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Filosofia Contemporânea II

Mariana Lima Pereira


R.A.: 181060965

O conceito de Liberdade em Bergson

O pensador Henri Bergson inovou a filosofia de diversas maneiras ao


desenvolver suas concepções de tempo e espaço, intuição e duração e assim por diante.
Mas aqui será observado as suas reflexões a respeito da liberdade.

Bergson não chega a discutir se a liberdade existe ou não, mas sim que devemos
pensar em como ela funciona. A primeira vista esta parece uma ideia indeterminista,
mas na realidade Bergson é um grande crítico do indeterminismo, assim como do
próprio determinismo. Para melhor compreender isso o texto será separado em três
pontos.

O primeiro ponto será uma breve explicação do determinismo e do


indeterminismo, afim de facilitar a compreensão do contexto em que Bergson
desenvolveu suas reflexões, e assim exprimir a sua importância. O segundo ponto será
uma dissertação sobre a duração para Bergson, pois a ideia de duração é de extrema
importância para entender o conceito de liberdade. E por fim, tendo todo o contexto
necessário para o entendimento, será desenvolvido o conceito de liberdade por Bergson.

Determinismo X Indeterminismo

O determinismo defende que não existe liberdade, que todas as ações tomadas
por um individuo são pré-determinadas Parte do principio da causalidade, que certas
causas sempre levarão ao mesmo efeito. De certa forma o determinismo tem uma visão
mecanicista das ações e pensamentos.

Aqui já é possível colocar uma critica que Bergson faz a essa causalidade.

“Dizer que as mesmas causas internas produzem os mesmos


efeitos é supor que a mesma causa se pode apresentar
repetidamente no teatro da consciência. Ora, a nossa concepção
de duração tende apenas a afirmar a heterogeneidade radical dos
fatos psicológicos profundos e a impossibilidade de dois dentre
eles se parecerem completamente, já que constituem dois
momentos diferentes de uma história. (...) não se pode falar aqui
de condições idênticas, porque o mesmo momento não surge
duas vezes.” (Bergson, 1988, p. 38)

Já o indeterminismo estabelece que o indivíduo possui livre arbítrio para


escolher qualquer opção que lhe é dada. De certa forma, é possível dizer que mesmo a
visão indeterminista coloca a ação humana em um ponto de vista mecanicista também.

Pois enquanto os deterministas dizem “ O individuo só poderia seguir caminho


A”, os indeterministas diriam “ O individuo seguiu caminho A, mas poderia ter seguido
o B ou C”; isso mostra que para avaliar que tal indivíduo possuía mais do que uma
opção de caminho a seguir foi necessário ter uma visão mecanicistas de suas ações,
determinando que causa X possa ter uma variação A,B e C de efeitos.

Então mesmo que defendendo ideias opostas, para Bergson ambos os lados,
erram em seu princípio, ter uma visão mecanicista sobre ações e pensamento humanos:

“Em síntese, defensores e adversários da liberdade estão de


acordo, em fazer preceder, a acção por uma espécie de oscilação
mecânica entre dois pontos X e Y. Se opto por X, os primeiros
dir-me-ão: hesitaste, deliberaste, portanto Y era possível. Os
outros responderão: escolheste X, logo, tiveste alguma razão
para o fazer, e quando se declara Y igualmente possível,
esquece-se esta razão; deixa-se de lado uma das condições do
problema. – Se escavar por baixo das duas soluções opostas,
descobrirei um postulado comum: uns e outros se colocam
depois da acção X realizada.” (Bergson, 1988, p. 125).

Agora que já é possível compreender o contexto de ideias acerca da liberdade


em que Bergson desenvolveu sua ideia, é possível passarmos a compreender a ideia do
próprio filosofo. Mas como dito anteriormente, antes é necessário o conhecimento do
termo duração.

Conceito de Duração

Primeiramente é necessário diferenciar duração do tempo matemático. Ver um


ponteiro do relógio passar por 3horas não é uma duração, é um tempo criado para
controlar a nossa vida de forma mecanicista. Então dias, horas e minutos são conceitos
matemáticos aplicados no nosso dia a dia, mas não são necessariamente duração. A
duração vivida não pode ser medida.

Pois a duração é qualitativa, não quantitativa. O que caracteriza a consciência da


duração é uma experiencia qualitativa. Tudo que esta localizado no espaço pode ser
numerado, como objetos e o ponteiro do relógio, porém nossos efeitos psicológicos e
internos não podem ser medidos.

A duração é uma experiencia, uma forma ininterrupta de momentos, que a


“separamos” por questão de intensidade. Se percebemos dois fortes sentimentos
diferentes assim então falamos que mudamos, mas para Bergson mudanças acontecem
constantemente.

“Mas, precisamente por fecharmos os olhos à incessante


variação de cada estado psicológico, somos obrigados, quando a
variação se tomou tão considerável que se impõe à nossa
atenção, a falar como se um novo estado tivesse se justaposto ao
precedente. Supomos que este, por sua vez, permanece
invariável, e assim por diante, indefinidamente. A aparente
descontinuidade da vida? psicológica decorre, pois, do fato de
que nossa atenção se fixa nela por uma série de atos
descontínuos: ali onde há apenas uma suave ladeira, cremos
perceber, ao seguirmos a linha quebrada de nossos atos de
atenção, os degraus de uma escada.” (Bergson, 2005, p.
Para Bergson só existimos porque duramos, porque possuímos consciência da
nossa duração. Porque mudamos constantemente. Mesmo que exista a contagem de
dias, um indivíduo muda diversas vezes ao longo daquele dia, não somente quando
começa um novo dia.

É por durar que um filme emociona, porque seu tempo se soma ao de quem
assiste, os modificando. Chora-se porque a música se acumula em quem a ouve, nota
por nota, uma atrás da outra, mas no fim todas juntas, em uma coisa só. O presente faz
uma bola de neve consigo mesmo enquanto avança, essa bola de neve que cresce
continuamente é o que chamamos de duração.

Liberdade para Bergson

Como dito anteriormente, para Bergson, todas as explicações sobre liberdade são
invalidas, pois nascem de um misto mal elaborado entre duração e extensão. Este
problema vale para explicações aparentemente opostas como determinismo e
indeterminismo. No qual ele não concorda com nenhuma das correntes.

A ideia de liberdade não deve ser colocada sobre viés mecanicistas, não pode ser
representada no espaço, a liberdade é interna, logo não pode ser quantizada, deve ser
vista como qualitativa. Colocando a liberdade de forma quantitativa perde-se o que é
mais essencial, que a liberdade está sempre num processo, ela não é uma coisa estática,
é um movimento dinâmico.

Liberdade não é previsibilidade nem imprevisibilidade. O ato livre é a produção


em um tempo que decorre, por isso só pode ser explicada como um ato da duração. E
assim podemos compreender o quanto entender sobre duração é importante para
entender sobre a liberdade.

“É preciso procurar a liberdade num certo cambiante ou


qualidade da própria ação, e não numa relação do ato com
aquilo que ele não é ou com o que poderia ter sido. Toda a
obscuridade deriva de tanto uns como outros representarem a
deliberação sob a forma de oscilação no espaço, quando
consiste num progresso dinâmico em que o eu e os próprios
motivos estão em um constante devir, como verdadeiros seres
vivos” (Bergson, 1988, p. 127).

Assim podemos chegar ao ponto chave da liberdade para Bergson, a liberdade é


o quanto o “eu” está em ação, ou seja, é quanto a duração é vista como duração e assim
ao tomar consciência de si age a seu bel prazer. Pois apenas ao agir para “eu” mesmo
que estou agindo de forma livre.

“Em resumo, escreve Bergson, somos livres quando


nossos atos emanam de toda nossa personalidade, quando a
exprimem, quando com ela têm a indefinível semelhança que
por vezes se encontra entre a obra e o artista. (...) Em suma, se
se convenciona chamar livre todo ato que emana do eu, e do eu
somente, o ato que leva a marca de nossa personalidade é
verdadeiramente livre, porque só nosso eu lhe reivindicarei a
paternidade. A tese da liberdade encontrar-se-ia assim
verificada, se consentíssemos em só procurar a liberdade em um
certo caráter da decisão tomada, em suma, no ato livre
(BERGSON, 1988, p.113, 114)

Ou seja, para Bergson, somos livres quando somos nós mesmos. Isso mostra o
quanto ele foi contra as ideias defendidas na sua época, pois enquanto discutiam se a
liberdade existia ou não, Bergson foi além ao dizer que esta existe e esta é
completamente subjetiva. Não podendo ser analisada, apenas vivida.

Conclusão

Bergson cortou com diversas tradições da sua época e renovou a visão da


filosofia, seja sobre seus conceitos sobre duração e tempo, ou sobre liberdade e o eu.
Mas ao subjetivar a liberdade, trouxe de certo uma maior “liberdade” para se discutir o
próprio eu, e as emoções. Abrindo espaço para uma ampliação da psicofilosofia.
Referencias Bibliográficas

Bergson, H. (1988). Ensaio sobre os dados imediatos da consciência (J. S. Gama,


Trad.). Lisboa

BERGSON, H. (1927) A Evolução Criadora. Tr. Bento Prado Neto. São Paulo:


Martins Fontes, 2005: Edições 70.

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