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Atos Proféticos x Misticismo = O esoterismo evangélico

Acessei outro dia o portal de uma igreja declaradamente esotérica. Lá é


esoterismo puro! Pior, no entanto, são igrejas evangélicas com práticas esotéricas.
E não apenas entre os pentecostais.
O que é um esotérico? É a pessoa que busca interpretar o sentido oculto
das coisas, especialmente a interpretação que liga as coisas naturais com o
sobrenatural. Neste sentido, parece haver um pouco de esoterismo no meio
evangélico que atribui poderes a certos elementos da natureza.
Práticas esotéricas são quando se atribui poder sobrenatural a certos
elementos como a água, o óleo e o sal grosso. Neste sentido, como existem
igrejas esotéricas!
É possível um verdadeiro crente trilhar os passos do esoterismo de maneira
inconsciente, já que alguns dos elementos naturais que fazem parte da fé podem
ser mal-interpretados e mal-empregados na vida do cristão. Especialmente porque
o mundo espiritual – tudo que há no âmbito da mística ou da fé – sejam
semelhantes entre si. Assim, concede-se poder a um copo de água deixado sobre
o rádio ou a tevê; ao óleo consagrado na sexta-feira santa e até mesmo aos
elementos da ceia, como o pão e o vinho. Como diferenciar entre uma coisa
esotérica que é mística e transcendental, de outra que não é esotérica, mas que
também é mística e transcendental? Pois o mundo espiritual é místico e o
entendimento do que é espiritual transcende a esfera da razão e do intelecto.
A primeira coisa é entender a palavra de Deus com o entendimento da
razão e com o entendimento da fé. Quando se busca entender o mundo espiritual
apelando-se apenas para a razão, ou buscando-se entender a Bíblia com o
intelecto, a pessoa nada entenderá. É preciso fé para entendê-la. Resulta que os
dois campos, o da mística e o da razão precisam andar lado a lado na
compreensão das coisas espirituais. Quando se caminha apenas na trilha da fé,
tende-se a ser místico, evoluindo de tal maneira na transcendentalidade a ponto
de perder o verdadeiro sentido da palavra de Deus. E quando se caminha apenas
pelo intelecto, perde-se o seu sentido místico e transcendental. Razão e fé
caminham juntas na vida cristão, sem, no entanto levar o crente a ser um
esotérico.
Quando se vive apenas no campo do intelecto e do pragmatismo perde-se a
essência da fé; e quando se anda apenas no campo da fé da mística, perde-se a
essência da razão. É esta falta de entendimento que leva muitos crentes, por
exemplo, a acharem que Deus só se manifesta de uma maneira; e que o tipo de
culto que prestam a Deus é o mais correto e bíblico. Para entender melhor o tema,
será preciso conduzir o leitor a refletir sobre algumas questões bíblicas,
especialmente na área da fé e da razão, da mística e da palavra de Deus.
O leitor deve analisar o tema fazendo-se a seguinte pergunta: como Deus
se manifestou aos pais no passado? É uma pergunta inteligente, mas sua
resposta plena depende da fé. Já nesta pergunta os dois elementos, fé e razão
encontram-se presentes.

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Atos proféticos.
Os evangélicos partem para o esoterismo quando, a partir de casos bíblicos
em que certos elementos são usados, passam a usá-los como se fossem práticas
normais. Já ouvi alguém afirmar que os elementos místicos que alguns usam em
religiões de ocultismo pertencem a igreja e que estão sendo usadas por eles,
roubadas que foram de nós. Assim, despejar sal grosso numa esquina, não
deveria ser direito deles, mas da igreja. Ungir com óleo uma rua, cidade ou país é
direito da igreja que foi roubado por eles. Usar certos elementos para “ponto de
contato” é direito da igreja e não do ocultismo. Em que baseiam essas
suposições? Em algumas experiências do passado, especialmente do AT. Uma
rosa “ungida”, um copo de água, óleo especial “ungido” e até incenso são
elementos que voltaram a fazer parte de alguns grupos pentecostais. Os
pentecostais clássicos – entre os quais me incluo – costumam criticar estas
práticas, esquecendo que também, por vezes, concedemos poder a certos
elementos como óleo e o pão e o vinho da ceia. Sim, porque queimam ou
enterram o que sobra dos elementos da ceia depois de consagrados. Conceder
poderes especiais ao pão e ao vinho é também uma prática esotérica.
Por haver no AT testamento uma orientação sobre os ingredientes do óleo
da unção e do incenso, alguns crentes passaram a crer que o verdadeiro óleo da
unção tem de ser de oliva e, se possível, importado de Israel, como se dele
emanasse ainda mais poder. Mas, convém afirmar que esses elementos,
especialmente o óleo são apenas figuras ou sombras da verdadeira unção. Assim,
quando se unge com óleo o poder não está no óleo, mas no Nome de Jesus e na
ação do Espírito Santo. Serve, portanto, qualquer óleo. Alguns irmãos trazem
água do rio Jordão quando vão a Israel, como se aquela água tivesse em si
mesma algum poder. As águas do Jordão estão tão poluídas como qualquer
ribeiro da periferia da minha cidade.
Os elementos usados no AT eram sombras do que haveria de vir. O óleo,
fala da presença do Espírito Santo. O sal, usado nos sacrifícios, do crente como
sacrifício agradável e sal da terra. Os elementos do templo apontavam para a
pessoa de Cristo e da igreja. Assim, o candelabro é uma figura da igreja,
alumiando. Hoje não há necessidade de se usar esses elementos que eram
sombras, porque os tiveram seu cumprimento em Cristo e na igreja. Muitos, no
entanto, acreditam no poder do sal, do óleo e da água, elementos que apontavam
para o futuro.
Vejamos a questão do sal: “Toda oferta dos teus manjares temperarás com
sal; à tua oferta de manjares não deixarás faltar o sal da aliança do teu Deus; em
todas as tuas ofertas aplicarás sal” (Lv 3.1). Como cessaram as ofertas e
sacrifícios, pois Cristo é o sacrifício perfeito, por que usar o sal como fazem alguns
grupos neopentecostais? Este sal colocado na oferta falava de quê?

O comentarista Mathew Henry anos atrás já falava sobre a questão dos


sacrifícios. Ele diz:
O sal deveria ser colocado em todas as ofertas. Deus, portanto, exige deles
que o sacrifício deveria ter sabor. Todo culto deve ser temperado com a graça. O
cristianismo é o sal da terra. Óleo e incenso fazem parte dos sacrifícios. Sabedoria
e humildade amolecem e adoçam os espíritos. O incenso fala da mediação e

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intercessão de Cristo através do qual nosso culto se torna aceitável diante de
Deus.

Ora, não se faz necessário aqui provar que os elementos presentes no


tabernáculo prefiguravam a obra de Cristo, do Espírito Santo e a igreja, tema
implícito nas cartas paulinas. No entanto, apesar de tudo haver se cumprido em
Cristo, como afirma o escritor aos hebreus, ainda assim a igreja se deixa judaizar
trazendo para o culto os mesmos elementos, como pão sem fermento, o
candelabro, faltando, obviamente o incenso, que algumas igrejas trazem para o
culto sem problema algum. Cristo é nosso pão sem fermento; o Espírito Santo é o
óleo e todos os elementos têm alguma relação com a igreja, a palavra de Deus e a
obra de Cristo. Ora, como Cristo é a plenitude de todas as coisas, então não
haverá necessidade de se apegar a esses elementos no culto a Deus.
Vejamos, então, alguns exemplos bíblicos de atos proféticos. Estes eram
acontecimentos ou realizações em forma de eventos e não como regras ou
institucionalização.
Vejamos alguns casos da Bíblia que não podem ser tomados como regras
de fé.

1. O manto de Elias. Com ele, Elias dividiu as águas do Jordão. Eliseu,


depois que Elias foi arrebatado, tomou o mesmo manto e abriu também as águas
do Jordão. O poder não estava no manto, mas no Deus Todo-Poderoso. “Onde
está o Senhor, Deus de Elias?”, perguntou Eliseu (2 Rs 2.14). Nas outras vezes
em que Eliseu precisou atravessar o Jordão não usou do manto para abri-lo de
novo. Eliseu precisava de uma manifestação do poder de Deus para ser aceito
pelos demais profetas. Onde os crentes se tornam esotéricos? Quando acham
que o poder está no manto ou no paletó de um servo de Deus, numa peça de
roupa, etc.

2. Eliseu e as águas de Jericó. Interessante como os líderes esotéricos de


hoje na igreja não usam “vasilhas” novas como fazem os da religião afro em seus
rituais. Porque Eliseu, ao orar pelas águas de Jericó que eram estéreis usou uma
vasilha nova: “Os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que é bem situada
esta cidade, como vê o meu senhor, porém as águas são más, e a terra é estéril.
Ele disse: Trazei-me um prato novo e ponde nele sal. E lho trouxeram. Então, saiu
ele ao manancial das águas e deitou sal nele; e disse: Assim diz o SENHOR:
Tornei saudáveis estas águas; já não procederá daí morte nem esterilidade.
Ficaram, pois, saudáveis aquelas águas, até ao dia de hoje, segundo a palavra
que Eliseu tinha dito” (2 Rs 2.20-22). Ora, o sal e a vasilha nova foram apenas
componentes de um ato profético, o poder, de fato, estava em Deus que Eliseu
invocou. “Assim diz o Senhor”. Foram as palavras do Senhor que tornaram as
águas saudáveis e a terra fértil e não o sal e a vasilha nova. Sim, porque noutra
ocasião o sal foi usado para deixar a terra estéril. Eis o contraste (Jz 9.45 e Sf
2.9). “Obviamente que as águas não foram curadas pelo poder do sal”, afirmam os
comentaristas, “como se o sal em si mesmo tivesse poder para curar um ribeiro de
águas. Foi um ato simbólico que acompanhou a declaração da palavra do Senhor,
por isso as águas ficaram boas” (Brown Commentary). O prato novo e o sal falam

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da consagração das vidas e do “sal da terra” que tornam saudáveis a terra onde o
crente vive. Um contraste, porque o sal deixa a água com gosto horrível.
Noutro episódio, quando os discípulos colocaram na sopa que preparavam
ramos de uma trepadeira venenosa, Eliseu usou farinha. Por que não usou sal?
Nem óleo? Porque o poder da cura está em Deus e não nos elementos.
Interessante como ninguém joga farinha no ar nos cultos esotéricos de algumas
igrejas. (Ver 2 Rs 4.38-41).

3. Moisés e o tronco de árvore lançado nas águas de Mara. “Afinal,


chegaram a Mara; todavia, não puderam beber as águas de Mara, porque eram
amargas; por isso, chamou-se-lhe Mara. E o povo murmurou contra Moisés,
dizendo: Que havemos de beber? Então, Moisés clamou ao SENHOR, e o
SENHOR lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as águas se
tornaram doces” (Ex 15.23-25). Novamente aqui foi o Senhor quem ordena a
Moisés que jogasse certo tronco de árvore nas águas, não que a árvore tivesse
em si o potencial de cura, e sim o Senhor. A árvore aponta profeticamente para a
cruz de Cristo. Se isto fosse regra – isto é, usar galhos de árvores para curar
águas – Eliseu teria seguido o exemplo de Moisés usando uma árvore para tornar
potável as águas de Jericó. No entanto, lá ele usou sal.
Moisés, em duas ocasiões bateu com a vara na Rocha. Na vez primeira,
Deus ordenou que batesse na rocha, mas da segunda vez, bastava falar à rocha e
ela daria água. Acostumado a bater com seu cajado – batera com ele no Egito
trazendo pragas, batera nas águas do mar Vermelho e na rocha – Moisés repetiu
a cena, mas foi advertido por Deus e perdeu o direito de entrar na Terra Prometida
(Compare Êxodo 17.1-7 c/ Números 20.2-13). A simbologia aqui é clara: a primeira
vez que feriu a rocha, era uma simbologia da Rocha, ferida na cruz; da segunda
vez, bastava apenas falar. Por isso, no cântico que Deus escreveu para o povo em
Deuteronômio 32 várias vezes Deus se refere a Rocha (Dt 32.4, 15, 18, 30, 31).
Foi assim com a serpente levantada no deserto. Quem para ela olhasse era
curado das picadas venenosas das serpentes. Devido ao pecado do povo
serpentes invadiram o acampamento trazendo dor e morte entre o povo. E o
Senhor ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze, colocasse-a num
lugar alto e todo o que era mordido pelas serpentes olhava para a serpente de
bronze e era curado (Nm 21.4-9). Era uma figura da obra expiatória de Cristo, fato
citado pelo próprio Jesus em João 3.14: “E do modo porque Moisés levantou a
serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para
que todo o que nele crê tenha a vida eterna”.
Mas, a inclinação esotérica do povo levou-o a guardar a serpente – que não
mais servia para curar enfermidades – e a adorá-la como se fosse um deus. Até
os dias de Ezequias a serpente era usada como objeto de adoração pelo povo de
Israel. Ezequias “Removeu os altos, quebrou as colunas e deitou abaixo o poste-
ídolo; e fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera, porque até
àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã” (2
Rs 18.4). Imagine, quase 835 anos depois a serpente que Moisés levantara estava
sendo adorada pelo povo como sendo um deus de bronze.
É comum que pessoas se agarrem a objetos como forma de adoração. Por
isso, até hoje a cruz é adorada em vez de ser adorado aquele que nela morreu.

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Sabemos de irmãos que acham que, batizando-se nas águas do rio Jordão a
salvação tem outro sentido. Que o óleo feito em Israel tem mais efeito; que as
águas do Jordão são ainda purificadoras. E dão valor esotérico aos elementos da
ceia, como se o pão e o vinho adquirissem valor maior depois de consagrados.
Por que os evangélicos e os pentecostais não queimam mais incenso em
suas casas nem nos cultos a Deus? Porque entenderam que o incenso queimado
no AT era sombra da oração do povo a Deus. Isto é explicado no texto de
Apocalipse 8.1-5.

4. Jesus usou lodo e saliva, mas o poder não estava nem no lodo nem na
saliva, mas nele mesmo! Se fosse esotérico, cuspir no chão e fazer lodo seria uma
prática que os discípulos perpetuariam em seu serviço a Deus.

5. Paulo, o apóstolo enviava seus objetos pessoais que eram colocados


sobre as pessoas enfermas e elas eram curadas. Por que fazia isto? Por duas
razões: as pessoas não conseguiam chegar até onde ele estava e ele não
conseguia ir onde elas se encontravam. Hoje as pessoas não vão aos cultos e
enviam seus objetos pessoais para receberem oração, diferentemente de Paulo
que usava lenços de uso pessoal. “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres
extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso
pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos
malignos se retiravam” (At 19.11-12). Em momento algum Paulo fez disto uma
regra para curar enfermos e expulsar os demônios. Ao contrário, várias vezes se
deparou diante da impotência de curar a enfermidade de seus trabalhadores mais
chegados, como Timóteo e Trófimo. Quantas vezes deve ter orado por Timóteo
para que este ficasse livre de sua enfermidade e Timóteo não foi curado? Apelou,
portanto, para a medicina e o recomendou tomar vinho para as constantes
enfermidades do estômago. “Não continues a beber somente água; usa um pouco
de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1 Tm
5.23).
E por que não curou a Trófimo se em Éfeso bastava enviar seus lenços
pessoais e as pessoas eram curadas? Porque Paulo não era esotérico e não
atribuía poderes aos seus objetos pessoais e sim a Deus. No entanto, viu-se
impotente de curar seu companheiro de Jornada ministerial. “Quanto a Trófimo,
deixei-o doente em Mileto” (2 Tm 4.20).
A crendice de que os elementos têm poder parece fazer parte da vida dos
pagãos, pois o comandante Naamã logo que foi curado de sua lepra decidiu levar
sacos de terra de Israel para a Síria para com ela construir um altar de adoração
ao Deus de Israel.
Não se vê, no entanto, em qualquer outra parte da Bíblia que leprosos
sejam orientados a mergulhar no Jordão sete vezes. Se isto fosse uma prática
esotérica Jesus teria orientado os leprosos a mergulharem no Jordão. Mas não o
fez. O Senhor Jesus não nos legou quaisquer ensinamentos neste sentido.
Não se vê no Novo Testamento os apóstolos incentivando os irmãos a
usarem elementos para sua cura e recebimento de poder, porque o poder não era
deles, mas de Deus. O próprio Paulo vivia constantemente enfermo, a ponto de ter
de parar na Galácia devido a uma enfermidade. “E vós sabeis que vos preguei o

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evangelho a primeira vez por causa de uma enfermidade física. E, posto que a
minha enfermidade na carne vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes
desprezo nem desgosto; antes, me recebestes como anjo de Deus, como o
próprio Cristo Jesus” (Gl 4.13-14). Paulo pregou o evangelho e, certamente curou
os gálatas enfermos, quando ele mesmo não conseguia ser curado de sua
enfermidade. Não é isto um mistério? E por que não usou de lenços, de óleo, água
e de outros elementos? Porque Paulo não era esotérico; dependia unicamente do
poder de Deus e não dos poderes de elementos curadores.
Se houvesse poder nos elementos haveria cura para todos; mas o poder é
de Deus e ele decide sobre cada pessoa, se deve ou não ser curada. É da
misericórdia dele que dependemos. Alguns acreditam que a epístola aos
Romanos foi ditada por Paulo a Tércio, porque Paulo estava quase cego (Rm
16.22). “Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho” (Gl
6.11). Que sua enfermidade era nos olhos fica claro no texto: “Pois vos dou
testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para mos
dar” (Gl 4.15).
Paulo não diz como Epafrodito foi curado de uma enfermidade mortal, mas
atesta a cura de seu discípulo: “Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém,
se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não
tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, tanto mais me apresso em mandá-lo, para
que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha menos tristeza” (Fp 2.27-28).
Epafrodito adoeceu e ficou às portas da morte, e foi curado; diferentemente de
Paulo que sofria de uma enfermidade nos olhos e não era curado.
O crente esotérico é aquele que coloca um copo de água sobre o rádio ou
sobre a televisão esperando ser curado; a pessoa quando é curada, não deve
pensar que foi devido a energia da água, mas ao poder de Deus. Alguns
defendem o uso destes elementos por acharem que estes operam como
estimuladores da fé das pessoas. Para que incentivar as pessoas a crerem nos
elementos, desviando a atenção delas do poder de Deus? Agem da mesma
maneira daquelas pessoas que oram a Deus, prostradas diante de uma imagem
esperando uma graça. Alcançam-na e atribuem o feito ao poder do santo,
esquecendo-se, que, muitas vezes a cura não foi alcançada pela mediação do
“santo”, ms pela misericórdia de Deus. Além de que, esta é uma prática que pode
induzir a operação do erro permitindo que espíritos enganadores levem a pessoa
a crer no milagre do “santo” ou do “elemento”, desviando as pessoas da
verdadeira adoração a Deus.
Deus deixou uma orientação clara no AT a este respeito em Deuteronômio
13. “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal
ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser:
Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as
palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos
prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, de todo o vosso coração e
de toda a vossa alma” (Dt 13.1-3). Este texto não está falando do falso profeta,
mas do profeta verdadeiro, porque ele anuncia um milagre e este acontece.
Portanto, ele não é falso. Ele é verdadeiro. Quando é que se torna falso? Quando
usa do milagre para induzir as pessoas a seguirem outros deuses. Ele passa a
atribuir o milagre a uma santa ou santo; a coisas qualquer. Mas o milagre

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aconteceu, e foi dado por Deus, portanto, a glória deveria ser dada a Deus. Mas
ele desvia as pessoas de Deus para outras coisas. Deus não está dizendo que
não devem olhar para os milagres que o profeta realiza, mas que o povo não deve
ouvir as palavras do profeta quando estas induzirem as pessoas a se rebelarem
contra Deus.
Noutra parte de Deuteronômio Deus fala do profeta falso, isto é, daquele
que anuncia um milagre e este não acontece. “Se disseres no teu coração: Como
conhecerei a palavra que o SENHOR não falou? Sabe que, quando esse profeta
falar em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder, como
profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal
profeta; não tenhas temor dele” (Dt 18.21-22).
Assim, pode-se entender que o profeta é falso quando duas coisas ocorrem:
O milagre acontece e ele leva as pessoas a crer que o milagre aconteceu por
força e graça da santa ou do santo; do óleo santo ou da água ungida, e quando
anuncia um milagre em nome do Senhor e nada acontece! Agora, quando ele
anuncia o milagre, e este acontece, e a glória é dada a Jesus Cristo, ele é
verdadeiramente um profeta de Deus.
Felizmente o Espírito Santo não deixou nenhum modelo de adoração e
nenhum objeto a ser adorado, para que a tendência humana de crer em
elementos e em objetos não supere o valor da verdadeira adoração e da vida
cristã que é feita em espírito e em verdade.
A palavra de Deus serve de equilíbrio da fé e da verdade. Como as pessoas
têm a tendência de cair para o lado místico, Deus nos deixou a palavra para nos
puxar para o centro. Ocorre o mesmo com as pessoas que desprezam o místico e
se apegam à rigidez da letra; o Espírito Santo precisa puxá-los para a mística para
que depois encontrem o equilíbrio certo, no centro.

Conclusão:
Até que ponto pode-se utilizar elementos e objetos sem que se caia no
esoterismo? Os discípulos perpetuaram a unção com óleo – sem especificar o tipo
de óleo – orientando os presbíteros a ungir os enfermos com óleo em Nome do
Senhor. “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes
façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor” (Tg 5.14). Em
nenhum momento Tiago atribui poder ao óleo, mas ao poder do Senhor, quando
afirmou: “E oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o levantará; e, se houver
cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (v 15). Ainda que a questão da unção
com óleo no NT seja um ensinamento obscuro, pois somente Tiago fala do tema,
sabe-se que ele ungia os enfermos com óleo, do contrário não recomendaria tal
prática aos presbíteros de Jerusalém.
Assim, é possível ungir enfermos ou usar do óleo para consagrar uma casa
ou objetos sem incorrer no esoterismo, usando-o como figura profética da ação do
Espírito Santo. Fazer disto uma regra é errado. Se houver uma palavra ou
orientação do Senhor que se unja com óleo uma casa deve-se fazê-lo, sem fazer
da prática um método infalível, pois é possível usar o óleo em outras ocasiões
sem que nada se realize. Pode não haver cura nem consagração.
O esoterismo é quando o uso dos elementos torna-se uma prática dando-se
a eles poderes que não possuem. O poder sempre é de Deus.

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Algum tempo atrás obedecendo a uma palavra de um líder pentecostal
latino-americano equipes saíram por toda a América Latina ungindo os países com
azeite e enterrando papeis com promessas de redenção aos povos. É um ato
bonito, mas sem o apoio bíblico, porque Jesus não comissionou seus discípulos a
irem pelo mundo ungir as nações; nem vemos os apóstolos viajando ungindo os
povos.
O Espírito Santo nada deixou registrado quanto a isto no Novo Testamento
para que a igreja não se agarrasse a essas práticas.
Jesus mandou pregar o evangelho e a fazer discípulos de todas as nações.
Viajar de carro com garrafões de óleo pingando lentamente pelas estradas é mais
fácil do que parar na praça de uma cidade e anunciar o evangelho de Jesus
Cristo. Quando se prega o evangelho confrontam-se as trevas e os poderes
demoníacos; mas, quando apenas se unge com óleo, mostra-se apenas a
intenção de se possuir a terra. Não seria melhor andar pela terra, cumprindo a
ordem de que “onde pisar a planta de teu pé será tua?”. Mesmo assim, a missão
não estaria completa sem a pregação do evangelho. Abraão teve que percorrer a
terra toda como garantia de que Deus a daria aos seus descendentes (Gn 13.17).
A posse da terra só seria definitiva se Josué conquistasse toda a terra, por isso
Deus lhe disse: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado,
como eu prometi a Moisés” (Js 1.3).
Uma cidade só é conquistada quando alguém se dispõe a viver e a pregar o
evangelho iniciando ali uma igreja. É a presença da igreja que muda a sociedade
e não um frasco de óleo.

João A. de Souza
Místico – que se refere a fé.
Transcendental – superior, alto.

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