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NOME: MARIA LUÍSA DA SILVA COUTINHO

MATRÍCULA: 20200054303
DICIPLINA: TEATRO ANTIGO, MEDIEVAL E RENACENTISTA
CURSO: TEATRO-BACHARELADO
DATA: MAIO DE 2022

RELATÓRIO DA ANÁLISE DA OBRA “A FARSA DE INÊS PEREIRA”

Nas últimas semanas, foi trabalhado em sala de aula a obra “A Farsa de Inês
Pereira” de Gil Vicente, tendo, no final da unidade, uma pequena encenação com a turma
dividida em eixos.
A obra conta a saga de Inês Pereira, uma jovem ambiciosa e inconstante que anseia
em se casar com um homem bem articulado, para poder se livrar das tarefas domésticas.
A casamenteira e a mãe lhe apresentam Pero Marques, que é muito rico, porém é um
“senhor das bestas”. Inês o despreza e, logo aparecem dois judeus casamenteiros que lhe
oferecem um casamento com um Escudeiro que encanta Inês Pereira. Os dois se casam,
mas logo Inês se vê trancada dentro de casa com os deveres domésticos mais uma vez,
pois seu marido não permite, de jeito nenhum, que ela saia de casa.
Foi visto como era importante analisar o contexto da época, relacionado ao feudo
medieval e a Igreja Católica. A época feudal é caracterizada pelas três camadas sociais:
nobres, clérigos, e camponeses, sem mobilidade social, ou seja, uma vez que se nascia
naquela classe, morreria nela. Isso também pode ser dito dos tipos sociais apresentados:
Inês Pereira é ambiciosa do início ao fim, assim como Pero Marques é atrapalhado e
matuto, o Escudeiro é prepotente e fingido e Latão e Vital são “coexistentes” e caloteiros.
Nessa perspectiva, cada tipo social apresentado na peça tem sua própria sina, que
pode ser vista como uma cruz a ser carregada, uma maneira de pagar pelos seus pecados,
algo que a própria Igreja Católica prega. Por mais que eles prometam a salvação, acontece
a exibição dos pecados de cada fiel. Visto que no catolicismo há a individualização, cada
indivíduo paga pelo seu próprio pecado, e Inês paga pela sua ambição sozinha, trancada
dentro de casa, casada com um homem que não lhe dá a liberdade que ela tanto ansiava.
Pero também paga um pecado pela sua inocência. Depois de se casar com Inês no fim da
obra, é traído por ela com um ermitão. Tudo isso causado pela sua inocência e falta de
conhecimento, que também é uma maneira da Igreja condenar. Ela faz com que os fiéis
fiquem cientes de cada pecado para que possam ser condenados por eles e, assim, temam
mais o julgamento eterno.
Além disso, há também o aspecto episódico da obra. O termo “Farsa”, de acordo
com o Dicionário do Teatro de Patrice Pavis, remete a algo que faz rir, que seja grotesco
e bufão, o que é curioso pois, se o aspecto superior em cena é o drama, o título da obra
quer, nesse sentido, ressaltar as raras cenas cômicas que aparecem, com os personagens
mais caricatos, como Pero Marques e Latão e Vital, os judeus casamenteiros. Ainda
assim, no termo popular, farsa significa algo fingido para outros fins, na qual Inês usa em
vários momentos da obra. Inês Pereira é, mesmo que não seja a personagem mais cômica
da peça, a maior farsante da obra.
Primeiro, Inês engana a si própria, sem ter certeza do que quer mais: sair de casa
e parar de fazer os deveres domésticos ou casar-se com um homem “avisado, pardo e
sabido”, como ela própria se refere. Logo, finge grande aversão a Pero Marques, o que o
faz ir embora. É enganada pelos judeus, e se casa com o Escudeiro. Se engana novamente
quando descobre a realidade de esposa que a espera. Engana a cidade toda quando o
Escudeiro morre, fingindo que está ressentida com o caso. Engana Pero Marques, ao se
casar com ele, para se encontrar com eremita, com quem tem um passado romântico. Há
vários momentos em que Inês Pereira engana e é enganada, as vezes por si mesma, o que
mostra que a peça segue um mesmo fluxo, indo para altos e baixos, mas sempre
encontrando o mesmo lugar, que é a farsa, no sentido popular.
Em outro contexto, vale mencionar a ridicularização. A comédia busca, como
objetivo, a ridicularização, que causa o riso. É colocado, em cada aspecto da realidade
apresentado na obra, uma lente de aumento, tornando a realidade num modo grotesco e
bufão. Isso é necessário para essa distorção/deformação cause tanto a crítica quanto o
riso. O grotesco pega a realidade concreta e transforma em algo abstrato, mas que não
fuja dos parâmetros da realidade, pois assim, chegaria ao absurdo, que foge das leis do
mundo. Dessa maneira, a Farsa de Inês Pereira tem como aspecto inferior a comédia, mas
ainda tem um grande alcance. Depende de como o grupo teatral irá trabalhar eles.
Por último, a obra de Gil Vicente se caracteriza pela época da Idade Média, um
momento em que a Igreja Católica tem muito espaço na vida dos nobres e camponeses.
A maneira como a individualidade (ou seja, você paga pelo que faz, olho por olho e dente
por dente) está presente em cada ato que acontece com Inês Pereira deixa evidente que há
um equilíbrio social e até espiritual nos episódios, à medida que Inês sofre ou faz sofrer
em cada casamento ao qual ela é sentenciada. Em decorrência disso, é explorada pela
Igreja os momentos em que os personagens se dão bem e se dão mal para colocar em
prática a Regra de Ouro: você recebe o que deu. O Escudeiro trata mal Inês, a colocando
em cativeiro domiciliar e, pela sua covardia, é executado na guerra. Esse é um dos casos
em que a lei da Igreja foi colocada.
O único personagem, talvez, ao qual isso não acontece é Pero Marques pois, como
percebido, ele é um ser inocente que não percebe como Inês o manipula e o faz de idiota.

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