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INTRODUÇÃO À MECÂNICA ESTRUTURAL

TRELIÇAS PLANAS
EXEMPLO 1
Calcular o esforço normal nas barras das treliças centrais de sustentação de
um telhado, para o peso das telhas, estimado em 0,25 kN/m2 ao longo da superfície
do telhado. As treliças, chamadas de tesouras, estão apoiadas em pilares, e estão
afastadas entre si de 6m (E). As tesouras têm nós uniformemente distribuídos ao
longo do vão por elas vencido. O afastamento em projeção horizontal entre nós,
chamado de painel da tesoura (p), é de 2m. A altura total das tesouras é de 3 m, e
inclinação α. As tesouras estão unidas entre si, na direção perpendicular ao seu
plano, por vigas, chamadas terças, cuja função é dar apoio para as telhas.
No desenho abaixo, que mostra todos esses elementos, o telhado está
parcialmente descoberto, de modo a mostrar a estrutura treliçada de sustentação.

p E
p
7
6
6 10

1m 5 10 11
5 11

4 8 9 α
7 12
1
1 2 2 3 3 4 8 9

2m

Metodologia de análise
Para transformar as taxas de cargas superficiais em cargas nos nós das
tesouras, é possível fazer as seguintes aproximações, baseadas no funcionamento
da estrutura do telhado.
As telhas funcionam como uma viga bi-apioada, cujos apoios de extremidade
são as terças. O peso das telhas, que pode ser considerado como um taxa de carga
superficial ou uma taxa de carga linear, se distribuirá de maneira equitativa entre as
duas terças de apoio. Desta forma, é possível pensar que cada terça suporta metade
do peso total de cada telha, ou é responsável por metade do seu comprimento.
1
1
2 E
1

E
1
p E
p

Considerando que as terças centrais suportam metade da telha inferior e


metade da telha
superior, é possível
imaginar que cada terça
tem uma Área de
Influência, em termos de
carga , que corresponde
a uma faixa cuja largura
é metade do 1
afastamento entre a 2 E
terça considerada e a
anterior, para um lado, e
metade do afastamento E
entre a terça
considerada e a p E
posterior, para o outro p
lado. Se as terças forem
uniformemente
espaçadas, o que
corresponde a dizer que
as tesouras têm os nós
uniformemente
espaçados, a Área de
Influência de uma dada
E
terça é uma faixa
centrada na terça cuja
largura, em projeção E
horizontal, vale o painel p/2
da tesoura (p), ou
p/cosα no plano E
p/2
inclinado do telhado. p

As terças de extremidade e de cumeeira suportam cargas menores que as


terças centrais (metade da carga, se o espaçamento entre terças for constante), uma
vez que a Área de Influência é menor.
Considerando que as terças não são contínuas ao longo de todo o
comprimento do telhado, sendo freqüentemente construídas a partir de segmentos
cujo comprimento é o afastamento entre tesouras (E), é possível considerar as
terças como vigas bi-apoiadas, cujos apoios são as tesouras, submetidas a uma
carga uniformemente distribuída ao longo do seu comprimento (equivalente à taxa
de carga superficial multiplicada pela largura da faixa que é a Área de Influência).
Assim, cada tesoura recebe metade da carga total de cada terça que nela se apoia,
equivalente a considerar que cada tesoura é responsável pelas cargas sobre metade
do comprimento de cada terça.

p E
p
E/2

E/2
E

Isso dá origem a um conceito de área de influência de cada tesoura como uma


faixa, centrada na tesoura, cuja largura é metade do afastamento entre ela e a
tesoura anterior, para um lado, e entre ela e a tesoura posterior, para outro. Se o
afastamento entre tesouras for constante, a faixa está centrada na tesoura e tem
como largura o afastamento
entre tesoura. A carga que
cada tesoura é responsável é
equivalente à taxa de carga
superficial multiplicada pela
Área de Influência.
As tesouras dos oitões
(primeira e última tesouras do
telhado) têm área de
E
influência menor que as
tesouras centrais (metade da
carga, em telhados sem
beirais). Em prol da E/2

padronização da montagem p E/2


das tesouras, não é usual p E
E
fazer-se um dimensio-
namento diferenciado das tesouras dos oitões e centrais, utilizando-se as maiores
cargas, que correspondem às tesouras centrais, para o dimensionamento de todas
as tesouras.
Considerando que cada nó da tesoura recebe das terças que nele se apoiam
uma carga atuante sobre do comprimento das terças para cada lado (metade do
afastamento entre tesouras para cada lado), e que cada terça é responsável pela
carga atuando em uma faixa centrada na terça cuja largura é o afastamento entre
terças, conclui-se que a Área de Influência de um nó corresponde á intersecção das
Áreas de Influência anteriores, ou seja, um retângulo cujos lados valem, em telhados
com terças e tesouras uniformemente espaçadas, o afastamento entre terças (p em
projeção horizontal, p/cosα na superfície do telhado) e o afastamento entre tesouras
(E).
Assim, as cargas nos nós centrais das tesouras centrais podem ser calculadas
por:
⎛ p ⎞
P = q ⎜ E. ⎟
⎝ cos α ⎠
Embora as terças de
cumeeira tenham metade da
carga vertical das terças
centrais, o nó de cumeeira da
tesoura dá apoio a uma terça
de cumeeira em cada água do
telhado, de modo que a carga
E/2
total nele aplicada é igual á
carga nos nós centrais da p/2 E/2 E
tesoura (igual Área de
p/2
Influência). p
Aplicando a equação
acima para os dados do problema, as cargas nos nós centrais da tesoura são dados
⎛ ⎞
2⎜ 2m ⎟
por P = 0, 25kN / m ⎜ 6m. ⎟ = 3,35kN , e nos nós de extremidade a metade desse
⎜ 6 ⎟
⎝ 45 ⎠
valor, 1,68kN.
Como não há forças aplicadas na direção horizontal, a única reação horizontal,
H1, é nula. A estrutura torna-se então simétrica, com carregamento simétrico, de
modo que as duas reações verticais são iguais à metade da carga vertical total
aplicada, ou seja, V1=V12 = 6.3,35kN/2 = 10, 05 kN. A simetria permite também que
se faça a determinação dos esforços normais em apenas metade das barras.
3,35kN

3,35kN 3,35kN
B
3,35kN 7 3,35kN
6 12
A
B
C 6 10

1m 5 10 11
1,68kN 5 11 1,68kN
4 8 9 α
7 12
1
1 2 2 3 3 4 8 9
C A
2m

V1 = 10,05kN V12 = 10,05kN

Os esforços normais nas barras 1 e 4 podem ser obtidos isolando-se o nó 1 e


aplicando-se as condições de equilíbrio.

1,68kN

∑F
N4
y = 0 N4 . 3
45
− 1, 68 + 10, 05 = 0 N 4 = −18, 72kN
N1
∑F
1

x = 0 N4 . 6
45
+ N1 = 0 N1 = +16, 74kN

10,05kN

Isolando-se o nó 2 e aplicando-se as condições de equilíbrio, obtém-se os


esforços normais das barras 2 e 7.
N7 ∑F y =0 N7 = 0
N1 N2 ∑F x = 0 N 2 − N1 = 0 N 2 = +16, 74kN
2

Utilizando-se uma seção de Ritter A-A e aplicando-se o equilíbrio sobre a parte


isolada à esquerda da seção, obtém-se os esforços normais N3, N6, e N10.
3,35kN
∑M 6 = 0 N 3 .2 + 3,35.2 + 1, 68.4 − 10, 05.4 = 0
3,35kN
N6
N 3 = 13,39kN
A
6
∑M 1 = 0 − 3,35.2 − 3,35.4 − N10 . 2
8
.4
1m 1,68kN 5 N10 − N10 . 2
8
.2 = 0 N10 = −4, 74kN

∑M
1m
1 3 3 = 0 − 10, 05.6 + 1, 68.6 + 3,35.4 + 3,35.2
N3
− N6 . .2 − N 6 . .2 = 0 N 6 = −11, 23kN
2 3 6 3
A 45 45
2m 2m
Embora os esforços normais da barras
10,05kN
possam ser obtidos utilizando-se equações
de equilíbrio de forças nas direções horizontal e vertical, a opção pelo emprego de
equações de equilíbrio de momentos em relação a pontos nos quais 2 das 3
incógnitas concorrem permite a obtenção de equações independentes para cada
uma das incógnitas, tornando a solução mais robusta (um eventual erro da
determinação de um dos esforços normais não afeta a correta determinação dos
demais).
Utilizando-se uma segunda seção de Ritter B-B e aplicando-se o equilíbrio
sobre a parte isolada acima da seção, junto com a consideração de simetria da
estrutura (N12 = N6), obtém-se os esforços normais N5, N9 e N11.
3,35kN
∑F x = 0 − N5 . 6
45
+ N10 . 2
8
+ N12 . 6
45
=0
3,35kN N 5 = −14,98kN
∑M
B
7
6 = 0 − 3,35.2 − N11.2 − N12 . 3
45
.2 − N12 . 6
45
.1 = 0
A 6
N12
1m B
6 N11 = +6, 69kN

N5
N10 N11
∑M 7 = 0 + 3,35.2 + N 9 .2 + N10 . 2
8
.2 + N10 . 2
8
.1 = 0
N9
2m
N 9 = +1, 68kN
Como as incógnitas N9 e N11 são paralelas e
verticais, o uso da equação de equilíbrio de forças na horizontal conduz a uma
equação independente para N5.
3,35kN Utilizando-se uma terceira seção de Ritter C-C e
aplicando-se o equilíbrio sobre a parte isolada à
C N5
2m esquerda da seção, obtém-se o esforço normal N8.

∑M
1,68kN 5
1 = 0 − 3,35.2 − N8 . 3
45
.2 − N8 . 6
45
.1 = 0
1m 4
7 N8
1 N8 = −3, 75kN
1 2
N2
C

V1 = 10,05kN

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