mais fortes.

Sob orientação da Funai, os Guajá atualmente praticam a agricultura itinerante,


empenhando-se em atividades agrícolas semelhantes às práticas dos
povoados circunvizinhos às suas reservas. Adaptaram-se rapidamente a esta
nova estratégia de subsistência, uma vez que ela representa mais uma opção
na sua gama de alimentos. Ademais, o assentamento dos indígenas próximo
aos postos da Funai se tornou atraente, pois, se o contato interétnico provocou,
por um lado, a introdução de doenças e enfermidades, revelou-se, por outro,
como uma necessidade face ao acesso a medicamentos para o tratamento.
Entretanto, a caça e a coleta não deixaram de contribuir de forma substancial à
vida dos Guajá e continua sendo de praxe entre estes o deslocamento para
áreas distantes de suas aldeias, rumo a retiros de caça. Embora a dieta Guajá
consista mais em calorias advindas de seus produtos agrícolas eles dedicam
mais tempo à caça nas suas atividades de subsistência.

Existem muitos cocais da palmeira babaçu (Attalea speciosa, também


conhecida na literatura como Orbignya martiana ou O. phalerata) no hábitat
geral dos Guajá. A sua alta freqüência na região se deve principalmente ao fato
desta palmeira vingar em abundância no processo de sucessão florestal, ou
seja, em capoeiras, áreas já utilizadas para roças. O babaçu tem múltiplos usos
para os Guajá, sendo que o seu fruto é muito aproveitado por eles tanto em
tempos de penúria quanto como suplemento à sua dieta. Antes do contato com
a FUNAI, era comum os Guajá acamparem às proximidades destes cocais para
coletar seus frutos, cujas amêndoas e entrecasca são ricas em óleos e
proteínas, e praticar a caça.

Além dos produtos de seus plantios, um outro item que se acrescentou à gama
de alimentos dos Guajá foi a pesca. Antes de estabelecerem contato
permanente, habitavam áreas mais próximas às cabeceiras de rios, de modo
que a pescaria não rendia muito para eles. Hoje em dia, estão situados às
margens dos principais rios do Maranhão (Pindaré, Caru e Turiaçu), o que lhes
permite uma melhor utilização dos recursos ribeirinhos e lacustres.

Outro fator que tornou atrativa a agricultura foi a possibilidade de evitar a fome
no período de escassez, coincidente com a estação chuvosa. Um estudo
antropométrico, por exemplo, revelou que uma das comunidades, situada na TI
Alto Turiaçu, exibiu um teor de gordura mais elevado durante a estação
chuvosa do que na época da estiagem. Isto porque os Guajá desta aldeia
consumiam muita farinha de mandioca junto com os frutos, ricos em óleo e
proteína, da palmeira silvestre bacaba (Oenocarpus distichus). Por outro lado,
os Guajá podem se tornar menos ativos durante a estação chuvosa, uma vez
que eles agora contam com os seus produtos agrícolas. Além de mandioca,
arroz, milho, batata doce, cará, banana, melão, melancia, feijão, jerimum,
colhidos em suas roças, os Guajá ainda têm acesso a frutas (manga, banana,
laranja, cacau, maracujá e outros) cultivadas nos pomares da FUNAI

Ao longo de sua vida, tanto um homem quanto uma mulher podem ter vários
matrimônios sucessivos. Não existe um tipo de casamento preferencial,
embora alguns antropólogos acreditem que o sistema de parentesco entre os
Guajá represente o modelo dravidiano, onde o arranjo matrimonial preferido
seria entre primos cruzados. Porém, subseqüentes observações revelam que
não é este o tipo de organização social dos Guajá.

Talvez esta especulação deva-se ao fato de alguns termos referenciais de


parentesco entre os Guajá parecerem semelhantes aos de outros grupos Tupi-
Guarani na Amazônia Oriental, abrangendo os Ka´apor, Tembé e Guajajara
(Tenetehara), que por sua vez formavam, com os Guajá, um conjunto maior,
como dito anteriormente. Fica, no entanto, difícil reconstruir o parentesco
distante dos Guajá, uma vez que estes indígenas se dispersaram e ficaram
reduzidos a meros fragmentos de sua população original.

Antes do contato com a FUNAI, supõe-se que os Guajá exploravam as matas


do Maranhão em grupos de cinco a trinta pessoas. Houve indivíduos que
andaram por terras extremamente distantes de seu hábitat original como no
caso de dois índios que foram encontrados na Bahia e em Minas Gerais,
respectivamente. Um destes casos foi matéria de notícia na TV Cultura de
Belém (Pará). Trata-se do índio Guajá Karapiru, que sofreu emboscada de
fazendeiros, junto à sua família, no Maranhão, e foi obrigado a fugir para as
matas sozinho, onde sobreviveu durante dez anos, até ser encontrado às
margens de uma fazenda, no estado da Bahia.

A frente de atração da FUNAI fez com que muitos grupos Guajá desconhecidos
ficassem aldeados juntos, o que possivelmente transformou a organização
social entre eles. É permitido o casamento entre primos cruzados, embora a
restruturação social dos Guajá favoreça, preferencialmente, o casamento entre
pessoas de grupos não relacionados. Neste sentido, talvez seja mais
apropriado compreender a prática do casamento atual entre os Guajá como
uma forma de "aliança" entre grupos que outrora exibiam uma certa tensão. Em
alguns casos, a própria FUNAI serviu de intermediadora de casamentos entre
pessoas de aldeias diferentes.

Além disso, desde que as hostilidades entre os grupos Guajá e Ka’apor foram
apaziguadas pela FUNAI, na década de 1970, a interação entre estes povos
tem sido de natureza amistosa, tanto que existe, atualmente, um casamento
entre um homem Guajá, da aldeia do PI Guajá, com uma mulher Ka’apor, da
aldeia Urutawy, ambas da TI Alto Turiaçu. Também sob influência da FUNAI,
um outro índio Guajá teve dois casamentos com mulheres brancas oriundas de
povoados

A unidade básica da estrutura social Tembé é a família extensa, que se


constitui na unidade de produção. Um líder familiar atrai jovens trabalhadores e
fortalece o seu grupo por meio das próprias filhas e as filhas de seus irmãos,
de modo que ele procura sempre "adotar" as mulheres cujos pais venham a
falecer. O chefe coincide, portanto, com o líder de um grupo familiar cujo poder
é avaliado pelo número de indivíduos a ele ligados pelas obrigações de
parentesco e matrimoniais, pois o genro deve trabalhar nas roças dos sogros,
junto aos quais mora, pelo menos até o nascimento do primeiro filho.

Dentro da família mais ampla, os pais ou a mãe viúva mantêm a posição de


autoridade. Como as esferas pública e privada são pouco diferenciadas, a
política torna-se doméstica e a mulher chega a ser líder do grupo em
determinadas situações. Na década de 80, entre os Tembé do Gurupi, o líder
de maior prestígio era a "capitoa" Verônica e duas outras aldeias eram
constituídas de famílias extensas agrupadas em torno das "velhas" e viúvas de
"capitão".

Jovens iniciadas na festa wihaohawo (festa da moça ou festa do


moqueado),realizada durante a visita dos Tembé do Guamá ao Gurupi. Foto:
Virgínia Valadão,1983

As aldeias, que variam consideravelmente de tamanho, localizam-se em


barrancos elevados na beira do rio, próximo às roças. As casas são cobertas
com ubim e as paredes são de troncos finos de palmeira, de cascas de árvores
ou simplesmente não existem. No posto indígena, são de taipa. Cada casa
abriga uma família elementar, sendo que as pertencentes à mesma família
extensa ficam próximas umas das outras. Só a aldeia do posto possui uma
grande casa cerimonial. Nas outras aldeias, o principal espaço de uso coletivo
são as casas de farinha.

O casamento se faz preferencialmente entre primos cruzados do segundo grau


que morem na mesma aldeia. Casamentos com regionais, que foram
importantes no período em que a população Tembé estava em queda, têm sido
preteridos em favor dos casamentos com os Ka'apor, grupo indígena vizinho.

da TI Caru. Neste último caso, o índio em questão alegava ter "vergonha" de


ser índio e ter preferência particular por mulheres não indígenas

Tenetehara-As atividades de subsistência e destinadas à produção para o


comércio se realizam de acordo com o ciclo das chuvas (fevereiro/agosto) e da
seca (setembro/janeiro). Os Tembé do Gurupi gozam de melhores condições
para fazer suas roças, têm mais abundância de caça e pesca. Os do Guamá
tiveram a terra, a fauna e os rios degradados pelos projetos de auto-
manutenção do posto indígena e pela invasão autorizada da Terra Indígena.
Para a obtenção de produtos industrializados, os Tembé do Gurupi se dedicam
à extração de cipós e resinas (breu), apanham jabutis, caçam onça vermelha,
preta, gato maracajá, jacaré, ou procuram qualquer outro item florestal que
esteja em alta no mercado de Boa Vista do Gurupi. Também criam porcos e
galinhas para a venda. Quando há abundância de farinha, vendem também
alguns paneiros. Fazem canoas sob encomenda e confeccionam artefatos para
seu próprio uso ou para serem vendidos à Artíndia, da Funai.

No Guamá, cada família tem sua própria casa-de-farinha junto à roça e


também pode usar a casa-de-farinha da comunidade. Destinam à
comercialização o arroz, a banana e principalmente a malva. Na falta desses
produtos, vendem a farinha de mandioca. Regatões do rio Guamá e
comerciantes que chegam de caminhão até as fazendas próximas compram os
seus produtos. Com os rendimentos obtidos, os Tembé compram alimentos e
bens industrializados nas cidades e vilas próximas: Vila de Boca Nova, Capitão
Poço e Ourém

Timbira-A cultura de cada povo timbira atual é tema de seus respectivos


verbetes. Aqui se apontará simplesmente aquilo que têm em comum. As
semelhanças começam pela própria aparência que dão ao corpo. O corte de
cabelo é o mesmo para ambos os sexos, longos, com um sulco em torno da
cabeça à altura da franja, interrompido, menos para os Apinayé, na parte
posterior. Os homens trazem grandes batoques auriculares; os Gaviões do
Oeste furavam também o lábio inferior. As jovens, sem filhos, tinham um cinto
de vários cordéis de tucum. Entre a maneira de se apresentar do período pré-
contato e as tendências atuais de cada vez mais adotarem o vestuário dos
civilizados, os Timbira do cerrado mantiveram uma indumentária feita com
artigos dos civilizados, mas com características próprias: os homens
escondiam o sexo com um retângulo de tecido preso a um cinto de couro ou
um cordel; às vezes, ao viajar, faziam a tanga com a parte superior das calças,
que eram amarradas às cintura com as pernas; vestiam-nas normalmente só
quando se aproximavam de locais habitados por civilizados. As mulheres se
cobriam da cintura aos joelhos com uma peça de pano, que tinham o cuidado
de embainhar com agulha e linha; no pescoço, várias voltas (podiam chegar a
trinta) de miçangas, guarnecidas com um feixe de medalhas católicas
(chamadas de "verônicas"). Esses vestuário era usado sem prejuízo da pintura
de corpo.

Também assemelham-se na cultura material. Usam cabaças como recipientes


para água e alimentos, em lugar de cerâmica. Dormem em estrados forrados
com esteiras, em lugar de redes de dormir. Fazem uma profusão de artefatos
feitos de palha trançada: cestos, esteiras, faixas. Assam bolos de mandioca e
carne, envolvidos em folhas de bananeira brava, sob pedras previamente
aquecidas. Água ou caldos também podem ser posto a ferver quando
colocados em cabaças ou capembas, mergulhando-se no líquido pedras
aquecidas. Hoje, o uso de pedras aquecidas é mais freqüente no preparo de
bolos para os ritos; para a alimentação cotidiana se usam panelas de ferro.
Não há vestígios de como seriam as casas antes do contato com os brancos.
As de hoje, de origem sertaneja, são retangulares, com teto de duas águas
coberto de folhas de palmeira. As paredes, de troncos verticais entremeados
com palha, tendem casa vez mais a serem substituídas por barrote.
Geralmente faltam as divisões internas da casa sertaneja, assim como as
janelas.

Nas aldeias timbira, as casas se dispõem uma ao lado da outra, ao longo de


um largo caminho, de modo a formar um grande círculo. De cada casa sai um
caminho, mais estreito, em direção ao centro, onde está o pátio. Este, ao
contrário do que acontece com aldeias de outros povos jê, não tem casa-dos-
homens ou qualquer outra construção. Isso não impede os rapazes de
dormirem nele ao relento quando não chove. O pátio é o local das reuniões
masculinas, ao amanhecer e ao anoitecer. Nele as mulheres cantam dispostas
em fila, ombro a ombro, conduzidas por um cantor que agita o maracá.

O casamento, monogâmico, implica na transferência do marido para casa onde


vive a mulher. A união se torna estável depois do nascimento do primeiro filho.
Mas há ampla liberdade sexual para solteiros e casados. Casas contíguas
oriundas do desdobramento de uma casa anterior são, por força da regra de
residência pós-marital, relacionadas entre si por linha feminina e formam uma
unidade social. As pessoas nascidas num mesmo segmento de casas desse
tipo não casam entre si. Tais segmentos são, pois, exogâmicos.

Dentro do espaço da aldeia, as direções têm significado. É preciso estar atento


para oposições como centro/periferia, leste/oeste, alto/baixo e outras para se
chegar a ter algum entendimento dos vários ritos que aí se realizam. Há ritos
relacionados ao ciclo de vida dos indivíduos, os relativos ao ciclo anual e ainda
os associados a um ciclo mais longo, de iniciação.

Desses ritos fazem parte as corridas de revezamento, em que cada uma das
duas equipes que as disputam carrega uma seção de tronco de buriti (ou de
outro vegetal). O formato das toras (longas ou curtas, maciças ou ocas,
cavadas ou com cabos), seu tamanho e seus ornamentos variam conforme o
rito em realização.

Para essas disputas, mas não somente para elas, cada povo timbira se divide
em duas partes, ditas metades. O mesmo povo pode dividir-se em distintos
pares de metades, cada qual com seu critério de afiliação: nome pessoal, faixa
de idade, livre escolha, mas, ao que parece, em nenhum caso descendência
unilinear.

O nome pessoal, além de critério importante para afiliação a metades, também


está associado a certos papéis rituais, que são herdados com ele. O nome
masculino é transmitido por parentes de uma categoria que inclui o tio materno,
o avô materno e o avô paterno entre outros; o nome feminino, pela categoria de
parentas que inclui a tia paterna, a avó paterna e a avó materna, entre outras.

Essa identificação pelo nome, de caráter mais ritual, se contrapõe a uma outra
que associa parentes geralmente integrantes da mesma família elementar.
Trata-se das evitações alimentares, sexuais ou de outros tipos de
comportamento que devem ser respeitadas quando um filho ou filha, pai ou
mãe, irmão ou irmã de um indivíduo passam por um período de crise, como os
primeiros dias de vida, uma enfermidade, a picada de um animal peçonhento,
baseadas na crença de que o que afeta a um também afetará o outro. Esses
laços costumam ser chamados "de substância" nos livros de etnologia.

Os termos de parentesco classificam filhos dos tios de sexos opostos aos dos
pais com parentes de outras gerações. A aplicação dos termos aos parentes
distantes pode afastar-se do padrão quando envolve portadores do mesmo
nome pessoal, parentes para com os quais se mudou de atitude, amigos
formais. Quanto a esses últimos, vale esclarecer podem ser de dois tipos:
aqueles unidos por uma amizade mais espontânea, que os faz iguais, como se
fossem irmãos; e os ligados por um laço mais rígido, marcado simultaneamente
por uma solidariedade exagerada e pela evitação, que os faz como contrários.

Seus grupos locais se relacionam pela chefia honorária, constituída pela


aclamação de um morador de uma aldeia pelos de outra, da mesma ou de
outra etnia, estabelecendo uma relação de paz e amizade, e proporcionando
hospedagem de uns na aldeia dos outros.

Seus mitos, que estão referidos nos verbetes específicos de cada etnia timbira,
são na grande maioria os mesmos, com pequenas variações: Sol e Lua e a
criação dos seres humanos, do trabalho, da morte, da menstruação, dos
animais importunos e peçonhentos; a Mulher-Estrela, que ensina o uso dos
vegetais cultiváveis; a luta contra o grande gavião e a grande coruja e a origem
do rito de iniciação Pembyê; a assunção de um homem aos céus pelos urubus,
de onde traz o conhecimento do xamanismo e do rito de iniciação Pembkahëk;
o conhecimento do uso do fogo, que foi tomado das onças; a transformação de
alguns seres humanos em monstros, como o Perna-de-Lança; o surgimento do
homem branco pela exclusão de um membro anômalo do seio da sociedade
indígena. É constante, pois, nessa mitologia a passagem de conhecimentos de
fora para dentro da sociedade e de certos seres no sentido contrário. Além dos
mitos, os diferentes povos timbira fazem narrativas de caráter mais histórico,
geralmente episódios de conflito e guerra.

As sociedades Timbira são organizadas em diversos pares de metades que


divide a população em grupos, organizando a produção econômica e ritual
destes índios. Estes pares podem ser sazonais (representando a estação seca
e a chuvosa), de classes etárias e ligados aos nomes pessoais. Vale lembrar
que a transmissão de nomes é uma importante instituição da cultura Timbira,
sendo que os nomes são passados por uma linha determinada e não é
possível inventar ou escolher nomes aleatoriamente (Melatti 1978 e Ladeira
1982). Esta organização dual reflete em diversos aspectos da sua estrutura
social. A condução da política da aldeia é responsabilidade masculina, cuja
expressão espacial é o pátio central (kä), onde se discutem diariamente as
conduções das atividades cotidianas da aldeia, como trabalhos agrícolas,
caçadas, coletas e condução da política da aldeia com os cupẽ (brancos). Este
espaço político é também o espaçodas danças, cantorias e realização dos
vários rituais que marcam o calendário dos Timbira. Isto não exclui o papel das
mulheres na vida política de uma aldeia, mas formalmente os cargos de chefia
de aldeias são de responsabilidade masculina. A influencia da mulher se dá
nos segmentos domésticos, onde sua posição é afirmada ao marido, genros,
irmãos que irão defender este ponto de vista nas reuniões do pátio central das
aldeias.A chefia política da aldeia é representada pelo pahi (cacique) que é
muito mais um porta voz da posição da comunidade do que um planejador
político. Além do pahi, cada aldeia Timbira tem dois “prefeitos”, sempre da
metade sazonal em vigência na época do ano, ou seja, durante seis meses
estes prefeitos são da “seca” e, no restante do ano, da estação “chuvosa”.
Além disto, cada um destes “prefeitos” tem que ser de uma metade de idade.
Estes “prefeitos” são responsáveis por dividir os bens coletivos obtidos pela
aldeia, como a carne de uma caçada ou a carne de uma rês abatida. A divisão
também segue o princípio dual da estrutura social e, os índios que aguardam
sua parcela na distribuição dos “prefeitos”, também estarão distribuídos em
metades, geralmente as sazonais e as “temporais” (do nascente ou do poente).
Estes pares de metades não têm influencia sobre o sistema de parentesco nem
matrimonial.O conselho dos velhos (mäcare) representam outra instância
importante na vida política dos Timbira. Estes velhos muitas vezes foram
fundadores de aldeia, pahi (cacique) e prefeitos durante sua juventude e, com
esta experiência, dão conselhos aos mais novos no pátio da aldeia,
influenciando nos encaminhamentos. Nas aldeias numerosas, o conselho pode
estar em um numero maior, tendo chances maiores de afirmar-se como uma
instancia relevante na política interna de uma aldeia timbira.

Canela-Os sistemas de metades e sociedades cerimoniais existentes entre os


Canela não apresenta caráter exogâmico, embora o mesmo não possa ser dito
com segurança em relação aos Canela do século XVIII. As classes de idade -
de afiliação vitalícia - são formadas e iniciadas através de quatro cerimônias.
Cada classe de idade consiste em homens nascidos num período em torno de
dez anos. Classes de idade formadas consecutivamente sentam-se em lados
opostos na praça, leste ou oeste. Assim, classes de idade de homens por volta
de seus 10, 30, 50 e 70 anos sentam-se de um lado; enquanto homens em
torno de seus 20, 40 e 60 anos sentam-se do outro lado.

Quase todas as atividades são executadas por essas metades, ou por classes
de idade opostas, competindo entre si: danças e cânticos cerimoniais ou
cotidianos, corridas rasas ou com toras, assim como a abertura de roças,
caçadas para cerimônias, abertura de estradas ou de picadas sobre a linha
divisória da Terra Indígena. A cada 20 anos (dez anos entre os Apanyekrá), a
classe ocidental - cujos membros estão se aproximando dos 50 anos de idade -
tradicionalmente transfere-se para o centro do pátio, na qualidade de mais
velhos, os pro-khãm-mã (mikhà para os Apanyekrá). Por sua vez, a classe
oriental - cujos membros acabaram de passar dos 50 anos de idade - junta-se
àquela, formando o conselho dos mais idosos. Os homens da metade oriental
aconselham, mas não governam. O conselho dos velhos selecionava o chefe,
que costumava governar pela vida inteira. Atualmente ele se mantém no cargo
de seis meses a dois anos. O chefe encarrega-se das relações externas e
assume a maior parte das iniciativas internas. O conselho dos velhos
geralmente o apóia, mas pode exercer sutil oposição e bloquear ou alterar
decisões impopulares. A atribuição especial dos mais velhos é planejar e
conduzir as extensas festividades.
Os Canela são notáveis pelo valor que dão à paz interna no grupo. Palavras de
raiva não devem ser expressas no pátio central da aldeia, onde os homens
mais velhos se reúnem duas vezes ao dia para resolver problemas e fruir da
sociabilidade. Se ali as desavenças internas às famílias extensas não são
colocadas, elas serão debatidas e resolvidas em alguma das grandes casas
dispostas no círculo da aldeia, onde os tios do queixoso e do acusado agem
como representantes de seus sobrinhos ou sobrinhas. Líderes da aldeia e a
maior parte dos indivíduos evitam tornar públicas questões contenciosas. Os
cilindros auriculares usados pelos homens eram tidos com realçadores da
audição e, por conseguinte, de obediência.

Diferentemente dos Ramkokamekrá, que tinham um chefe principal (exceto


durante a cisão entre 1957 e 1963), os Apanyekrá tinham três chefes durante
os anos 1950 e 1960. Um comandava as situações cotidianas com muita
eficiência, mas não poderia ser o chefe principal porque, diziam, era de
descendência Kenketeye. Menos eficiente como coordenador de atividades,
porém mais prestigiado, era o diretor dos rituais, um grande líder de canto e
dança de maracá e um prodigioso contador de histórias. Já o chefe mais velho
era o principal interlocutor com o SPI em Barra do Corda e fazia viagens
mensais para lá para obter um insignificante salário.

Krikati- As festas (amji kin, literalmente: “alegrar-se”) Krĩcati, como nos demais
povos Timbira, são relativas ao ciclo anual (festa do milho, da batata-doce, da
mudança da estação do ano), à iniciação dos jovens, à regulamentação das
relações de parentesco e interpessoais, usando as relações entre os animais
como paradigma (como a festa do peixe, do papa-mel, das máscaras), as
festas relativas a assunção ou a entrega da dignidade de wyty (menino ou
menina ritualmente associado aos indivíduos do sexo oposto da aldeia) ou
ainda as festas e pequenas cerimônias relativas ao ciclo vital de um indivíduo
(fim de resguardo do casal pelo nascimento de filhos, ritos de re-introdução de
alguém que ficou afastado por muito tempo do convívio na aldeia, por doença
ou luto). Nestes dois últimos casos (wyty e ciclo vital), a responsabilidade pelo
suprimento de comida e bens a aldeia é da casa de origem do homem ou
mulher.

Estas festas exigem uma farta distribuição de alimentos, e hoje em dia algumas
delas se prolongam em período de “latência” de vários meses até que a aldeia
promotora possa providenciar comida e outros itens necessários para sua
conclusão. Além da comida, são necessários miçangas e cortes de pano, que
são oferecidos para os participantes das outras aldeias.

Cada festa é marcada pelo nome de uma tora de corrida específica e por
cantos específicos – o que leva à conclusão que sem um “cantador”
(incrercatê) que domine os cantos, não se pode realizar determinado ritual. As
aldeias que se encontram nesta situação superam o problema “contratando”
um cantador de outra aldeia do próprio grupo ou de outra aldeia Timbira.

As festas marcam assim a solidariedade necessária ao convívio nas aldeias e


são momentos onde se enfatizam as regras de comportamento. Os amjkin,
além de proporcionar um momento de “alegria” e descontração (pois nestes
momentos os jovens têm a oportunidade de conhecer mulheres de fora, e os
homens e mulheres casadas, para experimentarem relações sexuais
extramatrimoniais, porém permitidas), são fundamentais para a atualização da
estrutura sociocultural e para o equilíbrio das relações internas.

Portanto, as “festas” preenchem o calendário anual das aldeias quase


integralmente: sempre, em qualquer período do ano, uma aldeia estará
preparando uma festa, executando outra ou aguardando condições para
finalizar uma outra.

Gramela-O povo Gamela vive atualmente em seis comunidades nos


municípios de Viana e Matinha, no Maranhão. Ao longo do contato com a
sociedade nacional, desde o século XVIII, os Gamela sofreram um processo de
grande perda populacional e apagamento, levado adiante pelas frentes
colonizadoras no Maranhão.

No século XXI, diante de um quadro institucional mais favorável a expressão de


sua identidade indígena, os Gamela, que agora somam cerca de 400 famílias
(~1200 pessoas), passam a se organizar para reivindicar o direito a seu
território originário, reconhecido desde 1759 e intensamente grilado desde o
final dos anos 1960.

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