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1ºSem/2020.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar as manifestações culturais e os
equipamentos de lazer disponíveis na região da bela-vista e arredores, e como elas
contribuem para o desenvolvimento do lazer, turismo e cultura na região, em seguida, a partir
das concepções de lazer dos próprios residentes, fazer uma comparação entre as definições
observadas entre moradores e teóricos do tema. Posteriormente, é analisado o caso da escola
des samba Vai-Vai como equipamento de lazer e produção cultural dentro da área recortada.
Apesar de ser um dos mais tradicionais bairros da cidade de São Paulo, não existe
nenhuma divisão administrativa que delimite o bairro do Bixiga1 e, por este motivo, se torna
muito difícil determinar os limites geográficos da região. Não obstante as transformações
sofridas através dos anos, o bairro, formado por italianos e negros, manteve sua identidade,
conservando a diversidade étnica e cultural da região, a partir das diferentes manifestações
que ocorrem dentro do seu espaço físico.
O Bixiga abriga de cantinas italianas e paróquias a escola de samba Vai-Vai, e as
diferentes crenças, celebrações e valores compartilhados pelos moradores da região são suas
principais fontes da identificação cultural, entretanto, a identidade assumida pelos residentes
produziram uma relação de pertencimento e reconhecimentos individuais e coletivos com o
espaço de forma que ampliem e estimulem as possíveis práticas de lazer dentro da região
recortada? Ou acabou se tornando uma “extensão” do espaço doméstico de forma que os
moradores procurem práticas de lazer fora desta região?
Através da história oral, serão realizadas entrevistas, nas quais poderão ser observadas
as principais práticas de lazer e manifestação cultural realizadas no bairro, analisando de
forma geral o compreenção de lazer de jovens de 18 à 25 anos residentes na região recortada,
e sob a ótica de Marcellino fazer uma comparação entre as definições observadas pela
pesquisa e por este pesquisador.
Finalmente, é estudado o caso da escola de samba Vai-Vai como equipamento de
lazer e produção cultural e nas práticas de lazer dos residentes da região.
1
Também conhecido como “Bexiga” (com a vogal E), estando as duas formas corretas.
JUSTIFICATIVA:
O bairro que na verdade deixou de ser chamado de Bixiga e passou a ser chamado de
Bela-Vista a partir de 19102, está acima de qualquer divisão administrativa que possa possuir,
e nunca deixou de ser um dos principais polos de cultura, lazer e gastronomia na cidade de
São Paulo, abrigando pontos histórico, como a Vila Itororó, a Casa de Cultura Dona Yayá, o
Teatro Oficina e os Arcos do Bixiga, luta diariamente para manter sua identidade, sua cultura
e sua história.
Tombado pelo Conselho Municipal de Conservação do Patrimônio Histórico, Cultural
e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP)3, o bairro foi primordial na formação
urbana da cidade de São Paulo, e é ainda hoje referência de miscigenação na cidade, formado
por imigrantes italianos e nordestinos que até os dias atuais vivem em harmonia.
A escolha dos sujeitos contemplados por esta pesquisa, jovens de 18 a 25 anos,
também são fatores extremamente significativos e consideráveis na discussão da relação entre
a juventude e o lazer na atualidade e a oferta atual de equipamentos disponibilizados para este
público.
2
Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/comunicacao/noticias/?p=140150
3
Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/49c99_22_T_Bairro_da_Bela_Vista.pdf
RECORTE :
OBJETIVO GERAL:
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
HIPÓTESES:
O lazer surgiu, então, como forma de libertação das obrigações e tensões diárias na
vida do trabalhador, buscando um resgate a qualidade de vida do homem, aprofundando as
pesquisas sobre o tema e chegando a contextualizações que conhecemos nos dias atuais.
Existem diferentes conceitos e definições de lazer atualmente, que se diferenciam em
sua função, tempo, atividade, importância, entre outros, e um dos mais relevantes no contexto
brasileiro contemporâneo é Marcellino (1990, p 31 apud, MENOIA, 2000, p. 13) que afirma:
[...] o lazer é por mim entendido como a cultura compreendida no seu
sentido mais amplo - vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível.
É fundamental, como traço definidor, o caráter "desinteressado" dessa
vivência. Não se busca, pelo menos basicamente, outra recompensa além
da satisfação provocada pela situação. A disponibilidade de tempo
significa possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa.
(MARCELLINO, 1990, p.31, apud MENOIA, 2000, p.13)
Marcellino deixa clara a contraposição entre lazer e obrigações, e a relação entre lazer
e cultura pela sua função educativa. Além desta, Menoia (2000) afirma ainda que Marcellino
define a atividade de lazer como: composta pelo tempo livre e pela atividade pedagógica com
objetivo de transformação pessoal e social, sem interesse econômico e que proporcione
prazer.
Desta forma é possível fazer uma análise do caso da região do Bixiga sob a ótica de
Marcellino, de forma que sejam analisadas as manifestações culturais e os equipamentos de
lazer utilizados pelos residentes da região, que possuem entre 18 a 25 anos.
Não existem dados oficiais que delimitam a região do Bixiga, nem esclarecem as
origens de sua nomenclatura, Castro (2006, p.51) afirma que diferentes histórias tentam
explicar o princípio do bairro e do nome “Bixiga”: “ As que mais nos parecem plausíveis são
aquelas que vinculam o nome às epidemias de varíola que regularmente assolaram São Paulo
até meados dos anos de 1800.”, nenhuma dessas histórias são de fato comprovada, todavia, as
que mais parecem críveis são: a teoria de que as terras, longe do núcleo urbano, eram usadas
para abrigar e isolar vítimas da varíola, doença conhecida por deixar marcas semelhantes a
bexigas na pele, e também a hipótese que o nome se deu por causa de um dos donos de terra
da região: Antônio Bexiga, conhecido por alugar quartos para viajantes, e que teria sido
acometido pela doença, deixando marcas em seu rosto, daí o apelido4.
O processo de ocupação do solo urbano é, também, essencial para entender o
surgimento do Bixiga no contexto histórico, Gonçalves (2014, p. 74) afirma que: “O
crescimento da mancha urbana da cidade de São Paulo esteve desde sua fundação altamente
condicionado às condições impostas pelas características físicas do sítio urbano escolhido por
seus fundadores.”, e acrescenta sobre o Bixiga: "As características do terreno – em acentuado
declive – favoreceram a ocupação por habitações que obedeciam às imposições do lugar
(com os grandes cortiços de frente estreita e imenso comprimento, descendo em direção ao
vale)” (GONÇALVES, 20014, p. 94). Ou seja, os declives e as áreas de inundação nas
várzeas dos rios foram decisivos no processo de expansão na região, de forma que o bairro
cresceu entre os rios Bexiga e Saracura, hoje canalizados.
O que se delimita como Bixiga, hoje, é mais um consenso popular do que
administrativo, abrangendo as margens das Rua D. Maria Paula e Santo Antônio, de um lado
a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, do outro lado, o Bixiga contorna a Praça 14 Bis, subindo
a Rua Cardeal Leme, cortando algumas ruas até chegar na Avenida Brigadeiro Luís Antônio
novamente. (Ver apêndice A)
Gonçalves (2014) declara que, graças a seus aspectos sociais históricos e geográficos,
o Bixiga se destaca na cena paulista, de forma a preservar a permanência da memória (tempo
vivido), associada ao lugar, de forma que as relações, emoções e identidades criadas por cada
4
Fonte: http://www.portaldobixiga.com.br/historia/
pessoa naquele espaço, formem traços e características identitárias de cada indivíduo de um
determinado grupo social: “Essas identidades produzem relações de pertencimento, coesão
social, reconhecimento individual e promoção da segurança, do conforto e da aceitação”
(BITELLI e BASTOS, 2018, p. 464)
Ou seja, a medida que o cotidiano é vivido, cada ato produzido ou reproduzido por
cada sujeito corresponde a uma combinação de símbolos, práticas, tempos, memórias,
pertencimentos e valores, que contemplam a historicidade de cada ser: “Por meio da vivência
– e isso inclui o estar presente ativo e fisicamente – se constrói nos encontros e nas atividades
cotidianas a sensação de pertencimento àquele espaço.” (BITELLI e BASTOS, 2018, p. 465)
A escolha dos sujeitos contemplados por esta pesquisa, jovens de 18 a 25 anos, são
fatores extremamente significativos e consideráveis na discussão da relação entre a juventude
e o lazer na atualidade. Stoppa e Delgado (2006, p. 66) afirmam:
Assim compreendemos a juventude como uma condição social e um tipo
de representação, de atores sociais que constróem, a partir de seu cotidiano,
diferentes modos de ser jovem, influenciados pelo meio social onde vivem
e pelas trocas proporcionadas por esses espaços. (STOPPA; DELGADO,
2006, p.66)
Stoppa e Delgado (2006) dizem ainda que os jovens provocam uma reapropriação dos
espaços urbanos, construindo suas próprias normas , expressões e participações culturais.
Outro fator essencial que faz parte da identidade brasileira é o samba, e um dos
principais protagonistas da história do bairro é escola Grêmio Recreativo Cultural Social
Escola de Samba Vai-Vai, formada em 1930 por integrantes de um time de várzea da região5,
o Cai-cai, tem sido relacionada ao lazer dos moradores da região desde sua criação.
“‘Batuque", que era um nome tão genérico quanto samba, era empregado no estado de São
Paulo para designar uma forma de lazer popular em que se tocava música, na maioria das
vezes, de certa ascendência africana” (GONÇALVES, 2014, p. 25)
A Vai-Vai desde sua criação, primeiro com o esporte, e mais tarde com a música,
reflete a sua importância social e política, sendo parte essencial da criação de identificações e
pertencimentos dos residentes da região.
A fruição do lugar, proporcionada pelo encontro, na várzea do Saracura, no
Bixiga, dava as condições para o lazer, para a festa, o jogo, a música. O
Vai-Vai, como resultado da existência anterior do time de futebol de
várzea Cai-Cai, é expressão da relação mantida pelos frequentadores do
antigo campo do Lusitana, próximo ao cruzamento das ruas Rocha e Una,
5
Fonte: https://www.vaivai.com.br/sobre/
na região de várzea do riacho Saracura, com o seu lugar a partir da reunião.
(GONÇALVES, 2014 p. 98)
Deve-se observar que naquela época a Vai-Vai já era vista como um ponto facilitador
de encontros e união dentro da comunidade do Bixiga, agindo como fixador de relações
sociais, ao mesmo tempo em que exercia papel de fuga e descanso. Gonçalves (2014, p. 101)
afirma: “ os símbolos associados ao Vai-Vai desde seu princípio remetem à agremiação como
um lugar de segurança identitária para a população negra de São Paulo, ao mesmo tempo que
uma opção de lazer.”
Atualmente esta relação não é muito diferente, a entidade representa um papel
essencial no lazer dos moradores do bairro, especialmente da população negra, mesmo fora
do ciclo carnavalesco, sendo um importante templo de encontro durante todo o ano. “ [...] o
papel das entidades de lazer da população negra de São Paulo – incluído aí o Vai-Vai – não
se restringia ao período do Carnaval, sendo importantes centros de reunião de toda
comunidade ao longo do ano.” (GONÇALVES, 2014, p. 106).
A cultura, em seu significado mais amplo representa a forma de pensar, agir e falar de
cada sujeito, dando sentido às vidas e às escolhas de cada um de forma que, especialmente na
região do Bixiga resulte no acolhimento de diferentes conjuntos sociais, promovendo a
sociabilidade que lhe é tão característica.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:
Para que seja possível atingir os objetivos desejados pela pesquisa, a metodologia
utilizada será a história oral, método de entrevistas individuais que possibilitam a produção
de fontes e documentos através de narrativas, depoimentos, versões e interpretações. “[...]
estratégia metodológica que dá base à produção de fontes oriundas de depoimentos.”
(ALMEIDA, 2012, p. 1).
Tendo isto em vista, o presente trabalho espera que seja possível trazer à pesquisa
sentimentos e ações individuais, frutos do conjunto de relações vividas ao longo da existência
de cada sujeito, vinculadas à memória coletiva e à cultura em que se está inserido, pontos de
vistas interpretados de formas diferentes a partir de vivências e relações sociais divergentes.
Tornando possível a compreensão de múltiplas narrativas, decorrentes da composição social
diferente de cada indivíduo entrevistado.
A história oral traz os benefícios de elencar sentimentos, ações e
informações preciosas para o campo historiográfico, [...] o que ele
[pesquisador] irá obter é uma interpretação do passado intrinsecamente
relacionada às questões sociais, mas relembrada pelo aspecto pessoal, já
que é o indivíduo que tem a capacidade de rememorar. (DAVID, 2013, p.
159)
Escolha do tema x
Determinação de x
Objetivos
Determinação da x
Metodologia
Revisão Bibliográfica x
Entrega do Projeto x
Escolha dos x
entrevistados
Coleta de Dados x x
Análise e interpretação x
dos dados
Redação da monografia x
Revisão da monografia x
Entrega da monografia x
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: