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FP078 - INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO

TRABALHO CONV. ORDINÁRIA

A Educação Intercultural Bilíngue

Nome completo: Dirceu Moura Pereira Junior, José Antonino Canani, Luana da Silva
Oliveira, Maria Rodrigues Gomes.

Código: FP078

Disciplina: Interculturalidade e Educação

Grupo: 2021-02

Data: 29/10/2021.

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SUMÁRIO

1 Introdução..................................................................................................................... 03
2 Descrição do problema................................................................................................. 04
3 Desenho de intervenção............................................................................................... 06
4 Avaliação geral.............................................................................................................. 08
5 Referências bibliográficas............................................................................................. 09

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1 Introdução
Na Constituição Federal (1988), presencia-se o avanço do Estado Brasileiro na
concessão de garantias ao direito à Educação Escolar Intercultural dos indígenas como
trata o Artigo 210, § 2º: “O ensino fundamental regular será ministrado em língua
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem”. Em abril de 1991, baixou-se a Portaria
Interministerial Nº 559 ressaltando o direito à Educação Escolar Indígena, a qual versa
em seu Artigo 3º: “Garantir o ensino bilíngue nas línguas maternas e oficial do país,
atendendo os interesses de cada grupo indígena em particular”. Esse foi o marco legal
inicial, no Brasil, no reconhecimento da diversidade cultural, étnica e linguística incluindo
os próprios modos de aprendizagem. Essa Portaria Interministerial fora sumariamente
relevante para a criação de novos documentos legais respaldando a garantia e o acesso
à uma educação escolar diferenciada oportunizando a valorização do arcabouço cultural
dos povos indígenas no Brasil.
Teixeira e Lana (2012, p. 122), diz que “respeitar a condição de diferença cultural
e linguística e as formas tradicionais de conhecimento, além de procurar oferecer
igualdade de condições de acesso e qualidade do serviço público com relação aos
demais nacionais do Estado”, significa que a educação intercultural já prevista em lei pelo
direito dos povos indígenas deva atingir esses objetivos para que ocorra de fato a
interculturalidade.
O Estado procura atender a esta demanda para garantir aos povos indígenas o
tipo de escola que, ao ser apropriada por eles, tenha um novo significado e satisfaça o
modo de ser indígena (Teixeira & Lana, 2012). As autoras ilustram que os métodos, os
conteúdos e os programas devem ser adaptados ao que se pretende como
interculturalidade, evitando aquelas que são “contrárias à cultura”. Realizando atividades
de formação cultural que se faz no convívio coletivo, nos espaços comunais, efetivando a
participação indígena na formulação dos próprios objetivos fundamentais da educação
escolar.
Os princípios gerais da Convenção 169 (Organização Internacional do Trabalho -
OIT - 1989), garante ao sujeito de direito indígena, o controle de seu futuro, e mobiliza os
governos para que constituam ações empregadas de desenvolvimento regional e global
em ajuste com os povos interessados. É de grande importância que os recursos estejam
disponíveis para que formulem programas de educação específica, especialmente
aqueles referentes ao combate ao preconceito contra os povos indígenas (Teixeira &
Lana, 2012).
Importa mencionar que não obstante em diversos documentos, convenções e
legislações haver a previsão do direito à educação intercultural aos indígenas, o que

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evidencia o empenho na adoção de políticas de valorização de suas línguas, o mesmo
está cingido ao espaço da comunidade local, inexistindo divulgação e valorização dessas
línguas noutros centros educacionais não indígenas, ou mesmo, na sociedade brasileira
em geral (Silva, 2020, p. 253).
Silva e Rebolo (2017, p. 182) menciona que “o desenvolvimento de um trabalho
com a diversidade e sua transformação em aliados pedagógicos, ou seja, uma escola
que se proponha a atuar de forma ativa com heterogeneidade”. Essa escola tem o papel
de trabalhar o ensino bilíngue e promover a educação intercultural de forma relevante na
proteção dessa heterogeneidade cultural.
Outrossim, como bem examinado por Bazarim et al. (2012) se tanto as línguas,
os falantes e as culturas não são homogêneas, tampouco a escola o seria. Seguindo esta
linha, pretendemos apresentar neste trabalho, uma intervenção que valorize os saberes
presentes na comunidade, articulando teoria e prática de modo a viabilizar a inclusão
numa perspectiva transdisciplinar que provoque uma educação intercultural crítica para o
avanço da Educação Intercultural Bilíngue do povo indígena Nadëb do Rio Negro.

2 Descrição do problema
Segundo Canclini (2007, p. 17) "a interculturalidade implica que os diferentes são
o que são, em relações de negociação, conflito e empréstimos recíprocos". O termo
implica um modelo de produção social diversa em relações de fricção, no entanto,
contribuindo para um arcabouço de identidades, crenças, conhecimentos e valores
socioculturais.
A educação intercultural no modelo crítico (FUNIBER, 2021) é uma prática social
transformadora das realidades sociais e culturais nas sociedades indígenas do Brasil.
Como afirma Candau (2016, p. 808) dentro da concepção de educação intercultural que
as culturas não são puras e estáticas, e suas relações culturais são marcadas pelos
conflitos de poder, pelo preconceito e discriminação socioculturais. Essa é uma luta de
poderes constantemente no enfrentamento da dominação cultural e social de uns sobre
outros.
A educação escolar para os povos indígenas, fora imposta desde a colonização
europeia na América do Sul, cujo modelo predominante, tem o explícito intuito
colonizador, integracionista, civilizador e de catequização. Um dos problemas que mais
tem dificultado o desenvolvimento educacional intercultural é a desigualdade e inclusão
social, principalmente quando nos referimos aos diversos povos da Amazônia. Só na
região do Médio e Alto Rio Negro encontra-se uma heterogeneidade de povos com 23
(vinte e três) etnias (Rios et al., 2013, p. 23).

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No decorrer de séculos e décadas, os modelos de educação sofreram evoluções
e adequações nas metodologias, nas últimas décadas, ocorreram movimentos de
afirmação étnica. Com o surgimento de novos modelos educacionais, foram criados
modelos específicos e diferenciados de educação para os índios amparada pela Lei n°
9.394 (Presidência da República do Brasil, 1996), possibilitando a cada grupo/povo criar
suas tarefas, elaborar propostas pedagógicas, currículos informando suas cosmologias.
Para Tassinari (2001, p.50), a escola indígena pode ser considerada teoricamente
como um lugar de fronteira, um "espaço de trânsito, articulação e troca de
conhecimentos, assim como um espaço de incompreensões e de redefinições identitárias
dos grupos envolvidos nesse processo, índios e não índios". De fato, a educação escolar
é um instrumento que os indígenas podem lançar mão para ressignificar suas
identidades, valorizar seus conhecimentos, expor suas ideias e reivindicar seus direitos.
O povo Nadëb do Rio Negro, é um dos grupos vivendo no processo de
redefinições identitárias, vivendo nas fronteiras relacionais de outras etnias e povos
indígenas e não-indígenas. A educação escolar diferenciada, bilíngue é um instrumento
social importante para a interculturalidade e diversidade linguística da região, visando o
reavivamento e uso da língua, pois como adverte Gomes (2008, p. 93) “a língua Nadëb
na maioria das famílias não é mais a língua de comunicação entre eles. É mais usada
pelos mais velhos”. Embora o modelo escolar mais contundente nas aldeias ainda seja o
da modernidade ocidental, essa etnia busca outros referenciais para prática escolares,
que possibilitará a construção de um novo significado de educação, criando novas
perspectivas de instituir propostas pedagógicas e currículo escolares que se aproximam
do modo de vida deste grupo, respeitando a história, a constituição e afirmação da
identidade étnica em conjunto à memória, língua, tradição e saberes de seus ancestrais.
Gomes (2021, p. 220), tratando sobre os estigmas identitários do povo Nadëb do
Rio Negro, aponta que a Língua é um dos fatores de suma relevância na identificação
étnica e cultural, portanto, o revivenciar o uso da língua, especialmente no seio da
educação escolar traz empoderamento e valorização cultural melhorando a estima social
do povo e respeitando o direito da educação intercultural, diferenciada e bilíngue.
Entretanto, se, por um lado, há um consenso quase unânime de que as escolas
indígenas devem possuir este papel social percebe-se que as escolas ainda estão longe
de ser interculturais, pois há várias concepções sobre como essa interculturalidade irá se
concretizar no dia-a-dia de uma escola.
Assim, parece-nos importante intervir sobre este tema. Para esta reflexão,
elabora-se um projeto de intervenção, cuja finalidade é dar maior atenção ao problema
sociolinguístico e propor uma didática intercultural de autodesenvolvimento comunitário e
linguístico para o povo Nadëb do Rio Negro, no Noroeste do Amazonas. As metodologias

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visam os enfoques: cooperativo - sendo um trabalho colaborativo influenciando toda a
comunidade, respeitando as competências do povo; Socioafetivo - melhora a autoestima
da comunidade envolvendo a socialização de saberes entre a comunidade escolar e o
povo como um todo e o comunicativo - evidenciando o diálogo intercultural na valoração
e aceitação do outro. (FUNIBER, 2021, p.71).

3 Desenho de intervenção

Título
A Educação Bilíngue para o Povo Nadëb do Rio Negro no Noroeste do Amazonas

Período
Durante o primeiro semestre de 2022.

Abrangência:
Alunos da etnia Nadëb do Rio Negro do 3º ao 9º ano do Ensino Fundamental das
Comunidades Tabocal e Cojubim no município de Santa Isabel do Rio Negro - AM.

Objetivos
Geral
Aplicar as metodologias e técnicas que contribuirão para o avanço da Educação
Bilíngue do povo indígena Nadëb do Rio Negro nas Comunidades de Tabocal e Cojubim
no município de Santa Isabel do Rio Negro - AM.
Específicos
● Ler e ouvir histórias na Língua Nadëb.
● Entrevistar os mais velhos para obter dados da Língua, da História, da Geografia
e Ciências.
● Escrever e traduzir palavras e pequenos textos nas duas línguas: Nadëb e
Português.
● Escrever cartazes e placas com avisos e informações nas duas línguas.
● Criar jogos usando palavras e frases na Língua Nadëb.
● Ouvir e cantar músicas da cultura juntamente com a comunidade.
● Festival de músicas e danças tradicionais.
● Memorizar vocabulário.
● Ler e interpretar textos curtos na Língua Nadëb.
● Produzir textos a partir de gravuras e paisagens na comunidade.

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Justificativa
O Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (Ministério da
Educação, 1998) enfatiza a necessidade de trabalhar o bilinguismo ou multilinguismo nas
comunidades indígenas para que os saberes tradicionais e todo conhecimento
acumulado das gerações passadas, ou seja, toda reprodução sociocultural das
sociedades indígenas seja manifestada por meio do uso de uma ou mais línguas.
Essa proposta de intervenção na Educação Intercultural visa a prática da
diversidade cultural de forma heterogênea. Nesse intuito de valorização e respeito, a
sociedade indígena Nadëb do Rio Negro usará os espaços educacionais para transmitir
os valores culturais através da língua, empoderando assim, a estima étnica, social e
linguística do povo Nadëb.

Metodologia/Atividades

Atividade 1: Roda de Conversas


Trazer convidados e em roda com os alunos contar histórias da cultura na língua
com tradução simultânea para que possa compreender a língua no discurso.

Atividade 2: Produção de Texto - Músicas


Usando o celular, cada grupo de alunos deverá pesquisar, com os mais velhos,
uma música da cultura e gravá-la. Na sala de aula todos devem ouvir, transcrever e
cantar as músicas.

Atividade 3: Produzir jogos usando palavras ou frases:


Jogo de Memória (língua Nadëb e Português);
Jogo da Roleta - Formação de Palavras;
Jogo da Trilha.

Atividade 4: Produzir Placas e Avisos


Os alunos em equipe produzirão placas de informações e avisos para serem
distribuídos pela comunidade. Ex.: Sobre o lixo; A reunião da Comunidade; Placa de
Bem-Vindos a Comunidade. Serão escritos nas duas línguas: Nadëb e Português.

Atividade 5: Produção de um pequeno livro de leitura


Cada equipe de três alunos fotografará uma paisagem ou local da comunidade em
seguida produzirão um pequeno texto nas duas línguas. Após a produção e correção,
será digitalizado e compilado para formar um livro de leitura;

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Atividade 6: Pesquisa interdisciplinar
A turma será dividida em grupos de três componentes. Cada grupo pesquisará na
comunidade alguns temas para o uso da interdisciplinaridade e a valorização dos saberes
tradicionais em comparação com os saberes científicos. Os temas são: Plantas
medicinais, Rios da região, História de formação dos povos da região, Artes de tecidos,
Pinturas e Formas geométricas. As pesquisas serão apresentadas em um seminário com
toda a comunidade através de cartazes, textos e fotografias. Em seguida serão
compilados para formação de um material de pesquisa na escola.

4 Avaliação geral
A avaliação será um processo contínuo de autoavaliação, avaliação diagnóstica e
formativa. Por meio da observação, acompanhamento e atividades avaliando o
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem tanto de forma colaborativa
quanto individual. A cada dois meses terá uma reflexão com toda a comunidade sobre os
impactos do uso da língua nos espaços comunitários.

Critérios de avaliação

Conhecimento prévio Criatividade Interesse

Socialização Habilidade Participação Ativa

Oralidade Leitura e Escrita

Atividades em grupo e individual

Atividades orais e escritas Rodas de conversas Produção de texto

Leitura e Interpretação Teatro/ Música Entrevista

Pesquisa Produção de um livro Jogos

Consideramos que essa é uma proposta inicial para um avanço na Educação


Intercultural Bilíngue de uma sociedade respeitando os pressupostos da
interculturalidade, as políticas públicas e a interatividade cultural e social do povo. Dessa

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forma, esperamos que a educação traga ações que promovam práticas sociais
transformadoras da subalternidade histórica do povo Nadëb do Rio Negro.

5 Referências bibliográficas

Bazarim, M., Silva Vilela, M. C., & Silva Oliveira, B. (2012). Educação multi/bilíngue e
ensino de línguas. Revista Científica Eletrônica de Ciências Sociais Aplicadas da
EDUVALE, 2012 (07), 1-9.

Canclini, N. G. (2007). Diferentes, desiguais e desconectados (2ª ed.). UFRJ.

Candau, V. M. F. (2016). Cotidiano escolar e práticas interculturais. Cadernos de


pesquisa, 46 (161), 802-820. https://doi.org/10.1590/198053143455

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

Convenção n° 169 de 07 de junho de 1989. Convenção sobre povos indígenas e tribais.


Organização Internacional do Trabalho.
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Gomes, M. (2021). Identidade e Estigma: Os rearranjos identitários dos Nadëb do Rio


Negro. In: C. Bottega, D. S. Karpowicz, N. T. R. C. Silva & R. R. B. Cavalcanti
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Collins.

Lei Federal n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Presidência da República do Brasil.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm
Portaria Interministerial nº 559 de 16 de abril de 1991. Dispõe sobre a Educação Escolar
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https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/portaria-interministerial-n-55
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Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (1998). Ministério da


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Rios, D. P. G., Malacarne, J., Alves, L. C. C., Sant’Anna, C. C., Camacho, L. A. B., &
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Tassinari, A. M. I. (2001). Escola indígena: novos horizontes teóricos, novas fronteiras de


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Teixeira, V. C. G., & Lana, E. S. C. (2012). Interculturalidade e direito indígena à


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