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No capítulo em que encerra a sua obra intitulada de “¿Existe una filosofía de

nuestra América?”, Salazar Bondy realiza algumas considerações acerca da temática


sobre a existência de uma filosofia, mais especificamente, na América Hispânica. O
autor ao iniciar a obra indagando-se sobre a possibilidade de haver um pensamento
"hispano-americano" e se este possui originalidade e autenticidade, conclui no final
de seus escritos com reflexões relevantes sobre esta conjuntura.

Ao recordar segundo o pensamento de Hegel a respeito da filosofia, que esta


retrata, ou ainda, é produto de seu tempo, verifica que o indivíduo hispâno-americano
devido a sua historicidade e o seu processo de formação, ainda está voltado para os
padrões europeus e carece de autenticidade. Identifica uma consciência mistificada,
que contem carências, defeitos e que está alienada diante de sua cultura, de sua vida
social e inclusive pessoal e ontológica, adentrando na questão do Ser. E por isso,
Bondy que também é hispano-americano, tendo nascido no Peru, e preocupado com
sua própria realidade, corrobora com o questionamento do historiador francês Jean
Piel: “Como é possível ser peruano?” Como filosofar no Peru de nosso tempo?”
(BONDY apud PIEL, p.83).

Todo este cenário é reflexo, segundo o autor, de um processo marcado por três
fatores predominantes: subdesenvolvimento, dependência e dominação.
Primeiramente, os efeitos que a situação econômica, política e social que reverbera
nestes países ocasiona, sendo assim, denominados de Terceiro Mundo. E na maior
parte destes países do Terceiro Mundo, está em sua genealogia este conflito entre
países dominantes e países dominados, no caso da América Hispânica, a submissão
a coroa e a igreja espanhola e posteriormente aos interesses elitizados das
oligarquias. Destarte, que em decorrência deste contexto histórico, o advento de
diversas Revoluções, com intuito de se libertar e superar deste cenário alienante,
marcou todo este continente.

Dessa forma, diante da problemática de uma inautenticidade do pensamento e


de uma alienação da sociedade pertencente à América Hispânica, Bondy apresenta
caminhos possíveis para a superação deste estado. É necessária uma consciência
desta condição oprimida e alienante. E ulteriormente, o caminho que deve ser
percorrido para atingir uma autonomia do pensamento, deve ser traçado por meio de
um “pensar criador” de sua própria filosofia, de seus valores e que corresponda aos
anseios e condições destes povos. Assim, Bondy desperta em nós o desejo de
procurar esta autenticidade do pensamento, por meio do reconhecimento de nossas
inseguranças e a valoração genuína de nossa realidade atual.

REFERÊNCIA

BONDY, Augusto Salazar. Capítulo Tercero: Uma Interpretación. In: ¿Existe una
filosofía de nuestra América?. Cidade do México: Siglo XXI editores, 2006

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