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MAS QUE
PROBLEMAS?!
Estratégias de
resolução de problemas matemáticos
em sala de aula
Mercedes Carvalho
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Apresentação, 9
l. O aluno refazendo o caminho da humanidade, I I
2. Resolvendo problemas matemáticos, 14
2.1. Os enunciados, 14
2.2. Palavra-chave, 19
2.3. O erro como fonte de informação, 20
2.4. As idéias das operações matemáticas, 25
3. Estratégias de resolução de problemas, 30
3.1. Outras classificações de problemas, 30
3.2 Propondo problemas, 31
3.2. l. Leitura de uma imagem, 32
3.2.2. Completando o enunciado, 33
a) Com diferentes perguntas e a conta, 33
b) Com diferentes perguntas sem a conta, 34
c) Sem perguntas, 35
3.2.3. Completando o enunciado a partir de..., 35
a) Diferentes situações e a conta, 35
b) Diferentes situações sem a conta, 35
c) Sem as situações, 36
3.2.4. Completando o enunciado a partir da resposta, 36
3.2.5. Enunciados sem números, 36
3.2.6. Construir o enunciado a partir de uma
operação,37
3.2.7. Enunciados a partir de classificados c
propagandas,37
3.2.8. Tirinhas, 38
3.2.9. O quadro, 39
3.2. IO. Problemas conn insuficiência de dados, 40
3.2.11. Problemas conl excesso de dados, 40
3.2.12. Problelnas com pergunta de negação, 41
3.2.13. Problemas com raciocínio combinatório, 41
3.2.14. Problemas de lógica, 42
3.2.15. Problemas envolvendo estatística, 42
3.2.16. Problemas a partir de livros paradidáticos, 44
4. Sugestões de problemas, 46
5. Problemas? Mas que problemas?! , 65
Bibliografia, 69
Desde 1998 venho trabalhando com formação
de professores! da
rede pública e pafticular de ensino, não só no estado
de São Paulo, mas
também em outros estados (tanto nas capitais como no interior), minis-
trando palestras e cursos sobre educação matemática, projetos de traba-
lho, currículo, planejamento entre outros assuntos. Mas o curso Proble-
mas? Mas que problemas?! Sempre foi o mais solicitado. E, em todos os
lugares por onde passei, a grande maioria dos professores têm algumas
questões em comum quando questionadossobre as dificuldades que en-
contram no ensino da Matemática.
Além do sistema de numeração decimal e, evidentemente, da tabua-
da, a resolução de problemas sempre foi considerada pelos professores
um dificultador no trabalho com a Matemática, pois, segundo eles, "os
alunos querem as respostas prontas na hora de resolver problemas",
"querem saber que conta é para fazer", "têm preguiça de pensar".
Confesso que também fiz parte desse coro no início da carreira, pois,
como a maioria dos professores de primeira à quarta série do ensino fun-
damental, não sou licenciada em Matemática. Fiz o magistério e graduei
em pedagogia. Como professora polivalente, ensinava aos alunos corno
havia aprendido.
Hoje, com toda a minha vivência no ensino fundamental, enl cursos
de formação de professores e principalmente como professora do curso
de pedagogia, no qual muitos de meus alunos são professores, acredito
que os problemas com o ensino dessa disciplina são originados do fato
de não entendermos a matemática como resolução de problemas, pois a
l. Apesar de o magistério ser, em sua maioria, composto por mulheres, optei pelo uso
de "professores", para evitar a repetição de "professor" , "professora" no texto.
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2. /. enunciados
Como já foi dito na apresentação deste livro, não é raro ouvirmos
dos professores que os alunos não sabem intemretar problemas.Mas
gostaria de propor uma reflexão: Como é que o aluno vai interpretaros
enunciados dos problemas se ele não constrói enunciados? Como vai re-
solver problemas se exigem dele sempre como resolução correta a apli-
cação da operação matemática?
Quando pensamos em resolução de problemas, freqüentemente ima-
ginamos um texto escrito com uma pergunta; o
aluno terá que aplicar um
algoritmo para achar a resposta correta, algoritmo
treinado em uma série
de exercícios. Mas, na realidade, os
problemas vão muito além disso. Há
várias situações do cotidiano da escola,
da sala de aula nas quais se está
trabalhando com resolução de problemas
sem necessariamente esses
problemas estarem escritos na lousa, no
livro ou no caderno. Por exem-
PIO,quando o professor pede para que
seus alunos organizem a classe
em seis grupos, é uma proposta de
resolução de problema. Além da alga-
zarra, é claro, estará sendo propiciado
aos alunos pensarem em uma so-
lução para montar os grupos, pois
terão que saber o total de alunos da
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sala, dividir pela quantidade de grupos a serem formados (seis) para sa-
ber quantos alunos formarão cada grupo; se na formação dos grupos so-
bt•at•alguélll, os alunos terão de encontrar uma solução para o problema.
Outro exemplo: o professor pede que o aluno distribua folhas de ativi-
dades. São trinta alunos. Ele tira quatro folhas e pede ao aluno que entregue
aos colegas. Esse aluno com certeza vai dizer para o professor que estão fal-
(ando folhas. Em vez de o dar as folhas que faltam, pode pergun-
tar: Quantas folhas estão faltando? O aluno deverá dizer ao professor quan-
tas folhas faltam e então recebê-las para acabar de dis'tribuí-las. Mais um
exemplo: quando se pede para o aluno buscar algo na sala da direção ou
coordenação, pode-se perguntar qual caminho mais curto ele pode fazer.
O aluno terá que traçar, mentalmente, um percurso e verbalizá-lo.
Sendo assim, por se achar que os problemas têm de estar escritos no
livro, no caderno ou na folha de atividade, acaba-se perdendo oportuni-
dades de trabalhar com os alunos várias situações para as quais eles te-
rão de criar uma estratégia para resolver.
Também se pensa que crianças não alfabetizadas ainda não conse-
guem resolver problemas, o que é um engano, pois, na educação infantil,
deve-se propiciar a elas diferentes situações para que possam pensar em
uma solução. Veja esta situação proposta para uma classe de educação
infantil —crianças de cinco anos —com a qual trabalhei e a solução en-
contrada por uma delas.
"Um amigo meu chegou em casa morrendo defome efez dois sanduíches
de pão, presunto e queijo. Quando ele ia dar a primeira mordida, chegaram
três amigos seus. Não tinha mais pão, presunto e queijo. O que vocêfaria se
"
estivesse no lugar dele?
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0..2. -chave
O professor preocupado em ajudar seus alunos a
entender o enuncia-
do do problema lança mão de uma palavra do enunciado que
acredita ser
a chave para a intemretação dele. Mas um enunciado pode apresentar
certa ambigüidade lingüística e, conseqücntcmente,criar situações em
que os alunos poderão compreender um mesmo problema raciocinando
de formas diferentes. Observe este problema.
Paulinho deu dez balas para seu irmão eficou com seis. Quantas
balas ele tinha?
Nesse problema o verbo "dar" nos remete à idéia de subtrair, ficar
com menos. Mas, se o aluno fizer uma subtração para resolver o proble-
ma, ele estará interpretando o enunciado a partir da palavra "deu" (que
dá a idéia de subtração), quando, na verdade, ele deverá fazer uma adi-
ção. Veja, agora, o mesmo verbo em outro enunciado.
Paulinho tinha dezesseis balas e deu dezpara seu irmão. Com quan-
tas balas eleficou?
Nesse caso, para solucionar o problema o aluno deverá fazer uma
subtração, porque sabemos quanto havia e quantas balas foram dadas.
Veja este outro exemplo.
CPe,ev€o comoJÓnte de
Para fazer matemática, é importante que o aluno fale sobre matemá-
tica, pois é no ato de verbalizar seu raciocínio que o professor tem a pos-
sibilidade de compreender como está construindo conhecimento e a par-
tir daí fazer as intervenções que achar pertinentes.
O aluno que se sente acolhido pelo professor e pela classe não tem
medo ou vergonha de explicitar seu raciocínio, não tem medo de errar. O
erro deve ser compreendido como fonte de informação. Se o aluno erra
ao dar uma resposta e explica como "pensou" para encontrá-la, o profes-
sor sabe onde e quando intervir, identificando as relações que o aluno
está fazendo para construir as suas respostas. Na aprendizagem, o erro é
inevitável, porque se faz inúmeras tentativas buscando estratégias a par-
tir do que se conhece para solucionar os problemas propostos.
Como já foi dito, é importante possibilitar ao aluno criar estratégias
para solucionar os problemas apresentados.
Mas isso não significa que 0
professor deva considerar corretas todas as
soluções apresentadas pelo
aluno para o problema proposto. Se o
problema não tem insuficiência de
dados e tem uma resposta, o que há
são diferentes estratégias para se
chegar à solução, por isso o aluno
deve ser questionado sobre a forma
como ele resolveu o problema para
repensar a sua resposta.
Observe este exemplo do problema
que minha aluna do curso de
pedagogia aplicou na escola onde
trabalha com as séries iniciais do ensi-
no fundamental.
mcv
l) Esse aluno disse que se a sala tem vários cantos, vai haver vários
gatos. Nesse caso, ele não está considerando que em cada canto há
um gato e cada gato vê três gatos. Sendo assim, a sala só pode ser re-
tangular ou quadrada.
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o a/ti/.)/icacãa e diOiSU70
Geralmente quando o professor apresenta a multiplicação para seus
alunos ele trabalha com a idéia de que a multiplicação é uma forma mais
simples de trabalhar a adição. O que é verdade. Uma das idéias da multi-
plicação é a soma consecutiva de parcelas iguais, mas há outras situa-
ções que nos remetem ao raciocínio multiplicativo. Os parâmetros curri-
culares de matemática organizam os problemas de multiplicação e divi-
são trabalhando com diferentes idéias organizadas em quatro grupos:
Comparação —como nos problemas de adição, também nos problemas
que envolvam a multiplicação há a comparação entre duas situações.
a) Eu tenho R$ 50,00. Meu irmão tem o dobro da minha quantia.
Qual quantia meu irmão tem?
b) Cássia tem 5 bombons e Lucas tem 4 vezes a mais que essa quan-
tidade. Quantos bombons tem Lucas?
Nos dois problemas estão sendo trabalhadas as idéias comparati-
vas da multiplicação, mas podem ser variadas para trabalhar a divisão.
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c) Quantos ovos são necessálios parafa:cr holo sc tuna ban-
dçia há duas dúzias, o dobro da quantidade necessária?
A palaNTadobro leva à operação dc Inultiplicação, mas para rc-
solver o problema usaremos uma divisão.
Comparação entre razões quando se estabelece a relação entre par-
te,'todoou todo!parte estamos trabalhando "situações associadas à
comparação entre razões, que, portanto, envolvem a idéia de propor-
cionalidade" (PCN, 1997,p. 110).
Relaçãoparte/todo.
a) Um chocolate custa RS 0,50. Quanto gastarei para contprar 7
chocolates?
b) Preciso de 8m de tecido. Cada metro custa R$ 12,50. Quanto irei
gastar?
Nos exemplos acima, a multiplicação está sendo trabalhada com
a idéia de I está para RS 0,50, assim como 7 está para RS 3,50; I está
para RS 12,50 assim como 8 está para RS 100,00.
Relação todo/parte.
a) Paguei RS 3,50 por 5 chocolates. Quanto custou cada um?
b) Paguei R$ 100,00 por vários metros de tecido. Se cada metro cus-
ta RS 12,50, quantos metros comprei?
Com as mesmas situações e dados se trabalhou a idéia da propor-
cionalidade usando a divisão, que pode remeter tanto à idéia de repar-
tir (igualar) e quantos cabenl. Nesses exemplos a divisão está sendo
trabalhada considerandoque 7 está para RS 3,50 assim como I está
para RS 0,50; 8 está para RS 100,00 assim como I está para RS 12,50.
Configuração retangular
a) Quantos alunos há ao todo em uma sala organizada etn 7jileiras
com 8 alunos em cada?
b) Quantas cadeiras há na fileira de um auditório com capacidade
para 240 pessoas com 12fileiras?
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Quando estamos ensinando tabuada geralmente
dizemos que 3 x 2 é
igual a 2 x 3. Com certeza o produto é o mesmo,
pois temos de conside-
rar a propriedade comutativa da multiplicação "a ordem
dos fatores não
altera o produto". Mas são situações diferentes.
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3
x 3