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UMA VISÃO PESSIMISTA SOBRE AS AUTARQUIAS LOCAIS

Autor: Fonseca Bilo

Data: 27-10-2018
Hora: 02h:31m

O Problema do gradualismo- Funcional ou Territorial (geográfico)!?

As autarquias locais fazem parte da Administração Autónoma (Poder Local, art. 213º da
Constituição da República de Angola, adiante designada por CRA), que é no entanto,
aquela que prossegue interesses públicos próprios das pessoas a que constituem. Por
isso, as autarquias locais dirigem-se a sí mesma, definindo com independência a
orientação da sua actividade, sem sujeição a hierarquia ou a superintendência do
governo, que apenas exerce o poder de tutela, Cfr. art. 221º CRA.

As autarquias locais resultam de um processo de descentralização administrativa. Esta


descentralização pode ser entendida em dois sentidos, que são: FORMAL e de GRAUS;

Quanto a forma;
A descentralização pode ser TERRITORIAL, institucional e associativa.

A descentralização TERRITORIAL é que dá origem à existência das autarquias locais;


já a INSTITUCIONAL dá lugar a institutos públicos e às empresas públicas.
Quanto a descentralização associativa, esta dá lugar as associações públicas que a nós
interessa pouco, por enquanto.
E quanto a estás duas últimas, Diogo Freitas do Amaral entende que não há
propriamente uma descentralização mas sim uma devolução de poderes.

Em relação aos graus;


Existem vários, mas importa destacar os seguintes:
1- Atribuição de personalidade jurídica de direito público;
2- Atribuição de autonomia administrativa;
3- Atribuição de autonomia financeira
4- Atribuições de faculdades regulamentares.
O que é um autarquia local?

A definição apresentada pela Constituição da República de Angola não diverge da


doutrinária, sobretudo a de Freitas do Amaral. Segundo este autor,
As autarquias locais são pessoas colectivas territoriais correspondentes ao conjunto de
residentes em certas circunscrições do território nacional e que asseguram a prossecução
de interesses específicos resultantes da vizinhança, mediante órgãos próprios
representativos das respectivas populações.
O artigo 242º nº1 CRA, declara que a institucionalização das autarquias locais obedece
ao princípio do gradualismo.

Agora pergunto eu, que tipo de gradualismo, afinal a Constituição faz referência?
O funcional ou territorial (geográfico)?
HERMENÊUTICA
O artigo 242º nº2 diz-nos o seguinte: Os Órgãos do Estado determinam por lei a
oportunidade da sua criação...
Quais são estes órgãos do Estado que determinam a oportunidade da sua criação?
Ora bem,

O nº 1 do art. 105º da CRA, sobre Organização do Poder do Estado, define como órgãos
de soberania ou estaduais o Presidente da República a Assembleia Nacional (e os
Tribunais - os tribunais ficam de lado, pois estes têm competências exclusivas de
administrar a Justiça em nome do povo, dirimir conflitos de interesse público e privado,
assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos…e outras mais, cfr. O
art. 174º CRA). Estes são os órgãos a quem a Constituição da República atribui funções
de oportunamente criar condições para a implementação das autarquias locais. E,
sobretudo, cabe ao Presidente da República, enquanto titular do poder Executivo, a par
de outras competências, exercer iniciativa legislativa, mediante proposta de lei à
apresentar a Assembleia Nacional. Art.120º al. i.

E este por sua vez, delegou essa função ao Ministério da Administração do Território e
Reforma do Estado, que é um órgão do Executivo que, ao elaborar as propostas de lei,
entende que, a implementação das autarquias locais obedecem ao PRINCIPIO DO
GRADUALISMO TERRITORIAL, ou seja, as autarquias devem ser implementadas de
forma faseada até atingir a totalidade do território.

O QUE HÁ DE LEI
O que diz a lei acerca do gradualismo territorial? Pelo que eu saiba, A par das normas
constitucionais; Nada, pelo menos em vigo!

Mas, podemos entender que esta resulta da interpretação do artigo 213º nº1, quando
sustenta que, a organização democrática do Estado ao nível local estrutura-se com base
no princípio da descentralização político-administrativa, ou seja, em termos de política
administrativa, o executivo pode implementar o gradualismo territorial.

Já do ponto de vista constitucional não é este o nosso entendimento. Parece estar claro
quando a CRA, faz referência ao seguinte:

Segundo o artigo 242º (gradualismo)


Nº 1
A institucionalização das autarquias locais obedece ao princípio do gradualismo.

Neste número (1) podemos entender que o gradualismo pode ser tanto territorial como
funcional. Mas,
O número dois (2) afirma que os órgãos competentes do Estado determinem por lei a
OPORTUNIDADE (a oportunidade pode ter sinónimos como a ocasião, possibilidade,
conjuntura, etc. O dicionário electrónico Huaiss3 apresenta concepções como qualidade
favorável para a realização de algo) DA SUA CRIAÇÃO (ou seja, a lei deixa em aberto
a possibilidade de o Estado, se assim entender, implementar as autarquias locais em
determinados Municípios e também deixar de fora outros tantos, ou implementá-las
quando achar conveniente sem sequer violar normas constitucionais -Gradulismo
Territorial) …(Interpretação do autor do texto), o ALARGAMENTO DAS SUAS
ATRIBUIÇÕES -( Gradualismo Funcional), o doseamento da tutela de mérito e a
transitoriedade entre a administração local do Estado e as autarquias locais.
Agora, só uma curiosidade, sabem por quê no artigo 198º nº 1 a palavra administração
pública aparece com as inicias MINÚSCULAS, e no artigo 199º nº 1 aparece com as
iniciais MAIÚSCULAS? Não!?, pois é!
POSIÇÃO DO AUTOR e LEGALIDADE
O gradulismo é funcional, art. 242º nº2, ou seja, as Autarquias Locais deviam ser
implementadas em todo território nacional por imperativo constitucional.

Bibliografia
AMARAL, Diogo Freitas do, curso de direito administrativo Vol. I, 3ª Edição
Legislação
Constituição da República de Angola – Fevereiro de 2010

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