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A RAZÃO PÚBLICA DE JOHN RAWLS COMO PERSPECTIVA PARA O


RECONHECIMENTO DO CASAMENTO HOMOAFETIVO NO BRASIL. 1

Bianca Maria Feres Cardoso 2


Priscilla Kaline Sousa Silva 3
José Murilo Duailibe Salem Neto 4

RESUMO
O debate sobre o que constitui uma família na cultura moderna centra-se na questão
do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que é um tema de discussão
relativamente recente. Dúvidas foram levantadas após observarem que o Código
Civil define "família" como uma união estável entre um homem e uma mulher.
Quando avaliada pela lente desse preconceito, demonstra um preconceito acerca da
homoafetividade, que está indiscutivelmente enraizada em atitudes, e padrões
morais que foram transmitidos, de modo que, todos internalizam essas noções e
influências sociais. Esse meio também é mencionado na recomendação da teoria de
Rawls sobre o que conta como razão pública como forma de praticar a justiça como
equitativa. Para que a justiça sirva a uma democracia, o liberalismo político deve ser
praticado no centro da sociedade, e a justiça deve fazer isso de uma forma que
exiba um compromisso tanto com a inclusão quanto com uma filosofia liberal robusta
em toda a sua composição. Para garantir que os princípios substantivos de justiça
sejam aplicados corretamente, fica claro, na filosofia de Rawls, por que eles
precisam ser fundamentados. Sob esse viés, é necessário analisar os motivos para
a internalizam de tal feito, como por exemplo: certas influências dogmáticas no
campo social, os impactos acerca dela no meio jurídico e compreender de fato o que
é a ideia de razão pública e como está se adequa ao sistema Brasileiro.

Palavras-chave: Poder Judiciário. Razão Pública. Casamento Homoafetivo.

1 INTRODUÇÃO

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Check Final do Paper apresentado na disciplina Hermenêutica Jurídica do Centro Universitário Unidade de
Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
2
Aluna do terceiro período do Curso de Direito da UNDB.
3
Aluna do terceiro período do Curso de Direito da UNDB.
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Professor, Doutor, Orientador.
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O casamento homoafetivo é uma pauta de discussão relativamente


recente, abrangendo uma argumentação daquilo sobre qual o significado de família
na sociedade contemporânea. O questionamento foi levado ao Legislativo e ao
Judiciário, que visto, consta no Código Civil que a entidade “família” é caracterizada
pela união estável entre homem e mulher, evidentemente excluindo o
reconhecimento da união entre casais homoafetivos. Entretanto, no ano de 2010, o
Supremo Tribunal Federal reconheceu por unanimidade a validez e existência
daquilo que se configura como definição de família entre estes casais. Logo após
isto, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça também garante o direito ao
casamento entre pessoas do mesmo gênero, sendo agora proibido juízes ou
tabeliães recusarem realizar a conversão para a união.
A proposta do pensamento de Rawls, acerca do que se trata como razão
pública, também aborda este meio como forma de pratica de justiça como equidade.
A justiça para atender uma democracia deve-se referir-se ao liberalismo político
aplicado na base da sociedade. Tal liberalismo deve ser independente de
doutrinações metafisicas ou religiosas, sendo capaz de explicar-se em buscar apoio
em tais aspectos (MOÁS, MARQUES). Em sua obra “Liberalismo Político”, o mesmo
questiona a possibilidade da existência de uma sociedade justa e estável com
cidadãos livres e iguais, mesmo que permanecem profundamente divididos por
doutrinas religiosas, filosóficas e morais razoáveis, e se a mesma poderia se
sustentar sociologicamente ao longo do tempo (RAWLS, 1971).
A razão pública de Rawls, que ao longo de sua autoria demonstra fortes e
ideias liberais, é um pensamento inclusivo. Parte dos daquilo que o mesmo defende
como justiça: liberdade e equidade. Assim, não defendendo o abandono completo
de pensamentos e dogmas que já fazem parte da sociedade há séculos, mas que
seja oferecido em argumentação algo com que todos, além daqueles que seguem tal
tipo de pensamento e atendem a outras doutrinas, possam concordar (ARAÚJO,
2011).
Portanto, de acordo com Rawls, é evidente que a razão pública serve ao
propósito de fundamentar princípios substantivos de justiça para assegurar sua
aplicação adequada. Para isso, prevê regras de investigação que servem como
blocos de construção para o desenvolvimento do raciocínio pertinente as
investigações. Anos antes, havia movimentos políticos que visavam combater a
criminalização da homossexualidade ou “manifestações pecaminosas”. A imensa
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atividade de consciência e resistência no Brasil mostra a continuidade de


movimentos ao redor do mundo para descaracterizar como doença as identidades
de gênero e orientações afetivo-sexuais.
Quanto visto com esse viés, mostra violência homofobia, que é
inegavelmente fundamentada em crenças, atitudes e padrões morais que foram
transmitidos pelas famílias ao longo de muitas gerações. À medida que as pessoas
amadurecem, todas internalizam tais crenças e pressões sociais. Como a educação
formal retroalimenta a educação informal, que ocorre fora dos muros da escola e
não ocorre de forma fragmentada; com isso, o início do terceiro milênio e o começo
do século XXI significam tanto para a crise de paradigmas quanto para a
necessidade crucial de problematizar com ênfase nas injustiças sexuais e de
gênero.
Observa-se de imediato que o presente paper apresenta caráter
exploratório analítica, uma vez que discorre acerca da ideia de razão pública, bem
como, analisa os crimes contra a aversão aos homoafetivos no sistema judiciário
brasileiro e seus respectivos impactos. Desse modo, as autoras do artigo
apresentam e compreendem a necessidade de entender a questão do processo
inclusivo e pelo reconhecimento da conjugabilidade de homoafetivos no país, tais
como os avanços contra paradigmas dogmáticos e direitos concebidos à população
que integra a comunidade LGBTQIA+.

2 A INFLUÊNCIA DOGMÁTICA POR TRÁS DA REPRESSÃO E ATRSOS EM


CONCEBER DIREITOS IGUAIS AOS CASAIS HOMOAFETIVOS.
Há uma lacuna significativa entre as desculpas pelo abuso físico e
psicológico de casais homossexuais e a defesa direta, “individual” e pacífica do valor
da vida. Nessa fase, fica estabelecido que não há necessidade de discutir a restrição
de direitos oriundos de uma determinada religião em uma nação laica e, portanto,
democrática, especialmente porque esses direitos visam defender a liberdade e a
dignidade da pessoa humana como maior valor.
Isso explica a condenação histórica da homossexualidade em um cenário
onde não havia uma distinção clara entre o que era lei e religião, segundo Ramos
Júnior e Benigno (2013, p. 602-603). Em conseguinte a esta ideia, segundo Paulo
(2017, p. 38-39), o direito familiar brasileiro é dividido entre três épocas:
religiosa/patriarcal, laica e igualitário/solidário. No entanto, o modelo não considera
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explicitamente a igualdade para todos no que diz respeito a homossexualidade


conjugal, o que só é viabilizado pelo entendimento judicial.
É evidente que o modelo patriarcal e a religião continuam a ter impacto,
de modo que a intervenção da religião na vida privada foi significativa no
desenvolvimento do homem brasileiro, repercutindo nas contínuas dificuldades em
separar o privado do público.
A influência
da igreja, inclusive durante o período da República – que se proclamou laica
–, impediu as tentativas de projetos de lei em se atribuir alguns efeitos
jurídicos ao concubinato, máxime em razão do impedimento legal ao
divórcio, que apenas em 1977 ingressou na ordem jurídica brasileira. A
ausência do divórcio foi responsável pelo crescimento exponencial das
relações concubinárias (LÔBO, 2017, p. 159)

A ideia de uma construção social, que os acadêmicos de ciências sociais


querem impor e afirmam explicar tudo sobre essa luta, está em desacordo com a
homofobia, que não é algo com que os brasileiros nascem. Desse modo com essa
teoria, foi na década de 1990 que os protestos violentos contra pessoas
homoafetivas apareceram pela primeira vez na imprensa. Um desse incidentes foi a
cruel tortura e assassinato de Renildo José dos Santos em 1993.
Acerca do tópico da existência da bancada cristã e de seus
posicionamentos, pode-se observar o exemplo de Robert George, este que discorre
acerca do tema utilizando o argumento que colocaria em perigo a liberdade moral e
religiosa ao “enfraquecer” a instituição do casamento e “obscurando” uma união
entre pessoas de sexos diferentes como o “ideal”. Sob esse viés, é de relevância
analisar a posição acerca da não contribuição /aceitação do casamento homoafetivo.
Os autores Ramos, Júnior e Benigno (2017), levantam a discussão sobre
como os impactos das crenças religiosas e seu conservadorismo, prevaleceram
diante das decisões legislativas mesmo após a declaração do estado laico. Neste
mesmo âmbito, Paulo (2017), também reflete sobre estas questões, onde, nas
ramificações do direito, em destaque o familiar, mesmo evoluindo e passando por
fases de acordo com sua teoria, nunca deixaram de ser afetados por esse fator
dogmático.
Lobo (2017), acrescenta mais sobre o pensamento da influência religiosa, católica,
no processo legislativo do Brasil e em suas tentativas de impedir projetos de lei e
suas aprovações. Os três autores não apenas relacionam, mas definem como uma
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das principais razões a influência do conservadorismo religioso como uma das


grandes dificildades na luta pelos direitos LGBTQIA+.

3 APRESENTAR OS IMPACTOS ACERCA DA DECISÃO NO ÂMBITO JURÍDICO.


De acordo com Dias, 2014, a família é um agrupamento informal feito de
forma espontânea, como podemos ver em casos de união estável. A entidade
familiar se caracteriza, como descrito no Artigo 226 da Constituição Federal de 1998,
como a base da sociedade, devendo ser protegida de forma especial pelo Estado.
Portanto, a ADPF 132/RJ do ano de 2011 reconhece e legitima o casamento
homoafetivo, fazendo assim com que esses casais possam estar em união familiar,
os permitindo desfrutar dos mesmos direitos e proteção que famílias
heteronormativas possuem.
Obter o reconhecimento da união matrimonial foi um grande passo para o
movimento LGBTQIA+. Sendo um fruto da razão humana, o direito deve ser capaz
de observar todos com igualdade, regendo as relações sociais de forma justa. A
decisão foi conquistada através da jurisprudência, apesar de constar na Constituição
vigente que a união estável é caracterizada por uma relação entre homem e mulher;
o STF reconheceu tal como discriminatória, pois violaria o artigo 5 ° da mesma, que
cita a inviolabilidade do direito a igualdade (SILVA, 2020).
“[...] mostra-se a importância do posicionamento judicial para o
reconhecimento dos direitos das uniões entre pessoas do mesmo sexo,
mesmo porque o processo legislativo para contemplar estes grupos
minoritários anda a passos muito lentos, sempre emperrados, sobretudo,
pelas pressões de grupos religiosos reacionários que têm o poder de
intimidar a opinião de parlamentares dada a forte influência dos mesmos
nas eleições. (BEZERRA, 2015, p.110)”

Os benefícios da decisão não são apenas o reconhecimento social e


registro cartorário; a possibilidade de adoção, direitos patrimoniais e outros também
a englobam. Os casais compostos por pessoas do mesmo sexo, agora, podem
usufruir de direito a paternidade e maternidade. Em relação ao direito previdenciário,
o cônjuge poderá ter acesso a pensão por morte e auxilio reclusão, entretanto, isto
já era reconhecido previamente (KERTZMAN, 2013, P. 400)
Dias (2004), apresenta a visão de família como algo que ocorre de forma
casual, onde aqueles que compõem uma família, em seu sentido emocional, não
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são impedidos formá-la apesar das contradições legais. Silva (2020), cita tal
impedimento como uma violação ao direito da igualdade, visto que antes da
aprovação da ADPF 132/RJ em 2011, os casais homoafetivos não possuíam os
mesmos direitos detidos por casais heteronormativos. Bezerra (2015) e Kertzman
(2013), compartilham da visão positiva de tal mudança, visto que a entidade familiar
não deveria ser desconsiderada por uma questão tão mínima quanto a sexualidade
dos indivíduos que a compõem.
4 COMPREENDER A APLICAÇÃO DA IDEIA DE RAZÃO PÚBLICA NO PODER
JUDICIÁRIO BRASILEIRO.
O debate acerca do controle de constitucionalidade por meio do Judiciário
Brasileiro engloba uma serie de conceitos presentes no direito, como por exemplo, a
jurisprudência, principio da ponderação, interpretação jurídica e vertentes de
pensamentos pós-positivistas doutrinários. A razão pública também se encaixa neste
meio, como uma instituição nos moldes dos tribunais e constituições
contemporâneas.
A sociedade civil organizada, contemporânea e globalizada demandam
diálogos constitucionais. A grande crescente de movimentos que buscam por
igualdade, respeito e descriminalização de minorias sociais ganham cada vez mais
forças em uma era de mídia digital e incentivo a libertação de amarras doutrinárias,
já que não podem ser legislativamente ignoradas. Os membros que compõem os
tribunais não podem utilizar de ideias pessoais, sejam elas religiosas ou não, para
assim, viabilizar decisões que vão de encontro com os direitos fundamentais
previstos, sendo isto apoiado pela ADI 4277/DF (SILVA, 2009).
“O tipo de responsabilidade que nós, como seres humanos
que conhecem e agem, temos a autoridade para assumir é uma
responsabilidade especificamente racional; [...] Ela consiste antes em
simplesmente estar no espaço das razões, no sentido de que seres que
conhecem e agem só contam como tais na medida em que exercem sua
autoridade normativa para obrigar-se por normas, assumir
responsabilidades e compromissos discursivos e, assim, submeter-se a
certos tipos de avaliação normativa. (BRANDOM, 2013a, p. 132)”

Decisões judiciais devem ser tomadas de forma racional e pública,


permitindo o controle social das ações do Poder Público – também chamado de
princípio da publicidade por doutrinadores. A relação proposta por Rawls em sua
obra anteriormente mencionada, é de que a Suprema Corte de um país democrático
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deve se propor como um modelo para tal razão pública, se adequando a mesma e a
vontade dos cidadãos. A observação de tal conceito em uma esfera socia normativa
se trata de uma titularidade dos cidadãos livres de sua capacidade de exigir por
razoabilidade e permissão para argumentar e discutir a jurisdição das atitudes e
comportamentos estatais. Esta deve ser a base das instituições sociais que utilizam
de instrumentos como a coação e da força, no caso do cenário brasileiro, o
Judiciário. (ARANTES, 2015).
Silva (2009), apresenta a pauta acerca da evolução da sociedade, de uma
nova geração que cada vez mais dispensa tradições e busca formas de reverter os
danos sociais causados pela historicidade. Brandom (2009), também adentra essa
aspecto, mostrando como, na atualidade, a racionalidade vem a se sobressair sobre
os antigos costumes e conservadorismo, sendo tal pensamento acompanhado por
Arantes (2015).
O mesmo discute em sua obra sobre como seria injusto a utilização de valores
religiosos serem aplicados sobre aqueles que sequer seguem tal religião, sendo
desta forma mais uma demonstração da imposição da vontade das maiorias e
exclusão das minorias, como foi muito visto ao longo da história. Portanto, os três
autores se assemelham em concordar que a sociedade atual requer um judiciário
racional.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS

As referências devem ser organizadas em ordem alfabética, fonte 12, espaço


simples entrelinhas, sem recuo na primeira linha e com alinhamento à margem
esquerda.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................1
2 A INFLUÊNCIA DOGMÁTICA POR TRÁS DA REPRESSÃO E ATRASOS
EM CONCEBER DIREITOS IGUAIS AO CASAIS HOMOAFETIVOS .....................3
3 APRESENTAR OS IMPACTOS ACERCA DA DECISÃO NO ÂMBITO
JURÍDICO...................................................................................................................4
4 COMPREENDER A APLICAÇÃO DA IDEIA DE RAZÃO PÚBLICA NO
PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO..........................................................................5
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................6
REFERÊNCIAS..............................................................................................6
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