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Relações Étnicos Raciais

e Afrodescendencias
1. Conceitos de Raça e Etnia, Preconceito
e Discriminação: Como o Estado vem Tratando
estas Questões no Brasil Atual? 4

2. Raça, Etnia e Cor no Brasil 13

3. As Cotas Raciais 22

4. Referências Bibliográficas 31

02
03
RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

1. Conceitos de Raça e Etnia, Preconceito e Discri-


minação: Como o Estado vem Tratando estas
Questões no Brasil Atual?

Fonte: Diferença1

N os dias atuais é muito comum


o debate sobre a existência de
conflitos étnico raciais, os quais se
Em nossa apostila optamos
por analisar cada critério e diferen-
ciá-lo em sua particularidade para
resultam em episódios de violência e que possamos ter uma dimensão de
morte. É corrente a informação na como este problema foi instituciona-
história da humanidade muitos po- lizado a ponto de promover a elimi-
vos foram escravizados, mortos e so- nação de um grupo étnico com base
freram as mais terríveis torturas que em suas características físicas e na
se pode explicitar em livros de histó- cor de sua pele.
ria. Para ilustrar este primeiro
Dentre estes tipos de violência momento trazemos a luz um impor-
podemos destacar a questão racial e tante material produzido por Dalila
étnica, as quais foram importantes Fernandes de Negreiros sobre rela-
combustíveis para fomentar a vio- ções étnico raciais o qual a referida
lência entre povos. autora informa que “a partir da

1 Retirado em https://www.diferenca.com/raca-e-etnia/

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Constituição de 1988, há uma nova ressonância com a linha constitucio-


etapa no desenvolvimento das polí- nal. Veja o que diz a carta constituci-
ticas de educação.”2 onal:
Esta etapa pode ser ilustrada
com novas diretrizes legais que ver- Art. 205. A educação, direito de
todos e dever do Estado e da fa-
sam sobre as questões étnico raciais
mília, será promovida e incenti-
que mencionamos aqui neste es- vada com a colaboração da soci-
tudo. edade, visando ao pleno desen-
volvimento da pessoa, seu pre-
A referida autora reitera que paro para o exercício da cidada-
“o texto constitucional classifica a nia e sua qualificação para o
educação como política social uni- trabalho.3
versal, com o objetivo de formar os
estudantes para a vida e para o mer- Com base na ilustração do dis-
cado de trabalho.” Idem, Ibidem. positivo jurídico acima pode-se afir-
Pág. 82. É importante salientar da mar que a educação não é um privi-
nossa parte que no momento em que légio, onde determinados cidadãos
se cria uma política pública social possuirão tratamento especial dian-
universal está se privilegiando exa- te dos demais, mas um direito de to-
tamente a chamada “inclusão social” dos os cidadãos colocando-os em es-
para proporcionar aos estudantes o tado de igualdade.
acesso à educação. A autora do estudo também
Nestes termos a autora deste reforça que “a educação com res-
estudo informa também que “há peito à diversidade é uma meta ins-
também a ratificação do princípio da titucional proposta na Constituição
igualdade, do padrão de qualidade e e reforçada posteriormente na Lei de
do respeito à diversidade” Idem, Ibi- Diretrizes e Bases da Educação de
dem. Pág. 82. Estes últimos valores 1996 (Lei no 9.394/1996)” Idem,
mencionados pela referida autora Ibidem. Pág. 82.
deste estudo estão presentes tam- Da nossa parte é imperioso
bém em nossa constituição federal a afirmar o quanto os dispositivos le-
qual vale ser ilustrada para que se gais são importantes para reforçar
possa verificar sua consonância e as diretrizes do Estado para assegu-

2 NEGREIROS, Dalila Campos de. Educação das relações étnico-raciais: Análise da formação de docentes por
meio dos programas UNIAFRO e Africanidades. Planejamento e Políticas Públicas | PPP | n. 48 | jan./jun.
2017. Disponível em: http://reposito-
rio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7997/1/ppp_n48_educa%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 08/09/2021.
Pág. 82.
3 Artigo 205 da Constituição Federal. Disponível em: https://www.senado.leg.br/ativi-
dade/const/con1988/con1988_08.09.2016/art_205_.asp. Acesso em: 08/089/2021

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rar o direito à educação e os cuida- bém é indicada a necessidade do en-


dos que se devem ser tomados para sino da história do país que inclua e
que o processo de inclusão social contemple a participação de pessoas
amparado pelo processo que versa negras e indígenas em sua forma-
sobre as relações étnico raciais dão ção.” Idem, Ibidem. Pág. 82.
direção ao processo de cidadania Esta afirmativa corrobora exa-
nos dias atuais. tamente com o que afirmamos no
Ela também argumenta em parágrafo anterior desta apostila, o
seu estudo que “segundo o texto ori- qual mencionamos que a história de
ginal da LDB, o currículo escolar de- nosso país seria privilegiada por pre-
ve ter uma base comum que condiga servar as tradições culturais ao mes-
com os valores culturais do país e o mo tempo em que garantia às pes-
respeito às características regionais soas o direito de ser.
no currículo específico de cada re- É muito importante da nossa
gião.” Idem, Ibidem. Pág. 82. parte chamar a atenção para este fa-
Da nossa parte, podemos afir- to e esta interpretação que relaciona
mar que essa assertiva jurídica da lei a história com a preservação das tra-
é muito importante para a chamada dições culturais, uma vez que nos
construção da identidade cultural de dias atuais o processo de expansão
um povo, onde os costumes que são das atividades comerciais e a moder-
derivados da tradição cultural deste nização ganham espaço e força para
povo podem ser preservados ao que o mundo acompanhe as evolu-
mesmo tempo em que dão a identi- ções da modernidade seguindo mo-
dade e ainda garantem seu processo dismos e muitas das vezes eliminan-
de inclusão na sociedade. do o espaço para as tradições cultu-
Nestes termos, estes dispositi- rais do passado.
vos legais estarão oferecendo não Dentro de nossa ótica apresen-
somente a preservação das tradições tada neste estudo, queremos chamar
e da história de nosso povo como a atenção para o fato de que a pre-
também oferecendo um importante servação garante o processo de in-
instrumento que assegure a inclusão clusão e o “direito de ser” do ser hu-
e combatem o preconceito, a discri- mano.
minação religiosa, que também po- Mas o que vem a ser o cha-
de ser exemplificada nestes trâmites mado “direito de ser” do ser huma-
legais. no? É exatamente o direito de lhe ser
Dentro deste espectro, a auto- assegurado a sua prática cultural
ra deste estudo salienta que “tam- que durante todo o transcorrer da

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história da evolução de seu povo au- Dentro desta linha de raciocí-


xiliou no processo de construção de nio, Dalila Campos Negreiros afirma
sua identidade. que “a questão racial ganha algum
Garantir a estas pessoas e gru- destaque no que tange ao aspecto
pos este direito é assegurar a preser- curricular dentro do debate da edu-
vação de sua identidade cultural cação” Idem, Ibidem. Pág. 82. Prin-
frente aos desafios que a moderni- cipalmente, segundo esta autora,
dade e os modismos do tempo pre- “em função da participação de enti-
sente oferecem. dades do movimento negro e de or-
Por outro lado, vale aqui men- ganizações indígenas na proposição
cionar também o fato de que esta de políticas públicas.” Idem, Ibidem.
preservação de tradição cultural é Pág. 82.
também um excelente mecanismo É importante acrescentar que
de geração de empregos que alimen- uma situação está ligada diretamen-
ta o turismo e promove uma impor- te a outra. A participação de uma en-
tante fluidez do mercado que asse- tidade cultural está diretamente re-
gura a sobrevivência de pessoas esti- lacionada à preservação desta cul-
mulando também o artesanato, as tura e destes costumes, como viemos
artes cênicas dentre outras ativida- apresentando no decorrer desta
des culturais que não serão focaliza- apostila e estes fatores são impor-
das no estudo que estamos levan- tantes mecanismos para assegurar a
tando. comunidades afro e indígenas em
um país como o Brasil a preservação
Senegalês faz sucesso no Brasil
de seus costumes na mesma propor-
com peças artesanais com estética
africana ção em que lhe garante o que chama-
mos anteriormente o “direito de ser”
e principalmente um importante
mecanismo que assegura a sua so-
brevivência frente aos desafios da
economia de mercado que estamos
vivenciando na atualidade.
Como viemos apresentando
no transcorrer desta apostila, tudo
Fonte: https://revista-
isso é resultado de um processo que
pegn.globo.com/Empreendedo- envolve respeito ao semelhante, pre-
rismo/noticia/2018/07/senegales-faz- servação cultural, formação da iden-
sucesso-no-brasil-com-pecas-artesa- tidade, garantia de proteção do Esta-
nais-com-estetica-africana.html.

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do da identidade cultural, inclusão § 2º Os conteúdos referentes à


história e cultura afro-brasilei-
social, cultural, política e econômica
ra e dos povos indígenas brasi-
de um povo para assegurar os cha- leiros serão ministrados no âm-
mados direitos e princípios da equi- bito de todo o currículo escolar,
em especial nas áreas de educa-
dade na sociedade. ção artística e de literatura e
Dalila Campos Negreiros afir- história brasileiras.” (NR)
ma também em seu estudo que “a Art. 2º Esta Lei entra em vigor
na data de sua publicação.
LDB estabelece que o ensino de his- Brasília, 10 de março de 2008;
tória deva considerar as matrizes 187o da Independência e 120o
africanas, indígenas e europeias da da República. 4
formação do Brasil” Idem, Ibidem.
Pág. 82. Veja o que diz o documento Como se verifica nos fragmen-
que sustenta a afirmação da referida tos legais acima expressos na Lei de
autora: Diretrizes e Bases da Educação Bra-
sileira, a LDB, os estudos relativos a
Art. 1º O art. 26-A da Lei no história da cultura afro brasileira e
9.394, de 20 de dezembro de indígena são garantidos por lei para
1996, passa a vigorar com a se- que as identidades culturais de nos-
guinte redação:
“Art. 26-A. Nos estabelecimen- so povo possam ser asseguradas
tos de ensino fundamental e de dentro do aprendizado das gerações
ensino médio, públicos e priva- do presente e do futuro.
dos, torna-se obrigatório o es-
tudo da história e cultura afro- A importância da preservação
brasileira e indígena. destes valores para a formação da
§ 1º O conteúdo programático
identidade cultural de um povo aju-
a que se refere este artigo inclu-
irá diversos aspectos da história da a combater o preconceito e à dis-
e da cultura que caracterizam a criminação étnico racial tão presen-
formação da população brasi-
te como argumentam os autores que
leira, a partir desses dois gru-
pos étnicos, tais como o estudo se debruçam sobre essa temática no
da história da África e dos afri- transcorrer de nossa história.
canos, a luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, a
Dando continuidade ao pro-
cultura negra e indígena brasi- cesso de análise deste tema conferi-
leira e o negro e o índio na for- do por Dalila Campos Negreiros, a
mação da sociedade nacional,
resgatando as suas contribui-
referida autora informa em seu es-
ções nas áreas social, econômi- tudo que “de 1989 a 1996, foram
ca e política, pertinentes à his- promulgadas sete leis de estados,
tória do Brasil.

4LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-


2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 09/09/2021.

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municípios e do Distrito Federal ins- ções étnico-raciais são possibilitar o


tituindo a inclusão da história afro- reconhecimento de pessoas negras
brasileira no currículo escolar” na cultura brasileira.” Idem, Ibidem.
Idem, Ibidem. Pág. 82. Pág. 82.
Estes dados levantados pela E em detrimento desta linha
referida autora chamam a atenção de raciocínio ela afirma que é impor-
para o fato de que com a prática da tante também “promover o conheci-
lei prevista pela LDB citada no pará- mento da população brasileira sobre
grafo anterior as escolas e municí- a história do Brasil com a visão de
pios brasileiros começaram a reali- mundo da população negra” Idem,
zar um importante trabalho de cons- Ibidem. Pág. 82.
cientização sobre a temática desen-
volvida e as prefeituras das cidades Creche na Cidade de Deus realiza
interioranas começaram a desenvol- projetos pautados na história da
ver processos legais com a criação de cultura Afro Brasileira
leis municipais para proteção ao pa-
trimônio cultural material e imaterial.
A defesa destes patrimônios
materiais e imateriais (tema estes
que serão desenvolvidos em outro
material de estudo) dentro do âm-
bito municipal ofereceram situações
essenciais para assegurar o “direito
de ser” dos grupos afro e indígena do
Brasil, os quais ganharam notorie-
dade para outras atividades legais Fonte: https://www.vozdascomuni-
que versam sobre sua preservação e dades.com.br/comunidades/creche-
na-cidade-de-deus-realiza-projetos-
inclusão na sociedade.
pautados-na-cultura-afrobrasileira/.
Este foi um importante passo
na direção da criação de dispositivos Outro ponto bastante impor-
legais que versam e garantem a cida- tante mencionado por Dalila Cam-
dania das pessoas ao mesmo tempo pos Negreiro diz respeito ao traba-
que promove a interação cultural de lho dos professores nas escolas. Se-
nosso povo. gundo a autora deste estudo, é muito
Com base nestes elementos, importante “formar os professores
Dalila Campos Negreiros afirma que para ministrarem disciplinas que
“os objetivos da educação das rela- contemplem a perspectiva negra na

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história, cultura e sociabilidade do ter e discutir sobre o racismo e seus


país” Idem, Ibidem. Pág. 82. efeitos (dentro e fora do ambiente
Com base neste raciocínio, a escolar)” Idem, Ibidem. Pag. 82. E,
história da cultura afro e indígena no finalmente, “propiciar a reeducação
Brasil será construída tendo como para relações étnico-raciais plurais e
ponto de partida a percepção de diversas” Idem, Ibidem. Pag. 82.
mundo destes povos para que dentro Fato interessante que reforça a
deste processo de “construção de co- importância desta reflexão trabalha-
nhecimento” ele, o aluno possa co- da pela referida autora diz respeito
nhecer a visão de mundo destes po- ao trabalho dos professores dentro
vos para assim ser oportunizado a da sala de aula dando um enfoque
não entrar em conflito cultural atra- importante na cultura destes povos e
vés de comparações que colocariam nos costumes de cada povo dentro
em choque as culturas. da mais tenra idade.
Da nossa parte, podemos dizer Como vimos em uma imagem
que este é um dos principais fatores postada acima sobre um trabalho
que promovem o preconceito e a dis- desenvolvido em uma creche na Ci-
criminação dentro do ambiente cul- dade de Deus, uma comunidade da
tural. O desconhecimento da visão cidade do Rio de Janeiro, podemos
de mundo do outro proporciona um perceber o quanto é importante de-
choque de culturas que culmina no senvolver estas atividades com cri-
preconceito, na discriminação e em anças para que o preconceito possa
toda a sorte, para não dizer o azar, ser extirpado da sociedade já desde
dos conflitos por questões de ordem os primeiros momentos de desen-
cultural que existem em nossa soci- volvimento da criança.
edade. Este tipo de trabalho, como foi
Em outras palavras podería- argumentado pela autora deste es-
mos dizer que este raciocínio desen- tudo se torna de grande relevância
volvido dentro da estrutura legal do para a eliminação de todos os confli-
Estado vem oferecendo situações es- tos de ordem política e ideológica
senciais para combater o precon- proporcionando assim uma geração
ceito e a discriminação étnico racial de pessoas para o futuro onde o ra-
até nos dias atuais. cismo e o preconceito e seus deriva-
A autora deste estudo também dos que proporcionam instabilidade
argumenta que “a educação das rela- social possam desaparecer ao sabor
ções étnico-raciais visa também ca- do tempo e das atividades pedagógi-
pacitar os professores como comba- cas.

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Saberes e Fazeres: Ancestrais combate ao racismo e a discrimina-


e Tradicionais - Indígenas ção. Pois o trabalho das escolas é
e Africanos
fundamental para a construção de
uma sociedade inclusiva e mais justa
frente aos desafios levantados no
transcorrer de nossa história.

Fonte: https://www.sed.ms.gov.br/sa-
beres-e-fazeres-ancestrais-e-tradici-
onais-indigenas-e-africanos-sao-te-
maticas-de-feira-na-e-e-luisa-vidal-
borges-daniel/.

Ao analisar a imagem acima,


temos a dimensão de quão impor-
tante é o desenvolvimento destas
atividades pedagógicas dentro do
ambiente escolar desde a infância, a
adolescência e a vida adulta do aluno
brasileiro.
Dalila Campos Negreiro tam-
bém afirma que “a educação das re-
lações étnico-raciais é uma política
pública que surge em um período es-
pecialmente profícuo para políticas
de combate ao racismo no governo
federal.” Idem, Ibidem. Pág. 83. E
tais ações, segundo ela, “articulam-
se por um conjunto de diretrizes pa-
ra o enfrentamento ao racismo e pa-
ra a promoção da população negra.”
Idem, Ibidem. Pág. 83.
As assertivas levantadas pela
referida autora corroboram com a
nossa análise levantada nos pará-
grafos anteriores que versam sobre o

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2. Raça, Etnia e Cor no Brasil

Fonte: Projeto Draft5

E ste segundo tópico desta apos-


tila tem como princípio básico
apresentar um levantamento de da-
2003 e 2014.”6 E que como afirma a
autora deste estudo, “tratam do te-
ma educação das relações étnico-ra-
dos feitos por Petronilha Beatriz ciais em instituições educacionais.”
Gonçalves e Silva em seu estudo in- Idem, Ibidem. Pág. 01.
titulado: “Educação das Relações Ét- Com base nos dados apresen-
nico-Raciais nas instituições escola- tados pela referida autora podemos
res”, o qual a referida autora apre- dizer da nossa parte que têm cresci-
senta dados de como o problema ét- do o número de materiais de estudo
nico racial têm crescido no Brasil. nas academias de educação no Brasil
Segundo a referida autora, “o nos últimos anos que versam sobre
presente artigo realiza revisão de 38 esta temática levantada por esta re-
artigos, 7 teses e 51 dissertações da ferida autora.
área de educação publicados entre

5 Retirado em https://www.projetodraft.com/qual-e-a-sua-raca-a-que-etnia-voce-pertence-e-isso-e-real-
mente-importante/
6 SILVA. Petronilha Beatriz Gonçalves e. Educação das Relações Étnico-Raciais nas instituições escolares. Edu-

car em Revista, Curitiba, Brasil, v. 34, n. 69, p. 123-150, maio/jun. 2018. Disponível em: https://www.sci-
elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwSYPJWFbND/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 09/09/2021. Pág. 01.

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O que chama a atenção neste Neste aspecto, da nossa parte


levantamento de dados é não so- podemos dizer que os levantamen-
mente a quantidade de materiais le- tos feitos por esta autora irão ajudar
vantados mas o quanto o tema têm na ilustração dos problemas enfren-
chamado a atenção dos estudantes tados pelos professores e alunos pa-
para fazerem trabalhos dentro deste ra lidar com o problema do racismo,
espectro de estudo. da discriminação e do preconceito.
A autora deste estudo também Esta pesquisa levantada por
chama a atenção para o fato de que esta segunda autora irá mostrar
“os escritos, em sua maioria, regis- também o quanto o problema que se
tram resultados, experiências de combate, mesmo tendo sanções le-
educação em estabelecimentos de gais ainda é um grande problema
ensino, bem como considerações, que se configura dentro da socieda-
avaliações, reflexões, sugestões no de.
que diz respeito à educação étnico- Dando prosseguimento à aná-
racial” Idem, Ibidem. Pág. 01. lise feita por esta autora, cabe aqui
Com base nestas assertivas po- mencionar que “a análise da produ-
demos da nossa parte afirmar que ção mostrou que o maior avanço
estes pontos de referência mostram nesse processo foi o de reconheci-
que no Brasil a questão racial ainda mento de manifestações e conse-
é um fenômeno crescente e um de- quências do racismo, do etnocen-
safio a ser enfrentado dentro deste trismo e de outras discriminações na
universo, uma vez que mesmo dian- vida de aluno/ as” Idem, Ibidem.
te do quadro apresentado no tópico Pág. 01.
anterior desta apostila que ilustra o Este levantamento feito por
quanto a legislação têm contribuído esta pesquisadora se torna salutar
para minorar estes problemas a para compreender os desafios que os
questão ainda é crescente e grande alunos possuem por causa do com-
dentro dos desafios apresentados bate cultural e do choque das tradi-
pelos levantamentos desta autora. ções culturais que permeiam o cam-
A autora deste estudo salienta po social da sociedade plural que vi-
que “os artigos foram analisados em vemos.
relação ao seu tratamento de racis- Mas a autora deste estudo
mo, etnocentrismo e outras discri- também chama a atenção para os
minações nas escolas.” Idem, Ibi- professores também. Segundo ela
dem. Pág. 01. este estudo abarca também “de seus

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professores, não só dos negros, mas vivenciam este drama e esta situação
também dos não-negros, bem como relacionada ao preconceito e a dis-
na organização e funcionamento de criminação.
instituições educacionais” Idem, Ibi- É importante lembrar e cha-
dem. Pág. 01. mar a atenção para o fato de que o
Ao estabelecer suas pesquisas problema de mudança de interpre-
em professores e alunos, colocando tação cultural no que tange a discri-
e sequenciando os grupos étnicos, a minação e o racismo não está pau-
pesquisa levantada pela referida au- tado apenas nas leis que foram cria-
tora terá condições de fazer um le- das, mas na conscientização da situ-
vantamento étnico para verificar os ação que envolve o respeito mútuo
problemas relacionados a professo- entre as pessoas e as partes envolvi-
res, alunos de grupos étnicos que es- das.
tão no mercado e na sociedade e que

Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/1545/diversidade-etnico-racial-por-
um-ensino-de-varias-cores.

Com base nos levantamentos mais interesse do que homens para


da autora deste segundo tópico des- pesquisar questões relativas à edu-
ta apostila, Petronilha Beatriz afir- cação das relações étnico-raciais em
ma que “nas 58 dissertações e teses instituições de ensino.” Idem, Ibi-
examinadas, mulheres mostraram dem. Pag. 03.

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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

Este dado é um levantamento versa sobre a questão étnica racial


muito interessante que ilustra a faci- das mulheres que fizeram essa pes-
lidade das mulheres de tratarem o quisa mas a capacidade que cada
tema relativo ao racismo e a discri- uma se propôs a levantar essa ques-
minação. tão.
A autora deste estudo reitera A autora deste estudo salienta
que “o exemplo está no fato de 88% também que “algumas dessas pes-
das pesquisas de mestrado terem si- quisas foram desenvolvidas por pro-
do realizadas por estudantes mulhe- fessoras, sobretudo em exercício na
res, bem como orientadas por 85% Educação Básica, incluindo EJA -
de doutoras.” Idem, Ibidem. Pag. 03. Educação de Jovens e Adultos, bem
Da nossa parte podemos dizer como na Educação Infantil.” Idem,
que esta pesquisa também reflete a Ibidem. Pag. 03.
acessibilidade das mulheres dentro Esta referência se torna um
do campo da educação e da pesquisa importante elemento para se com-
o que representa um grande avanço preender que a prática educacional
da mulher dentro do mercado de está seguindo os ditames da lei ao
trabalho no âmbito superior e tam- mesmo tempo que ilustra os proje-
bém um grande avanço das mulhe- tos educacionais desenvolvidos nas
res dentro do campo de pesquisas últimas décadas com o intuito de
relacionadas a temas que envolvem priorizar a educação de jovens e
problemas sociais aos quais a mu- adultos com vistas ao mercado de
lher irá protagonizar um papel fun- trabalho e à inclusão social e identi-
damental na solução destes proble- tária.
mas. A autora deste estudo argu-
Dando ênfase ao que viemos menta também que “a produção foi
argumentando no transcorrer da crescente, entre os anos de 2008 e
análise destas prerrogativas pode- 2014”. Idem, Ibidem. Pág. 03. Se-
mos dizer também que a mulher está gundo ela, “registrou-se o maior nú-
ganhando um importante campo mero de produção que abordou pro-
dentro deste tipo de pesquisa na blemáticas relativas à educação das
busca por soluções aos problemas do relações étnico-raciais em institui-
cotidiano do ser humano que vive ções educacionais, destacando-se os
em sociedade. anos de 2010 e 2013.” Idem, Ibidem.
Isso representa um grande Pág. 03.
avanço levando-se em consideração Da nossa parte podemos ex-
que a pesquisa tratada até aqui não plorar esta ideia avaliando não so-

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mente o resultado da aplicabilidade feitas para veicular estes dados


das leis como foi argumentado no para uma análise do cumprimento
tópico anterior desta apostila, como destas prerrogativas legais na soci-
também este resultado foi uma for- edade, mas também para mostrar
ma de se denunciar o problema en- que as mudanças preteridas pelo
frentado de forma corriqueira, como órgão do Estado estão surtindo o
argumenta os autores utilizados pa- efeito desejado em mudar a forma
ra desenvolver este material de es- de tratamento no que diz respeito à
tudo que apresentam dados quanti- inclusão social e principalmente no
tativos para sustentar esta tese como combate ao racismo e ao precon-
foi apresentado no início deste tó- ceito.
pico da apostila.
Nestas circunstâncias, a au-
18/11 - Dia nacional de combate ao
tora deste estudo afirma também
racismo
que é provável que a proximidade
dos dez anos de promulgação da
“Lei 10.639/2003, completados em
2013, tenha despertado interesse
no sentido de avaliar em que me-
dida e como a sua implantação vi-
nha ocorrendo.” Idem, Ibidem.
Pág. 03.
Da nossa parte é importante Fonte:
avaliar conforme os dados apresen- http://www1.imip.org.br/imip/noti-
tados por esta autora que diante do cias/o-dia-nacional-de-combate-ao-
racismo-e-comemorado-neste-do-
grande número de pesquisadores mingo-18.html.
que se predispõem à trabalhar a
com essa temática, as transforma- Veja agora os dados levanta-
ções ocorridas no âmbito social es- dos pela referida autora em seu es-
tão sendo satisfatórias não somen- tudo sobre o tema em questão:
te para que novas pesquisas sejam

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Ano de Publicação das Dissertações e Teses

Como se pode verificar no grá- mento vertiginoso a partir de 2005


fico acima ilustrado pelo trabalho da até 2013 que foi categoricamente
referida autora, o momento de pico rico e importante para que os dados
do aumento de produção de disser- ilustrassem a importância que este
tações de mestrado e teses de douto- tema ganhou no mundo acadêmico.
rado irão ocorrer entre os anos de A autora deste estudo informa
2010 e 2013 tendo grande produção com base nos levantamentos dos da-
acadêmica sendo fomentada neste dos acima em um segundo gráfico
período. que “as instituições onde os traba-
Outra interpretação que pode- lhos foram defendidos foram 25 no
mos reforçar da nossa parte ao visu- total, com bastante dispersão.”
alizar este levantamento feito pela Idem, Ibidem. Pág. 03. Estes dados
autora diz respeito ao crescimento levantados pela autora estão presen-
que se fez de forma tímida entre os tes neste segundo gráfico que será
anos de 2003 até 2005 e o cresci- apresentado abaixo:

7 e 8 Gráfico sobre o ano de publicação das dissertações e teses. Disponível em: https://www.sci-
elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwSYPJWFbND/?format=pdf. Acesso em: 09/09/2021. Apud. SILVA. Petroni-
lha Beatriz Gonçalves e. Educação das Relações Étnico-Raciais nas instituições escolares. Educar em Revista,
Curitiba, Brasil, v. 34, n. 69, p. 123-150, maio/jun. 2018. Disponível em: https://www.sci-
elo.br/j/er/a/xggQmhckhC9mPwSYPJWFbND/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 09/09/2021. Pág. 03.

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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

Instituição de Publicação das Teses e Dissertações8

Fonte: https://racismoambiental.net.br/2020/11/20/a-luta-contra-o-racismo-no-
brasil-e-uma-luta-de-refundacao-nacional/.

19
RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

A autora deste estudo também movimentou a economia e as tradi-


reforça que “a instituição onde se re- ções culturais presentes desse perío-
alizou o maior número de pesquisas do.
relativas à educação das relações ét-
nico-raciais em instituições escola-
res foi a Universidade Federal do
Mato Grosso (UFMT).” Idem, Ibi-
dem. Pág. 04.
Segundo ela, a universidade
consta “com 12 investigações, se-
guida da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar) com 7 e da Uni-
versidade de São Paulo (USP), Uni-
versidade Estadual de Campinas
(UNICAMP) e Universidade do Es-
tado da Bahia (UNEB) com 5” Idem,
Ibidem. Pág. 04. Os dados extraídos
de seu estudo podem ser mais bem
explorados em um gráfico que a au-
tora desenvolveu e que consta em
seu trabalho o qual apresentamos
anteriormente.
Com base nos dados levanta-
dos por ela, pode se afirmar que “ve-
rifica-se que 28,47% se localizou na
região Sudeste, seguida da Centro-
Oeste com 17,29% e da Nordeste
com 12,20%. As regiões Norte e Sul
participaram da produção com 1,2%,
cada uma.” Idem, Ibidem. Pág. 04.
Estes dados são importantes
para demonstrar a presença da forte
cultura açucareira nos tempos do
Brasil império que caracterizou a
forte presença da escravidão que

20
RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

3. As Cotas Raciais

Fonte: Guia do Estudante8

N este terceiro tópico desta apos-


tila estaremos analisando o
processo de criação das chamadas
desta apostila que é o “direito de ser”
do ser humano.
Dentro destas prerrogativas
“cotas raciais”. Como forma de men- estamos utilizando como referência
surar tudo o que foi debatido e cons- o site do Brasil Escola, o qual é um
truído no decorrer desta apostila, o órgão transmissor de informação do
coroamento deste estudo se propõe ministério da Educação que atualiza
a demonstrar e justificar a criação de as informações ao mesmo tempo em
aparatos legais para reparar danos que oferece uma exemplificação
que são resultado dos “choques cul- mais detalhada com uma comunica-
turais” que resultam daquilo que ção mais acessível para que as pes-
mencionamos no primeiro tópico

8 Retirado em https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/cotas-raciais-quem-pode-de-fato-concor-
rer-como-ppi/

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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

soas possam se inteirar mais das le- Diante de tais circunstâncias,


gislações que permeiam o campo da como afirma Francisco Porfírio, “as
educação e das relações humanas. cotas visam a acabar com a desigual-
É importante também salien- dade racial e o racismo estrutural re-
tar que o ministério da educação ter sultantes de anos de escravidão no
entrado neste âmbito cultural para Brasil.” Idem, Ibidem. Que ainda,
auxiliar no combate ao racismo, ao segundo este autor, “excluem pes-
preconceito e a discriminação foi um soas negras e indígenas da universi-
importante passo a ser dado para dade, do mercado de trabalho e dos
que no futuro estas mazelas que fize- espaços públicos”. Idem, Ibidem.
ram parte da nossa história seja ape- É importante fazer uma refle-
nas uma lembrança ruim de um pas- xão sobre esta temática, pois a histó-
sado remoto para que a sociedade ria da humanidade traz exemplos
possa viver em paz, harmonia e em terríveis de como povos por motivos
perfeito estado de justiça. raciais, étnicos e até discriminató-
Nestes termos, conforme os le- rios condenaram povos às periferias
vantamentos do professor de socio- da sociedade afastando-os do mer-
logia Francisco Porfírio “Cotas raci- cado de trabalho, do convívio social,
ais são reservas de vagas em vestibu- da educação e até mesmo os conde-
lares, provas e concursos públicos nado à morte.
destinadas a pessoas de origem ne- Esse legado terrível que as-
gra, parda ou indígena.”9 sombra o passado da história hu-
Da nossa parte, podemos dizer mana tem de ser combatido às duras
que este tipo de reserva se deu pelo penas para que episódios como estes
fato de ao longo da história do Brasil jamais venham a se repetir.
e de relatos feitos por estudiosos do É corrente na história da hu-
tema, como foi apresentado no se- manidade o episódio da ascensão de
gundo tópico desta apostila, negros, Adolf Hitler ao poder na Alemanha o
índios e pardos, segundo estes auto- qual dizimou vários grupos étnicos e
res tinham muita dificuldade de em especial os judeus nos campos de
acesso à instituições educacionais, concentração para que viesse a cons-
empresas e concursos públicos por truir uma nação étnica intitulada de
motivo de discriminação racial e ét- “raça Ariana” sobre os cadáveres de
nica.

9PORFíRIO, Francisco. "Cotas raciais"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educa-


cao/sistema-cotas-racial.htm. Acesso em 10 de setembro de 2021.

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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

todos aqueles que não se enquadra- veja na íntegra a lei que trata desta
vam nos perfis e nas características situação:
desejadas para este fim.
Art. 1º Ficam reservadas aos
negros 20% (vinte por cento)
Judeus no campo de Concentração das vagas oferecidas nos con-
Nazista cursos públicos para provimen-
to de cargos efetivos e empre-
gos públicos no âmbito d a ad-
ministração pública federal, das
autarquias, das fundações pú-
blicas, das empresas públicas e
das sociedades de economia
mista controladas pela União,
na forma desta Lei.
§ 1º A reserva de vagas será
aplicada sempre que o número
de vagas oferecidas no concurso
Fonte: https://www.todamate-
público for igual ou superior a 3
ria.com.br/campos-de-concentra- (três).
cao-nazistas/. § 2º Na hipótese de quantita-
tivo fracionado para o número
Como se verifica na imagem de vagas reservadas a candida-
tos negros, esse será aumenta-
acima, os judeus eram colocados em do para o primeiro número in-
locais insalubres para fazer trabalho teiro subsequente, em caso de
escravo para atender a economia da fração igual ou maior que 0,5
(cinco décimos), ou diminuído
Alemanha Nazista. para número inteiro imediata-
Neste sentido é preciso enten- mente inferior, em caso de fra-
der também como funciona o sis- ção menor que 0,5 (cinco déci-
mos).
tema de “cotas raciais”, uma vez que § 3º A reserva de vagas a candi-
este processo visa reparar danos que datos negros constará expressa-
estes grupos étnicos sofrem ao ten- mente dos editais dos concur-
sos públicos, que deverão espe-
tar acessar o mercado de trabalho. cificar o total de vagas corres-
Retornando às reflexões de pondentes à reserva para cada
Francisco Porfírio, ele alega que “as cargo ou emprego público ofe-
recido.
cotas são reservas de vagas para de- Art. 2º Poderão concorrer às
terminados segmentos minoritários vagas reservadas a candidatos
da população, como pessoas negras negros aqueles que se autode-
clararem pretos ou pardos no
(pretas ou pardas), indígenas e pes- ato da inscrição no concurso
soas com necessidades especiais” público, conforme o quesito cor
Para ilustrar melhor esta assertiva ou raça utilizado pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geogra-
apresentada por Francisco Porfírio, fia e Estatística - IBGE.

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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

Parágrafo único. Na hipótese de com deficiência e a candidatos


constatação de declaração falsa, negros.
o candidato será eliminado do Art. 5º O órgão responsável
concurso e, se houver sido no- pela política de promoção da
meado, ficará sujeito à anula- igualdade étnica de que trata o
ção da sua admissão ao serviço § 1º do art. 49 da Lei nº 12.288,
ou emprego público, após pro- de 20 de julho de 2010, será
cedimento administrativo em responsável pelo acompanha-
que lhe sejam assegurados o mento e avaliação anual do dis-
contraditório e a ampla defesa, posto nesta Lei, nos moldes
sem prejuízo de outras sanções previstos no art. 59 da Lei nº
cabíveis. 12.288, de 20 de julho de 2010.
Art. 3º Os candidatos negros Art. 6º Esta Lei entra em vigor
concorrerão concomitantemen- na data de sua publicação e terá
te às vagas reservadas e às va- vigência pelo prazo de 10 (dez)
gas destinadas à ampla concor- anos.
rência, de acordo com a sua Parágrafo único. Esta Lei não se
classificação no concurso. aplicará aos concursos cujos
§ 1º Os candidatos negros apro- editais já tiverem sido publica-
vados dentro do número de va- dos antes de sua entrada em vi-
gas oferecido para ampla con- gor.
corrência não serão computa- Brasília, 9 de junho de 2014;
dos para efeito do preenchi- 193º da Independência e 126º
mento das vagas reservadas. da República.10
§ 2º Em caso de desistência de
candidato negro aprovado em Com base no dispositivo legal
vaga reservada, a vaga será pre-
enchida pelo candidato negro acima mencionado pode-se verificar
posteriormente classificado. que esta lei terá vigência por 10 anos
§ 3º Na hipótese de não haver e com o cumprimento deste prazo a
número de candidatos negros
aprovados suficiente para ocu- lei deverá ser mantida novamente
par as vagas reservadas, as va- mediante ação política responsável.
gas remanescentes serão rever- É de grande importância a
tidas para a ampla concorrência
e serão preenchidas pelos de- compreensão destas prerrogativas
mais candidatos aprovados, ob- legais para a garantia da acessibili-
servada a ordem de classifica- dade das pessoas ao mercado de tra-
ção.
Art. 4º A nomeação dos candi- balho, uma vez que o dispositivo pa-
datos aprovados respeitará os ra garantir os chamados princípios
critérios de alternância e pro- da equidade e isonomia do direito
porcionalidade, que conside-
ram a relação entre o número estão previstos nestas ações.
de vagas total e o número de va- Retornando com as reflexões
gas reservadas a candidatos propostas por Francisco Porfírio, o

10 LEI Nº
12.990, DE 9 DE JUNHO DE 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12990.htm. Acesso em: 10/09/2021.

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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

referido autor afirma que no caso da Sistema de Cotas Raciais


atribuição das cotas para ingresso nas escolas

em cursos de graduação em univer-


sidades públicas federais, “além da
origem étnico-racial, o candidato à
vaga reservada deve ter cursado to-
do o seu ensino médio em escolas
públicas.” Idem, Ibidem.
Este raciocínio é muito im-
portante para entender que estas
vagas estarão também sendo desti- Fonte: https://querobolsa.com.br/re-
nadas a pessoas de baixa renda que vista/sistema-de-cotas-raciais.

estudam em escolas da rede públi-


Neste sentido, o autor salienta
ca no Brasil. O referido autor tam-
que dessas vagas, “25% destinam-se
bém afirma que “dessa maneira, as
a pessoas com renda familiar infe-
universidades públicas oferecem
rior a 1,5 salário mínimo, e a outra
um duplo sistema de cotas.” Idem,
metade está liberada para pessoas
Ibidem. com renda familiar superior a 1,5 sa-
Segundo ele, este sistema se- lário mínimo.” Idem, Ibidem. Desde
guirá uma metodologia onde “uma que “tenham cursado os três anos do
parcela da reserva de vagas destina- ensino médio em escolas públicas.”
se a estudantes de escola pública, in- Idem, Ibidem.
dependentemente da origem étnico- Outro ponto relevante nos es-
racial.” Idem, Ibidem. E a outra par- tudos levantados pelo referido autor
cela “destina-se a estudantes de es- Francisco Porfírio, diz respeito às re-
cola pública que se autodeclaram giões onde ocorrem maior número
pretos, pardos ou indígenas.” Idem, de pessoas afro descendentes, para
Ibidem. equiparar o número e se fazer um
O autor deste estudo também equilíbrio no manejo e distribuição
informa que no atual sistema de das vagas destinadas aos cotistas.
ações afirmativas para ingresso em Segundo o autor deste estudo,
universidades e institutos federais as ofertas de vagas restritas por cri-
de ensino, “50% das vagas devem ser térios étnico-raciais encaixam-se
destinadas a pessoas oriundas de es- nessa reserva de “50% das vagas to-
colas públicas.” Idem, Ibidem.

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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

tais oferecidas pela universidade e Francisco Porfírio argumenta


por cada curso, de acordo com o edi- que no caso de concursos para inves-
tal do vestibular ou do Sisu.” Idem, tidura em cargos públicos, “há uma
Ibidem. reserva de 20% do total de vagas
ofertadas em um edital para pessoas
Cotas nas universidades que se autodeclaram pretas ou par-
das.” Idem, Ibidem.
De acordo com o autor deste
estudo, nesses casos, “a autodeclara-
ção com documentação comproba-
tória (como certidão de nascimento,
certidão de alistamento militar ou
RG do candidato e até de seus ascen-
dentes diretos - mãe e pai) é sufici-
ente para que uma pessoa possa
Fonte: https://guiadoestu-
dante.abril.com.br/universidades/es- concorrer a uma vaga no concurso
tudo-aponta-aumento-das-classes- pela lei de cotas.” Idem, Ibidem.
c-e-d-no-ensino-superior/. Por outro lado, nas universi-
dades e institutos federais existem
Ele afirma também que “para
algumas prerrogativas interessan-
calcular o número de vagas destina-
tes. O autor deste estudo, afirma que
das a pretos, pardos e indígenas, uti-
já no caso das universidades e insti-
lizam-se dados dos censos demográ-
tutos federais, “além da autodeclara-
ficos.” Idem, Ibidem.
ção, o candidato deve passar por
Com isso, segundo o autor, re-
uma entrevista com a banca exami-
giões com maior número de negros
nadora a fim de comprovar a veraci-
“devem oferecer uma maior reserva
dade da autodeclaração.” Idem, Ibi-
de vagas para essas pessoas, estados
dem.
com maior número de indígenas de-
Ele reitera também que um
vem oferecer uma maior reserva de
problema resultante desse último
vagas para indígenas e assim suces-
caso é que “não há como expressar
sivamente.” Idem, Ibidem.
uma objetividade concreta para re-
Outro exemplo importante
conhecer pessoas pardas, e a subje-
que apresentaremos a seguir diz res-
tividade dos critérios adotados por
peito aos concursos públicos onde o
examinadores já causou injustiças e
percentual de 20% será destinado à
até fraudes.” Idem, Ibidem.
cotistas como foi apresentado ante-
riormente.

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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

Materiais Complementares na-cidade-de-deus-realiza-projetos-


pautados-na-cultura-afrobrasi-
Links “gratuitos” a serem con- leira/. Acesso em: 09/09/2021.
sultados para um acrescentamento
no estudo do aluno de assuntos que Saberes e Fazeres: Ancestrais e Tra-
não poderão ser abordados na apos- dicionais - Indígenas e Africanos.
tila em questão: Disponível em:
https://www.sed.ms.gov.br/sabe-
Artigo 205 da Constituição Federal. res-e-fazeres-ancestrais-e-tradicio-
Disponível em: nais-indigenas-e-africanos-sao-te-
https://www.senado.leg.br/ativi- maticas-de-feira-na-e-e-luisa-vidal-
dade/const/con1988/con1988_08. borges-daniel/. Acesso em:
09.2016/art_205_.asp. Acesso em: 09/09/2021.
08/089/2021
A questão racial no Brasil. Disponí-
Senegalês faz sucesso no Brasil com vel em:
peças artesanais com estética afri- https://acontecendoa-
cana. Disponível em: qui.com.br/empreendedorismo/ar-
https://revistapegn.globo.com/Em- tigo-conviccao-ou-conveniencia-o-
preendedorismo/noti- papel-das-pequenas-empresas-na-
cia/2018/07/senegales-faz-sucesso- inclusao-racial. Acesso em:
no-brasil-com-pecas-artesanais- 09/09/2021.
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http://www.planalto.gov.br/cci- cial-por-um-ensino-de-varias-co-
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2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso
em: 09/09/2021. 18/11 - Dia nacional de combate ao
racismo. Disponível em:
Creche na Cidade de Deus realiza http://www1.imip.org.br/imip/no-
projetos pautados na história da cul- ticias/o-dia-nacional-de-combate-
tura Afro Brasileira. Disponível em: ao-racismo-e-comemorado-neste-
https://www.vozdascomunida- domingo-18.html. Acesso em:
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RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS E AFRODESCENDENCIAS

Gráfico sobre o ano de publicação 2014/2014/lei/l12990.htm. Acesso


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https://www.sci- As Cotas Raciais. Disponível em:
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Gráfico sobre o ano de publicação 10/09/2021.
das dissertações e teses. Disponível
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Luta contra o racismo no Brasil é Como funcionam as Cotas em Con-


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Judeus no campo de Concentração


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LEI Nº 12.990, DE 9 DE JUNHO DE


2014. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/cci-
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