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LICENCIATURA EM DIREITO

ANO LECTIVO: 2022/2023


DIREITOS REAIS – 3.º ANO – TURMA B
REGÊNCIA: PROFESSORES DOUTORES ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO E JOSÉ LUÍS RAMOS
SUBTURMA: 17

Caso Prático

(Usucapião)

Considere a seguinte hipótese:

António era usufrutuário vitalício da Herdade do Repasto.


O prédio era da titularidade de Bento, que celebrara com António um usufruto, de
natureza vitalícia.
António abandonou a Herdade do Repasto, rumo a Lisboa, em 1988, nunca mais tendo
lá voltado.
Carlos, sabendo do negócio entre António e Bento, e que o primeiro deixara a Herdade
do Repasto, decide invadir, nesse mesmo ano, aquele prédio rústico, tendo passado aí
a residir, utilizando, ainda, as diversas máquinas agrícolas que aí se encontravam.
Entretanto, em 2018, Bento morre, tendo deixado ao seu filho Ernesto, no seu
testamento, o direito de propriedade sobre a herdade, o qual decide reivindicar, junto
de Carlos, o direito que herdara de seu pai.
Carlos, sabendo do sucedido, decide, de imediato, apresentar acção declarativa,
invocando a usucapião do direito de propriedade.
Na contestação desta acção, foi junto por Ernesto aos autos, duas notificações judiciais
avulsas, levadas a cabo pelo Advogado de António e Bento, e endereçadas a Carlos,
respectivamente, no ano de 2007 e 2016, nas quais solicitava o abandono imediato da
Herdade do Repasto e afirmado a titularidade daquele prédio rústico, nunca o tendo
abandonado, tendo ambos sempre consigo as chaves do imóvel.

Quid juris ?
Estamos perante uma situação de posse (artigo 1251º CC). B é proprietário e possuidor
do prédio e constituiu usufruto vitalício a favor de A, pelo que este passa a deter o
direito de propriedade em nome de B. Logo, B possui em nome próprio o direito de
propriedade, mas por intermédio de A
Posse de A- titulada, de boa fé, pacifica, pública, interdital, formal, não efetiva
Posse de B – titulada, de boa fé, pacifica, publica, civil, causal e efetiva
Posse de C

Acao de reivindicação por E – cabe, deste modo, averiguar se existe a possibilidade de


se aplicar a figura da usucapião por aprte de C. A usucapitao é um efeito da posse que
representa um facto aquisitivo de direitos reais de gozo, supondo que estão reunidos 3
requisitos:
- um direito usucapiavel ou usucapionario
- existência de uma boa posse por usucapião (publica e pacifica – decorre dos artigos
1297º e 1300º CC
- a usucapião seja invocada judicial ou extrajudicialmente (artigos 303º e 1292º CC)
Quanto ao imóvel: deste modo, o direito de propriedade é um direito usucapiavel,
sendo que a posse de C deveria ser afigurada nos termos do art 1296 CC, isto porque
não deve ser considerada violenta (por não ter havido coacao física ou moral), nem tao
pouco oculta. Assim sendo, a usucapião por parte de C só poderia ser invocada 20 anos
após o inicio da possa por esta ser de má fé, em conformidade com o art 1297
Quanto ao usufruto: tendo A morrido, extingue-se o usufruto por este ser vitalício, nos
termos do 1476º, nº1 CC, mas, no entanto, em 2007 e 2016, foram remetidas a C 2
notifiacoes judiciais avulsas que, nos termos do 1292º, 323º, n1 e 326º CC, fazem
interromper a contagem do prazo para C usucapir o imóvel, ou seja, começa a contar
novo prazo. Assim sendo, em 2018, C não poderia invocar a usucapião nos termos do
artigo 1292º e 303º CC, sendo B ainda proprietário, encontrando-se o imóvel onerado
por extinção do usufruto.
Deste modo, quando recebe a 1ª notificação em 2007, C não pode usucapir pois so
haviam passado 19 anos. Com a nova notificação, em 2016, apenas passaram 9 anos,
pelo que o lapos detempo não esta verificado. Quando chegamos ao ano de 2018,
apenas tinham passado 2 anos de posse para C poder efetivamente usucapir o direito.
Quanto a usucapião das maquinas agrícolas: considerando que estas seriam bens
moveis sujeitos a registo, o prazo para C usucapir seria de 10 anos, pelo que este
usucapiaria em 1998 (art 1298º, b) CC). Por outro lado, considerado as maquinas
agrícolas como bens moveis não sujeitos a tegisto, o prazo para usucapir seria de 3
nos, pelo C usucapiaria em 1991 – art 1299 CC

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