O JOGO DA REPRESENTAÇÃO
Hiato entre sociedade civil e sociedade política faz parte
da democracia e só poderia ser superado por um Estado
totalitário
Autonomia relativa
Por isso a prática da política se resume num "jogo" em que o
lado do representado e o lado do representante são mantidos
soberanos graças à sustentação relativa de suas próprias
regras. A escalada ao infinito da regra e seu pastoreio se
resolve, numa democracia representativa, naquele jogo do
próprio sistema político que vem a ser capaz de legislar sobre
si mesmo e controlar suas atividades, na medida em que ele é
jogo e especifica suas funções nos três poderes: Legislativo,
Executivo e Judiciário.
Isso posto, como abolir o hiato entre a sociedade civil e a
sociedade política? Essa distância só pode ser coberta por um
Estado totalitário.
É graças a esse jogo que se explica a possibilidade de o
representante votar uma lei a que "todos" os representados se
furtariam se o pudessem. Não é o que acontece com os
impostos? Consenso e dissenso andam juntos sem nunca se
fundirem. Por isso é que me preocupo com tendências, muito
presentes na sociedade brasileira, de subordinar o sistema
político às necessidades da sociedade civil, como se questões
de direito e de liberdade fossem de somenos. No limite, essa
subordinação somente seria possível se o curador fosse o
soberano absoluto, ainda que hoje em dia possa se chamar
"partido".
O grau de democracia de uma sociedade não se mede apenas
pela multiplicação das instâncias deliberativas, mas ainda,
creio eu, pela autonomia relativa que assume o jogo político
com suas regras e suas práticas, embora sempre careça de
mudança, para melhor ou para pior.
do Mais!.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1010200413.htm 4/4