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15/11/2022 11:13 Princípios sobre a suportabilidade dos barramentos a esforços mecânicos

Primícias sobre suportabilidade dos barramentos a esforços mecânicos


provenientes de correntes de curto-circuito
Publicado em 4 de fevereiro de 2020 por Victor Merlin

Um barramento de 50 kA realmente suporta um curto-circuito de 50 kA? Para um bom


funcionamento de todo o sistema, e para evitar surpresas desagradáveis, saber a
suportabilidade dos barramentos a serem utilizados em uma instalação elétrica é fundamental.
A escolha desse barramento deve ser feita levando em consideração suas condições nominais
de operação e também possíveis eventos que podem ser danosos ao mesmo, como por
exemplo um curto-circuito.

Neste artigo trataremos de forma detalhada as medidas a serem adotadas a fim de garantir que
um barramento tenha plenas condições de suportar os efeitos de uma corrente elevada como a
de curto-circuito.

1. CORRENTES ELÉTRICAS E ESFORÇOS MECÂNICOS


A circulação de corrente elétrica através de condutores induz forças eletromagnéticas nos
mesmos. Em caso de múltiplos condutores há uma interação entre essas forças
eletromagnéticas, causando assim o que chamamos de esforços mecânicos ou tensões
mecânicas.

Há uma relação de proporcionalidade entre as tensões mecânicas e as correntes que circulam


nos condutores. Diante disso observa-se que o caso de maior atenção é durante um curto-
circuito, ou seja, quando há um aumento substancial da corrente elétrica. Posto isto, devemos
utilizar, então, em nossos cálculos o valor de pico da corrente de curto-circuito.

2. COMO CALCULAR A SUPORTABILIDADE DE UM


BARRAMENTO A UMA TENSÃO MECÂNICA PROVENIENTE DE
UMA CORRENTE ELÉTRICA
A determinação da suportabilidade é feita através de diversos cálculos que serão apresentados
neste capítulo. A fim de facilitar a sua compreensão o cálculo será dividido em diversos passos

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devidamente explicados.

É de suma importância lembrar que os passos abaixo servirão para você verificar se um
barramento JÁ ESCOLHIDO* tem condições de suportar um curto-circuito sem apresentar
rupturas ou deformações. Também é importante que já tenham sido definidas as condições de
instalação do mesmo (local de instalação, posição e ventilação).

*O barramento deve ser escolhido previamente da forma tradicional, ou seja, de acordo com
suas características nominais de operação.

2.1 Cálculo dos esforços mecânicos

Devemos inicialmente calcular os esforços mecânicos gerados pela interação das forças
eletrodinâmicas e posteriormente calcularemos os demais pontos de interesse.

A – Força gerada por dois barramentos paralelos

As forças eletrodinâmicas são calculadas pela seguinte equação:

Onde:

F1: Força expressa em daN;


Idyn: Valor de pico da corrente de curto-circuito em A – Calculada conforme a expressão
abaixo:

Onde:

Ssc: Potência de Curto-Circuito;


Ik: Corrente suportada por um curto período de tempo;
U: Tensão de operação;
l: Distância entre os isoladores da mesma fase;
d: Distância de uma fase a outra;
k: Para 50 Hz: 2,5 ; para 60 Hz: 2,6 (Segundo IEC) ou 2,7 (Segundo Ansi).

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Imagem 1: Forças atuantes e dimensões do barramento

B – Força nos apoios dos barramentos

A força atuante nos apoios do barramento é proporcional a força gerada a partir da interação
entre as forças eletromagnéticas nos barramentos e pode ser calculada pela equação abaixo:

Onde:

F: Força nos apoios;


H: Tamanho do isolador (ver imagem a seguir);
h: Distância entre o topo do isolador e o centro de gravidade do barramento.

Imagem 2: Detalhe distância isolador

Havendo múltiplos apoios para o barramento determinamos a força em cada um deles com o
auxílio da tabela a seguir:

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Tabela 1: Valores de kn de acordo com o número de apoios no barramento

A força nos n apoios será proporcional a força F1 calculada anteriormente.  A constante de


proporcionalidade é kn, apresentado na tabela acima.

A equação utilizada para o cálculo da força é apresentada abaixo:

Essa força F calculada deve ser menor que a resistência a flexão do suporte (esse dado é obtido
diretamente com o fabricante do barramento).

C – Esforço mecânico no barramento

Assumindo que o barramento é isolado nos apoios, calcula-se o momento fletor atuante na
barra através da equação abaixo:

Onde:

η: Tensão resultante – Deve ser menor que os valores admissíveis para cada tipo de material:

          Cobre 1/4 duro: 1200 daN/ cm²;

          Cobre 1/2 duro: 2300 daN/ cm²;

          Cobre 4/4 duro: 3000 daN/ cm²;

          Alu-Estanhado: 1200 daN/ cm².

F1: Força entre condutores;


h: Distância entre o topo do isolador e o centro de gravidade do barramento.
l: Distância entre os isoladores de uma mesma fase;
I/V: é o módulo de inércia entre um conjunto de barras ou uma barra;

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As expressões usadas para calcular I e I/V variam de acordo com a quantidades de


barramentos por fase. Abaixo são apresentadas as equações utilizadas neste estudo:

C.1 Caso com uma barra por fase

C.2 Caso com duas barras por fase

Utilizou-se, também, como referência para os valores de I e I/V a tabela abaixo:

Imagem 3: Tabela com valores de I e I/V de acordo com a


quantidade de barramentos por fase e de acordo com a disposição
dos mesmos

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2.2 Cálculo da capacidade de condução de corrente do barramento


diante de suas condições de instalação
Neste passo calculamos a capacidade máxima de condução de corrente do barramento
escolhido diante de suas condições de instalação e de temperatura.

É de suma importância que a corrente aqui calculada seja igual ou superior a corrente nominal
definida para o barramento. Caso o resultado seja menor que a corrente esperada deve-se
alterar as condições de instalação ou até o mesmo as medidas do barramento a fim de obter o
resultado projetado.

Para essa análise utilizamos, também, a tabela 3 da norma IEC 60694 – Especificações comuns
para normas de equipamentos de manobra de alta-tensão e mecanismos de comando. Nesta
tabela podemos identificar qual a tolerância para o aumento de temperatura no barramento de
acordo com material e a isolação do mesmo.

A corrente é calculada pela seguinte equação:

Onde:

I: Corrente permitida expressa em amperes (A);


θn: Temperatura ambiente (θn ≤ 40 ºC);
(θ – θn): Aumento de temperatura permitido de acordo com a Tabela V da IEC 60694;
S: Seção transversal do barramento (cm²);
p: Perímetro externo do barramento (cm);
ρ20: Resistividade do condutor a 20 ºC

Cobre: 1,83 µΩ cm;

Alumínio: 2,90 µΩ cm;

α: Coeficiente de resistividade da temperatura: 0,004;


K: Coeficientes relacionados as condições de instalação

1. k1– Fator dado pelo número de barramentos por fase:

1 barra: k1=1;
2 ou 3 barras, ver tabela abaixo:

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Tabela 2: Valores de k1 de acordo com o número de barras

Imagem 4: Dimensões do barramento – MT Partenaire – Schneider Electric

1. k2– Fator relacionado ao tipo de superfície dos barramentos

Se nu: k2=1;
Se pintado: k2=1,15.

2. k3– Fator relacionado a posição dos barramentos

Montagem vertical na lateral: k3=1;


Montagem horizontal na base (1 barra): k3=0,95;
Montagem horizonta na base (várias barras): k3=0,75.

3. k4– Fator relacionado ao local onde os barramentos serão instalados

Atmosfera interior calma: k4=1;


Atmosfera exterior calma: k4=1,2;
Em duto não ventilado: k4=0,80.

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4. k5– Fator relacionado a ventilação artificial

Sem ventilação artificial: k5=1;


Havendo ventilação artificial deve-se tratar caso a caso e com validação através de testes.

5. k6– Fator relacionado ao tipo da corrente

Para corrente alternada de frequência ≤ 60 Hz: k6 é uma função do número n de barras por
fase e do espaçamento entre elas.

A tabela abaixo apresenta o valor de k6 para um espaçamento igual a espessura das barras:

Tabela 3: Valores de k6 de acordo com o número de barras por fase com espaçamento entre elas
igual a espessura das barras

Fez-se o produto de todos os fatores k a fim de encontrar o fator K a ser aplicado na fórmula da
corrente apresentada anteriormente.

Diante de todos esses fatores calculamos a corrente com a equação apresentada anteriormente.
Caso a corrente calculada seja maior ou igual a corrente máxima do barramento escolhido
devemos seguir para o próximo passo. Caso a corrente calculada seja menor deve-se
reavaliar as condições de instalação do barramento, ou até mesmo as dimensões do mesmo.

2.3 Cálculo do aumento de temperatura gerado por um curto-circuito


Após garantir que o barramento é capaz de atender plenamente as condições projetadas diante
das condições de instalação, agora faz-se o cálculo do aumento de temperatura após um curto.

A variação de temperatura é encontrada pela seguinte equação:

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Onde:

Δθcc: Aumento da temperatura após um curto-circuito;


c: Calor específico do metal:

Cobre: 0,091 kcal/kgºC;

Alumínio: 0,23 kcal/kgºC;

S: Seção transversal de um barramento (cm²);


n: Número de barramentos por fase;
Ik: Corrente suportada por um curto período (1 a 3 segundos);
tk: Tempo de duração (1 a 3 segundos);
ρ20: Resistividade do condutor a 20 ºC:

          Cobre: 1,83 µΩ cm

          Alumínio: 2,90 µΩ cm

δ: Densidade do metal:

         Cobre: 8,9 g/cm³;

         Alumínio: 2,7 g/cm³;

(θ – θn): Aumento de temperatura permitido.

Sabendo a variação da temperatura durante o curto calculamos então a temperatura no


condutor após o evento da seguinte maneira:

Onde:

θn: Temperatura ambiente;

θt  deve ser menor ou igual ao valor admissível previsto na tabela 3 da norma IEC 60694. Estando
dentro do parâmetro definido pela norma podemos ir para o próximo passo.

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2.4 Frequência de Ressonância

Por fim é calculada a frequência de ressonância a fim de verificar se o barramento escolhido não
se encontra em uma faixa de frequência que ofereça perigo ao seu bom funcionamento.

Consideramos em nosso estudo dois intervalos de frequências que devem ser evitados, sendo
eles:

1. 60 Hz ±16% – Portanto, frequências entre 50 e 70 Hz devem ser evitadas.


2. 120 Hz ±16% – Portanto, frequências entre 100 e 140 Hz devem ser evitadas.

A frequência de ressonância do barramento é dada pela equação abaixo:

Onde:

f: Frequência de ressonância (Hz).


E: Modulo de elasticidade do material:

          Cobre = 1,3 x 106 daN/ cm²

          Alumínio = 0,5 x 106 daN/ cm²

m: Densidade linear do material ( ver tabela apresentada na imagem 3).


L: Distância entre os suportes.
I: Momento de inercia do barramento ( ver tabela apresentada na imagem 3).

3 – CONCLUSÕES

É de suma importância que os barramentos estejam dentro dos limites aceitáveis em todos os
aspectos listados no capítulo anterior. Havendo valores inesperados deve-se reanalisar o
sistema proposto a fim de evitar problemas futuros.

Fonte: Engenheiros Associados

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Curto Circuito, Sistema Elétrico

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