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Assédio Moral

O invisível nas relações de trabalho

Cecília Gagetti – CRP 08/26255


Especialista em Psicologia Clínica e em Neurociências do Comportamento
Psicóloga no Ministério Público do Paraná.

Curitiba, outubro de 2018


Conceitos

Assédio Moral

O Assédio Moral no trabalho é definido por


qualquer conduta abusiva (gesto, palavra,
comportamento, atitude ..) que atente, por sua
repetição ou sistematização, contra a dignidade ou
integridade psíquica ou física de uma pessoa,
ameaçando seu emprego ou degradando o clima
de trabalho (Hirigoyen, 2001)
Conceitos
Mobbing

To mob = maltratar, perseguir, sitiar

Mob = Máfia

Para Heinz Leymann (1980) o mobbing consiste em


manobras hostis frequentes exercidas por uma
pessoa ou grupo de pessoas sobre outra pessoa no
local de trabalho. O objetivo é degradar a vítima *
a tal ponto que essa abandone o local de trabalho.

*Formas de degradação:
Destruir as redes de comunicação da vítima;
Arrasar sua reputação;
Atrapalhar a execução de seu trabalho
Conceitos

Assédio Moral e Mobbing

Similaridades: Diferenças:

Repetição Sistemática; Mobbing: perseguições coletivas, ou violências


Direcionalidade; ligadas à organização que podem levar a
Degradação da dignidade violência física;
Assédio Moral: inclui formas de agressões mais
sutis. (Hirigoyen, 2001)
Conceitos

Assédio Moral

Os Diferentes tipos de Assédio

I. Assédio Vertical Descendente: (exercido pela hierarquia)


 Assédio moral exercido por um superior hierárquico;
 Conforme Hirigoyen (2001) : consequências mais graves para vítima –
maior isolamento e maior dificuldade em encontrar soluções

II. Assédio Vertical Horizontal (exercido por colegas):


 Frequente quando dois funcionário/servidores disputam a obtenção de
cargo, prestígio.
Conceitos
Assédio Moral

Os Diferentes tipos de Assédio

III. Assédio Vertical Ascendente:


 Assédio moral exercido por um ou vários subordinados sobre um superior
 Pode ser igualmente destrutivo com agravante da vítima não saber para
onde se dirigir para se defender;

IV. Assédio Moral praticado por Terceiros


 Assédio exercido por um terceiro estranho à relação laboral. Ex:
funcionários/servidores que atendem ao público e são reiteradamente
desqualificados por uma pessoa. (Silva, 2012)
Conceitos
O que não é
Assédio Moral

Estresse : é causado pelo agente estressante e pela


reação do organismo a ação do agente estressante;
(Selye,1964)

 Essas reações são de natureza psicofisiológicas e podem


estar relacionadas a sobrecarga e má condições de
trabalho.

Existem ambientes de trabalho que apresentam condições


estressantes para seus funcionários.

Nesses ambientes o stress se torna destruidor por excesso.

O Assédio Moral é destruidor por si


Conceitos
No Assédio Moral :
 Pessoa é tomada como alvo;
 Há uma intencionalidade maldosa.
 Gera uma ferida que não tem correspondência com o
estress;
 Ferida é relacionada ao amor próprio/ferida narcísica –
trata-se de um atentado contra a dignidade;
 Esse atentado tem conotação subjetiva requerendo
sempre a avaliação caso a caso;
 A vergonha e humilhação persistem por um longo
tempo, mesmo que o quadro possa variar em função da
personalidade dos indivíduos.

(Hirigoyen ,2001)
Conceitos
No Estresse:
 O repouso é reparador e melhores condições permitem
recomeçar;
 O objetivo consciente da gestão por estresse não é destruir os
empregados, é melhorar seu desempenho;
 Se a gestão pelo estresse provoca consequências desastrosas sobre
a saúde é por uma alteração imprevista – pelo excesso.

No Assédio Moral
 A sobrecarga e as más condições de trabalho são intencionalmente
dimensionadas para degradar o indivíduo ;
 Metas irrealizáveis
 Sujeição permanente;
 Tarefas exigidas não correspondem com a competência
profissional.

(Hirigoyen ,2001)
Conceitos
O que não é
Assédio Moral

Agressão Pontual
 Um ato de violência verbal, uma expressão de
reatividade ou impulsividade;
 Mesmo que este ato venha a ter consequências para a
pessoa; (Hirigoyen, 2001; Silva, 2012)

No Assédio Moral :
 Caracteriza-se antes de tudo pela repetição;
 São atitudes, palavras, comportamentos, que tomados
separadamente, podem parecer inofensivos, mas cuja
repetição e sistematização os tornam destruidores.
 Características importantes: duração e intensidade da
violência.
Conceitos
O que não é
Assédio Moral

Críticas Construtivas
 Críticas construtivas e avaliações do trabalho executado,
contanto que sejam explicitadas e não utilizadas com
propósito de represália ;
 Todo trabalho apresenta um certo grau de imposição e
dependência;
Formas de Assédio

Assédio Moral

Atitudes Hostis:
1. Deterioração Proposital das Condições de
Trabalho;
2. Isolamento e recusa de comunicação;
3. Atentado contra a dignidade;
4. Violência verbal, física e sexual.
Formas de Assédio

Assédio Moral
Atitudes Hostis

1. Deterioração Proposital das Condições de


Trabalho:
 Retirar da vítima a autonomia;
 Não lhe transmitir mais informações úteis para a
realização de tarefas;
 Contestar sistematicamente todas as suas decisões;
 Criticar seu trabalho de forma injusta e exagerada;
 Retirar o trabalho que normalmente lhe compete;
 Dar-lhe permanentemente tarefas novas;
 Atribuir a vítima contra a vontade dela, trabalhos
perigosos.
 Induzir a vítima ao erro: injunções paradoxais – dizer
uma coisa e fazer outra.
(Hirigoyen ,2001)
Formas de Assédio
Assédio Moral
Atitudes Hostis

2. Isolamento e Recusa de Comunicação:


 A vítima é interrompida constantemente;
 A direção recusa qualquer pedido de entrevista;
 Ignoram sua presença, dirigindo-se apenas aos outros;

3. Atentado contra a dignidade:


 Utilizam insinuações desdenhosas para qualificá-la;
 Espalham-se rumores ao seu respeito ;
 Criticam sua vida privada;
 Atribuem-lhe tarefas humilhantes.

4. Violência verbal, física


 Ameaças de violência;
 É abordada aos gritos.
(Hirigoyen ,2001)
As consequências

Assédio Moral

Distúrbios psicológicos graves;


Curto prazo;
Consequências a longo prazo
Desestruturantes

O efeito cumulativo dos micro traumatismos


frequentes e repetidos é que constitui a agressão

O estilo de agressão depende dos meios socioculturais e dos setores profissionais:


 Setores de Produção: violência mais direta, verbal ou física
 Altas Hierarquias: agressões mais sofisticadas, perversas, difíceis de caracterizar
(invisibilidade)

(Hirigoyen, 2001)
As consequências

Assédio Moral

Sintomatologia caricata
sobressai às estruturas psíquicas ou
características de personalidade

Modo de Adaptação/Sobrevivência
que se desenvolve em etapas

1. Assédio Moral Recente:


 Possibilidade de reação ou esperança;
 Perturbações funcionais: Cansaço;
 Nervosismo;
 Distúrbios de sono;
 Enxaquecas; distúrbios digestivos; dores na coluna
 Sentimentos de impotência e humilhação
As consequências
Assédio Moral

1. Assédio Moral Prolongado:


 Apatia;
 Tristeza;
 Complexo de culpa;
 Desinteresse pelos seus próprios valores;
 Desesperança;
 Estado Depressivo Grave;
 Risco de suicídio;

Sintomas Silenciosos ou Disfarçados


sofrimento moral advindo do trabalho pode ser considerado
pela vítima como símbolo de fraqueza pessoal
As consequências
Assédio Moral

2. Assédio Moral Prolongado:


Distúrbios psicossomáticos;
 Emagrecimento ou ganho de peso rápido;
 Distúrbios digestivos: gastrites, colites;
 Distúrbios endocrinológicos ;
 Crises de hipertensão arterial incontroláveis

Choque físico pode ter efeitos psíquicos e


Choque emocional pode ter efeitos físicos
Passa-se assim do físico ao psíquico reciprocamente
As consequências

Outras formas de pressão no trabalho:

Quando o estimulo cessa o sofrimento cessa


Pessoa consegue recuperar o estado normal

Assédio Moral

Sequelas Marcantes que podem evoluir do estresse pós traumático


até uma sensação de vergonha recorrente,
modificações duradouras da personalidade

O Assédio Moral constituiu invariavelmente um traumatismo

(Hirigoyen ,2001)

Desilusão uma sensação de Derrota, Paraíso Perdido


As consequências

Assédio Moral

Vergonha recorrente explica o silêncio


A pessoa tem vontade de se recolher e se retirar do mundo.

Perda da sentido decorrente do incompreensível:


Critica-se alguém por não trabalhar mas obriga-lhe ao ócio
Ou lhe é atribuída uma tarefa reconhecidamente inútil

Destruição da Identidade

Estado Depressivo Crônico

Desconfiança Generalizada

(Hirigoyen ,2001)
Assédio Sexual

Conduta de natureza sexual, manifestada fisicamente, por palavras, gestos ou


outros meios, propostas ou impostas a pessoas contra a vontade, causando-
lhe constrangimento e violando sua liberdade sexual.
(Brasil. MPT. 2017)

Não decorre Decorre

Conduta;
Comportamento do agressor;
Comportamento;
Suas intenções;
Vestimenta
da vítima

O silêncio da vítima ≠ Aceitação


Assédio Sexual

Não é necessário contato físico


para caracterizar o assédio sexual;

A grande maioria dos casos noticiados, as vítimas são mulheres;

O contrário também ocorre mas em


menor proporção;

A prática ocorre também entre


pessoas do mesmo sexo ou gênero;

Em geral, para caracterizar o


assédio sexual é necessária a
conduta reincidente do assediador.
Assédio Sexual

Tipos de Assédio Sexual

I. Assédio Sexual por Chantagem:


 Ocorre quando há a exigência de uma conduta sexual, em troca de benefícios
ou para evitar prejuízos na relação de trabalho;
 O objetivo do assediador é obter um favorecimento sexual;

II. Assédio Sexual por Intimidação/Ambiental:


 Ocorre quando há provocações sexuais inoportunas no ambiente de trabalho
com o efeito de prejudicar a atuação de uma pessoa ou criar uma situação
ofensiva de intimidação ou humilhação. Caracteriza-se pela insistência ,
impertinência, hostilidade praticada individualmente ou em grupo,
manifestando relações de poder ou de força não necessariamente de
hierarquia.

(Brasil. MPT. 2017)


Assédio Sexual x Assédio Moral

Diferença entre
Assédio Sexual e
Assédio Moral

pela conotação sexual presente nos


meios utilizados ou nos fins
pretendidos.

(Brasil. MPT. 2017)


Assédio Sexual x Assédio Moral
Fins Meios Ações
Vantagem -Diferença Chantagem
Assédio Sexual Hierárquica Humilhação
Sexual -Característica
relacionada
ao Gênero
Humilhação Diferença Humilhação
de Natureza Hierárquica Sistemática
Assédio Sexual ou
Sexual Preconceito
de Gênero;

Humilhação Característica Humilhação


Destruição do não Sistemática
outro relacionada
Assédio Moral
ao Gênero
-Diferença
Hierárquica
Considerações sobre o fenômeno...

Assédio Moral

“Uma abordagem racional deve olhar para o problema sob diversos primas: o ângulo
psicológico, que leva em conta acima de tudo a personalidade dos indivíduos e suas
histórias e o ângulo organizacional, que analisa essencialmente as regras da gestão.
Não se pode confiar em um tipo de abordagem que focalize unicamente a
personalidade da vítima (...) assim como seria igualmente necessário desconfiar de
uma abordagem que considerasse o assédio inerente apenas ao agressor. Igualmente
não se pode afirmar que não existe culpa de ninguém (...) que tudo é culpa de uma
entidade abstrata: o capitalismo, a globalização. (...) É preciso, pois, evitar, por um
lado o psicologismo em excesso e, por outro, tirar a responsabilidade das pessoas,
atribuindo o erro unicamente `a organização (desumana) do trabalho”.
(Hyrigoyen, 2001)
Prevenção.

Assédio Moral

 Criar canais de comunicação eficazes e com regras claras de


funcionamento, apuração e sanção de atos de assédio, que
garantam o sigilo da identidade do denunciante;

 Incluir o tema de Assédio Moral em grupos de estudos, em


treinamentos, palestras;

 Capacitar as pessoas que exercem função de liderança, chefia ou


gerência;

 Incluir regras de conduta a respeito do Assédio Moral nas normas


internas da empresa, inclusive prevendo formas de apuração e
sanção.
Referências Bibliográficas:

FERREIRA, J. B. (2009). Perdi um jeito de sorrir que eu tinha: violência,


assédio moral e servidão voluntária no trabalho. 7Letras

HIRIGOYEN, M. F. (2002). Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio


moral. Bertrand Brasil.

KAUFMANN, P. (Ed.). (1996). Dicionário enciclopédico de psicanálise: o


legado de Freud e Lacan. Jorge Zahar.

LIPP, M. N., Romano, A. S. P. F., Covolan, M. A., & Nery, M. J. G. (1990).  Como
enfrentar o stress.

MARTINS, M. D. C. F., & FERRAZ, A. M. S. (2011). Propriedades


psicométricas das escalas de assédio moral no trabalho–percepção e
impacto. Psico-USF, 16(2), 163-173

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO (2017). Assédio Sexual no Trabalho:


Perguntas e Respostas.

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