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Q Um momento
ue a imprensa Essas são as questões
brasileira é que nortearam esse
majoritariamente
branca, dez entre dez
histórico para o especial, que se apoia em
dois pilares:
jornalistas não têm dúvida.
Mas quanto ela é branca?
jornalismo brasileiro O estudo sobre o
Perfil Racial e de Gênero
Em tempos de clamor quase que generalizado
Quantos são os pretos por diversidade, inclusão, pluralidade, equanimidade, da Imprensa Brasileira,
e pardos (negros) que conhecer a si e a sua história com propriedade produzido por este
dela participam? E as é o primeiro passo em direção à tão desejada Jornalistas&Cia e pelo
mulheres? Têm havido transformação Portal dos Jornalistas,
Especial
avanços na equidade de com apoio do Instituto
Edição 1.332
página 31
Imprensa neg
José Carlos do Patrocínio
Joaquim
Maria
Ma
Assis chado de
desfavorecimento dos negros. Isso sem contar a espontâneas colhidas pelo estudo – 750, num universo
questão da própria carreira, sempre muito mais de 61.000 profissionais –, nem tanto. Foram semanas
desafiadora e complexa para os negros, pelas barreiras de chamamento às redações e aos profissionais para
nem sempre visíveis no que diz respeito a ascensão que participassem do estudo. Um chamamento direto,
profissional e a melhores remunerações. por mensagens de e-mail para os endereços de todos;
De certo modo, várias dessas situações são e também indireto, por meio de personalidades do
recorrentes também quando se analisa a questão de próprio jornalismo e da sociedade civil, conclamando a
gênero no jornalismo, com pleno desfavorecimento essa participação pelas redes sociais.
das mulheres, sendo que adicionalmente elas muitas À parte o fato de não ser agradável responder
vezes precisam encarar e enfrentar essa praga que pesquisa, menos ainda quando ela exige alguma
ainda atormenta e grassa solta também no jornalismo: comprovação (o que era o caso), a baixa participação
o assédio moral e sexual. dos colegas de redação é uma clara demonstração de
Mas como enfrentar questões tão urgentes e que o tema ainda guarda sérias restrições no ambiente
essenciais sem que se conheça, de fato, a situação jornalístico e provoca um certo desconforto nos
racial e de gênero da imprensa brasileira? Estariam, a profissionais, mesmo em se tratando de uma causa
propósito, os jornalistas e o jornalismo interessados relevante para a atividade.
de fato em conhecer seu perfil racial e de gênero, Diante dessa resistência, o estudo valeu-se de
em revolver as entranhas dos preconceitos e da duas outras etapas para, a partir do cruzamento das
discriminação existentes na atividade? informações, chegar a um resultado consistente
A levar em conta o número de autorrespostas e confiável: uma entrevista por telefone mais
aprofundada sobre questões raciais sensíveis com 202 I’MAX, empresa líder em banco de dados de jornalistas
jornalistas negros, sendo 50% mulheres e 50% homens; de redação e mailings de imprensa, o estudo
e uma segunda entrevista, também por telefone, porém contou desde o início com o apoio entusiasmado
aleatória, mais curta e focada nas questões de raça e das principais instituições jornalísticas do País e de
gênero, com 1.000 jornalistas, respeitando a proporção algumas outras da sociedade civil.
da densidade de profissionais por estado e por regiões Por isso vão aqui os nossos também entusiasmados
do País. agradecimentos a todas elas (ABI, Abracom, Ajor,
Naturais em um projeto pioneiro e com essa Aner, ANJ, APJor, Bori Agência, Conajira/Fenaj, Ecos
dimensão, as dificuldades serviram para motivar e do Meio, Jeduca, Projor, Rede JP – Jornalistas Pretos,
engajar ainda mais os organizadores, que não mediram Universidade Metodista e Universidade Zumbi dos
esforços para produzir e entregar ao mercado um Palmares); aos patrocinadores que viabilizaram a
estudo consistente, de qualidade e com relevantes iniciativa (ADM, Grupo Boticário e Uber); e às inúmeras
insights, ponto de partida para que o jornalismo personalidades e agências de comunicação que
brasileiro se transforme, avançando para um perfil deram também sua contribuição voluntária para o
mais diverso e inclusivo, como exige a sociedade projeto.
contemporânea. Boa leitura!
Liderado por este Jornalistas&Cia, com seu braço Fernanda Lara – I’MAX
online Portal dos Jornalistas, em parceria com o Eduardo Ribeiro – Jornalistas&Cia/Portal dos Jornalistas
Maurício Bandeira – Instituto Corda – Rede de Projetos e Pesquisas
Instituto Corda – Rede de Projetos e Pesquisas e o
Programa de Estágio Inclusivo:
uma história ADM
Ana Apolaro,
VP de RH para ADM América Latina
Com base nesta realidade, o conselho local de DE&I da ADM Brasil desenvolveu uma
agenda prioritária para promover a igualdade e o acesso ao mercado de trabalho, criando
oportunidades com foco neste público para o desenvolvimento das suas habilidades em
curto prazo.
Mesmo em pouco tempo, estou feliz em afirmar que encontramos pessoas com o perfil
desejado pela ADM: pessoas talentosas com capacidade analítica, muita vontade de
aprender, resiliência e relacionamento interpessoal. Este é só o começo de uma história de
transformação pela qual todos fazemos parte.
Parte do time
de estagiários
de São Paulo
Especial
Edição 1.334A
página 6
mais representatividade é na Região Nordeste, com 40,3%, seguido de Jornal Impresso, com
em que são 38,89%, em parte refletindo a 20%, e Jornal Digital, com 10,5%. Outros tipos
distribuição da população negra pelo País. de veículos indicados foram: Revista Impressa,
Os mais ouvidos – A faixa etária 8,2%, Blog/Canal Digital/Podcast, 7,8%; TVs
predominante entre os entrevistados pelo aberta/paga, que somam 7,2%; e Rádio, com
estudo compreende as idades de 26 até 60 3.1%. Na comparação entre brancos e negros
anos, sendo que o grupo de 26 a 35 anos (pretos+pardos) há uma pequena tendência
representou 28% da amostra; o de 36 a 45 de maior proporção relativa dos brancos em
anos, 25,3%; e de 46 a 60 anos, 24,6%. Portal/Site de Notícias e dos negros em Jornal
Os entrevistados por veículos – Os tipos de Impresso.
veículos do trabalho principal do entrevistado Jornalistas&Cia publica a seguir a íntegra do
que predominam são: Portal/Site de Notícias, estudo.
Especial
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Realização
Novembro / 2021
Especial
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O nascimento e a
organização do projeto
A ideia surgiu quando a equipe do Jornalistas&Cia planejava uma ação especial da
newsletter para a celebração do Dia da Consciência Negra, em novembro de 2021, e
sobre a imprensa negra no Brasil. Já havia sido feita uma edição especial em junho,
na celebração do Dia da Imprensa, em que foi homenageado o jornalista, escritor e
dramaturgo João do Rio, pelo centenário de sua morte – ele era negro e foi um dos
mais importantes jornalistas do seu tempo e da história do jornalismo brasileiro. Da
discussão sobre esse projeto com o Instituto Corda, parceiro para vários projetos de
pesquisa no campo da comunicação, veio a ideia de fazer um levantamento racial nas
redações, para, com isso, medir o efetivo perfil racial e contribuir para que o jornalismo
possa caminhar de forma mais ágil em direção à diversidade e à inclusão, passando
a ser mais equilibrado em seus quadros de colaboradores e no próprio noticiário,
em especial no que diz respeito à questão racial. Para chegar a todos os jornalistas e
fazer esse levantamento lembramos do I’MAX, por sua capacidade de atingir todas as
redações e profissionais. Nasceu aí um projeto tripartite.
Depois de formatado o projeto, algumas das mais importantes entidades do setor de
comunicação do País, além de instituições, empresas e personalidades do jornalismo e
outras áreas, declararam apoio ao projeto:
Apoio
Patrocinadores
Especial
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O projeto
Qual o Perfil Racial da Imprensa Brasileira? Somos de fato uma
imprensa majoritariamente branca? Dirigida por brancos? Em que proporção? Quantos
são os jornalistas negros e de outras raças e etnias que atuam nas centenas de redações
do País? Onde eles estão localizados geograficamente? Como se situam na hierarquia
das redações? Qual o impacto desse perfil na produção jornalística nacional?
Essas são algumas das questões que o estudo Perfil Racial da Imprensa Brasileira
está contribuindo para responder, a partir da realização de uma pesquisa nacional nas
redações da imprensa brasileira.
O projeto esteve desde o seu início estimulado pela consideração de que o estudo
proporcionará uma informação valiosa para o planejamento de ações afirmativas na
direção de maior diversidade e inclusão racial no jornalismo, atividade essencial para
a democracia, para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do País e para o
combate às injustiças seculares que afligem a nação.
O estudo abrangeu, além da pesquisa por autorresposta em questionário online,
uma pesquisa nacional com amostra probabilística para aferir com precisão a
distribuição dos jornalistas por cor/raça e uma etapa complementar com entrevistas
telefônicas com jornalistas negros que se dispuseram a responder, para conhecer de
forma mais profunda questões raciais mais sensíveis e eventualmente presentes no dia
a dia da atividade.
Assim, foram objetivos do presente estudo sobre o Perfil Racial da Imprensa
Brasileira:
Metodologia
O projeto compreendeu três fases de levantamento de dados. A primeira
correspondeu à divulgação de um questionário eletrônico (fase 1), que pôde ser
acessado por meio de um link disponível nos endereços eletrônicos dos organizadores
e apoiadores do projeto, assim como pelo envio desse mesmo link em e-mails a toda
a base de jornalistas, aproximadamente 61.000 contatos, da empresa parceira desse
projeto, o I’MAX. Esse questionário, de autopreenchimento, só pôde ser acessado
por jornalistas de redação em atividade, situação verificada em cada solicitação
de participação que foi registrada. Nessa fase foram recolhidos, entre os dias 16 de
setembro e 31 de outubro, 750 questionários válidos preenchidos, provenientes de
todas as regiões do País.
A segunda fase, que complementa a fase inicial da pesquisa online, consistiu
em uma pesquisa, com amostra probabilística de 1.000 (mil) casos (fase 2). Foram
realizadas entrevistas telefônicas com contatos extraídos do banco de dados total
da empresa parceira I’MAX. Com esse levantamento, foi possível definir o peso racial
Especial
Edição 1.334A
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Foco na capacitação
GPA investe em iniciativas de desenvolvimento profissional
voltadas a diversidade e inclusão de pessoas negras
Para tornar seu ambiente de trabalho mais acolhedor, iguali-
tário e livre de discriminação, capacitar e incentivar o desenvol-
vimento profissional de colaboradores(as) negros(as) tem sido
uma das principais estratégias do GPA, um dos maiores grupos
de varejo alimentar da América do Sul e líder em e-commerce
alimentar no Brasil.
A empresa, que desde 2018 conta com o GPA Madiba (*)
− grupo de afinidade que lidera e fomenta iniciativas sobre
conscientização e sensibilização em relação à equidade racial
na companhia −, lançou neste ano o Programa de Desenvolvi-
mento para Negros e Negras. O curso, produzido em parceria
com a Universidade Zumbi dos Palmares, aborda desde temas
relacionados a racismo e sociedade até educação financeira,
comunicação empresarial, liderança e marca pessoal.
“Incrível é a palavra que define essa iniciativa”, destaca Lu-
dmila Carolina dos Santos, operadora de loja de uma das
unidades do Extra Hiper em Salvador. “É uma busca contínua
no desenvolvimento do time, ampliando o leque da diversi-
dade no âmbito racial, o que me deixa feliz como mulher ne-
gra. Troca de experiências, dinâmica e conhecimento propor-
cionados em cada treinamento vêm contribuindo de forma
positiva para a minha autoestima, autoconhecimento e au-
toconfiança. Consequentemente, torno-me uma profissional
mais motivada que a cada dia busca a eficácia no ambiente
organizacional”.
Nesta primeira fase, foram 105 vagas direcionadas aos pro- “Ao longo do ano, também mantemos o tema presente em
fissionais das lojas e sedes administrativas, exceto gerentes e nossas comunicações, com pílulas de conteúdo nos informes
superiores. Segundo a empresa, atualmente, 52% de seus cola- internos e a realização de palestras e treinamentos educativos
boradores declaram-se negros, sendo que 37% dos cargos de e de sensibilização para nossos(as) colaboradores(as)”, afirma
liderança da companhia são ocupados por esse público. Roberta Bechelli, diretora de Comunicação Corporativa do
Além disso, em novembro deste ano, o GPA ampliou o investi- GPA. “Entendemos que a promoção da equidade racial está
mento em iniciativas inclusivas e direcionadas à equidade racial, diretamente ligada à ampliação das oportunidades no merca-
e lançou o Programa de Estágio 2022 exclusivo para pessoas do de trabalho, assim como o desenvolvimento e ascensão a
negras. cargos de liderança. Por isso, o GPA trabalha na criação de es-
“Essas iniciativas são exemplos das diversas ações afirmativas tratégias e novas ações afirmativas e inclusivas para incentivar
que estamos realizando para tornar o ambiente entre todos os a contratação e o crescimento profissional de pessoas negras
colaboradores mais igualitário”, explica Mirella Gomiero, direto- em todas as áreas da Companhia. O Programa de Desenvolvi-
ra executiva de Recursos Humanos, Tecnologia e Sustentabilida- mento para Negros e Negras é um exemplo disso”.
de do GPA. “Elas estão em linha com a Política de Diversidade,
Inclusão e Direitos Humanos do GPA, que estabelece as diretri- Apoio às microempreendedoras
zes para tonar o ambiente interno mais acolhedor, livre de discri- Além das ações com colaboradores, o GPA, a partir do Ins-
minação e com mais igualdade de oportunidades entre diversos tituto GPA e da marca Extra, lançou em 2020 o Programa Em-
públicos, incluindo negros(as). Acreditamos que uma empresa preendedoras Periféricas. A iniciativa, em parceria com a Fun-
diversa colhe bons frutos tanto no que diz respeito aos resulta- dação Tide Setúbal, foi criada para apoiar com capacitação e
dos do negócio quanto no desenvolvimento das pessoas que suporte financeiro as microempreendedoras negras de regiões
fazem parte dele”. de periferia que foram impactadas pela pandemia.
Outros conteúdos e treinamentos mais voltados à conscienti- O programa já apoiou 36 empreendedoras em pouco mais
zação sobre a problemática do racismo também estão disponí- de um ano de atividade, e na primeira edição de 2021 foram
veis no Canal de Diversidade da Universidade do Varejo GPA. A selecionados 19 empreendimentos de oito Estados brasileiros.
instituição corporativa de ensino do grupo disponibiliza uma série Vale destacar que o GPA integra importantes iniciativas que
de conteúdos sobre o assunto, como vídeos que abordam as si- apoiam e suportam empreendedores negros, como a Coaliza-
tuações reais de racismo e preconceito vivenciadas por pessoas ção Empresarial pela Equidade Racial e de Gênero, a Iniciativa
negras. Além disso, o tema é recorrente na comunicação interna Empresarial pela Igualdade Racial, Movimento Ar e o Movi-
da companhia. mento pela Equidade Racial (Mover).
(*) Madiba: Forma como era carinhosamente chamado o ex-presidente da África do Sul Nelson Mande-
la. Significa “pai” em xhosa, uma das 11 línguas oficiais daquele País.
Especial
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página 18
GÊNERO
COR / RAÇA
Negro Total
Branca Preta Parda Amarela Indígena
(Preta+Parda)
% % % % % % %
Feminino 48,9 51,8 55,7 54,4 55,0 50,0 50,2
Masculino 51,1 48,2 44,3 45,6 45,0 50,0 49,8
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Base: 750 entrevistas (amostra ponderada pelo peso de cor/raça
entre os profissionais de redação)
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 1 - Questionário autopreenchido
operação acontece na rua. Com isso, as pautas complexas da so- Fortune 500. Mesmo assim, a atual representatividade dos negros
ciedade também estão presentes em nossas operações. Por outro na Uber ainda não está onde queremos que ela esteja, especial-
lado, a presença no dia a dia das pessoas nos traz um grande poten- mente em se tratando de nossas equipes técnicas e de liderança”.
cial e nos dá a oportunidade de ampliar mensagens de respeito”. Dentre as medidas adotadas para mudar essa realidade, a em-
Além da campanha de conscientização, a empresa também presa passou a vincular a remuneração de seus principais executi-
ampliou seus esforços no suporte a clientes e motoristas parceiros, vos a métricas de diversidade, dentre elas:
oferecendo aos agentes de suporte um treinamento especializado z Igualdade salarial
sobre preconceito e discriminação. Também investiu na melhoria z Dobrar a base de talentos e a representatividade negra na lide-
de seus aplicativos para tornar mais simples e fácil a qualquer um rança até 2025
relatar problemas de discriminação. z Transparência durante o processo, a partir de um Relatório Anual
Mas engana-se quem pensa que a campanha foi direcionada de Diversidade;
apenas à relação motorista-passageiro. Ainda como parte do com- z Treinamentos em gerenciamento intercultural
promisso assumido em 2020, a Uber também juntou esforços para “Uma coisa é clara para nós: não podemos apenas esperar
criar produtos mais igualitários por meio da tecnologia, e incentivar que nossos produtos, sozinhos, promovam equidade e justiça”,
a diversidade dentro de sua própria casa, onde emprega mais de 20 prossegue o executivo. “Precisamos usar nossa extensão global,
mil colaboradores em todo o mundo. nossa tecnologia e nossos dados para ajudar a fazer mudanças
“Nós precisamos fazer mais”, afirmou o CEO da Uber Dara Khos- mais rapidamente – para que nos tornemos uma empresa mais
rowshahi, no manifesto Sendo uma empresa antirracista, publicado ativamente antirracista; uma empresa e plataforma mais seguras e
também em 2020. “Como uma empresa que impulsiona o movi- inclusivas; além de virmos a ser uma fiel aliada a todas as comuni-
mento, nosso objetivo é garantir que todos possam locomover-se dades a que servimos. Estou otimista de que essas ações ajudarão a
livremente e com segurança, seja física, econômica ou socialmente. garantir que todos que trabalham na Uber ou que estejam conecta-
Para isso, devemos ajudar a combater o racismo que está presente dos de alguma forma com a empresa sejam tratados da mesma
em toda a sociedade e ser um modelo de equidade, tanto dentro forma e sintam-se pertencentes. Mas hoje é apenas um dia: é mais
como fora da nossa empresa. Temos mais diversidade em nossa importante seguirmos em frente, mesmo depois de parecer que a
equipe de liderança e Conselho do que muitas outras empresas da indignação diminuiu e os negócios voltaram à normalidade”.
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da com as ações desenvolvidas teve papel preponderante para Reconhecer o presente sem
informar e conscientizar os diversos públicos que se relacionam se descuidar do futuro
com suas marcas sobre a importância desse tipo de iniciativa. Em abril de 2021, o Grupo Boticário firmou 16 compromis-
Pela lógica da empresa, não basta criar políticas inclusivas, é sos de acordo com os objetivos de desenvolvimento sustentá-
preciso que todos os stakeholders abracem a ideia e sejam tam- vel da ONU, sendo cinco deles dedicados de maneira exclusi-
bém agentes de transformação. va à equidade racial, para serem cumpridos até 2030.
“Quando falamos de políticas de Diversidade e Inclusão efi- Destaque para a decisão de aumentar a representativi-
cientes e verdadeiras, a Comunicação vem para exercer uma dade de talentos negros no quadro de colaboradores e em
função essencial: construir novas narrativas que garantam a cargos de liderança.
representatividade adequada de grupos minorizados da popu- Além disso, passou a contar com a participação de grupos
lação brasileira, sem vieses e estereótipos”, garante Ana Carla minorizados durante a concepção de todos os seus produ-
Lopes, Head de Comunicação e Reputação do Grupo Boticário. tos, a fim de que a empresa tenha um portfólio cada vez
“Desempenhamos um papel importante no empoderamento mais inclusivo e diverso; e reformulou catálogos e campa-
e reforço da identidade de grupos minorizados. Isso fica es- nhas para garantir que a comunicação da empresa represen-
pecialmente marcante no segmento de beleza, que por anos te a população brasileira.
reproduziu padrões, invisibilizando a beleza negra. Como uma Ao mesmo tempo que conquistar o título Great Place
das maiores empresas do ecossistema de beleza no Brasil, de- To Work foi muito comemorado pelo Grupo Boticário,
vemos romper com essa prática. Por isso, acreditamos que o também reforçou internamente o desafio da empresa de
caminho para alcançar a naturalização da diversidade na socie- manter-se nesta posição, com a consciência de que ainda
dade é retratar a nossa verdade, o que realmente somos en- não fizeram o suficiente para promover as mudanças no
quanto país diverso e plural”. avanço da equidade e da justiça racial.
Especial
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Formação escolar
Alguns resultados da avaliação da formação escolar indicam importantes diferenças
em algumas características entre negros e brancos. A utilização do FIES durante a
primeira graduação é relativamente mais intensa entre negros (11,9%) do que entre os
brancos (5,4%), assim como a utilização do PROUNI, 17% entre os negros e 5,7% entre
os brancos. Esses resultados confirmam outros estudos em que o perfil da população
negra no País, relativamente aos brancos, é caracterizado por graves desvantagens
socioeconômicas.
A utilização da política de cotas para ingresso no ensino superior foi acessada por
22,4% dos negros, indicando a relevância dela para permitir o acesso de significativa
parcela dos estudantes à universidade.
FORMAÇÃO / ESCOLARIDADE
COR / RAÇA
Negro Total
Branca Preta Parda Amarela Indígena
(Preta+Parda)
% % % % % % %
Ensino superior/Graduação 53,4 54,5 53,6 53,9 60,0 50,0 53,6
Especialização de nível superior
28,2 31,8 27,9 29,2 30,0 25,0 28,4
(duração mínima de 360 horas)
Mestrado 9,5 8,2 7,9 8,0 5,0 25,0 9,1
Ensino médio / 2º grau 4,2 3,6 4,3 4,1 5,0 4,2
Doutorado 3,6 0,9 2,1 1,7 3,1
Ensino médio técnico 1,3 0,9 4,3 3,1 1,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Base: 750 entrevistas (amostra ponderada pelo peso de cor/raça entre os profissionais de redação)
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 1 - Questionário autopreenchido
NÚMERO DE GRADUAÇÕES
COR / RAÇA
Negro Total
Branca Preta Parda Amarela Indígena
(Preta+Parda)
% % % % % % %
Uma graduação 85,1 86,7 89,1 88,2 94,7 100,0 86,0
Duas graduações 13,6 11,4 10,9 11,1 5,3 12,9
Três graduações 1,3 1,9 0,7 1,2
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Base: 707 entrevistas (amostra ponderada pelo peso de cor/raça entre os profissionais de redação)
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 1 - Questionário autopreenchido
Especial
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Gênero dos
entrevistados
Feminino
50%
Masculino
50%
45,0#
40,0#
35,1%
35,0#
30,0#
15,0#
10,0#
5,0# 2,5%
0,0#
18#a#25#anos# 26#a#35#anos# 36#a#45#anos# 46#a#60#anos# Mais#de#60#anos#
Base:#202#entrevistas#
Fonte:#Pesquisa#Perfil#Racial#@#Fase#3#@#Jornalistas#negros#
ESTADO EM QUE TRABALHA %
ESTADO EM QUE TRABALHA %
SP SP 44,1 44,1
DF 9,4
DF RJ 9,4 8,9
RJ CE 8,9 8,4
BA 4,0
CE MG 8,4 3,5
BA PA 4,0 3,5
AM 2,5
MG PE 3,5 2,5
PA RS 3,5 2,5
AC 2,0
AM PB 2,5 2,0
PE SC 2,5 1,5
AL 1,0
RS MA 2,5 1,0
AC PR 2,0 1,0
GO 0,5
PB MS 2,0 0,5
SC RN 1,5 0,5
RO 0,5
AL RR 1,0 0,5
MA Total 1,0 100,0
Fonte:'Pesquisa'Perfil'Racial'3'Fase'3'3'Jornalistas'negros'
PR 1,0
GO 0,5
MS 0,5
RN 0,5
RO
0,5 19
RR 0,5
Total 100,0
Fonte:Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros
Especial
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página 34
FUNÇÃO/CARGO %
Cargos Gerenciais 38,6
Diretor/Diretor de redação 8,4
Editor chefe 9,9
Editor executivo 4,0
Editor de caderno 1,5
Sub editor 1,0
Editor assistente 5,9
Chefe de reportagem/pauteiro 7,4
Colunista 0,5
Cargos Operacionais 61,4
Repórter / Apresentador(a) 46,5
Redator 9,9
Diagramador 0,5
Outros 4,5
Total 100,0
Fonte:Pesquisa Perfil Racial - Fase’3 - Jornalistas negros
Relação Trabalhista
Outro
4%
Empregrador
12%
Empregado Freellancer
17%
Empregado fixo assalariado
67%
Base: 202 entrevistas
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros
Escolaridade - Formação
Escolaridade$5$Formação$
80,0#
69,3$
70,0#
60,0#
50,0#
40,0#
30,0#
20,0# 14,4$
7,4$
10,0# 3,5$ 1,5$ 4,0$
0,0#
Médio#2º#Grau# Médio#Técnico# Superior# Superior# Superior# Superior#
Graduação# Especialização# Mestrado# Doutorado#
Base:#202#entrevistas#
Fonte:#Pesquisa#Perfil#Racial#L#Fase#3#L#Jornalistas#negros#
Especial
Edição 1.334A
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• Assédio racial
32,1% no atual emprego/trabalho
44,2% na vida profissional:
uso de termos racistas por colegas de redação;
ser xingado, desrespeitado por ser negro;
tratado com diferença e desconfiança pelos colegas;
se referirem a mim com termos pejorativos, como “neguinho”,
“crioulo” e não pelo meu nome.
Sim Sim
Não
14% 86% 43% Não
57%
Base: 202 entrevistas Base: 202 entrevistas
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros
Especial
Edição 1.334A
página 37
Gênero
Total
Masculino Feminino
% % %
Bonita(o) apesar de negra(o) 2,1 1,2
CAPACIDADE/INTELIGÊNCIA/FORMAÇÃO 13,2 12,5 12,8
Escolaridade de baixa qualidade/ Dificuldade de acesso a cursos superiores/ Idiomas 15,8 2,1 8,1
Duvidam da minha capacidade de executar as tarefas de trabalho 8,3 4,7
Ter que ter formação muito melhor do que a dos brancos para subir de cargo 2,1 1,2
Ter de trabalhar/ Estudar mais que os outros colegas para ter o trabalho reconhecido 2,6 1,2
PAUTAS ÉTNICO-RACIAIS 5,3 6,3 5,8
Pautas Étnico-Raciais são ignoradas/ Não têm destaque 2,6 2,1 2,3
Por ser negro(a) só me atribuem pautas étnico-raciais no trabalho 4,2 2,3
Pautas étnico-raciais estão sendo mais valorizadas na imprensa 2,6 1,2
AMBIENTE 2,6 6,3 4,7
Ausência de colegas da mesma raça 4,2 2,3
Sou a única pessoa negra no meu trabalho 2,6 2,1 2,3
Ausência de pessoas negras na profissão 2,1 1,2
OUTROS 2,6 2,1 2,3
Por ser negra traria mais material para o veículo 2,1 1,2
Não lembro 2,6 1,2
Total 100,0 100,0 100,0
Base: 86
Resposta Múltipla (RM): cada entrevistado pode ter indicado mais de um motivo. Assim, a soma dos percentuais pode ultrapassar 100%.
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros.
Sim
Sim
35% Não 98% Não
65% 2%
Base: 202 entrevistas Base: 202 entrevistas
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fonte: Pesquisa Perfil Racial -
Fase 3 - Jornalistas negros Fase 3 - Jornalistas negros
Especial
Edição 1.334A
página 40
Racismo e gênero
O racismo e o machismo, combinados, estão absolutamente
presentes na vida das profissionais da imprensa no Brasil. É o que indicam 85% das
entrevistadas, jornalistas negras, no presente estudo.
Os principais tipos de ações de racismo e discriminação de gênero, combinadas, que
foram apontados, são:
• Assédio – 20,5%:
– muitas vezes vamos entrevistar alguém e a pessoa faz piada de cunho sexual,
temos que ser educadas o tempo todo.
Sim
85%
Por ser mulher, considera que as ações racistas durante sua Gênero
vida profissional na imprensa brasileira foram ainda mais Feminino
evidentes e contundentes? Exemplificação: %
MISOGINIA E RACISMO 52,3
Somos desacreditadas, não temos voz e nem credibilidade, não levam em consideraçao a opiniao da 21,3
mulher negra
Por ser mulher, tem que se posicionar mais, tem que ser mais capacitada, ser mais rápida para se 8,5
sobressair, além de ter colegas machistas
Na empresa tinha que fazer exame de gravidez quando era contratada. Se tivesse grávida ou tivesse filhos 4,3
era considerado um problema, e não podia se dedicar 100%, portanto, não era contratada
Falam da minha atuação profissional e aparência como forma de perseguição por ser mulher 4,3
Na minha coluna, falo sobre futebol feminino e quando apareço nos storys, recebo alguns ataques, 2,1
pedem para me tirarem dali, percebo que incomodo para um público mínimo de pessoas
Mulher branca consegue mais promoções, sofro mais por ser questionadora que outra mulher branca com 2,1
o mesmo perfil que o meu
Faço parte de uma época que na rádio não existia repórter mulher, de mulher não se falava em rádio 2,1
Durante uma conferência política, uma pessoa se levantou e me pediu para arrumar sua gravata, outra
pessoa me pediu um café, outra para indicar o banheiro - eu considero ações racistas e com recorte de 2,1
gênero
Mulher,. nordestina e negra sofre muito mais preconceito não só no trabalho como fora dele. 2,1
Ainda quando estagiária não renovaram meu contrato dizendo que eu era muito “fragil”, por ser mulher e 2,1
negra
Chefia e equipe machistas descartam reportagens com pauta racial 2,1
ASSÉDIO 20,5
Muitas vezes vamos entrevistar alguém e a pessoa faz piada de cunho sexual, temos que ser educadas o 19,1
tempo todo
Sofri assédio de um colega de trabalho e tive medo de denunciar para meu chefe 2,1
Entrevistado ficava elogiando minhas pernas, minha boca e meu batom. Não consegui concluir, devido a 2,1
situação e ao descaso dele comigo como profissional
MULHER COMO INCAPAZ / NÃO APTA 15,9
Acham que não temos potencial. Por exemplo, quando vou cobrir política e chega lá e veem uma mulher 6,4
negra, já olham de lado, dão mais atenção a homens do que mulheres
As pessoas não confiam muito em mulher, principalmente jovens e negras, sempre olham com falta de 4,3
experiência, maturidade, como não fosse dar conta do recado
Por ser mulher sou julgada/questionada por parte das fontes, se sou estagiária e/ou se tenho competência 2,1
para fazer o que sou formada
Por ser mulher, não levam a sério como profissional, principalmente se for homem mais velho, acima do 2,1
50 anos
DISCRIMINAÇÃO NO TRATAMENTO PROFISSIONAL 15,9
Não dão oportunidades para mulheres, especialmente negra, para cargos como editora e gerente 4,3
Resistência dos funcionários à minha chefia por ser mulher e negra. Muitas reclamações e 4,3
questionamentos, mesmo sendo a mais velha na edição
Descobri que recebia menos na mesma função que outros colegas de edição que são homens/brancos 4,3
Por ser mulher e negra, fui confundida como se fosse uma esposa de detento e não repórter, numa 2,1
cobertura de protesto penitenciário, e os policiais jogaram spray de pimenta em mim
CONSTRAGIMENTOS PELA APARÊNCIA 9,1
Falam da minha roupa e do meu cabelo, como forma de perseguição por ser mulher 6,4
Tive muitos comentários sobre minha aparência. falando que eu era bonita e que se fosse fazer tal matéria 2,1
eu ia conseguir mais facilmente
AUSÊNCIA DE MULHERES NAS REDAÇÕES 2,3
Poucas mulheres nas redações, principalmente negras 2,1
OUTROS 6,4
Total 100,0
Base: 47
Resposta Múltipla (RM): cada entrevistado pode ter indicado mais de um motivo. Assim, a soma dos percentuais pode ultrapassar
100%.
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros.
Especial
Edição 1.334A
página 44
Não sabe
5%
Não
61%
Base: 202 entrevistas
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros
Não
78%
Base: 68 entrevistados que indicaram que houve demissões no veículo em que trabalha
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros
Especial
Edição 1.334A
página 45
Sim
Sim
61% Não
57% Não
39% 43%
Considera a Não
empresa e o 37%
veículo em
que trabalha
antirracista?
Sim
63%
Base: 202 entrevistas
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros
Especial
Edição 1.334A
página 49
Gênero
Considera a empresa e o veículo Total
em que trabalha antirracista? Se NÃO - Masculino Feminino
Que problemas podem ser apontados?
% % %
NÃO HÁ UMA POLÍTICA RACIALMENTE INCLUSIVA NA EMPRESA 40,0 27,5 33,3
Desvalorização de profissionais negros, remuneração abaixo do piso do
31,4 17,5 24,0
sindicato, poucas oportunidades, quase não há chefes negros
Faltam ações de inclusão de negros, não há diálogos sobre o assunto
22,9 17,5 20,0
com colaboradores na empresa
Sou a única repórter negra da empresa, entrei com a proposta de
diversidade e aumentar a cobertura do tema, porém serei demitida em 2,5 1,3
breve
Não há posicionamento em busca de repórteres/estagiários que
sejam pretos ou da periferia, procuram os que estudam nas melhores 2,5 1,3
faculdades
PAUTAS SOBRE QUESTÕES RACIAIS SÃO DESPREZADAS 20,0 45,0 33,3
Empresa sem política efetiva contra o racismo. as pessoas não abordam
17,1 35,0 26,7
esse tema, não querem nem ouvir a respeito
Empresa não pauta assuntos relacionados a raça, não incentiva que os
profissionais procurem fontes negras, só trabalham a causa em datas 7,5 4,0
específicas, como o dia da consciência negra
A responsável pelas questões étnicas da empresa é branca e não prioriza
5,7 2,7
os assuntos negros, nem mesmo em datas comemorativas
Empresas visam apenas o interesse econômico, não dão destaque à
5,0 2,7
opressão sofrida por negros, indígenas e público LGBTQI+
EMPRESA NÃO É RACISTA MAS NÃO TEM AÇÕES ANTIRRACISTAS 28,6 27,5 28,0
Não há ações antirracistas concretas na empresa 11,4 15,0 13,3
Há um movimento tentando ser antirracista, mas ainda não é 2,5 1,3
Não existe preconceito mas não levantam a bandeira contra o racismo 8,6 5,0 6,7
Não tem ações antirrracistas no veiculo em que trabalho 2,5 1,3
Existe um esforço para melhorar, com a contratação de colaboradores
8,6 2,5 5,3
negros, mas precisa melhorar muito ainda
EMPRESA/VEÍCULO ADMITE ATITUDES. TERMOS E OPINIÕES RACISTAS 22,9 10,0 16,0
O veículo dá espaço para opiniões racistas / Pratica termos racistas /
20,0 10,0 14,7
Colunista com discurso racista
Ação racista de um colaborador do veículo em que trabalho foi
2,9 1,3
considerada parte da política de pluralidade da empresa
EMPRESA SEM COMPROMETIMENTO COM COLABORADORES NEGROS 2,9 1,3
Chamam profissionais negros de fora apenas para aparecer, levantando
2,9 1,3
bandeiras a respeito
NÃO SEI 5,7 2,5 4,0
Prefere não falar / Não sei 5,7 2,5 4,0
Total 100,0 100,0 100,0
Base: 75
Resposta Múltipla (RM): cada entrevistado pode ter indicado mais de um motivo. Assim, a soma dos percentuais pode
ultrapassar 100%.
Fonte: Pesquisa Perfil Racial - Fase 3 - Jornalistas negros.
Especial
Edição 1.334A
página 50
Melhorar a representação racial nas redações não significa neces- para lançar a Capital B , uma organização de notícias sem fins lucrativos
sariamente que a cobertura refletirá as comunidades que atendem. que atende às comunidades negras, com Akoto Ofori-Atta, ex-editor-
Mas é um começo, o Dep. Joaquin Castro (D-Texas) disse a Axios. -chefe da organização de notícias sobre violência armada The Trace.
• Castro tem colocado pressão pública sobre os meios de comunica- • S. Mitra Kalita deixou a CNN para lançar a URL Media com a CEO da
ção e Hollywood para contratar pessoal mais diversificado. WURD Radio, Sara Lomax-Reese, em janeiro. URL Media se descreve
• “Os latinos são 1 em cada 5 americanos, mas somos quase invisíveis como uma “rede descentralizada e multiplataforma de organizações
nas instituições que definem a imagem e criam narrativas da so- de mídia negra e marrom de alto desempenho”.
ciedade americana, particularmente Hollywood. A representação é • “Sabemos que pode ser glacialmente lento se você trabalhar dentro
importante porque contribui diretamente para retratos mais precisos do sistema”, disse Snigdha Sur, que fundou o Juggernaut, que se
e autênticos”, disse Castro a Axios. concentra nas comunidades do sul da Ásia, depois de trabalhar em
consultoria de mídia. Frustrada com a lenta taxa de mudança, ela
Embora a sub-representação persista, as empresas de mídia de lançou seu próprio hub. “Quando as coisas começam a acontecer
notícias não conseguem nem mesmo medir sua gravidade. do lado de fora, as pessoas começam a mudar por dentro.”
• Em 2019, a American Society of News Editors (agora conhecida
como News Leaders Association) suspendeu sua pesquisa anual de O que assistir: A Associação de Líderes de Notícias deseja responsa-
diversidade da redação - iniciada em meados da década de 1970 - bilizar as redações por melhorar a diversidade entre seus funcionários.
depois que a participação caiu para um mínimo histórico de 17% . O conselho está discutindo parcerias com fundações e organizações
• A organização decidiu revisar sua abordagem na esperança de ga- de premiação para exigir a participação em sua pesquisa ao se candi-
rantir taxas de participação mais altas. datar a prêmios de jornalismo.
• Se as redações não estiverem dispostas nem mesmo a avaliar o
O panorama geral: nos últimos anos, a indústria viu jornalistas negros problema, a indústria nunca será capaz de lidar com questões de
deixarem redações estabelecidas para perseguir projetos que enfocam patrimônio líquido, disse a editora-executiva do Dallas Morning News,
suas próprias comunidades. Katrice Hardy, que preside o comitê de diversidade da News Leaders
• A editora-chefe da Vox, Lauren Williams, deixou seu posto em 2020 Association. “Precisamos mais para reconhecer que não é opcional.”
Especial
Edição 1.334A
página 51
ílio Cristóvão
es João Paulo Emelho Barreto –
Aluísio Tancredo Gonçalv dos Sa ntos Co André Pinto Re
de Azevedo João do Rio bouças
(1857-1913) (1881-1921) (1823-1898) ocínio
os do Patr
José Carl 53-1905)
(18
Imprensa negra,
resistente
Artur Nabantino Gonça
lves de
e heroica
Azevedo
(1855-1908)
À parte: Samba, cordel e repente
− uma história para estudo e reflexão
Antônio Gon
çalves Teixeira
Sousa e
Por Assis Ângelo
(1812-1861)
(Para Anna Clara da Hora Sena Durães,
pela infinita paciência de ouvir e digitar os textos que lhe dito)
nio Ferreira de
Quintino AntôBocaiúva
Sousa ula Brito
(1836 -1912) Francisco de Pa )
(1809 -1861
Joaquim M
João da Cruz e Sousa aria Mach
(1861-1898) Assis ado de
(1839 -190
8)
A
qui eu dou de mão ao leitor incipiente imprensa brasileira: resumiu a importância dessa
e o levo a um passeio na Francisco de Paula Brito (1809- imprensa: “Persistente, heroica”.
história. O ponto de partida 1861). Brito foi o pioneiro da A importância da cultura africana
é o achamento de Pindorama chamada “Imprensa Negra”. no Brasil é sem tamanho. Melhor:
pelos portugueses, como o Brasil Paula Brito foi o cara que abriu é de um tamanho que a vista
era chamado nos primórdios as portas para Machado de Assis. humana nem alcança. O maestro
por seus habitantes. Após isso Foi Machado o nosso primeiro paulistano Júlio Medaglia resume
e logo depois da fundação da grande romancista. essa história numa frase: “A cultura
primeira cidade brasileira, São Muita água correu por debaixo brasileira é negra e devemos aos
Vicente, os africanos começam a da ponte desde o lançamento do negros a cultura brasileira”.
desembarcar na Bahia, Rio e São jornal O Homem de Cor. Na tarde de 13 de maio de
Paulo pra dar duro na Ilha de Vera Depois desse jornal, que durou 1888 a princesa Isabel assinou
Cruz, como denominou nossas cinco números, muitos outros no Paço Imperial, no Rio de
terras Pedro Álvares Cabral (1467- vieram abrindo o caminho que Janeiro, a lei que tirou o poder
1520). O objetivo é pôr luz na levaria o negro à liberdade. dos escravocratas sobre os negros
história. Não era brincadeira o que o escravizados.
O primeiro jornal a tratar da negro vivia no século 19. Isabel Cristina Leopoldina
questão negra foi O Homem de Desde então, pouca coisa Augusta Micaela Gabriel Rafael
Cor, de 1833. mudou no campo da exploração Gonzaga de Bragança e Bourbon
No correr do texto, o leitor humana. nasceu em 1846 e morreu em
vai topar com um personagem O jornalista alagoano Audálio 1921, na França. Há 100 anos,
de importância fundamental na Dantas (1929-2018) uma vez portanto.
Wikimedia Commons
Especial
Edição 1.334A
página 53
O
Brasil tem cor: preta. São mais de 8,5 milhões de por estas terras o primeiro
E outras cores também quilômetros quadrados… navegador de além-mar: Duarte
tem: verde, amarela, azul No ranking, o Brasil ocupa o Pacheco Pereira.
e branca, como ostenta a bandeira quinto lugar entre os maiores e No dia 20 de novembro de
nacional que traz como tema mais populosos países do mundo. 1530, o Brasil ganhou uma vila:
“Ordem e Progresso”, extraído de O Brasil é um país de São Vicente, sei lá por que em
frase do positivista francês Auguste dimensões continentais, sem homenagem ao santo espanhol
Comte (1798-1857). vulcões, furacões, terremotos, de Saragoça.
E ainda deveria ter a cor do tsunamis, mas com muito cabra Em 1532, São Vicente passaria
sangue dos índios e dos negros safado. a ser conhecida como a primeira
escravizados. Ao tempo de 1500, só cidade do nosso País. Nessa
O Brasil é rico demais, sempre foi. indígenas habitavam a terra cidade o seu fundador, Martim
O Brasil tem água em brasilis, originalmente chamada Afonso de Sousa (1500-1564),
abundância e rios de ouro e prata. de Pindorama. Em tupi-guarani, construiu Câmara, pelourinho,
E mais ainda o Brasil tem: terra Pindorama significa “Terra das cadeia e uma capela, símbolos
fértil onde o que se planta dá, Palmeiras”. do reino de Portugal.
incluindo coco, caju, cajá, siriguela Quando Cabral aportou na A história, a nossa história, é
e cana caiana, que virou cana de costa baiana, o Brasil foi chamado recheada de violência, tragédias e
beber na invenção de pretos em de Ilha de Vera Cruz. Logo depois, tristeza. Até hoje.
ferros nos engenhos coloniais. em 1501, o rei Dom Manuel Nosso sangue é preto.
Como se não bastasse, o som reintitulou o Brasil de Terra de Nossos indígenas foram os
do samba faz o vento dançar e Santa Cruz. primeiros a serem escravizados
balançar o arvoredo. Antes disso, em 1498, aportou pelos invasores.
Especial
Edição 1.334A
página 54
“A verdade é clara, muito quase 200 índios foram assassinados de África para torná-los escravos
clara: sofremos até hoje, somos pelos brancos no Brasil: “A gente cá, no Brasil. A partir de então, os
violentados até hoje e o tempo era muita gente, milhões. A gente horrores passaram a se multiplicar,
todo, todos querem as nossas hoje não chega nem a 1 milhão e o na cor preta.
terras e dela extrair o ouro e número de línguas, menos de 300. Por essa época, uma jovem
outras coisas”, conta e reconta o Podemos acabar”. princesa angolana foi laçada por
pajé guarani Awa Kuaray Wera. Em 1550, portugueses captores e trazida até nós, à força.
Kuaray Wera lembra que em 2020 começaram a traficar humanos Seu nome: Zacimba Gaba.
Essa princesa, da nação de
Cabinda, foi desembarcada no
porto de São Matheus (província
de Espírito Santo). E lá sofreu até
fugir das mãos dos seus algozes.
Foi uma guerreira.
Um ano antes de 1550,
começaram a chegar em
Pindorama os jesuítas. Entre eles,
José de Anchieta (1534-1597).
Anchieta chegou em 1553 e um
ano depois fundou com Manuel
da Nóbrega (1517-1570) a cidade
O pajé Awa Kuaray Wera e Assis Ângelo de São Paulo.
Depois dos jesuítas, chegaram lado da companheira Dandara de escravos para explorar a nova
os carmelitas e os beneditinos. até o fim. Foi decapitado e sua riqueza descoberta. Crianças,
Os jesuítas autoproclamavam-se cabeça exposta em uma rua de inclusive.
“soldados de Deus”. Até hoje. Pernambuco, em 1695, por aí. Zumbi tinha mais ou menos 40
Essa organização religiosa foi Ano em que foi descoberto ouro anos quando o mataram.
criada na França, em 1534, e em Minas, Mato Grosso e Goiás, Dandara preferiu suicidar-se
reconhecida pelo Papa em 1540. para onde foram levados milhares a correr o risco de ser presa e
Seu fundador foi o santo Ignacio torturada pelos inimigos.
de Loyola. A história não oferece dados
Negros e indígenas que suficientes para se traçar o perfil
vislumbravam a liberdade fugiam dessa guerreira.
do trabalho escravo. Quem destruiu o Quilombo
Quilombos começaram a surgir dos Palmares foram bandeirantes
aqui e ali. Depois, multiplicaram- liderados por Domingos Jorge
se. O mais famoso deles, Velho (1641-1705), um assassino.
Palmares, chegou a acolher Não custa lembrar o que a
milhares e milhares de fugitivos, história conta dos jesuítas André
que eram recebidos por Ganga João Antonil (1649-1716) e Antônio
Zumba (1630-1678). Vieira (1608-1697). Antonil era
Zumba, que morreu em luta, foi completamente a favor de que
substituído pelo sobrinho Zumbi, se escravizassem indígenas e
diz a história. africanos. “Os escravos são as
Zumbi, de batismo Francisco, mãos e os pés do senhor do
criado por um padre, lutou ao Zumbi, na pintura de Antonio Parreiras engenho”, escreveu no livro
Especial
Edição 1.334A
página 55
Cultura e Opulência do Brasil, sob mundo mais parecido à Cruz e esponja em que lhe deram o fel. A
o pseudônimo de “O Anonymo Paixão de Cristo que o vosso em paixão de Cristo parte foi de noite
Toscano”. Nesse mesmo livro, um destes engenhos. [...] Bem- sem dormir, parte foi de dia sem
publicado e depois destruído a aventurados vós, se soubéreis descansar, e tais são as vossas
mando de Dom João V, o mesmo conhecer a fortuna do vosso noites e os vossos dias.
Antonil escreveu: “O Brasil é o estado, e, com a conformidade O lenga-lenga desse padre, que
inferno dos negros, purgatório dos e imitação de tão alta e divina costumava levitar sobre muros,
brancos e o paraíso dos mulatos semelhança, aproveitar e santificar pode ter dado origem à máxima
e mulatas”. E de lambuja, ainda o trabalho! Em um engenho sois popular segundo a qual “a fé
disse: “Pão, castigo e trabalho”. imitadores de Cristo crucificado: salva”.
Vieira, por seu turno, mostrava- Imitatoribus Christi crucifixi – Três ordens religiosas
se levemente inclinado à não porque padeceis em um modo marcaram a história do Brasil dos
escravidão. Mas também muito semelhante o que o portugueses: jesuítas, carmelitas e
escreveu num de seus sermões, mesmo Senhor padeceu na sua beneditinos.
comparando a dor do escravizado cruz e em toda a sua paixão. A Os beneditinos tinham sob
com a dor sentida por Cristo sua cruz foi composta de dois seu domínio pelo menos 4 mil
pregado à cruz: madeiros, e a vossa em um pessoas escravizadas.
Não se pudera nem melhor engenho é de três. Também ali Desde o achamento de
nem mais altamente descrever não faltaram as canas, porque Pindorama, muita água correu
que coisa é ser escravo em duas vezes entraram na Paixão: debaixo da ponte.
um engenho do Brasil. Não há uma vez servindo para o cetro No Rio de Janeiro, no começo
trabalho nem gênero de vida no de escárnio, e outra vez para a da segunda parte do século
19, intelectuais pretos e pardos Sua linha política pendia para a lamentáveis, em que a elite dizia
arregaçaram as mangas e foram à independência, entre brancos que “mulheres brancas eram
luta, em defesa dos seus direitos. pobres e negros. pra casar, pretas para trabalhar e
O Rio era a sede do Império. Aqueles eram tempos mulatas para fornicar”.
À época, o Rio contava com O primeiro jornal brasileiro
cerca de 160 mil habitantes. Mais chamou-se Correio Braziliense,
ou menos. editado por Hipólito José da
O preconceito e a discriminação Costa. Esse jornal começou a
eram as marcas principais daquele circular no dia 1º de junho em
tempo. 1808, em Londres.
Quando o carioca Francisco de Em terras brasileiras, o primeiro
Paula Brito nasceu, a Imprensa ou jornal a ser publicado chamou-se
Impressão Régia já existia havia 1 Gazeta do Rio de Janeiro, editado
ano, 2 semanas e 4 dias. por frei Tibúrcio José da Rocha.
A Imprensa Régia nasceu no Seu primeiro número saiu no dia
dia 13 de maio de 1808. Nessa 10 de setembro de 1808. O redator
data nasceu também a censura desse jornal, Manuel Ferreira de
prévia, que se estendeu até 1821, Araújo Guimarães, lançaria pouco
ano de fundação do jornal Diário depois o jornal O Patriota. Dentre
do Rio de Janeiro. Editado por os colaboradores desse jornal
Zeferino de Meireles e Antonio estavam Manuel Inácio da Silva
Maria, esse jornal foi o primeiro Alvarenga e José Bonifácio de
a publicar anúncios publicitários. Andrada e Silva, o “Moço”.
Especial
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Naqueles começos de século, campo Henrique Dias. Essa união que se lê no livro 1808 (Laurentino
o Rio e o Brasil todo ferviam. tinha por finalidade expulsar os Gomes, Globo Livros, 2007).
Turbulência de norte a sul da holandeses que invadiram o Brasil. Após proclamar a Independência
Colônia. Éramos Colônia. Dom Finalidade alcançada. do Brasil de Portugal, em 1822,
João VI, acuado por Napoleão As normas do Exército brasileiro Pedro I prepara terreno para seguir
Bonaparte, cortou o Atlântico começavam aí, com heroísmo. os passos do pai.
até chegar a nossas terras com Triste heroísmo. Com sangue, Nesse meio tempo, a vida
a trupe formada por milhares de muito sangue. continuava tensa na nossa terra,
portugueses, numa esquadra Foram muitas as revoltas, agora Império.
protegida pela força marítima revoluções, guerras envolvendo Periódicos de várias
inglesa. negros, pardos brasileiros. tendências criticam e elogiam o
Aqui, seu refúgio. Dom João voltou a Portugal no comportamento do imperador.
A escravidão comia solta dia 26 de abril de 1821, atendendo Aqui e ali ele se irrita publicando
por cá, desde o começo da a rogos do povo português. No textos apócrifos em vários jornais,
segunda parte do século 16. Porto estourara uma revolução entre os quais O Espelho e O
Indígenas e negros, sob chicote braba. Analista, sob os pseudônimos
de bandeirantes e fazendeiros, Àquela altura, porém, Napoleão Duende, Derrete-Chumbo-
penavam. já havia morrido na ilha inglesa de A-Cacete, Piolho Viajante e O
Nos finais da primeira metade Santa Helena. Segundo ele, nos Espreita.
do século 17, militares portugueses seus escritos de memórias, Dom Os humanos de África
juntaram-se ao líder indígena Filipe João foi o único monarca a lhe continuavam chegando aos
Camarão e ao negro mestre de “passar a perna”, de acordo com o milhares e à força, não só à Corte.
No dia 14 de setembro de 1833, Cor, de circulação quinzenal. conseguiu fazer, entre as quais A
Paula Brito leva à praça o primeiro Durou cinco números, o último Fluminense, imprimiu vários jornais,
jornal que trata das condições em lançado no dia 4 de novembro quase uma centena. Um desses, O
que viviam os negros à época. daquele ano, que trazia como Restaurador, por pouco não o levou
Péssimas. Título: O Homem de subtítulo O Mulato. à bancarrota.
Já na primeira edição esse Política e ideologicamente,
jornal estampava referência à Paula Brito mostrava-se a favor da
Constituição de 1824, outorgada liberdade. Lutava por ela.
por Pedro I. Dizia, no seu artigo 14: Nos fins do dia, numa sala
“Todo o cidadão pode ser admittido contígua a sua tipografia, Brito
aos Cargos Publicos Civis, Politicos, reunia-se com clientes e amigos
ou militares, sem outra differença, para discutir os rumos da vida
que não seja a dos seus talentos, e que viviam. Entre esses amigos,
virtudes.” Machado de Assis, José de
Francisco de Paula Brito era Alencar, Joaquim Manuel de
filho de mãe liberta (Maria). O pai Macedo (A Moreninha), em início
(Jacintho) era carpinteiro. Fez tudo de carreira literária. E até Eusébio
que um pai faria pelo bem do filho. de Queiróz, que transformaria
Ele fez. a vida do Brasil ao conseguir ter
Muito cedo, Paula Brito aprovada no Congresso uma lei
identificou-se com a profissão que impediria o tráfico de escravos.
de tipógrafo. Nas tipografias que Importantíssima.
O barão do Rio Branco era conhecida a Lei nº 581, de 4 de tráfico de africanos para o Brasil.
presença constante nessas setembro de 1850. Essa Lei ficou conhecida como
reuniões. História. “Para inglês ver”. Quer dizer, essa Lei
O Reino Unido teve participação Antes disso, no dia 7 de novembro (Feijó) nunca funcionou. Funcionou
fundamental na aprovação da Lei de 1831, o Parlamento brasileiro a Lei Eusébio de Queiróz.
Eusébio de Queiróz, como ficou aprovou uma Lei que extinguia o Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala, Com suas poucas palmeiras E põe-se triste a beijá-lo,
Junto o braseiro, no chão, Dão vontade de pensar... Talvez temendo que o dono
Entoa o escravo o seu canto, Não viesse, em meio do sono,
E ao cantar correm-lhe em pranto Lá todos vivem felizes, De seus braços arrancá-lo!
Saudades do seu torrão... Todos dançam no terreiro;
De um lado, uma negra escrava A gente lá não se vende (A Canção do Africano, de Castro Alves;
Os olhos no filho crava, Como aqui, só por dinheiro. 1863, Recife)
Reprodução
E à meia voz lá responde O escravo calou a fala,
Ao canto, e o filhinho esconde, Porque na úmida sala
Talvez, pr’a não o escutar! O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Minha terra é lá bem longe, P’ra não acordar com o pranto
Das bandas de onde o sol vem; O seu filhinho a sonhar!
Esta terra é mais bonita, .............................
Mas à outra eu quero bem!
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
O sol faz lá tudo em fogo,
Bem antes do sol nascer,
Faz em brasa toda a areia;
E se tardasse, coitado,
Ninguém sabe como é belo
Teria de ser surrado,
Ver de tarde a papa-ceia!
Pois bastava escravo ser.
A partir do lançamento do jornal começou o tempo de falar. achem ligados conosco pelos
O Homem de Cor, cinco meses A classe dos homens de cor, laços da mais sincera amizade,
depois do jornal político O Grito sem dúvida nenhuma, a mais todavia os fatos denunciam que o
dos Opprimidos, muitos jornais numerosa e a mais industriosa do partido que há tempos predomina
em defesa do negro começaram Brasil, parece atualmente voltada na província parece manter o
a pipocar País afora. ao ostracismo pelos homens propósito desleal de ir apartando
Na primeira edição do jornal O que nos governam, contra toda dos empregos públicos aqueles
Homem, lançado em Recife no a justiça, contra a própria lei nossos que para eles haviam sido
dia 13 de janeiro de 1876, podia-se fundamental do país. nomeados por consideração de
ler: Embora os particulares tratem- seus talentos e virtudes, conforme
“Há tempo de calar e há tempo nos com as atenções merecidas, preceitua a Constituição do
de falar. O tempo de calar passou, embora muitos dentre eles se Império.”
Especial
Edição 1.334A
página 58
M
esmo depois da Lei a solenidade de anúncio da Lei Agora mesmo estou a lembrar-
Eusébio de Queiróz Áurea pela princesa Isabel (1846- me que, em 1888, dias antes da
e com a violência de 1921), no Paço Imperial. Esse data áurea, meu pai chegou em
sempre, os africanos continuavam menino era Lima Barreto, um casa e disse-me: a lei da abolição
sendo laçados e trazidos em preto pobre que virou um grande vai passar no dia de teus anos. E de
navios negreiros sob as rédeas dos escritor. Referência da nossa fato passou; e nós fomos esperar a
portugueses, principalmente. literatura. assinatura no Largo do Paço.
Essa vergonha, esse drible contra Barreto escreveria para o jornal Na minha lembrança desses
a lei, durou mais 2 ou 3 anos. Gazeta da Tarde, edição de 4 de acontecimentos, o edifício do
Não sabiam os traficantes que maio de 1911: antigo paço, hoje repartição dos
estavam trazendo também cultura “Estamos em maio, o mês Telégrafos, fica muito alto, um sky-
ao Brasil. das flores, o mês sagrado pela scraper; e lá de uma das janelas
Em 1889, um ano depois da Lei poesia. Não é sem emoção que eu vejo um homem que acena
Áurea, foi lançado em São Paulo o vejo entrar. Há em minha alma para o povo.
o jornal A Pátria, cujo epíteto era: um renovamento; as ambições Não me recordo bem se
“Órgão dos Homens de Cor”. desabrocham de novo e, de novo, ele falou e não sou capaz de
Logo depois, em 1897, foi lançado me chegam revoadas de sonhos. afirmar se era mesmo o grande
o jornal O Progresso, também em Nasci sob o seu signo, a treze, e Patrocínio.”
São Paulo. creio que em sexta-feira; e, por Havia uma imensa multidão
Detalhe: No dia 13 de maio isso, também à emoção que o ansiosa, com o olhar preso às
de 1888, um menino de 7 anos mês sagrado me traz, se misturam janelas do velho casarão. Afinal a
era levado pelos pais a assistir recordações da minha meninice. lei foi assinada e, num segundo,
todos aqueles milhares de pessoas folganças e satisfação, deram-me aos olhos a ‘Primeira Missa’, de
o souberam. A princesa veio à uma visão da vida inteiramente Vítor Meireles. Era como se o
janela. Foi uma ovação: palmas, festa e harmonia. Brasil tivesse sido descoberto
acenos com lenço, vivas... Houve missa campal no Campo outra vez... Houve o barulho de
Fazia sol e o dia estava claro. de São Cristóvão. Eu fui também bandas de música, de bombas
Jamais, na minha vida, vi tanta com meu pai; mas pouco me e girândolas, indispensável
alegria. Era geral, era total; e os recordo dela, a não ser lembrar- aos nossos regozijos; e houve
dias que se seguiram, dias de me que, ao assisti-la, me vinha também préstitos cívicos. Anjos
A princesa
Isabel, ao centro,
na missa de
17/5/1888
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despedaçando grilhões, alegorias conhecia a sua injustiça. Eu me muito inteligente, a quem muito
toscas passaram lentamente pelas recordo, nunca conheci uma deve o meu espírito, creio que
ruas. Construíram-se estrados para pessoa escrava. Criado no Rio nos explicou a significação da
bailes populares; houve desfile de Janeiro, na cidade, onde já os coisa; mas com aquele feitio
de batalhões escolares e eu me escravos rareavam, faltava-me o mental de criança, só uma coisa
lembro que vi a princesa imperial, conhecimento direto da vexatória me ficou: livre! livre!
na porta da atual Prefeitura, instituição, para lhe sentir bem os Julgava que podíamos fazer tudo
cercada de filhos, assistindo aspectos hediondos. que quiséssemos; que dali em
àquela fieira de numerosos Era bom saber se a alegria que diante não havia mais limitação aos
soldados desfiar devagar. Devia ser trouxe à cidade a lei da abolição propósitos da nossa fantasia.
de tarde, ao anoitecer. foi geral pelo país. Havia de Parece que essa convicção era
Ela me parecia loura, muito ser, porque já tinha entrado na geral na meninada, porquanto um
loura, maternal, com um olhar consciência de todos a injustiça colega meu, depois de um castigo,
doce e apiedado. Nunca mais a vi originária da escravidão. me disse: ‘Vou dizer a papai que
e o imperador nunca vi, mas me Quando fui para o colégio, um não quero voltar mais ao colégio.
lembro dos seus carros, aqueles colégio público, à rua do Resende, Não somos todos livres?’
enormes carros dourados, puxados a alegria entre a criançada era Mas como ainda estamos longe
por quatro cavalos, com cocheiros grande. Nós não sabíamos o de ser livres! Como ainda nos
montados e um criado à traseira. alcance da lei, mas a alegria enleamos nas teias dos preceitos,
Eu tinha então sete anos e o ambiente nos tinha tomado. das regras e das leis!
cativeiro não me impressionava. A professora, Dona Teresa Dos jornais e folhetos
Não lhe imaginava o horror; não Pimentel do Amaral, uma senhora distribuídos por aquela ocasião,
jornal O Menelick, editado por Graça, Bom Retiro. Durou, porém, A Voz da Raça surgiu
Deocleciano Nascimento, com dois números, mas fez história. exatamente 100 anos depois do
proposta de circulação mensal. A O título era uma homenagem jornal O Homem de Cor.
redação era na casa dele, na rua da ao rei da Etiópia, falecido em 1913. Fortíssimo, claríssimo nas ideias,
Para os etíopes esse rei era “O rei era esse jornal.
de todos os negros”. Muitos jornais, tabloides,
Depois de A Pátria e O Progresso surgiram depois.
e antes de O Menelick foram Em setembro de 1931 surgiu,
editados em São Paulo os jornais em São Paulo, a Frente Negra
O Baluarte, O Propugnador, A Brasileira (FNB).
Pérola, O Combate e O Patrocino. Houve um racha nesse
Em 1924, ainda em São Paulo, movimento e desse racha surgiu a
José Correia Leite lançava à praça Legião Negra.
o jornal O Clarim da Alvorada. A Legião Negra, que contou
Nesse jornal foi publicada a com mais ou menos 2 mil
primeira coluna sobre música. Seu cidadãos, pegou em armas contra
colunista era Horácio da Cunha. Getúlio Vargas em 1932.
Era um jornal altivíssimo, como Importante também lembrar
altivíssimo foi o jornal A Voz da que a “Imprensa Negra”, definição
Raça. do sociólogo francês Roger
Era tudo e por tudo contra o Bastide (1898-1974), contou com
O Clarim preconceito e tudo mais. jornalistas tão importantes quanto
Celso (1860-1938), que escreveria Republicanos e os Monarquistas. época, talvez o mais combativo
pouco depois o livro Por que me A República estava começando tenha sido o baiano Cipriano
Ufano de Meu País? (1900). e quem estava com a República, Barata.
O texto desse livro é uma estava ganhando. Barata formou-se em Medicina
ode às belezas do Brasil. Mais: Uma curiosidade: Quintino em Portugal. O jornalismo,
retrata a pureza nacionalista Bocaiúva foi o primeiro e o único porém, foi a profissão que
do autor. Chega aos píncaros jornalista a virar general de Brigada assumiu para justificar a sua
do nacionalismo com a cor da (honorário). passagem por cá.
ingenuidade. Outra: em 1893, o sergipano Barata foi preso muitas vezes e
Depois do fim da censura prévia, Quintino de Lacerda botou pra jamais rendeu-se às ameaças dos
o governo de Deodoro criou quebrar e virou o primeiro e único poderosos do seu tempo.
formas para combater o que se major (honorário) do Exército Foi fundador do jornal Sentinella
chamou de excesso jornalístico. Brasileiro. da Liberdade, que ganhou leitores,
Não havia censura prévia Esse Quintino nasceu em 1839, admiradores e seguidores em
explícita, mas havia renhida mesmo ano do nascimento do várias partes do País. Escrevia
perseguição a jornais e jornalistas escritor Machado de Assis, e até na cadeia; e da cadeia, em
que não seguiam as normas. Essas morreu em 1898. Mais: depois Pernambuco, Bahia e outras
normas, em resumo, tinham a ver de comprar a própria alforria, foi províncias conseguia publicar o
com os “contra” e os “a favor”. eleito o primeiro vereador negro seu Sentinella.
Não era brincadeira o que do Brasil pela cidade de Santos Em 1823, escreveu:
acontecia no fim do Império. (SP). Não assumiu. “Toda e qualquer sociedade,
Rigorosamente falando, havia os Dentre todos os jornalistas da onde houver imprensa livre, está
À época o autor tinha 15 anos, 1 traições e crimes. Foi o primeiro português do Porto Tomás
mês, 3 semanas e 5 dias de idade. romance a ser publicado por Antônio Gonzaga (1744-1810).
Em 1843, Paula Brito convenceu um autor brasileiro em terras Esse Gonzaga fez parte da
Teixeira e Sousa a escrever um brasileiras. Curiosidade: em 1859
romance que ele, Brito, publicaria a maranhense Maria Firmina dos
sob o título O Filho do Pescador, Reis ficaria conhecida por ser a
cujo enredo é recheado de primeira mulher a publicar um
romance, Úrsula.
Maria dos Reis era negra, morreu
cega e pobre na casa de uma
amiga.
A primeira dramaturga brasileira
foi Maria Angélica de Sousa Rego,
que assinava simplesmente como
Maria Ribeiro. Escreveu duas
dezenas de peças. A primeira,
publicada em livro em 1866,
Cancros Sociaes. Morreu em
1880, aos 50 anos de idade.
O primeiro livro, em versos,
publicado na terra brasileira
Primeira edição de Cancros Sociaes
foi Marília de Dirceu (1812), do
conjuração mineira, que terminou Observador Constitucional. O Antes de morrer teria dito: “Morre
na morte por enforcamento e jornal, como o editor, era de linha um liberal, mas não morre a
posterior esquartejamento de liberal e contra a monarquia. liberdade”.
Joaquim José da Silva Xavier, o Polêmico. Badaró era um grande crítico do
Tiradentes (1746-1792). Na noite de 20 de novembro imperador Pedro II.
Como no Rio de Janeiro, de 1830, quando caminhava Os jornais se multiplicavam País
em São Paulo o clima político de volta pra casa, Badaró teve afora.
e libertário também era de os passos interrompidos por Em São Paulo, no ano de 1864,
novidades. No campo jornalístico, quatro desconhecidos que o o caricaturista de origem italiana
principalmente. alvejaram com tiros de bacamarte. Angelo Agostini (1843-1910) e o
Em 1827, surgiu naquela baiano Luiz Gama fundaram
província o primeiro o primeiro periódico de
jornal impresso: O Farol linha editorial humorística:
Paulistano, editado por Diabo Coxo, que durou
José da Costa Carvalho um ano e pouco e deu
(marquês de Monte vez ao Cabrião, também
Alegre – 1796-1860). humorístico e também com
Durou até 1831, ano da textos e caricaturas de Gama
abdicação de Pedro I ao e Agostini. Esse durou até o
trono. fim de 1866.
Em 1829, o italiano No decorrer dos anos
naturalizado Libero Badaró de 1860, o jovem escritor
fez circular o jornal a Aluísio de Azevedo publicava
que deu o título de O Diabo Coxo e O Cabrião, duas criações de Luiz Gama seus primeiros textos nos
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jornais A Flecha, O Pensador e Diabólico também era o Três anos depois, Alencar
A Pacotilha, no Maranhão, sua personagem Pedro na polêmica continuaria a provocar polêmica
terra. Eram textos contra a Igreja e peça de teatro O Demônio com a peça Mãe. Belíssima.
contra a escravatura. Familiar, de José de Alencar. A personagem central é
A história registra que o padre Essa peça estreou no dia 5 de Joana, uma negra. É quando
Vieira atuou durante anos no novembro de 1857, no ginásio Joaquim Nabuco acusa o autor
Maranhão e de lá os poderosos Dramático, no Rio de Janeiro. de escravocrata. O pau come,
de plantão o expulsaram para até porque José de Alencar, nas
Portugal, onde permaneceu suas falas como deputado e
durante alguns anos e retornou representante da elite, achava ser
para concluir sua missão de necessário o trabalho escravo para
evangelizar indígenas e mexer o crescimento do Brasil. Defendia
com a cabeça dos negros… que a libertação dos escravos
O ano de 1870 chega com fosse feita paulatinamente, lenta e
Aluísio tentando sucesso no Rio gradual.
de Janeiro. A essa altura o imperador já o
No Rio, publica seu primeiro havia chamado de “teimoso” e
livro, O Mulato, que deixa de “filho de padre”, “de valor, porém
cabelos de pé a sociedade muito mal-educado”.
conservadora. Não à toa. Nessa A mãe negra é uma personagem
obra, cria um personagem fortíssima na nossa literatura e
diabólico, o padreco a quem dá música. O baiano Dorival Caymmi
o nome de Diogo. Sacana, sem compôs e gravou em 1957 uma
escrúpulos. A violência come solta canção sobre essa temática.
nas páginas desse texto. Assim:
É
de Artur de Azevedo o texto do caderno Afro-Latino-América,
para teatro O Escravocrata, ao lado de Hamilton Cardoso e
antes intitulado A Família Neusa Pereira. Esse caderno, de
Salazar. O protagonista é um importantíssima existência, integrou
comerciante de escravos. o periódico Versus, editado pelo
Muitos autores do século 19 gaúcho Marcos Faerman (1943-
tomaram a escravatura como tema. 1999).
E até hoje, como Oswaldo de Ainda há muitas publicações
Camargo. direcionadas ao público afro no
Camargo tem um livro de Brasil. Entre essas está Raça Brasil,
importância fundamental para lançado em setembro de 1996.
entender a questão da negritude: O jornalista Oswaldo Faustino foi
Negro Disfarce (2020). Nele, põe um dos editores dessa revista, que Oswaldo de Camargo
em questão os conflitos entre chegou a vender nas bancas cerca experiência essa que tivemos ali
pretos. Benedito e Deodato são os de 300 mil exemplares/mês. entre 1979 e 1980. Nossa luta
personagens centrais. Faustino, junto com a também contra o racismo e em prol da
Outros livros importantes de jornalista Celma Nunes e o ator, inclusão social continua”, diz.
Oswaldo são A Razão da Chama cantor e maestro Estevão Maya Faustino, além de jornalista, é
(1986) e O Negro Escrito (1987). Maya (1943-2021), editou na virada autor de uma dúzia de livros sobre a
Entre 1975 e 1979, Oswaldo de dos anos 1970 o microjornal negritude. Entre eles A Luz de Luiz e
Camargo foi um dos responsáveis Chama Negra. “Foi uma ótima Ah! Se Eu Pudesse Voar.
A Luz de Luiz conta a história Sobre o livro Ah! Se Eu Pudesse desse livro e em outros de Oswaldo
romanceada do baiano Luiz Voar, resume o autor: “É sobre um Faustino.
Gonzaga Pinto da Gama, que jovem carnavalesco campeão, Em 2010, o jornalista e fotógrafo
assinava textos para jornais sob os com uma história de vida periférica Nabor Jr. tomou para si o desafio
pseudônimos de Afro, Getulino e e repleta de tragédias, que de relançar O Menelick. Em 2015,
Barrabás. decide criar um enredo para uma O Menelick 2º Ato teve lembrado
escola de samba sobre o sonho o seu lançamento em edição
humano de voar. Para realizar suas especial. Nessa edição, Nabor
pesquisas, viaja à África, Berço escreveu:
da Humanidade, em busca das “Apesar das facilidades do
origens do ser humano, suas mundo virtual registradas nas
histórias, seus sonhos e de si primeiras décadas do século 21
próprio”. com o início da popularização
E outros sonhos há na história da internet, a imprensa negra
impressa, ou escrita, por sua buscam manter a chama desta dedicou-se completamente a essa
vez, segue sobrevivendo com imprensa acesa no Estado.” questão, a questão negra. Morreu
dificuldades financeiras e Em 1984, o jornalista alagoano como nasceu, pobre e cheio
estruturais. Nada muito diferente Audálio Dantas (1929-2018) levou de dívidas, que a mulher, Rufina
das fases iniciais que marcaram avante o projeto tornado livro Rodrigues Costas, pagou o quanto
a sua trajetória ainda no final do A Imprensa Negra Paulista, em pode a quem devia.
século 19. parceria com a Secretaria do Sobre Paula Brito, escreveu
Em São Paulo, tirando algumas Estado da Cultura. Machado de Assis no jornal Diário
revistas e jornais que dedicam Audálio, descobridor de Maria do Rio de Janeiro, edição de 24
com certa regularidade edições Carolina de Jesus (1914-1977) de dezembro de 1861, após a sua
ou seções especiais sobre o para a literatura nacional, era o morte:
universo negro em suas páginas, superintendente da Imprensa “Paula Brito foi um exemplo raro
como as revistas Fórum, Caros Oficial do Estado de São Paulo e bom. Tinha fé nas suas crenças
Amigos e Rebosteio, por exemplo, (Imesp). Na apresentação do políticas, acreditava sinceramente
as revistas O Menelick 2° Ato, livro, cujo projeto original visava nos resultados da aplicação delas;
Raça Brasil, Crioula, Tribuna Afro a republicação de todos os tolerante, não fazia injustiça aos
Brasileira e a recém-lançada periódicos relacionados ao seus adversários; sincero, nunca
revista Legítima Defesa, idealizada público afro, escreveu à guisa de transigiu com eles.
pelos atores Sidney Santiago e apresentação que a chamada Era também amigo, era,
Lucelia Sergio, da cia. Os Crespos, Imprensa Negra foi “persistente, sobretudo, amigo.
são as poucas iniciativas da heroica”. Amava a mocidade, porque
Imprensa Negra Paulista que Francisco de Paula Brito sabia que ela é a esperança
Em 1885, em Santa Catarina, poeticamente falando. É dele o famosa Canção do Exílio, Paula
Cruz e Sousa lançou o jornal livro Suspiros Poéticos e Saudades, Brito publicou a primeira edição
O Moleque. Esse jornal tratava lançado por Brito em 1836. do livro Últimos Cantos.
de questões absolutamente Um ano antes, o autor estava Fora isso, Paula Brito também
necessárias à liberdade. em Paris. Foi lá que ele fez a compôs músicas. Uma delas em
O fundador do jornal O Homem introdução do livro citado. parceria com o maestro Francisco
de Cor, alfabetizado pela irmã Até aí nada demais, a não ser o Manuel da Silva: Lundu da
Ana Angélica, foi pioneiro em pioneirismo do seu editor. Marrequinha.
várias frentes. Literárias, inclusive. Problema viria quando ele, Manuel da Silva é o autor
É dele o primeiro conto publicado Magalhães, resolveu lançar o da melodia do Hino Nacional
em letras de forma no Brasil e poema indianista intitulado Brasileiro.
a publicação de mais de 200 Confederação dos Tamoios. É também de Paula Brito, em
livros de autores como Machado, O autor era protegido por Pedro II. parceria com o mineiro José
Casimiro de Abreu (1839-1860), Por causa desse poema, Joaquim Goiano, a canção Ponto
Manuel de Araújo Porto-Alegre José de Alencar jogou todas as Final.
(1806-1879), Martins Pena (1815- lanças contra ele, ensinando-o Como editor Paula Brito
1848), autor da peça O Juiz de Paz publicamente a fazer um épico. E também publicou folhetos e
na Roça, Gonçalves Dias (1823- o sol escureceu em pleno dia com partituras musicais, dentre as quais
1864) e Gonçalves de Magalhães os debates nos jornais, incluindo o Noite de S. João. Opereta em um
(1811-1882). imperador. ato, tinha como autor José de
Magalhães foi o introdutor Do poeta Gonçalves Dias, que Alencar (1829-1877). A melodia
do romantismo no Brasil, era do Maranhão e autor da dessa obra foi assinada pelo
paulista de Itu Elias Lobo (1834- São Pedro. Na plateia, a Família “Carlos Gomes foi o mais
1901) e regida pelo compositor Real. importante compositor operístico
e maestro campineiro Antônio Em 1870, na Itália, Gomes das Américas”, diz o maestro
Carlos Gomes (1836-1896). apresentar-se-ia para o mundo paulistano Júlio Medaglia. Que
Isso ocorreu na noite de 14 de regendo a ópera O Guarany, acrescenta: “Carlos Gomes era
dezembro de 1860. Local: Teatro baseada em romance homônimo negro. A cultura brasileira é negra
de Alencar. e devemos aos negros a cultura
A ária dessa ópera chegou a ser brasileira”.
gravada pelo tenor Caruso (1873- Medaglia lembra que, além
1921). de Gomes, Antônio Francisco
Primeira edição da opereta Noite de S. João O maestro Júlio Medaglia e Assis Ângelo
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Lisboa, o Aleijadinho, foi de Negra”, diz: “A informação no que conter a ética da informação”.
grandeza espontânea e gigantesca estado direito não tem raça. O Concluindo, Araújo diz não
na formação cultural do nosso Brasil, no século 19, pós-abolição, entender a divisão entre brancos e
País: “Aleijadinho era negro, filho era um canal subversivo de pretos na nossa sociedade.
de português com escrava”. informação para a raça negra que Mais de 130 anos depois de a
Nessa mesma linha, o fotógrafo chegara nos porões dos navios princesa Isabel assinar a Lei Áurea,
profissional Jorge Araújo, que e continua nos porões de uma que oficialmente livrou as pessoas
desconhecia o termo “Imprensa sociedade racista camuflada, do cativeiro, a discriminação e o
ainda no século 21. A mesma preconceito continuam em vigor
informação, garimpada por no Brasil de 2021.
jornalistas brancos ou negros, tem Notícia do Sindicato Nacional
O repórter fotográfico Jorge Araújo, da Folha de S.Paulo, cedeu estas duas fotos inéditas exclusivamente
para reprodução neste especial
dos Docentes das Instituições de (STF) decidiu em sessão do dia 28 O caso é sério, sempre foi.
Ensino Superior, o Andes, dá conta de outubro transformar em lei o O juiz Onaldo Queiroga, titular
que: crime de injúria racial: da 5ª Vara Cível da Comarca de
“De janeiro a setembro deste “O Supremo Tribunal Federal João Pessoa, lembra da dívida
ano, 1.015 pessoas foram (STF) decidiu nesta quinta-feira histórica que temos com índios
resgatadas em situação de (28), por 8 votos a 1, que o e negros: “A dívida que o Brasil
trabalho análogo ao de escravo. crime de injúria racial pode ser tem com os índios e negros tem
Os dados estão disponíveis no equiparado ao de racismo e ser que ser paga. Demore o tempo
site Radar SIT, da Subsecretaria considerado imprescritível, ou seja, que durar, mas tem que ser
de Inspeção do Trabalho (SIT), passível de punição a qualquer paga. Devemos muito a eles e a
do Ministério do Trabalho e tempo. De acordo com o Código sociedade, junto com a Justiça,
Previdência. (...) Os números deste Penal, injúria racial é a ofensa à tem de tomar as rédeas desse
ano superam o total de 2020, dignidade ou ao decoro em que processo histórico”.
com 936 pessoas resgatadas, e se se utiliza palavra depreciativa O radialista baiano Carlos Silvio,
aproxima do registrado em 2019, referente a raça e cor com a diz: “O racismo é algo a ser
1.131 casos.” intenção de ofender a honra da combatido. Ao racista, punição e
O Supremo Tribunal Federal vítima.” o desprezo. Não são poucos os
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negros com papel de destaque seu rumo: “A escravidão humana se no Império e pós-Império
na história do Brasil. Muitos foram é uma chaga na História, desde a grandes artistas negros: Domingos
esquecidos ou, propositalmente, Antiguidade. E o problema piorou Caldas Barbosa (RJ) e José
não são mais citados pelos quando ela, na Idade Moderna, Maurício Nunes Garcia (RJ), o
movimentos e grande mídia”. voltou-se contra os negros. Ou primeiro, popular e o segundo
O historiador Darlan Zurc, seja, a cor transformou-se em erudito.
contido nas suas apreciações, moeda de troca”. Também se destacaram no
crer ser simplesmente legítima a No campo da música, folheto de campo da cultura popular,
iniciativa de os negros tomarem o cordel e repentismo destacaram- especialmente no campo do
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