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DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Algumas atividades devem ser prestadas diretamente pelos entes políticos, seus órgãos
e agentes, a exemplo das atividades judiciária e legislativa, podendo haver apenas um
desdobramento interno entre os diversos órgãos existentes ou a criação de outros órgãos
para o desempenho da atividade, desconcentrando a atuação.
Outras atividades até podem ser descentralizadas, mas, por conveniência, são
desempenhadas diretamente pelo ente político, que o faz através de seus órgãos e
agentes. Aqui, tal qual a hipótese acima mencionada, temos a Administração Direta.
Quando o Estado cria pessoas jurídicas (são pessoas administrativas, e não políticas)
para descentralizar suas atividades, dizemos que tais entidades compõem a
Administração Indireta. Se o Estado descentraliza a execução de determinadas
atividades por contrato ao setor privado, teremos os particulares em colaboração com o
Estado (aqui não falamos em Administração Indireta).
O serviço público pode ser prestado diretamente pelo Estado, através de seus órgãos e
agentes, ou indiretamente, quando transfere o serviço à Administração Indireta, criando
pessoas jurídicas, ou ao setor privado, por meio de contrato.
Essas diversas formas de prestar o serviço público são reflexo da organização
administrativa e dizem respeito à centralização, descentralização, concentração e
desconcentração.
2.1. Centralização
Pela centralização, o Estado (ente político, que também é pessoa jurídica de direito
público interno) presta o serviço público diretamente, por meio de seus diversos órgãos
e agentes que compõem a estrutura organizacional da Administração Pública. Veja que
aqui temos uma pessoa jurídica (que no caso é o próprio Estado) e seus diversos órgãos
e agentes públicos. Desse modo, falamos em Administração Direta.
2.2. Concentração
Quando a atividade é desempenhada por um único órgão público (que não tem
personalidade jurídica), temos uma atividade exercida de maneira concentrada. Assim,
pela concentração, a pessoa jurídica titular da função a desempenha utilizando-se de
apenas um órgão público.
2.3. Desconcentração
Na lição de Hely Lopes Meirelles já era explicado há muito tempo que o controle
hierárquico é um controle permanente, automático e o mais abrangente possível, ele
não depende de autorização legal expressa. A hierarquia é inerente à Administração
Pública e legitima o controle do superior em relação aos atos praticados pelo seu
subordinado.
Por essa razão, o superior aprecia os recursos contra as decisões tomadas pelo seu
subordinado. Esse controle hierárquico, por subordinação, é o controle de mérito e de
legalidade. O superior aprecia não só a compatibilidade do ato com o ordenamento
jurídico, como também avalia a conveniência e oportunidade para a manutenção do ato
administrativo. É um controle o mais amplo possível.
a) Formas de desconcentração
2.4. Descentralização
Quando o Estado desempenha sua atividade indiretamente e o faz por meio da criação
de outras pessoas jurídicas, falamos em descentralização administrativa. A
descentralização, portanto, é a transferência de atribuições da Administração Direta, em
favor de uma outra pessoa. É o que acontece, por exemplo, quando se cria uma
autarquia, uma empresa pública, uma fundação pública ou uma sociedade de economia
mista.
Trata-se de um controle por vinculação, por uma razão singela: as entidades que foram
criadas estão vinculadas à Administração Direta; portanto, a relação é de vinculação.
Considera-se finalístico, pois o papel da Administração Direta é de apenas verificar se
aquela entidade está cumprindo os fins que justificaram a sua criação. Por sua vez, a
supervisão ministerial passa uma ideia de que haverá uma supervisão para verificar se
está tudo indo bem. Já a tutela administrativa, diferentemente da autotutela, revela
apenas uma preocupação com a tutela dos atos praticados pela Administração Indireta
frente aos fins que justificaram a criação daquela entidade.
Antigamente, até o início da década de 1990, era muito comum ouvir que o alcance do
controle finalístico é delimitado por lei. Seja pela lei que autoriza a criação da entidade
da Administração Indireta, seja pela lei que eventualmente crie essa entidade. Por
exemplo, a lei que cria uma autarquia deve estabelecer em que casos a Administração
Direta controlará a autarquia, deixando claro, por exemplo, se o recurso hierárquico
impróprio deve existir ou não, em que casos o ministro de Estado poderá exercer o
controle sobre a autarquia. Como vimos, isso é diferente do controle hierárquico, que se
destaca por ser automático e o mais abrangente possível.
Desse modo, ao resolver criar uma autarquia, empresa pública, ou outra entidade da
Administração Indireta, o presidente, o governador de estado ou o prefeito opta por um
controle de menor intensidade, como se ele quisesse prestigiar a entidade criada, dando
a ela mais competências.
Assim, o ideal é que a lei que cria ou autoriza a criação desse tipo de entidade não
avance de modo a sufocá-la, ampliando o controle que a Administração Direta irá
realizar sobre seus atos. Logo, a lei, em princípio, estabelecerá os limites do controle
por vinculação.
Atualmente, porém, não se pode dizer simplesmente que a lei delimitará o alcance do
controle finalístico, pois não é só a lei que faz isso. A Emenda Constitucional (EC) nº
19/1998, mais de 20 anos atrás, inseriu o § 8º no art. 37 da CF/1988, que trata do
chamado contrato de gestão:
Art. 37 (...)
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da
administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado
entre seus administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998.)
Atente que o dispositivo dita que a autonomia dos órgãos e entidades da Administração
Direta e indireta poderá ser ampliada e, por consequência, o controle poderá ser
diminuído.
Desse modo, precisamos lembrar que, hoje, não só a lei faz a calibragem do controle
finalístico, como também eventuais contratos de gestão, diga-se de passagem, que
nada tem de contrato, pois, apesar de ter sido esse o nome dado pelo constituinte, não há
obrigações antagônicas entre a Administração Direta e Indireta. A Administração Direta
e a entidade que celebra esse contrato possuem o mesmo objetivo, há um esforço
unidirecional, o que justificaria o emprego da nomenclatura parceria, acordo de
cooperação ou qualquer outro nome, menos contrato de gestão, mas é o que se tem pelo
texto constitucional.
b) Formas de descentralização
3. Administração Direta
Pela descentralização política, atribui-se autonomia aos entes federados. Esses entes são
entidades políticas (porque possuem a tríplice autonomia: auto-organização,
autogoverno e autoadministração) e também são pessoas jurídicas de direito público
interno. Compõem a Administração Direta federal, estadual, distrital e municipal.
3.1. Conceito
Art. 4º (...)
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
d) fundações públicas.
O Decreto-Lei nº 200/1967 é um tanto restritivo ao dispor que a Administração Direta
federal “se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência
da República e dos Ministérios”.
Ocorre que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal (Poder Legislativo) também
são órgãos da Administração Direta federal. Da mesma forma o Supremo Tribunal
Federal (STF), o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), o Tribunal Superior do Trabalho (TST), os Tribunais Regionais Federais (TRFs),
os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs), entre outros órgãos do Poder Judiciário, o
Ministério Público da União (MPU), o Tribunal de Contas da União (TCU) e a
Defensoria Pública da União (DPU) também pertencem à Administração Direta federal.
Assim, todos esses órgãos, do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, compõem a
Administração Direta federal, de modo que o art. 4º do Decreto-Lei nº 200/1967 deve
ser lido com temperamentos.
a) Conceito
Desse modo, os órgãos são repartições existentes dentro de uma pessoa jurídica; são
unidades que integram a estrutura da Administração (art. 1º, § 2º, I, da Lei nº
9.784/1999) a que são cometidas determinadas atividades administrativas que serão
prestadas de forma especializada pelos agentes públicos.
Não podemos confundir o órgão com a pessoa jurídica a que pertence.
Os órgãos fazem parte da estrutura orgânica da pessoa jurídica. Não têm vida própria.
Não têm personalidade jurídica.
Nesse sentido, quando falamos em órgãos públicos, devemos nos recordar do conceito
de desconcentração, que é a distribuição interna (dentro de uma mesma pessoa jurídica)
de competências. Aqui, temos apenas uma pessoa com personalidade jurídica e é dentro
dessa pessoa que encontramos os órgãos.
Não se deve confundir um órgão com uma entidade da Administração Indireta. Órgão
público é uma unidade administrativa, desprovida de personalidade jurídica própria,
ocupada por um agente público. Entidade, por sua vez, possui personalidade jurídica
própria. Por exemplo, uma autarquia não é órgão público, mas uma entidade, assim
como uma fundação pública, uma empresa pública e uma sociedade de economia mista.
Todas essas são entidades da Administração Pública Indireta, fruto de descentralização
(transferência de competência a uma outra pessoa jurídica).
Ademais, os órgãos públicos exigem a edição de leis para sua criação e extinção, que
serão de iniciativa do presidente da República, quando se tratar de órgãos do Poder
Executivo federal (art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/1988), do governador, quando se tratar
de órgãos do Poder Executivo estadual, e assim por diante com o Distrito Federal e os
municípios. O art. 84, VI, “a”, da CF/1988 aduz que o presidente pode dispor mediante
decreto sobre a organização e o funcionamento da Administração federal, desde que não
implique aumento de despesa, nem a criação ou extinção de órgãos públicos. Decreto
executivo não pode criar ou extinguir órgãos públicos, o que pode, apenas, ser feito por
lei (e medidas provisórias, já que têm força de lei), o que a doutrina entende por
princípio da organização legal do serviço público (ALEXANDRINO, 2017).
Nesse sentido, os órgãos públicos não são sujeitos de direitos, e, portanto, não têm
aptidão para contrair direitos e obrigações. Assim, é o município quem firma o contrato
de locação da Câmara, caso se trate de edifício particular. Na prática, a Câmara, mesmo
sem personalidade jurídica, possui inscrição do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas
(CNPJ), que é uma forma de viabilizar o desempenho de suas atividades.
Enfim, cuidado para não confundir o que foi dito com a Súmula nº 525 do STJ, que
dispõe que “a Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas
personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus
direitos institucionais.” Essa súmula não atribui personalidade jurídica à Câmara, mas
apenas personalidade judiciária, isto é, capacidade para estar em juízo na defesa de
suas prerrogativas institucionais, que possuem envergadura constitucional. Portanto, não
é para qualquer demanda.
Três teorias são usadas para justificar o motivo pelo qual a atuação da pessoa natural
(do agente público, nesse caso) é imputada à pessoa jurídica a que pertence. São elas:
Diversas são as formas utilizadas para classificar os órgãos públicos, quais sejam quanto
à posição estatal, à estrutura e à atuação funcional (MEIRELLES, 2010), quanto à esfera
de atuação (DI PIETRO, 2010) e quanto às funções que exercem (MELLO, 2010):
Autônomos: são aqueles órgãos que, na escala hierárquica, estão logo abaixo dos
órgãos independentes e a esses são subordinados. Os órgãos autônomos possuem
autonomia administrativa, financeira e técnica. São exemplos os ministérios, a
Advocacia-Geral da União (AGU), as secretarias e outros. Como se observa, por
estarem hierarquicamente subordinados aos órgãos independentes, por esses são
controlados. Assim, por exemplo, cabe ao presidente da República a nomeação do
advogado-geral da União, dos ministros de Estado etc.
Simples: são os órgãos de titularidade única, que não se subdividem em outros órgãos.
Possuem um único centro de competência. Seu titular também é seu representante e
basta a sua manifestação de vontade para que se tenha a manifestação do próprio órgão,
a exemplo da Chefia do Executivo.
Singulares ou unipessoais: nesse caso, embora seja possível encontrar uma subdivisão
do órgão em vários outros, a manifestação de vontade de seu dirigente é o bastante para
exarar a vontade do próprio órgão.
4. Administração Indireta
4.1. Conceito
4.2. Características
4.3. Autarquias
Para fins didáticos, o estudo das autarquias foi dividido em: autarquias (são as
tradicionais), agências executivas e agências reguladoras.
a) Autarquias comuns
Conceito
Devemos nos ater a uma situação que pode ensejar dúvida e confusão na hora dos
estudos. Atualmente o termo autarquia tem sido adotado como gênero, e dentro dele
encontramos as autarquias comuns, as autarquias fundacionais (na verdade, são as
fundações públicas de direito público), as autarquias em regime especial e as
associações públicas. Isso porque, essas entidades estão submetidas ao mesmo regime
jurídico das autarquias. Mas fique atento, pois, se em sua prova não houver a
qualificação “fundacional”, “em regime especial”, por exemplo, entenda que se trata da
autarquia comum.
A regra é que não. Cada ente federado cria as entidades da sua Administração Indireta.
Entretanto, pode ocorrer de mais de um ente federativo firmar um consórcio público e
criar uma associação pública (que tem personalidade jurídica de direito público). Para
essas entidades multifederadas ou interfederadas, por assumirem o mesmo regime
jurídico de autarquias, são conhecidas como autarquias multifederadas e interfederadas.
Veja o que diz o art. 37, XIX, da CF/1988 sobre o assunto: “somente por lei específica
poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de
sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último
caso, definir as áreas de sua atuação” (grifos nossos).
Assim, se houver lei de iniciativa da Câmara dos Deputados com o objetivo de criar
uma autarquia da Administração federal, eventual aprovação, sanção e promulgação
dessa lei não convalida o vício de iniciativa.
Assevere-se que o Instituto Chico Mendes, entidade de natureza autárquica, foi criado
por meio de medida provisória. Nessa ocasião, foi questionado no STF se seria possível
uma medida provisória criar uma autarquia, principalmente tendo como requisito a
urgência e relevância, sendo que nenhuma urgência justificaria a edição de uma medida
provisória para criar uma entidade da Administração Indireta, podendo-se criar por meio
de uma lei de iniciativa do chefe do Poder Executivo.
Ademais, a própria lei instituidora da autarquia é que lhe atribui personalidade jurídica,
independentemente de qualquer registro posterior. Entrando em vigor a lei, tem-se por
criada e personalizada a entidade autárquica.
O mesmo ocorre com a extinção, que somente poderá se dar mediante lei específica.
Resumindo, objetivando instituir uma autarquia, deve-se promulgar e publicar uma lei
com esse objeto. Caso queira, de modo oposto, extinguir, exige-se a promulgação e
publicação de lei com a finalidade de extingui-la. Agora, se a autarquia já foi criada por
lei, mas ainda não tem sua estrutura e organização bem definidos, pode o chefe do
Executivo, por meio de decreto, organizar seu funcionamento.
Natureza jurídica
Vimos que a Administração Indireta é uma Administração descentralizada e nela
encontramos pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado.
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público e sua personalidade emana
diretamente da lei que as institui, devendo-se aplicar todos aqueles princípios aplicáveis
à Administração Direta.
Objeto/finalidade
O grande problema é que essa equiparação às autarquias não se deu de uma forma muito
clara. Por exemplo, os conselhos gozam de imunidade tributária, podem inscrever em
dívida ativa os seus créditos e precisam ter servidores públicos nos seus quadros, de
modo que devem fazer concursos públicos para preencher suas vagas.
Entretanto, ao mesmo tempo em que o STF afirmou que esses conselhos seriam
entidades autárquicas, foi reconhecido que os conselhos de fiscalização profissional não
pagam pelo regime de precatórios. Assim, tem-se, de um lado, uma entidade regida
por um regime de direito público e, por outro lado, essa mesma entidade pode ter seus
bens penhorados e não paga pelo regime de precatórios, nos termos decididos no
Recurso Extraordinário (RE) nº 938.837: EXECUÇÃO – CONSELHOS – ÓRGÃOS
DE FISCALIZAÇÃO – DÉBITOS – DECISÃO JUDICIAL. A execução de débito de
Conselho de Fiscalização não se submete ao sistema de precatório (RE nº 938.837, rel.
Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal
Pleno, julgado em 19.04.2017, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL
– MÉRITO DJe-216 DIVULG 22.09.2017 PUBLIC 25.09.2017).
Cumpre afirmar que tal entendimento promove uma grande confusão, pois, sendo
autarquias, deveriam se submeter ao regime dos precatórios.
Segundo o art. 109, I, da CF/1988, compete à Justiça Federal “as causas em que a
União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição
de autores, rés, assistentes ou opoentes”. Veja que, embora essa tese pareça infirmar o
entendimento anterior, já que desloca o julgamento para a Justiça Federal das causas em
que a OAB participe da relação processual, o julgado anterior continua aplicável, ou
seja, a OAB, conforme julgado recentemente (STF, RE nº 405.267, Plenário, julgado
em 06.09.2018), não é entidade da Administração Indireta.
No dia 07.11.2018, o TCU mudou o entendimento e decidiu que devem ser julgadas
pelo referido tribunal (TC nº 015.720/2018-7). Segundo a Corte de Contas, a OAB
preenche todos os requisitos para ser catalogada como entidade da Administração
Indireta, possuindo natureza de autarquia. A OAB, todavia, impetrou o Mandado de
Segurança (MS) nº 36.376, tendo a ministra Rosa Weber deferido o pedido de liminar,
em 07.06.2019, para suspender a eficácia da decisão proferida no processo
administrativo, de forma que a OAB ficará desobrigada de prestar contas ao TCU até a
conclusão do julgamento de referido MS.
Não. Para a maioria da doutrina, como Celso Antônio Bandeira de Melo e José dos
Santos Carvalho Filho, a associação pública nada mais é do que uma entidade
autárquica. Ela é uma autarquia com a peculiaridade de ser formada por mais de um
ente da Federação, entes que pretenderam se consorciar. Obviamente, ela será
controlada por todos os entes da Federação que estiverem consorciados.
Art. 9º A execução das receitas e despesas do consórcio público deverá obedecer às
normas de direito financeiro aplicáveis às entidades públicas.
Por sua vez, o tribunal de contas de cada um dos entes da Federação controlará o
respectivo contrato de rateio celebrado pela associação pública com o ente consorciado.
Deve-se ter em mente que o consórcio público celebra um contrato de rateio com cada
ente consorciado. Através desses contratos de rateio, a pessoa jurídica do consórcio
público (associação pública) receberá os recursos. Por exemplo, se for celebrado um
consórcio em que o representante legal seja a União, o controle orçamentário será do
TCU. Contudo, se um dos contratos de rateio desse consórcio for celebrado com o
município de São Paulo, quem controlará esse contrato de rateio será o Tribunal de
Contas do Município (TCM) de São Paulo. Se outro contrato de rateio, no mesmo
consórcio, foi celebrado com o estado de São Paulo, quem controlará esse contrato será
o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP). Por sua vez, o contrato de
rateio celebrado com a União, será controlado pelo TCU.
Patrimônio
I – (...);
Desse modo, o ingresso em cargos de entidades autárquicas, assim como nas demais
entidades da Administração Indireta, depende de prévia aprovação em concurso público.
Mas qual o regime jurídico desses servidores que ingressam no serviço público?
Na forma originária do art. 39 da CF/1988, deveria existir regime jurídico único para os
agentes da Administração Direta, autárquica e fundacional, de modo a manter um
padrão na lei regente da relação de trabalho entre os agentes públicos e a Administração
Pública. Foi editada, então, a Lei nº 8.112/1990, criando um estatuto jurídico na esfera
federal.
Ocorre que, com a EC nº 19/1998, o regime jurídico único foi extinto, passando a
coexistir, na esfera federal, agentes estatutários (regidos pelo estatuto federal) e agentes
celetistas (regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT).
No entanto, essa EC teve sua eficácia suspensa pelo STF (ADI nº 2.135 MC, julgado
em 02.08.2007), com eficácia ex nunc (ou seja, não retroativa), de modo que foi
restabelecido o regime jurídico único.
O regime estatutário nada mais é do que uma lei disciplinando a relação jurídica entre o
agente público e a Administração Pública. Não é um contrato. Cada ente federativo
disciplina o seu próprio estatuto, de modo que há multiplicidade de estatutos. Na esfera
federal, por exemplo, o estatuto dos servidores federais está na Lei nº 8.112/1990.
Enfim, os agentes autárquicos estão sujeitos à regra estabelecida no art. 37, XI, da
CF/1988, ou seja, devem respeito ao teto remuneratório constitucional.
Dirigentes autárquicos
Diferentemente dos demais agentes autárquicos que ingressam no serviço por concurso
público, os cargos de dirigentes autárquicos são cargos comissionados, de modo que os
diretores são livremente nomeados e exonerados pelo chefe do Executivo respectivo
(presidente da República, governador e prefeito).
No entanto, nada impede que lei instituidora da autarquia preveja que a nomeação de
seus diretores seja condicionada à prévia aprovação legislativa (Senado, na esfera
federal), sem que isso configure violação à tripartição de Poderes.
Por outro lado, não pode a lei prever que a exoneração dos diretores depende de prévia
aprovação legislativa. Trata-se de demissão ad nutum, ou seja, não depende de
motivação. É uma das hipóteses de controle político exercido pelo chefe do Executivo
sobre as autarquias, embora não haja relação de hierarquia.
As autarquias podem praticar atos de natureza privada, mas essa não é a regra. A regra é
que, por se submeterem ao regime jurídico de direito público, praticam autênticos atos
administrativos. Tais atos têm as mesmas características dos atos emanados da
Administração Direta. Desse modo, os elementos (agente competente, forma, motivo,
objeto e finalidade), bem como os atributos (presunção de legitimidade, imperatividade
e autoexecutoriedade), são os mesmos (ALEXANDRINO, 2017).
E para finalizar, a CF/1988, em seu art. 5º, LXIX, disciplina o mandado de segurança e
estabelece que “conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público” (grifos nossos).
Contratos
Tal como foi dito sobre os atos, as autarquias também celebram contratos de natureza
privada. Mas essa também não é a regra. Em regra, as autarquias, assim como as
entidades da Administração Direta, celebram contratos administrativos, sujeitando-se às
regras de direito público. Entre as diretrizes para sua celebração, encontramos a
exigência de licitação para a contratação de obras, serviços, compras e alienações.
Atualmente, a lei que traz normas gerais sobre licitação é a Lei nº 8.666/1993.
Responsabilidade civil
Segundo o art. 37, § 6º, da CF/1988, “as pessoas jurídicas de direito público e as de
direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.”
Como as autarquias são pessoas jurídicas de direito público, estão abrigadas na norma
do art. 37 e são objetivamente responsáveis pelos atos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros.
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público e não estão subordinadas aos
entes políticos, mas estão a eles vinculadas, havendo controle finalístico ou tutela
administrativa, que terá a dimensão estabelecida em lei (lei essa que não pode criar uma
espécie de subordinação da autarquia).
É uma vinculação de viés externo, e não interno – como se requer para os subordinados,
em que há um escalonamento vertical. Na vinculação, estamos diante de duas pessoas
com autonomia administrativa – o ente político e a entidade da Administração Indireta.
A princípio, os ministérios exercem a chamada supervisão ministerial nas autarquias de
suas áreas de atribuições, verificando se estão cumprindo os fins para os quais foram
criadas – configurando o denominado controle administrativo.
Já o presidente da República (chefe do Executivo) é quem nomeia e exonera seus
dirigentes – fazendo surgir o controle político.
Mas fique atento, pois isso em hipótese alguma pode ser confundido com subordinação.
Caso haja insurgência de um ato praticado pela autarquia, o administrado tem a opção
de representar junto aos órgãos da entidade autárquica para que decidam a respeito, ou
requerer judicialmente a tutela pretendida.
Por outro lado, por exemplo, também é possível a interposição de recurso de decisões de
autarquias (entidades da Administração Indireta) para o ministério respectivo (órgão
público da Administração Direta).
Esse regime lhes atribui uma série de prerrogativas e sujeições para melhor atender ao
interesse público.
− Imunidade tributária: a CF/1988 estabelece em seu art. 150, VI, “a”, e § 2º, que não
poderão os entes políticos cobrar impostos uns dos outros. Também não poderão cobrar
impostos de suas entidades autárquicas e fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, desde que o patrimônio imunizado esteja relacionado ao patrimônio, à renda e
aos serviços vinculados às suas finalidades essenciais ou delas decorrentes.
Poderá um ente político (União, estados, Distrito Federal ou municípios) cobrar tributos
das entidades autárquicas, com exceção de uma única espécie tributária, que é o
imposto, e somente haverá a imunidade se for referente ao patrimônio, renda ou serviço
relacionado às suas finalidades essenciais. Por exemplo: município pode cobrar IPTU de
terreno cuja propriedade seja de uma autarquia estadual ou municipal? Precisamos saber
se esse terreno está relacionado com suas finalidades essenciais ou delas decorre. Sendo
positiva a resposta, o município não poderá cobrar.
− Prerrogativas processuais:
ii) Prazo em dobro: os entes políticos (União, estados, Distrito Federal e municípios) e
as entidades de direito público (autarquias e fundações públicas de direito público)
gozam de prazo em dobro para quaisquer manifestações processuais, tais quais
contestação, réplica, apelação, enfim, quaisquer manifestações, exceto se houver lei
prevendo de forma expressa um prazo próprio, a exemplo das leis que tratam sobre o
mandado de segurança e habeas data.
Da CF/1988 se infere que somente se a entidade for autora, ré, assistente ou opoente,
com as exceções acima apontadas, é que a Justiça Federal será competente.
Ocorre que o CPC aduz que, com as exceções estabelecidas no CPC (art. 45, I e II),
basta ser parte ou terceiro interveniente para que a competência seja da Justiça Federal.
Agora, se quem estiver litigando for autarquia estadual, a justiça competente será a
Justiça Estadual. Em se tratando de autarquias municipais, o foro competente também
será o estadual, já que os municípios não possuem Poder Judiciário. Mas atente: se
houver Vara da Fazenda Pública (que é uma vara especializada), esse juízo estadual será
competente para processar e julgar as causas que envolvem as autarquias estaduais e
municipais, já que ambas são englobadas pelo termo Fazenda Pública.
Enfim, vimos que o regime jurídico único deixou de existir por um largo período,
somente sendo revitalizado com a suspensão da eficácia da EC nº 19/1998, que o havia
abolido.
Ocorre que nesse interregno podem ter sido contratados vários trabalhadores não
estatutários, ou seja, regidos pela CLT.
Nesse caso, por expressa disposição da norma constitucional, eventual ação trabalhista
deverá ser ajuizada na Justiça do Trabalho, e não nos juízos fazendários. Aqui já não
importa se a autarquia é federal, estadual ou municipal. Em sendo o agente público
regido pela CLT, as ações serão processadas na Justiça do Trabalho.
a) Agências executivas
Note, assim, que as agências executivas não são nova espécie de entidade da
Administração Indireta. Não se edita lei para criar uma nova espécie de pessoa
jurídica administrativa denominada agência executiva. Trata-se de qualificação
conferida a uma pessoa jurídica administrativa já existente.
Essa qualificação é feita pelo presidente da República, por meio de decreto, desde que
obedecidos os requisitos acima.
Segundo o art. 51, § 2º, da Lei nº 9.649/1998, caberá ao Poder Executivo editar medidas
de organização administrativa específica para as agências executivas, visando a
assegurar a sua autonomia de gestão, bem como a disponibilidade de recursos
orçamentários e financeiros para o cumprimento dos objetivos e metas definidos no
contrato de gestão.
Por sua vez, existe o contrato de gestão celebrado entre a Administração Direta e
entidade civil qualificada como organização social do terceiro setor (que não pertence à
Administração Pública), visando a firmar parceria de interesse público. Essa
qualificação formaliza a parceria entre o Poder Público e entidade privada, sem,
entretanto, inserir tais entidades privadas no seio da Administração Indireta (já que esta
deve obedecer ao princípio da legalidade).
b) Agências reguladoras
Como exigem lei específica para sua criação e extinção, é a própria lei que as qualifica
como autarquia em regime especial, aplicando-se o exposto na Lei nº 13.848/2019
àquelas criadas a partir de sua vigência.
Nesse sentido, podemos identificar três requisitos para a existência de uma fundação:
2) A finalidade social.
Você deve ficar atento porque tanto a esfera privada quanto o Poder Público podem
constituir fundações. Na área privada, um particular que constitui uma fundação
necessariamente obedecerá ao regime jurídico de direito privado. O Poder Público, por
sua vez, pode constituir fundação pública de direito público ou fundação pública de
direito privado.
Quando falamos das autarquias, vimos que “somente por lei específica poderá ser criada
autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista
e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua
atuação” (art. 37, XIX, da CF/1988).
No entanto, apenas para reforçar aquilo que já tratamos, se estivermos falando de uma
fundação vinculada ao Poder Legislativo ou ao Poder Judiciário, a iniciativa não seria
do chefe do Executivo, mas da Mesa Diretora na Câmara ou no Senado e do tribunal
competente, respectivamente. O que muda é a iniciativa, já que a lei continua sendo
exigida.
d) Natureza jurídica
Havia, na doutrina, debate acerca da natureza jurídica das fundações, se são pessoas de
direito público ou de direito privado.
Primeira corrente (Celso Antônio Bandeira de Melo): essa linha expõe que, após o
advento da CF/1988, as fundações públicas passaram a ser consideradas entidades
autárquicas. Isso porque a Constituição teria aproximado o regime jurídico das
fundações do regime das autarquias. Um exemplo disso é o teto de remuneração. Esse
tema está previsto no art. 37, XI e § 9º.
O art. 37, § 9º, da CF/1988 cuida do teto no âmbito das pessoas de direito privado, da
Administração Indireta, como as empresas públicas e sociedades de economia mista,
que são dependentes do tesouro.
Já o art. 37, XI, abrange o teto de remuneração no âmbito das pessoas de direito público.
Esse art. 37, XI, fala da Administração Direta, das autarquias e das fundações públicas,
ou seja, houve uma aproximação com o regime fazendário autárquico.
Segunda corrente (Marcos Juruena Villela Souto): para essa vertente as fundações
públicas são pessoas jurídicas de direito privado.
Como primeiro fundamento dessa corrente está a constatação óbvia de que a lei,
expressamente, previu que se tratam de pessoas jurídicas de direito privado, como reza
o art. 5º, IV, do Decreto-Lei nº 200/1967.
Em segundo lugar, o texto constitucional no art. 37, XIX, ao mencionar que a lei
autoriza a criação da fundação pública, teria escolhido o regime privado para a
fundação, caso contrário, à semelhança do que fez com as autarquias, teria mencionado
que a lei cria as fundações públicas.
Contudo, o motivo mais forte é o que aponta que as fundações públicas são pessoas de
direito privado, pois não faria sentido existirem duas pessoas na Administração Pública
Indireta para que recebam competência e atuem sem finalidade lucrativa se elas tiverem
os mesmos objetivos e o mesmo regime. Bastaria, então, ter autarquias se fosse para ser
assim. Isso justifica a autarquia ser a entidade apropriada para o desempenho de
atividades que demandem o exercício do poder de polícia e que pratiquem atos de
império. Se a descentralização da atividade não exigir o exercício do poder de polícia
nem uma atuação imperativa do estado, é melhor criar uma fundação pública.
Por outro lado, se o município criar uma fundação através de uma lei que apenas
autoriza a sua criação e remete a necessidade de registro dos atos constitutivos no
registro civil de pessoas jurídicas, e sabendo que a fundação pode ter um regime
jurídico o mais próximo do regime privado, há, portanto, uma pessoa de direito privado.
Além de tudo, deve-se analisar a atividade dessa fundação, isto é, se ela é típica de
Fazenda Pública ou se é típica de uma pessoa de direito privado.
Conforme notamos, nessa decisão fica patente que as fundações públicas podem ser
pessoas de direito público ou de direito privado. Desse modo, o STF mantém-se
alinhado com a terceira corrente.
Assim, as fundações públicas podem ser tanto pessoas jurídicas de direito público
quanto pessoas jurídicas de direito privado.
Por outro lado, constituída sob a forma de pessoa jurídica de direito privado, a fundação
pública obedecerá a um regime jurídico híbrido.
Ademais, não poderíamos pensar diferente. As fundações não objetivam lucros. Não
haveria razão para aplicação das normas de direito privado, incluindo a previsão do
Código Civil de que o Ministério Público velará pelas fundações. Desse modo, a
fiscalização exercida sobre as fundações públicas decorre da tutela administrativa (ou
supervisão ministerial) e é exercida pelo próprio ente que lhe conferiu personalidade
jurídica. A fiscalização pelo Ministério Público será aquela genericamente exercida
sobre toda a Administração Pública, sem nenhuma especificação em relação às
fundações públicas.
e) Objeto/finalidade
f) Patrimônio
A discussão doutrinária reside nos bens titularizados pelas pessoas jurídicas de direito
privado integrantes da Administração Indireta.
Carvalho Filho (2017, p. 717), por exemplo, entende que os bens pertencentes às
pessoas jurídicas administrativas de direito privado são bens privados, não públicos, de
modo que não estariam sujeitos ao regime jurídico de direito público.
Por outro lado, Celso Antônio Bandeira de Mello (2010) entende que são públicos
aqueles bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público, como também o são os
bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito privado, mas desde que estejam afetos
à prestação do serviço público.
De toda forma, deve-se ter cuidado, pois eventual resposta à indagação sobre a natureza
jurídica do patrimônio/bens das fundações públicas de direito privado deve ser bem
fundamentada, pois, a princípio, não serão necessariamente bens públicos, somente
assumindo esse perfil se destinados à prestação de serviços públicos (sentido amplo).
É fato que o acesso somente se faz por concurso público de provas ou de provas e
títulos, já que essa regra é aplicada à Administração Direta e Indireta de qualquer dos
Poderes, sendo excepcionada apenas nos casos constitucionalmente previstos.
Dizer que se exige a aprovação de concurso público para o ingresso no serviço público
não significa dizer que a relação jurídica entre o aprovado e a Administração Pública
será estatutária.
Desse modo, se quem promove o certame for uma fundação pública de direito público, a
relação jurídica será disciplinada por lei, ou seja, um estatuto jurídico aplicável à
Administração Direta e a entidades autárquicas. Por exemplo, a Lei nº 8.112/1990 é o
estatuto federal. Se a Administração Indireta da União, notadamente, uma fundação
pública de direito público promover um certame, será esse estatuto que disciplinará as
relações jurídicas entre a entidade e o servidor nomeado.
Por sua vez, em se tratando de fundação pública com personalidade jurídica de direito
privado, a relação jurídica entre os agentes e a entidade da Administração Indireta será
celetista, ou seja, contratual, tendo como base jurídica a legislação trabalhista (CLT). É
claro que não se aplica integralmente. Existem normas que são derrogadas por outras de
interesse público. Assim, por exemplo, a contratação exige prévia aprovação em
concurso público, os contratados devem respeito ao teto remuneratório e não podem
acumular cargos e empregos, ressalvadas as permissões constitucionais.
h) Dirigentes fundacionais
Mais uma vez é necessário distinguir a natureza jurídica das fundações para saber quais
os tipos de atos praticados por cada uma delas.
Enfim, os atos praticados por fundações públicas de direito público são típicos atos de
autoridades públicas, de modo que, se atenderem aos demais requisitos (direito líquido e
certo, por exemplo), poderão ter sua legalidade questionada por mandado de segurança.
Por outro lado, as fundações públicas de direito privado praticam atos de natureza
privada. Ocorre que as pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração
Indireta também recebem o influxo de normas de direito público, de modo que o regime
aplicável acaba por não ser integralmente privado. Ademais, por se tratar de
descentralização administrativa, quando no desempenho da atividade delegada, as
fundações públicas de direito privado podem praticar atos tipicamente administrativos.
j) Contratos
Por outro lado, no tocante às fundações públicas de direito privado, deveriam elas
celebrar contratos de natureza privada, mas, conforme Carvalho Filho (2017), isso não
ocorre porque a Lei nº 8.666/1993 não faz distinção entre uma e outra, de modo que a
regra deve ser aplicada tanto às fundações públicas de direito público quanto às
fundações públicas de direito privado. Assim, ambas devem, obrigatoriamente, realizar
licitação para suas contratações, com as ressalvas previstas na lei. Mas essa afirmação
não é tranquila. Matheus Carvalho (2016, p. 191), por exemplo, entende que os
contratos das fundações públicas de direito privado são contratos regulados pelo direito
civil, embora necessitem realizar licitação.
k) Responsabilidade civil
Aqui a distinção operada desde o início do estudo das fundações já não faz tanto
sentido, e explicamos o motivo: as fundações públicas, indistintamente, são
preordenadas à prestação de serviços de interesse social. Não se prestam à atividade
econômica.
Assim, esse controle finalístico é desempenhado pelos ministérios das respectivas áreas
das fundações e é chamado de supervisão ministerial – uma espécie de controle
administrativo por vinculação.
Como vimos, as fundações privadas são fiscalizadas pelo Ministério Público Estadual.
As fundações públicas não possuem esse tipo especial de fiscalização. O Ministério
Público, por ser fiscal da lei, acaba por fiscalizar a Administração Pública como um
todo. Mas não é aquela fiscalização prevista no Código Civil para as fundações
privadas.
Enfim, o tribunal de contas fiscaliza as fundações públicas, seja de direito público, seja
de direito privado. Essa fiscalização tem fundamento constitucional, já que o art. 70,
parágrafo único, da CF/1988 prevê que qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro ou bens públicos
deverá prestar contas. Trata-se, nesse caso, de controle financeiro.
Vejamos as principais prerrogativas, que foram muito bem sintetizadas por Carvalho
Filho (2017, p. 324-325) no tratamento das autarquias, mas que aqui também podem ser
utilizadas e facilitam a memorização:
n) Prerrogativas processuais:
De acordo com o art. 109, I, da CF/1988, compete aos juízes federais processar e julgar:
“As causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho”.
Tal qual a autarquia, no caso de litígio envolvendo a fundação pública de direito público
como parte ou terceiro interveniente (art. 45 do CPC), a competência para o
processamento e julgamento será da Justiça Federal.
Por outro lado, tratando-se de fundação pública de direito privado, a competência será
da Justiça Estadual, ainda que a fundação pública de direito privado seja instituída pela
União.
E as demandas trabalhistas?
Se for uma fundação pública de direito público, cujo regime jurídico de seus agentes é o
estatutário, qualquer discussão será julgada pela Justiça Federal ou pela Justiça
Estadual, a depender da origem da fundação de direito público. Assim, não será
competente a Justiça do Trabalho.
Dito de outro modo, cuidando de fundação pública de direito privado, o regime jurídico
de seus agentes é o celetista, de modo que é competente a Justiça do Trabalho para o
processo e julgamento decorrente de ações trabalhistas.
Estudamos as agências executivas enquanto falamos das autarquias. Aqui venho apenas
relembrar que as fundações públicas também podem ser qualificadas pelo presidente da
República (ou chefe do Executivo respectivo) como agência executiva, desde que
tenham: a) um plano estratégico de reestruturação e de desenvolvimento em andamento;
b) celebrado contrato de gestão com o respectivo ministério supervisor. A finalidade
dessa qualificação é a ampliação da autonomia gerencial, orçamentária e financeira da
entidade (art. 37, § 8º, da CF/1988), capaz de gerar vários reflexos, sendo um deles a
mudança da faixa de valor para as hipóteses de dispensa de licitação em razão do baixo
custo da contratação.
Pois bem. A lei que disciplina a matéria (Lei nº 9.649/1998) não faz essa diferença.
Apenas estabelece que o Poder Executivo poderá qualificar como agência executiva a
autarquia ou fundação que cumpra os requisitos expostos no art. 51. Desse modo,
parece-nos que, quando a lei não faz distinção, não cabe ao intérprete fazê-la. Assim,
temos que é perfeitamente possível qualificar como agências executivas tanto as
fundações públicas de direito público quanto as fundações públicas de direito
privado.