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Ano letivo 2016/2017

Licenciatura Comunicação Empresarial


Unidade Curricular Metodologias de Investigação Aplicadas à Comunicação
Empresarial
Mestre Cátia Santana

O Projeto Tripass:
Cinema de regresso à Baixa do
Porto
Trindade | Rivoli | Passos Manuel

Diana Filipa Frasco Magalhães – 2160402


Joaquim Pedro Guedes Ferreira da Silva – 2160975
Rafaela Inês Alves Monteiro – 2160782
Tiago Rafael Amaro Ramos - 2160974
O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

RESUMO

Reconhecendo o investimento na Cultura e no Cinema como parte da identidade


de um povo e como uma das forças motrizes do desenvolvimento de uma cidade,
este trabalho de investigação visa focar-se na realidade social e cultural da cidade
do Porto. Nomeadamente na dificuldade de manutenção de salas de cinema
“independentes” na Baixa do Porto, contrapondo a dominância dos grandes
distribuidores e multiplex em centros comerciais. Faz uma análise histórica dos
eventos que alteraram a realidade da exibição cinematográfica na cidade do Porto
nos últimos 50 anos, passando-se de cerca de 40 salas com cinema regular, para
apenas cinco (apenas três delas se situam na Baixa da cidade). Procura-se assim
encontrar respostas para os fatores que mais influenciam o espetador na decisão
de uma ida ao cinema, através da conciliação da natureza qualitativa do trabalho,
com técnicas quantitativas de investigação. Assume-se uma posição crítica em
relação aos dados obtidos e coloca-se expetativa nas políticas culturais da atual
Câmara Municipal do Porto, na iniciativa Tripass de apoio às salas de cinema
independentes da Baixa e na reabertura da sala de cinema Trindade, como forma
de reabrir o coração da cidade ao Cinema.

Palavras-chave: Cinema, Porto, Tripass

INTRODUÇÃO

Este estudo surge, em grande parte, pela importância dada pelos investigadores
ao conhecimento da realidade social da cidade do Porto. É nossa convicção que,
enquanto futuros licenciados em Comunicação, explorar, investigar, estudar e
querer conhecer a segunda mais populosa e importante cidade do território
continental de Portugal deve ser um dos pilares da nossa formação.

Assume-se, em pleno auge do turismo, do desenvolvimento social e económico,


da reabilitação urbana e do crescente investimento em estruturas de alojamento
e comerciais, que a presença da cultura no horizonte da generalidade da
população acompanharia esta tendência de renovação. Contudo, nem sempre a
conjuntura social o permite.

Durante muitos anos, com sucessivas políticas dos sucessivos governos, se


assistiu a um desinvestimento e desinteresse gradual nas iniciativas culturais.
Apesar de tudo isto, o cinema sempre se assumiu como uma das mais completas
formas de cultura, pelo seu uso de diversos mecanismos comunicacionais em
simultâneo, pela envolvência que o espetador sente ao ver um filme, pela carga
emocional que transmite, pelos valores que recupera, pela experiência de se rever
a si mesmo num ou noutro personagem.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

Nunca uma forma de arte foi tão reconhecida de forma quase inequívoca tal como
o cinema, denominado de “7.ª arte”, com direito aos mais exclusivos e
prestigiados festivais, celebrações, galas de prémios e dinheiro. Muito dinheiro se
move na produção e distribuição cinematográfica, por mais inexpressiva que ela
pareça em determinada cultura ou contexto civilizacional.

Regressando ao Porto, cidade-alvo deste estudo, pretendeu-se compreender de


uma forma sucinta qual a visão daqueles que nesta cidade passam os seus dias,
seja por residência, trabalho, lazer ou apenas prazer. O Porto está vivo, e cada
vez mais preocupado consigo mesmo. O Porto quer-se, precisa-se e vive-se
intensamente, de todas as formas. Convém agora que o Porto se abra ao cinema,
mas para isso, é preciso que se queira cinema no Porto. E é exatamente esse
querer cinema que se pretendeu conhecer.

A Câmara Municipal do Porto, através do seu presidente Rui Moreira e do seu


assessor Guilherme Blanc, acredita que a cidade está preparada para o cinema.

Prova disso é o lançamento da iniciativa Tripass, que garante vantagens ao


espetador de cinema nas salas abrangidas: Teatro Municipal do Porto – Rivoli e
Campo Alegre, Cinema Passos Manuel e Cinema Trindade. “Em todas as sessões
de cinema ao longo de um ano, o TRIPASS oferece um desconto de 25% sobre o
valor do bilhete normal (exceto nas de preço único). O titular do cartão tem ainda
acesso a convites para sessões especiais e a informação privilegiada regular sobre
a programação nas diferentes salas.” (Cinema regressa à baixa com o cartão
Tripass, 2016)

A Câmara acredita assim que essa sua iniciativa será a força motriz necessária à
reimplantação da arte cinematográfica no Porto. Que o Tripass será por si mesmo
incentivo suficiente para se ir ao cinema.

Nesta acessão, por força da motivação do estudo, e porque segundo Quivy e


Campenhouldt, deve-se “enunciar o projeto de investigação na forma de uma
pergunta (…)”, que “tenta exprimir o mais exatamente possível o que [o
investigador] procura saber, elucidar e compreender melhor”, chegou-se à
pergunta:

Que variáveis influenciam o sucesso ou insucesso de uma sala de


cinema na baixa do Porto?

Assim por hipóteses, oriundas das nossas convicções pessoais e com um


fundamento puramente empírico, estabelece-se:

Hipótese 1: Salas de cinema com predominância de filmes dos géneros comédia


ou drama e/ou exibidos em 3D e IMAX têm mais espetadores.

Hipótese 2: Verifica-se uma preferência dos espetadores de cinema pelos centros


comerciais, devido à presença de área de alimentação.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

Hipótese 3: O espetador dá preferência a salas de cinema fora de grandes


superfícies, desde que o custo do bilhete seja inferior a cinco euros.

Desta forma, entendemos estruturar a investigação em quatro momentos,


fazendo corresponder a estes, um dos capítulos seguintes. A saber, iniciou-se uma
revisão de leitura, baseada em notícias de jornais, livros sobre a História do
Cinema, artigos de investigação e entrevistas exploratórias a peritos reconhecidos
na área. De seguida, esclarece-se qual a metodologia adotada e com recurso a
que técnicas de investigação. Finalizou-se com uma análise comparativa dos
resultados, contrapondo as respostas dos inquéritos, com as hipóteses e os novos
conhecimentos decorrentes da revisão da literatura.

REVISÃO DE LITERATURA

A Origem do Cinema

O nascimento do Cinema é comummente aceite como tendo sido a 28 de


dezembro de 1895, data em que os irmãos Auguste e Louis Lumière projetaram
no Salon Indien do Grand Café na Boulevard des Capucines, em Paris, uma breve
cena que seguia uma centena de pessoas que saiam dos portões de uma fábrica
em Lyon. Nessa mesma data, exibiram «vinte minutos de dez filmes gravados
com uma câmara fixa com ocasionais panorâmicas» (Bergan, 2006). Tal foi
possível devido à invenção do cinematógrafo, uma espécie de câmara e projetor
num só, que os irmãos Lumière patentearam.

Contudo, a verdadeira conceção do cinema advém de séculos de aprimoramento


de técnicas, que remontam da necessidade humana de registar movimentos
através de pinturas e desenhos. No Oriente, os chineses projetavam sombras de
figuras recortadas e manipuladas sobre a parede, há mais de sete mil anos atrás,
com os seus teatros de marionetas. Já no século XV, Leonardo da Vinci investigou
a projeção de luz em superfícies, com um dispositivo que não consistia em mais
que uma caixa com um orifício ocupado por uma lente, que permitia a passagem
da luz produzida por objetos. Duzentos anos depois, Athanasius Kirchner criava a
Lanterna Mágica, um cilindro que projetava imagens de uma lâmina de vidro,
quando iluminado por uma vela. Em pleno século XIX, Joseph-Antoine Plateau
media o tempo da persistência retiniana, assumindo que a ilusão de movimento
necessita de dez imagens por segundo. Criou assim, em 1832, o Fenacistoscópio,
com várias figuras de uma pessoa em diferentes posições desenhadas num disco.
Quando este se girava, formava-se uma ilusão de movimento. (Coll & Teberosky,
2000)

Em 1889, Henry M. Reichenbach inventou para a Kodak, o filme: imagens


fotográficas impressas numa base celuloide flexível e semitransparente.
Aproveitando essa invenção, em 1891, Thomas Edison patenteou a invenção do
Cinestoscópio. Este era um aparelho onde uma bobine de um filme com 1,5 metros
permitia um visionamento contínuo.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

Foi a partir do refinamento destas técnicas, que os Lumière criaram o


Cinématographe, que levou ao nascimento do Cinema. Menos de quatro meses
dessa data, George Mèlies1 abriu o seu Théatre Robert Houdin como uma sala de
cinema, onde a experiência o levou a combinar técnicas da fotografia para criar
efeitos cinematográficos (exemplo da sobreposição e stop motion), estando na
origem primordial dos atuais efeitos especiais no cinema.

Desde aí que o cinema passou por fortes e severas mudanças que contribuíram
para a sua evolução: a Era do Cinema Mudo (1917-1927), a transição para o som
(1928-1932), passagem pela era dos grandes estúdios de Hollywood e da Segunda
Guerra Mundial (1932-1946), a ascensão da televisão e declínio do cinema (1947-
1959), La Nouvelle Vague2 (1960-1980) e a era dos mass media (desde 1980 em
diante).

Salas de cinema

A etimologia do termo movie theater (em português, sala de cinema) envolve a


palavra movie (termo curto para moving picture [imagem em movimento]) e
theater que se originou nos finais do século XIV, como um espaço aberto para
visionamento de espetáculos e peças de teatro. Este termo evoluiu também do
Latim, theatrum e do Grego, theatron, como literal para espaço de visionamento.

Nos Estados Unidos, a primeira casa dedicada ao cinema nasceu em Nova Orleães,
em 1896, mas a primeira longa-metragem de Hollywood, “The Squaw Man”
apenas foi exibida ali em 1913. Mas desde aí que as salas de cinema sofreram
várias alterações, evoluindo para o registo e comodidade a que estamos
habituados hoje em dia, desde o surgimento dos Nickelodeons3 (1905), a venda
de pipocas (em 1912), salas com ar-condicionado (a primeira foi construída em
1922), o primeiro drive-in (em New Jersey, no ano de 1933), pousos para os copos
(1981, pela AMC Theaters), o primeiro multiplex (1963, dentro de um centro
comercial, com dois ecrãs e lugar para setecentas pessoas), o surgimento da
tecnologia 3D (embora a era do cinema em três dimensões tenha nascido nos
anos 1950, foi apenas em 2009 que a tecnologia se massificou) ou a popularização
dos cinemas IMAX4.

O Cinema em Portugal

A primeira sessão de cinema em Portugal terá ocorrido a 18 de junho de 1896, no


Bairro da Mouraria, no Real Colyseu, atualmente desaparecido. Contudo, terá sido
apenas em 1897 que o Cinematógrafo, dos Lumière, chegou a Portugal, já que

1
Prestidigitador, cartoonista, inventor e mecânico (1861-1938). Entre os seus filmes mais
conhecidos estão Le voyage dans la Lune (1902) e 20000 lieues sous les mers (1907)
2 Movimento artístico do cinema francês, inserido no movimento contestatório dos anos 1970. Claude

Chabrol, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, François Truffaut, Eric Rohmer, Agnès Varda são dos
principais nomes associados à Nouvelle Vague francesa que transgrediam as regras do cinema
comercial, retratando um cinema jovem, focado no amor e nas crises individuais.
3 Do Inglês, nickel (moeda norte-americana, de cinco centavos) e do Grego, Odeion (teatro coberto).
4 Formato criado pela empresa canadiana IMAX Corporation, com ecrãs padrão de 22 metros de

largura por 16,1 metros de altura e alta resolução.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

até então se utilizara o teatrógrafo (projetor de cinema de Robert William Paul).


Um mês depois, o teatrógrafo transferiu-se para o Porto, no Teatro-Circo Príncipe
Real (atual Teatro Sá da Bandeira), na presença de Aurélio da Paz dos Reis5, que
importou de Paris, uma nova versão atualizada do projetor, designado por
quintenográfo. «São de Paz dos Reis os mais antigos filmes que se conhecem
rodados por um português e de que a Cinemateca Portuguesa tem cópia: Saída
do Pessoal Operário da Camisaria Confiança; O Vira; Feira de Gado na Corujeira
e O Jardim, todos incluídos nas projeções de Novembro de 1896.» (Bénard da
Costa, 1991).

Mas excetuando o furor da novidade, durante doze anos Portugal manteve-se


praticamente alheado ao primeiro boom do cinema. Até 1904, as sessões de
cinema limitavam-se a ocupar espaços vazios da programação de salas de teatro
ou a ser apenas espetáculos feirenses. E foi apenas em 1908 que, com o início da
eletrificação faseada em Lisboa e Porto, que o cinema em Portugal começou a
produzir. Apesar de durante o Estado Novo, a máquina propagandística de Salazar
ter produzido também alguns filmes, estes nunca foram relevantes na mesma
ordem que o fascismo italiano ou o nazismo alemão. António Ferro, diretor do
Secretariado de Propaganda Nacional (criado em 1935), prejudicou-se sobretudo
devido às suas contradições, entre o antigo modernismo e uma vertente
vanguardista, alheia «quer aos gostos de Salazar quer aos do bloco mais
conservador do regime». Os raros exemplos de um cinema português parafascista
(como A Revolução de Maio, por exemplo, um grande filme de ficção que
glorificava o Estado Novo) nunca foram os produtos dominantes.

Em 1924, abre, em Lisboa, o Tivoli e até 1927, por todo o país constroem-se novos
cinemas, assim como se transformam velhos teatros propositadamente para o
efeito. Em Lisboa, passam a dedicar-se exclusivamente os antigos teatros S. Luiz,
Éden e o Politeama, enquanto que no Porto, abre o Rivoli e o S. João, este último
com dois mil lugares, ostentando o título de «maior cinema do país». Vários outros
distritos nacionais passaram também a dispor de salas entre 700 a 1500 lugares.

Foi entre 1948 e 1958, que o cinema passou a assumir uma posição de guerrilha,
com o advento dos movimentos cineclubistas, como uma extensão da ideologia
do clandestino Partido Comunista. Logo a seguir à guerra, em 1945, cria-se o
Clube Português de Cinematografia ou Cineclube do Porto, ainda hoje existente.
Em 1958, o Estado apoia pela primeira vez um filme de Manoel de Oliveira,
realizador português que teve como contemporâneos Leitão de Barros, Beatriz
Costa, Paulo Rocha, José Fonseca e Costa, Alberto Seixas ou Fernando Lopes,
nomes que marcaram a história do cinema português.

O Cinema na cidade do Porto e as novas tecnologias

Ao longo de cem anos, a cidade do Porto já possuiu cerca de cinquenta salas de


cinema e teve oportunidade de ser o pano de fundo de várias produções

5 Aurélio da Paz dos Reis (1863-1931). Considerado o fundador do cinema português.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

cinematográficas, assim como assistir à ascensão de vários ícones do Cinema. Em


1906, na Feira de S. Miguel (atual Rotunda da Boavista) iniciava-se a distribuição
cinematográfica na cidade, num «barracão de madeira e zinco com o nome
pomposo de Salão High-Life» (Cinemas do Porto, 2017), pelas mãos de António
Neves e Edmond Pascaud. O Salão High-Life assentou em 1908 na Praça da
Batalha, assumindo em 1913, o nome de Cinema Batalha. Foi a Empresa Neves &
Pascaud que trouxe à cidade salas como os cinemas Batalha, Trindade, Olympia
(1912) e a Sala Bebé. As salas destes foram depois entregues à exploração da
Lusomundo, mas nos anos 30, até a família Pinto da Costa investiu nos cinemas
com a abertura do São João Cine.

Entre os mais icónicos cinemas do Porto estão também o salão Pathé (1907), Au
Rendez-vous d’Élite, na Foz (1907), o Passos Manuel (1908), Rivoli (1926), Sá da
Bandeira (1906), Carlos Aberto (1928) S. João (1931), Julio Diniz (anos 40),
Coliseu (1941), Charlot (anos 70, no Shopping Brasília), Cine Estúdio,
Nun’Álvares, Odeon, Pedro Cem (numa galeria comercial), Stop 1 e 2 (no centro
comercial Stop), Cinema do Terço, Vasco da Gama, Casa das Artes, Castello Lopes
(no Central Shopping) ou Medeia Filmes (no Shopping Cidade do Porto).

Segundo a reportagem (Porto: Do cinema na cidade aos filmes nos centros


comerciais, 2013), nos anos 70, popularizam-se os cinemas “estúdio”, com salas
pequenas e confortáveis, com projeções a 30mm e 70mm, com o número de
espetadores a atingir uma média de 30 milhões de pessoas, por ano, a nível
nacional. Contudo e com o advento da tecnologia, a projeção melhorou e os
grandes distribuidores como a Lusomundo, não tinham salas que
correspondessem à necessidade das grandes produções. Em 1995, o
Gaiashopping estreia um multiplex com 9 salas e as salas no centro do Porto
começam a entrar em declínio, devido à competição das grandes superfícies
comerciais. A própria desertificação da Baixa do Porto levou a que muitos cinemas
encerrassem. Caso flagrante do Central Shopping, na rua Santos Pousada, que
perdeu em muito os seus clientes, numa zona por si mesma abandonada e que
levou ao encerramento das suas salas, que possuíam condições únicas na cidade.
O mesmo aconteceu com o Charlot, que tal como o centro comercial em que
estava inserido (Centro Comercial Brasília) cedeu a um definhar lento, mas
inevitável. No ano 2000 fechou o último cinema em pleno coração da cidade
(Batalha), data em que os cinemas nos multiplex em redor da cidade já possuíam
cerca de cinquenta salas.

Em 2010, encerraram outras salas com cinema regular na cidade do Porto: a


Medeia Filmes, que geria as salas no shopping Cidade do Porto, com uma
programação independente, afirmou a sua incapacidade de comprar um novo
equipamento digital para as salas, de forma a acompanhar o abandono da película
e a aposta no digital. Na mesma altura, revitalizou-se o cinema Nun’Álvares (na
zona da Boavista), com um equipamento de projeção digital e 3D, num
investimento de cerca de 150 mil euros. Contudo, a incapacidade de retorno

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

económico imediato, aliada à má gestão do espaço, obrigou a que este encerrasse


em 2011.

Segundo dados oficiais do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), o concelho do


Porto tinha, em 2015, 11 ecrãs de cinema, pertencente a cinco espaços distintos
(Cinema Passos Manuel, Teatro do Campo Alegre, Cinema NOS Dolce Vita [actual
Alameda Shop&Stop], Rivoli Teatro Municipal e Sala Henrique Alves Costa – Casa
das Artes). Estas informações referem-se apenas aos locais com registo oficial de
bilheteiras, enviadas para o ICA, isentando-se, portanto, exibições em outros
espaços, como ciclos de cinema e festivais.

A mesma fonte identifica, também no ano de 2015, 220.223 espectadores em


sessões regulares de cinema no concelho do Porto, com uma receita bruta superior
a um milhão de euros. Já a nível nacional, a audiência de cinema registou uma
evolução de espetadores e de receita bruta, comparativamente com 2014, na
ordem dos 3,2%. Já dados preliminares de 2016, indicam que os números não se
alteraram significativamente, mas que há uma ligeira subida. Contudo, esta nota
não se pode identificar com uma tendência, já que a inclinação atual global tem
sido para a redução do número de espetadores. Segundo um artigo do jornal
Público, «o facto de as bilheteiras renderem mais e de haver estúdios capazes de
assegurar uma quota esmagadora do mercado não quer dizer que haja mais
pessoas nos cinemas. Há sim bilhetes mais caros e sessões mais caras (…) Mas
procuram e encontram sobretudo personagens (re)conhecidas, grandes
produções de choque e espanto e histórias de inspiração juvenil, em detrimento
de trabalhos autorais ou de médio porte» (Portugueses voltaram a ir mais ao
cinema em 2016, 2016). Atualmente, uma ida individual ao cinema numa sala
NOS (o principal exibidor de cinema em Portugal) tem o valor de 6,80€, para um
adulto e sem beneficiar de qualquer desconto. Já um filme com exibição em 3D,
tem um custo de 8,45€; valor que acresce para 10,5€ em IMAX e 12€ no caso de
uma exibição em 4DX6 3D (Cinemas NOS, 2017).

A difusão do home cinema, o video-on-demand e o streaming de conteúdos


passaram a permitir ao espetador ver filmes de outras formas, que não a sala de
cinema. Ecrãs de alta definição e projetores home cinema potenciaram a
experiência do cinema em casa. (Dorminsky, 2016) refere «os canais dedicados a
cinema na TV [que] exibem cerca de 130 filmes por semana para todos os gostos»,
assim como a «pirataria informática» como razões complementares ao preço na
decisão de assistir a um filme numa sala de cinema.

6 Vulgarmente designada por exibição em quatro dimensões, uma sala com tecnologia 4DX
proporciona ao espetador, efeitos como o movimento, simulando inúmeras sensações como voar,
cair, acelerar ou travar. A sala recria ainda efeitos ambientais e contextuais como vento, água,
chuva, nevoeiro e aromas. Em Portugal, apenas estão disponíveis duas salas 4DX: Gaiashopping e
Almada Forum.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

Fora dos grandes multiplex, geridos por grandes companhias como a NOS
Cinemas, as salas independentes têm mais dificuldades em gerir o fator preço. Se
salas como o Passos Manuel, o Teatro do Campo Alegre ou o Rivoli têm bilhetes
com preços na ordem dos 4,5€, (Ribas, 2016) refere a ambiguidade desse critério,
por não ser comercialmente sustentável, mas que uma subida de preços levaria à
diminuição de espetadores. Refere ainda que «uma sala ‘independente’ precisa de
apoios». Para (Dorminsky, 2016), essa é «uma das razões para os cinemas do
centro da cidade terem desaparecido», aliado ao fato da necessidade de pagar
«parque de estacionamento e uma possível refeição, mais cara que num centro
comercial».

A demografia da audiência de cinema tem vindo também a alterar-se. Segundo


um estudo da Motion Picture Association, à medida que a indústria do cinema se
focou numa audiência jovem (12-24 anos), é também esta a faixa que tem
reduzido as suas idas ao cinema (de 60% nos anos 1970, para 38% em 2005).
Enquanto isso, a faixa demográfica superior a 60 anos, teve um aumento 3% para
10%, em mesmo período. Outras pesquisas sugerem que os marketeers, têm
dificuldade em entender as necessidades de consumidores maduros e até
comunicar com eles. Faixas etárias mais jovens têm perceções distintas de
entretenimento, à medida que valorizam o telemóvel e a Internet (McDonnell &
Silver, 2007).

Segundo McDonnell & Silver, a tecnologia 3D e o IMAX atuam com grande


vantagem competitiva por se diferenciarem com uma experiência imersiva que
transcende em muito o home cinema. O espetador sente-se parte integrante do
espetáculo, pelo que a audiência em sessões com filmes exibidos nestas
tecnologias, tem sido o que tem aumentado em grande parte os números de
audiência (e também de receita bruta de bilheteira). De salientar que dos dez
filmes mais vistos em Portugal durante o ano de 2016, todos eles tiveram
exibições em 3D e/ou IMAX. (ICA, 2017)

Em entrevista via e-mail, (Dorminsky, 2016)7 e (Ribas, 2016)8 apontam


precisamente a tecnologia (3D e 4K) como um fator que influencia o espetador na
decisão de ir ao cinema. Mas ambos referem ainda que os atores que integram o
elenco de um filme são um dos pontos cruciais nessa mesma decisão, usando
mesmo o termo «stars» para descrever esses atores influentes em Hollywood e
que são escolhidos pelas produtoras precisamente pela capacidade de mover as
pessoas.

Em relação à programação das salas de cinemas, ambos identificam o género de


filme como importante. «99% dos filmes são emergentes dos grandes estúdios

7
Mário Dorminsky é diretor da empresa Cinema Novo e co-responsável pela organização do festival Fantasporto.
Foi membro do Conselho de Cultura na Área Metropolitana do Porto e Vereador da Cultura, Património e Turismo
da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.
8
Daniel Ribas é Professor Adjunto no Instituto Politécnico de Bragança e Professor Convidado na Escola das Artes
da Universidade Portuguesa, nos campos dos estudos de cinema e de média digitais. É programador do Curtas
Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema e Diretor Artístico Adjunto do Porto/Post/Doc – Film & Media
Festival.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

norte-americanos, os quais possuem estudos de marketing específicos para cada


filme. Daí viver-se atualmente um período em que o cinema de acção e aventura,
com grandes heróis, ocupa as salas dos multiplexes» diz Mário Dorminsky. No
caso do cinema de autor, Daniel Ribas refere a importância do percurso comercial
que o filme obteve, especialmente se foi multipremiado em festivais de peso.
Refere ainda: «Eu acho que o cinema comercial tem o seu espaço. Mas também
acho que o cinema não-comercial o deveria ter. E há um espaço pedagógico
importante, que tem sido negligenciado. Sim, o olhar também se educa. (…) esta
exibição independente não é rentável, mas é possível graças aos sistemas de
apoio». Afirma também a necessidade de as sessões de cinema em salas
independentes na baixa do Porto precisarem de ser enriquecidas «com conversas,
folhas de sala, presenças de realizadores, apresentações». Mas Dorminsky é
perentório: «Toda e qualquer tentativa de trazer cinema para o centro da cidade,
em salas comerciais, é ilógico. (…) Nos eventos não comerciais é necessária
grande divulgação e serem de facto eventos icónicos da cidade, até porque trazem
alternativas, filmes diferentes e seguramente de boa qualidade». Compara ainda
uma ida ao cinema num centro comercial ou numa sala da Baixa do Porto. Ressalta
o conforto e as excelentes condições técnicas do multiplex, assim como o
estacionamento gratuito e a restauração variada e económica. Contrapõe
negativamente uma ida ao cinema na baixa do Porto, num parque de
estacionamento pago e um jantar bem mais caro que num centro comercial, isto,
caso exista um restaurante aberto nas proximidades.

METODOLOGIAS DE INVESTIGAÇÃO

Assim, e face à literatura revista, este estudo seguiu uma metodologia


predominantemente qualitativa descritiva exploratória bibliográfica, na medida
em que se quer conhecer um fenómeno social, analisar com profundidade a
subjetividade da perceção da população sobre a questão a tratar. Procurou-se, no
entanto, uma conciliação entre a natureza qualitativa do trabalho e a necessidade
de recorrer a instrumentos de levantamento de dados característicos da
metodologia quantitativa, como seja a aplicação de questionários
autoadministrados (anexo I, pp.16-19 ).

Por força do número de integrantes da população, definida como “pessoas que


trabalham, vivem, estudam ou conhecem a cidade do Porto”, não era exequível
recolher dados de todos os elementos, pelo que se recorreu a uma amostra9 da
população, escolhida de forma dirigida.

Este questionário apresentou-se aos inquiridos dividido em quatro partes, onde


foram solicitados dados representativos de características demográficas e sociais
da população, se procurou esclarecer algumas perceções dos inquiridos em

9
Esta amostra baseia-se na aplicação online de inquéritos autoadministrados, a 237 participantes anónimos,
durante 30 dias, no período de 28 de novembro a 27 de dezembro de 2016. Esta amostra não é representativa
da população e deve por isso ser interpretada como de conveniência dos investigadores.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

relação à cidade, nomeadamente estacionamentos, zonas integrantes da baixa,


esforço da Câmara Municipal na comunicação e divulgação das iniciativas
culturais, assim como alguns hábitos de consumo de cinema, noções gerais sobre
o mesmo e algumas considerações laterais (importância de comércio envolvente).

A análise dos resultados foi feita com recurso a leituras exploratórias sobre temas
considerados fundamentais para o âmbito da investigação, nomeadamente as
origens do cinema, a evolução das salas de cinema na cidade do Porto, assim
como questões relacionadas com a tecnologia, formas alternativas de ver cinema
e entrevistas exploratórias, realizadas por email (anexo II, pp. 19-20), a peritos
que se focaram nas suas perceções dos fatores que influenciam o sucesso ou
insucesso das salas de cinema na cidade do Porto.

ANÁLISE DE RESULTADOS

Por força da utilização da técnica de levantamento de dados referida


anteriormente, é necessário proceder a uma rápida caraterização demográfica da
amostra, através da análise das respostas às perguntas iniciais do questionário
autoadministrado. Assim, surge que:

 A amostra apresenta uma divisão significativa em termos de género, com


uma predominância (65,8%) dos inquiridos a identificarem-se com o
género feminino. O que representa uma disparidade significativa com os
dados oficiais da distribuição por género da população portuguesa, onde a
percentagem do género feminino se situa por volta dos 52%. (Portugal em
Números, 2017)
 83,5% dos inquiridos identificam-se como tendo entre 16 e 32 anos;
 39,7% dos inquiridos residem no concelho do Porto, seguido de 15,2%
residentes em Vila Nova de Gaia, fazendo destes os dois concelhos mais
representados;
 Por força do método de amostragem utlizado, 44,7% dos inquiridos são
estudantes a tempo inteiro. Contudo, existem 27,4% de participantes que
se identificam apenas como trabalhadores por conta de outrem, 11,8%
acumulam as duas situações (trabalhadores-estudantes) e ainda uma fatia
significativa neste universo (8,9%) de trabalhadores por conta própria;
 65,5% dos participantes dizem pertencer a agregados familiares com 3 ou
mais elementos, o que é indicador da tendência crescente para os jovens
se manterem “na casa dos pais” por mais tempo;
 Por fim, foi ainda apurado que 62,4% dos inquiridos não utiliza carro próprio
como meio de transporte predominantemente utilizado.

Após estas considerações, e por confronto direto com as hipóteses, vem que:

Hipótese 1: A comédia e o drama surgem como género de filme eleito para


30,8% e 27,4% dos participantes, respetivamente; a existência de tecnologias
3D ou IMAX só se revela importante para 18,1% e 24% dos participantes,

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

respetivamente. Destes totais, apenas 6% dos participantes se revelam na


interseção entre as variáveis.

Hipótese 2: 73,8% dos inquiridos afirmam perentoriamente a preferência por


uma sala de cinema com sessões regulares na baixa do Porto; 57,8% dos
participantes revela preferir ir ao cinema se puder fazer uma refeição antes ou
depois da sessão, e ainda 63,3% consideram muito importante a existência de
comércio na proximidade do cinema. Verifica-se também que 51% das pessoas
consideram importante ou indispensável a existência de artigos alimentares
para consumo no próprio cinema.

Hipótese 3: A preferência por salas fora de centros comerciais já havia sido


quantificada na análise da hipótese 2, como sendo de 73,8% dos participantes.
Na categoria preço, 72,2% dos inquiridos consideram o valor “inferior a 5€”
como justo para uma sessão de cinema. De igual modo, quando se solicita
diretamente uma seleção do fator mais importante caso existisse uma sala de
cinema na baixa do Porto, o preço surge como escolha de 72,6%, sendo que o
género de filmes e a localização aparecem nos lugares seguintes, com uma
representação de 63,3% e 57,4% respetivamente.

CONCLUSÕES

Assumamos então os seguintes pressupostos sobre a natureza do ser humano e


o seu processo de tomada de decisão:

O comodismo é uma realidade inescapável, inata a todos nós. Num paralelismo


com a Física, e de forma livre, pode mesmo assumir-se que o ser humano se
comporta à luz da 1.ª Lei de Newton (inércia). Isto traduz-se na tendência pela
escolha do caminho mais fácil, muitas vezes desconsiderando outros fatores que,
à priori mais importantes isoladamente, perdem a sua expressão “in the big
picture”;

A tendência para a rotina verifica-se a todos os níveis da vivência, em que optamos


mais facilmente pelo que já nos é familiar em vez de tentarmos explorar novas
vivências. Novamente, à luz da ciência, podemos de forma livre associar esta
apetência para a rotina com a lei da evolução de Darwin: seremos tão mais
propensos a sobreviver quanto mais fortes, isto é, estamos biologicamente
predispostos a enveredar pelos caminhos já desbravados, onde nos sentimos
inconscientemente mais fortes e aptos.

Ora, à face dos números, e tendo em conta que se está a medir um fenómeno
social, em tudo determinado pela natureza humana, conclui-se que:

O sucesso ou insucesso de uma sala de cinema, como qualquer negócio, depende


em muito da conjugação entre o ambiente externo e o ambiente interno da
organização, pelo que não é viável descuidar a natureza empresarial e o lado
financeiro associado à exploração comercial de uma sala de cinema.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

Assim, olhando para os inquiridos como potenciais clientes, surge que:

- Há uma clara preferência pela baixa do Porto como localização da sala de cinema;

- É imprescindível haver espaços de restauração nas imediações, com horários o


mais aproximado possível das sessões;

- Grosso modo, quanto mais barato for o bilhete do cinema, maior a probabilidade
de encher uma sala.

Pela revisão da literatura, verifica-se que, historicamente e até aos dias de hoje,
as salas de cinema não inseridas em centros comercias praticam preços de bilhete
dentro dos valores de eleição dos consumidores. Contudo, e simplesmente
passeando pelas ruas envolventes aos cinemas incluídos na iniciativa Tripass,
verifica-se que não existe uma grande oferta de espaços de restauração. Aliás,
com horários alargados só existe mesmo o McDonald’s Imperial (Praça da
Liberdade) e o café Almada (Rua Dr. Ricardo Jorge). Na rua Passos Manuel, até
existe o famoso café Santiago, mas não se vislumbra como opção, quer pelo preço
médio de uma refeição, quer pelo elevado fluxo de clientes, que obriga a um
também elevado tempo de espera, incomportável para quem está na zona com
um horário a cumprir (exibição da sessão de cinema). Importa referir que,
geograficamente colocado de forma mais ou menos equidistante das três salas
existe o centro comercial Via Catarina, cuja praça de alimentação contém
restaurantes com algum reconhecimento de mercado, mas que encerra às 22
horas de segunda a sábado e às 21 horas aos Domingos e Feriados, o que também
lhe retira o caráter atrativo para quem é trabalhador (a tempo inteiro ou
conjugado com estudos), assim como para quem tem preferência pelas sessões
com horário noturno (considere-se após as 21horas).

Ir ao cinema já não é só, e possivelmente nunca foi simplesmente ver um filme.


O ato de ir ao cinema comporta um significado mais abrangente: ir ao cinema é
um evento, é uma ocasião especial, é encarado como um momento não só de
cultura, mas de lazer e de prazer. Prova disso é o facto de os participantes terem
sido categóricos em duas questões: 72,2% dizem precisamente que ir ao cinema
é uma ocasião especial e 93,2% não o fazem sozinhos, provando, à margem de
qualquer dúvida, o caráter mágico e especial que atribuem a este ato, numa
espécie de comunhão entre as pessoas e a arte. O cinema é a mais acessível e
próxima forma de arte às massas.

Assim, e apoiado nos pressupostos da natureza humana assumidos e expressos


por Dorminsky, é possível deduzir que uma sala de cinema precisa de estar
implementada numa zona desenvolvida a nível comercial. Estacionamento, ainda
que a maioria dos inquiridos não se desloque predominantemente de carro, é
sempre uma variável a considerar, pois, se por um lado, o uso do carro se pode
considerar em desuso, por outro lado uma ida ao cinema, como ocasião, pode
justificar um uso esporádico deste meio de transporte, fazendo assim aumentar a
probabilidade de um espetador ir utilizar esta valência da sala.

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

A existência de comércio envolvente, não só pela sensação cosmopolita que


imprime à área de implantação da sala, é claramente determinante, pelo que,
mais do que abrir uma sala numa zona desenvolvida, deve utilizar-se a sala como
âncora de desenvolvimento de novos pontos de comércio na cidade. Deve o
cinema aliar o seu caráter especial, o seu estatuto de promotor de hábitos, à sua
força de atrair clientes para potenciar o retorno económico da cidade, através da
oportunidade excelente de negócio que é abrir uma loja, preferencialmente um
espaço de restauração com preços acessíveis, nas imediações daquela nova sala
de cinema da cidade.

De futuro, revela-se pertinente a elaboração de um estudo que se debruce sobre


as políticas culturais e de inovação do atual executivo municipal, responsável pela
iniciativa Tripass, nomeadamente na forma como as mesmas influenciarão a
possível abertura, sobrevivência, manutenção ou expansão de salas de cinema no
Porto, não só na baixa, mas também nas zonas ocidental e oriental da cidade. Por
exemplo, foi lançado recentemente um projeto de requalificação urbana para
Campanhã (Operação de Reabilitação de Campanhã-Estação investe 75 M em 10
anos, 2016), e apresenta-se válida uma investigação que demonstre a viabilidade
da implantação de uma sala de cinema como parte deste projeto.

Como alternativa, seria também pertinente um estudo de caso relativamente ao


cinema Trindade, cuja reabertura está prevista para o primeiro trimestre do ano
2017.

Por conseguinte, e em suma, os investigadores concluem que mais do que o preço,


o género de filmes e a localização, não obstante o seu peso e importância, a
variável que se assume como predominantemente determinante no sucesso ou
insucesso de uma sala de cinema na baixa do Porto é a existência de comércio
alimentar na dependência ou em proximidade da sala, com horário adaptado às
exigências da vida moderna dos espetadores, com uma oferta equilibrada à luz da
conjuntura económica atual, e sobretudo, com o reconhecimento de que a arte
está ao serviço da humanidade, só à espera que dela se retire todo o potencial.

“The cinema is not an art which films life: the cinema is something
between art and life.”
Jean-Luc Godard

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

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Portugueses voltaram a ir mais ao cinema em 2016. (31 de Dezembro de 2016). Obtido de


Público: https://www.publico.pt/2016/12/31/culturaipsilon/noticia/dois-anos-seguidos-de-
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http://www.porto24.pt/cultura/salas-vazias-de-cinema-e-futuro/

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ANEXOS

Anexo I. Estrutura de questionário autoadministrado

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O Projeto Tripass: Cinema de regresso à Baixa do Porto

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Anexo II. Guião de entrevistas exploratórias

Este estudo pretende abordar a questão da perceção do cinema da


população da área metropolitana do Porto. Nesse sentido,
gostaríamos de colocar um pequeno conjunto de questões.

1) Na sua opinião, qual/quais o(s) fator(es) que considera terem uma


maior influência no número de espetadores de uma sala de cinema?
2) Neste domínio ainda, considera o fator “preço do bilhete” como sendo
o de maior peso na decisão de se assistir a um filme numa sala de
cinema?
3) Considera, do ponto de vista estritamente financeiro, possível que
uma sala exiba sessões regulares com o preço do bilhete inferior a
5€?
4) Empiricamente, deduz-se que, aquando da implantação de um
negócio, a localização do mesmo é um fator decisivo no sucesso dessa
aventura empresarial. Considera que esta ideia se aplica, de alguma
forma, no sucesso de uma sala de cinema? No caso específico do
Teatro Municipal Rivoli, considera que a sua localização na Praça D.
João I, a cerca de 100 metros da Avenida dos Aliados, é um trunfo
no seu percurso?
5) É ainda habitual a preferência dos espetadores por cinema comercial,
seja por gosto pessoal ou por qualquer outro motivo.

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Partindo deste pressuposto, considera que o género de filmes exibido


é preponderante na adesão de espetadores?
6) Na sua experiência como programador, e assumindo que o senso
comum dita uma preferência dos espetadores pelo “cinema
comercial”, considera que a programação de uma sala de cinema
deve contrariar essa tendência?
Deverá o cinema funcionar como uma forma de “educar” o espetador?
Se sim, será rentável?
Nesta linha de pensamento, acredita que a exibição de cinema
português contribui para o sucesso da sala de cinema?
7) Na última década, assistiu-se a diversos avanços tecnológicos
significativos nas mais diversas áreas. É por isso cada vez mais
notória a presença e significância da tecnologia no quotidiano.
Considera que a existência de tecnologia, por exemplo, 3D e IMAX, é
um fator que acrescenta valor à sala, e se traduz, por consequência,
num aumento do número de espetadores?

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