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Introdução aos Contratos na Mineração


por Alexandre Sion
Introdução
A atividade minerária compreende uma diversa gama
de atividades e transações inter-relacionadas, tais como
a aquisição de propriedades, transações de minérios e
títulos minerários, construção da infraestrutura de minas,
barragens e outras estruturas relacionadas etc.

Devido à dinamicidade das atividades e transações


inerentes à mineração, as mais variadas espécies de
contratos estão incorporadas às rotinas dos players do
setor, tratando-se de contratos específicos, tais como
contratos imobiliários com superficiários, contratos de
cessão e arrendamento de direitos minerários, servidão,
locação, venda de minério, transporte, entre outros.

Assim, é necessário capacitação específica para


elaborar, revisar e analisar contratos de diferentes níveis
de complexidade, aliando a teoria e a prática de um
mercado cada vez mais especializado e complexo.
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Dicas e conhecimentos básicos para elaborar
contratos no setor minerário
Assim como qualquer negócio jurídico contratual, os contratos do setor minerário obedecem
aos fundamentos da Teoria Geral dos Contratos e do Direito das Obrigações, sem perder de
vista as peculiaridades da atividade minerária. Veja quais são as etapas primordiais para elaborar
contratos no setor minerário.

Conheça o Direito Minerário


Muito além de conhecer um dispositivo de lei, é preciso compreender todo o sistema jurídico que
rege a atividade minerária, compreendendo, além dos pressupostos jurídicos, os pressupostos
naturais e econômicos. As peculiaridades são muitas e devem ser consideradas na elaboração
dos contratos.

Conheça os outros ramos do direito


Para elaboração de um contrato é preciso conhecer profundamente os fundamentos e normas
do direito civil; especialmente sobre contratos e obrigações; além de entender sobre direito
ambiental, administrativo, constitucional, tributário, empresarial etc.

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Teoria Geral dos Contratos
Um contrato é um negócio jurídico bilateral ou
plurilateral que visa à criação, modificação ou extinção
de uma relação jurídica de conteúdo patrimonial.

Para Maria Helena Diniz,

“contrato é o acordo de duas ou mais vontades,


na conformidade da ordem jurídica, destinado a
estabelecer uma regulamentação de interesses
entre as partes, com o escopo de adquirir,
modificar ou extinguir relações jurídicas de
natureza patrimonial”.

Recomenda-se atenção à legislação minerária,


especificamente em relação aos requisitos específicos,
para avaliação da licitude e possibilidade jurídica do
objeto contratual e para eventuais formas exigidas
pela lei.
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Requisitos de Validade dos Contratos
(Art. 104, Código Civil)

Requisitos Subjetivos Requisitos Objetivos Requisitos Formais

Manifestação de vontade Forma prescrita ou não


Licitude do objeto
de duas ou mais partes defesa em lei

Capacidade genérica das Possibilidade jurídica ou física


-
partes do objeto

Consentimento livre e Objeto deve ser determinado


-
espontâneo das partes ou determinável

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Princípios Contratuais
• Autonomia da Vontade (liberdade contratual)
• Relatividade dos Efeitos Contratuais
• Obrigatoriedade (pacta sunt servanda)
• Boa-Fé Objetiva
• Equilíbrio Econômico
• Função Social do Contrato

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Visite o empreendimento e
converse com os gestores
Conhecer a legislação é importante mas, tão
importante quanto é conhecer a atividade, entender
como se dá a operação do empreendimento. Entender
o planejamento do negócio também é de suma
importância.

As jazidas são peculiares e os sujeitos envolvidos


também. Por isso, apesar de seguirem regime jurídico
comum, as atividades são desenvolvidas de formas
diversas, ensejando conhecimentos específicos.

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Conhecer os
objetivos e
interesses
das partes e
do negócio é
fator crucial na
elaboração de
bons contratos.
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Contratos típicos do setor minerário
A atividade minerária compreende uma
diversa gama de atividades e transações
inter-relacionadas, tais como a aquisição
de propriedades, transações de minérios
e títulos minerários, construção da
infraestrutura de minas, barragens e
outras estruturas relacionadas etc.

Por resultado, tem-se um grande


número de contratos intrinsecamente
relacionados ao setor.

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Os contratos típicos do setor são:
• Contrato de cessão do direito minerário.

• Contrato de arrendamento do direito minerário.

• Contratos imobiliários: compra e venda; arredamento; servidão; comodato; cessão hereditária;


cessão direitos possessórios.

• Contrato de Compra e Venda de Minério.

• Contrato de Transporte.

• Engineering, Procurement and Construction – EPC.

• Contrato de Fornecimento.

• Contrato de Prestação de Serviços.

• Contratos relacionados às transações minerárias: acordos preliminares, due diligences,


formalização (assinatura/signing de contratos e fechamento/closing), Compra e Venda de
Ações (SPA), Compra e Vendas de Ativos etc.
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Seja específico
e objetivo!
Com o conhecimento da legislação aplicável, do empreendimento e dos interesses envolvidos,
você está no caminho para elaborar um ótimo contrato.

Mas cuidado! Não se perca na hora de redigir o instrumento. Tenha foco nos objetivos e
interesses envolvidos!

Inicialmente defina o objeto do contrato a ser elaborado e seja específico nas previsões.

Não deixe lacunas! Aborde todas as hipóteses, seja detalhista, mas escreva somente o
necessário. Seja objetivo!

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Contrato de Cessão e Transferência
Conforme previsão constitucional, os títulos minerários são passíveis de cessão e transferência,
total ou parcial, tratando-se de modo extraordinário e secundário de aquisição.

Para efetivar a transferência dos títulos minerários é essencial anuência da União, uma vez que
as jazidas e os recursos minerais são de seu domínio e de interesse nacional, havendo, assim,
que resguardar o controle pela Administração Pública. Os atos de cessão e transferência só
terão validade após averbados pela ANM.

Cabe à União controlar a forma de exercício do título minerário, garantindo que o título seja
transferido para aquele que detenha as características exigidas pela lei, sob pena de colocar em
risco uma atividade estratégica para o desenvolvimento nacional.

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A anuência da União é uma análise vinculada, pois uma vez satisfeitos os pressupostos legais
para transferência e cessão, não poderá a Administração Pública negá-las. Ainda que a
justificativa para o indeferimento seja a possível ausência de interesse público, tratando-se de
uma regra aberta, a decisão deverá ser devidamente fundamentada.

É possível realizar a transferência parcial ou total, desde que o fracionamento não comprometa
o uso racional da jazida e que fiquem evidenciadas a viabilidade técnica e a economicidade do
aproveitamento autônomo.

O contrato de cessão e transferência é um acordo de vontades, pautado na liberdade contratual,


cabendo à ANM apenas verificar o cumprimento dos requisitos da legislação minerária.

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Quais direitos posso transferir?
A legislação minerária admite a cessão e
transferência dos seguintes títulos e direitos:
Atenção!
• Alvará de Pesquisa
• Registro de Licença
• Permissão de Lavra Garimpeira Requerimento de
pesquisa, de licença
• Direito de requerer a Lavra
e de lavra garimpeira
• Requerimento de Lavra
não podem ser
• Concessão de Lavra cedidos e transferidos.

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Atenção para os documentos que devem
acompanhar seu requerimento.
Não podem faltar:
• Documentos previstos nos art. 226 a 240
e 243 a 245 da Portaria 115 do DNPM.

• Justificativa técnico-econômica adequada.

• Indicação das poligonais da área.

• Compatibilidade entre área cedida e área


titulada.

• Preenchimento dos requisitos legais pelo


cessionário.

• Adequação ao interesse público.


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Contrato de Arrendamento
O contrato de arrendamento tem como objeto a exploração da jazida sem a transferência da
titularidade do direito minerário. É admitido apenas para os regimes de concessão de lavra e
manifesto de mina, podendo ser total ou parcial.

Pode ser ajustado como pagamento, a transferência, no todo ou em parte, do produto da lavra.
Poderá, ainda, ser pactuada a transferência de compra do produto mineral pelo titular.

Para o exercício regular da atividade pelo arrendatário é essencial obter prévia anuência e
averbação pela ANM.

O arrendatário somente poderá executar as atividades de lavra objeto do contrato de


arrendamento após a averbação pela ANM e a expedição de licença de operação em seu nome.

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Contrato de Arrendamento - Solidariedade
O arrendatário assume a responsabilidade de recuperar a área minerada.

Durante o prazo do contrato de arrendamento, o arrendatário e o arrendante respondem


SOLIDARIAMENTE por todas as obrigações decorrentes da concessão de lavra ou do
manifesto de mina, sob pena de adoção das medidas cabíveis.

Atenção:
A solidariedade deve constar do contrato de arrendamento, sob pena de indeferimento do
pedido de anuência e averbação após formulação de exigência.

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A anuência e averbação do contrato de arrendamento
pode ser indeferida nos seguintes casos:
• Houver exercício de lavra ilegal na área arrendada.
• Dívida relativa à CFEM.
• Arrendamento de outros direitos minerários que não o de concessão de lavra ou manifesto
de mina.
• Subarrendamento.
• Requerimento não estiver devidamente instruído na forma e com os documentos de que
tratam os art. 133 e 134 da Portaria 115 do DNPM.
• Não acolhimento da justificativa técnico-econômica.
• Erro na indicação das poligonais da área.
• Área esteja fora, total ou parcialmente, da área titulada.
• Não for cumprida exigência.
• Arrendatário não preencher os requisitos legais; ou
• Interesse público assim o exigir.

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Contrato de Arrendamento
• Prazo máximo: 30 anos.

• Vedado contrato por prazo indeterminado.

• Admite prorrogação, sendo possível alterar apenas aspectos referentes a preço, formas de
pagamento e prazo, sob pena de indeferimento.

• O termo inicial do prazo contratual é computado a partir da sua averbação na ANM,


independentemente do termo inicial pactuado pelos contratantes, respeitado o termo final
estabelecido no contrato.

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Contratos Imobiliários
Conforme disposto na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (art. 176),
as jazidas e recursos minerais possuem propriedade distinta do solo e subsolo, integrando o
patrimônio da União, ainda que se encontrem em terras privadas.

Para concretizar a atividade minerária de pesquisa ou lavra mineral, o minerador precisa, por
óbvio, acessar o imóvel relacionado à poligonal de seu título minerário.

Além disso, não raras vezes, o minerador precisará de acesso e posse de imóveis para atividades
acessórias à lavra, através, entre outras, da instituição de servidão minerária para instalação de
barragens de rejeitos, minerodutos, linhas de transmissão de energia elétrica, entre outros.

Dessa forma, caso o titular do direito minerário não seja proprietário do solo, será necessário
regular o uso do solo com o proprietário da terra.

O superficiário faz jus ao recebimento de renda pelo uso da terra, indenização pelos danos
causados pela atividade minerária e participação no produto da lavra.

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O contrato firmado entre superficiário e minerador possui natureza privada e não depende de
anuência e averbação do órgão minerário.

Caso não consigam resolver de forma amigável, deve seguir o procedimento descrito no art. 27
do Código de Minas (Decreto Lei 227/67 ), para que o valor da renda e da indenização sejam
definidas no judiciário.

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Contrato de Compra e Venda de Minério
Conforme disposto no Código Civil de 2002, pelo
contrato de compra e venda, um dos contratantes
se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o
outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.
Mercado à Vista
A compra e venda pode ter por objeto coisa atual
ou futura, ficando sem efeito o contrato se esta não Mercados Futuros 
vier a existir, salvo se a intenção das partes era de
concluir contrato aleatório.

Se a venda se realizar à vista de amostras,


protótipos ou modelos, entender-se-á que o
vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a
elas correspondem.

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Mercado Futuro Mercado Spot
Compra e venda de uma determinada Compra e venda imediata com o
quantia em data futura. pagamento à vista.

Considerando as oscilações do valor da Esse tipo de contrato é utilizado em


commodity e o risco que isso representa transações instantâneas, nas quais a
para a sustentabilidade financeira das entrega da mercadoria é imediata e o
empresas, o contrato futuro é uma pagamento realizado à vista, contrastando
opção, no sentido de que as partes com a natureza do mercado futuro.
se comprometam a comprar e vender
determinada quantidade de minério
em uma data futura, mas com valores
definidos.

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Streaming Arrangement
Fornecimento continuado de minério com o pagamento antecipado.

Trata-se de um contrato atípico, que funciona como um contrato futuro, pois pactua a venda do
minério a longo prazo, mas com pagamento imediato e continuado; ainda carente de disciplina
legal específica.

Para o minerador, representa suporte financeiro para o empreendimento, garantindo a venda


da matéria a ser produzida e a recepção de recursos financeiros para manutenção da atividade.
Para o comprador também pode ser interessante, pois estabelece parâmetros de preço do
minério, evitando a exposição a possíveis altas do valor de mercado.

Considerando o caráter continuado do contrato, o preço, normalmente costuma ser estabelecido


entre menor valor de mercado e o valor pactuado por medida de produção. 

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Contrato de Transporte
O transporte dos recursos minerais pode ser realizado pelo próprio produtor (caso disponha
desse serviço) ou por terceiros contratados. Independente da forma adotada pelos contratantes
é importante se atentar às disposições legais e adotar as cautelas necessárias.

Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar


para outro, pessoas ou coisas. Uma vez assumida a obrigação de transportar o minério, o
transportador assumirá a responsabilidade desde o recebimento até a entrega ao destinatário.

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É importante adotar procedimentos para entrega do minério, caracterizando a natureza, valor,
peso e quantidade, e o mais que for necessário para que não se confunda e para eventual
responsabilização por danos causados.

Também é importante, em algumas transações, que o transportador exija que o remetente lhe
entregue, devidamente assinada, a relação discriminada das coisas a serem transportadas, em
duas vias, uma das quais, por ele devidamente autenticada, ficará fazendo parte integrante do
conhecimento.

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Referência para citação deste e-book

SION, Alexandre Oheb. Introdução aos Contratos na mineração. 1ª edição. Belo Horizonte.
Publicação Instituto Minere. 2019.

Referências bibliográficas
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2008. P. 30

FIUZA, Cesar. Direito Civil curso completo. Belo Horizonte. Del Rey. 2006.

JUNIOR, José Ângelo Remédio. Direito Ambiental Minerário. Rio de Janeiro. Lumen Juris. 2013.

RIZZARDO, Arnaldo. Parte Geral do Código Civil. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2005.

SION, Alexandre Oheb (Coord.). Empreendimentos de infraestrutura e de capital intensivo: desafios jurídicos. Belo
Horizonte: Del Rey, 2017.

SERRA, Silvia Helena. Mineração: doutrina, jurisprudência, legislação e regulação setorial / Silvia Helena Serra;
Cristina Campos Esteves e Fernando Herren Aguilar, coordenador. São Paulo: Saraiva, 2012. (Coleção direito
econômico)

BRASIL. Decreto Lei nº 227. 28 de fevereiro de 1967. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/


decreto-lei/del0227.htm

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de maio de 2016. Disponível em: http://www.anm.gov.br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-do-diretor-
geral-do-dnpm/portarias-do-diretor-geral/portaria-dnpm-no-155-de-2016/view
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Sobre o Autor
Alexandre Sion
Sócio-fundador da Sion Advogados. Pós-doutorando em Direito pela
Universidade de Salamanca na Espanha. Doutorado em Direito pela
Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal (créditos concluídos). Mestre
em Direito Internacional Comercial (LL.M) pela Universidade da Califórnia,
Estados Unidos. Especialista em Direito Constitucional. Pós-graduado em
Direito Civil e Processual Civil (FGV). Advogado com formação em Direito e
Administração de Empresas. Profissional com sólida experiência no apoio à
implantação e operação de grandes empreendimentos de capital intensivo e
infraestrutura no Brasil, assessorando empresas nacionais e internacionais em
diversas áreas do direito. Alexandre Sion e Sion Advogados figuram entre os
escritórios e os advogados mais admirados do Brasil segundo, entre outras, as
publicações Chambers Global; Chambers Latin America; Análise Advocacia
500; The Legal 500; Who’s Who Legal; IFLR1000; Leaders League e Best
Lawyers. Segundo a Análise 500, Alexandre Sion e/ou Sion Advogados
figuram ou já figuraram, na categoria escritório Abrangente, nas seguintes
posições: Ambiental (1º lugar Brasil), Construção e Engenharia, Siderurgia
e Mineração (1º lugar Brasil), Energia Elétrica (2º lugar Brasil); Contratos
Comerciais e no segmento de Transporte e Logística (3º Lugar Brasil).
Escritório e Advogado mais Admirados de MG, independentemente da área.

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