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TECNOLOGIA FARMACÊUTICA II

SUSPENSÕES: 2

Ana Francisca Bettencourt


E-mail: asimao@ff.ul.pt

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SUSPENSÕES

SUMÁRIO

SUSPENSÕES
• Aspetos teóricos (continuação).
• Desenvolvimento. Formulação.

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos (continuação)

Aspetos de estabilidade

❑ Sedimentação (Lei de Stokes, limitações)

❑ Suspensões floculadas e defloculadas. Redispersibilidade

❑ Floculação controlada (eletrólitos, polímeros, avaliação)

❑ Efeito do tamanho de partícula

❑ Efeito do crescimento do cristal

❑ Uso de veículos estruturados

❑ Reologia

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Sedimentação

Lei de Stokes Reduzir Vs?


Aumentar a estabilidade física através da alteração de 1 ou mais
parâmetros:

• Redução do raio das partículas ( tempo e velocidade de agitação;


otimizar os parâmetros de produção)
• Aumento da viscosidade (adição de viscosantes, derivados da
celulose, gomas).
• Diminuir diferença de densidade. Se for zero, não há sedimentação.
Vs = velocidade de sedimentação (ms-2) modificadores de densidade (ex: sorbitol, manitol)
r = raio da particula (m)
g = aceleração da gravidade (ms-2) Limitações à Lei de Stokes
rp = densidade da fase dispersa (FI) (kgm-3) • Para concentrações de sólido superiores a 2%
rf = densidade da fase dispersante (FE) (kgm-3) deve-se usar a equação de Kozenie.
h = viscosidade do meio (Pas)
• Assume-se forma esférica e uniformidade de tamanho.

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Suspensões floculadas e defloculadas. Redispersibilidade

Comparação entre suspensões floculadas (“non-caked”) e defloculadas (“caked”)

Propriedades Defloculada Floculada


Partículas Existem em entidades Formam agregados pouco
separadas compactos (flocos)
Velocidade de Lenta Elevada
sedimentaçao
Estrutura do sedimento Compacto Estrutura porosa (scaffold-
like), manutenção do líquido
intersticial
Redispersibilidade Difícil Fácil
Sobrenadante Turvo Limpido

Potencial zeta?

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Suspensões floculadas e defloculadas. Redispersibilidade

Sistemas defloculados (a,b,c) Sistemas floculados (d,e,f)

• Velocidade de sedimentação • Facil redispersão.


baixa  dosagem uniforme
• Sedimentação rápida: não uniformidade
• Sedimento é compacto e difícil das doses.
de redispersar (“caking”)

FLOCULAÇÃO CONTROLADA? situação ideal


Adaptado de: Billany M, 2002. Suspensions and Emulsions, In: Pharmaceutics:
The Science of Dosage Form
Design, Ed., Aulton ME. 2nd ed., Churchill Livingstone, Philadelphia, PA, pp 334–359.

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Suspensões floculadas e defloculadas. Redispersibilidade

• Redispersibilidade
• Volume de sedimentação (VSED):

VSED = Vs (hs)/ Vl (hl)

✓ Normalmente varia entre 0 e 1.


✓ Valor da floculada é superior a defloculada?
✓ Valor ideal?
✓ Representação em função do tempo

Fonte: Martin AN, 2006. Coarse Dispersions, In: Martin’s


Physical Pharmacy and Pharmaceutical Sciences,
Outros métodos: eletroforese, microscopia Ed., Sinko, PJ, 5th Edition, Lippincott Williams & Wilkins,
Philadelphia, PA, pp 499–530.
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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Suspensões floculadas e defloculadas. Redispersibilidade

Grau de floculação:

 = VF/VD = 80/20 = 4

✓ Razão entre o volume de sedimentação da


suspensão floculada (VF) e defloculada (VD)

Adaptado de: Martin AN, 2006. Coarse Dispersions, In: Martin’s


Physical Pharmacy and Pharmaceutical Sciences,
Ed., Sinko, PJ, 5th Edition, Lippincott Williams & Wilkins,
Philadelphia, PA, pp 499–530.
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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Floculação controlada (eletrostática)

✓ Pode ser obtida combinando: o tamanho da particula, viscosidade e/ou usando agentes floculantes (eletrólitos,
tensioativos e polímeros).

✓ O primeiro passo na preparação da suspensão é molhar as particulas com tamanho já reduzido, seguindo-se a
✓ adição de agentes suspensores.

✓ Dependendo da carga das partículas e dos tensioativos a suspensão resultante pode ser floculada ou defloculada.

✓ Se for defloculada tem de se adicionar um agente floculante.

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Floculação controlada (eletrostática)

Diagrama : floculação controlada de partículas de nitrato de bismuto (III) em suspensão.


Floculante: dihidrogenofosfato de potássio.

• Os floculantes alteram o potencial zeta


• Classes usadas: tensioativos, eletrólitos, hs/hl
polímeros
• Se o potencial zeta for muito elevado o
sistema deflocula (elevada repulsão) potencial zeta

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Floculação controlada (polímeros)

Adsorção e floculação com coloides protetores (estabilização estérea)

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Modelo dinâmico das interações das suspensões


Estabilização eletrostática e estérea

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Efeito do tamanho/distribuição/concentração

✓Tamanho influencia diretamente a sedimentação.

✓Particulas de tamanho muito reduzido: usar floculantes (para


não formar “caking”)

✓> 5 mm, não são adequadas para via parentérica e oftálmica.

✓Tamanho influencia biodisponibilidade.

✓Reduzida polidispersão permite velocidade de sedimentação


controlada.

✓ Suspensões concentradas, elevada interação partícula- Exemplo de distribuição do tamanho de partículas


particula, efeito na viscosidade (aumenta) ou tixotropia.

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Efeito do crescimento dos cristais


• “Ostwald ripening”: influencia a sedimentação, estabilidade física,
redispersibilidade, aspeto, biodisponibilidade.
• Distribuição de tamanho varia com o tempo devido à formação de cristais.
• Estratégia: tensioativos ou polímeros coloidais que serão adsorvidos na superfície
da partícula
• Polimorfismo: formas metastáveis (menos estável, mais solúvel)  transição
para forma mais estável (diminui solubilidade, ocorre cristalização).
• Estratégia: usar a forma polimórfica mais estável

Uso de veículos estruturados

• Soluções aquosas de polímeros naturais ou sintéticos (ex., metilcelulose,


carboximetilcelulose sodica, acácia)  agentes viscosantes (emulgentes
secundários)

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

• Imagem obtida por microscopia ótica de suspensão de Mg(OH)2 com 30% de polimero.

Fonte: Chemical Engineering Science 231(12) DOI:10.1016/j.ces.2020.116274

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SUSPENSÕES: Aspetos teóricos

Reologia

Fatores que influenciam o comportamento reológico:

✓ Fração da fase dispersa

✓ Forma e distribuição de tamanho das particulas

✓ Viscosidade da fase dispersante

✓ Temperatura
Equipamentos?

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SUSPENSÕES: Desenvolvimento

• No desenvolvimento de suspensões a preocupação principal centra-se no facto destes sistemas serem


instaveis termodinamicamente.

• Uma suspensão adequada deve:

✓ Permanecer em suspensão o tempo suficiente para ser administrada ao doente


✓ O material suspenso não deve depositar muito rapidamente
✓ Ausência de flutuação de partículas
✓ Ausência de crescimento de cristais
✓ Facilmente redispersa por agitação
✓ Propriedades de escoamento adequadas (a suspensão não pode ser muito viscosa para poder
ser facilmente removida do recipiente ou para fluir pela agulha de uma seringa).

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SUSPENSÕES

Formulação das suspensões

Formulação das suspensões

• Pré-formulação
• Componentes de uma suspensão: fármaco, sistema
suspenso e veículo suspensor

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SUSPENSÕES

Formulação das suspensões

Exemplo de fatores a considerar na fase de desenvolvimento (QTPP):

• API (dose, propriedades físico-químicas e biofarmacêuticas)


• Via de administração
• População alvo
• Dimensão das partículas e área superficial, crescimento de cristais, polimorfismo
• Propriedades físico-químicas dos outros componentes do sistema
• Propriedades de escoamento
• Compatibilidade fármaco-excipiente; material de acondicionamento
• Estabilidade da suspensão

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SUSPENSÕES

Formulação das suspensões

1. Componentes do sistema suspenso (ou fase interna):


• molhantes
• floculantes,
• defloculantes
• viscosantes

2. Componentes do veiculo suspensor (ou fase externa):


• veículos
• conservantes
• corretores de pH e tampões
• corretores de osmolaridade
• corretores de sabor, odor, cor

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SUSPENSÕES: componentes

Molhantes (dispersantes)
Tensioativos (polisorbatos e ésteres de sorbitano), coloides hidrofílicos (goma arábica, goma
adragante, goma xantana, alginatos, derivados da celulose, bentonite, silicate de magnésio e
aluminio, hidróxido de aluminio,), solventes (álcool, glicerina e glicóis)
Componentes do sistema

Floculantes (dispersantes)
Eletrólitos inorgânicos (sais sódicos de acetato, fosfato e citrato); tensioativos (iónicos e não
suspenso (FI)

iónicos), polímeros (amido, alginatos, derivados da celulose, gomas, etc.)

Agentes suspensores
Colóides hidrofílicos, aumentam também a viscosidade.
alginato de sódio, derivados da celulose

Agentes viscosantes, espessantes


Polissacarídeos, celuloses hidrossoluveis, siliccatos hidratados, dióxido de silicone coloidal

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SUSPENSÕES: componentes

Veículos
água, óleos (óleo de milho, óleo de soja),vaselina líquida, sorbitol
veículo suspensor (FE)
Componentes do

Molhantes/humectantes e co-solventes
Tensioativos, coloides hidrofílicos, solventes

Tampões, osmóticos, anti-espuma


citrato de sódio (tampão), cloreto de sódio (isotonicidade)

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SUSPENSÕES: componentes

Estabilizadores
Antioxidantes (BHT, ácido ascórbico, sulfito e metabissulfito de sódio,
vitamina E), quelantes de metais (EDTA, ácido cítrico)
veículo suspensor (FE)
Componentes do

Conservantes
Metil e propilparabeno, álcool benzilico, ácido bórico

Agentes edulcorantes ou modificadores do sabor;


modificadores do cheiro (aromatizantes); corantes
Xarope simples, sorbitol, sacarina

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SUSPENSÕES

Desenvolvimento de suspensões

Considerações gerais

- Redução do tamanho das partículas. Controlo das dimensões das


partículas (=> biodisponibilidade, taxa de libertação)

- Molhagem das partículas sólidas

- Agentes suspensores e viscosantes

- Parâmetros do processo: mistura e agitação, homogenização,


temperatura, vácuo…

– Decidir se os sólidos são suspensos por floculação controlada (eletrólitos,


tensioativos) ou adição de sólidos estruturantes (gomas naturais ou
sintéticas).

– Investigar: Incompatibilidades químicas, interações das partículas no


líquido Ana Bettencourt_Suspensões_TecFarmII_2022 © 24
SUSPENSÕES

Estabilidade

• Estabilidade das suspensões: química, física e microbiologica


“Agite antes de usar” para todas as suspensões?

Fármaco e adjuvantes devem manter Estabilidade Química:


• Estrutural
• Não interagir entre si
• Não interagir com recipientes e medidas
• Identificar produtos de degradação
• Estabilidade durante o prazo de validade. Condições, temperatura, armazenamento, luz, pH

Instabilidade física e/ou química – preparação extemporânea

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SUSPENSÕES

Estabilidade

Estabilidade física (incluindo estéreis)


•Redispersibilidade
•Crescimento de cristais ou alterações na distribuição de tamanho das partículas
•Seringabilidade (passagem através da agulha)
•pH

Estabilidade deve ser avaliada:


•Ciclos de temperatura de congelação / descongelação
•Centrifugação
•Testes simuladores de transporte (shipping test): testes de vibração, agitação e impacto

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SUSPENSÕES

Estabilidade

Estabilidade biológica
Manutenção da carga microbiana em níveis aceitáveis (dentro dos limites) ou manutenção da
esterilidade (se estéril)

Conservação: pode ser apropriado a inclusão de conservante (por exemplo, quando forem utilizadas substâncias
de origem natural)

Fontes de contaminação: ar e água, matérias-primas, equipamento, pessoal, consumidor


•Conservantes microbiológicos e agentes quelantes
•Efeitos dos componentes da formulação na atividade do conservante: pH, coeficiente de partilha, adsorção,
produção e embalagem, carga biológica
•Avaliação da sua eficácia
•Embalagem e armazenamento

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