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Meio ambiente, globalização e políticas públicas

Article · June 2011


DOI: 10.11606/rgpp.v1i1.97828

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Neli Aparecida de Mello Théry


University of São Paulo
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REVISTA GESTÃO & POLÍTICAS PÚBLICAS

Artigo Original

Meio ambiente, globalização e políticas públicas 133

Neli Aparecida de Mello-Théry1

1
Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo (EACH-USP).
Correspondência: Neli Aparecida de Mello-Théry – E-mail: namello usp.br
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Av. Arlindo Béttio, 1.000 – CEP: 03828-000 – São Paulo – SP – Brasil

Resumo Avanços conceituais e institucionais marcam as relações entre o meio ambiente global e
as políticas públicas nacionais, desde meados do século XX ao inicio do XXI. O meio
ambiente inseriu-se na agenda política em decorrência de pressões e acordos mútuos
entre diferentes atores e em diferentes arenas, assim como as novas racionalidades de
políticas públicas. Adotando uma perspectiva ambiental, minhas reflexões abordam
Estado (globalizado), território e política pública (e sua gestão) analisando suas
relações e influências mútuas, observando-os em seus novos papéis. Estabeleço, dessa
maneira, uma interconexão da relação sociedade-território-Estado, com a esfera prática
das políticas e ação públicas territoriais ambientais, pois considero que a relação entre
os atores globais e nacionais e entre globais e locais (ou regionais) influencia na
abrangência temática, espacial e social de cada política. Estas reflexões serão discutidas
em três esferas: a globalização ambiental, as políticas públicas e o patrimônio
amazônico. As interações em escalas internacionais, nacionais e locais que convergem
de tais reflexões permitem concluir como os processos se reproduzem na Amazônia e o
papel do Estado e da própria sociedade brasileira.
Palavras-chave: sociedade, território, Estado, políticas públicas.

Abstract Conceptual and institutional advances mark the relationships between the global
environmental and the national public policy, since the mid-twentieth century to the
beginning of the XXI. The environment was part of political agenda due to pressure
and mutual agreements between different actors and in different arenas, as well as new
rationales for public policy. Adopting an environmental perspective, my reflections
addressed for a State (global) planning and public policy (and yours management) to

Mello-Théry. Rev Gestão & Pol Públicas 1(1):133-161, 2011


analyze their relationships and mutual influences, observing them in their new roles. I
establish in this way, an interconnection of the society-territory-state, with the practical
sphere of political practices and regional public environmental actions, because I
believe that the relationship between global and national actors and between global and
local (or regional) influences on the thematic scope, spatial and social of each policy.
These reflections will be discussed in three segments: the environmental globalization, 134
the public policy and Amazon heritage. The interactions at international, national and
local scales converging of these considerations can be concluded as the processes are
reproduced in the Amazon and the role of Government and the Brazilian society.
Keywords: society, territory, State, public policy.

Resumen Avances conceptuales y institucionales marcan las relaciones entre el medio ambiente
global y las políticas públicas nacionales, desde el siglo XX hasta el comienzo del Siglo
XXI. El medio ambiente fue inserido en la agenda política en decorrencia de presiones
y acuerdos mutuos entre diferentes actores y en diferentes arenas, así como las nuevas
racionalidades de políticas públicas. Adoptando una perspectiva ambiental,
abordaremos Estado (globalizado), territorio y política pública (y su gestión)
analizando sus relaciones y influencias mutuas, observándoles en sus nuevos papeles.
De esta manera, una interconexión de la relación sociedad-territorio-Estado, con la
esfera practica de las políticas y acción públicas territoriales ambientales, pues
consideramos que la relación entre los actores globales y nacionales y entre globales y
locales (ó regionales) influencia en la abrangencia temática, espacial y social de cada
política. Estas reflexiones se debatirán en tres segmentos: la globalización ambiental,
las políticas públicas y el patrimonio amazónico. Las interacciones a escala
internacional, nacional y local de convergencia de estas consideraciones, puede
concluirse que los procesos se reproducen en el Amazonas y el papel del gobierno y la
sociedad brasileña.
Palabras-clave: sociedad, territorio, Estado, políticas publicas.

Les lieux conservent toute leur importance dans le monde de la globalisation, ce que peut
paraître paradoxal dans un monde de l’instantanéité de l’information et de l’accroissement des
vitesses dans les transports. La valeur des lieux joue toujours. Sa nature n’est pas seulement
économique, mais aussi politique et symbolique.

Olivier Dollfus – La mondialisation (2001).

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Introdução que as interações entre as diferentes partes
do mundo, acentuadas pela generalização
A visão do meio ambiente como objeto
das políticas liberais, torna imperativo o
global e, especialmente, como um dos
princípio de precaução.
elementos da atual globalização tem
diversas origens. Para o autor, o princípio de precaução
135
exprime-se pela tomada de decisões
O último século foi especialmente fecundo
capazes de limitar, enquadrar, frear ou
para construção dessa visão e nos remete a
impedir certas ações potencialmente
alguns pensadores que apresentam
perigosas que podem ser irreversíveis, sem
argumentos bastante amplos como Dollfus,
esperar que o perigo seja cientificamente
Ward-Dubos, Almino, Lambin ou
estabelecido (Dollfus 2001:19).
instituições como a United Nations
Educational, Scientific and Cultural Resulta, portanto, de mudança de atitude
Organization (UNESCO), e, ao seu lado, frente ao risco do risco em favor de toda a
outros posicionamentos baseados em humanidade.
segmentos específicos do meio ambiente, Assim ele o considera porque o planeta
como as teorias defendidas por Albagli, no vive um processo irreversível, um
que diz respeito à biodiversidade, Smouts “desarranjo do sistema-mundo”.
quanto à floresta tropical e, mais
Considera que a globalização atual
recentemente, Ribeiro quanto à água.
significa
Quando Dollfus, em 1991, em seu livro Le
système monde loin de l’équilibre indica
que as idéias de equilíbrio, muito presentes instantaneidade da informação, do

até aquele momento da história, na verdade sistema financeiro, da


multinacionalização das grandes
não se concretizariam porque “o sistema
empresas, da ideologia neoliberal como
mundial não pode ser equilibrado”,
a base das políticas econômicas
apontando a ruptura entre o sistema Terra e
(Dollfus 2001).
o sistema mundo, demonstrada pela
velocidade da informação que subvertia as
relações entre mercado e territórios, Fazendo com que essa “aceleração das
ampliava as desigualdades e, acima de acelerações” das ações humanas provoque
tudo, mostrava a reduzida eficiência das modificações intensas de suas dinâmicas
instâncias de regulação mundial. Mais na limitada superfície, na atmosfera, na
tarde, na obra La mondialisation, aponta hidrosfera e na biosfera. Apesar dos

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alertas, Dollfus (2001) nos remete à lenta dariam prioridade à poluição da água;
tomada de consciência das conseqüências outros, ao estado da atmosfera; outros,

das mudanças globais como uma ainda, aos problemas do manejo da


Terra; alguns acreditam que a poluição
contradição do próprio processo de
ambiental e a depleção dos recursos
mundialização que incita a conscientização
naturais podem ser controladas pelo 136
progressiva de valores comuns na
comportamento individual; outros, por
constituição de um patrimônio comum da
controles estritos sobre a indústria; e
humanidade.
outros, ainda, por uma completa
Raciocínio semelhante ao de Barbara Ward transformação da estrutura política ou

e René Dubos, no livro Uma Terra dos estilos de vida (Ward e Dubos

somente que, já em 1973, apontava a 2008:202).

vulnerabilidade e a interdependência
planetária entre os fenômenos e, em sua
A defesa da responsabilidade coletiva dos
decorrência, riscos crescentes para a
países e povos, o estabelecimento de redes
própria humanidade.
cooperativas, de intercâmbios de
Ward e Dubos (2008) salientavam que as conhecimentos e de recursos foram alguns
vulnerabilidades podem se exprimir em dos caminhos propostos.
territórios bem específicos e,
Da mesma maneira, os Estados
especialmente que a mesma depende do
compartilham decisões, embora
nível de vida, do recorte geopolítico.
propugnando por suas soberanias.
A universalidade dos problemas
ambientais e a necessidade de uma
é neste cenário de soberania nacional e
abordagem global foram as convergências
das prolíficas instituições intermediárias
entre os especialistas participantes, ao lado
que irromperam, nos últimos anos, os
de numerosas discordâncias: novos imperativos ambientais (Ward e
Dubos 2008).

Alguns estão mais impressionados com


a estabilidade e a capacidade de
Isso foi apenas o começo
recuperação dos ecossistemas do que
com sua fragilidade; alguns deram Seguindo por caminhos próximos ao do

maior ênfase às aglomerações humanas relatório Uma Terra somente, Martine


do que aos ecossistemas naturais e à Barrère organiza o livro Terra, patrimônio
conservação da Natureza; alguns comum (1992) e anuncia “a Terra pode

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soçobrar” destacando os conflitos entre Somente a capacidade comum de
países decorrentes das diferentes reconstruir as instituições, as relações
abordagens a respeito do meio ambiente, a internacionais e as respostas dadas pelos
inviabilidade do modelo de países apontariam para um futuro que
desenvolvimento e, sobretudo assegura a rompesse com o favorecimento que a
137
importância do envolvimento político minoria, os atores fortes e ricos, tem na
associado ao conhecimento científico. atual fase da globalização.

Para a autora, o acirramento dos debates e Até hoje ele continua a defender a
das divergências Norte-Sul permitiu o necessidade de um núcleo ético para o
aumento da conscientização sobre a “forte desenvolvimento, formado pela
imbricação entre as questões ecológico- solidariedade sincrônica, com os
políticas e as responsabilidades do Homem antepassados, e diacrônica, com as
quanto ao futuro da Terra” (Barrère gerações futuras.
1992:11) e fez lembrar, vinte anos antes, as Sachs mesmo sabendo que as oposições
preparatórias da Conferência de claras entre os países detentores das
Estocolmo. A problemática reafirma-se, técnicas e os detentores dos recursos
portanto, como política. levariam aos longos processos de
No mesmo livro, Ignacy Sachs mostra a negociação, argumenta:
inexeqüibilidade do modelo de
desenvolvimento do Norte e do perigo de
uma ação global é necessária para
tomá-lo como referência para o
restituir um mínimo de ordem aos
desenvolvimento no século XXI.
mercados mundiais, para dotar o
Aponta a necessidade de quatro sistema internacional de instituições
transformações simultâneas: um ajuste capazes de garantir uma sinergia entre

severo e urgente na inflação; um novo os esforços de uns e outros, enfim, para

regime sociopolítico e institucional; a estabelecer um sistema de gestão


racional do que constitui o patrimônio
reestruturação profunda da economia e o
comum da humanidade: os oceanos, os
respeito do meio ambiente como elementos
climas, a biodiversidade, e, por que não,
essenciais para as novas formas
uma parte importante da ciência e da
institucionais, capazes de dar respostas às
técnica (Sachs 1992:127).
crises do sistema internacional.

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É outra a posição de Almino (1993:101) ao ambiente apóia-se em negociações
argumentar a respeito da dificuldade em se político-diplomáticas de convenções e
estabelecer critérios para a identificação do acordos, na cooperação econômica,
que seja patrimônio comum, entendido por financeira e tecnológica, mas também em
muitos como global common. tecnologias e em um arcabouço de novas
138
metodologias que proliferaram no final do
Por não ser um conceito jurídico aceito
século XX, constituindo-se em motores da
internacionalmente, interpretações
globalização ambiental.
diferenciadas ocorrem. Para ele, o clima
poderia ser considerado um global Os países aceitam “abdicar, parcialmente
common e não um patrimônio comum, de sua soberania, por submeter-se a uma
enquanto mares e espaço exterior poderiam ordem internacional” (Almino 1993:96).
sê-lo, porém à biodiversidade aplica-se o Os organismos multilaterais
princípio jurídico da soberania nacional. retroalimentam a construção e
A real problemática parece ser o tipo de consolidação das novas idéias.
mecanismo ou instituição supranacional As organizações não governamentais
que deveria ser estabelecida para a gestão (ONG) compõem os mais fortes vetores de
coletiva do patrimônio comum. difusão das idéias de conservação
O ritmo do debate a respeito das relações ambiental e importam métodos e técnicas.
de interdependência entre modelo As universidades, embora em menor
hegemônico de desenvolvimento e suas escala, refletem, analisam, criticam, e
transformações sobre o meio ambiente simultaneamente contribuem para o
amplia-se nos anos 1990. desenvolvimento e difusão de novos
O que mudou para o momento atual de marcos conceitual e metodológico; buscam
desorganização financeira e econômica encontrar soluções ou caminhos para os
mundial? problemas.

Continuamos as reflexões sobre as formas Os países participam ativamente desse jogo


políticas, técnicas, metodológicas adotadas geopolítico internacional polarizando
para as soluções dos problemas ambientais posições em blocos.
disseminados em todos os lugares, em O Brasil continua sua posição dos anos
todos os cantos do mundo. 1990, de defensor das responsabilidades
A agenda internacional que inclui temas de compartilhadas e do princípio da
proteção ambiental e do respeito ao meio soberania. Formou alianças para a defesa

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da convergência de objetivos e da governança e tornar mais eqüitativa a
diversidade de obrigações. distribuição de riquezas e o acesso aos
recursos (“melhores maneiras”); a da
Barbosa (1994) ressalta os desafios que o
regeneração do capital natural e dos
mundo contemporâneo enfrentava ao tentar
ecossistemas degradados (“manter o
articular forças, centrífugas e centrípetas,
139
jardim”); a percepção de que toda
concomitantemente.
degradação ambiental resulta de uma
É o meio ambiente, núcleo de
tragédia dos bens comunitários (“privações
convergência de forças humanísticas e
do bolo”).
universais, mediado por interesses
econômicos e políticos regionais movido
por forças centrífugas. As instituições internacionais

Mas, se Barbosa indicava esses desafios, As instituições multilaterais reforçam as


Lambin (2004), em seu livro La Terre sur bases da globalização ambiental construída
un fil, resgata as particularidades das pelas novas palavras de ordem, pelas
situações histórica e geográfica, dos idéias, pelos projetos que difundem. As
debates ideológicos e indica numerosas instituições financeiras ou o mercado
soluções a elas relacionadas, internacional também contribuem.
experimentadas em projetos locais e A atuação das instituições multilaterais,
disseminadoras dessas forças centrípetas. das organizações não governamentais, das
Vários caminhos são adotados amplamente instituições de cooperação técnica e
e indistintamente em projetos locais, financeira e, ainda, dos próprios Estados
nacionais ou regionais: soluções nacionais é essencial.
relacionadas ao crescimento demográfico e Embora a discussão das normas a respeito
controle (“menos bocas para alimentar”); do desenvolvimento sustentável e do
às novas tecnologias e ao crescimento planejamento coloque em questionamento
econômico para poder atender as os antigos paradigmas, cada Estado
necessidades de todos (“crescer o bolo”); à nacional ainda se serve da Carta das
defesa de que o progresso tecnológico que Nações Unidas para ressaltar o direito à
aumenta a destruição do meio ambiente soberania nas políticas de recursos
pela atividade humana (“o retorno ao naturais.
pequeno”); diminuição do consumo
A UNESCO é uma dessas instituições.
(“menores porções”); adeptos da maior
Difunde a noção de santuarização da

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natureza, de proteção de espaços de patrimônio natural: o Parque Nacional
geográficos e de patrimônio comum da de Iguaçu; em 1991, o Parque Nacional
humanidade. Serra da Capivara; em 1999, as Reservas
da Mata Atlântica; em 2000, o Parque
A Convenção sobre a Proteção do
Nacional do Jaú; em 2001, um complexo
Patrimônio Cultural e Natural foi, pela
140
de Áreas Protegidas do Pantanal, da
primeira vez, debatida em Estocolmo em
Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional
1968 e aprovada em 1972; contribuindo
das Emas e, além, Fernando de Noronha e
para qualificar um número de lugares e
Atol das Rocas.
dar-lhes um valor simbólico muito forte
por se constituírem em lugares remarcáveis Ao se estabelecer a relação entre o numero
a serem preservados em função de seu de projetos de preservação do patrimônio
papel para o bem da humanidade. natural (apenas oito) e a população, nota-se
a diferença entre a participação brasileira e
A idéia de preservar para as gerações
a de outros países latino-americanos ou
futuras constitui-se por redes de áreas
europeus (Figura 1).
protegidas, reservas da biosfera, ou ainda
outras formas de proteger as paisagens. Poucas áreas consideradas patrimônio
natural foram, até o momento, certificadas,
Mas essa noção de santuarização torna-se
seja pela pouca importância dada pela
utilitarista, afirmam Zanirato e Ribeiro
população a tais mecanismos, seja pelo seu
(2006), a partir do século XX, quando o
desconhecimento.
mundo reconheceu a importância do
conhecimento tradicional para a Tal entendimento institucional assume
conservação e o uso sustentável da importância vital pela difusão mundial das
diversidade biológica, especialmente idéias e pelas repercussões sobre as
preservada em áreas delimitadas na políticas, em médio e longo prazo.
intenção de reservar informação genética Por exemplo, à medida que cresce a rede
nas áreas protegidas para o uso futuro, de reservas da biosfera – apesar de
especialmente pós-Convenção da depender das decisões dos poderes locais –
Diversidade Biológica. incorporam-se também os conceitos, os
As ações públicas brasileiras confirmam o métodos de tratamento da questão, as
argumento. O Brasil adere à convenção da técnicas, de maneira a reforçar as visões e
UNESCO em 1977 e, em 1986, insere a abordagens dos interlocutores. É no âmbito
primeira unidade de conservação na lista da ecologia política e das relações

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internacionais que vários desses conceitos desse campo, as influências sobre a ação
são estabelecidos e difundidos. É também dos governos.

141

Figura 1. Relação entre projetos de patrimônio natural aprovados pela UNESCO e a


população dos países até início de 2008.

Construção política de um conceito Estado e em torno do qual a competição se


ecológico: As florestas tropicais coloca entre diferentes atores públicos); a
neo-institucionalista liberal (as instituições
De maneira semelhante a Lambin, Smouts,
que devem conduzir um acordo mais ou
em seu livro Forêts tropicales, jungle
menos formal para resolver um problema
internationale (2001), argumenta que os
coletivo, em que todos saiam bem); a
conceitos que atualmente nos parecem
estruturalista ou neo-marxista (explica a
habituais, na verdade resultam do que se
degradação da floresta pelas estruturas da
estabeleceu a respeito das florestas
economia mundial e pelas fraquezas de
tropicais como desafio planetário.
organização da sociedade civil frente às
A autora aponta cinco correntes de
multilaterais e instituições financeiras); a
pensamento cujas abordagens transitam
pós-moderna (constrói o discurso
desde a realista (a floresta como um
desconstruindo outros); até a sociologia
recurso natural que releva da soberania do
das relações internacionais (a diversidade

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de atores e os tipos de regulação como um uma aceleração preocupante, podendo ser
bem público, justificando a intervenção superior às que ocorrem na América
política das instituições internacionais, os tropical, mas não há dados suficientes para
mecanismos de mercado, os esquemas de comprovar o processo; motivo de grande
influência). preocupação. A autora salienta que a
142
construção do conceito de floresta tropical
As cinco correntes de pensamento
ocorre a partir da visão de que a densa
contribuem para reforçar o efeito
floresta pluvial pode desaparecer do
geopolítico sobre o ecológico.
planeta.
Smouts (2001) argumenta que a história de
Assegura que os tempos da relação entre os
uma floresta é composta por fluxos e
homens e as florestas é o tempo longo dos
refluxos: os países europeus desmataram
historiadores e da ecologia e não os tempos
durante séculos e recentemente alguns
curtos dos políticos, para mostrar que
tipos de floresta são recuperados, a um
preocupação com este tipo de floresta é
preço alto em investimentos financeiros,
decorrente da percepção de que a floresta
mas, apesar disso, os desmatamentos não
tropical é a mais rica em:
perturbaram o gênero humano, mas
serviram para instituir, em 1346, as
primeiras regras de gestão florestal visando espécies animais e vegetais, as mais
“sustentá-las em bom estado”. abundantes em recursos econômicos e

Além das florestas tropicais, estão também as mais sobrecarregadas de sonhos e


cosmogonia (Smouts 2001:19).
em perigo as florestas mediterrâneas. Ao
norte e ao sul se encontram diretamente
sobre pressão constante pelos usos, pela No conjunto mundial, é a floresta tropical
superexploração, pela urbanização. As brasileira que ocupa um lugar excepcional
florestas tropicais estão em 70 países do em função das taxas médias de
mundo: 23 na América, 16 na Ásia, 31 na desmatamento por ano serem as mais
África. elevadas em termos de superfície total da
As florestas indo-malaio, apesar do cobertura.
desmatamento, possuem taxas de Deveria preocupar a nós, particularmente.
reflorestamento elevadas, embora possa ser Razões de cunho econômico justificam
vista como uma frágil compensação; nas também a preocupação mundial com as
florestas centro-africanas sabe-se que há florestas. Para a autora, os países em

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desenvolvimento podem estar nas mesmas Há, portanto, mais que uma floresta
condições de guerra das ordens monásticas tropical. Essa construção geopolítica não
do tempo das catedrais, caso permitam os se articula com os conceitos de
abates das florestas pensando que assim ecossistemas definidos pelos botânicos,
obteriam recursos necessários aos seus mas com a relação social, econômica e
143
desenvolvimentos. política, pois

Além disso, afirma que a própria definição


de floresta tropical é um objeto político. ela é uma categoria para chamar a
Para a rainforest (floresta ombrófila) atenção sobre as taxas alarmantes de

vários mecanismos financeiros e técnicos desmatamento em certas regiões do


mundo e sobre os problemas similares
foram criados. É um conceito sem muita
que ai ocorre (Smouts 2001:24).
clareza, impreciso, variando desde a noção
de Schimper (Smouts 2001:23), que
identifica as áreas úmidas com Se estas florestas estão ameaçadas, é
temperaturas elevadas e pluviosidade preciso fazer algo. Assim, se uma
abundante (100mm por mês) até a própria sensibilidade ecológica se desenvolve, o
indefinição das zonas geográficas às quais discurso internacional se impõe.
se faz referência.

Pode ser entendido como tudo o que está


Outro conceito geopolítico: A
inserido entre os Trópicos de Câncer e de
biodiversidade
Capricórnio, um pouco mais ao norte, um
pouco mais ao sul. Enquanto isso, a Neste sentido destaca-se também o

definição da Food and Agriculture posicionamento de Albagli (1998) a

Organization (FAO) considera que são: respeito do conceito de biodiversidade.


Para ela, a diversidade de atuações
permitiu a visibilidade atual como
florestas sempre verdes das regiões resultante dos elementos geopolíticos que
constantemente úmidas e aquelas em
moldaram o conceito. O conceito de
parte caducifólias de regiões menos
biodiversidade e o quantitativo a ser
chuvosas, onde se constata grandes
mantido foram objetos de discursos e de
variações sazonais (FAO 1998).
proposições de políticas.

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Com opiniões tão distintas e contraditórias, mesmo sem saber exatamente o seu valor.
a convenção pautou-se pelo possível
desaparecimento de um patrimônio que se
Outros atores
desconhece e que no futuro, poderia servir
ao conjunto da humanidade. O envolvimento de cientistas tem sido
cotidianamente exigido. Buscam-se nas 144
Construído e regulado em escala
bases científicas argumentos para provar as
internacional como uma nova referência
visões que justificam tais relações ou não,
tecnológica de exploração da natureza, o
discutindo-se em painéis que tomaram
mesmo se concretiza nos territórios
vários anos, temas como a camada de
possuidores desse potencial, ou seja, em
ozônio, o papel do clorofluorcarbono
escala nacional e local.
(CFC), o papel das florestas nas mudanças
A proposição de ser patrimônio comum da globais, do desmatamento, da
humanidade foi refutada pelos países na biodiversidade, da biossegurança, da água.
defesa da soberania.
Cientistas e ativistas apontam soluções
As regulações internacional e nacional possíveis nos domínios tecnológico,
avançam lentamente, mas, desde as institucional e cultural. Distintas linhas
primeiras reuniões dos países membros da operacionais propostas como soluções,
convenção, Comitê dos Participantes muitas envolvendo governos e/ou
(CoP), os avanços se acumulam. sociedades, instituições e empresas são
Em minha apreciação, estruturas analisadas por Lambin (2004)
institucionais brasileiras foram comparando-as com a aceleração das
estabelecidas para elaborar e implantar a mudanças no planeta como causadora da
política nacional de conservação da degradação e suas conseqüências sobre a
biodiversidade, seguindo os requisitos da própria natureza das mudanças ambientais.
convenção. Lambin (2004) analisa as distintas linhas
O Ministério do Meio Ambiente, a operacionais, propostas como soluções,
Comissão Nacional de Biodiversidade e o indo desde a ecoeficiência (voltada para
Conselho de Gestão do Patrimônio restaurar as funções naturais do meio
Genético, refletem a preocupação em ambiente e aumentar a produtividade dos
salvaguardar um patrimônio ainda recursos – energia, água, terra e materiais);
desconhecido e representou a preocupação a descarbonização dos sistemas energéticos
do país em estabelecer regras mais claras, (redução do consumo de energia); a luta

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contra a poluição (pelo reforço de políticas experiências, mas também como lições
públicas e esforço de desenvolvimento de para políticas públicas, visto que assumem,
novas tecnologias); ecologia da restauração concomitantemente, as obrigações
de ecossistemas; papel das instituições (leis oriundas das convenções internacionais,
e normas complementam-se com as em escala nacional.
145
associações civis); instituições e os
mercados (mudança na estrutura de taxas e
Políticas e ação pública: Campo
impostos); mercados ambientais (mercado
interdisciplinar e território
de emissões).
Nesse contexto, a busca de soluções para
Na globalização ambiental, as
os desafios ambientais globais depende
organizações ambientalistas internacionais
tanto da cooperação cientifica
são instâncias de legitimação e prática
(interdisciplinar), interinstitucional
mais do que um fórum científico, assim
(financeira/tecnológica), das redes sociais
como na globalização econômica o são as
como também das empresas.
transnacionais, os grupos de interesse
diversos, personalidades e cientistas Tal cooperação é, simultaneamente,
reconhecidos, as organizações não estimuladora das políticas nacionais e
governamentais, grandes e pequenas, redes disseminadora dos marcos conceituais de
de organizações públicas e privadas. As políticas públicas.
empresas também são chamadas à As políticas ganham relevância porque
responsabilidade social e ambiental. representam localmente a espacialização
Os governos são chamados a agir, mas a de soluções globais, recolocando a máxima
ação pública se torna cada vez mais difusa. do “impacto global, ação local”,
A temática ambiental assume, portanto, experimentando e adaptando, em quaisquer
importância nas agendas políticas, nos das escalas espaciais, a diversidade de
posicionamentos, nos fóruns, mas a ação estratégias metodológicas e técnicas de
local, muitas vezes, não as acompanha. pesquisa. Contudo, essencial para que isso
ocorra, são as articulações, o diálogo.
Cabe-lhes procurar novas modalidades de
parceria, rompendo com a sociedade em Mas, esse diálogo entre a ação local, ou
dupla velocidade da qual falava Sachs regional e a global nem sempre é tranqüilo.
(1992), estimulando debates sobre os Há fricções, segundo Coy (2006), pois
temas, procurando e aceitando caminhos numerosas vezes as conseqüências locais
diferenciados, não apenas como da globalização afeta seus respectivos

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espaços, resultando muitas vezes em gerenciamento pelas autoridades públicas
fragmentação entre inclusão e exclusão e dos instrumentos de controle e proteção
promovendo a ampliação das disparidades ambientais. Aspectos que indicam a
sociais, econômicas e ambientais. politização da problemática.

Cinco fenômenos que ocorrem Esse processo esta refletido na linha do


146
simultaneamente no campo de tempo da política ambiental, que articula
conhecimento das políticas públicas, ação internacional-política pública
segundo Massardier (2003), por isso a nacional-presidentes brasileiros e da
complexidade e dificuldade em discutir seu instituição ambiental.
marco conceitual e analisá-las: a As pressões externas e pequenos projetos
estruturação formal das políticas pelas específicos de ecodesenvolvimento foram
autoridades públicas; a mobilização social; realizados simultaneamente à aprovação da
as externalidades, gerenciadas pelo Estado política nacional de meio ambiente.
ou pelo mercado; os níveis entrelaçados
Nota-se claramente a concentração de leis,
das políticas públicas (escalas local,
mecanismos financeiros, instrumentos de
nacional, internacional) e, finalmente, a
regulação e controle em períodos próximos
ingovernabilidade das sociedades
aos eventos internacionais.
ocidentais.
Da mesma maneira, a Conferência das
Massardier mostra a importância das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
autoridades públicas na estruturação
Desenvolvimento foi responsável pela
formal das políticas públicas e,
criação do FNMA e experiência
especialmente, da ação pública que
multilateral do PPG7.
demanda a articulação da autoridade e da
ação, dentro de um universo policêntrico. Ao final da década de 1990 e início dos
anos 2000, outro conjunto de políticas e
Essa complexidade torna-se perceptível no
programas complementares se forma e
caso brasileiro, onde, não apenas a
conquista espaços no âmbito da política
influência da internacionalização das
ambiental brasileira.
políticas ambientais foi significativa,
marcada pela assinatura das primeiras Além disso, outro aspecto interessante a
convenções e também pela influência da ser explorado posteriormente é notar que a
mobilização social internacional, mas a estabilidade política se reflete claramente
estruturação formal do Estado e o no aparecimento de novas normas.

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147

Figura 2: Linha do tempo sobre criação de políticas ambientais e mudanças de gestão no


Ministério do Meio Ambiente e presidência da República. Brasil, 1970 a 2008.

São reflexos das duas ordens de pela ação dos indivíduos.


racionalidades sistematizadas por
Massardier, que nos lembra que, nas
Ajustes mutuais entre redes e o Estado
políticas públicas, na verdade, as duas se
encavalam: o modelo sinóptico, É preciso, portanto, compreender as
dependente de um “ator central, um complexidades das políticas públicas
regulador” que atua na sociedade a partir dentro do contexto de perda de importância
de um objetivo pré-definido e que coloca do Estado, de ingovernabilidade das
os meios necessários para atingir as políticas e ação dos governantes e de
“finalidades escolhidas”; e, modelo de sensação de desordem tanto para os
ajustes mutuais, resultante de um processo cidadãos quanto para os políticos, analistas
de ajustes entre atores que constroem de política e para a própria administração.
dispositivos de políticas públicas segundo Apesar desse novo contexto, o Estado, as
as “finalidades vividas”, decorrente de suas autoridades públicas sempre estarão dentro
capacidades de interações e ações. do jogo, mas entre outros atores,
De um lado, as políticas públicas pela negociando, lutando para que suas
autoridade, de outro, as políticas públicas definições de interesse geral e seu senso de

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atuação sejam compreendidos. Mas, se a política pública apresenta a
complexidade de envolver interesses e
atores, a ação pública é um dilema entre
política pública é um conjunto de ações
autoridade e ação, visto estar diante de
múltiplas, mais ou menos coordenadas,
uma nova concepção.
um processo de produção de
148
dispositivos tangíveis de gestão de um
campo da vida social coletivamente
o problema colocado não é mais a
assumida (Massardier 2003:84).
vontade de um ator público, mas sua
capacidade de fazer agir (pela lei, pelo
processo administrativo, etc.) mais a
Da mesma maneira que as florestas
ação de outros atores (notadamente os
tropicais, o campo de estudo das políticas
privados: empresas, associações e todas
públicas por ser de interesse para várias
as instituições que participam do
ciências, apresenta uma dificuldade maior
dispositivo de política pública). Assim,
quando se tenta ter uma definição. fazer políticas públicas é gerir a ação
coletiva, dos atores, é manter junto, não
mais pela autoridade, mas por levar em
As definições de políticas públicas,
conta as racionalidades de ação dos
mesmo as minimalistas, guiam o nosso
atores econômicos, sociais (Massardier
olhar para o lócus onde os embates em
2003:85).
torno de interesses, preferências e idéias
se desenvolvem, isto é, os governos... as
políticas públicas repercutem na As políticas públicas são colocadas em
economia e nas sociedades, daí por que
coerência por sistemas de regulação
qualquer teoria da política pública
exógenos às ordens locais.
precisa também explicar as inter-
relações entre Estado, política, As redes sociais são fragmentadas e,
economia e sociedade... pode-se, então, muitas vezes, estão em concorrência, mas
resumir política como o campo do começam a conquistar os terrenos de
conhecimento que busca, ao mesmo discussões muitas vezes mais em
tempo, colocar o governo em ação e/ou decorrência da motivação do que da
analisar essa ação (variável organização. Associam-se, portanto, com a
independente) e, quando necessário,
própria fragmentação do Estado e de suas
propor mudanças no rumo ou curso
ações.
dessas ações (variável dependente)
(Souza 2006:26). Vários autores, relembra Massardier,

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defendem que a ordem política não se faz d) Senso cognitivo compartilhado,
mais em termos de separação entre Estado buscando uma janela de coerência na
e sociedade, mas provavelmente entre ação pública.
espaços sociais autônomos, que
compreendem atores públicos e privados,
Dentre tais interferências, a mais 149
mobilizados pelo desafio e grupos
importante é a questão da governança,
refratários, fechados em si mesmo.
demarcada pela presença de novos atores
na arena política.
a carta de construção de decisões
A problemática ambiental encontra-se no
políticas se compõe na realidade de uma
centro desse turbilhão: do universo
serie de compartimentos verticais ou de
fragmentado, policêntrico e controverso;
segmentos, com suas próprias lógicas
de articulação dos atores, lógicas e
(Massardier 2003: 137).
recursos múltiplos; de articulação entre as
instituições e níveis administrativos do
E, uma mesma política pública se vê Estado; do mercado-Estado-outras lógicas
afrontada por um número importante de privadas; da articulação local-nacional-
redes. internacional.

Klaus Frey acompanha o raciocínio de São indicadas por Massardier (2003:161)


Massardier ao elencar as interferências como “as políticas contemporâneas (que)
sobre a política pública das seguintes oscilam entre ajustes mutuais em espaços
ordens: autônomos e ajustes mutuais regulados”,
com os atores assumindo múltiplos
posicionamentos, motivados a alinhavar
a) Governança, com a reinvenção do
uma coerência global.
Estado, dando-lhe os meios de guiar e
orientar a cooperação entre os Nesse sentido, Massardier e Frey se

múltiplos atores da ação pública; complementam ao assumirem que a:

b) Economia das convenções e a teoria


da regulação, que evoca um Estado crescente literatura sobre a governança
que dá as referências; significa o enfraquecimento das
instituições estatais e evidenciam
c) As instituições públicas no centro da
transformações significativas no tocante
análise das políticas públicas;
aos processos político-administrativos

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nas democracias modernas. As novas complexidade temporal dos processos
redes de governança, nas quais as político-administrativos.
comunidades, as associações da
Estes argumentos são importantes para
sociedade e as empresas privadas
referendar a análise da política e da gestão
desempenham papel cada vez mais
decisivo, desafiam não apenas os ambientais brasileiras.
150
governos e a maneira de governar, mas As políticas ambientais requerem,
exigem uma reorientação do portanto, um repensar do próprio papel da
pesquisador (Frey 2000:42).
ciência e da política e a relevância que tem
a autoridade do Estado, e uma agregação

Esses novos atores transformam e de, pelo menos duas bases metodológicas,

reestruturam o processo político (Frey a análise institucionalista e os padrões de

2000) e reforçam os conflitos entre comportamento, integrantes da “análise

interesses econômicos e ecológicos. dos estilos políticos” (Souza 2006).

Por isso a importância da análise dos Resta-nos entender como o seu papel de

arranjos institucionais, entre outros, e das ator é redimensionado na fase atual da

redes de atores enquanto “fatores dos globalização ambiental.

processos de conflito e de coalisão na vida


político-administrativa”, visto que estas,
As influências no Brasil de meados do
em numerosas situações, criam laços
século XX ao início do XXI
internos de solidariedade contra outras
Na escala nacional, a globalização
redes concorrentes.
ambiental induz a (re)estruturação de
Para a política ambiental os processos de
instituições ambientais adequadas às novas
conflito e consenso assumem grande valor,
exigências difundidas mundialmente e a
especialmente quanto ao seu caráter, seu
incorporação de instrumentos e métodos
conteúdo e o modo de resolução dos
originados além-fronteiras.
conflitos.
Pelo menos três caminhos foram seguidos
Frey ressalta que os cientistas inseridos na
no âmbito do Estado brasileiro: a
corrente do neoinstitucionalismo (North
reestruturação de algumas instituições mais
1990) precisam considerar que outros
antigas de meio ambiente, a criação de
fatores exercem influência no
novas e a inserção da temática, via
comportamento decisório, como por
departamentos, seções em órgãos estatais
exemplo, o caráter dinâmico e a
setoriais.

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Bursztyn (1998:153) relaciona as conflitos territoriais decorrentes do
reestruturações com a crise do Estado que cruzamento entre políticas setoriais,
resultou em sucessivas reformas especialmente a de meio ambiente e as de
administrativas, promovidas pelo Fundo infra-estrutura.
Monetário Internacional (FMI) com o
As instituições de meio ambiente,
151
único objetivo de reduzir o tamanho do
fragilizadas, não conseguem uma atuação,
Estado, como parte do receituário
de fato positiva, que consiga obstruir – ou,
neoliberal de medidas de ajustes, pelo menos ordenar - os processos da
especialmente aquelas voltadas à dinâmica territorial brasileira.
desregulamentação, enxugamento da
Ao propor o papel de regulador para o
máquina funcional e a geração de um novo
Estado, não pretendo que se repita a era
padrão de eficiência.
Vargas no Brasil, mas, corroborar com os
Ao lado desse receituário, exigiram-se argumentos de Castro de que “o Estado
estruturas para dar respostas aos problemas continua a exercer o papel de organizador
ambientais globais. Coelho e Castro da ordem social, política e territorial”, em
reforçam esses argumentos quando assinala um processo de reconfiguração, de
que articulação entre o público e privado e
entre o local e o global. Um novo Estado.

o Estado nacional está sendo levado, de Um Estado do século XXI.

mais a mais, a ceder uma parte de seu


controle político sobre o território às
A importância do território
potências econômicas mundiais, e, numa
primeira percepção, a essas agências É neste aspecto que gostaria de resgatar na
que regulam o jogo monetário, como o abordagem geopolítica de Raffestin (1993)
FMI, o Banco Mundial e o sistema o elemento fundamental das relações de
financeiro internacional. Isso impõe poder existentes sobre os territórios.
repensar o Estado e seu papel de definir
Ainda que Raffestin não tenha se proposto
e implementar políticas públicas
(Coelho e Castro 2001:15). a decodificar a problemática da gestão
ambiental, suas reflexões podem nos
orientar na discussão da globalização do
Se o Estado cede parte de seu controle meio ambiente e das políticas,
político sobre o território, a falta de um instrumentos e estratégias voltadas para
mediador facilita como Castro ressalta os redução de impactos das transformações

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humanas sobre o meio ambiente. hoje, ele não é apenas transnacionalizado,
mas cria novas sinergias e seu papel é
O território, aos geógrafos, tem servido
ativo.
como categoria de análise, portanto,
abstrato. No campo da formulação e gestão de
políticas públicas, nos lembra Castro
Mas, ele assume também, pelo menos, dois 152
(2008) que, apesar das dificuldades
outros sentidos: de um lado, simbólico,
internas de articulação dos campos físico e
quando articulado com a noção de
humano, a geografia tem um potencial
territorialidade, de pertencimento, e de
agregador desde o seu nascimento.
outro, jurídico-político, quando se
transforma em um objeto da ação política,
uma base física e de recursos para o um arsenal de técnicas e ferramentas
planejamento, para a gestão. para melhorar a transição dos conceitos

Se não existe geografia sem sociedade, aos fatos e destes à práxis social: seja
no campo ou na cidade, ferramentas
para lembrar Ross (2006), tampouco ela
como o zoneamento ecológico-
existe sem um território e sem uma
econômico, o sensoriamento remoto, as
natureza natural ou uma natureza
imagens de satélites, a cartografia e
construída pelas dinâmicas sociais,
dados georreferenciados, todos
econômicas e políticas.
constituem elementos decisivos para que
Assim, o resgate das reflexões de Milton a explicação sociológica reencontre a

Santos, Maria Adélia Souza e Maria Laura base biofísica sobre a qual se constroem

Silveira (1996) a respeito da globalização e os fatos sociais (Castro 2008).

fragmentação dos territórios é importante.

Há mais de uma década, estes autores Por isso, é essencial considerar a gestão
lembravam que a geografia deveria se ambiental como parte do processo de
importar com as ocorrências dos gestão do território, constituindo-se o
fenômenos de globalização e sua território uma categoria fundamental, pois
relevância para os territórios. ele reflete a diferente espacialização dos

Seguindo o raciocínio de Milton Santos processos de modernização e dos ritmos e

(1996:15) “a interdependência universal padrões da degradação ambiental.

dos lugares é a nova realidade do A desvalorização dos processos físicos


território”, o valor do local é relativizado. para a gestão ambiental pode ter sido

Antes, era o Estado que definia os lugares, decorrência de uma leitura equivocada de

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autores que propugnavam pela construção a estratégia espacial do Estado, embora
social do território. poderosa, não significa que seja sempre
racional. Ela resultou em concentração
da riqueza nas mãos de poucos e no
Amazônia globalizada, patrimônio e espaço, e gerou grandes conflitos
gestão: Mitos ou realidade? sociais e ecológicos (Becker 2001). 153

Ao causarem crises, os problemas globais


promovem inovações dos sistemas sociais, Houve uma mudança da visão externa para
suscitando também mudanças construtivas. a interna e ressalta que a desregulação se
Se este é o lado positivo do impacto, manifesta em termos de política territorial
permito-me apoiar em Bertha Becker com novos recortes (com a multiplicação
(1996, 1998, 2001) ao argumentar que, de áreas reservadas) e com novos atores (as
após as mudanças no ambiente natural ONG) que contribuem para definir e
ocasionadas pela economia de fronteira, as implementar esta política, em função de
redes e os fluxos se consolidam, gerando sua luta pela demarcação de áreas a serem
um novo potencial. protegidas, mas igualmente por seus
recursos.
Há pelo menos uma década Becker
defende que o momento para a Amazônia é A desregulação significa o esgotamento do
o da densificação de tecnologia, capaz de modelo nacional desenvolvimentista de
criar um novo surto de desenvolvimento. intervenção do Estado na economia e no
território (especialmente na Amazônia) e o
Para ela, a região, em períodos mais
crescimento simultâneo da resistência
recentes, já vivenciou a fase da malha
social das populações locais.
programada, correspondente à intervenção
estatal e de empresas privadas e públicas, Este processo de crise deste modelo de
de duplo controle, técnico e político sobre Estado e do crescimento da presença social
a qual atuava uma malha territorial sócio- é complementado pela pressão
política (1966 a 1985) e promovia um ambientalista internacional e nacional,
processo seletivo do espaço. configurando a Amazônia como uma nova
fronteira socioambiental (Becker 2001:12-
Uma visão e um uso exógeno acelerando a
3).
ocupação regional, modernizando-se as
instituições, por isso: O período do vetor tecnoecológico (1985-
1996) teve sua positividade social e
ambiental, especialmente porque a

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organização territorial constituiu-se em processos para o ordenamento do território.
uma de suas partes. Na política territorial, Deixa de ser estrategista e aceita que
foi voltado para a construção de: outros atores cumpram o seu antigo papel.

A política regional amazônica é marcada

um novo padrão de desenvolvimento por conflitos entre conservação ambiental e


154
sustentável, com a articulação de atores desenvolvimento, caracterizando a
em várias escalas geográficas, “politização do meio ambiente” e
constituintes de uma malha envolvendo atores que possuem muito
socioambiental capaz de gerar uma poder ao lado daqueles que possuem pouco
transformação regional, com um modelo ou quase nada.
de desenvolvimento endógeno, voltado
Os interesses divergem e muitos, entre
para uma visão interna da região e para
eles, se interessam pela manutenção do
os habitantes locais (Becker 2001:13).
conflito. Entre os atores com maiores
poderes encontram-se a comunidade
Aponta, contudo, as tendências de políticas internacional, os ambientalistas, as
paralelas e conflitantes desenhadas para o agências de conservação e florestas, e,
período posterior a 1996. localmente, os políticos locais, os
Aplicando a abordagem das fricções à fazendeiros, os madeireiros.
Amazônia, argumenta Coy (2006) que as Do outro lado, estão os pequenos
pressões internacionais, principalmente de agricultores e grupos indígenas, aos quais
organizações não governamentais, forçam poderíamos acrescentar as populações
os governos a reagirem em situações de tradicionais, ribeirinhas, caboclas e
defasagem muito grande entre as quilombolas.
dinâmicas econômicas e as conseqüências
A agenda das políticas públicas para a
ambientais naquela região brasileira.
Amazônia tem privilegiado o padrão da
Apesar da desregulação, o Estado ainda sustentabilidade em seus discursos e em
possui influência no desenvolvimento alguns programas.
regional.
Comungo das idéias de Coelho e Castro
Adoto o mesmo entendimento de (2001) quando analisam que os esforços de
desregulação de Becker, ressaltando que o descentralização e de desconcentração de
Estado, ao reduzir suas funções, retrai-se, poderes em decorrência das mudanças do
deixa de intervir na economia e determinar Estado brasileiro encontram dificuldades e

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resistências. Segundo elas: sociedade e as tendências suscitadas
pela implementação de novas políticas
precisam ser identificadas e explicadas
Na Amazônia é ainda necessário (Coelho e Castro 2001:297).
compreender as mudanças associadas
ao novo papel do Estado e do poder
155
local que dão ensejo a questionamentos Amazônia é patrimônio em perigo?
sobre a capacidade dos estados,
Esse também é um dos assuntos mais
municípios e cidades que
controversos. Se tomarmos os dados a
compartilharem responsabilidades com
respeito do desmatamento, em 2008 a
atores sociais e ajustar seus aparelhos
Amazônia Legal acumula
(Legislativo, Executivo e Judiciário) às
suas necessidades de crescimento e aproximadamente 20% da superfície

desenvolvimento. As contradições nas desmatada, incluindo todos os tipos de


relações entre poder público e vegetação (Figura 3).

Figura 3: Remanescente de cobertura vegetal na Amazônia.

O ritmo da progressão desta taxa não é mil km² (em 1995) e o mínimo em 11 mil
constante, pois, desde que o km² (1991 e 2007). Nos vinte anos de
monitoramento vem sendo realizado, o monitoramento, o processo de
ponto máximo se situou próximo aos 29 desmatamento aparece majoritariamente

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com taxas variando entre 14 e 18 mil cientistas que, juntamente com o setor
km²/ano. O resultado é que vários produtivo e, atualmente governamental,
municípios já não possuem praticamente ressalta a relevância da produção de grãos
nenhuma cobertura vegetal original. em especial no Mato Grosso e seus altos
índices de produtividade.
Cientistas como Fearnside e Laurance
156
(2002) são unânimes em afirmar que, Políticos ligados ao movimento ruralista
mantendo-se esse ritmo, em 2050 restarão alegam que não seria necessário mais
na região apenas as unidades de nenhum quilômetro quadrado destinado à
conservação e as terras indígenas, caso a proteção, sejam terras indígenas ou
gestão seja bem realizada. É essa imagem unidades de conservação, visto que um
de destruição que roda o mundo. A difusão terço da superfície do estado são áreas
mais ampla, pelos meios de comunicação reservadas, nas quais não se pode produzir
de massa, privilegia-a. (senadora Katia Abreu – Radiousp, 13 nov.
2008).
A imagem é de uma Amazônia destruída,
que expulsa seus povos em nome do Também essa é uma imagem que se
grande capital, dos interesses apenas dos difunde mundialmente, apontando o país
segmentos produtivos mundialmente como um dos maiores produtores agrícola
articulados. Não é sem base que Umbelino no mundo.
de Oliveira (2002) diz: Coloca-se, portanto, a questão de uma
política territorial que se embase no

que em nome do desenvolvimento com ordenamento, de maneira que o território

segurança [...], o Estado realizou a possa beneficiar, minimamente, os


soldagem dos interesses capitalistas diferentes habitantes da região.
monopolistas, quer no nível nacional ou
São argumentos que dão base às análises
internacional (Oliveira 2002:127).
dos grupos que trabalham com o território
na perspectiva do planejamento e da

Para ele, a “Amazônia internacionalizou- gestão.

se, sem que fosse necessária a sua Defendo como um dos instrumentos mais
transformação em território importantes o zoneamento. Não quer dizer
internacional”. que desvalorizo outros instrumentos

Se a abordagem for a produtividade das territoriais como os planos de bacias

commodities, há também um conjunto de hidrográficas, os corredores ecológicos, os

Mello-Théry. Rev Gestão & Pol Públicas 1(1):133-161, 2011


planos diretores municipais, apenas deixo- planejamento, enquanto Amazonas e
os para uma discussão posterior. Maranhão estão na primeira fase, ou seja,

Numerosos técnicos e pesquisadores, no planejamento da ação (MMA 2007).

dentro ou fora das instituições Não restam dúvidas que se a intenção é


universitárias, têm proposto métodos, implantar um novo padrão de
157
analisado as formas sob as quais foram desenvolvimento regional, é fundamental
implantados os zoneamentos, criticado as que um dos objetivos macro-estratégicos
dificuldades e a própria incapacidade de em relação à Amazônia seja realmente o
negociação do Estado com outros atores. seu ordenamento territorial.

Não há unanimidade na utilização do Somente ele poderá re-orientar políticas e


zoneamento como instrumento de ações públicas e também um novo modelo
planejamento ou de política de de Estado, que adote o papel de articulador
ordenamento, embora desde os governos e regulador, e que considere, sobretudo,
de Fernando Collor-Itamar Franco e não ser mais o único ator (sucumbindo à
Fernando Henrique Cardoso, a adoção e pressões de setores dominantes) a decidir
valorização do planejamento e de métodos sobre o futuro da região.
mais ambientalizados como o zoneamento O Ministério do Meio Ambiente (MMA
tenha sido a estratégia. 2007) resume um macrozoneamento da
O resultado desse processo foi a realização região, obtido adaptando-se os quatro
de programas de zoneamento ecológico- grandes tipos de zonas propostos por
econômico (ZEE) na maioria dos estados Becker e Egler (1996).
amazônicos. Considera usos consolidados ou a
Embora o desempenho possa ser criticado, consolidar (para os processos econômicos),
algumas iniciativas foram concluídas (em os usos controlados (áreas frágeis ou
escala 1:250.000), como é o caso do Acre, manejo sustentável) e uso institucional
Mato Grosso, Rondônia e Roraima, cujo (áreas protegidas – ambientais ou
processo cumpriu as cinco etapas previstas, indígenas), definindo as zonas para cada
desde o planejamento, diagnóstico, tipo de uso.
prognóstico, normatização e Subdividindo de quatro para dez áreas, em
implementação. março de 2010, finalmente, está pronto o
O Amapá completou três das cinco fases, o decreto que estabelece suas funções:
Tocantins duas e Pará apenas o

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a) Defesa do coração florestal; ao qual deve estar incluído a capacidade de
prestar serviços ambientais. É essencial,
b) Defesa do Pantanal;
portanto, valorizar a incorporação do
c) Contenção das frentes de expansão
território e a sua importância para as ações
com áreas protegidas e usos
públicas de gestão ambiental.
alternativos; 158
Se as políticas e as ações públicas de
d) Ordenamento do pólo logístico de
gestão ambiental forem voltadas para a
integração com o Pacífico;
valorização das riquezas que possui o
e) Fortalecimento da integração território, riquezas naturais, humanas e
Amazônia-Caribe; culturais da Amazônia, mais da metade do

f) Fortalecimento das capitais costeiras, território nacional viabilizar-se-ão as

regulação da mineração e apoio à possibilidades de construção de novos

diversificação da produção; padrões de que tanto falam ambientalistas,


cientistas nacionais, internacionais e locais.
g) Fortalecimento do policentrismo Pará-
Tocantins-Maranhão (PA-TO-MA); O Brasil estará contribuindo para a
consolidação de novos padrões de política
h) Diversificação da fronteira
e de desenvolvimento. Sem dúvida, a
agroflorestal e pecuária; e
Amazônia é um patrimônio brasileiro, mas
i) Readequação dos sistemas produtivos os serviços que presta serve a toda
do Araguaia-Tocantins. humanidade.

É exatamente por ser um patrimônio nosso


De maneira bastante dirigida, Costa (2008) que devemos, mais do que os outros, nos
defende que novos sistemas de inovação importarmos com os processos locais e
integrados aos zoneamentos estaduais com a sua gestão.
devem servir como base para o Concluo resgatando Dollfus, que tinha
ordenamento territorial da região, criando- razão ao dizer que o valor dos lugares
se cadeias produtivas com os recursos estará sempre presente, mesmo na
locais e, ao mesmo tempo, consolidando o globalização, em função de sua natureza
vetor tecnoecológico do qual fala Becker, econômica, política e simbólica.

Mello-Théry. Rev Gestão & Pol Públicas 1(1):133-161, 2011


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