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ESPAÇO TEMÁTICO: COVID-19 – CONTRIBUIÇÕES DA SAÚDE COLETIVA


SEÇÃO TEMÁTICA: COVID-19 – CONTRIBUIÇÕES DE SAÚDE PÚBLICA

O impacto da pandemia de COVID-19 na saúde


mental dos profissionais de saúde

O impacto da pandemia de COVID-19 na saúde


mental dos profissionais de saúde

O impacto da pandemia de COVID-19 na saúde Felipe Ornell1,2,3


mental dos profissionais da saúde Silvia Chwartzmann Halpern1,2
Félix Henrique Paim Kessler1,2
Joana Corrêa de Magalhães Narvaez4

doi: 10.1590/0102-311X00063520

A nova pandemia de coronavírus de 2019 (COVID-19) é uma emergência internacional de saúde pública 1Hospital de Clínicas de
Porto Alegre, Universidade
sem precedentes na história moderna1. Além do contexto biológico, e pelas amplas e duradouras
Federal do Rio Grande do
mudanças no cotidiano que pode causar, enfrentá-lo representa um desafio à resiliência psicológica. Sul, Porto Alegre, Brasil.
Estudos anteriores mostraram que epidemias e surtos de contaminação de doenças têm sido 2Programa de Pós-graduação
em Psiquiatria e Ciências do
acompanhados de drásticos impactos psicossociais individuais e sociais, que acabam se tornando mais
Comportamento,
difundidos do que a própria epidemia2,3. Atualmente, devido a essa pandemia, altos níveis de ansiedade, Universidade Federal do Rio
estresse e depressão já foram observados na população em geral4,5. Grande do Sul, Porto Alegre,
Diante desse cenário, é fundamental que as autoridades de saúde identifiquem grupos com alto risco de Brasil.
3Faculdade lBGEN – Grupo
desenvolver problemas emocionais – além do perigo biológico, já bem estabelecido e divulgado – para
Uniftec, Centro Universitário e
monitorar sua saúde mental e realizar precocemente intervenções psicológicas e psiquiátricas3,4. Entre eles Faculdades, Porto Alegre,
estão os profissionais de saúde que atendem pacientes com COVID-19 conhecido ou suspeito. Os trabalhadores Brasil.
4Universidade Federal de
da atenção primária, como enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos que estão em contato direto com
Ciências da Saúde de Porto
os pacientes e seus fluidos corporais, são os mais vulneráveis à infecção3,6. Alegre, Porto Alegre, Brasil.
Durante as pandemias, à medida que o mundo enfrenta um desligamento ou desaceleração nas atividades
Correspondência
diárias e os indivíduos são incentivados a implementar o distanciamento social para reduzir as interações entre
F. Ornell
as pessoas, reduzindo consequentemente a possibilidade de novas infecções7, os profissionais de saúde Centro de Pesquisas em
costumam ir na direção oposta. Devido ao aumento exponencial da demanda por saúde, enfrentam longas Álcool e Drogas, Hospital das
jornadas de trabalho, muitas vezes com poucos recursos e infraestrutura precária8, e com a necessidade do uso Clínicas de Porto Alegre,
Universidade Federal do Rio
de Equipamento de Proteção Individual (EPI) que pode causar desconforto físico e dificuldade para respirar6. Grande do Sul.
Além disso, muitos profissionais podem se sentir despreparados para realizar a intervenção clínica de pacientes Rua Prof. Álvaro Alvim 400,
infectados por um novo vírus, sobre o qual pouco se conhece e para os quais não existem protocolos clínicos ou Porto Alegre, RS
90420-020, Brasil.
tratamentos bem estabelecidos6. Além disso, há o medo da autoinoculação, bem como a preocupação com a
felipeornell@yahoo.com.br
possibilidade de espalhar o vírus para seus familiares, amigos ou colegas9,10. Isso pode levá-los a se isolarem de
seu núcleo familiar ou estendido, mudar sua rotina e estreitar sua rede de apoio social6.

Esses fatores podem resultar em diferentes níveis de pressão psicológica, que podem desencadear sentimentos de
solidão e desamparo, ou uma série de estados emocionais disfóricos, como estresse, irritabilidade, cansaço físico e
mental e desespero.6. A sobrecarga de trabalho e os sintomas relacionados ao estresse tornam os profissionais de
saúde especialmente vulneráveis ao sofrimento psíquico8,9,10, o que aumenta a chance

Este artigo é publicado em Acesso Aberto sob a licença Creative Commons


Attribution, que permite o uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja citado corretamente.
Cafajeste. Saúde Pública 2020; 36(4):e00063520
2Ornell F et ai.

de desenvolver transtornos psiquiátricos11. Se, por um lado, as equipes de saúde – principalmente nos serviços
de emergência – podem estar acostumadas a sentir cansaço físico e mental, por outro, pelo medo, insegurança
e incerteza causados por uma pandemia, esses fatores bem conhecidos podem agora impactam as relações
humanas. Historicamente, as catástrofes podem mobilizar as equipes devido à comoção, mas geralmente estão
isentas do medo da transmissibilidade da infecção, pois apesar da ameaça ser invisível, os possíveis desfechos
negativos são uma realidade inconveniente e assustadora. Portanto, o reconhecimento dos riscos e o
planejamento de intervenções que visem à redução dos danos à saúde psicológica dos profissionais envolvidos
no atendimento de pacientes infectados pela COVID-19 (Associação Brasileira de Terapia Intensiva
– AMIB) deve ser uma prioridade, e ações precisam ser estabelecidas e implementadas.
Durante o surto de síndrome respiratória aguda grave (SARS) em 2003, 18 a 57% dos profissionais de saúde
experimentaram sérios problemas emocionais e sintomas psiquiátricos durante e após o evento12. Em 2015,
durante o surto da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), também causada pelo coronavírus, disforia
e estresse foram observados entre os profissionais de saúde. Essas condições foram um preditor de má
conduta, atrasos no tratamento por falhas de comunicação e absenteísmo, entre outros. Nessas situações, é
comum que sentimentos não expressos verbalmente pelas equipes acabem sendo expressos no ambiente de
trabalho por meio de ausências e omissões. Os profissionais da linha de frente também apresentaram maior
risco de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que persistiu mesmo após um período de
ausência do trabalho12. Há também estudos que relatam que as implicações de saúde mental para os
profissionais de saúde envolvidos nos cuidados de saúde durante as epidemias podem ser persistentes. Altos
níveis de estresse, depressão, ansiedade e TEPT foram observados após algum tempo desde o término da
emergência2,3.
A síndrome de Burnout também foi relatada por profissionais de saúde envolvidos na assistência a
pacientes durante uma epidemia causada por outro tipo de coronavírus que ocorreu na Coreia em 201613.
Embora essa condição geralmente seja estabelecida longitudinalmente e esteja relacionada a fatores
organizacionais (como clima institucional, assédio moral, carga horária excessiva, baixos salários, entre outros),
a gravidade da pandemia pode desencadear esgotamento emocional14.
O trauma vicário ou estresse traumático secundário, fenômeno em que os profissionais de saúde
experimentam sintomas semelhantes aos dos pacientes devido à exposição contínua, também é comum
durante as catástrofes. Os principais sintomas do trauma indireto são perda de apetite, fadiga, declínio físico,
distúrbios do sono e atenção, irritabilidade, dormência, medo e desespero.2. Além disso, profissionais
envolvidos diretamente no cuidado de uma doença com alto potencial de contágio podem sofrer estigma. Na
outra ponta do espectro, uma tendência que na COVID-19 é mais desencadeada é dar aos profissionais de
saúde um status de super-heróis, e se por um lado agrega valor, por outro tem pressão adicional, pois super-
heróis não falham, não desistem ou adoecem. Isso pode ser reforçado pela mídia devido ao caráter
sensacionalista de um evento de proporções mundiais, demarcando a necessidade de apoio emocional,
incentivo e valorização15. O sofrimento moral também pode levar a situações como o colapso do sistema de
saúde, impedindo os profissionais de saúde de tomar decisões adequadas devido a pressões internas (medo,
incapacidade de enfrentar o sofrimento, falta de conhecimento) ou externas (pressão hierárquica, problemas de
comunicação e organizacionais, falta de recursos e apoio de outros serviços).

Atualmente, são poucos os estudos científicos que abordam dados epidemiológicos e modelos de
intervenção voltados para a saúde mental dos profissionais de saúde envolvidos na assistência aos pacientes
com COVID-19. A maioria desses estudos disponíveis foi realizada na China. Portanto, além da barreira
linguística, esses dados podem não ser generalizados para outras localidades com diferentes características
socioculturais, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil, nos quais as especificidades
associadas à estrutura de seu sistema de saúde precisam ser abordadas.
Recentemente, um estudo com enfermeiros e médicos envolvidos no tratamento da COVID-19 encontrou alta
incidência de estresse, ansiedade e TEPT, com maiores níveis de ansiedade em mulheres e enfermeiros em comparação
a homens e médicos, respectivamente. Isso pode ser explicado pelo fato de os enfermeiros terem turnos de trabalho
mais longos e contato mais próximo com os pacientes, o que pode facilmente levar à fadiga e tensão. Outro estudo com
amostra semelhante constatou que o nível de suporte social dos médicos foi significativamente associado à eficácia e
qualidade do sono e negativamente associado à ansiedade e estresse16.
Profissionais de saúde que estão em contato direto com pacientes infectados precisam ter sua saúde mental
rastreada e monitorada regularmente, principalmente em relação à depressão, ansiedade e tendências suicidas

Cafajeste. Saúde Pública 2020; 36(4):e00063520


COVID-19 E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE 3

ideação. Da mesma forma, é fundamental identificar profissionais com histórico de exposição a fatores de risco
psicossociais. Portanto, tratamentos psiquiátricos devem ser fornecidos àqueles com problemas de saúde
mental mais graves. Especificamente no que diz respeito à saúde mental dos profissionais de saúde no contexto
da COVID-19, é importante identificar fatores psicossociais secundários potencialmente geradores de estresse,
por exemplo, profissionais com doenças crônicas, morar com crianças pequenas ou familiares mais velhos,
entre outros15.
Sugere-se que sintomas somáticos como insônia, ansiedade, raiva, ruminação, diminuição da concentração,
depressão e perda de energia sejam avaliados e manejados na instituição pelos profissionais de saúde mental.
Recomenda-se também a prestação de cuidados psicológicos/psiquiátricos aos profissionais em hospitais ou
outros estabelecimentos de saúde. Além disso, medidas rigorosas devem ser implementadas para prevenir o
contágio e garantir um ambiente seguro para as consultas, além de treinamento prático sobre como usar os
EPIs corretamente12(Caixa 1).

Caixa 1

Modelos de atenção em saúde mental e estratégias de intervenção para profissionais de saúde.

1 Equipe de resposta psicossocial 2 Equipe de apoio técnico para intervenção psicológica


Marketing e imprensa Psicólogos e psiquiatras
• Divulgar ações e estratégias de atenção à saúde mental • Implementar ações de atenção à saúde mental

• Divulgar materiais informativos e psicoeducativos para a • Definir ferramentas para monitorar a saúde mental

identificação de sintomas físicos e emocionais • Elaborar folders psicoeducativos e informativos que promovam o cuidado em saúde
mental e o reconhecimento de sinais e sintomas ligados à saúde mental
• Divulgar instrumentos autoaplicáveis para monitoramento da • Definir referencial teórico e formato das intervenções psicológicas
saúde mental e identificação precoce de sintomas • Fornecer treinamento, orientação e supervisão técnica às equipes de intervenção
• Divulgar informações sobre serviços de apoio psicossocial • Desenvolver ações voltadas à atenção à saúde mental após o fim da epidemia
• Estabelecer um plano de contingência preventiva e estratégias para lidar com sintomas
psiquiátricos mais graves

3 Equipe de intervenção psicológica/social/psiquiátrica 4 equipes de linha de frente psicológica

Psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais Voluntários (profissionais de saúde ou estudantes) que receberam treinamento e supervisão

• Realizar intervenções psicológicas clínicas com profissionais • Fornecer assistência psicológica remota (telefone, aplicativos móveis) 24 horas por dia, 7
de saúde dias por semana
• Fornecer apoio psicológico aos profissionais de saúde para • Fornecer orientação presencial ou remota para auxiliar no gerenciamento de crises
facilitar a expressão emocional • Fornecer aconselhamento psicológico
• Fornecer atendimento de emergência e primeiros socorros psicológicos • Fornecer estratégias de psicoeducação emocional, orientar a identificação de sintomas de TEPT,
• Identificar profissionais com condições psiquiátricas anteriores ansiedade e depressão, para que possam identificar a si mesmos e seus pares desde o início
(depressão, burnout, transtornos de ansiedade, transtorno bipolar,
trauma...) • Fornecer suporte psicológico remoto aos profissionais envolvidos no atendimento ao paciente,
• Identificar profissionais com riscos psicossociais secundários visando facilitar a expressão emocional
ao trabalho (doenças crônicas, crianças pequenas ou familiares • Identificar a ocorrência de burnout (exaustão física e mental decorrente do trabalho),
idosos, dificuldade de transporte) auxiliar na identificação de necessidades e preocupações e no desenvolvimento de
• Identificar profissionais que necessitam de atenção especial, prestar atendimento estratégias
inicial e encaminhar para acompanhamento longitudinal, se necessário • Fornecer intervenção psicológica no contexto de crise - primeiros socorros psicológicos
• Fornecer aconselhamento psicológico • Auxiliar no automonitoramento de sintomas somáticos: insônia, tristeza, fadiga,
• Desenvolver estratégias para gerenciar a ansiedade anedonia, angústia, medo, ansiedade, raiva, pensamentos suicidas
• Desenvolver estratégias que promovam empatia e apoio entre
a equipe por meio de grupos terapêuticos, por exemplo
• Identificar a ocorrência de burnout e prestar cuidados
• Estabeleça a comunicação da equipe

(continuou)

Cafajeste. Saúde Pública 2020; 36(4):e00063520


4Ornell F et ai.

Caixa 1 (continuação)

Instrumentos de triagem Possíveis intervenções


• Esgotamento:Inventário de Burnout de Maslach - Pesquisa de Serviços • Técnicas de atenção plena
Humanos(MBI-HSS) • Meditação guiada
• Estresse no trabalho:Escala de Estresse no Trabalho(JSS) • Intervenções de psicoeducação
• Rastreamento de transtornos mentais não psicóticos: S • Protocolos de prevenção de burnout

Questionário elf-Reporting(SRQ-20) • Grupos terapêuticos


• Acompanhamento de Transtornos Mentais:DSM-5 Escala de Sintomas de Nível Cruzado • Estratégias de gerenciamento de estresse

1 • Intervenções breves de ansiedade e depressão


• Álcool e drogas:Teste de Triagem de Envolvimento com • Intervenções de estresse pós-traumático
Álcool, Tabagismo e Substâncias(ASSIST)/OMS • Protocolos de suicídio

• Qualidade de vida:Qualidade de Vida da Organização Mundial da • “Kits” de primeiros socorros psicológicos

Saúde– Versão curta (WHOQOL-bref) • Técnicas de atenção plena e meditação


• Operação:Breve Escala de Operação(VELOZES) • Psicologia positiva e estratégias de bem-estar para indivíduos e ambiente
• Depressão:Escala de Hamilton
• Ansiedade:Escala de Hamilton • Aconselhamento individual

• Resiliência:Escala Pilar de Resiliência(EPR) • Terapias e supervisão em pequenos grupos


• Atendimento telefônico e virtual
• Aplicações de saúde mental
• Reforço de nutrição e exercícios
• Tratamento psiquiátrico e farmacológico para casos graves

TEPT: transtorno de estresse pós-traumático; OMS: Organização Mundial da Saúde.

É fundamental que as medidas de apoio psicológico levem em consideração a expressão emocional dos
profissionais. A intervenção psicológica (IP) no contexto de crise também visa oferecer estratégias de
enfrentamento para lidar com pensamentos intrusivos e ansiedade antecipatória ou situacional. Além disso, as
intervenções emocionais visam facilitar o apoio intra-equipe, a empatia e a compaixão em relação aos colegas
mais frágeis15. Em ambientes de saúde sem instalações de segurança e prevenção suficientes, folhetos
informativos que promovam a saúde mental e aconselhamento psicológico e psicoterapia online5são
recomendados. A comunicação digital também pode ser uma estratégia complementar viável15e deve estar
disponível 24 horas por dia5.
Equipes de IP e modelos de saúde foram implementados no Hospital RenMin da Universidade de Wuhan e
no Centro de Saúde Mental de Wuhan. Eles eram responsáveis pela preparação de materiais e pela orientação
e supervisão técnica. A equipe médica do PI, composta principalmente por psiquiatras, participou das
intervenções. Também havia equipes da linha direta de atendimento psicológico (voluntários treinados em IP)
orientando por telefone ou chat virtual para ajudar os profissionais de saúde a lidar com seus problemas de
saúde mental9.
Também é importante destacar a necessidade de desenvolver a comunicação dentro das equipes de
saúde, a fim de estabelecer um clima de reciprocidade e cooperação empática, permitindo a expressão
de sentimentos e sintomas como burnout e esgotamento emocional. Além disso, a psicoeducação e
orientações sobre sintomas de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão devem ser fornecidas às
equipes15para que sejam capazes de identificar esses sintomas em si mesmos e em seus pares em seus
estágios iniciais. Além disso, os profissionais de saúde devem ser capazes de identificar os aspectos
emocionais dos pacientes e familiares para mapeá-los e indicar recursos adequados de apoio psicológico
e intervenções disponíveis no sistema de saúde. Promover a saúde mental das equipes de saúde é
essencial e tem efeitos clínicos, políticos e sociais11.
Por fim, há estratégias para lidar com o desamparo emocional e o sofrimento mental expressos por
alguns profissionais após o fim da epidemia. Nesse sentido, sugere-se a criação de espaços adequados
para escuta e troca de sentimentos, a fim de prevenir o burnout15.

Cafajeste. Saúde Pública 2020; 36(4):e00063520


5
COVID-19 E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

No Brasil, onde a curva de contágio está aumentando, as estratégias de saúde para os profissionais da linha
de frente também precisam ser intensificadas. Caso não sejam priorizados, além do possível colapso do sistema
de saúde, os profissionais de saúde correm o risco de sofrer um colapso emocional. Cabe destacar que o Brasil
é caracterizado por fortes disparidades socioeconômicas. No entanto, o país oferece um sistema de saúde
universal que visa proporcionar igualdade de acesso a todos os seus cidadãos. Portanto, o acesso aos diferentes
níveis de atenção à saúde expõe dramaticamente a estrutura socioeconômica e as fragilidades do país neste
momento de crise.
Assim, as estratégias de combate ao COVID-19 requerem atenção primária à saúde geral da população,
incluindo medidas econômicas que sustentem as orientações necessárias durante este período de contingência.
É importante destacar a complexidade do sistema de saúde brasileiro, no qual os profissionais de saúde que
atuam em diferentes níveis de complexidade podem necessitar de diferentes informações, suporte ou
estratégias de intervenção. Além disso, historicamente, existem poucos programas de saúde mental disponíveis
para profissionais de saúde.
Duas questões precisam ser consideradas: (1) a disponibilidade de recursos humanos e outros, devido à atual
precariedade do sistema de saúde; (2) a disponibilidade de cuidados de saúde em áreas distantes. É essencial que as
diretrizes governamentais sejam desenvolvidas para apoiar os programas de capacitação e implementar as estratégias
municipais. Intervenções regionais são necessárias, considerando que os determinantes locais de saúde podem diferir
entre as regiões. Como estratégias complementares, é possível estabelecer parcerias com instituições da sociedade civil
e implantar sistemas de atendimento remoto. Atualmente, diferentes iniciativas estão sendo desenvolvidas por
universidades e outras clínicas privadas de saúde mental para fornecer suporte online e telefônico aos profissionais de
saúde.
Em resumo, portanto, as agências governamentais e de saúde têm a responsabilidade de proteger o
bem-estar psicológico da comunidade de saúde em todo o mundo4. Deve-se enfatizar que distância física
não é sinônimo de distância emocional15, e que o medo da interação deve se restringir ao cuidado com o
vírus, pois o isolamento deve ser diferenciado da solidão. Além disso, é imprescindível que sejam
investidos recursos para promover significativamente a saúde mental desses profissionais da linha de
frente, tanto em termos de pesquisa, prevenção e tratamento.

Contribuintes Referências

F. Ornell contribuiu na concepção, redação e revisão 1. Organização Mundial da Saúde. Novos relatórios de
final do artigo e na revisão da literatura. SC Halpern situação do coronavírus (2019-nCoV). Genebra:
contribuiu com a revisão da literatura, redação e Organização Mundial da Saúde; 2020.
revisão do artigo. FHP Kessler contribuiu na redação e 2. Li Z, Ge J, Yang M, Feng J, Qiao M, Jiang R, et al.
revisão do artigo. JCM Narvaez contribuiu na Traumatização vicária no público em geral, membros
e não membros de equipes médicas que auxiliam no
concepção e orientação do artigo, redação e revisão
controle do COVID-19. Comportamento do Cérebro
final.
Immun 2020; [Epub antes da impressão].
3. Ornell F, Schuch JB, Sordi AO, Kessler FHP. “Medo
pandêmico” e COVID-19: carga de saúde mental e
Informações adicionais estratégias. Braz J Psiquiatria 2020; [Epub antes
da impressão].
ORCID: Felipe Ornell (0000-0002-3881-4283); Silvia 4. Wang C, Pan R, Wan X, Tan Y, Xu L, Ho CS, et al.
Chwartzmann Halpern (0000-0002-3882-7762); Felix Respostas psicológicas imediatas e fatores
Henrique Paim Kessler (0000-0001- 7059-2564); Joana associados durante o estágio inicial da epidemia
Corrêa de Magalhães Narvaez (0000-0001-5972-4722). de doença de coronavírus de 2019 (COVID-19)
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Enviado em 31/03/2020
Versão final reenviada em 06/abril/2020
Aprovada em 06/abril/2020

Cafajeste. Saúde Pública 2020; 36(4):e00063520

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